Revista Agro DBO 72 - Novembro 2015

Page 1


SAC CAIXA – 0800 726 0101 (Informações, reclamações, sugestões e elogios) Para pessoas com deficiência auditiva ou de fala – 0800 726 2492 Ouvidoria – 0800 725 7474 caixa.gov.br | facebook.com/caixa | twitter.com/caixa

DE SOL A SOL. DO PLANTIO À COMERCIALIZAÇÃO. CRÉDITO RURAL CAIXA.

A CAIXA oferece uma variedade de linhas de crédito para todas as etapas do agronegócio, como aquisição de insumos e vacinas, compra de máquinas e equipamentos, preparação para o plantio, ampliação de lavouras e pastagens, colheita e comercialização. Acesse caixa.gov.br e saiba mais. CAIXA. A vida no campo pede mais que um banco.

TRABALHANDO PARA O BRASIL AVANÇAR


Sumário Ariosto Mesquirta

30 Logística

Cobrança de pedágio na BR-163 nos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul pode aumentar os custos com transporte em 10%

40 Tecnologia

Pesquisadores da Argentina desenvolvem pela primeira vez no mundo variedade de soja transgênica com tolerância à seca

44 Rizicultura 24

Arroz de terras altas demonstra eficácia no controle de nematoides na soja e aptidão para melhorar as chamadas terras velhas

Mais uma vez, a falta de chuvas atrasou o plantio da safra de verão no Centro-Oeste, comprometendo a estratégia de muitos produtores para a safrinha. Em algumas regiões, a exemplo do que ocorreu em Edéia (GO), houve quem desistisse do cultivo de milho em sucessão à soja.

Rogério F. Furtado

Matéria 48 Café de capa A ferrugem volta a ameaçar a cafeicultura

brasileira. Aparentemente, o fungo causador da doença está se tornando mais resistente.

Artigos 8 - Rogério Arioli avalia interesses em jogo na Parceria Transpacífico 10 - Décio Gazzoni discorre sobre o valor das pesquisas na “rizosfera” 34 - José Carlos Menten pleiteia normas para tratamento de sementes 38 - Amilcar Centeno relaciona dicas de regulagem para plantadeiras 66 - Fábio Lamonica recomenda cuidado ao quitar dívidas pendentes

Seções Do leitor.............................................................. 4 Ponto de Vista................................................... 8 Almanaque.......................................................12 Notícias da terra.............................................14 Política................................................................23

Clima..................................................................42 Opnião...............................................................52 Novidades no campo...................................56 Análise de mercado......................................58 Biblioteca da terra..........................................60 Calendário de eventos.................................65

novembro 2015 – Agro DBO | 3


Do Leitor

BAHIA

Sou assinante da revista Agro DBO e, ao ler uma das edições da revista, tinha uma matéria sobre feijão-caupi. Tenho interesse de saber o nome e o endereço do fornecedor desse feijão, pois aqui na Bahia não estou encontrando. Valdemir Morays de Jesus Feira de Santana

NR: Prezado Valdemir. Os últimos textos sobre feijão-caupi publicados na revista foram baseados em pesquisas da Embrapa Meio Norte, sediada em Teresina, no Piaui (86-3198-0500 ou 86-30899100). As matérias contemplam questões agronômicas, principalmente, não aspectos comerciais. Se conseguirmos algum telefone ou e-mail que ossa ter ajudar, faremos contato diretorcom você. PARANÁ

Trabalho em uma fazenda produtora de café no norte do Paraná. Lendo um exemplar da revista (Ano 8 - n° 33-novembro/dezembro 2011) me deparei com uma matéria que discutia se o gesso agrícola funciona ou não em lavouras. Como estamos com problemas de enraizamento do cafezal, tentei contatar os autores da matéria, porém não obtive sucesso. Vocês poderiam por gentileza nos disponibilizar o contato desses pesquisadores (email ou telefone)? Desde já grata pela atenção. Bruna de Almeida Londrina

4 | Agro DBO – novembro 2015

NR: A matéria citada pela leitora foi publicada na DBO Agrotecnologia, revista publicada pela DBO Editores Associados até agosto de 2013, data em que foi reformulada: ganhou novo design, nova tipologia, novas seções. Transformou-se, enfim, na atual Agro DBO. A reportagem em questão consta de depoimentos de vários especialistas, um dos quais, Bernard van Raij, do IAC – Instituto Agronômico de Campinas, atualmente aposentado. Lamentamos, mas não fornecemos telefones ou e-mails particulares de colaboradores. Pelo que você diz no e-mail, já tentou resolver sua dúvida via IAC (19-2137-0651), confere? Sugerimos contato com o engenheiro agrônomo Alessandro Oliveira, de Piumhi (MG), pelo telefone (37) 3371-1782. Ele vem empregando gessso em suas lavouras há alguns anos. Nosso colaborador (membro do conselho editorial da revista Agro DBO), Hélio Casale, lembra que o gessso é compatível com praticamente todos os adubos minerais e complementa com eficácia os tratos de correção do solo, levando para as camadas subsupericiais potássio, cálcio e magnésio, neutralizando temporariamente o alumínio tóxico. SÃO PAULO

Com enorme alegria, informo que a comissão do Prêmio José de Castro, do Consea-SP, classificou a tecnologia do broto/batata-semente em 1° Lugar na categoria Pesquisa Científica. O prêmio está relacionado com segurança alimentar e redução de desnutrição (combate à fome, gerando renda, sem grandes investimentos). Essa premiação vem num momento em que os pesquisadores científicos dos institutos de pesquisa do estado de São Paulo, são considerados 50% a 70% inferiores (em termos de salário) aos professores de universidades desse mesmo estado. A qualificação e avaliação (a cada 4 anos. pela Comissão Permanente de Regime de Tempo Integral) têm revelado que somos e exercemos atividades correlatas (iguais, senão a mais). Essa

premiação chega também no momento preciso e precioso para reforçar a importância das pesquisas científicas, desenvolvidas e transferidas de forma a contribuir não apenas com o agro-econômico, mas também com o social e o ambiental. Demonstra a importância da persistência na ciência. A primeira publicação que fiz sobre os trabalhos de pesquisa relacionada com a tecnologia do broto/ batata-semente data de 1985 (30 anos – Souza-Dias & Costa, 1985. Summa Phytopathologica, 11(1):52-54) Aproveito para anexar também o poster que apresentei este ano no Congresso de Proteção de Plantas em Berlim, Alemanha (23 a 30 de Agosto 2015), sobre avanços em direção ao nosso pioneirismo na movimentação (importação – exportação) de “broto”, sem os tubérculos, para servirem como renovação de estoques básicos de batata-semente (livres de vírus). Menos frete internacional e maior segurança (proteção) vegetal (menos risco de movimentar pragas do solo – presentes na epiderme e polpa de tubérculos/batata-semente). José Alberto Caram de Souza Dias Campinas

NR: O pesquisador encaminhou o e-mail acima ao editor-executivo da Agro DBO, Richard Jakubaszko, em decorrência de artigos publicados por ele na revista DBO Agrotecnologia (antecessora da Agro DBO), edição 15, de abril/maio 2008, e de artigo do presidente da ABBA Associação Brasileira de Batata, na Agro DBO nº 40, de janeiro de 2013. Transmitimos ao leitor, engenheiro agrônomo, virologista, pesquisador científico do IAC - Instituto Agronômico de Campinas, nossas congratulações pelo merecido prêmio.

AgroDBO se reserva o direito de editar/resumir as mensagens recebidas devido à falta de espaço.



Carta ao leitor

A

reportagem de capa da edição de Agro DBO deste mês, “Sai ano, entra ano...”, autoria da jornalista Marianna Peres, traz um balanço da próxima safra de verão, as dificuldades iniciais de plantio diante da falta de chuva no Centro-Oeste e de chuva em excesso nos estados do Sul, cujos atrasos devem provocar problemas na segunda safra, a depender da estratégia individual de cada produtor. No café, a reportagem do jornalista Rogério Furtado, a “Ferrugem contra-ataca”, demonstra que o produtor não tem descanso. O que parecia sob controle nos últimos 20 anos, volta a assombrar os cafezais, pois a então temida Hemilea vastratrix, de 30 e 40 anos atrás, está de volta. O impacto da ferrugem na cafeicultura (em parceria com as geadas) foi tão grande nos anos 1970, que alterou quase tudo no setor. De grandes produtores (os então chamados barões do café) passou-se para uma maioria de cafeicultores de médio e pequeno porte. Mudou-se do Paraná, e de boa parte do estado de São Paulo, para o sul de Minas Gerais, em região montanhosa, e no cerrado. Se antes o café era adensado e só colheita manual, abriu ruas para a mecanização no manejo e na colheita. A Hemilea Vastatrix reduziu de importância. Pois agora ela voltou, e ainda não se sabem as razões, se pelo fato de ser variedade de esporos resistentes aos fungicidas, ou porque o cafezal “descuidou” na sua defesa. O jornalista José Maria Tomazela, na matéria “Dobradinha eficiente” pesquisou sobre a importância e eficiência do plantio do arroz de terras altas, conhecido como ”de sequeiro”, no melhoramento dos solos degradados e pobres do Centro-Oeste, bem como no controle de nematoides, quando entra em rotação com soja, milho e outras lavouras. Sem esquecer dos bons resultados econômicos da colheita. A soja GM tolerante à seca é a promessa dos argentinos, e que deve chegar ao Brasil até o final desta década, conforme relata o jornalista Glauco Menegheti na reportagem “Lavoura blindada”. Na logística, o jornalista Ariosto Mesquita revela na reportagem “Transporte mais caro” o efeito da cobrança de pedágios em estradas no Centro-Oeste, fato que, pelo menos no curto prazo, deixa a todos de saia justa, sejam produtores ou caminhoneiros. Artigos analíticos e técnicos também são destaque desta edição através de nossos colunistas e colaboradores.

é uma publicação mensal da DBO Editores Associados Ltda. Diretor Responsável Demétrio Costa Editor Executivo Richard Jakubaszko Editor José Augusto Bezerra Conselho Editorial Décio Gazzoni, Demétrio Costa, Evaristo Eduardo de Miranda, Hélio Casale, José Augusto Bezerra e Richard Jakubaszko Redação/Colaboradores Amílcar Centeno, Ariosto Mesquita, Décio Luiz Gazzoni, Fábio Lamonica Pereira, Glauco Menegheti, Hélio Casale, José Maria Tomazela, José Otávio Menten, Luiz Carlos Pacheco, Marco Antônio dos Santos, Marianna Peres, Rogério Arioli Silva e Rogério F. Furtado Arte Editor Edgar Pera Editoração Célia Rosa e Edson Alves Coordenação Gráfica Walter Simões Marketing Gerente: Rosana Minante Comercial Gerente: Paulo Pilibbossian Executivos de contas: Andrea Canal, José Geraldo S. Caetano, Maria Aparecida de Oliveira, Marlene Orlovas, Tereza Helena Virginia e Vanda Motta

Para manifestar sua opinião, envie e-mail para redacao@agrodbo.com.br Richard Jakubaszko

Circulação Gerente: Edna Aguiar ISSN 2317-7780 Impressão Log&Print Gráfica e Logística S.A. Capa: Fernando Bueno/Pulsar Imagens DBO Editores Associados Ltda Diretores: Daniel Bilk Costa, Odemar Costa e Demétrio Costa Rua Dona Germaine Burchard, 229 Perdizes, São Paulo, SP 05002-900 - Tel. (11) 3879-7099 redacao@agrodbo.com.br www.agrodbo.com.br

Receba a revista Agro DBO em casa Se você ainda não é assinante, cadastre-se no site www.agrodbo.com.br.

6 | Agro DBO – novembro 2015



Ponto de Vista

De braços cruzados Acordos bilaterais e blocos econômicos entre as nações geram benefícios aos sócios e prejuízos a quem fica de fora Rogério Arioli Silva *

A

* O autor é engenheiro agrônomo e produtor rural em Mato Grosso

história recente brasileira ao ser reescrita daqui a alguns anos evidenciará uma época extremamente profícua em escolhas erradas e descaminhos. Enquanto muitas economias costuram acordos comerciais com olhos no futuro dos seus países, o Brasil permanece “deitado em berço esplêndido”, numa letargia que incomoda mesmo àqueles que celebram pífios resultados. A criação de uma nova ordem no comércio global, com a criação da Parceria Transpacífico (Trans-Pacific Partnesrship – TPP em inglês), bloco comercial para o qual o Brasil nem foi convidado, por não ter fronteiras com o Oceano Pacífico, é mais uma evidência de que o país está de costas para os

8 | Agro DBO – novembro 2015

acontecimentos mais relevantes e que determinarão a prosperidade comercial das nações. A TPP englobará 12 países que hoje são responsáveis por 40% do PIB mundial e, se aprovada pelos parlamentares norte-americanos e pelos demais participantes, será a grande marca do governo Obama na política comercial externa daquele país. A ideia é consolidar a posição norte-americana como potência comercial no Pacífico, buscando um contraponto ao vertiginoso comércio chinês. Esse novo bloco, que já nasce com invejável musculatura, tem como componentes, além dos EUA, Japão, Austrália, Canadá, Cingapura, Vietnã, Brunei, Malásia, Nova Zelândia, México, Peru e Chile. A OMC (Organização

Mundial do Comércio) na qual o Brasil apostou suas fichas, aguardando acordos que nunca acontecem, deve perder muito do seu poder, pela absoluta incapacidade de exercê-lo, o que ficou evidente após o fracasso da Rodada de Doha, iniciada em novembro de 2001. Enquanto aguardava que a atuação da OMC conseguisse corrigir as graves distorções existentes no comércio internacional, fruto dos enormes subsídios dos países ricos às suas onerosas produções, o Brasil recusou-se a participar da Alca (Área de Livre Comércio das Américas) e deixou de avançar em acordos com a União Europeia. A preocupação que surge é o que acontecerá com os 35% dos produtos manufaturados que o Brasil exporta atualmente para os países do bloco recém-formado. O Mercosul (criado em 1991) originalmente constituído pelo Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai contou, posteriormente, com o ingresso da Venezuela (em 2012) como membro pleno, entretanto, não conseguiu avançar numa velocidade condizente com a demanda dos signatários. Observa-se que os governos populistas possuem um viés extremamente protecionista e negligenciam o fato de que é a própria atitude xenofóbica que desencadeia um maior crescimento de salvaguardas e subsídios, como respostas imediatas às barreiras impostas. Os acordos bilaterais também foram negligenciados pelo Brasil e hoje já são mais de 400 existentes entre os principais players


do comércio internacional. A diplomacia brasileira confunde posições ideológicas com questões comerciais e prejudica o país, que deveria se movimentar com muito mais agilidade nessa área, lembrando que governos passam, todavia, o país permanece. A disputa comercial é acirradíssima e os países ricos jogam pesadamente defendendo seus interesses, deixando de lado o compadrio e atitudes contaminadas com tolo sectarismo. Enquanto a TPP discutia regras comerciais modernas, entre elas a regulação de investimentos estrangeiros, a proteção de patentes, a restrição ao favorecimento de estatais, a livre exportação de serviços e uma necessária proteção mínima dos direitos trabalhistas e do respeito ao meio ambiente, além do indispensável combate à

corrupção, o Mercosul seguia sem nenhum resultado plausível, parecendo um abraço de afogados. O decreto 6.664 de maio de 2008 estabeleceu as normas e diretrizes da atuação dos adidos agrícolas e alguns avanços acabaram acontecendo, sem dúvidas. Entre eles é possível destacar a abertura do mercado japonês à carne suína,

lácteos para a Rússia. Contudo, sem desmerecer os avanços obtidos, o resultado é medíocre para um país que necessita aumentar sua presença e consolidar-se como potência agrícola competitiva no cenário mundial. É preciso que o Brasil possua uma política de ampliação e inserção de novos mercados como

O Brasil permanece “deitado em berço esplêndido”, numa letargia que incomoda a todos. entretanto, como o Japão agora faz parte da TPP, mesmo que esse status não se modifique, o potencial de crescimento ficará ameaçado. Ademais, também pode ser creditada ao esforço dos adidos agrícolas a reabertura da exportação da carne bovina in natura para a China e a abertura do mercado de

estratégia de estado e não de governo. Somente assim não haverá a deletéria confusão entre o que é saudável comercialmente e o que é perversão ideológica ultrapassada. É preciso lembrar que aquele que não senta à mesa para discutir o cardápio, certamente será servido no jantar.

novembro 2015 – Agro DBO | 9


Artigo

A inteligência das plantas Cientistas trabalham com afinco para entender as interações dos vegetais, para depois incentivá-los a trabalhar em nosso favor. Décio Luiz Gazzoni *

A

* O autor é engenheiro agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja, e membro do Conselho Editorial da Agro DBO.

s plantas – cultivadas ou não – são hospedeiras de grande diversidade de bactérias, constituindo o microbioma planta, o qual é moldado pelos tipos de bactérias que colonizam com sucesso o ecossistema da planta. A maioria dessas bactérias é simbiótica, ou seja, estabelece uma relação de troca com a planta, recebendo substâncias nutritivas e fornecendo nutrientes extraídos do solo, ou liberando substâncias que atuam na defesa das plantas. O exemplo mais conhecido dos agricultores é a fixação biológica do nitrogênio, que ocorre nas leguminosas, como soja ou feijão, economizando bilhões de dólares todo o ano, pela dispensa de uso de adubo nitrogenado. Os microrganismos que interagem com plantas podem ser encontrados sobre as folhas, caule ou frutos, circular no interior da plan-

10 | Agro DBO – novembro 2015

ta, agregados à seiva, ou colonizar espaços entre as células dos tecidos, como é o caso das bactérias endofíticas. Esses microambientes podem ser divididos entre ectosfera (externos à planta) ou endosfera (internos à planta). Surgem, então, subdivisões como a endoriza (interior das raízes), a antosfera (flor), a espermosfera (sementes) ou carposfera (frutos). Nesses ambientes convivem diversos microrganismos, e o desafio para os cientistas é identificar aqueles que possam ser úteis para desenvolvimento de tecnologias a serem incorporadas nos sistemas de produção. No âmbito do conceito de microbioma, a rizosfera é a região do entorno solo raiz, onde convivem diversos microrganismos, sendo modulada por exsudatos radiculares. Trata-se de substâncias liberadas pelas plantas, através das raízes, e que influenciam os organismos

vivos situados nas proximidades. Dessa forma, a planta seleciona microrganismos para a colonização da rizosfera, de acordo com seu interesse. Na rizosfera vivem microrganismos que interagem com as plantas, envolvidos com o sequestro de carbono, ou que têm um papel importante no funcionamento do ecossistema e ciclagem de nutrientes. Os cientistas têm dedicado muita atenção ao que ocorre na rizosfera, pelas inúmeras possibilidades de aproveitamento dos microrganismos que lá se encontram para beneficiar as plantas, e, por extensão, agricultores e consumidores. As plantas têm uma relação simbiótica com algumas bactérias específicas, em qualquer dos microambientes acima referidos. Por exemplo, podem ser bactérias que auxiliam as plantas a extrair nutrientes ou se defender contra


invasores – um processo fundamental na prevenção de ataque de agentes patogênicos. Estudos recentes de cientistas da Universidade de Notre Dame (Indiana, EUA) mostram que as plantas podem “empacotar” as bactérias que as beneficiam no interior das sementes. A estratégia objetiva garantir que as plantas da próxima geração sejam colonizadas pelas bactérias desde o início do ciclo, ou seja, a partir da germinação. Entre as bactérias que habitam o microbioma da rizosfera destacam-se aquelas pertencentes aos gêneros Bacillus e Pseudomonas. A melhor maneira de a planta se defender do ataque de patógenos é com um microbioma saudável, colonizado por bactérias que forneçam proteção contra patógenos invasores. Para tanto, a colonização precoce é fundamental para o estabelecimento de um microbioma benéfico. Uma das descobertas dos cientistas da Universidade Notre Dame foi a presença de uma estirpe de Bacillus pumilus em plantas de feijão, que secreta substâncias de defesa, transferidas às plantas, protegendo-as contra diversos patógenos. Os cientistas foram além e estudaram o genoma da bactéria. Ao final, descobriram que B. pumilus contém três conjuntos de genes únicos para a produção de compostos peptídicos antimicrobianos conhecidos como bacteriocinas. A observação principal, entretanto, foi o fato

de a planta “envelopar” a bactéria dentro da semente, de maneira que logo após a germinação havia a colonização das plantas pelas bactérias, fornecendo a proteção necessária desde o início do ciclo. Também as bactérias do gênero Pseudomonas são conhecidas pela sua capacidade de produzir antibióticos e outras substâncias bioativas. Esse é um terreno fértil para pesquisas, a fim de entender a produção, a difusão e a ação dos antibióticos produzidos na rizosfera. Um detalhe importante é que os antibióticos, ou outros produtos bioativos, não agem apenas

planta, o que inclui patógenos que não afetam a planta, porém contaminam alimentos. Um exemplo recente deste fato ocorreu em 2011, quando a Alemanha, a França e a Holanda experimentaram um surto de Escherichia coli contaminando alimentos. No processo de rastreamento dos órgãos sanitários foi descoberto que o foco estava em brotos de feijão mungo, contaminados pela E. coli, transmitida por porcos selvagens. Os cientistas entendem que, mesmo nestes casos, a presença de um microbioma favorável pode evitar a proliferação de bactérias indesejáveis.

