Plano Agrícola e Pecuário 2015/2016
MAIS CRÉDITO E APOIO PARA VOCÊ QUE É PARCEIRO DO BRASIL
O Governo Federal está ajustando gastos e investindo mais de R$ 180 bilhões em crédito para você que é produtor rural. A hora é de avançar e fortalecer o nosso País. Para saber mais, acesse agricultura.gov.br.
Mais de R$ 180 bilhões para o produtor rural.
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
Sumário
26
Arroz
Rizicultores do Rio Grande do Sul vão à Expointer dispostos a debater a crise no segmento, marcada pelo aumento nos custos de produção, pela instabilidade nos preços internos e alongamento das dívidas de custeio.
30 Entrevista
Especialista em café, Carlos Brando afirma a competitividade do produto brasileiro: “O que falta é investir em marketing no exterior.”
40 Soja
Com 2/3 do território coberto por florestas, o Amapá abre o Cerrado para o plantio de soja, preocupado com a preservação ambiental.
46 ILP 20
Matéria de capa Às vésperas do início do plantio da safra 2015/16 de grãos, pesquisadores relacionam medidas simples para combater doenças e pragas e práticas para garantir a sanidade na lavoura.
Na última reportagem da série, publicada pelas revistas DBO e Agro DBO, o pecuarista Carlos Viacava mostra técnicas e procedimentos adotados para viabilizar seu projeto de integração lavoura-pecuária em solo arenoso.
Artigos 8 – Rogério Arioli afirma: “A retomada econômica depende do agronegócio” 34 – Evaristo de Miranda comenta a encíclica Laudato si, do Papa Francisco 38 – Décio Gazzoni discorre sobre a importância da polinização na agricultura 54 – Amilcar Centeno trata de ajustes em colheita mecanizada de cana 66 – Fábio Lamonica discute os encargos e obrigações de fiadores e avalistas
Seções Do leitor.............................................................. 5 Ponto de Vista................................................... 8 Empresas..........................................................10 Notícias da terra.............................................12
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Clima..................................................................52 Novidades no campo...................................56 Análise de mercado......................................58 Biblioteca da terra..........................................60 Calendário de eventos.................................65
Do Leitor ao final do ciclo 2015/16. Ou seja, aponta um cenário possível para o período de colheita, no ano que vem. Obviamente, o negrume pode se dissipar até lá. O quadro na ocasião pode se apresentar mais ou menos róseo, como intui o professor – todos os produtores rurais, qualquer um que integre a cadeia produtiva e nós mesmos, da Agro DBO, torcemos por isso. Queremos que, de preferência, a safra transcorra sob céu de brigadeiro. Não torcemos os fatos, apenas reproduzimos na citada reportagem um temor palpável em junho, quando a repórter saiu a campo para conversar com produtores e técnicos.
ALAGOAS
Recebi meu exemplar da edição de junho da Agro DBO, recheada com várias matérias importantes. Uma delas, a da expansão da produtividade do milho, em alguns aspectos comparada à da soja. Infelizmente, em uma viagem de ônibus, ocorreu um tumulto e a revista foi extraviada. Lamentei a perda, lógico. Caso vocês tenham condições de enviar outro exemplar, agradecerei aos amigos. Carlos José Pedrosa Maceió
NR: Caro Pedrosa, a revista já foi enviada. Evite tumultos. SÃO PAULO
Toda vez que ocorre uma desvalorização cambial e o produtor está estocado de artigos importados, ele obtém uma lucratividade extra que não se repete. Na cultura da soja, os resultados dependem da Bolsa de Chicago, isso sim. Urge corrigir nossos inúmeros empecilhos, e as nuvens podem estar menos rosadas, mas não negras. Por enquanto... Fernando Penteado Cardoso São Paulo
NR: Como o leitor deve ter percebido, o mestre Fernando Penteado Cardoso está se referindo à reportagem de capa da edição de julho da Agro DBO, de título “Nuvens negras no horizonte”, destacada no alto. A matéria em questão reflete a apreensão de contingente expressivo de agricultores do Mato Grosso diante da possibilidade de prejuízo
As previsões negativas vão meio na contramão da safra recorde de grãos que tivemos no ano, até aqui. Sala Fério
NR: O comentário acima também alude à reportagem de capa de julho. O leitor pode estranhar a identificação do remetente (sem o nome de batismo e a cidade de origem, característicos da seção “Do leitor”), mas ele se identifica assim mesmo: “Sala Fério”, trocadilho evidente para “Fala Sério”. Trata-se de um blogueiro, com participação ativa na chamada “blogosfera”, termo usado no Brasil para designar aqueles que, interconectados via internet, postam conteúdo (mensagens, textos, comentários, imagens, etc) nas respectivas páginas eletrônicas ou nos blogs de outros. A crítica do Sala Fério chegou a nós através do blog do editor-executivo da Agro DBO, Richard Jakubaszko. Eis a resposta postada pelo Richard: “A matéria trata do aumento dos insumos, cotados em dólar, enquanto o preço das commodities, como soja e milho, andam em baixa. Ou seja, o produtor se programa hoje para plantar em setembro ou outubro com dólar na alta, e vai colher em janeiro ou fevereiro com dólar em baixa, e como a conta não fecha, pode ser prejuízo na certa. Sua ótica urbana não leva em conta o clima nem o mercado, que pode ser mais perverso que o clima”. Disposto a polemizar, Sala Fério postou imediatamente outra mensagem (a seguir), prontamente
respondida – leia a NR (Nota da Redação) subsequente:. Pra compensar, temos investimentos públicos recorde em agricultura, em especial, na familiar - isso deve compensar algo, não é? Agora uma questão antiga: não seria o caso de não vender os produtos “in natura” e tentar agregar valor para não depender da flutuação do mercado de commodities? Ou, ainda, aumentar os lucros e a venda interna eliminando intermediários e criando redes próprias de distribuição? Sei que essas questões são complexas, é só uma consulta mesmo. Sala Fério
NR: Hoje em dia, commodities têm alto valor. Petróleo, gás, açúcar, soja, carne, café, cobre, fertilizantes, são todos commodities com alto valor agregado. Por trás de cada grão de soja, milho ou café há muita tecnologia embarcada, utilizada pelo agricultor para obter alta produtividade, como, por exemplo, sementes, tratores e máquinas, agroquímicos, fertilizantes, consultorias. Todo mundo ganha. Exportar apenas grãos, ao contrário do que falam alguns economistas urbanos, é um altíssimo negócio. Os EUA, Canadá, Argentina e Ucrânia, o Brasil junto, são os maiores produtores e exportadores de grãos do mundo. Não a toa, o Agro sustenta o PIB brasileiro. ERRATA Diferentemente do que publicamos na entrevista de julho da Agro DBO, o presidente da Aiba – Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia, Júlio Cézar Busato, tem três irmãos (e não quatro) e apenas dois filhos (e não quatro). Corrigindo os números finais nas duas últimas edições da feira, o Bahia Farm Show movimentou R$ 1,019 bilhão em 2014 e R$ 1,033 bilhão em 2015. Pedimos desculpas pelos erros.
AgroDBO se reserva o direito de editar/resumir as mensagens recebidas devido à falta de espaço.
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Carta ao leitor
O
engenheiro agrônomo e produtor rural César Fontanella Gaigher faz tudo direitinho na fazenda Jatobá, de 470 hectares, em Itaporã, no Mato Grosso do Sul, mas vive muito preocupado com pragas quarentenárias inexistentes no Brasil, ainda, mas que já se sabe que estão presentes em lavouras além-fronteira, no caso, plantios no Paraguai, conforme relata a reportagem de capa desta edição, “Perigo à vista”, autoria do jornalista Ariosto Mesquita. A reportagem vai além das chamadas pragas quarentenárias, e mostra a sucessão da alternância dessas pragas em termos de importância, ano a ano, fruto de equívocos cometidos por boa parte dos produtores rurais brasileiros, seja ao pulverizar desnecessariamente, seja por descuido com o plantio direto, onde aparecem reboleiras com solos compactados, seja na insistência de rotação das mesmas culturas safra após safra, facilitando, por exemplo, a sobrevivência de nematoides. Nesse sentido, a lição deixada por esses desvios é de que devemos reavaliar com maturidade o que se anda praticando em termos de agricultura de escala no Brasil. É inegável, avançamos muito em termos de agricultura, dominando o plantio nas condições tropicais, sem termos tido um prévio aprendizado de outras regiões ou países, mas estamos nos decidindo por estratégias erráticas. Estas podem atender necessidades econômicas imediatas, de rentabilidade, por exemplo, mas estão longe de serem boas práticas de manejo de solo, e também de pragas, doenças e ervas daninhas. A jornalista Marianna Peres mostra na reportagem “A última fronteira agrícola” o que o Amapá está fazendo em agricultura no Brasil com regime de plantio e colheita submetida ao tempo do hemisfério Norte. A ILP de Carlos Viacava vai se consolidando, e na terceira matéria sobre o tema, a jornalista Maristela Franco mostra os resultados obtidos no oeste de São Paulo. Na entrevista do mês o consultor Carlos Brando é enfático: o que falta para a cafeicultura nacional é marketing. Nossos colunistas e colaboradores trazem nesta edição outros temas de relevância, a destacar a análise do engenheiro agrônomo Evaristo de Miranda sobre a encíclica Laudato si, do Papa Francisco, que andou provocando muitas polêmicas mundo afora. Aos que desejarem manifestar suas opiniões, pedimos enviar e-mail para redacao@agrodbo.com.br.
é uma publicação mensal da DBO Editores Associados Ltda. Diretor Responsável Demétrio Costa Editor Executivo Richard Jakubaszko Editor José Augusto Bezerra Conselho Editorial Décio Gazzoni, Demétrio Costa, Evaristo Eduardo de Miranda, Hélio Casale, José Augusto Bezerra e Richard Jakubaszko Redação/Colaboradores Amílcar Centeno, Ariosto Mesquita, Décio Luiz Gazzoni, Evaristo Eduardo de Miranda, Fábio Lamonica Pereira, Glauco Menegheti, Hélio Casale, Marco Antônio dos Santos, Marianna Peres, Rogério Arioli Silva, Rogério F. Furtado e Tiago Sarmento Barata Arte Editor Edgar Pera Editoração Célia Rosa e Edson Alves Coordenação Gráfica Walter Simões Marketing Gerente: Rosana Minante Comercial Gerente: Paulo Pilibbossian Executivos de contas: Andrea Canal, José Geraldo S. Caetano, Maria Aparecida de Oliveira, Marlene Orlovas, Tereza Helena Virginia e Vanda Motta
Richard Jakubaszko
Circulação Gerente: Edna Aguiar ISSN 2317-7780 Impressão Log&Print Gráfica e Logística S.A. Capa: Ariosto Mesquita DBO Editores Associados Ltda Diretores: Daniel Bilk Costa, Odemar Costa e Demétrio Costa Rua Dona Germaine Burchard, 229 Perdizes, São Paulo, SP 05002-900 - Tel. (11) 3879-7099 redacao@agrodbo.com.br www.agrodbo.com.br
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“Este é meu compromisso com a terra agora e no futuro. Uma agricultura sustentável.” José Joaquim Ferreira - Agricultor
Agricultura, o maior trabalho da Terra.
www.omaiortrabalhodaterra.com.br facebook.com/BASF.AgroBrasil O planeta caminha para um futuro com mais de 9 bilhões de pessoas. E o desafio do agricultor José Joaquim é produzir mais e melhor, garantindo boas práticas para uma agricultura sustentável que preserve as riquezas naturais hoje e no futuro. O compromisso da BASF é inovar e desenvolver novas tecnologias para ajudá-lo a alimentar, vestir e mover o mundo. Com o José Joaquim, fazemos a agricultura avançar.
Ponto de Vista
Retomada econômica depende do agro Mais do que nunca o governo precisa estimular e apoiar o agronegócio para que se possa colocar o país na rota do crescimento. Rogério Arioli Silva *
J
* O autor é engenheiro agrônomo e produtor rural em Mato Grosso
á passamos a metade do ano e recém começaram a pingar os recursos oficiais do crédito rural que viabilizarão a próxima safra de grãos brasileira. Como tem acontecido nos últimos anos, os governos apostam grande parte das suas fichas na possibilidade de o agronegócio e seu superavit tirar o país do buraco em que ameaça afundar. A vaquinha leiteira do agronegócio continua alimentando muita gente e, pelo menos por enquanto, parece passar longe do brejo que ronda outros setores da economia. Deixando de lado o atraso no crédito agrícola do qual o efeito só poderá ser sentido na próxima safra, notícias recentes emprestam certo ânimo ao campo brasileiro ao demonstrarem sintonia com algumas de suas demandas mais urgentes. Exemplo disso ocorreu alguns dias atrás com a aprovação, pelo Senado, da Medida Provisória
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673 que dispensa de licenciamento e emplacamento as máquinas agrícolas, como tratores, colheitadeiras e pulverizadores. O viés arrecadatório dessa absurda proposta é evidente e, pelo menos neste aspecto, houve o bom senso de paralisar mais essa sangria. Também foi aprovada no Senado a isenção do PIS/Pasep e da Cofins sobre o óleo diesel, medida que já havia sido apreciada pela Câmara Federal em meados de junho, sendo uma das reivindicações constantes da pauta do movimento dos caminhoneiros. Não há mais espaço para aumento de carga tributária quando se sabe que esta já ultrapassou os 40% do PIB nacional – no período de 2011 a 2014, segundo o excelente livro “O mito do governo grátis” do economista Paulo Rabello de Castro. Também lembra Rabello que uma carga tributária excessivamente expansionista possui efeito devastador, principalmente quando cresce acima
da produtividade das atividades econômicas, como vem acontecendo no Brasil. Um ambiente criado por altas taxas de juros e tributos crescentes inibe qualquer investimento. Para uma economia que necessita reagir e voltar a crescer esse receituário assemelha-se ao diagnóstico de uma doença terminal. Outra notícia positiva veiculada há pouco tempo diz respeito à flexibilização, por parte do Bacen (Banco Central), de algumas normas para os produtores rurais que possuem propriedades no Bioma Amazônico. Segundo a resolução 4.222, de 25/06/15, não será mais necessária a apresentação do CCIR (Certificado de Cadastro de Imóvel Rural) para acessar os financiamentos oficiais de crédito. Além disso, essa mesma resolução também reconhece o CAR (Cadastro Ambiental Rural) como o documento hábil para comprovação da regularização ambiental. Também
ficou por conta das instituições financeiras a responsabilidade de verificação da existência ou não de embargos econômicos das áreas desmatadas ilegalmente. Antes, era o produtor quem precisava solicitar a emissão da certidão junto ao órgão competente. Em verdade, toda medida que ajude a desburocratizar o acesso ao crédito rural é positiva uma vez que facilita, principalmente, a vida dos pequenos e médios produtores rurais, historicamente os mais afetados pelo excesso de exigências. Todavia, ainda não se viu efetivamente disponibilizada a “prometida” linha de crédito rotativo, que garantiria o acesso permanente aos recursos de custeio das lavouras. Ao funcionar como uma espécie de limite de cheque especial (não com os mesmos juros, logicamente) essa linha de crédito ofereceria a possi-
bilidade de o produtor rural programar melhor as aquisições dos insumos, evitando assim bruscas oscilações nos custos de produção. Ainda como notícia positiva para os produtores brasileiros são os prováveis efeitos climáticos provocados pelo aumento da intensidade do El Niño nas lavouras norte-americanas, o que pode pro-
ao extremo desafio representado pela competição com os produtores norte-americanos que, além de excelente infraestrutura, possuem solos de alta qualidade e uma política agrícola (Farm Bill) que lhes garante renda e segurança. Neste momento importante para a economia é imprescindível que o agronegócio continue pro-
O crédito rotativo garantiria o acesso permanente aos recursos de custeio vocar uma diminuição na safra daquele país, amenizando a pressão de oferta sobre as cotações de soja e milho. Embora São Pedro insista em não participar das reuniões de previsão de safra, parece haver uma evidência clara da sua simpatia em relação aos produtores brasileiros. Nada mais justo, face
duzindo os resultados positivos que têm permitido certo equilíbrio nas contas brasileiras. Embora alguns ainda critiquem esse modelo de produção voltado à exportação de commodities, não se pode esquecer que continuam se originando no campo as raras notícias positivas sobre o país.
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Empresas Agroquímicos
Educação e treinamento A Andef, Associação Nacional de Defesa Vegetal, através de seu gerente de Treinamento e Educação, Fábio Kagi, está intensificando cursos de educação e treinamento de aplicadores de agroquímicos. Grupos de agricultores, cooperativas e associações podem se candidatar a receber um desses cursos através do e-mail fabio@andef.com.br
Economia
Sem crise: sementes movimentam US$ 4 bilhões Apesar da crise econômica, o Brasil é considerado por diversos especialistas como um excelente ambiente para negócios no contexto mundial da indústria de sementes. Com um mercado doméstico que movimentou aproximadamente US$ 4 bilhões em 2014, trata-se de um país que consegue aliar a enorme vocação agrícola a um bom sistema tecnológico. O país conta com uma indústria sementeira consolidada ao longo de muitas décadas e possui um dos maiores mercados domésticos do mundo, atrás apenas dos EUA e da China. Somente o segmento de sementes olerícolas movimentou cerca de US$ 208 milhões em 2013, com destaque para a produção de sementes de tomate, cebola, cenoura, melão, melancia e alface. Dentro do setor de sementes, a horticultura é a ramificação que mais gera mão de obra por hectare. Estima-se que o negócio atinja uma
área plantada de 842 mil ha, gerando mais de dois milhões de empregos diretos. Além disso, a rentabilidade por área da horticultura é muito superior. Enquanto um ha de soja rende R$ 1,5 mil, no cultivo de tomate, por exemplo, pode atingir R$ 40 mil por ha. A Isla Sementes, pioneira em sementes de hortaliças do Brasil, que em 2015 comemora 60 anos, aposta na sua atuação em toda a cadeia da horticultura. “Seguimos investindo, nos mais modernos equipamentos de dosagem e embalagem. Em 2011, trouxemos para o Brasil a primeira ‘contadora de diamantes’, tecnologia mais precisa do mundo para contagem de sementes. E, até o final do ano, serão convertidos mais de R$ 2 milhões em contadoras de altíssima velocidade, também inéditas no Brasil, que permitirão ampliar a disponibilidade de sementes de alta qualidade genética”, revela a presidente da Isla, Diana Werner.
Inauguração
Dilma: etanol 2G é o futuro dos combustíveis renováveis A presidente Dilma Rousseff participou dia 22 de julho último, em Piracicaba (SP), da inauguração da Unidade de Produção de Etanol 2G da Raízen, empresa de energia. A fábrica possui capacidade de produção de 42 milhões de litros por ano de etanol 2G, combustível que emite 15 vezes menos dióxido de carbono
se comparado ao comum. O etanol de segunda geração é obtido a partir do reaproveitamento do bagaço da cana e produz energia limpa e renovável. No mesmo evento, o empresário Rubens Ometto, controlador do grupo Raízen, maior empresa do setor sucroalcooleiro, que é fruto de uma aliança entre os
grupos Shell e Cosan, qualificou em seu discurso a presidente Dilma como “mulher brasileira, patriota, correta, lutadora e de fibra”. Ometto fez também uma defesa pública do BNDES: ele disse que “Hoje é fácil criticar, mas temos de reconhecer os méritos onde estão: sem o apoio do BNDES este investimento não seria viável”.
Evento
5º Congresso Brasileiro de Fertilizantes Organizado pela Anda – Associação Nacional para Difusão de Adubos será realizado em 25 de agosto 2015, em São Paulo, no Hotel Renaissance. Inscrições em www.anda.org.br 10 | Agro DBO – agosto 2015
Notícias da Terra Safra I
Produção sobe para 206,3 milhões de toneladas
D
e acordo com o 10º levantamento da Conab, divulgado no mês passado, a safra nacional de grãos correspondente ao ciclo 2014/15 chegará ao recorde de 206,3 milhões de toneladas (t), 6,6% superior (12,7 milhões t a mais) em relação à temporada pas-
sada (193,6 milhões t). O número indica acréscimo de 1,8 milhão t sobre o levantamento anterior, graças, sobretudo, ao ganho de produtividade no milho segunda safra. Segundo estimativas da companhia, a “safrinha” de milho alcançará 51,5 milhões
t, 6,5% acima do obtido na temporada 2013/14. Quanto à soja, a produção nacional chegará a 96,2 milhões t, 11,7% a mais que as 86,1 milhões t da safra anterior. No que diz respeito à área plantada, a projeção da Conab é de 57,5 milhões de hectares.
Safra II
IBGE prevê 205,8 milhões de toneladas
A
sexta estimativa do IBGE sobre a safra nacional de cereais, leguminosas e oleaginosas indica produção de 205,8 milhões de toneladas neste ano, 6,7% acima do colhido no ano passado (192,9 milhões t) e 0,7% a mais do que o previsto anteriormente. As três principais culturas do grupo - soja, milho e arroz - responderão por 91,8% da produção e 86,1% da área plantada. A produção de soja deve crescer 11,6%; a de milho, 2%; e a de arroz, 1,9%. A lavoura vai ocupar 57,5 milhões de hectares (mesmo número apontado pela Conab), 1,9% maior ante a safra passada. A soja terá incremento de 5,5% em área e o milho, 0,8%. A área destinado ao arroz cairá 3,5%.
Safra III
Distribuição por regiões Safra IV
Projeção por culturas
E
ntre os 26 produtos pesquisados pelo IBGE, 13 apresentaram variação positiva em relação à produção de 2014: mamona (+ 138,8%), aveia (+ 47,9%), cevada (+ 24,1%), trigo (+ 18,3%), soja (+ 11,6%), amendoim 2ª safra (+ 5,4%), mandioca (+ 4,4%), milho 2ª safra (+ 4,2%), cebola (+ 2,2%), feijão 1ª safra (+ 2,2%), arroz (+ 1,9%), café arábica (+ 1,7%) e amendoim 1ª safra (+ 0,2%). Com variação negativa, também foram 13 produtos: batata-inglesa 3ª safra (-20,6%), café conilon (-17,6%), triticale (-13,9%), cacau (-10,6%), algodão (-7,4%), laranja (- 6,9%), feijão 3ª safra (- 6,8%), sorgo (-5,5%), batata-inglesa 2ª safra (- 3,1%), feijão 2ª safra (- 2,7%), cana-de-açúcar (- 1,5%), milho 1ª safra (-1,4%) e batata-inglesa 1ª safra (- 0,7%).
