Revista Agro DBO - outubro de 2018

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Sumário 6 Ponto de vista

Rogério Arioli lamenta o “desprezo à ciência” por parte daqueles que, sem qualquer embasamento, defendem a proibição do uso do glifosato.

22 Entrevista

O presidente da Stara, Gilson Trennepohl, fala sobre o mercado nacional de máquinas agrícolas, tabelamento do frete, logística e outros assuntos.

John Deere Divulgação

26 Sustentabilidade

16

Matéria de capa O plantio da safra 2018/19 de grãos começou mais cedo este ano. Embora preocupados com cenário político-econômico, os produtores decidiram aumentar a área cultivada, confiantes no aquecimento da demanda internacional e na manutenção do dólar em patamares elevados.

Décio Gazzoni cita como exemplo a Mesa Redonda da Soja Responsável (RTRS, na sigla em inglês) ao discorrer sobre as vantagens da certificação .

28 Fisiologia

Mestre em Ciência do Solo, Fernando Sei recomenda as chamadas “boas práticas de inoculação” para garantir fixação correta de nitrogênio na soja.

30 História

Hélio Casale resgata a trajetória de Luiz Vicente de Souza Queiroz, o idealizador da Esalq, e trechos de seus artigos sobre a cultura do café.

32 Opinião

Economista, Fabio Silveira alerta a população para a política de preços do diesel, do governo federal. Em sua opinião, é uma “bomba-relógio”.

34 Agroinformática

Manfred Schmid avalia o grau de informatização em sistemas integrados de produção, como a ILP: “Já podemos dizer que tem boi na nuvem”.

35 Café

Pesquisadores apresentam características de linhagens da cultivar Arara, desenvolvida pela Fundação Procafé, em testes a campo em MG e ES.

36 Crise

“Que Deus nos acuda”, diz Hélio Casale, se referindo ao “lobby baixista” dos compradores e à falta de apoio do governo à cafeicultura nacional.

42 Legislação

Fábio Lamonica adverte contra “sutis armadilhas” escondidas no bojo da nova linha de crédito do BNDES para liquidação de dívidas em atraso

Seções Notícias da terra.................................8 Biblioteca da Terra.......................... 37 4 | Agro DBO – outubro 2018

Novidades no campo.................... 38 Calendário de eventos.................. 40


Carta ao leitor

A

pesar de ser ano eleitoral, altamente dividido entre os eleitores pelas posições antagônicas dos principais candidatos, as máquinas estão no campo, plantando a esperança de uma boa safra. A reportagem de capa da Agro DBO registra o que o repórter Ariosto Mesquita andou ouvindo em suas andanças, na matéria “Fé em Deus e pé na tábua”, com opiniões de produtores com estratégias diferenciadas de plantio, e também nos planos de venda da safra. Isto porque, não basta ao agricultor ser um especialista em saber plantar e vender, pois nos tempos modernos há que se saber o que acontece no mundo, com as brigas entre Donald Trump e chineses, que respingam consequências, por enquanto positivas, aqui nas nossas lavouras, sem esquecer as alternativas da eleição brasileira em curso, cujos resultados podem balançar a roseira e provocar repentinas e enormes valorizações do dólar. Se subir o dólar, agora é bom pra vender, mas anuncia que será ruim para comprar insumos na sequência da 2ª safra. E tudo isso sem ignorar as pragas e o clima. Na entrevista do mês o conhecido empresário Gilson Trennepohl, presidente da Stara Máquinas Agrícolas, comenta os tumultuados tempos que vivemos. Apesar do otimismo, Gilson demonstra alta inconformidade com os processos de judicialização a que assistimos neste nosso Brasil. Hélio Casale traz nesta edição dois textos: num, reclama, mal humorado, dos preços do café, das falsas estatísticas de produção, e da falta de lideranças. No outro, busca alívio dessas conjunturas para nos revelar texto do brasileiro Luiz de Queiroz, escrito há 100 anos, e que mostra uma atualidade notável. O engenheiro agrônomo e produtor rural do MT, Rogério Arioli, em seu texto no Ponto de Vista desta edição, faz uma azeda digressão sobre a Ciência desprezada, eis que a judicialização inconsequente quase acaba por decreto com o plantio direto no Brasil, sem nem mesmo ouvir a ciência. A verdade é que a agricultura brasileira correu enorme risco diante da pressão ambientalista junto ao judiciário. A agricultura precisa aprender a se proteger e se defender desse tipo de agressão, movida por interesses pessoais e ou ideológicos. Aguardemos, para dentro em breve, outras ações midiáticas do Ministério Público e da Justiça.

é uma publicação mensal da DBO Editores Associados Ltda. Diretor Responsável Demétrio Costa Editor Executivo Richard Jakubaszko Editor José Augusto Bezerra Conselho Editorial Décio Gazzoni, Demétrio Costa, Evaristo Eduardo de Miranda, Hélio Casale, José Augusto Bezerra, José Otávio Menten e Richard Jakubaszko Redação/Colaboradores Ariosto Mesquita, Célio Landi Pereira, Décio Luiz Gazzoni, Fábio Lamonica Pereira, Fabio Silveira, Fernando Bonafé Sei, Hélio Casale, J.B. Matiello J.E. P. Paiva, Manfred Schmid, Rogério Arioli, S.R. Almeida e Thiago Martins Machado

Para manifestar sua opinião, envie e-mail para redacao@agrodbo.com.br Richard Jakubaszko

Arte Editor Edgar Pera Editoração Edson Alves e Jade Casagrande Coordenação Gráfica Walter Simões Marketing/Comercial Gerente: Rosana Minante Executivos de contas Andrea Canal, José Geraldo S. Caetano, Maria Aparecida de Oliveira, Marlene Orlovas, Mario Vanzo e Vanda Motta Circulação e Assinaturas Gerente: Margarete Basile ISSN 2317-7780 Impressão São Francisco Gráfica e Editora Capa: Foto Ariosto Mesquita DBO Editores Associados Ltda Diretores: Daniel Bilk Costa, Odemar Costa e Demétrio Costa Rua Dona Germaine Burchard, 229 Perdizes, São Paulo, SP 05002-900 - Tel. (11) 3879-7099 e 3803-5500 redacao@agrodbo.com.br www.agrodbo.com.br

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Ponto de Vista

Ciência desprezada É horrível pensar ambientalistas em parceria com a Justiça: eles podem criar desastres irreversíveis com decisões emocionais.

RRRufino

Rogério Arioli Silva*

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* O autor é engenheiro agrônomo e produtor rural em Mato Grosso

polêmica envolvendo a proibição do uso do glifosato e a consequente inviabilização do plantio direto pela absoluta falta de alternativas remete-nos à década de setenta, onde o maior desafio da agricultura brasileira tinha outro nome: erosão do solo. Naquela época o revolvimento do solo, e suas nefastas consequências, provocavam perdas imensas ao país a ponto de o controle da erosão ser considerado um problema de segurança nacional. O Rio Grande do Sul, principal estado produtor de grãos à época, chegou a perder mais de 20 t/ha/ano de solo fértil culti-

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vado em decorrência da erosão do solo, o que motivou inúmeras iniciativas de âmbito nacional no intuito de reverter aquele imenso problema. Programas de construção de micro bacias e murundus em áreas mais declivosas eram paliativos e apenas a adoção do SPD (Sistema de Plantio Direto) foi capaz de reverter o quadro de degradação que ameaçava a produção agrícola brasileira. Naquele tempo, a exploração do cerrado ainda era um grande ponto de interrogação. Entretanto, seu cultivo a partir das décadas de setenta e oitenta, também teria na erosão do solo – tanto a hídrica como a eólica (causa-

da pelos ventos) – um dos seus maiores desafios. Menos pela topografia plana e mais pelo intenso regime de chuvas e ventos constantes é impossível imaginar o que teria acontecido com os solos do cerrado se o plantio convencional não tivesse sido substituído pelo SPD. As duas safras atualmente obtidas em boa parte do Centro-Oeste certamente estariam comprometidas pela falta de tempo no preparo dos solos, considerando as janelas de plantio, além da degradação decorrente de chuvas, ventos e altas temperaturas. Estes comentários resumidamente descritos são necessários como uma espécie de resgate histórico para os mais jovens que não vivenciaram os desafios da incorporação do cerrado à produção nacional. A molécula do glifosate (princípio ativo do glifosato) certamente é uma das mais estudadas e pesquisadas até hoje, no sentido de verificar seus efeitos na saúde humana. Pelo que se sabe até o momento, não existe nenhuma relação negativa – cientificamente comprovada, decorrente do seu uso. Entretanto, é importante que as pesquisas continuem. O que não deveria ser feito é o desprezo ao conhecimento científico adquirido até o momento e, através de uma medida insensata e extemporânea proibir seu uso sem propor nenhuma alternativa viável. Alguém quer ser mais realista do que o


rei proibindo o uso deste importante insumo e assim coloca em xeque a produção agrícola brasileira. O caipira descreve essa ingenuidade de maneira sábia: “alguém ouviu a galinha cantar, mas não sabe aonde”. É o que está acontecendo neste caso. A preocupação com segurança alimentar não pode ser desprezada, assim como a ciência e os seus resultados. A judicialização de certas questões, em vez de benefícios, traz prejuízos ao país, mas, principalmente, o desdém ao volume de conhecimentos já disponíveis impõe regras absurdas e dissociadas da realidade. Na verdade, medidas são tomadas em nome da proteção da população e surtem efeitos contrários, como é o caso desta recente proibição do uso do glifosato. A quem interessa que a produção agrícola brasilei-

ra diminua? É a pergunta a ser feita, neste momento de ânimos acirrados. Atitudes insensatas são tomadas país afora em nome da preservação ambiental provocando

pagará mais caro pelos alimentos, hoje abundantes e acessíveis. É preciso bom senso na hora de propor mudanças e modificar o que está dando certo. O gasto médio do brasileiro com o item

O desrespeito à comunidade científica pode cobrar um preço altíssimo no futuro. inúmeros atos burocráticos que atrasam obras de infraestrutura importantes que minimizariam o sofrimento de populações relegadas ao esquecimento do poder público. Quando o assunto é científico devemos dar voz à comunidade científica e não aos deslumbrados salvadores do planeta. Se as safras diminuírem haverá um mal maior que se chama desabastecimento e todas as suas consequências serão sentidas pela maioria da população, que

alimentação tem caído nos últimos anos graças ao incremento das safras produzidas, e que ainda proporciona superávit na balança comercial brasileira e diminui a inflação, que sempre corroeu a renda da população. A proposição de medidas que afetem negativamente esta realidade deve ser muito bem avaliada, pois não existem mais espaços para “achismos” e palpites infelizes. O desrespeito à comunidade científica pode cobrar um preço altíssimo no futuro.

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Safra I

Vice confirmado

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e acordo com o 12º levantamento da Conab, o Brasil fechou o ciclo 2017/18 com 228,3 milhões de toneladas, a segunda maior safra da história, mas, ainda assim, longe da anterior (237,7 milhões t). A produção de soja chegou ao recorde de 119,3 milhões de toneladas, 4,6% acima em relação à safra 2016/17, e a de milho, a 81,3 milhões de toneladas, 16,6% abaixo. A quebra foi atribuída à seca durante a fase de colheita da segunda safra. Mesmo assim, segundo avaliação dos técnicos da companhia, os estoques finais de milho seguiriam em patamares elevados devido à queda prevista nas exportações, provocadas pelo aumento dos custos com o tabelamento do frete. A área plantada no ciclo 2017/18 alcançou 61,7 milhões de hectares (no 11º levantamento, a Conab previra 60,9 milhões ha).

Abrass Divulgação

Notícias da terra

Safra II

USDA eleva estimativas

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Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês) elevou suas projeções sobre as safras norte-americana e mundial de soja, em relação ao que estimara em agosto, e manteve os números relativos ao Brasil e à Argentina. Conforme o relatório de oferta e demanda de setembro da instituição, os EUA vão colher 127,7 milhões de toneladas na temporada 2018/19 (antes, previra 124,5 milhões); o mundo, 369,3 milhões t (367,1 milhões); o Brasil, 120,5 milhões e a Argentina, 57 milhões. Quanto ao milho, as projeções seguem o mesmo desenho. Os EUA vão colher 376,6 milhões de toneladas (370,5 milhões t em agosto) e o mundo, 1,069 bilhão de toneladas (1,061 bi). O Brasil produzirá 94,5 milhões de toneladas e a Argentina, 41 milhões t.

Café

Colheita recorde

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FMC Divulgação

Brasil deve produzir 59,9 milhões de sacas de 60 kg neste ano, 33,2% a mais em relação à safra passada (45 milhões), conforme o terceiro levantamento da Conab. Do total previsto, 45,9 milhões de sacas são de arábica (34,1% de aumento) e 14 milhões de conilon (30,4% de aumento). Conforma avaliação da companhia, os bons resultados se devem à bienalidade positiva, às condições climáticas favoráveis e ao incremento da produtividade em algumas regiões produoras. Até então, a safra recorde era a de 2016, também ano de bienalidade, com 51,4 milhões de sacas. O estado de Minas Gerais segue à frente como o maior produtor do Brasil, com 31,9 milhões de sacas (31,6 milhões de arábica e 218,3 mil de conilon), seguido pelo Espírito Santo, com 13,5 milhões (8,8 milhões de conilon e 4,7 milhões de arábica) e São Paulo, que só produz café arábica, com 6,2 milhões de sacas. O IBGE foi mais modesto em sua estimativa, comparativamente à Conab. Segundo levantamento do instituto, o Brasil vai colher 57,4 milhões de sacas (43,1 milhões de arábica e 14,3 de conilon) em 2018.

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Safra III

IBGE crava 225,8 milhões

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oitava estimativa de 2018 do instituto sobre a produção nacional de cereais, leguminosas e oleaginosas na temporada 2017/18 totalizou 225,8 milhões de toneladas, 6,2% inferior à do ano passado (240,6 milhões t). A safra de soja foi calculada em 116,7 milhões de toneladas, 1,6% superior à anterior, e a de milho em 81 milhões t, 18,6% inferior. Mato Grosso lidera o ranking dos estados produtores com 16,6% de participação, seguido pelo Paraná (15,8%) e pelo Rio Grande do Sul (14,8%). Entre as grandes regiões em que se divide a federação, a produção apresentou a seguinte distribuição: Centro-Oeste, 99,2 milhões de toneladas; Sul, 75,4; Sudeste, 22,8; Nordeste, 19,6 e Norte, 8,9. Comparativamente à safra passada, o IBGE constatou incremento de 9,9% no Nordeste e decréscimos de 10,2% no Sul, 6,3% no Centro-Oeste, 4,8% no Sudeste e 1,6% no Norte.


