Revista Agro DBO 99 - Maio de 2018

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Sumário 6 Ponto de vista

Presidente da Aenda, Tulio Teixeira de Oliveira critica o oligopólio no mercado internacional de agroquímicos, cada vez mais concentrado.

22 Opinião

Décio Gazzoni utiliza livro polêmico a partir do próprio nome (‘Agradeça aos agrotóxicos por estar vivo’) para defender o uso de agroquímicos.

24 Entrevista

Daniel Latorraca, do Imea, fala sobre a Rede de Fazendas Alfa, criada para conectar, via internet, a produção agropecuária com o novo mundo digital.

28 Manejo

Sérgio Decaro explica a importância do tamanho das gotas, da velocidade, equipamentos e outras questões relacionadas às tecnologias de aplicação.

Ariosto Mesquita

32 Fitossanidade

16

Matéria de capa Cresce no Brasil o uso de pó de rocha no manejo nutricional das lavouras. Além de reduzir os custos com adubação química, melhora a qualidade do solo, favorece o desenvolvimento do sistema radicular das plantas e eleva a produtividade agrícola.

Claudio Oliveira, Ticyana Banzato e José Otávio Menten tratam do impacto provocado pelos nematoides, manejo e cuidados no controle da praga.

34 Pesquisa

Rogério Arioli aborda estudos em curso no Brasil nas áreas de genética e biotecnologia em busca de plantas tolerantes ao estresse hídrico.

36 Agroinformática

Manfred Schmid discorre sobre a tecnologia in memory, ou “computação em memória”, já disponível ao agronegócio através de vários aplicativos.

38 Café

Hélio Casale recomenda procedimentos para alcançar o PEM, ou seja, Produtividade Econômica Máxima. Traduzindo: mais dinheiro no bolso.

41 Antropologia

Evaristo de Miranda sai um pouco da linha habitual para exaltar o cavalo, “a mais nobre conquista do homem”, nas palavras do Conde de Buffon.

50 Legislação

Fábio Lamonica resgata uma expressão corriqueira nos cartórios (“Quem não registra não é dono”) para lembrar dos riscos na compra de imóveis.

Seções

Biblioteca da Terra........................................44

Notícias da terra.............................................. 8

Novidades no campo..................................46

Clima ................................................................40

Calendário de eventos................................48 maio 2018 – Agro DBO | 3


Carta ao leitor

A

reportagem de capa “O pó da terra”, autoria do jornalista Ariosto Mesquita, nesta edição da Agro DBO, traz notícias auspiciosas aos agricultores nas importantes questões da redução de custos de produção e, especialmente, na melhoria da fertilidade dos solos, e consequente aumento de produtividade, ao divulgar a prática do uso de pó de rocha nas lavouras, seja como complementação ao uso de fertilizantes orgânicos ou do tradicional NPK. A matéria detalha os ganhos obtidos até agora, e acende uma luz para iluminar os caminhos sobre essa promissora novidade, que necessita ainda ser validada por outros produtores e pesquisadores para que se torne uma prática comum. Outra novidade para a agricultura está na entrevista do mês, com o economista Daniel Latorraca, superintendente do Imea – Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária, pois a entidade lançou no evento AgriHub, em Cuiabá, a Rede de Fazendas Alfa, uma ideia que promete notáveis soluções para crônicos e antigos problemas das nossas lavouras, como controle eficiente de pragas, doenças e ervas daninhas, melhoria da eficiência da agricultura digital, hoje com problemas pelo gargalo da inexistência de internet nas fazendas, e ainda a falta de acurácia nas previsões climáticas. Um recado: há queixas dos agricultores de baixo compartilhamento de informações. Nesse último quesito Agro DBO acredita que se os queixosos lessem regularmente as nossas páginas de reportagens e artigos, a desinformação seria menor, até porque a Agro DBO, essencialmente uma publicação impressa, passa a partir deste mês a ser também uma publicação digital, com o mesmo conteúdo da versão impressa, ampliada com notícias atualizadas, entrevistas em vídeo, características da internet que esta nossa versão mensal e impressa não tem como competir com a velocidade necessária. Para conhecer o que será o novo Portal DBO (www.portaldbo.com. br ), convidamos o leitor a ler nossa mensagem nas páginas 42 e 43 e a se inscrever como assinante digital.

é uma publicação mensal da DBO Editores Associados Ltda. Diretor Responsável Demétrio Costa Editor Executivo Richard Jakubaszko Editor José Augusto Bezerra Conselho Editorial Décio Gazzoni, Demétrio Costa, Evaristo Eduardo de Miranda, Hélio Casale, José Augusto Bezerra, José Otávio Menten e Richard Jakubaszko Redação/Colaboradores Ariosto Mesquita, Cláudio Marcelo G. Oliveira, Décio Luiz Gazzoni, Evaristo Eduardo de Miranda, Fábio Lamonica Pereira, Hélio Casale, José Otávio Menten, Marco Antonio dos Santos, Manfred Schmid, Rogério Arioli Silva, Sérgio Decaro e Ticyana Banzato

Para manifestar sua opinião, envie e-mail para redacao@ agrodbo.com.br Richard Jakubaszko

Arte Editor Edgar Pera Editoração Edson Alves e Jade Casagrande Coordenação Gráfica Walter Simões Marketing/Comercial Gerente: Rosana Minante Executivos de contas Andrea Canal, José Geraldo S. Caetano, Maria Aparecida de Oliveira, Marlene Orlovas, Mario Vanzo e Vanda Motta Circulação e Assinaturas Gerente: Margarete Basile ISSN 2317-7780 Impressão São Francisco Gráfica e Editora Capa: Foto Ariosto Mesquita DBO Editores Associados Ltda Diretores: Daniel Bilk Costa, Odemar Costa e Demétrio Costa Rua Dona Germaine Burchard, 229 Perdizes, São Paulo, SP 05002-900 - Tel. (11) 3879-7099 e 3803-5500 redacao@agrodbo.com.br www.agrodbo.com.br

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Ponto de Vista

Afunilamento do oligopólio No mercado internacional de agroquímicos as empresas internacionais reduzem a competição da concorrência com aquisições. Tulio Teixeira de Oliveira *

Q

* O autor é engenheiro agrônomo e diretor executivo da AENDA Associação Nacional das Empresas de Defensivos Genéricos.

uando o mercado é dominado por poucos concorrentes denominamos o fenômeno de mercado oligopolizado. E quando esse referido oligopólio fica mais forte, restringindo ainda mais o espaço para os demais concorrentes, como devemos chamar? Pois é justamente o que está ocorrendo com o mercado brasileiro de Defensivos Agrícolas, por sinal, um dos maiores do mundo. Sozinho, o mercado brasileiro representa 15% do mercado global desses produtos. De 2015 a 2017 esse mercado girou em torno de US$ 9 bilhões/ ano no Brasil. Nestes três anos nove empresas abocanharam 70% das vendas deste tipo de insumo para a agricultura brasileira, já grande e com possibilidades de crescer significativamente. E se eu disser ao leitor, que essas 9 empresas serão apenas 5 em 2019? É isso mesmo, houve fusão entre Dow e Dupont e agora a Bayer comprou a Monsanto. A Syngenta e Adama, embora com estruturas separadas, representam uma só – a ChemChina. Um pouco antes a FMC havia capturado a Cheminova e mais recentemente adquiriu o quinhão definido pelo governo no processo Dow-DuPont. Portanto, as empresas proprietárias de 70% do mercado brasileiro de produtos fitossanitários serão apenas Bayer, Syngenta/ Adama, Corteva (Dow/Dupont), BASF e FMC. Digo proprietárias não por deslize de linguagem, mas porque

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(fusão Dow e Dupont)

o domínio é realmente avassalador, tanto que os espaços para outras empresas devem ser chamados de frestas. O capitalismo se apresenta como sistema da liberdade, oposto ao socialismo definido como autocrático. Porém, na prática é a liberdade de quem pode mais, de quem tem investimentos em bancos para emprestar benefícios aos clientes, de quem pode transacionar produtos agrícolas (e até comprá-los antecipadamente) em troca de seus insumos, de quem pode impor exclusividade (surdas, sem contratos) com distribuidores de uma região, de quem organiza

viagens internacionais de intercâmbio técnico para seus principais clientes, de quem tem uma legião de vendedores e técnicos de campo à disposição das propriedades rurais. Tudo dentro da maior legalidade. Estou apenas desenhando a realidade do nosso tempo. Uma sociedade desigual e sem qualquer expectativa de mudança nos rumos de organização mais humanitária. Mas, deixando a filosofia de lado, voltemos à realidade massacrante do capitalismo. O poderio dessas empresas é tão extraordinário que conseguiram reverter a prevalência das vendas dos produtos genéricos e reanimaram os produtos chamados de especialidades (ainda sob patentes ou sem concorrência por outros motivos). Veja a tabela evolutiva, com dados levantados pelo Sindiveg. Em valor por tonelada de produto as Especialidades sempre tiveram números bem superiores, justamente em virtude da falta de concorrência nesse segmento e a oportunidade de venda a preços bem mais altos e com margens mais compensadoras do ponto de vista negocial. Mas em termos de quantidade vendida por ano os genéricos tinham alcançado um pico em 2013, em decorrência da ampliação de produtos genéricos como fruto do registro por equivalência adotado pelo governo na 1ª década do século atual, após um enorme esforço da instituição Aenda. Aos poucos, entretanto os ge-


Especialidades x Genéricos Quantidade e valor de venda Ing. ativo (1.000 t) Receita (US$ bilhões)

2013

2014

2015

2016

Genéricos

Especialidades

Genéricos

Especialidades

Genéricos

Especialidades

Genéricos

Especialidades

318,38

49,39

298,86

53,45

304,85

90,79

283,05

94,12

89%

11%

85%

15%

77%

23%

75%

25%

6,32

5,13

5,96

6,28

3,69

5,91

3,86

5,70

néricos foram incorporados aos cardápios das grandes empresas, de tal forma que deram “um chega prá lá” nos concorrentes menores e passaram a ter a maior fatia disparada deste segmento também. Feito isso, passaram a administrar as vendas dos dois segmentos, capitalisticamente (agora já vale o deslize de linguagem). Você, leitor, pode discordar e dizer que foi apenas obra do acaso, um acontecimento da natureza, neste caso o surgimento de pragas resistentes que obriga a um declínio do uso de determinados genéricos e um aceleramento da aplicação de produtos novos. E, como tal fato (ferrugem asiática da soja) se deu na maior cultura agrícola brasileira, os efeitos mercadológicos foram de grande monta. Ou que o contrabando é o vilão da história, retirando das estatísticas

muitas toneladas de genéricos. Todavia, você não pode negar que o Comandante Supremo na história moderna dos humanos é o deus-dinheiro, e Ele está acima das casualidades. Não é maldade é concepção. Os lobos do Ocidente e os lobos do Oriente ficam exacerbados, e na disputa querem mais. A concepção se transfigura em determinação, o que leva os

geneticamente modificados), inovações em manejo de pragas e difusão de tudo isso no meio rural, capacitando os agricultores para melhorarem suas produtividades, tirando mais produção do mesmo pedaço de terra. Ou será que o Sistema Cooperativo pode criar um modelo mais adequado socialmente? Por ora, só podemos reclamar

Especialidades sempre tiveram números superiores. Mas os Genéricos perdem mercado. cordeiros a passarem por mais dificuldades. Não vamos esquecer, entretanto, a outra face da moeda. São as grandes empresas que mantêm centros de pesquisas para desenvolver novas moléculas, novas tecnologias (vide os organismos

da longa fila de pedidos de produtos genéricos que o governo teima em dizer que não tem pessoal suficiente para examinar. Será? Um dossiê tão simples, precisa de tanta gente assim? Torçamos para que os lobos não estejam metidos nessa estória.

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Notícias da terra Safra I

Quase recorde

A

Felipe Barros

Conab elevou sua estimativa sobre a produção de grãos no ciclo 2017/18. De acordo com o sexto levantamento da entidade, divulgado em março, o Brasil colheria 226 milhões de toneladas na temporada em curso. O sétimo levantamento, anunciado em abril, aponta para 229,5 milhões de toneladas, quantidade 1,5% superior (3,5 milhões de toneladas a mais) à que previra anteriormente, mas, ainda assim, 3,4% inferior ao recorde obtido na safra passada (237,7 milhões t). Segundo técnicos da companhia, o incremento de produção deve-se a condições climáticas favoráveis no período de colheita, ao aumento da área plantada e boas produtividades em várias culturas. A safra de soja deve chegar a 114,9 milhões de toneladas e a de milho, a 86,2 milhões t. A área plantada foi estimada em 61 milhões de hectares.

Safra II

Safra III

A

O

Quase empate terceira estimativa de 2018 do IBGE para a safra nacional de cereais, leguminosas e oleaginosas, divulgada em abril, totalizou 229,3 milhões de toneladas, 4,7% abaixo do que foi colhido no ano passado (240,6 milhões t). Em relação à segunda estimativa do instituto, divulgada em março (227,2 milhões de toneladas), a produção aumentou 0,9% (2 milhões t a mais). A safra de soja deve alcançar 114,5 milhões de toneladas, quantidade próxima do recorde obtido no ano passado (115 milhões t) e a de milho, a 87,2 milhões. O Nordeste, com produção agrícola prevista de 17,8 milhões de toneladas, é a única região do Brasil onde a safra aumentará este ano (no caso, 9,3%), em relação a 2017. Nas demais regiões, o IBGE prevê quedas de 7,9% no Sudeste, 6,3% no Norte, 6,1% no Sul e 5,1% no Centro-Oeste.

Queda global Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês) revisou para baixo suas estimativas sobre as safras mundiais de soja e de milho, em relação às projeções anteriores. Conforme o relatório de oferta e demanda de abril, os EUA vão colher 119,5 milhões de toneladas de soja na temporada 2017/18 (em março, o USDA também previra 119,5 milhões t); o Brasil, 115 milhões (114); a Argentina, 40 milhões (47); e o mundo, 334,8 milhões (340,8). Quanto ao milho, os norte-americanos vão colher os mesmos 370,9 milhões de toneladas previstos no relatório de março. A produção brasileira vai cair de 94,5 (relatório de março) para 92 milhões de toneladas (abril); a argentina, de 36 para 33 milhões; e a mundial, de 1,041 para 1,036 bilhão de toneladas.

VBP

Tendência de recuperação

O

Valor Bruto de Produção da agropecuária brasileira em 2018 (calculado sobre dados de março) foi estimado em R$ 530,1 bilhões, montante 3,7% inferior ao do ano passado (R$ 540,3 bilhões), mas superior ao divulgado anteriormente pela Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (R$ 515,9 bi, baseado em dados de fevereiro). A variação positiva pode indicar tendência de recuperação, na avaliação do coordenador-geral de estudos e análises da SPA/Mapa, José Garcia Gasques. Em sua opinião, a trajetória a partir de abril dependerá dos preços dos produtos e do milho de segunda safra. O melhor desempenho no primeiro trimestre deste ano foi o da mamona (aumento de 68,5% em relação ao do ano passado em termos reais, descontada a inflação), seguido pelo trigo (+ 37,3%), tomate (+ 32,7%), algodão (+ 20,9%), cacau (+ 8,7%), soja (+ 3,8%), batata-inglesa (+ 3,4%) e café (+ 2%). Produtos agrícolas com peso expressivo, como arroz, cana-de-açúcar, milho, laranja e mandioca perderam valor no período.

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Notícias da terra Exportações I

Exportações II

O

N

Saldo positivo Brasil exportou em março o equivalente a US$ 9,1 bilhões, montante 4,1% superior em relação ao mesmo mês de 2017, e importou US$ 1,3 bilhão, valor 6,9% inferior. Como resultado, a balança comercial do setor registrou saldo positivo de US$ 7,8 bilhões. Os produtos do agronegócio responderam por 45,2% do total das vendas externas brasileiras no mês, um aumento de quase 2% de participação, comparativamente a março do ano passado. Em valor, destacaram-se no período o complexo soja, com 44,3% de participação, carnes (14,8%), produtos florestais (13,9%), complexo sucroalcooleiro (7%) e café (4,5%). Os cinco setores representaram 84,4% das exportações do agronegócio nacional.

