Sumário
28 Entrevista
Presidente do Cesb, o engenheiro agrônomo Orlando Carlos Martins é taxativo: “Logo teremos médias de 100 sacas de soja por hectare”.
36 Soja
A alta no preço das terras no Centro-Oeste “empurra” produtores rurais para áreas de fronteira e planícies do interior do Pantanal
44 Solos
Pesquisador da Embrapa defende a adoção de práticas conservacionistas como estratégia para minimizar o impacto provocado pela escassez hídrica
50 Café Cairo Lustoza/Agência Pauta Pronta
20
Matéria de capa Projeto da Aprosoja/MT, endossado pela Aprosmat – Associação dos Produtores de Sementes de Mato Grosso, prevê a elevação do padrão mínimo de germinação de sementes de soja para 85% na safra 2015/16 – por lei, é 80%. Se virar norma, pode multiplicar a produtividade nas lavouras do país.
Agricultores tradicionais do Sul de Minas Gerais adotam técnicas modernas de produção em busca de produtividade, qualidade e mercado.
Artigos 8 – Décio Gazzoni critica o anacronismo daqueles que se opõem à Ciência. 10 – Rogério Arioli constata: “O agronegócio avança e os gargalos persistem”. 42 – Amilcar Centeno cita exemplos de bom uso da Agricultura de Precisão 48 – Marco A. dos Santos diz que o falso El Niño vai garantir a safrinha 54 – Hélio Casale defende o sistema Safra Zero de poda radical no café 66 – Fábio Lamonica concorda: “Mau acordo é melhor que boa demanda”
Seções Do leitor.............................................................. 5 Ponto de Vista................................................... 8 Notícias da terra.............................................12 Almanaque.......................................................26
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Política................................................................32 Novidades no campo...................................56 Análise de mercado......................................58 Biblioteca da terra..........................................60 Calendário de eventos.................................65
Do Leitor Excelente as matérias abordadas na revista de março de 2015 da Agro DBO. Na página 29, há uma menção a um estudo da Esalq segundo o qual o clima responde por 50% da oscilação de produtividade das culturas agrícolas de um ano para outro. É possível enviar a fonte dessa informação ou o contato dos autores para ter acesso ao estudo? Márcio Guirro Terra Cambé
ALAGOAS
Recebi a edição nº 64, de março de 2015, da revista Agro DBO. Como sempre, veio recheada com muitas informações e importantes matérias sobre o agronegócio. Agradeço-lhes pela deferência. Carlos José Pedrosa Maceió
GOIÁS
Todo assunto referente a agropecuária é bem-vindo, somos carentes de informações. Carlos Alberto D. da Silva Itumbiara
PARANÁ
Considero oportunas as reportagens sobre o ataque de lagartas às lavouras em geral, especialmente na cultura da soja. Em nossa cidade (Bandeirantes, no Paraná) não foi diferente nesta safra 2014/15. Tivemos um ataque da falsa-medideira no final do ciclo. Isso demonstra que devemos ficar atentos, do plantio à colheita, com as pragas e doenças, porque a soja tem sido uma ótima opção de rentabilidade aos produtores rurais. O que vai determinar maior ou menor remuneração será o investimento proposto versus a produtividade obtida. Porém, o custo de produção vem aumentando ao longo dos anos, dificultando investimentos em maquinário e fertilizantes. Erich dos Reis Duarte Bandeirantes
NR: O leitor se refere a um parágrafo da matéria de título “Plantas resistentes”, de autoria de José Maria Tomazela, na qual o repórter aborda pesquisas e testes a campo com espécies rústicas de grande potencial de adaptação a ambientes mais secos, mais resistentes, enfim, ao estresse hídrico. A informação citada pelo leitor é um pequeno excerto de um dos estudos acadêmicos da Esalq sobre variabilidade climática. Talvez o leitor consiga mais detalhes junto ao Departamento de Biossistemas da Esalq (www.esalq.usp.br) PERNAMBUCO
Concordo plenamente com o texto do Sr. Rogerio Arioli Silva (Seleção artificial, páginas 8 e 9 da seção Ponto de vista, edição de março), pois sou pequeno produtor e sinto exatamente isso na pele. Nós perdemos competitividade a cada dia, temos hoje um custo de produção muito grande. Como diz Rogério, temos um emaranhado de leis que somente atrapalha. O pior é o tratamento desigual para com os pequenos. Sou produtor no perímetro irrigado Senador Nilo Coelho, em Petrolina, Pernambuco. Hoje, estamos ficando sem assistência técnica, aprovada na nova Lei de Irrigação, art. 17. A Lei diz: “O poder público garantirá ao agricultor irrigante familiar assistência técnica e extensão rural, em projetos públicos e privados de irrigação”. Parágrafo único: “As ações de assistência técnica e extensão rural articular-se-ão
com o Ministério do Desenvolvimento Agrário e o Ministério da Integração Nacional, observando-se a Lei no 12.188, de 11 de janeiro de 2010”. Até onde eu sei, para reforma agrária não houve corte no orçamento. Isto quer dizer que, para o MST, existe assistência técnica e, para nós, não. Até entendo o porquê. Hoje, o filho do produtor não quer tocar os negócios de seu pai e, sim, ir para cidade aumentando o êxodo rural, inchando as favelas, aumentando a violência e o desequilíbrio ambiental. Antes, tinha orgulho em dizer que era filho de produtor. Hoje, sente vergonha. Até concordo que ficam no campo os mais competentes, mas o governo está expulsando até os competentes. Deixo aqui uma pergunta: Até quando iremos suportar estas desigualdades? Não esqueçam que somos responsáveis por 70% de toda a produção agrícola do país. Walter Rocha Petrolina
RIO GRANDE DO SUL
Quero parabenizar a equipe de editores da Mídia DBO pelo excelente conteúdo e diagramação que sempre trazem à nós, leitores apaixonados pelas atividades do agronegócio. Sou técnico em pesquisa, estudante de agronegócio e assino as revistas Agro DBO e Mundo do Leite, porém quero manifestar meu descontentamento pelos constantes atrasos na chegada das revistas em meu endereço. Darci Luiz Veronese Passo Fundo
NR: Caro leitor, lamentamos muito pela demora na entrega das revistas. Estamos apurando as razões do atraso junto aos Correios, na expectativa de que ele não se repita.
AgroDBO se reserva o direito de editar/resumir as mensagens recebidas devido à falta de espaço.
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Carta ao leitor
O
Brasil caminha aos trancos e barrancos. Parece estar sob “nova direção”, desde que se iniciou o segundo mandato da presidente Dilma Rousseff, eis que o principal partido da base governamental assumiu de fato o poder, diante de uma presidente reeleita por mínima maioria, mas, agora, fragilizado por denúncias nas manchetes, capítulos intermináveis de uma novela repetitiva a que já assistimos em outros momentos históricos da nação, parece capitular ante a coalizão. Neste clima, o Congresso Federal vota leis e propostas, temas polêmicos são aprovados apressadamente, à revelia de um necessário debate aprofundado. Exemplos disso são a PEC 215, que transfere do executivo para o legislativo a gestão e responsabilidade pela demarcação de terras indígenas e de quilombolas. Da mesma forma a lei que terceiriza a contratação de trabalhadores, urbanos ou rurais, sem trazer soluções legais para as diferenças nas formas de trabalho de um e de outro. Ou ainda a votação da chamada Lei dos Caminhoneiros, e pior, o emplacamento de tratores e máquinas agrícolas. A sucessão de vazios legais trará, inevitavelmente, maior insegurança jurídica ao agro. O governo promete, para 19 deste mês, um Plano Safra com validade para 4 ou 5 anos, a juros compatíveis, e com dinheiro suficiente de crédito agrícola. A conferir, pois. Agro DBO traz na reportagem de capa, da jornalista Marianna Peres, “A soja abre caminho”, duas questões fundamentais para o agro. De um lado, a discussão técnica mostra o alto nível dos sojicultores do Brasil Central, que exigem melhor padrão técnico das cultivares de soja, eis que os preços deste insumo, incluídos os royalties da biotecnologia, alcançam níveis elevados em descompasso com a qualidade insatisfatória nos índices de germinação. De outro lado, o movimento associativo desses sojicultores, através da Aprosoja, indica que a evolução das espécies, enunciada por Darwin no século XIX, continua a ocorrer ad eternum, pois há um notável crescimento político no debate em questão, e demonstra que há muito espaço para os produtores rurais brasileiros evoluírem e se profissionalizarem, como já fizeram americanos e europeus; assim, é lícito projetar para o agro brasileiro uma competitividade imbatível diante dos concorrentes do hemisfério norte, caso esse espírito associativo prevaleça. Desde a primeira edição da Agro DBO, 12 anos atrás, o associativismo no agro tem sido nossa bandeira para impulsionar os agricultores brasileiros para a modernidade, e o debate técnico e político sobre a qualidade das sementes é exemplo disso. Que venham outras campanhas! Agro DBO traz outros temas importantes, como o café de Minas Gerais e sua evolução tecnológica e qualitativa, em reportagem do jornalista Rogério F. Furtado, ou o amadurecimento do uso das terras do Pantanal, em matéria do jornalista Ariosto Mesquita, e a entrevista com o engenheiro agrônomo Orlando Carlos Martins, presidente do CESB, que profetiza para o Brasil médias de 100 sc/ha de soja para dentro em breve.
é uma publicação mensal da DBO Editores Associados Ltda. Diretor Responsável Demétrio Costa Editor Executivo Richard Jakubaszko Editor José Augusto Bezerra Conselho Editorial Décio Gazzoni, Demétrio Costa, Evaristo Eduardo de Miranda, Hélio Casale, José Augusto Bezerra e Richard Jakubaszko Redação/Colaboradores Aluísio Granato de Andrade, Amílcar Centeno, Ariosto Mesquita, Décio Luiz Gazzoni, Fábio Lamonica Pereira, Hélio Casale, Marco Antônio dos Santos, Marianna Peres, Miguel Biegai Jr, Rogério Arioli Silva e Rogério F. Furtado Arte Editor Edgar Pera Editoração Célia Rosa e Edson Alves Coordenação Gráfica Walter Simões Marketing Gerente: Rosana Minante Comercial Gerente: Paulo Pilibbossian Executivos de contas: Andrea Canal, José Geraldo S. Caetano, Maria Aparecida de Oliveira, Marlene Orlovas, Tereza Helena Virginia e Vanda Motta
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Circulação Gerente: Edna Aguiar ISSN 2317-7780 Impressão Log&Print Gráfica e Logística S.A. Capa: Foto R R Rufino/Embrapa DBO Editores Associados Ltda Diretores: Daniel Bilk Costa, Odemar Costa e Demétrio Costa Rua Dona Germaine Burchard, 229 Perdizes, São Paulo, SP 05002-900 - Tel. (11) 3879-7099 redacao@agrodbo.com.br www.agrodbo.com.br
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Ponto de vista
Sobre ciência e fome O MST faz pressão política e de guerrilha sobre a CTNBio e provoca atrasos inaceitáveis nas soluções para produzir alimentos. Décio Luiz Gazzoni *
“Exército feminino” do MST em ação: destruiu anos de pesquisas.
H
* O autor é engenheiro agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja, e membro do Conselho Editorial da Agro DBO.
á dois séculos, Tomas Malthus teorizou que a produção de alimentos cresceria em progressão aritmética, enquanto a população humana cresceria em progressão geométrica. Assim, dia chegaria em que não haveria como alimentar a população da Terra. Foi o trabalho de milhares de cientistas que desmentiu Malthus, permitindo aumentar, continuamente, a produção de alimentos no mundo. Atualmente, fome é um problema de renda, de acesso ao alimento, não de produção. A oferta de alimentos cresce com a demanda, embora haja um delay devido aos mecanismos de transmissão de seus sinais até os agricultores, responsáveis pelo aumento da oferta. O aumento da produção tem sido função da produtividade agrícola que, nos últimos 50 anos, respondeu por cerca de 80% do
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aumento da oferta, contra 20% devidos à expansão da área. Maior produtividade, redução de custos e estabilidade da produção é função direta das inovações tecnológicas. Em biologia, a maior inovação dos últimos anos é a engenharia genética, e sua consequência prática são as modernas variedades transgênicas. A engenharia genética nada mais é que um atalho do processo natural de troca de genes entre organismos. O mérito da ciência foi reduzir a poucos anos o que a natureza levaria séculos para atingir. Retrocesso O ludismo foi um movimento contrário à mecanização do trabalho, que surgiu no advento da revolução industrial, no início do século XIX. O termo ludita, ou “quebradores de máquinas”, identifica a pessoa que se opõe à industrialização ou às inovações
tecnológicas. Os luditas chamaram atenção pelos seus atos, invadindo fábricas e destruindo máquinas que, segundo eles, eram mais eficientes que os homens, colocando em risco seus empregos. Ludismo é um conceito político, usado para designar os que se opõem ao desenvolvimento tecnológico. Atire a primeira pedra quem, hoje, não se beneficia largamente do legado da Revolução Industrial. Da Inglaterra capitalista para a Rússia comunista. Em uma conferência realizada em 1948, Trofim Lysenko denunciou Gregor Mendel – o criador da genética – como “reacionário e decadente” e declarou que cientistas ou outros cidadãos que acreditassem na genética eram “inimigos do povo soviético”. Anunciou que a sua tese havia sido aprovada pelo Comitê Central do Partido Comunista e que, a partir daquele momento, os cientistas que compartilhavam as teorias de Mendel dispunham de duas alternativas: ou escreviam cartas públicas confessando os seus erros e reconhecendo a sabedoria do Partido Comunista, ou seriam sumariamente demitidos. Alguns dissidentes foram enviados para campos de trabalhos forçados. De outros, não mais se ouviu falar. Transgênicos No dia 5 de março de 2015, a CTNBio analisaria o licenciamento da variedade de eucalipto transgênico H421, desenvolvido pela empresa nacional FuturaGene, ao longo dos últimos 14 anos. Os experimentos demonstram que esse eucalipto produz 20% mais madeira que o convencional e diminui
a idade de corte em 2 anos. Maior produtividade significa aumento de competitividade e ganhos socioambientais, gerando maior produção de madeira com menor demanda de novas áreas e insumos. Além de contribuir com a renda de pequenos produtores, o cultivo do eucalipto transgênico permitiria que mais área fosse destinada à produção de alimentos ou à conservação. Produzir eucalipto significa utilizar química verde, menos poluente, substituindo petróleo para produzir bens sociais tangíveis ou energia. O Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) arrombou a porta da sala já superlotada, invadiu a reunião da CTNBio e, violando todos os princípios democráticos e do estado de direito, impediu a realização da reunião de avaliação do H421. Não apresentou fatos, verdades ou números, apenas o velho e batido discurso vazio e as vetustas palavras de ordem, de viés meramente ideológico. Quase ao mesmo tempo, uma facção feminina do MST invadiu e depredou os laboratórios e estufas da FuturaGene, destruindo o trabalho de mais de uma década de cientistas e colaboradores, comprometendo o avanço da ciência e a melhoria da produção agrícola. Desconheço o eventual enquadramento ou punição dos participantes de ambos os atos, que violaram diversos artigos da legislação brasileira. O fundamento legal A Lei 11.105 de 2005 garante à sociedade o direito de se pronunciar democraticamente, com padrões civilizados e em conformidade com a Lei. Se há uma crítica à legislação brasileira de biossegurança é o fato de ser uma das mais exigentes e severas do mundo, até mais realista que o rei. Se peca, o faz por excesso de zelo! No Brasil – como em todo o mundo – os OGM são submetidos a testes toxicológicos, alergênicos, nutricionais e ambientais que pas-
sam pela análise da CTNBio, cuja legitimidade é baseada na excelência de seus membros. O trabalho desenvolvido por esses cientistas envolve profundo detalhamento e rigorosa observância de princípios científicos consagrados. Qualquer suspeita fundamentada de risco, por menor que seja, significa reprovação. Até onde meu conhecimento alcança, há muito mais riscos toxicológicos e alergênicos em alimentos naturais, tradicionais, que em OGMs, justamente pelo fato de que aqueles não são submetidos à mesma legislação. Se o fossem, muito do que chega à nossa mesa, seria proibido por razões toxicológicas! O avanço científico dos últimos dois séculos, em particular dos últimos 50 anos, permitiu enviar o malthusianismo para o museu. No momento, é possível afirmar que produzimos alimentos em taxas
cuja ciência seguiu Mendel, como a Europa, o Canadá, os EUA ou o Japão. São bilhões de dólares anuais transferidos dos países da ex-URSS para os países detentores de tecnologias avançadas, como variedades mais produtivas e mais resistentes a estresses, baseadas na genética mendeliana. Paulatinamente, esses países também têm adotado a genética mendeliana para recuperar-se do atraso imposto pelo Lysenkismo. No Brasil, de alguma forma, pagaremos o preço das ações de quem se diz trabalhador sem-terra, mas age contra o progresso da ciência e o desenvolvimento do país. O interessante é que terra não falta no Brasil: o que falta – e cada vez com intensidade maior – é gente efetivamente disposta a trabalhar a terra. Aliás, um dos grandes problemas atuais dos pequenos e médios pro-
Há mais riscos toxicológicos e alergênicos em alimentos naturais, que em OGMs. superiores ao crescimento da população. Atualmente, a maior demanda de alimentos não se deve ao aumento da população, mas ao incremento da renda disponível para as famílias comprarem alimentos. Em escala mundial, a Ásia é o melhor exemplo deste fenômeno, embora países da América Latina também tenham experimentado forte inserção social derivada do espetacular crescimento econômico mundial. O próximo continente a beneficiar-se deste fenômeno será a África. Crime e castigo Entrementes, enquanto Malthus pode ser perdoado por seu pioneirismo, o mesmo não pode ser dito de Lysenko ou do MST. O preço que está sendo pago pelos países da ex-URSS, pela imposição do discurso ideológico de Lyzenko, é que, atualmente, eles dependem de tecnologia genética de países
dutores rurais é a sua sucessão: os proprietários da terra ficaram idosos, não possuem mais condições de gerir e trabalhar na propriedade, seus filhos não tem interesse em seguir na terra, que acaba sendo vendida. Cada vez sobra mais terra – tanto que o governo afirma haver assentado quase 1,5 milhão de famílias em 80 milhões de hectares. Então, por que não esquecer por um momento o discurso vazio e dar um uso à terra, em benefício da sociedade? Mais trabalho e menos balbúrdia deveria ser bandeira. Se alguém enxergou um contrassenso entre as ações do MST e a realidade científica e social do Brasil (que não é diferente do resto do mundo), deve seguir o fio da meada para tentar entender quais as verdadeiras motivações de destruir inovações científicas, o que, para mim, ainda é um enigma maior que Lysenko, já devidamente explicado. maio 2015 – Agro DBO | 9
Opinião
Aviso aos navegantes Tudo avança como dantes no agronegócio, pois a produção aumenta, a produtividade melhora, mas os gargalos se perpetuam. Rogério Arioli Silva *
O
s destaques exibidos pelo agronegócio nos últimos dias trazem brisas de agradável suavidade, alternadas com ventos de inquietante poder destrutivo. Assim como o arejamento é necessário para a sanidade das plantas, ventos fortes podem se transformar em seus maiores inimigos. O sol de maio renova esperanças e quem labuta no campo está sempre de olho no “próximo ciclo”, nem que seja para sentir saudades do que acabou de passar.
desses produtores. Também é positivo o resultado da safra no Centro-Oeste, apesar da irregularidade de chuvas entre dezembro e janeiro, onde a recuperação das lavouras proporcionou boas produtividades. Os meteorologistas sugerem que uma intensidade menor de chuvas em algumas regiões de Mato Grosso permitiu melhor controle de doenças, e manteve o potencial produtivo da soja. Destaque-se a alta produtividade de algumas variedades que chegaram a atingir médias de 4.500
É óbvia a importância de um volume de crédito compatível com a demanda dos produtores
* O autor é engenheiro agrônomo e produtor rural em Mato Grosso
A safra gaúcha de grãos, graças à excelente produtividade do milho, pode superar 30 milhões de t (2014-2015), e consolida-se como uma das maiores da história daquele estado, segundo a Conab. Embora a ferrugem asiática tenha deixado rastros de destruição em muitas lavouras, a tecnologia, o empenho do produtor e o clima favorável foram o trinômio garantidor desse enorme sucesso. Também positiva foi a apreciação do dólar, que aumentou o preço em reais das commodities e compensou, dessa forma, a queda nas cotações. Para pequenos e médios produtores este impacto é ainda mais positivo uma vez que a maioria deles, ao contrário dos grandes, buscam recursos para instalação das lavouras no crédito oficial, portanto, em reais. É evidente, assim, a importância de um volume de crédito compatível com a demanda
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kg/ha da oleaginosa na região da Chapada do Parecis (MT). A segunda safra do Centro-Oeste foi beneficiada até o momento com chuvas abundantes e também resultará em boas médias. Muitas feiras agropecuárias no interior do Brasil, ao alavancarem negócios, transferem grande parte da riqueza produzida no campo para outros segmentos da economia. Entretanto, nem só de boas notícias sobrevive o agro brasileiro. Ao se deixar para trás as porteiras das fazendas aparecem problemas que, recorrentemente, assombram aqueles que insistem em empreender, e que acreditam no potencial do país. Os gargalos logísticos são enfrentados pelo governo com velocidade muito aquém da necessária e, com isso, recursos que poderiam ir para o bolso dos agentes da produção dispersam-se numa infraestrutura incipiente que
atendia ao país quando se produzia 50 milhões de t e não as atuais 200 milhões. O setor de máquinas agrícolas começa a demitir, numa arriscada demonstração do desaquecimento do ambiente econômico. Embora ainda exista grande demanda no campo, a maioria dos produtores aguarda com cautela a decisão de retomar novos investimentos. Há previsão do aumento dos custos de produção da próxima safra, reflexo dos novos patamares do câmbio, principal indexador dos insumos. Investimento em tecnologia é sinônimo de produtividade no agro, todavia é vital que as linhas de crédito sejam mantidas com juros compatíveis com a atividade rural. O atraso no anúncio do volume de recursos e das taxas de juros, além da demora nas liberações de custeio e pré-custeio, poderão comprometer a renda agrícola no próximo ciclo, com desdobramentos negativos para todo o complexo agroindustrial. Sempre é bom lembrar que foram os US$ 90 bilhões de superavit do agro que impediram a deterioração ainda mais significativa do resultado comercial do país no ano que passou. O excesso de otimismo, por vezes, beira a irresponsabilidade, portanto, é com reservas que o produtor deve sorver a canja de galinha que lhe garantirá uma blindagem às futuras indigestões, aguardando para tomar suas decisões com segurança e, sobretudo, com o senso de sobrevivência necessário. A primeira providência para quem quer continuar navegando é manter-se acima do nível da água.