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Notícias da terra Exportações I

Saldo de R$ 59 bilhões

Exportações III

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Mercado promissor

agronegócio brasileiro faturou US$ 9,37 bilhões em agosto, alta de 3,6% sobre os US$ 9,04 milhões do mesmo mês de 2017, segundo levantamento do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. As importações somaram US$ 1,17 bilhão, montante 1,6% inferior ao de agosto do ano passado (US$ 1,19 bilhão), o que resultou num superavit de US$ 8,19 bilhões. No acumulado dos oito primeiros meses do ano, as exportações do agronegócio totalizaram US$ 68,5 bilhões, valor 4,7% superior ao do mesmo período em 2017. “Essa elevação se deve, principalmente, ao aumento do volume exportado, que subiu 3,8% no intervalo analisado”, diz o Mapa. As importações recuaram 0,7%, atingindo, US$ 9,5 bilhões. O saldo da balança comercial do agronegócio no ano (até agosto) foi de US$ 59 bilhões.

evantamento realizado pela Embrapa Hortaliças indica que o cultivo de grão-de-bico no Brasil cresceu 1400% em apenas um ano. No Mato Grosso, um dos principais polos de produção do país, ao lado de Goiás, Minas Gerais e Bahia, além do Distrito Federal, a área plantada passou de 60 para 6 mil hectares. Conforme técnicos da unidade, a espécie se adapta bem a clima seco e ameno. Pode ser cultivada no inverno em regiões tropicais ou na primavera e no verão em regiões temperadas. “Aqui no Brasil trabalhamos com dois tipos de cultivos: irrigado e não-irrigado. No primeiro caso, comum no Mato Grosso, o custo de produção é menor e a produtividade fica em torno de 1.500 a 2.500 quilos por hectare. Já no sistema irrigado, aplicado principalmente em Goiás, Minas Gerais e Bahia, os custos de produção são maiores, mas se consegue atingir de 2.500 a 3.000 quilos”, diz o chefe-geral da Embrapa Hortaliças, Warley Nascimento. Embora reconheça que a cultura ainda demande informações mais precisas sobre adubação, irrigação, controle de pragas e doenças, tem grande potencial de mercado, segundo ele, tanto interna quanto externamente. A Índia e outros países asiáticos demandam cada vez mais por leguminosas como lentilha, ervilha e grão-de-bico – conhecidas como “pulses”. A Índia é o maior produtor, consumidor e exportador de pulses do mundo. Em 2017, importou 6 milhões de toneladas para suprir a demanda interna de 25 milhões de toneladas. A expectativa é que até 2030 essa necessidade chegue a 40 milhões. “Como a produtividade na Índia é baixa, principalmente com o grão-de-bico, eles vão depender das importações, o que cria oportunidade para o Brasil”, diz Nascimento.

Exportações II

Apetite chinês ados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento mostram que, de janeiro a agosto deste ano, o Brasil vendeu para a China 50,9 milhões de toneladas de soja, ou seja, 78,8% de toda a oleaginosa exportada pelo país no período. De janeiro a agosto de 2017, os embarques chegaram a 44,1 milhões, 77,5% do exportado no ano. Os chineses compraram 42,7% da safra brasileira de soja. Gastaram U$ 25,7 bilhões, respondendo por mais de 25% do faturamento do agronegócio brasileiro (U$ 68,5 bilhões) no período, considerando, no caso, todos os produtos da pauta de exportações, como carnes, café, celulose, açúcar e outros. Em 2018, os embarques de soja (para todos os países compradores, não só para a China) devem chegar a 76 milhões de toneladas, o que enxugará os estoques finais nacionais, favorecendo os preços – os estoques finais em 2018 foram estimados no mês passado pela Conab em 434 mil toneladas. Em agosto, a companhia previra 638 mil toneladas. 10 | Agro DBO – outubro 2018

Robinson CIpriano

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Notícias da terra Pesquisa I

Avaliações de emissões de gases e acordo com estudo conjunto da Embrapa e Universidade Federal de Goiás, fertilizantes como sulfato de amônio, nitrato de amônio e grânulos de ureia revestidos com polímero (para liberação lenta de nitrogênio) podem reduzir em até 70% a emissão de óxido nitroso, comparativamente, à aplicação de ureia comum. Em outro tratamento avaliado, feito com ureia estabilizada por NBPT (substância que inibe reações químicas que volatilizam o nitrogênio), a diminuição da emissão de óxido nitroso foi de cerca de 26%, em relação à ureia comum. O objetivo dos pesquisadores foi avaliar os impactos das emissões de gases de diferentes adubos minerais nitrogenados. Os pesquisadores também mediram a perda de nitrogênio utilizando um indicador denominado fator de emissão, que é a proporção entre o nitrogênio aplicado, via adubo, por hectare, e o que é emitido para a atmosfera na forma de óxido nitroso. Quanto menor o fator de emissão, menos nitrogênio escapa da lavoura. No estudo, os fatores de emissão para as cinco fontes de fertilizantes estudadas foram: 0,01% para sulfato de amônio; 0,09% para nitrato de amônio; 0,10% para ureia com polímero; 0,21% para ureia com NBPT; e 0,36% para ureia comum. Isso significa que todos esses produtos são de baixa emissão de óxido nitroso no sistema de produção no qual foram utilizados, pois alcançaram percentuais inferiores a 1%, que é o fator médio de emissão para o uso de fertilizantes nitrogenados sintéticos.

Plantas daninhas

Resistência preocupante

A

s perdas econômicas decorrentes das infestações de plantas daninhas nas lavouras brasileiras de soja alcançam R$ 9 bilhões, segundo o pesquisador Décio Karam, da Embrapa Milho e Sorgo. “A estimativa do custo de resistência está entre R$ 3,7 bilhões e R$ 6 bilhões, somente computando os gastos para o manejo das espécies resistentes. Porém, quando se insere uma perda de 5% devido à competição imposta por essas plantas, os custos chegam a R$ 9 bilhões”, justifica. A afirmação de Karam foi feita durante o XXXII Congresso Nacional de Milho e Sorgo, realizado no mês passado em Lavras (MG). Associado a essa perda econômica, o pesquisador citou outro dado preocupante: a ausência de novos mecanismos de controle ou manejo da resistência, já que os ingredientes ativos dos herbicidas em uso foram lançados há décadas. O surgimento da resistência ocorre pelo processo de seleção de biótipos resistentes, já existentes na população presente nas áreas de produção, em função de aplicações repetidas e continuadas de um mesmo herbicida ou de herbicidas com mesmo mecanismo de ação, durante determinado período de tempo. Segundo Karam, no Brasil há 28 espécies de plantas daninhas resistentes a herbicidas, em diferentes níveis, cada qual com seu modo de ação. Por enquanto, segundo consenso entre os pesquisadores, a chave no controle é o manejo integrado. As estratégias preventivas contra a resistência são: 1 - Rotação de herbicidas; 2 Aplicação sequencial; 3 - Mistura de herbicidas com residual semelhante; 4 - Aplicação de produtos em escapes; 5 - Rotação de culturas; 6 - Manejo integrado de plantas daninhas (integração dos métodos de controle); 7 - Acompanhamento das mudanças da flora; 8 - Limpeza dos equipamentos.

Lucia Ferreira

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Pesquisa II

Fertilizante orgânico

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roduzido a partir da biomassa aérea de espécies leguminosas, o N-verde é um fertilizante orgânico vegetal em forma de grânulos, ou pellets, rico em nitrogênio (4% de concentração) e de fácil aplicação, desenvolvido por pesquisadores da Embrapa Agrobiologia. “O N-verde tem os nutrientes essenciais para as plantas: fósforo, potássio, cálcio, magnésio, enxofre; e micronutrientes, como boro, ferro, manganês, molibdênio e zinco”, diz o pesquisador Ednaldo Araújo. A princípio, foi desenvolvido para aplicação em hortaliças folhosas, com excelentes resultados nos testes de campo. Mas a resposta também foi boa em lavouras de milho e feijão. A expectativa é que, ao ser disponibilizado pela indústria, otenha boa aceitação para aplicação em outros cultivos. “É importante frisar que não se trata de substituir o uso da adubação verde nas culturas, pois mesmo com o uso de espécies adubadoras, é preciso fazer todo manejo e ainda o aporte de nitrogênio. Essa reposição pode ser realizada pelo N-verde”. O pesquisador esclarece que, por haver necessidade de grandes áreas para o plantio da leguminosa e de uma fábrica para transformação da biomassa em grãos ou pellets, o N-verde tende a ser um fertilizante produzido por empreendedores por meio de cooperativas ou indústrias.”Um país com dimensões continentais e clima tropical como o Brasil tem aptidão natural para produzir biomassa. E por que não produzir essa biomassa e colocá-la no mercado para suprir a demanda que existe?”. outubro 2018 – Agro DBO | 11


Notícias da terra Alimentos

Os campeões do desperdício dupla arroz e feijão, ainda considerada como símbolo da culinária brasileira, apesar do desprezo crescente da classe média emergente pelo feijão, responde por 38% dos alimentos jogados fora no Brasil. O dado, apresentado no “Seminário internacional perdas e desperdício de alimentos em cadeias agroalimentares: oportunidades para políticas públicas”, realizado no mês passado em Brasília (DF), integra pesquisa da Embrapa, apoiada pela Fundação Getúlio Vargas, com 1.764 famílias de diferentes classes sociais, de todas as regiões do país. “A família brasileira desperdiça, em quantidade relativamente grande, até mesmo alimentos mais caros e proteicos, tais como a carne bovina e de frango, um dado que nos surpreendeu”, comenta Carlos Eduardo Lourenço, da FGV. Na média, cada pessoa joga fora 41,6 quilos de comida por ano. Extrapolando para a população total do país, são 83,2 milhões de toneladas no lixo. Os “líderes” no ranking dos alimentos mais desperdiçados são o arroz (22%), a carne bovina (20%), o feijão (16%) e o frango (15%). Entre os motivos do esbanjamento está a busca pelo sabor e a preferência pela abundância. O não aproveitamento das sobras das refeições é o principal fator pa-

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Márcia Thaís

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ra o descarte de arroz e feijão. Outro dado relevante: 61% das famílias preferem fazer uma grande compra mensal de alimentos (em vez de compras pequenas, de acordo com as necessidades imediatas), o que aumenta a propensão de comprar itens desnecessários, ou seja, descartáveis. Segun-

do Gustavo Porpino, analista da Embrapa, a maioria das famílias (68%) valoriza muito ter despensa e geladeira cheias. “É um traço cultural muito presente que, no contexto da classe média baixa, decorre da prioridade dada à compra dos alimentos no orçamento familiar. Em uma das fases da pesquisa, 62 consumidores foram entrevistados em supermercados, lojas de conveniência e feiras livres. A coleta de dados envolveu um grupo de pós-graduandos europeus das Universidades de Bocconi (Itália), St Gallen (Suíça), Viena (Suíça) e Groningen (Holanda). O objetivo foi avaliar hábitos de compra e consumo dos brasileiros, a partir do olhar dos europeus. “Eles ficaram impressionados com a quantidade dos alimentos adquiridos pelos brasileiros. As compras informadas como semanais alimentariam uma família na Europa”. Na opinião de Porpino, os dados das pesquisas evidenciam que o Brasil precisa atuar em diferentes elos da cadeia para evitar perdas e desperdícios de alimentos. Ações de comunicação e educação nutricional são fundamentais para conscientizar o consumidor, assim como tecnologias e capacitações técnicas para redução de perdas no campo.


Notícias da terra Insumos

Safra de verão: esta é a hora para decidir sobre insumos agrícolas

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gosto e Setembro são meses importantes para a tomada de decisão sobre a compra dos insumos agrícolas para a próxima safra de verão. Os agricultores devem ir às compras o quanto antes, considerando que esta é a melhor época para analisar os custos na ponta do lápis, prevenir-se contra possíveis problemas na entrega dos produtos e ainda conseguir se programar para fazer o plantio logo no início da janela, em setembro e outubro, conforme a região. Além disso, as indústrias estão mais abertas a oferecer condições comerciais vantajosas”. A sugestão é do engenheiro agrônomo Wladimir Chaga, presidente da Brandt do Brasil, subsidiária da norte-americana Brandt, uma das maiores fornecedoras mundiais de especialidades para a agricultura. Chaga aponta cuidados que os agricultores devem ter ao planejar seus investimentos para a próxima safra. “É preciso ter cautela em relação ao clima. É de extrema importância observar esse aspecto, ainda que a época de plantio esteja próxima. Outro ponto relevante refere-se aos preços das commodities. Deve-se analisar a melhor hora de fechar a venda: se é melhor antecipar ou aguardar

um momento mais adequado’’, explica. No momento da compra dos insumos, também é preciso avaliar se é melhor fazer o pagamento à vista ou a prazo, tendo em vista as alterações do mercado financeiro. Pode ser mais vantajoso deixar o dinheiro guardado ou antecipar as compras, negociando menores taxas de juros. Sobre o plantio propriamente dito, o presidente da Brandt do Brasil ressalta a importância de seguir a recomendação técnica de cada variedade, cultura e região. “É preciso respeitar que algumas culturas podem ser plantadas um pouco mais cedo e outras um pouco mais tarde, pois cada região do Bra-

sil tem o seu período mais adequado para o cultivo”, diz Wladimir Chaga. Outro aspecto relevante é “fazer um bom manejo de ervas daninhas no plantio direto, para que a planta consiga crescer sem a matocompetição, como costuma ocorrer na cultura da soja’’, completa ele. Wladimir Chaga ainda explica a importância e os ganhos que os agricultores podem ter no investimento em fertilizantes foliares para as culturas de verão, como soja, milho, feijão e arroz. “A utilização dos fertilizantes foliares pode render de 2 a 12 sacas a mais para a lavoura de soja, em comparação ao cultivo que não utiliza a técnica da adubação foliar’’. A análise do solo também é uma etapa importante da produção com qualidade e produtividade. “Com a análise, é possível conhecer a capacidade de determinado solo em suprir nutrientes para as plantas. O uso de fertilizantes especiais nesse processo também garante aos agricultores uma melhora na performance da cultura, proporcionando maior rendimento se comparado a outras técnicas convencionais de adubação’’, conclui Wladimir Chaga.

Tratores

Mahindra Brasil lança Hexa Garantia em toda linha de tratores

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Mahindra Brasil pegou carona na Copa, e lançou campanha inédita em todo o território nacional. Os produtores que adquirirem tratores da linha, faturados de 01/07/2018 a 30/12/2018, ganharão SEIS anos de garantia de fábrica. “Só quem sabe o que produz pode oferecer muito mais garantia. Somos únicos também neste quesito”, afirma Jak Torretta, Diretor-Geral de Operações da Mahindra no Brasil. Com mais este item

de vantagem comercial, a Mahindra busca atrair a atenção do produtor brasileiro que aprecia boas oportunidades. Durante a Expointer 2018, realizada em agosto e setembro último, a Mahindra exibiu em seu estande o trator de um cliente, apaixonado por tratores, Alison Dal Ponte, Turvo (SC), no “estado de trabalho”, o que chamou bastante a atenção, visto que havia terra por todo lado na lataria do trator.

