Sumário 06 Ponto de vista
Richard Jakubaszko discorre sobre as possibilidades de cancelamento da Lei Kandir: “Se revogada, teremos desemprego e queda nas exportações”.
22 Soja
Claudia Godoy, da Embrapa, faz um balanço da ocorrência de ferrugem asiática na atual safra. Até 22/1, foram registrados 179 casos.
24 Entrevista
Presidente da Aprosoja/MT, Antônio Galvan critica “indústria de propinas” por trás da classificação de grãos: “Isso é um pesadelo para o produtor”.
30 Fitossanidade
Décio Gazzoni propõe a adoção de novos paradigmas de produção para conquistar mercados e garantir o protagonismo do agronegócio nacional
32 Opinião
Rogério Arioli alerta: “Este ano, muitos candidatos tentarão surfar na onda dos resultados positivos do agronegócio para conseguir votos”.
35 Política agrícola
16
Matéria de capa Ministério da Agricultura abriu consulta pública para regulamentar a mistura de agroquímicos em tanques, prática corriqueira no campo, mas “irregular”, vista, inclusive, como tabu – é legal, mas não pode ser recomendada em bulas e nos receituários.
Pedro Abel Vieira e Elísio Contini tratam de exportações a partir de dois conceitos atrelados à “reputação” de um produto: qualidade e diferencial.
36 Agroinformática
Manfred Schmid avalia o poder da inteligência artificial: “A informática está saindo do operacional e do gerencial para entrar no estratégico”.
38 Sustentabilidade
Evaristo de Miranda compara EUA e Brasil quanto à preservação. Lá, a vegetação nativa cobre19,9% do território. Aqui, 66,3%.
42 Bioestimulantes
Diretor da Abisolo, Anderson Ribeiro fala sobre pesquisas e novidades no setor, apresentadas em congresso internacional nos Estados Unidos.
50 Legislação
Fábio Lamonica é taxativo: “A Lei 13.606/2018, que instituiu o “Programa de Regularização Tributária Rural”, pode ser considerada inconstitucional”.
Seções
Clima ................................................................40
Do Leitor............................................................ 4
Biblioteca da Terra........................................44
Notícias da terra.............................................. 8
Novidades no campo..................................46
Almanaque......................................................28
Calendário de eventos................................48 fevereiro 2018 – Agro DBO | 3
Do leitor SÃO PAULO
MINAS GERAIS
Quero parabenizá-los pelo excelente trabalho que vocês, juntamente com instituições parceiras que acreditaram e colaboraram nesse projeto (Jacto, Microquímica, Embrapa e UENP), fizeram para os agricultores e profissionais do campo. Gostaria de sugerir, se possível, que estendessem esse estudo para outras culturas (tenho interesse especial pela cafeicultura), pois os resultados dessas pesquisas ajudarão muito na melhoria da nossa agricultura. Sou um fã e assinante da Agro DBO há muitos anos (a qual conheci em uma feira, sendo ainda estudante de Agronomia) e só tenho a agradecer pelas informações sempre tão relevantes, atualizadas e bem escritas. Um forte abraço. Diego Júnior Martins Vilela Lavras
NR: O leitor se refere às tabelas de compatibilidade físico-químicas de agroquímicos e fertilizantes foliares em misturas de tanque, encartadas na edição 95 (dezembro/janeiro), disponíveis gratuitamente no Portal DBO. Para tanto, basta entrar no site (www.portaldbo.com.br), clicar no pop up que aparecerá na sequência e se cadastrar para obter cópia digital em arquivo PDF. 4 | Agro DBO – fevereiro 2018
Agradeço sua iniciativa e coragem de produzir este fundamental material para os produtores e técnicos brasileiros. Infelizmente, nem todos enxergaram a relevância desse trabalho, desde sua concepção e proposição, mas fico feliz de fazer parte de uma das empresas que abraçaram a causa. Parabenizo também o Tonon, da Jacto, por ter acreditado e suportado o projeto. Parabéns especial ao professor Rone e seus alunos, que realizaram um trabalho excelente em um prazo recorde. Confirmo que mantemos o interesse em continuar avançando nesse trabalho e iniciativa. Anderson Nora Ribeiro Campinas
NR: O leitor, gerente de marketing da Microquímica, enviou o e-mail acima ao editor-executivo da revista Agro DBO, Richard Jakubaszko, de quem partiu a iniciativa de produzir e publicar as tabelas de compatibilidade físico-químicas de agroquímicos e fertilizantes foliares em misturas de tanque. O Tonon citado por Anderson é José Tonon Junior, Gerente de Comunicação da Jacto. O professor Rone Batista de Oliveira foi quem, a pedido do Richard, realizou, com ajuda de sua equipe na Universidade Estadual Norte do Paraná, os testes de laboratório necessários para a confecção das tabelas. Quero cumprimentar e parabenizar a direção e os funcionários dessa conceituada revista pelo excelente trabalho realizado. Eu não tenho dúvidas que a Agro DBO é uma ferramenta importantíssima na divulgação de informações e recomendações para a melhoria da agricultura brasileira. Um abraço cordial a todos! José Carlos Christofoletti Sorocaba
NR: Engenheiro agrônomo por formação, consultor em tecnologia de aplicação, Christofoletti também se refere às tabelas de compatibilidade de agroquímicos citadas nas mensagens ao lado, embora não as cite especificamente. O texto abaixo é de outro mestre, Odo Primavesi, também engenheiro agrônomo, formado pela Universidade Federal de Santa Maria (RS) e pós-graduado pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), de Piracicaba (SP), com doutorado na área de Solos e Nutrição de Plantas. Odo também não cita as tabelas, mas vai direto ao assunto – assíduo nesta seção da revista, seus comentários são interessantes e oportunos. Confira a seguir: Lembro do tempo em que trabalhei na Basf, quando fizemos alguns testes de compatibilidade de agroquímicos e adubos foliares. Na época, verifiquei a campo que misturas que funcionam em geral, por exemplo, em Ijuí (RS), onde a água é alcalina, precipitam. Deve ocorrer aqui algo semelhante em Ibirá (SP) e outros locais com água alcalina (pH em torno de 9). Também porque, por conta de estabilidade de soluções clear, precisavam baixar o pH do foliar para menos de 5. O normal é a faixa praticada nos seus testes encomendados, em torno de 7. Aqui na fazenda Canchim (em São Carlos, SP), a água é ácida e corrosiva, em torno de 5, e para ser corrigida tem seu pH elevado a 9, com os tratamentos recomendados. Assim, foi bom dar a faixa testada e talvez alertar que podem ocorrer casos de incompatibilidade em águas com pH muito baixo ou muito alto. Odo Primavesi São Carlos
AgroDBO se reserva o direito de editar/resumir as mensagens recebidas devido à falta de espaço.
Carta ao leitor
E
nquanto permanecer o conservadorismo, avalizado pela hipocrisia dos interesses comerciais, não haverá consenso para liberação do uso de misturas em tanque de agroquímicos, como desejam os agricultores. A prática de realizar misturas é colocada nua e crua na matéria de capa desta edição da revista Agro DBO, o “Fim do tabu”, empreitada de difícil realização por falta quase absoluta de agricultores que admitam de público serem praticantes dessa “ousadia”, apesar de ser uma prática de uso generalizado pelos produtores, mas que é equivocadamente rotulada de ilegal. O jornalista Ariosto Mesquita, autor da reportagem, teve dificuldades, mas descobriu raros produtores e pesquisadores dispostos a admitirem que praticam “algo errado”, ou melhor, que “cometem um crime”, ao fazer misturas. Ou seja, todo mundo é politicamente correto, todos fazem as misturas em tanque, mas não admitem a prática, que, afinal, nem é ilegal, conforme se comprovou junto às autoridades. Após a publicação por Agro DBO (edição nº 96), das Tabelas de Compatibilidades físicas e químicas de misturas em tanque de agroquímicos e fertilizantes foliares, os atores do mercado, governo, pesquisadores, empresas fabricantes de agroquímicos, entidades associativas, movimentaram-se no sentido de colocar ordem no baile. Ao pedido feito pelo Consórcio Antiferrugem, para que o governo autorize o uso de misturas em tanque, o próprio governo teve de admitir que a prática não é proibida. As indústrias de agroquímicos adotam a política da avestruz, e insistem no velho chavão de que recomendações em receituários devem limitar-se ao que consta nos rótulos. Nestes, não há nenhuma menção sobre misturas, no máximo informam que a calda em tanque deve estar em um nível de pH compatível com o produto. Assim, misturas estão “proibidas” de serem feitas, dada a necessidade de o agricultor ter de apresentar receita agronômica para adquirir qualquer agrotóxico. Para superar o problema, com o clássico jeitinho brasileiro, agrônomos emitem múltiplas receitas agronômicas individuais, e as recomendações são sempre verbais. Agro DBO, em vista das necessidades dos agricultores, em situação de visível desconforto, sugere enfaticamente que os interessados participem do debate diante da “Consulta pública” aberta pelo Ministério da Agricultura. Alguns atores ainda agem de forma contrária ao objetivo de liberar a adoção da prática. A Anvisa, por exemplo, já antecipou que não concorda, nem com a consulta e tampouco com seus resultados, o que é lamentável. As entidades associativas, com exceção da Aenda – Associação das Empresas Nacionais de Defensivos Agrícolas, permanecem em atitude platônica, não se comprometem agora, para tomarem outras decisões num futuro breve. Pura hipocrisia comercial.
é uma publicação mensal da DBO Editores Associados Ltda. Diretor Responsável Demétrio Costa Editor Executivo Richard Jakubaszko Editor José Augusto Bezerra Conselho Editorial Décio Gazzoni, Demétrio Costa, Evaristo Eduardo de Miranda, Hélio Casale, José Augusto Bezerra, José Otávio Menten e Richard Jakubaszko Redação/Colaboradores Ariosto Mesquita, Claudia Vieira Godoy, Décio Luiz Gazzoni, Elísio Contini, Evaristo Eduardo de Miranda, Fábio Lamonica Pereira, Hélio Casale, Marco Antonio dos Santos, Manfred Schmid, Pedro Abel Vieira e Rogério Arioli Silva
Para manifestar sua opinião, envie e-mail para redacao@agrodbo.com.br Richard Jakubaszko
Arte Editor Edgar Pera Editoração Célia Rosa e Edson Alves Coordenação Gráfica Walter Simões Marketing/Comercial Gerente: Rosana Minante Executivos de contas Andrea Canal, José Geraldo S. Caetano, Maria Aparecida de Oliveira, Marlene Orlovas, Mario Vanzo e Vanda Motta ISSN 2317-7780 Impressão São Francisco Gráfica e Editora Capa: Foto Ariosto Mesquita DBO Editores Associados Ltda Diretores: Daniel Bilk Costa, Odemar Costa e Demétrio Costa Rua Dona Germaine Burchard, 229 Perdizes, São Paulo, SP 05002-900 - Tel. (11) 3879-7099 e 3803-5500 redacao@agrodbo.com.br www.agrodbo.com.br
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fevereiro 2018 – Agro DBO | 5
Ponto de Vista
Com o fim da lei Kandir, o agro brasileiro vai pro brejo A fome por mais verbas dos governos incentiva a criação de impostos. Como o agronegócio anda com saúde, pode vir novo imposto. Richard Jakubaszko
C
riada em 1996, essa lei desonera as exportações de produtos primários e semielaborados da incidência de ICMS. Mas agora tem uma PEC (Proposta de Emenda Constitucional nº 37 – de 2007) em tramitação no Senado. A PEC revoga a não incidência de ICMS na exportação de produtos não-industrializados e semielaborados. Autor: Senador Flexa Ribeiro (PSDB/PA) Data: 02/05/2007 Pois a PEC 37 revoga a Lei Kandir para permitir aos estados
6 | Agro DBO – fevereiro 2018
brasileiros cobrarem ICMS e tentarem aumentar a arrecadação, mesmo que isso possa vir a destruir o agronegócio, principal responsável (48%) por nossa pauta de exportações, e responsável também pelo superavit da balança comercial. A anulação da Lei Kandir provocará um grande retrocesso no país, e a maior ameaça ao agronegócio brasileiro, se for aprovada pelo Congresso Nacional. Foi agora desengavetada, pois é proposta antiga, de 2007, colocada em discussão e já aprovada na Comissão
de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado. Com a sua aprovação, o ICMS voltará a incidir sobre as vendas ao exterior de produtos como petróleo, minério de ferro, grãos, como soja e café, e ainda fumo, frutas, carnes bovina e suína in natura, entre outros produtos, tornando-os menos competitivos no mercado internacional. De tabela vai desestimular o plantio de soja e café. Segundo cálculos primários de especialistas, a queda na área de plantio de soja pode ser superior a 30% em termos de área,
porque é esse porcentual da produção que destinamos às exportações, em soja por exemplo. O projeto da PEC nº 37/2007 tem como relator o senador Antonio Anastasia (PSDB-MG). A proposta agora vai para votação no Plenário do Senado. Como é uma emenda constitucional, o Executivo não tem poder de veto ou mesmo de sancionar o texto aprovado pelo Congresso Nacional, e entra em vigor imediatamente. A Lei Kandir, em vigor desde 1996, corrigiu um enorme desequilíbrio no Brasil. Pela simples razão de que governos estaduais taxavam as exportações, e assim o Brasil tinha mais uma jabuticaba, a exportação de impostos, pois nenhum país do planeta exporta impostos. O que se busca com exportações são duas coisas: geração de empregos internos e a internalização de moeda forte. Quando se instituiu a Lei Kandir o saldo da balança comercial do agronegócio estava em US$ 12,2 bilhões anuais. A partir daí as exportações tiveram um salto enorme. Em 2016, por exemplo, nosso saldo foi positivo de US$ 71 bilhões. Se for revogada a Lei Kandir teremos mais desemprego, além da queda nas exportações, e as consequências serão o aprofundamento de uma nefasta recessão como a que enfrentamos até há pouco, que só não foi pior por causa do desempenho positivo do agronegócio, que gera empregos, internaliza divisas e ajuda a segurar a inflação. E o nosso PIB vai acusar isso, negativamente. A PEC 37 retira a elevada competitividade brasileira no mercado internacional, e colocará o Brasil como um esmoleiro no mercado. É fácil prever a queda na produção de grãos como soja e café, que somente poderá atender ao mercado nacional. Por tabela, a aprovação da PEC 37/2007 não aumentará a arrecadação dos governos estaduais, nem mesmo se considerarmos a incidência do ICMS sobre os minérios,
onde o Brasil tem sérios problemas de competitividade, mesmo inexistindo hoje a incidência de impostos sobre exportação. Ou seja, a PEC 37 vai piorar o que está ruim. A tentativa de ressuscitar a PEC 37/2007, apoiada por governos estaduais tucanos e peemedebistas é uma ação desesperada dos governadores para aumentar a arrecadação estadual, e coloca o Brasil na marca do pênalti. Como toda atitude impensada, estabelece uma gambiarra na economia, e que por ser uma emenda constitucional, é de difícil alteração no futuro. Não dá para entender a ganância de alguns governadores, pois a Lei Kandir, em contraponto à PEC 37, obriga o governo federal a estabelecer uma compensação aos estados, através de repasses que cobrem a não arrecadação do antigo ICMS que ficou faltando a partir de 2006. Lamentavelmente, os brasileiros, empresá-
rabo abana o cachorro, os políticos praticam impunemente as besteiras que querem, e ainda são reeleitos. Resta saber como se comportará a FPA – Frente Parlamentar da Agropecuária, vai aprovar essa PEC? Revogar a Lei Kandir, é um crime de lesa-pátria, considerando a atual situação econômica e política do Brasil. A PEC 37/2007 encontra-se ainda tramitando no Senado, e não chegou ao plenário para votação. Conversando com alguns políticos a respeito do imbróglio dessa PEC, ouvimos argumentos erráticos, ou um viés de situação, no sentido de que a PEC 37 poderia estimular a saída definitiva do Brasil da situação de país agrário, que só exporta commodities, tipo de produto sem valor agregado e que gera pouca renda. Alegamos que um grão de soja ou café tem muita tecnologia embutida para
Se for revogada a Lei Kandir teremos mais desemprego, além da queda nas exportações. rios especialmente, estão sempre a reboque dos políticos. Na sequência, vamos chorar o leite derramado. Na França, como exemplo civilizado de país moderno, quem já andou por lá a turismo sabe que de toda compra feita (exceto perfumes, vinhos, cosméticos, e serviços como hotéis e restaurantes) é só guardar a nota fiscal e apresentá-la no aeroporto na hora do embarque, para receber em devolução o IVA (Imposto de Valor Agregado, equivalente ao nosso ICMS), na hora, em moeda forte, de 12% do que pagou. Porque os franceses consideram essas compras uma exportação de produtos, e, como tal, devem ser isentas, porque o objetivo é gerar empregos internamente. Mas essa política é seguida por outros países da comunidade europeia, especialmente a Alemanha. No Brasil, somos a casa da mãe Joana, o país das jabuticabas, onde o
a sua produção, tanto quanto um avião. E gera mais emprego e renda do que fabricar avião, seja nas fazendas, seja nas cooperativas, seja nas empresas fornecedoras de insumos, nas tradings, bancos, e ainda sobre dinheiro de exportação para compra de automóveis e todos os outros itens de consumo, como geladeiras, TVs ou celulares. Se o Brasil deseja agregar valor, não é esse o caminho de renovar um velho imposto, pelo contrário, a PEC trava e engessa qualquer outra política pública de agregar valor ou de facilitar exportação, pois quem paga o imposto é o produtor rural, não o importador. Com esse imposto, diante da baixa rentabilidade dos produtores rurais, e dos riscos inerentes ao agro, como fatores climáticos, pragas e doenças, a PEC desincentiva até mesmo o plantio, vai gerar o caos, e nos levar para o brejo. fevereiro 2018 – Agro DBO | 7
Notícias da terra Safra I
Produção menor e área maior
E
m seu primeiro levantamento sobre a safra 2017/18 de grãos, divulgado em outubro, quando a maioria dos produtores ainda estava plantando, a Conab previu produção entre 224,1 e 228,2 milhões de toneladas. No segundo (novembro), estreitou um pouco as margens, projetando algo entre 223,3 e 227,5 milhões. No terceiro (dezembro), chegou a 226,5 milhões. No quarto, anunciado à imprensa em janeiro, em pleno período de colheita, ampliou a estimativa para 227,9 milhões de toneladas, 4,1% abaixo do total colhido na temporada passada (237,7 milhões), mesmo com aumento de 1% na área plantada, ultrapassando os 61 milhões de hectares cultivados. A produção de soja deve alcançar 110,4 milhões de toneladas, 3,2% inferior à da safra passada, e a de milho, 92,3 milhões t, redução de 5,6%.
