Revista Agro DBO 97 - Março 2018

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PREPARE-SE PARA COLHER MAIS

ATENÇ ÃO

Este produto é perigoso à saúde humana, animal e ao meio ambiente. Leia atentamente e siga rigorosamente as instruções contidas no rótulo, na bula e na receita. Utilize sempre equipamentos de proteção individual. Nunca permita a utilização do produto por menores de idade. Venda sob receituário agronômico. Consulte sempre um Engenheiro Agrônomo.

Evos controla as principais doenças do milho e mantém as folhas verdes, resultando no aumento da qualidade e da granação de espigas. É mais desempenho e rentabilidade para sua lavoura.

Uma empresa do grupo

EVOS É MAIS

MILHO

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Sumário 6 Ponto de Vista

Richard Jakubasko questiona a relacão entre custos e investimentos: até onde vale a pena investir em tecnologia para aumentar a produtividade?

22 Opinião

Décio Gazzoni avalia diferenças entre risco e percepção de risco para tratar da polêmica recorrente sobre contaminação de alimentos

24 Entrevista

Diretor-executivo da Aenda, Túlio de Oliveira fala sobre mercado, fusão de empresas, dificuldades de registro de produtos e outros assuntos

28 Manejo

Cafeicultor, Hélio Casale cria um “decálogo” para produtores de cacau. Segundo ele, as duas culturas têm muita coisa em comum

32 Cultura

Rogério Arioli parte de uma frase ouvida num roda no campo (“os jovens de hoje são machados sem cabo”) para discutir a realidade brasileira

16

Matéria de capa Presente na maioria das regiões produtoras de grãos do Brasil, a cigarrinha-do-milho pode comprometer a produtividade na safrinha e arrasar plantações. Há quem diga (veja na página 17) que o inseto “abre as portas do inferno: chega, destroi e mata”.

34 Fitopatologia

José Otávio Menten e Ticyana Banzato escrevem sobre controle de oomicetos, grupo de fungos de larga ocorrência em cultivos agrícolas

36 Agroinformática

Manfred Schmid mostra que a tecnologia digital está avançando cada vez mais no campo, substituindo aos poucos o extensionismo tradicional

38 Política Agrícola

Os pesquisadores Pedro Abel Vieira, Antônio M. Buainaim, Durval D. Neto e Elísio Contini propõem paradigma para irrigação agrícola

42 Biotecnologia

Hugo Molinari relaciona inovações tecnológicas desenvolvidas no Brasil ao defender a necessidade de valorizar o conhecimento científico

50 Legislação

Fábio Lamonica ressalta a importância da matrícula no cartório de registro para fins de transação de compra e venda de imóveis rurais

Seções Do Leitor............................................................ 4

Biblioteca da Terra........................................44

Notícias da terra.............................................. 8

Novidades no campo..................................46

Clima ................................................................30

Calendário de eventos................................48 março 2018 – Agro DBO | 3


Do leitor NR: O leitor se refere à matéria de capa da edição de fevereiro de 2018 da Agro DBO, de autoria do repórter Ariosto Mesquita, intitulada “Pode, mas não pode”, sobre a polêmica em torno da mistura de agroquímicos em tanques – a prática, comum nas fazendas brasileiras, é legal, mas não pode ser recomendada em bulas e receituários agronômicos. Marcelo Barreto é pesquisador na área de fitossanidade, professor da UFES – Universidade Federal do Espírito Santo e coordenador do Programa Agro+: por uma agricultura mais saudável. SÃO PAULO

ESPÍRITO SANTO

Excelente tema. A falta de acompanhamento por agrônomos faz com que a mistura de tanque seja um problema para o agricultor, meio ambiente e consumidor. Precisamos avançar e deixar os responsáveis técnicos fazerem seu papel profissional. O governo não tem a mínima competência para proibir esta prática.

Prezado Ariosto, foi a melhor reportagem que já li sobre mistura em tanque. Parabéns!! Túlio de Oliveira São Paulo

Marcelo Barreto Vitória

NR: Diretor-Executivo da Aenda – Associação Brasileira dos Defensivos Genéricos, o leitor também se refere à matéria de capa da edição de fevereiro, escrita pelo repórter Ariosto Mesquita, a quem encaminhou o elogio acima.

Na edição de fevereiro, publicamos (nas páginas 38 e 39) um artigo comparativo sobre o uso de terras no Brasil e nos Estados Unidos, de autoria do pesquisador Evaristo de Miranda, chefe-geral da Embrapa Territorial, além de membro do Conselho Editorial

da Agro DBO. Lamentavelmente, po­rém, cometemos um erro de edição no quadro “Atribuição, uso e ocupação das terras no Brasil”: o item “Terras indígenas” e o percentual correspondente (13,8%) foram publicados duas vezes, a segunda das quais na parte de baixo da “pizza”, o pedaço cinza que

ERRATA

errado

4 | Agro DBO – março 2018

Recebemos inúmeras consultas sobre as tabelas de compatibilidade de agroquímicos em misturas de tanque, encartadas na edição 95 da Agro DBO. A seguir, publicamos duas das perguntas mais comuns e as respectivas respostas: P - Se a mistura for incompatível para um produto comercial isso quer dizer que será incompatível com os demais produtos que tenham este mesmo princípio ativo na fórmula? R - Nem sempre, pois depende dos adjuvantes utilizados em outras marcas. P - Qual a dosagem de cada produto na mistura? Caso eu aumente a dose de um produto na mistura poderei ter problemas de compatibilidade, mesmo em mistura que a tabela ateste não ter problemas de compatibilidade? R - Invariavelmente, a dose não tem maior importância; as doses testadas são médias das recomendações dos rótulos. AgroDBO se reserva o direito de editar/resumir as mensagens recebidas devido à falta de espaço.

caberia ao item “Cidades, infra e outros” e respectivo percentual (3,5%). Pedimos desculpas aos leitores em geral e, em particular, ao Evaristo, sempre rigoroso em seus artigos, livros e demais escritos. Para evitar qualquer dúvida, publicamos abaixo os dois quadros, o “errado” e o “certo”. Certo


Carta ao leitor

A

safra de verão vai se concluindo, especialmente no Centro-Oeste, ao mesmo tempo em que a 2ª safra tem início de plantio. Com o milho, até agora, tudo bem, mas um perigo se aproxima: a cigarrinha-do-milho, conforme registra a reportagem de capa da Agro DBO desta edição, “Milho sob ataque”, do jornalista Ariosto Mesquita. Por ser uma lavoura presente em todo o Brasil, e cultivada o ano inteiro, o milho é ao mesmo tempo hospedeiro e vítima da cigarrinha-do-milho, a quem o inseto traz, como “lembrança” de sua visita, vírus, bactérias e fungos, causadores do Mollicutes, que provocam quedas de produtividade entre 20% a até 100%, por conta do enfezamento. O controle da praga tem se mostrado difícil, e seu manejo é comentado na matéria por diversos entrevistados, produtores e especialistas da pesquisa. Na entrevista do mês o engenheiro agrônomo Túlio Teixeira de Oliveira, diretor executivo da Aenda – Associação Brasileira de Defensivos Genéricos comenta sobre o mercado de agroquímicos genéricos, que representam mais de 70% do uso nas lavouras brasileiras, em concorrência com os produtos de marca. No Ponto de Vista deste mês questionamos sobre quais os riscos que os produtores correm na utilização de novas tecnologias para tentar alavancar as produtividades de suas lavouras nestes tempos em que os insumos considerados básicos estão aumentando seus preços através de um realinhamento, o que gera notável queda na lucratividade dos produtores. De Brasília chega a notícia quente no fechamento desta edição: o Ministério da Agricultura encerrou o processo de Consulta Pública sobre o uso de misturas em tanque. Nada se concluiu, o que reforçará a posição da Anvisa, desde o primeiro momento contrária ao uso de misturas em tanque, ou, pelo menos, a que estas sejam regulamentadas. Ou seja, pode recomeçar o nhém-nhém-nhém, e os produtores rurais continuarão sem o apoio para essa prática tão necessária. Agro DBO informa que ainda no primeiro semestre de 2018 entregará aos nossos leitores novas tabelas de compatibilidades e incompatibilidades químicas e físicas de agroquímicos para as culturas de tomate, batata, café, cana-de-açúcar e feijão, lavouras onde mais se praticam essa modalidade de manejo químico, que não é proibida, voltamos a repetir, mas sofre preconceitos, fruto do sistema de hipocrisia comercial vigente.

é uma publicação mensal da DBO Editores Associados Ltda. Diretor Responsável Demétrio Costa Editor Executivo Richard Jakubaszko Editor José Augusto Bezerra Conselho Editorial Décio Gazzoni, Demétrio Costa, Evaristo Eduardo de Miranda, Hélio Casale, José Augusto Bezerra, José Otávio Menten e Richard Jakubaszko Redação/Colaboradores Ariosto Mesquita, Antônio Márcio Buainain, Décio Luiz Gazzoni, Durval Dourado Neto, Elísio Contini, Evaristo Eduardo de Miranda, Fábio Lamonica Pereira, Hélio Casale, Hugo Molinari, José Otávio Menten, Marco Antonio dos Santos, Manfred Schmid, Pedro Abel Vieira, Rogério Arioli Silva e Ticyana Banzato Arte Editor Edgar Pera Editoração Célia Rosa e Edson Alves Coordenação Gráfica Walter Simões Marketing/Comercial Gerente: Rosana Minante Executivos de contas Andrea Canal, José Geraldo S. Caetano, Maria Aparecida de Oliveira, Marlene Orlovas, Mario Vanzo e Vanda Motta Circulação e Assinaturas Gerente: Margarete Basile ISSN 2317-7780 Impressão São Francisco Gráfica e Editora Capa: Foto Ariosto Mesquita DBO Editores Associados Ltda Diretores: Daniel Bilk Costa, Odemar Costa e Demétrio Costa

Para manifestar sua opinião, envie e-mail para redacao@agrodbo.com.br Richard Jakubaszko

Rua Dona Germaine Burchard, 229 Perdizes, São Paulo, SP 05002-900 - Tel. (11) 3879-7099 e 3803-5500 redacao@agrodbo.com.br www.agrodbo.com.br

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março 2018 – Agro DBO | 5


Ponto de Vista

Insumos elevam lucratividade e afetam busca da produtividade Custos básicos subiram nesta safra, buscam recuperar lucratividade para os fabricantes, e encontram produtores despreparados. Richard Jakubaszko Relação de troca: Insumos por sacas (60 KG) de milho 80

35

Calcário Dolomítico PRNT 85-95% (1T) Herbicida 2,4 D (50 litros)

60

Herbicida Glifosato (50 litros)

50

Super Simples Granulado (1 Ton)

40

Fertilizantes: 08-20-20 (70%) + 30-00-20 (10%) + Uréia (20%) 1 Ton. 200 litros de óleo Diesel

30 20

Super Simples Granulado (1 Ton)

15

Fertilizantes: 02-20-18 (60%) + 00-20-20 (40%) 1 Ton. 200 litros de óleo Diesel

0

2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2 0 1 7

6 5

Calcário Dolomítico PRNT 85-95% (1T) Herbicida 2,4 D (50 litros)

4

Herbicida Glifosato (50 litros)

3

Super Simples Granulado (1 Ton)

2

Fertilizantes: 20-05-29 (50%) + 25-00-25 (50%) 1 Ton. 200 litros de óleo Diesel

1

2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2 0 1 7

Relação de Troca: Quantidade de sacas para aquisição de 200 litros de diesel 25,0 20,0

10,0

A

busca por alta produtividade é o incentivo do mercado ao agricultor. Produzir mais com menos, e menos aí é menos área de expansão e menos despesas com energia. Sem a melhoria dos índices de produtividade a sobrevivência do produtor é colocada em xeque, e qualquer imprevisto é quase garantia de prejuízos. Já 6 | Agro DBO – março 2018

Soja

5,0 -

2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017

Milho

15,0

Sacas de 60 KG

7 Sacas de 60 KG

Herbicida Glifosato (50 litros)

20

5

Relação de troca: Insumos por sacas (60 KG) de café arábica

0

25

10

10 0

Calcário Dolomítico PRNT 85-95% (1T) Herbicida 2,4 D (50 litros)

30 Sacas de 60 KG

70 Sacas de 60 KG

Relação de troca: Insumos por sacas (60 KG) de soja

Café 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017

o aumento generalizado de custos de produção constatado nas duas últimas safras traz dificuldades ao produtor para atingir metas elevadas, como se pode observar nos gráficos exibidos nestas páginas, pois a moeda do produtor, seja em sacos de soja, milho, ou café, indicam que o poder de compra do agricultor reduziu-se, pois ele precisa de mais sacas para adquirir os

insumos. Ou seja, o dinheiro do agricultor se desvalorizou. As tecnologias recentemente lançadas ainda não entram nessa análise, mas todos sabem que tecnologia nova é sinônimo de altos custos. Mais perverso ainda é o insumo óleo diesel, cujo aumento apenas neste ano foi superior a 20%, num alinhamento de preços inter-


Relação de Troca: Máquinas agrícolas por sacas (60 KG) de soja 9000

Colheitadeira de Grãos: 180 CV SACA Palha (unidade)

Sacas de 60 KG

8000 7000 6000 5000 4000

Trator : 116 CV 4 X 4 Cabinado (unidade)

3000 2000 1000 0

2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017

Relação de Troca: Máquinas agrícolas por sacas (60 KG) de Café Arábica 450 400 Sacas de 60 KG

oscilações de preços verificadas, estes refletem, na verdade, subidas ou quedas anuais de preços dos grãos – soja, milho e café – e não apenas realinhamento de preços dos insumos. A verdade é que o mundo ainda é um grande comprador de alimentos. O que se produz de grãos atende as necessidades, nada mais que isso, e mantém os preços em relativa estabilidade. Os estoques de passagem – e de segurança – continuam baixos, em média de 60 dias de consumo, mas ainda suficientemente estáveis para atender a demanda, e permitem aos compradores manobras de preços baixistas das commodities. Nos próximos anos, mesmo aumentando a produção através da produtividade, como tem sido, e não pela incorporação de novas áreas, a pressão por manter os estoques de passagem na média atual, vai forçar o mercado comprador a incentivar o aumento da produção, pagando mais pelo que necessita. Para o produtor isso só será pos-

350

Trator : 116 CV 4 X 4 Cabinado (unidade)

300 250 200 150 100 50 -

2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017

No final dos anos 1980 quem colhesse 30 sc/ha de soja tinha lucro, mas hoje quebraria. sível pelo aumento da produtividade, usando novas tecnologias, cujos custos hoje se mostram quase inviáveis. Resta saber até quando as produtividades podem ser melhoradas. Com os atuais preços dos insumos, e a reduzida margem, o risco de perdas para os produtores é uma constante. As novas tecnologias que estão entrando, e as futuras, devem atentar para sua própria lucratividade, que é sempre elevada, para não adiar o sucesso de suas implantações. De toda forma, o mercado terá de se ajustar, para transformar em círculo virtuoso a introdução das novas tecnologias, e que nesta safra está sendo crítico para o produtor.

Relação de Troca: Máquinas agrícolas por sacas (60 KG) de milho 18000 16000 Sacas de 60 KG

nacionais, estratégia que o governo federal adotou na Petrobras, ignorando que os custos de diesel podem representar, em média, de 15% a 20% do total de despesas de uma lavoura. Nesse cálculo, deixamos de avaliar os custos de transporte da safra, que também estão sofrendo reajustes, mas é de importância vital aos produtores. É oportuno lembrar que nos anos 1980 um sojicultor de bom nível de tecnologia colhia de 25 a 30 sc/ha enquanto que os campeões de produtividade alcançavam médias superiores a 45 sc/ha. Hoje, a média nacional de produtividade é de 54 sc/ha e os campeões de concursos conseguem obter médias superiores a 100 sc/ha, parecendo indicar que não há limites nos desafios a serem atingidos. A diferença, entre ontem e hoje, é que no passado recente um produtor que colhesse 30 sc/ha de média, tinha lucro e ganhava dinheiro suficiente para dobrar as áreas de terras que plantava. Hoje, se o produtor obtiver 40 sacas de soja/ha, por conta de problemas com o clima ou pragas/doenças, ele pode quebrar, ou ficar inadimplente nos bancos. Esta analogia nos leva a levantar uma questão: até onde vale a pena investir cada vez mais em tecnologias para o aumento da produtividade? Vale a pena aumentar os riscos de prejuízos fazendo mais investimentos em novas tecnologias? Não temos nada contra o uso de tecnologias, dispendiosas ou não, que possibilitem a melhoria das produtividades, se elas conseguem manter a lucratividade do agricultor. Porém, os produtores devem analisar se a boa gestão desses investimentos em tecnologias faz a diferença. Nos exemplos práticos de ações para melhorar a produtividade, em um momento em que os preços dos grãos estão caindo, e os custos, aumentando, os gráficos indicam, muito mais que as

14000

Colheitadeiras de Grãos: 118 Saca Palha (unidade)

12000 10000 8000 6000 4000 2000 0

Trator: 116 CV - 4 X 4 Cabinado (unidade) 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017

Todos os gráficos deste artigo tiveram como fonte o Cepea, a AMA – Associação dos Misturadores de Adubos, e ainda a ANP - Agência Nacional do Petróleo, com elaboração da redação da Agro DBO, pelo engª agrº José Geraldo Caetano.

