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Consultor em saúde animal
Necropsia feita por José Zambrano (de cinza) junto com o professor Elias Facury, da UFMG (camisa azul), e o veterinário Rafael Perez (de bonê)
Depois que a gente inicia esse trabalho
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[diagnóstico],
as cobras desaparecem e passam a se chamar inflamação de umbigo, peritonite, clostridioses, necroses, enterites hemorrágicas”
cem o produtor e eles têm de estar linkados com o dinheiro. Não adianta falar que term verminose e precisa aplicar um vermífugo, se não tiver um retorno econômico. Mas, graças a Deus, o controle da maioria dos desafios sanitários traz junto um resultado financeiro. Os insumos são baratos (representam de 1,6% a 6% do custo operacional total, dependendo da atividade).
Renato – Você consegue mensurar esse resultado quando se tem doenças subclínicas, por exemplo?
Zambrano – Sim, alguns trabalhos no Brasil já mediram perdas causadas por esse tipo de doença, que não apresenta sintomas. Um desses trabalhos mostrou que um animal com coccidiose, por exemplo, deixa de ganhar 1@ em 100-110 dias. É muito dinheiro para uma fazenda. Na verminose subclínica, deve ser algum valor bem similar.
Renato – A coccidiose é mais associada a gado leiteiro, está aumentando também no de corte? Qual a principal causa disso?
Zambrano – Devido a mudanças no manejo, como a IATF, sua incidência tem aumentado na pecuária de corte. Não estou falando mal da ferramenta, defendo seu uso, mas quando se junta animais no curral por mais tempo, separando as vacas dos bezerros, uns defecando do lado dos outros, a contaminação acontece. Quem trabalha com cacimbas e açudes ou possui curvas de nível nos pastos [junta poças de água] também têm desafio maior para coccidiose e verminoses.
Renato – A IATF chegou pra ficar. Tem como o produtor minimizar o risco de coccidiose ou eimeriose nos bezerros?
Zambrano – Sim, primeiro é preciso saber se tem Coccidia sp circulando na fazenda. Se tiver, temos algumas ferramentas para combatê-la, como a inclusão de ionóforos no sal mineral das vacas e no suplemento para creep feeding. Tem alguns produtos, hoje, com esses aditivos, que ajudam bastante no controle ou prevenção da doença. Se você tem animais sem sintomas, mas excretando coccídeos, pode tratá-los para reduzir sua disseminação no ambiente. Mas o controle da qualidade da água para mim é o mais importante.
Renato – O professor Iveraldo Dutra, da Unesp-Araçatuba, costuma dizer que, se você perguntar para o pecuarista qual a principal causa de mortalidade na fazenda, ele vai responder que é picada de cobra. Esse problema é significativo ou falta diagnóstico?
Zambrano – Não tenho dúvida de que falta diagnóstico. Um dos trabalhos que fazemos é treinar pessoas para identificar causas de mortalidade em bovinos, usando uma ferramenta chamada necropsia para avaliar tecidos internos e alterações no corpo do animal que indicam a possível causa da morte. Os vaqueiros nos enviam fotos e também fazemos exames in loco. Depois que a gente inicia esse trabalho, as cobras desaparecem e passam a se chamar inflamação de umbigo, peritonite, clostridioses, necroses, enteretites hemorrágicas. Um ponto que focamos muito nas fazendas é: “Se você não conhece seu inimigo, não consegue lutar contra ele”.
Renato – E como está a questão da destinação de carcaças de animais mortos nas fazendas?
Zambrano – A gente sabe que é preciso recolher essas carcaças, retirá-las de perto das fontes de água para evitar botulismo hídrico, mas continuamos a ver muitas carcaças nos pastos. Poucas fazendas têm cemitérios, ou seja, áreas separadas para destinação das carcaças. Mas não adianta deixá-las ao ar livre, porque urubus e outros animais silvestres podem carregar partes contaminadas para o pasto ou fontes de água. Deve-se jogar cal virgem na carcaça e enterrá-la. A compostagem também pode ser um caminho.
Renato – Qual o índice de mortalidade que você tem observado nas fazendas e qual seria o percentual aceitável?
Zambrano – Isso varia muito, principalmente na cria. Tem fazenda com 1,3% de mortalidade, outras com 6% a 8%. O aceitável seria 3% ou menos. Em rebanhos PO que trabalham com precocinhas temos visto índices de até 10%, porque essas fêmeas têm um desafio maior no parto. Infelizmente, a maioria das fazendas não têm registros adequados de mortalidade. Quando começarem a anotar, vão ver que o número é muitas vezes superior a 3%.
