Anuário DBO 2019

Page 1


Demanda e preรงos em alta garantem a renda em 2019 Analistas apostam numa maior demanda pela carne Problemas e desafios do segmento de confinamento Custos da pecuรกria aumentaram 3,7% no ano passado


Mercado Brasileiro Balanço

Por Denis Cardoso

Onda de otimismo na pecuária Retomada na demanda interna e recuperação nos preços podem garantir boa rentabilidade em 2019

C

ertamente, o ano de 2018 foi melhor que 2017 para todos os elos da cadeia pecuária. E 2019 promete ser um ano de boa rentabilidade para o setor, afastando de vez a crise vivida pela atividade a partir de 2016. A palavra “frustração”, o sentimento que mais combinou com a pecuária de corte nos últimos dois anos e meio, foi substituída pela “esperança” a partir da metade de 2018, quando os preços nominais do boi gordo e do bezerro passaram a reagir com mais consistência, gerando um clima de otimismo entre os pecuaristas. Entre julho e dezembro, o valor do boi registrou alta nominal superior a 5% em São Paulo, motivando também uma arrancada nos preços do bezerro e nas outras categorias da reposição. Foi um período de forte recuperação, pois no primeiro semestre do ano a arroba havia acumulado queda de 5,5% na praça paulista.

milhões no período, aumento de 26% sobre igual mês de 2017. A China e Hong Kong foram os principais clientes do Brasil, respondendo, juntos, por cerca de 40% total do volume embarcado durante o ano. A habilitação recente de novas plantas no Brasil para exportar carnes para a China comprova o aumento de interesse do gigante asiático pelo produto brasileiro. Porém, é preciso ficar atento ao desenrolar dos entendimentos (ou desentendimentos) entre os governos dos Estados Unidos e da China em relação às tarifas comercias – eventuais decisões entre esses dois países podem impactar, tanto para o bem quanto para o mal, os negócios envolvendo as principais commodities exportadas pelo Brasil. Ainda em relação às exportações, destaque também para a maior remessa de animais vivos pelo Brasil. Dependendo da região de atuação, cada vez mais a venda externa de gado em pé representa importante opção de escoamento para os produtores. O acesso a novos mercados, como o Irã, anunciado em 2018, deve impulsionar ainda mais esse tipo de atividade. A expectativa inicial de aumento nos abates de fêmeas em 2018, em decorrência da baixa rentabilidade na atividade de cria, se confirmou. Dos abates totais de bovinos no ano passado, nada menos que 43% foram representados por vacas e novilhas. Isso explica a estimativa de recuo de 0,5% do rebanho bovino nacional no ano passado, segundo estimativa da

Scot Consultoria, para 213,8 milhões de cabeças. Também ajuda a explicar o crescimento de 4% nos abates totais de gado inspecionado no período de janeiro a setembro de 2018 (últimos dados disponíveis pelo IBGE), para 23,75 milhões de cabeças, na comparação com igual período de 2017. A maior oferta de animais para abate, aliada a uma demanda interna ainda enfraquecida, além do aumento no valor do boi no segundo semestre, fez reduzir as margens dos frigoríficos no ano passado. No entanto, o setor foi salvo pelo bom desempenho das exportações, o que fez com que, apesar da piora em relação a 2017, as margens ficassem acima da média histórica, segundo levantamento da Scot Consultoria.

Fase de alta – Aos poucos, com a retomada gradual do movimento de alta nos preços do boi gordo e da reposição, a atividade da cria Exportações crescentes – Analistas de começa novamente a ficar atrativa. Com isso, mercado acreditam que, em 2019, finalmenespera-se já em 2019 o início do processo de te a demanda doméstica por carne bovina sairá do estado de dormência dos últimos retenção de matrizes, o que deve resultar na anos, influenciada pela melhoria no quadro inversão definitiva do ciclo pecuário, ou seja, econômico do País. Mais dinheiro no bolso será o fim da fase de baixa nos preços. da população significa mais bife à mesa dos A expectativa de uma oferta de animais consumidores. Outra boa notícia é que o semais enxuta este ano, devido justamente tor de exportação, que tanto ajudou a alavanao avanço dos abates de fêmeas nos últicar os preços internos do boi gordo no ano mos dois anos (o que naturalmente dimipassado, tende a ficar ainda mais aquecido nuiu a produção de bezerros que chegará neste ano, motivado, sobretudo, pela volta da ao mercado este ano), associada à previRússia às compras após quase um ano de ausão de aceleração no consumo interno e sência (com o embargo iniciado no final de de novo aumento das exportações, traz 2017) do mercado brasileiro. um quadro bastante animador Mesmo sem contar com os para o pecuarista neste ano Pecuária bovina de corte do Brasil em números importadores russos, a indúsque começa. No entanto, aler2018* 2017 2016 2015 tria exportadora brasileira fez tam os analistas, é sempre imRebanho1 213,8 214,9 218,2 215,2 bonito no ano passado ao exportante considerar a adoção portar um volume recorde de de estratégias de garantia de 1 Abate 42,5 40,7 39,2 40,5 1,6 milhão de toneladas de carpreços mínimos no mercado Desfrute (%) 19,9 18,9 17,6 18,8 ne bovina, 11% acima do regisfuturo – por meio de contratos Produção de carne2 9.915 9.493 9.109 9.310 trado em 2017. Em receita, os de opções ou negócios a terembarques totais alcançaram mo –, com o objetivo de garanConsumo interno2 7.946 7.749 7.509 7.701 tir margens satisfatórias. Em US$ 6,6 bilhões, crescimento de 3 Consumo per capita 38,1 37,3 36,4 37,7 2018, poucos produtores opta8% frente o resultado do ano anExportações2 2.012 1.796 1.660 1.665 ram pelo uso de ferramentas fiterior. Impressionou, sobretudo, 2 nanceiras na bolsa B3, situação o desempenho do setor no seImportações 42,2 51,6 60,4 55,9 que tende a se reverter agora gundo semestre, com destaque *Estimativas Scot Consultoria. (1) Em milhões de cabeças; (2) Em mil toneladas equivalente-carcaça. Obs: no item Exportações estão incluídas carne salgada, in natura e industrializada, sem miúdos ou tripas. (3) kg/habitante/ano. Fontes: Scot Consultoria, diante da esperada melhora para setembro, quando as vencom dados do Secex/MDIC, IBGE e Abiec. Adaptação: DBO. nos preços da pecuária. n das externas renderam US$ 700 Anuário DBO 2019


Mercado Brasileiro Por Denis Cardoso

Rebanho

Plantel voltará a crescer em 2019 Estimativas apontam retração no rebanho bovino em 2018, influenciada pelo maior abate de matrizes.

O

rebanho bovino brasileiro (corte e leite) recuou 0,5% em 2018, para 213,8 milhões de cabeças, em relação ao plantel de 2017 (214,9 milhões), segundo estimativas da Scot Consultoria, de Bebedouro, SP. Foi o segundo ano de retração no rebanho nacional – de 2016 (218,2 milhões de cabeças) para 2017, havia caído 1,5%, também de acordo cálculos da consultoria. O analista Hyberville Neto, da Scot, diz que essas duas reduções anuais refletem principalmente o movimento de descarte de fêmeas, influenciado pela fase de baixa da atividade de cria, marcada pela retração nos preços do bezerro e demais categorias de reposição (veja mais informações na pág. seguinte). No entanto, é esperada uma reversão de tendência neste ano, ou seja, o rebanho brasileiro retomará o viés de crescimento. “Acreditamos que, em 2019, comece a fase de retenção de fêmeas, com redução dos abates desta categoria. Como a nossa contagem do rebanho refere-se ao número de cabeças ao final do período de 12 meses, devemos terminar com um efetivo um pouco maior”, justifica Neto. Números oficiais Segundo estimativa da Scot, o plantel de bovinos do País pode alcançar 216,6 milhões de cabeças em 2019, o que representaria acréscimo de 1,3% sobre o número estimado para 2018 (213,8 milhões). Porém, mesmo com o avanço anual esperado, ainda não alcançará o patamar recorde de 2016, quando o rebanho atingiu 218,2 milhões de animais. Como parâmetro para a sua estimativa, a Scot Consultoria utiliza a metodologia do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os dados numéricos que ilustram o mapa desta página são os oficiais do IBGE e referem-se ao ano de 2017. Foram apurados pela Pesquisa da Pecuária Municipal (PPM) e divulgados em setembro do ano passado. Portanto, os dados oficiais que irão apontar o tamanho do rebanho em 2018 só serão divulgados pelo órgão de estatística no fim do segundo semestre deste ano. Pelo dados oficiais do IBGE, o rebanho brasileiro de bovinos atingiu 214,9

Anuário DBO 2019

Rebanho bovino total em: 2017: 214,9 milhões 2016: 218,2 milhões* Norte

Em 2017: 48.471.454 Em 2016: 47.983.190

Nordeste

Em 2017: 27.736.607 Em 2016: 28.402.484

Centro-Oeste

Em 2017: 74.128.217 Em 2016: 75.112.421

Sudeste

Em 2017: 37.529.834 Em 2016: 39.123.700

Os maiores rebanhos

MT............ 29.725.378 GO............ 22.835.005 MG........... 21.950.446 MS........... 21.474.693 PA............ 20.585.367

milhões de cabeças em 2017, ante o total recorde da série histórica (iniciada em 1974), de 218,2 milhões em 2016. Mato Grosso continua sendo o Estado com o maior plantel, somando 29,7 milhões de cabeças, embora tenha reduzido um pouco o tamanho do rebanho em relação ao apresentado em 2016 (30,3 milhões de bovinos). O Estado de Goiás passou, em 2017, a possuir o segundo maior rebanho do País, de 22,8 milhões de cabeças (praticamente a mesma quantidade do ano anterior), superando Minas Gerais, que caiu para a terceira colocação no ranking do IBGE depois que o seu plantel sofreu redução anual de 7%, para 21,9 milhões de cabeças. Juntos, os Estados do Centro-Oeste reuniram um rebanho de 74,1 milhões de cabeças, respondendo por 34,5% do total nacional em 2017, seguidos pelo Norte (22,6%), Sudeste (17,5%), Nordeste (12,9%) e Sul (12,6%).

Sul

Em 2017: 27.033.684 Em 2016: 27.577.786 *Rebanho de corte e de leite, em cabeças. Fonte: IBGE/Pesquisa Pecuária Municipal, dados disponíveis em dezembro de 2018

A região Norte foi a única a registrar crescimento no rebanho em 2017, saltando de 48 milhões de cabeças em 2016 para 48,4 milhões em 2017, acréscimo de quase 1%. Considerando essa mesma base de comparação, nas regiões Centro-Oeste, Nordeste, Sudeste e Sul, os planteis caíram 1,3%, 2,4%, 4% e 2%, respectivamente. De 2007 a 2017, o rebanho bovino cresceu 28% no Norte brasileiro, a maior variação entre as regiões no período. Dentre os dez municípios que mais expandiram seus plantéis em números absolutos nos últimos dez anos, sete são do Pará. De acordo com o IBGE, dos 20 municípios com os maiores rebanhos de bovinos em 2017, 11 estão no Centro-Oeste e nove no Norte. São Félix do Xingu, PA, fechou o ano com 2,14 milhões de cabeças, seguido por Corumbá, MS (1,88 mi), Ribas do Rio Pardo, MS (1,14 mi), Cáceres, MT (1,07 mi) e Marabá, PA (1,02 milhão). n


Mercado Brasileiro Abates

Por Denis Cardoso

Fêmeas respondem por 43% do total Descartes de vacas e novilhas puxam para cima quantidade de animais levados ao gancho em 2018

