NOVA FORÇA GRAMINICIDA
NO CONTROLE DE FOLHAS ESTREITAS CONTE COM A FORÇA DE VENTURE, O HALOXIFOPE DA ALTA.
A TENÇ Ã O
Estes produtos são perigosos à saúde humana, animal e ao meio ambiente. Leia atentamente e siga rigorosamente as instruções contidas nos rótulos, nas bulas e nas receitas. Utilize sempre equipamentos de proteção individual. Nunca permita a utilização dos produtos por menores de idade. Venda sob receituário agronômico. Consulte sempre um Engenheiro Agrônomo.
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Sumário 8 Ponto de vista
Décio Gazzoni propõe políticas de incentivo à produtividade, em detrimento das propostas de crescimento agrícola via expansão de área
23 Agroquímicos
Professor Rone Batista e equipe explicam as tabelas de compatibilidade de produtos fitossanitários para misturas em tanque encartadas nesta edição.
24 Opinião
Rogério Arioli relaciona benefícios da integração lavoura-pecuária-floresta. “Democrático, o sistema serve a propriedades rurais de qualquer tamanho”.
26 Entrevista
Agrônomo, Diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da Microgeo, Paulo D’Andrea fala à Agro DBO sobre estruturação do solo pela rota biológica.
30 Café
Hélio Casale conta detalhes de sua viagem à Nicarágua, na América Central, e do curso à agrônomos na região cafeeira de Matagalpa.
18
Matéria de capa Agricultores como Gleyciano Vasconcellos (acima, examinando o solo em área de soja) instalam biofábricas em suas fazendas para multiplicação de bactérias usadas em controle biológico de pragas. A prática é contestada pela ABCBio, que pede medidas de contenção.
32 Herbicidas
Pesquisadores do Wolf Team avaliam alternativas de manejo de plantas daninhas resistentes, como o capim-amargoso, na entressafra do Cerrado
36 Fitossanidade
José Otavio Menten e Ticyana Banzato escrevem sobre pragas exóticas capazes, caso cheguem ao Brasil, de causar grandes danos às lavouras.
38 Tecnologia
Maior feira de máquinas agrícolas do mundo, realizada em Hannover, na Alemanha, a Agritechnica 2017 se destacou pela inovação.
42 Agroinformática
Manfred Schmid alerta para a necessidade de readequação do mercado de trabalho diante da chegada dos agrorobôs e de outras tecnologias
50 Legislação
Fábio Lamonica adverte para os riscos da alienação fiduciária, instrumento muito usado pelos credores, já que aumenta as chances de recebimento.
Seções Do Leitor............................................................ 4
Biblioteca da Terra........................................46
Notícias da terra............................................10
Novidades no campo..................................47
Clima ................................................................44
Calendário de eventos................................48 dez/2017-jan/2018 – Agro DBO | 3
Do Leitor ria. De verdade, Ariosto, é muito bom ler texto bem feito. Abraço! Rosimeire Aparecida Asunção Zambolim Alvorada do Sul NR: A leitora encaminhou a mensagem acima, via Messenger, ao repórter Ariosto Mesquita, autor da reportagem de capa intitulada “Testado e aprovado”, cujo personagem principal é o empresário Paulo Sérgio de Asunção, produtor rural em Diamantino (MT). A propósito, Paulo é retratado sobre resteva de milho na capa da referida edição (“Receita de sucesso”), em foto do próprio Ariosto. ALAGOAS Caro Ariosto, fico feliz em lhe comunicar que colhemos os 30 hectares que estavam no ponto de colher da FTR 1192 e obtivemos 61 sacas de soja por hectare. Depois, em outro lote, conseguimos 69,1 sacas/ha de rendimento médio. Grande abraço, Sérgio Papini Uchoa Porto Calvo NR: Produtor de soja no município de Porto Calvo, na região dos tabuleiros costeiros alagoanos, o leitor é o personagem principal da reportagem intitulada “A nova fronteira”, de autoria de Ariosto Mesquita, publicada na edição de outubro da Agro DBO. Quando Ariosto o visitou em sua propriedade, em setembro, a expectativa de Uchoa era conseguir rendimento médio de 55 sacas/ha. A colheita foi encerrada em outubro. PARANÁ É sua a impecável matéria de capa da revista Agro DBO, edição de setembro? Meus parabéns! Didática impecável, metodologia adequada, excepcional. Deus te abençõe sempre. Encontrei você pelo Facebook. Procurei por seu nome depois que li a matéria. Aqui onde moro não tem revistaria, mas liguei para a editora e comprei alguns exemplares... chegaram hoje (27/9). Sou irmã mais velha do Paulo Asunção, acompanho a trajetória dele, leio tudo o que escrevem a respeito e posso te garantir: a sua matéria foi a mais perfeita. Ele amou. Hoje, falei com ele sobre os exemplares e agora, antes de falar com você, escrevi a ele dizendo do primor que ficou a maté-
4 | Agro DBO – dez/2017-jan/2018
SÃO PAULO Parabéns por trazer esta matéria! Um vídeo dessa tecnologia correu os WhatsApps dos agrônomos há cerca de um ano e ninguém conseguia mais informações sobre isso. Nem mesmo o pessoal da John Deere respondia ao questionamento. É muito bom poder contar com a Agro DBO para trazer luz a esses temas. Anderson Ribeiro Campinas NR: Gerente de Marketing da Microquímica, o leitor se refere à reportagem de capa da edição de novembro, de título “Direto no alvo”, na qual destacamos a tecnologia WEEDit, capaz de pulverizar plantas daninhas uma a uma, sem desperdício de herbicidas – sensores na barra do pulverizador localizam as espécies invasoras e acionam os bicos para que eles apliquem jatos de herbicidas na quantidade desejada nas plantas que se quer atingir, como mostramos na foto de capa (acima, na coluna à esquerda), sob título “Combate corpo a corpo”. A John Deere está desenvolvendo tecnologia semelhante – por isso foi citada por Anderson Ribeiro no seu e-mail. Agradeço muito a publicação do artigo “Vamos plantar batata!” (edição de agosto da Agro DBO), no qual divulgamos as razões do não deferimento do pedido de patente da tecnologia IAC do broto/batata-semente, feito há 11 anos ao Instituto Nacional de Proteção Intelectual (INPI). Desde então, muitos bataticultores, grandes e pequenos, me procuraram para revelar que adotaram a tecnologia há anos. De certo modo, eu sabia, ou pre-
sumia, que estivesse sendo usada por muita gente. Afinal, alguns desses que me contataram são produtores que conheço de longa data – na década de 1990, eu já lhes havia demonstrado a tecnologia do broto. Depois da publicação do artigo em agosto passado, em que revelei que a tecnologia passou a ser de domínio público, sem proteção de patente, muitos deles deixaram de negar (esconder, omitir) a aplicação da tecnologia. O Grupo RF-Lavouras, de Itapetininga (SP), é uma exceção: desde fins da década de 1990 deixou de jogar fora os brotos dos tubérculos/batata-semente importada, classe básica, de alta sanidade, e passou a utilizá-los (centenas de milhares de brotos) como batata-semente extra. Agora, sem o risco de processo judicial por direito de uso, espero que todos os bataticultores sejam capazes de romper o preconceito (imposto por interesse dos grandes sementeiros, nacionais e internacionais), sigam o exemplo da RF-Lavouras e passem a usar os brotos de tubérculos de batata como “SEMENTES”, não mais como “DESCARTE”. Até o momento, não há alternativa tecnológica mais “pé-no-chão”, ou “mãos-no-céu” (pois toda forma de agricultura sem desperdício é abençoada e bem-vista pelo Criador), do que esta, capaz de manter a fidelidade genética da cultivar e, tão ou mais importante, livre de vírus. Com o aproveitamento dos brotos (retirados de tubérculos/batata-semente básica, nacionais ou importados) como material de propagação (semente extra), o produtor consegue aumentar o próprio lote de batata-semente de alta sanidade a baixo custo e com alta qualidade. Fiquei sabendo também de produtores que vêm usando minitubérculos/batata-semente livres de vírus oriundos de plântulas (in vitro) da cultura de tecido, tecnologia mais sofisticada e de custo mais elevado, para plantio em substrato ou em condições de hidroponia ou aeroponia. Seja a partir de plântulas, seja a partir de lotes de tubérculos/batata-semente básica, ambos são cientificamente equiparáveis em sanidade e produtividade. Chamo a atenção, porém, para uma exceção: a possível derivação das características da cultivar, no caso das batatas-sementes oriundas de plântulas após clonagens sucessivas (in vitro) de uma mesma planta matriz. Nessa condição, por problemas nas
células somáticas, a folhagem e/ou os tubérculos podem apresentar aspectos fenotípicos anormais (aparência externa irregular), resultando em prejuízo. Entre outras vantagens, a tecnologia do broto/batata-semente garante a fidelidade genética (true-to-type) da cultivar de batata e reduz o custo de obtenção, demandando apenas mão de obra para desbrota, ensacamento e armazenamento em câmara fria (4° C e 85% UR, com 100% germinação de brotos em até quatro meses de armazenagem). Há informações de que o valor de venda das plântulas de batata (in vitro, obtidas de sistema de micropropagação sob condições artificiais de cultivo de tecidos) é de R$ 1,00 cada. Assim sendo, 30 mil plântulas, por exemplo, custariam R$ 30 mil reais. Para obter a mesma quantia de brotos (30 mil), o produtor gastaria R$ 100,00 (cem reais), valor referente à mão de obra do desbrotador, considerando 8 horas de trabalho a R$ 10,00 (dez reais) a hora. Há dados de que uma pessoa é capaz de desbrotar
50 sacos de 25 kg cada, cada um deles com 300 tubérculos/batata-semente, aproximadamente. Como um tubérculo pode fornecer média de dois brotos, então em cada saco pode-se obter 600 brotos, evidenciando a tremenda economia: R$ 29.900,00 (vinte e nove mil e novecentos reais), aproximadamente. Enfim, é isso. Tiramos do descarte (lixo) um produto (insumo) chamado BATATA-SEMENTE BÁSICA, LIVRE DE VÍRUS, contribuindo, inclusive, na redução da evasão de divisas do país, problema recorrente no Brasil e em outros países que cultivam batata em áreas subtropicais. José Alberto Caram de Souza Dias Campinas NR: Engenheiro Agrônomo com PhD em virologia, pesquisador científico do Centro de P&D Fitossanidade do IAC – Instituto Agronômico de Campinas, o professor José Alberto Caram de Souza Dias é modesto, apesar do feito extraordinário. No texto acima, não atribuiu para si nenhum mérito, não fez
referência às suas próprias pesquisas. No entanto, foi ele quem desenvolveu a tecnologia do broto de batata-semente. Estudou, trabalhou muito, insistiu em sua tese até conseguir provar a campo os resultados até recentemente escamoteados por interesses comerciais, agora reconhecidos publicamente pelo valor agronômico, potencial produtivo e relevância econômica. Há pelo menos 30 anos Caram vêm lutando pela disseminação da tecnologia, sua principal contribuição para o desenvolvimento da bataticultura brasileira. ERRATA Na edição de novembro, o novo fungicida da Bayer, Fox Xpro, foi grafado erradamente como Fox Extra. O correto é Fox Xpro. Lamentamos o equívoco. AgroDBO se reserva o direito de editar/resumir as mensagens recebidas devido à falta de espaço.
dez/2017-jan/2018 – Agro DBO | 5
Carta ao leitor
A
revista Agro DBO traz encartado nesta edição um presente de Natal de ampla utilidade aos nossos leitores: duas tabelas de compatibilidade e incompatibilidade de misturas em tanque de agroquímicos e fertilizantes foliares. Essa iniciativa nasceu em julho último, quando o Consórcio Antiferrugem solicitou ao Ministério da Agricultura autorização para fazer misturas em tanque e tentar controlar a ferrugem asiática da soja, resistente a todos os fungicidas. A autorização não saiu até agora, mas as misturas em tanque continuam a ser feitas atabalhoadamente em todas as propriedades rurais, Brasil adentro, sem nenhum acompanhamento das empresas de agroquímicos. A iniciativa da Agro DBO estabeleceu parceria com o especialista em tecnologia de aplicação, professor Rone Batista de Oliveira, da Universidade Estadual Norte do Paraná (Bandeirante, PR). Faltava dinheiro para executar a ideia. Procuramos patrocínios entre as empresas de agroquímicos, que achavam a ideia muito boa, mas o tempo se arrastava e nenhuma delas batia o martelo, enquanto a safra se aproximava. Encontramos na Jacto e na Microquímica, os parceiros ideais para o projeto. Com isso, tivemos suporte para adquirir cerca de 140 produtos agroquímicos para misturar em tanque e avaliar compatibilidades químicas e físicas nas misturas. O resultado, específico para soja e milho, está encartado nesta edição, sem avaliar eficiência agronômica das misturas, ou mesmo efeitos toxicológicos a animais de sangue quente, ou de fitotoxicidade às plantas. Os efeitos colaterais dessas misturas em tanque continuam a ser de responsabilidade civil e criminal dos agricultores. Portanto, muito cuidado ao fazer as misturas em tanque. A indústria prefere lavar as mãos, e fingir que o problema não é com ela e nem dela. Na matéria de capa desta edição, “A solução está em suas mãos”, o jornalista Ariosto Mesquita relata que um produtor rural do Mato Grosso do Sul decidiu multiplicar bactérias em sua própria fazenda, para fazer controle biológico de pragas e doenças, pois os agroquímicos são caros e andam ineficientes, – as pragas e doenças criam resistências. A nova indústria de defensivos biológicos até o momento deu poucas soluções aos inúmeros problemas fitossanitários dos agricultores, e cobra elevados preços pelo que produz. A iniciativa, independentemente dos perigos, de ser legal ou ilegal, ou, seja lá o que pode vir a acontecer, deve ter seguidores, e vai haver intenso debate, mas também inúmeras críticas, não tenham dúvidas. Agro DBO, atenta para as idiossincrasias humanas que dizem respeito ao agronegócio, apenas registrou os fatos, como faria qualquer jornalismo responsável, em qualquer parte do mundo. A todos os leitores, a equipe de redação e todos os colaboradores da Agro DBO enviam votos de muita saúde, Boas Festas, e uma safra sustentável.
é uma publicação mensal da DBO Editores Associados Ltda. Diretor Responsável Demétrio Costa Editor Executivo Richard Jakubaszko Editor José Augusto Bezerra Conselho Editorial Décio Gazzoni, Demétrio Costa, Evaristo Eduardo de Miranda, Hélio Casale, José Augusto Bezerra, José Otávio Menten e Richard Jakubaszko Redação/Colaboradores Alberto Leão de Lemos Barroso, Ariosto Mesquita, Décio Luiz Gazzoni, Dionísio Gazziero, Fábio Lamonica Pereira, Flávio Nascimento Silva, Gustavo Dario, Hélio Casale, Hugo de Almeida Dan, Lais Maria Bonadio Precipito, José Arnaldo de Souza Junior, José Otavio Menten, Luiz Augusto Inojosa Ferreira, Marco Antonio dos Santos, Manfred Schmid, Rogério Arioli Silva, Rone Batista de Oliveira, Ticyana Banzato e Thuany Coelho
Para manifestar sua opinião, envie e-mail para redacao@agrodbo.com.br Richard Jakubaszko
Arte Editor Edgar Pera Editoração Célia Rosa e Edson Alves Coordenação Gráfica Walter Simões Marketing/Comercial Gerente: Rosana Minante Executivos de contas Andrea Canal, José Geraldo S. Caetano, Maria Aparecida de Oliveira, Marlene Orlovas, Mario Vanzo e Vanda Motta Circulação Gerente: Edna Aguiar ISSN 2317-7780 Impressão São Francisco Gráfica e Editora Capa: Foto Ariosto Mesquita DBO Editores Associados Ltda Diretores: Daniel Bilk Costa, Odemar Costa e Demétrio Costa Rua Dona Germaine Burchard, 229 Perdizes, São Paulo, SP 05002-900 - Tel. (11) 3879-7099 e 3803-5500 redacao@agrodbo.com.br www.agrodbo.com.br
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6 | Agro DBO – dez/2017-jan/2018
Ponto de Vista
Incrementando a produtividade sustentável Autor sugere nova filosofia de políticas públicas, de incentivar aumento da produtividade para reduzir expansão em novas áreas. Decio Luiz Gazzoni*
O
Mapa – Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento elaborou o documento “Projeções do Agronegócio – Brasil 2016/17 – 2026-27”, um referencial para as tendências de médio prazo do agronegócio brasileiro, útil para balizar ações de gover-
de produtos agrícolas. E, ao que tudo indica, o Brasil será o protagonista do comércio de produtos agrícolas nas próximas décadas. Tomemos a soja como exemplo, por haver sido o cultivo mais dinâmico do período e por haver influenciado positivamente todo o agronegócio brasileiro. De uma produtividade de pouco mais de 1.000 kg/ha em 1961 atingimos 3.361 kg/ha na última safra. O crescimento anual da produtividade atingiu picos como 4,55% a.a., na década de 1990 e de 2,56% a.a. entre 2010 e 2017. Entre 1961 e 2017, a taxa geométrica de crescimento da produtividade da soja no Brasil foi de 1,97% ao ano. Examinemos a estimativa do Mapa, para 2027: é prevista a colheita de 146 Mi/t, um incremento de 29,7%
Ao expandir pouco a área, melhoraríamos nosso currículo de bom comportamento ambiental.
