Revista DBO 412 - Fevereiro 2015

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Nossos Assuntos

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Demétrio Cos

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De um ano para outro, um salto de 60% na produção e de quase 70% no lucro. Esta é a síntese dos resultados exibidos em detalhe pelo repórter Fernando Yassu em relação à Fazenda Minuano I, de Cacoal, Rondônia, que visitou para a reportagem de capa desta edição. Com pouco mais de 1 mil hectares, a propriedade de Denyse e Marco Antonio Azevedo, dedicada à recria e engorda em sistema de rotação de pastos, já havia registrado a boa marca de 9,6 arrobas ha/ano na temporada 2012-2013, quando mandou para o abate 537 cabeças, metade do rebanho. Animados com o desempenho de um pequeno lote suplementado nos últimos dois meses de engorda, no ano seguinte eles estenderam a suplementação de alto consumo no mesmo período a todo o gado em terminação, elevando para 1.026 o número de cabeças entregue ao frigorífico. Mesmo com o gasto pesado na ração preparada sob medida, o lucro por ha/ano saltou de R$ 307 para R$ 519. E como os animais puderam ir para o abate três meses antes, a lotação da fazenda também subiu cerca de um terço.

Panorama

Na previsão da CNA, PIB da pecuária terá novo salto. No MS, Centro de Excelência será escola exclusiva da pecuária. Cria e ciclo completo ganham do leite em rentabilidade

Colunistas

Coluna do Cepea – 2014 foi o ano da cria. Rogério Goulart – “Plante” seu próprio boi magro Enrico Ortolani – Por que os zebuínos têm menos carrapatos Augusto Ribeiro – Como lucrar na posse da terra

Conjuntura

Demanda por carne se retrai, mas arroba cede pouco. Preços da reposição sobem, mas tendência é de baixa.

Negócios

O paulista Frigol segue em trilha mais segura

Seções

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Outro destaque da edição, também na área de engorda, está na reportagem de Ariosto Mesquita e Maristela Franco sobre o DDG, resíduo de grãos secos de destilaria de milho largamente utilizado nos confinamentos norte-americanos e que começa a ser adotado no Brasil com a instalação das primeiras usinas de produção de etanol de milho. Ele pode substituir, com vantagem de preço, o farelo de soja e parte do próprio milho na formulação das dietas. Por fim, o repórter Denis Cardoso apresenta e repercute estudo feito pelo professor José Bento Sterman Ferraz, da USP de Pirassununga, SP, sobre velhos e famosos touros Nelore que continuam com sêmen à disposição no mercado, alguns entre os mais caros, e que, no entanto, nada têm mais a oferecer como genética, ao contrário. São reprodutores que estariam hoje com mais de 20 ou 30 anos, como se não tivesse havido melhoramento de lá pra cá. demetrio@revistadbo.com.br

Nutrição

DDG, novo subproduto para os cochos de confinamento. Dan Loy revela em entrevista o novo perfil do DDG nos EUA

Capa 36

Meio Ambiente

No “Produzindo Certo”, ganha fazenda que investe nos funcionários.

Especial Vitrine Tecnológica IATF Falta de chuva deixa a Santo Antônio em alerta

Criação

Touro velho não faz rebanho bom, diz professor da USP. Teste mostra carne de cruzados Simental parelha à dos Angus

Bem-estar

Intensificação, com pastejo rotacionado, amansa o gado.

Seleção

Com perfil mais funcional, Jamil Deud Júnior reinventa o Charolês.

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Panorama Notas Raças em notícia

Sem problema de seca, fazenda de Rondônia investe no pasto, com adubação, e nos animais, com suplementação de alto consumo. Resultado: lucro de R$ 1 milhão. Lay-out: Edgar Pera Arte final: Edson Alves Foto: Fernando Yassu (garrotes cruzados Angus x Nelore em recria na Fazenda Minuano I)

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Pastagens

Tamani, o primeiro panicum híbrido lançado pela Embrapa.

Leilões

Senepol é destaque em janeiro; trimestre promete ser bom.

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Empresas e Produtos Sabor da Carne



Esta seção traz destaques do Portal DBO. Acesse:

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Mantenha-se atualizado diariamente sobre as principais notícias de interesse da pecuária e das cadeias produtivas da carne e do leite por meio do Portal DBO. Além do acesso eletrônico ao conteúdo das publicações da Mídia DBO, você tem no Portal entrevistas exclusivas em áudio e vídeo, matérias especiais, cotações, fórum, artigos técnicos, noticiário sobre raças e gente e negócios. E mais: a cobertura exclusiva do mercado de leilões em todo o País no caderno Jornal de Leilões.

n Bastidores da Capa

A reportagem de capa mostra como a Fazenda Minuano I, de Cacoal, RO, conseguiu ampliar a produção de arrobas em mais de 50% com a suplementação de alto consumo na fase final da engorda e de investimentos em adubação do pasto. A reportagem é de Fernando Yassu.

n Notícias

Exportação de gado vivo recua 6% em 2014 Principal cliente brasileira, Venezuela teve crescimento tímido e Líbano registrou queda expressiva.

n Raças

Inscrições abertas para Circuito 100% PMGZ Programação itinerante terá início em fevereiro, em Recife, PE.

n Frigorífico São João é novo parceiro do Carne Angus Certificada Bonificação chega a 13,5% e valoriza animais castrados n Gente e negócios

Arnaldo Jardim assume Agricultura Engenheiro é novo titular da secretaria no Estado de São Paulo

Terraviva DBO na TV

Acompanhe de segunda a sexta, às 6h30 e às 19h30, pelo Canal Terraviva, as edições do Terraviva DBO na TV. Sob o comando de Sidnei Maschio, o programa traz a análise crítica dos principais temas da pecuária, além de entrevistas e acompanhamento dos mercados de insumos, reposição e a evolução dos negócios com o boi gordo nas principais praças pecuárias do País.

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DBO fevereiro 2015

Publicação mensal da DBO Editores Associados Ltda. Rua Dona Germaine Burchard, 229 Perdizes, São Paulo – SP – 05002-900 Tel.: 11 3879-7099 www.portaldbo.com.br Diretores Daniel Bilk Costa, Demétrio Costa e Odemar Costa. Diretor Responsável Demétrio Costa Redação Editor executivo Moacir de Souza José Editora Assistente Maristela Franco Repórteres Carolina Rodrigues, Denis Cardoso, Fernando Yassu e Mônica Costa. Colaboradores Alcides Torres Jr., Ariosto Mesquita, Augusto Ribeiro Garcia, Enrico Ortolani, Marcela Caetano, Rogério Goulart, Sergio de Zen e Tânia Rabello. Arte Editor Edgar Pera Editoração Edson Alves e Célia Rosa Coordenação Gráfica Walter Simões Marketing/Comercial Gerente Rosana Minante Supervisora de Vendas Marlene Orlovas Executivos de Contas Andrea Canal, José Geraldo S. Caetano e Vanda Motta Circulação e Assinaturas Gerente Edna Aguiar ISSN 2317-7799 Impressão e Acabamento Prol Editora Gráfica Ltda. Tiragem: 20 mil exemplares



Do Leitor Arroba nos EUA

Engorda padrão EUA

Chamou-me muito a atenção nota publicada na seção “Panorama” da edição de novembro, página 14, com o título “Céu de brigadeiro para os exportadores de carne”. Ali foi escrito que a arroba do boi norte-americano equivaleria a R$ 103, menos do que valia no Brasil na mesma época! Quando isso acontecer deixaremos de ser um país exportador de carne, sem possibilidade de competir com os preços internacionais. Seria céu de tempestade e não de brigadeiro! O preço da carne nos EUA é divulgado como preço do gado vivo, que é o valor que se refere na nota, US$ 135 por 100 libras de peso vivo (live steer), ou preço da carcaça (dressed steer), que, em dezembro, já ia a US$ 257 por 100 libras de peso vivo (valores atualizados podem ser vistos no site http://www.ams.usda. gov/mnreports/lsddcbs.pdf). Assim, o valor da arroba do boi gordo norte-americano (com o dólar a R$ 2,50) seria de R$ 212,70 e não R$ 103, como apresentado na coluna. Luís Felipe Prada e Silva

Achei muito interessante a reportagem de capa da DBO de dezembro, “Engorda padrão EUA”, sobre sobre recria em confinamento. Acho que este será o futuro de nossa pecuária, principalmente para a Região Centro-Oeste , onde os grãos são mais baratos. Achei, porém, que o ganho de peso dos Nelore de recria, de 1,17 kg/dia, é muito baixo, denotando que a fazenda vem dando prioridade, na compra dos bezerros, mais ao preço do que à qualidade. Tenho certeza de que, com uma genética melhor, esse ganho poderá chegar a, no mínimo, 1,8 kg/dia, podendo alcançar 2 kg com animais de cruzamento industrial. É o que temos obtido em nosso confinamento. José Airton Pereira

Pirassununga, SP

N.R.: Agradecemos a correção do equívoco. O valor citado pelo leitor é o do dia 17 de dezembro, quando a mensagem chegou à Redação.

Dica do colunista Ao ler a coluna de Rogério Goulart, na edição de dezembro (DBO 410), interessei-me pelo distribuidor de sal e mata-burros em concreto que ele cita. Gostaria de saber onde encontrar esses equipamentos, que, a meu ver, também melhoram a produtividade nas fazendas. Leonardo Zem Pinhais, PR

O colunista responde: O mata-burros foi concretado na fazenda, mas a forma de metal foi comprada da Ecopontes, de Presidente Prudente, SP, site www.ecopontes.com.br/mata-burro. Já o distribuidor de ração é da empresa Casale, modelo Feeder; o link é http://www.casale. com.br/produtos/outros/feeder-col-sc. Já os cochos para ração em concreto foram colocados na fazenda pela empresa Tenax, de Mineiros, fone (64) 9906-9305 (senhor Ulisses). 8 DBO fevereiro 2015

Belo Horizonte, MG

N.R.: Os responsáveis pela compra de gado para o confinamento da Fazenda Bragança dizem que a prioridade é sempre a aquisição de animais jovens, mas que nem sempre é possível seguir à risca essa estratégia e que, de fato, há casos em que o preço é fator preponderante na decisão de compra. Como foi informado na pág. 47 da referida reportagem, ofertas atrativas de preços fazem com que a fazenda adquira de terceiros animais mais erados e de origem leiteira (os mestiços, chamados de GOL).

Correção O número de participantes do Encontro de Analistas da Scot Consultoria, realizado em São Paulo, no auditório da Dow AgroSciences, dia 28 de novembro, reuniu 275 participantes, de 15 Estados brasileiros, e não 235, como saiu publicado na reportagem da seção “Panorama”, publicada na pág. 10 da edição de dezembro/2014. Este espaço é seu Envie suas dúvidas, comentários, sugestões ou críticas para: redacao@revistadbo.com.br ou Revista DBO, Rua Dona Germaine Burchard, 229 Perdizes – São Paulo, SP CEP: 05002-900



panorama Agronegócio vai segurar PIB CNA destaca a expansão nas atividades do setor pecuário, cujo Valor Bruto da Produção pode crescer 18% este ano, para R$ 192,1 bilhões. n Denis Cardoso

denis@revistadbo.com.br

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Estimativa do VBP em 2014 e projeção para 2015 – em R$/bilhões

s recentes medidas macroeconômicas adotadas pelo governo federal, que estabeleceu ajustes em setores da economia brasileira, como na área fiscal, não devem afetar o mercado do agronegócio, setor que, mais uma vez, vai assegurar o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil em 2015. Essa é a expectativa da Confederação da Agricultura e PeCrescimento do PIB do Agronegócio em 2014* cuária do Brasil (CNA), que, no (em milhões de reais) fim do ano passado, divulgou o seu balanço de 2014 sobre os diversos segmentos do agronegócio, além de fazer previsões para este ano. Na carta de abertura do trabalho da CNA, a então presidente da entidade, Kátia Abreu, que este ano assumiu o cargo de ministra da Agricultura (transferindo o comando da *Dados até outubro/2014 CNA ao então vice-presidente, João Martins), diz que o Brasil ficou, em Previsão de crescimento forte para a pecuária 2014, “entre os dez maiores produtores e exportadores mundiais de grãos e carValor Bruto da Produção(1) nes”, e que o PIB do agronegócio fechou 20152 20143 2013 o ano com “crescimento quase dez vezes Agronegócio 463,2 450,8 424,8 superior ao projetado pelo Fundo MoneAgricultura 271,0 287,0 272,5 tário Internacional (FMI) para a economia brasileira em igual período”. Pecuária 192,0 162,9 152,3 Segundo a CNA, o PIB do agronegóBovinos de corte 95,3 74,6 65,4 cio deve crescer 3,8% em 2014, atingin(1)Resultado da multiplicação do volume pelo preço de do R$ 1,133 trilhão, enquanto o PIB do venda, em bilhões de reais; (2) Previsão; (3) Estimativa, com dados até outubro/2014. Fonte: CNA Brasil apresentará aumento anual abaixo de 0,5%, alcançando em torno de R$ 4,86 trilhões. Para 2015, de acordo com causa do peso das vendas externas, dada a previsão da CNA, o PIB geral do País se alta competividade do agronegócio no merexpandirá cerca de 1%, com destaque, cado mundial”, aponta o relatório. No entanto, a CNA faz ressalvas em renovamente, para o agronegócio. “O setor deverá sentir com menor intensidade lação ao câmbio, que se deve manter desvao impacto das medidas econômicas, por lorizado, pressionado os custos, já que gran-

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de parte dos insumos agrícolas é precificada em dólar. “Esse fato deve pressionar a rentabilidade dos produtores”, prevê. Mas “há a possibilidade de equilíbrio da rentabilidade dos produtores com o crescimento esperado das exportações do agronegócio, pois as receitas também são fixadas em dólar”. Valor da produção _

O Valor Bruto da Produção (VBP) agropecuária cresceu 6,1% em 2014, para R$ 450,8 bilhões, em relação a 2013, segundo a CNA. Em 2014, a bovinocultura de corte foi o destaque, com 14% de crescimento no VBP, com R$ 74,7 bilhões. No leite, o aumento do VBP em 2014 foi de 6%, para R$ 38 bilhões. No geral, o VBP do setor pecuário teve elevação de 7% no ano passado, na comparação com 2013, para R$ 163,05 bilhões. Para 2015, a CNA projeta aumento para o VBP da agropecuária, atingindo R$ 463,2 bilhões, o que significaria elevação de 2,7% sobre 2014. “O desempenho da cafeicultura e da pecuária vai garantir mais um resultado positivo”, prevê. Para a pecuária, projeta-se expansão de 18% no VBP, e faturamento de R$ 192,1 bilhões. O resultado será impulsionado pelas receitas previstas para as carnes bovinas e suína. Para a bovina, estima-se aumento de 27,6% no VBP, para R$ 95,3 bilhões, com a valorização do boi gordo. “A expectativa é a de que a aceleração das cotações do boi gordo prossiga no início de 2015, já que é esperado crescimento do consumo interno e da demanda para exportação.” n



Panorama | Ensino

Pecuária terá escola exclusiva Pedra fundamental do Centro de Excelência em Pecuária de Corte será lançada em março, no MS. n Ariosto Mesquita

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m dos destaques da Dinapec 2015 _ feira dinâmica agropecuária entre 11 e 13 de março, na Embrapa Gado de Corte, em Campo Grande, MS _ será o lançamento oficial das obras do Centro de Excelência de Educação Profissional Tecnológica em Bovinocultura de Corte. A estrutura, a cargo do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar-MS), ocupará 3,8 hectares dentro da própria Embrapa, que cedeu, em comodato, a área ao Senar por 20 anos. Após concluídas as obras, ali funcionará uma escola para formar técnicos do ensino médio especializados em pecuária de corte. Conforme o coordenador da Unidade de Inovação e Conhecimento do Senar-MS, Roberto Murillo Mathias Costa Júnior, o centro demandará R$ 9 milhões, obtidos por financiamento no BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). “Serão construídos sete blocos para uso pedagógico e laboratorial e mais um bloco multiúso para atividades práticas, como utilização e operação de máquinas e equipamentos”, revela. “As obras começam logo em seguida e nossa previsão é concluí-las ainda em 2015, promovendo a seleção da primeira turma até dezembro e com início das aulas em 2016”, prevê Costa Júnior. O curso será oferecido com carga de 1.200 horas/aula e poderá ser concluído em no mínimo dois anos. A seleção de alunos presenciais será semestral, com turmas de até 32 pessoas. “Quando estiver funcionando em plena capacidade, poderemos formar anualmente 192 profissionais no curso presencial e até 320 técnicos, considerando a possibilidade de efetivarmos turmas para ensino à distância”, avisa. 12 DBO fevereiro 2015

Maquete do novo centro, onde alunos aprenderão tudo sobre pecuária de corte.

Já para o segundo semestre deste ano está prevista a abertura de processo seletivo para a contratação do corpo docente e equipe de apoio técnico. “O centro deve envolver o trabalho de aproximadamente 60 pessoas para o seu completo funcionamento”, prevê o coordenador. Em relação ao perfil do profissional a ser formado, Costa Júnior garante que não haverá conflito de atribuições com graduados em nível superior, como médicos veterinários e engenheiros agrônomos: “Quem passar pelo centro será capacitado para ser mais executor do que gestor; não terá atribuições para definir tratamentos ou medicamentos a serem aplicados e sim planejar as aplicações e seguir o receituário. Além das propriedades rurais, poderá atuar em outros elos produtivos, como nas indústrias frigoríficas e no atacado”. A área cedida fica bem ao lado dos 30 hectares ocupados todos os anos com a Dinapec. O coordenador do Senar-MS garante que o prédio existente dentro dos 3,8 hectares, hoje utilizado como depósito (que abrigou o antigo Setor de Difusão, agora chamado de Transferência de Tecnologia), deve ser mantido e revitalizado. A vegetação do local também deve ser respeitada. “A

construção antiga deverá ser uma espécie de museu e as obras do centro serão conduzidas de modo a preservar as árvores do local”, garante. Dinapec 2015 - Até o fim de janeiro, 14 unidades da Embrapa já estavam confirmadas para a Dinapec 2015. Também estão garantidas representações do Senar, da Tortuga e da Fundação MS. A programação inclui workshops, oficinas, demonstrações técnicas, seminários e cursos, além de mostras de tecnologia nas áreas de genética, manejo, gestão, instalações e nutrição. Além da pedra fundamental do Centro de Excelência em Bovinocultura de Corte, também está previsto o lançamento de dois livros: “Nutrição de bovinos de corte _ fundamentos e aplicações”, por Sérgio Raposo de Medeiros, Rodrigo da Costa Gomes e Davi José Bungenstab e “Sistemas Agroflorestais, a agropecuária sustentável”, por Valdemir Antônio Laura, Fabiana Villa Alves e Roberto Giolo de Almeida. A direção da Embrapa Gado de Corte também quer aproveitar a Dinapec 2015 para inaugurar o Mangueiro Digital/Curral Anti-estresse (Laboratório de Pecuária de Precisão). Mais informações sobre o evento, tel. (67) 3368-2141. n


Ministério

Meio

Com discurso conciliatório, inclusive com o setor ambiental, que já lhe conferiu o troféu “Motosserra de Ouro”, tomou posse, no dia 5 de janeiro, a nova ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Kátia Abreu. Licenciada da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), onde foi reeleita presidente para o triênio 2015/2017, e senadora da República – também reeleita, pelo PMDB, em 2014 –, a nova ministra tem, como proposta principal, conforme entrevista dada ao jornal Valor Econômico, em 17 de janeiro, ascender socialmente as classes D e E no campo. Para isso, o único remédio, diz, “é assistência técnica e extensão rural”. Segundo Kátia Abreu, só a classe D tem 1,4 milhão de produtores rurais, 49% deles no Nordeste. A ideia é, então, levar 800.000 produtores do universo da classe D para a C, em quatro anos. Além disso, propõe, como ação mais urgente, reestruturar o sistema de defesa agropecuária. Ainda em fevereiro, havia previsão de ser sancionado pela presidente Dilma Rousseff o novo Regulamento de Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal (Riispoa). Para a Secretaria da Defesa Agropecuária, Kátia Abreu designou o ex-assessor técnico da CNA Décio Coutinho. “Temos de combater a aftosa, a tuberculose e a brucelose, a peste suína clássica, a gripe aviária, a new castle, a salmonela nos peixes, a lagarta helico-

O Cadastro Ambiental Rural (CAR) alcançou no início de fevereiro a marca de 550.915 imóveis rurais cadastrados, ou 11% da meta de 5,2 milhões de propriedades que devem ser registradas no País até maio, com expectativa de renovação deste prazo por mais um ano. A área cadastrada até agora é de 132 milhões de hectares. O Ministério do Meio Ambiente espera agregar mais 35% da meta ainda este ano e concluir o cadastramento até 2016. Para tanto, as ministras do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, e da Agricultura, Kátia Abreu, discutiram, no dia 27 de janeiro, estratégias conjuntas para tornar mais efetiva a adesão. Criado pela Lei 12.651, que estabelece o Código Florestal, o CAR reúne informações ambientais das propriedades rurais brasileiras e é necessário para a correção de eventuais passivos ambientais. O cadastro deve ser feito por meio do endereço eletrônico: www.car. gov.br, no qual o produtor deve baixar o Módulo de Cadastro, preenchê-lo e enviá-lo para análise por meio da internet.

Defesa Agropecuária é prioridade de Kátia Abreu

Lideranças I

CNA tem novo presidente A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) está, desde janeiro, sob o comando de João Martins da Silva Júnior, que também preside a Federação da Agricultura e Pecuária da Bahia (Faeb). Ele ocupava o cargo de primeiro vice-presiden-

ambiente

I

CAR tem 11% das propriedades inscritas

Na posse, com a presidente Dilma.

verpa, a mosca-da-carambola, das frutas, a ferrugem da soja, o greening, a mela do feijão...”, declarou a ministra. Kátia Abreu é pecuarista no Estado do Tocantins. Formada em psicologia pela Universidade Católica de Goiás, ingressou nas atividades rurais após a morte do marido, em 1987. Assumiu a fazenda no antigo norte de Goiás, e foi se destacando como liderança rural. Foi presidente do Sindicato Rural de Gurupi, TO, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Tocantins – cargo que exerceu entre 1995 e 2005, por quatro mandatos –, e, em novembro de 2008, foi eleita presidente da CNA, reeleita em 2011 e, novamente, em 2014. Ingressou na carreira política em 1998, disputando uma vaga na Câmara dos Deputados, ficando como primeira suplente. Em 2002 foi eleita deputada pelo Tocantins; em 2006, ao Senado Federal e, agora, em 2014, reeleita senadora pelo PMDB. Sua indicação ao Ministério da Agricultura, no lugar de Neri Geller, foi escolha pessoal da presidente Dilma Rousseff, que, além da cessão de cargos à base aliada, ficou grata por Kátia Abreu trabalhar veementemente a favor da sua reeleição à Presidência da República. te antes de a presidente Kátia Abreu, se licenciasse do cargo para assumir o Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento). Silva Jr. é formado em administração de empresas. Nos anos 1970 firmou-se como produtor de leite em Feira de Santana, BA, foi fundador e primeiro tesoureiro da Central de Cooperativas de Leite da Bahia e presidente interino da Associação Brasileira de Criadores.

Meio

ambiente

II

SP regulamenta o seu PRA O Projeto de Lei 219, que institui o Programa de Regularização Ambiental (PRA) no Estado de São Paulo, foi sancionado no dia 15 de janeiro pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB) com sete vetos. O PRA é exigido em todos os Estados pelo novo Código Florestal, aprovado em 2012. Um dos vetos se refere à questão da compensação ambiental fora do Estado, que era criticada por ambientalistas. “Nós vetamos isso porque pretendemos, na regulamentação, limitar a compensação ao Estado de São Paulo, o que nos ajuda na questão hídrica”, disse o governador Geraldo Alckmin. fevereiro 2015

DBO

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p anorama Informação

Cicarne já começa a funcionar Produzir, captar, organizar, sistematizar e oferecer o maior número possível de informações sobre a bovinocultura de corte. Estes são os principais objetivos do Centro de Inteligência da Carne Bovina (Cicarne), uma estrutura virtual que reúne o trabalho de 15 unidades da Embrapa. As informações já podem ser acessadas via internet (www.cicarne.com.br). Idealizador do sistema, juntamente com Guilherme Cunha Malafaia, o pesquisador Paulo Henrique Nogueira Biscola (ambos da Embrapa Gado de Corte) considera o Cicarne uma espécie de “observatório” de monitoramento e prospecção de dados do Agropensa, portal articulado pela Embrapa (www.embrapa.br/web/ agropensa) dedicado a produzir e difundir conhecimentos para pesquisas. “Trata-se de um ambiente virtual mais complexo, que une os elos produtivos da agropecuária brasileira (associações de criadores e organizações da iniciativa privada) e que, por meio da informação disponível, seja capaz de projetar

cenários futuros para cada atividade”, explica. Biscola vê o Cicarne com uma missão futura bem mais complexa, que é a de combinar dados e apresentar indicadores. “Para isso projetamos, até 2017, a sua abertura para a captação e processamento de informações internacionais, com oferta de tecnologias sobre a carne desenvolvidas em várias partes do mundo”, informa o pesquisador. Um dos principais projetos em articulação do Cicarne é o Inovapec, que, no momento, conta com cinco pesquisadores da Embrapa: além de Biscola (coordenador) e Malafaia (Embrapa Gado de Corte); fazem partge Michell Olivio Xavier da Costa (Embrapa Amazônia Oriental); Adilson Malagutti (Embrapa Pecuária Sudeste) e Vinícius do Nascimento Lampert (Embrapa Pecuária Sul). Uma das missões do Inovapec será resgatar todo o acervo de pesquisa e tecnologias existente na área e seu carregamento para o Cicarne e também mapear tecnologias desenvolvidas em outras instituições de pesquisa nacionais e estrangeiras relacionadas à cadeia da produção da carne bovina.

Pesquisa

Parceria Embrapa-Acrinorte testará emissão de gases A Associação dos Criadores do Norte de Mato Grosso (Acrinorte) comprometeu-se a fornecer 300 animais da raça Nelore para pesquisas da Embrapa Agrossilvipastoril, sediada em Sinop, MT. Um contrato de parceria foi assinado em dezembro. Com a parceria, os pesquisadores ganham um rebanho para utilizar em experimentos, os pecuaristas associados poderão acompanhar e ter acesso a dados atualizados sobre o desempenho dos animais em ambientes diferentes de produção. Os primeiros animais chegaram à Embrapa no início de fevereiro. Os bovinos serão acomodados em três áreas de pastagem: em sistema silvi14 DBO fevereiro 2015

pastoril, em integração lavoura-pecuária e em pasto solteiro. Os objetivos são avaliar ganho de peso em cada tratamento (pesagem a cada 30 dias), mensurar o desempenho de forrageiras e estudar incidências de parasitas e doenças. Os pesquisadores da Embrapa também vão medir as emissões de gás metano por fermentação entérica por meio do aparelho chamado Green Feed, uma espécie de cocho automático que faz a verificação enquanto os animais de alimentam. A idade destes animais na entrada dos sistemas varia entre 8 a 10 meses, com peso médio de 270 kg. Após ciclos entre 18 e 24 meses, os bois serão destinados ao abate.