Notícias da Terra Safra I
Conab prevê 200,7 milhões de toneladas
D
e acordo com o 7º levantamento da companhia, divulgado em 10/4, a produção de grãos no Brasil na temporada 2014/15 deve alcançar 200,7 milhões de toneladas, 3,6% acima (7,1 milhões t a mais) do obtido na safra passada, quando foram colhidas 193,6 milhões t. A soja continua como destaque. Apesar dos problemas climáticos em janeiro, que influenciaram a expectativa de produtividade em Minas Gerais, Goiás, Maranhão e Pará, a produção deve crescer 9,5% (incremento de 8,2 milhões t) e fechar a safra em 94,3 milhões de toneladas. A Conab manteve suas projeções de consumo interno (44,2 milhões t) e de exportações de soja (46,7 milhões t) para o período. Em 2013/14, o Brasil colheu 86,2 milhões de toneladas e exportou 45,7 milhões. A área destinada ao plantio de grãos nesta temporada será praticamente a mesma da última safra, ao redor de 57,3 milhões de hectares. A pesquisa foi realizada entre os dias 23 e 27 de março.
Safra III
USDA mantém estimativas
O
relatório de oferta e demanda do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês), divulgado em abril, repete as projeções feitas em março para a safra brasileira em curso. Segundo a instituição, o Brasil vai colher 94,5 milhões de toneladas de soja e 75 milhões t de milho.
Safra IV
Quase 200 milhões
A
Safra II
O milho reage
A
produção de milho nesta temporada foi revista pela Conab para 78,9 milhões de toneladas (em março, a companhia previra 78,2 milhões), com elevação nas projeções para a safra de inverno, ainda em curso, e queda na safra de verão. O recorde nacional na produção de milho foi batido no ciclo 2012/13, com 81,5 milhões t – na safra 2013/14, chegou a 80,1 milhões t. As estimativas indicam produção de 48,6 milhões na safrinha, compensando assim a expectativa de queda de 4,3% na primeira safra, prevista em 30,3 milhões t. Segundo estimativa da Céleres, divulgada em meados de abril, a safrinha pode ultrapassar a marca de 50 milhões de toneladas, o que seria um recorde absoluto de produção no inverno. A consultoria citou “condições de desenvolvimento próximas do ideal, apesar do início atribulado dos trabalhos de semeadura” para justificar tal marca. Se a projeção se confirmar, a produção nacional de milho vai ultrapassar a barreira de 80 milhões t. 12 | Agro DBO – maio 2015
terceira estimativa de 2015 do IBGE para a safra nacional de cereais, leguminosas e oleaginosas indica produção de 199,7 milhões de toneladas, 3,6% superior à obtida na temporada passada (192,8 milhões t). A área plantada deve chegar a 57,3 milhões de hectares, 1,7% maior ante a safra anterior (56,3 milhões ha). Os três principais produtos do grupo, soja, arroz e milho, representam 91,6% da estimativa da produção e 85,5% da lavoura. Em relação ao ano anterior, houve acréscimo de 9,7% para a soja, 0,9% para o arroz e decréscimo de 3,7% para o milho. No que se refere à área plantada, a de soja vai crescer 4,3%. A de arroz cairá 3,2% e a de milho, 0,4%. A publicação completa da pesquisa pode ser acessada na página www.ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores/agropecuaria/lspa.
Notícias da Terra Safra V
Distribuição por regiões
A
produção nacional de cereais, leguminosas e oleaginosas deve apresentar a seguinte distribuição em 2015, conforme o IBGE: Centro-Oeste, 80,6 milhões de toneladas; Sul, 76,1; Nordeste, 18,8; Sudeste, 18,4; e Norte, 5,9. Comparativamente à safra passada, os pesquisadores de instituto projetam incremento de 20,3% no Nordeste; 7,6% no Sul; 6,8% no Norte; e 2,5% no Sudeste. A safra no Centro-Oeste será 2,9% menor. Mesmo assim, Mato Grosso manterá a liderança no ranking dos estados produtores, com 23,6% de participação, seguido pelo Paraná (18,5%) e pelo Rio Grande do Sul (16,3%).
Safra VI
O ranking das culturas
D
os 26 produtos pesquisados pelo IBGE, 12 apresentaram variação percentual positiva na estimativa de produção, comparativamente à safra passada: mamona (138,1%), trigo (24,9%), aveia (23,6%), cevada (23,1%), soja (9,7%), feijão 1ª safra (7%), mandioca (5,1%), feijão 2ª safra (4,9%), amendoim 2ª safra (3,9%), milho 1ª safra (1,1%), arroz (0,9%) e amendoim 1ª safra (0,7%). Com variação negativa, foram 14 produtos: batata-inglesa 3ª safra (- 19,4%), café conilon (- 15,2%), feijão 3ª safra (- 11,4%), algodão herbáceo (- 10,5%), triticale (- 10,5%), sorgo (- 10,2%), laranja (- 7,5%), cacau (- 7,4%), cebola (- 7,2%), milho 2ª safra (- 6,7%), cana-de-açúcar (- 2,5%), batata-inglesa 2ª safra (- 2,4%), café arábica (- 1,9%) e batata-inglesa 1ª safra (- 0,8%).
VBP
Produção valorizada
E
mbora, na média, os preços agrícolas tenham caído em relação a 2014, o VBP - Valor Bruto de Produção da agropecuária brasileira deve crescer este ano, influenciado pelas estimativas de safra recorde e recuperação dos preços das carnes em março, e alcançar R$ 481,6 bilhões, de acordo com dados da AGE/Mapa - Assessoria de Gestão Estratégica do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - em 2014, o Valor Bruto de Produção da agropecuária foi de R$ 476,2 bilhões. Na divisão por setores, as estimativas para 2015 indicam VBP de R$ 295,4 bilhões para a lavoura (61,3%) e R$ 186,2 bilhões para a pecuária (38,7%). Considerando as rgiões, a divisão será a seguinte: Sul, VBP de R$ 138,5 bilhões; Sudeste, R$ 128,3 bi; Centro-Oeste, R$123,6 bi; Nordeste, 49,3 bi; e Norte, R$ 26,9 bi.
Safra VII
Mais cana, mais álcool
O
Brasil vai colher este ano 654,6 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, 3,1% a mais em relação à temporada passada ( 634,8 milhões t). O anúncio foi feito em 13/4 pela Conab, ao divulgar seu primeiro levantamento do ano sobre a produção de cana na safra 2015/16. O estudo mostra também que a área plantada crescerá apenas 0,7%. Cerca de 56,2% da cana colhida será destinada à fabricação de etanol. Mesmo assim, a produção de açúcar deverá aumentar 5%, passando de 35,7 para 37,4 milhões de toneladas. maio 2015 – Agro DBO | 13
Notícias da Terra Economia
Seca ajuda a derrubar PIB
R
elatório do FMI - Fundo Monetário Internacional, divulgado em 14/4, mostra que o PIB - Produto Interno Bruto dos países que compõem o BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) deve crescer apenas 4,3% em 2015, contra 4,6% em 2014 e 5% em 2013. Os especialistas apontam como justificativas para o mau desempenho a desaceleração das economias da China (6,8% este ano e 6,3% previstos para 2016) e da Rússia (3,8% em 2015 e 1,1% em 2016) e o recuo do PIB do Brasil, que deve cair para 1% este ano. A seca, que prejudicou a distribuição de água e energia no país, é a principal causa do recuo da economia brasileira, segundo a instituição. Ainda no âmbito dos BRICS, a África do Sul espera crescimento de 2% este ano e 2,1% no ano que vem. A Índia é o país com melhor desempenho no grupo - as estimativas indicam crescimento de 7,5% em 2015 e em 2016.
Exportações
Primeiro trimestre ruim
O
ano de 2015 não começou bem para o agronegócio, no que diz respeito às exportações. Após dois meses decepcionantes (janeiro e fevereiro), com retração nas vendas externas, esperava-se uma reação em março, não confirmada, porém. O setor comemorou a retomada das exportações de açúcar, farelo de soja, suco de laranja, café, celulose e outros produtos em março, mas a queda expressiva nos embarques de soja e carnes no mês derrubou o saldo. As exportações do agro no primeiro trimestre (US$ 7,8 bilhões) diminuíram 1,1%, comparativamente ao primeiro período do ano passado. O saldo da balança foi positivo (US$ 14,6 bi), porém apresentou queda de 8,8%.
Café I
Café II
A
D
De vento em popa receita cambial com exportações de café em março cresceu 24,1% em relação ao mesmo mês do ano passado, fechando em US$ 552,3 milhões, de acordo com levantamento do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil. Em volume, a alta foi de 9,5% na mesma base comparativa. Foram embarcadas 3.046.656 sacas (verde, torrado & moído e solúvel), recorde histórico para o mês. O arábica respondeu por 80,6% das vendas do país no primeiro trimestre de 2015; o conilon, 10,6%; o solúvel, por 8,7%; e o torrado & moído, por 0,1%. No acumulado de janeiro a março de 2015, a União Europeia foi o principal mercado importador: comprou 57% do total embarcado pelo Brasil. 14 | Agro DBO – maio 2015
Demanda crescente e acordo com projeções da OIC – Organização Internacional do Café, a produção mundial no ano-safra de 2014/15 chegará a 141,9 milhões de sacas de 60 kg. Quanto à demanda, deverá superar com alguma folga as 149,3 milhões de sacas consumidas em 2014. O relatório de março da instituição, divulgado no mês passado, aponta aumento significativo da demanda mundial – no mínimo, 2,3%, média anual nas últimas quatro temporadas. Nesse período, o crescimento mais forte se deu nos mercados emergentes, com uma média de 4,6% desde 2011, em particular na Rússia, Coréia do Sul, Argélia e Turquia. Os países exportadores registraram incremento médio de 2,6%. O Brasil é o maior consumidor de café dos países exportadores, com 20,8 milhões de sacas em 2014, seguido pela Indonésia (4,2 milhões), Etiópia, (3,7 milhões) o México (2,4 milhões). Ainda segundo a OIC, os mercados mais maduros, como a União Europeia, estão relativamente estáveis, enquanto os emergentes, particularmente na África e na Ásia, registraram forte aumento no consumo.
Notícias da Terra Eucalipto I
Eucalipto II
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Transgênico liberado CTNBio – Comissão Técnica Nacional de Biossegurança aprovou no mês passado a liberação comercial de eucalipto transgênico, atendendo solicitação da FuturaGene Brasil Tecnologia Ltda, empresa de biotecnologia da Suzano Papel e Celulose. A espécie liberada é a Eucalyptus spp L., contendo um gene da planta Arabidopsis thaliana. Técnicos da FuturaGene disseram que o eucalipto modificado tem 20% mais de produtividade e poderá ser usado na produção de madeira e papel, entre outros itens. A CTNBio informou que a planta vinha sendo testada desde 2004 e foi avaliada quanto a aspectos agronômicos, segurança ambiental e possíveis efeitos danosos a abelhas.
Plantio aumenta chuva em regiões altas esquisa de doutorado realizada pela tecnologista Viviane Regina Algarve, do Inpe – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, assegura que a substituição da vegetação natural das encostas da Serra do Mar e da Serra da Mantiqueira por eucalipto aumenta o volume de chuva sobre as áreas mais altas. “Observamos que a mudança da vegetação natural por eucalipto nas encostas altera as trocas de energia entre a superfície e a atmosfera, modificando o padrão de circulação de vento que ocorre entre o vale e a montanha e, em razão disto, o transporte de calor e umidade para o topo das serras”. Segundo a pesquisadora Regina Alvalá, do Cemaden – Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais, o aumento da convergência de umidade sobre os topos das montanhas facilita a formação e alimentação de nuvens, nevoeiros e tempestades. “Como o eucalipto é uma vegetação de porte alto, absorve muita radiação e, com isso, altera os balanços de energia e de água entre a superfície e a atmosfera. Isso acaba culminando em um aumento do volume de chuvas”, disse Alvalá. Os pesquisadores analisaram séries históricas de dados de chuvas no período de 1961 a 1990, coletados em 25 estações meteorológicas distribuídas por municípios localizados próximos das serras.
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Notícias da Terra Tecnologia
Baixa inoculação no milho
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esquisadores da Embrapa constaram durante a realização do Circuito Tecnológico em Mato Grosso, realizado no mês passado em parceria com a Aprosoja/MT, que a inoculação de sementes – prática difundida na cultura de soja – ainda é pouco utilizada pelos agricultores nas lavouras de milho. De acordo com os dados coletados a campo, baseados em depoimentos dos agricultores, o índice de utilização chega a 50% na região oeste do estado. Na região sul, no entanto, apenas 4% dos entrevistados disseram que adotam a técnica. Nas regiões leste e médio-norte, não houve registro de inoculação no milho. Na opinião do pesquisador Anderson Ferreira, da Embrapa Agrossilvipastoril, o baixo uso da tecnologia deve-se principalmente à falta de conhecimento dos produtores sobre a disponibilidade de inoculantes para milho e à baixa percepção deles sobre os resultados gerados pela tecnologia. Anderson explica que, diferentemente da soja, em que é possível ver a formação de nódulos nas raízes, nas gramíneas as bactérias fixadora de nitrogênio
Pesquisa I
Feijão tolerante à seca
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esquisadores integrados ao Programa Nacional de Melhoramento Genético do Feijão-Caupi, liderado pela Embrapa Meio-Norte anunciam para 2017 a chegada ao mercado das primeiras cultivares tolerantes à seca. Dez linhagens do tipo grão sempre-verde submetidas a estresse hídrico no Piauí apresentaram produtividade em torno de 2 toneladas por hectare – nas variedades comerciais, a média, hoje, é de 1,1 tonelada/ha. A excelente produtividade ocorreu quando os genótipos de feijão-caupi receberam 190 milímetros de água, “um pouco a mais da metade da lâmina de irrigação que a espécie requer para as condições de solo e clima do semiárido. É um resultado fantástico”, comemorou Edson Bastos, da Embrapa Meio-Norte (PI). 16 | Agro DBO – maio 2015
ficam dentro da raiz. Não é possível identificar visualmente a diferença entre a planta inoculada e outra sem o tratamento. A diferença se dá apenas na produtividade, 5% a 10% maior nas lavouras inoculadas. “Como o custo da inoculação é de R$ 7 a R$ 10 por hectare, o aumento da produção de 5 a 10 sacas de milho nesta mesma área não só paga o investimento, como traz um lucro maior para o agricultor”, diz o pesquisador. A bactéria responsável pela fixação biológica de nitrogênio em milho é o Azospirillum brasilense. Além de fornecer nutrientes para a planta, ela produz ácido indol-acético (AIA), hormônio que auxilia no crescimento da raiz, beneficiando, sobretudo, lavouras semeadas no fim da janela de plantio. Com maior sistema radicular, a planta aumenta a capacidade de absorção de água, suportando melhor possível déficit hídrico. No caso da soja, a inoculação com bactérias do gênero Rhizobium dispensa a necessidade de adubação nitrogenada. No milho, mesmo com a inoculação é preciso colocar nitrogênio na lavoura.
Pesquisa II
Arroz contra AIDS
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egundo artigo publicado no mês passado no site do Plant Biotechnology Journal, dos Estados Unidos, o endosperma (tecido nutritivo presentes nas sementes) de arroz pode produzir um forma potente de anticorpo monoclonal capaz de neutralizar o HIV, vírus transmissor da AIDS. Dois pesquisadores da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, André Melro Murad e Elíbio Leopoldo Rech, são coautores da publicação, junto com cientistas de outros países. “As plantas produzidas sob condições de contenção constituem biofábricas eficientes para a produção economicamente viável de medicamentos. Sementes de cereais como o arroz são particularmente de interesse, pois permitem a produção de proteínas farmacêuticas em larga escala”, afirma Rech. Os experimentos de imuno-
localização em sementes de arroz mostraram também que os anticorpos se acumulam predominantemente nos vacúolos utilizados para o armazenamento de proteínas em plantas, um indicativo de que a origem dos anticorpos pode estar numa estrutura chamada retículo endoplasmático, que é a parte da célula responsável pela síntese de proteínas e lipídeos.
Notícias da Terra Agroquímicos
Corte de 50% nos defensivos
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estes realizados em propriedades particulares do Paraná mostram que, com a adoção do MIP/Soja – Manejo Integrado de Pragas na cultura de soja, é possível reduzir o uso de agroquímicos, aumentar a eficiência do controle de pragas e, consequentemente, a renda do produtor, além de reduzir o impacto ambiental. Os benefícios da tecnologia foram demonstrados em experimentos conjuntos feitos pela Embrapa Soja e Emater-PR. As duas instituições instalaram, na safra 2013/14, cerca de 50 unidades de referência em propriedades do norte e do oeste do Paraná para avaliar a eficiência do MIP. Nessas áreas, com tamanhos entre quatro e 270 hectares, as pulverizações foram reduzidas de cinco (média do estado) para 2,6 aplicações, “Os resultados mostram que, nas unidades de referência, foi o baixo custo para a realização do controle de pragas e a estabilidade na produtividade. Considerando o custo de utilização de inseticida por hectare (R$ 54,10) e o serviço de pulverização (R$ 24,79), o gasto total com o manejo de pragas com a prática do MIP foi de R$144,57, contra
R$ 302,06 em áreas que fizeram o manejo convencional. “Isso significa que, nas áreas de MIP, o investimento foi reduzido pela metade”, argumenta o pesquisador Osmar Conte, da Embrapa Soja. Segundo ele, a produtividade entre as duas áreas foi bastante similar, com pequena vantagem produtiva nas áreas em que se praticou o MIP. De acordo com levantamento, o Brasil utilizou aproximadamente 140 milhões de litros de inseticidas ao custo de cerca de US$ 2,5 bilhões para o controle de pragas apenas da soja na safra 2013/14.
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Notícias da Terra Novo conceito
Aplicativo de celular com interpretação de análise foliar
CheckFolha Mobile identifica deficiências de nutrientes no início do ciclo da soja e estimula o produtor a analisar as folhas com mais frequência. A Microquímica, empresa brasileira que atua na produção e comercialização de fertilizantes, inoculantes e agroquímicos, lançou o CheckFolha Mobile, aplicativo disponibilizado de forma gratuita para dispositivos com sistemas Android ou IOS. Com a ferramenta o produtor
pode cadastrar os resultados numéricos de laboratório e obter gráficos claros e objetivos que indicam os nutrientes que requerem maior atenção e ações corretivas. O processo, que demandava tempo e dedicação de técnico especializado será simplificado, realizando comparações com a base de dados da literatura e cruzamentos de análises de áreas com altas produtividades. Além de facilitar a interpretação o CheckFolha Mobile apresenta também o modo para análises antecipadas, oriundas de lavouras jovens (com 4 trifólios ou cerca de 20 dias após o plantio). Utilizando o módulo para análises antecipadas é possível detectar com antecedência e corrigir rapidamente problemas nutricionais mais significativos, aspectos que pelo método tradicional seriam detectados na pré-florada ou ao se tornarem percebidos a olho nu, quando é praticamente inviável a correção do dano. O software já era disponibilizado no site da empresa, mas a versão mobile representa um importante avanço já que produtores e técnicos terão a possibilidade de utilizar a ferramenta mesmo estando off-
-line durante atividades na lavoura. Apenas para realização do download e cadastramento é necessária a conexão com a rede, mas depois todas as funcionalidades poderão ser utilizadas off-line, facilitando a busca de informações e soluções. Para o gerente de marketing da Microquímica, Anderson Nora Ribeiro, a ferramenta também vai estimular os produtores a fazerem a análise foliar com maior frequência. “É importante isso, pois vemos que não vem sendo realizado. A análise foliar permite constatar problemas nutricionais com um grau de precisão muito elevado e geralmente antes de haver dano irreversível à produção”. Para utilizar o CheckFolha Mobile é preciso baixar o aplicativo pelo Google Play ou Apple Store, e instalar no dispositivo móvel, além de fazer um cadastro para ter acesso a todas as funcionalidades. Após registrar os resultados de uma análise foliar, além de visualizar gráficos e tabelas de fácil entendimento, são apresentadas soluções que podem auxiliar o agricultor na correção dos problemas detectados.