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Notícias da terra Safra I

Colheita parruda

D

e acordo com o quinto levantamento de safra da Conab, divulgado no mês passado, o Brasil vai colher 225,6 milhões de toneladas de grãos no ciclo 2017/18, 5,1% a menos em relação à sa-

fra 2016/17, a maior da história (237,7 milhões t). A produção de soja deve chegar a 111,6 milhões de toneladas (- 2,2%) e a de milho, a 88 milhões (- 10,1%). A queda acentuada no milho foi atribuída ao estreitamento da janela de plantio, provocada pelo atraso na semeadura e colheita de soja, problemas climáti-

cos na região sul do Brasil, baixos preços pagos aos produtores e grande estoque de passagem. A área plantada deve crescer 0,2%, comparativamente à da temporada anterior, e ultrapassar 61 milhões de hectares. A pesquisa foi feita nos principais centros produtores de grãos no país entre os dias 21 e 27 de janeiro.

Safra III

Mais soja no Brasil, menos no mundo

O

Safra II

IBGE eleva projeção

A

primeira estimativa de 2018 para a safra nacional de cereais, leguminosas e oleaginosas totalizou 226,1 milhões de toneladas, resultado 6% inferior (14,5 milhões de toneladas a menos) ao obtido em 2017 (240,6 milhões t). Em relação ao 3º prognóstico da safra 2017/18, divulgado em janeiro (224,3 milhões de toneladas), a projeção indica produção 0,8% maior. Em relação ao ciclo 2016/17, a safra de soja deve cair 2,2% e a de milho, 7,1%.

VBP

Agronegócio em queda

O

Valor Bruto de Produção da agropecuária brasileira em 2018 deve chegar a R$ 516,6 bilhões, 4,9% inferior ao de 2017 (R$ 543,3 bilhões), de acordo com estimativa da SPA/Mapa – Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. O VBP da agricultura caiu 6,2% e o da pecuária, 2,3%, em relação ao ano passado. Na avaliação do coordenador-geral de estudos e análises da SPA, José Garcia Gasques, a diferença entre os valores deve-se, em parte, aos resultados excepcionais obtidos em 2017. Alguns produtos com ótimo desempenho no ano passado, como cana-de-açúcar, laranja e milho, todos com participação expressiva no VBP, perderam valor este ano, afetando o resultado geral. Na pecuária, os resultados de suínos, frangos, leite e ovos também são inferiores aos de 2017. Os produtos agrícolas com melhor desempenho até o final de janeiro foram: trigo (49%), cacau (44,5%), tomate (36,1%), algodão (15%), batata inglesa (11,1%) e café (5,8%). Na pecuária, a carne bovina se destacou com resultado positivo em janeiro, depois de registrar preços em baixa durante o ano passado.

8 | Agro DBO – março 2018

Departamento de Agricultura (USDA, na sigla em inglês) elevou sua estimativa sobre a produção brasileira de soja no ciclo 2017/18, em relação à projeção anterior. Conforme o relatório de oferta e demanda de fevereiro, o Brasil colherá 112 milhões de toneladas (em janeiro, a previsão indicava 110 milhões t). A safra norte-americana foi mantida em 119,5 milhões de toneladas, a argentina cairá de 56 para 54 milhões e a mundial, de 348,6 para 346,9 milhões. No que diz respeito ao milho, o USDA mantêm inalteradas as projeções sobre as safras norte-americana (370,9 milhões t) e brasileira (95 milhões t), reduz a da argentina (de 42 para 39 milhões t) e a mundial (de 1.044,6 para 1.041,7 milhões t).


Notícias da terra Químicos

Compras recordes

O

Brasil importou o equivalente a US$ 37,2 bilhões em produtos químicos no ano passado, 8,8% a mais em relação a 2016. Esse valor corresponde à aquisição de 43,1 milhões de toneladas entre as diversas mercadorias acompanhadas pela Abiquim – Associação Brasileira da Indústria Química. As exportações movimentaram 16,5 milhões de toneladas, com faturamento de US$ 13,7 bilhões, 13% acima do obtido no ano anterior. O déficit na balança comercial totalizou, portanto, US$ 23,4 bilhões. A quantidade importada foi a maior de todos os tempos. Os produtos intermediários para fertilizantes foram o principal item da pauta de importação do agronegócio, com compras de mais de US$ 6,4 bilhões, ou seja, 60,7% (26,2 milhões de toneladas) das 43,1 milhões de toneladas de produtos químicos adquiridos no exterior. Para o presidente-executivo da Abiquim, Fernando Figueiredo, apesar da impor-

tância do agronegócio e da extração mineral para garantir divisas, o Brasil não pode planejar o futuro da nação com base na exportação de commodities primárias, fortemente sujeitas a variações substanciais de preços no mercado internacional. “É imperativo gerar empregos e renda com agregação de valor às riquezas naturais brasileiras em território nacional. Não se pode conceber como excelentes projetos de investimento de fertilizantes e de intermediários químicos como metanol,

entre outros que usam o gás natural como matéria-prima, por exemplo, se efetivem em diversos países que não dispõem de reservas comparáveis às brasileiras, mas que possuem políticas públicas asseguradoras dessa produção local. Exportar bens primários para importar transformados de alto valor agregado não é uma estratégia condizente aos desafios e às oportunidades que se observam para os próximos anos e muito menos ao próprio tamanho do Brasil no mundo”.

Café

Consumo em alta

A

pesquisa Tendências do Mercado de Cafés em 2017, da Abic – Associação Brasileira da Indústria de Café, mostra que os brasileiros beberam o equivalente a 21,9 milhões de sacas de café em 2017, 3,5% a mais em relação a 2016. A quantidade superou a expectativa da entidade, que apontava para um crescimento de 1%. “Isso significa que o consumo de café não foi afetado pela crise econômica”, afirma Nathan Herszkowicz, diretor-executivo da Abic. Para ele, esse aumento se dá pelo fato de o café ser uma bebida tradicional, consumida diariamente. “Essa característica se manteve, vencendo outras categorias de bebidas e alimentos que tiveram redução no consumo”.

Logística

Arco Norte cresce

L

evantamento da Antaq – Agência Nacional de Transportes Aquaviários mostra que o escoamento de milho através dos portos do chamado Arco Norte aumentou 71,8% no ano passado e o de soja, 31,5%, comparativamente ao total transportado em 2016. Os principais portos da região são o de Porto Velho (Rondônia), Itacoatiara (Amazonas), Miritituba (Pará), Santarém (Pará), Barcarena (Pará), Macapá (Amapá) e Itaqui (Maranhão). Na média, os portos do Brasil tiveram um crescimento de 8,3% na movimentação de grãos para exportaçao no ano passado. março 2018 – Agro DBO | 9


Notícias da terra O Jornal Eletrônico do Projeto ILPF, da Embrapa Agrossilvipastoril, lista “dez erros para não cometer” em sistemas de integração: espaçamento em ILPF. Algumas espécies obstruem a entrada de luz, prejudicando o crescimento da lavoura ou da planta forrageira. Árvores com copas mais largas, como o pau-de-balsa e o paricá, demandam espaçamento a partir de 30 m. Outro fator relevante é o número de linhas em cada renque. Para uso em serraria, a linha simples é a melhor alternativa, pois garante o crescimento ereto das árvores. Em linhas duplas e nas linhas externas de renques com linhas triplas, as plantas crescem tortas em busca de luz solar, reduzindo o valor da madeira. 1 – Não estudar o mercado anteriormente: É preciso saber de antemão se há logística para escoamento da produção, mão de obra e serviços locais e, principalmente, para quem comercializar os produtos. A fazenda pode absorver parte dos próprios produtos, mas, ainda assim, é preciso evitar excedente sem saída comercial. A falta de estudo prévio pode resultar em grandes prejuízos.

4 – Regulagem da plantadeira: O ideal é que se tenha uma palhada uniforme e robusta para obter melhor cobertura e acúmulo de matéria orgânica. Uma plantadeira desregulada pode depositar as sementes no meio da palha e não no solo, causando falhas no plantio e perdas para o produtor. É importante atentar para a profundidade do disco de corte.

2 – Erro na implantação do consórcio: É fundamental considerar o objetivo do produtor. Se for produzir capim para palhada, usa-se menor quantidade de sementes da forrageira e prioriza-se a cultura agrícola. Se a intenção é formar pastagem após a colheita do grão, aumenta-se a quantidade de sementes da forrageira. Um espaçamento maior na lavoura pode induzir o crescimento do capim, aumentando o uso de herbicidas e, consequentemente, o custo de produção.

5 – Falta de adubação na pastagem: Em ILP, a pastagem retorna ao sistema aproveitando o resíduo da adubação da lavoura que a precedeu. Entretanto, é preciso fazer adubação de manutenção durante o período em que a pecuária ocupe a área. Essa prática ajudará a manter a fertilidade do solo, aumentará a produtividade da pecuária, garantirá maior acúmulo de matéria orgânica e evitará compactação.

3 – Não deixar palhada para a lavoura: Uma prática comum em ILP é aumentar a lotação das pastagens no fim do período seco para baixar o capim antes de dessecá-lo para plantio do milho. Entretanto, é preciso cuidado para que o pastejo não reduza o capim de modo a deixar palhada insuficiente para cobertura do solo na cultura agrícola. O pastejo excessivo pode reduzir o estoque de matéria orgânica no solo. O produtor deve retirar os animais 30 a 40 dias antes da semeadura, permitindo a rebrota antes da dessecagem. 10 | Agro DBO – março 2018

6 – Superlotação de animais: O pastejo excessivo pode degradar a pastagem e expor o solo, aumentando a incidência de plantas daninhas. Além da menor quantidade de palhada para a agricultura, o produtor gastará mais para recuperar o solo. A superlotaçãode animais também pode provocar danos nas árvores, em ILPF – o estresse e a competitividade por alimentos levam o gado a predar os troncos. 7 – Espaçamento da espécie florestal: É preciso estudar antecipadamente o perfil de crescimento da árvore e o comportamento da copa antes de definir o melhor

8 – Deriva de herbicidas nas árvores: Ao se cultivar lavoura entre renques de árvores, é preciso cuidado especial com a pulverização. Qualquer descuido pode provocar deriva, causando danos às espécies florestais, brotação excessiva, bifurcação de tronco ou levar brotos à morte. A pulverização deve ser feita com bicos antideriva, em dias sem vento, com temperatura amena, em baixa velocidade. Outra medida eficiente é deixar uma faixa de 1 m a 1,5 m entre a lavoura e a linha de árvores, 9 – Descuido no manejo da espécie florestal: Economizar em operações de poda, desrama, combate às formigas e capina pode sair caro. O manejo inadequado durante a fase de crescimento da planta tem impacto direto no crescimento e na formação do fuste da árvore. Uma árvore com tronco bifurcado, cheia de nós e com outros danos perde valor comercial. Na maioria dos casos essa perda chega a ser maior do que as despesas evitadas. 10 – Não existe modelo ideal: Cada sistema de integração é particular. Não existe um que se ajuste a todas as propriedades, mesmo as de perfil semelhante. Qualquer que seja a configuração, é preciso um estudo prévio; é necessário avaliar a aptidão do produtor, o maquinário disponível, características da propriedade, disponibilidade de mão de obra, mercado local, logística e disponibilidade de crédito, entre outros fatores.


Notícias da terra Pesquisa

Capa de micronutrientes esquisadores da Embrapa Instrumentação e da Produquímica desenvolveram uma tecnologia pioneira no Brasil, batizada comercialmente de MicroActive, capaz de nutrir adequadamente as plantas e reduzir o número de aplicações de fertilizantes, impactando diretamente nos custos da produção agrícola. Trata-se de uma película formada por micronutrientes concentrados que recobre de forma homogênea grânulos dos macronutrientes Nitrogênio, Fósforo e Potássio, sem a necessidade de aditivos. “A formulação pode aumentar a produtividade, uma vez que o fornecimento de macro e micronutrientes de modo simultâneo permite às plantas produzirem próximo ao seu potencial genético”, diz a coordenadora da pesquisa na Embrapa, Elaine Cristina Paris. A inovação é fruto de uma década de estudos desenvolvidos no LNNA – Laboratório Nacional de Nanotecnologia aplicada ao Agronegócio, da Embrapa Instrumentação, que lidera a Rede AgroNano. O pesquisador Cauê Ribeiro diz que o material desenvolvido tem uma capa de alta aderência na superfície que não se desprende quando é aplicada. Além de adesão eficiente, a formulação contêm duas partes de micronutriente para cada uma de macronutriente, a fim de que a planta receba todos os elementos de que precisa de forma balanceada. “Esse foi o maior desafio da pesquisa: colocar um nutriente em cima do outro, sem perder a adesão ao longo do tempo, que conseguisse manter a proporção correta, ser de fácil aplicação e ainda que fosse homogêneo”. A complexidade da equação se deve, sobretudo, ao fato de o produtor ter de aplicar o fertilizante na lavoura em grande quantidade, dependendo do tamanho da plantação. De acordo com Ribeiro, a dosagem inicial deve ser a mesma sempre até o final da aplicação. “A pesquisa consistiu basicamente em encontrar essa formulação, o correto balanço dos componentes e fazer os ajustes”, diz.

Fotos: Thiago César

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Notícias da terra Pesquisa I

Instituto Goiano de Agricultura abre portas ao produtor

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m encontro de representantes da cadeia produtiva agrícola marcou a inauguração do Instituto Goiano de Agricultura (IGA), em janeiro último, no município de Montividiu (GO). O IGA nasce para suprir uma demanda dos agricultores acerca de pesquisas de validação e transferência de tecnologia, oferecendo suporte mais adequado à realidade goiana. O foco são as culturas de algodão, soja, milho e feijão. Com 242 hectares, a Fazenda Rancho Velho é a sede do IGA, e oferece estrutura para a realização de pesquisas e testes voltados a validar tecnologias oferecidas pelo mercado. O Instituto IGA visa ainda captar incentivos e linhas especiais de crédito para o desenvolvimento de suas atividades, além de treinamentos, capacitação técnica e serviços de certificação de produtores agrícolas, gestão e execução de tarefas em programas fitossanitários próprios ou em parcerias com instituições públicas e privadas. Para o presidente, Carlos Alberto Moresco, o IGA chega em importante momento para o agronegócio e servirá para levar conhecimento científico de forma sintetizada ao produtor. “Se olharmos para trás, a agricultura deu um salto enorme em produtividade. Vamos dar outro salto, para produzir mais com menos recursos”, diz. Histórico – O IGA foi idealizado em 2013, e o primeiro passo foi a compra da Fazenda Rancho Velho, em 2014. Ao todo, são 30 milhões de reais investidos no projeto, com recursos do Instituto Brasileiro do Algodão. “Para o produtor, fica difícil realizar experimentos com metodologia científica, por isso tomamos essa tarefa para nós”, explica o presidente do Fundo de Incentivo à Cultura do Algodão (Fialgo), Marcelo Swart, e esclarece que esta era uma ambição dos produtores. “Agora teremos estudos de maior confiabilidade. Os resultados vão ajudar o produtor a tomar decisões mais assertivas”, prevê. Para o pesquisador-chefe do IGA, Elio de La Torre, há um modelo de gestão voltado para o desempenho. “Abarcamos todas as linhas de pesquisa, sejam com pragas, maquinários, cultivares e defensivos. Quem lucra é a sociedade”, resume. O IGA é uma instituição criada por produtores rurais, proporcionando um diálogo aberto e de reconhecimento dos desafios em comum.

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Pesquisa II

UFSCar e Fundecitrus: guerra ao greening

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greening (huanglongbing/HLB) é a mais destrutiva doença das citriculturas brasileira e mundial. Os últimos dados, de 2017, indicam que o greening está presente em 16,73% das laranjeiras do cinturão citrícola de São Paulo e Triângulo/Sudoeste Mineiro. Em números, são 32 milhões de árvores infectadas. Para controlar o inseto transmissor da doença, a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e o Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus) estão desenvolvendo, conjuntamente, inseticidas naturais. O greening é causado pelas bactérias Candidatus Liberibacter asiaticus e Candidatus Liberibacter americanus, transmitidas para os pomares pelo psilídeo Diaphorina citri. O inseto é comumente encontrado na planta ornamental Murraya spp. popularmente conhecida como murta ou dama da noite. Quando as plantas estão infectadas, a solução é eliminar as árvores, evitando, assim, que o psilídeo transmita a bactéria para as plantas sadias. O pesquisador do Fundecitrus Rodrigo Facchini Magnani explica que as pesquisas têm como objetivo desenvolver compostos voláteis (aromas) com propriedades repelentes e atraentes ao psilídeo, para que o inseto possa ser repelido dos pomares de citros e atraído para outros locais, já que ele não afeta outros tipos de plantas nem causa riscos à saúde humana. As pesquisas focam nas moléculas produzidas por plantas que são repelentes ao psilídeo.


Notícias da terra Associativismo

Entidades lançam manual de classificação de soja

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artilha define procedimentos e parâmetros e os ilustra com referencial fotográfico. As indústrias, tradings, cerealistas e cooperativas, reunidas na Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), Associação das Empresas Cerealistas do Brasil (Acebra), Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec) e Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), no lançamento do manual de boas práticas de classificação de soja, informam que estão comprometidas com a transparência nesses processos, baseados em critérios técnicos e em legislações aplicáveis. Segundo elas, a importância de dar transparência à sociedade sobre procedimentos de mensuração de defeitos é o principal objetivo do manual. A cartilha também é importante para harmonizar e padronizar procedimentos técnicos. As entidades que assinam o manual se comprometem com o esclarecimento do processo de classificação da soja proveniente da lavoura e da soja padronizada. O que diz o manual – O manual define termos e procedimentos de classificação, detalha os parâmetros e os ilustra com referencial fotográfico, explica quais equipamentos devem ser utilizados na classificação e no processo de amostragem de soja. A cartilha também trata de listas de insetos, pragas e de padrões do trabalho em amostragem de caminhões. O manual está disponível nos sites das entidades signatárias.

