Revista Agro DBO 82 - Outubro 2016

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Sumário

28 Entrevista

Superintendente do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária, Daniel Latorraca fala à Agro DBO sobre produção, logística e outros entraves ao desenvolvimento agrícola.

38 Energia

Especialistas reunidos em evento realizado em Cuiabá (MT) discutem propostas de incentivo à geração e uso de bioenergia produzida a partir de resíduos agropecuários

32 Fitossanidade

Após três safras frustradas por problemas climáticos e pragas, produtores do CentroOeste iniciam a temporada 2016/17 com muito cuidado, dispostos a não correr riscos.

18

Matéria de capa Produtores de Boa Esperança (MG) adotam sistema de secagem estática composto por equipamentos que operam por via seca, capaz de revolucionar a cafeicultura brasileira.

Artigos 8 - Evaristo de Miranda examina o papel do Brasil como produtor de alimentos 24 - Décio Gazzoni trata de novidades tecnológicas no ramo da Ecologia Química 26 - Rogério Arioli avalia metas propostas pelo ministro da Agricultura, Blairo Maggi 42 - Tulio de Oliveira critica posições do governo federal sobre reserva de mercado 50 - Fábio Lamonica analisa direitos do produtor rural na hora de renegociar dívidas

Seções Ponto de Vista................................................... 8 Clima..................................................................10 Notícias da terra.............................................12 Almanaque.......................................................36

Novidades no campo...................................40 Política................................................................43 Análise de mercado......................................44 Biblioteca da terra..........................................46 Calendário de eventos.................................49

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Do Leitor NR: Retornando, Alanis: publicamos nota sobre o congresso na edição de setembro da Agro DBO (seção “Calendário de eventos”) e a repetimos agora nesta edição, na mesma seção (confira na página 49)

PARAIBA No dia 22 de agosto concluí mestrado em Ciências Agrárias (Agroecologia) na Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Senti-me no dever de lhes comunicar, pois os meus dois artigos publicados na DBO foram parte deste processo de amadurecimento e produção intelectual. Atenciosamente, Gustavo José Barbosa Serraria (PB) NR: Obrigado pela parte que nos toca, Gustavo, mas o mérito pela conclusão de mestrado é seu, não nosso. Extensionista da Emater-PB, Gustavo Barbosa teve dois artigos publicados na revista DBO Agrotecnologia, antecessora da atual Agro DBO. PARANÁ Venho por meio dessa mensagem perguntar como fazer para divulgar um evento na revista Agro DBO. Falo da XX Reunião Brasileira de Manejo e conservação do Solo e da Água, que será realizada nos dias 20 a 24 de novembro desse ano, no município de Foz do Iguaçu, no estado do Paraná. É um evento técnico científico e de inovação tecnológica, organizada pelo IAPAR em parceria com o Núcleo Estadual Paraná-NEPAR da SBCS – Sociedade Brasileira de Ciência do Solo e de núcleos regionais e instituições parceiras com o objetivo de promover sistemas sustentáveis de uso dos recursos solo e água em todos os biomas brasileiros. Segue o endereço do site: www.rbmcsa2016. com.br. Aguardo retorno. Alanis Brito Londrina

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SÃO PAULO Parabéns e cumprimentos pelo tema central da última Agro DBO (edição de setembro, cujo título de capa é “Manejo de fertilidade”). Como homenagem, submeto uma definição do termo “FERTILIDADE”: “É o conjunto de situações químicas, físicas e estruturais do solo que, juntamente com a disponibilidade de água, calor e luz solar, regulam o crescimento e a produção das plantas”. Esta homenagem é extensiva aos produtores, professores e pesquisadores que zelam pela fertilidade do solo. Fernando Penteado Cardoso São Paulo Rogério, parabéns pela reportagem. Ficou muito boa! Você relatou muito bem a essência do processo de renascimento da cafeicultura de Rondônia, baseada em produtividade, genética, mecanização e sustentabilidade. Parabéns ao amigo e parceiro Janderson pelo trabalho! Esse tipo de parceria nos estimula muito a continuar a jornada de levar a sustentabilidade ao pequeno produtor de café. Temos a convicção de que ninguém vai resolver isso sozinho e é muito bom contar com parcerias como essa. E, Rogério, a mídia tem também importância e responsabilidade neste processo. Pedro Ronca Espírito Santo do Pinhal Rogério, adorei a narrativa da reportagem. A “pegada” de jornalismo literário deixou o texto mais leve e gostoso de ler. Parabéns! E eu aprendi um pouco mais sobre a cafeicultura rondoniense. Obrigada. Thaís Goes Santo Antônio do Pinhal NR: Os dois elogios acima foram endereçados ao jornalista Rogério F. Furtado, autor da reportagem “Cafeína no sangue”, publicada na edição de julho da Agro DBO. Ronca cita o agrônomo Janderson Rodrigues Dalazen, gerente técnico da Emater-RO, um dos artífices da revolução na cafeicultura

rondoniense. A Emater-RO é parceira do Programa Café Sustentável, coordenado no Brasil por Pedro Ronca, também personagem da matéria do colega Rogério F. Furtado. Esse número (edição de agosto da Agro DBO) trouxe artigos e reportagens excelentes, como “Sim, é possível” (produzir mais soja), mas veja que (o personagem principal da reportagem em questão, João Carlos da Cruz, vencedor do Desafio CESB de Máxima Produtividade da Soja) usa adubos organominerais, que a Takenaka já vendia nos anos 70 para hortaliças. O adubo não precisa ser organomineral, desde que se consiga produzir boa matéria orgânica com as integrações e rotações de cultura. Destaco também as “Trilhas do Toninho” (título da reportagem sobre o cafeicultor Toninho David, de Franca, SP), que mexe com as raízes e seu vigor. A entrevista “A dose faz o veneno” (o entrevistado do mês foi Eduardo Leduc, da Andef) mostra que a indústria já aceita o manejo integrado. Certamente a receita da revolução verde aceita incorporar alguns conhecimentos da agroecologia. Espero que incorporem mais conhecimentos importantes para melhorar o efeito dos insumos, inclusive das sementes de alta tecnologia, que continuam tendo raízes e necessitam de nutrição mineral balanceada. Falo da incorporação do componente arbóreo estabelecido regionalmente de forma estratégica para manter o fluxo de chuvas amenas e a recarga de águas subterrâneas. Odo Primavesi São Carlos NR: Leitor assíduo da Agro DBO (para nossa satisfação), Odo Primavesi comenta, eventualmente, determinados assuntos publicados ou o conteúdo geral da revista, como fez no e-mail acima. As notas em itálico, entre parêntesis, são de nossa autoria. Tomamos a liberdade de imiscuí-las no texto para facilitar o entendimento dos que não leram a edição de agosto. Para estes, o comentário de Odo poderia soar sintético demais.

AgroDBO se reserva o direito de editar/resumir as mensagens recebidas devido à falta de espaço.



Carta ao leitor

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matéria de capa desta edição, mais uma vez do jornalista Rogério F. Furtado, “Reviravolta histórica”, nos revela que tecnologias antigas por vezes renascem vigorosas como a fênix da mitologia, e nos traz o alento de que é possível se fazer uma autêntica revolução na cafeicultura se tudo vier a dar certo conforme sonham os irmãos Monteiro, produtores de café em Boa Esperança, no sul das Minas Gerais. A tecnologia, mantida por eles ainda em segredo, nos dá pistas de que a indesejável fermentação na secagem estática dos grãos de café pode ser, sim, altamente benéfica para a qualidade da bebida, coisa que vamos conferir nos próximos meses, com observação e soma de experiências. Outros assuntos da nossa agricultura enriquecem as páginas da Agro DBO deste mês, e chamamos a atenção para o artigo do advogado Fábio Lamonica, que alerta sobre as condições definidas para a prorrogação das dívidas pendentes da última safra para quem teve prejuízos com o clima maluco presenciado. Não menos importante a mensagem de Evaristo E. de Miranda, da Embrapa, com o texto “Alimentar o mundo”, com dados sobre produção / exportações do agronegócio brasileiro que devem encher os olhos de todos os brasileiros, especialmente pela competência dos produtores dentro da porteira. Cabe-nos registrar sobre o fato do mês, pelo menos por enquanto, quem sabe o fato do ano, sobre a compra da americana Monsanto pela alemã Bayer, (US$ 66 bilhões) depois de meses de negociações, e que cria uma gigante internacional dos insumos de agroquímicos e sementes, muito maior do que o gigantismo que a ChemChina poderia pretender ao adquirir a Syngenta, ou a fusão entre a Dow e Du Pont. Esses 3 meganegócios fizeram desaparecer no meio do noticiário a não menos importante fusão das canadenses Agrium e Potash Corp (negócios de fertilizantes, por US$ 27 bilhões) e indica uma concentração inédita e perigosa no setor. São movimentos significativos que ilustram o gigantismo pretendido pelos donos do capital internacional, e isso vai diminuir qualquer poder de barganha dos consumidores finais, enfim, os agricultores. Em paralelo, o Brasil ratificou o Acordo de Paris sobre as Mudanças do Clima, celebrado em 2015 por 195 países durante a 21ª Conferência das Partes (COP21). O acordo procura substituir metas referentes à diminuição da emissão de gases do efeito estufa. No início de setembro, durante o encontro do G20, EUA e China anunciaram a intenção de aderir ao texto, mas ainda não foi confirmada oficialmente. O Congresso americano, como se sabe, já votou contra em situações anteriores, e o Protocolo de Kyoto não teve a adesão dos americanos. Se ocorrer a aprovação do referido acordo, os ambientalistas terão todo o poder para alterar, como bem entenderem, todas as atividades produtivas do planeta, especialmente na produção dos alimentos. Pense nisso.

é uma publicação mensal da DBO Editores Associados Ltda. Diretor Responsável Demétrio Costa Editor Executivo Richard Jakubaszko Editor José Augusto Bezerra Conselho Editorial Décio Gazzoni, Demétrio Costa, Evaristo Eduardo de Miranda, Hélio Casale, José Augusto Bezerra e Richard Jakubaszko Redação/Colaboradores Ariosto Mesquita, Décio Luiz Gazzoni, Evaristo E. de Miranda, Fábio Lamonica Pereira, Hélio Casale, Marco Antonio dos Santos, Marianna Peres, Rogério Arioli Silva, Rogério F. Furtado, Tiago Sarmento Barata e Tulio Teixeira de Oliveira. Arte Editor Edgar Pera Editoração Célia Rosa e Edson Alves Coordenação Gráfica Walter Simões Marketing Gerente: Rosana Minante Comercial Executivos de contas: Andrea Canal, José Geraldo S. Caetano, Maria Aparecida de Oliveira, Marlene Orlovas, Mario Vanzo e Vanda Motta

Para manifestar sua opinião, envie e-mail para redacao@agrodbo.com.br Richard Jakubaszko

Circulação Gerente: Edna Aguiar ISSN 2317-7780 Impressão Prol Gráfica Ltda. Capa: Foto Rogério Furtado DBO Editores Associados Ltda Diretores: Daniel Bilk Costa, Odemar Costa e Demétrio Costa Rua Dona Germaine Burchard, 229 Perdizes, São Paulo, SP 05002-900 - Tel. (11) 3879-7099 e 3803-5500 redacao@agrodbo.com.br www.agrodbo.com.br

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Ponto de vista

Alimentar o mundo O Brasil de todos nós já é um dos celeiros do mundo e trabalha para ampliar essa vocação e liderança, para acabar com a fome. Evaristo E. de Miranda *

D * o autor é engenheiro agrônomo, Chefe geral da Embrapa Monitoramento por Satélite e membro do Conselho Editorial da Agro DBO.

ivida a produção de grãos de um país pelo seu número de habitantes. Se o resultado ficar abaixo de 250 kg/pessoa/ano, isso significa insegurança alimentar. Países nessa situação importam alimentos, obrigatoriamente. E são muitos os importadores de alimentos vegetais e animais em todos os continentes, sem exceção. O crescimento da população, da classe média e da renda, sobretudo nos países asiáticos, amplia anualmente a demanda por alimentos diversificados e de qualidade, como as proteínas de origem animal. Em 2014, a Coreia do Sul importou US$ 27 bilhões em alimentos, o Japão US$ 68,9 bilhões e a China US$ 105,2 bilhões. O mais vendido refrigerante do mundo define sua missão como a de “saciar a sede do planeta”. A missão do Bra-

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sil já pode ser: saciar a fome do planeta. E com os aplausos dos nutricionistas. Em 2015, o Brasil produziu 207 milhões de toneladas de grãos para uma população de 206 milhões de habitantes. Ou seja, uma tonelada de grãos por habitante. Só a produção de grãos do Brasil é suficiente para alimentar quatro vezes sua população ou mais de 850 milhões de pessoas. Além de grãos, o Brasil produz por ano cerca de 35 milhões de toneladas de tubérculos e raízes (mandioca, batata, inhame, batata-doce, cará etc). Comida básica para mais de 100 milhões de pessoas. A agricultura brasileira produz ainda mais de 40 milhões de toneladas de frutas, em cerca de 3 milhões de hectares. São 7 milhões de toneladas de banana, uma fruta/habitante/dia. O mesmo ocorre com a laranja e outros citros que totalizam 19 milhões de toneladas/ano. Cresce todo ano a produção de uva, abacate, goiaba, abacaxi, melancia, maçã, coco… Às frutas tropicais e temperadas juntam-se 10 milhões de toneladas de hortaliças, cultivadas em 800 mil hectares e com uma diversidade impressionante, resultado do encontro da biodiversidade nativa com os aportes de verduras, legumes e temperos trazidos por portugueses, espanhóis, italianos, árabes, japoneses, teutônicos e por aí vai, longe. Não se pode esquecer, na produção anual de alimentos, cerca de um milhão de toneladas de castanhas, amêndoas, pinhões e nozes, além dos óleos comestíveis, da palma ao girassol, e de uma grande diversidade de palmitos. Não menos relevante é a produção de

34 milhões de toneladas de açúcar/ ano, onipresentes em todos os lares, restaurantes e bares. A produção vegetal do Brasil já alimenta mais de um bilhão de pessoas em todo o mundo, usando para isso apenas 8% do território nacional. E a tudo isso se adiciona a produção animal. Em 2015, o país abateu 30,6 milhões bovinos, 39,3 milhões de suínos e quase 6 bilhões de frangos. É muita carne. Coisa de 25 milhões de toneladas! O consumo médio de carne pelos brasileiros é da ordem de 120 kg/habitante/ano ou 2,5 kg por pessoa por semana. A estimativa de consumo médio de carne bovina é da ordem de 42 kg/ habitante/ano; a de frango 45 kg e a de suínos 17 kg, além do consumo de ovinos e caprinos (muito expressiva no Nordeste e no Sul), de coelhos, de outras aves (perus, angolas, codornas…), peixes, camarões e crustáceos (cada vez mais produzidos em fazendas) e outros animais. O país produziu 35,2 bilhões de litros de leite (contra 31 bilhões de litros de etanol); 4,1 bilhões de dúzias de ovos e 38,5 milhões de toneladas de mel em 2015. É leite, laticínios, ovos e mel para fazer muitos bolos, massas e doces, nas casas do maior produtor de açúcar. Em 50 anos, de importador de alimentos, o Brasil se tornou uma potência agrícola. Nesse período, o preço dos alimentos caiu pela metade e permitiu à grande maioria da população o acesso a uma alimentação saudável e diversificada, e a erradicação da fome. Esse é o maior ganho social da modernização agrícola e beneficiou, sobretudo, a população urbana. O país saiu


do mapa dos países com insegurança alimentar. Com o crescimento da população e das demandas urbanas o que teria ocorrido na economia e na sociedade sem esse desenvolvimento da agricultura? Certamente, uma sucessão de crises intermináveis. Era para a sociedade brasileira agradecer todo o dia aos agricultores por seu esforço de modernização e por tudo que fazem pelo país. A nação e suas lideranças devem assumir a promoção e a defesa da agricultura e dos agricultores, com racionalidade e visando o interesse nacional. De 1990 a 2015, o total das exportações agrícolas superou US$ 1 trilhão e ajudou a garantir saldos comerciais positivos. A recém-concluída missão de prospecção e negócios por sete países da Ásia, liderada pelo ministro Blairo Maggi, inaugurou de forma inédita um novo patamar

de inserção da agropecuária nacional no comércio internacional com resultados positivos surpreendentes. A Ásia responde hoje por 45% das exportações do agronegócio brasileiro e a China, sozinha, por um quarto desse montante. Por quase um mês, acompanhado por uma equipe ministerial e por cerca de 35

tratégico para o futuro da agropecuária brasileira, criaram-se perspectivas novas e mútuas para indústrias de processamento, tradings e para investimentos em infraestrutura de transporte, armazenagem e indústrias de base. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, em parceria

Só a produção de grãos do Brasil é suficiente para alimentar quatro vezes a nossa população empresários de 12 setores do agro, essa missão histórica percorreu China, Coreia do Sul, Hong Kong, Tailândia, Myanmar, Vietnã, Malásia e Índia. Alimentar o mundo é sinônimo de alimentar a Ásia. Isso exige empreendedorismo, inovação, coordenação público-privada e parcerias de curto e longo prazo. Com a China, um parceiro es-

com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex), tem uma meta ambiciosa: passar de uma participação decrescente de 6,9% no comércio agrícola internacional para 10%. E ser capaz, em breve, de alimentar mais de dois bilhões de pessoas, com tecnologia, sustentabilidade, competência e competitividade.

