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É tempo de plantar pastagens de

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Sabor da Carne

Sabor da Carne

Adilson de Paula Almeida Aguiar

é zootecnista, professor das Faculdades Associadas de Uberaba (Fazu); consultor associado da Consupec (Consultoria e Planejamento Pecuário), de MG, e investidor nas atividades de pecuária de corte e de leite.

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Pastagem de inverno de braquiária ruziziensis, semeada junto com o milho e pastejada por novilhas cruzadas Angus durante o mês de julho.

É tempo de plantar pastagens de inverno

Há muitas opções de forrageiras, conforme a região do País, e técnicas de semeadura próprias para cada sistema de produção. Escolha a sua.

Nos artigos publicados nas edições de outubro de 2019 e maio de 2020 de DBO, tratei do tema estabelecimento de pastagens perenes por meio de sementes e mudas, no período das águas. Os procedimentos apresentados naqueles artigos podem ajudar os pecuaristas a planejar o estabelecimento de pastagens no próximo período chuvoso (2020/2021), particularmente aqueles que se encontram em regiões do País onde as chuvas de primavera/verão começam em setembro/novembro e terminam em março/maio. Porém, ainda há tempo hábil para que produtores com fazendas localizadas em regiões onde ocorrem chuvas de final de verão e outono/inverno (janeiro/março a setembro) plantem as chamadas “pastagens de inverno”, como é o caso de algns Estados do Nordeste.

Neste artigo, mostrarei como estabelecer essas pastagens. Para isso, tenho de dividir o Brasil em dois ambientes quanto aos tipos de clima: subtropical, compreendendo todos os Estados da região sul (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul), além da parte sul de Mato Grosso do Sul e São Paulo: e tropical, no restante das regiões e Estados do País. Ainda preciso caracterizar dois sistemas de produção: um de pastagens estabelecidas com espécies forrageiras tropicais e subtropicais perenes; outro de integração lavoura/pecuária (ILP). Por fim, tenho de caracterizar as forrageiras, dividindo-as em espécies adaptadas ao clima temperado (também conhecidas como forrageiras de inverno) e espécies de clima tropical e subtropical. Feito isso, vamos lá:

1) Pastagens de inverno sobressemeadas sobre pastagens perenes tropicais e subtropicais

Nesta modalidade, as pastagens perenes são exploradas solteiras entre outubro e março (estações de primavera/verão) e em consórcio com forrageiras de inverno entre abril e setembro (estações de outono/ inverno). Na região Sul, essa modalidade de exploração de pastagens já vem sendo adotada pelos pecuaristas há pelo menos seis décadas. Lá têm sido usadas forrageiras como aveia, azevém, centeio, cevada, cornichão, ervilhaca, trevos, trigo e triticale, solteiras ou em misturas. Já na região tropical do Brasil, basicamente têm sido estabelecidas forrageiras como aveia e azevém, solteiras ou misturadas.

Neste artigo, vou utilizá-las para explicar como estabelecer pastagens de inverno, já que são plantadas tanto em áreas de clima subtropical quanto em tropicais do Brasil. Nas subtropicais, ocorrem chuvas de outono/inverno e essa condição possibilita o estabelecimento de pastagens de inverno sem a necessidade de irrigação. Por outro lado, nas tropicais, as estações de outono/inverno coincidem com a seca, então, para estabelecer esse tipo de pastagem, é preciso irrigar. Neste sistema em questão (irrigado), a semeadura é feita entre início de abril e início de junho, idealmente em abril para ter um período maior de uso da pastagem de inverno. O plantio pode ser feito por meio de:

Sobressemeadura – Neste método, a sequência de procedimentos pode ser a seguinte: antes de os animais entrarem em um piquete, as sementes são distribuídas a lanço sobre o pasto; concluída essa etapa, o gado é colocado no piquete para pastejar a gramínea perene e pisotear as sementes lançadas sobre ela; depois, os animais são retirados e faz-se uma roçada do resíduo pós-pastejo. Esse material roçado formará uma camada de palha protetora sobre as sementes pisoteadas, favorecendo sua germinação.

Plantio direto – Neste método, a sequência de procedimentos pode ser a seguinte: os animais são colocados no piquete para pastejar a gramínia perene; após sua saída, faz-se a roçada do resíduo pós-pastejo e o material roçado forma uma camada de palha sobre a qual é feita a semeadura com plantadora de plantio direto.

Deve-se dar atenção às recomendações das taxas de semeadura, que dependerão da espécie ou espécies a ser estabelecidas e do método de semeadura, se a lanço ou em linha. Os técnicos de empresas que vendem sementes certificadas e/ou o consultor do pecuarista podem orientá-lo quanto às taxas corretas. A partir dai, basta esperar boas chuvas, na região subtropical, e fazer as irrigações na região tropical do país. Em condições adequadas, o primeiro pastejo pode ser feito até 45 dias após a semeadura, quando as forrageiras alcançam suas alturas-alvo, que, no caso da aveia, é de 25 cm (cerca de 80% da altura-alvo de 30 cm recomendada para a pastagem já estabelecida) e 15 cm, no caso do azevém (mesmo parâmetro).