O

percentual de participaconsultorias do setor fazer Dados anuais dos abates (em milhões de cabeças) ção de vacas nos abates o trabalho de estimativa dos totais de bovinos de corabates gerais no Brasil, inTotal anual (1) 2018 2017 2016 2015 te com inspeção sanitária (fecluindo, assim, a quantidade 42,5 40,7 39,2 40,5 deral, estadual ou municipal) de animais levados aos ganGado inspecionado/IBGE foi de 32,5% no período de jachos dos frigoríficos de maneiro a setembro, segundo núneira informal. Segundo es2018 (2) (jan. a set.) 2017 2016 2015 Quantidade de meros oficiais do Instituto Bratimativa da Scot, em 2018 os animais abatidos 23,7 30,8 29,7 30,6 sileiro de Geografia e Estatística abates totais alcançaram o Boi (peso@) 19,0 18,8 18,7 18,5 (últimos dados disponíveis até patamar de 42,5 milhões de Vaca (peso@) 13,7 13,6 13,4 13,2 o fechamento deste Anuário). cabeças, o que significou auSe incluir também nessa conmento de 4,4% sobre o volu1) Abate total no Brasil (gado inspecionado e não inspecionado) estimado pela Scot Consultoria. 2) Dados de 2018 do IBGE são parciais (até setembro), referentes aos abates inspecionados de bois, vacas, novilhos e novilhas. Fontes: IBGE e FNPPC. Elaboração DBO. ta o número de novilhas enviame projetado para 2017, de das ao gancho no mesmo perí40,7 milhões de bovinos, e odo, esse percentual sobe para 43%, o que volume de 2017 (30,8 milhões de unidades) 8,4% superior ao montante contabilizarepresenta um avanço de mais de um pon- e elevação de 6,7% sobre a quantidade regis- do em 2016, de 39,2 milhões de cabeças to percentual em relação à participação de trada em 2016 (29,7 milhões). (veja tabela). A soma dos abates de vacas e novilhas no 41,8% registrada por essas duas categorias De acordo com explicações do analisem igual período de 2017. “Esse avanço no período de janeiro a setembro do ano passa- ta da Scot, para calcular a quantidade toprocesso de descarte de fêmeas indica cla- do atingiu 10,2 milhões, um crescimento de tal de abates, a consultoria leva em conta ramente um desinvestimento na atividade 7,2% na comparação com o mesmo interva- alguns fatores, como o número de couros de cria, com provável redução da disponi- lo de 2017 (9,5 milhões). Nesta mesma base utilizados pelos curtumes e estudos de bilidade de gado nos próximos anos”, avalia de comparação, o envio de machos (bois e estimativas de informalidade. o analista Hyberville Neto, da Scot Consul- novilhos) às câmaras frias dos frigoríficos alcançou 13,5 milhões de cabeças, com eleva- Previsão para 2019 – Para este ano, a toria, de Bebedouro, SP. ção de quase 2% sobre a quantidade do ano consultoria paulista prevê um volume toTaxa mais alta para fêmeas – Segun- anterior (13,3 milhões). Na avaliação, Neto, tal de abates bem semelhante ao de 2018 do Hyberville, o movimento de liquidação da Scot Consultoria, tudo indica que o mo- – 42,4 milhões de cabeças. “Tipicamente de matrizes, iniciado em 2017 e intensifica- vimento de descarte de fêmeas se encerrará temos redução dos abates nos momentos do em 2018, explica o crescimento de 4,1% em 2019, dando início a um novo ciclo pecu- de inversão de tendência do ciclo pecuános abates totais (bois, vacas, novilhas e no- ário, ou seja, a retomada da fase de alta nos rio. No entanto, como em 2019 provavelvilhas) no acumulado de nove meses de preços da pecuária de corte (veja informa- mente teremos um mercado consumidor 2018, para 23,7 milhões de cabeças, em re- ções nas páginas seguintes do item “Merca- mais ávido, tanto no âmbito doméstico quanto externo, acreditamos nesta relalação aos dados registrados no mesmo pe- do Brasileiro”). Como o IBGE só contabiliza os aba- tiva estabilidade”, analisa Neto. Ainda em ríodo de 2017 (22,8 milhões de unidades). Para se ter uma ideia de como pode fechar tes com inspeção sanitária, cabem às relação aos abates, os pecuaristas continuam elevando, anualmeno número total de abates oficiais te, o peso dos machos e das em 2018, pode-se considerar a Percentagem de vacas no abate mensal de bovinos no Brasil fêmeas. Em 2018, o peso méquantidade de bovinos abatidos dio dos bois abatidos foi de no quarto trimestre de 2017, que 19@, ante 18,8@ do ano anatingiu ao redor de 8 milhões de terior. As vacas foram abaticabeças – é muito provável que das com peso de 13,7@, em este número seja ainda maior média, ante 13,6@ registrado no último trimestre de 2018, em em 2017 (veja tabela). Charazão da continuidade do proma a atenção a semelhança cesso de descarte de fêmeas. de peso entre da vaca gorda Sendo assim, o volume “cheio” e a novilha levada ao gancho: estimado para 2018 alcança2018* 2017 2016 2015 Média 2008/2018 a categoria mais jovem regisria 31,7 milhões de cabeças de 32,59% 31,68% 30,02% 30,43% 32,07% trou peso médio de 13,2@ em bovinos (23,7 + 8 milhões), o *Números de 2018 são preliminares, considerando abates de gado inspecionado até setembro. Fonte: Pesquisa Trimestral do IBGE, 2018, ante o peso de 13,1@ que representaria acréscimo de elaboração DBO. em 2017. n quase 3% na comparação com o Anuário DBO 2019


Mercado Brasileiro Por Denis Cardoso

Preços

Boas expectativas para o boi e o bezerro Analistas apostam numa maior demanda pela carne em 2019, tanto interna quanto externamente.

H

á duas maneiras diferentes de olhar o comportamento dos preços do boi gordo e do bezerro ao longo de 2018. Pelas tabelas disponíveis nesta página e na próxima, o leitor chega à conclusão de que, em termos reais (descontada a inflação no período), os valores recebidos pelos pecuaristas caíram em relação a 2017. No entanto, em termos nominais, foi possível enxergar uma nítida e consistente valorização nas cotações do animal terminado e da reposição a partir do segundo semestre do ano passado. No final das contas, o importante para o produtor, dizem os analistas do setor, é constatar que essa onda de otimismo iniciada na metade de 2018, além de persistir em 2019, foi reforçada pela expectativa de melhora na economia do País, o que, na prática, significa maior poder de renda da população e, consequentemente, mais carne vermelha à mesa dos consumidores. Além disso, existe a possiblidade de que as exportações sejam ainda mais fortes este ano, depois de atingir volume recorde do ano passado, motivadas sobretudo pelo retorno da Rússia como importadora da carne brasileira (veja matéria nas págs xxx e xxx). Do lado da oferta, depois do aumento no descarte de fêmeas em 2018 (veja texto na página anterior), é esperada uma redução na dis-

ponibilidade de animais prontos para abate ao longo de 2019, já que os criadores devem começar a reter as suas matrizes nas fazendas, animados com as melhorias nos preços da reposição. “Temos um conjunto de fatores positivos para acreditarmos no crescimento dos investimentos na atividade de cria e na valorização um pouco mais expressiva do boi, tais como: os sinais de recuperação de preços a partir do segundo semestre; a redução do risco político; as expectativas econômicas um pouco melhores; e as projeções positivas para exportação”, afirma Hyberville Neto, analista da Scot Consultoria, de Bebedouro, SP. Segue essa mesma linha de pensamento a equipe de pesquisadores do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP/SP. “Projeções do Banco Central indicam crescimento de 2,5% do PIB (Produto Interno Bruto) neste ano. Além disso, espera-se controle da inflação e taxa de juros baixa, favorecendo investimentos. O setor pecuário também está de olho na mudança de governo (que gera perspectivas de melhora nos indicadores econômicos), na maior safra nacional de grãos (que tende a reduzir os custos com a ração, importante insumo de confinamentos) e na possível diminuição na oferta de animais (em decorrência do maior abate de fêmeas). Esses dois últimos fatores, inclusi-

Cotações médias mensais e anuais do boi*

Médias anuais R$/arroba Campo Grande, MS

Goiânia, GO

Triângulo, MG

São Paulo**

2018

139,15

139,18

144,52

149,78

2017

141,52

139,47

145,64

152,03

*Média ponderada dos preços. Valores a prazo corrigidos pelo IGP-M de dezembro de 2018. **Praças do Interior do Estado. Fonte: Cepea/Esalq, elaboração DBO.

Anuário DBO 2019

ve, podem melhorar as margens de produtores no decorrer de 2019”, relatou o Cepea. Na avaliação da equipe de pesquisadores, com o aumento de renda da população, além do elevar o consumo de cortes de carne bovina mais baratos e populares (partes do dianteiro do boi, principalmente), é provável que haja um incremento na demanda por carne premium. “Isso se deve à mudança de padrão do consumidor brasileiro nos últimos anos, que busca cada vez mais padronização, maciez e precocidade da carne, o que, por sua vez, exigiu uma modificação também no padrão de produção”. Balanço anual – Segundo dados do Cepea, em termos reais, o indicador do boi gordo (São Paulo) registrou valor médio de R$ 149,55/@ em 2018 (a prazo, deflacionados pelo IGP-DI de dezembro), queda de 1,2% sobre o preço verificado de 2017 (R$ 151,35/@). Na média do primeiro semestre de 2018, a arroba do boi ficou em R$ 151,59 (corrigido pela inflação), com alta de 0,6% em relação ao valor médio de igual período do ano anterior (R$ 150,71). No segundo semestre, a cotação real do boi atingiu R$ 147,52/@, com baixa de 3% na comparação com o mesmo período de 2017. Segundo Thiago Bernardino de Carvalho, pesquisador do Cepea, considerando o impacto inflacionário, os preços no primeiro semestre foram superiores ao do segundo semestre, porque a inflação de janeiro a junho foi superior à do segundo período. “Se considerarmos os valores nominais, os preços do segundo semestre foram mais altos em relação à primeira metade do ano, ficando mais nítida a recuperação das cotações do boi gordo”, justifica Carvalho. O que o mercado refletiu no segundo semestre de 2018, continua o pesquisador, foi uma melhora de preços sobretudo em agosto e setembro, com um novo movimento de alta em dezembro. Pelos números do Cepea, a média do indicador do boi em 2018, em termos nominais, ficou em R$ 145,2/@, com elevação de 4% sobre 2017. O ano de 2018 começou com o valor do boi ao redor de R$ 149,5/@, fechando o ciclo de 12 meses a R$ 153,8/@ – valorização anual de 3%, segundo o Cepea. Os dados levantados pela Scot Consultoria mostraram que, nominalmente, entre julho e dezembro de 2018, a cotação média do boi gordo, considerando São Paulo como refe-


Mercado Brasileiro

Preços

Cotação média da arroba do boi em SP* 2018

2017

Janeiro

157,75

158,35

Fevereiro

155,78

154,53

Março

154,47

153,23

Abril

152,36

147,48

Maio

147,25

148,65

Junho

141,93

142,00

Julho

144,63

138,52

Agosto

147,41

149,18

Setembro

149,77

158,00

Outubro

146,70

154,93

Novembro

145,42

154,17

Dezembro

151,14

157,14

149,55 151,35 Média anual (US$) 41,26 47,48 Média 1º semestre (R$) 151,59 150,71 Média 2º semestre (R$) 147,52 152,00 Média em 10 anos R$ 148,77 (US$ 62,15) Média anual (R$)

*Média ponderada dos preços de SP considerando quatro praças de SP: Araçatuba, S. J. Rio Preto, P. Prudente e Marília-Bauru. Valores a prazo deflacionados pelo IGP-M de dezembro de 2018. Fonte: Cepea/Esalq, elaboração DBO.

rência, subiu 5,3%, para R$ 150,17@, na comparação com igual período de 2017. No primeiro semestre, entre janeiro e junho, o preço do boi havia caído 5,5%, para R$ 140@, em relação ao mesmo semestre do ano anterior. Na média anual de 2018, a arroba registrou alta nominal de 3,7%, saltando para R$ 146,25, em relação a 2017. O consultor Leandro Bovo, diretor da Radar Investimentos, de São Paulo, ressalta o comportamento do mercado do boi que, em 2018, a tradicional desova de oferta de fim de safra ocorreu em meados de junho, derrubando os preços para a mínima de R$ 137,50/@ à vista, livre de Funrural, na praça paulista. Segundo Bovo, o destaque da safra no ano passado foi Mato Grosso do Sul, com sua “exuberante produção de bois a pasto”. No entanto, a maior oferta de machos, além do aumento da oferta de fêmeas aos frigoríficos, teve impacto negativo nos preços do boi gordo, aumentando o diferencial de base para São Paulo para níveis recordes (indicador que demonstra a diferença entre as cotações do animal terminado nas duas praças de comercialização e normalmente utilizado como referência para os negócios no mercado futuro). Na direção contrária, informa Bovo, o destaque positivo em relação ao preço do

boi ficou com Mato Grosso, Estado que vem se consolidando cada vez mais como um grande fornecedor de animais confinados no segundo semestre, ficando a safra inteira com o diferencial mais atrativo em relação ao valor de São Paulo. O boi de Mato Grosso tem atingindo padrões cada vez mais elevados de carcaça e, com isso, o produtor vem conseguindo ter mais poder de barganha na hora de negociar, galgando patamares cada vez mais alto de preço. Reposição – Os mercados de reposição e do atacado da carne registraram comportamentos semelhantes ao preço do boi gordo. Segundo o Cepea, em termos nominais, a média de 2018 do indicador do bezerro em Mato Grosso do Sul (berço da atividade de cria no País) ficou em R$ 1.183,87/cabeça, 2,61% acima da de 2017. Já considerando os efeitos da inflação, a média de 2018, de R$ 1.218/cabeça, teve uma variação negativa de 2,6% sobre o resultado de 2017 (R$ 1.251). Para a carcaça casada de boi, o aumento anual foi de 1,25% em termos nominais – de R$ 9,76 para R$ 9,88; e a retração foi de 4,26% em termos reais – com o quilo passando de R$ 10,54 em 2017 para R$ 10,09 em 2018. Segundo relatos da Scot Consultoria, de julho a dezembro de 2018, na média de todas as categorias de machos e fêmeas anelorados em Estados pesquisados pela Scot, as cotações não fecharam em queda em nenhuma semana, um indicador da firmeza do mercado da reposição. Essa valorização faz com que o cenário para cria comece 2019 otimista. “Devemos ter um menor volume de bezerros, pois em 2017 e em 2018 a quantidade de fêmeas abatidas foi crescente, o que naturalmente diminuiu a produção de bezerros que chegará ao mercado em 2019”, prevê a Scot. A compra de bezerros para recriar ou engordar represen-

Número de contratos com boi gordo* 1.018.069 886.191 775.881

1.058.254

1.063.850

604.637 500.453

2018 2017 2016 2015 2014 2013 2012 Fonte: B3. *Cada contrato equivale a 20 bois de 16,5 arrobas.

