Sumário
34 Entrevista
Engenheiro agrônomo formado pela Esalq/Piracicaba, o novo presidente da Monsanto do Brasil, Rodrigo Santos, mostra que a empresa vai mudar.
40 ILP
Satisfeito com os resultados obtidos em Caiuá (SP), o pecuarista Carlos Viacava amplia a área de consórcio de soja com pecuária.
44 Safra
A produtividade na lavoura de soja de Mato Grosso cresceu 3% em 14 anos e, no Rio Grande do Sul, 46%. O que explica tal disparidade?
52 Sorgo
A cultura vem ganhando espaço no Brasil nos últimos anos. Mais resistente que o milho e tolerante ao estresse hídrico, virou alternativa na safrinha.
20
Matéria de capa A recente paralisação dos caminhoneiros mostrou o quanto a economia brasileira, especialmente o agronegócio, depende do transporte rodoviário de cargas. Pelo menos 80% da atual safra de grãos, de quase 200 milhões de toneladas, será escoada por estradas.
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Artigos 8 – Rogério Arioli sugere reavaliação das qualidades e do plantio de girassol 10 – Marco A. dos Santos afirma que o risco de apagão continua em abril 28 – Daniel Glat avalia o impacto dos drones e outras tecnologias na agricultura 31 – Dercy Pavão Jr: “Pulverização eletrostática evita deriva e escorrimento”. 38 – Amilcar Centeno defende a adoção de visão holística no trato agrícola 49 – Ronaldo Cabrera avalia tecnologias de manejo da fertilidade do solo 50 – Décio Gazzoni discorre sobre o uso de plantas para fabricar bioterapêuticos 66 – Fábio Lamonica recomenda atenção quanto aos prazos de prescrição
Seções Do leitor.............................................................. 5 Ponto de Vista................................................... 8 Notícias da terra.............................................12 Política................................................................30
Almanaque.......................................................43 Novidades no campo...................................56 Análise de mercado......................................58 Biblioteca da terra..........................................60 Calendário de eventos.................................65
Do Leitor rabenizar pelas reportagens, pois são ótimas. Por isso, renovei a assinatura. Mas também gostaria de reclamar, pois até hoje (25/3) não recebi a revista de fevereiro nem a de março. Juliano Fortunato Porto Alegre NR: Lamentamos pelo atraso na chegada das revistas, Sr. Juliano. Anteriormente, já providenciáramos uma AR (Ação de Recebimento) na tentativa de resolver a questão, mas, pelo visto, a pendência continua. Estamos levantando as possibilidades junto ao Correio. Mato Grosso Sugiro reportagem comparando as diferenças entre o modal rodoviário e o ferroviário em transporte de carga. Joaquim Silvério Sinop RIO GRANDE DO SUL Primeiramente, gostaria de pa-
SÃO PAULO Em relação à reportagem intitulada “O que será da safrinha”, de autoria de Marianna Peres (página 47, edição nº 64 de Agro DBO, março/2015), a espécie retratada, apesar de também pertencer a Coleoptera: Curculionidae, não é o bicudo do algodoeiro Anthonomus gran-
dis. Em anexo, envio foto correta (abaixo) da espécie A. grandis. Dalva Gabriel São Paulo NR: A leitora atenta é pesquisadora científica do Instituto Biológico de São Paulo. Pedimos desculpas pela desatenção na identificação dos besouros em questão – embora sejam da mesma família, são, obviamente, diferentes um do outro.
AgroDBO se reserva o direito de editar/resumir as mensagens recebidas devido à falta de espaço.
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á males que vêm para o bem, conforme o dito popular, e nesse sentido o movimento de paralisação dos caminhoneiros brasileiros em fevereiro último se encaixa de forma quase perfeita, pois acelerou as discussões sobre a urgente necessidade de melhorias nas rodovias, ao mesmo tempo em que escancara o carente uso de modais como o ferroviário e ainda mais o hidroviário. Tudo isto, e muito mais, está nas entrelinhas e letras da matéria de capa da Agro DBO, “Se o caminhão parar, o Brasil para”, do jornalista José Maria Tomazela. A protestar que a ganância dos concessionários das ferrovias, admitida de forma “transparente” pela ALL, com um cinismo que ultrapassa qualquer hipocrisia consentida socialmente, de que “balizam seus preços de frete pelo concorrente rodoviário”, mesmo que estes estejam, como se sabe, com preços reais muito acima do suportável. Tudo isto é fruto de equívocos governamentais que apostam em políticas públicas erráticas, praticadas há muitas décadas, pois falta ampliação e melhoria da malha rodoviária, e inexistem investimentos em ferrovias e hidrovias. O Centro-Oeste tem projeções de solução a esse desconforto apenas dentro de 5 ou 10 anos. Na matéria “O que há com a produtividade?”, a jornalista Marianna Peres questiona e líderes do agro dão suas visões sobre o palpitante tema, inclusive com alguns mea culpa de equivocadas estratégias aplicadas e um conveniente esquecimento de regras de ouro do que seja fazer agricultura sustentável, eis que as novas tecnologias e os caprichos da natureza encobrem os erros, mas o reconhecimento de que há novos e antigos caminhos a serem percorridos, para se conquistar melhores médias de produtividade, é salutar e necessário. Evidentemente, conforme afirma sobre o assunto Rodrigo Santos, o novo presidente da Monsanto Brasil, na entrevista deste mês, “95% do aumento da produção futura de alimentos virão da melhoria da produtividade das lavouras nas áreas já agricultadas”, indicando que todas as tecnologias utilizadas em equilíbrio serão as responsáveis por essa conquista. Cabe lembrar que é vital acrescentar o bom senso nesse pacote de opiniões, seja no uso das estratégias de safras, seja na aplicação das tecnologias que, sozinhas, não melhorarão as médias de produtividade. Temos que respeitar os aprendizados esquecidos de um bom manejo, tanto de solo e das lavouras, como rotações de culturas, sem provocar desequilíbrios que possam ser irremediáveis. Última notícia no fechamento desta edição: o governo federal decidiu as novas regras de juros para o Moderfrota: de 4,5% para 7,5% a quem fatura até R$ 90 milhões/ano, e de 6% para 9% para os que faturam acima. Os juros antigos valem para quem confirmou negócios até 27 de março último, o que garante as vendas nas feiras da Cotrijal e Coopavel e antecipa sucesso para a Agrishow.
é uma publicação mensal da DBO Editores Associados Ltda. Diretor Responsável Demétrio Costa Editor Executivo Richard Jakubaszko Editor José Augusto Bezerra Conselho Editorial Décio Gazzoni, Demétrio Costa, Evaristo Eduardo de Miranda, Hélio Casale, José Augusto Bezerra e Richard Jakubaszko Redação/Colaboradores Amílcar Centeno, Ana Luiza Lodi, Daniel Glat, Décio Luiz Gazzoni, Dercy Pavão Jr, Fábio Lamonica Pereira, Gustavo Paes, Hélio Casale, José Maria Tomazela, Marco Antônio dos Santos, Marianna Peres, Maristela Franco, Rogério Arioli Silva e Ronaldo Cabrera. Arte Editor Edgar Pera Editoração Célia Rosa e Edson Alves Coordenação Gráfica Walter Simões Marketing/Comercial Gerente: Rosana Minante Departamento Comercial Andrea Canal, José Gonzaga Dias, Maria Aparecida de Oliveira, Marlene Orlovas, Tereza Helena Virginia e Vanda Motta
Aos que desejarem manifestar suas opiniões, pedimos enviar e-mail para redacao@agrodbo.com.br. Richard Jakubaszko
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Ponto de vista
Por que não o girassol? O cultivo da oleaginosa no Brasil é ainda insignificante, considerando a área total de plantio, mas deveria ser reavaliado. Rogério Arioli Silva *
A
* O autor é engenheiro agrônomo e produtor rural em Mato Grosso
lguns dias atrás tivemos a oportunidade de visitar as áreas de produção de girassol da Argentina, bem como dois centros de melhoramento genético, sendo um deles estatal e outro privado. O grupo participante da viagem era composto por atuais produtores de girassol do Mato Grosso, Goiás e Minas Gerais, bem como alguns interessados em expandir seu conhecimento sobre esta cultura. Encontramos por lá também alguns produtores da Bolívia que visitavam a estação experimental no mesmo momento, sendo a maior parte deles também de nacionalidade brasileira. Nossos hermanos possuem algumas vantagens comparativas inegáveis em relação à produção de girassol do cerrado brasileiro, notadamente a infraestrutura logística e a qualidade dos seus solos. A região de produção daquele país encontra-se próxima aos portos o que diminui seus custos logísticos quando comparados com as imensas distâncias percorridas pela produção brasileira. Em se tratando de um grão com baixo peso específico, a produção de girassol praticamente se inviabiliza se não estiver próxima ao beneficiamento (esmagamento). Com relação aos solos levamos nítida desvantagem, uma vez que produzimos em solos ácidos e pobres nutricionalmente (cerrado), o que demanda investimentos significativos nos custos para nutrição das plantas. O inverno que antecede o plantio também lhes garante uma menor pressão de pragas e doenças do que as condições tropicais brasileiras.
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Todavia, os produtores brasileiros não costumam se intimidar com os desafios que lhes são impostos e correm atrás do prejuízo. Embora a cultura do girassol ainda não ocupe uma área muito expressiva (oscila em média anual de 100 mil ha) quando comparada com outras espécies, existem grandes potencialidades para seu crescimento em algumas regiões do Centro-Oeste brasileiro. Na região do cerrado mato-grossense, mais especificamente no município de Campo Novo do Parecis, o girassol tem ocupado significativo espaço devido a algumas peculiaridades que lhe emprestam evidentes vantagens. A primeira delas é o fato de que os equipamentos utilizados no seu cultivo são praticamente iguais aos do milho, necessitando apenas de algumas adaptações na plataforma da colheitadeira. Um segundo aspecto favorável à cultura do gi-
rassol é a possibilidade do plantio depois de encerrada a época ideal ao milho, uma vez que o girassol tem menor demanda de água do que o milho. Em terceiro lugar, a instalação de indústrias de esmagamento próximas às regiões de cultivo – o que vem acontecendo, solucionado assim um problema de alto impacto nos custos, qual seja o transporte dos grãos a longas distâncias. Como opção de segunda safra, o girassol é produzido com custos menores, o que lhe garante competitividade na comparação com outras culturas, além do enorme potencial melífero dessa espécie, atualmente subutilizado. Fato positivo são os contratos futuros celebrados com as indústrias de alimentação que utilizam esse óleo de altíssima qualidade, garantindo a comercialização e a necessária liquidez de que os produtores necessitam.
O óleo de girassol tem sido muito procurado pelas empresas alimentícias uma vez que possui características benéficas como alta concentração de ômega 6, alto teor de vitamina E, além de possuir ação antioxidante, que contribui para minimizar os efeitos do envelhecimento. Também se registra que muitas das variedades atualmente utilizadas são de girassol alto oleico, que além de grande estabilidade no processo industrial, possuem menores teores de gorduras saturadas e gorduras trans, estas relacionadas às doenças coronarianas. Algumas lavouras argentinas de girassol atingem 3.000 kg/ha, produtividade que para nós brasileiros ainda é uma média bastante alta, pois aqui se consegue em torno de 1.600 kg/ha na segunda safra. Espera-se que, através de pesquisas específicas para as condições bra-
sileiras, essas médias possam aumentar, entretanto, sempre se deve considerar que o modelo brasileiro, em condições normais, entrega em torno de 3.200 kg/ha de soja no cultivo imediatamente anterior ao do girassol, dentro da mesma safra, o que permite que se produza com custos menores. Por último, saltou aos olhos dos visitantes o difícil momento por
implantadas nos últimos governos argentinos, em vez de resgatar as populações carentes, condenaram mais pessoas à pobreza e ao atraso. Aqui no Brasil é preciso que se aprenda com os erros alheios, evitando trilhar os mesmos descaminhos que transformaram a outrora pujante economia argentina num exemplo de vergonhoso fracasso econômico.
O girassol dos hermanos chega a 3.000 kg/ha. Aqui se consegue apenas 1.600 kg/ha. que passa nosso país vizinho. É visível o empobrecimento argentino, com boa parte da sua infraestrutura sucateada, além de uma inflação real acima de 40% ao ano, embora totalmente mascarada pelos índices oficiais divulgados. Lamentavelmente, as políticas populistas
Considerando as questões aci ma, por que não o plantio do girassol como alternativa para a segunda safra? Isto só depende do produtor, não depende do governo, ressalvando-se aquelas regiões muito distantes da agroindústria, evidentemente.
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Clima
Fim de verão, mas deve chover. Vai chover em abril e maio, lavouras e pastos se salvam, mas será insuficiente para reabastecer represas e hidroelétricas. Marco Antônio dos Santos *
O
E na última semana do verão veio a grande “invernada”, que até então não tinha ocorrido sobre as regiões produtoras do Sudeste e Centro-Oeste, causando danos em várias lavouras de soja e atrapalhando a finalização do plantio do milho safrinha, onde alguns produtores até desistiram de plantar toda a área destinada ao cereal. Essas intempéries climáticas, ocorridas ao longo dessa última estação, causaram perdas significativas em todas as culturas cultivadas do Brasil. Desde pastagens aos grãos e até mesmo nas culturas perenes como café, cana-de-açúcar e laranja. As perdas variaram muito de região para região e de cultura para cultura. Mas todas as culturas sofreram e sofrerão reduções em seus potenciais produtivos. Já o outono deverá ser marcado pela redução gradual dos volumes
mês de janeiro foi marcado pela forte estiagem e pelas altíssimas temperaturas registradas em praticamente todo o Brasil, com exceção apenas para os estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e parte do Paraná, onde foram registradas chuvas acima da média histórica. O verão terminou marcado pelo grande contraste na estação. A primeira parte do verão foi marcada pela forte estiagem em toda a região Centro-Oeste e também no Norte, enquanto o Sul acumulava índices elevadíssimos de chuvas. Já na segunda metade do verão a situação se inverteu; as chuvas retornaram às regiões Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste, enquanto no Sul a ausência de chuvas regulares e em bons volumes já trazia apreensão aos produtores de grãos.
* o autor é engenheiro agrônomo e agrometeorologista da Somar Meteorologia.
Chuva prevista (mm) - 04-2015
Chuva prevista (mm) - 05-2015
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de chuvas em toda a região central e norte do Brasil e a volta de chuvas mais volumosas no Sul. Entretanto, como as águas equatoriais do Oceano Pacífico ainda encontram-se aquecidas ligeiramente acima da média, as chuvas não deverão desaparecer por completo, principalmente no mês de abril, que deverá ser o mês mais chuvoso da estação nas regiões Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste, enquanto no Sul será o mês de junho. Esse prolongamento das chuvas favorecerá o desenvolvimento do milho safrinha, que poderá, dessa maneira, ter novamente uma boa safra. Só não será super, pois muito milho foi plantado fora da janela ideal, isto é, após o dia 10 de março, e com isso há uma redução natural do potencial produtivo dessas lavouras, por causa da redução na quantidade total de horas de luz solar que essas lavouras acumularão ao longo de seu ciclo. Além de beneficiar as lavouras de segunda safra, a continuidade das chuvas também colaborará com a colheita da cana-de-açúcar e do café, já que os modelos meteorológicos não sinalizam mais longos períodos de chuvas, apenas passagens rápidas de frentes frias que causarão chuvas rápidas, suficientes para manter o solo com um mínimo de umidade necessário ao desenvolvimento das plantas e não inviabilizar os trabalhos de colheita. Agora, se essas chuvas serão benéficas à agricultura, é quase certeza que não serão suficientes para a setor de geração de energia elétrica e reabastecimento dos volumes de represas, e isso poderá manter a preocupação com a falta d’água nos grandes centros urbanos, bem como o risco de apagões.
*RENASEM Nº MG-10104/2015 para atendimento da IN Nº35/2012.
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Notícias da Terra Safra II
Safra I
Revisão para baixo
D
e acordo com o 6º levantamento de safra da Conab, divulgado em 10/3, a produção brasileira de grãos na safra 2014/15 chegará a 198,5 milhões de toneladas, 2,6% maior (4,9 milhões t a mais) no comparativo com a temporada passada (193,5 milhões t). Em relação ao 5º levantamento (200,1 milhões t), representa, porém, recuo de 1,6 milhões de toneladas. A produção de soja deve crescer 8,3% (7,2 milhões t a mais) e fechar em 93,3 milhões de toneladas, apesar dos problemas climáticos em janeiro, que influenciaram a expectativa de produtividade no Sudeste, parte do Centro-Oeste e na região do Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia). A área destinada ao plantio de grãos deve chegar a 57,1 milhões de hectares, repetindo, praticamente, a da safra 2013/14. A pesquisa foi realizada entre os dias 22 e 28 de fevereiro.
Safra III
Divisão por regiões
A
produção de cereais, leguminosas e oleaginosas apresentará a seguinte distribuição, conforme as projeções do IBGE: Centro-Oeste, 80,6 milhões de toneladas; Sul, 75,7; Nordeste, 18,9; Sudeste, 18,8; e Norte, 5,5. Comparativamente à safra passada, deve crescer 20,4% no Nordeste; 7% no Sul; 5,1% no Sudeste e 0,4% no Norte. Diferentemente das demais regiões, o Centro-Oeste terá queda de 2,8% na produção, em relação a 2014. Mesmo assim, Mato Grosso manterá a liderança entre os estados, com 23,3% de participação, seguido pelo Paraná (18,4%) e pelo Rio Grande do Sul (16,2%). 12 | Agro DBO – abril 2015
Quase 200 milhões de toneladas
A
segunda estimativa do IBGE em 2015 sobre a safra nacional de cereais, leguminosas e oleaginosas indica produção de 199,6 milhões de toneladas no corrente ano, 3,5% acima do obtido em 2014 (192,8 milhões de toneladas), mas 0,9% abaixo (1,8 milhões t a menos) em relação à projeção anterior. A área plantada deve chegar a 57,2 milhões de hectares, 1,5% maior que a do ano passado (56,3 milhões ha). As três principais culturas do grupo - soja, arroz e milho - representam 91,5% da produção e 85,3% da lavoura. No que se refere à produção, o instituto aponta aumento de 9,8% na soja e 2,6% no arroz e retração de 4,2% no milho, em relação a 2014. Quanto às respectivas áreas de cultivo, a de soja deve crescer 3,9%. A de arroz cairá 1,8% e a de milho, 1%. A pesquisa completa pode ser acessada na página www. ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores/agropecuaria/lspa.
Safra IV
Variação percentual por culturas
E
ntre os 26 principais produtos pesquisados pelo IBGE, 12 apresentam perspectiva de crescimento na produção, comparativamente a 2014: mamona (+ 138%), aveia (+ 23,6%), cevada (+ 23,1%), trigo (+ 21,6%), soja (+ 9,8%), feijão 1ª safra (+ 9,6%), mandioca (+ 4,2%), amendoim 2ª safra (+ 3,8%), arroz (+ 2,6%), feijão 2ª safra (+ 1,8%), milho 1ª safra (+ 0,9%) amendoim 1ª safra (+ 0,7%). Com variação negativa foram 14 produtos: batata inglesa 3ª safra (- 19,4%), cacau (- 16,5%), café conilon (- 15,2%), triticale (- 10,5%), cebola (- 8,3%), algodão em caroço (- 7,8%), milho 2ª safra (- 7,5%), laranja (- 7,4%), sorgo (6,2%), feijão 3ª safra (- 3,6%), batata inglesa 2ª safra (- 3,2%), cana-de-açúcar (2,5%), café arábica (- 1,3%), batata inglesa 1ª safra (- 1,2%).
Notícias da Terra VBP I
Valor chega a R$ 479 bilhões
C
alculado com base nas informações coletadas em fevereiro, o VBP – Valor Bruto da Produção Agropecuária brasileira deve alcançar R$ 479 bilhões em 2015, ou seja, 0,6% acima do resultado obtido no ano passado (R$ 476,2 bilhões). Do total, 61% correspondem às lavouras (R$ 293,3 bilhões) e 39% à pecuária (R$ 185,7 bilhões). Entre as culturas, a de melhor desempenho esperado é a mamona, com aumento de 113,8% no VBP. “Do ano passado até agora (até meados de março), a produção de mamona aumentou 138%, passando de 36,3 mil para 86,4 mil toneladas”, afirmou o coordenador-geral de Planejamento Estratégico do Ministério da Agricultura, José Garcia Gasques.
VBP II
Sul passa Sudeste
C
onsiderando as perspectivas de produção para este ano, o VBP da região sul do Brasil atingirá R$ 137,6 bilhões, ultrapassando o da região sudeste (R$ 128,3 bilhões). Depois, virão as regiões centro-oeste (R$ 123,3 bilhões), nordeste (R$ 48,4 bilhões) e norte (R$ 25,9 bilhões). “A inversão de posições entre Sul e Sudeste deve-se, principalmente, à redução prevista do valor de produção de São Paulo e do Espírito Santo. Em São Paulo, a queda do VBP é decorrente de fraco desempenho de lavouras como tomate, cana-de-açúcar e batata inglesa”, comentou o coordenador-geral de Planejamento Estratégico do Mapa, José Garcia Gasques. No Espírito Santo, a redução decorre da queda de produção do café conilon.
Máquinas
Início de ano ruim
D
e acordo com a Anfavea – Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores, divulgado em 5/3, o segmento de máquinas agrícolas registrou o pior primeiro bimestre de vendas das últimas sete temporadas. Relatório da entidade mostra que 7.040 máquinas agrícolas, entre tratores, cultivadores, colheitadeiras e retroescavadeiras (3.348 em janeiro e 3.692 em fevereiro), deixaram as concessionárias no primeiro bimestre do ano. Desde 2009, quando 6.719 unidades foram comercializadas no período, o setor não registrava um começo de ano tão fraco nos negócios. A maior queda (60,7%) foi sentida no segmento de tratores de esteiras. Entre os produtos mais comercializados, a redução nas vendas foi de 19,5% em tratores de roda e 42,4% em colheitadeiras, comparativamente à temporada passada.
Irrigação
Agricultura mapeada
L
evantamento feita pela Embrapa Milho e Sorgo, em parceria com a ANA - Agência Nacional de Águas mostra que, em 2013, o Brasil possuía 18 mil pivôs centrais em 1,2 milhão de hectares, com grande concentração de uso nas bacias dos rios São Francisco, Paranaíba, Grande e Paranapanema. De acodo com a pesquisadora Elena Landau, uma das coordenadoras do trabalho, Minas Gerais é o estado com maior número de áreas irrigadas por pivôs centrais (aproximadamente 370 mil hectares), seguido por Goiás, Bahia, São Paulo e Rio Grande do Sul, com 211 mil, 192 mil, 169 mil e 76 mil hectares, respectivamente. Os pivôs foram foco inicial do esforço de mapeamento de áreas irrigadas pela facilidade de mapeamento, mas também por ser o método de irrigação de maior expansão. Nos últimos cinco anos, o incremento de áreas com pivôs centrais foi de 50 a 80 mil hectares por ano. O mapeamento de 2013 foi o primeiro em escala nacional. O de 2014, em fase de execução, apontará áreas de expansão no curto prazo.