Pesquisa III

Manejo da adubação no plantio de milho safrinha rande parte dos produtores e consultores técnicos correlacionam os maiores e os menores rendimentos de soja e de milho safrinha, obtidos no campo, com o nível de adubação realizada. Muitos profissionais da área técnica também apontam que as tabelas de recomendação de adubação estão subestimadas para a obtenção de altas produtividades, considerando as cultivares de soja e os híbridos de milho atuais. Ou seja, segundo esses profissionais, há necessidade de maiores níveis de adubação (acima da recomendada) para a obtenção de produtividades satisfatórias. Com o início de mais uma safra de milho safrinha no país, é necessário atenção para o manejo correto da adubação. E com o objetivo de entender se as produtividades de soja e milho segunda safra estão exclusivamente relacionadas com os níveis de adubação, a Fundação de Apoio à Pesquisa Agropecuária de Mato Grosso, Fundação MT, desenvolve, há cinco anos, o experimento ‘manejo da adubação no sistema soja/milho safrinha’. O trabalho é conduzido na área experimental da instituição em Nova Mutum (MT). Fábio Ono, pesquisador da Fundação MT, do Programa de Monitoramento e Adubação (PMA), explica que, diante dos dados colhidos até o momento, o experimento mostra que o nível de adubação ideal para as maiores produtividades do sistema soja/milho safrinha tem sido a adubação recomendada por meio das tabelas dos órgãos de pesquisas, ou seja, o estudo não comprovou que, para a obtenção das maiores produtividades há necessidade de adubação além da recomendada.

O especialista destaca também mais um dado importante da pesquisa. O de que subadubações consecutivas (aplicação abaixo da dose recomendada) no milho safrinha, ao longo dos anos, tem mostrado menor produtividade da cultura. Além disso, a prática reflete em menor produtividade da próxima safra de soja, o “carro-chefe” do sistema soja/milho safrinha. “Não é apenas o milho que deixa de ter produtividade satisfatória, mas também a cultura posterior. O que temos de certo é que a quantidade de nutrientes a ser aplicada sempre deve considerar o sistema como um todo”, pontua. Fundação MT

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Notícias da terra Produtividade

Cesb recebe 5,5 mil inscrições no Desafio 2017/18

Tratores

LS lança novidades

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vento tem como objetivo fomentar pesquisa e novas tecnologias. A décima edição do Desafio Nacional de Máxima Produtividade promovido pelo Comitê Estratégico Soja Brasil (Cesb), safra 2017/2018, registrou mais de 5,5 mil inscrições neste ano, o que demonstra o interesse dos produtores rurais em novos meios para aumentar a produtividade. “Cada vez mais o sojicultor se interessa na troca de experiências e conhecimento técnico. É por isso que, ano após ano, o Desafio ganha cada vez mais projeção no mercado”, comenta Nery Ribas, presidente do Cesb. O Cesb, que neste ano comemora 10 anos de atividades, ressalta o aumento visível na produtividade de soja. No primeiro Desafio realizado, o título foi conquistado com uma produção de 82,8 sc/ha. Na safra 2016/2017, o campeão registrou o recorde de 149,08 sc/ha. Comparando os dois resultados, a evolução da produtividade alcançada pelos campeões está na casa de 80%. Os produtores que se inscreveram no prêmio estão divididos em duas categorias: produção em áreas irrigadas e não irrigadas. A premiação do Desafio será realizada pelo Cesb em junho próximo.

Resistência

Bayer e LB-Track firmam parceria

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Bayer e a LB-Track, empresa chilena especialista nas áreas de agricultura de precisão e transferência tecnológica, firmaram uma parceria para desenvolver um método mais rápido para a detecção de plantas daninhas resistentes a herbicidas. As opções atualmente disponíveis para a identificação da resistência requerem um tempo considerável para o diagnóstico: em torno de seis a sete meses, porque é preciso enviar as sementes das plantas daninhas para análise em laboratório, implicando uma espera que frequentemente não atende as necessidades do agricultor. O diferencial buscado pela Bayer e pela LB-Track é a maior agilidade nesse diagnóstico. O projeto baseia-se em um equipamento que faz fotografias hiperespectrais (imagens de um mesmo objeto, tomadas com diferentes comprimentos de ondas eletromagnéticas) para fornecer informações sobre a resistência de plantas daninhas aos herbicidas. “Os testes iniciais são promissores em campo no Chile, e demostraram que o método tem sensibilidade adequada para identificar ervas daninhas resistentes”, explica Renato Arantes, responsável pelo Marketing Soja da Bayer para América Latina. A expectativa é que os testes sejam estendidos ao Brasil em breve. 14 | Agro DBO – março 2018

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resente à 30ª Show Coopavel, em Cascavel (PR), realizada na primeira semana de fevereiro último, a LS Tractor, empresa de origem sul coreana, e que está em operação no Brasil há 5 anos, tem novidades em seus tratores. O modelo U60, com 65 cv, cabinado, conta com o sistema Power Shuttle, que permite ao operador reverter marchas à frente ou ré com mais agilidade nas operações agrícolas, no simples clicar de um botão. O U60 possibilita ainda menor raio de giro, com acionamento sem cruzetas, que melhora o desempenho em áreas de trabalho restritas. O modelo tem vão livre de 420 mm em relação ao solo, que protege as plantas em trabalhos de pulverização. Na foto o engenheiro agrícola Astor Killp, gerente de marketing da LS Tractor, na cabine de comando do modelo U60. Entre outros modelos, a empresa lançou também o LS 1104, de 85 cv, cabinado, que apresenta diversas tecnologias embarcadas.

Crédito

Cartão do Sicoob está disponível para pessoa física

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produto usa a bandeira Cabal e oferece pacote completo de soluções, incluindo serviço de credenciamento de lojistas. O produtor rural pessoa física já pode solicitar o cartão BNDES Agro, emitido exclusivamente pelo Sicoob. Lançado em agosto do ano passado, o produto é mais uma importante ferramenta de fomento aos negócios no campo para os cooperados produtores rurais, principalmente pela acessibilidade, desburocratização e agilidade que o cartão proporcionará na disposição de recursos. O cartão possibilita o apoio financeiro para o custeio de safras, aquisições de implementos agrícolas, contratação de serviços técnicos, entre outros itens. Segundo Marco Aurélio Borges de Almada Abreu, presidente do Bancoob, o apoio ao produtor rural e aos seus negócios é um dos principais pilares no cooperativismo do Sicoob.



Milharal em Leme (SP) devastado por enfezamento, com quase 100% de perdas.

Lavoura derretida

A cigarrinha ameaça a safrinha. Além de atacar o milho, ela é vetor de doenças responsáveis por quebras expressivas de produtividade.

Ariosto Mesquita

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Fotos: Ariosto Mesquita

Capa


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Inimigo número 1 A infecção com Mollicutes acontece invariavelmente na plântula do milho, nos estádios iniciais de desenvolvimento. As bactérias são transmitidas de plantas doentes para as sadias justamente pela cigarrinha, que se alimenta, preferencialmente, na região do cartucho. O inseto é de cor clara (variações entre branco e cinza), tem comprimento médio de 0,5 cm e sobrevive preferencialmente no milho. A sua disseminação ocorre mediante a maior disponibilidade de alimento (lavouras) ao longo do ano, favorecida principalmente pelo crescimento da segunda safra e aumento das áreas cultivadas com irrigação. O desabafo de Montan é de quem sente na pele os efeitos da praga e vive o desafio de superá-la. Ele é o responsável no Brasil pela pesquisa e desenvolvimento de produtos (milho) para a multinacional boliviana Agricomseeds, empresa provedora de híbridos de milho e sorgo (não transgênicos) adaptados ao clima tropical, presente em nove países e que inicia sua ofensiva no mercado brasileiro a partir desta segunda safra

Foto: Elizabeth Sabato

epois de trazer destruição para lavouras de verão e de segunda safra ao longo dos três últimos anos em áreas do interior de São Paulo, Bahia, Triângulo Mineiro e Goiás, a cigarrinha-do-milho (Dalbulus maidis) começa agora a alterar o perfil da “safrinha” em algumas regiões brasileiras. Mais do que isso, já estende seus tentáculos para outros polos agrícolas que passaram a oferecer condições para seu estabelecimento. Quem ainda não sentiu na pele os efeitos desta praga talvez considere estranha e mesmo exagerada a mensagem do técnico agrícola e agricultor Antonio Roberto Montan, de Leme, cidade no nordeste do estado de São Paulo: “A cigarrinha não perdoa: abre as portas do inferno para o milho. Ela chega, destrói e mata”. Na verdade, o inseto Dalbulus não é o causador, mas é quem carrega o problema. Ele é considerado o principal vetor de Mollicutes, uma classe de bactérias que provoca doenças causadoras do escurecimento/avermelhamento (enfezamento vermelho) ou amarelamento (enfezamento pálido) das folhas e até mesmo de toda a planta, além do vírus da risca-do-milho (Mayze rayado fino), que reduz o crescimento das plantas e induz o abortamento das gemas florais. Em reportagem na edição de fevereiro de 2017, a Agro DBO já alertava sobre a ameaça representada pela cigarrinha-do-milho. A diferença agora é que, para muitos, a praga deixou de ser uma possibilidade para se tornar uma realidade no campo e um pesadelo para o agricultor. De perto, os efeitos de altas infestações sem controle chamam a atenção pelo grau de destruição. A impressão é de que as plantas foram derretidas ou queimadas.

(veja box na página seguinte). Como o foco da companhia é rendimento na espiga e sanidade/qualidade de grãos, uma das metas do especialista é clara: encontrar variedades que sejam tolerantes a enfermidades. Há mais de 10 anos trabalhando no centro de pesquisa da empresa em Leme (SP), Montan elegeu a cigarrinha-do-milho como o principal inimigo a vencer neste momento. “A severidade da infestação teve início no ciclo 2014/15, se acentuou em 2015/16 e acabou se agravando na safra 2016/17”, afirma. Como trabalha com ensaios comparativos (sementes próprias e de empresas multinacionais parceiras), ele é obrigado a semear áreas com diferentes densidades, formas de controle e cargas genéticas. Alguns plantios, porém, são considerados testemunhas. Quase sempre carregam uma tecnologia padrão, geralmente não recebem

Antonio Montan não deixa por menos: “A cigarrinha não perdoa. Ela abre as portas do inferno para o milho. Ela chega, destroi e mata”.

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Capa O pouco conhecimento técnico sobre a cigarrinha-do-milho é, segundo ele, um complicador preocupante para a agricultura brasileira: “A pesquisa ainda é inconstante. Em algumas regiões produtoras, pouco se conhece sobre o comportamento da praga”. Além disso, Montan alerta para as condições de proliferação do inseto: áreas de cultivo irrigado e de plantios sucessivos. “Aqui em nossa região, próximo a Leme e Casa Branca, em São Paulo, está ficando praticamente impraticável a cultura. Há muita irrigação por pivô e bastante cultivo sequencial. Existe planta de milho 12 meses por ano. Isso é uma fonte de inóculo”, denuncia, se referindo ao ambiente no qual o inseto encontra condições para sobreviver e se multiplicar. Nem mesmo o uso de produtos químicos vem apresentando resultados: “Não se consegue êxito com pulverizações. A praga é muito agressiva. Ela até morre fácil, mas no dia seguinte já aparecem outros indivíduos. A população é muito grande e o inseto se reproduz em alta quantidade”. A infestação, segundo ele, é muito silenciosa, e os danos só começam a aparecer para o produtor após o início do enchimento de grãos. Os mais evidentes, de acordo com Montan, são o apodrecimento da palha da espiga, o acamamento da planta e a má formação da espiga. aplicações de defensivos e servem como referência para mensurar resultados das outras combinações em teste. No cultivo de verão 2017/18, cujas plantas começaram a chegar ao ponto de colheita em janeiro deste ano, os níveis de infestação foram amplos e diversificados. “Todas as áreas apresentaram problemas. Em algumas situações a perda foi devastadora, atingindo 100%. É uma prévia do que pode acontecer na segunda safra de milho em várias regiões brasileiras”, alerta.

Espiga em processo de apodrecimento pela ação da cigarrinha

Ocorrência generalizada A presença da cigarrinha-do-milho já é identificada em praticamente todas as regiões produtoras de milho no Brasil. Para dar um panorama mais amplo ao leitor, a Agro DBO colheu ligeiros relatos de profissionais da área agrícola que atuam junto a dezenas de produtores em suas regiões. No interior de São Paulo, o engenheiro agrônomo da Coopercitrus (cooperativa de produtores rurais sediada em Bebe-

Milho “gordo” O milho híbrido boliviano não transgênico de alto desempenho, já utilizado em alguns países vizinhos, finalmente começa a ser cultivado comercialmente no Brasil. A empresa desenvolvedora da tecnologia Leadgrain, Agricomseeds, com sede em Santa Cruz de La Sierra, disponibilizou quantidade de sementes suficientes para o plantio de 8 mil hectares neste ano no cultivo de segunda-safra no Brasil. As maiores demandas são para os estados do Paraná, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás. “Em 2019, queremos oferecer volume

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capaz de cobrir 30 mil hectares de lavoura”, afirma o diretor-executivo da empresa, Jean Carlo Landivar. O Leadgrain foi desenvolvido pelo próprio Landivar ao longo de mais de 10 anos de pesquisa. Desde 2015 começou a ser cultivado em terras sul-americanas (reportagem de capa na edição de abril de 2017 da Agro DBO mostra o plantio no Paraguai). Hoje, as sementes já são comercializadas em nove países, inclusive nos Estados Unidos. “Em terras norte-americanas, onde a produtividade média do milho é de 11 toneladas/hectare,

conseguimos até 19,5 t/ha com o híbrido de rendimento médio de 24 fileiras de grãos por espiga”, conta. É exatamente esta variedade (foto ao lado) que chega ao Brasil. Ela traz 50% da tecnologia que carrega genes projetados para expandir o tamanho da espiga, acomodando mais fileiras de grãos em cada planta. Este número geralmente varia de 24 a 28 fileiras (sempre par), contra 14 a 18 fileiras em espigas sem Leadgrain, consideradas “padrão de mercado”, conforme a comparação da empresa. A Agricomseeds produz genética de milho e sorgo para áreas tropicais e tem foco em rendimento e qualidade/sanidade de grão. Para isso, prioriza o desen-


A infestação de cigarrinhas nas plantas é silenciosa e os danos só começam a surgir após o início da fase de enchimento dos grãos

Quebra da base da planta (acamamento) rente ao solo, entre a raiz e o caule, decorrente da infestação de cigarrinhas.

douro, próximo a Ribeirão Preto), Antonio Moacir Bossu, confirma a disseminação do inseto no nordeste do estado nos últimos dois anos. “A praga não está para brincadeira. O milho até fica de pé, mas na hora da colheita o grão não tem peso. As perdas superam a casa de 40%. Tem lavoura com pivô produzindo 120 sacas por hectare”, revela, se referindo a uma produtividade muitas vezes superada por lavouras de sequeiro pelo Brasil. Sobre o uso de inseticidas, ele faz uma volvimento de espigas mais produtivas e não o adensamento de plantas. A empresa mantêm há mais de uma década uma área de três hectares para pesquisa e desenvolvimento em Leme (SP). Lá, no dia 10 de janeiro deste ano, Landivar reuniu técnicos e representantes da empresa no Brasil para informalmente dar o pontapé inicial da tecnologia Leadgrain no mercado brasileiro e também da entrada comercial no país do sorgo forrageiro “gigante” Agri002E, cuja planta atinge alturas entre quatro a cinco metros. Para 2020, a empresa quer entregar ao agricultor brasileiro sementes com 100% de tecnologia Leadgrain carregando a expectativa de oferecer espigas de

revelação: “Aqueles que estão apresentando resultados no combate não são registrados no país”. Trabalhando em uma região de muita agricultura irrigada – Formosa (GO), nas imediações do Distrito Federal –, o zootecnista Antonio Machado garante que a praga está consolidada por lá: “É um problema muito sério no Planalto Central. Os produtores ainda estão patinando em seu controle. Na safrinha 2017, as perdas em produtividade giraram entre 15% e 20%”. Para a segunda safra de milho deste ano, ele se mostra mais otimista: “Vi muito agricultor selecionando variedades que se mostraram mais resistentes ao longo do ano passado. Espero que em 2018 o problema seja menos severo”. Em Minas Gerais, mais precisamente no Triângulo Mineiro, a praga foi muito incisiva na safra verão 2017, de acordo com o que conta o engenheiro agrônomo Emmanuel Gonçalves, residente em Pirajuba, município distante 100 km de Uberaba. A infestação, segundo ele, foi forte a ponto de alterar o perfil da segunda safra este ano. “Tivemos perdas localizadas entre 30% a 40% e isso está provocando uma redução de até 70% da área plantada de milho safrinha. A maioria dos produtores está plantando sorgo granífero”, revela. Apesar de ressaltar que alguns agricultores estão conseguindo “conviver com a praga” utilizando variedades com mais resistência ao inseto, Gonçalves também reforça a tese da ineficiência do controle químico: “Tivemos áreas com até sete aplicações contra o inseto e sem resultados. A cigarrinha se reproduz com muita rapidez”. A melhor alternativa encon-

milho de 28 a 32 fileiras de grãos. Nos próximos anos, devem ser apresentadas as tecnologias Leptol (variedades tolerantes a insetos) e Grain Expander (espigas com grãos de maior tamanho). Até o verão de 2022, é meta da Agricomseeds oferecer ao agricultor brasileiro variedades de sementes dotadas, simultaneamente, das três tecnologias. “Todos os registros já estão encaminhados. Só não antecipamos a chegada destes materiais em função do que chamamos de ‘desenvolvimento seguro’, que é um calendário de repetição de testes e avaliações antes da liberação comercial do material”, explica Willian Sawa, gestor comercial da empresa no Brasil.

