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O espaço certo de cocho para

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Sabor da Carne

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Cocho certo para cada suplemento

Para definir o espaço por cabeça, observe também o pertil do lote e o escore de fezes

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Garantir mais espaço no cocho para os animais pode reduzir em 50% os casos de briga e melhorar seu desempenho

Moacir José

Suplementar o rebanho é uma prática quase obrigatória na pecuária atual, mas poucos produtores têm pleno “domínio de cocho”. ou seja, sabem como adequar essas instalações ao tipo de protocolo nutricional adotado na fazenda. O alerta é do pesquisador Flávio Dutra de Rezende, diretor da Apta-Colina, SP, e um dos “pais” do conceito do boi 7-7-7. “A maioria das fazendas não conta com infraestrutura adequada para suplementar seus animais, enfrentando problemas logísticos, desperdícios ou falhas de abastecimento. O cocho tem impacto direto na produção. Alguns o consideram um investimento caro, porém mais cara é a flutuação no consumo de suplemento”, argumenta.

Essa flutuação pode ocorrer porque o produto não é entregue na quantidade necessária para todos os animais do lote, devido a falhas no dimensionamento do cocho, ou porque a instalação é mal-feita, propiciando queda do suplemento no chão, por exemplo. No primeiro caso (pouco espaço de cocho), tem-se um aumento na velocidade de consumo. O alimento acaba antes de todos poderem comê-lo, porque o “prato” (cocho) é pequeno, e os animais “retardatários” já encontram o recipiente vazio. “Isso aumenta a incidência de brigas, fator de redução no ganho de peso”, explica o pesquisador. A questão que se impõe, então, é: como dimensionar o espaço por cabeça no cocho para que todos possam comer com tranquilidade aquele tipo específico de suplemento fornecido? E como acertar no fornecimento?

Velocidade de consumo

A partir de dados de literatura e experiências de campo, Dutra definiu áreas de cocho específicas para cada tipo de suplemento, com base em sua velocidade de consumo (veja figura na página ao lado). Segundo ele, quanto mais rápido o produto é ingerido, maior deve ser o espaço disponível por animal. Para sal mineral e sal aditivado com virginiamicina, por exemplo, bastam 3 a 5 cm/cab; para proteinado, 6 a 12 cm; para proteico-energético, 30 a 40 cm; para ração de semiconfinamento e TIP (terminação intensiva a pasto), 40-50 cm. “Se o pecuarista trabalhar com espaçamentos inferiores a esses, acabará criando lotes de fundo (animais que comem menos, por medo ou dificuldade de se defender dos dominantes). Tudo isso em função do manejo errado de cocho”, diz Dutra.

O pesquisador da Apta lembra, no entanto, que não basta seguir a medida proposta. Dimensionamento de cocho não é receita de bolo. O espaço linear consiste apenas em uma referência. Deve-se adotar também outros critérios, como o hábito de consumo dos animais, que depende da oferta de forragem. “Temos de procurar entender o que o boi está dizendo. Ele não gosta muito de sal mineral, por exemplo; prefere alimentos palatáveis, como os proteico-energéticos. Se você fornecer esse tipo de produto nas primeiras horas do dia, ele trocará o pasto pelo cocho. E depois, quando o sol estiver muito forte, buscará sombra e, assim, ganhará menos peso”, ensina Dutra, que é professor de pós-graduação na Unesp de Jaboticabal.

Para ele, o ideal é distribuir os suplementos de alto consumo após as 10 horas da manhã, mas reconhece que, dependendo da quantidade de lotes a ser tratados, isso nem sempre é possível. “Também é importante abastecer o cocho sempre no mesmo horário”, acrescenta. Outra constatação, a partir do hábito de pastejo: quando mudam de piquete, os animais, nos primeiros dias, ingerem menos suplemento. Se esse produto representar mais de 50% de sua dieta, haverá grande oscilação no consumo, com prejuízo para o acabamento de carcaça.

Leitura de fezes

Uma das ferramentas para se avaliar eventuais problemas na suplementação é a “leitura de fezes”, por meio de escores: (1) líquida; (2) pastosa mole; (3) pastosa fir

me; (4), dura firme; (5) ressecada. Se a formulação do produto estiver correta, alterações nos bolos fecais podem indicar sub ou super consumo, o que interfere na homogeneidade do lote, porque alguns animais estarão ganhando mais peso e outros, menos. “Isso anula todo o trabalho de apartação prévia dos lotes. Para entender o que está acontecendo, o manejador precisa analisar tanto o suplemento quanto o tamanho do grupo”, diz o pesquisador. “Qualquer variação de 5% nos escores extremos (1 e 5) é sinal de alerta”, explica. Os medianos (2 e 4) são aceitáveis e o 3 é ótimo.

