Revista Agro DBO 75 - Março 2016

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Do Leitor colheita da safra de verão – tema de capa da edição de fevereiro da revista.

MATO GROSSO A colheita está avançando aqui em Campo Novo e, por incrível que pareça, as médias da região oeste estão boas. Mas tem de tudo: soja de 20 a 65 sc/ ha. A diferença foi um plantio com um pouco mais de umidade e alguma manga de chuva a mais. Também influenciou a abertura de plantio da soja do ano passado com materiais de ciclo um pouco mais longo, que “suportam” mais as condições de stress do que os muito precoces. Entretanto, existem regiões aqui do estado em que a quebra é grande, embora não de maneira generalizada. A propósito, bela matéria aquela da revista (edição de dezembro/janeiro) sobre a feira de Hannover (Agritechnica), na Alemanha. Parabéns a vocês. Rogério Arioli Silva Campo Novo do Parecis. NR: Como se sabe, Rogério Arioli Silva é colaborador habitual da Agro DBO, um de nossos principais articulistas. Engenheiro agrônomo e produtor rural no Mato Grosso, enviou o “informe” acima em meados de fevereiro, em plena

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SÃO PAULO A natureza venceu! A afirmação parece indicar o resultado de um embate, mas na realidade significa um curto-circuito de nosso comportamento como elo predador do topo da teia alimentar com o restante dos componentes ambientais. A natureza, com suas normas de procedimento estabelecidas e incorruptíveis, e como responsável pela manutenção da harmonia entre as partes e suas interações, simplesmente procura restabelecer um novo equilíbrio dinâmico, que talvez interfira mais em nossos processos e negócios, de forma indesejável. Em realidade é uma sinalização de que precisamos repensar nossos procedimentos, que são de curtíssimo prazo, visando tirar o máximo lucro predatório dos sistemas de produção. Deveríamos pensar e planejar mais em longo prazo, de forma integrada (em escala regional talvez, mas pelo menos em escala de microbacia hidrográfica), incluindo as práticas conservacionistas necessárias para tal, ou seja, considerando as chamadas externalidades ambientais e sociais, que simplesmente desconsideramos em nossas planilhas econômicas. Precisamos passar de um desenvolvimento minerador (entrópico), que pode ate gerar um PIB elevadíssimo em curtíssimo prazo, mas que não se sustenta, por um desenvolvimento conservacionista e até mesmo construtivo ou sintrópico, sustentável. Os outros componentes da teia alimentar estão dando seu recado. E é bom saber que os insetos são maioria nesta teia alimentar. O homem aprendeu a conviver com as abelhas. Por que não pode aprender a conviver com os outros insetos de forma construtiva? Lembrando, em tempo:

Quando ocorre ataque de insetos em uma escala que traga dano econômico é sinal de que o manejo da maquina vegetal (fabrica de soja, de milho ou outra) não está sendo adequado, e que ela sofre de alguma deficiência aguda de manejo nutricional. Água também é um mineral nutriente. Assim como o oxigênio é um nutriente essencial absorvido pelo sistema radicular sadio. Adianta falar mais? Não, se as mais simples praticas de conservação de solo e de água estão sendo acintosamente desconsideradas na maioria dos sistemas de produção. Odo Primavesi São Carlos NR: Leitor atento da revista Agro DBO e outras publicações, Odo Primavesi é doutor em solos e nutrição de plantas. Pesquisador aposentado da Embrapa Pecuária Sudeste, é autor do livro “Manejo ambiental agrícola para agricultura tropical agronômica e sociedade”. Na edição de fevereiro, ele fez comentários sobre o teor da reportagem de capa da edição de dezembro/janeiro (nº 73) da Agro DBO, de título “A natureza venceu”. Agora volta ao tema e, para nossa satisfação, faz novos comentários a respeito. A revista agradece. ERRATA

Consta, na legenda da foto inferior da página 39 da edição de fevereiro (reportagem “Na onda do mercado”), que a RTRS quer certificar 5% da produção brasileira de soja até 2200. O correto é 2020. O editor trocou os dedos ao digitar a data. Pedimos desculpas pela desatenção. AgroDBO se reserva o direito de editar/resumir as mensagens recebidas devido à falta de espaço.



Sumário

30 Café

Agricultor do Sul de Minas Gerais consorcia cafeeiros com abacateiros e se destaca pela produção de grãos e azeite de qualidade

38 Entrevista

Ex-presidente da Embrapa, Silvio Crestana discorre sobre pesquisas em curso, as tecnologias do futuro e parcerias da empresa no cenário atual.

44 Manejo

Embrapa Agrissilvipastoril avalia quatro modelos de produção agrícola em áreas de preservação ambiental nos biomas Cerrado e Amazônia

50 Milho 24

Matéria de capa Diferentemente do que acontece nos Estados Unidos, onde é comum, a tecnologia de adubação fluida ainda é pouco utilizada no Brasil, mas tem aplicação crescente nas regiões produtoras de grãos do país.

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A extensão do prazo de colheita da soja no Mato Grosso atrasa ainda mais o plantio do cereal e pode comprometer a produtividade

Artigos 10 - Décio Gazzoni discute a escassez de mão de obra qualificada 12 - Rogério Arioli lamenta o descaso oficial sobre transporte ferroviário 36 - Evaristo de Miranda avalia as relações entre clima e tecnologia 48 - Walter Colli analisa avanços tecnológicos sob a Lei de Biossegurança 54 - Amilcar Centeno pergunta: “Vocé é um gestor de crise ou de ciclo”? 66 - Fábio Lamonica destrincha a Lei dos Cultivares, que pode ser revista

Seções

Política................................................................49

Ponto de Vista.................................................10

Novidades no campo...................................56

Almanaque.......................................................14

Análise de mercado......................................58

Notícias da terra.............................................16

Biblioteca da terra..........................................60

Clima..................................................................42

Calendário de eventos.................................65



Carta ao leitor

F

ilosofias à parte, coloquemos as barbas de molho. Há coisas boas e ruins no horizonte, mesmo considerando que o El Niño vai se enfraquecendo, conforme destacamos nesta edição da Agro DBO. Das coisas boas damos notícias, como a matéria de capa “Comida na boca”, do jornalista José Maria Tomazela, que destaca a fertilização fluída, tecnologia de pleno conhecimento e uso dos americanos, mas que ainda adotamos muito pouco por aqui. E ainda dos cuidados dogmáticos com a preservação do solo, ou a diversificação de atividades, feitos por alguns produtores rurais, como exemplo disso o cafeicultor mineiro que o jornalista Rogério Furtado foi auscultar, registrado tim-tim por tim-tim na matéria “Consórcio duradouro”. Das notícias de coisas boas e ruins é interessante a leitura da entrevista do mês com o físico Silvio Crestana, ex-presidente da Embrapa, pois nas entrelinhas ele nos mostra um futuro risonho, que ainda não está bem claro, devido aos erros que cometemos no presente ao enfrentar questões de sustentabilidade do agro ao mesmo tempo em que se tenta tirar proveito das tecnologias disponíveis, de um lado dispendiosas, e de outro lado incertas, pois podem trazer novos problemas não previstos pela nossa ignorância humana. A verdade é que o país vive um vendaval político e econômico. No campo político, os atores flertam com interesses antidemocráticos, alavancados por um inédito processo de judicialização das atividades humanas no país e que em tudo se intromete, extrapolando suas funções precípuas, o que acaba deteriorando as questões políticas e econômicas, trazendo incertezas e muita insegurança, e coloca em xeque a imprescindível muleta a que chamamos de esperança, de que as coisas no futuro vão melhorar. Pelo lado da natureza, como vemos nas páginas da Agro DBO, esta segue seu rumo, no tempo e nas evoluções climáticas, como se provocasse de forma premeditada a tal da sustentabilidade do produtor rural, e ao mesmo tempo afirmasse: “tome cuidado comigo”. Já no campo econômico, em que estamos mais uma vez em um novo tempo e ciclo de crise, há brisas e ventanias soprando, quem sabe prenunciando vendavais, derrubando as folhas secas e velhas das árvores, ou, por analogia, como se estivesse depurando o mercado da presença de empresários ineficientes ou descuidados, urbanos ou rurais, daí a citação que fazemos no início deste texto, de colocar as barbas de molho, pois crise política aliada à crise econômica pode tornar-se uma conjunção de um tempero quente e apimentado quando provoca inúmeras consequências indesejáveis, até mesmo piorar o que já está ruim.

é uma publicação mensal da DBO Editores Associados Ltda. Diretor Responsável Demétrio Costa Editor Executivo Richard Jakubaszko Editor José Augusto Bezerra Conselho Editorial Décio Gazzoni, Demétrio Costa, Evaristo Eduardo de Miranda, Hélio Casale, José Augusto Bezerra e Richard Jakubaszko Redação/Colaboradores Amílcar Centeno, Ariosto Mesquita, Décio Luiz Gazzoni, Fábio Lamonica Pereira, Hélio Casale, Marco Antônio dos Santos, Marianna Peres, Rogério Arioli Silva, Rogério F. Furtado, Tiago Sarmento Barata e Walter Colli Arte Editor Edgar Pera Editoração Célia Rosa e Edson Alves Coordenação Gráfica Walter Simões Marketing Gerente: Rosana Minante Comercial Executivos de contas: Andrea Canal, José Geraldo S. Caetano, Maria Aparecida de Oliveira, Marlene Orlovas, Tereza Helena Virginia e Vanda Motta

Para manifestar sua opinião, envie e-mail para redacao@agrodbo.com.br Richard Jakubaszko

Circulação Gerente: Edna Aguiar ISSN 2317-7780 Impressão Log&Print Gráfica e Logística S.A. DBO Editores Associados Ltda Diretores: Daniel Bilk Costa, Odemar Costa e Demétrio Costa Rua Dona Germaine Burchard, 229 Perdizes, São Paulo, SP 05002-900 - Tel. (11) 3879-7099 redacao@agrodbo.com.br www.agrodbo.com.br

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Ponto de vista

Cadê a mão-de-obra que estava aqui? O rápido desenvolvimento da economia, a inclusão social, o êxodo rural, tornam escassos e caros os trabalhadores na área rural. Décio Luiz Gazzoni *

A colheita mecanizada da cana cobre hoje quase 100% da área no estado de São Paulo, e foi uma exigência ambiental. Os canaviais ainda não se adaptaram às mudanças, pois falta gente para o plantio, que também deverá se tornar 100% mecanizado.

N * O autor é engenheiro agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja, e membro do Conselho Editorial da Agro DBO.

os últimos 15 anos, há um fator a mais a complicar a já atribulada vida dos produtores rurais, eis que, a cada safra, fica mais difícil contratar empregados rurais, seja para ordenhar uma vaca ou operar um trator. Esse fenômeno está exigindo adaptações de porte nos sistemas de produção, por vezes aumentando seu custo. Quais as razões do fenômeno? Não há resposta única, nem fácil, e é preciso efetuar uma análise histórica para contextualizar o tema. A primeira referência remonta ao regime militar, com a Lei 4504, de 30/11/64 (Estatuto da Terra), exigindo que os imóveis rurais cumpram uma função social. Fixou níveis mínimos

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de produtividade, com respeito ao meio ambiente e às relações de trabalho, sob pena de desapropriação para a reforma agrária. O Estatuto representou, para os trabalhadores, acesso à terra e, para os proprietários, a imposição de mais produtividade, que exigia, à época, mais trabalhadores. Os quais eram disputados pelos assentamentos de reforma agrária, pois, entre 1964 e 2000, um milhão de famílias foram assentadas em 80 milhões de hectares – 50% acima de toda a área plantada com grãos no Brasil. Assim, trabalhadores rurais transmutaram-se em proprietários. Ironicamente, alguns deles – os bem-sucedidos – passaram a demandar mais mão de obra.

Dois outros fatores históricos foram importantes. Primeiro, a transposição pura e simples da legislação trabalhista para o campo, sem as devidas adaptações a um contexto totalmente diferente. Em paralelo com a Lei 4504, esse fato auxiliou a promover a automação no campo, máquinas substituindo gente. Concomitantemente, houve a indução governamental dos polos industriais, especialmente o automobilístico, que levou hordas de habitantes do sertão nordestino, e de outras regiões agrícolas, para as metrópoles. Recentemente, outros fatores interferiram. Um deles foi o boom econômico da década passada, em que a economia mundial cresceu como nunca antes na História Universal. Particularmente, a China capitaneou uma explosão de crescimento, resultando em forte aumento da cotação de commodities agrícolas ou minerais, das quais o Brasil é grande exportador. As divisas das exportações alavancaram o crescimento de outros setores da economia brasileira, além do agronegócio. Com isto, houve maior oferta de emprego, com remuneração cada vez maior, pelo descompasso entre oferta e procura. Em escala planetária, o mercado aquecido da última década promoveu a maior inclusão social da História da Humanidade, em um lapso de tempo muito curto. No Brasil, houve o chancelamento de um fato de mercado – salários


mais altos – com o reajuste do salário-mínimo acompanhando a produtividade da economia. Não foi apenas o forte crescimento do mundo entre 2002 e 2009 que reduziu as taxas de desemprego a níveis muito baixos, aumentando a renda per capita do brasileiro, tornando a mão-de-obra escassa e o empregado seletivo. Consideremos quatro outros fatores. O primeiro é um fenômeno demográfico. Historicamente, no Brasil, as famílias mais pobres tinham mais filhos, e a pobreza da família era dividida por muitas pessoas. Sobrava pouco dinheiro para alimentação adequada, transporte, moradia e, principalmente, para educação de qualidade, a fim de competir no mercado de trabalho por melhores oportunidades. Esse fenômeno extingue-se, gradualmente, desde a década de 1980. Naquele ano, as famílias pobres tinham 4,5 filhos mais que as ricas. Significava colocar muita mão-de-obra despreparada no mercado, aceitando qualquer emprego (inclusive na área rural) e qualquer remuneração. Em 2005, a situação já era completamente diferente, a diferença era de apenas 1,6 filhos. Estimo que, em 2015, essa diferença seja imperceptível. O fenômeno foi fortemente influenciado pela massificação do acesso à informação, especialmente através da televisão. As novelas, os filmes, os seriados, mostram que famílias ricas têm menos filhos. Logo, famílias pobres passaram a emular esse comportamento, adotando o planejamento familiar como instrumento de ascensão social. Em 2010, os mais pobres detinham 10% e os mais ricos 40% da renda nacional. Estudos do IPEA e da UFMG mostraram que, se a taxa de natalidade de 1980 tivesse permanecido igual até 2010, os mais pobres teriam apenas 4,1% e os mais ricos 62% da renda nacional. O número de pobres teria

aumentado 28% no período, atingindo 42% da população nacional. Portanto, a mudança na taxa de nascimentos no Brasil reduziu fortemente a oferta de mão-de-obra, e tornou-se a pedra angular para o aumento dos salários médios e da renda per capita do trabalhador brasileiro, para redução da pobreza e para a inclusão social dos menos aquinhoados. A ação dos governos foi marginal no processo. Por exemplo, entre 2003 e 2011, o PIB/per capita do Brasil aumentou 142%, dos quais a Bolsa Família representou menos de 4%, o restante foi devido a ganhos de mercado e demográficos.

ral. Primeiro foram as moças, que preferiam empregos de doméstica ou auxiliar de serviços gerais, na cidade, a permanecer na área rural, em vilarejos ou pequenas cidades do interior. Na esteira – e até por falta de parceiras para uniões estáveis – os rapazes tomaram o mesmo rumo. Consequência: o problema, que já era sério, agravou-se. E criou um corolário: a sucessão rural, os antigos proprietários envelhecem e os filhos querem distância da propriedade rural! Quem pensa que os maiores prejudicados são os grandes proprietários rurais, engana-se. São afetados, sim, porém esse segmen-

Primeiro foram as moças, e, por falta de parceiras, os rapazes tomaram o mesmo rumo. O segundo fator é o aumento da expectativa de vida do brasileiro e a não adequação das regras de aposentadoria à nova realidade. Em decorrência, cada vez mais trabalhadores – que poderiam produzir – são induzidos à aposentadoria, reduzindo a oferta de mão-de-obra. O terceiro fator é a bolsa família que, na opinião quase unânime dos atores do agronegócio – incluso os sindicatos de trabalhadores rurais – desestimula a busca por outra remuneração. O quarto fator – quiçá o mais relevante – é sociológico e, assim como a redução do número de filhos das famílias pobres, foi fortemente afetado pela comunicação de massa. Afora pequenos arroubos românticos do tipo “...eu quero uma casa no campo”, a televisão mostra as facilidades da vida na cidade, o emprego com horário fixo, a remuneração mais elevada, a menor penosidade do trabalho, o acesso à água, luz, esgoto, telefone, alimentação fora do lar, lazer, transporte, saúde, educação, valores de mais difícil acesso no campo. As cidades exerceram atração irresistível para jovens da área ru-

to dispõe de capital para promover a automação e mecanização em larga escala, e pode bancar altos salários e outros benefícios, para atrair empregados, mantendo-se no negócio agrícola. Quem mais sofre são os pequenos e médios produtores, pois não dispõem do mesmo “estofo”, seja para bancar a mecanização, que compensa a falta de mão-de-obra, ou para competir no mercado com salários elevados, disputando empregados com empresários em melhores condições de atrai-los. A falta de mão-de-obra não deve induzir reduções na produção ou na produtividade agrícola. Porém, duas consequências são antecipáveis. A primeira é o aumento do custo de produção que, gradualmente, será repassado ao consumidor de produtos agrícolas, pelos mecanismos de mercado, na forma de alimentos mais caros. O segundo será a concentração cada vez maior da terra, pelo conjunto de restrições aos quais estão submetidos os pequenos proprietários rurais, para os quais a escassez de mão-de-obra é apenas mais um fator adverso. março 2016 – Agro DBO | 11


Artigo

Conjugação errada Entra governo novo, sai governo, reelege governo, e as ferrovias no Brasil nunca são concretizadas. Será que agora vai? Rogério Arioli Silva *

O

* O autor é engenheiro agrônomo e produtor rural em Mato Grosso

anúncio de que será construída uma ferrovia de 1.140 km de extensão, em paralelo à BR 163 – cuja pavimentação ainda se encontra inconclusa, entre Lucas do Rio Verde, no Mato Grosso, e Itaituba, no Pará, não deixa de ser alvissareira, embora deva ser vista com certa cautela. Ocorre que a morosidade característica dos projetos ferroviários no Brasil destoa da rapidez com que o crescimento da agropecuária acontece. A produção agrícola cresce – e com ela as exportações, na velocidade de um trem-bala, e os trilhos ferroviários deslocam-se com a lerdeza das antigas marias-fumaça dos filmes do velho-oeste americano. É muito provável que neste ano de 2016 o Brasil rompa a barreira das 100 milhões de toneladas de exportação (milho, soja e farelo), quebrando mais uma vez o recorde da safra passada (98 milhões de t) e dobrando em apenas sete anos o volume exportado. Todavia, foram poucas as mudanças nos modais de transporte dos

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grãos. É inegável que vários portos aumentaram sua capacidade de recebimento e embarque de grãos, como Paranaguá, Santos, Rio Grande, entre outros. Novos portos também começaram a operar e outros estão em construção, com destaque para aqueles que receberão a crescente produção da Região Centro-Oeste brasileira. A desvalorização do real frente ao dólar também ajuda a viabilizar o setor exportador, emprestando-lhe competitividade. No entanto, foi uma decisão de além-mar que abriu um grande mercado para o milho produzido no Brasil: a produção de etanol do milho norte-americano. Foi graças à viabilização de dezenas de plantas de etanol de milho construídas nos últimos anos em solo norte-americano que o milho brasileiro ocupou novos mercados exportadores em franco crescimento. Os EUA devem transformar em torno de 120 milhões de t de milho em etanol, portanto um volume maior do que a safra brasileira e argentina juntas. O deslocamento do milho

brasileiro – grande parte dele em cima de caminhões, ainda é um indicativo da insanidade nacional. O Sul do país precisa do milho produzido na região central e quando este sobe de preço afeta diretamente o custo de produção de suínos e aves, inviabilizando muitos empreendimentos. As porcas torcem o rabo quando o milho passa dos R$ 30,00 no porto de Paranaguá sem que isso signifique grandes lucros para o produtor do Centro-Oeste. Centenas de milhares de carretas “descem” com milho para o Sul reduzindo a rentabilidade tanto do produtor de milho do Centro-Oeste como do produtor de proteína animal do Sul do país. Há três décadas se ouve falar em ferrovias que chegarão à região central do Brasil para corrigir esta distorção. Tente explicar para um produtor de milho do “Corn Belt” americano que o frete do milho custa mais do que o produto aqui no Brasil e ele pedirá para que você repita a frase, pois não consegue entender. Já fiz esse teste e comprovei.