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Clima

A La Niña vem ou não vem? As incertezas em relação às condições climáticas para o desenvolvimento da safra de verão permanecem, mas deve fazer bom tempo. Marco Antônio dos Santos *

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nova safra agrícola no Brasil se inicia com uma grande dúvida: a La Niña, vem ou não vem? E se vier, qual será a sua intensidade e seus impactos? A temperatura das águas equatoriais do Oceano Pacífico já se encontram mais frias do que o normal e, desse modo, a atmosfera já começa a responder como uma La Niña, mesmo ainda sendo muito cedo para diagnosticar oficialmente a sua influência. Até porque, para se confirmar a La Niña há a necessidade de que as águas equatoriais do Oceano Pacífico, região denominada de Niño 3+4, permaneçam com temperaturas iguais ou abaixo dos 0,5°C de anomalia por 5 meses consecutivos. E essa é a grande dúvida, pois os modelos climáticos de previsões desses fenômenos indicam que haverá 4 meses apenas com anomalias negativas abaixo dos 0,5°C. Porém, mesmo que não venha a se confirmar a La Niña oficialmente, a atmosfera estará sob a influência desse fenômeno e, portanto, o regime de chuvas e as temperaturas serão bem diferentes do que foram registrados nessas últimas duas safras, sob o efeito do El Niño. Assim, espera-se que para os meses de outubro e novembro, as chuvas continuem irregulares sobre as regiões produtoras do Sudeste, Centro-Oeste e Matopiba. O regime de chuvas só deverá se regularizar ao longo da segunda quinzena de novembro. Esse padrão no regime de chuvas poderá ocasionar um atraso no plantio da nova safra de soja, bem como ocasionar algumas perdas, uma vez que muitos produ10 | Agro DBO – outubro 2016

tores do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás já iniciaram seus plantios, logo após o fim do vazio sanitário. E, devido às chuvas irregulares de setembro, alguns produtores já relatam perdas em seus campos. Contudo, ao longo do mês de novembro, as chuvas já vão se regularizar em toda essa região, permitindo que lavouras de soja, milho e feijão encontrem condições ideais ao seu desenvolvimento e até mesmo com boas perspectivas de produção. Culturas perenes, como café, cana-de-açúcar e laranja também sofrem com as chuvas irregulares de outubro, mas serão bastante beneficiadas por chuvas regulares na segunda metade da primavera. No Sul, após dois anos seguidos de muitas chuvas durante os meses de setembro e outubro, o fato das

Probabilidade de ocorrência dos fenômenos climáticos (ENSO) – agosto/16 ENSO state based on NINO3.4 SST Ano maly Neutral ENSO: – 0.5ºC to 0.5ºC

(Fonte: IRI – International Research Institute for Climate and Society).

o corredor de umidade estará direcionado à região central e norte do Brasil. Esse período de estiagem poderá trazer uma certa preocupação aos produtores e ao mercado. Uma vez que essa estiagem também atin-

Espera-se que para os meses de outubro e novembro, as chuvas continuem irregulares águas do Pacífico estarem mais frias está proporcionando um regime de chuvas próximo a neutralidade, ou seja, chuvas regulares, sem a ocorrência de “invernadas”. O que vem possibilitar que a colheita do trigo, tão afetada nas últimas safras, transcorra de uma forma normal, sem prejuízos/quebras na produtividade e qualidade dos grãos. O plantio da soja, milho 1ª safra, feijão e arroz também está transcorrendo sem grandes problemas nesta safra. Com tendências de uma boa produção no ano agrícola. Contudo, há uma tendência de que em dezembro venham a ocorrer alguns períodos de estiagem, já que

girá as áreas produtoras da Argentina, Uruguai e sul do Paraguai. Independentemente se haverá ou não a confirmação oficial da La Niña na safra 2016/17, é fato que as condições climáticas para essa safra serão totalmente diferentes das que foram registradas nas últimas duas. Fará com que os produtores tenham que tomar decisões em relação ao plantio, tratos culturais e colheita, bem diferentes daquelas que tomaram nos anos anteriores. Ainda mais que há uma previsão de que o verão/17 poderá ser chuvoso, gerando problemas para a realização da colheita da soja e posterior plantio da 2ª safra.

*o autor é engenheiro agrônomo e agrometeorologista, sócio da Rural Clima.



Notícias da terra Safra I

Conab mantém o corte

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os últimos seis meses, as estimativas da estatal sobre a produção brasileira de grãos na temporada 2015/16 caíram mês após mês: em abril, a Conab previu 210,3 milhões de toneladas; em maio, 209 milhões; em junho, 202,4 milhões; em julho, 196,8 milhões; em agosto, 189,3 milhões. No mês passado, em seu último levantamento, apontou 188,1 milhões de toneladas, produção 10,2% inferior (21,4 milhões t a menos) à da safra 2014/15 (207,8 milhões t). Com exceção das culturas de inverno e do amendoim, houve queda na produção dos demais grãos devido às adversidades climáticas (estiagens prolongadas e altas temperaturas), segundo a instituição. A área plantada chegou a 58,3 milhões de hectares, 0,7% maior que a do ciclo anterior.

Safra II

IBGE fecha por menos

A

oitava estimativa do instituto em 2016 sobre a produção nacional de cereais, leguminosas e oleaginosas (algodão herbáceo, amendoim, arroz, feijão, mamona, milho, soja, aveia, centeio, cevada, girassol, sorgo, trigo e triticale) totalizou 186,1 milhões de toneladas, 11,1% inferior à do ano passado (209,4 milhões t). As lavouras cobriram 57,4 milhões de hectares, área 0,4% menor em relação à da temporada 2014/15. Na divisão por regiões, a safra apresentou a seguinte distribuição (em milhões de toneladas): Centro-Oeste, 76,5; Sul, 73,3; Sudeste, 19,7; Nordeste, 10,3 e Norte, 6,3. Mato Grosso manteve a liderança entre os estados produtores, com 24,5% de participação, seguido pelo Paraná (19,2%), e Rio Grande do Sul (16,9%).

Safra III

Mais soja em 2017

S

egundo a Conab, o Brasil colherá um total de 95,4 milhões de toneladas de soja na temporada 2015/16. Considerando os cálculos do IBGE, serão 96,4 milhões. Os do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês) indicam 96,5 milhões, 4,5 milhões a menos ante o previsto para o ciclo 2016/17, recém-iniciado. De acordo com o relatório de oferta e demanda de setembro do USDA, o Brasil vai produzir 101 milhões de toneladas em 2017; a Argentina, 57 milhões e os EUA, 114,3 milhões. A safra global de soja atingirá 330,4 milhões de toneladas no ano que vem.

Safra IV

O milho dispara

Q

uanto à produção nacional do cereal, a projeção da Conab é de 66,9 milhões de toneladas no ciclo 2015/16; a do IBGE, 65,5 milhões; e a do USDA, 67 milhões. No que diz respeito à safra 2016/17, o relatório mundial de oferta e demanda de setembro da instituição norte-americana prevê o seguinte: o Brasil vai colher 82,5 milhões de toneladas: a Argentina, 36,5 milhões; e os EUA,, 383,4 milhões. A produção mundial, conforme o USDA, chegará a 1,03 bilhão de toneladas em 2017.

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Notícias da terra Exportações

Superavit de R$ 32,4 bilhões

L

Café I

Oferta maior

C

onforme a terceira estimativa de 2016 da Conab sobre a safra brasileira de café, divulgada em 21/9, o país vai colher 49,6 milhões de sacas de 60 quilos neste ano, 14,8% a mais em relação ao ano passado (43,2 milhões de sacas). A produção de arábica deve chegar a 41,3 milhões de sacas (83,2% do total colhido no país, considerando as duas espécies principais: arábica e conilon), 28,8% superior à anterior. A produção de conilon foi estimada em 8,4 milhões de sacas (16,8% do total nacional), 25,3% menor que a de 2015. A redução deve-se, principalmente, à seca e à má distribuição de chuvas por dois anos consecutivos nos estágios de florescimento, formação e enchimento de grãos no Espírito Santo, maior produtor da espécie.

Café II

Qualidade reconhecida

O

cafeicultor Arnelei Sérgio Kalk, de Cacoal (RO), foi o grande vencedor do 1º Concurso de Qualidade e Sustentabilidade do Café Canéfora do Estado de Rondônia, realizado pelo governo estadual em parceria com a Emater-RO, Agência de Defesa Sanitária Agrossilvipastoril, Embrapa e Câmara Setorial do Café. Ao todo, foram entregues mais de R$ 30 mil

evantamento do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços mostra que, no acumulado de janeiro a agosto de 2016, o Brasil apresentou superavit de US$ 32,4 bilhões na balança comercial, quase cinco vezes maior comparativamente ao mesmo período do ano passado (US$ 7,31 bilhões). O salto não se deve a um crescimento expressivo das exportações, como seria desejável, mas à redução nas importações de produtos originários da China (- 32%), Estados Unidos (-16%), União Europeia (-18%), Mercosul (-19%) e outros países e/ou blocos econômicos. A soja liderou a pauta de exportações, com US$ 17,9 bilhões em vendas – sozinha, respondeu por 14,5% das exportações totais brasileiras. Os demais produtos agropecuários com destaque nas exportações no período foram o milho (65% de crescimento, chegando a US$ 2,7 bilhões); açúcar bruto (31%, US$ 4,8 bilhões); açúcar refinado (12%, US$ 1,3 bilhão); carne suína in natura (7%, US$ 812 milhões) e suco de laranja (17%, US$ 728 milhões).

em prêmios, além da garantia da venda da produção e passagens aéreas para participar da Semana Internacional do Café, realizada em Belo Horizonte (MG). Arnelei Sérgio Kalk (de camisa lilás na foto, segurando o diploma de 1º colocado com a mão direita e o cheque simbólico com a esquerda) foi o personagem principal da reportagem “Cafeína no sangue”, de autoria do jornalista Rogério F. Furtado, publicada na edição de julho deste ano (páginas 32 a 37).

PIB

Perdas econômicas

O

PIB – Produto Interno Bruto da agropecuária brasileira caiu 2% no segundo trimestre de 2016, comparativamente ao primeiro, atingindo R$ 90,7 bilhões no final de junho. No acumulado do ano, a retração foi de 3,4%, menor que a do PIB do Brasil (- 4,6% no semestre), segundo cálculos do IBGE. Estiagens prolongadas em algumas regiões do país e excesso de chuvas em outras impactaram fortemente as lavouras de grãos, especialmente a de milho segunda safra no Centro-Oeste. outubro 2016 – Agro DBO | 13


Notícias da terra Soja

Pragas

Campeão mundial

Portas fechadas

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fazendeiro norte-americano Randy Dowdy, de Brooks County, Geórgia (EUA), conquistou o título de “rei da soja” ao colher 192,2 sacas por hectare, a maior produtividade da história. Dowdy obteve a marca durante concurso promovido pela Basf. O recorde anterior pertencia ao produtor Kip Cullers, também norte-americano, com 173 sacas/ha. O recorde brasileiro pertence ao produtor Alisson Alceu Hilgenberg, de Ponta Grossa (PR), vencedor do Desafio Cesb de 2015 com 141,8 sacas/ha.

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egundo estudo da Embrapa, publicado na revista Pesquisa Agropecuária Brasileira, as ações de quarentena desenvolvidas pela empresa de 1977 a 2016 impediram a entrada de 79 espécies de pragas agrícolas no Brasil, incluindo insetos, ácaros, nematoides, fungos, vírus e bactérias. Outro dado relevante do estudo é a alta quantidade de pragas ausentes não regulamentadas, ou seja, não incluídas na lista de espécies de importância quarentenária elaborada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Segundo o pesquisador Marcelo Lopes, 47 espécies (mais da metade das pragas interceptadas pela Embrapa) pertencem à categoria de ausentes não regulamentadas. “Essa predominância constitui uma informação importante para o sistema de defesa vegetal no Brasil”, enfatiza Lopes. Como não possuem o status de quarentenárias, não constam da lista do Mapa, e, por isso, podem escapar das barreiras sanitárias.

Agroecologia

P

esquisadores da Embrapa Agrobiologia constataram que os gongolos, também conhecidos como piolho-de-cobra, maria-café ou embuá, produzem adubo orgânico (“gongocomposto”) de excelente qualidade, similiar ao das minhocas. A diferença é que o vermicomposto (das minhocas) ainda precisa ser misturado com pó de carvão e torta de mamona para melhorar a textura e incorporar nitrogênio, enquanto o gongocomposto já está pronto para uso em três meses. Os gongolos – parentes distantes da lacraia, mas inofensivos, segundo a pesquisadora Maria Elizabeth Correia – vivem sob folhas, pedras, galhos ou troncos de árvores. “Eles não tem ferrão, não mordem, não são agressivos

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e podem ser coletados facilmente. Uma ou outra espécie de floresta fechada pode expelir alguma substância corrosiva quando ameaçada, mas as que vivem em ambientes abertos, como as que estudamos, não oferecem qualquer risco”, compara Maria Elizabeth. Segundo ela, a “gongocompostagem” pode levar de três a seis meses, sem a exigência de revirar o material. “O que fazemos é juntar os resíduos secos e o gongolo, e colocar em uma área confinada para que ele não saia dali e processe tudo. Uma vez por semana é preciso checar a umidade e, se estiver muito seco, é necessário molhar o composto. Se o produtor colocar dez litros de resíduos, no final terá três litros de composto”, explica.

Luiz Fermando/Embrapa Divulgação

Piolhos-de-cobra na cabeça


Notícias da terra Tecnologia

Trator autônomo

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Case IH aproveitou a Farm Progress Show, uma das maiores feiras agrícolas do mundo, realizada no mês passado em Boone, no estado de Iowa (EUA), para apresentar mundialmente seu primeiro trator autônomo, montado numa plataforma Magnum. O veículo (ainda considerado conceitual) não tem cabine e funciona com um grande número de implementos. “Em várias partes do mundo, encontrar mão de obra qualificada é um desafio constante para nossos clientes”, disse o presidente mundial da empresa, Andreas Klauser. “Esse conceito de trator autônomo proporcionará aos nossos clientes mais eficiência operacional em tarefas como preparo do solo, plantio, pulverização e colhei-

ta.” O trator Magnum foi “repaginado” pela equipe de engenharia e inovação da Case. O sistema operacional, com telemetria de luz, câmeras de vídeo a bordo e compartilhamento de dados em tempo real, calcula automaticamente as dimensões (largura, altura etc) dos complementos e estabelece o percurso mais eficiente no terreno, dependendo do relevo (ondulações à frente, por exemplo), obstruções naturais ou máquinas em uso no mesmo campo. Em caso de obstáculos, o veículo para até que o operador, notificado por alertas sonoros e visuais, defina novo percurso. “Quem administra a propriedade pode supervisionar as atividades de várias máquinas por uma interface móvel, como smartphone ou tablet, enquanto cuida de outras tarefas ou opera outro veículo”, explica Rob Zemenchik, gerente da área de agricultura de precisão da empresa.