Renato – Você fala em 10% de mortalidade em bezerros de precocinhas. Avançou-se muito em nutrição nessa categoria e pouco em sanidade? Como reduzir esse índice elevado?
Zambrano – A nutrição é fundamental para se preparar a fêmea para emprenhar precocemente, mas a gente vê que que alguns animais – não estou generalizando – mais engordam do que crescem, apresentando partos distócicos, que têm seis vezes mais risco de morte para bezerro. Outro ponto é que, se o parto for traumático, pode afetar a produção de colostro, aumentando a possibilidade de rejeição do bezerro. Fico mais preocupado com os problemas de parto, que a gente tem visto com frequência, mas também conheço fazendas com índices muito bons em precocinhas e desmama muito eficiente.
Renato – O uso de protocolos sanitários é uma tendência. Que cuidados o produtor deve tomar para montar um protocolo eficiente e não gastar dinheiro desnecessariamente?
Zambrano – Acho que são dois caminhos: entender bem os desafios da fazenda e não seguir modismos. Um calendário elaborado para uma fazenda de Goiás não serve para outra no Tocantins, porque o clima, a entrada e saída de animais, os fatores de risco são diferentes. Logicamente algumas doenças exigem manejos fixos (aftosa, brucelose, raiva em regiões onde não é obrigatória a vacinação,
Muitas vezes, nas fazendas, o principal transmissor de doenças é o homem, por meio do uso de agulhas contaminadas”
faço questão de incluir), mas a estratégia de vermifugação e outras vacinas deve ser ajustada à fazenda. Reavalie sempre seu protocolo e fuja dos modismos. Todo dia aparece um medicamento, uma vacina nova. Veja se realmente precisa disso. Na palestra, você ouviu que está aumentando a mortalidade por clostridioses, não saia vacinando. Verifique primeiro se tem o problema.
Renato – Você poderia nos dar exemplos de protocolos bem ajustados e indicar os pontos fortes desses protocolos?
Zambrano – Em fazendas de cria, um protocolo ajustado deve ter orçamento, processos bem definidos e avaliação de resultados. Se, em maio, está previsto fazer vacina reprodutiva, devo verificar se o produto foi aplicado e qual seu efeito na taxa de prenhez. Com um protocolo bem ajustado contra raiva e clostridiose (vacinação aos quatro ou cinco meses mais reforço), dificilmente você terá mortalidade por essas doenças pós-desmama. As perdas são muito menores quando você monta uma estratégia, por exemplo, para animais de compra. Você tem de pensar que eles nunca tomaram uma vacina, mesmo tendo chegado com certificado de vacinação. Com isso, você diminui a mortalidade e ganha eficiência na fazenda.
Renato – Quando se fala em doenças reprodutivas, quase automaticamente vem à cabeça leptospirose e à IBR-BVD. São essas as principais doenças ou tem outras aparecendo como vilãs aí?
Zambrano – Depende. Se a fazenda trabalha com IATF, me preocuparia mais com leptospirose, IBR e BVD, mas se usa monta natural, consideraria também doenças de transmissão sexual, como a compilobacteriose, que causa aborto e infertilidade, mas tem vacina, e a tricomona, causada por protozoário, que não tem vacina mas pode ser controlada descartando-se os animais mais velhos, principais portadores do parasita. Eu ainda citaria a brucelose, que é muito negligenciada, e a neosporose, que causa aborto, mas infelizmente não tem vacina.
Renato – É mais vantajoso financeiramente montar um protocolo personalizado na fazenda?
Zambrano – Sem dúvida, porque, conhecendo seus desafios, você para de comprar medicamentos de que não precisa e ainda fica mais eficiente, pois uso o vermífugo que realmente funciona, verifico se a vacina que eu estou usando realmente protege contra a leptospira que eu encontrei no exame de sangue dos animais. Essa é uma questão muito importante em fazendas de cria. Então, você começa a personalizar seu calendário sanitário e ajustá-lo às necessidades da fazenda, reduzindo custos e obtendo mais lucro.
Renato – Você citou muito ao longo da entrevista a importância de se treinar os peões. Como é feito esse trabalho?