Cotação média do bezerro em MS* 2018

2017

Janeiro

1.239

1.318

Fevereiro

1.277

1.275

Março

1.269

1.218

Abril

1.263

1.228

Maio

1.217

1.187

Junho

1.202

1.186

Julho

1.184

1.224

Agosto

1.172

1.205

Setembro

1.139

1.293

Outubro

1.171

1.292

Novembro

1.229

1.298

Dezembro

1.259

1.288

Médio anual (R$)

1.218 1.251 336 392 Média 1º semestre (R$) 1.244 1.235 Média 2º semestre (R$) 1.192 1.267 Média em 10 anos R$ 1.198 (US$ 492) Média anual (US$)

*Média ponderada dos preços a prazo, considerando as seguintes praças de MS: Campo Grande, Dourados,Três Lagoas, Cassilândia e Pantanal.Valores a prazo corrigidos pelo IGP-M de dezembro de 2018. Fonte: Cepea/Esalq, elaboração DBO.

ta cerca de 60% dos custos totais. Analistas dizem que comprar a bezerrada no curto prazo pode ser interessante aos recriadores e invernistas, pois os bezerros produzidos nesta estação de monta 2018/2019 provavelmente serão vendidos em um período de alta das cotações do boi gordo. Segundo Breno de Lima, analista da Scot, é bom ficar de olho na relação de troca, pois a quantidade de arrobas de boi gordo necessárias para a compra de um bezerro de desmama está aumentando mês a mês. “Em novembro do ano passado vimos o poder de compra do recriador e invernista no menor patamar do ano, tomando como base SP”, informa. Os negócios no mercado futuro do boi despencaram em 2018, como mostra o quadro ao lado. Foram contabilizados apenas 500.453 contratos, o equivalente a 10 milhões de cabeças (inclui mercado de opções). No ano anterior, foram 886.191 contratos (17,7 milhões de cabeças). Leandro Bovo, da Radar Investimentos, diz que, se a tendência de mercado do boi godo mais firme ganhar força no início do ano, muito provavelmente toda a curva de preços futuros também responderá com altas. “Aí surgem boas oportunidades de fixação de preços, ou garantia de preço mínimo a custos interessantes”, avalia. n Anuário DBO 2018


Mercado Brasileiro Por Denis Cardoso

Custos

Despesas sobem acima do boi gordo COE acumula aumento nominal de 3,7% em 2018, enquanto boi gordo tem alta de 1,1% no ano.

A

s despesas na pecuária de corte subiram em 2018, em termos nominais, acima da valorização nominal registrada nos preços do boi gordo, segundo análise realizada pelo Cepea/Esalq-USP em 11 Estados do Brasil, que considerou a variação acumulada de janeiro a dezembro do ano passado. O custo operacional efetivo (COE) – que compreende os gastos mensais com insumos, pagamentos de salários e impostos – subiu 3,76%, em termos nominais, na “média Brasil” (ponderação dos custos produtivos em dez Estados: BA, GO, MG, MT, MS, PA, PR, RS, RO, SP e TO, referente a todos os sistemas – cria, recria, engorda e ciclo completo), no ano passado. Na mesma base de comparação, o valor da arroba do boi gordo em São Paulo (Indicador Esalq/BM&FBovespa) acumulou aumento nominal de 1,18%, ou seja, foi um ano de perdas de margens na pecuária de corte. Ainda de acordo com o Cepea/ Esalq, o custo operacional total (COT), que leva em conta o COE e também depreciação de máquinas e instalações, teve elevação de 3,64% no ano passado. Segundo Rafael Ribeiro, analista da Scot Consultoria, os aumentos nos preços do milho e farelo de soja em 2018 prejudicaram o poder de compra do pecuarista, frente a estes insumos. “Durante o período da seca, em alguns meses foram necessárias mais de dez arrobas de boi

gordo para a compra de uma tonelada de farelo de soja em São Paulo, enquanto que, em 2017, essa relação ficou entre sete e oito arrobas de boi gordo”, compara. Em relação ao milho, a troca em São Paulo, que, em 2017, ficou próxima de cinco sacas adquiridas com o valor de uma arroba de boi gordo, chegou a 3,4 sacas por arroba em maio de 2018 (pior relação do ano). No entanto, para 2019, a previsão é de preços menores para o milho e farelo de soja, e de cotações maiores para arroba do boi gordo. Portanto, prevê Ribeiro, a relação de troca frente a estes insumos deverá melhorar. Ainda de acordo com a Scot Consultoria, os fertilizantes nitrogenados tiveram acréscimo de 23%, em média, na comparação com 2017. Para os adubos potássicos e fosfatados, os reajustes médios foram de 33% e 14%, respectivamente. Para 2019, a expectativa é de que o câmbio exerça menos pressão sobre as cotações dos fertilizantes no mercado brasileiro, ou seja, os preços devem cair, na comparação com 2018. Resultados estaduais – A pior relação “custos/preço do boi” foi registrada no Tocantins, onde o COE e o COT subiram 12,24% e 10,51%, respectivamente, em 2018, para uma queda no valor do boi gordo de 2,13%, segundo o Cepea. Os pecuaristas do Mato Grosso também amargaram grande redução nas margens, computando elevações de 9,56%

O que se comprou com o preço de um boi gordo* 2018

2017

Média em dez anos

Arame liso ovalado 1.000m (rolo)

10,18

12,34

9,53

Calcário dolomítico (tonelada a granel)

42,80

49,02

45,44

Vacina aftosa (dose)

2.170

3.058

1.679

Sal mineral 80-90g de P (sc 30kg)

32,07

34,79

36,36

Quantos bois gordos foram necessários para adquirir... Trator 50 a 100 cv (2017) e trator 4x2 e 4x4 - 60, 63,73,75,78 cv (em 2016)**

49,44

50,08

49,08

*Animal de 17@. Valores dos insumos à vista, em São Paulo. **Antes de 2015, trator 4x2 e 4x4v – 65 e 75 Cv. Preço médio do boi à vista, deflacionado pelo IGP-M de dezembro de 2018, em 13 Estados (RS, SC, PR, SP, MG, MS, MT, GO, TO, RO, PA, BA e MA). Fonte: Cepea/USP, elaboração DBO.

Anuário DBO 2019

Custos da pecuária de corte em 2018 (%) Estados

COE1

COT2

Boi gordo3

Bahia

7,60

7,28

-2,95

Goiás

3,43

-1,78

-0,97

Minas Gerais

7,04

-0,82

-2,89

Mato Grosso do Sul

5,78

2,16

-0,27

Mato Grosso

9,56

9,25

1,85

Pará

4,33

1,93

4,42

Paraná

4,30

0,48

-9,10

Rondônia

6,40

9,37

-8,85

Rio Grande do Sul

3,19

2,68

4,25

São Paulo

5,00

3,49

-4,40

Tocantins

12,24

2,92

4,93

Brasil4

3,76

3,64

1,18

1 - Custo Operacional Efetivo: considera a variação nominal acumulada de janeiro a dezembro de 2018 nos preços pagos por insumos, salários e impostos relacionados à pecuária de corte. 2 - Custo Operacional Total: abrange o COE e a depreciação de instalações, equipamentos e formação de pastagens. 3 - Variação da cotação da arroba de janeiro a dezembro de 2018, em reais. 4 - Juntos, os Estados citados representam 85% do rebanho nacional. Fonte: Cepea/USP e CNA.

(COE) e 9,25% (COT), para um aumento de 1,85% na arroba do boi, de acordo com dados do Cepea. Na Bahia, o COE elevou-se 7,60% e o COT, 7,28%, enquanto a arroba do animal terminado teve desvalorização de 2,95%. O levantamento do Cepea/Esalq, porém, aponta Estados que registraram no ano passado situações favoráveis na relação custos/preço do boi. Foi o caso do Mato Grosso do Sul, que apresentou variação de 5,78% no COE e de 6,65% no COT, para um aumento acumulado de 6,75% no preço do boi gordo. No Rio Grande do Sul também houve praticamente empate na relação despesas/valor do boi: o COE e o COT tiveram elevações de 3,19% e 3,93%, respectivamente, para uma valorização de 3,49% na arroba. Porém, o melhor quadro foi registrado no Paraná: no acumulado de janeiro a dezembro, os custos subiram 4,30% (COE) e 4,05% (COT), mas o valor do boi teve alta ainda mais forte, de 9,37%. n


Mercado Brasileiro Por Luiz H. Pitombo

Confinamento

Resultado aquém do esperado Com economia morna e custos elevados, a margem de ganho do pecuarista se estreitou.

A

s exportações foram boas no ano passado, mas o consumo interno, destino da maior parte da carne bovina, não foi tão bem, e os custos permaneceram em patamares elevados, fazendo a margem de ganho do confinador se estreitar. A avaliação é de Bruno Andrade, gerente executivo da Associação Nacional de Pecuária Intensiva (Assocon). Ele acrescenta que foi um período com cenário instável, relacionado à oferta de milho, greve dos caminhoneiros e elevação da arroba ao fim do ano, quando era inexpressivo o número de animais ainda fechados. Andrade pondera que o setor esperava mais de 2018 e que a sensação que fica é de frustração. A expectativa da entidade era de que os confinamentos aumentassem 12%, atingindo perto de 4 milhões de cabeças, mas o levantamento realizado em 1,4 mil unidades produtivas, entre associadas ou não, mostrou que alcançaram 3,38 milhões de cabeças, 0,3% abaixo do resultado obtido em 2017. A distribuição dos confinamentos ao longo de 2018 manteve o ritmo esperado, com 15% dos animais sendo fechados no primeiro semestre e 85% no segundo. A estrutura também permaneceu concentrada, com 10% dos confinadores respondendo por 50% dos animais engordados. “Com a demanda fraca, teve confinador que saiu do mercado, mas da mesma forma que se encontram os que se deram muito mal, existem os que se deram muito bem”, comenta.

Maurício Palma Nogueira, da consultoria Athenagro, de São Paulo, tem avaliação similar sobre a piora nos resultados econômicos dos confinamentos no ano passado, mas indica crescimento no número total de animais que passaram pelo sistema. Segundo as estimativas da Athenagro, a quantidade total de animais confinados teria crescido quase 6%, chegando a 5,5 milhões de cabeças. Dentre os fatores que colaboraram para isso estão, segundo ele, a preocupação com o aumento da produtividade, agricultores que entram no sistema de integração e a seca em algumas regiões. Pela análise dos indicadores (veja tabela abaixo), os resultados da arroba ganha no cocho continuaram oscilantes, a exemplo do que aconteceu nos anos anteriores. O custo da dieta elevou-se em 22% no ano passado e im-

Rentabilidade do confinamento* (R$/@) Ano

Custo da dieta

Custo operacional

Custo da engorda

Valor da arroba1

Resultado direto2

2018

104,59

29,24

133,84

145,00

11,17

2017

85,46

27,01

112,47

138,89

26,42

2016

121,41

27,30

148,71

152,87

4,16

2015

79,54

23,81

103,34

145,46

42,12

2014

75,04

21,81

96,85

126,33

29,48

2013

76,06

20,48

96,54

102,67

6,13

*Valores nominais 1 - Preço médio São Paulo. 2 - Resultado sobre a arroba que foi ganha no cocho. Fonte: Athenagro, Janeiro de 2019.

pactou no resultado final, que ficou em R$11,17@, bem abaixo dos R$26,42/@ registrados em 2017. Todos os demais itens também sofreram elevação, como o custo operacional (+ 8,6%), o da engorda no cocho (+ 19%) e o valor do boi magro (+ 1,2%). “Nessas condições, o diferencial entre o lucro e o prejuízo é determinado pelo rigor gerencial, sendo que produtores bem assistidos e cautelosos na gestão dos animais obtiveram resultados melhores”, afirma. Censo de confinamento – A empresa DSM, que acompanha de perto a atividade de engorda intensiva no País, realizou através de sua equipe um levantamento amplo junto a mais de três mil pecuaristas e acompanhou de perto nove confinamentos em 2018 (SP, MS, MT,PA,GO,TO,RO,BA). O número de animais estimado através da pesquisa chegou a 4,98 milhões de cabeças em 2018, com crescimento de 3% sobre o ano anterior. Cerca de 70% dos produtores que se dedicam à atividade, segundo a empresa, a tem como estratégia de negócio, enquanto outros 30% a fazem como atividade exclusiva. A situação encontrada mostra realidades bem heterogêneas em função dos valores da reposição e diferentes dietas. A avaliação econômica dos confinamentos foi realizada por equipe do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq), de Piracicaba, SP. Anuário DBO 2019


Mercado Brasileiro

Confinamento

Boi magro a alimentação representam 90% dos custos Thiago Bernardino de Carvalho, que participa dos trabalhos, também registra a reversão de expectativa dos produtores, que acreditavam num ano com custos ainda altos, mas com a economia destravada, o que não aconteceu, reduzindo a disposição em confinar. Ele comenta que, para os pecuaristas que travaram seus custos ou preços e fizeram planejamento, foi possível garantir margem positiva. Houve propriedades que conquistaram vantagens ao trabalhar com o mercado futuro e outras que se deram melhor no mercado físico, em função de sua organização e gestão. “Travar a receita nem sempre irá proporcionar maior lucro, mas garante constância e possibilidade de planejar os investimentos”, ressalta Carvalho. Custo operacional – De uma maneira geral, os maiores custos de um confinamento são representados pelos animais de reposição (70%) e pela alimentação (20%) e foram estes os que mais variaram durante 2018, segundo informa o pesquisador. Tomando por referência o mercado de São Paulo, e já descontada a inflação, o valor da arroba do boi magro caiu ao longo do ano em termos reais, ficando 7% inferior ao de 2017 no acumulado de janeiro até novembro. Contudo, esta categoria começou o ano passado com preços elevados e quem pagou valor alto por estes animais pode ter ficado no prejuízo. A reposição pesou mais dentro do custo operacional efetivo (COE) nas propriedades de quatro estados (TO,BA,GO e PA). Considerando o valor da dieta no mesmo período, em termos reais, esta se mostrou 19% mais elevada pelos cálculos do Cepea. Na média dos nove confinamentos acompanhados, que possuem bom nível técnico, o retorno operacional do investimento (ROI) ficou positivo em 7,7%, contra 9,7% do período anterior. A expectativa é de negócios mais vantajosos para o setor neste ano, de acordo com fontes consultadas. “O cenário doméstico dá sinais de melhora, o externo está cada vez mais firme e os grãos apontam para uma safra maior, portanto com custos mais baixos” indica o pesquisador Anuário DBO 2019

