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Giro Rápido

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Sabor da Carne

Sabor da Carne

Evolução dos preços da carne bovina no mercado varejista

Engenheiro agrônomo e diretor-proprietário da Scot Consultoria, de Bebedouro, SP.

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* Colaborou

Guilherme Ibelli

Acarne bovina, especialmente na forma de churrasco, faz parte da cultura brasileira, todos sabemos disso. Afinal, o Brasil é um dos grandes na produção global. E como está o consumo interno, depois de tantos meses de pandemia? Como estão os preços? Antes de responder, é bom saber que o consumo por brasileiro está estimado em 37,9 kg por ano.

É muito? É pouco? Depende da referência. Em relação à União Europeia, cuja estimativa de consumo é de 11 kg por pessoa, é muito, mais de três vezes. Já em relação à Argentina, cujo consumo está estimado em 51 kg por pessoa (e olhe que é um dos menores nos últimos 10 anos), é pouco, quase um terço a menos. Ou seja, para um País em desenvolvimento como o Brasil, o consumo até que está bom.

E como estão os preços, para que essa dieta de qualidade seja preservada? O preço da carne bovina é importante e decisivo no consumo. Decisivo porque, se for alto, significa que o consumidor pode diminuir a compra de determinados cortes, migrar para cortes de preço menor ou mesmo consumir proteínas de outra origem.

Cortes de traseiro e dianteiro

Pesquisa realizada pela Scot Consultoria no mercado varejista de carne bovina de São Paulo, entre janeiro e agosto, nos anos de 2018, 2019 e 2020, constatou que os preços dos cortes de carne de traseiro subiram em média 15%, puxados principalmente pela picanha, alcatra com maminha e contrafilé. A cotação da picanha, em 2020, subiu em média 11,6%, na comparação com igual período de 2019. Para a alcatra com maminha, o aumento foi de 26,4% na mes-

Evolução dos preços médios dos cortes do dianteiro no período de janeiro a agosto, no Estado de São Paulo (em R$/kg)

R$ 27,00 R$ 26,00 R$ 25,00 R$ 24,00 R$ 23,00 R$ 22,00 R$ 21,00 R$ 20,00 R$ 19,00 R$ 18,00 R$ 17,00 Acem Músculo Cupim Paleta

2018

Fonte: Scot Consultoria Peixinho Peito

2019 2020

ma comparação. Já o preço do coxão duro subiu 20% e o do contrafilé apresentou alta de 6,4%, entre janeiro e agosto deste ano.

Em relação a 2019, os preços dos cortes de dianteiro subiram, em média, 19,8%. Esse aumento mais expressivo em relação aos cortes de traseiro está relacionado à queda do poder aquisitivo da população, em função da pandemia de Covid-19 e das suas consequências econômicas. O desemprego aumentou, e a recessão vigente fez com que crescesse a procura por cortes de carne com preços mais baixos.

Neste ano, por exemplo, o preço do quilo do músculo está, em média, 22,5% maior na comparação com o preço médio de 2019. Foi o corte de carne de dianteiro com a maior alta de preço. A paleta sem osso subiu, em média, 20,7% frente ao mesmo período de 2019. A cotação média do acém está em R$ 23,38, alta de 19% em relação ao preço médio no mesmo período de 2019. Resumo da ópera: o auxílio emergencial do governo federal atenuou a crise e, aparentemente, tem contribuído para o consumo de alimentos no País.

Covid-19 e vendas no varejo

A contaminação pela Covid-19 no Brasil trouxe a necessidade do distanciamento social e da quarentena para desacelerar a disseminação do vírus. Nos grandes centros consumidores, nas capitais dos Estados e nas cidades de grande porte, onde a refeição é feita rotineiramente fora de casa, os serviços de alimentação foram suspensos (restaurantes, bares, churrascarias, lanchonetes etc), afetando o escoamento de carne bovina por meio desses canais de consumo. Em contrapartida, aumentaram as vendas nos supermercados e açougues.