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A
produção de cereais, leguminosas e oleaginosas apresentará a seguinte distribuição em 2015, de acordo com as projeções do IBGE: Centro-Oeste, 85,7 milhões de toneladas; Sul, 77,4; Sudeste, 18,7; Nordeste, 18,1; e Norte, 6. Comparativamente à safra passada, a safra crescerá 3,2% no Centro-Oeste, 9,4% no Sul; 4% no Sudeste, 14,7% no Nordeste e 10,3% no Norte. Entre os estados, o Mato Grosso continuará à frente no ranking nacional, com 24,1% de participação, seguido pelo Paraná (18,4%) e pelo Rio Grande do Sul (16%).
Notícias da Terra Safra V
Baixa nos EUA, alta no Brasil
D
e acordo com o relatório de oferta e demanda do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês), a produção norte-americana de soja chegará a 105,7 milhões de toneladas na safra 2015/16, contra 108 milhões t na temporada 2014/15. No que diz respeito ao Brasil, a instituição prevê 97 milhões no ciclo 2015/16, e para a Argentina, 57 milhões t. A estimativa sobre a produção mundial foi elevada para 318,9 milhões de toneladas, comparativamente à do ano passado (318,6 milhões t). Os estoques finais para a safra 2014/5 no entanto, foram reduzidos em 2 milhões de toneladas, sendo atualizados para 81,7 milhões t.
VBP I
Agropecuária vale R$ 463,3 bilhões
O
Valor Bruto da Produção da agropecuária brasileira em 2015 atingirá R$ 463,3 bilhões, de acordo com estimativa da AGE/Mapa – Assessoria de Gestão Estratégica do Ministério da Agricultura, divulgada no mês passado. As lavouras responderão por R$ 295,1 bilhões, valor 1,8% menor em relação ao VBP de 2014, e a pecuária, R$ 168,1 bilhões, 2,2% superior ao do ano passado. A queda nos preços agrícolas de produtos importantes na formação do faturamento bruto, como milho, arroz, laranja e cana de açúcar, foram decisivos para o desempenho projetado pera este ano, segundo a assessoria. A alta no VBP da pecuária deve-se principalmente à carne bovina, com faturamento 9,4% maior ante 2014. O valor também cresceu nos segmentos de ovos e suínos, mas caiu nos de leite e frango.
Safra VI
Produção mundial menor
E
m relação à safra 2015/16 de milho, o USDA prevê produção de 343,9 milhões de toneladas nos Estados Unidos (261,1 milhões t no ciclo 2014/15), 77 milhões t no Brasil (82 milhões t na safra passada) e 25 milhões t na Argentina (também 25 milhões t na temporada anterior). A produção mundial cairá 2,8 milhões de toneladas em relação à previsão do mês de junho e chegará a 987,1 milhões t, abaixo, portanto, do recorde referente à safra 2014/15, de 1 bilhão de toneladas (exatamente 1.000.740 t). Para os estoques finais mundiais, o corte foi maior do que o esperado. As estimativas do USDA indicam 189,9 milhões de toneladas, contra aposta média do mercado de 192,6 milhões t.
VBP II
Mato Grosso supera São Paulo
P
ela primeira vez nesse ano, a projeção da receita da agropecuária mato-grossense superou a paulista. O VBP de Mato Grosso, principal produtor de grãos do Brasil e dono do maior rebanho bovino do país, atingirá R$ 60,1 bilhões em 2015, contra R$ 58,1 bilhões de São Paulo, devido ao aumento na produção de soja, milho e algodão e nos preços das carnes, leite e ovos. Do faturamento estimado para Mato Grosso, R$ 44,5 bilhões virão da agricultura e o restante (R$ 15,6 bilhões), da pecuária. Nesse segmento, ao contrário do previsto para a agricultura (produção maior, mas receita menor em relação aos R$ 48,1 bilhões de 2014), a receita crescerá de R$ 14,7 para R$ 15,6 bilhões. O destaque é a bovinocultura, cujo faturamento saiu de R$ 10,6 para R$ 11,6 bilhões. agosto 2015 – Agro DBO | 13
Notícias da Terra Exportações I
Soja lidera vendas externas
G
raças ao bom desempenho do agronegócio, a balança comercial brasileira apresentou superavit de US$ 2,2 bilhões no primeiro semestre deste ano, puxado pelo saldo positivo de US$ 4,5 bilhões do mês de junho, segundo dados do MDIC – Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. O faturamento com soja em grão alcançou US$ 12,5 bilhões, o maior valor de exportação brasileira no acumulado do ano. Foi a primeira vez desde 2012 que o Brasil apresentou superavit comercial no primeiro semestre. As vendas externas somaram US$ 94,3 bilhões e as compras, US$ 92,1 bilhões. Os principais destinos dos produtos brasileiros foram a China (US$ 18,4 bilhões), União Europeia (US$ 17 bilhões), Estados Unidos (US$ 12 bilhões) e Mercosul (US$ 10,4 bilhões).
Exportações III
Crédito para pequenas empresas
O
Ministério da Fazenda emitiu em 14/7 os primeiros certificados de garantia de cobertura para operações de exportação por micros, pequenas e médias empresas. Para ter acesso à cobertura da União, é preciso se cadastrar no site da ABGF – Agência Brasileira Gestora de Fundos Garantidores e Garantias S.A. As regras para aprovação são faturamento anual inferior a R$ 90 milhões e exportações anuais abaixo de US$ 3 milhões. Não há restrições a setores. É necessário, porém, apresentar informações cadastrais para análise de risco do importador. Quanto ao recebimento dos recursos, o interessado pode optar entre utilizar financiamento bancário ou aguardar o prazo oferecido ao importador. 14 | Agro DBO – agosto 2015
Exportações II
Agronegócio fatura US$ 9,13 bilhões
L
evantamento da SRI/Mapa – Secretaria de Relações Internacionais do Ministério da Agricultura mostra que as vendas externas do agronegócio nacional renderam US$ 9,13 bilhões em junho, proporcionando saldo positivo de US$ 8,07 bilhões na balança comercial (as importações foram de US$ 1,06 bilhão). A participação da agropecuária brasileira no total dos embarques do Brasil alcançou 46,5% no período. Os principais setores exportadores do setor foram o complexo soja, com 49,1%; as carnes, com 14,6%; os produtos florestais, com 9,8%; o complexo sucroalcooleiro, com 7,5%; e o café, com 4,9%.
Silvicultura
Mais áreas plantadas
A
té 2020, a indústria brasileira de papel e celulose deverá investir R$ 53 bilhões para aumentar as áreas de florestas plantadas, ampliar a capacidade de produção de madeira das fábricas já existentes e construir novas unidades industriais. A informação é do presidente da IBÁ – Indústria Brasileira de Árvores, Marcílio Caron, baseada no relatório de atividades do setor, divulgado no mês passado. O documento informa sobre a existência de 7,2 milhões de hectares de árvores plantadas no país, num universo de 70 empresas, gerando receita superior a R$ 60 bilhões, o equivalente a 6% do PIB – Produto Interno Bruto. O Brasil é o quarto maior produtor mundial de celulose e o nono maior produtor de papel. Caron afirmou que as empresas do setor querem reduzir a concentração de terras em poder das grandes corporações e descentralizar a atividade, transferindo tecnologia e técnicas modernas de plantio ao produtor rural.
Notícias da Terra Produtividade
Brasil na ponta
C
onforme estudo conjunto da OCDE – Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico e da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO, na sigla em inglês), a produtividade da agricultura brasileira aumentou em mais de 4% desde o início dos anos 2000, uma das maiores taxas de crescimento do mundo nos últimos anos. O relatório Perspectivas Agrícolas OCDE/FAO 2015-2024 diz que, considerando os Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e os membros da OCDE, entidade que reúne as principais economias desenvolvidas, o Brasil “é o país que mais melhorou sua PTF – Produtividade Total de Fatores”. O PTF traduz a relação entre
o total produzido e o total de insumos, que caracteriza a produtividade. Ainda segundo o relatório, a área destinada às principais culturas agrícolas no Brasil deverá crescer a uma taxa média de 1,5% ao ano nos próximos dez anos, com destaque para cana-de-açúcar, enquanto os preços devem permanecer relativamente estáveis quando ajustados pela inflação. As instituições previram que o uso da terra para as principais safras em 2024 (incluindo oleaginosas, cereais, cana e algodão) deve chegar a 69,4 milhões de hectares, avanço de 20% sobre a área média durante os anos de 2012 a 2014. A expansão será puxada por um aumento de 37% na área destinada à cana. Em termos absolutos, as oleaginosas,
principalmente a soja, continuarão dominando o uso das áreas agrícolas do país, respondendo por quase metade da área de cultivo adicional em 2024. Segundo as duas organizações, os mercados interno e externo deverão crescer na próxima década e esta demanda deve favorecer os produtos em que o Brasil é mais competitivo, como carne, milho e oleaginosas, açúcar e frutas tropicais.
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Notícias da Terra Logística
Portos atravancados
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egundo cálculos da consultoria INTL FCStone, baseados em estimativas sobre importação mensal de adubos, a demanda por fertilizantes para a safra de verão pode sobrecarregar os portos e sistemas de distribuição em agosto e setembro e, por tabela, aumentar os custos de produção relativos à temporada 2015/16. Em julho, a necessidade de importação para julho, agosto e setembro estava entre 2,7 e 3,3 milhões de toneladas, já acima da capacidade portuária brasileira. O atraso nas compras de fertilizantes reduziu o ritmo de importações no primeiro semestre (foram 8,4 milhões de toneladas importadas, contra 10,5 milhões em 2014), aumentando, em consequência, os custos de demurrage – a taxa cobrada por cada dia de espera do navio no porto, de um dólar a mais por tonelada, aproximadamente) – e de frete, nos casos de deslocamento da carga para portos mais distantes. No mês passado -também por causa das chuvas intensas, que atrapalharam os trabalhos de descarga, paralisando as atividades durante quatro dias – um milhão de toneladas de fertilizantes jaziam nos porões dos navios ancorados ou nos armazéns do porto de Paranaguá (PR), à espera de desembarque e transporte. Embora seja uma potência agrícola global, o Brasil importa cerca de três quartos de sua necessidade anual de fertilizantes. No segundo semestre, os negócios tradicionalmente envolvem maiores volumes do que no primeiro.
Energia
Mais etanol, menos açúcar
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produção de açúcar no Centro-Sul do Brasil na temporada em curso deve ser menor do que o previsto pela Unica – União da Indústria de Cana-de-Açúcar. A estimativa anterior indicava 31,8 milhões de toneladas, mas, diante da crescente demanda por etanol, pode cair um milhão de toneladas ou mais, como o diretor-técnico da entidade, Antônio de Pádua Rodrigues, admitiu no mês passado. As vendas de etanol chegaram a 2,4 bilhões de litros em maio, igualando o volume de gasolina pela primeira vez desde 2010. A produção de etanol deve atingir 30 bilhões de litros na atual safra, ante 27,3 bilhões previstos anteriormente. “As usinas estão sustentando um mix de produção mais pesado em etanol para atender à procura”, disse o diretor da Unica. Segundo ele, até 15 de junho alocaram 61% da cana para etanol e 39% para açúcar.
Citricultura
Uma safra e meia a menos
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studo divulgado pela Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos mostra que, em 10 anos, o consumo global de suco concentrado de laranja caiu de 2,4 milhões de toneladas para 2,1 milhões – o equivalente a uma safra e meia, ou 92,5 milhões de caixas a menos. A maior queda (25%) foi registrada na América do Norte (Estados Unidos e Canadá), principal mercado consumidor. Em outras regiões do planeta houve acréscimo (88% no Oriente Médio, por exemplo), mas não o suficiente para compensar o recuo, extremamente prejudicial ao Brasil, responsável por 57% da produção mundial de laranja e 81% do comércio internacional de suco concentrado. Na tentativa de reverter o quadro, a CitrusBR – Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos, propõe ações de marketing para impulsionar as vendas no mercado externo e a desoneração no preço final do suco de laranja. A entidade estima demanda adicional de cerca de 50 milhões de caixas de laranja por ano apenas para atender o Brasil, se o preço ao consumidor cair.
Rizicultura
Programa atesta qualidade do arroz gaúcho
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evantamento do Programa Nacional de Controle de Resíduos e Contaminantes comprova que o arroz produzido no Rio Grande do Sul é livre de resíduos de agrotóxicos e contaminantesDas 17 amostras da safra 2013/14 analisadas, todas apresentaram a conformidade exigida. Segundo o presidente da Federarroz, Henrique Dornelles, isto significa profissionalismo e responsabilidade. “Nossos produtores respeitam as carências indicadas pelos fabricantes e aplicam produtos autorizados. O arroz gaúcho possui qualidade visual, sensorial e é extremamente saudável”, diz ele. Em todo o Brasil, 91,3% das amostras analisadas estão dentro dos índices de conformidade. 16 | Agro DBO – agosto 2015
Notícias da Terra Fitossanidade I
Armadilha contra a broca-do-café
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esquisadores da Emater-MG demonstraram, em testes realizados na fazenda Santa Rosa, no município de Muriaé, que é possível controlar a broca-do-café (nome popular do besouro Hypothenemus hampei, cuja larva se alimenta das sementes do cafeeiro) sem agroquímicos. Usando uma armadilha feita de garrafas pet desenvolvida pelo Iapar – Instituto Agronômico do Paraná, eles conseguiram reduzir em 80% o nível de infestação do inseto em um cafezal de um hectare. A armadilha é constituída de uma garrafa de dois litros, usada de cabeça para baixo, com a tampa de plástico fechada e uma abertura lateral. Na parte inferior, coloca-se uma mistura de água com detergente. Para cada 200 ml de água, um de detergente. Dentro da garrafa, é afixado um vidro de 20 a 30 mm com um atrativo alimentar, que serve de isca. Para cada litro da mistura, é pre-
ciso adicionar 750 ml de álcool metílico (metanol), 250 ml de álcool etílico (etanol) e 10 gramas de café moído e torrado (OBS: é recomendável a orientação de um técnico para a manipulação, porque o metanol é tóxico). Na tampa do vidrinho, faz-se uma pequena abertura para dispersar o aroma. Basta então fixar o “equipamento” no cafeeiro, a cerca de um metro e meio de altura. O inseto é atraído pelo cheiro da mistura. Como há pouco espaço para voar dentro da garrafa, ele acaba caindo na água com detergente e morrendo. Segundo os pesquisadores, as garrafas devem ser montadas quando o grão do café começa a se desenvolver. Eles recomendam 25 armadilhas por hectare, a 25 metros de distância uma da outra. E lembram que, para um controle mais eficiente da broca, o produtor deve manter a lavoura sem restos de café no chão e não deixar frutos nos pés.
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Notícias da Terra Evento
Campinas debate produção do agro próxima a cidades
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Show
Cuiabá assistiu a show da New Holland
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New Holland deu sequência ao programa “Em Campo”, em Cuiabá (MT), um show itinerante que promete percorrer o Brasil. A terceira edição de 2015 reuniu tratores, máquinas e outras novidades para demonstrações na 51ª Expoagro, no Parque de Exposição da Acrimat, dia 8 de julho último. O objetivo foi o de mostrar funcionamento, desempenho e diferenciais das máquinas New Holland com interação do público. No espaço de uma arena, tratores e máquinas foram apresentados com exibição de manobras radicais, dinâmica e técnica. O show de máquinas da New Holland tem a duração de uma hora, e inclui teatro, música, humor, foguetório e efeitos de luzes, com passeios em tratores para crianças de até 12 anos.
“Queremos proporcionar para a família do produtor um momento de troca de conhecimento de novas tecnologias para o campo, e pretendemos também fornecer ao agricultor ferramentas para ele aperfeiçoar o trabalho de uma forma fácil e que resulta em produtividade”, destaca Alessandro Maritano, vice-presidente da New Holland para a América Latina. Conforme Maritano, “o programa abre as portas para os concessionários e clientes fecharem bons negócios. Estamos completando 40 anos de fábrica no Brasil e vamos comemorar com eventos como este, proporcionando negócios diferenciados, voltados para nossos clientes mais tradicionais, e que estão sempre em busca de novas tecnologias para aprimorar as atividades na lavoura”.
ar visibilidade às questões rurais e incentivar a produção agropecuária próxima aos centros urbanos, enfatizando a importância da atividade para a qualidade de vida da população. Este é o objetivo do 1º Encontro de Produtores Rurais, que Campinas (SP) realizará dias 27 e 28 de agosto de 2015, na sede do Ital - Instituto de Tecnologia de Alimentos. Organizado pelo Conselho Municipal do Desenvolvimento Rural e do Agronegócio (CMDRA), o evento debaterá temas como a atuação dos países desenvolvidos para manter a área rural próxima aos centros urbanos e gestão de recursos hídricos na área rural. “O foco central do 1º Encontro é fazer com que a população urbana reconheça que a área rural é de suma importância para o presente e o futuro das gerações”, ressalta o engenheiro agrônomo Amauri Dimarzio, presidente do CMDRA. A participação no evento é gratuita. Para informações e inscrições: produtores.rurais@campinas.sp.gov.br As inscrições podem ser feitas online no endereço: https://docs.google.com/forms/ d/1x0yoSsZBzxzeWxNpINppm FxJfxlvEHjUEWuuOWFIpoQ/ viewform
Infraestrutura
Banco Brics começa a operar
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Novo Banco de Desenvolvimento (NBD) do Brics, bloco das cinco grandes economias emergentes, constituído por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, começou a funcionar no dia 21 de julho de 2015, na cidade chinesa de Xangai. Com capital inicial de US$ 50 bilhões de dólares, o NBD, designado por Brics Bank, vai atuar como um complemento do atual sistema financeiro internacional, dirigido principalmente ao financiamento de projetos de infraestrutura nos países em desenvolvimento. 18 | Agro DBO – agosto 2015
Notícias da Terra Clima
CO2: estão nos enganando?
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DBO Editores lançou o livro “CO2 aquecimento e mudanças climáticas: estão nos enganando?”, autoria do editor-executivo da revista Agro DBO, jornalista Richard Jakubaszko, e que tem coautoria de cientistas como o físico e climatologista Luiz Carlos Baldicero Molion, professor aposentado da Universidade Federal de Alagoas, e de José Carlos Parente de Oliveira, também físico, professor da Universidade Federal do Ceará. Os autores são céticos em relação às propaladas questões do aquecimento global e das mudanças climáticas. No livro, apresentam inúmeras respostas e contestações aos problemas e acusações formuladas pelos ambientalistas, muitas delas criminalizando os produtores rurais. Jakubaszko
diz que “o CO2 é o gás da vida, sem ele a agricultura e as florestas não existiriam, e não haveria vida, pois a fotossíntese não seria possível”. Outros técnicos estão presentes no livro, onde se destacam o geólogo Geraldo Luís Lino, os engenheiros agrônomos Odo Primavesi, Fernando Penteado Cardoso, Evaristo de Miranda, e o agrometeorologista Ângelo Paes de Camargo (in memoriam). Eles demonstram, conforme Jakubaszko, que “o enunciado ambientalista carece de provas científicas e não está comprovado, mas os governos e a sociedade comportam-se de forma emocional nesse tema, e se está construindo uma legislação restritiva que engessará as gerações futuras, tudo isso para cumprir uma agenda política, patrocinada por in-
teresses econômicos, conforme denunciamos no livro”. “A obra tem leitura acessível e pretende abrir debates sobre o assunto, atualmente inexistente, e que já virou um quase dogma do pensamento único”, conforme Molion.
ILPF
Dow na Rede de Fomento
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Dow AgroSciences passa a integrar oficialmente a Rede de Fomento, coordenada pela Embrapa. Esta é a principal iniciativa público-privada do país sobre Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF), que busca alternar atividades agrícolas, pecuárias e florestais em uma mesma área para potencializar o agronegócio de forma
sustentável (leia matéria sobre ILP na página 36). A adesão ocorreu durante a abertura do Congresso Mundial sobre Sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta, em 13 de julho último, em Brasília, com a presença de Welles Pascoal, presidente da Dow AgroSciences, Paulo Herrmann, presidente da Rede de Fomento e Maurício Antônio
Lopes, presidente da Embrapa. A iLPF reúne em uma única propriedade a produção de grãos, carne ou leite, além de produtos madeireiros e não madeireiros ao longo de todo o ano. O resultado dessa combinação é a diversificação e a melhoria da renda do produtor rural, além de reduzir a pressão por desmatamentos em florestas nativas.
Crédito Agrícola
Plano Agrícola e Pecuário: novas regras beneficiam produtores
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m julho último, no Ministério da Agricultura (Mapa), o secretário de Política Agrícola, André Nassar, falou sobre as novas condições do Plano Agrícola e Pecuária 2015/2016. Para evitar a concentração dos recursos controlados de custeio foi eliminado o extrateto, que permitia que os bancos aplicassem até 10% dos recursos das exigibilidades em operações de custeio que excedessem o limite por produtor.
Outro ponto foi a eliminação das exceções que permitiam exceder o limite por produtor, conhecidas como extralimite. Segundo Nassar, embora elas fossem baseadas em critérios de boas práticas e sustentabilidade, beneficiavam apenas os produtores com maior capacidade de garantias. Com relação ao seguro rural, a ministra Kátia Abreu ressaltou que o Mapa já realizou o pagamento dos R$ 390,1 milhões referentes às ope-
rações de 2014 às seguradoras. Para 2015, estão garantidos R$ 690 milhões em recursos. A ministra enfatizou que o novo modelo para o seguro agrícola é totalmente voluntário, o que facilita a participação das entidades de produtores. “Vamos trabalhar modelos sustentáveis de seguro agrícola dentro do Grupo de Trabalho da Lei Agrícola, para melhorarmos o custo do seguro ainda para esta safra”. agosto 2015 – Agro DBO | 19
Perigo à vista Especialistas recomendam medidas práticas para evitar a incidência de doenças e pragas na safra 2015/16 de grãos ou, pelo menos, reduzir os prejuízos. Confira as dicas:
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Ariosto Mesquita
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Ariosto Mesquita
Ariosto Mesquita
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César Gaigher confere o teor de matéria orgânica no solo. Ele não abre mão do plantio direto e rotação de culturas, entre outros procedimentos agronômicos.
