Do Leitor
SÃO PAULO O artigo de Dr. Décio Luiz Gazzoni, intitulado “A inteligência das plantas” (edição de novembro de 2015, pgs 10 e 11), nos leva a pensar o quanto sistematicamente negligenciamos as relações interespecíficas harmônicas (exemplos simbioses) que compõem o habitat de produção agrícola. O grande desafio dos cientistas é potencializar essas relações interespecíficas harmônicas. E, ao mesmo tempo diminuir o efeito das relações interespecíficas desarmônicas (exemplos doenças e pragas), com o mínimo impacto nas relações desejadas. A condição sine qua non para vencer este desafio é ter um corpo científico multidisciplinar alinhado com o problema. Parece-me que as “forças econômicas do mercado” estão acordando para isso, tarde, mas já necessário. Solismar Venzke Filho Campinas
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Sobre a matéria de capa da Agro DBO, de dezembro 2015, “A natureza venceu”, parece que finalmente alguém “acordou”! Para dar soluções aos problemas fitossanitários apontados, e outros, em relação à produtividade, nós temos que evoluir de um estágio de desenvolvimento minerador e extrativista, que é “viver do que outros construíram até acabar” (tábula rasa, deserto, área degradada, desligamento dos serviços ecossistêmicos que possibilitam a vida superior e a produção), para um desenvolvimento construtivo, pelo menos conservacionista dos serviços ecossistêmicos. Estive meditando e revendo meus conceitos: verifiquei que no desenvolvimento construtivo (partindo da estaca zero, do nada, de um ambiente natural primário inviável para suportar vida superior e produção de biomassa) a natureza, além de se esforçar por construir um solo poroso, rico em material orgânico (dentro e sobre ele), com tríplice camada de proteção (dossel vegetal, serapilheira, enovelado radicular superficial) que permite captar e armazenar o máximo de água das chuvas, finaliza sua obra com o estabelecimento de uma floresta (acumula carbono), tanto nos trópicos (floresta tropical úmida) como no círculo polar ártico (tundra). A cobertura arbórea dos solos é imprescindível em qualquer situação climática, pois ajuda a estabilizar temperatura, a umidade relativa do ar, e o regime de chuvas. A agricultura precisa incorporar isso, não somente a pequena agricultura familiar em pirambeiras, mas também aquela agricultura industrial nos extensos planos, sem nenhuma
proteção arbórea, seja para sombreamento, seja para evitar erosão eólica entre os plantios. Os aumentos de produtividade em soja (veja os resultados do último Desafio CESB) nos informam que todos os ganhadores usaram e abusaram da matéria orgânica nas áreas de plantio, e isso é um indicador do que precisa ser feito. Só estou aguardando, para daqui a pouco, a agricultura americana (a brasileira também) entrar em colapso tanto pela destruição da estrutura ambiental essencial como pelo esgotamento dos aquíferos. Acho que no próximo pico das atividades solares deve ocorrer algo neste sentido (lá por 2024). Temos que corrigir isso enquanto há tempo. Achei interessante um parágrafo do bispo Battista Re: BATTISTA RE, G. Um desequilíbrio que pode levar a terríveis catástrofes. Arautos do Evangelho, v.14, n.168, Dezembro, p.38-39, 2015. Sem Deus, o ser humano deixa de ter princípios que iluminem o caminho da vida. Tentado a pensar que, com a nossa inteligência e as nossas capacidades, podemos encontrar solução para todos os problemas, esquecemo-nos de que existem leis, inscritas por Deus Criador, na natureza das coisas, que o homem e a mulher devem respeitar. E, quando se chega a esquecer que as coisas criadas têm as suas leis intrínsecas e ineludíveis, nasce um desequilíbrio que pode levar a catástrofes terríveis. Odo Primavesi São Paulo AgroDBO se reserva o direito de editar/resumir as mensagens recebidas devido à falta de espaço.
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Jeferson Saggiorato e família / Produtor de milho de Mato Castelhano - RS
Ketchum
É agindo agora que você preserva o futuro.
Sumário
32 Café
Antes conhecido pela produção de fumo de rolo, o município de Poço Fundo (MG) agora se destaca pela cafeicultura orgânica.
38 Soja
A certificação cresce no Brasil, mas a adesão dos agricultores é pequena: por falta de segregação nos portos, os europeus não pagam preço diferenciado.
44 Borracha
Empresas organizam ofensiva para estimular o cultivo de seringueiras no Brasil e valorizar o produto nacional no mercado internacional
48 Gestão
Projeto Referência, conduzido pela Aprosoja/MT, auxilia o produtor rural a administrar a propriedade com eficiência, lucratividade e profissionalismo.
24 51 Entrevista
Matéria de capa
Estiagem durante a semeadura da safra 2015/16 de grãos no Mato Grosso e outras regiões do país derruba a produtividade e compromete e rentabilidade dos agricultores. Eles esperam que o regime de chuvas neste mês de fevereiro e em março os ajude a recuperar os prejuízos.
Pesquisador da Fundação MT, o engenheiro agrônomo Fabiano Siqueri discorre sobre a safra de grãos e outros problemas do campo.
Artigos 10 - Rogério Arioli avalia o cenário econômico e o futuro do agronegócio 12 - Décio Gazzoni recomenda muita cautela contra animais peçonhentos 30 - Ari Gitz trata da importância dos feromônios em controle biológico 53 - Claudio Spadotto alerta sobre a ameaça das pragas quarentenárias 54 - Amilcar Centeno sugere melhor uso das máquinas na segunda safra 66 - Fábio Lamonica destrincha a lei sobre contratos de compra e venda
Seções Ponto de Vista.................................................10 Almanaque.......................................................14 Notícias da terra.............................................16 Clima..................................................................42
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Novidades no campo...................................56 Análise de mercado......................................58 Biblioteca da terra..........................................60 Calendário de eventos.................................65
Carta ao leitor
O
s mais antigos percebem no dia a dia que o mundo não é mais o mesmo de antigamente. Os mais jovens, acostumados com essas constantes modernizações, convivem com o nosso mundo em permanente transformação. Nem um e nem outro, entretanto, conseguem entender essa avalanche permanente de alterações, que nos atinge de forma direta ou indireta, seja em nossa vida pessoal, seja em nossas atividades econômicas e produtivas. A verdade é que mudança é a palavra adequada para definir os conturbados tempos que vivemos, e essas mudanças, cada vez mais rápidas, tornam difícil a compreensão do todo, deixando as pessoas num clima de incerteza sobre o que fazer, e pior, qual a decisão certa a ser tomada diante das notícias – boas e más – a que estamos sujeitos ou a que assistimos. É dentro desse panorama que entendemos a função da mídia, na qual a revista Agro DBO se insere como órgão especializado em agricultura e, dentro do que nos é possível, tentamos transmitir aos leitores as análises do que está acontecendo e do que está por vir a acontecer em forma de tendência. Não foi outro o espírito e o foco dos editores ao planejar o conteúdo da presente edição, desde a matéria de capa – “Colheita de chumbinhos” –, que registra as vicissitudes dos sojicultores no Brasil Central, relatadas pela jornalista Marianna Peres, e que, em outra reportagem, esmiúça as ações de gestão inovadora desses mesmos produtores na matéria “Controle total”. Nos dois casos, mudanças, de clima e de comportamento. O jornalista Ariosto Mesquita relata na matéria “Na onda do mercado” sobre a situação da rastreabilidade, mudança resultante de um desiderato urbano das gerações mais jovens, e sobre a qual os produtores rurais ainda são resistentes em aderir. O café orgânico – outra mudança – foi pesquisado em Minas Gerais pelo jornalista Rogério Furtado na matéria “Reduto orgânico”. Na entrevista do mês o pesquisador Fabiano Siqueri, da Fundação MT, analisa a safra complicada de verão no Mato Grosso, aponta o El Niño como responsável, um fenômeno que não é uma mudança climática, tampouco um evento extremo, mas provoca prejuízos e traz dores de cabeça aos produtores. Siqueri explica a delicada questão das pragas e doenças – mais uma mudança – que insistem em sobreviver a todos os tratamentos químicos, aponta responsabilidades, e prevê mais mudanças no futuro breve. Por tudo isso, caro leitor, acompanhe nas páginas da Agro DBO as mudanças de hoje e de amanhã, troque informações com a gente, juntos conseguiremos entender melhor o que o mundo será dentro em breve, pois vivemos não apenas a era das comunicações, mas a era das mudanças, e quem não entender as mudanças pode sucumbir.
é uma publicação mensal da DBO Editores Associados Ltda. Diretor Responsável Demétrio Costa Editor Executivo Richard Jakubaszko Editor José Augusto Bezerra Conselho Editorial Décio Gazzoni, Demétrio Costa, Evaristo Eduardo de Miranda, Hélio Casale, José Augusto Bezerra e Richard Jakubaszko Redação/Colaboradores Amílcar Centeno, Ari Gitz, Ariosto Mesquita, Claudio Spadotto, Décio Luiz Gazzoni, Fábio Lamonica Pereira, Hélio Casale, João Alberto Brando, Marco Antônio dos Santos, Marianna Peres, Rogério Arioli Silva e Rogério F. Furtado Arte Editor Edgar Pera Editoração Célia Rosa e Edson Alves Coordenação Gráfica Walter Simões Marketing Gerente: Rosana Minante Comercial Gerente: Paulo Pilibbossian Executivos de contas: Andrea Canal, José Geraldo S. Caetano, Maria Aparecida de Oliveira, Marlene Orlovas, Tereza Helena Virginia e Vanda Motta
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Circulação Gerente: Edna Aguiar ISSN 2317-7780 Impressão Log&Print Gráfica e Logística S.A. Capa: Ernesto Reghan/Pulsar Imagens DBO Editores Associados Ltda Diretores: Daniel Bilk Costa, Odemar Costa e Demétrio Costa Rua Dona Germaine Burchard, 229 Perdizes, São Paulo, SP 05002-900 - Tel. (11) 3879-7099 redacao@agrodbo.com.br www.agrodbo.com.br
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Ponto de Vista
Corrida de obstáculos O cenário econômico da safra e do futuro do agro parece risonho, mas ninguém tem certeza de nada, e muita coisa pode mudar. Rogério Arioli Silva *
T
* O autor é engenheiro agrônomo e produtor rural em Mato Grosso
entar enxergar no presente a fase nebulosa do futuro é sempre um exercício de muita perspicácia e, em alguns casos, da própria sobrevivência nas diversas atividades econômicas. As significativas mudanças ocorridas no ano de 2015, tanto no Brasil como em outros países da nossa aldeia global, vão requerer uma eficiência ainda maior dos produtores rurais brasileiros na manutenção da renda e no constante aprimoramento das técnicas agropecuárias, condição ímpar à permanência na atividade. Do ponto de vista externo, as variáveis econômicas que favoreceram o crescimento dos países
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emergentes – notadamente aquecimento da demanda de commodities com suas crescentes cotações internacionais, além da queda na atividade econômica dos EUA e Europa vêm dando lugar para outro cenário nos próximos anos. Segundo especialistas, a partir de 2016, os países desenvolvidos – EUA à frente, darão passos firmes no sentido de deixar para trás a recessão econômica através do fortalecimento das suas moedas. Destarte, vão retomar as rédeas do crescimento mundial fazendo poeira às economias emergentes que não fizeram a lição de casa. As relações de troca entre produtos com maior agregação tecnológica versus produtos bá-
sicos (matérias-primas) seguirão sendo valorizadas, cobrando uma caríssima fatura dos países que negligenciaram os investimentos em ciência e tecnologia. Dados da FAO demonstram que os preços dos alimentos continuam baixando e, no ano de 2015, caíram em média 19%. O preço do petróleo, por sua vez, desabou de patamares de US$ 100/barril para abaixo de US$ 30, em menos de dois anos, uma situação que transfere milhões de dólares dos países produtores para os consumidores desta fonte energética. Enquanto o Brasil com sua tradição costumeira de festejar na antevéspera dos eventos, disputava de maneira ensandecida entre os seus entes federados a destinação dos recursos do pré-sal, os EUA desenvolviam a tecnologia do gás de xisto ajudando a derrubar ladeira abaixo, os preços do “ouro negro”. Os rendimentos e royalties do petróleo brasileiro agora parecem ficar cada dia mais longe, como uma paisagem que se afasta no retrovisor do carro. A deterioração dos números da economia brasileira certamente irá se refletir na capacidade de investimento em infraestrutura logística nos próximos anos, o que acende a luz amarela para os produtores da fronteira agrícola que demandam melhor competitividade no transporte a longas distâncias. A viabilização do escoamento dos grãos para os portos do arco norte, embora seja em grande parte executada pela iniciativa privada, poderá ter seu tempo de implantação postergado para
mais alguns anos – o que é notícia ruim, face ao congestionamento dos portos tradicionais do sul do país. Segundo o informativo da ABAG (Associação Brasileira do Agronegócio), consultorias especializadas projetam um aumento de 5% a 6% nas exportações brasileiras de 2016 graças ao aumento do dólar, o que torna o setor mais competitivo. Por outro lado, as importações devem cair um pouco (pelo mesmo motivo cambial) e, com isso, o saldo da balança do agro deve chegar perto de US$ 72 bilhões (US$ 4,8 bilhões acima de 2015) para refrigério das contas brasileiras. Novamente virão do campo os números capazes de emprestar algum alento ao cenário econômico nacional no próximo ano. Embora a intensidade do fenômeno “El Niño” tenha sido subestimada num primeiro mo-
mento, alguns problemas climáticos pontuais estão ocorrendo. Excesso de chuvas na região Sul e no Mato Grosso do Sul, veranicos de intensidade bem acima do normal em bolsões de Mato Grosso, e significativo atraso nas chuvas do Matopiba já mostram seus efeitos. Entretanto, pela amplitude e grande distribuição geográfica da
mos, ano após ano: inexistência de um seguro de renda, infraestrutura defasada e o constante aumento nos custos de produção. O remédio para isso continua sendo a corrida atrás de maior eficiência na atividade, o que nem sempre é tarefa fácil, uma vez que não se resume apenas a atitudes dentro da porteira da fazenda. O verbo
EUA e Europa dão passos firmes para crescer e deixar no passado a recessão econômica. agricultura brasileira os números finais da safra tenderão a novo recorde, o que tem sido uma constante nesses últimos anos. Os produtores rurais seguem sua sina, com um olho voltado para a lavoura e outro para o céu, entretanto, os fantasmas que nos assombram continuam os mes-
desanimar, felizmente, há muito tempo não é conjugado no campo brasileiro. Graças a isso, ainda é possível manter acesa a esperança no futuro desse país. Porém, que ninguém tenha dúvidas, a safra continua sendo uma corrida de obstáculos, e a safrinha ainda é uma incógnita.
fevereiro 2016 – Agro DBO | 11
Artigo
Auxiliando o soro antiofídico Todo o cuidado é pouco com animais peçonhentos, seja nas ações preventivas, seja nos cuidados posteriores se foi picado.
Foto Décio Luiz Gazzoni
Décio Luiz Gazzoni *
E
* O autor é engenheiro agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja, e membro do Conselho Editorial da Agro DBO.
ntre as múltiplas vicissitudes de trabalhar no campo, uma é a exposição quase permanente a animais peçonhentos, como cobras, aranhas ou escorpiões. Em média, são comunicados 30.000 casos anuais de pessoas picadas por cobra no Brasil, a disparada maioria na zona rural. Existem diversas cobras peçonhentas, como as cascavéis e corais, mas as jararacas (do gênero Bothrops) são as que causam mais acidentes no Brasil. As substâncias presentes no veneno das cobras podem atuar de diferentes maneiras no organismo, sendo as principais: 1. Ação proteolítica, que é o processo de degradação de proteínas por enzimas do grupo das proteases, como as fosfolipases. O resultado é a lesão e necrose dos tecidos próximos à picada, o que pode comprometer o membro atingido. O veneno das jararacas provoca uma reação inflamatória intensa, rompendo as paredes vasculares e provocando hemorragias. 2. Ação neurotóxica, bloqueando a transmissão dos sinais que
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fluem pelos nervos, os quais são compostos de fibras isoladas. O espaço entre duas fibras nervosas adjacentes é chamado de sinapse. Os sinais são levados ao cérebro, ou do cérebro são transmitidos aos músculos, percorrendo as fibras que constituem o nervo. Quando o sinal chega ao final de uma fibra, e encontra uma sinapse que a separa da próxima fibra, ocorre a liberação de uma substância química chamada acetilcolina. Ela atua como um mensageiro, desprendendo-se de uma fibra e conectando-se à próxima, permitindo, assim, a continuidade da transmissão do sinal. Algumas serpentes, como a cascavel, produzem uma substância que inibe a liberação de acetilcolina pelos impulsos nervosos. Já a cobra coral bloqueia o receptor da acetilcolina na fibra seguinte. Em ambos os casos, o sinal nervoso é interrompido e não chega ao destino, seja o cérebro ou um músculo. Por isso as neurotoxinas da cascavel e da cobra coral provocam paralisias musculares. 3. Interferência na coagulação sanguínea. O sangue flui em nossas veias em equilíbrio entre dois proces-
sos antípodas. Por um lado, o sangue não pode coagular no interior das veias, sob pena de os coágulos redundarem em AVCs ou outras sequelas. Também não pode ser “incoagulável”, pois no caso de um ferimento haveria uma hemorragia fatal. Os venenos de alguns ofídios afetam o equilíbrio, pois possuem substâncias tanto com efeito coagulante quanto hemorrágico. Dessa forma, pode ocorrer coagulação do sangue no interior dos vasos, bloqueando o fluxo sanguíneo e dificultando a oxigenação dos tecidos, e afetando órgãos essenciais, como os rins. Algum tempo após a injeção das toxinas pela picada, as enzimas tóxicas atuam sobre a fibrina, a proteína que permite a formação dos coágulos, bloqueando a coagulação e aumentando exponencialmente o risco de hemorragias. Tratamento auxiliar No caso das jararacas, seu veneno possui acentuada ação proteolítica, provocando necrose e inchaço nos tecidos próximos à picada, o que pode comprometer o membro atingido. Em geral, a morte resulta da hipotensão provocada pela hipovolemia (diminuição do volume de sangue), falência renal e hemorragia intracraniana. Complicações frequentes incluem comprometimento do membro onde ocorreu a picada. Por oportuno, registre-se que o cientista brasileiro Sérgio Henrique Ferreira foi responsável pelos estudos que permitiram desenvolver um dos medicamentos (captopril) mais utilizados para controle da hipertensão arterial, baseado em substância extraída do veneno da jararaca.
Em caso de acidente ofídico, todos sabem o que fazer: se foi picado, largue tudo e corra para o hospital mais próximo – rezando para que ele disponha de soro antiofídico. Se for possível matar a cobra e levá-la junto, tanto melhor! O soro minimiza os distúrbios de coagulação, a insuficiência renal, inclusive evitando o óbito. Porém, no caso das jararacas, o soro não atua sobre as lesões nos tecidos próximos à picada, como feridas e necroses. Nos casos mais graves, isto pode levar à amputação dos membros afetados, como pernas e braços. Buscando solução para este problema, a equipe liderada pelo Dr. Carlos Fernandes, da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Botucatu (SP), pesquisou a ação terapêutica de plantas usadas por comunidades tradicionais e indígenas com fins medicinais. Seus estudos demonstraram que algumas delas são eficazes para tratar as lesões locais, tendo os resultados sido publicados em uma renomada revista internacional (http://journals.plos.org/ plosone/article?id=10.1371/journal. pone.0133370) Para complementar a ação do soro antiofídico, os cientistas da Unesp investigaram três espécies
de plantas medicinais: o boldo baiano (assa peixe), com alto teor de ácido cafeico; a erva baleeira, que contém ácido rosmarínico; e o papo de peru, que produz o ácido aristolóquico. Após extraírem essas substâncias das plantas, os cientistas investigaram o que acontecia com camundongos em contato com veneno de jararaca, e que, posteriormente, recebiam cada um dos compostos. Os estudos demonstraram que a ação do veneno da jararaca, que danifica o músculo e impede que ele se contraia, não ocorre quando as substâncias extraídas dos vegetais são aplicadas.
traram o poder anti-inflamatório e cicatrizante de extratos da planta, os quais podem reduzir os danos causados pelo veneno de serpentes, nos tecidos próximos à região da picada. Estes avanços são muito entusiasmantes, porém não custa sempre alertar: são estudos preliminares, em condições de laboratório. Existe todo um procedimento científico e legal a ser cumprido até que os resultados sejam definitivamente comprovados, a segurança de seu uso seja demonstrada, e as substâncias possam ser liberadas para comercialização e para indicações médicas que complementem a ação dos soros antiofídicos.