* O autor é engenheiro agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja e membro do Conselho Editorial da Agro DBO.
no e o comportamento dos produtores agrícolas. Conforme a publicação, em 2017 foram colhidas 232 milhões de toneladas de grãos cultivados em 60 Mi/ha, com produtividade média de 3,87 t/ha. A projeção para 2027 é uma produção de 288 Mi/t em 70 Mi/ ha, com produtividade de 4,11 t/ha. No período a produtividade cresceria 6,4%, ou 0,62% ao ano. Nos últimos 40 anos o Brasil revolucionou seu agronegócio, algo jamais visto em escala global. Transmutamo-nos de um país dependente de importação de alimentos para o status de maior exportador líquido
8 | Agro DBO – dez/2017-jan/2018
sobre os 113 Mi/t colhidos em 2017. Uma boa notícia. Mas a notícia não tão boa é a estimativa de aumentar em 27,5% a área cultivada com soja, representando 9,4 Mi/ha adicionais. Um dos objetivos do documento do Mapa é subsidiar políticas públicas e descortinar oportunidades para o setor privado. Tanto a conquista quanto a manutenção de espaço no comércio internacional é uma verdadeira batalha. Atualmente, não basta produzir, para colocar seus produtos nos mercados mais nobres, é necessário que um país demonstre sustentabilidade na sua produção.
Isso posto, proponho a elaboração de uma política pública de incentivo ao aumento da produtividade sustentável, reduzindo ao mínimo a expansão da área de grãos no Brasil, incentivando os produtores agrícolas a melhorar, continuamente, sua produtividade, com atenção para a proteção do ambiente. Instrumentos como aumento do limite de crédito oficial, redução da taxa de juros, aumento da participação governamental no seguro agrícola, podem ser usados como estímulos. Voltando ao exemplo da soja, não haverá necessidade de expansão de área se a produtividade for de 4,3 t/ha em 2027. Isto significa crescimento de 2,6% a.a., similar ao obtido nos últimos 7 anos. Importante lembrar que o recorde de produtividade de soja no Brasil supera 8,9 t/ha (www.cesbrasil.org.br), e o produtor que a obteve, Marcos Seitz, aumentou em muito a rentabilidade, comparada a talhões de menor produtividade. Assim, nosso objetivo passa a ser atingir metade da produtividade do Marcos, até 2027, sendo que tecnologia para tanto já está disponível. Atingindo a meta ou expandindo muito pouco a área, melhoraríamos nosso currículo de bom comportamento ambiental no exterior – silenciando os detratores –, aumentaríamos a rentabilidade da lavoura e reduziríamos a necessidade de expansão de infraestrutura viária para novas áreas. Seguramente, essa perspectiva merece atenção dos nossos formuladores de política agrícola e dos nossos produtores agrícolas.
Notícias da terra Safra I
Grãos em queda
D
e acordo com o segundo levantamento da Conab, a produção de grãos relativa à safra 2017/18 deve ficar entre 223,3 e 227,5 milhões de toneladas, o que representa recuo de 6,2% e 4,4% em relação à anterior (238 milhões t). No primeiro levantamento, a companhia previra algo
entre 224,1 e 228,2 milhões t. A queda foi atribuída à menor produtividade esperada, em relação à do ciclo passado. O rendimento médio da soja, por exemplo, foi de 3.364 quilos por hectare na temporada 2016/17 e deve chegar na safra em curso a 3.075 kg/ha, número baseado nas análises estatísticas das séries históricas e nos pacotes tecnológicos utilizados. A expectativa é de que a
produção de soja fique entre 106,4 e 108,6 milhões de toneladas e a de milho, entre 91,6 e 93,1 milhões t, distribuídas entre primeira e segunda safra. A área plantada, favorecida pelo aumento do cultivo de algodão e, sobretudo, da soja, deve crescer 1,9% e cobrir 62 milhões de hectares. A pesquisa foi feita nos principais centros produtores de grãos do país de 23 a 27 de outubro.
Safra III
Poucas alterações
O
Safra II
IBGE baixa a bola
O
primeiro prognóstico do instituto sobre a safra 2017/18 de cereais, leguminosas e oleaginosas indica produção de 220,2 milhões de toneladas, 8,9% inferior à da temporada passada (241,5 milhões t). Entre os cinco produtos de maior importância, quatro devem apresentar variações negativas na produção: milho
(-14,4%), arroz (-6,8%), soja (-6,3%) e algodão (-1,5%). Apenas o feijão deve ter variação positiva (+1,3%). O IBGE prevê safras menores em todas as regiões do país: Sul (-12,3%), Centro-Oeste (-8%), Nordeste (-5,8%), Sudeste (-4,8%) e Norte (-3,2%). Quanto à distribuição, o Centro-Oeste deve colher 75,1 milhões de toneladas; o Sul, 73,4 milhões; o Sudeste, 20,6 milhões; o Nordeste, 9,7 milhões e o Norte, 7 milhões.
Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês) revisou para cima as estimativas sobre as safras brasileira e mundial de soja, em relação ao previsto no mês anterior, manteve a referente à argentina e reduziu um pouco a dos EUA. Conforme o relatório de novembro, o Brasil vai colher 108 milhões de toneladas no ciclo 2017/18 (em outubro, a instituição previra 107 milhões t) e o mundo, 348,9 (347,9). A produção argentina permanecerá em 57 milhões e a norte-americana cairá de 120,6 para 120,4 milhões t. No caso do milho, o USDA manteve inalteradas as estimativas sobre as safras brasileira (95 milhões) e argentina (42 milhões), elevou a dos EUAs (de 362,7 para 370,3 milhões e a mundial de 1,038 para 1,043 bilhão de toneladas.
VBP
Agropecuária perde valor O VBP – Valor Bruto de Produção da agropecuária brasileira em 2017 foi revisado para baixo em novembro e deve ficar em R$ 533,5 bilhões, 1,6% acima do VBP do ano passado (R$ 525 bi), mas abaixo dos R$ 535,4 bi previstos em outubro. As lavouras tiveram aumento real de 5,5 % no faturamento e a pecuária, redução de 5,8 %. Os produtos com maior faturamento este ano foram a mandioca, com aumento 10 | Agro DBO – dez/2017-jan/2018
real de 88,2% comparativamente ao mesmo período de 2016, o algodão (+73,6%), a uva (+50,7%), a cana-de-açúcar (+30,6%) e o milho (+14,2%). Com exceção do milho, cujos ganhos decorrem do aumento de produção, os demais produtos cresceram em valor. Na avaliação de José Garcia Gasques, coordenador-geral de estudos e análises da SPA/Mapa – Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Pe-
cuária e Abastecimento, a queda nos preços médios da carne bovina e de frango e de grande parte dos produtos agrícolas, entre os quais a soja, justificam a redução do faturamento do setor agropecuário em 2017. A estimativa projetada para o VBP de 2018 (baseada nos prognósticos da Conab e do IBGE sobre a safra 2017/18 de grãos, citados acima nos itens 1 e 2) é de R$ 506 bilhões, 5,1% inferior ao de 2017.
Notícias da terra Energia
Mais soja para o B10
C
onforme cálculos da Abiove – Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais, a produção nacional de biodisel deve crescer 30% em 2018 devido à antecipação em um ano do aumento de 2% na mistura de combustíveis não-fósseis ao óleo diesel convencional, à base de petróleo. O Conselho Nacional de Política Energética aprovou em novembro a mistura B10 (10% de biocombustíveis) a partir de março, em substituição à B8, até então em vigor. Segundo a Abiove, a produção de biodiesel no país deverá chegar a 5,5 bilhões de litros, ante os 4,2 bilhões esperados para 2017. No total, 3,7 milhões de toneladas de óleo de soja serão convertidos em biodiesel em 2018, contra 2,9 milhões este ano – entre 75% e 80% do biodiesel produzido no Brasil tem a soja como matéria-prima. De acordo com a entidade, o B10 significará economia de US$ 2,2 bilhões em divisas.
Agronegócio
Confiança sobe
O
IC Agro – Índice de Confiança do Agronegócio, medido pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo e pela Organização das Cooperativas Brasileiras, subiu 6,7 pontos no terceiro trimestre deste ano em relação ao segundo e chegou a 99,1 pontos. Embora positivo, o índice está longe dos 106,3
pontos registrados no mesmo período de 2016. De acordo com a metodologia empregada, uma pontuação acima de 100 corresponde a otimismo e abaixo disso, a desconfiança. A recuperação do indicador foi constatada em todos os segmentos pesquisados. A categoria com menor índice de crescimento foi a dos agricultores (3,1 pontos, chegando a 92,9), agastados diante da perspectiva de produtivida-
de menor nesta safra. A categoria mais “animada” no período foi a dos pecuaristas, cujo indicador subiu 14 pontos, chegando a 94,2 – no segundo semestre, o segmento registrara o patamar mais baixo da série histórica (80,2 pontos), afetado pela Operação Carne Fraca e possibilidade de quebra nas exportações. Superados os problemas, a melhora nos preços do boi ajudou a recuperar o otimismo.
Política agrícola
Safra cheia e bolso vazio
E
studo da Farsul – Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul sobre os custos de produção do agronegócio e o peso dos tributos em quatro culturas (arroz, milho, soja e trigo) mostra que, no confronto com a Argentina e o Uruguai, o Brasil perde de goleada. De acordo com o levantamento, o “Custo Brasil” da agricultura para produzir grãos como soja e milho é 79% maior que o da Argentina e 32% maior que o do Uruguai. Outro dado: os produtores brasileiros pagam 86% a mais para importar máquinas, fertilizantes, agroquímicos e outros produtos necessários para tocar a lavoura. Na opinião do economista-chefe do Sistema Farsul, Antônio da Luz, os impostos e a queda nos preços das commodities vêm impactando a lucratividade do produtor rural. “Enquanto argentinos e uruguaios podem adquirir insumos a preço de mercado internacional, no Brasil a compra de máquinas e equipamentos sofre uma série de restrições para proteger a indústria brasileira”. Para ele, as requisições de inspeções e liberações de departamentos técnicos, além da incidência de taxas, impostos de importação, PIS/Cofins e ICMS são mecanismos que fecham o país para a livre concorrência. “Estamos enfrentando uma situação de safra cheia e
bolso vazio. O produtor vem diminuindo cada vez mais a sua margem e está vendendo até abaixo do custo de produção para poder sobreviver”, afirma o presidente da Comissão do Arroz da Farsul, Francisco Schardong, alertando que, em breve, pode haver desinteresse pelo cultivo de arroz no país. A propósito, o arroz é, entre as quatro culturas pesquisadas, a mais impactada pelo peso dos tributos sobre insumos, serviços agrícolas, manutenção e distribuição e colheita, com 30,3% do custo total. Na sequência vêm o milho (27,1%), a soja (27%) e o trigo (26,2%). dez/2017-jan/2018 – Agro DBO | 11
Notícias da terra Ferrugem
Inoculantes
Fungo monitorado
Vendas maiores em 2017
A
nunciada oficialmente no início deste ano pela FRAC Internacional (Fungicide Resistance Action Committee), a resistência do fungo causador da ferrugem asiática a agroquímicos do grupo das carboxamidas será monitorada pela primeira vez em um ciclo inteiro. O consultor fitossanitário e ex-coordenador de Defesa Vegetal do Ministério da Agricultura, Wanderlei Dias Guerra, começou em novembro a percorrer áreas produtoras no Mato Grosso e Rondônia para recolher amostras de eventuais infestações. “Este trabalho é necessário para que possamos saber onde, quando e em que proporção aparecerá a mutação no fungo ao longo da safra. Com estas informações, teremos como retornar informação rápida ao produtor sobre o que deve ser feito”, explica. Ele pede, inclusive, que os agricultores ou técnicos o notifiquem pelo fone/whatsapp 65-99546775 caso percebam indícios de mutação. Guerra avisa que o grande vo-
A
ANPII – Associação Nacional dos Produtores e Importadores de Inoculantes obteve em 2016 o melhor desempenho em vendas dos últimos quatro anos, com 50 milhões de doses. No mês passado, a expectativa da entidade era fechar 2017 com vendas entre 55 e 60 milhões de doses, a maioria para a cultura da soja. Segundo Solon Araújo, consultor da entidade, no ano passado foram 35 milhões doses de inoculante líquido e 11 milhões de inoculante turfoso. “Estes dados demonstram uma adequação do produtor às recomendações atuais de aplicação direta no sulco. Segundo Solon, a aplicação dos inoculantes no solo evita a mortalidade das bactérias, pois não há contato direto com agroquímicos nem com as altas temperaturas da caixa da plantadeira.
lume de plantas guaxas encontradas na entressafra da soja requer uma atenção muito grande por parte do produtor: “O fato da chuva ter vindo mais tarde pode ter retardado o aparecimento da ferrugem, mas há a preocupação dela vir forte em janeiro, com a estabilização do ciclo das águas.” Por enquanto, segundo ele, a recomendação ao produtor é fazer controle preventivo, atentar para as novas recomendações de intervalo de aplicação de defensivos, promover rotação na utilização dos princípios ativos e evitar a utilização sequencial de fungicidas do grupo das carboxamidas.
Pesquisa
Cuidado com a Soja Louca II
O
s pesquisadores Maurício Meyer, da Embrapa Soja, e Luciany Favoreto, da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais comprovaram que, além da soja, outras duas culturas (algodão e feijão) e quatro plantas daninhas (trapoeraba, agriãozinho-do-pasto, cordão-de-frade e caruru) são hospedeiros do nematoide Aphelenchoides besseyi, causador da Soja Louca II, doença cujos principais sintomas são o abortamento das vagens, enrugamento e escurecimento das folhas. Identificado há 10 anos em lavouras de soja, o nematoide pode causar reduções de até 100% na produtividade. Meyer e Favoreto avaliaram as culturas de algodão, feijão, milho, milheto e sorgo, mas apenas o algodão e o feijão foram confirmados como hospedeiros. Na região de Sapezal (MT), as amostras confirmadas de algodoeiros apresentavam sintomas de engrossamen-
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to de nós, deformações foliares, diminuição de porte e perda de botões florais, similares aos observados na soja. No caso do feijão, eles estudaram 22 variedades para entender como as diferentes cultivares podem ser sensíveis ao patógeno causador da doença. De acordo com os pesquisadores, as plantas daninhas trapoeraba, agriãozinho-do-pasto, cordão-de-frade e caruru apresentaram maior capacidade de multiplicação e manutenção do A. besseyi. Na trapoeraba, aos 50, 80 e 150 dias de inoculação foram encontrados, respectivamente, 3, 27 e 94 nematoides por grama de tecido vegetal. A população de nematoides observada no agriãozinho-do-pasto, cordão-de-frade e caruru também foram significativas. “O que prova que os nematoides estão se alimentando e multiplicando nessas plantas e que elas são fonte de inóculo para a próxima safra”, conclui Favoreto.
Notícias da terra Soja Intacta
Aprosoja questiona patente
N
o início de novembro, a Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso entrou com processo na Justiça Federal pedindo anulação da patente da Soja Intacta, da Monsanto, por entender que o registro não cumpre os requisitos legais previstos na Lei de Propriedade Industrial. A entidade também pede o depósito em juízo dos royalties até o julgamento do mérito do caso. “A Aprosoja não é contra a pesquisa, a inovação, a tecnologia ou o pagamento de direitos por propriedade intelectual. Somos a favor de todo investimento que leve ao desenvolvimento econômico, mas não podemos aceitar que nossos associados paguem por uma tecnologia que inúmeros professores e especialistas na área afirmam ser nula”, explica o presidente da entidade, Endrigo Dalcin. Segundo a Aprosoja MT, a patente protege, como principal invenção, uma sequência de DNA transgênica, a qual teria sido introduzida em plantas de interesse agronômico, como a soja. “Tal sequência seria útil para regular a expressão de genes em tais plantas transgênicas. Ocorre que, após análise da patente, observou-se que esta não cumpre com os requisitos mais básicos e elementares para a obtenção de tal privilégio”. Alguns dias depois do anúncio da Aprosoja, a Monsanto publicou nota de esclarecimento defendendo a validade da propriedade intelectual da tecnologia, admitindo, contudo, que na ocasião não estava se posicionando de modo definitivo a respeito porque desconhecia detalhes da ação. Na nota, a empresa afirma que a tecnologia foi devidamente patenteada no Brasil e em outros países, sempre seguindo os mais rigorosos critérios de exame. “O Instituto Nacional de Propriedade Industrial, assim como
os órgãos de concessão de patentes no exterior, peritos no assunto, avaliam criteriosamente os requisitos para concessão de patentes. Portanto, esta patente seguiu as mais rigorosas regras de exame e todos os requisitos de patenteabilidade foram devidamente atendidos”. A Monsanto reafirma a validade de sua patente, confia no Poder Judiciário e tem certeza de que, assim como inúmeras outras empresas de Pesquisa e Desenvolvimento, contribui com inovações importantes para o crescimento da agricultura no Brasil” (OBS: até o fechamento desta edição, em 28/11, a Justiça não havia se pronunciado a respeito e nenhum acordo fora fechado entre as partes). A Monsanto já fora questionada anteriormente na Justiça por produtores rurais mato-grossenses. Em 2012, a Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso e 47 sindicatos regionais alegaram que a multinacional estava cobrando royalties indevidamente pelo uso da tecnologia Roundup Ready (RR), já que a patente vencera em 1º de setembro de 2010, passando, portanto, a domínio público. Após decisões judiciais favoráveis aos produtores rurais, a Monsanto suspendeu a cobrança de royalties.
