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Luz amarela na nova onda do cruzamento
O
s números sobre a evolução das vendas de sêmen de Angus não deixam dúvida em relação ao papel dominante que a raça vem desempenhando no cruzamento com Nelore via inseminação artificial. Só no ano passado, foram aproximadamente 3,7 milhões de doses, que devem ter resultado em cerca de 2 milhões de cruzados nascidos este ano, ante algo como 250 mil cruzados das outras raças taurinas. Mas uma luz amarela foi acesa no Mato Grosso do Sul para a essa nova onda do cruzamento industrial favorecida pelo emprego crescente da IATF. No seu primeiro ano de adesão ao Programa de Carne Certificada Angus, a Associação dos Produtores de Novilho Precoce do MS teve 60% das carcaças de machos cruzados entregues para abate no período das águas desclassificadas por falta de acabamento de gordura. Um índice ainda maior de desclassificação foi registrado na mesma unidade frigorífica de Campo Grande para animais cruzados entregues por outros pecuaristas nos primeiros nove meses do ano, igualmente terminados a pasto. Este é o mote da reportagem de capa, de Fernando Yassu, que aponta como principal razão para os problemas o fato de muitos produtores terem partido para o uso da genética Angus sem adequá-la ao sistema de produção e manejo nutricional da fazenda. Fábio Medeiros, gerente sênior nacional do Programa Carne Certificada Angus, reconhece que esse é um problema normal no início da certificação e tende a ser minimizado a partir de reuniões para melhor orientação dos produtores, como já está fazendo a Associação. Em unidades frigoríficas da Marfrig, que trabalha com a carne Angus há nove anos, os índices de classificação de acabamento de carcaça entre mediano e uniforme chegam a 67% em Bataguassu, MS; 73% em Promissão, SP, e 84% em Mineiros, GO. Questão chave colocada pela reportagem é a escolha do sêmen de touros adequados para cada sistema de produção, como os de tamanho moderado para a terminação a pasto, e com escore até 6 ou 6,5 para projetos que contemplem creep-feeding para os bezerros, seguindo-se confinamento por até 180 dias. Se a lição for bem feita, ganham o produtor, a indústria e o consumidor.
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Demétrio Cos
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demetrio@revistadbo.com.br 4
DBO dezembro 2015
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Publicação mensal da
DBO Editores Associados Ltda. Diretores
Daniel Bilk Costa Demétrio Costa Odemar Costa Redação Diretor Responsável Demétrio Costa Editor Executivo Moacir de Souza José Editora Assistente Maristela Franco Repórteres Carolina Rodrigues, Denis Cardoso, Fernando Yassu e Mônica Costa Colaboradores Alisson Freitas, Ariosto Mesquita, Enrico Ortolani, Lídia Grando, Renato Villela, Roberto Nunes Filho, Rogério Goulart, Sergio De Zen e Tânia Rabello. Arte Editor Edgar Pera Editoração Edson Alves, Célia Rosa e Raquel Serafim Coordenação Gráfica Walter Simões Marketing Gerente: Rosana Minante Comercial Gerente: Paulo Pilibbossian Supervisora de Vendas: Marlene Orlovas Executivos de Contas: Andrea Canal, José Geraldo S. Caetano, Maria Aparecida Oliveira e Vanda Motta Circulação e Assinaturas Gerente: Edna Aguiar Tiragem e circulação auditadas pelo
Impressão e Acabamento Prol Gráfica Ltda.
DBO Editores Associados Ltda. Rua Dona Germaine Burchard, 229 Perdizes, São Paulo, SP 05002-900 Tel.: 11 3879-7099 Para assinar, ligue 0800 11 06 18, de segunda a sexta, horário comercial. Ou acesse www.assinedbo.com.br Para anunciar, ligue 11 3879-7099 ou comercial@midiadbo.com.br
Foto: JM Matos
PECUARISTA & JBS: Nessa conexão tem confiança! Durante 2015 fortalecemos nossa conexão, avançamos na qualidade e mostramos maior controle na produção de carne. Você, pecuarista e amigo, participou desse movimento que distribui a qualidade que vem do campo, trabalhou com dedicação e provou que carne confiável tem nome e tem origem também: a sua fazenda. Temos muito mais a realizar em 2016, seguimos Juntos por um Boi de Sucesso.
