Revista Agro DBO 64 - Março 2015

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Sumário

26 Pesquisa

Cientistas do IAC, Embrapa, universidades e outras instituições do Brasil desenvolvem plantas mais resistentes ao estresse hídrico.

30 Estiagem

Governo paulista baixa decreto autorizando a lacração de bombas de captação de água para irrigação de agricultores sem outorga

34 Entrevista

Marco Alexandre Bronson e Sousa, presidente da Abrass, fala à Agro DBO sobre o mercado nacional de sementes de soja e projetos da entidade.

44 Safra

Embora fora da janela ideal de plantio, muitos produtores escolheram o milho para cultivo na safrinha, na expectativa de reação dos preços.

20 50 Tecnologia

Matéria de capa

A volta das chuvas, mesmo irregulares, em fevereiro ajudou os produtores de Goiás a recuperar parte das perdas provocadas pela estiagem até janeiro, a maior dos últimos 30 anos. Até o final do mês, o prejuízo ultrapassava R$ 2,5 bilhões, considerando somente os estragos na soja

Agrônomos defendem o uso de sistema de terraceamento de base larga, capaz, segundo eles, de aumentar a fertilidade do solo e a produtividade.

Artigos 8 – Rogério Arioli avalia a situação de pequenos e médios produtores 38 – Amilcar Centeno lembra de bons negócios em época de crise 40 – Marco Antônio dos Santos prevê chuvas irregulares em março 42 – Fábio Lamônica pergunta: “É melhor ser pessoa física ou jurídica?” 54 – Décio Gazzoni alerta: “Vem aí uma nova edição do Custo Brasil”.

Seções Do leitor.............................................................. 4 Ponto de Vista................................................... 8 Notícias da terra.............................................12 Política................................................................36

Novidades no campo...................................56 Análise de mercado......................................58 Biblioteca da terra..........................................60 Calendário de eventos.................................65 Almanaque.......................................................66

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Do Leitor Agro DBO e ao pesquisador Eliseu Alves pelo artigo “Classes de renda na agricultura” (edição de fevereiro). É a mais pura realidade, vejo isso em minha região aqui no triângulo mineiro. Miguel Junqueira Farias Uberlândia

PARANÁ A revista Agro DBO traz excelentes informações e temas atualizados de grande interesse para o ramo agrícola. Rafael Pedrotti Vitorino

MATO GROSSO DO SUl É (a Agro DBO) uma revista que oferece muitas informações a respeito do agronegócio. Acho-a ótima. Leila Lugo Campo Grande MINAS GERAIS

Congratulações à equipe da

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RIO GRANDE DO SUL A Agro DBO é uma ótima revista, com muitos assuntos técnicos para a área agrícola. Cristian Daniel Gehrke Dom Pedrito SÃO PAULO Sou aluna do curso de Agronegócio da Fatec de Mogi das Cruzes e estou realizando um projeto de pesquisa, bem

como artigo científico ligado ao meu tema. Sendo assim, gostaria de saber se há possibilidade de publicá-los? Ana Sanches Mogi das Cruzes. NR: Por gentileza, envie-nos o texto, será analisado pelo Conselho Editorial e informaremos a você se foi aprovado para publicação. Há 4 pressupostos: 1- tema novo/antigo, mas com enfoque inédito; 2- exclusivo; 3- de interesse de agricultores profissionais; e 4- não remuneramos artigos de colaboradores eventuais.Como parâmetro informamos que textos devem vir em word, arial 12, sendo que cada página comporta 3.700 caracteres com espaços e ainda uma foto tamanho pequeno/médio. Sem foto, ou gráfico, ou tabela, limite máximo de 4 mil caracteres para uma página. Obrigado pelo interesse. AgroDBO se reserva o direito de editar/resumir as mensagens recebidas devido à falta de espaço.



C

ausará arrepios ao leitor a leitura da reportagem de capa desta edição da Agro DBO, “Devastação no Brasil Central”, autoria do jornalista Ariosto Mesquita, pois revela o lado mais brutal das muitas facetas conhecidas do agronegócio, que é a convivência com os maus humores do clima. Constata-se que os excessos de São Pedro revelam-se implacáveis mesmo com quem estabelece estratégias planejadas de plantio, como o uso da irrigação, por exemplo, mas podem ser ainda mais perversas com aqueles que cometem erros na escolha de cultivares inadequadas, conforme aconteceu nesta safra, no estado de Goiás, onde a falta de chuvas deixou prejuízos quase incalculáveis, além de um profundo arrependimento entre os que não fizeram seguro da lavoura. Na sequência da matéria de capa, dois relatos do jornalista José Maria Tomazela: o primeiro acompanha as vicissitudes dos irrigantes de São Paulo diante da crise hídrica, com proibições de toda ordem. O segundo mostra as pesquisas em busca de plantas tolerantes ao estresse hídrico. A jornalista Marianna Peres, na matéria “O que será da safrinha?” exibe um quadro inédito dos produtores de grãos do Centro-Oeste onde chuva de menos, pragas, estratégias de colheita da 1ª safra e atrasos no plantio da 2ª safra deixam um clima de insegurança generalizado. Em “Volta ao passado”, o jornalista Gustavo Paes revela as estratégias e soluções para o excesso de chuvas que acometeu o Rio Grande do Sul, demonstrando que fazer plantio direto única e simplesmente não é solução para evitar a erosão superficial causada por enxurradas. E mostra as propostas da Embrapa Trigo, de Passo Fundo (RS), na construção de soluções antigas, mas eficientes, como as curvas de nível e terraceamentos na implantação de lavouras, a única forma de conter a violência de chuvas em excesso. Entre nossos colunistas, os advogados Fábio Lamônica e Cléberson Vieira Schwingel debatem a adoção da pejotização como forma de reduzir impostos a pagar. Rogério Arioli demonstra que a imposição do mercado consumidor em ter alimentos cada vez mais baratos leva os produtores a buscarem economia de escala, o que acaba por alijar do mercado de produção os chamados pequenos produtores, incapazes de atingir alta produtividade devido à imperiosa necessidade de investimentos em tecnologia de ponta, inacessíveis a eles justamente por terem pequenas áreas e baixos recursos para investimentos. Já Amílcar Centeno recomenda aos produtores, experientes ou não, que negociem a compra de insumos, pois entramos em tempos de dificuldades, e agora os vendedores tornam-se carentes de fazer vendas, o que implica em reduzir suas margens de lucros, agora transformadas em bons descontos e bons negócios.

é uma publicação mensal da DBO Editores Associados Ltda. Diretor Responsável Demétrio Costa Editor Executivo Richard Jakubaszko Editor José Augusto Bezerra Conselho Editorial Décio Gazzoni, Demétrio Costa, Evaristo Eduardo de Miranda, Hélio Casale, José Augusto Bezerra e Richard Jakubaszko Redação/Colaboradores Amílcar Centeno, Ariosto Mesquita, Cléberson Vieira Schwingel, Décio Luiz Gazzoni, Fábio Lamonica Pereira, Gustavo Paes, Hélio Casale, José Maria Tomazela, Marco Antônio dos Santos, Marianna Peres e Rogério Arioli Silva. Arte Editor Edgar Pera Editoração Célia Rosa e Edson Alves Coordenação Gráfica Walter Simões Marketing/Comercial Gerente: Rosana Minante Departamento Comercial Andrea Canal, José Gonzaga Dias, Maria Aparecida de Oliveira, Marlene Orlovas, Tereza Helena Virginia e Vanda Motta

Aos que desejarem manifestar suas opiniões, pedimos enviar e-mail para redacao@agrodbo.com.br. Richard Jakubaszko

Circulação Gerente: Edna Aguiar ISSN 2317-7780 Impressão Log&Print Gráfica e Logística S.A. Capa: Ariosto Mesquita DBO Editores Associados Ltda Diretores: Daniel Bilk Costa, Odemar Costa e Demétrio Costa Rua Dona Germaine Burchard, 229 Perdizes, São Paulo, SP 05002-900 - Tel. (11) 3879-7099 redacao@agrodbo.com.br www.agrodbo.com.br

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2 2 ª F e i r a I n t e r n a c i o n a l d e Te c n o l o g i a A g r í c o l a e m A ç ã o

O DNA do

Agronegócio

De 27 de Abril a 01º de Maio Das 8h às 18h - Ribeirão Preto - São Paulo

www.agrishow.com.br

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Ponto de vista

Seleção artificial As legislações, por vezes, são perversas e injustas, e podem provocar o êxodo rural e a queda do número de produtores rurais. Rogério Arioli Silva *

S

* O autor é engenheiro agrônomo e produtor rural em Mato Grosso

ão poucas e cada vez mais raras as iniciativas que se mostram rentáveis da produção em pequena escala. Tanto é verdade que, quando existem, são mostradas fartamente pela imprensa, o que é louvável e, inclusive, motivador aos que desejam empreender, desafiando a realidade das estatísticas. Não deixa de ser preocupante, no entanto, que a maioria das atividades – as primárias preferencialmente, não se viabilizem sem a devida “economia de escala”, atualmente exigida pelo mercado. É preciso que essa questão seja aprofundada e debatida com responsabilidade por todos os elos da cadeia alimentar. Pela simples razão de que não existem elos mais fortes ou mais fracos numa corrente. O desequilíbrio existente hoje tende a se acentuar e pode agravar de forma irremediável a principal atividade humana, que é a produção de alimentos. Primeiro, não se deve cair na armadilha do questionamento da­lei mais antiga do mercado,

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uma vez que ações na alteração da oferta e procura geralmente se mostram contraproducentes e impossíveis de serem sustentadas em um horizonte de médio e longo prazos. Todavia, o Brasil tornou-se um emaranhado de leis, exigências e enquadramentos absurdos que, inevitavelmente, estão jogando para fora da estrada muitos pequenos e médios produtores, sejam rurais ou urbanos. O tratamento igual aos desiguais é a primeira manifestação da injustiça cometida. A legislação trabalhista atual garante direitos de primeiro mundo aos colaboradores, entretanto não alerta a sociedade de que, se o pequeno empresário não suportá-la, fechará suas portas, provocando desemprego e exclusão. Além disso, a seguridade social do país oferece serviços de quinta categoria e aqueles que demandarem melhor qualidade de atendimento que recorram ao setor privado, pagando duas vezes pela mesma necessidade. Na questão ambien-

tal, a mão do estado torna-se ainda mais pesada, com exigências e multas que inviabilizam os alcançados por ela. E aqui um parêntesis: Ninguém deve contemporizar com efetivos danos ambientais provocados, entretanto, é preciso que se defina uma lei para depois exigir seu cumprimento. O limbo a ninguém interessa, a não ser aos que se beneficiam com a judicialização da questão. Quando se parte para a questão do crédito os absurdos são ainda maiores. Exige-se o mesmo aparato documental tanto do pequeno como do grande. Resultado: o pequeno desiste e mais sobra para o grande. Quem não se lembra do derrame dos recursos oferecidos aos grandes frigoríficos enquanto os pequenos, tratados à míngua, viravam pó? Também aqui não é preciso que se derrape na curva invocando a função social disto ou daquilo, mas apenas que sejam consideradas as peculiaridades de cada atividade, dentro do enorme contexto desse país continente.


A grave crise por que passa o setor leiteiro da região sul é claro exemplo da falta de planejamento e visão de longo prazo que sempre faltou a todos os governos, imediatistas que são. Divulga o Instituto Gaúcho do Leite que nos próximos cinco anos é provável que de vinte a trinta mil produtores possam abandonar a atividade. Atualmente em torno de vinte mil famílias possuem valores a receber das indústrias, segundo a Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag-RS), o que vem afetando muitas economias regionais que possuem na produção leiteira sua principal fonte de renda. Já passam de uma dúzia as empresas que faliram ou pediram recuperação judicial no estado. O elenco de motivos que desencadeou essa calamitosa situação é múltiplo, envolvendo a queda no

consumo, importações significativas, preços defasados e outros tantos que não cabe analisar neste momento, embora todos vinculados à falta de um horizonte mais amplo. Aos ambientalistas fica uma preciosa dica: quando buscarem novas espécies em processo de extinção procurem-nas entre os pequenos e médios produtores

agricultura como na pecuária, diminui sensivelmente. Alguns analistas, que se julgam estudiosos e conhecedores do assunto, alegam ser este um processo “natural” de seleção, onde ficam apenas os mais eficientes em cada atividade, na esteira do que aconteceu em outros países. A “Origem das Espécies”, o famoso livro

O tratamento igual aos desiguais é a primeira manifestação da injustiça cometida. brasileiros. Se mais não se sabe sobre sua condenação ao desaparecimento é porque estatísticas faltam. Até mesmo nas regiões onde a escala de produção é um pouco maior, como o Centro-Oeste, por exemplo, esse processo acontece implacavelmente. A cada ano o número de produtores, tanto na

de Darwin publicado em 1859, já abordava esse fato, entretanto, também alertava que a influência do homem poderia apressá-lo, conduzindo a uma “seleção artificial”. Políticas mutantes de governo em vez de uma duradoura política de estado podem ser um indicativo do seu alerta.

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Notícias da Terra Safra I

Produção acima de 200 milhões de toneladas

D

e acordo com o 5º levantamento da Conab, divulgado em 12/2, o Brasil vai colher 200,1 milhões de toneladas de grãos na temporada em curso, 3,4% acima do produzido na safra 2013/14, ou seja, 6,5 milhões t a

mais. Apesar dos problemas climáticos registrados no Sudeste, parte do Centro-Oeste e do Matopiba, a produção de soja deve crescer 9,8%, passando de 86,1 para 94,6 milhões t. A de milho, porém, vai cair 2,1% (de 80,1 para 78,4 milhões t). A área total destinada ao plantio de grãos será de 57,4 milhões de hectares, contra 57,1 no ciclo passado. A pesquisa foi feita entre os dias 18 e 24 de janeiro.

Safra II

IBGE aponta 201,3 milhões

A

primeira estimativa do IBGE em 2015 para a safra nacional de cereais, leguminosas e oleaginosas (caroço de algodão, amendoim, arroz, feijão, mamona, milho, soja, aveia, centeio, cevada, girassol, sorgo, trigo e triticale) indica produção de 201,3 milhões de toneladas, 4,4% superior à de 2014 (192,8 milhões t). A área plantada será de 57,2 milhões de hectares, 1,6% maior que a do ano passado (56,3 milhões ha). Os três principais produtos do grupo – soja, milho e arroz – representam 91,6% da estimativa da produção e 85,4% da área a ser colhida. A produção de soja crescerá 10,5% e a de arroz, 3,3%. A de milho, no entanto, cairá 2,9%. Em relação à área, o instituto prevê incremento de 3,5% na lavoura de soja, redução de 0,3% na de milho e 1,3% na de arroz.

Safra IV

O sobe-e-desce das culturas

Safra III

Participação por regiões

A

produção de cereais, leguminosas e oleaginosas apresenta a seguinte distribuição, segundo o IBGE: Centro-Oeste, 81,7 milhões de toneladas; Sul, 75,2; Sudeste, 19,7; Nordeste, 19,2 e Norte, 5,5. Comparativamente à safra passada, a produção na região centro-oeste cairá 1,5%. No Sul, crescerá, 63,%; no Sudeste, 9,7%; no Nordeste, 23% e no Norte, 0,2%. Mato Grosso continua à frente no ranking nacional dos estados produtores de grãos com 23,1% de participação, seguido pelo Paraná, com 18,2%, e Rio Grande do Sul, com 15,9%. Os três estados respondem por 57,2% do total nacional previsto.

Safra V

USDA reduz safra no Brasil

O

Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês) revisou para baixo sua estimativa para a safra brasileira de soja 2014/15. De acordo com boletim de oferta e deman-

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da divulgado em janeiro, a produção brasileira será de 94,5 milhões de toneladas – contra 95,5 milhões t previstas anteriormente. No caso da Argentina, a revisão foi para cima, de 55 para 56 milhões de toneladas.

D

as 26 principais culturas agrícolas pesquisadas, 12 apresentam variação positiva na estimativa de produção do IBGE, em relação ao ano anterior: mamona (+141%), aveia (+23,6%), cevada (+ 23,1%), trigo (+20,4%), amendoim 1ª safra (+18,8%), feijão 1ª safra (+15,2%), soja (+10,5%), mandioca (+3,9%), milho 1ª safra (+3,8%), arroz (+3,3%), batata-inglesa 1ª safra (+1,2%) e café arábica (+0,8%). Com variação negativa foram 14 produtos: batata-inglesa 3ª safra (-19,4%), cacau (-16,7%), café conilon (- 11,3%), amendoim 2ª safra (-11,2%), triticale (-10,5%), cebola (-8,2%), batata-inglesa 2ª safra (-7,6%), sorgo (-7,4%), algodão (-7,3%), milho 2ª safra (-7,1%), feijão 3ª safra (-3,6%), cana-de-açúcar (-1,4%), laranja (-1,1%) e feijão 2ª safra (- 0,9%).


Notícias da Terra Exportações I

Negócios em queda

A

s exportações do agronegócio em 2014 diminuíram tanto em volume quanto em faturamento, o que não ocorria desde 2008. Segundo levantamento do Cepea – Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, da Esalq/ USP, o volume caiu 6%, comparativamente a 2013. Quanto aos preços em dólares, baixaram 1%, em média. No entanto, a desvalorização de 1,4% do real frente às moedas dos seus principais compradores ainda permitiu lucratividade de 0,3%. No acumulado do ano, o faturamento externo do setor ficou em US$ 98 bilhões, 3% menor que o obtido em 2013. O superavit da balança comercial do agronegócio diminuiu para US$ 80 bilhões, insuficiente para compensar o deficit comercial gerado pelos outros setores da economia brasileira.

Exportações II

Perspectivas otimistas

P

rojeções do Cepea indicam que a produção agropecuária brasileira continuará crescendo em 2015, assim como a demanda da China, Índia, Estados Unidos e outros parceiros comerciais do Brasil, embora em menores níveis. Segundo expectativas de mercado, a paridade entre o real e o dólar (que bateu na casa de R$ 2,90 no final do mês passado) deve continuar favorável às exportações. Pesquisadores do Cepea consideram que haverá aumento dos embarques do complexo da soja, mesmo que os preços se mantenham em patamares inferiores aos de 2014. Outros produtos habituais da pauta de exportações do agronegócio nacional, como café, suco de laranja e carnes também podem ser beneficiados pelo câmbio.

Exportações III

A China segue na frente

Fertilizantes

A

O

inda de acordo com o estudo do Cepea. a China manteve a posição de maior parceiro comercial do agronegócio brasileiro em 2014, respondendo por 22,8% do faturamento total obtido pelo setor. Em segundo lugar, continuaram os países da Zona do Euro, com participação de 20,9% na receita gerada e em terceiro, os Estados Unidos, com 7,4%. Outros compradores importantes foram: Rússia, Hong Kong, Venezuela, Japão, Arábia Saudita, Coreia do Sul e Egito. A pauta dos produtos exportados para a China concentrou-se no grupo de cereais, leguminosas e oleaginosas (74,7% do total), com destaque para a soja em grão – US$ 16,7 bilhões em 2014. Do total exportado para a Zona do Euro, 37% da receita também se deve ao mesmo grupo. Depois vêm café, frutas e produtos florestais. Para os Estados Unidos, os produtos florestais foram o principal grupo, respondendo por 30,7% do total, seguidos pelo café, carnes e produtos do complexo sucroalcooleiro.

Consumo quebrado mercado brasileiro de fertilizantes especiais deverá crescer 6% em 2015, percentual 50% inferior à média anual de crescimento registrada no último quinquênio, de 12%. A estimativa foi feita pela Abisolo – Associação Brasileira das Indústrias de Tecnologia em Nutrição Vegetal. Em 2014, o setor movimentou R$ 3,5 bilhões. “Teremos um crescimento menor em razão dos problemas enfrentados por toda a cadeia agrícola, que está sofrendo com o fraco desempenho da economia do país e também do segundo ano consecutivo de uma crise hídrica sem precedentes”, afirmou o presidente da entidade, Roberto Levrero.

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Notícias da Terra Café I

A salvação da lavoura

E

ntre os produtos agrícolas exportados pelo Brasil em janeiro, o de melhor resultado foi o café. A informação é do MDIC – Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. No geral, as vendas externas do agrone-

Café II

Safra menor

O

Brasil vai colher neste ano 43,9 milhões de sacas de café, 2,7% a menos em relação a 2014, segundo projeções do IBGE. A produção de arábica deve alcançar 32,2 milhões de sacas, 0,8% maior que a do ano passado. Em contraparti-

gócio nacional recuaram 14,5% e as importações, 16%, fazendo com que a balança comercial brasileira fechasse o mês com deficit de US$ 3,2 bilhões. A cafeicultura obteve receita de U$ 589 milhões, 50,5% superior à de janeiro do ano passado (US$ 391,4 milhões) e volume de exportação 4,4% maior. Ao todo, embarcou 2,9 milhões de sacas, o que equivale a 10% de todas

as exportações nacionais. Com isso, o café manteve o posto de 5º item mais exportado do agronegócio brasileiro, ficando atrás das carnes, do complexo sucroalcooleiro, dos produtos florestais e do segmento de cereais, farinhas e preparações. O bom desempenho do café deve-se à elevação dos preços no mercado internacional e ao aumento de 7% no volume exportado

da, a de conilon cairá 11,3%, chegando a 11,7 milhões de sacas. O baque no conilon deve-se, sobretudo, às condições climáticas adversas no Espírito Santo, responsável por quase 70% da produção nacional desta espécie. Lá, a quebra deve chegar a 18,1%. No que diz respeito ao arábica, as plantas sofreram menos do que no ano passado

em Minas Gerais, principal produtor do país. Depois de longo período quente e seco, as chuvas retornaram às principais regiões cafeeiras do Sudeste, mas, ainda assim, em volume inferior à média histórica e abaixo das necessidades das lavouras da região. Em 2014, a produção nacional (arábica e conilon) foi de 45,3 milhões de sacas.