Essas forrageiras têm potencial para acumular entre 6 e 10 toneladas de MS (matéria seca)/ha em 120 a 150 dias, desde que o solo seja corrigido e as adubações aplicadas em doses que possibilitem explorar esse potencial. Considerando uma produção média de 7 t de MS/ha, em um período de 120 dias de pastejo, com 80% de eficiência de uso da forragem acumulada e um consumo de 2,67% do peso corporal dos animais, a capacidade de suporte média será de 3,89 UA/ha. Por outro lado, a qualidade dessas forrageiras possibilitam ganho potencial de 700 g a mais de 1 kg/cab/ dia. Essa amplitude de variação depende de vários fatores, como a oferta de forragem (kg de MS/100 kg do peso corporal ou % do peso corporal), além das características do animal alojado (grau de sangue, sexo, idade, peso corporal), tipo de suplemento e nível de suplementação. Bem, sobre a produtividade por área (kg ou @/ha), vou deixar você calcular de acordo com o tipo de animal que pastejará aí na sua fazenda.

2) Pastagens de inverno em sistema de ILP

A semeadura, neste caso, é feita após a colheita da cultura agrícola cultivada na primavera/verão (outubro a março) ou simultaneamente ao plantio da cultura agrícola de segunda safra, em meados do verão/outono (fevereiro/abril). Na região subtropical do Brasil, são semeadas as mesmas espécies que foram citadas neste artigo para o sistema “forrageiras de inverno sobressemeadas sobre pastagens perenes tropicais e subtropicais”. Já na região tropical do País, são semeadas espécies tropicais de ciclo perene, tais como as do gênero Brachiaria sp e da espécie Panicum maximum, além das de ciclo anual, como o milheto e o sorgo de pastejo.

Se, na área, for cultivada apenas uma safra agrícola, ou seja, a safra de primavera/verão, é possível adotar um destes dois métodos de semeadura: plantio direto sobre palhada da cultura agrícola ou a lanço com distribuidor de adubo sobre a palhada, seguida por um cultivo mínimo com gradagem leve. Se houver atraso no plantio e na colheita da cultura agrícola de primeira safra, a “janela” para semeadura da forrageira de inverno ficará apertada. Nessa situação, a distribuição das sementes da forrageira é feita por sobressemeadu

ra aérea com aviões agrícolas ou com semeadoras próprias para forrageiras acopladas sobre a barra do pulverizador ou a lanço, com distribuidor de adubos no final do ciclo de produção da cultura agrícola.

Se a área for cultivada primeiro no verão e depois em safrinha, com a “dobradinha” soja/milho, por exemplo, a semeadura da forrageira será realizada por ocasião do plantio da cultura de segunda safra. Aqui o pecuarista poderá adotar um dos seguintes métodos: distribuição das sementes da forrageira a lanço sobre a palhada da primeira cultura seguida de uma gradagem leve ou passagem de corrente para enterrar as sementes; semeadura simultânea das sementes da forrageira e da cultura agrícola, ou semeadura da forrageira por ocasião da adubação de cobertura da cultura agrícola.

Neste artigo, eu já descrevi os potenciais de produção de forrageiras de inverno, tais como aveia e azevém. Já as forrageiras de clima tropical em sistema de ILP podem acumular entre 5,5 a 11 t de MS/ha e essa massa de forragem poderá ser colhida em um período de 45 a 150 dias, durante a estação da seca. Esta grande amplitude de período de uso dependerá se será feito apenas um cultivo agrícola ou dois cultivos, e se a cultura de segunda safra, por exemplo o milho, será colhido para silagem (de planta e grão úmido) ou para grãos secos. Considerando um potencial médio de 7,4 t de MS/ha de massa de forragem, a capacidade de suporte média poderá variar de 1,37 a até 5,5 UA/ha.

A lotação varia em função da oferta de forragem adotada, o período possível de pastejo e a massa de forragem residual deixada para a formação da palhada para o plantio direto da safra seguinte. Já a qualidade da forragem dessas gramíneas pode garantir ganho potencial de 470 a 700 g/animal/dia. Essa amplitude de variação depende dos mesmos fatores já citados para as forrageiras de clima temperado. Sobre a produtividade por área (kg ou @/ha), também vou deixar você calcular de acordo com o modelo de produção adotado por você aí na sua fazenda. Com isto concluo, pelo menos por enquanto, a sequência de artigos sobre o tema estabelecimento de pastagens. n

Pastagem de azevém sobressemeado sobre pastagem perene de capim Vaquero

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