Sumário 8 Ponto de Vista
Rogério Arioli retoma um tema antigo, mas ainda controverso: a classificação de grãos, quase sempre prejudicial aos agricultores.
24 Entrevista
Diretor da SDA/Mapa, Luís Eduardo Rangel fala sobre os interesses por trás do debate da nova lei dos agrotóxicos, ora em trâmite no Congresso.
27 Transgênicos
Décio Gazzoni entra na polêmica mundial sobre o arroz dourado, objeto de campanha de ambientalistas contra os alimentos GM.
28 CAR
Evaristo de Miranda e outros pesquisadores provam, com números, que o agronegócio nacional não é vetor de destruição do bioma amazônico.
18
Matéria de capa Produtor em Ipameri (GO), Gilberto Yuki amplia seu arsenal para combater nematoides, praga cujo nível de infestação cresce a cada ano (acima, sintomas em folha de algodoeiro), provocando prejuízos imensos aos agricultores. Apenas na soja, as perdas chegam a R$ 16,2 bilhões/ano
30 Resistência
Pesquisadores avaliam características, fluxo e controle de ervas daninhas, responsáveis por prejuízos de US$ 19 bilhões ao ano.
33 Agroinformática
Manfred Schmid avalia novidades tecnológicas como as câmeras NIR, com as quais poderemos enxergar em dobro o que acontece na lavoura.
36 Nutrição
Hélio Casale discorre sobre os benefícios do Silício (Si) para as plantas. Presente na maioria dos solos, requer mais atenção dos pesquisadores.
42 Legislação
Fábio Lamonica recomenda “olho vivo” na discussão da nova lei sobre crédito rural, em fase de tramitação na Câmara Federal
Seções
Biblioteca da Terra........................................37
Do Leitor............................................................ 4
Novidades no campo..................................38
Notícias da terra............................................10
Calendário de eventos................................40
novembro 2018 – Agro DBO | 3
Do leitor Gostaria de receber as tabelas de compatibilidade/incompatibilidade de agroquímicos e fertilizantes foliares para misturas em tanque, publicadas na edição de dezembro passado. Jeferson Ieler Engenheiro Agrõnomo – Ceres Consultoria Primavera do Leste (MT)
NR: Já encaminhamos as tabelas pelos Correios, Jeferson. Os interessados podem consultá-las através do Portal DBO (www.portaldbo. com.br)
Parabéns, Ariosto, pela reportagem. Agradeço de coração a oportunidade de participar desta conceituada revista! Forte abraço e muito obrigado! Paulo Eduardo Lima Nova Andradina (MS)
NR: Produtor rural no Mato Grosso do Sul, Paulo Lima é o personagem principal da reportagem de capa da edição de outubro, intitulada “A safra da estratégia”, sobre a safra 2018/19 de grãos. O repórter Ariosto Mesquita viajou até a fazenda Maracá, em Nova Andradina, para acompanhar os trabalhos de plantio e conversar com ele.
4 | Agro DBO – novembro 2018
Sou Engenheiro Agrônomo e produtor rural em Santa Catarina. Gostaria de receber a tabela de compatibilidade de defensivos. Busquei no portal de vocês, mas não encontrei. Grato pela Atenção. Cleber Bringhenti Faxinal dos Guedes (SC)
Estranhamos que você não tenha encontrado as tabelas no Portal DBO, Cleber. De todo modo, já encaminhamos cópia pelos Correios. Estamos preparando outra tabela de compatibilidade para misturas em tanque, desta vez para tomate, batata, feijão, algodão e café. Ela deverá estar pronta no mês que vem. Parabenizo a equipe Agro DBO pela excelente edição de
Agosto/2018, pelas ótimas matérias e pela oportuna entrevista com Franke Dijkstra, João Sereno Lammel Presidente da AEASP – Associação de Engenheiros Agrônomos do Estado de São Paulo São Paulo (SP)
Errata O penúltimo parágrafo do artigo “Como conhecer seu solo e sua saúde”, de Hélio Casale, publicado na edição de setembro (páginas 42 e 43), diz o seguinte: Fortalecer raízes pela aplicação de boro – 8 a 30 kg/ ha. Assim, os plantadores de cítricos controlam o ‘amarelinho’ e os plantadores de goiaba combatem a maior parte das doenças. O texto correto deveria ser Fortalecer raízes pela aplicação de 8 a 30 kg/ha de Bórax (que contém 10,5% de B). É o que recomenda a Dra. Ana Primavesi em seu livro “Manual do solo vivo”, no qual o autor se baseou. Pedimos desculpas pelo erro. AgroDBO se reserva o direito de editar/resumir as mensagens recebidas devido à falta de espaço.
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Carta ao leitor
A
redação da Agro DBO elegeu como importante inimigo das lavouras brasileiras os diversos tipos de nematoides existentes. Assim, pautamos o registro dessa tomada de posição com a reportagem de capa “Atenção, agricultores”, autoria do repórter Ariosto Mesquita, que foi garimpar os procedimentos técnicos e agronômicos utilizados pelo produtor Gilberto Yuki (Ipameri, GO) para combater essa praga, que predomina, assim como alguns tipos de políticos, em ambientes carentes, sendo os nematoides em solos de baixa presença de matéria orgânica, e os políticos em cenários de baixa fiscalização e altíssima taxa de impunidade. No caso dos nematoides, há uma série de procedimentos de ataque ao inimigo, desde o manejo químico, rotação de culturas, plantio de cultivares resistentes, e que estão registrados na matéria. Constatamos, ainda, que há uma moderna evolução direcionada para o uso de métodos biológicos, o que traz esperança aos produtores para o controle dessa praga de solo, considerada por antigos e experientes engenheiros agrônomos como uma “praga sobrevivente” entre os diversos micro-organismos existentes nos solos empobrecidos, especialmente os que contêm baixa presença de matéria orgânica. Com a redução da maioria dos micro-organismos num solo vivo, que possui diversas causas, seja compactação, maus tratos, ou excesso de uso de agroquímicos e fertilizantes minerais, os nematoides podem ser chamados de sobreviventes, e tornam-se predominantes, atacando todas as formas vegetais que encontram pela frente. E já chegam, com o aumento populacional, com alta resistência à maioria dos inseticidas existentes. Na entrevista do mês o engenheiro agrônomo Luís Rangel, diretor da Defesa Agropecuária, do Ministério da Agricultura, aponta os perigos sobre a nova Lei dos Defensivos Fitossanitários. Pretendem os legisladores resolver todos os problemas pela letra da lei, mas a empreitada tomou vulto, abraça opiniões e pitacos, e pode resultar num monstro disforme, além de provocar danos muito maiores do que a lei em vigor, que engessa a liberação de novas moléculas para uso nas lavouras brasileiras. Para manifestar sua opinião, envie e-mail para redacao@agrodbo.com.br Richard Jakubaszko
é uma publicação mensal da DBO Editores Associados Ltda. Diretor Responsável Demétrio Costa Editor Executivo Richard Jakubaszko Editor José Augusto Bezerra Conselho Editorial Décio Gazzoni, Demétrio Costa, Evaristo Eduardo de Miranda, Hélio Casale, José Augusto Bezerra, José Otávio Menten e Richard Jakubaszko Redação/Colaboradores Ariosto Mesquita, Carlos Alberto de Carvalho, Décio Karam, Décio Luiz Gazzoni, Evaristo Eduardo de Miranda, Fábio Lamonica Pereira, Hélio Casale, Leandro Vargas, Manfred Schmid, Marcelo Fernando Fonseca, Osvaldo Tadatomo Oshiro, Rogério Arioli, Talita Camargos Gomes e Thiago Martins Machado Arte Editor Edgar Pera Editoração Edson Alves e Jade Casagrande Coordenação Gráfica Walter Simões Marketing/Comercial Gerente: Rosana Minante Executivos de contas Andrea Canal, José Geraldo S. Caetano, Maria Aparecida de Oliveira, Marlene Orlovas, Mario Vanzo e Vanda Motta Circulação e Assinaturas Gerente: Margarete Basile ISSN 2317-7780 Impressão São Francisco Gráfica e Editora Capa: Foto Ariosto Mesquita DBO Editores Associados Ltda Diretores: Daniel Bilk Costa, Odemar Costa e Demétrio Costa Rua Dona Germaine Burchard, 229 Perdizes, São Paulo, SP 05002-900 - Tel. (11) 3879-7099 e 3803-5500 redacao@agrodbo.com.br www.agrodbo.com.br
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SEGURANÇA NA RAIZ DA PRODUTIVIDADE Re s u l t a do s c o nsistentes no ma nejo de n e mat oide s há ma i s de 1 0 sa f r a s.
Controle de M. incognita, M. javanica e Pratylenchus Brachyurus
Ação nematicida
ATENÇÃO: Siga rigorosamente as instruções contidas no rótulo, na bula e receita. Utilize sempre os equipamentos de proteção por menores de idade.
individual. Nunca permita a utilização do produto
Faça o Manejo Integrado de Pragas. Descarte corretamente as
embalagens e restos de produtos. Uso exclusivamente agrícola. CONSULTE SEMPRE UM ENGENHEIRO AGRÔNOMO. VENDA SOB RECEITUÁRIO AGRONÔMICO.
E s p e c i al i z ad a e m C on t r ol e B i ol ógi c o, a B a l l a gr o a tu a co m es tr ut ura p rópri a e t e c n ol og i a de pon ta n o se gm e nt o d es d e 2 0 0 4 . Ne m at é o pr i m e i r o n e m a ti c i da m i c r obi ol ógico d o Bra s i l . C om m ai s de de z a n os de pe squ i sa s e c i nco d e u s o c om e rc i al , Ne m a t ofe r e c e r e su l ta dos e fi c a z e s e co m p r ovad os no m a ne j o de n e m a toi de s.
ba l l a g r o . c o m . br
Ação prolongada
Ponto de Vista
Equilíbrio nas classificações de grãos O assunto é antigo, mas ainda há muita reclamação dos produtores pela forma malandra de classificação dos grãos. Rogério Arioli Silva*
A
* O autor é engenheiro agrônomo e produtor rural em Mato Grosso
s lutas por margens de lucro entre os participantes das cadeias econômicas são comuns e legítimas e fazem parte dos modernos sistemas comerciais. Há, no entanto, uma fronteira nem sempre bem delimitada entre o que é correto ou legítimo e honesto e práticas visivelmente danosas aos participantes destas cadeias. O que acontece atualmente por ocasião da entrega de contratos de venda de soja pelos produtores rurais às tradings compradoras em relação à classificação dos grãos está, certamente, rompendo esta fronteira mal delimitada. Verdadeiros absurdos vêm ocorrendo através de uma classificação arcaica e primitiva que – de maneira subjetiva e unilateral – elege os grãos que se encontram dentro ou fora do padrão no momento do embarque. As empresas compradoras terceirizaram esta classificação como forma de se isentarem da responsabilidade de perpetrar uma injustiça, que bem poderia ser nominada com outros tipos de adjetivos menos sutis. Significativas diferenças entre classificações têm gerado incômoda desconfiança aos produtores de grãos na reta final da sua atividade, justamente no momento de colher os frutos do seu trabalho. Acontece da seguinte maneira: quando o funcionário da empresa de classificação terceirizada considera que os grãos têm alguma avaria – e são inúmeras as consideradas atualmente – ficando abaixo do padrão contratual, estes
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grãos são descontados e sequer são pagos ao produtor, sendo levados de graça pelas empresas compradoras. Sabe-se, no entanto que pequenas diferenças na coloração dos grãos – como o início de uma fermentação, por exemplo, não influenciarão em nada o produto final resultante do esmagamento realizado pela indústria. Talvez um pouco mais de clarificante ou alguma correção da acidez destes grãos seja suficiente para manter o padrão desejado, sem prejuízo do produto final, no caso o óleo de soja. A forma primitiva, rudimentar e maliciosa como as classificações vêm ocorrendo está trazendo enormes
prejuízos aos produtores. Há uma lucratividade irregular advinda desta relação incestuosa entre trading e classificadora. Como esta é contratada por aquela existe – embora não se admita isso – total subserviência das empresas classificadoras para com as compradoras. Inclusive existe uma pressão muito grande das tradings sobre estas empresas e seus funcionários no sentido de cobrarem multas e prejuízos (que duvido que aconteçam) em caso de desconformidade na classificação. Os produtores são o elo fraco da corrente. A Aprosoja (Associação dos Produtores de Soja) já
tentou mudar a forma de classificação, entretanto se deparou com a intransigência da ANEC (Associação Nacional dos Exportadores de Cereais), que não abre mão dos critérios impostos nos contratos entre empresas e produtores. Há um visível abuso de poder econômico neste caso. Os contratos celebrados são garantidos de acordo com padrões preconizados, entretanto as classificações são feitas carga a carga e os descontos realizados em determinado caminhão não são creditados no seguinte, o que gera grande distorção. Há relatos de classificações com grandes diferenças quando arbitradas por classificadoras ligadas às tradings e classificadoras que prestam serviço de maneira independente, seguindo os critérios instituídos pelo Ministério da Agricultura. Essa situação está ficando insustentável pelos prejuízos
impostos aos produtores. É preciso que esta forma de classificação arcaica seja modificada para algo mais coerente, moderno e livre dos atuais vícios. A atual forma empírica de classificar grãos não pode ser
do, com a modernização no sistema de classificação, onde não haja subserviência entre os prestadores de serviço e seus contratantes. Talvez o caminho seja as associações ou sindicatos de produtores ru-
Não é possível que não se consiga avançar neste modelo jurássico de classificar grãos mais tolerada pelo setor produtivo organizado porque é injusta e pouco confiável, além de gerar desgastes e desconfiança entre produtores e empresas. Em pleno século XXI não é possível que não se consiga avançar neste modelo jurássico de classificar grãos que beneficia apenas uma parte da cadeia produtiva. As entidades representativas dos produtores rurais em todo país devem exigir mais equilíbrio nos contratos firmados através de exigências recíprocas e, sobretu-
rais contratarem empresas isentas, como forma de arbitrar coerentemente a classificação dos grãos embarcados. Não se trata de isentar os produtores da responsabilidade de entregarem grãos de qualidade, de acordo com o que foi adquirido pelo comprador. Trata-se, isto sim, de emprestar credibilidade ao processo de classificação de modo a torná-lo acima de qualquer suspeita, evitando a desconfiança generalizada que atualmente o caracteriza.
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Notícias da terra Safra I
Produção gigante
D
e acordo com o primeiro levantamento da Conab sobre a safra 2018/19, o Brasil vai colher entre 233,6 e 238,5 milhões de toneladas de grãos e fibras no ano que vem, uma variação de 2,5% (5,6 milhões de toneladas a mais) a 4,7% (10,6 milhões t a mais) em relação à safra passada. A produção de soja pode chegar a 119,4 milhões de toneladas e a de milho (primeira e segunda safras) a 91,1 milhões t. Ainda segundo a Conab, a área plantada deve aumentar de 0,2% a 2,3%, variando de 61,9 a 63,1 milhões de hectares.