Soja voluntária, “ponte verde” para disseminação da ferrugem e outras doenças de uma safra para a outra. A ordem é arrancar.
fra anterior. “Começou a nascer, tem de destruir; caso contrário, só fazendo gradeamento na área, o que acaba com o plantio direto e coloca o solo em risco”, explica. Periodicamente, ele adota manejo biológico do solo para controlar nematoides e lagartas e descompactar áreas. “Somente de quatro anos pra cá passei a fazer o plantio em sucessão soja-milho. Antes, usava culturas de inverno, nem todas comerciais, visando, sobretudo, a proteção e enriquecimento do solo, como braquiária, nabo forrageiro, aveia preta e triticale. Pretendo, provavelmente a partir do ano que vem, retomar o cultivo destas plantas de cobertura em rotação com áreas de milho safrinha”, conta. Para Gaigher, o maquinário moderno também é ferramenta de prevenção. “Minha colhedeira gera um mapa de produtividade que utilizo para confrontar com dados de solo, fechando o cerco sobre eventuais problemas. “Apesar de registrar níveis de argila acima de 60% minhas terras são heterogêneas, oscilando muito em qualidade. Por isso tenho de ficar atento para garantir bons resultados”. Todos estes cuidados objetivam, logicamente, desempenho econômico satisfatório ao final da safra. Com este foco, procura evitar a variação do Wanderlei Dias Guerra
le está sempre de olho na lavoura. Monitora o surgimento de ervas daninhas, verifica o teor de matéria orgânica no solo, adota agricultura de precisão, adapta pessoalmente as plantadeiras e colheitadeiras para as necessidades da propriedade e ainda sobe na máquina para fazer a colheita. César Fontanella Gaigher sabe que qualquer descuido significa perda de produtividade – e, consequentemente, de renda – nos cultivos de soja e milho segunda safra, culturas comerciais implementadas em sua propriedade, a fazenda Jatobá, de 470 hectares, situada no município de Itaporã, no Mato Grosso do Sul. Os procedimentos para a semeadura da soja (a janela de plantio abre-se na região no dia 15 de setembro) não são diferentes dos adotados pela maioria dos sojicultores brasileiros. A apreensão diante dos riscos de incidências de doenças e pragas, porém, é maior. Motivo: sua lavoura dista 110 km em linha reta do Paraguai, país vizinho cujo controle fitossanitário é questionado, no Brasil, por pesquisadores da Embrapa. As extensas fronteiras brasileiras são consideradas portas de entrada para doenças e pragas ainda não notificados em território brasileiro. Pesquisadores garantem que pelo menos 18 pragas que atacam a soja, ainda não registradas no Brasil, circulam por países da América do Sul. A partir de todos os continentes, são 221 espécies quarentenárias. A exemplo do que ocorreu com a Helicoverpa armigera, podem entrar no país e arrasar lavouras, causando enormes prejuízos. Gaigher reconhece que a proximidade de sua fazenda com a fronteira (seca) com o Paraguai potencializa o risco. “Esporos de fungos, por exemplo, viajam distâncias consideráveis e de forma rápida, impulsionados pelo vento. E não sabemos o que vem pelo ar”, observa. Ele está ciente do risco de sofrer contaminação acidental (pragas que “viajem” pelo ar ou na “carona” de turistas, comerciantes e cargas, por exemplo), mas não descarta o chamado bioterrorismo, ou seja, a disseminação intencional de agentes biológicos, vírus, fungos ou toxinas. “Particularmente, suspeito que a ferrugem asiática foi introduzida artificialmente no Brasil, assim como a vassoura de bruxa na Bahia, que dizimou a produção de cacau a partir da década de 1990”. Cuidados habituais Engenheiro agrônomo, Gaigher monitora diariamente a lavoura durante o período de vazio sanitário (de 15 de junho a 15 de setembro no estado). A vigilância quanto aos riscos de incidência da ferrugem na soja é uma das tônicas de seu trabalho. Ele vai a campo para detectar e destruir plantas invasoras e a “soja voluntária”, também conhecida como tiguera ou guaxa, cujos pés podem brotar a partir de sementes perdidas da sa-
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Adeney Bueno critica a “febre por aplicações químicas”, muitas vezes feitas de forma desordenada e, consequentemente, ineficaz nas lavouras.
RR Rufino
humor das bolsas e, consequentemente, dos preços da oleaginosa no mercado internacional. Gaigher já vendeu – antes de plantar – 70% da safra 2015/16 de soja: “Travei entre R$ 60 e R$ 61 a saca”. O risco maior, segundo ele, é não produzir o suficiente para cumprir o contrato. ‘O correto seria travar um pouco menos, mas como faço agricultura de precisão e tenho um nível tecnológico apurado, resolvi apostar”. As pragas provocam grande impacto econômico. De acordo com dados da Embrapa, o custo da ferrugem asiática (controle + perdas) nas lavouras de soja do Brasil na safra 2011/12 ficou em US$ 1,7 bilhão. No ano seguinte, só as despesas para controle atingiram US$ 1,9 bilhão. Segundo o pesquisador Adeney de Freitas Bueno, da Embrapa Soja, o custo médio com controle químico nas lavouras no país subiu de US$ 70/ha na safra 2002/03 para US$ 200/ha no ciclo 2012/13. Só no Paraná a venda declarada de fungicidas, herbicidas e inseticidas atingiu 68 mil toneladas em 2011, pulando para mais de 150 mil em 2012. Mestre e doutor em entomologia, Adeney critica a “febre por aplicações quími-
cas”, muitas vezes feitas de forma ineficiente e imprecisa. “Na última safra de soja, a agricultura paranaense contabilizou média de cinco aplicações de defensivos, chegando a oito em algumas fazendas. O pior de tudo é que, mesmo aumenando o uso de agrotóxicos, aparecem ou ressurgem cada vez mais pragas, como a mosca branca, o coró, a Helicoverpa armigera e ácaros. Há cinco anos não era registrado ácaro na soja. Ano passado estive na Bahia e vi áreas com até 15 aplicações de inseticidas na soja”, conta. Maiores vilões Na opinião de Adeney, a H. armigera e a ferrugem asiática, causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizie) não serão os maiores inimigos dos produtores de soja na próxima safra. Os candidatos, segundo ele, são a lagarta falsa-medideira ( Pseudoplusia includens) e os percevejos, “pragas secundárias que passaram a ser problema de primeira ordem”. O pesquisador da Embrapa Soja considera a falsa-medideira “a principal lagarta da cultura da soja no Brasil” e o percevejo, “o principal vilão”. Do complexo que ataca as vagens de soja, o percevejo marrom (Euschistus heros) é, de acordo com Adeney, o mais comum, abundante e o que mais impacta a lavoura. “Eles sugam diretamente as vagens da planta, impedindo seu desenvolvimento, além de provocar o ‘chochamento’ dos grãos”. O agravante é que estes insetos têm resistência aos principais produtos químicos hoje no mercado. Diante disso, o agricultor tende a aumentar o número de aplicações na esperança de eliminar a praga. Na safra 2013/14, os percevejos demandaram 30% das pulverizações de inseticidas nas lavouras de soja do Brasil”, revela. Para Adeney, a elevação do status da falsa-medideira de coadjuvante para protagonista está relacionada à disseminação da ferrugem asiática e uso “abusivo” de agrotóxicos para seu controle. “Antes da ferrugem, a média Medidas na pré-semeadura da soja Apostar no controle biológico, preservando os inimigos naturais das pragas; Monitoramento constante da área para contenção de plantas guaxas e ervas daninhas; Fazer a dessecação (sem inseticidas) – a primeira aplicação de herbicida deve ser feita de três a quatro semanas antes da semeadura e a segunda aplicação, próxima ao dia de plantio);
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A amostragem de pragas é fundamental para a contenção de pragas (leia sobre outras medidas no quadro à direita).
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Medidas na semeadura da soja Em áreas com histórico de ocorrências, o tratamento de sementes com inseticidas pode ser adotado como resultados eficientes; Em áreas com histórico de ocorrência de lagartas, o cultivo da Soja BT (com a proteína Cry1Ac) é boa
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“A incidência maior da falsa-medideira está relacionada ao uso exagerado de agrotóxicos para controlar a ferrugem asiática” Samuel Roggia
Ácaro rajado, H. Armigera e ferrugem asiática (da esq. para a dir), três dos principais “inimigos” dos produtores rurais brasileiros.
Outro agravante: poucos agricultores fazem amostragem de pragas no solo antes de definir como, onde e quando fazer as aplicações. “Ou seja, não há um diagnóstico do problema para saber o que usar e em que quantidade. As lagartas, por exemplo, não são iguais e exigem produtos e dosagens diferentes para o combate. Aplicações generalizadas terminam por provocar efeitos colaterais graves nas lavouras”, avisa. Especialistas reunidos no VII Congresso Brasileiro de Soja, realizado em Florianópolis, criticaram a opção crescente no meio agrícola pela “soja safrinha” – o plantio da oleaginosa em sequência, no mesmo ano agrícola, eliminando a alternância de culturas, medida, esta, sim, “profilática” para a contenção de pragas. Segundo eles, plantar soja sobre soja é um convite a pragas e doenças, especialmente os fungos causadores da ferrugem. Além do risco de surtos mais intensos, a prática pode aumentar o ritmo de resistência de pragas e diminuir a vida útil de tecnologias em uso. “Talvez a maior ameaça seja a possibilidade Adeney de Freitas Bueno
de aplicações de fungicidas na cultura da soja era inferior a uma aplicação por safra. Depois da entrada do fungo no Brasil, a média de aplicações subiu para três por safra. Os fungicidas utilizados para controlar a ferrugem também matam os fungos entomopatogênicos (benéficos) que anteriormente mantinham a falsa-medideira sob controle”, explica. O pesquisador lembra que o primeiro surto de falsa-medideira na soja ocorreu entre um a dois anos após a entrada da ferrugem no país e alerta para a adoção de critério técnico e atendimento às recomendações agronômicas na aplicação química na lavoura: “Para melhorar o manejo dessa lagarta, é necessário equalizar a tecnologia de aplicação dos inseticidas que, mesmo adequados, não funcionam a contento em função de aplicação mal realizada”, diz ele, relacionando também deficiências constantes em equipamentos: “No Paraná, 80% dos pulverizadores têm problemas. Geralmente apresentam bicos entupidos ou inapropriados e ausência de manômetro (aparelho que verifica a pressão na saída do pulverizador)”.
Jovenil José da Silva
opção desde que seja feito refúgio de 20% da área (OBS: a proteína Cry 1AC não controla pragas do gênero Spodoptera); Fazer o plantio procurando a evasão (tática de fuga contra o estádio mais nocivo da praga ou contra o ambiente mais favorável para o desenvolvimento de doenças)
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Fonte: Embrapa Soja e Embrapa Agropecuária Oeste
Falsa-medideira e percevejomarrom, listados por pesquisadores, entre os quais Adeney Bueno, como os principais candidatos a “vilão” da safra.
Claudia Vieira Godoy
Medidas na pós-semeadura Realizar o Manejo Integrado de Pragas (MIP-Soja); Nunca aplicar inseticidas de forma abusiva. Fazer o monitoramento de pragas (amostragem) para o controle na hora certa, com o produto certo e na dose certa.
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Waldir Dias
Imune aos nematoides, a crotalária virou opção para a safrinha. Segundo estudos, pode reduzir em 80% a incidência da praga.
Nematoides do gênero Pratylenchus. Uma das hipóteses mais prováveis para a disseminação é o uso sequencial de culturas suscetíveis.
de aumento de seleção para insetos resistentes às táticas de controle como a soja RR 2 Pro”, alerta Adeney. Durante o congresso, os pesquisadores propuseram um amplo plano de controle de doenças e pragas, abrangendo os estados fronteiriços e países vizinhos, especialmente o Paraguai, onde, segundo projeções da Embrapa, mais de 500 mil hectares de área foram cultivados com soja safrinha na safra passada. Ou seja, não adianta tomar medidas preventivas isoladamente. A contenção dos inimigos é trabalho coletivo. No Brasil, a área foi quase igual. De acordo com a Embrapa Agropecuária Oeste, sediada em Dourados (MS), a soja safrinha foi cultivada em pelo menos 30 mil hectares no Mato Grosso do Sul e em 100 mil hectares no Paraná na safra 2014/15. No Mato Grosso, maior produtor de grãos do país, as estimativas apontam para 120 mil hectares na safra 2014/15. Na opinião do fitopatologista da Embrapa Agropecuária Oeste, Augusto César Pereira Goulart, o sojicultor sabe exatamente o
que tem que fazer para conter a incidência de doenças e pragas na lavoura. “Resta fazer”, alerta. Um dos maiores temores dos agricultores, especialmente no Mato Grosso, é a incidência de nematoides, particularmente os do gênero Pratylenchus. “Podemos estimar perdas médias de até 30% no cultivo da soja onde ele ocorre, existindo situações pontuais muito piores”, alerta o chefe-geral da Embrapa Agropecuária Oeste (Dourados, MS), Guilherme Lafourcade Asmus, doutor em fitopatologia com especialização em nematologia. Segundo ele, a infestação no estado é generalizada: “Conferi um levantamento que mostra que ele está presente em 90% das amostras de solo em regiões de cultivo de algodão, cujo plantio muitas vezes é feito em sucessão à soja. Mais recentemente, tive acesso a um estudo da Aprosmat – Associação dos Produtores de Sementes de Mato Grosso, que revela a presença do Pratylenchus em 100% das amostras”. O pesquisador explica os possíveis motivos para a disseminação deste tipo de nematoide, que, segundo ele, acontece em grau semelhante também na região dos Chapadões, que abrange o sul de Goiás, norte e nordeste do Mato Grosso do Sul: “Uma das hipóteses mais prováveis é o uso sequencial de culturas suscetíveis como soja/algodão, soja/milho e cobertura vegetal com gramíneas, sobretudo braquiárias e panicuns. Imagine uma Medidas para aumentar a tolerância das plantas ao ataque de pragas de raízes: Na escolha de cultivares, preferir aquelas de crescimento rápido – com mais raízes; Fazer inoculação com bactérias fixadoras de nitrogênio; Evitar a formação de camadas adensadas no solo; Fazer correção de acidez e fertilidade do solo;
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Medidas gerais para reduzir a população de pragas de raízes: Fazer a rotação de culturas (com plantas não hospedeiras ou hospedeiras não preferenciais); Evitar safrinha em áreas muito atacadas (especialmente com plantas hospedeiras preferenciais); Inseticidas: aplicação no sulco ou tratamento de semente quando observar uma grande infestação no plantio (não fazer uso de inseticidas na ausência da praga); Manejo de solo associado ou não à pulverização com inseticidas (justificável e possível somente em áreas de manejo convencional).
• • Guilherme Asmus, chefe-geral da Embrapa Agropecuária Oeste, alerta para a infestaççao generalizada de nematoides no Mato Grosso e outras regiões do Brasil.
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Ariosto Mesquita
área ocupada de três a quatro meses com soja seguindo de cinco a seis meses de algodão! É comida farta para o nematoide, que se multiplica apenas onde existe alimento vivo, ou seja, raízes de plantas hospedeiras”. ILP sob suspeita A Embrapa suspeita que alguns arranjos de ILP – Integração Lavoura-Pecuária possam potencializar o aumento populacional da praga. “No Mato Grosso do Sul, temos áreas de pesquisa em Dourados (centro/sul), Naviraí (sul) e Ponta Porã (fronteira com o Paraguai) onde estamos fazendo avaliações de infesta Recomendações para evitar a presença de nematoides na lavoura: A partir das primeiras chuvas antes da semeadura, coletar amostras de solo, providenciar a sua análise e detectar o tipo de nematoide presente e grau de incidência no talhão (OBS: O período seco não é indicado para fazer coleta de solo visando análise nematológica. Geralmente o resultado aponta para um falso, a não ser que o nível de infestação seja tão alto que se detecte população residual); Dependendo da situação encontrada, trate as sementes com produtos nematicidas (químicos ou biológicos) e escolha variedades de soja menos suscetíveis (caso ainda não tenha adquirido as sementes, o que é difícil); Na hipótese de o agricultor ter feito análise na safra anterior, deve optar em adquirir cultivares mais resistente ou já previamente tratadas com nematicidas; Pensando no ciclo 2016/217, é recomendado o tratamento de entressafra, com o plantio de crotalária após a colheita da soja 2015/216.
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Área ocupada com crotalária no período de safrinha na região de Tangará da Serra, no sudoeste do Mato Grosso.
ção em soja solteira, pastagens extensivas e em modelos integrados. Compartilhamos os dados com a Embrapa Agrossilvipastoril (Sinop, MT), que vem fazendo o mesmo trabalho no Mato Grosso. Por enquanto, não temos resultados concretos”, garante. Com relação a outros nematoides comuns no Brasil, Asmus garante que os sistemas integrados são bastante funcionais. “No caso de nematoides de cisto e de galhas, por exemplo, as gramíneas não são hospedeiras”, afirma. Portanto, segundo ele, caso sejam cultivadas em consórcio com o milho safrinha ou de forma solteira, em sucessão à soja, o ciclo de vida da praga é quebrado e sua população cai para níveis aceitáveis. Não por acaso, o cultivo de crotalária vem crescendo a cada ano. Tomando como base a quantidade de sementes comercializadas, os produtores do Mato Grosso cultivaram mais de um milhão de hectares de crotalária (no período da safrinha) na safra passada para o combate a nematoides. No entanto, a área total ocupada pela leguminosa provavelmente seja bem superior, uma vez que muitos agricultores estão produzindo e salvando suas próprias sementes. Pesquisadores da Fundação Mato Grosso estimam que seu cultivo em área bem formada pode reduzir em até 80% a incidência da praga na posterior lavoura de soja. Pelo fato de serem praticamente imunes ao Pratylenchus, diversas crotalárias (são mais de 100 espécies descritas) não alimentam os nematoides. Assim sendo, sua população diminui sensivelmente permitindo que o cultivo posterior não sofra incidência produtivamente limitante da praga. Outro benefício para a cultura posterior (no caso, a soja) é a capacidade que esta leguminosa tem em elevar o nível de fertilidade da área de plantio. Em função disso, é considerado um excelente adubo verde, com grande potencial para fixação de nitrogênio nas folhas, posteriormente incorporado ao solo. agosto 2015 – Agro DBO | 25
Arroz
Água na cabeça e sol no pé Cultivo consorciado com soja ajuda a reduzir a crise na rizicultura gaúcha, marcada pelo aumento dos custos, preços voláteis e dívidas de custeio. Glauco Menegheti
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ouco depois da colheita do arroz no Rio Grande do Sul, que ocorre no fim de março, os rizicultores já estavam imersos em negociação com o governo para alongar dívidas. Os gaúchos colheram 8,7 milhões de toneladas, de acordo com o Irga – Instituto Rio Grandense do Arroz, bem abaixo da demanda interna de 12 milhões t. Os motivos, segundo o presidente da Federarroz – Federação das Associações de Arrozeiros do Estado do Rio Grande do Sul, Henrique Dornelles, foram a queda no preço do cereal de R$ 35,50 para R$ 33 a saca de 50 kg ao longo do ano e a alta no custo de produção, impactada principalmente pela energia. De acordo com levanta-
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mento do Cepea e CNA, em junho o custo (variável + fixo) bateu em R$ 33,58 a sacas. “Nos últimos anos, o mercado não via instabilidade de preços em pleno julho, bem na entressafra”, diz o analista de mercado da Safras & Mercado, Mahal Terra. Na outra ponta, o consumidor optou preferencialmente por produtos de qualidade inferior, o que implica redução de preço e pressão na cadeia produtiva (OBS: leia “Recursos represados”, na página 58). Prenunciando dificuldades para a próxima safra, que poderá ter redução de área de 5%, entidades estaduais como a Farsul, a Federarroz, o Irga e a Fetag fizeram um périplo pelo Ministério da Agricultura, Conab e instituições financeiras
como o Banco do Brasil, Sicredi e Bradesco. O máximo que conseguiram foi um prazo para pagar o custeio (que teriam que honrar em julho) nos meses de novembro e dezembro. A próxima safra e as agruras pelas quais vêm passando deverão ser tratados durante a próxima Expointer, tradicional palco de embates políticos entre iniciativa privada e poder público. O presidente da Federarroz diz que há mais elementos jogando incertezas no futuro da próxima safra do cereal. Em primeiro lugar, o aumento nos preços de insumos importantes tem efeito em cadeia. A alta do diesel impactou tanto nos tratos culturais quanto na colheita e nos fretes, assim como a energia
parte das regiões produtoras de arroz do estado, uma espécie de colchão contra as incertezas do monocultivo. O crescimento da área de soja ocorreu na esteira de preços recordes, que chegaram a R$ 85 a saca de 60 kg. Hoje, há contratos fixados em R$ 70 para a entrega futura. Na safra 2010/11, a oleaginosa ocupou 66, 5 mil hectares. Na temporada seguinte, o tamanho quase triplicou e a perspectiva é que o grão se espraie em 300 mil hectares em 2015/16. Não falta área para tanto: na região Sul existem 3,5 milhões de hectares, dos quais 1,1 milhão com arroz e os 2 milhões restantes divididos entre pousio e pecuária extensiva.
também afetou a secagem e armazenagem de grãos. O pré-custeio demorou a ser liberado pelo Banco do Brasil. Por isso, segundo levantamento do departamento econômico da Farsul, houve incremento de 11% no volume comercializado em maio. Há também a expectativa de problemas decorrentes do El Niño, que aumenta a chuva e reduz a insolação no período de verão. Os arrozeiros têm uma máxima: o arroz gosta de sol na cabeça e água no pé. “O produtor tem que pensar muito ao se lançar nesta safra. Precisa calcular desde arrendamento até mão de obra e analisar criticamente o fluxo de caixa.” Segundo o dirigente, a lavoura arrozeira é muito dependente de crédito de terceiros – de 50% a 70%. Na Expointer de 2014, o ex-presidente do Irga, Cláudio Pereira, foi taxativo ao afirmar que “a monocultura é a mãe da crise do arroz”. No pronunciamento, ele não considerou o consorciamento com a soja, prática ainda incipente, mas crescente. A oleaginosa representa hoje uma força de diversificação para
A lavoura de arroz é muito dependente do crédito de terceiros – de 50% a 70%, segundo a Federarroz.
