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Embrapa e Associação Angus

Aposta no Angus nacional

Embrapa e ABA firmam parceria para ampliar a genotipagem de animais da da raça, visando seleção para adaptabilidade e resiência ao carrapato.

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Proposta é tornar o Angus nacional mais competitivo em relação ao importado, que ainda domina o mercado de sêmen no Brasil.

Investimentos se intensificarão à medida que o criador puder utilizar touros com maior acurácia”

Mateus Pivato, gerente de fomento da ABA

Carolina Rodrig ues

carol@revistadbo.com.br

Muito em breve, o Brasil deve se tornar o único País do mundo a produzir um Angus rústico, adaptado aos trópicos e resistente a parasitas como o carrrapato. Esse é o objetivo do acordo assinado, em maio, pela Associação Brasileira de Angus (ABA) e a Embrapa Pecuária Sul, para viabilizar a seleção genômica dos rebanhos Angus no Brasil nos próximos 36 meses. O projeto, que deve começar efetivamente em junho, promete aumentar o número de animais genotipados para características de adaptabilidade, visando publicação das primeiras DEPs genômicas ainda neste ano. “A Angus deve mobilizar rebanhos de seus associados e nós, da Embrapa, vamos ampliar os genótipos de animais com contagem de carrapato, por exemplo”, explica Fernando Flores Cardoso, pesquisador da Embrapa Bagé. “Vamos colocar o Angus definitivamente na era da genômica”, diz ele.

O convênio contará com orçamento inicial de R$ 400.000, valor destinado às novas genotipagens e horas técnicas de trabalho, o que deverá aumentar o número de novos animais genotipados em curto espaço de tempo. Hoje, são cerca de 1.400 bovinos da raça com contagem de carrapato e material biológico coletado, mais genótipos obtidos por iniciativas privadas de alguns criadores, que devem somar aproximadamente 6.000 animais na população de referência. Essa etapa inicial, segundo Cardoso, é fundamental para se avaliar um animal sem que ele tenha a contagem propriamente dita, ou seja, sem a necessidade de expô-lo efetivamente ao ectoparasita. “Quando formamos uma população de referência, com uma simples amostra de pêlo, podemos estimar se um animal jovem ou recém-nascido transmitirá o grau de resistência esperado à sua progênie”, explica o pesquisador.

Outro importante benefício será incorporar a genômica na rotina de programas de melhoramento genético de bovinos de corte, a começar pelo Promebo, da Herd Book Collares. De acordo com Mateus Pivato, gerente de fomento da Angus, é preciso viabilizar a seleção genômica em larga escala, tornando a tecnologia comercialmente acessível. “Os investimentos se intensificarão à medida que o criador puder utilizar touros com maior acurácia para características já selecionadas rotineiramente, como ganho de peso, conformação de carcaça, área de olho de lombo, espessura de gordura subcutânea e marmoreio”, afirma. Pivato admite que, embora a qualidade da carne seja uma característica in

Amostra de pêlos são coletadas para se fazer a genotipagem e predizer potencial genético do animal

trínseca à raça, faltava avançar na tecnologia que tem permitindo a outras raças bovinas corrigir demandas de originação, como a maciez no Nelore, por exemplo.

Novas possibilidades

O projeto dá continuidade aos estudos já realizados pelas entidades em conjunto com a Unesp (Universidade Estadual Paulista) desde 2013, mas configura uma nova etapa para o melhoramento genético da raça, que busca validação no País e também fora dele. A Asbia indica que 80% do sêmen Angus comercializado no Brasil ainda vem de outros países, principalmente dos Estados Unidos. O que os pesquisadores esperam é que se possa reduzir o percentual de importações ao ampliar a acurácia das características produtivas do Angus nacional por meio da seleção genômica, agregando à raça características que não existem em nenhum outro lugar do mundo: adaptação aos trópicos, pelame curto e resistência ao carrapato, associados à alta produtividade.

“Esse diferencial deverá despertar maior interesse do produtor pela genética nacional e fazer com que nos tornemos ainda mais competitivos frente ao Angus internacional”, diz Cardoso. A participação da raça no total de sêmen exportado pelo País saltou de 2,29%, em 2018, para 8% em 2019, somando 22.500 doses. Para o pesquisador, o Brasil pode ampliar essa participação, pois tem posição privilegiada em relação a outros países no quesito adaptação. “Temos carrapato para selecionar para resistência, infraestrutura e variabilidade genética para agregar diferencial ao Angus que produzimos”, diz.

Na América do Norte não existe carrapato. Os australianos não têm condições para fazer controle do ectoparasita, porque a infestação ocorre normalmente em áreas desérticas e em propriedades muito grandes. “A Argentina seria o único País com potencial para concorrer conosco no quesito resistência, mas, ainda assim, é muito positivo que o Brasil tenha saído à frente nisso”, compara Cardoso, garantindo que esses diferenciais podem mudar a dinâmica do mercado na próxima década e colocar o Brasil efetivamente como grande exportador de genética Angus. n

Fernando Flores Cardoso, pesquisador da Embrapa Bagé (à esq.) e o presidente da ABA, Nivaldo

Dzyekanski, formalizaram parceira em maio .

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