Foto: Aprosoja MT
Safra II
IBGE fecha ciclo 2017/18
A
nona estimativa de 2018 do IBGE sobre a produção nacional de cereais, leguminosas e oleaginosas na temporada 2017/19 totalizou 226,2 milhões de toneladas, 6% inferior (14,4 milhões de toneladas a menos) à do ciclo anterior (240,6 milhões t). A área plantada alcançou a 61 milhões de hectares, queda de 0,4% (- 220,6 mil hectares) frente à área colhida em 2017. Entre as grandes regiões em que se divide o país, a produção apresentou a seguinte distribuição: Centro-Oeste (99,8 milhões de toneladas), Sul (75,3), Sudeste (23,2), Nordeste (19,2) e Norte (8,7). Até o fechamento desta edição, o instituto não tinha divulgado projeções sobre a safra 2018/19.
Safra III
USDA repete projeções VBP
Valorização menor que a de 2017
O
Valor Bruto de Produção da agropecuária brasileira em 2018, calculado sobre dados de setembro, foi revisado em outubro para R$ 574,3 bilhões, montante 2,7% inferior ao do ano passado (R$ 590,2 bilhões). O VBP das lavouras caiu 1,7% e o da pecuária, 4,8%. “Com a safra deste ano praticamente encerrada, faltando apenas algumas lavouras de inverno, não devem ocorrer mudanças significativas no VBP deste ano”, diz José Gasques, coordenador geral de estudos e análises da SPA/Mapa - Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Segundo ele, o melhor desempenho entre as culturas é o do trigo, com acréscimo de 79,7% sobre o seu valor em 2017, seguido pelo algodão (+ 44,5%), cacau (+ 27,8%), soja (+ 11,8%), café (6,6%) e tomate (+ 4%). O grupo representa 56,2% do valor das lavouras de 2018.
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O
Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês) manteve praticamente inalteradas as estimativas feitas em outubro sobre a safra 2018/19 de soja, em relação ao que previra em setembro. De acordo com o relatório de oferta e demanda do mês passado, os EUA vão colher 127,7 milhões de toneladas; o Brasil, 120,5 milhões t; a Argentinha, 41 milhões t e o mundo, 369,6 milhões t (em setembro a projeção sobre a safra global apontara 369,3 milhões de toneladas de soja). Quanto ao milho, a relatório aponta algumas alterações: a produção norte-americana vai cair de 376,6 (estimativa feita em setembro) para 375,4 milhões de toneladas; a brasileira, de 94,5 para 94 milhões t e a argentina vai se manter em 41 milhões t. A safra global do cereal cairá de 1,069 para 1,068 bilhão de toneladas.
Notícias da terra Foto: Paulo Barroso
Transgenia
Algodão GM liberado
A
CTNBio – Comissão Técnica Nacional de Biossegurança autorizou o plantio do algodão geneticamente modificado no estado de Rondônia. A decisão foi baseada em parecer técnico da Embrapa Territorial, considerando informações provenientes de levantamento de campo, entrevistas com agricultores, literatura científica e análises técnicas. A incerteza da perda da diversidade genética das espécies naturais após a inserção do algodão GM era uma das justificativas para restringir o seu cultivo no estado. O algodoeiro existente em Rondônia (Gossypium barbadense) é encontrado dentro dos quintais de residências das zonas rural e urbana e tem por finalidade o uso medicinal. A Embrapa concluiu, porém, que o fluxo gênico não representa um risco para a permanência dessa espécie. O Secretário de Agricultura de Rondônia, José Paulo Gonçalves, acredita que o cultivo do algodoeiro GM contribuirá para elevar a produtividade da cultura e fortalecerá o agronegócio na região, gerando renda e emprego.
Manejo
Biológicos avançam
A
Foto: Rayane de Jesus Vital
área tratada com biodefensivos no Brasil superou 10 milhões de hectares no ano passado; o segmento movimentou mais de R$ 500 milhões no período; as culturas com maior demanda pelo insumo são soja, cana-de-açúcar, café, hortaliças e frutas. Os dados constam do maior e mais completo estudo sobre o uso de produtos biológicos no país, realizado pela Associação Brasileira das Empresas de Controle Biológico, em parceria com a Informa FNP. De acordo com o levantamento, 39% dos agricultores brasileiros utilizaram produtos biológicos e 98% deles pretendem usá-los nesta safra. As duas principais alegações são a eficiência no controle (mencionado por 76% dos produtores ouvidos) e a segurança da aplicação (apontada por 60% deles). Os ativos biológicos mais utilizados são: Bacillus sp (diversos tipos), baculovirus, Beauveria, Cotesia, Metarhizium, Paecilomyces, Pochonia, Trichoderma e Trichogramma (acima, na foto). A pesquisa foi feita com ba-
se em 90 questões respondidas por 683 produtores de soja, milho, cana, feijão, uva, batata, tomate, café, hortaliças, morango, maçã e melão, de um universo de 1.900 agricultores abordados em 15 estados do país, o que representa cerca de 80% do agronegócio brasileiro. A expectativa da ABCBio é que a área protegida com defensivos biológicos cresça 25% este ano e supere 12,5 milhões de hectares. Ou seja, 20% da área total cultivada no país.
Pesquisa
Hambúrguer de feijão Originário da ilha de Java, na Indonésia, o tempeh é um alimento obtido a partir da fermentação de grãos de soja pelo fungo Rhizopus oligosporus. Consumido frito, cozido ou assado, é muito comum no sudeste asiáticos. Inspirado nele, pesquisadores da Embrapa Arroz e Feijão e da Universidade Federal de Goiás desenvolveram um alimento similar à base feijão. Nos testes, a equipe da pesquisadora Priscila Zaczuk Bassinello usou feijão carioca (cultivar BRS Perola) e feijão branco (BRS Artico), aos quais adicionou temperos tradicionais da culinária popular, como alho, cebola, pimenta e azeite. O tempeh de feijão pode ser consumido como um hambúrguer vegetal no recheio de sanduíches. Rico em fibras, proteína e minerais como zinco, ferro e cálcio, também pode ser empregado em dietas sem proteína animal, substituindo a carne em sopas, saladas e molhos para massas.
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Foto: Fundecitrus
Notícias da terra CVC
Molécula promissora
P
esquisadores do Centro de Citricultura “Sylvio Moreira”, do IAC – Instituto Agronômico de Campinas, descobriram que a molécula antioxidante N-acetilcisteína (NAC), utilizada em saúde humana como mucolítico, pode combater a Xylella fastidiosa, bactéria causadora de várias doenças em plantas, entre as quais a clorose variegada dos citros (CVC), conhecida popularmente como “amarelinho. Os estudos resultaram em dois produtos derivados da NAC: um para ser pulverizado; o outro, para ser aplicado como fertilizante na raiz das plantas. “Vimos que a molécula também tem potencial para destruir algumas bactérias que atacam tomate, batata e hortaliças. Por ser pequena, há grande possibilidade de melhorá-la, complexando-a a outras moléculas ou melhorando a forma de absorção, de modo a torná-la ainda mais eficiente”, afirma a coordenadora do projeto, Alessandra Alves de Souza, do IAC. Adicionalmente, os pesquisadores constataram que as plantas tratadas produziram mais frutos e com o diâmetro maior. “Isso acontece porque a NAC, por ser uma molécula antioxidante, diminui o estresse oxidativo da planta”, conclui.
Tecnologia
Cana resistente à seca
P
esquisadores da Unicamp - Universidade Estadual de Campinas, em parceria com cientistas do Vlaams Instituut voor Biotechnologie (VIB), da Bélgica, conseguiram identificar cinco genes capazes de aumentar a resistência da cana-de-açúcar à seca. O professor Marcelo Menossi Teixeira, do Instituto Biológico da Unicamp, explica que os genes são naturalmente ativados pela planta quando ela se encontra em condição de estresse hídrico, a fim de se proteger contra a desidratação. Agora, o objetivo dos cientistas é modificar a planta geneticamente, de modo que os genes permaneçam ativados. “Queremos chegar a a uma cana-de-açúcar transgênica capaz de suportar longos períodos sem irrigação e de crescimento rápido”, revela.
Foto: Marina Torres
Resistência
Seleção antes da eclosão
A
o estudar os hábitos e comportamento da lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda), pesquisadores da Embrapa detectaram uma das proteínas Bt encontradas em cultivares transgênicas de milho – a Cry1F – nos ovos dos seus descendentes. Assim, antes mesmo que as lagartas eclodam, os embriões já podem ter sido expostos à proteína se a geração anterior se alimentou do milho Bt. Essa proteína é tóxica ao inseto, porém sua presença desde a fase de ovos pode aumentar as chances de selecionar indivíduos resistentes. “Descobrimos que a exposição da principal praga do milho a uma das proteínas Bt já começa no embrião, o que pode contribuir para a pressão de seleção da resistência”, explica a pesquisadora Simone Martins Mendes, da área de entomologia da Embrapa Milho e Sorgo (MG). A descoberta, inédita e publicada em setembro na revista científica americana Plos One, pode indicar novos caminhos para
entender a rápida seleção da resistência dessa praga às tecnologias transgênicas. O trabalho comprovou também que ambos os sexos do inseto têm a capacidade de transmitir a proteína Bt aos descendentes. “Quando ambos os pais foram expostos à proteína, a concentração de Cry1F sequestrada nos ovos foi significativamente maior (quase o dobro) em relação a quando apenas o macho ou a fêmea foram expostos à proteína”,compara a engenheira agrônoma Camila Souza, autora do estudo. novembro 2018 – Agro DBO | 13
Foto: Jacob Net
Notícias da terra Fitossanidade
Nova lista de pragas
O
Ministério da Agricultura publicou no dia 2 de outubro no Diário Oficial da União (DOU) as Instruções Normativas 38 e 39, atualizando a lista de pragas de importância econômica e de maior risco fitossanitário para as culturas agrícolas no Brasil. A IN 38 trata das pragas quarentenárias presentes (PQPs) e a IN 39, das pragas quarentenárias ausentes PQAs). O objetivo é determinar quais os produtos e tecnologias de controle terão prioridade na análise de seus processos de registro e liberação comercial no país. A lista (com as principais culturas agrícolas impactadas) é a seguinte: Cultura: soja Praga: Phakopsora pachyrhizi Culturas: soja, algodão e milho Pragas: Helicoverpa armigera (foto acima), Chrysodexis includens, Heliothis virescens, Anticarsia gemmatalis e Spodoptera frugiperda Cultura: feijão, tomate, melão e eoja Praga: Bemisia tabaci Cultura: soja, algodão, feijão e trigo Pragas: Lolium multiflorum, Conyza bonariensis, Digitaria insularis e Amaranthus palmeri Culturas: eucalipto e pinus
14 | Agro DBO – novembro 2018
Pragas: Digitaria insularis, Digitaria horizontalis, Panicum maximum, Brachiaria decumbens e Brachiaria brizantha Cultura: algodão Pragas: Antonomus grandis e Ramularia areola Culturas: soja e milho Pragas: Euchistus heros e Dichelops melacanthus Culturas: mamão e manga Pragas: Colletotrichum gloesporioides (podridão de pós-colheita) Culturas: citros, manga, uva, goiaba, maçã, pêra, pêssego, nectarina, melão, melancia e abóbora Pragas: Ceratitis capitata, Anastrepha grandis, Anastrepha fraterculus e Bactrocera carambolae Cultura: citros Praga: Diaphorina citri Culturas: tomate e batata Pragas: Phytophthora infestans
Notícias da terra EsalqShow
Foto: Gerhard Waller
Revelados vencedores do Prêmio Novo Agro
Roberto Rodrigues, Luiz Carlos Corrêa Carvalho, Luiz Gustavo Nussio e Luiz Mario Machado Salvi.
O
Santander e a Esalq/USP revelam os oito vencedores do Prêmio Novo Agro, uma forma de reconhecimento e valorização das atitudes e espíritos empreendedores do produtor rural brasileiro. Os contemplados Categoria
Porte
Cidade/Estado Holambra/SP
são produtores rurais de São Paulo, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso e Rio Grande do Sul. A cerimônia de premiação aconteceu na abertura da segunda edição do EsalqShow, no dia 09 de outubro, no campus da escola, em Piracicaba (SP). O Prêmio Novo Agro buscou abranger as boas práticas do produtor nacional nas seguintes categorias: Empreendedorismo, Sustentabilidade, Inovação e Mulher na Gestão. Puderam se inscrever desde os pequenos produtores até os de médio e grande porte. Em uma primeira triagem, 24 projetos foram selecionados e após receberem visitas técnicas de especialistas da Esalq/USP e agrônomos do Santander para verificação in loco do case inscrito, 8 foram contemplados. Abaixo, os projetos vencedores. Mais informações: www.premionovoagro.com.br Nome
Cultura/Projeto
Regina Gruisen Breg Yeda
Cultivo de flores/Máquinas de resfriamento de estufa
Thiago Mansur
Soja e pecuária/Uso do Sistema Triângulo
Inovação
Pequeno
Inovação
Médio/Grande
Sustentabilidade
Pequeno
Piracicaba/SP
Valdemir Assarisse
Milho/Aproveitamento de resíduos orgânicos
Sustentabilidade
Médio/Grande
Cuiabá/MT
José Eduardo de Macedo Soares Jr.
Grãos/Plantio rotativo de culturas
Empreendedorismo
Pequeno
Estrela/RS
Luiz Pianta
Morango/Produção de morango orgânico
Empreendedorismo
Médio/Grande
Indiara/GO
Alaor Procopio de Avila Filho
Pecuária e Agricultura/Uso de tecnologia na produção
Mulher na Gestão
Pequeno
Cambuquira/MG
Simone Carneiro de Morais Sousa
Cafeicultura
Mulher na Gestão
Médio/Grande
Três Pontas/MG
Carmem Lucia Chaves De Brito
Cafeicultura
Bonópolis/GO
EsalqShow é uma iniciativa da USP/Esalq em parceria com a empresa Araiby Feiras e Eventos em Agronegócios, com apoio da Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz (FEALQ). A primeira edição foi realizada em 2017, reuniu mais de 3 mil participantes, 67 expositores, 55 palestras e apresentação de 51 projetos expostos em 14 vitrines. A iniciativa visa incentivar a inovação e o empreendedorismo na agricultura, aproximando a academia do setor produtivo, estimulando parcerias para intensificar a colaboração entre a universidade e o mercado nacional e internacional a fim de gerar novas oportunidades e inovações. Mais informações no site www.esalqshow.fealq.org.br novembro 2018 – Agro DBO | 15
Notícias da terra Sob nova direção
Novo presidente da Embrapa
S
ebastião Barbosa, pesquisador aposentado da unidade de Algodão e que vinha fazendo críticas à condução da Embrapa nos últimos anos, foi empossado em outubro como novo presidente da instituição. Em processo previsto na Lei das Estatais e no Estatuto da empresa, concorreram 16 pesquisadores, sendo 3 selecionados, e finalmente1 escolhido. Sebastião Barbosa é engenheiro agrônomo formado pela Universidade Federal de Viçosa (MG), em 1967, com mestrado em Entomologia (1973) e doutorado em Entomologia e Manejo Integrado de Pragas pela Mississippi State University (1974). Tem também experiência em Gestão de P&D e Institutional Building.