“Vários tratores autônomos podem funcionar como uma frota ou simultaneamente em várias sub-frotas designadas para campos separados, cada qual com seus mapas e trajetos pré-programados. As oportunidades para a aumento da eficiência são substanciais”, completa. Segundo Zemenchik, a tecnologia serve também a tratores com cabine padrão e pode ser adaptada para colheitadeiras e outras máquinas agrícolas. O campo de ação é praticamente ilimitado.

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Notícias da terra Resistência

Pesquisa alerta: manejo inadequado na lavoura provoca resistência de pragas

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falta de uso ou o uso incorreto do manejo integrado de pragas (MIP) pode causar a perda de tecnologias disponíveis no campo. O manejo inadequado e o excesso de pulverizações têm contribuído para o aumento da resistência de pragas a herbicidas e para o ataque de lagartas a plantas Bt. Os problemas foram identificados em fazendas de Mato Grosso durante a terceira edição do Circuito Tecnológico do Milho e estão sendo acompanhados por pesquisadores da Embrapa. O relatório do Circuito mostra que 44% dos produtores entrevistados no estado não fazem o MIP. A situação é mais grave na região leste, onde 79% dos produtores não adotam as estratégias do manejo integrado de pragas. E é justamente no leste do estado que está o maior problema com pragas de difícil controle. Naquela região, 30,8% dos produtores não alcançaram êxito no controle, mesmo fazendo sucessivas aplicações de inseticidas. Na média estadual, 20,2% dos entrevistados não conseguiram controlar as pragas das lavouras. A falta de rotação de moléculas, ou princípio ativo dos agroquímicos, é um dos responsáveis pela

evolução de resistência dos insetos também a inseticidas. Mesmo em lavouras com a presença do evento Bt, que confere à planta toxidez às lagartas, esses insetos estão causando danos à lavoura. Um provável motivo é o mau uso da tecnologia, sem respeito às áreas de refúgio recomendadas para evitar que as lagartas se adaptem às condições adversas da cultura transgênica. O relatório aponta que 17,7% dos produtores assumem não plantar o refúgio, que são as áreas sem plantas geneticamente modificadas. Entre os que fazem o refúgio, a área média destinada é de 19,5% da lavoura, superior ao recomendado, que é de 10% da área para a cultura do milho. De acordo com a pesquisadora da Embrapa Milho e Sorgo Simone Mendes, no acompanhamento feito pelo terceiro ano seguido, ainda não foi encontrada resistência na tecnologia Viptera. Já a tecnologia Herculex apresenta alto percentual de insetos sobrevivendo em milho. A tecnologia VT Pro, por sua vez, apresenta baixo percentual de lagartas resistentes. O resultado indica que os insetos resistentes já estão presentes na po-

pulação, sendo necessário dobrar a atenção com estratégias de manejo de resistência como o refúgio e manejo integrado de pragas. “Observamos que a evolução da resistência para a lagarta Spodoptera frugiperda na tecnologia VT Pro não tem ocorrido com a mesma velocidade do observado para a tecnologia Herculex”, afirma Simone. MIP – Manejo Integrado de Pragas - De acordo com a incidência, é tomada a decisão sobre a necessidade ou não de adotar o controle, bem como sobre qual estratégia deve ser usada neste controle. Entre as estratégias usadas no MIP estão o controle varietal, com uso de materiais genéticos resistentes ou tolerantes a determinada praga, o controle biológico, com uso de inimigos naturais, como vírus, bactérias e outros insetos, controle comportamental com uso de feromônios e ainda o controle químico. Fonte: site da Pioneer: http://www.pioneersementes.com.br/media-center/noticias/4959/pesquisa-alerta-sobre-risco-de-o-manejo-inadequado-na-lavoura-provocar-resistencia-de-pragas

Economia

Retomada do crescimento depende do mercado interno

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mercado doméstico é que vai nos salvar”. As palavras são da economista Zeina Latif, da XP Investimentos, em palestra sobre o cenário econômico na 9ª Conferência Internacional de Pecuaristas (Interconf), realizada em setembro último, em Goiânia. Para Zeina, a situação econômica brasileira é tão grave que não dá pra depender do crescimento das exportações para a retomada. “Estamos falando de um mercado de mais de 200 milhões de consumidores. Porém, não se pode esquecer que são mais de 12 milhões de desempregados nesse momento. A recuperação da confiança dos brasileiros é o primeiro passo efetivo para uma onda positiva na economia”, entende a especialista. A boa notícia é que o pior já passou. Para Zeina Latif, há sinais de melhoria em vários indicadores. Para a economista, os próximos movimentos estão nas mãos do governo. “O desafio agora é retomar a normalidade, com superação da crise fiscal, redução da inflação, refluxo da taxa de juros e volta aos trilhos da economia. Atingindo esses objetivos de médio prazo o governo Temer já terá feito muito”, entende a economista.

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Notícias da terra Produtividade

Começa o Desafio CESB safra 2016/17

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partir de outubro agricultores do todas regiões brasileiras já poderão inscrever suas propriedades no Desafio de Máxima Produtividade da Soja, realizado pelo Comitê Estratégico Soja Brasil (CESB). A finalidade do Comitê é mapear e avaliar as técnicas empregadas que estimulam as altas produtividades, ampliando as médias do sojicultor brasileiro, estagnada na casa das 50 sacas por hectare há mais de uma década. O CESB lançou o Desafio da safra 2016/17 junto ao início oficial do plantio da soja, em Sinop (MT), e divulgará na próxima semana o calendário de inscrições, que serão efetuadas pelo site www.cesbrasil.org.br Vencedor na região Centro-Oeste, na safra 2014/15, o consultor Antônio Cavicchioli, de Ponta Porã (MS) colheu naquela safra 127 sacas por hectare, produtividade superior

Padrão fazenda

ao vencedor nacional da safra 2015/16, que somou 120 sacas, na cidade de Buri (SP). “O que impediu nesta última safra, foi o excesso de chuvas. O clima, ora vilão, ora mocinho, que definirá minha meta deste ano”, pontua Cavicchioli, que colheu 72 sacas por hectare na área do Desafio na última safra. Em suas planilhas da safra 2014/15, Cavicchioli apresentou as vantagens econômicas de participar do Desafio do CESB. Na área dedicada à soja comercial, atingiu 72 sacas por hectare, sob o custo aproximado de R$ 2,4 mil, e lucro de R$ 1,7 mil. Enquanto que no hectare inscrito e premiado pelo CESB, o custo se aproximou a R$ 2,9 mil e o lucro a R$ 4,4 mil. Para concorrer o produtor deverá inscrever áreas que não sejam Áreas de Preservação Permanente (APPs) e deverão seguir Boas Práticas Agrícolas, além da legislação trabalhista.

Digital

DuPont Pioneer lançou aplicativo para avaliação de plantio A DuPont Pioneer lançou o aplicativo de Avaliação de Plantio, que facilitará a vida do produtor. Garantir a qualidade do plantio é um dos passos mais importantes para obter melhores resultados de produtividade da lavoura. Uma das formas de verificar a qualidade do plantio é fazer a avaliação da lavoura nos estádios iniciais, verificando tanto a uniformidade de distribuição das plantas (distância entre plantas na horizontal), como também a uniformidade de germinação (distância entre plantas na vertical). A ferramenta está disponível no Portal Pioneer, na Apple Store para iPhones & iPads e também na Google Play Store para smartphones e tablets com sistema Android.

Linha Aminum

12/07/2016

O poder dos aminoácidos para altas produtividades. 21/07/2016

Precocidade floral Maior número de flores 19/08/2016

Aumento de 20% de vagens Saiba mais em: omegafertil.com.br/material-aminum

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Reviravolta histórica Esquecida por mais de um século, a secagem estática do café retorna com força e promete tornar o Brasil imbatível em matéria de qualidade. Rogério F. Furtado

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cafeicultura entrou em ebulição no Brasil, às vésperas de um novo ciclo, talvez o mais importante de todos os tempos. O primeiro indício de que está em curso algo transcendente vem de Boa Esperança, no sul de Minas Gerais. É onde fica a fazenda Capão Comprido, propriedade da família dos irmãos Eugênio Monteiro Junior e Elias Reis Monteiro. Cerca de 3,5 mil cafeicultores e pessoas relacionadas à cadeia de produção do café passaram por lá entre abril e o início de setembro. Foram conhecer mais um sistema de secagem estática, composto por nova geração de equipamentos que operam por via seca. Ou seja, dispensam a lavagem prévia do café, com a separação de grãos verdes Ariosto Mesquita dos maduros e boias. Também suprimem a despolpa de cerejas, os terreiros de qualquer tipo, e mesmo os diversos modelos de secadores convencionais. 18 | Agro DBO – outubro 2016

A obsolescência ameaça o conjunto de práticas, máquinas e benfeitorias que caracterizam a chamada via úmida. Ao mesmo tempo, a inovação tecnológica promete levar o mundo do café a uma completa metamorfose. Tanto em eficiência quanto em volume de produção, com qualidade e redução de custos. Quem esteve em Boa Esperança saiu impressionado com a eficácia das instalações, que operavam a todo o vapor no período da safra. Mas foram poucos os que viram os resultados excepcionais de alguns experimentos de secagem seletiva realizados pelos irmãos Monteiro. São quatro amostras de grãos crus, resguardadas na penumbra de um dos galpões da propriedade, cada qual apresentando aroma natural de intensidade extraordinária – frutas negras, pêssego, figo e maracujá. As amostras representam lotes diferentes, de culti-


Fotos: Rogério F. Furtado

vares também diversas. No campo, os frutos foram submetidos aos muitos fatores que regem a produção – solo, clima, nutrição, manejo etc. Conduzidos aos secadores, tinham em comum apenas a maturação, no ponto ideal. A seca foi interrompida e retomada algumas vezes, até a conclusão do processo. Nesses intervalos de parada dos secadores, a massa de grãos em descanso fermentou, sob condições controladas. Ao final da operação, cada lote pode expressar suas propriedades organolépticas de forma veemente. Com destaque para o aroma. Transformação em curso Ainda não é possível avaliar o impacto desse método em toda a extensão. Mas pode-se imaginar que de fato começa a fazer sentido a meta sonhada pela cadeia de produção há anos: a de transformar o café em mercadoria semelhante ao vinho. O vinho, como é sabido, não tem apenas marcas consagradas e denominações de origem, mas também safras de qualidades raras, cultuadas pelos conhecedores, dispostos a pagar caro pelo produto. No caso do café, a secagem intermitente, com a massa de grãos imóvel, em camadas espessas, resulta em lotes de características incomuns, conforme ficou demonstrado. E esses cafés, torrados, conservam os atributos originais, segundo os Monteiro. Uma vez que a secagem controlada pode ser repetida nas mesmas condições, com resultados parecidos, a produção de cafés finos, de sabores específicos e intensos, está ao alcance de qualquer cafeicultor.

Eugênio e Elias (da esq. p/ a dir.), protagonistas de uma revolução sem precedentes na cafeicultura brasileira; ao lado, tanques de secagem da fazenda Capão Comprido.

Isso porque o conjunto de equipamentos é modular, com caixas de secagem de diversos tamanhos, e não custa muito. Mas os lotes frutados de forma natural, por via seca, provavelmente cativarão só parte dos consumidores. No entanto, é possível que esses produtos diferenciados venham a ocupar o topo de um futuro “iceberg” de café de qualidade, que os irmãos Monteiro pretendem ver navegando pelos mares do mundo. Pois o que interessa, dizem eles, é mudar a imagem do Brasil, reconhecido, por enquanto, apenas como o maior produtor mundial. Tem parque cafeeiro com vários bilhões de covas em 2,2 milhões de hectares e colheu cerca de 50 milhões de sacas neste ano – um terço do total global. Esses dados confirmam a robustez da cafeicultura e sua importância econômica. Mas falta oferecer à clientela cafés de excelência, em quantidades maciças. Eugênio Monteiro diz: “O salto de qualidade deve ser dado pelo conjunto dos produtores. E agora temos tecnologia para tanto”. A contribuição de Eugênio e Elias foi abrir a fazenda à visitação. Atenderam milhares de pessoas e com elas dividiram praticamente tudo o que aprenderam. Só não passaram adiante os detalhes da fermentação/secagem controladas. Pretendem reunir mais dados na próxima temporada, para então divulgar a metodologia que desenvolveram. De qualquer maneira, em matéria de qualidade, as informações que divulgaram sobre o processo de desidratação do café por via seca, nas últimas safras, são eloquenoutubro 2016 – Agro DBO | 19


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tes. Eugênio comenta: “Uma de nossas fazendas vinha produzindo em média 1% do café de bebida mole e 79% de bebida dura. Os 20% restantes eram cafés mais baixos. Nesta temporada, com os novos secadores, viramos o jogo, pois 50% da produção ‘bebeu’ mole. Queremos reduzir o prazo da colheita para 60 dias, alcançar 100% de bebida mole e acabar com a varrição do café. Não é impossível. As máquinas podem fazer uma colheita seletiva. Em uma primeira passada, retiram os grãos maduros. E voltam quando os frutos remanescentes alcançarem o ponto certo. Com isso, a colheita de café verde será menor. Mesmo assim, os grãos verdes que vêm misturados aos maduros não atrapalham. Experimentamos secar algumas cargas com até 80% de verdes. O resultado foi ótimo. O café ‘bebeu’ 83 pontos, sem a adstringência típica dos grãos verdes, sendo classificado como especial, conforme a tabela internacional de qualidade. Mas o ideal é fazer grandes volumes de cafés com 85 de pontuação. Chegaremos lá”. Para isso, os irmãos compraram mais oito unidades secadoras, que se juntarão às 12 atuais já na próxima safra. Vantagens indiscutíveis Em vista das circunstâncias, uma pergunta se torna obrigatória: por quais motivos a via seca é tão superior no processamento do café? Como se trata de processo complexo, que por vezes envolve a fermentação de grãos, respostas definitivas só poderão ser dadas pela pesquisa científica. Mas Eugênio adianta uma explicação simples e convincente, baseada na prática. “Estamos produzindo cafés estritamente moles, às margens da represa de Furnas, numa altitude de 770 metros. O novo método é o que mais se aproxima das condições naturais. No cafeeiro, se não forem colhidos, os grãos ficam presos aos galhos até secarem por completo e virem ao chão. Permanecendo estático, o café, e mesmo as folhas arrancadas pelas colhedoras, sai dos secadores mantendo a cor com que deixaram o campo. E os grãos verdes, ao contrário do que se 20 | Agro DBO – outubro 2016

Os Monteiro querem reduzir o tempo de colheita, acabar com a varrição do café e chegar a 100% de bebida mole.

As anotações em tiras de papel sobre a foto já dizem tudo: os grãos verdes, ao contrário do que se vê pela via úmida, não ficam pretos.

vê pela via úmida, não ficam pretos. Mas chama mais a atenção o fato de que o café permanece vivo. Não perde a capacidade de germinar. Fizemos várias experiências e comprovamos que, reidratados, os grãos germinam. Isso prova que sua estrutura e componentes bioquímicos permanecem intactos. Ainda quanto à qualidade, convém não esquecer que a natureza produz o café com a casca. Se ele for despolpado, perderá o açúcar”. Do ponto de vista econômico, a supremacia da via seca também é notável. Com ela, a semelhança da cafeicultura com atividades fabris, imunes aos fatores climáticos, nunca foi tão grande. Eugênio diz: “Neste ano, não paramos a colheita nem por um único dia. E chegamos a ter chuvas por uns dez dias consecutivos. Achei interessante: com a chuva, fica mais fácil tirar o café do pé. Levamos as máquinas para lavouras novas, implantadas em terrenos planos, que favorecem as operações. É claro que se houver mais umidade no ar o período de secagem será mais longo. Mas isso vale para qualquer secador”. Além de evitar a interrupção da colheita, o novo sistema gasta menos energia. “Um secador tradicional, para desidratar 30 mil litros de café, exige potência instalada de 27,5 cv. Para o mesmo volume de grãos, o secador estático necessita de 3,5 cv. A maior parte da energia elétrica é consumida pelo ventilador, que insufla ar quente na massa de grãos. Na secagem da safra do ano passado, quando usamos a combinação de terreiro e secadores convencionais, o custo operacional ficou em R$ 28,8 por saca. Neste ano, gastamos R$ 2,5. Calculo que a produção de um secador estático, operando durante 90 dias, corresponda a mil sacas de café limpo. Se a economia for de R$ 25 por saca, o equipamento será amortizado em poucas safras”.


