Revista DBO 221 - Novembro 2015

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Empresas do Grupo Agroceres:


... E A suA confiAnçA é A nossA mAior conquistA! Em 20 de setembro de 2015 a Agroceres completa 70 anos. A história da Agroceres é a história de pessoas que se uniram em torno de um propósito: o de levar tecnologia ao campo e contribuir com o agronegócio brasileiro em sua busca por produzir cada vez mais e melhor. Pessoas que, ao longo de gerações, assumiram o compromisso de construir os 4 pilares de nossa proposta de valor: tecnologia & inovação, qualidade, Atendimento e resultado. um compromisso que você vê em tudo o que a Agroceres faz: na busca, desenvolvimento e adaptação da melhor tecnologia disponível para a sua realidade, na qualidade consistente e padronizada de nossos produtos, em nosso atendimento presente e capacitado, e, principalmente, nos resultados que o ajudamos a conquistar. sabemos que foi cumprindo com este compromisso que conquistamos a sua confiança nos últimos 70 anos. E será assim que manteremos esta conquista pelos muitos anos que virão.

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Nossos assuntos

Receitas para dar mais @ no bolso do produtor

P

astos bonitos na DBO de novembro. A começar pelas maiores áreas contínuas de tifton, que já somam mais de 800 hectares nas fazendas do Grupo Valim, em Goiás e no Mato Grosso, e sustentam produção média de 35 arrobas por hectare nas águas. É por elas que corre a reportagem do editor Moacir José, que abre o novo Especial Pastagens da DBO mostrando o empenho e o engenho dos Valim para superar as dificuldades de implantação da gramínea - plantio por muda - e assegurar uma pecuária cada vez mais competitiva nas propriedades que igualmente se destacam pela boa produtividade nas culturas de soja, milho e algodão. O Especial também traz de volta o modelo neozelandês de pastejo rotacionado por faixas, o Techno-Grazing, que foi tema de capa há três anos, agora abrasileirado pelo mesmo zootecnista gaúcho Ricardo Zuliani que o trouxe para cá. Com adaptações, principalmente nos materiais e equipamentos, o custo de instalação, que era de pelo menos R$ 1.200 por hectare, hoje fica entre R$ 250 e R$ 400. Na Fazenda Paraíso, em Aceguá, RS, Zuliani produz cerca de 600 kg de peso vivo por ha/ano nesse sistema. A maior resistência à seca já era uma virtude destacada pela Embrapa quando lançou o capim Paiaguás, mas um estudo realizado pela própria Embrapa e um centro de pesquisa da França deixou mais clara essa vantagem. O Paiaguás suporta, pelo menos, 20 dias a mais de estresse hídrico do que outras braquiárias testadas, como relatam em artigo a pesquisadora Patrícia Menezes e a doutoranda Tatiane Beloni. O controle de invasoras das pastagens parece simples, mas uma série de equívocos complica esse trabalho, especialmente na formação de novos pastos ou reforma. Tudo tem jeito e hora certa para ser feito, ensina o professor Moacyr Corsi, da Esalq, e o repórter Fernando Yassu mostra o sucesso de quem segue a cartilha. Mas , e sobre a formação de pastagens? Em reportagem de Denis Cardoso, o professor Adilson de Paula Aguiar, da FAZU, de Uberaba, diz que o quadro seria bem diferente se os pecuaristas incorporassem os hábitos e atitudes de grande parte dos produtores brasileiros de grãos, com o planejamento de cada etapa, a começar pela escolha da semente das cultivares mais indicadas para cada área. Claro, alguns já chegaram lá.

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Demétrio Cos

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DBO novembro 2015

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Publicação mensal da

DBO Editores Associados Ltda. Diretores

Daniel Bilk Costa Demétrio Costa Odemar Costa Redação Diretor Responsável Demétrio Costa Editor Executivo Moacir de Souza José Editora Assistente Maristela Franco Repórteres Carolina Rodrigues, Denis Cardoso, Fernando Yassu e Mônica Costa Colaboradores Alcides Scot, Alisson Freitas, Ariosto Mesquita, Enrico Ortolani, Lídia Grando, Renato Villela, Rogério Goulart e Tânia Rabello. Arte Editor Edgar Pera Editoração Edson Alves e Célia Rosa Coordenação Gráfica Walter Simões Marketing Gerente: Rosana Minante Comercial Gerente: Paulo Pilibbossian Supervisora de Vendas: Marlene Orlovas Executivos de Contas: Andrea Canal, José Geraldo S. Caetano, Maria Aparecida Oliveira e Vanda Motta Circulação e Assinaturas Gerente: Edna Aguiar Tiragem e circulação auditadas pelo

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Sumário Prosa Quente 14 Silvana Górniak fala da

Especial Pastagens 58 Como fazer um controle

importância das avermectinas

estratégico de invasoras

Mercado 22 Coluna do Scot – Cortes de

Paiaguás confirma maior tolerância à seca severa

dianteiro em alta

24

64

O eficiente sistema de pastejo neozelandês, adaptado e barato.

72

Na formação do pasto, faça como na agricultura.

26

Nutrição 76 Suplemente as vacas de cria no

28 Reposição continua em alta e

encarece relação de troca

calculado o rendimento de desossa

Cadeia em Pauta 34 Marfrig, na rota mundial da carne

gourmet.

38 Tragédia no Pará impõe revés no

mercado do boi em pé

40

Clubes disseminam carne de qualidade via assinatura

42

momento certo

82

Especial 32 Portas Abertas mostra como é

Como o Grupo Valim maneja o produtivo tífton em suas fazendas de Goiás, para conseguir altas lotações e elevado lucro por hectare.

62

Demanda externa sustenta alta da arroba Coluna do Rogério – Bezerro descolado do boi e do atacado

48 Reportagem de capa

Organize o estoque de sal e evite desperdício

Foto: Moacir José (lote de bois em recria em pastejo rotacionado de tífton na Fazenda São José, em Montividiu, GO) Arte final: Edson Alves

Genética 84 Na genômica, é preciso

compartilhar.

90

Seringa na IATF tem de ser certificada

Saúde Animal 92 Combate à fascíola não deve ser

negligenciado

94

Para animais comprados, rigora lista de exigências.

96

Internacional 108 Disputa acirrada pelo boi

confinado nos EUA

Leilões 112 Parcial da primavera gaúcha

com bons resultados

114

Projeto-piloto da Aprova busca boi de safra

Coluna do Ortolani – Vermes, incômodos hospedeiros.

Receita de outubro foi a melhor dos últimos 10 anos

44

Fazenda em Foco 98 Os segredos da Cachoeirão para

Eventos 120 Os melhores em gestão da

Fundo francês investe em projeto no MT

produzir carcaças campeãs

Terra Desenvolvimento

Seções

8 DBO on line 10 Do Leitor

6 DBO novembro 2015

20 Giro Rápido 88 Genética/notas

104 Raças/notas 122 Eventos/Agendas

124 Empresas e Produtos 130 Sabor da Carne



DBOonline

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Atualize-se diariamente sobre as cotações e as principais notícias das cadeias produtivas da carne, leite e da agricultura no Portal DBO. Para saber mais sobre os assuntos em destaque nesta página, acesse www.portaldbo.com.br/dbo-online

Bastidores da capa

O editor Moacir José fala sobre os diferenciais de gestão e a aposta do Grupo Valim em ampliar as áreas com pastos de tifton para chegar à produção de 50 arrobas de carne por ha/ano em suas fazendas de Goiás e Mato Grosso.

Dicas de ouro para vacinação Em tempo de imunização contra a aftosa, especialistas apontam como aprimorar o processo e alertam para cuidados na assepsia de pistolas e agulhas.

Dia a dia do boi gordo

Vídeos

Diretores da Marfrig apresentam à DBO o confinamento da empresa em Porto Feliz, SP. Em entrevista a Denis Cardoso, José Pedro Crespo explica que a unidade prepara animais sob medida para seus clientes. Ainda no confinamento da Marfrig, destaque para um lote especial de caras brancas, cruzas de Angus e Hereford.

Confira as cotações diárias do boi gordo nas principais praças pecuárias através da análise de Sidnei Maschio, tirada do programa Terraviva DBO na TV.

Disputa na ABCZ

O atual vice-presidente Arnaldo Manoel de Souza Borges anunciou que será candidato à presidência, concorrendo com o candidato da diretoria, Frederico Cunha Mendes, na eleição do ano que vem.

Manejo de árvores em ILPF

Especialista da Embrapa Gado de Corte explica como escolher espécies, plantar mudas e promover desrame e desbaste. André Domingheti estima em R$ 6 mil por ha o custo do manejo até o corte da madeira.

DEZ notícias a um clique

1. Estados Unidos batem recorde na

produção de carnes, que deve fechar em quase 40 milhões de toneladas este ano. Frango lidera e porco empata com o boi, que permanece em cerca de 11 milhões de toneladas, como há 20 anos.

2. Como planejar uma estação de monta.

Trabalho da Federação da Agricultura do Mato Grosso dá boas dicas para organizar a temporada de reprodução na fazenda.

3. Marfrig e ACNB ampliam parceria para

venda de carne com selo Nelore Natural. Além de peças para churrasco, também serão oferecidos outros cortes de traseiro, dianteiro e costela.

8

DBO novembro 2015

4. Morreu em acidente a 22

de outubro o médico-veterinário Luiz Ronaldo de Paula, jurado da ABCZ e nome de destaque em programas de melhoramento e assessoria zootécnica e comercial na raça Gir Leiteiro.

5. Brazilian Angus Day faz sucesso na

Feira de Anuga, na Alemanha, atraindo clientes de 32 países ao mesmo tempo em que começam as exportações dessa carne gourmet certificada.

6. Missão japonesa faz inspeção

sanitária para restabelecer importações de carne termoprocessada do Brasil.

7.

Moscas vindas dos canaviais continuam atormentando fazendas de gado do interior paulista, causando estresse e morte de animais.

8.

Levantamento da Famato registra que passa de 5 milhões de hectares a área sujeita a demarcação como terra indígena.

9.

Ministério da Agricultura propõe novas diretrizes para o Sistema Brasileiro de Inspeção de Produtos de Origem Animal.

10. Pecuarista não será o último a

receber de frigorífico falido. Lei sancionada pela presidente coloca o produtor antes dos bancos.



Do leitor Tatu na silagem Gostaria de saber se existe algum produto que iniba a presença de tatus nas silagens de milho, problema que estou enfrentando em minha fazenda.

Sílvio Perez Piracicaba, SP

DBO apurou que a naftalina a granel, em bolas grandes, distribuídas ao redor do silo, tem sido usada para repelir a presença de roedores e outros animais, como o tatu, que é um marsupial, mas tem hábitos alimentares semelhantes aos de ratos. O Departamento de Zootecnia da Esalq, de Piracicaba, SP, ressalva, porém, que esse método “não tem fundamentação científica”. O engenheiro agrônomo Augusto Florim, proprietário da Desinsecta _ empresa de eliminação de pragas de Piracicaba, SP, recomenda, por sua vez, a construção de barreiras físicas, com camadas finas de tijolos nas laterais do silo-trincheira. “Essas barreiras são eficientes para impedir o acesso do animal à silagem”, afirma. É importante frisar, ainda, que matar animais silvestres, que é o caso do tatu, é considerado crime.

Mosca-dos-estábulos Há quatro meses estamos enfrentando um problema muito sério, o intenso ataque de mosca-dos-estábulos, que proliferou de uma maneira intensa na região de São José do Rio Preto, noroeste do Estado de São Paulo. Por despejamento de vi-

10 DBO novembro 2015

nhaça por parte de usinas sucroalcooleiras nas terras onde é colhida a cana, forma-se um ambiente propício para o inseto, que ataca o gado de forma agressiva, fazendo com que perca muito peso, sem contar a possibilidade de transmissão de doenças, pricipalmente as virais. Investi muito na qualidade do gado e estou vendo esse trabalho ir por água abaixo. Já falamos com a Cetesb, sem sucesso. Procuro ajuda. Júlio César Fiorim Mirassolândia, SP

N.R.: Em função de pelo menos mais um leitor (Vangélio Mondelli, de Reginópolis, região de Bauru, centro do Estado de SP) ter contatado DBO, o Portal DBO fez reportagem na qual técnicos das próprias usinas de álcool e açúcar indicam, para propriedades de pequeno porte, a utilização de veneno para ser aplicado no foco das moscas, além da instalação de bandeiras tingidas de azul e preto regadas a inseticida. Para propriedades maiores, a medida mais eficiente é a aplicação de cal em zonas com acúmulo de matéria orgânica. A redução da quantidade de vinhaça despejada por metro quadrado sobre a palha de cana é outra medida importante. Reportagem completa sobre o assunto pode ser acessada em www.portaldbo.com.br. http://www.portaldbo.com.br/ Revista-DBO/Noticias/Moscasvindas-dos-canaviais-atacam-ogado-em-SP/14375

Correções

• Na foto da página 24, seção Giro Rápido, da edição de outubro, o pecuarista Ricardo Merola recebe a homenagem das mãos de Ariel Maffi, vice-presidente R ­ uminantes Brasil da DSM, e não de Carlos Roberto Silva, vice-presidente de Vendas da empresa, como saiu publicado. • Cometemos um erro no texto da pág. 112 da edição de outubro, na seção “Leilões”. Em vez de R$ 4,8 milhões no faturamento do 6º Leilão Guadalupe e EAO, foi publicado o número de R$ 1,8 milhão. Como a média dos 30 lotes vendidos foi R$ 160.944, ficou evidente que a conta estava errada. Na página 98 da mesma edição o título que se referiu a essa mesma mostra também está equivocado, pois está grafado da mesma forma que a Expoinel MG, realizada em fevereiro. • Também na edição de outubro, na seção Dez Notícias em um Clique, consta a informação incorreta de que Mato Grosso do Sul havia suspendido o Programa Novilho Precoce. Na verdade, ele estuda mudanças no programa, com a aplicação de regras mais rigorosas.



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Prosa Quente Depois do imbróglio da proibição das ivermectinas de longa ação, a veterinária Silvana Górniak, professora da USP especialista em resíduos de medicamentos, afirma:

“O que falta é conscientização” de DBO, para debater, com os jornalistas Mônica Costa e Moacir José, duas questões preocupantes: o uso de avermectinas sem registro e o baixo nível de eficácia das chamadas formulações “similares”.

Q

uando se trata de resíduos de medicamentos em bovinos, uma das principais referências no Brasil é Silvana Lima Górniak. Descendente de poloneses e médica veterinária formada pela Universidade de São Paulo (USP), ela é profunda conhecedora do assunto, tendo publicado mais de 100 artigos em revistas científicas internacionais e quatro livros sobre o tema. Atualmente, coordena o Centro de Pesquisas em Toxicologia Veterinária, da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP, onde também dá aulas na graduação, além de orientar teses de mestrado e doutorado. No mês de julho passado, Silvana ministrou uma das palestras mais concorridas do Congresso Internacional de Buiatria, realizado na capital paulista, abordando um problema ainda sem solução definitiva no País: a presença de resíduos de avermectinas na carne bovina brasileira. Em 2014, esses produtos foram protagonistas de uma disputa, que culminou na proibição das formulações de longa ação pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), que cedeu a pressões dos frigoríficos exportadores, que alegavam prejuízos devido à presença de resíduos na carne industrializada (corned beef) vendida para os Estados Unidos. A proibição foi suspensa em março deste ano, após as autoridades norte-americanas reverem seus limites máximos para o produto enlatado, mas as avermectinas continuam gerando polêmica. Em setembro, Silvana Górniak, que é representante do Conselho Federal de Medicina Veterinária no Grupo de Trabalho sobre Resíduos de Medicamentos Veterinários do Mapa, visitou o estúdio

14 DBO novembro 2015

Moacir – A senhora poderia explicar o que são as aver­ mectinas e qual a importância delas para a pecuária ­brasileira? Silvana Górniak – Quimicamente, elas são lactonas macrocíclicas, ou seja, moléculas que têm a propriedade de eliminar tanto parasitas internos (vermes) quanto externos (carrapatos, bernes), ou seja, têm atividade endectocida. Do grupo das avermectinas, constam as doramectinas, as abamectinas e as ivermectinas. O primeiro produto comercial com moléculas desse grupo (uma ivermectina) foi lançado em 1983 e o Brasil deve ter sido o segundo ou terceiro país a usá-lo com sucesso. Nosso clima é excelente para produzir boi a pasto, mas também favorece a proliferação de carrapatos e vermes. As avermectinas de longa ação simplificaram o manejo do gado, reduziram custos, melhoraram o ganho de peso e impulsionaram a indústria veterinária no País. Talvez sejamos o maior “dependente” desses antiparasitários no mundo. Mônica – Embora eficiente, as avermectinas também causaram problemas, como a questão dos resíduos na carne industrializada... Silvana – As avermectinas têm longa persistência no organismo. Após penetrar na corrente sanguínea, se concentram principalmente no tecido adiposo, pelo qual têm afinidade, ou seja, são lipossolúveis. Isso faz com que sejam metabolizadas e excretadas mais lentamente, o que é bom, pois os animais permanecem protegidos por mais tempo. Mas também requer maior prazo de carência, em relação a outros antiparasitários. Como a carne industrializada (corned beef) é uma mistura de músculo cozido com gordura e as avermectinas são lipossolúveis, alguns lotes do produto vendidos para os Estados Unidos excederam o limite estabelecido pelo governo norte-americano, que era de 10 ppb (partes por bilhão). Eram limites exagerados, muito restritivos. Após novos estudos, esses valores foram alterados, em dezembro de 2014, para 660 ppb e agora dificilmente serão violados. Moacir – Há riscos de a carne brasileira ser barrada por outros países? Silvana – O Brasil é segnatário do Codex Alimentarius (fórum das Nações Unidas criado para normatizar essas


É preciso entender que a formulação de um medicamento segue um parâmetro. Não funciona aumentar ou diminuir a dosagem.” questões) e segue suas regras, controlando os resíduos do produto, atualmente, com base em 100 ppb medidos no fígado. O órgão ainda não tem valores máximos para o músculo, que deverão ser definidos em reunião marcada para os dias 17 a 26 de novembro, em Roma, na Itália. Enquanto não se tem essa definição, as indústrias frigoríficas exportadoras procuram respeitar os limites estipulados por cada mercado. A União Europeia, por exemplo, admite apenas 30 ppb no músculo. As discussões no Codex são difíceis. Muitas vezes não há interesse em acordar parâmetros, porque, assim, os países importadores podem criar suas próprias regras. É um problema de comércio que foge à alçada da pesquisa. Mônica – Os prazos de carência estabelecidos são ­confiáveis? Silvana – Eles foram definidos com base em pesquisas conduzidas com bovinos Bos Taurus, em outros países. Não se garante, então, que sejam válidos para o zebu. O Ministério da Agricultura nos procurou, há cinco anos, para levantarmos esses dados, mas o estudo não caminhou. Minha impressão é de que a farmacocinética das avermectinas (caminho feito por esses medicamentos no organismo) é mais rápida no zebu, mas precisamos provar isso. Decidimos deixar de lado a burocracia estatal e estamos solicitando recursos junto à Fapesp para continuação dos estudos. Moacir – Reportagem publicada na DBO mostrou que os frigoríficos continuaram encontrando níveis de resíduo acima de 100 ppb no fígado, mesmo após a proibição dos produtos de longa ação. Por que isso aconteceu? Silvana – A proibição das formulações a 3% (longa ação) foi um tiro que saiu pela culatra. Até hoje não entendi essa medida. Ela foi catastrófica para o produtor, que teve de fechar os animais mais vezes no curral para administrar a droga. O que alguns fizeram? Triplicaram a dose do endectocida de curta ação para obter o mesmo efeito do produto proibido. Quando se muda a dosagem de um medicamento, altera-se sua farmacocinética e, consequentemente, seu período de permanência no organismo, o que pode ter deixado resíduos na carne. Outra possível explicação para o problema é o fato de a aplicação subcutânea ser feita incorretamente, muito próxima da camada de gordura da pele. Além de tirar parte do efeito do produto, isso pode elevar seu prazo de carência, já que as avermectinas têm afinidade com o tecido adiposo. Moacir – Além do desrespeito aos prazos de carência e da aplicação incorreta do produto, que mais pode e­ star acontecendo? Silvana – Outra coisa que, infelizmente, acontece no Bra-

sil é a pirataria. Escutei uma vez que 50% dos cigarros vendidos no País são piratas e fiquei pensando quantos medicamentos veterinários piratas poderiam existir. Fiz uma pesquisa na internet e comprei alguns facilmente. São entregues em 48 horas! Encontrei ivermectina com concentração de 6,8%, quando o máximo permitido é de 3%, associações proibidas de diferentes antiparasitários e, pior, ivermectina com hormônio, cuja propaganda era “o verdadeiro quebra balança”. O Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) vem tentando conscientizar os produtores de que o barato sai caro. É fundamental que os produtos tenham registro, que os veterinários e zootecnistas responsáveis pelas fazendas verifiquem se o produto é permitido. Me disseram que 40% das avermectinas usadas no Brasil são piratas. Não posso confirmar, mas não estranharia. Moacir – A senhora acredita que as compras pela in­ ternet tenham estimulado a venda de ivermectinas clandestinas? Em sua palestra foi mostrado que há 20 anos existiam 10 ou 20 marcas de avermectinas no Brasil e hoje são mais de 200 produtos no mercado. Silvana – A maioria não é registrada, é clandestina. Isso não é novidade. O que mais me preocupa é que, apesar da fiscalização do Ministério, muitas propriedades que não exportam usam esses medicamentos. Minha pergunta é: para onde vão essas carnes? Para nós, brasileiros! O frigorífico que exporta tem controle, mas o mercado interno é incumbência do Mapa e é impossível para ele controlar todas as propriedades. Além disso, muitos abatedouros são municipais e não têm como fazer testes com aparelhos caríssimos como os dos Lanagros (Laboratórios Nacionais Agropecuários, pertencentes ao Mapa).

nnn Temos barreiras não alfandegárias. A China usa a ­ractopamina mais como pretexto para baixar o preço do suíno do que por questões sanitárias.

nnn

Mônica – Isso quer dizer que temos controle de resí­

duos na carne exportada, mas não na que fica no mer­ cado interno? Silvana – O Mapa faz esse controle, sim, por meio do PNCRC, Plano Nacional de Controle de Resíduos e Contaminantes [no relatório de abril de 2015, das 505 amostras de fígado analisadas para avermectinas, 16 foram não-conformes, 3,17% do total]. Quando se constata um limite acima do permitido, a carne é retida e queimada, destruída. O Mapa faz um controle com base em técnicas de análise de risco, mas uma parte da produção vai para o mercado consumidor sem fiscalização. Os produtos piratas são o grande cancro do setor. Compete à Polícia Federal combater esse comércio ilegal.   Para se registrar um produto no Mapa, é obrigatório apresentar estudos de eficácia e testes que comDBO novembro 2015 15


Prosa Quente Temos que ser cobrados porque temos todas as condições de fazer melhor e o povo brasileiro é que será beneficiado.” provem seu período de carência. Os piratas não têm nada disso. Mesmo que eu use a mesma ivermectina que você e excipientes (substâncias que acompanham o princípio ativo) diferentes, preciso ter registro no Mapa. Quando se abre uma patente para o mercado, por exemplo, abre-se a ivermectina, não sua formulação. O Mapa exige que cada laboratório prove que o novo produto criado por ele tem estabilidade e qualidade, em comparação com o medicamento original, de referência. Esse é outro problema do setor: as indústrias estão usando excipientes mais baratos e lançando muitas avermectinas similares. Mônica – Os medicamentos produzidos após a quebra

nnn

Dicas para o produtor: • Não usar produtos piratas • Não aplicar o medicamento de forma errada • Seguir o período de carência indicado • Trabalhar com padrões de qualidade

nnn

de patente (similares) não funcionam tão bem quanto os de referência? Silvana – Muitos deles não. No caso dos humanos, existem três tipos de medicamentos. O primeiro é o de referência, cuja patente pode ser quebrada depois de 10 anos, dando origem aos genéricos (com mesmo princípio ativo, mas sem nome comercial) e aos similares (mesmo princípio ativo, com marca). A Anvisa exige que os dois tenham o perfil farmacocinético idêntico ao do produto de referência. Já no mercado veterinário, é diferente. O Ivomec, por exemplo, é referência para a ivermectina, mas seus similares não passam pelo teste de bioequivalência [demonstração de que têm idêntica composição de princípio ativo e comparável biodisponibilidade]. Somente são submetidos ao chamado teste de eficácia, bem mais simples e barato. Também não há fiscalização após o lançamento do produto no mercado para ver se estão funcionando. Os genéricos veterinários, conforme regulamentação lançada pelo Mapa, precisam passar pelo teste de bioequivalência. Por isso, não tem nenhum ainda no mercado. As empresas preferem registrar apenas similares. O Mapa deveria fazer como a Anvisa e exigir que tanto os genéricos quanto os similares passem pelo teste de bioequivalência. Moacir – Quais suas recomendações para os ­pecuaristas? Silvana – A primeira coisa é checar se o produto que ele está comprando tem registro no Mapa. A grande maioria dos que estão à venda não tem. Algumas dessas associações proibidas de avermectinas podem ser, inclusive, ser cancerígenas. Moacir – É fácil averiguar se os medicamentos são

­registrados?

Silvana – O site do Ministério não é tão amigável, mas

o produtor pode enviar ao órgão perguntas sobre o

16 DBO novembro 2015

produto, informando seu nome comercial. Eles rapidamente respondem. Mônica – Quanto à questão ambiental, devemos nos

preocupar com os resíduos de avermectinas excreta­ dos por meio das fezes e urina? Silvana – Esse é um problema a ser estudado. A maior parte dos medicamentos têm suas moléculas quebradas durante o processo metabólico, sendo excretadas já inativas. As avermectinas não sofrem essa biotransformação. Elas são eliminadas de maneira íntegra. Então, este é, sim, um problema com o qual temos de nos preocupar. As excretas dos animais não podem ser jogadas em qualquer lugar, pois podem colocar em risco a fauna, importante para o ecossistema. Esse é outro ponto que exige conscientização do produtor. As fezes precisam ser decantadas por pelos menos cinco dias para desativação da molécula. Se o produtor pegar o esterco e jogá-lo imediatamente na lavoura, pode provocar um desastre ecológico. Por isso, o Conselho Federal de Medicina Veterinária fala de “uma só saúde”. Estamos no mesmo barco. Uma ação da gente se reflete em outras tantas coisas. Educação é fundamental. De nada adiantam os programas de incentivo do governo, se não houver a colaboração de todos. De nada adianta a polícia, se não houver conscientização do produtor. Moacir – O que o Mapa deveria ter feito ao invés de proibir as avermectinas de longa ação? O que teria sido mais eficiente? Silvana – Naquele momento, nós do CFMV sugerimos a formação de canais de educação, pois é isso que falta em todos os níveis. É isso, basicamente, o que deveria ter sido feito há muito tempo. Não sei se o Brasil vai produzir muito carro ou computador, mas já é um celeiro. Temos todas as condições para obtenção de sucesso no setor agropecuário. Aqueles que trabalham no campo são os menos favorecidos do ponto de vista educacional. Infelizmente, há 50 anos havia muito mais colégios agrícolas do que agora. Moacir – O que cabe ao produtor fazer? Silvana – Não usar produtos piratas, não aplicar aver-

mectinas de forma errada, respeitar o período de carência e trabalhar com padrões de qualidade. A questão com os Estados Unidos já está equalizada, mas temos outros mercados que exigem limites menores de avermectinas do que os 100 ppb no fígado. Temos ainda a China e a Rússia que usam outros produtos, como o beta-agonista ractopamina, como barreira comercial. Precisamos enfrentar essas cobranças e crescer com elas. O povo brasileiro é que será beneficiado. n


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Giro Rápido Híbrido de branquiária

A primeira forrageira híbrida de braquiária desenvolvida pela Embrapa já foi testada, aprovada, batizada e registrada no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), mas só deve ser lançada oficialmente no primeiro semestre de 2017. A chegada ao mercado da BRS Ipyporã é cercada de muita expectativa, sobretudo pelas suas características. Relatório técnico encaminhado pela Embrapa em janeiro deste ano para solicitação de registro da cultivar deixou claro: a forrageira chega para ser uma avançada alternativa ao capim marandu (braquiarão), o capim mais disseminado pelo Brasil, abocanhando uma fatia superior a 40% de todas as sementes de forrageiras comercializadas no País. Segundo a pesquisadora Cacilda do Valle, são vários os predicados do novo híbrido, como, por exemplo, o maior valor nutritivo dentre as braquiárias brizantha e a alta porcentagem de folhas, “resultando em excelente cobertura de solo e alta competição com invasoras”. O capim apresenta também “alto grau de resistência à cigarrinha do gênero Mahanarva, que vem dizimando pastagens de braquiária no Brasil”. O lançamento da Ipyporã (que em tupi guarani significa “o mais bonito”) estava previsto para a Dinapec 2016, mas foi adiado por questões estratégicas: “Assim, tanto a Embrapa quanto nossos parceiros podem se organizar melhor”, justifica Cacilda.

Aliança poderosa

A Acrimat (Associação dos Criadores de Mato Grosso) está conversando com a National Cattlemen’s Beef Association, entidade que representa os pecuaristas dos Estados Unidos, para acelerar a liberação efetiva do comércio de carne bovina in natura entre os dois países. Segundo Olmir Cividini, superintendente da Acrimat, este é um dos benefícios do ingresso da entidade, e também da Assocon (Associação Nacional de Confinadores), na Aliança Internacional da Carne Bovina (International Beef Alliance – IBA ). “A admissão do Brasil

ampliará as ações conjuntas entre os países”, afirmou. A inclusão do Brasil e do Paraguai foi anunciada no dia 23 de outubro, pela Five Nation Beef Alliance – composta por entidades de pecuaristas do Canadá, México, Estados Unidos, Nova Zelândia e Austrália. Com os novos integrantes, essa entidade mudou seu nome para International Beef Alliance e passou a representar 46% da produção mundial de proteína vermelha (27 milhões de toneladas equivalente-carcaça) e 63% das exportações mundiais (6,26 milhões de toneladas).

Hambúrguer com selo A carne bovina com selo Rainforest Alliance, produzida desde 2012 pelas Fazendas São Marcelo, grupo com unidades em Tangará da Serra e Juruena, no Mato Grosso, será a matéria-prima utilizada para o processamento de hambúrgueres certificados. Os produtos com o selo, que é referência de sustentabilidade ambiental, social e econômica para produtos agrícolas e florestais, serão exportados pela Marfrig Global Foods para a Alemanha, Holanda e países nórdicos. No Brasil, as vendas serão feitas pelo Grupo Carrefour.

Mais protocolos na PGA

Os protocolos de certificação das carnes Hereford e Nelore Natural já estão incluídos na PGA, Plataforma de Gestão Agropecuária, administrada pelo Ministério da Agricultura em parceria com a Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Em fevereiro deste ano, o Mapa baixou a Circular Nº 1, condicionando o uso do nome de qualquer raça em rótulos de carne à observação de protocolos de produção incluídos na PGA. A associação de Angus foi a primeira a se adequar à circular, agora seguida pelas entidades representativas do Hereford e do Nelore. Os próximos protocolos a constar da plataforma serão o da raça Charolesa e o do selo Nelore Garantia de Origem, do Carrefour.

Mudanças no Novilho MS

As propostas para as mudanças no Programa de Incentivo à Criação de Novilho Precoce do Mato Grosso do Sul somente serão conhecidas em 2016. Segundo Fernando Mendes Lamas, Secretário de Estado de Produção e Agricultura Familiar (Sepaf), as entidades nomeadas pelo governo estadual para discutir o tema (Embrapa, Acrissul, Famasul e Associa-

ção Sul-Mato-Grossense dos Criadores de Novilho Precoce) terão 60 dias para apresentar sugestões. A primeira reunião deverá ser realizada ainda em novembro, mas as propostas serão analisadas apenas em janeiro. Segundo Lamas, o objetivo é incluir fatores como o bem-estar animal, a recuperação das pastagens e adequação ao CAR como requisitos para a concessão do incentivo fiscal aos pecuaristas.

Nelore Natural cresce Em dois meses de parceria entre a Associação dos Criadores de Nelore do Brasil (ACNB), o frigorífico Marfrig e a rede de supermercados Coopercica, de Jundiaí, SP, as vendas de carne comercializada sob o selo Nelore Natural totalizaram 201 toneladas. O volume

20 DBO novembro 2015

registrado entre agosto e setembro, representa o dobro do total comercializado entre janeiro e julho de 2015, quando a produção somou 100 toneladas. O aumento foi resultado da ampliação da linha, anteriormente focada somente em peças para churrasco

e que agora inclui também outros cortes. Segundo Guilherme Alves, gerente do Programa de Qualidade Nelore Natural, em 2014, foram abatidos, dentro do PQNN, 400.000 animais, dos quais 120.000 foram classificados para abastecimento da marca.


Medo da TPP?

Infopec

Infográficos que sintetizam informações importantes da pecuária

Bezerro é um dos ativos mais valorizados do mercado Ativo*

Dez/2014

OUT/2015

Jan/14 a OUT/15

Ouro

1.225

1.183.90

1.1443.20

-6,6%

Dólar

2,40

2,56

3,88

61,6%

(Paranaguá-PR)

Soja

68,48

66,23

81,58

19,1%

Boi Gordo (SP)

115

143,50

147,75

28,5%

Bezerro desmamado (SP)

820

1.140

1.300

58,5%

*Em R$; fonte: Scot Consultoria

No período de quase dois anos, o bezerro tornou-se um dos ativos mais valorizados do mercado, não só entre as atividades do agronegócio, mas em outras opções de investimento. De janeiro de 2014 a outubro de 2015, o animal desmamado (6@) registrou valorização de quase 60% na praça de comercialização de São Paulo, saltando de R$ 820 para R$ 1.310, segundo a Scot Consultoria, de Bebedouro, SP. O analista Alex Lopes, da Scot, diz que, diante da forte valorização do bezerro, só resta ao pecuarista de cria realizar o lucro sem hesitar, de preferência imediata-

mente após a fase de desmama (a partir de maio de 2016). Segundo ele, não vale a pena segurar o animal na fazenda, pois, com a rentabilidade do negócio mais do que garantida, é hora de pensar em “não correr riscos e fazer caixa”. “Tem pecuarista que opta por segurar o bezerro mais um pouco na propriedade, para vendê-lo numa categoria acima, com 1 ano de idade, mas isso, na atual conjuntura, além do risco real de queda de preço, resulta em custos adicionais, como gastos com vacina de febre aftosa, vermifugação e sal mineral”, alerta Lopes.

USDA prevê crescimento nas exportações mundiais

Em milhões de TEC*

A TPP, sigla em inglês para a Parceria Transpacífico – acordo assinado, no dia 5 de outubro, entre EUA, Canadá, Austrália, Japão e mais oito nações que representam quase 40% da economia mundial – poderá prejudicar as exportações brasilerias de carne bovina? O cenário ainda não é claro, mas analistas já fazem algumas conjecturas. A abertura do mercado norte-americano ao nosso produto in natura, por exemplo, poderia enfrentar dificuldades, se os legislativos das 12 nações signatárias aprovarem o acordo, pois há concorrentes fortes do Brasil nesse grupo. Segundo Rodrigo Lima, presidente da AgroIcone, consultoria paulista especializada em negociações comerciais e mercado externo, está previsto na TPP (e aceito pela Organização Mundial do Comércio, a OMC) o estabelecimento da chamada “convergência regulatória”, mecanismo que permitirá aos países integrantes do bloco simplificar normas de equivalência sanitária, facilitando não só a redução de tarifas como a própria negociação de volumes de produtos. O tão sonhado acesso do Brasil ao mercado asiático também ficaria mais difícil. A TPP praticamente cerraria as portas do Japão à carne brasileira, pois os Estados Unidos, que já é o maior fornecedor do produto para aquele país (US$ 1,6 bilhão em negócios em 2014), ficaria livre de tarifas alfandegárias em 74% dos produtos importados em até 16 anos.