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Notícias da Terra Café I
Café III
O
O
A salvação da lavoura café em grão foi o grande destaque da pauta de exportações do agronegócio brasileiro nos dois primeiros meses do ano, com receita de US$ 1,1 bilhão, alta de 48,4% em relação ao mesmo período de 2014. Além do café, apenas o açúcar refinado (11,8%) e o milho em grão (1,9%) tiveram variação positiva nas exportações este ano, na comparação com o primeiro bimestre do ano passado. Segundo levantamento da CNA sobre dados do MDIC – Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, mesmo com taxa de câmbio favorável às exportações, grande parte dos produtos apresentou variações negativas. A receita com soja em grão, por exemplo, caiu 72,9% no bimestre, na comparação com os dois primeiros meses de 2014.
Prazo contra a broca é prorrogado Ministério da Agricultura prorrogou por mais um ano o prazo de emergência sanitária em Minas Gerais por causa do risco iminente de surto da broca do café, nome popular do besouro Hypothenemus hampei, cujas larvas se alimentam dos frutos do cafeeiro. Com isso, o estado poderá importar produtos a base de Ciantraniliprole, molécula utilizada para o controle da praga. A decisão foi publicada em 19/3 no Diário Oficial da União. É o segundo ano consecutivo em que o governo de Minas Gerais solicita decretação de estado de emergência fitossanitária para controlar a broca. A praga também pode ser controlada com inseticidas. No entanto, não há nenhum produto autorizado para uso no país, desde que foi proibido o uso de inseticida à base de endosulfan.
Café II
Produção em 2015 pode ser menor
A
produção brasileira de café deverá situar-se entre 40,3 milhões e 43,3 milhões de sacas de 60 kg, segundo levantamento da Fundação Procafé, a pedido do CNC – Conselho Nacional do Café. Tais números indicam queda de 4,6% a 11,1% em relação à safra passada (45,3 milhões de sacas). “O principal motivador para a redução do volume a ser colhido foram as adversidades climáticas registradas de 2014 até o início de fevereiro de 2015, além do ciclo produtivo das plantas de arábica, que estão em ano de bienalidade negativa”, afirmou o CNC em nota à imprensa. Se a previsão da Procafé ficar no ponto mais baixo da estimativa (40,3 milhões de sacas), o Brasil teria este ano a menor produção desde 2009, quando atingiu 39,5 milhões de sacas. Em sua segunda estimativa de safra, divulgada no mês passado, a IBGE previu para este ano produção de 42,7 milhões de sacas de café (31,5 milhões de arábica e 11,2 milhões de conilon).
Cana-de-açúcar
Mais uma safra alcooleira
C
onforme previsões de consultorias especializadas, aproximadamente 57% da oferta de cana será destinada à fabricação do biocombustível no ciclo recém-iniciado. A avaliação geral do setor é de que, com o aumento de 25% para 27% de etanol anidro na mistura com a gasolina, aprovado pelo Cima - Conselho Interministerial de Açúcar e Álcool no início do mês passado, esse porcentual ainda possa subir mais. Com a valorização do dólar ante o real e a queda do preço do açúcar no mercado internacional, as usinas tendem a aumentar a produção de etanol, visando suprir a demanda adicional por anidro, de cerca de 1 bilhão de litros. A moagem da safra 2015/16 começa oficialmente em 1º de abril, mas 20 usinas da região Centro-Sul anteciparam os trabalhos, conforme levantamento da Unica – União da Indústria de Cana-de-Açúcar.
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Notícias da Terra Pesquisa
Os novos “milionários” do agronegócio
N
a primeira metade da atual década, o Mato Grosso e o Mato Grosso do Sul foram os estados de base econômica agropecuária que mais produziram “milionários” no Brasil. Respectivamente, 697 e 651 pessoas galgaram esta condição neste período. As duas potências agrícolas do Centro-Oeste só perderam para São Paulo, um estado de economia caracteristicamente mais industrial que, em números absolutos, registrou 1.013 novos indivíduos abastados no campo. Em aumento relativo, entretanto, o quadro é bem diferente. São Paulo obteve um crescimento de 1,59% no período (de 63.398 para 64.411 “milionários”) um desempenho que o coloca em 20º lugar entre os estados. Mato Grosso aparece em 3º lugar, avançando 48,57% (de 1.435 para 2.132 pessoas). Mato Grosso do Sul é o vice-campeão, com um salto de 53,75% (de 1.211 para 1.862 indivíduos). Os dois só perdem para Roraima, que produziu 67,85% a mais de “milionários”. No entanto o estado da região norte totaliza número ainda muito pequeno de novos endinheirados: pulou de 28 para 47 pessoas. Os números são de um estudo idealizado pela América Latina Bankers Association em parceria com instituições brasileiras e divulgada pelo Barings Investments, instituição financeira com sede nos Estados Unidos e escritórios no Brasil e na Suíça. Para isso, foram utilizadas informações públicas disponibilizadas por grupos e organizações como Boston Consulting Group, Folha de São Paulo, Estado de São Paulo, The Economist, Capgemini, Knight Frank, Banco Central do Brasil, Receita Federal e NPG Group. “Avaliamos o mercado brasileiro de indivíduos com grandes remunerações no período de mar-
ço de 2014 a fevereiro de 2015. Foram aplicados ainda 400 questionários com 45 perguntas diretas”, conta o sócio e responsável do Barings para a América Latina, Emerson de Pieri. O estudo classifica como “milionários” as pessoas com renda anual a partir de US$ 240.000 e US$ 1.000.000 em ativos. O Barings Investments, segundo ele, funciona como uma espécie de intermediador de serviços e soluções financeiras para atender a necessidade do produtor rural. Na lista de produtos estão financiamento de terras, sementes, insumos, aeronaves e maquinários, seguros de safra, exportação e importação, venda no mercado futuro (Chicago), serviços de transporte e aduaneiros. “Atualmente possuímos 58 clientes no Brasil, sendo 69% deles no Centro-Oeste”, revela. As particularidades econômicas e de mercado favorecem, segundo ele, o enriquecimento no
Centro-Oeste. “Sem o agronegócio, não teria acontecido esse “boom”. No Mato Grosso, principalmente, onde não há uma diversificação econômica, a agropecuária é a mola mestra de impulso da economia. Vale lembrar, que com os recursos gerados, criou-se uma segunda fonte de receita, que são as grandes empresas ligadas ao fomento e implemento do setor (maquinários, insumos, sementes, etc.). Ao mesmo tempo, alavancou o comércio de produtos e de serviços. Outros números da pesquisa que apontam para o enriquecimento no Centro-Oeste e destacam os profissionais do agronegócio estão nos dados de perfil dos “milionários” na região: 65% possuem curso superior completo: agronomia (43%), administração de empresas (31%) e veterinária (7%) são as principais formações. Do total, 21% possuem MBA, 18% estudaram fora do Brasil e 53,2% têm idade até 45 anos.
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Notícias da Terra Logística I
Lei dos caminhoneiros vigora em 17/4
A
chamada Lei dos Caminhoneiros, sancionada no início do mês passado pela presidenta Dilma Rousseff, começará a valer no dia 17 deste mês de abril. Segundo o Ministério dos Transportes, essa data vale para todos os artigos da lei, incluindo a isenção do pagamento de pedágio sobre o eixo suspenso de caminhões que circulam vazios, o aumento da tolerância máxima na pesagem de veículos de transporte de cargas e passageiros e a conversão das penas de multa por excesso de peso em penas de advertência (OBS: leia reportagem sobre a logística de escoamento da safra de grãos a partir da página 20).
Logística II
Tegram inicia operações
U
m navio com 66 mil toneledas de soja zarpou em 15/3 do porto de Itaqui rumo à China, abrindo formalmente os trabalhos de exportação do Tegram – Terminal de Grãos do Maranhão. Por enquanto, as operações são conduzidas via rodovia. A expectativa é que o Tegram esteja 100% concluído ainda no primeiro semestre deste ano, quando o ramal ferroviário e os quatro armazéns, cada um com capacidade de armazenamento de 125 mil toneladas de carga, estejam totalmente finalizados. Na primeira etapa, o terminal terá a capacidade de movimentar volumes superiores a 5 milhões de toneladas de soja, milho e farelo. Estima-se que 80% da produção agrícola da região do Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), além do nordeste do Mato Grosso, chegarão ao Tegram por meio de ferrovias e 20% por rodovias.
Terra
Mais de 300% de valorização
P
esquisa conduzida pela AGE/Mapa – Assessoria de Gestão Estratégica do Ministério da Agricultura, em conjunto com pesquisadores da Universidade de Brasília (DF), aponta uma valorização média de 308% entre 2002 e 2013 no preço médio das terras no Brasil – para afeito de comparação, a taxa de inflação medida pelo IGP-DI da Fundação Getúlio Vargas, foi de 121,9% no mesmo período. A terra representa 70,5% do valor dos bens existentes nos estabelecimentos agropecuários. Os demais valores são distribuídos em prédios, instalações e benfeitorias, lavouras permanentes e temporárias, matas e outros bens, como veículos, máquinas e animais. Os pesquisadores concluíram que a produtividade agrícola tem forte correlação com o preço de terras de lavouras e de pastagem. Assim, o aumento da produtividade agrícola pode estimular a demanda de terra, como também arrefecer uma eventual pressão sobre o aumento do preço. 16 | Agro DBO – abril 2015
Desastres naturais
Agricultura é a mais afetada
E
studo da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO, na sigla em inglês) demonstra que 22% de todos os danos causados por desastres naturais, como secas, cheias por tempestades ou tsunamis, recaem sobre o setor agrícola. Para chegar a tal conclusão, os pesquisadores usaram como base 78 avaliações das necessidades pós-catástrofe em 48 países em desenvolvimento durante o período 2003/13. Normalmente, são as comunidades rurais e semirrurais pobres as que sofrem mais com os impactos e perdas – e ainda carecem de seguros e recursos financeiros para recuperar os meios de vida perdidos. Apesar disso, no período 2003/13, apenas 4,5% da assistência humanitária foi destinada à agricultura após os desastres. De acordo com a FAO, o número representa apenas os danos relatados através de avaliações de risco pós-desastre. O impacto real é provavelmente maior.
Notícias da Terra Fitossanidade
Brasil suspende importação de frutas
O
Ministério da Agricultura suspendeu em 24/3 a importação de frutos frescos de maçã, pera e marmelo da Argentina devido à presença da praga Cydia pomonella, conhecida como traça da maçã. No primeiro trimestre deste ano, fiscais do ministério comprovaram a presença de insetos vivos de C. pomonella em 15 carregamentos provenientes da Argentina, o que indica falha nos controles fitossanitários privados e oficiais daquele país. A praga pode causar elevados prejuízos à agricultura, em especial para o cultivo da maçã. No Brasil, foi completamente erradicada em 2014. A suspensão das importações visa, portanto, a proteção dos pomares brasileiros e a prevenção de contaminação dos frutos nacionais. Uma auditoria oficial brasileira no sistema de mitigação de risco da Argentina estava programada para o mês de março, mas, a pedido daquele país, foi postergada para abril. Recentemente, o governo argentino solicitou mais uma vez o adiamento da auditoria.
Biológicos
Número baixo
D
e acordo com dados da ABCBIO – Associação Brasileira das Empresas de Controle Biológico, o Brasil possui apenas 107 produtos biológicos comerciais registrados. Deste total, 78 são “microbiológicos” (fungos, bactérias e vírus); sete, feromônios; e 22, “macrobiológicos” (parasitas, predadores e parasitóides). O setor lista como desafios a limitada disponibilidade de produtos comerciais e de princípios ativos, dificuldade de registro dos agentes de biocontrole, falta de capacitação dos agentes comerciais para recomendação e uso dos biológicos, além da baixa qualidade dos produtos não registrados, vendidos informalmente no mercado.
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Notícias da Terra Negócios
Bayer adquire negócio de sementes da CCGL Com a estratégia global de avançar cada vez mais no mercado de sementes, a Bayer CropScience anunciou em março a aquisição do negócio de sementes da Cooperativa Central Gaúcha – CCGL, do Rio Grande do Sul. A transação já obteve
aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE). A CCGL é uma tradicional cooperativa agrícola, que atua forte nos segmentos de laticínios, logística e tecnologia de sementes de soja, trigo e forrageiras. A cooperativa con-
seguiu criar um banco de germoplasma de sementes altamente reconhecido. O negócio adquirido pela Bayer CropScience é o de linhagens e cultivares de soja e trigo, adaptadas para todas as regiões produtoras do Brasil.
Safra 2014/15
Novo recorde da soja: 203 milhões de t A influência positiva do clima garantiu as melhores lavouras e produtividades no Mato Grosso, Paraná e Rio Grande do Sul na safra 2014/15, conforme verificado em campo pelos técnicos do Rally da Safra 2015. A estiagem prolongada entre o final de dezembro e janeiro afetou lavouras de São Paulo, Goiás, Minas Gerais, parte da Bahia e do Piauí, que registraram perdas. Mesmo com esse cenário, a safra de soja deve atingir novo recorde de 95,8 milhões de t e a de milho verão, 29 milhões de t, conforme a Agroconsult, organizadora do levantamento técnico da safra de grãos no País. A revisão para cima dos números da safra de soja, após a conclusão dos trabalhos em campo, deve-se às
chuvas de fevereiro e março que melhoraram as condições das lavouras. “Como fato marcante desta safra observamos a ocorrência significativa de lavouras com altíssimo potencial produtivo em todas as regiões, acima de 70 sacas por ha”, afirma o coordenador geral do projeto, André Pessôa. “É importante destacar vários aspectos positivos da safrinha de milho, cujo plantio não foi significativamente afetado pelo atraso no plantio inicial da soja. Não haverá queda de área e a forte redução de área plantada no verão foi compensada pelo bom desempenho de produtividade no Sul do Brasil”, explica Pessôa. O milho 2ª safra deve atingir 50,5 milhões de t. A safra de grãos, segundo a Agroconsult, de-
Grãos Cultura Algodão-caroço Amendoim total Arroz Aveia Canola Centeio Cevada Feijão total Girassol Mamona Milho total Soja Sorgo Trigo Triticale Brasil
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Área (1000 ha) 2013/14 2014/15 1122 1068 105 105 2346 2440 153 155 45 45 2 2 117 118 3078 3071 146 147 101 90 16102 15830 30175 31476 751 760 2730 2518 39 40 57.012 57.865
Produção (1000 t) 2013/14 2014/15 2671 1983 319 322 11758 12401 307 312 36 37 3 4 305 311 3095 3139 208 212 45 61 80052 79369 86121 95781 2014 2057 5904 6822 96 98 192.934 202.909
ve chegar a 203 milhões de t. Crise – A crise trouxe três consequências diretas aos produtores, relata Pessôa. A valorização do dólar beneficiou produtores que estão conseguindo preços melhores do que o previsto. Já a oferta de crédito para a próxima safra é a segunda consequência da crise, gerando preocupação entre os produtores que relatam redução na disponibilidade de crédito de fontes públicas e privadas. O terceiro aspecto é o atraso na tomada de decisão para adquirir insumos para a próxima safra, tanto fertilizantes como defensivos, cujos custos devem subir, por causa do dólar valorizado. Levantamento técnico – Na edição deste ano, os técnicos voltaram a incluir a região Sul na avaliação da produção de milho. Os estados visitados representam 97% da área de soja e 73% da área com milho no Brasil, em um total de 85 mil quilômetros percorridos. Organizado pela Agroconsult, o Rally da Safra 2015 chega à 12ª edição. O trabalho pode ser acompanhado pelo site www.rallydasafra.com.br
Notícias da Terra Agrotecnologia
Citricultura vai à luta contra o greening A Fundecitrus, Fundação de Desenvolvimento da Citricultura anunciou que tem o caminho para o controle do greening (HLB), a mais grave doença dos laranjais. Trata-se do controle biológico através da Tamarixia radiata, que parasita eficientemente as ninfas do psilídeo Diaphorina citri, vetor de bactérias causadoras da doença. Conforme Antônio Juliano Ayres, gerente geral da Fundecitrus, as vespinhas criadas em laboratórios da entidade, serão distribuídas aos citricultores, e devem provocar uma queda superior a 70% na incidência da doença, que hoje atinge mais de 15% dos pomares paulistas. Os números são confirmados pela Esalq/Piracicaba, parceira no projeto, que
conta ainda com o apoio da Bayer CropScience. “Temos de agir rápido”, segundo Juliano, “pois a Flórida, nos EUA já está praticamente com 100% de infestação”. O maior problema previsto pela Fundecitrus está nos pomares abandonados em termos de tratos culturais, em decorrência da crise de baixos preços, que representam cerca de 15 mil hectares distribuídos em toda a região produtora, pertencentes a pequenos produtores. “Vamos precisar da ajuda dos governos, estadual e federal, para criar estímulos aos donos das áreas abandonadas, para que voltem a tratar dos pomares, sem o que os nossos esforços podem não ser tão positivos como projetamos”, acentuou Juliano.
A técnica aplicada no laboratório de criação da Tamarixia foi desenvolvida na Esalq, pela equipe do professor José Postalli Parra, com apoio do Fundecitrus. Para maior eficiência da vespinha recomenda-se que produtores com mais de 100 a 150 mil pés de laranja tenham seus próprios laboratórios de criação.
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Capa
Se o caminhão parar, o Brasil para. A afirmação acima, do presidente da Associação dos Transportadores de Carga de Mato Grosso, Miguel Mendes, reflete a dependência do agronegócio de um único modal de transporte. José Maria Tomazela
M
eio século depois de o Brasil ter optado pelo transporte rodoviário, ainda nos tempos de Juscelino Kubitschek, o agronegócio nacional, que responde por um quarto do PIB – Produto Interno Bruto, está mais do que nunca sob o domínio do caminhão. Pelo menos 80% do escoamento da atual safra de grãos, de 198,5 milhões de toneladas, segundo a Conab, serão feitos no ‘lombo’ de carretas sobre pneus. Considerando a carga de 30 toneladas por veículo, a produção transportável equivale a 5,2 milhões de caminhões lotados, quatro vezes a frota inscrita no Registro Nacional de Transporte Rodoviário, de 1,3 milhão de veículos de carga. Aos gargalos históricos na infraestrutura, soma-se um novo problema para franzir a testa do produtor: o humor do caminhoneiro. Elo mais frágil e, até agora, quase desapercebido na cadeia produtiva, ele acaba de 20 | Agro DBO – abril 2015
José Medeiros
Considerando 30 toneladas por veículo, a carga transportável no Brasil equivale a 5,2 milhões de caminhões lotados.
mostrar que tem poder e quer ser ouvido. Entre fevereiro e março deste ano, caminhoneiros rebelados bloquearam rodovias em onze estados brasileiros, chamando a atenção para as más condições de trabalho e o valor baixo do frete. Durante quase um mês, o locaute dos caminhoneiros espalhou prejuízos pelo país, com perdas de leite, carne, grãos, falta de combustível e interrupção no fornecimento de insumos para a indústria. “Foi a forma de chamar a atenção da sociedade para a perda de renda do transportador. Só assim para o governo sentir que o transporte de cargas é item de segurança nacional”, completou Mendes. As paralisações concentraram-se principalmente nas regiões de alta produção agropecuária, como Sul, Sudeste e Centro-Oeste. As cadeias produtivas do agronegócio estimaram em R$ 1,2 bilhão o prejuízo dos bloqueios apenas para empresas e produtores nos estados atingidos. O cálculo não levou em conta as perdas ocorridas na safra da soja, já que houve atraso na colheita por falta de combustível – houve casos em que o grão apodreceu no pé. Para a ABPA – Associação Brasileira de Proteína Animal, o fechamento das rodovias que escoam aves e suínos na região Sul gerou prejuízo de R$ 700 milhões e afetou 70% da capacidade de produção da região, uma das principais produtoras de carnes. Os abates atrasaram, o custo da alimentação e a mortalidade aumentaram.A Ocepar – Organização das Cooperativas do Paraná estimou prejuízo diário de R$ 30 milhões apenas para os produtores de leite que não conseguiram escoar a produção – total de R$ 120 milhões em todo o período. A Transcocamar, empresa de transporte ligada à Cocamar, uma das maiores cooperativas agrícolas do Paraná, teve dois caminhões apedrejados em Minas Gerais, quando buscavam rotas alternativas para escapar do bloqueio em rodovias mineiras. “Estávamos com mais de 600 caminhões rodando por dia e contratos para cumprir, nosso transporte não podia parar”, conta o gerente logístico Júlio César Bueno Alves. Os bloqueios represaram o escoamento da safra paranaense para o porto de Paranaguá. Os estoques no porto baixaram drasticamente e, assim que a greve foi interrompida, a administração antecipou as descargas de caminhões que já estavam agendadas para evitar que a espera dos navios se prolongasse. Mesmo assim, o travamento das estradas atrasou o carregamento de soja em vários portos. Em fevereiro, os embarques do grão totalizaram apenas 870 mil toneladas, contra 2,79 milhões do mesmo mês em 2014. O presidente do Sindicato Rural de Lucas do Rio Verde (MT), Carlos Simon, que também é produtor de soja e milho, conta que ele e outros produtores da região ficaram sem fertilizantes para aplicar no milho safrinha. Os caminhões que transportavam o insumo abril 2015 – Agro DBO | 21
Capa foram barrados nos bloqueios. “Muitos produtores reportaram terem ficado sem combustível para abastecer as máquinas e colher a soja, acarretando atraso na colheita.” Um dos efeitos da greve foi o aumento de 40% no preço do frete, o que, nas contas de Simon, teve um efeito desastroso. Produzida longe dos portos, sua soja viaja de caminhão até a ferrovia, em Rondonópolis, e nos vagões de trem até Santos. “Hoje, o custo do frete está em torno de R$ 17 a saca e já representa 27% do valor do produto. Isso não só desestimula, como quebra o produtor”, disse. Para o agricultor mais próximo do porto, o impacto é menor, mas também assusta. “Hoje, o transporte da soja de Maringá para o porto de Paranaguá sai a R$ 95 a tonelada, fora o frete. Nunca vi esse pico de preço”, disse Alves, da Transcocamar. Políticas inadequadas Representante dos caminhoneiros, Mendes disse que a greve foi uma reação à perda de rentabilidade dos transportadores autônomos. “Grandes grupos econômicos do agronegócio se uniram e acabaram dominando o transporte. Eles impõem o preço do frete e o transportador não consegue cobrir seu custo.” Conforme explica, alguns meses antes de iniciar a safra, a trade fecha o preço da soja e milho com o produtor e monta o valor do frete. Em seguida, vai para o mercado contratar caminhões. Esse trabalho é feito pelo agenciador, que fica com parte do valor do frete. “Por exemplo, se a trade cobrou R$ 300 a tonelada do produtor, o agenciador repassa R$ 250 para o caminhão e fica com R$ 50.” Favorece a ação dos atravessadores o fato de haver sobra de caminhões no mercado. Ele estima haver 300 mil carretas ociosas, em média, no país. Isso se deve à política que o governo adotou anos atrás para incentivar o transporte de cargas, financiando veículos de carga com juros subsidiados. Em 2013, num cenário de falta de caminhões, uma lei aprovada no Congresso Nacional reduziu a jornada de trabalho do
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Terminal da Transcocamar: os bloqueios nas estradas represaram o escoamento da safra para o porto de Paranaguá, causando milhões em prejuízos.