No campo use botas de cano alto, pois 90% das picadas de cobras são abaixo dos joelhos. Remédio pantaneiro Em estudo semelhante, a equipe da Dra. Mônica Kadri, da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, estudou a planta paratudo (ipê-amarelo-craibeira, ipê-amarelo-do-cerrado, pau-d’arco), uma árvore muito comum no Pantanal, que é utilizada para tratar problemas no estômago ou diabetes, além de atuar como anti-inflamatório, antitérmico e vermífugo. Seus estudos demons-
Enquanto inovações não são oficializadas, nunca é demais alertar para duas coisas importantes quando se está no campo / lavoura: primeiro, use sempre botas de cano alto, pois 90% das picadas de cobras são abaixo dos joelhos. Segundo, observe a presença de ratos nas áreas de residências ou silos na fazenda, eles são uma guloseima para cobras em geral, atraindo para mais perto do homem esse perigo.
fevereiro 2016 – Agro DBO | 13
Almanaque
Você sabia? Saber muito ou quase nada sobre muitas coisas é uma opção de cada um. O ideal seria sempre saber muita coisa sobre quase tudo. Hélio Casale *
Q
ue tudo pesa menos 1% na zona do Equador? Que o dente é a única parte do corpo humano que não pode se curar ou regenerar? Que o vidro demora mais de um milhão de anos para se decompor, o que significa que nunca se desgasta e pode ser reciclado um número infinito de vezes? O barulho que ouvimos quando colocamos uma concha junto ao nosso ouvido não é o barulho do mar, mas sim o som do sangue correndo nas veias da nossa orelha?
2-Média de Macros e Micronutrientes em duas diferentes variedades de café arábica. Cultivares
Macronutrientes N
Catuaí
Micronutrientes Mg
S
B
Cu
Fe
Mn
Mo
Zn
30,80 3,04 30,15 29,69 16,56 2,31 37,33 24,15 677
186,2 0,08 14,75 99,75 0,04 12,25
FOLHAS Catuaí
28,70 1,14 24,45 16,37 3,04
1,90 63,84 11,25 481 384,25 0,05 10,70
M. Novo 29,33 1,47 28,95 16,76 2,62
2,42 41,77 14,00 576 224,75 0,04 12,75
Catuaí
1,58 35,70 29,25 297 188,25 0,05 10,5
RAMOS 17,19 1,87 18,60 15,82 3,31
M. Novo 16,07 0,86 17,85 15,82 2,90
1,41 32,21 52,75 298
96,50 0,04 16,00
Observar o valor do magnésio e do manganês por ocasião das floradas. Uma das conclusões importantes: a adubação deve começar antes do florescimento. Fonte: Prof. E. Malavolta
3-Composição dos frutos do cafeeiro
arábica média de três variedades:
Elementos
Tabelas interessantes: 1-A taxa de retenção, ou taxa de impacto sobre o cérebro, segundo a Terra Fórum Percentual retido no cérebro
Palestras
5%
Leitura
10 %
Audiovisual – ouvir
20 %
Demonstração – ver
30 %
Grupo de discussão – conversar com os outros
50 %
Praticar fazendo
75 %
Ensinando
80 %
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Ca
M. Novo 26,63 2,32 31,20 23,76 13,52 1,88 36,41 28,50 4,05
Quem planta sementes colhe alimentos. Quem planta flores, colhe perfume. Quem semeia trigo colhe pão. Quem planta amor, colhe amor e amizade. Quem semeia alegria colhe felicidade. Quem semeia fé, colhe certeza. Quem semeia carinho, colhe gratidão. Quem semeia verdade, colhe confiança. Quem planta a vida, colhe milagres. Quem planta discórdia, colhe solidão. Quem semeia ventos, colhe tempestade. Quem planta ira, colhe inimizades. Quem planta injustiça colhe abandono.
* O autor é engenheiro agrônomo, consultor e cafeicultor, e membro do Conselho Editorial da Agro DBO.
K
FLORES
O que acontece quando plantamos?
Forma de apresentação
P
Nitrogênio - kg Fósforo Potássio Cálcio Magnésio Enxofre Boro Cobre Ferro Manganês Molibdênio Zinco
60 kg de grãos gramas por kg 1026 60 918 162 90 72
60 kg de casca
1068 84 2225 246 78 90 Miligramas por kg 0,96 2,0 0,90 1,08 3,60 9,0 1,20 1,80 0,003 0,004 0,72 4,20
% 51 58 70 60 46 56 68 55 71 60 57 85
Note que o Magnésio é o único nutriente com menor concentração na casca que nos grãos. Fonte: Prof. E. Malavolta.
4-Contribuição da Braquiária ruziziensis na reciclagem de nutrientes: Gramas por Quilos por Quilos em 10 Elementos kg de MS* tonelada de MS toneladas de MS Nitrogênio 15 15 150 Fósforo 1,8 1,8 18 Potássio 32 32 320 Cálcio 3,5 3,5 35 Magnésio 2,5 2,5 25 Enxofre 0,7 0,7 7 Boro 18 18 180 Cobre 11 11 111 Ferro 200 200 2000 Manganês 95 95 950 Zinco 80 80 800 *MS = matéria seca
Notícias da Terra
Safra I
Conab prevê 210,5 milhões de toneladas
O
4º levantamento da Conab sobre a safra brasileira de grãos, prevê 210,5 milhões de toneladas na temporada 2015/16, quantidade 1,4% superior (2,8 milhões t a mais) à passada. A área plantada deve crescer 0,9%, passando de 57,9 milhões de hectares para 58,5 milhões. A pesquisa foi feita entre os dias 13 e 19 de dezembro. Não considera, portanto, as condições climáticas adversas no início do período de colheita, em janeiro. Conforme o IBGE, a safra nacional de cereais, oleaginosas e leguminosas alcançará 210,7 milhões de toneladas, 0,5% acima do obtido na temporada anterior (209,5 milhões t).
Safra III
O vai e vem da soja
O
relatório de oferta e demanda do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês) repetiu em janeiro as estimativas de dezembro para Brasil e Argentina: os brasileiros produzirão 100 milhões de toneladas de soja em 2016 e os argentinos, 57 milhões. As safras norte-americana e mundial foram revisadas para baixo: os Estados Unidos vão colher 106,9 milhões t (o relatório de dezembro indicava 108,4 milhões) e o mundo, 319,1 milhões (320 milhões). Quanto aos estoques finais, apenas o do Brasil foi revisado para cima: chegará a 19,3 milhões de toneladas.
Safra II
Para cima ou para baixo?
N
o que diz respeito à produção nacional de soja, a Conab projeta incremento de 6,1%, passando de 96,2 para 102,1 milhões de toneladas. O IBGE prevê crescimento de 5,9%, chegando a 102,7 milhões. Algumas consultorias, como a Céleres, Agroconsult e INTL FCStone, reduziram, no entanto, suas projeções anteriores, atribuindo a queda à estiagem prolongada na virada do ano no Mato Grosso e regiões produtoras do Matopiba. A Céleres aponta 99,8 milhões t, 2% abaixo do que previu em dezembro. A Agroconsult, 99,2 milhões t (antes, previra 100 milhões t) e a INTL FCStone, 97,8 milhões t, um milhão de toneladas a menos.
Safra IV
Milho estável
O
relatório de oferta e demanda do USDA também repete as projeções anteriores sobre a produção de milho: o Brasil colherá 81,5 milhões de toneladas do cereal no ano em curso e a Argentina, 25,6 milhões t. As safras norte-americana e global cairão de 346,8 para 345,5 milhões t e de 973, 9 para 987,5 milhões t, respectivamente. Em relação aos estoques finais, somente os dos EUA crescerão, passando de 45,3 para 45,7 milhões de toneladas.
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Notícias da Terra VBP I
Exportações I
O
D
Recorde em 2015 VBP – Valor Bruto de Produção da agropecuária brasileira atingiu 498,5 bilhões no ano passado, valor recorde da série histórica, iniciada em 1989. Do total, R$ 321 bilhões são referentes às lavouras e R$ 177,5 bilhões, à pecuária. De acordo com levantamento da SPA/Mapa – Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, o melhor desempenho de 2015, proporcionalmente, foi o do milho, cujo VBP alcançou R$ 41,3 bilhões. Também se destacaram a soja, com R$ 106,4 bilhões, a cana-de-açúcar (R$ 50,3 bilhões), o café (R$ 19,4 bilhões) e o algodão (R$ 13 bilhões). Na pecuária, o melhor resultado foi o de carne bovina, com R$ 73,8 bilhões, à frente do frango (R$ 49,8 bilhões) e do leite (27,8 bilhões). Ainda segundo o levantamento, a maior parte dos produtos teve cotações abaixo das registradas em 2014. A estimativa é que o VBP alcance R$ 503,6 bilhões em 2016.
Agronegócio em destaque os dez principais produtos da pauta exportadora brasileira no ano passado, oito foram do setor agropecuário, responsável por 31,2% do total dos embarques (US$ 59,7 bilhões). Em 2014, o percentual foi de 29,2%, como mostra o quadro abaixo. A soja foi o produto de maior peso, com 11% de participação, seguida pela carne de frango (3,3%), açúcar (3,1%), farelo de soja (3%), celulose (2,9%), café (2,9%), milho (2,6%) e carne bovina (2,4%). Apenas o milho e a celulose tiveram alta nas exportações do setor. Considerando todos os produtos negociados no exterior, as exportações brasileiras chegaram a R$ 191,1 bilhões em 2015, contra R$ 225,1 em 2014. Principais produtos exportados pelo Brasil (2014 e 2015) 2015
2014
Valor
Valor
Participação (US$ Participação (US$ bilhões) bilhões) 1. Soja
20,9
11%
23,3
10,3%
2. Ferro
14,1
7,4%
25,8
11,5%
3. Petróleo
11,8
6,2%
16,4
7,3%
4. Frango
6,2
3,3%
6,9
3,1%
5. Açúcar
5,9
3,1%
7,4
3,3%
6. Farelo de soja
5,8
3%
7
3,1%
7. Celulose
5,6
2,9%
5,3
2,4%
8. Café
5,6
2,9%
6
2,7%
9. Milho
4,9
2,6%
3,9
1,7%
10. Carne bovina
4,7
2,4%
5,8
2,6%
Top 8 Agro
59,7
31,2%
65,6
29,2%
Top 2 Não Agro
25,9
13,5%
42,2
18,7%
191,1
100%
225,1
100%
TOTAL
Fonte: MDIC | Elaboração: CNA
Exportações II
Renda menor, participação maior
A
balança comercial do agronegócio nacional fechou 2015 com US$ 88,2 bilhões em exportações, 8,8% abaixo dos US$ 96,7 bilhões exportados no ano passado. Segundo avaliação, a redução deve-se à queda dos preços das principais commodities agrícolas no mercado internacional, a exemplo do que ocorreu com a soja e com as carnes. Apesar do valor menor, a participação da agropecuária na balança comercial brasileira (de 46,2%) foi a maior já registrada pelo Mapa. Em 2014, ficou em 43%. O setor encerrou o ano com superavit de US$ 75,1 bilhões, 6,24% inferior aos US$ 80,1 bilhões registrados em 2014.
Exportações III
Milho à toda
E
m dezembro do ano passado, o Brasil exportou 6,3 milhões de toneladas de milho, 84,1% a mais no comparativo com dezembro de 2014, conforme levantamento do MDIC – Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Foi o maior volume mensal já embarcado. Para efeito de comparação, a média em 2015 foi de 2,4 milhões de toneladas embarcadas. No acumulado de janeiro a dezembro, o país exportou 28,9 milhões de toneladas, 40% acima (8,3 milhões a mais) do total vendido no exterior em 2014. fevereiro 2016 – Agro DBO | 17
Notícias da Terra PIB II
A salvação da lavoura
L
PIB I
A força do agronegócio
O
s municípios brasileiros com maior valor da produção agropecuária têm PIB per capita de R$ 53.228 contra R$ 26.445 da média nacional. A informação consta de estudo da SPA/ Mapa – Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, baseado em dados das pesquisas Produção Agrícola Municipal de 2014, e PIB Municipal, de 2013, ambas do IBGE. A SPA considerou apenas os municípios produtores de café, cana, milho e soja. ”Quase todos têm PIB superior aos dos estados onde se situam”, revela o coordenador-geral de estudos e análises da
secretaria, José Gasques, citando como exemplos Correntina e São Desidério, ambos na Bahia, cujos PIBs cresceram 91,3% e 79,1%, respectivamente, contra média de 23,3% no estado. No Brasil, os de maior crescimento do PIB estão no Centro-Oeste (Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás) e no Nordeste (Bahia). Segundo Gasques, nenhum estado do Sul do Brasil aparece na lista, embora a região seja a segunda maior produtora de grãos do país. São Paulo, apesar de ter o segundo maior valor da produção agrícola, não tem nenhum município nessa relação. Do Sudeste, apenas Minas Gerais foi contemplada.
evantamento do Ipardes – Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico Social, baseado em dados do IBGE (os mesmos utilizados pela SPA/Mapa no estudo citado na nota “A força do agronegócio”, ao lado), mostra que o PIB dos municípios agrícolas do estado cresceu 40,3% entre 2010 e 2013, bem acima da média brasileira, de 29,8%. O maior índice percentual ficou com Tibagi, segundo colocado no ranking de produção agrícola do Paraná, cuja renda per capita cresceu 93% no período, atingindo R$ 38.848. Em Castro, o crescimento foi de 71,6% (R$ 28.517), em Assis Chateaubriand, 58% (R$ 26.652), em Guarapuava, 57,1% (R$ 23.604), em Toledo, 50,3% (R$ 30.826). Cascavel, que ocupa a primeira posição no ranking dos municípios com maior VBP agrícola do estado, registrou aumento de 47,1% no PIB, chegando a R$ 27.496. As regiões oeste e dos campos gerais obtiveram maior renda, graças à produção da soja, principal produto da pauta agrícola do Paraná.
ICMS
A luta continua
A
denominada “guerra fiscal” entre estados brasileiros, deflagada anteriormente em vários setores da economia brasileira, como a indústria automobilística, passou a influenciar outras cadeias essenciais, como a de alimentos. O presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul, Henrique Dornelles, cita a decisão do governo de São Paulo de zerar a partir deste ano o ICMS para o arroz. Em sua opinião, a medida prejudica o Rio Grande do Sul e demais estados produtores e cria distorções com o Mercosul, bloco que fornece arroz ao Brasil. O dirigente afirma que o produto importado acaba entrando com ICMS zero, enquanto o cereal gaúcho paga imposto para ingressar em território paulista. “Pela tributação de hoje, a diferença é de 7,7%, valor extremamente elevado e prejudicial ao arrozeiro, que é quem vai pagar essa diferença. A renda do campo acaba comprometida porque o setor industrial transfere para o setor produtivo a incidência desse imposto”, argumenta. A “guerra fiscal”, tema de audiência pública no Senado, em Brasília (DF), integra a pauta de debates durante a abertura oficial da colheita de arroz, no dia 19 deste mês de fevereiro, em Alegrete (RS). 18 | Agro DBO – fevereiro 2016
Notícias da Terra Café I
Recuperação das lavouras
A
pós dois anos consecutivos de perdas provocadas por problemas climáticos (longo período de secura e calor em 2014 em São Paulo e região sul de Minais Gerais e estiagens no Espírito Santo e no Cerrado mineiro em 2015), a produção brasileira de café deve recuperar-se em 2016 e crescer 12,6% comparativamente a 2015. A estimativa é do IBGE, baseada em avaliações do nível de cargas da floração e dos “chumbinhos” das lavouras nas regiões produtoras, levantamentos junto a associações municipais e estaduais, reuniões com produtores, técnicos, cooperativas e associações de cafeicultores. A safra nacional deverá chegar a 2.984.433 toneladas, ou 49,7 milhões de sacas de 60 kg, 38,3 milhões das quais de arábica e 11,4 milhões, de conilon.
Café II
Beliscando o recorde
A
primeira estimativa da Conab sobre a safra 2016 de café indica produção entre 49,1 e 51,9 milhões de sacas de 60 quilos (arábica e conilon), podendo, portanto, ultrapassar o recorde de 2012, de 50,8 milhões de sacas. Considerando a média (50,5 milhões t), será a segunda maior safra da história. A de arábica, correspondente a 76,8% da produção nacional de café, crescerá de 17,8% a 24,4% em relação a 2014, graças à incorporação de novas áreas que se encontravam em formação e renovação e às condições climáticas mais favoráveis. A de conilon (23,2% do total nacional), deve aumentar de 1% a 8%, devido à recuperação da produtividade nos estados do Espírito Santo, Bahia e Rondônia, e ao maior uso de tecnologia. A área total plantada no país alcançará 2,25 milhões de hectares, praticamente a mesma de 2015.
Café III
Qualidade e funcionalidade
A
s vendas de café em cápsulas no Brasil cresceram 52,4% em 2014, comparativamente a 2013, chegando a 660 toneladas, conforme levantamento conjunto da Ufla – Universidade Federal de Lavras (MG) e da Embrapa Café. Segundo a pesquisa, o aumento decorreu da entrada de pequenas marcas no mercado, possível apenas recentemente, após a expiração de patentes de multinacionais do setor. Cerca de 70 empresas brasileiras atuam hoje neste segmento – em 2014, eram oito. Além das cápsulas, os cafés especiais também ganharão espaço nos próximos anos, de acordo com avaliação da Abic – Associação Brasileira da Indústria do Café. Segundo estimativa da entidade, a maior parte das vendas entre 2015 e 2019 ainda será de cafés em grãos ou moídos, com grande destaque para os gourmetizados e os especiais, incluindo os orgânicos (OBS: leia reportagem a respeito na página 32 desta edição). Segundo a Abic, os consumidores estão começando a diferenciar os cafés por tipo de grão, intensidades e sabores, e a tendência é de melhoria da qualidade. Outra tendência de consumo, embora ainda incipiente no Brasil, é o chamado “café funcional”, que recebe ingredientes saudáveis em sua composição. Na Espanha, uma multinacional do ramo acrescentou à bebida magnésio, substância que pode reduzir o cansaço e a fadiga.
fevereiro 2016 – Agro DBO | 19
Notícias da Terra
Feira
Reflexão e pragmatismo no Showtec 2016
C
om um público aproximadamente 10% maior em relação à edição do ano passado (que reuniu cerca de 15 mil pessoas), a primeira feira agrotecnológica do calendário anual brasileiro apresentou este ano um perfil mais pragmático dos visitantes em relação às últimas etapas. O Showtec (Show de Tecnologia), em sua 20ª edição, evidenciou maior cautela do produtor em relação a investimentos estruturais e mais atenção aos resultados. “Foi um amplo espaço de reflexão sobre custo de produção e ajustes de sistemas produtivos”, afirmou Luis Alberto Morais Novaes, presidente da Fundação MS, realizadora da feira em Maracaju, no sudoeste do Mato Grosso do Sul, que aconteceu entre os dias 20 e 22 de janeiro. Segundo ele, o momento difícil da economia brasileira está fazendo com que o produtor procure maneiras de redimensionar a atividade, buscando novas tecnolo-
gias. “E isso não faltou ao Showtec”, garante. Segundo Novaes, as apresentações de estruturas tecnológicas foram as principais atrações do Showtec este ano. “Destaco as mostras de compactação de solo, de produção de palha para plantio direto e a apresentação de novas cultivares. Neste aspecto, chamou atenção o lançamento oficial da Cultivance, fruto de uma parceria entre a Embrapa e a multinacional Basf”, salienta Novaes, se referindo àquela que é considerada a primeira semente de soja geneticamente modificada totalmente desenvolvida no Brasil. Mas o Showtec flutuou por vários segmentos. No último dia, por exemplo, o representante do Ministério da Agricultura, Márcio Alexandre Menegazzo, orientou produtores quanto à possibilidade de obtenção de Indicação Geográfica para produtos específicos. O certificado, emitido pelo INPI – Instituto Nacional de
Propriedade Industrial é reconhecido internacionalmente, agrega valor final à mercadoria e protege a marca. Em todo o Brasil 47 produtos de fabricação nacional já possuem IG. No Mato Grosso do Sul as duas primeiras certificações foram conquistadas no ano passado: Linguiça de Maracaju e Mel do Pantanal. O mel, por sinal, adoçou o apetite dos agricultores no Showtec por resultados no campo. Em um painel sobre a relação do produto com a agricultura, o presidente da Federação de Apicultura e Meliponicultura do Mato Grosso do Sul, Gustavo Nadeu Bijos, revelou que a polinização de abelhas pode elevar sensivelmente a produtividade de alguns cultivos, dentre eles a soja (até 25%) e o girassol (até 75%). O Showtec 2016 também foi palco da criação do primeiro curso de pós-graduação lato sensu (especialização) em ILPF – Integração Lavoura-Pecuária-Floresta do Mato Grosso do Sul. A formalização aconteceu na abertura da feira, no dia 20 de janeiro, quando diretores da Fundação MS e da Unioeste – Universidade do Oeste Paulista assinaram um convênio que estabelece aulas práticas a campo e teóricas na sede da Fundação, em Maracaju, com corpo docente formado por profissionais das duas instituições e da Embrapa. O curso, com duração aproximada de 18 meses, é voltado para profissionais graduados em ciências agrárias. Ao concluírem, estarão habilitados em implantar sistemas integrados de produção sustentável. As aulas começam no dia 18 de março.