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Capa trada, de acordo com o agrônomo, vem sendo o uso de materiais biológicos, mais precisamente do fungo Metarhizium anisopliae e o inseticida/acaricida microbiológico de contato Beauveria Oligos. “No entanto, o controle biológico exige paciência e insistência por parte do agricultor, pois os resultados geralmente aparecem de forma mais lenta”, observa. No Paraná, a Fundação ABC (instituição privada de pesquisa e de soluções para o agronegócio), sediada no município de Castro (160 km da capital, Curitiba) está monitorando a praga desde o ano passado. O inseto está presente em toda a região de atuação da entidade, mas, segundo o coordenador e pesquisador do setor de entomologia, Elderson Ruthes, até meados de fevereiro não havia notificação de lavouras com sintomas de enfezamentos no estado. No Sul de São Paulo, entretanto, há suspeitas de ocorrências em experimentos e em áreas de cultivo comercial já na safrinha 2018. A Fundação ABC garante monitorar uma área de 454 mil hectares e atender 4.619 produtores nos estados do Paraná, São Paulo e Goiás. Neste último, as ações estão concentradas no município de Formosa, localizado em uma das regiões mais críticas em infestação da cigarrinha-do-milho no Brasil. “Lá, a praga trouxe prejuízos em 2017. Agora, estamos buscando soluções para que isso não venha a ocorrer novamente”. Na área de atuação da Fundação Chapadão (norte do Mato Grosso do Sul e Sul de Goiás, principalmente), o pesquisador Germison Tomquelski informa que todos os agricultores sofreram com a praga em 2017, “uns mais, outros menos”. A redução de produtividade, segundo ele, variou entre 10% e 15%, enquanto o custo de produção aumentou devido à necessidade de fazer duas aplicações a mais de inseticidas. Segundo ele, a maior incidência de enfezamentos foi observada em áreas com grande presença de tigueras de

Claudineu Kappes

A cigarrinha derruba a produtividade e eleva o custo de produção devido à necessidade de aumentar as aplicações de inseticidas

Antes livre da ocorrência frequente da cigarrinha, o estado do Mato Grosso, maior produtor de milho do Brasill, começa agora a conviver com a praga.

Tigueras de milho em pleno vazio sanitário da soja: alimento para a cigarrinha e ponte para disseminação da praga.

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milho (plantas voluntárias). Em fevereiro deste ano, a Fundação já detectava infestações do inseto na safrinha de milho. “A intensidade, por enquanto, é menor do que a de 2017. Os produtores parecem mais atentos, alguns trabalhando o manejo com tratamento de sementes e pulverizações”, conta. Cigarrinha no Mato Grosso Até recentemente livre de ataques do inseto e, consequentemente, das doenças que ele transmite, o maior estado produtor de grãos no Brasil também já abriga a cigarrinha-do-milho. A praga já está presente na região de Primavera do Leste (241 km da capital, Cuiabá), justamente o município com a maior área irrigada e plantio intenso de milho praticamente ao longo do ano (cultivo de verão e safrinha também para produção de sementes e milho pipoca). Em 2016, a estimativa do governo do estado era de que 143 pivôs cobriam uma área de 17.219 hectares. Hoje, já se fala em algo próximo a 30 mil hectares em toda a “Grande Primavera”, que inclui também os municípios de Poxoréo, Santo Antonio do Leste, Novo São Joaquim e General Carneiro. “O problema da cigarrinha em Primavera do Leste é crescente. Não temos mais janela de intervalo de produção de milho. Em função dos pivôs, os cultivos começam em janeiro e só terminam em novembro. Só uma grande multinacional já tem algo perto de 14 mil hectares irrigados na região”, conta Ricardo Augusto Marcato, proprietário da Centro Seeds, empresa de distribuição de sementes no município. O engenheiro agrônomo e proprietário da Ceres Consultoria Agronômica, Evaldo Kazushi Takizawa, afirma que a ocorrência de casos de enfezameno no


estado ainda não é significativa. “A dimensão do problema está no risco potencial. Há um perigo e um tempo de exposição graves, mas o Mollicutes ainda não está presente em altos níveis”, avalia. A orientação de Takizawa é para que o produtor mantenha profissionais treinados para identificar sinais da doença, além de “não se levar pela histeria coletiva comum diante de eventuais problemas”. Mesmo alegando não possuir ferramentas para mensurar as áreas atingidas e os prejuízos provocados pelos enfezamentos, a Embrapa Milho e Sorgo aguarda resultados positivos na contenção da incidência de doenças transmitidas pela cigarrinha-do-milho em 2018, em relação ao ciclo anterior. A pesquisadora Elizabeth de Oliveira Sabato, considerada uma das principais autoridades científicas em cigarrinha-do-milho no Brasil, vem circulando pelo país desde 2015, quando ocorreu forte surto epidêmico em Goiás, São Paulo e oeste da Bahia, esclarecendo os produtores sobre o manejo correto contra a praga. “Já percebemos alguma evolução. No Vale do Paranapanema, em São Paulo, profissionais agrícolas lançaram a campanha ‘tiguera zero’. Muitos agricultores em várias regiões do país passaram a adotar procedimentos

corretos de cultivo. Por isso, tenho esperança de que a incidência de doenças caia. Mas pode acontecer ou não. Veremos mais à frente”, diz a pesquisadora, que espera muito trabalho ao longo deste mês de março na observação e monitoramento das lavouras. Segundo Elizabeth Sabato, a cigarrinha “está presente no Brasil inteiro” e será necessário ao agricultor aprender a conviver com a praga. Dentre as medidas de controle, ela ressalta a necessidade de todos os produtores realizarem tratamento de sementes (ou compra de sementes tratadas), conter as coincidências (sobreposições) de ciclos de cultivo do milho, eliminar as tigueras e não plantar próximo a lavouras já infestadas. Sobre a possibilidade da adoção de uma espécie de vazio sanitário do milho (similiar ao da soja), procedimento já sugerido por outros pesquisadores, ela é enfaticamente contra: “O milho é plantado em todo o país com objetivos diferentes e em períodos variados. No Nordeste, por exemplo, é semeado entre abril e maio. Alguns cultivos são de subsistência. A medida exigiria ainda uma intensa fiscalização e poderia penalizar fortemente quem hoje trabalha com boas práticas agrícolas. Por isso não recomendo”.

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Opinião

Agrotóxicos: perigos, riscos e percepções. Como se sabe, “a dose faz o veneno”. O colunista mostra o caminho para entendermos a polêmica sobre contaminação dos alimentos. Decio Luiz Gazzoni*

C * O autor é engenheiro agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja e membro do Conselho Editorial da Agro DBO.

omecemos pelo óbvio: a princípio, todos os agrotóxicos são perigosos. Continuemos avançando pelo conceito de perigo: a princípio, toda substância química é perigosa – incluindo os medicamentos para uso humano – dependendo da dose em que é utilizada. Avancemos mais: animais selvagens são perigosos. Automóveis são perigosos, assim como aviões ou trens. Até um cavalo de montaria é perigoso. Armas de fogo são perigosas. Sal, água, são perigosos. A lista é quase inesgotável. Poderíamos, então, imitar o filósofo de botequim e afirmar: “A Terra ficou um lugar muito perigoso para se viver!”. Parcialmente verdadeiro, melhor seria “A Terra sempre foi cheia de perigos”. Ao menos é o que pensaria um coelho ou um veado,

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olhando para os inúmeros predadores à sua volta, esperando a oportunidade para transformá-los em ceia. Mas, coelhos, veados, e a própria espécie humana sobreviveram milênios convivendo com perigos. E suas populações continuam crescendo, apesar dos perigos. Não tem alguma coisa errada aí? Perigo x riscos Tem, sim. O fato de existir um perigo não é suficiente para ser considerado um risco real. Um leão faminto é um perigo para um homem caminhando por uma pradaria, certo? Em termos! E se a pradaria for na cidade de São Paulo? Bem, aí só existe a possibilidade de um homem solitário encontrar um leão faminto que haja fugido do circo. Mas, quantos circos existem? E quantos têm leões?

E quantos leões fogem? É justamente para diferenciar o perigo do risco que a ciência dispõe de protocolos testados e validados, aplicáveis a todas as situações, com algoritmos que permitem calcular o risco e, também, determinar as atitudes para administrar o risco. A avaliação de risco é um procedimento científico que consiste no uso de bases de dados para definir os efeitos de uma exposição (indivíduos ou população) a materiais ou situações. Por exemplo, permite medir o risco de uma substância química causar danos à saúde, que depende da exposição e da dose. O gerenciamento do risco determina o que deve ser feito para evitar que os indivíduos sejam expostos a doses de uma substância que tenham probabilidade matemática – mesmo que ínfima – de ocasionar problemas de saúde. Riscos dos agrotóxicos O risco real de qualquer agrotóxico é definido pelo governo de um país, lastreado em informações científicas, e pode ser reavaliado continuamente, com base em novas informações ou na própria alteração do método de análise ou de cálculo – sempre sendo mais severo e restrito. O conceito toxicológico mais conhecido é denominado Dose Letal 50 (DL50), representando a dose de uma substância química que levou a óbito 50% dos animais em testes de laboratório. O conceito não se aplica apenas a agrotóxicos, mas a qualquer substância química. Por exemplo, a


nicotina apresenta DL50 de 50 mg/ kg; a cafeína de 192 mg/kg; a cipermetrina de 1.687 mg/kg e o paracetamol de 3.000 mg/kg. Entrementes, apenas a DL50 não é suficiente, existem mais dois valores que servem para garantir a inocuidade dos agrotóxicos. O primeiro deles é denominado Ingestão Diária Aceitável (IDA), conceituada como “a quantidade de uma substância química que pode ser ingerida diariamente por um indivíduo, durante toda a sua vida, sem risco apreciável à sua saúde, à luz dos conhecimentos disponíveis na época da avaliação”. Isto indica, na prática, a quase segurança de que não se produzirão efeitos adversos mesmo após uma exposição continuada a uma substância, ainda que isso ocorra durante toda a vida do indivíduo. E como se calcula a IDA? Em rigorosos e múltiplos testes de laboratório, doses crescentes da substância em teste são administradas a cobaias. A maior dose que não ocasionou quaisquer alterações metabólicas perceptíveis nos organismos em teste é dividida pelo fator 100. Assim, a IDA representa apenas 1% da dose que não causou nenhum problema de saúde em cobaias, nos experimentos científicos. Porém, é importante lembrar que a dose que não causou problemas toxicológicos equivale a 1%-10% da dose imediatamente superior, que ocasionou alguma alteração. Logo, a IDA representa 0,1%-0,01% da dose que poderia, eventualmente, ocasionar algum problema à saúde. Mas o controle dos riscos não termina por aí, é necessário garantir que o consumidor nunca vá ser exposto a essa dose. Para tanto, foi criado o conceito de Limite Máximo de Resíduos (LMR). Trata-se do valor máximo de resíduo de um agrotóxico admitido legalmente em um alimento, considerando a aplicação adequada de uma substância química (seguindo todas as Boas Práticas Agronômicas), desde sua produção até o consumo. Obrigatoriamente, o LMR leva em consideração a IDA. Dessa

forma, todo o alimento que contenha resíduos inferiores ao LMR não oferece risco à saúde humana, à luz dos conhecimentos atuais, mesmo se esta dose for ingerida diariamente, durante toda a vida. O objetivo desses conceitos (DL50, IDA e LMR) é garantir a proteção dos consumidores de alimentos de qualquer risco toxicológico. Por exemplo… Suponha um inseticida com DL50 de 1.687 mg/kg de peso corpóreo, IDA de 0,05 mg/kg de peso corpóreo e LMR de 0,02 mg/kg de produto agrícola. Suponhamos que esse inseticida tenha sido pulverizado em uma cultura de tomate, e que todo e qualquer tomate sempre tenha o valor máximo (0,02 mg/kg) de resíduo do inseticida. A ingestão diária de uma pessoa que pese 70 kg, e que garante a ausência de qualquer problema de saúde (IDA) será de 3,5 mg/dia (0,05 mg/kg x 70 kg). Como cada quilo de tomate tem 0,02 mg de resíduo, pode-se ingerir 175 kg de tomate por dia

Percepção do risco Ao contrário do risco – que é um cálculo científico e preciso – a percepção do risco é uma avaliação extremamente subjetiva, de uma pessoa isolada, ou de um conjunto delas, baseada em avaliações parciais, sem fundamentação científica, normalmente fundada no desconhecimento. Com base na percepção de risco, um grupo terrorista pode infundir um medo insuportável em uma determinada comunidade, veiculando a informação de que perpetrará um ataque de enormes proporções, mesmo estando incapacitado de provocá-lo. Um exemplo clássico é o medo de viajar de avião, que não possui nenhum fundamento científico, posto que as estatísticas demonstram que os aviões representam o meio de transporte mais seguro. E, finalmente, existe a percepção diferencial do risco, baseada em desconhecimento, vieses e visões pessoais em função de diferentes papéis desempenhados na sociedade. Com respeito aos agrotóxicos temos

O organismo dos seres humanos degrada o inseticida em algumas horas após a ingestão (3,5 mg ÷ 0,02 mg/kg de tomate) sem que haja qualquer problema de saúde devido à presença de resíduo. Não se pode dizer o mesmo do risco à saúde causado pela mera ingestão de tanto tomate! E, para que fosse atingida a DL50, seria necessário consumir os mesmos 175 kg de tomate todos os dias, durante 92 anos, para que houvesse 50% de probabilidade de óbito ocasionado pelo consumo do inseticida. Se o consumo fosse normal, de apenas 200 g de tomate/dia, então seriam 82.500 anos! Não apenas é impossível consumir 175 kg/dia de tomate, como o organismo degrada o inseticida em algumas horas após a ingestão. Logo, fica demonstrado matematicamente que o risco de intoxicação pelo resíduo de agrotóxico está absolutamente controlado.

duas percepções diferenciadas: a de alguns agricultores, que são muito otimistas, que desprezam o risco e não tomam as medidas necessárias para se proteger, o que os deixa suscetíveis a acidentes na manipulação e na aplicação de agrotóxicos. E o seu oposto, que é a percepção transmitida à população leiga, mormente urbana, de que o risco é elevadíssimo e que alimentos produzidos com o uso de agrotóxicos estão sempre envenenados e que, inexoravelmente, causariam problemas de saúde a quem deles se alimenta. O mundo seria um lugar muito melhor para se viver se, tanto agricultores quanto consumidores, utilizassem conceitos científicos de risco para suas decisões, em vez de percepções de risco sem qualquer respaldo da ciência. março 2018 – Agro DBO | 23


Entrevista

Genéricos são 70% do mercado de agroquímicos

O

engenheiro agrônomo Túlio Teixeira de Oliveira, 70 anos, diretor-executivo da Aenda – Associação Brasileira de Defensivos Genéricos é também engenheiro de segurança em unidades fabris, especialmente de empresas de defensivos e fertilizantes, e concedeu entrevista para a revista Agro DBO, conduzida pelo editor-executivo Richard Jakubaszko, a quem revelou números e aspectos interessantes sobre o mercado de agroquímicos no Brasil, com destaque para a importância dos agroquímicos genéricos produzidos pela entidade que dirige há 22 anos. Túlio nasceu em uma cidade que não existe mais, chamada de Cangati (CE), que em linguagem indígena significa “peixe da boca torta”, formou-se na Escola de Agronomia do Ceará, e migrou para São Paulo no início dos anos 1970, onde se tornou corintiano. Inicialmente fez estágio no Instituto Biológico, e depois trabalhou em diversas empresas, como Ciba Geigy (hoje Syngenta) depois na Abbott, onde participou da equipe que lançou Dipel, o primeiro inseticida biológico no Brasil, à base de Bacillus Thuringiensis, ainda hoje muito utilizado, e do qual revela ter orgulho desse feito. Trabalhou na Benzenex e Agroceres, antes de ingressar na Aenda, em 1996, que inicialmente tinha a denominação de Associação das Empresas Nacionais de Defensivos Agrícolas, nome depois alterado para a denominação atual, de “defensivos genéricos”, sem alterar a sigla original. Desse tempo de mais de 22 anos na Aenda resulta o segundo orgulho de Túlio, que foi implantar o regime do registro de defensivos por equivalência no Brasil, a partir de 2002.