Thiago Carvalho. O resultado tende a ser positivo, como reforça, com planejamento, gestão e acompanhamento do mercado nos primeiros meses do ano, em termos dos preços dos insumos, do valor futuro da arroba e da reposição. Em São Paulo, por exemplo, a sazonalidade do boi magro indica que os preços ficam mais atraentes em dezembro e janeiro. Quanto ao milho, é vantagem comprar o produto no estado entre junho e agosto, na entrada da segunda safra; o farelo de soja, de março até junho. Segundo cálculos baseados nos confinamentos acompanhados pela equipe do Cepea, o ROI estimado para este ano pode subir 10,6%. Para esta rentabilidade, foi tomado por referência o preço de um boi magro de R$ 2.205/cabeça (14,7 arrobas), com ganho de peso diário de 1,7 kg, passando por 95 dias de confinamento e obtendo um rendimento de carcaça de 55%. O preço do milho foi o de R$ 36/saca de 60 kg em maio e o do boi gordo de R$ 158/arroba em outubro. Segundo técnicos do Cepea, a perspectiva favorável pode gerar aumento na intenção do confinamento com pressão nos valores da arroba do boi gordo no segundo semestre. Bruno Andrade, da Assocon, avalia que 2019 tem a favor a boa expectativa em relação à demanda interna gerada pelo esperado aquecimento da economia. No âmbito da exportação, crê que o cenário é favorável, com a China devendo aumentar suas compras. Também diz que existem boas expectativas quanto aos negócios com o México, Japão e Coreia do Sul. Do lado da oferta, constata sinais de mudança no ciclo pecuário, com a valorização das categorias mais jovens e a retenção de fêmeas, o que deve impulsionar os preços do boi gordo. Considerando os custos de produção, em especial o da alimentação, diz que não existe preocupação quanto ao volume de grãos disponíveis para a ração, mas, sim, quanto aos preços. Da mesma maneira que se espera uma elevação da arroba do boi gordo, os preços agrícolas também tendem a se beneficiar com o aumento das exportações e do consumo interno. “Ninguém deve ganhar muito, pode ser um ano típico de ganha-ganha, onde ambos ficam com o suficiente”, afirma. n


Brasil e EUA garantirão maior oferta de carne bovina Oferta de carne de frango crescerá mais que a de porco Produção, exportação e importação de carne bovina Balanço das exportações brasileiras de carne bovina


Mercado Mundial Por Luiz H. Pitombo

Todas as Carnes

Ritmo menor de expansão Mesmo assim, a produção global de bovinos, suínos e aves deve crescer este ano, em relação a 2018.

C

om a expectativa de que em 2019. Um dos temas anaProdução mundial de carnes1 a economia e o consulisados foi a biossegurança e mo global cresçam, proseus impactos no comércio 2019 2018 2017 dutores de diferentes tipos mundial de carnes. Foi dado 114.585 112.958 111.038 de carne devem se beneficiar destaque à PSA e a IA, com os com negócios em 2019. No analistas sugerindo para estas 97.802 95.594 93.779 entanto, há fatores que exigem e outras enfermidades, que se cautela e esfriam os ânimos, adotem novas estratégias para 63.623 62.878 61.624 como possíveis surtos de doa garantia da sanidade dos enças e disputas comerciais, produtos, que se faça realocaTotal 276.010 271.430 266.441 em especial a existente entre ção da produção e do portfólio 1Em mil toneladas equivalente-carcaça. 2Carne de frango e de galinha, considerando a carcaça sem cabeça, penas, pés e a maioria dos órgãos internos, mas com inclusão do pescoço e miúdos (ready-to-cook). Os dados de 2019 são previsões e os de a China e os Estados Unidos. de clientes. Para aqueles que 2018 estimados. Fonte: USDA/FAS Outubro/2018, adaptação DBO. Mas, independentemente da têm bom posicionamento, tais situação, a consolidação desameaças se transformaram sa indústria deve continuar. Consideran- Estimativa conservadora – Abarcan- em oportunidade. do três das principais proteínas animais – do um grupo maior de países e carnes, a Os técnicos do banco falam sobre os a bovina, a suína e a de aves –, as previsões Organização das Nações Unidas para investimentos para a melhora no enfrenindicam a oferta neste ano de 276 milhões Agricultura e Alimentação (FAO) calcula tamento do problema sanitário e saliende toneladas equivalente-carcaça (t.eq.), preliminarmente a produção do ano pas- tam que a maioria das medidas são consiou 1,7% a mais que 2018, que apresentou sado em 335 milhões de t.eq.(+ 1,5% que deradas efetivas. No entanto, reconhecem oferta 1,9% superior a 2017. Em termos fí- 2017) e a oferta ao mercado de mais 5 que “podem ocorrer distorções no mercasicos, espera-se a para 2019 mais 4,6 mi- milhões de t.eq. O crescimento, segundo do se a questão for utilizada como barreia entidade, é o mais rápido desde 2014, ra não tarifária”, como já ocorre. Quanto às lhões de t.eq. Também segundo análises do Depar- enquanto o consumo per capita pode- crescentes demandas associadas à sustamento de Agricultura dos Estados Uni- rá ficar em 43,7 kg/hab/ano, com ligeira tentabilidade e às questões éticas, foi sudos (USDA), o avanço mais expressivo melhora. No geral, a FAO estima percen- gerido que os produtores e processadores do ano poderá acontecer com a carne de tuais de evolução pouco menores para se ajustem a elas para conquistar a confrango (+ 2,3%) atingindo 97,8 milhões de 2018, na comparação com o USDA. A fiança dos consumidores. t.eq de produto pronto para o consumo maior alteração teria ocorrido com a carOutro desafio é a mão de obra. No do(RTC, do inglês, ready-to-cook), enquan- ne bovina, com 72,2 milhões de t.eq. (+ cumento, o Rabobank cita os exemplos to que em 2018 havia obtido quantidade 2%), seguida da suína com 120,6 milhões dos Estados Unidos, que deve ter mais pouco menor (+2%). A justificativa para de t.eq. (+ 1,6%), e a de frango com 121,6 plantas frigoríficas em operação neste este otimismo é que entre os principais milhões de t.eq.(+ 1,6%). ano, e a China, com a migração de áreConsiderando o comportamento dos as rurais. A automação da produção e produtores há boa disponibilidade de alimentos, preços relativamente baixos e preços, o índice de carnes da FAO atingiu do processamento é o caminho mais fánão se espera nessas áreas disseminação 161,6 pontos em outubro de 2018, núme- cil, porém os analistas apontam que sua ro 6 % inferior ao de 2017. O recuo se deve, adoção é lenta e, por vezes, muito oneroda Influenza Aviária (IA). Já a carne suína, historicamente a mais em especial, aos maiores estoques dispo- sa. No entanto, perdas econômicas e de produzida, poderá chegar a 114,5 milhões níveis para o comércio exterior das carnes eficiência poderão favorecer mudanças de t.eq, obtendo o segundo maior cresci- bovina e suína, de acordo com analistas em 2019. As proteínas alternativas, como mento (+ 1,4%), seguido da bovina, com da organização. Os focos de PSA e restri- as oriundas de insetos, de algas marinhas 63,6 milhões de t.eq (+ 1,2%). Estas duas ções às importações também influencia- ou de “carne” produzido em laboratório, últimas apresentaram em 2018 incre- ram no valor desta proteína. A carne de por exemplo, vêm ganhando espaço e pomentos mais elevados (+ 1,7% e + 2%, res- frango, por sua vez, mostrou flutuação dem aumentar sua presença no mercado pectivamente). O desempenho da carne moderada para depois se retrair frente a este ano através de acordos de distribuisuína é atribuído pelo USDA à expansão um mercado “lento”. ção entre empresas tradicionais e as que da oferta nos Estados Unidos (+ 5,2%) e na se dedicam às substitutas. Direcionadas, China (+ 1,2%). Este país, responsável por Proteínas alternativas – A instituição inicialmente, à produção de ração animal 48% da produção mundial, foi abalado financeira Rabobank, com atuação forte (futuramente, serão produzidas também por focos da Peste Suína Africana (PSA), no agronegócio, apresentou em novem- para consumo humano), tais proteínas mas, mesmo assim, poderá crescer, se- bro passado suas análises e projeções para têm atraído investidores, segundo o docuo mercado mundial de proteína animal mento do Rabobank. gundo o relatório. n Anuário DBO 2019


Mercado Mundial Aves e Suínos

Por Luiz H. Pitombo

Frango crescerá mais que o porco No mercado interno, porém, ambas as proteínas tiveram um ano difícil em 2018.

C

onsiderando dados projeBrasileira de Proteína Animal Mercado das carnes de frango e porco Brasil tados para este ano pelo (ABPA) calcula que a produção Espécie Frango Porco Departamento de Agrinacional de carne de frango tecultura dos Estados Unidos nha atingido 12,8 milhões de to2018* 2017 2018* 2017 (USDA), a produção mundial de neladas, com queda sobre o ano 12,82 13,05 3,63 3,75 Produção1 carne de frango pode atingir 97,8 de 2017 (- 1,76%). Esta condição milhões de toneladas (+ 2,3%) se repete com as exportações de 4,10 4,32 0,54 0,59 Exportação1 de produto equivalente pronto 4,1 milhões de toneladas (- 5%), 2 6,57 7,23 1,11 1,46 Receita para o consumo (RTC, do inglês, que trouxeram US$ 6,5 bilhões 41,7 42,07 14,35 14,74 Consumo3 ready-to-cook). Isto fará com (- 9,3%) e o consumo per capita *Números preliminares: (1) Em milhões de toneladas; (2) Em bilhões de US$; (3) Em kg/habitante/ano. que essa proteína animal conside 41,7 kg (- 0,9%). Porém, a proFonte: ABPA, adaptação DBO. ga, pelo quinto ano consecutivo, dução de ovos deve crescer até aumento em sua disponibilida10%, com 44 bilhões de unidade que trará adicional de 2,2 milhões de tone- co inferior à do ano passado (+ 1,7% sobre des. O consumo per capita igualmente cresladas RTC. O consumo estimado deve apre- 2017). Segundo os técnicos do USDA, é es- ceu para 212 unidades (20 a mais que 2017) sentar evolução percentual semelhante e as perada continuidade do crescimento da e as exportações deram salto (+ 80%). exportações, no montante de 11 milhões de economia global, estimulando o consumo Com a carne de porco, a situação não foi toneladas RTC, se traduzem em pequeno au- na maioria dos países (+ 1,6%), e evolução diferente, com produção de 3,6 milhões de mais expressiva do comércio mundial (+ toneladas (- 3%), vendas externas de 0,5 mimento (1 % sobre 2018). Há boa oferta de alimento e a preços atra- 3%), chegando a 8,5 milhões t.eq. lhões de toneladas (-8%) e receita de US$ 1,1 A China, que deverá responder por 48% bilhão (- 24%), com a menor retração aconentes entre os principais produtores, além do que não se espera nessas áreas a dissemina- da produção mundial, ou 54,8 milhões de tecendo com o consumo per capita (- 2 %). ção da Influenza Aviária (IA). Com 20% da t.eq. (+ 1,2%), tende a apresentar comportaA ABPA mostra que o setor está atento oferta mundial, os Estados Unidos tem pro- mento similar à sua oferta de carne de fran- e com projetos de crescimento. Francisco jeção de aumentar a produção para 19,7 mi- go. O setor foi abalado por focos da Peste Suí- Turra, presidente da entidade, realizou em lhões de toneladas RTC (+ 1,86%) e o Brasil, na Africana (PSA), que afetaram o trânsito de 13 de dezembro a apresentação de um plaque representa 14% da produção total, pode animais e os preços, mas continuará a cres- no estratégico, o “500K”, para fortalecer sua atingir a 13,8 milhões de toneladas RTC (+ cer. Como segundo maior produtor de carne atuação e elevar a média mensal das vende porco, a União Europeia está com 24 mi- das externas de aves e suínos, das atuais 1,8% sobre o ano passado). A União Europeia (UE), segundo os ana- lhões de t.eq. (- 0,41%) previstas para este ano, 394,2 mil toneladas/mês, para 500 mil já no listas do USDA, tende a apresentar uma situ- ficando com 21% do total mundial. O motivo ano que vem. Em função da importância da ação particular. “O fraco desempenho de sua da pequena retração é a elevação dos custos Arábia Saudita e de outros países da região economia não tem provocado queda no con- da alimentação animal e a queda nos valores para este mercado, a entidade espera que a sumo de frango; ao contrário, tem sido esti- de matrizes afetando os rebanhos de cria. atual política externa brasileira não venha a mulado pelos preços competitivos e facilidaprejudicar o setor. de de preparo”, afirmam. Assim, com 12% do Mercado interno – Cancelamento da liComo demandas ao novo governo, a volume mundial, a UE tem previsão de cres- cença de plantas para exportar para UE, osci- ABPA apontou a necessidades de desburocer sua produção e atingir deve 12,47 milhões lação do câmbio, mudanças no processo de cratização na habilitação de plantas frigoríabate halal de aves e greve dos caminhonei- ficas e a adoção de novas tecnologias, o fim de toneladas RTC (+1,3%). O maior incremento, de 12 milhões de to- ros são percalços que o setor de aves e suínos do frete mínimo, a melhoria da infraestrutuneladas RTC (+ 2,5%), é estimado para acon- do Brasil enfrentou em 2018 e que trouxeram ra e logística, o fortalecimento da segurança tecer na China, o que significa aumentar sua perdas. A situação só não foi pior porque os nas estradas contra o roubo de cargas e a reaparticipação no mercado consumidor para negócios reagiram no segundo semestre. lização de mais acordos internacionais. Para Como outros fatos positivos, ocorreram o corrente ano, em função de prováveis cus12%. Os analistas ressaltam que, apesar de o país sofrer com a IA, ele ainda terá produção aumento de unidades habilitadas a expor- tos convidativos do milho e da soja, além de maior, embora com elevação menor que seus tar aves para o México e abertura do Cam- possível aumento das demandas internas e boja para esta carne. A de porco também externas, a expectativa da associação é o aupicos históricos. ampliou presença com a liberação para a Ín- mento na produção de frango para 13,2 miSuínos lideram mercado – Proteína dia e Coreia do Sul e a reabertura da Rússia. lhões de toneladas (+ 3%). A de suínos, em animal mais produzida no mundo, a car- Mas foi um ano de recuos ao setor, que tam- função da maior demanda internacional, ne de porco poderá chegar a 114,5 milhões bém sentiu um desempenho da economia pode voltar a superar as 3,7 milhões de tonede t.eq (+ 1,4%) em 2019, evolução pou- interna abaixo do esperado. A Associação ladas (entre 2% e 3% a mais). n Anuário DBO 2019