Crédito
Dívidas prorrogadas
O
pagamento das dívidas de produtores rurais do Nordeste foi adiado para 31 de dezembro deste ano.O alongamento do prazo vinha sendo reivindicado pelos agricultores da região devido às sucessivas quedas de produção provocadas pela estiagem. Conforme a Medida Provisória 707, ficam suspensos o encaminhamento das operações de crédito rural para inscrição em dívida ativa e para cobrança judicial dos produtores. A MP não representa perdão de débitos, mas ampliação do prazo para quitação – condição exigida para que os produtores recuperem a capacidade de pagamento. Segundo levantamento oficial, a produção agrícola no Nordeste caiu 32% e a área plantada, 50% em relação ao período anterior à seca (2009/10). O estudo não considera a região do Matopiba.
20 | Agro DBO – fevereiro 2016
Notícias da Terra Queimadas
Focos cresceram 27,5% em 2015
D
e acordo com o Inpe – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, as queimadas passaram de 184 mil focos em 2014 para 235 mil no ano passado, número abaixo apenas do registrado em 2010 (249 mil focos) - a série histórica foi iniciada em 1999. Os incêndios florestais, detectados por meio de satélite, predominaram no período menos chuvoso, entre agosto e dezembro. O estado com maior ocorrência de queimadas foi o Pará, com 44 mil registros em 2015, um crescimento de cerca de 8 mil focos em relação a 2014. O segundo colocado foi Mato Grosso, com 32 mil incêndios florestais, alta de 4 mil focos na comparação com o ano anterior.
Clima
O ano mais quente
A
média da temperatura global em 2015 foi a mais alta já registrada desde o início da medição das
temperaturas na superfície da Terra, em 1880, conforme dados da Nasa (a agência espacial norte-americana), confirmados pela Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA, na sigla em inglês) dos
Estados Unidos. A temperatura média global em 2015 superou o recorde anterior, de 2014, em 0,13 °C. Segundo a Nasa, de 2001 para cá ocorreram 15 dos 16 anos mais quentes já registrados na história.
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fevereiro 2016 – Agro DBO | 21
Notícias da Terra Agroquímicos
Pesquisa foi premiada no Congresso de Defensivos
U
m estudo desenvolvido na Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (USP/Esalq), que aponta mecanismos de controle da fusariose, recebeu o prêmio “destaque cie ntífico” durante o Congresso Brasileiro de Defensivos Agrícolas Naturais, em outubro último, em Pelotas (RS). Autoria de Renata Assis Castro, do
Programa de Pós-graduação em Microbiologia Agrícola da Esalq, o trabalho trata dos mecanismos de ação de Burkholderia seminalis envolvidos no biocontrole de diferentes espécies de Fusarium. O estudo demonstrou o uso potencial da B. seminalis na inibição do desenvolvimento da fusariose a partir de diferentes me-
canismos de ação, e indica que há mais de um composto responsável pelo controle da fusariose e que altas temperaturas degradam os compostos responsáveis por gerar o controle da doença. Os próximos passos do trabalho serão verificar e identificar o gene responsável pelo controle da doença causada por estes fungos.
Mexanização
Venda de máquinas usadas cresce na crise
E
nquanto máquinas agrícolas zero km registraram fortes quedas nas vendas em 2015 no Brasil – com retração de 34,5%, as revendas de equipamentos seminovos têm registrado um crescimento consistente. A principal explicação para este cenário é a busca dos produtores rurais por investimentos mais baratos, especialmente neste momento em que a economia vive uma fase de incertezas. “A opção do produto seminovo vem se tornando uma alternativa extremamente competitiva ao produtor na busca de reduzir seus custos, já que alguns produtos chegam a ter um preço final 50% a 60% menor”, afirma Dauri Krauspenhar, Diretor Geral da Centro Oeste Máquinas. Outro diferencial que tem ampliado a procura por revendas
de máquinas agrícolas seminovas é a maior facilidade que o produtor tem de incluir seu equipamento usado na negociação, reduzindo ainda mais os custos. A entrega imediata dos produtos em estoque também favorece o setor. A Centro Oeste máquinas, revenda de seminovos com atuação em todo
o Brasil, registrou crescimento de 12% nas vendas em 2015. De acordo com Krauspenhar, o crescimento da empresa e do mercado de seminovos de uma maneira geral tem sido constante. Atualmente, com o início da colheita da soja, os equipamentos mais procurados são as colheitadeiras.
Café
Brasil tem hoje o menor estoque de passagem da história
O
Brasil conseguiu exportar volumes recordes de café nos últimos dois anos mesmo registrando três quedas consecutivas de safra. Essa é uma questão “mui brasileira” que muitos se encantam no mercado todos os dias. É que os estoques de passagem do país, acumulados de anos anteriores, conseguiram suprir os bons volumes de exportação. Todavia, esses estoques hoje podem ser os menores da história neste início de 2016. Desta forma, o maior produtor e exportador da commodity, deve ter dificuldades para acumular excedentes. E tome-se guerra de informação e contrainformação na previsão das safras.
22 | Agro DBO – fevereiro 2016
Notícias da Terra Agricultura de precisnao
Case IH lança sistema que monitora o canavial
A
Case IH é a primeira fabricante de máquinas agrícolas a contar com sistema inédito de gerenciamento de produtividade para o setor canavieiro. A nova ferramenta utiliza os conceitos de agricultura de precisão para registrar e comparar a produtividade de cana-de-açúcar entre talhões, máquinas e operadores. As informações são geradas durante a colheita, fornecendo um
histórico detalhado, evitando replantio em áreas desnecessárias ou superdosagem em áreas produtivas, por exemplo. “Com o monitor de produtividade conseguimos medir com precisão a produtividade de cada área, assim é possível ajustar as curvas de adubação e a aplicação de nitrogênio em taxa variável”, conta Victor Campanelli, da Agro-Pastoril Pas-
choal Campanelli, fornecedora de cana-de-açúcar para usinas da região de Bebedouro (SP). Segundo Fábio Balaban, especialista da Case IH, a avaliação dos dados gerados pelo sistema permite um diagnóstico mais preciso da área plantada, economiza tempo na tomada de decisões e faz diferença na produtividade lá na ponta, no processamento na usina.
Tecnologia I
Saco de juta vai aposentar-se
O
saco de juta, embalagem-símbolo das exportações de café do Brasil por longa data, está sendo aposentado. A mudança acompanha um cenário de crescente aumento de custos de produção e comercialização. Ao introduzir enormes sacos plásticos para substituir as tradicionais sacas de 60 quilos, que dominaram os embarques de café por mais de dois séculos, as empresas estão economizando milhões de dólares por ano. Até poucos anos atrás, o Brasil, maior produtor mundial de café, despachava quase todas as suas exportações em sacos de juta. O próximo ano verá o Brasil exportando mais de metade do seu café verde em grande sacos de polipropileno de 1 tonelada ou invólucros de polietileno de 21,6 toneladas para contêineres. A Dínamo, maior armazenadora de café no porto de Santos, informa que os super sacos responderam por 30% das suas exportações em 2015 e estão crescendo 5% ao ano. A Cooxupé, maior cooperativa de café do Brasil, praticamente eliminou a juta. “É o futuro”, disse o operador Mauricio Di Cunto, da exportadora Comexim, que embarca metade do seu café a granel. “Ele nos permite ser mais agressivos na oferta de descontos sem o custo de juta.” O crescimento na movimentação de granéis reflete uma queda na oferta de trabalho manual para embarcar os sacos de café. Menos custos trabalhistas: um trabalhador com uma empilhadeira pode encher um contêiner com super sacos em 25 minutos. Para encher o mesmo contêiner com sacas de juta são necessários nove homens e quase uma hora. Carregar um contêiner plastificado é ainda mais rápido, com os grãos sendo apenas despejados para dentro e para fora.
Tecnologia II
Tbit inova em análise digital
C
om capacidade de leitura de mais de 300 características de um grão, semente ou plântula, a Tbit, empresa especializada em análises por imagem, lançou o GroundEye, sistema de classificação de grãos, sementes e plântulas. A inovação cria uma padronização confiável de análise que elimina a subjetividade humana nas avaliações e qualificações de amostragens. Com o GroundEye é possível automatizar as análises e a classificação das sementes, grãos, plântulas e folhas de forma eficiente e padronizada. Além de economia de tempo e custos nos processos, o sistema permite armazenamento digital das amostras para futuras comparações de lotes. Além disso, automatiza o processo de contagem e pureza, faz classificação de sementes e avalia vigor de germinação da plântula. “O maior benefício que entregamos com o GroundEye é a percepção de confiabilidade na avaliação tanto por parte do produtor quanto do comprador”, explica Igor Chalfoun, sócio da Tbit e um dos idealizadores do GroundEye. O GroundEye é oferecido em cinco diferentes modelos para atender os diferentes ramos do agronegócio. Mais informações pelo fone: 35 3829-5281 ou www.tbit.com.br fevereiro 2016 – Agro DBO | 23
Capa
Colheita de chumbinhos Extremos climáticos impactaram as lavouras de grãos em várias regiões do Brasil. Os mato-grossenses colhem soja e prejuízos. Marianna Peres
D
os 700 hectares cultivados com soja na fazenda Vista Alegre, em Sorriso (460 km ao norte de Cuiabá), 230 nem chegaram a ser colhidos: foram dessecados e receberam as primeiras sementes de milho safrinha do ciclo 2015/16. Numa amostragem de colheita manual, o rendimento foi de três sacas por hectare. A estratégia foi a única opção que o produtor Ildo José Damiani encontrou para amenizar o prejuízo e buscar forças para superar o pior momento vivenciado em 31 anos radicado no estado. Na safra passada, a produtividade média do produtor foi de 63 sacas por hectare. As perdas em decorrência da forte estiagem durante boa parte do período de semeadura da soja em Mato Grosso (de outubro a dezembro) podem ter deixado um saldo negativo ainda maior. Mesmo sem colher tudo o que pretendia, Seu Ildo, como é conhecido, acredita que pelo menos 60% de sua área, semeada com variedades precoces e superprecoces, foram afetadas. “Plantei milho por cima em 230 hectare, fazendo a
24 | Agro DBO – fevereiro 2016
soja de palhada, porque ali foi perda total. Fiz colheita manual (com rendimento de três sacas por hectare) já que, deste modo, não temos perdas; se fosse mecânica, nem isso teria dado”, compara. Como conta, foram 40 dias de incidência forte de sol e, com isso, as lavouras não se desenvolveram. “Ficaram pequenas, nanicas; as que germinaram não evoluíram muito e houve falhas de stand. Nossa esperança é o clima em fevereiro. Se o tempo ajudar, talvez a gente possa recuperar algo”. Aos 60 anos, o gaúcho de Colorado é conhecido na região como um produtor tecnificado, com histórico de médias de 60 sacas e sua fazenda fica num local chamado de ‘barreiro’. “Nessa safra, fiz grandes investimentos em correção de solo e acreditava que minha lavoura tinha tudo para render mais de 60 sacas. Mas no nosso segmento é assim, tudo pode acontecer. Hoje, foi comigo, nem sempre a gente ganha. É levantar a cabeça e olhar para frente”, assevera. Ele conta que a cerca de 1,5 mil metros de sua propriedade, um vizinho produtor não teve tantos problemas. “Fui sorteado”, brinca. Para
minimizar as perdas, seu Ildo estabeleceu três frentes de ação: a primeira, documentar o prejuízo nos 230 hectares que têm seguro e reaver o que for possível em recursos financeiros. A segunda, lançar logo a semeadura do milho de alta tecnologia para aproveitar ao máximo a janela do cereal e garantir o pleno desenvolvimento do grão, de modo minimizar a perda de receita. A terceira, utilizar os laudos da seguradora como documento para reprogramar as entregas juntos às tradings, já que metade de sua produção estimada de soja foi comercializada no mercado futuro. Ou seja, ele tinha (tem) data para entregá-las. “Sempre cumpri meus contratos; estou antecipando o problema, vou procurá-los (os compradores) para ver o que pode ser feito”. O assunto é constrangedor para seu Ildo, mas somente parte da lavoura foi financiada. Dos 700 hectares, menos da metade twem seguro. A prefeitura de Sorriso decretou situação de emergência em razão das perdas pela estiagem. O município, conhecido como “a capital nacional do agronegócio”, é o maior produtor de soja do mundo. Anualmente, destina cerca de 660 mil hectares ao plantio da oleaginosa, destacando-se também pela oferta de milho. Seu Ildo espera que haja homologação do pedido para que possa negociar suas dívidas em melhores condições. Além de Sorriso, outros municípios do estado, como Ipiranga
Área de soja aparentemente normal, mas de desenvolvimento fraco, e grãos miúdos, de má qualidade.
do Norte e Gaúcha do Norte, também oficializaram o pedido à Defesa Civil, sob as mesmas alegações. Para se ter uma ideia, o ano começou em Mato Grosso com 40% das lavouras em condições ruins ou péssimas, com potencial de produtividade abaixo de 50 sacas por hectare. De dezembro de 2015 a janeiro de 2016, o Imea – Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária cortou quase 1,3 milhão de toneladas de suas projeções inicias sobre a safra esperada, o equivalente a R$ 1 bilhão em prejuízos, considerando o valor médio da saca na ocasião. Se as condições climáticas não ajudarem neste mês de fevereiro, as perdas serão maiores, tanto em sacas quanto em cifras, já que o grosso da colheita acontece agora. Apesar de ter semeado a maior safra de soja de sua história, Mato Grosso pode registrar em 2016 o primeiro recuo produtivo desde a safra 2008/9. Considerando o impacto da seca em outras regiões produtoras, como o Matopiba e parte de Goiás, e o excesso de chuvas no Mato Grosso do Sul, Paraná e Rio Grande do Sul, o sonho de ver a produção brasileira ultrapassar a casa de 100 milhões de toneladas provavelmente será adiado – além de chuvas excessivas, o Paraná, segundo maior produtor de grãos do Brasil, atrás apenas do Mato Grosso enfrenta dificuldades com pragas e doenças e grande incidência de ferrugem asiática. O estado liderava até o dia 25 de janeiro os casos da doença no país, com 121 focos, seguido pelo Rio Grande do Sul, com 116. Mato Grosso, que sempre se destacou na incidência da doença devido à estiagem, chegava a última semana do mês de janeiro com apenas oito focos registados no sistema de alerta da Embrapa. Corrida contra o relógio na opinião do presidente da Aprosoja/MT – Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso, Endrigo Dalcin, fevereiro e março serão decisivos para definir o tamanho do estrago. “Essa safra tinha que ter sido boa para compensar o alto custo de produção, mas não é isso que estamos vendo até agora: a seca impôs uma disparidade muito grande na produtividade. Temos registros de rendimento de 13, 28, 51 e até 62 sacas/ha de média. Além disso, há outro problema: a qualidade do está sendo extraído, com alto percentual de grãos imaturos, deformados, miúdos, os que chamamos de “chumbinho”. Corremos o risco de as tradings nem aceitarem. Isso é uma consequência da diferença do processo de maturação imposto pelo clima”. Por causa da estiagem no final do ano passado, os prazos finais de plantio e colheita no estado foram estendidos, para atender os produtores obrigados a fazer replantio. “Da segunda semana de setembro do ano passado, quando houve a largada do plantio, até o final da primeira quinzena de dezembro, foram inúmeros os problemas por falta de chuvas e irregularidade em todas as regiões fevereiro 2016 – Agro DBO | 25
Capa Uma das marcas desta safra no Mato Grosso é disparidade no rendimento. O clima em fevereiro pode ajudar a nivelar para cima.
do estado. Neste mês (janeiro de 2016), há muito o que plantar e muitos produtores com áreas perdidas, precisando replantar”. As regiões mais afetadas pela seca, segundo Dalcin, foram a norte, médio norte e leste. “Mesmo com chuvas pontuais na última semana de 2015 no médio norte do estado, elas chegaram tarde em Sorriso, Ipiranga do Norte, Vera e Cláudia, onde as lavouras já estavam na fase formação de vagem. A seca já tinha feito com que elas abortassem as flores e as vagens. Diferente do que aconteceu, por exemplo, na região do Araguaia (leste do estado), com perfil de ciclo mais tardio. Ali, as áreas cultivadas estavam cobertas com soja recém-emergida, com mais energia e mais resistente às intempéries”. Na opinião do presidente da Aprosoja/MT, a disparidade na produtividade será uma das marcas dessa safra. “Enquanto não colher a lavoura, será difícil mensurar as perdas, pois dentro de um mesmo município temos situações bem diferentes e, somente com o avanço da colheita, teremos noção exata dos prejuízos”. O produtor Emerson Zancanaro, vice-presidente da Aprosoja/MT no médio norte, fez o seguinte “raio-x”
Lavoura de soja em Sorriso (MT), com diferentes graus de maturação. O município decretou estado de emergência por causa da seca.
Lucia Vivan, examinando a plantação e o grau de infestação de doenças e pragas.
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da região, endossando a opinião de Dalcin: “Quem tem soja de ciclo tardio deve ter resultado mais interessante e pode empatar custo e receita. A soja recém-plantada é uma incógnita e a precoce é a mais problemática”. Em sua opinião, qualquer aposta sobre o saldo da sojicultura mato-grossense é incerta. Em meados de janeiro, a Aprosoja/MT trabalhava com as projeções do Imea até então – Mato Grosso colheria 27,8 milhões de toneladas de soja na safra em curso, com produtividade média de 50,4 sacas/ha. Zancanaro ressalta a questão fitossanitária, ainda não dimensionada. Além de problemas com a seca em Sorriso, Sinop, Nova Mutum, Ipiranga do Norte e outros municípios, cita relatos de problemas com a ferrugem asiática e com a mosca branca. “Aliás, aqui no médio norte, a estiagem contribuiu para um descontrole total da mosca branca. Muitos produtores fizeram aplicações de inseticidas de dois em dois dias sem resultados. Como as plantas estão em fase de enchimento de grãos, vão acabar morrendo antes de serem colhidas”. A entomologista Lucia Vivan, da Fundação MT – Fundação de Apoio à Pesquisa Agropecuária de Mato Grosso, confirma a ocorrência da mosca branca em praticamente todas as regiões do estado. Embora a praga prefira períodos secos, a população manteve-se alta durante as chuvas de janeiro, comprometendo o desenvolvimento das plantas. O ideal, segundo ela, é monitorar as áreas, realizar controle em bordaduras com produtos específicos a fim de reduzir a população para o restante do talhão”. A entomologista alerta ainda que, com a colheita das áreas precoces, ocorrerá deslocamento de adultos para as áreas mais novas, que precisam ser controladas. Além da mosca branca, os mato-grossenses sofrem com ataques de outras pragas e doenças em diferentes regiões e graus diversos de intensidade como as lagartas Chrysodeixis includens, Helicoverpa armigera, Spodoptera eridania, S. comioides e S. frugiperda, ferrugem asiática, percevejos, etc. Recomendações aos produtores Para o presidente da Aprosoja/MT, a rentabilidade dependerá muito dos resultados com a soja tardia, “que ainda tem um longo caminho a percorrer”, além do regime de chuvas e das perdas com doenças e pragas, difíceis de estimar, segundo ele. “Essa foi a safra mais cara da história, muito próxima de R$ 3 mil/ha. O estado tem média de 51,9 sacas quando tudo vai bem. A colheita mal começou e o Imea aponta para uma média de 50,4 sacas/ha. Se continuar nesse nível empataremos; abaixo disso, teremos problemas financeiros, sem contar os dos produtores que arrendaram, têm financiamentos,
dívidas renegociadas”. Dalcin plantou soja em dois mil hectares de sua propriedade, em Nova Xavantina (645 km a leste de Cuiabá) e também teve problemas com a estiagem. “A chuva, que ocorre anualmente com relativa regularidade, desta vez não veio a tempo. Perdi 1,4 mil hectares e replantei. Eu tinha um histórico bom na fazenda, que não se repetiu”. Ele conta que, em algumas regiões, de outubro a dezembro choveu o equivalente a 260 mm, volume que deveria corresponder a chuva de um mês. “Mato Grosso sempre foi conhecido pela estabilidade climática. Quando a gente vem para cá, a gente compra mais o clima do que a terra. Essa variação da produtividade é algo inédito. O El Niño subverteu a estabilidade climática no estado. Em 31 anos de Mato Grosso, vivi poucos momentos ruins como esses. Em 1994, foi o cancro da haste; no início do ano 2.000, a
Plantas “mordidas”, no médio norte de Mato Grosso, atacadas por doenças como a ferrugem asiática e pragas como a mosca-branca (acima, à dir.).
ferrugem asiática; em 2005, problemas financeiros; agora, vivemos a pior em termos de retorno, tanto em produtividade como em ganhos financeiros”. Desde novembro, a Aprosoja/MT vem orientando os produtores com comprometimento na formação das lavouras a coletar provas com fotos georreferenciadas e laudos de agrônomos para demonstrar, como no caso de Ildo Damiani, que fatores externos impediram a produção programada, em condições de repactuarem contratos de venda futura com tradings. Segundo as projeções iniciais do Imea, Mato Grosso colherá 29 milhões de toneladas de soja, quase um terço da safra nacional. Deste total, mais da metade foi travada, o que causa apreensão no segmento. “Os sojicultores se comprometeram com a entrega e as empresas compradores, com as importadoras. Muitos produtores, porém,
A salvação pode estar no milho Por ironia da natureza, o El Niño deve ser se transformar em La Niña em abril, cnforme a meteorologia, trazendo chuvas acima da média para o Centro-Oeste e outras regiões do Brasil. Se a previsão se confirmar, favorecerá a segunda safra na região, especialmente a do milho. “Será muito bom porque o produtor vai avançar na semeadura para além da janela ideal de plantio, com possibilidade de alta produtividade. Exportamos muito milho e, com isso, os estoques estão baixos. Como se vê, o clima segue como o farol da safra 2015/16”, diz o presidente da Aprosoja/MT. “O La Niña pode incentivar o produtor a investir mais na safrinha do milho, porque as chuvas virão no momento em que o cereal mais precisa delas, ou seja, na fase de pendoamento e
granação. “Isso mudaria o panorama que temos até o momento”, frisa Dalcin. Ele explica que, nesse ano, em razão do atraso e extensão do plantio da soja, a área de milho semeada fora da janela ficará bem acima dos 30% do ano passado. O plantio do milho segunda safra começou na segunda quinzena de janeiro no Mato Grosso, prejudicado, em parte, pelo gran-
de volume de chuvas. Conforme o Imea, a tendência é que a partir deste mês de fevereiro a semeadura se intensifique, com os produtores correndo para plantar o máximo possível dentro da “janela ideal” (até o dia 28/2). A previsão em meados de janeiro era de cobrir área de 3,4 milhões de hectares, 2,2% maior que a da safra 2014/15, mas com produtividade inferior à da temporada passada. Assim, chegará a 19,4 milhões de toneladas, 8,8% menor que a anterior, marcada por recorde em produtividade.Tal qual a soja, o milho também gera preocupações em relação ao cumprimento dos contratos futuros. Mato Grosso vendeu como nunca o cereal de forma antecipada: 55% da produção estimada em janeiro de 2016, contra 22% em janeiro de 2015.