As plantas podem “empacotar” as bactérias que as beneficiam no interior das sementes quando dissolvidos em água, mas também podem ser substâncias voláteis, difundidas pelo ar, e que podem atuar tanto em antibiose contra agentes patogênicos, quanto na comunicação com as plantas. Pesquisas recentes mostraram que antibióticos e lipopeptídios produzidos por bactérias são reguladores da formação de biofilmes de proteção, atuam como sinalizadores e permitem a absorção de micronutrientes em concentrações que favorecem a planta, abaixo dos níveis que possam ocasionar toxicidade. Entretanto, bactérias e outros patógenos, como vírus ou fungos, também podem colonizar uma

Essa linha de pesquisa não se encerra com as descobertas da estratégia de “envelopamento” de bactérias nas sementes, nem na mera identificação das bactérias benéficas. Avanços práticos são esperados, como a indução deste processo em diversas plantas cultivadas, ou mesmo a inoculação das sementes com outras bactérias úteis, à semelhança do que é realizado atualmente com o uso de rizóbios para inoculação de sementes de soja, que fixam o nitrogênio do ar. Este é o futuro com o qual nos defrontaremos nos próximos anos, conhecer melhor a inteligência das plantas.

novembro 2015 – Agro DBO | 11


Almanaque

Você sabia? Hoje em dia todos têm opinião sobre tudo. Uns acreditam no aquecimento, outros nas mudanças climáticas. Mas existem céticos. Hélio Casale *

* O autor é engenheiro agrônomo, consultor e cafeicultor, e membro do Conselho Editorial da Agro DBO.

Q

ue o número de climatologistas signatários do último relatório do IPCC – Painel Intergovernamental sobre Mudanças do Clima, é insignificante, menos de 3% do total de 2.500 cientistas que revisaram e aprovaram o relatório? A maioria foi composta por leigos em climatologia, como físicos, matemáticos, químicos, antropólogos, sociólogos, médicos, bioquímicos, biólogos, engenheiros agrônomos, economistas e até administradores de empresas, sem especialização no ramo do clima. Que a principal causa do aquecimento global (se é que existe): é a influência influência direta da atividade solar e uma correlação com as manchas solares? Se essas forem numerosas, vai ficar quente. Se o Sol apresenta menor número de manchas, um número maior de raios cósmicos atingirá a terra, criando nuvens de baixa altitude que impedirão os raios solares de atingir a terra, fazendo baixar a temperatura. Que o maior problema que a humanidade vai enfrentar no futuro próximo é o aumento populacional? Que a História mostra que, toda vez que o clima se aqueceu, as civilizações, como Amoritas, Babilônios, Sumérios, Egípcios e Romanos, progrediram? Que o resfriamento do clima, ao contrário, sempre causou desaparecimento ou retrocesso de civilizações? O último resfriamento ocorreu entre 1947 – 1976, tempo de grandes geadas que, entre outras, levou o café do Paraná para o

12 | Agro DBO – novembro 2015

Cerrado Mineiro. Que o CO2 é o gás da vida? Sem ele não haveria a fotossíntese, e agricultura, florestas, árvores urbanas, enfim, qualquer atividade agrícola que garanta o alimento dos humanos. Que cerca de 60% do carbono é sequestrado pelas algas marinhas e os outros 40% pelas florestas e árvores urbanas? Que as emissões naturais dos oceanos, polos, vulcões e vegetação somam 200 bilhões de toneladas de CO2 por ano? Os humanos emitem apenas 6 bilhões, o que representa só 3%. Que o gás metano é 21 vezes mais poderoso que o gás carbônico (CO2)? Que da água que existe no globo cerca de 97% é salgada e apenas 3% é água doce? Que na composição média de um solo, 95% são de carbono, hidrogênio e oxigênio, e 4,9% com os nutrientes nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio, magnésio e enxofre e 0,1% dos micronutrientes boro, cobre, cobalto, ferro, manganês, molibdênio e zinco? Que na falta de qualquer um desses micronutrientes, a vida vegetal é reduzida ou mesmo não existiria? Como produzir milho em solo de cerrado sem adicionar zinco ao solo? Que o vapor de água é o gás ocorrente em maior quantidade na atmosfera, ajudando a reter o calor irradiado pela superfície terrestre, atingida pela radiação solar? Por isso, as noites nubladas são mais quentes e não ocorre geada. Que, segundo o Dr. Molion o

homem e suas emissões na atmosfera são incapazes de causar aquecimento global? Ele ainda afirma que a terra vai esfriar nos próximos 20 anos. Que os oceanos constituem 71% da superfície terrestre, que estão perdendo calor, e eles têm importante papel no clima da terra? Que o oceano Pacífico cobre 35% da superfície terrestre e dados mostram que está se resfriando desde 1999? Que uma floresta adulta, vigorosa, em estado de clímax, não é fonte de oxigênio para a atmosfera? Todo o oxigênio que produz pela fotossíntese é consumido pela respiração e pela vegetação senescente em decomposição. Que as Terras para Índios (14% do território nacional), Terra para Sem Terras, Reserva Florestal, proteção de beira de rios, lagos etc., tudo isso está reduzindo a área agricultável, enquanto a população aumenta? Hoje, mais de 71% do território nacional são áreas protegidas, enquanto a média mundial é de apenas 12%. Que em 1970 um agricultor brasileiro produzia alimentos para 73 pessoas? Em 2010 saltou para 155. Que a maioria das revoluções foram iniciadas por falta de comida para todos? Que a expectativa de vida média do brasileiro passa dos 70 anos e a maioria esmagadora não se alimenta de produtos ditos orgânicos? Obs.: anotações, em sua maioria, extraídas do livro “CO2 aquecimento e mudanças climáticas: estão nos enganando?”, de Richard Jakubaszko.



Notícias da Terra Safra I

Safra II

O

A

Recorde absoluto primeiro levantamento da Conab sobre a safra 2015/16 de grãos indica que o Brasil pode colher mais de 213 milhões de toneladas – a estatal prevê algo entre 210,3 e 213,5 milhões de toneladas, o que corresponde a um aumento percentual mínimo de 0,2% e máximo de 1,7% sobre a safra 2014/15, de 209,8 milhões t. A produção de soja deve superar a barreira das 100 milhões de toneladas, podendo chegar a 101,9 milhões t. Quanto ao milho (primeira safra), a estimativa é de redução entre 5,8% e 8,9%, comparativamente ao que foi colhido na temporada 2014/15 – a pesquisa a campo, efetuada de 20 a 28 de setembro, não contempla a segunda safra de milho, cuja expectativa é de crescimento. No que diz respeito à área destinada ao cultivo de grãos, deve variar entre 58,1 e 59 milhões de hectares, o que significa aumento de até 1,5% sobre a área ocupada durante o ciclo 2014/15.

IBGE fecha em 210,4 milhões safra 2014/15 de cereais, leguminosas e oleaginosas totalizou 210,4 milhões de toneladas, 8,8% superior à anterior (193,3 milhões de toneladas), conforme a 9ª estimativa do IBGE, divulgada em 9/10. Os três principais produtos do grupo - soja, milho e arroz - responderam por 92,5% da produção e 86,4% da área plantada. A safra de soja cresceu 12,2%; a de milho, 7,3%; e a de arroz, 3,4%. As lavouras cobriram 57,7 milhões de hectares, 2% a mais no cotejo com a área plantada na temporada passada (56,5 milhões ha). Os pesquisadores do instituto registraram incremento de 6% na área de soja; 0,9% na de milho e redução de 5,5% na de arroz.

Safra IV

Ranking por produtos

E

ntre as 26 culturas pesquisas pelo IBGE, 15 apresentaram variação percentual positiva em relação à produção em 2014: mamona (130,8%), aveia (49,2%), cevada (22,7%), milho 2ª safra (13,9%), soja (12,2%), trigo (9,8%), laranja (9,5%), amendoim 2ª safra (7,2%), amendoim 1ª safra (6,3%), cebola (5%), arroz (3,4%), cana-de-açúcar (2,9%), batata inglesa 1ª safra (2,8%), mandioca (1,7%) e café arábica (1%). Com variação negativa foram 11 produtos: café conilon (- 20%), triticale (- 14,7%), batata inglesa 3ª safra (- 11,9%), cacau (- 10,6%), sorgo (- 9,3%), feijão 1ª safra (- 8,9%), feijão 3ª safra (- 4,5%), algodão (- 3,8%), feijão 2ª safra (- 3,8%), milho 1ª safra (- 3,1%) e batata inglesa 2ª safra (- 1,5%).

Safra III

Distribuição por região

A

produção de cereais, leguminosas e oleaginosas relativa ao ciclo 2014/15 apresentou a seguinte distribuição espacial, segundo o IBGE: Centro-Oeste, 89,6 milhões de toneladas; Sul, 77,6; Sudeste, 18,8; Nordeste, 17,3 e Norte, 7,2. Comparativamente à safra passada, cresceu 8% no Centro-Oeste, 9,6% no Sul, 4,7% no Sudeste, 9,6% no Nordeste e 21,5% no Norte. Mato Grosso manteve a liderança entre os estados produtores, com 25% de participação, seguido pelo Paraná (18,1%) e Rio Grande do Sul (15,7%). 14 | Agro DBO – novembro 2015


Notícias da Terra Safra V

Safra VI

Safra global maior

O

Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês) elevou sua estimativa sobre a produção mundial de soja, comparativamente à projeção anterior. Conforme o relatório de oferta e demanda da instituição publicado em 9/10, chegará a 320,5 milhões de toneladas – em setembro, apontava 319,6 milhões t. Os estoques finais também foram revisados para cima,

passando de 84,9 para 85,1 milhões de toneladas. Ainda segundo o USDA, os produtores norte-americanos vão colher 105,8 milhões de toneladas de soja na safra em curso (o relatório de oferta e demanda de setembro indicava 107,1 milhões t); os brasileiros, 100 milhões de toneladas (97 milhões t) e os argentinos, a mesma quantidade prevista anteriormente: 57 milhões t.

Menos milho no planeta

N

o que diz respeito à produção do cereal, a safra global foi revisada para baixo, caindo de 978,1 milhões de toneladas (de acordo com o relatório de oferta e demanda divulgado em setembro pelo USDA) para 972,6 milhões de toneladas (relatório de outubro). A estimativa do USDA sobre os estoques mundiais também aponta queda de produção, passando de 189,7 milhões para 187,8 milhões de toneladas. A safra norte-americana de milho deve alcançar 344,3 milhões de toneladas, contra as 345,1 milhões de toneladas previstas anteriormente; a brasileira, 80 (conforme o relatório de setembro, 79) e a argentina, 24 (25).

VBP

Produção chega a R$ 481,4 bilhões

L Crédito

Agricultores financiam R$ 40 bilhões.

C

onforme anúncio feito pelo Secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, André Nassar, o financiamento do custeio, comercialização e investimentos relativos à safra 2015/16 de grãos totalizou R$ 40 bilhões de julho a setembro, valor equivalente a 21% dos R$ 187,7 bilhões oferecidos pelo Plano Agrícola e Pecuário. “As linhas contratadas comprovam que o crédito está fluindo, com destaque para os bancos públicos, que liberaram perto de R$ 18 bilhões, um incremento de 35% em relação ao ciclo anterior, de R$ 13,1 bilhão”, disse Nassar. Segundo ele, a oferta de crédito por

parte dos bancos privados caiu 2%, com R$ 10,1 bilhão financiado no período. As cooperativas de crédito ofertaram R$ 3 bilhões. Os médios agricultores, com faturamento de até R$ 1,6 milhão ao ano, tomaram emprestados R$ 16,6 bilhões para custeio (63% a mais comparativamente à safra 2014/15) e os grandes produtores, R$ 8,7 bilhões (mais 53%). Segundo o Banco Central, os recursos de custeio foram mais procurados no Sul (40%), Centro-Oeste (26%) e Sudeste (23%). A região que tomou mais crédito para investimento foi o Centro-Oeste (35%) e para comercialização, o Sudeste (47%).

evantamento da Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, baseado em dados de setembro, mostra que o VBP – Valor Bruto da Produção da agropecuária brasileira este ano será de R$ 481,4 bilhões, 1,3% superior ao de 2014. A agricultura responderá por R$ 309,2 bilhões deste montante e a pecuária, R$ 172,2 bilhões. Segundo o coordenador de estudos e análises da secretaria, José Gasques, o incremento deve-se principalmente à pecuária, cujo valor bruto de produção cresceu 2,2% em relação ao ano anterior. O VBP da agricultura aumentou apenas 0,8% no período.

novembro 2015 – Agro DBO | 15


Notícias da Terra Exportações I

Agronegócio garante o PIB

33%

O

s produtores rurais brasileiros comemoraram o Dia Nacional da Agricultura (17 de outubro) com orgulho. Afinal, há anos a agropecuária vem garantindo o crescimento da economia nacional, sustentando o PIB. O Brasil responde hoje por 33% do café produzido no mundo, 30% da soja, 16% da carne bovina, 16% da carne de frango, 8% do milho, 7,5% do algodão, 5,8% do leite e 3,2% da carne suína. Em setembro, as cinco principais mercadorias negociadas no mercado externo foram do setor agropecuário: soja, carnes, complexo sucroalcooleiro, produtos florestais e café.

Participação na produção mundial

30%

16%

16% 8%

café

soja

carne bovina

carne de frango

milho

7,5%

algodão

5,8%

leite

3,2% carne suína

Exportações II

Soja na ponta

O

chamado complexo soja (grãos, farelo e óleo) é o principal item da pauta de exportações do Brasil. No acumulado de janeiro a setembro, o segmento faturou US$ 24,5 bilhões no exterior, de acordo com dados da Abiove – Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais. Deste montante, US$ 19,2 bilhões (78,2%) referem-se às vendas de soja em grão, US$ 4,5 bilhões (18,3%) de farelo e US$ 856,9 milhões (3,5%) de óleo. Os três produtos responderam por 17% do total das exportações nacionais no período. Em volume, as remessas de soja em grão representam novo recorde. Em contrapartida, revelam a dependência do país de produtos com baixo valor agregado – quase 80% dos embarques do complexo soja são de grãos.

Seguro

Padrão internacional

E

specialistas reivindicaram no mês passado em Brasilia, durante evento promovido pela CNA, a utilização do modelo norte-americano como base de reformulação do seguro agrícola brasileiro. “As coberturas entre os dois países são semelhantes”, afirmou o diretor da Tovese Corretora de Seguros, Otavio Simch, um dos participantes. “Lá, as principais são estiagem, excesso de chuva, granizo, geada e vendaval. No entanto, entre as dez principais culturas deles, 85% da área plantada está coberta por seguro. Aqui, apenas 14%”, comparou, propondo ação conjunta das empresas do setor, produtores rurais e governo para redefinir as normas. “É importante a participação do agricultor em sugerir necessidades e melhorias”. O foco dos EUA, porém, é o seguro de renda. Embora o agricutor norte-americano possa priorizar a cobertura da produção, a maioria opta pela renda. segundo ele. “Esse é o carro chefe deles, ajudar o produtor a não criar dívida nova”, observa, lembrando que, além das diferenças de mercado, preços, normas, legislação, etc, os EUA se destacam por outra razão importante: o planejamento de longo prazo. “Considerando a estabilidade da economia norte-americana e o programa agrícola de cinco anos, é fácil programar. Eles sabem o que vai acontecer daqui a três ou cinco anos em termos do agronegócio. O seguro caminha junto com a política agrícola do governo”, ressalta Simch.

16 | Agro DBO – novembro 2015


Notícias da Terra Logística

Combustível

H

O

Frete 228% mais caro

Mais biodiesel

á dez anos, o produtor brasileiro de soja gastava US$ 28 por tonelada, em média, para levar seus grãos da fazenda ao porto. Hoje, gasta R$ 92, quatro vezes mais do que na Argentina e nos Estados Unidos, conforme estudo apresentado pelo consultor de Infraestrutura e Logística da CNA, Luiz Antônio Fayet. “Esse valor representa aumento de 228% no período”, disse. Segundo ele, um dos motivos deste disparate é a falta de um sistema de logística compatível com a eficiência da produção dentro da porteira. “Infelizmente, nossos problemas fora da porteira nos prejudicam”. Na opinião de Fayet, a carência de infraestrutura e logística no Brasil é especialmente grave nas regiões de fronteira agrícola localizadas acima do paralelo 16 Sul, o que abrange parte do Centro-Oeste, Norte e Nordeste. “Estas regiões respondem por quase 60% da produção nacional de soja e milho, gerando excedente de 64 milhões de toneladas para exportação. Entretanto, a falta de hidrovias, ferrovias, rodovias e portos obriga os produtores a deslocarem suas safras até os portos do Sul e Sudeste”, comparou, citando como exemplo o caso de Sorriso (MT), distante 2 mil quilômetros, aproximadamente, do porto de Santos (SP). “O produtor gasta R$ 126 com frete de Sorriso a Santos. Se os terminais de Belém ou Miritituba, no Pará, estivessem em condições plenas de operacionalização, o custo seria de R$ 80/tonelada, R$ 46 a menos. “Seria mais dinheiro no bolso do produtor”, disse Fayet (OBS: leia matéria sobre frete na página 30).

CNPE – Conselho Nacional de Política Energética autorizou a comercialização e o uso de biodiesel adicionado ao diesel fóssil em misturas superiores ao percentual obrigatório no Brasil, atualmente em 7% (B7). Os limites máximos permitidos são 20% (B20) em frotas cativas ou consumidores rodoviários atendidos por ponto de abastecimento; 30% (B30) no transporte ferroviário; 30% (B30) no uso agrícola e industrial; e 100% (B100) no uso experimental, específico ou em demais aplicações. A Ubrabio – União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene propõe que a mistura obrigatória seja ampliada para B8 ainda este ano, com previsão de aumento semestral para B9 e B10 em 2016.

NA ARAGUAIA VOCÊ ENCONTRA A SOLUÇÃO COMPLETA PARA UMA MAIOR PRODUTIVIDADE MATO GROSSO

BRASIL

SORRISO: (66) 3545-9898 RONDONÓPOLIS: (66) 3439-9898

DEMAIS REGIÕES (62) 3310-8133

ARAGUAIA PRODUTOS AGROPECUÁRIOS EM ÁGUA BOA - MT • (66) 3468.5900

www.adubosaraguaia.com.br novembro 2015 – Agro DBO | 17


Notícias da Terra

Fitossanidade I

Registro prioritário

D

ois meses após relacionar as oito pragas, doenças e plantas daninhas de maior risco fitossanitário às espécies agrícolas de maior importância econômica cultivadas no Brasil, o Departamento de Sanidade Vegetal do Ministério da Agricultura definiu a prioridade de análise dos ingredientes ativos dos agroquímicos criados para combatê-las. A lista, publicada na Portaria 63/2015, é a seguinte:

Fitossanidade II

Medidas contra a ferrugem

1 - Nematoides: fluensulfone; 2 - Bicudo do algodoeiro (A. grandis): tolfenpirade; bifentrina e gama-cialotrina + malation; 3 - Ferrugem da soja (P. pachyrhizie): azoxistrobina + tebuconazol + mancozebe; picoxistrobina + tebuconazol + mancozebe; azoxystrobina +ciproconazole + mancozeb; picoxistrobina + benzovindiplupir; bixafen; fluxapyroxad + epoxiconazole + pyraclostrobin; metominostrobin + tebuconazole; azoxystrobin + benzovindiflupir. 4 - Mofo-branco (S. sclerotiorum): procimidone; ciprodinil; fluazinam; isofetamid; iprodiona; fluopyram; procimidone + fenpirazamina; cyprodinil + fludioxonil; 5 - Broca-do-café (H. hampei): metaflumizone; 6 - Helicoverpa armigera: tiodicarbe; espinetoram + metoxifenozida; indoxacarb; metaflumizone; lufenuron + profenofós. 7 - Mosca-branca (B. tabaci): piriproxifen; sulfoxaflor; piridabem; diafentiuron. 8 - Buva (C. bonarienssis) e Capim-amargoso (D. insularis): glufosinato sal de amônio; sulfentrazone; pyroxasulfone; flumioxazina + imazetapir; cletodim; diafentiuron; mesotrione.

Tecnologia

Feijão com ácido fólico

P

O

governo do Mato Grosso instituiu calendário com datas para o período de vazio sanitário no estado, início e fim do plantio de soja e término da colheita da oleaginosa. O objetivo, de acordo com o texto da Instrução Normativa nº 002/2015, é prevenir e promover o controle fitossanitário da ferrugem asiática (Phakopsora pachyrhizi). Segundo o documento, o vazio sanitário vai de 15/6 a 15/9. O período de semeadura, de 16/9 a 31/12 – a safrinha, ou seja, o plantio de soja sobre soja, está proibida. A novidade é o estabelecimento de uma data final para a colheita – 5 de maio. Na opinião do presidente do Indea – Instituto de Defesa Agropecuária do Estado de Mato Grosso, Guilherme Nolasco, as normas estão amparadas técnica e cientificamente. O cadastramento ou atualização do cadastro das propriedades com cultivo de soja deve ser realizado anualmente até o dia 15 de fevereiro. Pela internet, o link é www.cadastro.indea.mt.gov.br 18 | Agro DBO – novembro 2015

esquisadores da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia e do Instituto Tecnológico e de Estudos Superiores de Monterrey, do México, desenvolveram um feijão geneticamente modificado com 84 vezes mais ácido fólico (vitamina B9) do que os convencionais. Mesmo após o cozimento, o grão manteve quantidade da vitamina (328 microgramas) quatro vezes superior à do produto convencional (81 µg) – no caso, os estudos foram feitos com três variedades comuns naquele país: Pinto Saltillo, Pinto Durango e Pinto Café. O feijão é um alimento muito consumido no México e no Brasil e México. Uma variedade convencional chega a ter 389 microgramas de ácido fólico no grão cru, um pouco abaixo do que o ser humano necessita por dia (400 µg). Mas, depois do cozimento, esse índice cai para 81 microgramas, ou seja, 100 gramas de feijão cozido atende pouco mais de 20% do necessário. A ingestão de 100 gramas do produto geneticamente modificado garante 82% da quantidade diária recomendada pela Organização Mundial da Saúde. O ácido fólico, também conhecido como folato ou vitamina B9, é essencial para o bom desempenho de várias funções do corpo humano, entre elas, a síntese e a reparação do DNA, divisão e crescimento celular, produção de novas proteínas e formação de hemácias.



