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Sistema Visipec, em teste pelo
from Edição Outubro 480
by portaldbo
Minerva Foods lança Inventário de GEE
A Minerva Foods lançou, em setembro, seu Inventário Anual de Gases de Efeito Estufa (GEE) no Registro Público de Emissões, plataforma do Programa Brasileiro GHG Protocol, desenvolvido por seu time de sustentabilidade, com apoio das áreas administrativas e de meio ambiente de cada unidade operacional. O objetivo do inventário é quantificar as emissões de GEE da organização; os progressos e melhorias decorrentes de iniciativas estratégicas relacionadas à temática das mudanças climáticas; bem como fazer o acompanhamento da evolução de seus níveis e utilizá-lo como ferramenta para determinação de melhorias nos sistemas. No último ano, a Minerva registrou redução de 41% na emissão de gases de efeito estufa, quando comparado a 2018. A redução representa valor aproximado de 134.000 t de CO² equivalente. A Minerva Foods é líder na exportação de carne bovina na América do Sul e atua também no segmento de processados. Frigol investe em novo canal de atendimento
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Para ampliar e aprimorar o atendimento às empresas do segmento varejista, restaurantes e cozinhas industriais, o Grupo Frigol inaugurou um novo canal de atendimento aos clientes corporativos, o Televendas Frigol, que, além de recepcionar pedidos e dar respaldo técnico aos parceiros comerciais, também permite novas modalidades de compra, agora, por cartão de crédito. Para Carlos Corrêa, diretor administrativo e financeiro do Grupo Frigol, a novidade vai de encontro com a mudança de hábitos e meios de compra do cliente corporativo. “O uso do crédito pelas empresas tem crescido substancialmente, especialmente no segmento de companhias de médio e pequeno porte, porque amplia os dias de pagamento e facilita o parcelamento”, diz. O pagamento com cartão de crédito pode ser feito em até duas vezes. O Televendas Frigol atende no número (14) 3201-0880, em horário comercial de 2ª a 6ª feira, e aos sábados, das 8h às 12h. Marfrig na lista da Science Based Target
A Marfrig tornou-se a primeira empresa do setor de proteína animal do Brasil a fazer parte da Listagem Science Based Targets, iniciativa internacional que alinha empresas compromissadas com a redução das emissões de gases de efeito estufa. As emissões de GEE são divididas em três escopos: emissões diretas, provenientes do processo produtivo (Escopo 1); do consumo de energia elétrica (Escopo 2) e emissões indiretas de fornecedores (Escopo 3). Tomando como ano base as emissões de 2019, a Marfrig utilizou a metodologia Science Based Target e pretende, até 2035, atingir uma redução de 43% das emissões diretas de GEE, como consta dos Escopos 1 e 2. O lançamento da linha de Carne Carbono Neutro, a Viva, lançada em agosto e com parceria da Embrapa, faz parte desse trabalho. A Science Based Target é formada pelo Pacto Global das Nações Unidas e várias outras instituições parceiras.
Zootecnista, com pós-graduacão em análise econômica, e diretor de marketing da Phibro para o Hemisfério Sul (Austrália, África do Sul, Argentina e Brasil).
Entrevistando 2022
Aideia me surgiu ao ouvir uma das inúmeras entrevistas que a Rádio CBN tem feito com cientistas que acompanham a pandemia da Covid-19. Uma, em especial, me chamou a atenção: o entrevistado manifestava o desejo de falar com alguma personalidade do futuro para saber o reflexo de nossas ações daqui a dois anos. Pensei, então, como seria essa tal entrevista para o nosso setor, como um exercício de imaginação e informação. Vamos, pois, ao entrevistado do momento: o “Senhor 2022”!
Eu: O senhor sabe que passamos uns maus bocados. Muita gente perdeu renda, houve muito desalinhamento quanto a restrições para conter a disseminação do vírus, muita lei e muita inoperância no seu cumprimento. Enfim, aonde isso tudo nos levou?