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Capa Além do clima, os produtores rurais do Mato Grosso enfrentaram mais um problema no início da colheita: a má qualidade dos grãos. não têm como honrar os acordos e já iniciaram as conversações com as tradings, pedindo que elas visitem as propriedades para conferir in loco a real condição do campo. Não queremos que o produtor seja ainda mais penalizado”. O segmento produtivo no Mato Grosso também está apreensivo com a qualidade dos grãos. Um trader que atua no estado e pediu anonimato para si e para sua empresa reclama da má qualidade dos primeiros grãos na região norte, especialmente em Sorriso, Ipiranga do Norte e Nova Mutum. “O grande problema está nas variedades precoces, que representam 30% da produção estadual”. Questionado sobre a possibilidade de não cumprimento dos contratos, revela que o maior temor das empresas é o oportunismo. “O marketing negativo que a Aprosoja/MT e os sindicatos estão fazendo não refletem a realidade. O temor é que os contratos não sejam cumpridos, mesmo com a soja em mãos. Eles retêm o produto com a desculpa de que não têm soja suficiente, na esperança de mais tarde obter preço maior”, acusa, alegando que sua empresa compra e automaticamente trava essa produção com outro agente. “Por isso, não podemos dar espaço aos oportunistas que acham que as empresas estão aqui para especular”. Medo de retorno baixo Divergências à parte, o produtor mato-grossense nunca investiu tanto para produzir soja como fez na atual safra. O ‘mais’, segundo levantamento do Imea, engloba o volume total de recursos aplicados e o montante oriundo do bolso dos produtores. No entanto, com tantos problemas, a perspectiva de retorno nunca foi tão baixa. A safra 2015/16, que teve custo recorde, próximo de R$ 3 mil por hectare, já é, antes da conclusão da colheita, a de menor rentabilidade em razão das perdas impostas pela seca. Neste ciclo, a sojicultura custou 10% a mais do que em 2014/15, somando cer-
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Endrigo Dalcin: “Estamos muito preocupados com as renegociações dos contratos futuros. Não queremos que o produtor seja mais penalizado ainda”.
A safra 2015/16 distingue-se também pela divisão no bolo de investimentos. Os produtor rural foi obrigados a abrir mais o próprio bolso.
ca de R$ 16,2 bilhões, 40% dos quais financiados por capital dos sojicultores, ou seja, recursos próprios, um percentual inédito nas últimas oito safras. O funding (financiamento) da soja em Mato Grosso apresentou nesta safra configuração diferente das anteriores, especialmente no que diz respeito à “pizza” de investimentos. A parcela de recursos próprios passou de 35% em 2014/15 para 40% agora. A das multinacionais, de 5% para 17%. Juntos, os dois segmentos participaram com 57% do total, pouco mais de R$ 9,2 bilhões dos R$ 16,2 bilhões aplicados – o funding da sojicultura estadual é composto por cinco agentes: multinacionais, sistema financeiro, recursos próprios, revendas e bancos com recursos federais (a juros controlados). Como explicam os técnicos do Imea, essa mudança na composição do financiamento se deu em razão da expectativa de área inédita, aliada a custos de produção jamais vistos no estado. “Essa realidade culminou para uma maior necessidade de capital para custear a safra. O valor do financiamento do custeio cresceu 10% em relação ao ciclo anterior e isso demandou maior participação das multinacionais e do uso do capital próprio”. Outro ponto destacado pelos analistas está atrelado à conjuntura em 2015: a participação das revendas no fomento do custeio caiu quase 50%, na esteira da crise econômica brasileira. Além da questão macroeconômica, o segmento sofreu com a falta de recursos de pré-custeio no primeiro trimestre do ano passado. O dinheiro não foi liberado pelo governo federal, represando as compras e pressionando ainda mais os preços dos insumos. Consequentemente, muitos produtores foram obrigados a lançar mão de recursos próprios para tentar driblar a alta dos custos. Outra constatação dos técnicos: as multinacionais voltaram ao palco. Elas estão cada vez mais competitivas.
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Feira Internacional dos Cerrados
10 a 14 de maio de 2016
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O mundo do agronegócio NO CORAÇÃO DO BRASIL Novidades tecnológicas Exposição e comercialização de máquinas e equipamentos agropecuários Exposição e comercialização de caminhões, veículos e equipamentos rodoviários Exposição, comercialização e leilão de animais Seminários e eventos técnicos Espaço internacional Espaço de Valorização da Agricultura Familiar - EVAF Instituições financeiras, governamentais, não-governamentais e internacionais (61) 3339 6542 | 3226 5810
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Enganando a natureza Feromônios são parte da natureza que, associados com armadilhas, permitem usar o meio ambiente para o controle biológico. Ari Gitz *
Armadilhas para mariposas
* O autor é engenheiro agrônomo e diretor fundador da Biocontrole.
N
os últimos anos, tem-se observado grande aprimoramento de novas tecnologias para a agricultura brasileira, o que traz maior segurança e lucratividade para os agricultores. O uso de agrotóxicos está cada vez mais racional e já não é aceitável que ocorram pulverizações excessivas de inseticidas sem que haja um nível de dano, pois quanto mais pulverizações, maior o custo da produção, contaminação do meio ambiente, risco de contaminação do operador de pulverização, risco de eliminação dos insetos benéficos que auxiliam no controle das pragas, compactação do solo e possibilidade de maior presença resíduos nos alimentos.
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A agricultura moderna exige o Manejo Integrado de Pragas (MIP) que tem como ferramenta essencial o uso dos feromônios, cairomônios e armadilhas para o monitoramento e controle de pragas, dando ao agricultor a segurança de não ser surpreendido pela praga, assim como mostra a ele qual o melhor momento para iniciar a utilização do controle biológico ou químico. Os feromônios e armadilhas foram introduzidos no Brasil como uma nova técnica agrícola com grande benefício para o agricultor. Esta técnica atrai a população adulta de machos presente no cultivo, indicando a chegada da praga e o nível da população da mesma. Deve-se, a partir da captura, utili-
zar pano de batida para verificar se há população de lagartas presentes, pois mesmo com a captura de adultos, é possível encontrar uma baixa população de lagartas na área monitorada devido à possibilidade de insetos benéficos (parasitoides e predadores) já estarem realizando o controle natural das mesmas. Feromônios sintéticos são imitações precisas dos compostos naturalmente produzidos pelos insetos e são utilizados pelo homem no processo de produção agrícola após passarem por diversas fases de pesquisa e desenvolvimento, até a obtenção do produto final. Inicialmente identifica-se um inseto considerado praga na agricultura e é feita a multiplicação em laboratório para estudo da biologia e comportamento, além da existência da comunicação entre machos e fêmeas através do feromônio. Caso exista esta comunicação, é realizada a extração da glândula produtora de feromônios e identificam-se os compostos presentes na mesma. Estes compostos são reproduzidos através de síntese química e testados em bioensaios, sendo liberados em direção à antena dos machos e observando-se seus sinais de excitação. Também são realizados testes em túneis de vento, onde o feromônio é liberado em um dos lados do túnel e do outro é colocado um inseto macho para observar se o inseto voa em direção ao liberador de feromônio. Após a comprovação da atratividade, o mesmo é formulado e inserido em um liberador que pode vir a liberar o feromônio durante cerca de 30 a até 120 dias.
O tempo de liberação dependerá do composto químico impregnado no liberador, da quantidade do composto e do material utilizado na confecção do mesmo. Finalmente, o feromônio é testado quanto à sua atratividade em situação de campo, e conjuntamente é testada e desenvolvida uma armadilha que é adaptada ao tipo de voo e tamanho do inseto-alvo, possibilitando assim sua captura e contagem. O monitoramento tem como objetivo principal a detecção da praga-alvo no momento da chegada à plantação, propiciando ao agricultor o alerta para o início do controle da praga antes que o dano seja realizado. Algumas pragas como a Broca-pequena-do-tomate chegam à plantação à noite, ovopositando nos tomates em formação, após três dias os ovos eclodem, e as larvas penetram o fruto. O agricultor vai perceber o dano somente quando os tomates começarem a cair ou na saída da pupa para continuar o ciclo no solo, exemplificando perfeitamente a necessidade do monitoramento. Feromônios podem ter diferentes usos como “confusão sexual” onde são liberados em
grande quantidade no ambiente, o que faz com que o inseto macho não localize a fêmea para cópula. Também são utilizados no
Algumas armadilhas podem ser dependuradas nas árvores
Exixtem diversos tipos de armadilhas específicas para insetos
sistema “atrai e mata”, onde o inseto é atraído a um liberador de feromônio associado a um inseticida. Consegue-se, assim, que “a natureza engane a natureza”. Atualmente, no Brasil se faz uso de diversos feromônios registrados para pragas de grandes culturas, tais como Bicudo-do-Algodoeiro, Lagarta-do-Cartucho, Helicoverpa armigera, Mosca-das-Frutas e Tuta absoluta. Os órgãos registrantes como Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), Anvisa (Ministério da Saúde) e o próprio Ibama (Ministério do Meio Ambiente) consideram os feromônios como agrotóxicos comuns e aplicam os mesmos valores aplicados aos agroquímicos, assim como os Estados agem em relação aos cadastros dos produtos para comercialização nos seus territórios. Dessa maneira, os órgãos regulatórios e fiscalizadores dificultam a utilização destas tecnologias devido aos altos custos dos registros, suas manutenções, custos de destinação de embalagens vazias (Inpev), custos de transporte (material perigoso), custos para emissão de receituários agronômicos e taxas junto ao CREA.
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Café
Reduto orgânico Cooperativa de pequenos produtores da região de Poço Fundo, em Minas Gerais, se firma como referência em cafeicultura. Rogério F. Furtado
O
agricultor Carlos Henrique Nogueira, mineiro de Poço Fundo, gosta de conversar com seus cafeeiros. Nada a estranhar. Trata-se de hábito cultivado por muita gente amante das plantas. Dos “interlocutores”, desde sempre imóveis e silenciosos, Nogueira costuma “ouvir” pedidos eventuais de mais nutrientes e podas, entre outros cuidados. Em troca, recebe “promessas” de boa produção. Ele também lhes conta as novidades. Foi o que fez no mês passado, quando trouxe para a lavoura a notícia de que a saca do café orgânico alcançara o preço inédito de mil reais na Coopfam – Cooperativa dos Produtores Familiares de Poço Fun-
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do e Região Ltda. Por essa época, o arábica convencional, de bebida dura para melhor, era cotado pouco acima dos R$ 500/saca. Na cooperativa, a escalada do orgânico teve início em meados de 2015, a partir do nível de R$ 700/saca. Uma combinação de demanda firme com a desvalorização do real guindou os preços. A procura se deve ao interesse crescente por alimentos saudáveis, uma tendência mundial bem conhecida. Mas, para deslanchar, o orgânico provavelmente também entrou no vácuo das campanhas pró cafés sustentáveis, bancadas por entidades internacionais, admite o presidente da Coopfam, Clemilson José Pereira.O orgânico ocupa apenas um nicho no
mercado mundial. Ainda assim, a oferta está longe de suprir a demanda. Inclusive a doméstica. A produção nacional se mantém ao redor de 70 mil sacas anuais há mais ou menos uma década, segundo Cássio Franco Moreira, diretor-executivo da Acob – Associação de Cafeicultura Orgânica do Brasil. Parte é exportada, sendo uma fração já pronta para o consumo. O segmento é carente em matéria de estatísticas. Mesmo a Coopfam só terá um quadro atualizado do que se passa em sua área de atuação em meados do ano. Pesquisa com essa finalidade está em curso. No momento, a entidade reúne 418 cooperados ativos, cidadãos de 15 municípios, que
Fotos: Rogério F. Furtado
Carlos Henrique e a esposa, Maria Regina: protagonistas de uma história de trabalho e realizações no Sul de Minas Gerais.
dispõem de 4.244 hectares, sendo 2.178 hectares de café. É sabido que pouco mais de 100 dos associados cultivam o café orgânico, em cerca de 500 hectares, informa o agrônomo Daniel Penha Silva, gerente-geral da entidade. As colheitas são modestas, de até 3 mil sacas por ano, pois a renovação dos cafezais tem sido intensa e grande parte das lavouras ainda não dá frutos. Cenário favorável O volume de orgânico disponível na Coopfam não basta para estufar um despropósito de contêineres. Mas insufla otimismo, assim como o bom desempenho do café convencional, que tem a certificação
Fair Trade. Isso porque a produção total da cooperativa, da ordem de 30 mil sacas por ano, vai aumentar, pois a renovação das lavouras também é intensa nas áreas de plantio tradicionais. O processo envolve o adensamento, com novas cultivares resistentes às doenças, principalmente à ferrugem. Depois, no caso do orgânico, o movimento recente das cotações pode ser indício de uma virada definitiva na história curta, mas acidentada, dessa modalidade de cafeicultura na região. No Brasil, a cafeicultura orgânica ganhou alento na última década do século passado, impulsionada pela demanda mundial por alimentos saudáveis. O entusiasmo inicial pela conversão de lavouras convencionais levou a produção brasileira a um pico, estimado em 200 mil sacas por ano pela Acob. Mas a onda logo refluiu. Faltavam experiência e informações aos agricultores para trilhar a nova rota, promissora em princípio. São necessários três anos para “desintoxicar” os ambientes de cultivo, onde muitas vezes não existe fartura de microrganismos capazes de assimilar os adubos orgânicos. A produtividade despenca invariavelmente com a introdução dos métodos alternativos. Foi o que aconteceu anos atrás. Alguns produtores quebraram e perderam terras. Para
complicar, nem sempre os preços do orgânico se descolaram o suficiente das cotações do café comum para serem compensadores, relata Giuliano Carlos Ferreira, sócio e funcionário da Coopfam. Assim, muitos cooperados engataram a ré, de volta à cafeicultura tradicional. Agora o cenário parece bem mais favorável. As técnicas de manejo foram aperfeiçoadas, graças aos esforços de alguns pesquisadores e à tenacidade de veteranos como Luiz Carlos Paiva, diretor-secretário da Coopfam. Autodidata, incansável na busca de novos métodos de cultivo e insumos, Paiva explica que no princípio, além de faltar apoio técnico, as
Silva e Pereira (da esq. p/ a dir.): Coopfam tem sucesso com a linha de café torrado e moido para o mercado interno.
fevereiro 2016 – Agro DBO | 33
Café O manejo é fundamental. O café orgânico tem que ser bom para ganhar preço e se descolar das cotações do produto convencional.
fontes de nutrientes eram escassas. Ele diz: “Hoje há farta disponibilidade de fertilizantes. Mesmo assim, trabalhamos no sentido de reduzir as compras de insumos para diminuir despesas e aumentar o grau de independência das propriedades”. Paiva exemplifica com o preparo do bokashi, composto tradicional da agricultura orgânica. “A receita do bokashi prevê a adição de 70% de farelos de diversos grãos. Aqui baixamos essa proporção para 30%, graças ao uso de esterco e de cascas do café. Completamos a mistura com farinha de carne e de ossos, pós de rocha que contêm macronutrientes de solubilização lenta, terra, e vários outros
ingredientes”. A solução de microrganismos efetivos, aceleradora do processo de compostagem, também pode ser preparada na propriedade, a partir de fungos e bactérias coletadas no local. A multiplicação é feita em meio de cultura formado por leite, soro e caldo de cana. Diluída em água, a solução será adicionada ao bokashi e também pulverizada nas lavouras, como defensivo natural. Ao mesmo tempo, esse líquido agiliza a decomposição da matéria orgânica presente no solo. A derrubada dos custos de produção é imperativa. Levantamento efetuado há tempos na esfera da Coopfam apresentou valores díspares,
Grãos certificados, com qualidade intrínseca, são a matéria-prima que alimenta a torrefação na cooperativa.
Luiz Carlos Paiva, em área de cultivo orgânico: “Antes, faltava apuro técnico para o café, hortaliças e outras culturas: agora, não”.
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entre os extremos de R$ 250 e R$ 600/saca. Mas é óbvio que os custos se tornam cada vez mais desencorajadores à medida que se aproximam do limite superior. A pesquisa abrangente que está sendo realizada pela cooperativa atualizará os dados. Enquanto isso, Paiva se antecipa e arrisca um palpite: “O custo deve estar entre R$ 350 e R$ 400, para uma produtividade de 40 sacas/ha”. Mas não são muitos os produtores que conseguem rendimentos dessa ordem de grandeza. A produtividade média das lavouras em produção está ao redor de 26 sacas/ha/ano, segundo o agrônomo Silva. Diferenciais de produção Segundo o diretor-secretário da Coopfam, cerca de 90% das lavouras orgânicas apresentam melhores condições fitossanitárias que as convencionais, cujo rendimento médio é de 31 sacas/ha/ano. Essa particularidade, muito estimulante, está atraindo mais interessados para os domínios do orgânico. Mas a passagem de um sistema de produção a outro tem de ser cuidadosa. Como o salto principia pelo corte abrupto do fornecimento de adubos comuns e agrotóxicos, as plantas precisam estar sadias para suportar a mudança. A transição será tanto mais suave e eficaz quanto mais vida houver na
terra. Minhocas e seres microscópicos, entre outros, irão digerir o adubo orgânico e liberar nutrientes para as plantas. “O objetivo primordial é equilibrar o solo. Fora as adubações, inclusive as foliares, usamos o mato em cobertura verde. Alguns cafeicultores também plantam feijão de porco, feijão guandu e crotalária nas entrelinhas, leguminosas que incorporam nitrogênio ao terreno. Essa cobertura é roçada de tempos em tempos”. As lavouras podem ser adensadas, desde que não se criem condições favoráveis à propagação de doenças fúngicas. A ferrugem, a inimiga mais temida, está sempre à espreita. “Contra ela, além do ambiente equilibrado, o produtor deve manter o nível de cobre acima de 2ppm no chão, por meio da aplicação desse elemento químico na forma de sulfato ou hidróxido. Também é recomendável a pulverização das plantas com silicatos solúveis”, diz Paiva. Nos cultivos orgânicos bem conduzidos, os níveis de infestação permanecem baixos, segundo ele. Em áreas convencionais tem sido diferente. Em 2015, os ataques da ferrugem tardia foram intensos. Os
produtos químicos disponíveis não deram conta de segurar a doença. De qualquer maneira, todos os envolvidos se põem de acordo em um ponto: a melhor defesa contra fungos e outros patógenos são as variedades resistentes. Na esfera da Coopfam, as cultivares catucaí e paraíso têm sido as preferidas para a renovação dos cafezais de catuaí e outras. Contra as pragas, os predadores naturais destacam-se enquanto principais aliados. Como as propriedades dos cooperados são pequenas e cercadas
Árvores e arbustos compõem o ambiente do cultivo orgânico. Abrigam inimigos naturais de diversas pragas.
de matas, os predadores ali encontram abrigo e comida à vontade. Em outra frente, a Cooperativa estimula a produção com qualidade, o que envolve a adoção de práticas usuais no meio cafeeiro, recomendadas para todas as fases do ciclo da cultura. Em todo caso, os cuidados devem ser redobrados quando se trata do orgânico: difícil de produzir, esse café tem de ser bom para garantir preço compatível. Se der bebida fraca, será apenas café ruim, cotado como tal. “Sob esse aspecto estamos bem, com
A agricultura sai do fundo do poço Lavouras de fumo sustentaram a economia de Poço Fundo por muitas décadas. Produto artesanal, o fumo de rolo poço-fundense era muito procurado em todo o Brasil. Mas os lucros do negócio se esfumavam, tragados pelos intermediários. O mesmo acontecia em relação aos parcos excedentes de arroz, milho e feijão da produção familiar, relata Clemilson Pereira, presidente da Coopfam. Inspirado por padres católicos, em 1983 um grupo de produtores concluiu que a solução dos problemas exigia ações conjuntas. O embrião da Coopfam começou a se formar ali. Por essa época também se iniciavam os plantios de café nas pequenas propriedades. A opção pela cafeicultura orgânica ocorreria em 1994, quando o grupo de pioneiros já
se reunia em associação. A essa altura, as amarras do fumo estavam prestes a ser rompidas para sempre. Mas quase dez anos se passariam até que fosse constituída a cooperativa – na prática, uma exigência legal. Durante esse tempo, a produção familiar local se desenvolveu com o apoio da igreja e entidades como o Instituto Federal do Sul de Minas. Em 1998, a Coopfam se tornou a primeira organização brasileira a receber a certificação Fair Trade. Desde então tem prosperado. Suas exportações deram um salto de 7 mil para 11 mil sacas de café entre 2014 e 2015. No ano passado, começaram as vendas efetivas do produto torrado e moído no mercado interno, com a marca “Familiar da Terra”. Durante 2014, a cooperativa ha-
via se ocupado em testar sua torrefação e promover a marca. Agora oferece três tipos de café: sustentável (convencional), orgânico e o orgânico feminino, de indiscutível apelo mercadológico. Clemilson Pereira considera bastantesatisfatórios os resultados das operações no primeiro ano: “Colocamos 20 toneladas de produtos no mercado. O café orgânico responde por 90% das vendas. O restante é de café sustentável. A dupla certificação de nosso café, orgânico e sob o selo Fair Trade, melhora muito as condições de comercialização no Brasil e no exterior. E novas portas se abrem. Estamos entregando café em Brasília para dois ministérios, hospitais e outros órgãos. Esperamos avançar nesse mercado institucional”.