Clima

Cheia menos rigorosa no Pantanal A Embrapa Pantanal (Corumbá, MS) divulgou a primeira previsão para níveis máximos para os Rios Paraguai e Cuiabá. Esses cursos d’água, que cortam o bioma pantaneiro, são dois dos principais termômetros para se avaliar a intensidade das inundações anuais na região. Pelo menos por enquanto, as previsões são de uma cheia menos rigorosa na planície pantaneira, indicando que os pecuristas pantaneiros não terão que fazer grandes movimentação de gado. Normalmente, a alta nos rios vai de janeiro a início de abril. No ano passado, o nível do Rio Paraguai na estação de medição de Ladário, MS, atingiu a classe 5,01 a 5,5 metros. Para este ano, deve ficar em 4,6 metros. O pesquisador Carlos Padovani explica que, historicamente, a chance de uma altura ser atingida ou superada é de 26%: “Uma vez ocorrida, a chance de repetição no ano seguinte é de 33%”, diz. Para o Rio Cuiabá, a primeira estimativa para os níveis máximos em 2015, da Estação de Porto Alegre, é de 5,8 metros.

Tributos

Pauta bovina de Minas será regionalizada A pauta bovina de Minas Gerais, base para o cálculo do Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), passa a considerar os valores por arroba de acordo com cada região a partir deste ano. Os valores de referência serão publicados no site da Secretaria da Agricultura e serão atualizados quinzenalmente. Até a mudança, a pauta considerava o valor da arroba para todas as regiões do Estado. “A pauta com os valores unificados apresentava algumas distorções entre as regiões, especialmente num Estado com a dimensão de Minas Gerais. Com a regionalização, a pauta do ICMS fica próxima do valor do regional a arroba”, explica o superintendente de Política e Economia Agrícola da Seapa, João Ricardo Albanez, em nota divulgada pela Seapa.


Lideranças II

Troca de comando na Famasul A Federação de Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul), que representa perto de 24.000 produtores, tem novo presidente. O pecuarista Nilton Pickler assumiu o cargo no dia 1º de janeiro, no lugar de Eduardo Riedel, escolhido pelo governador Reinaldo Azambuja (PSDB- MS) como secretário de Governo e Gestão Estratégica. Eleito como vice-presidente, Pickler deve comandar a entidade pelo menos até o dia 10 de agosto deste ano, quando vence o mandato da atual diretoria. A mudança no comando da entidade foi definida em assembleia extraordinária realizada no dia 17 de dezembro, na sede

da Federação, com presença de 53 presidentes de sindicatos rurais do Estado (dos 69 associados). Natural de Santa Catarina, Pickler mudou-se para o Mato Grosso do Sul em 1975, aos 19 anos. Por dois mandatos (entre 2006 e 2012), presidiu o Sindicato Rural de Bonito. Possui uma propriedade de 300 ha em Bonito (agricultura) e outra de 900 ha em Porto Murtinho (400 ha também com agricultura e mais 500 ha ocupados com animais de recria e engorda). À frente da federação, pretende focar em dois objetivos: ampliar a abrangência de ação do Senar-MS e reforçar a atuação na defesa de direitos dos associados, sobretudo na questão da demarcação de terras indígenas que envolve muitos produtores no Mato Grosso do Sul.

Lideranças III

Presidente do CNPC quer aftosa sem vacinação A nova diretoria do Conselho Nacional de Pecuária de Corte (CNPC) para os próximos quatro anos (2015/2018) vai centrar suas ações na retirada da vacinação da aftosa até 2020, em todo o País. “Estamos há oito anos sem notificação de aftosa no Brasil”, afirma Tirso Meirelles, que foi reeleito para a presidência do CNPC. Durante a cerimônia de posse, no início de dezembro, o diretor do Panaftosa, Ottorino Cosivi, e seu assessor, Julio Cezar Pompei, ratificaram a expectati-

va de erradicação da doença na América do Sul. O Equador deve oficializar seu status de livre com vacinação na próxima Assembleia da OIE, e o Peru, com mais de 98% de seu território livre sem vacinação, também deve solicitar, em breve, o reconhecimento internacional do status de país livre de febre aftosa sem vacinação. O Paraguai em breve poderá retirar a vacinação de seu território. Suriname está fazendo levantamento sorológico para solicitar certificação de livre sem vacinação. Já Venezuela, Bolívia e Equador necessitam de apoio técnico e, no caso da Bolívia, também de cooperação financeira.

Brucelose

Nos leilões, atestado de vacinação. O Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) passou a exigir, desde 1º de janeiro, a apresentação de atestados de exames negativos de brucelose para algumas categorias de bovinos e bubalinos participantes de leilões de gado geral, com base nas Portarias nº 1.391, de 6 de janeiro de 2014, e 1.396, de 10 de fevereiro de 2014. As categorias mencionadas são fêmeas com idade igual ou superior a 24 meses, quando vacinadas entre 3 e 8 meses de idade; fêmeas com idade superior a 8 meses, quando não vacinadas contra brucelose entre 3 e 8 meses; e machos inteiros, com finalidade de reprodução, com idade superior a 8 meses. No caso específico de fêmeas de descarte com idade igual ou superior a 24 meses cujo destino final seja engorda, acabamento e abate, estão dispensadas de apresentação do atestado. Para outras categorias, o documento deve ser apresentado na ocasião do pedido de emissão da Guia de Trânsito Animal (GTA). Os documentos sanitários – atestados e GTA – acompanharão o transporte e serão verificados pelo responsável técnico do leilão na recepção dos animais. A validade do atestado deverá cobrir todo o período do evento. É proibida, ainda, a realização de exames no recinto do leilão.

Eventos

A Embrapa Agrossilvipastoril, de Sinop, MT, realiza, em parceria com a Famato (Federação de Agricultura do Mato Grosso), a quinta edição do dia de campo sobre sistemas integrados. O evento ocorrerá no dia 27 de fevereiro, no Sítio Tecnológico do Centro de Pesquisa daquela unidade da Embrapa e terá cinco estações para acompanhamento dos produtores, duas delas abordando o boi safrinha dentro do sistema de ILP. A empresa Verum Eventos, sediada em São Paulo, finaliza os preparativos para

mais um ano de Circuito Expocorte, série de palestras dirigidas a pecuaristas de regiões estratégicas para o setor de gado de corte. Como em anos anteriores, a primeira etapa se inicia na capital do Mato Grosso, Cuiabá, nos dias 11 de 12 de março próximo. A etapa seguinte é Campo Grande, MS, em 29 e 30 de julho; Uberaba, MG (24 e 25 de setembro); Araguaína, TO (29 a 30 de outubro), terminando em Ji-Paraná, RO, dias 25 e 26 de novembro. A novidade foi a troca de Uberlândia por Uberaba. Informações no site www.circuitoexpocorte.com.br

Ocorrerá, de 3 a 5 de março, no Hotel JP, em Ribeirão Preto, o 10º Encontro de Confinamento da Coan Consultoria, de Jaboticabal, SP. Quanto o confinamento depende do pasto?, inovações tecnológicas, gestão e manejo e economia e mercado compõem os painéis que serão apresentados durante o evento, com mesa redonda sob o tema “Cenários, tendências e mudanças estruturais na pecuária de corte”. No dia 6, dia de campo na Fazenda Santa Helena, em Altinópolis. Informações pelo telefone (16) 3236-4287.

fevereiro 2015

DBO

15


p anorama Curtas

Rentabilidade

• VBP MG. O Valor Bruto da Produção (VBP) agropecuário de Minas Gerais alcançou R$ 44,7 bilhões em 2014, crescimento de 0,9% em relação a 2013 (R$ 44,3 bilhões), o que significa 9,6% do VPB brasileiro, de R$ 463,9 bilhões. Os dados do Ministério da Agricultura foram analisados pela Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de MG (Seapa). Na composição do VBP em 2014, a pecuária teve maior evolução: 2,1% ante 0,2% de crescimento do setor agrícola. Segundo o superintendente de Política e Economia Agrícola da Seapa, João Ricardo Albanez, o desempenho da agricultura foi prejudicado pela seca, que impôs redução na produção das principais culturas, como milho, soja, café e cana.

Com alta tecnologia, corte supera leite.

Fonte: Scot Consultoria

O forte aumento dos preços do boi gordo e animais de reposição favoreceu quase todos os sistemas da pecuária de corte no ano passado, com destaque para as fazendas que adotam níveis altos de tecnologia. Segundo levantamento da Scot Consultoria, de Bebedouro, SP, a atividade de ciclo completo com aplicação crescente de tecnologia liderou o quadro de rentabilidade na pecuária (lucro operacional sobre o patrimônio investido), com ganhos de 8,6%, taxa bem acima da registrada no ano passado, de 5,3% (veja gráfico). “Os pecuaristas que atuam com o ciclo completo ficaram de fora da briga pela reposição e aproveitaram os altos preços do boi gordo e da vaca gorda”, justifica o zootecnista Gustavo Aguiar, analista da Scot Consultoria. A atividade de recria e engorda com aplicação crescente de tecnologia tam16 DBO fevereiro 2015

bém registrou desempenho favorável, com rentabilidade de 8,5%, ante a taxa de 5,3% obtida em 2003. O curioso é que, em 2014, os ganhos registrados nesses dois sistemas de produção (ciclo completo e recria e engorda) superaram o rendimento obtido com a atividade de produção de leite com alta tecnologia, que foi de 7,9%, abaixo da taxa verificada no ano anterior, de 10%. “Os preços do leite caíram consideravelmente em 2014, influenciados sobretudo pelo aumento da produção”, observa Aguiar. O levantamento da Scot ainda chama a atenção para a evolução dos ganhos nas atividades de cria com aplicação crescente de tecnologia – a taxa subiu de 1,4%, em 2013, para 2,7%, em 2014. Além disso, as fazendas de ciclo completo e de recria e engorda com baixos níveis de tecnologia também registraram aumento de rentabilidade.

• VBP MS. A bovinocultura de corte do Mato Grosso do Sul deverá crescer 8,4% em 2015, mantendo a fatia que ocupa atualmente no Valor Bruto da Produção do Estado, de 34,7%, dois pontos percentuais superior à registrada em 2013. A projeção é do Departamento de Economia da Federação da Agricultura e Pecuária do MS (Famasul). O segmento lidera o ranking de desempenho das atividades agropecuárias no Estado, cujo VBP em 2014 foi de R$ 19,9 bilhões (R$ 6,9 bilhões para a bovinocultura de corte). Para 2015, a projeção é de R$ 21,5 bilhões para o VBP da agropecuária e R$ 7,5 bilhões, para a bovinocultura de corte. O VBP corresponde ao faturamento bruto do setor e é calculado multiplicando-se volume produzido pelo preço pago ao produtor.


Há 15 anos leiloando animais em quantidade e qualidade!

ÁGUA BOA - MT

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sábado • 12h

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18 DE ABRIL

16 DE MAIO

Recinto de Leilões da Estância Bahia

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Mais de 500 mil animais já leiloados. CADASTROS, LANCES E INFORMAÇÕES:

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TRANSMISSÃO:

(66) 3468

6600


Coluna do Cepea 1

Sergio De Zen¹ e Mariane C. Santos²

Professor da Esalq/USP; coordenador de Pecuária do Cepea/Esalq/USP 2 Analista de mercado do Cepea/Esalq/USP

O

2014: o ano da cria.

ano de 2014 caracterizou-se por altas considerando a análise agregada de todos os so do Sul é o Estado que o Cepea acomde preços em todos os elos da cadeia sistemas produtivos, os aumentos da arroba panha, em parceria com a CNA, os custos pecuária, com destaque para a reposi- nas principais regiões pecuárias superaram em todas as microrregiões, com exceção ção. De janeiro a dezembro, o Indicador a elevação dos custos, indicando ganhos de da região de Campo Grande. Isto porque o ESALQ/BM&FBovespa do bezerro (ani- margem aos pecuaristas. Na “média Brasil” Estado tem grande relevância na produção mal nelore, de 8 a 12 meses, em Mato Gros- (ponderado de todos os sistemas produtivos, de bezerros, assim como forte presença da so do Sul) subiu expressivos 40% - consi- nos seguintes estados: BA, GO, MG, MT, recria-engorda nas localidades próximas a derando-se as médias mensais, em termos MS, PA, PR, RO, RS, SP e TO), de janeiro São Paulo. Em cinco anos, os custos operacionais nominais. O maior valor médio mensal da a dezembro de 2014, o COE (Custo Operasérie Cepea (iniciada em 2000 para o pro- cional Efetivo) acumulou alta de 24%. Ain- da cria no Estado foram, ainda, os que meduto), em termos reais (deflacionando-se da assim, o aumento no COE só ficou abai- nos subiram, em comparação aos demais sistemas. Enquanto o COE desse segmenpelo IGP-DI de dez/14), foi atingido em xo dos registrados em 2008 e 2010. dez/14 e representou (R$ 1.201,70) o terNo caso da cria, considerando o interva- to acumulou variação de 63%, o COE da ceiro recorde mensal seguido, depois das lo de 2010 a 2014, verifica-se que nas pro- recria-engorda aumentou 95% e o pondemáximas atingidas em 2010. Em relação a priedades modais do MS a atividade mos- rado de todos os sistemas, 70%. No mesdezembro daquele ano, a média de dez/14 tra recuperação de margem a partir de 2013, mo comparativo, a arroba se valorizou ficou 37,17% superior. com destaque para 2014 (Figura 1), ano em 98% e o bezerro, expressivos 105%, indiAs altas da reposição foram influen- que o bezerro teve valorização de 40% ante cando ganho de margem tanto para criadociadas pela valorização da arroba – de- um COE para a cria 13% maior. Mato Gros- res como para recriadores. O principal facorrente, por sua vez, tor de recuperação da da menor oferta, de220 margem dos produtovido especialmente à Evolução de custos e receitas em MS 200 Base 100, valores de dez/2009. Fonte: Cepea, em parceria com a CNA. res de cria é também seca que atingiu divera causa do estreitasas regiões produtoras 180 mento da rentabilida– e pelo abate de matri160 de de quem atua com zes em anos anteriores. recria-engorda. Na A maior média mensal 140 média ponderada das do Indicador ESALQ/ 120 propriedades deste BM&FBovespa do boi segmento, ainda no gordo em toda a sé100 Dez.09 Dez.10 Dez.11 Dez.12 Dez.13 Dez.14 MS, a aquisição de rie Cepea (iniciada em n COE - MS (ponderado de todos os sistemas n COE - Recria-Engorda n COE - Cria animais foi o item que 1994) foi atingida em n Arroba (Indicador ESALQ/BM&Fbovespa) n Bezerro (Indicador ESALQ/BM&Fbovespa mais pesou no COE, novembro/14, de R$ com participação mé143,10, também já desPonderação Custos - CRIA Ponderação Custos - RECRIA-ENGORDA dia, de 2010 a 2014, contando-se a inflação de 66%, seguida pela do período. Em dezemMã o-d Suplemen tação suplementação minebro, a média mensal do e 10 -ob mineral % ra ral (13%) e mão de Indicador seguiu eleva29% Suplementação Compra obra, com 10%. Já da, em R$ 143,08, alta mineral 13% de animais ra de Mão-de-ob 66% Comp is 11% ra nas propriedades de de 26,8% no acumulaa 28% anim cria, os itens supledo do ano. Em relação mentação mineral e ao verificado no encermão de obra foram ramento de 2010, ano n Compra de animais n Suplementação mineral os que mais pesaram de cotações recordes, n Suplementação Mineral n Mão-de-obra n Compra de animais (reprodutores) n Mão-de-obra n Administrativo (2%) no COE, participando o valor de dez/14 ficou n Máquinas para pastagem – Manutenção + Combustível (7%) n Utilitários – Manutenção + Combustível (2%) 12,7% acima – em ter- n Administrativo (7%) n Medicamentos (7%) n Máquinas para pastagem – Manutenção + Combustível (2%) com 29% e 28%, resn Utilitários – Manutenção + Combustível (5%) n Outros (4%) n Medicamentos (1%) pectivamente, dos demos reais. sembolsos (Figuras Como apresenta- n Serviço terceirizado para pastagem – Manutenção (2%) n Despesas com vendas de animais (1%) n Despesas com venda de animais (1%) n Energia (1%) ao lado). do no Anuário da DBO, n

18 DBO fevereiro 2015


Conjuntura | Mercado

Demanda por carne se retrai mas arroba cede pouco Crise internacional afeta exportação de carne in natura, que cai 30% em janeiro. n Fernando Yassu yassu@revistadbo.com.br

O

s frigoríficos iniciaram 2015 em situação desconfortável, após um 2014 difícil. Como ocorreu no ano anterior, a oferta de bois terminados não melhorou em janeiro e o quadro de escassez de sua principal matéria prima fez com que a arroba cedesse pouquíssimo no primeiro mês de 2015. Em janeiro, o Indicador Boi Gordo do Cepea, usado para a liquidação dos contratos a futuro na BM&FBovespa, registrou uma pequena queda de 0,34%, recuando de R$ 143,79 para R$ 143,16 em São Paulo, perda de R$ 0,63 por arroba em 30 dias. Pior para os frigoríficos: a queda no consumo interno empurrou o preço da carne bovina para baixo. O quilo do boi casado - dianteiro e traseiro - caiu 10,41%, de R$ 8,93 para R$ 8, segundo a

Scot Consultoria, de Bebedouro, SP. O preço do boi casado no final de janeiro representa uma alta de 10,95% sobre o mesmo período do ano anterior, quando era negociado a R$ 7,21 o kg. No mesmo intervalo de tempo, a arroba do boi teve um reajuste de 25%. Em 2014, os frigoríficos, também, não tinham conseguido repassar o custo integral do boi para a carne. Da alta de 26,34% da arroba em São Paulo, repassaram para a carne no atacado 20,83%, segundo a Scot. No front externo, outro percalço: as exportações de carne in natura caíram, em janeiro, 29,6% em volume e 28,87% em receita sobre o mesmo período do ano anterior. Na comparação com dezembro, o tombo foi maior: queda de 32% em volume e 36,16% em receita. Em janeiro, foram embarcadas 109 mil toneladas em equivalente-carcaça de carne

Indicador Bezerro teve leve queda em janeiro Datas de levantamento de preços Especificações

29/12/2014

20/01/2015

Preço à vista por cabeça

R$ 1.183,21

R$ 1.261,72

Preço à vista por kg vivo

R$ 6,54

R$ 6,30

Peso médio em kg

180,75

200,10

Preço médio no Mato Grosso do Sul. Fonte: Cepea – Esalq/USP.

Indicador Boi Gordo fecha janeiro com leve queda Datas de liquidações de contrato na BM&FBovespa Especificações

29/12/2014

30/01/2015

114,80

143,16

Preço à vista, em R$ (*)

(*) Média dos últimos cinco dias úteis do mês em São Paulo. Os valores são usados na liquidação dos contratos negociados a futuro na BM&FBovespa. Fonte: Cepea/BM&FBovespa

Mercado futuro não indica alta

Meses de liquidação dos contratos negociados a futuro na BM&FBovespa

Datas dos pregões 30/12/14

29/01/15

Jan

Fev

Mar

Abr

Mai

142,95 141,52 140,59 139,79 139,00 -

143,30 142,41 141,74 141,30

Preço em Reais. Fonte: BM&FBovespa

Jun

Jul

Ago

Set

Out Nov Dez

-

-

-

143,30

-

-

-

-

143,10

-

142,32

-

-

-

in natura e a receita bateu em US$ 326,4 milhões, quase US$ 200 milhões a menos do que em dezembro e US$ 130 milhões em relação a janeiro de 2014. Em volume, foram 50 mil toneladas em equivalente-carcaça a menos do que em dezembro e 45 mil na comparação com janeiro de 2014. O preço, também, não ajudou. Em janeiro, os frigoríficos brasileiros receberam, pela carne in natura, média de US$ 4.408,50 por tonelada líquida, um pouco acima do valor registrado em janeiro de 2014 (US$ 4.364) e quase US$ 300 a menos do que em dezembro (US$ 4.708), segundo o MDIC (Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio). A situação de mercado, também, não é confortável para o invernista: como decidir numa situação em que o preço do boi está pressionado apesar da falta de animais terminados e a reposição se mantém valorizada?. Uma decisão é de curto prazo - vender o boi pronto – e a outra é de médio e longo prazos – compra de boi magro/garrotes e bezerros. Em janeiro, o Indicador Bezerro do Cepea apontou média de R$ 1.261 para um bezerro de 200 kg no Mato Grosso do Sul, ágio de 32% sobre a arroba em São Paulo. O garrote anelorado, de 9,5 arrobas, estava cotado a R$ 1.510 em São Paulo, com ágio sobre a arroba do boi de 11,06%, segundo a Scot. Já um boi magro de 12 arrobas estava cotado a R$ 1.755 em São Paulo, com sobrepreço de 2,16% sobre o boi gordo (veja Conjuntura/Reposição). Segurar o boi para colocar mais peso na carcaça para aproveitar o caixa do animal e adiar a reposição? Vender o boi para aproveitar o preço e segurar a reposição para ver se o mercado cede, ficando com o pasto vazio? Ou vender o boi e fazer a reposição a preços atuais, correndo o risco da arroba cair quando esses animais estiverem prontos para abate no final do ano (boi magro), em 2016 (garrotes) e em 2017 os bezerros? Rogério Goulart, em sua coluna, sugere “Plante o seu boi magro agora” (Veja na pág. 21) n

fevereiro 2015

DBO 19


Conjuntura | Reposição

Preços sobem em janeiro, mas tendência é de baixa. Mercado poderá seguir o movimento de queda do boi gordo n Denis Cardoso

denis@revistadbo.com.br

O

mercado de reposição abriu 2015 em alta, ainda embalado pelo forte movimento de valorização registrado no ano passado, sobretudo a partir do segundo semestre do ano, quando as cotações atingiram níveis recordes - em dezembro, o preço real (deflacionado) do bezerro desmamado, por exemplo, superou a casa dos R$ 1.200 no Mato Grosso do Sul, segundo dados do Cepea/Esalq (veja artigo do colunista Sergio de Zen na página 18). Porém, diante do recente movimento de contenção nos preços do boi gordo, analistas acreditam que os preços dos animais de reposição também tendem a perder força nas próximas semanas. Além disso, a falta de chuva na maioria das regiões de pecuária do País afetou a qualidade das pastagens em algumas áreas, reduzindo a procura por animais de reposição. Um boletim divulgado no fim de janeiro pelo Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea) alerta para o problema de estiagem em todas as regiões do Mato Grosso, Estado que tem o maior rebanho do País, de 28,7 milhões de cabeças, de acordo com dados do IBGE. Segundo a pesquisa do Imea, a maioria dos produtores relatou que a precipitação foi “irregular e abaixo do esperado” em janeiro. Os dados do serviço de meteorologia Somar confirmam os relatos dos pecuaristas matogrossenses: no primeiro mês do ano, o

volume acumulado de chuvas no Estado foi 10% inferior ao registrado em igual período do ano passado. Segundo a engenheira agrônoma Maísa Modolo, analista da Scot Consultoria, de Bebedouro, mesmo com a perspectiva de um cenário baixista, não são esperadas quedas expressivas no mercado de reposição, pelo menos para o curto prazo. “Os preços tendem a continuar oscilando em patamares bastante elevados, bem acima dos registrados em igual período do ano passado”, avalia. Para ela, o quadro de escassez de oferta de animais, principal responsável pelas altas no ano passado, continuará sendo o principal pilar de sustentação dos preços. Tendo como base a praça de São Paulo, as cotações atuais do bezerro, garrote e boi magro apresentam aumento de 39%, 34% e 29%, respectivamente, em relação aos valores verificados no mesmo período de 2014, informa a analista. Por região _ Levantamento da Scot Con-

sultoria em 14 praças pecuárias do País mostra que a variação média de todas as categorias de reposição analisadas _ quatro tipos de machos e outras quatro de fêmeas Nelore _ subiu 1,9% em janeiro, na comparação com dezembro. As maiores altas foram registradas nas praças de São Paulo e de Goiás. O bezerro desmamado (6 arrobas) fechou janeiro cotado em R$ 1.170, em média, na praça paulista, com valorização de 3% sobre dezembro. O garrote ane-

lorado (9,5 @) foi a R$ 1.510, em média, com alta de 2% em relação ao mês anterior. O boi magro (12 @) subiu 1,4% em janeiro, para R$ 1.755, o mesmo percentual de acréscimo da novilha (8,5 @), que fechou o período em R$ 1.115 em São Paulo, segundo dados da Scot. Na praça de Goiás, o bezerro de 6@ teve alta mensal de 5% em janeiro, atingindo R$ 1.192,50, em média. O garrote fechou cotado em R$ 1.525, com aumento de 3,7%, e o boi magro foi a R$ 1.737,50, acréscimo de 2,5%. A novilha também teve elevação expressiva em Goiás: de 4%, para R$ 1.157,50. Nos outros dois Estados do Centro-Oeste, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, a valorização dos animais de reposição oscilou em torno de 2%, de acordo com levantamento da consultoria de São Paulo. No Norte do País, na praça do Tocantins, o preço médio dos animais de reposição ficou praticamente estável em janeiro na comparação com dezembro. O bezerro desmamado fechou em R$ 1.070; o garrote, em R$ 1.385; o boi magro, em R$ 1.567,50; e a novilha, em R$ 1.000. Expectativa – Segundo a analista Maisa Modolo, da Scot, no curto prazo, as atenções estarão voltadas para o clima. O registro de um volume maior de chuvas nas regiões produtoras, combinado com a pressão baixista puxada pelo mercado de boi gordo, poderá incentivar a demanda por animais de reposição nas próximas semanas. n

R$ 1.192

R$ 1.510

R$ 1.567

R$ 1.157

Cotação média do bezerro desmamado (6@) Nelore em janeiro na praça de Goiás, alta de 5% em relação ao mês anterior.

Valor médio do garrote anelorado (9,5 @) em São Paulo no primeiro mês de 2014, valorização de 2% sobre dezembro.

Cotação média do boi magro na praça do Tocantins, em janeiro; preços praticamente estáveis na comparação com dezembro.

Preço médio da novilha (8,5 @) em Goiás, em janeiro, alta de 4% em relação ao mês anterior.

20 DBO fevereiro 2015


Rogério Goulart Administrador de empresas, pecuarista e editor do informativo semanal “Carta Pecuária”, de Dourados, MS.