Notícias da Terra Polinização

S

egundo pesquisa do Ibope, 78% da população adulta brasileira desconhece ou nunca ouviu falar do termo polinização – o transporte de grãos de pólen de uma flor para outra, ou para o seu próprio estigma, processo através do qual as plantas se reproduzem. Cerca de 75% dos alimentos consumidos pelo homem dependem direta ou indiretamente de plantas polinizadas ou beneficiadas pela polinização animal. Apesar de sua importância para a preservação da natureza, para a agricultura e a produção de alimentos, apenas 22% dos brasileiros sabem do que se trata. De acordo com a pesquisa do Ibope, encomendada pelos dirigentes do projeto Polinizadores do Brasil, coordenado pelo Funbio – Fundo Brasileiro para a Biodiversidade e pelo Ministério do Meio Ambiente, somente 8% dos entrevistados responderam corretamente e outros, parcialmente ou não souberam responder - 43% disseram, por exemplo,

que a polinização ocorre a partir da ação de animais, sem especificar, contudo, a “ação”. Poucos citaram outros meios de polinização, como ar e água, ou espécies vegetais capazes de se autopolinizar. Das quase 310 mil espécies de plantas conhecidas atualmente, 87% delas dependem, em algum grau, de polinizadores animais: abelhas, aves, morcegos, mamíferos não voadores, répteis, moscas e besouros, entre outros. A transferência dos grãos de pólen para a parte feminina da flor pode ser feita, inclusive, pelo próprio homem. Os agentes mais eficientes – fundamentais na agricultura – são as abelhas. Entre as 57 espécies de plantas mais cultivadas em todo o mundo, 42% delas dependem delas para a polinização. Segundo a secretária-geral do Funbio, Rosa Lemos de Sá, o projeto Polinizadores do Brasil é a maior iniciativa já realizada no país sobre o assunto, um amplo trabalho de pesquisa e análise de da-

Viviane C Pires

Nota zero para a maioria

dos envolvendo quase 60 bolsistas de 18 instituições em quinze estados brasileiros entre 2010 e 2015. “É parte de um esforço global para entender, conhecer e reconhecer o papel dos agentes polinizadores na produção agrícola, cujo serviço prestado mundialmente é estimado em US$ 350 bilhões”.

Mapeamento

Visita à Amazônia Legal

A

Embrapa lançou no mês passado o Siageo – Sistema Interativo de Análise Geoespacial da Amazônia Legal, uma ampla base de dados acessível via internet sobre os solos, clima, relevo, vegetação, aptidões agronômicas, zoneamento agrícola, informações socioeconômicas, aspectos legais, institucionais e outros itens relacionados à região - um imenso território com 5.217.423 km² de área, abrangendo os estados do Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins, parte do Maranhão (oeste) e do Mato Grosso (norte). O sistema reúne de forma sistematizada as informações geoespaciais utilizadas e produzi20 | Agro DBO – novembro 2015

das nas diversas iniciativas de zoneamento econômico-ecológico dos estados que compõem a Amazônia legal. Através dele, é possível tabular informações, visualizar mapas georreferenciados, de acordo com o interesse e a necessidade do usuário, e baixá-los gratuitamente. Os dados cobrem 650 camadas temáticas, cada uma das quais com informações específicas (geologia ou áreas indígenas, por exemplo). Qualquer pessoa pode se cadastrar no Siageo (www. amazonia.cnptia.embrapa.br), realizar consultas espaciais e obter relatórios sobre o tema escolhido. Um agricultor pode, por exemplo, identificar as interseções de sua proprie-

dade em relação às vizinhas, avaliar a cobertura vegetal ou o solo em áreas de interesse ou saber a que distância se localiza determinada terra indígena ou unidade de conservação. Um agente de crédito rural pode levantar as condições gerais da propriedade de seu cliente, auxiliando-o na tomada de decisão sobre o que fazer. São inúmeras as possibilidades.


Notícias da Terra Futuro

Brasil lança complexo de laboratórios tecnológicos e se torna referência em biotecnologia de cana O milho, o algodão e a soja modificados geneticamente são responsáveis por melhorias na produção de alimentos em todo o mundo há mais de duas décadas. A partir agora, o Brasil vai trazer esses benefícios também para o setor sucroenergético e será pioneiro mundial da nova tecnologia. Com a presença da presidenta Dilma Rousseff, o Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) inaugurou seu novo Complexo de Laboratórios de Tecnologia, em Piracicaba (SP), em outubro último. Os laboratórios são dedicados à busca por inovações em cana-de-açúcar, incluindo variedades de cana geneticamente melhoradas, sementes artificiais e marcadores moleculares. Segundo o presidente do Conselho de Administração do CTC, Luís Roberto Pogetti, essa é uma transição

do “mundo antigo para o mundo moderno do desenvolvimento”. “Existe uma avenida enorme para ser explorada na cana-de-açúcar. A biotecnologia é o passaporte para isso, para avançar do mundo tradicional para a transformação genética, que é a tecnologia do futuro, e esse laboratório vai viabilizar a passagem para um mundo mais moderno”, comentou. O Brasil vai ser pioneiro na área de biotecnologia para cana-de-açúcar. O presidente do CTC, Gustavo Leite, ressaltou que o produto, 100% nacional, precisa ser valorizado pelos brasileiros. “Empresas multinacionais não vão olhar para a cana, se nós brasileiros não fizermos nada pela cana, a gente perderia uma oportunidade de ouro porque ela tem potencial incomparável”, mencionou.

Mudança

Monsanto encerra operações em cana-de-açúcar “O encerramento da unidade de negócios CanaVialis decorre da nossa decisão de focar em negócios como sementes, proteção de cultivos, biológicos e agricultura digital, nos quais estamos investindo US$ 150 milhões no Brasil em 2015”, diz nota de Rodrigo Santos, presidente da Monsanto do Brasil. “Cerca de 150 funcionários serão afetados, mas estamos buscando oportunidades de transferência para outros negócios para o maior número possível desses funcionários. Quanto às nossas tecnologias, vamos prospectar

entidades públicas de pesquisa para discutir possíveis transferências tecnológicas, de modo a permitir que os progressos que obtivemos continuem contribuindo para a cadeia da cana-de-açúcar no Brasil. Nós acreditamos fortemente no potencial da agricultura brasileira, que representa nossa segunda maior operação mundial, atrás apenas dos Estados Unidos. Depois de mais de 50 anos no Brasil, a Monsanto continua comprometida em trazer novas soluções para contribuir com o sucesso dos agricultores brasileiros”, informa Santos. novembro 2015 – Agro DBO | 21


Notícias da Terra Bioestimulantes

Tradecorp do Brasil anuncia novo diretor geral O engenheiro agrônomo Hilton José Salomão Santos acaba de assumir a diretoria geral da Tradecorp do Brasil. Formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o profissional atuou 14 anos na área de pesquisas e negócios com fertilizantes foliares, biorreguladores e produtos biológicos. Hilton Salomão, como é mais conhecido, tem grande experiência no gerenciamento e desenvolvimento de projetos agrícolas em diversas culturas. No setor, trabalhou também com gestão de pessoas e como gerente comercial, atuando em grande parte do país, principalmente nas regiões Nordeste, Sudeste e Sul. O engenheiro agrônomo é especialista em Nutrição de Plantas pela Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq-USP). Além disso, fez especialização em Irrigação, em uma instituição de Israel. Salomão também é diretor de Meio Ambiente da Associação Brasileira das Indústrias de Nutrição Vegetal (Abisolo), que reúne a maioria das empresas que atuam no mercado de Nutrição foliar.

Revendas

Andav comemora A Andav – Associação Nacional dos Distribuidores de Insumos Agrícolas e Veterinários comemorou em 18 de outubro último 25 anos de atuação como elo entre a indústria e o produtor rural, participando de muitas transformações do agronegócio brasileiro: “Na década de 90 mobilizamos o distribuidor sobre a importância da união em torno de uma representatividade política e de organização do setor. Somente o associativismo poderia fazer isso, unir regiões do amplo território nacional em torno de um objetivo comum”, analisa Henrique Mazotini, presidente executivo da Andav.

Aniversário

LS Tractor celebra dois anos de Brasil A comemoração de aniversário de dois anos da fábrica brasileira da LS Mtron, empresa do 22 | Agro DBO – novembro 2015

grupo sul-coreano LS, fabricante dos tratores LS Tractor, que aconteceu no dia 10 de outubro,

teve um motivo especial para a empresa: a consolidação da marca no mercado brasileiro, muito antes do planejado. De um projeto estruturado para começar em apenas quatro estados nas regiões Sudeste e Sul e 12 concessionários, e que tinha como objetivo chegar a boa parte do Brasil em 2017, para a realidade que é hoje de estar presente em 14 estados brasileiros com 44 lojas entre concessionárias e filiais, a conquista dos objetivos foi extremamente rápida.


Política

O “Desafio 2050” continua Os 10 Heróis da Revolução Verde no Brasil foram homenageados no Fórum Inovação, Agricultura e Alimentos para o Futuro Sustentável

N

este ano, o Projeto “Desafio 2050”, que aconteceu dia 13 de outubro, no Senado Federal, homenageou as personalidades que ajudam a posicionar o Brasil entre os países da elite global em produção de alimentos. “A Revolução Verde proporcionou tecnologias que atingem maior eficiência na produção agrícola, e, nos últimos anos, o Brasil se transformou de importador em um dos maiores exportadores de alimentos, preservando suas florestas nativas. Essa justa homenagem mostra os heróis que participaram dessa grande conquista”, comenta Eduardo Daher, diretor-executivo da ANDEF. O Projeto “Desafio 2050” é parte do Fórum Inovação, Agricultura e Alimentos para o Futuro Sustentável, iniciativa da Andef, FAO, Embrapa e Abag. Segundo a FAO-ONU, o Brasil tem um grande desafio: produzir alimentos para 9 bilhões de pessoas até 2050. Teremos uma China a mais. E, ao mesmo tempo, manter a preservação de nossas florestas. A seguir os 10 homenageados da Revolução Verde no Brasil, em 2015:

Alberto Duque Portugal Doutor em Sistemas Agrícolas pela University of Reading, na Inglaterra, ingressou na Embrapa em 1987, passou por diversas áreas até assumir a presidência da instituição, entre 1995 e 2003. Aroldo Galassini O engenheiro agrônomo catarinense foi um dos pioneiros nos estudos de melhoramento de trigo em Campo Mourão, como pesquisador da Emater-PR, nos anos 1960. Desde 1975, preside a Coamo, referência em cooperativismo no Brasil. Carlos Clemente Cerri Professor do Centro de Energia Nuclear na Agricultura da USP, publicou mais de 180 artigos científicos e coordenou 60 projetos de pesquisa no Brasil e no exterior. Geraldo Sant’Ana de Camargo Barros Doutor em Economia pela North Carolina State University, dos EUA, é professor da Esalq-USP e coordenador científico do Cepea. Destacou-se pelas pesquisas macroeconômicas no agronegócio. Heitor Cantarella Ph.D. em Fertilidade de Solos pela Universidade de Iowa, nos EUA, engenheiro agrônomo, é um dos

maiores especialistas brasileiros em nutrição de plantas e uso eficiente de fertilizantes; pesquisador do Instituto Agronômico de Campinas (IAC). Lourival Carmo Monaco Mestre em Ciências e Doutor em Filosofia pela University of California, EUA, engenheiro agrônomo e citricultor, foi Diretor-Geral do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), Presidente da Academia de Ciências de São Paulo e Secretário de Tecnologia Industrial do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. Desde 2008, preside o Fundecitrus. Luiz Otávio Campos da Silva Doutor em Genética e Melhoramento pela Universidade Federal de Viçosa, com Pós-Doutorado na Universidade da Geórgia, nos EUA, é pesquisador da Embrapa Gado de Corte desde 1982. Mauro de Rezende Lopes Pós-Doutor pelo Centre D’ Études de La Négociation Internationale, na Suíça, e Ph.D. em Economia Agrícola pela Purdue University, EUA, é professor da FGV e Coordenador de Projetos do IBRE. Ruy de Araújo Caldas Professor de Ciências Genômicas e Biotecnologia da Universidade Católica de Brasília, é Mestre em Nutrição Mineral de Plantas pela Esalq-USP e Doutor em Bioquímica Vegetal pela Ohio State University, EUA. Teresa Losada Valle Pesquisadora do Instituto Agronômico de Campinas (IAC) desde 1983, é Doutora em Genética e Melhoramento de Plantas pela Esalq-USP e dedica-se às pesquisas relacionadas a variedades de mandioca com maior teor de vitamina. novembro 2015 – Agro DBO | 23


Capa

Sai ano, entra ano...

Mais uma vez, a estiagem atrasou a semeadura da safra de verĂŁo no Centro-Oeste, comprometendo o planejamento para a safrinha.

Fernando Bueno/Pulsar Imagens

Marianna Peres

20 | Agro DBO – agosto 24 novembro 2015 2015


S

e o presidente da Aprosoja-MT, Ricardo Tomczyk, e o produtor mato-grossense Emerson Zancanaro fossem descendentes de franceses, e não de italianos ou poloneses, talvez considerassem a safra 2015/16 de grãos um déjà vu – parece que é igual, mas não é exatamente a mesma a coisa. Parece que já vi isso e aquilo, mas não tenho tanta certeza assim. A exemplo do que aconteceu em 2014, não choveu o suficiente até meados de outubro no estado, maior produtor de grãos e fibras do Brasil, o que atrasou o início da semeadura. E tal qual ocorreu no início da temporada passada, o tempo seco deixou os agricultores de mãos e plantadeiras atadas, preocupados com a possibilidade de a estiagem se prolongar demais, comprometendo a própria safra de verão e a safrinha – grosso modo, a maioria dos produtores rurais do Mato Grosso planta milho e, em menor escala, algodão em sucessão à soja, a cultura mais importante. Tomczyk, porém, faz uma ressalva: “Os problemas da safra não se restringem ao clima e ao “repeteco” da possibilidade de estrei-

tamento de janela para a segunda safra. De fato o ciclo começou complicado em relação ao clima, mas nesse ano nossos problemas vão além: temos custo elevado, crédito escasso e volatilidade do câmbio, além da incerteza climática. É uma combinação muito perigosa, pois volatilidade é igual a risco. É um veneno!”. No Centro-Oeste, a tomada de decisão sobre a safrinha ocorre agora, antes do fechamento do ano. A projeção para segunda safra do cereal no Mato Grosso é de 20,4 milhões de toneladas, 3,7% a menos em relação à temporada anterior, mesmo com avanço de 2,7% na área plantada, que deve atingir 3,4 milhões de hectares, conforme levantamento a campo do Imea – Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária. No que diz respeito à safra nacional, a Conab prevê produção de 83,6 milhões de toneladas, considerando ambas as safras – em seu último levantamento, apontou redução na primeira e não fez projeções quanto à segunda. Somando as duas safras, Mato Grosso participará com um quarto da produção brasileira de milho nesta

novembro 2015 – Agro DBO | 25


Capa soja, temos janela restrita para o milho, e cada vez mais apertada. Não sabemos se vamos conseguir plantar no tempo certo. Por causa das chuvas excessivas no momento da colheita, colhi muito milho avariado este ano, ou estragado”, disse, admitindo, contudo, uma certeza: se reduzir sua área de milho, vai cobrir o restante antes ocupado pelo cereal com milheto, crotalária e capim sudão (silagem para vaca leiteira na região sul do país). Eventualmente, talvez deixe algumas áreas em pousio, para descanso e recuperação do solo.

temporada. Parte dele virá da fazenda de Zancanaro, produtor em Nova Mutum, 269 quilômetros ao norte de Cuiabá. Ele costuma plantar 1,7 mil hectares de soja e, sobre ela, 1,2 mil hectares de milho safrinha. “Tenho adubo para cobrir toda a área prevista para milho, mas, diante da incerteza climática, hoje (meados de outubro) eu cobriria apenas 800 hectares com o cereal. Estou revendo meu planejamento inicial, que era o de manter 70% da área com milho depois da soja verão”. Como explicou à Agro DBO, ele precisava comprar sementes e defensivos para a safrinha e estava em dúvida sobre o que fazer. “Novamente este ano, por conta do atraso com a

Zancanaro examina área de soja antes coberta por algodoeiros: “O mercado e o clima é que me dirão o que fazer”.

Safrinha abortada Além do Mato Grosso, outras regiões produtoras do país sofreram com a estiagem. Em Goiás, as condições climáticas foram mais severas. Tanto que o produtor Afonso Cairo, do município de Edéia, próximo de Jataí e Rio Verde, reviu seu planejamento e abortou a ideia de cultivar milho como opção de segunda safra. Conforme relato à Agro DBO, ele chegou ao dia 20 de outubro sem semear um hectare de soja devido à falta de umidade no solo. “No ano passado, no dia 19 de outubro eu já tinha 500 hectares de soja plantados, ou seja, minha área de safrinha de milho estava garantida. O que temos até esse momento é uma temperatura de 41º C e previsão de chuvas somente para o início de novembro”. Cairo pretende substituir o milho pelo sorgo. “Dos 1,8 mil hectares de soja, 500 seriam para o milho safrinha e o restante ao sorgo. Agora, será só sorgo, porque o El Niño atrasou tudo. Em Juranda, no Paraná, o produtor Wilian Rebechi reconhecia evolução no preço do milho, mas não o suficiente para animá-lo a investir mais na cultura..

26 | Agro DBO – novembro 2015

Apostas no câmbio Apesar do desalento, Emerson Zancanaro mantinha esperança na manutenção do dólar em patamares favoráveis às vendas e nas negociações no mercado futuro, algo impensável no ano passado, em se tratando de milho. Neste ano, pouco tempo depois do início do plantio do grão, quase 45% da produção de milho já fora comercializada no mercado futuro – a valorização da moeda americana ante à brasileira incrementou os negócios a termo com soja nos mercados local e nacional, levando de carona o milho. Ele conta que travou 10 mil das 96 sacas mil sacas que pretende colher (considerando, no caso, 800 hectares plantadas) a R$ 17. “Para abrir o mercado de milho, foi um bom preço há quatro meses. Hoje, a saca está por volta de 17,50. Acredito que, com os problemas no Sul do Brasil (choveu demais no Rio Grande do Sul em em me“Meu medo é plantar muito milho agora e na hora de vender, o preço cair. Por isso, não abro mão da soja verão. Tem época que não tem mercado ao milho. Para soja sempre tem”. Até meados de outubro, ele já tinha semeado 98% dos 680 hectares de soja, na expectativa de cobrir 150 deles com milho safrinha a partir de 20 de janeiro próximo. No Paraná, como explica o presidente da Aprosoja/PR, Zezé Sismeiro, há muito tempo a safra verão vem sendo dominada pela soja, cultura de maior

A proibição da soja safrinha no Paraná não abrirá muito espaço para o milho, porque a área cultivada no estado é pequena.


Em muitos casos, o ganho que o produtor imaginava ter com o aumento no preço do milho foi anulado pela alta nos custos.

nor escalas, em Santa Catarina e Paraná), no Centro-Oeste, no Matopiba (a região também foi afetada pela estiagem) e até da Argentina (chuvas intensas), o milho venha a ganhar melhores ofertas. O mercado e o clima é quem vão me dizer o que vou fazer”. Sobre a soja, ele tem uma preocupação a mais, pois captou recursos em dólar e espera também boas oportunidades para trava. “Essa safra requer cálculo fiel e coerente do custo para a gente pagar as contas e obter lucro. O dólar favoreceu, sim, os negócios, mas no fundo deixou rentabilidade e liquidez. “Milho em primeira safra é quase inexistente. É cultura de segunda época, assim como o trigo. Temos uma demanda estabelecida para o milho safrinha, muitas granjas e projetos de integração, além do que é destinado à exportação”. Segundo o analista Edmar Wardensk Gervásio, do Deral, a área de milho verão no estado vem perdendo espaço para a soja desde 2001 e, de forma mais acentuada, a partir de 2007, quando a segunda safra superou a primeira em tamanho. Cerca de 100 mil hectares de milho foram convertidos para a soja e, em menor proporção, feijão ou forrageiras. Em relação à safrinha, é provável que tenha incremento de área, mas não significativo. No início de outubro, a Adapar – Agência de Defesa Agropecuária do Paraná proibiu a safrinha de soja, a exemplo do que fizeram os estados de Mato Grosso e Goiás. Como a medida só vale para a próxima temporada, alguns produtores ainda devem cultivar a soja na segunda época, na temporada em curso. De qualquer forma, não fará muita diferença no total nacional, pois a área ocupada pela soja safrinha no estado é pequena: cerca de 130 mil a 140 mil hectares.