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Café “Com o orgânico, descobri que a gente precisa se sentir bem onde trabalha. Gosto de andar descalço, em terreno sadio, cheio de vida”.
Relevo montanhoso, típico da região de Poço Fundo: ideal para o café, mas difícil para o manejo.
A família reunida: Giuliano, Izabel e Luiz Gonzaga, produtores de café, envolvidos também em outras atividades.
85% de bebida boa”, diz o agrônomo Silva.A altitude ajuda. Os cafeeiros de Carlos Henrique Nogueira vicejam em cota superior a 1.000 metros, ideal para o café, mas desafiadora para músculos e pulmões. Mais abaixo, na sede da propriedade familiar, sua esposa, Maria Regina, atua em outra vertente da agricultura orgânica: o cultivo de rosas, sob estufa. O experimento, idealizado por pesquisadora do Instituto Federal, unidade de Machado, se destina a oferecer uma alternativa de renda às associadas à Coopfam, integrantes
do grupo Mobi – Mulheres Organizadas Buscando Independência. Na estufa rústica de 120 metros quadrados, Maria Regina plantou 300 roseiras. Ela sabe que a produção em regime estritamente orgânico não é trivial. As pragas são de tirar o sono. Lagartas, principalmente, se insinuam o tempo todo, com apetite voraz pelos botões de rosa. A despeito das dificuldades, Maria Regina já sonha em ter várias estufas. Uma de suas colegas, Izabel Ferreira, planta flores tropicais a céu aberto. E mesmo enfrentando as tarefas domésticas, ambas se dedicam à cultura do café orgânico, com ajuda dos familiares. Izabel conta com o marido, Luiz Gonzaga, e o filho, Giuliano. Diversificação oportuna A diversificação na área da Coopfam não se resume ao projeto das flores: muitos associados são produtores tarimbados de hortícolas, colocados em vários pontos do comércio regional de orgânicos. De todo modo, a produção do Mobi está alimentando a linha mais charmosa de café torrado e moído da Coopfam para o mercado interno: o “orgânico feminino”. E, naturalmente, cumpre a meta de trazer mais recursos para
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os produtores familiares. Assim, ao fechar um balanço sucinto de suas atividades com Maria Regina, Carlos Henrique Nogueira, que também é conselheiro da cooperativa, se declara muito satisfeito com o café. “Temos três hectares próprios e também cultivamos uma gleba na propriedade de meu pai. Parte da lavoura é orgânica e parte está em conversão. Havíamos deixado a produção de orgânico em 2003. Retornamos alguns anos atrás e estamos obtendo boa produtividade, que já supera a dos plantios convencionais. A renda tem sido suficiente para nos dar bom padrão de vida. Em nossa casa, temos todos os utensílios e comodidades típicas do meio urbano, como a telefonia e internet. No entanto, acima de tudo, com o orgânico descobri que a gente precisa se sentir bem onde trabalha. Gosto de andar descalço, em terreno sadio, cheio de vida e livre de contaminantes. Ao mesmo tempo, como produtor, também descobri a satisfação de ter um compromisso ético com o consumidor. Trabalho primeiro para mim, e minha família. Depois, para os outros. É bom saber que estão consumindo o mesmo produto que usamos em casa”.
Soja
Na onda do mercado A certificação avança no Brasil, mas devagar: por falta de segregação, os compradores europeus não estão pagando prêmio pelo produto. Ariosto Mesquita
Area de soja certificada da fazenda San Jorge, do grupo Bartira, em Costa Rica (MS)
B
em na entrada principal você dá de cara com uma sinalização indicando a velocidade máxima para se trafegar com automóvel na sede (20 km/ hora) e nas vias do campo (40 km/ hora). Entra na propriedade e se depara, em cada talhão de soja, com uma placa com a data da última aplicação de defensivos. Seguindo adiante, é impossível não notar outros procedimentos e estruturas incomuns nas propriedades agropecuárias brasileiras: coleta seletiva de lixo, extintores de incêndio estrategicamente instalados, sistema lavatório/chuveiro de emergência para o caso de contaminação por produtos químicos e uma cápsula de vivência móvel, uma funcional estrutura de apoio a campo para os funcionários.
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Nada exigiu grandes investimentos, mas impressiona positivamente quem chega à fazenda San Jorge, em Costa Rica (MS). A adoção de boas práticas, ações de segurança no trabalho, de convivência social, de proteção ambiental e a busca pela excelência na gestão fizeram com que a soja produzida na propriedade recebesse em junho de 2015 a certificação RTRS, sigla internacional para Round Table on Responsible Soy (Associação Internacional de Soja Responsável), organização com sede em Buenos Aires, Argentina, e representação em vários países. “Foram cinco meses de preparação para a certificação, mas não tivemos dificuldades em nos adequar às normas, uma vez que boa parte delas integra a legislação brasileira. Além disso, vem de
longa data nossa preocupação com o bem estar e segurança da equipe e com o meio ambiente”, garante Luiz Iaquinta, diretor de qualidade e sustentabilidade das fazendas Bartira (da qual faz parte a San Jorge), braço agropecuário da Brookfield Asset Management, gestora de ativos internacionais de origem canadense. A maioria dos agricultores brasileiros provavelmente já ouviu falar da RTRS, mas nem todos têm uma compreensão clara de seus objetivos, conforme admitem alguns integrantes da associação, formada por empresas e organizações integrantes da cadeia produtiva da soja. A ideia surgiu em 2004, mas a associação só foi formalizada dois anos depois, com o estabelecimento de normas e procedimentos. O objetivo era fa-
zer o mercado europeu abrir espaço para o consumo da soja cultivada de maneira responsável, sem riscos para a natureza ou para a saúde dos trabalhadores. “Além da sede na Argentina, a RTRS possui hoje representações no Brasil, Índia, Paraguai, Canadá e União Europeia”, informa o gerente de desenvolvimento de mercado no Brasil, Daniel Meyer, que no último dia 12 de janeiro visitou, com Luiz Iaquinta, a fazenda San Jorge. Atualmente, a associação reúne 195 membros no mundo, entre “participantes” e “observadores”. São dezenas no Brasil, entre eles Monsanto, Cargill, Bayer CropScience Aliança da Terra, Fundação Mato Grosso, Syngenta, Amaggi, WWF, Grupo Santander e SLC Agrícola. Normas e procedimentos Em 2011, a RTRS certificou as duas primeiras fazendas no mundo, ambas no Brasil: Tucunaré, do grupo André Maggi, em Sapezal (MT), e Planalto, da SLC, em Costa Rica (MS). No primeiro ano, foram 122 mil hectares certificados no mundo (76,4 mil no Brasil), correspondendo a 420 mil toneladas de soja (251 mil em propriedades brasileiras). No ano passado, foram 744 mil hectares (0,6% da área de soja no mundo) e 2,3 milhões de toneladas (0,7% da produção global). O Brasil, segundo Meyer, abocanhou mais de 50% destes volumes. O país fechou 2015 com 432,2 mil hectares certificados (1,36% de sua área cultivada com soja), batendo em 1,4 milhão de toneladas (1,49% da produção nacional). “Até o momento, temos 92 fazendas certificadas. Pessoalmente, acredito que o Brasil consiga atingir pelo menos 5 milhões de toneladas de soja certificada até 2020, volume correspondente a 5% da produção interna”, prevê. Argentina, Paraguai, Índia, Canadá, Uruguai, China e Estados Unidos são os demais países com soja certificada RTRS no campo. No primeiro ano, a RTRS exige das fazendas interessadas o cumprimen-
to de 62% das normativas elencadas para a emissão do certificado, concedido após auditoria externa. Nesta etapa, a propriedade tem de cumprir indicadores diretamente relacionados à legislação brasileira. Os demais 38% são exigências específicas, incluindo plano de redução de emissão de gases de efeito estufa, utilização de energias renováveis e implantação de programa de contenção de uso de produtos químicos. A cada ano, novas inspeções avaliam o cumprimento dos itens restantes e a manutenção dos anteriores. No Brasil há cinco auditorias credenciadas. O produtor RTRS tem três anos, a partir da data da avaliação inicial, para atender a 100% de todos os requisitos. A prioridade das fazendas Bartira, segundo Iaquinta, é padronizar e elevar a qualidade da produção. “Com uma operação mais homogênea é possível o controle a redução de gastos na manutenção de equipamentos. Com mais segurança para a equipe, reduzo minhas despesas
Ala da vila dos funcionários, com extintores e bujões de gás à disposição dos moradores; acima (à direita), cápsula de vivência móvel, com banheiro, refeitório e área de descanso.
Daniel Meyer (abaixo, à esquerda) e Luiz Iaquinta, na fazenda San Jorge: a RTRS quer certificar 5% da produção brasileira de soja até 2200.
com afastamentos de funcionários, contratações temporárias e eventuais indenizações, por exemplo.” Em sua opinião, uma propriedade com soja certificada “segue a onda do mercado” e, por isso, ele prevê demandas crescentes para o produtor rural brasileiro, sobretudo do mercado europeu: “O sojicultor ganha a blindagem da imagem junto ao comprador e ao consumidor final. A última coisa que uma grande empresa consumidora de soja quer descobrir é que um de seus fornecedores usa trabalho infantil ou desmata sem nenhum controle ou autorização”. Por enquanto, a única via para obtenção de vantagens financeiras diretas na certificação da soja é o sistema de comercialização de créditos. A cada tonelada de soja certificada produzida, a fazenda acumula um crédito de produção sustentável. “Hoje, cada crédito tem o valor flutuando entre R$ 10 e R$ 12 e depende muito do mercado e da variação do dólar”, explica Meyer. Empresas e organizações podem declarar publicamente o apoio à produção de soja responsável adquirindo estes créditos. Em situações específicas, também é autorizada a estas empresas compradoras estampar a logomarca/selo RTRS nas embalagens de seus produtos. “Um exemplo deste procedimento é a Unilever, que compra soja certificada não transgênica, segregada de fazendas brasileiras, e ainda adquire os créditos gerados. Com isso, ela vem estampando o logotipo RTRS nas embalagens da linha de bebida fevereiro 2016 – Agro DBO | 39
Soja
Na entrada da fazenda San Jorge, placas indicam as velocidades máximas permitidas.
a base de soja AdeS”, exemplifica. Meyer revela que, de toda a soja certificada produzida no mundo, 53% são adquiridos pela Holanda e 35% pelos países escandinavos. “Somente 4% ficam no Brasil, consumidos pela Unilever que, além da bebida AdeS, se prepara para lançar uma maionese à base de soja RTRS, provavelmente até o final deste ano”. Segundo ele, só em 2015 foram vendidos pouco mais de dois milhões de créditos RTRS em todo o mundo, sendo aproximadamente 1,1 milhão por produtores brasileiros. Apesar dos avanços em certificação no Brasil, um entrave inibe a participação de mais produtores. A Comu-
nidade Europeia, o maior mercado comprador, não paga preço diferenciado pela soja certificada pelo simples fato de que a carga original não consegue seguir segregada até o destino final. “Nossa grande barreira é a logística. Quando um comprador europeu fecha um contrato, as grandes multinacionais saem comprando de várias fazendas certificadas. Esta soja, no entanto, acaba se misturando às não certificadas nos silos e nos porões dos navios cargueiros. Este comprador, portanto, não pode ter a certeza de que todos os grãos que recebeu são de origem certificada. Não é como um bezerro, que se pode marcar”, explica Iaquinta. Assim que
atingir um volume de produção adequado, a RTRS quer eliminar este problema. “O nosso próximo passo é viabilizar um pool de produtores para fechar navios com soja certificada. Assim, toda a produção sairá segregada e abrirá a possibilidade do mercado oferecer um prêmio pela mercadoria”, revela, citando o caso da soja convencional (não transgênica) brasileira, que hoje segue segregada até o seu destino final. Experiência da San Jorge Localizada estrategicamente no nordeste do Mato Grosso do Sul, próximo a rodovias e ferrovia (Ferronorte), a fazenda San Jorge produz soja e milho, além de criar e comercializar bezerros numa área total de 5,3 mil hectares. A partir de 2017, no entanto, será totalmente agrícola (veja box abaixo), com ênfase na produção da leguminosa. Ao longo dos anos, vem remodelando toda a sua estrutura produtiva e revendo procedimentos internos junto aos seus funcionários. O objetivo inicial foi o cumprimento integral das regras previstas na legislação brasileira, sobretudo a Norma Regulamentadora 31 (NR-31), publicada em 2005, e que vem sofrendo alterações nos últimos anos. A NR estabelece preceitos de segurança e
Sai o gado, entra a cana São 1.982 hectares semeados com soja certificada na safra em curso e 2.054 reservados à pecuária. Neste ano, a fazenda San Jorge começará, porém, a remodelar seu sistema produtivo, na expectativa de se consolidar como propriedade exclusivamente agrícola até fevereiro de 2017. Ainda em 2016, perto de 800 hectares de pastagem serão adaptados para o cultivo de cana-de-açúcar. Assim que o rebanho for redistribuído para outras unidades do grupo Bartira, o restante da área até então ocu-
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pada pelo gado também atenderá o setor sucroenergético, parte das quais arrendada para a usina Iaco Agrícola, localizada no vizinho município de Chapadão do Sul. Segundo o gerente das fazendas do grupo no Mato Grosdo do Sul, José Edimar Pires, a indústria deixou de apostar apenas no etanol, agregando uma linha de produção de açúcar e, com isso, aumentando sua demanda por cana. Atualmente, a fazenda dispõe de de rebanho de 1.300 cabeças (vacas nelore e crias meio sangue
“O custo médio de certificação de uma fazenda brasileira com 2,5 mil hectares de soja fica em 1% do seu custo operacional total” saúde no trabalho na agricultura, pecuária, silvicultura, exploração florestal e aquicultura. Em função da adequação ao rigor legal, a propriedade adiantou o cumprimento de uma série de exigências também estabelecidas pela certificação RTRS. “Por isso, conseguimos adequar a fazenda em cinco meses”, observa Iaquinta. A San Jorge também foi beneficiada por integrar um grupo de 15 propriedades fomentado pela Unilever, que assumiu os custos das auditorias. “A empresa precisava gerar um volume de soja certificada na região e a nossa fazenda estava dentro do escopo”, diz o diretor. Com isso, o desembolso exclusivo para adequação RTRS acabou sendo pequeno. Mesmo supondo o pagamento da auditoria, Iaquinta calcula que a certificação custou o equivalente a 0,54 saca/ha, fatia correspondente a 1,35% do atual custo de produção de soja na propriedade: 40 sacas/ha. “Nossos estudos apontam que o custo médio de certificação de uma fazenda brasileira com área de 2,5 mil hectares fica em 1% do seu custo operacional total”, esclarece Meyer. Seangus) e produz 700 bezerros/ ano, em média. Em 2015, obteve rentabilidade de R$ 350/ha/ano. “Com o arrendamento, vamos ser remunerados em R$ 550/ ha/ano”, calcula. A nova configuração produtiva da fazenda terá perto de 2 mil hectares arrendados para cana e outros 2 mil para soja na safra de verão. Após a colheita das variedades de ciclo curto (aproximadamente 110 dias), de 500 a 600 hectares serão ocupados por milho segunda safra e entre 1,4 mil e 1,5 mil hectare com milheto, para gerar cobertura de solo até o plantio da próxima safra de soja.
gundo ele, além do custo variável de adequação, a certificação exige o pagamento da auditoria externa (variável entre R$ 10 mil e R$ 15 mil/ano) e o pagamento à RTRS de R$ 1,20 por tonelada de soja certificada. Em aproximadamente sete meses de certificação, a San Jorge já recebeu pouco mais de R$ 50 mil em comercialização de créditos. Apesar do reduzido dispêndio financeiro, essa adequação exigiu mudanças de comportamento da equipe da San Jorge, sobretudo com relação à utilização de EPI (equipamento de proteção individual). “Muita gente achava desconfortável e havia certo desleixo por parte de nossos colaboradores. Acontecia, por exemplo, de um funcionário usar qualquer equipamento, não o específico para uma determinada atividade”, conta o gerente das quatro propriedades Bartira no Mato Grosso do Sul, José Edimar Pires. Além da San Jorge, o grupo ainda toca as fazendas San Diego (11,9 mil hectaresem Chapadão do Sul), San José I (12, t mil em Ribas do Rio Padro) e San José II (7,2 mil em Bandeirantes). São mais sete unidades pelo Brasil. No total, a em-
Placas de controle de aplicação de agroquímicos, usadas nas fazendas do grupo Bartira.
José Edimar Pires mostra chuveiro de emergência, recurso em caso de contaminação por agroquímico.
presa detém aproximadamente 150 mil hectares. Hoje, na San Jorge, horários de trabalho e de descanso devem ser obedecidos à risca. “Nada de esticar no trabalho”, observa Pires. No campo, as placas que indicam a data da última aplicação de agroquímicos orientam o funcionário a discernir se corre ou não algum risco de contaminação caso entre na lavoura. Por todos os lados avisos lembram sobre procedimentos, cuidados e normas a serem adotadas, evidenciando o preparo para a próxima auditoria, que deve ocorrer no segundo semestre deste ano. Relacionamento social Uma das exigências específicas da certificação RTRS é que a propriedade mantenha um canal de relacionamento com a comunidade na qual está inserida. Neste aspecto, a San Jorge se soma às outras três unidades Bartira no Mato Grosso do Sul para doar, em leilão anual, lotes de 30 novilhas para os três municípios mais próximos: Chapadão do Sul, Costa Rica e Camapuã. No entanto, como encerrará as atividades de pecuária, a fazenda terá de buscar outro caminho de participação social. “Talvez, quem sabe, adotar uma escola”, avalia Iaquinta. fevereiro 2016 – Agro DBO | 41
Clima
El Niño castigou, mas tem prazo para acabar. A boa notícia é que as águas do Pacífico começam a esfriar, e prenunciam regularização das chuvas, tanto no Brasil como nos EUA. Marco Antônio dos Santos *
A
s chuvas que estão sendo registradas em todo o Brasil, hora na metade sul hora na metade norte do Brasil estão causando sérios prejuízos não só à produção agrícola, mais também à população
urbana e ao transporte. Os altos e constantes volumes de chuvas que estão ocorrendo, já superaram duas vezes a média esperada para todo o período. Lavouras estão sendo alagadas, estradas interditadas, pontes
* o autor é engenheiro agrônomo e agrometeorologista da Somar Meteorologia.