Os tempos verbais referentes à construção de ferrovias e hidrovias no Brasil são sempre conjugados no futuro do presente para logo depois se adequarem ao futuro do pretérito. Passam sem a menor cerimônia do construirão para o construiriam, deixando produtores com os olhos numa promessa futura que nunca chega. Os estudos, projetos, licitações e recursos esbarram em detalhes como o impacto da ferrovia na vida sexual dos quelônios do Araguaia, ou a influência do apito da locomotiva no cantar dos curiós do Planalto Central, e vai por aí afora. Ou o risco de alguma tribo indígena disparar flechas no “grande dragão” que expele fumaça. Voltando à seriedade que o assunto merece, é difícil acreditar numa nova ferrovia – mesmo com recursos privados, quando se sabe do tempo que os trilhos demoraram a

chegar a Rondonópolis, por exemplo. Ou o modesto avanço da Ferrovia Norte-Sul, anunciada nos albores do Governo Sarney (1984). Tomara que

Janeiro até Boqueirão da Esperança, no Acre. Aliás, nome bastante sugestivo esse. Boqueirão, segundo o Aurélio significa bocarra (boca grande),

Caminhões transportam o milho para o Sul e reduzem a rentabilidade dos produtores a burocracia brasileira não arrefeça o interesse do primeiro-ministro chinês Li Keqiang em construir a Ferrovia Transcontinental com aproximadamente 4.400 km, saindo do Rio de

como a dos governos que adoram anúncios midiáticos. Já a Esperança, essa segue aguardando a conjugação do verbo construir no Presente do Indicativo.

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março 2016 – Agro DBO | 13


Almanaque

Você sabia? Quanto mais a gente lê, quanto mais a gente aprende, quanto mais a gente sabe, mais a gente entende que não sabe quase nada. Hélio Casale *

Q

ue o Níquel é o micronutriente em maior concentração nas flores de laranjeira recém-abertas? Interpretação de resultados e análise de solo – andando por esse Brasil afora, os resultados das análises de solo podem vir em diversas unidades. Venha como vier, saiba como manejá-las. O quanto há de micronutrientes nos corretivos. Veja na tabela abaixo. Elementos

Calcário

Fosfogesso

gramas / tonelada Boro

30

3

Cobalto

25

2

Cobre

26

8

Ferro

4.599

670

Manganês

334

15

Molibdênio

1

16

Níquel

19

2

Zinco

46

9

Fonte: Micronutrientes e metais pesados essencialidade e toxidez. Prof. Eurípedes Malavolta.

* O autor é engenheiro agrônomo, consultor e cafeicultor, e membro do Conselho Editorial da Agro DBO.

Frases para tempos de crise • Há dois tipos de pessoas que não servem a uma empresa – aquela que nunca faz o que se manda e aquela que só faz o que se manda; • Quem não mede não administra e quem não administra não é dono; • Quem perde seus bens, perde muito, quem perde um amigo perde mais, mas quem, perde a coragem, perde tudo; • Para ter flores por cima é preciso esterco por baixo; • Entre as dificuldades se encontra a oportunidade; • A persistência é o caminho para o êxito; • É o vento no contrapé que faz o papagaio subir;

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Elementos K – Potássio Ca – Cálcio Mg – Magnésio AL – Alumínio

1cmol/dm³ 1 1 1 1

mmol/dm³ 10 10 10 10

• Quando perder, não perca a lição; • As crises e as oportunidades andam de mãos dadas; • Ter problemas na vida é inevitável, ser derrotado por eles é opcional. Pequenas grandes Leis da Vida • Lei da Relatividade – Nada é tão fácil quanto parece, mas nem tão difícil quanto a explicação do manual. • Lei da Procura Indireta – O modo mais rápido de se encontrar uma coisa é procurar outra. Você sempre encontra aquilo que não está procurando. • Lei da Administração do Tempo – Tudo leva mais tempo do que todo o tempo que você tem disponível. • Lei das Filas e engarrafamentos – a fila do lado sempre anda mais rápido. • Lei da vida – uma pessoa saudável é aquela que não foi suficientemente examinada. • Lei dos Cursos, Concursos, Provas – oitenta por cento do exame final será baseado na única aula que você perdeu, no único livro que não leu. • Lei da atração das partículas – Toda partícula que voa sempre encontra um olho aberto. • Lei das Unidades de Medida – Se estiver escrito “tamanho único” é porque não serve para ninguém. • Lei do Esparadrapo – Existem dois tipos de esparadrapo: o que não gruda e o que não saí. • Lei da Gravidade – Se você consegue manter a calma enquanto todos à sua volta estão perdendo a deles,

ppm 390 200 120 90

kg/ha 780 400 240 180

provavelmente você não entendeu a gravidade da situação. • Regulamentação do Especialista – Especialista é aquele cara que sabe cada vez mais sobre cada vez menos. • Lei da Compreensão – A gente começa a ter certeza de que está velho e esquecido quando tenta levantar da cadeira uma, duas vezes, e só na terceira tentativa, ajudado por alguém, consegue se levantar, mas aí já esqueceu porque levantou... Amizade e respeito Sabia que amizade de verdade se cultiva com gestos simples? Já próximo do seu falecimento, escrevi um bilhetinho para o Prof. Malavolta (Esalq/USP – Piracicaba-SP), com quem trabalhei por 27 anos, pelo menos uma semana de cada mês, sem rusgas sérias, assim: “Feliz que homenagem seja em vida. Alegria de tê-lo como mestre dedicado, exemplar, durante mais de 30 anos. Nesse período de convivência plena não faltaram exemplos de amizade, de respeito à minha ignorância, e dedicação ao próximo. Palestras para letrados e peões, preparadas com o mesmo carinho. Não tem palestra repetida, sempre acrescentando algo mais. Fala ensinando com vontade de mestre. Incansável. A concentração, a dedicação ao principal é comovente, encanta a todos sua simplicidade e obediência a Deus. Obrigado, mestre Malavolta.”


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Jeferson Saggiorato e família / Produtor de milho de Mato Castelhano - RS

Ketchum

É agindo agora que você preserva o futuro.


Notícias da terra Safra I

Safra II

D

A

Conab prevê 210,3 milhões de toneladas e acordo com o 5º levantamento de safra da Conab, o Brasil vai produzir 210,3 milhões de toneladas de grãos este ano, 1,3% acima (2,6 milhões t a mais) do total colhido na temporada passada ( 207,7 milhões t). As lavouras vão cobrir 58,5 milhões de hectares, com incremento de 593,5 mil hectares sobre a área plantada em 2015. A primeira estimativa de 2016 do IBGE sobre a safra nacional de cereais, leguminosas e oleaginosas (algodão, amendoim, arroz, feijão, mamona, milho, soja, aveia, centeio, cevada, girassol, sorgo, trigo e triticale) indica produção de 210,7 milhões de toneladas, 0,6% superior à do ano passado (209,5 milhões t). No que diz respeito à área plantada, o instituto também prevê 58,5 milhões de hectares, 1,3% superior à do ano passado (57,7 milhões de hectares).

A roleta da soja Conab revisou para baixo sua projeção para a safra brasileira de soja devido às quebras esperadas no Mato Grosso, Goiás e parte do Nordeste, provocadas por irregularidades climáticas. Segundo a companhia, chegará a 100,9 milhões de toneladas - em janeiro, a companhia previu 102,1 milhões t. Se o referencial for a estimativa do IBGE, a safra atingirá 102,7 milhões t. Se for o relatório de oferta e demanda de fevereiro do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês), 100 milhões t. Considerando levantamento feito pela agência Reuters, o Brasil vai colher 100,1 milhões t em 2016 – a Reuters cotejou 19 fontes nacionais e estrangeiras, públicas e privadas, para chegar a tal número e à discrepância de pouco mais de 6 milhões de toneladas – o equivalente à produção do Paraguai – entre a estimativa mais alta (103 milhões t) e a mais baixa (97 milhões t).

VBP

Agropecuária vale R$ 501,4 bilhões Safra III

A gangorra do milho

Q

uanto ao cereal, as projeções da Conab indicam quebra de 5,8% na primeira safra, caindo de 30,1 milhões de toneladas no ciclo 2014/15 para 28,3 na temporada em curso, e aumento de 1,1% na segunda (de 54,6 milhões t no ano passado para 54,9 este ano). Somando as duas safras, a produção nacional diminuirá 1,6%, passando de 84,7 milhões de toneladas em 2015 para 83,3 em 2016. O IBGE quase empata a previsão para a safra de verão (28,6 milhões t) e reduz a da segunda safra (52,3 milhões t). No total, prevê 80,9 milhões de toneladas neste ano, 5,6% inferior à de 2015. O instituto alegou três motivos para justificar a queda: adversidades climáticas no período de semeadura da safra de verão, avanço da soja sobre áreas antes dedicadas ao milho na primeira safra e plantio fora da janela ideal na segunda safra, o que pode impactar o rendimento médio. Ao contrário da Conab e do IBGE, o USDA elevou sua estimativa para a safra brasileira de milho, passando de 81,5 para 84 milhões de toneladas.

16 | Agro DBO – março 2016

O

VBP – Valor Bruto de Produção da agropecuária brasileira em 2016 foi estimado pela SPA/Mapa - Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento em R$ 501,4 bilhões. 1,2% inferior ao do ano passado (R$ 507,4 bilhões). O VBP da agricultura, responsável por 65% desse montante, caiu 0,3% em comparação ao de 2015 e o da pecuária ( 35% do total), 2,8%. A soja contribui com 37,5% do VBP das lavouras do país, com valor de produção de R$ 122,2 bilhões.


Notícias da terra Exportações II

Faturamento menor

L

Exportações I

Café em saca de papel

M

aior cooperativa de cafeicultores do Brasil, a Cooxupé começou a usar sacaria de papel para exportação de café arábica. A nova embalagem, com capacidade para 30 kg – a tradicional saca de juta tem 60 kg – permite embarque de mil quilos a mais por contêiner, porque fica mais bem acomodada, segundo estudo realizado na Ufla – Universidade Federal de Lavras. Os técnicos da Ufla constataram também que a embalagem de papel preserva as características originais do café verde por mais tempo, em relação à saca de juta. “Outro diferencial é que facilita a retirada, por ser mais leve que a sacas de 60 kg”, explica o gerente da divisão de logística e operação da Cooxupé, Carlos Henrique Escudero Filho. “Nosso cliente italiano já estabeleceu que, a partir de agora, o café deverá ser enviado somente nesse tipo de embalagem”, completa.

evantamento da SRI/Mapa – Secretaria de Relações Internacionais do Ministério da Agricultura mostra que as remessas do agronegócio brasileiro para o exterior cresceram 8,7% em janeiro, em comparação com o mesmo mês de 2015. Em valores, porém, houve retração. As exportações somaram US$ 4,9 bilhões no período, 11,7% abaixo dos US$ 5,6 bilhões obtidos em janeiro de 2015. O faturamento menor, mesmo com volume recorde em alguns itens, deve-se à diminuição dos preços médios de exportação. Em valores, os cinco primeiros setores exportadores do agronegócio foram: carnes (18,6% do total embarcado), produtos florestais (16,2%), cereais, farinhas e preparações (16%), complexo soja (12,5%) e complexo sucroalcooleiro (9,8%). Essas cinco cadeias produtivas responderama por 73,1% do valor total exportado em janeiro de 2016.

Seguro rural I

O orçamento despenca

O

seguro agrícola da safra 2016/17 será de R$ 400 milhões, conforme anúncio feito no final do mês passado pela Ministra da Agricultura, Katia Abreu. A Lei Orçamentária Anual 2016, sancionada pela presidente Dilma Rousseff, previa R$ 741,6 milhões. O orçamento total do Mapa diminuiu 27% (de R$ 2,037 bilhões para R$ 1,483 bilhão). De acordo com cálculos do Mapa, os R$ 400 milhões serão suficientes para proteger 6,4 milhões de hectares em todo o país, em 81,7 mil apólices. No ano passado, o orçamento de R$ 282,3 milhões atendeu 2,9 milhões de hectares em 40,5 mil apólices.

Seguro rural II

Cobertura mínima de 60%

A

faixa mínima de cobertura de produtividade para as apólices de grãos agora é de 60% a 65% e contará com subvenção de 45% do governo federal. Esses índices valem para a chamada cobertura multirrisco, em que a seguradora se obriga a indenizar ao segurado a perda de produção por danos causados pelo clima, como seca, granizo, geada, excesso de chuvas e ventos fortes. A modalidade se aplica principalmente às culturas de soja, milho, trigo, arroz e feijão. Segundo o diretor de Crédito, Recursos e Riscos do Ministério da Agricultura, Vitor Ozaki, a alteração tem o objetivo de garantir maior proteção ao produtor rural, porque quanto maior o nível de cobertura, maior será a produtividade segurada na apólice. Antes, a faixa mínima de cobertura variava entre 50% a 55%, com 30% da apólice subvencionada pelo governo. O percentual de subvenção oficial leva em conta o nível de cobertura de produtividade das apólices. O nível de cobertura é calculado pelo total da divisão da produtividade agrícola segurada pela produtividade estimada na região do produtor. março 2016 – Agro DBO | 17


Notícias da terra CAR

Reta final

L

evantamento do SFB – Serviço Florestal Brasileiro mostra que 82,7% das propriedades rurais do Norte, 65,2% do Sudeste, 64,1% do Centro-Oeste, 37,3% do Nordeste e 33,1% do Sul do Brasil foram cadastradas no Sicar – Sistema de Cadastramento Rural até 24 de fevereiro. Ou seja, 66% dos imóveis, o equivalente a 263 milhões dos 397,8 milhões de hectares passíveis de cadastro. O diretor do SFR, Raimundo Deusdará, lembra que o prazo final de cadastramento é 5 de maio. O Código Florestal, aprovado em 2012, não permite que o prazo seja adiado mais uma vez. A falta do CAR inviabiliza o acesso a financiamentos públicos e a recuperação do passivo ambiental, caso exista, pelas regras do Programa de Regularização Ambiental.

Desafio Cesb

Recorde de inscrições

S

egundo o Comitê Estratégico Soja Brasil, 4 mil agricultores, representando 799 municípios de 17 estados brasileiros, inscreveram-se no Desafio de Máxima Produtividade da Soja deste ano, 27,5% a mais em relação ao concurso realizado no ano passado (2,9 mil). “Recebemos inscrições de todas as regiões que se dedicam ao cultivo da oleaginosa, tanto na categoria de área irrigada quanto não irrigada, mostrando que o agricultor brasileiro preza por inovação e está produzindo cada vez mais e melhor”, disse o presidente do Cesb, Luiz Nery Ribas, lembrando que o número de inscritos representa, na verdade, cerca de 11 mil profissionais, considerando também agrônomos e demais consultores envolvidos. Os vencedores serão divulgados na segunda quinzena de junho.

Energia I

Mais biodiesel no tanque

S

egundo a ANP – Agência Nacional do Petróleo, o etanol bateu recorde de vendas no Brasil em 2015 e, pela primeira vez em cinco anos, foi mais usado que a gasolina nos postos de São Paulo. As distribuidoras venderam 17,8 bilhões de litros de etanol hidratado (usado diretamente nos tanques dos veículos) no país, contra 12,9 bilhões em 2014 (alta de 37,5%). No mesmo período, as vendas de gasolina caíram 7,3% (de 44,4 para 41,1 bilhões de litros) e as de diesel, 4,7% (de 60 para 57,21 bilhões).

Energia II

Mais biodiesel na praça

D

e acordo com dados da ANP, o Brasil produziu 3,9 bilhões de litros de biodiesel no ano passado, 15% a mais em relação a 2014, mantendo-se em segundo lugar no ranking mundial de produtores do combustível – os Estados Unidos continuam no alto do pódio. A região centro-oeste respondeu por 44% da produção nacional, à frente das regiões sul (39%) e sudeste (7%). Considerando as matérias-primas, 77% de todo o biodiesel fabricado em território nacional teve como base a soja -- cerca de 2,7 milhões de toneladas foram destinadas à produção de biodiesel, segundo levantamento da Abiove. As demais matérias-primas com participação relevante nesta matriz energética foram gorduras animais (19%) e óleo de algodão (2%).

18 | Agro DBO – março 2016


Notícias da terra Logística

Exportações pelo Norte crescem 53%

O

s embarques de soja e milho pelos portos de Itacoatiara (AM), Santarém e Vila do Conde (PA), Itaqui (MA) e Salvador (BA) cresceram 54% de 2014 para 2015, saltando de 13 milhões para 20 milhões de toneladas. “A participação do Arco Norte, que há cinco anos escoava 8% do total de soja e milho exportados, já alcança 20%”, diz Marcelo Cabral, diretor de infraestrutura e logística do Ministério da Agricultura. Segundo Cabral, a proximidade das áreas de cultivo do Centro-Oeste com os portos do Norte e Nordeste reduz distâncias, com impacto positivo da ordem de US$ 50/tonelada no custo logístico.

Logística II

Desobstrução da hidrovia do Tocantins

P

rodutores rurais do nordeste e leste do Mato Grosso, sudeste do Pará, oeste da Bahia, norte de Goiás,Tocantins e outras regiões do Matopiba comemoraram no mês passado a conclusão da primei-

ra etapa da concorrência pública para o derrocamento do Pedral do Lourenço, formação rochosa com 43 km de extensão no leito do rio Tocantins (ao lado), localizada entre a Ilha do Bogéa e o município de Santa Terezinha do Tauri, no Pará. A obra vai viabilizar o tráfego contínuo de embarcações e comboios em um trecho de 500 quilômetros, desde Marabá até Vila do Conde. A garantia de navegabilidade na hidrovia de setembro a novembro, período em que o rio fica mais raso, será possível com as obras para desgastar os pedrais. A navegabilidade facilitará o escoamento da produção agrícola, pecuária e mineral do Tocantins, Pará, Maranhão, Goiás e de Mato Grosso, que tem como destino os portos do baixo Amazonas. A rota tem capacidade operacional estimada em 20 milhões de toneladas para 2025.

março 2016 – Agro DBO | 19


Notícias da terra Doenças

Faxinaço contra os mosquitos

P

Polinização

A importância da diversidade

E

studo publicado na revista científica Science mostra que o efeito dos polinizadores na produtividade agrícola depende muito do tamanho do campo, da densidade e diversidade de agentes. “Em lavouras pequenas, o ganho depende da quantidade de polinizadores. Em áreas acima de dois hectares, os benefícios só foram detectados quando a diversidade de polinizadores era elevada”, explica a pesquisadora Sidia Witer, da Fepagro - Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária, uma das coautoras do trabalho, ao lado de 35 cientistas de 18 países, incluindo 11 instituições brasileiras. O estudo mostra que não adianta apenas aumentar a quantidade de abelhas nas lavouras ou pomares dependentes de polinização: os agricultores também precisam manter e conservar diferentes espécies de abelhas e outros polinizadores nas suas propriedades para aumentar a produtividade. Os cientistas avaliaram lavouras e pomares de 33 culturas diferentes em pequenas, médias e grandes propriedades da África, Ásia e América Latina por um período de cinco anos. No Brasil, a cultura estudada foi a canola, no município de Guarani das Missões, no Rio Grande do Sul.

rodutores rurais da região de Barreiras, no oeste do estado da Bahia, lançaram em fevereiro a campanha “S.O.S Barreiras”, de combate ao mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue, zika vírus e chikungunya. Eles cederam à prefeitura do município cerca de 30 máquinas, entre caçambas, patrolas, caminhões pipas, roçadeiras, pás-carregadeiras e motonoveladora e “emprestaram” os respectivos operadores para atuar na limpeza de terrenos baldios, coleta de lixo e entulhos, na desobstrução de canais, ruas e avenidas. A ação conjunta, promovida pela Aiba – Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia, Abapa – Associação Baiana dos Produtores de Algodão e SPRB – Sindicato de Produtores Rurais de Barreiras, deveria se estender por pelo menos 15 dias.

Controle biológico

Ácaros predadores

A

Aflord – Associação dos Floricultores da Região da Via Dutra, sediada no município de Arujá (SP), está usando ácaros da família Phytoseiidae no controle de ácaros rajados (Tetranychus urticae), comprovando na prática trabalho desenvolvido pelos pesquisadores Mario Eidi Sato e Harumi Hojo, do Instituto Biológico, órgão da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo. Eles constataram que os ácaros Phytoseiidae comem os ovos e os filhotes do ácaro rajado (até 20 deles ao dia), espécie polífaga capaz de causar danos em inúmeras culturas, incluindo soja, milho, algodão, amendoim, feijão e fruteiras diversas. No caso do aracnídeo já adulto, o predador se prende a uma das pernas ou no apêndice da presa e suga suas entranhas até a morte. O ácaro predador traz uma vantagem adicional, segundo Hojo: é tolerante a produtos quími20 | Agro DBO – março 2016

cos que possam ser aplicados no manejo de outras pragas, como lagartas. Na opinião de Sato, os acaricidas já não funcionam bem para o controle da praga em várias culturas. “O controle biológico é mais eficaz e ambientalmente sustentável para mais de mil espécies de plantas”, assegura.