Máquinas cobertas em fazenda do Mato Grosso, à espera das primeiras chuvas.

o produtor entre a cruz e a espada. A fatura virá para gente pagar e não será barata”, alerta. Como destaca Tomczyk, a conta requer mesmo muita atenção, “porque o custo está alto, os insumos ao cereal foram atingidos em cheio pelo dólar mais valorizado”. Em sua opinião, a competitividade que o produtor imaginava ter com o aumento no preço do cereal foi anulada pela alta do custo de produção – no caso do milho, subiu quase que na mesma proporção do ganho no preço da saca. Quem decidir comprar todos os insumos para a safrinha agora pode ter desembolso maior, ou seja, prejuízo. “Agora é que são elas”. O presidente da Aprosoja-MT lembra que no ano passado se desenhou uma safra perigosa, de baixa rentabilidade, mas no final do ano o câmbio reagiu e os preços internacionais só começaram a cair no período de colheita, quando boa parte da safra estava travada. “Além disso, o clima melhorou e, no final das contas, deu tudo certo. O câmbio acabou trazendo oxigênio aos produtores: saiu de R$ 2,2 para R$ 2,80 e, ao chegar a R$ 3, todo mundo respirou. Nesse ano estamos entrando na safra com o câmbio perto de R$ 4. Se for a R$ 5, ótimo; se voltar a R$ 3, haverá problemas. O câmbio traz situações muito diversas. Tem produtor em situação confortável, outros estão totalmente inviabilizados”. Na avaliação de Tomczyk, quem comprou insumos com o dólar até R$ 2,70 e está vendendo a soja por um valor ao redor de R$ 4, com certeza conseguirá renda acima de mil reais por hectare. Os que estão comprando ou compraram insumos com dólar alto e estão fixando a produção no mesmo patamar, se trabalharem certinho, vão empatar. “Fora disso, será difícil ter margem”, avalia. “Se houver clima normal, será uma safra de menor rentabilidade. Se houver problemas no clima, será desastrosa. Tem que dar tudo certo para ficar mais ou menos. Se houver uma inversão do câmbio e problemas de clima será problema na certa. Safra perigosa, porque, como já disse, a volatilidade é veneno”. novembro 2015 – Agro DBO | 27


Capa Até o ano passado, nas dez últimas safras, o produtor tinha semeado sete safras com o câmbio maior e vendido a produção com o câmbio menor. Ou seja, contabilizou prejuízo cambial em sete dos dez ciclos. Na safra passada foi o inverso. Plantou com câmbio menor e colheu com câmbio maior. “O que aconteceu nas outras sete é que a cotação estava muito boa; nós chegamos a trabalhar aqui em alguns anos com a saca a US$ 25, US$ 26. Agora, está a US$ 15. Se não houver uma compensação cambial, vamos trabalhar no vermelho”. Comparativamente, o cenário atual é muito mais difícil, na opinião do presidente da Aprosoja-MT. “Na safra 2014/15, não tínhamos essa volatilidade de câmbio. Agora, as vendas ocorrem mais em reais do que em dólar. O planejamento da segunda safra está cada vez mais atrelado ao que acontece com a soja. Tudo o que ocorre de bom ou de ruim na semeadura da soja se reflete na safrinha do milho. Não tem como desassociar uma cultura da outra”, compara, citando como exemplo a queda inesperada no preço de alguns fertilizantes, como o cloreto de potássio (de US$ 500 por tonelada para US$ 360 em questão de 30 dias), reflexo da baixa demanda da soja. No caso da soja, a queda não beneficiou os produtores rurais porque ocorreu tarde demais: o plantio da oleaginosa já estava em curso e a maioria dos agricultores já tinha comprado os insumos necessários, de acordo com a estratégia de cada um. Por hipótese, poderia ajudá-los a reduzir os custos da safrinha de milho, mas não havia como calcular quanto precisariam ou gostariam de investir – em meados de ou-

Nas últimas safras, o podutor semeou com câmbio maior e vendeu com câmbio menor. No ciclo 2014/15, ocorreu o inverso.

tubro, boa parte deles enfrentava problemas de custeio: aguardavam a liberação de crédito por parte do Banco do Brasil, principal agente financiador. “Estamos vivendo uma situação extremamente desconfortável, com produtores sem acesso ao crédito e dinheiro sobrando nas agências”, disse Tomczyk, estranhando a aparente rigidez na liberação dos recursos. Segundo ele, até quem toma crédito habitualmente e honra os compromissos assumidos com a instituição não consegue acessar, por exemplo, o custeio extra-teto, acima de R$ 1,2 milhão, o que era possível até o ano passado. “Quem tem crédito hoje não consegue tomar o que precisa. Só pega o limite e isso fez sobrar dinheiro

Muita atenção ao manejo Como destaca a engenheira agrônoma Luana Belufi, da Fundação Rio Verde, de Lucas do Rio Verde (MT), a distribuição irregular e o baixo volume de chuvas no início de safra no Centro-Oeste ocasionou, além do atraso na semeadura, estresse hídrico onde houve plantio. “Resultados de pesquisas apontam que, para o máximo potencial produtivo da cultura da soja em Mato Grosso, as lavouras devem ser semeadas até o início de novembro, com melhores resultados para aquelas que forem cultivadas até o mês de outubro”. Semeaduras em condições inadequadas de umidade resultam em problemas na emergência e podem resultar na perda do estande de plantas ideal da lavoura. “A falta de chuvas e altas temperaturas, como as observadas em setembro e outubro, favorecem o desenvolvimento de pragas. O ciclo de vida de-

28 | Agro DBO – novembro 2015

las fica mais curto, aumentando a agressividade e o ataque de percevejos, pragas de solo e lagartas”. Ela recomenda uma boa semeadura para garantir um arranque inicial (plantas protegidas e com alto vigor). “O produtor deve ficar atento para entrar com controle de pragas e doenças no momento ideal (no caso de pragas, o controle deve ser específico e no mo-

mento que atingir nível de dano econômico) e o manejo de doenças deverá ser preventivo, de acordo com o histórico da área e região”. Luana ressalta que o plantio dentro de uma janela apertada poderá resultar em maior pressão de pragas e doenças um estádio vegetativo muito similar entre as diversas áreas semeadas dentro desta janela “apertada”. Nas semeaduras tardias, como explica a engenheira agrônoma, as lavouras possuem baixo potencial produtivo em relação aos patamares de produtividade obtidas nas semeaduras realizadas até 25 de fevereiro para a cultura do milho. “Com baixa produtividade média e alto custo de produção, devido à elevação do dólar, o saldo ao produtor poderá ser negativo. Será preciso ficar atento às condições climáticas e de mercado de milho para não errar”.


“O cenário para o dólar exige que o produtor tenha certeza de que as travas vão cobrir os custos e garantir as margens esperadas”.

no banco. O banco assume que está sobrando recursos. Algum problema tem, porque o produtor reclama que não acessa e o banco diz que sobra. Numa ponta falta e na outra sobra?”. Procurada pela Agro DBO, a superintendência regional do Banco do Brasil informou por meio de sua assessoria que, até outubro deste ano, liberou R$ R$ 1,46 bilhão em crédito agrícola. No mesmo período do ano passado, o valor liberado foi de R$ 1,40 bilhão. Contexto incerto O analista da cadeia de grãos do Imea – Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária, Ângelo Ozelame, frisa que, até o presente momento, o cenário ao milho é de grande risco, mesmo com os ganhos sobre a cotação da saca, seja no mercado futuro, quanto no disponível. “Até mesmo por conta do fator climático, o produtor não pode comercializar muito. Se ele vender bem agora e na hora de fechar a conta dos insumos os valores caírem, aí, sim, a história se inverterá em favor do produtor. Mas até agora o que vemos é essa grande flutuação de moeda, contexto político e econômico nacional incerto e crédito escasso”. Conforme dados do Imea, a saca do cereal variou positivamente 40% em um ano, considerando a média de Sorriso (MT) no disponível no dia 16/10/2015 ante 16/10/2014, quando a cotação foi de R$ 17,60 contra R$ 12,60, ou seja, incremento de R$ 5. O Imea apresentou em 2015 nove levantamentos relativos aos custos de produção do milho no estado para a safra 2015/16, no qual o dólar passou de uma média de R$ 2,63 para R$ 3,91, alta acumulada no ano de quase 49%. Nesse inter-

Até outubro, 40% da safrinha de milho já fora negociada no mercado futuro e muitos produtores nem tinham comprado os insumos.

valo, o custo de produção para o milho de alta tecnologia, por exemplo, que é aquele que vai fazer a diferença na produtividade, passou de média estimada de R$ 2,30 mil/ha no levantamento de janeiro para R$ 2,76 mil/ha em setembro, alta em real de 20%. Com a valorização da moeda norte-americana, as cotações internas se fortaleceram, beneficiando a comercialização, principalmente da próxima temporada. Em Mato Grosso, as vendas da safra 2015/16 somavam, até o início da segunda quinzena de outubro, 8,9 milhões de toneladas, 44,8% da produção futura. “Entretanto, cabe ressaltar que grande parte dos insumos para a safrinha ainda nem foi adquirida, e com mais de 40% da sua produção futura já negociada, os riscos aumentam consideravelmente, já que o dólar pode pesar mais forte nos custos. Dito isso, o cenário que vem se construindo para o dólar exige que o produtor redobre as atenções quanto às decisões para ter a certeza de que realmente as travas vão pagar os custos e garantir margens”, diz Ozelame. O diretor técnico da Aprosoja/MT, Nery Ribas, destaca que para quem quer fazer a safrinha, o tempo é inimigo e aliado ao mesmo tempo. “Nos últimos anos, as chuvas têm se estendido até maio e junho e contribuído muito para as lavouras de milho. No ano passado, mesmo com todo atraso ocorrido na semeadura da soja, essa dilatação do período chuvoso compensou o atraso e o que vimos foi uma bela safrinha, com recorde de produtividade, mais de 106 sacas/ha de média, mas não dá para contar com isso. Chuvas até maio em Mato Grosso não são normais e o produtor não pode fazer um investi mento em lavoura contando com isso”. novembro 2015 – Agro DBO | 29


Logística

Transporte mais caro Não bastassem os custos habituais, os agricultores do Centro-Oeste passaram a contabilizar mais um: a cobrança de pedágio na BR-163. Ariosto Mesquita

Praça de pedágio em Jaraguari, no Mato Grosso do Sul. O trânsito e as contas vão crescer mesmo a partir de janeiro próximo..

A

s 18 praças de pedágio instaladas ao longo dos 1.697 quilômetros que separam Mundo Novo (MS) de Sinop (MT) foram ativadas em setembro, mas o custo vai pesar mais a partir de janeiro, com o início da colheita da safra 2015/16 de grãos. A conta virá explícitada no custo do transporte e, na maioria dos casos, descontada no preço a receber pela sacas entregues. A BR-163 é uma das principais artérias de escoamento da produção agrícola brasileira. Segundo estimativas, pelo menos 30% da safra nacional de grãos (sobretudo soja e milho), algo em torno de 54 milhões de toneladas, transitam por ela. Só do Mato Grosso são 34 milhões, correspon-

30 | Agro DBO – novembro 2015

dentes a 70% da produção da safra 2014/15 de milho e soja. No Mato Grosso do Sul, as obras de manutenção, recuperação e duplicação dos 847 quilômetros correspondentes à extensão da rodovia no estado e a exploração econômica dos postos de pedágio estão a cargo da concessionária CCR MS, a mesma que opera, entre outras, a Via Dutra (Rio-São Paulo) e a ponte Rio-Niterói, no Rio de Janeiro. No Mato Grosso, a concessão para a Rota do Oeste (empresa da Odebrecht Rodovias) engloba o trecho de 850 quilômetros que vai de Itiquira, na divisa com o Mato Grosso do Sul, até o município de Sinop, no médio norte mato-grossense. Para cruzar toda a extensão da rodovia sob concessão nos dois

estados, o responsável por uma carreta bitrem de sete eixos tem que desembolsar R$ 654,50 – R$ 269,50 no Mato Grosso e R$ 385 no Mato Grosso do Sul – só em tarifas. A cobrança nas praças é feita nos dois sentidos. Uma transportadora levando soja colhida em Sinop para o porto de Paranaguá (PR), por exemplo, pagaria R$ 1.309 se passasse por Mundo Novo (fora os custos adicionais nas demais rodovias de acesso ao porto paranaense. O analista de grãos Leonardo Carlotto, da Famasul – Federação da Agricultura do Mato Grosso do Sul, acredita que o custo será amortizado com o passar do tempo, quando as obras de duplicação forem concluídas e as condições de tráfego melhoradas. “Assim, as


viagens serão mais rápidas e seguras com redução nas despesas com manutenção de veículos, troca de peças e uso de combustíveis”. No curto prazo, porém, a cobrança de pedágio deve impactar o custo do frete em pelo menos 10%, segundo ele (até setembro, a duplicação da BR-163 nos dois estados não chegava a 15%). Carlotto tomou como exemplo o trechode 479 km entre Campo Grande e Mundo Novo, na divisa com o Paraná. “Tendo como base uma tarifa média de R$ 5,50 por eixo, um bitrem de sete eixos terá de desembolsar R$ 192,50, considerando as cinco praças de cobrança existentes. Supondo transportar uma carga máxima de 37 toneladas com um preço médio de R$ 0,13 por km rodado, o valor do frete até agosto deste ano ficava na casa de R$ 2.300. Portanto, quase R$ 200 a mais é um valor considerável”. De acordo com o analista, o preço de insumos também será impactado. “Por enquanto, o agricultor não gritou, pois ainda vive uma falsa ideia de lucro com a alta dos preços das commodities. Mas o que subiu foi o dólar em relação ao real e não o preço da saca na bolsa”, a. No Mato Grosso do Sul, o preço da saca

Para escapar do pedágio, muitos motoristas vêm buscando opções de trajeto, incluindo alguns trechos de estradas vicinais.

de 60 kg de soja subiu de R$ 55,10 em janeiro deste ano para R$ 73,17 na primeira quinzena de outubro, um aumento de 33%. Enquanto isso, o dólar pulou de R$ 2,62 (em 19/1) para R$ 3,90 (em 19/10), uma valorização de 49% no período. Soluções improvisadas Independente do impacto real no frete, muita gente vêm tentando fugir ao pedágio. Algumas transportadoras estão deslocando os caminhões para uma rota alternativa até o porto de aSantos (SP), entrando pelo noroeste do estado de São Paulo. “Quem desce para Paranaguá, no Paraná, não tem opção me-

lhor do que continuar pela BR-163, mas a partir de Rondonópolis sentimos uma redução entre 15% a 20% do volume de tráfego previsto após o início da cobrança de pedágio”, confirma o diretor de Operações da Rota do Oeste, Fábio Abritta. E este percentual é bastante significativo diante dos números da BR-163 no Mato Grosso. Diariamente circulam 70 mil veículos, sendo 47 mil de transporte de carga. Dos veículos comerciais, 70% transportam soja, milho ou algodão, com predominância de carretas com seis, sete e nove eixos. De acordo com Abritta, metade disso descarrega no terminal ferroviário

Primeira experiência Cortando rodovias pelo Brasil há 27 anos, o caminhoneiro Iduilio Wernke (ao lado, na foto) fez no início de outubro sua primeira viagem pagando pedágio pela BR-163. Saiu de Campo Novo do Parecis, no centro-oeste do Mato Grosso (385 km de, Cuiabá) com 37 toneladas de milho rumo a Cambará, no norte pioneiro paranaense, onde entregaria a carga em uma indústria. No Mato Grosso do Sul parou para dormir próximo a Jaraguari, na boleia do caminhão. Na manhã do dia 2 de outubro, enquanto fazia um café na “cozinha’ improvisada na lateral de sua carreta bitrem de sete eixos, comentava a experiência: “A transportadora separou R$ 702 só para pagar pedágio até o Paraná. Acho que está bem caro. É 10% do valor total do frete, que ficou em aproximadamente R$ 7.000”, conta. Sua remuneração é 11% sobre este último valor. “É muito cansativo percorrer um trecho extenso como esse ao longo de quatro dias e com alimentação ainda por minha conta”, desabafa. “Não sei quem vai, no final das contas, pagar a conta do pedágio, só espero não perder frete por isso”, completa.

novembro 2015 – Agro DBO | 31


Logística A fuga ao pedágio é temporária porque as transportadoras acabam privilegiando as rodovias pedagiadas em função da segurança.

Trecho duplicado da BR-163 nas proximidades de Campo Grande (MS).

de Rondonópolis para escoamento até Santos. Portanto, muita carga permanece nas estradas, incluindo a produção do Mato Grosso do Sul. A alternativa para fugir das praças de cobrança vem sendo utilizar as rodovias BR-364, MS-306 e BR158 até a divisa do Mato Grosso do Sul com São Paulo. Dai em diante segue-se em pista dupla até Santos. O grande atrativo para os mato-grossenses, considerando as rotas alternativas, é percorrer 881 km entre Rondonópolis e São José do Rio Preto (SP) sem pagar um único pedágio. “É natural que em um primeiro momento alguns veículos comerciais façam opção em sair por outras vias, mas isso pode gerar sérios problemas no pavimento de estradas que não estão preparadas para receber tal volume de carga, com prejuízos para as empresas de transporte. Mas isso vai se alterando com o tempo. Hoje, no estado de São Paulo, as próprias transportadoras privilegiam as rodovias pedagiadas em função da segurança”, alerta Abritta. Este tráfego desviado pegou de surpresa algumas cidades ao longo do trajeto. A pequena

32 | Agro DBO – novembro 2015

Aparecida do Taboado, de 24,4 mil habitantes, por exemplo, viu crescerem as filas de carretas na área urbana da cidade porque o anel viário que circunda a cidade ainda não foi concluído. Na ponte rodoferroviária que cruza o rio Paraná, dando acesso a São Paulo, as cargas graneleiras passaram a ser maioria. O diretor do departamento de trânsito do município, Sebastião Queiroz, não tem uma estatística sobre o fluxo, mas garante que aumentou muito este ano. Acidentes, segundo ele, não faltam: “Geralmente acontecem próximo ao acesso da ponte com as cargas graneleiras, quase sempre originadas em Goiás, Mato Grosso do Sul ou Mato Grosso, que acabam espalhadas pela pista”. Redução de acidentes A melhoria das condições de tráfego da principal artéria rodoviária de escoamento de grãos no Brasil pode trazer um alento às tradings, transportadoras e motoristas em geral. A expectativa é de que haja uma sensível redução das perdas de cargas ao longo do trajeto, principalmente através da diminui-

ção no número de acidentes, que invariavelmente espalham grãos pela pista. De acordo com levantamento feito pela concessionária Rota do Oeste entre 20/9/2014 e 30/9/2015 ao longo da BR-163 entre Sinop e Itiquira, caminhões e carretas estiveram envolvidos em 59,4% dos acidentes (1.214 registros) sem vítimas e em 77,6% dos acidentes (73 registros) com vítimas fatais. Só não lideram o ranking de acidentes com vítimas não fatais, encabeçado pelas motocicletas (46,5%) e automóveis (39,8%). Este quadro da BR-163 não difere da realidade brasileira – as estatísticas apontam os caminhões de transporte de grãos como protagonistas do maior número de acidentes entre os veículos comerciais em circulação no país. De acordo com estudo divulgado este ano pela empresa Pamcary (de seguros, gerenciamento de riscos e informações logísticas no transporte de cargas), os caminhões graneleiros se acidentam quase três vezes mais do que os demais veículos de cargas. A Rota do Oeste, no entanto, sinaliza com uma mudança gradual do quadro. O último mês de setembro registrou apenas duas mortes na rodovia contra 10 em janeiro deste ano. “A queda foi de mais de 70%”, comemora Abritta. O número de registros ao longo da rodovia ainda é alto. Em 12 meses após a implantação do Serviço de Atendimento ao Usuário (SAU) foram 100 mil ocorrências e uma queda de 127 para 112 no número de vítimas fatais. No Mato Grosso do Sul, a CCR MS VIA recuperou mais de 500 km da BR-163 entre abril de 2014 e setembro deste ano. De outubro de 2014 a setembro de 2015 foram 110 mil atendimentos pelo SAU. De abril de 2014 a agosto de 2015 a empresa garante ter reduzido em 50% o número de acidentes.



Artigo

Tratamento de sementes: como está e como deve ser. O autor faz contribuições relevantes e necessárias para a construção de um marco regulatório adicional para sementes tratadas. José Otavio Menten *

T

* O autor é Diretor Financeiro do Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS), Eng. Agrônomo, Mestre e Doutor em Agronomia, Pós-Doutorados em Manejo de Pragas e Biotecnologia, Professor Associado da Esalq/USP.

ratamento industrial de sementes (TSI) é a evolução do tratamento on farm, realizado pelo agricultor, geralmente antes da semeadura. É o processo realizado em Centros de Tratamentos de Sementes (CTS) ou Unidades de Beneficiamento de Sementes (UBS), em escala industrial, que utiliza equipamentos adequados, produtos eficientes e é executado por profissionais especializados. Este procedimento contribui para o aprimoramento do tratamento, protegendo a saúde dos aplicadores e o ambiente, e disponibiliza sementes com a adesão adequada dos produtos incorporados. Considera-se que apresenta avanços em qualidade e segurança. Estes avanços acompanharam o aumento da utilização de sementes tratadas pelos agricultores no Brasil. Atualmente, a utilização de sementes tratadas é muito frequente em milho, soja, algodão, cereais, feijão, hortaliças etc. Trata-se de uma das tecnologias que mais avançou nos últimos anos, contribuindo para o aumento dos rendimentos na produção de grãos no Brasil. As sementes tratadas em CTS são comuns, graças à percepção dos usuários de suas vantagens, tanto do ponto de vista agronômico, como ambiental e social. O processo vem sendo utilizado por cerca de 100 empresas sementeiras e 150 unidades de tratamento no Brasil.