Zambrano – O vaqueiro é quem faz a estratégia sanitária acontecer, então, o primeiro passo é convencê-lo da importância dos procedimentos. Temos aqui dois pontos críticos: desinformação e desmotivação, ambos resolvidos por meio da capacitação, porque você ensina e ainda mostra que ele é importante, que a ida dele à maternidade para curar o umbigo corretamente ou tratar a diarreia na hora certa diminui a mortalidade, aumenta o peso à desmama e os resultados da fazenda. Hoje, a gente roda os pastos com os vaqueiros e observa o manejo deles, até para entender suas limitações. Muitos não conseguem curar bem o umbigo porque tem animais demais para processar. Nas rueniões, podem relatar suas dificuldades e a gente mostra números pra eles. Por exemplo, na avaliação do umbigo com 30 dias de vida, por meio de escores, de 300 animais, 25% tinham alteração. A gente mostra que precisa melhorar esse número, melhorando o manejo. Nosso foco é capacitar e motivar pessoas. Desde o vaqueiro até o gerente.
Renato – Há uma tendência de intensificação da recria na pecuária. Isso tem trazido desafios sanitários?
Zambrano – Sim, a verminose aumentou muito nessa categoria, devido à criação em piquetes menores, com maior acúmulo de matéria orgânica. Também aumentou a incidência de coccidiose e problemas de casco. Toda intensificação eleva o desafio sanitário. Dependendo do ambiente, podem ocorrer também problemas respiratórios, mas em percentual menor do que nos confinamentos. Tem algumas pneumonias causadas por vermes em áreas de baixada, que também demandam ajustes no protocolo sanitário.
Renato – Tem-se falado mais sobre tripanossomose em gado de corte. Isso tem a ver com a mosca dos estábulos?
Zambrano – Sim, a Stomoxys calcitrans e as agulhas contaminadas são as principais transmissoras dessa doença. O homem também ajuda a disseminar a tripanossomose, por meio da compra ou venda de gado contaminado. A mosca é responsável pela transmissão dentro do rebanho e está cada vez mais presente nas fazendas, principalmente aquelas próximas de usinas. Nas de leite, a doença tem causado grande mortalidade. Em meu país [Venezuela], ela acomete rebanhos de regiões com muita mutuca, muito tabanídeo, causando mortalidade e infertilidade. Animais tendem a emagrecer. Perdem a condição corporal. No Brasil, a gente não sabe o tamanho do problema, mas já encontramos tripanossoma em muitas fazendas. Então tem de abrir o olho para essa doença. Ela é importante.
Renato – Há prevenção, algo que o produtor possa fazer?
Zambrano – Pensando na fazenda de corte, o principal fator que você deve trabalhar é a agulha contaminada. O ideal seria usar uma agulha por animal, mas, como não é possível, deve-se pelo menos trocá-la com certa frequência. Tenha cuidado com os materiais que está usando, porque, muitas vezes, nas fazendas, o principal transmissor de doenças é o ser humano, por meio de agulhas contaminadas e outros problemas de manejo. O controle da tripanossomose não é simples, porque a Stomoxys calcitrans é uma mosca ambiental e o tabanídeo é muito complicado de combater, principalmente em fazendas onde se tem uma estação chuvosa seguida por seca prolongada. Mas precisamos fazer nossa parte. Acredito que o controle por meio do uso correto de agulhas é importante e influi muito no sucesso ou não da transmissão dessa doença. n
Aftosa: continente discute retirada da vacina
O Brasil e a Bolívia lideraram o movimento pela retirada da vacinação contra a febre aftosa durante a 47ª Reunião da Cosalfa – Comissão Sul-Americana para Luta Contra a Febre Aftosa. Se conquistar a chancela internacional da OIE (Organização Mundial de Saúde Animal), em maio do ano que vem para as novas áreas livres sem vacinação, o Brasil incorporará cerca de 40 milhões de bovinos a esse status. Na Bolívia, 50% dos bovinos já não são vacinados contra a aftosa. Restam os municípios de Santa Cruz de La Sierra e parte de Cochabamba, que devem retirar a vacinação até o fim deste ano.
O Paraguai caminha mais lentamente, mas anunciou que, em 2021, vacinará somente animais com menos de 24 meses. A exemplo do Brasil, a vacina paraguaia passará a ser bivalente e terá a dose reduzida de 5 para 2 ml. Os uruguaios ainda estão “em cima do muro” quanto a parar de vacinar, já a Argentina é contra, mas Alejandro Rivera Salazar, coordenador do Panaftosa, relativiza a postura dos vizinhos. “Diria que nenhum país se opõe a avançar para o status de livre sem vacinação, porque todos concordam que este é o objetivo final do Programa Hemisférico de Erradicação da Febre Aftosa, mas nem todos têm cronograma específico para isso”, diz.