Entre as vantagens da via seca, Eugênio Monteiro destaca uma: “O café permanece vivo, não perde a capacidade de germinar”. o café em camadas muito finas. À medida que a secagem progredia, íamos dobrando essas camadas, movimentando sempre os grãos para impedir a fermentação e uniformizar a seca. Mas, no fundo, os terreiros sempre foram um estorvo. Nas grandes fazendas eles têm de ser maiores. No entanto, é difícil dimensioná-los corretamente para receber colheitas volumosas, feitas com máquinas. Para o pequeno produtor as dificuldades são maiores. Ele não tem área para fazer terreiro amplo. E também não tem maquinário, na maioria das vezes. Precisa alugar. Como a máquina traz muito café para o terreiro, não é possível secar a produção em camadas finas. Se chover, as coisas se complicam ainda mais. E chuva não marca hora”.

Mas isso não é tudo. O conjunto para a secagem estática requer poucos dispositivos móveis (leia “Eficiência e simplicidade”, abaixo). Por isso, gera menos despesas com a eventual troca de peças e com a manutenção. “Terminada a safra, basta fazer uma limpeza geral. Principalmente na fornalha. Os procedimentos são iguais aos que se praticam nos outros sistemas, para garantir longevidade aos equipamentos. Além disso, a instalação do secador é fácil e rápida. No meio da última safra, compramos mais uma unidade. Ela foi entregue em certa manhã, recebendo sua primeira carga horas depois, à noite. E a linha de secadores não está assentada sobre fundações especiais, bastou o terreno nivelado do terreiro”, diz Eugênio. Para ele, livrar-se do terreiro foi um alívio: “Até agora, no sistema tradicional, o melhor a fazer era esparramar

Eficiência e simplicidade O sistema instalado na Fazenda Capão Comprido está longe de ser complicado. As unidades secadoras são formadas por tanques metálicos, com um metro de profundidade e capacidade para 15 mil litros de café. O fundo das caixas é todo perfurado para permitir a passagem de ar quente, forçada por um ventilador, primeiro através de uma câmara, aquecida por um queimador. O ar quente atravessa a camada de café de baixo para cima e dissipa a umidade na atmosfera. Na massa de

Na opinião de Eugênio, os terreiros de secagem ao sol sempre foram um estorvo. E quando chove, mais ainda.

História saborosa A história do envolvimento dos irmãos Monteiro com o novo processo de secagem é tão saborosa quanto um bom café. Tudo começou por acaso, há oito anos, quando Eugênio Junior deixou uma carreta de frutos recém-colhidos na lavoura, ao pôr do sol de uma sexta-feira. A carga de café Mundo Novo – nome um tanto premonitório –, permaneceu no campo até quase ao meio-dia da segunda-feira seguinte. Eugênio pai, homem severo, mas justo, puxou as orelhas de Junior e decretou punição: “Meu filho, você colocou em risco o trabalho de um ano inteiro. Leve esse café para o terreiro e seque em separado. Se ele perder em qualidade, o valor da depreciação será descontado de seu pagamento”. Junior, respeitoso, não deu um pio. Mas as circunstâncias conspiraram a seu favor. Seco, o café fermentado na roça rendeu doze sacas limpas, deu bebida estritamente mole e recebeu elogio

grãos, a temperatura não ultrapassa os 45ºC. Alcançado esse limite, o sistema interrompe o movimento da rosca sem fim que alimenta os queimadores com palha de café, e não fica sobra de combustível dentro do forno. “Cada unidade de secagem tem um queimador. E o consumo de palha é muito pequeno. Neste ano, testamos um queimador de óleo diesel, que não se mostrou viável economicamente. Estamos pensando em produzir maravalha. Esse combustível, a exemplo da palha e do diesel, também permite automatização do sistema, ao contrário da lenha, que só utilizamos no princípio da safra, quando ainda não começou o beneficiamento

do café. A queima de lenha exige a presença de alguém para acompanhar o processo e alimentar o queimador. A palha nos permite ficar até 30 horas sem ir ao secador. O período mínimo para uma secagem correta é de 120 horas. Terminada a operação, o tanque, basculante, é aberto por um dos lados e despeja a carga em uma rosca sem fim, que conduz o café para uma carreta. Nessa etapa, o grau de umidade é desuniforme. No terço superior da caixa haverá de 2% a 3% de umidade a mais que no terço inferior. Porém, com cinco dias de descanso em tulha, tudo fica igualado, em equilíbrio higroscópico perfeito”, explica Elias Monteiro.

outubro 2016 – Agro DBO | 21


Capa “Os sistemas tradicionais são anacrônicos. O trabalhador sofre com a tarefa pesada e repetitiva de revirar o café nos terreiros” entusiástico do provador. Resultado: Junior obteve preço 50% superior ao dos cafés finos da época. Como o mantra “é preciso evitar as fermentações indesejáveis a todo custo” se impôs aos cafeicultores nas últimas décadas, Junior concluiu que as desejáveis deveriam ser pesquisadas. Levou carretas de café para o mesmo lugar por diversas vezes, ao longo de várias safras, sem sucesso. Mas intuiu que a seca do produto sem movimentação era viável. E se pôs a ler sobre o assunto. Ele diz: “O processamento por via seca foi proposto ainda no século 19. Não prosperou porque a ideia estava adiante de seu tempo. Faltavam meios técnicos para concretizá-la. Os equipamentos funcionavam com fogo direto e não existia um dimensionamento correto do fluxo de ar. Inclusive não havia maneira de mantê-lo constante. Por isso o sistema caiu no esquecimento”. Resgate técnico A proposta seria retomada na década de 1950, por pesquisadores do Instituto Agronômico de Campinas, relata o veterano agrônomo e cafeicultor José Carlos Gonçalves (leia Agro DBO de março de 2016). Mas, por razões desconhecidas, os estudos sobre o tema, citados pelos pesquisadores Ayrton Rigitano, André Tosello e outros na revista Bragantia, em 1964, não tiveram consequências práticas. Gonçalves também se lembra de ter visto equipamentos franceses para o processamento a seco abandonados em uma fazenda do estado de São Paulo. Mas o resgate estava próximo. Sabendo que produtores sul-mineiros vinham tentando aperfeiçoar os métodos tradicionais de secagem, Eugênio começou a circular pela região, a ver se encontrava algo diferente que pudesse aproveitar. Finalmente, quatro anos atrás, achou o que procurava em uma propriedade de Carmo do Rio Claro – o secador fabricado pela empresa Macieski, de Grão-Pará (SC). Mas

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Secador da Cool Seed utlizado pelo produtor Ismael Alves, de Franca, São Paulo (leia matéria da edição de outubro de 2015 da Agro DBO).

o conjunto ainda estava nos estágios iniciais de desenvolvimento, com estrutura de alvenaria. “Então, começamos um namoro com o equipamento, que evoluiria para o noivado, no ano passado, e para o casamento, neste ano”. O “noivado” consistiu no processamento de 15 mil litros de café na instalação do amigo de Carmo do Rio Claro. Ao mesmo tempo, Eugênio secou outro tanto só no terreiro e quantidade igual em terreiro e secador convencional. “No Macieski, a seca demorou cinco dias e rendeu 28 sacas de café de bebida mole. Na combinação de terreiro com secador, foram necessários oito dias ao sol, mais três de forno, sendo produzidas 27 sacas que ‘beberam’ duro. A secagem realizada apenas no terreiro levou 23 dias e nos deu 26 sacas, também de bebida dura. As quantidades de resíduos e os índices de catação foram diretamente proporcionais ao tempo de secagem. Com esses dados, nos convencemos da superioridade da via seca e realizamos o ‘casamento’, que foi a compra da nova linha de equipamentos”. Entre o “noivado” e o “casamento”, os irmãos Monteiro colaboraram com a Macieski no sentido de aperfeiçoar o sistema, até que chegasse à configuração atual. E estenderam a colaboração a outros fabricantes de equipamentos que os têm procurado – a concorrência já é intensa nesse segmento. Um dos sistemas disponíveis, mais sofisticado, é o da empresa Cool Seed, do Paraná, que emprega uma unidade de tratamento de ar. No entanto, já foi dito que a simplicidade é o último degrau da sofisticação. Tanto assim que a fabricação de secadores do padrão Macieski não oferece obstáculos sérios. O engenheiro José Carlos Gonçalves pensa em construir sua própria linha de equipamentos, circundando os tanques metálicos de secagem estática com uma camada de isolante térmico. Ele acredita que tal providência poderá aumentar a eficiência do fluxo de ar quente. A ressurreição do conceito de secagem estática, plena de significados para a cafeicultura, pode ser comparada à descoberta da vulcanização da borracha e a outros achados científico-tecnológicos que se deram mais ou menos ao acaso, ainda que o café não tenha a importância estratégica da borracha, na guerra e na paz. Eugênio Junior está consciente das implicações econômicas do novo método, mas faz questão de dizer que a busca empreendida por ele e Elias também foi motivada por princípios ético-religiosos. “Os sistemas tradicionais são anacrônicos. Provocam sofrimento. O trabalhador sofre com a tarefa pesada e repetitiva de revirar o café nos terreiros. E os agricultores têm sua cota, em termos psicológicos. Vivem sob tensão, pois o resultado de um ano inteiro de dedicação e esforços, que está sobre o terreiro, se for atingido por chuvas, irá literalmente por água abaixo”.



Tecnologia

Nova abordagem no controle do HLB dos citros Na Ecologia Química há casos concretos de tecnologias que podem beneficiar o agricultor e evitar contaminações nas lavouras Decio Luiz Gazzoni*

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* O autor é engenheiro agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja, e membro do Conselho Editorial da Agro DBO.

a edição de julho da Agro DBO chamamos a atenção para as inovações que podem ser produzidas por um novo ramo da Ciência, a Ecologia Química. Citamos alguns exemplos de avanços ocorridos no exterior. Neste artigo vamos mostrar um caso concreto de tecnologia que pode beneficiar o agricultor, com base no conhecimento das interações entre pragas e cultivos. O greening, ou HLB, é a mais destrutiva doença dos citros no mundo, estimando-se que esteja presente em 17% das plantas de laranja no estado de São Paulo. A doença, causada pela bactéria Candidatus Liberibacter spp., não pode ser controlada, mas o citricultor pode impedir que as plantas sejam contaminadas, o que ocorre por meio de um inseto vetor, o psilídeo Diaphorina citri. Trata-se de um inseto muito pequeno, que se alimenta sugando os brotos terminais das plantas, e que possui grande capacidade reprodutiva, pois uma fêmea pode colocar até 800 ovos. Em termos práticos, o que o agricultor pode fazer, hoje, é livrar-se das plantas infectadas, erradicar hospedeiros intermediários, e controlar o inseto vetor com o uso de inseticidas. Professores da Esalq descobriram que o psilídeo tem preferência por depositar os ovos em algumas espécies do gênero Citrus. O mais

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importante da pesquisa foi verificar que o inseto é avesso a ovipositar em Citrus reticulata (murcote), e no híbrido C. paradisi x Poncirus trifoliata (citrumelo Swingle) Com base nessa informação, cientistas da UFSCar estudaram os óleos essenciais encontrados em 22 espécies do gênero Citrus - sendo os mais conhecidos a laranja, o limão e a tangerina – e as reações que esses óleos ocasionavam no psilídeo. Os pesquisadores descobriram que essas substâncias possuem a capacidade de atrair ou repelir o psilídio, variável de acordo com a sua composição química. Assim, os pesquisadores demonstraram que o inseto vetor apresenta clara preferência por ovipositar na planta conhecida como dama-da-noite ou jasmim-laranja (Murraya paniculata), a qual é cultivada apenas para fins ornamentais. Essa informação não representa novidade, pois o fato era conhecido, sendo recomendada sua erradicação das regiões produtoras de citros. O importante foi descobrir quais óleos essenciais estavam presentes na planta, que a tornavam um hospedeiro altamente procurado pelo psilídeo. Da mesma forma, foram identificadas as espécies nas quais o psilídeo evita ovipositar, e que têm em comum a presença de três compostos encontrados em seus óleos essenciais: fitol, (Z)-beta-ocimeno e beta-elemeno. Tais compostos podem agir como repelentes, tor-

nando os óleos dessas plantas menos atraentes para o inseto depositar seus ovos. A técnica usada para estudar os óleos essenciais foi a cromatografia gasosa, que separa os compostos em suas frações, para depois serem identificados por um espectrômetro de massa, que determina a sua composição química. Com os compostos separados e identificados, foi analisada a sua capacidade de atrair ou repelir o psilídeo. Para tanto foi utilizado um tubo em formato de Y, em que o inseto é posicionado na base e dois óleos são colocados em cada saída. O inseto sente, então, o odor dos óleos, dirigindo-se para o composto que mais o atrai. Na sequência do estudo, os insetos serão colocados em um eletroantenógrafo, que registra as reações do inseto em função da detecção das substâncias químicas pelos sensores localizados nas suas antenas. Essa informação é essencial para o desenvolvimento de tecnologias de controle do psilídeo. A informação pode ser utilizada nos programas de melhoramento genético, de maneira a obter plantas altamente produtivas, com a qualidade de frutos demandada pelo mercado, e com baixa atratividade ao psilídeo, evitando a disseminação da doença nos pomares. Posteriormente, essas variedades poderão fornecer gemas para enxertia, para diminuir a atratividade da planta para os psilídeos.



Opinião

Ocupando espaços Há lugar para todos na agricultura, portanto, pequenos, médios e grandes produtores, sem nenhum preconceito ideológico. Rogério Arioli Silva *

Integração lavoura - floresta, mas há variáveis como ILPF ou ILP.

* O autor é engenheiro agrônomo e produtor rural no Mato Grosso

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busca de aumento da participação brasileira no comércio mundial de produtos agropecuários é uma das principais metas do ministro Blairo Maggi, em sua incipiente gestão no Ministério da Agricultura. A meta anunciada, embora seja ousada é, porém, realizável: aumentar dos atuais 6,9 para 10% de todo comércio mundial do agronegócio em apenas cinco anos. Para concretizar este objetivo o ministro e sua equipe, além de representantes de outras entidades ligadas ao setor agropecuário brasileiro, já pegaram a estrada mundo afora. A primeira missão visitou alguns países asiáticos que poderão se tornar (alguns já

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o são) grandes parceiros comerciais do Brasil. Trata-se de uma via de mão dupla, onde se oferece os produtos os quais temos competitividade ao mesmo tempo em que se acena com um mercado de 200 milhões de consumidores, o maior da América Latina. Um dos principais focos é mostrar aos potenciais consumidores a qualidade dos produtos brasileiros e, sobretudo, a sustentabilidade da nossa produção com ênfase nas questões ambientais. Essa iniciativa reveste-se da maior importância uma vez que ainda existem algumas restrições aos produtos brasileiros, entretanto, à medida que nossa forma de produção for demonstrada, elas tenderão a desaparecer.