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Notícias da terra
Ronaldo Pereira vice-presidente da FMC
NEGÓCIOS
FMC comemora aquisições da Dupont
A
multinacional norte-americana FMC fez festa dupla em novembro, no Guarujá (SP): brindou os 20 anos de realização do Clube da Cana (evento que anualmente reúne o segmento produtivo da cana-de-açúcar em um seminário específico) e celebrou a compra de boa parte dos negócios da também americana Dupont, operação oficializada no último dia 1º de novem-
Concurso
APTA abre concurso para 33 pesquisadores científicos
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stão abertas inscrições para o concurso público para pesquisador científico nível I na Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo. As inscrições poderão ser feitas até 7 de dezembro de 2017, em Campinas e em São Paulo. A taxa de inscrição é de R$ 87,73 e o salário é de R$ 4.173,85. O edital (CPRTI 02/2017) pode ser acessado em http://www.apta.sp.gov.br/concurso/EditalPqC_APTA2017.pdf Ao todo, serão oferecidas 33 vagas para todas as áreas das ciências agrícolas e ainda biomedicina, biologia, química, farmácia, estatística e economia. As especializações para cada cargo podem ser consultadas no edital.
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bro. Somente a carteira de produtos comerciais de proteção de cultivo adquirida no negócio representou em 2016 US$ 1,6 bilhão em vendas. Entre os produtos estão três inseticidas e uma família de herbicidas para cereais de inverno (trigo, cevada, aveia, etc.) “Em tese, somado ao nosso volume de comercialização em todo o mundo, que ano passado foi de US$ 2,2 bilhões, passamos para um faturamento potencial de US$ 3,8 bilhões”, calcula o vice-presidente da FMC para a América Latina, Ronaldo Pereira. Na área de manufatura, a FMC incorporou 14 plantas da Dupont, sendo quatro de síntese e 10 de formulação, praticamente dobrando a capacidade fabril da empresa, que detinha 11 plantas de formulação e duas de síntese. Também foi adquirida boa parte da área de pesquisa e desenvolvimento da Dupont. São aproximadamente 700 cientistas além de 14 centros de experimentação com patentes, métodos, conhecimento e propriedade intelectual que chegam para a empresa. Neste pacote, segundo a direção da multinacional, estão 15 moléculas em estágio inicial de desenvolvimento, algumas delas de modo de ação inédito. Nesta negociação, a FMC transferiu para a Dupont, como contrapartida, sua divisão de saúde e nutrição (ingredientes alimentícios e produtos para formulação de medicamentos) e ainda efetuou o pagamento de US$ 1,2 bilhão. No Brasil, a incorporação envolve, dentre outros ativos, uma fábrica no município de Barra Mansa (RJ) e um centro de pesquisa localizado em Paulínia (SP). Pelos cálculos de Pereira, com esta aquisição a empresa no Brasil deve subir de 8º para o 5º lugar no ranking de mercado das companhias especializadas em soluções para proteção de cultivos.
CAR
Legislação Florestal
A
s Inscrições no CAR encerram-se em 31 de dezembro. O prazo para regularização no PRA – Programa de Regularização Ambiental não será prorrogado. A inscrição é obrigatória para todas as propriedades rurais e quem estiver em conformidade passará a usufruir dos benefícios previstos no Código Florestal, Lei nº 12.651/2012. Quem perder o prazo deixa, por exemplo, de até mesmo obter crédito rural e financiamentos de todo o sistema financeiro, seja oficial ou de bancos, e também dos créditos cooperativistas.
Notícias da terra Divulgação
Iniciativa 2,4-D vai ampliar treinamentos para o meio digital
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esde 2014 oferecendo capacitações presenciais sobre o uso da molécula 2,4-D e de boas práticas na aplicação de defensivos, a Iniciativa 2,4-D planeja expandir seus treinamentos para o digital em 2018. “Já temos o site da Iniciativa, mas queremos capilarizar mais as informações. Vamos desenvolver módulos de treinamentos digitais e levar o conhecimento para um número maior de pessoas”, diz Ana Cristina Pinheiro, coordenadora do grupo, que é formado por representantes das empresas Dow AgroSciences e Nufarm. As versões presenciais serão mantidas, mas a agenda de cidades ainda não foi fechada para o ano que vem. Com registro no Brasil desde a década de 1970, ainda não foram encontrados casos de resistência a herbicidas à base da molécula no país, de acordo com a Iniciativa 2,4-D, apesar de Argentina e Estados Unidos já terem catalogado ocorrências. “Dificilmente o 2,4-D é usado sozinho aqui, normalmente é combinado com outros tratamentos, por isso não há pressão tão grande”, explica Mauro Rizzardi, professor da Universidade de Passo Fundo (UPF). Localmente, o 2,4-D é registrado para as seguintes culturas: soja (dessecação antes do plantio), cana-de-açúcar, pastagens, trigo, milho, aveia, centeio e arroz. Vitor Niediedt, produtor de milho e soja em Roca Sales, RS, utiliza o produto uma vez ao ano, na dessecação de pré-plantio da soja. “Aplicamos para quebrar o ciclo, porque, se não, você acaba usando muito o glifosato”. Na Fazenda Lohmann, onde é um dos pro-
prietários, as plantas daninhas mais comuns são a buva, trapoeraba, caruru, picão e corda-de-viola. “Nossos maiores problemas são as de folhas largas [para as quais o 2,4-D é indicado], porque as estreitas conseguimos controlar bem usando o glifosato”. Essa alternância de herbicidas é essencial, independente do produto, reforça o professor da UPF. Segundo ele, o 2,4-D é uma opção importante para fazer parte das combinações de tratamento. “É um produto com grande amplitude de controle, tem custo baixo em relação aos demais, e eficiência interessante”. (por Thuany Coelho, do Portal DBO, que viajou a convite da Iniciativa 2,4-D)
Prof. Mauro Rizzardi na demonstração de uso do 2,4-D
Pesquisa
Secretaria de Agricultura abre concorrência pública para venda de imóveis
F
oi publicada em 17 de novembro último, no Diário Oficial do Estado de SP, a licitação na modalidade concorrência pública, do tipo maior oferta, com o objetivo de vender sete imóveis da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, que foram liberados pela Assembleia Legislativa (Alesp). O edital para consulta encontra-se à disposição dos interessados até o dia 18 de dezembro, véspera da abertura dos envelopes com as propostas. É possível acessar o edital e os laudos técnicos de avaliação dos imóveis, que incluem fotos dos mesmos, no site: www.imoveis.sp.gov.br De acordo com o secretário Arnaldo Jardim, foi realizado um estudo detalhado dessas propriedades, no qual ficou demonstrado que as referidas áreas perderam a serventia para pesquisas. Nesse contexto, a ação é vista como um ajuste necessário, uma vez que o montante auferido com a venda, superior a R$ 42 milhões, será re-
vertido para os programas e projetos da Secretaria de Agricultura. A sessão pública para abertura das propostas será realizada no dia 19 de dezembro de 2017, as 10:00 horas, no auditório da Secretaria. Os interessados deverão apresentar os seguintes documentos na data agendada no edital: Confira a lista com os imóveis disponíveis: 1 - Terreno com área de 582.617 m2, em Araçatuba. 2 - Terreno com área de 1.384.400 m2, em Itapetininga, 3 - Terreno com área de 3.491.500 m2, em Pindamonhangaba. 4 - Imóvel situado em São Paulo, com terreno de 720 m2 e 150 m2 de área construída. 5 - Terreno com área de 360.000 m2, em Itapeva. 6 - Terreno com área de 245.070 m2, em Campinas. 7 - Terreno com área de 80.718 m2, em Tatuí. dez/2017-jan/2018 – Agro DBO | 15
Fotos: Ariosto Mesquita
Capa
Polêmica à vista
Agricultores “criam” bactérias nas fazendas para controle biológico de pragas. Empresas protestam e pedem medidas de contenção. Ariosto Mesquita
A
necessidade financeira e o quadro progressivo de resistência de insetos, fungos e plantas daninhas aos agroquímicos criados para combatê-los foram os principais estímulos para que o produtor sul-mato-grossense Gleyciano Vasconcellos apostasse de vez no controle biológico de doenças e pragas. Ao invés de comprar no mercado de produtos biológicos os inimigos naturais que precisava para conter os predadores, ele montou uma biofábrica para reproduzir bactérias para utilização exclusiva em suas lavouras de soja e milho, surpreendendo produtores, técnicos e o próprio mercado pela ousadia – muita gente não sabia se a reprodução de agentes biológicos on farm era permitida legalmente ou não. Vasconcellos não é proprietário rural. Residente em Rio Brilhante, a160 quilômetros de Campo Grande (MS), ele presta serviços de armazenagem e toca uma empresa de consultoria agronômica e representação de produtos biológicos comerciais (a GVBio), além de plantar soja e milho (segunda safra). As lavouras estão espalhadas por 18 | Agro DBO – dez/2017-jan/2018
1.147 hectares de terras arrendadas nas fazendas Mirante (285,5 ha), no município de Sidrolândia, Paraíso (199,5 ha), Pé de Cedro (221,5 ha), Futurista (200 ha) e Aliança (240,3 ha), as quatro em Nova Alvorada do Sul. Segundo ele, o valor gasto com os arrendamentos (equivalente em meados de novembro a 13 sacas/ha, tendo como base o valor de R$ 60 a saca) e o custo total da lavoura, cada vez mais alto devido à necessidade de aumentar a carga de produtos químicos, estavam colocando em xeque seu negócio. “Eu desembolsava algo em torno de 48 sacas de soja para conseguir 53 de produtividade. Quase empatava e o risco por intempéries era grande”, conta. Como alternativa, Vasconcellos mergulhou de cabeça na produção própria de bactérias na safra 2015/16. Ao longo de 2017, vem investindo em melhorias e na estruturação de sua biofábrica, composta por três unidades de multiplicação de micro-organismos. Para isso, ele ergueu uma instalação de alvenaria climatizada e equipada com instrumentos de assepsia e de contenção de contaminantes na Fazenda Pé de Cedro. Em novembro
Instalações da biofábica de Gleyciano Vasconcellos (no detalhe) na Fazenda Pé de Cedro, em Nova Alvorada do Sul (MS).
Bactérias Bradyrhizobium, Bacillus turingiensis e Bacillus subtili, multiplicadas por Vasconcellos em sua biofábrica.
deste ano, ainda ajustava alguns detalhes como a temperatura a partir dos motores dos tanques de reprodução. “Eu adotei as mesmas normas que a legislação determina para estruturas de produção química e estou em fase de adequação”, observa. Neste espaço de 60 m2 ele multiplica bactérias (em meio líquido) de diferentes gêneros como o Bradyrhizobium (estimula a nodulação nas raízes da soja para a fixação biológica de nitrogênio), o Azospirillum (indutor do crescimento da planta), o Bacillus subtili (usado na prevenção e controle de doenças) e o Bacillus thuringiensis, mais conhecido como ‘Bt’ (na forma de bioinseticidas para o controle de lagartas). A biofábrica tem capacidade para produção de até 3 mil litros em intervalos de 24 ou 48 horas (dependendo da bactéria a ser multiplicada). A aposta de Vasconcellos em uma agricultura mais “limpa”, de custos acessíveis, envolve ainda o uso de remineralizadores (pó de rocha) e de coquetéis de plantas de cobertura, procedimentos intensificados a partir da atual safra (2017/18). No entanto, o foco em biológicos + remineralizadores + plantas
de cobertura não pressupõe o uso exclusivo deste tripé organomineral dentro de um manejo integrado de pragas (MIP). “Havendo necessidade, também utilizo produtos químicos. Procuramos trabalhar com equilíbrio para que a lavoura me dê o retorno desejado. Não sou um ecolouco”, observa, se referindo à expressão (neologismo) usada por alguns para taxar quem assume posições radicais em questões ambientais, em detrimento de tecnologias eventualmente nocivas a plantas e animais, se manejadas incorretamente, mas produtivas. De olho em oportunidades, ele resolveu também se dedicar ao cultivo de soja convencional. “Ela me garante um prêmio de R$ 10 sobre a cotação de mercado da saca”, revela Vasconcellos, que comercializa a oleaginosa com a unidade da ADM (Archer Daniels Midland Company) em Campo Grande. No ciclo 2015/16, sua maior redução em desembolso foi com fungicidas. Trocou os químicos pelos produtos biológicos próprios em 200 hectares. Considerando a saca de soja cotada a R$ 60, o impacto do uso de fungicidas biológicos no seu custo de produção foi, segundo ele, de R$ 0,29 sc/ha, contra R$ 2,08 sc/ ha dos fungicidas químicos. Considerando o manejo completo, que inclui remineralizadores e coquetéis de plantas de cobertura, seu custo para produzir uma saca de soja caiu de R$ 48 (na safra 2015/16) para R$ 41 (na temporada seguinte). Em sua opinião, a vantagem financeira é inconteste: “A dose comercial recomendada de Azospirillum, de 100 ml por hectare, por exemplo, custa no mercado R$ 8,50. Na minha biofábrica, o mesmo volume do produto multiplicado me sai a R$ 0,41”, revela. Impasse no campo O caso de Gleyciano Vasconcellos exemplifica uma tendência em curso no Brasil. Pressionado nos últimos anos pela necessidade de aumentar a carga de agroquímicos nas lavouras, motivada, entre outras razões, pelo número crescente de pragas e plantas invasoras em processo de desenvolvimento de resistência (segundo a Embrapa, já existem 26 plantas resistentes a produtos de pelo menos um grupo químico), o agricultor brasileiro viu seu custo de produção decolar e a produtividade praticamente se estagnar, abrindo espaço para os produtos biológicos, cujo mercado deslanchou nos últimos três anos. Alguns agricultores, a exemplo do que fez Vascon-
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Capa participantes foi, justamente, Gleyciano Vasconcellos. “O curso foi um marco. Este posicionamento da Embrapa serviu como um divisor de águas mercadológico. Deu tranquilidade para todos os produtores. Sofríamos uma pressão muito grande, mas depois dessa iniciativa a multiplicação de bactérias on farm passa definitivamente a ser uma realidade no Brasil”, disse ele semanas depois à Agro DBO. O material de divulgação do curso, encaminhado à imprensa, relata que a iniciativa “capacitou 22 pessoas na produção de bactérias importantes para o controle biológico de pragas”. Também menciona “produtor em treinamento na produção de bactérias...”.
cellos, não se contentaram simplesmente em adquirir produtos biológicos para controle de doenças e pragas em seus lavouras. Eles enxergaram uma brecha legal – se não é proibido, é permitido – e passaram então a produzir bactérias nas respectivas fazendas com o objetivo de reduzir ainda mais os custos e elevar suas margens. No entanto, a prática era silenciosa, conduzida sem alardes. Não havia certeza entre eles de que estavam dentro da legalidade. Na verdade, a dúvida ainda persiste para muita gente. Um evento ocorrido no último mês de outubro colocou mais lenha na fogueira. Entre os dias 23 e 27 a Embrapa Recursos Genéticos e Tecnologia ofereceu, para 22 pessoas (na maioria, agricultores), o curso “Produção de Bacillus thuringiensis: da bactéria ao produto”. Um dos
Pragas à espreita O atraso no plantio da soja na temporada 2017/18 de grãos retardou a manifestação da maioria das pragas da cultura. Até o início da segunda quinzena de novembro, nenhum sinal de alerta havia sido acionado indicando incidências preocupantes de insetos, fungos, nematoides e outros microorganismos predadores. A primeira ocorrência da ferrugem asiática, causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi, foi constatada no dia 20 em Itaberá, sul de São Paulo, em lavoura plantada em setembro. Dias depois, dois novos casos foram relatados, ambos no Paraná – um em Itaipulândia, o outro em São Miguel do Iguaçú. A Fundação MT comprovou ocorrências da lagarta Helicoverpa armigera no Mato Grosso, maior produtor de
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Área da Fazenda Futurista, cedida por Vasconcellos à Embrapa para pesquisa sobre remineralização com pó de rocha.