Fisiologia
Uso de bioestimulantes no milho vai a congresso O uso de biorreguladores no milho com os objetivos de minimizar os estresses bióticos e abióticos e maximizar a produtividade da cultura foi defendido pelo professor João Domingos Rodrigues, da área de Fisiologia Vegetal e da Produção da Unesp (Universidade Estadual Paulista, Campus de Botucatu), durante o XXXII Congresso Nacional de Milho e Sorgo, realizado no mês de setembro em Lavras-MG. Os biorreguladores ou reguladores vegetais são compostos constituídos por hormônios vegetais que podem ser aplicados diretamente nas plantas, em concentrações calculadas, para alterar seus processos vitais e estruturais em busca de maior produção. A justificativa, segundo o professor, é oferecer condições às culturas para atingir o potencial genético produtivo em um cenário de instabilidade climática. “Com os problemas do clima, como melhorar as respostas da fisiologia das plantas, principalmente às relativas à fotossíntese e à produtividade?”, indagou Rodrigues. De acordo com ele, uma das formas é a minimização desse estresse, com a utilização dos biorreguladores. “A mistura hormonal em concentrações calculadas composta de citocina, auxina e giberelina promove um efeito sinérgico”, disse.
Policia
Inicia a Operação Safra 2018-19 no oeste baiano
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utubro começou com mais segurança na região oeste da Bahia. O policiamento ganhou reforço nas rodovias estaduais e estradas vicinais. É que com o início do plantio na região se intensificou o tráfego de veículos carregados com defensivos agrícolas, que são alvos de assaltantes, devido ao elevado valor das cargas. Para combater a criminalidade e levar um policiamento ostensivo à zona rural, a Polícia Militar da Bahia inicia a Operação Safra 2018/19 no oeste do Estado. Durante seis meses, o efetivo policial deve percorrer mais de mil propriedades rurais em 12 municípios do oeste baiano. Na operação, são utilizadas viaturas e um helicóptero do Grupamento Aéreo da PMBA (Graer), que fica de prontidão em sua base para decolar e fazer a varredura aérea, caso seja necessário.
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Este é o quinto ano consecutivo que a operação é realizada na região, e desde a sua criação os índices de roubos de carga, assaltos às fazendas e agressões contra produtores e funcionários das fazendas diminuíram consideravelmente.
Notícias da terra Café
Cup of Excellence – Brazil 2018 anunciou os melhores cafés do Brasil
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ia 21 de outubro último o concurso Cup of Excellence – Brazil 2018 anunciou o resultado da etapa internacional que aconteceu em Guaxupé (MG), revelando quais são os melhores cafés especiais do país. Da categoria “Pulped Naturals”, o cereja descascado, em que 37 amostras foram analisadas, sagrou-se campeã a empresa Primavera Agronegócios, com o café produzido na Fazenda Primavera, em Angelândia, na região da Chapada de Minas Gerais, com a nota 93,89 pontos. Destacado por “gueixa”, um novo tipo de café que está sendo produzido no Brasil, Leonardo Montesanto Tavares recebeu o troféu. “Esse prêmio mostra que o trabalho vale a pena, que a dedicação é importante e que somos profissionais no que fazemos. Muito além do financeiro, o mais importante é poder mostrar para o mundo que o Norte de Minas também produz café de excelência. Esse prêmio é de todos da fazenda Primavera”, disse emocionado. Nesta categoria também receberam o título de café presidencial ao obter pelo júri nota superior a 90 pontos: ■ Reinaldo Garcia dos Santos, Sítio Fortaleza, de Luisburgo, região de Matas de Minas. ■ Empresa Dimap, Fazenda Santo André, em Pratinha, na Denominação de Origem do Cerrado Mineiro. ■ Maria José Junqueira Céglia, Granja São Francisco, em Carmo de Minas, na Identificação de Procedência da Mantiqueira de Minas. ■ Antônio Macedo Souza, sítio Santo Antônio, em Piatã, Chapada Diamantina (BA). Já na categoria “Naturals”, tipo em que o modo de preparo é via seca, 40 amostras foram analisadas. O café cultivado por Maria do Carmo Andrade, na Fazenda Paraíso, em Carmo do Paranaíba, situada na Denominação de Origem do Cerrado Mineiro, foi o campeão com 93,26 pontos. Ismael José de Andrade é quem recebeu o troféu. Outros sete cafés também receberam o título de café presidencial, com nota superior a 90 pontos e os 3 primeiros foram: ■ Robson Vilela Martins, Fazenda São Pedro, no município de Cristina, Mantiqueira de Minas; ■ Salvador da Paixão Mesquita, Chácara São Severino, em Piatã, na Chapada Diamantina, Bahia. ■ Silvia Dias Cambraia, Fazenda Campo Alegre, em Santo Antônio do Amparo, Sul de Minas Gerais.
Os lotes finalistas das duas categorias participam agora de leilões internacionais, entre os quais 100 potenciais compradores de 40 países aguardam para arrematar as sacas brasileiras. Em 2017, por exemplo, sacas de café cereja descascado chegaram a ser leiloadas por R$ 55 mil e do café natural por mais de R$ 39 mil. Etapa Internacional – O concurso, que é considerado a Copa do Mundo do Café, recebeu 1.000 amostras de cafés, tanto da categoria Pulped Naturals (via úmida) quanto Naturals (via seca), enviadas de diferentes regiões produtoras do Brasil, referentes a safra de café arábica 2018. Para a eta-
Leonardo Montesanto Tavares (campeão Pulped Naturals) e Ismael José de Andrade (campeão Naturals)
pa internacional, foram classificadas 77 amostras, de café cereja descascado e de café natural. Os atributos analisados por 29 juízes brasileiros e de outros 10 países foram: Fragrância/Aroma, Uniformidade, Ausência de Defeitos, Doçura, Sabor e Equilíbrio. O evento é realizado pela Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA) em parceria com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) e a Alliance for Coffee Excellence (ACE). Nesta edição, a cooperativa Cooxupé e a SMC Specialty Coffee foram as anfitriãs do concurso. novembro 2018 – Agro DBO | 17
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Inimigo oculto Em Goiás, agricultor renova armamento e prioriza biológicos na guerra contra os nematoides – a praga já “rouba” R$ 16,2 bilhões só na soja Ariosto Mesquita
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ncrustada na Chapada Ipameri, a cerca de 900 metros de altitude em relação ao nível do mar, bem na borda do Planalto Central do Brasil, a Fazenda Monte Belo, em Goiás, entra em seu quarto ano de guerra contra os nematoides. Depois de vitórias e derrotas nos ciclos anteriores, o agricultor Gilberto Mitsuyoshi Yuki resolveu ampliar seu arsenal para a safra 2018/19, disposto a conter este exército silencioso, capaz de provocar grande estragos nas lavouras – vermes minúsculos, que parasitam as raízes e comprometem a absorção de água e nutrientes pelas plantas, os nematoides são responsáveis por prejuízos anuais de R$ 35 bilhões ao agronegócio nacional, segundo levantamento da Sociedade Brasileira de Nematologia. Apenas na produção de soja, as perdas chegam a R$ 16,2 bilhões. dizimar lavouras e minúsculo. A estratégia de Yuki está baseada em três frentes: plantio de sementes de soja com resistência à praga; cultivo rotacionado com plantas de cobertura e, pela primeira vez, uso de defensivos exclusivamente biológicos. Prevendo uma luta dura e demorada, ele já está
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testando novas armas. Para o próximo ano, pretende introduzir a homeopatia na lista de alternativas para o controle natural da praga. Ele fez as contas e percebeu que vem perdendo dinheiro quando compara o desempenho da Monte Belo com outras duas propriedades suas, bem próximas, distantes apenas cinco quilômetros. Na Fazenda Paineiras, de 291 hectares de área total e 235 ha cultivados (soja, milho e trigo), a produtividade da oleaginosa nas duas últimas safras foi de 65 sacas/ha, enquanto na Monte Belo ficou em 57. No ciclo 2015/16 foi pior: 68 scs/ha contra 41. “Neste caso, foi um período muito seco que, somado aos nematoides, jogou o resultado lá embaixo”, explica. Tomando como base os dois últimos ciclos produtivos, Yuki gastou R$ 80/ha em insumos foliares na tentativa de revigorar as plantas definhadas pela infestação de nematoides nos 155 hectares cultivados na Monte Belo (área total de 296 ha). Considerando a cotação de R$ 70 a saca de soja, ele perdeu (deixou de produzir) o equivalente a R$ 88.350 na última safra. Ele não contabiliza, nesse conta,
Foto: Ariosto Mesquita
Foto: Rosângela Silva
Fêmeas de Heterodera glycines (nematoide de cisto) em raiz de soja
os números da Fazenda San Martin. “Lá, a minha média com soja foi de 58 sacas/ha, mas estas terras foram adquiridas há pouco mais de um ano. Assim sendo, não receberam todo o preparo e adubação adequados, além do fato de eu ter utilizado uma variedade de soja mais precoce”. A preocupação do agricultor nissei (o pai veio de Fukuoka, Japão), nascido no Paraná e radicado em Goiás, é justificável. O grande número de espécies vegetais hospedeiras, sua capacidade de adaptação aos diversos agrossistemas, a disseminação pela movimentação do solo, vento, água da chuva ou irrigação, animais silvestres e transportes em geral, os colocam entre os patógenos mais danosos à agricultura. Estimativas internacionais consideram que os nematoides são responsáveis pelo consumo de 10% da produção agrícola global. No Brasil, especialistas garantem que eles estão se expandindo e que as perdas, dependendo da cultura e do grau de infestação desta praga microscópica, pode chegar perto de 100%. Combate em várias frentes Yuki tem como maior desafio controlar a infestação na Monte Belo, mas sabe que as demais propriedades também abrigam nematoides em seus solos. Como em boa parte do Brasil, suas terras alojam os gêneros Pratylenchus brachyurus (nematoide das lesões radiculares), Meloidogyne incognita (nematoide das galhas) e Hetero-
dera glycines (nematoide de cisto). “O que está segurando minha produção é o Pratylenchus, cuja população é bastante acentuada na Monte Belo, mas tenho registro de nematoides de galhas e de cisto, este último detectado na San Martin, fazenda que comprei faz pouco mais de um ano e onde trabalhei apenas uma safra até agora”, conta. As “armas” para a batalha contra os nematoides na safra 2018/19 foram definidas com base em apoio técnico, experiências bem sucedidas e fracassos ao longo dos últimos quatro anos. “Nós erramos bastante em algumas coisas. Eu aplicava produtos biológicos na soja e deixava de fazer isso no milho cultivado em sucessão. Não pode. A população caia na primeira safra e voltava a subir na segunda. Também fiz algumas opções por sementes de maior potencial de produção, porém sem resistência a nematoide. Foi uma falha. A infestação voltava com força”. As sementes resistentes, segundo Yuki, entram a partir desta safra em 100% das áreas de cultivo. São variedades ou híbridos com baixo fator de reprodução da praga. A regra é que este material genético tenha tolerância a diversos nematoides ou àquele que está comprometendo determinado talhão na lavoura. O uso de plantas de cobertura e consórcios passou a ser regra em 2017, quando Yuki abriu mão da segunda safra de milho em boa parte das terras. Nas fazendas Monte Belo e Paineiras, após a soja ele semeou aveia branca
Gilberto Yuki examina área remanescente de consórcio de milheto com crotalária, corrigida com gesso e calcário e tratada com biológicos e pó de rocha
novembro 2018 – Agro DBO | 19
Fotos: Ariosto Mesquita
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(visando sustentabilidade estrutural e proteção microbiana ao solo) em parte da área e um mix de crotalária com milheto (cobertura vegetal, adubação nitrogenada e controle do Pratylenchus) no restante. Na recém-adquirida San Martin, após a primeira safra de soja, ele introduziu o cultivo consorciado de milho com braquiária para reciclar nutrientes e oferecer melhor sanidade ao solo. “Vou avaliar sempre a conveniência de se fazer a segunda safra de milho considerando a sanidade de cada talhão que trabalho. Onde isso não for seguro, vamos rotacionar os consórcios milho/braquiária e milheto/crotalária”, garante o agricultor, que também estuda a alternância do cultivo de soja com outra cultura em determinadas áreas. No que diz respeito a defensivos, Yuki planejou o uso integrado para o controle de outras pragas na proporção
Resquícios do mix crotalária/milheto dias antes da semeadura da soja no ciclo 2018/19
prevista de 40% (químicos) e 60% (biológicos) na safra 2018/19. No entanto, a terceira frente de batalha contra os nematoides limita o controle ao uso exclusivamente de produtos biológicos. “É uma questão de aposta e identificação. Estou pensando também no futuro das terras. Preciso manter um ambiente rico em estrutura orgânica para que elas permaneçam sustentáveis ao longo dos anos”, justifica o agricultor, que integra um grupo (em rede social) interessado em agricultura sustentável, composto por mais de 500 produtores – brevemente, eles pretendem formar uma associação nacional. Estratégia de combate O pacote biológico de Yuki inclui os fungos Cochonila chlamydosporia, Paecilomyces lilacinus e Trichoderma ssp, além da bactéria Bacillus subtilis. A estratégia de combate foi articulada pelo agrônomo e consultor Fábio Torres de Carvalho que, mesmo radicado em Luis Eduardo Magalhães, no oeste da Bahia, comanda os movimentos do exército de microrganismos nas propriedades de Yuki. “A Pochonia penetra nas raízes das plantas e as levam para a sub-superfície do solo. Trabalhamos este fungo em gramíneas como o milheto e a braquiária para obter sucesso na cultura subsequente que, na maioria das vezes, é a soja. O Paecilomyces e o Bacillus subtilis são microrganismos que usamos com foco exclusivo no controle de nematoides. Já o Trichoderma tem uma ação mais ampla no controle de fungos de solo que causam doenças”, explica o especialista. Este material é aplicado no solo em forma de calda, diretamente no sulco, no momento da semeadura. Yuki foi orientado por Carvalho a utilizar tanques e estruturas pul-
Diagnóstico em até duas horas Autoproclamada como detentora de mais de 50% do mercado de nematicidas no Brasil, a norte-americana FMC lançou em julho o projeto “Comando Nematoide”, um laboratório móvel, montado na carroceria de um caminhão (ao lado, na foto), que vêm percorrendo os principais polos produtores de soja, milho, cana-de-açúcar, algodão, feijão, café e hortifrútis do país. “A cada propriedade que visitamos fazemos amostragem de solo para análise no laboratório. O resultado sai em até duas horas, bem mais rápido do que os sete dias que geralmente se gasta neste processo. Diagnosticado o quadro, nossa equipe técnica na região apresenta ao agricultor a melhor sugestão de manejo específico para seu problema”, explica o diretor de marketing,
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Shandrus Carvalho. Segundo a empresa, de 4 de julho até 18 de outubro, a expedição passou por 39 municípios em sete estados, visitando até duas propriedades rurais em cada município. Apesar de parciais, os resultados confirmam a gravidade do problema. O nematoide das lesões radiculares (Pratylenchus brachyurus) foi encontrado em 91% das áreas. O segundo mais presente foi o nematoide das galhas (Meloidogyne incognita), identificado em 77,6% das amostras. “Na grande maioria das propriedades, o nematoide está presente e não é notado. O agricultor, portanto, não mensura a perda. Quando mostramos o diagnóstico ele muda sua percepção e busca um manejo adequado”, avalia o dirigente. O “Comando Nematoide” foi
lançado com meta inicial de passar por mais de 200 fazendas nas principais regiões produtoras até maio do próximo ano, mas, em função da boa receptividade até agora, a empresa estuda ampliar esta ação. “Não descartamos torná-la perene”, afirma. Para receber a visita do laboratório móvel, o produtor deve fazer um pré-agendamento com a equipe da FMC em sua região. “Atendemos tanto nossa clientela quanto demais produtores”, assegura. Segundo Carvalho, os níveis de infestação no Brasil são alarmantes: “Apenas em lavouras de soja, os nematoides infestam 49% das áreas. Dentro deste percentual, apenas 5% dos produtores fazem manejo da praga. O setor produtivo que mais investe no controle é o da cana-de-açúcar: 63%.