Lançamento
Jacto lança colhedora de Café K 3500 Um novo conceito de mecanização para a cafeicultura brasileira. O pré-lançamento da colhedora aconteceu no dia 14 de abril, em Pompéia-SP, nas dependências da Jacto e tem como novidade o fato de trabalhar o ano todo nas operações da cultura cafeeira (colheita, pulverização e poda) em espaçamentos tradicionais e adensados, oferecendo ao produtor maior competitividade. Após 36 anos do lançamento da primeira colhedora de café do mundo, que possibilitou a mecanização da cultura, a Jacto inova novamente 18 | Agro DBO – maio 2015
e apresenta a K 3500: uma máquina de múltiplo uso, desenvolvida para trabalhar durante todo o ano realizando as operações de colheita, pulverização e poda. O equipamento é um veículo automotriz no qual é possível acoplar, individualmente, e de forma modular, os sistemas de colheita, pulverização, poda e outros que poderão ser desenvolvidos, por se tratar de uma máquina multiuso. Ao se encerrar o ciclo de colheita, o produtor poderá trocar o sistema de colheita pelo sistema de pulverização,
por exemplo. A K 3500 foi desenvolvida para trabalhar em plantios tradicionais e também nos plantios adensados com até 2,50 metros entre linhas, garantindo o trabalho do equipamento durante todo o ano, explica Valdir Martins, diretor comercial da Jacto. O módulo colheita conta com um novo sistema de derriça que foi desenvolvido para que equipamento tenha o máximo de desempenho e baixos índices de danos às plantas. Os mesmos são montados sobre um novo sistema de ajuste de aber-
Notícias da Terra tura que além de facilitar a limpeza, possibilita a rápida adequação do equipamento aos diversos portes de plantas. Conta também com um sistema de ajuste simples que pode aumentar a capacidade de derriça em até 10%. Durante a colheita, o café é armazenado em dois reservatórios de 1.500 litros e podem ser descarregados sem a interrupção da atividade, ou seja, a máquina não para de colher para descarregar, o que representa redução de custos com a frota de tratores e carretas. Em fase final de desenvolvimento, estão os sistemas de pulverização
e poda. Para o sistema de pulverização o equipamento permite que as aplicações sejam realizadas em duas linhas simultaneamente e com redução de até 50% no volume de calda por ha, com aumento do rendimento operacional do equipamento. “Reforçamos com esse lançamento que a empresa mantém vivos seus valores de atuar com inovação, fator de sucesso para os segmentos de negócio nos quais ela participa”, explica Fernando Gonçalves Neto, presidente da Jacto. Em seu lançamento a K 3500 tem um preço de venda de R$ 875 mil.
Debate
Fórum Abisolo
Congresso
Seringueira IV Congresso Brasileiro de Heveicultura será realizado de 24 a 26 de Junho de 2015 em São José do Rio Preto (SP), com promoção da Cedagro e Lateks, informa Gilmar Dadalto Presidente do Cedagro. Contatos: 27 3324.5986 ou por e-mail: gdadalto@cedagro.org.br
VI Fórum Abisolo repetiu o sucesso das edições anteriores e reuniu 1.500 pessoas da indústria de nutrição vegetal, em torno do tema principal, “Fertilizantes Especiais: um Novo Patamar de Produtividade na Agricultura”. O Fórum Abisolo aconteceu em Ribeirão Preto, dias 15 e 16 de abril último. “Em virtude até do momento econômico que o país vive, o evento nos surpreendeu positivamente. As empresas vieram, e o fluxo de interessados foi até superior ao da edição do V Fórum. Os visitantes ficaram satisfeitos com as palestras e com os temas abordados. Com isso, nossos objetivos, que eram o de difundir conhecimento, trocar ideias sobre inovação e novas tecnologias e tratar de gestão, foram alcançados”, avalia Clorialdo Roberto Levrero, presidente da Abisolo. Na opinião de Gean Carlos Silva Matias, diretor técnico de Fertilizantes Or-
gânicos, Condicionadores de Solo e Substratos para Plantas da Abisolo, o Fórum deixou, como legado, os resultados de pesquisas que embasam e justificam o uso dessas tecnologias para o aumento da produtividade na agricultura. “Um exemplo disso foi a palestra sobre bioestimulantes, que mostrou que existem formas adequadas de avaliar os ganhos de produtividade”. O evento contribuiu para trazer informações do mercado, com relação a dados econômicos e de como o setor está estruturado, além das suas perspectivas de crescimento. “Isso gerou indagações sobre o momento ideal para investir no crescimento das indústrias de fertilizantes especiais, assim como a forma que esse setor vai se direcionar nos próximos anos”, diz Matias. “Cada vez mais, notamos que o aumento de produtividade vai estar associado ao uso e ao manejo correto das novas tecnologias.
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Capa
A soja abre caminho Na safra 2015/16, os mato-grossenses terão sementes com padrão mínimo de 85% de germinação, acima dos 80% estabelecidos por lei. Marianna Peres
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Jairo Lustoza/Agência Pauta Pronta
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Brotos de soja recém-germinados para teste de viabilidade e vigor em sementeira de Rondonóplis (MT)
desafio para ampliar o nível mínimo de germinação nas lavouras partiu da Aprosoja/ MT – Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso, atendendo apelos recorrentes de produtores rurais, frustrados com a queda de produtividade nas lavouras. Desde o início do ano 2.000, como mostrou a revista Agro DBO na edição de abril (leia “O que há com a produtividade?”, a partir da página 44), a produtividade da cultura está estagnada no estado – a área plantada aumentou 55% de lá para cá, enquanto o rendimento médio cresceu apenas 3%, contra 46%, por exemplo, no Rio Grande do Sul. Há pelo menos quatro ou cinco safras a qualidade das sementes passou a ser constantemente questionada no campo e pela Aprosoja/MT, especialmente sob os aspectos germinação e vigor. Numa iniciativa inédita no país, capaz, segundo expectativas, de multiplicar a produtividade na lavoura e, por tabela, chacoalhar o mercado sementeiro, a diretoria da associação oficializou à SFA/Mapa/MT – Superintendência Federal de Agricultura, Pecuária e Abastecimento em Mato Grosso o pedido para se elevar o padrão mínimo federal para 90% – atualmente, o índice previsto em lei é de 80%. Ao invés de gerar polêmica com o segmento sementeiro, como se esperava, a proposta da Aprosoja/MT junto ao SFA/Mapa resultou numa parceria com a Aprosmat – Associação dos Produtores de Sementes do Estado de Mato Grosso, que se comprometeu a ofertar para a nova safra estadual sementes com padrão mínimo de 85% e manter aberto o canal de discussão para buscar o percentual desejado de 90%. “Lançamos o desafio para a cadeia, a indústria sementeira percebeu nisso uma grande oportunidade e contrapôs o índice de 85%, com o qual ampliaremos automaticamente o potencial de vigor. Quem sabe esse padrão estadual possa dirigir os esforços dos outros estados nessa mesma direção e em breve tenhamos um novo padrão nacional”, diz o presidente da Aprosoja/MT, Ricardo Tomczyk. Ele explica que, quando o índice de germinação das plantas por metro linear fica abaixo do estabelecido ou a lavoura fica com menos plantas do que o desejável para atender à estratégia estabelecida, se faz necessário gastar mais sementes para ter a população adequada. “De qualquer modo, significa perda para o produtor; com menos plantas haverá menos grão e, para corrigir essa falha, ele terá que aumentar o desembolso”. Foi o que aconteceu, por exemplo, com o produtor Éder Bueno, de Ipiranga do Norte (450 quilômetros ao norte de Cuiabá). Segundo seus cálculos, perdeu R$ 150 mil na safra 2014/15 pela produtividade frustrada. Ao invés da média de 59 sacas por hectare (longe das esperadas 62 sacas), ele finalizou o ciclo com 43. A queda entre o previsto e o realizado decormaio 2015 – Agro DBO | 21
Capa O mercado de sementes do Brasil movimenta R$ 8 bilhões ao ano. É o terceiro do mundo, atrás dos Estados Unidos e da China. situada em Lucas do Rio Verde (MT), para saber, por meio de laudos, o que tem em mãos antes de semear. “Se todo produtor pudesse fazer isso...”. Ele considera a maior parte das sementes boa, mas os lotes ruins prejudicam demais o produtor. “Imagine o que é ter um conjunto de máquinas de mais de R$ 2 milhões para plantar e não plantar semente de qualidade”. Para ele, a mudança no padrão de germinação proposta pela Aprosoja/MT atende à antiga demanda do campo. “Para selar a questão”, propõe a criação de uma tabela de vigor da semente. “Uma tabela de controle com níveis de vigor entre 80% e 90% seria ideal”, argumenta, reconhecendo, no entanto, que vigor é algo difícil de ser mensurado.
Para a Aprosoja, a ampliação do padrão de germinação vai aumentar a produtividade devido à garantia da qualidade do insumo.
Novo Padrão Maior produtor de grãos e fibras do país, Mato Grosso é também o principal produtor de sementes de soja. Na safra 2013/14, as sementeiras do estado ofertaram 254 mil toneladas (52% da demanda local), conforme balanço da Abrass – Associação Brasileira dos Produtores de Sementes de Soja. Ao longo da temporada, foram coletadas 568 amostras, 9,2% das quais estavam fora do padrão exigido por lei. No entanto, houve casos de apenas 10% de germinação – de 100 sementes lançadas, apenas dez emergiram. “Não estamos e nem podemos dizer que a semente de Mato Grosso não tem qualidade e, sim, que a semente plan-
R R Rufino/ Embrapa
reu da falta de qualidade da semente utilizada, segundo ele. “Sem a qualidade prometida, a lavoura rendeu menos. Tive diferenças de stands (padrão de desenvolvimento das plantas, prejudicado, no caso, por problemas de germinação ou vigor abaixo do esperado). O prejuízo só não foi maior porque fui ressarcido em R$ 50 mil, pagos em sementes. Afinal, tive parcelas com menos de 70% de germinação”. Em sua opinião, o problema é que, de maneira geral, o produtor só percebe a falta de qualidade desse insumo na hora do plantio, ou pior ainda, ao constatar no campo a baixa germinação e falta de vigor das sementes. “Aí não dá tempo para trocar, a gente usa o que tem, aumenta a população das plantas para cobrir as falhas das linhas e a lavoura não reage como o esperado. Então, temos diferentes níveis de desenvolvimento das plantas e, consequentemente, mais desembolso. Quem consegue semente de última hora compra de fora e fica mais suscetível aos problemas”. Segundo Bueno, boa parte dos questionamentos em relação à qualidade das sementes poderia ser evitada se houvesse maior fiscalização. “Falta gente para isso e, como o estado demanda muita semente, muita coisa vem de fora e sem qualidade”. Depois das perdas dessa safra, ele mudou de fornecedor. Agora, está atrás de empresas bem conceituadas. Seu plano é, tão logo cheguem as sementes compradas para a safra 2015/16, enviar amostras à Fundação Rio Verde,
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Abrass/Divulgação Jairo Lustoza/Agência Pauta Pronta
tada no estado tem sérios problemas de qualidade”, afirma o diretor técnico da Aprosoja/MT, Nery Ribas, referindo-se às análise feita pelos pesquisadores do Circuito Tecnológico, evento que percorre os municípios produtores há seis anos para avsliar a situação das lavouras. “O que a gente pagava com duas sacas de soja em grão para adquirir uma saca de semente, agora demanda quatro, cinco sacas. Sabemos que uma série de itens, como a biotecnologia embutida, majorou o custo de produção das sementeiras, mas toda essa agregação de valor tem feito pouca diferença no campo”. Justificando a necessidade do novo padrão de germinação, Ribas alega que de nada adianta o produtor dispor de máquinas modernas e precisas, fazer grandes investimentos, cumprir, enfim, todas as recomendações agronômicas, se não houver semente de qualidade. Resposta imediata Para a Aprosoja/MT, não há dúvidas de que a ampliação do padrão para 85% trará resposta imediata sobre a produtividade da soja, “por ter garantida a qualidade do insumo”. De acordo com o pesquisador da Embrapa Soja, José de Barros França Neto, presidente da Abrates – Associação Brasileira de Tecnologia de Sementes, lavouras originadas de sementes de alta qualidade resultarão no estabelecimento de uma população de plantas em número adequado e com distribuição uniforme. “Essas plantas terão alto desempenho, ou seja, serão mais vigorosas e com maior potencial produtivo. Dados de pesquisa comprovam que, em nível de parcelas experimentais, podem-se obter aumentos de produtividade variando de 25% a 35% somente pelo uso de sementes de alto vigor”. Segundo ele, sementeiros, sojicultores e consumidores
Análise de sementes em laboratório e grãos submetidos ao teste de tetrazólio (no alto, à direita) para avaliação fisiológica.
finais vão ganhar com essa iniciativa dos mato-grossenses. “Vale destacar que o sucesso de qualquer lavoura, seja soja, milho, feijão, algodão ou outro cultivo, depende basicamente de dois fatores primordiais: do uso de sementes de alta qualidade e da utilização de semeadoras de precisão”. Conforme o vice-presidente da Aprosmat, Gladir Tomazelli, a aceitação da proposta de ampliação do percentual mínimo de germinação se baseia na confiabilidade que o setor sementeiro tem sobre o produto ofertado. “Não vemos nenhum problema em colocar no campo sementes com esse novo padrão, porque estamos acima disso”. Ele garante que a semente de Mato Grosso tem qualidade. “Problemas existem, sejam gerados pela desatenção, como pelo clima. Para minimizar essas adversidades e mostrar que estamos atentos ao que é apontado pelo campo, vamos
O pesquisador José de Barros França Neto diz que o sucesso na lavoura depende de dois fatores fundamentais: sementes de alta qualidade e uso de semeadura de precisão.
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Capa A SFA alerta: “Sementes abaixo do padrão de 85% não poderão entrar no mercado. As empresas estão preparadas para isso?”. lançar em breve um selo de qualidade para atestar e certificar nossa produção. Queremos a excelência. O que fez Mato Grosso se tornar esse gigante que é no agronegócio foi o investimento aplicado pelos produtores de sementes. Somos os primeiros a investir em tecnologia, a apostar em cultivares e só depois repassar aos produtores”. Tomazelli explica que, na estrutura operacional da sementeira, nada muda ou precisa mudar para se elevar o padrão de germinação. “O que tem de ser levado em consideração para se promover essa alteração é o conhecimento técnico do produtor de sementes, a capacidade que sua equipe tem de produzir sementes de qualidade, a capacidade que tem seu armazém de resguardar todas as características do insumo e a seriedade que o sementeiro tem em fazer e entregar um produto de qualidade. Semente boa se faz no campo. O armazém simplesmente conserva”. Apesar de crer na qualidade do insumo ofertado pelos seus associados, o vice-presidente da Aprosmat frisa que o novo padrão não é uma panacéia. “O principal problema enfrentado em relação às sementes está na qualidade da armazenagem. Sementes são seres vivos e, quando ficam 30, 40 ou 50 dias armazenadas em locais não ideais e sob alta temperatura, sofrem queda de germinação e vigor. “É importante que se consiga distinguir qual é o real entrave em relação à qualidade desse insumo. Na maioria dos casos, a semente sai da sementeira com qualidade e a perde na armazenagem posterior”. É importante também, segundo ele, que o produtor com-
pre sementes de quem tenha condições de oferecer qualidade e equipe técnica capaz de orientá-lo sobre o uso delas. “Quando eles compram uma semente que já passou de mão em mão, enfrentando dois ou três modelos de armazenagem, ela perde a identidade, porque por mais que haja uma etiqueta nominando a produção, a má qualidade não pode ser atribuída à origem”. Tomazelli expõe uma realidade do setor: “O produtor de soja não conhece o produtor de sementes. O ideal é que saiba onde fica, como produz, suas dificuldades, conheça sua equipe técnica, saiba o que ele oferta ao mercado. Quando isso acontecer teremos uma capacidade grande de detectar com exatidão os problemas e como resolvê-los”. Sobre o custo elevado das sementes, assegura que os valores atuais estão dentro do nível histórico, porque o germoplasma é o mesmo. “O que agregou valor foi a taxa de tecnologia, os royalties. Esse plus é algo que o sementeiro tem de cobrar do agricultor e repassar aos detentores da tecnologia. Não ficamos com esse valor, ficamos com o valor da semente”.
Nélson Picolli contesta as críticas aos produtores, responsabilizados por sementeiras por descuidos em esticagem.
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Polêmica estabelecida Para o diretor Administrativo e Financeiro da Famato – Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso, Nélson Picolli, produtor em Sorriso (460 km ao norte de Cuiabá), jogar a culpa de perda de qualidade sobre o agricultor é um argumento totalmente falho e errôneo por parte dos sementeiros. “Sou produtor rural há quase 30 anos. No início da atividade, fui sementeiro. Como eles explicam que, ao comprar toda a semente para minha propriedade, ir buscar, trazer vários lotes no mesmo frete, armazenar tudo sob as mesmas condições e, ao colocar no campo, ver germinações perfeitas e vigor alto em alguns lotes e má germinação e vigor baixo em outros?. É óbvio que a colocação dos sementeiros de que a culpa é do agricultor não se sustenta. Se dependesse da condução e estocagem que ele faz, todos os lotes dariam o mesmo resultado ruim”. Piccoli admite problemas de estocagem, mas no passado. Segundo ele, havia quem guardasse sementes debaixo de lona. “Hoje, 95% das propriedades têm condições adequadas para trazer as sementes e mantê-las estocadas por 30 a 40 dias até o plantio”. Como frisa, 90% dos casos de relato de problemas com o insumo foram originados na sementeira. “O sementeiro tem consciência do que eu estou falando. Em casos de problemas com clima, que tira a qualidade das sementes, ao invés de descartar essas parcelas com problemas, muitos deles as colocam no mercado, de for-
ma direta ou indireta, ao repassar para terceiros comercializarem”. Segundo o chefe do serviço de fiscalização de insumos agrícolas da SFA/Mapa/MT, Sidnei Cruz, fazer da iniciativa mato-grossense um modelo nacional é possível, mas vai demorar para acontecer, se de fato ocorrer. A proposta da Aprosoja/MT de aumentar o percentual mínimo de germinação foi encaminhada ao Mapa e está em debate nas comissões de sementes e mudas. “A representatividade de Mato Grosso pode, sim, alterar esse padrão, mas não temos como mensurar o alcance da iniciativa Brasil afora. Mato Grosso pode adotar um novo padrão, mas não decretar isso por meio de lei estadual, porque não se pode opor à federal”, alerta Cruz. A partir do momento em que as sementeiras adotarem o padrão de 85%, elas serão fiscalizadas por esse novo percentual. “Todas que tiverem sacarias e documentos dizendo que o nível mínimo é 85% terão de responder por isso e serão autuadas se não garantirem o percentual”, avisa. O fiscal federal da SFA/Mapa/MT chama à atenção para duas questões: a primeira, para a nova demanda que será criada no estado com a alteração. “Será que as sementeiras darão conta de sustentar isso?”. A segunda tem a ver com o volume de descarte. “Tudo o que não tiver a conformidade dos 85% não poderá entrar no mercado, o que pode ampliar custos de produção. As empresas estão preparadas para isso?”. Todo ano, amostras de sementes são recolhidas pela fiscalização da SFA. Os resultados apontados por laboratórios oficiais mostram que, do universo analisado, os índices de conformidade da semente mato-grossense superam o padrão mínimo. “Não defendemos a qualidade da semente de Mato Grosso, nem o
A semente é, hoje, o principal insumo para aumentar a produção e a produtividade.
produtor, mas nossas análises comprovam essa realidade no estado. Qualidade do insumo é uma obrigação. O que estamos fazendo nesse momento é construir um processo independente de julgamentos. Temos de equacionar os problemas e trazer soluções”. Mato Grosso possui cerca de 3 a 3,5 mil campos de produção de sementes. O comércio é fiscalizado pelo Indea/MT – Instituto de Defesa Agropecuária do Estado de Mato Grosso e o uso das sementes, bem como o trânsito interestadual e as importações e exportações, pelo Mapa. “De fato há um pedido do governo matogrossense para fiscalizar, por meio do Indea, o uso das sementes e assim contribuir para o combate à pirataria e controle de utilização das sementes salvas, que são de uso exclusivo do produtor”. Para o secretário executivo da Abrass – Associação Brasileira dos Produtores de Sementes de Soja, Leonardo Machado, a entidade vai contribuir para o fomento dessa discussão em âmbito nacional, porque, mais do que elevar o limite mínimo de germinação, o debate abre espaço para se modernizar a legislação que trata da produção de sementes no país. “É preciso atualizar o sistema de produção, uso e comercialização porque todo mundo quer produtividade. A semente é, hoje, o principal instrumento para aumentar lucro e rendimento. Esse insumo embute genética melhorada, transgenia, tratamentos com fungicida e herbicida e isso tudo precisa ser acompanhado por uma legislação mais moderna e eficaz”. Na carona das discussões, a Abrass prepara um manual de boas práticas de utilização das sementes. “Uma lavoura bem estabelecida é o primeiro passo para uma boa produtividade e isso passa invariavelmente pela qualidade das sementes”, endossa o presidente da Aprosoja/MT. maio 2015 – Agro DBO | 25
Almanaque
Você sabia? Cultura e conhecimento não são a mesma coisa que inteligência, são apenas experiências. Inteligência é distinguir o certo do errado. Hélio Casale *
* O autor é engenheiro agrônomo, consultor e cafeicultor, e membro do Conselho Editorial da Agro DBO.
Conceitos Eficiência x eficácia – o eficiente é aquele que joga bem, se esforça, dá o sangue sem consequência, o eficaz é aquele que marca o gol, aquele que fatura. Formação x informação – formação se consegue com anos de estudo, com aplicação; já informação, apenas com leitura ou audição de textos superficiais. Ignorância x burrice – ignorância é o desconhecimento natural de um fato, de uma prática; já burrice é conhecer o caminho certo e trilhar pelo errado, insistir no erro. Conversa x diálogo – conversa, quando o outro põe atenção; quando realmente ouve é diálogo. Vaidoso x orgulhoso – o vaidoso se acha, faz pouco parecendo que fez muito, carece de plateia, já o orgulhoso é aquele que realmente faz pensando no bem dos outros e se sente feliz quando atinge o objetivo. Ouvir x escutar – ouviu, entrou por uma orelha e saiu pela outra. Escutar é receber a mensagem e colocá-la na prática do dia a dia. Resistência x tolerância – o resistente não se importa com as inclemências do tempo, já o tolerante tem limites definidos; passou um pouco a dose de um herbicida, por exemplo, a planta sucumbe. Pulverização x molhação – pulverização bem-feita é aquela que usa baixo volume de calda, atinge todas as partes das plantas, recobrindo-as com gotas estacionadas lado a lado, sem escorrimento; já molhação utiliza elevado volume de calda, gotas de grande diâmetro e que escorrem atingindo o solo.