Segundo Salazar, a percepção de risco de produtores e demais atores da cadeia pecuária bovina, em relação à doença, se baseia em experiências históricas negativas com suspensão da vacinação. “Frequentemente, argumenta-se que o continente poderia vivenciar uma situação semelhante à de 2000-2001, quando ocorreram surtos epidêmicos na Argentina, Uruguai e Brasil. Mas é errado avaliar o risco atual com base em circunstâncias que ocorreram há quase 20 anos”, argumenta. A reunião da Cosalfa, transmitida online da Argentina, reuniu 870 pessoas, de 29 países.
Consumidor pode ser “fiscal” da Carne Angus
A Associação Brasileira de Angus (ABA) abriu um novo canal de denúncia a fim de identificar (com o auxílio dos próprios consumidores) eventuais produtos, casas de carne e estabelecimentos que usem o nome Angus ou o selo da ABA, sem autorização e sem passar por certificação do Programa Carne Angus Certificada. “Essa é uma das formas de incentivar os consumidores a ser agentes ativos na vigilância do produto que consomem”, diz Ana Doralina Menezes, gerente do programa. Ao se cadastrar no formulário pelo site www.angus.org.br, na aba Denuncie é possível inserir fotos do produto irregular e informar onde ele foi encontrado. Desde o ofício circular nº 11/2015 do Ministério da Agricultura, Pecuário e Abastecimento, apenas emO uso do Metarhizium anisopliae, fungo que combate a cigarrinha-das-pastagens, está crescendo no campo. Estima-se que a cepa IBCB 425, selecionada pelo Instituto Biológico (IB-Apta) para o controle da praga, já esteja presente em 500.000 ha de pastagem. Segundo José Eduardo Marcondes de Almeida, pesquisador do IB, o fungo permite reduzir em 70-80% o usado de produtos químicos. Na cana-de-açúcar, a cepa IBCB 425 é utilizada em 1,5 milhão de ha para o conFundador da Central Nova Índia (uma das grandes disseminadoras de tecnologias de reprodução na década de 1990, em Uberaba, MG), Dirceu Borges faleceu neste mês de agosto, aos 88 anos. Grande empresário do setor, ele prestou enorme contribuição ao melhoramento genético das raças zebuínas, com o uso de modernas tecnologias ligadas à produção de sêmen e embriões, que revelaram estrelas da seleção do Nelore. Um deles foi Bilara PO da Nova Índia, ma
presas credenciadas junto às associações podem usar nomes de raças em rótulos de produtos ou em material publicitário. Atualmente, o Programa ABA conta com 17 indústrias frigoríficas parceiras, em 11 Estados, e somente elas têm autorização para fazer uso do nome Angus em
Fungo contra a cigarrinha já é usado em 500.000 ha
seus cortes. trole da cigarrinha-da-raiz, praga que ataca a cultura. Para que seja efetiva, a aplicação do fungo deve ser feita após as 16 horas, com umidade relativa do ar acima de 65%. “Dessa forma, garantimos que o fungo tenha pelo menos 12 horas de ação para infectar a cigarrinha”, explica. O monitoramento é essencial no combate à praga. No caso das pastagens, considera-se a contagem de 25 ninfas/m 2 como indicativa de população capaz de causar prejuízos
LUTO Reprodução animal perde Dirceu Borges
e, portanto, que deve ser controlada. triarca que viveu por 19 anos, 10 deles na Nova Índia, produzindo um total de 172 filhos, quase todos fruto da tecnologia de embriões. Borges também foi criador do método Shiva de treinamento de inseminadores (em parceria com a Embrapa), que revolucionou a formação de mão de obra nessa área em 1997. Ele morava em São Paulo e deixa cinco filhos e cinco netos.
Conectados na rede
Pesquisa conjunta conduzida pela Embrapa, Sebrae e Inpe mostra que mais de 70% dos produtores rurais acessam a internet em busca de informações sobre agricultura. Já as redes sociais (Facebook, WhatsApp) foram apontados por 57,5% dos entrevistados como meios usados para obter ou divulgar informações relacionadas à propriedade, comprar insumos ou vender a produção. “Essas ferramentas são utilizadas em atividades gerais, com o objetivo de ajudar no planejamento e na gestão da propriedade”, explica o pesquisador da Embrapa Informática Agropecuária (SP), Édson Bolfe, que coordenou o estudo. A pesquisa ouviu mais de 750 produtores.