“Plante” seu próprio boi magro Q

uando estou olhando para o estoque de milho na fazenda, fico pensando em uma coisa: “Será que vale a pena plantar meu próprio milho ou continuo comprando no mercado?” Acredito que você, caro leitor, também já deve ter pensado em algo parecido. É plenamente compreensível esse tipo de dúvida. Na realidade, não é bem uma dúvida, mas uma escolha de estratégia. Você, sabiamente, quer se assegurar de que o principal custo da dieta do seu gado não vai ficar caro demais. Então, faz sentido pensar sobre isso. Mas escolher qual estrada seguir é uma decisão que deve ser tomada com muita calma e reflexão. Todas as vezes que pensei sobre isso – e essa é uma decisão pes­soal –, achei que valia a pena comprar do mercado em vez de plantar. Trouxe esse exemplo do dilema do milho, caro leitor, porque quero usá-lo hoje também para falar um pouco sobre o boi magro. A pergunta é: “Devo ‘plantar’ meu boi magro ou comprá-lo no mercado?” Hoje me parece que a primeira opção está bem interessante. Estou falando do boi magro aqui porque, assim com o milho nas fazendas de engorda atuais, ele é um dos principais “produtos” consumidos pelos produtores. E a escolha de uma estratégia correta para baratear esse insumo se faz necessária. Deixe-me explicar. Um boi magro hoje vale ao redor de R$ 1.800. Um bezerro comercial você vai achar por R$ 1.300. São preços conhecidos. Você pode sair por aí e tentar comprar animais nesses preços, levá-los para sua propriedade e colocá-los em engorda a pasto ou fechados num confinamento, não importa. “Como assim, não importa?”, você perguntará. Não importa porque você não tem muito mais o que fazer. Tem que comprar e absorver a alta de sua matéria prima. Afinal, boi magro é o maior custo para a produção de um boi gordo. Mas, e se eu te disser que se você “plantar” hoje um boi magro para o ano

As opções de compra para reposição*

(*) A partir de preços de mercado praticados no fim de janeiro. Fonte: Informativo Carta Pecuária.

que vem você conseguirá colhê-lo por um preço equivalente, hoje, a R$ 1.620? É aqui que o bezerro entra na jogada. Um bezerro comprado hoje por R$ 1.300 chega na sua fazenda custando uns R$ 1.360, incluindo frete e comissão. Deixando esse bezerro no pasto por 12 meses você terá um boi magro com um custo de mantença ao redor de R$ 400. Então, em fevereiro de 2016, você terá um boi magro valendo algo como R$ 1.725,00. Descontando uma inflação ao redor de 6% em um ano o que é necessário para você comparar com o valor do boi magro de hoje), você terá um boi magro “plantado” te custando agora R$ 1.620,00. Isso significa que comprar um bezerro hoje e deixá-lo no pasto até o próximo ano equivale a comprar um boi magro, hoje, por R$ 1.620,00. É uma diferença de quase R$ 200, se consideramos que comprar um boi magro hoje na praça, como eu disse no início, sai por volta de R$ 1.800, sem incluir frete e comissão. É interessante demais para deixar passar em branco, não acha? Isso com uma inflação de 6% ao ano; se ela for de 10%, caro leitor, esse boi sairá por R$ 1.550.

Acho que você entendeu aonde quero chegar. Para quem vai precisar de boi magro o ano que vem e não está disposto a pagar os absurdos preços atuais, então uma estratégia é comprar o bezerro e produzir o seu próprio boi magro. Para isso, é preciso levar em conta um aspecto importante: é necessário ter pasto sobrando. Então, essa escolha deve ser analisada com carinho. Mas se você me perguntar, responderei que é isso que nós estamos fazendo em nossa propriedade. Depois de vários

Comprar bezerro agora equivale a ter um boi magro mais barato em fevereiro/2016 anos só comprando boi magro, voltamos a comprar bezerros. Acreditamos que um pássaro na mão é melhor do que dois voando. Prefiro garantir um boi magro por um preço equivalente a R$ 1.620 do que esperar e pagar para ver como estará o boi magro no início do ano que vem. Em outras palavras, comprar um bezerro agora é o que mais se assemelha a ter um “contrato futuro” de boi magro. Estou comprando um boi magro para fevereiro de 2016, pagando menos do que essa categoria vale hoje. Para mim, isso é um bom negócio. n fevereiro 2015

DBO

21


Negócios | Frigoríficos

Frigol em trilha mais segura Empresa paulista fecha 2014 com receita 40% maior, prepara-se para quitar dívidas com pecuaristas e já pensa em encerrar processo de recuperação judicial. n Maristela Franco

maristela@revistadbo.com.br

pós ser atingido pela forte crise que abalou a indústria frigorífica brasileira entre 2008 e 2010, o Frigol parece estar trilhando caminhos mais seguros. Em 2014, essa empresa sediada em Lençóis Paulista, SP, conseguiu ficar em quinto lugar no ranking do setor, em faturamento. Aumentou a produção em 20% e a receita líquida em 40%, atingindo a marca de R$ 1,1 bilhão. Praticamente dobrou de tamanho nos últimos quatro anos e espera crescer mais 36% em 2015, com receita projetada de R$ 1,565 bilhão, que o manteria atrás apenas do Mataboi e dos líderes JBS, Marfrig e Minerva. Esse resultado positivo lhe permitirá quitar as últimas dívidas com pecuaristas ainda em 2015 e antecipar o encerramento de seu processo de recuperação judicial, iniciado em 2010. Um feito que poucos frigoríficos atingidos pela crise de 2008 conseguiram até agora. A maioria naufragou tentando. “Nosso administrador judicial estuda a viabilidade de pôr fim ao processo neste ano ou no próximo, o que traria grandes benefícios para a empresa, em termos de custo de capital e acesso a bancos de primeira linha”, explicou Luciano Pascon, vice-presidente da companhia, durante visita à DBO. O crescimento anunciado pelo executivo é atribuído a diversos fatores. O Frigol possuía apenas dois frigoríficos de bovinos: um em Lençóis Paulista, para abate de 850 cabeças/dia e outro em Água Azul do Norte, PA, para 1.200 cabeças/ dia. Em janeiro de 2014, decidiu arrendar uma terceira planta, em São Félix do Xingu, PA, apta a processar 600 cabeças/dia. Com isso, aumentou sua capacidade instalada em 29,3%, totalizando 2.650 cabeOportunidade

22 DBO fevereiro 2015

FOTOS: ARQUIVO FRIGOL

A

Carne Angus Frigol é aposta da empresa para aumentar valor agregado

ças/dia. “Apareceu uma oportunidade e decidimos aproveitar. A planta fica a 240 km da unidade que já tínhamos na região sul do Pará, mas encontra-se em um polo pecuário diferente, que nos interessa bastante”, explica Pascon.

Empresa já abate 2.650 bovinos/dia em três unidades Além de ampliar seu parque industrial, o Frigol também investiu em produtos de maior valor agregado, incrementou suas exportações e soube aproveitar a fase de estabilidade da arroba, entre 2011 e 2013, para recompor margens. O processo de profissionalização interna,

iniciado em 2012, também foi decisivo para a obtenção de bons resultados, pois possibilitou elevar a produtividade nas plantas industriais e melhorar os resultados financeiros da empresa, que, adotando conceitos de transparência, publica balanços financeiros trimestralmente, como as companhias de capital aberto. Agenda em dia – Segundo Pascon, o plano de recuperação judicial da empresa, aprovado em abril de 2011, está sendo cumprido à risca. Na época, a dívida total do Frigol era de R$ 140 milhões. Destes, R$ 65 milhões se referiam à compra de matéria-prima (gado). Até o fim de 2014, 72,3% dos débitos com pecuaristas já haviam sido quitados; faltavam R$ 18 milhões. “De imediato, pagamos os pequenos fornecedores, que tinham até R$ 10.000 a receber; depois,


Planta de Lençóis Paulista, SP, está habilitada para o mercado europeu e exportou 40 t de Cota Hilton em 2014.

os valores entre R$ 10.001 e R$ 25.000, dividimos em 12 parcelas consecutivas, também já liquidadas; e, a partir de 2012, começamos a acertar débitos acima de R$ 25.000, em parcelas semestrais, que terminarão neste ano”, informa o executivo. As dívidas com instituições financeiras foram renegociadas e serão pagas em dez anos, por meio de parcelas anuais que começam a vencer em 2015. “Nossa prioridade, neste ano, é crescer de forma sustentada, melhorando processos internos e diversificando nosso portfólio”, diz Pascon. Desde 2011, a empresa vem desenvolvendo novos produtos para atender consumidores que buscam praticidade associada à qualidade. “Temos, dentro da Linha Chef, uma boa gama de embutidos, cortes temperados e carnes maturadas para churrasco. Também produzimos 40 to-

neladas/mês de jerked beef (carne seca) e comercializamos a marca Angus Beef Frigol, certificada pela Associação Brasileira de Angus.” A participação dos produtos de maior valor agregado no faturamento da empresa passou de 3% para 10% em 2014. “Trabalhamos tanto com supermercados quanto com food service e pequeno varejo (açougues, lojas de 1-4 check-outs), fazendo um atendimento personalizado aos clientes, às vezes até customizando produtos”, diz Pascon. Para desenvolver novas estratégias comerciais, o Frigol contratou, em 2013, a empresa especializada em gestão empresarial Falconi Consultores de Resultados, com escritórios em São Paulo, SP, e Nova Lima, MG. “O projeto foi encerrado em 2014 e já trouxe benefícios, ao desenvolver ferramentas mais confiáveis para análise do mercado de carne, estabelecer metas setoriais

e identificar nichos ainda não explorados pela empresa”, conta o executivo. Um trabalho semelhante está sendo feito também no segmento de exportações. Hoje, apenas 14% da produção do Frigol segue para o mercado externo; a meta é elevar esse percentual para 30% até 2016. As três plantas de abate de bovinos da empresa estão aptas a exportar. A de São Félix do Xingu, por ser nova, tem habilitação apenas para os países da Lista Geral e Egito, mas a de Água Azul faz também Rússia, Venezuela e Malásia, enquanto a de Lençóis Paulista está credenciada ainda para a União Europeia. “Pelo terceiro ano consecutivo, conseguimos cumprir nossa parcela da Cota Hilton e ainda pedimos um extra de 50%, totalizando 80 toneladas exportadas”, informa Pascon.

Mercado externo –

Breve histórico O Frigol foi constituído com essa denominação em 1992 pelos irmãos Gonzaga de Oliveira, que começaram sua trajetória empresarial em Lençóis Paulista, SP, como varejistas de carne, na década de 1970. Para abastecer seus açougues, primeiro montaram um abatedouro de suínos, ainda em funcionamento. Depois, arrendaram uma planta frigorífica de bovinos no mesmo município, que mais tarde adquiriram e ampliaram. Em 2002, decidiram es-

tender suas atividades ao Pará, atraídos pela oferta abundante de bovinos na região. A empresa, contudo, não conseguiu passar ilesa pela crise do setor iniciada em 2008. Enfrentando sérias dificuldades para honrar seus compromissos, foi obrigada a solicitar recuperação judicial em julho de 2010. O processo já dura quatro anos e, se tudo der certo, poderá ser concluído em 2015 ou 2016. Confira na tabela ao lado os principais números da empresa.

Perfil do Frigol Capacidade total de abate

2.650 bovinos e 400 suínos

Número de plantas:

3 de bovinos e 1 de suínos

Receita líquida em 2014

R$ 1,1 bilhão

Produção anual

120.000 t/ano

Exportações

14% da produção

Funcionários

1.870

Fonte: Frigol

fevereiro 2015

DBO

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Negócios | Frigoríficos Para captar clientes, a empresa tem participado de feiras internacionais. Entre os dias 8 e 12 de fevereiro, marcará presença na Gulfood, exposição internacional de gastronomia e serviços, em Dubai, nos Emirados Árabes. Também enviará representantes para feiras na Rússia, China e Alemanha. “Mercado existe; o que limita as exportações é o capital de giro, porque a empresa demora muito para receber. Entre a produção e a entrega da mercadoria, são 80 dias”, esclarece o vice-presidente do Frigol, ressaltando, contudo, que exportar é fundamental para os frigoríficos porque equaciona a venda de dianteiros. “O ano começou difícil, com o boi valorizado e os preços internacionais baixos, por causa da crise na Rússia, da desvalorização do euro e da queda nas cotações do petróleo, mas acreditamos que as coisas vão melhorar a partir do segundo trimestre”, salienta. Governança – Para enfrentar, com maior segurança, eventuais instabili-

dades do setor, o Frigol tem investindo bastante em gestão. Continua sendo uma empresa familiar, presidida por um de seus sócios-fundadores, Djalma Gonzaga de Oliveira, mas agora conta com um Conselho de Administração e

No Pará, produtores recebem orientação para fazer o CAR. segue princípios de governança corporativa. “Os processos decisórios foram modernizados e realizamos auditorias trimestrais, nos moldes das empresas abertas”, diz Luciano Pascon, acrescentando que o Frigol tem intenção de incluir dois membros independentes no conselho até 2016. Nos últimos três anos, investiu bastante na formação de gerentes e, a partir de 2013, começou a adotar um plano de melhoria contínua.

Próxima do produtor – A empresa também tem procurado se aproximar mais dos pecuaristas. Em São Paulo, desenvolve um trabalho de orientação a confinadores. No Pará, mantém viveiros para fornecimento gratuito de mudas de espécies nativas a produtores interessados em recompor matas ciliares. Contratou também a empresa de consultoria Terras, do Pará, para monitoramento da origem dos bovinos adquiridos pela empresa, por meio do sistema BusCar, que reúne em um mesmo local informações sobre desmatamento, problemas de subreposição com reservas indígenas e trabalho escravo. Técnicos da consultoria estão presentes nas unidades do Frigol para orientar os pecuaristas no preenchimento do CAR, o Cadastro Ambiental Rural. “Sempre que se constata um problema procuramos ajudar o produtor a solucioná-lo, em vez de retirá-lo do cadastro de fornecedores”, diz n Pascon.

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24 DBO fevereiro 2015



Negócios | Notas Marfrig I

Planta de Alegrete, RS, com menos funcionários. Em reunião com o Sindicato dos Trabalhadores da Indústria de Alimentação de Alegrete, RS, a Marfrig apresentou proposta de manutenção da unidade de abate no município por um ano, com redução do número de funcionários da unidade. A empresa propôs manter 250 dos 600 funcionários e realocar outros 120 para outras unidades do Estado. No Rio Grande do Sul, a companhia possui plantas em Bagé, São Gabriel e Hulha Negra (Pampeano Alimentos). Na primeira reunião de mediação no TRT-RS, realizada no dia 27 de fevereiro, o sindicato propôs que a empresa mantivesse as atividades em Alegrete por mais seis meses, período em que se buscariam meios para que a planta continuasse a funcionar.

As reuniões são resultado da decisão do juiz José Carlos Dal Ri, da Vara do Trabalho do Alegrete, de suspender a demissão dos 600 empregados, até a negociação coletiva entre a Marfrig e o sindicato da categoria. A decisão atendeu ao pedido de antecipação de tutela ajuizado pelo Ministério Público do Trabalho (MPT), que solicitou a aplicação da multa pelo descumprimento da ordem judicial em R$ 100 milhões e a condenação da Marfrig ao pagamento de indenização, a título de danos morais coletivos, de R$ 16,4 milhões. A reunião de conciliação entre a Marfrig e o Sindicato dos Trabalhadores, na TRT-RS, estava marcada para o dia 5,quando esta edição estava sendo finalizada.

Exportações I

Exportação de gado vivo recua 6% em 2014

A exportação de gado em pé recuou 6,2% em 2014 em volume e 5,8% em receita. Foram embarcadas 645.000 cabeças no ano passado, ante 688.000 em 2013, conforme dados do Ministério da Agricultura (Mapa). Em receita, a retração foi de 5,8%, para US$ 647,9 milhões. A Venezuela continua sendo o principal cliente brasileiro neste seg-

Exportações II

Forte queda em janeiro O ano não começou bem para os frigoríficos exportadores. Em janeiro, os embarques de carne in natura, o de maior peso nas exporações, com mais de 80% do total, caíram, em volume, 29,5% em relação ao mesmo mês do ano anterior e 32% na comparação com de26 DBO fevereiro

2015

mento. O segundo foi do Líbano. Além desses dois países, importaram gado em pé do Brasil Angola, Egito, Senegal, Congo, São Tomé e Príncipe, Surinamete, Turquia, Uruguai e Paraguai. O consultor de mercado da Scot Consultoria, Alex Lopes, acredita que a alta da cotação da arroba, na casa dos 25% em 2014, impactou negativamente as exportações de gado em pé. “A Venezuela talvez esteja mais imune a esta alta diante da crise de abastecimento pela qual passa e tem no Brasil um grande parceiro. Mas os outros países, como o Líbano, por exemplo, contam com outros parceiros comerciais que podem ser fornecedores. A arroba foi o grande vilão para esse recuo nos outros mercados”, explica. zembro. No primeiro mês de 2015, foram embarcadas 109 mil toneladas em equivalente-carcaça de carne bovina in nautura, ante 159 mil em dezembro e 155 mil em janeiro de 2014. Em receita, a queda, na comparação com janeiro de 2014, foi de 29% e sobre dezembro do mesmo ano o recuou foi de 36%. Em janeiro, as exportações de carne in natura renderam US$ 326,4 milhões ante US$

Marfrig II

Novo executivo A Marfrig Global Foods anunciou, no dia 15 de janeiro, a substituição do presidente executivo da companhia, Sérgio Rial, por Martin Secco Arias, atual CEO da Marfrig Beef Cone Sul. Arias assume o cargo em 16 de fevereiro. Rial esteve à frente da companhia nos últimos dois anos e meio e fez sua reestruturação, que estava muito “alavancada”, eufemismo usado no mercado financeiro para empresa muito endividada. O endividamento estrangulou a capacidade de geração de caixa e a empresa enfrentou problemas com capital de giro. Para ganhar fôlego financeiro, a Marfrig, sob comando de Rial, se desfez da Seara, comprada por seu principal concorrente, a JBS. Graças ao seu trabalho, a Marfrig reduziu sua dívida bruta para R$ 7,5 bilhões e recuperou a credibilidade no mercado, refletido em suas ações, que se valorizaramo em 50% em 2014. Secco está no grupo há mais de oito anos, desde a aquisição do Frigorífico Tacuarembó no Uruguai, que pertencia à sua família e do qual era um dos acionistas. Em nota, o novo presidente ressaltou que a estratégia da companhia não muda, tranquilizando o mercado, que temia mudança de rumo da companhia. “Nosso comprometimento em perseguir geração de fluxo de caixa livre positiva, expansão de margens, crescimento sustentável e desalavancagem plurianual não se alteram. Permanecemos comprometidos com a criação de valor na empresa”, diz a nota da Marfrig.

459 milhões em janeiro de 2014 e US$ 511 milhões em dezembro do mesmo ano. Além da queda em volume e em receita, houve recuo no preço em dólar na comparação com dezembro último, de US# 4.704 à tonelada líquida para US$ 4.411, recuo de 6,23%. Na comparação com o mesmo mês do ano anterior, houve uma ligeira alta de 1%, de US$ 4.367 para US$ 4.411.


Mercado Externo

Venezuela enviará missão ao Brasil em abril O governo da Venezuela enviará missão ao Brasil em abril para verificar os controles oficiais dos produtos exportados, especialmente carnes, e avaliar a possibilidade de ampliar a lista de estabelecimentos exportadores habilitados. A lista atual tem 200 empresas e será prorrogada até maio, informou o Ministério da Agricultura. Também está prevista a continuidade na discussão sobre procedimentos de certificação para a exportação de gado em pé ao país. A receita com as exportações de gado em pé para a Venezuela, principal cliente do Brasil neste segmento, chegou a R$ 555 milhões em 2014. No mesmo ano, o Brasil exportou US$ 3,05

bilhões em produtos do agronegócio para aquele país. Apenas em produtos do setor de carnes, a receita alcançou US$ 1,35 bilhão, sendo US$ 904 milhões de carne bovina e US$ 428 milhões de carne de frango, mas, para continuar importando do Brasil, a Venezuela enfrenta falta de dólar para pagar os exportadores do País. Para não perder vendas para esse país, o governo brasileiro estuda meios para driblar esse problema e manter as exportações de carnes, bois em pé e leite em pé. Uma das saídas estudadas é o País importar petróleo e derivados e pagar os valores dessas compras diretamente para as empresas exportadoras.

Frigoríficos I

Justiça decreta falência do Mondelli O frigorífico Mondelli teve a falência decretada pela juíza Rossana Curioni Mergulhão, da 1ª Vara Cível do Fórum de Bauru, em dezembro. Conforme a juíza, os acionistas deixaram de apresentar documentos à época do pedido de recuperação judicial (fevereiro de 2012) e o plano para o pagamento dos credores era, nas palavras da magistrada, “lacunoso”. Com apenas uma unidade de abate, o Frigorífico Mondelli foi fundado por Vangélio Mondelli em Bauru e por muitos anos foi fornecedor de carne de qualidade para Marcos Guardabassi, açougueiro que criou nos anos 1970 a marca Bassi, hoje nas mãos da Marfrig. Antes do frigorífico,

Mondelli comercializava miúdos bovinos em Bauru. A briga entre os herdeiros pelo comando do frigorífico, provocou a ruína da empresa. Constantino Mondelli Filho, um dos sócios, foi afastado do comando em agosto de 2013 por determinação da Justiça. O empresário, que já travava uma batalha judicial para voltar à presidência do Frigorífico Mondelli, pretende entrar com um agravo de instrumento para reverter a falência. Desde o afastamento de Constantino, a gestão da empresa está a cargo da Hapi Comércio Alimentício, maior credora do Mondelli e que pertence ao ex-cunhado de Mondelli Filho, Charles Leguille.

Frigoríficos II

Júnior Friboi adquire o Mataboi A JBJ Agropecuária, que pertence a José Batista Júnior, conhecido como Júnior Friboi, informou ao mercado que adquiriu as ações da Fratelli Dorazio Investimentos S.A., detentora da Mataboi Alimentos S.A. O contrato de compra e venda de participação societária foi celebrado em 22 de dezembro. A conclusão do negócio ainda depende de condições suspensivas. Os valores e condições da negociação não foram revelados. Até a compra do Mataboi, a JBJ atuava na pecuária de corte, seis fazendas dedicadas à cria e à recria no Centro do País. Herdeiro da JBS e filho de José Batista Sobrinho, José Batista Júnior vendeu em 2013

sua participação na holding J&F aos irmãos Wesley e Joesley Batista para se dedicar à política. Era para ser candidato a governador do Estado de Goiás pelo PMDB, mas perdeu a disputa para Iris Rezende, que, por sua vez, foi derrotado por Marconi Perillo, candidato à reeleição. O Mataboi conta com três unidades de abate: Rondonópolis, MT, Santa Fé de Goiás, GO, e Araguari, MG, e têm capacidade de abate de 2.600 bovinos. Em 2014, faturou R$ 1,6 bilhão. Com 2.700 funcionários, a empresa tinha pedido recuperação judicial em 2013 e ainda aguardava a decisão da Justiça sobre o pedido. Sua dívida é estimada em R$ 400 milhões. DBO fevereiro 2015 27


Nutrição | Subprodutos

Novidade no cocho

Subproduto da indústria de etanol à base de milho, o DDG surge como nova alternativa de fonte proteica, substituindo em até 100% o farelo de soja.

Fotos Ariosto Mesquita

O DDG é um insumo bastante utilizado nos EUA, mas somente agora está chegando ao mercado brasileiro, após a instalação das primeiras usinas flex no País, em Mato Grosso.

n Ariosto Mesquita de Campo Grande, MS Colaborou Maristela Franco

E

le começou a ser produzido no Brasil no início da década, no Mato Grosso, pelas primeiras usinas flex de etanol do País, que, além de cana-de-açúcar, processam grãos. Em 2013 e 2014, foi parar no cocho de alguns confinamentos e fez sucesso. Agora, a expectativa é de que se consolide como alternativa ao farelo de soja, principal fonte proteica usada em dietas para ruminantes no Brasil. Possui entre 30% e 35% de proteína bruta, ante 40% a 45% do farelo, mas custa quase 50% menos. Trata-se do DDG, sigla em inglês para Dried Distillers Grains

28 DBO fevereiro 2015

(Grãos Secos de Destilaria), resíduo de cor dourada, obtido após a moagem, cozimento, fermentação e destilação do milho para obtenção de etanol. A preços de janeiro, sua inclusão na dieta garantia retorno 5% maior do que o farelo. Nos Estados Unidos, o DDG é utilizado desde a década de 90, principalmente como fonte de energia, substituindo o milho em grandes proporções (30 a 50%), devido ao preço atrativo e à oferta abundante. Na safra 2012/2013, as usinas norte-americanas produziram 39 milhões de toneladas, ante 1 milhão de toneladas em 2000/2001. Como no Brasil há baixa disponibilidade do produto, ele está sendo usado como fonte proteica, na proporção de até 15% da dieta.

Quem produz – Em 2014, apenas duas usinas mato-grossenses comercializavam o insumo: a Libra, de São José do Rio Claro, e a Usimat, de Campos de Júlio, distantes 320 e 545 km de Cuiabá, respectivamente. Não se conhece a produção de DDG das duas empresas, mas, pela quantidade de cereais que processam (200.000 t/ano), estima-se que fique entre 40.000 e 50.000 t/ano. A oferta, entretanto, tende a crescer (veja matéria à pág 30). “Hoje, vemos o DDG como o principal produto das usinas flex, ficando o etanol em segundo plano”, admite Jorge dos Santos, diretor executivo do Sindicato das Indústrias Sucroalcooleiras do Estado do Mato Grosso (Sindalcool-MT). Sua afirmação apoia-se em duas constatações: o mercado interno para o etanol no Mato Grosso é pequeno e a demanda por DDG, grande. “Nosso Estado possui o maior rebanho bovino do País (28,7 milhões de cabeças) e uma crescente produção de suínos e aves. Há demanda por DDG de todos os lados. O que se produz vende. Não dá para quem quer. Em contrapartida, não sabemos o que fazer com o etanol”, avisa, referindo-se a questões logísticas que dificultam o escoamento de excedentes do produto. Cliente cativo – Um dos consumidores cativos do novo insumo é a Marfrig Foods, que passou a utilizá-lo, em 2014, em seu confinamento da Fazenda Gera, localizada no município de Campo Novo do Parecis, a 384 km de Cuiabá. A unidade tem capacidade estática para 26.000 cabeças e confina animais próprios, além de prestar serviços a terceiros. “Em 2014, usamos pelo menos 2.300 t de DDG em nossas formulações, substituindo parcial ou totalmente o farelo de soja. Neste ano, o consumo deverá chegar a 4.500 toneladas”, informa Luis Felipe Steck Niero, gerente de compra de insumos para confinamentos da Marfrig. O produto foi oferecido à empresa pela Libra Etanol, que fica a 120 km das


Resíduos de grãos destilados diminuíram custo com alimentação em 5% no confinamento da Marfrig, em Campo Novo dos Perecis, MT.