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Irrigação x molhação – irrigação é água dosada em volume adequado à disposição das plantas; já molhação é colocar água sem medir. Engenheiro agrônomo - é o profissional de agronomia que trabalha medindo doses, as conse quências dos seus atos; o agrônomo mede às vezes, já o gromo não mede nada, apenas chuta, é praticante da achologia. As leis que regem o agro: Lei do Mínimo – enunciada em 1840 pelo sábio e químico alemão Justus Von Liebig, assim: A produção é diretamente proporcional ao nutriente que se encontra em menor quantidade à disposição da planta. Lei do Máximo – enunciada pelo russo Peterburguiski, assim: Para cada fase de desenvolvimento da cultura existe um nutriente que é exigido em maior quantidade. Lei dos acréscimos decrescentes: os aumentos de produção são menores à medida que se ajustam os fatores de produção. Lei da economia: quem não põe, não tira. Lei básica da ecologia: na natureza não existe refeição grátis. Lei da oferta e da procura: Maior oferta, menor procura, preço caindo; menor oferta, maior procura, preço subindo. Lei da vida: Na adversidade, sempre há uma oportunidade (Prof. Wladimir Antonio Puggina). Crise: Toda crise é individual (João Carlos Muniz). Regra básica para praticar qualquer atividade agrícola – medir, medir, medir, para produzir eco-
nomicamente, sem poluir, sem destruir. (Hélio Casale) As forças mais poderosas que agem sobre os humanos: Hábitos, Instinto, Tradição, Achologia e Cotovelol (Inveja). O pai da química moderna = Justus Von Liebig, químico alemão, nascido em 1803 e falecido em 1873. Enunciou a Lei do Mínimo e fez a primeira batida de Superfosfato Simples. O pai da Ecologia Moderna = Eugene P. Odun, nascido em 1913 e falecido em 2003 aos 100 anos. Zoólogo, ecólogo e professor emérito da Universidade da Geórgia, nos EUA. O pai da Fisiologia – Julius Von Sachs, botânico alemão, nascido em Birlau em 1832 e falecido em 1897. Fundador da moderna ciência experimental e fisiologia das plantas. Foi dos primeiros a estudar a estrutura molecular das células dos tecidos vegetais e o processo da fotossíntese. Principais causas do estresse seja ele biótico ou abiótico: Bióticos – insetos, fungos, vírus, bactérias, nematoides, protozoários. Abióticos – temperatura alta, temperatura baixa, disponibilidade de água no solo, falta de oxigênio, disponibilidade de nutrientes em equilíbrio. Características do vendedor e eficácia: Seriedade no negócio = sobrevida longa. Pequenas mentiras = sobrevida média. Grandes mentiras = sobrevida curta. Errata – diferentemente do publicado na edição de abril da Agro DBO, Piatã é seleção dentro da Brizantha, e não da Ruziziensis.
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Entrevista
“Na soja, logo teremos médias de 100 sc/ha”
A
afirmação é do engenheiro agrônomo Orlando Carlos Martins, do CESB – Comitê Estratégico Soja Brasil, diante dos resultados parciais do concurso organizado pela entidade, o Desafio Nacional de Máxima Produtividade da Soja, versão 2015, e que mostra todos os 10 primeiros coAgro DBO – Temos observado que nos últimos 10 anos as médias de produtividade da soja não aumentaram, andam estacionadas nas 50 sc/ha. A que fatores você atribui isso? Orlando Martins – Nós também temos essa observação. Desde meados dos anos 1970 até o início dos anos 2.000 tivemos um aumento constante e linear dessas médias. Saímos de 25 sc/ha para 50 sc/ha nesse período, de mais ou menos 25 anos. De 2002 para cá estacionamos nessa média. O fator que atribuímos como responsável por 28 | Agro DBO – maio 2015
locados com médias superiores a 110 sacas, sendo que o atual primeiro colocado já contabilizava a impressionante média de 140 sc/ha. Poucos esperam mudanças no ranking deste ano, pois a colheita já se encaminha para o encerramento. O CESB é uma entidade sem fins lucrativos, composta por pesquisadores e profissionais que trabalham com soja. É qualificado como uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), reconhecido desde 2009. Nos concursos do CESB o ganhador leva como prêmio uma viagem aos EUA para conhecer áreas produtoras de soja e trocar ideias com outros produtores. Orlando Martins não afirmou, sequer insinuou, mas é possível que dentro em breve sejam os americanos quem darão como prêmio aos ganhadores de seus concursos, viagens de estudos ao Brasil. Após palestra proferida no VI Fórum Abisolo, realizado em Ribeirão Preto no mês passado, Orlando Martins concedeu entrevista ao jornalista Richard Jakubaszko, editor executivo da Agro DBO, ainda na condição de presidente do CESB (ele será substituído pelo diretor técnico da Aprosoja, Nery Ribas), quando comentou os resultados parciais do concurso deste ano. Martins, 51, torcedor do Santos F.C., é consultor agronômico desde que se formou em 1985 na Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, e diretor da SNP Consultoria, em Dourados (MS).
essa não evolução da melhoria das médias, é que ela coincide com a entrada da ferrugem asiática no Brasil. As médias chegaram a cair logo na entrada da ferrugem, voltou aos patamares de antes, mas não voltou a crescer. Agro DBO – Nos anos 1970 quando a média era de 25 sc/ha, os concursos de produtividade atingiam mais de 40 sc/ha. Hoje, com a média no campo de 50 sc/ha os concursos já apresentam ganhadores com 100 sc/ha ou mais. Até onde vai esse aumento?
Orlando Martins – Os concursos e as produtividades médias vão nos dizer onde estão esses limites. Temos agora o concurso em andamento onde o ganhador provisório atingiu 140 sc/ha, enquanto nos EUA o ganhador do último concurso obteve 174 sc/ha. A diferença é que nos EUA, nessa área de concurso, o ganhador utilizou 700 kg de N por ha. Ou seja, é uma ação feita para ganhar o concurso, mas isolado de uma situação real. No concurso no Brasil o CESB não exige e nem proíbe ações desse tipo, mas os produtores não usam de ar-
tifícios como esse, que é artificial, usa-se apenas a inoculação para a fixação do nitrogênio. São produtividades que deixam uma boa lucratividade quando elas ocorrem. Agro DBO – No concurso brasileiro deste ano, com todos os 10 primeiros lugares com mais de 110 sc/ ha, a que você atribui esse salto? Orlando Martins – Fundamentalmente, atribuímos ao aumento do conhecimento dos produtores em relação a um bom manejo. O agricultor entra nesse concurso a partir do momento em que ele domina o manejo, e a partir daí ele obtém boa produtividade, depois tem a troca de ideias com outros produtores, e aí ele começa a pensar em melhorar ainda mais. É esse o espírito do concurso, as viagens, a troca de ideias, para que possamos alavancar melhores médias. Agro DBO – Qual é o peso que os técnicos do CESB atribuem às sementes transgênicas nos ganhos de médias de produtividade obtidos? Orlando Martins – Quando a gente fala em OGM hoje em dia, falamos em resistência a herbicidas e em resistência a insetos. Muitos dos ganhadores têm usado sementes GM nos concursos, mas eu não diria que a resistência por si só é o fator que leva a uma produtividade mais alta. Devemos entender que os OGMs quando chegaram aqui, vindos dos EUA, elas trouxeram também todo o melhoramento genético dos americanos feitos nas últimas décadas. Enquanto não existiam os OGMs no Brasil nós estávamos fazendo melhoramento genético para resistência a solos ácidos do Cerrado, a climas mais quentes, plantas com extensão de vagem mais alta porque os nossos solos e áreas não eram uniformes. Os americanos fizeram melhoramento genético para aumentar a produtividade. Então, nós herdamos esse potencial de produtividade quando passamos a usar os OGMs.
Agro DBO – Tivemos nesta safra 2014/15 uma influência negativa do clima, choveu demais ou de menos em várias regiões, e isso baixou as médias de produtividade. Mas há estudos e afirmações de vários especialistas de que, em condições normais de clima, existiria um potencial genético para melhorar muito as médias de produtividade. É verdadeiro isso? Orlando Martins – Acredito que procede isso. A parte da genética tem hoje um potencial bem maior do que aquele que estamos explorando, e, portanto, não estamos usando todo o potencial genético disponível. Tanto isso é verdade que, do ponto de vista genético, estamos conseguindo acima de 100 sc/ha, enquanto lavouras comerciais obtém em torno de 50 sc/ha. Agro DBO – Por que isso? Orlando Martins – O problema está na gestão da lavoura pelo agricultor. Ele ainda, de uma forma geral, não domina a tecnologia. No CESB nós estamos mostrando que isso é possível em pequenas parcelas, e acreditamos que dentro de um futuro próximo o agricultor vai começar a usar mais, e aí as médias vão melhorar. Agro DBO – De todas as tecnologias disponíveis hoje, irrigação, sementes melhoradas, fertilizantes especiais, agricultura de precisão, a qual delas você atribuiria uma participação mais elevada, ou maior importância para a obtenção de médias mais elevadas. Orlando Martins – Nos concursos, o que a gente observa de forma clara é que não é o uso isolado de uma dessas tecnologias, mas o conjunto. Sempre que um produtor obtém uma produtividade alta é porque ele tem um projeto, ele não chega nela por acaso. Para nós, fica claro que a produtividade alta vem da interação de fatores. Ela não aparece de fatores isolados, ou por
sorte, ou pelo bom regime do clima. As altas produtividades surgem quando o produtor usa a semente adequada para o clima e a região, planta no momento certo, aduba adequadamente, se ele usa fertilizantes especiais, aminoácidos, hormônios, e se aplica os inseticidas e fungicidas nos momentos certos; nessas tecnologias todas só a irrigação parece não aumentar a produtividade, mas ela elimina a perda se houver um veranico que prejudicaria áreas com elevado potencial. Agro DBO – Que erros você atribui ao produtor para manter essa produtividade ainda baixa? Orlando Martins – Vejo o produtor como um refém de uma situação. O que verifico é um comportamento que contempla mais o aumento da área de plantio do que a busca por uma melhoria da produtividade. O produtor médio, de uma forma geral, se preocupa mais com a expansão horizontal do que com o crescimento vertical, que seria produzir mais na mesma área, e isso vale para todas as lavouras, evidentemente. Talvez nesse momento de crise, quando as margens ficam menores, mão de obra e insumos mais caros, e o preço de terra, na venda ou no arrendamento estão altos, a produtividade possa melhorar. Agro DBO – Como você vê esse tempo de planejamento para a próxima safra, com dólar elevado, acima de R$ 3,00 e com insumos caros, preços das commodities baixos, e uma perspectiva de dólar de R$ 2,80 no início do próximo ano? Orlando Martins – Vejo com preocupação. Esse ciclo de lucratividade contínua como se teve nessa última década, nunca tinha sido experimentado na soja. Antes era lucro um ou dois anos, e prejuízo no terceiro, empate no quarto ano. Nesses últimos anos o lucro foi bom, o produtor está capitalizado, maio 2015 – Agro DBO | 29
Entrevista Precisamos de tempo para analisar com maior profundidade e entender melhor o papel da matéria orgânica na produtividade. mas esse tempo pode estar no fim, em minha opinião a próxima safra pode dar prejuízo, mas isso faz parte de uma atividade comercial. Agro DBO – Qual o ponto que é comum entre os ganhadores do Desafio de Máxima Produtividade em Soja? Orlando Martins – Um dos fatores que aparece com frequência nas áreas de alta produtividade é a presença de matéria orgânica natural em níveis muito altos no solo. Ou então induzida, onde se colocou esterco, de galinha ou de gado, ou onde se plantou antes milho com braquiária, que também aumenta o teor de matéria
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orgânica. Nós entendemos que a presença massiva de matéria orgânica tem muita importância nesse processo. Não sabemos de onde, e nem como isso ocorre, se é quantitativo, ao fornecer mais nutrientes, ou se é qualitativo, protegendo o solo, mantendo umidade, desenvolvendo mais microrganismos, liberando algumas substâncias que são importantes para as plantas, na verdade precisamos de tempo para analisar essa questão com maior profundidade e entender melhor o papel da dinâmica da matéria orgânica dentro desse processo. Isso vai nos permitir que logo a gente consiga ter médias de 100 sc/ha de soja.
Política Kátia Abreu quer classe média rural maior
O plano para o desenvolvimento da agropecuária, em elaboração pelo Ministério da Agricultura (Mapa), em parceria com a Embrapa, secretarias estaduais do setor e Sebraes nos estados, contribuirá para ascensão de agricultores classe D para a classe C. O assunto tem sido debatido intensamente pela ministra Kátia Abreu e representantes dos estados e instituições parceiras. “Estamos trabalhando pela classe média no campo e para reduzir a extrema pobreza. Não queremos um meio rural com um grupo de produtores prósperos rodeados de pobreza”, disse a ministra.
Ela ainda completou que “nossos produtores têm toda a condição de subir na vida. O que está faltando a eles não é nenhuma benesse, mas um pacote de oportunidades. Não se trata de caridade. O que queremos é deixá-los fortes e independentes, que eles aprendam a se agrupar para aumentar a renda”. A Embrapa apresentou os dados regionais que embasarão o plano do Mapa. O ministério também criará grupos de trabalho com representantes das secretarias estaduais de Agricultura e do Sebrae que deverão detalhar as estratégias para as cadeias produtivas nos biomas Amazônico, Semiárido e Mata Atlântica. A parte do Nordeste que integra o Cerrado será trabalhada pelo plano para o Matopiba, território que engloba partes dos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. De outro lado, a ministra Kátia Abreu, afirmou que o Plano Safra 2015-2016 não será afetado pelo ajuste fiscal que está sendo executado pelo governo federal. Segundo ela, a presidente Dilma Rousseff não vai considerar o ajuste nos anúncios que pretende fazer em 19 de maio dos recursos que serão disponibilizados para o custeio dos agricultores.
Polêmica na terceirização Em nota à imprensa, a Unica, União da Indústria de Cana-de-Açúcar, que representa a indústria sucroenergética na região Centro e Sul do país manifesta-se favorável à regulamentação do Projeto de Lei 4.330/04, em discussão no Congresso Nacional. Outras entidades do agronegócio tornaram públicas suas posições na mesma linha, como a Abag – Associação Brasileira do Agronegócio, a Famato – Federação da Agricultura do Mato Grosso, e o FNS – Fórum Nacional Sucroenergético. Como essas entidades são todas patronais e empresariais, pode-se prever um panorama caliente de confronto com as diversas entidades sindicais dos trabalhadores, Brasil adentro, a partir das discussões no Congresso, com promessas de greve geral em todo o país. Ao mesmo tempo, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, disse que o governo federal não vai permitir queda nas receitas por causa da terceirização, e a presidente Dilma Rousseff anunciou que vetará qualquer medida que implique em perdas dos direitos dos trabalhadores.
André Nassar é o secretário de Política Agrícola do Mapa O engenheiro agrônomo André Nassar foi nomeado secretário de Política Agrícola do Mapa – Ministério da Agricultura. Entre os temas que ganharão destaque na nova gestão está o desenvolvimento de uma lei agrícola capaz de estabelecer diretrizes para o setor em um horizonte de quatro anos. Outro ponto também apontado pelo novo secretário são as demandas relacionadas à logística de escoamento. Por último, haverá uma revisão dos parâmetros de fixação dos preços 32 | Agro DBO – maio 2015
mínimos dos produtos agrícolas e, sobretudo, dos custos de produção. “Isto tudo permitirá trabalhar em uma lei agrícola duradoura para fortalecer o setor agropecuário”, afirmou. Experiência internacional – Nassar é um dos fundadores do Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Icone), do qual foi gerente-geral, de 2003 a 2007, e diretor-geral, entre 2007 e 2012. André Nassar tem experiência no assessoramento técnico de associações de classe do agronegócio
brasileiro em temas relacionados a comércio internacional, impactos de políticas agrícolas no mercado, negociações internacionais, bioenergia, barreiras ao comércio e sustentabilidade.
“A crise vai existir para quem não consegue ser eficiente” Quem afirma isso é o novo diretor comercial da Cocatrel - Cooperativa dos Cafeicultores da Zona de Três Pontas, Marco Valério Araújo Brito. O trespontano assumiu o cargo em 1º de abril último. Valério já trabalhou no mercado financeiro e atuou durante dois anos no Denac – Departamento Nacional do Café, em Brasília. É cafeicultor desde 1996, mas suas palavras valem para qualquer agricultor deste país.
Terras brasileiras para estrangeiros A SRB – Sociedade Rural Brasileira apresentou no STF – Supremo Tribunal Federal ação que questiona a compra de propriedades rurais por investidores estrangeiros. A Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) tem o objetivo de contestar e, portanto, reverter uma interpretação da lei de controles sobre as aquisições de terras agricultáveis por pessoas físicas e jurídicas de fora do Brasil pela Advocacia-Geral da União (AGU), de 2010. A SRB decidiu contestar o parecer normativo da AGU depois da realização de debates com várias esferas políticas pela aprovação de um novo marco regulatório para a
questão. Diante do impasse, a entidade avaliou que se tornou inadiável a discussão sobre o respeito aos princípios da livre iniciativa e em relação ao direito de propriedade, assim como a necessidade de tratamento isonômico entre empresas brasileiras de capital nacional e empresas brasileiras de capital estrangeiro. “Decidimos usar o caminho jurídico depois de várias tentativas para encontrar soluções com representantes do poder sobre a decisão da AGU”, afirma Gustavo Diniz Junqueira, presidente da SRB. “A ação no STF tem o objetivo de mostrar a inconstitucionalidade da interpretação”, diz o executivo.
adquire a Cheminova A FMC Corporation anunciou em 21 de abril último a conclusão do acordo para a aquisição da Cheminova A/S, multinacional de defensivos agrícolas, com sede na Dinamarca e subsidiária da Auriga Industries. A FMC concluiu a aquisição da Cheminova por um valor de compra aproximado de US$ 1,8 bilhão. Nos últimos anos, a FMC vem realinhando seus negócios para ampliar a sua posição no mercado de defensivos agrícolas. Em 2014, a FMC teve vendas anuais de aproximadamente US$ 3,3 bilhões. A FMC conta com cerca de 7.000 funcionários globalmente.
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Soja
Cerco ao Pantanal
Elevação do preço da terra no Centro-Oeste obriga produtores a procurar áreas para plantar, como as margens e planície do bioma. Ariosto Mesquita
A
s mais de 4.700 espécies catalogadas da fauna e flora pantaneira, assim como o enorme rebanho de bovinos de corte (aproximadamente 6 milhões de cabeças de gado), agora dividem espaço com um novo elemento introduzido pelo homem: a soja. Quem mergulha no Pantanal Sul (a parte do bioma em Mato Grosso do Sul), seguindo da capital do estado, Campo Grande, em direção a Corumbá e à Bolívia através da BR-262, vai topar com lavouras nas duas margens da rodovia. O turista ou pescador desavisado pode até imaginar que pegou a estrada errada. “Muita gen36 | Agro DBO – maio 2015
te aproveita, entra pela porteira e vem ver nosso trabalho”, afirma o agricultor Gláucio Thiago Morais que, no final de abril, terminou a colheita de 800 hectares na fazenda San Francisco, conhecido reduto ecoturístico e de pecuária de corte, distante 240 km de Campo Grande, na planície do chamado Pantanal do Miranda. “Já estou preparando para plantar 1.000 hectares na próxima safra”, garante. De família de sojicultores, com 2,2 mil hectares cultivados no entorno de Campo Grande e em Terenos, ele é agrônomo e há 11 anos trabalha na lavoura ao lado do pai, Arão Antonio Morais.