Um estudo conduzido na Apta-Colina avaliou o efeito do espaço linear disponível no cocho por animal (16, 32 e 48 cm) sobre a frequência de ida do animal à instalação para consumir suplemento de alto consumo (média de 1 kg/cab/dia), Concluiu-se que quanto maior é a área por cabeça em um cocho, mais os animais o visitam. “Por conter palatabilizantes, esses produtos atraem os bovinos mais de uma vez por dia ao comedouro, o que não acontece com o sal mineral, mas a facilidade de acesso é fundamental”, diz Dutra. O maior espaço linear por cabeça (48 cm) também reduziu as brigas pela metade (50%), em comparação com o espaço menor (16 cm). No mesmo trabalho, constatou-se que linhas cheias e animais do lado de fora, concentração nas cabeçeiras do cocho são sinais de que falta epaço para todos comerem.

Outra dica do pesquisador é não misturar grupos raciais, pois eles têm comportamentos diferentes. “É preciso evitar uma competição exagerada dos animais no cocho. Por isso, o melhor é cada um no seu quadrado”, aponta Dutra. Ele recomenda, ainda, sempre observar o escore corporal dos animais. Diferenças muito acentuadas podem denotar discrepância no consumo de suplemento. “É preciso ter uma rotina de observação dos animais. Até drones devem ser usados. Afinal de contas, o dinheiro está cada vez mais curto e é preciso ser cada vez mais eficiente. O que paga as contas da fazenda é o desempenho dos animais”, conceitua Dutra.

Como e onde colocar os cochos

Como os cochos têm papel essencial no desempenho dos animais, é fundamental que sejam colocados no local certo. “Instale-os onde o animal costuma ir todo dia, não em pontos que você deseja que ele frequente, para corrigir problemas de manejo de pasto, por exemplo. O importante é que o animal obrigatoriamente coma o que lhe foi servido no cocho, para se cumprir o princípio básico da suplementação, que é complementar o pasto. Se o bovino não comer, o produto pode ter carências nutricionais ou desempenho insatisfatório. Se o consumo for muito alto, também não será bom, pois o papel do suplemento não é substituir o capim.

Normalmente, esse efeito substitutivo é menor quando há maior disponibilidade de folhas tenras no

Espaço de cocho conforme o tipo de suplemento

Qual a taxa de desaparecimento do produto no cocho? Produtos Sal mineral (linha branca)

Sal mineral aditivado Amplitude de (0,5 g/kg PV) consumo Proteinado de baixo consumo (1 a 2 g/kg PV) Proteico/energético ( 3 a 5 g/kg PV) Ração para semi ( 7 a 12 g/kg PV) Ração para confinamento a pasto ( 12 a 20 g/kg PV) Ração à vontade ( >20 g/kg PV)

pasto (menu predileto dos bovinos). Para definir o tamanho dos cochos destinados à suplementação mais pesada (TIP, por exemplo), o pecuarista deve observar primeiro a velocidade de consumo do suplemento na seca (que é maior, devido à escassez de forragem) e dar mais espaço de cocho para os animais (veja foto abaixo). Nas águas, os anmais dão preferência ao pasto e vão menos ao cocho, o que permite economizar na cobertura (telhado), trabalhando com espaçamento menor.

Parcial ou total, a cobertura é necessária para evitar perdas de ração. O combate ao desperdício é fundamental e determinante para convencer aqueles que ainda relutam em suplementar os animais, por achar essa tecnologia cara. Uma simulação feita por Dutra mostra que 5% de perda em um projeto de TIP que fornece 9 kg de ração/cab/dia significa desperdício de 0,45 kg de alimento/cab/dia. Após 120 dias, tem-se 54 kg jogados fora por animal. Ao custo de R$ 0,70/kg, o prejuízo equivale a R$ 37,80/cab/período. Considerando-se 10 bois por metro linear (5 de cada lado) e 2,5 giros por ano, a perda chega a R$ 945/m, valor muito próximo do custo da cobertura, que é de R$ 1.000/m. Ou seja, vale a pena cobrir o cocho. n

Área de cocho (cm/animal)

3 a 5 cm

6/12 cm

30/40 cm

40/50 cm

40/50 cm

40/50 cm

Como os animais frequentem menos o cocho nas águas, o espaço por cabeça pode ser menor (20 cm/cab) para as mesmas 200 cab, não havendo necesscidade de cobrir todo o cocho.

Cocho para TIP – modelo com cobertura parcial, pois consumo nas águas é menor do que na seca.

Espaço nas águas (20 cm/boi) = 40m p/ 200 bois

20 m

20 m

Espaço na seca (40 cm/boi) = 80m p/ 200 bois

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