Limitações técnicas O diretor técnico do Irga, Mauricio Miguel Fischer, lembra que o arroz é limitado por disponibilidade de água e outorga de seu uso para 1,3 milhão de hectares. “Mais de 50% desse insumo é armazenado em barragens e açudes feitos pelos produtores”, explica. Já a soja, fica limitada por aspectos culturais e técnicos para conviver com as características do solo de várzea que ocorre na metade-sul do estado. Para complicar o quadro, a pesquisa ainda não desenvolveu soja inteiramente adaptada à várzea, que, com chuva, pode deixar o cultivo debaixo d’água. O Irga está preocupado com a situação. Se, por um lado, estimula a rotação de culturas, com a qual se pode combater o arroz vermelho e preto e reduzir
custos, também há preocupação com o manejo. Os produtores estão ampliando área e se expondo a um risco excessivo, pois a soja não é uma cultura “anfíbia”. Como lembra o economista da Farsul, Antônio da Luz, a soja começou a ser plantada nas áreas de pousio do arroz, até porque melhora a qualidade do cereal no próximo ciclo e, à medida que atingiu rentabilidade, assumiu também algumas áreas nobres de várzea. Na última crise enfrentada pelos produtores, em 2011, a superprodução derrubou o preço do arroz – chegou a valer R$ 17 a saca. Mas, graças à soja, o economista acredita que não vai mais ocorrer uma situação como essa. “A oleaginosa tem liquidez, ao contrário do arroz neste momento. Não fosse a soja, a crise poderia estar pior.” Por esse motivo, em municípios como Dom Pedrito e Bagé, floresceu toda uma nova economia gravitando em torno da oleaginosa. É o caso da agroindústria Coradini, que há dois anos criou estrutura de recebimento exclusiva para a soja com capacidade para 24 mil toneladas. Também escritórios de comercialização foram implantados. O gerente comercial da empresa, Eduardo Coradini, testemunha que até quatro anos atrás o grão tinha papel marginal no município. “Plantava-se para renovação de pastagens e quebra do ciclo de invasoras, como o arroz vermelho. A partir da safra 2010/11, a área começou a crescer, saindo de 25 mil hectares até chegar aos 80 mil da temporada 2014/15.” Segundo ele, dois fenômenos propiciaram esse avanço, grande parte dos quais em áreas de pecuária: a soja se mostrou mais resistente à seca (comum no município), em relação ao arroz e à própria pecuária, e os preços da soja foram mais do que compensadores. Isso desencadeou um movimento de compra de maquinário, insumos, busca por tecnologia para a implantação da cultura. De acordo com Coradini, a informação veio de fornecedores de insumos, seagosto 2015 – Agro DBO | 27
Arroz Na temporada 2010/11, a soja ocupou 66,5 mil hectares na região arrozeira gaúcha. Na safra 2015/16, deve chegar a 300 mil. minários e troca de informações com agricultores do norte do estado. Com mais concorrência por áreas de coxilha, a pecuária também passou por um processo de intensificação. “Observamos os pecuaristas se tecnificando”, diz o empresário. Quanto à continuidade desse turbilhão desencadeado pela soja, Coradini é conservador. “Neste nível, é um pouco mais difícil a expansão, pois não é uma cultura de vocação da região. No momento, a nossa produtividade é de 35 a 45 sacas. E por isso, a soja continua sendo secundária, mas ela veio para ficar”. Outra cidade que abraçou a soja é Cachoeira do Sul. Com uma área agricultada de mais de 200 mil hectares, 140 mil foram ocupados pela oleaginosa. Na avaliação do produtor Paulo Schwab, 10 mil hectares do arroz ou pecuária migraram para a soja nos últimos anos, sobretudo em áreas de várzea mais altas, onde fica caro puxar água para criar o espelho d`água propício ao arroz. Segundo ele, as áreas mais baixas e sistematizadas para o arroz no município não se prestam a uma reconversão produtiva para a soja com a tecnologia disponível. Schwab praticamente deixou o arroz de lado, mas é porque a maior parte de suas áreas estão na coxilha. Ele planta 1,2 mil hectares
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de soja e no inverno termina gado com pastagens de inverno. Com isso, conseguiu atingir uma produtividade média de 48 sacas, enquanto a média no município é de 40. Na sua avaliação, um próximo salto horizontal da cultura em Cachoeira do Sul dependerá de tecnologia, passando por técnicas aprimoradas de drenagem a variedades de soja adaptadas. Na área mais baixa da propriedade, vê dificuldade na expansão. “Essa área é bem sistematizada e tem taipões e ali é muito difícil de produzir. Tentamos reduzir a quantidade de vermelho mas não tivemos muito sucesso. Tivemos que replantar a área por excesso de chuva na última safra.”
Área de soja em varzea de arroz no Rio Grande do Sul, cultivada sob sistema de camalhão
Mudança positiva Para o pesquisador da Embrapa, Francisco de Jesus Vernetti Junior, a chegada da soja na região é altamente positiva. Em primeiro lugar, pelo aumento da fertilidade no solo, propiciada pelo incremento de nitrogênio. “A soja não necessita desse insumo, pois, ao fazer simbiose com microorganismos incorpora matéria orgânica e aproveita para o desenvolvimento do arroz.” Também exerce um controle sobre o arroz vermelho, a maior dor de cabeça dos arrozeiros. Através do uso do glifosato
nas lavouras de soja RR, constata-se uma redução drástica dos níveis de infestação de plantas invasoras na cultura do arroz subsequente. Ele concorda, no entanto, que o maior desafio é implantar a oleaginosa em solos hidromórficos é a drenagem. A região apresenta uma topografia plana e um solo raso - impermeável e argiloso – e por isso a água não interpola. “Isso é interessante para o arroz, mas prejudicial à soja”, diz Vernetti. O grande problema são solos muito rasos com fertilidade natural muito baixa, onde predomina período de estiagem. “Isso tem reflexo direto porque os solos não têm capacidade de retenção de água”, diz o pesquisador da Embrapa. Também há outro complicador. Na várzea é preciso revolver o solo. Isso dá diferenciais de produtividade, atesta Bernetti. Duas possíveis soluções apontadas por ele são o treinamento dos arrozeiros e da mão de obra envolvida e a busca de variedades tolerantes ao encharcamento. Nessa condição de estiagem constante durante o verão, o ideal é que se pudesse dar banhos rápidos na soja, mas o manejo é complicado. Em primeiro lugar, explica Vernetti, na várzea a água caminha muito devagar. “Qualquer problema na retirada da água mata a planta.”Para produzir nessa condição, é preciso lançar mão de camalhões (que são como trincheiras, para fazer a água ser drenada), além do uso de materiais com um pouco mais de tolerância ao encharcamento. O resultado disso é uma produtividade ainda muito variável. Nas duas últimas safras, o rendimento médio da soja na metade sul do estado foi de 2,3 mil kgs. “Por toda essa condição, é possível conseguir de 700 a 3,5 mil kg. Vai depender da época de semeadura, se a área estiver bem ou mal manejada.
Entrevista
Café competitivo
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Fotos P&A Divulgação
os últimos tempos, o comportamento errático do clima tem produzido algumas constantes, a exemplo das quebras de safras, dos atrasos nas colheitas e do estado de permanente desassossego vivido por grande número de cafeicultores. No entanto, os brasileiros não detêm o monopólio das contrariedades. Em período recente, produtores de outros países passaram por atribulações semelhantes e perderam posições no mercado mundial. Com isso, o Brasil pode exportar volume recordista de café no ano passado. Talvez não repita o feito nesta temporada, pois a produção de concorrentes importantes retornou à normalidade. Fica a incerteza com relação ao futuro próximo, pois os preços também estão em queda, sob a pressão de fatores conjunturais. Entre eles, o retrocesso das economias emergentes e desvalorizações das moedas do Brasil e da Colômbia. A despeito das atuais circunstâncias, as perspectivas para o médio prazo seguem animadoras, de acordo com Carlos Brando, diretor da P&A Marketing Internacional, empresa de consultoria, trading e marketing. Um dos mais respeitados analistas do mercado de café, Brando presta serviços para empresas e instituições no Brasil e exterior, como a OIC e o Banco Mundial. Nesta entrevista à Agro DBO, conduzida pelo jornalista Rogério F. Furtado, Brando trata da conjuntura e enumera vários pontos que o Brasil soma a seu favor na disputa por mercados. Mas também lembra que o calcanhar de Aquiles da cafeicultura nacional continua a ser a falta de ações de marketing incisivas no exterior. Para ele, tal esforço deve ser bancado cada vez mais pela iniciativa privada.
Agro DBO – Para a Conab, o Brasil produziu 45,3 milhões de sacas de café em 2014. E prevê colheita de 44,2 milhões em 2015. Com que números trabalha a P&A? Carlos Brando – Nosso sistema de previsão é o do gerente de vendas. Como ele conhece os otimistas e os pessimistas do mercado, corrige para menos as projeções otimistas e aumenta a quantidade esperada pelos pessimistas. Quase sempre acertamos em nossa média. Estávamos projetando uma colheita de 49 a 50 milhões de sacas. Mas há notícias de que o rendimento físico do café está 30 | Agro DBO – agosto 2015
baixando após o descasque. O que poderá nos levar a um patamar inferior de produção, na faixa de 47 a 48 milhões de sacas. Agro DBO – Nesse total, que fração corresponde à produção do arábica? E quanto teremos de robusta? Carlos Brando – Nos últimos dois a três anos, tem havido um alinhamento crescente das previsões relativas à safra de arábica. Entre os dados da Conab, do USDA e os de traders, por exemplo. Neste ano, as projeções indicam colheita de 31 a 33 milhões de sacas de arábica. A grande discre-
pância está no conilon. Os números variam de 10 a 16 milhões de sacas. São duas linhas diferentes. O USDA vem reajustando suas estimativas para cima, chegando a 15 milhões de sacas. E aponta para estoques de passagem reduzidos. A Conab prevê safra muito menor e estoque de passagem maior. Considero exagerados os limites de 10 e 16 milhões de sacas que constam das previsões disponíveis. Mas creio que estamos indo em direção a 14/15 milhões de sacas. Rondônia, por exemplo, que era uma espécie de “patinho feio”, território de baixa produtividade,
P&A Divulgação
poderá apresentar colheita superior às expectativas. Para tanto, os produtores de lá vêm trabalhando bastante, contando com variedades novas. Agro DBO – No ano passado, o Brasil exportou o equivalente a 36,3 milhões de sacas – um recorde histórico. Será possível repetir essa performance? Carlos Brando – Isso não vai depender apenas da demanda externa. Se consumimos de 20 a 21 milhões de sacas, para exportar 36 milhões será necessário ter 56 milhões. Se estamos falando em produção de até 48/49 milhões, precisaríamos de 7 milhões dos estoques, que nós temos. Mas outros produtores de arábica começam a se recuperar depois das dificuldades que enfrentaram em período recente. É o caso da Colômbia e também da América Central, atingida pela ferrugem. Havíamos ocupado espaços desses produtores que voltam ao mercado. Haverá mais concorrência no setor do arábica neste ano. Já o segmento do robusta está bem parado. No Vietnã, os maquinistas vêm segurando o produto. Provavelmente porque compraram o café com uma expectativa de preços de venda que não está se confirmando.
Alexandre Soares
Agro DBO – O que refletem as cotações neste momento? Carlos Brando – O arábica está ficando em um patamar baixo porque, com a desvalorização do real, o produtor continua a receber o mesmo. Só que isso está acontecendo na Colômbia também, com a moeda local se desvalorizando quase tanto quanto a brasileira. Brasil e Colômbia, com desvalorizações grandes, puxam Nova York para baixo. Mas o importante é comparar preços e custos. Sob esse prisma, os produtores nem sempre gostam do que digo (bem-humorado), mas sempre me convidam para falar sobre o café. Então, não devo estar dizendo muita bobagem. Em minha opinião, o
preço ideal para o Brasil, em Nova York, estaria entre US$ 1,60 a US$ 1,80 por libra-peso. A US$ 2, a situação começa a ficar preocupante. Não adianta ter preço alto em Nova York. É certo que o brasileiro ganha. Mas todo mundo ganha e todo mundo planta. Em seguida os preços caem. Com o dólar no nível em que está, somos muito competitivos. Se analisarmos os custos de produção atuais, veremos que o cafeicultor grande opera na faixa de US$ 0,90 a um dólar. O custo vai aumentando para os pequenos e médios produtores. Chega a US$ 1,30 ou mais. Devido a produtividades menores. O Brasil tem algumas “ilhas” geográficas de baixa produtividade, menos tecnificadas. Por isso digo que US$ 1,30 não é o preço ideal para nós. Mas US$ 1,60/1,80 é um bom patamar, que não anima muito a concorrência. Colômbia e América Central, por exemplo, produzem a um custo na faixa de US$ 1,30 a US$ 1,40.
Agro DBO – De toda forma, dado o nível de preços em vigor, o custo é alto e a margem apertada para grande número de produtores... Carlos Brando – Os preços estão na faixa de R$ 400/450, com média de R$ 420 por saca de café comercial bom. Mas aqui estamos vendendo a R$ 500 e acima, até a R$ 620 a saca, pois exportamos cafés especiais. Muitos cafeicultores se concentram na produção de grandes volumes de café. Não é errado. Mas quem não quiser oferecer produto de qualidade, terá de ser muito produtivo. O rendimento no Brasil é da ordem de 23 sacas por hectare, considerando-se a média móvel de quatro anos. No cenário atual, para ganhar, o produtor tem de colher mais de 30 sacas por hectare. Abaixo desse nível irá empatar ou perder. É certo que um bourbon amarelo, colhido a 1.300 metros de altitude, mesmo com baixa produtividade, alcança preços muito elevados. Mas isso é irrelevante nas estatísticas gerais do setor. Agro DBO – Como se dividem os produtores em categorias? Todas formam um mercado atraente para a indústria de máquinas e implementos? Carlos Brando – Os pequenos, no Brasil, representam 80% do total dos cafeicultores. Mas respondem por 40% da produção. Esse quadro se repete no mundo todo. Aqui temos de 290 mil a 325 mil cafeicultores, dependendo da fonte das estimativas. agosto 2015 – Agro DBO | 31
Entrevista
Agro DBO – O que pode ser comprado em grupo? Carlos Brando – Uma colhedora autopropelida, que custa entre R$ 400 mil e R$ 500 mil é um bom exemplo. Se o tamanho do cafezal justificar, o produtor poderá contratar serviços de terceiros. Aqui em Pinhal (município do Espírito Santo do Pinhal, em São Paulo, onde fica a sede da P&A), a oferta é grande. Se eu pedir, terei um punhado de propostas de prestadores de serviço logo no dia seguinte. Há dez anos, isso era difícil. Hoje, as empresas grandes do ramo, como as que existem no Cerrado, têm 30, 40 máquinas em operação. E há quem presta serviços descascando o café, de fazenda em fazenda, com as máquinas em cima de caminhões. Agro DBO – E quanto ao clima? Temos tido secas e altas temperaturas nas regiões produtoras... Carlos Brando – Os efeitos de temperaturas elevadas sobre os cafeeiros são muito mais difíceis de controlar que os produzidos pelas secas. Entre outras consequências, o calor 32 | Agro DBO – julho 2015
favorece o aumento de pragas, o que exige a aplicação de mais produtos químicos. Os custos sobem, com eventuais prejuízos para o ambiente e para a sustentabilidade econômica do negócio. Mas o café do Brasil não vai se deslocar para a Argentina, nem para o Rio Grande do Sul, conforme especulações descabidas que surgiram por aí. Há muitas áreas em São Paulo e Minas Gerais onde não se plantava porque geava. Se o clima P&A Divulgação
Em conjunto, compõem um segmento importante para as indústrias de implementos, tais como as fornecedoras de arados e pulverizadores, entre outros. Mas os pequenos agricultores enfrentam deseconomias de escala se optam por comprar máquinas para o beneficiamento do café. Os médios e grandes compram máquinas para descascar, por exemplo, que usam durante dez horas por dia. O pequeno não tem café para tanto. Ligará o equipamento, digamos, só por duas horas diárias. Não existem máquinas pequeninas do jeito que ele gostaria, a um preço compatível. Essas máquinas não são produzidas em linhas de montagem, como os automóveis. Para fabricá-las, sejam elas grandes ou pequenas, a quantidade de mão de obra exigida é a mesma, variando apenas a quantidade de material. Então, o custo fica muito alto e inviabiliza a produção.
está mais quente, por que não plantar nessas áreas? É o que chamo de “minimigração”. Também é possível sombrear as lavouras, diminuindo a temperatura ambiente. O café levará mais tempo para maturar, mas isso tem efeito positivo sobre a qualidade, embora a produtividade possa diminuir. Agro DBO – Sombrear as lavouras existentes não daria muito trabalho? Carlos Brando – Não estamos falando de medida a ser tomada de imediato. Trata-se de um processo que poderia estender-se por 20 anos. Também é bom lembrar que o sombreamento não impede a colheita mecanizada, como muita gente pensa. Afinal, o mercado está cheio de máquinas que trabalham de um lado e de outro da planta. Por fim, já temos
variedades de café resistentes à seca, e certamente teremos outras mais. Agro DBO – Apesar das dificuldades conjunturais, as perspectivas parecem boas para a cafeicultura. A OIC estima que a demanda mundial, hoje na altura dos 149 milhões de sacas/ano, poderá alcançar 176 milhões de sacas já em 2020. Carlos Brando – Essa é uma possibilidade, desde que a demanda cresça a uma taxa de 2,5% ao ano. É um número otimista, pois a OIC também faz projeções utilizando as taxas de 1,5% e 2%. Acho mais viável considerar essa última taxa, que levaria a demanda ao patamar de 162 milhões de sacas em 2020. Prefiro ser menos otimista. Há crise nos países emergentes, puxados pela China. É o caso do Brasil, onde o consumo de café já cresceu a 6% ou a 7% ao ano. Se essas taxas se repetissem agora, corresponderiam ao acréscimo de até 1,4 milhão de sacas à demanda interna, ou a 1% a mais na demanda global. No entanto, neste ano, a expansão do mercado interno não chegará a 2%. Além disso, sob a ótica da cafeicultura, levando a renda em consideração, a China é um país de 400 milhões de habitantes, e não de 1,4 bilhão. O mesmo raciocínio se aplica à Índia, que tem cerca de 300 milhões de pessoas no mercado. Nesses países, o consumo per capita é ainda baixíssimo, embora o potencial de crescimento seja grande. A Índia consome cerca de 2 milhões de sacas/ano e, a China, 1 milhão. Agro DBO – No exterior, fusões e incorporações vêm dando origem a megaempresas no setor de alimentos. Quais as consequências desses movimentos para a cafeicultura? Carlos Brando – A tendência à concentração de empresas sempre existiu. O que mudou: essas empresas passam a atuar em escala mundial. Antes, no norte da Alemanha se consumia um tipo de café, diferente do que era vendido no sul. Uma situação parecida era observada em
“Somos hábeis em marketing quando se trata da empresa individual, mas carentes em ações conjuntas, especialmente na área externa”. outros países, inclusive no Brasil. Ou seja, as ligas, os blends, eram locais ou regionais. Hoje, aqui, as marcas nacionais estão presentes em toda parte. E uma Starbucks vende o mesmo café no mundo inteiro, assim como a Nespresso. Essas empresas estão passando a demandar grandes volumes de cafés com a mesma qualidade. Atendê-las é algo difícil para a Colômbia, com seus 600 mil microprodutores. E não para o Brasil, que está mais competitivo do que nunca. Somos os maiores fornecedores da Starbucks, da Illy, da Nespresso e de outras grandes torrefadoras. Se a globalização dos negócios é boa para essas empresas, também é boa para nós. Agro DBO – Como se comporta o mercado para quantidades menores de café? Carlos Brando – O setor das grandes torrefadoras movimenta essa nova categoria do produto que chamamos de diferenciado, situado em uma faixa intermediária, entre o café fino, ou especial, e o de menor qualidade, ou café comercial. E há um novo membro no clube dos cafés especiais. São os microlotes, de dez, vinte sacos. É um produto de custo elevado e logística compli-
cada. Trabalhamos nesse segmento, vendendo a produção das fazendas associadas à empresa exportadora do grupo P&A. Grande parte do que exportamos vai com a marca da propriedade de origem. Em seus pontos de venda, o comprador irá anunciar que esse café é especialíssimo, eventualmente ganhador de prêmios em concursos de qualidade. E identificará o produtor. Por enquanto é um nicho. Mas há espaço para todo mundo no mercado doméstico, que absorve todos os tipos de café. Outros países produtores não têm mercado interno tão grande e nem indústrias de solúvel. Essa é uma vantagem para o Brasil. Agro DBO – Os cafés de qualidade representam quanto de nossa produção? Carlos Brando – Eu diria que a gente exporta pelo menos 1 milhão de sacas de cafés especiais. O que corresponde a 3% da produção. De cereja descascado, fazemos de 4 a 5 milhões de sacas, o que eleva o total para além de 10% da safra. E a produção de cafés de qualidade está aumentando. Se somarmos os diferenciados, conforme defini antes, talvez já estejamos numa faixa de 20% a 25%. Mas nem tudo que é
classificado como especial é vendido como sendo dessa categoria. É uma questão de mercado, não de habilidade para produzir. Agro DBO – Há centenas de marcas no mercado doméstico de cafés gourmet. Ele não é muito acanhado para todos esses produtores? Carlos Brando – Não, porque essas marcas são regionais ou locais, o que explica o grande número. Em supermercados de São Paulo, por exemplo, é possível encontrar até quinze marcas. Que não serão as mesmas em todas as redes. Em Campinas há outros cafés que não chegam à capital. A mesma situação se repetirá em outras cidades. A quantidade de marcas é muito grande porque o país também é muito grande. E o mercado está em expansão. Agro DBO – Temos sólidos dispositivos de pesquisa, transferência de tecnologia e de acesso à informação. O que falta para o setor cafeeiro? Carlos Brando – Muito marketing e estratégia. Com relação ao café, sempre digo que somos extremamente hábeis em marketing quando se trata da empresa individual. No conjunto, somos bons quando nos referimos às instituições, como a Abic, com seu trabalho excelente. Mas somos carentes de ações em bloco na área externa. Quando se pretende fazer uma campanha de marketing lá fora, a pergunta usual é “quem se beneficiará com isso”? Devemos falar em cafés do Brasil. Temos de ter um programa institucional que vá além dos produtos e interesses individuais. Mas creio que o setor privado terá de se organizar por si só, cada vez mais: acabamos de receber uma indicação muito forte nesse sentido há poucos dias, quando o governo extinguiu o Decaf – Departamento do Café, do Ministério da Agricultura. agosto 2015 – Agro DBO | 33
Meio Ambiente
Habemus papam ecologistum Neste texto, o autor aplaude a polêmica encíclica Laudato si e questiona algumas posições políticas do Papa Francisco. Evaristo Eduardo de Miranda *
A
encíclica Laudato si, do Papa Francisco, em seu texto integral, emprega 74 vezes a palavra “natureza”, 55 vezes “meio ambiente” e uma só vez a expressão “Jesus Cristo”, aquela que designa a segunda pessoa da Santíssima Trindade. Já o mestre galileu, não divinizado, chamado apenas de Jesus, aparece 22 vezes, o mesmo número de citações do termo “tecnologia” e menos de metade da “ciência”, evocada 55 vezes. Contudo, a Academia Pontifícia de Ciências, com mais de uma dezena de prêmios Nobel, parece não ter contribuído muito e não é evocada. A palavra democracia não existe no texto. A encíclica é densa. Merece leitura, estudo e reflexão. Nela, a questão ecológica é abordada, não apenas em sua dimensão “natural” stricto sensu. O documento aborda seu contexto humano, social, político, religioso e cultural. O texto não é dirigido apenas a bispos e católicos. Fato raríssimo, o Papa fala na primeira pessoa do singular. Ele deixa de lado o “Nós”, o plural majestático, característico de pronunciamentos pontifícios. Ele se dirige aos crentes (judeus, muçulmanos...) e aos não crentes. Para falar à humanidade, o Papa evoca a responsabilidade de todos em gerir a terra como a nossa casa comum.