Safra II
IBGE é mais cauteloso
O
terceiro prognóstico do instituto sobre a safra de cereais, leguminosas e oleaginosas indica produção de 224,3 milhões de toneladas neste ano, 6,8% abaixo do obtido na temporada 2016/17. Segundo avaliação dos pesquisadores, essa redução se deve, principalmente, às quedas na produção de soja e milho. Em relação ao prognóstico anterior, houve um acréscimo de 4,8 milhões de toneladas (2,2%) devido às boas condições climáticas em dezembro, que proporcionaram impactos positivos, principalmente nas lavouras de soja (3,8%), de milho 1ª safra (3,1%) e de arroz (2,1%).
Safra III
Números estáveis
O
relatório de oferta e demanda do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês), divulgado em janeiro, traz poucas alterações em relação ao de dezembro. No que diz respeito à soja, os EUA vão colher 119,4 milhões de toneladas na temporada 2017/18 (contra estimativa anterior de 120,4 milhões t); o Brasil, 108 (110); a Argentina, 57 (56); e o mundo, 348,5 milhões de toneladas (348,6). Quanto ao milho, os números são os seguintes: EUA, 370,3 milhões de toneladas (370,9); Brasil, 95 (95); Argentina, 42 (42); e o mundo, 1.044,7 milhão (1.044,6).
VBP
Resultado positivo
O
Valor Bruto de Produção da agropecuária brasileira em 2017 foi de R$ 540,3 bilhões, 1,3 % acima do obtido em 2016 (R$ 533,1 bi). Conforme a SPA/Mapa – Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, é o maior valor desde 1989, quando se iniciou essa série de análise de dados. O resultado favorável deve-se principalmente à grande safra de grãos. A produtividade agrícola, e não o incremento de área, foi o principal fator responsável pelo bom resultado. Os preços agrícolas, em geral mais baixos do que em 2016, tiveram pouca ou nenhuma importância na formação do VBP. Além da soja e do milho, o aumento foi impulsionado pelo algodão, cana-de-açúcar, laranja e mandioca. Com exceção de laranja, esses outros produtos alcançaram em 2017 o maior faturamento bruto desde 1994. Na contramão, uma lista extensa de produtos perdeu valor, a exemplo do que ocorreu com a cebola (- 49,4 %), o trigo (- 47,9 %), a batata (- 46,3 %), o cacau (- 27,2 %), a banana (- 26,7 %), o feijão (- 26,7 %), a maçã (- 21,5 %) e o café (- 14,7).
8 | Agro DBO – fevereiro 2018
Notícias da terra Exportações I
Saldo histórico
A
s exportações brasileiras do agronegócio somaram US$ 96,1 bilhões em 2017, valor 13% superior ao de 2016. O setor foi responsável por 44,1% das remessas brasileiras no período. O saldo da balança comercial foi superavitário em US$ 81,8 bilhões, contra US$ 71,3 bi no ano anterior. Foi o segundo maior saldo da história, abaixo apenas do obtido em 2013, de R$ 82,9 bi. A soja manteve a liderança na pauta de exportações do agronegócio com US$ 31,7 bilhões em vendas, à frente das carnes (US$ 15,5 bi), do complexo sucroalcooleiro (US$ 12,2 bi), dos produtos florestais (US$ 11,5 bi) e do café (US$ 5,3 bi). O milho registrou recorde histórico em 2017, com US$ 4,6 bilhões em faturamento (+24,9% ante 2016). As vendas de grãos foram recordes em valor (US$ 25,7 bilhões) e quantidade (68,2 milhões de toneladas).
Exportações II
Outros destaques em vendas
A
lém dos cinco campeões citados ao lado, vários produtos do agronegócio nacional se destacaram na pauta de exportações de 201. Os que mais cresceram em participação foram pimenta piper seca (59,5 mil toneladas); painéis de fibras ou de partículas de madeira (1,1 milhão de tonelada); gelatinas (50,9 mil toneladas); óleo essencial de laranja (US$ 242,16 milhões); mangas (179,6 mil toneladas); amendoim (153,3 mil toneladas); e melões (233,6 mil toneladas).
Exportações III
Exportações IV
A
O
Fome chinesa Ásia foi o principal destino dos produtos da agropecuária brasileira no ano passado, com compras no valor de US$ 44,2 bilhões, 18,1% acima do obtido em 2016. A exemplo dos anos anteriores, a China encerrou 2017 como o maior freguês do agronegócio nacional, ampliando sua participação nas compras. Passou de 24,5% em 2015 para 27,7%. No ano passado, as exportações ao país somaram US$ 26,6 bilhões, superando em 27,6% o valor do ano anterior. As remessas para os Estados Unidos, o segundo maior comprador do Brasil, somaram US$ 6,7 bilhões, crescimento de 7,3% sobre 2016.
Mato Grosso sorri estado respondeu por 15,2% da receita proveniente das exportações brasileiras do agronegócio em 2017, graças às vendas de soja, milho, algodão, madeira e carnes. As remessas renderam US$ 14,6 bilhões, conforme dados do governo federal. Desse valor, R$ 7,2 bilhões foram faturados por 10 municípios: Sorriso (US$ 1,5 bilhão), Rondonópolis (US$ 1,1 bi), Querência (US$ 792,4 mi), Nova Mutum (US$ 671,8 mi), Sinop (US$ 645,1 mi), Primavera do Leste (US$ 611,1 mi), Campo Novo do Parecis (US$ 535 mi), Sapezal (US$ 464,8 mi), Lucas do Rio Verde (US$ 428,7 mi) e Diamantino (US$ 411,3 mi). Entre eles, os que mais evoluíram foram Campo Novo do Parecis e Querência, cujas receitas foram de US$ 387,92 e US$ 445,45 milhões, respectivamente, em 2016. Na outra ponta, os que mais perderam foram Sapezal e Lucas do Rio Verde, que faturaram R$ 518,2 e R$ 508,4 milhões em 2016. fevereiro 2018 – Agro DBO | 9
Notícias da terra Desmatamento
Soja não é vilã
O
programa Monitoramento por Imagens de Satélite dos Plantios de Soja no Bioma Amazônia Safra 2016-2017 concluiu, conforme relatório divulgado no mês passado pelo Ministério da Agricultura, que a sojicultura não é vetor relevante de corte da floresta. Em 11 anos da Moratória da Soja, as áreas desmatadas na região para implantação da oleaginosa correspondem a apenas 1,2% do total desflorestado. A Moratória da Soja é um compromisso de não aquisição nem financiamento da soja cultivada em áreas desmatadas do bioma Amazônia a partir de julho de 2008.
CAR
Inscrições adiadas
O
prazo final para inscrição no Cadastro Ambiental Rural, obrigatório para todos os imóveis rurais, independentemente do tamanho, foi prorrogado para 31 de maio de 2018. Quem não se cadastrar a tempo ficará impedido e perderá a oportunidade de regularizar seus passivos ambientais, tanto de áreas preservação permanente (APP), quanto de reserva legal (RL), nos termos definidos pelo Código Florestal. Além disso, terá restrição a crédito bancário e será impedido de fazer modificações cartoriais nos registros de imóveis. O CAR foi instituído em 2012 com a finalidade de integrar as informações e compor uma base de dados para controle, monitoramento, planejamento e combate ao desmatamento. Principal instrumento para regularização ambiental de propriedades e posses rurais, é considerado estratégico para a formulação de políticas públicas. A inscrição é feita no site do CAR (www.car.gov.br). O proprietário rural deve baixar o programa e preencher o formulário. É preciso ter em mãos o documento da propriedade.
Soja
Certificação cresce
C
erca de 4 milhões de toneladas de soja certificadas foram oferecidas no mercado brasileiro no ano passado, 900 mil toneladas a mais em relação a 2016, de acordo com balanço da Associação Internacional de Soja Responsável (RTRS, na sigla em inglês). Em apenas quatro anos, a quantidade certificada pela RTRS triplicou. A expectiva da entidade é de crescimento expressivo neste ano. Um dos indicativos é a demanda crescente, tanto interna quanto externamente. O otimismo deve-se também às novas adesões: no ano passado, 80% das empresas ou organizações que se associaram à RTRS vieram dos setores de indústria, comércio e finanças - 14 dos 17 novos associados.
10 | Agro DBO – fevereiro 2018
Integração
Realidade aumentada
A
Rede ILPF, uma parceria público-privada entre a Embrapa, a Cocamar, a John Deere, a Syngenta, a Dow AgroSciences e a Parker criada com o propósito de fomentar e incentivar a integração Lavoura-Pecuária-Floresta, lançou o aplicativo “Maquete Virtual de ILPF em realidade aumentada”, através do qual o produtor rural pode acompanhar todas as etapas de trabalho. Ao abrir o aplicativo, o usuário pode interagir escolhendo em um menu as diferentes fases de um sistema de integração. Iniciando em uma pastagem com baixa capacidade de lotação, por exemplo, o aplicativo mostra a evolução da área com o uso da agricultura e, posteriormente, da pecuária. Em outro menu, o usuário pode ver as transformações que ocorrem no perfil do solo, o comportamento das raízes de cada componente, a ciclagem de nutrientes e a dinâmica de água e de gases. Além dos gráficos, o aplicativo traz áudio explicativo em português e em inglês. A realidade aumentada é uma tecnologia que permite a união do mundo virtual com o real. O produtor rural deve baixar o aplicativo nas lojas virtuais (Google Play e Apple Store) e também baixar no site da Rede (www.ilpf.com. br) uma imagem específica, que funcionará como marcador, ou target.
Notícias da terra Adubação I
Consórcio produtivo studos conduzidos pela Embrapa Tabuleiros Costeiros no semiárido sergipano mostram que produção de milho pode crescer bastante em cultivos consorciados com a leguminosa Gliricidia sepium. No experimento solteiro do milho e adubado com 50 kg/ha de nitrogênio químico, a produção foi de 4.500kg/ ha. Ao acrescentar 100% de gliricidia à adubação química, o ganho foi de 21%, representando incremento de 900 quilos. Mesmo nas regiões em que as chuvas são escassas, a introdução da leguminosa aumentou em até 100% a produção do cereal sem o uso de fertilizante mineral. Conforme os pesquisadores, a gliricídia tem demonstrado grande potencial como fornecedora de nitrogênio, podendo substituir total ou parcialmente o uso de fertilizantes nitrogenados. Originária do México e América Central, possui elevada concentração de nitrogênio nas folhas e permite a fixação simbiótica desse nutriente ao solo por meio de bactérias existentes em suas raízes. A gliricídia apresenta teores de proteína em torno de 23% e produz até 70 quilos de matéria verde por ano. De acordo com a pesquisadora Cristiane Otto de Sá, a planta é uma espécie de “ouro verde” para as regiões secas. “É resistente ao clima rigoroso e pode ser usada para recuperar e manter a temperatura do solo, além de servir como cerca viva”.
Tecnologia
Laranja resistente
O
IAC – Instituto Agronômico de Campinas (IAC) anunciou no final do ano passado o desenvolvimento de uma laranja transgênica resistente a duas das principais doenças da citricultura: o amarelinho e o cancro cítrico. Causadas pelas bactérias Xylella fastidiosa e Xanthomonas citri, respectivamente, essas doenças derrubam a produtividade nos pomares e podem, eventualmente, causar a morte das plantas. As cientistas Raquel Caserta e Alessandra Alves de Souza utilizaram um gene da própria Xylella para obter a resistência. Ao inseri-lo na laranjeira, ela passa a produzir uma molécula que interfere no sistema de comunicação das bactérias, fazendo com que se movimentem menos e, por consequência, colonizem menos a planta. O resultado são árvores até 60% mais resistentes à doença. Para surpresa das pesquisadoras, o mesmo gene da Xylella mostrou sinais importantes de retardamento da proliferação bacteriana também para o cancro, ampliando mais seu potencial de uso.
Walter Matrangolo
E
Adubação II
Fixação biológica de nitrogênio
O
utro estudo da Embrapa (no caso, realizado pela Embrapa Milho e Sorgo) demonstra que a Cratylia argentea, leguminosa arbustiva popularmente conhecida como camaratuba, apresenta grande potencial para a restauração da fertilidade do solo do Cerrado. “Podemos caracterizar a Cratylia argentea como uma ‘ilha de biodiversidade’ por hospedar ao longo de todo o ano muitos artrópodes e seus agentes de controle biológico. Sua presença em sistemas de transição agroecológica pode também favorecer o repovoamento de áreas em transição e degradadas do Cerrado, com a dispersão desses agentes para o seu entorno”, diz o pesquisador Walter Matrangolo, que coordena os estudos. Segundo ele, a planta tem potencial para favorecer a população de agentes de controle biológico de insetos fitófagos, como a lagarta-do-cartucho, a principal praga do milho, e fornecer alimento para abelhas no período da seca, quando está em florescimento – entre os meses de abril e setembro. Outra característica da leguminosa é a fixação biológica do nitrogênio atmosférico no solo. Conforme Matrangolo, a Cratylia argentea produz cerca de 200 kg de nitrogênio por hectare nos primeiros dois anos e pode chegar a 300 kg/ha no terceiro ano, numa densidade de plantio de 7,5 mil plantas por hectare fevereiro 2018 – Agro DBO | 11
Notícias da terra Aquisição I
Agricultura de precisão
Koppert e BUG criam a maior empresa de Controle Biológico da América Latina
ConBAP 2018
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Associação Brasileira de Agricultura de Precisão – AsBraAP lançou, oficialmente, o ConBAP 2018 – Congresso Brasileiro de Agricultura de Precisão, que será realizado de 2 a 4 de outubro, no Espaço Unimed, em Curitiba/PR. O anúncio foi feito pelo presidente da entidade, José Paulo Molin, durante o IV Encontro sobre Agricultura de Precisão, que foi promovido pela Associação Brasileira dos Prestadores de Serviço de Agricultura de Precisão, em janeiro último.
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holandesa Koppert Biological Systems anunciou em dezembro último o fechamento do acordo de compra da BUG Agentes Biológicos, empresa brasileira igualmente especializada na produção e comercialização de agentes de Controle Biológico de pragas agrícolas. Ambas as empresas, sediadas em Piracicaba/SP, se caracterizam pela vanguarda mundial da inovação deste segmento da biotecnologia, que cresce em média 20% ao ano no Brasil, sendo que a taxa individual da Koppert e da BUG atingiu 30% nos últimos cinco anos. Nesta safra 2017/2018, mais de 1,5 milhão de hectares de diversas culturas da agricultura nacional serão tratadas através do controle biológico, exclusivamente, ou por Manejo Integrado de Pragas (MIP). A compra da BUG pela Koppert foi selada com a presença em São Paulo/SP do presidente mundial da empresa, Paul Koppert. “A aquisição representa um importante passo para o grupo Koppert, especialmente fortalecendo nossa posição em macro-organismos no Brasil”, explicou Koppert. Fundada na Holanda em 1967, a Koppert é líder no mercado internacional de proteção biológica de culturas agrícolas, atuando com inovação em controle biológico, polinização natural, tratamento de sementes e tecnologia de monitoramento na aplicação. A empresa está no Brasil há seis anos, e possui 1.400 colaboradores em 26 países. A BUG foi criada em 2001, sendo pioneira no país em controle biológico e reconhecida internacionalmente por seu trabalho inovador com macro-organismos na agricultura profissional. Para o diretor comercial da Koppert do Brasil, Gustavo Herrmann, “é um desafio motivador criar conceitos de comercialização e demonstração de resultados de defensivos macrobiológicos no mercado nacional. Com a BUG, nossa empresa ganha a expertise necessária para tal empreitada”.