2016
#confiançadoinícioaofim
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Sumário Prosa Quente 14 No encontro de alalistas da Scot,
debate sobre o ciclo pecuário.
Mercado 20 Coluna do Cepea – Aumento de
produtividade traz mais lucro
52
Pesquisa revela que produtor continua disposto a investir em nutrição
54
Programa Carne Certificada Angus prega a sincronização de genética e nutrição como caminho para obter carcaças bem acabadas a partir de animais cruzados.
Compactação requer atenção especial na produção de silagem
Raças 56 Raphael de Freitas é praticamente
um ‘sinônimo’ do Canchim
21 Setor pecuário aposta nas
60
exportações em 2016
22
Reposição segue firme, sustentada pela baixa oferta.
23
Coluna do Rogério – Conversa de fim de ano
Cadeia em Pauta 26 Mais quatro associações de
raça entram na PGA, do Mapa.
30
Marcos Molina compra Jacarezinho
Angus branco? Tem e está à venda nos Estados Unidos.
Saúde Animal 66 Negligenciada, tripanossomose
se espalha pelo País.
70
Cadeia produtiva articula a erradicação da aftosa no continente
fornecer créditos de carbono
72
Coluna do Ortolani – Vermes, seleção genética os torna resistentes a vários medicamentos.
Manejo 74 Brinco eletrônico garante erro
34 Estudo da OMS relaciona
consumo de carne a câncer
Especial 36 Portas Abertas: a influência do
quase zero nos registros do plantel
Nutrição 48 Cresce a demanda pela
na produção de Nelore hiper e superprecoce
ciclo pecuário no preço da carne
Foto: Luciana Brochmann (rebanho meio-sangue Angus da Agropecuária Maragogipe, Itaquiraí, MS) Arte final: Edson Alves
Contra o ‘curso negro’ em bezerros, higiene é a solução.
75
32 Projeto do Grupo Roncador vai
‘gordura protegida’
38 Reportagem de capa
Genética 76 Agropecuária Tulipa investe 80
Dia de campo em MG desenha panorama do mercado de receptoras
82
Cronograma de procedimentos em IATF reduz custo com funcionários precoce
Leilões 84 Mercado de genética recua e vende
apenas 5.300 lotes em novembro
Eventos 88 No Circuito ExpoCorte de Ji-Paraná,
frustração com maior diferencial de preço.
91
Gestão de pessoas foi foco de evento da RedeAgro em Nova Lima, MG.
Seções
8 DBO on line 10 Do Leitor
6 DBO dezembro 2015
18 Giro Rápido 88 Genética/notas
62 Raças/notas 92 Empresas e Produtos
98 Sabor da Carne
DBOonline
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Atualize-se diariamente sobre as cotações e as principais notícias das cadeias produtivas da carne, leite e da agricultura no Portal DBO. Para saber mais sobre os assuntos em destaque nesta página, acesse www.portaldbo.com.br/dbo-online
Bastidores da capa
O editor Moacir José fala sobre os dados que transformaram uma matéria que trataria da importação de sêmen Angus na reportagem de capa muito mais ampla sobre a nova fase do cruzamento industrial.
Gente & Negócios
Jorge Espanha, da Merial, é o novo presidente da Associação Brasileira de Marketing Rural & Agronegócio e a partir de janeiro sucederá a Daniel Baptistela para o biênio 2016-17.
Dia a dia do boi gordo
Áudio
No final de novembro, durante o Circuito Expocorte em Ji-Paraná, RO, o gerente de boi a termo da Minerva Foods, Michel Tortelli, falou a Denis Cardoso sobre as oportunidades do mercado internacional para a carne brasileira.
Confira as cotações diárias do boi gordo nas principais praças pecuárias através da análise de Sidnei Maschio, tirada do programa Terraviva DBO na TV.
Vídeos
O confinamento do boi que ‘vale ouro’. Entrevista do repórter Denis Cardoso com o diretor da Marfrig José Pedro Crespo sobre o confinamento de gado Wagyu em Mineiros, GO. O laboratório de qualidade da carne da Embrapa Pecuária Sudeste, de São Carlos, SP, na entrevista da pesquisadora Renata Tieko ao repórter Alisson Freitas. Delta Gen - a importância da seleção genética para garantir a rentabilidade. A repórter Carolina Rodrigues conversa com Rodrigo Bruner, presidente da Conexão Delta Gen que trabalha 42 rebanhos Nelore.