A bomba explode Tão logo souberam do evento, as empresas que investem na produção de organismos para controle biológico se manifestaram. “A notícia do curso chegou como uma bomba por aqui. Ficamos muito assustados e, por pouco, não enviamos um ofício comunicando o fato e solicitando explicações à diretoria da Embrapa”, diz Amália Piazentim Borsari, consultora executiva da ABCBio – Associação Brasileira das Empresas de Controle Biológico, entidade que reúne 23 corporações atuantes no segmento. A providência só não foi tomada, segundo ela, pelo fato de os organizadores do curso terem se antecipado na explicação de que não houve o objetivo de ensinar como se produzir on farm e, sim, apontar cuidados e riscos neste procedimento. Mesmo assim, a confusão já estava feita. “Temos de admitir que este fato abriu as portas para muita gente entrar na atividade sem maiores receios. Isso pode trazer
grãos do Brasil, mas não em quantidade suficiente para causar danos econômicos. “Esta incidência inicial talvez esteja ligada justamente a um clima mais seco no início do plantio, que geralmente reduz a eficiência dos tratamentos de sementes. Mas felizmente encontramos a campo muitas lagartas parasitadas”, diz a entomologia Lucia Vivan, alertando, porém, para a ocorrência de percevejos ao longo do ciclo. “Em algumas áreas já encontramos a praga. É bom que todos saibam que este inseto é de limitado controle, tanto através de soluções químicas quanto biológicas”, alerta. Se no Mato Grosso a H. armigera ainda não preocupa, no Mato Grosso do Sul, sim, mas não pelo grau de infestação. No mês passado, a Fundação Chapadão comprovou algo até então inusitado: a H. armigera passou a atacar a soja com tecnologia Intacta RR2 Pro. Em algumas
áreas do município de Chapadão do Sul (GO), os pesquisadores contaram de duas a quatro lagartas por metro de linha da cultura, com aproximadamente 11% de plantas infestadas em alguns pontos. Segundo a Fundação, a Monsanto, detentora da tecnologia Intacta, vistoriou a área para conferir se não havia outro tipo de sementes vulneráveis misturadas e concluiu que o talhão não apresentava misturas – 100% das amostras coletadas expressavam a proteína Cry1Ac, produzida pela bactéria Bacillus thuringiensis (Bt), que até agora controlava a Helicoverpa. A análise apontou que as lagartas maceradas se alimentaram da cultura, ingerindo a proteína tóxica Cry1Ac, e mesmo assim a tecnologia não afetou as lagartas. De acordo com a Equipe Pragas e Plantas Daninhas da Fundação Chapadão, esse “talvez seja o primeiro caso no Brasil com este problema”.
A ABCBio alerta: “a reprodução de bactérias sem controle ou fiscalização pode gerar contaminantes biológicos perigosos”. uma insegurança jurídica muito grande junto às empresas capacitadas e legalizadas para este trabalho”, observa Borsari. No entanto, antes mesmo deste fato, a disseminação da atividade de multiplicação de bactérias on farm já era uma preocupação da ABCBio. No dia 17 de agosto, a entidade encaminhou ao Mapa – Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento documento com parecer jurídico elaborado por advogados da associação, condenando a produção nas fazendas e solicitando “providência urgente no sentido de que seja encaminhado parecer desse Ministério com medidas de contenção imediata de tais práticas”. No entendimento dos advogados, há violação de uma série de leis, entre as quais a dos agrotóxicos, a que regulamenta a agricultura orgânica, a que trata do patrimônio genético e a que regula direitos e obrigações relativos à propriedade industrial. O documento encaminhado pela ABCBio pede 60 dias de prazo para providências. “No final de outubro procuramos o Mapa, que nos respondeu que uma comissão estaria trabalhando no assunto”, revela Borsari. A maior crítica da instituição vem do fato de a grande maioria dos agricultores trabalhar a multiplicação de bactérias a partir de inóculos comerciais. “Um absurdo”, desabafa a executiva da ABCBio, reclamando também de empresas “oportunistas” atuando neste contexto: “Elas trabalham oferecendo consultorias para a multiplicação de bactérias e até comercializam kits de equipamentos
Soja convencional sob manejo biológico 20 dias após o plantio em áreas antes cultivada com trigo mourisco: prêmio de R$ 10 por saca.
para a produção nas fazendas”. Há ainda, segundo ela, riscos sanitários: “A reprodução de bactérias sem controle e fiscalização pode gerar contaminantes biológicos tão ou mais perigosos do que contaminantes químicos”. A ABCBio está acompanhando estudos e análise de amostras de bactérias, especialmente de Bacillus thuringiensis, desenvolvidos pelo pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo, Fernando Valicente. “Recebi as amostras, congelei e processei através de uma metodologia chamada 16S de rRNA. É uma técnica molecular de alta repetibilidade e de resultados confiáveis pelo uso de fragmentos de RNA (Ácido Ribonucleico, responsável pela síntese de proteínas da célula). As respostas mostraram a existência de várias bactérias patogênicas a mamíferos, inclusive para humanos”, revela Valicente à Agro DBO (OBS: o pesquisador ainda não tem permissão dos donos das amostras para qualquer divulgação. Assim que tiver o sinal verde, promete tornar pública a lista de bactérias junto com o resultado dos estudos. Isso deve ser feito, segundo ele, através de uma publicação oficial da Embrapa ainda sem data para ser editada). Risco de descrédito A multinacional norte-americana FMC, associada à ABCBio, reforça a posição da entidade. “Utilizando uma analogia até grosseira, é como tentar fazer em casa o mesmo iogurte a partir do produto que você comprou. Nunca sai igual”, observa Ronaldo Pereira, vice-presidente da empresa para a América Latina. Segundo ele, a tecnologia envolvida no processo de fermentação dos produtos biológicos é muito complexa. “Caso dez/2017-jan/2018 – Agro DBO | 21
Capa O curso da Embrapa é visto como divisor de águas. Até então, a produção de bactérias on farm era feita na clandestinidade. haja uma contaminação ou descontrole na temperatura durante o ciclo reprodutivo, serão obtidos outros organismos no caldo final. Qualquer erro gera produto diferente. A parte ruim disso tudo é que o agricultor só dará conta do equívoco depois do dano feito na lavoura”, adverte. Pereira teme prejuízo ainda maior na ameaça à qualidade da produção agrícola brasileira: “Caso o agricultor entenda que pode fabricar qualquer bactéria em sua fazenda será um retrocesso muito grande por conta da frustração geral que ocorrerá em seguida. O maior prejuízo virá como uma depreciação do potencial dos biológicos. Imagine o efeito do descrédito sobre uma plataforma que agricultura tanto precisa?”. A FMC estima em até 12 anos o tempo médio para pesquisa, desenvolvimento e aprovação de novas moléculas químicas no Brasil. “Já um produto biológico não demora mais do que cinco anos”, observa. Sobre a iniciativa da Embrapa em esclarecer procedimentos de multiplicação de bactérias para produtores, Pereira é enfático: “Esta instituição não faria algo que não fosse válido”. Segundo ele, os biológicos demandam hoje 4% dos negócios da empresa.
Enraizamento profundo em planta de 20 dias em área de soja sob controle biológico.
“Não ensinamos a preparar o bolo” A pesquisadora da Embrapa e coordenadora do curso realizado em Brasília, Rose Monnerat, diz estar segura sobre a iniciativa. Tanto é que prepara uma nova turma para janeiro: “Nosso objetivo é mostrar os cuidados a serem tomados nos processo de reprodução de organismos biológicos. Faltava isso. Abrimos um canal de comunicação e agora muita gente passou a ter aces-
Movimentação de contêiner de fluidos (IBC) com Bacillus subtili na Fazenda Pé de Cedro
22 | Agro DBO – dez/2017-jan/2018
so a estas informações. Há um interesse enorme pelo curso. Posso garantir que temos demanda para algo em torno de vinte novas turmas”, diz ela. Apesar de reconhecer a falta de clareza na legislação, Monnerat garante que a produção on farm é prevista em norma. Ela cita como exemplo o Decreto 6913/09 (que altera o Decreto 4074, regulamentador da lei de Agrotóxicos e Afins) em seu artigo 10, parágrafo 8, que reza: “Ficam isentos de registro os produtos fitossanitários com uso aprovado para a agricultura orgânica produzidos exclusivamente para uso próprio”. Sobre a utilização de inóculo comercial para a multiplicação de bactérias, a pesquisadora esclarece: “A legislação não diz se é proibido ou não. No entanto, nossa orientação é para que isso não seja feito. Este material carrega conservantes que podem atrapalhar o processo de fermentação”. Monnerat explica que o curso coordenado por ela não teve como objetivo “criar propaganda” da produção on farm ou instruir como fazer. “Esclarecemos o que é a receita, mas não ensinamos a preparar o bolo. Entendo que a nossa obrigação é ajudar quem produz a desempenhar seu papel com qualidade”, explica. A especialista observa ainda que, em função do medo de estarem fazendo algo fora da lei, muitos produtores vinham até agora reproduzindo bactérias na clandestinidade. “Com certeza o espaço dos biológicos dentro do contexto do mercado de defensivos agrícolas é pelo menos 75% maior do que está declarado até então”. Esta participação, estimada pela ABCBio, é de 2%, com crescimento médio atual de 15% ao ano. De acordo com levantamento da Embrapa, o Brasil já contabiliza 108 produtos para controle biológico devidamente registrados. Há seis anos, eram 31.
Agroquímicos
Misturas em tanque Tão importante quanto fazer misturas corretas em tanque é entender o que se está fazendo para que não ocorram erros e problemas Rone Batista de Oliveira 1 Dionisio Luiz Pisa Gazziero 2 Laís Maria Bonadio Precipito * Gustavo Dario * Luiz Augusto Inojosa Ferreira *
A
*os autores são 1 – engenheiro agrônomo, professor-doutor da Universidade Estadual do Norte do Paraná-UENP. Bandeirantes/PR. 2 – engenheiro agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja. * - engenheiros agrônomos, mestrandos em Agronomia-UENP/PR.
ximadamente 70% das misturas de milho apresentaram faixas de pH entre 4,01-5,0. Observa-se também que 22,2% das misturas utilizadas na cultura da soja apresentam faixas alcalinas (pH> 7,0) proporcionadas pelos fertilizantes foliares e que na cultura do milho predominam pHs ácidos. Os resultados indicam que mais de 84% das misturas utilizadas na soja não apresentaram formação de espuma, ao contrário das misturas utilizadas na cultura do milho, onde observa-se que aproximadamente 40% das misturas apresentaram formação de espuma. Observa-se que mais de 50% das misturas utilizadas na cultura da soja e milho não apresentaram incompatibilidade física, porém para a cultura do milho apresentaram quase 20% de incompatibilidade física e 25,6% requerem atenção ou mais cuidados para evitá-la. Quanto aos entupimentos dos filtros das pontas de pulverização, observa-se que na cultura do milho mais de 50% da caldas necessitam de muitos cuidados e atenção e 16,3% apresentaram acúmulos e entupimentos dos filtros.
Tabela de Compatibilidades e Incompatibilidades publicada nesta edição da Agro DBO traz informações importantes e relevantes. Isto porque a mistura de produtos em tanque é cada dia mais frequente no campo, porém, ainda há muitas dúvidas e desconhecimento quanto à compatibilidade, parte devido ao potencial número de combinações possíveis de serem realizadas e outra pelas poucas publicações científicas e técnicas de esclarecimentos sobre o assunto. Pesquisa realizada por Gazziero (2015) em 17 estados do Brasil, constatou que 97% dos entrevistados utilizam misturas em tanque e 95% das vezes variam de dois a cinco produtos. Além disso, utilizam as maiores doses constantes nos rótulos dos produtos fitossanitários. Quando realizada sem os devidos cuidados, a mistura pode gerar problemas, tais como de deposição no fundo do tanque (decantação), floculação, formação de grumos, separação de fases e insolubilidade. A consequência é geralmente a obstrução do sistema de pulverização, com entupimento das mangueiras,
saturação dos filtros principais, filtros de linha, filtros de pontas e entupimento das pontas de pulverização, além de aumentar a desuniformidade durante o processo de pulverização. Porém, quando realizada de forma correta, a mistura pode trazer algumas vantagens operacionais, como redução do número de entradas na área para pulverização, evitar compactação do solo, proporcionar um conceito de uso racional dos recursos hídricos, reduzir o tempo de exposição do aplicador aos produtos fitossanitários e, consequentemente, potencial redução de custos. Portanto, o objetivo desta matéria é apresentar uma tabela de aptidão de misturas em tanque de agrotóxicos com e sem fertilizantes foliares utilizados na cultura de milho e soja visando reduzir a carência de informações e ampliar as discussões técnicas em relação ao tema, sem caráter de recomendação de mistura e nem sequer dos produtos aqui utilizados.
Figura 3. Frequência de ocorrência de incompatibilidade física das 80 misturas na cultura da soja e das 49 misturas na cultura do milho.
Figura 4. Frequência de ocorrência de entupimento de filtros de pontas de pulverização das 80 misturas na cultura da soja e das 49 misturas na cultura do milho.
Principais resultados As informações da tabela indicam que mais de 50% das misturas utilizadas na cultura da soja e apro-
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Opinião
Vanguardismo tropical Conhecer características da nossa tropicalidade permitiu ao Brasil conquistar posição de liderança na produção de alimentos. Rogério Arioli Silva *
D
* O autor é engenheiro agrônomo e produtor rural em Mato Grosso
urante o mês de novembro último tivemos a oportunidade de visitar a Embrapa Agrossilvipastoril, localizada em Sinop (MT), Centro de Pesquisa fundado em 07 de maio de 2009, com o objetivo de buscar inovações tecnológicas e sustentáveis para os sistemas integrados de produção agropecuária daquela região do Brasil. Apesar da grande abrangência da pesquisa e difusão daquele centro, nossa visita se restringiu às novidades referentes aos Sistemas de Integração Lavoura-Pecuária–Floresta (ILPF) que já abrangem mais de 11 milhões de hectares no país. De imediato, fica evidente a quem visita aquele local, o ambiente fervilhante de opções que a agricultura tropical oferece, o qual
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assumirá mais importância a cada ano, pelo desafio de maximizar a produção nas áreas já incorporadas à exploração agropecuária. A pressão contrária a novos desmatamentos exigirá cada vez mais esta intensificação de uso do solo, tornando a pesquisa e difusão tecnológicas as pedras angulares deste processo, na medida em que a demanda por alimentos cresce constante e assustadoramente. Os benefícios da utilização dos sistemas de ILPF são inúmeros, seja sobre o solo, plantas, animais, meio ambiente e produtores rurais em amplitudes variáveis, embora sempre positivamente. Do ponto de vista técnico é inegável a contribuição das gramíneas tropicais na reciclagem dos nutrientes do solo e na melhoria das suas características físicas, além do aumen-
to dos teores de matéria orgânica e seus efeitos na manutenção e disponibilidade da água para as plantas. O enriquecimento da biota (conjunto de seres vivos de um ecossistema) também é favorecido pela variação dos diferentes sistemas radiculares a explorarem o solo, cada um com seu conjunto de microrganismos associados. Ao contrário do que muitos imaginam, o Sistema ILPF é extremamente democrático, pode ser utilizado em qualquer tamanho de propriedade rural, além de aceitar inúmeras configurações. Dados divulgados no evento demonstraram um significativo incremento na produção do leite em pequenas propriedades que adotaram o modelo. O aumento da renda líquida obtida pelos produtores – com impacto direto na sua capitalização, incentiva a permanência na propriedade rural. A redução da sazonalidade produtiva com a implantação das outras atividades preconizadas pelo Sistema ILPF tem impactos positivos na manutenção e ampliação da geração de empregos, tanto diretos como indiretos nas regiões rurais. Aspecto este reforçado pela maior estabilidade econômica das propriedades envolvidas e a redução de riscos proporcionada pela diversificação da produção. No aspecto ambiental os ganhos são ainda mais animadores. Uma utilização mais eficiente dos recursos naturais (luz, água e nutrientes) está em perfeita consonância com os modelos susten-
táveis perseguidos pela moderna agricultura. Números que compararam Sistemas de ILPF bem manejados demonstram a possibilidade de que estes sistemas consigam estocar quantidade de carbono superior às vegetações originais. Significa dizer que, além da imensa produção obtida nestas áreas, ainda será possível sequestrar carbono, um serviço ambiental adicional realizado pelo produtor rural em benefício dos habitantes das cidades e de todo o planeta. Em relação aos animais integrantes do sistema também existem vantagens evidentes. Além do maior conforto térmico proporcionado pelo sombreamento das árvores a qualidade da pastagem permite lotações muito maiores àquelas existentes na pecuária tradicional. Os primeiros resultados já demostraram a possibilidade de
produzir muito mais arrobas/ha/ ano do que se tem obtido normalmente, além da antecipação do abate em até 24 meses quando se compara com modelos tradicionais. A época da seca – geralmente um período de restrição alimentar
tre eles madeira serrada, moirões, construções dentro e fora da propriedade, além de fonte de energia para inúmeras finalidades. É importante que o produtor realize um projeto bem fundamentado com a imprescindível opinião téc-
A pressão contrária a novos desmatamentos exigirá cada vez mais o intenso uso do solo – passa a ser grande fornecedora de forragens aos animais. Os aspectos acima mencionados não levaram em conta a renda adicional obtida pela exploração florestal das áreas, o que significa um bônus do sistema. Este aspecto precisa ser muito bem analisado, dependendo da logística e dos objetivos dos produtores. É possível utilizar a produção de madeiras para fins diversos, en-
nica de profissional especializado. Fomos recebidos na Embrapa pelo professor Flávio Wruk, que não mediu esforços para compartilhar conhecimento e demonstrar o excepcional trabalho realizado naquele Centro de Excelência. A ele e a toda a equipe da Embrapa nossos aplausos e o reconhecimento de que a vanguarda da Agricultura Tropical passa por ali.