É sabido que o excesso de burocracia será um dos grandes desafios a serem enfrentados. É preciso que o governo disseque suas práticas e reduza-as ao mínimo indispensável no sentido de permitir que os empresários sintam-se encorajados a ampliar as fronteiras do seu comércio. O anúncio de um plano de governo, neste sentido (Plano Agro +), objetiva atender as demandas já identificadas pelo Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) que são alguns dos entraves à maior agilidade das práticas comerciais. Algumas medidas já foram tomadas como, por exemplo, a revisão das regras de certificações fitossanitárias e o fim da reinspeção nos portos de produtos com SIF já emitidos anteriormente. Além disso, já foram resolvidas quase setenta demandas das mais de trezentas identificadas pelo Mapa em um Grupo de Trabalho criado há mais de dez anos. A maioria delas em sintonia com reivindicações de entidades representativas do agronegócio, o que é muito positivo. Há muito tempo já se observa o aumento da importância dos acordos bilaterais no comércio internacional de produtos. Os grandes blocos comerciais existentes, não raro, perdem-se no excesso de preciosismos e questiúnculas, demorando em avançar. O Mercosul é um claro exemplo disso, onde questões ideológicas acabaram afetando os interesses comerciais com evidentes prejuízos para produtores e consu-


midores. No mundo globalizado burocracia e ineficiência são irmãs siamesas. Há pouco tempo foi divulgado um dado alarmante: somente no setor portuário o excesso de burocracia custa R$ 4,3 bilhões/ano para o Brasil. Não é preciso dizer que quem acaba pagando essa conta é toda a sociedade brasileira, através do aumento de custos dos produtos internalizados ou exportados. O setor rural já representa 46% de todas as exportações brasileiras e quase 22% de todo PIB nacional, entretanto, há muito caminho a ser percorrido face à potencialidade existente. Ainda persistem grandes desafios é inegável. O custo da logística encarece os produtos produzidos nas fronteiras agrícolas, todavia, à medida que estes gargalos forem resolvidos será possível transfor-

mar em competitivas as vantagens comparativas que este país continente e seu clima tropical possuem. O papel dos governos é justamente permitir que as negociações sejam “destravadas” para que empregos sejam gerados e a renda seja distribuída. São oportunidades que existem com potencial para gerar receitas tam-

O agronegócio é a cereja do bolo chamado Brasil. Ninguém possui a capacidade que temos de alimentar um mundo carente de segurança alimentar. É preciso ocupar esse espaço, mostrando sem nenhum receio o tipo de agricultura tropical sustentável que realizamos. Querem discutir preservação ambiental? Vamos lá:

É sabido que o excesso de burocracia será um dos grandes desafios a serem enfrentados. bém aos pequenos produtores, através do incremento na exportação de proteínas animais (aves e suínos) e lácteos produzidos, principalmente, pelos pequenos módulos rurais. Há espaço para todos, portanto, pequenos, médios e grandes produtores, sem nenhum preconceito ideológico.

temos mais de 60% do nosso território preservado, além de reserva legal dentro de cada propriedade. Ninguém mais tem isso no mundo, desta forma somos os parceiros que todos querem. Para isso basta apenas que demonstremos capacidade e eficiência para ocupar este espaço que a história já nos reservou.

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Entrevista

Nos novos tempos do agro até a barganha vai mudar.

D

aniel Latorraca Ferreira, 30 anos, superintendente do Imea, Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária é economista com MBA no agronegócio, iniciou atividades profissionais há 7 anos, depois de formado na Universidade Federal do Mato Grosso. Natural de Cuiabá, Daniel joga tênis, gosta de uma boa música, e torce para o Flamengo carioca. Já o Imea é uma instituição privada sem fins lucrativos, que é vinculado ao sistema Famato – Federação da Agricultura do Estado do Mato Grosso, em parceria com a Aprosoja, Ampa e Acrimat. Foi criado em 1998, reestruturado em 2008 e tem sede em Cuiabá-MT. O Imea realiza estudos e projetos socioeconômicos e ambientais em todo o território mato-grossense, e produz informações estratégicas do agronegócio para as entidades mantenedoras. Daniel concedeu entrevista a Richard Jakubaszko, editor-executivo da Agro DBO.

Agro DBO – Qual a perspectiva para a safra 2016/17 no MT? Daniel Latorraca Ferreira – Acabamos de atualizar os números de previsões da safra. Prevemos uma estabilização na área plantada, que sai de 9,3 milhões de hectares e vai para pouco menos de 9,4 milhões de ha de soja. De milho ainda não temos estimativas. A soja da safra 15/16 teve uma baixa produtividade e estamos esperando uma melhora da produtividade para o ano que vem. Agro DBO – Por que a produtividade da soja anda estacionada no MT em 50 sacas por hectare? Em quase todos os outros estados houve melhoria das médias. Daniel Latorraca Ferreira – Há vários fatores, mas a safra 2015/16 teve o clima como maior 28 | Agro DBO – outubro 2016

responsável pelas baixas médias, foi o desequilíbrio que superou todos os outros desafios que temos no estado, dentro ou fora da porteira, como logística do transporte e do armazenamento, altos custos etc. Em verdade o clima baixou a produtividade, que foi de 49,8 sc/ha, mas estimamos uma recuperação para 53 sc/ha nesta próxima safra, mesmo com a previsão de presença de uma La Niña. Deveremos ter uma safra de 29,9 milhões de toneladas de soja no MT, melhor que os 27,8 milhões t da safra anterior. Agro DBO – Qual o maior problema hoje do MT? Produtividade? Logística de armazenagem? Transporte? Custos? Pragas e doenças com resistência? Daniel Latorraca Ferreira – Logística é o nosso principal e maior gargalo, estamos longe dos

portos. Mas estamos com vários desafios dentro das porteiras, como os custos que aumentaram muito, especialmente sementes e agroquímicos, reduzindo a margem dos produtores, o que dificulta aos agricultores a inserção dessas novas tecnologias nas lavouras, para que se possa tirar o máximo do potencial produtivo de cada lavoura. Agro DBO – E a BR163? Quando sai? Quanto vai baixar o custo de transporte? Quanto da produção poderá ser transportada por essa via? E a ferrovia Norte-Sul, quando sai? Daniel Latorraca Ferreira – Essa é uma grande expectativa. O MT começa a enviar boa parte da sua produção para os portos do Arco Norte, no ano passado já foram 29% das nossas exportações por essas vias. Nos próximos


O MT já envia parte da sua produção de grãos para os portos do Arco Norte; em 2016 foram 29% das exportações por essas vias 2 a 3 anos deveremos ter a conclusão da BR163, faltam cerca de 105 km para serem finalizados, de um total de cerca de 1.000 km entre Sinop e Miritituba. Não sabemos ainda quanto vai baixar o custo do frete, mas a competitividade entre os transportadores, agora com saídas para o Sul e o Norte devem baixar os preços. A Ferro-Grãos, garantida pelo presidente Michel Temer dias atrás, deve ser uma alternativa positiva para os produtores exportadores. Podemos chegar a cerca de 50% a 60% da produção escoada por essas vias. Já a ferrovia Norte-Sul tem atendido a região nordeste do estado (Canarana, Querência, na região do Vale do Araguaia), que vai para o porto de Itaqui (MA). Fora isso, temos a expectativa de pavimentar a BR080, entre MT e Goiás, para reduzir as distâncias entre o MT e essa região. Nessas áreas ainda há muita pastagem degradada para ser convertida em agricultura. Agro DBO – Quanto a agricultura tem para avançar no MT em pastagens degradadas? Em ha? Daniel Latorraca Ferreira – Não temos ainda uma metodologia precisa para avaliar isso. Entre pastagens degradadas ou não, temos cerca de 15 milhões de ha. O problema futuro é saber onde vai se colocar toda essa boiada, será um novo desafio. Na agricultura o MT tem hoje pouco mais de 13 milhões de ha, entre soja, milho e algodão. Agro DBO – Quantos ha de cerrado virgem ainda estão disponíveis? Daniel Latorraca Ferreira – Esse número não existe. A agri-

cultura tem avançado mais na área de pastagens, e há muita ILP – Integração-Lavoura-Pecuária hoje no estado. Ainda não sabemos o que pode ocorrer, mas projetando com base em experiências e relatos regionais de sindicatos, nos próximos 8 a 10 anos o MT deve atingir o limite de expansão de área para agricultura e pastagens, conforme delimita o Código Florestal, que é de uma Reserva Ambiental de 50% da área no Cerrado. A verdade é que a expansão do plantio de soja tem se dado principalmente em de áreas de pasto degradado. Agro DBO – Qual a perspectiva do IMEA em questões ambientais? Vai piorar o patrulhamento, a legislação será mais restritiva, os consumidores exercerão um papel limitante? Daniel Latorraca Ferreira – Acredito que existem todos os vieses citados. Há uma consciência ambiental no estado do MT, todos falam em agricultura sustentável do ponto de vista

ambiental. Não vemos problemas nesse sentido. O produtor hoje tem foco em melhorar a eficiência nas áreas em que planta, para aumentar a produtividade. Agro DBO – Como o Imea vê a possibilidade de ter informações mais concretas sobre áreas já usadas e ou disponíveis para agricultura? Ouvimos dizer que vocês possuem um projeto em parceria com o Google, como é isso? Daniel Latorraca Ferreira – Chegamos já a novos tempos na agricultura, estamos agora em tempos digitais. Fomos ao Google para tentar antecipar quais caminhos poderemos usar para obter mais informações – e mais rápidas, em tempo real – sobre áreas plantadas, monitoramento por satélite, áreas virgens, mas não há nenhum projeto específico, sabemos que será assim, e estamos nos preparando. Agro DBO – Como o IMEA avalia a compra da Monsanto pela Bayer? Daniel Latorraca Ferreira – A gente não tem como opinar sobre isso. Na verdade, o fato é que vai haver mais uma fusão, o mercado se concentra mais, os fornecedores se agigantam ainda mais, e isso aumenta os desafios dos produtores no momento de traçar uma estratégia na compra dos insumos. De um modo geral isso não é bom. De fato, o que se sabe é que a velha e tradicional estratégia da barganha, usada pelos produtores rurais nas compras dos insumos, agora parece favorecer os fornecedores, e ela deve mudar, mas vamos auxiliar os agricultores a encontrar boas alternativas e soluções. outubro 2016 – Agro DBO | 29




Fitossanidade

Máquinas lonadas, à espera do início dos trabalhos de plantio no norte do Mato Grosso.

Inimigos à espreita Plantar bem, produzir bem e colher bem virou uma questão de sobrevivência após três anos de safras frustradas no Centro-Oeste. Marianna Peres

O

s produtores mato-grossenses viraram o mês de setembro aptos ao plantio da safra 2016/17 de grãos, porém poucos se arriscaram. Sem chuvas suficientes para garantir o pleno desenvolvimento das plantas, poucos se arriscaram a semear

Valcir Gheno adotou estratégia mais cautelosa nesta temporada, abdicando do plantio antecipado.

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“no pó”, prática habitual dos sojicultores do médio norte e do oeste do estado, que sempre dão a largada nacional do novo ciclo. Outro indicativo da cautela dos produtores mato-grossenses é o volume de grãos comercializados de forma antecipada até meados de setembro: 30% da safra estimada em pouco mais de 29 milhões de toneladas, contra 40% no mesmo período de 2015. Consciente, comedido e decidido. Assim podemos definir o produtor Valcir Gheno, que planta 1,3 mil hectares de soja no município de Ipiranga do Norte (450 quilômetros ao norte de Cuiabá). No ano passado, a estiagem e a alta incidência de mosca-branca (Bemisia tabaci) abocanharam boa parte de sua renda. Para 2016/17, ele adotou nova estratégia:

“Enquanto não acumular 30 milímetros de chuva não começo a plantar”. Com tal decisão, Gheno abdicou do plantio antecipado, um hábito arraigado – ele plantava imediatamente após o fim do período de vazio sanitário (15/9), na expectativa de que as chuvas logo cairiam. Como as precipitações falharam nos últimos anos, mudou de postura. Na opinião do proprietário da fazenda Esperança, o clima foi determinante para os resultados da safra passada 2015/16. “A seca reincidente tornou o ambiente mais favorável para algumas pragas, como a mosca-branca. Até três anos atrás estávamos convivendo com ela. No entanto, o clima seco propiciou a infestação, que atingiu um nível de difícil controle”. Gheno afirma que,


Gabriel Faria/Embrapa

Moscas e percevejos Em Lucas do Rio Verde (360 quilômetros ao norte de Cuiabá), o produtor Gilberto Eberhardt viu a produtividade da soja na última safra despencar de 72 sacas por hectare no início da colheita para 40, no final. Há 12 anos, ele planta os mesmos 510 hectares de soja na safra de verão e, na sequência, entra com o milho safrinha na fazenda Recanto. Eberhardt conta que a seca em 2015 ampliou o oportunismo da mosca-branca e dos ataques de percevejos. “No ano passado, percebi que o manejo é essencial para evitar o ponto de eclosão da mosca, pois sua população se eleva com muita facilidade. Em conversas com outros produtores e agrônomos, aprendemos que temos de usar um produto específi-

Wanderlei Dias Guerra

em média, a praga demandou custos com inseticidas na ordem de 4 a 5 sacas de soja, chegando a 8 a 10 sacas em outras propriedades. “Houve também oportunismo dos percevejos, que demandaram mais 6 sacas de soja para o controle”. Ele esperava colher 57 sacas por hectare, mas ficou em 50, pouca coisa acima da média da região: entre 48,2 e 49,8 sc/ha. “Onde hesitei contra a mosca-branca, perdi o controle efetivo da praga”, diz ele, disposto a investir mais em ações preventivas na safra 2016/17 para evitar a mosca-branca e outros invasores nefastos. co para combater ninfas e ovos. Até então, usávamos inseticidas para a mosca adulta. Outra lição: como é uma praga migratória, tivemos de buscar uma estratégia comum no momento de fazer as aplicações, com todos tentando realizar os trabalhos no mesmo período de ação para evitar que as moscas evadidas de uma lavoura se estabelecessem no vizinho. A união permitiu a criação de grupos de discussões e grupos de trabalho. Agora sabemos a hora certa de entrar no combate, o que usar e como usar”. Com propriedade em Campo Novo do Parecis (398 quilômetros ao noroeste de Cuiabá/MT) e expertise no cultivo de algodão, além de soja, milho e outras culturas, o produtor Ricardo Arioli concorda: É preciso

Folhas infestadas pela mosca-branca, praga migratória de difícil controle.

Percevejo em ação em lavoura do Mato Grosso: incidência maior por causa da seca.

aprender a conviver com a mosca-branca. “Na safra passada, por exemplo, essa praga não nos trouxe danos na soja. Como já a conhecíamos das lavouras de algodão, sabíamos que o monitoramento da população é a principal forma de controle. Quem só planta soja está vendo a mosca-branca recentemente. Quando o sojicultor percebe a mosca em sua lavoura, muitas vezes ele já perdeu o controle”, lamenta. Para esse ano, Arioli reservará os mesmos dois mil hectares à soja em primeira safra. Depois entrará com milho, milho pipoca e girassol em proporções a definir para a segunda safra. O fantasma da ferrugem Para o coordenador da CDSV/ Mapa – Comissão de Defesa Sanitária Vegetal do Ministério da Agricultura em Mato Grosso, Wanderlei Dias Guerra, “a maior ameaça fitossanitária à sojicultura mato-grossense está ativa, à espera das primeiras lavouras”. Ele se refere à ferrugem asiática, doença provocada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi. Em viagens pelo estado, o pesquisador comprovou a presença de plantas guaxas de soja em várias localidades, especialmente nas regiões de Primavera do Leste, Campo Verde e Sapezal “Ao analisar material (folíolos) coletado no perímetro urbano de Primavera do Leste, vi que pelo menos na outubro 2016 – Agro DBO | 33


Fitossanidade “É preciso monitorar também doenças secundárias ou de final de ciclo como antracnose, mancha-parda, cercosporiose e olho-de-rã”.

metade das folhas tem ferrugem, centenas de urédias, milhões de esporos novinhos, ativos, esperando as primeiras lavouras. Infelizmente, apesar dos vários alertas que fiz durante o período de vazio sanitário, a prefeitura local não destruiu estas plantas, e isto poderá antecipar a ocorrência da ferrugem nas lavouras. Os produtores terão que pulverizar antes e uma aplicação a mais significa mais custos”. Mais do que nunca, segundo ele, é necessário monitoramento constante, uso adequado de produtos nas doses recomendadas, rotação dos princípios ativos e atingir o alvo. Naturalmente, a mosca-branca preocupa. Na safra passada, segundo ele, o estado registrou muitos casos de infestação da espécie, inclusive em culturas diversas das que costumava atacar. “Na soja pegou forte por conta da seca e continuou este ano em áreas de feijão. O mais grave é que ela já está atacando milho, algo nunca antes visto, e também pode ser encontrada em ervas daninhas. Pelo fato de ter algodão na sequência da soja, ela vai também para este cultivo e causa a fumagina, o que prejudica a qualidade da pluma. Na soja, o escurecimento das folhas, pela mesma fumagina, faz com que aumen34 | Agro DBO – outubro 2016

Lavoura de soja e folhas atacadas pela ferrugem asiática, uma das doenças mais severas da cultura.

te a temperatura foliar, causando a morte, requeima das mesmas e queda prematura. A ferrugem quando chega e o controle foi ineficiente, as folhas ficam, completamente secas, parece que passou fogo. A engenheira agrônoma e coordenadora do Departamento de Plantas da Fundação Rio Verde, em Lucas do Rio Verde, Luana de Rossi Belufi, chama à atenção para a necessidade de monitorar também doenças secundárias e de final de ciclo, alguma das quais com grande incidência em 2015: antracnose, mancha-parda, cercosporiose, mancha olho-de-rã e macrophomina. “Outro problema observado foi a alta incidência de percevejo-marrom na soja e do percevejo barriga-verde no milho”. Recomendações para controle A ferrugem asiática é uma das doenças mais severas da cultura da soja, com danos variando de 10% a 90% nas diversas regiões geográficas onde foi relatada. Os sintomas iniciais são pequenas lesões foliares, de coloração castanha a marrom escura. Na face inferior da folha, pode-se observar urédias que se rompem e liberam os uredósporos. Plantas severamente infectadas apresentam desfolha precoce, que compromete a

formação, o enchimento de vagens e o peso final do grão. A estratégia de manejo recomendada no Brasil para essa doença inclui a utilização de cultivares de ciclo precoce e semeaduras na época recomendada, a eliminação de plantas de soja voluntárias e a ausência de cultivo de soja na entressafra por meio do vazio sanitário, o monitoramento da lavoura desde o início do desenvolvimento da cultura, a utilização de fungicidas no aparecimento dos sintomas ou preventivamente e a utilização de cultivares com gene de resistência. Atualmente, mais de 120 fungicidas possuem registro no Mapa para o controle dessa doença. Como analisa a coordenadora do Departamento de Plantas da Fundação Rio Verde, até setembro o cenário para a safra 2016/17 possibilitava previsões bastante animadoras em relação às condições climáticas. “A boa notícia é que o fenômeno La Niña deve ser mais ameno. A previsão indica que ele vai começar a atuar a partir de novembro. Por um lado, teremos chuvas com bom volume e distribuição adequada para a cultura da soja. Por outro, temos que considerar que essas condições são favoráveis ao desenvolvimento de doenças, principalmente a ferrugem asiática”. Ainda como explica Luana, as previsões apontam para longos períodos de invernada, o que também deve entrar no planejamento de aplicações que deverão ser feitas com muito critério dentro do momento ideal. “Espera-se que nessa safra tenhamos novamente problemas com mosca-branca, percevejos e Spodoptera na cultura da soja. Como recomendação de manejo temos de realizar o monitoramento ao longo do ciclo da cultura para que as aplicações sejam feitas antes da praga atingir o nível de dano econômico e respeitar as doses e intervalos recomendados dos produtos”.