Por uma série de equívocos, o setor de transporte de carga entrou num atoleiro e até hoje não se livrou dele. Até dono de padaria investiu na formação de frotas.
caminhoneiro. O impacto fez com que o frete subisse em torno de 40% e o governo passou a subsidiar a compra de veículos de carga. “Houve uma enxurrada de caminhões, muitos nas mãos de quem não era do ramo. Para aproveitar a linha de crédito atrativa, empresários de outras áreas, profissionais liberais e até donos de padarias investiram na formação de frotas”, relata. O excesso de caminhões arruinou o valor do frete e os motoristas passaram a trabalhar apenas para cobrir os custos. Também houve um relaxamento na fiscalização da jornada e a lei do caminhoneiro deixou de ser cumprida. “De 2013 para cá, milhares de motoristas foram colocados na rua. Muitos tiveram que devolver o caminhão por não conseguir pagar.” Segundo Mendes, a ATC chegou a propor uma tabela de referência para o frete, mas as empresas não aceitaram. O aumento no preço do diesel na primeira quinzena de fevereiro foi apenas o estopim que deflagrou a greve. Os protestos foram mais intensos nas principais regiões de produção agrícola do país, nos estados de Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, onde safras colhidas chegaram a ser transportadas abaixo do custo. A desmobilização só ocorreu quando o governo e as empresas se dispuseram a negociar com os transportadores. A presidente Dilma Rousseff promulgou a nova Lei dos Caminhoneiros, recompondo a jornada, perdoou multas por excesso de carga nos dois últimos anos e aboliu a cobrança de pedágio do eixo suspenso dos caminhões. De acordo com Mendes, depois da greve, e com o avanço da safra de grãos, o mercado de cargas cresceu e o preço do frete aumentou em até 40%. “Na verdade, houve uma recuperação da defasagem de 30% e um aumento real de 10%”, explica. Segundo ele, até o final de abril, o setor vai continuar aquecido pelo escoamento da soja. O problema é no período de maio a julho, quando escasseiam as cargas agrícolas
Quase 100% dos alimentos consumidos pela população brasileira são transportados por caminhoneiros. O frete é a ponta do iceberg. e diminui a oferta. Para proteger os caminhoneiros das oscilações do mercado e inibir a ação dos atravessadores, ele propõe uma tabela de referência para o frete. Mendes discutiu a proposta com três ministros em Brasília – Miguel Rossetto, da Secretaria Geral, Manoel Dias, do Trabalho, e Antônio Carlos Rodrigues, dos Transportes –, e sentiu que houve um avanço. “Estamos com um grupo de trabalho elaborando a tabela do preço mínimo, que terá como referência o quilômetro rodado.” Segundo ele, alguns indexadores levam em conta as condições das vias, pedágios e o preço do combustível. Altas do óleo diesel serão repassadas à tabela e nos trechos sem pavimentação, o valor do km chega a dobrar. A correção anual será feita pelo INPC – Índice Nacional de Preços ao Consumidor. O presidente da ATC/MT espera que a fórmula entre em vigor ainda este ano. “O transporte de cargas se equipara a uma concessão pública, pois o transportador precisa ter o registro nacional e fica sob o controle da ANTT. É preciso que tenha uma regulação. Da forma como está, o caminhoneiro não sobrevive.” Apesar de sua importância para o agronegócio, o transportador tem sido pouco valorizado, segundo o coordenador do SOS Estradas, Rodolfo Rizzoto. Parte desses profissionais ainda recebe por uma modalidade de pagamento que, embora proibida por lei, é amplamente adotada nas estradas brasileiras, a chamada carta-frete. Trata-se de um vale assinado pela transportadora que o caminhoneiro pode trocar por combustível, refeição, local para tomar banho e dormir ao longo da estrada. A troca só pode ser feita em estabelecimentos previamente selecionados pela transportadora e que cobram ágio de até 40%. Para
cobrir seus custos e sobreviver, o motorista se vê obrigado a virar a noite na boleia, o que o leva ao consumo dos chamados ‘rebites’. O alto índice de acidentes com caminhões resulta dessa equação mal resolvida, alerta Rizzotto. “Poucos pensam nisso, mas nossa vida está diretamente ligada à dos caminhoneiros. Quase 100% dos nossos alimentos e 60% dos demais produtos que consumimos são transportados por eles. São pessoas que vivem 300 dias por ano longe dos familiares, ganham pouco, dormem mal, são explorados e depois abandonados como carros no ferro-velho.”
Empresários propõem regulação do setor de transporte de cargas. “Da forma como está, o caminhoneiro não sobrevive”.
Logística emprrada A greve dos caminhoneiros levou setores do governo, parlamentares e entidades representativas das frentes produtivas a uma retomada da reflexão sobre nosso modelo de escoamento de grãos e bens. “Somos um país dependente do setor de commodities, vivemos praticamente da exportação desse bens, mas precisamos de corredores para isso”, disse o senador José Medeiros (PPS), do Mato Grosso. Ex-patrulheiro da Polícia Rodoviária Federal, Medeiros participou das negociações entre governo e caminhoneiros, ao lado do também senador mato-grossense e empresário agrícola Blairo Maggi (PR). Para ele, além de investimentos no transporte hidroviário, é preciso acelerar as obras da Ferrovia de Integração do Centro-Oeste, que possibilitará o escoamento da produção do norte do Mato Grosso para a Ferrovia Norte-Sul e os portos da região Norte. A ferrovia transversal, segundo ele, atenderá uma região de alta produção de soja e milho, onde ficam municípios como Canarana, Lucas do Rio Verde e Sapezal, hoje dependentes do saturado eixo das rodovias BR-364 e BR-163. “O objetivo é estender
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Capa Há quem aposte as suas fichas no modal ferroviário, mas, por enquanto, o preço desanima. É quase o mesmo do rodoviário.
a ferrovia rumo a Rondônia e Acre, para que possamos, em breve, ter a Ferrovia Transcontinental e uma saída para o Pacífico.” O presidente da Aprosoja/MT – Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso, Ricardo Tomczyk, lembra que as fronteiras agrícolas se expandiram em direção ao norte do país, mas há uma concentração do escoamento nos eixos sudeste e sul, rumo aos portos de Santos e Paranaguá. “Milhões de toneladas de grãos poderiam estar saindo pelos portos do arco norte, como o do Pará, mas sem estrada fica difícil.” Em fevereiro, ele se reuniu com os ministros do Transportes, Antônio Carlos Rodrigues, e da Agricultura, Kátia Abreu, para discutir essa logística. Os encontros tiveram a participação do senador Maggi, dirigentes do Dnit – Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes e representantes dos grupos Cargill e Amaggi. As duas empresas operam o transporte hidroviário em rios amazônicos.
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Trecho da BR-163, no estado do Pará. Falta pouco, mas o asfaltamento total da rodovia ainda é promessa.
Ferronorte, na região de Chapadão do Sul (MS): malha ferroviária é opção contra a dependência do modal rodoviário..
O representante dos produtores ouviu justificativas de que algumas obras estão paradas em razão da fragilidade de algumas empreiteiras que não conseguiram dar conta dos contratos, mas o governo já providencia a retomada. A grande urgência na região, segundo ele, é a conclusão da BR-163, que já deveria ter avançado até o norte. A rodovia tem 3.467 km de extensão, desde Tenente Portela, no Rio Grande do Sul, até Santarém, no Pará, na margem direita do Rio Amazonas. O trecho que corta o Mato Grosso do Sul tem 845,4 quilômetros, passando por 21 municípios, entre eles a capital, Campo Grande, e desde 2014, está concedido à iniciativa privada (CCR MSVias). A empresa promete duplicar toda a rodovia no estado em cinco anos. Em alguns trechos as obras foram iniciadas. A rodovia foi alvo dos protestos de fevereiro. O grande corredor de grãos, porém, está no trecho que vai de Mato Grosso ao norte do país. A rodovia é asfaltada até Guarantã do Norte, a 728 km de Cuiabá, no extremo norte do estado. O restante do trecho até a hidrovia, em Santarém, com cerca de 500 km, é estrada de chão. Seis trechos que, somados, chegam a 126 quilômetros estão em obras, inclusive de pavimentação. “O problema é que essas obras deveriam ter ficado prontas há dois ou três anos. Estamos esperando que sejam concluídas para a próxima safra”, disse Tomczyk. O trecho sul dessa rodovia em Mato Grosso, que vai de Sinop a Rondonópolis, está sendo duplicado, mas pode levar até cinco anos para ficar pronto. Em Rondonópolis está instalado o maior terminal ferroviário de embarque de grãos do País e para ali converge todo o tráfego, não só da BR-163, mas de outras rodovias importantes, como a B$-364 e a BR-070. “Em certos momentos, o terminal não dá conta e trava tudo”, explica o dirigente.
Desde o final de 2013, o trecho da BR-163 entre a divisa com o Mato Grosso do Sul e Sinop, está concedido à Rota do Oeste, do grupo Odebrecht. De acordo com o representante dos produtores, depois que a concessionária assumiu a rodovia houve melhorias pontuais na pista existente. “O trecho entre Rondonópolis e o terminal ferroviário está quase pronto. O contorno de Cuiabá ainda não foi duplicado, mas está bem melhor que antes”, exemplifica. O Movimento Pró-Logística, coordenado pela Aprosoja, definiu como prioridades para 2015 o acompanhamento das obras da BR-163, em sentido ao Pará; da BR-080, no nordeste do estado, e da BR-242, no Norte, além da concretização das hidrovias Paraguai-Paraná e do Rio das Mortes. A concessionária da BR-163 informou que, em um ano de atuação, concluiu a recuperação emergencial de 453 quilômetros no trecho sob sua responsabilidade. Segundo a empresa, dadas as condições anteriores da estrada, as melhorias já tiveram reflexo nas condições de tráfego. Pela rodovia, nesse trecho, trafegam 70 mil veículos por dia. Até
O sonho dos produtores rurais do norte matogrossense e de boa parte do Matopiba é fazer a soja fazer o percurso mais longo pelos trilhos e pelos rios.
o final do ano serão duplicados 73 quilômetros na parte sul – destes, 22,7 km de acesso entre Rondonópolis e o terminal de cargas da ALL estão praticamente pronto. O problema maior, lembra Tomczyk, está adiante de Sinop, onde termina o trecho concedido. A falta de infraestrutura afeta principalmente os produtores do norte mato-grossense. Grande parte da produção percorre todo o estado em caminhões para chegar à ferrovia e seguir de trem para o porto de Santos. Para Tomczyc, o grande avanço seria escoar essa produção pelos portos da região norte do Brasil, com a soja fazendo o percurso mais longo pelos trilhos e pelos rios. “As hidrovias têm grande potencial, mas não operam, ou o fazem muito abaixo do necessário, porque faltam acesso e sistemas de transbordo.” Em meados de março, apenas as empresas Cargill e a parceria Maggi-Bunge operavam na região, algo em torno de 3 milhões de toneladas, para um potencial de 20 milhões. Simon, o presidente do sindicato de Lucas do Rio Verde, reclama da falta de outros modais próximos, o que
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Capa “Não fizemos a lição de casa e, agora, ficou difícil fazer. A hidrovia é o modal de menor custo, mas somos um país sobre rodas.” torna os produtores da região altamente dependentes do caminhão. “Enquanto não sair o acesso a Santarém para embarque na hidrovia, a soja vai viajar para o Sul.” Ele lamenta que a extensão da ferrovia até Rondonópolis não tenha trazido alívio para o custo do frete. “O modal ferroviário tinha que ser mais barato, mas isso não acontece. Se mandamos o caminhão seguir até o porto, a conta é praticamente a mesma do que mandar pelo trem.” Diversificação de transporte O presidente da Federação da Agricultura de Mato Grosso, Rui Prado, faz eco à queixa de Tomczyc. Ele lembra que há décadas a entidade vem alertando para a necessidade de diversificar os modais de transporte no Brasil, principalmente nos grandes polos de produção. “A paralisação dos caminhoneiros mostrou o quanto a sociedade está desprovida de rotas alternativas de escoamento de produtos, bens e serviços.” Ter no modal rodoviário a única forma de escoar a produção reduz a competitividade do produtor e tolhe o desenvolvimento do país, segundo ele. Até porque o Brasil não prima por uma malha viária de primeira linha. Nas regiões de maior produção, a maioria das estradas tem leito carroçável em terra. Enquanto os Estados Unidos, com extensão territorial muito próxima à do Brasil, tem 6,6 milhões de quilômetros de rodovias, nosso país dispõe de 1,8 milhões, conforme estudo do Banco Mundial. E, via de regra, as estradas brasileiras são ruins. Pesquisa da Confederação Nacional dos Transportes de 2014 mostrou que 79% das estradas não são pavimentadas e, das que têm asfalto, 62% são apontadas pelos motoristas como regulares, ruins ou péssimas. O mesmo estudo mostra que, das estradas que estão sob
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a responsabilidade dos governos, que correspondem a 81% do total, apenas 30% são boas ou ótimas. Em relação aos 19% concedidos à iniciativa privada, o índice de boas ou ótimas sobe 74%, lembrando que se tratam de rodovias com cobrança de pedágios.
Os portos do Norte são essenciais, dada a proximidade do mercado consumidor. Enquanto eles não se consolidam, há que se investir nos portos já operacionais.
Janela virtuosa Para Alves, da Transcocamar, o Brasil perdeu uma janela virtuosa quando a economia estava bem e poderia ter feito parcerias importantes para destravar obras como as da Ferrovia Norte-Sul e de hidrovias. “Não fizemos a lição de casa quando era para ser feita e, na conjuntura atual, ficou muito difícil. A hidrovia é o modal de menor custo, mas somos um país sobre rodas.” Ele também lamenta que a ferrovia tenha seus preços balizados pelo transporte rodoviário, quando deveriam ser mais baratos. A grande saída, segundo o especialista em logística, são os portos da região norte, por estarem mais próximos do mercado consumidor, “mas é uma infraestrutura para longo prazo, de cinco a dez anos”. Até lá, ele defende investimentos na adequação dos portos já operacionais para receberem navios de grande porte. Do ponto de vista do caminhoneiro, há muito a ser melhorado mesmo no modal mais usado. De acordo com Mendes, da ATC-MT, 30% do grão produzido no país passam pelas rodovias BR-163 e BR-364 que estão com tráfego 100% superior à capacidade. “São estradas com mais de 40 anos e que nunca receberam atenção.” Os trechos concedidos começam a ser melhorados, mas há grandes extensões em obras, algumas com o sistema pare-siga que, segundo ele, causa transtornos. “O caminhoneiro para às vezes em filas de até 40 quilômetros de veículos.” Também não foi resolvido o gargalo ferroviário, apesar da grande estrutura do terminal da ALL em Rondonópolis. “O estacionamento pavimentado é insuficiente e os caminhões param no barro. Falta banheiros, o refeitório é pequeno, falta até higiene.” Ele conta que a ALL havia prometido agregar um hotel, um posto de saúde e um centro de compras à estrutura, o que não foi feito. “A descarga melhorou, mas ainda trava nos picos. Ano passado, houve demora de até três dias para descarregar.” A ALL informou manter diálogo com o Ministério Público do Trabalho, sindicatos e governo desde que o Complexo Intermodal de Rondonópolis foi inaugurado para atender as necessidades dos usuários. Sobre o frete, disse em nota que a tarifa ferroviária é sempre balizada pela rodoviária, considerando o volume de carga, a frequência e as necessidades de cada cliente. “Vale ressaltar que, de modo geral, os produtores negociam diretamente com as trades, cujos custos também incluem transporte até o terminal e operação portuária.”
Artigo
O futuro já chegou no agro As novas tecnologias já estão disponíveis para as lavouras, mas as evoluções serão muito mais rápidas do que imaginamos. Daniel Glat*
Drone tipo “multicóptero” da Embrapa.
H
*O autor é engenheiro agrônomo e produtor rural no TO.
á um quase consenso entre visionários do setor agrícola de que o próximo grande salto tecnológico da agricultura mundial e brasileira virá da utilização dos drones, ou VANTs (Veículos Aéreos Não Tripulados) especialmente alinhados com as técnicas da agricultura de precisão. Esses equipamentos, criados originalmente para serviços militares, permitem as mais diversas aplicações nas mais diversas áreas, mas um estudo feito em 2013 nos EUA aponta o setor agrícola como o de maior mercado potencial para o uso de drones. A utilização comercial dos drones ainda não está regulamentada nem no Brasil nem nos EUA porque a princípio dependem da ANAC aqui e da FAA lá. Diretrizes para uso comercial dos drones estão em discussão em ambos os países. O único país que já vem fazendo uso intensivo de drones na agricultura é o Japão, que há mais de 20 anos utiliza um pequeno helicóptero não tripulado, o famoso Yamaha RMAX, operado por prestadores de serviços credenciados para pulverização nas pequenas propriedades. No Brasil diversas faculdades de agronomia e fundações estaduais de pesquisa estão conduzindo es-
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tudos sobre a utilização dos drones. No congresso de Agricultura de Precisão em 2014, houve inúmeros trabalhos apresentados sobre o tema. Algumas empresas de prestação de serviços de agricultura de precisão e processamentos de imagens assim como grandes grupos produtores já o estão começando a utilizar rotineiramente. Existem 3 tipos básicos de drones: os de asas móveis rotativas, conhecidos como multicópteros, que podem decolar e pousar na vertical e são geralmente menores e mais leves e com menos autonomia de voo; e os de asa fixa, que podem ser asas a 45° ou no estilo planador, que são maiores, mais pesados e podem fazer voos mais longos e cobrir áreas maiores. A autonomia de voo varia de 10 min a até mais de uma hora, dependendo do modelo e da bateria; o preço do conjunto varia muito também, de R$ 8 a R$ 10 mil a até mais de R$ 300 mil, dependendo não só do modelo do drone, mas também da qualidade dos equipamentos fotográficos e demais sensores que se queira utilizar, e dos softwares processadores de imagens que poderão ser necessários. O conceito que “vai mudar a agricultura da forma que conhecemos hoje”, segundo o professor Scott Sherer da University of Ohio. “Uma realidade de sensoriamento remoto, nunca antes imaginada para a agricultura”, segundo o professor Rubens Duarte Coelho, de Engenharia e Biossistemas da Esalq, que consiste na combinação do uso dos drones equipados com aparelho de georreferenciamento, com câmeras fotográficas e filmadoras de alta precisão, câ-
meras de infravermelho e sensores de ondas eletromagnéticas mais longas, com um conjunto de softwares que consiga receber e processar essas imagens e dados em tempo real e que, combinadas com todas as outras informações existentes sobre os talhões, permitirá tomadas de decisões mais rápidas, mais eficazes, e mais precisas. As imagens fotográficas com equipamentos de alta precisão permitem, por exemplo, que numa foto de um drone a 200 m de altitude de uma área de 6 ha a precisão seja, 1 pixel = tamanho de um celular! Numa imagem de satélite como o Landsat 8 a resolução é de 1 pixel = 900 m2. Isso significa poder literalmente contar e observar individualmente cada planta numa lavoura! Cada galho de cada árvore num pomar. Essa tecnologia permite saber exatamente em que local do talhão a população de plantas está acima ou abaixo do ideal para calibrar aplicação de adubos de cobertura, por exemplo; ou detectar áreas com ataques iniciais de ervas daninhas ou a presença de insetos, manchas de nematoides etc., e assim gerar mapas que podem ser usados para aplicação a taxa variável ou localizada de produtos químicos apenas onde e quando importante, e assim que necessário. Imagens de alta resolução na pecuária permitem também contar o gado no pasto de forma rápida, localizar os desgarrados, avaliar formação ou infestação dos pastos, níveis de água nos pastos etc. Além disso, quando se processam as imagens fotográficas e de sensores infravermelho decompondo-as pelas faixas ou bandas do es-
pectro eletromagnético visível e invisível, aí o limite passa ser a imaginação! Acredito que aí esteja a grande fronteira dessa ciência. É possível obter todo tipo de informação sobre estado geral da lavoura, taxa de crescimento ou senescência, estado nutricional, áreas mais afetadas por seca ou compactadas, áreas encharcadas, área afetada por doenças, com presença de nematoides etc. Por exemplo, sabe-se que quanto mais sadias estão as plantas mais luz da banda vermelha absorvem e mais infravermelha refletem; ao contrário, plantas com mais estresse absorvem e refletem menos ambas as faixas; esses tipos de mapas tendem a ter alta relação com os mapas de produtividade. As relações de absorção e reflexão de diferentes bandas do espectro podem ser associadas à falta de determinados macro ou micronutriente ou alguma outra situação fisiológi-
ca; é possível com uso de sensores de infravermelho termal, captar pequenas variações de temperaturas entre as plantas que geralmente são indicativos de estágios iniciais de doenças, mesmo sem nenhum sintoma ainda observado. Todas essas observações podem ser mapeadas e usadas para direcionar aplicações corretivas localizadas ou outro tipo de intervenção operacional.
pamentos sejam acoplados aos drones, permitindo que os próprios drones façam intervenções localizadas em áreas problemas detectadas, seja para pulverização, seja para coleta de amostra de folhas, ou de solo, ou medir a compactação. Especialistas do setor divergem se o uso dessa tecnologia será como o de um pulverizador, por exemplo, que cada um tem o seu, ou será operado
O único país que já vem fazendo uso intensivo de drones na agricultura é o Japão. Acredita-se que no futuro breve será possível que existam marcadores moleculares que produzam uma “assinatura espectral própria” e que associados a algum evento transgênico ou algum germoplasma especifico permitiria sua identificação a partir de imagens de sensoriamento. Será possível ainda que outros equi-
por empresas prestadoras de serviços com grande know how e capacidade de processamento de imagens; o que todos concordam é que o uso de drones na agricultura precisa ser regulamentado com urgência, e que usado corretamente deverá tornar a agricultura muito mais eficiente, precisa e sustentável do que ela é hoje.
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Política Expectativas para a Agrishow
Coletiva Agrishow: Carlos Pastoriza, Fábio Meirelles e Maurílio Biagi.