2022: Realmente, não foi fácil. Lembro-me dessa fase e não tenho saudades. De certa forma, agimos com responsabilidade, independentemente de tudo, e aproximadamente 2/3 da população reconheceu o isolamento social como medida importante. Isso contribuiu para frear o problema. Houve a famosa imunização de rebanho, facilitada por uma vacina. Mudamos para o status de endemia, e nem todos os países puderam sanar o problema, em especial aqueles sem recursos financeiros e que aguardam na fila da vacina. O “novo normal” foi incorporado à rotina e sobre isto já podemos agendar uma nova entrevista...talvez para 2024.
Eu: E a economia?
2022: Sobre renda e recuperação da economia, sabíamos que, mesmo antes da Covid-19, já amargávamos perdas. Agora, sob relativa tranquilidade, não há quem culpar. O Brasil terá que fazer reformas... Sim, sim, elas ainda não ocorreram.
Eu: Mudando um pouco de assunto, como o setor pecuário andou nestes dois últimos anos?
2022: Olha, teve de tudo! Meio em função das mudanças climáticas, muita atenção foi dada às florestas do mundo todo, e em especial à da Amazônia. O setor privado se mexeu e hoje os principais frigoríficos exportadores controlam a cadeia de fornecimento, incluíndo as movimentações primárias (antes de os animais serem comercializados para abate). Nossa decisão foi pelo crescimento sustentável, ou seja, não estamos ligados a atividades ilícitas; pelo contrário, fizemos questão de nos distanciar delas. Inclusive, ações socioeducativas e práticas em produção estão sendo implementadas. Estas ações foram ofuscadas pela dimensão dos problemas enfrentados, mas constituíram um exemplo real de que, querendo, se faz!
S NE w di N g T r A OTO : li VE F
Eu: O comércio global seguiu aquecido?
2022: Foi possível continuar abastecendo as economias emergentes, ao ponto de serem colocadas em xeque as políticas nacionalistas na produção de proteína animal de países para os quais exportamos. Não foi uma tarefa fácil. Poucos lograram êxito. Toda uma dinâmica portuária e novas práticas sanitárias tiveram que ser desenvolvidas, o câmbio nos favoreceu, assim como as plantas de abate em operação. Poucos países conseguiram fazer o mesmo. Poucas são as regiões no planeta verdadeiramente vocacionadas a produzir e gerar excedentes a custos competitivos. O Brasil saiu fortalecido.
Eu: Que decisão tomou o pecuarista? Com preços dos grãos crescentes e reposição que não dá trégua.
2022: Ele seguiu seu curso. A especificidade de demanda no comércio global e as exigências por carcaças oriundas de animais mais jovens trouxeram uma nova dinâmica, onde a roda da frente gira mais rápido do que a de trás. Assim, os preços da reposição ficaram sustentados em um patamar acima do histórico. Apesar de valorizado, o grão manteve a relação de troca com a arroba e, dessa forma, o pecuarista melhor informado pôde se intensificar, ampliando a participação do rebanho alimentado por grãos, principalmente na engorda. As vocações regionais (cria, recria e engorda) ainda não são claras, mas é possível que caminhemos para isso, à medida que exigências internacionais se intensifiquem e o consumidor interno conte com melhores informações. Aqui, falo de programa de tipificação nacional...
Eu: O que nos recomenda? Tomar decisões parece sempre tão difícil...