A retomada paulatina do convívio social, o aumento da circulação de pessoas e a abertura gradual do comércio tendem a influir positivamente no consumo de carne. O desempenho positivo ininterrupto da exportação tem ajudado a escoar a carne produzida e não consumida internamente e tem contribuído também para a manutenção da firmeza do mercado.

O final de ano se aproxima e nesse período o consumo tradicionalmente melhora e o desempenho das vendas no varejo ganha força. Mesmo sem perspectiva de controle da pandemia e com a economia em crise, a projeção é de que o preço da carne continue firme e não está afastada a hipótese de que a carne bovina venha a substituir o arroz, como o vilão do bolso dos brasileiros. n

Boi dispara, custos preocupam arroba tende a manter o viés de alta em outubro diante da enorme escassez de oferta

Denis CarDoso

Omercado brasileiro do boi gordo abriu o mês de outubro mantendo o forte viés de alta, movimento que levou a arroba a atingir novo patamar recorde em setembro, superando a casa dos R$ 255/@ no Estado de São Paulo, o principal centro consumidor de carne bovina do Brasil. Analistas de mercado apostam em cotações firmes durante as próximas semanas de outubro – em todas as principais praças pecuárias do País –, ainda sustentadas pela baixíssima oferta de boiadas prontas e pelo bom ritmo das exportações de carne bovina.

A dificuldade das indústrias frigoríficas em encontrar grandes lotes de gado para abate é reflexo não só do período de entressafra de “bois de capim”, mas também pela baixa disponibilidade de animais terminados no cocho. No primeiro semestre, muitos confinadores deixaram de apostar na atividade depois que explodiram os casos de Covid-19 no Brasil, o que gerou um clima de enorme incerteza em relação ao comportamento dos mercados, incluindo toda a cadeia pecuária.

“No curto e médio prazos, não há expectativas para entrada de maiores lotes de animais, fator que deve manter forte a especulação altista na arroba”, prevê a IHS Markit. Pelo levantamento diário da consultoria, no início de outubro (período de fechamento desta edição da DBO), o valor do boi gordo em São Paulo já estava bem próximo de R$ 260/@, enquanto que em algumas regiões do Centro-Oeste oscilava ao redor de R$ 250/@, como é o caso de praças do Mato Grosso do Sul e de

Preços futuros do boi gordo para novembro oscilam próximo de R$ 260/@

Data/ prEgõEs 31/8/2020 30/9/2020 Fonte: B3

jan

mês para a liquiDação Dos Contratos na B3

fEv Mar abr Mai jun jul ago

232,99 -

sEt

239,30 255,32

out

240,35 256,00

nov

243,45 258,40

Indicador do bezerro em alta na praça do MS

EspEcificaçõEs Preço à vista Por cabeça Peso médio (em kg) Preço Por kg Preço Por arroba

Fonte: Cepea/esalq/Usp

Datas De levantamento Do Cepea 30/9/2020 31/8/2020 r$ 2.211,25 r$ 2.179,43 194 210 r$ 11,34 r$ 10,37 r$ 340,35 r$ 311,34

DEz

244,10 257,45

Boi gordo tem forte valorização mensal em setembro

EspEcificaçõEs

Preço à vista

Datas Da liquiDações Dos Contratos negoCiaDos na B3

30/9/2020 r$ 256,70 31/8/2020 r$ 237,60

Fonte: Cepea/esalq/Usp/BM&FBovespa. Média dos últiMos CinCo dias úteis eM são paUlo. o valor é Usado para a liqUidação dos Contratos negoCiados a FUtUro na BM&FBovespa. Goiás. O Mato Grosso, Estado com o maior rebanho bovino do País, também registrou um setembro de intensas valorizações nos preços das boiadas, que iniciaram outubro ao redor de R$ R$ 245/@ (praças de Cáceres e Tangará). No mercado futuro, os contratos do boi passaram a acompanhar mais fielmente o comportamento de alta verificado no mercado físico. Com isso, na bolsa de mercadorias B3, no início de outubro, os papéis com vencimento para novembro/20 indicavam uma arroba na casa dos R$ 260/@.