A Agrishow é o maior evento do agro na América Latina, em área e faturamento dos expositores. Neste ano, a 22ª edição anual, acontece de 27 de abril a 1º de maio, em Ribeirão Preto (SP). A Agrishow 2014 teve 800 marcas, e público de 160 mil visitantes, e faturamento de 2,7 bilhões. Para 2015, pelo menos na entrevista coletiva à imprensa, os organizadores mostraram dúvidas e expectativas, sobre o sucesso da
Logística Itaqui Safrona terminando e safrinha maturando, o Ministério da Agricultura prevê o recorde no Valor Bruto da Produção na safra 2014/15: R$ 479 bilhões. No Brasil Central o porto de Itaqui, no Maranhão, vai ser a salvação da lavoura aos produtores do Norte e Nordeste: Itaqui fez o primeiro embarque de soja para o exterior. As saídas dos grãos para exportação via portos localizados ao Norte, sobretudo depois, quando forem finalizados os acessos e transferências bimodais, com ferrovias e hidrovias, vai melhorar a competitividade brasileira no mercado internacional. 30 | Agro DBO – abril 2015
feira deste ano em termos de vendas, especialmente em relação aos juros do Moderfrota, afinal anunciados pelo governo federal, mas a boa notícia saiu depois da coletiva. O presidente da Abimaq, Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos, Carlos Pastoriza, disse que apesar da expectativa de maior movimentação no parque, em Ribeirão Preto (SP), não é possível afirmar “que será
um sucesso de negócios”. A culpa estaria por conta da crise política e econômica que vive o país. Já o presidente de honra da Agrishow, o empresário Maurílio Biagi Filho, alternou o otimismo anterior para o pessimismo. Disse que o agricultor, no estado de crise, usa a opção “guardar o dinheiro”, e adia os investimentos. Já o presidente da Faesp, Federação da Agricultura do Estado de São Paulo, Fábio Meirelles, acredita que se possa superar o volume de vendas de 2014. Falta definir, até a Agrishow, durante abril, os juros e o volume de dinheiro para o custeio. A ministra Kátia Abreu tem afirmado que grana não vai faltar. Falta saber o tamanho dos juros, mas comparando com os percentuais anunciados para o Moderfrota, parece que a encrenca está resolvida. Como tudo isso é politica, o tempo dirá. A conferir.
Pessimismo de plantão O dólar supervalorizado – no final de março em mais de R$ 3,10 – geraria mais inflação, mas foi a salvação das lavouras na safra de verão com as baixas cotações das commodities. E ainda contribui para salvar o Brasil na pauta de exportações, que deve apresentar saldo positivo em 2015. A expectativa dos pessimistas de plantão tinha como troféu o possível rebaixamento do Brasil pela Standard & Poors como investment grade, o que também não se confirmou, pois a agência manteve o nosso status. Em março passado os visionários pessimistas focaram no crédito de custeio e de investimentos, cujos juros subiriam muito e também que faltaria dinheiro. O governo federal aumentou os juros do Moderfrota, e promete que não vai faltar dinheiro, e a indústria de tratores e máquinas
se salva, nem vai perder as vendas já feitas que estavam travadas. Agora, a nova previsão alarmista diz que o custeio da safra 2015/16 vai subir, por causa do dólar alto, quando fertilizantes e todos os insumos, ficariam mais caros, e a próxima safra teria zero de lucratividade, quem sabe prejuízos. Fazem ainda previsões os ditos mal humorados de que o dólar começará a cair no fim do ano, e que baixará a R$ 2,80 justamente na época de colheita da safra 2015/16. Não contentes com isso, prenunciam queda do crescimento do PIB chinês dentro de 5 ou 10 anos para algo como 3% ou 4%. Parece coisa de gente carente, que deseja atenção para as notícias ruins que espalham por aí. Desejam o Brasil no samba do “quanto pior, melhor”. Coisas de políticos.
CNA anuncia a nascente protegida Ação fez parte das comemorações do Dia Mundial da Água. O palco foi uma nascente próxima a Brasília. De um lado, prepara-se a terra para o plantio de muda. Do outro, levanta-se a cerca que vai proteger a área próxima de uma nascente. Próximo dali, os olhares atentos de Rafael Diego Nascimento da Costa, assessor técnico do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), e de Juliana Sousa, instrutora do Senar/DF. Eles acompanham tudo de perto, e passam todas as orientações aos assistentes. Todas as instruções fazem parte das ações do Programa Nacional de Proteção de Nascentes, uma iniciativa da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), junto ao SENAR, que visa a proteção
de mil nascentes em todo o Brasil. O lançamento ocorreu dia 22 de março, Dia Mundial da Água. O local escolhido foi uma chácara na Quadra 6, do Park Way, bairro localizado a 20 km do centro da Capital Federal, onde há uma nascente de contato, definição dada ao tipo de nascente comum em áreas com lençol freático, formada a partir de falhas geológicas do terreno. Na propriedade, foi feito o passo a passo de como proteger uma nascente. E o procedimento é simples. “Queremos mostrar a importância desta iniciativa a partir de um processo que é bem fácil. Basta seguir alguns passos”, explica Rafael. O primeiro é identificar o tipo de nascente. Depois, é proteger o local com uma cerca. Na sequência, faz-se a
limpeza do local e o replantio de espécies nativas, para evitar erosão e promover a recarga dos aquíferos. Não são necessários muitos acessórios para o trabalho. Além da boa vontade e da consciência sobre a importância de se preservar uma nascente, precisa-se de uma enxada, um escavador, alicate, serrote, e equipamentos de proteção individual, como luvas e óculos. “Com as informações necessárias, o próprio dono da propriedade onde há uma nascente pode fazer o trabalho”, afirma a instrutora Juliana. Depois de uma manhã dedicada ao gesto de preservação com as nascentes, com a cerca levantada, área limpa e mudas plantadas, colocaram a primeira placa do programa exibindo a frase “Nascente Protegida”. Apenas a primeira das mil que serão protegidas pela CNA em toda a área rural do Brasil.
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Tecnologia
Pulverização eletrostática, agora é real. Sempre se busca como ideal as pulverizações sem deriva e escorrimento, mas agora existe uma nova tecnologia para fazer isso. Dercy Pavão Jr. * Gustavo Paes
P
* o autor é engenheiro agrônomo, cafeicultor e consultor.
lantas encorpadas e de porte alto como no caso dos cafeeiros e dos cítricos, apresentam diversos desafios para a tecnologia de aplicação de agroquímicos e suplementos foliares, principalmente no que se refere a penetração da calda no dossel da cultura e a redução da endoriva (escorrimento) e exoderiva (deriva), já que o grande índice de área foliar e a arquitetura da planta dificultam a boa cobertura das folhas pelo ingrediente ativo. Uma das maneiras de se obter boa deposição de gotas em alvos biológicos é a escolha correta da técnica de pulverização e do volume de calda a ser aplicado. Uma alternativa para melhorar a deposição da calda sobre as folhas em volume reduzido, diminuindo perdas por deriva, é a pulverização com assistência eletrostática. O SPE - Sistema de Pulverização Eletrostático é um novo conceito em tecnologia de pulverização, pois se trabalha com jato côni-
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co vazio e gotas de 80 micras, com campo elétrico formado na base do jato, tornando a aplicação muito mais eficaz e econômica, proporcionando redução de calda de 400 litros para apenas 150 litros por ha, no caso do cafeeiro. O inovador sistema SPE apresenta cobertura superior aos métodos tradicionais, pois gera gotas finas, uniformes e eletricamente carregadas que reduz o escorrimento e a deriva, e permite um número superior de gotas depositadas na cultura. Nesse novo conceito, gotas finas carregadas com carga positiva são atraídas pelas folhas, galhos e troncos, que estão com carga negativa, e adquirem uma enorme velocidade em direção ao alvo, fazendo com que a evaporação praticamente não aconteça. A força de atração é tão grande que as gotas conseguem até mesmo vencer a turbulência dos ventos. Todas as gotas saem dos bicos carregadas com a mesma carga ele-
trostática. Vale lembrar que corpos carregados com a mesma carga se repelem, com isso consegue-se ter gotas que não se chocam durante o percurso até o alvo, e fazem com que se tenha uma gota ao lado da outra e não gotas sobre gotas como nas aplicações convencionais. A força de atração é tanta que após passarem por uma folha ou fruto, as gotas conseguem retornar e depositar-se na traseira desse alvo. Esta nova tecnologia já pode ser adquirida pelo produtor, onde se monta um kit em seu próprio tanque pulverizador, seja ele de 400, 1.000, 1.500, 2.000 litros, até mesmo em costais motorizados, bastando ter o sistema de indução de ar, ou seja, a turbina que todos os modelos de pulverizadores têm. Essa união de gotas finas com diâmetro entre 50 e 150 micras, com o fantástico poder da eletrostática, veio para modernizar e baratear os tratos culturais em nossas principais culturas.
Entrevista
Monsanto, em tempo de mudanças.
O
s velhos tempos estão de volta na Monsanto? Difícil afirmar com certeza, mas os ventos apontam para mares menos revoltos. Os agricultores mais antigos lembram-se da Monsanto dos anos 1970 a 1990, quando foi a mais querida do mercado, sempre com disposição de ajudar os produtores, frequentemente trazendo uma novidade ou tecnologia que aumentava a eficiência do Roundup ou uma metodologia de aplicação, dose, equipamentos mais indicados, enfim, ações que redundavam em lucros ou menos despesas. Os tempos mudaram a partir dos anos 1990 com a chegada das sementes transgênicas, e a Monsanto que já era grande tornou-se um gigante que impunha aos clientes todas as suas regras, fosse qual fosse, especialmente condições comerciais duríssimas, altos royalties cobrados pelas tecnologias OGMs, tornando a empresa, a partir daí, rejeitada no quesito simpatia, apesar de respeitadíssima no desenvolvimento das tecnologias. Rodrigo Santos, 41 anos, o novo presidente da Monsanto do Brasil, é engenheiro agrônomo, formado pela Esalq/Piracicaba, em 1995, e tem MBA em marketing estratégico. Vindo da Syngenta Seeds, onde foi RTV (Representante Técnico de Vendas), entrou na Monsanto em 1999, depois trabalhou na Monsanto pela Europa, na Romênia e Bulgária, mas visitou com regularidade a Ucrânia, grande produtora de cereais como trigo, milho e arroz. Rodrigo é casado, tem 3 filhos, torce para o Santos, e na conversa com Richard Jakubaszko, editor-executivo da Agro DBO, informou que a Monsanto quer diálogo, está de volta às suas origens, ainda mais ativa, e mais positiva em relação ao futuro da agricultura. Agro DBO – Há o desafio mundial de se produzir alimento para 9 bilhões de consumidores dentro de vinte anos. Daqui pra frente será tudo diferente na agricultura? Como vai ser? Rodrigo Santos – Acreditamos que 95% dos aumentos da produção futura de alimentos virão da melhoria da produtividade nas lavouras em áreas já agricultadas, e apenas 5% virão de áreas novas de expansão. Portanto, a gente acredi-
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ta na intensificação sustentável da agricultura. É um objetivo viável, desde que os agricultores usem todas as tecnologias e ferramentas disponíveis, de forma integrada. Agro DBO – O Sr. conheceu bem a Ucrânia, um país grande produtor de cereais, especialmente trigo e milho. Quais as grandes diferenças de lá com o nosso Brasil? Rodrigo Santos – Institucionalmente estamos mais bem
desenvolvidos do que eles. Algumas de nossas instituições já estão bem estabelecidas. Apenas para dar um exemplo, a Ucrânia mudou 15 vezes de presidentes num período de 20 anos. Isto gera uma instabilidade política muito grande, é evidente. Outro exemplo: como a propriedade das terras é do governo, que arrenda a longo prazo aos agricultores, então, quando se visita algumas propriedades, mesmo as
gigantes, não se vê silos, não há capacidade de armazenamento nas propriedades, porque o agricultor não quer fazer investimento desse tipo sem ter a segurança de que a terra é dele. No Brasil a nossa capacidade de armazenar nas fazendas é baixa, mas na Ucrânia é infinitamente menor, e isso reduz a competitividade dos agricultores, além da lucratividade. Já o uso de tecnologias em geral é bom, tem crescido bastante. Agro DBO – Como a agricultura do Brasil é vista por esses concorrentes? Ou eles conhecem pouco sobre a gente, assim como nós conhecemos pouco sobre eles? Rodrigo Santos – Eles conhecem um pouco do Brasil, sobre o país ser uma potência, e através das grandes mídias e da internet. O que atrela o interesse, e desperta curiosidade, é a nossa ampla disponibilidade de terras, além do clima muito bom para a agricultura. Mas conhecem pouco sobre a nossa estrutura, que eu considero que foi fundamental para a evolução da agricultura nos últimos anos e vai ser para o futuro, e que são as nossas cooperativas no Sul e Sudeste do Brasil. E temos ainda grandes empresas, as sementeiras em especial, lá no Brasil Central, com alto uso de tecnologias, ampla estrutura e forte esquema de apoio aos produtores. Esses dois modelos de negócio, corresponsáveis pelo nosso crescimento, são de baixo conhecimento entre eles. Na Romênia, por exemplo, os agricultores têm quatro desafios gigantescos, que são acesso a crédito, acesso a insumos de custo competitivo, a comercialização de grãos, que é o maior desafio, e assistência técnica, que não existe. Por isso, somos muito mais competitivos, porque as cooperativas brasileiras oferecem su-
portes exatamente nesses quatro quesitos. Quando faço apresentações lá fora, é isso o que mais chama a atenção deles. Agro DBO – A Monsanto nos anos 1980 e 1990 foi a empresa mais querida e a mais admirada em quase todas as lavouras deste país, era uma empresa de um produto, o Roundup, que fazia quase tudo, inclusive o plantio direto, mas a partir deste início de século, com as sementes GMs, a Monsanto virou a ‘marvada” do mercado, inclusive com disputas judiciais com agricultores. A gente ouviu falar que a Monsanto vai mudar. Como vai ser a partir de agora, para onde vai a Monsanto? Rodrigo Santos – Esse é um bom histórico da Monsanto, do Roundup, do plantio direto, sistema em que o Brasil hoje é um
mais aberta, maior do que já vínhamos fazendo no passado. Será um gigantesco desafio nos comunicarmos com toda a sociedade, mas esta será a nossa postura, a de dialogar, e de colocar o nosso ponto de vista. É evidente quem nem sempre se vai concordar com tudo, mas sempre procuraremos ter a oportunidade de estabelecer um diálogo o mais transparente possível. É o que mais faço hoje em dia, com os mais diferentes elos da cadeia, desde que assumi a presidência no ano passado. Agro DBO – Mal foi lançada a Intacta, já existem relatos de problemas de lagartas resistentes ao Bt? A Monsanto reconhece isso, ou foram exceções? Rodrigo Santos – Saiu um report, um comunicado fora do Brasil, sobre resistência da Spodoptera. Foi um equívoco, por-
95% do aumento da produção futura de alimentos virão da melhoria da produtividade grande exemplo para o mundo, e isso faz parte da nossa história de sustentabilidade. Quando a Monsanto veio com a biotecnologia, que foi a grande transformação contemporânea, e que Norman Borlaug chamou de Revolução Jeans, e não de Revolução Verde, talvez a gente tenha subestimado o impacto da biotecnologia, embora fosse uma tecnologia transformadora e de muita importância, mas a verdade é que possivelmente não percebemos com total clareza a importância dela e o impacto junto ao público em geral. A Monsanto sempre foi uma empresa que trabalhou junto a produtores rurais. Agora, o que nós vamos fazer daqui pra frente é continuar o que somos, a trabalhar com agricultura, com tecnologias dessa área, e a ideia é a de fazer cada vez melhor, porém com uma comunicação
que, na verdade, a Intacta, desde que lançamos a tecnologia, ela não controla a Spodoptera, que é uma praga secundária em relação ao Bt. Em relação às pragas-alvo da tecnologia, como lagarta da soja, pseudo-plusia, lagarta das axilas, elas até agora não apresentaram perigo e não ouvimos nenhum relato sobre resistência. Portanto, o desempenho da Intacta está exatamente como a Monsanto tinha previsto, a não ser esse equívoco da Spodoptera, e esse é um trabalho que a gente tem de fazer junto aos agricultores, porque o fato de o produtor usar Intacta não significa que ele não precise mais inspecionar a lavoura. Tem de fazer o monitoramento, identificar as pragas secundárias e fazer o controle delas, sim. A Spodoptera não é uma praga importante, é secundária abril 2015 – Agro DBO | 35
Entrevista na tecnologia Bt, mas nas lavouras que tiverem infestações, o agricultor terá de fazer uma aplicação do inseticida indicado. Há certa confusão, na base do “plantei Intacta, e tá tudo resolvido”, não é assim, necessariamente. Agro DBO – A Monsanto pretende diversificar atividades no Brasil com o serviço do BigData (Field Script), que já está em uso nos EUA? Será um serviço especial a grandes clientes, inicialmente? Quais os planos? Rodrigo Santos – Nós acreditamos que essa nova tecnologia será tão importante e provocará alterações tão grandes quanto a biotecnologia, que começou faz 20 anos, e essa transformação será o uso do BigData na agricultura. Veja, o agricultor toma de 40 a 50 decisões importantes por ano. Quando ele decide plantar soja ou milho, e como cada uma dessas decisões é fundamentada em análises, estatísticas e algoritmos, po-
deremos melhorar o desempenho de cada uma dessas decisões e aumentar a produtividade em cada unidade de área. Será uma transformação gigantesca, e já temos a plataforma lançada nos EUA indicando isso. No Brasil estamos em fase acelerada de testes, temos um piloto com alguns agricultores, e ainda temos um tempo de 2 anos de desenvolvimento da tecnologia para lançar aqui esse serviço, mas o Brasil está em nossas prioridades. Na minha visão ela será útil tanto para grandes como para médios agricultores. Agro DBO – Os OGMs existentes no mercado, por enquanto, reservam benefícios aos agricultores, o Bt trouxe benefícios na estocagem, com redução natural de insetos predadores dentro dos silos. Quando virão os benefícios para a agroindústria, e, principalmente, aos consumidores finais? Há previsão de quais serão esses benefícios, e para quando?
Rodrigo Santos – Já existe a soja ômega 3, nos EUA, com um impacto positivo na saúde humana, especialmente aos cardíacos. Mas essa novidade é um trabalho que ainda falta, é verdade, e é um desafio para toda a cadeia, porque para que se agregue valor ao agricultor toda a cadeia precisa estar alinhada, para que se tragam esses benefícios aos consumidores. Existe desenvolvimento de outras plataformas, estamos trabalhando nelas, mas o melhor exemplo é a soja com ômega 3. Dias atrás, por exemplo, não fui para a minha cidade (Limeira, SP), onde há um surto de dengue, e eles estão espalhando o mosquito transgênico, estéril, que deve reduzir a população dos mosquitos que contaminam as pessoas com a doença. Hoje temos biofármacos transgênicos para a produção de insulina e no controle do diabetes e vem vindo aí outro, produzido através da soja, para impedir o HIV. Agro DBO – A que você atribui o ódio quase generalizado aos OGMs? Deve-se isso à concorrência, à mídia urbana, aos consumidores? Há algum projeto de mudar esse paradigma? Rodrigo Santos – A minha visão, a minha percepção dessa rejeição aos OGMs, é que isso se deve à falta de informação e conhecimento sobre o assunto. Fiz a leitura recente de um livro que fala sobre as grandes inovações na história da humanidade e de como quase todas elas enfrentaram uma reação inicial contrária. Evidentemente que nós vivemos uma época com irrestrita comunicação, que é simultânea no mundo todo, então o nosso desafio de nos comunicarmos sobre a biotecnologia, é que é um assunto técnico, árido e difícil, e toda vez que se informa o mercado com base em dados científicos isso é chato se comparado a notí-
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“A minha percepção sobre a rejeição aos OGMs, é que isso se deve à falta de informação e conhecimento sobre biotecnologia”. cias com denúncias apelativas e de fácil consumo. Esse é o desafio que nós temos enfrentado. Caracterizo essa situação das pessoas que são contra a biotecnologia como de desinformação e desconhecimento sobre a biotecnologia. Acho que, com o tempo, no médio prazo, as pessoas vão conhecer e aceitar a tecnologia, diminuindo as resistências, especialmente as novas e futuras aplicações, como o mosquito transgênico, a insulina e o controle do HIV. Espero que funcionem e que isso tenha efeito positivo para a imagem da biotecnologia. Agro DBO – Por que a Monsanto, aparentemente, mudou de planos em relação ao refúgio no saco? Rodrigo Santos – Não, na verdade não mudamos. A Monsanto vai continuar com o refúgio na sacaria, que é um recurso e uma facilidade para o agricultor. Essa tecnologia precisa ter o recurso do que a gente chama de tecnologias piramidadas, que é você ter dois ou três modos de ação, para se ter uma alta eficiência, e vamos continuar com isso, sem dúvida alguma. Mas consideramos fundamental, nesse intervalo de tempo, enquanto isso não se generaliza e convivem os dois sistemas de refúgio, que é o de trabalhar com toda a indústria sementeira, para a comunicação e conscientização da importância do plantio com refúgio em bordadura como se faz hoje. O importante é saber que qualquer tecnologia nova que se lance no mercado imediatamente aparecem insetos e plantas com tolerância ou resistência, pela variabilidade biológica existente. O que acontece é que se não fizermos o manejo adequado poderemos selecionar populações resistentes.
Agro DBO - A Monsanto lançou o milho VTPro3 que inclui tolerância à broca da raiz; que percentagem da área plantada de milho no Brasil o Sr. acredita que realmente precisa essa tecnologia para se suportar comercialmente, já que foi lançada apenas para uso do Sul? Rodrigo Santos – A VTPro3 está lançada para o Brasil inteiro. O que a gente identificou é que a tecnologia traz um fortalecimento do sistema radicular, quando comparado ao que já temos hoje em outras sementes. Evidentemente que, quando há uma pressão de infestação do alfinete, a Diabrótica, isso se torna ainda mais relevante, porque melhora a capacidade da planta em buscar água no solo, especialmente no Cerrado, onde isso é fundamental. O retorno que a Monsanto tem obtido com essa tecnologia é muito positivo. Agro DBO - Em relação ao desenvolvimento de ervas daninhas resistentes ao glifosato, quais práticas a Monsanto está usando para minimizar essa situação? Não existe falta de bom senso agronômico de vender milho RR na safrinha para plantar em rotação com soja RR? Não é essa uma forma de acelerar a resistência? Rodrigo Santos – A principal prática que a Monsanto recomenda é a rotação de herbicidas, entre elas as atrazinas nas lavouras de milho. A rotação de culturas é fundamental, o plantio direto é vital, com as facilidades que o sistema RR trouxe para os cultivos, mas é muito importante o rodízio de herbicidas. Se seguirmos essas recomendações dos modos de ação vamos dificultar o aparecimento de populações resistentes.