2022: Vou citar um trecho do poema de Antônio Machado: “Caminhante: não existe caminho; o caminho se faz ao caminhar”. É preciso ter coragem, planejar e tomar decisões estruturais. Isso nunca foi tão premente na cadeia pecuária. Nosso modelo segue em construção. Quanto antes chegarmos lá, melhor! n
Quando mostram fogo na Califórnia, é incêndio; no Pantanal ou na Amazônia, qualificam de queimada (alguém ateou fogo). É sutil, mas tendencioso”
Desnecessário dizer que os incêndios no Pantanal desenharam uma página triste em 2020. Importante agora é contabilizar os impactos ambientais e econômicos do episódio e projetar a recomposição da região. Nos dois Estados que abrigam o bioma, este cálculo era incipiente até o fi m de setembro, limitado a uma estimativa de aproximadamente 3 milhões de hectares atingidos pelo fogo (de um total de 15 milhões/ha). Tanto a Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul) quanto a Associação dos Criadores do Mato Grosso (Acrimat) informaram à DBO não terem, até então, dimensão dos prejuízos com a morte de animais, destruição de currais, cercas, pontes, residências, pastagens e demais estruturas.
O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) contabilizou 16.238 focos de incêndio no bioma entre 1º de janeiro e 24 de setembro, número 175% superior ao registrado no mesmo período de 2019. Enquanto isso, a opinião pública se divide sobre os eventuais autores da tragédia e como toda esta intensidade de fogo poderia
DBO – No desenrolar dos incêndios no Pantanal, o senhor disse que encontrou muito “palpiteiro” e “salvador”. O que pretendeu dizer com isso?
Arnildo Pott – A palavra queimada vem do ato de queimar. Subentende-se que alguém ateou fogo. No Brasil, quando o assunto é Pantanal ou Amazônia, usa-se “queimada”. Quando se mostra o fogo na Califórnia, nos EUA, a denominação passa a ser “incêndio”. Entendo que seja uma postura mais conceitual do que semântica. É sutil, mas tendencioso. Vi na televisão uma autoridade afirmando que não era possível o fogo ter origem em raio, sob a argumentação de que sem chuva não existe raio e concluindo, com isso, que era de origem humana e criminosa.
DBO – Em seus anos pelo Pantanal o senhor já viu descargas de raio seco?
Por volta de 1985, em um dia ensolarado, uma nuvem, que ter sido evitada. A Polícia Federal investiga e suspeita de ações criminosas dentro de propriedades rurais. Outro debate indaga de que forma (e quando) o bioma estará recuperado, mantendo em alta sua principal atividade econômica: a bovinocultura de corte, que reúne um rebanho de aproximadamente 4 milhões de cabeças, segundo o último levantamento da Embrapa, datado de 2016.
DBO resolveu ouvir as opiniões e análises de um especialista que dedicou mais da metade de sua vida a estudar questões relacionadas ao Pantanal. Entre 1980 e 2008, o professor Arnildo Pott trabalhou como pesquisador da Embrapa: duas décadas na unidade Pantanal (Corumbá, MS) e mais oito anos na Embrapa Gado de Corte (Campo Grande, MS). Nos últimos 12 anos, vem trabalhando como docente visitante concursado nos programas de pós-graduação em biotecnologia; biotecnologia e biodiversidade; e em biologia vegetal da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS).
Com um currículo invejável – que inclui um doutorado em ciência da pastagem (ecologia vegetal) na University of Queensland (Austrália) e um pós-doutorado no Royal Botanic Garden Edinburgh (Escócia) – e no auge da experiência dos seus 74 anos, o cientista concedeu esta entrevista exclusiva à DBO, abordando, de forma mais pragmática, algumas questões que, invariavelmente, ganham contornos emocionais nas redes sociais. Veja, a seguir, os principais pontos da entrevista, concedida, por telefone, ao colaborador de DBO, em Campo Gran-
Arnildo Pott – Pelo menos em três vezes, com consequências. de, Ariosto Mesquita. não provocou a precipitação de uma gota sequer, passou sobre a Fazenda Nhumirim, da Embrapa. O cozinheiro estava na entrada, nos esperando para preparar nosso bife e acabou morrendo fulminado. Caiu um raiozinho na antena e o atingiu a ponto de derreter a pulseira metálica do relógio. E para acontecer tal fato é necessário temperatura na casa dos 500 graus centígrados. Imagine isso em uma vegetação seca?