* O autor é pesquisador da Embrapa, doutor em ecologia, e é membro do Conselho Editorial da revista Agro DBO.
Novos “ismos” A encíclica não usa uma única vez as palavras capitalismo e socialismo. Apenas ao evocar a história, menciona o nazismo e o comunismo. Já alguns “ismos”, de natureza
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eminentemente comportamental, são de uso amplo no texto: consumismo, individualismo, relativismo, antropocentrismo, realismo, condicionalismo e ceticismo. A encíclica repercutiu positivamente na mídia. O dever jornalístico levou a muitos artigos e editoriais com pretensão de resumir o documento. Tarefa difícil. Outros ainda fizeram e fazem leituras seletivas do documento para sustentar, justificar ou ampliar suas teses tradicionais. Tem gente que não leu e gostou. Outros não leram e não gostaram. Sobre um documento que coloca muitos questionamentos, cabem algumas questões. Voluntarismo O Papa defende um crescimento econômico com temperança e sobriedade, fundado na mudança de comportamentos voluntaristas. Sobre o desenvolvimento, para a encíclica “devemos pensar também em abrandar um pouco a marcha, pôr alguns limites razoáveis e até mesmo retroceder antes que seja tarde. Sabemos que é insustentável o comportamento daqueles que consomem e destroem cada vez mais, enquanto outros ainda não podem viver de acordo com a sua dignidade humana. Por isso, chegou a hora de aceitar certo decréscimo do consumo nalgumas partes do mundo, fornecendo recursos para que se possa crescer de forma saudável noutras partes” (191). Isso se aplica ao Brasil e ao comportamento dos brasileiros? A redução do consumo forneceria recursos para o desenvolvimento? Existem exemplos de como um decréscimo de consumo num local viabilizou o desenvolvimento em outro? A relação entre o esgotamento de recursos e o enorme crescimento demográfico planetário não deveria ser discutida? Consenso Ciente da complexidade do tema abordado, o Papa Francisco reitera: “Há discussões sobre problemas
relativos ao meio ambiente, onde é difícil chegar a um consenso. Repito uma vez mais que a Igreja não pretende definir as questões científicas nem substituir-se à política, mas convido a um debate honesto e transparente, para que as necessidades particulares ou as ideologias não lesem o bem comum.” (188). Pode-se indagar: os homens e as sociedades podem ser geridos por consenso? Existe alguma nação funcionando por consenso? Quais ideologias lesam o bem comum? Quem pode identificá-las? Qual a diferença entre
-históricas. Se eles são constantes e concomitantes ao desenvolvimento, também foram e são resolvidos pelos avanços da ciência e da tecnologia. Na linha dessa preocupação pontifícia, por que a exportação de indústrias poluidoras para países periféricos, como parte da estratégia de limpeza ambiental praticada há décadas em nações desenvolvidas, não foi lembrada? Conversando com idosos “Em muitos lugares do planeta, os idosos recordam com saudade
A encíclica não faz justiça à segurança alimentar conquistada por recordes de produção necessidades (termo da encíclica) e interesses (termo na mídia) particulares na temática ambiental? A geografia da poluição O balanço ecológico do progresso planetário, logo no primeiro capítulo, é negativo, pessimista e pouco equilibrado. Ele fala de poluição generalizada provocando milhares de mortes prematuras. Contudo, mais generalizado ainda foi o aumento da expectativa de vida e da educação em todo o planeta, acompanhando o crescimento industrial e a tecnificação da agricultura. Nunca se viveu tanto, nunca se comeu tanto, nunca se estudou e se votou tanto em todo o planeta, como atualmente. Como assinala M. de Rougemont, problemas de poluição não existiam nas sociedades pré-
as paisagens de outrora, que agora veem submersas de lixo.” (21). Essa afirmação parece um pouco reducionista quando consideradas as condições insalubres nas quais se vivia até o começo do século XX na Europa e nas quais ainda vive grande parte da população mundial. Não há razão para não se investir numa gestão mais eficiente dos resíduos e na redução de sua produção, mas as paisagens de outrora, mesmo na Europa, sem drenagem ou barragens, eram marcadas por enchentes, epidemias, doenças crônicas, períodos de fome, com pessoas subnutridas em habitats insalubres, sem aquecimento ou energia elétrica. A memória desses idosos deve lembrar o que era a vida cotidiana em tais paisagens, sobretudo no inverno ou em tempos de seca. Seus filhos são mais altos e já perdem em estatura para seus netos, graças à nutrição adequada, como ocorre agora em muitos países em desenvolvimento. Progresso e tecnologia As sociedades economicamente desenvolvidas têm os meios para cuidar de sua biodiversidade, para reduzir a poluição da terra e do ar, para proteger e manter limpos os seus mares e rios. Elas universaliagosto 2015 – Agro DBO | 35
Meio Ambiente zaram o saneamento básico com tecnologias avançadas de gestão de efluentes, incomparáveis às utilizadas em estações de tratamento de esgoto do Brasil, por exemplo. Nos países ricos, o ciclo de vida das mercadorias é planejado; o lixo é classificado, tratado e reciclado; muitos ecossistemas estão preservados e são desfrutados por uma população com amplas garantias sociais e com acesso a uma intensa vida cultural. Ao associar o uso de insumos modernos na agricultura apenas a seus possíveis efeitos tóxicos, a encíclica não faz justiça à segurança alimentar conquistada por recordes de produção. Nem aos ganhos
Caritas in Veritate, ele dizia: “Quando a Igreja Católica toma a defesa da Criação, obra de Deus, ela não deve apenas defender a terra, a água e o ar (...) mas também proteger o homem contra sua própria destruição”. Sob seu pontificado, o menor Estado do planeta tornou-se neutro em emissão de carbono e adotou metas ambientais ambiciosas. Não há indústria poluidora em seus 44 ha (só faltava!). O papamóvel foi transformado em veículo flex. Painéis solares fornecem energia para a sala de audiências ao lado da Basílica de S. Pedro. Bento XVI também plantou uma floresta de 7.000 ha na Hungria, destinada a compensar as emissões de gases de efeito estufa
Se o Papa Francisco pode dirigir injunções ambientais aos outros países é porque o Vaticano fez sua lição de casa. de qualidade nutritiva e sanitária, e à queda no preço dos alimentos que esses mesmos insumos, frutos de ciência e tecnologia, permitiram obter beneficiando, sobretudo, os mais pobres. Unilaterais, os oráculos consultados pelo Papa, não tiveram aqui e alhures o justo equilíbrio. “Para os países pobres, as prioridades devem ser a erradicação da miséria e o desenvolvimento social dos seus habitantes” (172), diz o Papa. Como atingir esses objetivos sem crescimento econômico e novas técnicas e tecnologias? Por consenso? O Papa Paulo VI já evocara o tema ambiental, em 1971, na Pacem in terris. S. João Paulo II foi o primeiro a convidar para uma conversão ecológica, apesar de a mídia tratar a ideia como novidade da Laudato si. Ele o fez em 2002, ao assinar com o patriarca de Constantinopla, Bartolomeu I, uma declaração comum pela salvaguarda da Criação, em Veneza. Bento XVI tratou de ecologia ao longo de todo o pontificado. Na 36 | Agro DBO – agosto 2015
do Vaticano. Se o Papa Francisco pode dirigir injunções ambientais aos outros países é porque também, de certa forma, o Vaticano fez sua lição de casa. Desarmar A intervenção do Papa em debate tão polarizado é positiva. Ele convida ao desarmamento e à busca de uma reflexão, no mínimo ética. No final do relato mítico do dilúvio, em que a criação é praticamente destruída pelo Criador, surge o arco-íris. Ao depositar seu arco nas nuvens, Deus se desarma e renuncia à guerra contra a humanidade. Como um guerreiro, ele depõe seu arco nos céus e este gesto deve recordar-lhe, e também ao homem, sua lei de vida, seu novo pacto com a criação inteira. O arco-íris é símbolo universal de paz. Nessa passagem bíblica, o homem ainda não deu nenhuma prova de sua melhoria e Deus já depôs as armas. A isso, parece convidar a Laudato si. A transformar armas reais e imaginárias em arados.
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Artigo
Serviço de polinização Polinizadores que ocorrem naturalmente não são suficientes para garantir alta produção e alta qualidade dos produtos agrícolas Décio Luiz Gazzoni *
A
* O autor é engenheiro agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja, e membro do Conselho Editorial da Agro DBO.
ntigamente, para evitar a competição entre plantas cultivadas e as invasoras, as únicas opções eram usar a enxada ou arrancar as ervas com as mãos. O trabalho era penoso e de baixo rendimento. Conforme as áreas de cultivo ficavam maiores, foram desenvolvidos implementos para mecanizar o controle de plantas daninhas. Mas sempre havia necessidade de repasse ou complementação com trabalho braçal, que era duro e difícil. A polinização é o ato sexual das plantas, quando o gameta masculino entra em contato com o gameta feminino para formar as sementes, muitas vezes “embaladas” em frutos. Algumas plantas não precisam de ajuda, a fertilização ocorre naturalmente. Em outras, há necessidade de auxílio do vento, ou da interveniência de seres vivos, chamados polinizadores. Os principais polinizadores são os insetos e, entre eles, o mais conhecido é a abelha doméstica. Na Europa, estima-se que o serviço de polinização valha mais de 153 bilhões de euros ao ano, valor semelhante ao dos Estados Unidos (150 bilhões de dólares anuais). Este seria o valor a ser despendido pelos produtores agrícolas, caso o serviço ambiental (gratuito) de polinização tivesse que ser pago. O benefício direto da polinização para a produção agrícola na União Europeia (UE) é de 761 bilhões de euros anuais, decorrentes do aumento da produção, incremento de produtividade e melhoria da qualidade. No Brasil, um estudo recente, porém parcial, indicou
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um valor aproximado de R$ 40 bilhões. A grande diferença ocorre porque, na Europa, a produção agrícola está concentrada em frutas e hortaliças, de maior valor de mercado e mais dependentes da polinização por insetos. No Brasil, a abelha doméstica é mais conhecida pelos seus produtos tangíveis, como mel, pólen, cera ou própolis, os quais compõem a quase totalidade da renda dos apicultores – os criadores de abelhas. Mas isto não é verdadeiro para todos os países. Na Europa, assim como nos EUA e em outros países onde existem muitas culturas dependentes de polinização por insetos, pode ocorrer o chamado deficit de polinização, pois os polinizadores que ocorrem naturalmente não são suficientes para garantir alta produção e alta qualidade dos produtos agrícolas. Normalmente o deficit de polinização está associado ao desmatamento, ou seja, falta de plantas nativas que forneçam alimento e abrigo para os polinizadores. Mas pode ocorrer, também, um aumento muito grande da área de cultivos dependentes de polinização, gerando um desbalanço com a oferta do serviço natural de polinização. Onde há deficit de polinização é rotineira a oferta de serviços de polinização. Alguns apicultores se especializam em criar abelhas e transportá-las para as propriedades onde há necessidade de suplementar o serviço natural de polinização. As colmeias permanecem na propriedade durante a floração, enquanto houver necessidade de polinização. Trata-se de um negó-
cio comercial, em que o apicultor vende o serviço de polinização efetuado pelas suas abelhas para um produtor agrícola, que necessita e se beneficia do serviço. Esse modelo de negócio, embora ainda incipiente no Brasil, já começa a florescer, e agricultores estão alugando colmeias de criadores de abelhas para aumentar a produção de frutas como maçã, abacate ou melão. Em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, a estimativa é de que cerca de 60 mil colmeias tenham sido alugadas na última safra, apenas por produtores de maçã. Em Mossoró (RN), os produtores de melão estão alugando entre 10 e 15 mil colmeias de abelhas por ano, para polinizar seus cultivos. Assim, além de vender os produtos tradicionais das abelhas – que rendem cerca de R$ 100 por colmeia, por ano – os apicultores recebem entre R$ 50 a R$ 70 por colmeia alugada aos fruticultores. Ainda é um valor inferior ao padrão vigente nos EUA, onde os apicultores recebem cerca de US$ 150 por colmeia, especificamente para polinização de amendoeiras na Califórnia. Espera-se, também, o estabelecimento de um círculo virtuoso, porque, com a eliminação do deficit de polinização, haverá incremento da produtividade e melhoria da qualidade dos produtos agrícolas, aumento da margem dos agricultores e de sua competitividade no mercado. Com isto será possível, por um lado, competir em melhores condições com os fornecedores estrangeiros e, por outro, reduzir o preço das frutas.
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Soja
A última fronteira agrícola Com área de Cerrado praticamente intacta, o estado do Amapá tenta conciliar a produção comercial de grãos com preservação ambiental. Marianna Peres
P
recisa-se de agricultores destemidos, criativos, persistentes, com espírito de liderança, que saibam trabalhar em equipe. Quem possuir tais características pode fincar sua bandeira no Cerrado Amapaense e se aliar ao pequeno grupo de pioneiros cujo maior sonho é transformá-lo no “Eldorado” da produção de grãos e integrá-lo ao Matopiba – o acrônimo para a extensa área contígua de Cerrado nos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. Você já ouviu falar em Matopibaap? Provavelmente não. Se depender dos produtores rurais já estabelecidos na região, será sigla corriqueira. Com 14,3 milhões de hectares de área, 10,3 milhões dos quais
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abrigam florestas densas de terra firme, o Amapá é a unidade federativa mais preservada do país. Cerca de 73% de seu território são constituídos por Unidades de Conservação. O Cerrado estende-se por 986.189 hectares, o equivalente a 6,8% da área total do estado, mas 300 mil já estão nas mãos da indústria de papel e celulose. Dos quase 700 mil restantes, outro tanto é ocupado por APPs – Áreas de Proteção Ambiental e ARs -–Áreas de Reserva Legal ou tem relevo acidentado demais para a atividade agrícola. Somente 400 mil hectares estão disponíveis de fato para plantio. Parece pouco, comparativamente às áreas de Cerrado no Norte e no Centro-Oeste do Brasil, mas no Amapá, como dizem
os pioneiros – gente como Tobias Laurindo, Udimar Nissolla e Daniel Sebben –, “tudo está por fazer e as chances de dar certo são grandes”. Por enquanto, a produção de grãos está concentrada nos municípios de Macapá, Itaubal, Tatarugalzinho e Ferreira Gomes. Além de terras virgens e baratas, o Amapá oferece pelo menos quatro grandes vantagens competitivas em relação às outras regiões do país: 1 a produção de grãos na entressafra brasileira. Afinal, o estado situa-se no hemisfério norte, seguindo calendário de cultivo semelhante ao dos EUA, por exemplo – o plantio da soja se dá entre março e abril e a colheita se inicia em julho; 2 – condições climáticas favoráveis para a
agricultura, com temperaturas entre 25°C e 27°C e índice de pluviosidade ao redor de 2.500 mm/ano. Basicamente, há duas estações: o inverno e o verão. Durante o inverno – de dezembro a agosto – as chuvas são frequentes. No verão ocorrem as secas, perdurando nos meses de setembro, outubro e novembro. Produtores e técnicos considerarem o estado “um pivô aberto por quase todo o ano”; 3 – a possibilidade de conciliar produção com preservação ambiental (o ZEE - Zoneamento Ecológico-Econômico do bioma está quase pronto); e 4 – a localização geográfica. Segundo consenso, a logística de exportação é “o canto da sereia” do Amapá – o porto de Santana (cidade anexa à capital do estado, Macapá), fará do Cerrado amapaense o local mais competitivo do Brasil. A maior distância entre a lavoura e o porto não supera 200 quilômetros e nenhum outro complexo portuário do país está tão próximo do Canal do Panamá. “Nossos custos são equivalentes aos de Mato Grosso. Nosso ganho está, justamente, no escoamento da produção. E, quando a cadeia do agro se estabelecer definitivamente por aqui, o frete de retorno vai cair e baratear os insumos, reduzindo a necessidade de desembolso para a sojicultura”, diz Tobias Laurindo, dono da Agro Savana, empresa localizada a 50 km de Macapá e a 55 de Santana. Paraense de nascimento, Tobias “aportou” na região em 1997, interessado em abrir uma locadora de veículos e “ter alguma plantação”. Na época, vislumbrava a fruticultura e, em segundo lugar, a pecuária como o “pé no agro”. Durante quatro anos, a renda da família vinha da locadora. Em 2001, ele fez sua primeira lavoura de arroz. “A gente beneficiava e empacotava aqui mesmo, toda a produção abastecia o mercado local”. Em 2007, já cultivava milho e arroz e começou a testar soja, até que, em 2010, a oleaginosa começou a deslanchar. “Nessa época, fui ao Mato Grosso para conhecer
mais sobre a cultura”, conta, satisfeito com os resultados obtidos. Na safra em curso, plantou 600 hectares de soja e começou a colher no dia 13 de julho. “Aqui, a soja produz mais no primeiro ano do que no Mato Grosso”, diz ele, na expectativa de conseguir produtividade ao redor de 60 sacas por hectare. No primeiro ano, conseguiu 50 (a média no MT é 45 scs/ha). “O problema na região não é o rendimento, mas a armazenagem. Como faltam silos, boa parte da produção é estocada em silos bags. Isso é possível porque a colheita se dá em um período bem seco, o que dispensa o uso de secadores”.
Oiapoque
Calçoene
Tartarugalzinho Serra do Navio
Ferreira Gomes
Porto Grande Macapá
Itaubal do Piririm Mazagão
Laranjal do Jari
Balanço positivo O produtor Udimar Antônio Nissolla lembra que, quando chegou, “não tinha nada”. Funcionário de uma empresa de insumos no Mato Grosso, fincou o pé no Amapá há 11 anos e passou a plantar grãos na hoje denominada Fazenda Agrícola Cerrado, em Macapá. Atualmente, possui 1,3 mil hectares de soja e milho, “quase nada” diante das grandes lavouras do Centro-Oeste brasileiro. No entanto, representam quase 10% da área de soja cultivada no estado, calculada em 15 mil hectares. Para os padrões locais, Udimar é considerado um grande produtor. Ele fundou a Agropecuária Cerrado, uma espécie de trading local que financia o cultivo amapaense. Em sua opinião, um dos maiores entraves ao desenvolvimento da agricultura no estado é falta de regularização fundiária, o que bloqueia a liberação de recursos públicos para plantio. Sem financiamento oficial, os negócios são feitos, em sua maioria, através de financiamento particular ou de trocas. Segundo seus cálculos, cerca de 75% da safra de soja do estado este ano teve participação da Agropecuária Cerrado, graças a uma parceria com a Fiagril, uma das maiores empresas de insumos de Mato Grosso, sediada em Lucas do Rio Verde. “Eu oferto os insumos, via Fiagril, e rece-
Floresta de terra firme Transição cerrado/floresta
Floresta e campos inundáveis
Cerrado
BR-156
bo em soja”. O balanço da vivência de Udimar no Amapá é positivo, segundo ele. “As coisas evoluem a cada ano. Toda safra é um aprendizado. Ainda estamos adaptando o sistema de produção, buscando a melhor época de plantio, ampliar o rendimento, baratear os custos e introduzir novas tecnologias”. Quem também se encantou com a região foi Daniel Sebben, presidente da Aprosoja/AP – Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado do Amapá. Daniel era da Aprosoja/MT, quando conheceu
Tobias Laurindo lamenta a falta de estrutura de armazenagem no Amapá. Das condições de produção, nenhuma reclamação a fazer.