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Notícias da terra Dirceu Gassen

Perdemos um amigo

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gro DBO lamenta o falecimento do engenheiro agrônomo, pesquisador em fisiologia de plantas e professor Dirceu Gassen, que foi nosso colaborador como articulista. Ele faleceu dia 3 de setembro, em Passo Fundo (RS), vítima de uma parada cardíaca, mas lutava contra um câncer. Foi um dos maiores entusiastas da agricultura brasileira. Gassen tinha uma “mania” curiosa, hoje reconhecida como importante, por seu amor em ensinar os agricultores a pensar nas plantas como um ser completo. Gassen deixa a esposa Elaine Gassen, três filhas, Tatiana, Thaís e Tainara e os genros Aramis e Richard. Aos amigos e familiares, nossas condolências.

Café

Coca-Cola Brasil lança novo sabor Coca-Cola Plus Café Espresso

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combinação de duas paixões nacionais – café e Coca-Cola – acaba de chegar às gôndolas brasileiras. Coca-Cola Plus Café Espresso, que entra para o portfólio fixo da Coca-Cola Brasil, apresenta a um mercado cada vez mais exigente em relação a qualidade e sabor uma nova experiência – com a chancela de sua marca mais antiga e icônica. Com 40% a mais de cafeína em relação à Coca-Cola original, e 50% menos açúcar, portanto, com mais opções com menos calorias. Segundo lugar no ranking de países que mais consomem café no mundo, de acordo com a Embrapa, o Brasil será um dos primeiros países a lançar Coca-Cola Plus Café Espresso. Coca-Cola Plus Café Espresso será comercializada em latinhas de 220 ml ao preço sugerido de R$2,00/R$2,50.

Errata

Fertilizantes, vai faltar, vai atrasar?

N

a edição de setembro/18 Agro DBO entrevistou o diretor-executivo da Anda – Associação Nacional de Difusão de Adubos. Por entender que foi mal interpretado nas suas declarações, diante do que foi publicado, Roquetti nos encaminhou o e-mail a seguir: Cumprimentando-os e, uma vez mais, agradecendo pelo honroso convite e oportunidade da entrevista, serve a presente para, nos termos das regras de Conduta e Integridade da ANDA e melhores práticas de compliance, registrar que: A ANDA, seja através de seu diretor-executivo, seja através dos membros do seu Conselho, não se manifesta sobre questões específicas de oferta e demanda, notadamente sobre o tema “preço final do produto” ao agricultor. Neste particular, a peremptória manchete “Fertilizantes: vai atrasar, vai faltar e vai ficar mais caro” (na revista Agro DBO do mês de setembro/18), pode passar ao leitor menos atento às minhas respostas aos questionamentos um entendimento errôneo sobre o posicionamento institucional da ANDA. Assim sendo, para registro, reafirmo que:

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– todas as minhas considerações sobre o atual tema das entregas de fertilizantes foram de natureza descritiva, haja vista um cenário de notória crise por conta do tema da tabela de frete, que vem, segundo recorrentes notícias na mídia, criando enormes desafios à regular chegada do produto aos seus destinos finais; – em nenhum momento afirmei que o produto final restará necessariamente mais caro ao agricultor. – ainda que dificuldades logísticas sejam um tema periclitante ao nosso setor, não tenho mandato ou capacidade para qualquer previsão específica sobre preços finais. Trata-se de temática própria à relação “agricultor/ofertante final”, impactado pelo tema frete, mas também por inúmeras variáveis no setor de fertilizantes (e.g. dólar, custo logístico total, crédito e etc.), as quais dependem das relações comerciais específicas entre as partes empresariais contratantes, sem qualquer relação com as missões e dia a dia da ANDA. Agradecemos a atenção e reafirmamos nossos protestos de admiração. David Roquetti Filho Diretor Executivo


Notícias da terra Milho

Corteva lança biotecnologia Thuany Coelho *

A

Corteva Agriscience, divisão agrícola da DowDupont, tem novidade para a 2ª safra de 2019: a biotecnologia para sementes de milho PowerCore Ultra. São quatro proteínas (Cry1F, Cry1A.105, Cry2Ab2 e Vip3Aa20) para ajudar no controle de pragas e mais duas que fornecem tolerância a glifosato e glufosinato de amônio. “É a primeira biotecnologia Bt com quatro proteínas inseticidas, que conseguem cobrir a maior gama de insetos no mercado brasileiro”, diz Frederico Barreto, líder de marketing da plataforma de sementes da Corteva. O lançamento foi realizado no Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da empresa em Porto Nacional, TO, no qual a Corteva tem investido em programas de melhoramento focados nas características tropicais e onde Agro DBO pôde conhecer parte do processo de desenvolvimento das tecnologias da empresa. PowerCore Ultra foi elaborado para que a planta possa expressar seu máximo potencial produtivo, com foco principalmente no combate da principal praga do milho: a lagarta-do-cartucho, afirma Cesar Santos, líder de projetos de pesquisa da Corteva. Desenvolvido no Brasil, o protetor também tem atuação em outras pragas, como as lagartas da espiga (Helicoverpa zea), elasmo (Elasmopalpus lignosellus), rosca (Agrotis ipsilon), preta-das-folhas (Spodoptera cosmioides), e a broca-do-colmo (Diatraea saccharalis). No caso da lagarta-do-cartucho, de acordo com Santos, a PowerCore Ultra foi a biotecnologia que obteve a menor média de danos de Spodoptera frugiperda na Escala Davis, medida visual que vai de zero a nove, em 23 ensaios realizados em São Paulo, Minas Gerais, Paraná e Goiás. O nível ficou em 0.5, que representa uma pequena raspagem nas plantas. A segunda tecnologia Bt com melhor resultado obteve 0.7 e a não Bt ficou em 4.9. “Além de termos a menor média de danos, tivemos uma consistência grande, ou seja, avaliando uma quantidade de plantas, é a que apresenta o menor número com algum dano”, explica o pesquisador. A tecnologia ainda pode reduzir o número de aplicações de defensivos na lavoura. Mas é preciso continuar monitorando as pragas para, dependendo da intensidade do ataque, fazer uso de outras tecnologias, esclarece Santos. Ele reforça que PowerCore Ultra é uma ferramenta no sistema de produção, mas que boas práticas agrícolas, como dessecação antecipada para o controle de plantas daninhas e pragas anteriores à cultura e tratamento de sementes (PowerCore Ultra já conta tratamento), precisam ser adotadas. “A principal estratégia quando se fala na durabilidade da tecnologia é o refúgio. E esta é uma das dificuldades que temos tido, um ponto em que precisamos

melhorar bastante”. De acordo com Santos, estima-se que cerca de 25% dos produtores adotam a prática de plantar 10% da área com plantas não Bt, enquanto que a taxa de adoção deveria ser de, no mínimo, 75%. “Temos uma oferta forte de híbridos convencionais, porque acreditamos que não podemos pedir nada do agricultor sem fazer nossa parte bem-feita. Temos ofertado produtos com alto nível de produtividade para que ele olhe para os 10% de refúgio como algo tão rentável quanto os 90% de Bt. Claro que o monitoramento e o controle são maiores, mas é melhor fazer nessa parte do que em tudo”, ressalta Barreto. Os híbridos com a tecnologia já estão no mercado. Para a safrinha 2019, sete variedades da Brevant e dois novos híbridos da Pioneer serão comercializados para que os produtores possam ter o primeiro contato com o produto. O portfólio com a tecnologia será ampliado futuramente. “Esperamos em três anos já ter a maior parte do nosso volume com PowerCore Ultra”, conta Barreto.

Cesar Santos, líder de projetos de pesquisa da Corteva

* a jornalista viajou ao Tocantins a convite da Corteva Agriscience

Materiais genéticos em estudo são testados em ambiente controlado na estufa do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Corteva em Porto Nacional, TO.

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A safra da estratégia O plantio de grãos começou mais cedo este ano. Tecnologia, uma boa estratégia de mercado e fluxo de caixa podem garantir bons resultados. Ariosto Mesquita

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uem chegasse à Fazenda Maracá, em Nova Andradina (MS), no dia 13 de setembro, a dois dias, portanto, da abertura oficial da janela de plantio da safra 2018/19, toparia com uma movimentação diferente da grande maioria das propriedades agrícolas do Brasil Central. Em vez de uma equipe mobilizada exclusivamente para o início da semeadura da soja, o que se via era uma preocupação maior com a colheita. O produtor Paulo Eduardo Lima, de 57 anos, corria contra o tempo para retirar o milho que ainda restava no campo, antes que a primeira boa chuvarada – prevista para o final daquele dia – comprometesse a umidade do cereal para estocagem. Os mais afoitos diriam que Lima estava atrasado com a segunda safra da temporada 2017/18. Nada disso. Na verdade, ele estava colhendo sua última área da terceira safra, precedida pela de soja e de feijão em sucessão. Mais adiante, outro talhão incomum chamava atenção de eventuais visitantes, como este repórter. “Isso é a aveia branca que plantei logo depois que tirei o milho”, explica, se referindo à sua

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quarta safra anual, usada como cobertura para garantir melhores condições de solo para o plantio de soja na abertura do ciclo seguinte. Sem dúvida, uma postura arrojada diante do quadro atual de incertezas econômica e política derivadas da polarização nas eleições presidenciais neste mês de outubro. Lima consegue quatro safras anuais graças a muitos investimentos em tecnologia agrícola, coisa impensável até o início da década, quando a propriedade (herança do pai) ainda trabalhava exclusivamente com pecuária extensiva (recria e engorda a pasto) em pastagens degradadas por mais de 40 anos de uso e cujo solo, segundo ele, mal ultrapassava 14% de teor de argila. Ciente da baixa produtividade, ele contratou estudos na Esalq – Escola de Agricultura Luis de Queiroz, de Piracicaba (SP), onde se formara como agrônomo, e na Fazu – Faculdades Associadas de Uberaba (MG), na qual fizera pós-graduação, para identificar o melhor caminho para melhorar a produtividade na fazenda. A recomendação técnica na época, considerando a hipótese de permanecer na pecuária, foi apostar na reforma de pasto com agri-


Fotos: Ariosto Mesquita

Colheita de milho (terceira safra anual) na fazenda Maracá, em Nova Andradina (MS).

cultura. Lima, porém, a descartou: “Neste modelo, a sobrevivência do pasto é pequena; mal dura dois anos e logo em seguida temos de entrar com lavoura novamente. Assim sendo, resolvi plantar não para reformar, mas para produzir”. E foi assim que Paulo Lima começou sua ainda curta, mas bem sucedida carreira solo na agricultura. Com apoio técnico e consultoria contratada (MS Integração), bastaram quatro anos para que se tornasse referência no Vale do Ivinhema, região no centro-sul do Mato Grosso do Sul, graças a um audacioso modelo de produção intensiva. Na última safra (2017/18)

Paulo Lima posa entre gesso, calcário e lavoura irrigada de aveia branca (ao fundo, na primeira foto, e em detalhes, na segunda). A terceira foto é de milheto.

apenas o cultivo de soja lhe rendeu uma produtividade média de 82,9 sacas/ha – considerando áreas irrigadas e de sequeiro – para um custo de produção variável entre 35 e 39 scs/ha. A Fazenda Maracá prioriza o plantio de sementes com a tecnologia Intacta (RR2 Pro), mas reserva entre 20% e 25% da área para o cultivo de soja convencional como refúgio. “É essencial para não perdermos a tecnologia. Quem não faz, está jogando contra o próprio patrimônio”. Aposta tecnológica Através do acompanhamento da assessoria técnica, Lima ganhou segurança para botar a mão no bolso e investir pesado. O primeiro passo veio no final de 2012 com a decisão de adquirir e instalar quatro pivôs centrais de irrigação, cada um a custo aproximado de R$ 290 mil, com 80% do valor financiado pelo Finame, um ano de carência e cinco para pagar – ele vai quitar a última parcela no final deste ano. Para a safra 2018/19, ele reservou 313 hectares irrigados e 150 em sequeiro, incluindo uma área de 35 ha ocupada até o início do ano por pastagem em processo de degradação. Para sua incorporação à agricultura comercial em outubro (quando receberá soja), passou por extenso trabalho de recondicionamento fértil e foi cultivada com milheto, alternativa para formação de palha e controle de nematoides. Além dos 463 hectares destinados à agricultura (dentro dos 1,9 mil ha de área total da Fazenda Maracá), ele ocupa 800 com recria e engorda de 1.200 cabeças de bovinos Nelore. Lima pretende, porém, diminuir aos poucos a área dedicada atualmente ao gado. “Meu planejamento é aumentar o espaço agrícola, irrigando o que puder e integrando com a pecuária”. Nos três primeiros ciclos com pivôs de irrigação, Lima obteve produtividades médias de 67,9 scs/ ha (ciclo 2014/15), 59,4 scs/ha (2015/216) e 68,7 scs/ ha (2016/217). Modestamente, ele diz que os bons resultados não se devem apenas à irrigação e uso de

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Milho estocado em silos-bolsa antes das primeiras chuvas de setembro: estratégia para comercialização futura e preços mais vantajosos.

cobertura verde. Sob a orientação da MS Integração, ele foi, novamente, ousado. Em 2016, decidiu construir um perfil de solo para alto desempenho em 40 cm de profundidade em toda a sua área agrícola. “Estamos no final dos trabalhos. Restam apenas duas pequenas áreas de sequeiro próximas aos pivôs. Foi o melhor alicerce que encontrei para alcançar produtividades maiores. Desconheço quem faça aqui na região”, observa. Este procedimento é uma das alternativas indicadas em terras do Brasil Central para se obter resultados mais elevados. Como boa parte destes solos tem a fertilidade limitada às camadas superiores, o desafio é levar nutrientes em profundidades maiores sem ação mecânica predatória, garantindo melhor enraizamento e desenvolvimento das plantas. O custo da aplicação da tecnologia de correção/construção do perfil de solo foi de R$ 700/ha (desembolso único) à época. De acordo com o diretor-executivo da MS Integração, Roney Simões Pedroso, este investimento já foi pago na safra 2017/18 com sobras. “O Incremento médio de produ-

tividade foi de 15 sacas por hectare na soja e de 45 no milho, o que se traduz em um faturamento adicional de R$ 1.050 e R$ 1.440 por hectare, respectivamente” – para este cálculo, Pedroso considerou a saca de soja a R$ 70 e a de milho a R$ 32. A partir da safra 2018/19, Lima se livrará do custo de amortização da dívida contraída ao comprar os pivôs que, segundo afirma, corresponde a 11,5 sacas de soja/ha/ano. Mesmo com este encargo, ele assegura que vinha trabalhando com boa margem de lucro em todos os ciclos e usando apenas a safra de soja para honrar os compromissos do financiamento. O agricultor trabalha com um custo de produção em sequeiro equivalente a 35 scs/ha e na irrigação de 39 scs/ha (ele considera um desembolso anual correspondente a quatro scs/ha para manutenção e funcionamento do sistema). No ciclo 2017/18, mesmo com um custo total de 50,5 scs/ha, conseguiu uma margem líquida de 34,22 scs/ha mediante produtividade média de 84,72 scs/ha em área de soja irrigada. “Isso sem falar no feijão e no milho que cultivo em seguida. Estas lavouras entram com custos mínimos, praticamente livres de encargos”, lembra. Apesar de todo este desempenho, o maior desafio de Paulo Lima está na fase pós-colheita. “O mais complicado não é produzir e, sim, comercializar”, afirma. Se o momento é instável para travar preço, ele compensa com a estocagem estratégica, mantendo um olho no mercado e outro no clima: “Caso haja previsão de chuva e lavoura ainda a colher, tenho de priorizar este trabalho se quero vender bem. Não dá para armazenar grão com alta umidade”. Ele começou o plantio da safra 2018/19 no início da segunda quinzena de setembro mantendo ainda em estoque 25 mil sacas de milho em silos-bolsa e 1,5 mil sacas de feijão-carioca em galpão. “Sempre procuro o melhor momento para vender. No ano passado, comer-