DEZ notícias a um clique
1. Produção de milho no MT deverá mais
que dobrar nos próximos 10 anos, puxada em grande parte pela demanda do grão nos confinamentos e também nas granjas de aves e suínos, prevê estudo do IMEA.
2. Um portal para facilitar a inscrição dos
produtores no Cadastro Ambiental Rural foi lançado pela Abiec em parceria com a Bolsa de Valores do Rio de Janeiro. Prazo para regularização do CAR terminará a 4 de maio.
3. Quatro aplicativos para uso
na pecuária. Veja as principais funcionalidades de cada um deles e custos ou requisitos para sua utilização.
8
DBO dezembro 2015
4. Brasil e Bolívia acertam acordo para exportação de gado comercial para reprodução no país vizinho.
5. Importação de sêmen caiu mais de
10% de janeiro a outubro, em relação ao ano anterior, somando 3,56 milhões de doses. Valorização do dólar é apontada como principal razão.
6. Marfrig anuncia retomada das
negociações com o governo gaúcho para ampliar as atividades do frigorífico de Alegrete, que ganhou maior importância agora por estar apto a exportar para a China.
7. Circuito ExpoCorte mudará de
nome e terá evento em São Paulo em 2016, anuncia Carla Tuccilio, diretora da Verum Eventos.
8. Exportações de carnes e vegetais já
contam com a simplificação da burocracia com a instituição do Canal Azul pelo MAPA.
9. Brasil recupera todos os mercados para a carne termoprocessada com o fim do embargo japonês, decretado em 2012.
10. Arábia Saudita reabre mercado para a carne in natura do Brasil. Potencial de vendas é de 50 mil toneladas/ano.
Do leitor Polioencefalomalácea Acompanho os artigos de Enrico Ortolani em DBO e gostaria que ele me auxiliasse na seguinte questão: recentemente, perdemos três bezerros e conseguimos salvar outros três. Os veterinários diagnosticaram o problema como polioencefalomalácea e recomendaram tratamento com dexametasona e vitamina B1, o que deu certo. A dúvida é que a doença acometeu os animais recémchegados à fazenda, todos com 10 a 12 meses, e magros. Disseramme que, justamente por estarem magros, ao mudar a condição alimentar é que a doença surgiu. Lucas Teixeira Tupã, SP
O colunista Enrico Ortolani responde:
Muitas são as causas dessa doença, a poliencefalomalácea, em bovinos. Dentre as mais conhecidas estão a intoxicação por enxofre, o uso prolongado de alguns medicamentos, a intoxicação por água/sal, a acidose láctica ruminal e a ingestão prolongada de samambaiadas-taperas. Existem, porém, algumas causas ainda não bem compreendidas, que ocorrem em desmamados (o termo bezerro só é dado para animais jovens que estão em lactação), geralmente magros e mal alimentados. Pelo que li da história, creio que poderia ser intoxicação por sal/água, pois aconteceu logo em seguida à chegada dos animais. Neste caso, bovinos que ficaram muito tempo sem comer suplemento mineral (com sal comum) na propriedade de origem ou muito tempo sem beber água na viagem, na chegada, ingerem muito o suplemento, o que os estimula a beber muita água, provocando o quadro. Neste caso, o sal em exagero leva a uma entrada muita grande de água no cérebro. O ideal, na prevenção, é a avaliação do manejo nutricional na propriedade que vendeu o gado. Pergunte se ali os animais
10 DBO dezembro 2015
recebem frequentemente suplemento mineral (e, se possível, dê uma verificada se no cocho existe o suplemento). Caso não recebam, não ofereça o suplemento contendo sal comum à vontade, fornecendo-o aos poucos, pois animais carentes de sal comem demais nos primeiros dois dias. Não deixe os animais passarem muita sede durante a viagem e, logo que desembarcarem, sempre dê água antes e, o suplemento mineral, algumas horas após.
Sabor da Carne No artigo Sabor da Carne, edição nº 421, DBO de novembro, Sylvio Lazzarini Neto afirma: “Uma boa notícia é que está praticamente extinta a figura do recriador”. Boa notícia para quem? Por quê? Que mal o recriador pratica? Contra quem? Ainda: “Comprava bezerros e recriava para vender garrotes” – verbo no pretérito. Sou recriador há aproximadamente quatro décadas. Sempre tive o privilégio de escolher os compradores, dada a demanda firme por boi magro o ano inteiro. Criador e invernista fazendo recria ainda não extinguiram a profissão (não a “figura”, como ele escreve) do recriador. Se é que ela será extinta.