Jan/2014

*Toneladas equivalente-carcaça

Produção

EUA, Índia e Brasil vão expandir a produção de carne bovina em 2016, possibilitando um aumento global da oferta da proteína após o recuo ocorrido entre 2014 e 2015. A Austrália vai reduzir os abates para recompor o rebanho – reduzindo produção e exportação. O reforço advindo dos três primeiros países levará a produção global de carne a um aumento de 1% em 2016, para 59,2 milhões de toneladas equivalente-carcaça (TEC). Já as exportações mundiais crescerão 3% ante 2015, chegando a 9,9 milhões de t (veja gráfico). Estas são as prin-

Exportações

cipais conclusões do relatório do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), com previsões sobre o mercado mundial de carne bovina, publicado no fim de outubro. Diferentemente dos dados do governo brasileiro, o USDA posiciona a Índia, e não o Brasil, como o principal exportador mundial da proteína. Segundo os EUA, desde 2013 o país asiático figura como líder em embarques. Liderança que vem se ampliando em relação ao concorrente latino-americano, impulsionada pela demanda no Sudeste Asiático, Oriente Médio e norte da África.

DBO novembro 2015 21


Mercado Sem Rodeios

Alcides Torres Jr. –

Scot

Cortes dianteiros em alta Com menos gente trabalhando na indústria e no comércio no último trimestre, consumidor optará por carne mais barata.

Engenheiro agrônomo e diretor da Scot Consultoria, de Bebedouro, SP. Colaborou

Isabella Camargo,

zootecnista da Scot.

O

último trimestre do ano é marcado sazonalmente pelo aumento das vendas no comércio varejista. Entretanto, o cenário de deterioração da economia brasileira está acabando com a esperança dos empresários do setor em relação à melhora dos negócios no período. Segundo o Relatório Focus, elaborado pelo Banco Central, o PIB deve recuar 2,8% e a taxa de inflação ficará em 9,4%, os piores índices já registrados desde a criação do Plano Real. O resultado de tudo isso, segundo levantamento do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), é que nove em cada dez empresários não contrataram e não pretendem contratar funcionários para o fim do ano. A pesquisa indica ainda que 45% desses empresários acreditam que os resultados das vendas em 2015 serão piores do que os do ano passado. Ou seja, isso tudo deve afetar, e muito, a cadeia da carne. No último trimestre do ano, geralmente, com a entrada da massa salarial extra decorrente das contratações temporárias – que não vão acontecer em 2015 – as vendas dos frigoríficos, açougues e supermercados crescem. Veja no gráfico o comportamento histórico da taxa de ocupação (taxa de emprego das regiões metropolitanas) ao longo do ano e o preço do traseiro e do dianteiro bovinos com osso. A correlação entre o traseiro e a evolução das contratações é alta, 0,87. Esta correlação é obtida por meio de uma equação matemática e, quanto mais próximo de 1, mais alta é a relação entre as variáveis, indicando que elas tendem a se comportar de forma semelhante e variar juntas no mesmo sentido. Já para o dianteiro, a correlação é negativa, em -0,54, ou seja,

ele varia em sentido oposto à taxa de ocupação. Portanto, mais dinheiro no bolso do brasileiro, mais carne de traseiro, de maior valor agregado, é comercializada, enquanto o consumo de dianteiro é reduzido. Um ano atípico Segundo dados da Scot Consultoria, em 2015, no mercado varejista de São Paulo, entre janeiro e a primeira quinzena de outubro, os cortes do dianteiro acumulam, em média, valorização de 18% ante 10%, pouco acima da inflação, para a carne de traseiro. Mesmo com a queda nas importações de carne brasileira pela Rússia, principal cliente de dianteiro bovino do país, o que aumentou a oferta desse produto no mercado interno, os preços do dianteiro seguem em alta. Explica-se: o atual cenário econômico brasileiro repercutiu negativamente nas vendas de carne durante todo o ano, diminuindo o consumo do traseiro, que tem cortes mais caros, e aumentando a procura por dianteiro, com cortes mais baratos. Daqui em diante, até o fim de 2015, pouca coisa deve mudar nesse mercado e o comportamento normal, demonstrado na figura 1, não deve se repetir. Sem as contratações temporárias e com a inflação sem limite para novas altas, o consumo de traseiro deve ficar para depois. Pode ser, inclusive, que seja mantido o nível de venda dos produtos mais baratos e os preços não caiam, fugindo também do movimento sazonal. O problema deve ficar na mão das indústrias, já que a arroba se manteve em alta até o começo do último bimestre. Sem espaço para repasses, as margens de lucro podem diminuir. Para o produtor, isso pode frear o movimento de alta da arroba. n

Consumo de dianteiro é quase insensível À QUEDA NO nível de emprego 102.00

115

Taxa ocupação

Traseiro

Dianteiro

101.50

110

101.00

105

100.50 100

100.00

95

99.50

90 janeiro

fevereiro

março

abril

maio

junho

julho

agosto

setembro

outubro

novembro

dezembro

99.00

Obs: Variações do preço da carne bovina no período de 1996 a 2014 e da taxa de ocupação (nível de emprego) de 2004 a 2014, tendo janeiro como base 100. O eixo da esquerda refere-se aos preços do traseiro e do dianteiro e o eixo da direita, à taxa de ocupação. Fonte: IBGE; Elaboração: Scot Consultoria – www.scotconsultoria.com.br

22 DBO novembro 2015



Mercado

Demanda externa sustenta alta Em outubro, arroba superou R$ 148 e ficou a R$ 1 do recorde de abril Fernando yassu yassu@revistadbo.com.br

E

m outubro, os frigoríficos brasileiros embarcaram 159.000 toneladas em equivalente-carcaça de carne bovina in natura, 4,38% a menos do que no mesmo mês do ano anterior, que registrou recorde de 166.700 toneladas. Como teve dois dias a menos, a média diária em outubro deste ano – 7.600 toneladas em equivalente carcaça – foi recorde, superando a marca inédita registrada no mesmo mês de 2014, com 7.250 toneladas/dia. O que não ajudou foi o preço da carne in natura em dólar, refletindo já a pressão dos importadores para que

Indicador Bezerro tem pequena alta em outubro Datas de levantamento de preço no Mato Grosso do Sul Especificações

29/1

27/2

30/3

30/4

29/5

30/6

31/7

31/8

30/9

30/10

Preço à vista/cab/R$ 1.262 1.298 1.444 1.399 1.431 1.255 1.222 1.259 1.265 1.297,99 Peso médio/kg

200

185

204

193

203

194

188

191

191

Preço por kg vivo/R$ 6,30

7,02

7,06

7,25

7,06

6,99

6,49

6,59

6,60

Preço/@

189 210,60 211,80 217,50 211,80 209,70 194,70 197,70 198

195 6,65 199,50

Fonte: Cepea/Esalq/USP. Preço médio no Mato Grosso do Sul

Indicador Boi Gordo sobe 2,81% em outubro e se aproxima do recorde de abril Datas de liquidação do contrato no mercado futuro Especificações

29/1

27/2

30/3

30/4

29/5

30/6

31/7

31/8

30/9

30/10

Preço à vista (*) 143,13 143,74 147,13 149,56 146,71 144,61 140,96 142,19 144,56 148,63 Preço médio em R$ dos 5 dias úteis no Estado de São Paulo. O valor é usado para liquidações dos contratos negociados a futuro. Fonte: Cepea/Esalq/USP/BM&FBovespa.

Mercado futuro sinaliza POUCA diferença do mercado físico no fiM do ano Datas dos

Meses de liquidação dos contratos negociados na BM&FBovespa

pregões

Jun

Jul

Ago

Set

Out

Nov

Dez

30/12/14 142,95 141,52 140,59 139,99 139

Jan

Fev

Mar

Abr

Mai

-

-

-

-

-

-

-

29/1/15

-

-

143,1

-

143,32

-

-

-

27/2

-

-

144,7 143,86 143,39 144,95 145,36

-

148

-

-

-

31/3

-

-

-

30/4

-

-

-

-

29/5

-

-

-

-

-

30/6

-

-

-

-

-

-

31/7

-

-

-

-

-

-

-

31/8

-

-

-

-

-

-

-

-

30/9

-

-

-

-

-

-

-

-

-

30/10

-

-

-

-

-

-

-

-

-

143,3 142,41 141,41 141,3

148,57 148,81 148,97 150,15 152,9 154,87 154,87 157,29

Fonte: BM&FBovespa

24 DBO novembro 2015

145,56 145,5 145.5 148,2 150,83 152,96 154

-

146,3 148,89 151 151,93 152,42 152,86 152,28 142,4 142,33 144,07 144,93 146,12 146,01 141,62 143,85 144,7 146,1 146,37 144,48 146,92 148,6 147,7 147,74 150 -

152,6

150,88 152,70

os frigoríficos, beneficiados pelo câmbio, concedessem descontos. Em 30 dias de outubro, o preço caiu 8,9%, de US$ 4.549 para US$ 4.144. Na comparação com outubro de 2014, quando receberam US$ 4.988, as perdas chegaram a 17%. Em um ano, o preço caiu mais de US$ 800 por tonelada, segundo a Secex (Secretaria do Comércio Exterior, órgão do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior). A queda no preço em dólar foi compensada pelo reajuste de 59% no câmbio em 12 meses. Em um ano, o dólar passou de R$ 2,45 para R$ 3,90. Graças ao câmbio, o Brasil tem a arroba em dólar de menor valor entre os maiores exportadores de carne bovina. No fim de outubro, a arroba no País estava cotada a US$ 38,48, segundo a Scot Consultoria. Em função da diferença no câmbio, os frigoríficos brasileiros, mesmo recebendo menos em dólar (US$ 450 milhões ante US$ 565 milhões) e embarcando menor volume total em outubro (159.000 ante 166.000 toneladas), receberam 26,71% a mais em reais do que no mesmo mês do ano anterior (R$ 1,75 bilhão ante R$ 1,385 bilhão). Em novembro, a demanda externa deve continuar aquecida por causa dos festejos de fim de ano, mas, com a crise internacional, não se acredita em explosão nos embarques. De todo modo, o mercado externo continua imprescindível para os frigoríficos brasileiros neste momento. Desconforto No mercado interno, a situação não está nada confortável para os abatedouros, especialmente os pequenos que não exportam. Com a retração do mercado, não conseguiram repassar a alta da arroba. Em 30 dias de outubro, o preço do traseiro patinou e se manteve em R$ 11,50 por quilo no atacado, enquanto o do dianteiro recuou, caindo de R$ 7,65 para R$ 7,60 o quilo, segundo a Scot Consultoria. Enquanto o preço da carne permanecia estável no atacado, o Indicador Boi Gordo subia 2,81% em outubro, passando de R$ 144,56 para R$ 148,63, roçando o recorde nominal registrado em abril (R$ 149,56). Na ponta do lápis, a arroba subiu mais de R$ 4 em 30 dias de outubro, apertando, novamente, a margem dos frigoríficos. Para segurar a alta e contornar o estreitamento da margem, os abatedouros compram apenas o essencial para atender à clientela, mas evitam formar estoques de carne, segundo o boletim Informa Economics FNP. De todo modo, mesmo trabalhando “da mão para a boca”, não conseguiram deter a alta da arroba. É que faltaram bois no pico da entressafra por causa da frustração da engorda confinada. O mercado futuro sinaliza R$ 151 para fim de novembro e R$ 152,70 para fim de dezembro. n



Fora da Porteira

Rogério Goulart

A jornada solitária do bezerro Até quando a reposição vai seguir descolada dos preços do boi gordo e da carcaça? Você sabe, caro leitor?

V

eja se reconhece nisso: quando em viagens em família, a trabalho ou com amigos, o início da jornada é só euforia e alegria. Piada para todo lado, sorrisos fáceis e fartos e um “quê” simultaneamente jovial e alegre no grupo. Sem percebermos, porém, em algum momento difícil de precisar a coisa muda. O tecido da viagem se rasga. Seria o cansaço físico? A vigilância constante do contato social tão próximo? A saudade? Não saberia dizer, mas conhecemos o desenrolar da história: vemos a temperatura do grupo cair, a euforia do início dá lugar a olhares contemplativos, diálogos mais curtos, as piadas somem, um ou outro começa a ficar quieto no seu canto e surge um leve “quê” de irritação e impaciência no ar. Quanto mais longa a viagem e quanto menos íntimos são os parceiros, mais claramente isso acontece. De certa forma, a pecuária está passando por uma espécie de longa viagem, desde meados de 2012, caro leitor. Os três integrantes dessa jornada são o bezerro, o boi gordo e a carne no atacado. Os três ­saíram animados de casa. Começaram bem a jornada, juntos, lado a lado, desbravando novos “caminhos” de preços. Havia um companheirismo, sabe? Se um ficava cansado, os outros esperavam. E foi assim, nesse sentimento leve e de sorrisos fáceis, que a viagem correu bem em 2012, 2013 e o início de 2014.

Administrador de empresas, pecuarista e editor do informativo semanal “Carta Pecuária”, de Dourados, MS.

nnn Em período normal, preço do bezerro, do boi gordo e da carcaça andam juntos.

nnn

preços do Boi Gordo, do Bezerro e da carne no Atacado Alta acumulada sobre os respectivos menores preços de 2012 até hoje. Valores atualizados até 23/10/15. 140% 100% 80% 60% 40%

Fonte: Cepea

Bezerro

26 DBO novembro 2015

Carcaça

Boi Gordo

23/10/15

17/9/15

1/6/15

2/1/15

17/10/14

3/7/14

17/4/14

4/2/14

9/9/13

23/5/13

1/2/13

8/10/12

31/8/12

27/7/12

20%

Alta acumulada

120%

Como dissemos, porém, inesperadamente algo mudou no relacionamento desses três colegas, especialmente no comportamento do bezerro. Repare que, a partir de março de 2014, o bezerro se “rebelou”. Começou a ter “opiniões próprias, querer almoçar sozinho em outro tipo de restaurante” e disse que “ia dar um tempo de viajar junto”. Resultado: subiu bem mais do que os outros. Esse rompante durou sete meses, até meados de outubro daquele mesmo ano. Nesse momento, por algum motivo também não explicado, o bezerro voltou ao convívio dos amigos. Claro, a relação estava um pouco machucada. Voltaram a andar juntos, mas não grudados, como antes. Em viagem, dita a convivência, a gente tem que ser tolerante. Vai passar ainda por muitos dias juntos, é sabido. O que dizer nos casos do boi gordo, bezerro e atacado? Eles podem não saber, ali dentro do caminhão boiadeiro, mas a gente sabe: passarão “a vida inteira” juntos, igual casamento. É melhor ficar quieto e deixar que eles descubram isso sozinhos. Entretanto, a experiência de alta do bezerro trouxe-o de volta e isso é o que importa. Mas ele voltou diferente. Chegou irrequieto, impaciente, querendo sair. Chegou esbanjando a energia recarregada com a alta em suas cotações. O boi e a carcaça, por outro lado, queriam “ficar no hotel, lendo um livro”. Parece que o motivo que os levou até ali, o propósito da viagem, tinha sumido ou retrocedido. E essa diferença na atitude perante a viagem levou a outro rompimento, logo no fim de 2014, com o bezerro – agora mais confiante pela sua viagem anterior –, indo e querendo ir cada vez mais longe. Essa viagem solitária por altas montanhas de picos de preços deixou o bezerro completamente sozinho em 2015, como você pode ver no gráfico, que registra os passos dos três “viajantes” desde seu ponto de partida, em 2012. E agora estamos num dilema. A novela não acabou e os três ainda não se reencontraram. O bezerro continua com preço 15% acima do preço do boi gordo e da carne no atacado, se levarmos em consideração de onde saíram, em 2012. O bezerro vai cansar e ficar por aí? O boi gordo e a carcaça, depois de vários meses descansando, conseguirão arrumar nova energia para ir atrás do bezerro? Deixo a pergunta em aberto e queria muito ouvir a sua resposta. Mande um e-mail para a revista. n


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Mercado

A pior relação de troca em cinco anos Recriadores e invernistas necessitaram, em outubro, de 8,9 arrobas de boi gordo para adquirir um animal desmamado de 6 @. Denis cardoso

O

denis@revistadbo.com.br

s preços dos animais de reposição se mantiveram firmes em outubro nas principais praças de comercialização do País, ainda estimulados pela escassez de oferta de gado e pela valorização do boi gordo. “A procura por animais está bastante equilibrada com os atuais níveis de oferta”, informa o Boletim Pecuário Semanal da Informa Economics FNP, consultoria de São Paulo. Pesquisa mensal realizada pela Scot Consultoria, de Bebedouro, SP, mostra que a variação média de todas as categorias de animais (machos e fêmeas) de reposição, considerando 14 praças pecuárias do Brasil, subiu 1,5% em outubro na comparação com setembro. As altas recentes registradas no mercado de reposição superaram os aumentos verificados na arroba do animal terminado, o que contribuiu para uma piora no poder de compra de recriadores e invernistas. “Em outubro, registrou-se para o bezerro a pior relação de troca dos últimos cinco anos, considerando-se como base os preços no Estado de São Paulo”, informa a engenheira agrônoma Maísa Módolo, analista da Scot Consultoria. Segundo ela, no mês passado foram necessárias 8,9 arrobas de boi gordo para adquirir um bezerro desmamado, enquanto há cinco anos essa relação era de 7,3 @/animal. Em São Paulo, o preço médio do animal de 6 @ fechou outubro cotado a R$ 1.305, valorização de 3,4% em relação ao preço médio registrado em setembro, de acordo com a Scot. Nessa mesma praça, o preço do boi magro (12@) subiu 2,9% no mês passado, para R$ 1.955, em média, enquanto o garrote (9,5@) subiu 0,6%, atingindo R$ 1.712,50. A novilha (8,5@) alcançou valor médio de R$ 1.335 no período, alta de 1,9%. Na praça de Goiás, com exceção da novilha, que teve queda, de quase 1% em outubro, para R$ 1.210, os

preços da reposição também subiram. Destaque para o garrote, que foi negociado no mês passado pelo valor médio de R$ 1.690, com valorização de 3,4% sobre setembro. O bezerro desmamado subiu 2,7%, atingindo R$ 1.235, em média. O boi magro registrou o mesmo percentual de alta (2,7%) no período, negociado pela média de R$ 1.915. No Mato Grosso, o garrote também teve o maior percentual mensal de aumento entre as categorias de reposição: subiu 5,2%, fechando outubro a R$ 1.537,50. O preço do bezerro desmamado foi negociado a R$ 1.140, com alta de 2,7%, segundo a Scot. O boi magro atingiu o valor médio de R$ 1.732, com aumento mensal de 2,3%. O preço da novilha registrou estabilidade na praça mato-grossense, fechando o mês a R$ 1.112. No Mato Grosso do Sul, o destaque de alta ficou para o bezerro desmamado, cuja cotação em outubro ficou 3,7% maior na comparação com setembro, a R$ 1.265, em média. O garrote e o boi magro fecharam o período com estabilidade, cotados a R$ 1.625 e R$ 1.836, respectivamente. O valor da novilha terminou o período com alta de 2,3%, atingindo R$ 1.272. Em Minas Gerais, o bezerro desmamado fechou outubro cotado a R$ 1.110, com elevação mensal de 2%. O garrote foi negociado a R$ 1.487, mais 1,1%. O boi magro atingiu valor médio de R$ 1.760, tendo valorização de 2,7%. A novilha alcançou R$ 1.106, com acréscimo mensal de 2,4%. Na praça do Tocantins, todas as categorias de reposição registraram altas consideráveis, com destaque para a novilha, que subiu 6,4% em outubro, para R$ 1.127, em média. O bezerro desmamado registrou aumento de 3,4% no período, para R$ 1.245. O garrote teve alta de 2,3%, para R$ 1.602, e o boi magro subiu 3,4%, para R$ 1.770. Recuperação de pasto Em alguns Estados, as chuvas surgiram com mais força em outubro, embora ainda não tenham sido suficientes para elevar consideravelmente a oferta de forragem. No Norte e Nordeste do País, porém, a estiagem foi predominante. Na Bahia, segundo a Scot, a constante piora da situação dos pastos resultou em quedas no mercado de reposição e no preço do boi gordo, contrariando a conjuntura de preços verificada no restante do País. O valor médio do bezerro desmamado sofreu desvalorização de 7% no mercado baiano, no mês passado, informa a analista Maísa Módolo. n

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Preço médio do bezerro desmamado (6@) em São Paulo, em outubro; aumento de 3,4% na comparação com setembro.

Valor médio do garrote (9,5@) na praça do Mato Grosso, no mês passado, elevação mensal de 5,2%.

Cotação média da novilha (8,5@) no Tocantins, em outubro; valorização de 6,4% em relação a setembro.

Preço médio do boi magro (12@) em Minas Gerais no mês passado; aumento mensal de 2,7%.

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Capítulo Esta é a nona edição do Projeto Portas Abertas, um canal criado por DBO para comunicação entre a indústria e os pecuaristas. Você pergunta, nós respondemos.

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Maristela Franco | maristela@revistadbo.com.br

Como é calculado o rendimento na desossa Quem pergunta é Romes Faria da Costa, gerente da Fazenda Jaó, localizada no município de Nova Xavantina, MT, que abate 16.000 animais/ano a pasto e em confinamento, com peso entre 21,5 e 23@.

desossa é uma das etapas mais cruciais do processo industrial da carne bovina. Se os funcionários não forem bem treinados, os equipamentos eficientes e as operações organizadas, o frigorífico pode amargar perdas consideráveis. É nessa etapa que a qualidade do boi se revela efetivamente, na forma de cortes padronizados, de alta aceitação por parte do consumidor. A desossa é a prova dos nove do processo produtivo pecuário. Segundo João Batista Rocha, gerente executivo de planejamento da JBS, cada tipo de animal abatido tem um índice de rendimento na desossa e gera cortes com padrões distintos. Direcioná-los para mercados que melhor os remunerem é tarefa complexa e um desafio diário. O rendimento de desossa em um frigorífico de bovinos é calculado com base no peso da carcaça após resfriamento. Suponhamos que um novilho gordo de 500 kg tenha rendimento de carcaça quente, pós toalete, de 54% (270 kg). Na câmara fria, o peso dessa carcaça cai de 1% a 1,5%, devido à desidratação. “Em cada 1.000 bois, perdemos o equivalente a 10 ou 15 animais”, explica o executivo, ressaltando tratar-se de uma quebra inevitável, que a indústria procura minimizar ao máximo utilizando equipamentos adequados. Ao sair da câmara, portanto, a carcaça daquele novilho de 500 kg, já dividida em três partes (48% de traseiro, 38% de dianteiro e 14% de ponta de agulha) 32 DBO novembro 2015

Arquivo JBS

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Os cortes são refilados conforme as exigências de cada mercado

estará pesando 267,3 kg, que, após desossa e “refile” (limpeza), apresentará rendimento médio de 78% (208,4 kg). Entre 19% e 20% da carcaça são ossos, que, no exemplo citado, significam de 50,7 kg a 53,4 kg. Os 3% a 2% restantes equivalem às aparas feitas para deixar os cortes dentro do padrão exigido pelos diferentes mercados. Quanto mais eficiente forem os desossadores e refiladores, menor será a quebra nessa etapa. A JBS utiliza o método de desossa conhecido como “osso branco”, que objetiva extrair o máximo possível de carne da peça, reduzindo desperdícios. “Com times bem treinados, as perdas durante o refile podem cair para 1%”, diz Rocha,

Especialização –

ressaltando que o segredo está na boa organização dos processos e na especialização da mão-de-obra. “Se um desossador costuma fazer o acém e outro, a paleta trocá-los de função pode gerar dupla ineficiência”, exemplifica. Na maior planta frigorífica do País, a Campo Grande II, da JBS, que tem capacidade para abater 3.000 cabeças/ dia e fica nos arredores da capital sul-mato-grossense, DBO acompanhou a desossa, que é feita em grande velocidade, exigindo muita destreza dos magarefes. Construída em 2009, essa unidade tem sala de desossa moderna. Na parte da frente da instalação, dianteiros e traseiros vindos da câmara fria em ganchos sobre trilhos são processados por etapas. Cada corte retirado do dian-


Peso da qualidade - Segundo Rocha, a qualidade dos animais influi muito no rendimento industrial. Vacas de descarte, por exemplo, apresentam menos musculosidade, maior quantidade de ossos e menor porção comestível do que novilhos. Bois pesados, castrados, jovens e bem acabados fornecem cortes maiores e dentro do padrão desejado pelo mercado consumidor, além de garantir menores custos de frete (transportam-se mais quilos pelo mesmo preço) e de processamento (diluem-se as despesas fixas). “Se abatêssemos apenas esse tipo de animal, teríamos excelente rendimento industrial, mas trabalhamos, infelizmente, com uma matéria-prima muito heterogênea”, diz. O boi inteiro, segundo Rocha, tem trazido problemas para a indústria, devido à falta de acabamento de gordura, que compromete a qualidade de cortes nobres, como o contrafilé e a picanha, além de apresentar maior índice de DFD (dark, firm and dry ou carne escura, dura e seca). Esse fenômeno é causado pelo estresse pré-abate, mais

maristela franco

teiro, por exemplo, é lançado em rampas de alumínio, que dão para cinco linhas específicas de refile, onde trabalham funcionárias atentas aos padrões exigidos pelo mercado de destino. Em outra linha, grandes peças do dianteiro, como a paleta e o acém, são desossadas em minutos. Os cortes já prontos seguem, por esteiras, direto para o setor de embalagem a vácuo. Além de especializar a mão de obra, visando maior excelência na desossa – que é medida por meio de indicadores operacionais disponíveis para consulta dos funcionários em painéis de gestão à vista – a empresa também procura especializar suas plantas por mercados. “Há diferenças de refile, por exemplo, entre a Rússia, o Chile e a Europa. Se eu ficar mudando os contratos de planta, provavelmente vou atender mal esses três importadores”, explica Rocha. A especialização por mercado leva em consideração questões tributárias, custos logísticos, habilitações e tipo de matéria-prima disponível na região de cada planta. Como as carcaças são classificadas no abate e permanecem de 36 a 48 horas na câmara fria, é possível preparar a desossa com antecedência para atender cada mercado.

Desossa do acém: trabalho que exige muita habilidade.

frequente em bois inteiros, que são agitados e briguentos. “Temos de vender essas carcaças a preços mais baixos, para mercados que ainda aceitam carne escura, concorrendo no mesmo patamar que a Índia”, diz Rocha. Segundo ele, bons lotes de bois castrados dão até 94% de gordura com 3 mm de espessura, em contraste com 40% a 50% dos bois inteiros confinados e 30% a 20% dos inteiros criados a pasto. Devido à heterogeneidade da matéria-prima disponível no País, a indústria frigorífica precisa desenvolver estratégias múltiplas para colocação dos cortes cárneos, sempre buscando identificar os mercados que melhor remunerem os diferentes tipos de produto. “Trabalhamos tanto com

Planejamento -

demanda puxada (o cliente especifica o padrão da mercadoria que deseja) quanto com demanda ‘empurrada’, ou seja, compramos os animais e depois vamos encaixando a carne produzida nos diversos mercados, conforme suas características”, detalha Gustavo Valezin, gerente de planejamento estratégico da JBS. A empresa faz uma projeção anual de abate, que é desdobrada em meses, para identificação de sazonalidades de oferta, tanto em quantidade quanto em qualidade. “Há momentos em que o padrão do boi piora, como na passagem do período de engorda a pasto para o de terminação em confinamento; precisamos conhecer a curva da oferta para cumprir adequadamente nossos contratos”, salienta Valezin, lembrando que as projeções são revisadas a cada mês e depois semanalmente. “Temos um programa de computador que nos indica, com base em históricos de abate, quanto podemos esperar de produção por determinado tipo de carcaça em cada unidade de abate. A margem de erro tem sido de 2%, em peso, e de 20% em sexo, idade e acabamento”, ­acrescenta Rocha. A demanda também sofre sazonalidade. A Europa, por exemplo, compra muito no primeiro semestre, por causa das festas de Páscoa, em abril, e das férias de verão, em julho, depois diminui as encomendas. “No mercado de carne, quando a demanda está boa para um produto está ruim para outro. Durante as festas de final de ano no Brasil, por exemplo, vende-e muita carne para churrasco; em compensação, sobram bifes e carne de panela, porque as cozinhas industriais estão em férias coletivas. Temos de desenvolver estratégias comerciais para os momentos críticos de demanda de cada corte, pois o boi vem sempre completo e precisa ser 100% comercializado”, frisa Rocha. n

Veja, na próxima edição, o último episódio desta série, sobre comercialização. Participe enviando suas perguntas para o e-mail maristela@revistadbo.com.br. Mais informações também estão disponíveis no Portal DBO.

DBO novembro 2015

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Cadeia em Pauta

Na rota mundial da carne gourmet Marfrig exporta primeiros lotes de cortes com selo de qualidade Brazilian Angus Beef Denis Cardoso,

de Porto Feliz, SP

O nnn Programa carne Angus vai fechar 2015 com

400 mil

animais certificados

Brasil entrou para o seleto grupo dos países que atendem o mercado de carne bovina gourmet ao exportar para a Europa os primeiros cortes de carne in natura com selo de qualidade internacional Brazilian Angus Beef, produzidos pela Marfrig Foods, o segundo maior frigorífico do País. Embora com participação ainda bastante tímida diante dos tradicionais atores desse nicho de mercado – Estados Unidos, Austrália, Argentina e Uruguai –, o ingresso brasileiro no segmento internacional de carne de alta qualidade representa um marco histórico para um país que até então era unicamente reconhecido lá fora como um grande exportador de “carne commodity”, sem a existência de qualquer atestado que o qualificasse como sendo também um potencial fornecedor de produtos nobres, com maior valor agregado. No segmento gourmet, os cortes bovinos são mais altos, de maior espessura, apresentam elevado grau de maciez, suculência, sabor mais acentuado, textura, maior teor de gordura, marmoreio (gordura entremeada) e, normalmente, são preparados direto no fogo (churrasco), sem a necessidade de receitas. Por isso, são mais valorizados que os tipos de carne “culinária” (bifes finos, cortados, adicionados normalmente a uma receita) ou “ingrediente” (moída, picada, utilizada como recheio para linguiças, salames, entre outros embutidos). Os primeiros contêineres fechados contendo cortes de carne Angus certificada (picanha, filé mignon, contrafilé, alcatra, entre outras peças do traseiro) foram enviados em agosto último, especificamente para os mercados da Alemanha e Holanda, informa o diretor de Exportação da Marfrig Beef, Alisson Navarro. “Inicialmente, a nossa exdivulgação/Marfrig

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denis@revistadbo.com.br

pectativa é alcançar, até o fim de dezembro deste ano, um volume de embarque médio de 10 toneladas semanais de cortes de carne Angus certificada”, prevê Navarro, acrescentando que, “em breve”, o frigorífico irá expandir o fornecimento do produto para a Itália. “Também estamos negociando a venda da carne para países do Oriente Médio, como Líbano e Jordânia”, revela. No entanto, na avaliação do diretor, ainda é cedo para traçar metas mais consistentes sobre este novo canal de comercialização. “Estamos trabalhando para ter a maior participação possível, mas tudo vai depender da disponibilidade de animais Angus para o abate e, ao mesmo tempo, temos de manter os nossos compromissos com clientes regulares do mercado interno”, avalia ele, referindo-se principalmente ao segmento de food service, para onde vai a maioria dos cortes de qualidade superior produzidos internamente. Ainda segundo Navarro, a garantia de regularidade na entrega é “fundamental neste processo inicial de abertura de novos mercados”. Em relação à expectativa de diferencial de preço pago pela carne Angus certificada, Navarro diz que o frigorífico já vem recebendo um sobrepreço de 5% a 10% em comparação à carne bovina commodity, variação que oscila de acordo com cada importador. Segundo Reynaldo Titoff Salvador, diretor do Programa Carnes Angus, da Associação Brasileira de Angus (ABA), entidade responsável pela emissão do selo Brazilian Angus Beef, o desafio é conseguir elevar, no futuro próximo, esse ágio para um patamar acima de 20%. “Para isso, além de comprovarmos a qualidade de nossa carne Angus certificada, mostraremos aos clientes internacionais que também somos capazes de oferecer constância na entrega”, enfatiza Titoff, que prevê fechar 2015 com um universo de 400 mil animais certificados, o que significa 1% do total de abates anuais no País (em torno de 40 milhões de cabeças).

Cortes especiais da raça Angus recebem premiação de até 10% sobre o preço da carne comum no exterior

34 DBO novembro 2015


divulgação/Marfrig

Machos são abatidos com 19,5@ e 15 meses de idade

Produzir cortes especiais de carne bovina e identificados pela raça não é nenhuma novidade para a Marfrig, que internamente sustenta programas de fomento à produção de animais com genética britânica, das raças Angus e Hereford, além de participar de projetos que certificam animais de qualidade, tanto taurinos (programas de premiação para a produção de bovinos certificados como Angus e Hereford), quanto da raça zebuína Nelore (programa Nelore Natural, da ACNB – Associação dos Criadores de Nelore do Brasil). O problema é que, no âmbito externo, de nada valia esse trabalho conjunto entre pecuaristas e a indústria frigorífica, já que a inexistência de um selo de reconhecimento internacional fazia dos cortes de carne Angus aqui certificados – e vendidos no segmento de food service com ágio de até 30% – produtos meramente comuns fora do Brasil, ou seja, tudo era colocado na cesta “commodity”. “Vivíamos uma situação no mínimo injusta, pois todos sabem do enorme esforço que é produzir animais de qualidade superior, que exigem investimentos em genética e nutrição, sem contar o processo criterioso de certificação da raça”, diz Reynaldo Titoff. No entanto, a despeito dos esforços conjuntos do Marfrig e da Associação Brasileira de Angus, a abertura do mercado mundial de carne premium ao Brasil só foi possível graças ao processo de validação do selo Brazilian Angus Beef junto à Plataforma de Gestão Agropecuária (PGA), sistema instituído pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), em parceria com a Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA) e o Instituto Interamericano de Cooperação para Agricultura (IICA). A PGA garante a geração de um banco de dados único, resultando em maior credibilidade, transparência, agilidade na coleta de informações sobre o trânsito de animais, além da integração de vários outros sistemas de controle, como o de sanidade e o de rastreabilidade. Por meio da PGA, por exemplo, é possível bloquear imediatamente o comércio de bovinos de determinada região no caso de ocorrência de um problema sanitário.

Do cocho ao prato Além dos embarques já concretizados pela Marfrig, importadores do mundo inteiro tiveram a oportunidade de degustar essa mesma carne Angus certificada durante o evento ­Brazilian Angus Day, realizado em 12 de outubro, em Colônia, na Alemanha, dentro da Feira de Anuga, um dos maiores fóruns de negócios do mercado de alimentação internacional. No estande da Abiec – Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), visitantes de países da Europa, Oriente Médio, Ásia, entre outros locais, degustaram, num único dia, 300 Kg da carne Angus de origem brasileira. Exatos dois dias depois do churrasco promovido em outubro pela Abiec em Anuga, a Marfrig abriu a porteira de um dos seus confinamentos para a reportagem da DBO, que acompanhou, “direto na fonte”, a fase final de engorda de animais Angus oriundos do Programa Fomento Angus, além de bovinos de outras raças advindos de demais projetos de cruzamento industrial, como o que leva a genética Hereford. Trata-se das instalações situadas na Fazenda Jequitibá, em Porto Feliz, interior paulista, com capacidade estática para 8.000 bovinos e que termina anualmente cerca de 20.000 cabeças. “É o nosso menor confinamento dos três atualmente mantidos em operação, mas o consideramos altamente estratégico, não só por ser o canal de recebimento de animais produzidos nos polos de Fomento Angus mantidos em São Paulo, Mato Grosso do Sul e Goiás, mas também porque está localizado próximo da capital paulista, o maior centro consumidor de nossa carne premium no País”, considera o diretor de Compras da Marfrig, José Pedro Crespo, acrescentando que os bovinos de Porto Feliz são abatidos na unidade de Promissão (distante 350 km). Grande parte dos animais mantidos na Fazenda Jequitibá entra em sistema intensivo de engorda logo após a desmama, com 8 meses de idade, como é o caso da maioria dos bovinos do Programa Fomento Angus. O longo período de cocho (de 170 a 200 dias), além do fornecimento de uma dieta rica em energia, diz Crespo, garante a produção de animais precoces e com acabamento de carcaça uniforme (deposição de gordura subcutânea e de marmoreio), o tipo de produto procurado pela rede de compradores que investem em carne gourmet. Segundo o gerente de Confinamento da Mafrig, Luis Felipe Niero, na fase final de terminação, a ração oferecida ao gado de Porto Feliz é composta de 15% de volumoso (silagem de milho) e 85% de concentrado. “Além da silagem, utilizamos basicamente milho moído, farelo de soja e subprodutos de indústrias locais, no caso polpa cítrica de laranja, resíduos de cevada (insumo oriundo de fábricas de cerveja) e farelo de amendoim”, afirma. As fêmeas Angus

Reynaldo Titoff, diretor do Programa Carnes Angus, garante que haverá constância na entrega.