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50
100 200 300 400
500 650
(mm)
Fonte: Somar – Simulação do dia 19/01/2016
Figura 1. Mapa de volumes totais de chuvas previstas para ocorrerem no Brasil durante os meses de fevereiro, março e abril de 2016.
destruídas pela ação das águas, povoados e fazendas isolados. E o responsável por tudo isso tem um nome: El Niño. Neste ano agrícola o fenômeno atingiu valores históricos. Entre o final do ano e começo de 2016, a temperatura das águas do Oceano Pacífico chegou a 3,1°C acima da média. Sinalizando um El Niño mais forte das últimas décadas. Sendo comparado aos ocorridos nos anos de 1992/93 e 1997/98. E a tendência é que ele continua a influenciar o clima durante todo o verão. Porém, esse fenômeno já está dando sinais de enfraquecimento, uma vez que as temperaturas das águas do Pacífico já estão se resfriando. Mas então, o que esperar para esses próximos meses no Brasil e até mesmo para a safra norte-americana? Como poderá ser observado o mês de fevereiro será com chuvas muito mais “compartilhadas”, do que se registrou nos meses de dezembro e janeiro. Ou seja, em dezembro as chuvas ficaram concentradas sobre a metade sul do Brasil e, em janeiro, na metade norte. Mesmo com o enfraquecimento do El Niño, isso está possibilitando que as frentes frias consigam se organizar no Sul do Brasil e avançar pelo interior do país, chegando até mesmo às regiões produtoras do Matopiba. Não estão sendo observados mais aqueles longos períodos de invernada, como nesses últimos dois meses.
Figura 2. Projeção para ocorrência dos fenômenos El Niño e La Niña para os próximos meses. Dando destaque para o enfraquecimento do EL Niño e o surgimento da La Niña, durante o segundo semestre de 2016.
E, segundo os modelos de previsão, não só este mês de fevereiro, mas também março terá esse mesmo comportamento. Chuvas, horas mais concentradas no Sul e, num próximo período, mais concentradas no norte. Desse modo, é positivo tanto para o desenvolvimento das lavouras como para a realização dos tratos culturais, plantio e colheita. Além disso, o fato do El Niño estar se enfraquecendo permitirá que as chuvas se estendam durante o outono. Favorecendo, dessa maneira, as lavouras de segunda safra, como milho e algodão. Entretanto, vale ressaltar que as chuvas que estão sendo previstas para o outono não serão iguais às registradas nas últimas duas safras. O
que se espera é que as chuvas se estendam sobre as regiões produtoras do Centro-Oeste, Sudeste e sobre o Matopiba até meados de abril, depois deverá ocorrer um novo período mais seco, sendo que as chuvas só deverão retornar em meados de maio.
Agora, para as culturas de grãos dos Estados Unidos a perspectiva é também de safra boa, porém com possibilidade de quebras um pouco mais significativas este ano. Isso porque, devido à influência do El Niño, o próximo verão norte-americano não deverá ser tão rigoroso como foi nos últimos dois anos. Sendo assim, tanto o degelo quanto o aquecimento do solo deverão ocorrer mais rapidamente, possibilitando que os plantios do milho e da soja ocorram dentro do período ideal. Há previsão de chuvas dentro da média para toda a primavera. O problema ficará para o verão, pois, sem a presença do El Niño há fortes indícios de que venham a ocorrer períodos de estiagem. Neste caso, as quebras estarão diretamente relacionadas à época de plantio. No caso de plantios atrasados e até mesmo de variedades de ciclo mais
A tendência é de que o El Niño continue a influenciar o clima durante todo o verão Assim, há uma perspectiva de que entre a primeira quinzena de março e a segunda quinzena de abril venha a ocorrer um novo período de pouquíssimas chuvas. Lavouras bem planejadas terão tudo para ter ótimas produtividades esse ano.
tardios poderão “pegar” nesse período de menos chuvas. Podendo, desse caso, resultar em reduções nos potenciais produtivos das lavouras. Dessa maneira, será um ano para olhar com muita cautela para a produção nos Estados Unidos.
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Ariosto Mesquita
Heveicultura
Agitação nos seringais Ariosto Mesquita
N
o início do século passado, o Brasil supria 95% da demanda mundial por borracha. Hoje, responde por algo em torno de 1% e atende apenas 30% do consumo interno. Neste intervalo, muita coisa mudou, incluindo a descoberta da borracha sintética. Esta, no entanto, por ser originada de fonte não renovável (petróleo), tem vida teoricamente limitada. Mas nada estrangulou tanto o mercado nacional quanto a borracha asiática, de baixo custo. Disposta a reerguer o setor, a cadeia produtiva nacional organizou uma ofensiva para estimular o cultivo de seringueiras no país, atualmente estagnado, apesar da recuperação de preços internos do látex
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em 2015, devido à alta do dólar. A Abrabor – Associação Brasileira de Produtores e Beneficiadores de Borracha protocolou no Ministério da Agricultura um pedido de revisão da taxa de importação do produto dos atuais 4% para 35%. Segundo o presidente da entidade, Fábio Magrini, a tributação maior não trará riscos para segmentos como o de pneumáticos e de artefatos de borracha, que hoje importam matéria-prima de países da Ásia. “Sugerimos uma espécie de tarifa flutuante. Caso o preço interno atinja níveis adequados, esta taxa de importação pode cair até 0%”, explica o executivo. De acordo com Magrini, a remuneração justa ao produtor, suficiente, segundo ele, para incenti-
Ariosto Mesquita
Produtores traçam estratégias para estimular o cultivo, enfrentar a concorrência dos países asiáticos e valorizar a borracha brasileira.
Demorado, mas lucrativo Na opinião do presidente da Abrabor, a política de garantia de preços mínimos do governo federal (o valor atual é R$ 2) não é suficiente para manter a atividade. “Hoje, se observa um leve aumento na produção nacional em função da entrada de novas áreas de extração”, diz ele, lembrando que, embora lucrativa, a heveicultura é investimento de longo prazo: a seringueira demora sete anos para começar a fornecer látex e só atinge a maturidade produtiva a partir do décimo ano. A produção brasileira cresceu 3,4% entre 2013 e 2014, evoluindo de 186,9 mil toneladas para 193,3 mil, com pro-
Flaviana Ribeiro
var a expansão da cultura no Brasil, seria de, no mínimo, R$ 2,50/ quilo do coágulo de látex com teor de borracha seca de 53%, o que não estaria muito distante dos patamares atuais. “Em São Paulo, o produtor está recebendo entre R$ 2,05 e R$ 2,10 graças ao dólar. Em 2014, o quilo foi cotado bem abaixo de R$ 2”, lembra.
Fábio Magrini reinvindica tributação maior à matéria-prima importada da Ásia
dutividade média de 1.312 kg de borracha seca (bs) por hectare/ ano. Em São Paulo, responsável por 57,5% do que se produz no país, chega a 1.807 kg/bs/ha/ano. Os heveicultores vêm tomando uma série de iniciativas para recuperar o mercado brasileiro de borracha, aviltado desde 1876, quando o inglês Henry Alexander Wickham surrupiou cerca de 70 mil sementes de se-
ringueira do vilarejo de Boim, na margem esquerda do rio Tapajós, no estado do Pará, transportando a carga para Londres e de lá para a Ásia. Diferentemente da borracha natural brasileira, obtida do processamento do látex da espécie Hevea brasilensis, sangrado em árvores dispersas pela floresta sob regime extrativista, a do sudeste asiático sempre foi cultivada sob modelo
Em 1927, o industrial norte-americano Henry Ford se aventurou pela Amazônia (onde nunca pisou, por medo de contrair doenças), disposto a produzir borracha em escala comercial. Primeiro, ergueu uma cidade, a Fordlândia, com indústrias, hospitais, escolas, cinema. No auge, abrigou 3.100 empregados. No entanto, a terra infértil e as pragas decretaram o fracasso da experiência. Hoje, o local está em ruínas, parcialmente engolido pela floresta. O empresário fez nova tentativa em Belterra, perto de Santarém. Ao contrário da Fordlândia, Belterra continua “viva”, com ruas e casas no estilo americano. “Por aqui a coisa deu certo. Foram plantadas 3,3 milhões de mudas. O cultivo começou em 1934 e foi até 1945. O pro-
blema é que, justamente neste ano, surgiu a borracha sintética, e os americanos foram embora”, lembra o coordenador do Centro de Memória do município, Benjamim Leite. Aos poucos, as áreas cobertas com seringueiras viraram pastagens. Recentemente, foram ocupadas por uma atividade promissora: a soja. “Hoje, pelo menos 10 mil hectares são utilizados para o plantio de grãos, principalmente soja”, conta o técnico Sérgio Correa, da Emater-PA. Segundo ele, a leguminosa caiu no gosto dos produtores locais, em cultivo alternado com milho (ao lado, área pronta para semeio): “Consegue-se média de 60 sacas/ha de soja e 80 de milho”. A semeadura começa em janeiro, quando se inicia a colheita no Centro-Sul do Brasil.
Ariosto Mesquita
Sai a borracha, entra a soja
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Heveicultura
Ariosto Mesquita
Dirigentes do setor propõem legislação que permita o plantio de seringueiras junto a espécies nativas em áreas de reserva legal
Área de cultivo de seringueira implantada no início da década em Cassilândia (MS)
intensivo, em escala comercial. Além do aspecto agronômico, lá não existia o fungo causador do mal-das-folhas (Microcyclus ulei), uma das doenças mais comuns nos seringais, sobretudo na Amazônia. Até o final do século 19, o Brasil detinha o monopólio da borracha no mundo. A atividade chegou a representar perto de 30% da receita do país em exportações.
Eduardo Sanches, presidente da Aprobat, sugere o uso de seringueiras em sistemas ILPF
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De lá para cá, o setor viu experimentos como os de Fordlândia e Belterra, ambos no Pará, apostou em cultivos comerciais no Centro-Sul do Brasil, hoje a principal região produtora do país, mas, à exceção de duas ou três ocasiões, a heveicultura nacional jamais chegou perto do protagonismo do passado. Agora, quer estimular o plantio e recuperar o mercado. Uma das propostas nesse sentido é a regulamentação do plantio de seringueiras para compor áreas de reserva legal em propriedades rurais. A Abrabor tem conhecimento de dois estados com legislação neste sentido: Mato Grosso do Sul (Lei nº 3.628 de 24/12/2008) e São Paulo (Lei nº 12.927 de 23/4/2008). “Mas da forma como foram aprovadas, estas permissões não deram frutos. Exige-se, por exemplo, que as seringueiras sejam plantadas entremeadas às espécies nativas e isso deixa a área suja, com muito mato, dificultando o manejo e a coleta do látex”, explica Magrini. No Mato
Grosso do Sul, o presidente da Aprobat–Associação dos Produtores de Borracha de Aparecida do Taboado e Região, Eduardo Antonio Sanchez, vem tentando convencer o governo do estado a permitir o plantio de seringueira (espécie exótica) em parte das áreas de reserva legal, sem a presença de árvores nativas. “A partir dai, tenho como manter as seringueiras como integrantes da reserva, ao mesmo tempo em que faço a exploração comercial. Da forma como é permitido hoje, praticamente inviabiliza a sangria”, diz Sanchez, que cultiva 10 mil pés, plantados em 2009, com previsão de produção a partir de 2016. O presidente da Aprobat sugere ainda que se possa adotar plantios em linhas ou ruas independentes, tomando como exemplo os sistemas ILPF – Integração Lavoura-Pecuária-Floresta. A diferença segundo ele, seria a troca das áreas de pasto e grãos por mata nativa. As linhas de floresta seriam ocupadas pelas seringueiras.
Gestão
Controle total Monitoramento diário das atividades e compartilhamento de informações ajudam a mitigar riscos e melhorar a renda no campo. Marianna Peres
Q
ual foi a margem bruta da soja no Mato Grosso? Que cultivar produziu mais na sua região? Por que o milho safrinha, que chega a ocupar 80% da área cultivada com soja verão no estado, contribui com apenas 15% do faturamento no fechamento do ano-safra? Poucos produtores rurais mato-grossenses têm as respostas na ponta da língua. Alguns nem sabem exatamente quanto ganham – tradicionalmente, contabilizam apenas o número de sacas que sobraram após o pagamento das dívidas. Não consideram a totalidade dos gastos envolvidos na atividade agrícola, especialmente os indiretos, como a depreciação da terra ou do maquinário. Os que aderiram ao Projeto Referência, se não respondem de imediato às questões acima, podem ao menos recorrer ao banco de dados da Aprosoja/MT para fazê-lo. Eles estão aperfeiçoando a gestão; a maioria sabe o que gasta e como gasta, o que entra e o que sobra no bolso para ser reinvestido. O Projeto Referência foi criado pela Aprosoja/MT para auxiliar o agricultor a administrar a propriedade com eficiência e profissiona-
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lismo. Há oito safras compilando e mapeando dados sobre mercado e resultados financeiros da soja e do milho no estado fornecidos em grande parte pelos próprios agricultores, a entidade montou um banco de dados precioso a respeito. “O Referência é uma rede de difusão de informações técnicas e econômicas e análise das práticas aplicadas pelos produtores rurais, um processo contínuo de aprendizado e aperfeiçoamento profissional baseado no compartilhamento de experiências e conhecimento”, resume o gerente de planejamento da Aprosoja/MT, Cid Sanches. A equipe técnica da associação analisa os dados e propõe procedimentos de gestão aos associados – os participantes não são identificados em nenhum momento. O modelo lhes permite replicar ações com eficácia comprovada em suas propriedades. Nivelamento por cima Implantado em 2008, o projeto ganhou fôlego em 2010 com a introdução de um software exclusivo, que facilita o acesso às informações via computador, notebook, tablet ou smartphone, e deslanchou em
2014 com a implantação de Grupos de Discussão, nos moldes do que se faz na Argentina – trata-se, simplesmente, de reuniões nos municípios produtores de grãos para trocar experiências e discutir problemas comuns. A região norte do Mato Grosso foi a primeira a organizar debates do tipo. Na safra 2014/15, o projeto envolveu 36 municípios, cobrindo área de 210 mil hectares. “Dentro de uma mesma região, há diferenças expressivas na produtividade de soja, por exemplo, o que desencadeia acaloradas discussões. Afinal, porque tamanha disparidade, se as condições de produção, os insumos utilizados, o solo e o clima são semelhantes? Dos debates surgem ideias, propostas e soluções. Os produtores com rendimento baixo passam a ser nivelar com colegas com melhores resultados, ou seja, o nivelamento é feito por cima”, compara Sanches. Entre outros “serviços” ofertados, o Referência lista as 25 cultivares mais plantadas em cada região e o rendimento médio de cada uma, num comparativo das três últimas safras. O melhor desempenho em milho veio de uma propriedade do norte do estado, que utilizou a DM
309 e extraiu 152 sacas por hectare. O pior resultado, 47 sc/ha, foi registrado numa fazenda da região oeste, com BM 810. Nas regiões norte, oeste e sul, o milho contribuiu com 22%, 18% e 14%, respectivamente, para a margem bruta total das propriedades. Na opinião de Sanches, o “lamento” dos agricultores sobre a participação do cereal no faturamente geral faz sentido. “De julho a junho (no ano agrícola), nós contabilizamos todos os lucros e despesas das propriedades participantes do Projeto Referência e constatamos que o milho contribui com apenas 15%, em média, contra 85% da soja. É pouco pelo risco do processo. Em termos financeiros, o milho não agrega tanto, mas seu valor agronômico é indiscutível”. Mudança de paradigma Para o gerente de planejamento da Aprosoja/MT, a boa gestão é imprescindível para o sucesso do negócio, especialmente em épocas de crise, como agora. “É quando ela se faz necessária. É no momento de maior dificuldade que o produtor retoma, ou dá mais importância ao gerenciamento de custos. Quando a lucratividade aperta, ele começa a enxergar o valor de um parafuso ou de um litro a mais de diesel. Gastos com pouco peso na lista das despesas passam a ser dignos de controle em época de margem baixa e custo alto”. Segundo Sanches, não faz mais sentido contabilizar apenas o número de sacas de soja para plantar versus sacas que vão
sobrar. “É preciso considerar tudo, calcular a depreciação da terra, do maquinário, aprender a avaliar taxas de juros, se o momento é bom para tomar recursos no banco A ou B, se vale a pena fazer vendas antecipadas, quando fazer, etc. A profissionalização exige que o agricultor se torne um empresário”. Considerando os resultados obtidos desde sua implantação, o Projeto Referência representa uma mudança de paradigma, especialmente entre os pequenos e médios produtores. Há casos de agricultores que evoluíram muito e passaram a exigir assessoria mais intensa e softwares mais complexos para gerenciamento talhão a talhão, por exemplo. Alguns foram buscar especialistas no mercado. Muitos ainda estão engatinhando em gestão. “Uma das primeiras mudanças na condução da atividade agrícola, induzida pelo Referência, é constituir departamento administrativo e financeiro na fazenda”, revela Sanches. Outra é racionalizar gastos através de compras conjuntas. “Os pools de compras coletivas, principalmente para a aquisição de insumos para o plantio, tem trazido ótimos resultados. Essas aquisições são organizadas entre grupos ou mesmo via cooperativas, muitas delas formadas após o Referência”, diz Sanches, citando como exemplo cooperativas de pequenos produtores constituídas em Querência e Lucas do Rio Verde. “Ao cruzar dados das propriedades da região, constatamos que a econo-
Entre outras iniciativas, o Projeto Referência introduziu pools de compra, com grande economia nos gastos com insumos, por exemplo.
Produtos rurais associados à Aprosoja/MT durante reuniões do Projeto Referência.
mia na compra conjunta de fungicidas, por exemplo, chegou a 7%”. A Aprosoja/MT mantém pelo menos dois encontros anuais com os associados envolvidos no projeto: um em maio, para apresentação dos dados sobre a safra, produtividade e lucratividade esperadas, e o outro em setembro, época de contabilizar os resultados e cotejar com as estimativas.. “O de setembro, no encarramento do ano-safra, é o mais interessante. É o momento em que a gente mostra, com base nos relatórios prévios enviados pelos participantes, o que valeu à pena, se foi a soja e o milho, a soja e o algodão, só a soja ou soja e pecuária. Não adianta boa rentabilidade na soja e ter saldo negativo na safrinha, pois o saldo do ciclo é o do fechamento de safra”. Na opinião do gerente de planejamento da Aprosoja/MT, o Projeto Referência mostra, em síntese, que é sempre possível melhorar.
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Entrevista
Safra complicada
O
engenheiro agrônomo Fabiano Siqueri, 45 anos, pesquisador da Fundação MT, qualifica a atual safra de verão no estado do Mato Grosso como muito complicada, e ao mesmo tempo admite sérios problemas no futuro breve, especialmente na questão de resistência de pragas, doenças e ervas daninhas para produção de soja, milho e algodão, lavouras que preenchem o universo de interesses da entidade. Fabiano é paranaense, e migrou de Terra Boa, onde nasceu, para Rondonópolis com os pais, quando tinha menos de 7 anos de idade. Depois, formou-se em engenharia agronômica na Unesp – Ilha Solteira (SP), e está na Fundação MT há 17 anos, sempre como pesquisador, e atualmente ocupa o cargo de Gestor de Pesquisa em Proteção de Plantas, nível de diretoria, na entidade que é uma empresa privada sem fins lucrativos, mantida por produtores rurais do estado do Mato Grosso, para realização de pesquisas e prestação de serviços aos produtores, notadamente assistência técnica. Fabiano é torcedor do Corinthians, tem por hobby a pescaria e o jogo de pôquer, é casado, tem 3 filhos, dois com 17 e um com 11 anos de idade, mas gosta mesmo é de falar da agricultura, conforme se pode observar na presente entrevista para a Agro DBO, conduzida por Richard Jakubaszko, editor-executivo. Agro DBO – Como está sendo a safra de verão no MT? Fabiano Siqueri – Muito complicada, em quase todos os sentidos, tanto do ponto de vista agronômico, como climático e econômico, em função de custos. Sofremos um atraso muito grande no plantio pelo atraso das chuvas. O clima aumentou a janela de plantio, dificuldades de emergência das plantas, falta de uniformidade, mau desenvolvimento das plantas, as plantas estavam pequenas, porque estava muito seco e quente, e chegamos ao absurdo de assistir gente que plantou em setembro e já estava colhendo em dezembro, e havia
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gente que ainda estava plantando em dezembro, conforme a região. Não é normal acontecer isso aqui no Mato Grosso. Devido ao El Niño deste ano, muito forte, a influência do clima foi enorme. Agro DBO – E as pragas nesta safra, incomodaram? Fabiano Siqueri – Basicamente as lagartas, normalmente a pressão é alta na região. E Mosca Branca, que todo ano incomoda muito, é uma praga de difícil controle, sempre foi. A gente pode controlar uma infestação numa lavoura, mas se o vizinho não fizer o controle a reinfestação é muito rápida. Tem sido um
problema muito grande para nós, porque sempre temos lavouras no campo, durante quase todo o ano, as áreas são grandes, e a praga sobrevive, não temos um vazio climático (neve, por exemplo) para a Mosca Branca que fizesse a população da praga reduzir de forma natural. Agro DBO – Como vocês avaliam as resistências de pragas e doenças? Fabiano Siqueri – A avaliação é nos trabalhos e experimentos de campo que fazemos as primeiras inspeções, e estamos sempre observando. Caso tenhamos suspeitas recorremos a parceiros
que possuem laboratórios, universidades, empresas, que têm capacidade de fazer um trabalho científico. Estamos preocupados, no sentido de tentar preservar o uso de todas as tecnologias, isso faz parte do nosso dia a dia, inclusive com ervas daninhas. O que percebemos que é nítido é a necessidade de aumento do número de pulverizações, seja para lagartas ou percevejos, os bichos demoram a morrer, há um aumento da tolerância das pragas aos diversos inseticidas. Na Ferrugem Asiática há também um aumento na tolerância do fungo, e a consequente queda de eficiência de quase todos os fungicidas específicos, o que é preocupante. Os produtores gostam das soluções mais fáceis, como a biotecnologia, por exemplo, ou de alguns produtos, mas com o passar dos anos, com o uso indevido, as práticas inadequadas, essas tecnologias têm a tendência de perder eficácia. Agro DBO – Quais práticas inadequadas? Fabiano Siqueri – O modelo de agricultura que se pratica, com a ausência de rotação de culturas, por exemplo, ou baixo uso de outras ferramentas, tudo isso faz com que o produtor tenha a necessidade de usar um pouco mais os agroquímicos do que se ele fizesse estritamente o que seria o recomendável. Agro DBO – Você se refere a tratos culturais inadequados, um manejo ruim, manejo integrado de pragas, ausência de controle biológico? Fabiano Siqueri – Exatamente, um baixo manejo integrado faz com que o produtor use mais algumas ferramentas do que outras. O controle biológico aqui no Mato Grosso ainda é muito baixo, devido à existência de grandes áreas de cultivos, mas
poderia ser intensificado. Em fungicidas é quase zero. Em inseticidas temos hoje aqueles à base de Bt (Bacillus thurigiensis), mas ainda é pequeno.
produtores não segue essas recomendações, e aí os problemas aparecem. Muita gente faz pelo calendário, usa subdosagens, e não respeita os intervalos.