Não há um contrassenso nisso, o que temos é um complemento de um modo de ação. Agro DBO - Já existem produtos no mercado, frutos da parceria com a Novozymes? Rodrigo Santos – Já temos inoculantes de soja, em parceria com a Novozymes, disponíveis no mercado, mas a gente acredita que é muito significativo o potencial de novos produtos nessa parceria. Acreditamos que o tratamento de sementes vai crescer muito no futuro em função dessa parceria, incluindo promotores de crescimento. Agro DBO - Como está o acerto com as traders para receber e cobrar royalties da soja Intacta? Sabemos que, nesta safra, algumas traders não estão fazendo esse controle (exemplo: Bunge); como ficará a situação se essas traders não fecharem acordo? Não seria um incentivo para todos os produtores salvarem sementes? Rodrigo Santos – As negociações com essas empresas evoluíram bastante nos últimos meses. Hoje temos 94% das mais de seiscentas empresas brasileiras que trabalham como traders, que já fazem parte do nosso sistema, com cerca de 4 mil pontos de recebimento. Várias empresas associadas da Abiove já fecharam acordo, temos hoje apenas uma ou duas empresas importantes que ainda estão em negociação, mas tenho total confiança de que vão evoluir muito bem. De outro lado, e isto é um fato, mais de 95% das vendas de Intacta na safra de verão ocorreram com sementes certificadas, e a gente mudou o sistema para cobrança da tecnologia junto com a semente. É importante que o sistema continue, e que esteja operando. abril 2015 – Agro DBO | 37
Mecanização
De olho no ponto futuro! O autor recomenda uma visão holística no jeito de fazer agricultura, para reduzir custos de produção e melhorar a produtividade. Amílcar Centeno *
O Programa Mais Alimentos agora disponibiliza aos pequenos produtores, exclusivamente pela New Holland, itens de Agricultura de Precisão, no trator TL 75. É a primeira vez que a AF tem acesso a esse tipo de tecnologia.
* O autor é engenheiro agrícola e especialista em máquinas agrícolas.
D
izem que os craques do futebol jogam com os pés na bola e os olhos no ponto futuro, aquele lugar onde pretendem colocar a bola na próxima jogada! Nos negócios, os craques jogam da mesma forma, gerenciando o momento ao mesmo tempo em que olham para os próximos passos do seu empreendimento. Se aplicarmos esse ensinamento para este momento do nosso ciclo agrícola, podemos dizer que, enquanto colhemos os resultados da safra que se encerra, precisamos manter os olhos na próxima safra, planejando e decidindo o que fazer para dar uma boa sequência a este período positivo que está se encerrando. A recente desvalorização do real contra o dólar de certa forma
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salvou a safra atual, mas isto provavelmente apenas adiou a expectativa de início dos tempos mais difíceis. Assim que começarmos a investir para dar sequência à próxima safra, a alta na taxa de câmbio, associada à elevação nas taxas de juros, irá se refletir no preço dos insumos, como fertilizantes, sementes e agroquímicos, e vai elevar o custo do capital investido, o que aumenta significativamente os custos de produção. A gravidade do momento exige que, além de reclamar do governo competência em gerir a economia brasileira, é preciso vestir a camisa de empresário e pensar no que fazer para garantir que seu negócio sobreviva à tempestade que se alinha no horizonte. Quando os custos sobem, sem a perspectiva de aumento equivalente na renda, o negócio é focar no aumento da eficiência, na redução dos custos e na gestão dos riscos. É hora de converter os resultados acumulados em sustentação dos negócios nos períodos mais difíceis. Quando se fala em eficiência operacional, em se fazer mais com menos, um bom lugar para começar pode ser olhando para a sua frota de máquinas, o seu sistema mecanizado que, afinal, é o responsável pela execução das várias operações do seu sistema de produção. Normalmente existem aí muitas oportunidades para ganhos significativos de eficiência.
Em artigos anteriores exploramos várias estratégias e alternativas para melhorar a eficiência operacional das máquinas, como o uso da Agricultura de Precisão (artigos de fevereiro e março de 2014), a melhoria da eficiência de campo (artigos de abril de 2014 e fevereiro de 2015). Uma frota de máquinas bem selecionada, com boa manutenção e bem operada, é capaz de reduzir custos e minimizar os riscos inerentes aos processos de produção agrícola. Uma frota de máquinas com boa capacidade operacional (ha/ dia) e com alta disponibilidade (frota nova com boa manutenção) permite executar as operações com rapidez e eficiência, dentro dos prazos ideais e com baixo custo operacional. Uma meta estabelecida por alguns agricultores de sucesso é ter capacidade de plantar e colher a principal cultura (a de maior área na propriedade) em 3 semanas e pulverizar esta mesma área em 3 dias, caso surja alguma praga ou doença mais grave ao longo do desenvolvimento das lavouras. Isto pode exigir um maior investimento em maquinário e tecnologia, mas estes são valores que, além de contarem com linhas de crédito em condições favoráveis, também apresentam rápido retorno financeiro quando avaliados contra o alto custo e o alto risco que se corre quando temos deficiências de capacidade ou baixa eficiência operacional. Quando olhamos para os custos de produção, com a intenção de reduzi-los, é preciso focar e dar prioridade para os grandes itens e para as baixas eficiências. Um bom
exemplo são os fertilizantes, que constituem uma grande parcela dos custos, normalmente de 20% a 40% dos custos variáveis, e que deve ser significativamente impactado pela alta do dólar. De acordo com os especialistas do setor, a maneira mais eficiente de se utilizar os fertilizantes é aplicar a dose certa, no local certo e no momento em que a planta necessita destes nutrientes. É claro que é pouco provável ou econômico aplicar este critério de forma absoluta, mas, ao mesmo tempo, é difícil alcançar uma boa eficiência no uso destes insumos aplicando-os a lanço, em área total e alguns meses antes do plantio. Cada solo e cada propriedade tem suas próprias características e oportunidades, mas é provável que uma boa redução nos custos de fertilizantes possa ser obtida fazendo-se a aplicação em doses variáveis, conforme o nível de fertilidade de cada metro linear da lavoura, com máquinas mais eficientes como os distribuidores pneumáticos (e não a lanço) e em diferentes momentos ao longo do ciclo de desenvolvimento das plantas. Já tive a oportunidade de conhecer produtores que conseguiram economizar mais de um milhão de reais em custos de ferti-
lizantes utilizando estas técnicas ao longo de 4 ou 5 anos, sem reduzir seus ganhos de produtividade! Talvez esta seja a hora certa para reavaliarmos a forma como aplicamos este insumo essencial e de alto custo para a produção das lavouras. Este mesmo raciocínio pode e deve ser aplicado às técnicas de pulverização, plantio e colheita. Afinal, muitas são as novas tecnologias introduzidas no mercado ao longo
ções mais críticas, como o preparo do solo ou o plantio. Sem o piloto automático é muito difícil alcançar este uso intensivo das máquinas, pois é temerário operá-las à noite, uma vez que o reflexo dos faróis na poeira bloqueia totalmente a visão do tratorista. Já existem agricultores operando tratores em 3 turnos, 24 horas por dia, mais do que dobrando a capacidade de plantio. Esse ganho de capacidade é obtido
A maneira mais eficiente de se utilizar os fertilizantes é aplicar a dose certa dos últimos anos e que podem impactar significativamente na eficiência operacional e na redução dos custos de produção. Quanto ao aumento da capacidade operacional, nem sempre a melhor resposta é adquirir mais máquinas ou mesmo máquinas maiores. Aqui o uso das tecnologias embarcadas pode ser feito de forma eficiente e com baixo custo. Considere, por exemplo, o uso do piloto automático. Este recurso permite ampliar significativamente a jornada diária de trabalho, pois permite operar 24 horas por dia, 7 dias por semana, principalmente nas opera-
com um investimento relativamente pequeno, uma vez que um piloto automático custa de 15% a 20% do preço de um trator de 180 HP. Além disso, acumulando um maior número de horas de operação por ano na mesma máquina dilui os seus custos fixos, reduzindo significativamente o custo-hora de operação. Portanto, neste momento em que contabilizamos os resultados desta safra que se encerra, é preciso fazer como os grandes craques e manter os olhos no ponto futuro da próxima safra, que promete ser um jogo muito mais duro do que todos os amistosos dos últimos anos!
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ILP
Integração aumenta área de lavoura A busca do conhecimento sobre tecnologias adequadas e boas estratégias para conduzir a ILP nos incentiva ao aperfeiçoamento Maristela Franco
Soja em área de plantio de segundo ano na palhada.
A
pesar das dificuldades vividas no ano passado, devido à seca que castigou a região Sudeste, o pecuarista Carlos Viacava não desistiu do projeto de consorciar soja com pecuária. Pelo contrário: nesta safra, até aumentou a área plantada da Fazenda Campina, localizada em
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Caiuá, próximo a Presidente Venceslau, no oeste paulista, região de terras arenosas normalmente consideradas impróprias para a agricultura. Pura teimosia? Nada disso. Viacava e seu filho Ricardo (Cadão) sentiram o baque das perdas da lavoura de grãos em seu debut na integração, mas também se maravilharam com a fartura de alimentos obtidos para trato do gado na seca (pastos novos e silagem). Por isso, “recarregaram as baterias” e decidiram plantar 481 ha nesta safra, 123 ha a mais do que na anterior. Agro DBO tem registrado esse processo para mostrar aos leitores como é fazer integração em fazendas de gado. Como o desafio é grande e implica riscos elevados, não há como não comemorar com o produtor suas conquistas e lastimar eventuais tropeços. Na primeira reportagem, publicada em outubro de 2014, mostramos como foi difícil introduzir a agricultura em uma fazenda tradicionalmente pastoril, informamos os investimentos iniciais exigidos (cerca de 1,5 milhão) e registramos a angústia de Viacava com a seca. Por isso, foi emocionante ver a chuva molhando a lavoura já carente de água na segunda visita que fizemos à propriedade, em fevereiro. Acompanhe com Agro DBO esta saga de um produtor que não perde de vista seu principal objetivo: dobrar a lotação da Fazenda Campina e provar que é viável plantar soja nos argissolos do oeste paulista.
Como incorporar Os 481 ha semeados com a leguminosa nesta safra são compostos por talhões de históricos bem diferentes. Quase metade (229 ha) foi incorporada ao projeto nesta safra, o que representa desafio dobrado. “Em 79 ha de pastos antigos (30 anos de uso), fizemos preparo convencional, pois a limpeza prévia da área havia revolvido muito a braquiária e também tínhamos de eliminar formigueiros, buracos e outras irregularidades do terreno”, explica Juliano Roberto da Silva, gerente da Fazenda Campina. No mês de setembro de 2014, esse talhão recebeu 40 kg de sementes de milheto misturadas a 200 kg de MAP, para produzir matéria orgânica para o plantio da soja, em novembro. Em outros 84 ha, que estavam mais nivelados, foi testado um sistema novo de preparo de solo em áreas de primeiro ano. “Passamos uma grade leve, na profundidade de 5 a 10 cm da superfície, para castigar um pouco a braquiária e possibilitar o plantio também de milheto para obtenção de matéria orgânica”, conta Silva. Em novembro, foi feito a semeadura da soja utilizando-se o seguinte esquema: enquanto a plantadeira seguia à frente, atrás vinha um trator munido de subsolador e rolo compressor, com o objetivo de, simultaneamente, descompactar o terreno (preservando matéria orgânica superficial) e nivelá-lo. As duas áreas foram previamente corrigidas com 2 t de calcário e 1 t de gesso.
Uma terceira parcela de primeiro ano de soja (66 ha) havia sido plantada na safra anterior com milho consorciado com braquiária ruzizienses para silagem, capim que, depois da colheita, possibilitou o plantio direto da leguminosa. “Esse esquema é indicado para incorporação de novas áreas à lavoura, pois eleva a quantidade de matéria orgânica, necessária ao plantio de soja em solos arenosos. O único inconveniente é que ele atrasa um pouco o cronograma do projeto de integração, porém minimiza riscos de perdas”, explica Edemar Moro, professor da Universidade do Oeste Paulista (Unoeste), instituição parceira da Fazenda Campina. Ciclo virtuoso Cerca de 252 ha cultivados na safra passada, com soja no verão e pasto no inverno, foram novamente destinados à lavoura, já em sistema de plantio direto. Essa área começa a entrar no ciclo virtuoso do sistema de integração proposto pelo pesquisador da Embrapa, João Kluthcouski (João K), grande incentivador da integração lavoura/pecuária em solos arenosos e inspirador do projeto de Carlos Viacava. “Com a incorporação gradativa de matéria orgânica, o perfil físico desses solos vai melhorando, possibilitando maior retenção de água e favorecendo o desenvolvimento da soja, que também é protegida do calor pela camada superficial de palha”, comenta João K. Em abril/maio deste ano, após a colheita da soja, esses 252 ha de “segundo ano” serão subsolados e plantados, em uma única operação, com milheto e braquiarão para uso no inverno. Depois, serão mantidos como pasto por dois anos consecutivos, voltando, em seguida, ao cultivo agrícola bianual. Esse é o esquema de exploração desejado para toda a fazenda, que, após a implantação definitiva do projeto, ficará metade com lavoura e metade com gado. Não se trata de uma meta fácil de alcançar, pois existem talhões de baixa
aptidão agrícola na fazenda. João K acredita que 100% da propriedade pode ser rotacionada, mas técnicos como André Longuen, da cooperativa paranaense Cocamar, defendem o cultivo de soja apenas nas áreas menos arenosas. Alimento na seca Viacava acompanha esse debate atentamente. Na safra passada, viu a soja morrer ainda pequena em 150 ha de areião, devido ao calor excessivo, e decidiu retirar essa área temporariamente do projeto de integração. Logo após constatar a perda da lavoura, em março de 2014, semeou o solo com 6 kg/ha de braquiarão, misturados a 20 kg/ha de milheto e 8 kg/ha de guandu anão. Mais precoce, o milheto brotou primeiro e se desenvolveu rapidamente, sendo colhido para silagem (6 t/ha). “Decidimos não fazer pastejo direto porque a braquiária ainda estava em desenvolvimento e seria pisoteada pelos animais”, explica Carlos Viacava, ressaltando que o papel do guandu no consórcio é fixar nitrogênio no solo e garantir proteína para o gado na seca. Esse talhão que virou pasto foi substituído por áreas novas recém-incorporadas ao projeto de integração (os já citados 229 ha), das quais 100 ha serão plantados na safrinha com milho consorciado à braquiária ruzizienses. Após a colheita do milho para silagem, o produtor ainda terá três meses de pastagem de inverno, que, no início da próxima safra, será dessecada para novo plantio de soja. Nos 129 ha restantes, Viacava pretende plantar milheto consorciado com ruzizienses para pastejo direto. Sua meta é cultivar 680 ha com soja na safra 2015/2016, sendo 252 ha de segundo e 428 ha de primeiro ano.
Viacava (ao centro) com o filho Ricardo (à dir.) e o gerente Juliano da Silva, felizes na época do plantio.
Chuva durante a visita da reportagem, em fevereiro: salvação para a lavoura, que já estava ressentida com a falta de água.
agricultura. Cada talhão tem um histórico próprio de plantio e chuvas, e apresenta resultados específicos, que validam ou não determinada prática agrícola, recompensam ou não os esforços do produtor, cuja tarefa é montar um “quebra-cabeça produtivo” a céu aberto, buscando explorar ao máximo o potencial do solo. Às vezes, comete erros e as peças não se encaixam; outras vezes, faz tudo certo, mas São Pedro não ajuda. Nesta safra, choveu na Fazenda Campina de outubro a dezembro, o que possibilitou o plantio e desenvolvimento inicial da soja, mas, em janeiro, veio o tão temido veranico e 75 ha deram perda total.
Quebra-cabeças A sequência de cultivos descrita acima pode parecer trabalhosa para o pecuarista que lê esta reportagem, mas constitui a rotina (e beleza) da abril 2015 – Agro DBO | 41
ILP “Agricultura é imprevisível mesmo; o que nos cabe como pecuaristas é aprender com essa imprevisibilidade”.
“Agricultura é imprevisível; o que nos cabe é aprender com essa imprevisibilidade”, diz Viacava. O talhão de soja que deu perda total foi semeado no inicio de novembro, sobre palhada de milheto, que degrada muito rápido. Como pegou boas chuvas na fase vegetativa, cresceu muito, enchendo-se de vagens. João K visitou a fazenda nesse período e estimou produtividade de 65 sc/ha, mas a estimativa não se confirmou, faltou chuva justo na fase crítica de enchimento dos grãos. Boa parte das plantas secou. O técnico do seguro reconheceu as perdas, mas, infelizmente, o valor recebido será pequeno (18 sacas/ha), devido a pouca tradição agrícola da região. Em outra área, plantada também em novembro, os grãos ficaram pequenos, com um terço do tamanho normal (grão ervilha). Já os talhões plantados um pouco mais tarde pegaram chuva em fevereiro e garantiram boa produção. “Veranicos são frequentes no oeste paulista. Talvez uma saída, para minimizar riscos, seja plantar a partir da segunda quinzena de novembro, para evitar que a fase de enchimento de grãos coincida com a seca de janeiro”, diz Edemar Moro, da Unoeste. Outra opção, segundo André Longuen, da Cocamar é usar cultivares de 42 | Agro DBO – abril 2015
Milho consorciado com capim: silagem e massa para plantio direto.
ciclo longo. O problema dessa estratégia é que a colheita ocorre mais tarde, dificultando o plantio de milho em safrinha e a formação de pastagens de inverno, que são importantes para o pecuarista. “É preciso analisar bem a demanda alimentar do gado e fazer um bom planejamento agrícola. Pelo menos parte dos talhões pode receber cultivares de ciclo longo, mas existem outras estratégias que mitigam riscos, como plantar sobre palha farta, que pode ser obtida pelo produtor se ele, por exemplo, cultivar milho consorciado com capim no primeiro ano”, diz Moro. Lotação maior A meta de se dobrar o rebanho na Fazenda Campina ainda não foi atingida, mas o produtor está avançando nesse sentido. Para iniciar o projeto, Viacava teve de vender animais e transferir lotes para outras propriedades. Hoje, o rebanho da Campina está praticamente recomposto, porém pasteja área 30% menor. São 2.920 cabeças (2.175 UAs) alojadas em 870 ha, o que significa lotação de 2,5 UAs/ha, ante 1,8 UA/ ha registrados antes. “Para manter o gado na seca, precisamos de comida, que somente a integração pode fornecer. Se não tivéssemos iniciado o projeto no ano passado, quando São
Paulo sofreu a pior seca dos últimos 70 anos, estaríamos perdidos, porque não teríamos nem silagem nem pasto”, testemunha Cadão, que auxilia o pai na administração das propriedades da família. A experiência de Viacava com integração já está inspirando outros projetos. Segundo André Longuen, da Cocamar (cooperativa que se instalou em Presidente Prudente (SP) em 2013, por acreditar no potencial agropecuário do oeste paulista), mais três produtores já estão plantando soja na região e outros sete planejavam começar projetos de integração na próxima safra. “Visitamos as fazendas para orientar os produtores e ajudá-los a se planejar”, diz Longuen. A cooperativa também recebe os grãos colhidos, nas unidades de Paranapoema e Iepê (SP). No ano passado, pagou a seus associados R$ 3,50 a mais por saca entregue. “Acredito que a soja é viável no oeste paulista, desde que os produtores utilizem tecnologia adequada. Vale repetir: sem palha não dá”, completa Edmar Moro. Em pastagens degradadas, o ideal é corrigir o solo com antecedência, pois tanto o calcário quanto o gesso demoram para reagir, e dessecar o capim o mais cedo possível, cerca de 120 a 150 dias antes da semeadura da soja. Assim, a gramínea morre por completo, parte dela é incorporada ao solo e fica mais fácil fazer plantio direto. “Essa técnica nem sempre pode ser seguida, pois o pecuarista precisa o usar o pasto, mas é altamente recomendada”, diz o professor da Unoeste, lembrando que é importante mapear os solos da fazenda e avançar por etapas, montando projetos de integração específicos para cada propriedade, de preferência flexíveis. “Não é obrigatório fazer rotação fixa com dois anos de soja e dois anos de pasto”, alerta.
Almanaque
Você sabia? A natureza nos manda sinais indicadores de como ela é, devemos apenas observar e perceber como funciona essa maravilha. Hélio Casale *
* O autor é engenheiro agrônomo, consultor e cafeicultor, e membro do Conselho Editorial da Agro DBO.
O
que são plantas indicadoras? – são plantas que, quando presentes numa determinada área, dão sinais característicos, assim: • caruru – solo rico em potássio; • beldroega – solo rico em magnésio; • amendoim bravo – solo pobre em molibdênio; • internódios curtos – solo pobre em zinco e boro; • palmáceas com as folhas baixeiras amareladas – solo pobre em magnésio; • carrapicho – solo compactado; • amargoso, pé de galinha – solo pobre, compactado; • capim favorito – solo ácido; • sapé – solo ácido; • aroeira – solo rico em cálcio e magnésio; • assa-peixe – solo de boa fertilidade natural; • eucaliptos com bom desenvolvimento natural – solo rico em boro e com boa profundidade; • girassol com capítulo pequeno – solo pobre em boro; • mangueira com folhas finas – solo pobre em zinco; • lagoas com água esverdeada – água com acidez; • florada intensa, pouco pegamento – falta sazonal de manganês disponível; • árvores mostrando casca do tronco com rachaduras – solo com falta de boro disponível; • lascas de cerca apodrecendo rapidamente – solo muito ácido.
robusto, dá uma só florada por ano e cresce gramando todo o solo.