Charolês tem nova diretoria
A Associação Brasileira de Criadores de Charolês (ABCC) tem nova diretoria para o período 2020-2022. O novo presidente é César Adam Cezar, conhecido, carinhosamente, como “Cesinha”, titular da Cabanha Cezar, de Vacaria, RS, com “cadeira cativa” na associação da raça nos últimos anos. Ele exerceu a função no mandato de 2000-2002, assim como seu pai, Cezar Jacques Cezar, que conduziu a associação no biênio 1980-1982. Também é integrante do quadro técnico da raça desde 1988 e já coordenou a Federação Internacional do Charolês no início dos anos 2000, além de ser jurado atuante em diferentes exposições da raça, dentro e fora do País.
Antony Sewell assume APPS
Sócio e consultor da Boviplan Consultoria Agropecuária, de Piracicaba, SP, Antony (Tony) Sewell assumiu a presidência da nova diretoria da Associação dos Profissionais de Pecuária Sustentável (APPS). A entidade tem por missão difundir tecnologias para elevação da produtividade no setor e é um dos principais fóruns de discussão sobre o tema no País. Participam da APPS, empresas de consultoria e instituições de pesquisa do ligadas ao tema bovinocultura. “Acreditamos no caminho da profissionalização, a fim de alcançar a sustentabilidade, e trabalhamos para o seu fortalecimento”, conceitua ele. Info pec Infográficos que sintetizam informações importantes da pecuária
Produção mundial de carnes bovina e bubalina (TEC) por continente, entre 1998 e 2018, e previsão para 2024
Concentração da produção mundial de carnes bovina e bubalina por países em 1998 e 2018
Onde está a produção mundial de carne bovina?
A produção mundial de carne bovina deve crescer até 2024, na América do Sul,chegando a 17,4 milhões de toneladas equivalente-carcaça, segundo estimativa do Cicarne (Centro de Inteligência da Carne Bovina), ligado à Embrapa Gado de Corte. A projeção foi feita a partir de dados processados pela FAO (Fundo das Nações Unidas para Agicultura e Alimentação) entre 1998 e 2018. Maior continente produtor, a América do Sul teve ascensão de 50% no período. Os maiores percentuais foram observados no Paraguai (121%), Brasil (70%), Uruguai (31%) e Argentina (24%). O Brasil foi o maior produtor de carne bovina em 2018, com 9,9 milhões de toneladas equivalente-carcaça, seguido da Argentina, com 3,06 milhões. Ao avaliar as projeções otimistas, o Cicarne alerta para o crescimento dos países asiáticos e africanos, que ameaçam a hegemonia sul-americana, em especial a produção brasileira, com possíveis reflexos nas quantidades exportadas, especialmente para o continente asiático.
2020 avança e já é marcado por novos recordes
Thiago Bernardino de Carvalho
é pesquisador da área de Pecuária do Cepea. Mensagens para cepea@usp.br
Colaborou:
Alessandra da Paz
Gestora da Equipe de Comunicação do Cepea
Oano de 2020 avança e já vem confirmando as expectativas de agentes do setor, que, em janeiro, esperavam ver, no decorrer do ano, as vendas externas manterem a boa performance registrada em 2019. Esses prognósticos se fundamentavam na aquecida demanda chinesa (a China, dentre outros fatores, elevou o volume comprado por conta dos persistentes casos de Peste Suína Africana em seu rebanho) e na menor oferta de importantes países produtores, como Austrália, Uruguai e Paraguai. Esse contexto global se somou ao Real desvalorizado frente ao dólar, mantendo a carne brasileira competitiva no mercado internacional.
As intensas exportações brasileiras e a oferta restrita de boi gordo no pasto, evidenciada pelo menor número de animais abatidos no primeiro semestre, têm mantido os preços da arroba em alta no mercado nacional. Essa valorização da arroba, contudo, não indica que o pecuarista está com margens maiores, pois os animais de reposição (bezerro e boi magro) estão sendo negociados em patamares recordes reais, nas respectivas séries do Cepea. Além da reposição – que representa mais da metade dos custos de produção de pecuaristas recriadores –, a forte valorização do dólar neste ano elevou os preços de importantes insumos pecuários importados. Vale lembrar ainda que insumos alimentares, como o milho e o farelo de soja, estão valorizados.