Percevejo é a praga a ser batida A resistência crescente em relação aos inseticidas disponíveis no mercado, a reduzida disponibilidade de produtos com princípios ativos diferentes e o aumento da “ponte verde” entre as culturas fazem dos percevejos o grupo de pragas mais desafiador para a safra de grãos 2018/19 no Brasil. Quem faz o alerta é o pesquisador da Embrapa Soja, Adeney de Freitas Bueno, que, em uma escala de 0 a 10, classifica o nível

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de preocupação entre 8 e 9, em relação a eventuais infestações. Segundo garante, o risco de prejuízos vem aumentando ano a ano, alimentado pela chamada “ponte verde”, que é o cultivo de safras em sucessão com plantas hospedeiras da praga: “Isso ocorre, por exemplo, com o cultivo da soja na safra de verão e milho na segunda safra. O problema se agrava com o aumento de casos de populações resistentes aos in-

seticidas utilizados. Quanto maior for esta dificuldade de controle, mais preocupante será o problema no campo”, aleta. A Embrapa vem monitorando as infestações e já identifica percevejos que transitam o ano todo entre as culturas. Um dos exemplos é o barriga-verde (Dichelops spp). “Na soja, sua ocorrência é maior no final da fase reprodutiva. No milho, ele surge já no início do seu desenvolvimento em função da população que cresceu no cultivo anterior”, explica Bueno. Para orientar o agricultor, ele listou algumas recomendações para a contenção de percevejos nas lavouras:


A nova temporada começa com duas grandes incógnitas para o agricultor brasileiro: a comercialização e os custos de produção. cializei feijão a R$ 400 a saca de 60 kg. Atualmente, a saca está valendo perto de R$ 90 aqui na região, mas daqui a pouco começa a disparar”, prevê. Considerando um custo equivalente a 25 scs/ha e uma produtividade média de 56 scs/ha, ele teve lucro superior a R$ 12 mil/ha com esta operação. Lima sabe que o mercado é cíclico e por isso cultiva soja, milho e feijão, independentemente do preço de momento. Ele utiliza sempre as áreas irrigadas e alterna as sucessões entre os pivôs. “Sempre que posso, trabalho para fechar três safras, mas como o Vale do Ivinhema é sujeito a geadas, procuro variar a ordem dos cultivos para me garantir. Sob um pivô, cultivo soja, milho e feijão. Sob outro, entro com soja, feijão, milho e, por último, aveia”, exemplifica. Proteção contra incertezas Para Pedroso, da MS Integração, o modelo de trabalho adotado por Paulo Lima funciona como uma espécie de antídoto às incertezas políticas e comerciais que vêm marcando o início da safra 2018/19 no Brasil. Elas passam tanto por questões internas (tabelamento de frete e eleições presidenciais no Brasil) quanto externas (guerra comercial Estados Unidos-China, por exemplo). A disparada do dólar em relação ao real, ao mesmo tempo em que valoriza o preço das commodities brasileiras, dificulta a aquisição de insumos. “Neste cenário, vai se sair bem quem trabalhar com estratégia. O agricultor tem de ter fluxo de caixa para saldar os custos de produção com antecipação. Não tendo que vender o produto para pagar a conta, ele poderá dar as cartas. Veja o exemplo do Paulo Lima: ele domina os três elementos do sistema

de produção que compõem a rentabilidade da propriedade: a produtividade, o custo de produção e o mercado, ou preço de venda”, avalia. Segundo o consultor, quem trabalha com estratégia de venda pode embolsar de meia a uma safra a mais, em termos de faturamento líquido. “Ao longo deste ano, por exemplo, já foi possível entregar a saca de milho a R$ 15 e também a R$ 30”, ilustra. A nova safra começa justamente tendo a comercialização e os custos de produção como as duas maiores incógnitas para o agricultor brasileiro. Esta conjuntura de expectativas e de indefinições ficou clara durante a abertura nacional do plantio de soja da safra 2018/19, realizado pela Aprosoja Brasil no dia 17 de setembro na fazenda Jaraguá, em Terenos (MS). Os aspectos sanitários, de manejo de solo e tecnológicos deram lugar a ponderações e especulações sobre o futuro do transporte de grãos diante do tabelamento do frete rodoviário de cargas, além de desenhos de possibilidades

• Adotar o manejo integrado de pragas (MIP) e não

aplicar inseticidas abusivamente sem critérios técnicos; Reduzir as perdas durante a colheita da soja. Os grãos caídos podem favorecer o desenvolvimento do inseto na cultura seguinte; Fazer um adequado manejo de controle de plantas daninhas. Várias espécies são hospedeiras do inseto e colaboram com a manutenção da população na área; Usar, sempre que possível, cultivares de soja e de milho mais tolerantes ao ataque da praga. Considerando o percevejo barriga-verde, utilizar as ações de monitoramento e controle recomendadas na seguinte tabela:

Monitoramento

Quando aplicar inseticidas?

Pano de batida em 1 metro de fileira de soja

Pulverizar quando encontrar 2 percevejos fitófagos (qualquer espécie) ≥ 0,3 cm/m ou pano de batida entre o estádio R3 e R6 de desenvolvimento da soja

Milho

Metro quadrado na palhada = antes da semeadura

Utilizar tratamento de sementes para percevejos quando encontrar 2 percevejos barriga-verde/m2 de palhada

Milho

Contagem de insetos a cada 10 plantas = após germinação do milho

Pulverizar quando encontrar 1 percevejo barriga-verde vivo para cada 10 plantas

Soja

• • •

Plantadeira em ação na Fazenda Maracá. Paulo Lima começou a primeira de suas quatro safras anuais semeando soja sobre a palhada de milho com braquiária.

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Capa a partir da eleição presidencial brasileira e a relação disso com o bolso do agricultor. O engenheiro agrônomo e analista Alexandre Mendonça de Barros classificou as eleições presidenciais como uma disputa entre “populistas” (candidatos contra reformas fiscais) e “reformistas” (a favor de austeridade econômica): “Sendo eleito um candidato populista, o dólar sobe, melhora o preço da soja para o produtor, mas ele terá dificuldades em adquirir tecnologia e insumos”. Sobre a comercialização, ele entende que o ideal, no momento, é o agricultor tentar “travar preço na parcela dolarizada dos custos” para conter riscos de tomar sustos mais a frente. No entanto, admite que existem dificuldades para esta operação: “A precificação está muito confusa. Eu não via isso faz tempo. É um ano muito estranho. Os agricultores do Sul do Brasil estão travando muito mais do que os do Centro-Oeste, onde os riscos são, aparentemente, muito maiores”. Segundo Mendonça de Barros, o tabelamento do frete está distorcendo os valores, sobretudo em regiões a mais de 500 quilômetros dos portos. Pela sua avaliação, nestas praças os novos preços de transporte estão muito acima dos normais de mercado. O analista acredita que, aquele que travar preço sem considerar a tabela de frete, poderá assumir custos elevados, caso o tabelamento se mantenha no futuro (o setor produtivo está contestando a constitucionalidade da medida na Justiça). Por outro lado, Barros avisa que alguns setores não estão parados: “Ainda não caiu a ficha em relação ao impacto disso para o país. Grandes tradings estão comprando caminhões. Este tabelamento pode acabar como um grande tiro no próprio pé do setor de transporte”. Para o presidente da Aprosoja Brasil, Bartolomeu Pereira, as indefinições de mercado e a alta do dólar em relação ao real reduziram investimentos na atual

Laura de Paula

“É um ano muito estranho. Os agricultores do Sul estão travando mais do que os do Centro-Oeste, onde os riscos são maiores”.

Os agricultores paranaenses anteciparam ainda mais o plantio, em relação aos anos anteriores, e vão colher mais cedo.

O tabelamento do frete assusta: “Está retirando mais de R$ 4 bilhões do setor produtivo”.

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safra: “Será um ciclo com demanda mais contida em tecnologia, fertilizantes e sementes. Somente o tabelamento do frete está retirando perto de R$ 4 bilhões do setor produtivo brasileiro”. Apesar do cenário incerto, sobretudo para a comercialização da produção, as previsões são de que os números da safra de verão de soja sejam mais elevados do que os anteriores. Para o chefe de transferência de tecnologia da Embrapa Soja, Alexandre José Cattelan, que vem monitorando as projeções dos institutos de economia, se espera um aumento de 3% na área plantada, superando a casa de 36 milhões de hectares. A produção nacional esperada é de 121 milhões de toneladas, contra 118 milhões de toneladas do ciclo 2017/18. “Isso é resultado da crescente demanda, sobretudo da China e dos bons preços pagos para a oleaginosa”, avalia. Plantio antecipado Incertezas à parte, o aumento da demanda internacional e o dólar alto induziram o aumento do plantio nas principais regiões produtoras do país, algumas das quais anteciparam ainda mais o início dos trabalhos de semeadura. Foi o que aconteceu, por exemplo, no Paraná, onde o período de vazio sanitário termina no dia 10 de setembro (no Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e outros estados, acaba em 15/9). Na primeira semana após o dia 10, graças às chuvas, o Deral – Departamento de Economia Rural, órgão da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento do Paraná, já contabilizava 1% da área plantada no estado, ante “zero” na mesma época nos últimos anos, marcando o início mais precoce das atividades de semeadura desde 2013. Ou seja, os paranaenses saíram na frente e vão colher primeiro, bem antes do Natal.


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Entrevista

“Se o agro vai bem, tudo vende melhor, é nisso que o Brasil tem de investir.”

N

o transcorrer da entrevista, no estande da Stara Máquinas Agrícolas na Expointer 2018, em Esteio (RS), era visível a indignação do empresário Gilson Trennepohl, 58 anos, presidente da empresa, com a decisão judicial de proibir o glifosato, e com isso colocando a real possibilidade de se exterminar com a prática do plantio direto no Brasil. Nascido em Ibirubá (RS), terra das pitangueiras, Gilson Trennepohl é gremista, e preside desde 2006 a Stara, empresa de máquinas agrícolas com sede em Não-Me-Toque (RS), que completou 58 anos de atividades em 29 de agosto, um dia após a realização da entrevista. Na entrevista, conduzida pelo jornalista Richard Jakubaszko, editor-executivo da Agro DBO, Gilson conta detalhes da evolução da Stara, e revela sua visão sobre a agricultura brasileira, sempre à procura do lado positivo, porque o otimismo é, talvez, sua principal marca pessoal, sempre com o dedo polegar pra cima, afora o ímpeto empreendedor, este reconhecido por amigos, clientes e concorrentes. Gilson tem como hobby uma boa caminhada, prova disso é que ele completou recentemente o caminho de Santiago de Compostela, na Espanha.

Agro DBO – Como começou tudo, em 1960? Gilson Trennepohl – A Stara começou como oficina mecânica, fundada pelo pai do meu sogro, que era imigrante holandês do pós II Guerra Mundial. Primeira atividade foi montar máquinas que vinham da Europa, depois veio uma grade niveladora, depois a capinadeira dirigível, depois grades aradoras, e foi assim até os anos 1980, quando entrou o plantio direto, e a Stara mudou a sua linha, e já em 1988 nada se fabricava mais de grades e capinadeiras. Optou-se por máquinas de transporte, movi22 | Agro DBO – outubro 2018

mentação, e subsoladores. Crescemos muito, como se pode observar. Agro DBO – Qual era a ordem de grandeza naquela época? Gilson Trennepohl – Algo próximo a faturar cerca de R$ 100 mil reais mensalmente, coisa de R$ 1,2 milhão por ano. Hoje faturamos R$ 4,0 milhões por dia. Agro DBO – E qual é o forte hoje da Stara? Gilson Trennepohl – Plantadeiras, pulverizadores autopropelidos, distribuidores autopropelidos, mais a linha de transportes e co-

lheita, e mais recentemente tratores. É uma linha quase completa de máquinas. Grades e arados ficaram para o passado. Agro DBO – O que você acha que evoluiu a agricultura, de lá para cá? Gilson Trennepohl – É diferença da água para o vinho, não é? Pode-se olhar pela produtividade, a gente fazia vinte e poucos sacos de soja por hectare, e hoje estamos com as boas lavouras produzindo 70 a 80 sc/ha, foi uma revolução silenciosa, e mais importante do que isso, manteve e melhorou a qua-


lidade do solo através do plantio direto. Agora temos a segunda revolução, que é a agricultura de precisão (AP). Nós embarcamos com os agricultores no plantio direto, e também na agricultura de precisão, somos considerados hoje como a líder do segmento de AP no Brasil, tanto que Não-Me-Toque é conhecida como a capital nacional da agricultura de precisão. Agro DBO – E as áreas agrícolas sem cobertura hoje por satélite ou GPS? Gilson Trennepohl – É tudo uma questão de tempo, e isso deve ser resolvido dentro em breve. Hoje já podemos praticar a AP aonde não há sinal de celular, porque se faz a transferência de dados, apesar da demora em carregar e descarregar dados para tomar decisões, mas teremos em breve a agricultura em tempo real de tomada de decisões e correções eficientes. Essa é a grande sacada, poder intervir numa operação que

está sendo feita errada, e não depois, quando os erros já foram cometidos. Poderemos fazer melhor as operações. Agro DBO – E como seria se não tivéssemos a possibilidade de fazer plantio direto, por causa de uma juíza federal em Brasília que proibiu o glifosato? Gilson Trennepohl – Não tem opção, sem glifosato não tem jeito. É um absurdo, pois o Brasil concretizou através do agronegócio todo seu potencial de desenvolvimento e progresso, e uma juíza substituta de 1ª instância tem “poder de caneta” para arrebentar com tudo, isso é uma aberração, é a infestação de leigos, é terra sem lei, e onde não tem lei qualquer um pode fazer o que quiser. Uma juíza substituta de 1ª instância não pode travar a agricultura! Não sei se tinha alguma ideologia por trás disso. Entendo que tomar uma decisão desse calibre, com tantos reflexos em toda a cadeia do agronegócio, é um disparate, isso é inconcebível num país civilizado e democrático. Tenho certeza de que essa juíza não tinha noção do que estava fazendo, e nem quem ajuizou essa ação no Ministério Público. São uns ignorantes! Isso foi injusto, se permanecesse essa proibição arrebentaria com os produtores, e até mesmo com a indústria de máquinas, pois iríamos retroceder em pelo menos 30 anos no tempo, seria o caos para todos. Os líderes do agronegócio precisam criar mecanismos legais que previnam e evitem esse tipo de problema jurídico, bastam as dificuldades que a gente já tem com o clima e com o mercado, e que são enormes. (Nota da redação: em 3 de setembro o desembargador Kássio Marques, presidente do TRF-1, suspendeu a ordem judicial da juíza federal de 1ª instância Luciana Raquel Tolentino de Moura, da 7ª Vara do Distrito Federal de Brasília).