Tocando os negócios no Pantanal, Morais segue o que parece ser uma das tendências na região: o arrendamento de terras para o plantio. Ao firmar um contrato de seis anos com o dono da fazenda (de pouco mais de 14 mil hectares), Roberto Coelho, tomou posse temporária de 1.000 ha para cultivar a leguminosa.“Está sendo um ótimo negócio. Vem compensando o investimento”, afirma Morais. Com um custo médio de produção equivalente a 30 sacas por hectare, ele conseguiu produtividade de 42 sacas/ha no ciclo 2013/14 e de 53 sacas/ha na safra 2014/15, esta última superior à média da produtividade do estado
Fotos: Ariosto Mesquita
Lavoura de soja da fazenda San Francisco, no Pantanal do Miranda, tocada em regime de arrendamento por Gláucio Morais.
que, segundo levantamento da Famasul – Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul, deve fechar em 49,9 sacas/ha. Morais poderia ter a opção de entregar sua produção no próprio Pantanal para escoamento através do rio Paraguai até o estuário do Rio da Prata e daí para os países compradores. No entanto, sua soja segue por rodovia. “Vendemos em Campo Grande, distante 240 km daqui. O transporte hidroviário seria uma excelente alternativa, beneficiando o frete e valorizando nossa produção. No entanto, esta opção ainda não é possível por causa do baixo volume de soja produzido na
região, creio eu. Com o aumento gradual do cultivo, esperamos que isso mude”. Segundo ele, são dois os principais atrativos para quem se aventura a tomar terras emprestadas com o objetivo de plantar soja no Pantanal do Miranda: o baixo custo de arrendamento e a boa fertilidade das terras. “Temos solos de alta qualidade com parte química excelente, o que reduz os custos com adubação”, explica. Sobre o arrendamento, o contrato prevê isenção no primeiro ano (2013/14, quando já obteve lucro de 12 sacas por hectare e pagamento de cinco sacas/ha no segundo ano (2014/15), sete sacas/ha no terceiro (2015/16) e oito sacas/ha do quarto ao sexto ano (até o ciclo 2018/19). Realidades distintas Os números são bem diferentes de valores médios em regiões de agricultura consolidada, como em Maracaju, no sudoeste do Mato Grosso do Sul. onde o hectare de primeiro ano de lavoura não sai por menos de 10 sacas, atingindo 15 sacas em áreas já de cultivo. “É o dobro do que eu vou pagar aqui só a partir da quarta safra. Em Maracaju,
o cidadão ainda vai brigar com mais cinco ou seis outros interessados. No Pantanal isso ainda não existe”, garante. Por outro lado, Morais está adaptando a soja a duas condições específicas de cultivo: grande variabilidade da parte física do solo e um clima diferente do bioma Cerrado, onde é acostumado a plantar. “Aqui na San Francisco temos área de cascalho onde a soja é fraca, tem terras vermelhas onde ela tem desempenho muito bom e pontos de terra preta onde o excesso de chuvas conteve um resultado melhor este ano. Também temos de enfrentar uma grande carga térmica e uma alta insolação. Isso interfere diretamente no desenvolvimento da soja. Variedades que em Campo Grande têm ciclo de 120 dias, aqui ficam prontas entre 90 e100 dias. A planta acelera demais o ciclo, a colheita tem de ser antecipada e a produtividade cai”, explica. A lida agrícola de Morais no Pantanal não começou na atual área para a soja. Desde 2008 sua família arrenda terras para o cultivo de arroz em várzea, uma aposta natural da fazenda San Francisco. Situada na margem esquerda do rio Miranda, próximo ao pé da Serra da Bodoquena, recebe muita água de seus afluentes e das chuvas que despencam pelas encostas dos morros entre outubro e maio. Boa parte das terras geralmente fica coberta por uma lâmina d’água que pode chegar a mais de um metro. Para regular o fluxo de água na lavoura de arroz, há uma intrincada e extensa rede de canais de irrigação e de drenagem somando perto de 350 km de extensão. Morais conta que, em 2011, a forte crise de comercialização do arroz e a disseminação do arroz vermelho (considerado praga na cultura do cereal branco, e hoje cultivado no país como alternativa culinária) na fazenda, começaram a mudar as coisas. O proprietário, Roberto Coelho, sugeriu o plantio de arroz comercial e a diversificação produmaio 2015 – Agro DBO | 37
Soja tiva. O arroz vermelho, por sua vez, foi controlado com a utilização de variedades de sementes geneticamente modificadas. Foi a partir daí que a fazenda teve sua primeira experiência com o cultivo de soja. As lembranças, no entanto, não são muito boas. Grande parte da lavoura ficou debaixo d’água. “Plantamos 200 hectares em 2011 e programamos até um dia de campo, mas o cultivo não pagou a conta. Diante de um custo de 30 sacas/ha, a produtividade ficou em 22 sacas/ha por causa do excesso de umidade”, conta. Na época, a San Francisco desistiu temporariamente da soja, mas Morais, não. Desde a safra 2010/11, ele vinha tocando um projeto de cultivo para 1.200 ha de soja verão e 600 ha de milho segunda safra na gleba Baia Bonita da fazenda Cristo (distante 280 km de Campo Grande, localizada também à margem direita da BR-262, sentido Corumbá), então de propriedade do pecuarista José Carlos Bumlai. Em três safras (2010/11, 2011/12 e 2012/13), os resultados também não foram bons. Morais classifica essa experiência como “desagradável” em função da característica de
Terras da fazenda San Francisco: a fundo, recorte da Serra da Bodoquena.
solo silte na propriedade. “O silte funciona como um cimento, impermeabilizando o solo. Com qualquer chuva mais intensa, a água acumulada provocava a podridão da raiz. As perdas chegavam a 40%”, lembra. Para um custo de 35 sacas/ha, a soja teve uma produtividade média de 30, 32 e 35 sacas/ha, nas três safras respectivamente. O milho segunda safra ficou na faixa de 45 sacas/ha e
Hidrovia parada Apesar de a hidrovia do rio Paraguai existir e da possibilidade de navegação a partir de Corumbá até a foz do rio da Prata, nenhum grão de soja é embarcado nos terminais do Mato Grosso do Sul. O chefe da unidade administrativa regional da Antaq – Agência Nacional de Transportes Aquaviários, Sérgio Monteiro de Lima, explica o motivo: “Os dois terminais privados que operam em Corumbá têm estrutura para receber a produção agrícola, mas as condições de transporte é que são uma incógnita, pois todas as barcaças existentes estão hoje contratadas pela Vale para o transporte de cargas de mineração”. Do total embarcado a partir de Corumbá em 2014, a Antaq contabilizou 6,7 mil toneladas de minério de ferro (94,1%) e 416,9 mil de manganês (5,9%). Os produtores de soja no Pantanal Norte (Mato Grosso) também não podem contar com a hidrovia. Ações civis públicas emperram o uso do rio a partir de Cáceres (até Corumbá) para o escoamento da produção de soja em comboios. A viabilidade deste transporte passa pela a construção do Terminal Portuário de Santo Antonio das Lendas (77 km ao sul de Cáceres), projeto do governo do estado que ainda não saiu do papel. A maior parte da produção agrícola do estado segue via rodovia até os portos de Santos (SP) ou Paranaguá (PR). Ou então faz o transbordo para embarque ferroviário em Rondonópolis (MT), e de lá é levado em vagões até o porto paulista.
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praticamente empatou com o custo de produção na casa de 40 sacas/ha. “No caso do cereal, tivemos perdas de pelo menos 15% em função da ação de aves e animais silvestres pantaneiros, que devastaram parte da lavoura”, relata Morais. No momento em que deixava a gleba Baía Bonita, em 2013, o agricultor recebeu um novo convite da San Francisco. “A família Coelho decidiu diminuir o investimento direto na fazenda, mas sentia a necessidade de reformar áreas com pasto degradado. Em função disso nos chamaram para retomar o projeto da soja”, lembra. Para não cometer erros de 2011, as duas partes definiram uma área de 1.000 ha, entre 15 a 20 metros mais alta em relação à anterior: “inunda muito menos e é lá que temos contrato até 2019”. A persistência de Morais o está levando também para uma nova experiência com milho segunda safra. “Agora estamos plantando o cereal junto com braquiária em 300 hectares. Compramos um equipamento que é acoplado ao trator para fazer as duas semeaduras simultaneamente. Depois da colheita do milho, o capim será dessecado visando a formação de uma boa palhada para a soja, garantindo proteção e diminuição da temperatura do solo”, conta. Diante ainda de tantos desafios, nada aparenta abalar a determinação de Morais. Produção integrada Distante quatro quilômetros do acesso à lavoura da San Francisco, na margem esquerda da BR-262 (sentido Corumbá), a fazenda Marema, de 4 mil hectares, colheu em abril sua quarta safra seguida de soja no Pantanal. Foram 400 ha de área cultivada, sendo 100 ha de segundo ano. “Os resultados estão melhores a cada ciclo”, garante Eugênio César Peron Coelho Filho, que assumiu a lavoura na propriedade de seu avô, Magno Martins Coelho, tradicional pecuarista do Mato Grosso do Sul.“Confesso que a idéia inicial era
A soja ocupa hoje106,3 mil ha nos14 municípios do Pantanal do Mato Grosso do Sul, 4,4% do total cultivado no estado.
usar a soja para ajudar no combate à aromita, uma das invasoras arbóreas mais agressivas para pastagens nativas e exóticas no Pantanal. Hoje, no entanto, já decidi não abrir mão do cultivo comercial da soja”, diz Eugênio. Na primeira safra, ele empatou: custo de produção e a produtividade ficaram em 32 sacas/ha. Nos dois anos seguintes, a colheita garantiu média de 41 sacas/ha, chegando a 47 sacas/ha na última safra 2014/15, diante de um custo de 35 sacas/ha. “Agora já planejo dobrar a área de lavoura”, afirma. A fazenda Marema conta com 2.500 ha de pasto (criação de bovinos das raças angus e nelore) e a introdução da soja, com resultados crescentes, fez Eugênio optar pela adoção do sistema ILP – Integração Lavoura-Pecuária. “Uma mesma área fica com soja durante cinco anos. Ao final deste período vira pasto e, três anos depois, volta a ser lavoura, e assim sucessivamente. Dessa forma mantenho o solo, que já é altamente fértil, sempre renovado para as duas atividades”, observa. Esta fertilidade natural, segundo ele, ameniza o custo de produção no Pantanal, e exige menos insumos se comparada com outra área de soja
que cultiva em Rio Brilhante (150 km de Campo Grande), no centro-sul do Mato Grosso do Sul. “Aqui na Marema a saturação por bases do solo chega em alguns pontos a 90%, enquanto em nossa outra propriedade fica na faixa de 20%. Em Miranda, portanto, a lavoura não pediu calcário e gesso”, conta. Eugênio não esconde que cultivar soja em um bioma como o Pantanal é uma tarefa ainda cheia de desafios. “Como plantamos e colhemos dentro do período das águas, é
Em Miranda, a área de soja já chega a 7,9 mil hectares.
Ave símbolo do Pantanal, o tuiuiú não causa problemas, ao contrário do que ocorre, por exemplo, com as queixadas e os catetos.
inevitável que tenhamos problemas nas áreas mais sujeitas ao alagamento. Na safra 2013/14, por exemplo, a plantadeira atolou e ficamos com 20 hectares parados, sem produzir”, lembra. Ele também relata “forte pressão” de percevejos e lagartas. Sobre uma eventual segunda safra com milho, ele relembra experiência do ano passado que o fez desistir, por enquanto, de apostar no cereal. “Plantamos uma área teste de 100 ha e perdemos 30% com ataques de catetos e queixadas, mamíferos que circulam em bandos no Pantanal”. Diversidade Levantamento feito pelo Siga/ MS – Sistema de Informação Geográfica do Agronegócio do Mato Grosso do Sul indica que, apenas no município de Miranda, 7,9 mil hectares foram cultivados com soja na safra 2014/15. Somando a área cultivada em todos os 14 municípios sul-mato-grossenses considerados pantaneiros e peripantaneiros, o total ocupado com a oleaginosa chega a 106,3 mil hectares, equivalente a 4,4% de toda a área cultivada com a leguminosa no estado (2,4 milhões/ha). Em termos comparativos, representa quase 50% de toda a lamaio 2015 – Agro DBO | 39
Soja voura de soja de Rondônia (228 mil ha) e é 5,8 vezes superior ao cultivo registrado no estado de Roraima (18 mil ha), segundo o último levantamento de safra feito pela Conab. Quem percorre habitualmente o bioma garante que a soja está formando uma espécie de arco agrícola peripantaneiro, com crescente penetração dentro das áreas efetivamente de planície, tanto no Mato Grosso do Sul quanto no Mato Grosso. Para o agrônomo Darci Azambuja, gerente geral da fazenda San Francisco, é o início de um caminho sem volta. “Em até 10 anos, o Pantanal do Miranda e região formarão certamente um pólo agrícola, com até 40 mil hectares cultivados”, projeta. Para exemplificar esta expansão, ele cita a aposta da BrPec Agropecuária, empresa de agronegócios pertencente ao banco de investimentos BTG Pactual que, em 2013, adquiriu do pecuarista José Carlos Bumlai os 116 mil hectaresa da fazenda Cristo, em Miranda. “A propriedade foi comprada há dois anos e, nesta ultima safra, cultivou 4 mil ha de soja. A lavoura surgiu em função da necessidade de reforma de pastagem, mas hoje certamente já representa uma boa fonte de renda”, diz. Razões para a escalada A crescente implantação de lavouras de soja no Pantanal é impulsionada, segundo os próprios envolvidos, por uma série de fatores. Azambuja cita como exemplo a pressão que outras culturas exerceram e ainda exercem sobre a sojicultura nas regiões tradicionais de cultivo. “O avanço da cana-de-açúcar no Mato Grosso do Sul abriu concorrência com a soja e elevou sensivelmente o preço das terras, fazendo com que muitos agricultores procurassem áreas mais baratas para plantar, como as existentes nas cercanias do Pantanal”, explica. Números informados da Famasul corroboram com a tese de Azambuja. No centro sul do estado – re40 | Agro DBO – maio 2015
O carcará costuma acompanhar os trabalhos de colheita, à espera de insetos e, eventualmente, presas maiores.
O agrônomo Darci Azambuja acredita que, em 10 anos, o Pantanal do Miranda e região formarão um polo agríicola com até 40 mil ha plantados.
gião de Dourados e Ponta Porã –, de grande avanço da cana, o preço do hectare de terras agrícolas subiu de R$ 8,6 mil em 2008 para R$ 15 mil em 2013, ano em que o hectare na região de Jardim e Bonito, próxima à Serra da Bodoquena, valia R$ 8,1 mil. “Nos últimos anos, notamos uma sensível expansão da soja nestes municípios. Só em Bonito, a área plantada pulou de 24 mil ha no ciclo 2012/13 para 32,5 mil ha na última safra, um salto de 35,5% em dois anos”, revela o engenheiro agrônomo e analista de agricultura da Famasul, Leonardo Carlotto. Segundo suas previsões, este ritmo de ampliação de lavoura não deve ser tão intenso nos próximos anos, apesar de esperar aumento de área de cultivo.
“Esta ampliação deve ficar na faixa de 7% no ciclo 2015/16 em relação à última safra”, estima. Agricultores, agrônomos e técnicos também consideram outras condições facilitadoras para a entrada da soja no Pantanal. Uma delas é a necessidade de se reformar extensas áreas de pastagens degradadas sem alto custo e, de preferência, com ganhos. Neste aspecto, a utilização da oleaginosa – em integração com a pecuária ou apenas antecedendo um replantio de pasto – diversifica a produção, garante mais renda e eleva as condições de fertilidade do solo para a entrada de um novo pasto. Outra vantagem lembrada é a possibilidade de otimização de maquinário. Como o ciclo da soja no Pantanal é mais tardio (planta-se geralmente a partir da segunda quinzena de novembro, 30 dias depois da abertura da janela de semeadura para a região centro-sul do Mato Grosso do Sul), é possível ao sojicultor com áreas de cultivo também no Cerrado usar suas máquinas nas duas regiões, sem prejuízo do trabalho. A disponibilidade de solos férteis, assim como a facilidade de escoamento da produção pela BR-262, também são citados como pontos positivos. “Aqui no Pantanal, o produtor de soja é quem faz os testes e gera as demandas”. A frase, com uma ou outra modificação, parece ser uma espécie de discurso comum entre os envolvidos na atividade na região. Tudo em função da falta de pesquisas e es-
Quem percorre habitualmente o Pantanal afirma que a soja está formando um arco agrícola na periferia do bioma
Pantanal Norte De acordo com o Imea – Instituto Mato-Grossense de Economia Aplicada, a soja já está presente em quase todos os municípios pantaneiros ou peripantaneiros do centro-sul do estado. Existem cultivos em Cáceres, Poconé, Santo Antonio do Leverger, Cuiabá, Porto Estrela, Barra do Bugres e Nossa Senhora do Livramento. O instituto afirma que, entre as duas últimas safras, a área de soja nestes sete municípios aumentou pouco mais de 5%, pulando de 46,1para 48,4 mil hectares. Um dos municípios com maior expansão na área plantada é Cáceres
Paulo Lanzetta/Embrapa
tudos científicos que apontem uma ou mais variedades de soja para o bioma. De maneira geral,os produtores contratam empresas particulares para avaliações, assumindo eles próprios os riscos, além dos custos. O gerente geral da fazenda San Francisco, Darci Azambuja, confirma essa carência. Segundo ele, a baixa altitude (média de 130 metros acima do nível do mar) e as altas temperaturas (muitos picos acima de 40 graus no verão), fatores negativos para a soja, exigem estudos científicos urgentes: “Enquanto isso, o produtor vai plantando materiais das mais variadas características e trocando ideias sobre as variedades que estão apresentando melhores resultados”.
(218 km a oeste de Cuiabá), principal polo de produção agropecuária do sudoeste do estado. O município ganhou notoriedade no mês passado quando, em encontro de produtores, técnicos e empresários realizado na cidade, o grupo Nelore Grendene anunciou os primeiros resultados com soja da fazenda Ressaca, propriedade antes dedicada exclusivamente à bovinocultura de corte, com 37 mil hectares de área
Em Mato Grosso, as lavouras de soja estão presentes em todos os municípios pantaneiros ou peripantaneiros.
total e 30 mil cabeças de gado nelore em produção de ciclo completo (cria, recria e engorda). Situada às margens do rio Paraguai, a fazenda Ressaca fez sua estréia na produção de soja na safra 2014/15, em sistema de integração com a pecuária, objetivando reforma de pastagens. E que estréia! Logo de cara registrou produtividade média de 65 sacas por hectare, superando com folga a média do estado que, segundo o Imea, deve fechar na faixa de 52,4 sacas/ha. Entre os diversos talhões cultivados, a menor produtividade ficou em 59 sacas/ha e a maior, 71,5 sacas/ha. No total, foram 1,1 mil hectares semeados com a leguminosa na temporada em curso. Na safra 2015/16, a área plantada deve crescer, no mínimo, para 2,1 mil ha. O diretor de pecuária do grupo, Ilson Correa, não esconde a satisfação, mas dosa a alegria com um pouco de cautela. “Foi um resultado excepcional e não fizemos nenhum milagre. Tivemos um bom assessoramento e fomos felizes com as chuvas nos momentos certos. Mas sabemos que nem sempre as condições estarão a nosso favor”. Correa faz questão de ressaltar que a prioridade da fazenda continuará sendo a produção de bovinos. “Estamos usando a soja para a produção de carne”, salienta. Na área cultivada, é feito o plantio de braquiária 20 dias antes da colheita da oleaginosa. Entre 40 a 45 dias depois, entra o gado para pastejar. “Aqui a nossa safrinha é de carne”, observa. No primeiro ano de integração, a taxa de ocupação subiu de um para 3,5 animais/ha. O objetivo é chegar a cinco cabeças/ha. A cada ano, a meta da fazenda é aumentar em mil hectares o cultivo de soja sobre áreas de pastagem. “Nosso planejamento prevê uma lavoura de 10 mil hectares até 2014”. maio 2015 – Agro DBO | 41
Mecanização
É preciso ser preciso O autor argumenta com exemplos de fácil compreensão sobre como usar da melhor maneira as tecnologias da Agricultura de Precisão Amílcar Centeno *
Há uma profusão de equipamentos no mercado hoje em dia, conectados, via celular, iPad, com interatividade com as máquinas.
* O autor é engenheiro agrícola e especialista em máquinas agrícolas.
J
á abordamos o tema da Agricultura de Precisão em vários artigos anteriores, salientando a importância de utilizar esta tecnologia para entendermos e agirmos sobre a variabilidade presente em todas as lavouras. Recomendamos, também, que se inicie na Agricultura de Precisão coletando, acumulando e analisando dados de fertilidade, produtividade, plantio, controle de pragas e doenças e tudo o mais que entendermos possa causar variações na produtividade da planta. Só após esta fase de aprendizado sobre a variabilidade de nossas lavouras, ao longo de no mínimo 3 safras, é
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que deveríamos começar a interferir nestes fatores com o objetivo de aumentar a produtividade e/ou reduzir custos. Interferir na variabilidade das lavouras sem antes passar por este aprendizado sobre suas causas é, no mínimo, bastante arriscado, pois poderemos estar investindo nos fatores não limitantes, o que reduziria a resposta das plantas e, por consequência, o retorno sobre os investimentos realizados. Alguns dos leitores, os mais antigos, ainda devem se lembrar do início do Plantio Direto, quando muitos investiram no sistema sem entendê-lo profundamente, obtendo resultados medíocres nos primeiros anos, o que levou alguns a criticar ou mesmo abandonar esta técnica de produção que é hoje dominante na agricultura brasileira. Podemos entender a Agricultura de Precisão como a técnica de colocar os insumos certos, na quantidade certa, no lugar certo e no momento certo. Isto é precisão. Portanto, antes mesmo de investir em recursos para aplicação de doses variáveis e começar a interferir na variabilidade da produção, é recomendável iniciar na Agricultura de Precisão tornando nossas operações mais precisas. O que precisa fazer? Em poucas palavras: É PRECISO SER PRECISO! É difícil imaginar fazer uma agricultura de precisão trabalhando com ferramentas tão imprecisas quanto os distribuidores a lanço,
semeadeiras mecânicas e atomizadores. É como se estivéssemos tentando fazer uma cirurgia com um facão, e não com um bisturi! Portanto, enquanto acumulamos informações utilizando ferramentas como os mapas de solos e de produtividade, devemos avaliar os equipamentos de que dispomos na propriedade e, se necessário, trocá-los por produtos mais eficientes e precisos ou investir em acessórios que permitam melhorar a eficiência dos equipamentos atuais. Nossa sugestão é que, num primeiro momento, toda a atenção seja dada à operação de plantio, pois esta é a operação cuja precisão interfere de modo direto no resultado final da lavoura. Todas as demais operações visam proteger o potencial produtivo estabelecido no momento do plantio. Se plantarmos errado, não existem formas de recuperar este potencial. As melhores plantadeiras do mercado, se bem reguladas e operadas, podem alcançar uma precisão de aproximadamente 95%. Isso quer dizer que, de cada 100 sementes que colocamos no sulco, apenas 5 falham ou estão muito próximas de outras sementes, competindo com estas por luz e nutrientes. Um bom recurso para avaliarmos a precisão de nossas máquinas atuais é investir em monitores de plantio, pois poderão medir o desempenho das plantadeiras em tempo real e de modo contínuo. Além de dispor dos melhores equipamentos, também é preciso
operá-los corretamente. A precisão das plantadeiras é diretamente afetada, por exemplo, pela velocidade de plantio. É preciso encontrar a maior velocidade em que a performance dos dosadores pode trabalhar satisfatoriamente. Deste modo, pode-se obter a precisão adequada sem sacrificar o desempenho da máquina. Nas plantadeiras com dosadores mecânicos esta velocidade está em torno dos 6 km/h, enquanto as plantadeiras a vácuo conseguem alcançar a mesma precisão em torno dos 8 km/h. Outro fator que afeta a performance dos dosadores é a vibração das linhas. Um correto ajuste das rodas de pressão pode ajudar a controlar este problema. A manutenção das linhas de plantio também tem grande influência na precisão. Antes de iniciar o plantio, verifique o estado dos
dosadores e, caso seu concessionário disponha de uma bancada de teste, avalie a precisão de dosagem com as sementes que irá utilizar no plantio, pois variações no tamanho e forma das sementes podem exigir ajustes específicos. Muitas coisas podem afetar a precisão de plantio entre o dosador e o sulco. Fatores que podem afetar a qualidade do trabalho,
tes, alterando a precisão obtida nos dosadores. Além de preparar suas operações para a introdução das técnicas de aplicação em dose variável, a melhoria da precisão de suas ferramentas também é uma boa forma de economizar insumos, uma vez que permite colocar as quantidades exatas no local certo, reduzindo o desper-
No início do Plantio Direto muitos investiram no sistema sem entendê-lo profundamente por exemplo, são eventuais danos nos tubos de sementes. Deformações nas paredes dos tubos podem interferir na queda da semente. Outro problema muito comum é a formação de rebarbas na saída do tubo junto ao sulco, provocando rebotes nas semen-
dício e otimizando o uso dos nutrientes pelas plantas. Portanto, situações difíceis como as que estão se configurando neste momento, de que as próximas safras serão de baixa lucratividade, é sempre uma boa hora para investir em precisão.