Aquisição II
Mosaic conclui aquisição da Vale Fertilizantes
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Da esq. p/ dir.: Danilo Pedrazzoli, Gustavo Herrmann e Mr. Paul Koppert pela empresa holandesa; e Heraldo Negri e Diogo Carvalho pela BUG Agentes Biológicos.
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Mosaic Fertilizantes, maior produtora global de fosfatados e potássio combinados, concluiu em dezembro de 2017 o processo de aquisição da Vale Fertilizantes, anunciado em 2016. A empresa amplia sua posição como a maior produtora mundial de fosfatados e potássio combinados, com cerca de 50% de seus funcionários estrategicamente baseados no Brasil. A Mosaic Fertilizantes passa a operar no mercado da América do Sul com superfosfato (SSP), triplo superfosfato (TSP), fosfato monoamônico (MAP), fosfato dicálcico (DCP) e cloreto de potássio (KCl). A empresa também expande sua atuação no mercado de nutrição animal e passa a atuar em novos mercados, comercializando produtos industriais, como gesso e ácido sulfúrico.
Notícias da terra Inauguração
Ministro da Agricultura inaugura Embrapa Territorial
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esquisas e inovações sobre as dimensões e os desafios territoriais da agricultura nacional serão o foco da Embrapa Territorial, inaugurada em dezembro último, pelo ministro da Agricultura, Blairo Maggi, em Campinas, SP. A nova unidade resulta da unificação e integração de três instituições já existentes: o Grupo de Inteligência Territorial Estratégica, a Embrapa Gestão Territorial e a Embrapa Monitoramento por Satélite. O foco anterior dessas três instituições era o desenvolvimento e o uso de instrumentos para monitorar o território da agricultura, tais como geotecnologias e satélites. A partir de agora, a nova Embrapa Territorial trabalhará com a dinâmica temporal e espacial da
agricultura, o uso e a ocupação das terras pela agropecuária brasileira e as atuais demandas para ampliar sua competitividade e sustentabilidade. A Embrapa Territorial inicia suas atividades com três metas para a inovação: um sistema de inteligência territorial para a macrologística agropecuária; a continuidade do mapeamento e análise das áreas dedicadas à preservação da vegetação nativa nos imóveis rurais com os dados do Cadastro Ambiental Rural (CAR) e a estruturação de um sistema de inteligência, gestão e monitoramento territorial para os cerrados do Brasil. A criação do novo centro de pesquisa ampliará a racionalidade no uso de recursos públicos, com
Evaristo de Miranda Chefe geral da nova Embrapa Territorial
redução de funções gratificadas, eliminação de duplicidades e melhorias no atendimento das demandas dos setores público e privado. O chefe-geral da Embrapa Territorial é o engenheiro agrônomo Evaristo de Miranda, que antes ocupava o mesmo posto na Embrapa Monitoramento por Satélite
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Notícias da terra Investimentos
Novo laboratório de produção de mudas da CATI foi inaugurado em Tietê (SP)
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nova estrutura vai ampliar a produção de 20 mil para 100 mil matrizes de mudas. Inaugurado em 19 de janeiro, o novo Laboratório de Micropropagação de Mudas pertence ao Departamento de Sementes, Mudas e Matrizes (DSMM), da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI), órgão da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo. O primeiro laboratório foi implantado nos anos 90 no Núcleo de Produção de Mudas de Tietê com o objetivo de produzir e vender matrizes de morango para agricultores familiares que produziam as mudas. Até 2017 a produção média anual do laboratório variava entre 15 e 20 mil matrizes. Com as novas instalações a meta é produzir 100 mil matrizes e atender mais de 40 produtores da região, de acordo com Ricardo Lorenzini, diretor do DSMM. “A estrutura antiga precisava de reforma e modernização a fim de melhor acatar a demanda dos produtores rurais. A matriz que produzimos em laboratório
Nota de pesar
é o início de tudo. Ela é a planta que dará origem à muda, que por sua vez produzirá a fruta. Matrizes de qualidade são os alicerces da produção. A produção das matrizes em laboratório é feita via micropropagação, que é um conjunto de técnicas que permite que as plantas sejam desenvolvidas in vitro, com excelente qualidade e ausência de vírus, fungos e bactérias”, explica Ricardo, complementando que cada matriz pode dar origem de 500 a mil mudas. No laboratório são produzidas matrizes de morango, mas a nova estrutura ainda permitirá a produção de matrizes e mudas de outras espécies como banana e mandioca; todas isentas de qualquer doença.
NOnonono
Rally da Safra 2018 vai a campo em cenário de aumento na área de soja
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ueda na rentabilidade do milho leva produtores do Sul e Sudeste a migrar para soja; expedição teve início dia 15 janeiro último, no Mato Grosso. O Rally da Safra 2018, expedição técnica privada para monitoramento da safra de grãos no Brasil, foi a campo em um cenário de aumento de 1,1 milhão de ha da área plantada de soja. A expectativa é que a área total alcance 35 milhões de ha, com estimativa pré-Rally de produzir 114,1 milhões de toneladas de soja, volume semelhante à safra passada. “O aumento de área de soja deve ocorrer sobre lavouras de milho, em razão da redução expressiva na rentabilidade do grão. Serão cerca de 800 mil ha provenientes de áreas maduras localizadas no Sul – com alto potencial de produção de soja – e no Sudeste do Brasil, onde o milho verão tem maior presença. De forma secundária, teremos ainda a contribuição de áreas de pastagem e de cerrado para esse crescimento”, explica André Pessoa, sócio-diretor da Agroconsult e coordenador geral do Rally da Safra. 14 | Agro DBO – fevereiro 2018
Carlos Sperotto, presidente da Farsul, morre aos 79 anos
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orreu dia 24 de dezembro último, em Porto Alegre, Carlos Rivaci Sperotto, presidente da Federação da Agricultura do Estado (Farsul). Sperotto tinha 79 anos e lutava contra um câncer no esôfago desde 2016. Ele deixa a esposa e quatro filhos. Natural de Palmeira das Missões, no Noroeste do Estado, Sperotto era formado em medicina veterinária. Produtor de grãos e criador de ovinos, ele estava na presidência da Farsul desde 1997. Em 2015, Carlos Sperotto foi reeleito presidente da Farsul para seu sétimo mandato.
Legislação
Contrabando de agroquímicos deve tornar-se crime hediondo
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rojeto de Lei do deputado Jerônimo Goergen (PP/RS) está em apreciação na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania da Câmara dos Deputados. Significa dizer que a prática poderá ser reduzida substancialmente, desde que venha a penalizar, mas com penas menores, os espertos consumidores finais.
Capa
Pode, mas não pode. Ministério da Agricultura abre consulta pública para regulamentar as misturas de agroquímicos em tanques – a prática é legal, mas “proibida”. Ariosto Mesquita
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róximo ao galpão da sede da Fazenda São José, em Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul, um pequeno depósito acomoda dezenas de recipientes com agroquímicos de diferentes fabricantes, a maioria empresas multinacionais atuantes no mercado brasileiro. Dali, o agricultor Luciano Cargnin Manfio retira o que precisa entre herbicidas, inseticidas, fungicidas, faz o teste da jarra (para avaliar a compatibilidade física e química dos produtos escolhidos antes do preparo da calda), adicionando óleo mineralizador (para homogeneizar a calda e facilitar a absorção pelas plantas) à mistura, com a qual pulveriza suas lavouras de soja e milho, protegendo-as do ataque de lagartas e fungos e da infestação de plantas daninhas. Manfio integra o rol de 97% dos agricultores brasileiros que, habitualmente, misturam agroquímicos em tanques em suas fazendas para controlar doenças, pragas e espécies invasoras, cujas infestações, muitas vezes, ocorrem simultaneamente em uma mesma área agrícola – nesse caso, a alternativa de controle mais econômica e, por isso, largamente usada, é a pulverização de agrotóxicos misturados em tanque. Este percentual consta de estudo publicado em 2015, realizado pelo pesquisador Dionísio Luiz Pisa Gazziero, da Embrapa Soja, com base nas respostas de 500 de um total de 5 mil questionários enviados a produtores e profissionais do setor, tanto da área privada quanto governamental, em 17 estados brasileiros. Mas basta apresentar este número à comunidade agrícola, sobretudo ao pessoal da área técnica, para invariavelmente se ouvir a observação: “Eu desconheço a existência dos outros 3%”, dizem, irônicos.
Herbicidas, inseticidas, fungicidas e adjuvantes misturados no tanque do pulverizador da Fazenda São José, em Rio Brilhante (MS).
Legislação dúbia A mistura em tanque para aplicação a campo é considerada procedimento trivial e necessário nas lavouras brasileiras, sobretudo com o aumento da resistência de insetos e plantas daninhas a determinados agroquímicos, com a chegada de novas pragas e infestações simultâneas de espécies invasoras, doenças e pragas. No entanto, ainda é assunto pouco discutido, carece de subsídios técnicos e é tratado como uma espécie de tabu entre agricultores, técnicos e empresas detentoras dos produtos químicos. Segundo o Mapa – Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, não é proibido ao produtor preparar e aplicar as misturas nas fazendas. No entanto, a legislação impede que o procedimento conste em bulas ou seja prescrito por agrônomos. Diante deste contrassenso, a prática ganha ares de clandestinidade. Alguns segmentos do agronegócio a veem como tabu. No mínimo, é tratada com cautela, às vezes excessiva. Entre as empresas multinacionais de insumos procuradas pela reportagem da Agro DBO, nenhuma atendeu o pedido de entrevista. Algumas, sequer deram retorno. Outras se manifestafevereiro 2018 – Agro DBO | 17
Capa “Eu faço até sete aplicações no ciclo da cultura da soja. Sem as misturas, seria obrigado a entrar pelo menos 15 vezes na lavoura”.
Luciano Manfio mostra um pé de soja robusto e saudável, com 85 dias após o plantio.
ram através de suas assessorias de imprensa. Apenas uma (Dow AgroScience) defendeu, através de nota, a manipulação de produtos de acordo com as informações apresentadas nos rótulos e nas bulas, “como prevê a legislação”. A Andef – Associação Nacional de Defesa Vegetal, entidade que reúne as grandes empresas de insumos agrícolas em operação no Brasil, declarou que é favorável à regulamentação de misturas em tanque, mas não se posicionou sobre a prática nas fazendas. A entidade informou que está avaliando a consulta pú-
blica proposta pelo Mapa e que tomará uma posição final alinhada com o Sindiveg – Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal, “uma vez que se trata de um tema setorial”. A reação não é muito diferente em determinados organismos de pesquisa, grupos de agricultores, associações e federações de agricultores. No final de 2017, no entanto, dois fatos reabriram a discussão sobre o assunto: a UENP – Universidade Estadual do Norte do Paraná e a Embrapa, a pedido da revista Agro DBO, organizaram duas tabelas (para soja e milho) de compatibilidades e incompatibilidades físico-químicas de agroquímicos e fertilizantes foliares em misturas em tanque. O material, publicado com exclusividade na edição de dezembro da Agro DBO (disponível também no site www.portaldbo.com.br) foi muito bem recebido pelos leitores. No dia 28 do mesmo mês, o Mapa, através da publicação da Portaria nº 148, abriu consulta pública, pelo prazo de 60 dias, para receber sugestões de critérios e procedimentos visando a regulamentação de “mistura em tanque de agrotóxicos e afins e sua prescrição em receituário agronômico”. Segurança e economia Polêmica à parte, o produtor Luciano Manfio não hesitou em receber a reportagem da Agro DBO em sua propriedade em Rio Brilhante, no centro-sul do Mato Grosso do Sul, para mostrar seu cotidiano de trabalho na formulação e aplicação de misturas para proteção de cultivos. Com 260 hectares de lavouras na Fazenda São José e outros 560 em outras propriedades (áreas próprias e arrendadas), ele vai direto ao cerne
Consulta pública à revelia A portaria 148 do Ministério da Agricultura, que submete à consulta pública a minuta de instrução normativa relativa às misturas de agroquímicos em tanques, foi publicada sem que a Anvisa avaliasse e se manifestasse em relação ao teor da proposta de regulamentação. A revelação foi feita a Agro DBO por André Felipe Peralta, diretor do DFIA – Departamento de Fiscalização de Insumos Agrícolas do Mapa. “Inicialmente, entendíamos que era atribuição exclusiva do Mapa, mas o setor jurídico logo nos alertou que a matéria tem de ser firmada em conjunto com a Anvisa e o Ibama. Depois de uma reunião no início de 2017, enviamos a proposta de minuta para o parecer da Anvisa. O tempo passou e não tivemos retorno. Diante da demora, o ministro Blairo Maggi autorizou a publicação da consulta pública antes mesmo do posicionamento da agência,
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o que foi feito no final de dezembro”, conta o diretor. A atitude, ao que tudo indica, não foi digerida pela direção da Anvisa. “A agência já avisou que não reconhece a consulta pública e seus resultados. Evidentemente que esta manifestação é um risco ao processo de regulamentação da matéria. No entanto, vamos continuar tocando em frente, na esperança de que o bom senso prevaleça”, avisa Peralta. O diretor do DFIA/Mapa faz questão de tranquilizar os agricultores quanto à pratica da mistura de agroquímicos: “A legislação não estabelece proibição alguma para que ela seja feita nas fazendas pelo agricultor. Desafio alguém a me comprovar o contrário”. A portaria do Mapa pode ser conferida a partir do link https://www.jusbrasil.com.br/diarios/173204337/dou-secao-1-28-12-2017-pg5?ref=previous_button
das motivações que levam os agricultores a misturar materiais de diferentes origens e funcionalidades: “Não há como sair aplicando um produto de cada vez. Isso inviabilizaria minha agricultura. Da forma como trabalho, já faço até sete aplicações no ciclo da cultura da soja. Sem as misturas, seria obrigado a entrar pelo menos 15 vezes na lavoura. Para isso, teria de dobrar o parque de máquinas e o número de funcionários. Isso levaria ao aumento no consumo de combustíveis, do volume de amassamento das plantas e à maior exposição do ambiente e da equipe aos produtos químicos”. Manfio planta soja no verão e milho consorciado com braquiária como segunda safra. No cultivo da oleaginosa, consegue uma produtividade média de 58 sacas/ ha, ante um custo de produção equivalente a 42 scs/ha. Segundo ele, a margem de rentabilidade proporcional a 16 scs/ha nunca seria obtida caso fosse levado a fazer aplicações individuais: “Sem as misturas, minha margem dificilmente seria superior a 11 scs/ha. Além disso, com os extensos períodos de chuva e eventuais veranicos, certamente perderia o ponto ideal de aplicação de herbicidas, inseticidas ou fungicidas. Hoje, consigo trabalhar com mais segurança quanto às datas”. Natural de Nova Palma (RS), Manfio chegou com a família ao Mato Grosso do Sul em 1989, aos 13 anos, e sempre trabalhou, ao lado do pai, na agricultura. Ao longo do tempo, acompanhou estudos e procurou se informar sobre métodos de misturas em tanques para aperfeiçoar o trabalho no campo, e há três anos passou a adotar os atuais procedimentos, baseados, segundo ele, em orientações verbais de agrônomos e em publicações científicas. O primeiro cuidado é a execução do chamado teste da jarra. “Antes de levar a campo, preparo uma mistura proporcional para teste de compatibilidade em garrafas pet de dois litros. Agito o recipiente e espero
Teste da jarra (no alto, à esq.), inclusão de glifosato e adição de óleo mineralizador: três etapas no preparo da mistura de agroquimicos na Fazenda São José.
de 20 a 30 minutos. Caso não haja decantação e a calda permaneça homogênea, dou o sinal verde para que a combinação seja aplicada na lavoura. É importante que ao logo do processo todos os envolvidos usem equipamentos de proteção individual”, observa o agricultor que geralmente conduz o pulverizador pelos talhões. Manfio faz atualmente aplicações de misturas de baixa vazão, ou seja, diluídas em menores quantidades de água, o que teoricamente aumentam os riscos de incompatibilidade entre os produtos e de entupimentos no sistema de pulverização. Entretanto, ele garante que o procedimento permite maior agilidade do trabalho a campo: “Boa parte dos produtores usa entre 100 a 120
Luciano Manfio, devidamente trajado ao lado do tanque do pulverizador: ele faz questão que todos os funcionários envolvidos no preparo da mistura usem equipamentos de proteção.