Almanaque

Você sabia? Agricultores dividem saberes e experiências e essas são formas de solidariedade que mais dignificam os profissionais da terra. Hélio Casale *

P

rofissionais que muito contribuíram com a nossa agricultura, não são mais lembrados como mereceriam. Praticamente não se cita mais o professor Malavolta, que batalhou na área de química agrícola, deixando mais de 300 trabalhos científicos. Também poucas citações do Dr. Alcides Carvalho, na área da genética, ele que selecionou o cultivar de café Mundo Novo e o cruzamento que deu origem ao Catuaí, além de muitos outros trabalhos. O Dr. Coaracy Moraes

riência com o plantio direto, comentou: “O começo foi do nada. Não havia máquinas apropriadas, nem herbicidas eficientes, informações técnicas ou pesquisas em andamento. Os pioneiros eram chamados de loucos. Quando comparamos o início com o estágio a que chegamos, não é possível esconder a expressão de vitória. Era como se antes víssemos a agricultura em preto e branco e, depois do plantio direto, ficou colorido. Atualmente há plantio direto no Brasil em 80% das áreas cultivadas com soja/milho”.

O Plantio Direto surgiu como necessidade para reverter a erosão dos solos arenosos

* O autor é engenheiro agrônomo, cafeicultor e consultor, e membro do Conselho Editorial da Agro DBO.

Franco, na área de fisiologia. O Dr. Paulo de Tarso Alvin, que contribuiu enormemente nas pesquisas com o cacaueiro na Bahia. A dupla Vasconcelos e Violante, na pesquisa e extensão da citricultura. O Dr. Ody Rodrigues, na pesquisa com os cítricos, além de outros gigantes esquecidos da nossa agricultura. O Plantio Direto na Palha surgiu como necessidade para reverter a erosão dos solos arenosos, essa a principal motivação. Utilizou-se pela primeira vez no Brasil, em Rolândia (PR), pelo produtor Herbert Bartz, em 1972. Foi chamado de “o alemão louco de Rolândia”, como consequência da obstinação e das experiências que fazia em sua propriedade. Depois, outros produtores da região dos Campos Gerais, viram interesse na técnica, introduzindo-a em suas propriedades. Foram Franke Dijkstra e Manoel Henrique Pereira, que após 25 anos de sua primeira expe-

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Nas áreas cultivadas com o cafeeiro, o plantio de braquiária nas entrelinhas está pegando forte, pois a fixação de nitrogênio é maior quando comparado com o fixado pelas leguminosas, e a reciclagem de outros nutrientes leva à redução substancial da necessidade de fertilizantes. As banquetas em áreas montanhosas são observadas na China há mais de 2500 anos. No Brasil, um dos pioneiros foi o Dr. José Peres Romero, tendo introduzido nas entrelinhas do cafeeiro, em sua propriedade em Ouro Fino (MG), há 45 anos. Na época, tudo era feito manualmente. Hoje existem tratores de pequeno porte e potentes que as fazem mecanicamente. A prática está virando moda, pois os tratos culturais e a colheita são feitos no plano. A OMS Organização Mundial da Saúde aceitou que se falasse e divul-

gasse aos quatro cantos, que a bebida do cafezinho tinha efeito cancerígeno. Depois de 25 anos de estudos, concluíram que o café é benéfico para a saúde, e não produz efeito cancerígeno ou danoso para a saúde dos tomadores. Três xícaras por dia é considerado muito bom como alimento, doses maiores, deixam de ser. Os produtos e cultivos chamados de orgânicos estão sendo “badalados”. Todo alimento que não for produzido com orgânico “não é bom para a saúde”. Deve-se lembrar que as plantas não bebem nenhum dos nutrientes na forma orgânica e sim, na mineral, contidos na matéria orgânica, depois de decomposta. O fósforo é um dos nutrientes mais importantes para definir um bom sistema radicular. Os organistas empregam farinha de ossos para supri-lo. A farinha é feita com ossos de animais que são abatidos para fornecer carne, animais esses que comeram pastos ou foram alimentados com ração em outros lugares. Resumindo, comeram, acumularam, viraram carne e farinha de ossos. Nutrientes produzidos lá estão sendo empregados cá, como se fossem orgânicos. As plantas vivem bebendo 22 nutrientes minerais e sujeitas a 52 fatores de produção do ponto de vista físico, químico e biológico. Como atender essas exigências apenas com orgânicos? Qual a prova concreta, de que comendo produtos orgânicos teremos mais saúde, que a nossa expectativa de vida seja maior que os 78 anos de hoje, comendo produtos convencionais?



Energia

Mato Grosso quer mais Número um em diversas cadeias do agronegócio, o estado quer usar sua vocação agrícola para brilhar também na geração de bioenergia. Ariosto Mesquita

Aplicação de biofertilizante em lavoura de milho em São Gabriel do Oeste (MS)

M

aior produtor de soja, milho, algodão e dono do maior rebanho bovino do Brasil, com aproximadamente 29 milhões de cabeças, Mato Grosso quer assumir o protagonismo na produção de energia limpa e renovável no país. Para isso está se articulando nos aspectos burocrático e tributário para viabilizar a implantação das estruturas adequadas. Matéria-prima é o que não falta, seja biomassa (casca de arroz,

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bagaço e palha de cana, resíduos de madeira etc.), seja oleaginosas (soja e girassol, entre outras), pecuária (sebo bovino, por exemplo) e demais atividades produtivas. Aproveitando a realização do 1º Congresso de Bioenergia de Mato Grosso e o 3º Congresso do Setor Sucroenergético do Brasil Central, realizado no mês passado em Cuiabá o governo estadual lançou o programa Investe Energia, com o propósito de estimular o setor. Dentre outras

coisas, a iniciativa prevê o redimensionamento das alíquotas de ICMS e incidência diferenciada do imposto (para as empresas que implantarem unidades geradoras de energia no estado) nos investimentos de ativos fixos, como aquisição de peças e maquinário. Mato Grosso já ocupa o segundo lugar em oferta de biodiesel (atrás apenas do Rio Grande do Sul), com 21% da produção nacional – no ano passado, o Brasil produziu 3,9 bilhões de litros, segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis. Este desempenho, no entanto, ocorre mais pela grande oferta de matéria-prima (grãos e sebo bovino, principalmente) do que por uma política atrativa para empreendedores. Um dos gargalos está no alto custo da energia elétrica, que inibe a instalação de estruturas processadoras. “O estado tem a energia mais cara do Centro-Oeste e a terceira mais alta do Brasil. Entre janeiro de 2013 e agosto de 2016, os aumentos foram significativamente superiores aos principais indicadores nacionais. A majoração no período foi de 125%, enquanto o IGPM ficou em 28% e o IPCA em 31%”, revela o diretor-presidente do Ibecon – Instituto Brasileiro de Economia e Finanças, Jenner Ferreira. Ao contrário do que ocorreu nos estados vizinhos Mato Grosso do Sul e Goiás, o etanol combustível ainda não decolou no Mato Grosso. Apesar de avanços na produção de biodiesel, o estado apresenta uma oferta de cana-de-açúcar estacionária. “Em oito anos. o volume colhido no Mato Grosso saiu de 15 para 16 milhões de


toneladas de cana. No mesmo período, o Mato Grosso do Sul saltou de oito para 45 milhões e Goiás pulou de 12 para 55 milhões de toneladas”, revelou o presidente do Sindalcool/ MT – Sindicato das Indústrias Sucroalcooleiras do Mato Grosso, Piero Parini. Etanol de Milho O que pode ajudar a mudar este quadro de oferta do biocombustível é a produção de etanol de milho, um procedimento em princípio viável para o Mato Grosso (disponibilidade e preço do cereal historicamente mais barato em relação a outros estados produtores),pioneiro neste processo no Brasil. Mas, por enquanto, a produção é pequena (141 milhões de litros no ciclo 2015/16, contra 30,5 bilhões de litros de etanol de cana em todo o país). As primeiras indústrias que acreditaram na ideia foram a Usimat, em Campos de Julio, e a Libra, no município de São José do Rio Claro, que processam o cereal desde o início da década. Em 2015, entrou no time a usina Porto Seguro, em Jaciara. Todas são consideradas plantas flex, ou seja, obtêm etanol usando as duas matérias primas, funcionando com o cereal apenas durante a entressafra da cana. A primeira usina full (obtenção de etanol exclusivamente do milho) deve entrar em operação em junho de 2017 no município de Lucas do

Rio Verde sob a responsabilidade da F & S Bioenergia, uma joint venture entre a brasileira Fiagril (que já produz biodiesel) e a norte-americana Summit Agricultural Group. “Teremos como novidade uma tecnologia de separação de fibras que permitirá oferta de dois tipos de DDG como subprodutos. Um de grande concentração de fibra e outro de alta proteína”, afirma o diretor executivo da empresa, Rafael Abud, se referindo à sigla em inglês para Dried Distillers Grains (Grãos Secos de Destilaria) altamente utilizado nos Estados Unidos para alimentação de bovinos, suínos e aves. O DDG é um resíduo geralmente de cor dourada obtido após o processamento do milho para a obtenção do etanol. No Mato Grosso, em função das primeiras usinas flex, ele já vem sendo disponibilizado para bovinos em alguns confinamentos. A F & S Bioenergia pretende ofertar anualmente 210 milhões de litros de etanol, 60 mil MW de energia (metade será disponibilizada na rede nacional), 75 mil toneladas de DDG fibra ouro; 40 mil t de DDG fibra úmido, 58 mil t de DDG proteína e 6,2 mil t de óleo de milho.

Vista geral da Usimat, instalada no município de Campos de Julio, no Mato Grosso.

Biodigestores Outra fonte de bioenergia farta em todo o Brasil, mas ainda pouco utilizada, os biodigestores são estruturas razoavelmente simples que permitem que dejetos animais (matéria orgânica) passem por um processo

Biodigestores em propriedade rural no Mato Grosso do Sul: o sistema serve tanto à geração de energia para consumo próprio quando produção de biofertilizante para as lavouras.

bioquímico e sejam transformados em gases e biofertilizantes. “Estamos falando de um processo ambientalmente correto e que gera energia e fertilizantes, estes também com grande carga de energia compensada. Imagine o que consome cada caminhão para levar uma carga de adubo até as lavouras do médio norte do Mato Grosso”, observa o professor titular da Unesp - Universidade Estadual Paulista, Jorge de Lucas Júnior, que apresentou um painel sobre a agregação de valores ambientais e econômicos com o uso dos biodigestores. A adoção destes mecanismos pode, segundo ele, funcionar como elo agregador em um sistema de integração produtiva em regiões e propriedades onde tanto a lavoura quanto a criação de animais caminham juntos ou próximos. “Uma vaca de alta produção defeca 12 vezes por dia bolos fecais pesando entre 2,5 kg e 4 kg. Basta enxergar energia em um monte de cocô”, observa. Segundo números apresentados pela consultoria técnica da Ubrabio - União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene, a matriz energética brasileira ficou dividida da seguinte forma em 2015: óleo Diesel – incluso a adição obrigatória do biodiesel (18,4%); eletricidade (17,2%); bagaço de cana (11%); gasolina (8,9%); gás natural (7,2%); lenha (6,4%), etanol (6,1%), GLP (3,1%), lixívia (2,2%); querosene (1,4%); biodiesel (1,3%); óleo combustível (1,2%), outras fontes (16,7%). outubro 2016 – Agro DBO | 39


Novidades no campo Secador para arroz

A Kepler Weber apresentou na Expointer o KW Dryer - Linha arroz, com torre de secagem exclusiva e sistema inédito de captação de partículas. Com colunas individualizadas e fluxo de ar alternado, a torre proporciona melhor aproveitamento da energia térmica e uniformidade na secagem dos grãos. A nova linha de secadores, com sete modelos para atender até 3.800 sacas de capacidade estática, traz fluxo de ar em coluna inteira, no qual a secagem ocorre em 100% da torre, facilitando a operação.

Pneu agrícola da Pirelli

O PDR:22 marca a entrada da empresa no segmento de tratores de média e alta potência que atuam em solos alagadiços. Suas barras de tração possuem o dobro do tamanho das da linha PHP, gerando mais tração, durabilidade e conforto. O reforço central na banda de rodagem proporciona maior proteção à carcaça, mesmo em condições severas, aumentando sua vida útil. O PDR:22 está disponível na medida 520/85R42. A medida 420/90R30 será lançada até o fim do ano.

Colheitadeira florestal

Produto da Case Construction, a escavadeira hidráulica CX220C, de 22 toneladas, versão florestal, foi desenvolvida para atender à demanda por madeira de reflorestamento. Com um processador Harvester acoplado na extremidade do braço, o conjunto recolhe e corta as toras e, se necessário, descasca a madeira colhida. A média de produção em terrenos planos é de 160 árvores/hora,

Michelin brasileiro

considerando operações de derrubada e corte a cada três metros, em toras de 25 cm de diâmetro.

Pulverizador HiTech

A Valtra levou para a Expointer o pulverizador BS 3020H HiTech, uma evolução do BS 3020H, com cinco sensores de altura de barras (três no seu antecessor), melhorando a qualidade de aplicação. O novo modelo foi incrementado com o sistema “End Cap”, capaz de agilizar o acionamento das pontas de pulverização em 85%; maior torque (28% de capacidade de rampa contra 25% do BS 3020H); bomba pneumática para realização da tríplice lavagem e outras novidades tecnológicas e ergonômicas.

Desenvolvido especialmente para puxar implementos na cultura de cana-de-açúcar, o CargoxBib 2 600/50 R22.5 – o primeiro pneu agrícola da Michelin com fabricação 100% nacional – começou a rodar em setembro no país. Segundo a empresa, suas principais características são: perfil largo e plano (maior tração e menor consumo de combustível), carcaça radial com tecnologia “Ultraflex” (alta resistência e menor compactação do solo) e “escultura dinâmica” (mais agilidade, maior aderência e estabilidade).