Mercado Mundial Luiz H. Pitombo

Produção e Consumo

Líderes puxam crescimento Brasil e Estados Unidos devem garantir maior oferta no mercado mundial de carne bovina este ano

A

produção mundial de carne bovina em 2019 está projetada para atingir 63,6 milhões de toneladas equivalente carcaça (t.eq.), com incremento de 1,2% sobre 2018, ano em que a quantidade ofertada mostrou maior evolução (+ 2% sobre 2017). Segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), deverão chegar ao mercado mais 745 mil t.eq., das quais 40% do Brasil e 59% dos EUA. Este último, favorecido pelo “recente crescimento da safra de bezerros”, conforme os analistas da instituição norte-americana, deve ter o maior crescimento dentre os principais produtores (+ 3,5%) chegando a 12,7 milhões de t.eq. Sua participação na quantidade produzida globalmente pode chegar a 20%. Quanto à expansão do Brasil, esta pode alcançar 10,2 milhões t.eq. (+ 3,0%, pouco inferior a 2018, de + 3,6%). A expectativa se justifica, no entender do USDA, em função do esperado aumento da demanda interna e da sólida evolução das exportações para importantes mercados asiáticos. O Brasil também deve aumentar sua participação no mercado e conquistar 16% do total mundial ofertado. Retrações estão previstas para a Austrália, com 2,2 milhões de t.eq. (- 5,2%,

Principais produtores mundiais de carne bovina1 2019

2018

2017

EUA

12.725

12.286

11.943

Brasil

10.200

9.900

9.550

EU

7.800

7.915

7.863

China

7.400

7.325

7.260

Índia 2

4.330

4.300

4.250

Argentina

3.000

2.950

2.840

Austrália

2.180

2.300

2.149

México

2.000

1.960

1.925

Paquistão

1.820

1.800

1.780

Turquia

1.400

1.400

1.399

Rússia

1.355

1.340

1.336

Outros

9.413

9.402

9.329

Total

63.623

62.878

61.624

1 Em mil toneladas equivalente-carcaça. Os dados de 2019 são previsões e os

de 2018 estimados. 2 nclui carne de búfalo. Fonte: USDA/FAS Outubro/2018, adaptação DBO.

Anuário DBO 2019

ante crescimento de 7% no ano passado), e na União Europeia. com 7,8 milhões de t.eq. (- 1,4%, contra + 0,6% de 2018). No caso da Austrália, a situação é resultado, dentre outros, do grande volume de abates no ano passado em função da seca, deixando menos animais para o corrente ano. FAO e consumo – Tomando por referência projeções para um grupo maior de países acompanhados pela da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), a produção mundial de carne bovina em 2018 pode chegar a 72,2 milhões t.eq. (+ 2%), resultando em 1,4 milhão de t.eq. a mais da proteína. As variações dos principais produtores, tomados isoladamente, revelam percentuais semelhantes aos do USDA, à exceção da União Europeia, que aumentou sua produção (+ 1,6%), atingindo 8 milhões de t.eq. A FAO também aponta preliminarmente, para o ano passado, o consumo mundial de carne bovina em 71,8 milhões de t.eq., com aumento pouco menor que a produção (+ 1,8%). Percentual próximo (+ 1,7%) é apresentado pelo USDA, embora as oscilações entre os principais países consumidores mostrem diferenças significativas sobre os números apresentados pela FAO. Com dados disponíveis até outubro de 2018, o índice de preços para a carne bovina da entidade ficou no mês em 195, número 5% inferior ao mesmo mês de 2017. Um dos motivos apontados foram os elevados estoques do produto, mas essa retração foi menor do que a de outras proteínas. Para o corrente ano, a FAO não fez previsões em seu relatório de novembro de 2018, mas os norte-americanos estimam um consumo de carne bovina em ascensão (+ 1,6%), atingindo 61,7 milhões de t.eq. Os maiores acréscimos podem ocorrer nos EUA, com 12,6 milhões de t.eq. (+ 3,7%); na Índia, ao atingir 2,7 milhões de t.eq. (+ 2,6%); no Brasil com 8 milhões t.eq. (+ 2,5 %) e na China, com a utilização de 8,7 milhões de t.eq. (+ 2%). Produção e competição – A expectativa de aumento na produção dos EUA não será apenas da carne bovina, mas também das outras proteínas animais, o que deve re-

Principais consumidores mundiais de carne bovina1 2019

2018

2017

EUA

12.657

12.206

12.052

China

8.705

8.530

8.227

Brasil

8.045

7.850

7.750

União Europeia

7.820

7.935

7.832

Índia 2

2.705

2.635

2.401

Argentina

2.425

2.450

2.547

México

1.890

1.865

1.841

Rússia

1.810

1.823

1.840

Paquistão

1.761

1.741

1.722

Turquia

1.469

1.489

1.424

Japão

1.320

1.316

1.277

Outros

11.127

10.884

10.761

Total

61.734

60.724

59.674

(1) Em milhões de toneladas equivalente-carcaça. Os dados de 2019 são previsões e os de 2018, preliminares. (2) Índia inclui carne de búfalo. Fonte: USDA, outubro/2018. Adaptação DBO.

sultar no crescimento expressivo do consumo per capita do país e provocar uma maior competição por preços entre as diferentes espécies animais, de acordo com estudo divulgado em novembro pelo Rabobank. Em relação à Argentina, avaliação do banco holandês é que a produção deste ano deve ter evolução inexpressiva, inferior à de 2018, enquanto o consumo interno tende a declinar devido às duras condições econômicas do país, que tendem a pressionar o poder de compra local. O consumo de carne bovina na Europa tende a ficar estagnado em 2019. Os estoques locais devem permanecer elevados até meados do ano, quando a redução na oferta deverá trazer elevação nos preços e o declínio na demanda por algumas categorias de produtos a depender do país. Na China, o abastecimento de carne bovina deve ficar ainda mais dependente das importações, uma vez que a produção ao longo do ano no país vive o desafio de um rebanho de cria em declínio. Mas alguns governos locais (Mongólia e Heilong Jiang) devem continuar a apoiar produção de gado em grande escala. n


Mercado Mundial Por Denis Cardoso

Exportação e Importação

Protagonistas do comércio mundial Brasil, Índia, Austrália e Estados Unidos detêm 65% das exportações globais de carne bovina

E

nquanto o Brasil se prepara para liderar, mais uma vez, o ranking mundial de exportação de carne bovina em 2019, outros importantes fornecedores correm por fora para aumentar a presença no disputado comércio global da proteína animal. É o caso dos países da América do Norte, sobretudo os Estados Unidos, que, além de maiores importadores do mundo de carne vermelha, estão no topo das nações que mais produzem e exportam o alimento. Neste ano, a produção norte-americana de carne bovina deve registrar acréscimo de 4% na comparação com 2018, para o recorde de 12,7 milhões de toneladas equivalente-carcaça, refletindo o aumento da safra de bezerros, segundo estimativa do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). Por sua vez, as exportações norte-americanas estão previstas para crescer 3%, para um recorde de quase 1,5 milhão de toneladas, o equivalente a 12% da produção total no país.

Principais exportadores mundiais de carne bovina1 País

2019

2018

2017

Brasil

2.200

2.100

1.856

Índia2

1.625

1.665

1.849

Austrália

1.510

1.630

1.485

EUA

1.472

1.435

1.297

Nova Zelândia

589

603

593

Argentina

575

500

293

Canadá

515

500

465

Uruguai

415

440

436

Paraguai

360

380

378

U.Europeia

350

350

369

México

330

305

280

Outros

666

650

635

Total

10.576 10.558

9.967

1 Em milhões de toneladas equivalente-carcaça. Os dados de 2019 são previsões e os de 2018, preliminares. 2 As exportações da Índia referem-se à carne de búfalo. Fonte: USDA, outubro/2018. Adaptação DBO.

Anuário DBO 2019

Embora com taxas anuais de crescimento e volume bem mais modestos, Canadá e México também elevarão os embarques de carne bovina este ano, para 515 mil e 330 mil toneladas equivalente-carcaça, respectivamente, na comparação com 2018. As taxas anuais positivas esperadas para os Estados Unidos são semelhantes aos percentuais de aumento projetados pelo USDA para o setor de bovinos do Brasil. Pelos números do departamento, a produção brasileira da carne subirá 3% neste ano, para 10,2 milhões de toneladas equivalente-carcaça, enquanto as exportações atingirão 2,2 milhões de toneladas, com elevação de quase 5% sobre os dados do ano passado. Valor agregado A maior vantagem das indústrias frigoríficas presentes na América do Norte em relação aos fornecedores do Brasil é o livre acesso a mercados considerados de alto valor agregado, ou seja, que pagam pelos cortes da carne bovina preços bastante acima da média mundial. Nessa seleta lista figuram países como Japão e Coreia do Sul, consumidores altamente desejados pelas indústrias de carne bovina do Brasil e que hoje estão totalmente fechados ao produto in natura brasileiro (leia mais sobre o assunto nas págs. 38 e 39). Em média, o Japão paga aos seus tradicionais fornecedores ao redor de US$ 6.000 pela tonelada da carne bovina, enquanto o valor médio obtido pelos exportadores brasileiros gira em torno de US$ 4.000/tonelada, de acordo com dados da Associação Brasileira das Indústrias Exportadores de Carnes (Abiec). Segundo previsões do USDA, as exportações globais de carne bovina deverão ficar estáveis em 2019, ao redor de 10,5 milhões de toneladas equivalente-carcaça, para uma produção global 1% maior (total 63,6 milhões de toneladas). Os aumentos de remessas de carne bovina no mercado mundial por parte do Brasil e dos Estados Unidos compensarão as reduções nos embarques da Aus-

trália e da Índia, outros dois importantes produtores com excedentes exportáveis. Esses quatro países detêm atualmente cerca de 65% do comércio mundial de carne bovina. Produção em declínio O USDA prevê queda anual de 4% na produção da Austrália em 2019, para 2,2 milhões de toneladas equivalente-carcaça, enquanto as exportações podem recuar 6,5%, atingindo 1,5 milhão de toneladas. A produção em declínio da Austrália estimulará os embarques dos Estados Unidos para os seus principais clientes, como o Japão e a Coreia do Sul. A produção indiana, que comercializa basicamente carne de búfalo, ficará praticamente estável este ano, ao redor de 4,3 milhões de toneladas equivalente-carcaça, e os embarques devem recuar 2%, para 1,6 milhão de toneladas – mesmo com o enfraquecimento nas vendas externas nos últimos anos, a Índia se mantém na segunda posição do ranking

Principais importadores mundiais de carne bovina1 País

2019

2018

2017

EUA

1.407

1.373

1.358

China

1.320

1.200

974

Japão

850

835

817

Hong Kong

600

560

543

Coreia do Sul

565

560

531

Rússia

470

495

516

União Europeia

370

370

338

Egito

330

300

250

Chile

320

310

281

Canadá

250

240

229

México

220

210

196

Outros

1.987

1.927

1.920

Total

8.688

8.380

7.953

1 Em milhões de toneladas equivalente-carcaça. Os dados de 2019 são previsões

e os de 2018, preliminares. Fonte: USDA, outubro/2018. Adaptação DBO.