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Soja
o Cerrado Amapaense. Entre a viagem, cujo foco era avaliar a logística dos portos do Arco Norte para o escoamento da produção de Mato Grosso, e a decisão de se mudar passaram apenas oito meses. “Minha primeira reação foi de surpresa ao ver tanta terra boa sem produzir, terras com topografia e clima aptos para o plantio de grãos. Faltava gente para fazer isso acontecer. Trouxe meu pai e decidimos comprar uma propriedade – a fazenda São Francisco, nos arredores de Macapá. Estou aqui desde 2012”, conta. Fundada no ano passado, a Aprosoja-AP possui 30 associados, a maioria vinda do Mato Grosso. Além deles, a produção de caráter empresarial
Gustavo Castro (em primeiro plano, com planilha na mão) acredita que o zoneamento do Cerrado amapaense, previsto para 2016, vai impulsionar a agricultura no estado.
vem sendo construída também por sul-mato-grossenses, gaúchos, paranaenses, paraenses e maranhenses, além dos amapaenses. Segundo ele, o calendário agrícola ainda não tem um modelo definido, de safra e safrinha, por exemplo, e nem culturas agronomicamente indicadas para uma temporada ou outra. Entre as variedades mais utilizadas, os produtores têm à disposição três ou quatro cultivares adaptadas do Maranhão e da Bahia. “Ainda com uma cadeia do agronegócio para ser implantada, faltam silos, secadores, caminhões. Temos a particularidade de viver em um estado que é praticamente uma ilha. Ou seja, não temos ligações rodoviárias com nenhum outro estado brasileiro, acesso por água ou ar, e isso dificulta essa constituição de elos do segmento. Pensamos em ter duas safras, e vamos trabalhar para isso, mas precisamos primeiramente avançar em infraestrutura. E o porto de Santana vai contribuir muito com esse processo e expansão do nosso cerrado”. Nesta safra, Daniel plantou 100 hectares, mesma área do ano passado. “Estou ainda abrindo minhas terras; no ano que vem devo plantar entre 400 e 500 hectares”, revela. “Não tenho dúvidas sobre o potencial de produção agrícola do
estado do Amapá”, afirma o supervisor do setor de Prospecção e Avaliação de Tecnologias da Embrapa Amapá, Gustavo Spadotti Castro. Em sua opinião, o restante do país tem limites e regiões saturadas. “Temos terras disponíveis e, por mais que tenham sido majoradas em dez vezes nos últimos cinco anos, os valores ainda são mais acessíveis quando comparados aos de outras fronteiras em desenvolvimento, como Matopiba e Rondônia”. Ele lembra que, há cerca de cinco anos, um hectare custava R$ 300. Hoje, vale entre R$ 3 mil e R$ 3,5 mil, com média de R$ 2 mil. Segurança jurídica Conforme declarações do governo do estado, o ZEE – Zoneamento Ecológico-Econômico do Cerrado do Amapá estará pronto no ano que vem. “O ZEE é essencial para que a produção deslanche e garanta, por meio da regularização fundiária, a segurança jurídica para que os investimentos aconteçam”, avalia Gustavo. O zoneamento vai definir a vocação econômica de toda a área, servindo de instrumento para licenciamentos e investimentos do governo, dos produtores, dos órgãos de pesquisas e outros segmentos da cadeia produtiva. “O estado está iniciando agora sua ex-
O trunfo do Amapá: logística O porto de Santana foi criado para atender a demanda dos agricultores do norte do Mato Grosso por um terminal de exportação mais próximo – e mais barato -– que os do Centro-Sul do Brasil. Agora, vai viabilizar também a soja amapaense e demais produtos do estado destinados ao mercado externo. “Crê-se que a soja produzida aqui ganhe cerca de R$ 5 por saca pela redução do frete, em relação a outros polos produtores”, diz o pesquisador Luis Wagner Alves, da Embrapa Amapá. “É a lavoura mais próxima do terminal, por-
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tanto, com menor custo de movimentação e transporte interno”. Como explica o gerente geral da Cian Port (Companhia Norte de Navegação e Portos), Gilberto Marino, outro migrante do Mato Grosso que faz ponte aérea entre Sorriso (MT) e Macapá (AP), a operação deve começar em setembro, com grãos do Amapá – no final do ano, passará a carregar os grãos mato-grossenses. A capacidade total de movimentação de carga é de 1,8 milhão toneladas/ano. “Começaremos com 200 mil t agora, passaremos para 1 milhão em 2016
e, no ano seguinte, atingiremos capacidade total”. A Cian Port é resultado da união da Agrosoja, do município de Sorriso, localizado 460 km ao norte de Cuiabá, com a Fiagril, sediada em Lucas do Rio Verde (360 km ao norte de Cuiabá). O acesso principal por via terrestre é feito pela BR 156, vetor de atração e fixação populacional e de diversas atividades econômicas desde o início de sua construção, em 1964. Dos 805 km desta rodovia, 500 cortam o Cerrado, acessível também através de duas rodovias estaduais, a AP 070 e AP 340.
Considerando o potencial produtivo do Amapá, a área de soja pode ser multiplicada por 10 em 5 anos e chegar a 250 mil hectares
pansão agrícola. Já existem produtores com algum histórico aqui. No entanto, a maioria está se estabelecendo agora e precisamos ordenar isso da melhor forma possível”. O plantio é liberado através da LAU – Licença Ambiental Única, concedida pelo Imap – Instituto do Meio Ambiente e de Ordenamento Territorial do Estado do Amapá. Grosso modo, o documento legaliza a produção e permite a exportação, embora possa virar um transtorno burocrático operacional para quem produz, dada a falta de zoneamento e problemas fundiários. Em 2012, segundo levantamento da Embrapa Amapá, foram cultivados 2 mil hectares de soja e, no ano seguin-
te, 8 mil. Em 2014, cerca de 12 mil. Em 2015, deve chegar a 15 mil, com expectativa de grande elevação em 2016. “Considerando a evolução já contabilizada e o potencial do Cerrado amapaense, projetamos que a área com soja seja multiplicada por 10 nos próximos cinco ou seis anos, o que nos levaria a uma superfície de 200 mil a 250 mil hectares”, calcula. Considerando sua projeção, quando a lavoursa cobrir tal área, a cadeia estadual do agronegócio movimentará algo em torno de R$ 4 bilhões na economia. Atualmente, o PIB – Produto Interno Bruto do Amapá é de 10 bilhões. “Temos hoje grandes áreas de Cerrado com boa aptidão, inclusive para projetos de
A burocracia ainda atravanca a agricultura no estado. Para plantar, é preciso obter uma LAU – Licença Ambiental Única.
Vista da fazenda Cajueiro, nas cercanias de Macapá: abertura difícil, mas compensadora. De maneira geral, o solo responde muito bem à adubação.
Integração Lavoura-Pecuária-Floresta”, diz ele. Em relação às condições fitossanitárias, Gustavo frisa que, por ser região de fronteira, há muita preocupação com pragas e doenças. Segundo ele, o primeiro registro de presença da lagarta Helicoverpa armigera no estado data de 2012. “De lá para cá, adquirimos expertise em pragas quarentenárias e, com isso, o manejo vem transcorrendo sem danos expressivos. No ano passado, a ferrugem asiática causou problemas aos sojicultores. Nesse ano, tudo estava indo muito bem, até a confirmação de vários casos de soja louca II, distúrbio que altera a maturação e a formação das vagens. Hoje, a soja louca é o principal problema fitossanitário do Amapá”, sentencia. observando que, até meados de julho, não havia registros de nematoides de galha nem de cisto. “Apenas nematoides de parte aérea”. Fácil correção As terras no Cerrado amapaense tendem a arenosas-média, com raras ocorrências argilosas. Predominam os latossolos (solos constituídos predominantemente por material mineral), especialmente o latossolo amarelo distrófico, com textura de arenosa a argilosa (1060% de argila). De maneira geral, a fertilidade natural é pequena, com baixos teores de matéria orgânica, agosto 2015 – Agro DBO | 43
Soja A mineração ainda é importante no estado, mas a economia do Amapá está centrada no extrativismo. A agricultura é o futuro. baixa saturação por bases, alta saturação de alumínio e elevada acidez. Os latossolos vermelho-amarelo ocorrem espalhados em pequenas manchas. Apresentam maior fertilidade. Em contrapartida, estão situadas em áreas mais declivosas, onde aparecem concreções lateríticas (pedregosidades), restringindo muito as práticas agrícolas. Embora quimicamente fracos, os solos não exigem correções de perfil nos moldes do que ocorre no Centro-Oeste, pois o Cerrado amapaense não sofre de veranicos durante o desenvolvimento das plantas e, por isso, o sistema radicular não é tão profundo como, por exemplo, no Mato Grosso. Segundo Daniel Sebben, a prática já mostrou que o solo na região reage muito bem ao tratamento recebido. “A abertura da produção pode ser tida como cara, mas o solo responde à adubação e, como o clima é um relógio, quem investe tem retorno, pois as áreas quase nunca têm rendimento inferior a 40 sacas, mesmo em primeiro ano. Em Mato Grosso, esse potencial em área de abertura é raro. Então, o que é caro num primeiro momento vai se pagando de forma breve”, compara. Ele diz que, para obter produtividades iniciais boas, após a correção do solo é preciso fazer trabalho bem feito de formação de palhada e material orgânico. “Alguns pacotes tecnológicos para a soja, por exemplo, chegam a dispensar a necessidade de plantio do arroz como cultura de abertura e ainda assim a produtividade fica entre 40 e 50 sacas”. Gargalo fundiário O presidente da Aprosoja-AP acredita que a escala de produção vai formar a cadeia de fornecedores e o incremento de vai reduzir o custo de implantação. Ele lembra que, nos anos pioneiros de abertura 44 | Agro DBO – agosto 2015
A Aprosoja-AP tem como bandeira a solução da questão fundiária, fundamental para o desenvolvimento econômico e social do estado.
Daniel Sebben afirma que o diferencial da agricultura empresarial do Amapá está na qualidade, não na quantidade.
de área para cultivo e implantação das primeiros lavouras no Cerrado amapaense, o calcário – geralmente “importado” do Mato Grosso – era vendido a pelo menos R$ 350 a tonelada. “Atualmente, está abaixo de R$ 150”, compara. Para Daniel, o maior gargalo enfrentado no Amapá é a documentação de terras. “É um problema que se arrasta há mais de dez anos. Todos têm a posse da terra, não há problemas de invasão. Não há chances de se repetir erros cometidos em Mato Grosso, que sofreu com o vai e vem da legislação ambiental. Estamos em um outro momento da história brasileira. Além de produtores mais conscientes, temos legislação ambiental, temos o CAR, temos tecnologias, áreas georreferenciadas, coisas que os pioneiros de Mato Grosso
não tinham e sem a regularização, a titularização das terras manteremos um ambiente de negócios inseguro e sem acesso ao sistema oficial crédito rural brasileiro”. Sem a documentação definitiva, a terra não pode ser dada como garantia para financiamentos de maior vulto, como os de longo prazo para correção de solo, aquisição de silos e máquinas. Segundo ele, a solução da questão fundiária é, hoje, a principal bandeira da Aprosoja/AP. “Enquanto não for resolvida, afugentaremos investimentos e desperdiçaremos oportunidades, pois as terras existem e ainda podem ser considerada baratas”. Na opinião de Daniel, o Amapá será modelo em agricultura empresarial. “Já existe um arcabouço de proteção à floresta e sabemos, por experiência e pela própria história, que errar no quesito ambiental é um tiro no pé, pois macula a imagem do produtor. Aqui, podemos evitar os erros cometidos em outros estados”. Ele afirma que o potencial amapaense não impacta no cenário nacional da soja, porque o ganho da região está na qualidade, não na quantidade. “A qualidade da produção, o respeito ao meio ambiente e o nível de competitividade serão os nossos diferenciais”, assegura, confiante na resolução dos problemas fundiários no curto prazo. “O aparato legal existe, falta apenas boa vontade e entendimento entre os governos federal e estadual”. Sobre a questão ambiental, assegura que a soja não vai invadir a floresta amazônica. “Primeiro, em respeito à lei – o bioma está protegido em sua totalidade no estado; segundo, não há viabilidade técnica, pois fora do Cerrado só existem áreas montanhosas ou alagadiças; e terceiro, exceder os limites do Cerrado não traz nenhuma vantagem econômica”. Em sua opinião, o Amapá precisa mais da agricultura do que a agricultura do Amapá.
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ILP
Areia de futuro
Na última reportagem desta série, veja como o pecuarista Carlos Viacava viabilizou um projeto de ILP em solos arenosos. Maristela Franco
“E
stou satisfeito”, garantiu Carlos Viacava ao fazer o balanço de sua experiência com integração lavoura-pecuária (ILP) em uma das regiões mais desafiadoras do país para a atividade: o Oeste Paulista, com seus solos arenosos, considerados impróprios para a agricultura, e seu clima quente, sujeito a veranicos. O projeto está sendo conduzido na Fazenda Campina, já apresentada nas reportagens anteriores desta série. São 2.033 hectares de área relativamente plana, no município de Caiuá, distante 624 km da capital paulista, e composta por latossolos contendo apenas 5% a 15% de argila. “Estou satisfeito” - repete Viacava - “porque conseguimos produzir soja em quantidade suficiente para cobrir os custos da reforma de pastagens e ainda deixar algum lucro. Mesmo tendo registrado 31 dias sem chuva em janeiro deste ano, conseguimos obter uma média de 40 sacas de soja por hectare”.
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Ricardo Viacava, com o pai, Carlos: animados a investir.
Colheita da soja na Fazenda Campina: produtividade média de 40 sacos/ha.
Agro DBO acompanhou a colheita na fazenda, registrou o nascimento das primeiras pastagens de inverno e testemunhou a satisfação do produtor, que amargou prejuízos na primeira safra, mas agora começa a obter resultados agrícolas consistentes. Segundo o pesquisador da Embrapa João Kluthcouski (João K), a produtividade da Fazenda Campina só tende a crescer. Neste ano, foram plantados 447 ha com soja no verão, dos quais 90 deram apenas 14,8 sc/ha, devido à falta de chuva em pleno estágio de enchimento dos grãos. Em contrapartida, outro talhão de 100 ha plantado mais tarde surpreendeu a equipe produzindo 73,6 sc/ha, número semelhante ao registrado em bons projetos do Mato Grosso. “Se não tivermos problemas climáticos graves, atingiremos facilmente a média de 50 sc/ha em 2015/2016”, diz João K, informan-
do que a Fazenda Campina acaba de ser declarada oficialmente uma URT (Unidade de Referência Tecnológica) da Embrapa. Viabilidade econômica Segundo o pesquisador, a safra colhida na propriedade, apesar dos percalços, indica que a integração lavoura-pecuária tem futuro promissor no Oeste Paulista, onde predominam fazendas de gado de corte com pastagens degradadas ou em processo de degradação (veja quadro). Durante um dia de campo realizado na Campina, em 10 de abril último, cerca de 50 produtores acompanharam as operações agrícolas e demonstraram interesse em saber mais sobre o projeto. Alguns já fazem agricultura de forma esporádica, para reformar pastos degradados, mas usando milho ao invés de soja, que consideram uma cultura arriscada. Ainda têm des-
confiança em relação à ILP, devido às frustrações passadas e à memória recente da seca de 2013/2014, mas já buscam informação. Uma das dúvidas apresentadas por eles diz respeito à lucratividade do negócio. Segundo Juliano Roberto da Silva, gerente da propriedade, gastou-se, nesta safra, um valor equivalente a 35 sacas de soja (R$ 2.275 à cotação de março) por ha plantado. Desse valor, 25 sc foram despendidas com insumos (adubo, sementes, herbicidas, inseticidas etc.) e 10 sc com despesas operacionais e depreciações. Como foram colhidas 40 sc/ha, sobraram cinco de lucro. “Parece pouco, mas, se considerarmos as transformações ocorridas na fazenda, o saldo é gigantesco. Já estamos com quase 80% das pastagens reformadas. A lotação subiu de 1,8 UA/ha (unidade animal) no início do projeto para 3,5 UA/ha e a agricultura ajudou a valorizar a propriedade em no mínimo 50%”, diz Silva. “Sou pecuarista, não plantador de soja”, faz questão de ressaltar Viacava. “Se a lavoura tivesse coberto apenas os custos de produção, ainda assim seria vantajosa, por melhorar o solo e nos garantir pastagens de qualidade no inverno”. Dos 447 ha plantados com soja no verão, 100 ha foram semeados em safrinha com milho para produção de silagem de grão úmido e 347 ha com milheto misturado ao capim. “Em maio, colocamos nesses pastos consorciados 800 animais de recria, ganhando 850 g/ cab/dia, mas em junho tivemos de aumentar a lotação, para evitar perda de forragem”, explica Juliano Silva. A fazenda produziu ainda 4.870 toneladas de silagem de milho consorciado com capim em uma área que está sendo preparada para plantio de soja na próxima safra. “Quanto custaria produzir toda
Mapa da Fazenda Campina
Pastagens Área de APP (brejo) Área de reserva (atual e futura) Área soja 1ºA = 265 ha Novas Áreas (plantio de soja 2015) pastagens antigas
essa comida sem a ILP? É difícil dizer, mas estimo que somente a reforma convencional das pastagens demandaria R$ 2.000/ha, entre preparo do solo, gradagem, calcário e semeadura”, diz Ricardo Viacava (o Cadão), que ajuda o pai na administração dos negócios da família. Novos investimentos Animado com os resultados obtidos, eles decidiram incorporar mais duas fazendas ao projeto de ILP nos próximos dois anos: a Santa Gina, localizada em Presidente
Epitácio, município vizinho a Caiuá, e quatro sítios que ficam ao lado da Fazenda Campina. Na Santa Gina, que tem área útil de 1.105,56 ha, a ideia é plantar 368,52 ha já em 2015 e depois ir rodando a propriedade, de forma a manter sempre um terço com lavoura e dois terços com pastagens, que estarão 100% reformadas em três anos. Os sítios somam 427,79 ha e terão 50% da área (213,9 ha) cultivados em 2016, mesmo percentual previsto para a Fazenda Campina, que, na próxima safra,
Como está e como ficará o Projeto de ILP de Carlos Viacava (em ha) Fazenda Campina Área total Reserva Compensação* Área útil
2.033,15
Fazenda Santa Gina 1.269,52
Sítios (Nelore CV) 427,79
406,63
163,96
---
206
---
---
1.419,57
1.105,56
427,79
Área plantada 2015/16
652,54
368,52
---
Área plantada 2016/17
709,79
368,52
213,90
Fonte: Viacava, adaptação DBO – * Área da Fazenda Campina destinada à regeneração para compensar reservas dos sítios e da Fazenda Santa Gina.
ILP
Fartura de alimento para a seca, proporcionado pela integração.
vai destinar 652,54 ha à agricultura e dará início a um pequeno projeto florestal com eucalipto. Viacava optou pelo seguinte sistema de rodízio: dois anos de soja e dois de pasto na Fazenda Campina e nos sítios; dois anos de pasto e um de soja na Santa Gina, cuja pastagem não precisa passar por reforma rápida. “Essa propriedade já foi cultivada anos atrás e tem pastagens razoáveis. Decidimos destinar apenas 1/3 da área ao plantio de soja para não ter de retirar muito gado de lá”, explica Cadão, lembrando, porém, que esse esquema pode ser alterado, se o mercado estiver bom para a soja e as pastagens reformadas apresentarem alta capacidade de suporte. “A integração lavoura-pecuária é muito dinâmica e permite viradas repentinas de rumo, mas não perdemos de vista que nosso foco é a pecuária. Todo o esforço que estamos fazendo é para aumentar o rebanho nas fazendas, produzir mais tourinhos Nelore”, completa Viacava. Com a incorporação da Fazenda Santa Gina e de novas áreas da Campina ao projeto de integração, a área plantada pelo pecuarista no Oeste Paulista passará de 447 para 1.021 ha em 2015/2016, um incremento de 128%. Na safra seguinte, com a ade48 | Agro DBO – agosto 2015
são dos sítios, serão 1.292 ha. Viacava investiu R$ 1,466 milhão em máquinas e equipamentos para viabilizar essa expansão, usando linhas de crédito oferecidas aos produtores durante a Agrishow. Foram adquiridos mais dois tratores, duas plantadeiras (uma de 9 e outra de 13 linhas), um pulverizador auto propelido, uma plataforma para colheita de milho, duas plantadeiras para capim e milheto, uma bazuca e um guincho para suspensão de bags. A receita de R$ 1,6 milhão obtida com a soja nas Fazendas Campina e São José (esta última localizada em Paulínia, a 120 km de São Paulo) respaldou o novo investimento. Cardápio nobre “Em três anos, a Santa Gina ficará uma ‘teteia’, a fazenda mais bonita do Brasil, toda reformadinha, com pastos sempre novos, de no máximo dois anos”, prevê orgulhoso o “integrador” Viacava, que não olha mais para trás, contabilizando prejuízos, mas para frente, em busca de melhores produtividades. Nesta fazenda, João K estima colher uma média de 60 sc de soja/ha, pois os solos contêm mais argila (20%), o que favorece a retenção de água e o estabelecimento da leguminosa. Na Fazenda Campina, o
projeto de ILP (que, em breve, ganhará um F, de floresta) já caminha para a fase final de incorporação de áreas. Em 2015, foram formados com marandu mais milheto os primeiros pastos para uso durante dois anos consecutivos (veja ma pa), o que deverá favorecer bastante a lotação no verão. “Talvez a gente teste também o capim piatã”, informa Cadão. Nas áreas de pastagem temporária de inverno tem sido usada a braquiária ruzizienses, consorciada ao milheto, que garante 90 dias de boa forragem e depois cede espaço ao capim, fundamental para o plantio direto da leguminosa. O “cardápio nobre” oferecido ao rebanho tem melhorado o índice de prenhez, que passou de 77%, em 2014, para 81%, neste ano. O desempenho dos machos na recria também melhorou, possibilitando que eles entrassem 50 kg mais pesados no semiconfinamento preparatório para venda e fossem comercializados com 650 kg aos 24 meses. Outro efeito importante das boas pastagens sobre o desempenho dos reprodutores foi a antecipação da puberdade. No exame andrológico feito em um lote de 292 machos de 22 meses destinados à venda, apenas 11 (4%) ainda não estavam
Apesar dos percalços, a ILP tem futuro promissor no Oeste Paulista, onde predominam fazendas com pastagens degradadas. produzindo sêmen, em contraste com 12% no ano anterior. As boas pastagens e a fartura de alimentos para suplementação dos animais na seca também estão ajudando Viacava a viabilizar outro projeto importante: a cobertura de novilhas Nelore em idade muito precoce (10 a 14 meses de idade). Esse trabalho foi iniciado há alguns anos, em pequena escala; na última estação de monta, estendeu-se a todas as fêmeas nascidas na Fazenda São José, em Paulínia, com resultados muito positivos (80,2% emprenharam precocemente) e será realizado, em breve, também nas Fazendas Campina e Santa Gina. “A IL tornará isso possível, ao garantir alimento de qualidade para o rebanho”, diz Cadão, lembrando que a antecipação da prenhez praticamente elimina uma categoria animal da propriedade, as bezerras de recria. Novas tecnologias` O segredo do casamento perfeito entre pecuária e agricultura
nos solos arenosos do Oeste Paulista está na braquiária, fonte de palha para o plantio direto, matéria orgânica para o solo, retenção de água e proteção para as plântulas de soja contra o calor excessivo. Essa é a base tecnológica do projeto de ILP da Fazenda Campina. Em seguida, diz João K, vem a correção da acidez com calcário e gesso e a preparação das áreas de primeiro ano com matabroto, um equipamento que corta o terreno horizontalmente a profundidades de até 40 cm, descompactando-o sem revolvê-lo. “A Fazenda Campina, para mim, é um termômetro, um indicador de viabilidade técnica da soja na região. Nela enfrentamos todos os riscos e conseguimos ultrapassar a linha de equilíbrio econômico da cultura. Agora, precisamos elevar a produtividade saco por saco”, diz João K. Para isso, serão usadas tecnologias já disponíveis e outras em fase de teste. O trabalho de avaliação de cultivares de soja terá continuidade com a montagem de
O gerente, Juliano Silva, na pastagem consorciada com guandu.
canteiros experimentais. A ideia é plantar mais variedades de ciclo médio, para evitar que a fase de enchimento dos grãos coincida com o veranico. Também serão testados os chamados “reguladores de crescimento”, produtos que reduzem a altura da soja e sua massa foliar, direcionando maior quantidade de fotoassimilados (compostos resultantes da fotossíntese) para a produção de grãos. Como as plantas tratadas ficam mais compactas, demandam menos água para seu desenvolvimento, o que diminui riscos de perda em caso de seca. João K ainda pretende testar diferentes profundidades de deposição do adubo, para verificar se a soja prolonga suas raízes em busca do adubo colocado mais fundo e resiste melhor a eventuais veranicos. Nos talhões destinados à formação de pastagens para uso em dois anos, João K está sugerindo fazer sobressemeadura com avião, quando a soja estiver em processo de desfolha na fase de maturação fisiológica. Com isso, antecipa-se o plantio do capim, que ganha 30 dias a mais de chuva. Os talhões com teor maior de solo arenoso, por enquanto, continuarão ocupados por pastagens consorciadas com guandu, leguminosa rica em proteína e que está sendo pastejada neste inverno por vacas com cria ao pé. O próximo desafio de João K é viabilizar um sistema que ele batizou de Santa Gina S5 (5.000 kg de soja/ha). “É muito? Ninguém acreditava que íamos colher 4.000 kg nos solos com 5% de argila da Campina. E nós colhemos”, desafia.