Para José Crespo, diretor de Compras da Marfrig, quem determina o tipo de animal abatido é o consumidor final.

Felipe Niero: subprodutos da indústria local abastecem o confinamento da Marfrig em Porto Feliz, SP.

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Cadeia em Pauta

Carne Nelore é altamente valorizada em países como a Itália” Renato Galindo, gerente de Linhas Especiais da Marfrig.

e Hereford são abatidas aos 14 meses de idade, com 15-16@, e os machos são levados ao gancho aos 15 meses, com 18-19,5@, informa. Os outros confinamentos da Mafrig estão situados em Mineiros, em Goiás, que tem capacidade estática de 32.000 cabeças, e em Campo Novo dos Parecis, no Mato Grosso, com estrutura de engorda para 27.000 cabeças. Ao todo, os três confinamentos do grupo têm capacidade estática para 67.000 cabeças. A expectativa de engorda neste ano é de 80 mil animais, praticamente a mesma quantidade registrada no ano passado, de 82 mil cabeças. A principal fonte de abastecimento dos centros de engorda da Marfrig é o Programa Fomento Angus, que registrou, nesta última estação de monta 2014-2015, 94,4 mil matrizes inseminadas, com a produção total de 42 mil bezerros, e o envolvimento de 145 fazendas, espalhadas pelos Estados de MT, MS, GO e SP. “Nesta nova estação de monta (2015-2016) devemos manter os mesmos patamares de produção registrados na temporada anterior”, prevê o gerente de Confinamento. Pelo Fomento Angus, os pecuaristas recebem premiação na entrega de bezerros desmamados, que varia de 5% a 7% sobre o valor da arroba do boi gordo (preço Cepea da praça de origem do animal). Segundo Niero, atualmente, os três confinamentos da Marfrig funcionam em sua capacidade plena de engorda, o que explica, em parte, a projeção de estabilidade em relação aos números de produção do Programa Fomento Angus. Em contrapartida, diz o gerente, vem crescendo a oferta de animais Angus de produtores que não fazem parte do programa de fomento e investem por conta própria na produção e na engorda de bovinos com genética taurino. Só no ano passado, as plantas do Marfrig registraram a certificação (por meio da Associação Brasileira de Angus, de 130 mil

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animais Angus, crescimento de 300% sobre o número os dados de 2009 (32 mil cabeças certificadas). “Na verdade, nunca apostamos em um só segmento; o de carne premium é apenas um entre outros importantes setores de mercado”, enfatiza Crespo, para depois completar: “Quem determina o tipo de animal a ser abatido é o consumidor final”. Essa premissa tem sido repetida com exaustão pelo diretor de Compras da Marfrig e também pelo seu colega Renato Galindo, gerente de Linhas Especiais, que também recebeu a DBO em Porto Feliz. Nesse sentido, o despeito do apelo comercial dos cortes especiais, 70% dos abates totais da Marfrig ainda são representados por animais zebuínos (Nelore, ou anelorados, ou mestiços de origem leiteira), produzidos essencialmente a pasto, pelo modelo extensivo ou semi-intensivo, informa Crespo. Os 30% restantes são produtos de cruzamento industrial (Angus/Hereford x Nelore – a Marfrig também oferece incentivos para a produção de animais Wagyu), além de animais puros britânicos (Angus e Hereford), produzidos no Rio Grande do Sul, tanto no sistema a pasto (como os cortes de carne certificada como Angus do Pampa) quanto no confinamento. “Temos como objetivo produzir produtos tailor-made (feitos sob medida), ou seja, de acordo com a necessidade de cada cliente”, diz Crespo, que faz questão de valorizar o Nelore produzido a pasto, dirigido principalmente para o mercado interno, produto que “satisfaz o desejo diário da dona de casa, que procura uma carne magra, com baixo teor de gordura”. “É importante ressaltar que essa mesma carne de Nelore é altamente valorizada em países como a Itália, que utilizam o cochão mole do zebu, que é livre de gordura, para produzir a bresaola, uma espécie de presunto desidratado, iguaria bastante apreciada pela comunidade judaica”, afirma Galindo. n



Cadeia em Pauta

Revés nas vendas de boi em pé Analistas lamentam tragédia no porto do Pará, mas defendem retomada das exportações Denis Cardoso

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denis@revistadbo.com.br

o início de outubro, o segmento brasileiro de exportação de boi em pé, que gerou divisas de US$ 634 milhões ano passado, com o embarque de quase 650.000 animais, sofreu o maior revés de sua história após o navio Haidar, de bandeira libanesa, adernar e naufragar no próprio cais do Porto de Vila do Conde, às margens do Rio Pará, em Barcarena (PA), resultando na morte de quase 5.000 bovinos (cerca de 200 animais sobreviveram). A carga pertencia à Minerva Foods, de Barretos, SP, e tinha como destino a Venezuela, a principal importadora de gado vivo do País. O incidente não só provocou comoção nacional, após a circulação na mídia de lamentáveis imagens do afogamento de milhares de animais, como ocasionou enorme transtorno à população ribeirinha local, que passou a conviver com o óleo do navio, que se espalhou nas águas do Rio Pará, e com o mau cheiro das carcaças em estado de decomposição, além da presença física de animais mortos nas praias da região. As causas do naufrágio estão sendo investigadas pela Justiça Federal, depois que uma ação civil pública foi movida contra a Minerva, a Companhia de Docas do Pará (CDP), responsável pelo Porto de Vila do Conde, e a Global Norte Trade, empresa de transporte marítimo contratada para a operação. Desde a ocorrência da tragédia, a exportação de gado em pé via Vila do Conde, que é responsável por mais de 95% dos embarques totais do País, foi suspensa tempora-

Quase 5.000 animais morrem após naufrágio de navio

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riamente pela Secretaria do Meio Ambiente e Sustentabilidade do Pará (Semas). Segundo dados levantados pela zootecnista Isabella Camargo, analista da Scot Consultoria, de Bebedouro, SP, neste ano o Pará foi responsável por 100% das exportações de animais vivos do País, tendo como compradores Iraque, Jordânia, Líbano e Venezuela. De janeiro a setembro deste ano, foram embarcadas 181.460 cabeças, queda de 65% em relação ao volume registrado em igual período do ano passado, segundo dados Secretaria de Comércio Exterior (Secex). Em receita, as vendas externas de gado vivo atingiram US$ 171,37 milhões no período acumulado de nove meses, retração de 67% sobre o valor obtido em igual intervalo de 2014. O recuo nos embarques de animais vivos, diz Isabella, foi motivado sobretudo pela forte redução nos preços internacionais do petróleo, que abalou a economia da Venezuela, o principal importador. De janeiro a setembro deste ano, as compras de animais vivos por parte do país latino-americano caíram 77%, para 91.000 cabeças, em relação ao mesmo período do ano passado (393.520 cabeças). O Líbano, segundo maior comprador de animais vivos do País, também reduziu suas aquisições, importando 50.000 animais no período, quantidade 35% menor do que a verificada no mesmo período de 2014. Retomada Mesmo diante da tragédia no Porto de Vila do Conde, analistas do setor pecuário defendem a retomada dos embarques de animais vivos. “O naufrágio foi lastimável, mas isso não significa que o Pará não esteja preparado para exportar animais vivos com absoluta segurança”, afirma o diretor técnico da Informa Economics FNP, de São Paulo, José Vicente Ferraz, que compara a tragédia com os bois a um acidente de avião. “Não se proíbe o transporte aéreo em caso de queda de um avião”, diz ele, acrescentando que é preciso, porém, investigar “a fundo” as causas do acidente em Barcarena. Segundo Ferraz, embora com participação pequena em relação ao mercado exportador de carne bovina, os embarques de animais vivos impulsionam a economia regional do Pará, resultando em mais renda para o pecuarista local e efeitos multiplicadores sobre os investimentos na bovinocultura de corte. “O interesse pelo gado vivo estimula a concorrência com a indústria frigorífica (interessada em abater internamente esses animais), elevando o preço do boi paraense”, afirma o analista da Informa Economics FNP. Compartilha da mesma opinião o diretor e fundador da Scot Consultora, Alcides Torres. “É importante que o Brasil continue atuando em todos os setores da cadeia pecuária, e a exportação de boi em pé é um dos canais de escoamento de nosso produto”, afirma ele, completando que “países importadores passariam a adquirir animais vivos de outros potenciais fornecedores, como Canadá e México, caso o Pará deixasse de exportá-los em definitivo”. n


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Cadeia em Pauta

Carne por assinatura Clubes de churrasco são nova estratégia para a difusão da carne de qualidade Mônica Costa

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Cortes são acondicionados em caixas especiais, com informações sobre origem e preparo da carne.

monica@revistadbo.com.br

s clubes de assinatura, conceito difundido entre os apreciadores de vinhos, cervejas e livros, chegou aos apaixonados por churrasco e desponta como um novo e importante canal para o escoamento da proteína vermelha. Em dois anos foram inaugurados pelo menos três clubes, que devem chegar ao fim do ano entregando mais de três toneladas de cortes de carnes nobres no conforto do lar. Segundo os empresários gaúchos Everton e Cristiano Mendes, que comandam, desde 2014, o Empório do Pampa, loja exclusiva de Carne Certificada Hereford, em Santa Cruz do Sul, RS, a decisão de investir em um clube de churrasco surgiu ao perceber o grande interesse de consumidores por informações sobre cortes diferentes para o preparo do churrasco. “Constatamos que havia uma lacuna que podíamos preencher com este novo serviço e incrementamos com a possibilidade de entregar cortes diferenciados e conteúdo com informações sobre raça, alimentação e idade de abate do bovino, além de dicas sobre o preparo de cada peça”, explica Everton, que, ao lado do irmão, investiu R$ 300.000 em marketing e logística para inaugurar, em outubro de 2015, o Clube BBQ (Clube do Barbecue), de Santa Cruz do Sul, a 150 km de Porto Alegre, RS. No primeiro mês foram entregues 500 kg de bife ancho, corte de Angus certificado do frigorífico Las Pie-

dras, no Uruguai, para consumidores de São Paulo e Porto Alegre. “O bife ancho é o nosso entrecorte. Desta vez, trouxemos o produto do Uruguai, mas vamos dar prioridade à matéria-prima nacional”, diz Everton que, além da carne Hereford de sua boutique, está fechando parcerias com outros frigoríficos e associações de criadores para garantir o fornecimento de cortes diferenciados e exclusivos todos os meses. “Até dezembro, queremos atender mil associados e vender, pelo menos, 1,3 toneladas de cortes nobres por mês”, projeta. Agregação de valor O Clube da Carne no Ponto, sediado na capital paulista, trabalha no segmento de carne por assinatura desde janeiro. “Além da comodidade para o cliente, a medida ampliou as vendas da loja, porque sempre há pedidos de itens extras com o corte do mês”, diz a empresária Natália Regina, que é sócia do empresário Danilo Jorge na boutique de carne Angus “Empório no Ponto”, com duas unidades em São Paulo. O clube atende apenas na capital e distribui mensalmente cerca de 200 kg de cortes nobres, especialmente de Angus e Wagyu. Para atender à demanda dos associados, a empresa firmou acordo com os frigoríficos JBS, Intermezzo e Estrela, e conta com a assessoria de especialistas que fornecem informações sobre o modo de preparo do churrasco e a procedência dos cortes. “No próximo ano, nossa meta é aumentar em 12% o volume de cortes nobres entregues para os clientes”, estima Natália. A Sociedade da Carne, sediada em São Paulo, foi inaugurada em 2013 por Selsimar Reis, Hamilton Navarro Jr. e Leonardo Leocádio, três amigos apaixonados por churrasco. “Nós já comprávamos carnes especiais de fornecedores e repassávamos para amigos, mas o número de interessados cresceu e exigiu a profissionalização do negócio”, explicou Selsimar Reis. Hoje, a Sociedade da Carne entrega mensalmente mais de 2 toneladas de cortes de carnes nobres para cerca de 1.100 clientes em todo o Brasil e prevê um faturamento de aproximadamente R$ 2 milhões em 2015, quase três vezes o resultado obtido em 2014, quando a receita ficou em R$ 700.000. “A expectativa é aumentar em pelo menos 50% tanto o faturamento quanto a base de assinantes em 2016”, afirma Reis. A estratégia da empresa é garantir preços atraentes. “Como compramos em grande quantidade, conseguimos fechar bons negócios e repassar para o cliente com valores até 30% menores do que os das boutiques de carne”, completa. A maior parte da clientela (80%) está concentrada em São Paulo, mas a demanda por consumidores de outros Estados tem aumentado, e por isso, a empresa vai lançar até janeiro de 2016 a primeira franquia em Brasília. “Este será um projeto piloto. Já temos interessados em Belo Horizonte e Curitiba”, festeja o empresário. n

Serviço

Clube do Barbecue - clubedobbq.com.br Sociedade da Carne - sociedadedacarne.com.br Clube da Carne no Ponto - clubedacarnenoponto.com.br

40 DBO novembro 2015



Cadeia em Pauta Sisal

Embrião de produtividade Aprova desenvolve projeto-piloto para estimular criadores a produzir “safras anuais de bois” e aumentar lucratividade Mônica Costa

A

monica@revistadbo.com.br

Associação Brasileira dos Produtores do Vale do Araguaia (Aprova), que tem sede em Britânia, GO, e reúne 72 filiados detentores de 350.000 bovinos, está desenvolvendo um projeto-piloto para melhoria da produtividade pecuária na região, utilizando tecnologias simples, mas de grande impacto. Batizado de Projeto Embrião, ele foi lançado em 2013 e tem por objetivo fazer a chamada “safra de boi”, ou seja, encurtar o ciclo de recria/engorda de forma a abater todos os animais no prazo de um ano (julho a junho), obtendo taxa de desfrute de 100%. Para atingir essa meta ambiciosa, os bezerros desmamados com no mínimo 180 kg devem ganhar 6,5 a 7@ na recria a pasto com suplementação, registrando ganhos de 800 g 1 kg/cab/dia, e depois ser terminados em confinamento. Caso o produtor trabalhe com garrotes de 300 a 350 kg, pode engordá-los somente a pasto, também com suplementação. Esse sistema de produção é preconizado pelo agrônomo Armélio Martins Rodrigues, da Consultoria Si-

Estratégias de manejo para fazer "safra de boi" (Para cada lote, um tipo de pasto e protocolo nutricional) Classificação

Tipo de Pasto1

Faixa de peso inicial(kg)

Peso ao final da recria(kg)

Bezerro 3

Prioritário

190 a 220

385

Bezerro 4

Intermediário

220 a 250

415

Bezerro 5

Inferior

250 a 290

445

Garrote 6

Prioritário

290 a 320

485

Garrote 7

Intermediário

320 a 350

515

Pasto – julho

Garrote 8

Inferior

350 a 390

545

Pasto – maio

Engorda 9

Prioritário

390 a 420

585

Pasto – abril

Engorda 10

Intermediário

420 a 450

615

Pasto fev/março

Engorda 11

Inferior

450 acima

645

Pasto – jan/fev

dos animais

Terminação 2a etapa conf. julho 1a etapa conf. abril/maio 1a etapa conf. abril/maio Pasto – julho

1 Características dos pastos: Prioritário – melhor pasto da fazenda, com boa formação, ou localizados em áreas mais frescas e corrigidas. Intermediário – são melhores que os inferiores, ainda apresentam um potencial produtivo mediano. Inferior – sujo, capins misturados, pastos mais velhos. Fonte: Sisal Planejamento. Adaptação DBO

42 DBO novembro 2015

Estratégia prioriza a qualidade das pastagens para que todo o rebanho alcance 12@ dentro do prazo

sal Planejamento, de Goiânia, GO, e já foi implantado em três fazendas associadas, que funcionam como “unidades de referência” para as demais. Cerca de 46% dos filiados da Aprova trabalham com ciclo completo e 15% com recria/engorda, podendo ser diretamente beneficiados pelo sistema. Os resultados econômicos e zootécnicos do projeto deverão ser apresentados aos produtores da região no primeiro trimestre de 2016. Produção programada Marcelo Marcondes, presidente da entidade, espera que o aumento na taxa de desfrute, que hoje gira em torno de 35% nos sistemas de recria-engorda, triplique o número de animais entregues pelos produtores aos frigoríficos parceiros. Em 2014/2015, o grupo abateu 25.000 cabeças, recebendo bônus de 1% a 3% sobre o valor da arroba, conforme tabela Esalq/USP, para a praça de Goiânia. Segundo Marcondes, um maior número de fazendas produzindo “safras de bois” conferirá maior credibilidade à associação e, consequentemente, elevará o índice de fidelidade dos produtores fornecedores. “Hoje trabalhamos com projeções. O sistema que estamos difundindo por meio do Projeto Embrião vai permitir que as negociações com os frigoríficos sejam feitas com base em números exatos de animais para abate no médio prazo, o que pode, inclusive, melhorar as premiações”, diz o presidente da Aprova. Para garantir as safras anuais de bois, os animais, selecionados no mês de julho, são classificados em novembro, durante a vacinação anti-aftosa, e agrupados por peso (diferença de 30 kg entre lotes), sendo identificados a fogo com números que variam de 1 a 11. As pastagens também são classificadas em função de sua qualidade (veja tabela). “Os bovinos mais leves são sempre colocados nos melhores pastos”, salienta. Os bezerros de carimbos 1 (abaixo de 160 kg) não têm potencial para participar do programa “safra de boi”, devendo ser vendidos. Os de carimbo 2 (160 a 190 kg) somente alcançam essa condição em pastos irrigados com suplementação. Se o produtor não tiver esse recurso, também deve vendê-los. Já os bezerros


de carimbos 3 a 5 (190 a 290 kg) podem ser incluídos no programa, desde que terminados em confinamento, como indica a faixa azul da tabela. Segundo Armélio, a meta é fazê-los ganhar 195 kg de peso vivo por cabeça durante 270 dias (novembro a julho), o que demanda ganho médio de 720 g/cab/dia. Para isso, recebem sal aditivado de novembro a fevereiro. Quando o capim começa a perder qualidade, entre fevereiro e maio, troca-se o sal pelo proteinado, na proporção de 2% a 3% do peso vivo. Finalmente, entre maio e julho, prepara-se os animais para o confinamento (entrada com 12@), fornecendo-lhes um sal proteico-energético (4% a 6% do PV). Os garrotes de até 420 kg recebem esse mesmo tratamento, visando terminação a pasto. Os mais pesados (420 kg acima) não são suplementados. A cada etapa do protocolo nutricional, avalia-se o desempenho animal para eventuais ajustes. Exemplos práticos De acordo com o médico veterinário Rodrigo Albuquerque, gerente de pecuária da Fazenda Buriti, em Jussara, a 330 km de Goiânia, a vantagem do sistema de recria/engorda adotado no Projeto Embrião é a possibilidade de se apurar os erros de manejo com maior

rapidez. “Os ajustes são mais rápidos e podemos programar a venda dos animais com maior precisão”, informa Albuquerque, que também é diretor da Aprova e foi o primeiro produtor da associação a adotar o sistema desenvolvido por Armélio. Segundo ele, em três anos, sua taxa de desfrute saltou de 50% para 98%. “Com a mudança de estratégia, que exige acompanhamento e correção mensal, só não finalizo animais por acidente ou morte”, diz. Antônio Celso Lopes, proprietário da fazenda Água Limpa, em Britânia, GO, ex-presidente e atual vice da Aprova, é o maior entusiasta do Projeto Embrião. “O sistema de produção que adotamos deve aumentar a lucratividade dos associados e reduzir os riscos do negócio” afirma. Na safra 2013/2014 a taxa de desfrute da Fazenda Água Limpa foi de 68,09% e subiu para 72% na safra 2014/2015, quando Lopes auferiu lucro de R$ 559,37 por cabeça, graças ao acréscimo de 6,6@ por animal no período (já bem próximo da meta de 7@). “Acreditamos que muitos criadores vão se interessar pelo projeto ao constatar que podem aumentar os lucros da fazenda e ainda garantir maior controle e previsibilidade sobre os custos e as r­ eceitas”, afirma. n

O manejo gera uma fonte anual de renda, como na agricultura.” Armélio Rodrigues Consultoria Sisal Planejamento

DBO novembro 2015 43


Cadeia em Pauta

Fundo investe em projeto brasileiro Gestor de fundo climático internacional vai aplicar R$ 50 milhões em produção de carne sustentável no Mato Grosso Fernando Yassu

C

om sede na França, o fundo climático Althelia (Athelia Climatic Fund) vai financiar o Projeto Novo Campo, criado em 2012 pelo Instituto Centro da Vida (ICV), uma organização da sociedade civil (Oscip) fundada em 1991 no Mato Grosso para construir soluções compartilhadas para a sustentabilidade no uso da terra e dos recursos naturais no bioma amazônico. Esse é o primeiro investimento privado internacional em projetos de produção de carne livre de desmatamento no Brasil e contará com 11,5 milhões de euros, aproximadamente R$ 50 milhões com a cotação da moeda europeia a R$ 4,37. O Projeto Novo Campo, segundo Renato Farias, diretor executvo do ICV, visa suprir a demanda de carne para empresas internacionais que só adquirem alimentos produzidos em fazendas livres de desmatamento em qualquer parte do mundo. Essas empresas integram o Consumer Goods Forum (Fórum de Bens de Consumo) e a Aliança de Florestas Tropicais, movimentos comprometidos com o uso sustentável da terra e de preservação do ecossistema, que, também, estão no escopo da Althelia Ecosphere, a gestora do fundo climático que está financiamento o ­programa ­brasileiro.

Amostragem Para ter uma amostragem mais representativa da pecuária de corte desenvolvida no Mato Grosso, o ICV usou cinco critérios para escolher as 14 propriedades que integraram o projeto piloto: diversidade (há fazendas que se dedicam à cria, à recria e engorda e à cria, recria e engorda), distribuição geográfica dentro do bioma amazônico (regiões norte e noroeste do Mato Grosso), tamanho (pequena, média e grande propriedade, com áreas variando entre 50 e 3.000 ha), diversidade de solo quanto à sua fertilidade (baixa, média e alta fertilidade) e disponibilidade de água.

Fotos arquivo ICV

Renato Farias, do ICV: carne para empresas que querem produtos de área sem desmatamento ilegal

yassu@revistadbo.com.br

O que chamou a atenção do fundo internacional foi a proposta do projeto Novo Campo, que é a da produção sustentável não só do ponto de vista ambiental mas também no aspecto econômico. “O Projeto Novo Campo é uma abordagem necessária e comprovada para lidar com o desmatamento no setor de ­pecuária no Brasil e por essa razão resolvemos financiar”, diz Juan Carlos Gonzalez-Aybar, diretor da Althelia para a América Latina. “Inicialmente, o Projeto Novo Campo deve restaurar 10 mil ha de pastagens degradadas nas regiões Norte e Noroeste do Mato Grosso”, informa Eduardo Florence, coordenador de pecuária do ICV. Antes de buscar financiamento para o Projeto Novo Campo, o ICV montou um projeto piloto para testar o modelo de produção que tem como base o Programa Boas Práticas Agropecuárias (BPA), da Embrapa Gado de Corte, de Campo Grande, MS. Segundo Francisco Bedushi, gestor de projetos do ICV, o resultado do teste em 14 fazendas foi muito bom. Na comparação com as fazendas situadas na microrregião de Alta Floresta, a lotação nas propriedades do projeto piloto cresceu 32%, a produção aumentou 130%, a idade de abate caiu 14 meses entre os machos e 10 meses entre as fêmeas, a margem bruta por hectare foi quase R$ 300 maior e a emissão de gases de efeito estufa caiu quase 50% (veja tabela na página 46)

Área de pasto degradado no Mato Grosso

44 DBO novembro 2015

Área de pasto reformado e explorada intensivamente



Arquivo ICV

Cadeia em Pauta Resultado do Projeto-piloto Novo Campo Média/MT

Média/Alta Floresta

Média Novo Campo

Carga animal (UA/ha)

0,76

1,22

1,61

Produção (@/ha/ano)

3,3

4,7

10,76

Idade de abate Machos

n/d

44 meses

30 meses

Indicador

Idade de abate Fêmeas Custo produção/@ Margem bruta/ha Emissão de gases de efeito estufa

n/d

34 meses

24 meses

R$ 95,80

R$ 66,33

R$ 59,65

R$ 100

R$ 679

R$ 974

n /d

353 gramas de CH4/

180 gramas de CH4/

kg de peso vivo

kg de peso vivo

Fonte: Instituto Centro da Vida (ICV)/Pecsa.

Gado é manejado em pastejo rotacionado e recebe suplemento de baixo consumo

Segundo Florence, todas as fazendas apresentavam problemas de degradação – ou de solo ou de pastagens ou nas áreas de reserva (legal e de preservação permanente) – e em nível diverso – uns mais, outros menos. A barreira para a recusa da propriedade no Projeto Novo Campo foi a lista do Ministério do Trabalho para trabalho infantil ou escravo ou do Ibama ou do Sema (Secretaria do Meio Ambiente do Estado) por desmatamento ilegal. Inicialmente, foi elaborado um projeto técnico de gestão integrada da propriedade. Como não havia recursos abundantes para investir, os conceitos do Programa Boas Práticas Agrícolas foram aplicados paulatinamente. Em vez de mexer em toda a fazenda, os técnicos reservaram o dinheiro para criar uma área intensificada de produção. O pasto dessa área foi reformado e subdividido para a adoção do p­ astejo ­rotacionado. Para melhorar o desempenho do gado, foi implantado também um programa de suplementação. No primeiro ano, o dinheiro foi usado para tratar o gado apenas no período seco do ano e com produto de baixo consumo (sal proteinado). O objetivo foi evitar que o gado emagrecesse na seca e ainda apresentasse um pequeno ganho de peso, cortando, assim, o engorda e emagrece no ciclo de produção. Na parte ambiental, os técnicos isolaram as á­ reas de preservação permanente (APP) para evitar que o gado continuasse tendo acesso às aguadas naturais, degradando, assim, os cursos d´água. Para apascentar o gado, foram instalados bebedouros artificiais. Nas áreas intensificadas, também se plantou árvores para oferecer conforto térmico para o gado. Na escolha das espécies, pensou-se também no aspecto econômico do investimento na arborização. Foram escolhidas espécie de valor comercial. No caso, a espécie escolhida foi o eucalipto. Eduardo Florence justifica: com o aumento gradativo das áreas intensificadas de produção, que exige subdivisão dos pastos para a adoção de pastejo rota46 DBO novembro 2015

cionado, a plantação servirá como fonte de lasca para a construção de cercas nas propriedades. Prática Para colocar o Projeto Novo Campo de pé, foi criada, neste ano, uma empresa de assistência técnica, gestão e investimento, a Pecsa (Pecuária Sustentável da Amazônia), com sede em Alta Floresta, na região norte do Mato Grosso, que conta, atualmente, com 12 profissionais da área técnica, como engenheiros agrônomos, médicos veterinários, zootecnistas, engenheiros florestais e administradores de empresas. O objetivo é atrair para o Projeto Campo Novo pelo menos 200 pecuaristas que têm propriedades localizadas no bioma amazônico no Mato Grosso, segundo o administrador de empresas Vando Telles de Oliveira, diretor executivo da Pecsa e especialista em gestão. A Pecsa oferece três modalidades de negócios, segundo ele. A primeira é o serviço de consultoria técnica e de gestão. “Nessa modalidade, a equipe técnica faz um diagnóstico da propriedade e do seu potencial produtivo, elabora um projeto técnico-econômico e depois acompanha a execução, conduzindo todo o processo, capacitando a mão de obra e monitorando o resultado”, informa Oliveira. A segunda modalidade é de parceria. Nela, a Pecsa assume os investimentos em reforma de pastagens, implanta a infraestrutura e recupera as nascentes e as matas ciliares. O produtor fica responsável pelo gado, mão de obra e maquinário. Os resultados econômicos são compartilhados. A terceira forma é a do arrendamento. Nesse caso, a Pecsa faz a gestão integral da fazenda, realiza investimento em reforma de pasto, na subsidivisão das invernadas e na recuperação das nascentes e das matas ciliares e também garante o custeio. Nessa modalidade, a Pecsa paga o arrendamento. n

Vando Telles, da Pecsa: Novo Campo oferece três modalidades de parceria de produção.


Pastagem

• Tífton é o combustível da intensificação na recria • Manejo estratégico no controle de invasoras • Capim Paiaguás, o mais tolerante à seca severa. • Pastejo na faixa neozelandês, adaptado e mais barato. • Na hora de formar o pasto, pense como um agricultor. Conceitos e tecnologia para aprimorar a base da pecuária nacional


Especial Pastagens

Aposta alta na intensificação Grupo paulista já implantou 800 ha de tífton em fazendas de Goiás e Mato Grosso para impulsionar recria a pasto e terminação em confinamento moacir josé

de Montividiu, GO.

P

moacir@revistadbo.com.br

Fotos Moacir José

roduzir 35 arrobas de carne por hectare já é um número expressivo para os padrões da pecuária brasileira, cuja média é quase dez vezes menor do que isso. Ter como meta 50@/ha em mais da metade da área de pastagem é um número mais ambicioso ainda. Mas é a isso que se propõe e o que está em curso em duas das seis fazendas do Grupo Valim, que atua também na agricultura (algodão, soja e milho) nos Estados de Goiás e Mato Grosso.

E a ferramenta utilizada para conseguir tal produtividade vem do tífton, uma gramínea com muitas vantagens. Foi com ela que o grupo começou, há cinco anos, a ocupar uma área de pasto de 203 ha, hoje totalmente tomada pelo tífton, na Fazenda São José, no município goiano de Montividiu, região sudoeste do Estado, próxima (40 km) a Rio Verde e a 250 km da capital Goiânia. A 70 km dela, no sentido da capital, outra fazenda, a São Geraldo, no município de Paraúna, abriga mais 407 ha de tífton (41% da área), e em Araguaiana, no Mato Grosso, região de Barra do Garças, na divisa com Goiás, mais 193 ha (6% do total) foram formados este ano na Fazenda Jacarandá. São, portanto, 803 ha com a gramínea,

Piquete da Fazenda São Geraldo, em Paraúna, GO: pasto com dois meses de uso (em maio) abriga 15 cabeças (7,5 UA) por hectare.

48 DBO novembro 2015


uma das maiores áreas que se tem notícia em projetos de pecuária. Em todas elas, o objetivo é a intensificação da recria no período das águas. Nas duas de Goiás, são colocadas até 10 unidades animais (1 UA = 450 kg) por hectare. A do Mato Grosso seguirá o mesmo caminho. Luís Augusto Rosa Valim, diretor geral da Agropecuária Valim, calcula que a cada ano estejam sendo agregados 300 ha de tífton nas áreas de pecuária de corte do grupo, que somam 5.640 ha. “Nosso foco é a produção de arrobas por hectare. E, nesse sentido, o sistema de pastejo rotacionado com o tífton se apresenta como a melhor opção”, diz ele, informando que um dos módulos da Fazenda São José chegou a produzir 64@/ha, com uma lotação de 12 cabeças (6,5 UA)/ha, em sistema de sequeiro. Manejo e gestão Para avançar na meta estabelecida, que tem entre seus objetivos o de tornar a pecuária tão competitiva, em termos de rentabilidade, quanto a agricultura, Luís Valim tem lançado mão de dois instrumentos de fundamental importância: um, no manejo da gramínea, e outro, o de um rigoroso controle de produção das pastagens, executado através da alimentação de uma planilha de controle zootécnico por ele mesmo desenvolvida há pouco mais de três anos e aperfeiçoada de um ano para cá. Nessa planilha estão todos os capins utilizados nas quatro fazendas com gado de corte: 79% da área é ocupada com braquiarão, 14% com tífton e 7% com mombaça. “Por ela, consigo saber qual pasto é melhor que outro, qual deve ser recuperado, se pode ser reformado”, explica Luís Valim. Segundo ele, cinco anos atrás, antes da implantação do tífton, as áreas de pecuária suportavam apenas 1 UA/ha e produziam 5@/ha. Muito pouco em termos financeiros, se essa ainda fosse a produtividade das áreas de pastagem, frente às de agricultura do grupo: a preços de setembro, na região de Rio Verde, essas 5@ renderiam R$ 700/ha, em termos brutos, ante R$ 2.900 do milho-safrinha, R$ 4.300 da soja e R$ 10.000/ha do algodão. Com a média de 35@/ ha de hoje nas áreas de tífton, a rentabilidade subiu para R$ 4.900. Mas a conta que interessa é a da lucratividade (receita bruta menos custo operacional total). Tomando-se por base levantamento feito pela Faeg (Federação de Agricultura do Estado de Goiás) sobre custo de produção das três culturas, média no Estado (22 sacas de milho safrinha, 41 sacas de soja transgênica RR2 e 48@ de algodão transgênico, sem considerar retorno sobre o capital fixo e sobre o valor da terra), o lucro líquido de cada uma nas áreas do Grupo Valim seria de R$ 2.254/ha para o milho (98 sacas a R$ 23/sc, considerando uma produtividade média do grupo de 120 sacas/ha); R$ 1.260/ha para a soja (17 sacas a R$ 74/sc, para uma produtividade de 58 sacas/ ha); e R$ 6.000/ha para o algodão (76@ a R$ 79/@, para uma produtividade de 124@, equivalente pluma). Nessas condições, o lucro/ha médio nas áreas de tífton, na última

safra, superaria o da soja (veja tabelas 1 e 2 na pág. 50). É claro que a comparação só se consubstancia quando se tem o lucro final da pecuária, o que inclui os números do confinamento (custo da arroba produzida, lucro por cabeça, etc..), mas os dados da recria permitem ter uma ideia do que a intensificação com o tífton tem trazido de vantagem para os Valim, especialmente quando se tem em mente que o grupo trabalha com o conceito de boi-safra, ou seja, recria e engorda no período de 12 meses. Ter mais eficiência na recria significa um boi mais barato no confinamento, destino final da produção do grupo, que terminou 24.000 cabeças no ano passado, 10.000 delas nas duas fazendas de Goiás (7.000 na São Geraldo e 3.000 na São José) e o restante na Jacarandá, no MT.

Luís Augusto Valim (direita), com o pai José Luiz e o tio Geraldo: rentabilidade da agricultura como norteadora do investimento.

Alta lotação O manejo dos pastos de tífton é feito para se obter altas lotações no período das águas, que, na região Centro-Oeste, vai de novembro a maio. É justamente em meados de novembro, quando da etapa de vacinação do gado contra a aftosa, que se faz a pesagem dos animais e são lançados os dados iniciais na planilha de controle zootécnico. O ganho de peso projetado, no período das águas, é de 700 gramas/animal/dia. De junho a agosto, período seco, nnn

MT

Fazendas em números

Araguaiana

Nome: Grupo Valim Atividades: agricultura (algodão, soja e milho) e pecuária Número de funcionários: 300 Fazendas com gado de corte: Goiás (2) e Mato Grosso (2) Sistema: recria e engorda Área total de pastagem: 5.640 ha Área pastejada (2015): 4.757 ha Gado em Recria (2014-15): 19.000 cabeças Abate anual: 24.000 cabeças.

GO

Paraúna Montividiu

Goiânia

nnn

novembro 2015

DBO 49


Especial Pastagens

Planilha de custos orienta Luís Valim sobre necessidade de realocação dos animais nos piquetes. Com o apoio do consultor Helbert Santana (esq.) e o gerente geral Rodrigo Ribeiro.

é projetado um ganho de manutenção de 300 gramas/cabeça/dia, e de setembro a outubro os pastos de tífton ficam vazios, pois nessa época, auge do período seco, o capim tem uma baixa oferta de massa, uma de suas poucas desvantagens, junto com a elevada suscetibilidade ao ataque de lagartas e cigarrinhas. Os animais de recria que ali se encontram são então direcionados ou para pastos de braquiarão ou para remangas, onde recebem ração à base de silagem de milho e concentrado, com ganho de peso que varia de 900 gramas a 1 kg/dia. Por causa da limitação do tífton no período seco – e também para não ficar dependente de apenas uma gramínea – é que ainda serão mantidas áreas de braquiarão nas fazendas, ainda que continuem a ceder espaço para o tífton. Apenas a título de comparação, a lotação máxima nos pastos de braquiarão, na média dos cinco meses mais produtivos das águas, atinge 3,5 UAs/ha, enquanto no mombaça, no mesmo período, ela sobe para 6 UAs/ha, e no tífton ela é de 10 UAs/ha.