DBO – Fica a impressão de que as pessoas têm dificuldade em aceitar o fato de que o fogo, no campo, pode ter várias origens.... Arnildo Pott – Sim. Muitos caminhões, quando mudam de marcha nas subidas, soltam faíscas próximo ao cano de descarga. Alguns tratores também. E ainda existe a autoignição, relatada em muita literatura científica. Um silo, por exemplo, pode se incendiar em função da fermentação. Numa ocasião, Ubirajara Fontoura, que foi chefe-geral da Embrapa Agropecuária Oeste, de Dourados, MS, mostrou, durante uma apresentação, como as pilhas de compostos para adubo
orgânico deveriam ser movimentadas, diariamente, para se evitar incêndios.
DBO – Como funciona a autoignição? Como o fogo surge?
Arnildo Pott – Não queria colocar fogo nesta história! (risos). O fato é que não temos pesquisa que comprove essa ocorrência no Pantanal. Mas em outras áreas ao redor do mundo isso já foi observado e até mensurado. A combustão é uma reação química da oxidação. Em processos de secagem, o material recebe cada vez mais ar que carrega oxigênio que, por sua vez, é elemento necessário para a oxidação. Nessa situação, uma oxidação rápida com vento seco pode gerar fogo.
DBO – O desconhecimento de geografia também ajuda na desinformação, não? Vejo muita gente misturando biomas, sem uma mínima noção sobre características de cobertura vegetal e da atividade econômica de uma região.
Arnildo Pott – Certamente que sim. Chegam a afirmar que existe desmatamento no Pantanal. Tirando empresas que estão vindo de fora para comprar terras dentro do bioma, isso não é procedimento do pantaneiro. Sabe qual foi a última vez que se derrubou mata de cordilheira [vegetação arbórea em área não inundável] para fazer pastagem? Nos anos 1980, pois havia até financiamento para isso. Hoje é melhor deixar a cordilheira lá quietinha. Dá muito trabalho para manejar. Assim, quando vem uma frente fria, o gado se abriga no mato. Atualmente só se passa grade onde tem capim carona [que carrega compostos que inibem o consumo pelos bovinos] e fura-bucho [capim que usa como defesa suas folhas roliças, pontiagudas e fibrosas].
DBO – O senhor acredita que a discussão está se concentrando em posicionamentos ideológicos?
Arnildo Pott – Quando as informações gerais sobre a pandemia da Covid-19 começaram a cansar a audiência, a comoção passou a vir dos relatos de familiares que perderam entes queridos para a doença. Da mesma forma, imagens de animais queimados pelo fogo geram uma comoção internacional. É claro, a gente fica com dó dos animais. Mas é preciso entender que a fauna está acostumada a se deslocar para áreas de refúgio. Mas onde há excesso de material orgânico acumulado, o animal não vê o fogo por cima, mas pode estar por baixo. Um exemplo é aquela foto que a DBO mostrou em sua reportagem sobre o fogo no Pantanal, na edição de setembro (pág.31). Aquele material em brasa, segurado provavelmente pela mão de um brigadista, carrega parte de histossolo, um solo orgânico ainda não decomposto por falta de oxigênio. O histossolo só se forma em lagoas, naquelas ilhas flutuantes chamadas de baceiros. Quando isso se acomoda nas margens e vem a seca, começa a se oxidar naturalmente e se torna um combustível e tanto.
DBO – Isso reforça a tese de que o boi é o “bombeiro do Pantanal”?