Em tempos de escassez de oferta, os frigoríficos buscam desesperadamente preencher a suas escalas de abate. No caso das indústrias habilitadas para exportação, essa procura é ainda mais forte, devido à demanda agressiva dos importadores asiáticos, sobretudo da China. Com isso, também aumentou a procura pela vaca gorda, o que faz o seu preço subir intensamente nas praças pecuárias. Em São Paulo, no começo de outubro, a fêmea já valia R$ 242/@, a prazo, de acordo com dados da IHS Markit. No Pará, a vaca gorda chegou a R$ 244/@.

sinal de alerta

Pelos dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), o Indicador do boi gordo (praça de SP, valor à vista) fechou setembro a R$ 256,70/@, o que representou forte valorização de quase 10% sobre o valor de fechamento de agosto, de 237,60/@. No entanto, mesmo com os avanços expressivos da arroba do boi gordo, os pecuaristas precisam ficar atentos às operações envolvendo a troca por animais mais jovens, alertam os analistas de mercado. Nos últimos meses, as categorias de reposição, como o bezerro e o boi magro, subiram ainda mais fortemente, atingindo também patamares recordes reais (descontando os efeitos inflacionários).

Além do encarecimento dos animais da reposição, as recentes altas acumuladas nos preços do milho [R$ 60/saca em Campinas, SP, a maior cotação, em termos nominais, da série histórica acompanhada pelo Cepea desde 2004] e do farelo de soja [R$ 151/saca, valorização de 85% em 12 meses] elevaram o valor da ração, limitando ainda mais os ganhos reais da atividade pecuária. Com a disparada da moeda norte-americana frente ao real [R$ 5,61, 39,6% no acumulado de janeiro a setembro], também é preciso levar em conta os reajustes de alguns insumos pecuários, que têm seus preços dolarizados (como os fertilizantes).

Outro sinal de alerta vem das exportações. Embora os embarques mensais deste ano tenham ficado acima dos registrados em 2019, em setembro as exportações de carne in natura desaceleraram. Foram 142 mil toneladas, queda de 13% frente o total exportado em agosto/2020. Foi a primeira vez, em seis meses consecutivos, que não se registrou um recorde histórico mensal. A receita atingiu US$ 583 milhões, queda de 11% sobre o mês anterior. Na avaliação da consultoria Agrifatto, a elevação dos estoques na China pode ter reduzido o apetite do país nas compras das últimas semanas de setembro”. n

reposição sobe mais fortemente

avanços dos preços das categorias mais jovens prejudicam a relação de troca com boi gordo

Denis carDoso

Omercado brasileiro de reposição registrou uma sensível melhora de liquidez em setembro, refletindo os avanços contínuos nos preços do boi gordo em igual período, o que motivou a busca por animais jovens por parte dos recriadores e invernistas. No entanto, diante dessa maior movimentação de negócios nos leilões espalhados pelo País, as cotações do bezerro, garrote, gado magro e de novilhas também, inevitavelmente, voltaram a subir fortemente nas principais praças pecuárias, reduzindo o poder de compra dos pecuaristas que necessitam investir na recomposição dos rebanhos.

Segundo ressaltam os pesquisadores do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), apesar do valor recorde no preço médio do boi gordo em setembro (veja mais informações na página anterior), “o contexto atual não favorece quem faz a reposição, tendo em vista que o bezerro e o boi magro seguem igualmente negociados nos maiores patamares reais”. O indicador Cepea do bezerro (praça do Mato Grosso do Sul) fechou setembro cotado a R$ 2.211,25, o que representou um avanço de 61,5% sobre a cotação registrada em igual data de 2019 (R$ 1.369,58) e valorização de 93% em relação ao valor registrado no mesmo período de 2018 (R$ 1.143,82).