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Solo
Preservar é a única solução
Fotos: Hélio Casale
O autor sugere a conservação do solo em áreas agrícolas como estratégia para minimizar os impactos da crise hídrica.
Erosão eólica provoca danos perversos ao solo, e exige quebravento, como árvores. Observe-se que a base da copa das árvores foi podada.
* o autor é engenheiro agrônomo, pesquisador da Embrapa – Solos
Aluísio Granato de Andrade *
O
s primeiros relatos sobre crise hídrica no Brasil remontam de 1713. Preocupados com os danos causados sobre os recursos hídricos pelo desmatamento para a exploração agrícola, do ouro e da prata, o governo colonial emitiu decretos e cartas régias com o objetivo de conter esta devastação. Nesta época ocorreu a primeira grande seca na cidade do Rio de Janeiro. Os fazendeiros multiplicavam suas lavouras de café sem a adoção de práticas conservacionistas, resultando em deslizamentos de encostas e assoreamento de rios. Em 1844, após outra grande seca no estado, iniciou-se a restauração nas bacias dos rios Carioca e Maracanã. Posteriormente, entre 1861 e 1873, o
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major Manuel Gomes Archer foi responsável pela execução de ações de reflorestamento em morros degradados pela exploração do café, no que atualmente corresponde ao Parque Nacional da Floresta da Tijuca. Com o decorrer do uso da mecanização na agricultura e, principalmente, com a adoção de práticas como a aração e gradagem, sulcamento, encanteiramento ou plantio, realizados morro abaixo, os problemas causados pela erosão se agravaram. Buscando conter o avanço desses problemas na região Sul do Brasil, foram adotadas práticas mecânicas, como o terraceamento, sendo também incentivado o cultivo em nível ou em faixas. No início da década de 1870 é que se percebeu a importância de manejar adequadamente o solo, evitan-
do expô-lo a ação devastadora das chuvas torrenciais, assim como a relevância da microbacia hidrográfica como unidade natural de planejamento conservacionista. Dentre os fatores responsáveis pela sustentabilidade dos sistemas de produção agrícola, o solo é considerado um dos mais importantes. A fina camada que recobre a superfície da terra e que levou bilhões de anos para se formar pode ser perdida em poucos anos pela erosão ou se tornar improdutiva, dependendo do uso e das práticas de manejo adotadas. A escolha de culturas em desacordo com a aptidão agrícola das terras, junto ao uso de práticas inadequadas de manejo do solo e ainda a falta de aplicação de práticas de conservação de solo e água pode levar a perdas de mais de 100 toneladas de solo/ha/
ano. Em muitas situações, simplesmente ao mudar algumas técnicas de cultivo pode-se reduzir essas perdas para menos de 10 t/ha/ano, e pode-se chegar a menos de 1 t/ha/ano em áreas bem manejadas, se aproximando do que ocorre normalmente em solos sob vegetação preservada. A maior parte das terras sob uso agropecuário no país estão ocupadas com pastagens. Estas, em geral, quando são formadas e manejadas com técnicas adequadas não acarretam perdas significativas por erosão (0,5 t/ha/ano), devido a serem eficientes coberturas do solo. Mas, considerando a baixa frequência da renovação das pastagens cultivadas no Brasil e sua grande extensão territorial (172,3 milhões de hectares), e, ainda o uso frequente do fogo e da aração morro abaixo, a falta e/ou a aplicação incorreta de adubos corretivos e o uso de espécies forrageiras e de taxas de lotação animal não recomendadas, verifica-se uma expansão de áreas com pastagens degradadas, que podem chegar a mais de 30 milhões de ha somente na região dos cerrados. Considerando outros usos, estima-se que no país mais de 140 milhões de ha de terras apresentam algum problema relacionado a degradação. Essas áreas podem ser encontradas em todos os biomas e regiões do país, sob variadas condições pedo ambientais e socioeconômicas. Compreendem áreas abandonadas,
mal utilizadas e/ou com processos erosivos, com baixa produtividade e perda de resiliência, com comprometimento dos mecanismos de regeneração natural. Neste sentido se faz necessária uma série de ações preventivas. Para se evitar a degradação das terras e contribuir para o desenvolvimento de sistemas de produção agrícola sustentáveis é necessário planejar o uso e adotar práticas de manejo e conservação do solo e da água de acordo com as fragilidades e potencialidades dos recursos naturais da propriedade rural. Sendo necessário aplicar o planejamento conservacionista da propriedade rural, levando em consideração as seguintes orientações: – Adequação da propriedade rural à legislação ambiental e preservação e recuperação das áreas de preservação permanente; – Divisão da área agricultável em glebas (zonas de manejo) o mais homogêneas possível de acordo com as seguintes principais características: relevo, topografia, cobertura vegetal, solos (caso não se tenha um mapa de solos em escala adequada ao tamanho da propriedade, observar principalmente a cor, textura expedita, estrutura e espessura dos horizontes diagnósticos superficiais e subsuperficiais e profundidade efetiva de raízes) uso atual, produtividade das culturas
Solo compactado à esquerda impossibilita absorção de água, ou pastos degradados mostram outros tipos de problemas, como formigueiros e cupinzeiros.
Plantios devem ser feitos em nível
(quando existentes) e histórico de exploração, adoção de práticas conservacionistas, grau de degradação ambiental do solo (principalmente inspeções visuais relacionadas ao tipo e a frequência dos processos erosivos), tamanho do talhão, distância dos recursos hídricos (em caso de áreas irrigáveis) e/ou de estradas, entre outros aspectos relevantes; – Diagnóstico detalhado do estado de conservação e/ou degradação do solo em cada uma das zonas de manejo visando caracterizar e dimensionar os processos erosivos e a presença de resíduos (restos de culturas, corretivos e/ou fertilizantes, dejetos de animais, embalagens de agrotóxicos, sacos plásticos etc.). Nesta etapa recomenda-se também
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Solo A falta de práticas conservacionistas provoca a redução da infiltração e a capacidade do solo de estocar água
Árvores frágeis, como bananeiras não devem ser utilizadas como quebravento.
avaliar a taxa de infiltração de água no solo e a ocorrência de camadas compactadas, coletar amostras de solo para avaliação da granulometria e da fertilidade (análise de rotina com inclusão de carbono) e descrever a cobertura vegetal natural e/ou o uso atual e as práticas de manejo existentes; – Escolha de culturas e plantas de cobertura de acordo com a aptidão agrícola das terras, exigências climáticas das culturas e demandas de mercado; e – Seleção de práticas de conservação de solo e água (terraceamento, cultivo em nível, rotação e/ou consórcio de culturas, cultivo em faixas, plantio direto, implantação de cordões vegetados etc.), de formas de aplicação de adubos e corretivos, de controle integrado de pragas e doenças e de aproveitamento de resíduos. Quanto mais degradada é a área, maior a necessidade de aplicação de insumos e tecnologias. É importante
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considerar para a escolha das práticas mecânicas, edáficas e vegetativas, além do nível de degradação, o uso pretendido, os equipamentos, mão de obra e insumos disponíveis. Em síntese, a falta da aplicação de práticas conservacionistas de uso e manejo do solo provoca a redução da infiltração e do armazenamento de água no solo. Consequentemente, em períodos de menor precipitação ocorre uma menor disponibilidade de água no solo não conservado em comparação com o solo bem manejado. Isto acarreta uma diminuição da tolerância das culturas a períodos de estresse hídrico e do tempo de retenção da água no solo sob condições de manejo inadequado. Já sob condições de excesso de chuvas ou após tempestades, o solo degradado acarreta um maior assoreamento dos corpos hídricos em relação ao solo conservado, gerando enchentes em áreas ribeirinhas e redução da vida útil dos reservatórios. O que prejudica a produção de energia hidroelétrica e acarreta ainda aumento nos custos para o tratamento de água para o abastecimento urbano devido a maior quantidade de sulfato de alumínio que é necessária para a decantação dessa maior quantidade de partículas de solo na água. Atualmente, as ações de conservação de solo e água e recuperação de áreas degradadas encontram-se dispersas em alguns programas de governo, sendo o programa de Microbacias, que existe em alguns estados da federação, o mais afeto ao tema, mas contempla também outras ações de desenvolvimento rural e não aborda com ênfase a questão de formas e estratégias de se evitar a degradação e de reinserir terras degradadas ao sistema produtivo. Considerando que a erosão acelerada devido ao mau uso do solo é um dos principais fatores responsáveis pela degradação dos recursos hídri-
cos e a maior parte das terras degradadas no país está ocupada com pastagens, é essencial estruturar um programa para reinserir estas áreas ao sistema produtivo. Seja para uso como pastagem novamente, ou em consórcio, rotação ou sucessão com outras culturas, visando o aumento da geração de renda para o produtor e a prestação de serviços ambientais para toda a sociedade, especialmente armazenamento de água e carbono no solo. São muitos os desafios a serem enfrentados para se iniciar um programa dessa natureza. Entre estes vale destacar: – grande extensão de terras com pastagens em diferentes níveis de degradação dispersas em todos os biomas; – carência de indicadores eficientes para definição de limites de níveis de degradação de pastagens; – falta de metodologia para o mapeamento de níveis de degradação de pastagens através da interpretação de imagens orbitais para os diferentes biomas brasileiros; – necessidade de se desenvolver e/ou adaptar tecnologias para recuperação de terras sob variados níveis de degradação de pastagem para produção agropecuária sustentável e prestação de serviços ambientais; – desconhecimento dos investimentos necessários e também das oportunidades para o recebimento de incentivos financeiros para a reinserção de terras com variados níveis de degradação de pastagem para produção agropecuária sustentável e prestação de serviços ambientais; – falta de dados consistentes sobre os benefícios econômicos e ambientais que podem ser obtidos com a transformação de terras degradadas em terras produtivas, podendo inclusive evitar ou, pelo menos, reduzir o avanço da fronteira agrícola e o consequente desmatamento.
Clima
Safrinha brasileira e safra dos EUA garantidas pelo falso El Niño Climatologistas têm tido muito trabalho para prognosticar com alguma exatidão como será o clima nos próximos meses Marco Antônio dos Santos *
C
om a safra de verão do Brasil já se encaminhando para a sua finalização, os olhos do mercado e dos produtores brasileiros se voltam agora para dois cenários: culturas de 2ª safra e de inverno. Além disso, e ainda mais importante, à safra norte-americana. Pois, sem dúvida, é o nosso maior concorrente em matéria de produção de milho e soja. E como será o clima para essas culturas aqui no Brasil e lá no outro extremo da América? A NOAA (National Oceanic and Atmospheric Administration) confirma que o planeta está sob
influência do El Niño desde o final de 2014. Porém, se realmente o clima está sendo influenciado pelo El Niño, que nada mais é que o aquecimento das águas equatoriais do oceano Pacífico, por que as chuvas ainda estão ocorrendo, principalmente no Centro-Oeste e Sudeste, já que uma das maiores características desse fenômeno é “cortar” as chuvas mais cedo, no começo do outono? E por que então houve a seca de janeiro se o El Niño provoca chuvas regulares e muitas vezes acima da média em toda a região Centro-Oeste, Sul e Sudeste do Brasil?
Previsão do total de chuvas acumuladas durante os meses de maio, junho e julho para o Brasil.
* o autor é engenheiro agrônomo e agrometeorologista da Somar Meteorologia.
50
100
200
300
Fonte CFSv2/NOAA – Simulação do dia 16/04/2015
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400
500
650
A explicação para todas essas perguntas continua sobre as águas do Pacífico, isto é, esse aquecimento anômalo das águas está ocorrendo quase que exclusivamente na região central do Oceano, onde realmente se caracteriza o El Niño, porém, para que esse fenômeno influencie o clima é necessário que toda a região central e leste do Pacífico se mantenha quente por um longo período ao mesmo tempo, e isso foi observado pouquíssimas vezes durante os últimos 10 meses. Com isso, essa grande oscilação na temperatura das águas, hora quente em uma região, hora fria
Previsão do total de chuvas acumuladas durante os meses de maio, junho e julho para os Estados Unidos
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em outra, gerou essa grande variabilidade no regime de chuvas e temperaturas no Brasil nesta safra. Por isso, é bom saber que não estamos sob a influência do El Niño canônico (o El Niño verdadeiro), pois segundo os modelos de previsão de médio e longo prazo, o mês de maio e até mesmo junho ainda serão marcados por pancadas de chuvas em grande parte das regiões Sudeste e Centro-Oeste, além de no Paraná (Mapa 1). Essas chuvas, previstas para ocorrerem ao longo desses próximos meses, permitirão que o milho safrinha, assim como as demais culturas de 2ª safra encontrem condições ideais ao seu desenvolvimento, resultando numa excelente safra este ano. Isso porque, mesmo com as
safrinha e do trigo. Mas e os Estados Unidos, como será o clima lá para eles? Igual ao de 2014? Sim. Com um oceano Pacífico apresentando águas equatoriais mais quentes, a tendência é que tanto a primavera quanto o verão norte-americano venham a ser com chuvas regulares e volumes suficientes para manter os solos com níveis satisfatórios de umidade (Mapa 2), favorecendo o desenvolvimento das lavouras de milho e soja. O grande problema é que, igual foi na safra passada, as chuvas do início da primavera, e o frio ainda bastante intenso, causam um atraso no plantio dessas culturas. Por isso que em abril o plantio do milho em todas as regiões produtoras dos Estados Unidos se manteve
É bom saber que não estamos sob a influência do El Niño canônico, o verdadeiro. águas do Pacífico ainda se mantendo com temperaturas acima da média, as frentes frias conseguirão avançar com certa facilidade sobre o Brasil Central, permitindo que pancadas de chuvas sejam registradas. Entretanto, os maiores volumes de chuvas deverão ser registrados sobre as áreas produtoras da região Sul. As chuvas regulares e acima da média no Sul do Brasil, permitirão que as culturas de inverno, como a do trigo, não encontrem problemas para, primeiro, serem implantadas e, depois, se desenvolverem. Contudo, vale ressaltar que esses modelos climáticos indicam que os próximos 8 meses deverão ser muito parecidos com os de 2014, ou seja, o Rio Grande do Sul e Santa Catarina poderão novamente ter um inverno com chuvas muito acima da média e até mesmo podendo gerar algum problema no período da colheita do milho
atrasado tanto em relação à safra anterior, comparado com a média das últimas 5 safras. E agora, nesse mês de maio, é a vez do plantio da soja se manter atrasado em relação às últimas safras. Mesmo com esse atraso, a perspectiva é que os próximos meses tenham chuvas regulares e, dessa maneira, o mercado já trabalho, mais uma vez, com uma nova safra recorde, principalmente de soja nos EUA. No Brasil, com relação ao frio, estão sendo previstas algumas ondas de frio mais intenso entre o final deste mês de maio e começo de junho. Não há como prever se irão ou não ocorrer geadas, mas é fato que essa deverá ser a primeira grande onda de frio mais intenso. Outras entradas de massas de ar polar estão previstas para os meses de junho e julho. Isso deixará o mercado e produtores apreensivos e, principalmente, cautelosos. maio 2015 – Agro DBO | 49
Café
Renovação tecnológica Produtores do Sul de Minas Gerais, antes acomodados a práticas tradicionais, modernizam a produção em busca de rentabilidade. Rogério F. Furtado
O
s problemas conjunturais não afetam o ânimo de cafeicultores mineiros. Sua atenção está voltada para o longo prazo, enquanto investem nas lavouras, aumentam a produtividade e melhoram a qualidade do produto. Aos 57 anos, Fernando Rosa Alves permanece agarrado ao ramo da cafeicultura desde a adolescência. Pelo jeito, não há derriçadora capaz de derrubá-lo. Como bom lutador, já encaixou o golpe baixo desferido pela seca em 2014, quando tirou apenas 126 sacas de café beneficiado do sítio Serrinha I, em Campestre, Sul de Minas Gerais, onde os cafeeiros cobrem 13 dos 36 hectares da propriedade. Com a melhoria do clima após a es-
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tiagem prolongada, Alves agora projeta esperançoso a colheita de 400 sacas, no mínimo, para 2015. Caso se confirme, esse número marcará a retomada do movimento ascendente da produtividade no sítio: serão 30 sacas/ha. O otimismo do produtor tem razão de ser. Suas lavouras, com folhagem vistosa, estão carregadas de frutos. No entanto, para Ivan Franco Caixeta, professor do Instituto Federal do Sul de Minas Gerais, em Machado, as condições promissoras do sítio Serrinha I parecem configurar uma exceção, não a regra geral na região sul do estado. Antes de tudo, a opinião de Caixeta está calcada em sua experiência enquanto cafeicultor. “O quadro varia muito
em toda a região devido aos efeitos da estiagem e ao próprio comportamento dos cafezais em 2014. Nos 120 hectares que cultivo em sociedade com um irmão, o ano passado foi bom como esperávamos, em função da bienalidade. A seca não afetou tanto nossas lavouras porque o solo está coberto por grande quantidade de matéria vegetal, remanescente de um período em que produzíamos só café orgânico. Essa camada protetora segurou um pouco a umidade no solo. Graças a esse fator, os cafeeiros puderam suportar bem a carga de frutos. A quebra foi pequena em nossa propriedade. Se deveu mais ao tamanho reduzido dos grãos. Mas, por conta do clima e da natureza do cafeeiro, que
Fotos: Rogério F. Furtado
Cafezal do sítio Serrinha I, no município de Campestre, no Sul de Minas Gerais.
produz menos após uma safra generosa, 2015 será um dos piores anos para nós. Colheremos só nos cafezais novos e naqueles recepados anteriormente. A produtividade vai despencar de 45/50 sacas/ha, nossas melhores marcas, para algo em torno de 12/15 sacas/ha”. O professor desautoriza qualquer expectativa otimista em relação à safra como um todo. “Tal como era previsto, em geral as guias dos cafeeiros estão mais curtas. Além disso, muitos grãos miúdos caíram na etapa de frutificação. Nas lavouras que agora se apresentam em melhores condições, os frutos que restaram se desenvolveram bem, estão bonitos, graúdos. Mas são poucos. Portanto, a colheita será menor”. Em vista das circunstâncias, pode-se afirmar que o produtor Fernando Alves teve sorte ao receber um quinhão razoável das chuvas erráticas dos últimos meses. Mas o bom estado das lavouras no sítio Serrinha I sem dúvida reflete o
tratamento que lhes é dispensado. Alves pertence a uma geração de vorazes “consumidores” de tecnologias para a cafeicultora. Sua imersão na atividade ocorreu há 30 anos, após o casamento com Eunice Alvarenga e a mudança para o sítio. Na época, os cafezais da propriedade eram menores, formados com variedades de bourbon vermelho e amarelo. A renovação e a ampliação das lavouras foram feitas aos poucos, conforme recomendações técnicas, a experiência acumulada pelo proprietário e as informações compartilhadas com outros produtores. O bourbon foi substituído por outros cafés: mundo novo, acaiá, catuaí, catucaí e topázio. Algumas dessas variedades são mais precoces. Outras, menos. Assim, o produtor pode estender o período de colheita e conseguir maior quantidade de frutos maduros, ou cerejas. O café dessa categoria, descascado, tem preços melhores. Rotina técnica Com financiamento do Banco do Brasil, Alves já montou a instalação para lavar e descascar de 30% a 40% da safra – é o que consegue de café maduro. No sítio, as análises de solo, as aplicações de calcário, a adubação e o uso de agroquímicos de acordo com as prescrições técnicas são rotineiras. Com ajuda dos filhos Fernando e Fábio, ambos adultos, mantém as lavouras sob estrita vi-
gilância. Caso surja algum problema que não possam resolver, recorrem de imediato à assistência técnica, prestada por agrônomos da Cooperativa de Cafeicultores de Guaxupé, à qual estão associados. O acompanhamento persistente das lavouras, além de não dar trela às pragas, doenças e carências nutricionais, também permite identificar os melhores cafeeiros em termos de produtividade e vigor, entre outras características desejáveis. Alves então aproveita para formar mudas com as sementes dessas plantas. Nos plantios, a distância entre as linhas é adequada às operações mecanizadas de roçagem, pulverização e adubação. Os homens da casa se ocupam com trabalhos manuais só onde o trator não chega. A colheita mecanizada, também possível, talvez se torne viável mais adiante, caso aumente a oferta de serviços por terceiros e baixem os custos. Por enquanto, um pequeno grupo de trabalhadores é contratado a cada ano para executar as tarefas. Alguns utilizam derriçadoras fornecidas por Alves. Em troca, pagam o combustível e se responsabilizam pela manutenção das máquinas. Os demais realizam a colheita manual. Nessa fase de movimentação intensa no sítio, sobram ocupações para todos. Eunice inclusive ajuda a revirar o café na etapa de secagem no terreiro. Encerrada a pós-colhei-
Fernando Alves e a esposa, Eunice, mostram que, com capricho e tecnologia é possível obter bons resultados.