Notícias da terra Meio ambiente

Lama arruína fazendas

Tecnologia

L

O

evantamento da Emater-MG mostra que os produtores rurais cujas propriedades foram atingidas pelo “mar” de lama que se formou após o rompimento da barragem da empresa Samarco, no município de Mariana, em novembro do ano passado, tiveram prejuízos de R$ 23 milhões, aproximadamente. De acordo com o relatório, 195 propriedades foram atingidas. A maior parte dos estragos ocorreu em áreas de pastagem, lavouras de cana-de-açúcar, grãos e olerícolas. A lama com resíduos de mineração destruiu construções, cercas, máquinas e afogou milhares de animais, principalmente aves. Segundo o presidente da Emater-MG, Amarildo Kalil, em muitas

Mapas online

propriedades será possível retomar a atividade agropecuária. Em 31 delas, a lama destruiu mais de 50% da área. “Nestes locais será difícil voltar a desenvolver as atividades anteriores. O mais indicado deverá ser a realocação dos produtores para outras áreas e transformar os locais atingidos em área de preservação ambiental, com trabalhos de contenção de erosão e revegetação”.

Banco do Brasil lançou um aplicativo denominado “GeoMapa Rural”, capaz de capturar e transmitir coordenadas geodésicas. O agricultor interessando em financiar um terreno, por exemplo, pode usar um smartphone ou tablet para delimitar o perímetro ou os vértices da área de interesse na tela do aparelho e enviar as coordenadas de localização ao banco. O aplicativo está disponível no Google Play e na Apple Store. A novidade atende às novas exigências do Banco Central, que estabeleceu a obrigatoriedade de coordenadas geodésicas do perímetro da área a ser cultivada para financiamentos de custeio agrícola e de alguns financiamentos de investimento.

março 2016 – Agro DBO | 21


Notícias da terra Milho

Monsanto lança RefúgioMax Pioneira no lançamento de biotecnologias de milho no Brasil, a Monsanto lançou a primeira marca de sementes para o refúgio do milho, a RefúgioMax. A marca terá sementes não-Bt de alto potencial produtivo. Os agricultores terão acesso a esses híbridos a partir da safra de verão 2016/17 e safra de inverno 2017. Nesta primeira safra serão disponibilizados cinco híbridos da marca RefúgioMax para diferentes regiões brasileiras. O lançamento da marca RefúgioMax reforça a importância que a Monsanto dá para o refúgio. Guilherme Lobato, gerente de biotecnologia de milho da Monsanto, enfatiza que o produtor deve fazer o refúgio para continuar obtendo altos patamares de produtividade com VTPRO3 ao longo dos anos. A tecnologia tem duas proteínas Bt contra pragas da parte aérea e uma específica contra a larva alfinete (Diabrotica speciosa), praga de solo que se alimenta das raízes do milho, que diminui a capacidade de absorção de água e nutrientes e reduz o potencial produtivo da lavoura. Na parte aérea, a tecnologia é eficaz contra pragas que atacam as folhas, colmo e espiga do milho – lagartas do cartucho, da espiga, elasmo e broca do colmo.

Mudança

Ronaldo Pereira assume a Diretoria Geral Brasil da FMC A FMC Agricultural Solutions tem novo Diretor Geral Brasil, Ronaldo Pereira. Engenheiro agrônomo com mais de 20 anos de experiência em agroquímicos, Ronaldo iniciou carreira na FMC como representante comercial em 1995. Ao longo de 19 anos, ocupou várias funções na empresa, tanto no Brasil quanto no exterior, com experiências no México, EUA e na gestão de negócios em países da América do Sul. Mais recentemente, esteve na direção geral da Rotam no Brasil. Ronaldo Pereira terá como responsabilidade a liderança e gestão do negócio de agroquímicos da FMC no país. 22 | Agro DBO – março 2016

Cultivares

Lei pode prejudicar melhoramento genético

M

udança proposta na cobrança de royalties de cultivares, que deve voltar a ser discutida na Câmara dos Deputados nos próximos dias, compromete o futuro das pesquisas e a evolução das tecnologias de controle das doenças na lavoura. O Projeto de Lei 827 de 2015 que altera a Lei de Proteção de Cultivares (nº 9.456, de abril de 1997) deve ser discutido novamente na Câmara dos Deputados com a volta do recesso. O texto do projeto é polêmico e gera discussões desde sua apresentação, feita pelo deputado federal Dilceu Sperafico (PP/PR) em março de 2015. O projeto prevê a criação de Grupos Multidisciplinares de Cultivares – GMC, formados por representantes dos obtentores vegetais, produtores de sementes e agricultores. Esses grupos têm por objetivo determinar o valor dos royalties que serão cobrados dos agricultores nos casos de uso próprio de sementes. Atualmente, cerca de 35% das sementes são salvas de uma safra para outra, volume esse que acaba não pagando pelo germoplasma utilizado em sua lavoura. O pagamento de royalties pelo uso das cultivares é a forma de fazer com que o dinheiro volte para a pesquisa. Desde que passou a valer a Lei de Cultivares, em 1997, o Brasil deu um salto em produtividade, já que a pesquisa pela iniciativa privada foi incentivada. Com a Lei, depois de registrar uma nova cultivar, a empresa a explora economicamente durante 15 anos. É esse valor que passou a gerar receita às empresas e alavanca a pesquisa na área. Para o presidente da Associação Brasileira de Obtentores Vegetais (Braspov), Ivo Carraro, antes disso, eram poucas empresas privadas que investiam em pesquisa, porque não tinham receita. “Todos passaram a ter um retorno na mesma proporção da aceitação do seu produto. Quem tem um produto melhor, vai ter mais volume no mercado e mais retorno. Assim, mais empresas entraram no mercado”, explica. Entretanto, com algumas mudanças na forma de pagamento desses royalties, a pesquisa na área pode estar comprometida. “Se as empresas passarem a receber menos pelo trabalho de melhoramento genético, podem deixar de atuar na área, prejudicando toda a cadeia tecnológica de desenvolvimento”, complementa. Para Carraro, o fato de hoje se contar com boas variedades de sementes não significa que, no futuro, outras doenças prejudiciais não possam aparecer. Por isso a importância de continuar com a pesquisa. “Tudo passa pelo melhoramento genético. Se paralisar esse segmento, se paralisa o avanço na agricultura. Paralisar a pesquisa é retroceder, porque os problemas continuam aparecendo e as soluções ficam paradas”, afirma.


Notícias da terra Café

Phylgreen, da Tradecorp, aumenta resistência do café ao estresse hídrico

Ú

nica no mercado, gama de fertilizantes especiais da Tradecorp é aliada na recuperação dos cafezais para enfrentar condições climáticas adversas. A conjunção de seca e alta temperatura prejudica a qualidade dos grãos e a produtividade da cultura. Para dar solução ao problema, a Tradecorp do Brasil lançou a Gama Phylgreen de fertilizantes. O produto estimula uma ação fisiológica, que favorece o melhor aproveitamento nutricional da cultura, conforme a empresa. São produtos que promovem na planta a resiliência à seca, pois ativam mecanismos que fazem a planta retomar rapidamente sua condição normal, explica o gerente regional da empresa e engenheiro agrônomo, Renato Belisário. Sua composição inclui extrato de algas Ascophyllum nodosum e sua fabricação conta com um processo único de “Gentle extraction” que preserva e concentra os delicados componentes da alga, mantendo os seus benefícios. Além disso, Phylgreen possui aminoácidos, macro e micronutrientes para o agricultor obter o máximo do potencial produtivo da cultura. A Gama Phylgreen contribui ainda para reduzir danos causados por intoxicações fitossanitárias (estresse químico), por condições do solo (como, a salinidade) ou mesmo aqueles provocados pelo próprio homem durante o manejo da cultura (estresse mecânico).

Cana-de açúcar

Moagem no Centro-Sul atinge 602,69 milhões t

A

cana-de-açúcar processada pelas empresas da região Centro-Sul alcançou 2,69 milhões de t na primeira metade de fevereiro. No acumulado desde o início da safra 2015/2016 até 16 de fevereiro de 2016, a moagem atingiu 602,69 milhões de t, com aumento de 5,63% no comparativo com as 570,58 milhões de t contabilizadas até a mesma data de 2015. Na primeira quinzena de fevereiro, 32 unidades produtoras estavam em operação no Centro-Sul. Para a segunda quinzena do mês, 25 empresas devem continuar operando. O diretor técnico da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), Antonio de Padua Rodrigues, ressalta que “o volume de cana bisada, os preços mais atrativos e, em alguns casos, a situação financeira complicada das empresas, estimularam o avanço da moagem em um período atípico”. A proporção de cana direcionada para a fabricação de açúcar nos primeiros 15 dias de fevereiro atingiu apenas 20,39%. Com isso, a produção de açúcar na primeira quinzena do mês alcançou 51,54 mil t. Já a produção quinzenal de etanol totalizou 132 milhões de litros, com 31,32 milhões de l de etanol anidro e 101,06 milhões de l de etanol hidratado. “As empresas em operação estão dando prioridade à produção de etanol hidratado, que possui maior liquidez. As quantidades de açúcar e etanol anidro registradas são para atender compromissos firmados anteriormente e os estoques obrigatórios de etanol exigidos pela ANP”, acrescentou Rodrigues.

março 2016 – Agro DBO | 23


Capa

Comida na boca

Ainda ipouco usada no país, a adubação fluida vem ganhando adeptos nas principais regiões produtoras de grãos do Brasil. José Maria Tomazela

24 | Agro DBO – março 2016


Q

uando planejava o plantio da safra 2013/14, o produtor rural Nelson Schreiner, das fazendas Estância São Carlos e Estância Primavera, entre Itapeva e Taquarivaí, no sudoeste paulista, viu-se na chamada sinuca de bico. Agricultor tradicional, daqueles que espalham um pouco de terra na palma da mão e sabem exatamente a quantidade de nutrientes disponível no solo, ele se viu desafiado a testar em suas lavouras de soja e milho uma nova forma de adubação: o adubo líquido, ou fluido, como preferem os especialistas. Aos 77 anos, nascido e criado na lavoura, Schreiner é exemplo de agricultor que não parou no tempo: pioneiro em plantio direto a campo no estado de São Paulo, campeão estadual de conservação de solo na década de 1980, adepto das inovações tecnológicas, sempre esteve na vanguarda da produção agrícola da região. Ao longo de décadas, trabalhou com adubo granulado, produto confiável e de resultado quase infalível. Por que se aventuraria a trocar o velho e bom adubo sólido pelo caldo de cheiro estranho? Acontece que o desafio partia do próprio filho, o engenheiro agrônomo Nelson Schreiner Júnior, um dos sócios da Nutriceler, empresa que se especializara em soluções nutricionais para a lavoura. “Ele tinha esse adubo (fluido) e já vinha fazendo testes há dois anos com bons resultados, então resolvi experimentar.” Não deu outra: hoje, 100% da área de soja e milho, cerca de 800 hectares, são plantados com adubação fluida. “No começo, tive trabalho apenas para acertar os aplicadores. Depois, fazer o plantio virou uma facilidade, com menos volume para transportar, menos horas de máquinas, menos pessoal. Estou começando a usar também no trigo”, disse. Nas lavouras, ele contabilizou ganhos de produtividade entre 10% e 15%. “O adubo vai direto na raiz, é a comida na boca da planta”, comparou. São Tomé aprovou Ainda pouco usada no Brasil, a adubação fluida vem ganhando adeptos nas principais regiões produtoras de grãos do país. Lavouras de milho e soja de São Paulo, Paraná e Minas Gerais já são alimentadas pelos formulados líquidos que juntam nutrientes indispensáveis, como nitrogênio, fósforo e potássio, a aminoácidos e extratos com propriedades indutoras do desenvolvimento das plantas. A tecnologia entrou nas grandes áreas de cultivo do Centro-Oeste e migrou também para a região sul do país. Em Santo Augusto, noroeste do Rio Grande do Sul, quando a tecnologia foi oferecida ao produtor rural Osmar Menegon, ele se fez de São Tomé: queria ver para crer. Assim, plantou duas áreas com 25 hectares de trigo, uma ao lado da outra. Numa, usou o adubo convencional, na outra a adubação fluida. “O que a gente notou é que as plantas

Nelson Schreiner começou a usar adubação líquida na soja e, diante dos resultados, adotou-a também no trigo.

com o adubo líquido germinaram mais rápido e tiveram um bom arranque inicial. Comparamos as raízes e pudemos ver que elas estavam mais densas que no sistema convencional.” Para melhor se convencer, ele aplicou o novo manejo em 20 hectares de milho, 40 de soja e 40 de feijão. “Observamos que a raiz da soja com adubação fluida teve penetração maior no solo, enquanto a do manejo convencional ficou mais espalhada na superfície.” Menegon notou ainda um aumento na nodulação da raiz, que ele atribuiu ao rizóbio – uma bactéria contida na adubação fluida que forma nódulos capazes de extrair e transferir para a planta o nitrogênio do ambiente. Produtor experiente, o gaúcho buscou informações antes de experimentar a nova técnica. “Vi na internet que 40% da soja nos Estados Unidos já são cultivados com essa adubação. Mesmo assim, comecei a experimentar em talhões pequenos. Tem tanto gato ensacado por aí que a gente não pode arriscar”, comentou. Quando pôs na balança o trigo do plantio inicial, a produção da área com adubação fluída tinha março 2016 – Agro DBO | 25


Capa Uma das vantagens do adubo fluido sobre o granulado é o frete menor com a redução na quantidade de insumos transportados sido 9% maior, apesar de a lavoura ter sofrido perdas pelo excesso de chuvas. Já na área de feijão, o ganho foi de 14,2%. Quando falou com a Agro DBO, ele ainda não tinha colhido a soja, mas já notava visualmente uma boa diferença em favor da área manejada. “Estou preparando tudo para fazer a próxima safra com 50% da área, de 290 hectares, com essa tecnologia”, disse. A 1,6 mil quilômetros da fazenda de Menegon, em Pires do Rio, sul de Goiás, o agricultor Vanderson Eder Sasvelli experimentou o mesmo pacote tecnológico numa área de 30 hectares de soja. A produção ainda está no campo, mas ele já fez uma comparação: as plantas tratadas carregaram com até 35 vagens, o dobro do que verificou na lavoura convencional. “A impressão é de que a produtividade será maior, mas isso quem vai dizer é a colheitadeira.” O que Sasvelli já sabe é que, ao invés de encher um caminhão com 10,5 toneladas de adubo para a área de 30 hectares – 350 kg por hectare – ele usa uma caminhoneta para levar os 750 litros de adubo fluido, ou 25 litros por hectare. “Só essa economia justificaria o uso da tecnologia, mas acho que na colheita o ganho vai ser ainda maior.” O pacote tecnológico da adubação fluida atrai principalmente agricultores de soja situados em regiões mais distantes da indústria de adubos, como o Centro-Oeste. O custo do frete pela redução no volume do insumo transportado torna-se, de cara, um diferencial muito atraente em favor desse manejo. A redução no espaço de armazenagem também foi levada em conta por Sasvelli. “O adubo granulado ocupa um grande espaço no armazém, que a gente poderia estar usando com soja e milho. Já os galões com o fertilizante líquido podem ser armazenados num cantinho.” Ele

26 | Agro DBO – março 2016

também observou que a operação de plantio torna-se mais prática, usando os equipamentos adequados: não há necessidade de mobilizar tratores e carretas para distribuir o adubo nas áreas a serem trabalhadas. Consequentemente, o pisoteio no solo é menor, há menos gasto de combustível e menor quantidade de poluentes é liberada na atmosfera.

Osmar Menegon, puxando a plantadeira com seu velho (e ainda eficiente) Valmet; na foto abaixo, à direita, abertura do sulco e deposição de adubo fluido.

Inspiração americana Vanderson Sasvelli é um dos produtores rurais que aderiram ao projeto Pioneiros, criado e desenvolvido pela empresa Nutriceler, de Itapeva, interior de São Paulo, para ampliar o uso da adubação fluida no Brasil. O programa foi inspirado em técnicas norte-americanas e teve início no sudoeste do Estado de São Paulo na safra 2013/14, numa área de apenas 800 hectares de soja. Na safra seguinte, com a adesão de outros produtores paulistas e, ainda, dos estados do Paraná, Minas Gerais e Goiás, o plantio se estendeu a 3 mil hectares. Na safra 2015/16, a área de soja plantada com essa linha de fertilizantes fluidos elevou-se para 16 mil hectares, com a adesão de produtores do Rio Grande do Sul, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Tocantins e Bahia. O diretor da Nutriceler, Nelson Schreiner Júnior, acredita que na safra seguinte apenas a área de soja atendida pela empresa chegará perto de 150 mil hectares. Ele conta que no início o produto era importado dos Estados Unidos e apenas distribuído no Brasil. “Há dois anos, começamos a fazer o fertilizante aqui, importando apenas a matéria-prima. Como a formulação leva água, o volume importado ficou menor e conseguimos reduzir o custo para o produtor.” Os componentes são produzidos pela Hele-


na Chemical Company, fabricante de insumos para a agricultura nos EUA, parceira da Nutriceler no Brasil. De acordo com Schreiner, o pacote já foi usado com bons resultados na cana-de-açúcar, plantações de laranja, café, frutas e olerícolas. Mas a grande aposta da empresa é na soja, já que os componentes da fórmula oferecem ganhos adicionais para essa lavoura, como explica. “A soja depende do nitrogênio para produzir. A gente lança na semente um rizóbio, uma bactéria que forma nódulos na raiz. Esses nódulos transferem o nitrogênio da atmosfera para o sistema radicular. Já vimos raízes com até 40% mais nódulos que no sistema convencional.” A tecnologia ajuda também a liberar o fósforo fixado no solo. Os terrenos cultivados com soja são, geralmente, trabalhados há muitos anos, com grandes depósitos desse mineral que se tornam indisponíveis para a plantas. Um aditivo no adubo fluido recupera esse ingrediente importante para a lavoura. Gargalo a vencer Segundo Schreiner, as formulações da linha de fertilizantes trazem ingredientes na medida certa para as plantas, evitando o desperdício. A aplicação é feita por meio de plantadeira adaptada com um ou dois reservatórios para os produtos contendo fósforo e potássio, e ainda, conforme o pacote, ingredientes à base de ácidos húmicos, fúlvicos, extrato de algas e aminoácidos. Essa combinação de fertilizantes é aplicada por meio de mangueiras e bicos injetores no sulco de plantio, no momento da semeadura. Como o volume da aplicação é 90% menor, há um ganho de tempo, já que os reservatórios operam em longos períodos sem necessidade de reabastecimento. Para o chefe de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Solos, José Carlos Polidoro, a adubação

Lavouras de demonstração na região de Londrina (PR). Do lado esquerdo, adubação com outros produtos; do lado direito. tecnologia de adubação fluida.

fluida tem um grande potencial, mas ainda enfrenta o gargalo da falta de equipamentos específicos para aplicação. “Nos Estados Unidos, a aplicação de NPK de forma fluida está bastante avançada, pois eles fazem isso há anos. No Brasil, o uso do granulado está muito consolidado e a mudança de tecnologia esbarra na falta de máquinas e equipamentos.” Polidoro acredita que o futuro das grandes lavouras brasileiras passa pela adubação fluida. “É inegável que a aplicação no sulco quase zera as perdas dos nutrientes, especialmente do nitrogênio. A distribuição pode ser feita em doses homeopáticas, distribuindo apenas o que a planta vai usar, sem desperdícios. O adubo fluido reage mais rapidamente no solo e a soja, principalmente, aproveita bem o fósforo. A arrancada inicial da lavou-

O diretor-técnico da Nutriceler, Nelson Schreiner Júnior, diz que a tecnologia serve a várias culturas, mas a aposta maior da empresa é na soja.