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Entrevista
Solo estruturado é o foco, através da biodiversidade.
O
entrevistado do mês da Agro DBO é o engenheiro agrônomo Paulo D’Andrea, graduado na faculdade de Pinhal (SP), que se sente confortável quando o chamam, ou quem sabe o acusam, de ser um agrônomo natureba, eis que, desde sua formação, em 1978, focou sua especialização em conservação de solo e nutrição vegetal. Logo após a graduação, Paulo D’Andrea associou-se a um empresário da sua região de origem (Limeira, SP) e adjacências, onde sua família é tradicional e atuante nas atividades rurais, para fundar no ano de 2000 a Microgeo, uma empresa focada na biologia dos solos, em complemento aos estados físicos e químicos, como fator primordial para que se obtenha melhoria da produtividade das lavouras. Paulo D’Andrea, palmeirense simpatizante e não fanático, fiel às suas origens italianas, é diretor de P&D, Pesquisa e Desenvolvimento da Microgeo, e conversou longamente com o editor-executivo da Agro DBO, Richard Jakubaszko, onde detalhou sua paixão pelo assunto, que entende seja a forma ideal de se preservar o planeta para as gerações atuais e futuras.
Agro DBO – Como é que se chega a resultados favoráveis, dentro dessa história de equilíbrio biológico de solo? Paulo D’Andrea – O nosso trabalho valoriza justamente essa integração dos aspectos físicos, químicos e biológicos do solo, inclusive a biologia no sentido de sanidade, porque incentivamos a máxima biodiversidade biológica no solo. Tudo isso foi baseado em uma tecnologia que desenvolvemos a partir de 2000, inicialmente em parceria com a Esalq, Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Piracicaba-SP). Esse trabalho resultou num meio de cultura, ou substrato, que denominamos como microgeo. 26 | Agro DBO – dez/2017-jan/2018
Não como proteção de mercado, mas como atestado de boa conduta, microgeo é uma patente de invenção. Essa patente demonstra que o conhecimento brasileiro pode desenvolver tecnologias factíveis e comerciais para uso em ambiente tropical, para buscar benefícios nos processos agrícolas de produção de alimentos. Agro DBO – Nossos solos no Brasil, especialmente no Cerrado, são pobres, ácidos e compactados. Como essa tecnologia microgeo pode ajudar a combater isso? Paulo D’Andrea – Dentro dessa visão, e considerando a demanda global por mais alimentos, vale a
pena citar que nós temos trabalhos e pesquisas hoje, não apenas no Brasil, mas na Argentina, Paraguai, Uruguai, e estamos há 3 anos com pesquisas nos Estados Unidos. Em Minnesota, e na Virgínia, e o que nos surpreendeu, quando chegamos lá, é que eles pesquisam o assunto há mais de 20 anos, para montar um modelo viável e sustentável de agricultura para 2050. O foco dessas pesquisas tem um denominador comum, produzir mais, com menos. E esse menos é energia. Então, a visão que se tem, é que todas as tecnologias, seja na genética, seja máquinas e equipamentos, sejam insumos em geral, tudo o que gastar muita energia para se produ-
zir vai impactar de tal forma que vai inviabilizar a produção de alimentos. Em nosso Cerrado temos de encontrar soluções locais, como o melhoramento do solo, para tornar perene e produtivo o local de produção de alimentos. Agro DBO – Como a Microgeo tem visto essa questão da união do solo biológico com o físico e o químico? Paulo D’Andrea – O plantio direto foi uma revolução na agricultura brasileira, e a realidade é que podemos fazer mais de duas safras por ano. Mas nós, agrônomos, não tínhamos a percepção de que os solos, mesmo com plantio direto, na linha do tempo, que eles iriam se compactar como estamos constatando. Então, basicamente, estudos da Embrapa e da Universidade Federal do Mato Grosso, mostram que no monocultivo, seja de grãos ou culturas perenes, a biomassa microbiana desses solos se reduz de 60% a 70% no tempo de 5 anos. O fato de a gente perder a biodiversidade original do solo, com 5 anos de reducionismo de biomassa microbiana, significa que perdemos a funcionalidade dessa capacidade biológica de manter a estrutura ativa do solo. São as bactérias que geram o chamado popularmente gel bacteriano, são essas substâncias, produzidas pelas bactérias, que vão estruturar o solo. Agro DBO – Por que em regime de monocultivo isso se reduz em cinco anos? Paulo D’Andrea – Seria como se a gente pudesse afirmar que, em cinco anos, em termos biológicos, o solo começa a ficar velho. Agro DBO – E só a reposição de NPK não soluciona o problema? Ou pode agravar? Paulo D’Andrea – Não necessariamente. O NPK, a calagem, vão repor aos solos os minerais de que as plantas carecem para se desen-
volver. Se a gente tiver uma visão histórica, o cerrado que a gente abriu, biologicamente ele é jovem. Cabe a nós agrônomos a missão de corrigir esse solo e fertilizá-lo. Só que ninguém tinha a percepção de que, mesmo no plantio direto, o fato de ser monocultivo, vai induzir ao reducionismo biótico. Assim, a gente levanta a fertilidade química do solo, mas vai perdendo aos poucos na qualidade física pela perda da biodiversidade biológica. Com o microgeo, que é uma tecnologia que vai permitir ao agricultor trabalhar com a biogeografia local, porque, sendo do mesmo bioma, seja uma floresta tropical ou no cerrado, a gente tem comunidades biológicas específicas para cada local desse macrobioma. Com o microgeo, o agricultor monta um tanque, no tamanho das necessidades, que pode ser de 1, ou 10 mil ou 20 mil litros, chamado de biofábrica, onde ele vai ainda usar a comunidade biológica local, porque ele coloca uma única vez o esterco bovino, ou conteúdo ruminal retirado de um frigorífico, e isso é colocado no tanque, vai adicionar água, e o microgeo vai fermentar tudo isso, como meio de cultura e substrato, que vai garantir ao produtor, de forma contínua, o biofertilizante. Depois, esse caldo é aplicado no solo, e que nós chamamos de adubo biológico. Agro DBO – No que consiste o microgeo? Paulo D’Andrea – É um blend de substâncias que vão garantir a fermentação, que nutrem aquela biota local que foi adicionada ao tanque. São nutrientes, que valorizam e alimentam as bactérias. Ali tem energia para o sistema, tem minerais que vão alimentar esses microrganismos, e substâncias chamadas recalcitrantes, que vão garantir que a fermentação seja contínua e não desande para uma fermentação ácida ou alcoólica. Desta forma, a tecnologia do microgeo dá o domínio ao produtor de ter a sua própria
biofábrica de biofertilizantes. Isso estará em total sintonia com o meio ambiente da propriedade. Agro DBO – Esse fertilizante biológico substitui o fertilizante mineral, o NPK? Paulo D’Andrea – Não, o foco principal da adubação biológica é repor biodiversidade ao solo, especialmente bactérias, pela multifuncionalidade delas no sistema. Análises moleculares que a gente realiza hoje indicam que existem até 500 grupos de bactérias diferentes numa fermentação bem-feita. Cada microrganismo ou bactéria tem uma função específica, mas trabalham em conjunto, como é próprio da natureza. Agro DBO – E as plantas nesses processos? Paulo D’Andrea – O microgeo forma o microbioma do solo, e permite conectar a planta, a partir da sua exsudação. A maior energia que temos, a partir da fotossíntese, é a exsudação da planta. Em média, 30% dos assimilados pela fotossíntese, literalmente são exsudadas pela planta. O milho, por hectare, durante seu ciclo, exsuda mais de um milhão de litros de polissacarídeos, e isso equivale a mais ou menos 10 toneladas de matéria orgânica seca exsudada no sistema. Para que isto? Para alimentar a vida biológica que está em torno da raiz da planta. E essa biodiversidade entrega para a planta todos os benefícios do sistema. A planta precisa do mineral, mas o mineral não está na planta, está na rocha, e a funcionalidade de uma bactéria é para trocar cargas com o mineral e solubilizar a rocha, seja uma bactéria ou um fungo micorrízico. A partir desse conhecimento, quando a gente trabalha com um microbioma, o primeiro foco é a física do solo, porque são as bactérias que vão fazer a agregação do solo, a partir do gel bacteriano, o chamado ácido poliuriônico. Esdez/2017-jan/2018 – Agro DBO | 27
Entrevista Nós não tínhamos a percepção de que os solos com plantio direto, na linha do tempo, iriam se compactar como estamos constatando. ralização vai ser muito maior num ambiente aonde essa atividade biológica é pequena. Em clima tropical, normalmente a taxa de mineralização é em torno de 5% ao ano. Com isso, se tem maior ganho de produtividade, baseado na maior eficiência da ciclagem, porque se melhora a condição física do solo por rota biótica, e se aumenta a eficiência do nitrogênio, do fósforo e assim por diante, e com mais eficiência se obtém mais produtividade. Um solo estruturado tem mais água, tem mais raízes, e tem mais oxigênio, porque a eficiência nutricional dessas fontes solúveis é que permeia a CTC. tatisticamente, a gente consegue um solo reestruturado, por exemplo, em grãos, normalmente com 4 ou 5 ciclos de culturas, em safra e safrinha, lá pelo segundo ano, ou com dois anos e meio. A partir do momento em que a gente tem o solo estruturado, a gente consegue uma melhor eficiência dos fertilizantes, sejam químicos ou orgânicos. No fertilizante orgânico a ciclagem do nutriente, se ele está na matéria orgânica, ele tem de ser mineralizado. A mineralização é por rota biológica. Então, obviamente, se a gente joga uma fonte orgânica num ambiente biologicamente mais ativo, a taxa de mine-
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Agro DBO – Quanto custa ao produtor estruturar o solo pela rota biológica? Paulo D’Andrea – Hoje, para um produtor de grãos, fica na faixa de uns R$ 90,00 reais por hectare, depois de montar a sua biofábrica, em que o produtor estabelece a produção de fertilizantes biológicos de forma contínua. Tem um agricultor de Guarapuava (PR), que empatou custos, porque ele reduziu o custo dos combustíveis em R$ 80,00 reais por hectare, porque a partir do solo mais estruturado se reduz a demanda de potência dos tratores, inclusive tornando desneces-
sário fazer subsolagem. Então, o custo da adubação biológica se paga com a economia de combustíveis. Isso é o futuro que os pesquisadores de Minnesota estão procurando, a agricultura com menos gastos de energia. O custo do fertilizante biológico é quando o agricultor realimenta os tanques de fermentação, quando ele reabastece o tanque com a tecnologia do microgeo. Agro DBO – Quanto gera em termos de aumento de produtividade o uso do microgeo? Paulo D’Andrea – Esse mesmo agricultor de Guarapuava, relata que teve aumento de 3 sc/ha, sem esquecer que ele já tem uma produtividade média elevada, acima de 70 sc/ha. Produtividade passa a ser consequência de todos os benefícios. Em alguns produtores, que não tinham solos bem estruturados, os ganhos foram maiores em termos de sc/ha. Mas há vantagens adicionais em relação ao sistema de saúde das plantas, pois nossas pesquisas apontam que produtores tiveram aumentos médios de produtividade mesmo em áreas com presença de nematoides. Deduzimos, com isso, que as plantas mais bem nutridas conseguem maior resistência aos agentes patológicos.
Café
Notas de viagem à Nicarágua O autor revela detalhes de curso ministrado a agrônomos, onde foi ensinar, mas também acabou aprendendo com os alunos. Hélio Casale *
Cafezal na montanha, cercado de árvores como quebra vento.
A
convite de uma grande empresa local, a Mercon, estive recentemente na Nicarágua para efetuar um treinamento do pessoal técnico, todos engenheiros agrônomos (38), que atendem tecnicamente os cafeicultores, lhes repassando técnicas, insumos e comparando a produção.
do Equador. O território é um dos maiores da América Central, são cerca de 130.000 km², divididos em 15 Departamentos em duas grandes regiões autônomas, a do Atlântico Norte e a do Atlântico Sul. Em vários pontos do país existem, bem demarcadas, várias Unidades de Preservação Permanente.
Os matos das entrelinhas são controlados com o machete – facão – e parte com herbicidas
* O autor engenheiro agrônomo, cafeicultor, consultor e membro do Conselho Editorial da Agro DBO
A Mercon é empresa familiar que está presente no Brasil (Varginha), EUA, Holanda, Espanha, Panamá e Vietnã, comercializa cerca de 4,1 milhões de sacas de café anualmente. Paralelamente, a Mercon tem a Transplanta empresa iniciada em junho de 2016 e que já comercializou mais de 4 milhões de mudas de café. Para o ano serão 6 milhões de mudas em substrato especial envolto em bolsa de papel rendilhado vindo da Dinamarca. Atividade de primeiro mundo. A República da Nicarágua localiza-se na América Central, hemisfério norte, pouco acima da linha
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A atividade produtiva do país está voltada para o setor primário, sendo a agricultura a principal fonte de receitas. Na agricultura, os principais produtos que cultivam são: café, algodão, arroz, milho, banana, cana-de-açúcar, cítricos, abacaxi, mandioca, feijão. Na subida para a área cultivada com cafeeiro, muitas áreas plantadas com verduras, hortaliças e flores, estas cultivadas debaixo de estufas recobertas com plástico leitoso. O que não falta por lá é chuva, pois anualmente caem mais de 3.000 mm bem distribuídos, concentrados entre maio e outubro.
Solo O solo tem alta fertilidade natural, fator ocasionado pela interferência vulcânica que frequentemente expele sedimentos que vão sendo depositados na superfície. Os vulcões estão mais concentrados acima e a oeste de Manágua, próximos à costa do Pacífico. O centro de nossas atividades foi Matagalpa, uma bela cidade, que dista 130 km de Manágua. Nas cercanias, os cafezais estão acima de 1.000 metros de altitude. Saindo de Matagalpa, até chegar à região cafeeira, seguimos por boa estrada asfaltada. Saindo dela, as vicinais têm o piso todo com pedras, o que permite o trânsito com qualquer regime de chuvas. Dentre os veículos de transporte, os Toyota, tipo Hilux, são os preferidos. Os técnicos, em sua maioria, andam em potentes motos, o que lhes permite chegar fácil aos locais de acesso mais difícil na altitude. Ao lado das estradas, casas bem conservadas, sem grades nas portas e janelas, com jardim na frente, pintadas com cores vibrantes. Luz elétrica e telefonia são serviços que não faltam. As casas das sedes das fazendas são de muito bom gosto, rodeadas de jardins com plantas bem diversificadas, sendo que a maioria dessas plantas tem por aqui também. As casas dos empregados e os alojamentos para os temporários também são bem conservadas, com limpeza nos arredores. As pessoas, tanto da cidade como as que moram nas fazendas, se mostram alegres, bem-vestidas, educadas. Comida nas fazendas é muito bem-feita, variada, cheirosa, com ótimo paladar.
Uma coisa chama a atenção – as casas não têm grades, mas nos arredores das sedes e dos centros administrativos das fazendas, sempre se vê funcionários fardados de roupagem azul e branco, carregando uma bela escopeta a tiracolo. Certamente devem existir espertinhos por lá também, mas o índice de criminalidade é muito baixo. Escolas por todo lado. Alunos uniformizados e com aparência saudável. No pátio das escolas, a bandeira da Nicarágua está sempre hasteada. A topografia é declivosa e, apesar do alto regime pluviométrico, observa-se pouca erosão laminar. Chamei a atenção dos participantes para a necessidade de controlar a erosão, chamando-a de sutil, pois reduzida essa fertilidade natural, o custo da reconstrução da fertilidade desses solos será enorme, para não dizer, proibitivo. Não tem nenhum centro de pesquisas para a cafeicultura no país. Abastecem-se mais intensamente de tecnologias na Guatemala e Colômbia. A produtividade nacional ainda está regular, mas pretendem melhorá-la rapidamente. As lavouras em geral são implantadas sem obedecer a alinhamento em nível e árvores de sombra nativas ou exóticas estão por todo lado. Algumas poucas áreas com plantas quebra-ventos. Nas lavouras de café, observei que cuidam da manutenção das plantas com desbrota de maneira a obter um IAF – Índice de Área Foliar próximo de 10.000 hastes verticais, ramos ortotrópicos, por ha. Poda após a colheita é prática generalizada. A mais empregada é a recepa. Os matos das entrelinhas são controlados com o machete – facão – e parte com herbicidas, sem deixar marcas nas plantas, mesmo que indeléveis. A adubação é feita duas a três vezes ao ano, sem base em análises de solo indicando as necessidades. No visual, terra gorda, com muita matéria orgânica, adubação generosa com base na experiência, e plantas
com folhas de tamanho exagerado, indicando presença alta do N, principalmente, o que deve interferir nas relações N/P, N/K, N/S, N/B, N/Cu. É conferir para ver. Ensinamentos Ao aplicar os adubos, fazem um risco no solo, pela parte de cima das plantas, cortando as raízes superficiais com um gancho de madeira natural, e que chamam de “garabato”. Alertei para que abandonem essa prática, fazendo a seguinte comparação: antes de iniciar uma bela refeição, passe um garfo com pontas bem afiadas na língua, a ponto de atingir as veias que a irrigam, e logo depois comecem a comer. Por outro lado, por que não colocar os adubos superficialmente em todos os lados das plantas evitando a adubação seletiva? Ninguém contestou. Análises do solo são feitas esporadicamente, enviadas para a Es-
À esquerda, o garabato, exibido orgulhosamente. Acima, estufa com 4 milhões de mudas em 2017, serão 6 milhões em 2020.