34 | Agro DBO – novembro 2015

Como procedimento recente, está em evolução e enfrenta desafios; entre estes, destaca-se a necessidade de estimativa da demanda, pois o tratamento é antecipado e sementes tratadas não comercializadas constituem-se em passivo ambiental, exigindo descarte adequado. Por ser tecnologia recente, também há necessidade de serem disponibilizados marcos regulatórios atualizados. As legislações em vigência no Brasil são baseadas em sementes não tratadas. Existem poucas referências a sementes tra-

tadas e/ou revestidas/recobertas, sendo necessário, inclusive, definir claramente os termos para facilitar/uniformizar a comunicação. Há necessidade de consenso sobre entendimentos como peliculização (quando não há alteração da forma e tamanho das sementes) e incrustação e peletização (quando há alterações de intensidades crescentes no tamanho das unidades de semeadura). A manipulação de sementes tratadas é, portanto, cada vez mais comum nos laboratórios de


CAFEICULTURA EM PLENO

O SOLO COM

MAIS VIDA Desenvolvido através de nanotecnologia, é um composto orgânico que nutre os microrganismos benéficos naturalmente presentes no solo e nas plantas, estimulando sua exponencial multiplicação e promovendo melhorias físico-químicas e microbiológicas do solo. Isto significa um ambiente que possibilita o desenvolvimento de plantas mais saudáveis e aptas a expressar a sua melhor produtividade. O MELHOR INVESTIMENTO NO SEU MAIOR PATRIMÔNIO

+55 (41) 3071.9100

RECOMENDADO PARA TODOS OS CULTIVOS

Uma empresa do grupo

fb.com/altaagro www.al ta -b ra sil.c o m América Latina Tecnologia Agrícola


Artigo análise. Os procedimentos adotados atualmente são baseados em experiências com sementes não tratadas. Assim, há necessidade de adequações urgentes, referentes à utilização de luvas nitrílicas, respiradores, viseiras/óculos etc. Os laboratórios devem dispor de eficientes sistemas de exaustão, locais específicos para descarte de materiais contaminados, cuidados especiais na limpeza, incluindo uso de detergentes e reservatórios para água contaminada, locais segregados para armazenamento de amostras de sementes tratadas etc. Os procedimentos de análise de pureza varietal e física e aspectos fisiológicos e sanitários também devem ser ajustados. Todos os procedimentos descritos nas RAS (Regras para Análise de Sementes) são baseados em sementes não tratadas. O preparo das amostras através da utilização de divisores centrífugos ou de solo vai exigir rigorosa limpeza devido à contaminação com produtos diferentes. Dificuldades na visualização das sementes tratadas ou de pelotas, alterações no substrato nos testes de germinação, com a adição de areia ou solo e/ou vermiculita ao papel de germinação,

36 | Agro DBO – novembro 2015

adequações nos testes de primeira contagem da germinação, envelhecimento acelerado, condutividade elétrica, comprimento e massa de plântulas, tetrazólio etc., são necessários. Importante definir se a incubação por três dias adicionais nos testes de sanidade são adequados para detecção de patógenos associados a sementes; deve-se considerar que existem fungicidas que inibem o crescimento micelial, a germinação dos

devem ter destino diferente dos normais: incineração, disposição em aterros apropriados ou fornos de cimenteiras. Existem estudos visando a utilização da compostagem para dar destino adequado a sementes tratadas descartadas nos laboratórios. Existem diversos fatores que interferem na eficiência do tratamento industrial de sementes. Destacam-se as características das sementes (formato, tamanho, pilo-

A legislação vigente no Brasil é baseada em sementes não tratadas, e não inclui TSI. esporos ou a esporulação, portanto com consequências diferentes quando se utilizam testes biológicos ou moleculares/serológicos para detecção e identificação de patógenos. É fundamental lembrar que os testes laboratoriais devem refletir o comportamento das sementes no campo. Atenção especial deve ser dada ao descarte de materiais utilizados nas análises de sementes tratadas e nas sobras de sementes tratadas e das caldas de tratamentos. Os materiais de laboratório que tiveram contato com sementes tratadas

sidade ou cerosidade da superfície, cor etc.), da calda (ingredientes ativos, formulações, concentrações, pH, etc.) e equipamentos (batelada ou fluxo continuo) e suas interações. As sementes tratadas devem ser avaliadas quanto a plantabilidade (porcentagem de falhas e duplas), resistência a abrasão, fluidez, distribuição de ingredientes ativos e liberação de poeira. Os aparelhos para realizar estes testes estão em desenvolvimento e aferição. Há necessidade de definir como os resultados devem ser expressos e interpretados.



Mecanização

Preparando para entrar em campo É hora de fazer a manutenção dos equipamentos de plantio. A preparação e regulagem das plantadeiras é o tema deste artigo. Amílcar Centeno *

A

* O autor é engenheiro agrícola e especialista em máquinas agrícolas.

gora em novembro, você deve estar plantando ou se preparando para iniciar o plantio de suas lavouras. Nesta hora, é muito importante ter a sua plantadeira em condições ótimas de trabalho, bem ajustada e com uma boa manutenção preventiva para evitar paradas desnecessárias durante a operação. O ideal é que você tenha um check list a ser verificado antes do início do plantio e que seja monitorado ao longo do plantio, de preferência diariamente, antes de iniciar os trabalhos. Uma boa lista de revisão deveria incluir os seguintes itens (da frente para trás da plantadeira): - Discos de corte - Transmissões: Correntes/ Rodas dentadas/Esticadores - Embreagens

38 | Agro DBO – novembro 2015

- Mancais: - Dosadores de adubo - Dosadores de sementes - Tubos de queda de sementes: - Braços paralelos - Mecanismos de pressão - Rodas de profundidade Os discos de corte devem estar devidamente “afiados”, sem trincas ou “dentes” que possam fragilizar os discos ou prejudicar o corte da palha e consequente embuchamento dos mecanismos de solo. Os mancais devem ser lubrificados e não apresentar folgas excessivas, permitindo a livre articulação dos suportes. As transmissões devem ter suas correntes revisadas, ajustadas e lubrificadas e as rodas dentadas devem ser examinadas para verificar eventuais quebras de dentes ou desgastes acentuados. O con-

junto deve ter seu alinhamento verificado e ajustado. O bom funcionamento das transmissões é fundamental para garantir a precisão dos mecanismos dosadores de adubo e semente. As embreagens de acionamento dos eixos devem ser examinadas quanto ao desgaste excessivo e ajustadas para que não apresentem patinagem excessiva durante a operação, outro fator que poderia afetar a performance dos mecanismos dosadores. Todos os mancais da plantadeira devem ser lubrificados diariamente e ter seu desgaste e folgas avaliados antes do início do plantio, substituindo aqueles com eventuais defeitos. Este é uma das principais fontes de quebras e paradas prolongadas ao longo da operação.


Os dosadores de adubo devem ser periodicamente verificados para prevenir eventuais entupimentos. Este é um dos itens que provocam paradas mais frequentes ao longo do plantio, principalmente em função da baixa qualidade dos fertilizantes utilizados nas lavouras brasileiras, muitas vezes armazenados a céu aberto e sob a influência do clima. Muitas vezes um entupimento deste mecanismo só é identificado após a emergência das plantas, quando se observa uma diferença visual naqueles trechos em que não se aplicou a dose certa de fertilizantes. Os dosadores de sementes também devem ser examinados quanto a desgastes ou folgas excessivas, componentes danificados, como eliminadores de duplos e raspadores. Alguns fabricantes disponibilizam em seus revendedores bancadas de testes que permitem avaliar a performance e precisão, de modo que se possa eliminar componentes defeituosos e afinar os ajustes de cada dosador individualmente. Esse é um bom procedimento para se realizar na entressafra, para garantir o desempenho dos dosadores durante a operação. Um importante item a ser inspecionado são os tubos de queda de sementes. Tubos danificados podem comprometer o trabalho dos dosadores. Uma falha muito frequente são pequenas rebarbas

junto à saída do tubo, normalmente causadas por impactos contra pedras/torrões junto ao solo. Essas pequenas rebarbas podem interferir na queda da semente, desviando ou atrasando sua deposição e reduzindo a precisão do plantio. Os braços paralelos que unem e articulam as linhas da plantadeira junto ao chassi da máquina também precisam ser inspecionados. Braços deformados ou articulações desgastadas e com folga podem alterar o posicionamento das linhas ou causar

nas molas. Se não conseguir girar, é preciso reduzir a pressão das molas. Um correto ajuste da profundidade de semeadura é tão ou mais importante para a emergência e definição da produtividade das plantas do que o controle do espaçamento, portanto, redobre sua atenção sobre este item durante o plantio, conferindo sempre que houver mudança nas condições do solo. Uma boa forma de melhorar o desempenho de suas plantadeiras é documentar os ajustes feitos ao longo do plantio. Alguns monito-

A plantadeira é a máquina mais crítica na definição do potencial produtivo da lavoura. vibrações que afetam o desempenho dos dosadores. Da mesma forma, os mecanismos de pressão, sejam eles molas ou dispositivos pneumáticos, e as rodas de profundidade, precisam ser ajustados de modo a garantir a força adequada para a penetração dos sulcadores e a obtenção da profundidade correta de plantio. Uma maneira prática de se fazer este ajuste é colocar a máquina em posição de plantio e então tentar girar a roda de profundidade com as mãos. O correto é conseguir dar um quarto de volta com um pequeno esforço para iniciar o movimento. Se for possível girá-la sem esforço, coloque mais pressão

res fazem isso automaticamente. De posse destas informações é possível acompanhar a emergência, desenvolvimento e produtividade das plantas obtidos em diferentes condições de solo e conforme diferentes ajustes. Desse modo, na próxima safra você terá uma referência de quais ajustes podem de fato afetar a produtividade da sua lavoura e ajustar sua plantadeira de acordo. De todas as máquinas que você usa em sua propriedade, a plantadeira é provavelmente a mais crítica na definição do potencial produtivo de suas lavouras. Portanto, não economize esforços para aprender, aperfeiçoar e monitorar o trabalho das suas plantadeiras.

novembro 2015 – Agro DBO | 39


Tecnologia

Lavoura blindada Num feito inédito da pesquisa científica, a Argentina desenvolveu a primeira soja geneticamente modificada do mundo resistente à seca. Glauco Menegheti

O

Experimentos com soja no Instituto de Agrobiotecnologia de Rosário, na Argentina.

s hermanos não passam por boa fase apenas no futebol. Num outro tipo de campo, o da agricultura, mostraram recentemente que estão batendo um bolão. Em outubro, em evento celebrado com pompa e circunstância, a presidente daquele país, Cristina Kirchner, anunciou a aprovação da primeira soja transgênica tolerante à seca no mundo. O lançamento é fruto de uma parceria público-privada entre a UNL – Universidade Nacional do Litoral, onde foi identificado o gene, e o Indear – Instituto de Agrobiotecnologia de Rosário, que incorporou a tecnologia à oleaginosa. O avanço biotecnológico foi criado e desenvolvido pelo grupo de trabalho da doutora Raquel Chan, da Universidade Nacional do Litoral, numa pesquisa de mais de 10 anos. O caso é um tanto raro no cenário atual, no qual mais de 90% da soja, milho e algodão geneticamente modificados são fornecidos por apenas cinco empresas multinacionais.

40 | Agro DBO – novembro 2015

Por isso, segundo Raquel, esse é um enorme passo para a biotecnologia argentina que, ao conseguir desenvolver o primeiro evento de tolerância à seca aprovado nacionalmente, ingressa no seleto grupo de países com pesquisas avançadas, composto pelos Estados Unidos, China, Cuba, Indonésia e Brasil – a Embrapa Soja desenvolve experimentos há anos em Londrina (PR). Em 2002, após trabalhar mais de dez anos com pesquisa relacionada a plantas tolerantes à seca, a doutora Chan encontrou o gene Hahb-4 no girassol, que tem como função ativar os mecanismos de resposta das plantas ao estresse abiótico (água e sal) e biótico. Depois de isolá-lo e provar a sua efetividade na planta Arabidopsis thaliana, em 2004, a UNL e o Conselho Nacional de Pesquisas Científicas e Técnicas patentearam a invenção e a licenciaram para a empresa argentina Bioceres, para que criasse espécies de interesse agronô-

mico e fizesse provas a campo. Em 2012, por fim, foi estendida a patente original e realizada a patente do gene denominado HB4, que foi aprovado para ser comercializado na variedade de soja. O trait (traço genético, em tradução livre) de tolerância a estresse HB4 já teve sua performance validada por oito anos de testes de campo, incluindo ensaios em diversos locais da Argentina e dos Estados Unidos, e mais dois anos de ensaios para regulamentação. Apesar de ter conseguido aprovação de uso da tecnologia HB4 para plantio na Argentina, a Bioceres tem outra etapa a cumprir; que a China, o maior importador mundial, também a libere para consumo. A doutora Chan acredita que isso ocorra entre 2016 e 2017. “É preciso fazer a multiplicação para obter sementes e falta a aprovação da China pela política espelho que a Argentina subscreveu”, explica ela. A tecnologia HB4 não é apenas um gran-


de avanço biotecnológico, mas traz um impacto muito importante para a produção mundial de alimentos e energia. Segundo dados da FAO, em 2050 a população mundial chegará a 9 bilhões de pessoas e serão necessários ampliar a produção agrícola em 1 bilhão de toneladas para poder alimentá-las. Dado o contexto de mudança climática, com períodos de intensas chuvas seguidos de secas prolongadas, os cultivos serão afetados. Com a tecnologia HB4, as plantas não serão apenas tolerantes à seca ou salinidade, mas terão melhores rendimentos sem aumentar a superfície cultivada. Segundo a doutora Chan, dependendo do local de plantio, a produtividade pode ser até 25% maior em relação a variedades sem a tecnologia, com uma média de 14%. “Suporta mais que uma planta controle em dias e em condições de estresse hídrico, mas os números variam de região para região.” Chegada ao Brasil No Brasil, a tecnologia é esperada para 2022, mas ainda não se sabe qual será o preço de mercado. A TMG – Tropical Melhoramento & Genética, de Mato Grosso, é a empresa que vai adaptar, multiplicar e comercializar a soja HB4 no país, em parceria com a Verdeca – joint venture das empresas Bioceres S.A e a norte-americana Arcadia Biosciences. O prazo de seis a sete anos será consumido nos cruzamentos iniciais, na seleção das melhores plantas, nos testes de produtividade em múltiplas localidades e nos testes de valor de cultivo de uso. Por fim, é necessário multiplicar as sementes comerciais. Para Francisco Soares Neto, diretor presidente da TMG, a parceria é um importante passo, pois a Verdeca é uma organização reconhecidamente inovadora e seu trabalho é complementar ao da TMG. “A união das duas empresas trará resultados significativos para a agricultura”, ressalta. Já para o presidente e CEO da Arcadia Biosciences, Eric Rey, a

parceria é um complemento entre as tecnologias de traits e expertise em regulamentação da Verdeca, com o renomado banco de germoplasma e participação significativa no mercado de sementes da TMG. “Nossos esforços combinados têm como objetivo criar alto valor tanto para os produtores de soja, quanto para os mercados consumidores, através do aumento sustentável da produtividade da cultura proteica mais importante do mundo.” Conforme o gestor de pesquisa da TMG, Alexandre Garcia, o cruzamento feito em estufa na unidade de Cambé (PR) ocorre desde a safra passada, para introduzir a tecnologia em variedades adaptadas às condições edafoclimáticas das diferentes regiões brasileiras. “Neste ano nós avançamos. O que notamos é que a variedade tem um sistema radicular mais resistente. Ela não murcha igual às outras.” Quando submetidas ao estresse hídrico, as plantas param de produzir, de fazer fotossíntese, para tentar sobreviver. No caso da tecnologia HB4, a equipe de pesquisa da

Canteiros de testes em Rosário: a soja resistente à seca deve chegar ao mercado brasileiro em 2022.

A pesquisadora Rachel Chan, da UNL: “Além da resistência, a soja HB4 tem alta produtividade”.

TMG descobriu que os processos de fotossíntese e de fixação biológica de nitrogênio não param. A capacidade de prolongar o efeito da seca dependerá da temperatura, da insolação e da intensidade da falta de água, entre outros fatores e, portanto, não é possível estimar. Mas uma coisa é certa, segundo Garcia: a tecnologia vai dar maior estabilidade à produtividade. No Brasil, a Embrapa Soja está envolvida em pesquisa que inclui o USDA e o Jirca (Japan International Research Center for Agricultural Sciences). O pesquisador Alexandre Nepomuceno conta que chegar a um evento transgênico de tolerância à seca é característica muito complexa, que depende de muitos fatores. “É muito mais complicado do que a soja resistente a herbicida, por exemplo.” A tecnologia pode usar vários mecanismos, tais como raiz mais profunda, movimento das folhas, transpiração menor e controle dos estômatos da planta para tolerância à seca. Vinte genes estão sendo testados no laboratório em Londrina, dos quais três devem ir para o campo. Os genes também vêm da planta Arabidopsis thaliana e têm como características aumentar as defesas das células para que consigam ficar um tempo sem água. “Quando sob estresse hídrico, os genes auxiliam na manutenção das estruturas celulares, mantendo as células funcionando por mais tempo”, explica Nepomuceno. Na prática isso significa o seguinte: a soja, por exemplo, vai demorar mais tempo para abortar as flores. As metas do trabalho transnacional é, ao invés de perda de 50% da lavoura, prejuízo de 20% a 30%. novembro 2015 – Agro DBO | 41


Clima

Safra começa com clima adverso em todo o Brasil Muitos sobressaltos climáticos nos próximos meses, com chuvas e trovoadas e veranicos indesejáveis, bem ao gosto do El Niño. Marco Antônio dos Santos * Figura 1. Mapa da temperatura das águas dos Oceanos, mostrando as altíssimas temperaturas do Oceano Pacífico nas regiões equatoriais e norte.

A

* o autor é engenheiro agrônomo e agrometeorologista da Somar Meteorologia.

safra de grãos já se iniciou no Brasil há mais de 60 dias e pouco avançou nesse período. As fortes e constantes chuvas no Sul do Brasil, principalmente no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina impossibilitam os trabalhos no campo e, com isso, o plantio do arroz, milho, soja e feijão seguem atrasados, bem como a colheita do trigo que, além de atrasada, apresenta perdas significativas de produtividade em todas as regiões produtoras. No Centro-Oeste e Sudeste são as chuvas irregulares e, na maioria das vezes, de baixos volumes acumulados que impossibilitam que os produtores consigam semear seus campos com soja. O atraso este ano em todo o Brasil é maior do que em 2014, quando foi registrado um grande veranico no mês de outubro. Somente no final de outubro

42 | Agro DBO – novembro 2015

Figura 2. Mapa de chuvas totais no Brasil para o trimestre novembro/dezembro de 2015 e janeiro de 2016.

último é que as chuvas retornaram a todas as regiões do Brasil central e norte, possibilitando que muitos arriscassem o plantio. Esse clima maluco, com chuvas em excesso no Sul e seco no restante do Brasil, tem um culpado, é o El Niño. Temperaturas muito elevadas na região equatorial do Oceano Pacífico têm transformado esse fenômeno em um dos mais fortes da história da climatologia. Apesar das águas do Pacífico estarem com valores um pouco abaixo dos valores registrados em 1997 (maior El Niño da história), ainda assim, deverá ser o segundo ou o terceiro maior já registrado, desde o início das medições, no começo do século passado. Por causa desse El Niño extremamente forte, as chuvas estão e permanecerão bem mais intensas no Sul do Brasil e também ao sul do continente, consequentemente, em

toda a região central (Sudeste e Centro-Oeste) e norte (Nordeste e Norte), as chuvas continuarão irregulares ao longo de toda a safra. É lógico que haverá períodos mais chuvosos, que possibilitarão que o plantio e, sobretudo, o desenvolvimento das plantas seja beneficiado. Como o que vem ocorrendo neste mês de novembro, após as chuvas regulares e em bons volumes nas últimas semanas de outubro em todo o Brasil, o tempo mais seco e quente dessa primeira quinzena de novembro já traz novamente as preocupações à cabeça dos produtores das regiões Sudeste, Centro-Oeste e do Matopiba, e também do mercado. Ao que tudo indica tanto a segunda quinzena de novembro, quanto todo o mês de dezembro, deverão ser com chuvas mais regulares sobre as regiões central e norte do Brasil, com uma pe-


quena diminuição dos volumes de chuvas no Sul, principalmente no Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Mas o grande destaque dessa safra serão as temperaturas. Com valores das temperaturas das águas do Pacífico entre 2,0°C a 3,5°C acima da média, a atmosfera permanecerá bem mais aquecida não só nessa primavera, mas também durante boa parte do verão. Desse modo, não será nada estranho ouvirmos notícias de que essas altíssimas temperaturas do ar estão relacionadas ao aquecimento global, o que será mais uma mentira, pois o que é fato é que um El Niño de forte intensidade provoca temperaturas muito mais altas em todo o globo, fato esse ocorrido no ano de 1998. Essa intercalação no regime de chuvas, hora acima da média, hora abaixo, associada a essas altíssimas temperaturas do ar manterão as

taxas de evapotranspiração mais altas do que o normal, e poderão comprometer a produtividade da safra de grãos em algumas microrregiões. Desse modo, os produtores terão que adequar suas práticas agrícolas e agronômicas a esse perfil de clima, que ocorrerá durante a safra 2015/16. Entretanto, mesmo com todas essas irregularidades climáticas, a perspectiva é de que a produção de grãos brasileira deverá registrar novos recordes nessa safra, superando os valores contabilizados na safra 2014/15, tanto em produção como em produtividade. Mas não será só a safra de grãos que sofrerá quebras regionalizadas, pois culturas perenes, como café, cana-de-açúcar e laranja, assim como as pastagens devem ser prejudicadas com esse clima “maluco”. Mas se o regime de chuvas irre-

gulares irá se instalar realmente no Brasil central e norte durante a segunda quinzena de novembro, o que então esperar para o verão de 2016? Os modelos de previsão de longo prazo sinalizam que o primeiro semestre de 2016 deverá ser bem parecido com as condições climáticas ocorridas durante o primeiro semestre de 2015. Ou seja, um possível veranico na primeira metade do verão nas regiões Sudeste e Centro-Oeste e até mesmo nas regiões produtoras do Matopiba. Nesse período, há possibilidades de que as chuvas fiquem mais concentradas no Sul, em especial no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. E, na segunda metade do verão, as chuvas retornam a todas as regiões produtoras do Brasil, sendo que nesse período poderá ocorrer uma diminuição dos volumes de chuvas no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina.

novembro 2015 – Agro DBO | 43


Rizicultura

Dobradinha eficiente

Cresce o uso de arroz em sistemas intensivos de produção, em rotação com soja, milho e algodão. José Maria Tomazela