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Capa A busca de novas tecnologias de fertilização das lavouras é fator crucial para o Brasil reduzir a dependência do adubo importado ra fica interessante.” Ele considera que o custo dessa adubação ainda é alto no Brasil. “Tudo é importado e o transporte de alguns produtos, como a amônia, exigem cuidados extras e elevam o custo. Mas é o futuro: nossa agricultura está em disparada e o consumo de adubo cresce de 4% a 6% ao ano, até três vezes mais que em outros países agrícolas, e apesar da crise. É preciso que a indústria se prepare, pois o adubo fluido tem grande potencial.” Aposta tecnológica Quando decidiu testar a adubação fluida, o agricultor Pedro Paulo Mariano, de Itapeva (SP), não teve dúvida: “Fiz 100% da área de soja, não deixei nem testemunha”, contou. O plantio de 260 hectares, antes tratados com 100 toneladas de adubo granulado, consumiram pouco mais de 2 mil litros do formulado líquido. Mariano viu os efeitos da mudança na lavoura. “A nodulação via solo foi muito boa, houve aumento na atividade de micro-organismos e as plantas saíram mais encorpadas. Espero um aumento de até 15% na produtividade.” Ele só enfrentou algum percalço na adaptação das plantadeiras. “Essa parte deu um pouco de trabalho.” O gargalo dos equipamentos, porém, está com os dias contados, segundo Schreiner. “Há cinco anos, havia poucos fabricantes de máquinas adaptadas para adubação fluida, então decidimos contratar um fabricante para atender os produtores interessados em nossa tecnologia.” Segundo ele, agricultores de Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Tocantins e Goiás já

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usam máquinas com sistemas desenvolvidos exclusivamente para a adubação fluida. A empresa organizou viagens de produtores interessados aos Estados Unidos, um dos pioneiros no uso da adubação fluida. Produtores de soja, cana-de-açúcar, hortícolas e frutas participaram dessas viagens. Sasvelli foi um deles. “Os americanos usam a tecnologia há mais tempo e lá eles fazem a adubação antes do plantio. Tinha dúvida se o sistema teria o mesmo resultado aqui, com a diferença de clima e tudo o mais. Por isso iniciei numa área pequena, mas vou ampliar. No próximo plantio já serão 200 hectares.” A empresa Terrena, com sede em Patos de Minas (MG), vislumbrou esse potencial há mais de duas décadas. Em 1992, a empresa instalou a primeira fábrica de fertilizante fluido comercial em Minas Gerais. Em parceira com a Embrapa, a empresa atuou na difusão da tecnologia para a região do Cerrado mineiro. A adubação fluida é oferecida como opção para os produtores, já que a Terrena também mantém na região duas plantas para produção de adubos sólidos. De acordo com a empresa, a adubação fluida possibilita o fornecimento balanceado de nutrientes à lavoura, o que é essencial para uma boa produtividade. Produtor examina planta e compara, depois, o estágio de desenvolvimento das raízes, para aferir as vantagens de uma tecnologia sobre a outra.


Para o pesquisador da Embrapa, a busca de novas tecnologias de fertilização das lavouras é fundamental para o Brasil. Ao mesmo tempo em que bate recordes de produção, ultrapassando a barreira de 210 milhões de toneladas anuais, o país aumenta a dependência do adubo importado. Das 28 milhões de toneladas de fertilizantes consumidas em 2015, cerca de 75% vieram de fora. No caso do potássio, mais de 90% do nutriente são importados. Segundo ele, a agricultura nacional posiciona o país na quarta posição entre os maiores consumidores de fertilizantes, atrás apenas da China, Índia e Estados Unidos. Polidoro faz parte da Rede FertBrasil, programa da Embrapa voltado para o uso eficiente de fertilizantes. A rede é formada por cerca de 130 pesquisadores de 20 centros de pesquisas da Embrapa, em parceria com 73 instituições e 22 empresas privadas do setor de fertilizantes. “Estamos trabalhando muito nisso e as empresas estão dispostas a investir fortemente nessa tecnologia.” Ele vê na adubação fluida um canal para a introdução de novas fontes de nutrientes na agricultura brasileira. “É essencial racionalizar a aplicação de insumos nas lavouras e a adubação fluida é um bom caminho nessa direção.” Em defesa do granulado Para o diretor-executivo da Anda – Associação Nacional para Difusão de Adubos, David Roquetti Filho, a adubação fluida é uma opção aos adubos sólidos, mas, ao lado das vantagens, como a maior uniformidade na lavoura e a facilidade de aplicação, também tem algumas desvantagens, como o fato de carregar

Comparativo de raízes: a da esquerda recebe fluidos; a da direita, adubos convencionais.

água e exigir equipamentos especiais para aplicação. “Isso representa custos extras com transporte e armazenamento, além de investimentos adicionais. Dependendo da escala da operação, da garantia de suprimento local e do preço do fertilizante na fazenda, o investimento em equipamentos pode ser compensado”, disse. Ele reconhece que os fertilizantes fluidos, pela uniformidade de aplicação, podem levar a aumentos de eficiência no uso de nutrientes, porém, aplicações bem feitas de adubos sólidos também permitem atingir bons níveis de eficiência. “Assim, a opção por uma ou outra dependerá de condições locais, da existência de fornecedores de matérias-primas e equipamentos, e da preferência dos agricultores”, pontua. Segundo Roquetti Filho, no mercado americano, onde a adubação fluida tem uma boa fatia do mercado, o maior crescimento dos fluídos geralmente ocorre em substituição a formulações baseadas em amônia anidra (gás), muito popular no meio-oeste americano devido ao baixo custo, mas que vem sendo substituída, por questões de segurança ligadas ao uso da amônia concentrada. Conforme diz, os nutrientes aplicados e, muitas vezes, os compostos usados nas duas formas são os mesmos. Ele cita, como exemplo, que a formulação nitrogenada fluida mais comum, o uran, é uma mistura de ureia e nitrato de amônio, as duas principais fontes de nitrogênio na forma sólida. “O sucesso da adubação fluida dependerá das estratégias de empresas do setor para achar soluções que compatibilizem custo, eficiência de aplicação e eficiência de uso de fertilizantes no campo.” março 2016 – Agro DBO | 29


Café

Consórcio duradouro Produtor rural do Sul de Minas, introdutor do cultivo de abacateiros com cafeeiros na região, parte agora para a industrialização da fruta. Rogério F. Furtado

T

Vista geral da fazenda São João do Alto, em Cajuru (SP), privilegiada quanto ao clima e à topografia.

ão logo termine a safra de café deste ano, o brasileiro poderá experimentar nova marca de óleo de abacate. De cor e propriedades nutritivas semelhantes às do azeite de oliva virgem, o produto fluirá de São Sebastião do Paraíso, município do sul de Minas Gerais. A matéria-prima será colhida a partir de setembro/outubro em abacatais da empresa Cafetotal Empreendimentos, do engenheiro paraisense José Carlos Gonçalves. Com o lançamento comercial do óleo, Gonçalves, agrônomo forma-

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do pela Esalq-USP em 1965, completará o ciclo de um experimento original, a implantação de um sistema de rotação de culturas permanentes – café e abacate. Quando começou, ao final da década de 1980, a iniciativa foi criticada por outros cafeicultores. Atitude previsível em meio conservador, em geral resistente a inovações que lhe pareçam radicais. Gonçalves ignorou o falatório e pisou no acelerador, intensificando os plantios. Tem colhido resultados polpudos faz tempo. Ele preza os lucros, por certo, mas, como técnico,

valoriza mais a comprovação da eficácia de seus métodos agronômicos, cujo repertório pode ser apreciado na fazenda São João do Alto, município de Cajuru (SP). A propriedade é regida sob o dogma da conservação do solo a todo custo. E os abacateiros são aliados nesse esforço. Há perto de trinta anos, Gonçalves erradicou um cafezal ali para o primeiro plantio das fruteiras. Desde então o solo jamais foi revolvido. Agora, com o abacatal pioneiro cortado, o café está para retomar o antigo espaço. “Serramos os


abacateiros rente ao chão. Com isso, as raízes apodrecem, formando canalículos para a infiltração de água. Ao mesmo tempo, os restos da parte aérea da planta se decompõem no local, fertilizando a terra. As coisas se passam quase como se estivéssemos devolvendo a área de cultivo à sua primitiva condição de terreno de mata virgem”. Convívio harmonioso Numa das fazendas da família – são cinco –, localizada em São Tomás de Aquino (MG), Gonçalves esperou “só” 18 anos para a recepagem dos abacateiros da primeira leva. Os cafeeiros que os substituíram, sete anos atrás, têm apresentado desempenho excepcional, graças à qualidade do substrato, afirma o agricultor. Com o tempo, ele aperfeiçoou a técnica para realizar a sucessão dos plantios. Em um cafezal de muitas safras, introduz as mudas

de abacateiros nas entrelinhas. Os cafeeiros continuarão a produzir por vários anos ainda. O convívio das duas espécies vegetais costuma ser tão harmônico e produtivo que a decisão de extirpar o café chega a ser dolorosa, diz o filho de José Carlos, o também agrônomo Carlos Alberto Gonçalves: “Ambos se beneficiam da micorriza e, como regra, a produtividade dos cafeeiros aumenta. Por vezes ficamos em dúvida - qual arrancar?” O café termina por ser a vítima porque, uma vez plantados os abacateiros, a colheita mecânica se torna impossível. As despesas com mão de obra também aumentam com as necessidades do manejo: adubações, pulverizações, podas. A hora fatal para os cafeeiros em geral soa após uma colheita particularmente generosa: no ano seguinte a lavoura não produzirá, devido à bienalidade. A conservação do solo exige outras medidas. As caixas secas, por exemplo, distribuídas por toda a propriedade, retêm água das chuvas. Impedem a formação de enxurradas e a erosão. Como os Gonçalves não toleram ver terra descoberta, permitem que seus funcionários plantem milho, feijão e outros gêneros ao redor dos pequenos reservatórios. Esses produtos abastecem as famílias residentes e alimentam suas criações de animais domésticos. José Carlos destaca também o papel das ervas invasoras na cobertura do solo, um aspecto que desde sempre mereceu sua atenção: “Temos precipitações muito fortes em nossa região. Podem chegar a 400 mm por mês. E a evapotranspiração é da ordem de 2,5 mm a 4 mm por dia. Ou 120 mm no mês. O resto é excesso. Se a água escorre, provoca erosão. Se infiltra em demasia, produz lixiviação de nutrientes, com risco de contaminação para o lençol freático. Considero o mato no meio das lavouras verdadeira ‘bomba biológica’ para a absorção e reciclagem de água e nutrientes. Assim, preferimos adubar as plantações

Abacateiros e cafeeiros, consórcio vencedor em solo equilibrado e sempre protegido.

José Carlos e seu filho, Carlos Alberto: exemplo de ousadia, visão estratégica e muito trabalho.

com as gramíneas estando crescidas e verdes. Afinal, os nutrientes que absorverem serão incorporados ao solo depois da roçagem, química ou mecânica”. Como resultado desse conjunto de práticas conservacionistas, o teor de matéria orgânica na São João do Alto estava acima de 6% por ocasião da última análise de terras. José Carlos lembra que nos solos considerados bons, esse índice oscila entre 2% e 3%. Assim, parece ficar evidente que o veterano cafeicultor vem rezando pelo breviário da “sustentabilida-

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Café “O fundamento central da agricultura é o solo. Sem a base, é impossível manter a planta, não interessa a tecnologia aplicada”.

Caixa seca, para reter água da chuva, e plantação de milho no entorno, para não deixar a terra descoberta.

de” desde muito tempo antes do surgimento desse conceito. Para ele, trata-se de postura inevitável: “O fundamento central de uma agricultura sustentável e produtiva é o solo. Sem a base, torna-se impossível manter a planta, não interessa o pacote tecnológico aplicado. E não se dá tanta ênfase às medidas de proteção, por incrível que pareça. O solo, mais que um meio físico, é um ente biológico. Tem vida. Mas grande parte dos agricultores não o encara dessa forma. A vegeta-

ção também é indispensável. Se tivermos cobertura seca ou viva, ou ambas, haverá equilíbrio nas populações de microrganismos e de insetos. Assim como entre predadores e presas”. O ambiente natural tem sido uma escola para José Carlos desde o longínquo primeiro emprego, na Cati – Coordenadoria de Assistência Técnica Integral, organismo do governo paulista. E seu primeiro mestre foi Adolfo Chebabi, agrônomo graduado pela Esalq em 1939, tido como

um dos maiores extensionistas que já viveram. José Carlos conta: “Mesmo debaixo de uma tormenta, ele me chamava: ‘Zé, vamos ver como a natureza está reagindo’. Ato contínuo, pegava um guarda-chuva e ia verificar o estado das lavouras. Convivi com ele durante 20 anos, ao mesmo tempo em que mantinha contatos estreitos com a equipe do IAC – Instituto Agronômico de Campinas”. Por essa época, lá estava o legendário geneticista Alcides Carvalho, com seus co-

Produtividade com lucro Os Gonçalves não perdem de vista seu objetivo central: a manutenção da produtividade dos cultivos em patamar que assegure a maior rentabilidade possível – e não o maior rendimento físico por unidade de área. Eles se declaram satisfeitos com a média de 30 sacas de café/hectare/ano que vêm obtendo ao longo de várias temporadas. Como dispõem de 350 hectares de cafezais, colhem cerca de 10 mil sacas/ano. Os abacateiros ocupam também mais de

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300 hectares e produzem algo em torno de 3 mil toneladas por safra. A produção de eucaliptos e gado de corte são atividades secundárias da Cafetotal Empreendimentos. Na condução da empresa, um José Carlos brincalhão afirma não passar de “contínuo de luxo” do filho, no que é prontamente desmentido por uma tez queimada de sol e pela aspereza das mãos, incomuns em cafeicultores desse porte. Tais detalhes também revelam seu gosto pela vida em contato com a nature-

za. Afinal, diz ele, parafraseando um economista inglês: “A agricultura é um misto de ciência e negócio, mas só se completa com uma dose de poesia”. Por sua vez, Carlos Alberto, formado em 1993 pela Esalq, trabalhou em outras empresas até se juntar ao pai, dez anos atrás. Ele também faz melhorias nas lavouras, tendo adotado a rotação de princípios ativos no caso de agroquímicos e o uso de fertilizantes especiais. Porém, está mais voltado


laboradores e colegas de outras especialidades - uma verdadeira academia do café. José Carlos acrescenta: “Chebabi e Carvalho estavam perto de encerrar a carreira e me passaram muito do que tinham aprendido durante toda a vida. Essa experiência valeu por 50 doutorados”. Técnica e sensibilidade Na passagem por esta “academia”, fora os conhecimentos técnicos assimilados, José Carlos treinou os sentidos para captar sinais reveladores de eventos em curso no cenário da produção. E responder de modo racional a essas indicações. “Em cinquenta anos de cafeicultura, nunca pulverizei uma lavoura inteira contra a broca do café. Só combati os focos, que surgem em locais mais úmidos e fechados. Tentar descobrir a presença da praga por amostragem dos talhões não é método confiável. Um foco pequeno poderá não ser detectado por meio desse procedimento. Quando a broca for descoberta, já terá conquistado boa parte do terreno. Nesse estágio, a pulverização de toda a lavoura será inadiável”. O melhor é vencer o inseto com bombardeios localizados. Para que essas operações sejam eficazes, os refúgios prediletos do besouro devem estar mapeados: o trabalho dos batedores para as questões administrativas. Ele apresenta alguns dados relativos ao pessoal das fazendas: “Em média, temos um funcionário residente por fração de 20 hectares. O menor salário que pagamos é de R$ 980. Mas a remuneração dos trabalhadores chega a R$ 100 por dia durante cerca de cinco meses por ano, da colheita do café ao final da safra do abacate, em dezembro. Além da moradia, água, luz e os adicionais determinados por lei, todos recebem gratificações ao terminar o ano. Esse prêmio pode ser igual a até três salários mensais no caso

de pragas começará por esses pontos críticos. Mas um mapeamento assim só faz quem de fato é do ramo, com disposição para esquadrinhar os plantios de maneira recorrente, faça chuva ou faça sol, à moda do velho mestre Chebabi. O prêmio pela dedicação é a redução de custos e uma abordagem menos agressiva do ambiente. Os abacatais merecem a mesma atenção da parte de José Carlos. Como exemplo se pode citar o combate à broca do abacate. Para controle, exemplares de uma variedade do abacateiro, preferida pelas mariposas, estão do pessoal que ocupa os postos-chaves. Em dezembro último, o pagamento extra para os trabalhadores braçais foi de R$ 600”.

Abacateiro jovem entre linhas do cafezal: em coexistência pacífica, espécies diferentes se beneficiam da micorriza.

Os Gonçalves não perseguem recordes de produtividade, mas a sustentabilidade em termos ambientais, sociais e econômicos.

plantados em locais estratégicos, onde armadilhas com luz ultravioleta atraem os insetos, sendo efetivas em um raio de até 100 metros. Frutos atacados são colocados em tambor, fechado com tela. A malha só deixa passar os inimigos naturais da praga. As mariposas, aprisionadas, não escapam. Embora a frutificação do abacateiro sentinela ocorra em novembro/dezembro, as pulverizações só acontecem nos meses de janeiro e fevereiro. Nesse bimestre há menos inimigos naturais da praga e a aplicação dos inseticidas se torna menos danosa para outros viventes. Essa é uma das descobertas do entomologista Dori Edson Nava durante as pesquisas para sua tese de doutorado, defendida na Esalq, em 2005. O trabalho de Nava sobre a broca do abacate foi realizado nas fazendas da Cafetotal, financiado em parte pela empresa. A propósito, José Carlos sempre manteve vínculos com instituições de pesquisa. E se orgulha de ter colaborado com Alcides Carvalho na própria São João do Alto, uma das raras propriedades particulares que o pesquisador se dignava visitar. As fórmulas agronômicas de Gonçalves, postas à prova desde o início de sua vida profissional, são vencedoras – lhe deram as cinco março 2016 – Agro DBO | 33


Café No combate às pragas, a preferência é pelos métodos brandos. Armadilhas com luz ultravioleta integram o arsenal contra mariposas.

fazendas e uma alentada fieira de imóveis urbanos. Mas o senso do produtor para as boas oportunidades também é agudo. A compra da fazenda São João do Alto, em 1978, é um bom exemplo. Avalizado pelo pai, sitiante, José Carlos pagou 50% do valor como entrada e quitou o resto em prestações. Arrematou belos 240 hectares, numa altitude variável entre 900 e 1050 metros. A despeito da altitude, a parte ideal para a agricultura é toda mecanizável. A topografia favorável não escapou à observação atenta do comprador: a produção de colhedoras de café era esperada para o futuro próximo, como consequência lógica do desenvolvimento da técnica. “Na decisão de comprar também levei em conta o baixo risco de geadas. Estamos em um espigão divisor de águas, com mata em cima. Um obstáculo natural que se antepõe à formação de massas de ar frio com capacidade e volume para causar danos às plantas. A umidade é baixa e as correntes de ar circulam em todas as direções. O que é muito bom para a secagem do café, completada em equipamentos mecânicos. De modo que nesta fazenda não se 34 | Agro DBO – março 2016

Antes visto com desconfiança, o abacate se revelou excelente para a nutrição humana, fornecendo azeite que nada fica a dever ao de oliva.

consegue fazer café ruim. Mesmo que se queira”. O abacate foi outra opção que se revelou acertada. Guiado por sinais do mercado, Gonçalves decidiu plantar variedades tardias, principalmente a Breda, para ganhar dinheiro na entressafra, de setembro a dezembro. E se tornou um dos grandes produtores brasileiros. Aposta certeira Na época em que José Carlos estreou no plantio de abacate, a fruta estava envolta em pesada teia de preconceitos: diziam que engordava, era perigosa para o sistema cardiovascular, e assim por diante. No entanto, após a realização de pesquisas que comprovaram as qualidades da fruta, houve uma guinada de 180º na opinião pública. A começar pela estadunidense: nos EUA, o consumo praticamente quadruplicou de 2000 a 2014, quando atingiu cerca de 900 mil toneladas. Além do azeite, o abacate fornece matéria-prima para outros produtos, com presença forte no setor de cosméticos. E o leque de aplicações poderá abrir-se ainda mais de agora em diante, principalmente no mercado doméstico, ainda mui-

to acanhado. A Cafetotal apostou nessa tendência, decidindo-se pela industrialização em 2014. Nesse ano, José Carlos realizou a primeira extração do óleo de abacate ajudado pela Epamig, em Maria da Fé (MG), com equipamentos usados para a produção de azeite de oliva. A operação resultou em cerca de 100 litros de um produto de boa qualidade. Encorajados, os Gonçalves investiram na planta industrial de São Sebastião do Paraíso, que terá capacidade instalada para o processamento de 48 toneladas de matéria-prima por turno de 8 horas. A fábrica aproveitará os frutos rejeitados para o consumo de mesa, que chegam a totalizar 400 toneladas por ano e vinham sendo reciclados como fertilizantes. Mas, a depender das condições do mercado de abacates in natura, parte das colheitas será industrializada. Fruta para abastecer a fábrica também poderá ser comprada de outros produtores. Além disso, para aumentar a oferta de fruta própria, José Carlos informa que estuda a possibilidade de cultivar uma variedade de ciclo de maturação mais curto e maior conteúdo de óleo.



