DBO Junho de 2020

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Cocho certo para cada suplemento Para definir o espaço por cabeça, obser ve também o pertil do lote e o escore de fezes

Garantir mais espaço no cocho para os animais pode reduzir em 50% os casos de briga e melhorar seu desempenho

S

Moacir José

uplementar o rebanho é uma prática quase obrigatória na pecuária atual, mas poucos produtores têm pleno “domínio de cocho”. ou seja, sabem como adequar essas instalações ao tipo de protocolo nutricional adotado na fazenda. O alerta é do pesquisador Flávio Dutra de Rezende, diretor da Apta-Colina, SP, e um dos “pais” do conceito do boi 7-7-7. “A maioria das fazendas não conta com infraestrutura adequada para suplementar seus animais, enfrentando problemas logísticos, desperdícios ou falhas de abastecimento. O cocho tem impacto direto na produção. Alguns o consideram um investimento caro, porém mais cara é a flutuação no consumo de suplemento”, argumenta. Essa flutuação pode ocorrer porque o produto não é entregue na quantidade necessária para todos os animais do lote, devido a falhas no dimensionamento do cocho, ou porque a instalação é mal-feita, propiciando queda do suplemento no chão, por exemplo. No primeiro caso

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(pouco espaço de cocho), tem-se um aumento na velocidade de consumo. O alimento acaba antes de todos poderem comê-lo, porque o “prato” (cocho) é pequeno, e os animais “retardatários” já encontram o recipiente vazio. “Isso aumenta a incidência de brigas, fator de redução no ganho de peso”, explica o pesquisador. A questão que se impõe, então, é: como dimensionar o espaço por cabeça no cocho para que todos possam comer com tranquilidade aquele tipo específico de suplemento fornecido? E como acertar no fornecimento? Velocidade de consumo A partir de dados de literatura e experiências de campo, Dutra definiu áreas de cocho específicas para cada tipo de suplemento, com base em sua velocidade de consumo (veja figura na página ao lado). Segundo ele, quanto mais rápido o produto é ingerido, maior deve ser o espaço disponível por animal. Para sal mineral e sal aditivado com virginiamicina, por exemplo, bastam 3 a 5 cm/cab; para proteinado, 6 a 12 cm; para proteico-energético, 30 a 40 cm; para ração de semiconfinamento e TIP (terminação intensiva a pasto), 40-50 cm. “Se o pecuarista trabalhar com espaçamentos inferiores a esses, acabará criando lotes de fundo (animais que comem menos, por medo ou dificuldade de se defender dos dominantes). Tudo isso em função do manejo errado de cocho”, diz Dutra. O pesquisador da Apta lembra, no entanto, que não basta seguir a medida proposta. Dimensionamento de cocho não é receita de bolo. O espaço linear consiste apenas em uma referência. Deve-se adotar também outros critérios, como o hábito de consumo dos animais, que depende da oferta de forragem. “Temos de procurar entender o que o boi está dizendo. Ele não gosta muito de sal mineral, por exemplo; prefere alimentos palatáveis, como os proteico-energéticos. Se você fornecer esse tipo de produto nas primeiras horas do dia, ele trocará o pasto pelo cocho. E depois, quando o sol estiver muito forte, buscará sombra e, assim, ganhará menos peso”, ensina Dutra, que é professor de pós-graduação na Unesp de Jaboticabal. Para ele, o ideal é distribuir os suplementos de alto consumo após as 10 horas da manhã, mas reconhece que, dependendo da quantidade de lotes a ser tratados, isso nem sempre é possível. “Também é importante abastecer o cocho sempre no mesmo horário”, acrescenta. Outra constatação, a partir do hábito de pastejo: quando mudam de piquete, os animais, nos primeiros dias, ingerem menos suplemento. Se esse produto representar mais de 50% de sua dieta, haverá grande oscilação no consumo, com prejuízo para o acabamento de carcaça. Leitura de fezes Uma das ferramentas para se avaliar eventuais problemas na suplementação é a “leitura de fezes”, por meio de escores: (1) líquida; (2) pastosa mole; (3) pastosa fir-


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