Agro DBO – Quanto a Stara exporta de seu faturamento? Gilson Trennepohl – Tem sido ao redor de 15%, vendemos para toda a América Latina, Leste Europeu, África, Oceania. Para a Europa quase nada, é insignificante, porque lá eles fazem o que dizem que nós fazemos, que é proteger a indústria nacional. Nós taxamos a importação. Eles não taxam, mas se não tivermos o “selo de qualidade”, o selo ambiental (por exemplo, o Tier 4, geração de motores, pouco poluentes), e outras exigências extra-alfandegárias exóticas, e isso custa uma fortuna para a gente obter, os produtores rurais europeus ficam impedidos de comprar o que fazemos. Nessas horas eles implicam até com o tamanho da sinaleira de uma máquina, e a velocidade do pisca-pisca. É uma forma diplomática de dizer “aqui não entra”. Continuamos as discussões para quebrar essa hipocrisia comercial, e o Brasil precisa rever algumas de suas posições de taxar as importações também, queremos fazer um acordo, e uma hora isso sai. Agro DBO – O mundo tem carência de áreas novas para se fazer agricultura. O Brasil talvez seja o único país do planeta que dispõe de terras novas para avançar, sem fazer desmatamentos. Como você vê isso? Gilson Trennepohl – Já rodei mundo, vi que o Paraguai, Argentina, e outros países na América Latina, como Colômbia e Venezuela, têm muitas áreas não aproveitadas, o Brasil mesmo tem áreas gigantescas para serem utilizadas de maneira mais eficiente, temos muita pastagem degradada. No leste europeu e na África também dispõem de boas áreas para serem exploradas, mas diante do avanço demográfico da população mundial dentro de pouco tempo teremos enormes restrições de áreas novas, elas estão acabando. Nos EUA e Europa, e também a China e Austrália, sim, outubro 2018 – Agro DBO | 23


Entrevista “Uma juíza substituta de 1ª instância não pode travar a agricultura! Isso é inconcebível num país democrático e civilizado.” as áreas disponíveis para agricultura são muito limitadas, o que tinha de ser feito eles já fizeram. Agora eles vão depender de nós. Agro DBO – Qual é o cenário da indústria de máquinas com essas limitações? Gilson Trennepohl – Não tem limite, eu acho que muitas coisas vão acontecer, nós mesmos estamos trabalhando com novas ideias, que vão gerar muitas oportunidades. Até 2025 muitas coisas vão acontecer. Teremos máquinas autônomas, máquinas que vão “conversar” em tempo real com os produtores, não há dúvidas de que produziremos o dobro do que produzimos hoje. Temos muitos ajustes para serem feitos, seja nas indústrias de máquinas, seja nas fazendas, ainda temos pelo menos duas ou três voltas de rosca para apertar nesse parafuso. Agro DBO – Na produção na fazenda, o que tem de ser feito? Gilson Trennepohl – Ainda há muito desperdício nesse nosso imenso país, de áreas de pastagens degradadas e improdutivas, e desperdício de alimentos na colheita e transporte. Temos de aproveitar melhor a nossa água, água tem de ser estocada em barragens nas fazendas, só com isso a gente já aumentaria 20% ou 30% a nossa produtividade na segunda safra, se usássemos a irrigação. E veja que mesmo assim já somos os melhores do mundo, mesmo com essas extravagâncias. Somos os únicos no mundo com condições de tirar duas e meia safras do campo ao ano. Irrito-me profundamente quando vejo gente do agro concordar com as ONGs e ambientalistas de que temos de cuidar das nossas florestas e de que não podemos interferir com a água. 24 | Agro DBO – outubro 2018

Agro DBO – O que o agricultor faz de errado hoje? Gilson Trennepohl – Um dos grandes problemas é a sucessão do produtor. As propriedades são fracionadas. Isso vai crescer no futuro. Não é que se faz errado, mas tem de trabalhar pensando no futuro, tem de preparar com antecedência a sucessão da fazenda. Outra questão é a competitividade dos nossos produtos agrícolas. O agricultor fazia errado, pois antes pedia ajuda do governo, para qualquer coisa, ou para qualquer problema. Hoje ele mesmo investe em tecnologias para melhorar a produtividade. É claro que o governo pode ajudar com políticas adequadas, com crédito agrícola, mas vejo que o produtor rural está certo quando pede que o governo não interfira, porque o governo atrapalha sempre. O caso da tabela de fretes é um bom exemplo de interferência equivocada do governo, atrapalhou e desequilibrou tudo. Quanto menos governo a gente tiver, acho que é melhor, portanto, vejo maturidade e consciência profissional do produtor rural ao exigir isso do governo. Agro DBO – O ex-ministro da Agricultura Luís Carlos Guedes Pinto escreveu artigo para a Agro DBO, na edição de agosto último, propondo zerar o subsídio ao crédito rural para a agricultura empresarial (exceto a agricultura familiar), e assim o Tesouro Nacional, com a economia desse dinheiro, poderia financiar o seguro agrícola. O que parece a você essa proposta? Gilson Trennepohl – Não concordo com isso. Tem que financiar e subsidiar o agro, nisso nós somos bons. Primeiro, não existe essa história de subsídio ao crédito rural,

as taxas de juros hoje são reais na agricultura empresarial. Teve erro de subsídio no passado sim, mas já teve produtor pagando duas vezes essa conta. Já se distribuiu muito dinheiro subsidiado para muita gente, as “campeãs nacionais” de crédito, via BNDES, na área de produção industrial e de petróleo, e que deu em nada, porque não tínhamos como ser competitivos. A aposta tem que ser no agro, como fazem os EUA e a Europa, eles subsidiam a agricultura deles, que é competitiva por isso. Nós temos que subsidiar aquilo que somos bons. Não adianta querer financiar petróleo, nós não somos bons nisso. É como você querer investir num jogador de futebol para que ele seja bom em chutar, cabecear, defender, desarmar, fazer lançamentos, não funciona, não vai ser bom em nenhuma dessas coisas. O agro brasileiro é que é bom e competitivo, isso já está provado, é aí que tem de investir, e ainda podemos contar com a natureza, que é pródiga para nós. Agro DBO – O que cabe ao governo fazer, então? Investir na logística? Gilson Trennepohl – Não tenho dúvidas, esse é o grande gargalo do Brasil, a logística deveria ser o investimento maior do governo e da sociedade, pois isso vai possibilitar a expansão do agro, e com o agro se desenvolvendo tudo no Brasil vai ficar melhor, melhora o IDH das cidades do interior, reduz as concentrações populacionais nas grandes capitais, cai o desemprego nacional, a economia vai girar melhor. Se o agro vai bem, tudo vende melhor, vende caminhão e carro, vende fertilizante, vai barco, vai diesel, vai mais crédito, tudo gira mais rápido e melhor.



Sustentabilidade

Não basta produzir As certificadoras proliferaram mundo afora, antes para garantir vendas, e agora possibilitam agregar valor aos alimentos. Decio Luiz Gazzoni * Há que fazê-lo com sustentabilidade! Até a segunda metade do século XX, a variável diretriz da demanda de produtos agrícolas era o crescimento populacional, e a demanda corria à frente da oferta. Com os avanços tecnológicos e consequente aumento da produtividade, tem sido progressivamente mais fácil atender a oferta quantitativa de alimentos. Ocorre que, no século XXI, o principal fator a impulsionar a demanda é o crescimento da renda per capita, que vem acompanhado de mais escolaridade, mais informação, mais consciência quanto à necessidade de desenvol-

nos impõem certificações através de normas obrigatórias, normalmente destinadas a controlar riscos à saúde humana e ao meio ambiente, como ocorre com os regulamentos dos agrotóxicos. As certificações privadas

Caso da RTRS é uma clara tendência de futuro, que englobará todos os produtos agrícolas

* O autor é engenheiro agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja e membro do Conselho Editorial da Agro DBO.

vimento sustentável, o que qualifica a demanda. Paralelamente, pululam organizações de ativistas, com uma plêiade de bandeiras, que vão do bem-estar animal à demonização de determinadas técnicas agrícolas, o que provoca influência nas decisões de consumo. Ao fim e ao cabo, esse conjunto de fatores direciona a demanda de produtos agrícolas. Em síntese, a sociedade urbana pressiona por sistemas agrícolas harmonizados com o meio ambiente, de forma que os impactos da produção sejam os menores possíveis e, além disso, aceitáveis pela sociedade – cujo sinônimo pode ser consumidores. A principal ferramenta para atender os anseios e exigências dos consumidores/sociedade é a certificação. Existem diferentes tipos de certificação. De forma simplista, os gover-

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tanto podem reforçar normativas governamentais, como definir atributos organolépticos, de cor, forma, tamanho, peso, sabor, aroma etc. Analisemos o exemplo da Mesa Redonda da Soja Responsável (RTRS, na sigla em inglês). Trata-se de uma organização da sociedade civil criada em 2007, com sede em Zurique, Suíça, que incentiva a produção, processamento e comercialização responsável da soja em nível global. Seus membros incluem os principais representantes da cadeia de valor da soja, e da sociedade civil, em escala global. A RTRS vislumbra a soja contribuindo para o atendimento das necessidades sociais, ambientais e econômicas da geração atual, sem comprometer os recursos e o bem-estar das gerações futuras. A missão da RTRS busca promover a produção de soja de maneira sustentá-

vel para diminuir os impactos sociais e ambientais, mantendo ou melhorando o nível econômico para o produtor. Para obter a certificação, o produtor necessita cumprir um conjunto de boas práticas, como desmatamento zero e correta conservação de solo. A soja certificada pela RTRS ganha um bônus que pode chegar a cinco dólares por tonelada. O interesse vem crescendo e, no Brasil, foram certificadas 3,4 milhões de toneladas (Mt) em 2017, mais de 80% do total mundial. A previsão para este ano é superar 5 Mt, em escala global, o que é acanhado para a estimativa de superar 55 Mt antes do final da próxima década. A previsão é baseada no aumento do interesse dos compradores, hoje concentrados na Holanda, Suécia, Finlândia e Dinamarca. Porém, outros países têm ampliado suas compras de soja certificada, incluindo processadores para o mercado interno brasileiro. Mais que um exemplo isolado, o caso da RTRS é uma clara tendência de futuro, que englobará todos os produtos agrícolas, e servirá como passaporte para ingresso no mercado dos países ricos, mais exigentes, porém dispostos a pagar mais por um produto/alimento com garantia de sustentabilidade.



Fisiologia

Da atmosfera para a planta: FBN - a simbiose da agricultura A pesquisa recomenda o uso adequado da inoculação em soja, e sugere inovadoras técnicas de coinoculação com outra bactéria. Fernando Bonafé Sei *

A

* o autor é engenheiro agrônomo, mestre em Ciência do Solo e doutor em Manejo do Solo, e Gerente Técnico da Microquímica.

té quando a soja brasileira vai continuar a perder produtividade devido ao mau uso de inoculantes? É incrível pensar que após quase 50 anos da expansão da maior cultura do país ainda sejam cometidos erros básicos no uso de uma tecnologia que começou junto às primeiras variedades melhoradas para nosso cultivo. O processo de fixação biológica de nitrogênio (FBN) ocorre na relação da planta de soja com bactérias do gênero Bradyrhizobium, que se associam às raízes formando nódulos e fornecendo de forma biológica todo o nitrogênio que a cultura precisa (o ar que respiramos contém 79% de N, porém em uma forma não aproveitável pelas plantas). Mas será que a soja precisa de muito nitrogênio? Sim, ele é o elemento exigido em maiores quantidades pela cultura, 2,5 vezes mais do que o potássio, por exemplo. Para cada tonelada de grãos produzidos são necessários por volta de 83 kg de N, então para uma produção de 60 sacos são necessários cerca de 300 kg do nutriente, ou seja, quase 700 kg de ureia. Portanto, produzir soja com a utilização de adubos nitrogenados, sem o uso das bactérias, é certamente um caminho inadequado para a sustentabilidade econômica e ambiental da produção. O grande potencial produtivo da soja tem sido demonstrado de forma bastante clara nos campeo-

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Coinoculação no Tratamento de Semente e Sulco de Plantio na Soja (Média de 3 safras de cultivo)

Fonte: Trabalho realizado no Instituto Federal Goiano - Rio Verde, GO

natos da CESB, com valores entre 127 a 149 sc/ha nas últimas safras. Mas quando olhamos para nossa média nacional de 55,5 sacos/ha, ficamos com a pergunta do por que dessa enorme diferença. O que pode estar limitando a nossa produtividade? Certamente diversos fatores interferem na produção das culturas, como controle de doenças e pragas, genética, clima, formas de cultivo e tipo de solo. Porém, quando observamos as necessidades da soja, observamos que alguns erros básicos, como a falta de correção adequada do solo, a compactação e o mau uso dos inoculantes são uma realidade na produção no Brasil. Um levantamento realizado pela Microquímica, com mais de 2 mil amostras de folhas de soja, entre

2015 e 2017, mostrou alta ocorrência de deficiência de N, encontrada em 55% delas. Estes resultados comprovam que, apesar da utilização do inoculante ser uma realidade nas propriedades, a forma como ela está sendo realizada não está proporcionando o suprimento adequado de N para as plantas. O processo de inoculação deve levar em conta que o inoculante é um produto VIVO e que devemos tomar todos os cuidados para garantir a menor mortalidade das bactérias, tomando as chamadas “Boas práticas de inoculação”, fomentadas pela Embrapa e que indicam cuidados como: • O uso de produtos registrados e recomendados para cultura


• Respeito à validade do produto • Armazenamento e transporte adequado • Uso das doses mínimas de inoculante (100 ml/50 kg de sementes) • Cuidados nas misturas com defensivos e nutrientes • Atenção com o tempo entre o tratamento e plantio. Lamentavelmente, na lavoura se observa que esses pontos críticos não são plenamente conhecidos e aplicados, o que eleva a mortalidade das bactérias e reduz a eficiência da FBN. Além da falta de cuidado no uso, existem produtores que não realizam a inoculação todos os anos, a reinoculação, o que comprovadamente proporciona incrementos médios de 8% na produtividade. Ou seja, a cada 12 safras de uso contínuo do inoculante, o produtor ganha a colheita da 13a safra, com a resposta da tecnologia. O uso do inoculante com Bradyrhizobium foi à única recomendação de microrganismos para cultura da soja no Brasil por muitos anos. Até que, em 2014, a Embrapa apresentou a tecnologia da coinoculação, o uso conjunto de Bradyrhizobium e Azospirillum brasilense. Esta nova tecnologia

mostrou ganhos de outros 8% em relação à inoculação padrão. Estudos apresentados recentemente na Relare, realizados pelo Instituto

do, reduzindo necessidades de um novo tratamento após 24 horas, como hoje se recomenda para os inoculantes.