Artigo

O El Niño e a inovação agrícola As oscilações climáticas historicamente sempre preocuparam os agricultores, mas as tecnologias ajudam a proteger as lavouras. Evaristo E. de Miranda *

C

* o autor é engenheiro agrônomo, doutor em ecologia, chefe geral da Embrapa Monitoramento por Satélite, e membro do Conselho Editorial da Agro DBO.

om tecnologia, inovação e profissionalismo, os agricultores minimizaram de forma inédita os efeitos negativos do El Niño na produção, até onde foi possível. Esse fenômeno climático normalmente traz chuvas acima da média para o Sul do Brasil e diminui as precipitações no Norte e Nordeste. O El Niño de 2015/16 foi comparável aos ocorridos em 1982/83 e 1997/98. E, se seus efeitos foram diversificados em função das regiões, eles também variaram com o nível tecnológico da agricultura. Quanto mais tecnificada a agropecuária, menor o impacto do fenômeno na mesma região. A seca provocada pelo El Niño no Nordeste, por exemplo, teve impactos maiores em 1982/83 do que nos dias de hoje. Em 1982, a área irrigada e com agricultura moderna mecanizada eram muito menores do que atualmente. Como quase sempre, o fenômeno

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alterou as condições das lavouras de inverno no Sul e Sudeste e das de verão em boa parte do Brasil. O auge do fenômeno atual ocorreu no final de novembro. A partir de agora sua intensidade declina e ele deve terminar no início do outono. No Sul e Sudeste, nas lavouras de inverno (trigo, cereais e fruticultura de clima temperado), o excesso de umidade comprometeu a produtividade. E trouxe problemas para o plantio e o desenvolvimento das culturas de verão, como o arroz. O alto volume de chuvas prejudicou seriamente as lavouras de arroz do Paraná (Querência do Norte), do Rio Grande do Sul e de nossos vizinhos do Mercosul. Na soja, a abundância de chuvas provocou atrasos e dificuldades no plantio e nas aplicações de fungicidas, inseticidas e herbicidas, afetando a produtividade. Nessas condições, o nível dos equipamentos de meca-

nização, pulverização e a qualidade dos operadores fizeram a diferença no controle sanitário dos plantios. Os altos índices pluviométricos favoreceram as pastagens e a pecuária leiteira, contribuíram para recuperar as reservas hídricas em solos, lençóis freáticos, açudes e barragens do Sul e Sudeste. No Centro-Oeste faltaram chuvas nas fases finais do ciclo da soja, o oposto do que ocorreu nos polos produtivos de grãos no Paraná e Rio Grande do Sul. O Ministério da Agricultura e a Embrapa acompanham tudo de perto e realizam constantes reuniões nas principais regiões afetadas. Em Minas Gerais, quase não ocorreram problemas. Segundo a Conab, a produção mineira da oleaginosa atingirá o recorde de 4,33 milhões de toneladas, volume 23,6% superior aos 3,5 milhões de toneladas da safra 2014/15, e com uma pequena redução na área plantada.


Apesar do excesso de chuva, para o Mato Grosso do Sul, a Conab projeta uma produção recorde de soja: 7,58 milhões de toneladas. Um crescimento de 5,6% com relação à última safra, de 7,18 milhões de toneladas. No Matopiba houve atraso nas chuvas de verão e choveu pouco no final de 2015, algo em torno de 50 mm em dezembro passado. Isso dificultou o início do plantio da soja, no Sul do Maranhão e Piauí. O impacto dessa situação foi tanto mais severo quanto menor o nível de mecanização do produtor. A janela de plantio se reduziu. Alguns agricultores trocaram a soja pelo milho. O Sul do Maranhão terá a pior safra, interrompendo um processo de aumento constante da produção. As maiores perdas foram as de quem plantou cedo. Quem plantou mais tarde ainda teve como se ajustar em termos de variedades e ciclo. Mas o Matopiba inclui também o oeste da

Bahia e garantiu 11% da safra nacional de soja em 2014/15. Em breve ocorrerá uma transição climática, com o final do fenômeno do El Niño. De certa forma, em 2016 cada estação do ano estará sob a influência de um fenômeno climático diferente. Isso pede a atenção dos produtores.

Agricultores e pesquisa agropecuária têm a responsabilidade de aproveitar crises e extremos climáticos para instrumentalizar processos de adaptação. Existem alternativas tecnológicas para aumentar a sustentabilidade da produção, frente às variações climáticas. Elas precisam ser aperfei-

Quanto mais tecnificada a agropecuária, menor o impacto do El Niño na mesma região Para alguns meteorologistas o frio deve chegar mais cedo. Os modelos climáticos projetam uma nova fase de águas frias sobre o Oceano Pacífico equatorial, indicativo da provável configuração de um episódio de La Niña. Os El Niños de 1997/98 e de 1982/83 foram substituídos por um La Niña no segundo semestre. O último La Niña aconteceu entre 2010 e 2011.

çoadas tecnologicamente e melhor ajustadas em suas aplicações aos diversos sistemas de produção e regiões. Ampliar a irrigação, a eletrificação, a mecanização rural, a armazenagem nas fazendas, melhorar a logística e o seguro rural, hoje quase inexistente, seriam um enorme avanço, diante das incertezas climáticas presentes e futuras, sejam do El Niño ou de La Niña.

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Entrevista

Há desafios enormes no agro, e precisamos nos atualizar.

S

ilvio Crestana é um pesquisador emblemático, foi presidente da Embrapa entre 2005 e 2009, é graduado em física e pesquisador da empresa desde 1984. Mestre em Física Básica (Ótica Não-Linear), obteve o título de doutor em 1985, pelo Instituto de Física Química de São Carlos/USP, na área de Física Aplicada a Solos, às Radiações e Teoria da Imagem, tendo realizado a parte experimental de sua tese de doutorado nas Universidades de Trieste e de Roma, Itália. Na Universidade da Califórnia, Davis, EUA, realizou seu primeiro pós-doutorado (2 anos) em Ciência do Solo e Ciências Ambientais, concluído em 1989, e o segundo (3 anos)

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no Agricultural Research Service-United States Department of Agriculture, em Beltsville, Maryland, EUA, no Hydrology Laboratory, concluído em 2001. Foi chefe-geral da Embrapa Instrumentação Agropecuária, em São Carlos, SP, entre 1992 e 1997, assim como coordenador e responsável pela implantação pioneira do Laboratório Virtual da Embrapa no Exterior (Labex) no período de 1998 a 2001, hoje presente em 3 continentes. Como cientista, destacou-se internacionalmente pelo trabalho pioneiro de introdução da tomografia computadorizada na Ciência do Solo. É autor e coautor de mais de 150 trabalhos científicos. Propôs e coordenou mais de 20 projetos

de pesquisa de âmbito nacional e internacional, sendo coautor de 7 patentes. Possui inúmeros prêmios e condecorações, entre outros recebeu, em 2006, a condecoração Grã Cruz da Ordem do Rio Branco. Crestana é 2ª geração descendente de italianos, nascido em 1954 em uma fazenda, em São Carlos (SP), sendo o primogênito de uma prole de 9 irmãos. Ele é casado, tem 2 filhos, torce pelo Santos, e concedeu entrevista* ao jornalista Richard Jakubaszko, editor-executivo da Agro DBO, quando registrou suas opiniões sobre pesquisa agropecuária e a produção de alimentos.

* Com participação do jornalista Sérgio Oliveira, do Portal DBO.


Agro DBO – Quais são os desafios da pesquisa agropecuária para a produção de alimentos, já que nos aproximamos de 9 bilhões de pessoas? Silvio Crestana – Não apenas a população crescente, mas parte dessa população consumindo mais alimentos porque aumentou o poder aquisitivo, ao lado de recursos naturais limitados, porque temos hoje as fronteiras agrícolas restritas a alguns pedaços do Brasil e da África, não há mais espaço para expansão no planeta afora, e por isto temos de produzir mais com menos, cada vez mais. Isso só será possível através da tecnologia. Tanto isto é verdade que, comparado há 10 anos, inverteu-se a situação, hoje o uso de tecnologia representa cerca de 70% do custo de produção, enquanto mão de obra e o custo da terra ficam com 30%. Por aí dá para ver a importância da tecnologia na agricultura. O crescimento da produção agrícola brasileira, em tão pouco tempo, foi um fato que espantou o mundo, e chegamos agora a 200 milhões de toneladas de grãos. Isto foi parte em cima de manejo adequado, da capacidade empreendedora dos nossos agricultores, parte de políticas públicas, e, principalmente, com o uso de tecnologias. Agro DBO – E quais são os futuros instrumentos e caminhos das tecnologias para continuarmos crescendo? Silvio Crestana – Esse aumento de produtividade, e de redução de custos, vai obrigar ao uso de, cada vez maior, de sensores, equipamentos, automação, da inteligência artificial, e isso obriga a acoplar as máquinas aos equipamentos, e quando precisarmos tomar decisões teremos de monitorar o quanto se produziu em cada área, saber qual é o estado vegetativo de cada cultura, enfim, ter o monitoramento de tudo. Deveremos

Na DBO Editores, Crestana proferiu palestra a todos os colaboradores da empresa.

saber como responder a uma solução de sistema a partir de seus indivíduos, porque se tem variabilidade na lavoura, e nos pastos, pois o solo não é igual, a fertilidade não é igual, a retenção de água é diferente, então hoje a ciência está trabalhando para juntar tudo isso em um banco de dados, e depois vamos aprender a garimpar as informações ali contidas. Com isso, teremos de avaliar essas informações e responder se interessa ou se é viável para aumentar a produtividade e a competitividade, e com isso tomar a decisão. Chamamos a isso de agricultura inteligente. São linhas de trabalho e de pesquisas que já estão sendo aplicadas em condições reais, e que precisamos aprimorar. Agro DBO – Com o crescimento extraordinário da agricultura brasileira muitas multinacionais foram atraídas a participar desse mercado, trazendo investimentos milionários. Na somatória de atuações elas dão as cartas hoje no fornecimento das diversas tecnologias disponíveis, em alguns casos também como empresas rurais. Como fica a Embrapa nesse cenário? Vai fazer parcerias, vai se associar? Silvio Crestana – Essa é uma discussão interna que já está correndo na Embrapa, faz alguns

meses. Houve, de forma clara, um deslocamento da Embrapa dessa fronteira tecnológica, especialmente no melhoramento genético clássico das variedades de plantas usadas no Brasil, e é evidente que a biotecnologia atingiu um desenvolvimento espetacular, especialmente em soja, milho e algodão. Isso, evidentemente, trouxe consequências positivas também para toda a cadeia produtora de proteína animal, permitindo o desenvolvimento desse setor. Mas é bom que se diga que não apenas a Embrapa, mas nenhuma instituição pública de pesquisas, em qualquer outro país, lidera esse setor de produção de sementes OGM na área de commodities. Mas nós chegamos a desenvolver uma variedade de feijão GM, o que é importante, assim como desenvolvemos pesquisas em clonagem de animais, áreas em que as multinacionais não atuam. Há um nicho de mercado aí, tem um componente estratégico da Embrapa, que possui um papel social a ser cumprido como empresa pública. Há muitas tecnologias que não têm grande valor comercial e que nós precisamos desenvolver. Na Embrapa temos vários exemplos, como a fossa séptica biodigestora, equipamentos simples como a energia solar para uso em irrigação, usadas por todos os tipos de agricultores março 2016 – Agro DBO | 39


Entrevista O desafio da Embrapa hoje é olhar o sistema de produção como um todo e verificar se esse sistema é competitivo e sustentável

Crestana, na época presidente da Embrapa, discursa em solenidade na África, onde a empresa tem vários projetos

de médio e pequeno porte, e também na agricultura familiar, mas precisaríamos de um serviço de extensão rural para disseminar essas tecnologias. Agro DBO – No fundo, no fundo, falta gente para tudo isso, para administrar a sustentabilidade? Silvio Crestana – Nós temos que garantir que tenhamos competitividade, porque com a globalização tudo está conectado entre os países e o comércio exterior, a vinda das empresas multinacionais para cá, e ainda precisamos manter nossas empresas competitivas lá fora. Não adianta ser competitivo por um ano ou dois, e no terceiro ano deixar de ser. Até podemos produzir muito, porém degradando o solo e o meio ambiente, e fazendo isso não se consegue ser sustentável. Ou se pode ter uma prática social que não é viável, porque vai gerar conflitos, e aí não se consegue atrair talentos para criar e desenvolver a otimização dos sistemas. Se a gente gerar um problema ambiental isso gera um passivo e aquilo vai ter

40 | Agro DBO – março 2016

um custo que vai ter de se pagar, ou gera-se degradação, e aí aumentam os custos porque vai nos obrigar a usar mais fertilizantes, ou mais agroquímicos porque as pragas aumentaram, e aí se perde a competitividade almejada. Há caminhos diferentes a serem perseguidos, um caminho é a procura por aumento da produtividade, outro é a redução de custos. Agro DBO – Na produtividade melhoramos muito as nossas médias em termos nacional. Como foi isso? Silvio Crestana – Deve-se ao uso das tecnologias e a manejos adequados, usamos um gráfico que ilustra bem isso (ver gráfico). Chegamos na safra 2015/16 a 200 milhões de toneladas de grãos, fato que precisamos comemorar com grande orgulho. Evidentemente que as tecnologias utilizadas, nesses casos, foram de uma diversidade enorme, desde sementes melhoradas, OGMs, melhor uso das máquinas, agricultura de precisão, controles químicos e uso de fertilizantes, análi-

ses de solo e foliares, enfim, todo um pacote de tecnologias, aceitas e usadas pelos agricultores. Mas isso ainda é muito pouco, só os EUA produzem 400 milhões de t de grãos por ano. A China produz quase 500 milhões de t/ano, eles são o maior produtor mundial de grãos, e ainda importa grãos, porque tem 1,3 bilhão de habitantes. Agora, no agro brasileiro ainda temos muitos gargalos e problemas sazonais. Vejam que este ano os preços das commodities estão baixos, e o dólar mais valorizado salvou a lavoura. De outro lado, continuamos com os eternos problemas nacionais, que influem na produtividade, como a falta de mão de obra qualificada, falta de infraestrutura nos transportes, rodoviário ou ferroviário, a insuficiência de armazenagem, enfim, são problemas crônicos que nunca resolvemos, porque o crescimento constante está sempre à frente. Lamentavelmente não temos no Brasil uma visão de longo prazo, em nenhum setor, seja agricultura, meio ambiente, ou qualquer outro setor, e isso precisa ser corrigido, são outros desafios do Brasil que temos de vencer. Agro DBO – O mundo mudou, são muitos os desafios... Silvio Crestana – Sim, é claro, o mundo mudou, evoluiu, e os desafios são complexos. As novas tecnologias estão aí disponíveis, foram desenvolvidas pelas multinacionais nas áreas de sementes, agroquímicos, fertilizantes, máquinas, irrigação e agricultura de precisão. Há bilhões de dólares em investimentos em qualquer uma dessas áreas. E os nossos desafios atuais são diferentes da realidade daqueles tempos de quando a Embrapa iniciou. Hoje temos que olhar a agenda da produtividade,


da competitividade e da sustentabilidade. Nisso a Embrapa está bem, tem gerado linhas de pesquisas e trabalhos em bioeconomia, em sistemas como a ILPf (Integração Lavoura Pecuária e Floresta), com mais diversidade. O desafio da Embrapa de hoje é olhar o sistema de produção como um todo e verificar se esse sistema é competitivo e sustentável como um todo, e não de uma tecnologia específica e isolada. Veja, é fácil falar que o sistema deve ser competitivo e sustentável. Mas o que é isso? Como que a gente mede a sustentabilidade de um sistema? Como que a gente mede os custos de um trator, do combustível, dos pneus, cada vez que ele chega ao fim de um carreador e tem de manobrar para retomar o trabalho em outro ponto? Dá para fazer menos curvas? Como medimos a importância de cada gota d’água que usamos na irrigação? Portanto, não basta olhar apenas uma variável só, tem de olhar o conjunto, temos de otimizar os sistemas de produção. A interação dessas componentes e o resultado que se pode obter. E tem de olhar isso com antecedência, durante e depois. Só nisso tem uma pauta fantástica em várias agendas de pesquisas a serem trabalhadas. Agora, há mudanças internas importantes na própria Embrapa. Temos os centros temáticos, os centros de commodities, e os centros chamados eco-regionais, eles têm um papel e uma sinergia diferente que precisa ser construída dentro da Embrapa. E da Embrapa para a sociedade, porque ela tem de ouvir muito mais o setor produtivo, como ela já fez no passado, mas a Embrapa passou um período sem ouvir o setor produtivo, só fazia isso indiretamente. A Embrapa tem de voltar a fazer isso, em minha opinião. Mais do que isso, tenho a coragem de dizer que o grande desafio do Brasil hoje é criar uma sinergia entre o sistema público e o sistema priva-

1950: índice base 100.

do. Os dois são importantes para que o Brasil tenha a melhoria da produtividade e volte a crescer e se desenvolva. Esse é o desafio, a parceria público-privada. Nós temos de fazer isso, obviamente de uma maneira que seja transparente para a sociedade, em que há benefícios para a sociedade, e temos de fazer isso sem medo. Hoje nós não sabe-

mos como fazer isso, e há grandes dificuldades, desde a pesquisa público-privada, como também nas parcerias público-privadas, e até na infraestrutura, e aí a gente vê o capital internacional chegar e fazer as coisas por conta própria, o que leva a perspectivas de eles comandarem e dominarem esse setor estratégico brasileiro. março 2016 – Agro DBO | 41


Clima

Enfraquecimento do El Niño favorece safrinha Não são as mudanças climáticas, mas o fenômeno se enfraquece, e vai permitir boa safrinha. Depois, um frio que chegará mais cedo. Marco Antônio dos Santos *

T

* o autor é engenheiro agrônomo e agrometeorologista da Somar Meteorologia.

oda a safra 2015/16 foi e está sendo influenciada pelo El Niño, e que está mantendo esse padrão meteorológico em todo o Brasil. Isto é, chuvas muito mais concentradas sobre a região Centro e Sul do Brasil do que propriamente sobre a faixa norte. Com isso, todas as lavouras cultivadas sobre as regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste estão sendo beneficiadas pelo clima, nessa reta final de

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desenvolvimento. É só observar o que vem ocorrendo com os níveis de produtividade de algumas lavouras, como soja, por exemplo. Após uma primavera com chuvas muito irregulares, com perdas significativas e até mesmo replantios, o retorno das chuvas regulares e, principalmente, em bons volumes, está garantindo índices de produtividade muito bons, o que vem elevando as estimativas de produção no Brasil.

Porém, nem tudo são “flores”, pois as regiões do Matopiba e do Pará estão passando novamente por um novo período crítico. Após um janeiro com chuvas muito intensas sobre essas áreas, este mês de fevereiro foi marcado por chuvas muito abaixo da média e com temperaturas extremamente altas, em que vários produtores relataram perdas por escaldadura. Somente no final de fevereiro e agora no começo de março é que as chuvas retornaram a essas localidades do Brasil, paralisando as perdas, que, este ano, serão novamente altas, lamentavelmente. Entretanto, o El Niño já está com seus dias contados. As águas equatoriais do Oceano Pacífico já estão em forte resfriamento e, com isso, a perspectiva é que o El Niño, que nessa safra foi um dos maiores já registrados, não mais influencie o clima no planeta. Portanto, o que esperar para esses próximos meses, onde os olhos estão voltados para as culturas de segunda safra e também para as culturas perenes, como café, cana-de-açúcar e por que não falar no trigo? Mesmo com o enfraquecimento do El Niño, agora no final do verão, ele ainda ditará as regras do regime de chuvas, portanto, as chuvas deverão, sim, terminar mais cedo esse ano, quando comparado aos anos an-


teriores. Ou seja, os últimos episódios de chuvas deverão ocorrer no começo de abril, em praticamente todas as localidades das regiões Sudeste, Centro-Oeste, Matopiba e norte do Paraná. Já na região sul do Mato Grosso do Sul as chuvas deverão se estender por um período maior, já que esse é o padrão dessa região. A boa notícia é que as chuvas retornam já na primeira quinzena de maio sobre toda a faixa central e norte do Brasil. Desse modo, ocorrerá um período de pouquíssimas chuvas em abril, podendo ocorrer um período de 20 a 30 dias de estiagem. Com o enfraquecimento do El Niño e a tendência de um período mais frio das águas equatoriais do Oceano Pacífico, as frentes frias ganharão amplitude e, desse modo, vão conseguir avançar ao interior do Brasil durante a segunda metade do outono e até mesmo no começo do inverno. Vão beneficiar lavouras de segunda safra, de inverno, e também culturas perenes, como café, citros, entre outras. Mas poderá atrapalhar o andamento da colheita da cana-de-açúcar. Mas não é só o retorno das chuvas que está chamando nossa atenção para o outono, mas também as temperaturas. A ausência do El Niño no outono e, principalmente, no inverno, situação bem diferente do presenciado nos últimos 3 anos, as massas de ar polar conseguirão avançar pelo Brasil com maior facilidade e maior frequência. Desse modo, esperam-se frios mais intensos e probabilidade maior de ocorrência de geadas sobre toda a região Sul e também no Sudeste e região sul do Mato Grosso do Sul. Não há como diagnosticar e prever que ocorrerão geadas com tanto tempo de antecedência, mas é fato que as primeiras ondas de frio já serão observadas neste mês de março. Sendo que essas duas esta-

Projeção para ocorrência dos fenômenos El Niño e La Niña para os próximos meses. Dando destaque para o enfraquecimento do EL Niño e o surgimento da La Niña, durante o segundo semestre de 2016.