Que está no mercado uma nova variedade de braquiária, a Piatã, seleção dentro da Ruziziensis? Esse nome significa forte,
Diferenças Qual a diferença entre ser eficiente e eficaz? Eficiente é todo aquele que sua a camisa, trabalha
De onde vem o nome Arachis pintoi para o amendoim forrageiro? Vem do sobrenome do Dr. Geraldo Pinto que foi chefe da Estação Experimental da Ceplac – Centro de Pesquisa da Lavoura Cacaueira, em Porto Seguro – Bahia. Tempos atrás, recebeu a visita de dois cientistas, um uruguaio e outro argentino e, num incerto dia eles estavam andando de barco pelo rio Jequitinhonha acima, mas tiveram que parar para que um deles fizesse necessidades básicas. Logo depois, observaram uma plantinha desconhecida, mas interessante, coletaram uma pequena amostra que foi plantada num canteiro da Estação Experimental. Anos depois voltaram, e a plantinha tinha se expandido bravamente por toda a área. Classificaram a Arachis pintoi, e, no nome de batismo presentearam o anfitrião, o Dr. Geraldo Pinto. Qual a diferença entre erva daninha e mato? Ervas daninhas são plantas que competem com o cultivo principal em água e nutrientes, já mato são plantas que convivem bem com o cultivo principal. Exemplo – braquiária ruziziensis, caruru, marmelada, beldroega são matos, já o pé de galinha, carrapicho, picão, braquiária decumbens, braquiarão, favorita, colonião, entre outros, são considerados ervas daninhas.
intensamente, já o eficaz é aquele que trabalha de maneira a dar o máximo rendimento econômico. Eficaz é aquele profissional que faz as coisas corretas, otimiza os recursos disponíveis, obtém resultados, maximiza os lucros, trabalha aberto, é um vencedor nato. Qual a diferença entre adequado e inadequado? Adequado é o insumo que, quando empregado, dá o maior e melhor resultado econômico. Inadequado é o que não funciona, mesmo que tenha sido barato. Qual a diferença entre o barato e o caro? Barato é todo e qualquer insumo que, quando aplicado, dá o maior retorno econômico sem agredir o meio ambiente. Caro é o que não funciona, mesmo que seja barato. Qual a diferença entre vantagem e benefício? Numa propaganda de cigarros, o nosso então grande jogador de futebol Gérson dizia: “leve vantagem em tudo, e fume Vila Rica, um cigarro com menos alcatrão, menos nicotina”. Vantagem: o fumante poderia continuar fumando e como benefício morreria um pouco depois tragando menos alcatrão, e menos nicotina... Qual a diferença entre produtividade e produtivaidade? Produtividade é o quanto foi colhido por unidade de área, o hectare, 10.000 metros quadrados. Já produtivaidade é o quanto se colheu para satisfazer o ego e mostrar que é bom, conseguir mais financiamento e se enganar por algum tempo. abril 2015 – Agro DBO | 43
Safra
O que há com a produtividade? Diferentemente do que ocorreu em outras regiões do Brasil, o rendimento médio nas lavouras de soja no Mato Grosso estagnou nos últimos anos. Marianna Peres
A
A produtividade falhou em Mato Grosso justamente quando mais se precisava dela. Em tempos de custo alto, como agora, representa, literalmente, a salvação da lavoura.
produção de soja evoluiu rapidamente desde o início dos anos 2.000 no Brasil graças ao misto de vontade, coragem e pesquisa. O Cerrado se tornou a maior região produtora de grãos e, por três safras seguidas, o Brasil ensaiou se tornar o maior produtor mundial da oleaginosa. Atingir tal meta era questão de tempo. Afinal, os produtores dispunham de tecnologia, conhecimento e gana. Porém, não conseguiram. Segundo avaliações
Marianna Peres
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técnicas, faltou produtividade. A linha cuja trajetória marca o rendimento médio nas últimas décadas no Centro-Oeste não acompanhou a da produção, a da expansão de área, a do uso de tecnologia. Ao contrário do que ocorreu em outras regiões do país, a produtividade estagnou justamente quando os produtores mais precisaram dela. Do início deste século até agora, a soja ampliou seu território em mais de 10 milhões de hectares, ou seja, cresceu 55% em área. No mesmo período, a produtividade nacional aumentou 8,2%, passando de
2.751 kg/ha para 3 mil kg/ha. Mato Grosso, maior produtor nacional do grão, praticamente empacou. Quando tudo vai muito bem, há ganhos de 1,5 saca a duas sobre o ciclo anterior. Na safra em curso, por exemplo, a produtividade deve atingir 52,4 sc/ha, que, se confirmada, será 0,96% superior à da temporada passada. A série histórica da Conab mostra que a produtividade de Mato Grosso cresceu apenas 3% na comparação da safra atual com a de 14 anos atrás (2000/01). No mesmo período, o rendimento no Rio Grande do Sul cresceu 46%, o do
Paraná, 15% e a média brasileira subiu 17%. Na virada do século, os gaúchos colhiam cerca de 31 sacas/ ha enquanto os mato-grossenses, quase 19 sacas a mais. Na média dos últimos três anos, no entanto, a vantagem da produtividade de Mato Grosso sobre o Rio Grande do Sul caiu para 6 sacas/ha. Os gaúchos devem colher este ano a maior safra de soja de sua história, calcada em uma produtividade também histórica de 2.780 kg/ha, ou 46,3 sacas/ha. Mas, afinal, quais são as causas da estagnação no Centro-Oeste, especialmente em Mato Grosso, maior produtor do país? A Agro DBO ouviu quase uma dezena de pesquisadores, líderes do segmento e produtores em busca de respostas. Tecnicamente falando, a produtividade resulta de um conjunto de fatores gerenciados ou não pelo produtor. “Não é só de clima que se faz a produtividade. Ela é reflexo do manejo presente e passado do solo e da lavoura. A produtividade, por exemplo, não vem quando chove muito e, sim, quando chove o suficiente. A boa produtividade procede do sistema produtivo realizado ao longo do tempo, da genética adequada, do manejo sanitário correto, da condição ambiental favorável, do enraizamento da planta, da água suficiente e de luz abundante. Produtividade não se faz por pacotes tecnológicos e todo o aparato que temos hoje em dia não está sendo suficiente para vencer a barreira dos 3 mil quilos de Mato Grosso, por exemplo”, explica o pesquisador da Fundação MT e membro do Cesb – Comitê Estratégico Soja Brasil, Leandro Zancanaro. A entidade promove anualmente um desafio de produtividade, justamente para incentivar práticas viáveis e sustentáveis para a maximização da produção. Zancanaro lembra que entre os anos 1980 e 1990, o país tinha médias de 30 a 40 sacas. De 1990 a 2000, passou para 50, mas que de 2000 até agora segue com médias de 50 a 52 sacas. “Esse resultado reflete a incor-
poração de muitas áreas com tipo de solo que chamamos de pobre à sojicultura, justamente quando Mato Grosso despontou na atividade. As restrições ao cultivo não foram seguidas, a pesquisa corre atrás até hoje, mas, infelizmente, não na mesma velocidade”. Dentro do processo, investir em condições para se produzir acima de 40 sacas foi fácil e o resultado veio. “Ao romper esse referencial, a dificuldade aumentou. A fertilidade do solo respondeu com até 40 sacas, mas apenas a adubação não traz o resultado esperado”. Ao longo dos anos, as áreas mais antigas foram acumulando gargalos, como os nematoides. Ele cita uma pesquisa da Fundação MT, de 2012, que revelou que a maior reclamação dos produtores relacionava-se com vermes do solo, cuja população aumentou muito de lá para cá.
de que para ter produtividade é preciso muito investimento. Nosso manejo se baseia hoje no pacote tecnológico, na tecnologia embarcada nas máquinas, tudo para aumentar custo. Nossa agricultura é consumista, conceitos básicos estão se perdendo. O capricho se perdeu. O solo é corrigido e não dá mais retorno. Solos e regiões heterogêneas tratados de maneira uniforme porque é mais fácil e porque ficou grande demais. O modelo consumista foca o rendimento operacional, os materiais são cada vez mais precoces para se fazer duas safras, a melhor época de plantio não casa mais com o calendário da propriedade. Cada ambiente pede um manejo. Cada diferença, uma estratégia. Isso se per-
De 2000 para cá, a área de soja cresceu 55% no Brasil e a produtividade, apenas 8,2%.
Zancanaro critica o imediatismo na agricultura. Para maximizar ganhos, vários conceitos agronômicos importantes foram deixados de lado.
O capricho se perdeu Leandro Zancanaro admite: “O enigma da produtividade estagnada incomoda a todos, preocupa e desafia. Afinal, nos últimos 15 anos o que mais se fez no campo foi usar insumos e a produtividade não avançou. Isso por si só nos dá uma importante resposta ao quebra-cabeças: insumo sozinho não resolve”. E critica: “Não compactuo da máxima que ouvimos no campo abril 2015 – Agro DBO | 45
Safra
No Centro-Oeste, a escala favorece a produção. No Sul, os solos são melhor estruturados, favorecendo a produtividade.
César Martins, de Nova Mutum (MT) não enxerga um único “culpado” pela estagnação da produtividade, mas admite que não fez tudo como deveria.
deu. A facilidade no trato é a estratégia adotada”. Zancanaro afirma que a agricultura exige atenção integrada. “A gente provoca o questionamento do atual modelo (do quanto mais, melhor), mas poucos aceitam e a mudança tem de vir de todos os elos. A impressão que tenho muitas vezes é que a palavra manejo está vulgarizada, perdeu sua essência e quase virou palavrão porque impregnou a cultura de que pacote tecnológico resolve tudo. Ele lembra que na década de 80, o produtor dava ao solo o que o solo pedia, se estava ácido demais, recebia calcário, se estava
46 | Agro DBO – abril 2015
pobre, fósforo. “Em Mato Grosso, por exemplo, a produtividade não explode porque sobra água (com exceção desse ano que choveu menos) e água demais atrai fungos, o solo mais frágil não dá conta de absorver tudo, ao contrário do Sul do país, que quando a produtividade cai é por conta da seca e quando tem água explode, como neste ano no Rio Grande do Sul”. Além do perfil das propriedades, que no Sul têm extensões menores, o que facilita o trato da lavoura e contribui para o maior rendimento, Zancanaro atribuiu os ganhos de produtividade às condições daquela região, como o inverno que pede por outras variedades de culturas e a rotação acontece de fato. “Essa renovação de cultivos e o solo com maior qualidade que o do Cerrado, permitiram um upgrade natural que hoje é aliado da produtividade. Lá, o plantio direto é feito há muitos anos. O gargalo é quando faltam chuvas, mas quando elas chegam há água suficiente e luz abundante”. O engenheiro agrônomo da Emater/RS, Alencar Paulo Rugeri, frisa que o clima impacta diretamente a produtividade gaúcha. “A diferença que vejo é que, de repente, o Centro-Oeste explodiu e parou e aqui no Sul, com exceção de
safras ruins como consequência da seca, há um avanço gradativo do rendimento. E nos últimos dez anos, em apenas dois a estiagem derrubou nossa safra”. Além do clima, o crescimento sistemático atribuído à produtividade daquele estado vem de um solo mais estruturado, com fertilidade natural. “A adoção dos OGMs chegou aqui primeiro; isso foi um salto para redução dos custos e no Centro-Oeste, por exemplo, o que vemos é que o modelo de se investir muito direciona as ações, mas até quando esse modelo de busca de máxima produtividade vai se sustentar?”. Mea culpa No dia-a-dia da lavoura, o enigma da estagnação da produtividade traz um quê de desânimo ao produtor César Martins, sojicultor em Nova Mutum (norte de Mato Grosso). Ele concorda que não dá para eleger um único ‘culpado’ para justificar a estagnação do rendimento e faz até ‘mea culpa’. “Eu tinha tudo para colher bem. No visual, a lavoura estava linda, mas o grão não tinha peso. Infelizmente não é receita de bolo. Adubei, corrigi, investi, mas adotei uma estratégia errada no posicionamento das variedades, ou seja, no escalonamento, tinha de ter aberto o plantio com cultivar
Propriedades menores, rotação de culturas e solos de qualidade são diferenciais do Sul do Brasil em relação ao Centro-Oeste. mais tardia”. Pelo investimento feito, Martins apostava em 60 sacas de média, mas ao finalizar a colheita contabilizou 49 sacas, muito aquém das médias anteriores, de 53, 56 e 55 sacas. “Estamos investindo muito em busca de produtividade. Mesmo sabendo que 80 a 90 pontos de fósforo são mais que suficientes para nutrir o solo, colocamos mais de 100 pontos, mas quanto de fato a planta consegue absorver?”. Ele acredita que o clima pode reduzir em até 30% o potencial produtivo, fora o acerto da variedade, o posicionamento dela e as pragas e doenças”. Na região, ele cita produtividades de 70 sacas, de 60 sacas e até outras inferiores a 50 sacas. “O solo pode roubar de duas a três sacas, o clima mais outras, assim como as pragas. A mosca branca, por exemplo, comeu até 15 sacas”. Quando conversou com a Agro DBO, o sojicultor, que viu seus custos aumentarem 15% de uma safra a outra, tinha acabado de participar de uma reunião pra definir estratégias para o ciclo 2015/16. “Por causa da ferrugem asiática, usar cultivar tardia aqui no estado é complicado, mas é garantia de alta produtividade. Acredito que agora, depois de errar nessa safra, vou utilizar as mais tardias para abrir o plantio e não fechar”. O produtor reclama da estagnação de pesquisas para variedades convencionais, que segundo ele rendem mais, porém, deixaram de ser demandas pela falta de resistência ao nematoide, especialmente, o de cisto. Martins justifica toda sua cautela. Ele retornou à atividade há cinco safras e, após a crise de renda de 2005/06 optou por arrendar a terra. “Naquele momento, fizemos as contas e o custo demandava entre 45 e 48 sacas, então decidimos não correr o risco”. Ele cultiva 450 ha com soja e para sa-
frinha optou por milheto e crotalária visando cobertura e um controle natural de nematoides. “Há 20 anos minha média não passa de 55 sacas. Não há esforço que me leve às 58 sacas”, exclama o produtor e ex-presidente da Aprosoja Brasil, Glauber Silveira, que planta em Campos de Júlio, noroeste do Estado. Ele destaca, entre vários fatores, o peso da ferrugem asiática. “Sem novos químicos, a doença segue ameaçando produtividade e renda em Mato Grosso. Já poderíamos há algumas safras estar colhendo médias de 60 sacas.Nas últimas cinco safras, tivemos um decréscimo de produtividade de 3% o que significa 1,5 sacas/ha a menos. No Rio Grande do Sul, a produtividade tem sido uma montanha russa, variando em média 10 sacas/ha de uma safra para outra, tendo safras em que a variação foi maior que 20 sacas/ha. Alguma coisa precisa ser feita. Afinal os dados históricos apontam que em anos em que crescemos muito em área tivemos reduções proporcionais em produtividade, tendo anos em que perdemos de 6 a 8 sacas/ha na média nacional. Precisamos focar no aumento de produtividade e para isto precisamos de pesquisa e extensão. Enquanto a produtividade estanca ou cai, o custo nas últimas cinco safras subiu mais de 10 sacas/ha”.
sacas e o pivô, que tenho há 22 anos, me dá certeza do retorno”. Ele destaca que o solo do Sul ajuda, com bons níveis de fósforo e potássio e 40% de argila. São 3 mil hectares plantados, dos quais 1,6 mil irrigados por 16 equipamentos. “Aqui na minha propriedade é inviável plantar milho fora do pivô. No seco. vai render cerca de 80 sacas e, quando irrigado, de 220 a 240 sacas, com média de 205”. No caso da soja, ele utilizou a TMG 7262 RR. “O pivô aumenta em cerca de R$ 150 o custo com energia, são quase duas sacas a mais de despesa, mas nessa safra, por exemplo, que vai ser recorde, vou ter média de 80 sacas no irrigado contra de 62 a 65 no se-
A receita de Mauro Stertz: “Rotação, correção e pivô. Aqui na minha apropriedade é inviável plantar milho fora do pivô”.
Mauro Sterz ganhou projeção nacional ao obter 96,18 sacas de soja por hectare no Desafio Cesb.
Experiência prática No Rio Grande do Sul, o produtor Mauro Stertz ficou conhecido nacionalmente por vencer o desafio de produtividade do Cesb. Com 96,18 sacas/ha se tornou, em sua primeira participação, o vencedor estadual. Com áreas em Salto do Jacuí e Boa Vista do Incra, ele revela o segredo da alta produtividade na região: rotação, correção e pivô. “Onde não é irrigado, não há segurança para plantar, investir. Os veranicos nos tiram de cinco a seis abril 2015 – Agro DBO | 47
Safra A Aprosoja é taxativa: “A atividade agrícola chegou a um momento decisivo em sua história. É hora de repensar, reaprender e refazer”.
Aprosoja/Divulgação
Especialistas e produtores rurais concordam: em muitos casos, a ânsia pela segunda safra acabou atropelando o processo produtivo.
queiro, são quase 13 sacas a mais para a minha receita”. O potencial de vigor e germinação das sementes também foi citado pelos produtores como um dos fatores de estagnação da produtividade. “Não temos garantia de produtividade nos materiais que usamos. As plantas estão mais fracas e as linhas ficando com menos plantas. A mesma cultivar deu resultados diferentes no mesmo talhão. A qualidade está caindo visivelmente ano a ano”, adverte o produtor Antônio Galvan, de Sinop (MT). O vice-presidente da Aprosmat – Associação dos Produtores de Sementes de Mato Grosso, Gladir Tomaselli, afirma que um dos grandes impactos sobre a produtividade decorre da ânsia pela segunda safra, que acaba atropelando todo o processo produtivo. “Um exemplo claro é a soja precoce, que além de não ser cultivada dentro das condições ideais, é colhida sem que uma aplicação preventiva de fungicida contra a ferrugem seja feita. A soja sai, o inóculo fica e se espalha para as lavouras mais tardias desde o início do seu estabelecimento”. “Muitas vezes, a tecnologia utilizada é para exceder 60 sacas, mas, por acomodação e visando a safrinha, o potencial não é explorado. O produtor tem o 48 | Agro DBO – abril 2015
direito de ser orientado sobre todos os aspectos da sua cultivar, isso é obrigação de quem vende tecnologia embutida na semente. Quando o direito e a obrigação são cumpridos o potencial produtivo se concretiza”. Tomazelli frisa que o produtor também tem outra lição de casa a fazer: como escolher fornecedores idôneos e com conhecimento. “Muitas vezes, o preço baixo direciona a tomada de decisão e ele perde em conhecimento”. Ele frisa que a semente produzida em Mato Grosso tem qualidade. “O que poucos observam é a forma de armazenamento correto. Na safra passada, por exemplo, muitos produtores retiraram as sementes com até 60 dias de antecedência e muitas estão acondicionadas sob pico de 50 graus de temperatura, condição totalmente adversa. Não há dúvidas de que essa semente perdeu qualidade ao deixar a sementeira e ficar no barracão”. O resgate do manejo Para evitar reclamações que maculam a produção mato-grossense de sementes, que supre cerca de 60% da demanda local, a Aprosmat quer fazer resgate do beabá da produção de soja, e por meio de uma campanha, esclarecer a impor-
tância do armazenamento para garantia de germinação e vigor das sementes. “Só retirar da sementeira na hora adequada e acondicionar de forma correta. Algo simples, mas assim como princípios básicos do manejo, esquecido ou ignorado”. O resgate do verdadeiro significado de manejo do sistema produtivo é o mote da Aprosoja/MT para este ano, quando a entidade comemora 10 anos. “Do plantio à colheita muitos fatores interferem no resultado, e o produtor está sendo provocado a tomar decisões mediante o seu conhecimento. O perfil do solo que ele tem é o alicerce de tudo e o ponto de partida, será que esse perfil está preparado para aguentar uma estiagem? Se não, o produtor sabe como resolver isso? Quem empurrou com a barriga agora não tem mais como seguir assim. O produtor sabe, mas não faz, às vezes porque não quer, outras por falta de recursos para os investimentos de alto custo. Outras vezes é o comodismo, se 50 sacas pagam as contas, ele se acomoda, mas agora 50 sacas não vão mais pagar as contas. A atividade chega a um momento decisivo, hora de repensar, reaprender e refazer”, aponta o diretor técnico da Aprosoja/MT, Nery Ribas.
Solos
Fertilização Profunda (FP): resultados de campo Experimentando e observando, as ciências agronômicas aprofundam seus conhecimentos sobre o manejo da fertilidade dos solos. Ronaldo Cabrera * Gustavo Paes
A
técnica de Fertilização Profunda (FP) consiste na aplicação de óxido de cálcio e magnésio em profundidade, através de subsolador adubador, conforme já publicado na Agro DBO, na edição de fevereiro de 2014. O cálcio e o magnésio na forma de óxido tem alta reatividade permitindo correção rápida do pH, V%, neutra-
lização de Al+3 e fornecimento de Ca+2 e Mg+2 com baixas dosagens e em profundidade. Com aumento do pH em profundidade é possível liberar o fósforo fixado por Fe+3 e Al+3, que nos solos brasileiros estão presentes em grandes quantidades. Num ensaio feito em latossolo argiloso no município de Jatai (GO), houve aumentos significativos do fósforo em profundidade, associado ao aumento de pH, conforme reporta a tabela 1. Em termos de fertilidade este fato tem um valor técnico e econômico importantíssimo, pelo elevado custo do nutriente fósforo e a dificuldade de colocá-lo em profundidade. Em cafezais da Fazenda Agronol, em Barreiras (BA), o teor foliar médio de fósforo saiu de 1,2 para 2,3 mg/kg após aplicação de óxido de cálcio e magnésio, sem acréscimo da adubação fosfatada. Os primeiros trabalhos tiveram início em 2012 e, para solidificação e comprovação dos resultados, foram instalados ensaios
Tabela 2 - Aumento de produtividade
Tabela 1 – Correção de pH e P Camada cm * o autor é doutor em engenharia agronômica e consultor em fertilidade de solo e nutrição mineral de plantas
pH CaCl2
em várias regiões brasileiras, nos estados do RS, PR, SP, MG, GO, MS, MT e BA, em culturas anuais, perenes e também em cana-de-açúcar. A tabela 2 mostra o resumo de alguns resultados de produtividade, em regiões que passaram por déficit hídrico severo nas safras de 2014/2015, demonstrando que a estratégia do uso dessa tecnologia pode amenizar de forma significativa os efeitos negativos dos veranicos, eventos climáticos que estão cada vez mais frequentes nas regiões produtoras do Brasil. Este aumento de produtividade é natural, pois a tecnologia amplifica a fertilidade do solo ao longo do perfil e as plantas respondem proporcionalmente. É importante entender que esta tecnologia não é substitutiva e sim complementar ao manejo tradicional da fertilidade do solo, pois as técnicas de calagem, fosfatagem e gessagem feitas superficialmente deverão permanecer conforme o manejo da fazenda.
P - ppm
Cultura
Aumento de Produtividade
Jatai GO
Soja
7,3 sc/ha
Maracaju MS
Soja
13 sc/ha
Município
Test.
FP
Test.
FP
20-40
4,8
6,6
10
48
40-60
5,1
6,4
5
19
60-80
5
6,4
4
11
Itumbiara GO
Soja
15,9 sc/ha
80-100
5,1
6,3
3
9
Tanabi SP
Cana
16,4 t/ha
abril 2015 – Agro DBO | 49
Artigo
A soja na prevenção da Aids A Embrapa lidera as pesquisas, e os OGMs na soja produzirão bioterapêuticos para reduzir a epidemia do HIV, doença incurável. Décio Luiz Gazzoni *
“H * O autor é engenheiro agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja, e membro do Conselho Editorial da Agro DBO.