1. A evolução dos índices na São José 1

2. Quanto cada capim rendeu na São Geraldo 1

Ano safra

2012/13 2013/14 2014/15 Média

Gramínea

Braquiária Mombaça Tífton Geral ÍNDICES ZOOTÉCNICOS

ÍNDICES ZOOTÉCNICOS Área (ha) 2

119,3

110,5

123,5

Nº cabeças

1.116

1.311

1.247

Permanência (dias e meses)

Área (ha) 1.223

Nº cabeças

2.456

Permanência (dias e meses)

162 (5,4)

46,5

149

4.600

302

1.842

4.600

185 (6,2) 170 (5,7) 167 (5,6)

168 (5,6)

159 (5,3)

Peso inicial (kg)

239

237

283

253

Peso inicial (kg)

259

318

242

256

nnn

Peso final (kg)

329

329

386

348

Peso final (kg)

372

495

355

373

Lucratividade do tífton na recria, nas águas, de

Ganho peso (gramas/dia)

536

576

707

604

Ganho peso (gramas/dia)

694

956

663

701

5,1

6,5

12,4

6,8

2.167/ha,

R$ superou a da soja

146 (4,9) 157 (5,2)

483,5

5

6,3

6,3

5,8

Lotação inicial (cab/ha)

6,8

8,7

8,7

8,05

Lotação final (ua/ha)

4,2

7,2

9,8

5,6

@ ganhas

3

3,05

3,44

3,17

@ ganhas

3,75

5,89

3,75

3,89

@ produzidas/ha

28

36,2

34,7

32,8

@ produzidas/ha

19,07

38,32

46,43

26,39

1.344

1.011

Custo produção 2

1.585

2.034

1.482

1.573

1.238

Custo da recria 3

300

458

281

303

Lotação inicial (cab/ha) Lotação final (ua/ha)

nnn

ÍNDICES ECONÔMICOS

ÍNDICES ECONÔMICOS Custo de aquisição 3 Custo de produção 4 Custo da @

produzida 5

Custo final @

6

Lucro líquido/@ 7 Lucro líquido/ha 8 Lucratividade Mensal 9

775 943 56

897 1.104 68

1.643 87

71

Custo da @

Custo final @ 5

80

77,7

75

77,8

127

123

125

126

86

100

127

106

3,95

13,37

12,30

10,27

Lucro líquido/@ 6

12,24

16,76

14,79

13,61

1.238

Lucro líquido/cabeça 7

152

276

175

169

1,84

Lucro líquido/ha 8

771

1.799

2.167

1.147

405 0,82

1.740 2,51

1.598 1,98

(1) Período das águas, com início em meados de novembro-dezembro e término em abril-maio; (2) pastos de braquiarão e tífton nas safras 2012-13 e 2013-14 e exclusivo de tífton na 2014-15; (3) em R$/cabeça; (4) em R$/cabeça, considerando custos operacionais, sanitários, de suplementação, adubação de pasto, com herbicidas, benfeitorias, mão de obra e custos indiretos; (5) custo da recria (produção menos aquisição) ÷ @ ganhas no período; (6) custo de produção ÷ (@ de entrada + @ ganhas); (7) preço de venda (R$ 90/@ em 2012-13; R$ 114/@ em 2013-14 e 140/@, em 2014-15) menos custo final da @; (8) lucro líquido/cab x nº cabeças ÷ área; (9) proporção entre lucro líquido total, custo total (custo/cab x nº de cabeças) e período de permanência. Fonte: Grupo Valim; Elaboração: DBO.

50 DBO novembro 2015

produzida 4

(1) braquiarão, de 8/12/14 a 19/5/15; mombaça, de 15/11/14 a 19/5/15 e tífton, de 2/12/14 a 21/5/15; (2) em R$/cabeça, considerando valor médio de reposição de R$ 148, custos operacionais, sanitários, de suplementação, adubação de pasto, com herbicidas, benfeitorias, mão de obra (R$ 35/cabeça no período) e custos indiretos; (3) custo de produção menos custo de aquisição (@ posto fazenda x valor médio de reposição); (4) custo da recria ÷ @ ganhas no período; (5) custo de produção ÷ @ de entrada + @ ganhas; (6) preço de venda (R$ 140/@, em maio/2015) menos custo final da @; (7) lucro líquido/@ x peso final em @; (8) lucro líquido/cab x nº cabeças ÷ área em reais. Fonte: Grupo Valim; Elaboração: DBO.


3. Quanto rendeu cada módulo de tífton na São José 1 Módulo Área (ha)

Bois anelorados com peso médio de 390 kg e lotação de 8,6 UA/ha, prestes a seguir para o confinamento.

Assim como o tífton, o panicum mombaça é muito produtivo, mas também muito exigente em manejo. Foi introduzido nas fazendas do grupo há apenas dois anos. “Passou do ponto, perde”, diz José Luiz Valim, pai de Luís Augusto, e que, junto com o irmão Geraldo de Oliveira Valim, deu origem ao grupo, a partir de uma fazenda de gado de leite em São Paulo (São João da Boa Vista, centro-leste do Estado). Para se ter ideia do avanço da produtividade nas fazendas do Grupo Valim, o zootecnista Helbert Santana _ da Integral Nutrição Animal, de Goiânia, que presta consultoria para o grupo _ lembra que, em 2010, nos mesmos 585 ha hoje ocupados com tífton nas fazendas São José e São Geraldo, e que eram de braquiarão, a recria feita de novembro a julho suportou 2.000 cabeças, produzindo bois magros de 13@ para entrar no confinamento. No ano passado, essa área suportou 6.000 cabeças, ainda que fornecendo para o confinamento animais um pouco mais leves, de 12@. Mesmo assim, os números foram vistosos nas duas propriedades, nas áreas de tífton: lucro líquido de R$ 158/ cabeça na São José e de R$ 169/cabeça na São Geraldo, para um período médio de recria de cinco meses, gerando uma lucratividade mensal de quase 2% (veja tabela 1). Ajuste semanal A alimentação da planilha desenvolvida por Luís Augusto Valim parte da premissa de ganho de 700 gramas/ cabeça/dia no verão e isso orienta o ajuste de lotação dos pastos de tífton. Outra premissa é a suplementação dos animais, à medida que vão ganhando peso na pastagem. Ela é fornecida na base de 0,5% do peso vivo. Por exemplo: um boi de 400 kg que esteja recebendo 2 kg de suplemento por dia passará a receber 2,2 kg/dia depois de dois meses, pois estará pesando 442 kg. “A suplementação é corrigida semanalmente nos lotes”, informa Luís Valim. Luiz Henrique Carrijo, diretor técnico da Integral, explica que o ajuste de lotação é um dos principais desafios para grandes áreas de tífton, uma vez que a resposta dessa gramínea à adubação é muito rápida, com uma produção de massa muito grande. “Sem ajustes, perde-se o ponto

1

2

3

4

5

6

média

42

26

29

6,5

6,3

13

Nº cabeças

393

271

289

84

88

122

Permanência (dias e meses)

105

167

156

163

163

182

146

Peso inicial (kg)

346

244

309

221

204

205

283

Peso final (kg)

420

358

421

338

321

333

386

Ganho peso (gramas/dia)

710

686

722

717

718

706

708

Lotação inicial (cab/ha)

7,2

5,4

6,8

6,2

6,3

4,3

6,3

Lotação final (ua/ha)

8,7

8

9,3

9,6

9,9

6,9

8,6

@ ganhas/cab/período

2,5

3,8

3,7

3,9

3,9

4,2

3,4

@ produzidas/ha

23,2

38,5

37,4

49,9

54,3

40,3

34,7

Custo bezerro 2

1.643

1.159

1.467

1.049

969

973

1.344

Custo produção 3

1.887

1.503

1.814

1.346

1.260

1.300

1.649

Custo @

produzida 4

98

90

92

75

74

76

88

Custo final @ 5

134

125

129

119

117

117

128

Lucro líquido/@ 6

5,3

14,1

10,9

20,5

22,2

23

12

Lucro líquido/cab 7

74

169

153

231

237

255

152

Lucro líquido/ha 8

701

1.714

1.530

2.959

3.316

2.410

1.543

Lucratividade/mensal 9

1,13

2,03

1,63

3,16

3,47

3,24

1,91

(1) Período das águas, com início em meados de novembro ou de dezembro (safra 2013/14) e término em abril-maio; (2) em R$/cabeça; (3) em R$/cabeça, considerando custos operacionais, sanitários, de suplementação, adubação de pasto, com herbicidas, benfeitorias, mão de obra; (4) custo da recria ÷ @ ganhas no período; (5) custo de produção ÷ (@ de entrada + @ ganhas); (6) preço de venda (R$ 90/@ em 2012-13; R$ 114/@ em 2013-14 e 140/@, em 2014-15) menos custo final da @; (7) lucro líquido/@ x peso final em @; (8) lucro líquido/cab x nº cabeças ÷ área em ha; (9) proporção entre lucro líquido total, custo total (custo/cab x nº de cabeças) e período de permanência. Fonte: Grupo Valim

ótimo de pastejo, com consequente prejuízo no desempenho animal”, complementa. Uma das estratégias utilizadas é justamente calibrar o nível de suplementação no cocho (começa com 0,3% do peso vivo do animal, no início das águas, e vai até 1% um pouco antes do início da seca).

Fêmeas Angus x Nelore recém-desmamadas em área de tífton de dois anos de uso na Fazenda São José, em Montividiu, GO.

novembro 2015

DBO 51


Especial Pastagens

Quando falta pasto, gado é deslocado para remangas, onde recebe suplementação à base de milho triturado (73%), farelo de soja (15%), ureia (4%) e núcleo mineral (8%).

Tudo é feito por estimativa, uma vez que o gado só é pesado quando ocorre algum remanejamento de lote dentro dos módulos de pastejo rotacionado. Quando acontece a pesagem, no curral de manejo, são feitas três anotações: data da movimentação, quantidade de animais que o lote passou a ter e peso médio do lote. Como a suplementação é feita para garantir um mínimo de ganho de peso por dia, às vezes o consumo de pasto pode ser inferior à capacidade de suporte. Nesse caso, há duas opções: ou se remaneja gado de outro pasto para o que está com oferta maior, reduzindo-se o nível de adubação do pasto que ce-

deu os animais, ou entra em ação “o homem das compras de gado”: o próprio José Luiz Valim. “É ele que decide”, diz Helbert. Quando falta pasto, as opções são deslocar os animais para remangas, para serem suplementados no cocho, ou, no caso dos mais pesados, irem direto para o confinamento. “Com os resultados das planilhas, temos uma visão clara sobre onde devemos mexer para melhorar a remuneração da atividade”, define o Helbert Santana. As fazendas do grupo também contam com áreas “pulmão” – módulos de pastejo contínuo (20 ha de braquiarão e 10 ha de tífton).

Milho safrinha e algodão de segunda safra do Grupo Valim ainda são bem mais lucrativos do que o boi

52 DBO novembro 2015



Especial Pastagens

Fotos: ARQUIVO Grupo Valim

Adaptação de implemento agilizou o plantio

Colhedora de sementes de braquiarão adaptada (detalhe) permitiu que um homem só fizesse o trabalho de 30

A

lém do controle de produção rigoroso, através de sua planilha, Luís Augusto Valim conta com outro aspecto importante para determinar o avanço do tífton nas áreas de pecuária do grupo: a redução do custo de implantação da gramínea. Quando começaram, cinco anos atrás, só de custo operacional – sem contar compra de mudas e preparo de solo – eram gastos entre R$ 1.200 e R$ 1.300 por hectare. “Hoje, caiu para a faixa dos R$ 700”, calcula o pai José Luiz Valim. A redução foi possível graças à insistência da fazenda em buscar saídas para aumentar a produtividade na fase de plantio; neste ano, o grupo pegou emprestado um implemento usado para o plantio de sementes de braquiarão, semelhante a uma colhedora de soja, e o adaptou para fazer a colheita das mudas de tífton, antes feita totalmente de forma manual, com um resultado muito animador: dobrou a área plantada por dia. Nas fazendas do grupo, o plantio é feito normalmente nos meses de fevereiro e março. O engenheiro agrônomo Rodrigo Ribeiro, gerente geral do Grupo Valim, informa que, no início, os funcionários gastavam 70% do dia para colher as mudas do tífton e 30% para plantá-las. “O tífton tem de ser plantado numa semana em que houve chuva e no mesmo dia; se passar de um dia para o outro, a muda fermenta e perde produtividade”, explica. Por outro lado, se ela ficar quatro dias sem água, depois do plantio, será prejudicada inexoravelmente, reduzindo a produtividade em 50%, complementa.

54 DBO novembro 2015

Em 2010, quando começaram, a colheita das mudas era feita na enxada, demandando o trabalho de 30 pessoas para colher um hectare e plantar 5 ha no mesmo dia. Com uma diária na casa de R$ 70, o custo por hectare ficava em R$ 420 (6 diárias por ha). Com a colhedora adaptada, o trabalho de 30 homens, na colheita das mudas, foi substituído pelo de um só. Para o plantio, em vez de 30, foram necessários 20 trabalhadores para plantar 10 ha por dia. Para tanto, foi necessário aumentar o número de operadores de máquinas para sete (antes, eram apenas três). Depois do trabalho da colhedora, um operador de trator com pá carregadeira, de gancho, recolhe as mudas; dois operam os caminhões basculantes para transporte das mudas; outro opera a pá carregadeira de gancho para distribuir as mudas em espaços de 50 metros uma da outra; outro opera um trator com grade de disco para incorporar as mudas e um outro opera um trator com rolo para compactar a área após a passagem da grade, visando manter a umidade no local onde a muda foi plantada. Doze trabalhadores espalham, com a ajuda de garfos, as mudas pela área, e um funcionário trabalha como fiscal de toda a operação. Luís Augusto Valim explica que, como é precedida pelo plantio de soja, a área que recebe o tífton não precisa de nenhum preparo de solo específico nem de adubação (dependendo da análise de solo, a área de soja recebe de duas a quatro toneladas de calcário por hectare, a lanço, se for plantio direto, ou incorporado, se for convencional). A muda é colocada diretamente na área de soja pós-colheita, na proporção de um para cinco; ou seja, um hectare de mudas é suficiente para o plantio de 5 ha. “De preferência, mudas bem velhas, com bastantes entrenós”, informa o diretor do grupo, que é engenheiro agrônomo de formação. Plantado em fevereiro, o tífton costuma permitir o primeiro pastejo em novembro. Manejo sem segredo Uma vez implantada a área com a gramínea, o manejo resume-se ao ajuste de lotação, sempre obedecendo à altura de entrada e saída dos animais do piquete de pastejo rotacionado, e a uma adubação de cobertura. José Luiz Valim informa que o gado entra no piquete quando o tífton está com no máximo 25 cm de altura e sai quando ele estiver rebaixado a uma faixa entre 10 e 15 cm. “O período de descanso é de 21 dias, o mesmo do mombaça; já o braquiarão varia de 32 a 35 dias”, complementa. O zootecnista Helbert Santana lembra que o crescimento por estolões do tífton permite não só que o capim aguente o pisoteio do gado como também tire proveito dessa ação dos animais, que incrementa o replantio da gramínea, já que as gemas apicais da planta são enterradas quando o gado pisa nelas. “Além disso,


SEMEADORA

SEMENTES

FERTILIZANTES


Especial Pastagens Com uma colheita de mudas mais rápida, dobrou a área plantada por dia.

Depois de colhidas e enleiradas, mudas são carregadas em caminhão basculante para serem plantadas em novas áreas.

Na área nova, mudas são distribuídas a 50 metros de distância, uma da outra.

ela tem alto teor de proteína e é muito fácil de manejar, por ser de porte baixo”, lista o consultor. Luís Augusto Valim diz que o grupo não analisa o teor de proteína do tífton, mas sabe-se que ele pode passar dos 18%. Quanto à adubação, o diretor geral do grupo informa que ela é feita geralmente com 100 kg de ureia por hectare após a saída dos animais do pasto, sempre levando em conta se o estoque forrageiro da fazenda é suficiente para atender a todos os animais. O pai José Luiz Valim complementa dizendo que o tífton responde bem à adubação orgânica e, por isso, o aumento no número de cabeças confinadas terá efeito benéfico no processo de intensificação com a gramínea. Helbert Santana acrescenta que a cada 50 kg de

nnn Descanso do piquete é de 21 dias; altura de entrada é de

25 cm e a de saída, entre 10 e 15 cm. nnn

Trabalhadores espalham as mudas, que depois são enterradas com grade de disco e compactadas com rolo.

nitrogênio agregados na pastagem é possível aumentar a lotação em uma unidade animal por hectare. Como cada boi confinado (135 dias, em média) gera cerca de 500 kg de esterco, 10.000 bois geram 5.000 toneladas de esterco por ano, suficientes para adubar 500 ha de tífton na base de 10 t/ha. “Essa quantidade retorna para o solo 50 kg de N, de P e de K, fora a matéria orgânica e outros macro e micronutrientes, substituindo o equivalente a uma rodada de adubação nitrogenada”, calcula o consultor. Essa é a produção de adubo orgânico gerada nas duas fazendas de Goiás. O confinamento do grupo dura nove meses, com início em maio e término em janeiro do ano seguinte, em dois giros (maio a julho e agosto a janeiro). n

Pragas ainda não preocupam Para quem trabalha com uma enorme área de tífton (a maior parte dos projetos já focalizados por DBO trabalhava na casa de no máximo 50 ha), todo cuidado é pouco quando o assunto é alguma ameaça de praga ou doença na pastagem. E cigarrinhas e lagartas são possibilidades que não podem ser menosprezadas. Para o Grupo Valim, no entanto, pelo menos até agora, isso não se configurou em problema significativo. Segundo Luís Augusto Valim, diretor geral do grupo, a única incidência de cigarrinha até agora aconteceu na Fazenda São José (a que tem maior área plantada com a gramínea), em 2014, mas não chegou a causar danos significativos. “Logo que detectamos a presença do inseto,

56 DBO novembro 2015

pulverizamos a área e resolvemos o problema. A perda foi bem pequena”, diz ele, sem quantificar o prejuízo em produção de arrobas. Para ele, não há motivo para preocupação e tampouco são adotadas quaisquer medidas preventivas. Para o professor Paulo Emílio Fernandes Prohmann, do Centro Universitário de Maringá, do Paraná, familiarizado com a gramínea em projetos principalmente no Estado sulino, esse é, de fato, um aspecto que não deve ser deixado de lado. “Uma vez que só combatemos tais insetos através de aplicações terrestres ou aéreas, com produtos específicos, o treinamento da equipe de campeiros para diagnosticar o aparecimento inicial destas pragas é

fundamental para minimizar as perdas (ninfas das cigarrinhas e reboleiras de lagartas). Aqui no Paraná a pergunta que fazemos anualmente é quando aparecerão, e não se aparecerão!”, informa. Prohmann reconhece que o desafio dos Valim é grande, não só pelo cuidado com pragas mas também pelo alto custo de implantação de novas áreas, em função da escassez de mão de obra. “Isso tem feito com que muita gente parta para outras opções de forragem, como a braquiária Piatã”, informa. Mas, uma vez vencido esse obstáculo, considera a longevidade desse pasto um grande trunfo. “Trabalhamos com pastos formados há 20 anos, com a produção aumentando no decorrer do tempo. Em termos de depreciação do capital investido, é um excelente dado”, constata.



Arquivo DBO

Especial Pastagem

Este estágio é ótimo para a aplicação de herbicida de folhas largas

Invasoras bem controladas Manejo estratégico permite formar pasto limpo e prevenir infestação em áreas mais antigas

Fernando Yassu

P

yassu@revistadbo.com.br

arece simples controlar as invasoras das pastagens, mas, segundo o engenheiro agrônomo Moacyr Corsi, professor da Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz), de Piracicaba, SP, muita gente apanha por dedução equivocada. Por exemplo, em área nova ou reformada, o principal erro está na gradagem para o plantio do capim. Segundo Corsi, ela deveria ser feita após o início das chuvas e ainda na primavera, quando o clima favorável – calor e umidade do solo – provoca a germinação das sementes das invasoras presentes no solo. Normalmente, o pecuarista, para ganhar tempo, tomba o solo, gradeia e faz o nivelamento do terreno ainda no período seco do ano. Quando vêm as primeiras chuvas, ele semeia o capim. Nessa situação, as sementes das plantas invasoras e do capim germinam e emergem ao mesmo tempo, formando, assim, um pasto novo sujo desde o início. Passando a grade niveladora após a emergência

58 DBO novembro 2015

das sementeiras, o produtor elimina, mecanicamente, essas plantas invasoras. Ao semear o capim após a ­eliminação das primeiras sementeiras, a gramínea, quando germinar, terá menos concorrência. Outro erro em pasto novo, formado e reformado, está no combate às invasoras, após a emergência da planta. Segundo o professor da Esalq, a maioria dos pecuaristas espera que o máximo das plantas invasoras germinem para então passar o herbicida. Muitas vezes, esperam até 45 dias ou mais. O problema é que, com 45 dias, as plantas invasoras já se perfilharam e enraizaram, tornando o seu controle químico muito mais difícil. Segundo o engenheiro agrônomo, o combate às invasoras em áreas novas ou reformadas deve ser feito nas três primeiras semanas após o plantio do capim, com o uso de um herbicida seletivo contra folha larga. Com três semanas, as plantas invasoras ainda não perfilharam e nem enraizaram fortemente e, por essa razão, estão mais frágeis à ação dos herbicidas. Sem a concorrência, o capim tem melhores condições para se desenvolver e sufocar as plantas invasoras que emergirem posteriormente, permitindo, assim, formar um pasto novo mais limpo. Áreas velhas Nas áreas já formadas, o erro mais comum ocorre também no controle, geralmente feito no período seco ou quando as plantas invasoras ganharam viço. Segundo o professor da Esalq, não se recomenda fazer na seca nem roçada e nem o uso de herbicida contra as invasoras – perenes e anuais – porque é a fase em que todas as plantas tropicais apresentam pouca atividade fisiológica por falta de umidade no solo, luminosidade e calor. Ou seja, o capim e as plantas invasoras estão em quase dormência. Não é eficiente também esperar que as plantas invasoras – as perenes e as anuais – se desenvolvam para combatê-las, segundo o professor da Esalq. O combate químico deve ser feito após o início das chuvas a até no máximo 22 de dezembro na maioria das regiões de pecuária no Brasil. É o período em que as plantas tropicais (invasoras e os capins) estão em plena atividade fisiológica e encontram as melhores condições – calor, luminosidade e umidade do solo – para se desenvolver, lembra ­Moacyr Corsi. Aplicando herbicida até 22 de dezembro, o produtor “atrapalha” o desenvolvimento das invasoras e o capim pode aproveitar o sol, a luz e a água da chuva para crescer e abafar as ervas daninhas de folha larga, tanto as arbustivas perenes quanto as anuais. ­Evita-se também que as plantas espontâneas comecem a produzir ­sementes. Após o dia 22 de dezembro, pioram as condições para todas as forrageiras tropicais se desenvolverem



Fotos: Arquivo Fazenda Terra Grande

Especial Pastagem

Moacyr Corsi, professor da Esalq e especialista em pastagens: erros antes e depois do plantio levam à formação de pasto sujo.

Thiago Silva, zootecnista e administrador da Fazenda Terra Grande, em área de pasto recém-reformado.

Pasto novo de mombaça, limpo após controle estratégico das invasoras antes e depois do plantio do capim.

pioram, pois há menor luminosidade, calor e chuva. Como o capim também cresce menos, não consegue sufocar as ervas daninhas que não foram atingidas pelo herbicida e as que brotaram ou germinaram posteriormente.

um herbicida para combater as invasoras de folhas largas, que, com apenas duas semanas, não se enraizaram e estão frágeis. Sem as invasoras para atrapalhar, o capim toma conta da área, cobre o solo e não deixa espaço para a emergência de nova geração de ervas daninhas. “Com essas medidas, conseguimos pasto formado ou reformado pouco infestado”, explica o zootecnista.

Prática Depois de sofrer para controlar as invasoras, a Fazenda Terra Grande, que fica no município de Bernardo Saião, na região norte do Estado do Tocantins, seguiu a recomendação do professor da Esalq e vem registrando uma redução das roçadas químicas. Mesmo assim, diminuiu a infestação das pragas nos pastos da propriedade, que somam 6.500 ha. “No nosso caso, além das invasoras de folhas largas, enfrentávamos a infestação do capim navalhão, um fantasma na Região Norte do País”, lembra o zootecnista Thiago José da Silva, administrador da propriedade. Na Fazenda Terra Grande, o procedimento é o mesmo, tanto na formação do pasto novo como na reforma. O preparo do solo, com aração, é feito como sempre fez – no período seco do ano. A novidade está na gradagem e no nivelamento, que, por orientação de Corsi, passaram a ser feitos após o início da temporada chuvosa e o início da germinação das invasoras. “Mudando a data da gradagem para depois do início do período chuvoso, eliminamos mecanicamente a primeira sementeira, diminuindo significativamente a infestação”, explica o administrador. Em seguida, Thiago semeia o capim (mombaça nas áreas mais altas da fazenda e humidícola em terreno sujeito a inundação), passa o rolo compactador e aplica um herbicida para combater o capim navalha. E 15 dias após a emergência do pasto o z­ ootecnista aplica

60 DBO novembro 2015

Coquetel de herbicida Nos pastos já formados, a Fazenda Terra Grande, que pertence ao criador André Curado, maior produtor e vendedor de touros Nelore PO com avaliação genética da Região Norte do País (neste ano, comercializou 1.300 reprodutores), faz o controle estratégico das invasoras, aplicando um coquetel de herbicida para combater as invasoras de folhas largas e o capim navalha 30 dias após o início do período chuvoso. “O controle é estratégico. Se aplicássemos o coquetel antes do início do período chuvoso, pegaríamos as plantas invasoras com pouca atividade fisiológica e atingiríamos apenas as plantas adultas. Com 30 dias, pegamos o máximo de germinação das plantas invasoras e quando elas ainda não produziram sementes. No começo, esse combate é feito anualmente, mas, evitando que as plantas invasoras produzam sementes, a infestação tende a diminuir ano a ano. Tem pasto com mais de oito anos em que o controle não é mais anual e não temos problema com infestação, economizando com roçada química. Após o início do período chuvoso, monitoramos piquete a piquete e visualmente observamos se o nível de infestação exige a aplicação de herbicida”, explica o administrador da Fazenda Terra Grande. n



Especial Pastagens

Paiaguás tem maior tolerância à seca Estudo comparativo deu vantagem de quase 20 dias a mais sobre outras duas braquiárias

Patricia Menezes Santos é Pesquisadora da Embrapa Pecuária Sudeste, de São Carlos, SP.

Tatiane Beloni é aluna de doutorado do programa de pósgraduação em Ciência Animal e Pastagens da Esalq/USP, de Piracicaba, SP.

forrageira BRS paiaguás (Brachiaria brizantha cv. paiaguas) sobrevive em condições de seca mais severa do que outras braquiárias. A constatação foi feita em pesquisa da Embrapa, junto com a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP) e o Centre National de la Recherche Scientifique e Centre d’Ecologie Fonctionnelle et Evolutive (CNRS/ Cefe), na França, em Montpellier. Os pesquisadores compararam a BRS paiaguás com o capim marandu (Brachiaria brizantha cv. Marandu) e a braquiária decumbens (Brachiaria decumbens cv. Brasilisk) e constataram grande capacidade de resistência ao estresse hídrico por parte da paiaguás, lançada pela Embrapa em 2013. A BRS paiaguás foi selecionada para estudo pela Embrapa em função de sua maior produção de forragem de boa qualidade no período seco do ano. Os resultados obtidos até o momento indicam que ela pode realmente ser uma boa alternativa para locais com problemas de déficit hídrico, principalmente em áreas marginais, sujeitas a secas mais severas. A partir desta investigação, será possível selecionar novos materiais com as mesmas características de tolerância à seca. A escolha das variedades para o estudo foi feita com o auxílio da dra. Cacilda Borges do Valle, da Embrapa Gado de Corte, em Campo Grande, MS. Os critérios foram importância em termos de área plantada, informações já existentes sobre a resposta dessas gramíneas à seca e informações sobre características morfológicas dessas variedades. Em experimentos anteriores, por exemplo, o marandu já havia se mostrado pouco resistente à seca. O objetivo, então, foi comparar a paiaguás com gramíneas de comportamento bem diverso. As plantas em geral apresentam diferentes estratégias de resposta à seca. Algumas são capazes de retardar a desidratação (secagem) por meio de mecanismos que proporcionam maior absorção de água do solo ou menor perda por transpiração. Para absorver umidade, elas investem no crescimen-

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Raízes da paiaguás (à esq.) penetram mais no solo

to radicular e exploram maior volume de solo, ou acumulam, nas células das raízes, substâncias que aumentam a absorção da água em solos ressecados. Para reduzir as perdas, podem também fechar os estômatos (poros localizados nas folhas, através dos quais a água evapora) ou reduzir a superfície foliar por meio da morte de folhas ou do menor crescimento das novas. Esses mecanismos permitem que as plantas se mantenham e apresentem boa produtividade em períodos curtos de seca leve, porém nem sempre garantem a sobrevivência em condições de estiagem severa. Garantindo a sobrevivência No caso de pastagens perenes cultivadas em locais sujeitos a secas prolongadas _ detectadas por intermédio de dados de balanço hídrico da região _, é mais importante garantir a sobrevivência do capim do que proporcionar alta produtividade a curto prazo. Quando o pasto não sobrevive às condições de estresse do ambiente, não consegue manter o siste-

Fotos: Embrapa Sudeste

A

PATRíCIA MENEZES E tATIANE BELONI


Em vasos com marandu, decumbens Brasilisk e paiaguás, o conteúdo de água no solo caiu mais rápido com marandu e decumbens, indicando que a paiaguás ativa mecanismos para economia de água em períodos de estresse hídrico.

QUAL capim retém MAIS ÁGUA

Testado e aprovado: a BRS paiaguás resiste a até 80 dias de estresse hídrico, podendo rebrotar quando as condições de umidade melhoram.

ma produtivo. Por isso, é importante que as plantas utilizadas em regiões sujeitas a tais condições climáticas sejam capazes de suportar a desidratação, e sobreviver e rebrotar quando a disponibilidade de água no solo voltar a ser adequada. Esta estratégia de resposta à seca está relacionada a mecanismos que a planta usa para proteger da desidratação seus pontos de crescimento _ locais na planta onde as células novas se formam. Comportamento do paiaguás Nos ensaios feitos no CNRS/Cefe, as plantas da BRS paiaguás foram capazes de aprofundar o sistema radicular e buscar água em camadas de solo que não haviam sido exploradas quando a disponibilidade de água era elevada. A profundidade máxima de suas raízes, em condições de boa oferta hídrica, foi em média de 80 cm. Em condições de seca, chegou à média de 130 cm. O marandu e a braquiária decumbens apresentaram raízes de até 130 cm tanto em condições de boa disponibilidade de água quanto de escassez hídrica, sendo que a penetração de raízes nas camadas mais profundas aumentou à medida que o solo secou. A capacidade de explorar um volume maior de solo é um importante mecanismo de resposta à seca em áreas com solos profundos, pois ajuda a atrasar a desidratação das plantas. Para facilitar o estudo do sistema radicular, as plantas foram cultivadas em tubos transparentes com 130 cm de comprimento (veja foto na pág. ao lado). Após 50 dias de seca, observou-se a presença de raízes da BRS paiaguás até o fim do tubo. Tal comportamento, contudo, não é suficiente para que uma gramínea suporte a seca. Se, além de explorar volume maior de solo, ela não ativar mecanismos para economizar água, pode esgotar mais rapida-

mente as reservas hídricas. Nos ensaios na casa de vegetação, os pesquisadores verificaram que o marandu e a braquiária esgotavam antes a água do terreno em relação à BRS paiaguás. Em condições de seca leve e curta, o aprofundamento das raízes, aliado aos mecanismos já citados para retardar a desidratação, permitem que o marandu e a braquiária continuem crescendo e mantendo boa produtividade. Já a BRS paiaguás, além de aprofundar as raízes, ativa mecanismos de economia de água que promovem um esgotamento mais lento da água no solo. Assim, a absorção e a manutenção da hidratação de partes da planta importantes para a sobrevivência é garantida por períodos mais longos de seca. Essa cultivar também foi capaz de rebrotar após períodos de escassez hídrica severa, em comparação com as outras duas braquiárias. Em um dos ensaios, os pesquisadores interromperam a irrigação por períodos crescentes e depois voltaram a irrigar para avaliar a rebrota da gramínea. Este resultado indica que a paiaguás, em situação de seca prolongada, ativa mecanismos para proteção de seus pontos de crescimento. Com cerca de 8% de umidade no solo, mais da metade das plantas de paiaguás foi capaz de rebrotar após a reidratação, enquanto as plantas de marandu e braquiária decumbens quase não rebrotaram. É importante ressaltar, porém, que o experimento foi feito exclusivamente com essas três gramíneas. Embora acreditemos que a paiaguás poderia substituir outras braquiárias (como xaraés e piatã) e panicuns (como tanzânia e mombaça), deve-se tomar cuidado para uma recomendação mais geral, já que não há estudos específicos para essas outras gramíneas em comparação com a paiaguás e as regiões nas quais elas são cultivadas. n DBO novembro 2015 63


Fotos Glauco Menegheti

Especial Pastagem

Ricardo Zuliani dirige quadriciclo com peça antichoque

Pastejo na faixa Usando material nacional, produtor adapta sistema TechnoGrazing à realidade gaúcha, reduzindo seu custo de instalação. Glauco Menegheti, de Bagé, RS colaborou Maristela Franco, de SP

F

ilosoficamente, o zootecnista Ricardo Zuliani, 40 anos, natural de Bagé, cidade a 350 km de Porto Alegre, RS, é um entusiasta do TechnoGrazing. Criado pelo pecuarista neozelandês Harry Wier, na década de 70, esse sistema de pastejo superintensivo se baseia em módulos rotacionados nada convencionais (conforme mostrou reportagem de capa de DBO de novembro de 2012) e garante alta produtividade por hectare. Zuliani foi o primeiro produtor brasileiro a adotar o sistema no País. Após fazer um estágio técnico na Nova Zelândia, em 2006, ele importou os equipamentos necessários e instalou um módulo de 25 ha em uma das propriedades de sua família, a Fazenda Paraíso, em Aceguá, na fronteira do Rio Grande do Sul com o Uruguai. Obteve ótimos resultados, mas se deparou com um fator limitante: o alto custo de implementação por hectare (R$ 1.200 a R$ 1.500). O jovem produtor, entretanto, não desanimou. Ao invés de desistir do sistema, decidiu “abrasileirá-lo”. O TechnoGrazing requer grande quantidade de materiais: postes fixos, postes flexíveis de fibra de vidro, molas, isoladores, fios de arame liso, fios flexíveis de polietileno para cerca elétrica, carretéis para enrolar e desenrolar esses fios, canos de água e

64 DBO novembro 2015

O gerente Aldeni mostra moto com dispositivo parecido.

cochos móveis. Zuliani procurou fornecedores nacionais desses produtos até encontrar similares de qualidade. Paralelamente, estudou o layout (desenho) dos módulos de TechnoGrazing, ­simplificou-o e montou seu próprio sistema. Batizado de “pastejo rotativo em faixas”, ele exige seis vezes menos material. Com isso, o custo de instalação caiu para R$ 250 a R$ 400/ha, hoje ao alcance de qualquer fazendeiro da região. Ganho expressivo A Zuliani Agropecuária possui 2.400 ha de terras, distribuídos por duas fazendas: a Granja do Umbu, de 2.240 ha, onde a empresa faz integração lavoura-pecuária (veja quadro) e a Fazenda Paraíso, de 160 ha, que Ricardo ­arrenda do pai, Hélio Zuliani. Essa pequena propriedade, formada com azevém consorciado com trevos branco e vermelho, é totalmente voltada à recria/engorda pelo sistema de pastejo rotativo em faixas. Nela, o produtor termina cerca de 650 novilhos das raças Angus, Brangus, Hereford e Braford, com lotação de 4 cab/ha. Em seis/sete meses (junho a novembro/dezembro), ele consegue obter 600 kg de peso vivo/ha, com ganho individual expressivo: 800 g a 1 kg/cab/dia. Alguns módulos chegam a produzir 900 kg de PV/ ha/período. No Rio Grande do Sul, a média é de 180 a 250 kg/ha/ano. A intensificação tem ajudado Zuliani a comercializar de 70 a 80 bois/mês durante nove meses, com direito a um bônus pela regularidade de fornecimento. A carne é vendida para casas de carne e supermercados da Grande Porto Alegre, como a Rede Zaffari. “No Rio Grande do Sul, a oferta de animais terminados a pasto é maior entre agosto e outubro, o que faz o preço cair. Como começo a vender no final de junho, obtendo cotações melhores” comemora o produtor, cuja temporada de co-


mercialização vai até dezembro/janeiro. Em verões chuvosos, quando os trevos mantêm alguma produção, um número maior de novilhos permanece em engorda nos módulos rotacionados após a virada do ano, sem necessidade de irrigação. Nestes anos, as vendas mensais seguem até o final de março. Segundo Ricardo, a margem entre o valor de compra do boi magro e a venda do animal gordo é de R$ 600/cabeça, podendo chegar a mais de R$ 700. Como a lotação é de 4 bovinos/ha, ele obtém receita bruta de R$ 2.400/ha. Descontando-se desse valor R$ 500 de custeio (adubo, sementes, mão de obra, medicamentos, dentre outros itens), chega-se uma margem bruta ao redor de R$ 1.900/ha/ano, resultado comparável ao de uma lavoura de soja com produtividade de 53 sacas/ha, sendo 25 relativos ao custeio e 28 de lucro. Pelos cálculos de Zuliani, esse modelo de pecuária intensiva a pasto remunera o capital investido entre 30% e 40%, desconsiderando-se o valor da terra. E melhor: com risco bastante reduzido, pois dificilmente ocorrem secas ou intempéries capazes de reduzir drasticamente a produção das pastagens de inverno e primavera no Rio Grande do Sul.