Wagner Lopes, da Marfrig: “produto tem boa aceitação no cocho”.

instalações de engorda de Campo Novo dos Perecis. Luis Niero e o então gerente da fazenda, Fernando Nassar, visitaram a usina para conhecer o processo de fabricação do produto, em fins de 2013, e encaminharam uma amostra para análise nutricional, aprovando o resultado. Wagner Leandro Lopes, à época supervisor operacional do confinamento, acompanhou de longe os primeiros contatos. Hoje, como gerente da propriedade, trabalha para não faltar DDG no cocho dos animais, porém não esconde sua pouca familiaridade com o produto, ainda novidade no Brasil. “Começamos a

Pesquisa avalia o DDG A Universidade Estadual Paulista Campus Jaboticabal (UNESP Jaboticabal) e a holandesa Nutreco, especializada em nutrição animal, iniciaram em janeiro deste ano uma avaliação científica de desempenho do DDG na recria e na terminação de bovinos Nelore em ambiente tropical, a pedido da Usimat. “A partir do estudo será possível solicitar o registro do produto no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, o MAPA, e vendê-lo como ingrediente para empresas que formulam rações”, explica Josiane Fonseca Lage, supervisora de pesquisa e desenvolvimento na área de ruminantes da Nutreco. Estão sendo utilizados 84 bovinos de 250 kg, em média, divididos em quatro grupos de 21, submetidos aos seguintes tratamento a pasto: suplementação apenas com sal mineral; suplementação convencional, tendo o farelo de algodão como

trabalhar com esse insumo em 2014; admito que não o conhecia”. Após o fornecimento das primeiras 500 toneladas, ele logo constatou diferenças. “O DDG se mostrou mais palatável, com aceitação no cocho superior à de outras fontes de proteína. Com ele, conseguimos retirar o farelo de soja da formulação e diminuímos a inclusão de torta de algodão como fonte proteica”, explica. A mudança de ingrediente não fonte proteica; substituição dessa fonte por 50% de DDG e substituição total do farelo pelos grãos de milho destilados. A suplementação proteico-energética está sendo fornecida na proporção de 0,3% do peso vivo/animal/dia. Os primeiros resultados estão previstos para abril, mas o trabalho será conduzido até a fase de terminação e abate dos animais, previsto para outubro ou novembro de 2015. Veja abaixo algumas infomações sobre a composição nutricional do DDG. Subproduto tem mais proteína degradável no rúmen Composição

Farelo de soja

DDG

Proteína Bruta

45% a 47%

30 a 35%

Tabela DDG 30%

Proteína By-pass*

60 a 70%

Lipídios (gordura)

2%

8 a 12%

Fibra (FDN)

16 – 18%

40%

(*) Proteína que não sofre degradação no rúmen. Fonte: Josiane Fonseca Lage – Nutreco

afetou o desempenho dos animais, que atingiram o peso projetado (1,650 kg/ cab/dia). “Com um ano de fornecimento, é cedo para mensurar ganhos em eficiência e operacionalidade, mas o produto nos permitiu agregar valor à carcaça, devido à redução nos custos com alimentação”, afirma o gerente da Marfrig. econômica – Mesmo sem revelar o custo total da dieta no confinamento, por questões estratégicas, Wagner Lopes informa os preços de aquisição do insumo, que ajudam a fazer análises de viabilidade. “Nos últimos meses de 2014, pagamos R$ 512 pela tonelada de DDG, incluindo R$ 42 de frete. Já a tonelada do farelo de soja saía à época por R$ 950, valor 85,5% maior. E a quantidade usada dos dois produtos é muito semelhante”, informa, acrescentando que, em 2014, os animais comeram, em média, 1 kg de DDG cab/dia. O produto é entregue quando a usina está processando milho e pode ser estocado por períodos relativamente longos sem risco de perda, pois é seco. Segundo Pedro Terêncio, gerente de estratégia e tecnologia da Nutron/Cargill, empresa de nutrição que formula dietas para a Marfrig, quando utilizado na proporção de até 15% da dieta, o DDG é considerado uma fonte proteica; acima desse valor, já seria também uma fonte energética, podendo retirar milho da dieta, como acontece nos Estados Unidos. No projeto da Marfrig,

Viabilidade

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DBO

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Nutrição | Subprodutos dietas com farelo de soja. “Esse índice sofre constantes alterações, pois o cálculo depende dos ingredientes disponíveis no mercado, de seus percentuais de matéria seca, dos custos de aquisição e fretes. Portanto, a briga não é apenas entre DDG e farelo de soja. Tudo que envolve o conteúdo de uma dieta deve ser considerado”, lembra o técnico. Segundo Pedro Terêncio, o DDG pode ser especialmente interessante em períodos de alta do farelo de soja. “Mas não devemos esquecer de que se trata de um subproduto, portanto, sujeito a variações no valor nutricional, devendo ser analisado regularmente”.

ele é usado em proporções variáveis, de 5% a 25%, em função da fase de engorda. “Nos períodos de adaptação e crescimento, trabalhamos com percentuais de 8% a 25%, em contraste com 4% a 6% do farelo de soja. Na terminação, o percentual varia de 5 a 15%”, explica Leandro Campos Silva, técnico da Cargill que acompanha o projeto de Campo Novo dos Parecis. Considerando-se as condições de disponibilidade e de preço registrados em janeiro de 2015, Silva garante que as formulações com DDG possibilitavam um retorno econômico 5% superior ao das

Leandro Silva, da Nutron/Cargill, mostra produto armazenado.

Oferta deverá aumentar em breve Mais quatro usinas deverão começar a produzir etanol e DDG em 2015/2016 produção de etanol à base de milho inicia 2015 com fortes investimentos nacionais e estrangeiros. Pelo menos mais três unidades deverão entrar em operação neste ano ou no primeiro semestre de 2016, somando-se às duas já existentes (Usimat e Libra). Uma delas é a Usina Pantanal, em Jaciara, a 144 km de Cuiabá, MT, adquirida no ano passado pelo grupo imobiliário Porto Seguro, que pretende adaptá-la para produção flex, de olho no mercado de DDG. Em Goiás, outra unidade flex poderá ser ativada no município de Rio Verde, a 238 km da capital, Goiânia. Também entrará em funcionamento a primeira unidade full (que processará exclusivamente milho), em Chapadão do Sul, a 333 km de Campo Grande, MS. O projeto é do consórcio de empresas norte-americanas formado pela POET e BioUrja Trading, que pretendem processar cerca de 380.000 toneladas de milho e produzir 100.000 toneladas de DDG por ano. A POET possui 27 destilarias nos Estados Unidos, fatura US$ 5,2 bilhões por ano e é responsável por 10% da produção de etanol daquele país. Já a BioUrja é especializada em logística de distribuição de com30 DBO

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Roberto Machado

A

Planta da Usimat, em Campos de Julho, MT: pioneirismo no sistema de produção flex.

bustíveis. Em níveis tecnológicos, deverá ser a usina de etanol mais moderna do País. O investimento total previsto em Chapadão do Sul é de US$ 300 milhões, mas o consórcio pretende desenvolver mais quatro usinas no Estado. Outro projeto aguardado é o da Fiagril, que planeja investir R$ 230 milhões em uma planta também full, em Lucas do Rio Verde, MT, com capacidade para produzir 200 milhões de litros de etanol. Para isso, busca recursos do FCO (Fundo de Desenvolvimento do Centro-Oeste) e do US Farmland

Fund, da Sammet Group, com sede em Minessota, Estados Unidos. O Grupo Maggi também estuda entrar no segmento de etanol à base de milho. Outro projeto previsto é o da SJC Bionergia, joint-venture formada pela Cargill e o Grupo USJ, que pretendem adaptar duas usinas de cana em Quirinópolis, GO, para processar também grãos. Pioneirismo – Tanto interesse pelo etanol de milho tem razão de ser. A Usimat, pioneira na produção do combustível no País, comemora sinergias e no-


A credibilidade evoluiu ainda mais e ganhou números atualizados. GENÉTICA AMERICANA DO LEITE: ABSOLUTA.

TPI: Os melhores resultados para selecionar o seu rebanho. (valores relativos %)

Proteína Gordura Eficiência alimentar PTA TIPO Caracterização leiteira Composto de úbere Composto de pernas e pés Vida produtiva CCS DPR DCE DSB Produção Saúde e fertilidade Conformação PRODUCT OF USA

Fórmula Fórmula JAN 2010 DEZ 2014 27 16 10 -1 12 6 9 -5 11 -2 -1 43% 29% 28%

USE GENÉTICA AMERICANA.

E M P R E S A S

A S S O C I A D A S

27 16 3 8 -1 11 6 7 -5 13 -2 -1 46% 28% 26%


Nutrição | Subprodutos Fique atento

Roberto Machado

• “O DDG é um subproduto que vale ouro; uma grande saída para a nutrição animal”, destaca o sócio-diretor da Céleres Consultoria, Ricardo Giannini. Tem concentração de proteína inferior ao do farelo de soja, mas é mais barato em mercados como o Centro-Oeste, no qual os preços do cereal estão muito baixos. Já em regiões onde o milho é caro, a alternativa não é viável. A concentração da proteína do farelo de soja é de cerca de 45%, enquanto a do DDG é de cerca de 30%.

Instalações para produzir etanol de milho custaram à Usimat R$ 45 milhões.

vas fontes de renda, como o DDG e o óleo de milho. Uma das grandes vantagens das usinas flex é a diminuição dos custos fixos, já que elas passam a funcionar o ano inteiro, enquanto as de cana trabalham seis meses. As safras das duas matérias-primas são complementares: quando termina uma, começa a outra. Além disso, o bagaço pode ser queimado para produção de energia, recurso não disponível em usinas full, que processam apenas grãos. Administrada pelo grupo Sipal, com sede em Curitiba, a Usimat investiu R$ 47 milhões na adaptação de sua infraestrutura industrial, em Campos de Julho, MT. No primeiro ano (2011), a empresa processou 15.000 toneladas de cereais. Na a atual safra, que se encerra no primeiro semestre de 2015, deverá industrializar perto de 100.000 toneladas. A decisão de se tornar uma usina flex garantiu à Usimat aumentar sua margem líquida de 5% para 15% (em momentos de boa oferta de milho). Parte desse resultado deve-se à receita obtida com DDG, produto que garante lucro de até 40%. Rendimento – Diferentemente da Usimat, a Libra Etanol, de São José do Rio Claro, MT, optou por produzir etanol de milho todos os meses do ano. Para isso, estoca grãos adquiridos na safra ou recorre ao mercado. “Atualmente, de cada tonelada processada de milho, obtemos 32 DBO

fevereiro 2015

200 kg de DDG (20% de rendimento). Nos Estados Unidos este índice é de 32%. Nossa meta é chegar a 27%, após fazer ajustes e adequações”, explica Adriano Luis Soriano, gerente da Libra. Na atual safra, que termina em abril, a empresa planeja processar também algo próximo de 100.000 toneladas de milho. Ele garante que, mesmo sem o DDG, uma indústria de etanol à base de cereais é viável no Centro-Oeste brasileiro. No entanto, não informa detalhes: “Existe um cálculo envolvendo diversas variáveis”. Cita, por exemplo, o preço do milho, que no Centro-Oeste tende a ser menor do que no restante do país em função da demanda por grãos inferior à oferta e do frete caro para outros polos de consumo. No ano passado, o custo de produção do litro do etanol de cana era de R$ 1,20, ante R$ 1,08 do de cereais. Em dezembro, a Libra chegou a comprar milho por R$ 7,00 a saca, no período de maior oferta. “Atualmente produzir etanol e DDG de milho é totalmente viável pagando-se até R$ 20,00 a saca”, observa.

• “A grande questão do DDG é ele ser precificado adequadamente no mercado. Nos Estados Unidos, vale cerca de 80% do valor do milho”, diz Giannini. Com o incremento de oferta no Brasil, ele pode se tornar mais competitivo, inclusive como fonte energética. A usina de etanol também pode produzir açúcares de milho no mesmo processo. É a valorização do grão.

gerente da Libra garante que, caso fosse comercializado a R$ 400 a tonelada, o DDG já conseguiria compensar seus custos de produção. Ao final de dezembro a empresa entregava a tonelada por R$ 500,00, segundo Anderson Almeida, comprador de grãos e chefe interino de comercialização de DDG da usina.

Produzir etanol e DDG de milho é viável com o milho custando até R$ 20/saca.

Pulo do gato – Soriano não esconde que o DDG é o pulo do gato do negócio de etanol obtido a partir de grãos. “É lógico que ele ajuda a viabilizar a indústria e deixá-la no azul”, afirma. O

“Atendemos alguns confinamentos próximos. Não temos volume para suprir demandas mais distantes. Mas os resultados de engorda de bovinos com rações que têm esse subproduto como fonte proteica parecem surpreender e chamar a atenção de muita gente”, avalia. As duas usinas flex em funcionamento no Mato Grosso devem consumir, nesta safra 2014/2015, cerca de 200.000 toneladas de milho, o que significa 1,1% das 18,4 milhões de toneladas do cereal colhidas no Estado.


Entrevista

U

EUA produz nova gama de resíduos destilados de fermentação do milho para controlar o pH. DBO – O incentivo do governo à extração de óleo desses resíduos prejudicou a qualidade do produto final vendido aos pecuaristas?

Maristela Franco

m dos maiores especialistas em nutrição de ruminantes dos Estados Unidos, o pesquisador e extensionista Dan Loy, diretor do Centro de Bovinos de Corte da Universidade de Iowa, há anos trabalha com dietas à base de DDG. Iowa faz parte do chamado Cinturão do Milho e possui 42 plantas de etanol, sendo responsável por 25% a 30% da produção desse biocombustível no país. Em setembro do ano passado, ele e sua orientanda, Erika Lin Lundy, visitaram o Brasil para participar da Interconf, Conferência Internacional de Confinadores, em Goiânia, GO. Na ocasião, conversaram com a editora assistente de DBO, Maristela Franco, sobre o uso dos resíduos de grãos destilados nos Estados Unidos, que se encontra em novo estágio. Devido ao incentivo do governo à extração de óleo durante o processo de produção do etanol, esses insumos estão mudando de perfil nutricional.

DBO – Há quanto tempo os produtores norte-americanos utilizam resíduos destilados? Dan Loy – As primeiras usinas foram construídas no final dos anos 90, mas a grande explosão acorreu em 20052007. Usamos tanto o DDG (Dried Distillers Grains, grãos secos de destilaria) quanto o WDG (Wet Distillers Grains, grãos úmidos de destilaria). O primeiro produto contém apenas 10% de umidade, o que facilita seu transporte e armazenagem, porém o segundo é mais rico em energia. Não se sabe bem por que isso acontece: pode ser em função da presença de leveduras ou da melhor conservação de nutrientes, que podem se perder, eventualmente, durante o processo de secagem. O fato é que os resíduos secos têm 10% mais energia do que o milho e os úmidos 10% a mais do que os secos. O DDG transformou-se em uma commodity e está, inclusive, sendo exportado para a China. Já o WDG é consumido localmente,

Erika Lundy e seu orientador, Dan Loy.

por confinamentos distantes no máximo 200 km da usina de etanol, pois se deteriora rapidamente, a não ser que seja ensilado. Por ser mais nutritivo, ele garante melhor desempenho animal. Incluído na proporção de até 30% da dieta, possibilita aumento de 10% a 15% no ganho de peso. DBO – Em que percentuais esses produtos entram nas dietas? Dan Loy – Depende do milho. Se o preço desse cereal sobe, os resíduos de destilaria se tornam mais atrativos e entram em percentuais mais altos na dieta (40% a 50%). Se cai, os produtores passam a usá-los na proporção de 20% a 30%. São insumos altamente energéticos: o WDG, por exemplo, tem 100% de NDT, ante 82% do milho. Trata-se também de uma alternativa interessante para suplementação de animais a pasto, porque contém fósforo. O maior limitante de seu uso é o enxofre, pois as indústrias usam ácido sulfúrico na limpeza de tubos e no processo

Para cada 1% de óleo extraído, o produto perde 1,5% de valor nutricional.”

Erika Lundy – Parcialmente. O governo oferece subsídio de US$ 0,34 por libra (453,6 g) de óleo extraído durante o processo de fabricação do etanol. Isso está diminuindo um pouco a oferta de resíduos e alterando sua composição. Para cada 1% de óleo extraído, perde-se 1,5% do valor nutricional do produto. Desenvolvemos, recentemente, uma pesquisa, a pedido da empresa Quad County Corn Process, de Galva, Iowa, para avaliar o impacto dessa “nova geração” de grãos destilados sobre o desempenho animal.

DBO – Como foi o resultado do trabalho? Erika Lundy – Acompanhamos 168 animais Angus confinados, durante 94 dias. Eles foram divididos em grupos iguais e submetidos a quatro tratamentos diferentes: uma ração contendo 30% de ACE (nome que se dá aos resíduos após a extração do óleo), outra contendo 30% de WDG, uma terceira com 30% de ACE mais solúveis e uma quarta, apenas com milho. Os animais que receberam WDG apresentaram maior ganho de peso e melhor eficiência alimentar, em função do maior nível de energia da dieta. Os animais tratados com ACE apresentaram peso final semelhante ao dos que receberam resíduos úmidos, mas perderam em eficiência. Ainda assim, seu desempenho foi 20% superior ao do grupo alimentado com ração à base de milho, ou seja, esse produto ainda é bastante interessante do ponto de vista nutricional. Já o grupo arraçoado com ACE mais solúveis perdeu desempenho, devido ao maior nível de enxofre. n

fevereiro 2015

DBO

33


Meio ambiente | Premiação

Bem-estar em primeiro lugar Fazenda ganhadora do 5o Prêmio Produzindo Certo investe nos funcionários n Mônica Costa monica@revistadbo.com.br

João Andrade (centro) recebe o prêmio. Na ponta esquerda, Miguel Cavalcanti, do Beef Point; na da direita, Marcos Reis, da Aliança da Terra. Abaixo, o parque da Paraíso Perdido.

Arquivo Faz.Paraíso Perdido

Fazenda Paraíso Perdido, em Pedra Preta, a 250 quilômetros de Cuiabá, MT, foi a vencedora, na categoria Pecuária, do 5o Prêmio Produzindo Certo, promovido pela Aliança da Terra, entidade sem fins lucrativos. O prêmio foi entregue durante o Beef Summit Brasil 2014, evento do site Beef Point, em 2 e 3 de dezembro, em Ribeirão Preto, SP. O projeto já contempla mais de 700 propriedades pecuárias, num total de 3,5 milhões de hectares. Concorreram ao prêmio 35 propriedades. As fazendas das categorias de Agricultura e Pecuária foram avaliadas pelo corpo técnico da entidade e passaram por votação popular. A categoria “Propriedade que mais evoluiu desde a adesão ao CSS” foi avaliada com base nos perfis produtivo, social e ambiental. Todas as participantes são parceiras da Aliança da Terra e assumiram compromissos para melhorar a gestão nos aspectos ambiental (que analisa critérios como conservação da vegetação nativa e prevenção de incêndios); produtivo (infraestrutura e utilização de tecnologia) e social (questões como condição de trabalho até liberdade pessoal).

Murillo Maione

A

_ No caso da Fazenda Paraíso Perdido, as melhores notas foram alcançadas no Perfil Social, em critérios como capacitação e treinamento, qualidade e moradia e bem-estar infantil. “Investimos em medidas que valorizam a família e promovem maior integração entre os envolvidos no processo de produção da fazenda”, diz João Paulo Alves de Andrade, que conduz a propriedade ao lado da esposa, Melissa Ferraz Carvalho de Andrade. “A fazenda vem aprimorando o seu modelo de produção, alinhado às boas práticas socioambientais e culturais, e percebe que seus colaboradores não querem apenas um lugar para trabalhar, eles procuram por am-

Nota dez no social

34 DBO fevereiro 2015

bientes com salários adequados ao mercado e com qualidade de vida também para as suas famílias”, afirma o criador. Toda a estrutura, antes constituída por casas de madeira, água de cisterna para consumo, lixo a céu aberto, foi alterada em benefício do bem-estar dos colaboradores, que agora contam com uma horta comunitária e recebem orientações para a reciclagem do lixo. A campanha de reciclagem colaborou para a construção do parque de diversões para as 11 crianças, filhas de funcionários, incluindo os filhos do próprio criador. O espaço é o orgulho do pecuarista. Em 1 hectare foi construído um parquinho com escorregadores, rampas, balanças e cordas para tirolesa, além de uma quadra de futebol e espaço livre. Os recursos foram levantados majoritariamente com a venda de materiais reciclados, recolhidos e separados ao longo de um ano. O restante foi coberto por João Paulo e Melissa. “Também construímos quiosques para treinamentos, palestras e confraternizações”, diz.

Graças a parcerias entre fazenda e fornecedores, os funcionários recebem treinamento e cursos de capacitação bimestralmente. As atividades abordam atualizações sobre o manejo sanitário e racional, pasto rotacionado e segurança do trabalho. As ações reduzem o retrabalho e acidentes, diminuem a rotatividade, além de formar profissionais mais comprometidos. “Com uma equipe dedicada, tenho alcançado bons resultados e já penso em aumentar o número de colaboradores”, diz Alves de Andrade. A Paraíso Perdido tem 1.850 hectares e recria 2.500 bezerros trazidos das fazendas localizadas ao sul do Estado, região de Rondonópolis, com 1 ano de vida e média de 12 arrobas. Os animais são mantidos no pasto e recebem ração de alto concentrado (10 quilos/dia/cabeça) por um ano e meio, quando seguem para o abate, aos 30 meses e 19,5 @. Segundo Andrade, as medidas de capacitação, mais as ações de preservação das áreas, como a prevenção de incêndios, têm colaborado para o aumento da produtividade. n


10 ENCONTRO 0

CONFINAMENTO gestão técnica e econômica

ESTRATÉGIA TECNOLOGIA COMPETITIVIDADE LUCRATIVIDADE

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PAINEL INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS

PAINEL ECONOMIA E MERCADO

PAINEL GESTÃO E MANEJO

Desempenho do nascimento ao abate: quanto se deve à matriz? Nutrição pós desmama - enfrentando a primeira seca e preparando o desempenho das águas. Ganho Compensatório X Ganho de Carcaça. Planejar para crescer - demonstração do software Ciclo.

Perspectivas para o mercado de grãos e boi gordo em 2015. Do confinamento ao prato: tendências e desafios da carne bovina. Como o mercado futuro pode alavancar os lucros do confinamento? Quanto custa a ociosidade no confinamento?

AMP feed, um novo ingrediente para dietas de bovinos de corte e suas aplicações. Fatores que influenciam o melhor uso de amido na nutrição de bovinos confinados. Impacto das micotoxinas nos resultados zootécnicos e econômicos do confinamento. Como recriar bezerros em confinamento?

Como transformar o esterco em fertilizante organomineral na propriedade? Fibra efetiva e o desafio de formular dietas de alta energia. Terminação de fêmeas de descarte: riscos e oportunidades. Estudo de caso (Fazenda Santa Maria): Inserção do confinamento no sistema de recria e engorda. Melhor decisão para dias de cocho.

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Capa

FOTOS: FERNANDO YASSU

Suplementação na terminação eleva produtividade e lucro

36 DBO fevereiro 2015

Fornecendo ração de alto consumo na fase final de engorda e investindo em adubação, fazenda rondoniense aumenta produção de arrobas em 59%.


n Fernando Yassu

yassu@revistadbo.com.br

N

Suplementação não exigiu grandes investimentos em instalações

Como lembra o casal, não foi preciso investir na integração com a agricultura para intensificar a produção. Não que eles fossem contra, mas, dizem, o investimento na integração exigiria grande imobilização de capital em maquinários para plantar e colher os grãos e para armazenar a produção. Não é só: lembram também que agricultura é uma atividade de alto ris-

Porto Velho

RO Cacoal

Fazenda em números Nome: Condomínio Minuano (Fazendas Minuano I e Minuano II) Localização: Cacoal, RO Área de pasto: 1.870 ha Rebanho total: 4.207 cabeças Bois vendidos: 1.026 Bezerros desmamados: 1.102

co, especialmente para quem, como eles, não tinham experiência com lavouras. “Não quisemos correr risco, fazendo experiência numa seara desconhecida”, diz o médico. A experiência com a suplementação começou na safra 2012/2013 e, com bom resultado, o casal resolveu estender a técnica na última temporada a todos os machos que atingiam 420 kg de peso vivo, fornecendo uma ração especial até terminar o gado, normalmente com peso vivo final entre 490 e 500 kg. Balanceada pela Vitasal, de Ji-Paraná, RO, a ração tem, além dos macro e microelementos minerais, 16% de proteína bruta e 70% de energia expressa em NDT (Nutrientes Digestíveis Totais). Além dos nutrientes e energia, a ração é preparada com ingredientes que ajudam a melhorar o aproveitamento da forrageira, como ureia e ureia protegida, e aditivos, como monensina e virginiamicina, que, reduzindo a produção de metano no processo de fermentação no rúmen, melhoram o aproveitamento da energia da dieta. O trato durou em média 60 dias, com o fornecimento de 1% (4 kg/dia) a 2% do peso vivo (8 kg), respectivamente na safra e na entressafra. A técnica acelerou o ganho de peso na fase final de engorda de 448 gramas para a faixa entre 1.200 (águas) e 1.400 gramas (seca) por cabeça/dia e ajudou a antecipar a terminação dos animais em até três meses, com redução da idade de abate de 25/30 meses para a faixa de 22/27 meses. Na última safra, 80% dos animais da Fazenda Minuano tinham no máximo dois dentes

Teste –

fevereiro 2015

DBO 37

s

a safra 2013/2014, a Fazenda Minuano I, que se dedica à recria e à engorda no município de Cacoal, RO, registrou ganho de peso médio de 614 gramas por cabeça por dia a pasto. Foi a melhor marca entre as 146 fazendas que fazem parte do portfólio da Terra Desenvolvimento Agropecuário, de Maringá, PR, que conseguiram em média, 346 gramas. Não foi só o clima regional privilegiado que ajudou no desempenho do gado (o Estado de Rondônia registra precipitação pluviométrica anual entre 1.500 e 1.800 mm, o período seco dura apenas três meses do ano e, mesmo na entressafra, se registram chuvas casionais e a temperatura raramente chega a 18º C, limite para que os capins tropicais parem de crescer). O manejo rotacionado bem feito, com a observação rigorosa da altura do capim à entrada e à saída do gado do piquete e a correção da fertilidade do solo, ajudou muito, mas a suplementação de alto consumo a pasto na fase final da engorda foi fundamental na melhora no desempenho do gado. Nas palavras dos proprietários da Fazenda Minuano I, o casal Denyse e Marco Antônio Azevedo, ela arquiteta e ele médico, a suplementação de terminação foi a cereja do bolo no sistema de recria e engorda da propriedade, que, antes do uso dessa técnica, já apresentava uma boa produtividade, com média de 412 gramas por cabeça por dia. O benefício não ficou restrito aos 60 dias da engorda, com a aceleração do ganho de peso e da antecipação do abate. Ela também alavancou a produtividade geral da propriedade. Na taxa de desfrute, o ganho foi de 39%, na produção por hectare o avanço foi de 59% e em cabeças vendidas o aumento alcançou 97%. Na safra 2011/2012, quando forneciam apenas sal proteinado de baixo consumo na terminação do gado, a Fazenda Minuano I registrou taxa de desfrute de 51%, produziu 9,63 arrobas por ha/ano e vendeu 537 animais. Na safra 2013/2014, quando suplementou todo gado na terminação, a taxa de desfrute pulou para 73%, a produção saltou para 15,35@/ha e a venda de animais alcançou 1.026 machos.


Capa Trato começa no aleitamento, com fornecimento de ração em creep feeding.

definitivos, segundo o médico. A suplementação trouxe outro ganho para a propriedade. Ela facilitou o ajuste da carga animal dos pastos, com a retirada contínua dos garrotes que atingiam 420 kg dos módulos de recria e dos bois gordos, com peso entre 490 e 500 kg vivo, dos módulos de terminação. Assim, apesar do salto na produtividade geral, a carga animal cresceu pouco: em cabeças, subiu 37% e em quilos, a alta foi de 9,4%.

como estratégia de manejo do pasto foi melhor do que a do confinamento, segundo Marco Antônio. “Se optasse pelo confinamento, teria que investir em instalações, fábrica de ração, maquinários

Confinamento – Em termos de investimento, a opção pela suplementação

Evolução dos indicadores zootécnicos e econômicos da Fazenda Minuano I, em Cacoal, RO. Safra Rebanho em recria e engorda Ganho de peso por dia/média/ano

2011/2012 (*)

2013/2014 (**)

Evolução

1.050

1.439

37,04%

412 gramas

614 gramas

49,02%

1,5

2,06

37,33%

Lotação média em cabeças Carga animal

1,28 UA/ha

1,4

9,37%

Produção de arroba por ha

9,63

15,35

59,40%

Produção total de arrobas

6.741

10.745

59,40%

R$ 307

R$ 519

69,05%

R$ 215.000

R$ 363.363

69,05%

Taxa de desfrute

51,2%

73,2%

43,00%

Taxa interna de Retorno (TIR)

1,38%

1,46%

5,8%

Lucro bruto/ha/ano Lucro bruto total (***)

(*) Sal proteinado de baixo consumo na recria e engorda. (**) sal proteinado de baixo consumo na recria e ração de alto consumo. (***) Não leva em conta depreciação, mas inclui investimento. Fonte: Terra Desenvolvimento Agropecuário (Maringá, PR).