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Capa “É importante que misturas possam ser prescritas nos receituários agronômicos e que as informações estejam contidas nas bulas”.
litros de água por hectare. Eu optei pela faixa entre 30 e 35 litros. Não é o que defendem os pesquisadores, mas isso me permite aplicar com mais velocidade, escolher as melhores horas do dia para o trabalho, utilizar gotas menores que penetram com mais facilidade na planta, reduzir a deriva e, consequentemente, o desperdício”. Mas o verdadeiro ganho está, segundo ele, na sanidade ambiental e humana: “Com baixa vazão, eu reduzo o manuseio de produtos e consequentemente o risco de contaminação”. Segundo Manfio, a mistura mais comum utilizada por ele envolve os herbicidas 2,4-D (ácido diclorofenoxiacético) e glifosato (N-(phosphonomethyl)glycine). “É uma questão de sinergismo e eficiência. O 2,4-D,
Manfio participa dos trabalhos de preparo das misturas, supervisiona todo o processo de produção e ainda faz questão de conduzir o pulverizador durante as aplicações.
por exemplo, não mata sozinho a buva. Para eliminar esta planta invasora dou a primeira paulada com o composto 2,4-D e glifosato. Posteriormente, arremato com gramoxone (paraquat), que é um herbicida de contato pós-emergência”. Como a Anvisa anunciou o banimento do paraquat até 2020 no Brasil, Manfio já vem testando outra composição contra a buva: “Trabalho também com uma mistura tripla que vem dando muito certo: 2,4-D, glifosato e heat”, conta o agricultor, inserindo no composto o herbicida inibidor de enzimas cujo princípio ativo é o saflufenacil. Como demonstração à reportagem da Agro DBO, o produtor preparou uma mistura para uso em pós-emergência da soja RR Intacta, incluindo dois herbicidas (para plantas de folha larga e folha estreita), um inseticida, um fungicida e dois adjuvantes (aditivos que melhoram o desempenho dos agroquímicos). Após o teste da jarra, elaborou o composto em quantidade suficiente para a cobertura de seis hectares. Cada produto foi adicionado, um a um, ao tanque do pulverizador. A calda ficou sob constante agitação e turbilhonamento para conter qualquer sedimentação e, consequentemente, heterogeneidade no momento da pulverização, feita em sua máquina autopropelida Montana com barra de alcance de 27 metros. Apesar de defender a prática, Manfio condena quem a faz sem critérios e sem avaliação prévia: “As empresas não recomendam e não admitem a possibilidade de interação entre produtos que não sejam os seus próprios. No entanto, existem recomendações verbais e estudos de universidades e até mesmo publicações de organizações de pesquisa, que atendem a nossa região. Discordo da mistura sem fundamento”. Sobre a possibilidade de regulamentação das misturas, ele vê os grandes grupos químicos como maior
Nova era para a agricultura O estudo realizado pelo pesquisador Dionísio Luiz Pisa Gazziero, da Embrapa Soja, comprovando que 97% dos agricultores entrevistados utilizam misturas em tanque, 95% das vezes variando de dois a cinco produtos, ajudou a subsidiar tecnicamente a decisão do Mapa em propor consulta pública para regulamentar as misturas em tanque. Gazziero foi um dos responsáveis técnicos pela elaboração das tabelas de compatibilidades físico-químicas de agroquímicos e fertilizantes foliares em misturas em tanque, encartadas na edição de dezembro da Agro DBO. Ele não esconde a alegria pelo trabalho executado e por ter ajudado a gerar e disponibilizar ao produtor um conjunto inédito de informações importantes. “A publicação pela revista Agro DBO vira
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definitivamente uma página na agricultura do País. Até então, a carga disponível de informações técnicas e científicas sobre misturas de agroquímicos era pequena e centralizada. O assunto e a prática da mistura seguiam sendo tratados como tabu e com uma alta carga de hipocrisia. Isso cerceava o acesso à informação e ao conhecimento”, avalia. Sua expectativa agora é que o ato de misturar agroquímicos possa ser realmente regulamentado, retirando qualquer dúvida do produtor e da sociedade com relação à licitude do procedimento: “Da forma como reza a atual legislação, que impede a recomendação em bulas e nos receituários agronômicos, o produtor ainda se sente dentro de um círculo de clandestinidade. Isso é um contrassenso e tem de acabar”.
empecilho à ideia. “O problema não está na legislação e, sim, nas grandes corporações, que dificilmente vão recomendar em bula que seu produtos possam ser misturados com outros da concorrência. Portanto, não se regulamentou até agora por interesses financeiros destas empresas. E elas não deixam de ter razão”, observa. A alternativa, segundo ele, seria uma espécie de “receita de bolo fechada”, ou seja, um estudo amplo que possa delinear e especificar as possibilidades de interação entre todos os produtos hoje disponíveis no mercado. “Nesta linha, creio que as tabelas publicadas pela Agro DBO sejam a melhor referência e o embrião de um trabalho mais amplo para a disseminação de conhecimento técnico, tanto para misturas de alta quanto de baixa vazão”. Impossível proibir Principal representação de agricultores do mais importante estado agrícola do Brasil, a Aprosoja/MT – Associação de Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso entende como “totalmente necessária” a regulamentação das misturas de agroquímicos nas propriedades rurais. Para Lucas Costa Beber, 2º diretor administrativo e coordenador da Comissão de Defesa Agrícola da entidade, qualquer eventual impedimento da prática acarretaria um prejuízo sem precedentes para a economia brasileira: “A produção de soja cairia certamente entre 30% a 40%, afetando negativamente o produto interno bruto brasileiro, elevando a inflação e aumentando o desemprego”, argumenta A sanidade da agricultura brasileira também seria comprometida, na opinião de Beber. Ele citou como exemplo o caso da ferrugem asiática, considerada a principal doença que ataca as plantas de soja no País. “Atualmente não existe um produto 100% efetivo para conter o fungo causador da ferrugem. Hoje, é
Manfio usa uma mistura tripla, composta por glifosato, 2,4-D e heat, como alternativa de controle da buva.
necessária a mistura de pelo menos três químicos para melhor controle”. Túlio Teixeira de Oliveira, diretor-executivo da Aenda – Associação Brasileira dos Defensivos Genéricos, que reúne 45 empresas de insumos agrícolas, a maioria de pequeno e médio porte, deixa claro o posicionamento da entidade, sediada São Paulo: “Ninguém faz pelo fato de ser bonito. É uma prática necessária, corriqueira e impossível de se proibir”. A regulamentação das misturas, segundo ele, é bandeira da entidade desde sua criação, há mais de três décadas. “Precisamos ter parâmetros técnicos e acompanhamento profissional para que não ocorram problemas de reações químicas que acabem comprometendo a aplicação e o resultado final da lavoura. É importante que misturas possam ser prescritas nos receituários agronômicos e que informações estejam contidas nas bulas”. Agricultor em Maracaju (MS), ex-presidente da Fundação MS e atual coordenador da Comissão Nacional de Cereais, Fibras e Oleaginosas da CNA – Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil, Luiz Alberto Morais Novaes espera consenso entre o Mapa, a Anvisa e o Ibama para a regulamentação das misturas de agroquímicos em tanque nas propriedades rurais: “Nossa área técnica integrou a comissão que ajudou a elaborar a minuta conjunta do ministério, agência e instituto e, pelo que me foi informado, tudo caminha para a normatização do procedimento, sem atropelos”. A CNA defende a mistura de agroquímicos como prática necessária. “Não queremos receituário verbal e, sim, por escrito. Regulamentar a prática é proteger o trabalho por lei. Nossa expectativa é de que a normatização possa ser aprovada ainda neste semestre. Caso haja algum questionamento, a CNA estará pronta para disponibilizar informações técnicas e científicas sobre o assunto”, garante. fevereiro 2018 – Agro DBO | 21
Soja
E a ferrugem volta a aparecer Com infestações menos agressivas até meados de janeiro, a doença marca presença em boa parte das regiões produtoras de soja. Claudia Vieira Godoy *
Lavoura com falha de aplicação e sintomas de ferrugem-asiática em Tomazina (PR).
* A autora é engenheira agrônoma, pesquisadora da Embrapa Soja.
O
início da safra de soja no Brasil é marcado pelo término dos períodos de vazio sanitário, que variam de estado para estado. Essa medida, que tem como objetivo reduzir a presença do inóculo do fungo Phakopsora pachyrhizi na entressafra, é hoje uma das principais estratégias de manejo da ferrugem-asiática. Lavouras semeadas logo após o término do vazio sanitário tendem a ter a doença em estádios mais adiantados de desenvolvimento da cultura, mas iniciam a multiplicação do fungo, que se dissemina pelo vento, para áreas semeadas mais tarde. Os primeiros sintomas da ferrugem são discretos nas lavouras, sendo difícil para o produtor encontrar a doença no início. Para colaborar no monitoramento, as ocorrências de ferrugem na safra são inseridas
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no mapa do site do Consórcio Antiferrugem (www.consorcioantiferrugem.net), também disponível em aplicativos nas plataformas iOS e Android. O principal objetivo do mapa é informar as primeiras ocorrências para alertar o produtor sobre a chegada da doença. Como o fungo se dissemina facilmente pelo vento, com o alerta o produtor pode proteger sua lavoura, evitando perdas de produtividade. Além de ocorrências em lavouras comerciais, o mapa também mostra onde há a presença de plantas de soja voluntárias (soja guaxa) infectadas e, na safra atual, também foram disponibilizadas informações das armadilhas caça esporos, projeto em andamento da Emater, no Paraná. Na safra 2017/18, houve atraso no início das chuvas e, consequentemente, atraso nas primeiras semeaduras. No entanto, de forma
semelhante às últimas safras, as primeiras ocorrências de ferrugem foram registradas no site a partir da segunda quinzena de novembro em São Paulo, no Paraná e no Rio Grande do Sul, em lavouras comerciais semeadas logo após o término do vazio sanitário, algumas irrigadas, e em áreas experimentais, utilizadas para o monitoramento do fungo (sentinelas). No Mato Grosso, maior estado produtor de soja, as primeiras ocorrências foram inseridas após a segunda quinzena de dezembro. Quase 70% das primeiras ocorrências registradas no site até a primeira quinzena de janeiro foram realizadas em lavouras após o início de formação de grãos, R5, o que caracteriza uma situação tranquila de manejo. Apesar de a ferrugem ser uma das doenças mais severas da cultura, seu potencial de dano diminui à medida que a incidência é tardia na lavoura. Essa incidência tardia nas primeiras semeaduras é uma das consequências da redução de inóculo proporcionada pelo vazio sanitário. As chuvas frequentes na região sul no final de dezembro e início de janeiro dificultaram as aplicações de fungicidas, ocasionando atrasos e aumento de intervalos entre as mesmas. Em algumas situações foram relatadas lavouras em enchimento de grãos com alta incidência de ferrugem no baixeiro, em razão do atraso nas aplicações pelo excesso de chuvas. Em áreas onde houve falha de pulverização, foi possível observar sua presença. Os problemas com
ferrugem tendem a se agravar em lavouras semeadas após novembro, se houver condição climática favorável ao desenvolvimento do fungo. Essas lavouras receberão esporos das primeiras áreas colhidas, que perdem residual de fungicida no final. Essas áreas semeadas mais tarde podem apresentar sintomas da doença mais cedo e, nessas situações, o potencial de dano da doença é maior. O número de fungicidas com eficiência satisfatória para o controle da ferrugem se reduziu bastante nos últimos anos com a resistência / menor sensibilidade do fungo aos três principais grupos de fungicidas com modo de ação sítio-específicos, os “triazóis” (fungicidas Inibidores da Desmetilação, IDM), as “estrobilurinas” (Inibidores da Quinona externa, IQe) e as “carboxamidas” (Inibidores da Succinato Desidrogenase, ISDH). O Mapa suspendeu em 2017 o registro dos fungicidas com baixa eficiência de controle da ferrugem e foram atualizadas todas as bulas. Apesar de criticada, a medida foi necessária, pois a bula do fungicida, assim como a bula de um remédio, deve conter informações cor-
retas sobre a sua utilização. Alguns produtos foram registrados quando a doença foi relatada no Brasil e as mutações que vêm se acumulando na população do fungo, que conferem menor sensibilidade aos fungicidas, evidenciam que temos uma situação diferente daquela do registro inicial dos fungicidas. Como os fungicidas são formulados em misturas com dois ou três modos de ação, é impossível para o produtor rotacionar modos de ação, mas mesmo assim ele deve rotacionar os fungicidas, pois embora a resistência seja cruzada dentro do mesmo modo de ação, as mutações do fungo afetam os ingredientes ativos de maneira diferente. A utilização de fungicidas multissítios (a base de cobre, mancozeb e clorotalonil) tem sido intensificada, principalmente para aumentar a eficiência dos fungicidas sítio-específicos. É difícil prever quais serão as mutações que estarão presentes no fungo na safra e nas regiões e, dessa forma, em função do alto potencial de dano da doença, depois de detectada na região, o produtor deve sempre procurar associar o fungicida multissítio nas aplicações para o controle da ferrugem.
Ocorrências de ferrugem-asiática relatadas no site do Consórcio Antiferrugem, até 22 de janeiro, na safra 2017/18.
Abortamento de vagens Claudia Vieira Godoy: O excesso de chuvas e dias nublados no final de dezembro e início de janeiro no Paraná ocasionou, em algumas lavouras, um excesso de abortamento de vagens, atribuído inicialmente de forma equivocada à antracnose, causada por Colletotrichum truncatum. A antracnose causa o apodrecimento e a queda de vagens. As vagens em início de formação (R4 – R5.1), quando infectadas, adquirem coloração castanho-escura a negra, abortam a formação de grãos e ficam retorcidas. No entanto, no abortamento observado esse ano, houve queda de vagens sadias, sem infecção pelo fungo. Algumas vagens abortadas que
permaneciam aderidas apresentavam sinais do patógeno, mas como colonização secundária. Prof. Dr. Gil Miguel de Sousa Câmara, ESALQ/USP: O abortamento observado nessa safra é atribuído a uma resposta da planta ao estresse ambiental, causado pelo longo período chuvoso e nublado, que limitou a fotossíntese das plantas e a fixação de carbono para atender o metabolismo de crescimento reprodutivo da cultura, que apresenta uma alta demanda de nutrientes e energia nessa fase. Em solos mais argilosos e/ou ricos em matéria orgânica ocorreu maior
armazenamento de água, causando o encharcamento ou anaerobiose, limitando a respiração das células da raiz e a absorção de macro e micronutrientes e a translocação interna na planta. A atividade evapotranspiratória com a alta umidade relativa do ar é praticamente nula, reduzindo o movimento xilema/floema para atender as relações de fonte/dreno da parte aérea. Dessa forma, o abortamento excessivo de vagens, e em algumas situações até total, foi uma resposta da planta para ajustar a relação fonte/dreno. Esse abortamento ocorreu em diferentes cultivares e os danos variaram nas lavouras, sendo total em algumas.
fevereiro 2018 – Agro DBO | 23
Entrevista
A classificação malandra de grãos mata o produtor
O
gaúcho Antônio Galvan, no dia em que completou 60 anos em novembro 2017, foi eleito para a presidência da Aprosoja – Associação Produtores de Milho e Soja do Mato Grosso, encabeçando a chapa “Aprosoja Decidida”. Desde 1986 Galvan é produtor de soja e milho no Mato Grosso, 3.500 ha ao ano, nos municípios de Vera e Santa Carmem, emancipados de Sinop, norte do estado, mas
Agro DBO – Quais os maiores desafios da sua gestão na Aprosoja MT? Antônio Galvan – A chapa “Aprosoja Decidida”, para sua plataforma de gestão, tinha 4 pontos básicos: primeiro, alavancar o Fethab (Fundo Estadual de Transporte e Habitação), programa estadual para investir em logística e habitação, que estava quase paralisado. Em segundo, resolver a questão de royalties cobrados pela Monsanto na semente Intacta, fato que consideramos indevido. Terceiro ponto, a lei de cultivares, e o quarto item da plataforma incluía a questão a ser resolvida sobre a classificação 24 | Agro DBO – fevereiro 2018
reside em Sinop, maior cidade da região. Galvan, descendente de italianos, começou com o pai sua vida de agricultor em Sananduva (RS), onde nasceu, mas eram pequenos produtores. Hoje, acusa a classe dos cartorários de terem roubado o “i” final do seu nome italiano. Galvan deixou Sananduva (RS), onde nasceu e virou gremista fanático, e com pouco mais de 21 anos foi tentar a vida no Paraná, onde exerceu várias atividades, até porque tem formação de Contabilista. Mas as lides agrícolas abriram-lhe oportunidades para voltar ao setor, em 1986, quando migrou para o Mato Grosso, onde faz agricultura e política setorial até hoje. E passou a ser apenas gremista, sem fanatismos, enquanto presidia o Sindicato Rural de Sinop, em dois períodos, cidade com maioria de habitantes é de migrantes do Rio Grande do Sul e Paraná. Galvan conversou com o editor-executivo da Agro DBO, jornalista Richard Jakubaszko, e comentou sobre os desafios dele e da AprosojaMT para os próximos 3 anos, especialmente a classificação de grãos, porque esta prática “mata o produtor”.
de grãos, porque o produtor perde lucratividade ao ter de aceitar no ato da venda as normas técnicas, onde quem estabelece as regras são os compradores. Há outros pontos importantes a serem enfrentados pela atual diretoria, mas esses quatro são prioritários. Agro DBO – Com pouco mais de 1 mês na presidência já existem alguns resultados? Antônio Galvan – O INPI – Instituto Nacional de Propriedade Industrial deu parecer favorável ao nosso pleito de anular a patente. Por enquanto não muda nada, falta a Justiça decidir. Mas o parecer do
INPI, que é o órgão competente, e que deu a patente, e agora recomenda a retirada, acredito que não vamos ter problemas com a Justiça. Esse pedido foi protocolado às vésperas da eleição. Já sabemos que a Monsanto vai recorrer, eles soltaram um comunicado esta semana, e então vamos discutir isso judicialmente, cada um com seus argumentos. Agro DBO – E a Lei dos Cultivares? Antônio Galvan – Está tramitando no Congresso Federal, e estamos acompanhando, pode entrar para votação em plenário dentro em breve.