Largura de 200 a 350 m

Comprimento de 500 a 1.000 m ou adaptado ao pasto que a fazenda possui

Bebedouro móvel

Postes de fibra de 10mm de espessura e 1,20 m de comprimento

Fatias/faixas separados por fio eletro plástico

edson Alves

Adaptações no desenho Fugindo ao “formato de pizza” (com praça de alimentação central), comumente utilizado em rotacionados no Brasil, o módulo de TechoGrazing original é composto por seis a oito faixas paralelas de pastejo com cerca de 1.200 m de cumprimento cada, subdivididas, por meio de cercas elétricas móveis, em piquetes ou células de 20 m x 40 m, que normalmente são pastejados por apenas um dia. Os módulos não possuem corredores, porteiras ou áreas de lazer e os bebedouros são móveis. Cada faixa de pastejo rotacionado é ocupada por um lote. Eles ficam lado a lado e se movimentam simultaneamente, sempre em sentido longitudinal, mediante rebaixamento da cerca elétrica que delimita os piquetes. Quando chegam ao final das faixas, são reconduzidos até o primeiro piquete e iniciam novo ciclo de pastejo. Ao adaptar esse sistema neozelandês, Ricardo Zuliani manteve o layout por faixas, mas preferiu montá-las em sentido horizontal e eliminar as cercas elétricas internas que as subdividiam em pequenas células de pastejo de 20 m x 40 m. As faixas não têm tamanho fixo. São adaptadas às condições do pasto original. Os 160 ha da Fazenda Paraíso, por exemplo, foram fracionados em sete módulos de pastejo rotativo com tamanhos diferentes (12 a 35 ha cada), subdivididos em 10 a 18 piquetes (faixas horizontais) de 1,2 a 1,8 ha cada. Essas faixas são mais largas do que as do TechnoGrazing (200 a 300 m, ante cerca de 40 m do sistema neozelan-

Layout do sistema zuliani

Lotes de até 150 bois

dês). Como não possuem subdivisões internas, os animais podem se movimentar por elas à vontade e selecionar o capim conforme suas exigências nutricionais, o que favorece seu desempenho individual. Adaptações no material A eliminação das subdivisões internas também simplificou a parte hidráulica do projeto, que utiliza menos canos, de bitola 3/4, enterrados no solo a 25 cm de profundidade. Eles são instalados apenas nas laterais dos módulos (veja ilustração) e têm conexões de engate rápido para acoplagem de um ou dois bebedouros de 100 litros, dependendo do tamanho dos piquetes e, consequentemente, dos lotes em pastejo. Os bebedouros móveis são feitos de pequenas caixas d’água de polietileno, compradas no mercado local. Para conectá-los ao sistema hidráulico, o produtor usa torneiras adaptadas, já que as válvulas do TechnoGrazing (muito eficientes) precisam ser importadas. Caso a área tenha um açude ou bebedouro fixo, as faixas podem ser direcionadas para eles, reduzindo-se despesas com canos. O módulo de pastejo é estruturado com base em uma cerca externa fixa, composta por mourões de madeira nos cantos, varetas de fibra de vidro nas laterais e um a dois fios de arame liso. As cercas DBO novembro 2015 65


Fotos Glauco Menegheti

Especial Pastagem

Aldeni Lopes, gerente da fazenda, desenrola o fio eletroplástico.

nnn Cada piquete é usado por

1 a 2 dias

e descansa de

20 a 28 dias,

conforme a oferta de forragem.

nnn

Finca o poste de fibra de vidro com as mãos no solo, sem dificuldade.

que separam os piquetes (faixas) utilizam as mesmas varetas (mais finas) e fios eletroplásticos de nylon branco, que lembram barbantes por sua leveza e flexibilidade. Esses fios são vendidos no mercado brasileiro em rolos de 200 a 500 metros. Os postes também podem ser adquiridos de várias empresas nacionais. Com 10 mm de espessura e 1,2 m de comprimento, eles são fincados no solo a 40 cm de profundidade, manualmente, se o solo estiver úmido, ou com ajuda de um martelo, se ele estiver seco. Os fios são presos nesses postes com rápidas laçadas. “Todo o sistema é eletrificado; o choque precisa ser forte para conter os animais”, diz Zuliani. Manejo simples Simples de manejar, o sistema é operado por um único funcionário, o gerente Aldeni Lopez, que se movimenta rapidamente pela área de moto ou quadriciclo, passando sobre os fios eletrificados sem arrancar os postes (que são flexíveis) ou arrebentar os fios (que são resistentes). Para evitar choques durante essa movimentação, Zuliani instalou pro-

Depois, estica o fio e prende-o no poste com rápidas laçadas.

teções metálicas em arco ou peças de madeira na frente dos veículos, dispensando a sofisticação dos equipamentos importados do TechnoGrazing. “Mas o produtor não precisa comprar moto ou quadriciclo, ele pode fazer o manejo com o funcionário se deslocando a cavalo ou a pé”, frisa Zuliani. A rede elétrica quase nunca é desligada. Para mudar os bovinos de faixa, o operador utiliza botas de borracha, que também evitam o choque. Cada módulo é pastejado por apenas um lote de 35 a 120 animais, em contraste com seis ou oito do TechnoGrazing. Os piquetes (faixas) são ocupados durante um ou dois dias e deixados em descanso por 20 a 28 dias. “Esse manejo garante bom ganho de peso individual, pois os animais entram quase diariamente em pastos novos”, diz Zuliani, salientando que o sistema de células do TechnoGrazing às vezes cria situações complicadas, pois as pastagens dificilmente são homogêneas. “Um lote pode ficar em local esburacado ou com menor quantidade de forragem, devido a problemas de fertilidade do solo, o que prejudica seu desempenho. No sistema por faixas, isso não acontece, pois os animais têm maior área para explorar, o

Aposta na integração A Agropecuária Zuliani é uma empresa familiar que vive exclusivamente da agropecuária. O patriarca, Hélio Zuliani, é descendente de italianos. Chegou a Bagé na década de 60 e trabalhou como arrendatário no plantio de arroz irrigado até conseguir comprar suas próprias terras. A principal propriedade da família é a Granja do Umbu, de 2.240 ha, em Aceguá, RS, onde os Zuliani fa-

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zem integração lavoura/pecuária. Eles plantam anualmente 300 ha de arroz irrigado em área de várzea e 700 ha de soja em sequeiro. Essa última área é semeada com azevém/aveia para pastejo de animais em terminação no inverno (junho a início de outubro). A propriedade ainda possui 200 ha de pastos perenes de azevém e/ ou aveia consorciado com trevos (dos

quais 100 ha são irrigados por pivô central) e 350 ha de pastos nativos, utilizados para “estocagem” e recria de garrotes. Devido à fartura de alimentos no inverno, a empresa consegue abater anualmente cerca de 1.200 bois. A Granja do Umbu já foi quase toda voltada à agricultura (70%), mas, com os bons resultados da pecuária nos últimos anos, as lavouras têm cedido área para os bois e hoje ocupam 60% das terras agricultáveis.



Foto Glauco Menegheti

Especial Pastagem

A cerca externa dos módulos é fixa e tem mourões nos cantos

que compensa desequilíbrios de oferta forrageira”. Como Zuliani faz engorda a pasto sem suplementação com grãos, precisa caprichar no manejo. “Antes, eu procurava colher a forragem ao máximo (80% da oferta), mas era difícil terminar os animais. Eles apenas cresciam e não depositavam

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gordura na carcaça”, relata Zuliani, que passou a reduzir a lotação e ofertar aos bovinos apenas o estrato superior do pasto. Normalmente, os animais entram no piquete quando o azevém/trevos está com 20-15 cm de altura e saem quando ele chega a 10 cm. A frequência de mudança de faixa é determinada pelo resíduo pós-pastejo. “Procuramos aproveitar bem a pastagem, mas sem prejudicar sua rebrota. O giro rápido (1 a 2 dias de uso) permite colher sempre forragem de qualidade e evita tanto o sub quanto o superpastejo, além de garantir o ganho de peso almejado (1 kg/cab/dia), o que possibilita deposição de gordura em carcaças de animais jovens”, diz o produtor. Manutenção do sistema Os módulos de pastejo da Fazenda Paraíso são desmontados apenas em abril, para manutenção das pastagens, que, nesse período, são roçadas e adubadas com 130 kg de DAP (fosfato diamônio) por hectare. Havendo necessidade de reforma, aplica-se um herbicida à base de glifosato e faz-se a ressemeadura em meados de março. As pastagens consorciadas


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de azevém com trevos branco e vermelho normalmente têm vida útil de quatro anos. Em 2016, Zuliani quer aplicar técnicas de agricultura de precisão à pecuária, como a adubação fosfatada das pastagens em taxa variável (por talhão). Ele já “mapeou” (fez diagnóstico por meio de amostras de solo) cerca de 40% da área. Com essa tecnologia, pretende melhorar em 20%-30% sua produção a pasto. Na primavera, os módulos também recebem uma única dose de 100 kg de adubo nitrogenado (ureia) por hectare. De maio a meados de agosto, não há grande preocupação com o fornecimento de água aos animais, pois o clima gaúcho nessa época é frio e as pastagens de azevém consorciadas com trevos contêm apenas 15% a 20% de matéria seca; ou seja, são ricas em água (80% a 85%). Segundo Zuliani, pesquisas realizadas pelo INIA (Instituto Nacional de Investigação Agropecuária), do Uruguai, demonstraram que animais sem acesso à água nessa época do ano, na região dos Pampas, ganham mais peso do que aqueles que bebem água, porque o líquido ocupa muito espaço no rúmen, diminuindo a eficiência alimentar. No final de agosto/início de setembro,

Fotos Glauco Menegheti

Especial Pastagem

Bebedouros móveis podem ser feitos de caixas d’água de plástico

quando o calor aumenta, bem como o teor de matéria seca da pastagem, os bebedouros são acoplados à rede hidráulica e movimentados, junto com os lotes, de uma faixa para outra. Normalmente, cada bebedouro atende dois piquetes, pois fica na divisa da faixa, metade de cada lado. n

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No rastro da agricultura Professor da FAZU propõe formação de pastagens a partir o uso de tecnologias aplicadas em lavouras de grãos Denis Cardoso

C

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Fotos: Arquivo DBO

omo reverter ou evitar o processo de degradação das pastagens e transformar a sua fazenda em exemplo de eficiência no plantio e manejo de espécies forrageiras? “Basta incorporar os mesmos hábitos e atitudes de grande parte dos produtores brasileiros de grãos”, propõe o zootecnista Adilson de Paula Almeida Aguiar, sócio da Consupec, de Uberaba, MG, que sugere ao pecuarista seguir passo a passo os conceitos e a adoção de técnicas e tecnologias normalmente aplicados na atividade agrícola. O critério de escolha da espécie forrageira é o primeiro ponto a ser considerado. Historicamente, na pecuária, variedades e/ou cultivares sempre foram escolhidos com base no “modismo da época”,

Em áreas novas, o pastejo deve ser iniciado antes da floração do capim.

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diz Aguiar, que também é professor e pesquisador nos cursos de Agronomia e Zootecnia da Faculdade Associadas (FAZU), de Uberaba. Essa busca pela “forragem milagrosa” já fez do capim-jaraguá a espécie da moda nos anos 40 em São Paulo. Na década de 70, o capim-colonião prevaleceu em terras do Sudeste e do Nordeste. No fim dos anos 70 e no decorrer da década seguinte, a Brachiaria decumbens atingiu o seu apogeu. Logo depois, o braquiarão tornou-se “o capim ideal”, espalhando-se rapidamente por todo o Brasil. Atualmente, as duas espécie do gênero Brachiaria sp, (Brachiaria brizantha e Brachiaria decumbens) ocupam 75% da área de pastagens cultivadas no País. “Não é preciso dizer sobre os riscos que qualquer monocultura traz”, diz o consultor, que cita como exemplo os ataques de cigarrinha-da-pastagem em áreas cobertas pela espécie Brachiaria decumbens e o problema da “síndrome da morte do capim-braquiarão”. E na agricultura, como é feita a escolha das cultivares? Nesse caso, diz Aguiar, o modismo é substituído pela orientação técnica de um especialista. “Normalmente, o técnico que assiste o produtor faz um estudo prévio das condições do ambiente onde a propriedade está localizada, ou seja, avalia o clima, tipos de solo, insetos pragas e doenças de ocorrência na região, objetivos da exploração, entre outros fatores”, afirma. Com base nesse trabalho a campo, continua o consultor, é que se determina a escolha das cultivares e variedades de soja, milho, entre outras culturas agrícolas. Também é preciso levar em conta o padrão de qualidade das sementes de plantas forrageiras disponíveis no mercado. Geralmente, diz Aguiar, para economizar nos gastos, o pecuarista prefere comprar o insumo de “sementeiros” ou sementes certificadas com valor mínimo de pureza de 60% (exigência do Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento), quando o correto seria adquirir sementes “tipo exportação”, com mais de 90% de pureza, tratadas com inseticidas e fungicidas. “Ao escolher sementes com 60% de pureza, significa dizer que os 40% restantes podem ser qualquer coisa, como terra, torrões, ovos de insetos pragas, esporos de fungos, sementes de plantas invasoras”, avalia o consultor, que acrescenta: “O agricultor dificilmente aceitaria comprar um saco de sementes de milho ou de soja com esses ‘corpos estranhos’”. Na atividade agrícola, “planejamento” é uma das palavras de ordem, ou seja, antes do término de cada colheita de uma safra, o produtor de grãos já programou a safra seguinte – fez a cotação e a compra antecipada de sementes, inseticidas, herbicidas, corretivos e adubos; armazenou grande parte desses insumos; avaliou o parque de máquinas e implementos (manutenção e revisão), além da ne-


cessidade de mão de obra, entre outras ações. “Por sua vez, grande parte dos pecuaristas faz tudo em cima da hora, o que o leva a pagar mais caro na compra de insumos e não ter condições especiais no momento da aquisição, além de correr o risco de atraso no fornecimento desses produtos “, afirma Aguiar. Preparo e análise do solo Como o pecuarista prepara e faz o manejo de fertilidade dos solos de sua fazenda? Segundo o professor da FAZU, a maioria dos pecuaristas brasileiros ainda opta pela preparo mínimo do solo para o estabelecimento da pastagem em sua propriedade, fazendo uso apenas do gradão (grade pesada), o que resulta em terrenos irregulares, cobertos por torrões. O ideal, diz o consultor, é seguir exatamente o manual de preparo de solo adotado pela maioria dos agricultores, excluindo os que já fazem plantio direto na palha. “O produtor agrícola gradeia com grade pesada, depois ara profundo (aração invertida), gradeia novamente com grade pesada ou intermediária, e depois nivela o terreno

Combate a pragas (como a cigarrinha) e doenças não deve ser negligenciado pelos pecuaristas.

com grade leve e ainda passa um rolo compactador antes da semeadura”, explica. Dessa maneira, o terreno fica totalmente regular, o que resulta em uma germinação uniforme e rápida. Em relação ao manejo de fertilidade do solo, na pecuária essa prática praticamente inexiste, e também ainda tem baixa adesão até mesmo no meio agrícola. “Apesar da análise de solo ser uma tec-

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Especial Pastagens

Adilson Aguiar: pecuarista deve cuidar do pasto como o agricultor cuida da lavoura.

nologia simples, relativamente barata e de importância estratégica, não é utilizada por mais de 20% dos agricultores brasileiros”, afirma Aguiar, acrescentando: “Imagine no universo dos pecuaristas”. Segundo o consultor, quando o pecuarista resolve por corrigir e adubar os solos de suas pastagens, ele busca receitas com os vizinhos ou com um técnico “conhecido” dele. Na prática, diz Aguiar, a pecuária extensiva brasileira se mantém, em grande maioria, em pastos degradados, além de ser altamente extrativista, baseada na exploração da fertilidade natural do solo, que, por sua vez, é extremamente baixa. Métodos de semeadura Normalmente, no momento do plantio o agricultor utiliza máquinas modernas, acopladas com sistemas de semeadura que depositam as sementes em linha, 5 cm acima e ao lado do adubo de plantio. Pois, diferentemente do agricultor, o pecuarista, na sua maioria, lança mão de métodos arcaicos de semeadura de sementes de plantas forrageiras, apesar de existir no mercado máquinas de plantio de capins com o mesmo padrão tecnológico das plantadeiras agrícolas. “Ainda o pecuarista semeia sementes de plantas forrageiras manualmente a lanço, em cova, a lanço aéreo, a lanço tratorizado, deixando as sementes sobre a superfície do solo expostas às intempéries (dessecação pelo sol, levadas pela água da chuva ou vento) e ao carregamento por insetos e passários”, observa Aguiar. Plantas invasoras O pesquisador da FAZU sugere como solução para o problema de plantas invasoras o uso de controle químico por meio de aplicação de herbicida, estratégia adotada com naturalidade em lavouras agrícolas. “Muitos pecuaristas têm o hábito de apenas roçar o pasto, sem contar o uso de fogo”, diz. O curioso, continua Aguiar, é que as plantas invasoras concorrem com as culturas agrícolas e com as plantas forrageiras pelos mesmos fatores de cres-

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cimento, dióxido de carbono, luz, água e nutrientes, levando às mesmas consequências em perdas de potencial de produção vegetal (reduções de até 30%). “Porém, na pecuária os prejuízos são ainda maiores porque a presença de plantas invasoras afeta direta ou indiretamente o desempenho animal”, afirma ele, acrescentando que, em caso de ingestão de planta tóxica, pode-se até perder o animal. O controle de insetos pragas e doenças também é feito com displicência pelo pecuarista, na avaliação do professor. Adota-se, diz ele, métodos preventivos ineficientes, como o uso de fogo, gradagens, roçadas, quando o modo correto seria optar pelo plantio de sementes tratadas com inseticidas e fungicidas, além pulverizar o solo com defensivos. Colheita Segundo Aguiar, a maioria dos pecuaristas introduz os animais para o primeiro pastejo (a primeira colheita), em pastagens recém-formadas, somente após o seu florescimento. Um erro clássico, pois desde o início da década de 70 especialistas apontam para este equívoco, informa o consultor. “Quando se coloca os animais apenas após o florescimento das plantas as perdas de forragem por tombamento (acamamento) são muito altas”, diz ele. Além disso, continua, mesmo nas pastagens já implantadas, a eficiência de colheita de forragem e de produto animal (carne ou leite) é muito aquém de seus potenciais, porque grande parte dos pecuaristas insiste em manejar o pastejo com taxas de lotação ora acima da capacidade de suporte (na maioria), ou seja, com superpastejo, ora abaixo da capacidade de suporte (subpastejo). Na agricultura, trabalha-se sempre com uma “janela ideal de colheita”, ficando atento às previsões climáticas no período, tendo maquinário e equipe de trabalhadores prontamente disponíveis para o momento certo de retirada dos grãos das lavouras. “A capacitação dos operadores das colheitadeiras é permanente e a meta é cada ano reduzir as perdas durante a colheita”, compara Aguiar. n


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Suplemente as vacas de cria no momento certo Adotar a prática após a desmama é ideal para a vaca recuperar a condição corporal e melhorar os índices de prenhez na estação seguinte

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grandes quantidades de concentrado no cocho, além do fornecimento de alimentos volumosos. “Recuperar o peso dessas fêmeas é possível, mas a um custo tão alto que pode se tornar inviável”, afirma. Para Madureira, a decisão deve passar pelo que os especialistas chamam de EEC (escore da condição corporal), que nada mais é do que uma avaliação das reservas corporais do animal, baseada na observação visual, e que indica o quanto ele está gordo ou magro, numa escala que varia de um a nove (mais comum).

Renato Villela

Fotos: Luli Guimarães

e você sugerir a um criador para suplementar suas vacas de cria ele certamente torcerá o nariz. Há um conceito difundido de que a estratégia não se sustenta economicamente. Em parte é verdade. “Há fazendas que suplementam com índices maravilhosos de prenhez, mas com a conta no vermelho”, afirma Ed Hoffmann Madureira, professor da FMVZ – Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP. Para garantir retorno do investimento, que se traduz principalmente pelo aumento na taxa de prenhez, mas também na gestação de um bezerro com bom potencial de ganho de peso, é preciso escolher o momento certo para fornecer o concentrado para as fêmeas prenhes. “O ideal é que a suplementação seja feita logo após o desmame, quando a exigência da vaca cai bastante, demandando menor aporte nutricional, e o metabolismo está voltado exclusivamente para si, o que se reflete no ganho de peso”, afirma. Acertar no período de se fazer a suplementação é uma medida imprescindível para o sucesso da técnica, mas não a única. É preciso saber em quais circunstâncias o investimento vale a pena. Vacas muito magras, que estejam num pasto rapado, por exemplo, exigirão

Suplementar a vaca no período de aleitamento não é eficiente. Nesse período, a fêmea vai usar o nutriente para amamentar o bezerro e não para a recomposição comporal.

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Nem muito magra, nem muito gorda. Para o professor, o escore cinco (na escala de um a nove) deve servir como farol, pois é indicativo de uma boa condição corporal, nem muito gordo nem muito magro, suficiente para que uma vaca prenhe suporte razoavelmente o déficit negativo de energia após a parição. “Ela terá condições de amamentar bem o bezerro e retomar rapidamente a atividade cíclica para emprenhar no início da estação de monta seguinte”. Para as matrizes que estiverem com esse escore, basta uma suplementação leve, com um pouco de proteína, apenas para garantir a manutenção do peso. Normalmente basta o fornecimento de suplementos minerais com ureia. A partir de qual escore seria viável economicamente suplementar uma vaca de cria para que atinja a nota cinco? Para Madureira, a resposta está no degrau imediatamente anterior, nas fêmeas de ECC 4. “É possível melhorar significativamente os índices reprodutivos dessas fêmeas somente com um pequeno ajuste na sua condição corporal”, diz. Segundo o professor, apenas 40% das matrizes de escore quatro emprenham na primeira tentativa de inseminação artificial, taxa que muitas vezes não ultrapassa os 60% ao final da estação de monta. Com a mudança de escore, os percentuais podem saltar para 60% e 90%, respectivamente. Investimento que se paga Mudar o escore de condição corporal de quatro para cinco representa adicionar em torno de 45 kg ao peso da matriz. Para que a conta feche no azul, o caminho é partir para o emprego de suplementos minerais proteicos, que contenham, além de ureia, fonte de nitrogênio não-proteico, farelos ricos em proteína,



Nutrição Custo para passar de ECC 4 para ECC 5* diária

Custo diário**

Farelo de soja

800 g

R$ 1,03 (R$ 1.280/t)

Milho

600 g

R$ 0,33 (R$ 557/t)

Ureia pecuária

40 g

R$ 0,05 (R$ 1.100/t)

Ingrediente

Quantidade

Custo diário Custo total (75 dias)

R$ 1,41 R$ 105,75

*Considerando vaca Nelore de 400 kg ** Praça de referência Fonte: Ed Hoffmann. Adaptação DBO

Segundo o professor Ed Hoffmann, apenas 40% das vacas com escore corporal 4 emprenham na primeira inseminação.

como soja, algodão ou subprodutos disponíveis na região que sejam fontes de proteína verdadeira, cuja função é estimular a ingestão de matéria seca pelo animal (veja Box) e, consequentemente, o ganho de peso. Por esta razão é imprescindível que o criador tenha um bom manejo da pastagem. “É fundamental que haja uma boa reserva de forragem para a vaca ganhar peso. Do contrário a estratégia fica comprometida”. Para que a suplementação fique dentro do período mais adequado para o acúmulo de gordura da fêmea prenhe, o ganho de peso diário deve ficar ao redor de 600 g com um arraçoamento que se estenda por 75 dias (600 g x 75 = 45 kg). Para atingir essa meta é preciso balancear a dieta, levando-se em conta a exigência nutricional do animal. No caso de uma vaca Nelore de 400 kg, por exemplo, isto significa usar uma mistura que forneça 522 g de proteína metabolizável/dia e 9,1 Mcal/dia de energia/dia, segundo recomenda a literatura. O professor propõe exemplo de dieta que atenda a essa demanda e tenha viabilidade econômica. Acompanhe os números, levando-se em conta o va-

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Fêmeas com escore corporal 4 precisam de dieta para ganho de 600 g/cab/dia para atingir o peso ideal à parição e reconceber

lor da tonelada (veja tabela): 0,8 kg de farelo de soja (R$ 1,03/dia), 0,6 kg de milho (R$0,33) e 60 g de ureia pecuária (R$ 0,05). Somando os valores, o custo da suplementação é de R$ 105 por vaca para um ganho de 1,5@ (R$ 210) em 75 dias. Como o objetivo é melhorar o índice de prenhez, a mudança de escore quatro pode representar um ganho adicional de 20 a 30 bezerros a cada 100 vacas em reprodução, considerando o aumento médio que se consegue na taxa de prenhez (20% a 30%). Desmama até os sete meses A resposta para o porquê suplementar as matrizes após a desmama está em seu metabolismo e no desenvolvimento do feto que carrega em sua barriga. Em primeiro lugar, é preciso que a fêmea consiga manter uma boa condição corporal após a parição, garantia de que terá leite suficiente para criar bem o bezerro e conseguirá reconceber mais rapidamente. Para isso, é preciso que a matriz acumule reservas na forma de gordura, o que depende de seu atual estágio de gestação. A suplementação não deve ser feita com sua cria ao pé, porque, neste caso, o suplemento



Nutrição com menor potencial para o ganho de peso. Se a suplementação fosse postergada, por sua vez, a estratégia coincidiria com o terço final da gestação, período em que a exigência nutricional da vaca está voltada para o bezerro que carrega em sua barriga. O professor explica que, no terço final da gestação, o crescimento do feto é bastante acelerado, pois ocorre a hipertrofia muscular e a adipogênese, dois fenômenos que demandam muitos nutrientes e, portanto, elevam as exigências nutricionais da vaca. Após o parto, por sua vez, os nutrientes são voltados para a amamentação da sua cria. “Por esta razão acredito que o melhor momento para a suplementação da vaca seja logo após o desmame, quando a vaca tem toda condição de recuperar sua condição corporal para enfrentar um novo parto e uma nova concepção”. n

pouco efeito surtiria sobre a recomposição do peso corporal da matriz, uma vez que a energia do alimento seria direcionada principalmente para a amamentação da cria. Segundo Madureira, o bezerro deve ser apartado da mãe no máximo até os sete meses. Isto porque, considerando que a vaca tenha sido emprenhada por volta dos 60 dias após o parto, o feto na barriga da mãe terá em torno de cinco meses. “Entre o quinto e o sétimo meses de gestação, o feto ainda é relativamente pequeno e exige pouco das reservas da vaca, que consegue ganhar peso se for suplementada”, afirma. Esse período, a despeito da menor exigência, é crucial para o desenvolvimento do feto. No quinto mês, acontece o pico do que os especialistas chamam de “miogênese secundária”, caracterizada pela multiplicação do número de células musculares (hiperplasia). “É o que permitirá que o bezerro tenha uma boa musculatura, o que estará diretamente relacionado a seu desempenho nas fases de crescimento e engorda”. Caso o tecido muscular não esteja bem formado, o bezerro nascerá “mirrado”,

Suplementação para abrir o apetite A estratégia de suplementação para as vacas de cria depende de uma condição razoável da pastagem, uma vez que, para ser viável economicamente, a forragem deve ser a base da dieta. Como o período indicado para fornecer o suplemento é logo após a desmama, que normalmente ocorre entre os meses de abril e maio, as pastagens ainda dispõem de boa quantidade de matéria seca. O que falta é proteína, porque nesse período os capins estão no final do seu ciclo vegetativo. “O objetivo da suplementação proteica é melhorar o processo de fermentação ruminal e digestão da forragem”. Com isso, o alimento passa mais rápido pelo sistema

80 DBO novembro 2015

arquivo dbo

Caroço e farelo de algodão ou soja fornecem proteína verdadeira para ajudar a raça a ganhar peso.

digestivo e a vaca come mais”, explica o professor Ed Hoffmann Madureira. Segundo ele, é preciso cuidado na hora da escolha da fonte de proteína. Muito utilizada no cocho, a ureia sozinha não é a melhor opção, pois fornece nitrogênio não proteico para as bactérias do rúmen, enquanto farelos de soja ou de algodão, por serem fontes de proteína verdadeira, são mais eficazes para melhorar o processo fermentativo do rúmen e, consequentemente, a digestibilidade dos alimentos.



Nutrição

Estoque de sal sempre à mão Arquivo Minerthal

Organização evita sobra ou falta de suplementos e facilita distribuição

Separação por cores e por ordem de chegada é a maneira ideal de dispor a sacaria

A

Lídia Grando

organização do estoque de suplementos minerais por meio de identificação, contagem e registro de entrada e saída dos produtos é essencial para evitar desabastecimento ou sobras. Mais do que isso: permite verificar se o “trem está andando nos trilhos”, ou seja, se as metas definidas serão atingidas. “Controle de estoque e de consumo estão diretamente ligados”, ensina o pecuarista Vitor Alvez, da Agropecuária NA, proprietária de três fazendas em Montanha, ES. Ele procura seguir à risca as recomendações da Prodap Consultoria, de Belo Horizonte, MG, e manter sua equipe treinada para efetuar as operações dentro do padrão.

Validade 7/2016

Suplemento águas

Suplemento seca

Validade 9/2016

Validade 7/2016

Suplemento águas

Suplemento seca

Validade 4/2016

Validade 3/2016

Fonte: Minerthal; adaptação: DBO.

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Validade 7/2016

Validade 9/2016

Validade 3/2016

Suplemento seca

Creep feeding

Suplemento águas

Creep feeding

Croqui DO GALPÃO de armazenaGEM Sal vacas Validade 6/2016 Sal vacas Validade 3/2016

Porta

A primeira providência a ser tomada, segundo o consultor Rafael Guerra, é definir um estoque de segurança – quantidade de produtos que se deve ter à disposição até que um novo pedido de compra seja efetuado. Normalmente, esse estoque é dividido em três tipos: o central, que recebe o produto da fábrica e é gerido pelo escriturário da fazenda; o intermediário, administrado pelo chefe de retiro, e o final (bombona), sob responsabilidade do vaqueiro. Essa divisão varia de acordo com o tamanho da fazenda, que deve dimensionar suas necessidades anuais, definir o tamanho mínimo dos estoques intermediários e estabelecer rotas, meios de transporte e rotinas de distribuição, repassando as informações aos responsáveis. Na Agropecuária NA, o segredo para um controle eficiente foi exigir o cumprimento das regras, mas de forma gradativa e, principalmente, respeitando as particularidades da equipe, que não é toda alfabetizada. “Tivemos de nos adaptar a eles”, afirma Alvez. Inicialmente, os diferentes suplementos foram identificados pela cor da sacaria; depois, o trato passou a ser feito “por medida” e não “por saco” e, finalmente, foram introduzidas planilhas de controle no campo. “O vaqueiro faz a distribuição e marca com quantas medidas abasteceu cada cocho. Se não souber escrever, faz riscos conforme o número de medidas”, explica o produtor. As planilhas são enviadas semanalmente ao escritório para registro de saída do estoque. Como o recipiente de medida é único e há diferença de densidade entre as rações, Alvez tem uma tabela de conversão em quilos para cada produto. “Com essa informação, além de fazer a baixa no estoque, consigo controlar se foi dada a quantidade certa e comparar com as metas do planejamento”, explica. Sobre estrados de madeira Na estocagem de alimentos, “o primeiro produto que entra deve ser sempre o primeiro a sair”, de forma a evitar perda de mercadoria. Em função disso, explica Sérgio Morgulis, diretor da empresa de nutrição Minerthal, a descarga não pode ser feita de forma displicente, colocando-se sacos recém-chegados em cima dos que já estão no depósito. O local de armazenagem deve ser coberto, arejado e protegido da luz solar. “O correto é depositar os sacos sobre estrados de madeira e longe das paredes, organizando-os por tipo e validade”, diz. Morgulis sugere que se faça um mapa da disposição dos produtos para auxiliar os funcionários na organização do estoque (veja ilustração). Na Agropecuária NA, quando chega um carregamento novo, ele é colocado nos paletes que estão vazios por ordem de validade. Como a ordem de consumo não varia e há circulação entre todas as pilhas, naturalmente o produto mais novo fica para o fim. Ao adquirir produtos prontos, combine com o fornecedor para que as sacarias tenham cores diferentes para cada categoria. Para quem tem fábrica de ração na fazenda a variação de cores pode ser nas linhas de costura das embalagens brancas. n



Genética

Na genômica é preciso compartilhar Discussão sobre a criação de um banco nacional de genótipos ganha força país afora

Carolina Rodrigues

A

Existem animais com ancestrais comuns, criando conectividade entre todos os programas de melhoramento genético.” Luciana Regitano, pesquisadora da Embrapa Pecuária Sudeste.

carol@revistadbo.com.br

proposta de se unificar informações dos projetos de seleção genômica desenvolvidos no País vem ganhando força nas rodas de geneticistas brasileiros. O tema foi bastante discutido durante a ExpoGenética, realizada em agosto, em Uberaba, MG, mas já circulava no meio acadêmico e nos bastidores dos programas de melhoramento genético há algum tempo. Especialistas da área entendem que a formação de um banco nacional de genótipos (sequências mapeadas de DNA) pode evitar a sobreposição de informações em diferentes frentes de pesquisa, imprimir maior velocidade à seleção do zebu (técnicas de biotecnologia possibilitam isso de forma massiva) e principalmente reduzir o custo médio da genotipagem, que, no final de outubro, era estimado em US$ 350 (em torno de R$ 1.400) por touro. Já existem sete projetos públicos e privados de seleção genômica em andamento no País. São conduzidos pela Embrapa Pecuária Sudeste, de São Carlos, SP; Embrapa Gado de Corte, de Campo Grande, MS; Embrapa Pecuária Sul, de Bagé, RS; Unesp de Jaboticabal, Unesp Araçatuba e USP de Pirassununga, todas em São Paulo; ANCP (Associação Nacional de Criadores e Produtores) e Conexão Delta Gen, também com sede no Estado. Esses programas, no entanto, quase não compartilham informações. Segundo a pesquisadora Luciana Cor-

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reia de Almeida Regitano, da Embrapa Pecuária Sudeste, um cenário muito ruim, uma vez que os projetos obtêm resultados isolados e, portanto, incipientes, quando poderiam trabalhar juntos em muitas áreas para avançar mais rápido. José Bento Stermann Ferraz, professor da USP de Pirassununga, cujo projeto de genômica reúne quase 7.000 genótipos, dos quais 1.700 de touros, é da mesma opinião. Ele tem sido um dos maiores defensores da criação de um banco nacional de informações genômicas no País. Teve essa ideia quando precisou dos genótipos de três touros durante uma das etapas de seu projeto, que previa a avaliação de progênies (2.000 animais abatidos) para características ligadas à carcaça e à qualidade de carne. “Ao invés de genotipar aqueles três reprodutores, recorri a projetos que já tinham seus genótipos prontos. Informações de pesquisas são públicas. Não vejo problema em compartilhá-las”, diz Ferraz, acrescentando: “Com isso, ganham todos, principalmente, o Brasil”. Nos próximos meses, Ferraz pretende formalizar uma proposta de unificação de dados genômicos junto à Fapesp, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, entidade responsável por subsidiar a maioria dos projetos de genômica no Estado. “O que precisamos agora é de uma entidade organizadora, um bom servidor de internet e boa capacidade de armazenamento de dados. Como os grupos vão trabalhar os genótipos é problema de cada um. O imprescindível é que todos tenham acesso às informações”, defende Ferraz. “Se o contribuinte é quem paga a conta, nada mais justo que o resultado de pesquisas como essas seja voltada ao bem público”. O modelo já é adotado com sucesso em outros países. Na Irlanda, por exemplo, desde que os genótipos das populações bovinas de corte e leite foram centralizados há três anos, já foram genotipados mais de 1 milhão de animais. Do ponto de vista prático, não há dificuldade para se montar um projeto semelhante no Brasil. Basta que os programas de seleção lancem seus dados em uma base única, de preferência administrada por um órgão governamental. “Os entraves que existem são exclusivamente de ordem política e burocrática. Primeiramente, todos teriam de disponibilizar informações. Depois, seria neces-



Genética sário criar um fórum interlocutor entre os programas, as universidades, os criadores e o governo”, diz Raysildo Lôbo, presidente da ANCP. Forte aliada Desde que começou a ser empregada no País, em 2009, a genômica tem sido fundamental para a correção das matrizes de parentesco dos projetos de melhoramento, bem como para a identificação de semelhanças entre animais, com impacto ainda maior na assertividade das predições de valores genéticos para características de difícil mensuração, como as reprodutivas, de acabamento de carcaça ou qualidade de carne. A Embrapa ­Pecuária Sudeste, por exemplo, tem trabalhado desde 2007 no Para falar em Projeto Maxi Beef, que conduz em parceria com a seleção em larga Embrapa Gado de Corte e visa, dentre outras coiescala, precisamos sas, avaliar características de eficiência alimentar, de um número com base em um banco de mais de 3.000 genótipos. expressivo A ANCP tem buscado elevar a confiabilidade de genótipos. das DEP’s (Diferenças Esparadas na Progênie) de A interação entre os programas 22 características de seu programa de melhoramenajuda muito.” to por meio dos marcadores moleculares da Zoetis e já contabiliza 6.000 animais genotipados, dos Raysildo Lôbo, quais 800 touros. Outra iniciativa privada do grupo presidente da está nas mãos da Conexão Delta Gen, no Noroeste ANCP. de São Paulo. A pesquisa foi conduzida pela Unesp de Araçatuba, em 2008, e trabalhou em características de crescimento, conformação e fertilidade, gerando cerca de 3.500 genótipos. Ela foi concluída no ano passado. “Os resultados foram estabeleciados a partir da rotina do Delta Gen e geraram conhecimentos para novas frentes de pesquisa da Unesp”, avalia Cassiano Roberto Pele, executivo do programa. Hoje, a Unesp tem trabalhado no projeto “Genômica Funcional” para identificar regiões do genoma que devem ser selecionadas com maior precisão. Quando precisei avaliar 2.000 animais abatidos filhos de três touros percebi a importância do compartilhamento de genótipos.” José Bento Ferraz, professor da USP Pirassununga.

