Edição Outubro 480

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Mercado sem Rodeios

Alcides Torres Jr.* –

Scot

Evolução dos preços da carne bovina no mercado varejista

A

carne bovina, especialmente na forma de churrasco, faz parte da cultura brasileira, todos sabemos disso. Afinal, o Brasil é um dos grandes na produção global. E como está o consumo interno, depois de tantos meses de pandemia? Como estão os preços? Antes de responder, é bom saber que o consumo por brasileiro está estimado em 37,9 kg por ano. É muito? É pouco? Depende da referência. Em relação à União Europeia, cuja estimativa de consumo é de 11 kg por pessoa, é muito, mais de três vezes. Já em relação à Argentina, cujo consumo está estimado em 51 kg por pessoa (e olhe que é um dos menores nos últimos 10 anos), é pouco, quase um terço a menos. Ou seja, para um País em desenvolvimento como o Brasil, o consumo até que está bom. E como estão os preços, para que essa dieta de qualidade seja preservada? O preço da carne bovina é importante e decisivo no consumo. Decisivo porque, se for alto, significa que o consumidor pode diminuir a compra de determinados cortes, migrar para cortes de preço menor ou mesmo consumir proteínas de outra origem.

Engenheiro agrônomo e diretor-proprietário da Scot Consultoria, de Bebedouro, SP. * Colaborou Guilherme Ibelli

Cortes de traseiro e dianteiro Pesquisa realizada pela Scot Consultoria no mercado varejista de carne bovina de São Paulo, entre janeiro e agosto, nos anos de 2018, 2019 e 2020, constatou que os preços dos cortes de carne de traseiro subiram em média 15%, puxados principalmente pela picanha, alcatra com maminha e contrafilé. A cotação da picanha, em 2020, subiu em média 11,6%, na comparação com igual período de 2019. Para a alcatra com maminha, o aumento foi de 26,4% na mesEvolução dos preços médios dos cortes do dianteiro no período de janeiro a agosto, no Estado de São Paulo (em R$/kg) R$ 27,00 R$ 26,00 R$ 25,00 R$ 24,00 R$ 23,00 R$ 22,00 R$ 21,00 R$ 20,00 R$ 19,00 R$ 18,00 R$ 17,00

Acem Músculo

Cupim Paleta

2018

Fonte: Scot Consultoria

20 DBO outubro 2020

Peixinho Peito

2019

2020

ma comparação. Já o preço do coxão duro subiu 20% e o do contrafilé apresentou alta de 6,4%, entre janeiro e agosto deste ano. Em relação a 2019, os preços dos cortes de dianteiro subiram, em média, 19,8%. Esse aumento mais expressivo em relação aos cortes de traseiro está relacionado à queda do poder aquisitivo da população, em função da pandemia de Covid-19 e das suas consequências econômicas. O desemprego aumentou, e a recessão vigente fez com que crescesse a procura por cortes de carne com preços mais baixos. Neste ano, por exemplo, o preço do quilo do músculo está, em média, 22,5% maior na comparação com o preço médio de 2019. Foi o corte de carne de dianteiro com a maior alta de preço. A paleta sem osso subiu, em média, 20,7% frente ao mesmo período de 2019. A cotação média do acém está em R$ 23,38, alta de 19% em relação ao preço médio no mesmo período de 2019. Resumo da ópera: o auxílio emergencial do governo federal atenuou a crise e, aparentemente, tem contribuído para o consumo de alimentos no País. Covid-19 e vendas no varejo A contaminação pela Covid-19 no Brasil trouxe a necessidade do distanciamento social e da quarentena para desacelerar a disseminação do vírus. Nos grandes centros consumidores, nas capitais dos Estados e nas cidades de grande porte, onde a refeição é feita rotineiramente fora de casa, os serviços de alimentação foram suspensos (restaurantes, bares, churrascarias, lanchonetes etc), afetando o escoamento de carne bovina por meio desses canais de consumo. Em contrapartida, aumentaram as vendas nos supermercados e açougues. A retomada paulatina do convívio social, o aumento da circulação de pessoas e a abertura gradual do comércio tendem a influir positivamente no consumo de carne. O desempenho positivo ininterrupto da exportação tem ajudado a escoar a carne produzida e não consumida internamente e tem contribuído também para a manutenção da firmeza do mercado. O final de ano se aproxima e nesse período o consumo tradicionalmente melhora e o desempenho das vendas no varejo ganha força. Mesmo sem perspectiva de controle da pandemia e com a economia em crise, a projeção é de que o preço da carne continue firme e não está afastada a hipótese de que a carne bovina venha a substituir o arroz, como o vilão do bolso dos brasileiros. n


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