Embarques crescentes o acumulado do primeiro trimestre de 2018, as exportações do agronegócio atingiram US$ 21,5 bilhões, 4,6% a mais ante igual período do ano passado. O acréscimo deve-se ao aumento de 6,7% na quantidade embarcada. O faturamento, porém, caiu 1,9%. As importações recuaram 3,9%, passando de US$ 3,7 bilhões para US$ 3,61 bilhões. Com isso, o superavit comercial do agronegócio subiu de US$ 16,7 bilhões para US$ 17,8 bilhões, cifra recorde para o período. Nos últimos doze meses, as vendas externas do setor atingiram US$ 96,9 bilhões, crescimento de 13,5% em relação aos US$ 85,4 bilhões embarcados entre abril de 2016 e março de 2017. Os cinco principais setores exportadores do agronegócio apurados em 12 meses foram: complexo soja, com 32,7% de participação nas exportações do agronegócio), carnes (15,9%), produtos florestais (12,8%), complexo sucroalcooleiro (11,8%) e cereais, farinhas e preparações (5,8%).

Café

Illy divulga vencedores

O

Ivan Bueno

s cafeicultores Raimundo Dimas Santana (Fazenda Santo Antônio, de Araponga, nas Matas Mineiras), Maria D’Aparecida Vilela Brito (Fazenda Moendas, de Carmo da Cachoeira, no Sul de Minas Gerais) e Ângelo Nascimento (Fazenda São Pedro de Alcântara, em Ibiá, no Cerrado Mineiro), venceram o 27º Prêmio Ernesto Illy de Qualidade Sustentável do Café para Espresso. A cerimônia foi realizada no mês passado em São Paulo. Além de diploma, cada um ganhou 10 mil reais. Em outubro, eles viajarão a Nova Iorque para participar do 3º Prêmio Ernesto Illy Internacional, ocasião em que será revelada a ordem de classificação entre eles (primeiro, segundo e terceiro colocados). A premiação internacional reunirá 27 cafeicultores selecionados de nove países que fornecem grãos para a illycaffè. Os produtores Daniella Romano Pelosini, de Pardinho (SP); CBI Madeiras Ltda, de Capelinha (MG); e Gelci Zancanaro, de Cristalina (GO), ficaram em 4ª, 5º e 6º lugar, respectivamente. A torrefadora italiana também anunciou os nomes vencedores nas categorias Regional, Fornecedor Sustentável do Ano e Classificador do Ano. Foram entregues mais de R$ 120 mil em prêmios.

Citricultura

Colheita suculenta

A

safra 2017/18 de laranja do cinturão citrícola de São Paulo/Triângulo e Sudoeste Mineiro, responsável por mais de 80% da produção nacional, ficou em 398,4 milhões de caixas de 40,8 quilos, 62% acima do total colhido no ciclo anterior (245,3 milhões de caixas), segundo o Fundecitrus – Fundo de Defesa da Citricultura. A produção é a quarta maior já registrada nos 30 anos de série histórica, 25% superior à média dos últimos 10 anos. A produtividade é recorde: 1.033 caixas por hectare ante 634 caixas/hectare na safra passada. De acordo com técnicos da entidade, a colheita farta se deve às chuvas abundantes em 2017 e no início de 2018 em todas as regiões produtoras (o que favoreceu o aumento do peso dos frutos), maior controle fitossanitário e intensificação dos tratos culturais nos pomares (que resultou na diminuição da taxa de queda dos frutos). maio 2018 – Agro DBO | 9


Notícias da terra Tecnologia verde

Janice Ribeiro

E

ntre outras novidades, a Embrapa Recursos Genéticos Biotecnologia levou para a Agrishow, realizada de 30 de abril até o dia 4 deste mês de maio em Ribeirão Preto (SP), a tecnologia Embrapa-Carbom Brasil, um nematicida orgânico cuja formulação associa um extrato vegetal nematotóxico com um biofertilizante. Em ensaios conduzidos em Casa de Vegetação, o produto diminuiu em 98% o número de ovos de nematoides de galhas (Meloidogyne incognita), fitopatógenos capazes de fazer grandes estragos em culturas de milho, algodão, café, feijão, cana-de-açúcar e outras. A tecnologia também foi validada em campo em duas diferentes áreas de cultivo de soja localizadas no Paraná e em Goiás, onde foi verificada a redução da densidade populacional de M. incognita. Segundo o pesquisador Thales Lima Rocha, a tecnologia Embrapa-Carbom Brasil é comprovadamente termoestável (após exposição a 50º C), não citotóxica, não fitotóxica e exibe baixa ação contra organismos não-alvo na concentração que controla o fitonematoide. “Deste modo, o produto pode contribuir para a substituição de nematicidas químicos sintéticos tóxicos, para a manutenção do equilíbrio da rizosfera, da biodiversidade e para a conservação da fertilidade do solo”.

Pesquisa II

Nova levedura

P

esquisadores da Esalq descobriram nova espécie de levedura, batizada de Spathaspora piracicabensis, potencialmente capaz de produzir etanol de segunda geração. O micro-organismo foi isolado pela pesquisadora Camila Varize a partir de um pedaço do tronco, em fase de decomposição, de uma quaresmeira-roxa. “Nosso objetivo foi isolar leveduras que apresentassem capacidade de fermentar a xilose, o segundo açúcar mais abundante da biosfera e o maior constituinte da fração hemicelulósica”, diz ela. Uma das dificuldades encontradas na fermentação da xilose é que as linhagens de leveduras (Saccharomyces cerevisiae) normalmente utilizadas em destilarias não possuem capacidade metabólica para a conversão desse açúcar em etanol. Desde a década de 1980, várias leveduras denominadas “não-Saccharomyces” (Spathaspora arborariae, Spathaspora passalidarum, Scheffersomyces stipitis e outras) já foram testadas, mas nenhuma se mostrou tão eficiente como a S. piracicabensis. Para o professor Luiz Carlos Basso, orientador da pesquisa, o desafio agora é avaliar com mais afinco o potencial da S. piracicabensis. “Ela poderia ainda contribuir como doadora de genes, que capacitariam linhagens mais tolerantes, como as de Saccharomyces, para a produção de etanol de segunda geração com mais eficiência”.

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Pesquisa III

Aproveitamento de resíduos vegetais

P

esquisadores testaram com sucesso um sal líquido conhecido tecnicamente como líquido iônico prótico no pré-tratamento de bagaço de caju. Até então, o uso deste tipo de reagente no pré-tratamento de material lignocelulósico para o desenvolvimento de bioprodutos era incipiente porque as versões comerciais disponíveis no Brasil eram caras, inviabilizando aplicações industriais. O líquido iônico utilizado no estudo, sintetizado pela UFC - Universidade Federal do Ceará, resolveu o impasse: é 50 vezes mais barato. Como todos os materiais lignocelulósicos, o bagaço de caju exige pré-tratamento para a separação da celulose dos demais componentes. Após essa liberação, a celulose pode ser quebrada em açúcares menores, então utilizados para a produção de diferentes moléculas com diferentes finalidades. As amostras que passaram pelo tratamento apresentaram rendimento de glicose muito superior ao apresentado pela maioria dos tratamentos aplicáveis ao bagaço de caju. Outra vantagem: esse líquido pode ser reaproveitado pelo menos três vezes, diferentemente dos demais reagentes, o que o torna mais barato ainda. Segundo a professora Maria Valderez Ponte Rocha, do Departamento de Engenharia Química da UFC, é possível obter da celulose e da hemicelulose do bagaço de caju (e de outros resíduos agrícolas) vários carboidratos de interesse, um dos quais a xilose, da qual se produz o xilitol, edulcorante com poder calorífico menor do que a sacarose, utilizada como adoçante. Também é possível aproveitar a glicose para a produção do 2-feniletanol, aroma utilizado pelas indústrias de perfumaria e alimentícia. Outra possibilidade é o aproveitamento da lignina, abundante no bagaço de caju. O material, que fica precipitado no líquido iônico, pode ser usado na produção de intermediários químicos e adsorventes ou para gerar energia a partir de sua queima.

Janice Ribeiro

Pesquisa I


Notícias da terra Tecnologia

De olho no Saci

U

m equipamento capaz de reduzir o consumo de água e energia na lavoura em até 50%. Este é o Saci – Sistema Automático de Controle de Irrigação, atualmente em fase de desenvolvimento pela empresa Tecnicer, em parceria com a Embrapa Instrumentação, a Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da Universidade de São Paulo, a empresa de consultoria ambiental Genos e o Senai-SP. A peça base do equipamento é o Igstat, sensor capaz de perceber alterações de umidade do solo. Patenteado no Brasil e nos Estados Unidos, trata-se de um cilindro de sete centímetros de comprimento feito de material poroso que identifica a baixa umidade quando suas paredes permeáveis detectam a passagem de ar. O Saci é composto de um sensor cerâmico de tensão de umidade do solo associado a componentes eletrônicos de automação sem fio, fonte de energia solar, rede elétrica ou bateria, capaz de acionar a irrigação somente nas áreas de cultivo que precisam de água, em vez de irrigar toda a lavoura simultaneamente, como ocorre nos sistemas convencionais. Na opinião de Luis Fernando Porto, diretor da Tecnicer, essa caracte-

rística o torna ideal para ser empregado em fazendas que utilizam agricultura de precisão. Ele explica que a transmissão de dados poderá ser realizada por radiofrequência ou celular. De fácil manuseio, o aparelho é resistente a umidade e choques, e pode reduzir a lixiviação do solo, de nutrientes e de pesticidas, minimizando impactos ambientais e perdas econômicas. Antes de lançá-lo comercialmente, os pesquisadores pretendem sofisticar o Saci com incrementos tecnológicos. “O objetivo é que o produto atenda a todos que desenvolvem cultivo protegido irrigado, empresas de sistemas de irrigação, além de agricultores em geral que adotam irrigação na lavoura,” afirma Carlos Vaz, pesquisador da Embrapa.

maio 2018 – Agro DBO | 11


Notícias da terra POLÊMICA

Instituto Phytus contradiz Monsanto

N

o boletim de janeiro 2018 a Aenda noticiou o ataque por lagarta à Soja Intacta RR2 PRO em Chapadão do Céu (GO) e o esclarecimento da Monsanto afirmando tratar-se de Helicoverpa zea e não Helicoverpa armigera. Agora, o Instituto Phytus afirma ter realizado testes de DNA e afirma que as lagartas são da espécie Helicoverpa armigera.

Esalq contradiz Instituto Phytus

A

Esalq/USP revela que também fez testes moleculares em lagartas provenientes daquela infestação e afirma ser Helicoverpa zea.

TÉCNICOS AGRICOLAS

Finalmente, agora terão Conselho

N

o dia 26 de março deste ano o Presidente da República sancionou a Lei 13.639 que criou o Conselho Federal e os Conselhos Regionais dos Técnicos Agrícolas desmembrando 80 mil profissionais dos CREA´s.

ILPF

Rede Fomento vira Associação entrada do Bradesco e da SOS Mata Atlântica foram algumas das novidades no evento que marcou o lançamento da Associação Rede ILPF, em abril último, na Embrapa Sede, em Brasília. As instituições se juntam à Cocamar, John Deere, Soesp, Syngenta e à própria Embrapa na parceria público-privada que está fomentando a adoção de sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta no Brasil. A Rede ILPF começou a atuar em 2012 e, agora, altera sua estrutura jurídica passando a ser uma associação de empresas. A mudança visa facilitar a entrada de outras instituições e ampliar a atuação do grupo. “Nesse momento em que a gente inicia esta segunda fase, é importante que tenhamos um olhar na trajetória e nos desafios que teremos a partir de agora, afirma o presidente da Embrapa, Maurício Lopes. Citando os mais de 11 milhões de hectares com algum tipo de ILPF no Brasil, o presidente da John Deere no Brasil, Paulo Hermann, destacou o potencial que a tecnologia tem para transformar o sistema produtivo brasileiro e o desafio da ampliação do trabalho da Rede ILPF: “Esta segunda etapa é desafiadora. Vamos aperfeiçoar o trabalho pois teremos mais recursos. Costumo dizer que não falta dinheiro, faltam bons projetos. Não tenho dúvida que teremos mais de dez empresas nessa associação”, afirmou. A ILPF é uma tecnologia brasileira. Ela se caracteriza como uma estratégia de produção que integra a agricultura, a criação de animais e o plantio de árvores em uma mesma área, de modo a haver interação positiva entre os componentes, gerando benefícios sociais, ambientais e econômicos. 12 | Agro DBO – maio 2018

Acervo Embrapa

A

De acordo com pesquisa encomendada pela Rede ILPF, em 2016 o Brasil possuía 11,5 milhões de ha com algum tipo de sistema integrado. 83% dessa área são formados por sistemas de integração lavoura-pecuária (ILP), 9% por ILPF, 7% por sistemas de pecuária-floresta (IPF) e 1% de integração lavoura-floresta (ILF). Conheça mais sobre ILPF e o trabalho da Rede ILPF no site www.ilpf.com.br


Notícias da terra SOJA

Gaúchos têm mais inscritos no Desafio do Cesb

N

a décima edição do Desafio Nacional de Máxima Produtividade, promovido Comitê Estratégico Soja Brasil (Cesb), o Rio Grande do Sul foi o estado que registrou o maior número de inscrições no evento. Dos mais de 5,5 mil participantes de todo o território nacional, 33% são produtores gaúchos que se interessaram em inscrever áreas de cultivo de soja no tradicional Desafio do Cesb. “São 1817 produtores de 273 cidades que têm áreas de alta produtividade no Rio Grande do Sul e que vão participar do evento”, explica Nery Ribas, presidente do Cesb. Tradicionalmente o Paraná é o estado com maior número de inscritos no Desafio do Cesb. Na safra passada, 2.386 paranaenses participaram do Desafio. Nesse ano, os produtores gaúchos ultrapassaram os paranaenses em 13%. “Com a décima edição do evento, muitas pessoas conhecerão melhor o Desafio e entenderão que a troca de experiências é fundamental para atingir os maiores níveis de produtividade”, diz Nery. Os vencedores do Desafio 2017/2018 serão revelados durante o Congresso Brasileiro de Soja, em junho, a ser realizado em Goiânia.