Almanaque
Você sabia? Conhecimento não ocupa nenhum espaço no cérebro: guarda-se mais informação nos neurônios do que em um potente computador. Hélio Casale *
* O autor é engenheiro agrônomo, consultor e cafeicultor, e membro do Conselho Editorial da Agro DBO.
Q
ue o arado foi uma das grandes invenções da humanidade, por permitir a produção de crescentes quantidades de alimentos e o estabelecimento de populações estáveis? Com a invenção do arado o homem deixou de ser caçador, e também migrante, porque quando a caça rareava o homem migrava para novas regiões, em busca de novos rebanhos de animais que lhe fornecesse o necessário alimento. Com o uso do arado o homem e sua família fixavam-se no campo, e foi desta maneira e por isto que surgiram as cidades, pois havia garantia de comida para todos. No início, coisa de mais de 5 mil anos atrás, os arados eram rebocados por bois, usados até mesmo em duplas parelhas. Na Índia, até hoje, em algumas regiões mais pobres e distantes, usa-se o elefante como força de tração. Não há registro preciso de qual região do planeta onde o arado foi utilizado pela primeira vez, mas com certeza foi em alguma região onde fazia frio intenso, a ponto de congelar o solo. Com o fim inesperado da I Grande Guerra (1914-1918), mas já a partir do final de 1917, a Ford norte-americana, que fabricava automóveis para os americanos, mas
também tanques de guerra para o exército, viu-se obrigada a dar utilidade aos equipamentos usados nas batalhas, e os tanques, livres das carapaças de proteção aos soldados, serviu com perfeição para tracionar os arados com muito mais rapidez e eficiência do que os bois. Na agricultura tropical hoje em dia desenvolvida no Brasil, o arado está quase “aposentado”. É utilizado apenas em áreas dedicadas à olericultura, ou em áreas virgens de primeiro cultivo, ou para renovar áreas de pastagens degradadas. Nas grandes culturas anuais, como soja, milho, feijão, algodão, a prática do plantio direto substituiu o uso do arado, pois os restos de cultura remanescentes das culturas anteriores protegem o solo da erosão solar e eólica (ventos). Na cana-de-açúcar, por ser cultura semi-perene, o arado somente é utilizado na renovação do canavial, a cada 6 ou 8 anos. Arado é um instrumento que serve para lavrar (arar) os campos, revolvendo a terra com o objetivo de descompactá-la e, assim, viabilizar um melhor desenvolvimento das raízes das plantas. Expõe o subsolo à ação do sol, ajudando a aumentar a temperatura e apressar o degelo (válido apenas para
os países de clima frio, onde o arado é ainda amplamente usado). Também enterra restos de culturas agrícolas anteriores ou ervas daninhas existentes. Melhora ainda a infiltração de água no solo e a aeração, além de realizar a construção de curvas de níveis. É uma das etapas agrícolas que antecede a semeadura. Além desse objetivo primário, a aração permite um maior arejamento do solo, o que possibilita o desenvolvimento dos organismos úteis, como as minhocas, além de, em alguns casos, facilitar a mistura de nutrientes (adubos, químicos ou orgânicos; corretivos de acidez etc.). O arado de discos é capaz de descompactar uma camada de solo que pode chegar aos 40 cm de profundidade. Para maiores profundidades deve-se usar o arado de aiveca, mas este exige para sua tração tratores de grande potência. A prática da aração exige, antes do plantio e da semeadura, que se use uma grande niveladora, para reduzir os torrões de terra e uniformizar o solo. O maior cuidado com o emprego do arado é alternar a profundidade dos discos a cada passada de maneira a evitar a compactação do solo.
agosto 2015 – Agro DBO | 51
Clima
Milho e trigo prejudicados pelo El Niño As instabilidades climáticas com mais chuvas atingem o Brasil e os Estados Unidos, e essa deve ser a constante até o verão. Marco Antônio dos Santos *
A
s chuvas ininterruptas que foram observadas sobre as regiões produtoras de milho safrinha do Paraná e na região sul do Mato Grosso do Sul durante a primeira quinzena de julho causaram danos significativos à produtividade das lavouras, bem como à qualidade dos grãos. Muitos grãos de milho chegaram a germinar na própria espiga e lavouras de trigo apresentaram elevados índices de focos de doenças. Além dessas culturas, o café e a cana-de-açúcar também foram seriamente prejudicadas pelas chuvas acima da média. Alguns municípios paranaenses e sul mato-grossenses chegaram a registrar valores pluviométricos até 400% acima da média para o mês de julho. E não foi só a chuva que causou prejuízos aos produtores; rajadas de ventos de mais de 80 km/h e granizo também contribuíram para elevar esses percentuais de perdas. Até mesmo alguns tornados foram registrados nesses estados.
O causador de tamanho estrago foi o El Niño. As águas superficiais equatoriais do Oceano Pacifico estão até 3°C acima da média, gerando um El Niño de forte intensidade para esse inverno no Hemisfério Sul. Juntamente ao El Niño, águas mais quentes do Oceano Atlântico na costa da região Sul, também contribuíram para que as frentes frias permanecessem estacionadas sobre a região e, com isso, mandando chuvas sobre as plantações, por mais de duas semanas consecutivas. Esse fenômeno também gerou as chuvas acima da média sobre as regiões produtoras de grãos dos Estados Unidos e, consequentemente, provocou perdas irreversíveis de produtividade em lavouras de soja, milho e trigo de primavera. Os solos bastantes encharcados dificultaram o desenvolvimento das lavouras, gerando percentuais superiores aos 10% de lavouras em condições ruins e muito ruins. O que deverá resultar numa redução
Gráfico de previsão da temperatura das águas do Oceano Pacífico – região equatorial central (Niño 3.4)
* o autor é engenheiro agrônomo e agrometeorologista da Somar Meteorologia.
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na produção final de grãos norte-americana. Será que o clima continuará mantendo esse padrão? Não! Apesar de alguns institutos de climatologia divulgarem que esse El Niño deverá ser o mais intenso dos últimos 50 anos, a tendência é que ele não dure até o verão. Águas mais frias já são observadas na região mais ao oeste do Pacífico e, desse modo, no final do inverno poderá ocorrer uma desaceleração do aquecimento, gerando novos períodos de estiagem no Sudeste, Centro-Oeste e nas regiões produtoras de grãos do Nordeste e do Norte, entre os meses de setembro e outubro. Muito semelhante ao ocorrido em 2014. Esse período de chuvas mais intensas e de grande abrangência deve voltar a ocorrer no Sul do Brasil, principalmente no Paraná e também no Mato Grosso do Sul. Poderá gerar atrasos no plantio da nova safra de verão e também na colheita do café e da cana-de-açúcar, entre
Mapa de previsão de chuvas totais para o Brasil para o trimestre agosto/setembro/outubro de 2015
outras culturas. Porém, como venho comentando em reportagens anteriores, o segundo semestre de 2015 deverá ser muito semelhante ao de 2014. O grande problema de ficarmos lendo notícias que estão sendo divulgadas pelos institutos internacionais de climatologia é que os impactos e observações do El Niño são diferentes para nós brasileiros. Isto é, as regiões que são monitoradas e divulgadas por esses órgãos não são aquelas que influenciam a nós, aqui no Brasil. A região do Pacífico que mais tem influência sobre o clima no Brasil, e até mesmo no Paraguai, é a região costeira, a chamada região Niño 1+2. Essa região, segundo os modelos de previsão da NOAA, é que provocará uma grande oscilação das temperaturas, o que gerará uma grande variação no regime
de chuvas e temperaturas aqui no Brasil. Apenas para conhecimento, para os Estados Unidos, a região que mais influencia no clima é a região central, a denominada 3.4 e para a Oceania e Ásia é a Niño 4, localizada na região mais a Oeste do Pacífico, na região costeira desses continentes. Sabendo que haverá uma grande oscilação da temperatura no Niño 1+2, a previsão é que haja também uma grande oscilação no regime de chuvas e de temperaturas ao longo de todo esse segundo semestre de 2015. Agora, para esse começo de safra no Brasil, as chuvas até voltarão a ocorrer em meados de setembro, o problema é que devido a essa oscilação das temperaturas das águas do Pacífico, períodos de veranico entre o final do inverno e começo da primavera poderão vir a ocorrer
em regiões produtoras do Sudeste e Centro-Oeste. No Matopiba as chuvas devem ocorrer somente no final de outubro e início de novembro, mas essas informações vamos deixar para falar na edição de setembro/15. E, se haverá um período mais seco agora no final do inverno sobre a região central e Norte do País, a perspectiva é que essas chuvas continuem sobre o Sul do Brasil, e que podem agravar as condições das lavouras de inverno, como trigo, e atrapalhar o plantio da safra de verão. Esse padrão mais chuvoso agora na segunda metade do inverno e primeira metade do verão também deve ocorrer sobre as regiões produtoras dos Estados Unidos, gerando novas perdas de produtividade e atrapalhando a colheita e que deverá já iniciar-se no começo de setembro.
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Mecanização
Cortando cana As vendas de colhedoras de cana chegaram a 200 máquinas em 2006 e, 4 anos depois, em 2010, alcançaram 1.413 unidades anuais. Amílcar Centeno *
T
* O autor é engenheiro agrícola e especialista em máquinas agrícolas.
odo o avanço tecnológico gera efeitos colaterais e muitas discussões. Na Austrália também não foi diferente, onde o corte manual e o carregamento mecanizado de cana-de-açúcar já havia surgido na década de 1930. No Brasil, as primeiras colhedoras de cana chegaram ao mercado na primeira metade dos anos 1990. O processo de introdução, aprendizado e evolução da tecnologia levou cerca de uma década, com a indústria comercializando em torno de 100 unidades por ano. Nesta época, o tema era polêmico e muito se discutia sobre sua
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viabilidade técnica, econômica, e ainda de que o impacto social da sua introdução agravaria o desemprego existente. O processo de colheita mecanizada era rudimentar, pouco adaptado à colheita de cana crua, e causava grande impacto na soqueira, reduzindo a vida útil antes da reforma do canavial, aspectos que inviabilizaram a implantação da tecnologia. Ainda era mais barato colher a mão, com baixo impacto na soqueira, mantendo a longevidade do canavial. Afinal, replantar a cana é uma das operações mais dispendiosas no processo de produção da cultura.
Entretanto, a tecnologia evoluiu e em meados da primeira década deste século um conjunto de fatores levou as fabricantes a superar com rapidez esta fase de introdução, e as vendas de colhedoras quebraram a barreira das 200 máquinas em 2006 e 4 anos depois, em 2010, alcançaram um volume de 1.413 unidades anuais. Conforme mencionado, um conjunto de fatores provocou este ponto de inflexão no processo de mecanização da cana, alguns detalhes foram negligenciados: a aplicação do sistema automático da altura de corte. O detalhe gerou um grande impacto na vida útil da so-
queira, em função da redução dos danos mecânicos causados pelas facas de corte. Durante a colheita as máquinas arrancavam o pé de cana, em vez de cortar. A novidade permitiu reduzir significativamente a altura de corte, pois antes os operadores tentavam reduzir este impacto mantendo o corte mais alto e deixando no campo uma boa parte do terço basal da cana, exatamente a parte do colmo com maior teor de açúcar. Além disso, quando o operador tentava reduzir a altura de corte, além de danificar a soqueira, também contaminava a cana colhida com terra, o que trazia graves problemas no processamento da cana na usina. Com o controle automático tem sido possível operar com eficiência e qualidade com altura de corte entre 50 mm e 100 mm, com 3 a 5 kg de solo por tonelada de cana, considerado um padrão aceitável. Estes problemas foram significativamente reduzidos, e hoje a colheita mecânica é cerca de 22% mais barata do que a colheita manual, e a vida útil do canavial é praticamente idêntica à da colheita manual. Outros fatores ajudaram a impulsionar o processo de mecanização, como o aumento do custo e a redução da disponibilidade de mão de obra, além do aumento das exigências trabalhistas no campo. Nos últimos 10 anos, o custo da mão de obra mais do que dobrou, sendo que a produtividade de um cortador de cana continua a ser praticamente a mesma, em média 40 a 50 t/dia na cana queimada. Sabe-se que aumentos de custos sem aumentos de produtividade é um processo insustentável. Por outro lado, os ganhos de produtividade e a redução do impacto ambiental com a colheita mecânica de cana crua são inquestionáveis. Uma colhedora tem capacidade para colher de
800 a 900 t/dia, enquanto que nesse mesmo período um cortador consegue colher de 15 a 25 t/dia de cana crua. Por falar em cana crua, a legislação de redução das queimadas também ajudou no processo de mecanização. Porém, leis funcionam mais para controlar (e às vezes retardar) do que para promo-
como as facas auto-afiantes e reversíveis, o controle de velocidade e o piloto automático. Esses avanços precisam ser acompanhados de uma operação e manutenção adequadas. Um dos fatores que mais afeta o impacto da colheita mecanizada sobre a soqueira de cana é a velocidade de corte. A pressão pela produtivida-
A colheita mecânica sofre ajustes, o que faz parte do aprendizado da nova tecnologia. ver a evolução da tecnologia. Geralmente os fatores econômicos e sociais são muito mais dominantes e eficazes para isso. Tanto é que o setor canavieiro se adiantou em cerca de 3 anos no atingimento das metas estabelecidas pela Lei 11.241, de redução de queimadas no estado de São Paulo. O impacto da colheita mecânica sobre o canavial, em especial na soqueira da cana, ainda é um ponto de preocupação e deve ser tratado com muito cuidado, se quisermos estender a longevidade dos canaviais para além da média atual de 5 a 6 cortes. Pelo lado da tecnologia, várias melhorias têm sido incorporadas às colhedoras e que diminuem o impacto da colheita mecanizada,
de por vezes leva os operadores a trabalhar em velocidades acima da recomendação dos fabricantes, e isto afeta o sincronismo entre os vários mecanismos da máquina, o que prejudica a capacidade de corte. A manutenção das facas de corte é outro ponto fundamental. Facas sem fio ou danificadas são outra grande causa de danos à soqueira, além de provocar maiores perdas na colheita. Apesar de todas as discussões em torno dos seus benefícios e problemas, avaliamos que a colheita mecanizada da cana é um processo irreversível, que precisa evoluir e ser constantemente melhorado. Podemos discutir os meios, mas não a direção.
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Novidades no campo Trigo de sequeiro
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A Embrapa aproveitou o dia de campo realizado pelo Moinho Sete Irmãos em Santa Juliana, no triângulo mineiro, para apresentar a cultivar BRS 404, indicada para MG, GO e DF em áreas de sequeiro com altitudes iguais ou superiores a 800 metros. Com potencial de rendimento de 40 sacas/ ha, a BRS 404 (classe Pão, grão duro e força de glúten de 320) destacou-se também pela moderada resistência à brusone, um marco para a pesquisa já que, até então, as cultivares de trigo se mostravam altamente suscetíveis à doença.
Solução biológica para sementes
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Lançamento da Syngenta, em parceria com a Novozymes, o inoculante biológico SYS LL Long Life, destinado ao tratamento de sementes de soja, é um concentrado de bactérias que melhora a nodulação e, consequentemente, a fixação de nitrogênio na planta, aumentando em até 70% a absorção do nutriente, segundo a empresa. “Seu uso confere maior comodidade ao agricultor, que recebe a semente pronta para semear”, diz André Negreiros, gerente de marketing para Tratamento de Sementes da Syngenta.
Orkestra para 21 culturas
▶ Novo café mineiro
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Lançada na Expocafé, realizada no mês passado em Três Pontas (MG), a cultivar MGS Aranãs integra o programa de melhoramento genético da Epamig, instituição participante do Consórcio Pesquisa Café, coordenado pela Embrapa. Experimentos a campo no vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, apontaram produtividade média de 56,5 sacas/ha após quatro safras. Segundo o pesquisador César Botelho, a Aranãs caracteriza-se também pela resistência à ferrugem, porte baixo (2,7 metros de altura, em média), copa em formato cônico, frutos graúdos e alta qualidade da bebida.
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Fungicida da Basf, com larga utilização em lavouras de soja, o Orkestra SC foi liberado para mais 21 culturas nas áreas de hortifruticultura (batata, cebola, cenoura, maçã, manga, melão, pepino, pimentão e tomate), grãos e oleaginosas (amendoim, aveia, feijão, girassol, milho, sorgo e trigo) e flores (crisântemo e rosa). Segundo Adriano Abrahão, gerente de marketing para HF e Café da empresa, “o diferencial do Orkestra SC é seu amplo espectro de ação e performance no controle de doenças fúngicas, inclusive àquelas que já não respondem de forma eficaz aos produtos disponíveis”.
Tubo flexível para irrigação
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Mais leve, resistente e 100% reciclável, o tubo flexível da Netafim pode substituir os de PVC no mercado. Segundo Bruno Costa, gerente de produtos da empresa, ocupa menos espaço de armazenamento dentro da fazenda ou nos caminhões de transporte. “Cabe até nove vezes mais de material no mesmo espaço quando comparamos com os de PVC. Feito de polietileno reforçado na cor branca, para protegê-lo de raio UV (ultravioleta), o tubo flexível é mais robusto e durável, o que possibilita que máquinas passem por cima dele sem danificá-lo”.
Novidades no campo Melões da Seminis
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Marca de hortaliças da Monsanto, a Seminis lançou no mercado as sementes DRG3228 (tipo Gália) e SV1044MF (tipo Harper), destinadas ao plantio no Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco e Bahia. Em estudos a campo, alcançaram média de 2,5 mil caixas de 10 kg/ha. Segundo a empresa, os melões são saborosos, resistentes, com elevada preservação pós-colheita. O melão DRG3228 resiste ao ataque da mosca minadora (liriomyza), destacando-se também pela menor incidência de Pepper Spot. Ambos possuem ciclos de 59 a 62 dias após o transplantio.
Tratores cortadores
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A Husqvarna lançou três novos tratores cortadores de grama, entre os quais o GT52XLSI, com plataforma de corte soldada e chassi robusto para trabalhos intensivos. Um dos atrativos do modelo é o sistema de ignição SmartSwitch, que permite ligar o equipamento com um único toque no botão on/off, dispensando assim o uso de chaves. A tecnologia embarcada também possibilita o acionamento da marcha ré. O trator pode ser utilizado no modo piloto automático para trabalhar em velocidade constante, mesmo em terrenos irregulares
Manejo de floradas no cafezal
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Utilizado no controle de patologias em citros, hortifrutigranjeiros e grãos, o fungicida Nativo, da Bayer CropScience, teve sua aplicação estendida para a cultura do café. Segundo o gerente da área de café da empresa, Bruno dos Santos, é um fungicida extremamente eficaz no manejo de doenças da florada do cafezal. “Age em todas as fases de desenvolvimento dos fungos, protegendo a flor do café, promovendo mais produtividade e qualidade do grão”.
Nutrição em bulbos e raízes
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Lançamento da Fertec, o NYon Solo Cebola é um fertilizante líquido nanoparticulado destinado a culturas de bulbos e raízes, especialmente cebola e alho. O produto apresenta em sua formulação 15% de cálcio, 3,5% de magnésio, 1% de boro, 0,1% de molibdênio e 6% de zinco. “Com uma dose de 5 litros por hectare e três aplicações aos 7, 14 e 21 dias após o plantio, garante maior desenvolvimento da planta, com qualidade e rigidez celular”, assegura Fernando Paiva, diretor de P&D da empresa.
Sossego para triticultores
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Apresentada durante a 9ª Reunião da Comissão Brasileira de Pesquisa de Trigo e Triticale, realizada no mês passado em Passo Fundo (RS), a TBIO Sossego chegará aos multiplicadores em 2016 e ao mercado em 2017. “Como o próprio nome indica, a nova cultivar oferece sanidade foliar, máxima segurança de germinação na espiga, elevado potencial de rendimento e qualidade industrial”, destaca o diretor de negócios da Biotrigo Genética, André Cunha Rosa. Segundo ele, a TBIO Sossego é considerada a cultivar de melhor pacote fitossanitário já lançada no Brasil.