Abílio César Calixto Monte Carmelo, MG
O autor do artigo, Sylvio Lazzarini, responde:
Em um contexto bem amplo, nas regiões de terras valorizadas, onde se deve maximizar a relação renda versus hectare, não tenha dúvida de que “extinta a figura do recriador” não é uma metáfora. Nessas regiões, o produtor deve pensar em maximizar resultados, de forma a compensar o retorno sobre o seu patrimônio. Se este não for o caso do leitor, por certo, sua atividade poderá continuar viável economicamente.
Coluna do professor Ortolani Confesso que desconhecia a coluna do professor Enrico Ortolani em DBO. Logo que soube, fui atrás, e li algumas matérias, como “O peso na idade da vaca”; “O triste circo de horrores”; “O que é o príon da vaca louca”, etc. Fiquei muito contente com a competência com que ele escreve, de modo que reforça nosso aprendizado, além do amplo conhecimento que possui em veterinária, passando por nutrição de ruminantes, reprodução, melhoramento genético, anatomia patológica, zoonoses, doenças infecciosas, virologia e alimentação animal. Sem contar a facilidade de juntar esses temas e passar tanto para nós, estudantes de medicina veterinária, que possuímos algum conhecimento técnico, assim como para quem não os tem.
Renan Braga Paiano
Universidade Estadual de Londrina
Diarreia em bezerros Tenho uma criação de gado de corte e estou com problemas com os bezerros com idade aproximada de 30 dias. Eles têm diarreia com sangue. Se os bezerros não forem medicados no primeiro ou segundo dia, morrem. Qual será a causa? Tem como prevenir? Huneri Luiz Piovesan Laranjeiras do Sul, PR
Enrico Ortolani responde:
As diarreias sanguinolentas são mais comuns em bezerros de corte com mais de quatro meses de idade, mas podem acometer animais mais jovens a partir de três semanas. Três doenças são os principais responsáveis pelo problema: a coccidiose, a salmonelose e clostridiose (C. perfringens). Todas são indicativas de algum erro no manejo. A mais comum é a concentração exagerada de bezerros numa área, em especial se esta for muito úmida (lembre-
se que na sua região choveu este ano no período das secas acima do esperado); a mistura nesta condição de bezerros velhos (mais de dois meses) com mais jovens; a contaminação de bebedouros e cochos (creep-feeding) com fezes contaminadas dos bezerros e a baixa ingestão de colostro pelos bezerros. O tratamento empregado pode atuar de alguma forma sobre a salmonelose e clostridiose, mas não na coccidiose. Peça para seu veterinário realizar exame de fezes dos bezerros acometidos para ver se encontra oocistos de Eimeria, para avaliar a presença de coccidiose. Se for comprovada essa causa, sugiro empregar monensina no sal proteinado para bezerros, de acordo com orientação do seu veterinário. Caso tenha algum problema de manejo acima citado, modifique-o para diminuir o risco do surgimento das doenças mencionadas.
Correções
• Cometemos um equívoco na legenda da foto da pág. 50 da reportagem de capa da edição de novembro, sobre o plantio de áreas de tifton do Grupo Valim em fazendas de Goiás e Mato Grosso. Ainda que contenham dados de custo, o termo correto das planilhas utilizadas é “planilha de lotação de pastos” e não de custos, como saiu publicado. O diretorgeral da Agropecuária Valim, Luís Augusto Valim, também pede que se registre o nome dos demais integrantes da diretoria, que não constaram da reportagem: Maristela Rosa Valim Noronha (sua irmã), responsável pela área financeira do grupo, e Guilherme Carvalho Noronha, marido dela e responsável pela comercialização dos produtos do grupo.
• Já na reportagem intitulada “Embrião de produtividade”, publicada na pág. 42, da mesma edição, a proporção correta no uso de sal proteinado é 0,2% a 0,3% do peso vivo dos animais, e não 2% a 3%, como saiu publicado. O mesmo erro foi cometido quando fizemos referência ao uso de suplemento proteico energético: 0,4% a 0,6% do peso vivo, e não 4% a 6%, como foi publicado. • Finalmente, na reportagem “Fertilidade em primeiro lugar”, publicada na pág. 88 de DBO de outubro/2015, é citado que o touro Cacique FVC pertence à Fazenda Vera Cruz, de Goianésia, GO. Na verdade, ele é de propriedade da Fazenda Vera Cruz, de Nova Xavantina, MT, de propriedade de Jairo Machado.