CAFÉ

Carlos Brando é o novo presidente mundial da GCP

C

afeicultores brasileiros podem comemorar: o Brasil tem um legítimo representante do café em mais um organismo internacional. A Plataforma Global do Café (GCP), que representa mais de 150 stakeholders do agronegócio mundial de café, nomeou Carlos Brando seu novo presidente do Conselho. Além de facilitar a governança estratégica multi-stakeholder da Plataforma, Brando deverá fortalecer as relações entre a GCP e os órgãos internacionais, assegurando que mais e mais dos US$ 350 milhões gastos anualmente com a sustentabilidade do café estejam alinhados a uma agenda setorial compartilhada, e, portanto, mais eficaz. Para isso, Brando propõe aumentar a escala na qual a GCP atua coletivamente nas

prioridades locais para aumentar a disponibilidade de café produzido de forma sustentável e canalizar valor agregado para os produtores. O Conselho da GCP é composto por 14 membros que representam alguns dos atores mais importantes do setor cafeeiro – organizações de produtores como a Federação Nacional dos Cafeicultores da Colômbia (FNC) e o Conselho Nacional do Café (CNC), representado pela Cooxupé, traders e indústrias, e organizações da sociedade civil, especialmente ONGs. Carlos Brando é engenheiro civil pela Escola Politécnica da USP com doutorado no Massachusetts Institute of Technology (MIT). Ele é diretor da P&A Marketing que prestou consultoria para a Organização Internacional do Café (OIC), a Iniciativa de Comércio Sustentável (IDH), o Banco Mundial e outras empresas e instituições. Brando já coordenou projetos de café em mais de 50 países nos 5 continentes. maio 2018 – Agro DBO | 13


Notícias da terra

AGRISHOW 2018 I

Coopercitrus

A

Coopercitrus participará da Agrishow 2018, em Ribeirão Preto (SP), com um estande de mais de 4.200 mil m², o Shopping Rural Coopercitrus estará localizado na Rua E 3D, oferecendo amplo portfólio de insumos, máquinas, implementos agrícolas e tecnologias que auxiliam no desenvolvimento produtivo do agronegócio, com condições de pagamento diferenciadas e financiamentos com taxas e juros acessíveis, ofertadas por seus agentes financeiros parceiros,

AGRISHOW 2018 II

Novo eixo da ZF lançado na Agrishow

N

ovo Eixo Kintra - Narrow para tratores de 25 a 70 hp – Após comemorar a produção de 500 mil eixos em sua planta matriz, localizada em Sorocaba (SP), a ZF complementa seu portfólio agrícola com uma nova linha de eixos destinada a tratores de pequeno porte. Uma de suas principais características está na combinação de excelente vão-livre e amplo ângulo de esterçamento, que oferecem alto grau de manobrabilidade em aplicações off-road. O conceito “blindado”, onde não há passagem de elementos rotativos fora das carcaças, compõe um sistema de vedação eficiente e menos sensível a desgastes. O portfólio de eixos conta com 6 modelos que podem equipar tratores de 25 a 70 hp nas mais diversas aplicações, onde o menor raio de giro e o design compacto são fatores-chave, devido às restrições de espaço nas operações agrícolas. De acordo com Sílvio Furtado, Diretor de Vendas da ZF América do Sul, o objetivo é ampliar o portfólio de so-

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entre eles o “Convênio de Intercooperação Financeira”, Coopercitrus Sicoob Credicitrus, que busca proporcionar aos associados linhas de crédito com taxas atrativas e agilidade na contratação. O Shopping Rural Coopercitrus contará com a presença de aproximadamente 45 empresas parceiras oferecendo a oportunidade dos produtores adquirirem todo o mix de produtos com o auxílio da cooperativa. Uma novidade no Shopping Rural será a de compras online, por meio do site de compras virtual: www. shoppingruralcoopercitrus.com.br os visitantes poderão acessar e adquirir produtos para a casa e para o campo, também disponíveis nas lojas físicas. Para mostrar as tecnologias e ferramentas disponíveis no mercado para o produtor rural, a Arena de Demonstrações de Campo Agrishow com curadoria Coopercitrus, será pelo segundo ano consecutivo um dos destaques na Feira. Com duas apresentações ao dia, a Arena tem o intuito de oferecer conhecimento que resulte no crescimento produtivo, rentável e sustentável para os produtores rurais. “A Coopercitrus está preparando um show de tecnologia para apresentar aos visitantes da Arena na Agrishow, para fomentar o uso de ferramentas que maximizam o uso de insumos e trazem resultados produtivos e econômicos, objetivando baixar os custos de produção e aumentar a sua produtividade”, afirma o gerente de serviços do departamento de tecnologia agrícola da Coopercitrus, Tiago Aleixo. luções para a área agrícola brasileira, em constante expansão e modernização, e atender os tratores de pequeno porte destinados a todos os tipos de operação no campo: “Com a nova família de eixos, ampliamos o fornecimento para os setores agrícola e de construção, que antes era de 75 a 240 cavalos de potência e passa agora a ser comercializado a partir de 25 cv”.


Sua safra

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Capa Capa

Fábrica de pó Cresce o uso de remineralizadores na agricultura. As reservas em jazidas brasileiras são 10 vezes maiores do que a oferta de calcário. Ariosto Mesquita

S

eu custo de produção crescia a cada ano, a produtividade não acompanhava este ritmo, o solo dava sinais de esgotamento e as plantas se mostravam cada vez menos resistentes a pragas, doenças e ao estresse hídrico. Este quadro fez o agrônomo e agricultor Rogério Gilberto Zart recapitular os ensinamentos de Ana Maria Primavesi, sua professora de microbiologia de solo na Universidade de Santa Maria (RS) nos idos de 1970. “Ela foi nossa mentora em agricultura sustentável e falava muito sobre as possibilidades do uso de remineralizadores como o pó de rocha”, conta. Este resgate de memória acabou incentivando-o, décadas depois, a experimentar o material em suas lavouras. Hoje, ele integra um pequeno (mas crescente) número de agricultores que utili-

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za a rochagem dentro do manejo nutricional em áreas agrícolas de produção em escala no Brasil. Na safra 2017/18, Zart aplicou pó de rocha pela primeira vez em 10 hectares dos quase 500 arrendados na Fazenda Aleluia, em Sidrolândia (MS), distante 70 quilômetros da capital do estado, Campo Grande, onde planta soja no verão e milho como segunda safra. Além disso, cedeu uma pequena parte de sua lavoura para pesquisas envolvendo o material e demais alternativas naturais, como fertilizantes biológicos e fosfato reativo. Em sete parcelas, cada uma com 1.400 m2, experimentou diferentes combinações (todas, segundo ele, em parceria com fertilizantes biológicos). A maior produtividade foi obtida com pó de basalto (rocha ígnea vulcânica muito comum no


Extração de basalto na pedreira Esteio, em Itaporã (MS)

Brasil Central e na região sul do país): 77,1 sacas por hectare. Nas demais combinações, a produtividade variou entre 65,2 e 69,9 scs/ha. O pó de rocha é a denominação que comumente se dá às rochas silicáticas moídas capazes de remineralizar o solo. Estes remineralizadores foram incluídos na categoria de insumos agrícolas pela Lei 12.890, de 2013, por serem capazes de alterar os índices de fertilidade do solo por meio da adição de macro e micronutrientes para as plantas. Mas o divisor de águas que acionou o processo de decolagem do uso do pó de rocha na agricultura brasileira foi a Instrução Normativa de número 5 do Mapa – Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, datada de 10 de março de 2016, que regulamentou sua utilização. Este documento estabeleceu classificações, garantias, forma de registro, rotulagem e definiu os parâmetros de composição mineral para que uma determinada rocha possa vir a ser considerada uma remineralizadora de solo. Confira o texto integral pelo link http://pesquisa.in.gov.br/ imprensa/jsp/visualiza/index.jsp?data=14/03/2016&jo rnal=1&pagina=10&totalArquivos=92.

Fotos Ariosto Mesquita

A partir da regulamentação, se abriram as portas para mineradoras fornecerem o produto com garantias ao mercado agrícola. Rogério Zart, que já vinha experimentando alternativas biológicas em suas lavouras, não perdeu tempo e incluiu o pó de rocha já na safra 2017/18 de duas formas distintas: a primeira em 10 hectares de plantio comercial (colhido junto às demais áreas e, portanto, sem a mensuração de sua produtividade) e a segunda em dois ensaios de pesquisa: um deles, conduzido por professores e alunos do curso de Agronomia da Uniderp – Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal (ainda não finalizado); o outro, sob análise e acompanhamento do pesquisador Carlos Pitol, que trabalhou com combinações diversas e apontou produtividade de 77,2 scs/ha para o mix pó de rocha e biológicos. Ex-pesquisador da Fundação MS, sediada em Maracaju, a 90 km de Sidrolândia, Pitol resolveu se dedicar nos últimos anos ao estudo de alternativas naturais para trazer o processo de produção agrícola do país para um modelo mais perene e sustentável. “Minha proposta dentro da Fundação MS era de desenvolvimento de um trabalho de integração de tecnologias, incluindo

Rogério Zart em sua lavoura de milho, 30 dias após plantio feito na Fazenda Aleluia sobre o residual de pó de rocha.

maio 2018 – Agro DBO | 17


Capa O pó de rocha pode reduzir nossa dependência em fertilizantes: o Brasil importa 95% do potássio e 50% do fósforo que consome.

Carlos Pitol: “A aplicação de pó de rocha na lavoura deve ser feita superficialmente, sem incorporação ao solo”.

uma linha biológica em fertilidade, genética, controle de pragas e de doenças, mas a ideia não prosperou. Assim, decidi me aposentar em 2017 para me dedicar a este trabalho”, conta o engenheiro agrônomo, hoje consultor de uma empresa de assessoria técnica e científica em agrobiologia em Maracaju. Segundo Pitol, a aplicação de pó de rocha na lavoura deve ser feita superficialmente, sem incorporação ao solo. Dependendo do nível biológico da terra, em aproximadamente 30 dias a carga começa

“Tabela periódica” Aquela enorme pedra incomodava todo mundo na fazenda Esteio, em Itaporã (MS). Tanto é que a área ao seu redor não teve utilização para agricultura. Foi parcialmente usada para a pecuária. Mas, no meio do pasto, lá estava a enorme pedra. Mal sabia a família que ela viria a ser o grande negócio da propriedade. Há dois anos e meio os irmãos Fábio e Marcel Tozzi Junqueira Franco (ao lado, na foto) começaram a operar ali, em pouco mais de 200 hectares, a Mineração Tozzi Junqueira, que hoje representa 40% do faturamento do grupo – o restante vêm do cultivo de soja e milho em 400 hectares de terras na própria fazenda Esteio e em 1.100 hectares arrendados (Fazenda Santa Luzia) em outra ponta do município. A pedreira foi criada para atender a demanda da construção civil, mas o quadro mudou no início de 2017. “Do ano passado para cá, passamos a ter demanda crescente por pó de

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a liberar nutrientes. Apesar da lentidão em relação aos procedimentos convencionais, a rochagem pode oferecer resultados com vida útil maior. No Brasil, especialistas prescrevem o uso de uma taxa entre três a cinco toneladas por hectare. Esta quantidade seria suficiente para liberação gradual e contínua durante três a quatro anos. Ao final deste período, a orientação é para que seja feita uma avaliação sobre a conveniência da renovação da aplicação a uma taxa entre uma a duas toneladas/ano. Como Zart começou a utilizar o pó de rocha na safra 2017/18, ele ainda não sentiu resultados concretos globais no recondicionamento e remineralização do solo. No entanto, como seu sistema de trabalho pressupõe o uso conjunto de alternativas de fertilização e de controle naturais para a lavoura, já começa a perceber no bolso a diferença. “Na soja, minha produtividade média vem numa crescente. Em 2016, foi de 59 sacas por hectare. Em 2017, atingiu 65 sacas. Em 165 hectares da lavoura, onde já trabalho com insumos naturais, consegui reduzir em 50% a carga de adubação e de controle químico. Portanto, estou elevando a produtividade e diminuindo o desembolso. No ciclo 2016/17, o custo de produção em um hectare de soja ficou na faixa de 32 sacas. Ainda não fechei os números de 2017/18, mas provavelmente este custo será menor”, diz ele.. Com o pó de rocha, a expectativa de produtores e técnicos é de que o ambiente agrícola se enriqueça,

rocha muito fino. Os agricultores começaram a bater em nossa porta”, revela Fábio. Logo os dois foram se informar e encaminharam uma amostra do produto para teste laboratorial no Centro Regional para Desenvolvimento Tecnológico e Inovação, em Goiânia (GO), sob o acompanhamento do pesquisador Éder Martins, da Embrapa Cerrados. “Descobrimos que o nosso pó de rocha de basalto é uma verdadeira tabela periódica de tantos minerais que carrega”, diz, orgulhoso, o empresário. Atualmente, o pó de rocha da Esteio, vendido a R$ 50 a tonelada, representa 5% dos negócios. No entanto, a empresa prefere não informar quanto entrega mensalmente. “Ainda estamos em processo de registro junto ao Ministério da Agricultura”. A pedreira vem atendendo provisoriamente produtores em um raio de 200 km. “Geralmente são agricultores com perfis mais modernos, preocupados com a longevidade da produção na fazenda. Gente focada na qualidade do solo, mas de olho na lucratividade do negócio”, diz Fábio.


permitindo maior resistência a pragas, doenças e ao estresse hídrico, sobretudo com o melhor desenvolvimento do sistema radicular das plantas. “Ao contrário do adubo solúvel convencional colocado ao pé da planta, que não incentiva o vegetal a buscar nutrientes, a rochagem estimula a planta a emitir raiz”, explica Zart. No início de abril, diante de um milho segunda safra com 30 dias após a semeadura, ele ainda não conseguia ver os efeitos nas plantas, mas já percebia diferenças no controle de invasoras e de insetos. “Meus vizinhos já fizeram quatro aplicações de inseticidas. Eu fiz apenas duas de biológicos para controle de percevejos e lagartas, usando bactérias reproduzidas na fazenda”, conta, se referindo a uma pequena biofábrica que mantém ao lado de um dos galpões. Pitol cita outro exemplo em redução de custos a partir da adoção da rochagem na lavoura, dessa vez de um agricultor no município de Maracaju. “Este produtor fez análise de solo que indicou necessidade de correção. Atendendo a recomendação técnica convencional, investiu R$ 960/ha. No entanto, separou 12 hectares onde trabalhou apenas com pó de rocha, sem qualquer outro adubo, desembolsando R$ 390/ha. A produtividade foi igual: 65 scs/ha. No entanto, a soja cultivada na área de rochagem permitiu uma redução de custo de produção equivalente a 8,8 scs/ha. É um baita resultado”, garante. Oferta e demanda A regulamentação do uso agrícola do pó de rocha estimulou mineradoras e pedreiras a investirem no mercado. Geralmente voltadas para a construção civil – matéria prima para concreto, produção de brita,

pedrisco e pedras para obras e pavimentação de estradas – muitas começaram a se adequar à normatização quando perceberam que suas jazidas respondiam aos parâmetros de composição mineral exigidos para a agricultura. Até o dia 18 de abril de 2018, cinco pedreiras no Brasil já estavam aptas a comercializar o produto para agricultores em três estados distintos: Goiás (1), São Paulo (3) e Paraná (1). Pelo menos outras 30 distribuídas pelas cinco regiões brasileiras estão em processo de registro junto ao Mapa para se dedicar à atividade. As informações são do pesquisador da Embrapa Cerrados, Éder de Souza Martins, considerado a maior autoridade científica em pó de rocha no país. Ele se dedica a estudar a rochagem na agricultura desde 1999 e hoje, depois de passar por “muitas barreiras”, acredita que o uso do material é um caminho sem volta para o agronegócio tropical. “Quando o produtor percebe que se mantém eficiente economizando perto de 70% ou mais em fertilizantes, não consegue voltar atrás”, observa. O pesquisador cita o caso do agricultor Rogério Vian, de Mineiros, no sudoeste de Goiás. “Ele usa pó de rocha em soja e milho há sete safras. A produtividade dele na oleaginosa está na média de 60 scs/ha e o seu custo com fertilizantes é 90% inferior ao que gastava anteriormente”, assegura. Embora não tenha referências a respeito e não saiba precisar o nível de adoção de pó de rocha na agricultura brasileira na atualidade, Martins garante que seu uso vem crescendo rapidamente. No entanto, consegue dar uma ideia do que a remineralização representa para a agricultura de Goiás, estado pioneiro na adoção da rochagem

Trator movimenta toneladas de pó de rocha da Pedreira Esteio, em Itaporâ (MS): quanto mais fino o pó, melhor para o manejo agrícola.

maio 2018 – Agro DBO | 19


Capa “Dez mil pedreiras podem produzir pó em quantidade suficiente para cobrir os atuais 35 milhões de hectares cultivados com soja” no país: “O material é utilizado em larga escala por pelo menos 50 agricultores de grande porte no estado. São lavouras de 1.000 a 30 mil hectares cada uma, totalizando mais de 200 mil hectares com aplicações”. A rochagem, segundo ele, não é um procedimento novo: “O calcário, o fosfato reativo e alguns gessos são rochas moídas já comumente usadas na agropecuária. O que estamos propondo e retomando é o uso das rochas silicáticas, ricas em silício e de alta concentração de macro e micro nutrientes”. Segundo o pesquisador, o resultado da interação entre remineralizadores, solo e plantas é a liberação de nutrientes e formação de novos minerais que irão compor o solo em longo prazo e com elevada CTC (capacidade de troca de cátions), indicação de melhor nível de fertilidade. Oferta garantida Ao que tudo indica, a disponibilidade de pó de rocha para a agricultura parece não ser problema para o Brasil. De acordo com projeções da Embrapa Cerrados, as reservas de rochas remineralizadoras no país são 10 vezes maiores do que a oferta de calcário. “Estimamos potencial para cerca de 10 mil pedreiras produzindo pó de rocha em volume mais do que suficiente para cobrir os atuais 35 milhões de hectares