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Agro DBO – Como surgiu a Aenda, qual foi o propósito? Túlio Oliveira – Tudo começou na Andef, a Associação Nacional de Defensivos Vegetais, mas a partir de 1989 houve distensões entre empresas associadas, agravadas pela nova legislação, a chamada Lei dos Agrotóxicos, que faz parte da Constituição de 1988. As empresas nacionais de defensivos, preocupadas com as ações de ONGs, que exigiam uma regulamentação muito rígida para as empresas multinacionais, essas nacionais usaram da estratégia de ter uma entidade para

sua representação institucional. Começamos com 12 empresas associadas, depois, os objetivos iniciais da Aenda convergiram para os defensivos genéricos, quando mudamos a razão social, e ela adaptou-se aos novos tempos. Hoje temos 49 empresas associadas, a maioria de empresas de pequeno porte. Agro DBO – Quanto representam as associadas da Aenda em termos de vendas de agroquímicos no Brasil? Túlio Oliveira – Muito pouco, algo como 2% do total das vendas


do mercado total. A explicação para isso é que a maioria dos genéricos está nas mãos das multinacionais. Esses genéricos significam 70% do total das vendas do setor. E olha que estou me referindo a um mercado total que significou US$ 9,5 bilhões em 2016. Em 2017 deve cair um pouco, mas ainda será muito grande, em torno de US$ 9 bilhões. De outro lado, oficialmente, a Aenda é a representante dos genéricos, mas para as multinacionais os genéricos são algo ruim, porque baixam as médias de faturamento e de lucratividade. A Syngenta, por exemplo, tem um faturamento maior com genéricos do que com os produtos de marca e exclusivos, aqueles que têm patentes ainda com validade. E essas multinacionais não são nossas associadas. Nossas associadas, fundamentalmente, operam apenas com genéricos, e nesse campo há concorrência, aspecto que beneficia os produtores em todos os sentidos. Agro DBO – Qual é hoje o maior gargalo do setor que a Aenda representa? Túlio Oliveira – A fila de registro de produtos, que é muito grande, tem uma demora enorme, e faz mais de 10 anos que batalhamos com isso. Nestes dois últimos anos há mais desalento ainda, porque o governo federal não tem verba para contratar gente, então, seja no Mapa, ou na Anvisa, há carência de gente para tratar do assunto. O Ibama ainda tem certa agilidade, mas nos outros dois órgãos que regulam o setor há uma burocracia e uma regulamentação exagerada, que exigiria mais gente para agilizar, e isso hoje é impossível. Agro DBO – Como a Aenda avalia a questão da ferrugem da soja resistente aos fungicidas? Túlio Oliveira – O Brasil já tem históricos de resistências, não dá

pra dizer que desconhecemos, em menor escala, é claro, como o caso da batata, cacau, onde há fungos com essa multiplicidade rápida de mutação. A soja, sendo a maior cultura brasileira, no caso é mais significativo, tanto em termos econômicos como agronômicos. Acho que o governo, os órgãos de pesquisa e a academia têm feito um bom trabalho. O vazio sanitário é um bom exemplo de proposta para minimizar o problema. Mais recentemente, batalhamos no manejo, com a sugestão de alternar as aplicações de fungicidas com modos de ação diferentes. O produtor, de outro lado, não é bobo, e essa história de colocar em destaque nos rótulos dos produtos qual é o modo de ação dos fungicidas, esse ensinamento vai promover mais a busca por uma rotação de produtos mais séria e eficiente. A rotação quem faz é o produtor, isso não depende dos ventos ou da temperatura. Se isso for feito adequadamente vai ajudar bastante a minimizar o problema. A outra coisa é o imponderável. É que cada vez temos menos novas moléculas no mercado, antes a velocidade de lançamentos era

maior. Agro DBO – Por que ocorre essa demora atualmente? Túlio Oliveira – Os filtros regulatórios, nacionais e internacionais, cresceram muito, e isso tem dificultado sobremaneira não apenas a pesquisa em si, mas o registro dos novos produtos. No caso da ferrugem não tivemos novas moléculas, mas a observação empírica de que os fungicidas multissítios ajudam a controlar a doença se utilizados em rotação com os fungicidas específicos, e que servem muito bem para o propósito de suprimir a primeira esporulação do fungo. E agora esses fungicidas, como o mancozeb, fazem parte do pacote recomendado de manejo. Agro DBO – Em decorrência disso os preços desses genéricos quase triplicou! Túlio Oliveira – O mercado é assim, regulado pela oferta e procura. Agro DBO – E os biológicos, qual é o futuro, na visão da Aenda? Haverá novidades para controle de doenças ou de ervas daninhas? março 2018 – Agro DBO | 25


Entrevista A China entrou de forma avassaladora no Brasil com registros de genéricos, e isso balançou, sacudiu o mercado de forma vigorosa. tes e agroquímicos. Ainda estamos saindo do terceiro mundo, a falta de assistência técnica prejudica esse processo de evolução. Entre os médios e grandes produtores há uma consciência muito maior, evidentemente, hoje são profissionalizados. Tenho visto, entre os pequenos, na chamada agricultura familiar, uma reversão, o analfabetismo continua a aumentar, porque com as sucessivas crises o jovem não vai mais para a escola e acaba ficando na propriedade para ajudar no trabalho.

Túlio Oliveira – Eles estão chegando, vão ser muito importantes. Na verdade, o biológico é só uma forma de ação diferenciada. Acho que é só uma questão de tempo. As empresas vão começar a usar os biológicos modificados no seu DNA. E isso vai ser uma outra revolução. Os inseticidas biológicos estão à frente, mas o desenvolvimento de fungicidas biológicos é hoje uma corrente mundial, tem muita gente pesquisando isso, bem como as grandes multinacionais do setor. Herbicidas ainda devem demorar mais, não há nada sobre o assunto. Agro DBO – Você acha que o agricultor está bem informado sobre as alternativas de uso entre genéricos e produtos de marca exclusivos? Túlio Oliveira – A maioria absoluta dos nossos produtores é de pequeno porte, a chamada agricultura familiar. E esses ainda se atrapalham entre definições de uso e de funções entre fertilizan26 | Agro DBO – março 2018

Agro DBO – Em compensação, a crise devolveu ao campo os jovens altamente tecnificados, que perderam emprego na cidade, e hoje ajudam os pais introduzindo nas lavouras tecnologias digitais, a agricultura de precisão, isso não é evolução? Túlio Oliveira – Claro, mas é uma minoria ainda, isso ocorre nas famílias de renda média. Os grandes e os médios profissionalizados não têm esse tipo de problema. Agro DBO – Como a Aenda avalia as fusões e incorporações mais recentes, como os casos de Dow e Du Pont, Syngenta e Chem China, Bayer e Monsanto? Túlio Oliveira – Há uma concentração muito grande, um poder de fogo enorme nas mãos dessas empresas. É claro que o produtor perde poder de fogo como comprador, porque essas corporações impõem suas próprias regras comerciais. Mas o mercado internacional é muito competitivo, como a gente sabe, e isso atinge a todos. Na questão da demora de registros pelos órgãos reguladores, os genéricos

possuem uma certa agilidade, os registros saem mais rápido um pouco se comparados a moléculas novas, por causa da equivalência. A China se aproveitou disso muito bem e pegou a todos desprevenidos, a nós e ao governo, pois entrou de forma avassaladora no Brasil com registros de genéricos, e isso balança, ou melhor, sacode o mercado de forma vigorosa. Por isso, a concentração das empresas é perversa, a concorrência diminui, isso vira um gigantesco rolo compressor, e apenas alguns grandes produtores rurais conseguem se proteger, enquanto o pequeno se perde na poeira. Agro DBO – Os custos de produção, nesta safra de verão, voltaram a subir, há uma nítida tendência de recuperação de lucratividade por parte de todos os fornecedores de insumos. Tem espaço para isso? O produtor aguenta assumir essa queda na rentabilidade? (ler Ponto de Vista, pgs 6 e 7, nesta edição) Túlio Oliveira – Isso é cíclico, repete-se a cada grupo de safras. O que temos, a segurança que existe para a atividade do produtor rural, é que o mundo ainda é comprador de alimentos. Os estoques de passagem estão no limite, muito menores do que eram durante o pós-guerra, o que faz com que os preços das commodities oscilem sempre, mas na maioria dos casos de forma positiva. Ainda não chegamos em um nível bastante seguro de estabilidade na produção de alimentos. Disso decorre que os ciclos de crise da atividade do produtor rural, inclusive os de bonança, sejam picos menores dentro desse processo.


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Manejo

Semelhanças da cacauicultura com a cafeicultura A cacauicultura segue hoje os mesmos passos do café em termos de evolução no manejo de doenças fúngicas e de novas cultivares. Hélio Casale *

Pé de cacau carregado de frutos

A

* O autor é engenheiro agrônomo, cafeicultor, consultor e membro do Conselho Editorial da Agro DBO.

ntes de entrar no assunto propriamente dito é importante se fazer algumas considerações sobre o cultivo do cacaueiro no Brasil, mais especificamente na região de Ilhéus – BA. O Brasil é o quinto maior produtor e também possui o quinto maior parque moageiro de cacau. O consumo per capita é considerado ainda baixo, cerca de 2,5 quilos por pessoa/ ano, com forte tendência de alta. As sementes secas e mesmo as torradas têm mais de 300 componentes, o que mostra valor nutritivo impressionante. A cadeia produtiva do cacau e do chocolate gera anualmente mais de R$ 10 bilhões de reais. Estão envolvidas cerca de 60.000 pessoas, diretamente distribuídas por uma área de 400 mil hectares nos estados das regiões Norte, Nordeste e Sudeste. A maior concentração do cultivo é na região Sudeste da Bahia. O preço dos frutos

28 | Agro DBO – março 2018

secos é formado lá fora, em Bolsas de Valores principalmente as de Londres e Nova York, sendo, portanto, uma commodity o que explica a forte especulação financeira que afeta os preços pagos aos produtores. Para nós produtores só nos nesta produzir abundantemente e vender bem baratinho. Linneu, um grande cientista que viveu entre 1707 a 1778, classificou o cacaueiro como Theobroma cacao denominação que significa “manjar dos Deuses”, um nome bem apropriado, convenhamos. Atualmente, a produção de amêndoas secas no mundo supera 5 milhões de toneladas, sendo a Costa do Marfim o maior produtor mundial. O cultivo do cacaueiro teve início no Brasil em 1679, sendo introduzido no Pará. Conta a história que por volta de 1746, o colono francês Louis Frederic Warnaus trouxe sementes do Pará e as doou ao senhor Antônio Dias

Ribeiro que as plantou na fazenda Cubículo, às margens do rio Pardo, no município de Canavieiras. Na região de Ilhéus o cacaueiro foi introduzido em 1752, ou seja, há mais de dois séculos e meio. Durante todos esses anos o cultivo do cacaueiro criou muitas riquezas, fortunas imensas, cujas marcas pode-se ver claramente andando pela região nos arredores de Ilhéus, ou mesmo na leitura da excepcional obra do escritor baiano Jorge Amado. Hoje, há muitas lavouras abandonadas, mas algumas delas vêm recebendo cuidados mínimos e estão mostrando o alto potencial dessa cultura que, ao longo do tempo, contribuiu para manter o solo com baixa degradação em sua fertilidade natural e conservou de pé uma mata inigualável. Em 1974, na região de Camamu, foi constatado o primeiro foco da Ferrugem do Cafeeiro. Verdadeiro desastre nacional. Nossa cafeicultura estava seriamente ameaçada. Naquela época pesquisadores fizeram um contra voo de Porto Alegre(RS) a Camamu(BA) num pequeno avião monomotor com as asas untadas com vaselina e aterrissando a cada 100 km de voo. Encontraram esporos vivos da Ferrugem perto de Londrina, no Paraná. Isso apenas 6 meses depois de constatado o foco inicial. O que aconteceu – vieram variedades novas que substituíram o Bourbon, o Mundo Novo, o Sumatra e mesmo o Catuaí. Mecanização praticamente não existia. Atualmente, a colheita pode ser toda mecanizada, tanto a dos frutos na árvore como os caídos no chão. Pragas, importantes só


a Broca e o Bicho Mineiro. Os cafeicultores e pesquisadores saíram para a luta e atualmente a nossa cafeicultura está renovada, com cultivares novos, com manejo das plantas, manejo dos matos, deixando um lucrozinho, pois como commodity, os preços estão aviltados. A Ferrugem veio para modernizar a cafeicultura. Com a cacauicultura acreditamos que deverá acontecer a mesma coisa, sendo apenas uma questão de tempo, após o desastre da Vassoura da Bruxa, que dizimou plantações inteiras. Quantos cultivares novos surgiram no mercado? Hoje temos o maior banco de germoplasma do mundo. Quanta tecnologia está sendo disponibilizada? Temos de render graças à introdução criminosa da Vassoura da Bruxa, deixando a punição dos responsáveis para Deus e prestigiarmos os profissionais do nosso Centro de Pesquisa, a Ceplac, solicitando informações, respostas práticas rápidas e objetivas para sairmos dessa crise temporária. Para agregar valor ao produto colhido, vários cacauicultores estão apostando no cultivo orgânico, na produção de produtos diferenciados, na instalação de plantas processadoras nas diferentes regiões do estado, fazendo o chamado cacau fino. Novos caminhos para poucos. Para a grande maioria dos cacauicultores fica o dever de casa que pode ser simplificado assim no decálogo que segue: 1. Não desprezar os cacaueiros chamados de velhos que deram boas produções e podem continuar produzindo por muitos anos mais. Basta que recebam tratos (carinho), e não sejam desprezados/renovados antes da hora. 2. A cada dois anos fazer uma replanta geral ou parcial colocando nas falhas os clones mais produtivos conhecidos. Para as replantas, abrir covas de bom tamanho, e adubar com 300 gramas de uma mistura de adubo mineral rico em fósforo e micronutrientes, principalmente o Boro, o Manganês e o Zinco. 3. Após o plantio das replantas, recobrir a área das coroas com resíduos vegetais encontrados nas proxi-

Florada intensa do pé de cacau

midades, visando reduzir a perda de água por evaporação e a necessidade de capinas. 4. Adubar as replantas a cada 60 dias com uma mistura a mais completa de macros e micronutrientes distribuindo inicialmente 25 gramas por planta e, à medida que as plantas vão crescendo, aumentar essa dose até 50 gramas por aplicação. 5. Anualmente entrar podando de maneira que as copas façam um bate folhas perfeito, que os ramos não se entrelacem, obtendo assim um IAF – Índice de Área Foliar dos mais adequados.

tura das copas a 3ª folha, sendo a primeira com mais de 20 cm, num total de 30 a 40 folhas por amostra composta. Encaminhar ao laboratório solicitando análise completa de macros e micronutrientes. Tais resultados devem ser interpretados de maneira a se observar as principais relações entre nutrientes. Só depois será indicada a próxima adubação de solo e foliar, que poderão ser modificadas, aumentadas, reduzidas ou mesmo canceladas. Grande economia com racionalidade à vista. 9. Respeite os mais velhos e não se aventure a fazer grandes áreas de uma

O Brasil é o 5º maior produtor e também possui o 5º maior parque moageiro de cacau. 6. Por ocasião da poda, fazer uma desbrota geral, deixando apenas os galhos produtivos bem implantados. 7. A cada dois anos amostrar o solo nas profundidades de 0 a 10 e 20 a 40 cm coletando em pelo menos 20 locais diferentes. Usar preferencialmente sonda de aço inox para amostragem. Solicitar ao laboratório análise completa de macros e micronutrientes. Com base nos resultados serão programadas as adubações chamadas de corretivas – calagem, fosfatagem e gessagem. 8. Cerca de 40 dias antes das floradas da safra e do temporão amostrar folhas, coletando em ramos a meia al-

só vez. Escolha a pior área da sua fazenda e comece por ela. 10. Pense positivo, evite julgar ações passadas, acredite no seu negócio, fuja de financiamento de qualquer espécie, treine seu pessoal e dê a eles um pagamento acima do usual na região, se não der para tocar por conta própria contrate parceiros que gostem de trabalhar e ganhar dinheiro. Marque presença na lavoura o mais constante que puder, pois “olho do dono é que engorda o caixa”, fazendo o que gosta, o que pode e o que deve ser feito. Lembrete – o sucesso se alcança com conhecimento, com recursos e com trabalho. março 2018 – Agro DBO | 29


Clima

Bom tempo favorece nova safra recorde No final das contas, conforme previsões do autor na Agro DBO, o clima está ajudando, apesar do atraso das chuvas no plantio. Marco Antônio dos Santos *

Previsão de anomalia de acumulado de chuvas para América do Sul para o trimestre março/abril/ maio de 2018, segundo o modelo americano CFSv2

15N EQ 15S 30S 45S 60S

90W

75W

60W

45W

30W

-10 -6 -4 -2 -1 -0,5 -0,25 0,25 0,5 1 2 4 6 10

A

* o autor é engenheiro agrônomo e agrometeorologista da Rural Clima.

pós início de safra bastante conturbado no Brasil, onde as chuvas demoraram a se regularizar em toda a região do cerrado, atrasando assim, o plantio da soja, o que se espera agora são índices de produtividade muito bons em praticamente todas as regiões produtoras de soja do país. Tanto se falava na possibilidade de que o fenômeno La Niña pudesse ocorrer e, com isso, secas terríveis ocorressem no Sul. Não foi isso que se observou ao longo de todo o ciclo da cultura. Apesar das águas do Oceano Pacífico se manterem abaixo da média, as chuvas ocorreram no Sul, e mesmo sendo muitas vezes irregulares, conferiram plenas condições ao desenvolvimento das lavouras. Somente na região norte do Mato Grosso é que as condições não foram tão favoráveis. Fevereiro se mostrou bastante chuvoso, prejudicando a colheita e elevando os índices de grãos ardidos e podres. Mas no restante das regiões produtoras do Centro-Oeste,

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no Sudeste e também do Matopiba, o que se observou foram chuvas regulares e em bons volumes. Desse modo, a safra 2017/18 de soja caminha para um novo recorde, podendo facilmente ultrapassar a barreira dos 114 milhões de t, registrada na safra passada. O mesmo se observa para todas as culturas no Brasil. Milho 1ª safra, apesar de uma redução bastante significativa na área cultivada, os índices de produtividade estão muito bons e até mesmo em algumas regiões, acima da média. Café, não há lavouras feias, pelo contrário, as lavouras estão em ótimo estado vegetativo e os grãos já começam a entrar em fase de maturação. No entanto, a safra de café só não será maior, como deveria ser, pois a forte estiagem associada às altas temperaturas ocorridas no mês de outubro, causaram danos ao florescimento e pegamento dos grãos. Na cana-de-açúcar, todas as regiões produtoras do Sul, Sudeste e Centro-Oeste apresentam excelentes condições fitossanitárias. A safra só não será superior à safra anterior por causa da idade avançada dos canaviais e um baixo nível tecnológico que vem sendo empregado nas lavouras. Mas tudo está se encaminhando para que a safra 2019 seja magnífica, já que os investimentos estão retornando ao setor e muitas áreas estão sendo renovadas, nas quais o resultado só vai aparecer a partir de 2019. Segundo os mapas de previsão, as condições climáticas continuarão beneficiando as lavouras durante

todo esse 1º semestre de 2017. Com o gradativo aquecimento das águas do Oceano Pacífico e a tendência de um clima próximo da neutralidade durante o outono, a tendência é que toda a estação tenha um clima semelhante ao ocorrido em 2017, ou seja, um clima perfeito ao desenvolvimento das lavouras de 2ª safra, como milho, algodão e feijão. Tudo indica que as chuvas tendem a se estender este ano até meados de abril e maio em toda a região do cerrado. O que manteria os solos com níveis adequados ao desenvolvimento das plantas. Conferindo assim, uma perspectiva de safra cheia para o milho, novamente. Porém, a safra só não vai superar os mesmos patamares de 2017, por dois motivos. Primeiro, a redução de área plantada nessa safra por conta de uma janela de plantio apertada e custos elevados de produção seguidos de preços baixos da commodity, resultando numa rentabilidade muito baixa. E, em segundo, o plantio de uma grande parcela das áreas dentro do mês de março. Que, mesmo com uma perspectiva de clima favorável, há uma redução natural no potencial produtivo das lavouras, por causa da diminuição do fotoperíodo. Assim, a perspectiva para a safra 2017/18 é de que o Brasil venha a colher novos recordes de produtividade e de produção. O clima não é o único e exclusivo autor, os produtores estão fazendo a lição de casa, que é o investimento em novas tecnologias e, sobretudo, recuperando seus solos.