Para cada tonelada de grãos produzidos são necessários por volta de 83 kg de N Federal Goiano nas últimas três safras, mostraram incrementos ainda maiores, de 15% com o uso da coinoculação no tratamento de semente e 17% no sulco. De modo que, tanto nossos mais importantes órgãos de pesquisa agropecuária quanto as empresas fabricantes têm comprovado um melhor retorno para o produtor sobre o investimento em “Bactérias do Bem”. Mas um problema sempre se apresenta com relação ao uso dos inoculantes, a necessidade de se compatibilizar estes com os defensivos e fertilizantes no tratamento de sementes. Porém, isso fez as empresas buscarem soluções, que culminaram na disponibilização ao mercado de protetores biológicos dos inoculantes. Estes permitem a aplicação dos inoculantes no mesmo tratamento que os defensivos e fertilizantes, além de viabilizar o tratamento antecipa-

Fertilizante/ Protetor Biológico no Tratamento de Semente de Soja (Média de 2 Safras de cultivo)

Fonte: Trabalho realizado no Instituto Federal Goiano - Rio Verde, GO

Os recentes trabalhos divulgados pela Microquímica mostram também um acréscimo de produtividade obtido com o uso de protetores. Na média de duas safras de soja, com uso de inoculante e protetor juntos no momento do plantio, se obteve produtividade de 4.242 kg/ha (70,7 sc/ha, sem complementação mineral), superior à inoculação padrão em 15%, ou 9,4 sc/ha adicionais, hoje R$ 775,50 a mais de receita (com base numa cotação de R$ 82,50/sc de soja em Rio Verde/GO). Além disso, o uso do inoculante com protetor biológico, feito 10 dias antes do plantio, resultou numa produtividade de 3.731 kg/ ha, estatisticamente igual à inoculação feita no momento do plantio (3.676 kg/ha), comprovando a viabilidade do tratamento antecipado, mesmo na presença de defensivos e micronutrientes, desde que sejam mantidas as condições ideais de armazenamento das sementes tratadas. Em resumo, a tecnologia dos produtos biológicos tem avançado de forma consistente e segura. Porém, a adoção pelo produtor depende da compreensão da importância dos efeitos destes produtos e de sua valorização, em vista do alto retorno sobre o investimento. Reinoculação, Coinoculação e o uso dos protetores biológicos são meios para novos saltos produtivos na cultura da soja no Brasil, levando o país à posição de maior produtor mundial do grão, utilizando tecnologias naturalmente avançadas, que trazem da atmosfera a tão desejada rentabilidade da atividade agrícola. outubro 2018 – Agro DBO | 29


História

Agricultura de ontem, de hoje e de sempre. Se conhecermos a nossa história, vamos aprender com os ensinamentos e seremos poupados de repetir os erros do presente.

Gerhard Waller

Hélio Casale *

L * O autor é engenheiro agrônomo, cafeicultor, consultor e membro do Conselho Editorial da Agro DBO.

uiz Vicente de Souza Queiroz, esse grande brasileiro, um visionário, nasceu em 1849 e faleceu em 1898, com apenas 43 anos. Em 1892 doou ao Governo do Estado de São Paulo a fazenda São João da Montanha, nos arredores de Piracicaba (SP), onde está atualmente a Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, nome dado ao seu idealizador e praticamente fundador. O primeiro Diretor da “Luiz de Queiroz” foi Ernesto Ferreira de Carvalho e o primeiro aluno a ser matriculado, em 1º de maio de 1901, foi Odilon Nogueira Ribeiro.

30 | Agro DBO – outubro 2018

De lá para cá, a história dessa gloriosa faculdade é longa. Já doente, e para não ver seu sonho parado, Luiz de Queiroz muda-se para São Paulo e passa a colaborar com a Revista Agrícola junto com Luiz Pereira Barreto, Carlos Botelho e Domingos Jaguaribe. A seguir transcrevemos um de seus memoráveis artigos sobre a cultura do café. Apesar de reconhecermos que não temos suficiente conhecimento nesta tão importante matéria, apresentamos, todavia, algumas

ideias, que cremos serão úteis, aos numerosos principiantes, que nestes últimos tempos têm-se dedicado a essa cultura. A planta do café por si só esgota muito a terra, portanto, é de suma inconveniência aumentar este esgotamento plantando feijão, milho ou outras plantas nos intervalos dos pés; se o cafezal é novo e não está ainda formado, o mal não é tão grave, mas com o correr dos anos este mal se vai agravando, e torna-se mais nocivo quando o cafezal está completamente formado, pois faz sombra à árvore, intercepta o ar, diminui a luz e calor tão necessários à vegetação de toda a planta,


sobretudo do café, que é planta de país tropical. Aliás, esta prática nem é econômica, pois não somente diminui muito a produção, como encarece a carpição do cafezal, porque se fica obrigado a fazê-la a mão em vez de usar-se de máquinas, com as quais um homem e um a dois animais fazem o serviço de 12 a 14 robustos trabalhadores. Acresce ainda que o serviço feito à máquina é mais apropriado, pois ficam os cafezais mais viçosos, visto que se afofando a terra, penetra mais ar e umidade, dá-se mais facilmente a fermentação e dissolução dos sais, tão úteis à vegetação, e aproveita-se como estrume todo mato, que fica bem enterrado e com isso as chuvas não carregam o húmus e as matérias fertilizantes que estão na superfície da terra, pois estando afofada absorve a água mais facilmente. Na proporção em que se for fazendo a colheita, devem-se fazer os maiores esforços para começar a poda, a qual deve ser feita enquanto as árvores estiverem em repouso, isto é, durante o inverno; logo que a planta apresentar o sinal de querer florescer, deve-se deixar de podá-la. A poda é quase tão útil e necessária como a estrumação, não somente por muito aguentar sua produção, pois a árvore não tendo de gastar tanta seiva em folhas e madeira, produz mais frutos e de melhor qualidade, como também se conserva muito mais anos em seu pleno vigor. Os podadores devem ter bastante prática para não cortarem os melhores galhos em vez dos inúteis. Como estrume, é incontestavelmente a casca do café, como para a cana o bagaço, para o algodão o caroço do mesmo, e para a banana a mesma árvore, pois é sabido que o melhor de estrumar a terra é restituir o que dela se tirou e por isso, achamos um verdadeiro vandalismo empregar-se como combustível uma matéria tão superior, como fertilizante, como é a

casca do café. A casca do café em uma fazenda representa diminuta parte da colheita, por isso recomendamos como imprescindível estrebarias para o gado e muar, e estamos certos de que em pouco tempo os fazendeiros verão a necessidade de terem uma agricultura mista, sendo eles também pequenos criadores. O gado, como dizem os ingleses, é máquina de fazer estrume, além disso, com o preço que entre nós

lixo das casas dos colonos, as urinas e lavagem das estrebarias são também excelentes não somente para melhorar as estrumeiras como para fazê-las apodrecerem mais depressa, se tendo o cuidado de empregar muito cal, que serve como desinfetante e fertiliza a terra, que infelizmente entre nós é muito pouco calcária. Recomendamos aos fazendeiros que moram perto de alguma cidade ou vila, que carreguem para

“o serviço feito à máquina é mais apropriado, pois ficam os cafezais mais viçosos”

Luiz Vicente de Souza Queiroz

alcança a carne, manteiga, queijo, não será desprezar esse rendimento quando o café não alcançar mais de vinte ou trinta mil réis por arroba; sendo certo que todo animal que é sustentado na estrebaria faz o dobro do serviço, conservando-se sempre em boas carnes. Toda fazenda deve ter sua estrebaria debaixo de telhado, livre de chuva e do sol; como estrume tudo serve, desde a cinza até o

sua estrumeira o lixo das cidades, tendo o cuidado de retirar os pedaços de vidros, louça e lata - que viriam dificultar mais tarde os trabalhos do terreno; este estrume bem preparado é um dos melhores que conhecemos; somente para cortar o mau cheiro é conveniente empregar-se muita cal. Quanto ao fosfato, é realmente, a mais vantajosa descoberta que jamais tinha feito a agricultura e se tem entre nós uso limitado, é devido a ser conhecido só há muito pouco tempo, e além disso ao seu alto preço. Temos também uma estrumação relativamente econômica e de bom resultado que é a estrumação verde; para esse fim, recomendamos o milho semeado como se fosse trigo. Quando alcançar dois ou três palmos, enterra-se na terra com o arado toda a planta que vive mais do ar do que da terra, serve com vantagem como estrume verde. Luiz de Queiroz Esse texto, elaborado e publicado há mais de 100 anos, é dos mais atuais, pena que não tenhamos seguido tais indicações a tempo de evitar tanta degradação do solo em tantas regiões deste nosso país cafeeiro! (Observação – parte deste artigo foi feito a quatro mãos, com o inesquecível amigo Pepe Romero) outubro 2018 – Agro DBO | 31


Opinião

Preço do diesel brasileiro está artificialmente baixo A política de preços determinada pelo governo federal está mascarando a competitividade da economia: e isto é uma bomba relógio. Fabio Silveira *

S

e quiser ingressar no universo, relativamente restrito, das economias de mercado existentes no planeta, o Brasil deveria comercializar seu óleo diesel por um preço, na bomba, mais elevado que o atual (R$ 3,60 / l), operando num patamar da ordem de: a) R$ 3,75 / l, se considerarmos a carga de tributos federais (Cide, PIS, Cofins) incidente, hoje, sobre o produto (bem como, seus parâmetros básicos: preço internacional do óleo diesel e cotação da moeda americana); e

pela (pseudo) sensação de que atuam em uma economia efetivamente competitiva. Isto seduz gestores públicos, pois tais políticas também ajudam – e bastante – a segurar o avanço da inflação. Mas, já vimos várias vezes este filme entre 2011 e 2014, no governo Dilma Rousseff. O desfecho foi fantasmagórico, na medida em que provocou séria desorganização no mercado de combustíveis, fósseis e não-fósseis. É fundamental, antes de tudo, reconhecer que o poder concor-

Não cabe insistir pelo caminho do “desajuste proposital” do preço do óleo diesel

* O autor é economista e Sócio-Diretor da MacroSector Consultores.

b) R$ 3,90 / l, se considerarmos a carga de tributos federais incidentes sobre o produto em maio último, quando eclodiu a “greve dos caminhoneiros”. Não cabem ilusões para a presente política de preços de óleo diesel praticada no país, sobretudo, por estarmos em período eleitoral, quando promessas fáceis se multiplicam. O fato é que, há vários meses, o governo vem barateando, artificialmente, o preço deste derivado de petróleo, que é um dos principais insumos da economia brasileira. Operar com preços domésticos de óleo diesel menores do que os praticados no mundo desenvolvido traz satisfação, ainda que momentânea. Após certo tempo, entretanto, com a contínua prática de fake prices, diversos atores começam a ser dominados

32 | Agro DBO – outubro 2018

rencial da cadeia produtiva do petróleo brasileiro (e de seu entorno econômico) é relativamente baixo. Convém exorcizar autoenganos ufanistas, que apontem em sentido contrário, sob pena de repetir, no futuro, a cobrança de enormes sacrifícios da sociedade, tais como perda de rentabilidade e de potencial de investimento da Petrobras, geração de danos aos produtores de etanol (via alteração de preços relativos dos combustíveis) e desequilíbrio das contas públicas, que amargaram o quotidiano de inúmeras empresas e famílias em passado recente. Não cabe insistir pelo caminho do “desajuste proposital” do preço do óleo diesel, pois, pouco adiante, tal escolha fará recair sobre os próprios atores da cadeira produtiva de petróleo e também dos consumidores,

a “maldição” do óleo diesel barato, cujos efeitos perversos já são conhecidos amplamente, a saber: 1) Destruição do valor de mercado e redução do rating de crédito da principal estatal brasileira; 2) Necessidade adicional (e mais custosa) de financiamento de capital de giro e de investimentos dos produtores de combustíveis fósseis e não-fósseis; 3) Aumento de tributos; e 4) Majoração (inevitável!) do preço do óleo diesel, na refinaria e na bomba. Por outro lado, se o Brasil deseja integrar o grupo de países cujas cadeias de produção petrolífera NÃO são balizadas por regras básicas de mercado, pode-se escolher outro modelo, como o da Venezuela, Sudão, Haiti, Myamar etc.



Agroinformática

ILP e a Informática A informática começa a entender os sistemas integrados de produção, como a ILPF, e isso é bom para todos os envolvidos. Manfred Schmid *

* O autor é engenheiro agrônomo e diretor da Agrotis Agroinformática.