Rogério Zart testando distribuidor com pó de rocha, visando ampliação da área de rochagem na safra 2018/19

Benefícios do pó de rocha Para o solo:

-- Incrementa a atividade biológica; -- Aumenta a CTC (capacidade de troca de cátions); -- Eleva a fertilidade; -- Neutraliza o alumínio (Al) e libera o fósforo (P); -- Dispersão de nutrientes de forma gradativa e contínua; -- Racionaliza o uso do potássio (K); -- Garante efeito residual prolongado

Para as plantas:

-- Permite equilíbrio e melhor nível nutricional; -- Oferece maior resistência: • ao estresse hídrico (em função do aprofundamento do sistema radicular) • a pragas (tecido será mais rígido), • a doenças • ao acamamento (silício dá firmeza e flexibilidade ao caule da planta)

Fonte: Carlos Pitol, engenheiro agrônomo – Futura Agrobiologia

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cultivados com soja”, diz Martins. Esta oferta, segundo ele, pode reduzir a atual dependência brasileira por fertilizantes estrangeiros: “Atualmente o país importa 95% do potássio e 50% de todo o fósforo que consome”. compara. E o que teria impedido ou bloqueado a utilização maciça de pó de rocha na agricultura brasileira até então? Martins explica que o assunto ainda está longe de integrar o currículo nas faculdades de agronomia: “As escolas permanecem trabalhando com o conceito de que fertilizantes devem ser solúveis na água, o que, para as condições tropicais, não é uma verdade absoluta. Por isso, boa parte dos profissionais formados com esta visão ainda tende a encarar a rochagem com certo descrédito”. Éder Martins faz algumas observações para os agricultores interessados em utilizar a rochagem na lavoura: “É importante que ele se informe sobre o papel e o potencial do tipo de rocha que ele tem disponível nas proximidades de sua propriedade. Existem materiais com propriedades distintas. Além disso, transportar pó de rocha em distâncias superiores a 300 quilômetros certamente será inviável pelo custo do frete. Em algumas situações a distância limite pode ser ainda menor”. Segundo o pesquisador da Embrapa, o principal pressuposto para a aplicação de pó de rocha é contar com um solo biologicamente ativo. “Caso não exista esta disponibilidade na área de lavoura é importante que o uso da rochagem seja conjugado com aplicação de produtos biológicos e cultivo de plantas de cobertura. Para estas avaliações sempre recomendo contar com o trabalho de especialistas”, observa.



Opinião

“Agradeça aos agrotóxicos por estar vivo” Desconstruir mitos é uma tarefa utópica, e o colunista analisa livro com objetivo de comprovar que os defensivos não são vilões. Decio Luiz Gazzoni *

O

* O autor é engenheiro agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja e membro do Conselho Editorial da Agro DBO.

título acima é emprestado do livro de Nicholas Vital, publicado em 2017. Ao ler notícias sobre o lançamento do livro, confesso que fiquei confuso. Haveria alguém suficientemente corajoso para desafiar a avassaladora onda do politicamente correto, em que um dos ícones é demonizar o agronegócio e tudo o que está a ele vinculado, mormente agrotóxicos e variedades transgênicas? Ou o título seria um sarcasmo? Por curiosidade comprei o livro, também motivado pelo desafio de demonstrar o oposto do que dizia o título. O livro se pauta por buscar fundamentos científicos ou opinião de especialistas, para cada uma das afirmativas. No total são cerca de 300 referências que atestam a veracidade do que foi escrito, ocupando 30 páginas do livro. O primeiro capítulo (Pulverizando mitos) é um ataque às fake news assacadas contra a produção de alimentos, desmontando teorias que não se sustentam, desde o endeusamento dos produtos orgânicos, passando pela redução da quantidade de esperma, chegando ao leite materno envenenado, que exploram a crendice e o enviesamento da percepção de risco da população. O capítulo 2 (Os remédios das plantas) faz uma abordagem conceitual. Por exemplo, se uma substância química é utilizada como terapia para uma doença humana, chama-se remédio. Se é utilizada

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para curar uma doença de plantas, é denominada agrotóxico. Agora, se exatamente a mesma substância for usada para controlar uma doença fúngica em uma planta e uma micose em humanos, é chamada de remédio quando usada em humanos e de agrotóxico quando usada nas plantas. Exatamente a mesma substância! A ex-ministra Katia Abreu propunha, por similaridade, denominar os remédios de “humanotóxicos”. Os 3º e 4º capítulos tratam das causas de expansão das pragas agrícolas, e da inexorabilidade do uso de processos para seu controle, o que inclui agrotóxicos. Alerta para os riscos representados pelas pragas para a produção agrícola, com destaque para a introdução de pragas exóticas. O autor também discorre sobre as instituições e normativas internacionais que regulam o mercado e as regras fitossanitárias que necessitam ser observadas. O capítulo 5 (Ideologia, a pior praga) ataca a jugular dos detratores do agronegócio, mostrando inúmeros exemplos dos vieses na veiculação de notícias, o uso de personalidades do mundo artístico para propagar teses contrárias ao agronegócio e, particularmente, contra o uso de produtos fitossanitários. Nesse capítulo, o autor desmonta afirmativas como aquelas que buscam convencer os incautos de que cada brasileiro consome diversos litros de agrotóxicos por

ano, que seriam contaminantes de alimentos. Essa linha de raciocínio é aprofundada no capítulo 9 (Estamos todos envenenados?), onde diversas teorias da conspiração são esfaceladas à luz de informações de cunho científico. O capítulo 7 desnuda algumas razões dos assaques contra agrotóxicos (O marketing da felicidade). Segundo o autor mostra, muitos dos detratores dos agrotóxicos não o fazem exclusivamente por ideologia, há um negócio muito lucrativo que envolve a produção agrícola sem o seu uso, seja ela orgânica ou agroecológica. Cujos produtos chegam ao consumidor a custos alarmantes (até 600% superior), sem que os diferenciais de qualidade organoléptica e de inocuidade alardeados sejam comprovados ou demonstráveis. O capítulo final é intitulado “Agrotóxico mata!” Nele, o autor mostra o descompasso entre veiculações midiáticas (TV, rádio, jornal) e as realidades estatísticas e científicas, a diferença entre o mero discurso e a fundamentação com fatos e números, lastreados em artigos científicos publicados em revistas de credibilidade. Cheguei ao final do livro sem conseguir contrapor as afirmativas e conclusões elencadas pelo autor. Mas minha recomendação é: Leia. Releia. Reflita. Pesquise. Verifique. E tire as suas próprias conclusões.



Entrevista

A Rede de Fazendas Alfa é uma ideia nova

D

aniel Latorraca Ferreira, 32 anos, é superintendente do Imea, Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária há 9 anos, é economista com MBA no agronegócio, e hoje é também o coordenador de uma nova ideia no Mato Grosso, a Rede de Fazendas Alfa, programa integrado aos esforços da Famato, Imea e Senar-MT, dentro do

Agro DBO – O que é a Rede de Fazendas Alfa? Daniel Latorraca – Esse projeto nasceu dentro do programa AgriHub que é uma iniciativa do Sistema Famato, em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural de Mato Grosso (Senar-MT) e o Imea. Montamos o projeto para conectar os produtores com as novas tecnologias, especialmente as digitais. O primeiro passo foi criar um grupo de produtores com um perfil assemelhado de atitudes, mais abertos a receber os testes para validação dessas novas tecnologias. Diante dos resultados estaríamos aptos a difundir as experiências de sucesso, validando-as, e com isso melhorar a renda dos produtores, ou mesmo reduzir custos e também melhorar os processos. Agro DBO – Dá para imaginar as dificuldades, pois a maioria das propriedades rurais, especialmente no Mato Grosso, são distantes dos grandes centros urbanos, e não têm 24 | Agro DBO – maio 2018

AgriHub, sistema que tem o objetivo de ser a ponte que liga a tecnologia ao campo. Além disso, busca contribuir para aumentar a renda dos produtores rurais usando o mínimo de recursos e para o desenvolvimento sustentável da produção agrícola e pecuária por meio da inovação tecnológica. O Imea é uma instituição privada sem fins lucrativos, vinculado ao sistema Famato – Federação da Agricultura do Estado do Mato Grosso, em parceria com a Aprosoja, Ampa e Acrimat, foi criado em 1998, e tem sede em Cuiabá-MT. O Imea realiza estudos e projetos socioeconômicos e ambientais em todo o território mato-grossense, e produz informações estratégicas do agronegócio para as entidades mantenedoras. Daniel concedeu entrevista para Agro DBO, conduzida por Richard Jakubaszko, editor-executivo, para detalhar o que é a Rede de Fazendas Alfa, uma promissora iniciativa que visa agilizar a agricultura digital.

acesso à internet, não é isso? Daniel Latorraca – Exatamente. Esse é um dos pontos principais que a gente está discutiu durante dois dias no Fórum Rede de Fazendas Alfa, que abriu a programação do evento Summit AgriHub (18 e 19 de abril último), no Cenarium Rural, em Cuiabá-MT. A conversa foi em como que a gente resolve isso, como acelerar esse processo, para obter uma maior abrangência na conectividade para que, de fato, essas novas tecnologias e ferramentas cheguem ao campo. Agro DBO – A Rede de Fazendas Alfa pode operar independentemente de as fazendas terem ou não internet? Daniel Latorraca – Na verdade, algumas das 53 propriedades já vinculadas ao projeto têm internet, mais ou menos a metade, e as demais estão sem acesso. O fato é que eles estão aptos, com interesse de discutir, de ajudar e até quem sabe abrir alguma área das suas propriedades para fazer os

testes dessas novas tecnologias, tanto de empresas já estabelecidas como de startups, para dar soluções a problemas crônicos no campo. Agro DBO – O que deve apresentar como pré-condição um produtor para ser participante da Rede Alfa? Daniel Latorraca – Para identificar o perfil e as características dos produtores alfa, a equipe técnica do AgriHub promoveu reuniões estratégicas em municípios polos de Mato Grosso como Sorriso, Campo Novo do Parecis, Campo Verde e Água Boa, ou seja, em cidades do norte, sul, leste e oeste do estado. A partir daí estabelecemos o perfil desses produtores. Os produtores rurais convidados para participar da dinâmica de levantamento de problemas e do projeto AgriHub tinham algumas características fundamentais, como: ser visionário, ser aberto ao novo, ter apetite ao risco e valorizar a pesquisa. Entendemos que visionário é o indivíduo de ideais grandio-


sos. Sob outro ponto de vista, pode ser aquele indivíduo que antecipa o futuro, que está à frente do seu tempo, enxerga oportunidades que até então estavam obscuras para os demais indivíduos da comunidade. Ser aberto ao novo quer dizer que deve estar propenso a assimilar inovações que chegam à sua porteira, testando-as. Dentre as características buscadas, esta se torna importante para o sucesso da Rede Alfa, já que, se os produtores não estiverem dispostos a receber novas tecnologias, de nada adiantará apresentá-las a eles. Por fim, o apetite ao risco. Significa dizer que se buscou um produtor rural aberto a correr riscos em relação às novas tecnologias da agricultura digital, a fim de apresentá-las como uma das novas formas de investimento no agronegócio do século 21. Com essas características como requisitos, foram identificados, por

enquanto, 53 produtores rurais mato-grossenses que as possuíam, não necessariamente todas, mas que, pelo menos, tivessem alguma conexão, para fazer parte da Rede Alfa. Agro DBO – O grupo todo se reúne? Daniel Latorraca – Sim, eles interagem, trocam experiências e informações sobre os primeiros resultados da rede e ainda discutem os próximos passos do projeto como, por exemplo, intensificar o levantamento de dados de maneira estruturada da agropecuária como um todo. Agro DBO – Quais são os problemas críticos indicados pelos produtores participantes? Daniel Latorraca – Os 3 principais gargalos são: primeiro, a falta de conectividade com a internet nas fazendas; o segundo é a necessidade

de melhorias, no sentido de maior precisão, no manejo de pragas, doenças e ervas daninhas, e também de dificuldades de identificação correta desses problemas, e o terceiro gargalo é a baixa acurácia da previsão do clima. Há outros problemas, mas menos importantes, como a falta de compartilhamento de informações, a subjetividade na classificação de qualidade dos grãos, roubos em propriedades, a lista é grande. Agro DBO – Quem são e como se qualificam esses produtores? Daniel Latorraca – Dos 53 produtores membros da Rede de Fazendas Alfa, 49 são agricultores, sendo que 27 deles diversificam a atividade com a pecuária. Outros quatro exercem apenas a pecuária. Entre os agricultores, 70% usam o sistema soja no verão e milho na safrinha. O restante produz algodão (5%), giras-

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Entrevista No AgriHub queremos tudo: vamos melhorar a renda dos produtores, reduzir custos e aperfeiçoar os processos. sol (6%), feijão (10%), arroz (3%) e outras culturas (7%). Agro DBO – O Imea atua em termos econômicos, a Famato tem a função de representatividade do produtor, especialmente em questões políticas, e o Senar é treinamento e formação, capacitação e transferência de tecnologias. O que nós vislumbramos, na redação da Agro DBO, com o projeto da Rede de Fazendas Alfa, é a possibilidade de detectar problemas comuns de produtores que não se conectam e nem se conhecem, de desenvolver soluções viáveis, e aí haveria uma troca volumosa e consistente de respostas para serem passadas aos produtores. Isso está no programa Alfa? Daniel Latorraca – Exatamente, o que o projeto AgriHub faz é levantar os principais gargalos, é aquilo que não sai da cabeça do produtor. O que for possível nós estamos levando ao mercado, para quem quiser ouvir, seja empresa, universidade, startups, órgão de governo, e dizemos a eles, olha, temos esses problemas e precisamos de soluções. E algumas dessas soluções podem gerar negócios e lucros a quem apresentar a resposta certa para as necessidades dos produtores. Agro DBO – Não apareceu entre os problemas citados talvez a questão mais crítica dos produtores rurais no Brasil Central, que é a questão da logística, transporte, especialmente, e armazenamento. Por que isso? Daniel Latorraca – No AgriHub a nossa base de trabalho é a tecnológica, não discutimos problemas de infraestrutura, que são problemas para fora da porteira, que dependem do governo, de altos investimentos, por isso agora tratamos preferencialmente de questões existentes dentro da porteira. O transporte ainda é o principal problema do Mato Grosso e de outros es26 | Agro DBO – maio 2018

tados próximos, e tem sido nossa luta constante, assim como questões ambientais, e não serão as startups que darão essas soluções. Nesse projeto da Rede Alfa e do AgriHub a ideia é a participação dos produtores para dar soluções a outros problemas que são também importantes. Agro DBO – A ideia é boa, inegavelmente, ela ressuscita a criatividade gregária entre produtores rurais. Mas há um temor de que seja um projeto que pode morrer na praia, se não acontecerem boas soluções no curto prazo, porque suscitaria dúvidas de que seja apenas um marketing promocional. Como desconstruir essa crítica? Daniel Latorraca – Na verdade, o AgriHub é o primeiro evento depois de 3 anos de trabalho. Não é uma questão de marketing, fomos ao evento para demonstrar alguns resultados. As integrações dentro do AgriHub estão acontecendo. O primeiro passo foi concretizar a Rede Alfa e levantar os problemas com os 53 produtores, discutindo e validando as novas tecnologias. Depois disso tivemos duas frentes, uma para trazer para cá o que encontramos de soluções dentro do país. E outra para apoiar a divulgação dos problemas, todos eles graves e importantes, para os quais ainda não há solução no mercado. No evento de abril divulgamos o primeiro relatório de oportunidades que existem para dar soluções aos problemas existentes. Antes do evento já tínhamos levado 13 startups ao encontro dos produtores que relataram esses problemas. A gente já deu um retorno aos produtores, e discutimos algumas soluções viáveis para serem testadas, que a gente já mapeou. O AgriHub não é um balcão de negócios, mas um espaço de validação de tecnologias que podem resultar em redução de custos ou aumentar a eficiência.