Registro ampliado

A Ihara obteve extensão de registro do inseticida Danimen para as culturas de melão e melancia. O produto combate as pragas broca-das-cucurbitáceas e larva minadora. Até então, o inseticida era usado nas culturas de soja, morango, maçã, feijão, citros, cebola, algodão, repolho, café e tomate. Segundo a empresa. O Danimen pode ser utilizado em qualquer fase do plantio e tem comprovada eficiência em todas elas.

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Tratores cabinados

A Massey Ferguson lançou na Expointer a versão cabinada da Série MF 4200 Compacto. A nova família de tratores é composta de três modelos: MF 4265 (65 cv), MF 4275 (75 cv) e MF 4283 (85 cv), indicados para culturas adensadas como cafeicultura, citricultura e horticultura. A série tem design robusto, estrutura de proteção contra capotamento, ar condicionado, faróis em linha na parte superior frontal do capô e no teto da cabine, o que torna a operação mais segura durante a noite, conforme a empresa.

Cultivo de inverno

A Embrapa Trigo lançou três cultivares na Expointer, entre as quais a BRS Reponte, de ciclo precoce (espigamento em 79 dias e maturação em 133), produtividade média de 4.864 kg/ha e qualidade tecnológica para panificação. Indicada para a região de adaptação 2 (RS e SC), a BRS Reponte caracteriza-se também pelos grãos duros e força de glúten de 256 W. Os outros lançamentos são o trigo de duplo propósito BRS Pastoreio (silagem e grãos) e a cevada BRS Quaranta (cevada cervejeira).

Monitoramento eletrônico

Controle da ferrugem na soja

A Syngenta anunciou o lançamento do fungicida Cypress, à base dos ingredientes ativos Ciproconazol e Difenoconazol. “Sua formulação proporciona fácil preparação da calda, não entope bicos de aplicação e não é facilmente lavado pela chuva, ao contrário da maioria dos fungicidas a base de Mancozeb, também conhecidos como fungicidas protetores”, explica Rafael Oliveira, gerente de portfólio de fungicidas da empresa.

O aplicativo Adama Alvo, que auxilia na identificação de pragas, doenças e plantas daninhas em lavouras da soja, trigo, milho e algodão, agora está disponível para cana e, brevemente, café. Os usuários podem acessar informações sobre ciclo de vida, nomes populares e científicos, potencial de danos e produtos registrados para controle. Para baixálo (iOS), o link é www.itunes.apple.com/br/ app/adama-alvo/id904718051?mt=8. Para Android: www.play.google.com/store/apps/ details?id=com.adama.fieldsolve&hl=pt.BR

Herbicida para soja e feijão

A Nufarm anunciou a liberação para comercialização do herbicida ZethaMaxx para as culturas de soja e feijão. De acordo com o gerente de herbicidas e adjuvantes da empresa, Carlos Mella, estudos a campo demonstraram que o produto acelera a dessecação em aplicações associadas ao herbicida Crucial: “O ZethaMaxx favorece a prática do manejo de resistência a herbicidas, preservando a suscetibilidade de plantas daninhas à molécula do glifosato”, diz Mella.

outubro 2016 – Agro DBO | 41


Agrotóxicos

Reserva de mercado As ações e decisões das agências reguladoras brasileiras têm causado problemas de toda ordem aos agricultores e às indústrias. Tulio Teixeira de Oliveira *

O

que é reserva de mercado? O termo foi cunhado para definir uma política governamental que impedisse legalmente o acesso e a importação de uma determinada classe de produtos e bens de consumo com vistas a uma pretensa proteção e desenvolvimento da indústria nacional e incremento da pesquisa científica interna. Mas, afora a defesa da indústria nacional, podem existir formas de proteção de determinados grupos por parte de organismos governamentais em detrimentos de outros que concorrem dentro do país, as quais se constituem barreiras competitivas com prejuízos ao anseio do usuário por uma concorrência mais incisiva.

e uso. A análise será retomada ao fim do processo de reavaliação. Ocorre que sistema de registro de agrotóxico no Brasil sofre de uma crônica enfermidade de causa misteriosa e que gera uma imensa fila de pleitos de registro. A análise de um pedido leva 7 anos para ser processada, em média. Pode ser um pouco menos, se o produto for considerado prioritário ou muito mais se não o for. Mesmo tendo uma lei – 7802/1989 – a determinar o prazo de 120 dias para expedição ou negação do registro a partir da data do protocolo; e, tendo sido a empresa onerada com taxas na Anvisa e no Ibama. Mas esse crime de lesa-cliente é outro assunto. O que queremos ressaltar é que

O Ibama resolveu monocraticamente paralisar a análise dos pleitos em andamento.

*o autor é engenheiro agrônomo e diretor executivo da Aenda – Associação das Empresas Nacionais de Defensivos Agrícolas.

A reavaliação do Ibama dos ingredientes ativos de agrotóxicos sob suspeita de danos graves às abelhas incorporou um procedimento que pode perfeitamente se enquadrar nesse conceito. O Ibama está travando a entrada no mercado de produtos similares, sem proibir aqueles que já estão em comercialização rotineiramente. O órgão ambiental resolveu monocraticamente paralisar a análise dos pleitos em andamento e não conceder o PPA – Potencial de Periculosidade Ambiental, documento imprescindível junto ao Ministério da Agricultura para concessão do registro de produção, importação, comercialização

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mesmo terminando a reavaliação a empresa ainda vai demorar a receber o PPA, alongando o período de reserva de mercado. Pergunte-se, caro leitor, que produto pode fazer mal às abelhas: (a) aquele realmente lançado ao meio ambiente, ou (b) aquele que ainda está em processo de registro, aguardando licença para iniciar suas vendas? Pois bem, o Ibama afirma – inclusive perante a Justiça – que a resposta certa é a “b”, alegando o princípio da precaução. Não, não é um dito jocoso, é a pura verdade; está lá nos autos do processo que a Aenda - Associação das Empresas Nacionais de Defensivos Agrícolas

move contra o Ibama. O Ibama não quer novos produtos adentrando ao mercado, pois podem avolumar a quantidade desses maléficos (por antecipação, já que não terminou a reavaliação) ingredientes ativos no meio ambiente. Porém, os produtos que já estão sendo usados avolumaram de tal forma, que o mercado alcançou seu ápice. A proibição, pois, tem tão somente o condão de barrar a concorrência e a consequente redução dos preços. Reserva de mercado na plena acepção do termo. A reavaliação desses produtos teve início com um Comunicado do Ibama datado de 19 de julho de 2012. As substâncias consideradas com efeitos adversos às abelhas, observados em estudos científicos e em diversas partes do mundo, foram Imidacloprid, Tiametoxam, Clotianidina e Fipronil. Estamos em 2016 e o processo continua. São quatro anos de investigação sem qualquer resultado. A bem da verdade não é só o Ibama que defende essa reserva de mercado. O princípio da precaução embaralha até o raciocínio dos juízes. A Ação Judiciária movida pela Aenda a favor da liberação dos produtos em trâmite de registro, enquanto os trabalhos de Reavaliação não terminem, foi iniciada em 2014 e até o momento as manifestações da Justiça têm sido a favor do Ibama. Portanto a Justiça também está apoiando a reserva de mercado neste episódio. A intrigante conclusão que tiramos da atitude governamental é que essa Reserva de Mercado é benigna para as abelhas.


Política Fusão

Bayer e Monsanto assinam acordo A Bayer e a Monsanto anunciaram em setembro último que assinaram um acordo definitivo de fusão, pelo qual a Bayer adquire a empresa norte-americana por um valor de US$ 128 por ação, totalizando US$ 66 bilhões. Em maio, a companhia alemã havia oferecido US$ 122 por ação, elevando a proposta em julho para US$ 125 e para US$ 127,50 no início de setembro.

Proibição

FPA apela ao presidente em defesa do Paraquat A intenção da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) de proibir o uso do defensivo agrícola paraquat tem dado muito o que falar. A classe produtora rural e as entidades representativas do setor se mobilizaram em todo o Brasil, numa “força-tarefa” na defesa do herbicida. Audiências com as autoridades envolvidas com o tema foram realizadas a pedido da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA). A defesa do paraquat já chegou, inclusive, às mãos do presidente da República, Michel Temer.

Estudo elaborado pela FPA e de entidades do setor mostra que a substituição do paraquat causaria um aumento médio anual de custo para os produtores de mais de R$ 400 milhões, o que representaria um gasto de 129% maior do que o valor utilizado com o paraquat no manejo das lavouras. O defensivo apresenta controle rápido e efetivo de ervas daninhas nas culturas de arroz, feijão, milho, café, cana, trigo, soja e outras. É utilizado em cerca de 90 países, como EUA, Canadá, Austrália, Argentina etc.

Justiça

SRB recorre ao STF para rever decisão de compras de terras por estrangeiros Para Gustavo Diniz Junqueira, presidente da SRB – Sociedade Rural Brasileira, a limitação ao investimento estrangeiro direto afeta os setores fundamentais da economia, como infraestrutura, energia, logística, desenvolvimento imobiliário e o agronegócio A SRB apresentou no último dia 12 de setembro ao Supremo Tribunal Federal (STF) recurso de Agravo Regimental contra decisão liminar proferida pelo Ministro Marco Aurélio de Mello. A liminar suspende o Parecer nº 461/12-E da Corregedoria do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), que liberava a aquisição de imóveis rurais por empresas brasileiras de capital estrangeiro no Estado de São Paulo. A decisão do Ministro Marco Aurélio de Mello suspendeu o parecer do TJ-SP em resposta à ação judicial proposta pelo Incra e pela União Federal. A decisão foi fundamentada no Art. 190 da Constituição Federal, sob a alegação de que seria possível estabelecer restrições à aquisição de terras por estrangeiros. Segundo o ministro, “a efetividade dessa norma pressupõe que, na locução ‘‘estrangeiro’’, sejam incluídas entidades nacionais controladas por capital alienígena”.

Prorrogado o PRA

Governo estende o prazo do Programa de Regularização Ambiental Em setembro, por meio da Lei 13.335/2016, foi prorrogado o prazo para adesão ao Programa de Regularização Ambiental (PRA) dos imóveis rurais para 31 de dezembro de 2017, com previsão de prorrogação por mais um ano, conforme prazo para inscrição no Cadastro Ambiental Rural (CAR). O PRA é um dos instrumentos da Lei Florestal, Lei 12.651, de 2012, cuja implantação cabe aos Estados e ao Distrito Federal, para conduzir a adequação ambiental dos imóveis rurais e a inserção da sustentabilidade no setor agrícola e pecuário brasileiro. Inicialmente, o prazo para adesão ao PRA era de um ano após a inscrição no Cadastro Ambiental Rural, que por sua vez tinha o prazo final para o alcance dos benefícios de regularização previstos na Lei Florestal de 6 de maio de 2016, e que foi prorrogado para 6 de maio de 2016. Contudo, no mês seguinte ao seu término, outra alteração da Lei Florestal, introduzida pela Lei nº 13.295/2016, prorrogou-o para 31 de dezembro de 2017, o que ainda poderá ser adiado por mais 1 ano, por ato do Poder Executivo. A vedação à concessão de crédito agrícola, em qualquer de suas modalidades, para proprietários de imóveis rurais não inscritos no CAR começaria a vigorar em maio de 2017. outubro 2016 – Agro DBO | 43


Análise de mercado

Para ficar na memória

A incessante elevação dos custos de produção pressiona cada vez mais a atividade, exigindo do arrozeiro a máxima eficiência produtiva.

A

safra 2015/16 de arroz vai ficar por muito tempo presente na memória dos orizicultores, especialmente dos gaúchos, responsáveis por mais de 70% da produção nacional. Nos últimos cinco anos, o custo médio total de produção no Rio Grande do Sul acumulou aumento nominal de 62%, exigindo um incremento de 26,7% na produtividade média para o atingir o ponto de equilíbrio. Como se as dificuldades da conjuntura econômica não bastassem, nesse ano o produtor precisou encarar sérias adversidades climáticas, que restringiram a área semeada e reduziram de forma significativa a produtividade média no esta-

do. O excesso de chuvas ao longo do ciclo produtivo dificultou o manejo e a baixa luminosidade prejudicou o adequado desenvolvimento das lavouras. Como consequência, a safra estadual foi estimada pelo Irga – Instituto Rio Grandense do Arroz em 7,37 milhões de toneladas, representando uma redução de 16,2% em relação ao volume colhido na safra anterior. Isso significa que aproximadamente 1,35 milhão de toneladas deixaram de ser colhidas, volume superior, por exemplo, ao da Argentina e Uruguai. Ou o equivalente a mais de duas safras do Paraguai. Esta redução foi resultado da diminuição de 5,9% da área semeada e da obtenção de uma produti-

vidade média em 783 kg/ha menor do que a obtida na safra anterior. Como consequência natural da menor disponibilidade de produto no mercado, a comercialização da safra se caracterizou pelo comportamento firme dos preços no primeiro semestre, passando para um perfil de estabilidade nos últimos dois meses. Superando a barreira dos R$ 50 por saca de 50 kg, o preço do arroz em casca atinge um recorde nominal nas praças de comercialização no Rio Grande do Sul. Apesar disso, a conjuntura do mercado doméstico está longe de garantir plenas condições para a sustentabilidade econômica do setor produtivo. Nos três primeiros meses de comercialização da safra colhida neste ano,

Trigo – Os preços despencaram na primeira

quinzena de setembro. Os valores médios no RS permaneceram acima dos registrados no PR, algo que não ocorria desde outubro de 2005. O Indicador Cepea/Esalq no PR fechou a R$ 699,26 em 19/9 e no RS a R$ 745,00. A diferença deve-se à oferta. a colheita no PR começou em setembro e no RS começa agora. A expectativa de safra abundante nos países do Mercosul, especialmente na Argentina, intensificou a pressão baixista.

* Em 15/9, o Indicador Cepea/Esalq registrou R$ 709,56 por tonelada, mercado disponível, à vista (o valor a prazo é descontado pela taxa NPR), posto Paraná.

ALGODÃO – As cotações seguiram trajetória

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altista na primeira quinzena de setembro, saindo de R$ 245,64 em 31/8 para R$ 248,27 em 15/9. Segundo o Cepea, a liquidez aumentou, influenciando os preços. Com necessidades imediatas, indústrias e comerciantes sairam às compras, ofertando valores mais altos. Tradings e cotonicultores permaneceram firmes em seus pedidos, acompanhando o fortalecimento do real frente ao dólar e as altas em Nova York.

* Em 15/9, o Indicador Cepea/Esalq registrou R$ 248,27 centavos de real por libra-peso.

soja – As cotações cairam na primeira semana de setembro e depois voltaram a subir, sustentadas pela firme demanda internacional pelo produto norte-americano. No Brasil, a valorização do dólar frente ao real também elevou a demanda pelo grão, conforme pesquisadores do Cepea, mas não o suficiente para sustentar os preços. A média ponderada da soja no Paraná, refletida no Indicador Cepea/Esalq, fechou a R$ 75,81/saca 60 kg em 23/9.

* Em 15/9, o Indicador Cepea/Esalq/BM&FBovespa registrou R$ 80,27 por saca de 60 kg, posto Paranaguá, descontado o prazo de pagamento pela taxa CDI/Cetip.


Análise de mercado o preço de venda ficou, em média, abaixo do custo de produção. Conforme levantamento do Irga, o total gasto para produzir uma saca chegou a R$ 44,70. Apesar da recuperação, a cotação superou esta cifra apenas no mês de junho. Contrariando uma realidade observada nos últimos cinco anos, a balança comercial brasileira de arroz sofreu inversão, passando a ser deficitária no acumulado do corrente ano comercial. Tal dinâmica também é uma consequência natural da menor disponibilidade de produto no mercado externo. A valorização do cereal no mercado doméstico, desvalorização do dólar em relação ao real e cenário de um mercado externo enfraquecido estabeleceram uma conjuntura de péssimas condições competitivas para o arroz brasileiro no mercado internacional e fez do Brasil um país atrativo para os demais exportadores do Mercosul. Até o final deste ano comercial, devemos acumular um deficit de aproximadamente 300 mil tone-

ladas, absorvendo grande parte do excedente exportável dos nossos vizinhos do Mercosul. Mesmo assim, devemos terminar o ano com mínima posição no estoque de passagem. Para a próxima safra, a expectativa é de pequeno incremento da área semeada no Rio Grande do Sul em relação ao ano passado. A estimativa de condições climáticas mais favoráveis deve ser insuficiente para motivar o plantio de uma área próxima a que vinha sendo plantada antes desta (impactada pelo El niño), em razão do elevado custo de produção e do alto grau de descapitalização de grande parte dos produtores. Mesmo com a expectativa de menor investimento tecnológico, espera-se uma recuperação nos índices de produtividade, obtendo assim uma safra próxima a 8,5 milhões de toneladas no Rio Grande do Sul. Tiago Sarmento Barata Diretor Comercial e Industrial do Irga

Arroz – As cotações se mantiverem em relativa estabilidade nas três primeiras semanas de setembro, com pequenas oscilações dentro da faixa dos R$ 50/saca de 50 kg, à exceção dos dias 14 e 15/9, nos quais desceram à casa dos R$ 49, para logo subir um degrau. Conforme levantamento do Cepea, a indústria, insatisfeita com o fraco ritmo das vendas de arroz beneficiado aos atacadistas, ou se retraiu do mercado ou ofertou valores menores aos oriziculores. Estes, cederam à pressão dos compradores apenas para fazer caixa. Os negócios seguiram em ritmo lento.