Mercado Mundial

Exportação e Importação

mundial de exportação, atrás somente do Brasil, e à frente da Austrália. A Argentina, tradicionalmente um importante fornecedor mundial de carne bovina, continua recuperando, ano a ano, o seu espaço no mercado mundial da commodity. O país, que já chegou a ocupar o terceiro lugar no ranking mundial de exportação, deve se manter em sexto da lista em 2019, a mesma posição ocupada em 2018. Este ano, a Argentina deve embarcar 575 mil toneladas, prevê o USDA, 15% acima do volume registrado em 2018. Segundo análise do banco holandês Rabobank, embora o governo da Argentina tenha resolvido restabelecer os impostos de exportação da carne bovina, a desvalorização do peso frente ao dólar deve elevar a competividade do produto argentino no mercado internacional. Além do avanço contínuo no mercado internacional, a Argentina continua a manter a reputação mundial de produtora de carne de alta qualidade, bem superior ao tipo de carne bovina exportado pelo Brasil. Disputa comercial No lado da demanda, este ano são esperados aumentos nas compras de carne bovina dos principais importadores mundiais, ou seja, Estados Unidos, China, Japão, Hong Kong e Coreia do Sul. No total, o USDA estima elevação em torno de 3,5% nas importações em 2019, para 8,7 milhões de toneladas equivalente-carcaça, na comparação com 2018. Líderes mundiais na importação de carne bovina, os EUA devem elevar em 2% o volume de compras este ano, em relação ao ano passado, para 1,4 milhão de toneladas equivalente-carcaça. No entanto, a China está cada vez mais próxima de tirar dos EUA o posto de maior importador mundial da commodity. Em 2019, as compras externas da China atingirão 1,3 milhão de toneladas equivalente-carcaça, acréscimo de 10% em relação ao resultado registrado no ano passado, estima o USDA. Em 2019, com uma produção local de carne bovina praticamente estagnada, o consumidor chinês dependerá cada vez mais das importações, segundo analistas do Rabobank. Por isso, no momento há uma fila de países ex-

portadores, incluindo o Brasil, em busca de acordos para adicionar unidades frigoríficas à lista de fornecedores para o gigante mercado chinês. Em 2018, os volumes de compras chinesas de carne bovina produzida fora daquele país impressionaram. Somente nos primeiros nove meses do ano passado, o país asiático elevou em 40%, segundo dados computados pelo Rabobank. O interessante, destaca o banco, é que a China, habituada a comprar carne bovina commodity, começa também a buscar cortes de qualidade e carne refrigerada, visando o mercado gourmet. Na lista dos maiores importadores, destaque também para as elevações de compras do Japão e de Hong Hong, que devem adquirir este ano 850 mil e 600 mil toneladas equivalente-carcaça, respectivamente, um acréscimo de 2% e 7% em relação aos volumes registrados em 2018. Sinais de alertas Ainda em relação ao mercado consumidor, dois fatores extraordinários merecem a atenção especial este ano. O primeiro deles é a disputa tarifária entre os gigantes EUA e China, que, segundo analistas do Rabobank, já reformulou o comércio de carnes em 2018 e criou volatilidade nos preços dos alimentos. Em resposta à guerra comercial entre os dois países, diz o banco, no ano passado, a origem de importação de carnes da China mudou dos EUA para Europa, Canadá e Brasil. “Nós não vemos nenhum comércio direto de proteínas entre esses dois países em 2019. Em vez disso, vemos os exportadores de carnes dos Estados Unidos em busca de novos destinos, motivada pela crescente produção interna, o que deve provocar mais mudanças nos fluxos comerciais”, destaca o relatório de oferta e demanda de proteínas animais do Rabobank. O outro ponto de atenção este ano está relacionado com a questão da biossegurança, depois da disseminação da Febre Suína Africana (ASF, na sigla em inglês) na China e na Ásia Oriental. Segundo especialistas, a erradicação de suínos para conter a doença e restrições impostas ao comércio desta proteína podem impulsionar as exportações globais de carne bovina em substituição à carne de porco.

Comércio mundial de bovinos vivos1 Principais exportadores2 País/ano

2019

2018

2017

México

1.200

1.200

1.203

União Europeia

1.000

1.100

1.031

Austrália

950

1.000

928

Brasil

900

850

407

Canadá

660

670

663

5.340

5.583

4.907

Total geral

Principais

importadores2

EUA

1.960

1.885

1.806

Turquia

1.000

1.200

896

Egito

340

250

250

Canadá

190

180

141

China

150

135

121

Rússia

65

90

66

3.747

3.781

3.329

Total geral

1 Em mil cabeças, países de maior expressão acompanhados pelo USDA.

Os dados de 2019 são previsões e os de 2018, preliminares. 2 A partir de 2015, a Colômbia e Venezuela não são mais acompanhados nesta pesquisa. Fonte: USDA/ FAS, outubro/2018. Adaptação DBO.

Gado vivo Em 2019, as exportações mundiais de bovinos vivos devem registrar recuo de 4%, para 5,3 milhões de cabeças, prevê o USDA. O Brasil, estima o departamento, continuará elevando seus embarques de gado em pé, ofertando ao mercado em torno de 900 mil animais este ano, ante 850 mil cabeças no ano passado. Pelo lado das importações, o USDA projeta compras mundiais de 3,7 milhões de cabeças em 2019, praticamente o mesmo patamar registrado em 2018. Números de 2018 Segundo dados projetados pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura (FAO), as exportações mundiais de carne bovina registraram novo recorde no ano passado, atingindo 10,7 milhões de toneladas, um crescimento de quase 5% sobre as 10,2 milhões de toneladas estimadas para 2017. Pelo levantamento preliminar do USDA, os embarques totais de carne vermelha cresceram 6% em 2018, para 10,5 milhões de toneladas, na comparação com n o ano anterior. Anuário DBO 2019


Mercado Mundial Exportações Brasileiras

Por Denis Cardoso

Recorde de 2018 deve cair em 2019 Abiec prevê crescimento de 10% nas remessas de carne este ano e receita de US$ 7,2 bilhões

O

segmento de exportação brasileira de carne bovina passa por um ótimo momento. Depois do recorde nos embarques (em quantidade) registrado em 2018, a expectativa para 2019 é de vendas externas ainda mais fortes, influenciadas pelo câmbio favorável, o que mantém o produto nacional altamente competitivo lá fora, e pela conquista de novos clientes, além de avanços em mercados já consolidados. Sem dúvida, a maior novidade em 2019 será o retorno da Rússia às compras de carne bovina brasileira, após um longo e prejudicial embargo de quase um ano e que fez o país desaparecer do ranking dos principais clientes das indústrias frigoríficas do Brasil. O bloqueio por parte do governo de Moscou, iniciado em setembro de 2017, ocorreu depois que foi detectada a presença de ractopamina nas carnes brasileiras (bovina e suína), um aditivo alimentar utilizado para fazer com que animais ganhem peso mais rapidamente e acumulem menos gordura. Dona da maior extensão territorial do mundo, a populosa Rússia ficou por 14 anos seguidos (2004 a 2017) entre os cinco maiores importadores da carne bovina brasileira, figurando por 11 vezes como o principal país comprador da commodity, segundo levantamento realizado pela Scot Consultoria,

de Bebedouro, SP. Portanto, por mais que o Brasil consiga, historicamente, diversificar os destinos de suas remessas em momentos de impasses comerciais com determinados importadores, é impossível negar a importância da Rússia para o setor. Resta saber qual será o tempo necessário para que o Brasil consiga habilitar novamente todo o universo de plantas (em torno de 30 unidades) que, antes do embargo, exportavam para o mercado russo – desde 1º de novembro de 2018, data do fim do bloqueio, até o primeiro mês de 2019, apenas cinco plantas tinham conseguido este feito. Foco dirigido – Enquanto as vendas para os russos não decolam, os exportadores brasileiros continuam mantendo o foco nos dois países que mais contribuíram para o aumento dos embarques no ano passado, a China e Hong Kong. Juntos, eles responderam por quase a metade (44,4%) da receita total gerada em 2018, o que significou, na somatória, um faturamento em torno de US$ 3 bilhões (veja lista dos principais importadores na página 36). Segundo dados da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), as exportações de carne bovina (in natura, industrializada, miúdos, tripas e salgada) renderam ao País US$ 6,57 bilhões em 2018, um acréscimo 8%

Os maiores importadores de carne bovina e derivados do Brasil Países China

Receita1 2018 1.487

Quantidade2

Preço médio3

2017 2016 2018 2017 2016 2018 929

706

322

211.3

166

Partic.4

2017 2016

2018

4.612 4.396 4.261

22,6

Hong Kong 1.437 1.356 1.145

394

356

330

3.640 3.808 3.469

21,8

UE

728

709

739

118

109

118

6.154 6.523 6.277

11,1

Egito

526

528

551

181

154

177

2.910 3.441 3.117

8,0

Chile

468

282

301

115

65

71

4.069 4.347 4.237

7,1

Irã

328

559

369

84

133

95

3.905 4.202 3.891

5,0

EUA

266

292

284

32

39

33

8.218 7.525 8.550

4.0

A. Saudita

156

168

112

42

42

29

3.672 3.987 3.847

2,3

1 - Em US$ 1.000; 2 - Em 1.000 toneladas líquidas. 3 - Em US$ por tonelada líquida. 4 - Participação percentual considerando a receita total em 2018.

Anuário DBO 2019

em relação ao resultado de 2017, de US$ 6,09 bilhões. Não foi o valor mais alto da história, ficando atrás das receitas computadas pela Abiec em 2013 e 2014, de US$ 6,67 bilhões e US$ 7,11 bilhões, respectivamente. No entanto, em volume, o recorde foi quebrado no ano passado, ao alcançar um total de 1,64 milhão de toneladas, com elevação de 11% sobre a quantidade do ano anterior (1,48 milhão). Com esse resultado, o Brasil conseguiu superar o recorde de 2014, de 1,53 milhão de toneladas. Chama a atenção o enorme apetite do chineses pela carne bovina brasileira. Historicamente, a participação da China nos embarques brasileiros passou a ser relevante a partir de 2015, quando a receita anual atingiu US$ 461 milhões, saltando para US$ 703 milhões no ano seguinte, e para US$ 929 milhões em 2017. Para quem ainda tem dúvidas de que o patamar de US$ 1,36 bilhão alcançado pelo Brasil com as compras chinesas em 2018 será facilmente superado este ano, basta acompanhar a quantidade de novas plantas brasileiras que receberão autorização da China para começar a exportar também para o gigante asiático. Segundo informa Antônio Jorge Camardelli, presidente da Abiec, até o fim do ano passado 16 unidades brasileiras estavam habilitadas para exportar aos chineses. “Estamos recebendo missões em nosso País de técnicos do serviço sanitário da China e a expectativa é de que, este ano, mais dez novas plantas recebem a autorização”, prevê Camardelli. Previsões para 2019 – Com o aumento dos embarques para o mercado asiático, além da reabertura da Rússia e a conquista de novos mercados, o presidente da Abiec prevê um novo recorde nas exportações este ano, para algo em torno de 1,8 milhão de toneladas, o que representaria crescimento de 10% sobre a quantidade computada em 2018. Em receita, a expectativa também é de valor recorde, algo próximo de US$ 7,2 bilhões, um aumento de 9,5% sobre 2018 e acima da receita histórica de 2014 (US$ 7,1 bilhões).


Mercado Mundial

Exportações Brasileiras

Outros importantes países consumidores também estão na mira dos exportadores brasileiros. Um deles são os Estados Unidos, que, bem antes da decisão da Rússia, decidiram suspender os negócios envolvendo a carne in natura brasileira (a partir de meados de 2017), depois de terem detectado nas mercadorias abcessos (acúmulo de pus) relacionados à reação dos bovinos à aplicação da vacina conta o vírus da febre aftosa. O presidente da Abiec diz que o governo brasileiro já ofereceu todas as garantias necessárias para a reabertura deste importante mercado e que agora aguarda uma resposta do governo norte-americano. Existe também a expectativa de que o Brasil conquiste este ano, pela primeira vez, um pedaço do mercado da Indonésia, país que tem a Austrália como maior fornecedor de carne bovina, que é um tradicional exportador da commodity, mas que, no momento, passa por dificuldades de oferta de animais terminados. Além disso, há otimismo da Abiec quanto à ampliação de negócios já existentes com outros clientes, tais como Tailândia, Malásia, União Europeia e países árabes. Entraves comerciais – O maior gargalo enfrentado pelos exportadores do Brasil continua sendo o acesso a mercados de alguns países que melhor pagam pela carne bovina importada, mas que mantêm as portas totalmente fechadas para o produto in natura brasileiro, alegando questões sanitárias. O Japão é um deles. Fechado à carne bovina brasileira, desembolsa, em média, US$ 6.000 pela tonelada do produto importado, enquanto o preço médio obtido pelas

Exportação de carne bovina por tipo Receita1 Quantidade2 2018 2017 2016 2018 2017 2016 5.458 5.070 4.349 1.354 1.206 1.077 583 516 600 104 90 105

Tipo In natura Industrializada Outros (miúdos, 531 506 565 185 tripas, salgadas) Total 6.572 6.092 5.516 1.643