índice revela total otimismo apenas quando alcança os 100 pontos. O ICPSoja – Índice de Confiança do Produtor de Soja fechou em 72,1 pontos, 19% superior ao trimestre passado. Os resultados foram positivos em todos os sub-ín-

dices, o que indica que a primeira colheita do ano tende a ser melhor para os sojicultores. O sub-índice preço, que mede a expectativa dos produtores com relação ao valor de venda, foi o que mais cresceu no último trimestre. Com uma alta de 61%, atingiu 76,6 pontos. Os índices são medidos desde 2010 pela AgroFEA, programa de pesquisa em agronegócios da Faculdade de Economia Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo, e divulgados a cada três meses.

Pesquisa

Confiança ainda baixa

D

epois de quedas sucessivas desde abril do ano passado, o ICPRural – Índice de Confiança do Produtor Rural reagiu em janeiro, registrando leve alta no início de 2015. Apenas dois indicadores – equipamentos e insumos – sofreram quedas. O ICPRural fechou a primeira rodada do ano com 68,4 pontos,14% acima do resultado anterior, mas ainda longe do ideal– o 14 | Agro DBO – março 2015


Notícias da Terra OGMs I

OGMs II

E

A

Transgênicos crescem

As convencionais reagem

studo do Serviço Internacional para Aquisição e Aplicações em Agrobiotecnologia (ISAAA, na sigla em inglês) mostra que a área dedicada às lavouras transgênicas no planeta passou de 171 milhões de hectares para 181 milhões em 2014. O Brasil manteve a segunda posição no ranking mundial, com 42,2 milhões ha de culturas GM, atrás apenas dos Estados Unidos, com 73,1 milhões ha. A Argentina segue em terceiro, com 24,3 milhões ha. Segundo o representante do ISAAA no Brasil, Anderson Galvão, 18 milhões de produtores rurais em todo o mundo usam sementes GM. No Brasil, 93% das lavouras de soja, 82% das de milho e 65% das de algodão são transgênicas.

Soja

Cesb registra recorde de inscrições

N

este ano, 2.900 produtores rurais de 600 municípios e 26 estados brasileiros participarão do Desafio Nacional de Máxima Produtividade da Soja/Safra 2014/15, promovido pelo Cesb – Comitê Estratégico Soja Brasil. “Foi o maior número de inscrições desde a primeira edição do concurso, em 2008”, afirmou Orlando Martins, presidente da entidade. De acordo com o regulamento, todo produtor inscrito deverá indicar um inspetor de colheita – um técnico idôneo de sua região – para validar os resultados. Os que tiverem a previsão de colher acima de 90 sacas de soja/ha devem solicitar ao Cesb a presença de um auditor oficial. Os nomes dos campeões nas diversas categorias serão anunciados em junho.

área plantada com soja convencional vem crescendo no meio-oeste norte-americano, não por adesão a qualquer movimento contra produtos geneticamente modificados, mas por questões econômicas. A informação consta de reportagem do The Wall Street Journal, dos Estados Unidos. Conforme o autor da matéria, o preço dos grãos caiu bastante nos dois últimos anos no mercado doméstico daquele país, corroendo o lucro de agricultores como Jim Benham, do estado de Indiana. “Em 2014, pela primeira vez em 20 anos, Benham usou em sua lavoura apenas sementes convencionais de soja, atraido por um prêmio de quase 14% no preço, pago por uma exportadora de grãos”. De acordo com a notícia do WSJ, a procura por alimentos isento de OGMs, promovidos como mais saudáveis, vêm aumentando nos EUA. As vendas no varejo norte-americano de cereais, molhos, ovos e outros produtos livres de ingredientes transgênicos subiram 15% em 2014, colocando-os entre os segmentos da indústria alimentícia que mais cresceram no país.

Subsídios

Pagamento a agricultores (nos EUA)

P

ara compensar a queda generalizada nos preços dos produtos agrícolas nos Estados Unidos, o governo elevará pagamentos diretos aos agricultores até 2017. A informação consta do relatório de projeções de longo prazo do USDA, divulgado no mês passado. A maior parte dos pagamentos será chancelada por dois novos programas governamentais embutidos do projeto de lei agrícola de 2014 do

governo norte-americano: o de cobertura de risco agrícola e o de cobertura de queda de preços. Outra consequência da baixa nos preços será a redução nas áreas de plantio de soja, milho e trigo na temporada 2015/16. Em sua conferência anual de perspectivas para a agricultura, o economista Robert Johansson, do USDA, projetou preços futuros ainda menores para a maior parte dos produtos agríco-

las dos EUA, após grandes colheitas no ciclo 2014/15. “Em muitas culturas, os valores vão recuar para perto do mínimo estabelecido em lei”, afirmou Johansson. março 2015 – Agro DBO | 15


Notícias da Terra Citricultura

Controle do greening

U

m estudo do Fundecitrus – Fundo de Defesa da Citricultura mostra que 80% das plantas infectadas por greening (Huanglongbing/HLB, doença causada por bactérias) encontram-se nas bordas dos pomares. Os pesquisadores constataram que 50% dos insetos transmissores (os psilídeos Diaphorina citri, vetores da doença) se alojam nos primeiros 50 metros e 80% nos 100 metros iniciais a partir da divisa ex-

terna da plantação– os 20% restantes conseguem entrar além desta marca, alguns até a parte central dos pomares. Segundo o pesquisador Renato Beozzo Bassanezi, do Fundecitrus, os psilídeos têm caráter migratório e estão sempre em busca de novas brotações. “Quando voam de um pomar para outro, aterrissam nas primeiras plantas que encontram. Assim, o controle na área de borda é fundamental para impedir a disseminação

Fitossanidade

O mapa da entrada de pragas

dos insetos pelo interior da plantação”. Bassanezi recomenda a aplicação de inseticidas nos primeiros 100 metros da propriedade com mais frequência, se possível a cada semana. “Desse modo, os talhões centrais ficam mais protegidos e não precisam de tanta pulverização, que pode ser feita a cada quinzena ou mês, dependendo da presença de brotações. Pequenas propriedades, que têm a área de borda maior do que a central, devem fazer o manejo regional, controlando o inseto e a doença em parceria com os seus vizinhos”. Outra indicação é aumentar a densidade de plantio nas bordas e replantar frequentemente para não deixar espaços vazios que facilitem a penetração dos insetos pomar adentro. Ele recomenda, ainda, que o plantio seja feito paralelamente à divisa do pomar para facilitar os trabalhos de pulverização – adicionalmente, o adensamento de plantas nas bordas funcionará, quando elas crescerem, como barreira quebra-vento, dificultando a penetração do inseto pelo ar.

potenciais vias de acesso de pragas limites estaduais limites municipais limites nacionais

P

esquisadores da Embrapa Gestão Territorial mapearam as principais vias de ingresso de pragas quarentenárias (as que ainda não estão presentes em território nacional), com base na proximidade geográfica e na importância econômica das culturas que podem ser atacadas. Para elaborar o mapa, eles levaram em consideração dez pragas, entre cerca de 150 espécies quarentenárias já presentes em pelo menos um país da América do Sul, e cruzaram informações e dados sobre a localização das principais culturas-alvo, vias de ingresso como portos e aeroportos, interseções de transporte de passageiros e cargas em rodovias, ferrovias e hidrovias, fronteiras secas e postos de controle de vigilância agropecuária internacional. O trânsito de navios, aviões, trens, carros ou caminhões, produtos de origem animal ou vegetal, pessoas, aves e animais, até correntes de vento podem ser vetores dessas pragas.

16 | Agro DBO – março 2015

Participação dos municípios na produção das culturas baixa média alta


Notícias da Terra Água I

Governo paulista lacra bombas de irrigação

O

governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, baixou decreto no dia 7 do mês passado autorizando fiscais do Daee – Departamento de Águas e Energia Elétrica e da Polícia Ambiental a lacrar bombas de irrigação de agricultores do Alto Tietê sem outorga de uso da água. Dias depois, dezenas de agricultores fecha-

ram a rodovia Mogi-Salesópolis para protestar contra a medida. De acordo com o decreto, quem tem outorga deve reduzir o consumo em 30%. Quem não tem, fica proibido de captar água, devendo abrir poços profundos, usar água de reúso ou comprar água para garantir a atividade. Formado por cinco reservatórios, o

sistema Alto Tietê abastece 4,5 milhões de habitantes. Desde dezembro de 2013, fornece água também a moradores que antes eram atendidos pelo reservatório da Cantareira, principal fonte de abastecimento de água dos moradores da capital paulista (OBS: leia a respeito da crise hídrica a partir da página 20 desta edição).

Água II

Uma no cravo, outra na ferradura.

O

governo paulista lançou linhas de financiamento no valor máximo de R$ 500 mil para produtores, cooperativas e associações interessadas na construção de poços artesianos e modernização de equi-

pamentos de irrigação. Podem se candidatar os produtores com renda bruta agropecuária anual de até R$ 800 mil, cooperativas e associações de produtores rurais com faturamento bruto anual de até R$ 3

milhões e produtores rurais constituídos como pessoa jurídica com faturamento anual de até R$ 2,4 milhões. O pagamento da dívida poderá ser feito em até 72 meses, incluindo carência de 36 meses.

março 2015 – Agro DBO | 17


Notícias da Terra Fórum

Fertilizantes especiais

A

Abisolo, Associação Brasileira das Indústrias de Tecnologia em Nutrição Vegetal, promoverá o VI Fórum e Exposição Abisolo, marcado para os dias 15 e 16 de abril, em Ribeirão Preto (SP), cujo tema será “Fertilizantes especiais: um novo patamar de produtividade na agricultura”. Roberto Levrero, presidente da Abisolo, ressaltou o importante papel dos fertilizantes especiais nos ganhos de produtivida-

de do agronegócio brasileiro: “Os fertilizantes especiais fazem parte de um conjunto de insumos e fatores, responsáveis pela maior produtividade agrícola conseguida nos últimos anos e que incluem escolhas de sementes selecionadas, manejo correto do solo, maquinários e equipamentos adequados às culturas, uso de modernas técnicas de medição, além de pessoal capacitado para aplicação dos insumos”.

Mercado máquinas

Case IH projeta semestre aquecido

A

Show Rural Coopavel, considerada um termômetro do mercado, começou de forma positiva e com negócios acima da média. A Case IH espera um primeiro semestre positivo nas vendas de tratores agrícolas e colheitadeiras de grãos, alavancado principalmente pela disponibilidade de crédito e pelas taxas atraentes do Finame-Moderfrota. Segundo Mirco Romagnoli, vice-presidente da marca para a América Latina, “enquanto o mercado espera uma leve queda ao longo de 2015, a Case IH deve fechar o ano levemente melhor que 2014”. Segundo o executivo, a Case IH registrou vendas acima da média com 10% de incremento em relação à mesma feira em 2014.

Vitivinicultura

Salton inicia colheita mecânica

V

inícola gaúcha é a primeira no Brasil a utilizar colhedora automotriz para a safra 2015, em Santana do Livramento (RS). Adquirida há cinco anos pela Salton, a área de 635 hectares está produzindo excelentes frutos. Desde o início, a unidade já recebeu investimento de R$ 22 milhões, entre vinhedo, infraestrutura e equipamento. O projeto é uma aposta da Salton no potencial da região da Campanha Gaúcha, considerada a “Califórnia Brasileira” e propícia para elaboração de vinhos e espumantes. Para uma colheita mais eficiente, a empresa utiliza a primeira colhedora automotriz do país. “A colhedora adquirida na Fran18 | Agro DBO – março 2015

ça preserva a qualidade da uva e permite uma colheita mais rápida e eficiente. Com a vibração e a mesa seletora, temos uma triagem prévia dos melhores frutos. Assim, colhemos com alta qualidade”, explica um consultor agrícola para a Fronteira Oeste. Com a nova tecnologia, o controle das uvas será totalmente automatizado. O aparelho, instalado em uma planta-piloto especialmente projetada para este fim, é novidade no Brasil e, com ele, a Salton elevará sensivelmente a escala da primeira etapa industrial da elaboração de vinhos e espumantes: a vinificação.

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Capa

Devastação no Brasil Central

Produtores rurais de Goiás relatam grandes perdas com a estiagem, a maior em 30 anos. As chuvas voltaram em fevereiro, mas o estrago já estava feito. O prejuízo ultrapassa R$ 2,5 bilhões apenas na soja. Ariosto Mesquita

20 | Agro DBO – março 2015


Q

Fotos Ariosto Mesquita

uem, no início do mês passado, visse de longe os 2,3 mil hectares de lavoura de soja da fazenda Irmãos Cunha, banhada então por generosa chuva, dificilmente entenderia o desânimo de seu proprietário, o agricultor Clóvis Cunha Ferreira, de Rio Verde (GO). Na segunda-feira, 9/2, a reportagem da Agro DBO encontrou-o cabisbaixo, junto a seus funcionários, sentados sobre embalagens de defensivos ou nas raízes da frondosa árvore próxima à sede. Naquele dia, não havia, de fato, o que fazer. As chuvas intermitentes dos três últimos dias não lhes permitiam entrar com as máquinas para a colheita. E, mesmo se o tempo estivesse firme, Ferreira provavelmente não recobraria o ânimo. Segundo seus cálculos, perdeu quase 50% da produtividade projetada (de 60 sacas/ha) por causa da estiagem – foram 31 dias sem chuvas e com sol forte sobre as plantas no período de 25 de dezembro a 25 de janeiro, justamente em fases de desenvolvimento quando elas mais necessitam de água. “Em 30 anos trabalhando na agricultura, nunca vi coisa igual”, garante. Se havia qualquer dúvida quanto aos apuros do agricultor, bastava acompanhá-lo pela lavoura devastada para ter a certeza de que o “pepino” era grande. Ao caminhar às margens de um talhão de 230 hectares plantado em 30 de outubro, de onde não esperava colher mais do que 32 sacas/ha, Clóvis não escondeu a emoção: retirou o chapéu da cabeça, colocou-o sob o braço, abaixou a cabeça e orou. Em seguida, soltou um leve suspiro, engoliu em seco e confessou: “Só plantar me custou 35 sacas/ha”. Seu único alento foi ter feito seguro, acionado, providencialmente, no início de fevereiro. “Ele vai me cobrir 80% da safra estimada. Se minha produtividade ficar na média de 30 sacas/ha, terei complemento para atingir o equivalente a 48 sacas/ha”, conta. Mas, aos poucos, Clóvis foi caindo

Clóvis Ferreira mostra vagens pequenas e secas: a escassez hídrica comprometeu o desenvolvimento das plantas.

março 2015 – Agro DBO | 21


Capa Em algumas das regiões produtoras de grãos do Centro-Oeste, a perda de produtividade por causa da estiagem chegou a 50%. na real: o contrato cobre apenas 1,6 mil hectares. Os outros 700 são arrendados (não segurados), pelos quais ele paga 10 sacas/ha. Isso sem falar no custo do seguro, do qual não se lembrava o valor. “Tenho anotado em algum lugar”, disse. Para completar, apenas 300 hectares de sua lavoura não foram cultivados com soja transgênica. Portanto, pagou royalties (estipulado em R$ 115/ha na compra da semente) pelo uso da tecnologia em 87% da área de cultivo. “Qualquer possibilidade de lucro nesta safra já foi embora”, admite. Tragédia geral Clóvis Ferreira não está sozinho neste barco. Sua situação é parecida com as de muitos outros produtores de grãos de Goiás, sobretudo nas regiões sudoeste e leste. Pelo segundo ano consecutivo, o estado foi castigado por um extenso veranico em meio à safra de verão. “No ciclo 2013/14, minha produtividade não passou de 40 sacas/ha”, lembra o sojicultor de Rio Verde. Dessa vez, o fenômeno demorou mais, com alta intensidade de radiação solar e calor entre dezembro de 2014 e janeiro de 2015. No final de janeiro, a Faeg – Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás anunciava perdas de dois milhões de toneladas, representando 22% das nove milhões

de toneladas previstas pela Conab para a atual safra de soja. Financeiramente, este cálculo representava um rombo de R$ 1,8 bilhão, considerando o preço da saca de soja em R$ 55. Com o passar do tempo, porém, os efeitos da estiagem – que variou entre 25 e 35 dias, dependendo da região – foram se revelando mais graves. As chuvas regulares e abundantes dos primeiros dias de fevereiro não conseguiram reverter o quadro. No campo, muitas plantas de soja, feijão e milho estavam secas, retorcidas e mortas. Em algumas lavouras, este índice chegou a 70%. Pontualmente, algumas áreas foram 100% devastadas. No dia 23 de fevereiro, o presidente da Comissão de Cereais, Fibras e Oleaginosas da Faeg, Flávio Faedo, anunciou um novo quadro diante da situação caótica mapeada pela entidade: 30% de quebra em média, em todo o estado. O percentual indica que 2,7 milhões de toneladas de soja foram torradas no campo – R$ 2,5 bilhões que deixaram de circular na economia goiana. “Não existe relato de coisa semelhante nos últimos 30 anos e ainda não estamos entendendo o que aconteceu”, disse. De concreto, a Faeg sabe que a temperatura subiu: “Em janeiro deste ano, a máxima foi de 36 graus, contra 32 graus no mesmo mês de 2014”. De acordo com Faedo, nenhuma região do estado escapou. Que o diga Silvano Ferreira Ro-

Problemas anunciados O quinto levantamento de safra da Conab, divulgado em 12/2/2015, apontava cenário preocupante. No mapa geral de condições hídricas do país, Goiás era o único estado do Centro-Oeste que apresentava baixa e média restrições por falta de chuvas e não detinha qualquer área considerada “favorável” para as culturas de verão. A única região que escapava deste quadro de contenção era o oeste do estado, considerado pela Conab como de baixa produção, sem cultivo ou fora de temporada. Especificamente no sul e sudoeste de Goiás, a avaliação técnica mostrava que a atual safra detinha 14,3% a mais de área com baixo padrão de desenvolvimento (medido pelo Índice de Vegetação – IV) em relação à média histórica em decorrência, sobretudo, “da falta de chuvas em fases reprodutivas das lavouras”. A Conab também apontou situação preocupante para o entorno de Brasília e lavouras no leste de Goiás. As respostas de IV também eram inferiores à média histórica. No mapa de avaliação da região, os baixos índices de IV (indicados por padrões de cores amarelo e marrom) apontavam escassez de chuvas em fases críticas das lavouras e em pontos onde houve plantio de cultivares de ciclo curto, objetivando a colheita antecipada. Em relação à média histórica, a atual safra na região indicava 17% a mais de áreas com baixo padrão de desenvolvimento.