Arnildo Pott – Esta expressão surgiu a partir de uma experiência que nós, então na Embrapa, fizemos na Fazenda Nhumirim, nos idos dos anos 1980. Fechamos 600 hectares para verificar como seria o Pantanal sem o gado, animal que está no bioma desde a época colonial. Um peão experiente logo comentou: “Doutor, isso aqui vai dar um fogaréu!”. Havia um aceiro largo. A érea estava bem protegida. No primeiro ano o capim atingiu um metro de altura. No terceiro ano o fogo apareceu, não se sabe de onde. Caso houvesse pastejo certamente seria um fogo normal de capim, mas ganhou proporções florestais. Uma coisa maluca! O fogo se dá onde existe combustível e o ruminante é um especialista em digerir grande parte deste material.
DBO – E, depois do fogo, o que aconteceu com essa área?
Arnildo Pott – O desavisado logo imagina e crava que “morreu tudo”. Assim que as chuvas tiveram início voltei lá e vi rebrota por todos os lados. Sou um curioso em termos de persistência de plantas. Além disso, o Pantanal tem um banco de sementes que eu chamo de “flex”, ou seja, tem plantas para secas e plantas para cheias. A dúvida é saber até que ponto este banco de sementes foi afetado.
DBO – A pergunta que se faz é: e agora, o que acontece?
Arnildo Pott – A coisa foi séria, bastante séria! O estrago é grande, mas vai cicatrizar. Poderia ter sido evitado? Talvez. Mas veja só: temos um aceiro enorme que é o Rio Paraguai e isso não resolveu. Com relação ao uso de aviões e helicópteros captando água para tentar apagar as chamas considerei mais show do que qualquer outra coisa. Supondo que uma aeronave carregue 20.000 litros e despeje isso em um hectare, serão dois litros por m2, equivalente a uma chuva de 2 mm. Isso não apaga fogo de chão. Além disso, muito dessa água se evapora antes de chegar ao solo.
DBO – Mas, então, o que deveria ter sido feito?
Arnildo Pott – As pessoas que atuaram no combate aos incêndios no Pantanal são verdadeiros heróis. No entanto, não houve eficiência. Vi muita gente com borrifadores costais esguichando água sobre toco queimado enquanto o fogo estava lá na frente. O correto é estabelecer aceiros e usar o contrafogo, que é o fogo controlado que se provoca à frente de um grande incêndio para conter sua propagação. Quando eu residia em Corumbá, estava em uma área de fronteira com a Bolívia quando vi um grupo jogando água onde o fogo já havia passado. Sugeri ao comandante que fizesse o contrafogo. Ele me perguntou: “O que é isso?”
DBO – Quando ocorrerá a retomada do vigor vegetativo do Pantanal?
Arnildo Pott – A partir de outubro, com a chegada da estação chuvosa, certamente haverá recomposição vegetal, caso o banco de sementes não tenha sido queimado. Em áreas geralmente mais secas as gramíneas mantêm gemas escondidas abaixo da superfície do solo. Nestes locais o rebrote tende a ser mais rápido. Nas gramíneas de brejo, muitas gemas não são enterradas e isso pode atrasar ou prejudicar a recomposição. O rebrote, na verdade, sempre vai depender de quanto foi a intensidade do fogo. Então, é certeza que irá se reverdejar nos próximos meses. No entanto, vai levar alguns anos para que algumas árvores se restabeleçam. n
A dúvida é saber até que ponto o banco de sementes do Pantanal foi afetado”
ESPAÇO PECUÁRIA 4.0 As invasoras que se cuidem
utilizando inteligência artificial e imagens de alta precisão, pacote tecnológico promete detalhado mapeamento aéreo de plantas daninhas em pastagens
Esquema do pacote tecnolõgico recém-lançado pela tríade empresarial
Ariosto MesquitA
Imagine a possibilidade de identificar espécies de plantas invasoras em uma pastagem, quantificá-las e localizá-las com precisão, em área de até 5.000 ha por dia, a uma velocidade de varredura de até 200 km/hora. Mais ainda: receber um diagnóstico detalhado, receituário com sugestões de princípios ativos de herbicidas e projeções de custo das aplicações necessárias. Tudo isso deverá estar ao alcance do pecuarista brasileiro já em 2021, dentro de um único pacote tecnológico, que será validado em até 5.000 ha de pastagens de fazendas comerciais, nos Estados de Goiás, Mato Grosso e São Paulo. O “pacote” compreende mecanismos de inteligência artificial, ferramentas de alta precisão espacial, uso de aeronaves em voos baixos e interpretação de dados. O núcleo do sistema é uma tecnologia batizada de AI2, da Taranis, empresa surgida como startup em 2015, em Israel, e hoje presente em 12 países, ofertando soluções de inteligência e precisão agropecuária. A tecnologia AI2 é capaz de registrar imagens a campo a partir de sobrevoos de aeronaves com definição de até 0,3 mm/pixel. Mesmo em movimento, o dispositivo permite diagnosticar uma mancha foliar, revelar e identificar uma planta invasora ou até um inseto em nível de solo.