Agro DBO – Em sementes transgênicas vocês têm observado resistências? Fabiano Siqueri – Em milho isso é notório e evidente, algumas tecnologias não funcionam mais para Spodóptera. Em soja ainda não, ainda é cedo, o cenário é mais tranquilo, por que a tecnologia é mais recente, e a mesma coisa em algodão. O problema está no milho.
Agro DBO – E a rotação de culturas, o pessoal não respeita? Fabiano Siqueri – Rotação aqui no MT não é um fato, não acontece, pois o modelo de agricultura que se pratica aqui é de monocultura. Temos um cenário facilmente explicado pelos números: todo ano são 9 milhões de hectares de soja, 3 milhões de ha de milho, e que são plantados em mais de 95% dos casos em safrinha, ou seja, não há uma rotação, mas uma sucessão de culturas. E temos mais de 500 mil ha de algodão, sendo que 75% é semeado em segunda safra.
Agro DBO – E como resolver ou amenizar o problema (resistência)? O que o produtor deve fazer e não deve fazer? Fabiano Siqueri – A gente sempre recomendou utilizar as tecnologias de forma aliada. Por exemplo, existe a tecnologia Bt, para soja e milho, e respeitar o uso correto é respeitar o refúgio, fazer um refúgio estruturado, conforme as recomendações de distância, de acordo com o que as empresas determinam como modelo de refúgio. Nos agroquímicos as recomendações são sempre tornar o cenário o mais favorável possível para a ação dos agroquímicos, e isto quer dizer o seguinte: para a ferrugem, por exemplo, tem de entrar com aplicação preventivamente, desde que a planta esteja com desenvolvimento normal, uniforme, respeitar as recomendações de dose e de intervalos entre as aplicações, basear-se em aplicações por amostragem, e não pelo calendário.
Agro DBO – Como está a soja Inox, lançada pela Fundação MT? Fabiano Siqueri – Temos dois materiais, cultivares que são recomendados para o Sul do país, e até mesmo para o Paraguai, que têm resistência à ferrugem. No MT é muito restrito o uso dessas duas variedades que temos hoje no mercado, pois elas têm um ciclo muito curto para as condições climáticas do estado. O programa de melhoramento da TMG tem trabalhado intensamente para conseguir bons materiais, adaptados e produtivos ao clima do MT, resistentes à ferrugem, e com resistência inclusive a nematoides.
Agro DBO – O produtor segue isso? Fabiano Siqueri – Deveria seguir. Uma pequena parte faz dessa maneira, segue nossas recomendações e as dos fabricantes, mas sabemos que boa parte dos fevereiro 2016 – Agro DBO | 51
Entrevista Acredito que até a próxima década, a partir de 2023/25, teremos uma nova onda de lançamentos, o cenário é muito positivo.
No Sul, a soja inox tem produzido bem, com ótimos resultados, o que produzimos de sementes vendeu tudo, pois o uso da cultivar reduziu o número de aplicações, sentiu menos a ação do fungo, e as infestações foram muito intensas o ano passado. Agro DBO – Vocês acompanham lavouras de outras regiões? Onde o MT está melhor, ou pior, comparado a outros estados? Fabiano Siqueri – Acompanhamos na medida do possível, até fazemos algumas visitas, mas não é o nosso dia a dia. No MT, comparativamente, estamos pior que outros estados na quantidade de máquinas por área cultivada. Temos muito mais área por máquina do que no Sul, por exemplo, onde as propriedades são menores. Nas outras tecnologias, guardadas as devidas proporções em sementes, temos as mesmas condições que os estados do Sul e Sudeste. As produtividades são semelhantes, e o que faz alguma diferença é o clima, que nos dois últimos anos, aqui no MT, foi muito instável. Agora, o que perdemos feio é a questão da logística, mas isso reduz a lucratividade do produtor. 52 | Agro DBO – fevereiro 2016
Agro DBO – Qual a explicação para as produtividades médias nos estados do Sul terem crescido mais do que no MT, em soja e milho? Fabiano Siqueri – A grande diferença é que no Sul ainda há uma produção de milho na safra, cujo potencial produtivo é maior, enquanto que no MT, como já disse, o milho é maioria na safrinha. Nos concursos de produtividade de soja, no MT temos muita chuva, tempo nublado. Essa a diferença em soja, no Sul a luminosidade é mais estável nessa época. Agora, nos números médios da Conab as médias de produtividade são muito semelhantes entre o Sul e o MT. Agro DBO – Há concentração de tecnologias de sementes em poucas empresas? Fabiano Siqueri – Acho que não, mas existem, evidentemente a Monsanto, Syngenta, Bayer, Basf, Dow, que são as empresas de ponta e lideram o mercado, mas todas elas licenciam as tecnologias para as sementeiras, o produtor tem uma enorme variedade de opções. Agro DBO – Como você vê o cenário para os próximos 10 anos, em termos de manejo e plantio?
Fabiano Siqueri – Acredito que até a próxima década, a partir de 2023/25, teremos uma nova onda de lançamentos, o cenário é muito positivo. O que preocupa a nós pesquisadores é o modelo de agricultura que se pratica aqui no Cerrado, passamos pela ausência de uma política agrícola consistente, cada ano é diferente do outro, isto não é sustentável, e não favorece as rotações de culturas, e pior, permite o surgimento de pragas, doenças e ervas daninhas resistentes, o que só dificultará os trabalhos no futuro. O produtor daqui pergunta sempre, “se não plantar soja vou plantar o quê? E vou vender para quem?”. O mercado do MT se especializou em produzir soja e milho, e um pouco de algodão. Muito diferente dos EUA, onde a cada ano se faz rotação de no mínimo 30% das lavouras, muito superior ao que se faz aqui. Agro DBO – Como minimizar a questão das resistências das pragas e doenças? Fabiano Siqueri – Necessitamos de uma ação conjunta de toda a cadeia, enquanto não for feita uma discussão séria, com ações efetivas, os problemas vão continuar aparecendo e se agravando. Educar o produtor envolve mudanças de hábitos culturais, e isso vai demorar muito. Tem de haver regulamentos e questões de políticas públicas que obriguem o produtor a usar as tecnologias de forma mais racional, tudo isso apoiado pelos elos da cadeia, já seria de bom tamanho. O problema é cultural e econômico, o produtor não está devidamente conscientizado, e as empresas visam o lucro no curto prazo, afora a falta de inciativa do governo de enxergar no longo prazo.
Artigo
A bruxa ainda está solta Pragas quarentenárias são ameaças no futuro breve, e devemos estar preparados para evitá-las, e, se entrarem, combatê-las. Claudio Spadotto*
U
m fazendeiro, considerado rico, procurou um amigo para falar-lhe de um assunto delicado. “Estou precisando de dinheiro e confio na nossa velha amizade, na certeza de que você vai me ajudar”, disse o fazendeiro. O amigo se prontificou a emprestar uma certa quantia, imaginando tratar-se de R$ 10 mil ou R$ 20 mil. “De quanto você precisa?”, indagou, ao que o fazendeiro respondeu, cabeça baixa: “De uns R$ 200. É pra fazer a feira semanal lá em casa.”
Ano passado três novas pragas agrícolas foram encontradas nas nossas lavouras; 35 nos últimos dez anos. Pode-se dizer que outras tantas estão a caminho. São chamadas pragas quarentenárias, algumas ausentes do País, outras já estão por aqui, mas em regiões delimitadas. Estima-se que 600 espécies dessas pragas (insetos, ácaros, fungos, bactérias, plantas...) têm potencial de causar danos significativos à agricultura brasileira. Delas, 150 espécies já ocorrem ao menos em um país da América do Sul e podem
Identificadas 364 vias de ingresso terrestre de pragas vindas de países vizinhos
* O autor é membro do Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS) e gerente geral da Embrapa Gestão Territorial.
Esse trecho foi publicado no jornal Gazeta Mercantil, em 12 de abril de 1995 e retrata a decadência das fazendas de cacau no Sul da Bahia na década de 1990. Hoje a produção brasileira de amêndoas de cacau não é suficiente para atender a demanda interna. A chegada (ou introdução intencional) da doença conhecida como “vassoura de bruxa” foi um duríssimo golpe na já enfraquecida economia cacaueira nas cercanias de Ilhéus na Bahia, por conta dos baixos preços no mercado internacional. Como a “vassoura de bruxa”, causada por um fungo, apodrece os frutos, a safra despencou, a rentabilidade minguou, os fazendeiros se afundaram em dívidas, a arrecadação caiu e milhares de trabalhadores e seus familiares ficaram sem seus sustentos. Um gravíssimo problema econômico e social se instalou.
entrar no Brasil de diferentes maneiras. O Ministério da Agricultura tem adotado medidas para reforçar a prevenção da entrada e do estabelecimento de pragas quarentenárias. Ações de fiscalização e controle em portos, aeroportos e postos de fronteira na inspeção de produtos agrícolas que caracterizem risco compõem os Planos de Contingência, com medidas preventivas e emergenciais para erradicação de focos e contenção da praga. Quais pragas estão por vir? Por onde podem ingressar e se estabelecer nas nossas lavouras? Num país como o Brasil, com vasto território, extensas fronteiras, não deveríamos abrir mão da identificação e caracterização das possíveis vias de acesso de pragas. Existem regiões do Brasil com grande produção agrícola, onde
lavouras ameaçadas por pragas ainda ausentes estão próximas a interseções de rodovias, ferrovias ou hidrovias na fronteira com países vizinhos, como na divisa do Mato Grosso com a Bolívia. Há regiões com necessidade do aumento do número de postos de controle e intensificação das medidas de vigilância fitossanitária, como nas divisas com o Paraguai e Bolívia. A Embrapa, na sua unidade de Gestão Territorial, possui uma base de dados georreferenciados que permite analisar as prováveis vias de ingresso de pragas no País e por onde a disseminação é facilitada, como as rodovias federais e estaduais. Dessa forma, os postos do Ministério da Agricultura e os estaduais podem atuar de forma conjunta e coordenada na prevenção da entrada ou do estabelecimento de pragas quarentenárias. Já foram identificadas 364 vias de possível ingresso terrestre de pragas vindas de países vizinhos, em interseções da fronteira com estradas e rodovias e 26 locais na região de fronteira, passíveis de ingresso de pragas por meio de embarcações. O grande número de aeródromos (são 519 aeroportos), localizados na faixa de fronteira, majoritariamente de propriedade privada, alerta para a necessidade de reforço na vigilância e controle das possíveis entradas de pragas por transporte aéreo. Dessa forma, poderemos aperfeiçoar nossa capacidade de antever e agir pró-ativamente frente às várias ameaças de pragas quarentenárias, racionalizando nossa vigilância sanitária vegetal. fevereiro 2016 – Agro DBO | 53
Mecanização
O gargalo da segunda safra A safrinha deixou de ser secundária, e precisa se equiparar aos mesmos cuidados com a safra, para não virar um estorvo. Amílcar Centeno *
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ma questão sempre despertou minha curiosidade: se o milho se tornou um bom negócio, por que a maioria dos agricultores não plantam toda sua área de soja com milho na segunda safra? Sempre que observo esta situação durante uma visita de campo ou qualquer outro contato faço esta pergunta aos produtores. A resposta que recebo mais frequentemente
máquinas de uma propriedade agrícola é preciso identificar onde está o gargalo operacional. Em outras palavras, qual a operação que exige maior capacidade de máquinas e operadores. Resolvido esse gargalo, as demais operações normalmente serão atendidas com a aquisição de alguns implementos adicionais, específicos para essa função, mas não serão necessários tratores ou operadores adicionais.
Para dimensionar a frota de máquinas é preciso identificar qual o gargalo operacional
* O autor é engenheiro agrícola e especialista em máquinas agrícolas.
é “porque a chuva corta antes de terminar o plantio”. Observando melhor a operação de guerra que se instala nas lavouras no momento do plantio da segunda safra e fazendo algumas contas no papel, cheguei a outra conclusão: faltam máquinas e operadores! Quando se dimensiona a frota de
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Em operações de safra única, normalmente este gargalo é o plantio da safra de verão de maior área. Assim, a frota da maior parte das propriedades está dimensionada para atender o plantio da soja dentro da janela adequada. Qualquer falha em dimensionar adequadamente a frota ou a equipe de plantio
resultará em atrasos na operação e as consequentes perdas de produtividade. Isto ficou evidente em algumas regiões nesta safra, quando as chuvas ou foram em excesso ou foram escassas, exigindo que a frota de máquinas executasse a operação em uma janela muito apertada de dias disponíveis para o plantio. Já nas propriedades que fazem duas safras, o gargalo normalmente passa a ser o plantio da safra de inverno. Não é para menos: é preciso operar simultaneamente o sistema de colheita e o sistema de plantio. Como a prioridade é dada para a colheita da safra de verão, o plantio da safra de inverno acaba sendo limitado. Algumas vezes faltam tratores, mas normalmente faltam operadores. A foto que ilustra este artigo retrata muito bem essa situação. A frota de plantio vai cobrir uma largura de trabalho menor do que a frota de colheita. Como a velocidade de plantio é limitada pela precisão da operação, bem como pela evolução do trabalho de colheita, sua capacidade operacional é muito menor. Uma possível solução seria aumentar a frota de tratores e plantadeiras, bem como o número de operadores. Nas duas situações o investimento teria que ser justificado economicamente pelo aumento na área e produção da segunda safra. Em alguns anos com bons preços para o milho isto se justifica. Em outros isso pode não ser viável. Uma variável que pode ser incluída na equação é a maior capacidade disponível para o plantio de verão, o que reduziria o risco de ser plantada fora da janela ideal.
Novas tecnologias que estão em desenvolvimento pelos diversos fabricantes prometem ajudar a solucionar este problema. O primeiro que deverá chegar ao mercado em breve é o que foi batizado com “máquinas coordenadas”. Este sistema consiste em colocar várias máquinas autônomas (sem operadores) a seguirem uma primeira máquina operada manualmente, e que serve de referência para as demais. Esta solução poderia ser aplicada tanto para o sistema de colheita como para o sistema de plantio, reduzindo a necessidade de operadores adicionais para o plantio da safra de inverno. Outra solução que deverá entrar no mercado na sequência são as máquinas autônomas, que dispensam operadores e são controladas remotamente, contando com sistemas de georreferenciamento (GPS) e senso-
res de obstáculos para que operem com precisão e segurança nas lavouras. Vários fabricantes já trabalham com protótipos destas máquinas. Na verdade, os dois primeiros tratores autônomos trabalharam em condições reais nas duas últimas safras. O curioso é que foram desenvolvidos e produzidos por uma empresa norte-americana de médio porte. Estas empresas tendem a ser mais inovadoras, rápidas e versáteis do que as grandes empresas multinacionais e suas estruturas pesadas e avessas ao risco inerente à inovação. Enquanto essas tecnologias não chegam, observe com cuidado as operações de colheita da safra de verão e de plantio da safra de inverno na sua propriedade. Identifique onde estão os gargalos operacionais. Quais operações poderiam ser executadas mais rapidamente. Faça as contas e veja se
vale a pena investir um pouco mais para aumentar a área de plantio da segunda safra, plantando dentro do período recomendado. De acordo com as teorias das restrições, muito utilizada na gestão da produção na indústria, sempre que você remover um gargalo, você aumenta a produtividade de todo o sistema, e não só da operação que foi ajustada.
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Novidades no campo Soprador para grandes áreas
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Novidade da Husqvarna, o 350BT vem com motor de 50 cavalos, piloto automático, empunhaduras ajustáveis e sistema de amortecimento de vibração, aliviando a pressão nos braços e nas mãos do usuário. Destinado à limpeza em locais amplos como silos, galpões para abrigar colheitadeiras, praças, parques, rodovias, etc, reduz em até 20% o consumo de combustível e em até 60% a emissão de poluentes, segundo a empresa.
Contra o bicho-furão e o psilidio
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Inseticida multicultura da FMC, o Mustang 350 EC controla as duas principais pragas da citricultura: a mariposa Gymnandrosoma aurantianum (o bicho-furão-doscitros) e o psilídeo Diaphorina citri, inseto vetor das bactérias que causam o greening (Huanglongbing/HLB). Segundo a empresa, o Mustang 350 EC possui grande efeito de choque, com penetração pela cutícula e tarso das lagartas e outros insetos pragas. A dose recomendada pelo fabricante é de 5 a 10 ml a cada 100 litros de água.
Trator super estreito
Mosca-branca na soja
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A Agritech apresenta a nova versão do trator 1185 S Turbo: o 1185 S Super Estreito 4x4, com 1,30m de largura, projetado para facilitar o trabalho em culturas adensadas. Com motor turbo Yanmar de 85 cavalos, o modelo possui direção hidrostática, câmbio principal sincronizado, raio de giro de apenas 2975 mm e tomada de potência econômica opcional, para menor consumo de combustível e melhor aproveitamento da máquina.
A Syngenta obteve extensão do registro do inseticida Polo 500 SC para o controle da mosca-branca (Bemisia tabaci) na soja. O produto possui como princípio ativo o Diafentiurom (além da Feniltiouréia), inibidores da acetilcolinesterase. O modo de ação é por contato, ingestão e fumigação, tendo como mecanismo de ação a inibição da respiração mitocondrial e paralisação imediata da respiração e reprodução do inseto.
Proteção aos cafezais
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A Syngenta também conseguiu registro do inseticida Voliam Targo, formulado a partir das moléculas Chlorantraniliprole e Abamectina. O produto permite o manejo da broca, do bicho mineiro e do ácaro vermelho, três das principais pragas do café. Disponível a partir deste mês, também controla a lagartas do cartucho (Spodoptera frugiperda) e falsamedideira (Pseudoplusia includens) na cultura da soja.
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Cultivance chega ao mercado
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Parceria da Embrapa com a Fundação Meridional, a BRS 397 CV foi lançada no Showtec, em Maracaju (MS). De ciclo precoce e alta produtividade, inclusive na presença do nematoide de galha Meloidogyne javanica, é a primeira cultivar com tecnologia Cultivance (desenvolvida pela Embrapa e Basf) a chegar ao mercado. A tecnologia permite a “rotação” de herbicidas com diferentes mecanismos de ação para evitar a seleção de biótipos resistentes.
Cerco à mosca-branca
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A DuPont Proteção de Cultivos obteve registro oficial para aplicação do inseticida Benevia no controle da mosca-branca. A autorização vale para as culturas de soja, feijão, algodão, batata, tomate e melão. A companhia informa que a comercialização do produto, formulado a partir da molécula química Cyazypyr, será iniciada imediatamente após a obtenção dos cadastros estaduais para o produto.
Combate à Helicoverpa
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A Bayer obteve a extensão do registro do Larvin 800 WG, à base de Tiodicarbe, para controlar a Helicoverpa armigera no algodão e na soja. Trata-se de um inseticida de contato e ingestão do grupo Metilcarbamato de oxima, para pulverização foliar, classificado como Classe III em relação à periculosidade para o meio ambiente. De alta seletividade, já vinha sendo utilizado no controle das principais lagartas das culturas de milho.
Aplicativo para coleta de dados
▶ Ataque às lagartas
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A Nufarm apresenta o Armigen, inseticida biológico para controle de todas as espécies de lagartas dos gêneros Helicoverpa e Heliothis, desenvolvido pela empresa AgBiTech, da Austrália. Conforme a Nufarm, o Armigen é uma ferramenta importantíssima no MIP – Manejo Integrado de Pragas graças à sua eficácia, destacando-se também pela seletividade em relação aos inimigos naturais, impactando menos o meio ambiente.