Agro DBO – E a classificação dos grãos? Antônio Galvan – Isso tem sido um pesadelo para o produtor do MT e também de outros estados. Temos audiência marcada com o ministro Blairo Maggi para avaliar essa questão. Tem uma indústria da propina por detrás disso. Os compradores classificam os grãos com regras que eles próprios estabeleceram, e que nunca são favoráveis aos produtores. Há uma confusão enorme sobre o que seja grão avariado, e isso acarreta uma perda elevada na lucratividade dos produtores, seja por grãos quebrados, umidade, avariados, e há uma IN – Instrução Normativa, a de nº 11, que fala dos grãos, mas não estabelece nenhum padrão. Temos de mudar essa nomenclatura, porque o produtor está sendo achacado. Com isso, o produtor está sempre no perigo de ter enormes descontos, principalmente no tal do grão mofado. Na verdade essa soja classificada como mofada, com avarias pelo excesso de chuvas, é totalmente aproveitada pelas indústrias para fazer a proteína e o óleo degomado. A gente entende que o grão sofreu avarias, mas isso não é que ele não tenha componentes iguais ao de um grão normal. Nós temos estudos feitos pela Universidade Federal do Mato Grosso, e estudos feitos também no Rio Grande do Sul, que comprovam que os grãos são iguais, então o produtor não pode ser penalizado por isso. A gente entende que um grão com avarias mais sérias pode produzir um óleo com maior grau de acidez, mas isso tem como ser corrigido, e não há necessidade de jogar esse problema nas costas do produtor. Agro DBO – Quanto o produtor perde nessas avaliações de avarias? Antônio Galvan – Depende das condições de chuvas, se chove muito perto da colheita os grãos avariam, e depende se fica um grão “ardido”, como se fala. Depende muito, de região para região, mas tem casos de perdas de até 90% no peso. O que se
deve saber é que o grão perde peso, mas não perde o óleo e nem a proteína. Na Argentina, mesmo um grão com 100% de avaria o produtor recebe 50% do valor de mercado. Agro DBO – E o Fethab, a logística, como está? Antônio Galvan – Os investimentos do estado do Mato Grosso na Fethab estavam quase paralisados, houve desvio de finalidade na aplicação das verbas, e reduziram os investimentos na construção e manutenção das estradas, construção de pontes etc. Agora, em acordo com o governador do estado há a promessa de recolocar as finanças do Fethab em ordem. No ano passado a promessa não foi cumprida, mas parece
que agora neste ano vai se colocar a vida em dia novamente, o governo do estado vai cumprir o que está na Lei, que é estadual. Agro DBO – E o modismo da agricultura sustentável, como está no Mato Grosso? Antônio Galvan – Nós produtores não podemos ficar fora disso. Fizemos um evento em Mineiros (GO), na semana passada, que denominamos de Agricultura Sustentável. Tem muita gente mudando o sistema de produção, principalmente na questão dos defensivos agrícolas, e já temos uma substituição gradativa dos químicos pelos defensivos biológicos. E também dos fertilizantes químicos e minerais por fertilizantes naturais, porque isso está começando
a dar certo e então a gente tem que olhar com mais atenção para essa agricultura sustentável, com menor custo. Porque os custos dos insumos, como agroquímicos, fertilizantes, sementes, combustível, estão começando a inviabilizar o produtor. Só o aumento do diesel nestes últimos meses foi um absurdo, e tudo aumenta com a elevação do diesel, especialmente o transporte. Esses custos deixam o produtor aleijado, enquanto que a classificação malandra de grãos, como já expliquei, mata o produtor. Agro DBO – E a revogação da Lei Kandir que está tramitando no Senado, como a Aprosoja avalia? Antônio Galvan – Só faltava mais
essa, cobrar ICMS na exportação. Isso é um problema da mineração, é problema do estado do Pará, e não pode ser incluída a agricultura de exportação nessa conta. O nosso setor não conseguiria suportar isso. Se acontecer uma desgraça dessas, pode anotar, vamos ter problemas muito sérios no país, porque mais de 60% da produção de soja é para exportação (Nota da redação: leia o Ponto de Vista, nesta edição, páginas 6 e 7). Agro DBO – A problemática, nesse caso, é que outros estados exportadores também estão quebrados, e precisam aumentar a arrecadação. Antônio Galvan – Se fizerem isso vão quebrar setores de produção, fevereiro 2018 – Agro DBO | 25
Entrevista Na armazenagem, muita gente optou pelos silos bag para soja e milho; é uma solução eficiente, que muitos usam. como a agricultura, que está produzindo riquezas e gerando emprego. Se exaurir a agricultura entramos no caos. Dai quebram a economia, para depois querer ressuscitar? O que tem de fazer hoje é mudar a estabilidade do funcionalismo público. Nas empresas estatais o orçamento delas é praticamente integral para pagar salários e benefícios de empregados. A própria Embrapa é um exemplo disso, mais de 95% do orçamento é custeio de despesas, e apenas 5% vão para pesquisas. Tem de reduzir essas despesas, e precisa cortar na carne, não pode aumentar ou criar imposto toda vez que tem um problema de orçamento. Não tem lógica gastar mais de 90% do orçamento com folha de pagamentos de salários, não sobra nada para investimento e pesquisas. Para que ela existe, então? Se não reestruturar não tem solução, porque ela não cumpre a função para a qual foi criada, que são as pesquisas.
Antônio Galvan – Ainda é bastante deficitária se olharmos as necessidades. Houve avanços, é claro, já temos algumas estradas razoáveis, melhores do que eram, mas temos muitas estradas que deixam a desejar. O estado do MT é muito grande, mas precisam-se fazer os investimentos de infraestrutura, essa é uma das nossas lutas, desde que a Aprosoja começou. Na área estadual estamos com as promessas, conforme comentamos, mas na área federal, a BR 163 deveria estar pronta, pelo cronograma, desde 2013, mas estamos em 2018 e ainda faltam mais de 100 km para serem pavimentados, e não será finalizada este ano. A Odebrecht é a responsável por esse trecho, como não liberaram mais verbas para eles, as obras foram paralisadas. Os pedágios existentes não conseguem, por outro lado, arrecadar verba suficiente para fazer a duplicação em alguns pontos mais críticos.
Agro DBO – E a logística do Mato Grosso para escoar a safra, como está?
Agro DBO – E a capacidade de armazenagem do Mato Grosso, como está?
26 | Agro DBO – fevereiro 2018
Antônio Galvan – Estamos com 50% de espaço para armazenar estaticamente, em relação à produção. Ainda bem que há muitos caminhões, e a gente vai estocando nas carrocerias deles. A gente tem usado muito os silos bag, para soja e milho, é uma solução paliativa que muita gente usa, e é eficiente. O que não cabe neles fica a céu aberto, rezando pra não chover. Agro DBO – Esta safra vai ser boa? Mesmo sem recordes de produção? Antônio Galvan – Olha, é cedo para afirmar qualquer coisa. Tem gente relatando que está colhendo melhor que a safra anterior, mas tem gente que revela perdas de produtividade bastante grande, por causa do atraso do plantio, irregularidade das chuvas. Na safra anterior, em fins de janeiro, 100% do pessoal estava colhendo, este ano tem muita gente ainda se preparando para começar a colher, vamos virar fevereiro para poder dizer que 100% do pessoal está colhendo. Mas estamos com otimismo, apesar dos trancos climáticos, e não teremos novos recordes.
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Almanaque
Melaço de cana Algumas práticas simples, e caseiras, podem nos proporcionar resultados de notáveis proporções nos problemas nas lavouras. Hélio Casale *
A
indústria açucareira do Brasil está em franca expansão em várias regiões do país, se mostrando das mais eficientes do mundo. O produto principal é o açúcar (cristal, refinado, mascavo) comercializado no mercado interno e exportado. Sobram vários resíduos, sendo o melaço um dos mais importantes, pela sua riqueza em proteínas, sacarose, glicose, frutose e minerais os mais diversos, conforme se poderá apreciar na composição. No mercado é encontrado em
trole de ácaros, e de pequenos insetos, principalmente os voadores. Andando por plantação de mamão no norte do Espírito Santo, chamou a atenção o excelente controle dos ácaros do ponteiro dos mamoeiros, uma praga de difícil controle por estar bem abrigada e em local de difícil acesso. Quem me acompanhava viu minha surpresa e me perguntou: Dr. o senhor já viu aranha andar em goma arábica? Não precisou falar mais nada. Aceitei e comecei a praticar. Normalmente, a dose a ser empregada varia com a cultura, de 2
Já viu aranha andar em goma arábica? Não precisou falar mais nada. Comecei a praticar
O autor é engenheiro agrônomo, cafeicultor, consultor e membro do Conselho Editorial da Agro DBO.
embalagens, as mais diversas. O prazo de validade é de 24 meses, desde que não seja misturado a outros produtos e mantido em embalagem fechada em local seco. É empregado na alimentação animal, na indústria alimentícia, na indústria farmacêutica e na agricultura, sendo incipiente seu emprego nessa última área. O melaço atua como fornecedor de nutrientes, como antitranspirante, e também como adesivo natural. Quando aplicado, as plantas reduzem momentaneamente seu metabolismo e passam quase incólumes por períodos de seca, sem sofrer estresse muito forte, de maneira que a produção é pouco afetada. Na agricultura de plantas semi-perenes e perenes, vem sendo aplicado, visando a redução do estresse em tempos de seca, no con-
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a 5 kg para cada 100 litros de água de boa qualidade. Por ter pH ao redor de 5,5 pode ser misturado com a grande maioria dos defensivos. Duas a três aplicações por ano proporcionam excelentes resultados na grande prática. Controle do oídio Oídio é doença de fungo, que pode danificar até 100% da produção, sendo encontrado em diversas
culturas, como abobrinha, pimentão, tomate, feijão, soja, abacate, caju, trigo, roseiras. Pesquisadores da Embrapa Meio Ambiente descobriram uma maneira ecológica, prática, eficaz e barata para controlar o oídio: o leite. Além de não contaminar o solo, os cultivos, e ser seguro para os trabalhadores que fazem a aplicação, o uso do leite no controle do oídio leva a substancial redução nos custos de produção. O leite deve ser misturado com água em concentração que varia de 5% a 10%, dependendo da intensidade da infestação e aplicado semanalmente, desde o inicio do surgimento do fungo na plantação. Provérbios “Aquele que pergunta é um tonto por cinco minutos, mas o que não pergunta é um tonto para sempre”. (Provérbio chinês) “Adão comeu a maçã, e ainda nos doem os dentes”. (Provérbio húngaro). “A primeira vez que me enganas, a culpa será tua. A segunda, a culpa será minha”. (Provérbio árabe).
Vejam a composição e outras informações, em análise no Laboratório do CTC: Densidade: 1,4 kg
Dextrana: < 10 mg/kg
Sulfito: 0 mg/kg
Brix refratômetro: 20°C – 82 %
Pureza: 48,19 %
Cobre: 3,8 mg/kg
pH: 5,7
Amido: 1.729 mg/kg
Cobalto: 3,1 mg/kg
Sacarose: 39,4 % m/m
Fósforo Total: 1,14 mg/l Ferro: 64 mg/kg
Proteína: 1,8 %
Potássio: 25.470 mg/kg Manganês: 27,1 mg/kg
Umidade: 18,4 %
Cálcio: 121.156 g/kg
Glucose: 5,3% m/m
Magnésio: 4.270 mg/kg Zinco: 6,3 mg/kg
Frutose: 7,66 % m/m
Selênio: < 0,05 mg/kg
Fitossanidade
Agronegócio brasileiro, protagonista e sustentável. O controle de pragas exige um novo comportamento do agricultor, no planejamento e na ação, para sobreviver ao consumidor. Decio Luiz Gazzoni*
I
* O autor é engenheiro agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja e membro do Conselho Editorial da Agro DBO.
niciamos pelas premissas: 1. Inseticidas matam insetos. Abelhas são insetos. Logo, inseticidas matam abelhas. Alguns mais outros menos, e dependendo da dose e dos cuidados na aplicação. 2. Sem controlar pragas e sem polinização, cai a produção agrícola, os alimentos ficam mais caros, tornando mais difícil o acesso da população a eles. 3. O Brasil será o grande protagonista do comércio agrícola internacional, nas próximas décadas. Continuamos pela conclusão: portanto, nosso desafio será produzir mais e melhor, de forma sustentável, e, em especial protegendo os serviços ecossistêmicos, como a polinização efetuada pelas abelhas. E agora vamos à sustentação: regra de ouro para quem pretende ser protagonista no mercado internacional: não bastará produzir, será necessário fazê-lo com sustentabilidade. A preo-
30 | Agro DBO – fevereiro 2018
cupação com temas ambientais, sociais e de saúde pública constituirão o arcabouço onde se assentará o mercado, obviamente tendo sido atendidos os aspectos de preço compatível e qualidade exigida pelos consumidores. Focando em sustentabilidade ambiental, um dos aspectos a considerar é a preservação dos serviços ecossistêmicos. Cito dois exemplos icônicos, o controle biológico de pragas e a polinização, geralmente mediada por insetos, particularmente as abelhas. Os Programas de Manejo Integrado de Pragas (MIP) são delineados para atender triplos objetivos de a) proteger os cultivos contra pragas, evitando danos de impacto econômico; b) utilizar diferentes técnicas de controle de pragas; c) evitar danos ao ambiente – incluindo os serviços ecossistêmicos – e à saúde humana. Existem diversas técnicas de controle de pragas que em muito contribuem para a sustentabilidade de um sistema de produção, incluindo con-
trole cultural, uso de variedades resistentes, culturas armadilha ou isca, diversidade de cultivos, modificações de época de plantio, entre outras. Adicionalmente, podemos nos valer do serviço ecossistêmico de controle biológico, provido de forma gratuita pela natureza, ou utilizando agentes de controle biológico, comercializados por empresas especializadas. E existem os inseticidas, ferramenta poderosa, mas que precisa ser cercada de inúmeros cuidados no seu uso, para deles extrair os benefícios, evitando ou minimizando os impactos adversos. O período de floração em qualquer cultivo é extremamente crítico, pois as flores constituem um atrativo para abelhas polinizadoras à cata de mel e pólen para seu sustento, ou das suas colônias, em se tratando de abelhas de hábito social. Para a maioria dos cultivos, existe um benefício econômico derivado da polinização efetuada por abelhas, que é o aumento da produtividade. Nos cultivos que dependem fortemente da polinização entomófila, a presença de abelhas durante a floração é a diferença entre o agricultor ser viável ou ver fracassar o seu negócio. Portanto, nada mais óbvio do que introduzirmos em nossos sistemas de produção o conceito de proteção dos serviços ecossistêmicos, seja a conservação de solos, a produção de água, o controle biológico ou a polinização biótica – aquela realizada por seres vivos. Este não é um mero discurso romântico, de ativista ambien-
tal, mas uma consideração pragmática derivada da análise das exigências impostas no mercado internacional de produtos agrícolas, tanto de parte dos governos quanto da certificação dos agentes privados. Para minimizar o impacto negativo do controle de pragas sobre os polinizadores ou sobre os agentes de controle biológico, é necessário seguir, rigorosamente, as recomendações do MIP, que estão disponíveis para as principais culturas do agro brasileiro. O arcabouço conceitual do MIP é comum, exigindo conhecer os hábitos, a biologia, ecologia e os danos das pragas; monitorar constantemente as pragas na lavoura; controlar as pragas apenas quando absolutamente necessário para evitar um dano econômico; usar diferentes técnicas de controle de pragas, as quais devem ser harmônicas e integrativas; evitar ou reduzir a um mínimo aceitável qualquer impacto
negativo das técnicas de controle sobre o ambiente, os serviços ecossistêmicos e a saúde humana. Neste particular, atenção muito especial deve ser dedicada aos inseticidas. Seu uso deve obedecer integralmente as recomendações do MIP e aquelas contidas na bula do produto. Ademais, é muito importante a regulagem adequada dos equipa-
não atingir alvos não desejados fora dos limites da área de cultivo. Não custa lembrar que a aplicação de qualquer agrotóxico além dos limites da lavoura, atingindo áreas de vegetação nativa, causa forte impacto negativo nos serviços ecossistêmicos, podendo ser considerado crime ambiental, como tal punível pela legislação.