Já tivemos 22 eventos de conexões, atingimos mais de 250 produtores, e temos 42 testes de validação acontecendo no estado do Mato Grosso, dentro dessa ideia. Agro DBO – Qual foi o retorno da plateia no AgriHub? Daniel Latorraca – O pessoal gostou, na verdade sou suspeito pra falar disso. O que se percebe é um processo de quebra de paradigmas. O que a gente observa é que a agricultura digital está chegando, e ela vai se consolidar. Ao mesmo tempo vemos que a sucessão familiar no agro está acontecendo e as novas gerações estão aptas a trabalhar com as novas tecnologias. Eles não são iguais os pais. A era de decisões por intuição e de característica empírica está morrendo. Agora teremos novos métodos de gestão. Mas isso exige que se prepare uma estrutura para a nova gestão, de ver o que o olho nu não enxerga, a junção dos dados financeiros com os dados operacionais. São eles que vão fazer a nova agricultura digital avançar. Agro DBO – E o futuro? Daniel Latorraca – A partir de agora, a equipe técnica do AgriHub criará agendas estratégicas com a participação direta dos produtores rurais e conforme o perfil de cada um. A participação dos produtores será fundamental nesse processo, alguns disponibilizando áreas para teste, outros monitorando, seja nos primeiros negócios, integrando empreendedores e investidores. O AgriHub tem o objetivo de ser a ponte que liga a tecnologia ao campo e busca contribuir para aumentar a renda dos produtores rurais usando o mínimo de recursos e para o desenvolvimento sustentável da produção do agro por meio da inovação tecnológica. Mais informações sobre o projeto, acesse www.agrihub.org.br


Esp e cia l i z a da e m Con t ro l e B i o l ó g i c o ,

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b a l l a g r o . c o m . br


Manejo

Tecnologia de aplicação: menos é mais? Autor explica como você pode ganhar mais se utilizar a tecnologia de aplicação e a sustentabilidade em busca da eficiência Sergio Decaro *

Autopropelidos são os preferidos para grandes culturas

* O autor é engenheiro agrônomo de Tecnologia de Aplicação da UPL.

A

tualmente, o setor de tecnologia de aplicação está diante de grandes desafios. Afinal, o planejamento de pulverizações contempla áreas cada vez maiores a serem trabalhadas pelo número de pulverizadores. Estes, por sua vez, estão se modificando em autopropelidos de grande porte, possibilitando velocidades de deslocamento maiores e ajustes nos volumes de aplicação. Segundo Gazziero, cerca de 70% das aplicações no Brasil levam pelo menos quatro produtos no tanque, e podem coincidir com condições ambientais propícias a perdas ao longo do dia. De encontro a isso a opinião da indústria de fungicidas e fabricantes de pulverizadores complementa o pensamento. Do ponto

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de vista de fabricantes de produtos fitossanitários, o ingrediente ativo deve chegar em quantidade e em sua forma biologicamente ativa no alvo. Do ponto de vista dos fabricantes de pulverizadores, certamente, irão se sobressair equipamentos capazes de garantir homogeneização dos produtos no tanque, mediante boa agitação, e fluidez no sistema hidráulico, do bombeamento até a chegada da gota no alvo. Além desse cenário, países tropicais como o Brasil ainda se deparam com outro desafio do manejo fitossanitário, devido à rápida velocidade de desenvolvimento e adaptação de pragas, patógenos e plantas daninhas. O número de moléculas existente não é pequeno, no entanto, boa parte já não possui a mesma efi-

cácia biológica de outrora ou mesmo perdeu por completo seu efeito para determinados alvos que, com o passar dos anos, têm se manifestado em populações resistentes. A agricultura brasileira também enfrenta diferentes problemas na aplicabilidade de determinados produtos, seja por problemas na água usada para diluição, incompatibilidade de produtos no tanque, deriva, falta de manutenção periódica nos pulverizadores, entre outros. Tais problemas de aplicabilidade reduzem significativamente a quantidade de ingrediente ativo que realmente chega no alvo.


Tecnologias de aplicação, como a correta escolha do tamanho de gotas, velocidade de aplicação, volume de aplicação, equipamento pulverizador, adjuvantes etc., garantem que determinado produto fitossanitário manifeste sua eficácia. Mas, será que você tem pensado em todos esses pontos e ajustado as suas aplicações de forma positiva e rentável? Sabe-se que nas aplicações de herbicidas e inseticidas, o uso de baixos volumes de aplicação é cada vez mais utilizado, sendo também praticado nas aplicações de fungicidas em soja e milho. Será que essa é a melhor opção para o produtor? Cuidado, o barato pode sair caro. Esta técnica apresenta certo limite no caso de fungicidas, uma vez que pode dificultar a correta colocação de ingrediente ativo nas partes inferiores do dossel da cultura e impede que os produtos expressem todo o seu potencial. Quando feita busca na literatura ou em fontes acadêmicas sobre aplicações terrestres de fungicidas em soja encontra-se conclusões contundentes sobre os volumes em relação ao controle e produtividade. Volumes mais próximos de 150 l/ha resultam em maior controle e maiores produtividades, se comparado a

volumes menores. Se considerarmos uma faixa de 50 a 150 l/ha, verificamos na maioria dos trabalhos um incremento de no mínimo 1 saco/ha a mais para cada 20 l acrescidos no volume, sem alterar a quantidade de produto na área. Aquela tal expressão de que água é para beber’ não é verdadeira para fungicidas, uma vez que é o único veículo disponível para levar o produto até o baixeiro das culturas no caso de aplicações terrestres. Esse incremento em produtividade encontrado nos trabalhos de pesquisa sugerem que para as aplicações com baixos volumes, subdoses de fungicida estão chegando realmente nos terços médio e inferior da soja, onde as doenças são mais severas, acelerando a manifestação de resistência dos patógenos aos ingredientes ativos, sobretudo para produto sítio específico. Portanto, a forma de como aplicar os produtos, aliada ao operacional, são muito importantes para que o produtor não se encontre em um cenário de subdose ou de baixa rentabilidade associada à redução da produtividade. A seguir, temos três dicas que podem ajudar a pensar um pouco mais sobre como você está fazendo hoje sua aplicação e como poderia melhorar este cenário:

Operacional versus o agronômico Quando se pensa no risco que se corre com a prática não assistida de volumes baixos vale ressaltar que deve haver um equilíbrio entre tomadas de decisões no campo, de modo a equiparar investimentos ou ações que num primeiro momento parecem ser racionais, mas que podem reduzir significativamente a produtividade. Em outras palavras, como afirma o professor Walter Boller, da Universidade Federal de Passo Fundo: na batalha entre o operacional e o agronômico não deve haver ganhador. Área tratada por hora A justificativa mais forte do produtor no campo ou do técnico responsável é que quanto menor o volume de aplicação, maior será o rendimento operacional. Isto é verdade até certo ponto. Muitos pensam que aumentar o volume de aplicação de 50 para 100 l/ha implica na redução da área tratada pela metade, numa jornada de trabalho. Isso não é verdade, pois a redução seria em torno de 25% a 30%, dependendo do planejamento da aplicação. Para quebrar este paradigma, o agricultor deve considerar todos os tempos envolvidos na operação, desde o início

maio 2018 – Agro DBO | 29


Manejo Regulagem é fundamental para boas pulverizações

da atividade, como a colocação dos EPI´s pelo aplicador; a correta regulagem e calibração do pulverizador; a limpeza do sistema hidráulico; o planejamento das entradas do pulverizador na área; a distância e velocidade para reabastecimento; o tamanho do tanque; a distância da barra; a velocidade de aplicação; e o volume de aplicação. Pensar em ganhar rendimento operacional alterando somente o volume e velocidade de aplicação é um erro comum. Estas duas variáveis são as mais importantes na qualidade da

baixo volume e altas velocidades. A depender do tamanho da área total, as perdas em anos de forte pressão de doenças justificam por si só a aquisição de mais pulverizadores para que haja o máximo de eficiência na aplicação do produto fitossanitário. Projetos de máquinas Atualmente, altos investimentos são feitos em pulverizadores, como equipamentos para georreferenciamento, eletrônica embarcada para controle das variáveis da aplicação e demais sensores espalhados em todo o equipamento. Por outro lado, quan-

O agroquímico deve chegar na dose certa e em sua forma biologicamente ativa no alvo aplicação. É fato que quanto menor o volume e maior a velocidade de aplicação, maior será o risco de deriva, uma vez que o tamanho das gotas fica muito reduzido para compensar a cobertura foliar, resultando em ineficiência do produto. A conclusão equivocada em muitos dos casos é que o produto usado não funcionou e a culpa acaba sendo dos fungicidas. Além disso, há uma discrepância muito grande entre a frota real de pulverizadores aplicando fungicidas e aquela realmente necessária. Hoje, um autopropelido é usado para tratar entre 2 e 3 mil ha, numa janela de 8 a 12 dias, o que força o operador a trabalhar em condições adversas de 30 | Agro DBO – maio 2018

do olhamos o sistema hidráulico das máquinas, trata-se basicamente da mesma configuração de décadas atrás, sem maiores avanços, sobretudo no quesito agitação no tanque. Os autopropelidos na agricultura brasileira compreendem em torno de 70% de toda a área pulverizada em soja e milho. Tais equipamentos são configurados com sistema hidráulico composto basicamente por elementos filtrantes, bomba, válvulas, chegando até os bicos. Dentre os tipos de bomba, encontramos equipamentos com modelo de pistão somente para um fabricante, enquanto todas as demais fabricantes do Brasil montam seus equipamentos com bomba

centrífuga. Se comparadas, cada qual possui vantagens e desvantagens. Para aqueles com bomba de pistão, tem-se dentro do tanque um agitador mecânico com hélices que circulam e promovem turbulência da calda visando uniformizar o conteúdo de produto. Já para aqueles que usam bombas centrífugas, a agitação de calda se dá somente pelo conteúdo de calda que volta ao tanque na forma de retorno. Assim sendo, conclui-se que quanto maior a vazão nominal da bomba em litros por minuto, melhor será a agitação dentro do tanque. O que de fato ocorre é que no mercado, encontramos hoje equipamentos com bombas e vazões de trabalho entre 200 e 600 l/minuto, conforme modelo e rotação. Esta diferença enorme implica que a agitação pode variar consideravelmente de equipamento para equipamento. Diante do que foi colocado encontramos uma problemática: a prática de baixos volumes e caldas concentradas aumenta o risco de problemas operacionais nos pulverizadores, como desgastes e decantação de calda. Este último é o mais ocorrente na aplicabilidade de todos os fungicidas, uma vez que são insolúveis e decantam, quando a calda está em repouso ou com agitação deficitária. A decantação no tanque pode ocorrer quando a agitação não é suficiente pela baixa rotação de trabalho do equipamento ou quando há interrupção da agitação por algum tempo. Outros fatores também são atenuantes, como incompatibilidade entre produtos na calda, ou o não preparo correto e pré-diluição dos produtos antes de colocá-los no tanque. Por esse motivo é importante que no trabalho diário seja realizada a busca para difundir informações de boas práticas em Tecnologia de Aplicação aos clientes finais e aproximações com empresas de pulverizadores, visando melhorar a eficiência das aplicações e aumentar a rentabilidade do produtor no campo.



Fitossanidade

Nematoides: importância e manejo Evitar prejuízos causados pela ação de nematoides exige cuidados especiais, como a presença de muita matéria orgânica no solo. Claudio Marcelo G. Oliveira1, Ticyana Banzato2 e José Otavio Menten3

J.M.O. Rosa

C.M.G. Oliveira

Galhas em raízes de tomateiro Meloidogyne incognita

Galhas raízes de abóbora Meloidogyne incognita

Os autores são 1Pesquisador Científico, Nematologista, Instituto Biológico 2 Engenheira Agrônoma Doutora em Fitopatologia USP/ESALQ 3 Professor Sênior USP/ESALQ, Secretário do Meio Ambiente de Piracicaba e Membro do CCAS (Conselho Científico Agro Sustentável)

U

ma importante restrição à produção agrícola sustentável é o impacto de pragas e doenças de solo. Nematoides estão entre as principais pragas agrícolas da atualidade. Estima-se que os nematoides parasitos de plantas consomem aproximadamente 10% da produção agrícola global, levando a perdas econômicas anuais avaliadas, cautelosamente, em mais de US$ 125 bilhões. No Brasil, as nematoses estão entre as fitossanidades mais importantes nos cultivos a campo ou em sistema protegido. Os gêneros que ocorrem com mais frequência são Meloidogyne (nematoides das galhas), Pratylenchus (nematoide das lesões), Heterodera (nematoides de cistos), Rotylenchulus (nematoides reniformes) e Radopholus (nematoide cavernícola). No entanto, dentre todos os nematoides parasitos de plantas, é consenso entre os fitossanitaristas

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que o nematoide de galhas é o mais importante. Esse patógeno está disperso em vários ambientes em todo o mundo, causando perdas às principais culturas agrícolas. No Brasil, várias espécies têm sido relatadas em associação às principais plantas cultivadas, mas Meloidogyne incognita, M. javanica e M. enterolobii são, reconhecidamente, as espécies mais importantes em função dos prejuízos causados e ampla distribuição geográfica. Independente do gênero e do sintoma, o desenvolvimento do nematoide na planta afeta o funcionamento das raízes, prejudicando a absorção de água e nutrientes e resultando em redução no desenvolvimento da planta, murcha, clorose e menor produção. Além disso, podem ser os causadores de outras doenças radiculares, pois os ferimentos promovidos nas raízes facilitam a infecção por fungos e bactérias presentes no solo. Um exemplo disso é a

bananeira, onde é comum a associação da presença do nematoide cavernícola e o mal-do-panamá, causado pelo fungo Fusarium oxysporum f. sp. Cubense. A dispersão de nematoides nas áreas de cultivo é principalmente através de material propagativo, tráfego de implementos agrícolas, animais e seres humanos, além do escoamento de água de chuva ou irrigação. Dessa forma, o uso de mudas certificadas é crucial para evitar a introdução e disseminação, conforme destacado no manuscrito publicado pelo Professor Dr. Ailton R. Monteiro (ESALQ-USP), em 1981: “não se deve plantar nematoides”. Aliás, pela clareza de tal publicação e pelos ensinamentos nela contidos, deveria constituir leitura obrigatória a todos os fitossanitaristas, encontrando-se disponível em: http:// docentes.esalq.usp.br/sbn/nbonline/ol%2005u/13-20%20pb.pdf


consideração as características ecológicas e econômicas das culturas. Para assegurar que o regime mais apropriado para o manejo de nematoides seja adotado pelos produtores, a correta identificação de espécies de importância econômica é, portanto, crucial. Dessa forma, necessita-se inicialmente promover a identificação taxonômica dos fitonematoides envolvidos na cultura, bem como da sua importância, aspectos biológicos, hábitos e hospedeiros. No manejo integrado, recomenda-se o uso de variedades resistentes, nematicidas registrados, agentes de controle biológico, sucessão e rotação de culturas com plantas não hospedeiras, incluindo os adubos verdes e plantas antagonistas, e pousio da terra por no mínimo 6 meses, eliminando todas as plantas voluntárias e plantas silvestres do local, já que a manutenção da população de nematoides na área de cultivo pode ocorrer através da sua sobrevivência em plantas daninhas e plantas voluntárias da cultura. A adição de matéria orgânica no solo na forma de torta de sementes, biomassa vegetal, resíduos agroindustriais e de animais e até mesmo lixo urbano, como detritos e resíduos de tratamento de esgoto, tem sido utilizada. A adição de material orgânico melhora as propriedades físico-químicas do solo, favorecendo o crescimento das plantas e tornando-as mais tolerantes ao ataque de nematoides. Também propicia o crescimento das populações de inimigos