Segundo estimativas, as diversas espécies de fitonematoides são responsáveis pelo consumo de 10% da produção agrícola global.
Foto: VItor Ramos
verizadoras acopladas às plantadeiras. “Este sistema esguicha um jato líquido com vários microrganismos de controle logo atrás do disco de plantio depositando no solo, junto às sementes. O jato dirigido encurtou pela metade o tempo de resposta da planta ao manejo com biológicos para nematoides”, garante o consultor. Yuki utiliza outros agentes de controle “indireto” –não agem objetivamente contra os nematoides, mas ajudam a melhorar a sanidade do solo e das plantas, contribuindo assim para reduzir a infestação. Um deles é o pó de rocha, remineralizador de solo adquirido na região de Goiânia (cerca de 170 km de distância das propriedades) em uma reserva de micaxisto, rocha formada a base de mica e quartzo, rica em potássio. “Eu aplico, em média, cinco toneladas por hectare, geralmente suficiente para remineralizar as terras ao longo de um período de três anos. O custo fica em R$ 100/ha. O primeiro efeito que se percebe é o melhor enraizamento das plantas. Mas, se efetivamente auxilia no manejo de nematoide, ninguém mensurou ainda”, diz o produtor. Outra aposta sua é estrutural e estratégica. Investiu R$ 200 mil na adequação de um galpão de 300 m2 exclusivamente para armazenamento, mistura e produção de organismos biológicos na Fazenda Paineiras. Nele, instalou este ano uma biofábrica onde está iniciando a multiplicação de biológicos on farm. “Eu compro o meio de cultura e a cepa para reproduzir um material que substitui, em parte, os fungicidas e inseticidas”, re-
Remineralizador (pó de rocha) de micaxisto, usado para melhorar o enraizamento das plantas: “Ninguém mensurou ainda se ajuda no controle direto de nematoides”, reclama Yuki
vela. Porém, todos os agentes nematicidas continuam sendo adquiridos junto ao consultor. Isso, no entanto, não afasta Yuki de acompanhar e monitorar as principais novidades no setor: “Recentemente, foi lançado um curso de reprodução de Trichoderma em Rio Verde, aqui mesmo em Goiás, a um custo de R$ 10 mil por pessoa”, comenta. Disposto a usar produtos homeopáticos nas lavouras a partir do ano que vem, Yuki está bancando um curso de qualificação em homeopatia em Maringá, oeste do Paraná, para quatro funcionários, dentre eles Nelson Roque Leichtweis, gerente das fazendas, e Jefferson de Souza Lima, responsável exclusivo por toda a área biológica e homeopática das propriedades. O objetivo fundamental de Yuri é elevar a produtividade e reduzir custos, a fim de obter uma margem de lucratividade mais confortável do que a atual. Devido aos investimentos em um número maior de produtos biológicos, sem abdicar do controle químico para as demais pragas, seu custo médio de produção, considerando as três propriedades, ficou em 50 sacas/ha (base safra 2017/18). “Meu ganho, portanto, não passou de 16 sacas/ha. Em parte, isso é fruto de certa insegurança que a gente mantinha com relação aos biológicos. Esnovembro 2018 – Agro DBO | 21
Capa A receita para controlar nematoides inclui manejo do solo, rotação de culturas, cultivares resistentes, controle químico e biológico. pero alargar esta margem em pelo menos cinco sacas/ ha na safra 2018/19”, projeta. Muito do otimismo atual com relação ao controle natural de pragas veio a partir de um episódio ocorrido na última safra em um talhão sob pivô central na Fazenda Paineiras. “Em uma área de 50 hectares de trigo irrigado surgiu uma infestação de lagartas. Preparei inseticidas e fui a campo fazer um último monitoramento. Foi quando observei moscas depositando ovos sobre as lagartas. Eram predadores naturais. Ao final, tive de fazer apenas uma aplicação química, mesmo assim, em uma parcela da área”, conta. Problema generalizado Agrônomo e professor do IFG – Instituto Federal Goiano, no Campus Urutaí (50 km de Ipameri), Fernando Godinho de Araújo considera que o tipo de agricultura praticada no sudeste goiano (assim como em boa parte do Brasil) é um convite para a expansão das populações de nematoides: “Na região de Ipameri, temos a predominância da cultura da soja com o milho, quase sempre cultivado como segunda safra. Com exceção do nematoide de cisto, os demais são favorecidos por este binômio de cultivo”. A qualidade do solo, segundo ele, também influencia o nível final de perdas nas culturas. “Dependendo da população da praga, perdas podem chegar próximas a 100%. Solos arenosos e de pouca ação biológica comumente apresentam danos maiores provocados por nematoides, mesmo com níveis populacionais mais baixos, do que em solos com elevado teor de argila e/ou alto volume de matéria orgânica”. A orientação do especialista é para que o agricultor nunca utilize apenas uma arma para o manejo de nematoides. “Sugiro que adote pelo menos três das seguintes ferramentas: medidas sanitárias (evitar que o nematoide entre na área ou se espalhe pela propriedade); rotação de culturas; manejo de solo; utilização de cultivares resistentes; controle químico e controle biológico”.
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Em um galpão de 300 m2, no qual investiu R$ 200 mil, Yuki armazena e prepara insumos biológicos
Plantadeira de 15 linhas com pulverizador de 650 litros acoplado para aplicação de biológicos no solo.
O pesquisador Waldir Pereira Dias, da Embrapa Soja, avalia positivamente o modelo de manejo de nematoides adotado pelo agricultor Gilberto Yuki em Goiás, mas faz uma observação pontual: “Usar apenas controle biológico não resolve. Em nossas pesquisas, em casas de vegetação, sua eficiência gira em torno de 50%. O ideal, portanto, é o controle integrado com nematicidas químicos. Além de se preocupar com eficiência, o agricultor deve fazer contas e avaliar seu custo de produção a partir da aquisição de defensivos em quantidade”. Sobre a escolha das sementes, Dias lembra que existem hoje, no Brasil, mais de 100 cultivares de soja com resistência a diversos nematoides. “Mas o agricultor muitas vezes desconhece isso. A assistência técnica no país é frágil e o consultor da empresa quer vender seu produto, independente se é resistente ou não”, observa. Dias considera a rotação de culturas a melhor alternativa para manejar a praga, mas lamenta que, muitas vezes, este conceito não é bem compreendido. “Praticar a rotação significa, neste caso, deixar de plantar a soja como safra de verão e substituí-la por uma espécie vegetal que não hospede o nematoide que predomina na área”, explica, lembrando que isso tem como objetivo garantir bons resultados com o cultivo da oleaginosa na safra seguinte naquele setor da fazenda. Ele admite, entretanto, que adotar a rotação no Brasil nem sempre é viável, economicamente, para o produtor: “De maneira geral, não há opções de culturas com valor econômico para rotacionar com a soja. O ideal seria uma política pública que levasse à identificação de outros cultivos. Os problemas com nematoides, hoje em franca expansão, seriam bem menores”.
Entrevista
A nova lei dos agrotóxicos poderá ser uma lei Frankenstein
O
engenheiro agrônomo Luís Eduardo Rangel, entrevistado do mês, é diretor da Secretaria de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura (Mapa) desde 2015, tendo sido nomeado pelo atual ministro Blairo Maggi. De 2013 a 2015, ocupou a função de diretor na Defesa Vegetal. Ao entrar no Mapa, em 2003, Rangel atuou como fiscal federal e, antes disso, foi pesquisador da Embrapa em Primavera do Leste, no Mato Grosso, e é um especialista em fitotecnia. Carioca, Rangel é um dos raros torcedores do América F.C. do Rio de Janeiro, é motoqueiro e também músico, um tocador de guitarra, e participa com amigos, todos eles agrônomos, de uma banda musical cujo nome é DL50, não por acaso sigla de Dose Letal, abreviatura usada nos rótulos de agroquímicos. Rangel, que se formou na Universidade Nacional de Brasília em 1999, teve uma longa conversa com o editor-executivo da Agro DBO, jornalista Richard Jakubaszko, em que o tema principal foi a Lei dos Defensivos Agrícolas, ora em trâmite no Congresso Federal, um projeto de lei de 2002, que mostra uma grande polêmica entre os múltiplos atores interessados, agricultores, indústria de defensivos, ambientalistas e consumidores de alimentos.
Agro DBO – Você está acompanhando os debates no Congresso Nacional sobre a nova lei dos defensivos? O projeto original era do Blairo Maggi, não é? Rangel – Claro, acompanho desde 2002. Mas o projeto original não era esse que está aí hoje, do Projeto de Lei (PL) nº 6.299, no início era só para alterar os parágrafos 3º e 6º da chamada Lei dos Agrotóxicos que é de 1989 e é o que está em vigor hoje. O Maggi e outros entendiam na época que o Brasil não podia ficar de fora da regulamentação dos chamados defensivos genéricos para a agricultura. E o governo federal, na época, desenvolveu uma política de genéricos no Brasil. Agro DBO – Nada a ver, então, com o projeto original? Rangel – Isso mesmo, depois, o atual PL virou uma ideia de consolidação de diversos projetos de lei, como do deputado Moka, do Kovacs Filho, 24 | Agro DBO – novembro 2018
do Maggi, e de outros PLs que foram agregados, para que o relator fizesse esse projeto consolidado. Houve vários relatores, e atualmente está com o deputado Luiz Nishimori, do Paraná. Agro DBO – Mas a ideia original seria também agilizar o tempo de registro dos defensivos, não é? O projeto atual ainda conserva a proposta das indústrias para que se faça uma análise de risco no registro de produtos agrotóxicos? Rangel – Esta talvez seja uma das maiores polêmicas sobre o atual PL. A análise de risco é uma cláusula pétrea da Defesa Agropecuária. Está dentro do espírito do que é fazer regulação do setor agropecuário. Toda decisão regulatória que eu tomo aqui na Defesa Agropecuária, seja na área animal ou vegetal, é calcada no conceito de análise de risco. Não posso liberar qualquer produto, alimento, fumo, bicho, planta, se não passar pela
análise de risco. A CTNBio faz análise de risco para liberar transgênicos, o deptº de saúde animal faz análise de risco para autorizar a importação de suínos, o deptº veterinário faz análise de risco para autorizar uma molécula nova, todo mundo faz, e a única área da DVA que ainda tem polêmica para autorizar o registro de um produto é a área de agrotóxicos. Isto é assim porque a lei de agrotóxicos é de 1989, e a análise de risco não está contemplada naquela lei. A lei em vigor deixa claro que os conceitos que vão limitar a autorização de produtos são as características mutagênicas, carcinogênicas, teratogênicas, citadas na lei, e há uma interpretação rasa e superficial do Congresso de que a análise de risco não poderia ser usada porque os critérios e conceitos de perigos descritos na lei são soberanos, ou seja, não caberia à autoridade regulatória usar o conceito de risco porque não está previsto na lei. Essa é uma interpretação conser-
vadora, evidentemente. Agro DBO – Qual a lógica da análise de risco? Rangel – Existe uma avaliação do risco de todos os conceitos que trazem perigo daquela tecnologia ou produto, que devem ser levantados com base na ciência, e apresentados ao regulador, que fará o gerenciamento de risco. Disso surgem medidas oficiais, por parte do regulador, que vão sustentar a regulamentação daquele produto. Por exemplo, se importarmos maçã de algum país, isso tem risco, alguém do nosso órgão avalia esse risco e diz, olha, pode ter as pragas A, ou B ou C, e esses riscos e cenários são apresentados a mim como regulador, eu vou dizer, essa praga A, o risco é muito baixo, então eu não vou nem regular. Mas a praga B é muito perigosa, nesse caso vou exigir um certificado especial do país exportador para poder autorizar, e a praga C é tão perigosa que a gente pode até exigir tratamento de irradiação. Desse quadro estabelecemos as medidas a serem tomadas. Agro DBO – Esse quadro é do ponto de vista sanitário, de proteção do consumidor. E do ponto de vista de registro de pesticidas? Rangel – É exatamente o mesmo conceito, mas temos de usar parâmetros específicos. O que uma análise de risco de um agrotóxico deveria contemplar? A ciência levantaria os pontos de perigo, tipo “este produto, mesmo em baixíssima dose, mata ratos e cobaias em pouquíssimo tempo”, ou ainda “este produto gera uma malformação na cobaia em tal tempo”. Enfim, a ciência nos apresenta os conceitos de riscos na avaliação e aponta os perigos observados, e oferece essas questões ao regulador. O regulador vai olhar os perigos anotados na avaliação de risco, as estatísticas registradas, e poderá tomar a decisão de liberar ou não o produto, ou pedir outros testes. Agro DBO – Os legisladores devem então definir na nova lei se a análise de risco será parte inte-
grante da mesma. Pelo que entendemos o Mapa é favorável a isso, e qual é a posição do Ibama e da Anvisa nesse caso? Rangel – Na nova lei há uma interpretação equivocada de muitos leitores sobre essa e mesmo de outras questões. Em nenhum momento, por exemplo, está prevista a retirada de competências do Ibama ou da Anvisa, pelo contrário, a lei de 1989 não coloca responsabilidade sobre diversos órgãos, a lei de 1989 diz que o único órgão competente pelo registro de produtos fitossanitários é o Mapa. Os demais órgãos vão estabelecer diretrizes para que o Mapa faça o registro. Lá em 1990 foi uma decisão administrativa do então Presidente da República, de colocar os 3 órgãos para discussão
permanente sobre temas como a saúde, agricultura e meio ambiente. Agro DBO – E o que o novo PL prevê nessa questão, o Mapa continua como único gestor, ou teremos outros órgãos envolvidos? Rangel – Conforme já discutimos com o relator, deputado Luiz Nishimori, a agricultura, saúde e meio ambiente continuam dentro do processo de decisão, ou seja, o Mapa, Anvisa e Ibama serão os gestores. Agro DBO – A mídia se equivoca ao informar que pode ser retirada a participação dos órgãos de saúde e meio ambiente como gestores? Haverá flexibilização nisso?