44 | Agro DBO – novembro 2015

P

rodutores do Centro-Oeste brasileiro estão descobrindo um novo e importante potencial na cultura do arroz de terras altas, tradicionalmente usada para a abertura de áreas agrícolas. A lavoura, mais cultivada sem irrigação, tem mostrado eficácia no controle das infestações de nematóide na soja e aptidão para melhorar as chamadas terras velhas. Nematóides são pragas que afetam o sistema radicular e causam perdas que variam entre 5% e 35%, dependendo do tipo de cultivo, segundo a Sociedade Brasileira de Nematologia. Para reduzir a população, um número cada vez maior de agricultores está inserindo o arroz no sistema intensivo de produção, em rotação com soja, milho e algodão. Pesquisadores e agricultores projetam para a lavoura um espaço significativo entre as grandes culturas do Centro-Oeste, como a soja e o milho. A aposta maior é na dobradinha arroz com soja, uma parceria que já está dando o que falar nas principais regiões de cultivo da oleaginosa de Mato Grosso, o maior produtor brasileiro de grãos. A soja ocupa anualmente 19, 4 milhões de hectares num amplo território que vai do do Mato Grosso do Sul para cima, até se encontrar com a floresta amazônica. A cultura tem se alternado com o milho na ocupação do solo, mas começa a sofrer perda de produtividade em razão da alta infestação de nematóides. De acordo com o pesquisador Carlos Magri, da Embrapa Arroz e Feijão, embora as qualidades do arroz como melhorador do solo já fossem bem conhecidas, ficou comprovado mais recentemente que essa lavoura é capaz de bloquear a proliferação de nematóides. “Quando se cultiva soja por muito tempo numa área, a infestação aumenta e leva à queda na produção. Ao entrar com o arroz, o produtor consegue uma boa produção do cereal, pois é uma terra tratada, e tem ganho de produtividade na volta da soja.” A entrada do arroz nesse sistema de produção, de agricultura intensiva


e tecnificada, está trazendo para os produtores vantagens com os quais eles nem sonhavam, segundo Magri. “De cara ele vê que, embora a produtividade seja menor, o custo de produção no Centro-Oeste corresponde a um terço do custo no Sul.” Além disso, o arroz oferece boa palhada para o plantio direto e intensifica o uso da terra. “No Sul, onde se faz o cultivo em áreas alagadas, a opção do produtor e só o arroz. Nas terras altas, ele entra em sistema de produção com outras culturas e agrega valor”. Cultura valorizada O produtor rural Ari Hoffmann desenvolveu um carinho especial pela cultura do arroz. Quando se instalou na região de Sinop, no norte do Mato Grosso, em 1984, a gramínea teve a mesma utilidade que o facão e o trator para desbravar as áreas de mata virgem e transformá-las em terrenos próprios para lavoura ou pastagem. Houve ano em que ele chegou a plantar 6 mil hectares em terras próprias e arrendadas. No final de outubro, ele preparava o plantio de 900 hectares da variedade cambará numa área de pasto degradado no município de Tabaporã. Ele explica que, diferente das cultivares usadas no Sul, nessa região as variedades empregadas são do arroz de sequeiro, que dispensa irrigação, próprio para terrenos de altitude. Hoffmann vai gastar quase R$ 1,6 mil por hectare para, ao final do ciclo, recuperar apenas o valor investido, sem lucro algum. “É assim mesmo, um investimento, pois o arroz vai amansar a terra para a entrada da soja. A gramínea age em cima do alumínio no solo ácido, coloca fósforo e potássio, deixa a terra boa para lavouras mais rentáveis”, explicou. Foi assim, servindo de escudo e lança para lavouras mais sensíveis, que o arroz se firmou no Centro-Oeste como uma terceira via, uma lavoura útil, mas de pouco valor. Esse cenário está virando coisa do passado até para produtores tradicionais, como Hoffmann. Este ano, além da

imensidão de cambará em pasto degradado, ele está plantando 200 hectares da cultivar esmeralda, com melhor potencial produtivo, em terra velha, bastante explorada com a soja. Mas, agora, é para ter ganho. “Com boa adubação e tratos culturais, é arroz para chegar a seis mil quilos por hectare. O bom é que ele vai devolver o solo ainda melhor para a soja e controlar o nematóide, que hoje vem limitando a produção do grão.” Hoffmann se rendeu à dobradinha arroz com soja e já acha que, como parceiras, as duas culturas se completam. “O arroz não é commoditie como a soja, é vendido em real, em compensação é de cultivo mais fácil e grande melhorador do solo.” Agricultor experimentado, antes de inserir a gramínea em seu sistema produtivo, ele fez experiências em áreas pequenas, depois ampliadas. “Realmente o arroz bloqueia a proliferação do nematóide e, bem cuidado, é muito produtivo”, constatou. O agricultor já faz planos de substituir a soja pelo arroz por algumas safras, acreditando que a gramínea vai elevar o padrão do solo. “Precisamos de variedades de ciclo longo e mais produtivas. Temos de pensar também no mercado, pois nossa região não vai consumir todo o arroz que vamos produzir. É preciso ter onde guardar e para onde levar.” Ele espera ainda pelo desenvolvimento de defensivos e insumos específicos para o arroz de terras altas, variedades mais produtivas e adaptadas. Outros produtores que usam há mais tempo o arroz para frear os nematóides confirmam a eficácia do sistema. O agricultor Ricardo Weissheimer, de Jaciara, planta anualmente de 250 a 300 hectares da gramínea em meio a 1.400 hectares de soja. A área é dividida em parcelas como se fosse uma pizza e, a cada ano, o arroz vai passando para o pedaço seguinte. “Faço análises regulares e a população de nematóides praticamente sumiu”, disse. Ele constatou que a soja plantada na sequência do arroz produz até 12% a mais. Gaúcho de

Santa Rosa, no Centro-Oeste desde 1980, Weissheimer cresceu entre plantações de arroz e se entusiasma com o potencial da cultura em terras altas. “É uma lavoura que melhora a cada ano, não acama e dá uma palha boa.” Ele faz o plantio em dezembro e colhe entre o final de abril e início de maio. “Antes, nosso arroz tinha o preço balizado pelo Sul e a gente tinha de correr atrás de comprador. Agora inverteu, nosso preço está até melhor e o comprador vêm atrás da gente.” No final de outubro, a saca de 50 quilos estava cotada a R$ 39 no Rio Grande do Sul e a de 60 quilos – padrão da região – estava a R$ 47 em Mato Grosso. “Nosso arroz vai para mercados mais próximos e ganha-

Dependendo da região, os produtores do Centro-Oeste conseguem preços melhores que os do Sul do Brasil.

mos no frete”, disse. A busca por cultivares de alta produtividade e mais adaptadas às condições de solo já começou. O produtor e engenheiro agrônomo Angelo Maronezzi, da Agro Norte, que planta arroz de sequeiro desde a década de 1990 na região de Sinop, acompanha de perto a revolução da cultura no estado. Ele investiu no desenvolvimento de cultivares com potencial para produzir até 8 mil quilos por hectare sob os pivôs de irrigação da soja. “O agricultor só vai ligar o pivô quando precisar”, disse. Segundo ele, 40% das áreas cultivadas com arroz de terras altas no Mato Grosso já usam sementes melhoradas, adunovembro 2015 – Agro DBO | 45


Rizicultura bação e manejo de pragas. “O arroz de sequeiro, tradicionalmente, é de baixa tecnologia, mas conseguimos desenvolver sementes que vão muito bem em sistemas de produção.” O plantio da soja em outubro. seguido da semeadura do arroz em janeiro, na segunda safra, tem se tornado uma opção vantajosa para o manejo e preservação do solo se comparado ao sistema que intercala o plantio da soja com o milho. De acordo com estudo do Imea – Instituto Matogrossense de Economia Agropecuária, plantando milho, o produtor gasta 40% a mais por hectare que no plantio de arroz. A produção do arroz ainda tem a vantagem de valer mais que o milho ao final da safra. “Além da vantagem econômica, o agricultor irá produzir duas culturas nobres na mesma safra e pode aumentar a renda total da propriedade”, avaliou Maronezzi. Os esforços da Agro Norte voltam-se agora para oferecer variedades próprias para o arroz entrar na rotação da safrinha, após a colheita da soja. “São cultivares para plantio direto em janeiro. O agricultor colhe a soja e não precisa fazer mais nada no campo, só entrar com a plantadeira e semear o arroz.” Depois desse cereal, o produtor pode entrar com o milho, turbinando o uso do terreno. Ele estima que 20% dos produtores de soja do Centro-Oeste estão aptos, hoje, a produzir o cereal. “Se apenas 5% de-

46 | Agro DBO – novembro 2015

O Imea mostra que o custo de produção do arroz em sistema intensivo pode ser 40% mais barato que o do milho.

Agronorte calcula que, atualmente, 20% dos produtores de soja do CentroOeste estão aptos a cultivar arroz.

les decidirem plantar arroz, resolvem o problema da demanda no Brasil e ainda sobra para exportar.” Por enquanto, a produção brasileira de arroz está concentrada na região Sul. Rio Grande do Sul e Santa Catarina, respondem por mais de 70% da safra nacional, de 12,4 mil toneladas na temporada em curso, segundo previsão da Conab. A região deve colher 9,8 milhões de toneladas, média de quase 7 mil kg/ha. Os outros 30% saem do Nordeste, Norte e Centro-Oeste, com uma pequena fração no Sudeste. Destes, pelo menos 15% são provenientes de cultivos em terras altas, especialmente no Centro-Oeste, que vai produzir 839 mil toneladas, média de 3,6 mil kg/ ha. Para Magri, o avanço da parceria do arroz com a soja pode alterar esse mapa. Ele lembra que, embora com produção menor, o Centro-Norte já planta quase 1 milhão de hectares, cerca de 40% da área cultivada no

País, de 2,3 milhões. Essa área inclui a produção de arroz irrigado tropical nos estados do Maranhão e Tocantins, com técnica semelhante à usada em Santa Catarina e Rio Grande do Sul. O cultivo em terras altas está distribuído pelo Maranhão (385 mil), Mato Grosso (180 mil), Piauí (98 mil) e Pará (90 mil), além de áreas menores em Tocantins, Mato Grosso do Sul e Rondônia. Em Roraima, os arrozeiros tiveram de abandonar as terras em que produziam, que passaram a compor, em 2009, a Terra Indígena Raposa Serra do Sol. Muitos migraram para a ilha do Marajó, no Pará, passando a cultivar arroz nas várzeas dos grandes rios, como o Arari e o Amazonas, mas enfrentam problemas ambientais. Os arrozeiros que permaneceram em Roraima, passaram a cultivar arroz com irrigação. A área cultivada, que após a demarcação havia caído para 9 mil hectares, subiu para 12 mil hectares na safra 2014/15. A menor produtividade na parte de cima do mapa do Brasil se explica pela utilização do arroz na abertura de áreas agrícolas e para renovação de pastagens, pois a cultura suporta bem solos com pouca correção. “O pessoal usa o arroz para amansar a terra e melhorar o pasto degradado. Depois da colheita, a pastagem volta renovada. É um benefício para o produtor que também deve ser considerado”, conta Magri.


Pesquisadores comprovaram recentemente que o arroz não só melhora o solo mas bloqueia a proliferação de nematoides. Embora a produtividade média no Mato Grosso seja de 3.400 quilos por hectare, produtores já alcançam até 6.000 kg/ha. “O que deve ser considerado nesse caso é o retorno, visto que o custo de produção em terras altas é menor.” O pesquisador da Embrapa lembra que a produção de arroz no Centro-Norte tem uma função social, além da econômica. “É também uma garantia de segurança alimentar, caso ocorra problema na produção concentrada no sul.” Potencial para exportação A Embrapa desenvolve o projeto Rede Brasil Arroz, de transferência de tecnologia, para capacitar produtores e divulgar os aspectos positivos da rizicultura para o Centro-Oeste. Em seminário realizado no final de setembro, em Cuiabá (MT), com todos os elos da cadeia produtiva, houve consenso de que o arroz produzido na região é competitivo em qualquer mercado e tem potencial para exportação. Na ocasião, a Abiarroz – Associação Brasileira da Indústria do Arroz apresentou o programa Brazilian Rice, desenvolvido pela Apex – Agência Brasileira de Promoção das Exportações, criado em 2012. O programa concentra esforços para ampliar as exportações brasileiras do produto e também para tornar o produto mais interessante para o mercado externo. De acordo com o presidente do Sindicato das Indústrias de Arroz no Estado de Mato Grosso, Lázaro Modesto, o momento é fortemente favorável à expansão da cultura no Centro-Oeste. “Como os rizicultores do Rio Grande do Sul estão muito focados na exportação, estamos tendo agora a oportunidade de trabalhar mercados que podem ficar menos interessantes para eles.” Modesto se referia a regiões mais distantes dos portos, onde o custo de entrada do arroz gaúcho é maior, como o interior do estado de São

Paulo e boa parte do Nordeste. Outra oportunidade é a exportação para o Peru, especialmente o interior do país vizinho, que pode ser alcançado por via rodoviária. “Eles consomem 200 mil toneladas de arroz, mas só produzem 100 mil e têm limitação para ampliar a produção dada a salinidade das terras”, explica. O representante da indústria destaca a qualidade do arroz de terras altas, com grãos mais finos que as cultivares gaúchas, o que levou o produto do Mato Grosso a ganhar uma marca de origem. “Ao contrário do Sul, que dispõe de muitas cultivares, nosso produtor trabalha com poucas variedades bem definidades, o que dá um padrão para o arroz. Aos

O Centro-Oeste visa também o mercado exportador. O Peru, por exemplo, consome 200 mil toneladas de arroz por ano. mas só produz a metade.

Simulação em computador mostra que, no CentroOeste, o mès ideal para plantio do arroz é novembro.

pouos, o grão vai perdendo a fama de cultura rústica e ganhando novos aportes tecnológicos. Em Goiás, a Embrapa usou modelos de simulação programados em computador para avaliar o desempenho da cultura levando em conta séries históricas de dados, como chuvas, temperatura e radiação solar, características de solo e da cultivar. O cruzamento das informações apontou o mês de novembo como o ideal para o plantio, pois é o período menos sujeito à veranicos durante o florescimento. Já as semeaduras feitas em dezembro estão sujeitas a um regime de chuva menos regular, com risco de perdas na produtividade. Com base na simulação por computador, aplicada pelo pesquisador Alexandre Bryan Heinemann, a Embrapa estabelece os cenários futuros mais próximos da realidade e orienta os produtores sobre as melhores épocas de plantio. Os estudos levaram em conta áreas de cultivo em Goiás, Mato Grosso, Tocantins e Rondônia, considerando o ciclo médio das lavouras de arroz de terras altas, de 110 dias. Nos modelos de simulação foi usado o arroz Oryza 2000, desenvolvido pelo Instituto Internacional de Pesquisa de Arroz (IRRI), das Filipinas. O sistema foi alimentado com dados climatológicos obtidos pelas estações do Inmet – Instituto Nacional de Meteorologia na região ao longo dos últimos trinta anos. Recebeu, ainda, informações sobre o armazenamento de água em sete tipos de solo mais representativos da área estudada. O estudo revelou que o fator solo tem peso preponderante no resultado da produção. De acordo com Heinemann, o estudo não dispensa o acompanhamento da previsão do tempo pelo produtor, permitindo que tome decisões de curto prazo com base em boletins e mapas diários produzidos pelos serviços de meteorologia. novembro 2015 – Agro DBO | 47


Café

A ferrugem contra-ataca

Quatro décadas depois de aterrorizar os produtores, a doença volta a ameaçar a cafeicultura brasileira. No momento, a situação é de alerta. Rogério F. Furtado

H

á novidades no front da luta contra a ferrugem. Mas as notícias não são animadoras. Neste ano, a intensidade da chamada “ferrugem tardia” extrapolou na cafeicultura comercial e nos plantios experimentais mantidos por instituições de pesquisa. É cada vez mais evidente a quebra da imunidade de algumas cultivares pelo fungo causador da doença. E, no reverso da moeda, aumenta a resistência do patógeno aos fungicidas. Começa novo round de uma luta que nunca teve data para terminar. Em um corner, a pesquisa, no

48 | Agro DBO – novembro 2015

outro, o adversário, o fungo Hemileia vastatrix. Esse microrganismo, sempre manhoso, até algum tempo atrás se comportava de maneira bastante previsível em cada fase do ciclo anual da produção cafeeira. Combatido de forma adequada com os agroquímicos disponíveis, não deixava grandes prejuízos: desfolhava as plantas, mas dentro de parâmetros toleráveis, inclusive no pico de infecção, em junho/ julho, auge da safra. Por derrubar apenas parte da folhagem dos cafeeiros, concedia uma trégua essencial à cafeicultura em setembro/ outubro, permitindo boa evolução

às lavouras após as floradas. Nesta década, porém, o panorama começou a mudar, com a doença escapando do controle e avançando para além do período da colheita – daí o apelido “tardia”. Até recentemente, não havia divergências entre os especialistas quanto às causas do fenômeno. Ele seria decorrente de falhas nas práticas culturais, da adubação à aplicação dos produtos fitossanitários, agravadas por anomalias climáticas. A partir desse ponto de vista, foram delineadas e postas em prática várias estratégias para o combate, de eficácia um tanto discutí-


cido de maneira tão decisiva a irrupção da doença. Penso que podemos estar frente à frente com uma ou mais raças novas de Hemileia vastatrix”, diz o fitopatologista Mário Lúcio Vilela de Resende, professor da Ufla e coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia do Café (INCT-Café/ CNPq e Epamig).

Rogério Furtado

vel – principalmente se forem levados em conta aspectos de custo e conveniências ambientais. Ainda assim, o contexto vinha sendo de relativa calmaria até que, logo após a última colheita, no campus da Ufla – Universidade Federal de Lavras e em outras localidades, a desfolha de plantas testemunhas em diversos experimentos foi tão abrupta e radical que pareceu resultado de pesado bombardeio de granizo. “Isso nunca ocorreu antes. Não creio que fatores climáticos, como pequenas elevações das temperaturas médias verificadas ao longo do ano tenham favore-

Quebra de resistência O pesquisador César Elias Botelho, especialista no melhoramento do café, compartilha algumas das opiniões de Resende. Trabalhando no campus da Ufla como coordenador da área de café da Epamig – Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais, Botelho comenta: “A situação mudou. A tal ponto que um profissional de empresa de agroquímicos, ligado à cafeicultura, me disse recentemente que desafia qualquer um a entrar em lavoura formada por plantas suscetíveis e não encontrar ferrugem, em qualquer época do ano”. Pior do que isso, variedades de café, antes resistentes, começam a fraquejar diante da doença. Diplomático, Botelho evita falar do desempenho de cultivares lançadas por outras instituições, mas reconhece que algumas das desenvolvidas pela Epamig, tendo como parceira a UFV – Universidade Federal de Viçosa, estão perdendo a queda de braço para o fungo. “Raças novas da ferrugem, ou raças que antes não predominavam no Brasil, saltaram de materiais suscetíveis para materiais resistentes. Nossa primeira cultivar, a Oeiras, foi a primeira vítima, há tempos. Adiante registramos casos de quebra de resistência em plantios de Paraíso, Catiguá, Pau-brasil e Araponga, variedades que chegaram depois, no início do milênio. Neste ano, inclusive, o fenômeno esteve bem evidente na cultivar Araponga”. Botelho prossegue: “O

controle químico já foi mais fácil. Agora temos relatos de produtores fazendo até quatro aplicações de fungicidas durante o ano, mas com incidência alta de ferrugem na colheita. O problema não é só a quebra de resistência de materiais melhorados. Mas também o aumento da resistência do fungo aos produtos químicos”. Embora pareça algo contraditório à primeira vista, esses eventos são consequência da própria eficiência inicial dos fungicidas. O que não é novidade na agricultura moderna. Sobre isso Resende dá sua opinião: “Nas últimas décadas, as instituições de pesquisa brasileiras se esforçaram para obter variedades de café resistentes à ferrugem. Só que em geral elas são menos produtivas, porque não é fácil conciliar resistência e produtividade nas plantas. Então, o produtor prefere cultivar cafés que se destacam pela produção, ainda que suscetíveis, e usar fungicidas para debelar a doença. Com o tempo, o emprego repetido dessas substâncias leva ao aparecimento de fungos resistentes”. Botelho observa que há outro aspecto a ser considerado: “A meu ver, embora a ferrugem seja uma preocupação permanente desde 1970, de fato houve uma acomodação dos

César Botelho admite: Raças novas de ferrugem saltaram de materiais suscetíveis para materiais resistentes”.

novembro 2015 – Agro DBO | 49


Rogério Furtado

Café

produtores com o advento de produtos sistêmicos muito eficientes, como os triazóis, aplicados no solo”. No entanto, além de perseguir produtividades crescentes em cafeeiros suscetíveis, os cafeicultores também estão sujeitos a imposições do mercado com relação à qualidade, ao gosto da bebida. A clientela estrangeira está cevada no consumo de cafés muito suaves, aveludados, conforme dizem os provadores. “E isso nos traz dificuldades. Temos, por exemplo, a cultivar Catiguá MG2 de excelente perfil agronômico, produto do cruzamento direto entre Catuaí e Híbrido de Timor, a fonte dos

genes que garantem a resistência às nossas variedades melhoradas. A bebida do Catiguá tem qualidade comprovada. No entanto, é um pouco mais encorpada, com acidez pronunciada, considerada ‘exótica’ pelos provadores estrangeiros, habituados a cafés suaves. Portanto, eles são pouco propensos a aceitar bebidas com características derivadas do Híbrido de Timor. Essa barreira do gosto é bem resistente. Mas trata-se de paradigma que terá de ser rompido”, explica Botelho. A julgar por acontecimentos recentes, o paladar refinado dos provadores logo terá de se con-

Folhas infectadas pela ferrugem com algumas lesões não curadas (destacadas na foto à esquerda), sinalizando resistência aos fungicidas usados.