Indicadores econômicos e zootécnicos da Fazenda Minuano II, Cacoal, RO Safra

2013/2014

Evolução

Rebanho

2.645

2.768

4,65%

Desfrute

34,4%

40%

16,28%

Ganho de peso gramas/dia/média/ano

277

309

11,55%

Produção de arrobas/ha/ano

3,73

8,89

15%

Lotação média em cabeças

2,3

2,37

3,04%

1,3 (585 kg vivo)

1,63 (734 kg vivo)

25,38%

Custo do bezerro à desmama (R$)

652,00

400,00

-38,65%

Receita por ha (R$)

287,00

571,50

99,21%

1,45%/mês

1,64%

13,10%

Taxa Interna de Retorno (TIR)

Fonte: Terra Desenvolvimento Agropecuário (Maringá, PR).

38 DBO fevereiro 2015

A conta da suplementação foi salgada, ficando entre R$ 3 (nas águas) e R$ 6 (na seca) por dia e, respectivamente, R$ 180 e R$ 360 por cabeça em 60 dias de trato. Na última safra, a Fazenda Minuano I gastou R$ 470.000 apenas com sal mineral proteinado e ração para suplementar o rebanho de 1.439 bovinos em recria e engorda. Foi de longe o item de maior peso no desembolso, que inclui custeio e investimento, da propriedade. Sozinha, a nutrição representou 57,3% do total de R$ 820 mil gastos com o rebanho na temporada 2013/2014 e fez com que a propriedade tivesse o maior desembolso entre as 146 fazendas que têm consultoria

Custo alto –

2011/2012

Carga animal em UA/ha

para distribuir os alimentos no cocho e para o plantar, colher e armazenar o volumoso”, observa. Para suplementar a pasto, o médico investiu apenas em cochos simples feitos de tambor de plástico cortado ao meio e fixado em suportes de madeira, o que, em termos de capital, foi quase nada. Os cochos foram instalados próximos dos saleiros e dos bebedouros, que, ainda, são naturais. “Além do alto investimento, o confinamento, em Rondônia, não é funcional por causa do clima: nosso problema é que chove, com intensidade maior ou menor, nos nove meses do ano”, justifica. Sem confinamento, além de poupar capital em instalações e em maquinários, o médico não precisou contratar funcionários. Contando a propriedade que se dedica à atividade de cria, o médico continuou com quatro pessoas, o que dá uma média de um funcionário para 1.052 cabeças na safra 2013/2014. O peso da mão de obra não passou de 5,7% dos custos totais.


Na recria, os garrotes recebem sal proteinado especial, com consumo de 0,1% a 0,3% do peso vivo do animal.

da Terra, gastando R$ 47,25 por cabeça/ 47,46 por cabeça por mês, a antecipação mês ante R$ 37,60, mas o investimento do abate em três meses gerou uma economia de R$ 142 por boi terminado, pacompensou, no dizer dos proprietários. Segundo eles, gastou-se mais gando, assim, parte da suplementação. A suplementação também melhorou o mas ganhou-se mais. Na temporada 2013/2014, a Fazenda Minuano I apre- rendimento de carcaça, que passou de 52 sentou lucro operacional de R$ 520 por para 54%. Na média, foi de 17,16 arrobas ha/ano, enquanto as 146 clientes da por cabeça para 17,86. O ganho foi de 0,7 Terra conseguiam média R$ 67,42. De- arroba por cabeça. Em dinheiro, R$ 77 por talhe: não houve diferença significati- cabeça, com a arroba vendida a R$ 110. va no preço médio de vendas - R$ 110 “Contando apenas a economia decorrente da antecipação do e R$ 109, respectivaabate e da melhora no mente, por arroba. rendimento de carcaO resultado ecoRebanho em recria ça, ganhamos R$ 220 nômico veio do gaaumentou 37%, mas por cabeça”, contabinho de escala, com venda de bois, 97%. liza o médico. aumento da produção física de arrobas Trato – O trato do em 59%. O ganho de escala , por sua vez, levou a um desem- gado começa quando o animal chega à bolso menor por arroba produzida, que propriedade, após a desmama. Melhor ficou em R$ 76,25. Na mesma safra, a dizendo, começa já na fase de cria, que média das 146 fazendas que fazem par- é feita em outra propriedade do casal, a te do portfólio da Terra ficou em R$ Fazenda Minuano II, que também fica no 102,44. município de Cacoal. Além do ganho de escala, a Fazenda A justificativa para o trato desde quanMinuano I economizou com o encurta- do o animal começa a ruminar é aproveimento do ciclo de produção em três me- tar as fases em que ele apresenta a melhor ses em média. Como desembolsou R$ conversão. Ou seja, quando ganham mais

Tripé tecnológico _ adubação, observação da altura do capim à entrada e à saída do piquete e suplementação _ garante alta produvidade a pasto.

fevereiro 2015

DBO 39


Capa

Em parceria com empresas, a Fazenda Minuano I está testando vários tipos de adubo.

peso com menor aporte nutricional. Recebendo apenas 200 gramas de ração em creep feeding, os bezerros machos, por exemplo, ganharam, em média, no período de aleitamento de oito meses, 730 gramas por dia e, do nascimento à desmama, 175 kg, desmamando com 210 kg. Na recria, a conversão alimentar também é bem melhor do que na terminação Nesta fase, os garrotes, para depositar 0,64 grama de proteína (2,8 gramas de músculo), precisam receber 3,5 kcal de energia, segundo o professor Dante Pazzanese Lanna, do Depar-

tamento de Zootecnia da Esalq/USP, citado no artigo “Engano do Ganho Compensatório”, de Flávio Dutra de Rezende e Gustavo Rezende Siqueira, publicado na edição de DBO de dezembro último. Para depositar 0,64 grama de lipídio (0,7 grama de tecido de gordura) na fase final de terminação, o animal precisa receber um aporte de 6 kcal de energia, segundo o mesmo professor. Na ponta do lápis, para depositar quatro vezes a mais de tecido muscular, um animal em recria precisa receber apenas 58% de energia do que um em

terminação para depositar um quarto de tecido de gordura. Assim, em vez de oferecer apenas sal mineral comum, Marco Antônio resolveu fornecer na recria um sal proteinado especial, que tem 35% de proteína bruta mais aditivos (ureia protegida, cromo, leveduras e salinomicina), com consumo de 0,1% do peso vivo, no início, e 0,3%, na fase final da recria. Na safra 2013/2014, os animais em recria ganharam até 650 gramas por cabeça por dia, mas a média ficou em 500. A duração da recria variou em média de 12 a 17 meses.

Adubação estratégica Na Fazenda Minuano I, o médico Marco Antônio Azevedo tem três elementos essenciais para o desenvolvimento do capim: sol, calor e chuva em pelo menos nove meses do ano. No caso da propriedade, a qualidade do solo entretanto deixa a desejar - mas não é nenhum desastre. “É um solo arenoso que exige a correção de sua fertilidade”, observa. Como adubo chega muito caro em Rondônia e o Estado contava apenas com uma pequena mina de calcário, o médico sempre foi comedido nos gastos para a correção do solo. “Por causa dos custos da correção do solo, é preciso planejar a produção de capim de forma cirúrgica. Não podemos deixar faltar capim, mas, também, não podemos deixar sobrar”, explica. “Se sobra, desperdiço o adubo. Se falta, o gado passa fome”, observa.

40 DBO fevereiro 2015

Com a suplementação na terminação, Marco Antônio introduziu uma novidade, que, ao mesmo tempo, economiza com insumos e não deixa faltar comida para o gado. É a adubação tópica em cobertura em um ou mais piquetes nos módulos de manejo, que têm em média oito subdivisões. Como lembra o produtor, a adubação tópica em cobertura, com uma fonte nitrogenada, exige que o solo do módulo de manejo não apresente acidez ou carência de macroelementos, como fósforo ou potássio. “Não adianta fazer adubação em cobertura se o solo tiver deficiência em outros nutrientes. A resposta será baixa”, observa. Por essa razão, a Fazenda Minuano, também, investe na correção da fertilidade do solo, repondo eventuais

carências de algum nutriente. Não é aleatória essa correção da fertilidade do solo. A reposição é feita com base no resultado da análise do solo, que é feita anualmente. Independente da análise do solo, o médico monitora sinais que indicam carência de nutrientes (folhas amarelecidas, por exemplo) ou de início da degradação do pasto, como o avanço das invasoras ou de cupim de montículo. “Não deixamos que o pasto se degrade”, diz Marco Antônio. Com a correção de reposição e adubação tópica, a Fazenda Minuano I gastou R$ 130 mil com calcário e fertilizantes, média de R$ 185 por ha, mas, de outro lado, aumentou a carga animal em 9% (de 1,28 UA/ha/ano ou 576 kg para 1,4 ou 630) e 37% em cabeça (de 1,5 para 2,06).


Cria lucrativa Apesar do excelente resultado na atividade de recria e engorda, foi na cria que o casal Denyse e Marco Antônio Azevedo conseguiu o maior ganho econômico. Na safra 2013/2014, o lucro operacional que não leva em conta depreciação e nem remuneração de capital terra - bateu em R$ 571 ha, R$ 52 a mais do que na atividade de recria e engorda. O lucro não foi em decorrência do estouro do preço dos bezerros. Contabilmente, a Fazenda Minuano II, que faz a cria, “recebeu” da Fazenda Minuano I , que faz a recria e engorda, um ágio de 10% sobre a arroba do boi, o que, na safra 2013/2014, deu média de R$ 121 por arroba. No mercado, o sobrepreço chegou a superar 32% na mesma safra. O bom resultado econômico na atividade de cria veio da boa qualidade do solo, que, até agora, tem dispensado até a necessidade de adubação para a reposição de nutrientes. Enquanto a Minuano I gastou, na safra 2013/2014, R$ 130 mil com calcário e adubo, a Minuano II não teve nenhum dispêndio com o pasto, a não ser com as cercas. Mesmo sem adubação, conseguiu trabalhar com uma carga animal de 730 kg de peso médio ano (1,63 UA/ha). Além do solo de qualidade, a estratégia de mandar os bezerros para a Minuano I assim que desmamam e a suplemen-

Reprodução é baseada em IATF com sêmen de Angus e repasse com touros Nelore

tação das vacas de descarte _ por idade, por infertilidade, por problemas de tipo ou por falta de habilidade materna (abandona ou desmama bezerro mito leve) - enquanto estão aleitando suas crias ajuda na gestão da carga animal ao longo do ano. Com essas duas estratégias, a Fazenda Minuano II chega no período seco sem os bezerros e sem as fêmeas de descarte, que, com a suplementação enquanto aleitam as crias, já estão praticamente prontas para o abate poucos dias após a desmama, aliviando, assim, os pastos antes do período de menor oferta forrageira. Mesmo fornecendo ração no creep

feeding para os bezerros e suplementanto as vacas de descarte, o gasto com nutrição _ sal mineral, proteinado e ração ficou em R$ 133 mil na safra 2013/2014 para um rebanho de 2.768 cabeças, das quais 1.542 fêmeas em serviço de reprodução (vacas, primíparas e novilhas), 3,5 vezes a menos do que despendeu a Minuano I, com 1.439 animais. Sem ter que investir em adubação de pastos, a Minuano II gastou apenas R$ 400 por bezerro desmamado na estação de monta 2013/2014. Contando as fêmeas de descarte e os bezerros, o custo da arroba produzida fi-

fevereiro 2015

DBO 41


Capa Pecuarista por acaso A “gestação” do médico Marco Antônio Azevedo e da arquiteta Denyse como pecuaristas começou de uma brincadeira entre os dois quando ainda estudavam no Rio de Janeiro nos anos 80 e eram namorados. “Um sonho?”, perguntou Marco Antônio para Denyse. “Uma fazendinha com 100 vaquinhas”, respondeu ela. Detalhe: nem o médico e nem a arquiteta têm raiz no campo e nem nasceram num Estado com tradição agrícola. Ele nasceu no Espírito Santo e ela, no Rio de Janeiro. Marco Antônio foi parar em Cacoal e Denyse o seguiu, mas não foi a brincadeira que os levou para Rondônia. “Fomos atrás de trabalho, influenciados pela história de migração de capixabas para o Estado após uma forte crise do café”, diz o médico. “Rondônia virou produtor de café por causa dessa migração”, lembra. O sonho de Denyse se materializou em 1989, com a compra de 100 ha e das primeiras 100 vacas em Cacoal, o embrião do projeto de pecuária de corte do casal. Em 25 anos, a área de terra se multiplicou por 25 e o rebanho por 40. “A pecuária de corte deixou de ser um hobby e virou um negócio sério”, diz o médico. “Ela nos deu uma renda mensal de R$ 86 mil em 2014”, observa Marco Antônio.

cou em R$ 52,26. Como vendeu os bezerros para a Fazenda Minuano I e as fêmeas de descarte para os frigoríficos por um preço médio de R$ 116,58, a Minuano II registrou lucro por arroba produzida de R$ 64,27, com margem sobre venda de 55%.

Cada funcionário do Condomínio Minuano cuida de 1.052 cabeças

42 DBO fevereiro 2015

Sócio do maior hospital privado de Cacoal e um dos maiores de Rondônia, Marco Antônio virou um estudioso da pecuária de corte. Foi ele quem subdividiu os piquetes para a implantação do pastejo rotacionado e planejou os currais antiestresse, um dos primeiros em Rondônia. Foi dele, também, a ideia da adubação em cobertura de um ou mais piquetes dos módulos de manejo para que não faltasse e nem sobrasse comida para o gado e ainda racionalizando o uso de fertilizante nitrogenado. Atualmente, ele tenta provar que a morte do braquiarão está relacionada com alta relação do magnésio com manganês. Não foi só a técnica que provoca o seu interesse pela pecuária. Para ele, antes da técnica, vem a gestão. Foi por essa razão que contratou a Terra Desenvolvimento Agropecuário, de Maringá, PR. “Não tomo decisão no escuro. O meu guia são os dados zootécnicos e econômicos que a Terra me fornece e o seu benchmarking diz aonde estou para melhorar”, observa. Marco Antônio diz que aprende a fazer a pecuária porque é aberto às mudanças. Suas duas fazendas viraram campo experimental para empresas tes-

Melhorar - Apesar do ótimo resultado econômico, Marco Antônio Azevedo não está satisfeito com os indicadores zootécnicos. “Taxa de 71,5% de desmama não é boa”, aponta ele. Foi o que obteve na estação de monta de 2013/2014, com IATF com sêmen Angus e repasse com touros Nelore. Com um plantel de 1.542 fêmeas, entre vacas, novilhas e primíparas, produziu apenas 1.127 bezerros e desmamou 1.102. A baixa taxa de desmama na estação de monta 2013/2014 foi puxada pelo mau desempenho das primíparas e das novilhas, que apresentaram taxas de fertilidade de, respectivamente, 62,1% e 74,9%. Nem a média das vacas, de 82,6%, agradou o médico. Foi por essa razão que ele resolveu mudar a alimentação das fêmeas, que, até a última safra, recebiam sal mineral com ureia protegida. Na estação de monta 2014/2015, elas passaram a receber um sal proteina-

Marco Antônio e Denyse, ladeados pelo gerente Fidelis Herculano (esq.) e Hugo Santana, da Vitasal: brincadeira que virou negócio sério.

tar os produtos. Por exemplo, a Vitasal desenvolve um novo produto a partir da demanda do médico, como o novo sal proteinado para as fêmeas em reprodução. “Ele faz parte de um grupo de 30 pecuaristas que têm a liberdade de sugerir para que desenvolvamos novos produtos e também um dos primeiros a testar”, diz Hugo Santana, da Vitasal. Atualmente, o Condomínio Minuano faz experimento com adubação de pastagens com três empresas: a Vitalis com adubo organo-mineral, a Fertipar com super N protegido e a Heringer com MAP com liberação lenta de fósforo. O zootecnista Daniel de Paula, também, resolveu usar as fazendas do médico como um campo da experimental para validação de pesquisas agropecuárias da Universidade Federal do Mato Grosso, onde é professor.

do adensado de baixo consumo, com ureia protegida, cromo, leveduras e monensina. O resultado apareceu no diagnóstico de prenhez da estação de monta 2014/2015: a taxa de fertilidade das novilhas alcançou 91,4% e das vacas 91,3%. Mas, a taxa das primíparas, ainda, patina: a média ficou em apenas 54,6%, abaixo, portanto, da safra anterior, mas, pondera o médico, o número de fêmeas dessa categoria aumentou de 198 para 447 entre as duas estações. Esse é o grande desafio para o médico alcançar taxa geral de desmama de pelo menos 80%. “O problema das primíparas é que elas precisam receber aporte nutricional para mantença, para crescimento e para a gestação e depois para aleitar as crias”, diz Marco Antônio, que pretende ter, no futuro, 2.000 fêmeas em reprodução, com produção de pelo menos 1.600 bezerros. n



Falta de chuva deixa Santo Antônio em alerta Denis Cardoso

denis@revistadbo.com.br

E

ntre o período de festas de fim de ano e o início de 2015, Paulo Humberto Barcelos, conhecido como “Carabina”, gerente da fazenda Santo Antônio, de Araguaiana, MT, passou parte das manhãs olhando para o céu, na esperança da chegada da chuva na região. Infelizmente, até o início de fevereiro, o nível de precipitação lá pelos lados do rio Araguaia oscilava bem abaixo da média histórica, situação que traz preocupação não só para Paulo Carabina, mas para todos os trabalhadores e pecuaristas da região envolvidos com a estação reprodutiva de fêmeas de corte. No entanto, até o momento, a despeito do pasto afetado pela seca, a Santo Antônio não teve problemas sérios com o seu programa de IATF - Inseminação Artificial em Tempo Fixo. “Graças a Deus, a nossa vacada entrou na estação de monta (iniciada em novembro) com uma ótima condição corporal, o que nos possibilitou ter, até agora, resultados de prenhez satisfatórios”, atesta o gerente. Para quem acompanha desde o início este Vitrine Tecnológica DBO, dedicado exclusivamente ao processo de aplicação da IATF na fazenda Santo Antônio, talvez ainda se lembre das declarações entusiasmadas de Paulo Carabina publicadas na primeira reportagem deste especial, na edição de agosto do ano passado. Na ocasião, o gerente traçava um cenário bastante otimista para a atual temporada reprodutiva, exatamente pelo “ótimo estado corporal das matrizes” , favorecidas pelo registro de chuvas regulares na fazenda, condição que deu sobrevida aos pastos e, consequentemente, sustentou o peso da vacada durante o período de desmama dos bezerros e de iní-

Paulo Carabina: não há tempo para olhar pelo retrovisor

Taxa de Prenhez na IATF e ao Final da Estação de Monta de acordo com o ano* 100

60 40

51,14

46,15

84,35

80,00

76,75

80

53,34

20 0

2011/12

2012/13

2013/14

n % PIA n % FEM *Evolução do programa de Gestão Reprodutivo na Fazenda Santo Antônio. PIA = % de vacas prenhas na IATF FEM = % de vacas prenhas ao final da estação de monta

cio da estação de monta. “Com a atual seca, as matrizes perderam um pouco da condição corporal, mas não a ponto de trazer riscos ao andamento do trabalho de IATF na fazenda”, enfatiza o veterinário Renato Girotto, sócio-diretor da RG Genética Avançada, empresa responsável pelo programa reprodutivo na Santo Antônio. Ele acrescenta:

“Estamos dentro do cronograma”. Como se sabe, o nível de condição corporal da vaca está diretamente relacionado à fertilidade e ao sucesso dos protocolos de sincronização. No entanto, diz Girotto, apesar da estiagem não ter comprometido de maneira drástica o escore corporal das matrizes, é bem possível que, pelos danos já causados ao pasto, a Santo Antônio não consiga mais atingir a meta almejada inicialmente para a atual estação de monta, que sustentava resultados superiores às excelentes taxas médias de prenhez obtidas na estação anterior, de 53% na IATF e de 84% no geral (veja tabela). “Como ainda faltam alguns meses para o fim da estação (encerra na primeira quinzena de março), creio que não será possível ultrapassar os resultados do ano passado, mas, mesmo assim, conseguiremos boas taxas este ano”, avalia o veterinário, que prevê um percentual médio de prenhez à IATF “ao redor de 50%”. Não bastasse a escassez de chuva, a Santo Antônio teve uma surpresa desagradável: o ataque de lagartas em parte do pasto da fazen-

intempéries –


Matriz é descartada do lote de IATF após perder um dos chifres

da. Segundo Girotto, quanto mais cedo se faz o controle da praga, menor é o prejuízo na propriedade. Por isso, conta o veterinário, logo que surgiu o problema, no fim de dezembro, decidiu-se pelo combate aéreo, com aplicação de inseticida sobre a área afetada. No entanto, não foi preciso colocar essa estratégia em prática, pois o registro de um período forte de chuva (embora de curta duração), diz Girotto, acabou “espantando naturalmente as lagartas das pastagens”. Porém, em janeiro, um outro registro de chuva torrencial na região resultou em mais um problema à fazenda, conta o veterinário: “A tempestade destruiu parte da estrutura do curral, da sede e da colônia, atrapalhando um pouco a nossa rotina de trabalho na Santo Antônio”. Paulo Carabina, que aparece nesta reportagem dirigindo o seu caminhão novo, um modelo F-4000/Ford – utilizado basicamente para percorrer os pastos da propriedade, de 10.700 ha de pastagens –, diz que não é hora de olhar para trás. “Não há tempo para lamentações, pois ainda há muito trabalho pela frente e, além disso, temos que começar a definir as estratégias para a próxima estação de monta”, afirma o gerente. Segundo Renato Girotto, caso a estiagem

Longe do retrovisor –

Cerca de 60% das vacas foram inseminadas na Santo Antônio

persista na região, as matrizes terão que receber algum tipo de reforço nutricional (como proteinado energético) no final desta estação, para que elas suportem melhor o próximo período seco (a partir de maio) e entrem com boas condições corporais na estação de monta seguinte. Atualmente, a vacada da Santo Antônio é tratada somente com sal mineral. Segundo levantamento da RG Genética, até a primeira semana de fevereiro, 4.000 vacas foram inseminadas na

MT Araguaiana Cuiabá

Fazenda em números Nome: Fazenda Santo Antônio Localidade: Araguaiana, MT Área de pastagem: 10.700 Estação de monta 2014-15 Rebanho de matrizes: 7.000 Produção estimada de bezerros: 5.900

Santo Antônio, o que representa 60% do total de animais previstos para fazer parte do programa de IATF. Do total de animais que já receberam o protocolo, 1.000 deles (dez lotes) já haviam passado pelo processo de diagnóstico de gestação (via ultrasson), resultando numa taxa de prenhez preliminar de 55%. Com exceção do problema de estiagem, tudo caminha dentro da normalidade na Santo Antônio, informa Girotto. “Não detectamos problemas com as doses de sêmen e touros de repasse, tampouco verificamos falhas no trabalho dos inseminadores ou em algum dos fármacos utilizados”, enfatiza o veterinário. Problemas observados no manejo dos animais, que ocorrem cotidianamente em fazendas que trabalham com grandes rebanhos (7.000 matrizes no caso da Santo Antônio), nem entram na conta do veterinário, que, durante o processo de retirada do implante vaginal de progesterona, resolveu descartar do lote uma vaca (veja foto) que havia perdido um dos chifres durante o manejo posterior à colocação do dispositivo, oito dias antes. “Não havia possibilidade de conseguir êxito com essa vaca, pois o tratamento da ferida com medicamos e o próprio estresse provocado pela situação impediriam a sua prenhez no final da estação”, justifica. n


Genética | Seleção

Touro velho não faz rebanho bom Geneticista faz lista de animais famosos de centrais que não contribuem para o aumento da produtividade das fazendas n Denis Cardoso

denis@revistadbo.com.br

S

em dar nomes aos touros, o geneticista José Bento Sterman Ferraz, professor da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da USP, Campus de Pirassununga (SP), põe em xeque a qualidade genética de alguns reprodutores tidos como “famosos, campeões de venda de sêmen e referências da raça” nas baterias de Nelore das principais centrais de genética do Brasil. Amparado por um levantamento próprio, intitulado “Como estão os nossos touros Nelore ‘importantes’” (veja quadro), o “professor Bento”, como ele é conhecido, diz que muito deles são “fundos de rebanho”, jargão utilizado entre os criadores para classificar os piores animais da fazenda. “Nessa minha listagem, apenas relaciono os nomes de alguns touros famosos com as suas próprias avaliações genéticas existentes nos principais programas de melhoramento da raça Nelore”, esclarece, completando que esses reprodutores apresentam “resultados negativos” para pelo menos quatro características de ordem econômica que ele considera de extrema importância para o aumento de produtividade da pecuária de corte – peso à desmama, ganho de peso ao sobreano, avaliações de carcaça e de precocidade sexual (perímetro escrotal). Além disso, a análise do professor chama a atenção para a “idade avançada” da genética desses animais, a maioria com mais de 20 anos (grande parte deles já falecida e com estoques limitados de sêmen nas centrais). Tal constatação, diz ele, contraria a premissa do melhoramento genético, de que a geração seguinte deve ser sempre superior à anterior. “Tem muita gente comprando sêmen de touros velhos – e pagando caro por isso (acima de R$ 350 a dose) – só porque eles já foram campeões em exposições pecuárias de gado e/ou tiveram filhos premiados em pista”, alerta, acrescentando: “Vai me

46 DBO

fevereiro 2015

José Bento, da USP de Pirassununga: contra a venda de sêmen sustentada apenas pela fama do animal.

dizer que a pecuária brasileira e os critérios de avaliação genética não mudaram nessas três décadas”?, indaga professor. Procurados pela DBO, porta-vozes das centrais Alta Genetics, e ABS Pecplan, ambas com sede em Uberaba, MG, e da CRV Lagoa, de Sertãozinho, SP, dizem desconhecer os detalhes do conteúdo do trabalho do geneticista da USP (apresentado por ele em palestras realizadas em eventos pecuários do ano passado) e, por isso, preferem não se aprofundar sobre o assunto. Márcio Nery, diretor geral da ABS, limita-se a dizer que os “dados genéticos da bateria Nelore da empresa são extremamente atualizados e atendem por completo às necessidades de um produtor de corte moderno”. Ricardo Abreu, gerente Corte Zebu da CRV Lagoa, destaca a importância histórica dos trabalhos do professor Bento em prol do melhoramento genético dos bovinos, e diz que, quem determina o preço do sêmen e a quantidade de doses vendi-

das não é a central, e sim a lei de oferta e demanda, ou seja, o mercado. “Acredito que, se há criadores investindo na genética de touros antigos, é porque estão tendo resultados positivos com isso, seja em leilões, ou por meio de outro canal de negociação”, afirma. Na avaliação de Tiago Moreira Carrara, gerente de Mercado da Alta Genetics, “independentemente do status genético do touro”, a empresa preza pela “ética e transparência” em suas negociações com os pecuaristas. “O nosso papel é tornar a genética de determinado touro disponível aos nossos clientes, tendo como principal critério a total transparência em relação aos dados técnicos desses animais, que podem ser facilmente encontrados nos catálogos publicados em nosso site e também nos sumários de diferentes programas de seleção nos quais eles participam”, afirma. Segundo o professor, o seu trabalho não visa criar atritos com as centrais de genética, tampouco entrar em conflito com selecionadores da raça, tanto que, diz ele, não


há citações de nomes de touros e criatórios em sua análise. “Apenas procuro defender os meus critérios de avaliação genética, que fogem dos métodos utilizados nos chamados ‘concursos de beleza racial’ das exposições pecuárias, e seguem basicamente as ferramentas existentes de predições dos valores genéticos dos animais, que são orientadas sobretudo pelas quatro características de importância econômica citadas no material”, enfatiza. Ainda de acordo com Bento, a “supervalorização de animais” em exposições de gado tem como consequência resultados “imprevisíveis”, que “na maioria das vezes representam um trabalho de seleção contrária aos reais objetivos da pecuária de corte”.