Rosângela A. Silva

No plantio, os fundamentos do manejo integrado de nematoides têm sido tradicionalmente baseados na seleção de cultivares resistentes e aplicação de nematicidas e, na entressafra, a sucessão e rotação de culturas. Entretanto, como a demanda pela produção de alimentos tem aumentado, há situações em que práticas de rotação têm diminuído ao ponto de que muitas culturas são produzidas em monoculturas ou com períodos de rotação significativamente reduzidos, resultando no aumento das populações de nematoides. Resistência para um determinado nematoide parasito de plantas tem sido introduzida com êxito em algumas culturas, mas este processo é lento e a diversidade entre e intraespecífica no campo comprometem a eficiência do método. Consequentemente, houve dependência na aplicação de nematicidas para contribuir no manejo de nematoides parasitos de plantas, às vezes como parte de uma estratégia de manejo integrado. Entretanto, há limitações ambientais e sociais crescentes, levando ao desenvolvimento de métodos alternativos para o controle de nematoides. Tendo em vista que a erradicação dos fitonematoides é praticamente impossível, o manejo integrado utiliza-se de técnicas que visam mantê-los abaixo do nível populacional de dano econômico. Define-se manejo integrado de nematoides como a integração das diferentes medidas de controle, com o objetivo de maximizar a ação dos agentes, levando em

Nematoide do cisto na soja

C.M.G. Oliveira

Lesões em raízes de pimenta biquinho Pratylenchus brachyurus

naturais dos nematoides. Além disso, a decomposição da matéria orgânica libera compostos altamente tóxicos aos fitonematoides, por exemplo, amônia e ácidos graxos, que se formam durante sua decomposição, além da incorporação de mais nutrientes que serão aproveitados pela cultura. Com relação à escolha da melhor opção de plantas na rotação ou sucessão visando o manejo dos nematoides, a Crotalaria spectabilis e C. breviflora são as mais indicadas do ponto de vista nematológico, em razão do grande espectro de nematoides que são controlados. Já o amendoim pode ser efetivo no controle de M. incognita e R. reniformis, mas causa aumento da densidade de P. brachyurus, com reflexos negativos na produção do amendoim, do algodão e da soja. As braquiárias (Brachiaria decumbens, B. brizantha e B. ruziziensis) e Panicum maximum são efetivas no controle de M. incognita e R. reniformis, mas, assim como o amendoim, causam aumento da densidade populacional de P. brachyurus. Sobre a mamona há carência de investigações detalhadas sobre sua interação com nematoides. A maioria das pesquisas envolve a avaliação da eficiência das tortas e outros produtos derivados da mamona para o controle de nematoides, e poucos estudos avaliam sua resistência às espécies de nematoides e possibilidade do cultivo da mamona num programa de rotação de culturas. maio 2018 – Agro DBO | 33


Pesquisa

A biotecnologia em favor do meio ambiente Pesquisadores públicos e privados avançam no desenvolvimento de plantas tolerantes ao estresse hídrico, e a busca é geral Rogério Arioli Silva*

A

* O autor é engenheiro agrônomo e produtor rural em Mato Grosso

busca de processos biotecnológicos que otimizem o uso da água na agricultura é um avanço extraordinário que está sendo buscado em diversas frentes de pesquisa. A utilização responsável da água é exigência indiscutível, tanto na agricultura como em todos os processos que a demandem, sobretudo, em respeito àquelas milhões de pessoas que sofrem com sua escassez em todo o planeta. Dados da ONU informam que 40% da população mundial possui restrições ao uso da água, notadamente em países extremamente populosos como China e Índia. É provável que este quadro fique ainda mais dramático nas próximas décadas, como resultado

34 | Agro DBO – maio 2018

da distribuição pouco igualitária deste precioso bem. Neste ponto de vista o Brasil é um país privilegiado pelo fato de abrigar 12% de todas as reservas de água doce do planeta. Este fato, a despeito da riqueza que representa, traz consigo a responsabilidade do uso sustentável e parcimonioso deste insumo vital à sobrevivência das espécies. Sabedor de que grande parte da água é utilizada para a agricultura, o Brasil tem várias Instituições de Pesquisa buscando, através da biotecnologia, diminuir o uso da água e os efeitos da sua escassez na produção e produtividade das culturas. Destaca-se a Embrapa UFRJ com resultados promissores na pesquisa do café resistente à seca. Também a parce-

ria feita com a Japan International Research Center for Agricultural Science (JIRCAS) resultando em materiais de soja com maior produtividade quando expostos à restrição hídrica. Importante observar que uma das grandes fronteiras agrícolas onde atualmente a soja se expande fica nas adjacências do clima semiárido, sendo influenciada ciclicamente por este, com grandes prejuízos às lavouras, aos produtores e a todo país. Pesquisadores do Instituto Agronômico de Campinas (IAC) já incorporaram aos seus programas genéticos de melhoramento do feijoeiro características que permitirão a este importante grão da dieta brasileira diminuir em até 30% sua demanda de água, mantendo a produtividade. Com foco na precocidade dos materiais e na qualidade e agressividade do seu sistema radicular estas novas variedades de feijão já estão chegando ao mercado, trazendo significativa economia ao produtor rural, uma vez que boa parte deste grão é produzida em sistemas irrigados. Segundo o pesquisador e diretor do Centro de Grãos e Fibras IAC, Alisson Fernando Chiorato, já existem 74 linhagens com potencial de resistência ao estresse hídrico. A Embrapa Meio Ambiente (SP), através de seus pesquisadores, estuda a utilização de bactérias que, aplicadas no tratamento de sementes de espécies agrícolas


como soja, milho e trigo possibilitariam reduzir a necessidade de água, conferindo maior tolerância a períodos secos. Estas rizobactérias tolerantes à seca colonizam o sistema radicular das plantas produzindo substâncias que hidratam as raízes (exopolissacarídeos). Bactérias do gênero Bacillus foram isoladas por suas características de se desenvolverem em meio com grande restrição hídrica. As plantas xerófitas – pela sua adaptação milenar ao clima seco, foram uma das fontes originárias desta pesquisa, segundo conta o pesquisador Itamar Melo, responsável pelo estudo. O Conselho de Informações sobre Biotecnologia (CIB), uma ONG que objetiva divulgar informações técnico-científicas sobre os avanços desta área, aumentando a familiaridade do tema com a

sociedade, mostra que são inúmeras as iniciativas atualmente empreendidas na busca do uso sustentável da água. Uma das linhas de pesquisa – também explorada atualmente em nível mundial, tem o foco no estudo da proteína responsável pela abertura e fechamento dos estômatos das plantas. Estes poros microscópicos são

nismo genético será a chave para obtenção de plantas com maior resistência à seca, explica a bióloga Adriana Brondani, diretora executiva do CIB. Os importantes passos dados no sentido de otimizar a utilização da água para a agricultura estão em sintonia com a preocupação de proteção ao meio ambiente

O IAC já tem 74 linhagens de feijão com potencial de resistência ao estresse hídrico responsáveis pelas trocas gasosas das folhas com o meio ambiente, além de regularem a transpiração e consequente perda de água, resultando, em última análise, em menor turgescência e queda na atividade fisiológica das plantas, o que afetaria diretamente sua produtividade. Desvendar este meca-

presente no âmago da sociedade brasileira. Os esforços empreendidos por cientistas e pesquisadores em sua disciplinada busca de alternativas à redução do consumo de água encontra eco nas atitudes dos produtores rurais, também imbuídos no uso sustentável deste bem de toda humanidade.

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Agroinformática

In memory computing chega ao agro A novidade tecnológica nos ajudará a tomar melhores decisões, em tempo real, analisando um maior volume de informações! Manfred Schmid *

N

*O autor é engenheiro agrônomo e diretor da Agrotis Agroinformática.

a informática, a cada dia temos mais formas de mensurar e registrar. Se antes dependíamos de leituras e digitações, hoje temos coletores eletrônicos (até em celulares) e a IoT (Internet das Coisas) que faz com que diversos equipamentos com sensores coletem informação e se comuniquem com o software pela nuvem. Os bancos de dados estão cada vez maiores, mais ricos e complexos. Este grande volume de informação, se tratado da maneira tradicional, compromete a performance dos sistemas, podendo confundir resultados. Brincando, falamos que passamos a ter um bando de dados, em vez de um banco de dados. Na informática tradicional, o software aplicativo tem um front que é a camada que os usuários vêm e operam, e uma camada back onde rodam as principais funcionalidades. Toda a informação é armazenada pelos sistemas de Bancos de Dados nos discos rígidos dos computa-

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dores e servidores. Imagine o Banco de Dados como uma bibliotecária, que busca nas prateleiras (discos rígidos) os livros (informação) que precisamos, e depois guarda os mesmos no lugar certo. Quando trabalhamos, nosso software “pede” a informação necessária ao banco de dados, que a coleta nos discos rígidos, as organiza e entrega ao software. Do trabalho são geradas novas informações, que são armazenadas de forma ordenada pelo banco de dados. Cada operação de Entrada/ Saída demanda processamento e comunicação. Mesmo sendo leigo, dá para imaginar o que acontece quando o volume de informação aumenta muito. Para resolver este problema, criou-se os Data Warehouse, sistemas paralelos, que recebem informação de outros bancos de dados, às vezes de fontes e sistemas distintos. Podem analisar grande volume de informação, depurando correlações entre elas. Mas geralmente não são atualizados em tempo real, pois a comunicação com outras bases é complexa e cara, feita então de forma periódica. Com o aumento da informação e o surgimento de técnicas de Analytics (inteligência artificial), esta estrutura evoluiu para o Big Data. Neste modelo, enquanto as transações são feitas em sistemas aplicativos, as análises mais qualificadas ficam em outros sistemas, aumentando a complexidade e custo do trabalho dos gestores. Pela impossi-

bilidade de analisar em tempo real, em única ferramenta, algumas decisões ficam comprometidas. Desta necessidade surgiu a tecnologia in memory ou “computação em memória”. Os dados passam a ser carregados e executados na memória, removendo do processo as várias operações de entrada/saída aos discos, que limitavam o desempenho. O acesso à memória é muito mais rápido do que o acesso em disco. Para imaginar o ganho de tempo, pense na diferença entre responder uma informação memorizada, contra lê-la em um livro, para então respondê-la. Esta tecnologia exige, no entanto, computadores servidores especiais, com muito mais memória RAM do que em equipamentos tradicionais. Esta dificuldade é minimizada ao usuário, quando as soluções “em memória” são fornecidas na nuvem. A tecnologia in memory já está disponível ao agronegócio através de várias aplicações. Estamos participando de projetos de implantação de ERPs completos e aplicativos específicos para revendas de insumos, fábricas de fertilizantes, cerealistas, beneficiadores de sementes e produtores rurais, utilizando como plataforma o SAP Hana. Pelos resultados iniciais, podemos afirmar que a tecnologia in memory vai revolucionar também a agroinformática. Com isso, você poderá operar em tempo real um grande volume de informação, e tomar as melhores decisões na nova economia agrodigital.



Café

A metade escondida do cafeeiro O entendimento de como a natureza age em relação às plantas perenes ou anuais é fundamental para se ter sucesso com a lavoura. Helio Casale *

Cafezal novo com Brachiaria ruziziensis nas entrelinhas

* O autor é engenheiro agrônomo, cafeicultor, consultor e membro do Conselho Editorial da Agro DBO.

A

cafeicultura não é diferente das demais culturas e está sujeita às regras de mercado, portanto, deve obedecer às leis, regras e princípios que regem o meio ambiente. Anos bons são intercalados com outros não tão bons. Ao cafeicultor resta uma alternativa para sobreviver decentemente em tempos de crise: conseguir fazer com que sua atividade alcance a máxima produtividade econômica. Desta forma, não basta produzir bastante. O fundamental é que na venda da produção, sobrem recursos no bolso em quantidade tal que dê para o cafeicultor sustentar a família, reinvestir na propriedade e, enfim, progredir social e economicamente. As plantas de café podem ser divididas, grosso modo, em duas partes: a parte aérea, composta de

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tronco, ramos, galhos e folhas; e a outra parte, que está embaixo da terra, escondida, onde se encontram as raízes, consideradas a boca da planta, a porta de entrada dos alimentos. Essa segunda parte, que corresponde a cerca de 50% do total, como está escondida no solo, geralmente não é bem tratada, não recebe o carinho que merece, sendo muitas vezes até maltratada, e o resultado é a perda da longevidade, com consequente morte precoce das plantas. E lá se vai trabalho, dinheiro, sonhos, tudo por água abaixo. A grande maioria dos nossos cafezais está instalada em solos de fertilidade natural, que varia de média a baixa, e vêm sendo manejados de maneira um tanto agressiva, no que diz respeito, principalmente, ao manejo dos matos das entrelinhas (muito herbicida), falta

de desbrota e de poda, emprego de doses altas de inseticidas e fungicidas, adubações foliares desequilibradas e geralmente atrasadas etc. O resultado é nosso conhecido: a produção fica geralmente muito aquém do possível e do desejado. Dos preços, nem se fala! Para se alcançar a produtividade máxima econômica, algumas práticas culturais são tidas como indispensáveis, destacando-se entre elas as seguintes: baixar a temperatura do solo, aumentar a duração do período vegetativo, aumentar o acúmulo de reservas das plantas e dar a primeira adubação, também chamada de adubação de agradecimento, o mais cedo possível, antes das floradas. Nesse sentido, vale lembrar que é muito mais importante a hora certa do que a dose certa. Baixar a temperatura do solo significa manter o solo protegido, sempre recoberto de matos mortos ou a morrer, de maneira que os raios solares não atinjam diretamente o solo. Na tabela ao lado, dados do Dr. Coaracy Moraes Franco, saudoso pesquisador do IAC, mostra o efeito das temperaturas no solo sobre o desenvolvimento do sistema radicular do cafeeiro. Deve-se lembrar de que em temperaturas acima de 26º C, e abaixo dos 20° C as raízes superficiais são injuriadas e começam a morrer. Esse fato pode ser facilmente observado nas lavouras que


Temperatura em °C

Crescimento em cm

13

5,5

18

45

25

73

20 – 26

100

28

74

33

23

38

PLANTAS MORRERAM

43

PLANTAS MORRERAM

recebem tratos culturais intensos nas entrelinhas, ficando o solo exposto aos raios solares. Não se encontram raízes superficiais e aí se justifica a prática de adubar da pingadeira da copa para dentro, onde se encontram raízes. Com isso, se pratica uma adubação de privilégio, ou seja, se aduba apenas parte do sistema radicular, ficando as raízes do meio das ruas sem receber os adubos, sem poder beber os nutrientes. Para maximizar o efeito dos adubos minerais, nada mais apropriado do que colocá-los em toda a área livre, de tronco a tronco, adubando os matos, reciclando nutrientes e convertendo nutrientes minerais em massa verde, a qual, depois de manejada convenientemente, vira massa seca e finalmente adubo orgânico, e ao se decompor libera lentamente os nutrientes acumulados para as plantas. Para manter o solo sempre protegido, temos de escolher uma planta das chamadas C4, que são aque-

las que sequestram e armazenam grandes quantidades de carbono, fonte principal da matéria orgânica. As gramíneas são as representantes maiores das C4 e dentre elas, as braquiárias se destacam pelo porte médio, fácil manejo, elevada capacidade de rebrota, capacidade de sequestrar carbono da atmosfera

as outras dão de 3 a 6. Vale lembrar que muitas sementes atraem ratos, os quais são alimento preferido de cobras. Cair fora. Solo coberto, corrigido e adubado convenientemente, com braquiária implantada, leva as plantas a desenvolverem um avantajado sistema radicular, amenizando os efeitos de seca eventual e permitindo um maior aproveitamento dos adubos minerais. Não deixar de programar e executar adubações corretivas, empregando, sempre com base em análise química, as doses de calcário e de gesso agrícola, que além de corrigirem a acidez, contribuem para enriquecer a subsuperfície e aprofundar o sistema radicular. Como consequência do aprofundamento do sistema radicu-

Baixar a temperatura do solo é manter o solo protegido, recoberto de matos mortos. e fazer grandes volumes de massa verde/seca, além de terem avantajado sistema radicular que atinge grande profundidade no solo. Mas nem toda braquiária é indicada. A alelopatia – competição direta de uma espécie de planta sobre outra usando compostos prejudiciais ou tóxicos, é o limitante para algumas espécies. A Brachiaria ruziziensis se destaca entre as demais, devendo ser a preferida. As principais características dessa braquiária é dar apenas uma florada por ano enquanto

lar, as plantas encontram água disponível no subsolo em tempos de seca, se alimentam melhor, produzem mais folhas – as quais permanecem mais tempo nos pés, aumentando a duração do período vegetativo e, naturalmente, as reservas das plantas, além de excelentes floradas e pegamento das flores, levando à produção de frutos de boa qualidade. Consequência: PEM – Produtividade Econômica Máxima, mais dinheiro no bolso.

maio 2018 – Agro DBO | 39


Clima

Chuva afetou a safra de milho O que passou, passou, e vem aí bom tempo, conforme previsões do nosso agrometeorologista, mas pode haver geadas, em breve. Marco Antônio dos Santos * Figura 1. Previsão de anomalia de chuvas acumuladas para maio e até julho de 2018, segundo o modelo americano CFSv2. 15N EQ

30S 45S 60S

90W

75W

60W

45W 30W

-10 -6 -4 -2 -1 -0,5 -0,25 0,25 0,5 1

2

4

Fonte: NOAA/CFSv2

15S

6 10

Figura 2. Previsão de ENSO (Oscilaçao Sul El Niño) para os próximos meses, segundo o Instituto IRI (International Research Institute for Climate and Society).