Maior velocidade Apesar do esforço considerável feito pelos programas de seleção, o número de animais genotipados no País, contudo, ainda é pequeno: não chega a 20.000 bovinos de corte, pertencentes a bases populacionais relativamente restritas (2.000 a 10.000 por projeto). Desse total, apenas 3.500 são touros genotipados por painéis de alta densidade (chips 777 K), técnica mais precisa e que facilita o cálculo das equações genéticas. “Ainda é muito pouco; mas imagine se, ao invés de contar apenas com o genótipo dos 1.700 touros que tenho na USP, eu pudesse acessar os 4.000 genótipos de reprodutores existentes no País? Isso significaria um aumento considerável no poder de minhas predições genéticas e uma maior confiabilidade nos resultados do meu trabalho”, diz Bento Ferraz.

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Raysildo Lôbo também defende a integração de informações para imprimir velocidade aos programas. Segundo ele, o maior impacto da tecnologia está na avaliação de tourinhos jovens, que é lenta e de baixa acurácia pelo método tradicional, baseado em fenótipos. Em 2015, a ANCP decidiu usar a genômica como critério de eleição de tourinhos em seu teste de progênie “Reprodução Programada” e conseguiu elevar o grau de acurária de 30% para 65%, em média. “Não temos dúvida quanto à importância dessa tecnologia na seleção de bovinos de corte, mas, para falar de genômica em larga escala, precisamos de um número expressivo de genótipos e isso só será possível com a interação entre os projetos, sejam eles de iniciativa pública ou privada”, diz Raysildo. “Do contrário avançaremos a passos de tartaruga”. Base comum O presidente da ANCP lembra que as bases genéticas do rebanho brasileiro são provenientes da última grande importação da Índia, em 1962. “Se falarmos de Nelore, mesmo que haja diferentes linhagens, sempre haverá uma sobreposição de touros. Ou seja, um touro genotipado mais de uma vez”, aponta Raysildo. Luciana Regitano justifica: “Existem animais que têm ancestrais compartilhados em todos os programas de melhoramento genético. Isso cria conectividade entre as bases e explica as redundâncias”, reforçando o peso “econômico” da proposta de unificação de dados. “Se determinado grupo tivesse o genótipo de um touro do qual preciso, eu poderia usar o dinheiro que tenho para genotipar outro animal”, pondera a pesquisadora. “Com isso, aumentaria minha variabilidade genética, além de calibrar meu banco de dados em um espaço menor de tempo”. Enquanto a discussão prossegue, o professor da USP vem praticando (e estimulando) o compartilhamento “informal” de dados. “Recentemente, cedi genótipos de 240 touros para um grupo parceiro”, diz Ferraz, garantindo que o fundamental em um processo de “unificação” é o desprendimento. “A ciumeira deve ficar de lado”. A USP de Pirassununga tem compartilhado genótipos com três grupos de pesquisa, que Ferraz prefere não identificar. “Como não há formalidade no processo, acho por bem não revelar nomes. Existem projetos que compartilham, outros não”, diz ele. Embora concorde com o professor da USP, ­Fernando José Garcia, responsável pelo grupo de estudos da Unesp de Araçatuba, garante que a questão não se resolverá a curto prazo. “O Brasil, pelo próprio tamanho e diversidade, tem vários programas que competem entre si. Essa competição faz parte do processo. É saudável e até natural. A discussão foi iniciada, mas há, ainda, um longo caminho até o consenso”. n



Genética Genômica

Estudiosos discutem usos no Reino Unido e no Brasil

Fernando Garcia, da UnespAraçatuba, foi um dos palestrantes do lado brasileiro. Pesquisadores do Reino Unido e do Brasil se reuniram entre 12 e 16 de outubro, no auditório do Campus Ipiranga, da Unesp (Universidade Estadual Paulista), na capital, para identificar áreas em que as novas tecnologias de sequenciamento genético podem ser aplicadas para melhorar e tornar mais sustentável a produção bovina. O workshop foi elaborado pela Unesp em parceria com a

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Universidade de Swansea (País de Gales) e reuniu 40 pessoas. Martin Sheldon, daquela universidade, abordou a produção pecuária nos países desenvolvidos, apontando que a produção intensiva adotada especialmente nos países do Hemisfério Norte tem aumentado o número de doenças nos animais e afetado a produção. É aí que entra a genômica, auxiliando na elaboração de estudos que solucionem os problemas. Segundo o pesquisador, o trabalho na identificação de genes relacionados à fertilidade das vacas tem sido o maior benefício para mudar a estatística que aponta 40% das vacas criadas em sistemas intensivos de produção com problemas de fertilidade. Porta-vozes da Unesp, José Fernando Garcia e Lúcia Galvão Albuquerque, expuseram situação diferente no Brasil, cuja pecuária é majoritariamente em sistema extensivo. Aqui, as contribuições da genômica estão relacionadas à qualidade de carne e carcaça, garantindo que esse ramo da ciência tem se tornado ferramenta fundamental na seleção de características de difícil mensuração, principalmente no zebuíno Nelore, com ênfase na eficiência alimentar, atual foco de estudos da Unesp de Jaboticabal.



Arquivo DBO

Genética

Seringas certificadas pelo Inmetro têm graduação correta

Seringa na IATF, só se for certificada! Variações milimétricas na dosagem influenciam o resultado final

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Lídia Grando

Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF) conquistou o produtor brasileiro. Em 2015, o Brasil deve chegar a 10 milhões de vacas sincronizadas, de acordo com o Departamento de Reprodução Animal da Universidade de São Paulo. Os protocolos são variados, com custo médio de R$ 15 por animal, mas todos exigem a mesma precisão na dosagem indicada. Para garantir essa exatidão, há necessidade de atenção a itens básicos, como a conservação dos fármacos e a escolha da seringa. Parece simples, mas a seringa, item com peso ínfimo no custo do protocolo (R$ 0,50 cada), pode interferir negativamente na eficiência do processo e, consequentemente, em seus resultados econômicos.

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Se a seringa não for certificada pelo Inmetro, não há garantia de que a sua gradação lateral seja exata, podendo ocorrer variação da marcação para mais ou para menos. Há um caso, por exemplo, de uma fazenda com 10.000 vacas em IATF cujo produtor decidiu economizar R$ 0,10 por seringa e amargou sérios prejuízos. Com grande volume de animais, os centavos representaram uma economia de R$ 1.000, valor equivalente ao de uma bezerra no Brasil Central. Porém, as seringas sem certificação foram causa do desperdício do fármaco mais caro, o hormônio ECG (ganadotrofina coriônica equina), usado para indução da atividade ovariana. Normalmente, um frasco desse hormônio é suficiente para tratar 16,6 vacas, mas, ao fim da aplicação do protocolo de IATF, a fazenda que queria economizar nas seringas verificou um rendimento de 15,5 vacas. O desperdício de hormônio resultou em custo extra de R$ 0,58 por animal, ou seja, R$ 5.800 no rebanho. Deduzindo-se os R$ 1.000 economizados na compra das seringas, o produtor registrou um prejuízo de quase cinco bezerras. Ponta com rosca Técnicos que trabalham com programas de IATF envolvendo milhares de matrizes no País ressaltam a importância de se ter cuidado com esse material. “A seringa certificada tem maior durabilidade”, comenta Tiago Losi, da Lageado Biotecnologia e Pecuária, de Mineiros, GO, lembrando que os modelos de melhor qualidade podem ser usados em mais animais sem o prejuízo de perda da marcação. Márcio Marques, da Geraembryo, de Londrina, PR, também afirma que apenas as seringas certificadas dão garantia da dose correta. “Os protocolos têm uma variação em miligramas e precisam de exatidão garantida”, afirma. Ele lembra que o excesso de hormônio pode gerar partos gemelares e dosagens insuficientes prejudicam o índice de prenhez. Losi e Marques dão preferência aos modelos com rosca, que garantem maior firmeza no encaixe da agulha. O cuidado na conservação dos fármacos também é fundamental. A gonadotrofina (ECG), por exemplo, necessita de refrigeração após sua diluição, senão pode haver degradação biológica do fármaco e diminuição de sua atividade, conforme explica o professor Pietro Baruseli, da USP. O armazenamento deve ser feito na geladeira ou em caixa de isopor com gelo, em temperatura de 4 a 8 graus Celsius, dependendo da orientação da bula. Caso haja sobra, o hormônio diluído pode ser congelado. Uma dica de Ricardo Montalli, da Arroba Genética de Presidente Prudente, SP, é congelar o produto já fracionado, em seringas, de acordo com a quantidade que será usada nas próximas aplicações. O descongelamento deve ser em temperatura ambiente. Para os demais fármacos não há necessidade de refrigeração. “Deve-se apenas mantê-los em temperatura ambiente, longe do calor extremo”, explica o técnico da Arroba Genética. n



Saúde Animal

Prioridade total ao combate à fasciolose Doença deixa o fígado inaproveitável; setor exportador reclama de prejuízo.

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Luiz H. Pitombo

Arquivo Wolf Agropecuária e Pecuária

o ano passado, cerca de 138.000 fígados bovinos tiveram como triste destino a graxaria de abatedouros, para serem aproveitados em algum tipo de farinha ou sabe-se lá para o quê, menos em um belo bife acebolado que enche de água a boca de seus apreciadores. Este número representa 0,51% dos abates com o selo do Serviço de Inspeção Federal (SIF) e pode ser maior, consideradas as esferas estaduais e municipais. Os descartes do miúdo bovino ocorrem pela presença de fasciolose. As perdas afetam diretamente o pecuarista, que pode ter descontos no valor a receber pelo animal e no desempenho zootécnico da criação. Tradicionalmente é o Rio Grande do Sul que concentra a maior parte dos casos de fasciolose em bovinos. No Estado, 14% dos animais abatidos sob inspeção federal apresentaram a doença no fígado em 2014. Este número representa 78% dos casos em âmbito nacional. O prejuízo com o descarte do miúdo é estimado em R$ 4,3 milhões por ano e motivou a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec) – que também contabiliza perdas nas vendas de fígado que deixam de ocorrer por causa da doença – a desenvolver um projeto no Rio Grande do Sul, ainda em elaboração, que visa encontrar alternativas para melhorar a sanidade do rebanho. A hidatidose, provocada por outro parasita que também compromete o fígado, está igualmente na mira da entidade, embora provoque perdas menores nos abates.

Rebanhos do Rio Grande do Sul são os mais afetados pela verminose

92 DBO novembro 2015

O segundo maior volume de ocorrências em 2014 da fasciolose, segundo levantamento de DBO, ocorreu no Estado de São Paulo, representando 11% do total nacional e 0,48% dos abates locais de bovinos. Em seguida vêm Santa Catarina, Minas Gerais e Espírito Santo (veja tabela na pág. ao lado). Nesta apuração, vários Estados com expressivo volume de abates com inspeção federal revelaram menos de 200 ocorrências (GO, MT, MS, PA, TO, RO, BA e MA). Mas, independentemente do nível de infestação, a fascíola hepática já foi identificada em bovinos de todas as regiões. Trata-se de um verme que parasita o fígado de várias espécies animais, além dos bovinos (ovinos, caprinos, ­suínos, equinos e outros) e que depende de um importante hospedeiro intermediário para seu ciclo de vida: um caramujo de água doce (Lymnaea sp), com grande capacidade para se multiplicar e que geralmente é encontrado em áreas alagadiças, remansos, lagoas e bebedouros. Formas de contaminação Quando esta associação acontece é praticamente impossível erradicar o verme, que passa a ser difundido no meio ambiente na forma de larvas pelo molusco infectado. Posteriormente, elas são ingeridas pelos animais através da água e pastagens. Até o ser humano pode ser infectado, contraindo as tais larvas especialmente em hortaliças que tiveram contato com as águas contaminadas pela fascíola. Apesar das perdas e inconvenientes, há produtores que não realizam o controle em bovinos, possível por meio de vermifugações e manejo dos pastos. Um dos motivos é que, passada a fase aguda da infecção e a entrada em seu estado crônico, os animais deixam de apresentar sintomas palpáveis, como emagrecimento, redução no ganho de peso, anemia e até aborto e morte. Mas, apesar da melhor aparência, deixarão de demonstrar todo o seu potencial produtivo, pois o fígado já estará comprometido em algum grau. Pode acontecer também a confusão com os sintomas de outros vermes e até a falta de diagnóstico adequado, pois a identificação dos ovos do parasita expelido pelas fezes dependerá do uso de peneiras específicas para sua localização nos excrementos. O médico veterinário Walter dos Santos Lima, que tem linha ampla de estudo sobre o parasita na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), indica dois procedimentos fundamentais para o controle. O primeiro é evitar o pastejo em áreas de baixadas infectadas, que poderão ser drenadas para reduzir o problema, permitindo algum


Maiores ocorrências de fasciolose em abates com Sif* 2010

2014

Casos

Part.%**

Casos

Part.%**

Brasil

136.128

100

137.819

100

Rio Grande do Sul

121.049

12,50

107.817

14,44

São Paulo

4.453

0,14

15.528

0,48

Santa Catarina

5.115

5,43

4.721

4,51

Espírito Santo

3.532

1,52

3.749

1,57

Minas Gerais

1.470

0,09

4.637

0,18

*Unicamente fígados bovinos condenados à graxaria e Estados com acima de mil ocorrências no ano. **Participação destas ocorrências frente ao abate do Estado. Fonte: Dipoa/Mapa, pesquisa e elaboração DBO.

uso. A isto se devem aliar as indispensáveis vermifugações. “Existem produtos eficientes à base de triclabendazol e de albendazol. Este último permite um tratamento mais em conta, mas também existem outros princípios ativos”, informa o veterinário. Lima explica que zebuínos e taurinos são afetados da mesma forma, como também animais de corte ou de leite, interferindo mais a questão da lotação, que aumenta a carga do parasita no ambiente. Quanto ao aumento da dispersão geográfica da fasciolose no Brasil, diz que ela decorre do trânsito de animais de áreas infectadas para áreas livres, associada à presença do caramujo e a condições favoráveis de umidade e temperatura. Ele informa que tem identificado em Minas Gerais um aumento de casos em bovinos, o que pode ser atribuído tanto pelo surgimento de novas áreas contaminadas como pela intensificação dos estudos. Convivendo com o problema É no centro-sul do Rio Grande do Sul, especialmente na região do Pampa, com suas extensas áreas de pastos e terras alagadiças, que a fascíola hepática e seu hospedeiro intermediário, o caramujo, encontram condições ideais para proliferar. Embora os ovinos também sejam infestados e possam disseminar a verminose, são os bovinos os maiores responsáveis por manter o parasita nos locais por onde transitam, informa o médico veterinário Ivo Kohek, coordenador de Doenças Parasitárias da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Irrigação do Rio Grande do Sul. Ele comenta que o problema costuma afetar mais os bezerros e que os pecuaristas conhecem e convivem com o problema sem tratá-lo, lastreados na aparência saudável demonstrada pelos animais na fase crônica da doença. “Mas é claro que animal não tratado reinfesta o campo”, ressalta. Segundo informa, o fígado condenado pode ser descontado do produtor, mas por outro lado diz que não existe bonificação caso não apresente lesões. Kohek acrescenta que, num estudo preliminar, os princípios ativos se mostraram eficientes, mas havia os que não eram baratos,

questionando até que ponto o pecuarista se disporia a gastar sem ter um retorno mais palpável. Este trabalho foi feito há cerca de dois anos, por sugestão da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), prospectando a possível realização de um programa estadual de combate, mas não se chegou a uma conclusão se os custos e seus resultados compensariam. Na prática, um bom exemplo de como enfrentar o problema é dado pela médica veterinária e pecuarista Patrícia Guidoux Leal Wolf, responsável pela sanidade do rebanho do grupo familiar Wolf Agricultura e Pecuária, na região de Dom Pedrito, RS. Rotineiramente, ela adota medidas preventivas contra a fascíola, lembrando que há alguns anos pensou que o parasita estivesse ausente, até enfrentar um surto. O rebanho dos Wolf é composto por animais puros registrados da raça Hereford com 900 matrizes, e outras 6.000 cabeças de animais cruzados destinados ao abate, todos mantidos a pasto e sob o mesmo manejo. Tratamento preventivo Com o ambiente propício ao desenvolvimento do caramujo em pastos com baixadas, áreas alagadiças ou açudes, e por trabalhar com bezerros que são mais suscetíveis, diz que não pode correr riscos. Todos os anos trata preventivamente o rebanho, na primavera e no outono, além de monitorar o romaneio de abate do frigorífico para verificar algum possível problema. Além disso, solicita por vezes exames de fezes. O custo por aplicação de albendazol é de R$ 3,50/cabeça de 300 kg, o que considera compensador. “Há produtores que acham caro o tratamento porque para a fascíola se usa o dobro da dose convencional em relação a outros parasitas”, diz. Sobre a possível adoção de um programa estadual de combate à fasciolose, a veterinária vê com algumas restrições, pois diz que o problema é localizado em regiões específicas e que fica mais restrito às fazendas. Ela defende como prioritário, além disso, o combate à hidatidose, em função dos malefícios que traz à população, por ser uma zoonose de maior impacto. Esta outra enfermidade é causada pela forma larval de uma tênia (E.granulosus), que também tem nos bovinos do RS os níveis mais elevados de incidência da doença no País. No ano passado, considerando unicamente a condenação de fígados, foram 60.500 ocorrências destinadas às graxarias pelo SIF em todo o País, 67% das quais só no RS. No Estado, 5,4% dos animais apresentaram o problema d­ etectado só pelo SIF, representando perdas estimadas em R$ 1,6 milhão. O parasita, que também provoca cistos no pulmão, no coração e na cabeça de humanos e bovinos, tem o cão como principal vetor, também através das fezes. Seu controle só é viável por duas vermifugações anuais no animal doméstico e já existe um programa estadual de controle em humanos em andamento por intermédio da Secretaria da Saúde e tem o apoio de dados de abate fornecidos pela Secretaria da Agricultura. n

A veterinária Patrícia Wolf faz tratamento preventivo na fazenda da família

Bovinos são os principais responsáveis por manter a fascíola disseminada, diz o veterinário Ivo Kohek.

DBO novembro 2015 93


Saúde Animal

Rigor na hora da compra

(animais de elite podem ter atestado). Ortolani também sugere que se peça um exame conhecido como teste de elisa, que deve dar negativo para a neosporose. “Essa é uma enfermidade a que os produtores dão pouca atenção, mas pode provocar abortos”, diz o professor. Em todos os casos é importante verificar as vacinações, principalmente, se receberam doses contra carbúnculo sintomático e febre aftosa. Para matrizes e reprodutores, pode-se pedir um histórico clínico, ou seja, informações sobre doenças e tratamentos ocorridos. Dependendo da região de compra, se for uma área de ocorrência de raiva, por exemplo, é importante também verificar e refazer a vacinação.

Animais vindos de fora podem ser uma ameaça, ao trazer doenças e parasitas para o rebanho.

U

Lídia Grando

ARQUIVO DBO

ma das portas de entrada de enfermidades no rebanho está nos animais adquiridos de outras propriedades e que são introduzidos sem o menor rigor sanitário. As exigências para manter a boa saúde, porém, valem para todos os tipos de categoria animal, independentemente da fazenda de origem. É preciso que o produtor e seus técnicos definam um protocolo mínimo de entrada, que inclui exames, vacinas e um tempo de observação antes que os novos exemplares passem a conviver com o rebanho. Quando o assunto é sanidade, não dá para descuidar. De acordo com o médico veterinário e professor Enrico Lippi Ortolani, da Universidade de São Paulo (USP), para as fêmeas é preciso exigir o atestado de vacina contra brucelose e verificar se há a marcação na face, pois esta é uma das regras para a maioria dos animais vacinados

Atestados de sanidade e quarentena são regras para integrar novos animais ao rebanho

94 DBO novembro 2015

Quarentena Em complemento, os animais devem ser mantidos em observação em lugar restrito por um período de tempo, as chamadas quarentenas. “A quarentena é importante, pois animais submetidos a estresse da viagem e adaptação a novo ambiente têm maior risco de desenvolver doenças infecciosas”, explica o veterinário. Outra complicação do estresse da viagem são os problemas respiratórios. “Em observação fica mais fácil detectar o problema precocemente e tratá-lo de forma eficiente e rápida”, lembra Ortolani. Para ele, o tempo mínimo de “quarentena” deve ser de 15 dias em local fechado, com feno e silagem, sem contato com a pastagem para evitar contaminações. Porém, isso não é possível para todas as categorias animal. Algumas fazendas fazem essa “quarentena” em pastos separados e mais próximos do centro de manejo. Por exemplo, os machos adquiridos para recria, na Agropecuária Fazenda Brasil, em Barra do Garças, MT, ficam até 20 dias sob observação e tratamentos. “Temos um calendário próprio que inclui vermifugação, vacinação contras as clostridioses e raiva”, explica o responsável pela fazenda, Rogério Fonseca Guimarães Peres. Ele complementa que há casos que podem exigir um tratamento profilático contra carrapatos. No histórico da fazenda, Peres não se recorda de registro de ocorrências sanitárias na entrada dos animais. “Geralmente os problemas estão relacionados ao transporte”, afirma. Após o período de observação, os bois são pesados, apartados em lotes com intervalo de 30 kg e inseridos no pastejo rotacionado. Para o caso de morte de um animal recém-comprado é preciso a avaliação de um médico veterinário. Ele pode fazer a necrópsia e pedir exames complementares a partir de sua suspeita, explica Ortolani. Para ocorrência de aborto deve-se verificar se a causa não está relacionada à brucelose, por isso é importante exigir os exames negativos. Há casos em que se pode pedir o ressarcimento ao vendedor. Isso dependerá da ocorrência e da negociação realizadas. n



Fatos & Causos Veterinários

Enrico Ortolani

Incômodos hospedeiros Os vermes se alojam nos intestinos delgado e grosso, fazem o animal perder apetite, absor ver menos nutrientes e ter diarreia.

Professor titular da Clínica de Ruminantes da FMVZ-USP e pesquisador do CNPq. ortolani@usp.br

nnn Juntas, a Cooperia e a Ostertagia reduzem o tempo gasto no pastejo em

20% nnn

N

o artigo anterior, comentamos sobre os “fila-boias” do estômago verdadeiro, o abomaso. Agora vamos falar sobre incômodos vermes habitantes dos intestinos _ órgãos definidos por muitos clínicos como “caixinhas de surpresa”. Afinal, nos intestinos se escondem muitas doenças de diagnóstico não tão fácil e que podem dar origem a sintomas que passam ocultos na maioria das vezes. Mas também é verdade que daí surgem outros sinais clínicos tão evidentes que se exibem como uma erupção vulcânica abrupta, sendo citadas como exemplo as diarreias em jato e o sangue “vivo” nas fezes. Os intestinos são divididos em duas partes: o delgado, que vem primeiro, logo após o rúmen, e o grosso. O delgado é segmentado em três partes: o duodeno, o jejuno e o íleo que, juntos, medem por volta de 20 vezes do tamanho do animal. Cerca de 20% dos alimentos são digeridos no intestino delgado. Outra função fundamental deste órgão é a absorção de nutrientes. Para isso, a superfície interna do intestino apresenta grande quantidade de dobraduras, as papilas, que elevam em até 500 vezes a capacidade de absorção dos nutrientes, se comparado com uma superfície sem dobraduras. Entre as papilas existe uma glândula que secreta várias substâncias, como, por exemplo, o muco que recobre e protege o intestino. Já o duodeno é bem curtinho (de 1 a 2 metros). Mas nesse segmento são absorvidas significativas quantidades de fósforo e um pouco menos de cálcio, além de parte de outros minerais. No jejuno e no íleo cerca de 70% das proteínas dos alimentos são absorvidas. Os principais vermes do intestino delgado pertencem aos gêneros Trichostrongylus, Cooperia e Strongyloides. Eles atacam os primeiros seis metros, ou seja, o duodeno e o começo do jejuno. O Tricostrongylus se enterra na superfície interna e provoca no local o encurtamento das papilas, ou até o desaparecimento delas, suprimindo muito a capacidade de absorção dos nutrientes nesta parte do intestino delgado. O parasitismo muito grave e por longo período em animais jovens resulta na menor absorção de fósforo e até no enfraquecimento dos ossos. Para complicar, as verminoses estimulam as glândulas intestinais a produzir e eliminar muito muco, que é rico em proteínas. Uma parte das proteínas é reaproveitada, mas a outra é desperdiçada junto com as fezes, aumentando o risco de carência de importantes nutrientes. O efeito da Cooperia é um pouco menos maléfico do que o do Trichostrongylus. Mas a Cooperia vem “to-

96 DBO novembro 2015

mando conta do pedaço” e se tornou mais frequente em bovinos nestas últimas duas décadas. Isso foi decorrente do surgimento de resistência desse verme às avermectinas de plantão. Com o tempo, tornou-se, junto com o Haemonchus, o principal vilão a atacar bovinos. Mas o encurtamento das papilas é só o começo da história. Esses parasitismos estimulam os animais a produzir certos hormônios (colecistoquinina e gastrina) que diminuem o apetite. Estudos com a Cooperia indicaram que a diminuição foi da ordem de 15%. Se esse verme parasitar em conjunto com a Ostertagia, a redução do apetite sobe para 40%. Um trabalho identificou que essa dupla provocou a diminuição no tempo gasto em pastejo em 20% e que o número de bocadas por minuto foi reduzido em 10%. Outro quadro frequente é a diarreia, levando à perda de mais nutrientes e água. A causa não é tão bem conhecida, mas parece que os vermes acionam complexos mioelétricos na parede do intestino que estimulam muito o movimento desse órgão. Haja! O Strongyloides é subestimado, pois é um verme típico de bezerros leiteiros e que causa estragos apenas quando o número de lombrigas é alto. Pensa-se pouco nele, pois bovinos adultos se tornam resistentes a essa verminose. Mas já atendi mais de uma bezerrada de corte parasitada com Strongyloides, com diarreia brava. Geralmente, os casos são mais frequentes no verão chuvoso, em bezerros mantidos em piquetes de baixada e que dividem a pastagem com cavalos, sujeitos ao mesmo verme. No intestino grosso O intestino grosso também é dividido em três partes: ceco, cólon e reto. O ceco parece um pequeno rúmen, onde bactérias fermentam os 10% do que sobrou dos capins. O cólon e o reto são responsáveis pela absorção de água e sódio. O verme Oesophagostomum (“Oe” em latim deve ser lido como “e”) ataca o ceco e os primeiros metros do cólon. Ele penetra na parede do intestino e forma um “caroço” inflamatório de até 4 cm. Essa lesão provoca diarreia verde-escura, constante e fétida, acompanhada de muco, e o apetite dos animais diminui bastante. Dois fatos diferenciam o Oesophagostomum dos demais vermes intestinais. Para causar danos é necessário apenas uma centena de vermes e não milhares, como no caso dos outros, e os bovinos com mais de dois anos nem sempre se tornam resistentes a esse parasita. Em resumo, verminose é sinônimo de perda de peso, prejuízo e até morte. No próximo artigo discorreremos sobre como diminuir a presença desses hospedeiros na boiada. Não o perca por nada! n



Fazenda em Foco

Os segredos de uma campeã de carcaças Fotos ariosto mesquita

Após modificar sistema de criação e de gestão, Cachoeirão vira referência no MS.

Nedson Pereira exibe novilhas Nelore de 14 meses, desafiadas este ano.

E

Ariosto Mesquita

m 1990, a propriedade estava degradada. Ali se praticava uma pecuária extensiva de ciclo completo, de baixa produtividade. A lotação mal chegava a 0,5 unidade animal por hectare (UA/ha), lotes de várias idades se misturavam, cada invernada ocupava mais de 300 ha e os bois (Gir e Indubrasil) eram abatidos aos 4,5 anos, com 17 arrobas. Hoje, 25 anos depois, a Fazenda Cachoeirão, em Bandeirantes, MS, a 115 km da capital, Campo Grande, está entre as mais bem conceituadas e premiadas propriedades de pecuária do Centro-Oeste. Dentre os títulos, dois bicampeonatos: Prêmio Nelson Pineda de Confinamento em 2010 e 2011 e o Prêmio Qualidade Programa Carrefour em 2010 e 2014. É também a única fazenda tricampeã (2010, 2011 e 2012) do Show da Carcaça, tendo figurado entre as cinco primeiras durante todas as seis edições deste disputado concurso anual promovido pela Associação Sul-Mato-Grossense de Produtores de Novilho Precoce. Em 2015, foram inscritos 2.075 animais de 54 pecuaristas. A Cachoeirão também detém o selo e o atestado de adequação Boas Práticas Agropecuárias –

98 DBO novembro 2015

Bovinos de Corte Categoria Ouro, concedido em 2013 pela Embrapa. Isso quer dizer que a propriedade atende a 100% dos itens obrigatórios e pelo menos a 80% dos recomendáveis pelo manual BPA em aspectos como gestão, manejo, pastagens, bem-estar animal, reprodução, suplementação, etc. Foram duas décadas e meia de mudanças. Ainda estão em andamento e, a cada ciclo, produzem resultados melhores. Este ano, por exemplo, a Cachoeirão já abateu todos os animais nascidos em 2013 e alcançou seu melhor desempenho entre machos Nelore de 23/24 meses, que foram para o gancho com as médias de 21,3@ e rendimento de carcaça de 56,3%. Em 2014, o peso médio ficou em 19,5@ e o rendimento em 55%. Além dos Nelores precoces, também produz animais superprecoces (machos meio-sangue e fêmeas e machos tricruzados – resultados de cruzamento triplo) abatidos aos 14 meses de idade com peso médio de 18@ (macho) e 13,5@ (fêmeas). Sua genética é reconhecida no mercado. A fazenda vende uma média de 90 touros/ano. Em leilão este ano obteve preço médio de R$ 11.000 por lote. Em 2014, a rentabilidade da pecuária na Cachoeirão bateu em R$ 600/ha, com 40% de taxa de desfrute. Mas o que mudou para se chegar a números tão expressivos? Praticamente tudo. A começar pela gestão. Até 1990, a Cachoeirão era administrada somente por Osvaldo Rodrigues Pereira. Em 1991 três dos seus cinco filhos passaram a dividir o comando com ele: Nedson Rodrigues Pereira, José Rodrigues Pereira e Diva Rodrigues Pereira. ‘Tudo misturado’ O quadro era caótico. “Os pastos, enormes, estavam sujos e eram formados por braquiária decumbens e capim jaraguá de 4 a 30 anos de formação. Apesar de o rebanho se manter estável, era boi, vaca, touro, novilha e bezerrada tudo misturado. Meu pai não conseguia acompanhar a evolução da pecuária, que já começava a despontar na época”, lembra o filho Nedson, veterinário que hoje administra a pecuária. Seus irmãos José (agrônomo) e Diva (administradora) são responsáveis, respectivamente, pela agricultura e pelo financeiro do negócio. Tudo estava por fazer e os inevitáveis conflitos entre gerações emperravam o trabalho nos primeiros meses: “Quando entramos, meu pai disse que iríamos administrar, mas as ordens continuariam sendo dele”. Com acesso restrito ao “dinheirinho” no banco, os irmãos decidiram interferir diretamente em algo que não demandava recursos para começar a ser alterado: o manejo.


1999, um confinamento para investir na produção de novilhos superprecoces (hoje também usado pelos precoces). Eram animais que seriam fechados logo após o desmame. Os primeiros 120 bovinos foram abatidos obtendo números já bem próximos aos atuais (aos 14 meses e 18 @). “Começamos com o mesmo manejo de cruzamentos. De lá pra cá fomos apenas aumentando a quantidade de animais”, explica Nedson.

José Rodrigues Pereira cuida da parte da agricultura da Cachoeirão, em sistema ILP.

