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O legado de Sérgio Piza, um dos

O legado de Sérgio Toledo Piza

Pioneiro na difusão dos leilões faleceu em São Paulo aos 93 anos

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Sérgio e o amigo Tioca, após uma cavalagada em 2019.

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Sérgio Assumpção Toledo Piza foi cafeicultor e selecionador de Nelore em sua fazenda Santa Cândida, em Pirajuí, SP; também foi prefeito da cidade e presidente da Associação de Criadores de Nelore do Brasil entre 1968 e 1971; atuou em projetos de colonização com pecuária na Amazônia por meio de incentivos da Sudam e participou das primeiras exportações de gado com a venda de animais para Angola. Mas nada marca mais o legado de sua vida de 93 anos, encerrada a 15 de maio, em São Paulo, do que a obstinação com que se lançou na proposta de mudar a forma de comercialização de animais. A história dos leilões como se conhece hoje no Brasil registra muitos nomes de destaque, entre eles os leiloeiros Trajano Silva e Jarbas Knorr, pioneiros nesse tipo de venda na década de 60, no Rio Grande do Sul, porém foi a partir dele e seus companheiros de jornada na Programa que o sistema mudou.

“Sérgio entendia que os leilões de animais deveriam se transformar no canal de comercialização dos pecuaristas e que estes deveriam colocar seus animais à venda ao livre sabor do mercado, sem o estabelecimento de preço mínimo como até então acontecia nos leilões realizados no Sul do País”, destaca Odemar Costa, que formou com Djalma Barbosa de Lima (ambos vindos do rádio e televisão) a primeira dupla de leiloeiros lançada pela Programa. Odemar lembra que era comum o vendedor procurar o leiloeiro para dizer quanto pretendia pelo animal a ser vendido, mas a instrução de Sérgio Piza era firme: iniciar a venda pelo que obtivesse de lance. Restava ao proprietário dar lances de defesa se o valor não lhe agradasse, arcando com o pagamento inegociável das comissões de vendedor e de comprador, se fosse seu o último lance.

Outra postura de Sérgio era a de jamais querer saber se os promotores de um leilão estavam satisfeitos com o resultado, pois entendia que a leiloeira tinha feito a sua parte. Paulo Edmur Pimentel, o mais longevo de seus sócios na Programa Leilões (esteve com ele desde o início oficial

da leiloeira, em 1974, até pouco antes da transferência da empresa para Paulo Arantes Horto, em meados da década de 1990), explica a atitude: “Se um vendedor pretendia, digamos, o equivalente a R$ 10.000 por um animal e ele fosse negociado a R$ 20.000, o mérito era sempre da qualidade do animal. Se em lugar dos R$ 10.000, só alcançasse R$ 7.000, a culpa era do leiloeiro que não ‘trabalhara’ bem ou do leilão que não fora bem divulgado”.

A Programa não nasceu como leiloeira. Ela foi constituída em 1970 como Programa – Progresso da Amazônia, para tocar projetos de colonização no Sul do Pará e Vale do Araguaia, no Mato Grosso. O próprio Sérgio pilotava o avião Cessna da empresa em idas e vindas à região, mas o negócio não prosperou. A leiloeira começou a nascer em 1973, quando ele era presidente da comissão organizadora da Exposição de Bauru, SP, e promoveu o primeiro leilão bem sucedido de Nelore na mostra, comandado pelo leiloeiro gaúcho Trajano Silva.

Do sucesso do evento, veio o acerto com Torres Homem Rodrigues da Cunha para a realização, a 25 de janeiro de 1974, do 1º Leilão VR, em Araçatuba, SP, antes mesmo que a Programa mudasse seu objetivo social de venda de terras para a realização de leilões. Só um ano depois surgiu a que viria a ser a outra grande do mercado, a Remate Leilões, liderada por José Eduardo (Ado) Prata Carvalho. Ado, já falecido, era filho de Rubico Carvalho, um dos pioneiros do Nelore moderno ao lado de Torres Homem e Nenê Costa, graças aos animais que trouxeram da Índia em 1960.

Desde 2001, Remate e Programa não são mais concorrentes, ambas sob o comando de Paulo Horto. De colaborador free lancer de leilões da Programa, na década de 80, a chefe do escritório regional de Londrina, PR, nos anos 90, Paulo se tornou o sucessor de Sérgio Piza, em 1996, transformando a Programa no maior grupo organizador de leilões do País. Ele destaca a visão moderna, empreendedora e de pioneirismo de Sérgio e que marcaram a empresa em sua primeira fase, como a de realizar os primeiros leilões com transmissão pela televisão na década de 80, além de elevar o patamar dos negócios, promovendo grandiosos eventos em hotéis, casas de espetáculo e até navios.

Sérgio Assumpção Toledo Piza vivia sua aposentadoria no bairro do Pacaembu, em São Paulo, e até há pouco tempo ainda desfrutava de um de seus prazeres, as cavalgadas que rendiam saborosas conversas como lembram alguns de seus parceiros e amigos, Djalma Barbosa de Lima, e Atílio D’Angieri Filho, o Tioca, que o acompanhou na última delas, há menos de um ano. Sérgio faleceu de complicações de uma diverticulite, deixando a viúva, Dona Maria Cândida, os filhos Ricardo e Flávio, noras e quatro netos. n

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