Edição 479- Setembro de 2020

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Prosa Quente causas de mortalidade em bovinos, usando uma ferramenta chamada necropsia para avaliar tecidos internos e alterações no corpo do animal que indicam a possível causa da morte. Os vaqueiros nos enviam fotos e também fazemos exames in loco. Depois que a gente inicia esse trabalho, as cobras desaparecem e passam a se chamar inflamação de umbigo, peritonite, clostridioses, necroses, enteretites hemorrágicas. Um ponto que focamos muito nas fazendas é: “Se você não conhece seu inimigo, não consegue lutar contra ele”.

Necropsia feita por José Zambrano (de cinza) junto com o professor Elias Facury, da UFMG (camisa azul), e o veterinário Rafael Perez (de bonê)

cem o produtor e eles têm de estar linkados com o dinheiro. Não adianta falar que term verminose e precisa aplicar um vermífugo, se não tiver um retorno econômico. Mas, graças a Deus, o controle da maioria dos desafios sanitários traz junto um resultado financeiro. Os insumos são baratos (representam de 1,6% a 6% do custo operacional total, dependendo da atividade). Renato – Você consegue mensurar esse resultado quando se tem doenças subclínicas, por exemplo? Zambrano – Sim, alguns trabalhos no Brasil já mediram per-

das causadas por esse tipo de doença, que não apresenta sintomas. Um desses trabalhos mostrou que um animal com coccidiose, por exemplo, deixa de ganhar 1@ em 100-110 dias. É muito dinheiro para uma fazenda. Na verminose subclínica, deve ser algum valor bem similar.

Renato – A coccidiose é mais associada a gado leiteiro, está aumentando também no de corte? Qual a principal causa disso? Zambrano – Devido a mudanças no manejo, como a IATF, sua

Depois que a gente inicia esse trabalho [diagnóstico], as cobras desaparecem e passam a se chamar inflamação de umbigo, peritonite, clostridioses, necroses, enterites hemorrágicas”

incidência tem aumentado na pecuária de corte. Não estou falando mal da ferramenta, defendo seu uso, mas quando se junta animais no curral por mais tempo, separando as vacas dos bezerros, uns defecando do lado dos outros, a contaminação acontece. Quem trabalha com cacimbas e açudes ou possui curvas de nível nos pastos [junta poças de água] também têm desafio maior para coccidiose e verminoses.

Renato – A IATF chegou pra ficar. Tem como o produtor minimizar o risco de coccidiose ou eimeriose nos bezerros? Zambrano – Sim, primeiro é preciso saber se tem Coccidia sp

circulando na fazenda. Se tiver, temos algumas ferramentas para combatê-la, como a inclusão de ionóforos no sal mineral das vacas e no suplemento para creep feeding. Tem alguns produtos, hoje, com esses aditivos, que ajudam bastante no controle ou prevenção da doença. Se você tem animais sem sintomas, mas excretando coccídeos, pode tratá-los para reduzir sua disseminação no ambiente. Mas o controle da qualidade da água para mim é o mais importante.

Renato – O professor Iveraldo Dutra, da Unesp-Araçatuba, costuma dizer que, se você perguntar para o pecuarista qual a principal causa de mortalidade na fazenda, ele vai responder que é picada de cobra. Esse problema é significativo ou falta diagnóstico? Zambrano – Não tenho dúvida de que falta diagnóstico. Um

dos trabalhos que fazemos é treinar pessoas para identificar

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Renato – E como está a questão da destinação de carcaças de animais mortos nas fazendas? Zambrano – A gente sabe que é preciso recolher essas carca-

ças, retirá-las de perto das fontes de água para evitar botulismo hídrico, mas continuamos a ver muitas carcaças nos pastos. Poucas fazendas têm cemitérios, ou seja, áreas separadas para destinação das carcaças. Mas não adianta deixá-las ao ar livre, porque urubus e outros animais silvestres podem carregar partes contaminadas para o pasto ou fontes de água. Deve-se jogar cal virgem na carcaça e enterrá-la. A compostagem também pode ser um caminho. Renato – Qual o índice de mortalidade que você tem observado nas fazendas e qual seria o percentual aceitável? Zambrano – Isso varia muito, principalmente na cria. Tem fa-

zenda com 1,3% de mortalidade, outras com 6% a 8%. O aceitável seria 3% ou menos. Em rebanhos PO que trabalham com precocinhas temos visto índices de até 10%, porque essas fêmeas têm um desafio maior no parto. Infelizmente, a maioria das fazendas não têm registros adequados de mortalidade. Quando começarem a anotar, vão ver que o número é muitas vezes superior a 3%.

Renato – Você fala em 10% de mortalidade em bezerros de precocinhas. Avançou-se muito em nutrição nessa categoria e pouco em sanidade? Como reduzir esse índice elevado? Zambrano – A nutrição é fundamental para se preparar a fê-

mea para emprenhar precocemente, mas a gente vê que que alguns animais – não estou generalizando – mais engordam do que crescem, apresentando partos distócicos, que têm seis vezes mais risco de morte para bezerro. Outro ponto é que, se o parto for traumático, pode afetar a produção de colostro, aumentando a possibilidade de rejeição do bezerro. Fico mais preocupado com os problemas de parto, que a gente tem visto com frequência, mas também conheço fazendas com índices muito bons em precocinhas e desmama muito eficiente.

Renato – O uso de protocolos sanitários é uma tendência. Que cuidados o produtor deve tomar para montar um protocolo eficiente e não gastar dinheiro desnecessariamente? Zambrano – Acho que são dois caminhos: entender bem os

desafios da fazenda e não seguir modismos. Um calendário elaborado para uma fazenda de Goiás não serve para outra no Tocantins, porque o clima, a entrada e saída de animais, os fatores de risco são diferentes. Logicamente algumas doenças exigem manejos fixos (aftosa, brucelose, raiva em regiões onde não é obrigatória a vacinação,


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