“Passamos a diferenciar animais, a apartar lotes e a utilizar as pastagens melhores para bovinos em terminação ou grupos de recria. Como não tínhamos como contratar os funcionários de que precisávamos, eu e meu irmão nos tornamos peões, rodando a fazenda inteira no lombo de cavalos. Com um pouco de dinheiro que foi rendendo, compramos touros Nelore PO, dando início ao melhoramento genético. Fizemos isso durante dois anos e ao fim meu pai já não dava muito mais opinião e até elogiava o trabalho”, conta Nedson. A porta estava aberta. Os irmãos Pereira não perderam tempo e decidiram colocar em prática, gradualmente, uma série de ações visando ao ganho de peso e à redução da idade de abate do rebanho. O primeiro investimento foi em genética e reprodução. A partir de 1993 introduziram a inseminação artificial e começaram a experimentar raças em cruzamento industrial, sempre com o foco no que hoje é a característica do rebanho da Cachoeirão: peso e precocidade. “­Naquela época poucos faziam inseminação em gado comercial e o cruzamento industrial ainda engatinhava”, ­recorda ­Nedson. Mas logo os irmãos se depararam com um novo gargalo. Os pastos haviam chegado ao limite de suporte e começavam a apresentar um nível preocupante de invasoras e de pragas. Em 1995, deram início a uma reforma de pastagem seguindo as recomendações de aplicação de calcário, calagem e fósforo, além da utilização de sementes de qualidade de braquiárias decumbens e brizantha. Com algumas áreas de pasto melhoradas e diante de um cruzamento industrial gerando bezerros que desmamavam pesados, os irmãos Pereira instalaram, em

E veio a integração Após a morte do pai, em 2002, os irmãos resolveram se organizar em um condomínio familiar agropecuário. Assim, garantiram a não divisão da fazenda e uma gestão única. Nedson, José e Diva tomaram a frente do negócio e as outras duas irmãs, Clélia e Maria José, ficaram como sócias. Este formato garantiu a continuidade da tecnificação. Com os anos, novas mudanças ocorreram. A integração-lavoura-pecuária (ILP), adotada em meados dos anos 2000, iniciou a remodelação do perfil da propriedade com a introdução de áreas de lavouras de soja e milho rodando pelas terras, proporcionando uma forte revitalização dos pastos. “Dos 5.600 ha de área produtiva, 1.500 ha ainda estão degradados e são utilizados pela cria. Suportam 0,7 UA/ha nas águas e nos meses de seca estes pastos têm de ser vedados. Pretendemos em cinco anos recuperar essas terras com a ILP e assim fazer a fazenda girar totalmente no ciclo lavoura/pecuária”, explica. A área de grãos ocupa cada talhão de pasto durante dois a três anos. Os primeiros pastos cultivados após a lavoura estão com sete anos e em atividade. “A partir do momento em que conseguirmos girar toda a fazenda pretendemos que o pasto mais velho tenha quatro anos e até projetamos uma lotação média para cada um”, explica Nedson. Seu planejamento prevê o seguinte escalonamento de suporte para as pastagens: 1º ano (5,5 UA/ha), 2º ano (3,5 UA/ha), 3º ano (2 UA/ha) e 4º ano (1,5 UA/ha). “São áreas de diferentes tamanhos e nossa meta é atingir a média de 2 UA/ha. Hoje estamos com uma lotação de 1,3 UA/ha, mesmo com 1.500 hectares ainda degradados”, explica. Além de revigorar as nnn

Fazenda em números

MS

Bandeirantes

Campo Grande

Nome Fazenda Cachoeirão Localização: Bandeirantes, MS Área total: 7.447 ha Área de pasto: 4.000 ha. Rebanho total: 6.000 cabeças Rebanho PO: 500 cabeças Rebanho comercial: 5.500 cabeças Taxa de desfrute: 40% Taxa de fertilidade: 87% Rentabilidade média: R$ 600/ha Total de animais vendidos: 950/ano Venda de touros: 90/ano

nnn

DBO novembro 2015 99


Fazenda em Foco

nnn Meta da fazenda é atingir lotação média de

2

UA/ha

ante 1,3 UA/ha atual.

nnn

Lote nos primeiros dias de confinamento de recria estratégica, na transição entre seca e águas.

Machos meio-sangue Angus quase prontos para abate, aos 14 meses e 18 arrobas.

áreas de pastagens e oferecer mais comida no cocho, a lavoura aumentou a rentabilidade da fazenda. Coordenada pelo irmão de Nedson, José Rodrigues Pereira, o cultivo de grãos conseguiu números bem satisfatórios nos últimos três anos graças à agricultura de precisão, que permitiu a correção do perfil de solo (em até 40 cm de profundidade), 90% originariamente arenoso. A rentabilidade da soja foi de R$ 1.048/ha (2012/2013), passando para R$ 1.240/ha (2013/2014) e atingindo R$ 854/ha na última safra (2014/2015). A produtividade média neste período foi de 56,8 sacas/ha. O faturamento menor no último ciclo aconteceu, de acordo com os irmãos Pereira, pelo custo de produção mais alto e um preço de venda mais baixo. O milho plantado na segunda safra (250 ha, previstos para a safra 2015/2016) é todo voltado para a alimentação do rebanho (silagem e grão inteiro). Eventuais sobras são comercializadas. Com a ILP também vieram novas forrageiras. As áreas deixadas pela soja são 90% ocupadas por capins panicum (tanzânia, mombaça e zuri). Há ainda uma área com a braquiária piatã e uma de andropogon, esta de cultivo experimental.

No Geneplus Em 2011 a Cachoeirão foi inscrita no Programa Geneplus, serviço especializado de melhoramento genético animal da Embrapa Gado de Corte. Todo o rebanho PO passou a ser avaliado, gerando ao fim a chamada DEP (Diferença Esperada na Progênie). “Hoje, tenho as DEP’s de todos os meus animais. É um investimento muito bom perto do que nós pagamos por mês: algo em torno de R$ 300”, garante. A qualidade do rebanho foi fundamental para Nedson consolidar o atual cronograma de reprodução da fazenda. A primeira etapa é inseminar vacas Nelore PO com Angus (IATF). Os machos F1, candidatos a superprecoces, são terminados e vão para o abate. As fêmeas F1 tornam-se matrizes para cruzamento com Limousin (IATF). Daí se obtém o animal tricruzado (meio-sangue Limousin, um quarto Nelore e um quarto Angus), que é trabalhado para ser abatido como superprecoce (média de 14 meses de idade e peso de 18@) com rendimento de carcaça de 57%. Mas para o tricruzado e o meio-sangue se tornarem um superprecoce têm de desmamar com peso mínimo de 240 kg aos oito ou nove meses de idade. O animal meio-sangue ou tricruzado que desmamar com este peso entra direto no confinamento para ser abatido aos 14 meses. Os outros, que segundo Nedson representam um porcentual bem pequeno, vão para recria para serem abatidos como precoces com 23/24 meses. “Escolhemos o Limousin para fazer o tricruzado justamente por ser comprovadamente uma raça que come menos e oferece melhor rendimento de carcaça”, justifica.

Mais genética Em 2010, a fazenda adquiriu um rebanho Nelore PO de um criador que já selecionava há vários anos. “Foi uma ótima oportunidade. A partir daí, parei de comprar reprodutores. Desse rebanho hoje tiro os meus e passei a ser fornecedor de touro, da Genética Cachoeirão. O melhoramento genético na propriedade é fundamental para o nosso desempenho, sempre dando prioridade a características de ganho de peso, acabamento de carcaça, musculosidade, fertilidade e precocidade sexual. É um trabalho que me dá muito prazer e que deixa reflexos diretos no rebanho comercial”, garante Nedson. Esta decisão, segundo ele, foi impulsionada pela ILP. “Quando se faz integração, tudo começa a se intensificar na fazenda. Hoje temos pastagens de primeiro ano suportando 5 UA/ha nas águas que permitem ganhos de peso de até 1 quilo/dia.” 100 DBO novembro 2015

Recria turbinada Os novilhos precoces da Fazenda Cachoeirão são, em sua maioria, originados do repasse de touros após IATF no primeiro cruzamento (fêmeas Nelore PO x Angus). Antes disso é feita a primeira inseminação e alguns lotes ainda passam por um repasse com inseminação a partir da observação de cio, fechando em uma média de 75% de taxa de prenhez. Com o repasse de touros, este índice, segundo Nedson, sobe para 87%.



Fazenda em Foco

nnn Taxa de prenhez na Cachoeirão alcança

87% após IATF e repasse de touros.

nnn

De 2012 até 2014 estes animais vinham sendo abatidos com 23/24 meses e peso variando entre 19,5 e 20@. A partir do ano passado Nedson adotou uma nova estratégia, com 200 dos 500 novilhos do ciclo. Confinou o grupo durante 45 dias na recria, justamente no período de transição entre seca e águas (setembro/outubro) quando, segundo o pecuarista, o animal ganha menos peso a pasto. Em seguida, esses animais voltaram para um pasto teoricamente melhor, que “descansou” por 45 dias, e posteriormente foram novamente confinados, desta vez para a terminação, chegando nesta fase em média 30 kg mais pesados do que o grupo de engorda do ano anterior. Resultado: os precoces foram abatidos com os mesmos 23/24 meses, mas com um peso médio de 21,3@ (média de todos os 500 animais). O custo deste confinamento na recria foi, segundo Nedson, equivalente a 1,3@/animal durante os 45 dias. “Em compensação, coloquei 1,8@/animal acima do que ele obteve no ano passado a pasto. Isso quer dizer que tive um ganho de 0,5@/animal além do que eu já vinha obtendo”, revela. O cocho recebe como base a silagem de milho (72%), milho grão (19%), torta de algodão (7,6%), núcleo (1%) e ureia (0,4%). Além disso, segundo ele, há um benefício indireto considerável para a fazenda: “Os 45 dias de confinamento na recria me aliviam o pasto quando começam as

102 DBO novembro 2015

primeiras chuvas, período em que os animais costumam perder peso e o pasto a se degradar”. Nedson acrescenta: “Nestes dias, o animal não quer mais a palha seca e vai com tudo sobre o broto do capim. Isso altera a flora ruminal do bovino, que acaba perdendo ou mantém o mesmo peso durante pelo menos 30 dias. A rebrota da pastagem também é prejudicada”. Este ano, Nedson fechou 300 animais de um total de 430 precoces. A meta é atingir um peso no abate de 22@ aos 23/24 meses de idade. Para isso, ele já delineou o caminho: estes animais, desmamados entre maio e junho de 2015, foram para um pasto de ILP (a forrageira é plantada entre duas safras de soja), onde ficaram até o início de setembro. Depois, seguiram para o confinamento onde permaneceram durante 45 dias. Na sequência voltaram para o pasto, onde permanecerão até o início de junho de 2016, quando serão confinados durante 90 dias para terminação. Animado com os resultados, Nedson projeta: “Temos potencial para aumentar a rentabilidade de R$ 600 para R$ 1.400/ha. Este será o potencial da propriedade quando tiver toda ela reformada e com uma lotação média de 2 UA/ha. Dá trabalho, mas é possível. E só chegaremos a este número com a ajuda da agricultura. Percebemos que acertamos o caminho. Agora é só evoluir”. n



Raças Senepol

Programa Safiras elege suas campeãs

E

m sua 11ª edição, o teste de performance Safiras do Senepol, promovido pela Fazenda da Grama, de Pirajuí, SP, elegeu três campeãs e 23 novas novilhas Top 10 entre 230 fêmeas inscritas. As fêmeas foram avaliadas

Mais de 1.300 novilhas identificadas em seis anos

Nelore I

Recorde de vendas no mês de aninversário O aniversário de 15 anos do touro Backup foi marcado pelo recorde na comercialização de sêmen. Touro “tope” no catálogo da CRV Lagoa, o reprodutor bateu a marca de 80.000 doses de sêmen comercializadas em apenas 10 dias do

quanto à performance produtiva (precocidade e fertilidade), adaptação ao clima (pelagem e temperamento), escore visual (tipo, pelagem e umbigo), escore do trato reprodutivo, qualidade da carcaça e eficiência alimentar. Os resultados foram divulgados em 6 de outubro na sede da Fazenda Grama e reuniu um público de 90 criadores que assistiram às apresentações sobre os critérios e premissas da prova, além de novidades para o próximo ano, que incluem obras na área onde o teste é realizado. A projeção para 2016 é de que sejam avaliadas 500 fêmeas jovens. A prova teve início no final de outubro e será encerrada em março do próximo ano. Ao longo de sua história, o Programa Safiras já identificou 1.3000 novilhas superiores em idade jovem, das quais 700 avaliadas por eficiência alimentar. A prova ocorre duas vezes ao ano, com duração de 150 dias cada e conta com o apoio das entidades Embrapa Pecuária Sudeste, Unesp de Jaboticabal, Instituto de Zootecnia de Sertãozinho (IZ) e Coan Consultoria.

mês de outubro. O volume — tradicionalmente negociado em dois anos de venda (40.000 doses ao ano) e somado ao histórico de 850.000 doses comercializadas anteriormente —, encosta na marca de 1 milhão de doses negociadas. Segundo Ricardo Abreu, gerente de corte da CRV Lagoa, a demanda é crescente. “Backup tem 25.000 filhos avaliados no Paint e é líder de diferentes sumários de touros, com resultados consolidados para habilidade maternal”. Com tais números, Backup reforça a liderança em produtividade no portifólio de touros da CRV Lagoa, produzindo 100.000 doses de sêmen por ano, número 40% maior do que a média obtida pelos touros da central, hoje, em torno de 60.000 doses/ano.

Nelore II Com a participação de 88% de criadores do próprio Estado, a 10ª Expoinel Goiás abriu o ano-calendário da raça Nelore entre os dias 15 e 25 de outubro. O evento ocorreu paralelamente à exposição agropecuária de goiânia, que contou com a presença de 362 associados da AGN (Associação Goiania do Nelore), dos quais 39 expositores. "Tivemos aumento de 15% no número de animais inscritos, uma alta considerável já que a

104 DBO novembro 2015

maioria das exposições tem sofrido redução no número de animais e expositores", pontuou Eduardo Pinto de Faria, executivo da AGN, considerando alta no campeonato de machos. Foram reunidos 135 animais, cerca de 40% do total de inscrições. O título de grande campeão Nelore saiu para Emmo FIV DGSA, de Milton José De Marshi, da Fazenda São Judas Tadeu, em Matrinchã, Noroeste do Estado. Ele também conquistou o prêmio de reservado campeão com Lusco IDM, um filho de Bitelo da SS, neto Ludy de Garça. Já a grande campeã foi Viena 3 TE da Guadalupe, de Aguinaldo Ramos, de Iaciara, também no Estado; e o título de reservado campeã saiu para Rima FIV Kaia 1, de Bruno e Ricardo Vicintin, da Rima Agropecuária, de Várzea da Palma, MG. Ao todo, foram inscritas 227 fêmeas.



Raças Nelore III

Jornaleiro da Bela está em teste de progênie Filho de REM Ricket e Ginger FIV da Bela, o touro Jornaleiro da Bela, cria da Fazenda Alvorada, que fica no município de Guararapes, na região Noroeste do Estado de São Paulo, foi contratado pela CRV Lagoa, de Sertãozinho, SP. Um dos touros escolhidos para o Reprodução Programada do Programa de Melhoramento Genético da ANCP (Associação Nacional dos Criadores e Pesquisadores), Jornaleiro é top 1% para PE (perímetro escrotal) 365 dias, top 3% para AOL (Área do Olho do Lombo) e top 2% para 3 P (Probabilidade para Parto Precoce). “Ele foi escolhido para o Reprodução Programada por ter se destacado em avaliação intrarrebanho para PE, AOL e acabamento de carcaça. É um touro que tem ótimas DEPs para habilidade materna, parto precoce e produtividade acumulada”, diz Flávio Aranha, proprietário da Fazenda Bela Alvorada.

Nelore IV O município de Nova Andradina, MS, recebeu entre os dias 26 e 27 de outubro, a última etapa de 2015 do Circuito Boi Verde de Julgamentos de Carcaças. A praça nunca

Circuito recebeu 615 animais em Nova Andradina (MS)

106 DBO novembro 2015

tinha sediado etapas do campeonato nacional e reuniu 615 animais de seis pecuaristas participantes. Segundo o zootecnista, Rafael Teixeira, técnico de ACNB (Associação dos Criadores de Nelore do Brasil) os criadores locais unem boas práticas, excelência em manejo, genética e nutrição. Os vencedores foram, respectivamente, Sandra Maria Massi (Fazenda Santa Bárbara), Adilton Boff Cardoso (Fazenda Segredo), mais Samoel e João Navarro (Fazenda Pouso Alegre). Os três criadores inseminam suas vacas com touros provados há vários anos, utilizam pastos produtivos e confinamento como estratégia de produção e atividade rentável. De acordo com os organizadores do evento, nesta etapa, 90% dos animais avaliados tinham até 2 dentes incisivos permanentes (cerca de 24 meses) e 59% tinham até 0 dentes (18 meses). Os resultados apontam que 86,3% dos animais pesavam entre 17 a 22@ e 78,2% apresentavam gordura mediana e uniforme. O campeonato anual está na 15ª edição e é promovido pela ACNB com o propósito de mapear o perfil de carcaça dos animais da raça Nelore criados sob condições distintas. Em 2015 foram realizadas 6 etapas em 5 Estados (MS, MT, GO, PA e ES), totalizando 3.758 animais avaliados.

Hereford A Associação Brasileira de Hereford e Braford (ABHB) habilitou mais cinco plantas do frigorífico Marfrig para o abate certificado do Programa Carne Pampa. As unidades de Promissão (SP), Mineiros (GO), Bataguassu (MS), Tangará da Serra e Paranatinga (MT) passarão a receber os animais a partir de novembro. Em maio, a certificação das raças Hereford e Braford foi estendida para Santa Catarina, primeiro Estado fora do Rio Grande do Sul a integrar o programa de certificação da ABHB. Para Fabiana Rosa de Freitas, gerente do Programa, a ampliação dos abates na região central do Brasil e a inclusão do frigorífico São João, de São João do Itaperiú em SC, vão colaborar para o aumento da produção da cane certificada. “Nossa expectativa é de que haja um aumento de 3% em 2015”, afirma. Em 2014, o Carne Pampa reuniu 4.500 produtores e certificou 55.000 carcaças, o equivalente a 1,6 toneladas de carne dessosada.



Internacional

Disputa acirrada pelo boi confinado nos EUA

Fotos Maristela Franco

Texas pode perder liderança na engorda a cocho para o Nebraska, que conta com um aliado poderoso: os resíduos de grãos de milho destilados úmidos.

Maristela Franco

D

maristela@revistadbo.com.br

eu-se, pela primeira vez, em fevereiro de 2014. Após 35 anos de liderança inconteste, o Estado da Estrela Solitária (Texas) perdeu a coroa de “rei do confinamento norte-americano” para o Nebraska, conhecido como o “Cornhusker State” (Estado dos descascadores de milho). Colaborou

Principais Estados confinadores dos EUA ( Nebraska superou Texas por duas vezes)

3500 3000 2500 2000 1500 1000 500 Jan-10 Abr-10 Jul-10 Out-10 Jan-11 Abr-11 Jul-11 Out-11 Jan-12 Abr-12 Jul-12 Out-12 Jan-13 Abr-13 Jul-13 Out-13 Jan-14 Abr-14 Jul-14 Out-14 Jan-15 Abr-15 Jul-15

0

Fonte: Galen Erickson

108 DBO novembro 2015

CO IA KS NE SD OK TX

para isso a pior seca já registrada nas Grandes Planícies do Sul em 50 anos. Calcula-se que, entre 2010 e 2014, o rebanho bovino texano tenha encolhido 24%; o de Oklahoma, 13% e o do Missouri, 8%. Mesmo com o retorno das chuvas, o Texas voltou a perder a liderança para seu rival no primeiro semestre de 2015 (fevereiro a maio), um indício de que a redução do rebanho tem raízes mais estruturais. Conforme especialistas, a pecuária intensiva norte-americana está migrando (em passo lento, porém firme) do Sul/Sudeste para o Meio-Oeste, atraída por duas riquezas de valor incalculável: a água e os grãos. Cerca de 65% do enorme aquífero Ogalalla, com 450.000 km2, que se estende da Dakota do Sul ao Texas, encontram-se no subsolo do Nebraska, em profundidades rasas. Esse Estado, onde se inventou o pivô central, possui a maior área irrigada do país (3,5 milhões de hectares, abastecidos por 94.000 poços) e ainda registra precipitações anuais médias de 700 a 800 mm em suas regiões leste e parte do oeste. Com água abundante, o “Cornhusker State” fez jus ao codinome, tornando-se o terceiro maior produtor de milho dos Estados Unidos e o segundo maior produtor de etanol à base desse grão. De suas destilarias, sai a maior arma do Nebraska na batalha pela liderança no confinamento de bovinos: o WDGS (Wet Distillers Grains plus Solubles), ou resíduos de grãos de milho destilados úmidos acrescidos de solúveis. O WDGS custa 20% menos do que o milho, é altamente energético e tem excelente digestibilidade. Por conferir umidade à dieta, atrai os bovinos, elevando o consumo e, consequentemente, o ganho de peso. Trata-se, porém, de um produto perecível. Seu uso somente é viável para quem está perto das destilarias de etanol de milho, como os produtores do Nebraska. No Texas, que ainda não entregou definitivamente a “coroa” de confinador-líder porque tem o maior rebanho do país (11,8 milhões de cabeças), predominam as dietas mais caras, à base de milho floculado e resíduos destilados secos (DDG), produto que vem do Meio-Oeste. Tour técnico Durante a Phibro Internacional Beef Farm 2015 – viagem técnica organizada pela subsidiária brasileira da Phibro Animal Health Corporation, empresa multinacional especializada em aditivos com


Duelo de gigantes (Dados de maio de 2015) 2,530 milhões de bois confinados Armas: água e grãos (2º maior produtor de milho e 1º de etanol)

Nebraska

Texas

2,430 milhões de bois confinados Armas: clima seco, tradição e maior rebanho do país.

sede em New Jersey, EUA – um grupo de nove brasileiros pôde conhecer de perto a realidade dos dois Estados norte-americanos campeões em produção de carne. Partindo de Lubbock, no sul do Texas, no dia 27 de setembro, o grupo percorreu 1.867 milhas (cerca de 3.000 km) até Lincoln, no Nebraska, passando pelo Kansas e visitando vários confinamentos durante esse trajeto, que terminou dia 3 de outubro. O principal objetivo da viagem era observar processos produtivos e novas tecnologias. O ponto de partida do roteiro foi o Burnett Center Feedlot Research Unit, centro de pesquisas em confinamento ligado à Universidade do Texas. O grupo foi recebido pelo professor Jhones Sarturi, brasileiro que vive há sete anos nos Estados Unidos. Segundo ele, a água é um fator muito limitante no Estado da Estrela Solitária (alusão ao símbolo na bandeira texana). A parcela do aquífero Ogalalla sob seu território vem diminuindo, após anos de captação para uso agrícola e da baixa recarga do manancial por falta de chuvas. A escassez hídrica é preocupação constante no Burnett Center, que desenvolve pesquisas sobre manejo racional de irrigação e testa capins tolerantes à seca. A instituição também tem um pequeno confinamento, onde faz experimentos com novas dietas. Segundo Jhones Sarturi, ainda é cedo para o Nebraska cantar vitória, pois o rebanho texano já está

Caso controverso Bradley Johnson lamentou a decisão da MSD de retirar o beta-agonista zilpaterol do mercado americano, em agosto de 2013, após o frigorífico Tyson suspender as compras de animais tratados com o produto. Segundo ele, a decisão teve motivação mais política do que técnica. “O

se recuperando. Totalizou 11,8 milhões de cabeças em 2015, ante 11,1 milhões em 2014, um aumento de 6,3%. Outros Estados também aumentaram seus efetivos, fazendo com que o rebanho norte-americano voltasse a crescer. Em janeiro, segundo o USDA, o país contava com 89,5 milhões de cabeças, 1% a mais do que em igual período do ano anterior (88,5 milhões). Houve uma corrida rumo à cria, estimulada pela valorização dos bezerros, que chegaram a US$ 1.700/cabeça em 2014, garantindo lucro de até US$ 500/cabeça aos criadores. Embora os preços da reposição tenham caído neste ano, continuam pesando no bolso do confinador e reduzindo sua margem de lucro.

Grupo de brasileiros com o professor Jhones Sartori, da Universidade do Texas (primeiro à esq., na fila da frente).

Tecnologia é vital Considerando-se que um bezerro de 550 libras (250 kg) custa, hoje, US$ 1.320 e que as despesas com engorda desse animal totalizam U$ 510, o confinador desembolsa US$ 1.830 para produzir um boi de 1.430 libras de peso vivo (650 kg). Esse animal normalmente lhe garante 902 libras limpas (409 kg ou 27,2@), pois o rendimento nos Estados Unidos é maior do que no Brasil (63%), devido a diferenças na definição da carcaça. Se vendesse seu boi pela cotação de outubro (US$ 211 por cada 100 libras de peso morto), o confinador obteria receita bruta

caso relatado pela indústria (16 animais com problemas de casco) pode ter sido causado por vários fatores, como a dieta à base de resíduos de batata. O correto seria investigar mais profundamente a origem da lamininte, mas foi uma desculpa perfeita para vetar o produto”, disse ele, ressaltando que a Tyson havia assumido a bandeira do bem-estar

animal e quis posicionar-se perante seus clientes. O número de animais tratados com beta-agonistas caiu um pouco nos EUA após a suspensão, mas o vácuo deixado pelo zilpaterol já está sendo ocupado por seu principal concorrente, a ractopamina, da Elanco. Segundo Johnson, caso o produto volte ao mercado, será usado em dosagem menor.

DBO novembro 2015 109


Internacional

Texas está confinando também animais leiteiros

Bill Sleight, gerente do Queen Sabe Feedlot: estão faltando animais de reposição.

Gado Angus do Craig Cattle, em Craig, no Nebraska.

de R$ 1.903/cab e teria lucro de US$ 73/cab ou R$ 283,2, com o dólar a R$ 3,88. Esse resultado modesto, embora superior ao registrado em anos anteriores, se transformaria em poeira sem o uso de tecnologias como os hormônios promotores de crescimento e os beta-agonistas, produtos que estimulam a deposição de músculo na carcaça. Juntos eles garantem ganhos de US$ 120 a US$ 140 por cabeça. “Se retirassem esses produtos dos confinamentos norte-americanos, eles ficariam inviáveis”, salientou Sarturi. Um dos maiores especialistas em beta-agonistas do país, o professor Bradley Johnson, também da Universidade do Texas, conversou sobre o tema com os brasileiros (veja quadro na pág. 109). O grupo ainda assistiu a uma aula sobre o sistema de classificação de carcaças norte-americano, com direito a demonstração sobre os principais cortes em câmara fria. No dia seguinte, 29 de setembro, os participantes da Phibro Beef Farm seguiram para o município de Happy, próximo de Amarillo, onde visitaram o Queen SabeFeeders, um confinamento nada típico para os padrões texanos. Seus currais, com capacidade estática para 48.000 animais, engordam apenas machos leiteiros da raça Holandesa. O projeto pertence a uma família que tem outros quatro confinamentos de gado de corte e abate 160.000 cabeças/ano. Os animais leiteiros vêm de longe; viajam mais de 2.000 km da Califórnia até o Queen Sabe, onde chegam com 150 kg, aos cinco meses de idade, e saem com 650 kg, após 340 dias de engorda. No abate, fornecem carcaças pesadas, mas com menor yield grade (rendimento), devido a questões de conformação. A opção pelo gado Holandês reflete a escassez de animais para reposição no Texas. “Os bezerros

110 DBO novembro 2015

leiteiros custam cerca de US$ 900/cab, US$ 400 a menos do que os de corte”, explica Bill Sleight, gerente do confinamento, cuja meta é produzir 65% de animais do tipo Choice (segunda melhor classificação no sistema norte-americano). As deficiências de conformação são compensadas pelo bom acabamento de gordura. A empresa admite, contudo, que a mortalidade é elevada (7-8%), pois os animais são mais suscetíveis a doenças respiratórias. Eles recebem três implantes hormonais ao longo da vida e são tratados com beta-agonista nos últimos dias de confinamento. Apesar do cuidado com a alimentação na primeira fase de engorda (mais crítica), a dieta é composta basicamente por milho floculado, DDG, farelo protéico, feno e um mix de gorduras. Outra paisagem Ainda em 29 de setembro, o grupo de brasileiros pegou a estrada rumo ao Meio-Oeste, pernoitando em Dodge City, cidade do Kansas famosa pelas lutas de faroeste. Ao longo do trajeto, a savana das Planícies do Sul, com seus rebanhos esparsos e pequenos poços de petróleo, foram cedendo lugar à vegetação mais arbórea e às intermináveis lavouras de milho. O grupo foi recebido, no dia 30, pelo professor Galen Erickson, da Universidade do Nebraska, em Lincoln, que relatou, com bom humor, a disputa entre o Nebraska e o Texas pela liderança no confinamento de bovinos. Segundo ele, seu Estado pode fazer dois turnos de engorda (167 dias cada) e tem potencial para confinar, em futuro próximo, até 5 milhões de bovinos anualmente. A Universidade do Nebraska desenvolve pesquisas sobre silagem de milho úmido (um dos focos de interesse dos visitantes brasileiros) e subprodutos das destilarias de etanol à base de milho. Possui também um confinamento com capacidade


para 2.500 animais, por isso tem os números do negócio na mão. “Cerca de 72% do nosso custo de produção são os bezerros”, informou Erickson, salientando que a engorda, no Nebraska, é muito intensificada e utiliza grande quantidade de grãos (85% a 95% da dieta). O desafio agora é intensificar a cria. Nos últimos anos, o aluguel de pasto subiu drasticamente, passando de US$ 25 por vaca/ bezerro, em 2010, para US$ 60, em 2015. Em cinco Estados da região, 526.091 hectares de pastagens foram convertidos em lavouras de milho. A saída tem sido suplementar as matrizes, a pasto ou no próprio confinamento. Em razão da dificuldade de se fazer reposição, os bois gordos estão sendo abatidos cada vez mais pesados. A média nacional no período 2009-2013 foi de 840 libras (380 kg ou 23,7@), superou 900 libras (408 kg ou 27,2@) no final de 2014 e no segundo semestre deste ano poderá romper a barreira das 1.000 libras (453 kg ou 30@). “A explicação é simples: como o custo é fixo, vale a pena explorar todo o potencial produtivo do animal, deixando-o mais 25 a 30 dias no cocho”, diz Erickson. Na Universidade do Nebraska, os animais recebem dietas contendo palhada de milho triturada, uma fonte protéica, silagem de grão úmido, milho seco moído e 30% a 40% de WDGS. Esse diferencial competitivo do Nebraska, entretanto, está sob risco. Como a China tem grande apetite por grãos destilados, a indústria de etanol está secando os resíduos para exportação, reduzindo a oferta de WDGS, o que pode elevar seu preço. “A boa notícia é que o dólar alto pode inibir as compras chinesas”, ressalta o pesquisador. Alta eficiência No dia seguinte, 1o de outubro, o grupo de brasileiros visitou o Craig Cattle Feedlot, no município de Craig, ao norte de Lincoln, onde foi recebido pelo gerente Mark Blackfor. Esse confinamento engorda 18.000 animais por ano, abatendo os machos com peso médio de 670 kg (28@). A grande maioria é de Angus e cruzados Wagyu. Estes últimos ficam nas instalações por 500 dias e têm sua carne vendida para

Montanhas de milho úmido no Darr Feed Lot, em Cozar, NE.

restaurantes. O principal ingrediente da dieta é a silagem de milho úmido, cuja confecção os visitantes brasileiros puderam acompanhar de perto. O confinamento produz 24.000 t/ano desse alimento. Também elabora seu próprio núcleo, usando um equipamento conhecido como micromachine. No Darr Feed Lot, em Cozard, no sudeste do Estado, o grupo também deparou-se com imensas montanhas de grão de milho úmido em processo de ensilagem, numa movimentação frenética de máquinas. Com duas unidades de engorda (uma com capacidade para 21.000 cabeças e outra para 35.000), essa empresa abate 130.000 bois/ano. Os produtores brasileiros também puderam ver o processamento do gado no curral. As vacinas são desenvolvidas por um laboratório “sob medida” para o confinamento, com base em coleta de muco retirado do focinho dos animais. Ao sair do tronco de contenção, eles são classificados por peso e vão direto para os piquetes de engorda. O Darr Feed trabalha principalmente com prestação de serviços. n

Erickson, da Universidade do Nebraska: “está faltando pasto”.

DBO viajou aos EUA a convite da Phibro

DBO novembro 2015 111


Leilões

Primavera gaúcha Emerson Sabedra

A poucos remates do fim da temporada, criadores comemoram os resultados.

Oferta tem foco nos animais rústicos Carolina Rodrigues

E nnn Crescimento na média de preços foi

30%

superior ao da temporada 2014

nnn

carol@revistadbo.com.br

stá determinado que, nesta temporada, o comércio de primavera no Rio Grande do Sul ultrapassará R$ 60 milhões. Faltando pouco para terminar a primavera gaúcha 2015, a pesquisa DBO aponta que esta temporada vem sendo a melhor da última década. Não apenas para touros, mas também para fêmeas. O cenário é movido pela valorização do boi gordo e pela demanda por bezerros para reposição, produtos escassos na pecuária sulina. Na comparação com a temporada 2014, a receita apurada nos leilões de genética mostra números 5% maiores. Na média de preço, o crescimento é ainda mais notável, na casa dos 30%. A pesquisa DBO apurou, para setembro e outubro, 8.855 animais, basicamente de raças taurinas, comercializados por R$ 58,8 milhões (média geral de R$ 6.645). No fechamento desta edição, em 3 de novembro, ainda estavam em andamento outras duas feiras regionais e também marcados dois importantes remates regulares do circuito, com expectativa de R$ 3 milhões em negócios. “A valorização da carne, principalmente de raças com demanda no mercado externo, vem puxando o boi gordo. E quem cria sabe que genética agrega valor à commodity carne”, diz Reinaldo Titoff Salvador, da Cia. Azul, de Quaraí, um dos integrantes do Remate Selo Racial, que vendeu 369 animais por R$ 3,1 milhões no mês de outubro. “Hoje, o ambiente é de mais valia para a carne de qualidade. Quem faz cruzamento vai intensificar”, observa João Paulo Schneider da Silva, o Kaju, da GAP Genética, de Uruguaiana, dona do remate balizador de preços da temporada. Em 27 de setembro, o grupo faturou R$ 5,6 milhões na venda de bovinos, com média de R$ 11.590 para touros Angus e quase R$ 14.000 para os reprodutores Brangus.