formar ao ‘exotismo’ de algumas das bebidas existentes e das que estão por vir. Como se recorda, os países centro-americanos, tradicionais fornecedores de cafés suaves, há pouco foram sufocados pela ferrugem, que parece contida neste ano por força de uma seca inclemente. Além do cultivo de variedades suscetíveis, com foco na qualidade da bebida, esses países costumavam sombrear as lavouras, tornando o caminho suave para o Hemileia vastatrix. Dada a intensidade e as proporções incomuns do surto, cafeicultores centro-americanos e mesmo produtores sul-americanos estão

Orientação no campo: jogar na retranca A ferrugem irrompeu no Brasil há exatos 45 anos. Começou na Bahia e não demorou a conquistar todas as regiões cafeeiras. Embora fosse esperada desde muito antes, causou rebuliço nos centros de pesquisa e aterrorizou os produtores. As trombetas da imprensa amplificaram o frenesi. Parecia ter chegado o dia do juízo para a cafeicultura. Mas o susto logo passou quando antifúngicos antigos se mostraram capazes de frear a doença, até que a indústria apresentasse moléculas novas e a pesquisa lançasse materiais resistentes. Seguiram-se décadas de relativo equilíbrio de forças,

50 | Agro DBO – novembro 2015

até que o fungo manifestasse a intenção de retomar o avanço. No momento, o estado é de alerta, mas não há pânico. Longe disso. Em termos práticos, o que se verifica é a elevação dos custos de produção para os cafeicultores, decorrente do consumo maior de produtos químicos, encarecidos pela alta do dólar. Para os produtores, as recomendações da pesquisa são as de sempre. É necessário trabalhar bem com o esquema defensivo: monitorar com muita dedicação as lavouras e obedecer de forma rígida os critérios definidos para as aplicações de agroquímicos. A despeito da quebra

da resistência de algumas variedades, materiais imunes estão à disposição da cafeicultura, desenvolvidos por várias das instituições que participam do Consórcio Brasileiro de Pesquisa do Café. Mesmo os materiais que apresentam resistência parcial à ferrugem são interessantes para os produtores que já os utilizam, embora tenham maior dificuldade para controlar a doença. Principalmente aqueles que operam com plantios mais adensados, em terrenos escarpados, de regiões chuvosas. Mas, na implantação de lavouras novas, o melhor é lançar mão de variedades resistentes.


revendo seus métodos, enquanto buscam, ansiosos, materiais resistentes à doença. “A virulência da ferrugem praticamente inviabilizou o cultivo das variedades tradicionais. A própria Colômbia está difundindo o Castillo, que também é um Catimor, produto de Catuaí com o Híbrido de Timor”, lembra Botelho. Para ajudar no escoamento dos cafés de novas variedades, que presumivelmente darão bebidas diferenciadas, Botelho espera a contribuição do mercado de cafés varietais, que está em expansão, inclusive no segmento de monodoses. A pesquisa em movimento O melhoramento genético do cafeeiro não para. E agora se volta para outras fontes de resistência, que já se encontravam em bancos de germoplasmas de instituições brasileiras, como o IAC – Instituto Agronômico de Campinas. Trata-se de materiais indianos e africanos, informa Botelho. E ninguém pecará por excesso de otimismo se aguardar resultados para dentro de prazos relativamente curtos. A postura deveria ser outra, caso o trabalho de seleção de variedades fosse realizado segundo moldes clássicos, pois novos cafeeiros só iriam aparecer daqui há muitos anos. Por exemplo: em 1985 foi realizado o cruzamento inicial que deu origem à cultivar Arañas, último lançamento da Epamig, de características ajustadas ao enfrentamento da ferrugem. E há outras necessidades a serem atendidas, como a demanda crescente por cafeeiros melhor adaptados aos períodos de seca. Felizmente agora há técnicas para encurtar o processo. Como a clonagem de tecidos na reprodução acelerada de plantas que apresentem qualida-

Fotos Rogério Furtado

Em algumas regiões da América Central, a virulência da ferrugem praticamente inviabilizou o cultivo das variedades tradicionais.

des promissoras. E materiais superiores podem ser identificados de maneira precoce por meio da análise de marcadores genéticos. A pesquisa é multidisciplinar e numa de suas vertentes o trabalho consiste em esmiuçar a estrutura dos agentes causadores de doenças. “Por isso enveredamos pelo sequenciamento genético do Hemileia vastatrix na Universidade do Delaware, nos Estados Unidos, em cola-

Variedades suscetpiveis à doença, em avaliação no campo de estudos da Ufla.

Mário Resende examina o cafeeiro: “Temos que conhecer melhor o inimigo (a ferrugem) para combatê-lo”.

boração com outras instituições nacionais, como a Ufla e a Epamig. O DNA do fungo é enorme, o que lhe confere grande plasticidade, sua capacidade notável de passar por mutações e recombinações genéticas. E há numerosos outros aspectos a considerar: por que um fungo ‘x’, de uma das raças, ataca uma variedade ‘y’ do café, mas não ataca a variedade ‘z’? Como funcionam seus mecanismos de resposta aos fungicidas? Começamos o sequenciamento pela raça 33, a mais estável, e pela raça 2, a mais comum no Brasil. Esse tipo de pesquisa tem de ser feito no exterior, onde equipamentos e técnicas são aperfeiçoados o tempo todo. Evolução que não podemos acompanhar. Tanto assim que os sequenciadores que temos na Ufla já estão obsoletos”, diz Resende. O trabalho tem de continuar o mais rápido possível. Até para que se possa verificar com exatidão se há novas raças de fungos e determinar os genes que lhes conferem maior virulência. No entanto, cada sequenciamento custa cerca de 90 mil dólares. “E a última verba que recebemos para esse fim veio em 2010. Temos que conhecer melhor o inimigo para podermos combatê-lo”, diz Resende. novembro 2015 – Agro DBO | 51


Opinião

Promessa desconectada da realidade O ambientalismo planeja um regime ditatorial sobre as atividades produtivas da humanidade, especialmente produção de alimentos. Richard Jakubaszko

A

presidente Dilma Rousseff anunciou, no último domingo de setembro, durante discurso na Conferência das Nações Unidas para a Agenda de Desenvolvimento Pós-2015, que o Brasil vai reduzir em 43% a emissão de gases do efeito estufa (GEE) e vai zerar o desmatamento ilegal até 2030. Ora, em nossa opinião, a presidente está muito mal assessorada na questão ambiental e prometeu inúmeros equívocos, aplaudidos pelos ambientalistas. Aparentemente a presidente ouviu apenas o Ministério do Meio Ambiente. Vejamos a incoerência da promessa presidencial: 1º – a emissão de gases de efeito estufa possui medição imprecisa na escala planetária. São emitidos anualmente 200 bilhões de toneladas de GEE, ou 200 gigatoneladas. O viés da imprecisão dessas medições atinge 20%, para mais ou para menos. 2º – O desconcertante nisso é o fato de que 97% de todas as emissões de GEE (CO2, metano, óxido nitroso e outros) são feitas pela natureza (vulcões, oceanos, florestas tropicais, solos aridizados). Um vulcão de porte médio, em atividade por duas semanas, emite quantidade de GEE superior a toda a emissão de metano da bovinocultura brasileira em um ano inteiro. 3º – Apenas 3% das emissões dos GEE são de causa humana, ou 52 | Agro DBO – novembro 2015

antropogênica, pelo uso de automóveis, fábricas, navios, aviões, flatulência da criação de ruminantes, plantio de arroz irrigado, lixões urbanos, queimadas etc.

tempo, uma das fontes mais limpas de produção de energia elétrica, através da hidroeletricidade, afora o fato de que cerca de 50% do nosso combustível automotivo

Só 3% das emissões de GEE são de causa antropogênica, e 97% são feitas pela natureza. 4º – O Brasil emite 460 milhões de toneladas por ano, ou seja, meros e parcos 0,25% das emissões do planeta. É uma posição coerente com o nosso tamanho e importância internacional, eis que movimentamos 1,2% do total das exportações, e temos, ao mesmo

é etanol, consumido puro ou em mistura de 27,5% na gasolina. 5º – Se a assessoria da área ambiental da presidente Dilma Rousseff encontrou uma fórmula mágica para reduzir as emissões feitas pela natureza, a promessa poderá ser cumprida, caso contrário vai



Opinião cair no vazio, assim como caiu no vazio a promessa de Lula durante a COP de Copenhague. 6º – Se a promessa da presidente refere-se a economizar apenas sobre as emissões antropogênicas, teríamos 43% de redução sobre 460 milhões de t, uma economia de 197,8 milhões de t, e a paralisação das atividades comerciais do país. E uma absoluta inutilidade no objetivo ambiental de reduzir emissões. Como a promessa não especifica qual a base de dados para essa redução, somos obrigados a esclarecer que nem uma e nem outra é possível, é uma utopia mais do que virtual. É uma promessa midiática, nada mais. 7º – CO2 é o gás da vida. Sem ele não existiriam as plantas, pois através da fotossíntese as plantas sequestram o carbono da atmosfera, e sem plantas não existiria vida no planeta, pela absoluta falta de alimentos, seja para os animais, seja para a humanidade. Portanto, economizar o quê? Precisamos é economizar emissão de CO2 nas cidades, onde o dióxido de carbono prejudica a saúde das pessoas, pois é poluição concentrada. Fora isso, a promessa é um despropósito científico. 8º – Em dezembro próximo teremos a COP21, em Paris, e os ambientalistas do IPCC pretendem consolidar a Agência Internacional Ambiental (AIA), órgão da ONU com poderes supranacionais, e que terá autorização expressa para impor sanções econômicas, políticas e até mesmo ações militares aos países que desobedecerem as regras a serem criadas por eles mesmos para o funcionamento da AIA. Algumas queimadas poderão gerar ações como a implantação do corredor ecológico, que cortaria a Amazônia de Leste a Oeste. Já existe esse mapa, divulgado na internet, planejado pela ONG Gaia, da Inglaterra, e que tem o Príncipe Charles como patrono. 9º – Algumas queimadas futuras na Amazônia poderão im54 | Agro DBO – novembro 2015

por sanções econômicas ao Brasil. Por exemplo, restrições específicas para o Brasil exportar produtos produzidos aqui, eis que o agronegócio é sempre apontado como o principal responsável pelo desmatamento da Amazônia, e também pelas queimadas. Afinal, não foi isso que fez a AIEA – Agência Internacional Energia Atômica ao proibir o Irã de exportar petróleo, porque teimava em dar continuidade ao seu programa interno de energia nuclear? Temos exemplos aqui no Brasil, mesmo sem a interferência da ONU, quando se instituiu o protocolo da Moratória da Soja, um acordo com ONGs europeias proibindo a exportação de soja plantada na Amazônia. 10º – A análise sobre as ações futuras da AIA é mera suposição, evidentemente, mas é baseada no histórico da AIEA. Ao mesmo tempo, é um simples exercício de previsão de continuidade ao com-

A COP21 a ser realizada em Paris, no final deste mês, será a prova de fogo dos ambientalistas.

portamento ambientalista exacerbado de “proibir-proibir” que tem sido praticado inclusive no Brasil, e do qual o Código Florestal é exemplo recente, independentemente dos prejuízos que possam trazer à humanidade. Ao mesmo tempo, a visita do Papa Francisco aos EUA, em setembro último, para pressionar o Congresso Americano a dar apoio às intenções do presidente Barack Obama, de aprovar a AIA na COP21, é um indicador de que os ajustes políticos prévios estão sendo alinhavados, e de que não há neutralismos nessa campanha. Com a bênção Papal, ganha força moral e política o objetivo ambiental no estratégico tabuleiro da produção de alimentos e de energia. Na marcha dos ambientalistas, é bom que se diga, não há espaços para debater a necessidade imperiosa de implantar a redução da velocidade do crescimento demográfico, ou políticas públicas de controle da natalidade. O planeta terá enormes problemas ambientais, sociais e políticos, além de econômicos, quando atingirmos os 9 bilhões de pessoas, muito piores do que aqueles que assistimos hoje. Tampouco entra no debate dos ambientalistas a necessidade da produção sustentável de alimentos para atender a essa gigantesca população adicional. Pelo contrário, em nome de preservar algumas áreas verdes, muitas pessoas continuarão em estado de subnutrição aguda e a morrer de fome. Esse emaranhado regulatório que se pretende, utilizando artifícios legais de validade internacional, vai engessar as gerações futuras que, para produzir alimentos para todos, terão de criar soluções tecnológicas inimagináveis. A promessa equivocada da presidente Dilma na ONU, portanto, avaliza as intenções ambientalistas para a COP21, demonstrando que tempos mais difíceis estão para chegar.



Novidades no campo Controle de pragas

A DuPont obteve em outubro o registro definitivo do inseticida Dermacor para controle de pragas foliares e de solo nas culturas de soja e milho. Lançado no ano passado, o produto passa a ser recomendado agora no manejo preventivo do alasmo e do coró, e das lagartas foliares Helicoverpa armigera, Spodoptera frugiperda e Anticarsia gemmatalis. No cultovo de milho, controla também o coró Phyllophaga cuyabana e o coró Lyogenes fusca.

Soja & algodão

Lubrificante semissintético

Uma das atrações do evento de inauguração do Centro de Treinamento e Difusão Tecnológica do Núcleo Regional Norte, da Ampa, realizado em Sorriso (MT), foi a vitrine tecnológica do IMAmt. Entre outras novidades, o instituto apresentou três cultivares de soja, uma das quais a IMA 84114RR, que tem como pontos fortes alta produtividade (média de 3960 Kg/ha), resistência ao acamamento e aos nematoides de cisto (raças 1 e 3). Com ampla adaptação de plantio, é indicada para MT, MS, MG, GO, TO, MA, BA, PI e PA. A soja integra o programa de avaliação do potencial produtivo de plantas oleaginosas desenvolvido pelo IMAmt com o propósito de oferecer aos produtores de algodão associados à Ampa – Associação Mato-grossense dos Produtores de Algodão alternativas para rotação de culturas, seja pela melhoria das condições do solo ou controle de nematoides, seja pelo potencial para produção de óleo na segunda safra tardia, como é o caso do cártamo, do gergelim e híbridos de mamona.

Forrageiras para a safra 2015/16

Apresentada pela primeira vez na Expointer, realizada em Esteio (RS), a linha de forrageiras da Série 8000 da John Derre chegou ao mercado. “São três modelos disponíveis (8100, com motor de 375 cavalos; 8300, de 483 cv; e 8500, de 577 cv), com configurações variadas para atender todos os perfis de clientes que produzem silagem e prestadores de serviço em colheita de forragem”, diz Thércio Freitas, gerente de marketing da empresa. Segundo ele, a alocação dos componentes internos e o uso de sistemas hidráulicos exigem menos do motor, diminuindo o consumo de combustível.

56 | Agro DBO – novembro 2015

Lubrax Unitractor Premium é o mais novo lubrificante desenvolvido pela Petrobras Distribuidora para tratores de alto desempenho e veículos pesados. O produto chega ao mercado em balde metálico de 20 litros, tambor metálico de 200 litros, contentor de mil litros e a granel. Superior aos demais produtos da categoria, segundo a empresa, apresenta elevada estabilidade à oxidação, excelente resistência ao desgaste e à corrosão e redução dos níveis de ruído.


Novidades no campo Quebra de dormência

Tecnologia à base de nitrogênio, óxido de cálcio e extratos naturais, o Freddy é um fertilizante italiano, importado e distribuído no Brasil pela Nutriceler. Segundo a empresa, substitui com segurança os agroquímicos à base de cianamida hidrogenada usados, por exemplo, para quebra de dormência da uva. A formulação do Freddy não oferece riscos à saúde humana e ao meio ambiente. O produto já está disponível aos produtores do vale do rio São Francisco.

Composto orgânico para o s0lo

A Alta apresenta o Vitasoil, um composto orgânico desenvolvido com nanotecnologia capaz, segundo a empresa, de melhorar as condições físico-químicas e microbiológicas no solo, criando um ambiente propício para o desenvolvimento das plantas e aumento da produtividade. Em lavouras de café, por exemplo, o uso do produto resultou em acréscimo de 28,5% na produção de grãos. Nos cultivos de soja, milho, algodão e feijão, o incremento foi de 8 a 10%.

Antioxidante natural

▶ carga cor de rosa

Motorista, não estranhe ao cruzar na estrada com caminhões cobertos com lona cor de rosa. A causa é boa. Lançamento da Cipatek, empresa do setor de revestimentos sintéticos, a lona remete à campanha nacional contra o câncer de mama. Segundo Rosemeire Branco, gerente comercial da empresa, “a nova cor também possibilita um toque feminino, já que o número de mulheres na direção de veículos pesados cresce a cada ano”. A lona pode ser utilizada em diversos tipos de caminhão, como truck, 3/4, carreta de dois a três eixos, basculante toco, bitrem, treminhão e rodotrem.

A VegQuality, empresa do segmento de frutas, legumes e verduras prontas para consumo, apresenta o Veg Oxi, um antioxidante natural à base de vitamina C (ácido ascórbico). Conforme a empresa, o produto não tem gosto, não altera o sabor e preserva a aparência, a textura e os nutrientes dos alimentos por mais tempo. “É a solução que faltava para evitar o escurecimento ou oxidação de frutos, legumes e verduras no pós-processamento”.

novembro 2015 – Agro DBO | 57


Análise de mercado

O trigo continua o mesmo Produção abaixo da demanda e dólar elevado formam uma equação difícil de resolver, mas de fácil predição: o pãozinho ficará mais caro.

O

drama do Brasil é que o país normalmente só produz metade do trigo que consome. E esta relação deverá ser de 40% de produção e de 60% de importados na atual temporada. O total a ser colhido deverá ficar em 5,7 milhões de toneladas, das quais 1,7 milhão de qualidade tão baixa que serão destinadas ao consumo animal ou exportadas para o sudoeste da Ásia. Assim, restarão 3,9 milhões para consumo humano, para uma necessidade de moagem de 10,2 milhões de toneladas, confirmando a necessidade de importação ao redor de 6 milhões de toneladas. A importação coloca o Brasil na dependência direta do trigo do Mer-

cosul. Embora a Argentina tenha reduzido a sua área plantada em 15,9% nesta temporada, o estoque da safra anterior, ao redor de 3,2 milhões t permitirá a venda de 3,9 milhões para o Brasil. Do Paraguai, virão 710 mil t; do Uruguai, cerca de 450 mil e dos Estados Unidos 1,03 milhões. A área plantada com trigo no Brasil nesta temporada ficou em 2,5 milhões de hectares, com queda de 10,9% em relação à safra anterior. As causas, na época do plantio, eram as baixas perspectivas de rendimento, com previsão de ocorrência de chuvas que danificariam a produção, provocadas pelo fenômeno climático El Niño, que realmente acabaram acontecendo. O fato mais relevante

no momento é a tendência de redução de 15,6% da área nos estados do Sul, em decorrência de problemas climáticos, e de expansão de 14,6% nna região centro-oeste e de 13,3% na sudoeste, devido à melhores rendimentos e maior qualidade. A produtividade da safra brasileira foi estimada em 2.415 quilos/ hectare, 2,3% abaixo do rendimento da safra anterior, que já tinha sido baixo. Quanto à demanda, o dado mais significativo é a redução de 20% na moagem do Rio Grande do Sul, pelos seguintes motivos: a) menor oferta de trigo panificável local e grande necessidade de importação; b) redução na demanda de farinhas industriais, da qual o estado é o prin-

SOJA – As cotações variaram bastante ao lon-

go de outubro no mercado brasileiro. O excesso de chuva no Sul do Brasil e a estiagem no Centro-Oeste atrasaram os trabalhos de semeadura da safra de verão, influindo positivamente nos preços. A demanda externa firme e a valorização do dólar em relação ao real ajudou a sustentá-los – com boa parte da produção da temprada 2015/16 já negocidada no mercado futuro, os produtores prorizaram o plantio.

* Em 15/10, o Indicador Cepea/Esalq/BM&FBovespa registrou R$ 81,85 por saca de 60 kg, posto Paranaguá, descontado o prazo de pagamento pela taxa CDI/Cetip.

ALGODÃO – O preço da pluma no mercado

nacional oscilou levemente nas três primeiras semanas de outubro. Segundo pesquisadores do Cepea, além das entregas já programadas para o período, a variação do dólar ante o real e os valores externos deixaram tanto compradores quanto vendedores cautelosos para novas negociações. No acumulado parcial do mês, o Indicador Cepea/Esaql recuou 0,08%, fechando a R$ 235,34 no dia 20.

* Em 15/10, o Indicador Cepea/Esalq registrou R$ 234,94 centavos de real por libra-peso.

ARROZ – Os preços seguiram firmes nas três

primeiras semanas do mês passado no Rio Grande do Sul. Viraram o mês de setembro em R$ 39,42/ sc/50 kg, mas se estabilizaram ao longo de outubro na casa dos R$ 40. Conforme o Cepea, as intenções de compra no mercado interno superam as de venda. Atacadistas das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste demonstram interesse por novos lotes, mas os orizicultores retrairam-se, preocupados com o plantio da safra 2015/16.

58 | Agro DBO – novembro 2015

* Em 15/10, o Indicador do Arroz em Casca Esalq/Senar-RS registrou R$ 40,58 à vista por saca de 50kg, tipo 1, posto indústria Rio Grande do Sul.