T

radicionalmente os produtores rurais eram divididos em agricultores e pecuaristas. Era como dois fluídos que não se misturavam. Cada grupo tinha sua cultura, sua associação, sua feira, seus parceiros comerciais, sua revista, seus deputados, sua cooperativa. Apesar das atividades agrícolas e pecuárias concorrerem pelos talhões produtivos das propriedades, não era comum ver produtores com dupla aptidão. Nos últimos anos, pesquisas desenvolveram os sistemas integrados de produção, comprovando grande ganho financeiro num casamento racional da lavoura com a pecuária. Para o pecuarista, a integração significa garantir alimentação melhor e mais barata para seu rebanho. Para o agricultor significa agregar valor para o cereal produzido, vendendo-o no formato de arrobas de animais. Sem falar do aproveitamento cíclico, quando sobras e resíduos de uma atividade são insumos para a outra. Uma das soluções preferidas para praticar as duas atividades em uma propriedade é o confinamento, quando se usa a produção agrícola também para alimentar os animais, confinados em um talhão especialmente equipado. Hoje, vemos, de um lado, agricultores tradicionais instalando piquetes de confinamento em suas propriedades agrícolas, e, de outro lado, pecuaristas tradicionais transformando suas propriedades para produzir cereais, confinando o gado em pequena área. Além da grande barreira cultural, a inércia para dar este passo está na dificuldade em dominar a tecno-

34 | Agro DBO – outubro 2018

logia dos dois setores. Para um agricultor tradicional, dá frio na barriga pensar em montar o confinamento, comprar animais, contratar mão de obra apropriada, planejar a alimentação fabricando e misturando ração, fornecer corretamente nos cochos, manejar os animais com rastreabilidade e vendê-los na hora certa. Para isso, há 2 remédios certeiros: contratar boa consultoria zootécnica e utilizar soluções de informática apropriadas. O fator que impulsiona o sucesso dos sistemas integrados é a otimização dos recursos, principalmente espaço, tempo e dinheiro. E para bem otimizar, tem-se que mensurar, e aí entra digitalização e informática. Em nossa empresa, temos sido demandados para evoluirmos nossas soluções de agroinformática, hoje voltadas mais para a agricultura, também para o lado da pecuária intensiva. Com este propósito, fizemos um levantamento de soluções de “pecuarinformática” hoje já disponíveis. Muito nos surpreendeu o nível de tecnologia destas, que vão muito além do que um simples software. Por exemplo, a solução da GA

– Gestão Agropecuária, utiliza várias técnicas: faz o planejamento nutricional dos animais; calcula e controla automação para balanceamento da ração; automatiza o fornecimento de alimentos, através da robotização dos caminhões com monitores de bordo e sensores, que leem RFIDs nos cochos; analisa a eficiência de cada funcionário; rastreia toda informação de cada unidade, que analisada contra um BigData com dados de vários outros produtores, determina o melhor ponto de abate dos animais para cada condição, maximizando o lucro. Gostamos tanto do que vimos que vamos integrá-las, na nuvem, com nosso software. A solução resultante certamente trará o suporte necessário para que bons agricultores tenham maior tranquilidade para integrar suas lavouras com a atividade pecuária. Se antigamente imprevistos eram justificados com a expressão “tem boi na linha”, hoje novos investimentos podem se realizar porque “tem boi na nuvem”. É a agroinformática atenta ao momento, ajudando a integrar as atividades econômicas do agronegócio.


Café

Cultivar Arara, porte alto e frutos vermelhos O desenvolvimento de novas variedades de plantas do cafeeiro é positivo, e se aprovadas nos testes vão diversificar as lavouras. J.B. Matiello1, S.R. Almeida2, J.E. P. Paiva3 e Célio Landi Pereira4

A

cultivar de cafeeiros Arara foi registrada no Ministério da Agricultura pela Fundação Procafé, sendo oriunda de hibridação natural entre o Hibrido de Sarchimor Obatã (Sarchimor x Catuai) e, provavelmente, o Icatu amarelo 2944. Essa cultivar apresenta características muito desejáveis, como alta produtividade, bom vigor, resistência à ferrugem e tolerância a Pseudomonas e frutos amarelos graúdos e de boa bebida, além do porte baixo das plantas. Por isso, vem sendo bastante utilizada nos novos plantios. Uma novidade sobre a cultivar Arara é a observação de ocorrência de linhagens com características diferenciadas em relação às plantas normais da cultivar, quanto à cor dos frutos e ao porte dos cafeeiros, sendo plantas de frutos vermelhos e de porte alto.

Detalhe de cafeeiros da Cultivar Arara, de porte normal, baixo, à direita e de porte alto (Arara PA) à esquerda, podendo-se ver floração mais adiantada nas plantas de porte alto, pela ramagem mais aberta

As plantas de porte alto do Arara PA podem apresentar uma maturação mais precoce

* os autores 1, 2 e 3 são engenheiros agrônomos da Fundação Procafé, e 4 engenheiro agrônomo FSH

Nos experimentos e campos de multiplicação da cultivar, no Sul de Minas e no Espírito Santo, apareceram plantas segregantes, as quais foram selecionadas e deram origem a duas novas linhagens, uma de porte baixo e frutos vermelhos, batizada como Arara FV e outra de porte alto e frutos

amarelos chamada de Arara PA. Essas novas linhagens do Arara se encontram em fase final de teste nos campos experimentais no Sul de Minas mostrando já homozigose para as características selecionadas. Elas visam atender a produtores que, acostumados com a Cultivar Mundo

Novo, apreciam mais as plantas de porte alto. Também, pela sua arquitetura mais aberta, as plantas de porte alto do Arara PA podem apresentar maturação mais precoce, em relação às plantas do Arara original. No mesmo sentido, alguns produtores dão preferência a variedades de frutos vermelhos. Após os testes em andamento, as linhagens novas do Arara deverão se transformar em novas cultivares, para registro e distribuição de sementes. outubro 2018 – Agro DBO | 35


Crise

Está difícil de explicar As estimativas de produção de café acima da realidade, feitas pelos mercados compradores, são baixistas de preços e desestimuladoras. Helio Casale *

O

café já foi o principal produto na nossa balança comercial. Ano a ano vem perdendo espaço. Atualmente é superado pela soja, cana-de-açúcar, milho, algodão herbáceo, e representa apenas 6,4% do Faturamento Total Bruto das lavouras brasileiras, que está estimado em R$ 377 bilhões.

Não estamos levando em conta o quanto de nutrientes contidos numa saca de café está sendo exportado. Os importadores não estão nem aí com o quanto estamos dando de presente, enriquecendo os países importadores. Nosso governo ainda não acordou para o quanto estamos empobrecendo nossos solos e nossos cafeicultores

Mil e uma razões podem ser aventadas como causadoras dessa situação da cafeicultura

* O autor é engenheiro agrônomo, cafeicultor, consultor e membro do Conselho Editorial da Agro DBO.

Mil e uma razões podem ser aventadas como causadoras dessa situação da cafeicultura – declínio da fertilidade natural do solo, geadas, custo dos insumos, custo da mão de obra que está estimulando a mecanização total, custo da mecanização, custo da energia para irrigação, custo dos defensivos, dos fertilizantes e corretivos, falta de liderança específica, muitas entidades soltando estimativas da produção, a nível governamental, como a Conab e o IBGE, e ainda cooperativas, compradores regionais e exportadores. O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos anualmente estima nossa produção em 13% a mais que a estimativa real, entre outros fatores. Na realidade, o que se observa é a área ocupada com cafeeiros da ordem de 2,2 milhões de ha, que está estacionada, e a produtividade média das lavouras do nosso café arábica, em torno de 22 sacas por ha, por ano, e que não evolui. Atualmente, está difícil de explicar as razões dos preços baixos que vêm sendo praticados.

36 | Agro DBO – outubro 2018

empreendedores, tirando empregos, e levando trabalhadores para a periferia de cidades. Por outro lado, a Colômbia, que produz apenas pouco mais de 12 milhões de sacas anuais, sendo

o 3º maior produtor do mundo, fechou por um dia as exportações de seus cafés. Atitude brilhante, mas isolada. O que aconteceria se tal atitude heroica tivesse seguidores de maior peso no abastecimento do mercado internacional, como o Brasil? Os produtores sentem o problema de perto e estão de mãos atadas, pois nossos governantes, nossos deputados estaduais e federais, os dirigentes de cooperativas, dos sindicatos, jornalistas especializados e mesmo os cafeicultores atingidos estão mais preocupados com as eleições que vêm por aí, enquanto nossos comerciantes, achando que a mamata não acabará nunca, continuam com os baixos preços aos produtores, não avaliando que em um futuro bem próximo, não terão mais nada para comprar, e, portanto, não terão o que comercializar. Enquanto ficamos nesse chove e não molha, estamos empobrecendo nosso solo e o nosso país, deixando de criar ou de manter empregos, sem distribuir renda, sem reinvestir na cafeicultura. É relevante e oportuno afirmar que crises de produção e de preços nas culturas perenes, como o café, são de 7 anos, tempo para que possam ser superadas pela oferta de produção e que se possa atender o consumo. Quando cafezais começarem a ser derrubados, a situação poderá mudar, mas replantios demoram no mínimo 5 anos para equilibrar. Os mercados entendem essa linguagem. Que Deus nos acuda e nos pro porcione dias melhores!


Biblioteca da Terra Nematoides e pragas da cana

De autoria da pesquisadora Leila Luci Dinardo-Miranda, do IAC – Instituto Agronômico de Campinas, o livro Nematoides e pragas da cana-de-açúcar reúne informações sobre espécies como P. zeae, M. javanica, M. incognita, P. brachyurus, broca comum, broca gigante, cigarrinha das raízes e das folhas, cupins, pão-de-galinha, broca peluda e formigas. Para cada uma delas, a autora apresenta aspectos da biologia, métodos de controle, fatores que influenciam a infestação e o aumento da população e estimativas de dano econômico. Com 444 páginas, custa R$ 150. Para comprá-lo, o link de acesso é www. iac.sp.gov.br/publicacoes/porassunto/comoadquirir.php

Doenças do algodoeiro

Secagem de produtos

Lançamento da UFSCar – Universidade Federal de São Carlos (SP), o livro Tópicos em secagem de produtos naturais aborda aspectos teóricos relacionados ao processamento e secagem de frutas, polpas, plantas aromáticas e medicinas, ervas e resíduos em geral (cascas, sementes e bagaços). Editado pelo professor José Teixeira Freire, com a colaboração de pesquisadores de seis outras instituições, aborda também o uso de redes neurais para auxiliar a resolução de problemas de secagem e apresenta estudos de caso realizados na UFSCar. A obra está disponível para download gratuito em http://bit.ly/ topicos_em_checagem_de_produtos_naturais

O IMAmt - Instituto Matogrossense do Algodão publicou mais uma Circular Técnica, a de nº 36, intitulada “Reação de cultivares de algodoeiro a doenças e nematoides, safra 2017/18, baseada em 18 ensaios de avaliação realizados em municípios de Mato Grosso e de São Paulo em diferentes condições de solo e clima. Os pesquisadores observaram as reações de 21 cultivares (cinco das quais desenvolvidas pelo instituto) a oito patologias, entre doenças e nematoides. Os resultados, explicados com ajuda de tabelas e fotografias, para melhor entendimento, mostram o nível de resistência de cada cultivar a cada patologia. Segundo os técnicos, a maioria delas é resistente à bactéria causadora da mancha angular e ao vírus da “doença azul”. Entretanto, apresentam grande suscetibilidade à ramulária, considerada a principal doença do algodoeiro, e ao nematoide Meloidogyne incognita. Para acessar a CT, o link é http://www.imamt.com.br/system/ anexos/arquivos/375/original/ circular_tecnica_edicao36_bx_(1). pdf?1535041943

Milho melhorado

Organizado e editado pelos pesquisadores Rodrigo Lima e Aluízio Borém, da Universidade Federal de Viçosa, o livro Melhoramento de milho trata de recursos genéticos, grupos heteróticos, seleção recorrente, testadores e dialelos, marcadores moleculares e mapeamento de QTLs (do inglês “Quantitative Trait Loci”, ou, grosso modo, identificação da posição de genes responsáveis pela expressão de caracteres da planta), melhoramento para estresses bióticos e abióticos, estratégias e procedimentos no desenvolvimento de cultivares. Com 396 páginas, pode ser adquirido por R$ 90 através do link https://www.editoraufv.com.br/produto/2113820/ melhoramento-de-milho ou na loja virtual da UFV (www.editoraufv.com.br).

Análise de solo

A terceira edição do Manual de Métodos de Análise de Solo ganhou em agosto uma versão em Epub, formato adequado às telas pequenas, como a dos smartphones. Lançada no ano passado em PDF, a obra foi revisada e ampliada.“O manual é uma publicação tradicional da Embrapa. Mais de 400 laboratórios no Brasil seguem seus protocolos na totalidade ou em partes”, diz o pesquisador da Embrapa Solos, Paulo César Teixeira, um de seus editores técnicos. Para acessar a obra (em formato Epub ou PDF), o link é https:// www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/36910948/manual-demetodos-de-analise-de-solo-e-lancado-em-formato-epub?link=agencia

outubro 2018 – Agro DBO | 37


Novidades no campo Precisão e conectividade

Herbicida para a soja

▶costal a bateria do mundo com conexão Bluetooth,

▶da FMC, teve seu registro ampliado para uso em lavou-

O Jacto DJB-20s é o primeiro pulverizador e dosador

programável pelo celular. O usuário pode configurar toda a jornada de trabalho, padronizando as dosagens, pressão e vazão, além de selecionar o tipo de aplicação, considerando o espaçamento entre as plantas. Através do painel LCD, é possível controlar o equipamento sem o uso de um celular. Com capacidade para 20 litros, é movido a bateria de lítio-ion de longa vida, o que lhe dá autonomia suficiente para aplicar mais de 10.000 doses de 50 ml. Um marcador dita os passos do operador, cujo ritmo pode ser ajustado de 1 a 4 km/h.

Antes utilizado na cultura da cana-de-açúcar, o Stone,

ras de soja. Qualificado pela empresa como um produto de alta performance, é um herbicida seletivo com ação em pré e pós-emergência das plantas daninhas, que elimina a mato-competição, favorecendo o potencial produtivo da soja. De acordo com a FMC, o Stone possui formulação exclusiva e efeito comprovado em folhas largas e estreitas, com amplo espectro no combate a plantas resistentes, de difícil controle, como a buva, o capim-amargoso, a trapoeraba, o capim-colchão, o capim-pé-de-galinha e o amendoim-bravo

Irrigação e nutrirrigação digitalizada

▶para lançar o Netbeat, “o primeiro sistema de irrigação com cérebro”, segundo a empresa. O Netbeat embute tecnologia de alta A Netafim/Amanco aproveitou a Feira Internacional da Irrigação Brasil 2018, realizada no mês passado em Campinas (SP)

precisão, capaz de unificar todas as funções necessárias para a automação e otimização da lavoura em um único dispositivo. “Com apenas um clique, é possível acompanhar desde o planejamento de irrigação e nutrirrigação até o rastreamento do crescimento das plantas e condições de solo. As recomendações de irrigação são atualizadas diariamente, garantindo um planejamento eficiente”, destaca o gerente de Digital Farming da Netafim/Amanco, Bruno Toniello..