Cultura

Machado sem cabo O saber do caboclo simples às vezes nos ensina de forma definitiva que a realidade da vida pode ser outra do que pensamos Rogério Arioli Silva*

A

* O autor é engenheiro agrônomo e produtor rural em Mato Grosso

s expressões populares usadas no interior do Brasil retratam fatos e realidades com assombrosa acurácia, mesclando definições dramáticas e risíveis num mesmo momento e mostrando como é possível aprender com pessoas extremamente simples e despojadas de quaisquer vestígios de cultura acadêmica. Dia destes, numa conversa informal, divagava-se sobre os rumos da juventude, nestes tempos de conexões velozes e emoções letárgicas, quando ouvi de um senhor o seguinte: os jovens hoje são machados sem cabo. Ao refletir sobre esta definição, concluo que é mesmo possível utilizá-la para os jovens. Assim como a cunha do machado, os jovens possuem grande capacidade de modificar a paisagem ao seu redor pela exuberante oferta de informações ao alcance dos polegares. Falta-lhes, no entanto, a disciplina e orientação alicerçada na experiên-

32 | Agro DBO – março 2018

cia e na sedimentação de conceitos que só o tempo pode oferecer. Esta direção – que produz eficácia nas ações – é representada pelo cabo. Mas vejam que não se trata de contundente crítica porque o inverso também é verdadeiro. Os mais velhos e experientes possuem a sabedoria passada e a segura direção a ser seguida, todavia não possuem a força e a agudeza da cunha uma vez que esta se encontra já com o fio desgastado pelo uso excessivo. Além das referências à juventude e maturidade esta analogia pode ser utilizada para inúmeras situações em que o país se encontra atualmente. Grande parte das instituições públicas nacionais, inchadas pelo assistencialismo e aparelhamento, tornaram-se machados sem cabo. Criadas para servirem os contribuintes hoje atuam apenas para servirem-se deles. Numa sanha em busca de mais e mais recursos, o próprio estado mergulhou num processo autofágico

onde tudo não é o bastante. Busca assenhorar-se das riquezas criadas pelo empreendedorismo nacional oferecendo em troca muito pouco, quase nada. Muitas políticas públicas que ditam regras impossíveis de serem cumpridas pelo cidadão comum são formatadas a toque de caixa, sem um mínimo de respeito ao bom senso. A polêmica da reforma previdenciária, por exemplo, tomou as ruas e virou assunto de botequim. Embora a maioria dos contribuintes compreenda a necessidade de mudanças para garantir o atendimento das futuras gerações, é difícil apoiar uma reforma aonde os maiores privilegiados – justamente aqueles que recebem os mais altos salários da república, permanecem incólumes. Benefícios onerosos à previdência como salários cumulativos, além de aposentadorias precoces e demais penduricalhos obtidos em chicanas ditas “legais” devem ser


as primeiras a serem cortadas, em respeito à maioria dos trabalhadores pobres que se aposentam com apenas um salário-mínimo. Na agricultura, seria possível exemplificar a questão da proposta de revogar a Lei Kandir – que isentou de ICMS as exportações de produtos primários, como outro belo exemplo de redobrar os esforços quando os objetivos já se perderam. Em vez de formatar programas que agreguem valor às matérias primas e, com isso, diminuam o impacto da carga tributária na composição final dos preços, alguns ainda teimam em querer tributar produtos de baixo valor agregado, que perderiam totalmente a competitividade. A Lei Kandir viabilizou, por exemplo, o crescimento da produção de soja nas fronteiras agrícolas com todos os desdobramentos positivos que isto representou ao país,

em geração de empregos e distribuição de renda e desenvolvimento regional de pequenas e médias cidades do interior. Este modelo de crescimento sustentável foi um dos poucos exemplos positivos que aconteceu no Brasil nos últimos tempos. Retirá-la, neste momento,

tantes do nosso Brasil. O que não se pode substituir, no entanto, é a certeza de que os campos sempre transferiram riquezas para as cidades, mas os investimentos públicos sempre priorizam estas ao invés daqueles, em histórica e permanente injustiça.

Entendi quando ouvi de um senhor o seguinte: os jovens hoje são machados sem cabo. seria como arrancar o cabo do machado, com efeitos danosos para toda a sociedade e benefício apenas para os cofres públicos estaduais e seus incertos destinos. Em nome da agilidade e conforto, o machado – que nossos avós tinham como ferramenta indispensável – foi substituído pela motosserra, assim como o cavalo vem sendo substituído pela motocicleta em muitos rincões dis-

A cultura interiorana torna simples fatos complexos e consegue, em poucas palavras, definições e retratos de grande amplitude das mazelas cotidianas. Que o amadurecimento da sociedade sirva para colocar o cabo em machados que agem desatinadamente, causando estragos frequentes em vez de semear práticas coerentes com as demandas sociais dos brasileiros.

março 2018 – Agro DBO | 33


Fitopatologia

Manejo de doenças de plantas causadas por oomicetos É importante ao produtor rural saber identificar as doenças na lavoura, para não incorrer em tratamentos inadequados. Fotos: Howard F. Schwatz

José Otávio Menten1 e Ticyana Banzato2

Batata

O

omicetos é um grupo de “fungos” que pertencem ao Reino Cromista e se caracterizam por apresentarem hifas sem septos e parede celular com

34 | Agro DBO – março 2018

β-glucanas, celulose e sem quitina. As estruturas reprodutivas assexuadas são os esporângios, que posteriormente originam os zoósporos por meio de clivagem citoplasmática, e as estruturas re-

produtivas sexuadas são os gametângios: oogônio (gametângio feminino) e o anterídio (gametângio masculino), responsáveis na maioria das vezes pela sobrevivência do oomiceto no solo. São parasitas obrigatórios os agentes causais das ferrugens brancas (Albugo) e dos míldios (Plasmopara, Peronospora, Peronosclerospora, Pseudoperonospora, Sclerophthora, Basidiophora e Bremia) e parasitas facultativos os agentes causais da requeima, gomose, podridões, cancro, murcha e queimas (Phytophthora) e de tombamento, podridão das raízes, colo e colmo (Pythium). Assim como os demais fungos e outros agentes causais de doenças de plantas (bactérias, vírus, nematoides e fitoplasmas), os oomicetos causam doenças quando encontram hospedeiros suscetíveis e ambientes favoráveis. Geralmente em condições de alta umidade/chuvas e temperaturas amenas/baixas, infectam, colonizam e se reproduzem nas plantas, interferindo em diversos processos fisiológicos, causando sintomas característicos. A doença mais importante causada pelos oomicetos é a requeima da batata e do tomate, causada por Phytophthora infestans. Esta doença foi responsável pela morte de 2 milhões de pessoas e provocou fuga de 1 milhão de imigrantes da Irlanda, espe-


Fotos: Yuan-Min Shen

cialmente para os EUA, por volta de 1845, devido a redução de 80% na produção de batata, base de alimentação da população naquela época. No Brasil a requeima da batata e do tomate infesta a maioria das lavouras de tomate e batata, no Sul, Sudeste e Centro-Oeste, e causa significativos prejuízos aos produtores. Mais de 50% das espécies de plantas cultivadas podem ser afetadas por oomicetos, entre as principais estão: algodão, arroz, cacau, cana, feijão, fumo, milho, seringueira, sorgo, abacate, abacaxi, caju, citros, maçã, mamão, morango, videira, alface, cebola, crucíferas, cucurbitáceas, gengibre, ornamentais e solanáceas. Para manejar doenças de plantas, podem ser utilizadas diversas medidas que fazem parte dos métodos biológicos, químicos, genéticos, culturais, físicos e integrados. Para controle de doenças causadas por oomicetos a medida mais utilizada é a aplicação de fungicidas, que pertencem a grupos, em geral, diferentes dos produtos normalmente usados para controle de ascomicetos, basidiomicetos e deuteromicetos (estes fungos têm ergosterol na membrana celular; os oomicetos têm pouco ergosterol) e uso de cultivares com resistência genética aos oomicetos. Além disso, é possível adotar diversas medidas culturais como local de cultivo sem neblina e sem solos encharcados, arejamento, poda, material de propagação sadio, eliminação de tecidos doentes e de hospedeiros alternativos, rotação de cultura com espécies não hospedeiras, boa drenagem, nutrição equilibrada, evitar ferimentos nas plantas com o trânsito do maquinário, pH do solo equilibrado, descompactação do solo e semeadura rasa contribuem para reduzir a quantidade dessas doenças. A utilização de agentes de controle biológico,

Tomate

Mais de 50% das espécies de plantas cultivadas podem ser afetadas por oomicetos. como aplicação de Trichoderma e Gliocladium, e de medidas físicas como solarização e armazenamento em baixas temperaturas, também podem contribuir com o manejo das doenças causadas por oomicetos. Entre os fungicidas estão os conhecidos genéricos, e podem ser utilizados produtos imóveis/ protetores e erradicantes como cúpricos, mancozeb, clorotalonil, tiram, metiram, captana, propinebe, fluazinam, folpet, famoxodine,

zoxamida, fentina, ditiamina e mandipropamida. Também podem ser utilizados fungicidas sistêmicos/curativos especializados em oomicetos, como cimoxamil, metalaxil-M, fosetil, benalaxil, dimetomorfe, iprovalicarbe, propamicarbe, azoxistrobina, acibenzolar-S-metil e outros. Estes produtos, por serem sítio-específicos, devem ser usados com critério e rotacionados para reduzir a possibilidade de surgimento de linhagens resistentes aos oomicetos.

*Os autores são 1 – Professor Sênior USP/ ESALQ, Secretário do Meio Ambiente de Piracicaba e Membro do CCAS (Conselho Científico Agro Sustentável) 2 Engenheira Agrônoma Doutora em Fitopatologia USP/ESALQ

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Agroinformática

O digital na pesquisa agropecuária A informática está ajudando a trazer a pesquisa para perto do produtor rural, e minimiza a ausência da assistência técnica Manfred Schmid *

A

*O autor é engenheiro agrônomo e diretor da Agrotis Agroinformática.

cada safra são lançados no mercado novas formas de produção, cultivares, produtos fitossanitários, fertilizantes, máquinas. A oferta e procura por novidades é tão grande, que, em plena época da comunicação pela internet, as feiras agropecuárias continuam crescendo e quebrando recordes de público. Estas novidades empolgam, mas geram dúvidas na cabeça dos produtores rurais. Funciona? Qual é melhor para as minhas condições? Vale o investimento? Esta situação tem gerado uma crescente demanda por pesquisa, principalmente experimentação agrícola. Antes restritos aos órgãos governamentais de pesquisa, os ensaios experimentais migraram para a iniciativa privada, inicialmente pelas fundações (verdadeiras PPPs), e depois em estações particulares, ligadas à grandes empresas, cooperativas, associações e, mais recentemente, a produtores rurais. São protocolos de ensaios comparando insumos, formas de produ-

36 | Agro DBO – março 2018

ção, mecanização, cultivares, épocas de plantio e outras tecnologias. Para exemplificar, há algumas safras, aguardávamos o resultado dos ensaios de competição de cultivares, para conhecer as novidades. Eram os chamados ensaios em rede, repetidos em várias regiões edafoclimáticas. Hoje são lançados anualmente centenas de novos cultivares (só em soja temos quase 1.800 cultivares registradas), o que inviabilizou a existência de um ensaio oficial centralizado. A demanda passou a ser atendida regionalmente, em novas estações de pesquisa. Outra situação marcante são as novas empresas que trabalham com pesquisa de melhoramento genético de plantas. Num mercado antes restrito às empresas públicas e grandes multinacionais, surgiram diversas empresas particulares obtentoras de cultivares. Um programa de melhoramento, para lançar uma nova cultivar, gerará milhares de parcelas durante 8 ou mais gerações, até se chegar em linhagens estáveis. É comum acompanharmos empresas com mais de cem mil parcelas numa safra. O que está facilitando o surgimento de novas empresas na pesquisa é a evolução da informática aplicada a este setor. Hoje os novos softwares específicos são verdadeiras plataformas para planejar os ensaios, detalhar protocolos, reservar recursos e áreas, de forma padronizada. As informações (números, atributos, imagens) são coletadas e armazenadas de forma associada com as parcelas e seus tra-

tamentos. A estes dados são aplicados testes estatísticos para validar hipóteses e então chegar a conclusões científicas. Tarefas repetitivas, mas criteriosas, ideais para serem informatizadas. No lado do hardware, a evolução começa com os smartphones que, com etiquetas QR-CODE, aposentaram de vez a boa e velha prancheta. Os dados coletados no campo, não precisam ser redigitados. Uma foto tirada já é armazenada anexada à parcela e ao tratamento. O GPS do equipamento confirma localização de ensaios e até de parcelas. Toda informação é comunicada ao software, para as análises do pesquisador. Outra sensação são as colheitadeiras de parcelas com IoT: pequenas, de fácil manobra, alimentadas eletronicamente com o croqui do ensaio, colhem separadamente as parcelas, registrando a produtividade e umidade automaticamente, empacotando e etiquetando amostras para análises laboratoriais. É incalculável o ganho de eficiência. Em nossa experiência, informatizando estações de pesquisa, os maiores ganhos com a implantação de um bom sistema estão na governança, no aumento da eficiência, na padronização de processos e na segurança das informações. E o curioso é que as novidades tecnológicas aplicadas à pesquisa e experimentação, estão fomentando novos centros de pesquisa, que, por consequência, trarão novas tecnologias, num empolgante ciclo moto-contínuo. Viva a tecnologia agrodigital.