Rangel – Exatamente, há desinformação generalizada sobre o PL, não se sabe com quais intenções, pois quem ler o texto que está tramitando percebe que a análise de risco está no corpo da futura lei, sob a batuta de agricultura, saúde e meio ambiente. Ao contrário do que a mídia divulgou, não haverá flexibilização, pois o PL coloca o poder desta regulação nos 3 órgãos citados. Agro DBO – O PL tem recebido críticas, sugestões e até aplausos. O que era para alterar, inicialmente, os tais parágrafos 3º e 6º, virou uma reforma e atualização completa da lei, que está já muito extensa. Pode sair um monstro daí, uma lei Frankenstein? Rangel – Já disse isso publicamente. Não discuto absolutamente nenhum dos pontos colocados no PL. Todos têm méritos. Mas em algum momento o governo federal foi inapto na condução de estabelecer políticas públicas para esse objetivo. Por exemplo, na questão da análise de risco. Na minha visão não se precisava alterar a lei de 1989. Era uma questão de interpretação da lei, mas uma visão conservadora do próprio governo na leitura jurídica nos levou à necessidade de mudar a lei. Agro DBO – Tudo isso com os aplausos dos ambientalistas? Rangel – Exato, eles forçaram a barra para impedir que a análise de risco fosse utilizada naturalmente pelos técnicos, porque tanto nós como o Ibama e Anvisa somos a favor desse conceito, tanto que o Ibama já usa o conceito de análise de risco. Agro DBO – E onde está o conflito? Rangel – Está nos órgãos jurídicos essa interpretação, pois entendem que, como a lei não traz explicitamente o comando da análise de risco a gente não pode utilizar. Isso é um efeito residual atrasado de uma filosofia de trabalho de cunho ideológico da Anvisa na primeira década deste século, mas novembro 2018 – Agro DBO | 25
Entrevista Sendo absolutamente franco, não se reduz prazo de registro de produtos através de lei, só se reduz prazo com gestão. que provoca esses obstáculos hoje. Ao mesmo tempo, a necessidade de mudar a lei trouxe as demandas, reprimidas até então, de produtores rurais e da própria indústria de defensivos, como setores regulados, o que criou uma bola de neve de crescimento incontrolável, pois todo mundo dá pitaco e o PL cresceu muito. Com isso estamos encurralados diante da antiga e com a perspectiva da nova lei. Enquanto isso, os números de agrotóxicos aguardando na fila aumentou muito este ano, porque não temos gente suficiente para atender tudo, e porque a burocracia é infernal. Agro DBO – Tivemos um exemplo recente de uma juíza substituta de Brasília que proibiu o registro de glifosato e outros produtos tradicionais. Se a nova lei estivesse em vigor isso aconteceria? Rangel – A nova lei também prevê os processos de reavaliação. O que a juíza imaginava é que a Anvisa estava procrastinando uma decisão de reavaliação. Quem explicou para a juíza que isso não era verdade foi o Mapa, porque a Anvisa, em verdade, estava cumprindo fielmente o texto legal. O erro talvez tenha sido estratégico, lá em 2008, quando a Anvisa, ainda naquele processo ideológico que já falamos aqui, se propôs reavaliar 14 princípios ativos de uma vez só. Ora, são produtos extremamente complexos, e essa reavaliação se mostrou inviável em um tempo rápido. A Anvisa começou pelos produtos mais complicados, e depois de 9 anos de trabalhos conseguiu reavaliar 11 produtos. Sobraram para o fim do trabalho de reavaliação os produtos mais simples, justo aqueles de menor risco, e o glifosato entre eles. A Anvisa já estava com a nota de reavaliação do glifosato pronta, e era uma nota positiva, ou seja, mantinha e liberava o produto, mas nesse meio tempo o processo da procuradoria chegou às mãos da Justiça. Foi coincidência, é 26 | Agro DBO – novembro 2018
claro. Mas, efetivamente, 10 anos é muito tempo, e com base apenas nesse tempo a juíza tomou uma decisão e proibiu o glifosato. Quase provocou uma hecatombe, um colapso ecológico na agricultura brasileira, porque é um produto que representa 50% do que se usa na agricultura brasileira em termos de agroquímicos, e é, ao mesmo tempo, um dos produtos menos tóxicos que existem no portfólio de produtos usados no mercado hoje. Agro DBO – Quais as críticas que vocês na Defesa Agropecuária têm em relação ao PL dos pesticidas? Rangel – A nossa crítica maior está na extensão e profundidade do PL, porque resolveram tratar de tudo. O PL trata de filtros e fluxos administrativos, procedimentos, custos administrativos, dos prazos obrigatórios por lei, que vincula a liberação aqui com produtos com registros em outros países, são procedimentos que consideramos inapropriados. Agro DBO – Mas dentro da nova lei há como reduzir o tempo médio de registro de um produto agroquímico, que hoje é de 5 a 8 anos? Rangel – Sendo absolutamente franco, não se reduz prazo de registro de produtos através de lei, só se reduz prazo com gestão. Quando se tem insuficiência de recursos humanos, deficiência de recursos eletrônicos, se o gestor for obrigado a tomar uma decisão regulatória num processo tão complexo como o de agrotóxicos, porque a lei determina um prazo legal para isso, a decisão do gestor ao final do prazo será dizer não para a liberação do produto. O risco do regulador é muito grande para dizer sim, se estiver sob a pressão do prazo e sem dispor dos recursos. A decisão regulatória, se não for feita com segurança, com recursos, com gestão, normalmente ela é não. Agro DBO – O que deveria es-
tar na lei, para reduzir os prazos de registros de produtos? Ou seria propiciar ao regulador recursos para fazer uma boa gestão? Rangel – As duas coisas. Não dá para fazer uma regulação com base de análise de risco, como faz a Europa, tendo 1% dos técnicos que a Europa ou os EUA têm. Não é possível, não é viável liberarmos produtos nos mesmos prazos dos EUA ou Austrália, usando 5 ou 6 técnicos, até porque a nossa burocracia é muito maior. Se o legislador determina um prazo para uma resposta, e com os recursos que hoje dispomos, num processo que é muito complexo, o regulador vai dizer não. E isso é muito pior. Claro, tem de ter argumento para dizer não. E nós só poderemos dizer que não temos subsídios técnicos suficientes para autorizar. Eu repito, não será por lei que nós vamos reduzir os prazos hoje praticados. Fora isso, a lei tem impropriedade gravíssima, não sei como isso será resolvido, que é prever uma penalização ao gestor que não cumprir o prazo predeterminado em lei. E aí eu pergunto, qual é o gestor que vai assumir isso, cuja pena é dele, individual, sabendo que a insuficiência de recursos é que vai determinar o insucesso dessa atividade? Agro DBO – Ou seja, o gestor vai continuar dizendo não com mais frequência. Rangel – Com mais frequência e antecipadamente. Hoje ainda é raríssimo a gente dizer não a um processo de pedido de registro. Se nos derem 2 anos para dar resposta, teremos de ampliar nossos recursos de trabalho, ou as respostas serão negativas. Como tudo é questão política, tenho compromissos em ajudar os legisladores para que consigam aprovar uma lei que seja justa para todos. Queremos avanços, e não retrocessos. E isso necessariamente não precisa ser feito por lei.
Transgênicos
Nobel x Greenpeace Cientistas acusam a ONG de praticar um crime contra a humanidade ao fazer campanha contra o arroz dourado, por ser um OGM. Decio Luiz Gazzoni *
A
imprensa mundial repercutiu fortemente uma carta subscrita por mais de uma centena de laureados com o Prêmio Nobel, dirigida ao Greenpeace, aos líderes das Nações Unidas e de governos nacionais. A carta pode ser lida em http://supportprecisionagriculture. org/nobel-laureate-gmo-letter_rjr.html A carta lembra que estudos da FAO estimam que a produção mundial de alimentos e rações precisará dobrar até 2050, em relação àquela obtida no início do século. E prossegue com um pedido: “Apelamos aos Governos do mundo para que rejeitem a campanha do Greenpeace contra o arroz dourado,
inteiro sofrem de carência de vitamina A, com sério risco de cegueira e de outros problemas oculares. Em consequência, estima-se que 500.000 crianças perdem a visão, a cada ano, por deficiência de vitamina A. Metade delas morre no ano seguinte à ce-
Os alimentos OGM são tão ou mais seguros que qualquer outro, segundo os cientistas.
* O autor é engenheiro agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja e membro do Conselho Editorial da Agro DBO.
em particular, e contra os cultivos e alimentos melhorados pela biotecnologia, em geral. É preciso deter a oposição baseada em emoções e dogmas, em contradição com resultados científicos”. Igualmente, apelam ao Greenpeace para que “abandone sua campanha contra os organismos geneticamente modificados, particularmente o arroz dourado e que reconheça as conclusões das instituições científicas competentes”. O Provitamin A Biofortified Rice Event GR2E (nome técnico do arroz dourado) foi criado em 2009, com fins humanitários, para combater a deficiência de vitamina A em regiões de extrema pobreza. O arroz branco, consumido por quase metade da população mundial, não é fonte de vitamina A. Segundo cálculos da Organização Mundial da Saúde, cerca de 250 milhões de crianças no mundo
gueira. Essas crianças, normalmente subnutridas, vivem em comunidades pobres da Ásia e da África. Segundo os autores da carta “O Greenpeace tem encabeçado a oposição ao arroz dourado, o qual tem o potencial de reduzir ou eliminar grande parte das mortes e doenças causadas pela deficiência de vitamina A, que ceifa as pessoas mais pobres da África e do Sudeste Asiático”. Ironicamente, até o momento, apenas o Canadá, Estados Unidos, Austrália e Nova Zelândia – países de alta renda per cápita – aprovaram o cultivo e consumo de arroz dourado. Em comunicado oficial, a Agência de Controle dos Alimentos dos Estados Unidos informa que não há nenhuma preocupação quanto ao consumo do arroz dourado por seres humanos ou animais.
Os signatários acusam o Greenpeace e demais ONGs contrárias aos alimentos transgênicos de “tergiversar os riscos, benefícios e impactos dos organismos modificados geneticamente e apoiar a destruição criminosa de cultivos experimentais”. Salientam que os alimentos geneticamente modificados são tão ou mais seguros que qualquer outro, segundo os estudos científicos. E concluem: “Nunca houve um só caso confirmado de um efeito adverso para a saúde de humanos ou animais”. Wilhelmina Pelegrina, ativista do Greenpeace, afirmou ao jornal The Guardian que “as empresas estão promovendo o arroz dourado para abrir o caminho para a aprovação de outros cultivos geneticamente modificados mais rentáveis”. Ela asseverou que o arroz dourado não demonstrou ser eficaz para solucionar a deficiência de vitamina A, porém, como de costume, não respaldou sua afirmativa em estudos científicos inquestionáveis. A carta termina com a seguinte pergunta: “Quantas pessoas pobres ainda terão que morrer antes que nós consideremos isto (a campanha contra transgênicos) um crime contra a Humanidade?”. Não recebi Prêmio Nobel, mas, como cientista, faço a mesma pergunta. novembro 2018 – Agro DBO | 27
CAR
O agronegócio preserva 25% da Amazônia Há muita desinformação sobre o que acontece de fato na grande floresta. A Embrapa Territorial põe os números reais no debate. Evaristo de Miranda 1, Carlos Alberto de Carvalho 2, Marcelo Fernando Fonseca 3 e Osvaldo Tadatomo Oshiro 4
A
campanha eleitoral para a Presidência da República trouxe, entre outros debates, o tema da preservação da Amazônia. Como é costume, nessas polêmicas, o agronegócio foi acusado com alarde de ser o grande vetor de destruição do bioma Amazônia. Mas qual a situação efetiva da proteção e da preservação da vegetação nativa no bioma Amazônia? Qual a dimensão territorial das áreas preservadas na Amazônia pelo mundo rural? Qual o papel das políticas públicas e privadas na manutenção da vegetação nativa? Pesquisa recente da Embrapa traz respostas objetivas a essas indagações e aponta o real desafio amazônico.
* Os autores são: 1 Doutor em ecologia, chefegeral da Embrapa Territorial; 2 Mestre em ciência da computação, Embrapa Territorial; 3 Doutor em geografia, Embrapa Territorial; 4 Doutor em engenharia, Embrapa Territorial.