Análise de mercado cipal fornecedor. De qualquer forma, a moagem brasileira deve cair no mesmo percentual , à exceção do Paraná, que, por ter acesso a trigo panificável mais barato, por questões logísticas, deverá manter 100% de sua capacidade ativa. Considerando os preços finais CIF moinhos, as melhores alternativas de importação para os moinhos do RS, PR, SP e MG são de trigo paraguaio, que chega ao Brasil a preços iguais ou até levemente inferiores aos nacionais e com qualidade excelente (PH 82, W 290 e FN 300). Utilizando o mesmo critério, as preferências por trigo importado se darão, em segundo lugar, pelo uruguaio, que deverá vir com boa qualidade e poder[a ser adquirido por via rodoviária pelos moinhos gaúchos em quantidades menores e com logística mais adequada do que a marítima. Em terceiro lugar, pelo argentino, que, por estar livre de taxas com embarques marítimos, deverá ter a preferência dos moinhos do Sudeste, Norte e Nordeste, porque chegaria a estes

destinos com preços menores do que o trigo americano; Por último, depois de esgotadas as outras alternativas, devido ao seu custo mais elevado, estamos prevendo um complemento das importações com trigo americano, para os moinhos do litoral do Sudeste, Norte e Nordeste. Com relação ao Mercosul, o bloco vem reduzindo ano a ano a sua produção de trigo, por dois motivos: a) a maioria dos produtores, com exceção do Paraguai, não investiu muito em tecnologia, com medo de perder tudo com as chuvas do El Niño; b) a forte interferência governamental na Argentina, cujo governo impôs taxa de exportação de 23% sobre os preços brutos do trigo, além de contingenciar a exportação, retendo no país, artificialmente, a metade do volume destinado ao exterior, com o objetivo de manter os preços internos mais baixos neste ano de eleição. Luiz Carlos Pacheco Consultoria Trigo & Farinhas

TRIGO – Os triticultores do Sul do Brasil passaram aperto com as fortes chuvas que assolaram a região no mês passado, preocupados com o andamento dos trabalhos de colheita e, principalmente, com possível quebra de produtividade e perdas na qualidade do grão. As cotações oscilaram no mercado doméstico, mas, na média, subiram na primeira quinzena de outubro, sustentados, justamente, pela baixa oferta de cereal de boa qualidade e pelo alto patamar da moeda norte-americana.

* Em 15/10, o Indicador Cepea/Esalq registrou R$ 711,09 por tonelada, mercado disponível, à vista (o valor a prazo é descontado pela taxa NPR), posto Paraná.

CAFÉ – A exemplo do que ocorreu nos últimos

* Em 15/10, o Indicador Café Arábica Cepea/Esalq registrou R$ 500,81 por saca de 60 kg, bica corrida, tipo 6, bebida dura para melhor, posto cidade de São Paulo.

meses, o “mercado do clima” interferiu fortemente nas cotações em outubro. O preço oscilou bastante, ao sabor dos interesses em jogo. Os picos de alta foram impulsionados por preocupações quanto ao clima seco no Brasil (temperaturas altas e chuvas escassas, ou insuficientes, até meados de outubro). Os de baixa, pela previsão de chuvas fortes na virada de outubro para novembro. A tendência, no curto prazo, é de queda.

Fonte: Cepea – www.cepea.esalq.usp.br

MILHO –

* Em 15/10, o Indicador Esalq/BM&FBovespa registrou R$ 32,17 por saca de 60kg, descontado o prazo de pagamento pela taxa CDI/Cetip.

As cotações cairam na primeira quinzena de outubro, mas reagiram na terceira semana, sustentando-se na faixa dos R$ 32. O bom ritmo das exportações ajudou a segurar os preços no mercado doméstico. Ao mesmo tempo, muitos produtores retraíram-se, na expectativa de valorização maior do dólar ante o real. Do outro lado da mesa de negociações, os compradores ofertaram preços abaixo do que esperavam os vendedores, diminuindo o ritmo de comercialização.

* Em 15/10, o Indicador Açúcar Cristal Cepea/Esalq registrou R$ 64,49 por saca de 50 kg, com ICMS (7%), posto São Paulo.

AÇÙCAR – As cotações seguiram trajetória altista na primeira quinzena de outubro, amparadas por três razões básicas: 1 – aumento das exportações, o que remunerou melhor o setor e fortaleceu os preços no mercado doméstico; 2 – prioridade à produção de álcool. Mais uma vez, a safra brasileira será alcooleira, o que demininuirá a oferta de açúcar; 3 – perspectivas de déficil global, impactando diretamente o preço no mercado internacional.

novembro 2015 – Agro DBO | 59


Biblioteca da Terra Cobras e mais cobras

Obra do biólogo e pesquisador do IVB – Instituto Vital Brazil, Aníbal Rafael Melgarejo, o livro bilíngue (português-inglês) Criando Serpentes, Salvando Vidas apresenta características das principais cobras existentes no Brasil, as regiões de maior ocorrência e curiosidades como o “serpentário natural” da Ilha da Queimada Grande, no litoral sul do estado de São Paulo. Formado por costões rochosos, recobertos de Mata Atlântica, sem praias, o local abriga a maior concentração de jararacas da mesma espécie (a ilhoa) em todo o mundo. Do gênero Bothrops (jararacas), a ilhoa é apenas uma das espécies que vivem no Brasil, como a “preguiçosa”, a “jararacado-norte”, e a “urutu-cruzeiro”, responsáveis por 90% dos 20 mil acidentes com cobras notificados anualmente no país, embora não sejam as mais letais -- entre todas as cobras com habitat no Brasil, a mais venenosa é a coral verdadeira (Leptomicrurus collaris). Em caso de picada, a vítima pode morrer em poucas horas, se não for socorrida rapidamente. Com 96 páginas, o livro custa R$ 50. O link para compra é www.riobooks.com.br/criandoserpentes-salvando-vidas?filter_ name=criando%20serpentes&filter_ description=true&filter_sub_ category=true

60 | Agro DBO – novembro 2015

Cultivo destrinchado

Resultado de três anos de trabalho envolvendo 15 pesquisadores de diversas unidades da Embrapa e de universidades parceiras, o livro Manejo de plantas daninhas na cultura do algodoeiro, editado pelos pesquisadores Augusto Costa e Valdinei Sofiatti, aborda métodos de controle, trato de plantas voluntárias e restos culturais, utilização de herbicidas, uso de OGMs, resistência de plantas daninhas a herbicidas e outras questões relacionadas ao cultivo. Dividido em sete capítulos, custa R$ 25. Para comprá-lo, acesse www.embrapa.br/livraria

Fungos parceiros

De autoria dos pesquisadores Luis Francisdo Angeli Neves, Pedro Manuel J. O. Neves e Marcos Rodrigues de Faria, o livro Recomendações para utilização de fungos entomopatogênicos no controle de pragas traz informações sobre os diversos tipos de fungos capazes de parasitar e matar insetos, espécies (“raças”) com maior potencial para controle das pragas-alvo, doses recomendadas, dicas de aplicação e outros dados. O preço é R$ 15, mais R$ 5 para cobrir os custos de postagem. E-mail para compra: consultoria@fundag.br

Manejo em armazéns

Editado pela Embrapa, o livro Manejo Integrado de Pragas de Grãos e Sementes Armazenadas abarca procedimentos e técnicas de controle de pragas em unidades armazenadoras ou de beneficiamento. Segundo Irineu Lorini, um de seus autores (os outros são Francisco Krzyzanowski, José de Barros França Neto, Ademir Hennig e Fernando Henning), “é um referencial básico para assegurar a qualidade das sementes”. A publicação, ao custo de R$ 15, pode ser adquirida através do fone (43) 3371-6119 ou do e-mail cnpso.vendas@embrapa.br

Molécula polêmica

Lançado durante o I Simpósio Nacional sobre Plantas Daninhas em Sistemas de Produção Tropical, realizado em Sinop (MT), o livro Aspectos Biológicos e Econômicos do Uso dos Herbicidas à Base de 2,4-D no Brasil reúne dados sobre segurança, eficácia e importância da molécula no controle de plantas daninhas nas culturas da soja, milho, cana, trigo, arroz e café. De autoria dos pesquisadores Robinson Osipe e Jethro Barros Osipe, custa R$ 15, mais despesas com frete (em formato e-book, o preço é R$ 10). O link para compra é www.bibliotecacientifica.com.br


novembro 2015 – Agro DBO | 61


62 | Agro DBO – novembro 2015


novembro 2015 – Agro DBO | 63


n

Fazendas, Sítios e Áreas

A ANDRE VILLAÇA IMÓVEIS EM TODA MG. - WWW.CONCRETIZASEUNEGOCIO.COM.BR Fazendo AVALIAÇÕES patrimoniais, RURAIS E URBANAS e intermediando negociações de fazendas, sítios e haras! Sempre com segurança, credibilidade e tradição de 27 ANOS realizando bons negócios no campo e na capital Mineira! Veja várias opções, com fotos em nosso site. PJ 4013. CRECI 10752/4ªReg MG. Tel: (31) 2519.2727 ou contato@andrevillaca.com.br ARRENDAMENTO - Pindamonhangaba/SP, bairro do Goiabal. Sítio com 24 hectares, todo preparado para a produção de leite, pasto com capim Braquiaria, mangueiro, capineira, tanque de resfriamento (1.200L), 2 compressores p/ ordenhadeira, 3 silos, 3 casas, cercas, 2 lagos, água abundante, energia elétrica). Contato com Thiago no tel: (11) 99965.1111. E-mail: thigavila@hotmail.com VENDE-SE FAZENDA EM JABORANDI / OESTE DA BAHIA - A 370km de Brasília. Agricultura e Pecuária. 10 anos de plantio de soja. Sede, barracão, casa, depósito de defensivos, poço artesiano e curral. 2000 ha. Valor à vista: R$ 6.000/ha. Contato: Cassiano Zoller. E-mail: cassianozoller@yahoo.com.br WANDERLEY / OESTE DA BAHIA - Vendo fazendas de 500 a 1.500 hectares. Área nobre,

64 | Agro DBO – novembro 2015

excelente para milho, algodão, sorgo, etc. Tel: (77) 9998-8885. Detalhes no site: WWW.NG2IMOVEIS.COM.BR - CRECI 14670/BA. WWW.BRAGARURAL.COM.BR - Fazendas na Bahia. Pecuária, reflorestamento, agricultura, lazer, etc. Atuamos em diversas regiões, com excelentes opções para seu investimento. Entre em contato no tel.: (71) 9958-3342, com Braga. Creci 6432. E-mail: contato@bragarural.com.br n

Mudas e Sementes

AGROMUDAS BRASIL - Temos por objetivo excelência e qualidade nas mudas produzidas e satisfação total dos clientes. Produtos: Capim Tangola, Grama HEMÁRTRIA, Grama JIGGS, Grama TIFTON 85. Também prestamos serviço de ASSESSORIA, ORIENTAÇÃO e DESENVOLVIMENTO na implantação da pastagem. Arabutã/SC. Contato com Marcelo no tel.: (49) 9971-3844. E-mail: atendimento@ agromudasbrasil.com.br Mais informações no Site: www.agromudasbrasil.com.br AGROPEL SEMENTES DE ARROZ - Onde o produtor encontra sementes de arroz de alta qualidade e pureza varietal, com grande potencial de germinação e vigor. Conta agora com uma nova cultivar, BRS Esmeralda, lançada pela Embrapa para revolucionar o cultivo de arroz de terras altas. Cultivar que apresenta um bom

“Stay Green”, com alta produtividade e qualidade de grãos. E-mail: agropelsementes@hotmail. com Tel.: (66) 3515-7100. www.agropelsementes.com.br n

Serviços

AERO AGRICOLA RIO CLARO - São José do Rio Claro/MT. Somos especializados em serviços de aplicação aérea de fungicidas , inseticidas, adubos, herbicidas, maturadores, semeadura, combate a incêndio e controle de cigarrinhas em pastagens. Contato nos Tel: (65) 3386-2326 / (66) 9995-6338. E-mail: contatos@aeroagricolarioclaro.com.br / www.aeroagricolarioclaro.com.br AGRO DIGITAL - O seu novo canal para o agronegócio! Temos a solução rápida e prática para vender, comprar ou trocar bens de consumo rural. Divulgue seus produtos e serviços sem intermediários. Realize ótimos negócios! Visite o site: www.agrodigital.com.br CAMPO FORTE SEGUROS - Contratação de Apólices para SAFRA DE SOJA e PIVÔ CENTRAL, em todo o Brasil. Seguradoras: MAPFRE e NOBRE. Atuamos no mercado há mais de 15 anos. Contato: Tel/Fax: (11) 2162.9415 e (11) 2141.2506. E-mail: campoforteseguros@campoforteseguros.com.br / www.campoforteseguros.com.br


Calendário de eventos

NOVEMBRO

8

XXV Conird – Congresso Nacional e Irrigação e Drenagem – De 8 a 13 – Universi-

dade Federal de Sergipe – Aracaju (SE) – Site: www.www.abid.org.br E-mail: abid.conird@gmail.com.

9

6º Congresso Brasileiro de Mandioca e 1º Congresso Latino-Americano e Caribenho de Mandioca – De 9 a 13 – Rafain Palace Hotel – Foz do Iguaçu (PR) – Fone: (45) 3015-2121 Site: www.xvicbm.com.br – E-mail: comunicacao@alvoeventos.vcom.br

9

6º Congresso Brasileiro de Biotecnologia – De 9 a 13 –

Hotel Grand Bittar – Brasília (DF) – Fone: (61) 3322-0548 – E-mail: contato@newvisionbsb.com.br

11

II Simpósio de Pós-colheita de Grãos do Estado de São Paulo – De 11 a 12 – Salão de

Eventos da Associação Comercial e Industrial de Assis – Assis (SP) Site: www.abrapos.org.br

11

X Agrener GD 2015/ Congresso sobre Geração Distribuída e Energia no Meio Rural – De 11 a 13 – Instituto de Energia e Ambiente – São Paulo (SP) – Site: www.iee.usp.br – E-mail: contato@iee.usp.br

11

8º Congresso Nacional da Bioenergia – De 11 a 12 –

Centro Universitário Unisalesiano – Araçatuba (SP) – Fone: (18) 21030528 – Site: www.udop.com.br

11

7º Agrocampo – De 11 a 22

– Parque Internacional de Exposições Francisco Feio Ribeiro – Maringá (PR) – Fone: (44) 3261-Site:

www.srm.org.br – E-mail: mario@ srm.org.br

12

3º Fórum de Agricultura da América do Sul (Agricultural Outlook Forum 2015) – De 12 a 13 – Museu Oscar Niemeyer – Curitiba (PR) – Fone: (41) 3350-4400 -–Site: www. agrooutlook@grupogpac.com.br

18

3º Simpósio Internacional da Ciência do Agronegócio

De 12 a 13 - Auditório da Faculdade de Agronomia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul Porto Alegre (RS) – Site: simposioagrone gocio.com.br

22

XXI SBRH – Simpósio Brasileiro de Recursos

Hídricos – De 22 a 27 – Centro de Convenções Ulisses Guimarães – Brasília (DF) – Fone: (11) 3056-6000 – E-mail: xxisbrh@abrh.org.br

23

XXI SBRH – 13ª Semana Agronômica – De 23 a 27

Universidade Federal de Goiás e Centro de Cultura e Eventos Dom Benedito Cóscia – Jataí (GO) – Site: www. semanaagronomica.jatai.ufg.br

26

Renex 2015/3ª Renex South America – De 26 a

28 – Centro de Eventos da Federaação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul – Porto Alegre (RS) – Site: renex-southamerica.com.br/ – E-mail: renex@hanover.com.br

30

26ª Jornada de Atualização em Agricultura de Precisão – De 30 a 4/12 – Au-

ditório do Departamento de Engenharia de Biossistemas – Piracicaba (SP) – Fone: (19) 3417-6604 – E-mail: cdt@fealq.org.br

24/11 – 13º Seminário Nacional Milho Safrinha – De 24 a 26 – Excellence Centro de Eventos – Maringá (PR) – Fone: (44) 30312052 – E-mail: creventos@ creventos.com.br Promovido pela ABMS – Associação Brasileira de Milho e Sorgo, o seminário acontece a cada dois anos. O tema básico desta vez é “Milho safrinha: 30 anos de inovação em produtividade e qualidade”. Cerca de 600 participantes, entre produtores rurais, pesquisadores, técnicos, professores e estudantes de todo o país são esperados para discutir o panorama atual da cultura (a segunda em importância econômica, atrás apenas da soja), manejo, sistemas de produção, novidades tecnológicas, controle de pragas e doenças e outros temas de interesse dos agricultores.

DEZEMBRO

1

26ª FNA/Feira Nacional de Artesanato – De 1 a 6 – Ex-

pominas – Belo Horizonte (MG) – Site: www.feiranacionaldeartesanato.com. br – E-mail: contato@feiranacionaldeartesanato.com.br

2

14º Seminário sobre Produtividade e Redução de Custos da Agroindústria Canavieira – De 2 a 3 – Centro de Convenções – Ribeirão Preto (SP) – Fone: (16) 3211-4770 – E-mail: eventos@ ideaonline.com.br

7

1º Enag/Encontro Nacional da Agroindústria – De 7 a 11

– Bananeiras (PB) – Fone: (83) 99991-4128 – E-mail: enag.financas@ gmail

9

2º Congresso Internacional Resag 2015/Gestão da Água e Monitoramento Ambiental – De 9

a 11 – Universidade Tiradentes – Aracaju (SE) – Fone: 11) 3283-1073, ramais 28 e 29 – E-mail: congresso2015@resag.org.br

JANEIRO

20

Showtec 2016 – De 20 a 22

– Estação Experimentação da Fundação MS (Estrada da Usina Velha, km 2) – Maracaju (MS) – Fone: (67) 3454-2631 – Site: www.portalshowtec.com.br – E-mail: comunicacao@ fundacaoms.org.br

27

18º Itaipu Rural Show – De 27 a 30 – Centro de Treinamento e Difusão de Tecnologias da Cooperativa Regional Itaipu (BR 282 – km 580) – Pinhalzinho (SC) – Fone: (49) 3366-6546 – Site: www. itaipururalshow.com.br

novembro 2015 – Agro DBO | 65


Legislação

O conto do bilhete premiado Quitar dívidas administrativas ou judiciais em instituições financeiras, pedem cuidados quando envolvem créditos de terceiros. Fábio Lamonica Pereira *

O

portunistas sempre estão à procura de vítimas quando o problema a ser resolvido se constitui na necessidade de quitação de um débito de valor elevado, com pagamentos em dia ou atrasados, seja em cobrança administrativa ou judicial, junto a uma instituição financeira pública ou privada. Nesse caso, um intermediador toma conhecimento (não se sabe como) de que o devedor precisa saldar um empréstimo. Então, oferece a venda de um crédito que poderá ser usado para quitar a dívida ou, caso a cobrança seja judicial, garantir o pagamento até decisão final do judiciário.

do com o pagamento do crédito, do serviço prestado etc. Sem investigar a origem do suposto crédito, o devedor concorda em realizar todo o procedimento. A cessão (transferência) do crédito é realizada em cartório, por meio de Escritura Pública, o que transmite a aparente segurança. Iniciando-se o procedimento, o devedor (que já pagou parte ou totalidade do crédito) é orientado até mesmo a deixar de pagar a instituição financeira, aguardando uma decisão judicial que determine a quitação do débito. Uma ação é distribuída e pede-se uma decisão liminar para que os débitos sejam quitados com o

Quando o valor do benefício for muito atrativo, a primeira atitude deve ser de cautela.

O autor é advogado, especialista em Direito do Agronegócio.

A venda do crédito é apresentada de maneira atrativa, sendo concedidos descontos de até 80%. Isso mesmo, promete-se que, ao se pagar até 20% do valor total, a dívida poderá ser quitada ou garantida, havendo, portanto, grande pressão para que o negócio seja fechado o mais rápido possível. Confiando na promessa de que levará grande vantagem (esse é o problema), o devedor concorda em comprar o crédito. Veja o leitor que a negociação envolve intermediários que exigirão, obviamente, uma comissão significativa, mediante pagamento antecipado. O devedor não escapará de assinar um contrato (muitas vezes mais oneroso que o assumido com a instituição financeira) se comprometen-

66 | Agro DBO – novembro 2015

crédito que foi adquirido. Nessa fase o devedor já estaria praticamente tranquilo, sem o débito com a instituição financeira, um verdadeiro prêmio de loteria. É verdade que, de fato, há créditos que possuem origem idônea e podem ser utilizados para pagamento de dívidas junto a instituições financeiras, ou ser oferecidos como garantia para discussão da dívida quando já há cobrança judicial. Contudo, alguns cuidados devem ser tomados. Quando o valor do benefício for muito atrativo, a primeira atitude deve ser de cautela. Veja que uma operação de crédito firmada com uma instituição financeira é devidamente regulamentada por legislação específica e geralmente possui garantias, como bens

do devedor e/ou de terceiros, o que dificulta a negociação com elevados descontos. Além disso, qual o motivo que leva um terceiro a vender um crédito com descontos tão expressivos, englobando ainda comissões e outras despesas? É imprescindível verificar a idoneidade do crédito. Caso se trate de um crédito originário de uma ação movida contra a instituição financeira, todo o processo judicial deverá ser cuidadosamente analisado a fim de que seja possível garantir que, de fato, o crédito tenha efetiva validade. Caso se trate de debêntures (título de dívida que confere a seu detentor um direito de crédito contra a companhia que o emitiu), ou de ações, é preciso investigar se aquele que está cedendo (transferindo) o crédito de fato é o titular de direito, bem como apurar o real valor de mercado e a facilidade de venda. De toda forma, com a propositura de uma ação, o juiz poderá conceder uma decisão liminar, é verdade, mas será provisória, podendo ser alterada e mesmo objeto de Recurso por parte da instituição financeira. E, tratando-se de um processo, deverá atravessar todas as fases de defesa por parte do banco (sendo que este geralmente se utiliza de todos os recursos cabíveis) até que haja uma decisão definitiva sobre a questão da qual não caiba mais recurso. Assim, a recomendação é simples: utilize a razão e busque o máximo de informações confiáveis antes de assumir um compromisso que pode trazer graves e custosos problemas, em vez de soluções. Pode ser o conto do bilhete premiado.




Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.