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Café Segundo especialistas, a produção de cafés finos não vai além de 5% do total colhido no país. Há muito espaço para crescer.
ta, a família despacha a produção para a cooperativa, cujo suporte é considerado essencial por Alves, que se tornou sócio da entidade há 15 anos. “Faço tudo por meio da cooperativa. É dela que compro todos os insumos e máquinas, usando café como moeda de troca, de acordo com o preço da data da operação. O pagamento é feito em três parcelas anuais, com juros de 6,5% ao ano”. Há outras vantagens. Alves acaba de receber perto de R$ 10 mil da Cooxupé, fração que lhe coube das “sobras” (lucro) apuradas no exercício de 2014 pela cooperativa, acrescidas de crédito do ICMS. Outra parcela do lucro engorda as cotas de capital dos cooperados. Fora isso, parceira do Senar, a Cooperativa é pródiga em oferecer cursos de capacitação às famílias dos associados, atraindo outros produtores. “No ano passado, havia 560 cooperados no município. Hoje, somos mais de 700”. Alves enumera, com modesta satisfação, o patrimônio conquistado em mais de 40 anos de atividade. “Já passamos por alguns apuros, mas sempre nos reequilibramos. Temos nossa casa, caminhão, tratores, implementos agrícolas, veículos de passeio, diversas benfeitorias e os equipamentos essenciais para a cafeicultura. Nada 52 | Agro DBO – maio 2015
Cafeeiros da fazenda Iracema, produtora de cafés especiais no município de Machado (MG).
Grãos quase no ponto de colheita: algumas propriedades conseguem cafés especiais com pontuação acima de 80.
foi tomado por empréstimo ou alugado. Conseguimos pagar tudo que compramos. E vamos vivendo. Estamos tendo lucro”. Seus filhos se mostram tão contentes quanto ele. Técnicos agrícolas formados pelo Instituto Federal do Sul Minas Gerais, em Machado, quando perguntados se não gostariam de viver em cidades, respondem quase em uníssono: “Nem pensar. A roça é muito melhor”. A mãe confirma: “Eles gostam mesmo daqui. Saem apenas para jogar futebol!” Café certificado Produtores familiares, como os Alves, ocupam uma das pontas do espectro da cafeicultura. A outra extremidade é domínio de grandes produtores individuais e empresas. Uma delas pertence ao grupo do qual fazem parte a Dína-
mo Armazéns Gerais Ltda. e vários outros empreendimentos coligados à cadeia do café. Há alguns anos, o braço agrícola do grupo comprou a fazenda Iracema, em Machado. Em 2014, acelerou o passo no sentido de conquistar uma fatia do mercado de cafés especiais e ingressou na BSCA, instituição que aglutina os produtores desses cafés no Brasil. Para associar-se, o interessado deve comprovar que sua fazenda é bem administrada. Isso significa ter boas práticas agrícolas, respeito para com a natureza e os trabalhadores rurais. No caso da BSCA, o candidato precisa ser auditado por entidade especializada, reconhecida em nível internacional. A fazenda Iracema passou pelo crivo da UTZ, certificadora europeia. E também já foi aprovada no programa Certifica Minas Café, criado pelo governo mineiro. Ao mesmo tempo, o tecnólogo Carlos Henrique da Silva, classificador de cafés da Dínamo, cuidava de obter o diploma de Q-Grader, concedido pelo Coffee Quality Institute, da Califórnia, EUA. “As certificações vendem credibilidade”, comenta Leandro Carlos Paiva, coordenador do Curso Superior de Tecnologia em Cafeicultura, do Instituto Federal. Paiva colabora com sua esposa Elisângela, engenheira de alimentos, e Carlos Henrique Silva no desenvolvimento dos projetos da fazenda Iracema, onde frutificam mais de 1 milhão de cafeeiros. Dividida em glebas, a fazenda tem área total de 514 hectares, dos quais 286 de café. É toda mecanizável e irrigada, com alto nível tecnológico. Em circunstâncias normais, a propriedade tem potencial para produzir 15 mil sacas. A produtividade média é superior a 50 sacas por hectare. “Mas já alcançamos 80 sacas/ha em alguns talhões. Os grãos melhores saem das partes mais altas da propriedade. Eles comporão
nossos produtos que classificaremos como reservas especiais”, diz Silva. Por enquanto, ele e Paiva se ocupam, entre outras atividades, da seleção dos padrões de café a serem oferecidos ao mercado. É preciso operar em todos os segmentos porque a produção de cafés finos não vai além de 5% do total colhido no país, na melhor das hipóteses, estima Leandro Paiva. Pelo sistema da SCAA, a associação estadunidense dos cafés especiais, nas provas o produto recebe notas que variam de 60 a 100 pontos. Se apresenta defeitos e não tem qualidade de bebida, o café é ruim: fica no primeiro estrato, de 60 a 78 pontos. Na faixa de 78 a 84 se encontram os cafés de bom padrão, mas nada excepcionais. Esses dois primeiros grupos constituem 75% da oferta. Acima, entre 84 e 88 pontos, se classificam os cafés especiais com aromas e sabores diferenciados: achocolatados, de nozes, frutados e cítricos. Nesse grupo se enquadra 20% da produção. “Os excepcionais estão acima de 88/90 pontos. São cotados de R$ 1,4 mil a R$ 1,5 mil a saca. É muito difícil alcançar ou ir além de 92 pontos. Um café africano com 96 pontos é o recordista mundial. O brasileiro melhor classificado até hoje alcançou 94. Lotes de no máximo 50 sacas desses cafés extraordinários normalmente são comerciados via leilões, sendo arrematados a preços também excepcionais”, diz Paiva. Injeções de tecnologia Assim como a produção, o mercado dos cafés especiais ainda é bastante restrito. Mas as perspectivas são animadoras, segundo Silva: “Basta ver o aumento constante das pequenas torrefações que vão buscar produtos de qualidade diretamente nas fazendas. Conforme suas preferências, algumas até orientam os produtores no preparo de pequenas partidas que darão origem a cafés diferenciados”. Leandro Paiva acrescenta: “O mercado está
pedindo cada vez mais esses cafés com aromas bem característicos. É um indício de que diminui a parcela da população que faz suas escolhas olhando apenas os preços. O café é uma iguaria muito apreciada. Tanto assim que o consumo global não parou de crescer nem mesmo com a crise de 2008”. A exemplo de muitos municípios do Sul de Minas, Machado respira café. É natural que seja assim, pois não há culturas alternativas tão bem adaptadas e rentáveis para a região. No entanto, tal como as cidades congêneres, Machado poderia ter sido vítima de sufocamento. O risco foi afastado porque a cafeicultura local sacudiu certa modorra de poucas décadas atrás. Para isso tomou potentes injeções de tecnologia. Luiz Gonzaga Xavier, agrônomo do escritório da Emater diz: “De modo geral, há 20 anos, o pro-
A mecanização avança no Sul de Minas: em algumas regiões, os produtores não faziam nem o báscio, como calagem e análise.
A turma da Emater em Machado: Idaílson, Gilberto, Nicíula e Luiz Gonzaga: “Crédito alavancou a produção”.
dutor não realizava nem o básico, como as análises e a calagem do solo. Agora, até mesmo pequenos agricultores já recorrem à análise foliar, um complemento necessário à boa condução das lavouras. Os terreiros de secagem do café, antes de chão batido, hoje estão concretados ou pelo menos cobertos de asfalto, em benefício da qualidade do produto”. Xavier e seus colegas, Niciula Soares, Idailson Cavalcanti e Gilberto Campos se põem de acordo ao apontar o crédito como sendo a alavanca da renovação tecnológica, principalmente o do Pronaf. “Esse programa veio em boa hora. Aqui e em outras regiões as propriedades familiares se multiplicaram. Primeiro em consequência da ‘reforma agrária natural’, a partição de glebas entre herdeiros. Depois não é incomum ver proprietários se desfazerem de áreas grandes vendendo lotes”, diz Cavalcanti. A concessão de crédito pelo Pronaf multiplicou o número de cafeicultores, pois meeiros e arrendatários são considerados produtores no âmbito do programa. Assim, para gastar menos com mão de obra, os proprietários de terras oferecem parcerias aos trabalhadores. É difícil mensurar o impacto positivo da concessão de crédito em toda sua extensão. Mas pode-se ter certeza de que cerca de 100 tratores novos fazem alguma diferença na produção. Esse é o total aproximado dessas máquinas que entrou em Machado desde o início do Pronaf. Atualmente, o saldo da carteira de empréstimos do programa no município é de R$ 45 milhões para custeio e de R$ 15 milhões para investimentos. “Tendo recursos, o pequeno produtor se sente encorajado a tomar iniciativas que terminam por elevar seu nível de renda”, diz Xavier.“E a Emater caminha junto com ele”, diz Niciula Soares, extensionista de Bem-Estar Social. “O objetivo é a melhoria da família rural tanto nos aspectos de saúde, alimentação, nutrição, quanto na agregação de valor à produção”. maio 2015 – Agro DBO | 53
Artigo
Sistema Safra Zero A tecnologia simples da poda é a redenção da cafeicultura de montanha, pois o café precisa de mais competitividade. Hélio Casale *
Gustavo Paes
Ico Guimarães ao lado do seu produtivo cafezal.
* O autor é engenheiro agrônomo, consultor e cafeicultor, e membro do Conselho Editorial da Agro DBO.
C
om o sumiço e encarecimento da mão de obra rural é comum ouvir nas rodas onde se fala do cultivo do cafeeiro, que a cafeicultura de montanha está com os dias contados. Para se manter competitivo no negócio café, deve-se cuidar especialmente dos itens que representam os maiores custos na produção, a colheita e a adubação. Por outro lado, um ditado popular diz: “É na adversidade que se encontra a oportunidade”. Aqueles que acreditaram nessa máxima e não desistiram, acabaram por encontrar uma saída, que eleva as produções com redução nos custos. A saída foi batizada como sistema safra zero. Fazer Safra Zero implica em manejar a lavouras de maneira a acentuar a bienalidade, zerando a colheita nos anos de safra baixa, manejando parte das lavouras e fazendo a colheita e a poda de esqueletamento, simultaneamente, o que leva a substancial redução nos custos. Esse sistema engloba duas das principais operações em uma, colheita e poda ao mesmo tempo.
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Essa iniciativa já era praticada na região de Franca (SP) há mais de 20 anos por Otaviano Abreu Sampaio e Zé Altino Diniz, dois baluartes da cafeicultura regional. Atualmente, muitos outros cafeicultores aderiram ao sistema safra zero, não faltando bons exemplos. Na região de Três Pontas, destaque para Eric Abreu e o conhecidíssimo Clei, cujas lavouras estão bem conduzidas e produzindo muito café. Na região de Ouro Fino – MG, o cafeicultor Ico Guimarães foi um dos que mais acreditou e investiu no aperfeiçoamento do processo. Montou uma oficina na sua fazenda, a Mangará e com ajuda de um hábil mecânico, construiu a Papa Galhos, que vem sendo aperfeiçoada a cada ano. Atualmente, outras empresas já colocaram no mercado máquinas semelhantes. Ico entrou no Safra Zero cerca de 18 anos atrás, depois de sofrer um golpe na área financeira. Não desanimou, foi em frente. Tem lavouras com 9 cortes, ou seja, 18 anos, um ano de alta carga e outro de Safra Zero. Com isso, saiu de 27 sacas por ha para 52 sacas na média móvel dos últimos 6 anos. O plantio antigo tinha espaçamentos que variavam de 3 x 1 a 4 x 1. Atualmente, o espaçamento que vem adotando é de 2,20 x 0,70 cm, o que dá cerca de 6.500 plantas por ha. Não faz desbrota, deixando em livre crescimento. As variedades que melhor se adaptaram foram: o 66, 144 e o MN 379-19. Nas covas de plantio, apenas 200 gramas de Superfosfato Simples e 50 gramas do Cloreto de Potássio. Risca
2 a 3 vezes o solo, incorporando muito bem os fertilizantes. Plantio entre janeiro e fevereiro. O que mais chama a atenção no trabalho do Ico é o emprego de logística aperfeiçoada ano a ano. Estava colhendo de 20 a 22 sacas por trabalhador/dia, e passou a 42, sistematizando da seguinte maneira: a cada 40 metros deixa um carreador em nível para passar com a Papa Galhos e fez pendentes a cada 21 metros, quando tira apenas 1 pé, deixando um espaço de 1,40 metro para passar os panos com os frutos da colheita. Trabalhadores somente 8, assim distribuídos: 2, esqueletando com motosserra equipada com lâmina, 4 vão estendendo e puxando os panos (150 a 170 panos de 10 metros) e os outros 2, na Papa Galhos, cuidando da alimentação e ensaque dos grãos colhidos. O rendimento que vem sendo obtido – cada operador da motosserra esqueleta cerca de 1.500 pés por dia. Como são dois, esqueletam 3.000 pés por dia. As lavouras estão bem carregadas, estimando 9 litros de café da roça (CR) por pé. Assim, 3.000 pés vezes 9 litros dá 27.000 litros de CR. O pagamento dos trabalhadores é feito por alqueire de 60 litros. 27.000 litros divididos por 60 dá 450 alqueires para as 8 pessoas, ou seja, 56,25 alqueires para cada um. Pagando R$ 5,00 reais por alqueire, cada trabalhador ganha R$ 281 reais por dia. Trabalhadores não faltam no campo para ganhar um salário desses. Bom para o trabalhador, bom para o patrão. Uma boa solução para aproveitar racionalmente as terras ricas das montanha.
Novidades no campo Cevadas cervejeiras
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A Embrapa Trigo apresentou na 30ª Reunião Nacional de Pesquisa de Cevada, realizada em abril em Passo Fundo (RS), a BRS Korbei, indicada para RS, SC e PR em altitudes superiores a 500 metros. Cultivar com duas fileiras de grãos, tem porte baixo, ciclo de 125 a 135 dias, resistência ao oídio e alto potencial produtivo, além da excelente qualidade de malte. Durante o encontro, foi lançada também a cevada cervejeira ANAG 01, desenvolvida em conjunto pela Fundação Agrária de Pesquisa Agropecuária e a Ackermann, empresa com sede na Alemanha.
Escavadeira potente
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Com 14 toneladas e motor de 126 hp, a R140-9S posiciona-se como a escavadeira mais potente da categoria. Segundo a empresa, faz menos esforço que as concorrentes e apresenta o menor consumo de combustível entre as máquinas de 12-15 toneladas. Conforme Alcides Guimarães, gerente nacional de pós-venda da BMC-Hyundai, a R140-9S, de seis cilindros, exige menos do motor e componentes hidráulicos. “Em média, consome de 10 a 12 litros de combustível por hora, dependendo do modo de operação”.
Sistemas de monitoramento
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A Valley Irrigação aproveitou a Agrishow, realizada de 27 de abril a primeiro de maio em Ribeirão Preto (SP), para lançar o Aqua Trac, dispositivo que monitora a umidade do solo, acessível via smartphone, tablet ou computador. A empresa também apresentou o Field Commander, sistema de monitoramento de pivôs via GPS, também acessível via celular, smartphone ou computador, sem necessidade de substituição de controle pré-existente no pivô.
Plantadeira de alta tecnologia
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Novidade da Semeato, a Newland está disponível em modelos com 13, 15 e 17 linhas espaçadas a 45 centímetros. Capaz, segundo a empresa, de realizar a semeadura de grãos graúdos com maior eficiência, qualidade e precisão, pode trabalhar também com duas máquinas acopladas, dobrando assim o número de linhas. “A Newland dispõe de cinco sistemas diferentes de sulcadores para a deposição de adubo, linhas de semeadura pantográficas com grande flutuação e alta precisão do distribuidor”, explica o engenheiro agrônomo Eduardo Copetti, gerente de desenvolvimento de mercado e produto da empresa.
produtos para Indução floral de limão
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A Fertec apresenta NYon Kalcium Ferti + NYon Lemon, fertilizantes conjugados, nanoparticulados, específicos para uso na produção de limão. Com uma combinação de nutrientes, como cálcio, cobre, cobalto, zinco e molibdênio, garante melhor coloração de frutos, com verde mais intenso. “Focada na indução da floração, a linha NYon permite o desenvolvimento de frutos maiores na entressafra, com todas as qualidades dos frutos colhidos na safra, garantindo assim ganhos ao produtor”, afirma Fernando Paiva, diretor de pesquisa e desenvolvimento da empresa.
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Novidades no campo Trigo melhorador
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Lançamento da Fundação Pró-Sementes, a FPS Virtude é destinada aos produtores das regiões II (moderadamente quente, úmida e baixa) e III (quente, moderadamente seca e baixa) dos estados do Paraná e de São Paulo. Segundo os pesquisadores, a qualidade industrial é um dos pontos fortes da nova cultivar, classificada como pão/melhorador. Além do alto potencial produtivo e do bom desempenho em períodos de seca, tem bom comportamento à debulha, à germinação na espiga, ao acamamento, ao oídio, à brusone e manchas foliares.
Menos acidez e mais firmeza
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A Syngenta apresenta seu novo híbrido para o segmento de tomate salada, o Ozone, menos ácido e mais firme que os tomates convencionais e resistente às duas principais pragas da cultura: a vira-cabeça e o geminivirus. “É um produto de múltiplas funções”, diz Marcos Maggio, gerente de portfólio da empresa. Segundo ele, o Ozone beneficiará horticultores de todo o Brasil, especialmente os de regiões mais quentes, com maior pressão de doenças, como é o caso do litoral de Santa Catarina e do Paraná, sudeste de São Paulo, Goiás, Triângulo Mineiro, Rio de Janeiro e Espírito Santo
Soja para o sudeste goiano
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A Tropical Melhoramento & Genética levou várias cultivares para a Tecnoshow Comigo, realizada no mês passado em Rio Verde (GO), uma delas – a Anta 82 – específica para o estado de Goiás. De acordo com a empresa, a variedade apresenta estabilidade associada a um bom teto produtivo, boa sanidade e ciclo que permite realizar a safrinha, além de resistência ao cancro da haste, pústula bacteriana e à raça 3 dos nematoides de cisto (H. glycines).
Fertilizante à base de enxofre
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Desenvolvido pelo grupo Bio Soja, o NHT Super S é um fertilizante fluido com alto teor de enxofre capaz, segundo a empresa, de induzir o crescimento das plantas e a frutificação, aumentando a produtividade das culturas. O NHTSuper S deve ser utilizado para a pulverização das lavouras em pré-plantio, com jato dirigido nos sulcos. Diferente de outros produtos, possui partículas muito pequenas, o que permite a oxidação gradual pelas bactérias, oferendo a suplementação adequada para as plantas.
Monitor de produtividade para cana-de-açúcar
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A Case IH apresentou no Seminário Idea, realizado em março em Ribeirão Preto (SP), um monitor de produtividade para colheitadeiras de cana-de-açúcar da série A8000, capaz de mensurar o fluxo de cana que passa pela esteira antes de ser lançada ao transbordo (veículo de transporte da cana até a usina). O sistema utiliza células de carga como instrumento de medição do peso da matériaprima colhida. O software acoplado permite verificar a quantidade e a produtividade de cana por hectare, hora ou até por variedade colhida.
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Análise de mercado
Mercado de soja estável Apesar do cenário “normal” no curto prazo, aconselha-se ao produtor tomar medidas defensivas, como reduzir custos e proteger preços.
O
s fundamentos atuais do mercado futuro de soja apontam para um período de relativa calmaria, em termos de preços. Os níveis de US$ 13,00 a US$ 15,00/bushel, nos contratos negociados na Bolsa de Chicago, em que muitos produtores ficaram acostumados nos últimos anos, vão se mostrando exceção. Só ocorrem em períodos de anormalidade na oferta, geralmente causada por problema climático. Agora, uma nova realidade se apresenta para o curto e médio prazos. Quando safras regulares se sucedem, como ocorreu na América do Sul e EUA em 2014, e na América do Sul neste ano, os estoques se recom-
põem e as cotações retornam a níveis “normais”. De forma geral, é possível observar que, quando os estoques estão normais (nem sobrando nem faltando muito), os preços ficam entre US$ 10,00 e US$ 9,00/bushel; quando estão apertados, entre US$ 13,00 e US$ 15,00/bushel. De acordo com o USDA, os estoques americanos saíram de 2,5 milhões de toneladas na safra 2013/14, para 10 milhões t na safra 2014/15. Quadruplicaram de um ano para o outro. Bastou uma safra cheia (108 milhões t) para recjuperar os estoques, mesmo com consumo acelerado nos EUA e China. Quanto aos estoques mundiais, saíram de 57,4
para 89,5 milhões t. Se alguém ainda não entendeu porque as cotações caíram de US$ 15,00 para US$ 9,50/ bushel nos últimos meses, é só olhar os números. Não tem muito segredo para analisar o quadro fundamental: Pouca oferta + Consumo normal + Estoques Baixos = Preços altos. Este foi o principal viés de mercado de 2011 a meados de 2014, com US$ 16,00 como teto e US$ 13,00 como piso. Houve cotações acima e abaixo desses níveis, mas por pouco tempo. Oferta normal + Consumo normal + Estoques normais = Preços normais. Este é o cenário que estamos vivendo agora, com cotações entre US$ 10,00 e US$ 9,00. Acredito que ele vá predominar no
Trigo – Ainda impulsionadas pela baixa oferta
de cereal de boa qualidade, as cotações seguiram em alta no mercado brasileiro nas três primeiras semanas de abril. Conforme levantamento do Cepea, os negócios refluíram ao longo do mês – os moinhos declararam aos pesquisadores da instituição que estão bem abastecidos, sem necessidade, portanto, de sair às compras. Quanto aos triticultores, não abriram mão dos valores pedidos, mesmo com demanda enfraquecida.