No caso da indústria, enquanto as exportações aquecidas e o dólar elevado ajudam na receita, os frigoríficos que trabalham apenas no mercado doméstico se deparam com uma matéria-prima em patamar recorde e uma demanda por carne bovina mais enfraquecida. Isso porque a carcaça casada do boi é negociada a patamares superiores aos verificados em anos recentes, ao passo que a população começa a perder o poder de compra, diante da crise econômica gerada pela pandemia de covid-19. Com isso, muitos consumidores têm migrado para proteínas
Indicador do boi gordo ESALQ/B3, médias mensais
250,00 230,00 210,00 190,00 170,00 150,00
jan-17 mar-17 mai-17 jul-17
Fonte: Cepea-Esalq/USP.
set-17 nov-17 jan-18 mar-18 mai-18 jul-18 set-18 nov-18 jan-19 mar-19 mai-19 jul-19 set-19 nov-19 jan-20 mar-20 mai-20 jul-20 mais baratas, como suínos, frango e ovos. Considerando- -se o IBC-Br (Índice de Atividade Econômica do Banco Central), o PIB brasileiro recuou 6,28% no primeiro semestre de 2020, o que resulta em diminuição de 2,51% no consumo per capita de carne bovina, algo próximo de um quilograma por habitante.
Num contexto mais macro, as exportações aquecidas têm movimentado a indústria nacional e ajudado o desempenho de todo o ramo pecuário do Brasil. Cálculos do Cepea realizados em parceria com a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) mostram que, de janeiro a maio de 2020, o PIB do ramo pecuário cresceu expressivos 9%, ao passo que o agrícola avançou 2,51%. Diante disso, o PIB do agronegócio nacional aumentou 4,62% nos cinco primeiros meses deste ano. BOI – Em agosto (até o dia 14), o Indicador do boi gordo CEPEA/B3 registrou média mensal de R$ 226,84, recorde da série histórica mensal do Cepea, iniciada em 1994 (as médias mensais foram deflacionadas pelo IGP-DI de julho/20). Agora, quando considerada a série diária, o maior preço real foi verificado em 29 de novembro de 2019, de R$ 251,52 (valor corrigido). BEZERRO – Como resultado do aumento do abate de fêmeas nos últimos dois anos e do crescimento no abate de novilhas, os preços médios mensais do bezerro vêm renovando os recordes reais desde março deste ano. Esse cenário sustentou a rentabilidade do criador, que também se deparou com preços de insumos importados e da alimentação elevados. Na parcial de agosto (até o dia 14), o preço médio do bezerro Nelore (de 8 a 12 meses) comercializado no Estado de São Paulo foi de R$ 2.115,04, recorde real da série deste produto, iniciada em 1994. BOI MAGRO – Os valores do boi magro têm atingido sucessivos recordes reais desde maio deste ano. Em agosto, o valor médio desse animal negociado no Estado de São Paulo foi de R$ 3.057,54. EXPORTAÇÕES –De janeiro a julho, segundo dados da Secex, os embarques de carne bovina in natura totalizaram 946.670 toneladas, 17,2% superiores aos dos sete primeiros meses de 2019 e um recorde para o período. A receita em moeda nacional soma R$ 20,8 bilhões neste ano, 76% a mais do que a obtida de janeiro a julho de 2019, ainda de acordo com a Secex, e também um recorde. Em dólar, a receita atinge US$ 4,16 bilhões, alta de 34,77% frente ao mesmo período do ano passado e 26,12% superior ao recorde registrado, até então, em 2014. n
Com o sorriso na orelha
Arroba forte vai a R$ 240 e anima, ainda mais, os pecuaristas
Denis Cardoso
Embora o PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro tenha registrado retração histórica de 9,7% no segundo trimestre do ano, em comparação com os três meses anteriores, devido à Covid-19, o setor agropecuário cresceu 0,4% na mesma base de comparação. A pecuária de corte segue fortalecida, principalmente a arroba do boi gordo, que atingiu níveis recordes nas principais praças. O temor de paralisação generalizada de frigoríficos parece ter mesmo ficado para trás, após as indústrias reforçarem as medidas de segurança. Nas últimas semanas, o mercado do boi gordo passou a conviver quase que unicamente com fundamentos altistas. Na praça paulista, no início de setembro, o boi gordo chegou a R$ 240/@, com pagamento a prazo, conforme dados da consultoria IHS Markit. No Mato Grosso, se aproximou de R$ 230/@, enquanto que nos balcões de negócios da Bahia ultrapassou a casa de R$ 245/@. Em Goiás, bateu R$ 230/@; no Pará atingiu R$ 235/@; e, no Maranhão, houve vendas acima de R$ 230/@. Ou seja, em qualquer região importante da pecuária não se viram negócios ruins: estiveram sempre acima de R$ 205-R$ 210/@. Na comparação com o mesmo período do ano passado, a subida do boi gordo impressiona: em 1º de setembro, o Indicador Cepea/B3 valia R$ 155,70 (valor