ções serão marcadas pelas chuvas mais regulares em todo o Brasil e, principalmente, por um frio mais intenso e duradouro.

ocorrer por causa da estiagem de abril e a possibilidade, isso mesmo, possibilidade, de alguma ocorrência de geada no Paraná e no sul do

Nem tudo são “flores”, pois o Matopiba e o Pará passam por novo período crítico. Assim, pode-se estimar que a produção de milho safrinha este ano tem tudo para obter uma nova safra recorde, apesar de algumas perdas regionalizadas que deverão

Mato Grosso do Sul. Mas o fato é que esses próximos 9 meses serão bem diferentes do que foram registrados nos últimos 3 anos. Haja coração! março 2016 – Agro DBO | 43


Manejo

Sementes ou mudas? Estudo da Embrapa Agrossilvipastoril avalia quatro modelos agrícolas em áreas de preservação ambiental nos biomas Amazônia e Cerrado.

Gabriel Faria

Ariosto Mesquita

Área de ensaios de recomposição florestal da Embrapa em Sinop (MT).

A

obrigatoriedade de recomposição das áreas de reserva legal imposta pelo novo Código Florestal (em vigor desde 2012) deixou muitos agricultores em dúvida: qual é o manejo mais adequado? Que tipo de tecnologias usar? Um estudo conduzido por pesquisadores da Embrapa Agrossilvipastoril em quatro municípios do Mato Grosso (Sinop, na área de transição entre a Amazônia e o Cerrado; Guarantã do Norte, na Amazônia mato-grossense; Canarana, no vale do Xingu; e Campo Novo do Parecis, na região centro-oeste do estado) começa a dar algumas respostas. No primeiro estágio de monitoramento, eles avaliaram a densidade de plantas (quantos indivíduos de cada espécie existem por unidade de área) em quatro modelos de pro-

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dução agrícola: regeneração natural, plantio de mudas, semeadura direta e semeadura a lanço. Quando se adota a regeneração natural, método de menor impacto para o bolso do produtor, os resultados obtidos se mostraram diretamente ligados ao histórico de utilização da área. Em Sinop, onde o campo de teste tinha sido palco de agricultura tecnificada, o número médio de plantas observado foi de 200 indivíduos por hectare. No experimento em Guarantã do Norte, feito em área anteriormente ocupada por pastagem extensiva, esta média subiu para 1.000 indivíduos/ha. Quando se faz o plantio de mudas (sistema planejado, em espaçamento 4 x 3 metros) a densidade é de 800 indivíduos/ha. Na semeadura direta (em linhas) a pesquisa indi-

ca muita variação, com densidades iniciais de até 15 mil indivíduos/ha. “Este número, neste modelo, diminui com o raleamento natural das plantas”, observa o biólogo e pesquisador Ingo Isernhagen, se referindo à eliminação espontânea dos indivíduos em excesso, permitindo o espaçamento ideal para o desenvolvimento dos demais. Na semeadura a lanço não foram observadas diferenças significativas em relação ao plantio em linhas. “Todos os quatro modelos têm potencial, dependendo dos objetivos e do histórico de uso da área”, salienta Isernhagen. Uma situação que ficou clara e que serve de termômetro para o produtor rural, diz respeito à opção pela regeneração natural (técnica em que é feito apenas o isolamento da área para que o solo, por conta própria, restaure a vegetação nativa). Os


Rebeca Teixeira

Ingo Isernhagen: “Todos os modelos tem potencial, dependendo dos objetivos e do histórico de uso da área de cultivo”.

Identificação das áreas no estudo da Embrapa e terreno em Machadinho do Oeste (RO) com plantiio de teca.

como ferramenta básica calcareadeiras adaptadas. De acordo com Isernhagen, geralmente é feita uma mistura com areia, pó de arroz ou algum substrato que permita melhor homogeneidade na distribuição das sementes pelas máquinas. Para garantir melhor incorporação ao solo ele sugere uma “gradagem leve” após a semeadura. E alerta: “Tanto em linha quanto a lanço é preciso estar atento ao tamanho das sementes. Algumas grandes, como o pequi, precisam ser incorporadas ao solo manualmente”. No que diz respeito aos custos de recomposição florestal nas áreas de pesquisa, o estudo aponta alguns números: em Sinop, após três anos de implantação, o plantio de mudas demandou R$ 12 mil por hectare. Foram computadas, dentre outras coisas, as horas/homem dos funcionários da Embrapa Agrossilvipastoril e a aquisição das mudas (R$ 1,50 cada). Em Canarana, por sua vez, o mesmo modelo de regeneração teve custo médio de R$ 5 mil/ha. “Lá, te-

Gabriel Faria

Bons resultados Em Canarana, onde fica a área de experimento mais antiga (pouco mais de quatro anos), Isernhagen identificou resultados positivos em todos os tratamentos de recomposição: “Utilizamos 16 espécies nativas para semeadura ou plantio de mudas, mas outras 46 foram registradas

na regeneração natural. A área é originalmente de Cerrado, com histórico de pastagem em capim exótico (Andropogon) e degradada. Com tudo isso, apresentou elevada capacidade de regeneração”. Caso o produtor tenha de recompor reserva legal em uma área com histórico de agricultura tecnificada, a Embrapa não vê alternativa a não ser a intervenção através de semeadura ou plantio de mudas. Antes de optar, Isernhagen aconselha ao proprietário rural avaliar seus prós e contras de cada modelo. “Havendo oferta de sementes de qualidade na região, sua utilização geralmente apresenta custos menores além da implantação ser mais rápida do que uma área de mudas. Por outro lado, a semeadura dificulta, apesar de não impedir, a criação de cenários de manejo econômico. Também torna mais complexo o controle inicial de mato-competição em função de seu maior adensamento”, detalha. Optando pelas sementes, o proprietário rural terá de definir a forma de plantio. Na semeadura em linha (direta), a Embrapa sugere a adaptação das plantadoras de grãos para servir como ferramentas de implantação das sementes no solo. “Os espaçamentos, entrelinhas e as misturas podem variar, mas normalmente utilizamos sementes nativas misturadas com adubos verdes, como crotalária, gergelim e feijão guandu arbustivo e herbáceo”, avisa. A Embrapa também trabalha com a semeadura a lanço tendo

Ariosto Mesqita

experimentos indicam que em áreas com histórico de agricultura tecnificada, a recomposição é bem limitada, como foi registrado no ensaio de Sinop (200 ind/ha). Esta ineficiência, segundo o pesquisador, acontece fundamentalmente por estas áreas geralmente apresentarem um pobre banco de sementes, resultado de um solo minado pelo seu uso intenso, revolvimento das camadas superficiais, retirada de raízes e uso de herbicidas, dentre outras causas. “Neste caso é necessária a intervenção, com o uso de mudas ou sementes”, afirma. A Embrapa considera importante esta observação, uma vez que a técnica é tida como boa alternativa pelos produtores que precisam se adequar ao Código Florestal com pouco trabalho e desembolsando o mínimo de recursos. No entanto, mesmo que a área tenha recebido pouca intervenção, nem sempre a riqueza biológica de seu solo será garantia para um bom resultado. “Caso haja um banco de sementes de gramíneas invasoras, por exemplo, este potencial de regeneração pode ser retardado ou mesmo inviabilizado”, explica o biólogo.

março 2016 – Agro DBO | 45


Manejo

mos a parceria da Rede de Sementes do Xingu e da prefeitura. Isso ajudou a reduzir nossos gastos com a aquisição de matéria prima e pagamento de mão-de-obra”, explica. Em Canarana, a regeneração natural foi o modelo que exigiu menor investimento. O custo ficou em R$ 300/ha, incluindo o controle de formigas. Com relação à semeadura direta, os ensaios em Sinop não foram relevantes. Em Canarana, os gastos totalizaram R$ 2,7 mil/ha. “Há de se ressaltar que, nesta região, há oferta de sementes de qualidade. Além disso, a intervenção por semeadura costuma ser mais barata por pular a etapa de produção de mudas em viveiro e a logística de transporte em campo é bem mais simples, demandando menos tempo e mão-de-obra”, observa Isernhagen. Embora a pesquisa ainda demande mais tempo de monitoramento para chegar a resultados conclusivos, o biólogo da Embrapa entende que o produtor antenado em um futuro manejo produtivo de sua reserva legal deve ficar atento às possibilidades do plantio de mudas: “Esta opção permite melhor quantificação de indivíduos por espécie, favorecendo o planejamento de atividades econômicas”. Mas é possível utilizar mais de um modelo para 46 | Agro DBO – março 2016

Plantio de sementes nativas em linha e área de estudo com mudas de fruteiras.

Gabriel Faria

Herbert de Souza

“O agricultor perde dinheiro ao encarar a reserva legal apenas como encargo, esquecendo as possibilidades de exploração econômica”.

restauração da reserva legal? Ingo garante que sim: “Posso usar a semeadura direta no início, priorizando espécies de rápido crescimento. Depois, tenho a opção de enriquecer essa área com mudas de plantas de maior valor econômico, incluindo aquelas que têm dificuldades de germinação por semeadura ou que estejam ameaçadas de extinção e cujas sementes não podem ser desperdiçadas. Este mesmo raciocínio pode ser aplicado no procedimento de regeneração natural”. Resposta econômica Isernhagen entende que o produtor brasileiro está perdendo dinheiro ao encarar a reserva legal apenas como um encargo, se esquecendo ou mesmo ignorando as possibilidades de sua exploração econômica: “Mesmo antes do Código Florestal já era possível manejar as reservas com produtos madeireiros e não madeireiros, investir na produção de mel e na atividade de ecoturismo, por exemplo. Mas até hoje falta conhecimento e incentivo para que isso ocorra. A extensão rural em todo o país precisa também incorporar essa vertente, deixando de pensar as reservas legais como empecilhos na propriedade rural”. Segundo ele, o exercício de uma visão de longo

prazo é necessário, mas não uma regra absoluta. “A resposta econômica não vem tão rápida quando se trata de manejar a vegetação nativa. Porém, existem exceções. Sementes e frutos, por exemplo, podem ser coletados ao longo de todo o processo de restauração da área”, lembra. “Outro caminho a ser trilhado é o do pagamento por serviços ambientais, procedimento previsto pelo Código Florestal, mas ainda não regulamentado em nível federal”, completa. O pesquisador salienta que a lógica financeira não pode ser a única coisa na mente do produtor: “Ele tem de entender as reservas legais e as áreas de preservação permanentes como tampões para o equilíbrio da paisagem rural que garantirão segurança hídrica e microclimática para sua atividade. Embora eventualmente possa ocorrer, nosso estudo não propõe que as reservas sejam mais produtivas que um plantio ou criação animal bem feitos”. O estudo da Embrapa, intitulado, “Recomposição de reservas legais como sistemas de conservação e produção na região de transição Amazônia/Cerrado e no Cerrado” deve se estender até pelo menos 2018, abrangendo também a avaliação da riqueza de espécies (funções ecológica e econômica).



Tecnologia

Uma década de avanços em biotecnologia Lei de Biossegurança completa 10 anos dialogando com as mais recentes descobertas da ciência, mas ainda enfrenta resistências. Walter Colli *

N

os últimos anos, tem-se observado grande aprimoramento de novas tecnologias para a agricultura brasileira, o que traz maior segurança e lucratividade para os agricultores. Ao longo de 2015, uma silenciosa revolução biotecnológica aconteceu no Brasil. Neste ano a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) analisou e aprovou um número recorde de tecnologias aplicáveis à agricultura, medicina e produção de energia. O trabalho criterioso

ramenta tecnológica, os agricultores ficariam reféns das limitações impostas pelas plantas invasoras. As tecnologias de resistência a insetos proporcionam benefícios semelhantes. Na área da saúde, a revolução diz respeito aos métodos de combate a doenças que são endêmicas das regiões tropicais. Mais uma vez, mostrando-se parceira da sociedade, a CTNBio avaliou a biossegurança de duas vacinas recombinantes contra a Dengue em regime de urgência e deu parecer favorável a elas. Soma-se a estes

A nossa Lei de Biossegurança é tida internacionalmente como um modelo de equilíbrio

* O autor é médico, doutor em Bioquímica, e professor na USP. Foi presidente da Academia de Ciências do Estado de São Paulo e da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio). É colaborador sênior do Instituto de Química da USP.

dos membros da CTNBio avaliou como seguros para a saúde humana e animal e para o ambiente 19 novos transgênicos, dentre os quais 13 plantas, três vacinas e três microrganismos ou derivados. A CTNBio, priorizando o rigor nas análises de biossegurança e atenta às necessidades de produzir alimentos de maneira mais sustentável aprovou, no ano passado, variedades de soja, milho e algodão tolerantes a herbicidas com diferentes métodos de ação. Isso permitirá que as sementes desenvolvam todo seu potencial e que os produtores brasileiros tenham mais uma opção para a rotação de tecnologias no manejo de plantas daninhas. Sem essa fer-

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esforços a aprovação do Aedes aegypti transgênico. O mosquito geneticamente modificado aprovado em 2014 tem se mostrado um aliado no combate ao inseto que, além de ser vetor da dengue, também está associado a casos de transmissão dos vírus Zika, Chikungunya e da febre amarela. Nos últimos 10 anos, até o momento, o advento da nova CTNBio pela Lei 11.105 de 2005 – a Lei de Biossegurança – proporcionou a aprovação comercial de 82 Organismos Geneticamente Modificados (OGM): 52 eventos em plantas; 20 vacinas veterinárias; 7 microrganismos; 1 mosquito Aedes aegypti; e 2 vacinas para uso humano contra a Dengue. Essas

liberações comerciais são a maior prova de que o Brasil lança mão da inovação para encontrar soluções para os desafios da contemporaneidade. Entretanto, é necessário enfatizar que assuntos não relacionados com Ciência também se colocaram, como em anos anteriores, no caminho do desenvolvimento da biotecnologia em 2015. Manifestantes anti-ciência invadiram laboratórios e destruíram sete anos de pesquisas com plantas transgênicas de eucalipto e grupos anti-OGM chegaram a interromper reuniões da CTNBio, pondo abaixo portas com ações truculentas. Diversas inverdades foram publicadas na tentativa de colocar em dúvida a segurança e as contribuições que a transgenia vem dando para a sociedade. A ação desses grupos preocupa, pois, se sua ideologia for vitoriosa, tanto o progresso científico quanto o PIB brasileiros ficarão irreversivelmente prejudicados. Hoje, a nossa Lei de Biossegurança é tida internacionalmente como um modelo de equilíbrio entre o rigor nas análises técnicas e a previsibilidade institucional necessária para haver o investimento. O reconhecimento global, o diálogo com a sociedade e a legitimidade dos critérios técnicos mostram que esses 10 anos são apenas o início de uma longa história de desenvolvimento e inovação no Brasil.


Política Tributação I

CNA repudia novos impostos A sociedade brasileira não suporta a criação de mais impostos e quer redução dos gastos para reequilibrar as finanças públicas, afirma o presidente da CNA. O mau exemplo do Estado de Goiás, que taxou as exportações de milho e soja, poderá se “transformar num efeito cascata, podendo ser adotado pelos

demais governos estaduais, num processo extremamente nocivo não só para o setor agropecuário como também para a economia brasileira em geral”, afirmou o presidente da CNA – Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil, João Martins, durante entrevista coletiva realizada em 17 de fevereiro último, na sede da

instituição. Martins citou o exemplo dos estados da Bahia e de Pernambuco, grandes exportadores de frutas, onde “o poder público pode ser tentado a onerar as vendas externas desses produtos, criando custos adicionais ao produtor”. A sociedade brasileira, reiterou ele, não suporta a criação de novos impostos.

Tributação II

Preço da soja recua em Goiás após imposto Movimento de queda está na contramão de outros estados produtores e da cotação do dólar e da Bolsa de Chicago Os impactos do decreto estadual nº 8.548/16, que altera o modelo de apuração e cobrança de ICMS sobre

soja e milho em Goiás, já começaram a ser percebidos pelos agricultores. Além de relatos de dificuldades na comercialização de grãos, a Aprosoja-GO verificou queda nos preços internos da soja nos últimos dias. “Estamos vendo na prática tudo

o que a gente imaginava que ia acontecer depois da regulamentação desse decreto. Em pleno pico da safra, o produtor está à deriva de um mercado inseguro, sem saber para onde vai”, afirmou o presidente da Aprosoja-GO, Bartolomeu Braz Pereira.

Política agrícola

Kátia Abreu apresenta metas de 2016 à Frente Parlamentar da Agropecuária Lei Plurianual Agrícola (LPA). A meta do Brasil, afirmou a ministra, é ampliar a participação do agronegócio no comércio mundial de 7% para 10% até 2018. “Para isso, o Mapa continuará investindo em negociações comerciais e sanitárias com os 22 principais mercados internacionais que, juntos, representam 75% da atividade comercial mundial”, disse Kátia Abreu durante a reunião, na sede da FPA, em Brasília. A ministra Kátia Abreu (Agricultura, Pecuária e Abastecimento) se reuniu ndia 23 de fevereiro último com os deputados e senadores da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) para apresentar as metas da pasta para 2016. Entre as prioridades, estão a abertura de novos mercados e a conclusão da

Lei Plurianual Agrícola O secretário André Nassar destacou que, entre as principais metas do Mapa para 2016, está a elaboração da Lei Plurianual Agrícola (LPA), com duração de cinco anos. A nova legislação vai consolidar leis que regem importantes mecanismos e políticas do Mapa, como

o seguro rural, o Programa de Garantia de Preço Mínimo (PGPM), o Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro), o Fundo de Catástrofe e a lei agrícola. A ministra pretende enviar o texto da nova lei ao Congresso Nacional em meados de agosto de 2016. Ela pediu apoio dos deputados e senadores da bancada agropecuária e ajuda para discutir a proposta no parlamento. “A LPA vai dar previsibilidade e capacidade de planejamento aos nossos produtores. Vai modelar a política agrícola brasileira de modo que, progressivamente, cada produtor saiba o que fazer nos cinco anos seguintes. Vamos ouvir os parlamentares, queremos contribuições e trabalharemos pelo maior consenso possível dentro do Congresso”, disse Kátia Abreu. março 2016 – Agro DBO | 49


Milho

Safra apertada Produtores de Mato Grosso plantam fora da janela, ideal, com menos tecnologia, colocando em risco a produtividade. O clima preocupa, mas o preço anima. Marianna Peres

A possibilidade de corte mais cedo nas chuvas em abril aumento o risco do produtor: a quebra pode ser maior do que o esperado.

Q

uando a safra de soja começa mal em Mato Grosso, o milho safrinha segue na mesma tocada, com raríssimas exceções. Nesta temporada, a sina se cumpriu, com um agravante: a safra 2015/16 provavelmente será a mais longa da história – por causa dos problemas climáticos, a colheita de soja no estado deve se estender até o começo de maio, impactando diretamente o plantio de milho. O agricultor continua correndo contra o tempo para semear o cereal, já que a janela ideal de plantio se fechou em fevereiro. Enquanto tira a soja do campo, ele refaz as contas para saber se ainda vale a pena plantar milho, não apenas pelo atraso e problemas decorrentes da semeadura tardia, mas por um complicador adicional: em meados de fevereiro, a meteorologia previa cortes de chuvas a partir de abril, o que, se confirma-

50 | Agro DBO – março 2016

do, comprometerá o desenvolvimento e formação dos grãos. Se há algo que o produtor mato-grossense não quer ouvir falar agora, é perda de produtividade na safrinha. Já bastam os problemas na primeira. “O milho é a renda do produtor. É o dinheiro que vai dar início ao custeio da safra de soja do ano seguinte. É o que ele tem no bolso para barganhar os insumos do novo ciclo”, afirma o vice-presidente da Aprosoja/MT – Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso, Elso Vicente Pozzobon. Como explica, 15 dias de atraso para o milho podem fazer muita diferença, caso as chuvas cessem mais cedo. “Quem plantou soja em dezembro, por exemplo, vai semear milho até a metade de março, ou seja, totalmente fora da janela. E se chover menos do que o normal em abril, as plantas serão castigadas e, assim como ocorre na soja,

teremos grandes perdas no milho. Por isso não há como fugir do lugar comum: o clima é a maior preocupação do produtor!”. Considerando a incerteza quanto às condições climáticas, o milho provavelmente será cultivado sob estratégias mais cautelosas na segunda safra em Mato Grosso. “Como a janela ideal se encerrou em 25 de fevereiro e há previsão de corte de chuvas mais cedo nesse ano, é bem provável que o produtor opte por um milho mais econômico, reduzindo o pacote tecnológico do cereal. Se essa for a decisão, o milho já sai na desvantagem. Sabemos que ele não vai render o que poderia, caso tivesse sido plantado em outra condição. Nesse caso, podemos ver duas coisas casando e prejudicando a safrinha: a falta de chuvas e a falta de tecnologia”, destaca o vice-presidente da Aprosoja/ MT.


hectares. Quando conversou com a Agro DBO, na penúltima semana de fevereiro, ele estava finalizando a semeadura do cereal e frisou que, apesar das previsões climáticas pouco animadoras, investiu em tecnologia – diferentemente de muitos agricultores do estado, ele plantou dentro da janela ideal. “O custo do milho assusta, mas eu compro via cooperativa, o que me possibilita desembolso menor. No ano passado tive problemas com as variedades utilizadas e colhi 115 sacas por hectare, em média. Para esse ano, após trocar as variedades, e tendo ciência de que a cultura é muito sensível à falta de água, planejo colher ao menos 120 sacas”. Como conta, 60% da sua produção foi vendida antecipadamente. “Só não travei mais por conta da seca. Por causa dela, segurei mais um pouco”, revela.