Os 38 engenheiros agrônomos presentes ao treinamento, mais o mestre.
panha, e as de folhas, não as fazem. Fartura é isso aí. Pragas não são observadas. Uns poucos formigueiros da quém-quém. Das doenças, a ferrugem ainda não chegou por lá. Apenas pequena incidência do Phoma. A colheita é toda manual e grão a grão. A degomagem e secagem são feitas na cidade. Poucas fazendas fazem, principalmente as grandes. Secadores horizontais (Pinhalense) e terreiros onde os grãos são esparramados durante o dia e cobertos em pequenos lotes nos finais de tarde. Nesses terreiros a mão de obra é muito grande, os trabalhadores se locomovem com lentidão, quase parando. Durante o treinamento cuidamos de dois temas principais: Perfil do Profissional de Agronomia e Diferentes Manejos para Sustentabilidade – manejo dos matos, manejo da água, das plantas e da fertilidade. Durante o dia dos treinamentos fizemos três intervalos, e logo após e antes de reiniciar foi aplicado um teste com 10 questões para avaliar o grau de compreensão. No final, a tabulação dos testes mostrou uma eficácia de 98% de acerto nas respostas. Isso, graças ao interesse do pessoal, que anotava num caderninho as informações principais. Um comportamento raro. Nos poucos dias, nas poucas horas de convívio com os nicaraguenses, pude sentir o valor do quanto podemos dividir e também o quanto ainda podemos aprender.
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Herbicidas
Manejo de plantas daninhas na entressafra do cerrado Os autores demonstram estudos de controle de ervas daninhas resistentes, como Buva e Capim amargoso em aplicações sequenciais. Alberto Leão de Lemos Barroso * Hugo de Almeida Dan * José Arnaldo de Souza Júnior * Flávio Nascimento Silva * Brachiaria ruziensis Solteira
Milho + Brachiaria
Área de pouso
Milho + Brachiaria
Figura 1. Cobertura do solo com Brachiaria ruziziensis na região dos Cerrados
U *os autores são: engenheiros agrônomos, da Universidade de Rio Verde, GO e do GEPDC (Grupo de Estudos em Plantas Daninhas no Cerrado) e integrantes do Wolf Team
m dos maiores desafios da região do cerrado é o controle de plantas daninhas, especialmente na entressafra onde o inverno é predominantemente seco. Nestas condições as plantas daninhas apresentam elevados níveis de estresse, dificultando, além da absorção, a translocação de herbicidas, sejam eles via solo ou foliar. Observações realizadas pelo GEPDC apontam pequenos fluxos de emergência de plantas daninhas nas condições de entressafra, especialmente de Buva (Conyza spp.) mesmo com baixa umidade do solo. O uso de cobertura do solo apresenta como uma ferramenta importante no manejo das plantas daninhas. Dentre as espécies predominantes nos cultivos de
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entressafra ou safrinha, destacam se o milho, milheto, sorgo e a braquiária. Estas culturas, quando bem manejadas proporcionam excelentes níveis de supressão sobre espécies daninhas latifoliadas. Por outro lado, apresentam limitações quanto ao uso de herbicidas graminicidas desencadeando escapes, dificultando controle posterior, com destaque para Capim-colchão (Digitaria horizontalis), Capim-pé-de-Galinha (Eleusine indica) e Capim-amargoso (Digitaria insularis). A redução da população de plantas daninhas é outro benefício dos sistemas consorciados relatados na literatura nacional e estrangeira (Dan et al., 2011). Em experimento de longa duração na Embrapa Cerrados,
Ikeda et al. (2007), constataram reduções significativas nos bancos de sementes de plantas daninhas em sistema de rotação lavoura-pasto, em comparação ao sistema de lavoura contínua, principalmente quando se adotou o plantio direto. Os resultados apresentados na Tabela 1 e alguns estudos realizados pelo Grupo de Estudos em Plantas daninhas no Cerrado mostram que a Brachiaria ruziziensis apresenta moderada capacidade de supressão sobre espécies como Digitaria insularis chegando a no máximo 70% de controle, sendo, portanto uma ferramenta no auxílio do manejo integrado. No controle de Buva estes resultados chegam facilmente à 95% de controle (Figura 2). A falta de manejo ou uso incorreto das ferramentas de controle pode comprometer a produtividade da cultura principal, a sustentabilidade do sistema produtivo e a atividade agrícola da propriedade. O princípio desse manejo é impedir a permanência de espécies de plantas daninhas de difícil controle durante o período de pousio (Figura 3). Neste sentido o uso de herbicidas associado ou não às plantas de cobertura tem sido uma das principais ferramentas no controle de plantas daninhas na entressafra. Estudos dirigidos mostram que, pelo fato
Brachiaria
Pousio
Figura 2. Efeito do manejo no controle de plantas daninhas na entressafra no Cerrado.
Com manejo na entresafra no cerrado
Figura 3. Manejo da entressafra e seus resultados.
de plantas como Buva (Conyza spp.) e o Capim Amargoso (Digitaria insularis) apresentarem resistência confirmada na região dos cerrados (GEPDC, 2015), o uso de glyphosate fica restringido por apresentar baixa eficiência quando utilizado de forma isolada, como pode ser observado na figura abaixo. Associações com herbicidas mimetizadores de auxina (2,4-D) e inibidores da ACCase (Fops e Dins) tem se despontado como as principais ferramentas no controle das espécies em questão. Para complicar a chegada do milho voluntário Roundup Ready tornou praticamente obrigatório a introdução de associações com herbicidas graminicidas, dificultando ainda mais o manejo. Pelo fato das condições climáticas adversas, morfofisiologia das espécies daninhas e relativo grau de incompatibilidade das misturas, tem se observado uma redução no con-
Sem manejo na entresafra no cerrado
trole de até 40% na eficiência de alguns herbicidas como, por exemplo, 2,4-D+Clethodim em relação ao controle de Capim-amargoso. Em função disso verifica-se a necessidade de aplicações sequenciais em aplicações de pré-plantio. O uso de herbicidas residuais como imazethapyr, flumioxazin, diclosulan, S-metolachlor, metribuzim, trifluralina entre outros, tem auxiliado no manejo de entressafra. Porém, são posicionados especificamente para o controle de novos fluxos, uma vez que apresentam baixo efeito sobre plantas adultas estressadas. Mesmo quando aplicados 30 dias antecedendo a semeadura da soja, a atividade residual destes herbicidas tem causado efeitos supressores considerados, reduzindo assim a sobrecarga de responsabilidade sobre os herbicidas dessecantes e aplicados em pós-
-emergência das culturas. Resultados de manejo realizado pelo GEPDC mostram a dificuldade em controlar Buva próximo ao plantio da soja, mostrando a importância de se iniciar o manejo logo após a colheita do milho safrinha. Ressalta ainda que mesmo a utilização de mistura com mais de três herbicidas não foi suficiente a fim de melhorar de forma adequada o controle de Buva em estágios avançados de desenvolvimento (Figura 5). Segundo Barroso et al (2012), a maioria dos produtores opta pela utilização de apenas uma aplicação de dessecação, dificultando seu manejo. As dessecações únicas mostraram que esta metodologia não foi eficiente no controle de Buva fora do estágio recomendado (Tabela 2). Herbicidas de choque como glufosinato de amônia, saflu-
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Herbicidas Observações realizadas pelo GEPDC apontam pequenos fluxos de emergência de plantas daninhas nas condições de entressafra. Figura 4. Buva e Capim amargos lado a lado na região dos cerrados.
Figura 5. Escapes e controle de Buva em função do momento da dessecação.
Figura 6. Escapes de Capim amargoso sem manejo de entressafra e aplicação única em pré-semeadura da soja. Figura 7. Efeitos da aplicação sequencial no controle de Capim amargoso na entressafra e em pré-plantio.
fenacil, clorimuron, paraquat, paraquat + diuron, têm auxiliado no manejo de plantas adultas, especialmente em áreas de Buva e Amargoso. Mesmo no caso de associações, aplicações sequenciais têm se mostrado como as melhores alternativas quando comparado com seus pares isolados. Embora a aplicação sequencial tenha mostrado efeitos positivos, vale destacar que herbicidas com atividades residuais como sulfentrazone, clomazone, diclosulan, imazethapyr e flumioxazin podem auxiliar no controle de outras plantas daninhas na cultura da soja, ou seja, não ficando restrito somente à Buva. Além disso, conforme já destacado, a atividade residual dos herbicidas é fundamental para manter as plantas suprimidas fazendo com que o controle seja facilitado posteriormente, pois plantas menos desenvolvi34 | Agro DBO – dez/2017-jan/2018
das são mais susceptíveis à ação dos herbicidas. Não obstante dos resultados para controle de Capim amargoso em estágios iniciais de desenvolvimento, observa-se que houve melhoras no controle com a utilização de misturas e, principalmente, da aplicação sequencial em plantas com estágios mais avançados de desenvolvimento (Figura 3). Entretanto, estes resultados se apresentaram em menor intensidade quando para plantas de amargoso em fase reprodutiva. Em avaliação final de ensaios com plantas perenes, confirmou os resultados indicando que somente as associações contendo clethodin (select) proporcionou melhor controle de Capim amargoso (Digitaria insularis). Entretanto, vale ressaltar que estes resultados só foram obtidos por meio da utilização da aplicação sequencial
(Figura 4), o que é fundamental a fim de melhorar e proporcionar maior controle de Digitaria insularis; Outras opções de herbicidas inibidores da ACCase ou até mesmo herbicidas inibidores do fotossistema como paraquat ou paraquat+diuron, também podem ser utilizadas, porém em plantas perenes o ideal é que se respeite a utilização da aplicação sequencial. Embora o cerrado apresente condições limitantes, em função do inverno seco, existem alternativas que podem auxiliar no manejo de entressafra como o uso de espécies de cobertura. A utilização de herbicidas, especialmente os residuais têm sido estudado incansavelmente e os resultados indicam efeitos positivos no auxílio de herbicidas de choque para o controle de espécies de difícil controle como Buva e Capim amargoso no cerrado.
5 A 9 De FeVeReIrO De 2018 CaScAvEl-Pr
FaçA AcOnTeCeR O mundo nunca foi dos que ficam parados, dos que fazem aquilo que todo mundo já fez. O mundo é de quem não aceita a derrota, que faz tudo de novo até melhorar.
Porque metas não são aquelas que você escreve num papel são aquelas que você luta para realizar.
FaçA AcOnTeCeR
Sorte? Esqueça, ela logo vai te abandonar. Pra ir mais longe você precisa ter vontade e alguém que te ensine o caminho mais curto pra chegar. Porque quando você pensa que deu tudo de si, já tem alguém conseguindo o dobro. Grandes mudanças não são feitas por quem sonha, são feitas por quem faz.
ShOwRuRaL.CoM.Br
Fitossanidade
Doenças quarentenárias para o Brasil No mundo todo existem centenas de pragas e doenças que ainda não chegaram ao Brasil, mas devemos estar atentos para o problema. José Otavio Menten* e Ticyana Banzato**
(A) flores de pêssego mostrando sintomas típicos de infecção por Plum Pox virus. (B) Anéis e manchas cloróticos em folhas de pessegueiro (C) anéis amarelos concêntricos em fruto de pêssego (D) padrões anelares em frutos .de damasco.
A
B
C
D
M Os autores são:* engenheiro agrônomo, professor da Esalq e engenheira agrônoma, doutoranda na Esalq
uitas espécies vegetais cultivadas no Brasil, atualmente, foram trazidas de outras regiões do mundo, como Ásia, África e países vizinhos na América do Sul; nativas do Brasil, temos como exemplo a mandioca, amendoim, seringueira e o guaraná. Os países originários de uma espécie de planta, são chamados centros de origem e de diversificação das espécies. Os fitopatógenos não estão distribuídos homogeneamente em todo mundo; uma vez que, para ocorrer a doença, é necessário que 3 fatores se estabeleçam: hospedeiro suscetível, ambiente favorável e a presença do agente causal. Por isso, patógenos que são frequentes nos centros de origem das espécies não necessariamente estão presentes nas áreas onde foram
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introduzidas posteriormente. Um exemplo de estabelecimento de doenças exóticas no país, por exemplo, é na cultura da soja. De 1961 para os dias atuais, surgiram doenças como o cancro da haste em 1989, o nematoide do cisto em 1992 e a emblemática ferrugem asiática da soja em 2001, que, desde então, já causou prejuízo estimado em mais de US$ 100 bilhões, envolvendo aumento na aplicação de fungicidas e redução da produtividade. Outros exemplos de doenças que causaram grande impacto após seu estabelecimento no Brasil: requeima da batata e tomate (1898), mosaico da cana-de-açúcar (1920), carvão da cana (1946), ferrugem do café (1970), ferrugem americana da soja (1979), ferrugem marrom da cana-de-açúcar (1986), vassoura-de-bruxa do cacau
(1989) e ferrugem alaranjada da cana (2009). O caso mais recente de introdução de uma nova praga de grande importância econômica, foi em 2013, com a entrada de um inseto da espécie Helicoverpa armigera. Estima-se que 65% dos patógenos introduzidos no Brasil foram devidos a atividades humanas, em especial trânsito de vegetais, outra parte devido ao transporte pelo vento, máquinas, animais. Calcula-se que entre 1890 e 2014 tenham sido introduzidas no Brasil mais de duas mil novas pragas agrícolas em diversas culturas, envolvendo não apenas patógenos vegetais, mas também insetos, ácaros e plantas daninhas. Destas, pelo menos 40 causaram grandes transtornos à nossa economia. Hoje, o Brasil possui 15,5 mil km de fronteira possível de entrada de novos patógenos, além de portos e aeroportos, em média, são 850 vias de ingresso que têm de ser fiscalizadas. Se há tanto perigo das plantas transportarem patógenos exóticos, por que isto ainda é feito? A resposta é simples: além da diversificação das espécies cultivadas, busca-se ampliar a base genética visando o melhoramento para atender o mercado. Mas há formas corretas para realizar a introdução de uma nova espécie vegetal no país, livre de pragas exóticas, perigosas para nossa agricultura. Baseados no princípio geral de controle de doenças Exclusão, quando é impedida a entrada de patógenos novos, é realizada inspeção e fiscalização, apoiadas em legislações específicas, e ainda contamos com
Planta de mandioca com sintomas do mosaico causado por African Cassava Mosaic Vírus
Lesões necróticas e esporulação de Moniliophthora roreri em frutos de cacau
10 estações quarentenárias no país, que dispõem de infraestrutura, equipamento e corpo técnico qualificado para detectar, identificar e erradicar patógenos quarentenários em materiais vegetais que ingressariam no território nacional. A quarentena previne a introdução e disseminação de novos patógenos, que são regulamentados por apresentarem importância econômica. Podem ser denominados patógenos quarentenários ausentes (A1) ou quarentenários presentes (A2) que são aqueles que estão restritos a algumas regiões do país e sob controle oficial. Para isso, é realizada a análise de risco de pragas (ARP), que compara a lista de patógenos relatados em todo o mundo com os relatados no Brasil. Aqueles que ainda não foram detecta-
A
C
dos no Brasil e que podem causar danos, devem ser regulamentados. Assim, a organização nacional de defesa vegetal elabora uma lista de pragas quarentenárias ausentes e presentes que, no Brasil, registra 218 patógenos quarentenários ausentes e 7 presentes. Sempre que uma nova praga quarentenária é considerada estabelecida no Brasil, há necessidade de autorização oficial para sua divulgação, já que este fato pode ocasionar restrições no comércio internacional, com sérios impactos econômicos e sociais. Entre os patógenos quarentenários que merecem atenção especial, pelo impacto que podem causar ao agro brasileiro, podem-se citar: African Cassava Mosaic Virus (mandioca), Moniliophthora roreri (cacau), Plum Pox virus (pêssego), Ditylen-
B
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Plantas de mandioca com sintomas de mosaico causado por African Cassava Mosaic Vírus (A, C e D) planta saudável (B)
chus destructor (milho, batata), Macruropyxis fulva (cana), Maize Chlorotic Mottle Virus (cana), Pantoea stewartii (milho), Phytophthora boehmeriae (várias culturas), Puccinia graminis tritici raça Ug99 (trigo), Sugarcane Mosaic Virus (cana) e Xanthomonas oryzaepv. oryzae (arroz). A importância do conhecimento dos patógenos quarentenários ausentes, é que podemos intensificar as ações de exclusão e se preparar para eventual estabelecimento: melhoramento para resistência e desenvolvimento de defensivos para registro emergencial. Deve-se também dar atenção aos patógenos quarentenários presentes, que exigem medidas que impeçam seu estabelecimento em locais livres dos mesmos: Guinardia citricarpa (citros), Mycosphaerella fijiensis (banana e helicônia), Candidatus Liberibacter spp. (citros, Fortunella spp., Poncirus spp. e murta), Xanthomonas citri subsp. Citri (citros, Fortunella spp., Poncirus spp.) e Xanthomonas campestres pv. vitícola (uva). As doenças quarentenárias devem ter mais destaque nos livros-texto usados no ensino da fitopatologia, valorizando mais os métodos legislativos (leis, decretos e instruções normativas), e nos manuais que tratam das principais doenças de cada cultura. Referente a educação sanitária vegetal, é fundamental que as pessoas tenham ciência que nunca devem trazer vegetais de suas viagens, pois estes podem transportar patógenos quarentenários.