Preço médio3 2018 2017 2016 4.032 4.203 4.037 5.607 5.760 5.692

182

217

2.863

2.765

3.785

1.479

1.400

4.000

4.119

3.939

1 - Em US$ 1.000. 2 - Em toneladas líquidas. 3 - Em US$ por tonelada líquida. Fonte: Midc/Secex/Abiec

exportações do Brasil no ano passado girou em US$ 4.000/tonelada. No entanto, os responsáveis pela Abiec passaram a ficar mais otimistas em relação a um eventual acordo de exportação com o Japão, depois que o país asiático decidiu, no final do ano passado, abrir o seu mercado para a carne bovina in natura do Uruguai. “Como o país vizinho (da América do Sul) possui status sanitário idêntico ao nosso (risco 1 para a doença da vaca louca e livre de febre aftosa com vacinação), legitimamente a gente tem direito de solicitar oficialmente a nossa entrada, por conta da equivalência de decisão técnica”, observa Camardelli. Mas não é só o mercado japonês que representa o oásis para os fornecedores internacionais de carne bovina. Na lista da Abiec aparecem, além do Japão, outros cinco consumidores internacionais que desembolsam preços médios bastante apetitosos pela tonelada da proteína animal, mas que nunca adquiriam nenhum quilo de carne in natura do Brasil: Coreia do Sul (US$ 5.569/tonelada); Canadá (US$ 6.272/tonelada); México (US$ 6.600); Indonésia (US$ 3.822/ tonelada – este com negociações avançadas); e Taiwan (US$ 6.644/tonelada). A maior parte desses países, além de pa-

gar valores altos, compra grandes quantidades de carne bovina anualmente, figurando na lista dos dez maiores importadores mundiais. Segundo estimativa citada por Camardelli, em caso de conquista brasileira dos mercados do Japão, Coreia do Sul, Canadá, México, Taiwan e Indonésia, a indústria frigorífica do Brasil teria possibilidade para escoar para esses mercados um volume adicional de 300 mil toneladas por ano, o que resultaria num acréscimo na receita com exportação de US$ 1,7 bilhão/por ano, considerando os preços médios dos últimos anos. Camardelli diz que uma das saídas para resolver de vez o impasse comercial com alguns dos países consumidores citados acima – e, portanto, passar a exportar carne bovina para eles – é a retirada imediata da campanha de vacinação contra aftosa no Brasil. Segundo o executivo, países como Taiwan, Indonésia e Coreia do Sul dizem não comprar do Brasil pelo fato de ainda utilizar o medicamento no rebanho brasileiro. “A Abiec é 100% favorável ao fim do uso da vacina e apoiará qualquer Estado que, com aval do Ministério da Agricultura, decidir pela retirada”, sentencia o presidente da entidade. n

Anuário DBO 2019


A indústria veterinária cresceu 10% no ano passado Vacinação contra aftosa começa a ser suspensa no País Pente fino para combater a brucelose e a tuberculose Setor tem novos desafios em busca da “saúde única”

A Anuário DBO 2018


Saúde Animal Por Mônica Costa

Aftosa

Atenção: foi dada a largada Começa a fase de suspensão da vacinação contra a doença em todo o território nacional

C

aso não haja mudança por parte da equipe do novo governo, o Brasil, oficialmente reconhecido pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) como livre de aftosa com vacinação, iniciará a fase mais delicada de seu Programa Nacional de Erradicação e Prevenção da Febre Aftosa (PNEFA): a suspensão gradativa da vacinação em todo o rebanho brasileiro. O País foi dividido em cinco blocos, que deverão cumprir cronograma progressivo de retirada da vacina. Os pioneiros, que vão parar de vacinar este ano, serão Acre e Rondônia, que compõem o Bloco I; alguns municípios do Mato Grosso e Amazonas que fazem divisa com esses Estados e têm relações comerciais estreitas com eles; e o Paraná, que pertence ao Bloco V, mas conseguiu autorização do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), antecipar o processo de suspensão da vacina. De acordo com Guilherme Marques, que dirigiu o

Departamento de Saúde Animal (DSA) do Mapa até dezembro de 2018, a maior preocupação do órgão é cumprir o cronograma sem pôr em risco o status sanitário conquistado a duras penas pelo País. “Não pode haver retrocesso, já que ainda há presença dos vírus em países da América do Sul, especialmente Colômbia e Venezuela que ainda não são livres”, aponta. O plano estratégico do PNFA prevê a suspensão total da vacinação contra a aftosa até 2022 e o reconhecimento internacional do Brasil como livre de aftosa sem vacinação até 2023 (veja tabela abaixo). No total, cerca de 20 milhões de bovinos e bubalinos serão imunizados pela última vez neste primeiro semestre de 2019. Em Rondônia, que não registra casos da doença há 15 anos, a imunização de 14 milhões de cabeças de 52 municípios será suspensa após a campanha marcada para 15 de abril/15 de maio. No Mato Grosso, receberão a última dose

Cronograma nacional de erradicação da aftosa Bloco

I II

III

IV

V

Estados

Suspensão Vacina

Acre, Rondônia e Paraná; municípios do Amazonas Junho - 2019 e do Mato Grosso Amazonas, Amapá, Pará junho/20 e Roraima Alagoas, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernamjunho/20 buco, Piauí e Rio Grande do Norte Bahia, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Minas Gerais, Rio de Jajunho/21 neiro, São Paulo, Sergipe e Tocantins; Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rio Grande do junho/21 Sul e Santa Catarina.

Fonte: Mapa. Adaptado DBO.

Anuário DBO 2019

Reconhecimento Reconhecimento pelo Mapa e OIE encaminhamento à OIE. 2º Semestre 2020

1º Semestre 2021

2º Semestre 2021

1º Semestre 2022

2º Semestre 2021

1º Semestre 2022

2º Semestre 2022

1º Semestre 2023

2º Semestre 2022

1º Semestre 2023

cerca de 28.000 animais de cinco municípios: Aripuanã, Colniza Comodoro, Juína e Rondolânia. “Os 13 municípios do Amazonas previstos para seguir o bloco I (Apuí, Novo Aripuanã, Manicoré, Humaitá, Canutama, Lábria, Boca do Acre, Pauini, Envira, Eirunepê, Ipixuna, Guajará e Itamarati), ainda aguardam definições das autoridades sanitárias estaduais para realizar a derradeira imunização”, explica Fabiano Alexandre dos Santos, gerente de Defesa Sanitária Animal da Agência de Defesa Sanitária Agrosilvopastoril de Rondônia (Idaron). Contagem regressiva – No Acre, que já é livre da doença com vacinação desde 2005, cerca de 1,2 milhão de bovídeos com até 24 meses (40% do rebanho estadual) receberão a última dose em maio. “Após essa campanha, a doença será considerada erradicada em todos os 22 municípios”, afirma Mário César Souza de Araújo, gerente de Defesa Sanitária Animal do Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal no Acre (Idaf). Ainda há metas determinadas pelo Mapa que devem ser cumpridas pelo Estado até o mês de março. “Precisamos melhorar as estruturas físicas e instalações das Unidades Veterinárias Locais e dos Postos de Fiscalização e concluir o processo de geolocalização de 100% das propriedades”, elenca o gerente do Idaf. O Acre faz fronteira com a Bolívia, que retirou a vacina em 2017, e com o Peru, que já é livre da aftosa sem vacina há mais de quatro anos. O Paraná vai imunizar cerca de 4,2 milhões de bovinos de até 24 meses (50% do rebanho total) pela última vez. Mesmo antecipando a retirada da vacinação, o Estado continuará integrando o Bloco V, junto com o Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul e Santa Catarina, onde, segundo o cronograma oficial, a vacinação será suspensa a partir de maio de 2021 (com exceção de Santa Catarina que já é livre sem vacinação). “Já auditamos o Estado por duas vezes e o avaliamos positivamente. O que lamentavelmente não foi possível, até o momento, para o Rio Grande do Sul, onde ainda fo-


Saúde Animal

Aftosa

Nenhum produtor deve suspender a vacinação por conta própria ram encontrados pontos de inconformidade relevantes e recomendados novos planos de ação”, explica Guilherme Marques. Esse Estado pode seguir tentando furar a fila, e o sucesso da empreitada, segundo o ex-diretor do DSA, dependerá, prioritariamente, de ações do governo e do setor privado, como fez o Paraná Segundo Rafael Gonçalves Dias, gerente de Saúde Animal da Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar), foi montado um forte esquema de fiscalização no norte paranaense, que faz fronteira com São Paulo e Mato Grosso do Sul. “Foram construídos postos fixos de controle de trânsito, com equipes que lá permanecerão dia e noite. Estamos concluindo também um processo de contratação de 35 médicos veterinários para reforçar o contingente de 838 técnicos gasparim_revistaDBO_nutrição_12x18,6cm_5.pdf na Adapar”, afirma. Nos últimos1

anos, o Paraná recebeu do Governo Federal 17 postos de fiscalização de trânsito agropecuário, reformou nove e construiu quatro unidades. “A partir de agora, conforme orientação do DSA/Mapa, vamos definir os corredores de acesso para as cargas suscetíveis, proibir a entrada de bovinos e bubalinos vacinados e controlar o acesso das demais espécies (caprinos, suínos e outros animais considerados sentinelas) ”, completa. Orientação aos pecuaristas – Guilherme Marques, que esteve à frente do DSA/Mapa entre 2010 e 2018, chama a atenção dos pecuaristas para o cumprimento dos prazos. “Nenhum produtor deve suspender a vacinação por conta própria. No momento oportuno, todos serão comunicados pelas autoridades sanitárias”, alerta. A partir da suspensão da vacinação, o medicamento será retirado das lojas e quem continuar usando será autuado e multado. “Está prevista toda uma estrutura para acompanhar e orientar os produtores, além de refor17/01/2019 16:03:05

ço do sistema de vigilância clínica epidemiológica”, diz Marques. Conforme estimativas da Divisão de Febre Aftosa (Difa) do Mapa, em 2019 deverão ser utilizadas 308 milhões de doses (10 % menos que em 2018). Essa quantidade deverá cair para 269 milhões em 2020 e 155 milhões em maio de 2021, zerando em 2022. Mesmo com a redução da demanda está em desenvolvimento o Banco de Vacinas e Antígenos (Banvaco), sob a coordenação do Centro Pan Americano de Febre Aftosa (Panaftosa), que vai manter um estoque estratégico de 50 milhões de doses (média histórica), ao qual os países poderão recorrer em caso de eventuais emergências sanitárias. “Vamos manter as indústrias funcionando para a produção somente de vacinas de 2 ml, já que a última campanha com doses de 5 ml foi realizada em 2018. Em 10 anos, a expectativa é de que tenhamos apenas capacidade de resposta (vírus biocontidos para produção rápida em caso de eventuais focos) e não mais vacinas prontas”, explica o técnico. n

C

M

Y

CM

MY

CY

CMY

K

Anuário DBO 2019


Saúde Animal Por Mônica Costa

Outras Doenças

Controle estratégico Governo Federal e Estados afinam estratégias de combate à brucelose bovina e à tuberculose animal

N

o ano passado (até 7/12), foram aplicadas 19.691.910 doses de vacina B19 (contra a brucelose) e 386.775 doses de RB51 (tuberculose) no País, dentro do Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose Animal (PNCEBT). Os números estão dentro do previsto pela Divisão de Sanidade de Ruminantes (DSR) do Departamento de Sanidade Animal do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (DSA/Mapa). De acordo com Valéria Burmeister Martins, diretora do setor, apesar da liberação do uso da RB51 em bezerras de 3 a 8 meses, a quantidade de doses aplicadas ainda é pequena, em relação à B19. “A falta de insumos para a realização de testes de diagnóstico tem afetado o avanço do uso da RB51”. Segundo Valéria, o déficit é consequência do fim da produção dos kits de diagnósticos de brucelose e tuberculose bovina pelo Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar) em 2017, responsável, até então, por 95% da produção nacional. A expectativa é que a situação seja revertida em 2019 com a habilitação de dois laboratórios para a produção de tuberculinas (um deles deve iniciar a produção em janeiro) e de outras duas empresas interessadas em importar tuberculinas e antígenos para os diagnósticos de brucelose e tuberculose. Outro obstáculo apontado por Valéria é o custo da RB51. “Ela é mais eficiente porque não deixa resíduos no animal e evita o risco de diagnósticos falso-positivos, como acontece com a B19. Mas seu preço ainda é três vezes maior que o da B19; por isso, a demanda ainda é tímida”. A certificação avança A vacinação contra a tuberculose não é uma medida prevista no PNCEBT, que adota apenas a eliminação dos animais diagnosticados positivos. Em 2018, foram 1964 propriedades certificadas como livres de brucelose e tuberculose, com destaque para o RS, com 1.500 propriedades, seguido por SC (436), PR (58), SP (28), MG (19) e BA (17), Estados que já registram baixa prevalência de uma ou ambas as doenças, que possuem fundos de indenização de defesa sanitária animal e onde há parceria com a iniciativa privada para o avanço do PNCEAnuário DBO 2019

BT. As certificações só aumentaram em estados que adotaram medidas diferenciadas, como SC e RS. “Salientamos a necessidade de estímulo financeiro ao produtor, bem como outras condições que favoreçam o processo de certificação de propriedades livres, como legislação estadual adequada e fundos de indenização”, adverte Valéria. Tanto a brucelose quanto a tuberculose são doenças crônicas, que demandam muito tempo para serem erradicadas. Além disso, a heterogeneidade da prevalência das doenças, das características e medidas adotadas por cada unidade federativa interfe-

Distribuição de vacina contra a brucelose* Estado AC AL AM AP BA CE DF ES GO MA MG MS MT PA PB PE PI RJ RN RO RR RS SC SE SP TO Total

B19 278.630 39.550 28.600 42.325 530.335 16.125 14.985 58.970 1.991.975 555.075 2.374.915 2.218.080 3.895.410 1.797.075 15.625 112.550 48.475 90.425 22.850 1.946.700 44.475 1.313.015 2.500 17.800 903.155 629.950 19.691.910

RB51 3000 7600 0 0 12650 6300 0 1500 18000 1000 66125 20375 39225 32275 300 3875 18500 8450 4000 16250 0 40275 12250 825 33175 13150 386.775

*Até dia 7 de dezembro Fonte: Divisão de Sanidade de Ruminantes (DSR/ DSA / Mapa). Adaptado DBO

rem neste processo; por isso, segundo a diretora da DSR, ainda é difícil estabelecer um prazo para a erradicação. O Mapa instituiu, através da Portaria SDA nº 74/2018, um grupo de trabalho para avaliar a Instrução Normativa 10/2017, que regulamenta o PNCEBT. Embora o documento afirme que não há necessidade de alterações no programa, foram elencados alguns fatores que precisam de atenção, que serão revelados a partir do Diagnóstico Situacional do PNCEBT. Mapeamento das doenças Conforme Valéria Martins, o relatório será como uma fotografia que permitirá compreender a situação sistêmica do programa em todo o País, conhecer a realidade e as características de cada estado, de modo que as informações possam subsidiar a adoção de medidas mais apropriadas às diferentes realidades. Além disso, o projeto visa agrupar as unidades federativas para fins de estabelecer estratégias de controle e erradicação da brucelose e tuberculose adequadas a cada perfil diagnosticado. “O mapeamento e a classificação do grau de risco da situação epidemiológica de cada estado brasileiro são pontos importantes para aumentar a efetividade na difusão e conscientização da necessidade de vacinação de animais contra brucelose. Com essa ação, poderemos escolher as melhores estratégias de atuação, com base na frequência e na distribuição da doença nas populações estudadas e também direcionar tempo e recursos para a obtenção de vacinas de maior eficácia e que não provoquem interferências nos exames sorológicos”, assegura Valéria. Elaborado com a participação da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), Abraleite (Associação Brasileira dos Produtores de Leite) Panaftosa (Centro Panamericano de Febre Aftosa), Fonesa (Fórum Nacional dos Executores de Sanidade Agropecuária) e CFMV (Conselho Federal de Medicina Veterinária), o relatório foi entregue para o Departamento de Sanidade Animal (DSA/Mapa) em dezembro passado e seus resultados serão divulgados no primeiro semestre de 2019. n


Saúde Animal Estratégias Sanitárias

Começa uma nova era Superada a barreira da aftosa, o desafio deixa de ser uma doença e passa a ser a saúde única.