Segundo estimativa do Imea – Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária, dos 9,2 milhões de hectares cobertos com soja na safra de verão, 3,5 milhões (cerca de 37%) deverão, se tudo der certo, dar lugar ao milho safrinha. Pelo menos 50% desta área serão plantados fora da janela, o que, se confirmado, será a maior parcela já registrada no estado. “De todo modo, com previsão ou sem previsão de chuvas o produtor sabe que tem a obrigação de plantar e colher para pagar as contas e quitar seus contratos”, frisa. Como produtor, Elso Pozzobon é uma exceção. Ele mora em Sorriso e planta na cidade de Vera (458 quilômetros ao norte de Cuiabá), justamente no ‘bolsão’ afetado pela estiagem. Nessa temporada, ele não enfrentou grandes problemas com a seca e destinou 1 milhão de hectares para a safrinha de milho – na safra passado, foram 700 mil

Clima doido Na opinião de Nadir Suculotti, produtor em Sorriso (460 quilômetros ao norte de Cuiabá/MT), “o clima endoidou” no Mato Grosso neste temporada. O forte calor e a falta de chuvas interferiram muito no ciclo de desenvolvimento da soja, afetando, em consequência, as culturas de segunda safra, incluindo o algodão. “Tivemos chuvas muito abaixo da média até agora e não

acredito que haverá reversão”. Ele conta que, pela primeira vez em 32 anos, replantou em uma só safra a maior área de sua história: 3,5 mil hectares. “Desde que comecei a plantar aqui no Mato Grosso, todos os replantes que fiz em três décadas somam 2 mil hectares”, lamenta o gaúcho. Suculotti planta soja, milho e algodão em várias regiões do estado, mas frisa que a estiagem “pegou pesado” no município de Sorriso, onde 1,2 mil hectares de soja foram dessecados e abandonados. “Plantei algodão por cima para não perder a janela da cultura; não compensava colher a soja que eu tinha em 30% da área”, lembra. “Sempre soubemos lidar com a chuva em excesso, especialmente no período de colheita da soja, mas seca é um fenômeno incomum para a nossa região”, pontuou Afrânio César Migliari, Secretário de Agricultura de Sorriso, maior produtor nacional de soja e milho, conhecido como a “capital nacional do agronegócio’”. Por causa da estiagem, o município protocolou no dia 19 de fevereiro junto à Defesa Civil o pedido de decretação de situação de emergência, não homologado até o fechamento desta edição. “Caso seja homologado, entre outras condições especiais, permitirá que o produtor rural tenha acesso ao refinanciamento de dívi-

Elso Pozzobon não teve tantos problemas porque investiu em tecnologia e conseguiu plantar dentro da janela ideal, mas é quase uma exceção.

março 2016 – Agro DBO | 51


Milho

das de forma tranquila, tanto junto à Sicredi quanto ao Banco do Brasil. O que queremos é minimizar o impacto da falta de recursos e de dinheiro em circulação na nossa economia, bem como salvaguardar o agronegócio, que é a nossa principal atividade econômica”, disse Migliari. Conforme os 26 laudos técnicos apresentados, um para cada uma das propriedades rurais pesquisadas, o bolsão de produção afetado pela estiagem engloba os municípios de Sorriso,

52 | Agro DBO – março 2016

Ipiranga do Norte, Vera, Nova Ubiratã, Feliz Natal e Gaúcha do Norte, com prejuízos diretos de R$ 42 milhões, o equivalente a 140 mil sacas, considerando apenas a soja que não pode ser colhida. “Por isso, há muita expectativa em relação à safrinha do milho. Mesmo com janela curta, vamos torcer para que compense, pelo menos em parte, as perdas com a soja”, acredita Migliari. Milho nascendo nas entrelinhas da soja indica uma triste realidade:

Campo de soja de Nadir Suculotti: como não produziu, ele resolveu plantar algodão em cima.

Lavouras em risco na região de Sorriso (MT), afetadas pela estiagem.

a de que o investimento na lavoura foi por terra abaixo e não trará retorno algum. Muitos produtores da região de Sorriso estão vivenciando este momento. Para não perder mais tempo e dinheiro, optaram por abandonar a soja e deram início à semeadura do cereal. Essa realidade foi mostrada pela Agro DBO na edição de fevereiro. “Uma lavoura que rende menos de três sacas por hectare não compensa ser colhida. Só para colher e transportar, temos de seis a sete sacas de custo”, exclama o Secretário da Agricultura de Sorriso. Como faz questão de explicar, na região há lavouras com rendimento de três, 20, 30, até mais de 50 sacas. “Em um espaço de mil metros dentro de uma mesma fazenda existem realidades diferentes, área melhores e piores, fruto de chuvas localizadas”. Como acrescenta, a média de rendimento das 26 propriedades relacionadas nos laudos ficou em cerca de 39 sacas por hectare, quando o esperado eram 60,6 sacas/ha. “Quase 50% dessas lavouras, com potencial de produtividade inferior a 40 sacas, foram classificadas como ‘péssimas’. Numa safra cujo custo de produção é de pelo menos 45 sacas por hectare, já se nota o tamanho da perda”.


Além do preço, outro fator justifica a expansão na área no Mato Grosso: grande parte da safra foi negociada no mercado futuro.

Segundo Migliari, a soja precoce cultivada da segunda quinzena de setembro do ano passado até o início de novembro foi a mais castigada pela estiagem e pelo forte calor na região. “O que registramos no período não foi apenas estiagem, mas sim um decréscimo gritante no volume hídrico, aliado a um calor intenso, fenômenos inéditos no médio-norte matogrossense”. Ele esclarece que o decreto é uma forma de garantir que os produtores atingidos, especialmente os pequenos e médios, possam se organizar e seguir na atividade. “Sem essa medida preventiva (o decreto de emergência), o impacto social na região de Sorriso seria enorme, principalmente a partir do segundo semestre, pela falta de dinheiro em circulação no comércio”. Esperança e compromissos Na última semana de fevereiro, o Imea divulgou a 5ª estimativa de safra para o milho 2015/16. Se as condições climáticas ajudarem, a área plantada deverá crescer 5,4% em relação ao tamanho da lavoura na temporada 2014/15 e chegar a 3,47 milhões de hectares, a segunda maior da série histórica registrada

pela entidade. “O ponto que se destaca negativamente no momento é a produtividade média, estimada em 95,5 sacas por hectare”, frisam os analistas. Devido ao alto custo de produção do cereal nesta safra – entre R$ 2,04 mil e R$ 2,60 mil por hectare para plantios de alta tecnologia –, os produtores investiram menos em tecnologia, principalmente em fertilizantes, o que forçosamente comprometerá o rendimento das lavouras. No comparativo com a safra passada, a produtividade deverá cair 10%, aproximadamente. Conforme o Gestor de Análise de Mercado do Imea, Ângelo Ozelame, Mato Grosso plantou 32% da área fora da janela na safra passada e, mesmo assim, conseguiu a maior produtividade da sua história, com média de 106,9 sacas por hectare. “O Imea não especula esse dado. A única coisa que contabilizamos nos nossos números é que a produtividade atual estimada leva em conta o baixo nível de tecnologia e baixos índices pluviométricos e isso gera 11 sacas a menos em relação à safra anterior”. Na opinião de Ozelame, um dos fatores que contribuíram para a expansão da segunda safra, apesar de todos os problemas relatados pelos

A produtividade do milho deve cair no Mato Grosso, mas a área plantada, não.

produtores rurais, é o volume de milho vendido de forma antecipado, o maior já registrado, o que os obriga a produzir. “Eles tem que plantar e colher para cumprir os compromissos”. O relatório de fevereiro da consultoria INTL FCStone confirma este quadro. “A despeito dos atrasos que estão ocorrendo na cultura da soja e que acabam impactando a janela ideal de cultivo do milho de inverno, os produtores devem plantar mesmo fora do melhor período. Os preços domésticos do cereal se mantêm bastante elevados e boa parte da safra já está comprometida pela comercialização antecipada, o que é um incentivo à produção. Entretanto, como a segunda safra já apresenta um maior risco climático e o que é semeado atrasado está sujeito a riscos ainda maiores, a produtividade pode sofrer algum prejuízo”. A possibilidade de oferta reduzida – e a valorização do dólar – sustentaram os preços do milho. Na penúltima semana de fevereiro de 2015, a saca estava cotada a R$ 16,02 na praça de Mato Grosso e, na mesma data em fevereiro deste ano, passou a R$ 23,95. O clima, mais uma vez, definirá o tamanho da safra. março 2016 – Agro DBO | 53


Mecanização

Crise ou ciclo? É importante diferenciar uma coisa da outra. Crise é eventual, envolve pessimismo, e ciclo é repetitivo, pode ser administrado. Amílcar Centeno *

A

s vendas da indústria de máquinas desabaram nos últimos 2 anos e, tudo indica, a tendência deste ano é manter esse ritmo baixo. Depois de atingir recordes históricos de vendas em 2013, comercializando mais de 65 mil tratores e mais de 8.500 colheitadeiras, a indústria de máquinas amargou quedas de mais de 50% nos dois últimos anos. E começou 2016 com quedas de 58% em tratores e 13% em colheitadeiras. Em todo lugar por onde a gente anda a palavra de ordem é “crise”! Ao longo dos meus 35 anos de carreira lidando com o setor de máquinas agrícolas, esta é a 6ª vez que acompanho uma queda acentuada no mercado de tratores e colheitadeiras. Ou seja, em média uma “crise” a cada 6 anos. Ao longo desse período, também tive a oportunidade de celebrar 6 picos. Apesar dessa longa sequência de altos e baixos, num padrão repetitivo e consistente, ao longo desses

anos conheci muitos executivos do setor que insistem em falar em crise quando o mercado desaba. Como se isso fosse algo que nunca ocorreu ou se repetiu. Aprendi com a experiência que o ser humano tende a olhar o longo prazo de forma pessimista em momentos de dificuldades, e de forma otimista em momentos de euforia, como se estivesse tentando perpetuar a situação presente, mesmo que as perspectivas indiquem claramente que as coisas não são assim. Lembro de uma conversa com um executivo de uma das maiores empresas do setor, no início do ano de 2014, logo após aquele recorde histórico de mais de 65 mil unidades em 2013. Naquela ocasião ele me perguntou sobre qual minha visão para este mercado no longo prazo. Naquela época, minhas projeções para 10 anos eram de algo em torno de 52 mil tratores em condições normais de mercado, com um pico máximo próximo das 72 mil

Tratores e colheitadeiras Vendas no Brasil

70.000

21.000

64.055

65.089

60.000

15.000

40.000

12.000

37.275 8.543

30.000

7053

7.118

20.000 14.173

10.000

10.291 899

17.729

6.000

3.917

1.030

1970 1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015

0

680

9.000 6.330

44 anos: 6 picos de alta: 1 a cada 7 anos 6 fundos de baixa: 1 a cada 7 anos

54 | Agro DBO – março 2016

n Tractors n Combines

3.000 0

Combines

Tractors

50.000

* O autor é engenheiro agrícola e especialista em máquinas agrícolas.

18.000 56.623

unidades. Ouvindo estes números, insinuou que eu estava sofrendo de alguma crise existencial. Uma completa loucura! Pois eis que passa o tempo, e apenas dois anos depois, o mercado fechou 2015 com pouco mais que 37 mil tratores comercializados, e, apesar deste número estar levemente abaixo daquilo que acreditamos seja o normal da indústria, eis que se instala o pânico da crise: demissões em massa, descontos sobre descontos, cortes de custos e investimentos de toda a ordem. E gestores sem planos e sem rumos. Caso não ocorram mudanças significativas no atual ambiente de negócios, o mercado poderá cair para algo próximo aos 30 mil tratores, o que acreditamos ser o volume mínimo atual. No nosso entender, nada fora das oscilações e dos acessos de mau humor deste mercado. Aí sim, será difícil encontrar alguém preparado para enfrentar este momento com serenidade. E assim tem sido a agricultura, ao longo dos seus 8 mil anos de existência: épocas de fartura, seguida de momentos de escassez. Muitos ainda não aprenderam a irrigar ou armazenar. Acabam famintos e desesperados. Portanto, cabe aqui a reflexão: somos gestores de crise ou gestores de ciclos? Os gestores de crise típicos trabalham com visão de curto prazo, olhando para o balanço do final do ano, se apoiam apenas em sua experiência e palpites, desconsiderando os fatos e dados, tanto passados como presentes, e tomam decisões impulsivas, com impactos


que muitas vezes se mostram perniciosos quando o mercado reage (nova surpresa!). Já os gestores de ciclo olham para a frente, no mínimo para uma sequência de picos e vales. Sabem onde o mercado normal se posiciona, onde está o mercado atual em relação a este normal, e possuem planos claros para sobreviver nos vales e tirar o máximo proveito dos picos. Estabelecem suas metas não apenas para o momento conhecido, mas principalmente os resultados médios ao longo de um ciclo completo. Preparam e enceram suas pranchas quando as ondas estão baixas, para aproveitar ao máximo quando elas se elevam. Enfim, sabem “surfar” o mercado. A história e a experiência também nos ensinam que não existe um ciclo igual ao outro. Cada pico tem seu máximo, seu vale e suas encostas. Como dizem os gestores de cri-

se, cada crise tem uma cara diferente. Isso é verdade, mas também não é justificativa para a falta de planos e previsões. Quem tem um plano, tem um ponto de partida para se adaptar, quem não tem plano, não sabe nem por onde começar. Este momento de baixa atual (ou “crise”, para os despreparados) também tem suas características próprias. Nunca a questão política se

ao seu fundo, mas, ainda assim, um ciclo de mercado a ser gerenciado com a habilidade e a competência dos gestores de ciclo. Aqueles que sabem gerir os ciclos, sabem tirar proveito de todas as situações, tanto de alta como de baixa, ou mesmo nos momentos em que o mercado está subindo ou em queda. Sobre como estes gestores fazem isso é assunto para

A história e a experiência também nos ensinam que não existe um ciclo igual ao outro. sobrepôs tanto às questões econômicas. Além disso, é possível identificar um cenário negativo para o mercado mundial de commodities agrícolas, servindo de pano de fundo para a tragicomédia brasileira da gestão pública e política. É um ciclo de baixa, que nos parece ainda não chegou

a segunda parte deste artigo, a ser publicada na próxima edição. Até lá, cabe a reflexão: você é um gestor de crise ou um gestor de ciclo? Está preparado ou foi pego mais uma vez de surpresa? Sempre é tempo de mudar sua estratégia e sua prática.

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Novidades no campo Parceria produtiva

Resistência a nematoides

Quatorze unidades da Embrapa apresentaram novidades no Show Rural Coopavel, realizado em Cascavel (PR), entre as quais três cultivares de soja – BRS 1010 IPRO, BRS 388 RR e BRS 399 RR –, desenvolvidas em parceria com a Fundação Meridional. A BRS 1010 IPRO é uma cultivar de soja precoce com tecnologia Intacta RR2. Conforme os pesquisadores, tem excelente potencial produtivo, inclusive em áreas infestadas pelo nematoide de galha Meloidogyne javanica. É resistente ao cancro da haste, à mancha olho de rã e à podridão radicular de Phytophthora.

Também fruto da parceria entre a Embrapa e a Fundação Meridional, a BRS 388 RR é uma cultivar transgênica com tolerância ao glifosato. De alto potencial produtivo e excelente estabilidade em diferentes épocas de semeadura e ambientes de produção, tem como diferenciais a resistência ao cancro da haste, podridão radicular de Phytophthora e mosaico comum da soja. A BRS 399 RR resiste aos nematoides de galha Meloidogyne incógnita e Meloidogyne javanica, às raças 3 e 14 do nematoide de cisto e ao nematoide Rotylenchulus reniformis.

Proteção de cultivos

A UPL Brasil apresentou em Cascavel o Unizeb Glory, da mesma linha do Unizeb Gold, fungicida para cultivos de soja e milho lançado anteriormente pela empresa. Indicado para o controle da ferrugem asiática, o Unizeb Gold deve ser aplicado preventivamente no estágio V8 (final do período vegetativo) ou no estádio R1 (início do florescimento) e reaplicado em intervalos de 10 a 15 dias, conforme as condições da lavoura. Segundo a empresa, também pode ser usado no controle da mancha-branca do milho.

Novos modelos Uniport

Fungicidas em 3d

A Jacto ampliou seu portfólio de pulverizadores com o 4530 e o 2530, ambos apresentados no Show Rural Coopavel. O Uniport 4530 possui reservatório de 4500 litros, barras de 36 metros e capacidade para pulverizar até 80 hectares/hora. De acordo com técnicos da empresa, o Uniport 2530 foi formatado para trabalho nas mais diversas condições de terreno, pulverizando em rampas de até 30%. “É uma máquina leve, de baixo consumo de combustível, reservatório de 2500 litros e barra de 30 metros”.

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Entre outras novidades, a Jacto montou no Show Rural Coopavel uma sala de avaliação de aplicação de defensivos em 3D para demonstrar as funcionalidades e recomendações para cada bico de pulverização e a influência das diferentes variáveis de aplicação e seus impactos na lavoura. O sistema 3D utiliza a própria planta para avaliação – um fotocontrastante inerte reage com uma lâmpada especial de luz negra, mostrando o comportamento de cada bico e cada gota durante a aplicação.


Novidades no campo Pulverizadores da Pla

Nutrição vegetal

A Pla apresentou duas novidades no Show Rural Coopavel: o distribuidor de sólidos Pegasus 4.6 Air, para aplicação de fertilizantes e semeadura de cobertura, e o Phoenix 400, pulverizador com tanque de 4 mil litros e barra de até 40 metros em fibra de carbono. O diferencial do Pegasus 4.6 Air é o sistema de distribuição, “o mais preciso que existe no meio rural”, conforme nota distribuída à imprensa. O do Phoenix 400 é a autonomia de uso: “O tanque permite maior cobertura de solo, com melhor rendimento”.

cultivares de milho

A Coodetec expôs em Cascavel cinco híbridos de milho, incluindo o CD 3612 PW, e três cultivares de soja, entre as quais a CD 2591 IPRO, de ciclo precoce. Um dos destaques da empresa no Show Rural foi o CD 3621 PW, testado em diversas lavouras do Brasil. “Conseguimos resultados excelentes a campo, superando os principais concorrentes do mercado em até duas toneladas por hectare”, ressalta o gerente comercial da Coodetec, Marcelo da Costa Rodrigues.

O grupo Bio Soja aproveitou a Inovashow, realizada em fevereiro na fazenda Boa Fé, em Conquista (MG), para apresentar o Thiomax, fertilizante foliar líquido à base de enxofre e nitrogênio. O produto deve ser aplicado duas vezes nas fases de crescimento e maturação das plantas. Nas culturas perenes, recomenda-se realizar de 2 a 4 aplicações, com início antes do florescimento e intervalos de 30 a 45 dias. O Thiomax está sendo comercializado em embalagens de 5 e 25 litros.

Garra e Lança

A Brasmax apresentou duas cultivares de soja em Cascavel: a Garra IPRO e a Lança IPRO, ambas com ótimos resultados a campo. Segundo informações da empresa, os produtores paranaenses Jair Berta, de Medianeira, e Osvanir Salvetti, de Ubiratã, obtiveram com Brasmax Garra IPRO 83,1 sacas/ ha (com plantio em 23/9) e 77,6 sacas/ha (em 25/9), respectivamente. “É uma cultivar de excelente potencial produtivo e estabilidade em plantios antecipados, com boa resistência à fitóftora”.

Fertilizante fosforado

Lançamento da Oceana Brasil, o Algen ONE é um fertilizante fosforado à base de Lithothamnium e aminoácidos. Segundo o diretor geral da empresa, Luiz Pugliesi, é um produto recomendado para toda aplicação de fósforo e adubações de base. “O intuito é fazer com que a planta tenha uma nutrição adequada, acrescida de vigor desde o primeiro dia da germinação”. Na composição do Algen ONE entram 7% de nitrogênio, 34% de fósforo, 5% enxofre e 9% de cálcio, além dos aminoácidos.

março 2016 – Agro DBO | 57


Análise de mercado

Mais arroz no prato

Estoques domésticos baixos e dólar fortalecido favorecem o orizicultor. Enquanto ele estiver motivado, o abastecimento interno estará garantido.