Inseticidas matam insetos. Abelhas são insetos. Logo, inseticidas matam abelhas. mentos de pulverização, atentando para a vazão adequada e para as faixas ótimas de temperatura e de vento. Recomenda-se observar uma faixa tampão entre as bordas das lavouras e as áreas contíguas, que possam servir de abrigo e alimentação para polinizadores. Deve ser evitada, a todo o custo, a deriva nas aplicações, para
Seguindo essas regras simples, além de reduzir o custo de produção e, em muitos casos, aumentando a produtividade, melhoraremos o nosso currículo perante o mercado internacional, aperfeiçoando nossa condição de grande exportador mundial, lastreado em boas práticas agrícolas e em uma agricultura sustentável.
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Opinião
Bom pra pegar onda Em ano de eleições, muitos candidatos tentarão “surfar na onda” dos números e resultados positivos do agronegócio do país. Rogério Arioli Silva*
A
* O autor é engenheiro agrônomo e produtor rural em Mato Grosso
visão do mar é sempre reconfortante e desafiadora para quem vive longe dos seus domínios. Encontrar-se com ele – nas férias de verão, é um privilégio que deve ser desfrutado sempre que possível. Aqueles que o fazem com certa regularidade conhecem seus encantos e humores e na primeira olhadela já sabem se está bom ou não pra “pegar onda”, termo usado pelos amantes do surf, esporte no qual o Brasil vem se destacando nos últimos anos. Também na agropecuária o país ganha destaque a cada ano, consolidando-se como um grande celeiro mundial na produção de alimentos. Mesmo com as infundadas críticas que recebe de seus detratores ambientalistas, aqui e lá fora, produzir um volume de 240 milhões de toneladas utilizando menos de 8% do seu território é
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tarefa que nenhum outro país consegue realizar. Obter safras a cada ano mais abundantes preservando 65% do seu território intocado é o cartão de visitas exclusivo que pode abrir muitas portas para os produtos brasileiros. O ano de 2018 será um ano de eleições e, certamente, muitos candidatos tentarão “pegar onda” nos números e resultados do agronegócio do país. Assim como aquelas obras que são inauguradas eternamente, embora nunca sejam concluídas, o setor agropecuário serve muito às incursões demagógicas. Quem não gostaria, por exemplo, de divulgar um número superavitário de quase US$ 100 bilhões nos últimos doze meses? Quem abriria mão de mostrar a competitividade de um setor que cada vez mais abre mercados pelo mundo, com produtos de qualidade e altamente competitivos?
A redução do valor da cesta básica – que a cada ano tem menor impacto na renda do brasileiro – aparecerá na propaganda eleitoral como uma conquista de todos os partidos. Contudo, a maioria deles costuma esquecer que o produtor rural é o principal responsável por este resultado. A euforia do sucesso impede que se discuta a histórica transferência de renda do campo para a cidade, o que compromete investimentos de longo prazo. As análises econômicas sempre consideram a agricultura pelo lado do abastecimento, jamais com enfoque na produção e nas suas demandas, ou nos seus desastres climáticos. Enquanto o país amargava seu terceiro ano de brutal recessão, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) anunciava um incremento de 30,3% na safra brasileira, como se um milagre
houvesse acontecido, assim como o aparecimento do sol em meio à tempestade tropical. Ao mesmo tempo em que os números do desemprego não paravam de crescer, atingindo milhões de famílias brasileiras, o setor agropecuário foi o primeiro a reverter este quadro de desânimo, sendo responsável por mais da metade das contratações, segundo o Caged (Cadastro geral de Empregados e Desempregados). A locomotiva do agro carrega muitos vagões – geralmente com excesso de peso, além de impedir que o trem nacional descarrile o comboio definitivamente. Todavia, não é raro que oportunistas queiram atrelar mais e mais vagões na composição agropecuária, imaginando ser infinita sua capacidade de tração. Já estão ressurgindo propostas de aumento nos tributos sobre a produção nacional, inclusive no que se refere às exportações de
produtos primários, como se pudéssemos exportar impostos. Não bastasse o custo excessivo que se paga pela falta de logística, e os juros mais caros do planeta, além da histórica malversação de recursos públicos, ainda há quem proponha mais tributos ao setor. Insanidade que, se aprovada, poderá ferir de morte a capacidade de o país competir no mercado internacional,
que aquele divulgado apenas e tão somente com viés eleitoreiro que, finda a eleição, será esquecido. O eleitor precisa exercer com seriedade e dedicação seu direito de escolha, compreendendo a grandeza do mesmo, e com aguçada percepção para reconhecer diferenças sutis na mesmice dos discursos. É no momento desta escolha que se assume a responsabilidade
A locomotiva do agronegócio carrega muitos vagões, geralmente com excesso de peso. comprometendo inclusive o saldo da balança comercial. É preciso que haja coerência entre o discurso do candidato que se apresentar no próximo pleito e sua história de atuação na defesa de ideias e propostas. Torna-se necessária a análise de qual programa tem algum fundamento lógico do
pelos resultados produzidos em vez de transferir decisões importantes para o futuro do país. Se os candidatos quiserem “pegar onda” nos resultados do agro brasileiro, resta aos produtores que os façam rezar a cartilha certa, assumindo compromissos honestos que garantam a estabilidade do setor.
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VISÃO MACRO DA CANA-DE-AÇÚCAR Há 50 anos a Koppert Biological Systems trabalha em parceria com a natureza tornando a agricultura mais segura e produtiva. Com a aquisição da Bug Agentes Biológicos, reforça seu DNA na pesquisa e produção de macrobiológicos no Brasil.
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Política Agrícola
Reputação do agro brasileiro: o desafio nas exportações O consumidor internacional é exigente, quer qualidade e características únicas nos produtos que compra, e paga valor agregado. Pedro Abel Vieira1 e Elisio Contini2
T
ratamos de duas formas básicas de “reputação” para produtos do agronegócio: qualidade e diferencial. Qualidade compreende atributos de valor relacionados à saudabilidade (nutrição e saúde), sabor, conveniência, e, principalmente, ausência de contaminantes que comprometam a saúde dos consumidores. A diferenciação indica agregação de valor a um produto em relação a potenciais concorrentes, como denominação de origem e certificações. Um exemplo clássico é o espumante Champanhe, cujo valor de mercado é
muitos consumidores, devido às limitações da produção nacional em termos de quantidade e também qualidade e conceito. Reconhecem-se progressos realizados pela enologia nacional nos últimos anos, mas insuficientes para demonstrar atributos de qualidade e diferenciação. O foco deste artigo é a análise do conceito de reputação para as exportações e para a conquista de novos mercados externos. Reconhece-se que o Brasil diversificou a pauta de exportações em termos de número de produtos. Lá se vai o tempo em que as exportações
Há duas formas de boa “reputação” para produtos do agro: qualidade e diferencial.
Os autores são:* (1) Pesquisador na Secretaria de Inteligência e Macroestratégia da Embrapa, e (2) Chefe da Secretaria de Inteligência e Macroestratégia da Embrapa.
superior aos demais concorrentes. Se o produto, principalmente alimento, carece de “reputação”, o mercado tende a rejeitá-lo e/ou reduzir seu preço. Os produtos do agronegócio têm bom conceito no mercado interno, não só pelo preço, mas também pela qualidade. Um bom exemplo é a preferência de frutas nacionais frescas, em relação às importadas, destacando-se o caso da maçã. O consumidor brasileiro dá preferência pelas carnes nacionais, como a de frango e bovina, em relação às importadas. As importações atendem mais a nichos de mercado, a grupos de renda mais elevada. Um caso emblemático é a dos vinhos, em que os importados têm preferência de
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dependiam apenas de café, açúcar e cacau; hoje, a pauta é diversificada em termos de produtos e destinos, dando maior estabilidade à geração de divisas. Além do café e açúcar, o país é líder nas exportações de suco de laranja, soja, carnes de frango e bovina, e segundo lugar em milho e óleo de soja. As receitas obtidas baseiam-se em quantidades exportadas, em alguns casos abaixo dos preços de competidores importantes, como no caso da carne bovina. O Brasil construiu um pujante setor agrícola numa primeira fase voltado ao abastecimento interno e posteriormente também para as exportações. A farta disponibilidade de recursos naturais, como
solo, água e clima apropriados à produção vegetal e animal o capacitará para aproveitar oportunidades de negócios no suprimento de necessidades de abastecimento a países de crescimento populacional e de renda no futuro, como China e Índia. Aliás, o crescimento da produção interna só será exitoso na demanda externa, como provam as exportações de inúmeros produtos importantes, destacando-se a soja, o milho e as carnes. Sem demanda externa, a produção recuará e, num primeiro ajuste, os preços se reduzem a valores bem inferiores aos custos de produção. Um desastre para a agricultura e o agronegócio brasileiro. Para dar um exemplo de produto ainda não integrado ao comércio internacional, estudo recente da Embrapa sobre o leite mostrou que o aumento de 1% na produção, sem possibilidade de exportação, acarreta uma redução de 5% nos preços internos, porque há oferta maior. A recente redução nos preços do leite ao produtor comprova esta tese. A primeira ação para a construção de reputação (positiva) dos produtos agrícolas do Brasil é neutralizar as percepções negativas no exterior. Duas dessas percepções são disseminadas em muitas partes do globo: a questão ambiental, com forte apelo contra o desmatamento, principalmente na Amazônia; e a questão social, consubstanciada na ideia que a agricultura brasileira utiliza ain-
da trabalho escravo. Verdades ou meias-verdades, estas questões podem afetar tanto as quantidades exportadas como o valor dos produtos. A barreira ambiental já vem sendo enfrentada com maestria pelo setor agrícola do Brasil. O Código Florestal Brasileiro garante que o setor privado preserve, no mínimo, 20% dos biomas naturais. Além dessa questão inédita no mundo, há sistemas agrícolas integrados, uso de microrganismos em substituição a produtos químicos, plantio direto etc., possibilitaram nos últimos 10 anos que a pecuária do Brasil reduzisse a emissão de Gases do Efeito Estufa (GEE) por t de carne produzida a uma taxa de 4,5% ao ano. A Figura 1 demonstra que enquanto a produção de carne cresceu, passou de 2,83 milhões de t em 1990 para 7,49 em 2015, ou seja, aumentou cerca de 2,7 vezes, a emissão de GEE pela agropecuária e decorrente da fermentação entérica dos bovinos aumentaram 47,9% e 38,8%, respectivamente (Vieira Filho et al, 2017). Na questão ambiental, a agricultura do Brasil tem posição confortável em relação à realidade de países como EUA, Argentina e Canadá. A despeito de alguns problemas, como o desmatamento, o Brasil dispõe de tecnologias, sistemas de produção, políticas públicas e instituições que garantem a sua boa reputação ambiental. Não por acaso, a participação do Brasil na Conferência das Partes para Mudança do Clima (COP 23) realizada durante o mês de novembro de 2018 na Alemanha, atraiu a atenção dos participantes. Outra barreira que competidores alegam contra os produtos do agronegócio brasileiro está no campo social, em especial na suposta existência de trabalho escravo. Notícias localizadas de fatos isolados com divulgação espalhafatosa pelos meios de comunica-
Produção de carne X emissão de GEE 0,80 0,60 0,40 0,20 0,00 -0,20 -0,40 -0,60
1990
1995
Produtividade pecuária
2000
2005
Emissões da agropecuária
2010
2014
Fermentação entérica
Valores normalizados e equalizados da produtividade e das emissões da pecuária bovina brasileira entre 1990 e 2014
ção têm contribuído para aumentar essa percepção junto a grupos formadores de opinião nos países desenvolvidos. Não há como negar a ocorrência de alguns problemas pontuais nas relações de trabalho no meio rural, em face das dimensões do país e das dificuldades de fiscalização por parte de órgãos competentes. Por outro lado, é inegável que o Brasil dispõe de legislação trabalhista moderna e instituições suficientemente sólidas para gerar um ambiente trabalhista seguro e invejável quando comparado aos seus principais concorrentes agrícolas. No campo do comércio internacional, a prioridade de órgãos do governo federal e da iniciativa privada deve ser focada na construção de reputação (positiva) dos produtos do agro brasileiro. A prática do comércio internacional ensina que a boa imagem dos produtos agrega valor. Naturalmente, não é uma dádiva, mas uma construção de longo prazo, envolvendo etapas e ações de inúmeras instituições, iniciando pela produção de dados e informações que suportem as discussões e campanhas de comunicação. As negociações internacionais embasadas em estudos e fatos constituem-se em poderoso instrumento
para a construção dessa imagem positiva. Lamentavelmente, alguns esforços de acordos multilaterais, a exemplo da Rodada do Uruguai, fracassaram. O Brasil ficou à margem dos grandes acordos regionais, amarrado pelo inoperante Mercosul. Espera-se que os novos governos na região dinamizem os acordos em negociação, como o da União Europeia. Mas nem tudo está perdido. Há possibilidade de acordos bilaterais, como ação de governo, para facilitar e dinamizar as exportações, principalmente de alimentos. O Ministério da Agricultura está atento ao que vem ocorrendo, realizando missões com o objetivo de não perder mercados conquistados e abrir novos. Cabe ao setor privado atenção especial à qualidade dos produtos exportados e, num estágio posterior, lutar também para agregar valor via diferenciação: frutas e frangos brasileiros valem mais! O desafio está posto: construir reputação, via qualidade e diferenciais, para os produtos do agro brasileiro. Depois, quando se conquistar isso, virá a fase de fiscalização dos próprios produtores de seus pares, para manter a qualidade e diferenciais do que é produzido. fevereiro 2018 – Agro DBO | 35
Agroinformática
Inteligência Artificial no agro Vivemos em um mundo de constantes mudanças tecnológicas, mas agora elas acontecem cada vez mais rápidas, e mais precisas. Manfred Schmid *
D
*O autor é engenheiro agrônomo e diretor da Agrotis Agroinformática.
entre as inovações trazidas pela informática, a que mais assusta e empolga é o uso da inteligência artificial. Os primeiros sistemas informatizados para o agronegócio surgiram nas décadas de 80 e 90. Seu foco principal, até pelas limitações da tecnologia disponível naquela época, eram atividades repetitivas e de cálculo, como a contabilidade. De lá foram para outros setores administrativos, financeiros e fiscais das empresas, constituindo os ERPs (sigla em inglês para Enterprise Resource Planning). Nesta primeira rodada de informatização, os sistemas procuravam responder a pergunta gerencial “O que aconteceu?”. Era marcante o grande volume de trabalho para alimentar os sistemas com a informação. Na sequência, os softwares gerenciais começaram a utilizar a informação para determinar a relação “causa x efeito” nas empresas. Estas ferramentas foram chamadas de Business Inteligence, ou simplesmente BI. Os sistemas de BI procuravam responder a pergunta gerencial “Por que aconteceu?”. Seguindo o processo evolutivo
36 | Agro DBO – fevereiro 2018
da informática, utilizando sensores e robotização, criou-se a Internet das Coisas (IoT), e diversos equipamentos do dia a dia passaram a coletar eletronicamente dados, muito além daqueles que antigamente precisavam ser digitados. Surgiram novas formas de armazenar e disponibilizar a informação, inclusive na nuvem, em modernos bancos de dados. A capacidade de processamento dos computadores servidores aumentou, sendo que hoje temos um volume de informação centena de vezes superior, que pode ser rapidamente analisado. É a era do BigData. Com ferramentas estatísticas e de Datamining, passou-se a descobrir correlações além das observadas pela sensibilidade e lógica humana. Estas novas tecnologias permitiram que os sistemas de informática dessem um salto de qualidade e funcionalidade, entrando no que chamamos de Inteligência Artificial e sistemas Analytics. A informática sai do operacional e do gerencial, para entrar também no estratégico. Se antes substituía o homem em atividades repetitivas, agora pode também raciocinar e tomar deci-
sões. Pare e pense no impacto disso. As funções de um sistema Analytics são agrupadas em 3 etapas: as Análises Preditivas, que estudam as informações armazenadas para responder à pergunta (substituindo o raciocínio humano) “O que acontecerá?”. Já as Análises Prescritivas procuram responder “Quais são as ações otimizadoras?”: é aquele tipo de raciocínio utilizado para jogar xadrez, privilégio de poucos. E a terceira, a Análise Cognitiva, utiliza padrões de correlação não percebidos pela maioria dos cérebros humanos, para responder a pergunta “Quais as implicações possíveis destas ações?”. Existem, mundialmente, vários projetos utilizando grandes volumes de dados, e vários supercomputadores processando essas informações. São ferramentas com serviços disponíveis para serem contratados por outras empresas. Os projetos mais notórios são o Watson, da IBM e o Leonardo, da SAP. E esta tecnologia está desembarcando no agronegócio e promete revolucionar muito. E a agricultura brasileira, com sua tecnologia e sua relevância na produção mundial de alimentos, é um dos alvos desta tecnologia. Neste sentido, criamos no final de 2017 um grupo para estudar a utilização do Watson na agricultura. Participam inicialmente deste projeto representantes da Embrapa Soja, do Iapar, da FAPA, da UFPR (curso Agronomia), da CWR Pesquisa, da Fortgreen, da ABPSAP, além da Agrotis e da IBM. Certamente deste grupo de eminências produzir-se-ão interessantes aplicações de AgroAnalytics. Alta tecnologia, inteligência artificial e cooperação: é o futuro Agrodigital.