N Iveraldo Dutra* Professor titular de enfermidades infecciosas da Faculdade de Medicina Veterinária da Unesp, campus de Araçatuba, SP.

* Esse artigo tem como coautora Ana Carolina Borsanelli, doutoranda na Faculdade de Medicina Veterinária da Unesp/ Araçatuba, SP.

a iminência de se consolidar o programa de erradicação da febre aftosa nos rebanhos, retirando estrategicamente a vacinação, surge um cenário de mudanças promissoras para a pecuária brasileira nas questões relacionadas à saúde animal. Livres da principal barreira sanitária, e que mantém por décadas a vacinação anual compulsória na quase totalidade dos rebanhos, os programas sanitários voluntários tendem a uma nova e desafiadora racionalidade jamais vivenciada pelos pecuaristas. Pela obrigatoriedade, a vacinação contra aftosa nos meses de maio e novembro tornou-se referência para a maioria das outras ações sanitárias preventivas populacionais. Nesse contexto, a melhor estratégia definida pela defesa sanitária animal para o combate à febre aftosa não é, necessariamente, a mesma para a maioria dos outros problemas sanitários que ocorrem nas fazendas brasileiras. Surge então a oportunidade de se racionalizar os programas sanitários com fundamentação em dois critérios técnicos: a região em que está situada a propriedade, pois isso define os riscos sanitários das enfermidades mais importantes, e a realidade e necessidade de cada sistema de produção; neste caso, estabelecidas a partir de um bom diagnóstico de situação. Os desafios que se impõem não são complexos à primeira vista. Afinal, são extraordinárias as evoluções na genética, nas biotécnicas da reprodução, nutrição, manejo e conhecemos com relativa profundidade a maioria dos problemas sanitários que nos causam prejuízos. Por outro lado, dispomos de

Segundo o IBGE, a mortalidade anual nas fazendas brasileiras é de 8%.

Anuário DBO 2019

excelentes tecnologias e aprendizados que dão suporte às necessidades para se tratar, controlar, prevenir ou mitigar os riscos das doenças. Na atualidade, pode-se evidenciar com bastante segurança e destaque o fato dos pecuaristas reconhecerem o valor das empresas de insumos para a saúde animal, dos técnicos (veterinários, agrônomos, zootecnistas) e do resultado do bom uso das tecnologias. Além de positiva, esta realidade tem valor robusto quando se trata da saúde animal, pois compõe alguns dos critérios que a Organização Internacional para a Saúde Animal (OIE) emprega para avaliar os serviços e a governança veterinária. Revisão de indicadores – Na evolução natural dos programas, o emprego de protocolos sanitários ganhou destaque nos últimos anos, pois procuram controlar problemas sanitários de forma integrada e com racionalidades interessantes. Quando bem fundamentados, os protocolos compõem medidas que auxiliam na prevenção e redução de riscos de doenças que afetam o desempenho, a taxa de mortalidade e a reprodução animal, com boa relação entre custo e benefício. Nessa racionalidade, quando bem planejado e executado, em conjunto com outras medidas sanitárias dos programas preventivos, evitam o emprego desnecessário de recursos, reduzem a morbidade e mortalidade de doenças e melhoram significativamente o desempenho e a reprodução animal. Interessante ressaltar que, embora os programas sanitários representem em torno de 3-5% dos custos de produção, eles são decisivos para o sucesso da atividade, para o bem-estar animal, qualidade da carne e acesso aos mercados. Reformular as estratégias sanitárias a partir das fazendas é ainda uma oportunidade de se rever também alguns indicadores que contribuem para o baixo desfrute da atividade. Segundo o IBGE, a mortalidade anual nas fazendas brasileiras é de 8%. Com efeito, morrem anualmente cerca de 16 milhões de cabeças de gado. A cada dez anos perdemos cerca de 80% do estoque anual de gado nas fazendas. Além do prejuízo econômico, a permanência dos cadáveres nas pastagens contribui para a intensificação da contaminação ambiental por bactérias que se multiplicam nas carcaças e colocam em risco as aguadas, alimentos e forragens produzidas nessas áreas. Não por acaso, a vacinação contra o botulismo, e também contra outras clostridioses, passará a ser a principal prática sanitária preventiva nos reba-


Saúde Animal

Estratégias Sanitárias

“É preciso fortalecer o diálogo entre produtores, frigoríficos e a indústria” nhos brasileiros após a retirada da vacinação contra a febre aftosa. Embora seja voluntária, a vacinação contra o botulismo é uma prática considerada necessária em qualquer rebanho brasileiro, independente da região e sistema de produção. Além de reduzir os riscos de mortalidade, a vacinação diminui a contaminação ambiental pelo Clostridium botulinum, que é a bactéria produtora da toxina botulínica. Dentre outras ações necessárias para se fortalecer a saúde animal no País, pode-se enumerar a ampliação da rede de laboratórios e práticas de diagnóstico veterinário, com um sistema de informação que possibilite conhecer com dados reais a saúde animal nos rebanhos, facilitar o acesso dessas informações pelos produtores e técnicos e auxiliar na tomada de decisões. Da mesma forma, nesse cenário deve-se ampliar e fortalecer o diálogo entre os produtores, frigoríficos e a indústria de saúde animal diante das exigências contemporâneas, como o emprego racional de antibióticos para a promoção da

Com o fim da vacinação contra a aftosa, os produtores devem se preocupar com o controle das demais doenças

saúde, os desafios ambientais da atividade, a mitigação de riscos para ocorrência de patógenos e riscos potenciais e a observação do período de carência dos produtos veterinários. Enfim, para quem sonhava que a erradicação da febre aftosa seria o passaporte imediato para acesso a todos os mercados, inicia-se uma nova era em que o desafio deixou de ser uma doença e passa a ser a saúde única. n

Anuário DBO 2019


Saúde Animal Por Mônica Costa

Indústria Veterinária

Setor dribla a crise e avança Mercado volta a crescer no patamar de 10% em 2018 e quer manter o ritmo em 2019

O

mercado brasileiro de produtos para saúde animal voltou a registrar crescimento bastante expressivo em 2018, considerando os percalços que o setor (e toda a economia) enfrentou. A indústria faturou R$ 5,8 bilhões no ano passado, 10% acima do obtido em 2017, quando arrecadou R$ 5,3 bilhões. “Apesar da greve dos caminhoneiros, conseguimos superar as expectativas e voltar a crescer na casa dos dois dígitos”, afirma Emílio Salani, diretor-executivo do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal (Sindan), entidade que reúne mais de 80 laboratórios, responsáveis por mais de 95% da produção e comercialização no País.

Pecuária lidera – Os problemas de logística e fornecimento de insumos ocorridos por causa da greve dos caminhoneiros no 1º semestre provocou atrasos generalizados na distribuição de produtos veterinários durante algumas semanas e impactou os negócios entre maio e junho de 2018. Apesar disso, o resultado do ano, que ficou bem acima dos 7% projetados por Salani no Anuário DBO 2018, foi o melhor desde 2015, quando o setor registrou avanço de 11% em faturamento. Embora registre o menor crescimento entre as categorias de proteína animal na demanda por produtos veterinários, a pecuária ainda lidera a partici-

pação no setor com pouco mais de 50% (veja tabela). O aumento das exportações de carne bovina (cerca de 12%) foi um contraponto importante para manter o ritmo de crescimento da indústria veterinária. Os pecuaristas, com expectativa de melhores ganhos, seguiram investindo no manejo sanitário e reprodutivo dos rebanhos, como já observado em anos anteriores. “Temos registrado aumentos gradativos na demanda por pacotes sanitários para IATF (Inseminação Artificial em Tempo Fixo) e por novos terapêuticos com menos resíduos e, portanto, período de retirada mais curto”, aponta Salani. A indústria tem trabalhado intensamente para oferecer opções modernas que contribuam para maior proteção dos animais e aumento da produtividade. “Esse foco é constante. A presença de um grande contingente de médicos veterinários e zootecnistas no campo, levando informações e conhecimento aos produtores, também ajuda nesse trabalho de disseminação das novas tecnologias”, completa. “Entre as classes terapêuticas, é indiscutível o crescimento da importância do segmento de produtos biológicos (vacinas). Os pecuaristas percebem, cada vez mais, que a proteção dos bovinos contra enfermidades twm relação custo-benefício positiva e proporciona aumento da produtividade”. Merece destaque, também, o segmento de ecto e

Participação por categoria animal no mercado brasileiro de produtos veterinários (%) 2016

2017

2018

Ruminantes

54,7

55,3

54

Animais de companhia

17,6

18,5

20

Avicultura

14,1

13,2

13

Suinocultura

11,2

10,9

11

Outras espécies

2,4

2,2

2

Fonte: Sindan - Janeiro a novembro de 2018 - Adaptado DBO

Anuário DBO 2019

endoparasiticidas, com crescimento de 16%, ressaltando a importância do manejo de prevenção em busca de ganhos produtivos. Novos desafios – Em 2019, cerca de 20 milhões de doses de vacinas antiaftosa deixarão de ser aplicadas, de acordo com a programação estabelecida pelo Plano Nacional de Erradicação da Febre Aftosa (PNEFA), que prevê a suspensão da vacinação nos estados do Bloco 1 (Rondônia e Acre) e no Paraná, após a campanha de maio. “Importante destacar que essa é uma decisão sem volta. Os pecuaristas continuarão reunindo o gado para imunizá-lo contra parasitas, clostrídios e outros desafios sanitários?” provoca Salani, alertando para os riscos de perda dos índices de produtividade. “Eles têm de estar conscientes para a necessidade de manejar os seus rebanhos, com o intuito de estabelecer tratamentos e controles contra as enfermidades”, completa. Outra mudança que envidou esforços do setor foi a redução das doses de 5ml para 2ml e a retirada do vírus C, o que representou novos investimentos para o desenvolvimento de uma nova vacina. “Esse processo exigiu uma série de aportes dos fabricantes, estimados em R$ 50 milhões. A indústria trabalhou 18 meses somente para a produção dessa nova vacina, incluindo partidas-piloto, inventário e custos de controle”, diz o executivo. As novas


Saúde Animal

Indústria Veterinária

Evolução do faturamento da indústria veterinária (em bilhões R$)

embalagens (contendo número menor de doses menores) também representam novos custos. O repasse dos valores é uma decisão estratégica de cada fabricante. Por outro lado, a retomada da economia sinaliza bons ventos para o setor. “Segundo a ABIEC (Associação

Anuário DBO 2019

Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne e a ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal), 2019 será um ano de crescimento das exportações das proteínas animais – carne bovina, suína e de frangos. Em se confirmando essa previsão, é um indicador positivo para a cadeia produtiva como um todo, inclusive para a indústria veterinária”, diz o diretor-executivo. No âmbito interno, há expectativa de retomada do crescimento econômico, redução do desemprego e consequente aumento do consumo de proteínas animais, fatores importantes, na avaliação de Salani, para o bom desempenho da cadeia, com reflexos diretos nos insumos. A assinatura do convênio entre o Sindan e a Fundação Eliseu Alves, dos funcionários da Embrapa, vai acelerar o processo de análise dos registros de produtos para saúde animal no País. Antes, os pedidos para registro eram encaminhados pelas indústrias fabricantes para o Ministério da Agricul-

tura, Pecuária e Abastecimento e as análises dos processos eram feitas pelos próprios auditores-fiscais federais agropecuários da pasta, acarretando atrasos devido ao acúmulo de pedidos. Agora os auditores agropecuários realizam as pré-análises de conteúdo nos dossiês e, em seguida, enviam para os pareceristas da Fundação, que farão as análises técnicas dos estudos. Após a emissão dos pareceres técnicos, eles serão devolvidos ao Mapa, para aprovação ou não. “Este procedimento irá acelerar, e muito, o andamento dos processos. Trata-se de uma conquista muito importante para a indústria veterinária brasileira”. Com o acordo, a análise dos dossiês torna-se mais ágil. Com isso, novas opções de medicamentos chegarão ao mercado em prazo consideravelmente inferior ao atual. Dessa forma, a indústria agiliza a oferta de novas tecnologias para o setor produtivo e, assim, contribui ainda mais para o controle, a cura e a proteção dos animais. n


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.