Contrato futuro do boi para outubro/2020 avança para R$ 244/@
Data/ pregões 31/7/2020 31/8/2020 Fonte: B3
jan
Mês para a liquid ação d os c ontratos na B3
Fev Mar Abr Mai Jun Jul
225,59 -
Ago
225,80 232,99
Set
223,25 239,30
Out
223,20 240,35
Nov
223,60 243,45
Dez
224,00 244,10
Indicador do bezerro sobe 5,5% no MS em agosto
Especificações Preço à vista por cabeça Peso médio (em kg) Preço por kg Preço por arroba
Fonte: Cepea/Esalq/USP
Datas d e levantamento d o Cepea 31/8/2020 31/7/2020 R$ 2.179,43 R$ 2.065,40 210 201 R$ 10,37 R$ 10,27 R$ 311,34 R$ 308,26
Indicador Boi Gordo registra alta de 4% em agosto em SP
Especificações
Preço à vista
Datas d a liquid ações d os c ontratos negoc iad os na B3
31/8/2020
R$ 237,60 31/7/2020 R$ 228,30
Fonte: Cepea/Esalq/USP /BM&FBovespa. Média dos últim os cinco dias úteis em liquidação dos contratos negociados a fu turo na BM&FBovespa. São Paulo. O valor é usado para a à vista, praça paulista). No primeiro dia útil deste mês, a cotação era de R$ 237,60 – 52% maior.
O mercado futuro do boi gordo também saiu do estágio de dormência, acompanhando a subida da arroba no mercado físico. No final de agosto (dia 31), o contrato futuro de outubro, pico da entressafra, bateu R$ 240,35/@ na bolsa de mercadorias B3. Um dia depois (1º de setembro) já estava em R$ 243/@, o maior preço já registrado em toda a história para esse vencimento. O papel para dezembro/20, na mesma data, superou a casa dos R$ 248/@. Os dois fatores principais que explicam o atual movimento de alta: a enorme escassez de oferta de boiadas prontas e o ritmo forte dos embarques brasileiros de carne bovina.
O “apagão” do boi é resultado não somente do período de entressafra de animais terminados a pasto, mas também do histórico de matanças elevadas de matrizes em anos anteriores, por causa da baixa atratividade do sistema de cria. Agora, o mercado inverteu a tendência, ou seja, atravessa um ciclo de alta nos preços dos bezerros e outras categorias jovens, o que incentiva os pecuaristas a segurar as fêmeas nas fazendas, reduzindo ainda mais a oferta de animais para abate. Os preços da vaca gorda não param de subir, ficando, em média, apenas R$ 10 abaixo do valor da arroba do boi.
Além da falta de “boi de capim”, o mercado sente também a ausência de ofertas de grandes lotes de animais de confinamento, atividade que foi comprometida no primeiro giro de engorda, atingido em cheio pela pandemia. O ritmo acelerado de vendas de carne bovina ao exterior é outro motivo para a escalada dos preços do boi gordo. A China é a grande responsável pelos bons resultados dos embarques, que, em agosto último, registraram mais uma vez recorde mensal para o período, superando a casa das 160.000 toneladas (produto in natura). Além da demanda chinesa, o setor exportador é favorecido pela desvalorização do real frente ao dólar: mais competitiva, a carne brasileira abocanha nacos de mercado antes ocupados pela Austrália, sobretudo o da China.
No entanto, é preciso considerar também o mercado interno, que absorve pelo menos 75% da produção. No curtíssimo prazo, considerando-se o início de setembro, havia uma expectativa de elevação no consumo interno, incentivada pelo pagamento dos salários aos trabalhadores, e também pela notícia de prorrogação do auxílio emergencial até dezembro, agora cortado pela metade (R$ 300). Porém, o movimento da demanda doméstica nos próximos meses do ano ainda é incerto, pois a atual crise econômia pode manter os brasileiros ainda longe das prateleiras, onde outras proteínas – como frango, suínos e ovos – são mais baratas do que a carne bovina. n
Reposição expreme ganhos
Alta simultânea com insumos prejudica relação de troca com boi gordo
Denis cardoso
Oritmo forte das exportações brasileiras de carne bovina e a oferta restrita de animais para abate mantêm os preços médios mensais do boi gordo em patamares recordes no mercado nacional. Porém, os avanços da arroba não indicam que os pecuaristas estão conseguindo boas margens nas negociações de boiadas. “Isso porque os valores dos animais de reposição são hoje negociados também em patamares históricos”, relatam os pesquisadores do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).