Realizadores
Promoção & Organização
Sustentabilidade
Compare: ocupação e uso das terras no Brasil e nos EUA A verdade é que o Brasil tem sido acusado injustamente de ser um país onde se faz práticas criminais contra o meio ambiente. Evaristo E. de Miranda *
E
Áreas dedicadas à preservação da vegetação nativa nos imóveis rurais, áreas de vegetação nativa protegida em unidades de conservação e em terras indígenas, áreas militares e áreas não cadastradas.
* o autor é doutor em ecologia, engenheiro agrônomo, chefe geral da Embrapa Territorial e membro do Conselho Editorial da Agro DBO
38 | Agro DBO – fevereiro 2018
Figura 1. Total de áreas protegidas, preservadas e conservadas de vegetação nativa (66,3% do Brasil e 563.736.030 ha)
Figura 2. Área destinada à proteção e à preservação da vegetação nativa no Brasil corresponde à área territorial de toda a União Europeia mais 3,6 Noruegas.
m 2017, a Embrapa Territorial, num trabalho minucioso, mapeou e estimou as áreas dedicadas à proteção, à preservação e à conservação da vegetação nativa no Brasil e chegou a um total de 563.736.030 ha ou 66,3% do Brasil (Fig. 1). O mundo rural brasileiro é na prática uma sucessão de ilhas e arquipélagos de cultivos e pastagens num imenso oceano de formações vegetais nativas, em diferentes estados de proteção, preservação e conservação. No Brasil, ao contrário do que ocorre na maioria dos países, não é a zona rural que contém manchas de florestas e de vegetação nativa. É a imensa e diversificada área de vegetação nativa quem contém as atividades rurais. A dimensão geográfica dos 563.736.030 ha ou dos 5.637.360
Vegetação destinada à preservação nos imóveis rurais
30,2%
Unidades de conservação
13,1%
Terras indígenas
13,8%
21,2%
Pastagens
66,3%
18,9%
Vegetação nativa em terras Lavouras devolutas e não cadatradas
7,8%
1,2%
Florestas plantadas
13,8%
Terras indígenas
Áreas destinadas à proteção e preservação da vegetação Nativa
uso agropecuário
20,5%
Fontes: SFB; SICAR, embrapa; ibge; mma; funai; dnit; ana; mpog
Nos EUA, as áreas protegidas incluem desertos e regiões geladas, inclusive o Alasca. Atribuição, uso e ocupação das terras nos EUA
74,3%
29,0%
27,9%
Pastagens
Florestas plantadas e exploradas
17,4%
Lavouras
de 2,3% Unidades conservação Terras indígenas 8,9%
5,8% 8,7%
Cidades Vegetação infra e nativa em outros terras não agricultáveis
19,9%
Áreas destinadas à proteção e preservação da vegetação Nativa
Uma comparação com os EUA A Embrapa Territorial elaborou recentemente uma comparação entre o uso e ocupação das terras, com ênfase na manutenção da vegetação nativa, entre o Brasil e os Estados Unidos. Para essa comparação, em bases relativamente homogêneas, buscou-se compatibilizar, até onde foi possível, as categorias de uso e ocupação empregadas pelos órgãos responsáveis por tais estudos, nos dois países. A situação da atribuição, uso e ocupação das terras nos dois países é muito diferente, por razões históricas, sociais e econômicas. No uso das terras, a fatia dedicada no Brasil (Fig. 3) às diversas formas de uso é sempre inferior à dos EUA (Fig. 4). Aqui no Brasil, o total das frações dedicadas aos diversos usos agropecuários das terras é de 30,2% do território nacional, enquanto, nos EUA, o total de terras exploradas é de 74,3%. Quanto às áreas dedicadas à proteção e à preservação da vegetação nativa, a fração no Brasil é sempre muito superior à dos EUA, em que pese a tradição conserva-
Atribuição, uso e ocupação das terras no Brasil
uso agropecuário
km² destinados hoje no Brasil à proteção, à preservação e à conservação da vegetação nativa representa uma área maior do que a superfície total dos 28 países da União Europeia. E ainda caberia um adicional de 3,6 Noruegas nesse total (Fig. 2). Cabe repetir: a área total, devidamente mapeada, destinada pelo Brasil à proteção, à preservação e à conservação da vegetação nativa é maior que todo o território ocupado pelos 28 países da União Europeia. O Brasil é e será cada vez mais reconhecido como uma potência agrícola e ambiental. Toda a produção de grãos (milho, arroz, soja, feijão, sorgo e café), de frutas (laranja, uva, manga, goiaba, banana), de fibras (algodão, celulose) e de agroenergia (cana-de-açúcar, florestas energéticas) ocupa 9% do país, sendo 1,2% com florestas plantadas (eucalipto e pinus) e 7,8% com lavouras.
Fontes: USDA, Economic Research Service using data from the Major Land Use data
cionista daquele país em algumas dimensões desse tema. No total, os EUA dedicam 19,9% de seu território à preservação, à proteção e à conservação da vegetação nativa – incluindo o Alasca. O Brasil dedica 66,3%. Há uma questão qualitativa na com-
paração das áreas protegidas. Ela também é muito diferente nos dois países. Nos EUA, as áreas protegidas incluem muitos desertos e regiões geladas e, no Brasil, mais florestas e áreas com grande potencial produtivo. São verdes e verdades incomparáveis. fevereiro 2018 – Agro DBO | 39
Clima
Chuvas retornam e tendência é de boa safra em 2018 As condições climáticas da safra de verão nos deram alguns sustos, mas prevalecem previsões de clima regular típico do verão. Marco Antônio dos Santos *
15N
Previsão de anomalia de acumulado de chuvas para América do Sul para o trimestre fevereiro/ março/abril de 2018, segundo o modelo americano CFSv2.
EQ 15S 30S 45S 60S 90W
75W
60W
45W
30W
-10 -6 -4 -2 -1 -0,5 -0,25 0,25 0,5 1 2 4 6 10
A
* o autor é engenheiro agrônomo e agrometeorologista da Rural Clima.
pós um janeiro bastante conturbado em relação ao clima, o mês de fevereiro vem se mostrando com chuvas dentro da normalidade em todas as principais regiões produtoras não só do Brasil, como em toda a América do Sul. Isso porque, como havíamos comentado nas edições anteriores, as temperaturas das águas do Oceano Pacífico, gradativamente, estão se aquecendo e, com isso, o efeito La Niña já não existe mais. Assim, os mapas de previsão sinalizam que não só este mês de fevereiro, mas todo este trimestre – fevereiro/março/abril, será marcado por chuvas regulares e em bons volumes em todo o país. Entretanto, vale ressaltar que o excesso de dias chuvosos entre os meses de dezembro e janeiro no Paraná, partes do Mato Grosso do Sul e no Paraguai causaram perdas irreversíveis e significativas ao potencial
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produtivo das lavouras de soja. Afetam assim, a produção final e, sobretudo, a qualidade dos grãos. O mês de janeiro também foi marcado por muitos boatos sobre possíveis quebras na produção de grãos na Argentina, já que durante o mês houve registros apenas de pancadas de chuvas irregulares e de baixa intensidade. Entretanto, com o retorno das chuvas agora em fevereiro, que é o mês crítico da produção argentina, uma vez que as lavouras estão em fase de florescimento e enchimento de grãos, a previsão é de chuvas regulares e em bons volumes, possibilitando boas perspectivas de produção. O mesmo deve ocorrer no Uruguai e na metade sul do Rio Grande do Sul, onde os primeiros 20 dias de janeiro foram marcados por tempo mais firme e chuvas apenas isoladas e de baixa intensidade. Já no Centro-Oeste e Sudeste, a previsão para os próximos 90 dias é de chuvas e temperaturas dentro da média. Não estão mais previstas novas ocorrências de longos períodos de invernadas – como ocorreu na primeira quinzena de janeiro e tampouco longos períodos de veranico, como na segunda quinzena. A previsão é de chuvas regulares e em bons volumes ao longo de todo esse período, possibilitando que as condições se mantenham muito favoráveis tanto ao desenvolvimento das lavouras quanto à realização dos tratos culturais, como pulverizações, colheita e plantio. Outro fator
que vem chamando muito a atenção nesta safra é a alta incidência de doenças. Mesmo com alguns períodos de estiagem, o número de focos de doenças vem se elevando dia após dia, obrigando os produtores a terem que intervir mais vezes em suas lavouras. E com um clima mais dentro da neutralidade, a tendência é que as condições meteorológicas continuem favoráveis à proliferação de doenças. Para o Nordeste, teremos que, para melhor entendimento, dividi-lo em duas grandes regiões. Primeiro, na região denominada Matopiba, e ainda o Pará, e, em segundo, no interior do Nordeste, a região denominada de sertão e agreste. No Matopiba+PA a tendência é que as chuvas continuem regulares e em bons volumes ao longo deste mês de fevereiro, e também entre os meses de março e abril, possibilitando excelentes condições ao desenvolvimento das lavouras. Já para a segunda região, no agreste, as chuvas até ocorrerão, entretanto, com o enfraquecimento da “La Niña”, os volumes esperados não serão altos o suficiente para elevar os níveis dos reservatórios e rios. Apenas haverá condições razoáveis ao desenvolvimento das lavouras. Isso porque, as águas do Oceano Atlântico demorarão a se esquentar e com isso as chuvas não devem ocorrer na proporção de uma La Niña clássica, como muitos climatologistas estavam/estão anunciando. Infelizmente!
Bioestimulantes
Congresso Mundial mostra avanços nas tecnologias Diretor da Abisolo avalia as diferenças vistas no 3º Congresso Internacional de Bioestimulantes, realizado em 2017, nos EUA. Da redação da Agro DBO Agro DBO – Por que o interesse da Abisolo em participar desse evento? Anderson Nora Ribeiro – Foi uma oportunidade para conhecer e colaborar com o desenvolvimento dos bioestimulantes em todo mundo, tendo a perspectiva local. Aliás, este tipo tecnologia é chamado de biofertilizante na legislação brasileira. Participou também do congresso Marcelo Luís Marino Santos, porque somos Membros do Conselho Deliberativo da Abisolo. Os bioestimulante são tipos de produtos novos, com desenvolvimento grande acontecendo em vários mercados, mas ainda necessitam de maior volume de trabalhos científicos e regulatórios. O evento traz a oportunidade de colocar sob o mesmo teto pesquisadores, autoridades públicas, consultores, agri-
de empresas, e técnicos da área de pesquisa e prestadores de serviço.
res explicavam seus resultados de trabalhos científicos e técnicos. Por fim, a área do congresso, que contou com palestras de pesquisadores independentes, que estudam em
Bioestimulantes ainda necessitam de maior volume de trabalhos científicos e regulatórios cultores e técnicos envolvidos na questão a nível global. Agro DBO – Como foi o evento? Anderson Nora Ribeiro – Havia três áreas, ou setores. O de exposições, onde as empresas e entidades expunham em estandes sua experiência e soluções. Também a área de pôsteres de trabalhos científicos, recebidos de estudantes e pesquisadores de todo o mundo, na qual alguns dos próprios auto42 | Agro DBO – fevereiro 2018
profundidade as diferentes substâncias, representantes de órgãos reguladores, prestadores de serviços e os próprios fabricantes de bioestimulantes, que destacavam suas inovações e resultados. O evento contou com cerca de 1.200 congressistas, um público expressivo. Observamos uma participação grande de técnicos da América Latina, além dos EUA e Europa. O Brasil também foi bem representado, com participantes
Agro DBO – A denominação desse tipo de produto sempre gera controvérsia. No exterior, são tratados como bioestimulantes e aqui no Brasil como biofertilizantes. Você poderia explicar o que são os bioestimulantes? Anderson Nora Ribeiro – No exterior, a denominação de bioestimulantes engloba uma série de produtos, de origem e composição muito variada. O foco dessa nomenclatura está mais no efeito do que no tipo de produto ou forma de obtenção. Dessa forma, se contemplam substâncias orgânicas, micro-organismos, e até mesmo produtos sintéticos, como hormônios vegetais. Já no Brasil, algumas dessas tecnologias estão classificadas em outras categorias, como os micro-organismos, ou as “bactérias do bem”, que são registrados como inoculantes ou biodefensivos. Já os produtos sintéticos, como hormônios vegetais, são classificados como reguladores de crescimento na legislação de agroquímicos, e não na de fertilizantes. Resumindo, aqui no Brasil, os biofertilizantes englobam somente produtos de origem orgânica, que promovam efeitos fisiológicos positivos nas plantas, não sendo permitidos micro-organismos vivos ou produtos hormonais. Esta é uma diferença importante entre o que
vimos no evento e sobre a classificação brasileira. Agro DBO – Podemos dizer que o Brasil está avançado no regulatório? Anderson Nora Ribeiro – Cada país tem autonomia para definir suas regras, mas também achamos interessante que haja certo alinhamento e entendimento entre os mercados. O Brasil tem uma regulamentação avançada, já temos classes de produtos estabelecidas. Um exemplo interessante é o das bactérias do gênero Azospirillum, que foram muito mencionadas no evento. São promotoras de crescimento e fixadoras de nitrogênio, para os quais já existem produtos registrados aqui no Brasil, desde 2009. Ou seja, já é mercado real, com várias empresas atuando e com benefícios sendo gerados para os agricultores, enquanto que lá fora ainda há muita discussão de onde e como registrar os mesmos. Nossas maiores limitações estão na introdução de produtos de novas tecnologias, que são geralmente burocráticas e demoradas. Um exemplo são os biofertilizantes, classe que inclui aminoácidos, substâncias húmicas, extratos de plantas etc. Eles não têm ainda uma regulamentação clara quanto ao registro e este é um ponto que a Abisolo tem trabalhado bastante. Ter registro como biofertilizante permitiria uma comunicação mais clara dos efeitos ativadores na fi-
siologia das plantas, inclusive metabólicos, e não somente de efeitos associados aos nutrientes que os produtos contêm. Agro DBO – E quais foram as novidades apresentadas? Anderson Nora Ribeiro – É interessante o nível tecnológico das pesquisas, que é muito elevado. O foco tem sido explicar como essas substâncias atuam nas plantas, com análises bioquímicas e de expressão gênica, mostrando a ação no metabolismo. Ou seja, já não estão mais falando se são benéficos ou não, isso já é um consenso, a preocupação agora é a de fundamentar bem cada mecanismo de ação ativado nas plantas. Agro DBO – E aqui no Brasil, como está a pesquisa nessa área? Anderson Nora Ribeiro – Ela tem crescido nos últimos anos. Hoje temos nomes bastante re-
conhecidos, com publicações de artigos científicos inclusive em revistas internacionais. Podemos dizer que as pesquisas com biofertilizantes têm se desenvolvido bem no ramo acadêmico aqui no Brasil. A Abisolo, em seu Fórum de 2017, trouxe vários desses pesquisadores brasileiros, que deixaram clara a preocupação em dar suporte para que esses produtos sejam mais bem posicionados no campo, gerando benefícios para os agricultores.
Pesquisadores, durante o 3º Congresso Internacional de Bioestimulantes.
Agro DBO – Existe a possibilidade de termos esse tipo de evento no Brasil? Anderson Nora Ribeiro – Temos mantido um bom contato com os organizadores de eventos como esse e esperamos que sim, que futuramente isso seja possível. A próxima edição já está confirmada para ocorrer em 2019, na China, mas quem sabe em 2021 poderemos organizá-lo no Brasil.
fevereiro 2018 – Agro DBO | 43
Biblioteca da Terra Florestas e silvicultura
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Editado em conjunto pela Embrapa Florestas e Sebrae/GO, o livro Cenário do Setor de Florestas Plantadas no Estado de Goiás reúne informações sobre as três principais espécies plantadas no estado: eucalipto, pinus e seringueira, tendo como base o ano de 2016. Além de dados agronômicos, a publicação traz dados sobre evolução da área plantada, idade dos plantios, quantidade de madeira e de borracha, arrecadação de tributos e faturamento de empresas com atividades ligadas à cadeia produtiva. A publicação está disponível para download no link http://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/167185/1/ Cenario-do-Setor-de-Florestas-Plantadas-no-Estado-de-Goias.pdf
Manejo da pinta preta
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O Fundecitrus – Fundo de Defesa da Citricultura lançou no final do ano passado a versão digital do livro Pinta preta dos citros: a doença e seu manejo, direcionado a produtores, pesquisadores e profissionais do setor. De autoria dos pesquisadores Geraldo José da Silva Júnior e Renato Bassanezi (Fundecitrus), Eduardo Feichtenberger (APTA – Sorocaba), Marcel Bellato Spósito e Lilian Amorim (Esalq/USP Piracicaba) e Antônio de Goes (Unesp Jaboticabal), traz informações sobre a origem, sintomas, perdas e danos, procedimentos para exportação e diferentes estratégias de manejo da doença. A obra está disponível no site www.fundecitrus.com.br/comunicacao/manuais.