Outro fator que contribuiu para o atual aperto financeiro na atividade pecuária, acrescentam os analistas do Cepea, são as recentes altas nos preços da ração animal, resultado da disparada este ano nas cotações dos grãos (soja e milho). Além disso, observa a IHS Markit, “o tempo seco em algumas regiões também traz preocupações quanto ao atraso no preparo da pastagem”. Ou seja, mesmo com a explosão no valor do boi gordo, o setor pecuário passa por um momento delicado, que exige bastante atenção (e bastante conta matemática na hora de fechar novos negócios) por parte dos produtores – principalmente para os que precisam realizar a reposição.

Segundo levantamento da Scot Consultoria, de Bebedouro, na média de todos os Estados monitorados, entre machos e fêmeas anelorados, os preços da reposição em setembro subiram quase 5% frente ao valor médio de agosto passado. “No período de um ano, essa valorização foi de 84,6%”, relata a zootecnista Thayná Drugowick, analista da Scot. O maior destaque fica para os avanços nos valores das fêmeas – considerando a média de todas as categorias, a alta anual foi de 89,2%, frente ao aumento de 72,1% da média das categorias dos machos anelorados, de acordo com os números da Scot.

Menos fêmeas abatidas

Dados sobre os abates oficiais do segundo trimestre deste ano, divulgados no mês passado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), confirmaram o que já havia sido sinalizado nos três primeiros meses: o movimento de forte retenção de vacas e novilhas em 2020, em função dos preços atrativos dos bezerros e bezerras, o que justifica os avanços mais expressivos das categorias de fêmeas. Foram levadas ao gancho 2,899 milhões de fêmeas (vacas e novilhas) no segundo trimestre de 2020, uma queda de 17% sobre o resultado registrado em igual período de 2019, de 3,504 milhões de cabeças, de acordo com o IBGE. Por sua vez, o abate de machos (bois e novilhos) no segundo trimestre do ano caiu apenas 0,7%, para 4,401 milhões de cabeça, ante a quantidade de 4,435 milhões de cabeças registradas no mesmo período do ano passado.

Segundo os dados apurados pela Scot Consultoria, tomando como base a praça de São Paulo, desde janeiro, a cotação da arroba do boi gordo subiu 32,6%, de acordo com a consultoria. No mesmo intervalo de comparação, o bezerro de ano (12 meses de idade) anelorado acumulou alta de 49,6%, considerando a média de todos os Estados monitorados pela Scot. “Nos últimos meses, estamos vendo uma piora na relação de troca ‘boi gordo versus reposição’, reforça a analista Thayná Drugowick. Em setembro de 2019, eram necessárias 8,21 arrobas de boi gordo para a compra de um bezerro desmamado anelorado (6@). Em setembro de 2020, foram necessárias 9,45 arrobas, ou seja, houve queda de 15% no poder de compra do recriador, destaca a analista.

Números regionais do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea) reforçam essa tendência de subida mais acentuada nos valores da reposição. Em função da oferta restrita de animais mais jovens, os preços dessas categorias no Mato Grosso não param de se valorizar e bateram recordes nominais nos últimos meses, relata o Imea. Em setembro, os valores do bezerro de ano aumentaram 3,7% sobre agosto de 2020, enquanto os preços da bezerra subiram 7,6% no mesmo período. No comparativo anual, o incremento foi ainda mais expressivo: de 44% e 65%, respectivamente, considerando as duas categorias citadas acima. n

nnn

r$ 2.900

Preço médio do garrote na praça do MT, em setembro; valorização de 9,4% na comparação com agosto nnn

MERCADO PECUÁRIO NO PORTAL DBO Confira as cotações, análises e tendências em portaldbo.com.br, atualizadas ao longo do dia, com base nas principais consultorias e outras fontes do mercado nnn

r$ 3.450

Cotação médio do boi magro no MS, no mês passado; alta de 8% em relação ao valor do mês anterior nnn

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