Consultores de mercado concordam: “Com a arroba do boi gordo em alta, os recriadores e invernistas saíram à procura de negócios com mais intensidade em agosto, mas os altos patamares dos preços no mercado de reposição inibiram os compradores”, destaca a zootecnista Thayná Drugowick, da Scot Consultoria. “A relação de troca entre boi gordo/boi magro/bezerro e entre o boi gordo/ração pioraram, mantendo os pecuaristas de recria e engorda mais cautelosos nas compras de animais novos”, destaca a consultoria IHS Markit.
Dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) mostram que o Indicador Bezerro/Cepea/MS (animal Nelore, de 8 a 12 meses, praça do MS) fechou o último dia útil de agosto valendo R$ 2.179/cabeça, o que significou acréscimo 67,6% sobre o valor registrado há um ano (R$ 1.300/cab) e um avanço de 90,1% na comparação com preço de 31 de agosto de 2018 (R$ 1.146).
De acordo com a pesquisa mensal realizada pela Scot Consultoria, que considera a variação média de preços de animais machos e fêmeas anelorados em 14 praças pecuárias do Brasil, o mercado de reposição subiu quase 8% no mês passado em relação ao valor médio de todas as categorias observado em julho. “As altas de preço estão sendo puxadas pelas fêmeas, devido à maior atratividade pelo segmento de cria e o maior interesse na produção de bezerros”, observa Thayná. Mas também há atualmente um aumento de procura por machos, especialmente os mais erados, para colocar no cocho, acrescenta a analista.
Queda no poder de compra
Tomando como base a praça de São Paulo, desde janeiro de 2020, a cotação da arroba do boi gordo subiu 16,8%, segundo a Scot Consultoria. Considerando a média de todas as categorias de animais para reposição no Estado, entre machos e fêmeas anelorados, a alta foi de 37,4% no mesmo período de comparação. Com isso, em agosto de 2020 foram necessárias 9,29 arrobas de boi gordo para a compra de um bezerro desmamado anelorado (6@), queda de 11% sobre o poder de compra do recriador observado em agosto de 2019, de 8,36@/bezerro.
No Mato Grosso, principal Estado produtor de bovinos do País, os preços do gado jovem registraram forte valorização, mesmo diante de morosidade de negócios. Além do avanço nos preços dos animais de reposição, os insumos também estão subindo a ladeira, tanto no Centro- -Oeste quanto nas demais regiões pecuárias. Em agosto, com a venda de um boi gordo, o pecuarista do Mato Grosso comprava 2,47 toneladas de farelo de soja, um recuo de 6,54% na comparação com a quantidade de 2,64 toneladas registrada em agosto de 2019, de acordo com dados do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea). Em relação ao milho, com o valor do boi gordo, o produtor de Mato Grosso adquiria em agosto 107,1 sacas de 60 kg, ante 128,5 sacas compradas em agosto de 2019 – uma queda de 16,6% na relação de troca.
Demais altas regionais relevantes
Em Goiás, o bezerro desmamado registrou acréscimo de 7% no mês passado, para R$ 2.200, em média, e o garrote teve alta de 6%, ficando a R$ 2.750, em média, segundo dados da Scot Consultoria. Nessa mesma região, o boi magro atingiu R$ 3.200 no último mês, com valorização mensal de 10%, e a novilha subiu 19,5%, para R$ 2.450.
Na praça do Mato Grosso, o valor médio do bezerro desmamado fechou agosto a R$ 2.200, com valorização de 10% sobre julho. O garrote subiu 6%, para R$ 2.650, em média, e o boi magro teve alta de 11%, para R$ 3.000. O preço da novilha teve acréscimo mensal de 13%, para R$ 2.200, de acordo com a Scot Consultoria. n
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R$ 2.179
Valor médio do Indicador Bezerro/Cepea/MS no fim de agosto; acréscimo 67,6% sobre o valor registrado há um ano nnn
MERCADO PECUÁRIO NO PORTAL DBO Confira as cotações, análises e tendências em portaldbo.com.br, atualizadas ao longo do dia, com base nas principais consultorias e outras fontes do mercado nnn
R$ 2.200
Preço médio do bezerro desmamado em Goiás, no mês passado; alta de 7% sobre valor médio de julho nnn