Biogeografia e preservação
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A necessidade de compreender e prescrever soluções para as mudanças climáticas antropogênicas (resultantes das ações humanas), acabou por transformar a disciplina acadêmica da biogeografia – o estudo da distribuição geográfica de animais e plantas. A subdisciplina recém-emergida, abordada neste livro, de autoria dos pesquisadores Richard J. Ladle e Robert J. Whittaker, tenta resolver os problemas de conservação no mundo real e fornecer previsões sobre o destino de espécies e ecossistemas ao longo deste século. Com 502 páginas, custa R$ 140,00 + frete (R$ 15,00). Para comprá-lo, ligue para (11) 3223-5111 ou envie e-mail para vendas@editora-andrei.com.br
Plantas ornamentais
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Lançamento do Instituto Biológico de São Paulo, a 2ª edição do livro Plantas Ornamentais: Pragas e Doenças traz um histórico sobre fitopatologia no Brasil, informações atualizadas sobre controle de vírus, viroides, fungos, bactérias e nematoides, danos e controle de formigas, cupins e pragas de palmeiras, além de um índice remissivo e ampla bibliografia para consulta. Com 660 páginas, custa R$ 100 para retirada no próprio instituto, na capital paulista (Avenida Conselheiro Rodrigues Alves, 1252, Vila Mariana). O preço para envio pelo correio (o contato deve ser feito pelo e-mail negocios@biologico.sp.gov.br) é R$ 120.
44 | Agro DBO – fevereiro 2018
Novidades no campo Novos feijões da Embrapa
▶po “Alternativas para Diversificação da Agricultura FaA Embrapa Clima Temperado aproveitou o Dia de Cam-
miliar de Base Ecológica”, realizado em dezembro, para lançar novas cultivares, entre as quais a BRS Intrépido, um feijão preto, opaco, com alto teor de antocianina, o que lhe confere tons arroxeados. Com ciclo de 90 dias, apresenta 24,9% de proteína no grão. Resistente a doenças, especialmente à ferrugem e à antracnose, tem boa arquitetura de planta, com produtividade superior às cultivares testemunhas. A Embrapa também apresentou a BRS Paisano, cultivar de feijão que deve ser lançada até junho.
Fungicida para cana
▶da FMC, teve sua recomendação de uso estendida para a cana-de-açúcar. De acordo com o fabricante, o fungicida possui dois De uso consolidado em culturas agrícolas importantes como milho, café, trigo e algodão, o Authority (azoxistrobina + flutriafol),
ingredientes ativos com mecanismos de ação de alto poder de absorção e movimentação, que garantem o desenvolvimento pleno das plantas. “Resolvemos ampliar seu registro, pois entendemos que seus benefícios são únicos para levar o canavial a um novo patamar de produtividade e qualidade”, diz o gerente da área de fungicidas da empresa, Adriano Roland.
Combate às lagartas
▶claim 50, à base de benzoato de emamectina, para controle de lagartas nas A Syngenta obteve no final do ano passado o registro definitivo do Pro-
Fonte de bioenergia
▶Embrapa
Desenvolvida em conjunto pela Clima Temperado e pela Fapagro, a BRS Gaita é uma cultivar de batata-doce de alto rendimento e de baixo custo de implantação. Rústica, pode ser produzida em terras menos férteis, por exemplo, com menor investimentos em relação a outras culturas. Segundo pesquisadores da Embrapa, é uma fonte alternativa de bioenergia, pois apresenta ótima produção de biomassa – rende cerca de 30 a 40 toneladas. A produtividade da BRS Gaita foi avaliada em 75 toneladas por hectare. Em um ano, pode render cerca de 27 mil litros de etanol.
46 | Agro DBO – fevereiro 2018
culturas da soja, algodão e feijão. Segundo a empresa, o inseticida protege as plantas logo nas primeiras horas após a aplicação devido à rápida penetração no tecido foliar (ação translaminar). “Após a ingestão, o Proclaim 50 bloqueia a alimentação das lagartas e as paralisa. É um produto altamente seletivo, com amplo efeito de choque e residual.
Tangerina 100% nacional
▶do registro oficial à primeira variedade Após 20 anos de pesquisas, foi concedi-
de tangerina totalmente desenvolvida no Brasil: a IAC 2019 Maria, obtida do cruzamento da laranja-pera – de quem herdou a resistência à doença fúngica MMA (mancha marrom de alternária) – com a murcote. De menor porte, permite maior adensamento do pomar, com maior produtividade. Precoce, saborosa, mais fácil de descascar que a murcote e com metade do número de sementes, produz de 2 a 3 caixas de 40,8 kg por planta. Apresentada oficialmente há dois anos, deve chegar ao mercado ainda em 2018.
Novidades no campo Combate às daninhas
▶em parceria com a Plant Im-
Desenvolvido pela Albaugh,
pact, do Reino Unido, o Fortiori é um nutriente foliar capaz, segundo a empresa, de resolver os problemas causados pela combinação entre o manganês e o glifosato nas aplicações de herbicidas para controle de plantas daninhas. “Com o Fortiori, não há antagonismo físico no tanque, como a sedimentação e o entupimento do bico, e não há impactos biológicos, como a redução da absorção de manganês ou redução do controle de ervas daninhas”, diz a empresa em informe à imprensa.
Solução no canavial
▶sioativador à base de fosfato
O Raizal, da Arysta, é um fi-
monoamônico, fosfato monopotássico, nitrato de potássio, sulfato de magnésio e ácido cítrico, destinado à nutrição de plantas jovens provenientes de transplantes ou de semeadura direta. De acordo com o coordenador de produtos e mercados para cana-de-açúcar & pastagem da Arysta, Carlos Peres, é uma inovação para o corte de soqueira em áreas com nematoides, migdolus e sphenophorus. “O Raizal melhora o enraizamento, a absorção de água e de nutrientes, proporcionando maior vigor, produtividade e resultados em ATR (açúcar)”.
Maracujá doce da Embrapa
▶Curtis destinada ao mercado de frutas especiais de alto valor agregado.
A BRS Mel do Cerrado é a primeira cultivar da espécie Passiflora alata
Caracterizada pela alta produtividade, qualidade física e química dos frutos e maior resistência a pragas e doenças, serve ao consumo in natura ou à produção de farinhas, doces e compotas, atendendo, ao mesmo tempo, às indústrias de medicamentos, fitoterápicos e cosméticos. “As folhas são ricas em antioxidante e flavonoides. O óleo extraído das sementes é utilizado na produção de cosméticos”, afirma a pesquisadora Ana Maria, da Embrapa Cerrados.
Controle biológico
▶a Koppert, o Fundecitrus e a
Resultado de parceria entre
Esalq/USP, o Challenger é a primeira alternativa biológica para o controle do psilídeo Diaphorina Citri, vetor das bactérias causadoras do greening. A formulação, à base do fungo entomopatogênico Isaria fumosorosea (foto ao lado), assegura máxima performance desde o momento da diluição em água, preparo do tanque, até o contato com tegumento do inseto, quando se inicia o processo de infecção que o leva à
morte. O Challenger também pode ser associado à Tamarixia radiata, parasitoide produzido pelo Fundecitrus, também capaz de combater o psilídeo D. citri.
Resistência ao oídio
▶senvolvidos pela Sakata, são resistentes ao oídio Leveillula taurica (Oidiopsis) Os pimentões Camaro, de cor amarela, e Taurus, vermelho (foto ao lado), de-
– o grande vilão da produção em estufa no Brasil – e ao mosaico das nervuras, ou PVY (Potato virus Y). Segundo a empresa, tanto o Camaro quanto o Taurus oferecem ótima produtividade em diferentes condições de clima e solo, frutos uniformes, com paredes grossas e grande durabilidade pós-colheita. “Além disso, reduzem de forma considerável o uso de agroquímicos durante o cultivo. fevereiro 2018 – Agro DBO | 47
Calendário de eventos
FEVEREIRO
20
41º Congresso Paulista de Fitopatologia – De 20 a 22 –
Centro de Convenções do Hotel Quality Sun Valley – Marília (SP) – Fone: (19) 3243-0396 – Site: www.cpfito.net.br – E-mail: eabramides@terra.com.br
21
28º Abertura Oficial da Colheita do Arroz – De
21 a 23 – Estação Experimental do IRGA – Cachoeirinha (RS) – Fone: (51) 3211-0879 – Site: www.colheitadoarroz. com.br – E-mail: federarroz@federarroz. com.br
21
Femagri 2018/Feira de Máquinas, Implementos e Insumos Agrícolas – De 21 a 23 – Av.
– De 13 a 15 – Pica Pau Country Club – Araguari (MG) – Fone: (34) 3242-8888 – Site: www.fenicafe.com. br – E-mail: fenicafe@aca.com.br
20
5º Show Safra BR 163 –
De 20 a 23 – Rodovia MT 449, km 8 – Lucas do Rio Verde (MT) - Fone: (65) 3549-1161 – Site: www. fundacaorioverde.com.br – E-mail: comunicacao@fundacaorioverde. com.br
20
7°Femec/Feira de Máquinas, Equipamentos, Implementos, Insumos Agrícolas, Veículos Utilitários e de passeio – De 20 a 23 – Parque de Exposições do Camaru – Uberlândia (MG) Fone: (34) 3292-8800 – Site: www. femec.com.br – E-mail: comercial@ camaru.org.br
Vereador Nélson Elias, 1.300b, Bairro Japy – Guaxupé (MG) - Fone: (35) 3696-1000 – Site: www.cooxupe.com. br/femagri
ABRIL
27
3
TEA 2018/Tecnologia ofá Agriculture Summit/Fórum de Tecnologia e IoT no Campo – Dia 27 – Centro de Convenções Milenium – São Paulo (SP) – Fone: (11) 2306-3662 – Site: www.kbes.com.br
73° Exposição Agropecuária do Estado de Goiás – De 3 a 6
– Parque de Exposições de Goiânia – Goiânia (GO) – Site: www.sgpa.com. br – E-mail: comercial@sgpa.com.br
3
Farm Show – De 3 a 6 – Parque
MARÇO
5
Expodireto Cotrijal – De 5 a 9 – Parque de Exposições Cotrijal (Rodovia RS 142, km 24) – Não-MeToque (RS) – Fone: (54) 3332-2500 – Site: www.cotrijal.com.br – E-mail: expodireto@cotrijal.com.br
13
23°Fenicafe/Feira Nacional de Irrigação em Cafeicultura
48 | Agro DBO – fevereiro 2018
de Exposições – Primavera do Leste (MT) – Fone: (66) 3498-2008 – Site: www.farmshow.com.br – E-mail: sdruralpva.com.br
4
Simpósio Nacional da Cultura da Soja 2018 – De 4 a 5 –
Anfiteatro do Pavilhão de Engenharia da Esalq/USP – Piracicaba (SP) Fone: (19) 3447-8519 – Site: www. esalq.usp.br – E-mail: gepema. agrimet@gmail.com
5/2/2018 – Show Rural Coopavel – De 5 a 9 – Parque de Exposições Celso Garcia Cascavel (PR) - Fone: (45) 3225-6885 – Site: www.showrural. com.br – E-mail: showrural@ coopavel.com.br A Coopavel – Cooperativa Agroindustrial de Cascavel (PR) está orgulhosa: o Show Rural Coopavel, considerado o terceiro maior evento de transferência de tecnologias para a agropecuária, chega aos seus 30 anos de realização. “Para marcar uma data tão especial, preparamos uma edição para ficar para a história”, diz o diretor-presidente da cooperativa, Dilvo Grolli. A expectativa dos organizadores é superar os números do ano passado, quando a feira recebeu 235 mil visitantes, abrigou 520 expositores e movimentou R$ 1,2 bilhão em negócios. O Show Rural espera faturar pelo menos R$ 1,5 bilhão este ano.
5
58ªExpolondrina – De 5 a 15 – Parque Governador Ney Braga – Londrina (PR) – Fone: (43) 3378-2000 – Site: www.expolondrina.com.br
9
Tecnoshow Comigo – De 9 a
13 – Centro Tecnológico Comigo (Anel Viário Paulo Campos, km 7) – Rio Verde (GO) - Fone: (64) 36111525 – Site: www.tecnoshowcomigo. com.br – E-mail: secretariageral@ tecnoshowcomigo.com.br
10
11° Parecis SuperAgro – De 10 a 12 – Parque de Exposição Odenir Ortolani (Rodovia BR 364, km 873) – Campo Novo do Parecis (MT) – Fone: (65) 3382- 2491 – Site: parecissuperagro – E-mail: ruralcnp@ gmail.com
10
Fiema Brasil 2018/Feira de Negócios e Tecnologia em Resíduos, Águas, Efluentes e Energia – De 10 a 12 – Parque de
Eventos – Bento Gonçalves (RS) – Fone: (54) 3055-8700 – Site: www.fiema.com. br – E-mail: comercial1@fiema.com.br
27
22ª Fenasoja – De 27 a 6/5 –
Parque de Exposições Alfredo Leandro Carlson – Santa Rosa (RS) – Fone: (55) 3512-6866 – Site: www. fenasoja.com.br
30
25ª Agrishow/Feira Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação – De 30 a 4/5
– Polo Regional de Desenvolvimento Tecnológico dos Agronegócios do Centro-Leste (Rodovia Prefeito Antônio Duarte Nogueira, km 321) – Ribeirão Preto (SP) – Fone: (11) 3598-7800 – Site: www.informaexhibition.com
n
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fevereiro 2018 – Agro DBO | 49
Legislação
Novas armas (inconstitucionais) da União Por dívidas em atraso com a União, o governo pode agora bloquear bens móveis e imóveis, sem a decisão de ação judicial. Fábio Lamonica Pereira *
A
O autor é advogado especialista em Direito Bancário e do Agronegócio
União, uma entidade da Federação do Estado brasileiro, é quem possui os meios de cobrança mais agressivos contra seus devedores. A Lei nº 13.606/2018 ficou conhecida no agronegócio por ter instituído o “Programa de Regularização Tributária Rural”, isso para o fim de regularizar a controversa questão da cobrança do Funrural. Ocorre que essa Lei trouxe um “jabuti”, um “penduricalho”, ou seja, um assunto diferente daquele tratado pela Lei. Essa prática, por si só, já é inconstitucional, mas tornou-se, com o tempo, corriqueira e aceitável por todos. Com isso, aproveitando que era preciso tratar das “benesses” da regulação dos débitos relativos à contribuição do Funrural (uma vez que, após anos de discussão, entendeu-se que os “produtores rurais estavam errados”), houve a inclusão de um novo dispositivo, absolutamente inconstitucional. Aliás, já há inclusive uma Ação Direta de Inconstitucionalidade no STF – Supremo Tribunal Federal, questionando o dispositivo. Os débitos junto à União (impostos, contribuições previdenciárias etc.) que não tenham sido pagos da forma, no valor e no momento certo (segundo o entendimento da União), após processo administrativo, serão inscritos na Dívida Ativa da União – DAU, e serão exigidos pela Procuradoria Geral da Fazenda Nacional – PGFN.
50 | Agro DBO – fevereiro 2018
O devedor, então, será notificado administrativamente, para que o débito seja pago no prazo de cinco dias. E se o valor não for pago em cinco dias? A partir de 10 de janeiro de 2018, além da inscrição do nome do suposto devedor em órgãos de restrição ao crédito como Serasa, SCPC e afins, os bens móveis (carros, caminhões etc.) e bens imóveis poderão tornar-se indisponíveis. Até então, isso somente acontecia por meio de expressa autorização judicial, após o prazo em que o suposto devedor era citado (tomava conhecimento da ação judicial). Agora, de forma administrativa e sem necessidade de autorização judicial, o suposto devedor tem seus bens bloqueados, sofrendo danos que muitas vezes não podem ser reparados. Perceba o leitor que estamos falando também de produtores rurais que possuem débitos de Pesa e Securitização que foram cedidos para a União. Com isso, após a notificação, os bens, como terras utilizadas para o plantio e subsistência, poderão ser bloqueados.
Um ponto importante é que a União utiliza os dados cadastrais para o envio das notificações, seja ele eletrônico ou físico, para encaminhar a comunicação, sendo que, passados quinze dias da expedição, é considerada como entregue. Nossa Constituição tem princípios fundamentais que não poderiam ser violados. Um deles diz justamente que ninguém poderá ser privado de seus bens sem o chamado devido processo legal. O processo legal é justamente a possibilidade de discussão da situação (no caso de suposta dívida com a União) perante um juiz de direito. Toda e qualquer privação de bens deve ser autorizada por um juiz, seguindo as determinações da legislação processual. Por causa disso é que o novo procedimento é absolutamente inconstitucional e isso pode (e deve) ser alegado em eventual procedimento que um suposto devedor venha a sofrer em que as disposições da nova lei sejam aplicadas. Assim, mais uma vez, os produtores que tenham dívidas com a União devem ter atenção redobrada e utilizar de todas as armas de que ainda dispõem (inclusive alegando a inconstitucionalidade da referida lei) para que ilegalidades como essa não venham a prejudicar e dificultar ainda mais o exercício da atividade na produção de alimentos, com o bloqueio de bens sem que seja possível apresentar os argumentos de defesa perante um juiz de direito.
PREPARE-SE PARA COLHER MAIS
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