La Nina Neutral El Nino Climatological Probability: La Nina Neutral El Nino

M * o autor é engenheiro agrônomo e agrometeorologista da Rural Clima.

esmo com o fim da La Niña e um clima bem mais próxima da neutralidade, as condições climáticas não estão tão favoráveis ao desenvolvimento das lavouras de milho no Sul do Brasil. As poucas chuvas que ocorreram desde o começo de abril sobre as principais regiões produtoras de milho safrinha do Paraná, Santa Catarina e de São Paulo, têm afetado o desenvolvimento das

40 | Agro DBO – maio 2018

lavouras. Dessa forma, as médias de produtividade deverão ser bem menores do que as primeiras estimativas. Sendo o Paraná um dos maiores produtores de milho 2ª safra do Brasil, uma quebra no estado pode resultar em redução significativa na produção nacional. Afeta com isso o abastecimento e mexe com os preços da commodity. Apesar do mês de maio se mostrar bem mais chuvoso sobre essas regiões, as perdas até então contabilizadas são irreversíveis. Nas demais regiões , os produtores estão com sorrisos de orelha a orelha, uma vez que o clima foi benevolente e os preços ajudam o produtor a colocar mais dinheiro no bolso. Com relação ao algodão, a perspectiva é que o clima venha a ser bastante favorável à produtividade, já que foram registradas chuvas durante toda a fase crítica da planta ao deficit hídrico. Tudo sinaliza para que tenhamos uma safra excelente de algodão. No Matopiba, as perdas nos anos anteriores deixaram muitos produtores com a corda no pescoço. Agora, a perspectiva é de novos investimentos. Para as culturas de inverno a previsão é de clima bom, porém, devemos salientar que, devido a esse período de neutralidade, com as águas do Oceano Pacífico se aquecendo gradativamente, a segunda metade do inverno e o começo da primavera poderão ser marcados, novamente, por chuvas acima da média. Isto poderá trazer transtornos na colheita. Além disso, com um inverno mais úmido, haverá preocupação com doenças. Com relação a temperaturas, em relação a geadas, a previsão é que ao longo deste ano massas de ar polar avançarão com maior facilidade so-

bre o Brasil, o que aumenta o risco de ocorrer geada. O problema é saber com antecedência se haverá ou não a ocorrência, pois só se tem certeza que haverá mesmo formação de geadas com no máximo 5 dias de antecedência. Antes disso, são apenas chutes. Mas que o risco é maior em anos de neutralidade climática, isso é. Sobre o clima nos EUA, a previsão é que mesmo com atraso no início do plantio do milho, por conta das temperaturas baixas e até algumas nevascas, o mês de maio tenha temperaturas dentro da média e com bom volume de chuvas. Isso manterá condições favoráveis a realização do plantio do milho e, especialmente, da soja. Ou seja, as previsões sinalizam que o clima ao longo de toda a safra norte-americana deve ser semelhante ao de 2017. Isto é, clima favorável, mas com algumas intempéries que proporcionarão nervosismos de mercado, com boatos de seca e todos os ingredientes necessários para mexer com os preços entre julho e agosto. No final, assim como em 2017, serão infundados, já que as previsões sinalizam uma boa safra, com perspectiva até mesmo para novos recordes de produtividade, caso haja um aumento na área cultivada de soja. Quem já começa a se planejar com a compra de insumos e planeja para 2018/19, veja essa dica. Segundo os mapas de previsão climatológica de longo prazo, a previsão é que seja muito semelhante ao ocorrido em 2017. Final do inverno e começo da primavera com chuvas mais concentradas no Sul do que na metade norte do país. Vão gerar atrasos no plantio da nova safra de grãos. Mas nada que venha trazer maiores preocupações.


Antropologia

Reescrevendo a história do cavalo Do milenário oriente às novas paragens americanas, entre o épico e o dramático, o cavalo é companheiro inseparável do homem. Evaristo E. de Miranda *

“O

* o autor é doutor em ecologia, engenheiro agrônomo, chefe geral da Embrapa Territorial e membro do Conselho Editorial da Agro DBO

cavalo é a mais nobre conquista do homem.” A frase é do naturalista francês do século XVIII, Georges-Louis Leclerc, conde de Buffon. As teorias de Buffon influenciaram gerações de naturalistas, entre os quais Jean-Baptiste de Lamarck e Charles Darwin. Agora, a frase tornou-se definitiva. A ciência acaba de provar: não existe mais cavalo selvagem na Terra. Tudo que cavalga foi domesticado pelo homem. Se ama cavalos, leia este artigo. Se não, também. Noblesse oblige. Um estudo internacional conduzido por geneticistas e arqueólogos, publicado em fevereiro/2018 na Nature, alterou conhecimentos sobre equídeos. Os míticos e ameaçados cavalos de Przewalski, são protegidos em reservas naturais de Mongólia. Descritos pela primeira vez em 1879 existem apenas 2.000 cavalos de Przewalski nas estepes. Até agora, esses pequenos cavalos eram preservados como os últimos representantes de cavalos selvagens. Deles descenderiam os domesticados. O estudo, realizado com a participação de 14 países, indica que o cavalo mongol deixou a vida selvagem há 5.500 anos. Os estudos genômicos são conclusivos: o cavalo de Przewalski descende diretamente do cavalo de Boltaï, descoberto no Cazaquistão, tido como o primeiro equino domesticado. Após três anos de trabalho, 47 cientistas mostraram: o cavalo de Przewalski resulta de animais domesticados que retor-

naram à vida selvagem, há milhares de anos. Mesmo assim, os cavalos de Przewalski merecem ser preservados. Eles representam os mais próximos descendentes dos primeiros cavalos domésticos. Algo parecido ocorreu, recentemente, com os mustangues dos EUA. Esses cavalos assilvestrados descendem de animais levados à América por exploradores espanhóis e portugueses no século XVI. Na ausência de predadores, proliferaram nas planícies dos EUA. Eram dois milhões no século XX. Foram reduzidos pela caça a cerca de 300.000. E hoje têm o estatuto de espécie protegida. O mesmo ocorreu com o cavalo lavradeiro de Roraima. Levados por portugueses escaparam e multiplicaram-se livremente nos campos do lavrado nos últimos 250 anos. Hoje, são conservados em núcleos de criação pela Embrapa. Para os pesquisadores, o lavradeiro de Roraima sofreu um processo natural de seleção. Genes desfavoráveis no ambiente (clima equatorial, alimentação de baixo valor nutritivo, isolamento geográfico e genético) foram eliminados. Apenas os animais adaptados sobreviveram. Os lavradeiros são pequenos (1,40 m), com alto índice de fertilidade, velozes (podem correr por 30 minutos a 60 km/h), resistentes ao trabalho árduo e tolerantes a doenças e parasitas. A origem do cavalo tornou-se mais complexa após esse estudo. O sítio de Boltaï data do Neolítico e foi

descoberto em 1980 com milhares de esqueletos de equinos, estruturas de criação, bridões e até resíduos de leite de éguas em antigas ânforas. O local era tido como o berço do cavalo doméstico. O estudo do genoma de 88 indivíduos antigos e contemporâneos mostrou que os cavalos domésticos não descendem do animal cazaque, hoje desaparecido. Os atuais cavalos domésticos têm apenas 2,7% de genes de Boltaï. Enquanto os cavalos de Przewalski descendem deles diretamente. Os cavalos domésticos, árabes, PSI ou percherons, estão órfãos. De quem descendem então? As pesquisas apontam para novos sítios arqueológicos a oeste dos montes Urais, ao lado dos rios Volga e Dom. E mais a oeste ainda para o sítio arqueológico de Dereivka na Ucrânia, de 4.500 a.C. e para outros locais ao redor do mar Cáspio, Anatólia, Romênia e Hungria. Há muita pesquisa ainda até se ter clareza sobre a sua verdadeira origem. Para o professor de arqueologia molecular da Universidade de Copenhague, Ludovic Orlando, o cavalo fez a história da humanidade. De Alexandre o Grande a Gengis Khan, ele portou conquistas e ritmou batalhas. E permitiu disseminar genes, línguas, culturas e doenças. Sua domesticação constituiu um instante fundamental. O que se descobriu com essa pesquisa sobre a origem do cavalo é um pouco como se percebêssemos que o homem não surgiu na África. maio 2018 – Agro DBO | 41




Biblioteca da Terra Princípios de fitopatologia

O Brasil possível

O título acima traduz o sonho do agricultor Herbert Bartz, pioneiro do plantio direto no Brasil. Foi ele quem, na década de 1970, trouxe a tecnologia para o país, adotando-a em sua propriedade, a Fazenda Rhenânia, em Rolândia (PR). Na época, foi chamado de louco por plantar sobre a palhada remanescente da safra anterior. Hoje, o sistema é utilizado em 35 milhões de hectares no Brasil, o que corresponde a quase 90% das áreas ocupadas com lavouras de grãos. A história de Bartz está no livro “O Brasil possível: a biografia de Herbert Bartz” (240 páginas, edição do autor), escrito pelo jornalista Wilhan Santin após 14 meses de pesquisas, entrevistas com 27 pessoas e 20 com o biografado. O título foi ideia do próprio Bartz. A explicação está na biografia: “Tenho a certeza de que o Brasil com o qual eu sonho é, sim, possível. Espero que tudo o que está acontecendo no agronegócio se espalhe para todos os setores, que aqueles que ocupam os cargos políticos possam se espelhar no homem do campo, que trabalha do nascer ao pôr-do-sol, que come marmita em cima do trator com o motor ligado ...” O livro pode ser comprado pelo site www.estantevirtual.com.br. O preço é R$ 50, mais R$ 10,72 pelo frete.

44 | Agro DBO – maio 2018

Professores e alunos de pós-graduação da Esalq - Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, de Piracicaba (SP), reuniram-se no mês passado para o lançamento da 5ª edição do Manual de Fitopatologia Volume 1: Princípios e Conceitos, publicado pela editora Ceres. Com 573 páginas, divide-se em seis seções principais: Conceitos básicos de fitopatologia, Agentes causais, Controle de doenças, Grupos de doenças, Fisiopatologia e genômica das interações planta-patógenos e Epidemiologia: análises temporal e espacial. Todos os capítulos foram atualizados. Um deles, sobre nematoides, está incluído na seção Agentes Causais. A compra pode ser feita através do link http://www.editoraceres.com.br/detalheLivro.php?id=58 por R$ 290.

Protecionismo americano

Lançamento da Editora Unesp, o livro O protecionismo agrícola nos Estados Unidos: Resiliência e economia política dos complexos agroindustriais mostra como a política de subsídios transformou a agricultura dos EUA e exportou um novo sistema agroalimentar global baseado nos interesses norte-americanos. “Pensar a respeito dos motivos que levam à consolidação de políticas agrícolas protecionistas tem papel fundamental para o Brasil, expoente nas relações internacionais como potência do agronegócio e referência para a agricultura familiar”, diz o autor, Thiago Lima, doutor em Ciência Política, professor e mestre em Política Internacional. Com 203 páginas, pode ser adquirido por R$ 62 através do site www.editoraunesp.com.br

Problemas no algodoal

O Instituto Mato-grossense do Algodão lançou três circulares técnicas em que pesquisadores do próprio IMAmt e de instituições parceiras apresentam resultados de estudos sobre problemas enfrentados pela cotonicultura. A CT 32 tem como título Reação de cultivares de algodoeiro a doenças e nematoides, safra 2016/17. A CT 33, intitulada “Alternativas para controle químico e identificação molecular de Amaranthus palmeri”, traz avaliações sobre herbicidas no combate ao caruru-palmeri, erva daninha de incidência crescente em lavouras de soja, milho e algodão. O título da CT 34, “Situação da lagarta-do-cartucho no Estado de Mato Grosso”, resume o conteúdo. As circulares podem ser acessadas no site www.imamt.com.br (clique em Outras Publicações).

CIRCULAR TÉCNICA Nº32 / 2018

Março de 2018 Publicação de difusão científica e tecnológica editada pelo Instituto Mato-grossense do Algodão (IMAmt) e dirigida a profissionais envolvidos com o cultivo e beneficiamento do algodão.

Reação de cultivares de algodoeiro a doenças e nematoides, safra 2016/17 Rafael Galbieri1, Edivaldo Cia2, Jean L. Belot1, Alberto S. Boldt1, Patrícia A. Vilela1

Diretor executivo Álvaro Salles Contato www.imamt.com.br Email imamt@ imamt.com.br Tiragem 2000 exemplares

Sintomas reflexos em algodoeiro causados por Meloidogyne incognita em Campo Verde-MT. Duas linhas da esquerda, cultivar intolerante e, as duas linhas da direita, tolerante ao nematoide. (Foto: Rafael Galbieri)

(1) Instituto Mato-grossense do Algodão, BR 070, Km 266, Cx. Postal 149, CEP 78.850-000, Primavera do Leste-MT. E-mail: rafaelgalbieri@ imamt.com.br (2) Instituto Agronômico de Campinas (IAC), Cx. Postal 741, CEP 13.560-970, Campinas-SP

1. Introdução Doenças e nematoides no algodoeiro são um dos principais problemas técnicos enfrentados pelos produtores no Brasil. Somente nas condições do Cerrado é possível identificar de 8 a 10 patógenos, que, de uma forma ou de outra, têm que ser controlados ou manejados para garantir a produtividade da cultura. O método ideal e de fácil implementação de controle de doenças é a utilização de genótipos resistentes. Nos programas de melhoramento genético do algodoeiro no Brasil, procura-se constantemente o desenvolvimento de genótipos com resistência, ou maior tolerância, aos principais patógenos de ocorrência nas áreas de produção. Na escolha da cultivar, grande parte dos técnicos leva em consideração seu comportamento frente aos principais patógenos de ocorrência nas áreas agrícolas.