A proteção da vegetação nativa No Brasil, o bioma Amazônia ocupa cerca de 4,2 milhões de km2, praticamente a metade do país (49,4%). Ele engloba o Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia e Roraima, além de parte do Mato Grosso, Maranhão e Tocantins (Fig. 1). As Unidades de Conservação de Proteção Integral, como Estações Ecológicas e Parques Nacionais, são 204 no bioma Amazônia e mais de 76 milhões de ha. Elas recobrem 18% do bioma, excluem a presença humana e não admitem nenhuma atividade produtiva. Reservas Extrativistas (Resex) e de Desenvolvimento Sustentável (RDS) não fazem parte desse conjunto de proteção integral. Também há 330 Terras Indígenas legalmente atribuídas no bioma Amazônia, sob a gestão da Funai (Funda-
28 | Agro DBO – novembro 2018
Figura 1 – Mapa do bioma Amazônia
ção Nacional do Índio). Elas totalizam quase 107 milhões de ha e recobrem 25,4% do bioma. Existem sobreposições entre as 534 áreas atribuídas a meio ambiente e povos indígenas. Descontadas as sobreposições, elas totalizam 171,5 milhões de ha de áreas protegidas e 40,8% do bioma. As áreas militares, cadastradas com florestas nacionais, totalizam cerca de 2,7 milhões de ha e 0,6% do bioma Amazônia. No total, unidades de conservação integral, terras indígenas e áreas militares protegem hoje 174,2 milhões de ha ou 41,4% do bioma. A preservação da vegetação nativa Até o advento do Cadastro Ambiental Rural (CAR), a contribuição dos agricultores, pecuaristas e extrativistas à preservação ambiental na
Amazônia era subestimada e pouco conhecida. Criado e exigido pelo Código Florestal (Lei 12.651/12), esse registro eletrônico obrigatório tornou-se um relevante instrumento de planejamento agrícola e socioambiental. Até agosto de 2018, no bioma Amazônia, registraram-se no CAR mais de 468.000 imóveis rurais, incluindo Resex e RDS. A Embrapa Territorial analisou esse bigdata geocodificado. E mapeou com 10 metros de detalhe a área dedicada à preservação da vegetação nativa em terras extrativistas e de agropecuária, em cada imóvel rural, município, microrregião, estado e no bioma (https://www.embrapa.br/car). Uma área total de 103,1 milhões de ha está dedicada à preservação da vegetação nativa pelo mundo rural.
Isso corresponde a 24,6% do bioma Amazônia e a 64% da área dos imóveis. Ou seja, o mundo rural preserva, em meio às suas atividades produtivas, um quarto do bioma da Amazônia e dois terços de seus imóveis. Um bioma protegido e preservado Em resumo: as 534 áreas de proteção mais estrita (unidades de conservação integral e terras indígenas) totalizam 171,5 milhões de ha e alcançam 40,8% do bioma Amazônia. Com as áreas militares essa porcentagem chega a 41,4%. Em mais de 468.000 imóveis rurais, pelos dados do CAR, as áreas dedicadas à preservação da vegetação nativa totalizam 103,1 milhões de ha ou 24,6% do bioma. As áreas legalmente protegidas e preservadas, devida e detalhadamente mapeadas, somam 277,3 milhões de ha, 66,1% ou dois terços da Amazônia. Para o mundo rural e para os órgãos governamentais, isso implica um grande custo operacional e patrimonial, ainda por calcular (Fig.2). Presente e futuro Sem descontar áreas urbanas e de mineração, cuja dimensão é muito
pequena em relação ao total da região, existem ainda cerca de 83,8 milhões de ha passíveis de ocupação no bioma Amazônia. Em sua maioria, são áreas inundáveis, superfícies hídricas do rio Amazonas e terras pouco propícias ao extrativismo e à agropecuária, sem acesso logístico. Em boa parte, tratam-se de terras devolutas (grandes manchas brancas na fig. 2).
a Índia! Esse fato precisa ser melhor conhecido e reconhecido. Se qualquer um de 190 países do planeta decidisse abrir mão de usar e explorar uma área dessa magnitude, ele desapareceria. Somente 5 países poderiam abrir mão de quase 3,5 milhões de km2: Rússia, China, EUA, Canadá e Austrália. Como seria recebida nesses países tal proposta?
O agronegócio é acusado com alarde de ser o grande vetor de destruição da Amazônia. Mesmo diante da hipótese muito pouco provável de uma futura ocupação integral dessas áreas, o Código Florestal já impõe o limite de 20% para uso e exploração (desmatamento legal). A reserva legal prevista para a vegetação nativa é de 80%. Assim, cerca de adicionais 67 milhões de ha, ou 16% da região, já estão prévia e legalmente destinados à preservação, por exigência do Código Florestal. O país já abriu mão de explorar e usar 82% do bioma Amazônia, com todas essas áreas legalmente destinadas à proteção e à preservação da vegetação nativa. Uma área maior do que
Figura 2 – Mapa do total de áreas dedicadas hoje à proteção e à preservação da vegetação nativa no bioma Amazônia.
As grandes manchas brancas são, em parte, de terras devolutas.
Como uma delirante loucura! Aqui no Brasil ela é apresentada por alguns como um dever, sem compensação. Nenhum país dedica mais território à proteção da vegetação nativa e da biodiversidade do que o Brasil, em termos absolutos e relativos. Quinta nação do mundo em extensão territorial, o Brasil é o primeiro em áreas protegidas, segundo dados do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente do Centro Mundial de Monitoramento da Conservação 1. Urbe et Orbi Apesar de todos os desafios existentes, graças às políticas públicas dos últimos 30 anos e às parcerias com o setor privado e organizações não governamentais, o bioma Amazônia é um exemplo mundial da proteção ambiental, em valores absolutos e relativos. Ele não está ameaçado de devastação como insistem alguns, aqui e no exterior. O desafio não é criar mais áreas de conservação, mas, sim, fazer cumprir o Código Florestal e garantir a gestão das áreas já atribuídas, públicas e privadas. E encontrar meios de cobrar dos beneficiários, urbe et orbi, pelos serviços ambientais da preservação da nossa Amazônia. Manter a integridade desse imenso patrimônio natural, sobretudo face a atividades ilegais e cobiça internacional, exige mais recursos e menos alarde. 1 IUCN. Disponível em: https://wdpa. s3.amazonaws.com/Protected_Planet_Reports/ 2445%20Global%20Protected%20Planet%20 2016_WEB.pdf.
novembro 2018 – Agro DBO | 29
Resistência
Plantas daninhas geram perdas de até US$ 19 bilhões Já dispomos no Brasil de muitas ervas daninhas resistentes a vários herbicidas. Com o tempo a situação só tende a piorar. Décio Karam 1, Leandro Vargas 2 e Talita Camargos Gomes 3
Amargoso prolifera, mas ainda é fácil de controlar nos estágios iniciais
* os autores são 1 Pesquisador da área de Manejo de Plantas Daninhas – Embrapa Milho e Sorgo 2 Pesquisador da área de Manejo de Plantas Daninhas – Embrapa Trigo 3 Engenheira Agrônoma, Mestre em Ciências Agrárias.
D
esde os primórdios da agricultura, o crescimento de espécies de plantas daninhas, que não são utilizadas pelo homem como alimento, forragem ou ornamento, entre outros usos, têm causado problemas de competição com plantas cultivadas para fins econômicos. O espectro de espécies daninhas que infestam as lavouras brasileiras abrange tanto plantas monocotiledôneas como dicotiledôneas. No entanto, o grau de competição pode variar segundo o período de convivência, a prática cultural, o espaçamento e o tipo de manejo utilizado para o controle; e ainda das peculiaridades da comunidade infestante, como distribuição, densidade e composição específica da população das espécies invasoras. As per-
30 | Agro DBO – novembro 2018
das, em razão dos efeitos diretos das plantas daninhas, podem ser estimadas, mundialmente, a partir dos gastos com herbicidas, os quais ficaram na ordem de US$ 19 bilhões em 2015, com expectativa de chegar a quase US$ 30 bilhões em 2020 e consumo de mais de 1 milhão de toneladas (Global, 2016). O surgimento de plantas daninhas resistentes aos herbicidas estará sempre associado às mudanças genéticas que ocorrem na população dessas espécies, em função da seleção resultante da aplicação repetida de um mesmo herbicida ou herbicidas com um mesmo mecanismo de ação. A variabilidade genética está presente nas populações infestantes e, caso um mesmo produto seja utilizado repetidamente nestas populações, as plantas
resistentes serão selecionadas e, nos anos subsequentes, aumentarão a frequência na população, até o momento em que ocorram unicamente plantas resistentes na área tratada. São conhecidos três tipos de resistência: a resistência simples, que ocorre somente para um herbicida; a resistência cruzada, que ocorre para diversos herbicidas com um mesmo mecanismo de ação; e a resistência múltipla, que ocorre para herbicidas de diferentes mecanismos de ação. No Brasil, já foram relatados diversos casos de resistência cruzada e múltipla. A estimativa do custo da resistência, apenas na área de soja no Brasil, pode chegar a R$ 6 bilhões, somente computando os gastos para o manejo das espécies resistentes. Com o desenvolvimento de culturas geneticamente modificadas, tolerantes ao glyphosate, o consumo deste herbicida cresceu substancialmente, aumentando a pressão de seleção às plantas daninhas e ampliando a possibilidade do surgimento de plantas invasoras resistentes a este produto. Mundialmente, o primeiro caso de resistência ao herbicida glyphosate foi relatado em 1996, com a espécie erva-de-febra (Lolium rigidum). No Brasil, os primeiros relatos de plantas daninhas resistentes ao glyphosate ocorreram em 2002, nos municípios de Tapejara e Capão Bonito (RS). As principais espécies resistentes ao glyphosate no Brasil são Conyza spp. (buva), Digitaria
insularis (capim-amargoso), Lolium multiflorum (azevém) e, recentemente, Eleusine indica (capim-pé-de-galinha). A buva é uma planta anual herbácea, que se reproduz por sementes pequenas produzidas em grandes proporções, que se disseminam com muita facilidade pelo vento e por máquinas. É uma planta de entressafra e, como tal, deve ser controlada. O manejo desta espécie resistente ao glyphosate deve ser realizado continuamente e, em ações comunitárias, com a eliminação de plantas que crescem nas margens de estradas, pois suas minúsculas sementes são disseminadas pelo vento com muita facilidade. O aproveitamento das oportunidades de manejo da buva (no inverno, na dessecação de pré-semeadura e no controle ou na catação de invasoras, realizados no período de pós-emergência da cultura de verão) é de fundamental importância para o sucesso do controle desta invasora. O controle da buva pode ser realizado durante o inverno, pois esta é a época em que as plantas estão no início do desenvolvimento e apresentam maior sensibilidade aos herbicidas. Neste período, o controle da buva tem sido obtido com os herbicidas 2,4D e chlorimuron-ethyl. Na dessecação realizada em pré-semeadura de soja ou milho, geralmente, as plantas de buva estão mais desenvolvidas e apresentam maior tolerância aos herbicidas. O controle da buva deve acontecer quando as plantas estiverem muito pequenas, preferencialmente até no máximo 15 cm de altura. Após as plantas terem atingido 30 cm de altura, é muito difícil ter sucesso no controle, pois é preciso combinar uma série de outros produtos. Entretanto, seu controle nesta época tem sido realizado com aplicações sequenciais da mistura de 2,4D ou chlorimuron-ethyl com glyphosate na seguida, após 10 a 15 dias, de uma aplicação de paraquat, ou paraquat + diuron, ou amônio-glufosinato ou saflufenacil, sendo
Capim-pé-degalinha é problema maior no Brasil-Central
que a semeadura deve ser realizada a partir de 2 a 10 dias após a aplicação dos herbicidas. Herbicidas pré-emergentes como flumioxazin, diclosulan e sulfentrazone podem ser associados, visto que controlam a buva proveniente de sementes.
pelo vento. Os principais fluxos de germinação-emergência do capim amargoso ocorrem nos períodos de primavera-verão e estão correlacionados com o período de chuvas. Os herbicidas utilizados em pré-emergência, como trifluralin e s-metola-
No Brasil, já foram relatados diversos casos de resistência cruzada e múltipla. Plantas de capim-amargoso, resistentes ao glyphosate, têm se disseminado tão rapidamente como aconteceu com a buva. O capim-amargoso é uma invasora perene, rizomatosa e com alta capacidade de rebrota. Esta espécie, assim como a buva, possui sementes pequenas de fácil dispersão
chlor, controlam esta espécie ainda na germinação das sementes. O controle após a germinação das sementes deve ocorrer nas fases iniciais de seu desenvolvimento, quando as plantas apresentarem no máximo quatro afilhos. Neste período os herbicidas inibidores da ACCase (os graminicidas) apresentam bom
Variação percentual do custo do manejo de plantas daninhas resistentes a herbicidas Burva resistente a glyfosato e ALS e Azevém a glyfosato e ACCase
133
250 340
Azevém resistente a glyfosato e ACCase
170
Burva resistente glyfosato e ALS
133
237 320 196 237
Burva + Azevém resistente ao glyfosato
200
Azevém resistente ao glyfosato
167
Burva resistente ao glyfosato
107 100
270 355 220 270
150 198 150
200
250
300
350
Porcentagem de custo % (Adaptado Vargas et al., 2012)
novembro 2018 – Agro DBO | 31
Resistência Capim-amargoso resistente ao glyphosate, tem se disseminado tão rapidamente como aconteceu com a buva recentemente. controle nas doses recomendadas de bula. Plantas adultas de capim-amargoso, que se desenvolvem na entressafra, quando entouceiradas, são difíceis de serem controladas, tornando-se o grande desafio dos agricultores. Assim, o maior risco está em tentar controlar as plantas de capim-amargoso já desenvolvidas, pois estas plantas requerem altas doses de herbicida e demandam aplicações sequenciais do produto, com intervalos de 25 a 30 dias entre as aplicações. Em alguns casos até mesmo uma terceira aplicação tem sido necessária para o controle do capim-amargoso. O produtor deve atentar que nem todos os graminicidas têm registro para controlar esta espécie. Os casos de rebrota não são raros, o que reforça a importância da eliminação das plantas de capim-amargoso quando ainda são jovens. A integração do controle mecânico com o controle químico pode apresentar resultados eficientes, quando aplicado em plantas de capim-amargoso desenvolvidas isoladamente; entretanto, quando aplicada em grandes áreas infestadas com esta invasora, essa alternativa tem baixo rendimento, é onerosa e de pouca viabilidade prática. Eleusine indica é outra gramínea frequentemente relatada em percepção de resistência ao glyphosate. O capim-pé-de-galinha tem sido caracterizado como uma das plantas-problema nos estados de Goiás, Mato Grosso, Maranhão, Tocantins e Bahia por não ser controlada com o herbicida glyphosate. Da mesma forma que o capim-amargoso, esta planta torna-se mais fácil de controlar nos estágios iniciais de desenvolvimento onde os herbicidas inibidores da ACCase, nas doses de bula, apresentam resultados satisfatórios. Entretanto, em plantas adultas, doses elevadas serão neces32 | Agro DBO – novembro 2018
Tabela 1. Plantas daninhas com resistência a glyphosate (simples e múltipla) relatadas no Brasil Espécie
Ano do relato
Mecanismo de Ação1
2015
Inibidores da EPSPS (G/9)
2016
Inibidores da ALS(B/2) / Inibidores da EPSPS(G/9)
Chloris elata
2014
Inibidores da EPSPS(G/9)
Conyza bonariensis
2005
Inibidores da EPSPS(G/9)
Conyza canadensis
2005
Inibidores da EPSPS(G/9)
2010
Inibidores da EPSPS(G/9)
2011
Inibidores da ALS(B/2) / Inibidores da EPSPS(G/9)
2017
Inibidores da ALS (B/2) / Inibidores do fotossistema I (D/22) / Inibidores da EPSPS (G/9)
2017
Inibidores do fotossistema II (C2/7) / Inibidores do fotossistema I (D/22) / inibidores da PPO (E/14) / Inibidores da EPSPS(G/9) / Auxinas sintéticas (O/4)
2008
Inibidores da EPSPS (G/9)
2016
Inibidores da EPSPS (G/9)
2017
Inibidores da ACCase (A/1) / Inibidores da EPSPS (G/9)
2003
Inibidores da EPSPS (G/9)
2010
Inibidores da ACCase (A/1) / Inibidores da EPSPS (G/9)
2017
Inibidores da ALS (B/2) / Inibidores da EPSPS (G/9)
Amaranthus palmeri
Conyza sumatrensis
Digitaria insularis
Lolium perenne ssp. multiflorum
Adaptado de: Heap, 2018 ALS – acetolactato sintase, EPSPS – 5-enolpiruvilshikimate-3-fosfato sintase, PPO – protoporfirinogênio oxidase, ACCase – Acetil CoA carboxilase,
sárias para seu manejo. No Sul do Brasil, o azevém (Lolium multiflorum) tem causado sérios problemas aos agricultores. Seu manejo (dessecação), antes da semeadura da cultura de verão (soja ou milho), deve ser realizado de 15 a 20 dias antes da semeadura, de forma a permitir o controle em tempo suficiente para evitar os efeitos negativos da competição e da alelopatia. No caso de azevém resistente ao glyphosate pode-se utilizar na área os herbicidas inibidores da ALS ou da ACCase. Já nos casos de resistência múltipla, ou seja, ao glyphosate e aos inibidores da ALS, somente os inibidores da ACCase serão eficientes. Por outro lado, nos casos de resistência múltipla, que envolva o glyphosate e os
inibidores da ACCase, somente os inibidores da ALS serão eficientes. Na dessecação de azevém podem ser utilizados herbicidas de contato, como paraquat e glufosinato, atentando-se para o estádio vegetativo, pois esses herbicidas controlam eficientemente plantas jovens de azevém, preferencialmente ainda não perfilhadas. Na cultura do trigo, o produtor tem a opção de usar herbicidas inibidores da ALS (iodosulfuron-methyl e pyroxsulam) e inibidores da ACCase (clodinafop) em doses normais de bula. Ressalte-se que a maior dificuldade que o produtor encontra hoje é a de controlar plantas daninhas resistentes que apresentam resistência múltipla (Tabela 1).