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Condicões de cultivo de soja

Favorável Baixa restrição – falta de chuva Média restrição – falta de chuva Baixa produção, sem cultivo ou fora de temporada


drigues, da fazenda olhos D’Água, às voltas com 5,5 mil hectares cultivados com soja (áreas próprias e arrendadas) nos municípios de Rio Verde, Caiapônia e Montividiu. Ele não acreditou quando viu um talhão de 380 hectares totalmente liquidado. “Não tenho outra saída, vou roçar tudo para ainda tentar plantar o milho safrinha. Na soja, a perda é de 100%”, disse o produtor no final do mês passado, recriminando-se por não ter contratado seguro para a lavoura. Silvano estima perdas totais em 35% nesta safra: “Um veranico mais forte em um ano e problemas econômicos de baixa na agricultura, a gente compreende, pois escutamos relatos dos avós e dos pais ao longo de décadas, mas um fenômeno intenso como esse, e em dois anos seguidos, não conheço ninguém que tenha visto igual. Será que virou norma?” O prejuízo já o fez repensar a próxima safra. “De início, vou reduzir em 10% a área cultivada própria, além de deixar de plantar em terras arrendadas. Pretendo priorizar a lavoura nos solos mais férteis”. Soja abandonada Vizinho de Silvano, o produtor Sandoval Baylão, proprietário daa Fazenda Mata Grande, distante 69 km da área urbana de Rio Verde, não sabia o que fazer com parte da lavoura de 1.200 hectares de soja, arrasada pela estiagem. Ele simplesmente abandonou 100 hectares, ao considerar perda de tempo e dinheiro refazer os tratos culturais para recuperá-la. O talhão apresentava reboleiras e plantas com folhas recortadas, características da ação de micro pragas e lagartas “Quando vi o quadro de plantas mortas e outras sem desenvolvimento, preferi suspender as aplicações”, disse ele, disposto a “salvar” o restante da lavoura. “Penso em colher, fazer um mix com grãos melhores de setores menos afetados da fazenda e tentar conseguir classificação na entrega”. Assim como Silvano, Sandoval também não fez seguro agrícola, mas, diferentemente dele, tem outra atividade

Cerca de R$ 2,5 bilhões deixaram de circular em Goiás devido à quebra na safra de soja.

produtiva para se socorrer em tempos de vacas magras. Ele também é pecuarista. Mantém 2.800 cabeças de gado nelore e cruzado em ciclo completo em propriedades distribuídas na região. Ele arrisca previsões sobre a quebra na safra, mas não sobre o que pode acontecer com amigos que apenas vivem da agricultura: “A queda na produtividade da soja aqui no sudoeste de Goiás deve chegar a 40%; não sei quantos produtores irão sobreviver”. Aos 35 anos de idade e cultivando soja desde os 16, Sandoval lamenta o rigor da seca, mas não o atribui a uma hipotética mudança climática em curso. “A vida agrícola é feita de ciclos. Basta observar as nossas últimas grandes quebras: 1994, 2004 e agora, em 2015”. Outro que também acredita na variação natural cíclica do clima, em detrimento da teoria da mudança climática provocada pela ação do homem. é o agropecuarista Jorge Quiste. Proprietário da Fazenda Santa Juliana, distante 43 km da área urbana de Rio Verde, ele teve per-

Sandoval Baylão não deixou por menos: optou por abandonar parte de sua lavoura de soja, ao invés de gastar tempo e dinheiro na tentativa de recuperá-la.

março 2015 – Agro DBO | 23


Capa

das na soja e não se lembra de uma safra tão crítica como a atual. “Isso é um problema de ciclo, pois existem relatos de que há 80 anos aconteceu estiagem semelhante. Alguns afirmam que é efeito de desmatamento, mas não acredito. No Rio Grande do Sul, por exemplo, não existem florestas e o volume de chuvas está normal este ano”, cita. A lavoura de Jorge sofreu muito com “pragas potencializadas pela falta de chuvas”. A estiagem na sua região durou, segundo ele, 29 dias: de 23 de dezembro a 21 de janeiro. “Neste intervalo, tivemos algumas pancadinhas localizadas que não passaram de 38 mm de precipitação. O quadro colaborou para a disseminação de nematoides e do percevejo castanho”, afirma. Como usou variedades de sementes distribuídas em talhões distintos, enfrentou perdas em condições também diferenciadas. Em uma área de 47 hectares, poucas plantas passaram de 12 centímetros de altura. Em outra área, esta de oito hectares de soja, as reboleiras indicavam alta infestação de nematoides. “Aqui, não vou chegar a 10 sacas por hectare”,

Não bastassem as perdas por falta de chuvas, os produtores de Goiás e outras regiões ainda tem que enfrentar lagartas e outras pragas.

lamenta. Em 930 hectares de cultivo (330 próprios e 600 arrendados), Jorge calcula ter perdido cerca de 14 mil sacas (quase 14 sacas/ha), um desfalque considerável para quem tem um custo de produção de 35 scs/ha e ainda paga adicional equivalente a 10 scs/ha na área arrendada – considerando R$ 55 a saca, este montante equivale a perdas de R$ 770 mil na atual safra, correspondente ao que deixou de faturar. Dinheiro, aliás, que vai pelo ralo de forma definitiva, pois também não possui seguro agrícola. De acordo com a Faeg, em 2014 o seguro rural foi contratado apenas para cobertura de 825 mil hectares, representando perto de 14% da área total cultivada no estado. Produção diversificada Quiste só não está totalmente desprotegido graças à diversificação de sua produção. Além da agricultura, cultiva 100 hectares com laranja e ainda vende, em média, 280 bezerros/ano criados em 380 hectares de pastagem. “Não tenho conta dos ganhos na pecuária,

Sementes inadequadas A Embrapa vem estudando a relação entre clima e cultivo de novas variedades de grãos no Cerrado, sobretudo soja. Os pesquisadores chegaram a duas constatações importantes. A primeira garante que a região passa por aumento em suas temperaturas médias históricas e apresenta maior variabilidade no regime de chuvas. A segunda atesta que a utilização de sementes de soja originariamente desenvolvidas para clima temperado potencializou os efeitos dos fortes veranicos nos dois últimos anos. De acordo com o engenheiro agrônomo e coordenador do Programa de Pesquisa de Melhoramento de Soja da Embrapa Cerrados, Sebastião Pedro da Silva Neto, a

24 | Agro DBO – março 2015

busca por maior eficiência no uso do solo e nos fatores de produção agrícola, por meio do cultivo de mais de uma safra por estação, tem levado agricultores a optar por cultivares mais precoces de soja. “Com isso, o Brasil passou a utilizar sementes de ciclo curto (em torno de 100 dias), obtidas com genética de clima temperado”, afirma. Em sua opinião, estas sementes são incompatíveis com as características da região. “Embora apresentem alto potencial de rendimento, são exigentes quanto a clima e fertilidade do solo. O uso destas sementes vem provocando sensível queda de produtividade diante dos recentes e fortes veranicos que têm ocorrido na região central do Brasil”.


A redução do ciclo de cultivo e o uso de cultivares inapropriadas também contribuíram para a quebra da safra de verão em Goiás.

mas sei que a laranja me dá perto de R$ 2 mil/ha/ano. O certo é que estas duas outras atividades me permitem hoje ter crédito na praça”, garante. Na opinião do assessor técnico do Sindicato Rural de Rio Verde, Pedro Leão, que acompanhou a reportagem de Agro DBO durante visita à região, dos 300 mil hectares cultivados com soja em Rio Verde na atual safra de verão, pelo menos 60 mil já estavam perdidos até meados de fevereiro. Além do prejuízo na lavoura, Leão citou outros três agravantes: os custos de produção, que, segundo ele, aumentaramcerca de 30% entre as duas últimas safras; a instabilidade nos valores de remuneração da soja (o preço médio da saca de 60 quilos em Goiás caiu de R$ 61,06 em janeiro/2014 para R$ 55,31 em janeiro/2015) e problemas fitossanitários

Lavoura de soja afetada pela estiagem em Goiás, infestada por capim fedegoso.

Pedro Leão, do Sindicato Rural de Rio Verde (GO), diz que, dos 300 mil hectares cultivados com soja no município, 60 mil foram perdidos.

diversos, como o avanço das plantas invasoras, como o capim fedegoso. Além do sudoeste goiano, a estiagem também provocou perdas consideráveis no leste do estado, mais precisamente nos cultivos agrícolas do chamado “entorno de Brasília”, que reúne regiões do Distrito Federal, municípios goianos e mineiros. Do escritório de sua indústria de beneficiamento de sementes em Formosa (80 km de Brasília), o empresário e produtor rural Oscar Stroschon passou alguns dias de fevereiro contabilizando o impacto do forte estio de janeiro em seus negócios. Ele possui lavouras no Distrito Federal, em Tocantins e no município mineiro de Buritis, bem na divisa com Goiás. Nesta última região, sua fazenda Barro Branco (150 km de Brasília), com 3.000 hectares de lavoura (soja, feijão, milho e algodão), sentiu bastante o estio. O feijão teve o maior impacto. Em alguns talhões, as plantas definharam, a ponto de Stroschon decidir pela destruição do cultivo. “Com produtividade até 10 sacas por hectare vou dessecar e plantar milho safrinha”. Segundo ele, a quebra média na cultura foi de 40%. Esperava uma produtividade em torno de 40 scs/ha, mas dificilmente vai atingir 25 scs/ha nos 300 hectares cultivados com feijão. Na soja, ele garante que as perdas foram proporcionalmente menores: “De uma média de 60 scs/ha, devo colher na casa de 48 scs/ha”. Nos talhões de feijão preto com produtividade superior a 10 sacas/ha, a ordem era tentar colher. Assim que as chuvas de fevereiro deram uma trégua, o gerente geral da fazenda Barro Branco, Edegar Schrenk não pensou duas vezes. Convocou os operadores e colocou as colheitadeiras de soja a campo para fazer o trabalho no feijão. “Com o preço da saca próximo dos R$ 200 ainda vale a pena a operação para tentar salvar alguma coisa, mesmo com pouquíssima produtividade”, justifica. março 2015 – Agro DBO | 25


Pesquisa

Plantas resistentes Produtores rurais vem testando com sucesso variedades rústicas, com potencial de adaptação a ambientes secos em várias regiões do Brasil. José Maria Tomazela

Lavoura de feijão Imperador da fazenda Agropecuária Nova Era, em Alto Paraíso de Goiás.

N

uma região em que chove com parcimônia, em Alto Paraíso de Goiás (GO), no nordeste do estado, o produtor rural Rafael Lawson, da Sementes Aliança, não tem dificuldade para conseguir produtividade média de 45 sacas por hectare em lavouras de feijão, cultura bastante exigente em água. A área de cultivo é irrigada, mas a disponibilidade de recursos hídricos também é baixa numa região de altitude elevada, em que a umidade relativa do ar durante o dia no

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inverno cai para menos de 15%, um nível crítico. O bom desempenho da lavoura está no DNA da planta. O feijoeiro cultivado por Lawson foi desenvolvido por pesquisadores do IAC – Instituto Agronômico de Campinas para resistir ao deficit hídrico. Antes mesmo da crise hídrica atingir o sudeste brasileiro em 2014, o órgão de pesquisas da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo já havia intensificado o desenvolvimento de plantas que aliam a boa produtividade ao baixo con-

sumo de água. O resultado foi o lançamento de quatro variedades de feijão capazes de se desenvolver com volume de água 30% menor que o usual. Uma delas é a cultivar IAC Imperador, plantada por Lawson – no total, ele cultiva 15 mil hectares, dos quais 3,2 mil de feijão, incluindo 1,2 mil de feijão Imperador. “Um dos papéis da ciência é antever demandas”, diz o pesquisador e diretor do Centro de Grãos e Fibras do IAC, Alisson Fernando Chiorato. Os novos materiais, que devem estar no


mercado em até cinco anos, já estão sendo reproduzidos em regiões onde há menor disponibilidade hídrica – áreas que, ao que tudo indica, serão cada vez maiores no Brasil. Apelidado de “feijão camelo” pela capacidade de enfrentar períodos de estiagem considerados longos para essa cultura, o Imperador apresenta ciclo precoce ao redor de 75 dias, enquanto outras variedades só ficam prontas em 90 dias. “Só aí já são 15 dias com economia de água, mas não é só isso. Você irriga no plantio para germinar e depois suspende a água por dez dias e a planta não sente. O fato é que esse feijoeiro precisa de menos água”, confirma Lawson. A irrigação só volta ser necessária com mais intensidade na floração e no enchimento dos grãos. O produtor está na terceira safra dessa cultivar e confirma a expectativa dos pesquisadores. “A economia de água chega fácil a 30%, sem perda de produtividade. Temos áreas com produção de 56 a 60 sacas por hectare.” A região tem chuvas mais frequentes entre o final de outubro e o início de abril, mas de uns tempos para cá o clima ficou incerto. Em janeiro, segundo Lawson, a região enfrentou um veranico de quase 30 dias. “O Imperador nos

ajudou muito a ficar na média, pois manteve a boa produtividade, enquanto outras cultivares tiveram queda.” Além de variedades do IAC, a Sementes Aliança, trabalha com cultivares de feijão da Embrapa e do Iapar – Instituto Agronômico do Paraná. Investimento em pesquisa O secretário de Agricultura e Abastecimento de São Paulo, Arnaldo Jardim, informou que, em tempos de escassez hídrica, os institutos de pesquisa do Estado estão recebendo recursos para investir em melhorias genéticas que reduzam a dependência de água das culturas de maior importância para a agricultura paulista. No IAC de Campinas, 74 linhagens potencialmente resistentes ao estresse hídrico estão sendo avaliadas. Para fazer os cruzamentos, o instituto utilizou materiais de seu próprio banco de germoplasma e também importou outras 250 linhagens do Ciat – Centro Internacional de Agricultura Tropical, de Cali, na Colômbia. “Essa importação foi importante porque o Ciat vem trabalhando há anos no desenvolvimento de cultivares tolerantes ao deficit hídrico, visando à transferência dessas cultivares aos países afri-

Rafael Lawson confirma na prática as qualidades do feijão “camelo”. A irrigação, na região, é necessária apenas em fases específicas, como o plantio – no caso, para germinar.

canos”, explica Chiorato. A expectativa é de que essas características de resistência à falta de água sejam transferidas para novos cultivares. Segundo o pesquisador, não é possível usar no Brasil os materiais colombianos, pois eles não possuem a qualidade de grão exigida pelo mercado brasileiro. “Precisamos fazer o melhoramento genético adequando nosso cultivares que apresentam qualidade de grão para que também tolerem o deficit hídrico.” O consumidor brasileiro aprecia feijão de grãos grandes, casca fina e clara e que produzam caldo espesso. Para reduzir a dependência da água, os pesquisadores do IAC buscam materiais precoces e com boa qualidade de raiz. De acordo com Chiorato, a precocidade é importante porque estudos do Ciat indicam que, a cada dia a mais que o feijoeiro fica no campo sofrendo com a falta de água, ocorrem perdas ao redor de 74 kg por hectare ao dia. “Quanto maior o ciclo da planta, mais ela está sujeita a sofrer com a falta de água e maior será a perda.” A proposta é usar o material em regiões em que o veranico tem sido superior a 30 dias sem chuvas. Isso tem ocorrido com mais frequência nas regiões sudeste,

março 2015 – Agro DBO | 27


Pesquisa

nordeste e centro-oeste do Brasil. As quatro últimas cultivares de feijoeiro desenvolvidas pelo IAC – Alvorada, Formoso, Imperador e Milênio – ainda passam por testes para determinar qual a redução no consumo de água de cada uma. Em fevereiro de 2013, o instituto concluiu a construção de um laboratório específico para essas análises, em Campinas. Também montou uma estufa coberta com controle total da irrigação. As pesquisas do Agronômico de plantas menos consumidoras de água envolvem outra cultura de grande importância para o agronegócio brasileiro: a cana-

28 | Agro DBO – março 2015

Os pesquisadores estão mapeando a genética de várias plantas, com avanços significativos na cana e na soja.

A Embrapa e a UFRJ entraram com pedido de patente de gene do café resistente ao estresse hídrico.

-de-açúcar. Duas variedades – a IAC 95-5000 e a IAC 91-1099 – apresentaram bons resultados nas condições de deficiência hídrica e na adaptação ao Cerrado. Duas outras variedades selecionadas – IAC 95-5094 e IAC 96-2042 –, além de terem boa adaptação a regiões com deficit hídrico, trazem como perspectiva otimizar a produtividade nas áreas secas, antes ocupadas por pastagens. De acordo com o pesquisador Marcos Guimarães de Andrade Landell, os materiais têm bom nível de rusticidade e apresentam boa capacidade de acumular sacarose ao longo da safra, tornando-se opção para corte entre o inverno e a primavera, período entre julho e novembro. São ainda adequados à canavicultura moderna, que envolve a colheita mecanizada crua. Tantos atributos atraíram o interesse da SJC, joint venture entre a Cargill e o grupo São João de Araras, que detém áreas de cultivo na região de Quirinópolis, sul de Goiás. Canaviais formados com as variedades IAC 5000, 1099 e 5094, em estágios que vão até o quinto corte, estão apresentando ótimos resultados numa região de pouca chuva, segundo a supervisora de planejamento agrícola da empresa, Patrícia Resende Fontoura. “Percebe-se que são adaptadas para

ambientes secos, pois mantém um bom perfilhamento quando chove menos, enquanto as outras não conseguem perfilhar.” A SJC cultiva 115 mil hectares nas regiões sul e sudeste de Goiás, de chuvas escassas, o que levou a empresa à busca de variedades que dispensam a água abundante, segundo Patrícia. “A usina está num bolsão de seca e essa cana veio a calhar. Se chove, elas produzem ainda mais, por isso são bastante competitivas. Estamos conseguindo posicionar muito bem essa cana.” Café e soja Uma rede de cientistas da Embrapa também se debruça sobre mapas genéticos de algumas plantas em busca de genes que possam tornar cultivares menos dependentes da água. As pesquisas mais avançadas o café e a soja, dois importantes itens da pauta de exportações do agronegócio brasileiro. Em parceria com a UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro, pesquisadores do órgão federal conseguiram isolar genes do próprio cafeeiro que, em situação de estresse hídrico, ajudam a planta a se proteger da seca. “Pegamos alguns desses genes e os introduzimos em plantas modelos, e essas plantas que receberam os genes ficaram mais


Segundo estudo da Esalq, o clima responde por 50% da oscilação de produtividade das culturas agrícolas de um ano para outro. de 40 dias sem água e sobrevivendo”, contou o pesquisador Eduardo Romano. O pedido de patente do gene já foi encaminhado ao Inpi – Instituto Nacional da Propriedade Industrial. A Embrapa busca agora a multiplicação da planta modelo para introdução em cultivos comerciais, em parceria com o setor privado. Principal grão cultivado no país, a soja também enfrenta o estreitamento de suas fronteiras de produção por conta das mudanças climáticas e da escassez de água. Nos últimos dez anos, somente os estados do Paraná e Rio Grande do Sul deixaram de produzir 55 milhões de toneladas do grão devido às secas, prejuízo de US$ 27 bilhões. Pesquisadores da Embrapa Soja, em Londrina (PR), estão a um passo de conseguir cultivares capazes de resistir ao estresse hídrico. Eles introduziram um gene capaz de ativar e potencializar outros genes de defesa natural das plantas, aumentando a capacidade de suportarem a falta de água. Denominado Y, o gene foi isolado de uma plan-

ta sem grande importância agronômica, mas muito usada em pesquisas genéticas. Na safra 2013/14, as plantas com o gene Y foram comparadas com outras de carga genética similar, mas sem o gene, em campos experimentais de Londrina e os resultados surpreenderam. As plantas com o gene Y tiveram aumento de 13,5% na produtividade quando comparadas com as não transgênicas. Durante o experimento, houve pouca chuva e as temperaturas se mantiveram elevadas. Em testes com controle da irrigação, a planta com o gene Y teve produtividade 35% maior. Na safra atual, a cultivar está sendo testada em outras regiões brasileiras, como o Cerrado. A Embrapa iniciou testes com 33 novos genes de soja com potencial para tolerância à seca, considerando cenários previstos para os próximos 40 anos. Dados da Esalq – Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo, mostram que o clima e sua variabilidade responde por 50%

da oscilação de produtividade das culturas agrícolas de um ano para outro, enquanto os aspectos de manejo da cultura e do solo respondem pelos outros 50%.

Estudo da Unesp mostra que é possível reduzir o uso de água potável na agropecuária usando esgoto tratado para irrigar áreas de pastagem.

Esgoto tratado As pesquisas também avançam no sentido de introduzir o reúso da água na atividade agrícola. Pesquisadores da Unesp - Universidade Estadual Paulista, em Jaboticabal, mostraram que é possível reduzir o uso de água potável na agropecuária usando esgoto tratado para irrigar áreas de pastagem. De acordo com o pesquisador Gilmar Oliveira Santos, a técnica melhora a qualidade do solo, reduz a praticamente zero o custo da adubação e permite economizar 30 mil litros de água por hectare por ano. O projeto, iniciado em 2013, aproveitou o esgoto tratado numa estação de Jaboticabal, que antes era despejado num córrego, para irrigar áreas de braquiária brizanta. Engenheiro ambiental, ele calculou que a água potável economizada por hectare em um ano permite suprir as necessidades de uma pessoa por dez meses, pelo menos. Os nutrientes presentes no esgoto tratado, como nitrogênio, cálcio, magnésio e enxofre, substituem a adubação. A economia no uso de fertilizante mineral foi de 1,2 toneladas por hectare em um ano. A pesquisa comprovou que o uso do esgoto tratado aumenta a produção de forragem em 80% - de 30 para 56 toneladas de matéria seca por ano. Novos experimentos serão conduzidos para que a técnica possa ser levada ao campo. O pesquisador da Unesp lembra que o uso de esgoto tratado em culturas de consumo direto, como legumes e verduras, é proibido por lei no Brasil. março 2015 – Agro DBO | 29


Estiagem

Irrigantes sob pressão Restrições ao uso da água na agricultura afeta milhares de pessoas em São Paulo, derruba a produção e reduz o abastecimento de alimentos. José Maria Tomazela

H

á duas décadas o agricultor Marcos Alexandre Pátero, de 46 anos, vem fazendo rodízio no cultivo de hortaliças em seu sítio, em Cosmópolis, interior de São Paulo. Ele já cultivou alface, rúcula, abobrinha, quiabo, mais de uma dezena de legumes. A cultura da vez é o brócolis ramoso, uma planta da família Brassicaceae, a mesma da couve e do repolho. Só uma coisa não muda na pequena propriedade rural da família, na periferia da cidade: a água para irrigar as plantas sempre saiu de um córrego de água limpa e perene que margeia o sítio. Uma rotina que durou até o ano passado, quando a mais severa crise hídrica de que se tem notícia atingiu a região. O encorpado córrego dos Pátero, afluente do ribeirão Pirapitingui, virou um fio de água. O manancial está nas bacias do Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ), com influência direta do Sistema Can-

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tareira, que abastece boa parcela da região metropolitana de São Paulo e quase secou em janeiro – com as chuvas de fevereiro, nível de água subiu um pouco. Em 23/2, estava operando com 10,6% de sua capacidade, incluindo o chamado “volume “morto”(a água do fundo do reservatório que não era contabilizada). Mesmo estando abaixo das represas do Cantareira, o riozinho entrou na mira do governo do estado. O rápido esvaziamento do sistema e o risco de faltar água para a população de São Paulo fez com que o Daee – Departamento de Água e Energia Elétrica voltasse o foco para a água da irrigação, que muitos apontam como vilã da crise, embora a grande maioria das lavouras do estado (e do Brasil) seja de sequeiro, ou seja, dependente do regime de chuvas. Desde setembro de 2014, fiscais do órgão estadual percorrem os mais de 50 municípios da região notificando e multando produtores

rurais que não têm outorga, a licença para captar água. Fato é que, dos 3 mil irrigantes da região, mais de 90% foram considerados irregulares. Pátero está entre eles. No final de outubro, os fiscais estiveram em sua propriedade e ele foi notificado de que, se não regularizasse a captação, seria multado em R$ 4,8 mil. Acostumado a andar certo com as coisas, o agricultor ficou nervoso. De imediato suspendeu a irrigação. “Era aquela estiagem com sol bravo e não teve jeito, perdi a lavoura.” Para não perder também seu meio de vida, procurou o Sindicato Rural de Campinas e encaminhou os papéis para a outorga. Ele gastou R$ 4 mil no processo, conseguiu um protocolo e agora espera a licença. “Já fui avisado de que não terei água à vontade. Se a medida for para todos, nada mais justo, mas será injusto uns fazerem e outros não.” A bióloga Ana Cláudia Ferreira de Oliveira, que atende o Sindica-


Nilton Fukuda/Estadão Conteudo

Represa do rio Jaguari em Bragança Paulista, parte do Sistema Cantareira, que abastece a Grande São Paulo, antes das chuvas de fevereiro.