112 DBO novembro 2015

O produto mais visível na prateleira do mercado gaúcho são os reprodutores. Marcelo Silva, da Trajano Silva Remates, previa, antes do início das vendas de primavera, que a quantidade de touros nas pistas não seria maior na comparação com 2014, mas os preços seriam maiores. Acertou. No ano passado, os reprodutores somaram 4.452 lotes na temporada. Nesta, os remates gaúchos chegaram bem perto deste número e muitos leiloeiros acreditam que ele não passe de 5.000 lotes por dois motivos: a temporada está no fim e já não há oferta de touros disponíveis nas cabanhas. Por isso, os preços dispararam. Na média, passaram de R$ 8.284 para os atuais R$ 9.910, aumento de 20%. “Estamos perdendo venda por ter comercializado toda a produção em outubro. Se tívessemos mais produtos, certamente estaríamos vendendo”, garante Inácio Tellechea, da Cabanha Rincon Del Sarandy, uma das promotoras da grife Selo Racial. Novo nicho Com o cenário otimista, muitos selecionadores propuseram sociedade para animais de destaque de suas cabanhas, com novas alternativas de negócio. No Selo Racial, além dos lotes ofertados “in loco”, os organizadores também comercializaram “escolhas”, modalidade de venda no qual o criador dá o lance pelo direito de escolher animais da safra 2015 na desmama do ano que vem. O sistema tem sido adotado há três anos. “O pecuarista é um agroempresário. Como vendedores, temos o dever de buscar maneiras de possibilitar investimentos, colocando a genética como sustentáculo da pecuária rentável”, garantiu Reinaldo Salvador, que negociou três escolhas pela média de R$ 43.500. O valor quase encosta no preço máximo de R$ 48.000 registrado em toda a temporada. Ele saiu duas vezes no 51º Remate Bela Vista, de Celina Maciel, em Santana do Livramento, na campanha gaúcha, e só foi ultrapassado por R$ 60.000 pagos por uma terneira Angus da Cabanha Catanduva, ainda na Expointer, feira que sinaliza o início das vendas pelo Estado. Não é esse, entretanto, o tipo de oferta que faz a cabeça dos gaúchos nesta época do ano. Nos remates de primavera, o grosso da venda são os animais rústicos, o que vem crescendo nos últimos anos, principalmente quando o assunto é fêmeas. Em apenas cinco anos, o número de matrizes saiu da casa de 3.000 lotes para quase 6.000, 75% do mercado destinado ao Brasil Central. “O apelo no mercado consumidor por qualidade de carne e o apelo dentro da porteira por produtividade e precocidade têm gerado demanda pelas taurinas e suas cruzas como alternativa de produção”, avalia Eduardo Eichenberg, da Estância Silêncio, uma das integrantes do 1º Conexão Pampa, remate que negociou 314 fêmeas das raças Hereford e Braford no município de Alegrete. Para ele, a venda de fêmeas não é mais uma incógnita. “Hoje, elas são procuradas e estão no mesmo pacote dos touros”, diz. Nesta temporada, as matrizes somaram 4.566 lotes, número 2% superior à oferta de machos. n



Leilões

Outubro de números vistosos Mercado de genética beira 13.000 lotes, com 54% das vendas fechadas em exposições. carolina rodrigues

O

Comparativo com outubro de 2014 Lotes

–5% Fatura (R$)

+39% Média

+47%

carol@revistadbo.com.br

s preços de machos e fêmeas, que vinham em ascensão desde agosto e perderam força, estavam deixando em polvorosa o mercado dos leilões que ofertam genética para a produção. Em meados de outubro, os ânimos se acalmaram. Fechados os números, pode-se dizer que o medo de investir, criado pelo ambiente de crise econômica, passou longe dos tatersais. A demanda por reprodutores e matrizes seguiu firme até a virada o mês com, absolutamente, nenhum leilão desmarcado. Foram realizados 139 pregões, que venderam animais de 14 raças bovinas. O movimento financeiro somou R$ 102,8 milhões, o maior dos últimos 10 anos, segundo o Banco de Dados DBO. A média de preços foi de R$ 8.400, valor 47% superior à média de outubro de 2014, para 12.244 lotes de machos, fêmeas e prenhezes. Por sexo, as vendas ficaram assim: 6.870 machos pela média de R$ 8.893, 5.308 fêmeas pela média de R$ 7.461, mais 66 prenhezes a R$ 32.586. O mercado de touros ficou um degrau abaixo do apurado para o mesmo período do ano passado, mês em que o acompamento de DBO apontou 7.084 reprodutores comercializados em leilões. A conta deste ano foi de 6.870. O que cresceu na comparação com outubro de 2014 foi a média de preço dos machos, fechada

138 remates de bovinos de genética para carne Raças Nelore Braford Angus Hereford Brangus Senepol Brahman Caracu Guzerá Montana Tabapuã Devon Charolês Wagyu Total

Lotes 4.684 2.783 2.137 991 713 351 154 137 106 65 41 34 32 16 138

Leilões 46 (5) 31 (20) 42 (19) 24 (19) 17 (15) 5 3 (2) 2 3 (2) 1 1 3 (2) 3 (1) 1 12.244

Renda (R$) 49.834.670 17.643.850 13.806.390 7.249.120 4.832.680 5.658.250 1.003.860 759.820 558.240 359.500 300.000 226.440 249.200 368.160 102.850.180

Média 10.639 6.340 6.461 7.315 6.778 16.120 6.519 5.546 5.266 5.531 7.317 6.660 7.788 23.010 8.400

Máximo 864.000 48.000 36.000 24.800 43.200 20.520 24.000 36.480 864.000

Critério de oferta.(-) Dados das leiloeiras Agenda, Agreste, Anderson Lima, Arroba, AT, Atalaia, Ágape, Camargo Agronegócio, Cambará, Casarão, Central, Clínica Veterinária, Connect, Correa da Costa, Estância Bahia, EDS, Escritório Central, Guarany, JC, Knorr, Leiloboi, Leiloínga, Marka, MB, Nova, Parceria, Programa, Querência, Raízes, Rédea, Remate, Santa Rita, Santa Úrsula, Sul Remates, Tarumã, Tellechea & Bastos, Trajano Silva, Três Martelos e Veterano Remates. (-) Quantidade de remates em que a raça dividiu pista com uma ou mais raças. Elaboração DBO.

114 DBO novembro 2015

em R$ 7.085 no ano passado e, neste, em R$ 8.893. A explicação está na demanda firme em todo o País, sustentada pelo preço da arroba e pela necessidade de se fazer cria, que fez das fêmeas a categoria mais valorizada do mês. A média cresceu quase 100% em relação a 2014 (de R$ 3.880 para R$ 7.461), enquanto a oferta recuou apenas 8% (de 5.802 lotes para 5.308). Estratificação Das 15 praças promotoras de leilões, em seis os números ficaram estáveis. Houve um leve recuo em Goiás, Paraná, Rio Grande do Sul e São Paulo; e alta de preços e oferta em Estados potenciais como Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Pará. Neles, que venderam na casa dos 500 lotes em 2014, as vendas ficaram acima de 700 animais. A maioria do comércio ocorreu em exposições agropecuárias. Em outubro foram realizadas 38 mostras pelo País, com algum tipo de oferta de material genético nos leilões agendados por criadores e sindicatos rurais. O grupo de exposições, segundo o Ministério da Agricultura (Mapa), é bem maior. No entanto, são exposições que funcionam como festas populares e, quando há comércio de animais, ele se dá por vendas diretas. Nas exposições acompanhadas por DBO, foram contabilizados 86 leilões, com oferta de 6.500 lotes por R$ 48,7 milhões. O grupo responde por 62% dos leilões do mês, por 54% da oferta que passou pelas pistas e por 47% do movimento financeiro do mês. Os números fazem parte do levantamento junto às leiloeiras e sindicato rurais, e descarta a venda de gado geral e comércio feito diretamente nas baias, prática corriqueira nesses eventos. Em função do circuito da primavera gaúcha, as exposições no Rio Grande do Sul formaram o maior bloco de remates: 69 eventos, com 5.355 lotes nas pistas e fatura de R$ 35,3 milhões, à média de R$ 6.607. Nas exposições paulistas, goianas e em algumas do Nordeste, a participação dos neloristas garantiu maiores médias de preços. Elas ficaram, respectivamente, em R$ 49.770, R$ 29.156 e R$ 13.152. Diferente de outros meses do ano, em que o Nelore é o carro-chefe da exposições, outubro deu espaço à raças que raramente lideram o pódio e a preços mais módicos. A maior participação ficou a cargo dos selecionadores de Braford, que levaram para as pistas 2.029 animais por R$ 13,5 milhões, à média de R$ 6.678. Os criadores de Angus vieram na sequência, com 1.851 lotes por R$ 11,6 milhões, enquanto os selecionadores de Nelore e Hereford seguiram praticamente empatados, com 910 lotes (por R$ 9,1 milhões) e 901 lotes (por R$ 6,7 milhões). No ano passado, esse ranking havia sido liderado pela Angus e Braford, com a Hereford em terceiro lugar e a Nelore em quarto. n


Jornal de Leilões www.jornaldeleiloes.com.br

direto da pista Em entrevista ao JL, Paulo Horto, da Programa Leilões, avalia o aumento na média de preços de reprodutores e a movimentação no mercado de elite. Na opinião dele, as liquidações de plantéis da raça Nelore são comuns na atividade e impulsionam o surgimento de novos criadores.

balanços e análises Bagé fatura 77% mais Uma das mais antigas feiras da primavera tem receita de R$ 4 milhões em sua 103ª edição

Senepol reforça agenda Com o triplo de oferta, feira de Barretos, no norte paulista, fecha com o dobro de fatura.

Estabilidade na Festa do Boi Venda de bovinos e equinos movimenta praça de Parnamirim, no leste potiguar.

Pelotas arrecada R$ 4,4 milhões A agenda da feira mais robusta do Rio Grande do Sul se encerra com saldo negativo.

Rosário do Sul soma 600 lotes Recorde de oferta sai no 16º Leilão Criadores de Braford, com 371 animais por R$ 1,7 milhão

Mocho puxa receita de Prudente Leilão PrudenMocho contabiliza 61% do total movimentado em exposição do oeste paulista

coluna jl

raio x O Jornal de Leilões acompanhou em outubro os resultados de 230 leilões das raças bovinas de corte e leite e ovinos. A movimentação financeira foi de R$ 164,6 milhões por 16.139 lotes, entre machos, fêmeas, prenhezes, aspirações e coberturas.

resultados Backup 15 anos “Encontrar um reprodutor como o Backup requer muita sorte. Ele tornou viável um grande estouro de venda de sêmen Nelore no Brasil e no mundo, com uma qualidade de produção fantástica”, Pedro Novis, Fazenda Guadalupe.

Reduzindo custos “A eficiência reprodutiva de um rebanho é crucial para a redução dos custos de produção. Outros fatores fundamentais são resistência a doenças e parasitoides e melhor aproveitamento de alimentos”, Gabriel Peixoto, Fazenda Bacuri.

Genética importada “A seleção natural dos animais na Índia chamou a atenção dos criadores brasileiros, que buscam linhagens POI para potencializar características funcionais de seus rebanhos e aumentar a produtividade”, Abelardo Lupion, Nelore Beka.

• Virtual Totonho registra 70,7 arrobas por touros da safra 2013 • Presidente da associação de Angus exibe produção em Dom Pedrito • Genética Aditiva estreia no calendário de primavera com média de R$ 11.000 • Campeão Rústico da Farm Show sai por R$ 22.500 no Wolf & Pitangueira • Araguaína faz a maior oferta de fêmeas Nelore de outubro • Aurora & Sossego emplaca R$ 1,4 milhão na pista de Uruguaiana • Nelorista Darcy Ferrarin celebra 70 anos com trio de remates • Heritage valoriza Campeã da Expointer em quase R$ 50.000 • Carlito Guimarães amplia oferta de reprodutores em 18% novembro 2015

DBO 115


Leilões Conversa Rápida com

Daniel Steinbruch

Um década de amor ao Nelore

E

Depois de três leilões virtuais, resolvemos fazer um presencial.” Daniel Steinbruch, Fazenda da Angélica, Americana, SP.

m tempos de debates sobre qualidade de carne, criadores da japonesa Wagyu têm tentado conquistar espaço no mercado gourmet nacional. No Brasil há apenas 15 anos, o Wagyu vem se consolidando por atrair criadores que apostam na raça como produtora de uma das carnes mais valorizadas do mundo. No mês de outubro, uma oportunidade de adquirir bovinos Wagyu para seleção foi encabeçada pela Fazenda Angélica, de Americana, SP. Foi o 4º Leilão Kobe Premium, realizado na 1ª Exposição Nacional da raça. A média do pregão ficou em R$ 23.010, recorde de preço no País. Quem falou sobre o evento foi o herdeiro do legado, Daniel ­Steinbruch.

Quando começaram a investir em Wagyu?

Iniciamos nossos investimentos em 2006, buscando por maior qualidade de carne. A Fazenda Angélica está nas mãos da família desde 1980, onde já trabalhávamos com as raças Santa Gertrudis e Brahman. Sempre acreditei que os frigoríficos vão pagar mais por produto de melhor qualidade. Se isso não acontecer agora, acontecerá no futuro.

Como surgiu evento?

Já há três anos realizamos o Leilão Kobe Premium de forma virtual. No ano passado fizemos um dia de campo em nossa fazenda e fomos surpreendidos com a presença massiva dos ­pecuaristas. Com isso, resolvemos partir para o leilão presencial. Conversamos com a associação e conseguimos espaço na agenda nacional da raça. Vamos mantê-lo no próximo ano.

Foi a maior média da raça no Brasil. A que se atribui a valorização?

O Wagyu ganhou muita visibilidade nos últimos anos. Antigamente a raça estava na mão de poucos criadores e não era muito conhecida. Agora, a carne está mais disponível ao público. De início, as pessoas achavam estranho por causa do seu alto preço, mas agora quem a prova não troca por nenhuma outra.

Quais as estratégias para “popularizar” a raça?

A nacional e o próprio leilão foram duas formas. Tivemos quatro pecuaristas entrando para a raça no leilão, um deles inclusive era de Goiás, Estado que até então não tinha nenhum criador. Isso foi um ponto importante.

116 DBO novembro 2015

Com a média de 150 shows por ano, o cantor e pecuarista Zezé di Camargo conseguiu espaço na agenda para reunir amigos e criadores no Brook’s Bar, em São Paulo, SP, para o 3º Leilão Nelore É o Amor. Realizado em 27 de setembro, o remate comemorou dez anos de “amor” à raça Nelore com negócios da ordem de R$ 4 milhões. Além de colocar no mercado o melhor da genética de seu rebanho, o cantor aproveitou para reforçar o próprio plantel, adquirindo animais de convidados, em investimentos que totalizaram R$ 564.000. Um deles foi o destaque da noite: Nalisha II FIV MPSI, apresentada por Ivan Zurita e adquirida por R$ 864.000 no condomínio formado por Zezé, Pedro Venâncio e Limírio Costa. A fêmea terá como destino o município de Arapagraz, GO, onde ficam as 12 doadoras em coleta da Fazenda É o Amor.

Bela Vista lidera Repetindo o feito do ano passado, a Estância Bela Vista fez a maior média de Braford do ano, ao vender 38 reprodutores pelo preço médio de R$ 21.020. Os negócios foram selados no 51º remate da Estância, realizado em 13 de outubro, em Santana do Livramento, RS. No comparativo com 2014, a alta nos preços foi de 24% para o mesmo número de animais. Também foram ofertadas fêmeas Braford e touros Hereford.

Montana em cena No pequeno grupo de selecionadores da raça Montana existe um trio gaúcho que não desiste de marcar presença para mostrar o trabalho de seleção desse composto. Assim, na 89ª Expofeira de Pelotas, eles completaram a 17ª edição do Leilão Montana RS, com a venda de 33 reprodutores pela média de R$ 8.712 e 32 fêmeas a R$ 2.250. São eles: Anna Luiza Sampaio, da Estância da Gruta; Adolpho Fétter Júnior, da Granja Santo Antônio, e Luiz Carlos Fétter, da Granja São José.


LEILÕES OFICIAIS NELORE: mais força para a raça e mais valor para o seu negócio.

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Vila dos Pinheiros N eLore eDiÇão 2015

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LEILÃO VILA DOS PINHEIROS L eiLão

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NELORE 07 DE NOVEMBRO - 14H - CANAL RURAL AGROPECUÁRIA VILA DOS PINHEIROS INDAIATUBA/SP

IX LEILÃO VIRTUAL CP CRV LAGOA 05 DE DEZEMBRO - 14H - CANAL DO BOI CENTRO DE PERFORMANCE CRV LAGOA SERTÃOZINHO/SP (16) 2105-2259

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LEILÃO VIRTUAL ELITE CAMARGO 08 DE NOVEMBRO - 14H - CANAL RURAL GRUPO CAMARGO VIRTUAL (65) 3642-6396

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Leilões Nelore IBC

Pista única

Os irmãos Celso, Aluísio e Ricardo Barros Correia (foto à esq.) promoveram o 14º Leilão Nelore IBC durante a Expoagro Alagoas, na capital, Maceió. A seleção, que vai na casa dos 40 anos de história na cidade de Viçosa, zona da mata mineira, rendeu R$ 1,9 milhão em 149 ofertas. Foi o remate mais aguardado entre os cinco eventos da mostra.

Produção de Opus é destaque Adir do Carmo Leonel abriu as negociações da progênie dos touros provados em abate técnico, na manhã de 10 de outubro. A recompensa do trabalho veio em uma cascata de lances, que levaram pouco mais de duas horas para liquidar um time de 51 garrotes à média de R$ 15.078. O destaque de R$ 45.600 saiu para um filho de Opus FIV Brumado, touro que despontou no gancho, com filhos abatidos entre 19 e 20 meses e mais de 20 arrobas.

Trio de gala sul-mato-grossense

Catanduva abre praça

Cícero de Souza, que há 33 anos está à frente da grife Nelore 42, promoveu um trio de remates entre 2 e 4 de outubro, no Terra Nova Eventos, em Campo Grande, MS. O trio liderou a lista de faturamentos de outubro, somando R$ 8 milhões na venda de 108 lotes de bezerras, novilhas e matrizes destinadas ao mercado de elite. O tom festivo foi reforçado pela comemoração do título de melhor criador do ranking regional de Mato Grosso do Sul pela Nelore Brasil.

Tradição gaúcha Guatambu, Alvorada e Caty são três palavras que traduzem grandes seleções gaúchas. Fundadores do programa de melhoramento genético Conexão Delta G, Valter Pötter, José Ivo Zart e Aldroaldo Pötter venderam muito bem touros e um grupo de fêmeas por R$ 2,8 milhões. A soma saiu para 500 animais das raças Hereford e Braford, e, segundo os promotores, refletiu a alta procura do Centro-Oeste por linhagens britânicas. Cerca de 80% das fêmeas negociadas não para criadores da região. 118 DBO novembro 2015

Com oferta exclusiva de zebuínos, o Leilão Terra do Sol foi o único representante do comércio bovino da Festa do Boi, em Parnamirim, RN. O remate foi promovido por um grupo de cinco criatórios regionais e movimentou R$ 364.560 com a venda de 30 lotes Nelore e Guzerá.

Visando abrir uma nova praça para a venda de seus animais, Fábio Gomes, da Cabanha Catanduva, transferiu seu tradicional remate de primavera de Esteio para Glorinha, RS. As vendas ocorreram no dia 11 de outubro, no recinto da Santa Úrsula Remates, e movimentaram quase R$ 1 milhão na batida do martelo.



Gestão Fotos: Ariosto Mesquita

Índices gratificantes Pecuaristas atendidos por consultoria do Paraná conseguem lucro líquido de R$ 900 por ha/ano e peso médio de 267 kg ao desmame Ariosto Mesquita

L

Esses números mostram que a pecuária do futuro chegou” Antônio Chaker zootecnista e consultor da Terra

de Campo Grande, MS.

ucro líquido de R$ 900 por hectare/ano, margem sobre a venda de 83% e peso médio de 267 kg ao desmame de bezerros Nelore. Impensáveis há alguns anos, estes índices são hoje realidade na pecuária de corte brasileira, mesmo que poucos os consigam. Foram obtidos este ano por algumas das 152 fazendas que integram o grupo atendido pela Terra Desenvolvimento Agropecuário, empresa de consultoria sediada em Maringá, PR, que anualmente reúne os seus clientes para apresentação dos resultados. “Estes e outros números mostram que a pecuária do futuro chegou”, afirmou o zootecnista e consultor Antônio Chaker Neto para 172 pessoas reunidas no auditório da Federação da Agricultura de Mato Grosso do Sul (Famasul), em Campo Grande, MS, e outras 72 que participaram, via internet, do evento que fez a exposição e avaliação geral dos indicadores obtidos. No entanto, fez uma observação: “Não quer dizer que as fazendas que conquistaram estes índices tiveram maior lucro e que vão mantê-los nos próximos ciclos. São números extremos e que nem sempre indicam aqueles mais rentáveis”. Para facilitar a compreensão, os resultados foram exibidos dentro de três grupos distintos: média obtida Evolução em um ano1 Média clientes (2)

Média clientes top rentáveis (3)

Lotação global (ua/ha)

1,2 (+ 12,9%)

1,3 ( + 6,5%)

Lotação a pasto (ua/ha)

1,1 (+ 11,7%)

1,3 ( + 20,9%)

Ganho de peso médio diário global/cabeça/kg

0,430 (+12%)

0,494 (+ 25,2%)

Produção a pasto (@/ha)

7,2 (+ 9,5%)

9,6 (+ 39%)

100,32 (- 2,1%)

82,67 (+ 6,3%)

180,82 (+ R$ 100,80)

560,13 (+ R$ 165,53)

Desembolso por @ produzida (R$) Resultado operacional da pecuária (R$/ha)

(1) Ciclos 2013/14 e 2014/15 entre as fazendas atendidas pela Terra Desenvolvimento Agropecuário; (2) Evolução média dos indicadores de todos os clientes da Terra; (3) Evolução média dos 30% mais rentáveis (R$/ha) clientes

120 DBO novembro 2015

Reunião de resultados: Terra Desenvolvimento Agropecuário promove evento anual com clientes.

por todos os pecuaristas; média dos 30% melhores pecuaristas em cada indicador avaliado e média dos 30% melhores pecuaristas em rentabilidade, chamados de “top rentáveis”. Foram analisados 72 indicadores relacionados a reprodução, produção, mortalidade, equipe, confinamento, financeiro, perfil de desembolso, clima e agricultura (para aqueles que trabalham com integração lavoura-pecuária). Um exemplo de que em boa parte dos casos a obtenção de um melhor índice nem sempre se relaciona à rentabilidade é o indicador de produção global de arroba por hectare. A média daqueles que obtiveram os melhores índices fechou em 18,5 @/ha. Enquanto isso, a média dos 30% que mais ganharam dinheiro ficou em 11,2 @/ha. “Fica claro que é mais rentável ser bom em tudo do que ser o melhor em apenas uma coisa”, observa o consultor. Chaker dedicou boa parte de sua avaliação ao tópico financeiro. Neste aspecto, os números evoluíram consideravelmente. O percentual daquelas fazendas que fecharam o ano em prejuízo, que era de 57% no ciclo 2012/2013, despencou para 23% na safra 2014/2015. Resultados superiores Mas isso não quer dizer que a rentabilidade esteja nas alturas. “Cerca de 60% dos pecuaristas ganham menos de R$ 200/ha/ano. Destes 60%, mais da metade fica com menos de R$ 100/ha/ano”, revela o consultor. Na outra ponta estão os mais rentáveis: 23% que faturam na casa de R$ 400/ha/ano e 17% que embolsam mais do que R$ 400/ha/ano. “Estes fazem coisas diferentes dos demais para alcançar resultados superiores”, observa. Segundo ele, apesar da importância de todos os 72 indicadores, a combinação de maior impacto no resultado da fazenda é a equação que leva em consideração fatores como a lotação, o ganho médio diário, o desembolso cabeça/mês e o valor de venda. “Desses, o valor de venda está menos


ao alcance do pecuarista, mas os demais dependem diretamente de nosso trabalho.” A evolução de desempenho dos pecuaristas foi destacada: “Em 92% das fazendas as quais atendemos os números decisórios estão melhores agora do que em avaliações anteriores”. Já o coordenador de projetos da Terra, Rodrigo Patussi Nascimento, destacou a consistência: “66% das propriedades que lideravam o ranking de faturamento no ciclo 2013/2014 permaneceram no grupo das top rentáveis em 2014/2015”. Das 152 fazendas que tiveram seus desempenhos avaliados, 88% estão no Brasil e 12% no Paraguai. A fatia nacional está distribuída entre os Estados de Mato Grosso do Sul (39%), Mato Grosso (18%), Paraná (14%), Goiás (11%), Rondônia (8%), Pará (7%), Maranhão (1%), São Paulo (1%) e Tocantins (1%). O grupo representa área total de 445.659 ha, um rebanho de 428.000 cabeças e um patrimônio de R$ 5 bilhões. Por força contratual, a Terra Desenvolvimento Agropecuária não pode informar a relação das fazendas, suas localizações e respectivos índices. No entanto, elencamos em uma tabela com alguns dos principais indicadores máximos obtidos, o estado (no caso da sigla PY, se trata do país vizinho, Paraguai) e o município onde a propriedade se encontra. Outro quadro aponta a evolução média das fazendas entre os ciclos 2013/2014 e 2014/2015 em seis dos principais indicadores avaliados. n

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DBO novembro 2015 121


Eventos Agenda

A última etapa do ano do Circuito Expocorte, de um total de cinco, ocorrerá em Ji-Paraná, RO, em 25 e 26 de novembro.

1º Dia de Campo Minerembryo A Minerembryo, empresa de consultoria genética, promove seu primeiro dia de campo no dia 27 de novembro, em Divisa Nova, município próximo de Alfenas (sede da Minerembryo), sudoeste de Minas Gerais. O dia de campo, exclusivo para criadores de gado puro, abordará os números dos 16 anos da Central Minerembryo; desmame de bezerros; números da FIV no Brasil e no mundo; criação de bezerros ao pé das receptoras, e experiência com FIV sob vários aspectos. Contará ainda com visitas à Fazenda Angola (irrigação de mombaça, rotação com setária e receptoras) e à Fazenda Paca (criação de bezerros ao pé da receptora). Informações em diretoria@minerembryo.com.br, ou nos telefones (35) 3291-3760 e (35) 99974-3994.

Até quando a

pecuária será uma ilha de calmaria

em meio a um

27 de novembro, em são paulo MAIS INFORMAÇões em:

www.encontrodeanalistas.com.br patrocínio

realização

122 DBO novembro 2015

Encontro de Analistas da Scot O Encontro de Analistas da Scot Consultoria vai ocorrer em 27 de novembro, em São Paulo, SP, e contará com a participação de Alcides Torres, sócio-diretor da consultoria, além de vários analistas de peso no cenário pecuário nacional, que discutirão temas ligados à pecuária de corte no País e no mundo, e perspectivas. Entre eles, o ex-ministro da Agricultura Alysson Paolinelli, presidente da Abramilho; Bernhard Kiep, da AGCO; Decio Zylbersztajn, coordenador do Pensa/USP; Gustavo Junqueira, presidente da SRB; Victor Nehmi, proprietário da Sparta Fundo de Investimentos; Antônio Camardelli, presidente da Abiec, e Fábio Dias, da Agropecuária Santa Bárbara. No site www.encontrodeanalistas.com.br há informações detalhadas sobre o evento.

Manejo de Pastagem O curso promovido pela Boviplan, sobre formação e manejo de pastagem, ocorrerá entre os dias 8 e 10 de dezembro, em Piracicaba, SP. O tema central é pasto de qualidade: um grande diferencial na produção eficiente. O curso é voltado a produtores e demais interessados na área de produção a pasto e nutrição de bovinos. O número de participantes é limitado a dez pessoas. O curso será dividido em quatro módulos, denominados “Implantação”; “Adubação”, “Manejo” e “Instalações”. Dentro desses módulos serão abordados temas como caminhos para a intensificação da produção, como definir a reforma ou recuperação de pastagens, gramíneas para pastagens, conceitos de manejo, definição das instalações necessárias ao manejo das pastagens e dimensionamento das instalações. Informações e inscrições em release@ boviplan.com.br ou telefone (19) 3447-4770.


DBO NA TV Histórias de vida Assista de segunda a sexta o programa que fala a língua do pecuarista brasileiro.

Foto: JM Matos

Dicas, preço do boi gordo, comentários e cotações de mercado.

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Empresas & Produtos

Contra a diarreia infecciosa

A

UCBVet Saúde Animal desenvolveu o Cursotrat, antimicrobiano indicado para o tratamento de diarreia infecciosa em bovinos. Tratase, segundo o especialista em Produtos para Grandes Animais, Diego Favero, de um eficaz antibiótico contra a doença. Ele explica que Cursotrat foi desenvolvido com nanotecnologia e é composto por prata coloidal. “Ao ser injetada, a substância circula pela corrente sanguínea até alcançar as bactérias no intestino. As partículas nanométricas de prata penetram nos micro-organismos causadores de doenças, anulando sua ação”, explica. O medicamento pode ser utilizado em animais de qualquer idade. A aplicação deve ser feita por via intramuscular ou, preferencialmente, intravenosa. As doses deverão ser utilizadas de acordo com os sinais clínicos ou conforme a prescrição do médico veterinário. No site www.ucbvet.com há mais informações.

Massey Ferguson

A Massey Ferguson, tradicional fabricante de tratores, também dispõe de implementos agrícolas em seu portfólio. Como três modelos de enfardadeiras: o modelo MF 1837, que produz fardos retangulares pequenos e é acoplado atrás do trator; a MF 1745, que produz fardos cilíndricos, ideal para produção de feno e para o recolhimento de biomassa, e a MF 2270, que molda fardos retangulares gigantes. São enfardadeiras que conseguem atender às principais necessidades dos pecuaristas. “É extremamente importante intensificar e profissionalizar a pecuária em razão do aumento no potencial genético dos animais e da dificuldade de contratação de mão de obra”, diz o gerente de Produto AGCO, Samir de Azevedo Fagundes, justificando a utilidade da linha de enfardadeiras da marca. No site www.massey.com.br há mais informações. 124 DBO novembro 2015

Arysta LifeScience

A Arysta LifeScience lançou, em 15 de outubro, em JiParaná, RO, o Programa Top Pecuária, com palestras técnicas voltadas a pecuaristas, técnicos e outros interessados. Segundo o gerente de Produtos e Mercado de Pastagem da Arysta, José Gambassi, o objetivo do programa é fomentar o setor em locais estratégicos, com grande potencial de crescimento: “Estamos reunindo os principais pecuaristas para discutir e

levar tecnologias e soluções de proteção e nutrição em pastagem, visando contribuir de forma efetiva ao incremento de produtividade de carne e leite. Depois de Ji-Paraná, o Top Pecuária passou por Cuiabá, MT. Ainda este ano, vai a Redenção, PA, e Campo Grande, MS. Segundo Gambassi, a ideia é que esta ação da Arysta passe por mais cidades em 2016. Mais informações, em www.arystalifescience.com.br.

Minerthal e Zoetis A Minerthal acaba de lançar, em parceria com a Zoetis, uma linha de suplementos minerais para animais em reprodução, a Minertec. Com a molécula exclusiva da Zoetis, a Taurotec, e o único ionóforo bivalente do mercado, a linha dispõe de cinco suplementos: Minertec, Minertec Ureia, Minertec Protéico Águas, Minertec Protéico Seca e o Minertec Energético. São produtos que fornecem nutrientes complementares para que os animais expressem seu potencial produtivo total em qualquer época do ano e para todas as categorias (novilhas, primíparas e multíparas). “Eles buscam reduzir o período de serviço dos animais, maximizando os nascimentos de bezerros nas melhores épocas do ano”, informa o gerente técnico

da Minerthal, Fernando José Schalch Júnior. “Além disso, permitem desenvolver protocolos nutricionais para reduzir a idade ao primeiro parto e melhorar a condição corporal dos animais em reprodução, aumentando a eficiência dos índices de IATF (Inseminação Artificial em Tempo Fixo), TETF (Transferência de Embriões por Tempo Fixo) e, consequentemente, da estação de monta”, destaca. No site www.minerthal.com.br há mais informações.


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126 DBO novembro 2015


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Indice de Anunciantes ACNB - Leilões Oficiais ....................... 117 ACNB - Nelore Fest ............................... 17 Adubos Araguaia .................................. 70 Agroceres - 70 anos ................2ª Capa e 3 Agroquima - Pasto Limpo ...................... 53 Arysta - Artys + Triclon .......................... 25 ACN Extremo Sul da Bahia .................. 107 Balanças Coimma ................................. 52 Beckhauser ............................................. 9 Belgo Bekaert - Arames .......................... 5 Campo Rações ..................................... 83 Canal Terraviva ..................................... 23 Complemento/Multiplo 1000 .................. 29 Cort Genética ...................................... 103 CRI Genética ......................................... 87 Dow AgroSciences - Pastagem ......12 e 13 Duro PVC............................................ 111 Estância Canta Galo ........................... 102 Fazenda Santa Juliana .......................... 43

128 DBO novembro 2015

Fazenda Santa Maria ............................ 78 Gasparim Nutrição Animal .................... 88 Guabi .................................................. 121 Hertape - Fiproline ................................ 95 Hertape - Roborante Angus .................. 89 Hertape - Vacinas clostridiais .................. 7 Informe Canchim ................................. 105 JBS ....................................................... 27 Kalunga Nelore ................................... 104 Laboratorio Zooflora.............................. 11 Leilão do Adir - agradecimento ............. 41 Leilao Jacarezinho ................................ 39 Leilão Verdana Genética Mais ............... 97 Mega Leilão Acrinorte ......................... 101 Merial - Zactran ..................................... 23 Multitécnica ........................................... 10 Nelore JOP ............................................ 79 Nutroeste .............................................. 85 Panucci Pre - Moldados ........................ 36 Pastobras - ILPF .................................... 57

Produbon - Integral ............................... 45 Romancini ........................................... 115 Scot ..................................................... 122 Sementes ACampo ............................... 68 Sementes Agrosol ................................. 71 Sementes Paso Ita ................................ 55 Sementes Rancharia ............................. 73 Sementes Selegram ............................ 106 Senepol Olho D’Água ............................ 77 Soesp - Sementes Oeste Paulista ......... 59 Stoller .................................................... 69 Taura Brasil - arames.................... 4ª Capa Touro Gladiador .................................... 91 Touros Senepol ..................................... 75 Tru-Test ................................................. 80 União Quínmica - Agener - Dorax ......... 37 Unipasto ................................................ 61 Wolf Sementes ...................................... 67 Zoetis - Cydectin ............................30 e 31 Zoetis - Taurotec ................................... 81


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DBO

novembro 2015

129


Sabor da Carne

Sylvio Lazzarini

Carnes nobres, cada vez mais acessíveis. Melhora da produtividade do rebanho possibilitará um aumento, embora não tão amplo, do consumo desses cortes.

H

ouve tempo em que os gaúchos matavam reses, tiravam o couro e deixavam as carcaças largadas nos pastos nativos. A abundância era tanta que os tropeiros sacrificavam uma ou outra novilha durante suas viagens para alimentar a comitiva que levava gado do sertão para os abatedouros. O baixo custo para se criar gado no Brasil sempre propiciou às camadas de baixa renda da população a oportunidade de se reunir em torno de uma grelha para comer carne. Isso fez com que o churrasco ganhasse o “status” da unanimidade, tornando-se uma verdadeira paixão nacional e talvez a maior expressão da comida “made in Brazil”. Há algum tempo, bastava pegar uma estrada, em qualquer fim de semana, para constatar a quantidade enorme de chaminés das casas de praia e de campo que exalavam aquele cheirinho peculiar e gostoso de carne sendo assada. E mais: em quase todas as plantas de lançamento de apartamentos de classe média alta para cima, ainda se oferece o “espaço gourmet”, onde está a indispensável e bem montada churrasqueira. Entretanto, diversos fatores vêm indicando que este maravilhoso hábito de bem-estar e convivência vem diminuindo acentuadamente nos últimos meses,

arquivo varanda grill

Sylvio Lazzarini Neto é diretor-geral da Intermezzo Gourmet S.A. (www. intermezzogourmet. com.br), distribuidora de carnes de qualidade, e sócio-proprietário do restaurante Varanda Grill, situado no bairro do Jardim Paulista, zona sul de São Paulo.

Aumento da produtividade do rebanho pode estimular a oferta de cortes nobres, como o Bife Ancho

130 DBO novembro 2015

ou mais especialmente de um ano para cá. Em parte, porque os preços das carnes nobres ou especiais foram para as alturas, reduzindo o seu consumo. Em pouco mais de dois anos, a arroba do boi gordo, medida pelo índicador Esalq, subiu nada menos que 47% em termos nominais, ou seja, de R$ 100,40, em julho de 2013, para R$ 147,73 em outubro deste ano. Carnes ditas nobres, em alguns casos, até superaram este aumento. Vários são os motivos que explicam esta espetacular recuperação de preços. O principal, no meu particular entendimento, é que a pecuária bovina de corte no Brasil vem passando por uma fase de mudança estrutural e que veio para ficar. Esta mudança está relacionada às novas formas de executar as fases de cria, recria e engorda. Recriador em extinção Uma boa notícia é que está praticamente extinta a figura do “recriador”, aquele pecuarista que comprava bezerros e recriava para vender garrotes. Hoje, quem executa esta fase é o criador, de um lado, e o próprio “invernista” (finalizador) de outro lado. Ao mesmo tempo, vem crescendo extraordinariamente o número de produtores que se especializaram no ciclo completo. Como consequência, vem subindo, progressiva e substancialmente, a produtividade média do rebanho, que pode ser medida pela maior produção de arrobas por hectare. Um avanço espetacular. A questão final é que este aumento da produtividade, combinado com melhoria genética do rebanho e consequente maior oferta, em um futuro bem próximo, ou seja, algo na faixa de 12 a 24 meses, acomodará os preços dos cortes especiais, os chamados sete cortes, a saber: picanha, filé mignon, contrafilé, noix, fraldão, maminha e alcatra. Importante afirmar, dados os ganhos de produtividade, que a eventual redução de preços ocorreria sem prejuízo da rentabilidade global de toda a cadeia produtiva, dando motivos para, inclusive, outros consumidores se tornarem adeptos da alta gastronomia da carne bovina, engrossando, portanto, a massa de consumo. Isto é bom para todos os agentes do mercado, da produção ao consumo final. n




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