Proteção contra lagartas

Novo algodão transgênico da Corteva Agriscience, o WideStrike 3 combina três proteínas Bt (Cry1F, Cry1Ac, VIP3A) e uma proteína inseticida vegetativa (Vip3A), capazes, segundo a empresa, de proteger as plantas contra o ataque de lagartas. A variedade é tolerante ao herbicida glufosinato de amônio e ao herbicida 2,4 D (total seletividade da cultura ao herbicida). No entanto, não é resistente ao glifosato. Aprovada pela Comissão Nacional de Biossegurança, será submetida ao Registro Nacional de Cultivares, órgão do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, e deve ser comercializada a partir de 2019. 38 | Agro DBO – outubro 2018

Manejo da ferrugem

▶fungicidas com modos de ação diversos: o MancoO Tridium, da UPL, é uma combinação de três

zebe (do grupo químico das estrobirulinas), de efeito de contato, com ação multissítio; a Azoxistrobina (ditiocarbamato), que interfere na respiração mitocondrial dos fungos; e o Tebuconazol (triazois), de efeito sistêmico, que atua como inibidor da biossíntese do ergosterol, um constituinte da membrana celular dos fungos. “Por suas características distintas, constituem excelente opção no manejo da resistência da ferrugem asiática da soja”, diz Rogério Rangel, diretor de marketing da empresa. Segundo ele, o Tridium é ideal não só para o combate, mas também para a prevenção da doença.


Novidades no campo Segurança e economia

Manejo com baculovírus

▶da marca com essa configuração, combinando maior

▶ve registro de uso para o

A Ford apresenta o Cargo 3031 8x2, primeiro modelo

capacidade de carga, robustez e segurança com a potência e economia do motor de 306 cv. Com peso bruto total homologado de 29.000 kg e capacidade técnica de 30.150 kg, pode ser equipado com diversos tipos de implemento, desde baú, carga seca, sider e guindaste, até graneleiro e tanque. Disponível com cabine simples ou leito, transmissão manual ou automatizada Torqshift e dois comprimentos de chassi (longo, com 5.300 mm, e extralongo, com 6.300 mm), pode ser equipado também com tanque de combustível simples (275 L) ou duplo (550 L).

A AgBiTech Brasil obte-

seu novo inseticida biológico Surtivo Soja. Indicado para o controle das lagartas Helicoverpa armígera e Chrysodeixis includens, o produto constitui a primeira pré-mistura de baculovírus desenvolvida no mundo para manejo de pragas agrícolas. “Uma das características notáveis do Surtivo Soja é o longo período de controle, superior a quarenta dias”, afirma a entomologista Paula Marçon. Segundo ela, esse diferencial está relacionado ao fato de as lagartas infectadas pelo produto contaminarem outras lagartas em múltiplos ciclos de infecção, um efeito chamado de ‘epizoótico’.

Controle da mosca-branca

▶sistêmico de ação translaminar, do grupo químico

A Nufarm apresenta o Carnadine, um inseticida

Super cana

▶-açúcar caracterizada pela elevada produtividade (128 A Vertix 3, da GranBio, é uma variedade de cana-de-

toneladas por hectare em três cortes, contra 85 TCH na cana convencional), alto teor de fibra (próximo de 20%) e de sacarose (12% a mais de açúcar, em relação às variedades mais comuns). “Essa performance decorre da maior presença de rizomas e de sua capacidade de perfilhamento. Ela pode ser processada com cana tradicional para a produção de etanol de primeira geração e, posteriormente, devido à grande quantidade de bagaço, utilizada para geração de energia ou etanol 2G”, explica José Bressiani, diretor de tecnologia agrícola da GranBio.

dos neocotinóides, empregado na forma de pulverizações no controle da combate à mosca-branca (Bemisia tabaci) e outras pragas nas culturas de soja, milho, algodão, batata, feijão, melão, melancia, tomate e trigo. De acordo com o gerente de produtos da empresa, Alexandre Manzini, é o único inseticida do mercado à base do ingrediente ativo Acetamiprido. A Nufarm recomenda o uso alternado com inseticidas de outros grupos químicos no mesmo intervalo de aplicação para prevenir e gerenciar a resistência e o controle.

Guerra aos nematoides

▶Pontiac 350 SC, para aplicação no sulco das plantas. A Rotam oferece aos produtores de cana-de-açúcar o

À base de Tiodicarbe, o nematicida (também é inseticida) reduz a infestação de nematoides do tipo Meloidogyne javanica e Pratylenchus zeae, elevando, em consequência, o vigor do canavial. Como explica o explica o técnico Carlos Guarnieri, o produto favorece a formação de raízes e o desenvolvimento de perfilhos, contribuindo assim para o aumento da produção. Experimentos na região de Piracicaba (SP) revelam que a testemunha produziu 55 perfilhos a cada 10 metros e a planta com Pontiac 350 SC, 76 perfilhos, ou seja, 38% a mais. outubro 2018 – Agro DBO | 39


Calendário de eventos

OUTUBRO

2

ConBAP 2018/Congresso Brasileiro de Agricultura de Precisão – De 2 a 4 – Expo Unimed –

Curitiba (PR) – Fone: (43) 3025-5223 – Site: www.conbap2018.asbraap.org – E-mail: conbap2018@fbeventos.com

3

II International Meeting on Plant Breeding – De 3 a 5 –

Anfiteatro do Pavilhão de Engenharia (Esalq/USP) – Piracicaba (SP) – Fone: (19) 3429-4100 – Site: http://www. esalq.usp.br/eventos/ii-internationalmeeting-plant-breeding

9

EsalqShow 2018/ Fórum de Inovação para o Agronegócio Sustentável – De 9 a 11 – Escola

Superior de Agricultura Luiz de Queiroz – Piracicaba (SP) – Fone: (19) 3429-4004 – Site: www.fealq.org.br/esalqshow – E-mail: esalqshow@fealq.org.br

11

9ª Exposição Nacional de Híbridos de Orquídeas – De

11 a 21 – Parque de Feiras e Exposições Wanderley Agostinho Burmann – Ijuí (RS) – Site: www.expoijuifenadi.com.br – E-mail: expoijui@aciijui.com.br

16

VII Conferência Brasileira de Pós-Colheita e X Simpósio Paranaense de Pós-Colheita de Grãos – De 16 a 18 – Espaço Villa Planalto – Londrina (PR) – Fone: (43) 3025-5223 – Site: www.abrapos – E-mail: cbp2018@fbeventos.com.br

16

Agrária WinterShow – De

16 a 18 – Fundação Agrária de Pesquisa Agropecuária ( Rodovia PR-540, km 9, Distrito de Entre Rios) – Guarapuava (PR) – Fone: (42) 36255096 – Site: www.wintershow.com.br – E-mail: ssvierko@agraria.com.br

20

7° GeoPantanal/Simpósio de Geotecnologias no Pantanal

– De 20 a 24 – Centro de Convenções

40 | Agro DBO – outubro 2018

Oswaldo Fernandes Monteiro – Jardim (MS) – Site: www.geopantanal.cnptia. embrapa.br

23

51º Congresso e Exposição Internacional de Celulose e Papel e X Congresso Iberoamericano de Celulose e Papel – De

23 a 25 – Transamérica Expo Center – São Paulo (SP) – Fone: (11) 3874-2715 – Site: www.abtcp2018.org.br – E-mail: congresso@abtcp.org.br

25

2º Boron Day Brazil – Dia

25 – Anfiteatro da Faculdade de Engenharia (Esalq/USP) – Piracicaba (SP) – Fone: (19) 3203-6774 – Site: www.borondaybrazil.com.br – E-mail: eabramides@terra.com.br

29

18ª Conferência Internacional sobre Açúcar e Álcool – De 29 a 30 – Grand

Hyatt Hotel – São Paulo (SP) – Fone: (11) 4133-3944 – Site: www. conferenciadatagro.com.br – E-mail: datagro@datagro.com

NOVEMBRO

5

69º Curso DIACOM: Tetrazólio e Patologia de Sementes – De

5 a 9 – Embrapa Soja (Rodovia Carlos João Strass, s/nº, Distrito de Warta) – Londrina (PR) – Fone: (43) 3025 5223 – Site: https://www.embrapa.br/ busca-de-eventos/-/evento/243478curso-diacom-tetrazolio-e-patologia-desementes

6

DroneShow Plus 2018 – De 6

a 8 – Hotel Travel Inn – São Paulo (SP) – Fone: (11) 4163-8848 – Site: www.droneshowla.com/plus – E-mail: atendimento@mundogeo.com

6

CBRA 2018/V Congresso Brasileiro de Reflorestamento Ambiental – De 6 a 8 – Parque Botânico Vale – Vitória (ES) – Fone:

23/10 – 3º Congresso Nacional das Mulheres do Agronegócio – De 23 a 24/10 – Transamerica Expo Center – São Paulo (SP) – Fone: (11) 5643-3056 – Site: www. mulheresdoagro. com.br – E-mail: mulheresdoagro@ transamerica.com.br O tema central do congresso deste ano é “2030 – O Futuro Agora, na Prática”, abarcando o que há de mais atual em termos de conteúdo e serviços voltados para o agronegócio brasileiro. O objetivo das organizadoras é apresentar novidades, destacar cases de sucesso, debater os problemas do setor, reproduzir conhecimento e promover networking entre as mulheres. Segundo expectativas, devem participar cerca de 1.500 congressistas de todas as regiões do país.

(27) 3324-5986 – Site: www. reflorestamentoambiental. com.br – E-mail: contato@ reflorestamentoambiental.com.br

7

6ª SIC/Semana Internacional do Café – De 7 a 9 –

7

39° Expovel – De 7 a 12 –

Expominas – Belo Horizonte (MG) – Fone: (11) 3586-2233 – Site: http:// www.semanainternacionaldocafe. com.br – E-mail: contato@ semanainternacionaldocafe.com.br

Parque de Exposições Celso Garcia Cid – Cascavel (PR) – Fone: (45) 3228 2526 – Site: www.expovel. com.br –

12

II SLABA/Simpósio Latino-americano sobre Bioestimulantes na Agricultura e IX RBIRPP/Reunião Brasileira sobre Indução de Resistência em Plantas e Patógenos – De 12

a 24 – Centro de Cultura e Eventos (UFSC) – Florianópolis (SC) – Fone: (48) 3721-5423 – Site: www. bioestimulantes.ufsc.br – E-mail: bioestimulantes2018@contato.ufsc.br

19

10ª Agrocampo – De 19 a 25 – Parque Internacional de Exposições Francisco Feio Ribeiro – Maringá (PR) – Fone: (44) 3261-1700 – Site: www.srm.org.br – E-mail: srm@ srm.org.br

20

Agrobit Brasil 2018 – De 20 a 21 – Parque de Exposições Governador Ney Braga – Londrina (PR) – Fone: (43) 3025-5223 – Site: www.agrobitbrasil.com – E-mail: agrobitbrasil@fbeventos.com

25

26º Encafé/Encontro Nacional das Indústrias de Café – De 25 a 29 – Hotel Enjoy

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outubro 2018 – Agro DBO | 41


Legislação

Crédito para dívidas atrasadas Não é um programa tradicional de renegociação de débitos em que o banco é obrigado a conceder novos prazos de pagamento Fábio Lamonica Pereira *

E

* O autor é advogado especialista em Direito Bancário e do Agronegócio

stá em vigor, por meio da Circular SUP/ADIG n° 02/2018, a linha de crédito criada pelo BNDES com o fim específico de liquidação de operações de crédito rural em situação de atraso, sendo que o crédito é concedido através de uma instituição financeira previamente credenciada e deve ser utilizado para a liquidação das operações pendentes abrangendo um ou mais credores A União tem o papel de arcar com os respectivos custos subsidiados, como em outras situações. Os beneficiários do programa são os produtores rurais, pessoas físicas ou jurídicas, e suas cooperativas. Deve-se comprovar a incapacidade de pagamento em decorrência de “dificuldade de comercialização dos produtos, frustração de safras por fatores adversos, e eventuais ocorrências prejudiciais ao desenvolvimento das explorações”, exatamente o mesmo requisito, já conhecido no agronegócio, que consta do Manual de Crédito Rural, item 2.6.9. É necessário que o beneficiário demonstre a viabilidade econômica de sua atividade de forma que tenha condições de realizar o pagamento da operação a ser contratada. Tanto o laudo de incapacidade de pagamento quanto o de viabilidade econômica devem ser elaborados por meio de profissional capacitado (um engenheiro agrônomo) e a instituição financeira deve ser notificada (preferencialmente por meio de Cartório de Títulos e Documentos) para que os direitos do produtor sejam preservados.

42 | Agro DBO – outubro 2018

Os débitos que podem ser pagos com a nova operação são os de custeio e investimento, desde que contratados até 28/12/2017; dívidas com fornecedores de insumos, inclusive as representadas por Cédula de Produto Rural – CPR e Certificado de Direitos Creditórios do Agronegócio – CDCA; outras operações de crédito contratadas junto à instituições financeiras para liquidação de operações de crédito rural, o conhecido “mata-mata”. O saldo das operações a serem liquidadas deverá ser calculado pelos encargos da normalidade. Esse ponto poderá gerar dificuldades, uma vez que o atual credor não é obrigado a aceitar o recebimento de operações inadimplentes deixando de receber os encargos devidos pelo atraso. Também há casos frequentes de juros acima do permitido para operações de crédito rural, o que somente é passível de correção por meio de uma decisão judicial. Quanto aos encargos, serão compostos pela soma da variação da Taxa de Juros de Longo Prazo – TJLP (segundo critérios do Banco Central), que atualmente está em 6,56% ao ano, da remuneração do BNDES, que será de 1,5% ao ano, e da remuneração da instituição financeira credenciada, que será de até 3% ao ano. Ou seja, a taxa final será de 11,06% ao ano. Considerando o longo prazo para pagamento e os encargos elevados e variáveis (TJLP), não é difícil prever que o programa trará muitos inadimplentes no futuro. O produtor continuará obrigado a

pagar os débitos usuais de sua atividade como custeio e investimento e ainda terá de arcar a obrigação da nova negociação. Certamente seria bem-vinda uma taxa de juros subsidiada, como nos programas tradicionais. A operação a ser contratada pode ser de até 20 milhões de reais. O prazo para pagamento será de até 12 anos, já incluídos até 3 anos de carência para o início do pagamento. Há liberdade para os pagamentos que poderão ser anuais. Quanto às garantias, serão de livre negociação entre as partes. Veja que o produtor está endividado; precisa de um programa para tentar resolver sua situação; já está com comprometimento de seu patrimônio com as operações vigentes, e está inadimplente; e ainda terá de negociar as garantias (que não serão poucas) com a instituição financeira que repassará o crédito. Os interessados devem formalizar o pedido junto a uma instituição credenciada até 28 de dezembro de 2018, e as operações serão decididas até o primeiro semestre de 2019. Conclui-se que se trata de um programa de formato diferente dos anteriores e que traz sutis armadilhas como o prazo longo agregado a encargos elevados e variáveis que poderão comprometer ainda mais o patrimônio do produtor e levar a sérias dificuldades no futuro não muito distante. Cada situação deve ser analisada e projetada, buscando-se a relação entre o custo e o benefício para a tomada de decisões.



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