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Tecnologia
Agritechnica 2017 mostra o controle total A feira é de máquinas agrícolas, mas as tecnologias embarcadas, softwares, aplicativos, drones, telemetrias, dominam os espaços. Richard Jakubaszko
.
Vista parcial de um dos 27 gigantescos galpões climatizados.
A
maior feira de máquinas agrícolas do mundo, a Agritechnica, que aconteceu de 12 a 18 de novembro último, em Hannover, Alemanha, pelo gigantismo de suas instalações, com mais de 2.800 expositores e cerca de 450 mil visitantes, originários praticamente de todo o mundo, é quase impossível de ser integralmente visitada em seus 7 dias de duração, mas percebe-se em seus 27 gigantescos galpões climatizados um festival de tecnologias futuristas que não encontra paralelo em nenhuma outra feira. Durante a Agritechnica circulou com sucesso entre seus participantes uma história saborosa de como será o mundo dentro em breve, cuja velo-
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cidade em nos apresentar mudanças radicais nos surpreende diariamente. Segundo essa história, o presidente de uma grande empresa alemã, fabricante de automóveis, teria feitos previsões ao estilo de Nostradamus, entre elas a de que “A nossa vida mudará dramaticamente nos próximos 20 anos”. Ele teria afirmado que seus concorrentes não serão mais as outras companhias de carro, mas sim a Tesla (Índia, fabricante de carros elétricos), Google, Apple e Amazon, considerando que: os softwares quebrarão a maioria das indústrias tradicionais nos próximos 5-10 anos, e ainda que o Uber é apenas uma ferramenta de software, eles não possuem carros, e são agora a maior empresa
de táxi do mundo. A Airbnb é hoje a maior empresa hoteleira do mundo, embora eles não possuam nenhum hotel. A Inteligência Artificial e os computadores tornam-se exponencialmente melhores em compreender o mundo. Nos EUA, jovens advogados já não conseguem emprego: por causa da IBM Watson, você pode obter aconselhamento legal (para as coisas mais simples) em poucos segundos, com uma precisão de 90% em comparação com um acerto de 70% quando feito por advogados humanos. Então, se você cursa direito, avalie mudar de faculdade. Em 2018 os primeiros carros e tratores com piloto automático estarão disponíveis para o público. Por volta de 2020, a indústria completa de carros começará a ser descontinuada. Ninguém vai querer ter um carro mais. As pessoas vão chamar um carro pelo celular, este vai aparecer (sem motorista) no local de chamada e irá levá-lo ao seu destino. Não se vai precisar estacionar, só se pagará pela distância percorrida. Nossos filhos nunca irão ter uma carteira de motorista e não vão possuir um carro. Isso vai mudar as cidades e o campo também, porque vamos precisar de 90% a 95% menos carros. A dessalinização de água salgada só precisa de 2 kWh por metro cúbico. Não temos água escassa na maioria dos lugares, só temos água potável escassa. Imagine o que será possível se alguém pode ter tanta água limpa quanto quiser, por um custo muito baixo. 70% a 80% dos empregos como
Máquinas, tratores e implementos convencionais, mas sempre com tecnologia embarcada.
conhecemos hoje vão desaparecer nos próximos 20 anos. Haverá uma grande quantidade de novos postos de trabalho, mas não está claro se haverá novos empregos, suficientes em um pequeno período de tempo. Na agricultura haverá um robô agrícola de US$ 100 no futuro. Agricultores nos países do 3º mundo poderão, então, tornar-se gerentes de seu campo em vez de trabalhar o dia todo nele. Alimentos hidropônicos vão precisar de muito menos água. O primeiro Petri, prato de vitela produzido artificialmente, já está disponível e será mais barato do que vitela de vaca produzida em 2018. Hoje, 30% de todas as áreas agrícolas são utilizadas para bovinos. Os profetas imaginam que nós não precisaremos de mais esse espaço, porque boa parte das pessoas serão veganas. E existem várias startups que trarão proteína de inseto ao mercado em breve. Insetos possuem mais proteína do que a car-
ne. Eles serão rotulados como “fonte de proteína alternativa” (porque a maioria das pessoas ainda rejeita a ideia de comer insetos). “1984” é o título de um romance publicado em 1949 pelo inglês George Orwel. Em 2005, o romance foi escolhido pela revista Time como um dos 100 melhores romances da língua inglesa. Fez sucesso por prever com 30 anos de antecedência que governos e grupos de poder exerceriam as mais completas formas de controle e fiscalização dos cidadãos. Acertou no conteúdo das previsões, mas errou na forma de como isso seria feito, como vemos acontecer hoje pela informática e internet, especialmente pelo uso de smartphones, que sabem tudo a respeito da gente, e ainda pela Iot – Internet das Coisas, que está chegando mais depressa do que poderíamos imaginar. Na prática, as empresas, de certa forma, estão reescrevendo e atualizando o romance “1984”. E, claro, assim como “1984”
Designs modernos, nos equipamentos e nos estandes.
Claas, uma das mais tradicionais fabricantes da Alemanha, conquistou medalha de Ouro e fez lançamentos de outros produtos.
errou em algumas previsões ou formatos, os profetas de hoje também devem errar algumas previsões, conforme descritas antes nesta reportagem. É este o ar que se respira ao visitar a Agritechnica, em Hannover, onde tudo está conectado, tudo é smart, é tech e é tecnologia. O que a indústria da informática necessita saber é que o agronegócio tem outra realidade nos sertões do Brasil e do mundo. Pode ser muito interessante a revolução virtual, ela vai mudar o mundo, mas não na velocidade que eles pretendem. Prêmios de Inovação Na edição deste ano, a Agritechnica, através de um conselho de técnicos da DLG, a Sociedade Alemã de Agricultores, que organiza a feira, distribuiu 2 medalhas de Ouro e 29 de Prata, a título de prêmio de inovação. Sistema de debulha autônomo
Colheitadeira de grãos da New Holland, à venda no Brasil.
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Tecnologia Os organizadores da Agritechnica (DLG e VDMA) distribuíram raras medalhas de ouro (duas) e foram generosos nas de prata (29).
Tratores de alta potência, design futurista, e altas tecnologias embarcadas.
Xarvio apresentou o seu sistema ultraeconômico de aplicação de herbicidas, que economiza mais de 90% de produto por ha, com leitura de sensor.
CLAAS - Alemanha Atualmente, os operadores têm que descobrir por si mesmos quais as configurações para o melhor equilíbrio entre a velocidade ótima do tambor, o melhor fosso côncavo, a agressividade adequada da debulha e a qualidade do grão. Alguns operadores acham essa complexidade muito difícil de entender para criar uma combinação. Consequentemente, muitas vezes uma combinação não está configurada perfeitamente para atender às condições atuais da colheita. Cemos Auto Thresh é o software da CLAAS, uma das empresas de máquinas mais tradicionais da Alemanha, que define o sistema tangente de debulhação em colheitadeiras de milho, de palha e de máquinas híbridas automaticamente. Como tal, otimiza a qualidade do trabalho e desempenho. Dependendo da estratégia introduzida no sistema pelo operador, ele define a velocidade do tambor e a folga côncava para resultados ótimos nas condições de colheita. Outra característica é que todos os controladores se comunicam entre si. Por exemplo, o controlador de transferência funciona através de um módulo de comunicação especial para controlar a taxa de transferência em relação ao controlador de trilha, bem como os controladores de separação e limpeza. Outro módulo no sistema é a debulha automática, que completa o passo para implementar a debulha totalmente automatizada. Em tal colheita, os usuários não precisam mais saber quais configurações devem fazer para obter os resultados desejados. Em vez disso, eles entram na estratégia de colheita, que é então Trator da Rússia, de alta potência. Alta tecnologia e competitividade.
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usada pelo sistema de auto-aprendizagem para definir parâmetros. Outra Medalha de Ouro, de inovação, foi para StalkBuster, da Kemper Maschinenfabrik GmbH & Co., uma empresa alemã, que desenvolveu o projeto em parceria com a John Deere da Alemanha. Com o objetivo de controlar a praga da broca do milho, a tecnologia Kemper StalkBuster é parte integrante de um cabeçalho de colheita do milho. A máquina destrói todo o restolho antes de ser distribuído pelo forrageiro ou o trator e o reboque. O topper está integrado no cabeçalho, é leve e tem um requisito de entrada de energia relativamente baixo. Antes do StalkBuster, cerca de 30% do restolho permanecia intacto, e, como a hera do milho atravessa o inverno europeu dentro dele, uma alta porcentagem de talho não destruído oferecia um refúgio para que pragas pudessem infestar a área novamente no ano seguinte. A broca do milho, sobrevivente no restolho na primavera, e a traça, começavam a reinfestar a nova cultura depois disso. Na abertura da Agritechnica, o júri internacional do prêmio Trator do Ano divulgou os prêmios atribuídos às diferentes categorias em disputa. Este ano, a Valtra conquistou dois reconhecimentos, tendo vencido a categoria principal, para campo aberto, e o melhor design. A McCormick conquistou o prêmio para os tratores convencionais utilitários, e a Fendt o prêmio atribuído aos tratores para aplicações especializadas. O Brasil na Agritechnica Um estande de cerca de 250 m2 reunia as empresas brasileiras presentes na feira alemã. Entre elas, a Stara, liderada por seu presidente, Gilson Trenepohl, e Kepler Weber, com a presença do superintendente comercial, João Tadeu Franco Vino. Outras empresas brasileiras
Drone da Sensefly, empresa argentina, que também comercializa seus produtos no Brasil.
Reichardt mostrou GPs, equipamentos de gestão na lavoura e nas fazendas.
estavam presentes, como a Jan Máquinas Agrícolas, Fockink, Vence Tudo, Indústrias Colombo e JF Máquinas Agrícolas. Estavam lá com apoio da Abimaq e da Apex – Agência de Promoção à Exportação–, e fizeram seu network com clientes europeus, especialmente do Leste Europeu (Rússia, Ucrânia, Polônia etc.), mas também com asiáticos e de países da África. A Stara detinha a maior área do estande Brasil, com exibição de seu pulverizador autopropelido, o Imperador, e divulgação da sua já conhecida telemetria, agora associada a outra plataforma, o SAP, que é um sistema europeu de gestão empresarial, que interage com a telemetria da Stara. No caso de insumos fornece ao fim de um dia de trabalho dados sobre o quanto foi aplicado de produtos na lavoura, disponibilidade de estoque, e chega a emitir avisos ao departamento de compras para a reposição dos produtos.
Sistema da Xarvio, exibido em estande. O sensor (acima dos vasos de plantas) disparava a pulverização automaticamente.
Presidente da DLG, a Sociedade Alemã de Agricultores, em palestra.
Tecnologias em profusão Havia muita tecnologia embarcada em exposição, inclusive da China e de outros países asiáticos, mas especialmente de toda a Europa. Drones, softwares de todos os tipos e para múltiplas finalidades, tudo com o objetivo de salvas as lavouras do mundo, para reduzir custos, tornar as máquinas e os serviços no campo mais eficientes. Nem todas as tecnologias disponíveis servem para as necessidades brasileiras, ou são inaplicáveis em nossas condições, notadamente
Estande do Brasil e o da Stara, com o pulverizador autopropelido Imperador em primeiro plano.
no plantio de grãos em larga escala. Uma das novidades da Agritechnica tinha sido assunto principal da matéria de capa da Agro DBO de novembro/17, o WEEDit, e conforme informado naquela edição estava em lançamento um concorrente. O WEEDit é capaz de, através de um sensor, direcionar as aplicações da barra de um pulverizador para aplicar herbicidas apenas nas ervas e não indistintamente como é hoje, economizando, assim, mais de 90% no uso de herbicidas. Na Agritechnica o mesmo sistema estava em demonstração, chamando muita atenção. Trata-se da empresa Xarvio, aparentemente uma joint venture entre a Bayer CropScience e a Bosch, duas empresas alemãs. A demonstração num estande, evidentemente era temática: o sensor de ervas daninhas estava acoplado na parte superior de um travessão, e na parte inferior recepcionistas colocavam e retiravam pequenos vasos contendo ervas daninhas em diferentes tamanhos. Quando um vaso com uma planta maior entrava na linha de leitura do sensor, este acionava um bico pulverizador, na altura do sensor, e este pulverizava água numa valeta central da mesa de demonstrações. A Xarvio dará continuidade a projetos da Bosch na área de agricultura, e tem visitado muitas empresas mundo afora, tentando identificar problemas para os quais a empresa possa dar soluções tecnológicas inovadoras.
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Agroinformática
Os AgroRobots no mercado de trabalho O mundo tem sido modificado por preguiçosos e criativos, que descobrem formas de alguém fazer por eles algo não querem fazer. Manfred Schmid *
A
*O autor é engenheiro agrônomo e diretor da Agrotis Agroinformática.
agricultura sempre existiu por forte dependência de mão de obra barata, o trabalho braçal. Passagens bíblicas citando produtores com dificuldades em conseguir trabalhadores para suas vinhas ilustram quão antigo é este problema. Na história, não foram poucas as épocas e povos que o solucionaram com a escravidão humana. A melhor solução utilizada pelos nossos empreendedores rurais para combater este problema foi a criatividade e a engenharia. Para trabalhos de força, passaram a utilizar tração animal. Criaram carroças, arados, grades, e toda uma técnica para melhor aproveitar a força de equinos e bovinos. Na defesa vegetal, uma das invenções mais curiosas para eliminar mão de obra barata foi o espantalho, que
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até hoje é um símbolo folclórico da produção agrícola. Esta criatividade na busca de eficiência e produtividade deu origem às novas tecnologias agronômicas, abrangendo mecanização agrícola (tratores, colheitadeiras, implementos), fitossanitários, nutrição de plantas (adubos e corretivos), melhoramento genético (sementes melhoradas), irrigação, que juntas, no século passado, resultaram no que chamamos de Revolução Verde. Agora temos outras armas para esta guerra. A informática saiu do hardware e software tradicionais, migrando para praticamente tudo. É a IoT (Internet of Things / Internet das Coisas). Sensores, agora com tecnologia de rádio frequência (RFID), passaram a ser utilizados de formas inusitadas, e, aliados com pequenos hardwares (arduínos ou smartphones) pré-programados com recursos de inteligência artificial, geram aplicações interessantíssimas. Assim, hoje temos estações meteorológicas que calculam o momento ideal de controlar uma doença de planta; pulverizadores que identificam plantas daninhas, pulverizando seletivamente apenas sobre estas; armadilhas que identificam e contam sozinhas, insetos da lavoura; sensores que medem automaticamente o diâmetro de árvores, calculando a cubagem das florestas; tanques de combustível inteligentes que, quando atingem o nível crítico fazem pedido direto
ao fornecedor; balanças rodoviárias automáticas, que dispensam a presença de balanceiros; armazéns de sacarias mapeados com radiofrequência, que evitam que a empilhadeira cometa erros; adubadeiras que se autorregulam em função da necessidade de fertilizante de cada local; colheitadeiras que solicitam assistência técnica sozinhas; tratores, pulverizadores, podadores, plantadeiras totalmente autônomos. Há inúmeros exemplos de novidades tecnológicas que buscam ganhar em produtividade com menos mão de obra humana. E o impacto disso no mercado de trabalho agrícola? Muitos dos leitores devem lembrar-se das intermináveis discussões e audiências públicas sobre a proibição das queimadas na cana-de-açúcar, o fim da colheita manual, e o impacto nos empregos de milhares de “boias-frias”. Os operadores de colhedeiras de cana-de-açúcar passaram a ser então uma profissão valorizada. Mas hoje estão chegando colheitadeiras autônomas, sem a necessidade do operador... São os robots chegando ao agronegócio, não como nos filmes de ficção científica do século passado, mas substituindo a mão de obra. Não podemos ser contra estas tecnologias, pois não queremos trabalhar de espantalhos, mas o fato é que as futuras profissões terão que ser inventadas, pois será muito mais eficiente contratar robots para fazê-las. Temos que nos readequar, pois já estamos no futuro agrodigital!