Realizadores

Promoção & Organização


Política Agrícola

Agricultura brasileira: o próximo salto Os autores sugerem um olhar realista do governo para que a irrigação agrícola possa avançar e melhorar a produtividade Pedro Abel Vieira 1, Antônio Márcio Buainain 2, Durval Dourado Neto 3 e Elísio Contini 4

N Os autores são: 1 - Pesquisador da Secretaria de Inteligência e Macroestratégia da Embrapa 2 - Professor doutor do Instituto de Economia da Unicamp 3 - Vice Diretor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz 4 - Chefe da Secretaria de Inteligência e Macroestratégia da Embrapa

as três últimas décadas a produção agrícola brasileira cresceu mais do que a média mundial e projetou o Brasil no mundo como uma potência agropecuária. Os resultados alcançados pela agricultura brasileira são devidos, principalmente, aos ganhos de produtividade associados às inovações tecnológicas e organizacionais. Entre 1997 a 2015 a Produtividade Total dos Fatores (terra, capital e mão de obra) da agricultura brasileira cresceu 4,28% a.a., mais do que o dobro da verificada nos EUA. Este aumento da produtividade permitiu o efeito poupa terra e tem contribuído fortemente para a mitigação ambiental, indi-

38 | Agro DBO – março 2018

cando que os “pacotes tecnológicos” levam em conta, cada vez mais, as restrições ambientais e a necessidade de promover a sustentabilidade no sentido amplo. Em estudo sobre a Produtividade Ambientalmente Ajustada da agropecuária brasileira, José Eustáquio Vieira Filho, pesquisador do IPEA, identificou que entre 1990 e 2014 a emissão de Gases do Efeito Estufa (GEE) decorrente da produção da carne bovina caiu pela metade: ou seja, em ¼ de século praticamente dobrou a produção de carne bovina por unidade de emissão GEE. Alterações semelhantes também foram verificadas nas produções de cana-de-açúcar, grãos, algodão e soja, entre outros. Impor-

tante ressaltar que essa tendência deve se acentuar com a difusão de programas “verdes” que vêm sendo implantados na última década e que buscam promover a Agricultura de Baixo Carbono (ABC). O modelo de agricultura tropical desenvolvido no Brasil está baseado na inovação que privilegia o uso de insumos e de máquinas e equipamentos modernos, o que explica o crescimento da produtividade do capital e da mão de obra. Porém, essa tecnologia não tem logrado elevar, da mesma maneira, a produtividade da terra, que é a base do sistema. A produtividade da terra, que praticamente não variou entre 1975 a 2005, apresenta sinais de


redução após o ano de 2006. Ainda que o Brasil conte com uma fronteira de 60 milhões de hectares que poderiam ser incorporados à produção, e que poderiam sustentar o crescimento sem necessidade de desmatar novas áreas, esta possibilidade depende, fundamentalmente, da capacidade de inovação e da dotação de infraestrutura. Os resultados positivos não podem mascarar que, embora a produtividade total dos fatores tenha crescido, o ritmo de crescimento da produtividade de cada fator tem sido desigual. Esta constatação revela a necessidade de uma nova trajetória tecnológica para a agricultura tropical do Brasil que privilegie a produtividade da terra. Esta nova trajetória já pode ser visualizada na região dos Cerrados, que representa cerca de 35% da área plantada com lavouras temporárias no Brasil. Com a introdução da segunda safra de milho, a produtividade da terra no Centro-Oeste mudou significativamente, uma vez que, além dos 2.963 kg de soja produzidos em cada ha durante o ano de 2016, somaram-se mais 1.670 kg de milho colhidos na segunda safra de milho (Tabela 1). Uma pista sobre o ‘novo’ paradigma tecnológico dedicado a aumentar a produtividade da terra vem da comparação entre os rendimentos obtidos no Centro-Oeste nas segundas safras de milho nos anos de 2015 e 2016. O rendimento da safra 2016 equivaleu a apenas 63% daquele obtido em 2015 devido à forte estiagem, que poderia ser mitigada com o uso da irrigação. A irrigação, além de mitigar o risco de produção, possibilita ocupar a terra por um período de tempo maior e viabiliza a diversificação da produção com espécies de maior valor agregado, a exemplo das hortaliças. Apesar de a área irrigada no

Brasil ter crescido mais de 5% ao ano na última década, os números também revelam onde estamos quando comparados aos EUA. Enquanto o Brasil conta com pouco mais de seis milhões de ha irrigados (Tabela 2), o correspondente a menos de 10% da área cultivada com grãos ou cerca de 2% da área agrícola total, nos EUA a área irrigada é de cerca de 23 milhões de ha, correspondendo a 32% da cultivada com grãos ou 5,5% da área agrícola total. A questão que se coloca é: por que a área irrigada é menor que a dos EUA e quais os entraves para o crescimento da área irrigada no Brasil? A resposta envolve vários fatores, isolados ou em combinação. Em alguns casos, a pergunta inicial é questionar a própria necessidade da irrigação; a disponibilidade de área adicional irrigável, ou o custo para criar áreas irrigáveis. A área irrigada existente – parcialmente subutilizada, a aptidão agrícola e a disponibilidade de água são também variáveis relevantes. Considerando esses fatores, a Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq), contratada no ano de 2014 pela Secretaria Nacional de Irrigação, do Ministério da Integração Nacional, estimou potencial em aumentar cerca de 10 vezes a área irrigada no Brasil, chegando a casa de 60 milhões de ha. Mesmo considerando apenas as áreas com melhor aptidão de solo e relevo, o potencial de irrigação no Brasil ultrapassa 18 milhões de ha, um valor próximo ao dos EUA (Tabela 2). Associando variáveis socioeconômicas e do interesse ambiental, as áreas de expansão da irrigação foram classificadas pela Esalq em: 1) máximo interesse de intervenção pública; 2) interesse elevado de

Figura 1. Classes territoriais de agricultura irrigada no Brasil e priorização da expansão (Esalq, 2014).

n M & R - baixa prioridade n M & R - média prioridade n M & R - alta prioridade n Expansão - baixa prioridade n Expansão - média prioridade n Expansão - alta prioridade n Reserva Técnica - baixa prioridade n Reserva Técnica - média prioridade n Reserva Técnica - alta prioridade n Não prioritária n Áreas Protegidas*

intervenção pública; 3) interesse compartilhado de intervenção pública; 4) fomento de interesse privado; 5) monitoramento e regulamentação; 6) intervenção pública específica e monitoramento, e 7) monitoramento (Figura 3). Figura 2. Classes territoriais de irrigação

n Máximo interesse de intervenção pública n Interesse elevado de intervenção pública n Interesse compartilhado de intervencão pública n Fomento de interesse privado n Monitoramento e regulamentação n Intervenção pública específica & Monitoramento n Monitoramento - Outras estratégias de desenvolvimento

março 2018 – Agro DBO | 39


Política Agrícola Figura 3. Classes (baixa, média e alta) de qualidade energética (CQe) por município brasileiro no ano de 2016 (Assunção, 2017).

Alta Média Baixa

Nas áreas classificadas como 5 e 6, localizadas principalmente no sertão e agreste nordestino, sul do Rio Grande do Sul e entornos de regiões metropolitanas, a área total irrigável já está próxima de sua capacidade máxima, portanto, a expansão impõe riscos ambientais elevados e/ou uso concorrente da água. Considerando que há irrigação em grande quantidade nessas bacias, intervenções de expansão específicas e de pequena área que não elevem os custos ambientais podem ser apoiadas por iniciativas públicas ou privadas,

porém, o investimento em infraestrutura de preservação de água e estratégias de manejo da irrigação é de suma importância. Nas áreas classificadas como 1, 2 e 3, de ampla distribuição, especialmente no leste de Tocantins e Maranhão, Piauí, norte e leste de Minas Gerais, região central do Paraná e parte do centro do Rio Grande do Sul, porém, de menor ocorrência na região Norte e na parte central do Centro-Oeste. Nesses espaços, apesar da boa condição do meio físico não houve desenvolvimento expressivo do ambiente rural, assim, a intervenção pública se justifica pelo interesse coletivo do desenvolvimento, pela ineficácia com que o atual modelo produtivo beneficiou o coletivo e pela facilidade de promover o desenvolvimento da agricultura irrigada como opção de longo prazo para a bacia, tanto para a área irrigada como não irrigada. Nas áreas classificadas como 7, localizadas principalmente na região Norte, Pantanal e região central de Goiás, o desenvolvimento da agricultura irrigada não é viável do ponto de vista de infraestrutura instalada e há condições de meio físico muito limitantes em alguns casos. As estratégias de desenvolvimento para a bacia não devem considerar esta opção. Nas áreas classificadas como 4, predominantemente na parte central do Centro-Oeste, São

Paulo, oeste baiano, norte do Paraná e Rio Grande do Sul, apesar da boa condição do meio físico, não houve desenvolvimento expressivo da irrigação. Considerando que nessas regiões o desenvolvimento da agricultura é bom, a prioridade é expandir e promover a agricultura irrigada com participação prioritária da intervenção privada. Integrando as variáveis socioeconômicas, ambientais e agronômicas, foi possível identificar as áreas prioritárias (baixa, média e alta) para expansão da agricultura irrigada, bem como aquelas a serem Mantidas e Recuperadas (M&R), além das áreas de Reserva Técnica (Figura 1). Importante ressaltar que o maior potencial de irrigação está no Centro-Oeste, onde a segunda safra de milho tem crescido a despeito da elevada incerteza climática para esse cultivo (Tabela 1). Apesar do potencial indicado, o trabalho da Esalq sugere a presença de importantes limitações para o crescimento da agricultura irrigada no Brasil. Permanece, assim, a questão: quais os entraves para a área irrigada no Brasil crescer? Antônio Assunção, doutorando da Esalq, indica que o crescimento da área irrigada no Brasil pode ser limitado pela disponibilidade e distribuição de energia, apontada pelo Índice de Qualidade Energética (Figura 4). O cálculo da variável qualitativa

Tabela 1. Área plantada (ha), produção (Kg) e produtividade agrícola de soja, milho (1ª. e 2ª. safra) no Brasil e na região Centro-Oeste nos anos de 2015 e 2016 (IBGE, 2017). Centro-Oeste Área (ha)

Produção (kg)

Rendimento (kg.ha-1)

2015

2016

2015

2016

2015

2016

14.666.590

14.989.590

43.943.604

44.140.654

3.000

2.963

Milho 1º safra

363.822

324.387

2.447.076

2.432.227

6.863

7.524

Milho 2º safra

6.362.780

6.906.922

38.674.719

25.034.630

6.078

3.852

Soja

40 | Agro DBO – março 2018


Recursos naturais e energia, apesar de problemas pontuais, não são limitantes absolutos ao crescimento da irrigação. de infraestrutura elétrica está baseado no valor mínimo da distância de um determinado ponto até o segmento de distribuição de energia elétrica trifásico mais próximo. Esse índice indica que a irrigação na região do Cerrado, em sua maioria, demanda redes com extensões maiores que 30 km, um grande problema ao considerar que um km de rede elétrica no Brasil custa cerca de 60% mais do que nos EUA. Porém, a solução para essa questão já está em curso com o uso das energias renováveis e distribuídas, a exemplo da solar. Recursos naturais e energia, apesar de problemas temporários e/ou pontuais, não são limitantes absolutos ao crescimento da irrigação no Brasil, e assim, permanece a questão: quais os entraves para a área irrigada no Brasil crescer? Aquele agricultor que já solicitou autorização aos órgãos públicos responsáveis pela gestão dos recursos naturais (especialmente a água) no Brasil pode fornecer uma pista importante. A burocracia e a estrutura precária de instituições responsáveis pelo meio ambiente fazem com que, em muitas unidades da federação, uma autorização

para captação de água para irrigação não seja emitida em prazo inferior a um ano. A burocracia, associada ao monitoramento, se justifica pelo risco que o uso indiscriminado dos recursos naturais representa ao país, mas a necessidade de monitoramento não justifica o excesso de zelo, morosidade e muito menos a ineficácia da burocracia. Diante de tanta burocracia, como explicar que o Distrito Federal, uma unidade da federação com um dos melhores sistemas de gestão dos recursos hídricos do país, sofra a maior crise hídrica dos últimos anos? Será apenas uma manifestação de São Pedro? O caso do Distrito Federal deixa claro que a burocracia atrapalha, mas não impede nem a boa nem a má utilização dos recursos naturais, o que deixa ainda em aberto a pergunta sobre os entraves para o crescimento da área irrigada no Brasil. Como se vê, a resposta não é trivial, e provavelmente reúne parte de cada um dos fatores aqui alinhados. Os estudos da Esalq estão na direção correta e fornecem subsídios para que a tomada de decisão para o uso de água ocorra em bases técnicas e empíricas, deixando de lado o

subjetivismo ambientalista. Obviamente que os estudos sobre o uso e gestão da água per se, que devem ser realizados com recortes espaciais adequados a cada realidade regional, não promoverão isoladamente o aumento da área irrigada no Brasil, mas, sem eles, é impossível estabelecer qualquer politica para o desenvolvimento da agricultura irrigada. Ou seja, apesar do uso da irrigação remontar ao antigo Egito, esse é o ‘novo’ paradigma da produção agrícola brasileira e, como tudo que é novo, carece de cuidados especiais, os quais, apesar de iniciativas como o Programa de Incentivo à Irrigação e à Armazenagem e o Programa de Financiamento à Agropecuária Irrigada, a irrigação ainda não recebe a devida atenção das politica públicas por falta de conhecimento empírico. Na era do big data, da internet das coisas e do sensoriamento remoto, entre outras tecnologias, é viável ao Brasil dispor de um sistema eficiente e em tempo real sobre a oferta e a demanda de água de cada otobacia, esse o ‘novo paradigma tecnológico’ a ser perseguido pelo país para que possa garantir o próximo salto de produtividade agrícola.

Aptidão do solo e relevo Alta

Total Média

Baixa

2013

Potencial

2013

Potencial

2013

Potencial

2013

Potencial

ha

%

ha

%

Norte

27.815

2.059.173

75.073

3.818.623

102.767

5.148.649

205.655

3,4

11.026.445

18,0

Nordeste

502.615

1.743.102

517.922

3.176.922

472.364

3.181.048

1.492.901

24,7

8.101.073

13,2

Sudeste

861.943

3.425.917

675.081

3.794.523

660.804

6.887.616

2.197.828

36,4

14.108.056

23,0

Sul

434.633

2.281.044

308.812

2.303.516

536.447

4.126.770

1.279.892

21,2

8.711.330

14,2

Centro Oeste

503.391

8.917.466

227.989

6.555.926

132.182

3.937.393

863.562

14,3

19.410.784

31,6

Total Ha

2.330.397

18.426.702

1.804.877

19.649.510

1.904.564

23.281.476

6.039.838

Total %

38,6

30,0

29,9

32,0

31,5

37,9

61.357.688 100,0

100,0

março 2018 – Agro DBO | 41


Biotecnologia

Transgênicos orgulhosamente brasileiros Apesar de todas as dificuldades pelas quais a pesquisa nacional passa, fomos capazes de desenvolver produtos inovadores. Hugo Molinari *

N

ão é fácil desenvolver um novo transgênico. De acordo com um estudo inglês, de autoria da consultoria Phillips McDougall, para um produto chegar ao mercado são necessários, em média, treze anos de estudos. Este é o período entre a descoberta do gene e a liberação comercial de uma cultivar na qual há um trecho de DNA de outro organismo ou na qual o genoma da própria variedade está editado. Em outras palavras, isso significa que, se o Brasil comemora 20 anos de transgênicos em 2018 (o primeiro OGM do país foi aprovado em 1998), podemos calcular, para além deste tempo, pelo menos mais 10

26% restantes investidos em testes de biossegurança e no processo de aprovação. O rigor das avaliações pelas quais passam esses produtos torna o trabalho com biotecnologia agrícola uma atividade de risco e custo altos, e poucas empresas têm capital suficiente para investir quantias dessa grandeza e esperar mais de 10 anos para ter algum retorno, isso se tudo der certo. Esse cenário é restritivo para pequenas e médias empresas. Portanto, é fundamental valorizar a pesquisa brasileira nessa área. Em nosso país, apesar de todas as dificuldades pelas quais a pesquisa pública passa, com restrições de orçamentos, fomos capazes de desen-

A valorização do conhecimento científico é um dos alicerces de uma economia robusta

*O autor é engenheiro agrônomo, pós-doutor em genética vegetal e pesquisador da Embrapa

anos de pesquisa e desenvolvimento. Isso representa 30 anos de transgênicos sem nenhum registro de malefício à saúde humana ou animal, ou ao meio ambiente. É muita coisa. No mínimo, isso confirma a segurança desses produtos, desde o princípio atestada por inúmeros pesquisadores e agências reguladoras. Mas o tempo não é a única variável que deve ser levada em conta. A biotecnologia é uma atividade que demanda muito investimento. Ainda segundo a consultoria, um novo transgênico custa, em média, US$ 136 milhões (cerca de R$ 400 milhões). Deste total, 51% são usados para o desenvolvimento do produto, 23% na descoberta do gene e os

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volver produtos inovadores e que têm potencial não só de facilitar a vida dos agricultores, mas de fazer o Brasil chegar mais perto dos líderes globais desse mercado. A Embrapa, por exemplo, foi a primeira empresa pública do mundo a aprovar um OGM. Em 2011, ela conseguiu, na Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), a autorização para a comercialização do feijão GM resistente ao vírus do mosaico dourado, doença que devasta as lavouras dessa leguminosa. A empresa também está em fases avançadas de uma soja e uma cana-de-açúcar GM tolerantes à seca, esperança para os agricultores de regiões com pouca disponibilidade de água.

Todavia, não é só a Embrapa que conseguiu superar as dificuldades, pesquisar e desenvolver biotecnologia agrícola no Brasil. A FuturaGene, empresa que foi adquirida pela brasileira Suzano Papel e Celulose em 2010, obteve a aprovação em 2015 de um eucalipto transgênico, com maior produtividade florestal. O primeiro eucalipto GM do mundo tem potencial, por exemplo, de diminuir a área plantada com a cultura, reduzindo a pressão sobre as florestas naturais e disponibilizando essas áreas para outros fins, como produção de alimentos e preservação. O Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), outra empresa nacional, também está na vanguarda da biotecnologia vegetal. Em 2017, a CTNBio aprovou a cana-de-açúcar GM da empresa, uma variedade inovadora que apresenta resistência à broca-da-cana, inseto que causa prejuízos milionários à indústria sucroenergética, fundamental para o Brasil. Esses exemplos mostram que o Brasil pode se tornar um importante player em biotecnologia. Para isso, é essencial que o esforço dos cientistas brasileiros seja reconhecido, tanto nos serviços prestados à CTNBio, por meio de criteriosas análises de biossegurança, quanto nas empresas, liderando pesquisas de ponta que levem a produtos que podem revolucionar a agricultura. A valorização do conhecimento científico é um dos alicerces de uma economia robusta, diversa e, sobretudo, sustentável.



Biblioteca da Terra Tecnologia de Aplicação

Lançamento da Fepaf – Fundação de Estudos e Pesquisas Agrícolas e Florestais, o livro Entendendo a Tecnologia De Aplicação descreve alguns dos principais fatores que interferem no processo de pulverização de lavouras com produtos fitossanitários: a cobertura dos alvos, o espectro de gotas, as classes de tamanho de gotas, a seleção de pontas, o volume de calda, as condições meteorológicas, a deriva, os adjuvantes e as formulações. Os autores, Ulisses Rocha Antuniassi, Fernando Kassis Carvalho, Alisson Augusto Barbieri Mota e Rodolfo Glauber Chechetto, discutem questões estratégicas para otimização da tecnologia de aplicação, como, por exemplo, a maneira correta de se analisar a relação do espectro de gotas com as características dos alvos nas aplicações. Com 52 páginas, o livro custa R$ 25. Para comprá-lo, acesse o site www.fepaf.org.br.