to de Campinas, conta que muitos produtores tiveram as bombas lacradas e foram obrigados a reduzir os plantios. A ação atingiu produtores de frutas, legumes e hortaliças que respondem por 40% do abastecimento das feiras e varejões de São Paulo. O irrigante Antonio Cabral Ramos, de Campinas, foi um dos que recorreram ao sindicato. Ele havia requerido a outorga em 2013 e até a segunda metade de fevereiro não tinha saído a licença. “Tiro a água do barramento de uma nascente, mas tive de parar de usar.” Entre novembro e janeiro, ele reduziu a produção em 50%. Entre os afetados pelas restrições, estão os floricultores de Holambra, maior produtor de flores do país. Muitos tiveram as bombas lacradas, segundo o gerente da Associação dos Produtores de Flores e Plantas Ornamentais, Rogério Martins. “Segundo eles, muitas es-

tufas ficaram vazias. O presidente da Cooperativa Insumos Holambra, Ronaldo Kieitsbosch, disse que vários floricultores construíram reservatórios com recursos próprios e agora estão sendo impedidos de usar a água. “A produção de flores é contínua e, embora muitos associados armazenem águas pluviais, à vezes é preciso fazer o bombeamento.” Ele contou que já houve demissões. “Se o produtor quebra, ele tem de dispensar os funcionários”. No dia 10 de fevereiro, cerca de duzentos agricultores fecharam a rodovia Mogi-Salesópolis, em Biritiba-Mirim, para protestar contra a lacração de bombas de irrigação. Eles reclamavam que, desde o meio do ano passado, as outorgas para captar águas de rios e córregos deixaram de ser concedidas, mesmo após processos burocráticos. Otávio Harano, um dos que protestavam, contou que entrou com pedido de outorga em junho de 2014, mas a licença não foi concedida. No início de fevereiro, os fiscais estiveram em sua propriedade e mandaram que retirasse a bomba do rio. “Eles disseram que, na próxima vez, aplicariam a multa. Dois dias depois, voltaram e, para minha sorte, eu tinha retirado a bomba. Só que não consegui manter a produção.” Biritiba-Mirim, Salesópolis, Mogi das Cruzes e Suzano fazem parte do cinturão verde que abastece a capital com verduras e legumes, mas a região está na área

de influência do Sistema Cantareira. Diretores do Daee reuniram-se com os produtores e explicaram que, com o risco de desabastecimento em São Paulo, o uso da água tem de ser restringido. O decreto 61.117, publicado no Diário Oficial do Estado em janeiro deste ano, autoriza o órgão estadual a lacrar as bombas nas propriedades rurais que não tiverem a outorga – punição antes não prevista em lei. Normatização de uso Resolução conjunta da Ana – Agência Nacional de Águas e do Daee, publicada no Diário Oficial da União em 22 de janeiro, determina redução de 20% nas captações toda vez que os níveis dos rios Atibaia, Jaguari e Camanducaia, formadores do Sistema Cantareira, entrarem em estado crítico. A medida se estende aos afluentes diretos desses rios. A restrição vai agravar uma situação que, em geral, já é muito crítica. À jusante do Cantareira, os rios são pouco profundos e de vazão corrente, com grandes oscilações no nível. Quando chove forte, podem transbordar, mas bastam alguns dias de estio para que quase sequem. A vazão do rio Atibaia, por exemplo, que abastece um milhão de pessoas em Campinas, oscilou entre 63 metros cúbicos por segundo e apenas 4 m3/s este ano. Se descer além disso, as captações para abastecimento público e desseden-

Marcos Pátero, em lavoura de brócolis: ele é um dos milhares de irrigantes intimados a obter outorga para captação de água.

março 2015 – Agro DBO | 31


Estiagem O governo paulista promete: “Não haverá cassação generalizada de outorgas, mas um esforço para regularizar o uso da água”.

tação de animais terão de ser reduzidas em 20% e, para uso industrial e a agricultura, redução de 30%. A medida restritiva ainda não tinha sido adotada até a última semana de fevereiro por conta das chuvas, mas a regra continuará valendo quando começar o período seco, previsto para abril. As novas regras afetam 3,2 milhões de pessoas – entre eles cerca de dez mil produtores rurais – de cidades uma vasta região que se estende de Campinas a Bragança Paulista, passando por Jundiaí, Limeira, Americana e Sumaré, no interior de São Paulo, além de seis municípios de Minas Gerais. Sobre a lacração das bombas dos agricultores, o Daee informou que trabalha rotineiramente na fiscalização em todas as bacias desde que se iniciou a emissão de outorgas para uso da água em 1992, com a aprovação da Lei 7.663. “É importante ressaltar que o Daee não está punindo os agricultores, está autuando que faz captação irregular e usa os recursos hídricos sem responsabilidade, como previsto por lei”, informou em nota o órgão estadual. Os agricultores podem declarar espontaneamente as captações e iniciar o processo de outorga. De acordo com o órgão, o ato declaratório é um instrumento legal 32 | Agro DBO – março 2015

definido por portaria, objetivando cadastrar os usos de recursos hídricos superficiais e subterrâneos para usuários rurais. “Com ele, a autarquia pode ter conhecimento do uso da água no campo e, além disso, por meio do ato é possível iniciar o processo de obtenção da outorga.” Ainda segundo o departamento de água, cerca de 3,2 mil usuários já fizeram o cadastramento em toda a bacia do Médio Tietê, onde está inclusa a região do PCJ. Sem discriminação O Daee esclareceu ainda que a legislação de recursos hídricos trata os produtores rurais como os demais usuários de água, como condomínios, residências, indústrias ou estabelecimentos comerciais, já que todos devem solicitar a outorga. A necessidade da licença inclui todas as intervenções em recursos hídricos – captações superficiais e subterrâneas, lançamentos, barramentos, canalização, retificação, construção de barragens e outras formas de uso. Os pedidos são analisados caso a caso, levando-se em conta as especificidade do uso e da finalidade da demanda. O presidente da Faesp – Federação da Agricultura do Estado de São Paulo, Fábio Meirelles, defendeu a

O presidente da Faesp lembra que o abastecimento dos aquíferos e lençóis freáticos se dá no campo, e não nas áreas impermeabilizadas.

necessidade de maior transparência na questão da água. Segundo ele, a agricultura não deve ser colocada como vilã da crise hídrica, pois grande parte da água usada nas lavouras retorna para o ciclo hidrológico. Ele pondera que é no campo, e não nas áreas impermeabilizadas, que ocorrem os processos de infiltração que reabastecem os aquíferos e lençóis freáticos. O secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado, Arnaldo Jardim, disse que o estado viveu em 2014 a maior seca dos últimos 86 anos e que, embora a água seja fundamental para a agricultura, a prioridade é o abastecimento urbano. Jardim afirmou que a secretaria apoia o trabalho do governo estadual no sentido de regularizar as captações. “A água é um bem público e a autorização para a retirada é dada conforme a disponibilidade da bacia. O problema é que tivemos um avanço indiscriminado de captações sem licença e sem planejamento.” Ainda segundo o secretário, fiscalizar o uso da água é o trabalho habitual do Daee. “Não haverá cassação generalizada de outorga, mas um esforço para regularizar o uso. O produtor de pequeno porte muitas vezes não teve a orientação necessária, mas estamos prontos para dar todo o suporte para que se regularize.” Na região do PCJ, segundo Jardim, são cerca de três mil produtores rurais, porém muitos não estão não estão nas bacias formadoras do Sistema Cantareira. Ele disse ainda que o governo está investindo em programas de recuperação ambiental para que a produção de água melhore. “Vamos apoiar a recuperação de nascentes, o desassoreamento de cursos d’água e investir em sistemas de irrigação mais eficientes.”



Entrevista

Salvar semente é erro estratégico

A

Abrass – Associação Brasileira dos Produtores de Sementes de Soja é uma entidade nova, tem somente dois anos de atividade, possui sede em Brasília, e seu segundo presidente, o administrador de empresas Marco Alexandre Bronson e Sousa foi eleito para o biênio 2014-2016, para liderar um grupo de cerca de 45 empresas associadas, todas elas nacionais, sementeiras multiplicadoras de tecnologias e produtoras de sementes adaptadas a todas as regiões produtoras de soja no país, empresas que representam 70% mercado nacional de sementes de soja. Marco Alexandre, fundador e também presidente da associada Sementes Talismã, tradicional sementeira de Goiás, e que toma posse em 10 de março, concedeu entrevista ao editor-executivo da Agro DBO, Richard Jakubaszko, em que comenta os objetivos de trabalho da Abrass. Agro DBO – Evidentemente que a Abrass luta pelos direitos das empresas produtoras de sementes, mas o que isso traz de positivo aos sojicultores? Marco Alexandre – O maior objetivo da Abrass é a união entre as sementeiras produtoras de sementes de soja, e na sequência conseguirem obter um melhor relacionamento com as empresas produtoras de germoplasma e de biotecnologia, e, por consequência, as melhores estratégias de levar de forma harmônica aos produtores rurais as tecnologias desenvolvidas. O que ocorre é que, em passado recente, o mais importante nas sementes era o germoplasma, mas hoje em dia, além do germoplasma, tem a biotecnologia e o tratamento de semente, em caráter industrial. A semente agregou valor, porque passou a ter maior importância no pacote de tecnologias, e traz características específicas para cada região, clima, 34 | Agro DBO – março 2015

e até provoca influência nas estratégias de plantio de cada produtor. Agro DBO – Quanto as sementes de soja representam no custo total de produção? Marco Alexandre – As convencionais representam 10%, em média, do custo total de produção, enquanto as sementes com biotecnologia ficam em 15%, mas em compensação o produtor gasta menos em inseticidas e herbicidas, menos diesel, menos água, reduz operações com máquinas, menor compactação, maior facilidade do manejo etc. Agro DBO – Quais as bandeiras da Abrass em seu mandato que se inicia agora em março? Marco Alexandre – A principal bandeira é a união das sementeiras, o que provoca uma maior profissionalização do setor, e ao mesmo tempo uma melhoria na qualidade nas parcerias com as desenvolvedoras de tecnologias

OGM. As políticas comerciais de cada empresa tendem a ser mais próximas das praticadas pelas líderes de mercado, e isso permite um melhor nivelamento e maior profissionalização do mercado. Agro DBO – Quais as dificuldades que existiam antes? Marco Alexandre – São as mesmas dificuldades de qualquer setor onde não existe unidade de pensamento e ação, o que levava a uma dispersão de esforços. Agro DBO – A Abrass vai se juntar aos produtores de soja no possível processo na OMC contra os EUA, por causa dos subsídios, ou vai só assistir? Os fundamentos dessa causa são pertinentes? Marco Alexandre – Vamos apenas acompanhar. Essa é mais uma ação da competência associativa dos produtores de soja. Particularmente, acho uma causa cara e arriscada, e sou da opinião de


que teríamos outras prioridades nacionais, como resolver questões de logística, ou estruturais, como o transporte, por exemplo, e até mesmo de problemas trabalhistas específicos da área rural, e também reduzir o “Custo Brasil”, questões que mereceriam maior atenção do sistema produtivo. Não esqueçamos que todas as sementeiras são também produtoras de grãos, assim como os nossos clientes. Agro DBO – E se o Brasil ganhar a causa? Ou se perder... Marco Alexandre – Não diria que é uma causa perdida, mas acho que temos coisas mais importantes para resolver aqui dentro do que brigar lá fora por uma causa duvidosa. Se ganharmos a causa, seria bom, sem dúvida, mas se perder não muda nada. No algodão, ganhamos, e não mudou muita coisa. Agro DBO – Tem uma proteína da soja que pode controlar a AIDS, desenvolvida pela Embrapa em parceria com americanos. Isso é positivo para aumentar o consumo e para agregar valor à soja? Marco Alexandre – É mais uma vantagem para o grão, cria um novo mercado consumidor, diversifica, mas não deve agregar valor, porque o consumo adicional do grão deve ser quase irrelevante, portanto, não seria representativo para mexer com o mercado. Agro DBO – Que outras formas você indicaria para o aumento do consumo, e para agregar valor ao grão? Marco Alexandre – Acho que há um campo ainda grande de oportunidades na alimentação humana, tanto na pesquisa como comercial, e até mesmo no consumo animal de rações, para o aumento do consumo. Com certeza, várias formas inovadoras de incentivo ao consumo podem elevar o interesse dos consumidores.

Agro DBO – Nos EUA, no Midle East, vários produtores abandonaram o plantio de OGM nos últimos anos e voltaram a plantar soja convencional, atraídos por um prêmio adicional de 15% oferecido pelos clientes europeus. No Brasil como está esse nicho de mercado? Marco Alexandre – Houve ameaças de crescimento desse segmento, mas arrefeceu, e esse prêmio vem diminuindo. Temos que considerar, no entanto, que o ágio oferecido não paga os custos adicionais de produção da soja convencional, o que acaba afastando os produtores eventualmente interessados. Agro DBO – Alguma empresa associada poderá ter sementes OGM, no curto ou no médio prazo? Marco Alexandre – Não, acredito que não, pois elas não funcionam como institutos de pesquisa, na verdade elas são multiplicadoras de sementes com biotecnologia.

Não dá para culpar a variedade, seria uma injustiça, digamos assim, afora o fato de que a seca que aconteceu este ano foi um evento fora da curva, que deve acontecer somente de 15 em 15 anos, ou mais. Agro DBO – Qual a importância do insumo semente hoje em dia? Marco Alexandre – Considerando o baixo custo absoluto das sementes, e por representar entre 10% e 15% do custo total de produção, em função dos benefícios que pode trazer aos produtores, a importância de uma boa semente é vital para se obter uma boa safra com alta produtividade, que é a que traz lucros aos produtores. Não adianta o produtor fazer uso de todos os tipos de tecnologias, as mais modernas, adubar adequadamente, usar as melhores máquinas, se ele não usar uma boa semente, aí não tem como consertar os erros de estratégia, porque se parte de uma tentativa

A importância de uma boa semente é vital para se obter uma boa safra, com alta produtividade. Agro DBO – Nesta edição temos uma matéria sobre perdas de sojicultores, alguns com mais de 50%, especialmente os que usaram sementes de alta precocidade em Goiás, porém sementes de clima temperado, que foram usadas na estratégia dos produtores de colher mais cedo para facilitar o plantio da 2ª safra, mas tropeçaram na seca, e perderam mais do que outros produtores. Eles erraram nessa estratégia? Marco Alexandre – Na nossa empresa, a Sementes Talismã, só vendemos sementes com recomendações técnicas, e adaptadas a cada região. Agora, temos que entender que este ano a estratégia desses produtores deu errado, mas em anos anteriores essa mesma estratégia funcionou muito bem.

de fazer economia que é equivocada. Por isso, é importante que vocês registrem na entrevista que aqueles produtores que buscam salvar semente própria incorrem num erro de estratégia, porque essas sementes não têm a tecnologia certa e nem a qualidade ideal. Esses produtores, hoje em dia, representam cerca de 20% a 25% do mercado, os que incorrem no erro, sem fazer um cálculo do custo versus benefício que obteriam se utilizassem uma boa semente. Felizmente são bolsões regionais que persistem nessa prática de produzir semente própria, e a cada ano esses percentuais vêm caindo. No Rio Grande do Sul e no oeste da Bahia essa prática antiga ainda encontra bom número de adeptos. março 2015 – Agro DBO | 35


Política Movimento de caminhoneiros Até o fechamento desta edição da Agro DBO não havia um acordo definitivo entre caminhoneiros e o governo federal para solução da crise, cuja pauta incluía ajustes no financiamento do Bndes para caminhões, redução nos valores dos pedágios para caminhões vazios, e um aprofundamento no debate da chamada Lei dos Caminhoneiros, em aprovação no Con-

gresso Federal, e que, segundo alguns líderes da categoria, atende pleitos das transportadoras e não dos motoristas. Afora isso, a pauta pretendia redução nos preços do diesel, pedido já negado pela presidente Dilma, além de correção das tarifas do transporte de cargas. A presidente Dilma comprometeu-se a vetar itens da Lei dos Caminhoneiros que prejudiquem

a categoria, que é a única coisa que pode fazer na área legislativa. Sobre as tarifas de fretes, como se sabe, em tempos de safras recordes, não são levadas em consideração pelos caminhoneiros, sejam frotistas ou individuais. Nesse sentido, o movimento dos caminhoneiros ficou caracterizado, então, mais como um movimento político do que econômico.

Morre o ex-ministro da Agricultura José Eduardo Vieira Vieira, ex-ministro nos governos de Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso, morreu no dia 1 de fevereiro último, em Londrina, consequência de uma parada cardiorrespiratória. Ex-presidente do Banco Bamerindus (1981 a 1997), foi senador, e desde os anos 1990 era sócio e diretor do jornal Folha de Londrina.

Roberto Rodrigues deixa a Unica A União da Indústria de Cana-de-Açúcar informa que foi surpreendida com a decisão pessoal do ex-ministro Roberto Rodrigues de deixar o cargo de presidente de seu Conselho Deliberativo. Parte importante de sua missão era aumentar a competitividade do Setor Sucroenergético, o que de certa forma acabou acontecendo com a volta da CIDE e o aumento do Pis/Cofins na gasolina e no diesel, além do aumento da mistura do etanol na gasolina. A Unica aguarda decisão de seu Conselho Deliberativo, que indicará quem passará a ocupar o cargo.

Frente dos Governadores dos estados produtores de cana-de-açúcar Encontro aconteceu em fevereiro, em Goiânia, e reuniu representantes de Alagoas, Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná e São Paulo. Os governadores de seis estados reuniram-se para discutir a criação da Frente dos Governadores e o formato que ela terá. A iniciativa faz parte de um projeto mais amplo, denominado “Gover36 | Agro DBO – março 2015

nança Corporativa da Cadeia Produtiva Sucroenergética”, que envolve as principais entidades representativas do setor, incluindo representantes dos empresários e dos trabalhadores, que reuniu cerca de 20 mil pessoas numa manifestação no último dia 27 de janeiro, em Sertãozinho (SP). O objetivo das lideranças do setor foi chamar a atenção das autori-

dades estaduais e, principalmente, do Governo Federal para a crítica situação da cadeia produtiva sucroenergética. Como destaque da crise, foi lembrado que, nos últimos 5 anos, 83 usinas foram fechadas, e que 70 outras usinas estão em processo de recuperação judicial, além da situação falimentar de vários fornecedores de equipamentos.


“Não, não estão em declínio as populações de abelhas”. Quem afirma isso é o americano James Cooper, autor de 19 livros e mais de 1.000 colunas para o “Examinador”, no Condado de Fairfield (EUA). Com Ph.D. em química pela Universidade de Ohio, ele afirma que os ativistas ambientais insistem que há um declínio em todo o mundo na população de abelhas. Mas isso não é verdade. “Não há nenhuma crise de população de abelha!”, enfatiza ele, trata-se de uma nova Teoria Conspiratória, típicas de fim de milênio, quando se anuncia que o mundo vai acabar. A propaganda não reflete a realidade, afirma. Cooper diz que as populações de abelhas nos EUA estão estáveis por muitos anos, e aumentaram

em 4 dos últimos 5 anos. As populações de abelhas no Canadá têm aumentado continuamente ao longo dos últimos 15 anos. E na Europa, o aumento foi ainda maior. Em todo o mundo, as colônias de abelhas têm aumentado a cada ano: por quase 15% desde 2000, de acordo com a página de dados FAOSTAT. “Os ambientalistas acusaram e pediram para proibir os inseticidas neonicotinóides, acusados de responsáveis pelo ‘sumiço’ das abelhas”. Cooper publicou uma revisão em 2014 de toxicologia ambiental e química, e mostra que em condições e níveis de exposição, efeitos similares em colônias de abelhas não foram registrados. Não é razoável con-

cluir que pesticidas aplicados, os neonicotinoides em particular, são um fator de risco para as colônias de abelhas. 30 de janeiro de 2015

Colônias de abelhas por ano (milhares) 1000000 90000 80000 70000 60000 50000 40000

EUA CANADÁ

30000

MUNDO

20000 10000

2000

2005

2010

2015

0

No gráfico, a população mundial de colmeias varia de 70.708.000 a 81.027.000 de 2000 para 2013).