A cada ano, os obtentores vêm intensificando os lançamentos de novas cultivares. De uma safra para outra, pode haver considerável aumento no número de oferta de genótipos para o plantio. É importante que esses materiais sejam constantemente avaliados quanto a suas reações a doenças em diferentes condições com alta pressão de inóculo. Esses trabalhos devem ser feitos anualmente, pois, em algumas situações, não há referência quanto à reação a uma determinada doença, mesmo após o lançamento de uma cultivar. Também devido à grande variabilidade genética de alguns patógenos, pode haver mudança na caracterização de uma ou várias cultivares frente a uma determinada doença. O Instituto Agronômico de Campinas (IAC) coordena, há 20 anos, um projeto com esse propósito no Brasil. O Departamento



Novidades no campo Esteira para colheitadeira de cana

▶teira Berco para colheitadeiras de cana-de-açúcar. O

A Thyssenkrupp apresentou na Agrishow sua nova es-

Tratores versáteis

▶na Agrishow 2018, realizada de 30/4 a 4/5 em RibeiEntre outras novidades, a Massey Fegusson lançou

novo produto apresenta maior resistência à fadiga, segundo a empresa. Os ganhos em durabilidade e rendimento se devem a uma série de aperfeiçoamentos estruturais e de projeto. Os elos da esteira foram redesenhados, ganhando maior altura efetiva, ou seja, maior altura entre pista e o olhal do pino, o que garante maior resistência ao desgaste e maior vida útil dos elos. Os componentes sujeitos às cargas de tração e de torção foram reforçados, de modo a garantir maior durabilidade ao conjunto.

rão Preto (SP), as séries de tratores MF 4700 e MF 5700. Evolução de uma das famílias de tratores mais tradicionais da marca, a MF 4200, a linha MF 4700 (de 75, 85 e 95 cv) oferece grande capacidade de levante e vazão e transmissão 12x12 ou 8x8, na reversão mecânica e eletro-hidráulica. Outra evolução da série MF 4200, a linha MF 5700 (de 95 e 102 cv) chega ao mercado brasileiro com transmissão 12x12 e, segundo a empresa, os maiores níveis de torque e capacidade de levante e de vazão (de 57 ou 98 LPM) do mercado.

Algodão resistente

Trucado estradeiro

▶godão para a safra 2018/19, a cultivar 5801B2RF apre-

▶de 24 toneladas, equipado com motor Cummins ISB

Novidade do IMAmt – Instituto Mato-grossense do Al-

senta alta tolerância ao nematoide de galha, uma das maiores ameaças ao sistema produtivo adotado no estado (cultivo de algodão em sucessão à soja), e resistência a isolados de fungos causadores de ramulária, a principal praga do algodoeiro no Mato Grosso. Uma das variedades de algodão desenvolvidas pela equipe de Melhoramento Genético do IMAmt testadas com sucesso em outros estados, a 5801B2RF será lançada em junho durante Dia de Campo em Campo Verde (MT).

O Cargo Power 2431 6x2, da Ford, é um caminhão

6.7, de 306 cv – o mais potente do mercado na faixa de até 7 litros, segundo a empresa –, com transmissão manual de 9 marchas ou transmissão automatizada Torqshift de 10 marchas. O modelo traz aprimoramentos no cardã, no eixo traseiro e na embreagem, reforçados para trabalhar com o torque maior do motor. O Cargo Power também já vem de fábrica com o sistema de telemetria Fordtrac ativado, que inclui funções de monitoramento e segurança.

Fertilizante foliar

▶no mês passado em Rio Verde (GO), a Opifol, sua nova A Valagro apresentou na Tecnoshow Comigo, realizada

linha de fertilizantes solúveis em água para aplicação foliar. Conforme a empresa, o produto contém uma combinação única de macro e micronutrientes rapidamente absorvidos pela lâmina foliar, garantindo assim uma nutrição equilibrada e eficaz em grandes culturas como soja, trigo, milho, algodão, arroz e girassol. “A aplicação de Opifol promove a hidrólise dos carboidratos, fonte de energia para o crescimento das plantas e preenchimento dos grãos”, diz a Valagro.

46 | Agro DBO – maio 2018


Novidades no campo Sulcador destorroador

Arroz resistente

▶convencional da Embrapa Arroz e Feijão, por meio

Resultado do programa de melhoramento genético

▶torroador foi apresentado na Agrishow 2018 como

Novidade da DMB, o sulcador com dispositivo des-

de uma parceria com a Basf, detentora da tecnologia Clearfield, a BRS A501 CL é a primeira cultivar de arroz de terras altas resistente ao herbicida de amplo espectro de ação Kifix (Imazapir + Imazapique). De ciclo médio (de 101 a 110 dias), alto rendimento de grãos inteiros (acima de 60%) e produtividade média de 4 toneladas por hectare, é recomendada para sistemas de plantio direto na palha e para áreas afetadas por plantas daninhas resistentes ao glifosato nas regiões centro-oeste e norte do Brasil.

acessório da Plantadeira de Cana Picada PCP 6000 Automatizada, lançada em 2014. “Seu uso proporciona melhor perfilhamento da cana-de-açúcar”, afirma Auro Pardinho, gerente de marketing da empresa. “O sulcador cria um ambiente propício para a brotação das gemas, o que reduz o número de falhas e a quantidade de mudas utilizadas no plantio, barateando o custo de produção”. O equipamento pode ser adquirido com a plantadeira ou separadamente, caso o produtor ou a usina já possua a PCP 6000 Automatizada.

Água dessalinizada

▶natos, cloreto de sódio e outros. O sistema atua com membranas de osmose reversa (OR). Além da produção de água potável a Lançamento da Veolia, a tecnologia Sirion Sea Water é capaz de remover até 99% de sais dissolvidos em água, como bicarbo-

partir da água do mar ou salobra, o Sirion Sea Water pode ser utilizado para irrigação agrícola ou por agroindústrias. O equipamento é compacto, totalmente automático, resistente a ambientes salinos. Possui uma bomba de alta pressão com variador de frequência, além de um sistema de enxágue e limpeza que previne entupimentos por incrustação.

Inseticida microbiológico

Registrado recentemente no Brasil, o Arcar, da BRA Agroquímica, tem como ingrediente ativo conídios do fungo Metarhizium anisopliae e como alvo principal a cigarrinha-das-raízes (Mahanarva fimbriolata). Indicado para o manejo de resistência de insetos-praga a inseticidas químicos, não é tóxico ao meio-ambiente, à saúde humana e aos animais. Segundo a empresa, a aplicação deve ser feita no final da tarde ou em dias nublados, com temperatura entre 25 e 35 graus e umidade relativa do ar mínima de 60%. O responsável pela aplicação deve limpar previamente o equipamento de pulverização e evitar calda pronta.

Formulação antiestresse

▶fertilizante organomineral composto por A Ajinomoto apresenta o Amino Proline,

uma mistura de aminoácidos. Segundo a empresa, é indicado para o manejo de culturas impactadas por estresse hídrico, excesso de salinidade do solo e temperaturas extremas, pois atua como osmorregulador, favorecendo a manutenção de água no interior das plantas e a estabilização das estruturas celulares. “Sua formulação exclusiva, com ácido glutâmico, glicina-betaína e prolina, permite que seja utilizado com eficiência em todo tipo de cultura”, diz Thiago Miqueleto, gerente de marketing da divisão de agronegócios da empresa. maio 2018 – Agro DBO | 47


Calendário de eventos

MAIO

11

54ª Expoagro/Exposição Agropecuária Internacional de Dourados – De 11 a 20 – Parque

de Exposições João Humberto de Andrade Carvalho – Dourados (MS) – Site: www.expoagro. com.br – E-mail: sindicatorural@ sindicatoruraldedourados.com.br

14

6ª Agrobalsas/Feira de Agronegócios de Balsas –

De 14 a 19 – Fazenda Sol Nascente (Rodovia BR 230, km 4) – Balsas (MA) – Fone: (99) 3541-4404 – Site: www.agrobalsas.com.br – E-mail: agrobalsas@fapcen.or.br

15

4ª DroneShow – De 15 a 17

– Centro de Convenções Frei Caneca – São Paulo (SP) – Fone: (11) 3338-7789 – Site: www.droneshowla. HYPERLINK “http://www.droneshowla. com/”com – E-mail: atendimento@ mundogeo.com

15

9º Simpósio de Mecanização da Lavoura Cafeeira e 21ª Expocafé – De 15 a 18 – Campo

Experimental da Epamig (Rodovia Três Pontas-Santana da Vargem, km 6) – Três Pontas (MG) – Fone: (35) 32669009 – Site: www.expocafe.com.br

15

11ª AgroBrasília/Feira Internacional dos Cerrados –

De 15 a 19 – Parque Tecnológico Ivaldo Cenci – Brasília (DF) – Fone: (61) 5585-4355 – Site: ww.agrobrasilia.com. br – E-mail: agrobrasilia@agrobrasilia. com.br

22

7ª Enersolar/Feira Internacional de Tecnologias para Energia Solar – De 22 a

24 – São Paulo Expo Exhibition & Convention Center – São Paulo (SP) – Fone: (11) 5585-4355 – Site: www. enersolarbrasil.com.br – E-mail: info@ fieramilano.com

48 | Agro DBO – maio 2018

23

Rondônia Rural Show/ Feira de Tecnologias e Oportunidades de Negócios Agropecuários – De 23 a 26 –

Centro Tecnológico Vandeci Rack (BR 364, km 333)- Ji-Paraná (RO) – Fone: (69) 3216-1085 – Site: www. rondoniaruralshow.ro.gov.br – E-mail: rondoniaruralshow7@gmail.com

JUNHO

4

II CBSIPA/Congresso Brasileiro de Sistemas Integrados de Produção Agropecuária e II EILP-MT/ Encontro de Integração LavouraPecuária do Sul de Mato Grosso – De 4 a 8 – Caiçara Tênis Clube – Rondonópolis (MT) – Site: www. ilpbrasil.com.br

6

VI Fórum Brasileiro do Feijão e Pulses – De 6 a 8 – Expo

Unimed Curitiba – Curitiba (PR) – Fone: (41) 3029-4300 – Site: www. forumdofeijao.com.br – E-mail: edgar@airpromo.com.br

6

Bio Brazil Fair/Biofach América Latina/14ª Feira Internacional de Produtos Orgânicos e Agroecologia – De 6 a 9 – Pavilhão do Anhembi – São Paulo (SP) – Fone: (11) 2226-3100 – Site: www.biobrazilfair.com.br – E-mail: biobrazilfair@francal.com.br

11

VIII CBSoja/Congresso Brasileiro de Soja – De 11 a 14

– Centro de Convenções de Goiânia – Goiânia (GO) – Fone: (43) 3205-5223 – Site: www.sbsoja.com.br – E-mail: cbsoja@fbeventos.com

12

Feinacoop 2018/2ª Feira Nacional do Agronegócio, Bioenergia e Cooperativas – De 12

a 14 – Expoara Centro de Eventos – Arapongas (PR) – Fone: (41) 3521-6226 – Site: www.feinacoop.com.br – E-mail: operacional@markmesse.com.br

29/5 – 14ª Bahia Farm Show/Feira de Tecnologia Agrícola e Negócios – De 29 a 2/6 – Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia – Luis Eduardo Magalhães (BA) – Fone: (77) 3613-8000 – Site: www. bahiafarmshow. com.br – E-mail: comercial@ bahiafarmshow. com.br

Uma das mais importantes feiras agrícolas do Brasil, a Bahia Farm Show é a maior vitrine do agronegócio das regiões norte e nordeste do país. Promovida pela Aiba – Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia, Abapa – Associação Baiana dos Produtores de Algodão e Iaiba – Instituto Aiba (IAiba), recebeu um público total de 63.326 pessoas no ano passado. A edição 2017 foi marcante também por outro aspecto: a feira atingiu a marca histórica de R$ 1,53 bilhão em volume de negócios, assumindo a segunda posição em vendas por visitantes no Brasil em eventos de agronegócio. A expectativa para 2018 é de superação – os organizadores esperam recorde em negócios e mais visitantes.

13

Digital Agro 2018 – De 13 a 14 – Pavilhão de Exposições Frísia – Carambeí (PR) – Fone: (42) 3231-9000 – Site: www.digitalagro. com.br

14

10° Piauí Expo Show – De 14

a 17 – Parque de Exposições de Bom Jesus (BR 15, km 5) – Bom Jesus (PI) – Fone: (62) 3586 – 3988 – Site: www.rseventos.net.br

20

Hortitec/25ª Exposição Técnica de Horticultura, Cultivo Protegido e Culturas Intensivas – De 20 a 22 – Parque da Expoflora – Holambra (SP) – Fone: (19) 3802-4196 – Site: www.hortitec. com.br

JULHO

16

1° Campo Grande Expo – De 16 a 20 – Terra Nova Eventos

– Campo Grande (MS) – Fone: (67) 3043-0027 – Site: www. campograndexpo.com.br - E-mail: alessandra@certifica.com

25

III Workshop Internacional sobre Cadeia Sucroenergética – De 25 a 26 –

Esalq/USP – Piracicaba (SP) – Fone: (19) 3417-6600 – Site: www.fealq. org.br – E-mail: contato@fealq.org.br

29

56º Congresso da Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural – De 29 a 1/8 – Universidade de Campinas – Campinas (SP) – Fone: (61) 3326-5292 – Site: www.sober. org.br – E-mail: sober@sober.org.br

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Feacoop 2018/Feira de Agronegócios Coopercitrus

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Legislação

Assumindo dívidas de terceiros É perigoso empregar boa fé ou ingenuidade quando se realiza a compra de um imóvel, especialmente aqueles de alto valor. Fábio Lamonica Pereira *

E

m transações de compra e de venda de imóvel rural é comum que haja disposições acerca de dívidas em nome do vendedor e que, porventura, recaiam sobre o imóvel. Também é corriqueiro que vendedor e comprador firmem um contrato particular de compromisso de compra e venda e, após o pagamento da totalidade do preço, seja outorgada a respectiva escritura pública de compra e venda, que deverá ser levada a registro na matrícula do imóvel.

claras com segurança contratual, os débitos podem ser maiores que o previsto; ou ainda a quantia paga com a venda e compra ser direcionada, indevidamente, para outros interesses do vendedor, de forma que credores

É realista a expressão “quem não registra não é dono”, observada em muitos cartórios.

O autor é advogado especialista em Direito Bancário e do Agronegócio

Veja que o registro junto ao Cartório de Registro de Imóveis é essencial para que a transação seja publicamente conhecida e tenha validade contra terceiros, concretizando os efeitos da propriedade. Por isso a expressão “quem não registra não é dono”, comumente vista nos referidos cartórios. Enquanto não há o registro, na matrícula do imóvel, da escritura pública de compra e venda ou ao menos do instrumento particular de compromisso de compra e venda, há riscos, por exemplo, de eventual bloqueio judicial, por conta de dívidas do vendedor. O vendedor, possuindo dívidas em seu nome, e que podem até mesmo recair sobre o imóvel objeto de venda, pode se comprometer para com o comprador, em utilizar o dinheiro da venda, prioritariamente, para o pagamento dos credores. Mas, se não houver estipulações

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passem a exigir o pagamento a que tenham direito, recaindo, eventualmente, bloqueio sobre o imóvel vendido. Nesse caso, valerão, e muito, as condições e obrigações ajustadas entre as partes, as determinações legais, o registro do contrato de compromisso de compra e venda, se havia (quando da compra e venda) registro de ônus como hipoteca (garantia do imóvel em instrumento de crédito) ou penhora (vinculação do bem em processo judicial) na matrícula do imóvel, dentre outras situações. Muito pode ser evitado com a exigência, por parte do comprador, da imediata transmissão da escritura pública de compra e venda, bem como do respectivo registro junto à matrícula do imóvel. Em contrapartida, e como garantia para o vendedor, da própria escritura deverá constar o saldo a pagar, bem como disposição, chamada de resolutiva expressa, em que o não pagamento das parcelas le-

vará ao desfazimento do negócio. Obviamente é possível (e recomendável) que as partes estipulem condições que permitam a prorrogação de determinado pagamento em caso, por exemplo, de comprovada frustração de safra, situação comum no agronegócio. Neste caso, também deve ser estipulada a devida remuneração pela prorrogação de determinada parcela contratual. Quanto às eventuais dívidas de responsabilidade do vendedor e que devam ser pagas com parte do valor da venda do imóvel, o comprador poderá, também, optar por assumir os pagamentos e efetivar, por sua conta e risco, a negociação com os credores, a fim de que não haja saldo de dívidas a pagar após a liquidação total do compromisso de compra e venda. Todos os detalhes devem ser observados, ajustados e formalizados, a fim de que seja definida a transmissão da posse, momento em que desfazer o negócio restará mais complexo e custoso para os envolvidos. Apesar de corriqueiras, as operações de compra e venda de imóvel rural precisam ser bem analisadas, estruturadas e oficializadas formalmente, de forma que assegurem às partes o cumprimento do que restou inicialmente ajustado, evitando-se prejuízos e dissabores que poderiam resultar das demandas judiciais.



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