Touro

Perfil

Idade

Decas para características econômicas**

A

Um dos mais caros

29

6

9

0

8

B

Um dos mais vendidos

20

3

8

0

0

C

Uma referência

35

8

0

0

0

D

Outra referência

22

4

0

9

9

E

Muitos filhos

20

4

3

0

3

F

Um touro do momento

11

3

6

0

4

G

Um dos preferidos

15

1

0

0

0

H

Muito famoso

17

1

0

6

6

I

Novidade

6

1

1

1

1

J

Um dos mais vendidos atualmente

19

4

1

1

1

K

Um touro jovem

2,5

1

1

1

1

*Material produzido pelo professor José Bento Sterman Ferraz e apresentado por ele em eventos de pecuária de 2014. **Decas são percentis de 1 (deca 1) 10 (deca 10 ou 0), que correspondem a grupos de 10% dos animais classificados quanto ao valor das suas caraterísticas genéticas . n Ganho de peso à desmama n Ganho de peso ao sobreano n Precocidade sexual n Avaliação de carcaça

“referência da raça Nelore”, que hoje teria 35 anos de idade e possuiu deca zero para três das quatro caraterísticas de importância econômica (ganho de peso ao sobreano; precocidade sexual e avaliação de carcaça), além de deca 8 para ganho de peso à desmama. “Este touro pode ter sido um grande raçador há 20 anos, mas

co de quase 600 touros, ou seja, temos touros para todos os gostos”, enfatiza. O gerente da Alta Genetics propõe ao professor Bento que faça um estudo mais apurado sobre os touros existentes nas centrais, destacando também os “animais jovens que possuem avaliações altamente positivas em diversos programas de me-

“Defendo os meus critérios de avaliação genética, que fogem dos métodos utilizados nos chamados ‘concursos de beleza racial.’” hoje a venda de seu sêmen é sustentada apenas pela fama”, ressalta. Tiago Carrara, da Alta Genetics, afirma que a análise de Bento parece abranger um único foco do diversificado mercado de touros, que é o de animais de pista, que, aliás, diz ele, “também tem o seu valor econômico”. “É como o mercado de carros antigos: não interessa tanto saber se o automóvel é bom ou ruim; o importante é a sua raridade, condição que o torna valorizado aos olhos dos compradores, com preços até mesmo superiores aos dos modelos novos”, compara. Nesse sentido, continua o gerente da Alta, às vezes, o que faz o criador decidir pela escolha de um touro não é necessariamente a sua avaliação genética, mas outros fatores, como a sua importância para a história da pecuária e sua qualidade racial. “Trabalhamos com material genéti-

Outro viés –

lhoramento genético e hoje são recordistas em vendas de sêmen”. Ele cita como exemplo o touro REM USP, de 5 anos de idade, atual destaque da bateria Nelore da Alta, que, somente pelo programa Nelore Brasil, da ANCP, tem 3.000 filhos avaliados em 59 rebanhos. “No ano passado, foi o nosso líder em vendas, com 60.000 doses de sêmen comercializadas”, informa. Segundo o gerente, a genética do REM USP foi usada maciçamente por muitos criadores quando ele ainda era muito jovem, o que lhe permitiu alcançar rapidamente uma alta acurácia (grau de confiabilidade nas predições), acima de 90%. “Hoje, é top 0,1% no Índice MGT (Mérito Genético Total, do Nelore Brasil), se destacando em características de ganho de peso, precocidade sexual e qualidade de carcaça”, afirma. Oriundo do rebanho da Genética Aditiva, do Grupo Hélio Coelho, o

fevereiro 2015

DBO

47

s

Na análise de Bento, os touros estão avaliados em decas, percentis que correspondem a grupos de 10% dos animais classificados quanto ao valor das suas DEPs (Diferença Esperada na Progênie). Essa metodologia de avaliação é utilizada, por exemplo, pelo Programa de Melhoramento Genético da Raça Nelore (PMGRN – Nelore Brasil) da Associação Nacional dos Criadores e Pesquisadores (ANCP). São dez níveis diferentes, que servem para definir rapidamente em que fatia da população o animal se encontra em relação à DEP. Dessa maneira, um touro deca 1 está entre os 10% melhores do rebanho para determinada característica; um deca 2, entre os 20% melhores e assim sucessivamente, até atingir o deca 10 (também chamado de deca zero). Para ficar ainda mais fácil o entendimento em relação ao sistema de classificação por deca, é só imaginar uma pizza de 10 fatias, sendo que primeiro pedaço é melhor que o segundo, que, por sua vez, é superior ao terceiro, e assim em diante. O material do professor da USP faz referência, por exemplo, a um reprodutor já morto, que hoje teria 29 anos de idade e cujo preço do sêmen vendido na central é um “dos mais caros” do País, que possui deca zero (ou deca 10) para a característica de precocidade sexual, ou seja figura entre os 10% piores do rebanho); deca 6 (no grupo dos 60% melhores) para ganho de peso à desmama; deca 9 (entre os 20% piores) para ganho de peso ao sobreano e deca 8 (entre os 30% piores) para avaliação de carcaça. O geneticista também aponta outro touro falecido de central que ainda é uma

Classificações –

Como estão os nossos touros Nelore “importantes”*


Genética | Seleção REM USP, filho do REM Sabiá, une linhagens do IZ, Lemgruber e Ludy, portanto, é sinônimo de peso, rusticidade e habilidade materna. Ricardo Abreu, da CRV Lagoa, também faz menção a um touro campeão de vendas da bateria Nelore da empresa, o PAINT Nitro, “animal relativamente jovem (7 anos de idade), que só em 2014 foi responsável pela comercialização de 100.000 doses de sêmen”. Filho direto do PAINT Impacto, o PAINT Nitro possui linhagens do criatório do Instituto de Zootecnia (Gabinete do IZ) e da Agropecuária Jacarezinho (touro Kulal AJ). Pelo terceiro ano seguido, informa Abreu, o PAINT Nitro ficou em primeiro lugar no Sumário PAINT Consolidado 2014, que reúne, além de todas as DEPs internas do programa PAINT, da própria CRV Lagoa, informações de outros programas de seleção da raça Nelore. “Trata-se de um touro com mais de 6.000 progênies avaliadas, com 99% de acurácia, e que, no total, já ultrapassou as 250.000 doses de sêmen vendidas”, destaca.

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No próprio levantamento do professor Bento, há citações também de touros jovens, apesar da dominância de reprodutores mais velhos. Nessa análise, há a presença de um touro considerado atualmente como “novidade” para o mercado, que tem 6 anos de idade, e possui deca 1 para as quatro características consideradas importantes. Ele também menciona outro animal ainda mais jovem,

cocemente –, pois, futuramente, com o acréscimo no número de filhos avaliados (aumento da acurácia), este animal poderá não se revelar tão bom quanto se esperava dele inicialmente. No entanto, Bento diz que, entre escolher uma genética de um tourinho de baixa acurácia ou de um reprodutor famoso com avaliações comprovadamente ruins, não há dúvidas de que o melhor a se fazer é apostar na genética do animal jovem promissor. “Um tourinho considerado deca 1 incluído num teste de progênie poderá virar um touro deca 2 ou 3 no decorrer de suas avaliações, mas nunca vai se revelar um animal deca 8,9 ou 0”, afirma o professor, que faz um alerta: “No fim das contas, quem deveria determinar os acasalamentos na fazenda é o pecuarista, que só deve comprar material genético de touros muito acima da média naquelas características que ele considera importantes para o seu negócio”. n

“No fim das contas, quem deveria determinar os acasalamentos na fazenda é o pecuarista”, diz Bento. de 2,5 anos, também com deca 1 nas quatro avaliações genéticas. O uso comercial de um touro jovem líder de sumário, porém, sempre traz um algum risco ao rebanho do criador – não é o caso dos dois reprodutores citados acima pelas centrais, testados e aprovados pre-



Criação | Notas Nelore

Nova parceria entre Campus da USP e CFM

Membros da CFM e da USP celebram parceria

A Agro-Pecuária CFM, com sede em São José do Rio Preto, SP, assinou, no fim do ano passado, convênio para fornecimento de genética (sêmen e touros) ao rebanho de 600 matrizes Nelore do Campus da Universidade de São Paulo (USP) de Pirassununga, também no interior paulista. “Ficamos muito contentes quando a USP de Pirassununga nos procurou para celebrar essa parceria”, diz o coordenador de pecuária da CFM, Luis Adriano Teixeira. “Confiamos muito na genética deles (da CFM) e sabemos o que ela pode oferecer em termos de melhoramento, abrindo uma relação em que todos ganham, sobretudo os alunos, que passam a ter contato com um material de altíssima qualidade”, ressalta o professor José Bento Sterman Ferraz, pesquisador do Grupo de Melhoramento Animal e Biotecnologia da Faculdade de Zootec-

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nia e Engenharia de Alimentos da USP (GMAB/FZEA). Segundo Flávio Meirelles, prefeito do campus de Pirassununga, em troca da genética oferecida ao rebanho Nelore, a CFM passa a ter acesso total aos dados obtidos na avaliação dos animais. “Temos um fazenda de 2.269 hectares, com 1.100 cabeças de gado, ou seja, trabalhamos com um projeto experimental de grande dimensão e não podemos nos furtar em empregar o que há de melhor em material genético”, enfatiza Meirelles. Na prática, a nova parceria teve início em novembro último, mês de abertura da estação de monta na fazenda de Pirassununga, quando parte das matrizes foi inseminada e o restante submetido à monta natural – tudo com touros e sêmen da CFM. Segundo o pesquisador Joanir Pereira Eler, também professor da FZEA – USP, a partir do nascimento dessa primeira geração de animais oriunda da nova parceria, haverá um enorme avanço no controle de dados para evolução genética do rebanho experimental, “com foco em características de desempenho ponderal, fertilidade e precocidade, marcas registradas da genética da CFM”. Na verdade, o grupo de pesquisadores da FZEA e a CFM já trabalham juntos em pesquisa há mais de 20 anos. Segundo Bento Ferraz, a parceria já resultou em mais de 250 trabalhos técnicos e científico. “Há 20 anos, lançamos, por exemplo, um desafio à agropecuária, que era o de reduzir o início da fase produtiva das vacas em dois ou até três anos; hoje, as matrizes entram em reprodução aos 14 meses de idade”, relembra o professor.

ABS Global

Catálogo com clone de Angus A ABS Global, grupo que controla a ABS Pecplan no Brasil, lançou o Catálogo de Corte de gado norte-americano (das raças Angus, Red Angus e Hereford) para a nova temporada de monta, que se inicia em março. Entre as novidades do material, pela primeira vez, a empresa coloca à disposição sêmen de clone Angus, segundo o gerente global de Produtos Corte, Beheregaray Neto. Trata-se da cópia do touro EXT, um dos maiores raçadores da história recente da raça de origem britânica, que liderou as vendas da central no fim da década de 1990. Segundo Neto, foram vendidas mais de 350 mil doses do reprodutor EXT durante os seus 14 anos de vida.

Sêmen

Alta Genetics bate recorde de vendas A Alta Genetics, de Uberaba, MG, informa que atingiu um novo de recorde nas vendas anuais de sêmen, com 4 milhões de doses comercializadas em 2014. “Alcançamos, no ano passado, quase 30% de participação no mercado brasileiro”, afirma o presidente da central, Heverardo Rezende Carvalho. Segundo ele, a empresa tem como meta crescer, em média, em torno de 12% nos próximos cinco anos.


Seleon

Meta de 1 milhão de doses A Seleon Biotecnologia Animal, central instalada numa área de 70 hectares em Itatinga, região de Avaré, 220 km a oeste de São Paulo e que começou a operar em setembro último, projeta comemorar seu primeiro ano de atividades com a coleta e processamento de cerca de 1 milhão de doses de sêmen. A previsão é de seu dirigente, Bruno Grubisich (na foto), animado com a demanda que vem recebendo para a prestação de serviços a outras centrais e a criadores. Para ele, este será um ano “explosivo” no mercado de sêmen em

Guzerá

Genética para o Senegal Após o reconhecimento internacional do Rio Grande do Norte como livre da febre aftosa, o governo do Estado conseguiu emplacar a primeira exportação de gado em pé. A transação, iné-

razão dos ganhos que os criadores vêm obtendo na comercialização de bezerros de qualidade. “O ágio chega a 50% em relação ao bezerro comum e a inseminação é essencial para a obtenção desses produtos em escala”, diz Bruno. Nos primeiros quatro meses de operação, a central processou 150.000 doses de sêmen. No começo do ano, a Seleon abrigava 50 touros, mas sua capacidade é para 200. Além da coleta e industrialização de sêmen, a empresa também atuará em reprodução assistida com FIV para rebanhos comerciais e em outros programas de pesquisa em biotecnologia na área de genética bovina. dita, foi concluída no início de janeiro quando os criadores Camillo Collier Neto e Geraldo Alves Silva embarcaram 165 animais da raça Guzerá em dois aviões de carga para o Senegal, na África Ocidental, ao custo médio de R$ 5.000 por cabeça. A aquisição dos animais faz parte de

um programa de exportação de banco genético para melhoria da qualidade da genética africana. De acordo com os senegalenses, a escolha da raça levou em consideração o fato de o gado Guzerá ter se adaptado muito bem ao clima do semiárido nordestino, semelhante às condições climáticas da África.

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Raças | Notas Angus I

Programa tem mais um frigorífico parceiro O Programa Carne Angus Certificada ganhou, no fim de janeiro, mais um frigorífico parceiro, desta vez em Santa Catarina. A Associação Brasileira de Angus firmou parceria com o Frigorífico São João, em São João do Itaperiú, na serra catarinense. O acerto foi assinado pelo presidente da ABA, Paulo de Castro Marques, o diretor do Programa de Certificação; Reynaldo Salvador, e o proprietário do São João, Laércio José Espíndola. O São João tem capacidade estática de abate de 300 cabeças por dia. De acordo com Espíndola, as estimativas para 2015 são de abater entre 400 e 600 cabeças de Angus certificado por mês, de aproximadamente 150 produtores da região. Um selo especial para a linha de car-

ne Angus certificada deverá ser criado pelo frigorífico em, no máximo, 90 dias para atender, principalmente, às regiões litorânea e da serra catarinense. Os criadores de Angus receberão bonificação pela carne entregue ao frigorífico e aceita dentro dos critérios do programa. Agora com 23 plantas – algumas destas aprovadas para exportação – em sete Estados (RS, SC, PR, SP, MS, MT e GO), o Programa Carne Angus Certificada deve fechar este ano com o abate de mais de 330.000 cabeças de gado da raça.

Tabapuã

Associação elege nova diretoria O criador Marcelo Ártico assumiu, no dia 13 de fevereiro, a presidência da Associação Brasileira de Criadores de Tabapuã (ABCT) e seguirá à frente da entidade no biênio 2015/2017. Dono de um plantel de 400 cabeças, dos quais 10% são direcionados para seleção na fazenda situada em Tabapuã, a 450 km ao norte de São Paulo, Ártico tem como prioridade aumentar a visibilidade da raça. “Vamos investir em ações promocionais e marketing, além de medidas que nos aproximem mais do produtor para mostrar as qualidades da raça”,

diz. A nova gestão também aposta na aproximação com universidades e centros de pesquisa para fomentar o melhoramento genético e o aumento da produção e comercialização dos produtos da associação. Na vice-presidência estão: Paulo Alexandre Cornélio de Oliveira Brom, Sabino Siqueira da Costa, Valdemar Antônio de Arimateia, Fabiano Churchill Nepomuceno César e José Coelho Vitor.

Angus II

Nova direção tem o desafio de manter o vigor O criador José Roberto Pires Weber foi reconduzido à presidência da Associação Brasileira de Angus (ABA). O gaúcho deixa a presidência do Sindicato Rural de Dom Pedrito, RS, com o desafio de manter a raça em destaque no cenário nacional. “Estamos assumindo a entidade em seu auge e sabemos que o trabalho será árduo para manter o ritmo de crescimento”, reconhece. Entre os propósitos da nova gestão estão a expansão do volume de gado abatido pelo Programa Carne Angus Certificada e o estímulo ao uso da 52 DBO fevereiro 2015

genética Angus nos principais estados produtores do País. Weber é diretor da Santa Thereza Agropecuária, em Dom Pedrito, RS, onde seleciona Angus, ovinos Corriedale e produz arroz e soja e presidiu a ABA entre 1998 e 2002. A nova diretoria começou a trabalhar na primeira quinzena de janeiro e permanece até o fim de 2016 à frente da entidade. Paulo de Castro Marques, que volta a se dedicar às suas empresas, atuará como membro nato do Conselho de Administração.


Enrico Ortolani

Professor titular de Clínica de Ruminantes da FMVZ-USP e pesquisador do CNPq. ortolani@usp.br

Por que os zebuínos têm menos carrapatos

U

ma recente propaganda de TV tenta convencer os consumidores a beberem sua marca de cerveja simplesmente argumentando “porque sim!”, sem motivo nenhum. É exatamente o contrário do que tento ensinar aos meus alunos. O xis da questão na compreensão das doenças ou fenômenos biológicos é o pleno conhecimento dos mecanismos como estas condições ocorrem, para saber como tratar e prevenir enfermidades. Quando estudante ouvi que várias moléstias eram “idiopáticas”, ou seja, de causa desconhecida. De lá para cá, mais de 70% delas já foram elucidadas, para o bem dos meus princípios básicos. Desde os tempos do Zagaia sabe-se que os zebuínos são mais resistentes às infestações de carrapatos do que os taurinos, ficando os cruzados no meio termo. Foram-me dadas explicações vagas sobre o tema, entre elas que o zebu tinha mais glândulas sebáceas na pele e que o odor do sebo repelia os carrapatos. Caso fosse verdade, evitar-se-iam esses ectoparasitas com pulverizações à base de sebo bovino, o que nem causa coceguinhas nesse parasito. Aprendi também que a pele do zebu tem maior mobilidade e os pelos mais curtos e assentados, o que dificultaria o estabelecimento das larvas do carrapato, o que, diga-se, é verdadeiro. Além disso, a pele clara do zebu acumula menos calor do que a do taurino, o que “convida menos” as larvas presas ao capim a “saltarem” no boi. De lá para cá, vários estudos surgiram para explicar melhor a resistência, alguns deles descobertas de cientistas brasileiros.

Comecemos pela origem do aracnídeo. Ele surgiu nas áreas quentes e úmidas da Ásia, no mínimo há 10 mil anos, parasitando répteis e depois se adaptando perfeitamente aos bovinos, inclusive aos zebuínos. Depois, os carrapatos migraram com o gado, para a África, Oceania e as Américas. Reza a

Asiático –

lenda que chegaram ao sul do Brasil via gado importado do Chile, no século 17. Por milênios, o gado zebu foi sendo selecionado naturalmente para resistir aos carrapatos. O mesmo aconteceu, em menor escala, com raças africanas, parentes distantes do zebu, ou raças cruzadas com esta última. Embora as raças taurinas sejam presas mais fáceis desses aracnídeos, algumas delas que chegaram há muito tempo no Brasil (Caracu, Mantiqueira, etc.), foram naturalmente selecionadas para essa resistência, se as compararmos com as raças Angus ou Holandesa. Além dos aspectos físicos (pele e pelos), o cerne da resistência está na reação inflamatória contra as formas jovens do aracnídeo. É importante frisar que no primeiro contato com o parasita a carga de carrapatos em bezerros taurinos e zebuínos é semelhante.

ou mama, e pescoço, e poucos no costado, onde a autolimpeza é mais eficiente. Outras células do sangue também atuam no local. São os macrófagos e neutrófilos, que, conjuntamente com os anticorpos e outras defesas, também combatem os carrapatos jovens para que se soltem de sua presa. Descobriu-se ainda que as “jabuticabas” (fêmeas adultas cheias de sangue) podem sofrer danos em seus intestinos pelas toxinas ou anticorpos presentes no sangue sugado. As “jabuticabas” que vingam nos bovinos resistentes são menores e se reproduzem menos, reduzindo assim a contaminação das pastagens, em relação às carrapatas

Bovinos desenvolvem resistência após o segundo ataque dos aracnídeos

Porém, a partir da segunda “carrapatização” começam gradativamente a aparecer reações diferenciadas nos resistentes. No interior da pele onde a larva se fixa surge grande quantidade de células de defesa do sangue, predominantemente basófilos e eosinófilos que despejam suas substâncias tóxicas contra o parasita. Merece destaque especial a histamina, que provoca uma irritação alérgica no local. Isso estimula muito o bovino a se lamber, se coçar ou se atritar contra obstáculos. A língua afiada do bovino pode eliminar mecanicamente até 70% das larvas. O tratamento com anti-histamínicos inibe o animal de se lamber. Caso seja colocado um colar no pescoço do bovino, impedindo que ele se lamba, os carrapatos reinarão soltos na pele. A língua do bovino atinge mais a região do costado e parte externa das pernas. Se contarmos os carrapatos no corpo, boa parte deles estará na virilha, escroto Defesas –

de bovinos mais suscetíveis. Mas por que os resistentes têm mais basófilos e eosinófilos que migram para a pele do que os suscetíveis? Essas células não aparecem por acaso na pele dos resistentes. Para que isso ocorra, é preciso que o organismo estimule essa reação por meio da produção de anticorpos e do chamado sistema complemento específico, que só começa a surgir a partir do segundo contato com o carrapato, como se fosse uma vacina natural. Para a tristeza do Jeca, apenas o gado resistente consegue desenvolver estas defesas. A principal arma do carrapato está em sua saliva, que ele injeta enquanto está sugando o sangue da vítima. Ela contém poderosas substâncias que inativam parte das toxinas inflamatórias e certos anticorpos lançados contra os aracnídeos. Mas essa arma só emplaca contra os suscetíveis e não contra os resistentes, pois estes têm menos carrapatos e produzem substâncias que rebatem as toxinas salivares. É uma incrível “guerra nas estrelas”! Quero dizer, duelo na pele! n fevereiro 2015

DBO

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Raças | Simental

Qualidade que se compara Testes mostram similaridade com a carne de cruzados Angus n Mônica Costa

monica@revistadbo.com.br Carnes magras de ambos os cruzamentos apresentam sabor, maciez e coloração semelhantes.

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NILSON HERRERO/PÉ VERMELHO

T

rabalho realizado pelo Laboratório de Ciência da Carne (LCC) da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da Unesp, em Botucatu, a 235 km a oeste de São Paulo, comprova que cruzamentos de raças continentais com Nelore podem produzir carne de qualidade similar à cruzamento de raças britânicas. A avaliação, encomendada por um grupo de criadores de Simental, mostrou que, quando mantidas sob as mesmas condições de manejo e dieta, os animais meio-sangue Simental/ Nelore e Angus/Nelore podem prover produtos semelhantes. “A gente já desconfiava e a pesquisa só confirmou nossas suspeitas”, diz Mário Coelho Aguiar, dono da Fazenda Água do Moinho, em Avaré, SP, e presidente do conselho técnico da Associação Brasileira dos Criadores de Simental e Simbrasil (ABCRSS). Aguiar e outros cinco criadores, mais a ABCRSS custearam toda a pesquisa, que foi coordenada pelo zootecnista Luís Artur Loyola Chardulo, professor-adjunto do Departamento de Melhoramento e Nutricão Animal da FMVZ/Unesp. Segundo Aguiar, esta é a primeira de uma série de avaliações para “mapear” a carne Simental, apontar suas qualidades e alçar a matéria prima para um degrau acima da carne tipo commodity. “Sabemos que a carne Simental é macia, com pouca gordura e saborosa, mas isso não basta para levar o produto para o mercado como um diferencial”, completa. Chardulo, que é o coordenador-líder do LCC, explica que todo cruzamento industrial com gado europeu gera uma carne de qualidade superior. “E a avaliação científica aponta onde o produto deste cruzamento se enquadra em uma escala de qualidade”, diz. Segundo o pesquisador, embora as raças apresentem diferenças genéticas – o Angus, de origem britânica, é mais precoce em deposição de gordura e acabamento, enquanto o Simental pertence à categoria das raças continentais, portanto é maior e mais tardio –, a qualidade da carne é similar quando os modelos de criação são iguais. “As diferenças aparecem quando se adota um sistema

de terminação intensivo com o propósito de aumentar a deposição de gordura. Vamos realizar novos testes com maior ênfase na dieta para verificar quando o meio-sangue Simental se descola do Angus”, informa. Treze bovinos com idades entre 24 e 28 meses foram submetidos a análises de qualidade, químicas e sensoriais. Cinco machos cruzados Simental com peso vivo médio de 462,12 kg e oito cruzados Angus, pesando 449 kg em média, todos provenientes da mesma fazenda e submetidos à mesma dieta, foram abatidos no frigorífico Mondelli, no munícipio de Bauru, a 300 km a oeste da capital paulista. As carcaças foram resfriadas em câmara fria a -1°C por 24 horas e depois foram colhidas as amostras de contrafilé com osso (músculo longissimus thoracis – l. thoracis), que ficam entre a 12ª e a 13ª costelas das meias carcaças esquerdas de cada animal. As peças foram embaladas a vácuo, devidamente identificadas e enviadas congeladas para a avaliação da equipe do professor Chardulo, no laboratório da FMVZ em Botucatu, a 100 km do frigorífico. No laboratório foram separados quatro bifes de cada animal, com espessura de 2,6 cm para a medição da área de olho de lombo (AOL), da espessura de gordura subcutânea (EGS) e do índice de marmorização. Os resultados encontrados apontaram pouca diferença entre as genéticas: bom rendimento em produção de carne (AOL entre 90 e 100 cm2.), EGS acima de 3 mm, sufi-