SP reduz impostos para setor sucroenergético O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin assinou medidas para simplificar, racionalizar e reduzir a carga tributária incidente sobre o setor sucroenergético. Um dos decretos estende o diferimento do ICMS – antes previsto apenas para a cana-de-açúcar –, a todas as demais matérias primas, como sorgo sacarino, milho, eucalipto, palha, cavaco e outros resíduos da colheita, além dos subprodutos resultantes do processo de industrialização para produção de açúcar, álcool e geração de energia limpa a partir de biomassa, como o melaço e o bagaço de cana. O imposto das operações de transferência de combustível, lubrificante e insumos agrícolas, realizadas pelos estabelecimentos que centralizem a compra desses produtos, desde que exerçam exclusivamente atividade agropecuária, ficou também diferido de modo a concentrar o

crédito do imposto unicamente nestes estabelecimentos centralizadores. A medida também promove a simplificação dos procedimentos tributários das empresas do setor, dispensando de emissão de documento fiscal em cada operação de fornecimento de combustível, lubrificante ou insumo agrícola para fornecedores, transportadores de matéria prima ou para consumo próprio. O governador Geraldo Alckmin também firmou decreto que desonera insumos utilizados pela indústria alimentícia. A medida altera a base de cálculo do ICMS para reduzir de 18% para 7% a carga tributária que incide nas saídas de amido de milho e derivados, realizadas pelos fabricantes ou seus centros de distribuição. “Essas medidas de redução de impostos, dentro do critério de responsabilidade fiscal, são para estimular o con-

sumo e garantir o emprego e a renda no estado de São Paulo”, declarou o governador. O benefício abrange uma série de insumos como amido de milho, glicose, xarope de glicose, amido modificado e dextrina de milho e colas fabricadas a base de amido.

março 2015 – Agro DBO | 37


Mecanização

É hora de negociar Fazer uma boa compra depende de vários fatores, mas é sempre bom quando se conta com a necessidade do vendedor desovar estoque. Amílcar Centeno *

E

sta safra provavelmente marca o fim de mais um ciclo do mercado de grãos, encerrando uma sequência de 4 anos fantásticos, iniciando mais um período de quedas e dificuldades. Momento para desespero? Não para aqueles cuja experiência lhes deu a habilidade de encarar os ciclos da agricultura como algo natural, previsível e inevitável, e parte do jogo de quem produz commodities. Há, inclusive, quem considere este um momento de oportunidades! Acima de tudo, um momento para investir os resultados acumulados ao longo do período de vacas gordas. Infelizmente, ao longo dos mais de 30 anos de atuação no setor, conheci poucos produtores com esta visão. Estes, porém, eram ou são homens de negócio muito bem sucedidos. O que aprendi com estes produtores iluminados é que o melhor momento de negociar e investir é no período de baixa do mercado, quando os fornecedores de insumos do setor estão pressionados pela baixa demanda e alta oferta, oferecendo seus produtos a preços reduzidos e em condições favoráveis. Lembro-me, por exemplo, da visita de um destes produtores à empresa de máquinas em que trabalhava, em plena crise dos anos 2005 e 2006. Ele nos telefonou, dizendo que queria fazer uma visita à fábrica, prática muito comum entre os clientes especiais como ele. Quando chegou, um dos engenheiros da produção o acompanhou numa longa visita 38 | Agro DBO – março 2015

às instalações da empresa. Quando retornou à área comercial, nos surpreendeu dizendo que queria negociar algumas máquinas. Ele foi encaminhado à área de vendas e fechou um excelente negócio para a aquisição de um bom pacote de produtos. Depois, negócio fechado, quando já estava se preparando para ir embora, não resisti à tentação e lhe perguntei a razão de nos procurar num momento em que ninguém queria sequer ouvir falar em investimentos. A resposta foi uma verdadeira aula de economia! Afirmou que, depois de percorrer a fábrica e observar que haviam muitas máquinas e funcionários ociosos, e o pátio lotado com estoque de produtos

A Case IH usa a estratégia de fabricar colheitadeiras o ano inteiro, para desovar o estoque no final e no início de cada ano.

prontos, teve certeza de que era um bom momento para negociar bons preços com a empresa. E foi exatamente isso que ele obteve, após uma negociação relativamente fácil com a área de vendas. E acrescentou: com isso, obtive um valor a ser financiado muito mais baixo do que teria obtido num momento de alta, sendo que, com a carência de 1 a 2 anos das linhas de crédito disponíveis, começaria a pagar as prestações mais reduzidas quando sua soja ou milho já teriam naturalmente se recuperado após aquele período de baixa. Este é um excelente exemplo de um empresário rural que conhece o seu negócio e sabe como utilizar os vários momentos dos ciclos de mercado.


Lamentavelmente, esta não é a prática comum. Para confirmar isto basta olhar os volumes de vendas da indústria de máquinas agrícolas, que atingem seus picos nos mesmos momentos em que o mercado de grãos está em alta. Os agricultores que negociam nestes momentos de pico, quando a demanda está alta, os preços inflados e as condições menos favoráveis para o comprador, vão financiar um valor mais alto pelos mesmos produtos e ainda terão que começar a pagar as prestações mais altas quando os preços agrícolas estiverem em baixa. O ano de 2013 foi um excelente exemplo desses momentos de pico. Foi um dos melhores anos para o mercado de grãos e a indústria de tratores e colheitadeiras, quando bateu seus recordes históricos de produção e vendas.

A produção das fábricas se manteve no limite de capacidade ao longo da maior parte dos meses, e quem negociou máquinas durante aquele ano sabe muito bem onde foram parar os preços dos equipamentos!

tamente o oposto, tendo seu pico nos meses que antecedem a colheita. Portanto, vale para o ciclo anual as mesmas regras dos ciclos do mercado: investir nos momentos de baixa. Negocie tratores, quando todo mundo está com-

2013 foi um dos melhores anos da história para os grãos e a indústria de máquinas. Além dos ciclos do mercado agrícola ao longo dos anos, também existe um ciclo do mercado de máquinas ao longo dos meses do ano. O mercado de tratores atinge seu auge no meio do ano, quando os agricultores estão se preparando para plantar a nova safra de verão, e cai acentuadamente no final e início do ano, após a conclusão do plantio. Já o mercado de colheitadeiras é exa-

prando colheitadeiras. E negocie colheitadeiras quando todo mundo está comprando tratores! Como dizia meu saudoso avô, engenheiro agrônomo e produtor ao longo de quase todo o século passado, “na agricultura é preciso andar na contramão”! Portanto, neste momento em que o mercado está dando sinais de queda, não se lamente, NEGOCIE!!

março 2015 – Agro DBO | 39


Clima

Chuvas voltam, mas preocupações continuam... A natureza anda caprichosa e nesses últimos anos provoca sobressaltos tanto nos cidadãos urbanos como nos produtores rurais. Marco Antônio dos Santos *

O

* o autor é engenheiro agrônomo e agrometeorologista da Somar Meteorologia.

mês de janeiro foi marcado pela forte estiagem e pelas altíssimas temperaturas registradas em praticamente todo o Brasil, com exceção apenas para os estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e parte do Paraná, onde foram registradas chuvas acima da média histórica. Essa ausência de chuvas regulares e, sobretudo, em bons volumes, gerou perdas irreversíveis em quase todas as culturas. Na soja, as perdas ultrapassam os 3 milhões de toneladas; no milho de verão a produção poderá sofrer reduções na ordem dos 10%, enquanto no café, cana-de-açúcar e laranja as perdas para essa próxima safra 2015 aproximam-se dos 5% (sem contar, é claro, as perdas oriundas da baixa disponibilidade hídrica ocorrida ao longo de todo o ano de 2014). Além da quebra, nas culturas citadas acima, os pastos também sofreram forte redução. Muitas pastagens chegaram a secar por completo e animais morreram de fome e de sede. O segmento de hortaliças também foi severamente prejudicado. Lavouras de batata, tomate de mesa, cebola, alho e cenoura, tiveram perdas próximas dos 30%. Mesmo sendo beneficiadas pelo uso da irrigação, os lençóis freáticos e demais mananciais reduziram tanto seus volumes d’água que vários produtores tiveram dificuldades para utilizar tal recurso para contrapor a falta de água que vem do céu. Além da agricultura, a população urbana viu seus reservatórios

40 | Agro DBO – março 2015

minguarem em várias regiões, principalmente no Sudeste. E o racionamento no abastecimento começou a rondar as cidades. Os apagões começaram a ocorrer em vários Estados brasileiros, por causa do alto consumo de energia elétrica e a falta de chuvas nos reservatórios. Toda essa anomalia climática estava diretamente ligada às temperaturas das águas dos oceanos. Tanto na região do Pacífico sul, quanto no Atlântico sul, as temperaturas das águas se mantiveram acima da média, o que gerou bloqueios atmosféricos, que impossibilitavam o avanço das frentes frias sobre as regiões Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste. E, pela primeira vez em décadas, perdeu-se soja por deficit hídrico no Mato Grosso.

Devido a esses bloqueios atmosféricos sobre o Sudeste, todo o canal de umidade vindo da Amazônia ficou direcionado para o Sul do Brasil e com as frentes frias também presas sobre a região, os volumes de chuvas registrados no mês de janeiro superaram as médias históricas. Assim, houve alagamentos das áreas de arroz e perdas na produtividade que poderão chegar aos 8%. Todavia, no final de janeiro e começo de fevereiro o bloqueio atmosférico enfraqueceu e as frentes frias começaram a avançar com maior facilidade pela região central do Brasil. Dessa forma, o mês de fevereiro foi totalmente diferente de janeiro, as chuvas retornaram a todas as regiões de forma irregular ainda, mas os volumes registrados superaram os vo-

Mapa 1: Anomalia de chuvas do mês de janeiro/2015: mostra onde as chuvas ficaram mais concentradas durante o mês. Anomalia da precipitaçãao mensal (mm)

sem dado -150 -100 -50 -25 -10

janeiro de 2015

0

10 25 50 100 150 (mm)


lumes históricos em grande parte do Brasil. Com isso, os níveis de umidade do solo se elevaram, beneficiando o desenvolvimento das lavouras e, sobretudo, cessando as perdas que vinham ocorrendo nas lavouras. Os bons volumes de chuvas também proporcionaram uma elevação nos níveis de água dos reservatórios, onde alguns chegaram a subir até 15 pontos percentuais ao longo do mês. Mas se a situação da agricultura se normalizou durante fevereiro, a preocupação permanece no quesito Abastecimento e Geração de Energia Elétrica, pois mesmo havendo uma elevação dos reservatórios, esses continuam muito aquém do ideal para essa época do ano. Dessa forma, o risco para novos desabastecimento de água e apagões de energia elétrica continua alto no futuro período de seca (abril a outubro). Se a grande marca de fevereiro foi, sem dúvida, o retorno das chuvas e a queda nas temperaturas, o mês de março poderá ser novamente marcado pela irregularidade no regime pluviométrico. Os modelos de previsão sinalizam que as chuvas continuarão a ocorrer ao longo de todo o mês de março, porém de uma forma muito irregular, principalmente sobre as

regiões Centro-Oeste e Sul. Somente sobre a região Norte e Nordeste é que as chuvas deverão ficar mais intensas, uma vez que a ZCIT (Zona de Convergência Intertropical) deverá se instalar na faixa leste do Nordeste e com isso canalizar a umidade da Amazônia, provocando chuvas intensas e contínuas durante a primeira quinzena do mês. Mesmo com essa irregularidade no regime de chuvas na metade sul do país, as condições ainda se manterão favoráveis ao desenvolvimento das lavouras, principalmente para as culturas de 2ª safra, como milho, algodão, feijão, girassol e sorgo. Mas essas chuvas mais intensas, especialmente na região do Matopiba, poderá atrapalhar o pleno andamento da colheita da soja e do milho, causando até mesmo algumas perdas regionalizadas. Porém, esse não deverá ser o padrão do tempo durante todo o mês de março, pois os modelos meteorológicos indicam uma nova possibilidade de ocorrência de alguns bloqueios atmosféricos durante a segunda quinzena do mês e isso poderá trazer novamente a preocupação em relação ao desenvolvimento das lavouras de café, cana-de-açúcar e laranja, bem como para as la-

Mapa 2: Anomalia de chuvas do mês de fevereiro/2015: mostra onde as chuvas ficaram mais concentradas durante o mês. Anomalia da precipitaçãao mensal (mm)

sem dado -150 -100 -50 -25 -10

01/2 – 19/02

0

10 25 50 100 150 (mm)

Chuva prevista (mm) - 03-2015 5N

EQ

5S

10S

15S

20S

25S

30S

35S

70w

65w 40

80

60w 100

55w 130

50w

45w

150

200

40w

35w

250

vouras de milho safrinha e feijão, plantadas no Sudeste e em Goiás. Já no Sul a tendência é que as chuvas continuem ocorrendo conforme foram observadas durante o mês de fevereiro. Ou seja, haverá chuvas, pelo menos uma boa pancada por semana. Isso possibilitará que as lavouras se desenvolvam normalmente, assim como favorecerá os trabalhos de colheita e demais tratos culturais. Tais condições só não serão favoráveis para os mananciais, uma vez que essa paralisação de chuvas regulares poderá levar a novas reduções em seus níveis, causando ainda mais apreensões em relação ao desabastecimento e a possíveis apagões. E se alguém está pensando que isso é apenas uma anomalia momentânea (só deste ano) pode estar errado. Segundo alguns especialistas em climatologia, esse poderá ser o padrão do clima ao longo das próximas duas décadas, devido ao ciclo de 30 anos que o planeta, e, mais precisamente os oceanos, estão passando. Mas isso deixo para explicar nas próximas edições. março 2015 – Agro DBO | 41


Legislação

Produtor rural: pessoa física ou jurídica? Conheça os benefícios e as desvantagens de permanecer como contribuinte individual ou abrir uma empresa, a tal “pejotização”. Fábio Lamonica Pereira1 Cléberson R. Vieira Schwingel2

N

os últimos anos, tem sido observado um crescente movimento de incentivo aos produtores rurais para que contabilizem o resultado de suas atividades como pessoa jurídica e não como física, o que ocorre tradicionalmente. Como se trata de uma opção, é preciso que se faça uma análise mais apurada a fim de que se verifiquem as vantagens e desvantagens, bem como as implicações, na adoção de um ou outro modelo.

rural (agricultura, pecuária, extração e exploração vegetal e animal, a transformação de produtos decorrentes da atividade rural etc.), como pessoa física, está sujeito ao pagamento de Imposto de Renda à alíquota progressiva de até 27,5% que incidirá sobre a diferença entre as receitas e as despesas no respectivo ano-base. Considerado como a utilização de recursos, tendo por objetivo “o desenvolvimento da atividade para expansão da produção ou melhoria da produtividade agrícola”, o investimento na atividade rural, assim como as despesas de custeio, é visto como despesa para fins de apuração da base de cálculo do Imposto de Renda. É importante observar que tanto a pessoa física quanto a jurídica que explorem atividade rural podem compensar eventu-

O governo federal facilita para o produtor rural formalizar-se como empresário.

Os autores são advogados, especialistas em 1 Direito do Agronegócio 2 Direito Tributário

O produtor rural sempre deve ser assessorado por um profissional da área jurídica e contábil, independentemente de tratar-se de pessoa física ou jurídica. Ainda assim, também é essencial que entenda, ao menos em parte, do mecanismo que reúne todas as informações de sua atividade e apura os resultados obtidos. Aquele que exerce a atividade

42 | Agro DBO – março 2015

ais prejuízos em anos posteriores, desde que, no caso da empresa, apurem seus tributos federais pelo lucro real. Para fins de apuração do resultado da atividade rural e consequente incidência de Imposto de Renda, a pessoa física deve manter escrituração de livro caixa (dispensado em caso de receita bruta total inferior a R$ 56.000,00), no qual

são lançadas todas as receitas, despesas de custeio e investimentos etc. A própria Receita Federal disponibiliza em seu site um aplicativo específico para tal finalidade. Vale observar que a escrituração deve ser sustentada por documentos idôneos que identifiquem corretamente a transação e as partes envolvidas, sendo passível de fiscalização, lembrando que se trata de imposto sujeito a lançamento por homologação (o contribuinte declara os valores com base nos documentos que devem ser mantidos em arquivo e o fisco, segundo suas regras, concorda ou não com o lançamento). Caso não haja escrituração, tal qual determinado em lei, a Receita Federal poderá lançar o imposto à alíquota de 20% a incidir sobre a receita bruta do respectivo ano-calendário. Ainda é possível, por exemplo, a dedução (como custeio da atividade rural) do valor, a título de aluguel, descontado de empregado (desde que conste do contrato de trabalho ou que haja contrato de locação) que habite em imóvel localizado na respectiva propriedade rural. Tal receita, contudo, deve integrar o ajuste anual, estando sujeita ao recolhimento mensal do carnê-leão. Quanto à constituição de pessoa jurídica, o Código Civil assegura “tratamento favorecido, diferenciado e simplificado ao empresá-


rio rural e ao pequeno empresário, quanto à inscrição e aos efeitos daí decorrentes”. Observa-se a tentativa de facilitação para o produtor rural formalizar-se como empresário. Mas qual a vantagem se a legislação já oferece benefícios diferenciados enquanto pessoa física? Além da diferença nas alíquotas a título de impostos, é preciso considerar outra questão. O produtor rural, seja ele pessoa física ou pessoa jurídica individual, está sujeito de forma ilimitada, salvo exceções, às obrigações contraídas junto a terceiros. Quando há constituição de pessoa jurídica, formada por dois ou mais sócios, de caráter limitado, cada sócio responde pelo valor de suas quotas e todos, solidariamente, pela integralização do capital da sociedade, conforme determina o Código Civil. Isso quer dizer que a sociedade oferece certa proteção, limitando a responsabilidade das pessoas físicas, o que, por si só, é um enorme atrativo. Não sem motivo é que muitos produtores rurais passaram a constituir “holdings” (empresas controladoras ou administradoras de patrimônio) com característica familiar e de exploração rural, passando a integralizar as cotas da empresa mediante a transferência de bens, especialmente os imóveis, o que facilita, em muito, a transferência patrimonial em vida, além de atrair considerável redução da carga tributária. Vale também lembrar o entendimento (ainda não pacífico) acerca da interpretação de dispositivo do Decreto Lei n. 167/67 (que trata dos títulos de crédito rural) que proíbe (considera como nula) garantias, sejam pessoais (aval) ou reais (hipoteca, por exemplo) que tenham sido oferecidas por terceiros. As exceções ficam por conta de operação emitida por pessoa jurídica em que a garantia tenha sido prestada pela própria empresa, por um ou mais dos sócios dela partici-

pante ou por outra empresa. Caso haja opção pela constituição de uma sociedade, haverá obrigação e pagamento de diversos encargos e contribuições, da mesma forma que as demais empresas. Ainda assim, há benefícios às empresas de produtores rurais, sendo que “os bens do ativo imobilizado (máquinas e implementos agrícolas, veículos de cargas e utilitários rurais, reprodutores e matrizes etc.), exceto a terra nua, quando destinados à produção, podem ser depreciados, integralmente, no próprio ano-calendário de aquisição. Também é possível a compensação dos prejuízos fiscais, decorrentes da atividade rural, com o lucro da mesma atividade, sem que seja aplicado o limite de 30%, desde que a empresa opte em apurar seus tributos federais pelo lucro real. A empresa poderá aderir à forma de apuração pelo lucro real ou presumido, sendo esta última a mais comum, pois é uma forma simplificada de apuração da base de cálculo do Imposto de Renda e da Contribuição Social, pela qual as despesas da empresa são desconsideradas.. No caso da apuração pelo lucro presumido e, para a incidência das alíquotas do IRPJ (15%) e da CSLL (9%), a lei atribui (por isso presumido) um percentual de lucro que, no caso da atividade rural é de 8%, desde que o faturamento bruto anual não exceda a R$ 78.000.000,00 (setenta e oito milhões de reais). Com isso, sujeitam-se ao pagamento dos seguintes encargos: Cofins, PIS, IRPJ, adicional de IRPJ, CSLL, INSS sobre folha de pagamentos e, IPI em caso de industrialização. Em ambas as situações (lucro real ou lucro presumido), as empresas que exploram atividades rurais também estão sujeitas ao ICMS sobre as receitas de suas comercializações. Para as empresas que faturam até R$ 3.600.000,00 (três milhões e seiscentos mil reais) será possível aderir

Tabela 1 Receita Bruta em 12 meses (em R$)

Alíquota

Até 180.000,00

4,00%

De 180.000,01 a 360.000,00

5,47%

De 360.000,01 a 540.000,00

6,84%

De 540.000,01 a 720.000,00

7,54%

De 720.000,01 a 900.000,00

7,60%

De 900.000,01 a 1.080.000,00

8,28%

De 1.080.000,01 a 1.260.000,00

8,36%

De 1.260.000,01 a 1.440.000,00

8,45%

De 1.440.000,01 a 1.620.000,00

9,03%

De 1.620.000,01 a 1.800.000,00

9,12%

De 1.800.000,01 a 1.980.000,00

9,95%

De 1.980.000,01 a 2.160.000,00

10,04%

De 2.160.000,01 a 2.340.000,00

10,13%

De 2.340.000,01 a 2.520.000,00

10,23%

De 2.520.000,01 a 2.700.000,00

10,32%

De 2.700.000,01 a 2.880.000,00

11,23%

De 2.880.000,01 a 3.060.000,00

11,32%

De 3.060.000,01 a 3.240.000,00

11,42%

De 3.240.000,01 a 3.420.000,00

11,51%

De 3.420.000,01 a 3.600.000,00

11,61%

ao Simples Nacional que consiste em um sistema tributário diferenciado e simplificado com alíquotas mais atrativas e agregadas conforme incidência progressiva apontada na tabela 1. Se a empresa rural concomitantemente industrializar e comercializar, a cada faixa de tributação do Simples Nacional será acrescido 0,5% a título de IPI. Diante de tal situação, os produtores rurais, os quais tradicionalmente exploram sua atividade como pessoas físicas, têm outras opções que, em determinadas situações, podem mostrar-se atrativas, oferecendo maior organização, segurança e menor pagamento de tributos além de ainda ajudar a resolver problemas sucessórios. março 2015 – Agro DBO | 43


Safra

O que será da safrinha? Depois de longo período de estiagem, as chuvas chegaram a Mato Grosso, mas os problemas e as dúvidas dos produtores persistem. Marianna Peres

Q

uem depende de soja e milho como matéria-prima ou produto de compra e venda diz que a indefinição sobre o desenvolvimento da safra é o que há de pior para a dinâmica do setor. Quando o plantio de grãos do ciclo 2014/15 começou, na segunda quinzena de setembro passado, as estimativas indicavam queda nos preços neste ano devido à oferta excessiva no mercado mundial. Logo depois, a estiagem assolou grande parte do Centro-Oeste, derrubando ainda mais os ânimos. No final de ja-