DBO novembro 2015 11
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Prosa Quente
Pecuária em mar revolto? fotos: eduardo torres/belamagrela
Encontro de Analistas, realizado dia 28 de novembro, em São Paulo, debate até que ponto a pecuária se manterá “firme” em meio à crise que castiga o País. ele. Da mesma forma que no painel 1 (formado por Alysson Paolinelli, ex-ministro da Agricultura e atual presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Milho; Bernardo Kiep, produtor rural e diretor da Massey Fergusson; Décio Zylbersztejn, professor da FEA/USP, Gustavo Junqueira, presidente da Sociedade Rural Brasileira; Eduardo Riedel, secretário estadual da Produção do MS, e Victor Nehme, diretor do fundo de investimentos Sparta), após a apresentação de indicadores, abriu-se o debate às perguntas do público. Público - Qual é o momento ideal para se entrar na atividade? Alex Lopes - Não existe um melhor momento para isso.
O
Encontro de Analistas fecha tradicionalmente o ano com discussões e projeções futuras sobre o mercado do boi, mas, em 2015, foi tragado pela conjuntura instável do País. No primeiro painel, avaliou-se os reflexos da crise atual sobre a atividade, que ainda se mantém relativamente imune ao “mar revolto” da recessão. O prognóstico foi de que o agronegócio ainda tem “arsenal” suficiente para proteger-se dos sobressaltos da economia. Já o segundo painel, que apresentamos resumidamente nesta edição do Prosa Quente, focalizou o negócio pecuário em si. Participaram desse bloco Luiz Cláudio Paranhos, presidente da ABCZ; Antônio Camardelli, presidente da Abiec; Alex Lopes e Hyberville Neto, da Scot; Leandro Bovo, do Haitong Bank; Fábio Dias, membro convidado da rede global de consultores GLG Grup; Sérgio De Zen, do Cepea/Esalq, e Alcides Torres, diretor da Scot (como mediador). Gustavo Aguiar, da Scot, abriu o painel apresentando um breve estudo sobre o ciclo pecuário. Segundo ele, nas últimas duas décadas, tanto o bezerro quanto o boi gordo tiveram ganho real, vencendo a inflação. Ocorreram, no período, três ciclos pecuários, com picos de baixa e de alta. “Estamos no terceiro ciclo e, após três anos de alta consecutiva, a pergunta é: ele vai cair?”, inquiriu Aguiar ao participantes do painel. Na opinião de Alcides Torres, o boi continua valorizado em 2016, apesar do cenário econômico do País e da queda no consumo interno. Hyberville Neto concordou: “A retenção de matrizes, iniciada em 2014 e aprofundada em 2015, deve fazer efeito apenas em 2017. A oferta de bois continuará apertada e a arroba deverá ser reajustada acima da inflação”. Sergio De Zen, do Cepea, prefere a cautela. “Não é possível traçar um cenário de alta. A queda de preço do boi gordo pode até ocorrer antes do que se imagina”, disse
14 DBO dezembro 2015
Como toda atividade econômica, a pecuária vive de ciclos. Na atual conjuntura, que é de alta, o risco é formar um estoque caro, comprando bezerro e boi magro valorizados, e, quando o gado ficar pronto para a abate, a partir de 2017, pegar o mercado em baixa. O produtor precisa ser muito eficiente na recria e na engorda para não amargar prejuízo. Fábio Dias - Eu acho que a cria precisa ser considerada como opção de investimento. Faz tempo que não se investe em cria. A relação de troca é favorável para quem faz cria e parece que isso não vai mudar tão cedo. Hoje, o ágio da arroba do bezerro sobre a do boi gordo passa de 40%. Todo mundo pensa apenas na ponta da engorda, mas acho que, quem está querendo em entrar na pecuária de corte, deve considerar a cria, especialmente em pequenas e médias propriedades. Luiz Cláudio Paranhos - Vou colocar uma pitada de otimis-
mo na conversa: qualquer momento é bom para se investir na pecuária de corte, desde que a propriedade tenha propensão para a atividade. Isso significa que o resultado dela depende da capacidade de gestão. Então, digo, investimento em pecuária é sempre bom negócio.