Carne magra e macia –

ciente para garantir a proteção da carne durante o resfriamento na indústria e índice de marmorização de escassa a pouca gordura, indicado para a produção de carne magra. O resultado foi confirmado pela análise química, que comparou a quantidade de lipídeos totais e constatou que as duas raças foram submetidas a dietas com baixos niveis de energia (veja tabela). “Carcaças mais magras têm a vantagem de uma menor porcentagem de lipídeos totais e proporções baixas de ácidos graxos saturados e colesterol”, diz Chardulo. Para determinar o teor de maciez, as peças foram assadas a 170°C até atingirem a temperatura interna de 71°C, depois submetidas a um aparelho mecânico de medição de textura com uma sonda modelo Warner Bratzler, para verificar a tensão de cisalhamento, força necessária para cortar a carne – quanto maior a força, menor é a maciez – em dois momentos: com 24 horas de resfriamento e após 15 dias, quando a carne está maturada. “Após sete dias, que é o período de descanso da carne, todas as peças avaliadas já estavam abaixo da linha de 4,5 kg de força de cisalhamento, dentro dos padrões considerados de maciez”, continua o professor da FMVZ. Ou seja, a carne, que demora, em média, 150 horas, algo em torno de seis dias e meio, para chegar até as gôndolas dos supermercados, já terá


atingido um nível de maciez adequaA ABCRSS tem apostado nas caTabelas angus X simental do quando for levada para a mesa do racterísticas da raça, que apresentam Parâmetros SIM ANG consumidor. uma carne com pouco marmoreio e 1 96,80 100,03 Na comparação da luminosida- AOL (cm2) baixo teor de gordura para posicionar de e coloração das peças, o sistema EGS (mm) 2 o produto como uma alternativa ma3,80 4,10 gra e saudável no mercado de carnes apontou diferenças entre os grupos Marmorização 3 2,10 (4) 1,88 de qualidade. Entretanto, o selo criagenéticos, com as carnes dos animais FC – 24 h/pós abate 5,14 5,75 do pela entidade em dezembro 2012 meio-sangue Angus mais claras, em 3,54 3,48 caminha a passos lentos. “Sem escala função da maior presença de gordura FC – 15 dias maturação intramuscular. Entretanto, a diferença (1) Determinada pelo método do quadrante de pontos sobre a amostra . (2) não temos mercado, e sem mercado Medida com paquímetro e expressa em milímetros segunda . (3) Escala de não foi perceptível visualmente e foi graduação visual (USDA – Quality and Yeld Grade) adaptada pelo LCC. (4) não temos escala”, explica Roberto considerada dentro dos parâmetros Escala de graduação : 0 – 1,0 = Ausente; 1,1 -2,0 = Escassa; 2,1 – 3,0 = Barcellos, dono da Beef Veal ConPouca; 3,1- 4,0 = Moderada sultoria e mentor do selo de certificadesejáveis para bovinos adultos. ção da carne Simental. Segundo ele, A avaliação sensorial foi realizaSimental apenas em Botucatu há um grupo de da com a carne já maturada, cerca de Escala Parâmetros Avaliação Descritiva criadores da raça que fornece, quin15 dias após o abate, quando todas de Pontos 1 zenalmente, entre 20 e 40 animais as amostras já se encontravam com Aroma 7,0 Característico de carne bovina certificados para açougues da região. índices de maciez de 100%. O gru- Sabor 8,2 Bom a muito bom “Não há uma oferta regular de anipo de analistas sensoriais comparou 2 3,9 Moderadamente macia mais para garantir a parceria com friparâmetros como aroma, sabor, tex- Textura/maciez 7,1 Moderadamente suculenta goríficos”, afirma. tura, maciez, suculência, mastiga- Suculência 7,8 Fácil desintegração e deglutição Dados da Associação Brasileibilidade, cor e aparência e também Mastigabilidade ra de Inseminação Artificial (Asbia) não foram apontadas diferenças sig- Cor e aparência 7,1 Vermelho cereja brilhante mostram que em 2013 foram vendinificativas entres as carnes. “Os dois Angus das 77.000 doses de sêmen da raça grupos genéticos apresentaram valo7,4 Característico de carne bovina Simental, enquanto a genética Angus res de qualidade visual e de consu- Aroma Sabor 7,9 Bom atingiu o patamar de 2,9 milhões de mo muito bons quando comparados doses. “O aumento da demanda por com as demais raças utilizadas em Textura/maciez 4,1 Moderamente macia a macia sangue Angus para o cruzamento inoutros ensaios realizados pelo mes- Suculência 7,7 Suculento dustrial é resultado do extenso trabamo laboratório”, afirma o professor Mastigabilidade 7,1 Fácil desintegração deglutição lho de pesquisa para identificar as apChardulo, coordenador da pesquisa. Cor e aparência 7,0 Vermelho cereja brilhante tidões e qualidades da raça, aliada a (veja tabela) Escala de pontos de 0 a 10 (0 = muito ruim/ 10 = excelente). (2) 0 = muito uma forte campanha de marketing, e Uma nova avaliação já está em (1) dura/10 = muito macia. Fonte: Laboratório de Ciência da Carne (LCC/FMVZ) nós queremos seguir o mesmo camiandamento, com a inclusão de 30 aninho”, afirma Sérgio Attie, criador de mais de cada cruzamento e que ficarão por um período maior em confinamen- lidade, de animais cruzados, com boa acei- Simental na Fazenda Vertente Grande, em to (90 a 120 dias). “Os animais estão sendo tação por parte do consumidor. “Se a carne Uberlândia, no Triângulo Mineiro, a 530 desmamados agora e serão suplementados do Simental apresenta as mesmas caracte- km da capital. Para o criador, que aposta na até seguirem para o confinamento da facul- rísticas da carne do Angus, e com a vanta- raça há 25 anos, o segmento está dividido dade, entre os meses de junho e julho, onde gem de ganhar mais peso a campo e estar em duas fases: antes e depois da pesquisa ficarão até novembro”, diz. adaptado ao clima tropical, o criador passa a da FMVZ. “Estes resultados devem estimuter mais opções para testar antes de decidir lar outros criadores de Simental a submeter Mais opções – O resultado comprovou que raça deve usar para o seu cruzamento seus animais a testes e ampliar as bases de pesquisa”, diz. que é possível obter carnes magras, de qua- industrial”, sugere o criador Mário Aguiar. n

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DBO

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Bem-estar | Pesquisa

Mais perto do homem

Ao contrário do que se pensa, contato humano pode amansar o gado n Mônica Costa monica@revistadbo.com.br

P

esquisa realizada por uma dupla de pesquisadoras do Grupo de Estudos e Pesquisas em Etologia e Ecologia Animal (Grupo ETCO), da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp Jaboticabal) atestou que o contato mais frequente de humanos com bovinos mantidos em pasto rotacionado pode reduzir a reatividade e ainda trazer benefícios para o sistema produtivo, como aumento da lotação por hectare, redução dos acidentes no curral e do tempo de trabalho. Os dados foram coletados com base na observação de 3.600 animais em três das seis fazendas da região de Paragominas, nordeste do Pará, a 320 km de Belém, que participaram do Projeto Pecuária Verde, iniciativa que promoveu, entre 2012 e 2014, ações para a aumentar a produtividade dos pastos, adotar técnicas de bem-estar animal e adequação às exigências ambientais. Entre as iniciativas estavam a intensificação dos pastos e a introdução do pastejo rotacionado, que obrigou os vaqueiros a transferirem o rebanho de piquetes com maior regularidade. Além disso, os animais deveriam ser pesados uma vez por mês para verificar se o manejo estava dando os resultados esperados. “A necessidade de um manejo mais frequente suscitou, entre os criadores, o receio de que esta medida afetasse o desempenho do ganho de peso dos animais”, lembra Mateus Paranhos, coordenador do ETCO e um dos consultores especialistas do projeto. “Muitos pecuaristas resistem em adotar o pastejo rotacionado. Alguns argumentam que ‘mexer com os bois’ é ruim para o processo de engorda, outros acham que é muito complicado fazer o manejo entre os vários piquetes. Outros, ainda, que os animais ficam muito reativos. Porém, os produtores do projeto Pecuária Verde afirmam que os animais se adaptam de tal maneira que, espontaneamente, já se posicionam para mudar de piquete no dia certo, facilitando o trabalho dos vaqueiros. Ou seja, o contato mais frequente deixa os animais mais mansos, desde que seja fei-

56 DBO fevereiro 2015

Cuidados com o bem-estar do rebanho permitiram ganho na produção de arrobas/ha

to respeitando suas características”, explica. Os resultados alcançados pelas fazendas apontam para o aumento dos índices de produtividade, lucratividade e redução de custos de produção. Em três anos a produção aumentou de 7 para 36 arrobas por hectare. Na Fazenda Marupiara, os lotes de bovinos adultos são transferidos de piquetes a cada dois dias e levados para a pesagem uma vez por mês. A proximidade dos vaqueiros, ao contrário do que se prega, mantém a boiada calma, menos reativa. “Adotamos um sistema de manejo sem gritos ou pancadas. Com os animais menos assustados, a lida com o rebanho ficou mais rápida e segura”, afirma Mauro Lúcio Costa, dono da propriedade, localizada em Tomé-Açu, na região de Paragominas, PA. Costa é presidente do Sindicato Produtores Rurais de Paragominas, idealizador do Projeto Pecuária Verde. Segundo ele, “quando as pessoas são treinadas para trabalhar com rebanho bovino de maneira correta, as coisas ficam mais fáceis e, ao contrário do que se preconiza, o desempenho dos animais não é afetado quando eles são levados para pesar. Isso só acontece se o manejo for inadequado e a boiada apanha ou se machuca, aí eles comem me-

nos porque estão sentindo dor. Sem isso e com instalações adequadas os animais respondem melhor”. Na fazenda, onde são mantidas 2.000 cabeças de gado anelorado, a melhoria do temperamento dos bovinos permitiu o aumento da lotação nos pastos intensificados de 1,44 UA/ha em 2012 para 2,21 UA/ha no fim do projeto. A área destinada para a pecuária foi reduzida em 25% e direcionada para a agricultura. O ganho médio de peso aumentou em mais de 100 gramas/ dia/cabeça e o peso ao abate registrou aumento de 2,5% . Além dos benefícios para temperamento dos animais, foram constatados outros

Animais adaptados já se posicionam no lugar certo em dia de mudança de pasto ganhos como a melhoria da rotina de manejo nas fazendas, com a maior facilidade de condução dos animais para a realização de procedimentos usuais no curral. “Antes do treinamento, a vacinação do rebanho levava até seis dias para ser concluída e ainda havia muitos problemas, como animais que não recebiam a dose correta da medição ou com abscessos por terem sido fura-


Gráfico 1

Gráfico 2 Velocidade de saída

Escore Composto de Reatividade

1,60

3,5

1,40

2,5

1,20

1,5

Fonte: Maria Camila Cebalos

3 2

1,00 (1) 1,38

1 0,5 Sistema rotacionado1

Sistema alterno2

metro por segundo, em média. (2) 1,58 metro por segundo, em média.

dos no lugar errado. Agora em quatro dias todos os animais estão vacinados e não há mais problemas”, explica Marcus Vinícius Scaramusa, gerente da Fazenda São Luiz, que mantém um rebanho com até 1.800 cabeças em ciclo completo. Segundo os criadores, antes da adoção do projeto, o manejo dos animais era estressante e resultava, muitas vezes, em acidentes. Depois os vaqueiros passaram a trabalhar com atenção e dedicação, resultando, na maioria das vezes, em finalização de um dia de trabalho sem a ocorrência de animais agredidos, machucados ou conduzidos de forma inadequada. Com animais menos reativos, todo o trabalho de contenção para manejo de vermífugos, vacinação ou pesagem é mais rápido e eficiente. “Conseguimos registrar uma redução de mais de 60% no tempo de trabalho com cada animal, o que significa uma queda de 2 minutos para 40 segundos por manejo e a liberação de funcionários para fazer outras atividades na fazenda”, afirma a zootecnista Carla Ferrarini, coordenadora do Projeto Pecuária Verde. Mais dóceis – As pesquisadoras Maria Camila Ceballos e Karina Góis observaram, entre os meses de maio e junho de 2013, 3.600 bovinos machos inteiros de raças distintas em fase de terminação, mantidos a pasto, nas Fazendas Santa Maria, Marupiara e São Luiz. Com base em conceitos como docilidade, medo, curiosidade, tensão, tranquilidade e reatividade dos bovinos, foram avaliados os efeitos de duas diferentes frequências de manejo sobre o temperamento dos bovinos de corte

0

Sistema rotacionado

Sistema alterno

Escala de 1 a 7, sendo 1 menos reativo e 7 altamente reativo.

mantidos a pasto, e a relação entre o temperamento dos animais e seu ganho de peso médio diário em cada um das condições de manejo frequente ou pouco frequente. Sob manejo frequente (MF) ficaram 2.007 animais submetidos ao sistema rotativo. Estes bovinos mudavam de piquete a cada quatro dias, tendo a altura da forragem como critério para mudança. A lotação média dos piquetes era de 3 UA/ha, o manejo de pesagem era mensal e os procedimentos sanitários realizados semestralmente. Os outros 1.593 animais instalados em pasto alternado recebiam um manejo considerado pouco frequente (MPF). A transferência de piquete ocorria em média a cada 20 dias, de acordo com a experiência dos trabalhadores. A densidade de lotação foi em torno de 1 UA/ha e a frequência de manejo dos animais no curral era de seis meses, para a realização de procedimentos sanitários de vacinação e pesagem. Foram utilizadas três metodologias de avaliação do temperamento no tronco de contenção: escore composto de reatividade (ECR), que avalia o grau de movimentação tensão, respiração audível, postura corporal e ocorrências de mugidos e de coices durante o manejo. A pontuação do escore de reatividade obedece a valores cuja maior nota aponta animais agressivos e a menor, animais dóceis. A velocidade de saída, medida em metros por segundo (VS) de cada animal do tronco de contenção, mostra que os animais mais rápidos são os mais reativos e a avaliação qualitativa do temperamento (QBA) estabelece uma escala de adjetivos que inclui 14 termos (ati-

vo, relaxado, amedrontado, agitado, calmo, atento, positivamente ocupado, curioso, irritado, apático, confortável, agressivo, sociável e indiferente) para cada animal para classificar o animal (veja gráficos).

Animais passaram a associar a presença de humanos à oferta de alimentos Os resultados mostram que os rebanhos mantidos sobre manejo frequente registraram os menores índices na velocidade de saída, assim como os patamares mais baixos em reatividade. Os dados podem ser atribuídos ao maior contato dos bovinos com o manejador, em decorrência da maior frequência de manejos, tanto no curral quanto durante a troca de piquetes. Quanto ao indicador de temperamento as melhores respostas – menor grau de medo e de agitação, mais relaxados, calmos e confortáveis – foram encontradas nos animais mantidos sob a condição de manejo frequente, para duas das três fazendas avaliadas. O que confirma que há melhoria do temperamento dos bovinos em função de manejos constantes no curral, sugerindo estar relacionado a um processo de habituação aos humanos e ao manejo, bem como pelo condicionamento dos animais, que passaram a associar a presença de humanos à oferta de alimento, ou seja, à maior disponibilidade de pastagem, que pode ser caracterizado como um reforço positivo. Os dados também atestam que as atividades no manejo frequente não alteraram o ritmo de ganho de peso diário dos animais. n fevereiro 2015

DBO 57


Seleção | Raças Europeias

Reinvenção do Charolês Fazenda Santa Tecla assina mudanças na seleção de um perfil funcional e se coloca como base para o programa de carne certificada n Carolina Rodrigues carol@revistadbo.com.br

A

A paixão pela raça, assim como a base para seu traba-

Herança preciosa –

FOTOS: DIVULGAÇÃO

imagem de um Charolês grande, ossudo e tardio virou apenas uma lembrança para Jamil Deud Júnior, dono da Fazenda Santa Tecla, localizada entre o sudoeste do Paraná e o oeste de Santa Catarina. Ele ficou famoso por reunir todo mês de julho cerca de 300 criadores na sede da propriedade para apresentar a cabeceira de uma safra de cem reprodutores avaliados pelo Promebo (Programa de Melhoramento de Bovinos de Carne), fruto de um trabalho focado em funcio-

nalidade há 35 anos. O Leilão Santa Tecla faz, invariavelmente, a maior média de touros do ano, ranking que liderou de 2010 a 2012, e que, em 2014, ocupou a terceira posição, com valor 10% superior ao preço dos tourinhos da raça em leilões pelo País. “Não gosto de dizer que o sucesso na comercialização é fruto do meu trabalho. Prefiro dizer que é resultado de ajustes em uma seleção direcionada para a eficiência”, diz o criador.

lho, Deud herdou do pai e da mãe, que começaram a criação como a maioria dos selecionadores do País na década de 1950: adquirindo reprodutores para o cruzamento com vacas aneloradas. “Quando me formei em veterinária já tínhamos alguns exemplares na fazenda, fruto do interesse de meu pai pelo trabalho do criador Manoel Lustosa Martins, que foi o introdutor do Charolês no Paraná.” Naquela época, a formação da linhagem brasileira era resultante de três padrões distintos: o francês (com animais de maior massa muscular), o inglês (com gado mais alto, mais comprido, mais moderno) e o argentino (intermediário entre os dois tipos). Nenhum dos três, no entanto, se assemelha ao modelo de Charolês que hoje pasteja nos 500 hectares formados de braquiária e tifton da Fazenda Santa Tecla. “Toda seleção é um aprimoramento. Hoje temos um animal diferente daquele que fez sucesso nas décadas de 1970/1980, e que foi importante para a história, mas que atualmente não se enquadraria no tipo de pecuária que fazemos.” O perfil eficiente da seleção Santa Tecla começou em meados de 1990, com a introdução da genética norte-americana no plantel, um movimento que ganhou força em vários criatórios de raças europeias do País. “Existia uma nova demanda surgindo, que incluía detalhes de uma pecuária moderna – de ciclo curto –, como precocidade, fertilidade e rusticidade.” No caso do Charolês, essa necessidade batia ainda mais à porta.

Forte aliada –

Para o criador Jamil Deud Jr., seleção do Charolês é direcionada para a eficiência.

58 DBO fevereiro 2015


Durante anos, a raça sofreu pelo uso excessivo da genética inglesa, o que contribuiu para a perda do vigor híbrido ou heterose dos animais, que, aliada ao modelo “New Type” (onde se preconizavam animais altos e compridos), fez seu mercado encolher por alguns anos. “Esses fatores resultaram em um gado extremamente pesado, de porte elevado, porém tardio em acabamento de carcaça e deposição de gordura”, lembra Deud. “Hoje já corrigimos esses problemas. Sei que não podemos apagar a história, mas sem dúvida podemos transformá-la.” O desafio de Deud, assim como o de vários criatórios da época, foi adaptar um perfil funcional às características econômicas já provenientes da genética europeia. A primeira iniciativa da Santa Tecla se deu com a importação de linhagens canadenses, que acabou frustrada porque a progênie não se adaptava como o previsto ao sistema de manejo da pecuária tropipal brasileira.

Animais da Santa Tecla são selecionados no Sul, mas servem bem a criadores do Centro-Oeste.

“O gado norte-americano possuía menor estatura em relação à francesa, e pelagem mais curta do que as europeias e canadendes. Isso garantiu adaptação total ao nosso sistema de criação e uso imediato.” Hoje, 25 anos após a introdução das linhagens norte-americanas no País, a Santa Tecla tem a prova de que percorreu o melhor caminho: boa parte de sua carteira de clientes é focada no

Brasil Central, com ênfase nos Estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. “São compradores que preconizam um animal precoce, com excelente acabamento e facilidade de parto comprovada”, diz Deud, que também é integrante do Grupo Conexão Charolês Brasil, ao lado dos criadores André Berta, da Cabanha da Figueira; Cesar Adams, da Cabanha Cezar; e Denis Ribeiro, da Fazenda Água Marinha.

fevereiro 2015

DBO

59


Seleção | Raças europeias

Carne Charolês certificada: abates cresceram 48% desde novembro de 2014, quando o primeiro lote foi formado.

Anunciado em 2011, durante a Expointer, em Esteio, RS, o grupo Conexão visa à troca de experiências e melhoramento genético para reforçar o trabalho de produção e venda de um Charolês eficiente. “Unimos forças para reforçar a presença deste animal em diversos criatórios pelo País”, explica o criador. “E tem funcionado excelentemente.” Em quatro anos de atuação, o grupo já comercializou cerca de 800 touros entre vendas particulares e remates, que movimentaram acima de R$ 5 milhões. A parceria vem reforçando a presença do Charolês em projetos de cruzamento industrial pelo País, que se apoiam no uso dos tourinhos da raça pelo upgrade em peso e produção de carne. “O Charolês manteve a conformação e o tamanho avantajado das peças de corte, características originais de sua genética, e fundamentais para projetos de produção de carne.” Isso explica a demanda crescente dos reprodutores da raça em acasalamentos com vacas zebuínas e também com as britânicas e suas sintéticas. Segundo o dono da Santa Tecla, o aperfeiçoamento genético preservou o que o Charolês “tem de melhor”, que é o seu alto rendimento de carcaça. “A atualização do fenótipo fez com que a raça fosse, finalmente, reconhecida pelos seus méritos na produção de um terneiro precoce e bem acabado. Esse é trunfo do novo Charolês.”

Parceria e Ascensão –

60 DBO fevereiro 2015

Em janeiro deste ano, Deud alcançou bonificação de 9,5% sobre o valor da arroba do boi gordo por 25 animais entregues ao Frigorífico Verdi, de Pouso Redondo, SC, fruto do seu trabalho como terminador de bois. O abate foi realizado pelo Programa de Carne Charolês Certificada, lançado no ano passado pela Associação Brasileira de Criadores de Charolês (ABCC). “Esta é a prova de que produzimos genética capaz de gerar animais que atendem as especificações necessárias de programas de carne de qualidade.” Resíduo de ouro – Desde 1970, o criador engorda animais na Fazenda Santa Tecla, com o subproduto da agricultura (soja e milho). Seu confinamento tem capacidade estática para 300 animais meio-sangue Charolês com Nelore, que são adquiridos de terceiros. “Por enquanto compro os animais dos meus clientes de touros, mas pretendo explorar o nicho comercial no futuro que deverá crescer muito com a certificação.” No primeiro abate do Programa de Carne Charolês Certificada, em novembro de 2014, foram selecionadas 102 carcaças, volume que apresentou incremento de 48% no comparativo com janeiro deste ano, quando 152 animais foram abatidos. Coordenador do programa e responsável também pelas ações do Grupo Conexão, Eldomar Kommers estima que até o segundo semestre o volu-

me chegue a 1.000 carcaças/mês, um indicativo de qualidade na produção. Só participam do programa animais dente-de-leite até dois dentes, com no mínimo 50% de sangue Charolês, que são bonificados a partir de 180 quilos de carcaça nas fêmeas e 200 quilos nos machos. “As premiações variam de 4% a 10% e têm atraído criadores em busca deste ganho.” Em apenas dois meses, 13 criadores tiveram animais selecionados para o programa. A expectativa a médio prazo é a de que uma nova parceria seja fechada com o Frigorífico Arvoredo (a 330 km do Verdi), além do “namoro” já engatado com abatedouros do Paraná e do Rio Grande do Sul. “Primeiramente, o consumidor precisa pedir pelo produto. Em Santa Catarina, temos uma aceitação muito boa. Nosso desafio é avançar além da fronteira, ainda que dentro de Estados da mesma região”, diz o coordenador. Deud não tem dúvida sobre o futuro do Charolês e sua carne certificada. “Tudo parte do princípio de qualidade da carne. Antes, eu tinha de convencer o produtor de terneiro a comprar meu touro porque ele iria produzir um animal que, por sua vez, valeria mais no frigorifico caso houvesse demanda por ele no mercado premium”, lembra. “Hoje, o processo se inverteu. O produtor de terneiro me procura porque sabe que existe demanda e valorização pela genética que produzo. Vivo o momento da colheita.” n


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Pastagem | Cultivares

Belo, pioneiro e precioso. Primeiro panicum híbrido da Embrapa, o Tamani chega ao mercado este ano como opção de fácil manejo, porte baixo e alta capacidade nutricional. de Campo Grande, MS

D

iz o ditado que a primeira impressão é a que fica. E não há como negar. Basta vê-lo de perto para atestar que beleza é uma de suas virtudes. O novo capim que a Embrapa vai lançar em março (durante a Dinapec 2015, em Campo Grande, MS) é, porém, muito mais do que belo. Trata-se do primeiro Panicum maximum híbrido da empresa, um verdadeiro “divisor de águas”, classifica a melhorista Liana Yank, responsável pelo seu desenvolvimento e registro no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). A nova forrageira é apresentada como planta de alto valor nutritivo, porte baixo, fácil manejo e ótima cobertura de solo. Todas essas credenciais justificam o seu nome: BRS Tamani, palavra da língua africana swahili, que em português significa “precioso”. Conforme o gerente executivo da Unipasto (Associação para o Fomento à Pesquisa de Melhoramento de Forrageiras), responsável pela multiplicação e oferta das sementes no mercado, Marcos Roveri José, a nova forrageira chegará ao pecuarista ainda este ano: “Nossa estimativa é a de que pelo menos 150 toneladas de sementes estejam no mercado em 2015, a partir de julho”. A Embrapa está recomendando o Tamani para solos de média a alta fertilidade ou após o cultivo de lavouras anuais em solos de média a baixa fertilidade. Os testes também apontaram reduzida tolerância a terras encharcadas de forma perene ou temporária. Assim sendo, a cultivar é apontada como uma opção para solos bem drenados e para diversificação de pastagem no Cerrado. – O BRS Tamani é muito semelhante, em algumas caracterís-

Características

62 DBO

fevereiro 2015

maximum faz o Tamani ser considerado, pela pesquisadora da Embrapa, um marco para a pecuária brasileira. “Sua chegada sinaliza que, a partir de agora, temos condições de lançar materiais melhorados, selecionados especificamente para regiões. É o primeiro passo para poder ter capim construído para o que se quer. Seja para um determinado lugar do País ou focado em uma característica específica”, avalia Liana Yank. De acordo com a pesquisadora do setor de Forragicultura e Pastagens da Embrapa Cerrados, Giovana Alcântara Maciel, os testes sob pastejo foram realizados durante três períodos secos e dois de águas, entre maio de 2011 e setembro de 2013 (Veja tabela na pág. ao lado). “Ele se mostrou ideal para gado de corte em sistemas extensivos ou semi-intensivos, desde que o solo tenha boa drenagem”, afirma.Em relação à indicação para outras regiões brasileiras, a pesquisadora Giovana Alcântara Maciel é cautelosa: “O capim foi testado sob pastejo apenas no Distrito Federal, mas acredito que possa ser utilizado em todo o Cerrado, apesar dos diferentes cerrados que existem no País”. Nos dois anos de avaliação no DF, foi adotado sistema alternado com ciclo de pastejo de 56 dias (28 de ocupação e 28 de descanso) e adubação nitrogenada variando de 100 a 150 quilos de nitrogênio por hectare (N/ha). Nestas condições, a Embrapa atesta que o Tamani mostrou as seguintes vantagens sobre o Massai: maior ganho de peso por animal, mais facilidade de manejo e superior resistência à cigarrinha-das-pastagens. FOTOS: ARIOSTO MESQUITA

n Ariosto Mesquita

ticas, ao Massai, outro panicum, lançado pela Embrapa em 2001. Os dois têm manejo facilitado pelo porte baixo e são resistentes à cigarrinha-das-pastagens. No entanto, o novo capim, segundo a Embrapa, tem maior valor nutritivo e melhor perfilhamento, com folhas longas, finas, de baixa pilosidade e sempre arqueadas, possibilitando uma cobertura de solo mais intensa e harmônica. “Ele cobre melhor o solo, deita um pouco e fica bonito. Forma touceira também, mas se espalha mais”, explica Liana Yank. Além disso, foi averiguado que o Tamani confere maior ganho de peso por animal em relação ao Massai. No que se refere à produtividade por área, os desempenhos de ambos foram semelhantes em função de o Tamani suportar menos carga animal nos períodos secos. – O fato de ser o primeiro híbrido de forrageira Panicum

Híbrido e adaptações

Prudência

_ Em Campo Grande, a pes-

quisadora Liana Yank adota uma postura cuidadosa e prudente quando indagada se o pecuarista deve substituir o Massai pelo Tamani: “Não recomendo. A nova gramí-


Como surgiu Tamani versus Massai Características Taxa de lotação 2 Ganho de peso 3 Produtividade animal

Seca Águas BRS Tamani 1,56 3,2 275 808 84 597

1

O primeiro Panicum maximum híbrido da Embrapa é resultado de um cruzamento feito em 1992 entre uma planta sexual (chamada S12) e um acesso apomítico (batizado de T60). Ambos são integrantes da coleção de gramíneas coletadas na África no fim dos anos 1960 e que entraram no Brasil em 1982 para pesquisas na Embrapa Gado de Corte. “A planta apomítica é aquela que tem um gene ou grupo de genes que não permitem que o embrião seja fecundado. Portanto, toda a semente que é colhida de uma planta apomítica gerará um indivíduo igual à mãe. Mas, dentro de cada espécie apomítica, é possível encontrar vegetais idênticos, mas que não possuem este gene ou grupo. Portanto, as espécies coletadas na África também vieram com indivíduos sexuais”, explica Liana Yank. O cruzamento gerou vários indivíduos híbridos. “Plantamos e observamos todos eles. Selecionamos 69 para avaliação. O Tamani é um dos 69. Foi o escolhido por nós”, explica a melhorista da Embrapa. O processo foi meticuloso e envolveu várias etapas ao longo de duas décadas. “O ensaio de avaliação foi plantado em 1997 e observado até 2000. Em 2002 realizamos nova rede de ensaios em sete locais e as análises se estenderam até 2005. A partir daí foram feitos testes para ver se a forrageira suportava terras secas, solos encharcados e diversas condições climáticas e de qualidade da terra no Cerrado. Em 2010 resolvemos lançá-lo. Para isso, teve de passar pela avaliação sob pastejo, conduzida na Embrapa Cerrados”, conta Liana.