* Em 15/9, o Indicador Arroz em Casca Esalq/Bolsa Brasileira de Mercadorias – BM&FBovespa registrou R$ 49,48 à vista por saca de 50kg, tipo 1, posto indústria Rio Grande do Sul.

CAFÉ – O preço do arábica seguiu trajetória as-

* Em 15/9 o Indicador Café Arábica Cepea/Esalq registrou R$ 502,93 por saca de 60 kg, bica corrida, tipo 6, bebida dura para melhor, posto cidade de São Paulo.

cendente na primeira quinzena de setembro, pulando de R$ 486,45 em 31/8 para R$ 502,93 em 15/9. Nesse meio tempo, oscilou bastante, mas seguiu firme, sustentado pela retração dos vendedores e expectativa de problamas na florada, o que afetará a produção em 2017. No caso do conilon, as cotações continuaram em alta, influenciadas pela quebra na safra atual e perspectivas de prolongamento da seca até o ano que vem.

Fonte: Cepea – www.cepea.esalq.usp.br

MILHO – As cotações mantiveram-se estáveis

* Em 15/9, o Indicador Esalq/BM&FBovespa registrou R$ 42,55 por saca de 60kg, descontado o prazo de pagamento pela taxa CDI/Cetip.

na primeira quinzena de setembro, na casa dos R$ 41 ou R$ 42 sc/60 kg. Na terceira semana, porém, cairam devido ao aumento da oferta no mercado interno pela cooperativas. O Indicador Esalq/ BM&FBovespa , fechou a R$ 40,96 no dia 23, o menor patamar desde 11 de janeiro deste ano. O noticiário sobre fortes chuvas e alagamentos em ampla faixa do norte do Meio-Oeste dos Estados Unidos evitaram queda maior nos valores.

* Em 15/9 o Indicador Açúcar Cristal Cepea/Esalq registrou R$ 86,18 por saca de 50 kg, com ICMS (7%), posto São Paulo.

AÇÚCAR – As cotações no mercado spot paulista permaneceram firmes na primeira quinzena de setembro, sempre na casa dos R$ 86/saca de 50 kg, apesar da queda do volume comercializado. As chuvas interromperam o processamento de várias usinas paulistas, ajudando a sustentar as cotações. Segundo especialistas, o suporte deve-se também à conjunturas do mercado internacional, às voltas com perspectiva de produção meno em váiios países e aumento do deficit global.

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Biblioteca da Terra Seguro rural e Proagro

Obra conjunta da Faeg, FenSeg, CNA e Ocepar, o Guia de Seguros Rurais e Proagro traz informações sobre as modalidades de seguro existentes no mercado, coberturas oferecidas, critérios de apuração de prejuízos, procedimentos em casos de sinistros etc. Apresenta também exemplos de contratação de seguro agrícola e cálculos de indenização, além de detalhes sobre o funcionamento do Proagro. O conteúdo está disponível gratuitamente na página www.cnabrasil.org.br/seguro-rural

Diversidade de espécies

Publicada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, em parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, a coletânea Conhecendo a biodiversidade reúne informações sobre vegetais, animais, microrganismos e genes existentes nos biomas Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pampa e Pantanal, a interrelação das espécies entre si ou com a natureza e as transformações ocorridas na paisagem ao longo dos anos, tanto as naturais quanto as provocadas pela ação humana. Não se sabe quantas espécies vegetais e animais existem no mundo. As estimativas variam entre 10 e 50 milhões. No entanto, apenas 1,5 milhão foram classificadas, das quais 20% vivem no Brasil, considerado o país da “megadiversidade”. Organizada pelos pesquisadores Ariane Luna Peixoto, José Roberto Pujol Luz e Márcia Aparecida de Brito, a coletânea também aborda outras questões relacionadas à diversidade biológica, tais como compartilhamento e integração de dados, saúde e políticas públicas de conservação. Dividida em 11 capítulo, está disponível para leitura no site do Inpa – Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia: www.ppbio.inpa.gov. br/default/files/conhecendo_a_ biodiversidade­_livro.pdf

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Mudas de hortaliças

Lançamento da Embrapa, o livro Produção de Mudas de Hortaliças divide-se em duas partes. A primeira traz informações sobre produção, mercado, viveiros, sementes, irrigação, nutrição, doenças e pragas. A segunda, sobre estabelecimento de mudas, métodos de enxertia e produção de hortaliças baby leaf (minifolhosas). O preço é R$ 40,00. O link para compra é www.vendasliv.sct.embrapa.br/liv4/consultaProduto. do?metodo=detalhardetalhar&codigoProduto=00084960

Consuma citros

A Secretaria de Agricultura de São Paulo apresenta o Manual de Citros, publicação digital gratuita com informações e receitas para incentivar o consumo de laranjas, tangerinas, limas e limões. Elaborado por nutricionistas da Codeagro, traz dicas sobre identificação, higienização e armazenamento de frutas, propriedades nutricionais, escolha para cada preparação etc. O acesso pode ser feito através das plataformas digitais Amazon, Itunes, Livraria Cultura, Kobo e Issuu.

Desmistificando o 2.4-D

Lançado durante o XXX Congresso Brasileiro de Ciência das Plantas e Ervas Daninhas, realizado em Curitiba (PR), o livro O Herbicida 2.4-D – Uma Visão Geral destaca as principais características do agroquímico, seu modo de ação, usos, efeitos, manejo e aplicação. Com 250 páginas, pode se encomendado através do site www.bibliotecacientifica.com.br pelo valor simbólico de R$ 10,00 – a renda será revertida para a Sociedade Brasileira de Plantas Daninhas.


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n

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Calendário de eventos

OUTUBRO

6

Boron Day Brazil – Dia 6 –

Faculdade de Engenharia/Esalq/ USP – Piracicaba (SP) – Fone: (19) 3417-2138 E-mail: boronday@gmail. com

6

II Encontro Brasileiro de Infraestrutura e Logística Florestal – De 6 a 7 – Cietep/

Centro Integrado de Empresários e Trabalhadores das Indústrias do Estado do Paraná – Curitiba (PR) – Fone: (41) 3049-7888 – E-mail: info@malinovski. com.br

6 da

VII Simpósio Manejo de Plantas Daninhas na Cultura Cana-de-Açúcar – De 6 a 8 –

Centro de Convenções da Unesp/FCAV – Jaboticabal (SP) – Fone: (16) 32091300 – E-mail: contato@funep.org.br

16

XXIV Congresso Brasileiro de Fruticultura – De 16 a

21 – Centro de Convenções Pedro Neiva de Santana – São Luís (MA) – Fone: (65) 3621-1314 – E-mail: fruticultura2016@industriadeeventos. com.br

19

IX Simpósio Paranaense de Pós-colheita de Grãos – De

19 a 21 – Associação Recreativa dos Funcionários da Coamo – Campo Mourão (PR) – Fone: (43) 3025-5223 – E-mail: abrapos@fbeventos.com

24

X CBSAF/Congresso Brasileiro de Sistemas Agroflorestais – De 24 a 28 –

Campus da UFMT – Cuiabá (MT) – Fone: (65) 3621-1314 – Site: www.sbsaf.org.br – E-mail: xcbsaf@ industriadeeventos.com.br

25 e

49º Congresso e Exposição Internacional de Celulose Papel – De 25 a 27 – Expo Center

Norte – São Paulo (SP) – Fone: (11) 3874-2715 – Site: www. abtcp2016.org.br – E-mail: congresso@abtcp.org.br

25

Congresso Nacional das Mulheres do Agronegócio – De 25 a 28 – Transamerica Expo Center – São Paulo(SP) – Fone: (11) 5643-3056 – Site: www. mulheresdoagronegocio.com.br – E-mail: mulheresdoagronegocio@ transamerica.com.br

NOVEMBRO

9

8ª Agrocampo – De 9 a 20 – Parque Internacional de Exposições Francisco Feio Ribeiro – Maringá (PR) – Fone: (43) 3621-1700 – Site: www.srm.org.br – E-mail: mario@srm.org.br

8

IV Fórum Nacional sobre Carvão Vegetal e I Seminário de Energia da Biomassa Florestal – De 8 a 9 – Auditório do Crea – Belo Horizonte (MG) – Fone: (31) 3899-1185 – Site: www.sif.org.br – E-mail: sifeventos@gmail.com

8

IV Congresso Brasileiro de Recursos Genéticos

– De 8 a 11 – Expo Unimed –

Curitiba (PR) – Fone: (43) 30255223 – Site: cbrg2016.com.br – E-mail: cbrg2016@fbeventos.com

20

XX RBMCSA/Reunião Brasileira de Manejo e Conservação do Solo e da Água – De 20 a 24 – Golden Park – Foz do Iguaçu (PR) – E-mail: rbmcsa2016.com.br

21

VII ConGeA/Congresso Brasileiro de Gestão

16 – FertBio 2016 – De 16 a 20 – Centro de Convenções de Goiânia – Goiânia (GO) – Site: www. eventosolos.org. br/fertbio2016 – E-mail: sbcs@ sbcs.org.br A FertBio é uma reunião promovida em anos pares pela SBCS – Sociedade Brasileira de Ciência do Solo com o propósito de debater temas de interesse das diversas áreas que compõem o setor e congregar pesquisadores, produtores, agrônomos, técnicos e estudantes. Desde 1998, a FertBio abriga quatro eventos simultâneos: a XXXII Reunião Brasileira de Fertilidade do Solo e Nutrição de Plantas, a XVI Reunião Brasileira sobre Micorrizas, o XIV Simpósio Brasileiro de Microbiologia do Solo e a XI Reunião Brasileira de Biologia do Solo. Promovida pelo Núcleo Regional CentroOeste da SBCS, em parceria com as universidades federais de Goiás e do Mato Grosso, Instituto Federal Goiano e Embrapa, a edição deste ano terá como tema central “Rumo aos novos desafios”.

Ambiental – De 21 a 24 – Universidade Federal de Campina Grande – Campina Grande (PB) – Site: www.ibeas.org.br – E-mail: congresso@ibeas.org.br

23 de

8º CBTI/ CongressoBrasileiro Tomate Industrial – De 23

a 24 – Centro de Convenções de Goiânia – Goiânia (GO) – Site: www. congressotomate.com.br

23

IV RCOCS/Reunião Centro-Oeste de Ciência Solo – De 23 a 25 – Sindicato

do

Rural de Chapadão do Sul – Chapadão do Sul (MS) – Fone: Site: www.rcocs.sites.ufms.br

23

VIII Reunião Brasileira de Indução de Resistência em Plantas a Patógenos – De 23 a

25 – Hotel Mercure – Goiânia (GO) – Fone: (62) 3533-2176 – E-mail: reuniaoinducao2016@gmail.com

23 de

24ª Encafé/Encontro Nacional das Indústrias Café – De 23 a 27 – Hotel

Transamérica Ilha de Comandatuba – Una (BA) – Site: www.abic.com.br

DEZEMBRO

5

27ª FNA/Feira Nacional de Artesanato – De 5 a 11 –

Expominas – Belo Horizonte (MG) – Site: www.feiranacionaldeartesanato. com.br – E-mail: contato1@feiranacionaldeartesanato. com.br

15

Encontro Nacional da Cultura do Milho – De

15 a 16 – , Universidade Federal de Uberlândia – Uberlândia (MG) – Fone: (19) 3417-6600 – Site: www. fealq.org.br

outubro 2016 – Agro DBO | 49


Legislação

Renegociação de dívidas Os agricultores devem analisar antes se terão direitos à renegociação do crédito rural, pois depende da região e de outros fatores. Fábio Lamonica Pereira *

S

egundo a Resolução n. 4519/2016 do Banco Central do Brasil – BCB já é possível providenciar a adesão para renegociação de débitos de produtores rurais e suas cooperativas. Estão enquadradas operações com recursos controlados, conforme estabelece o Manual de Crédito Rural do BCB, sendo necessário que as operações estejam em normalidade até 31 de dezembro de 2015. Caso haja parcelas em atraso, poderão ser pagas até a data da formalização da renegociação.

posta definitiva sobre a cobertura, o débito não pode ser exigido pelo credor. O prazo para pagamento do saldo renegociado será de até cinco anos para operações de custeio, segundo análise da capacidade de pagamento, caso a caso. Quanto a operações de custeio que já tenham sido renegociadas e operações de investimento, o prazo será até um ano, após o vencimento final do contrato, para cada parcela que tenha sido prorrogada. A formalização deverá dar-se até 31 de dezembro de 2016.

O direito está assegurado, mas caso seja necessário, é possível pleitear judicialmente.

O autor é advogado, especialista em Direito Bancário e do Agronegócio

Na área de abrangência são 337 municípios localizados nos estados da Bahia, Piauí, Maranhão e Tocantins, segundo Portaria nº 244/2015 do Ministério da Agricultura (http://www.agricultura.gov.br), sendo que nestes casos poderão ser renegociadas operações de custeio e investimento. Para os municípios localizados na região Centro-Oeste, que também está contemplada com a resolução, somente operações de investimento poderão ser renegociadas. Em todas as situações deverão ser mantidos os mesmos encargos inicialmente contratados, sem a incidência de multa, encargos de mora, ou quaisquer outros débitos de inadimplemento, nem tampouco honorários advocatícios. Lembrando que, caso haja seguro ou Proagro, até que haja res-

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Fato é que, para a conclusão da renegociação, é essencial a apresentação de “laudo técnico de comprovação de perdas assinado por profissional habilitado, com a apresentação do respectivo registro de Anotação de Responsabilidade Técnica (ART) junto ao conselho profissional competente”. É preciso ainda que do referido laudo conste, obrigatoriamente, “as coordenadas geodésicas do empreendimento, independentemente do valor do financiamento original, na forma do MCR 2-1-2” e “as datas efetivas de plantio e de colheita do custeio objeto da renegociação”. As operações com contratação de seguro privado ou do Proagro também podem ser objeto de renegociação, desde que seja excluído o valor da indenização parcial e considerada a receita obtida.

Ressalva há de ser feita no sentido de que os benefícios da resolução somente se aplicam “às operações contratadas nos municípios onde tenha sido decretada situação de emergência ou estado de calamidade pública em decorrência de seca ou estiagem a partir de 1º de janeiro de 2015 no estado do Espírito Santo e a partir de 1º de outubro de 2015 nos demais estados, com reconhecimento pelo Ministério da Integração Nacional”. De toda forma, atendendo os requisitos exigidos, o produtor deve protocolar o pedido, formalmente, junto ao credor a fim de que possa obter os benefícios. Vale ressaltar que o credor é obrigado a conceder a prorrogação, tal qual estabelecido pela resolução, desde que preenchidos os requisitos por parte do produtor e que o requerimento formal tenha sido realizado dentro do prazo previamente estabelecido. Concluindo, o direito está assegurado, mas caso seja necessário, é possível pleitear judicialmente o reconhecimento do direito à prorrogação em caso de negativa por parte do credor, seja com base na referida resolução, seja com base no mecanismo permanente (que engloba as situações não previstas pela referida resolução), este há anos conhecido por parte dos produtores, previsto no próprio Manual de Crédito Rural (MCR 2.6.9), e que permite a prorrogação de débitos quando comprovada a incapacidade de pagamento, especialmente em função de perda de safra por fatores adversos.




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