Público - Qual é a perspectiva para a exportação de carne em 2016? Camardelli - O primeiro semestre deste ano foi muito complicado, por conta da crise internacional, que é diferente da de 2008. Há sete anos, ela se concentrou nos países desenvolvidos; dessa vez, atingiu todo mundo, afetando principalmente os grandes exportadores de petróleo, como a Venezuela, a Rússia e os países do Oriente Médio. No caso da Rússia, que enfrenta uma crise política e sanções econômica por conta da Crimeia e Ucrânia, um dólar passou a valer 70 rublos e o petróleo caiu para menos
O maior problema hoje é a falta de previsibilidade” de US$ 40 o barril. Os frigoríficos brasileiros se adaptaram e estão conseguindo embarcar uma média de 10.000 a 15.000 t/mês, ainda longe dos tempos áureos, quando chegamos a embarcar 44.000 t. Felizmente, há cinco meses caiu a China no nosso colo. É um mercado de 240.000 t de carne e US$ 1,2 bilhão. Outra boa notícia é que Hong Kong voltou a importar bem e Macau está comprando carne nobre. Temos esperança de que eles assinem um protocolo para importar carne com osso e miúdos. Quanto aos Estados Unidos, eles precisam abrir seu mercado. Eles estão pagando muito caro para ter a carne da Austrália e Nova Zelândia. É um mercado grande, mas de matéria prima. Vamos atendê-lo com um tipo de boi inteiro que infelizmente é a maioria que chega para abate no Brasil. No passado, a gente desmontava o boi e saía atrás do mercado. Hoje, a gente vende a carne e vai atrás do tipo certo de boi. A cota para os EUA é de 59.000 t, mas temos condições de competividade também no extra cota, que tem alta taxação. Além dos EUA, devemos abrir os mercados dos países da América Central, que não têm um protocolo sanitário definido e seguem a lista norte-americana. Público - O cenário para a exportação de soja e milho é excelente, mas isso puxa o preço dos grãos para cima. Vale a pena confinar nessa condição ou deixar o boi no pasto, correndo o risco de pegar o mercado em baixa em 2017? Leandro Bovo - Não tenho a menor dúvida de que a atividade de confinamento em 2016 será desafiadora. Em junho deste ano, por exemplo, uma arroba valia 5,93 sacas de milho. Na média de 2015, essa relação ficou em 5,15, ante a média de 4,1 sacas/@ registrada desde 2010. Hoje, está em 4,45 sc/@, mas, analisando o mercado futuro do milho, para setembro de 2016, e o do boi, para outubro, a relação está em 4,56, ou seja, difícil. Não vou falar em reposição, que está em patamar recorde. Quanto aos custos, não tem para onde correr. Dependemos de quê para manter a arroba acima da inflação? Das exportações, porque, do mercado interno, não dá para esperar nada. Quanto a deixar para abater a boiada em 2017, acho que não dá para voltar atrás no uso de tecnologia para escapar da alta de custos do confinamento. Vamos fazer o giro e terminar a boiada neste ano para não correr o risco de baixa em 2017. Sergio De Zen - O maior problema para mim é a falta de previsibilidade no País. Não está no cálculo da lucratividade. O Brasil de hoje é diferente do Brasil de um ano atrás, que era moderadamente previsível, e muito diferente do Brasil de cinco anos atrás, que era totalmente previsível. Agora temos câmbio volátil, consumo volátil e juro volátil. Alex Lopes - Exatamente pela dificuldade de se fazer pre-
visões para 2017, acho que, quem tem bois em recria,
deve terminá-los em 2016 em confinamento, mesmo com os custos altos, escapando da possível virada de ciclo no próximo ano, que já é quase uma certeza. Se tiver uma recessão em 2017, a oferta de animais será maior do que a demanda, devido à queda no consumo, e o preço da arroba pode baixar. Agora, quem vai comprar gado de reposição tem de fazer muita conta, especialmente se o boi magro também estiver muito valorizado. Hyverville Neto - Vou sugerir uma saída para quem já tem animais de reposição: trabalhar travado. Se conseguir vender o boi gordo a futuro ou travar a diária de engorda em boitéis e já tiver o gado no pasto ou garantido o preço da reposição, pode, assegurada a rentabilidade, terminar o gado em confinamento a qualquer momento, fugindo da eventual virada de ciclo em 2017. Em 2015, fizemos projeção para a rentabilidade em confinamento e o pico foi registrado em abril, o que gerou uma expectativa positiva que, depois, perdeu