Clima
Atraso na regularização das chuvas pode comprometer a 2ª safra O clima, com muita ou nenhuma chuva, continua dando dribles da vaca nos climatologistas, cujas previsões ficam nas incertezas. Marco Antônio dos Santos *
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Previsão de anomalia de acumulado de chuvas para América do Sul para o trimestre dezembro/janeiro/ fevereiro, segundo o modelo americano CFSv2. 15N EQ 15S 30S
Fonte: NOAA/CFSv2
am apresentando deficit hídrico. E algumas lavouras de soja ainda se apresentam em condições entre ruins a razoáveis. Bem como algumas lavouras de café da região do cerrado mineiro. Além disso, no Sul, apesar dos meses de setembro e outubro terem sido marcados pelos altos volumes de chuvas, e, principalmente, a alta frequência de dias chuvosos, em novembro, o que se observou são volumes baixos, nos quais algumas regiões já se apresentam sob estresse hídrico. O mesmo vem ocorrendo na outra ponta do país, onde algumas microrregiões do Matopiba também se apresentam sob estresse hídrico. E esse deverá ser o padrão meteorológico desta safra. As chuvas até continuarão a ocorrer sobre todo o Brasil, porém, ainda de forma muito irregular. Ou seja, ora numa determinada região, ora em outra, ocasionando períodos de estiagem e até mesmo de invernadas. E esse tipo de padrão meteorológico resultará numa redução dos potenciais produtivos das regiões. Esse atraso não comprometerá somente a pecuária, mas também lavouras de 2ª safra, como milho, que também já começam a ser prejudicadas. Pois, em muitas regiões produtoras, o atraso na implantação das lavouras de soja, encurtou e muito a janela de plantio do milho. Assim, muitos produtores já sinalizam a possibilidade de reduzir suas áreas de
45S 60S
90W
75W
60W
45W 30W
-10 -6 -4 -2 -1 -0,5 -0,25 0,25 0,5 1
2
4
6 10
Previsão de fenômenos climáticos (ENSO – Oscilação Sul – El Niño) La Niña para os próximos 12 meses, segundo o Instituto IRI (Internacional Research Institute for Climate and Society – Earth Institite / Columbia University)
Probabilidade
M
uito tem se comentado nesses últimos meses sobre uma possível volta da La Niña. Diversos Institutos Climatológicos no Mundo já sinalizam mais de 70% de possibilidade de que esse fenômeno venha realmente influenciar o clima ao longo da safra 2017/18. Porém, isso ainda não é unanimidade entre todos os centros. O que se observa realmente é um grande e intenso bolsão de água fria sobre a região equatorial do Oceano Pacífico, na qual dá-se a entender que a La Niña está mesmo se formando. Entretanto, há a necessidade de se observar que não é toda a região equatorial do Pacífico que se encontra com temperaturas abaixo da média. A região mais a oeste do Oceano começa a apresentar temperaturas levemente acima da média, o que poderá anular esse bolsão de água quente, devido às circulações das correntes marítimas, que são da região oeste para leste, isto é, da Oceania para as Américas. Portanto, caso venha a se formar realmente uma La Niña, essa deverá ser de curtíssima duração e de baixa intensidade. Entretanto, é fato que esse bolsão de água fria na metade leste do Pacífico está causando um grande atraso da regularização do regime de chuvas em toda a região Norte do Brasil. Apesar das chuvas já estarem mais frequentes e até mesmo em bons volumes, ainda há microrregiões que continu-
100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0
NDJ DJF JFM FMA MAM AMJ MJJ JJA Tempo/Período
Climatologia Probabilidade El Nino Neutro La Nina
plantio e, principalmente, reduzir os níveis de tecnologia a serem empregados nas lavouras. Desse modo, há uma perspectiva de que a produção nacional de milho da safra 2017/18 seja bem inferior à observada na última safra, já que também houve uma redução significativa na área plantada de milho 1ª safra no Brasil.
JAS El Nino Neutro La Nina
* o autor é engenheiro agrônomo e agrometeorologista da Rural Clima.
Biblioteca da Terra Nutrição de plantas
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150 anos de genética
Lançamento da Editora Ceres, o livro Manual de estimulantes vegetais destrincha usos e efeitos de vasta gama de compostos nutricionais, substâncias naturais e organismos vegetais e animais benéficos às lavouras, tais como ácidos húmicos e fúlvicos, fosfitos, algas marinhas, extratos, aminoácidos, rizobactérias, fitotônicos, bioativadores e biorreguladores. De autoria dos pesquisadores Paulo R. C. Castro, Márcia Eugênia A. Carvalho, Ana Carolina C. M. Mendes e Bruno G. Angelini, pode ser encomendado através dos e-mails editoraceres1954@gmail.com e contato@ editoraceres.com.br. Com 453 páginas, custa R$ 145,00.
Celeiro de fartura
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Filho de agricultores, Gregor Mendel nasceu na Morávia, cuja área integra hoje o território da Tchéquia. Reconhecido mundialmente como “o pai da genética”, foi ele quem demonstrou como a hereditariedade ocorre, ao cruzar mais de 300 mil ervilhas de diferentes tamanhos, cores de flores e rugosidade das sementes. Com 502 páginas, o livro Mendel: das leis da hereditariedade à engenharia genética, editado pelos pesquisadores Francisco Aragão e José Roberto Moreira, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, homenageia os 150 anos do postulado das leis de Mendel, apresentando, pela primeira vez no Brasil, a versão completa em português do manuscrito de 1866, no qual o cientista descreve suas conclusões do experimento com ervilhas. Aragão e Moreia abordam temas como melhoramento clássico, genética molecular e não mendeliana, genômica, biologia sintética, marcadores moleculares, técnicas modernas de edição gênica como o CRISPR, produção de grãos no Brasil e uso da biotecnologia em culturas como soja, milho e algodão. Dividido em 16 capítulos, os dois primeiros dos quais dedicados à vida pessoal e profissional de Mendel, o livro pode pode ser adquirido por R$ 100,00 através do link vendasliv.sct.embrapa.br/liv4/ consultaProduto.do?metodo=detalhar& codigoProduto=00085640
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Como o próprio título indica, o livro Celeiro de Fartura: A história dos 40 anos da Famasul destaca a contribuição da Federação da Agricultura e Pecuária do Mato Grosso do Sul e de seus dirigentes para o desenvolvimento do agronegócio no estado e no país. Escrito pela jornalista Juliana Feliz, foi lançado como parte das comemorações dos 40 anos da entidade, fundada em 1977. A versão impressa não está à venda. A Famasul pensa em torná-lo acessível via internet, gratuitamente, mas ainda não definiu data a respeito. Para eventual aquisição, o contato é www.famasul.com.br.
Formandos da Esalq
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O livro Esalq 2017 – a força da contribuição ao agronegócio brasileiro atualiza o que foi editado por ocasião dos 75 anos da Universidade de São Paulo, em que destacava a contribuição da Esalq. Em sua 1ª edição, relacionava dirigentes e outras figuras importantes da instituição, professores e formandos no período entre 1903 e 2008 e personalidades homenageadas com a Medalha Luiz de Queiroz. A nova edição, disponível em versão digital (www.esalq.usp. br/acom/docs/livro.pdf) apresenta conteúdo similar, acrescentando, porém, comissões e serviços existente no Campus, e estende a relação dos formandos até 2016.
Política agroecológica
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Lançamento do Ipea, o livro A Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica no Brasil: Uma trajetória de luta pelo desenvolvimento rural sustentável retrata as demandas e debates em busca de uma política específica para o setor, instituida, finalmente, em 2012. Entre outros temas, a publicação aborda pesquisa e extensão rural, financiamento público, uso de sementes crioulas, regulamentação dos produtos de origem biológica e inovações na agricultura familiar. Os interessados podem baixá-la através do link www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/ livros/livros/144174_politica.nacional_WEB.PDF
Novidades no campo Controle de plantas daninhas
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A Arysta LifeScience aproveitou o XIV Seminário Nacional de Milho Safrinha, realizado de 21 a 23 de novembro em Cuiabá (MT), para fazer o pré-lançamento do Sanson Evo, um herbicida seletivo e sistêmico com “formulação diferenciada”, indicado para controle de plantas daninhas na cultura do milho safrinha. Segundo o fabricante, trata-se de um produto capaz de controlar as espécies mais resistentes, como a braquiária (Brachiaria decumbens), o caruru (Amaranthus spp), a corda-de-viola (Ipomea grandifolia), o capim massambará (Sorghum halepense) e o azevém (Lolium multiflorium).
Iluminação total em pulverização
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Desenvolvido para usos diversos nos setores agrícola, florestal e de máquinas pesadas, o farol Blue Beam, da Tyri Lights, apresenta padrão de luz de curto alcance, com poderoso feixe de iluminação capaz de assegurar aos operadores visualização perfeita dos bicos de pulverização em operações noturnas na lavoura. Segundo a empresa, a luz azul brilhante do Blue Beam, instalado na barra dos pulverizadores, funciona de forma mais eficaz do que um farol de luz branca, dando uma visão mais clara do spray e ajudando a identificar quando um bico é bloqueado ou não está funcionado plenamente.
Controle de pragas em videiras
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A Dow AgroSciences obteve registro do inseticida Spindle para uso no combate às pragas que atacam e prejudicam o cultivo de uvas no Brasil. Segundo a empresa, o produto caracteriza-se pelo alto efeito de choque (o dano cessa a partir de duas horas), baixo período de carência (apenas um dia), amplo espectro de controle, controle residual duradouro, boa resistência à chuva e alta seletividade para insetos benéficos. Além da cultura da uva, o Spindle tem indicação de uso para controle das pragas que afetam a maçã e o café.
Embreagens remanufaturadas
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Desde novembro, os clientes da New Holland podem adquirir embreagens remanufaturadas para tratores da linha TL com garantia de seis meses, quando o item for instalado em uma das lojas da rede de concessionárias – se a peça for retirada no balcão, o prazo é de três meses. A New Holland explica que os clientes que comprarem as embreagens terão a peça antiga analisada, diagnosticada e substituída mediante a troca do casco. ”Os itens garantem a eficiência dos tratores pois passaram por rigorosos testes para o máximo rendimento dos equipamentos”, assegura o gerente de peças da empresa, Fábio Yanagui.
Retrolavagem em sistemas de pré-tratamento
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Filtro de disco de uso contínuo, o Berkal foi desenvolvido pela Veolia Water Technologies para eliminar fibras, grãos, areia e algas de águas industriais e municipais, entre outras impurezas. Com um sistema de lavagem individual e automático, possui um design modular com capacidade de tratar água em altas vazões e diversos tamanhos de partículas. O equipamento também pode ser aplicado para o tratamento de águas residuais e para irrigação em cultivos agrícolas. A Veolia oferece o sistema em diferentes tamanhos de filtração: de 20, 50, 100, 130, 200 e 400 μm. Além disso, é possível adaptar a solução para que realize a lavagem em contracorrente.
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Calendário de eventos
DEZEMBRO
5
28a FNA/Feira Nacional de Artesanato – De 5 a 10
Expominas – Belo Horizonte (MG) Fone: (31) 3282-8280 – Site: www.feiranacionaldeartesanato. com.br – E-mail: contato@ feiranacionaldeartesanato.com.br
14
II Encontro Nacional da Cultura do Milho – De
14 a 15 – Universidade – Federal de Uberlândia – (UFU – Uberlândia (MG) – Fone: (16) 344-6604 – Site: www.esalq.usp.br – E-mail: cdt@ fealq.org.br
JANEIRO
24
Safratec 2018/27º Encontro de Soluções em Agronegócios - De 24 a 25
Unidade de Difusão de Tecnologias da Cocamar - Floresta (PR) – (11) 21770021 – Site: www.safratec.com.br
24
Itaipu Rural Show - De 24 a 27 - Cooperitaipu (Rodovia BR 282, km 580) - Pinhalzinho (SC) - Fone: (46) 3366-2485 - Site: www. itaipururalshow.com.br
30
Belasafra 2018 - De 30 a
2/2 - Rodovia Celso Garcia Cid (Rodovia PR 445, km 92) Cambé (PR) - Fone: (43) 3377-8500 Site: www.belasafra.com.br - E-mail: marketing@belagricola.com.br
FEVEREIRO
5
Show Rural Coopavel 2018 - De
5 a 9 - Parque de Exposições Celso Garcia (Rodovia BR 277, km 577) Cascavel (PR) - Fone: (45) 3225-6885 Site: www.showrural.com.br E-mail: showrural@coopavel.com.br
20
41o Congresso Paulista de Fitopatologia – De 20
a 22 – Centro de Convenções do Hotel Quality Sun Valley – Marília
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17/1 - Showtec 2018 De 17 a 18 Fundação MS (Estrada da Usina Velha, km 2) Maracaju (MS) Fone: (67) 34542631 Site: www. portalshowtec.com. br - E-mail: fundacaoms@ fundacaoms.org.br Realizado pela Fundação MS, o Showtec é considerado um dos maiores eventos de difusão de tecnologias agrícolas do Brasil. A cada ano, apresenta novos materiais e linhas de pesquisas com foco no desenvolvimento do sistema de plantio direto, máquinas, inovações em agricultura de precisão, novidades em manejo e controle fitossanitário, alternativas para a rotação de culturas e cobertura do solo no outono-inverno, tudo, enfim, que diga respeito ao agricultor.
(SP) – Fone: (19) 3243-0396 Site: www.cpfito.net.br
21
21o Show Tecnológico de Verão - De 21 a 22 - Campo
Demonstrativo e Experimental de Ponta Grossa - Ponta Grossa (PR) - Fone: (42) 3233-8600 - Site: www.fundacaoabc.org
21
28ª Abertura Oficial da Colheita do Arroz – De 21
a 23 – Estação Experimental do IRGA Cachoeirinha (RS) – Fone: (51) 32110879 – Site: www.colheitadoarroz.com.br
21
Femagri 2018/Feira de Máquinas, Implementos e Insumos Agrícolas - De 21 a 23 - Av. Vereador Nelson Elias, 1.300b, Bairro Japy Guaxupé (MG) - Fone: (35) 3696-1000 Site: www.cooxupe.com.br/femagri
27
23o Dia de Campo Copercampos – De 27 a
1/3 – Campos Novos (SC) Fone: (49) 3541-6079 – Site: www. diadecampocopercampos.com.br
n
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Legislação
Novos perigos da alienação fiduciária Todo cuidado é pouco ao se tomar dinheiro emprestado em bancos e outros agentes de crédito, pois a cobrança é ágil e eficiente. Fábio Lamonica Pereira *
A
cada dia estamos nos acostumando com o termo “alienação fiduciária”, inclusive no agronegócio. Os credores têm usado deste instrumento justamente porque aumentam, em muito, as chances de recebimento do valor emprestado.
sob pena de o imóvel ser vendido em leilão. Na primeira tentativa de venda o valor será o que constar do instrumento de empréstimo, devidamente corrigido. Não havendo interessados, seguirá nova oportunidade, desta vez pelo valor da dívida. E se o imóvel não for vendido no leilão pela falta de interessados? Nesse caso o imóvel passa a ser de propriedade definitiva do credor e a dívida é quitada. Ocorre que os credores sempre querem mais garantias às custas dos devedores. Então, por meio da Lei nº 13.476/2017, houve alterações nesse procedimento, especificamente para operações de abertura de crédito em conta-corrente, realizadas com os bancos. Esse tipo de operação é comum e permite a tomada de recursos na medida em que o cliente necessita,
A propriedade do imóvel passa a ser do credor até que o empréstimo seja quitado.
O autor é advogado especialista em Direito Bancário e do Agronegócio
Na prática, o credor empresta dinheiro para o produtor que, em garantia do pagamento, oferece um imóvel, urbano ou rural, em alienação fiduciária. Ou seja, a propriedade do imóvel passa a ser do credor até que o empréstimo seja quitado. Caso o débito não seja liquidado nas condições ajustadas, o devedor é intimado para fazer o pagamento no prazo de quinze dias,
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aplicando-se determinada taxa de juros e encargos. E, para garantia de que o pagamento ocorrerá, os bancos podem exigir a alienação fiduciária de bem imóvel. A grande mudança que houve é que para esse tipo de operação com os bancos, caso a venda do bem imóvel não seja suficiente para o pagamento da dívida e acessórios previstos em lei, os devedores e garantidores continuarão respon-
sáveis pelo pagamento do saldo restante. Logo, trata-se de operação ainda mais agressiva que as tradicionais que já utilizam a alienação fiduciária em garantia, gerando insegurança nas transações e onerando de forma exagerada o patrimônio dos produtores. É bom lembrar que o agronegócio tem meios tradicionais de financiamento, especialmente as Cédulas de Crédito Rural e as Cédulas de Produto Rural em que há limitação de juros, tanto para a normalidade, não excedente a 12% ao ano, e quanto à eventual inadimplemento em que há elevação da taxa de juros em tão somente 1% ao ano. Quanto às formas de garantia, a alienação deve ser evitada, uma vez que todo o processo de cobrança é muito rápido e realizado sem a necessidade de ação judicial, limitando as chances de defesa do produtor. As garantias tradicionais como hipoteca, penhor de safra, penhor de maquinários agrícolas, aval, e até mesmo o seguro rural, são suficientes para que o credor, sejam os bancos ou particulares, tenham assegurado o direito ao recebimento do valor emprestado. Mas, em toda e qualquer situação, caso seja necessário, é possível questionar a legalidade do procedimento adotado a fim de corrigir eventuais ilegalidades, preservando a atividade produtiva.