Agroinformática
Câmeras NIR: olho biônico no agro As tecnologias avançam a passos muito rápidos, a ponto de nos deixar estupefatos; agora são as imagens em infravermelho. Manfred Schmid *
D
* O autor é engenheiro agrônomo e diretor da Agrotis Agroinformática.
entre as evoluções tecnológicas advindas da informática, o setor de imagens é um dos mais promissores. Não só aposentamos a fotografia analógica, com seus filmes e complexas revelações, como ganhamos muito mais definição visual e sensibilidade. Olhos humanos enxergam apenas imagens no padrão RGB. Do amplo espectro das ondas eletromagnéticas, o RGB não compreende nem 5% (veja a proporção no gráfico desta página, onde o RGB é representado pelo arco-íris central). Isso nos torna seres com visão limitada. Lembram dos seriados televisivos da década de 80, onde os heróis tinham olhos biônicos que permitiam enxergar detalhes super-humanos? Pois não é que a ficção tornou-se realidade? O avanço da informática e eletrônica nos trouxe as câmeras e imagens digitais, que além de muito mais definição e controle em imagens RGB, trouxe capacidade de zoom telescópico e conseguiu registrar e incorporar às imagens as ondas de infravermelho próximo (NIR). Hoje, uma câmera dotada desta tecnologia consegue
captar, no gráfico das ondas eletromagnéticas, imagem com largura de banda mais do que o dobro da capacidade do olho humano. Colocando estas novas câmeras em satélites, aviões ou drones, conseguimos ter uma imagem antes inimaginável de uma lavoura. E são inúmeras as aplicações ao agronegócio. Através do controle das ondas, em imagens multiespectrais e termográficas, podemos ressaltar detalhes de uma lavoura ou planta que passavam desapercebidos pelos olhos humanos. As imagens NDVI (Normalized Difference Vegetation Index), por exemplo, são utilizadas para avaliar a saúde da vegetação. Apesar de se tratar de tecnologia recente, já surgiram diversas aplicações ao agronegócio, e certamente aparecerão ainda muitas outras. Hoje, a partir de um satélite, podemos contar o número de plantas em um talhão e estimar sua produtividade. Podemos saber a data de plantio e a área exata de um campo. Podemos saber a altura de plantas e prever, por exemplo, a cubagem de madeira de uma floresta. Podemos identificar o impacto da seca, contando remotamente o número de plantas com
estresse hídrico. Podemos identificar manchas de fertilidade no solo. Podemos criar um índice gráfico de sanidade das lavouras. Uma imagem moderna pode identificar os primeiros sintomas de uma doença foliar que ainda não seria notada pelo nosso olhar. Podemos fiscalizar lavouras, mesmo que do outro lado do planeta. Uma das aplicações mais esperadas, agora possível com estas novas imagens, é para utilização da agricultura de precisão no fitossanitarismo. Hoje recorremos às amostragens para monitorar e tirar conclusão da saúde da lavoura (algo tão preciso quanto as pesquisas eleitorais) e achamos normal tratar a área inteira, mesmo quando o problema fitossanitário afeta algumas plantas de um talhão. Às vezes isto é necessário, mas não deveria ser a regra. Para exemplificar, fui criado em uma grande família, junto a outros 6 irmãos com idades próximas. Imagine se, estando um de nós doente, minha mãe aplicasse antitérmico ou antibiótico para todos os filhos. Pois é, na agricultura fazemos isso, e achamos normal. Obviamente, em função do grande número de plantas e do curto ciclo das lavouras, é difícil chegar ao nível de tratar indivíduos, mas agora poderemos identificar problemas ou reboleiras localizadas muito antes, e tratá-las individualmente. Recentemente lançaram smartphones equipados com câmeras de infravermelho. Imagine o que não virá com isso. São os olhos biônicos da agroinformática garantindo novos ganhos de eficiência. novembro 2018 – Agro DBO | 33
Nutrição
O Silício vem por aí... Versátil, com centenas de aplicações na área industrial, o Silício é usado também na agricultura, e precisa ser pesquisado. Hélio Casale *
* O autor é engenheiro agrônomo, cafeicultor, consultor e membro do Conselho Editorial da Agro DBO.
O
nome Silício vem do latim Silex = pedra dura. É o segundo elemento químico mais abundante na crosta terrestre, de 26% a 28%, perdendo apenas para o Nitrogênio. Foi identificado pela primeira vez no ano de 1787 pelo célebre químico francês Lavoisier, e foi considerado como elemento em 1800, por Davy. O Silício tem efeito em diversos processos fisiológicos e estruturais das plantas. É considerado, por enquanto, como um elemento benéfico para as plantas. Prof. Malavolta nos dizia que, se um novo elemento fosse indicado para ser classificado como nutriente vegetal, esse seria o Silício. Está presente na maioria dos solos, em quantidades tais que iguala à dos macronutrientes chamados de secundários, cálcio, magnésio e enxofre. Essa classificação leva em conta o quanto os nutrientes fazem parte da composição das plantas, pois na realidade, sejam eles macroprimários, secundários ou micronutrientes, todos são
36 | Agro DBO – novembro 2018
igualmente importantes, uma vez que na ausência de qualquer um dele, a planta não consegue sobreviver. Existem boas justificativas para se olhar mais de perto o Silício, pois ele contribui para o crescimento e produção das plantas, atuando de diversas maneiras: melhorando as condições físicas, físico-químicas e químicas desfavoráveis; contribuindo diretamente para a nutrição; aumentando a resistência a pragas e doenças. Um antiestressante por excelência, atenua variações extremas de clima, como frio, veranicos, ventos constantes. Em condições de campo, um silicato de potássio líquido dissolvido em água na concentração de 0,25% a 0,50% deixa a calda com pH acima de 8, atua nas plantas mudando a textura dos tecidos, aumentando a resistência mecânica e alcalinizando a parte externa das folhas. Com isso, as perdas de água por evapotranspiração são reduzidas, a superfície externa das folhas fica mais rígida e as pragas
e doenças têm dificuldade em se propagar. Outros papéis do Silício na vida das plantas: mais fotossíntese, maior assimilação de Nitrogênio, maior suprimento de carboidratos, enrijecimento da parede celular, maior tolerância a eventuais doses elevadas de Nitrogênio, aumento da atividade do sistema radicular, com maior penetração de luz. Aumenta também o poder oxidante das raízes, a capacidade das plantas em absorver fosfato (disponibilidade do fósforo), reduz as perdas de água por evapotranspiração e aumenta a absorção de água e nutrientes. Sendo um elemento participante de todas essas situações descritas acima, é fundamental que o uso do Silício receba mais atenção de nossos pesquisadores, principalmente nas culturas perenes como cafeeiros, cítricas e frutíferas em geral, mas também nas lavouras anuais. As pesquisas podem conduzir ao aumento na produtividade das diferentes lavouras e redução dos custos de produção. Não é isto o que todos desejamos, produzir mais alimentos?
Biblioteca da Terra Tratado sobre tomates
▶
Organizado pelos pesquisadores Carlos Nick, Derly Silva e Aluízio Borém, da UFV – Universidade Federal de Viçosa, o livro Tomate: do plantio à colheita destina-se principalmente a produtores rurais, técnicos e estudantes de agronomia. Os autores resumem o conhecimento científico sobre a cultura, destacando as mais recentes tecnologias para o cultivo. Entre outros temas relacionados, eles tratam de exigências climáticas e ecofisiologia, produção de mudas, preparo do solo e plantio, correção do solo e adubação, cultivares disponíveis, manejo de pragas, de doenças e de plantas daninhas, irrigação, colheita e pós-colheita. Com 237 páginas, pode ser adquirido por R$ 83,20 no site www.editoraufv.com.br.
Mulheres dos cafés
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Resultado de uma parceria entre a Embrapa e a Aliança Internacional das Mulheres do Café, o e-book Women in coffee in Brazil foi lançado durante a reunião da OIC em Londres, no Reino Unido. O livro reúne histórias de cafeicultoras de Minas Gerais, Espírito Santo, Paraná, São Paulo e Rondônia. Historicamente envolvidas na cadeia produtiva do café, na maioria dos casos anonimamente, elas estão ganhando espaço e importância em todos os contextos relacionados à atividade. Integram uma parcela de mais de 500 milhões de pessoas em todo o planeta que, segundo o Banco Mundial, dependem do café para sobreviver. “As mulheres representam mais de um terço da população mundial e 43% da força de trabalho agrícola do mundo”, comenta a pesquisadora da Embrapa Cristina Arzabe. Só na região da América Latina e do Caribe, são 58 milhões de mulheres rurais e, no Brasil, aproximadamente 15 milhões. O e-book pode ser lido em português (http://goo.gl.ivUYwj) ou em inglês (https://goo.gl/fauWzV), mas apenas no formato ePub. Para tanto, é necessário ter no celular ou computador um desses softwares gratuitos: Google Play Livros (para sistemas Android), iBooks (para IOS) ou Calibre (para Windows e Linux). Caso o leitor queira acessar o vídeo de apresentação, o link é https://www.youtube.com/ watch?v=IKG2XQgxSug
Criação de abelhas
▶
Lançamento da A.B.E.L.H.A – Associação Brasileira de Estudo das Abelhas, o e-book Desafios e recomendações para o manejo e o transporte de polinizadores relaciona as formas mais eficientes e seguras para garantir o desenvolvimento da atividade de criação de abelhas e obter os benefícios do serviço de polinização, com vistas à conservação ambiental. Disponível, gratuitamente, no site da associação, o livro destaca as providências para garantir a sustentabilidade da atividade e evitar que novos problemas de disseminação de doenças e introdução de espécies invasoras ocorram no Brasil. O link de acesso é https://abelha.org.br/e-book-desafiose-recomendacoes-para-o-manejo-e-o-transporte-de-polinizadores/
Capim resistente
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A Circular Técnica nº 38 do Instituto Mato-grossense do Algodão apresenta resultados de estudos sobre a resistência do capim pé-de-galinha (Eleusine indica), planta daninha de larga incidência no Centro-Oeste. Além dos prejuízos na lavoura, a espécie é hospedeira de agentes patogênicos que atacam plantas cultivadas, como Helminthosporium spp., M. incognita, R. reniformis e P. pratensis. Segundo pesquisadores, falhas constantes na eficácia de controle com herbicidas inibidores da ACCase resultaram em infestações intensas de capim pé-de-galinha em áreas de soja, algodão e milho no Mato Grosso. A CT pode ser acessada através do link http://www.ampa.com.br/ arquivos/email_marketing/27092018025942.pdf
Robusta amazônico
▶
A revista Cafés de Rondônia, editada pela Embrapa, ressalta o potencial produtivo da cafeicultura no estado, focada no cultivo de robustas, a crescente qualidade do grão e a valorização do bioma amazônico como produtor de cafés. Além do aspecto histórico (o tema central é Aroma, Sabor e Origem), aborda a revolução na lavoura com a técnica da clonagem e a introdução de híbridos mais produtivos, novos arranjos espaciais nas lavouras, manejo integrado da broca e outras questões. Um encarte especial traz mapas dos solos da Amazônia Ocidental e as descrições de uso para a cafeicultura. A versão online da revista pode ser acessada gratuitamente no portal da Embrapa Rondônia: www.embrapa.br/rondonia/cafes-de-rondonia
novembro 2018 – Agro DBO | 37
Novidades no campo Guerra ao ácaro vermelho
Distribuidor de adubo
▶tribuidor de adubo, calcário e gesso com esteiras indepen-
Foto Arysta Divulgação
Lançamento da Piccin, o Master D EI Cafeeiro é um dis-
dentes, desenvolvido para o mercado cafeeiro. Entre outras características, é dotado de um sistema de distribuição por centrifugação, com acionamento por correias, que permite aplicações homogêneas, e esteira transportadora disponível em três velocidades, que, combinadas à regulagem da porta de vazão, aumentam a precisão na dosagem durante a aplicação. Outra vantagem, segundo a Piccin, é a relação custo X benefício. “Por ser menor, atua em áreas pequenas e ruas estreitas”, justifica o técnico de Agricultura de Precisão da empresa, Paulo Padilha.