força. Então, eu aconselho o pecuarista a ficar atento ao mercado futuro. Teve produtor que travou o boi em 2015 a R$ 157, em abril. Isso pode voltar a ocorrer em 2016. Sergio de Zen - Quando se olha a pecuária como investimento para 10 anos, analisando indicadores que, na média, melhoraram muito, o efeito do ciclo tende a ser minimizado. O ciclo pressupõe falta de profissionalismo. Se o cara é profissional, vai estar preparado para a maré boa e para a maré ruim do mercado. O ciclo vai existir porque ainda vai ter uma grande massa que produz pouco por área e ganha muito por arroba, mas esse pecuarista, com o tempo, vai sair do mercado. O ciclo tende a desaparecer. Feitas essas considerações, vou falar sobre 2016. Tem componentes que estão sendo ignorados. Por exemplo, as secas de 2013 e 2014. Elas afetaram o peso dos bois de 2014 e a oferta de bezerros e bois magros em 2015. A safra 2016 registra a volta à normalidade dos índices zootécnicos. E muita gente que deixou outras atividades, como a cana, voltou a investir na pecuária de corte. Portanto, pode ocorrer maior oferta de animais num cenário de mercado interno (que consome quase 80% da carne bovina) bastante retraído. Se o câmbio ajudar, podemos contar com o mercado externo e aí a arroba se equilibra. Mas o ciclo pode virar antes de 2017.
Leandro Bovo, do Haitong Bank
Camardelli, presidente da Abiec
Hyberville Neto, da Scot
Fábio Dias - Confinar ou não é uma decisão micro. Se o
confinamento estiver dando dinheiro, o pecuarista vai confinar. Se estiver dando prejuízo, não vai confinar. Mas estamos longe do negativo. O que o Leandro Bovo colocou é que a atividade está menos atrativa. Neste ano, houve aumento do peso da carcaça. Com o milho mais barato, o pessoal deixou o gado mais tempo no confinamento para colocar a 19ª, 20ª, a 21º arroba na carcaça, compensando o custo do bezerro ou do boi magro. É um atalho para driblar a reposição e o alimento caro. DBO dezembro 2015 15
Prosa Quente O melhor investimento do pecuarista é a calculadora” Luiz Cláudio Paranhos - Voltando à China, onde estive recentemente. Aquilo lá é uma loucura. Disseram que podem importar até 5 milhões de t de carne no curto prazo. Isso pode se refletir no mercado e reverter a virada do ciclo em 2017?
Sergio De Zen, do Cepea
Paranhos, presidente da ABCZ
Alex Lopes, da Scot
Camardelli - Há que se levar em conta uma série de variantes. Por exemplo, em 2015, os abates foram 10% menores, mas não houve uma redução significativa do rebanho, um indicativo de que está havendo uma recomposição do plantel de fêmea, com retenção de matrizes. Vai ter demanda? Vai. Tivemos um primeiro semestre ruim, mas depois embarcamos uma média 138.000 t/mês, em setembro e outubro. Tem a Arábia Saudita, com 4.000 t/mês e ainda o Kuait, Barhein, Iraque e Catar, com outras 2.000 t/mês. Nós temos também espaço para a carne gourmet. A Abiec fez um levantamento e descobriu que o Brasil importa 1.100 t de cortes nobres por mês do Uruguai, da Argentina e da Nova Zelândia, o equivalente a 40.000 bois mensais. Tem esse espaço para a carne gourmet em nosso próprio mercado. Alcides Torres - Diante da turbulência econômica e política no Brasil e no exterior, qual é o cenário para a pecuária de corte em 2016? Paranhos - É tudo que estamos discutindo aqui. Eu prefiro
do boi não retornará aos 10% a 20%, qual será a relação de troca boi gordo/bezerro em 2016? Hyberville - Estamos num período de pico histórico da quantidade de arrobas necessárias para comprar um bezerro (9 para 1). Normalmente, após o ciclo de alta, há um ajuste na relação de troca, pela subida do boi ou pela queda do bezerro, em função da oferta e demanda. Se o boi desvalorizar, o invernista não vai pagar mais pelo bezerro. Neste ano, ocorreu isso. Quando a arroba do boi perdeu força, a do bezerro também, apesar da oferta curta. Não foi o bezerro que subiu, houve foi falta de disposição do invernista em investir. Fábio Dias - O mercado esfriou, mesmo com a relação boi gordo/bezerro no pico, não porque o boi subiu, mas porque o bezerro não caiu. Se você olhar o gráfico dessa relação, ele está plano, indicando mercado calmo. Sergio De Zen - Quando você analisa essa relação de tro-
ca contemporânea é excelente do ponto de vista técnico. O raciocínio imediato é; “não vou deixar o pasto vazio”.