O pacote tecnológico a ser oferecido aos pecuaristas brasileiros foi batizado de FlyUp e será viabilizado a partir de um acordo com a multinacional indiana UPL, que a oferecerá a seus clientes. Outra empresa – ainda em seleção/negociação – fechará a tríade, assumindo a responsabilidade pela interpretação dos dados coletados e pelo diagnóstico entregue ao pecuarista. Segundo dados citados pela UPL, entre janeiro e agosto deste ano, produtores brasileiros investiram R$ 60 milhões em defensivos no combate a infestações em 13,6 milhões de ha de pastagens.
Histórico da tecnologia
O FlyUp é uma evolução de projetos de mapeamento de cultivos agrícolas iniciado em lavouras de cana em 2012. A diferença agora são as análises dinâmicas e com apurado grau de precisão, que permite diagnósticos de problemas fitossanitários a partir da coleta de informações em tempo real, facilitando a tomada de decisões mais seguras, com economia, eficiência e ganho ambiental.
O uso deste modelo na bovinocultura de corte seguirá a experiência do AI2 em monitoramento de áreas cana-de-açúcar no Brasil – em execução desde agosto deste ano – com a expectativa de cobrir 100.000 ha de canaviais até o final de 2020. A partir da validação em 5.000 ha de pastos, o consórcio empresarial tornará o FlyUp disponível para o pecuarista. O desembolso do interessado dependerá da área monitorada.
“Na cana, o custo do serviço fica entre 7% e 8% do valor do tratamento especificado para a lavoura coberta. Atualmente, a média do desembolso do agricultor é de R$ 25/ha”, revela Luciano Almeida, supervisor de Marketing para Cana e Pastagem da UPL Brasil. Apesar da rapidez prometida no monitoramento das pastagens através da captação detalhada das imagens, a análise dos dados para a conclusão do trabalho demandará mais tempo. “O fluxograma do projeto prevê 25 dias entre a oferta de uso da tecnologia e a entrega do relatório final”, avisa.
Limitações
Segundo Almeida, a varredura nas pastagens será feita com a tecnologia embarcada em aviões modelo Cessna 150 (oferecidos pela Taranis), que possui autonomia de voo de 563 km. Em princípio, não será possível a contratação de serviço de monitoramento para áreas já estabelecidas com integração lavoura-
FlyUp consegue detectar invasoras com alta definição, em áreas bastante extensas.
-pecuária-floresta (ILPF) ou integração pecuária-floresta (IPF). Há também limites com relação ao nível de declividade do terreno, mas o supervisor não soube precisar quais são.
Além de permitir um diagnóstico detalhado de doenças e invasoras em áreas extensas, o FlyUp pretende não esgotar suas atribuições na sugestão do tratamento (que promete ser feito através da indicação de princípios ativos e não de denominações comerciais de produtos). “O sistema também projeta a lotação e a produtividade em arroba produzida que o produtor poderá obter a partir da adoção do controle (aplicação). Com estas informações, ele poderá, por exemplo, decidir se executa ou adia uma reforma de pasto”, explica Almeida.