▶lizado em Patrocínio (MG), o Matrine é um acaricida e
Apresentado pela Arysta no 26º Seminário do Café, rea-
inseticida de contato, recomendado para o combate ao ácaro vermelho (Oligonychus Ilicis), praga capaz de provocar desfolha nos cafeeiros ou reduzir a área foliar fotossintética ativa, comprometendo o desenvolvimento das plantas e produtividade dos cafezais. À base de extrato etanólico da espécie Sophora flavescens, também é indicado para o controle do ácaro-branco (Polyphagotarsonemus latus), ácaro-da-leprose (Brevipalpus phoenicis), ácaro-da-falsa-ferrugem (Phyllocoptruta oleivora) e da mosca-branca (Bemisia tabaci raça B) nas culturas de algodão, citros e soja.
Plantas daninhas na cana
▶do Provence Total, um herbicida seletivo e sistêmico para aplicação terrestre em lavouras de cana-de-açúcar. Do grupo químico das AlquilaA Bayer escolheu o XXXI Congresso Brasileiro da Ciência das Plantas Daninhas, realizado no Rio de Janeiro (RJ), para fazer o pré-lançamento
Adjuvante foliar
▶técnica, o DisperNovidade da Agro-
max é um adjuvante composto por estabilizantes e tensoativos de alta tecnologia, indicado para aplicações foliares aéreas ou terrestres. De acordo com Renan Yoshida, responsável pela área de pesquisa e desenvolvimento da empresa, o produto tem como campo de atuação as aplicações de defensivos com ativos insolúveis em água dos tipos SC (suspensão concentrada), WP (pó molhável) e WG (grânulos dispersíveis). “É o aditivo perfeito para melhorar a estabilidade das caldas, evitando a difícil remoção de sólidos que decantam naturalmente no fundo dos tanques de pulverização. Além disso, favorece o aproveitamento dos ativos, sem interferir no pH ideal da aplicação” 38 | Agro DBO – novembro 2018
Foto Momentive Divulgação
zinas (lndaziflam) e dos Isoxazotes (Isoxaflutole), é indicado para o controle do picão-preto (Bidens pilosa), do leiteiro (Euphorbia heterophylla), do capim-marmelada (Brachiaria plantaginea) e do capim-colonião (Panicum maximum), entre outras plantas infestantes. De acordo com o cronograma da empresa, o Provence Total deve ser lançado comercialmente em meados do ano que vem.
Pulverização eficiente
▶adjuvante aprovado pelo IBD, órgão certificador de insuA Momentive garante: o Silwet ECO é o primeiro e único
mos para cultivo orgânico. Trata-se, segundo a empresa, de um superespalhante à base de silicone modificado, capaz de ampliar a cobertura de pulverização em até 10 vezes numa única aplicação, na comparação com um adjuvante convencional. “Com isso, é possível eliminar até 70% do volume de água aplicado em razão da maior cobertura proporcionada”, explica Marcos Belle, gerente de marketing da empresa. “Essa economia de água, associada à melhoria da performance do tratamento, otimiza os custos e diminui os impactos ambientais da pulverização”.
Novidades no campo Trigo produtivo
Novo tomate da Syngenta
Foto Biotrigo Divulgação
▶uma
Anunciada como evolução da Paron, cultivar de largo uso no Brasil, a ParonNTY, da Syngenta, apresenta maior resistência aos nematoides; aos tripes (Frankliniella schultzei), insetos minúsculos, transmissores do vírus causador da doença vira-cabeça; e à mosca-branca (Bemisia tabaci), praga responsável pela disseminação de geminivirus. “O produtor tem a mesma qualidade da Paron, só que agora conta com maior resistência”, explica Marcos Maggio, gerente de produtos da empresa. A semente pode ser plantada em qualquer época do ano e região. Além de mais eficaz contra pragas e doenças, ela é mais resistente a conservação e transporte.
▶grônomos e profissionais da indústria moageira se reuniram
Cerca de 100 triticultores, multiplicadores de sementes, ta-
em outubro em Ponta Grossa (PR) para conhecer as novidades da Biotrigo. Um dos destaques foi a cultivar TBIO Ponteiro, “sucessora” da TBIO Sinuelo, uma das mais semeadas do Brasil. “A TBIO Ponteiro tem o mesmo ciclo (médio), padrão de produção e resistência ao acamamento, porém com diferenciais marcantes como sanidade de folha e de espiga, tolerância ao alumínio tóxico e qualidade industrial superior, com W (força de glúten) de 298, contra 258 da Sinuelo”, afirma Ottoni Rosa Filho, diretor da empresa. Segundo ele, a produtividade média nos ensaios foi de 4.500Kg/ha, com potencial para chegar a 6.500.
Herbicida da Helm
▶da Helm, é um herbicida não seletivo, com ação de contato, à base de dibromato de diquate (274 g/L), do grupo químico Bipiridílio. Conforme
Lançado durante o VIII Congresso ANDAV, organizado pela Associação Nacional dos Distribuidores Agrícolas e Veterinários, o Helmoquat,
a empresa, é indicado para aplicação em pós-emergência, com jato dirigido nas entrelinhas de diversas culturas, tais como batata, feijão, café, soja e citros para controle de plantas daninhas. De acordo com a bula, o produto também pode ser usado para dessecação de plantas infestantes em pré-semeadura, com pulverização em área total,
Máquinas para conilon
Foto Biotrigo Divulgação
Foto Pinhalense Divulgação
Trigo para biscoito
▶Cooperativa Agrária Agroindustrial em Guarapuava (PR), A Biotrigo aproveitou o Winter Show, promovido pela
para expor seu portfólio de cultivares de trigo. Uma das novidades, desenvolvida em parceria com a Fapa - Fundação Agrária de Pesquisa Agropecuária, foi a TBIO Consistência, destinada ao mercado de farinha para biscoitos. “A separação do trigo para biscoito desde a lavoura, conforme as características exigidas pela indústria, ajuda a dar liquidez ao cereal, além de gerar maior retorno financeiro ao agricultor. Entre outras carecterísticas agronômicas, a variedade possui ciclo médio tardio, alta resistência à giberela, excelente teto produtivo e sanidade foliar.
▶conilon do Espírito Santo, as colheitadeiras Conilona e Desenvolvidas especialmente para os produtores de café
Robusta, da Pinhalense, foram apresentadas aos cafeicultores do estado em Linhares, norte do estado. Ambas operam no sistema de colheita em lona. A Robusta trabalha com a trituração de galhos no processo de colheita. A Conilona opera com derriça, separando as folhas dos frutos do café. Entre outras características, destaca-se pelo reservatório com basculamento traseiro, capacidade para 4.700 litros, nivelamento hidráulico, menor inclinação da rampa de alimentação, maior área de limpeza, alta qualidade na abanação e pouca perda de grãos. novembro 2018 – Agro DBO | 39
Calendário de eventos
NOVEMBRO
5
69º Curso DIACOM: Tetrazólio e Patologia de Sementes – De 5
a 9 – Embrapa Soja (Rodovia Carlos João Strass, s/nº, Distrito de Warta) – Londrina (PR) – Fone: (43) 3025 5223 – Site: https://www.embrapa.br/busca-deeventos/-/evento/243478-curso-diacomtetrazolio-e-patologia-de-sementes
6
DroneShow Plus 2018 – De 6
a 8 – Hotel Travel Inn – São Paulo (SP) – Fone: (11) 4163-8848 – Site: www.droneshowla.com/plus – E-mail: atendimento@mundogeo.com
6
CBRA 2018/V Congresso Brasileiro de Reflorestamento Ambiental – De 6 a 8 – Parque Botânico Vale – Vitória (ES) – Fone: (27) 3324-5986 – Site: www.reflorestamentoambiental. com.br – E-mail: contato@ reflorestamentoambiental.com.br
7
39° Expovel – De 7 a 12 – Parque
de Exposições Celso Garcia Cid – Cascavel (PR) – Fone: (45) 3228 2526 – Site: www.expovel.com.br –
12
II SLABA/Simpósio Latino-americano sobre Bioestimulantes na Agricultura e IX RBIRPP/Reunião Brasileira sobre
40 | Agro DBO – novembro 2018
Indução de Resistência em Plantas e Patógenos – De 12 a 24 – Centro de Cultura e Eventos (UFSC) – Florianópolis (SC) – Fone: (48) 3721-5423 – Site: www.bioestimulantes.ufsc.br – E-mail: bioestimulantes2018@contato.ufsc.br
19
10ª Agrocampo – De 19 a 25 – Parque Internacional de Exposições Francisco Feio Ribeiro – Maringá (PR) – Fone: (44) 3261-1700 – Site: www.srm.org.br – E-mail: srm@ srm.org.br
20
Agrobit Brasil 2018 – De 20 a 21 – Parque de Exposições Governador Ney Braga – Londrina (PR) – Fone: (43) 3025-5223 – Site: www.agrobitbrasil.com – E-mail: agrobitbrasil@fbeventos.com
20
9º CBTI/Congresso Brasileiro de Tomate Industrial – De 20 a 22 – Centro
de Cultura e Eventos Professor Freua Bufáiçal – Goiânia (GO) – Fone: (61) 3385-9114 – Site: www. congressotomate.com.br – E-mail: mailson@wineventos.com.br
25
26º Encafé/Encontro Nacional das Indústrias de
Café – De 25 a 29 – Hotel Enjoy Punta del Este – Punta del Este (Uruguai) – Fone: (21) 2206-6161 – Site: www.abic.com.br
7/11 – 6ª SIC/Semana Internacional do Café – De 7 a 9/11 – Expominas – Belo Horizonte (MG) – Fone: (11) 3586-2233 – Site: http://www. semana internacionaldocafe. com.br – E-mail: contato@semana internacional docafe.com.br Um dos mais importantes eventos da cafeicultura brasileira, a Semana Internacional do Café é um encontro de produtores, torrefadores, classificadores, exportadores, compradores, fornecedores, baristas e consumidores da bebida. Os principais objetivos são: desenvolver o mercado, divulgar a qualidade dos cafés nacionais e potencializar ao máximo os resultados econômicos e sociais do setor.
DEZEMBRO
4
29ª Feira Nacional de Artesanato - De 4 a 9 -
Expominas Belo Horizonte - Belo Horizonte (MG) – Site: www. feiranacionaldeartesanato. com.br E-mail: contato1@ feiranacionaldeartesanato.com.br
10
Treinamento Laboratorial para Fitonematóides – De
10 a 11 - Prédio de Zoologia (Esalq/ US) – Piracicaba (SP) – Fone: (19) 3417-6600 – Site: https://www. agrolink.com.br/eventos/treinamentolaboratorial-para-fitonematoides_7861. html – E-mail: cdt@fealq.org.br
JANEIRO
16
25º Showtec – De 16 a 18 – Fundação MS (Estrada da Usina Velha, km 2) – Maracaju (MS) – Fone: (67) 3454-2631 – Site: www.portalshowtec.com.br – E-mail: fundacaoms@fundaçaoms.or.br
24
21º Itaipu Rural Show – De 25 a 27 - Centro
de Treinamento e Transferência de Tecnologias da Cooperitaipu – Pinhalzinho (SC) – Fone: (49) 33666500 – Site: itaipururalshow.com.br – E-mail: itaipu@cooperitaipu.com.br
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novembro 2018 – Agro DBO | 41
Legislação
A proposta de uma nova lei sobre o crédito rural O autor recomenda aos produtores rurais “olho vivo” na discussão da nova lei, que poderá trazer dissabores ao agronegócio. Fábio Lamonica Pereira *
N
ossa atual legislação trata do crédito rural de forma esparsa, mas eficiente, sendo que a regulamentação, ou seja, os detalhes, é de responsabilidade do Conselho Monetário Nacional, por meio de normativos editados pelo Banco Central do Brasil. Os principais pontos, como a definição das taxas de juros, as obrigações e deveres das instituições financeiras e dos produtores rurais, as formas e condições de prorrogação dos financiamentos, dentre outras coisas, estão reunidos no chamado Manual de Crédito Rural (disponível em www.bcb.gov.br). A Lei que tratou de regular o crédito rural é do ano de 1965 e o Decreto que tratou especificamente das Cédulas de Crédito Rural, do ano de 1967.
de Crédito Rural, em um único texto. A proposta incorpora disposições interessantes, como o direito à prorrogação em caso de frustração de safra, atualmente previsto apenas pelo Manual de Crédito Rural. Há inovação quanto à possibilidade de assinatura eletrônica das operações e simplificação quanto aos respectivos aditivos, o que também é interessante. Outro ponto que ajuda o produtor é a disposição que impede a busca e apreensão de maquinários agrícolas durante o período de colheitas, a fim de garantir a manutenção da atividade agrícola. O que deve ser observado pelos produtores é que, além das operações tradicionais realizadas com institui-
Para que não ocorra risco, os produtores rurais devem fazer vigilância permanente
* O autor é advogado especialista em Direito Bancário e do Agronegócio
O judiciário tratou de delimitar e interpretar a aplicação das normas durante longos anos, chegando à consolidação hoje disponível. Com isso, temos um sistema de normas que pode ser considerado bem definido e que regula de forma satisfatória as relações de crédito no agronegócio. Obviamente que há pontos que merecem avanços. Diante desse cenário, o Projeto de Lei n. 10.499/2018, atualmente em trâmite na Câmara dos Deputados, propõe a modernização do atual sistema, compilando as disposições legais, especialmente aquelas relativas às Cédulas
42 | Agro DBO – novembro 2018
ções financeiras, o crédito no agronegócio envolve os fornecedores de insumos, as cooperativas, as tradings, que se utilizam de outros tipos de títulos ou contratos, como a Cédula de Crédito Rural, contratos de abertura de crédito, contratos de confissão de dívida, Cédula de Crédito Bancário etc. Veja que a cadeia de instrumentos de crédito utilizados no agronegócio é bem mais ampla que a tratada pela redação do citado projeto de lei, o que demonstra que o pretendido avanço será parcial e muito limitado. A questão é que o texto atualmente proposto certamente passará ainda
por inúmeras emendas até o processo de aprovação e o risco (que não é pequeno) é o de que os produtores rurais percam as garantias que durante anos lhes foram asseguradas pelo judiciário. Assim, as propostas de simplificação e modernização podem e devem ser objeto de discussão, mas não por meio de um novo texto e sim por alterações específicas e pontuais na legislação atual, sem que os direitos existentes e assegurados pela atual legislação, após anos de discussão judicial, sejam colocados em risco. Para que esse risco não ocorra, os produtores rurais devem fazer uma vigilância permanente e acompanhar de muito perto esses debates, através de suas associações e entidades representativas, para não serem surpreendidos no futuro breve. A porteira está aberta e o momento para discussões, ponderações e reivindicações é agora, antes da aprovação do projeto de lei que, como dito, da forma como está será prejudicial.
DUPLA FORÇA
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