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neiro, as chuvas voltaram e o dólar disparou, reanimando os agricultores. No entanto, o elevado custo de produção (efeito colateral da valorização da moeda norte-americana), a redução do potencial das lavouras de verão, o clima instável e a safrinha “espremida” fizeram os agricultores voltarem à realidade – eles sabem que o ‘jogo’ só termina com o apito do juiz. Em fevereiro, com a segunda s safra em pleno desenvolvimento, ninguém garantia que, desta vez, a safrinha justificará sua função principal – garantir a renda

do agricultor. Em Mato Grosso, principal produtor do país, o milho continuava liderando a preferência como cultura de rotação de solo para a segunda safra, bem distante do algodão. O cereal pode ter rendimento menor este ano por falta de investimentos em tecnologia durante a semeadura e plantio fora da janela, por causa do atraso na colheita da safra de verão. Em Mato Grosso, o período ideal se encerrou em 20/2, quando menos de 40% da superfície projetada estava coberta. O saldo da produção do Centro-Oeste – que vai impactar


no total nacional, como aponta o analista da AgRural, Adriano Gomes –, segue em aberto, com um agravante em relação à safrinha: “Com o avanço do plantio do milho fora da janela, a incógnita desta safra só aumenta, tanto para a produção, em razão da redução de tecnologia e do risco de seguir com a semeadura após fevereiro, como para o tamanho da área plantada. Tínhamos uma sinalização de redução significativa até dezembro, que deixou de se confirmar em razão da reação nos preços da saca”. O atraso no plantio de soja por falta de chuvas estreitou a janela do milho safrinha, cultura com maior adesão para segunda época no Centro-Oeste – habitualmente, a semeadura do milho safrinha é feita na medida em que a cultura principal vai sendo colhida. O clima, que já impactou o potencial produtivo da sojicultura da região, segue como vilão da safrinha. “Estamos em um ano muito complicado para se fazer estimativas de safra”, alerta Gomes. O fiel da balança O analista do Imea – Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária, Ângelo Ozelame, frisa que o clima vai definir a safra. “Encerramos fevereiro com atrasos na colheita da soja e no plantio da safrinha. As chuvas se intensificaram e elas ameaçam a soja que está no ponto de colheita e também impede o plantio da safrinha, estreitando ainda mais a janela ideal”. Em sua opinião, o clima seguirá como o grande diferencial entre a safrinha 2015 e a anterior. “Temos a expectativa de que, nesse ano, o corte no regime de chuvas seja antecipado, o que seria gravíssimo ao milho, por exemplo”. Conforme estimativas do Imea, o milho segunda safra em Mato Grosso terá redução de 12,2% em área, de 6,2% em produtividade e de 17,6% em produção. Se a projeção se confirmar, serão ofertadas 14,6 mi-

O clima instável obrigou muitos produtores a estender a jornada de trabalho até à noite, tanto no período de plantio quando na colheita.

lhões t, o menor volume desde a safra 2011/12, considerada divisora de águas no estado. Foi a partir desse ciclo que o milho se consagrou como a melhor opção de segunda época para Mato Grosso. Segundo Ozelame, milho e algodão têm pesos diferentes na tomada de decisão do produtor. Os preços desestimularam os produtores das duas culturas. Quem planta algodão manteve a intenção de plantio, mas, em função do alto custo, revisou a área para menos. “A cultura exige muita tecnificação e maquinário e por isso quem tem essa estrutura não deixa de plantar. Quem costuma plantar milho, por exemplo, pode optar por outra cultura se o cereal não se mostrar rentável”. Ainda em relação à pluma, o analista explica que, em 2014, a arroba foi comercializada em média a US$ 0,80 por libra-peso e fechou no mês passado abaixo de US$ 0,60 l\p. “Quando o mercado apontou baixos preços ao milho,

houve a expectativa de que a área plantada de algodão pudesse atingir 80% na segunda safra. No entanto, com a reação da cotação do cereal, a proporção da cultura se manteve em 75% em segunda safra e 25% em primeira. O atraso no plantio da soja – que impossibilitou lavouras precoces em algumas regiões – levou os produtores a deixar de fazer soja safrinha e plantar direto o algodão como opção de primeira safra”. O produtor Antônio Galvan, de Sinop, no norte mato-grossense, que finalizou o plantio da soja após o fim da janela ideal, viu o mesmo repetir com o milho, sua principal cultura de segunda época. A área de 850 hectares destinada ao cereal foi reduzida em mais de 23%, passando para 650 ha. Antes do atraso da soja, ele havia planejado semear mil hectares com milho safrinha até o dia 18 do mês passado. No entanto, não entrou com as máquinas no campo na semana do carnaval,

Em várias regiões do Centro-Oeste, especialmente em Mato Grosso, o plantio foi feito sob chuva.

março 2015 – Agro DBO | 45


Safra

como pretendia. Com as chuvas, não pode colher soja nem plantar milho. Para fechar seu planejamento de 650 ha, disse que precisaria de pelo menos três dias seguidos de trabalho integral para cobrir os 320 hectares restantes. Apesar do atraso no plantio, da alta dos custos, das incertezas em relação ao clima, Galvan não abre mão da tecnologia. “Prefiro nem plantar se tiver que empregar baixa tecnologia. O milho é multiplicador de nematoides, especialmente os de solo. Pouco adubo faz a planta produzir menos e interfere negativamente na soja. Se não puder fazer o milho bem feito, que se faça uma boa palhada com braquiária, milheto ou crotalária”. Pelo segundo ano consecutivo, ele consorciou milho com braquiária e crotalária. “O que não tiver milho terá essas duas forrageiras, pois elas cobrem o solo, fornecem massa, evitam erosão e

46 | Agro DBO – março 2015

Para a Aprosoja, a Instrução Normativa que proibe a soja safrinha deu um enfoque técnico a uma discussão comercial.

O regime de chuvas e a tecnologia aplicada vão definir o potencial produtivo. a qualidade do milho. A maioria dos produtores espera reação nos preços.

nitrogenam o solo, Além disso, a crotalária controla os nematoides”. Ressabiado com a possibilidade de produtividade menor que a esperada, ele aposta tudo nas chuvas até maio. “Se chover bem, o potencial de produção do meu milho, de 120 sacas por hectare, vai se confirmar, gerando bom retorno financeiro”. Como ele explica, o custo de produção do cereal, considerando apenas os insumos, equivale, ao preço médio de R$ 15, a 66 sacas – frete, armazenagem e outras despesas não foram contabilizadas nesta conta. “Espero maior reação dos preços, mas se não houver, vou segurar minha produção. Tenho armazém próprio e posso esperar por um momento mais favorável”. Na outra ponta do estado, o otimismo vai regendo a estratégia do produtor Osvaldo Pasqualotto, proprietário da fazenda Helena, em Juscimeia. Ele resolvera dimi-

nuir a área de milho, mas virou a direção e resolveu aumentar a lavoura, na expectativa de preços melhores. O fator “sorte” também influi na decisão: ao contrário do que ocorreu com muitos produtores, não teve muitos problemas na lavoura de soja precoce. Mesmo admitindo plantar com menor emprego de tecnologia nas áreas que excederam à janela, correspondentes a 15% dos 3 mil hectares cultivados, ele espera bons resultados com milho safrinha. Em fevereiro do ano passado, já havia comercializado 40% de sua produção no mercado futuro a R$ 14,50, em média, para entrega em junho. Nesse ano, vendeu 30% de forma antecipada, com cotações entre R$ 19 e R$ 21. “Estou na melhor praça do estado para o milho, a cerca de 70 quilômetros do terminal ferroviário. Também por isso arrisquei estender mais um pouco a área de milho”. Além da logística, Pasqualotto tem estrutura própria de armazenagem e fabrica a ração para o semiconfinamento bovino que realiza. “Acredito muito na reação dos preços e aposto que o saldo dessa safrinha de milho será a melhor dos últimos dois anos. Além de a área plantada encolher no Centro-Oeste, haverá muito milho de baixa tecnologia, semeado fora da janela. Resultado: a oferta será menor nesse ano”. Conforme a AgRural, até janeiro a previsão era de uma redução de 10,3% na área plantada com mi-


A polêmica sobre o vazio sanitário continua em Mato Grosso. Para muitos produtores, a antecipação da data de início é prejudicial. lho safrinha em Mato Grosso, 6% em Mato Grosso do Sul e 2,4% em Goiás. Em fevereiro a projeção foi revista para -8,3%, -5% e -4%. Diferentemente dos produtores de milho, os de algodão viraram o mês de janeiro com praticamente 100% da área estimada plantada. Segundo consultas feitas pela Ampa – Associação Mato-grossense dos Produtores de Algodão junto a seus associados, a superfície está cerca de 12% menor que a anterior. A área de plantio, que fechou em quase 646 mil ha na safra 2013/14, é estimada agora em 560 mil ha, com produção de pouco mais de 860 mil toneladas. “A redução se dá em função dos cenários internacional e doméstico, com altos estoques de pluma e preços da arroba abaixo do mínimo estipulado pelo governo brasileiro”, destaca a entidade. A média da última semana de fevereiro, quando essa edição foi fechada, era de pouco mais de R$ 50, ante R$ 70 em igual momento de 2014. Mais uma vez, os cotonicultores sofreram com o combate ao bicudo. O IMAmt – O Instituto Mato-grossense do Algodão, braço tecnológico da Ampa, reportou a captura elevada de adultos no início da safra – época de baixa infestação – nas armadilhas instaladas em todos os núcleos regionais de produção

do estado. “Se o controle e o monitoramento nos talhões não forem rigorosos e efetivos neste primeiro momento, o produtor tem alto risco de ter o bicudo fora de controle, causando prejuízos severos às lavouras”, alerta o entomologista Eduardo Barros. Polêmica longe do fim No início de fevereiro, a Sedec – Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Mato Grosso, em conjunto com o Indea – Instituto de Defesa Agropecuária de Mato Grosso, publicou a Instrução Normativa nº 001/2015, que proibiu, a partir dessa safra, o cultivo da soja na safrinha e alterou, pela terceira vez, o período de vazio sanitário, que começa a vigorar em 1/5 e se estende até 15/9, totalizando 137 dias, contra 90 dias até a safra passada. Conforme o governo do estado, as medidas visam à prevenção e o controle da ferrugem asiática sobre as lavouras da oleaginosa. A IN se baseou na orientação da CDSV/SFA/MT – Comissão de Defesa Sanitária Vegetal de Mato Grosso e em notas técnicas de instituições de pesquisa, como a Embrapa e a Fundação MT. Apesar de ter sido muito comemorada pelos pesquisadores, a proibição foi uma medida indigesta para o setor produtivo, manifestada

O bicudo continua no topo da lista dos inimigos dos cotonicultores. Neste ano, eles atacaram antes do período habitual.

pela Aprosoja. Como ressalta o presidente da entidade, Ricardo Tomczyk, a IN deu um enfoque técnico a uma discussão comercial. “Essa antecipação de data limita a janela de produção para salvar sementes e traz problemas operacionais às outras culturas da safrinha, incluindo o algodão, que dificultarão o cumprimento da determinação”. A data de 1/5 traz complicações ao controle de soja voluntária em meio à safrinha. A entidade não concorda com o cultivo de soja sobre soja para fins comerciais, pois não atende aos critérios agronômicos. Entretanto, ressalta a importância de se criar condições para que o produtor possa cultivar sua semente, já que o mercado interno atende pouco mais de 50% da demanda estadual e os produtores ficam dependentes de fornecedores de fora de Mato Grosso. Para o produtor Antônio Galvan, que voltou à presidência do sindicato rural local recentemente, a antecipação do vazio coloca em xeque a própria rotação de culturas. “Essa nova data é burra, vai prejudicar o plantio da crotalária, que é hoje o melhor recurso que temos contra os nematoides, que seguem sem qualquer produto químico para o seu combate”, protesta. Como argumenta, até o dia 30 de abril a crotalária estará com

março 2015 – Agro DBO | 47


Safra “Além do bicudo, da ferrugem e das lagartas, os matogrossenses estão enfrentando este ano grande infestação da mosca-branca. cerca de 30 a 40 cm, ao invés de 1,5 metro de altura, e não terá efeito no solo contra os nematoides. “O produtor está cansado de tanto blá, blá, blá. Cobramos solução aos problemas que surgem”. O coordenador da CDSV-SFA\ MT, Wanderlei Dias Guerra, defendeu a proibição do cultivo de soja sobre soja e da alteração do período de vazio sanitário como forma de minimizar a pressão da ferrugem e resguardar a eficiência dos princípios ativos que ainda têm ação contra o fungo causador da doença, Phakopsora pachyrhizi. “A ciência foi ouvida, se atendeu às recomendações agronômicas e não aos interesses difusos. Vamos acompanhar essa mudança em campo e os novos resultados de pesquisa. Inspecionaremos as lavouras e se forem necessárias correções, vamos sugerir, pois queremos acertar, fazer o melhor por Mato Grosso e pelo Brasil”. Recomendações técnicas Dias Guerra chama à atenção para a incidência de focos da ferrugem asiática, pois a chegada e a intensificação das chuvas propiciam ambiente favorável à eclosão da doença com fortes danos às lavouras. “Até janeiro, o clima esteve seco e isso pode levar os produtores à acomodação. É preciso medir, quantificar em que proporção a ferrugem aumenta regionalmente a partir da colheita de lavouras dessecadas, especialmente as precoces. É fato, e tenho insistido nisto, que entre a última pulverização com fungicida e a dessecação, não há mais residual de fungicida. Tenho orientado os produtores a fazerem uma última aplicação, mesmo que isto não beneficie a lavoura já madura. Nas minhas observações, não tenho dúvidas, os esporos se disseminam para la48 | Agro DBO – março 2015

A incidência de lagartas como a falsa-medideira e a lagarta-do-cartucho foi maior este ano. A Helicoverpa, a inimiga número um nas safras passadas, não assustou tanto.

vouras próximas tão logo ocorrem as colheitas e o fenômeno continua e se agrava com o maior volume de áreas sendo colhidas e com a chuvarada de fevereiro, formando o tripé ideal para a enfermidade se disseminar”. Além do bicudo, da ferrugem e das lagartas, os matogrossenses estão enfrentando este ano grande infestação da mosca-branca (B. tabaci). A entomologista Lucia Vivan, pesquisadora da Fundação MT, s, admite que o manejo da espécie tem se tornado um grande desafio, pois sua dispersão entre as culturas, seu alto potencial reprodutivo, o hábito polífago, a resistência a inseticidas e o seu comportamento (ela se alimenta e vive na face inferior das folhas) torna difícil o controle. Em Mato Grosso, segundo ela, a infestação de mosca

branca é superior à do ano passado e mais generalizada. Ela recomenda também o controle regional, pois o inseto se desloca entre as áreas. “Em acompanhamentos das áreas, durante as últimas safras, pode-se perceber que as regiões com infestações maiores de mosca branca são aquelas com plantios de algodão. A espécie migra da soja e subsiste até setembro nas rebrotas de algodão e plantas hospedeiras. Áreas de pivô com plantio de feijão também mantém essa população”, alerta. O plantio de gramíneas é uma estratégia para redução da população, já que o estabelecimento da população nesses plantios não ocorre, como aconselha a entomologista. Em relação à lagarta falsa-medideira, a infestação também foi alta em Mato Grosso, como em todas as safras, mas o inicio da invasão foi mais tardio em relação aos anos anteriores, reflexo do atraso no plantio da soja, principalmente na região do médio norte. “Em algumas áreas, os produtores tiveram grande dificuldade de controle, A detecção tardia da infestação, com presença de lagartas pequenas e grandes e com a soja no estádio R3 (com as linhas fechadas) dificultou o controle pela dificuldade de atingir o alvo, fato bem nítido em todas as regiões. No entanto, muitos produtores consideraram esse ano mais tranquilo que 2014”. Em compensação, outros relataram maior ocorrência da lagarta-do-cartucho (Spodoptera frujiperda), especialmente em áreas com soja Bt. “Em plantios com soja Bt é muito importante realizar o monitoramento, porque insetos como a mosca branca e percevejos, além da própria Spodoptera, não são alvo da tecnologia e necessitam de manejo”.



Tecnologia

Volta ao passado Sistema de terraceamento é uma das apostas dos agricultores para resgatar a fertilidade do solo e a produtividade na lavoura Gustavo Paes

Sistema de terraceamento tipo base larga, em nível, na fazenda do grupo Sementes Falcão, em Sarandi (RS).

O

ano agrícola de 2014 foi marcado pelo fenômeno El Niño, com excesso de chuvas no Sul do Brasil em curto período de tempo. As fortes enxurradas lavaram as lavouras de grãos do Rio Grande do Sul, carregando fertilizantes, sementes, restos de cultura, matéria orgânica e agroquímicos, provocando graves prejuízos econômicos e poluição ambiental. Para resgatar a fertilidade do solo e a produtividade perdida, muitos agricultores decidiram retomar práticas conservacionistas, como diversificação de culturas, semeadura em contorno e terraceamento. Atualmente, os esforços dos especialistas em conservação do solo estão centrados em demonstrar e convencer técnicos e produtores rurais de que a simples adoção do sistema de plantio direto nas regiões de clima subtropical não é suficiente para controlar a erosão hídrica.

50 | Agro DBO – março 2015

Diante do regime de chuvas, do relevo, das classes de solo e dos sistemas agrícolas produtivos predominantes nesta região do país, além da cobertura de solo, as lavouras requerem também tecnologias para o manejo das enxurradas. Na opinião de tais especialistas, a cobertura de solo via plantio direto, com plantas vivas ou com resíduos de plantas, dissipa apenas a energia de impacto das gotas de chuva, não sendo eficaz para dissipar a energia de arraste provocada pela enxurrada. Solução provada “O terraceamento é, reconhecidamente, a estrutura hidráulica mais eficaz para a segmentação de pendentes”, afirma o pesquisador José Eloir Denardin, da Embrapa Trigo, de Passo Fundo (RS). Os terraços agrícolas são estruturas mecânicas ou obras hidráulicas constituídos por um camalhão e

um canal, construídos transversalmente ao plano de declive do terreno, de modo a estabelecer obstáculo físico ao escoamento superficial das águas que não se infiltram no solo durante a ocorrência das chuvas. Os terraços agrícolas dividem o plano de declive do terreno em faixas horizontais. Eles têm por objetivo auxiliar os processos de conservação do solo e da água, pois reduzem a velocidade da enxurrada, transportando-a para fora da lavoura ou armazenando-a para que se infiltre no solo após a chuva cessar. A tecnologia, indicada para calcular o espaçamento entre terraços agrícolas e a dimensão do canal dos terraços agrícolas, foi melhorada recentemente. No passado, as técnicas disponíveis eram direcionadas apenas para lavouras manejadas sob preparo convencional, diferenciando-as somente pela


a necessidade ou não de terraços agrícolas em uma lavoura e calcular o espaçamento entre eles quando necessário, considerando fatores como a declividade do terreno, as dimensões do camalhão e do canal que se deseja construir, a taxa de infiltração de água no solo e a máxima chuva esperada para o município ou, mais especificamente, para a própria lavoura, considerando as coordenadas geográficas onde está localizada.

textura do solo e considerando chuvas padrões para qualquer região ou lavoura em todo o país. Atualmente, a inovação tecnológica mais avançada para projetar sistemas de terraços agrícolas é o modelo matemático denominado de “Terraços for Windows”, que foi desenvolvido pela UFV –Universidade Federal de Viçosa, de Minas Gerais. Com ele, é possível avaliar

Denardin insiste: “A adoção do plantio direto não é suficiente para evitar perdas por erosão hídrica”.