á necessidade urgente de fornecer microbicidas anti-HIV eficazes, para as áreas mais pobres do mundo. Alguns dos mais promissores candidatos são bioterapêuticos que impedem a infecção viral. Para atingir adequadamente as áreas mais pobres, é vital reduzir o seu custo. Nesse estudo relatamos a produção de cianovirina, um composto recombinante biologicamente ativo, que é uma proteína antiviral presente em sementes de soja geneticamente modificadas.” Assim começa o artigo (Engineering soya bean seeds as a sca-
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lable platform to produce cyanovirin-N, a non-ARV microbicide against HIV) publicado na prestigiosa revista Plant Biotechnology Journal, assinado por cientistas brasileiros, americanos e ingleses, alguns deles meus amigos colegas da Embrapa. Interessados podem ler o artigo em http://onlinelibrary.wiley. com/doi/10.1111/pbi.12309/epdf A publicação é fruto de uma pesquisa realizada pela Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (Cenargen), o Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos (NIH) e a Universidade de Londres. Os resultados comprovaram que sementes de soja geneticamente modificadas constituem a biofábrica mais eficiente e uma opção viável para a produção em larga escala da cianovirina, muito eficaz no combate à AIDS. Essa substância é uma proteína, naturalmente produzida pela alga azul-verde (Nostoc ellipsosporum). O objetivo final é o desenvolvimento de um gel, capaz de eliminar o vírus, para que as mulheres apliquem na vagina antes do relacionamento sexual, evitando o contágio. Biofábricas na Embrapa A utilização de plantas, animais e microrganismos geneticamente modificados para produção de medicamentos, é investigada pela Embrapa desde a década de 1990. O cientista Dr. Elíbio Rech, líder do programa, explica que as biofábricas, ou fábricas biológicas, são organismos capazes de expressar moléculas
de alto valor agregado com custos baixos e, por isso, são opções viáveis para produção de insumos, como medicamentos e fibras de interesse econômico e social. Desta forma, valorizam o agronegócio brasileiro, permitindo a agregação de valor a produtos agropecuários. O faturamento da biotecnologia na indústria farmacêutica mundial cresce em escala exponencial, atingindo cerca de 10 bilhões de dólares anuais e representando em torno de 10% dos novos produtos lançados no mercado. O primeiro fármaco “transgênico” foi obtido da bactéria Escherichia coli, que recebeu genes humanos para produzir insulina. Desde que ingressou no mercado, centenas de milhões de diabéticos melhoraram sua qualidade de vida e muitas vidas foram prolongadas. A transgenia sempre foi mais bem aceita na Medicina e na Farmácia, do que na Agronomia. Com a melhora da percepção pública em relação a transgênicos, o estudo acima permitirá que uma planta produza um medicamento com potencial de salvar milhões de vidas, por impedir a multiplicação do vírus HIV no organismo. Esses efeitos positivos da cianovirina foram comprovados em 2008, em testes realizados com macacos, nos EUA. Biofábrica de cianovirina Apesar de diversas plantas terem sido testadas, a melhor opção para a produção de cianovirina é a soja, porque permi-
te que a proteína seja produzida em grande escala. Há, também, o baixo custo do investimento na produção da soja para extração do fármaco. Obviamente a soja, com essa característica, não será produzida em campo aberto. Ao contrário, estará sujeita a rígidas condições de produção, colheita e processamento, para evitar qualquer efeito negativo no ambiente ou na saúde pública. Neste particular, ao comentar a descoberta, a renomada revista Science (nº 6.223, vol. 347 pg 733) publicou que “...se a soja geneticamente modificada for plantada em uma estufa de 100 m2, é possível fornecer cianovirina suficiente para proteger uma mulher da infecção por HIV durante 90 anos, 365 dias por ano”. Ou, dito de outra forma, serviria para proteger três
mulheres, durante 30 anos. Para a Embrapa, investir em pesquisas com biofármacos atende ao objetivo de obter compostos ativos com menor custo, já que são produzidos diretamente em plantas, bactérias ou no leite dos animais. As informações disponíveis apontam que as bio-
geneticamente modificadas são idênticas às originais, necessitando menor investimento de capital na indústria e resultando em produtos seguros e mais baratos para o consumidor. As vantagens adicionais são a possibilidade de produção em larga escala, pois sendo menos sujeitas à conta-
Para atingir adequadamente as áreas mais pobres, é vital reduzir o seu custo. fábricas, valendo-se de processos biotecnológicos, podem reduzir os custos de produção de proteínas farmacologicamente ativas em até 50 vezes, comparativamente à indústria farmacêutica tradicional, que utiliza processos exclusivamente químicos. Ressalte-se que as proteínas
minação, evitam gastos com purificação de organismos que são potenciais causadores de doenças em humanos. Pelo leque de vantagens oferecidas nos resta torcer para que a soja que produz cianovirina, barata e eficiente, logo esteja no mercado.
abril/2015 – Agro DBO | 51
Sorgo
A volta por cima Mais resistente do que o milho e mais tolerante em situações de estresse hídrico, a cultura vira alternativa na safrinha em várias regiões do Brasil. Gustavo Paes
N
os últimos dez anos, o agricultor Rubens Laboissiere Loyola, de Piracanjuba, município situado a 87 quilômetros de Goiânia (GO), cultivou sorgo granífero (Sorghum bicolor) em pelo menos quatro deles. Na safra 2014/15, destinou 35 hectares para a cultura de verão, uma área quase 50% menor do que a da safra anterior. No ano passado, o engenheiro agrônomo de 58 anos, que é diretor regional da Aprosoja – Associação dos Produtores de Soja de Goiás, plantou 60 hectares com sorgo. Ele explica que, na região sul do estado,
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o sorgo é uma cultura de segunda safra ou safrinha, sendo cultivado após o plantio da soja. Na sucessão de culturas, os agricultores plantam primeiro o milho safrinha, que é semeado até o momento em que a falta de chuva coloca em risco a lavoura do grão. “O sorgo, por ser uma planta mais resistente e que exige menos água do que o milho, entra após o plantio do milho safrinha”, afirma Loyola. Além de sorgo e milho, ele também cultiva soja. A maior área da fazenda São Jorge foi destinada para a oleaginosa, que se estende por 945 hectares. Na região, o sorgo concorre
com o milho como opção para a safrinha. Em alguns anos, ele rouba espaço do grão nas plantações. Mas em outros, ele cede área. Na atual temporada, a produção de milho de segunda safra subiu 0,6% no país, segundo estimativa da Safras & Mercado. “O sorgo é uma cultura marginal ao milho, que tem um preço mais competitivo e maior produtividade. Mas é uma cultura interessante, especialmente quando o clima não é favorável para as demais”, salienta Loyola. Na safra 2013/14, ele plantou 180 hectares com milho segunda safra. Nesse ano, foram 150 hectares.
A lavoura de sorgo granífero foi plantada a partir do dia 15 de março. A colheita deve ser realizada no final do mês de julho, mais tardar no começo de agosto. Por enquanto, o clima tem ajudado e o agricultor aposta em uma boa colheita. “Neste ano tem chovido regularmente, mas ainda é muito cedo para fazer projeções, já que tudo pode mudar até a colheita. Mas eu espero colher, em média, de 60 a 80 sacas por hectare”, estima. Na safra 2013/2014, a produtividade da fazenda São Jorge ficou em 80 sacas por hectare. A produção é entregue para tradings, fábricas de rações e granjas de aves e suínos em Goiânia. Loyola diz que a cotação do cereal, que gira em torno de 60% a 65% do valor do milho, não permite que ele estoque a produção em armazéns. “Tenho que levar o sorgo direto da roça para as fábricas de ra-
ções, porque os armazéns cobram na recepção uma taxa de R$ 1,40 por saca de 50 quilos. Isso representa quase 10% do valor que foi pago pela saca de sorgo no ano passado, que foi de R$ 14,00, R$ 15,00”, justifica. Dependendo do resultado da colheita, Loyola admite seguir cultivando a gramínea. “É uma decisão a cada safra. Dependendo das características, a gente planta”, finaliza. Produtor na mesma região, Nazareno Rodrigues da Silva, 48, reservou 350 hectares para o sorgo granífero nesta safra. Ele se antecipou e fez o plantio no final do mês de fevereiro, projetando maior produtividade e menor risco com a falta de chuvas. “Fui o único da região que plantou o sorgo no cedo. Espero ter um maior rendimento em função dessa escolha”, afirma. Silva ressalta que ainda é cedo para fazer estimativas, mas calcula colher uma média de 80 sacas por hectare. “Se o clima ajudar, vamos ter uma boa safra”, diz o agricultor, que entrega a produção para fábricas de rações e cooperativas da região de Piracanjuba. A principal cultura da fazenda São José Atrás da Serra é a soja, que se espalha por 1,1 mil hectares. Depois, aparece o milho. O sorgo é usado para fazer a rotação de cultura, após a colheita da soja. Embora ressalte a menor produtividade, Silva diz que o sorgo apresenta algumas vantagens em relação ao milho. “O sorgo é uma cultura bem interessante. Ele tem um menor rendimento, mas tem menos risco com o clima e o custo do plantio é de 30% a 40% menor”, compara. Expansão O sorgo, que também é chamado de milho-zaburro no Brasil, vem ganhando espaço no país nos últimos anos. Entre 2000 e 2013, a área cultivada aumentou 61,8%. Na safra 2014/15, a área com sorgo ficou em 734,4 mil hectares, alta de 0,5% na comparação com a safra
Loyola diz que o sorgo é cultura interessante, “especialmente quando o clima não é favorável às demais opções de cultivo”.
anterior, quando a área cultivada com a cultura ficou em 731 mil hectares, conforme dados do último levantamento da Conab. Acompanhando o incremento da área plantada, a produção também vem apresentando significativa expansão. Em 1975, ela era de cerca de 200 mil toneladas. Entre 2000 e 2013, avançou 136%. De acordo com a Conab, a produção na safra 2014/15 deve chegar a 1,9 milhão de toneladas. Isso representa uma alta de 5% em relação à safra passada, que foi de 1,8 milhão de toneladas. A região Centro-Oeste deverá produzir 1,1 milhão de toneladas. Já a estimativa da Conab para o Sudeste é de uma produção de 556,8 mil toneladas. A produção deve ser de 267,6 mil toneladas no Nordeste. O incremento no plantio da gramínea ocorre principalmente em plantios de sucessão a culturas de verão, com destaque para os estados de Goiás, Minas Gerais e Mato Grosso, onde se concentram aproximadamente 80% do sorgo granífero cultivado no país. Na região Nordeste, os plantios concentram-se principalmente na Bahia e Pernambuco, ocupando abril 2015 – Agro DBO | 53
Sorgo Quinto cereal mais importante do mundo, atrás apenas do trigo, do arroz, do milho e da cevada, o sorgo apresenta múltiplos usos.
Pesquisador da Embrapa, José Avelino Rodrigues ressalta a alta resistência do sorgo ao estresse hídirco.
Cristiano Palavro, da Faeg, lembra que o custo de produção do sorgo é menor que o do milho, mas a produtividade do milho é maior.
também parte do estado do Rio Grande do Norte. Na região Sul, destaca-se o Rio Grande do Sul, que já respondeu por 16% da produção nacional, mas hoje cultiva 2% do cereal. No estado, a gramínea é cultivada principalmente na metade sudoeste. No Norte do Brasil, a cultura é plantada apenas no estado do Tocantins. Uma das explicações para esse crescimento da área cultivada e da produção é que o sorgo se adapta a uma gama de ambientes, principalmente sob condições de deficiência hídrica, desfavoráveis à maioria dos outros cereais. Esta característica permite que a cultura seja apta para desenvolvimento e expansão em regiões
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de cultivo com distribuição irregular de chuvas e em sucessão a culturas de verão. “Sua alta tolerância ao estresse hídrico tem sido a principal razão para o aumento da área plantada com este cereal, principalmente na segunda safra ou safrinha”, afirma o pesquisador José Avelino Santos Rodrigues, da Embrapa Milho e Sorgo, de Sete Lagoas (MG). O maior produtor nacional de sorgo é o município de Cristalina, em Goiás, que colheu 180 mil toneladas na safra 2012/13, segundo dados do IBGE. Na segunda posição aparece o município de Diamantino (MT), que colheu 75 mil toneladas no mesmo período, e Nova Mutum (MT), com 72 mil toneladas. Rio Verde (GO) é o quarto maior produtor, com 70 mil toneladas, enquanto Unaí (MG) ocupa a quinta posição, com 64,8 mil toneladas. Além de ser o maior produtor nacional, Goiás também apresenta uma das maiores produtividades do país, atrás apenas do Distrito Federal e do estado do Paraná. Números da Conab mostram que os produtores goianos de sorgo granífero destinaram 206,9 mil hectares para a cultura de verão na safra 2014/15, mas existe a expectativa de a área plantada chegar a 210 mil hectares. “O aumento na área cultivada deverá ser de 1,4%”, destaca o consultor técnico da Faeg – Federação da Agricultura de Goiás, Cristiano Palavro. Na sequência, segundo ele, aparecem os estados de Minas Gerais, com uma área cultivada de 170 mil hectares, Mato Grosso, com 139,5 mil hectares, e Bahia, com 137,1 mil hectares. Na atual safra, as lavouras de sorgo em Goiás foram prejudicadas por uma prolongada estiagem, diz Palavro. Mesmo assim, a queda na produtividade deve ser pequena, de 0,6%. A Conab estima que o
rendimento fique em 3.398 quilos por hectare, enquanto na safra 2013/14 a produtividade ficou em 3.420 quilos por hectare. O sorgo proporciona uma boa rentabilidade aos produtores. Segundo os dados de custos de produção da Faeg para a safra 2013/14, o custo total da cultura gira em torno de R$ 990 por hectare. Já o custo de produção do milho safrinha ficou em R$ 2.217 por hectare. “O custo de produção do sorgo é menos de 50% do que o valor do milho”, afirma Palavro. O consultor técnico ressalta, porém, que a lavoura de milho tem maior produtividade. Em Goiás, o rendimento do milho ficou em 6.247 quilos por hectares (104.1 sacas por hectare) na safra 2014/15, enquanto a produtividade do sorgo foi de 3.160 quilos por hectare. “A rentabilidade com o milho, desde que não tenha problema com seca, costuma ser maior, mas o sorgo é uma cultura interessante porque entra em período em que os agricultores não plantam milho em função do maior risco climático”, salienta. Versatilidade O sorgo, quinto cereal mais importante no mundo, atrás apenas do trigo, arroz, milho e da cevada, apresenta múltiplos usos, como produção de forragem, de grãos e, mais recentemente, tem sido avaliada sua importância estratégica dentro da matriz energética brasileira para produção de etanol, durante a entressafra da cana-de-açúcar. Os principais tipos de sorgo cultivados no país são o sorgo granífero, para produção de grãos, o sorgo forrageiro, para produção de silagem, o sorgo de corte e pastejo, para uso direto como forragem, o sorgo sacarino, para produção de etanol, e mais recentemente, o sor-
go para produção de biomassa, a ser utilizada na chamada “segunda geração” de biocombustíveis. A cultura tem sido uma excelente opção para produção de grãos e forragem em todas as situações em que o déficit hídrico oferece maiores riscos para outras culturas, notadamente o milho. Em termos mercadológicos, o cultivo de sorgo granífero em sucessão a culturas de verão (principalmente soja), na chamada “safrinha” tem contribuído para a oferta sustentável de grãos de baixo custo para a agroindústria de rações. Atualmente, em toda a região produtora de grãos de sorgo do Brasil Central, o produto mostra boa liquidez para o agricultor e preços competitivos para a indústria, que, cada vez mais, procura alternativas para compor suas rações com qualidade e menor custo. O sorgo forrageiro permite obter altos rendimentos de forragem com qualidade comparável à do milho e com a vantagem da menor susceptibilidade aos estresses climáticos. A expansão da agroindústria de carnes aumenta também a busca por matérias-primas de menor custo para alimentação de suínos,
aves e bovinos. A pecuária de leite e de corte se profissionaliza cada vez mais, à medida que os mercados consumidores exigem mais qualidade e preço competitivo. O milho, principal componente na alimentação animal no país, tem alto peso nas exportações, principalmente “embalado” sob a forma de carnes (aves, suínos e bovinos). O sorgo surge, então, como o principal grão alternativo ao milho na chamada “cesta básica” de ingredientes forrageiros. Além do fornecimento de grãos, o sorgo ainda oferece cobertura verde quando os solos do Cerrado encontram-se expostos à radiação solar e ao excesso de chuvas, conforme Rodrigues, da Embrapa Milho e Sorgo. “A colheita de grãos ainda permite gerar receita adicional no período de entressafra, e constitui-se em opção de rotação de culturas e cobertura morta de qualidade para o plantio direto.” A potencialidade forrageira é ainda ponto forte da cultura para a pecuária bovina. A estimativa é de a cultura de sorgo para forragem no Brasil ocupe cerca de 30% a 35% da área total cultivada com o cereal. “O segmento da bovinocul-
O sorgo é tido como a principal opção ao milho na chamada “cesta básica” de ingredientes forrageiros.
tura pode se tornar em curto prazo um dos mais importantes clientes para forragem e grãos de sorgo, e se transformar no elo que falta para a consolidação da cultura do sorgo no país”, aposta o pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo. Na avaliação de Rodrigues, o sistema de confinamento de bovinos de corte implantado no Brasil na última década e a perspectiva de expansão de exploração leiteira, mostram que a demanda por alimentos volumosos é muito grande e deveria ser suprida na maior parte do ano por alimentos conservados. “A cultura de sorgo pode oferecer grande contribuição para minimizar os problemas decorrentes da estacionalidade da produção de forragem. Além disso, atualmente tem-se procurado desenvolver híbridos que tenham bom equilíbrio entre colmo, folhas e panículas para que se possa aliar uma boa produtividade de matéria seca e um bom valor nutritivo.” Os grãos de sorgo são largamente consumidos em rações balanceadas para pequenos e grandes animais. A planta inteira é utilizada sob forma de silagem, rolão ou corte verde. abril 2015 – Agro DBO | 55
Novidades no campo Kits de frenagem
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Batata versátil e resistente
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Lançamento conjunto de três unidades da Embrapa – Clima Temperado (Pelotas, RS), Hortaliças (Brasília, DF) e Produtos e Mercado (Canoinhas, SC) –, a BRS Camila está prestes a entrar no mercado, após 11 anos de pesquisas. Uma de suas principais características é a resistência ao vírus Y, doença que causa degeneração das sementes. Indicada para plantio no Sul do Brasil e nas épocas mais frias nas demais regiões produtoras, a BRS Camila é ovalada, com olhos rasos, polpa amarela clara, pele amarela e lisa. Segundo os pesquisadores, seu rendimento comercial chega a ser de 10% a 20% superior à principal concorrente. A expectativa é de que esteja nas prateleiras no primeiro semestre de 2016.
Fungicida à base de clorotalonil
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A Rotam, multinacional fabricante de defensivos agrícolas, lança no mercado brasileiro o Glider 720 SC, fungicida para controle de doenças como a mancha preta (amendoim), a antracnose (feijão), a requeima e a pinta preta (tomate e batata). “As culturas tratadas tornam-se mais resistentes e as plantas, mais vigorosas; o resultado imediato é maior produtividade”, diz Matheus Botelho, gerente regional de vendas e marketing da empresa. “O Glider 720 SC é um fungicida de contato e de amplo espectro que, quando aplicado corretamente, permite a melhor prevenção tanto na fase vegetativa quanto reprodutiva das lavouras, justamente quando a planta está mais suscetível às doenças”.
Transmissão hidrostática
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Novidade da New Holland Construction, o D180 C é, segundo a empresa, o único trator de esteiras com transmissão hidrostática com mais de 200 hp produzido no Brasil. Para o operador, a inovação representa mais conforto e produtividade, na avaliação do especialista de produto da marca, Fernando Neto. Para a máquina, menos desgaste mecânico e, consequentemente, queda nos custos de manutenção. “Não há necessidade de passar marcha. Todo o controle de deslocamento se faz por um joystick, que possibilita virar com tração ambas as esteiras ou girar em torno de um ponto – a chamada contra rotação. O D180 C possui motor NEF 6, da FPT Industrial, com 214 hp de potência líquida.
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Fabricante de compressores e componentes para as principais montadoras do segmento pesado, a Schulz reforça a presença no mercado de reposição com um grande programa de lançamentos. Uma das novidades da empresa é o lançamento de kits completos para a adaptação de sistemas pneumáticos de frenagem em máquinas agrícolas. Disponíveis em diferentes configurações, são capazes de atender aos principais modelos de tratores, colheitadeiras e reboques. A marca garante todo o conjunto por um ano e oferece suporte técnico durante a compra e instalação.
Nutrição em soja
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A Yara aproveitou a Expodireto Cotrijal, realizada no mês passado em Não-Me-Toque (RS), para lançar o Absoluto, um suplemento nutritivo que promete mais produtividade, eficiência operacional e segurança no cultivo de soja. O produto apresenta uma composição diversificada. Traz, no mesmo grânulo, nitrogênio, potássio, cálcio e micronutrientes, além de enxofre e fósforo solúveis. Segundo Maicon Cossa, diretor comercial da empresa, o enxofre na forma solúvel é mais eficaz pois está prontamente disponível à planta, aumentando assim a produtividade da cultura.
Novidades no campo Inseticida biológico
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A FMC lançou na Expodireto Cotrijal seu seu mais novo inseticida biológico, o Helicovex, com foco no controle da Helicoverpa armigera. O baculovirus, ingrediente ativo do produto, é mais concentrado. Age por ingestão, reagindo com o pH alcalino do sistema digestivo dos insetos. “Após a colonização das células da lagarta, ocorre o rompimento do tegumento que libera o líquido contendo vírus, contaminando e levando à morte as outras lagartas que se alimentem das folhas”, explica o gerente de inseticidas da empresa, Adriano Roland. Por ser biológico, o Helicovex precisa ser mantido a uma baixa temperatura, em compartimento refrigerado, para que sua qualidade seja mantida.
Plantadeira com tanque central
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A Case IH apresenta a Sol TT Fast Fill, com 26 linhas e tanque central de distribuição de sementes. Com capacidade para 2400 kg, cobre 48 ha de soja ou até 100 de milho por carga”, explica Giovani Polastro, especialista de marketing da empresa. Segundo ele, a plantadeira foi desenvolvida para realizar o trabalho com poucas paradas para reabastecimento, pois a conformação dos tanques facilita a tarefa de reposição das sementes. “A Sol TT Fast Fill possui linhas de sulcadores de adubo estilo facão/guilhotina, com rodas limitadoras de profundidade, ajustáveis para trabalhos junto ou logo atrás dos discos”.
Pulverizador autopropelido.
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Com sede em Canoas (RS), a PLA aproveitou as duas principais feiras realizadas no começo do ano no Sul do Brasil (Coopavel e Expodireto Cotrijal) para mostrar o Hydra 200, o menor e o mais simples dos pulverizadores autopropelidos da empresa, mas com a eficiência e tecnologia das máquinas maiores. “Desenvolvemos esse modelo pensando justamente na região sul, em especial o RS”, explica Tomas Lorenzzon, gerente de marketing e produtos da empresa. “As propriedades são menores e estão em fase crescente de mecanização. Em áreas que não podem mais ser expandidas, é preciso tirar o máximo de aproveitamento em produtividade”.
Contra o desperdício de água
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A Embrapa Instrumentação desenvolveu dois tipos de sensores para determinar a umidade do solo no campo e em jardins e, assim, evitar irrigação desnecessária, excesso e falta de água. Conforme o pesquisador Adonai Gimenez Calbo, eles podem operar até sem uso de energia elétrica. Servem para qualquer tipo de cultura e podem ser adaptados a todas as regiões do país. O sensor Diédrico funciona como um termômetro que, em vez da temperatura, mede a força com que a umidade é retida no solo e nos substratos. O outro tipo de sensor, batizado de IG, com versões para uso em diferentes profundidades, junto às raízes das plantas, é formado por um bloco de cerâmica poroso contendo, partículas de dimensões adequadas - esferas de vidro, por exemplo. O diâmetro das esferas de vidro determina a faixa de umidade do solo medida em uma escala de tensão ou força com que a água está retida.