Desenvolvido pelo Cemaden – Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais, o aplicativo AgriSupport possibilita o registro fotográfico georreferenciado da área plantada e coleta de informações sobre o plantio através de celulares, smartphones e tablets com dispositivos Android. Idealizado para pequenos agricultores do semiárido brasileiro, foi lançado no mês passado em Montes Claros (MG).
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Análise de mercado
Previsões voláteis Estimativas sobre a safra brasileira de café: como (não) usá-las – um guia definitivo, por João Alberto Brando, da P&A Marketing Internacional.
E
sta não é outra estimativa ou atualização da safra brasileira. Estamos em plena época de previsões. As que foram feitas até agora permitem chegar a uma única conclusão: são todas bem diferentes umas das outras. Outras vão aparecer, revelando o que nós, da P&A, chamamos de “volatilidade das previsões de safra”. Ainda não criamos um índice para elas, mas, desde o ano de 2014, tal volatilidade vem crescendo. Está tão alta que, num mesmo dia do mês de maio de 2015, duas importantes instituições brasileiras publicaram estimativas com uma diferença de 10 milhões de sacos entre ambas, o equivalente a
cerca de 20% da safra (dependendo de qual base for usada...). Eventos como este chamam a atenção dos meios de comunicação, mas a falta de consenso entre pesquisadores e analistas não é recente. Ela só se tornou mais relevante (e prejudicial) para o mercado à medida que a participação brasileira nas exportações mundiais cresceu e tornou-se mais significante.Vale a pena notar que os analistas não chegam a um consenso mesmo sobre safras passadas, o que significa que estão usando não só diferentes hipóteses como também diferentes metodologias para chegar a seus números. Isto significa que é difícil iden-
tificar uma fonte na qual confiar quando não há acordo nem sobre fatos já consumados. Estudos para avaliar safras são poucos, porque difíceis de executar, caros e de vida curta. Imagine alguém que tentasse fazer uma avaliação ampla da safra de 2014 por meio de um estudo de campo realizado no final de 2013. Primeiramente, esta pessoa teria que viajar entre áreas de café com distâncias de até 1.000 km entre elas. Segundo, o pesquisador necessitaria investigar tanto quanto possível dos 2 milhões de hectares plantados, pois a produtividade varia de um local para outro, até na mesma fazenda! Finalmente, depois de processar a
Trigo –
As cotações oscilaram bastante nas duas primeiras semanas de janeiro, seguindo depois viés altista. Conforme levantamento do Cepea, a liquidez, porém, baixou no mercado interno, devido à menor presença de compradores. Os moinhos reduziram a compra de farinha, diminuindo, em consequência, a de trigo em grão. A perspectiva, porém, é que retomem as compras do cereal, porque os estoques estão baixos. Do outro lado vendedor, parte dos triticultores se retraiu, à espera de melhores preços.
* Em 15/1, o Indicador Cepea/Esalq registrou R$ 736,65 por tonelada, mercado disponível, à vista (o valor a prazo é descontado pela taxa NPR), posto Paraná.
ALGODÃO –
Os preços dispararam em janeiro. De 1/1 a 19/1, o Indicador Cepea/Esalq referente à pluma 41-4, posta em São Paulo, subiu 11,25%, fechando a R$ 249,27. Segundo pesquisadores do Cepea, o impulso vem da maior demanda. Os compradores se mantiveram ativos, à procura de lotes para entregas rápidas. Os vendedores, porém, se retraíram, atentos à paridade de exportação. Os valores internos do algodão voltaram a ficar acima da paridade de exportação.
* Em 15/1, o Indicador Cepea/Esalq registrou R$ 243,15 centavos de real por libra-peso.
ARROZ –
Conforme o Indicador Esalq/Senar-RS, a saca de arroz em casca no Rio Grande do Sul voltou a se valorizar na última semana de janeiro, voltando aos patamares de novembro de 2015 (chegaram a R$ 41,50 em 26/11, o maior valor nominal da série). Em 15/1, atingiram R$ 41,43, como mostra o quadro ao lado. A perspectiva de quebra na safra no Sul do Brasil, por causa das chuvas intensas, pode ajudar a segurar os preços até o início da colheita.
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* Em 15/1, o Indicador Arroz em Casca Esalq/Bolsa Brasileira de Mercadorias – BM&FBovespa registrou R$ 41,43 à vista por saca de 50kg, tipo 1, posto indústria Rio Grande do Sul.
Análise de mercado
Fonte: Cepea – www.cepea.esalq.usp.br
informação, o pesquisador descobriria que todo seu trabalho foi em vão, em virtude da seca severa que afetou tudo que ele havia pesquisado poucas semanas antes... Não confiáveis como podem parecer, previsões de safra não podem ser ignoradas, mas tampouco podem ser tomadas como verdade absoluta. Paradoxal como isto possa parecer, a solução para aumentar a confiabilidade das previsões de safra, no meu entender, é ter mais previsões e de fontes diferentes. Na verdade, cada participante no mercado tem sua própria previsão. A safra brasileira é tão importante para a formação de preços futuros que, cada vez que um negócio é feito, ambos os lados da negociação estão, consciente ou inconscientemente, apostando num dado tamanho da safra brasileira. Em outras palavras, o preço internacional do café traz embutida uma estimativa da safra brasileira. Então, por que não inverter esta lógica? Se todos estão preocu-
café –
As cotações do arábica viraram o ano em baixa, reagiram na primeira semana de janeiro (chegaram a R$ 504,25 sc/60 kg no dia 5), mas depois caíram, pressionadas pelas projeções de safra maior em 2016 – além do clima quente e seco, 2015 foi ano de bienalidade negativa. As estimativas da Conab e do IBGE indicam produção superior e boa qualidade dos grãos este ano, se o clima continuar ajudando. Na parcial de janeiro (até 20/1), o Indicador Cepea/Esalq acumulava baixa de 4,1%.
* Em 15/1, o Indicador Café Arábica Cepea/Esalq registrou R$ 480,13 por saca de 60 kg, bica corrida, tipo 6, bebida dura para melhor, posto cidade de São Paulo.
pados com o tamanho real da safra brasileira, por que não perguntar “na fonte”? Como há milhares de negócios diários, é só perguntar a opinião dos agentes do mercado sobre o tamanho da safra brasileira. A lei dos grandes números* justifica tal processo e ajudará a atingir um consenso sobre o assunto.
descreve o resultado de se repetir o mesmo experimento um número grande de vezes. De acordo com esta lei, a média dos resultados obtidos em um grande número de tentativas estará próxima do valor esperado e tenderá a se aproximar ainda mais à medida que mais tentativas forem feitas.
*Na teoria da probabilidade, a lei dos grandes números (LGN, por suas iniciais) é um conceito que
João Alberto Brando Mestre em Finanças pela FGV. Analista da P&A Marketing Internacional.
* Em 15/1, o Indicador Cepea/Esalq/BM&FBovespa registrou R$ 84,42 por saca de 60 kg, posto Paranaguá, descontado o prazo de pagamento pela taxa CDI/Cetip.
soja – Em janeiro, os preços atingiram os maiores patamares desde o final de 2013, segundo levantamento do Cepea, ultrapassando os picos rgistrados em setembro e outubro de 2015. A alta foi sustentada principalmente pela forte demanda no mercado internacional e pela a valorização do dólar. Na terceira semana de janeiro, no entanto, as cotações perderem fôlego em várias regiões acompanhadas pelo Cepea, pressionadas pelo início da colheita.
* Em 15/1, o Indicador Esalq/BM&FBovespa registrou R$ 43,36 por saca de 60kg, descontado o prazo de pagamento pela taxa CDI/Cetip.
MILHO – A exemplo do que ocorreu com o algodão, as cotações do milho dispararam em janeiro, saindo de R$ 36,83 em 30/12 para 43,36 em 15/i, como mostramos na quadro ao lado. A alta deve-se, fundamentalmente, à demanda externa (desde outubro do ano passado o Brasil vem exportando o cereal em níveis recordes) e, consequentemente, menor disponibilidade interna, e à perspectiva de produção inferior à do ano passado na safra de verão. AÇÚCAR –
* Em 15/1, o Indicador Açúcar Cristal Cepea/Esalq registrou R$ 84,48 por saca de 50 kg, com ICMS (7%), posto São Paulo.
Os preços mantiveram trajetória altista na primeira quinzena de janeiro no mercado paulista. Subiram lentamente na primeira semana, comparativamente ao fechamento do Cepea em 30/12 (R$ 82,16 sc/50 kg), para logo a seguir saltar para a casa dos R$ 83 e, em pouco tempo, R$ 84. Embora o ritmo de negócios tenha refluído na terceira semana do mês, os valores não cairam, exceto os que envolviam o tipo Icumsa 180. Os dos demais tipos de açúcar cristal seguiram firmes.
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Biblioteca da Terra Guia de solos
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A 3ª edição do Manual Técnico de Pedologia (ciência dos solos), do IBGE, traz informações sobre os procedimentos necessários para a execução de levantamentos de solos e um guia prático detalhado para as atividades no campo. A versão digital está disponível para download gratuito: o link é www.ibge.gov.br/home/geociencias/recursosnaturais/ sistematizacao/manual_pedologia.shtm. A versão impressa pode ser adquirida na loja do instituto (www.loja.ibge.gov.br) por R$ 70.
Produção integrada
Estudo de caso em Itaipu
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O livro Sistema de Integração: Milho, Capim-Braquiária e Eucalipto condensa 10 anos de experiência no âmbito do Circuito Zona da Mata de Integração Lavoura, Pecuária e Abastecimento. promovido pela Emater-MG e pela UFV – Universidade Federal de Viçosa para divulgar o sistema ILPF. Com linguagem simples, traz informações para auxiliar produtores rurais e técnicos no planejamento e implantação do sistema. A publicação custa R$ 19. Os interessados devem contatar a UFV através do telefone (31) 3899 2234, do e-mail editoravendas@ufv.br ou do site www.editoraufv.com.br.
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Editado pelo Iapar – Instituto Agronômico do Paraná, o livro “Produtividade da Soja no entorno do reservatório de Itaipu” analisa a intensificação da agricultura no oeste paranaense, o clima (radiação solar, temperatura do ar, precipitação pluviométrica, direção e velocidade dos ventos), a caracterização dos diversos tipos de solo e os fatores intervenientes na produtividade da soja na região. Segundo os autores – os pesquisadores Luiz Antônio Zanão Júnior, Rogério Teixeira de Faria e Paulo Henrique Caramori –, os resultados científicos apurados após cinco anos de estudos e experimentos a campo, sintetizados no livro e em artigos publicados no Brasil e no exterior, demonstram que o reservatório não influi no microclima de forma a afetar o desempenho da agricultura ao redor. O estudo põe fim às duvidas a respeito do impacto sobre a atividade agrícola na região. A publicação custa R$ 60. A compra pode ser feita através do site www.iapar.br, do e-mail adt@iapar ou do telefone (43) 3376-2373.
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Cancro cítrico digital
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Lançamento do Fundecitrus – Fundo de Defesa da Citricultura, o e-book Cancro Cítrico: a doença e seu controle é a versão online do livro homônimo, escrito pelos pesquisadores Franklin Behlau, do Fundecitrus, e José Belasque Jr, da Esalq/USP – Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”. O formato digital tem como propósito ampliar o alcançe do livro, disseminando informações sobre a doença, uma das mais graves da citricultura. O e-book pode ser acessado gratuitamente pelo site www.fundecitrus.com.br/comunicacao/ manual/cancro-citrico---a-doenca-e-seu-controle/34#page/1
A base das plantas
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Os recursos fitogenéticos abarcam todo e qualquer material genético de origem vegetal com valor real ou potencial para a alimentação e a agricultura. O livro Recursos fitogenéticos: a base da agricultura sustentável no Brasil foi elaborado para iniciantes no tema, mas serve a agricultores, melhoristas e técnicos. Obra dos pesquisadores Renato Ferraz de Arruda Vieira e Manoel Abílio de Queiroz, custa R$ 160 e pode ser encomendado à Editora UFV através do link www.editoraufv.com.br/ detalhes.asp?idproduto=1872288
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Calendário de eventos
FEVEREIRO
16
Ma Shou Tao Inovashow 2016 – De 16 a 17 – Fazenda
Boa Fé – Conquista (MG) Site: www.inovashow.agr.br E-mail: contato@inovashow.com.br
18
26ª Abertura Oficial da Colheita do Arroz – De 18 a 20
Parque de Exposições Dr. Lauro Dornelles – Alegrete (RS) Fone: (51) 3211-0879 E-mail: federarroz@federarroz.com.br
22
1º Simpósio Internacional sobre Microbioma da Planta – De 22 a 24 – Embrapa Meio
Ambiente – Rodovia SP 340, km 127,5 (Tanquinho Velho) – Jaguariúna (SP) E-mail: rodrigo.mendes@embrapa.br
23
21º Dia de Campo Coopercampos – De 23 a 25
Campo Demonstrativo da Copercampos – Campos Novos (SC) Fone: (49) 3541-6080 – E-mail: fabricioh@copercampos.com.br
MARÇO
4
45ª Expoparanavaí/Exposição Feira Agropecuária e Industrial de Paranavaí – De 4 a 13 – Parque de Exposições Presidente Arthur da Costa e Silva – Paranavaí (PR) Site: www.srnp.com.br – E-mail: secretaria@srparanavai.com.br
8
Fenicafé/Feira Nacional de Irrigação em Cafeicultura, XXI Encontro Nacional de Irrigação da Cafeicultura do Cerrado, XIX Feira de Irrigação em Café do Brasil e XVIII Simpósio de Pesquisa em Cafeicultura Irrigada – De 8 a 10 – Pica Pau Country Clube Araguari (MG) – Fone: (34) 3242-8888 E-mail: contato@fenicafe.com.br
13
XXVI Congresso Brasileiro e IX Congresso LatinoAmericano de Entomologia De 13 a 17 – Centro de Exposições Ruth Cardoso – Maceió (AL) E-mail: cbe.seb2016@gmail.com
16
19º Tecnoagro – De 16
a 17 – Centro de Pesquisa da Fundação Chapadão (BR 060, km 11) Chapadão do Sul (MS) Fone: (67) 3562-2032 Site: www.tecnoagro2016. com.br E-mail: contato@ fundacaochapadao.com.br
29
Show Safra BR 163
De 29 a 1/4 – Centro Tecnológico Fundação Rio Verde (Rodovia da Mudança, km 8) Lucas do Rio Verde (MT) Fone: (65) 3549-1161 Site: www.showsafrabr163.com.br E-mail: comunicacao@ fundacaorioverde.com.br
30
18º Seminário de Mecanização e Produção de Cana-de-Açúcar - De 30 a 31 -
Centro de Eventos Tawian – Ribeirão Preto (SP) - Fone: (16) 3211-4770 E-mail: eventos@ideaonline.com.br
ABRIL
1 - Show Rural Coopavel De 1 a 5/2 BR 277, km 577 Cascavel (PR)Fone: (45) 3225-6885 E-mail: webmaster@ showrural.com.br Realizado desde 1989, o Show Rural Coopavel é um dos mais importantes eventos do agronegócio brasileiro. Vitrine do que há de mais moderno em máquinas, implementos e insumos agrícolas, tecnologias e serviços voltados ao produtor rural, recebeu no ano passado 480 expositores e 203.904 visitantes do Brasil e do exterior, movimentando mais de R$ 2 bilhões em negócios.
11
14º Tecnoshow Comigo De 11
a 15 – Centro Tecnológico Comigo Rio Verde (GO) – Fone: (64) 3611-1525 Site: www.tecnoshowcomigo.com.br E-mail: secretariageral@ tecnoshowcomigo.com.br
12
Eucalipto 2016/Simpósio Sobre Tecnologias de Produção Florestal – De 12 a 14 Center Convention – Uberlândia (MG) Fone: (31) 3899-1185 Site: www.sifeventos.org.br E-mail: sifeventos@gmail.com
12
Pollutec Brasil/Feira Internacional de Tecnologias e Soluções Ambientais – De 12 a 14
São Paulo Expo – São Paulo (SP) Fone: (11) 3060-5044 Site: www.pollutec-brasil.com E-mail: vinicius.cortez@reedalcantara.com
14
42ª Expoumuarama/ Exposição Feira Agropecuária, Industrial e Comercial de Umuarama – De 14 a 24 - Parque de Exposições Dario Pimenta Nóbrega Umuarama (PR) – Site: www. expoumuarama.com.br – E-mail: srumuarama@srumuarama.com.br
25
23ª Agrishow/Feira Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação – De 25 a 29 – Polo
De 5 a 6 - Centro de Convenções da Unesp/FCAV - Jaboticabal (SP) Fone: (16) 3209-1300 Site: www.funep.org.br E-mail: contato@ funep.org.br
Regional de Desenvolvimento Tecnológico dos Agronegócios do Centro-Leste – Ribeirão Preto (SP) Fone: (11) 3598-7810 Site: www.agrishow.com.br E-mails: atendimento.agrishow@ informa.com / visitante.agrishow@ informa.com
7
29
5
5º Simpósio sobre Fitossanidade em Citros
56ª Expolondrina/Exposição Agropecuária e Industrial de Londrina – De 7 a 17 - Parque Governador Ney Braga – Londrina (PR) – Site: www.expolondrina2016. com.br – E-mail: srp@srp.com.br
21ª Fenasoja/Feira Nacional da Soja – De 29 a 8/5
Parque Municipal de Exposições Alfedro Leandro Carlson - Santa Rosa (RS) Fone: (55) 3512 6866 E-mail:: fenasoja@fenasoja.com.br
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Legislação
Preservação do contrato Todo negócio de compra e venda é respeitado pela legislação, inclusive aqueles em que há promessas e acordos em contratos. Fábio Lamonica Pereira *
E
m contratos de compra e venda de imóvel rural (bem como em contratos semelhantes) há diversos pontos a serem observados desde o preenchimento de requisitos que garantam a segurança jurídica do negócio, incluindo a elaboração do contrato preliminar, até o total pa-
damente corrigido, com acréscimos, como multa e juros, sem prejuízo de exigir perdas e danos. De outro lado, também é possível ao vendedor requerer o desfazimento do negócio, ocasião em que as partes deverão retornar ao estado em que se encontravam antes da transação, res-
Cabe à parte prejudicada buscar decisão judicial para solucionar cláusulas descumpridas
O autor é advogado, especialista em Direito do Agronegócio.
gamento e o registro, sem ressalvas, da escritura definitiva. Ocorre que há casos em que o contrato não é cumprido exatamente como ajustado entre as partes, sendo que, não havendo acordo, cabe à parte prejudicada buscar decisão judicial para solucionar a questão. Na grande maioria das compras e vendas de imóveis rurais, especialmente pelos altos valores envolvidos no negócio, estabelecem-se as parcelas de pagamentos a médio e longo prazo, e tudo o que foi combinado deverá ser registrado em contrato, valores e datas de pagamentos, afora questões específicas. Em caso de descumprimento da cláusula relativa ao pagamento da totalidade do preço ajustado, o vendedor poderá exigir o pagamento, devi-
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tituindo-se o imóvel ao vendedor e o preço pago ao comprador. Também poderá haver condenação do comprador que não quitou a totalidade do valor combinado, relativo ao pagamento de indenização por perdas e danos. O comprador, porém, também poderá ser indenizado pelos gastos com benfeitorias que tenham sido realizadas na propriedade no período em que exerceu, efetivamente, a posse. Contudo, há situações em que a maior parte do valor combinado já foi pago, restando pequena parcela para a quitação total. Em tais situações tem sido admitida a manutenção do contrato, considerando princípios estabelecidos pela própria lei como a boa fé e a proibição de enriquecimento sem
causa, neste caso por parte de quem vendeu a propriedade. Vale ressaltar que a solução de manter o contrato tem por objetivo preservar o que restou inicialmente ajustado entre as partes. Além disso, busca-se evitar impactos negativos na sociedade, atendendo a outro princípio legal, conhecido como a função social do contrato. Assim, a solução de manter o contrato está amparada em princípios legais, no entendimento adotado por doutrinadores e pela interpretação aplicada por parte do poder judiciário, mesmo que não haja determinação expressa em nossa legislação. Como se vê, não há uma regra específica e taxativa, sendo que cada situação deve ser analisada em suas peculiaridades. De toda sorte, há decisões entendendo que, quando houver pagamento substancial, de 70% ou 80% da totalidade do preço, é possível aplicar-se a referida teoria e evitar-se o desfazimento do negócio. Contudo, a manutenção do negócio em função do pagamento significativo do preço não significa deixar o vendedor com o prejuízo. O valor restante deverá ser pago pelo comprador com os acréscimos devidos pelo atraso, sejam eles contratuais e/ou legais. Conclui-se que é fundamental que as partes, antes de firmarem um contrato de compra e venda de imóvel rural (ou afins), procurem estabelecer as cláusulas cuidadosamente considerando que, em caso de inadimplemento parcial, há a possibilidade de aplicação da referida teoria do “adimplemento substancial”. Da mesma maneira, para os que assinaram contratos que não foram cumpridos em sua totalidade devem considerar qual o melhor caminho a seguir.
LINHA MILHO
ATENÇÃO
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