Conceito equivocado A tecnologia do terraceamento tem permitido, em áreas manejadas sob sistema de plantio direto, projetar terraços agrícolas com espaçamentos quatro vezes maiores do que aqueles calculados pelas técnicas anteriormente indicadas, facilitando o desempenho operacional das máquinas agrícolas. “A distância entre terraços influencia no desempenho operacional das máquinas e no manejo da lavoura. Quanto maior a distância entre os terraços, maior será o desempenho operacional das máquinas”, destaca o pesquisador da Embrapa Trigo, frisando que a técnica pode ser utilizada tanto com culturas de verão, como milho e soja, como de inverno, como trigo e aveia, por exemplo. Com a tecnologia empregada para dimensionar terraços agrícolas em lavouras manejadas sob preparo convencional, o maior espaçamento dificilmente ultrapassava 45

metros. Com a Terraços for Windows, o espaçamento dificilmente é inferior a 45 metros, mesmo em terrenos com mais de 20% de declividade, podendo atingir espaçamentos superiores a 120 metros em terrenos com declividade inferior a 6%. Na opinião do pesquisador, a agricultura brasileira, em proporção alarmante, vivencia uma grave falha na observância ou domínio dos conceitos relativos aos princípios e fundamentos que regem a busca por sustentabilidade. “Ao invés de adaptar as máquinas agrícolas à lavoura conduzida sob os preceitos da agricultura conservacionista, os agricultores, por pressão da indústria, têm optado por adaptar a lavoura às máquinas agrícolas”, lamenta Denardin. Neste cenário, prevalece a omissão de tecnologias destinadas ao manejo das enxurradas, que tem provocado perdas de insumos agrícolas, contaminação ambiental e poluição de mananciais de superfície, bem como deixado de abastecer o lençol freático e que, por consequência, vem extinguindo a água de nascentes, tanto de poços rasos quanto profundos. O especialista alerta que o abandono do terraceamento pode ser considerado um dos motivos do aumento dos danos provocados pelas estiagens. “Os terraços agrícolas de absorção fazem com que a totalidade da água, da grande maioria das chuvas, se infiltre no solo. Enquanto essa água é estocada no solo e flui

Comparativo nutricional O solo perdido por erosão hídrica em lavoura conduzida sob sistema de plantio direto é mais fértil do que o solo original da lavoura. Indicadores de fertilidade do solo

Solo da lavoura

Solo perdido por erosão

pH do solo em água

5a7

5,8 a 7,8

Cálcio (mmolc/dm3)

20 a 70

34 a 81

Magnésio (mmolc/dm3)

12 a 34

18 a 48

Fósforo (mg/dm3)

2 a 32

20 a 94

Potássio (mg/dm3)

30 a 268

190 a 656

Matéria Orgânica (%)

1,7 a 3,7

3,1 a 7,4

Fonte: Embrapa Trigo (valores médios de 31 lavouras no Rio Grande do Sul)

março 2015 – Agro DBO | 51


Tecnologia

Sistema de terraceameno base larga em lavoura de trigo.

lentamente para os mananciais subterrâneos, mantém a regularidade dos fluxos de água na natureza e serve às plantas. Na ausência do terraceamento agrícola, a água de qualquer chuva com volume superior à taxa de infiltração no solo, se transforma em enxurrada e escoa sobre o solo. Esta água, em minutos, atinge os mananciais de superfície com toda sorte de substâncias em solução e suspensão e passa a ser qualificada como água perdida, pois não abastece os mananciais subterrâneos nem serve às plantas”. Com a adoção em larga escala do

plantio direto, o terraceamento foi praticamente abandonado no Sul do Brasil, conforme Denardin. A grande maioria dos produtores rurais e dos técnicos atuantes nesta região do país têm, segundo ele, a percepção equivocada de que a adoção do plantio direto é suficiente para controlar perdas e danos decorrentes da erosão hídrica. “É uma percepção falsa. O fato é que a enxurrada em área de plantio direto transporta pouco solo, mas carrega grande quantidade de insumos agrícolas, principalmente corretivos e fertilizantes, que são aplicados na superfície ou nos pri-

Tecnologia na Expodireto O sistema de terraceamento será uma das tecnologias apresentadas pela Embrapa Trigo na 16ª edição da Expodireto Cotrijal, entre os dias 9 e 13 deste mês de março em Não-Me-Toque (RS). Promovida pela Cotrijal – Cooperativa Agropecuária e Industrial, a Expodireto é considerada uma das principais feiras agrodinâmicas do Brasil. A tecnologia da Embrapa Trigo ocupará uma área de 120 metros quadrados no estande da empresa, de acordo com o pesquisador José Eloir Denardin. “Vamos montar um simulador de chuva em cima de diferentes manejos de solo, com plantio morro abaixo e morro acima e em nível”, explica o especialista. Du-

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rante o lançamento oficial da feira, em 9 de fevereiro, em Porto Alegre (RS), o presidente da feira e da Cotrijal, Nei César Mânica, se mostrou otimista. Segundo ele, a confirmação de boas safras de milho e soja fará da Expodireto Cotrijal de 2015 um diferencial para o agronegócio brasileiro. “O produtor encontrará os mais diversos lançamentos e oportunidades de negócios. Serão cinco dias voltados para o desenvolvimento rural, com eventos direcionados para o homem do campo e lançamentos em diversos setores, tanto em máquinas quanto em produção vegetal e animal”. No ano passado, a feira recebeu 235.200 visitantes.

meiros centímetros de profundidade do solo, tornando as perdas imperceptíveis a olho nu”. O pesquisador lembra que em São Paulo e no Paraná existem leis que obrigam o produtor rural a adotar práticas de proteção do solo contra a erosão hídrica. “Nesses estados, o terraceamento também está sendo readotado”, destaca. Em sua opinião, um dos mais importantes resultados a respeito ocorreu em uma área de 148,7 hectares pertencente à empresa agrícola Sementes Falcão, de Sarandi (RS). Há 12 anos sob plantio direto, as lavouras da propriedade apresentavam terraços em desnível, associados a canais escoadouros. Projetados na época em que as lavouras eram manejadas sob preparo convencional, esses terraceamentos mostravam-se extremamente densos para a qualidade da agricultura conservacionista praticada e prejudicavam o rendimento operacional das máquinas agrícolas, tanto em razão da proximidade entre eles, que variava de 15 a 40 metros, quanto da densidade de canais escoadouros, que oscilava de 250 a 500 metros. Buscando uma solução para estes problemas, o proprietário da Sementes Falcão, o engenheiro agrônomo Humberto Falcão, aceitou o desafio de pesquisadores da Embrapa Trigo e de extensionistas da Ascar-Emater para validar o modelo matemático Terraços for Windows. À espera das chuvas Os terraços agrícolas, tipo base larga e em nível, com canais de 0,45 metro de profundidade, foram dimensionados para reter chuvas de até 130 milímetros em 24 horas. Segundo especialistas, a probabilidade de ocorrência de chuvas desta magnitude é de 15 anos, ou seja, uma a cada 15 anos. “Este dimensionamento implica afirmar que a água oriunda de chuvas inferiores a 130 mm em 24 horas é retida pelos terraços e se infiltra no solo da lavoura protegida, nutrindo as plantas e abastecendo o lençol freático, as nascentes, os poços rasos e os


O terraceamento reestrutura o solo, aumentando a qualidade da fitomassa e, por extensão, a produtividade da lavoura.

poços profundos, bem como alimentando, via subsolo, os mananciais de superfície”, explica Falcão, observando, porém, que o teste de validação só seria confirmado no momento em que ocorresse uma chuva superior a 130 mm. Hipoteticamente, o volume excedente seria perdido, provocando erosão Cerca de um mês após a instalação do novo sistema de terraços, a área de validação foi castigada por uma chuva de 142 mm. Esta precipitação, com probabilidade de ocorrência a cada 25 anos, superou a capacidade de retenção de água de alguns terraços em pontos isolados da gleba recém terraceada. Embora isso tenha gerado apreensão da equipe técnica responsável pelo investimento, a média em 24 horas ficou em 125 mm e não causou grandes problemas. Outros dois eventos pluviais com chuvas de 371 mm 325 mm colocaram o teste de validade à prova sem, contudo, ultrapassar a capacidade de contenção de água pelo novo sistema de terraços agrícolas instalado. Com base nessa série de eventos pluviais a tecnologia foi considerada validada e segura para dimensionar terraços agrícolas. A engenheira agrônoma Fernanda Viacelli Falcão, da Sementes Fal-

cão, ressalta que, com a adoção do novo sistema de terraceamento associado ao sistema plantio direto, houve 100% de controle da erosão dos solos e maior uso da terra, com o fim das antigas voçorocas. “Também tivemos incremento nos níveis de nutrientes do solo, pois a perda é zero, especialmente da camada superficial, a mais fértil”, explica. A técnica também permitiu a reestruturação do solo, aumento da atividade biológica e de matéria orgânica, diversificação de espécies, intensificação da produção, maior quantidade

Ruas em nível, sem erosão, e lavoura manejada sob plantio direto na fazenda Sementes Falcão provam a validade do sistema.

Fernanda Falcão: “O terraceamento é investimento de longo prazo, mas os resultados positivos em preservação ambiental, fertilidade do solo e economia de custos compensam”.

e qualidade de fitomassa e maior quantidade de raízes. Ainda houve menos poluição de ar, da água e do solo, pois a enxurrada foi reduzida devido a maior taxa de infiltração de água no solo, pois toda a água da chuva fica armazenada, não havendo escorrimento superficial, segundo Fernanda. “E mais do que isso, estamos preservando o recurso fundamental para a produção de alimentos no mundo: o solo”, frisa a engenheira agrônoma. Com a eficiência comprovada do sistema, a técnica foi implementada nas demais áreas. Hoje, toda a propriedade – localizada na Esquina Natalino, no município de Sarandi – é terraceada. São 600 hectares com terraços base larga em nível. “Após implementado, este sistema quando bem instalado e manejado, permanece constante, tanto nas culturas de verão como soja e milho, como nas culturas de inverno, como trigo e aveia branca, que são produzidas na propriedade”, afirma. A profissional destaca que o investimento é a longo prazo, mas compensa. Segundo Fernanda, a fazenda Sementes Falcão consegue atingir níveis muito altos de fertilidade e multiplicação dos ganhos com a redução na aplicação de fertilizantes. março 2015 – Agro DBO | 53


Artigo

Nuvens negras sobre o campo Os gargalos do agronegócio não são novos, e se agravam a cada ciclo de baixa nos preços: vem aí nova edição do Custo Brasil. Décio Luiz Gazzoni *

J

* O autor é engenheiro agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja, e membro do Conselho Editorial da Agro DBO.

á adianto que não são nuvens da sempre desejada chuva! Estou falando de perspectivas de preços e de exportação de produtos agropecuários. A soja, joia da coroa, ingressou em um ciclo de preços estáveis, porém abaixo daqueles obtidos pelos agricultores até um ano atrás. Em 2015, a produção mundial deve superar 312 milhões de toneladas (Mt), e os estoques devem ficar em torno de 30% do consumo, um nível elevado que deprime preços. Que não caem mais porque a demanda continua aquecida. Somente a China importará 73 Mt de soja em grão, este ano. Preços em alta no curto prazo, apenas se houver frustração conjunta de safras: nos EUA e no Mercosul. No médio prazo, o ciclo deve completar-se com a retração da taxa de expansão da produção, até que os estoques se ajustem e enviem sinais ao mercado, de preços mais remuneradores.

54 | Agro DBO – março 2015

No milho, a situação não é melhor, pois a demanda em baixa também está elevando os estoques para 30% do consumo. O Brasil só é competitivo quando os preços são altamente favoráveis – com preços em queda somos alijados do mercado internacional. Resta o mercado doméstico, especialmente de rações. E aí entram as exportações de carne, em que suínos e aves dependem totalmente da dobradinha soja e milho. Depois de sofrer com uma epidemia de diarreia, os rebanhos de suínos dos EUA se recuperam e devem ingressar forte no mercado, pressionando preços para baixo. A situação no mercado do frango é similar, com aumento de produção no Hemisfério Norte, pressionando os preços para baixo. Em ambos os casos há sinalização de menor produção de animais, logo, menor demanda de milho e soja, o que reforça a tese de preços menores para ambos os grãos. A exceção é a carne bovina, cuja demanda se encontra em alta com produção contida, logo, preços em alta. Até aqui, nada de mais, no sistema capitalista são normais os ciclos de alta e de baixa de preços, um ajuste permanente do equilíbrio entre oferta e demanda. O busílis da questão está em o Brasil não haver se preparado convenientemente para o período de vacas magras, durante o ciclo de vagas gordas, quando deveria ter potencializado suas vantagens competitivas e eliminado os gargalos, mais conhecidos como Custo Brasil. Ou seja, aquele custo adicional ao qual as cadeias produtivas brasileiras

estão submetidas, quando comparadas com seus concorrentes. Lembrando sempre que o mercado não remunera custos, não protege ineficientes, ele seleciona os mais eficientes. Durante a segunda metade da década passada e a primeira metade da presente década, o agronegócio brasileiro expandiu-se a altas taxas, sendo as elevadas cotações das commodities agrícolas no mercado internacional, o principal driver. Quando as cotações estão em alta, mesmo os produtores mais ineficientes mantém-se no mercado, porque existe uma margem remuneradora entre seu custo de produção e o preço de mercado. Porém, quando o mercado entra em ciclo de baixa, as ineficiências são expostas e passam a fazer a diferença entre lucro ou prejuízo, crescer ou desaparecer. Aí é que entra uma bigorna chamada Custo Brasil, a qual torna periclitante o protagonismo brasileiro no mercado internacional. Comparado com nossos concorrentes – dos quais os Estados Unidos é sempre o paradigma que estabelece a linha base – temos inúmeras desvantagens competitivas. Nossa infraestrutura é precária, foi dilapidada nos últimos anos; nossa matriz de transporte é fundada em rodovias, que estão esburacadas, congestionadas, e, quando trafegáveis, têm pedágio elevado. Nos últimos anos, não foram entregues rodovias, hidrovias ou ferrovias que fizessem a diferença e reduzissem o altíssimo custo dos


fretes. Quando o produto chega ao porto, encontra-o saturado, desaparelhado, atrasado tecnologicamente, causando atrasos e impondo custos. Essa demora expõe outra ineficiência: a falta de armazenamento adequado, fazendo com que os grãos, eventualmente, sejam estocados ao ar livre, sujeitos a intempéries, ou em carrocerias de caminhões! Cerca de 10% do petrodiesel do Brasil é consumido pelas cadeias agrícolas, e seu custo é muito maior do que o norte americano. Não apenas a energia, mas também a comunicação – essencial para os negócios – é muito mais cara em nosso país. O Brasil tenta exportar impostos. Como o mercado não aceita, o produtor precisa arcar com esse custo, reduzindo sua receita. A mão-de-obra desapareceu do campo, e a remanescente é cara. A burocracia estatal e o ambiente de negócios são adversos em nosso país, seja na regulação trabalhista, tributária ou no registro de insumos. O câmbio – o preço de todos os preços – é outro depressor do agronegócio. Durante todo o ciclo de cotações altas, o real esteve super valorizado em relação ao

dólar e outras moedas. Ou seja, no período de vacas gordas, havia um parasita em seu intestino que devorava parte do alimento que deveria engordar as vacas. Agora chegamos ao ciclo de vacas magras, o parasita ficou menor (o câmbio está sendo reajustado), mas ainda sobrevive. Finalmente, não podemos deixar de considerar a questão tecnológica. Em países de clima frio, as

aspectos vantajosos, impõe um enorme custo de controle de pragas e exige tecnologias próprias para tanto. Portanto, também faltou investir muito mais – na exata medida do tamanho do desafio do nosso agronegócio – em desenvolvimento tecnológico e transferência de tecnologia, fundamentos da competitividade e da rentabilidade. Vamos ingressar em um ciclo de baixos preços com grandes

O mercado não remunera custos, não protege ineficientes, ele seleciona os eficientes. instituições científicas são milenares, as grandes questões foram decodificadas, as inovações surgem a todo o instante, e é possível o intercâmbio entre os países de clima similar. Ao sul do Equador tudo é diferente, precisamos desenvolver tecnologia que permita atingir nosso potencial – e ela não é importada. Um exemplo claro é a questão sanitária. Enquanto um produtor do Norte dos EUA tem no inverno um aliado, pois seis meses de neve mantém a pressão de fungos e insetos sob controle, aqui temos safra, safrinha e pós safrinha, ou seja, uma ponte verde que, se apresenta

desvantagens competitivas e, em um momento em que o orçamento nacional, deprimido por gastos excessivos e de baixa qualidade no passado recente, não terá condições de recuperar o tempo perdido. Quem sabe nos restou uma lição, a de que os governos não têm mais condições de atender as necessidades de investimentos para conferir competitividade ao agronegócio. Que tal, então, permitir que o setor privado o faça, seja ele de capital nacional ou estrangeiro? Obviamente, só depois que o país recuperar a confiança dos investidores.

março 2015 – Agro DBO | 55


Novidades no campo Chegou a Super 7 da MASSEY

A Massey Ferguson aproveitou o Show Rural Coopavel, realizado de 2 a 6 de fevereiro em Cascavel (PR), para lançar sua nova colheitadeira classe 7, a MF 9795 Trident. A Super 7, como também é chamada, permite plataformas de corte até 40 pés (12 metros). Com motor de sete cilindros AGCO Power com 9,8 litros, capaz de entregar até 450 cavalos e tanque de combustível de 870 litros, possui a maior taxa de descarga de grãos do mercado (150 litros por segundo, segundo a empresa), sistema de arrefecimento “V-Cool”, que praticamente elimina a necessidade de limpeza dos radiadores, e cabine mais ergonômica, com comandos centralizados.

Valtra mostra sua VERSÃO

Outra novidade no Show Rural Coopavel, a colheitadeira BC7800 integra a nova classe 7 da Valtra e, assim como MF 9795 Trident, da Massey-Ferguson, vem com motor de 9,8 litros e 7 cilindros em linha, capacidade de armazenamento de 12.334 litros no tanque de grãos e 150 litros por segundo de vazão de descarga. A BC7800 colhe, em média, 450 a 550 sacas de soja por hora, com picos de 650 sacas. Na Coopavel 2015, estava equipada com plataforma de milho de 18 linhas e 45 cm de espaçamento (18L45), mas pode receber até 24 linhas e plataformas Draper de 35 a 40 pés.

Sintonia no campo

Mandiocas de mesa

A Biotrigo Genética lançou na Coopavel a cultivar de trigo TBIO Sintonia, de ciclo precoce, estabilidade produtiva, alto nível de resistência à germinação na espiga e a doenças como a brusone e a giberela, além de elevada qualidade industrial e performance de panificação, segundo a empresa. “A TBIO Sintonia vai bem desde o Rio Grande do Sul ao Cerrado. Apresenta grande rendimento nas regiões mais quentes, oferecendo maior segurança e rentabilidade ao produtor”, afima o gerente regional Fernando Michel Wagner. A cultivar está registrada para plantio no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul -- a extensão para todo o Cerrado ainda estava em andamento no mês passado.

A Embrapa apresentou no Show Rural Coopavel duas novas variedades de mandioca de mesa, a BRS 396 e a BRS 399, ambas com elevado potencial produtivo, precocidade, polpa amarela, reduzido tempo de cozimento, resistência à bacteriose e ao super alongamento, segundo os pesquisadores. Nas três safras em que foram avaliadas, apresentaram produtividade média superior (40% e 73%, respectivamente) à cultivar padrão, a IAC 576-70, de polpa creme. Além das vantagens de mercado, a coloração amarelada, preferida pelos consumidores, está relacionada à presença de maior quantidade de betacaroteno (precursor da vitamina A).

Pulverizador com tração independente

Um dos destaques da Case IH na Coopavel, o pulverizador Patriot 250 Extreme possui tanque de 2.500 litros e barras de 24 ou 27 metros. Produzido em Piracicaba (SP), foi projetado para trabalhar em regiões de topografia irregular, situação em que o piloto necessita de mais torque. Equipado com motor Case IH FPT de 165 cv e 4 cilindros, tem tração independente: o sistema regula o fluxo de óleo nas quatro rodas. Com o acionamento do pedal de bloqueio, divide a vazão de óleo em quatro fluxos distintos, permitindo que as rodas trabalhem individualmente, concentrando de forma automática a potência para superar os obstáculos.

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Novidades no campo Carregadeira leve da new holland

A New Holland apresenta sua nova carregadeira para tratores da linha TL, capaz de suportar até 1.900 quilos. A estrutura e a capacidade são os principais itens de destaque do implemento, produzido em parceria com a MX. Outro diferencial, segundo o gerente de produto da New Holland, Nilson Righi, é o novo sistema de desengate. “Em menos de um minuto, o agricultor consegue desconectar o trator da carregadeira e utilizá-lo em outra atividade; por isso, ele não precisa ter um trator dedicado apenas à carregadeira”, explica Righi.

Novo motor da MWM

A MWM International lançou o motor Série 12 de seis cilindros em linha e 7,2 litros, destinado ao segmento de geração de energia. Com potência de 282 a 312 cavalos a 1.800 rpm, o novo propulsor possui cabeçotes individuais e camisas úmidas removíveis que, segundo a empresa, proporcionam manutenção simples, rápida e econômica, permitindo o reparo do motor sem a necessidade de removê-lo. O Série 12 também vem com sistema de injeção mecânica com bomba Bosch em linha, sistema completo de arrefecimento (radiador e tubulação) e unidade de filtro de ar.

Sorgo gerador de energia

Sementes do primeiro híbrido de sorgo biomassa desenvolvido pela Embrapa, o BRS 716, já estão disponíveis para comercialização. De ciclo curto e rápido crescimento (pode chegar até seis metros em 180 dias), gera energia com poder calorífico similar ao da cana, do eucalipto e do capim-elefante. Segundo o pesquisador André May, da Embrapa Milho e Sorgo, chega a produzir 150 toneladas de matéria fresca por hectare. Os interessados devem entrar em contato com o escritório de negócios de Sete Lagoas da Embrapa Produtos e Mercado pelo telefone (31) 3027-1310 ou pelo e-mail spm.eset.vendas@embrapa.br.

Milho powercore

▶ Cultivar de arroz irrigado

A Basf e a Epagri apresentaram no mês passado aos arrozeiros do Sul do Brasil a SCS121 CL, cultivar de arroz irrigado desenvolvida por pesquisadores da Estação Experimental de Itajaí (SC) para ser cultivado no sistema de produção Clearfield. Os pesquisadores relacionam como principais características da cultivar o alto potencial produtivo, a tolerância ao herbicida Kifx (o que permite o controle químico do arroz vermelho) e ao acamamento, estabilidade de produção, adaptabilidade ao sistema de cultivo pré-germinado, bom rendimento industrial, adequação ao processo de parboilização e qualidade culinária. As sementes estarão disponíveis para a safra 2015/16.

Lançamento da Coodetec, o híbrido CD 384PW controla pragas e plantas daninhas. Com tecnologia Powercore, é tolerante ao glifosato e ao glufosinato. “São três genes de controle de insetos, com efeito direto sobre pragas comuns na safrinha”, diz o gerente de pesquisa da empresa, Adilson Schuelter. Ele lembra que, ao optar pelo CD 384PW, o produtor deve cultivar também milho convencional. “Diferente dos 10% recomendados para outras tecnologias, a área de refúgio para Powercore passa a ser de 5%, devido aos três genes estaqueados para controle de pragas”.

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Análise de mercado

Estoques pressionam preços A produção mundial de algodão deve cair na temporada 2015/16, mas a situação ainda é crítica para os produtores, por causa da superoferta.