* Em 15/4, o Indicador Cepea/Esalq registrou R$ 683,57 por tonelada, mercado disponível, à vista (o valor a prazo é descontado pela taxa NPR), posto Paraná.
ALGODÃO –
Os preços dispararam na primeira quinzena de abril. Segundo pesquisadores do Cepea, os fundamentos de alta continuaram nas semanas seguintes, sustentados pela demanda de indústrias e comerciantes e pela posição firme dos vendedores. Estes, apostando na baixa disponibilidade de pluma até o início da safra 2014/15. No acumulado do mêsl (até o dia 20), o Indicador Cepea/Esalq subiu 5,4%, fechando a R$ 219,90 c/lp no dia 20.
* Em 15/4, o Indicador Cepea/Esalq registrou R$ 219,85 centavos de real por libra-peso.
ARROZ – As cotações permaneceram no pa-
tamar dos R$ 35 na primeira quinzena de abril. O Indicador Esalq/Bolsa Brasileira de Mercadorias-BM&FBovespa reflete esta estabilidade: desde o início do mês, acumulou queda de 0,42%, fechando a R$ 35,72 no dia 20. Os compradores permaneceram na moita, à espera de melhores preços, devido às indicações de bom volume na safra 2014/15. Os orizicultores, na expectativa de de valores mais atraentes após o término da colheita.
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* Em 15/4, o Indicador Arroz em Casca Esalq/Bolsa Brasileira de Mercadorias – BM&FBovespa registrou R$ 35,70 à vista por saca de 50kg, tipo 1, posto indústria Rio Grande do Sul.
Análise de mercado curto e médio prazos. Mas existe aí a possibilidade de outro cenário, também de exceção, que é quando os estoques estão altos demais. Se houver novamente uma grande safra americana em 2015 e acontecer algum problema com a demanda, aí existe a possibilidade de o mercado futuro na Bolsa de Chicago trabalhar abaixo de US$ 9,00/bushel. Não estamos dizendo aqui que “o mercado vai ficar abaixo de US$ 9,00/bushel”. O que estamos querendo dizer é que “pode” acontecer o terceiro cenário: “Muita oferta + Consumo Reduzido + Estoques elevados = Preços Baixos”. Ou seja, preços realmente baixos, podendo romper o suporte psicológico dos US$ 9,00/bushel. Este cenário seria um complicador a mais para o produtor brasileiro. Por isso, é imperativo a tomada de medidas defensivas por parte dos produtores, como redução de custos, e proteção de preços via mecanismos de mercado futuro. A medida mais correta é garantir um pata-
soja – As paralisações dos caminhoneiros não afetaram tanto o embarque de soja para o exterior, mas ajudaram a elevar um pouco os preços. A demanda aquecida, combinada com condições climáticas desfavoráveis em algumas das principais regiões produtoras, sustentaram a tendência altista. Do outro lado da balança, a recomposição dos estoques brasileiros e mundiais pressionaram as cotações para baixo no mercado internacional. No curto prazo, a tendência será definida pela paridade com o dólar e estimativas sobre a safra norte-americana.
* Em 15/4, o Indicador Cepea/Esalq/BM&FBovespa registrou R$ 70,51 por saca de 60 kg, posto Paranaguá, descontado o prazo de pagamento pela taxa CDI/Cetip.
mar mínimo de preços para a safra 2016, plausíveis e alinhados com uma perspectiva de que os preços “podem” piorar, mas sem abrir mão de ter uma possibilidade de aproveitar preços mais altos. Existe um seguro contra queda de preços que permite participar da alta, que se chama “opção de venda” (compra de put, na terminologia do mercado), e que podem ser adquiridos em cor-
retoras de mercado futuro. Não são muito baratas. Existem alternativas mais em conta, como a compra de put spread, mas, assim como seguro de carro ou de vida, tornam o sono mais tranquilo. Miguel Biegai Jr. Analista e trader de derivativos agrícolas e cambiais na Granopar Corretora de Mercadorias
CAFÉ – As cotações do arábica oscilaram bas-
* Em 15/4, o Indicador Café Arábica Cepea/Esalq registrou R$ 445,87 por saca de 60 kg, bica corrida, tipo 6, bebida dura para melhor, posto cidade de São Paulo.
tante na primeira quinzena de abril. Em 4/4, o Indicador Cepea/Esalq contabilizou pico de R$ 470 pela saca de 60 kg. Os pesquisadores registraram, no entanto, grande variação de valor nos contratos, dependendo da praça, da qualidade do café e do prazo de entrega. Houve quem conseguisse R$ 550. Boa parte da indústria torrefadora se retraiu do mercado, esperando que, com o início da colheita, neste mês de maio, os valores caiam.
MILHO –
Fonte: Cepea – www.cepea.esalq.usp.br
* Em 15/4, o Indicador Esalq/BM&FBovespa registrou R$ 27,46 por saca de 60kg, descontado o prazo de pagamento pela taxa CDI/Cetip.
As cotações seguiram em trajetória de queda nas três primeiras semanas de abril. O avanço da colheita de verão no Brasil, o último relatório da Conab (a companhia elevou a produtividade do milho safrinha, reforçando a perspectiva de maior excendente doméstico) e a queda dos preços externos referenciados na CME/CBOT (Bolsa de Chicago), impactos pela retração na taxa de câmbio e pelo clima bom no Corn Belt, ajudaram a manter a tendência baixista.
AÇÚCAR –
* Em 15/4, o Indicador Açúcar Cristal Cepea/Esalq registrou R$ 51,57 por saca de 50 kg, com ICMS (7%), posto São Paulo.
As cotaçõesl se mantiveram em relativa estabilidade na primeira quinzena de abril, na faixa dos R$ 51 pela saca de 60 kg. Ao longo do mês, os negócios seguiram em ritmo de calmaria. Os compradores se retraíram, na expectativa de queda nos preços devido à intensificação dos trabalhos de colheita. A safra recém iniciada deve ser, mais uma vez, alcooleira, mas não a ponto de impactar os preços do açúcar, pressionados pelos altos estoques mundiais.
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Biblioteca da Terra Estudo sobre bananas
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De autoria dos pesquisadores Luiz Carlos Chamhum Salomão e Dalmo Lopes de Siqueira, o livro Cultivo da Bananeira incorpora os mais recentes avanços em pesquisa e manejo, contemplando todas as etapas do processo produtivo da fruta, a segunda mais consumida no Brasil, atrás apenas dos citros. Sexto maior produtor mundial de bananas, o país dispõe de 480 mil hetares plantados. Com 109 páginas, a publicação custa R$ 26. Para adquirí-la, o link de acesso é www.editoraufv. com.br/detalhes.asp?idprodutos=1827584
Receitas à base de soja
Plantas não convencionais
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Resultado de quase 10 anos de trabalho dos autores Valdely Ferreira Kinupp e Harri Lorenzi, o livro Plantas Alimentícias Não Convencionais (Panc) no Brasil contempla 351 espécies nativas e exóticas, cada qual ocupando duas páginas. A primeira página traz características morfológicas, informações de uso geral e culinário e referências bibliográficas. A segunda, fotos legendadas das partes das plantas utilizadas para consumo e receitas ilustradas. Com 2.510 fotografias, 768 páginas e 1.053 receitas, custa R$ 80. Os interessados devem entrar em contato com a Editora Plantarum pelo telefone (19) 3466-5587 ou pelo site www.plantarum.com.br
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A Embrapa aproveitou a ExpoLondrina 2015, realizada no mês passado em Londrina (PR), para lançar o livro Receitas com soja para uma vida saudável, de autoria de Mercedes Concórdia Carrão Panizzi e José Marcos Gontijo Mandarino. Na dieta humana, a soja pode ser consumida diretamente ou processada para produção de bebidas, temperos, sopas, massas, biscoitos, pães, bolos, etc. “Esse livro é resultado de 35 anos de pesquisa científica e de promoção da soja na alimentação humana”, ressalta Mercedes. Segundo Mandarino, o grão possui, em média, 40% de proteínas, 20% de óleo (lipídios), 5% de minerais e 34% de carboidratos (açúcares como a sacarose, fibras, dentre outros). “Além disso, não há amido em sua composição, podendo ser indicado para diabéticos”, explica. Com 225 receitas, a publicação custa R$ 21. O contato para compra deve ser feito através do telefone (43) 3371-6119 ou do e-mail cnpso. vendas@embrapa.br
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Dúvidas sobre solos?
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A publicação Solos para Todos – Perguntas e Respostas, organizada pela chefe de transferência de tecnologia da Embrapa Solos, Denise Werneck, em parceria com os analistas Alexandre Marcolino e Moema Batista, trata de temas como classificação, fertilidade, manejo, nutrição de plantas, recuperação de áreas degradadas e compostagem. Os interessados podem baixá-la gratuitamente via link www.embrapa.br/solos/busca-depublicacoes/-/publicacao/1009020/solos-para-todos-perguntas-erespostas. A Embrapa deve lançar em breve uma versão impressa.
Captação de água de chuva
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O IPT – Instituto de Pesquisas Tecnológicas, órgão do governo paulista, lançou um manual com dicas de captação de água de chuva para uso doméstico. A publicação aborda questões técnicas para instalação do sistema e orienta o leitor quanto ao armazenamento, uso e preservação da qualidade da água. Alerta, por exemplo, para a necessidade do descarte da água da primeira chuva, responsável pela lavagem da atmosfera e dos contaminantes presentes na superfície dos telhados. O manual pode ser baixado gratuitamente através do link www.saopaulo.sp.gov.br/usr/share/ documents/599.pdf
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Animais Diversos
FAZENDA SERRA AZUL / VENDA PERMANENTE - Emas, Emus, Lhamas, Catitus, Queixadas, Capivaras, Mutuns, Cervos Dama, Cervos Nobre, Cervos Sambar, Cervi Capra, Antas, Avestruzes, Camelos, Cisnes branco e preto, Tucanos, Araras, Búfalos brancos de olhos azuis e Mini Cabras. Registrados e microchipados, junto ao IBAMA. CTF 514942. Contato p/ tels.: (64) 8118.4110 TIM ,9905-9499 VIVO e 8405-1726 BRT,8119-9565 TIM. Visite nosso site: www.fazendaserraazulnet. com.br, veja o nosso vídeo no Youtube http:// www.youtube.com/watch?v=jWFyWIF7BOI n
Nutrição
FARELO DE AMENDOIM: PROTEINA 45% Granel/ensacado. GLOBAL: (14) 99621.1553 e (18) 3264.1539. IEPÊ/SP. E-mail: globalagrocomercio@uol.com.br n
Mudas e Sementes
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Artigos e Produtos
LIVRO: ADMINISTRAÇÃO RURAL: TEORIA E PRÁTICA - Prof. Ms Roni Antonio Garcia da Silva. 3ª ed / Ed Juruá, 2013. Resumo da obra: Este livro é dirigido aos estudantes de Administração, Agronomia, Medicina Veterinária, Zootecnia e profissionais ligados ao Agronegócio, interessados no conhecimento ou aprimora-
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mento dos aspectos básicos da ADMINISTRAÇÃO RURAL. Contato: (42) 3623.3168. E-mail: ragarciasilva@yahoo.com.br n
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Calendário de eventos
MAIO
5
Sigera/Simpósio Internacional sobre Gerenciamento de Resíduos Agropecuários e Agroindustriais – De 5 a 7
Espaço Tom Jobim – Rio de Janeiro (RJ) – Fone: (48) 3028-5154 E-mail: comercial@praxiseventos.com.nr
5
Expoarroz 2015 – De 5 a 8 Centros de Eventos Fenadoce Pelotas (RS) – Fone: (53) 3025-6323 E-mail: contact@expoarroz.com.br
11
2º CNAGRO/Congresso Nacional de Inovações Tecnológicas, Científicas, Inclusão Social e Valor Agregado do Agronegócio – De 11 a 13 – Dourados (MS) – Fone: (67) 3411-4122 Site: www.cnagro.com.br
19
4º SMUD/Simpósio de Mudanças Climáticas e Desertificação no Semiárido Brasileiro – De 19 a 21 – Embrapa
Semiárido – Petrolina (PE) Fone: (87) 3866-3600, ramal 3769 E-mail: cpatsa-smud@embrapa.br
19
Simpósio Internacional em Biotecnologia para Sistemas de Produção Florestal na Agricultura Familiar (FBS 2015/ Forest Biotech for Smallholders) – De 19 a 22 – Hotel Golden Tulip Internacional – Foz do Iguaçu (PR) Site: www.fbs2015.com.br E-mail: cnpf-fbs2015@embrapa.br
26
14º Simpósio da Cultura de Milho – De 26 a 28 –
Anfiteatro da Unimed – Piracicaba (SP) – Fone: (19) 3417-6604
27
14º Herbishow/Seminário sobre Controle de Plantas Daninhas da Cana - De 27 a 28 Centro de Convenções - Ribeirão Preto
(SP) – Fone: (16) 3211-4770 E-mail: eventos@ideaonline.com.br
JUNHO
2
Três Lagoas Florestal/2ª Feira da Cadeia Produtiva da Indústria de Base Florestal Sustentável – De 2 a 4 - Parque
de Exposição – Três Lagoas (MS) Site: www.treslagoasflorestal.com.br
2
Bahia Farm Show/Feira de Tecnologia Agrícola e Negócios – De 2 a 6 – Luís Eduardo Magalhães (BA) – Fone: (77) 3613-8000 Site: www.bahiafarmshow.com.br E-mail: comercial.brasil@ bahiafarmshow.com.br
8
VIII Sibanana/Simpósio Brasileiro sobre Bananicultura – De 8 a 12 –
Parque de Exposições Montes Claros (MG) – Fone: (31) 3261-7004 Site: www.frutinorte.com.br
10
2º Congresso Florestal no Cerrado e 4º Simpósio sobre Eucaliptocultura – De 10 a 12 – Centro de Convenções – Goiânia (GO) – Fone: (62) 3241-3939 – Site: www.congressoflorestal.com.br
10
Bio Brazil Fair/11ª Feira Internacional de Produtos Orgânicos e Agroecologia e BioFach América Latina – De 10 a 13 – Pavilhão da Bienal – São Paulo (SP) – Fone: (11) 2226-3100 – Site: www.biobrazilfair.com.br –
22
Congresso Brasileiro de Soja e Mercosoja 2015 –
De 22 a 25 Centro de Convenções CentroSul – Florianópolis (SC) – Fone: (43) 3025-5223 Site: www.cbsoja.com.br E-mail: cbsoja@fbeventos.com.br
12 – AgroBrasilia/ Feira Internacional de Tecnologias e Negócios Agropecuários dos Cerrados – De 12 a 16/5 – Brasília (DF) – Fone: (61) 33396516 – E-mail: agrobrasilia@ agrobrasilia.com.br Promovida pela Cooperativa Agropecuária da Região do Distrito Federal, a AgroBrasilia vem sendo realizada desde 2008 no Parque Tecnológico Ivaldo Cenci. Com 500 mil m² de área, agrupa campos demonstrativos das principais empresas do agronegócio brasileiro, uma área para dinâmica de máquinas agrícolas e um espaço destinado à apresentação de soluções para a agricultura familiar, entre outras atrações. Segundo os organizadores. é a feira agrícola que mais cresce no Brasil e também o maior evento de tecnologia rural e de negócios do Planalto Central. Em 2008, recebeu 100 expositores e 12 mil visitantes e faturou R$ 50 milhões. No ano passado, foram 400 expositores, 75 mil visitantes e R$ 700 milhões em negócios.
JULHO
1
ExpoCafé 2015 – De 1 a 3 Fazenda Experimental da Epamig (Rodovia MG 167) – Três Pontas (MG) Fone: (35) 3829-1674 E-mail: expocafe@cafeeditora.com.br
12
Enflor/Garden Fair/24º Encontro Nacional de Floristas, Atacadistas e Empresas de Acessórios – De 12 a 14 – Recinto de Exposições da Expoflora Holambra (SP) – Site: www. rbbeventos.com.br – E-mail: rbb@ rbbeventos.com.br
12
Congresso Mundial sobre Sistemas de Integração Lavoura-PecuáriaFloresta (WCCLF) e 3º Simpósio Internacional sobre Sistemas de Integração Lavoura-Pecuária (ICLS3) – De 12 a 17 – Centro de Convenções Ulysses Guimarães Brasília (DF) – Site:www.wcclf2015. com.br – E-mail: wcclf.icls@gmail.com.
15
VII Simpósio de Tecnologia de Produção de Cana-deAçúcar – De 15 a 17 – Unimed (Campus Taquaral – Rodovia do Açúcar, km 156) – Piracicaba (SP) – Fone: (19) 3417-2138 – E-mail: gape@usp.br
21
Enersolar Brasil/ Feira Internacional de Tecnologias para Energia Solar De 21 a 23 - Centro de Exposição Imigrantes - São Paulo (SP) Site: www.enersolarbrasil.com.br E-mail: nfo@fieramilano.com.br
31
Agrifam 2015/Feira da Agricultura Familiar
De 31 a 2/8 - Recinto de Exposições “José Oliveira Prado” – Lençóis Paulista (SP) – Fones: (14) 21062800 ou (14) 2106-2828 – E-mail: comunicacao@fetaeso.org.br
maio 2015 – Agro DBO | 65
Legislação
Leilão de terras O dito popular de que um mau acordo é sempre melhor do que uma boa demanda parece acertado e merece ser considerado. Fábio Lamonica Pereira
N
osso emaranhado de leis leva à insegurança jurídica na medida em que é possível prever (ainda que nebulosamente), mas não assegurar, determinado resultado a ser obtido com a propositura de uma medida judicial. Diversos são os fatores envolvidos ao trilhar o caminho do judiciário, tais como os fatos como aconteceram, as provas existentes (documentos, testemunhas, perícias), o andamento do processo, que depende de leis específicas (com relevantes alterações válidas já a partir de 2016) o que geralmente atrasa a resolução. Mesmo que iniciado um processo, nada impede que as partes cheguem a bom termo e interrompam a disputa.
bem como constar as benfeitorias (com avaliação individualizada). Em caso de dúvida fundamentada é possível que seja solicitada nova avaliação e até mesmo nomeado perito com conhecimentos específicos. A registrar que se trata de um negócio atrativo para terceiros investidores, uma vez que é possível a aquisição de bens pelo valor da avaliação, na primeira tentativa de venda, e a partir de 50% sobre o referido valor na segunda oportunidade. O valor arrecadado, então, é utilizado para pagar o montante exigido pelo credor, além de custas e despesas. O saldo porventura restante pertence ao devedor. Apesar de simples, tal procedimento é permeado de detalhes e pode acarretar problemas para o
Um produtor com dívidas em bancos, parte de sua área de terras pode ser penhorada.
O autor é advogado, especialista em Direito do Agronegócio.
Situação muito comum no meio jurídico e que não raro envolve produtores rurais, diz respeito à venda de bens (móveis ou imóveis) por determinação judicial para o pagamento de algum débito. Assim, um produtor com dívidas junto a uma instituição financeira, sua área de terras pode ser penhorada e vendida judicialmente para que o suposto débito seja quitado. Diversos são os detalhes a serem observados para que o devedor não seja ainda mais penalizado. Desta forma, o bem deve ser criteriosamente avaliado (há muitos requisitos a serem cumpridos), especificando-se o valor real de mercado (apurado por pesquisa em fontes confiáveis),
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adquirente, que deve analisar (amparado por profissional capacitado), cuidadosamente, o processo ao qual o bem esteja vinculado. É preciso verificar as decisões, recursos ainda pendentes de julgamento, ônus que constem, ou não, do edital. Em áreas rurais os cuidados devem ser redobrados, porque há leis específicas a serem observadas, como o Estatuto da Terra que trata, dentre outras coisas, dos contratos de arrendamentos, que protegem o arrendatário. Caso a área rural se encontre arrendada, o comprador precisa ter ciência de que o contrato de arrendamento deverá ser respeitado, assim como ocorre em uma compra e
venda tradicional. Surpresas podem surgir, uma vez que os contratos de arrendamento podem ser firmados até mesmo verbalmente, podendo ser provados por meio de testemunhas, sendo comum a estipulação de vigência por longos anos. Além disso, o contrato de arrendamento não precisa ser registrado na matrícula do imóvel para que tenha validade contra terceiros e assegure, até mesmo, o direito de preferência do arrendatário. Situações outras podem acontecer em relação às lavouras porventura implantadas na área de penhora. Tais bens são considerados como móveis por acessão, não integrando a chamada terra nua, tendo, pois, seu valor em separado, devendo assim ser consideradas, como já decidiu o judiciário em muitas situações. Assim, se a lavoura pertence ao devedor e não tenha integrado a penhora, este tem o direito de colher os frutos, e, dependendo da situação, até mesmo ser indenizado. Se a lavoura pertence ao arrendatário, o contrato deve ser respeitado sob pena de o arrematante ser obrigado a pagar indenização, o que pode incluir tanto o que perdeu quanto o que deixou de ganhar, além de possíveis danos morais, depois de analisado o caso concreto. O mecanismo de venda judicial deve ser rigorosamente estudado, tanto pelos interessados em eventual aquisição quanto pelos que sofrem o drama da alienação forçada, a fim de que as ilegalidades sejam afastadas. De toda forma, sendo possível evitar tal desfecho dramático, o acordo deve ser ponderado.