A

comercialização da safra 2015/16 de arroz deve ocorrer sob influência de uma série de fatores altistas. A conjuntura favorável ao produtor merece, no entanto, ser avaliada com bom senso, sem espaço para euforia, pois existem fatores que impõem limites de alta ao comportamento das cotações no mercado doméstico. Responsável historicamente por 65% a 70% da safra brasileira de arroz, o Rio Grande do Sul teve a sua produção estabelecida em condições bastante difíceis em razão das adversidades climáticas. Devido às frequentes e intensas chuvas na primavera e início do verão, 14,4 % da área semeada no estado foi atingida por

enchentes, sendo que 26,8 mil hectares de lavoura foram completamente perdidos, causando enormes prejuízos para aproximadamente 2,5 mil produtores. Em comparação à última safra, o Rio Grande do Sul deve produzir este ano 1,3 milhão de toneladas a menor. Essa diferença corresponde a, por exemplo, mais do que a Argentina, Uruguai ou qualquer outro estado do país produzem; seria um volume suficiente para atender a demanda brasileira do grão por mais de um mês. O estoque, tanto público quanto privado, inicia o ano em posição também bastante baixa, principalmente em razão da balança comercial superavitária nos últimos cin-

co anos, que acumulava, até o final do mês passado, um volume de arroz exportado superior em mais de 3 milhões de toneladas (base casca) ao importado. De acordo com a Conab, desde 1990 nunca se teve um volume tão pequeno de arroz em estoque, hoje suficiente para suprir aproximadamente apenas 15 dias de consumo. Mesmo com os preços pressionados no mercado doméstico pelo encurtamento da oferta, o dólar fortalecido em relação ao real deve manter o arroz brasileiro em condições competitivas no mercado externo e restringir a acessibilidade do arroz produzido nos países vizinhos ou nos terceiros mercados no Brasil. Nos demais países do

Trigo –

Diferentemente do que ocorreu com as cotações da maioria das commodities agrícolas em fevereiro, a do trigo subiu. Conforme o Cepea, os moinhos correram às compras, receosos de elevação maior nos valores. O milho em patamar elevado pode puxar os preços do trigo, já que mbos são usados na ração animal. Na Argentina, principal fornecedora do cereal ao Brasil, a colheita de trigo terminou e moinhos indicam qualidade inferior ao esperado.

* Em 15/2, o Indicador Cepea/Esalq registrou R$ 745,92 por tonelada, mercado disponível, à vista (o valor a prazo é descontado pela taxa NPR), posto Paraná.

ALGODÃO – As cotações despencaram na

58 | Agro DBO – março 2016

primeira quinzena de fevereiro, passando de R$ 261,99 em 29/1 para R$ 256,76 no dia 15. Na semana seguinte, seguiram em relativa estabilidade, fechando em R$ 256,85 no dia 23, conforme o Indicador Cepea/Esalq. Segundo os pesquisadores, as indústrias sairam às compras interessadas apenas em pequensa quantidades para entrega imediata. Os cotonicultoresde manitiveram-se firmes nos preços pedidos.

* Em 15/2, o Indicador Cepea/Esalq registrou R$ 256,76 centavos de real por libra-peso.

soja – Os preços caíram em fevereiro, em relação a janeiro, quando ultrapassaram a faixa dos R$ 80 (em 27/1, chegaram a R$ 82,94). A forte demanda garantiu a sustentação no mercado interno, apesar do avanço da colheita. No mês passado, muitos produtores seguraram a oferta -- grande parte da safra já fora comercializada antecipadamente. Do outro lado do balcão, os compradores trabalharam na expectativa de queda nos valores, devido à maior oferta.

* Em 15/2, o Indicador Cepea/Esalq/BM&FBovespa registrou R$ 77,54 por saca de 60 kg, posto Paranaguá, descontado o prazo de pagamento pela taxa CDI/Cetip.


Análise de mercado Mercosul, a situação é de estoques maiores, em razão do modesto desempenho das exportações no último ano. Porém, esse represamento das vendas é, pelo menos em parte compensado pelas perdas na safra e também pelos problemas climáticos ocorridos. A atual conjuntura de preços firmes, porém, tem limite. É importante que o produtor tenha consciência disso, evitando o represamento da oferta numa conduta especulativa. O ideal é que a oferta seja distribuída o mais uniforme possível ao longo do ano, garantindo o abastecimento de forma ajustada. Mais do que nunca, caberá ao câmbio definir o comportamento das cotações do arroz no mercado interno, sendo a paridade de importação o limite de alta. A promessa de liberação de recursos para pré-custeio e mecanismos de comercialização também é positiva, mesmo que as condições de acesso a esses recursos sejam mais restritivas. Na condição de principal com-

* Em 15/2, o Indicador Café Arábica Cepea/Esalq registrou R$ 487,98 por saca de 60 kg, bica corrida, tipo 6, bebida dura para melhor, posto cidade de São Paulo.

ponente da cesta básica de alimentos no país, é natural que haja uma atenção especial por parte da sociedade ao comportamento dos preços do arroz ao consumidor. Neste sentido, é importante que se diga que em nenhum país do mundo se compra arroz nos supermercados por preços menores do que no Brasil e que, diante das sistemáticas elevações nos custos de produção, a valorização do produto ao orizicultor é fundamental para garantir o abastecimento do mercado. Não é a frustração de safra que ameaça o abastecimento, mas, sim, o produtor frustrado. O adequado suprimento da demanda interna estará sempre garantido enquanto o produtor de arroz estiver motivado.

Arroz – As cotações do arroz em casca no Rio Grande do Sul mantiveram certa estabilidade nas três primeiras semanas de fevereiro, variando na casa dos R$ 41 e R$ 42/saca de 60 kg. A alta do dólar ante o real garantiu bons preços para os produtores no ano passado e a consequência foi a redução nos estoques domésticos e nas exportações em janeiro de 2016. A estimativa de queda de 15,1% na produção gaúcha nesta safra por causa dos efeitos do El Niño (chuva demais), ajudou a sustentar os preços.

Tiago Sarmento Barata Diretor Comercial e Industrial do Irga – Instituto Rio Grandense do Arroz * Em 15/2, o Indicador Arroz em Casca Esalq/Bolsa Brasileira de Mercadorias – BM&FBovespa registrou R$42,09 à vista por saca de 50kg, tipo 1, posto indústria Rio Grande do Sul.

CAFÉ – Os preços do arábica cairam de R$ 497,22 em 29/1 para R$ 487,98 em 15/2. Os estoques internos limitados e a menor oferta de café de qualidade devem ajudar a sustentar as cotações até o início da colheita. No mercado de robusta (conilon), o cenário também foi de alta O retorno do Vietnã (maior produtor mundial desta variedede) ao mercado exportador contribuiu para a redução nos embarques do produto brasileiro, impactando negativamente os preços.

Fonte: Cepea – www.cepea.esalq.usp.br

MILHO –

* Em 15/2, o Indicador Esalq/BM&FBovespa registrou R$ 42,95 por saca de 60kg, descontado o prazo de pagamento pela taxa CDI/Cetip.

As cotações seguiram estáveis na primeira quinzena de fevereiro, sempre na faixa dos R$ 42, com variações mínimas. A colheita do milho verão ganhou ritmo no mês passado, mas não o suficiente para enfraquecer as cotações. Com valores elevados e demanda aquecida, o cenário é favorável aos produtores, no que diz respeito aos preços. Possíveis problemas climáticos no decorrer da colheitae na semeadura da safrinha podem derrubar a produtividade, diminuindo a oferta.

* Em 15/2, o Indicador Açúcar Cristal Cepea/Esalq registrou R$ 81,38,00 por saca de 50 kg, com ICMS (7%), posto São Paulo.

AÇÚCAR – Os preços cairam em fevereiro, passando de R$ 83,35 na virada de janeiro para R$ 81,38 em 15/2. Segundo pesquisadores do Cepea, a queda deve-se em grande parte à flexibilidade de algumas usinas em suas ofertas, interessadas em atrair compradores. Com baixas sucessivas, a liquidez manteve-se estável. O déficit global de açúcar (a produção caiu devido a problemas climáticos em vários países) pode ajudar a reverter o quadro.

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Biblioteca da Terra Doenças esmiuçadas

Lançamentos do Instituto Phytus, o livro e o aplicativo Doenças da soja tratam dos principais patógenos e hospedeiros em cada doença, danos, sintomas e impactos no desenvolvimento das plantas. O aplicativo permite a comparação de fotos do produtor com as da galeria de imagens e dados do instituto. Ambos podem ser adquiridos através do link iphytus.com/ publicacoes/doencas-da-soja-fungos-e-cromistas. O livro custa R$ 30, mais as despesas com frete. O aplicativo, US$ 0,99 na App Store e R$ 2,50 no Google Play.

Manual do algodão

A Ampa – Associação Mato-grossense dos Produtores de Algodão e o IMAmt – Instituto Mato-grossense do Algodão lançaram nova edição, revista e atualizada, do Manual de Saneamento e Segurança Ambiental em Mato Grosso – a primeira foi publicada em 2008. O propósito da obra é orientar os cotonicultores do estado a adequar as estruturas de suas propriedades e seus processos produtivos à legislação ambiental vigente. Ao longo de 144 páginas, o manual trata de temas como captação e uso de água, saneamento básico rural, destinação de resíduos líquidos e sólidos, boas práticas no uso de agroquímicos e licenciamento ambiental rural. Os autores apresentam os primeiros passos para registro no CAR – Cadastro Ambiental Rural, cujo prazo se encerra em 5 de maio deste ano. De autoria de pesquisadores da Embrapa Instrumentação, Embrapa Pecuária Sudeste e UFMT – Universidade Federal de Mato Grosso, entre outros especialistas, o manual está disponível para download nos sites da Ampa (www.ampa.com.br) e do IMAmt (www.imamt.com.br).

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Avaliações de imóveis

O livro Imóveis Rurais – Avaliações e perícias resulta da experiência do autor, José Carlos Baltazar, como perito judicial em comarcas da Zona da Mata de Minas Gerais. Seu objetivo, ao publicá-lo, foi auxiliar os iniciantes na atividade a executar tarefas pertinentes, como redigir laudos objetivos. As perícias judiciais têm como propósito esclarecer pontos controversos de uma demanda e produzir provas para subsidiar o magistrado a sentenciar com segurança e justiça. O livro custa R$ 45 e pode ser comprado através do link www.editoraufv.com.br/detalhes.asp?idproduto=1884823

Proteção Vegetal

Organizado pelos professores Edson Luiz Lopes Baldin, Adriana Zanin Kronka e Ricardo Toshio Fujihara, o livro Proteção vegetal reúne conhecimentos técnicos atualizados sobre temas relacionados à entomologia agrícola e florestal, fitopatologia, nematologia, biologia molecular, agricultura de precisão e tecnologias de aplicação de agroquímicos. Com 193 páginas, custa R$ 35. Os interessados devem contatar a Fepaf através do fone (14) 3882-6300, ramal 3, do site www.fepaf.org.br ou do e-mail publicacoes@fepaf.org.br

Por dentro das máquinas

De autoria do professor Gilmar Tavares, o livro Elementos Orgânicos Fundamentais de Máquinas e Implementos Agrícolas foi direcionado inicialmente a estudantes de Engenharia Agrícola, mas serve a um público mais amplo. Oferece informações sobre estruturas e componentes e detalhes técnicos capazes de ajudar o especialista a consertar equipamentos ou criar projetos. Com 259 páginas, custa R$ 40. Para comprá-lo, acesse o hiperlink www.livraria.editora.ufla.br/elementos-organicos-fundamentaisde-maquinas-e-implementos-agricolas.html


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n

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Calendário de eventos

MARÇO

8

Fenicafé/Feira Nacional de Irrigação em Cafeicultura

De 8 a 10 – Pica Pau Country Clube Araguari (MG) – Fone: (34) 3242-8888 E-mail: contato@fenicafe.com.br

16

19º Tecnoagro – De 16

a 17 – Centro de Pesquisa da Fundação Chapadão (BR 060, km 11) – Chapadão do Sul (MS) Fone: (67) 3562-2032 – Site: www. tecnoagro2016.com.br – E-mail: contato@fundacaochapadao.com.br

21

16º ExpoAgro Afubra

De 21 a 23 – Rincão del Rey (BR 471, km 161) – Rio Pardo (RS) Fone:(51) 3713-7700 Site: www.afubra.com.br

29

Show Safra BR 163 – De 29

a 1/4 – Centro Tecnológico Fundação Rio Verde Lucas do Rio Verde (MT) Fone: (65) 3549-1161 Site: www.showsafrabr163.com.br E-mail: comunicacao@ fundacaorioverde.com.br

ABRIL

5

5º Simpósio sobre Fitossanidade em Citros

De 5 a 6 – Centro de Convenções da Unesp/FCAV – Jaboticabal (SP) Fone: (16) 3209-1300 Site: www.funep.org.br E-mail: contato@ funep.org.br

5

7ª Fiema Brasil/Feira de Negócios e Tecnologia em Resíduos, Águas e Efluentes De 5 a 7 – Parque de Eventos de Bento Gonçalves – Bento Gonçalves (RS) – Site:www.fiema.com.br – E-mail: comercial1@fiema.com.br

7

56ª Expolondrina/Exposição Agropecuária e Industrial de Londrina – De 7 a 17 – Parque

Governador Ney Braga – Londrina (PR) – Site: www.expolondrina2016. com.br – E-mail: srp@srp.com.b

11

14º TecnoShow Comigo

7 - Expodireto Cotrijal/17ª Feira Internacional Expodireto Cotrijal De 7 a 11/3 Não-Me-Toque (RS) Fone: (54) 33323636 – Site: www. expodiretocotrijal. com.br – E-mail: expodireto@ cotrijal.com.br

Palco de lançamentos do que há de mais moderno em tecnologias, máquinas agrícolas, implementos e serviços, a Eucalipto 2016/ Simpósio Expodireto Cotrijal Sobre Tecnologias de vem se destacando Produção Florestal também pelos De 12 a 14 – Center Convention fóruns de debates, Uberlândia (MG) – Fone: (31) 3899oportunidades 1185 – Site: www.fifeventos.org.br de negócios e E-mail: sifeventos@gmail.com audiências públicas, a exemplo da que 42ª Expoumuarama/ foi realizada no Exposição Feira ano passado com Agropecuária, Industrial e representantes Comercial de Umuarama da Comissão De 14 a 24 – Parque de de Agricultura e Exposições Dario Pimenta Nóbrega Reforma Agrária do Umuarama (PR) – Site: www. Senado. Em 2015, expoumuarama.com.br – E-mail: a feira recebeu srumuarama@srumuarama.com.br mais de 230 mil visitantes. Os 23ª Agrishow/Feira 530 expositores Internacional de fecharam R$ Tecnologia Agrícola em Ação 2,18 bilhões - De 25 a 29 – Polo Regional de em negócios. Desenvolvimento Tecnológico dos A participação Agronegócios do Centro-Leste – internacional foi Ribeirão Preto (SP) – Fone: (11) destaque, com 3598-7810 - Site: www.agrishow. a presença de com.br – E-mail: atendimento. representantes agrishow@informa.com de 70 países. De 11 a 15 – Centro Tecnológico Comigo – Rio Verde (GO) – Fone: (64) 36111525 – E-mail: secretariageral@ tecnoshowcomigo.com.br

12

14

25

27

9º Biocom/Simpósio Nacional de

Biocombustíveis De 27 a 29 Teresina (PI) – Fone: (21) 22244480 – Site: www.abq.org.br E-mail: abqeventos@abq.orgg.br

29

21ª Fenasoja/Feira Nacional da Soja – De 29 a 8/5 – Parque

de Exposições Alfedro Leandro Carlson – Santa Rosa (RS) – Fone: (55) 3512 6866 – E-mail: fenasoja@fenasoja.com.br

MAIO

2

6ª Conferência Mundial de Pesquisa de Algodão - De 2 a 6

Centro de Convenções – Goiânia (GO) Fone: (62) 3241-0404 – Site: www.wcrc6.com E-mail:secretaria@wcrc-6.com

10

AgroBrasília/Feira Internacional de Tecnologias e Negócios Agropecuários dos Cerrados – De 10 a 14 – BR 151, km 5 – Brasilia (DF) – Fones: 61) 3339-6542 e (61) 3339-6516 – E-mail: agrobrasilia@agrobrasilia.com.br

10

EnerSolar/Feira Internacional de Tecnologias para Energia Solar e Ecoenergy –

De 10 a12 – São Paulo Expo Exhibition & Convention Center – São Paulo (SP) – Fone: (11) 5585-4355

11

15º Herbishow/Seminário Sobre Controle de Plantas Daninhas – De 11 a 12 – Centro de

Convenções – Ribeirão Preto (SP) Fone: (16) 3211-4770 E-mail: eventos@ideaonline.com.br

24

Bahia Farm Show/Feira de Tecnologia Agrícola

e Negócios – De 24 a 28 – Luis Eduardo Magalhães (BA) – (77) 3613-8000 – E-mail: comercial.brasil@ bahiafarmshow.com.br

24

19ª Fenarroz/Feira Nacional do Arroz – De 24 a 29

Cachoeira do Sul (RS) – Fones: (51) 3722 2425 e (51) 3724 1616 E-mail: fenarroz@fenarroz.com.br

março 2016 – Agro DBO | 65


Legislação

Proteção de cultivares A lei dos Cultivares, em vigor desde 1997, já é considerada antiga, e pode ser alterada pelo Congresso Nacional a qualquer momento. Fábio Lamonica Pereira *

E

stá em discussão na Câmara dos Deputados o projeto de lei n. 827/2015, que altera disposições da lei n. 9456/97 de proteção de cultivares. Referida lei, de fato, representou um avanço na regulamentação acerca da produção, desenvolvimento e comercialização de sementes. É evidente que todo o esforço científico e investimento aplicados no melhoramento genético merecem proteção, de forma que todos os produtores possam usufruir de seus benefícios, desde que paguem um preço justo que, na prática, carece de regulamentação, sendo que atualmente há cobrança de até 7,5%. Assim, aqueles que detém o direito sobre o melhoramento de

A lei em vigor traz exceções quanto ao direito de propriedade de cultivar nos casos em que o produtor rural: I – reserva e planta sementes para uso próprio, em seu estabelecimento ou em estabelecimento de terceiros cuja posse detenha; II – usa ou vende como alimento ou matéria-prima o produto obtido do seu plantio, exceto para fins reprodutivos; III – utiliza a cultivar como fonte de variação no melhoramento genético ou na pesquisa científica; IV – sendo pequeno produtor rural, multiplica sementes, para doação ou troca, exclusivamente para outros produtores rurais, no âmbito de programas de financiamento ou de apoio a pequenos

Com a nova lei será mais restrita a permissão de uso das sementes sem pagar royalties

O autor é advogado, especialista em Direito do Agronegócio.

cultivares podem cobrar os royalties, ou taxa tecnológica, por período certo e determinado. Há pouco tempo houve grande repercussão a discussão acerca da possibilidade de cobrança de royalties por parte de multinacional sobre variedade cujo direito estaria expirado. Em outro caso envolvendo a mesma empresa, a justiça do Rio Grande do Sul concedeu liminar (posteriormente suspensa) em ação movida por representantes de produtores rurais que questionavam a cobrança de royalties de forma excessiva e em desacordo com as determinações da Lei de Cultivares, de forma a suspender a referida cobrança.

66 | Agro DBO – março 2016

produtores rurais, conduzidos por órgãos públicos ou organizações não-governamentais, autorizados pelo Poder Público. Com a proposta de alteração na lei a permissão de utilização das sementes sem o recolhimento dos royalties será restrita, sendo que as disposições seriam alteradas da seguinte forma: I – usa, em consumo próprio como alimento, o produto obtido do seu plantio; II – utiliza a cultivar como fonte de variação no melhoramento genético ou na pesquisa científica; III – guarda e conserva semente para uso próprio nos termos do disposto no inciso XLIII do art. 2º da Lei 10.711, de 05 de agosto de 2003, se atendidas as seguintes

condições: a) tenha adquirido material de reprodução certificado; b) utilize o produto no prazo máximo de um ano e em no máximo 50% de sua área a ser plantada com a cultivar protegida; c) efetue o pagamento dos royalties ao obtentor da cultivar, independentemente de autorização prévia; d) efetue o pagamento dos royalties ao detentor da tecnologia, independentemente de autorização prévia; IV – é agricultor familiar, nos termos da Lei nº 11.326, de 24 de julho de 2006 ou é integrante de povos indígenas ou de comunidades tradicionais. Com as alterações, busca-se claramente incrementar a possibilidade de cobrança dos royalties que, diga-se, são elevados, restringindo ainda mais as possibilidades em que os agricultores poderão se utilizar de sementes melhoradas sem o pagamento da referida taxa. Cumpre ressaltar que aqueles que produzem cultivares e prometem eficiência têm direito a receber pelas tecnologias empregadas, contudo, também respondem pelos danos materiais causados ao produtor quando, por exemplo, restarem comprovadas falhas nos produtos. Conclui-se que as alterações legislativas fortalecerão os detentores de tecnologias e sobrecarregarão os produtores sem que haja previsão de limitação quanto à cobrança dos royalties que atingem valores significativos. Os produtores, por sua vez, independentemente da legislação em vigor, devem buscar formas de sempre verificar se o produto adquirido cumpre, efetivamente, o que promete.




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