D

e acordo com o relatório de fevereiro do Icac – Comitê Internacional do Algodão, as cotações internacionais da pluma devem permanecer em patamares baixos este ano. As estimativas apontam para uma queda de 7,9% na área plantada na temporada 2015/16. O mundo deverá semear 31,6 milhões de hectares e produzir 24,6 milhões de toneladas, 5,7% à menos em relação à safra 2014/15 – o menor volume desde o ciclo 2009/10. Na Índia, preços baixos e aumento nos custos podem levar à uma redução de 5% no tamanho da lavoura, limitando a colheita a 6,5 milhões t. Na China, a área semeada deverá cair 10%, com colheita

esperada de 5,7 milhões t – a menor desde a safra 2003/04. Para os Estados Unidos, a estimativa é de 3,3 milhões t, redução de 7% frente à temporada 2014/15. No Paquistão, outro produtor relevante, a produção deve diminuir 9%, para 2,2 milhões t. Do lado da demanda, o consumo mundial poderá chegar a 24,7 milhões t na temporada 2015/16 (aumento de 1,9%), superando a produção pela primeira vez em cinco safras, devido a uma melhora moderada do crescimento econômico mundial na ordem de 3,5%, segundo previsão do Fundo Monetário Internacional. O analista Carlos Cogo, Sócio-Diretor da Carlos Cogo Consultoria Agroeconômica, sediada em Porto Alegre

(RS), adverte, porém, que o preço do poliéster poderá cair mais rápido que o do algodão – a queda dos preços do petróleo elevou a competitividade das fibras químicas sintéticas, concorrentes diretas do algodão no mercado de fios/vestuário. Segundo ele, o aumento da demanda vai influir, obviamente, nas cotações no período 2015/16 (para a temporada 2014/15, o Icac prevê queda de 25,3% no Índice Cotlook A, ou seja, 68 centavos de dólar por libra-peso, em relação à temporada anterior), mas o fiel da balança – pressionando fortemente para baixo – são os estoques globais. “Tais estoques, associados à forte baixa dos preços do petróleo – que deve persistir –, dificultará qualquer

SOJA – As cotações subiram na primeira quin-

zena de fevereiro e permaneceram firmes, com pequenas oscilações. Grosso modo, quatro fatores ajudaram a sustentá-las: 1 - a notícia de que os EUA vão plantar área menor na próxima temporada; 2 - o câmbio, que aumentou a atratividade, no que se refere às exportações; 3 - o clima instável no Centro-Oeste, principal região produtora. Ora faltou chuva, atrasando o plantio, ora choveu demais, prejudicando a colheita; 4 - a demanda.

* Em 13/2, o Indicador Cepea/Esalq/BM&FBovespa registrou R$ 63,60 por saca de 60 kg, posto Paranaguá, descontado o prazo de pagamento pela taxa CDI/Cetip.

TRIGO – As cotações cairam no começo de fevereiro. Sem espaço para armazenar a produção da safra de verão, os triticultores foram obrigados a liberar o trigo dos silos e, eventualmente, reduzir preço para acelerar o escoamento. Porém, com a maior oferta de milho (ambos são substitutos em ração animal), a procura foi pequena. No final do mês, a oferta diminuiu por causa da greve dos caminhoneiros e retração dos produtores, mais preocupados com a colheita da safra de verão.

* Em 13/2, o Indicador Cepea/Esalq registrou R$ 567,04 por tonelada, mercado disponível, à vista (o valor a prazo é descontado pela taxa NPR), posto Paraná.

ARROZ – O preço do arroz em casca no Rio Grande do Sul, principal produtor do país, permaneceu em trajetória de queda na primeira quinzena de fevereiro. Embora tenha reagido em alguns momentos, vem caindo desde o final de janeiro, pressionado, na ocasião, pela proximidade da colheita e, depois, pelo aumento da oferta e baixa liquidez interna. As beneficiadoras, bem abastecidas no mercado spot ou através das aquisições em leilões do governo, mal sairam às compras.

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* Em 13/2, o Indicador Arroz em Casca Esalq/Bolsa Brasileira de Mercadorias – BM&FBovespa registrou R$ 37,49 à vista por saca de 50kg, tipo 1, posto indústria Rio Grande do Sul.


Análise de mercado movimento altista mais consistente nos preços da pluma”. Cogo lembra que, para a Índia e o Paquistão (dois grandes produtores e consumidores de algodão), a demanda prevista é de 5,3 e 2,4 milhões t, respectivamente, o que representa 33% do consumo mundial. “Entretanto, deve-se considerar que o estoque final de 2015/16 está estimado em 21,4 milhões t, 10,5% menor ante o ano-safra anterior, mas, ainda assim, suficiente para atender 316 dias da demanda global”. Ou seja, muito algodão. E para complicar ainda mais o quadro, a China decidiu usar seus próprios estoques e diminuir as compras externas na temporada atual. No que diz respeito ao Brasil, a produção de algodão na safra em curso deverá ser 11% inferior à da temporada 2013/14. A área cultivada foi estimada pela Conab em 995,8 mil hectares, com produção estimada em 1,5 milhão de toneladas de pluma. Em Mato Grosso, responsável por 55,8% da produção nacional,

o plantio da 1ª safra 2014/15 foi finalizado. As projeções indicam produção de 976,6 mil t, 15,2% a menos em relação à safra passada. Na Bahia, segundo maior produtor, a safra deve chegar a 465,2 mil t, queda de 3,7% sobre a do ano anterior. É esperada maior oferta em relação ao ano-safra de 2013/14 somente no Piauí, Maranhão e Tocantins Segundo especialistas do setor, o algodão é uma cultura de alto investimento, sem “jogo de cintura”. Exige muita tecnificação e maquinário e, por isso, quem tem tal estrutura não deixa de plantar. Quem cultiva milho, por exemplo, pode simplesmente optar por outra cultura na primeira ou na segunda safra se a perspectiva de preço for ruim. Em resumo, os cotonicultores dependem demais da demanda que, neste momento, é reduzida. Os estoques mundiais estão altos. No curto prazo, não deve haver grande recuperação nos preços. Com a redução no plantio em escala global, as coisas podem melhorar mais à frente.

algodão – As cotações da pluma formaram uma “bacia” na primeira

quinzena de fevereiro, com um lado (o da direita, do pondo de vista de quem a viu) mais alto. Virou o mês à R$ 168,07 centavos de real por libra-peso, conforma acompanhamento do Cepea, caiu para a faixa dos RS$ 167 nas duas semanas seguintes e depois subiu, fechando a R$ 169,03 no dia 13. A liquidez - e a valorização do dólar ante o real - garantiram a sustentação dos preços. No final do mês, no entento, eles cairam interna e externamente e recuaram para a casa dos R$ 168.

* Em 13/2, o Indicador Cepea/Esalq registrou R$ 169,03 centavos de real por libra-peso.

Fonte: Cepea – www.cepea.esalq.usp.br

café –

* Em 13/2, o Indicador Café Arábica Cepea/Esalq registrou R$ 487,83 por saca de 60 kg, bica corrida, tipo 6, bebida dura para melhor, posto cidade de São Paulo.

As cotações do arábica subiram vertiginosamente na primeira quinzena (a saca de 60 kg passou de R$ 445,43 em 30/1 para R$ 487,83 no dia 13, como mostra o quadro ao lado) e depois despencaram. O Indicador Cepea do arábica tipo 6, bebida dura para melhor, posto na capital paulista, fechou em R$ 432,93 no dia 25, baixa de 3% no mês. Na Bolsa de Nova York (ICE Futures), os contratos também fecharam em queda, pressionados pelo câmbio.

* Em 13/2, o Indicador Esalq/BM&FBovespa registrou R$ 27,97 por saca de 60kg, descontado o prazo de pagamento pela taxa CDI/Cetip.

milho – As cotações oscilaram bastante em fevereiro, ora empurradas para cima pelo bom ritmo nas exportações nacionais, ora pressionadas para baixo pela queda nos valores internacionais e pelo aquecimento das negociações de soja, preferida nos embarques. Externamente, a pressão baixista veio também da situação até certo ponto inusitada dos Estados Unidos, cujo milho não se mostrou tão atrativo, em função da oferta mais competitiva da Argentina e Ucrânia. AÇÚCAR – Os preços do cristal recuaram na

* Em 13/2, o Indicador Açúcar Cristal Cepea/Esalq registrou R$ 50,18 por saca de 50 kg, com ICMS (7%), posto São Paulo.

primeira quinzena de fevereiro, em relação ao fechamento de janeiro e chegaram a R$ 50,18 no dia 13, como mostra o quadro ao lado. De acordo com o MDIC, as exportações de açúcar bruto cairam 23% até a terceira semana do mês, em relação ao mesmo período de fevereiro de 2014. As chuvas nas regiões canavieiras de São Paulo pressionaram os preços para cima, mas, com o mercado mundial ofertado, não houve sustentação.

março 2015 – Agro DBO | 59


Biblioteca da Terra Tecnologias para saneamento

Por trás dos cafezais

Resultado de pesquisa conduzida por Carlos Eugênio Marcondes de

Moura em 1974 e 1975, o livro Fazendas de Café do Vale do Paraíba baseia-se, como o próprio subtítulo indica (veja ao lado), em 190 inventários de propriedades rurais localizadas na parte paulista do vale do Paraíba, arquivados em cartórios regionais entre os anos 1817 e 1915. A ampla

Lançado no final de 2014,

documentação levantada revela dados de grande importância histórica,

Ano Internacional da

econômica e social. Afinal, abarca um período extenso – quase um século –,

Agricultura Familiar, conforme

englobando os últimos anos do Império, a revolução provocada pela abolição

decisão da Assembleia Geral

da escravatura e os primeiros anos da República. Os exemplares vêm sendo

das Nações Unidos, o livro Saneamento Básico Rural integra a coleção ABC da Agricultura Familiar, editado pela Embrapa Informação Tecnológica. Com 65 páginas, traz, em linguagem simples e objetiva, um panorama sobre saneamento básico no Brasil, dados estatísticos, instruções de uso de tecnologias, perguntas frequentes, esquemas gráficos e fotos de três tecnologias de ampla aceitação popular desenvolvidas pela instituição: o Clorador Embrapa, a Fossa Séptica

distribuídos gratuitamente, de acordo com a disponibilidade. Os interessados devem encaminhar o pedido para pupph@sp.gov.br.

Feijão destrinchado

Lançamento da Editora UFV, o livro Feijão: do Plantio à Colheita, escrito pelos pesquisadores José Eustáquio Carneiro, Trazilbo de Paula Júnior e Aluízio Borém, reúne as mais recentes tecnologias para produção desta leguminosa, cultivada em todo o país. Dependendo da cultivar, do clima e do ambiente, o feijoeiro apresenta ciclos de 65 a 100 dias, o que o torna uma cultura apropriada para compor, desde sistemas com baixo uso tecnológico, como os de subsistência, ainda muito comuns no país, até os mais tecnificados, a exemplo dos grandes projetos intensivos irrigados. Com 384 páginas, o livro custa R$ 64. Para adquiri-lo, o link é editoraufv.com.br/detalhes.asp?idproduto=1816394.

Biodigestora e o Jardim Filtrante. Para o pesquisador Wilson Tadeu Lopes da Silva, que o editou, o livro é “uma coroação do esforço de mais de uma década em tornar as informações sobre o tema acessíveis a diferentes públicos”. O preço de capa é R$ 4. Os interessados podem adquiri-lo na livraria virtual da Embrapa, no endereço www.embrapa.br, ou pelo e-mail livraria@embrapa.br.

Maracujá paranaense

O Iapar aproveitou o Show Rural Coopavel, realizado em Cascavel (PR), para lançar o boletim técnico Maracujá-amarelo: recomendações técnicas para cultivo no Paraná, reunindo estudos realizados desde a década de 1970, época em que a espécie passou a integrar a carteira de pesquisas da instituição. A obra traz informações sobre todas etapas de produção, regiões indicadas para cultivo, critérios para seleção de cultivares, formação de mudas, implantação de pomares, manejo de plantas daninhas, pragas e doenças, colheita e comercialização. O preço é R$ 5. Para comprá-lo, ligue para (43) 3376-2373 ou acesse o site www.iapar.br, endereço eletrônico a partir do qual é possível baixar gratuitamente a versão em PDF.

AP no Cone Sul

Lançado no final do ano passado, o Manual de Agricultura de Precisão reúne informações sobre o processo de implementação da agricultura de precisão no Brasil, com diagnósticos das áreas de produção e avaliação das tecnologias. Segundo o editor da publicação, Evandro Chartuni Mantovani, pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo, o manual será utilizado no treinamento de técnicos da extensão rural dos países componentes do Cone Sul. Para baixá-lo gratuitamente, o link é www. ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/111143/1/ Manual-agricultura.pdf.

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Calendário de eventos

MARÇO

ABRIL

3

7

Fenicafé 2015/Feira Nacional de Irrigação em Cafeicultura

De 3 a 5 – Pica Pau Country Club Araguari (MG) – Fone: (34) 3242-8888 Site: www.fenicafe.com.br

5

4ª Expo Umuarama/Feira Agropecuária, Comercial e Industrial de Umuarama

De 5 a 15 – Parque de Exposições Dario Pimenta Nobrega (Rodovia PR-323, km 304) – Umuarama (PR) Fone: (44) 3621-9500 Site: www.expoumuarama.com.br E-mail: srumuarama@srumuarama. com.br

9

16º Agrocafé/Simpósio Nacional do Agronegócio Café – De 9 a 11 – Bahia Othon Palace Salvador (BA) Fone: (71) 2102-6600 E-mail: contato@gt5.com.br

18

14ª Femagri/Feira de Máquinas, Implementos e Insumos Agrícolas – De 18 a 20 – Guaxupé (MG) – Fone: (35) 3696-1000 – E-mail: faleconosco@ cooxupe.com.br

24

ExpoAgro Afubra 2015 De

24 a 26 – Rincão del Rey (BR 471, km 161) – Rio Pardo (RS) Fone: (51) 3713-7700 Site: www.afubra.com.br E-mail: expoagroafubra.com.br

24

Show Safra 2015 – de 24 a 27 – Centro Tecnológico Fundação Rio Verde (Rodovia MT 449, km 8) – Lucas do Rio Verde (MT) – Fone: (65) 3549-1161 Site: showsafrabr163.com.br E-mail: comunicacao@ fundacaorioverde.com.br.

21ª Intermodal South América/Feira Internacional de Logística, Transporte de Cargas e Comércio Exterior De 7 a 9 – Transamerica Expo Center – São Paulo (SP) – Fone: (11) 4689-1935 – Site: www. intermodal.com.br

8

3ª Hortifruti Brasil Show & Foods Brasil 2015/Feira do Complexo Agroindustrial da Cadeia Podutiva de Hortaliças, Frutas e Flores

De 8 a 10 – Centro de Eventos Sistema FIEP – Curitiba (PR) – Fone: (41) 3072-1000 – Site: www. hortifrutibrasilshow.com.br

9

Expolondrina 2015/55ª Exposição Agropecuária e Industrial de Londrina – De 9 a 19 – Parque Governador Ney Braga – Londrina (PR) – Site: www. expolondrina2015.com.br – E-mail: srp@srp.com.br

13

13º TecnoShow Comigo

De 13 a 17 – Centro Tecnológico Comigo (Anel viário, km 7) – Rio Verde (GO) – Fone: (64) 3611-1525 Site: www. tecnoshowcomigo.com.br

13

3º Simpósio Mineiro de Ciência do Solo – De 13 a

16 – Universidade Federal de Viçosa Viçosa (MG) – Site: www.smcs.ufv.br

15

8º Biocom/Simpósio Nacional de Biocombustíveis – De 15 a 17 –

Centro de Eventos do Hotel Paiaguás Cuiabá (MT) – Fone: (21) 2224-4480 - Site: www.abq.org.br - E-mail: abqeventos@abq.org.br

9/2 - Expodireto Cotrijal 2015 – De 9 a 13/2 – Parque de Exposições Cotrijal – Não-Me-Toque (RS) – Fone: (54) 33323636 – Site: www. expodiretocotrijal. com.br – E-mail: expodireto@cotrijal. com.br

Palco de grandes lançamentos no setor agrícola, a Expodireto Cotrijal, realizada em Não-Me-Toque (RS), afirma-se a cada ano como feira internacional. Além dos países da América do Sul, foi confirmada a participação este ano de delegações da Alemanha, Angola, Nigéria, Irã e Iraque, alguns dos quais como expositores. O tema da Expodireto Cotrijal este ano é “Negócios que inspiram o amanhã”. Em 2014, o volume de vendas (incluindo as propostas protocoladas nas instituições financeiras e bancos de fábrica) chegou a R$ 3,2 bilhões, montante 27% superior ao de 2013. O público acorreu em massa no ano passado: foram 235.200 visitantes, número que, segundo projeções dos organizadores, deverá ser ultrapassado agora.

27

22ª Agrishow/ Feira Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação – De 27 a 1/5 – Polo Regional de Desenvolvimento Tecnológico dos Agronegócios do Centro-Leste – Ribeirão Preto (SP) – Fone: (11) 3598-7800 – Site: www.agrishow. com.br

MAIO

5

Sigera/Simpósio Internacional sobre Gerenciamento de Resíduos Agropecuários e Agroindustriais – De 5 a 7 – Espaço Tom Jobim

– Rio de Janeiro (RJ) – Fone: (48) 3028-5154 - E-mail: comercial@ praxiseventos.com.br

5

Expoarroz 2015 – De 5 a 8 – Centros de Eventos Fenadoce – Pelotas (RS) – Fone: (53) 3025-6323 – E-mail: contact@expoarroz.com.br

11

2º CNAGRO/Congresso Nacional de Inovações Tecnológicas, Científicas, Inclusão Social e Valor Agregado do Agronegócio – De 11 a 13 – Centro

Universitário da Grande Dourados – Dourados (MS) – Fone: (67) 34114122 – Site: www.cnagro.com.br

12

AgroBrasilia/Feira Internacional de Tecnologias e Negócios Agropecuários dos Cerrados – De 12 a 16 – Brasília (DF) – Fone: (61) 3339-6516 – E-mail: agrobrasilia@agrobrasilia.com.br

26

- 14º Simpósio da Cultura de Milho - De 26 a 28 -

Anfiteatro da Unimed - Piracicaba (SP) - Fone: (19) 3417-6604

março 2015 – Agro DBO | 65


Almanaque

Você sabia? Informação é um bem precioso que arquivamos em nosso cérebro, sem nunca esquecer, desde que ela seja importante para nós. Hélio Casale *

C

omo controlar mosquitos que proliferam em água parada como vasos, canteiros das residências e hortas domésticas? Basta colocar uma colherada de pó de café coado que o ambiente fica totalmente inviável para o nascimento desses insetos indesejáveis.

* O autor é engenheiro agrônomo, consultor e cafeicultor, e membro do Conselho Editorial da Agro DBO.

Sobre a floresta Amazônica – considerações deixadas pelo Dr. Ângelo Paes de Camargo, agrometeorologista do IAC – Instituto Agronômico de Campinas: A – Uma floresta adulta, em estado de clímax, não é fonte de oxigênio para a atmosfera. Todo o oxigênio que ela produz pela fotossíntese é consumido pela respiração e pela vegetação senescente em decomposição. Mesmo que produzisse um saldo de oxigênio, ele seria insignificante face ao produzido pela imensa superfície oceânica, que cobre mais de dois terços do globo terrestre. B – A floresta Amazônica é diminuta se comparada à enorme cobertura oceânica do Globo, e praticamente não influi no clima da Terra. Os oceanos representam 71% de toda a superfície do planeta. C – A cobertura vegetal natural de um solo é consequência das condições do seu meio. Se forem todas favoráveis, a cobertura natural será a floresta. Se um fator não for favorável, não ocorrerá a floresta. Poderá ser o cerrado, o campo limpo, a caatinga, ou o solo nu. D – Se houver influência da ocupação humana civilizada, a cobertura do solo não será a natural. Será uma cobertura antrópica, que poderá ter

66 | Agro DBO – março 2015

áreas florestadas ou não, segundo as conveniências do homem. O destino de uma floresta Amazônica antrópica será o mesmo da Mata Atlântica atual. Ficará equilibrada, e em harmonia com a presença do homem. Quem viver verá. Curiosidades Alfabetização – Pode parecer incrível, mas em 1900 a maioria das crianças em idade escolar não frequentava escola, nem mesmo por uma semana. Tinham de trabalhar. Contêineres – O primeiro teste foi feito nos Estados Unidos, em 1960, quando o navio Matson Line, com 436 grandes contêineres em seu porão, viajou de São Francisco até o Havaí. Estrutura do DNA – Foi descoberta em 1953 pelo norte-americano James Watson e pelo britânico Francis Criek, dando início á biotecnologia moderna. As bases da genética moderna – Foram lançadas em 1865, pelo monge austríaco Gregor Mendel quando explicou a transmissão de caracteres genéticos de geração para geração. Telefone celular – Foi desenvolvido nos idos de 1960. Lançado comercialmente nos EUA, em 1989. Dia da Árvore – Foi instituído inicialmente nos EUA, no estado de Nebraska, por Julius Morton, a ser comemorado em 23 de setembro, início do outono no Hemisfério Norte. No Brasil é comemorado dia 21 de setembro. Foi instituído pelo Decreto nº 55.795 de 1965, como Festa Anual da Árvore. Mel – O mel é o único alimento que não se deteriora. Foi encontrado diversas vezes ao longo do

século XX nas tumbas dos faraós egípcios, e, após ser saboreado pelos arqueólogos, foi declarado em boas condições de consumo! Açafrão – Para se obter apenas 1 quilo de açafrão é necessário colher 1 milhão de flores dessa especiaria. Montanhas e vulcões – As 10 montanhas mais altas do mundo estão na Ásia. No entanto, os 10 vulcões ativos estão nas Américas, e nenhum deles no Brasil. Banheiros, e a cor da pele – O prédio onde funciona o Pentágono, em Washington, nos EUA, tem o dobro de banheiros do que o necessário em relação aos trabalhadores existentes. Quando foi construído, a lei exigia um banheiro para brancos e outro para negros, separadamente. Ser Agrônomo – Palavras do engenheiro agrônomo Fernando Penteado Cardoso a seus funcionários em 1981: “Ser Agrônomo é cuidar de planta, é tratar de bichos, estudando a natureza. É trabalhar a terra, melhorar o solo, respeitando o ambiente. É se lembrar do homem, é ensinar o que sabe, ensejando o bem-estar. É planejar o amanhã, é dedicar-se à pátria, confiando na providência”. Sabia que o chope foi inventado na Mesopotâmia, hoje Iraque, há cerca de 6.000 anos? A cerveja, como é conhecida hoje, só apareceu em 1876, depois da invenção do processo de pasteurização. Como livrar bolos e doces das formiguinhas? Basta colocar uns pedacinhos de canela em pau nas bordas da bandeja.




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