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Análise de mercado
Recursos represados
A prorrogação das parcelas de custeio dão fôlego aos orizicultores, mas a valorização no preço do arroz depende do incremento da demanda.
O
comportamento do mercado de arroz no Rio Grande do Sul até maio contrariou a expectativa com o represamento do capital de giro. A baixa posição do estoque inicial (tanto público quanto privado); a expectativa quanto à safra gaúcha, no máximo, de tamanho similar à anterior; a valorização do dólar como força propulsora das exportações e o fortalecimento da soja como alternativa complementar de renda para o orizicultor sustentaram os preços do arroz em casca até dois meses atrás. Apesar das dificuldades no estabelecimento das lavouras, a produtividade média foi recorde e a valorização do dólar ante o real não chegou a representar ganho de com-
petitividade porque a moeda norte-americana também se valorizou em relação às dos demais países exportadores, enfraquecendo o mercado externo como um todo. O período de comercialização desta nova safra inicia-se, portanto, com a anulação de dois importantes fundamentos até então altistas. Além disso, com a valorização dos principais insumos (energia elétrica, combustível, mão-de-obra, fertilizantes e defensivos), o custo de produção se elevou. O Irga – Instituto Rio Grandense do Arroz apontou uma valorização de 17% em relação ao valor no ano passado. A forte e inesperada queda no preço da saca de arroz em casca em maio teve como principal motivador a indisponibilidade de
recursos de pré-custeio e capital de giro das indústrias. O corte dos recursos quebrou a estratégia praticada há vários anos pelos produtores, que contavam com a liberação de créditos para garantir fôlego e diluir a oferta da safra ao longo do ano. Dessa forma, houve a necessidade de liquidação imediata da produção para atender os compromissos com fornecedores, concentrando a oferta e desvalorizando o produto no mercado. Surpreendidas pela oferta concentrada, muitas indústrias de beneficiamento também tiveram dificuldade de acessar recursos para utilizar como capital de giro, tendo que limitar as aquisições, enfraquecendo ainda mais o mercado. Hoje, o mercado busca se recompor às
Trigo – Os valores médios reagiram na terceira semana de julho e bateram na casa dos R$ 644,34/tonelada em 24/7. Os produtores mantiveram postura firme, pedindo preços maiores. No outro lado da mesa de negociações, alguns moinhos, temerosos diante da possibilidade de oferta de baixa qualidade (o clima úmido favorece a incidência de doenças fúngicas) procuraram se abastecer com lotes capazes de suprir a demanda da indústria de panificação.
* Em 15/7, o Indicador Cepea/Esalq registrou R$ 640,12 por tonelada, mercado disponível, à vista (o valor a prazo é descontado pela taxa NPR), posto Paraná.
ALGODÃO – Os valores oscilaram na primei-
ra quinzena de julho, chegando a R$ 213,09 no dia 15, como mostra o gráfico ao lado. Depois caíram, influenciados pelo aumento na oferta de pluma de menor qualidade, recuperando-se, porém, logo em seguida. A indústria têxtil evitou sair as compras porque o consumo de peças de algodão caiu no mercado interno, por causa da desaceleração econômica. No entanto, o bom ritmo das exportações ajudou a sustentar os preços.
* Em 15/7, o Indicador Cepea/Esalq registrou R$ 213,09 centavos de real por libra-peso.
soja – A comercialização fluiu lentamente no
início de julho. Os vendedores retraíram-se, na expectativa de alta nos preços devido às chuvas nos EUA – em 24/7, o Indicador Cepea registrou média ponderada de R$ 69,86, o maior valor até então. Do lado comprador, a procura diminuira por causa do atraso nas operações de embarque em Santos (SP) e Paranaguá (PR). Na terceira semana do mês, o ritmo de exportações voltou ao normal, ajudando a sustentar os preços no mercado físico.
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* Em 15/7, o Indicador Cepea/Esalq/BM&FBovespa registrou R$ 71,93 por saca de 60 kg, posto Paranaguá, descontado o prazo de pagamento pela taxa CDI/Cetip.
Análise de mercado características normais. O Banco do Brasil autorizou a prorrogação das parcelas de custeio que venceriam em julho e agosto para novembro e dezembro, e há ainda recursos para seres captados via Financiamento para Estocagem de Produtos Agropecuários (FEPM). Essas medidas dão algum fôlego aos produtores, mas a recuperação das cotações não é garantida, muito menos imediata. A pressão baixista tende a diminuir, mas a valorização depende do incremento da demanda É preciso aguardar um tempo (estimamos em pelo menos um mês) para que a indústria de beneficiamento digira o excedente estocado para voltar às compras de forma mais ativa. O incremento da demanda para exportação passa a ser a grande esperança de aceleração e consolidação deste processo. Refletindo um cenário global de esfriamento comercial, a participação brasileira no mercado internacional de arroz foi menor em junho, tanto na condição de expor-
tador quanto como na de importador. De acordo com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, foram exportadas 49,8 mil toneladas (base casca) e importadas 37,3 mil t de arroz. Desde o início do corrente ano comercial, o volume de arroz importado é de 182,2 mil t, aproximadamente 140 mil a menos do que havia sido internalizado neste mesmo período no ano passado, enquanto as exportações, com um volume acumulado de 413,7 mil t, foram menores em 90 mil t em comparação aos quatro primeiros meses do último ano comercial. Assim, apesar da menor intensidade comercial, o superavit da balança comercial brasileira de arroz chega a 231,5 mil t, aproximadamente 50 mil a mais do que o saldo positivo observado neste período há um ano. Tiago Sarmento Barata Diretor Comercial e Industrial do Irga – Instituto Riograndense do Arroz
Arroz – As cotações seguiram firmes ao longo da primeira quinzena de julho, na casa dos R$ 33/sc de 50 kg. No período, o Cepea registrou variação para baixo de apenas 0,27%. Embora o volume de exportações tenha caído, a importação também diminuiu bastante, deixando saldo positivo na balança comercial brasileira. Com a entrada de recursos de custeio para a safra, muitos rizicultores optaram por segurar a produção, diminuindo, em consequência, a oferta, o que ajudou a sustentar os valores no mercado interno. A quebra no sudeste asiático, provocada pele seca, pode abrir mercados para o produto brasileiro e provocar alta nos preços.
* Em 15/7, o Indicador Arroz em Casca Esalq/Bolsa Brasileira de Mercadorias – BM&FBovespa registrou R$ 33,46 à vista por saca de 50kg, tipo 1, posto indústria Rio Grande do Sul.
Fonte: Cepea – www.cepea.esalq.usp.br
CAFÉ – O andamento da colheita vem pres-
* Em 15/7, o Indicador Café Arábica Cepea/Esalq registrou R$ 417,61 por saca de 60 kg, bica corrida, tipo 6, bebida dura para melhor, posto cidade de São Paulo.
sionando os valores para baixo, apesar do atraso em relação ao ano passado – o clima seco nos períodos de floração e enchimento prejudicou o desenvolvimento dos grãos, o que levou expressivo número de produtores a esperar níveis de maturação e uniformidade melhores. Em contrapartida, o clima impactou a qualidade, diminuindo o tamanho dos frutos e, consequentemente, da safra, o que ajudou a elevar os preços.
* Em 15/7, o Indicador Esalq/BM&FBovespa registrou R$ 26,57 por saca de 60kg, descontado o prazo de pagamento pela taxa CDI/Cetip.
MILHO – Os preços variaram entre R$ 25 e R$ 27 no início de julho, ao sabor da demanda e do noticiário sobre chuvas excessivas nos EUA, atualmente em pleno plantio da safra 2015/16, e do avanço da colheita da safrinha brasileira, também afetada por fortes chuvas - os produtores ficaram apreensivos diante da possibilidade de perdas em produtividade e qualidade. No final da terceira semana do mês, com a melhora das condições climáticas nos EUA, voltaram a cair. AÇÚCAR – As cotações entraram em julho na
* Em 15/7, o Indicador Açúcar Cristal Cepea/Esalq registrou R$ 48,48 por saca de 50 kg, com ICMS (7%), posto São Paulo.
faixa dos R$ 47, subiram um ponto (foram a R$ 48) em meados do mês e depois voltaram à casa dos R$ 47. De maneira geral, a demanda vêm se mantendo estável desde o início do ano. Com a melhora no clima nas principais áreas de cultivo em São Paulo, as usinas retomaram a moagem no início da segunda quinzena. No entanto, o mix desta safra vai favorecer a produção de etanol, o que ajudará a segurar os preços internamente.
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Biblioteca da Terra Novas pragas ameaçam o campo
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De acordo com os autores do livro Defesa Vegetal – Fundamentos, Ferramentas, Políticas e Perspectivas, lançado no mês passado pela SBDA Sociedade Brasileira de Defesa Agropecuária, em conjunto com a Andef – Associação Nacional de Defesa Vegetal e o Mapa – Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, 221 espécies de pragas quarentenárias podem entrar no Brasil nos próximos anos, considerando o aumento no trânsito de veículos de carga e passeio entre o Brasil e países vizinhos. Segundo levantamento, entre as dezenas de pragas que atacam, por exemplo, a lavoura de soja na América do Sul, 18 ainda não foram registradas no Brasil. Dividido em 27 capítulos, o livro abrange quatro seções: Fundamentos e importância estratégica da Defesa Vegetal; Métodos utilizados; Políticas públicas; e Tendências e Perspectivas da Defesa Vegetal no Brasil. Como anexos, traz um glossário dos termos técnicos, compilação indexada dos atos legais e normativos e uma listagem de recursos de suporte na internet relacionados ao conteúdo dos capítulos. Com 542 páginas, custa R$ 45, mais os custos de postagem. Para comprá-lo, acesse www.defesaagropecuaria.net
Peneira ultrafina
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O livro “Café Arábica: do Plantio à Colheita” trata das principais tecnologias de produção adotadas no Brasil, maior produtor do mundo, e das características biológicas da espécie, a mais importante, considerando sua participação no mercado internacional e a qualidade da bebida. De autoria dos pesquisadores Nei Sakiyama, Hermínia Martinez, Marcelo Tomaz e Aluízio Borém, é uma espécie de tratado técnico sobre a espécie. Com 316 páginas, custa R$ 53. O link de acesso para compra é www.editoraufv.com.br/detalhes. asp?idproduto=1837266.
Guia de fungos
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Lançamento da Embrapa Soja, o Guia Prático para Identificação de Fungos mais Frequentes em Sementes de Soja, é de autoria do pesquisador Ademir Assis Henning. Dirigido aos técnicos que atuam nos laboratórios de análise de sanidade de sementes, traz imagens das metodologias mais usadas e desenhos das estruturas dos microorganismos. A publicação pode ser adquirida por R$ 10 através do e-mail cnpso.vendas@embrapa.br. É possível, porém, baixar gratuitamente a versão eletrônica pelo link www.embrapa.br/busca-de-publicaçoes/-/ publicacao/1018540/guia-pratico-para-identificacao-de-fungos-maisfrequentes-em-sementes-de-soja
Cultivo de olerícolas
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A terceira edição do Manual Técnico Para Cultivo de Hortaliças, da ABCSEM – Associação Brasileira do Comércio de Sementes e Mudas, traz informações técnicas atualizadas, orientações gerais de manejo e práticas para o aumento da produção, qualidade e sanidade de hortaliças, setor cuja cadeia produtiva responde por movimentação financeira ao redor de R$ 53 bilhões no Brasil. Com 88 páginas, a obra custa R$ 20, mais despesas de envio, e pode ser adquirida através do e-mail abcsem@abcsem. com.br ou do site www.livroceres.com.br.
O reino das abelhas
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A Bayer CropScience lançou no portal global Bee Care as versões em português das revistas BeeNow e do livreto Estações do Ano. Ambas as publicações trazem informações sobre comportamento, saúde e cuidados com abelhas, a relação de tais insetos com a agricultura (um terço das plantas e frutos consumidos pelos seres humanos depende da polinização das abelhas), além de dicas para o apicultor. As respectivas versões eletrônicas podem ser acessadas gratuitamente no portal da empresa: www.beecare.bayer.com
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Animais diversos
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Calendário de eventos
AGOSTO
11
Brasil AgrochemShow – De 11 a 12 – Caesar Park São Paulo Faria Lima – São Paulo (SP) – Site: www. agrochem.com.br – E-mail: brasil@ agrochem.com.br
11
9º CBAI/Congresso Brasileiro de Arroz Irrigado – De 11 a 14
– Pelotas (RS) – E-mail: contato@ cbai2015.com.br
13
48º Congresso Brasileiro de Fitopatologia – De 13 a 14
– Hotel Fazenda Fonte Colina Verde – São Pedro (SP) – Fone: (43) 3025-5223 – Site: www.cbfito2015.com.br – E-mail: cbfito2015@fbeventos.com
17
5º Congresso Andav – De 17 a 19 – Transamerica Expo Center – São Paulo (SP) – Fone: (11) 38931306 – Site: www.congressoandav.com. br – E-mail: andav@andav.com.br
19
III Conbraf/Congresso Brasileiro de Fitossanidade
– de 19 a 21 – Hotel Majestic – Águas de Lindóia (SP) – Fone: (16) 3209-1303 – Site: www.conbrafiii.vix.com/ conbraf2015
23
XIX Congresso Brasileiro de Agrometeorologia – De 23 a
28 – Universidade Federal de Lavras – Lavras (MG) – Site: www.muz. ifsuldeminas.edu.br/cbagro2015”/ cbagro2015
25
23ª Fenasucro & Agrocana/ Feira Internacional de Tecnologia Sucroenergética – De 25
a 28 – Centro de Eventos Zanini – Sertãozinho (SP) – Fone: (16) 21328936 – E-mail: comercial@fenasucro. com.br
31
3ª Bienal dos Negócios da Agricultura Brasil Central
– De 31 a 1/9 – Centro de Convenções Rubens Gil de Camilo – Campo Grande (MS) – Fone: (61) 2109 1419 – Site: www. bienaldaagricultura.com.br/2015/
SETEMBRO
1
10º Congresso Brasileiro do Algodão – De 1 a 4 – Recanto
Cataratas Thermas Resort & Convention – Foz do Iguaçu (PR) – Fone (61) 3963-5769 – E-mail: contato@congressodoalgodao.com.br
2
III CBE/Congresso Brasileiro de Eucalipto – De
2 a 4 – Vitória (ES) – Fone: (27) 3317-2552 – Site: www. congressoeucalipto.com.br.
8
Simpósio IPNI Brasil sobre Boas Práticas para Uso Eficiente de Fertilizantes em Fertirrigação – De 8 a 10 – Hotel Quality Resort & Convention Center (Rodovia Bandeirantes, km 72) – Itupeva (SP) – Fone: (19) 3433-3254
13
Conbea 2015/XLIV Congresso Brasileiro de Engenharia Agrícola – De 13 a 17 – Hotel Fazenda Fonte Colina Verde – São Pedro (SP) – Fone: (16) 3203-3341 – E-mail:sbea@sbea.org.br.
14
VII Sintag/Simpósio Internacional de Tecnologia de Aplicação – De 14 a 16 –
Uberlândia (MG) – Fone: (14) 3880-7673 – E-mail: eventos@fepaf. org.br
14
CBSementes/XIX Congresso Brasileiro de Sementes – De
14 a 17 – Hotel Rafain Palace – Foz do Iguaçu (PR) – Fone: (43) 3025-5223 – Site: fbeventos.com – E-mail: cbsementes2015@fbevenos.com
29/8 – Expointer 2015/Exposição Internacional de Animais, Máquinas, Implementos e Produtos Agropecuários – De 29/8 a 6/9 – Parque de Exposições Assis Brasil – Esteio (RS) – Fone: (51) 3288-6223 – E-mail: expointer@ agricultura.rs.gov. br Um dos mais importantes eventos do agronegócio brasileiro, a Expointer remonta a 24/2/1901, data da 1ª Exposição de Produtos do Estado, realizada em pavilhões fechados no Campo da Redenção (atual área do Parque Farroupilha, em Porto Alegre) e do campus central da UFRGS – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, também na capital gaúcha. Nascia ali o embrião do que viria a ser a atual Exposição Internacional de Animais, Máquinas, Implementos e Produtos Agropecuários, promovida pela Secretaria de Agricultura e Pecuária do Estado do Rio Grande do Sul. No ano passado, a feira recebeu 502.074 visitantes e movimentou R$ 2,7 bilhões em negócios.
18
Fórum Nacional de Agronegócios – De 18 a 19
– Hotel Royal Palm Plaza Resort – Campinas (SP) – Fone: 11) 3039-6011E-mail: forum@grupodoria.com.br
18
XV CBFV/Congresso Brasileiro de Fisiologia Vegetal – De 28 a 2/10 – Rafain Palace
Hotel – Foz do Iguaçu (PR) – E-mail: eventos@sbfv.org.br
OUTUBRO
8
VI Simpósio Manejo de Plantas Daninhas na Cultura da Cana-de-Açúcar – De 8 a 9 – Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Unesp – Jaboticabal (SP) – Fone: (16) 3209-1303 – E-mail: contato@funep.org.br
20
WinterShow/Experiência em Cereais de Inverno – De 20 a
22 – Colônia Entre Rios – Guarapuava (PR) – Fone: (42) 3625-8035 – E-mail: rosicleia@agraria.com.br
20
Eucalipto 2015/Simpósio sobre Tecnologias de Produção Florestal – De 20 a 22 – Center Convention – Uberlândia (MG) – Fone: (31) 3899-1185 – E-mail: sifeventos@gmail.com
20
7º Cobradan/Congresso Brasileiro de Defensivos Agrícolas Naturais – De 20 a 22 –
Embrapa Clima Temperado – Pelotas (RS) – Fone: (53) 3275-8152 – Site: www.cpact.embrapa.br/eventos/2015/ ouubro/cobradan –
21
X SBIAgro/Congresso Brasileiro de Agroinformática – De 21 a 23 – Universidade Estadual de Ponta Grossa (Campus Uvaranas0 – Ponta Grossa (PR) – Site: www.sbiagro.org.br
agosto 2015 – Agro DBO | 65
Legislação
Aval e fiança A operação de garantia requer cuidados e conhecimentos previstos em Lei, tanto para fiadores como para os concedentes. Fábio Lamonica Pereira
T
anto os títulos de crédito (Cédulas de Crédito Rural, Cédulas de Crédito Bancário etc.) quanto os contratos em geral (Contratos de empréstimo, de confissão de dívida etc.) comportam garantias que asseguram o cumprimento da obrigação tal qual ajustada. Para os títulos de crédito, a garantia mais comum (além de outras como penhor e hipoteca) é o aval. Neste caso, aquele que se compromete como avalista se equipara ao devedor principal. Ou seja, o credor poderá exigir o pagamento total da obrigação, tanto
nada obrigação. Se a obrigação for nula, a fiança também o será. O fiador tem um benefício a seu favor, chamado de benefício de ordem. Poderá, até o momento de apresentação da defesa no processo judicial, requerer que os bens do devedor respondam em primeiro lugar. Para tanto, deverá indicar bens do devedor suficientes ao pagamento do suposto débito. Contudo, o fiador perderá tal benefício se o renunciar, expressamente; caso se obrigue como principal pagador ou devedor solidário; se o devedor principal for insolvente ou falido.
A fiança é obrigação pessoal e vale até a data do óbito, transferível aos herdeiros.
O autor é advogado, especialista em Direito do Agronegócio.
do devedor principal quanto do avalista, uma vez que solidários. O avalista que pagar a obrigação poderá, em ação própria, exigir a respectiva restituição do devedor principal. A obrigação do avalista é autônoma. Isso implica em dizer que ainda que a obrigação do devedor principal seja declarada nula, permanece o ônus do garantidor. No mesmo sentido, ainda que o devedor principal esteja em recuperação judicial (o que importa, em regra, em novação, ou seja, espécie de substituição da obrigação) a garantia de aval permanecerá e o credor poderá continuar a exigir o pagamento de seu crédito (conforme já decidiu o judiciário). A figura da fiança, por sua vez, consiste na garantia, parcial ou total, do cumprimento de determi-
66 | Agro DBO – agosto 2015
Além disso, o fiador, querendo, poderá exonerar-se (livrar-se) da obrigação afiançada, desde que estabelecida por tempo indeterminado, notificando formalmente o credor. Contudo, nos sessenta dias seguintes à notificação, a obrigação perdurará. Esse prazo serve justamente para que o devedor ofereça novo fiador ou garantia suficiente para pagamento da obrigação. Caso o credor se negue em aceitar a exoneração do devedor, é possível a propositura de uma ação específica para fazer valer o direito assegurado em lei. A fiança é uma obrigação pessoal e vale até a respectiva data do óbito, transferindo-se aos herdeiros, respeitando o montante efetivamente transmitido como herança.
A exemplo do que ocorre com o aval, o fiador que pagar o débito também poderá exigir o respectivo valor do devedor principal, sendo substituído nos direitos do credor, sem o prejuízo de exigir o pagamento por perdas e danos. Questão essencial a ser considerada, comum ao aval e à fiança, diz respeito à necessidade de autorização expressa do cônjuge para a prestação da respectiva garantia. A exceção fica por conta dos casos em que o regime de casamento vigente for o da separação absoluta de bens. Não raro, há casos em que a obrigação de aval ou de fiança não respeitou a determinação legal. Assim, é possível ao cônjuge prejudicado, ou seja, que não participou da constituição da garantia, requerer a declaração judicial de nulidade do ato. Nem mesmo o juiz está autorizado a declarar, independentemente de manifestação da parte, a nulidade da constituição da garantia prestada sem o consentimento do cônjuge. Logo, assumir o encargo como avalista ou fiador requer análise criteriosa, uma vez que há enorme possibilidade de comprometimento patrimonial e até da própria atividade produtiva daquele que se obrigou por dívida alheia. Ao mesmo tempo, para os que já se obrigaram a tais encargos, é prudente observar os benefícios estipulados em lei bem como as causas de nulidade do ato que podem atenuar e até mesmo livrar o garantidor do pagamento do débito contraído pelo devedor principal.