Trator mais robusto
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A Agritech apresentou na Expodireto Cotrijal o modelo 1185 S, com motor turbo de 85 cv, câmbio sincronizado, sistema de direção hidrostática de alta precisão, sistema de refrigeração de água e óleo integrado e levantador hidráulico com “Sistema Autolift”, entre outros diferenciais. Segundo o gerente da divisão de vendas da empresa, Nelson Watanabe, o motor turbo proporciona mais torque, maior eficiência na tração, operações silenciosas e econômicas. Com o 1185 S, a Agritech entra pela primeira vez no mercado de tratores com potência acima de 80 cv e passa a atender culturas que exigem máquinas mais potentes e implementos mais robustos.
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Análise de mercado
Oferta bem ajustada Possibilidade de redução da área plantada no Brasil e estoques de passagem baixos podem ajudar a sustentar os preços internos do trigo.
N
os últimos anos, o mercado mundial de trigo passou de um cenário de oferta limitada para um balanço de oferta e demanda mais confortável. Com quebras ocorridas em importantes países produtores, com destaque para a Rússia, a produção mundial recuou 5,4% na safra 2012/13, em comparação ao ciclo anterior. Com isso, o consumo global superou a produção em mais de 27 milhões de toneladas, o que pressionou os estoques e ocasionou uma inflação de preços. Contudo, no ano seguinte, a produção já se recuperou e foi ainda mais incentivada diante dos preços mais altos, resultando em um contexto de oferta
mais ampla. Dessa forma, com esse aumento da oferta, que também foi observado na safra 2014/15, os preços do trigo entraram em uma trajetória de desvalorização. Essa tendência só começou a ser contrabalançada no final de setembro de 2014, por fatores como a tensão entre Rússia e Ucrânia, dois importantes players do mercado. Mesmo assim, a continuidade de uma situação de oferta confortável tem limitado um avanço mais consistente dos preços. No Brasil, o ano de 2014 foi marcado por altos e baixos. Como os preços se mantinham bastante elevados no início do período, muitos produtores optaram por investir na cultura de trigo. No Paraná,
o trigo ganhou área sobre o milho “safrinha” e houve incremento de área também no Rio Grande do Sul, ressaltando que os preços do cereal chegaram a ultrapassar R$ 800 por tonelada. Entretanto, como já destacado, esses preços altos não se sustentaram com a recuperação e o aumento da produção de trigo em várias partes do mundo, o que acabou frustrando os produtores brasileiros da commodity. Diante desse contexto, ainda permanece uma indefinição sobre a safra a ser plantada no Brasil neste inverno. As primeiras estimativas eram de uma queda de área, considerando os preços mais baixos em relação ao ano anterior e o elevado
SOJA – As cotações cairam em janeiro, reagi-
ram em fevereiro e seguiram firmes em março, puxadas pela forte valorização do dólar ante o real. Segundo pesquisadores do Cepea, os preços externos e os valores FOB exportação foram pressionados, mas a taxa de câmbio compensou essas quedas. A longo prazo, as perspectiva de retração econômica no Brasil, crédito mais difícil e caro e redução na área de cultivo podem ajudar a sustentar os preços internamente.
* Em 16/3, o Indicador Cepea/Esalq/BM&FBovespa registrou R$ 67,32 por saca de 60 kg, posto Paranaguá, descontado o prazo de pagamento pela taxa CDI/Cetip.
ALGODÃO – As cotações também seguiram
trajetória ascendente em março. Na terceira semana do mês, chegaram aos maiores níveis dos últimos dez meses (desde a última semana de abril de 2014), graças, principalmente, à paridade de exportações em alta e a demanda da indústria compradora. O Indicador Cepea para pagamento em 8 dias, referente à pluma 41-4, posto São Paulo, fechou em 24/3 a R$ 203 por libra/peso, acumulando alta de 18,3% no mês.
* Em 16/3, o Indicador Cepea/Esalq registrou R$ 188,42 centavos de real por libra-peso.
ARROZ –
Após seis semanas em queda, o preço se estabilizou em meados de março no Rio Graqnde do Sul. Preocupados com a colheita e com ofertas pouco atrativas da indústria, que preferiu se retrair, abastecida por estoques anteriores, os orizicultores adiaram o momento de negociar, à espera de recuperação nas cotações. A “queda de braço” entre as beneficiadoras e os setores atacadista e varejista enfraqueceu o ritmo de vendas, impactando os preços.
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* Em 16/3, o Indicador Arroz em Casca Esalq/Bolsa Brasileira de Mercadorias – BM&FBovespa registrou R$ 35,75 à vista por saca de 50kg, tipo 1, posto indústria Rio Grande do Sul.
Análise de mercado risco climático a que a cultura está sujeita, como a ocorrência de geadas no sul do país. No Paraná, fontes oficiais ainda apontam para uma queda de 2% na área de trigo. Destaca-se, contudo, que essa perspectiva pode não se confirmar. Como houve atrasos na safra de verão e mesmo com parte do milho “safrinha” sendo plantada fora da janela ideal, o trigo pode ser uma opção em áreas onde os atrasos foram maiores, com destaque para o norte do estado. No Rio Grande do Sul, também há estimativas de queda de área, após as extensas perdas ocorridas no ano passado e considerando o dólar valorizado, que encarece os insumos. Por outro lado, mesmo com insumos mais caros, o dólar mais forte favorece as vendas do produto nacional, pois o importado acaba ficando mais caro, o que pode ser um incentivo ao cultivo do trigo neste ano. Diante dessa indefinição, caso o cenário potencial de redução de área leve a uma produção menor de trigo, os preços do cereal no merca-
do doméstico podem acabar apresentando alguma alta mais significativa, influenciada também pelos estoques de passagem baixos, após a quebra de 2014 no Rio Grande do Sul. A Conab estima estoques finais de apenas 392,2 mil toneladas, o que representa 41,2% da moagem mensal projetada no Brasil, considerando a estimativa de moagem em 2014 de 11,4 milhões de toneladas. Por outro lado, destaca-se que, no front externo, os estoques continuam em trajetória ascendente, o que indica uma situação de balanço de oferta e demanda mundial confortável, fator que pode limitar a recuperação e manutenção de preços mais elevados no mercado brasileiro. Segundo o Conselho Internacional de Grãos (IGC, na sigla em inglês), as perspectivas para a safra 2015/16 permanecem favoráveis, apesar das estimativas de uma leve queda na produção, de 2%. Ana Luiza Lodi Analista de grãos na INTL FCStone
TRIGO – Com a constante valorização do dólar, o trigo importado ficou cada cada vez mais caro para os compradores brasileiros. Na primeira quinzena de março, as cotações seguiram linha ascendente, fechando em 16/3 a R$ 601,74 a tonelada, posto Paraná. Com preços atraentes, os triticultores aumentaram a oferta do produto estocado para fazer caixa. Por sua vez, os moinhos também foram às compras atrás de trigo nacional, favorecendo a liquidez e os negócios. Para temporada 2015/16, espera-se avanço na área plantada, tanto no Rio Grande do Sul quanto no Paraná
* Em 16/3, o Indicador Cepea/Esalq registrou R$ 601,74 por tonelada, mercado disponível, à vista (o valor a prazo é descontado pela taxa NPR), posto Paraná.
CAFÉ – Depois de oscilar bastante no merca-
* Em 16/3, o Indicador Café Arábica Cepea/Esalq registrou R$ 462,50 por saca de 60 kg, bica corrida, tipo 6, bebida dura para melhor, posto cidade de São Paulo.
do físico brasileiro, os preços do arábica tiveram expressiva recuperação em meados de março, em função da recompra de contratos na Bolsa de Nova York (ICE Futures). O Indicador Cepea/ Esalq do arábica tipo 6 fechou a R$ 482,39 no dia 19 - desde antes do carnaval, não ultrapassava R$ 480. No entanto, na semana seguinte, o preço caiu para R$ 458,28/sc. De qualquer forma, aqcumulou valorização de 6,15% no mês.
Fonte: Cepea – www.cepea.esalq.usp.br
MILHO –
* Em 16/3, o Indicador Esalq/BM&FBovespa registrou R$ 29,61 por saca de 60kg, descontado o prazo de pagamento pela taxa CDI/Cetip.
Os preços entraram em março em trajetória altista e depois se mantiveram em relativa estabilidade na faixa dos R$ 29/sc. De acordo com analistas do Cepea, as perspectiva de aumento das exportações induziram reajustes de contratos antecipados no mercado físico brasileiro, principalmente daqueles com entrega no segundo semestre. No acumulado do mês (até 24/3), O Indicador Esalq/BM&FBovespa registrada ligeira alta de 0,46%.
* Em 16/3, o Indicador Açúcar Cristal Cepea/Esalq registrou R$ 51,44 por saca de 50 kg, com ICMS (7%), posto São Paulo.
AÇÙCAR – As cotações do cristal seguiram trajetória altista na primeira quinzena de março, saindo de R$ 49,92/sc em 27/2 para R$ 51,44 em 16/3, como mostra o gráfico ao lado. A moagem da safra 2015/16 já começou, mas a prioridade das usinas neste ano deve ser o etnaol, em função do aumento do percentual de mistura de 25% para 27% na gasolina. No final do mês passado, houve pequeno recuo, mas as exportações ajudaram a sustentar os preços.
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Biblioteca da Terra Solos nordestinos
Novo rural
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Uma equipe da Embrapa Solos (Rio de Janeiro) elaborou cartilha ilustrada sobre as principais classes de solos do Nordeste do Brasil. De autoria dos pesquisadores Flávio Marques, Alexandre Ferreira do Nascimento, José Coelho de Araújo Filho e Ademar Barros da Silva, a obra traz informações sobre a região, porcentual dos principais tipos de solo e seus atributos morfológicos, fotos de perfis e de paisagens, além de indicações de uso agrícola e não agrícola. Escrita em linguagem simples e clara, está disponível para download no link: www.HYPERLINK “http://www.ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/114582/1/FOLDERSOLOS-DO-NE-versao-final.pdf”ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/ item/114582/1/FOLDER-SOLOS-DO-NE-versao-final.pdf
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As transformações em curso no campo, especialmente as chamadas “atividades não agrícolas”, compõem o tecido sócio econômico que lastreia o livro Ocupação e renda na nova ruralidade brasileira, do pesquisador Antônio Carlos Laurenti. Para configurar o “novo rural” ou a “nova ruralidade”, o autor trata da agropecuária comercial moderna, baseada na produção de commodities e totalmente conectada à agroindústria; do atendimento de nichos de mercado, a exemplo do cultivo de plantas ornamentais ou aromáticas; da prestação de serviços e outros temas diversos do tradicional plantar-e-colher. Laurenti acredita que, do ponto de vista econômico, a tendência é que a dicotomia entre rural e urbano desapareça em alguns anos, situação que vai demandar políticas públicas específicas. “Assim como há pessoas ocupadas em atividades não agrícolas no campo, também há agricultura nas cidades, como é o caso da produção de legumes e hortaliças no entorno das cidades”. Editado pelo Iapar, o livro custa R$ 20 e pode ser adquirido através do site www.iapar.br/modules/conteudo/ conteudo.php?conteudo=1034
Financiamento rural
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Lançada no mês passado pelo CEBDS – Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável, a cartilha Financiamento para Pequenos e Médios Produtores Rurais explica como e onde obter recursos para expandir a produção agropecuária, adequar a propriedade às exigências legais e tornar o sistema produtivo menos impactante ao meio ambiente. As duas categorias – pequeno e médio produtores – respondem por 70% da oferta nacional de alimentos, 77% da mão de obra no campo e 84,4% dos 5,2 milhões de estabelecimentos rurais do país. A cartilha é gratuita. O link para download é www.bit. ly/1EHYPERLINK “http://www.bit.ly/1EvicCV”vicCV.
Alimentação e nutrição
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Atualmente em sua 2ª edição, o livro Alimentos Regionais Brasileiros reúne em quase 500 páginas informações básicas sobre as frutas, hortaliças, leguminosas, tubérculos, raízes e cereais, farinhas e preparações, ervas, condimentos e temperos do Norte, Nordeste, Sudeste, Sul e Centro-Oeste. Informações sobre a publicação podem ser obtidas na Coordenação-Geral de Alimentação e Nutrição pelo telefone (61) 3315-9004 ou pelo e-mail cgan@saude.gov.br. Para download gratuito, o link é www.189.28.128.100/dab/docs/portaldab/publicacoes/livro_ alimentos_regionais_brasileiros.pdf
Ciclo completo
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Lançamento da Editora UFV, o livro Soja do plantio à colheita aglutina as mais importantes tecnologias usadas na cultura em território nacional. Trabalho conjunto dos pesquisadores Tuneo Sediyama, Felipe Silva e Aluízio Borém, aborda aspectos econômicos, botânica, fenologia, exigências edafoclimáticas, preparo do solo e plantio, adubação, cultivares, rotação e sucessão de culturas, época de semeadura, plantas daninhas, manejo de doenças e de pragas, e colheita. Com 333 páginas, custa R$ 62. Caso haja interesse em comprá-lo, o link de acesso é www.editoraufv.com.br/ detalhes.asp?idproduto=1808815
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Calendário de eventos
ABRIL
7
– 21ª Intermodal South América/Feira Internacional de Logística, Transporte de Cargas e Comércio Exterior – De 7 a 9 – Transamerica Expo Center – São Paulo (SP) – Fone: (11) 4689-1935 – Site: www.intermodal.com.br
8
– 3ª Hortifruti Brasil Show & Foods Brasil 2015/Feira do Complexo Agroindustrial da Cadeia Podutiva de Hortaliças, Frutas e Flores – De 8 a 10 – Centro de Eventos Sistema FIEP – Curitiba (PR) – Fone: (41) 3072-1000 – Site: www. hortifrutibrasilshow.com.br
9
– Expolondrina 2015 – De 9
a 19 – Parque Governador Ney Braga – Londrina (PR) – Site: www. expolondrina2015.com.br
13
– 13º TecnoShow Comigo – De 13 a 17 – Centro
Tecnológico Comigo – Rio Verde (GO) – Fone: (64) 3611-1525 – Site: www. tecnoshowcomigo.com.br
13
– 3º Simpósio Mineiro de Ciência do Solo – De 13 a 16 –
Universidade Federal de Viçosa – Viçosa (MG) – Site: www.smcs.ufv.br
15
– 8º Biocom/Simpósio Nacional de Biocombustíveis –
5
– Expoarroz 2015 – De 5 a 8
– Centros de Eventos Fenadoce – Pelotas (RS) – Fone: (53) 3025-6323 – E-mail: contact@expoarroz.com.br
11
– 2º CNAGRO/Congresso Nacional de Inovações Tecnológicas, Científicas, Inclusão Social e Valor Agregado do Agronegócio – De 11 a 13 – Centro
Universitário da Grande Dourados – Dourados (MS) – Fone: (67) 34114122 – Site: www.cnagro.com.br
12
– AgroBrasilia/ Feira Internacional de Tecnologias e Negócios Agropecuários dos Cerrados – De
12 a 16 – Brasília (DF) – Fone: (61) 3339-6516 – E-mail: agrobrasilia@ agrobrasilia.com.br
19
– 4º SMUD/Simpósio de Mudanças Climáticas e Desertificação no Semiárido Brasileiro – De 19 a 21 – Auditório
da Embrapa Semiárido (Rodovia BR 248, km 1162) – Petrolina (PE) – Fone: (87) 3866-3600 Ramal 3769 – E-mail: cpatsa-smud@embrapa.br
19
– Simpósio Internacional em Biotecnologia para Sistemas de Produção Florestal na Agricultura Familiar (FBS 2015/ Forest Biotech for Smallholders) – De 19 a 22 – Hotel Golden Tulip
De 15 a 17 – Centro de Eventos do Hotel Paiaguás – Cuiabá (MT) – Fone: (21) 2224-4480 – Site: www.abq.org.br
Internacional – Foz do Iguaçu (PR) – Site: www.fbs2015.com.br – E-mail: cnpf-fbs2015@embrapa.br
MAIO
26
5
– Sigera/Simpósio Internacional sobre Gerenciamento de Resíduos Agropecuários e Agroindustriais – De 5 a 7 – Espaço Tom Jobim – Rio de Janeiro (RJ) – Fone: (48) 3028-5154 – E-mail: comercial@ praxiseventos.com.nr
– 14º Simpósio da Cultura de Milho – De 26 a 28 –
Anfiteatro da Unimed – Piracicaba (SP) – Fone: (19) 3417-6604
27
– 14º Herbishow/Seminário sobre Controle de Plantas Daninhas da Cana – De 27 a 28 – Centro de Convenções – Ribeirão
27/4 – 22ª Agrishow/ Feira Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação – De 27 a 1/5 – Polo Regional de Desenvolvimento Tecnológico dos Agronegócios do Centro-Leste – Ribeirão Preto (SP) – Fone: (11) 35987800 – Site: www. agrishow.com.br – E-mail: visitante. agrishow@ informa.com.br Maior evento de tecnologia agrícola da América Latina – e um dos maiores do mundo – a Agrishow é considerada a principal vitrine do agronegócio brasileiro. Palco preferencial para exposição de marcas, lançamento de tendências, máquinas, equipamentos e serviços, atraiu 161 mil visitantes em 2014, a maioria dos quais agricultores, agrônomos, técnicos, lideranças setoriais e empresários do setor. Segundo os organizadores, o movimento financeiro chegou a R$ 2,7 bilhões, valor aquém do esperado, por causa da crise no setor sucroalcooleiro, conforme avaliação do presidente da mostra, Maurílio Biaggi Filho, mas ainda assim, superior ao recorde registrado em 2013, de R$ 2,6 bilhões.
Preto (SP) – Fone: (16) 3211-4770 – E-mail: eventos@ideaonline.com.br
JUNHO
2
– Três Lagoas Florestal/2ª Feira da Cadeia Produtiva da Indústria de Base Florestal Sustentável – De 2 a 4 – Parque de Exposição – Três Lagoas (MS) – Site: www.treslagoasflorestal.com.br
2
– Bahia Farm Show/Feira de Tecnologia Agrícola e Negócios – De 2 a 6 – Luís Eduardo Magalhães (BA) – Fone: (77) 36138000 – Site: www.bahiafarmshow. com.br – E-mail: comercial.brasil@ bahiafarmshow.com.br
8
– VIII Sibanana/Simpósio Brasileiro sobre Bananicultura – De 8 a 12 – Parque de Exposições – Montes Claros (MG) – Fone: (31) 3261-7004 – Site: www. frutinorte.com.br – E-mail: comercial@ frutinorte.com.br
10
– 2º Congresso Florestal no Cerrado e 4º Simpósio sobre Eucaliptocultura – De 10 a 12 –
Centro de Convenções – Goiânia (GO) – Fone: (62) 3241-3939 – Site: www. congressoflorestal.com.br
10
– Bio Brazil Fair/11ª Feira Internacional de Produtos Orgânicos e Agroecologia e BioFach América Latina – De 10 a 13
– Pavilhão da Bienal do Ibirapuera – São Paulo (SP) – Fone: (11) 2226-3100 – Site: www.biobrazilfair.com.br
22
– Congresso Brasileiro de Soja e Mercosoja 2015
– De 22 a 25 Centro de Convenções CentroSul – Florianópolis (SC) – Fone: (43) 3025-5223 – Site: www.cbsoja. com.br – E-mail: cbsoja@fbeventos. com.br
abril 2015 – Agro DBO | 65
Legislação
Prescrição e o produtor rural No Brasil há uma profusão de prazos diferenciados para todo tipo de contrato no agro, cada vez mais cheio de burocracias. Fábio Lamonica Pereira
P
rescrição é um termo jurídico que pode ser definido como a extinção de um direito pela falta de ação de seu titular. Diferente do que inicialmente possa parecer, o instituto tem ampla ligação com o agronegócio, valendo explorar algumas situações. Portanto, perder prazos pode vir a ser um mau negócio.
ação monitória cujo prazo é de cinco anos. Em ambas as situações o prazo começa a correr do vencimento da obrigação. As operações de crédito rural que foram objeto de alongamento ou securitização, que posteriormente foram cedidas para a União (recentemente voltaram à tona mediante nova opção de renegociação / pagamento com atrativos), e englobam até mesmo títulos emitidos em data anterior ao ano de 1990, o prazo de vencimento foi estipulado para os anos de 2018 ou 2025 dependendo da situação. Em recente entendimento do STJ - Superior Tribunal de Justiça, entendeu-se ser possível a revisão de toda a cadeia negocial (com exclusão das ilegalidades, desde o início), sendo
É fundamental que o produtor conheça e fique atento aos prazos de prescrição
O autor é advogado, especialista em Direito do Agronegócio.
Aquele que possui crédito representado por um cheque tem o prazo de 6 meses para exercer o direito ao seu recebimento por meio da ação chamada de execução (mais rápida). Caso este prazo tenha passado (prescrição), resta ao credor cobrar o valor por meio de outra ação (de procedimento mais demorado) chamada de monitória, dentro do prazo de cinco anos, contado da emissão do título. Após isso, prescreve. Para as conhecidas Cédulas de Crédito Rural (assim como para as notas promissórias), o credor tem o prazo de três anos para a cobrança mediante ação de execução e, passado este prazo, restará uma
66 | Agro DBO – março 2015
que, neste caso, o prazo de prescrição seria de cinco anos após o vencimento final (mesmo prazo de que a União dispõe para cobrar seu suposto crédito). No caso de propositura de ações revisionais de operações firmadas com instituições financeiras o prazo é de dez anos contados da emissão ou do vencimento, dependendo do entendimento judicial, uma vez que se trata de medida de caráter pessoal. Para a necessidade de reclamação de indenização de seguro rural de apólice contratada com empresa privada o prazo é de apenas um ano contado da data em que se tem conhecimento do dano. O comu-
nicado do sinistro à seguradora suspende o prazo, que recomeça a contar da data da comunicação formal de recusa ou pagamento a menor por parte da seguradora. Lembrando que eventual pedido de reconsideração / nova decisão não volta a suspender o prazo de prescrição. Em causas em que se discute o pagamento de indenização relativa ao Proagro – Programa da Atividade Agropecuária, que é uma espécie de seguro agrícola público, eis que administrado pelo Banco Central do Brasil, que responde pelos pagamentos, o prazo de prescrição é de cinco anos. Para a declaração judicial de ilegalidade do desconto do Funrural, por sua vez, são considerados os últimos cinco anos anteriores à propositura da ação (e engloba os posteriores também). O arrendatário de imóvel rural que pretenda exercer o direito de preferência para a aquisição da respectiva área vendida sem a correta e oportuna comunicação, poderá fazê-lo dentro do prazo de seis meses, contados a partir do registro da transação no cartório competente. Além desses, há diversos outros prazos de prescrição. Entretanto, há situações (mediante determinação legal para tanto) em que poderá haver interrupção (quando o prazo recomeçará a contar) ou suspensão do prazo de prescrição. De toda forma, é de fundamental importância que o produtor conheça e fique atento aos prazos de prescrição que possam, direta ou indiretamente, afetar o resultado de sua atividade.