Seca Águas Massai 1,68 3,3 260 738 85 585

(1) Resultados da avaliação de dois anos do Panicum maximum cv. BRS Tamani sob pastejo em Planaltina, DF (bioma Cerrado), em comparação com a cultivar Massai; (2) Animais de 450 kg/ha; (3) Gramas/animal/dia; (3) Quilo de peso vivo/ ha. Fonte: EMBRAPA

Para a pesquisadora Liana Yank, novo panicum é um “divisor de águas”, pois permite o desenvolvimento de capins específicos para diferentes regiões.

nea é uma opção para quem quer fácil manejo e um capim de porte baixo, com uma média de 1,2 metro de altura, e não quer usar o Massai”. Sobre o que pode pesar na escolha, ela não tem dúvidas: “Se o pecuarista quer uma boa terminação a pasto, o Tamani oferece um ganho de peso maior por animal”. A pesquisadora, entretanto, afirma que algumas virtudes do Massai garantem a este panicum um público fiel. “Ele tem uma persistência muito boa em solos não tão bem adubados e é mais rústico. Muitos pecuaristas preferem uma forrageira com essas características, que lhe conferem maior independência, pois assim eles entendem que o nível de preocupação é menor”, esclarece. A Embrapa garante que o manejo do Tamani também é fácil. Indica sua utiliza-

ção preferencialmente sob pastejo rotacionado e com períodos de descanso iguais ou superiores a 28 dias nas águas. Ao fim dos meses chuvosos sugere aliviar a taxa de lotação. Ao contrário de outros panicuns, não apresenta excessivo crescimento de colmos de baixo valor nutritivo. “Forrageiras que possuem talos grossos ganham o formato envaretado quando passam do ponto. Isso não acontece com o Tamani, que tem maior disponibilidade de folhas”, ressalta a pesquisadora Giovana Maciel. _ Em sua avaliação técnica, a Embrapa considera o Tamani resistente às cigarrinhas-das-pastagens Notozulia entreriana, Deois flavopicta e Mahanarva fimbriolata. Estas condições são comparáveis àquelas observadas em outras cultivares resistentes, como o Tanzânia e o Massai. Em relação às doenças, a forrageira apresentou “resistência intermediária” à mancha-das-folhas, causada pelo fungo Bipolaris maydis. Neste caso, o nível é semelhante ao do capim Mombaça. Por outro lado, o Tamani se mostrou hospedeiro e suscetível ao nematoide das lesões radiculares (Pratylenchus brachyurus). Ao longo dos 23 anos de estruturação da nova cultivar, a Embrapa mobilizou seis das suas unidades de pesquisa. Além da coordenação da Gado de Corte e das avaliações sob pastejo na unidade Cerrados, tam-

Pragas e doenças

Batismo difícil O batismo do Tamani não foi fácil. Uma das primeiras sugestões foi Simba (referente a leão), em função das touceiras lembrarem, para muitos, uma juba. Nada feito. A palavra já dá nome a um refrigerante. Depois veio Kijani (folha verde) e muitos consideraram “nipônico” demais. “A opção pela denominação Tamani acabou agradando a todos”, garante Liana Yank. Isso inclui os cientistas da Embrapa e os associados da Unipasto, responsável pela multiplicação e oferta das sementes no mercado.

bém participaram a Embrapa Acre (Rio Branco, AC); Embrapa Pecuária Sul (Bagé, RS); Embrapa Rondônia (Porto Velho, RO) e Embrapa Gado de Leite (Juiz de Fora/Coronel Pacheco, MG). O trabalho ainda teve a parceria da Unipasto e da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), no Mato Grosso do Sul. Mais informações sobre o novo capim podem ser obtidas na Embrapa Gado de Corte (67-3368-2185), Embrapa Cerrados (61-3388-9898) e Unipasto (61-3274-0784). n

fevereiro 2015

DBO 63


Leilões | Mercado

Firmeza no primeiro trimestre Genética começa a ganhar ritmo, enquanto reposição garante boas projeções para o período. n Carolina Rodrigues carol@revistadbo.com.br

O

Leilão Sauípe Território Senepol foi representante único da genética para a produção de carne no primeiro mês de comércio do ano. Na Costa do Sauípe, no litoral norte da Bahia, os mineiros Gustavo Rezende, do Senepol Tufubarina, e Ricardo Pereira Carneiro, da Senepol Soledade, venderam 31 fêmeas por R$ 1,2 milhão, à média de R$ 39.000. Sozinho, o leilão movimentou três vezes o acumulado em janeiro de 2014, quando três eventos de Brahman e Nelore arrecadaram R$ 409.320 por animais de produção. Os leilões de genética para carne ainda engatinham pelo País. Em fevereiro serão 11, de uma agenda de 46 leilões, que terão ênfase no mercado de equinos, dono de 40% da agenda do mês. Para março, o levantamento prévio de DBO aponta um calendário mais robusto de 40 remates, número praticamente igual ao de março dos dois últimos anos. A oferta de animais em leilões do primeiro trimestre deverá repetir o bom desempenho do ano passado, embalado pelo forte momento de valorização da genética. Os promotores acreditam na sustenção do preço da arroba nos próximos meses, e não projetam, pelo menos a curto prazo, recuo no mercado de reposição. Em 2014, o primeiro trimestre negociou 5.309 lotes de genética para a produção de carne, pela fatura de R$ 38,2 milhões, com o Mato Grosso do Sul na dianteira do leilões, Estado que já emite sinais de alta. Mesmo com a transferência da ExpoGrande para abril, ele lidera o comércio nos três primeiros meses do ano. No plano nacional, Mato Grosso do Sul é o responsável pela maior parte do comércio de animais de todo o semestre. Em 2014, foram vendidos mais de 2.800 lotes no Estado, 15% da oferta total.

Momento propício – A expectativa de um mercado mais firme em relação a 2014 não se restringe apenas ao primeiro trimes-

64 DBO fevereiro 2015

tre. Somente na ExpoGrande estão previstos 40 leilões. O período da feira (23 de abril a 3 de maio) coincide com a desmama dos animais nascidos em agosto e setembro no Estado, e com o cenário altista desenhado para a bezerrada é de se esperar por preços mais encorpados nesta edição. Ela pautará uma série de exposições sequenciais nos municípios de Dourados, Maracaju, Rio Verde de Mato Grosso, Três Lagoas e Paranaíba, que totalizarão 30 eventos. Alguns remates de janeiro são o indicativo de uma boa temporada. Organizado pela Leiloboi, em Corumbá, pantanal sul-

-mato-grossense, o leilão de corte da Fazenda Novo negociou 1.081 bezerros pela média de R$ 1.138, com garrotes de sobreano ultrapassando R$ 1.300. “Para a região, esses valores são um estouro”, diz Carlos Guaritá, diretor da Leiloboi. Ele acredita que entre os meses de maio e junho as cotações para bezerros com peso médio de 180 kg cheguem até os R$ 1.500 em razão da escassez de animais no mercado. “Sentimos a arroba cair um pouquinho nos últimos dias, mas isso não assusta e nem vai”. Segundo Guaritá, a reposição continuará subindo e n pautando os preços da seleção.

Janeiro liderado por ovinos Janeiro é o mês de maior concentração das feiras de verão no Rio Grande do Sul, onde o produto principal são ovinos e caprinos. Esse mercado iniciou 2015 com 11 leilões, nos quais se venderam animais de base de produção, parte destinada à engorda, muitas vezes financiada pelos frigoríficos, e parte destinada à expansão dos plantéis. De lá vieram também médias mais em conta, como a de R$ 2.500, apurada no balanção geral do mês. Ao todo, janeiro

contabilizou 31 eventos, na seguinte distribuição: 5.013 ovinos, por R$ 1,9 milhão; 506 bovinos de leite, por R$ 2,9 milhões; 436 equinos, por R$ 9,5 milhões, e 31 bovinos de corte, por R$ 1,2 milhão. No comparativo com janeiro de 2014 os leilões caíram, com recuo de 52% na oferta. O mesmo percentual, no entanto, foi registrado como alta no faturamento. O mercado fechou com receita de R$ 15,5 milhões, ante os R$ 7 milhões acumulados no início do ano passado.

Ovinos e caprinos rendem R$ 1,9 milhão Raças

Lotes

Leilões

Renda (R$)

Média

Máximo

Corriedale

2.333

8 (5)

1.026.260

440

2.100

Texel

1.079

3 (2)

374.680

347

-

Ideal

933

5 (4)

340.090

365

7.000

263

2 (2)

50.530

192

-

Poll Dorset

168

1

78.540

468

-

Suffolk

74

1 (1)

13.970

189

-

28

1 (1)

4.750

170

-

135

1 (1)

25.850

191

-

5.013

11

1.914.670

382

7.000

Merino Australiano

Hampshire Down Ovinos e Caprinos* Total

Dados das leiloeiras Agropec, AT, Balcão, Knorr, Pioneiro e Tellechea & Bastos. (-) Quantidade de remates em que a raça dividiu pista com uma ou mais raças. (*) Leilões em que não foi possível identificar as raças vendidas.Critério de oferta. Elaboração DBO.


acesse

www.jornaldeleiloes.com.br

Direto da pista...

encerra 2014 com recuo de mais de R$ 4 milhões na receita.

Em entrevista ao JL, Ricardo Pereira Carneiro, da Senepol Soledade, analisa a expansão da raça nos últimos anos. O criador destaca a facilidade de cobertura a campo dos reprodutores como fator de crescimento da categoria em leilões e vendas diretas, porém, garante que a atual produção ainda não é suficiente para atender à demanda do País.

n Nordestina confirma expectativas de valorização Embalada por status livre de aftosa, pistas de Recife, capital pernambucana, têm variada oferta de raças em 12 leilões.

Coluna JL Pão quente “Quando o mercado de touros está aquecido, os primeiros criatórios a negociar toda a sua produção são os que participam de programas de melhoramento genético. É igual a pão quente na padaria”, João Paulo Schneider, GAP Genética

Acontece ✔ Ovinos abrem o comércio de pista do ano

✔ Feira de Verão de Livramento tem retomada de vendas

Dois por um

✔ Expo Nelore Avaré reforça agenda

“A venda de fêmeas PO com prenhez FIV de outras matrizes tende a ganhar espaço no calendário de leilões. Esse formato proporciona que o criador tenha acesso a duas genéticas distintas comprando um único lote”, Bruno Grubisich, Verdana Agropecuária

de março

✔ Expoinel MG abre leilões da raça Nelore em Uberaba

Análises e balanços n Sauípe Genetic Festival coloca a Bahia na rota dos leilões Evento estreia com a venda de bovinos Senepol, Gir, Girolando e equinos Quarto-de-Milha

Produção garantida “Cada vez mais os pecuaristas têm comprovado que os investimentos em genética trazem retorno. Nesse contexto, o CEIP é uma ferramenta fundamental, pois garante que os animais produzirão bem sob qualquer condição climática. É o ISO 9001 da pecuária”, Luis Adriano Teixeira, Agro-Pecuária CFM

n Feovelha negocia 4.444 lotes Animais das raças Corriedale e Texel dominam mais de 50% dos remates de Pinheiro Machado, RS n Fenagro fecha no vermelho Com um remate a menos, mostra baiana

Raio X O Jornal de Leilões acompanhou em janeiro os ceira foi de R$ 15,5 milhões para 5.986 lotes, resultados de 31 leilões das raças bovinas de entremachos,fêmeas,prenhezes,aspiraçõese corte e leite e ovinos. A movimentação finan- coberturas.

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Direito e Legislação

por

Augusto Ribeiro Garcia Jornalista e advogado agrarista ar.garcia@outlook.com

Como lucrar na posse da terra Isso é possível para milhares de proprietários, na regularização fundiária.

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epois da publicação da Lei da Regularização Fundiária (11.952/2009), muitos milhares de produtores puderam ter em mãos o título de propriedade das terras que ocupam nas Regiões Norte e parte do Centro-Oeste e do Nordeste. Essa lei dispõe sobre a regularização fundiária na Amazônia Legal, embora, naquela época, o Incra não tenha divulgado o montante das propriedades que seriam regularizadas. Justo o Incra, que é o órgão oficial encarregado de cuidar, entre outras coisas, do estoque de terras do País, segundo dispõe a Lei do Cadastro Rural (5.868/1972). Entretanto, é bom atentar para alguns números e para a abrangência dessa lei. Ela diz respeito a uma área de 5,2 milhões de quilômetros quadrados, correspondente a 61% do território brasileiro, e abrange os sete Estados da Região Norte, além de parte dos Estados do Mato Grosso (Centro-Oeste) e do Maranhão (Nordeste). Dados não oficiais dão conta de que apenas entre 10% e 30% das terras nessa imensa região são tituladas.

_ O que importa no conteúdo dessa lei é que ela beneficia principalmente quem está produzindo, com preferência para os pequenos e médios produtores. O ocupante precisa estar exercendo cultura efetiva sobre a área e a ocupação e exploração direta, mansa e pacífica por ele mesmo ou por seus antecessores, anterior a 1º de dezembro de 2004. O beneficiário tem de ser brasileiro nato, não poderá ter outro imóvel rural em qualquer parte do País e nem ter sido beneficiado por programa de reforma agrária. Sua principal atividade econômica terá de advir do imóvel e ele não poderá exercer cargo ou emprego público. Pessoa jurídica não poderá ser beneficiária da regularização. As glebas objeto de concessão do título de domínio (escritura) ou de conces-

Pequenos e médios

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são de direito real de uso são todas de terras públicas da União ou do Incra. O limite de cada área a ser regularizada é de até 15 módulos fiscais, não podendo ultrapassar 1.500 hectares. Os ocupantes de áreas maiores terão duas opções: regularização parcial só deste limite ou adquirir a área excedente por meio de processo licitatório, com direito de preferência. Eles poderão pagar o excedente em até 20 anos. Quem paga à vista tem desconto de 20%.   Tanto o título de domínio como o termo de concessão de uso devem conter, entre outras, cláusulas de restrição pelo prazo de dez anos, que determinem: a impossibilidade de negociação do título; o aproveitamento racional e adequado da área; a utilização adequada dos recursos naturais e preservação do meio ambiente; a averbação da reserva legal; a identificação das áreas de preservação permanente e a recuperação de áreas eventualmente degradadas; a observância das disposições que regulam as relações de trabalho, e as condições e as forma de pagamento.  Os títulos originários da regularização são intransferíveis e inegociáveis por ato entre vivos pelo prazo de dez anos. E, salvo nas operações de crédito rural, não podem ser objeto de nenhum direito real de garantia. Na hipótese de pagamento da área excedente por prazo superior a dez anos, o beneficiário não poderá negociar a gleba enquanto não quitar a dívida.  O descumprimento da legislação ambiental, durante o prazo de vigência da cláusula resolutiva, implica rescisão imediata do título de domínio ou do termo de concessão. Se isso ocorrer, a área reverterá em favor da União por meio do processo administrativo que apurar a prática da infração ambiental.   Na hipótese de inadimplemento de contrato firmado com o Incra em data anterior

à publicação da lei, ou de não-observância de requisito imposto em termo de concessão de uso ou de licença de ocupação, o ocupante terá três anos para cumprir a obrigação. Esse prazo é contado a partir de 11 de fevereiro de 2009, e, caso não o cumprisse, a área ocupada poderia ser retomada. Na prática, é sabido que isso raramente acontece.  As cessões de direitos a terceiros que envolvam contratos firmados entre o Incra e o ocupante, antes da data de publicação da lei, são todas nulas. Elas servirão somente para fins de comprovação da ocupação atual do imóvel pelo terceiro cessionário. É uma espécie de contrato de gaveta.

O limite de cada área a ser regularizada é de até 15 módulos fiscais, e no máximo 1.500 ha. Toda a documentação ligada à outorga do título de domínio ou o termo de concessão de uso de uso da área a ser regularizada será providenciada gratuitamente pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário. Nela estão inclusos os serviços de topografia, georreferenciamento e registros cartorários. Só serão cobrados dos imóveis acima de 1.500 hectares. Alternativas legais – É sabido por todos os que se dedicam à atividade rural que 1.500 hectares na Amazônia não é muita terra. Para o ocupante de boa-fé de área maior, a solução legal é a constituição de um condomínio agrário, nos termos do artigo 14 e seus parágrafos 1º e 2º do Estatuto da Terra. Ao serem formalizados, eles podem se transformar em vários outros. Assim o condomínio poderá se transformar numa área muito maior. Já nas áreas de transição (entre a mata e o cerrado), a reserva legal é 35%. n



Empresas e Produtos Vaccinar

Gordura protegida para dietas adensadas A Vaccinar, de Belo Horizonte, MG, lançou mais um produto de sua linha de aditivos, a BeefFat, gordura protegida para ruminantes. Segundo a empresa, o produto é indicado para quem busca adensamento das dietas. No caso do BeefFat, a gordura protegida não interfere na estabilidade ruminal e seu local de absorção é prioritariamente no intestino, possibilitando suprir as necessidades dos animais e ofertando mais energia na dieta. Gerente de Produtos Ruminantes – Adi-

tivos da Vaccinar, Eduardo Alves Faccioni informa que o novo aditivo melhora a eficiência biológica da dieta, o ganho de peso dos animais, o acabamento de carcaça, o aumento dos índices reprodutivos e a condição corporal, garantindo alto desempenho em reprodução, na recria e na engorda a pasto, em semiconfinamento e no confinamento. Vaccinar: 0800-031-5959.

Valtra

Enfardadeira para feno de palha e capim

A Valtra, uma das marcas do Grupo AGCO, lançou a Challenger 2270, sua nova enfardadeira para a produção de feno de palhas e capim, que tem capacidade para até 60 fardos por hora. Inicialmente, o equipamento foi desenvolvido para o recolhimento de palhadas que ficavam no campo após a colheita mecâ-

nica da cana de açúcar, mas, com a forte demanda no setor agropecuário, o implemento passou a ser comercializado para a produção de fenos de capim e de resto de outras culturas, como o de milho safrinha plantado em consórcio com a braquiária ruziziensis. Além da Challenger 2270, a Valtra oferece em sua linha pecuária outros dois modelos de enfardadeiras – a Challenger SB34 e a Challenger RB452. O modelo SB34, segundo o fabricante, combina fácil operação e baixo custo de manutenção. Ele foi desenvolvido com um sistema de recolhimento longitudinal, que possui fluxo de alimentação direta, oferecendo um excelente ganho na produção de fardos, tempo de trabalho e também nas manobras. O equipamento possui câmara de formatação das fatias, com distribuição igual de material do iní-

Wolf Sementes

Aplicativo ensina a plantar certo Em parceria com a agência de publicidade WebGota, a Wolf Sementes, de Ribeirão Preto, SP, lançou o primeiro aplicativo para smartphones e tablets com informações sobre a forma correta de plantio, novas técnicas, tendências e um guia completo com informações sobre forrageiras e leguminosas. O APP, denominado “Plante Certo”, está disponível para sistemas Android e IOS da Apple. “O aplicativo traz o mundo das forrageiras para a palma da mão do agricultor e do pecuarista. É um verdadeiro guia que traz soluções e técnicas para o produtor que está preocupado em plantar de forma correta as forrageiras e leguminosas”, diz Elthon Capelotto, gestor de Marketing da empresa. Ele lembra que plantar errado gera prejuízo para o produtor, que perde sementes e gasta com operação de máquinas para preparar o solo e semear o capim e a leguminosa. Pior: pasto mal formado não é produtivo. Wolf Sementes: (16) 2111-0523.

cio ao fim dos trabalhos, produzindo fardos homogêneos e com alta densidade. O modelo RB 452 é mais versável e, além de feno, pode ser usado para a produção de silagem de capim e outras biomassas. Seu sistema de recolhimento é semelhante ao utilizado nas enfardadeiras de fardos retangulares para efetuar os trabalhos mais pesados e recolher diversos tipos de materiais. Valtra: 0800-19-2211.

Registro Real H faz 30 anos Criada na esteira de ocorrência de uma grande mortandade de vacas no Mato Grosso do Sul, a Real H está completando, em 2015, 30 anos. Foi pesquisando as causas dessas mortes que o médico veterinário homeopata gaúcho Cláudio Martins Real descobriu que o problema estava na má mineralização do gado. Em um pequeno laboratório montado em Ribas do Rio Pardo, MS, ele resolveu incluir medicamentos homeopáticos nos suplementos minerais para obter a melhor absorção e aproveitamento dos minerais e

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nutrientes fornecidos ao gado. Considerado precursor da homeopatia veterinária pela Associação Médica Veterinária Homeopática do Brasil, Cláudio Real teve que quebrar um outro paradigma em homeopatia, que, até então, só aceitava a possibilidade do tratamento individual. Ele conseguiu bom resultado com tratamento coletivo de populações. Cerca elétrica sem segredo Convicto de que o uso de cercas elétricas no Brasil não é maior por falta de informação correta por parte dos usuários, o

médico veterinário Ernesto Coser Netto, gerente comercial da Tru-Test Brasil, fabricante desse equipamento com sede em Porto Alegre, RS, resolveu transmitir seus conhecimentos pela internet. Numa parceria com o Iepec (Instituto de Estudos em Pecuária), que mantém portal na internet com cursos e palestras, inclusive transmitidas ao vivo, ele ensina como manejar esse equipamento, de fundamental importância para quem faz pastejo rotacionado. O curso é gratuito e as inscrições podem ser feitas em http://www. portaliepec.com/curso/cerca-eletrica.


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Sabor da Carne por

Adriano Gabriel

A favor da gordura do mbora sofra restrições por parte de alguns consumidores, o cupim _ extraído daquela “corcova” do gado zebuíno, Nelore, na maior parte _ é um corte que proporciona muito prazer quando preparado na churrasqueira. Precisa, porém, necessariamente, ser executado com muita precisão. Refiro-me ao excesso de gordura da peça, que deve ser utilizada a nosso favor. Antes, porém, de falar do preparo em si, quero ressaltar que há certa resistência do consumidor final pelo fato de ser nesta parte do corpo do boi que comumente se aplicam as vacinas. O local de aplicação, entretanto, não importa, já que a vacina será metabolizada em todo o corpo do animal e, se assim não fosse, tal resistência também não faria sentido, dada a baixa frequência de aplicação e a quantidade mínima de líquido injetada. Outro motivo de resistência é justamente o excesso de gordura, que se baseia mais no fato de as pessoas não saberem preparar corretamente a peça do que propriamente ser algo prejudicial se ingerida. É bom ressaltar que se trata de gordura animal, saudável, usada para dar sabor, maciez e suculência à carne. Afinal, a gordura animal de uma peça in natura é mais saudável do que aqueles cortes temperados industrialmente, com excesso de sódio e açúcar. _ O segredo para lidar com essa gordura é derretê-la lentamente, o que vai resultar em um prato delicioso e _ acreditem _ em bem menos gordura. Para se ter ideia, quando o cupim fica pronto, se preparado adequadamente, terá em média a metade do peso inicial. Ou seja, quase toda a gordura se vai, restando uma proporção de carne bem maior. A lenta preparação no churrasco permite, ainda, mais tempo para a confraternização em volta da churrasqueira _ no Brasil, o churrasco é considerado prato típico e que se insere em todas as

Derretimento lento

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Reprodução/Revista “Saboreando o Mundo”

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cupim

camadas sociais, sobrepondo-se até mesmo à feijoada. A reunião de pessoas no entorno da churrasqueira, confraternizando, faz com que todo evento do tipo tenha cara de festa. _ Bem, vamos agora ao preparo do cupim. Para começar, ideal é esfaquear, algumas vezes, uma boa peça de cupim com uma faca fina e longa. E utilizar temperos que hidratem o corte, como um copo de vinho branco ou tinto, à preferência do freguês, e o suco de duas laranjas. Utiliza-se também um pouco de alho, cebola, sal grosso a gosto e, necessariamente, um papel celofane para churrasco. Com este papel embrulha-se a peça, dando sete voltas, fechando-a como se fosse um bombom, lembrando, porém, de deixar uma folga entre os nós nas extremidades e a peça, para que a gordura se acumule e não estoure a embalagem por causa de pressão e temperatura. Após este processo, no braseiro já formado, coloca-se a peça a 50 centímetros de altura, virando-a a cada 30 minutos, até atingir o ponto desejado _ a carne estará com uma textura interna marrom clara, sem sangue, mas com suculência. É possível preparar esta receita no forno, mas ressalto que na churrasqueira o corte tende a ficar mais suculento e pronto em menos tempo, mantenO passo a passo

do as características e propriedades do alimento, pois as temperaturas são bem diferentes: no forno, cerca de 180 graus e, na churrasqueira, 300 graus. Atualmente, o cupim situa-se em quarto ou quinto lugar na preferência do consumidor em relação aos cortes tradicionais (picanha, maminha, alcatra, filé mignon, contrafilé, etc.). Na Casa do Churrasqueiro há grande procura também, além dos cortes tradicionais, por novos cortes, como bife ancho, chorizo, assado de tiras e outros, somando, ao todo, 56 tipos, temperados ou não, nacionais e importados. Alguns cortes foram, inclusive, desenvolvidos com exclusividade com o passar dos anos, como linguiças; hambúrguer bovino, carpaccio e espetinhos (carne, frango, linguiça e kafta) e galeto desossado. A maior parte da carne que utilizamos é oriunda de animais Angus (argentino, uruguaio e australiano), meio-sangue Angus x zebu, Hereford e Nelore, além da raça japonesa Wagyu. Tudo para transformar o churrasco _ com cupim, obviamente _ num gratificante evento social. n Adriano Gabriel é proprietário da Casa do Churrasqueiro, com sede em São Paulo, capital, e consultor de churrasco da Tramontina, empresa de utensílios para cozinha. www.casadochurrasqueiro.com.



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