Indagado sobre uma eventual limitação no repertório de identificação de doenças ou invasoras, o dirigente garantiu que a inteligência artificial estará sempre “aprendendo” e renovando seu conhecimento. “Quanto a isso, não há limites. Na medida em que surja uma planta não identificável pelo sistema, será feita uma atualização por parte de nossa equipe, que incluirá a informação na memória da plataforma”, informa Almeida.
expectativa e alerta
Mestre em fitotecnia, o agrônomo e pesquisador da Embrapa Gado de Corte (Campo Grande, MS), Ademir Zimmer, é claramente um otimista quanto à evolução tecnológica aplicada à bovinocultura de corte no Brasil. Depois de tomar conhecimento do FlyUp, ele aproveitou para fazer uma analogia à exploração do Cosmos: “O homem está há algum tempo descobrindo e observando planetas distantes milhares de anos luz da Terra. Agora parte desta tecnologia espacial está sendo usada, cada vez mais intensamente, na produção de alimentos. Estou curioso para saber dos resultados da validação. Quero acompanhar a eficiência deste pacote tecnológico, que tem muitas chances de dar certo”.
O pesquisador lembra que o uso de imagens aéreas e de satélites para a identificação de infestações em áreas agropecuárias já é quase uma constante. No entanto, ele avalia que o uso de aeronaves em voos baixos, com alta tecnologia digital e inteligência artificial embarcadas, pode trazer capacidade de detalhamento, economia com redução do volume de calda e benefícios ambientais através da racionalização do uso de herbicidas e fungicidas no campo, uma vez que as aplicações poderão ser pontuais. “Além disso, aquelas plantas daninhas de rebrota, que dificilmente são afetadas por herbicidas em aplicações convencionais, serão claramente identificadas e poderão ser alvo de ações direcionadas”, acrescenta.
Mas antes de pensar em combater plantas daninhas e doenças, Zimmer alerta que fica muito mais em conta para o pecuarista fazer seu dever de casa na implementação e condução das atividades: “Invasoras não degradam pasto. A degradação pode começar na má formação da pastagem. Tem gente que quer economizar na semente, que é a parte barata, e depois gasta muito mais com o controle químico. Além disso, as falhas de manejo também são comprometedoras. É bom lembrar que 80% de nossos pastos têm excesso de animais. Isso abre espaço para a entrada de outras plantas e gera um grande problema no sistema produtivo. Formando bem as pastagens, fazendo o manejo correto e mantendo uma adubação de manutenção, o pecuarista não terá problemas sérios com invasoras”.
expectativa e alerta
Em caso de dúvidas quanto a investir em controle químico, Zimmer aconselha ao produtor solicitar a opinião de um técnico de sua confiança, para que seja feita uma avaliação paralela da conveniência de se fazer ou não o controle químico naquele momento: “Será que existe necessidade em programar aplicações com apenas 5% de população de invasoras? Será que o pecuarista não consegue manter um bom nível de produção com até 20% de plantas daninhas no pasto? São questões que devem ser respondidas avaliando-se caso a caso. Não pode haver uma pressão para que a pastagem seja tão limpa quanto um gramado de futebol ou um campo de golfe”, observa.
Quem também se manifestou positivamente sobre esse novo pacote tecnológico para a pecuária foi o zootecnista Adilson Aguiar, consultor associado da Consupec, de MG, e professor de pós-graduação da Rehagro e do curso de Zootecnia das Faculdades Associadas de Uberaba (FAZU). Mesmo sem números para avaliação, ele está otimista: “Pelo que vi, é uma ferramenta de trabalho para o técnico, que facilitará o levantamento das plantas invasoras e a recomendação de seu controle, trazendo ganhos bastante significativos”. n
Excesso de animais abre espaço para a entrada das invasoras”
Ademir Zimmer, pesquisador da Embrapa Gado de Corte (Campo Grande, MS)