Passo a passo da árvore

Análise de solo

O guia Orientações para plantio, colheita e comercialização de espécies florestais nativas da Mata Atlântica no Estado de São Paulo destina-se a pessoas físicas e jurídicas interessadas em exploração comercial de madeiras, sementes, frutos e flores ou repovoamento de áreas degradadas do bioma. A autora, Maria Luíza Franceschi Nicodemo, pesquisadora da Embrapa Pecuária Sudeste, se baseou em dados da Embrapa Florestas, de empresas e instituições do setor, do Ibama e de um experimento com sete espécies nativas implantados em área da própria Embrapa Pecuária Sudeste, em São Carlos (SP). A publicação pode ser acessada gratuitamente pelo link https://ainfo.cnptia.embrapa. br/digital/bitstream/item/170848/1/Documentos127.pdf

A terceira edição do Manual de Métodos de Análise de Solo inclui novas metodologias, entre as quais as de análise de nitrato e amônio, fósforo remanescente, carbono pelo CHN, morfometria dos grãos de areia e micromorfologia, além do DRES – Diagnóstico Rápido da Estrutura do Solo, desenvolvido pela Embrapa Solos. “É uma publicação tradicional, muito consultada; mais de 400 laboratórios no Brasil seguem seus protocolos”, diz o pesquisador Paulo César Teixeira, um de seus editores técnicos. “É um livro prático, pensado de modo que qualquer técnico capacitado possa realizar as análises por meio de um passo a passo bem detalhado, a fim de obter resultados confiáveis.”Com 573 páginas, está disponível para download (PDF) em http://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/171907/1/ Manual-de-Metodos-de-Analise-de-Solo-2017.pdf

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Novidades no campo Pulverizador com maior autonomia

▶fensor 3500, com motor FPT Industrial de seis cilindros e 250 cv de A New Holland levou para o Show Rural Coopavel o pulverizador De-

potência, tanque com capacidade para 3.500 litros e barras opcionais de 27, 30 ou 36 metros. “Tanques menores, como os da concorrência, obrigam o agricultor a abastecer mais vezes e perder mais tempo”, diz Diego Torres, da área de marketing da empresa. “Quanto à extensão da barra, não significa que a de 36, por exemplo, implique em maior gasto de combustível. Pelo contrário, com o motor FPT Industrial, uma barra maior e um tanque amplo, o Defensor não irá perder em economia”.

Colhedora melhorada

▶como um dos destaques da empresa na feira, a Apresentada no Show Rural Coopavel

A8810DA, nova colhedora de cana-de-açúcar da Case IH, embute 29 melhorias. Entre elas, o novo tanque de combustível feito com material plástico desacoplado do chassi, com capacidade para 620 litros de diesel. Para melhorar a visibilidade noturna, o sistema de iluminação de halogênio foi substituído por lâmpadas de LED. O monitor XCN 2050, com sistema Android, permite ao usuário monitorar em tempo real todas as informações relacionadas à colheita, com troca de dados sem fio entre campo e escritório, por meio do app TeamViewer.

Feijão superprecoce

▶semeadura à maturação dos grãos) e potencial produ-

A cultivar BRS FC 104 tem ciclo abaixo de 65 dias (da

tivo de até 3.792 kg/ha. Ela foi registrada para as épocas das águas, seca e inverno em GO, DF, MT, ES, RJ e BA; águas e seca no MS, PR, SC, SP e RS; inverno no TO e águas no MA, SE, AL, PE, RN, PI, CE e PB. “A superprecocidade representa vantagem competitiva para o agricultor. Com plantio antecipado nas águas e no inverno, ele evita doenças de solo; na safra de verão, reduz o risco de perdas por veranicos”, diz o coordenador do programa de melhoramento de feijão da Embrapa Arroz e Feijão, Leonardo Melo.

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Inovações em campo

▶gias no Show Rural Coopavel, rea-

A Embrapa lançou várias tecnolo-

lizado de 5 a 9 de fevereiro em Cascavel (PR), entre as quais duas cultivares de soja (BRS 511 e BRS 433 RR, ambas em parceria com a Fundação Meridional) e uma de feijão-carioca (BRS FC 104). A BRS 511 chega ao mercado para auxiliar o manejo da ferrugem asiática da soja, mas não dispensa o controle químico. “Seu diferencial é retardar o avanço da doença, promovendo maior estabilidade de produção quando as condições climáticas forem desfavoráveis à aplicação de fungicidas”, ressalta o pesquisador da Embrapa Soja, Carlos Lásaro Pereira de Melo.

Inseticida aéreo

▶cial

A Basf obteve autorização ofipara aplicação aérea do inseticida Nomolt 150 (Teflubenzuron) para controle da broca da cana (Diatraea saccharalis). Já utilizado em outros cultivos, como soja e milho, a tecnologia apresenta eficácia comprovada como regulador de crescimento de insetos. Outra vantagem, segundo a empresa, é a seletividade do produto. No caso da cana-de-açúcar, não afeta, por exemplo, a Cotésia flavipes, vespinha utilizada em controle biológico. Além de cana, soja e milho, o Nomolt 150 é recomendado para controle de lagartas em outras culturas.


Novidades no campo Melancia com poucas sementes

▶Doce chegou finalmente aos con-

A primeira safra comercial da Pingo

Versatilidade e eficiência

▶de pulverizadores automotrizes com o lançamento do Uniport 2030, com

No ano em que celebra 70 anos de fundação, a Jacto reforça sua família

barras opcionais de 24 e 30 metros. Uma das atrações da empresa no Show Rural Coopavel, o modelo atende os anseios de agricultores por pulverizadores automotrizes de menor porte, porém com capacidade de tração para trabalhar em uma ampla variedade de terrenos – ele é capaz, por exemplo, de pulverizar lavouras em terrenos com até 30% de inclinação. . O vão-livre de 1,60 metro aumenta sua disponibilidade de uso em culturas de maior porte.

Milho Saboroso

sumidores. Desenvolvida pela unidade de sementes de hortaliças e vegetais da Bayer, tem como características destacáveis a quantidade menor de sementes, tamanho reduzido (seu peso varia de 6 a 8 quilos – as mais comuns chegam a pesar 15 quilos), sabor e doçura acentuados. Segundo a empresa, a Pingo Doce tem o dobro de antioxidantes, comparativamente às melanciais convencionais, e alto teor de licopeno. Outra característica que ajuda a identificá-la é a casca integralmente escura, única do mercado.

Proteção contra a ferrugem

▶rugem asiática em lavouras de soja. “Com formulação única e inovadora,

O Nillus, da Ourofino Agrociência, obteve registro para controle da fer-

é composto por micropartículas que proporcionam melhor recobrimento das plantas e maior período de controle, contribuindo para o manejo da resistência de doenças fúngicas”, afirma Flávio Falcão, gerente regional da empresa. À base de Clorotalonil, do grupo químico Isoftalonitrila, também é indicado para as culturas de amendoim, arroz, banana, batata, berinjela, cenoura, citros, feijão, maçã, melancia, melão, pimentão, soja, tomate, trigo e uva.

▶de milho verde desenvolvido pela As sementes do primeiro híbrido

Embrapa, o BRS 3046, já estão disponíveis no mercado. Batizado de Saboroso, é indicado para cultivo no Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste do Brasil, além das regiões norte, nordeste e oeste do Paraná. Segundo o pesquisador Paulo Evaristo de Oliveira Guimarães, da Embrapa Milho e Sorgo, o Saboroso é superior, agronomicamente, a outros híbridos existentes no país. Superprecoce, com grãos de cor amarelo alaranjado e produtividade de 30 mil a 40 mil espigas por hectare, pode ser usado também na produção de silagem.

Corantes para fertilizantes

▶Latino Americano 2018, Lançada na Fertilizer

realizada em janeiro em São Paulo, a linha de corantes poliméricos Liquitint Agro, da Miliken, foi projetada para fertilizantes. É usada para indicação, identificação e identidade de marca ou de produtos. “As cores também podem ser usadas para indicar tipos de nutrientes, misturas para culturas específicas ou diferenciação de tecnologia”, explica o gerente da empresa, Rafael Zangarini. Segundo ele, o manuseio é fácil e não acarreta problemas usuais de manchamento. “Além disso, os corantes reduzem a contaminação entre lotes e oferecem revestimento final uniforme”, garante. março 2018 – Agro DBO | 47


Calendário de eventos

MARÇO

13

23°Fenicafé/Feira Nacional de Irrigação em Cafeicultura

– De 13 a 15 – Pica Pau Country Club – Araguari (MG) – Fone: : (34) 3242-8888 – Site: www.fenicafe.com. br – E-mail: fenicafe@aca.com.br

20

5º Show Safra BR163 – De 20 a 23 – Rodovia MT 449, km 8 – Lucas do Rio Verde (MT) – Fone: 65) 3549-1161 – Site: : www. fundacaorioverde.com.br – E-mail: comunicacao@fundacaorioverde. com.br

20

7ª Femec/Feira de Máquinas, Equipamentos, Implementos, Insumos Agrícolas, Veículos Utilitários e de Passeio – De 20 a

9

Tecnoshow Comigo – De 9 a 13 – Centro Tecnológico Comigo (Anel Viário Paulo Campos, km 7) – Rio Verde (GO) – Fone: (64) 36111525 – Site: www.tecnoshowcomigo. com.br – E-mail: secretariageral@ tecnoshowcomigo.com.br

10

11° Parecis Super Agro – De 10 a 12 – Parque de Exposição Odenir Ortolan ( Rodovia BR 364, km 873) – Campo Novo do Parecis (MT) – Fone: (65) 3382- 2491 – Site: parecissuperagro.com.br – E-mail: ruralcnp@gmail.com

27

23 – Parque de Exposições do Camaru – Uberlândia (MG) – Fone: (34) 32928800 – Site: www.femec.com.br

22ª Fenasoja – De 27 a 6/5 – Parque de Exposições Alfredo Leandro Carlson – Santa Rosa (RS) – Fone: (55) 3512-6866 – Site: www. fenasoja.com.br – E-mail: fenasoja@ fenasoja.com.br

ABRIL

30

3

73° Exposição Agropecuária do Estado de Goiás – De 3 a

6 – Parque de Exposições de Goiânia – Goiânia (GO) – Site: www.sgpa.com.br – E-mail: comercial@sgpa.com.br

3

– Farm Show – De 3 a 6 – Parque de Exposições – Primavera do Leste (MT) – Fone: (66) 3498-2008 – Site: www.farmshow.com. br – E-mail: sdruralpva.com.br

4

Simpósio Nacional da Cultura da Soja – De 4 a 5 – Anfiteatro

do Pavilhão de Engenharia da Esalq/ USP – Piracicaba (SP) – Fone: (19) 3447-8519 – Site: www.esalq.usp.br – E-mail: gepema.agrimet@gmail.com

5

ExpoLondrina – De 5 a 15 –

Parque Governador Ney Braga – Londrina (PR) – Fone: (43) 3378-2000 – Site: www.expolondrina.com.br

48 | Agro DBO – março 2018

25ª Agrishow/Feira Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação – De 30 a 4/5 – Polo Regional de Desenvolvimento Tecnológico dos Agronegócios do Centro Leste (Rodovia Prefeito Antônio Duarte Nogueira, km 321) – Ribeirão Preto (SP) – Fone: (11) 3598-7800 –Site: www.informaexhibitions.com – E-mail: visitante.agrishow@informa. com

MAIO

1

II SNPC/ Simpósio sobre Nutrição de Plantas no Cerrado e V RCOCS/Reunião Centro-Oeste de Ciência do Solo – De 1 a 4 – Centro de Eventos Professor Ricardo Freua Bufáiçal (Universidade Federal de Goiás – Campus Samambaia) – Goiânia (GO) – Site: www.goeventos.com.br – E-mail: snpc2018@gmail.com

5/3 – Expodireto Cotrijal – De 5 a 9/3 – Parque de Exposições Cotrijal (Rodovia RS 142, km 24) – Não-Me-Toque (RS) – Fone: (54) 3332-2500 – Site: www.cotrijal.com.br – E-mail: expodireto@cotrijal. com.br Em solenidade realizada no mês passado em Porto Alegre (RS), durante o lançamento oficial da Expodireto, o presidente da Cotrijal, Nei Mânica, previu movimentação financeira até 20% maior na feira este ano, em relação aos R$ 2,1 bilhões negociados na edição 2017. Com mais de 500 expositores confirmados, os organizadores esperam a visita de mais de 240 mil visitantes nos cinco dias do evento, entre os quais delegações de 70 países.

11

54ª Expoagro/Exposição Agropecuária Internacional de Dourados – De 11 a 20 –

Parque de Exposições João Humberto de Andrade Carvalho – Dourados (MS) – Site: www.expoagro. com.br – E-mail: sindicatorural@ sindicatoruraldedourados.com.br

14

– 6ª Agrobalsas/Feira de Agronegócios de Balsas –

De 14 a 19 – Fazenda Sol Nascente (Rodovia BR 230, km 4) – Balsas (MA) – Fone: (99) 3541-4404 – Site: www.agrobalsas.com.br – E-mail: agrobalsas@fapcen.or.br

15

9º Simpósio de Mecanização da Lavoura Cafeeira e 21ª Expocafé – De 15 a 18 – Campo

Experimental da Epamig (Rodovia Três Pontas-Santana da Vargem, km 6) – Três Pontas (MG) – Fone: (35) 3266-9009 – Site: www.expocafe. com.br

15

11ª AgroBrasília/Feira Internacional dos Cerrados – De 15 a 19 – Parque

Tecnológico Ivaldo Cenci – Brasília (DF) – Fone: (61) 5585-4355 – Site: ww.agrobrasilia.com.br – E-mail: agrobrasilia@agrobrasilia.com.br

23

Rondônia Rural Show – De 23 a 26 – Centro

Tecnológico Vandeci Rack (BR 364, km 333)- Ji-Paraná (RO) – Fone: (69) 3216-1085 – Site: www. rondoniaruralshow.ro.gov.br – E-mail: rondoniaruralshow7@gmail.com

29

Bahia Farm Show/Feira de Tecnologia Agrícola e Negócios – De 29 a 2/6 –

Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia – Luis Eduardo Magalhães (BA) – Fone: (77) 3613-8000 – Site: www.bahiafarmshow.com.br


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março 2018 – Agro DBO | 49


Legislação

A importância da matrícula do imóvel rural Há burocracias imensas que regulam as vendas de bens móveis e imóveis, mas elas garantem a transparência das transações. Fábio Lamonica Pereira *

T

odos sabem que em transações de compra e venda de imóvel, especialmente o rural, é preciso analisar o que consta da sua matrícula. A Lei de Registros Públicos determina que o Cartório de Registro de Imóveis mantenha determinados livros para que neles sejam registradas diversas informações. Assim, o livro de nº 2 (Registro Geral) é destinado ao registro das matrículas dos imóveis que conterá a especificação do imóvel, os dados do proprietário, os dados relativos ao Georreferenciamento, os dados constantes do Certificado de Ca-

Dessa forma, se na matrícula de um imóvel não constar ônus (tais como hipoteca e alienação fiduciária), se não constar penhora (quando o imóvel fica bloqueado para o pagamento de determinada dívida) ou menção à ação de execução (tal como a cobrança de um título de crédito ou contrato), em princípio (observamos que há exceções) a transação pode ser realizada sem a necessidade, por exemplo, de apresentação de Certidão Negativa de ações cíveis. Obviamente, cabe ao comprador a diligência de investigar, de forma abrangente, a situação do

Cabe ao comprador a diligência de investigar, de forma abrangente, a situação do vendedor.

O autor é advogado especialista em Direito Bancário e do Agronegócio

dastro de Imóveis Rurais, os dados do Cadastro Ambiental Rural, dentre outras informações. Outro livro também importante é o de nº 3 – Registro Auxiliar, do qual consta o registro de atos que não digam respeito diretamente ao imóvel (Por exemplo, o penhor de máquinas agrícolas que estejam localizadas no imóvel). Com a vigência de duas recentes Leis (Lei nº 13097/2015 e Lei nº 13105/2015) as transações envolvendo imóveis sofreram alterações interessantes. Atualmente, o que importa, em princípio, para fins de transação de compra e venda imobiliária é o que consta da matrícula do imóvel.

50 | Agro DBO – março 2018

vendedor, uma vez que, se constatada sua insolvência (se o patrimônio do vendedor não for suficiente para o pagamento de todos os seus débitos, prejudicando credores), a transação de compra e venda pode vir a ser anulada por configurar-se em uma espécie de fraude. Neste ponto vale ressaltar que para os bens móveis como carros, tratores, caminhões, colheitadeiras etc., cabe ao comprador demonstrar que tomou todas as medidas possíveis no sentido de comprovar sua boa-fé na aquisição (Isso inclui solicitar certidões relativas às ações em nome do vendedor, tanto do local de residência quanto do local em que o bem se encontre), sob

pena de poder vir a sofrer prejuízos com a eventual perda do bem em favor de credores. Atualmente, após determinação de ação judicial de execução (em que se pretende o recebimento de determinada quantia em dinheiro) ser distribuída e recebida pelo juiz, o credor poderá extrair certidão da qual constará os respectivos dados do credor, do devedor, do título e da quantia perseguida, e poderá levar a registro, seja no Cartório de Registro de Imóveis ou no Detran, por exemplo, para que terceiros tomem conhecimento da situação. Entenda o leitor que neste momento não há indisponibilidade dos bens, mas tão somente a publicidade da discussão judicial que, no caso dos bens imóveis, como foi explicado, se concentra na respectiva matrícula. Assim, pela atual legislação, o processo de venda de determinado bem imóvel está mais simplificado, concentrando a atenção das partes para a matrícula do imóvel, o que não afasta a obrigação do comprador em investigar toda a situação financeira do vendedor, sob o risco de sofrer grandes prejuízos com eventual cancelamento da compra e venda. Já em relação aos bens móveis a lei é expressa em exigir, com detalhes, a precaução quanto à situação financeira do vendedor, também sob o perigo de o comprador arcar com os respectivos prejuízos do cancelamento da transação.



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