Público - Quando a pecuária tradicional, que fornece só sal mineral, será inviável?
pensar que vai depender da gestão que cada um tem sobre o seu negócio. Quem tiver gestão boa, passa pela crise. A crise vai separar os homens dos meninos. Os profissionais vão permanecer na atividade e ter lucro. A crise vai ensinar a gente a atravessar a turbulência da melhor forma. O mundo precisa de carne. A China quer nossa carne, a Árábia Saudita também e até os EUA, quem diria, querem nossa carne. Então, sou otimista, embora reconheça que teremos um 2016 difícil. Precisamos de boa gestão para atravessar essa turbulência.
Fábio Dias - Não sei se um dia vai ser totalmente inviável.
Hyberville - O professor De Zen sempre diz que é a mé-
Camardelli - Tudo isso é competição, precisa analisar bem. Entre os associados da Abiec, por exemplo, tem adoradores do mercado de risco. Outros não podem comprometer 100/200 containeres. A história tem mostrado que o mercado externo, independemente da magnitude do exportador, é estável, com exceção do mercado de risco. A Venezuela é um mercado de risco. É brincadeira para gente grande. Na Rússia, a participação dos grandes exportadores se mantêm nos mesmos percentuais. Um importador que compra 100 t/mês não quer comprar do grande que tem várias plantas. Como precisa de padrão, prefere comprar do pequeno. Ele não quer um container de Barra do Garça e outro de Vilhena, por exemplo. Então, tem mercado específico para todos. Temos de olhar para a base. Começamos o ano com 220-230 frigoríficos abatendo. No meio do ano, ficaram 190-192. É a profissionalização que vai determinar que uma empresa tenha ou não sucesso. n
dia que faz o preço. O bezerro remunerou a média da pecuária. Quem ficou acima da média, ganhou dinheiro. Quem ficou abaixo da média, perdeu. Quem produz bezerros e perdeu dinheiro em 2013, 2014 e 2015 tem de descobrir o que está errado em seu sistema de produção e repensar a atividade. O melhor investimento do pecuarista hoje é a calculadora. Fizemos um estudo na Scot sobre quem investiu em IATF. Além do ganho de prenhez, esse criador produziu um bezerro com maior valor agregado e conseguiu, em 20 meses, um retorno de 2 a 3% ao ano, que é maior do que a proporcionada pela renda fixa. Isso mostra que aplicar dinheiro em tecnologia permite otimizar um capital que você já se tem na fazenda (vacas).
Público - Da mesma forma que a arroba não vai voltar ao patamar de US$ 21 e o ágio da arroba de bezerro sobre a
16 DBO dezembro 2015
Sempre acho que a gente vai virar os EUA daqui há alguns anos. O modelo americano é muito semelhante ao b do Brasil, que tende a virar um grande produtor de grão, empurrando a pecuária para as áreas não propícias para agricultura. E nessas áreas vão ficar as vacas. Então, se chegar no limite, não vamos ter nenhum boi no pasto. O bezerro vai entrar em confinamento com 10 meses e ser terminado com menos de dois anos. Quando? Em 30 anos mais ou menos.
Giro Rápido Sul sem aftosa
O Codesul, Conselho de Desenvolvimento e Integração do Sul, que reúne os Estados do Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul, estão elaborando um estudo conjunto para avaliar a condição sanitária da região. O relatório, com base em dados já divulgados pelo Ministério da Agricultura, servirá de base para a elaboração de um projeto regional de erradicação da aftosa, respeitando as peculiaridades de
Décio Coutinho deixa SDA O médico veterinário Décio Coutinho, que assumiu a Secretaria de Defesa Agropecuária, (SDA/Mapa) em fevereiro de 2015, deixou a pasta no dia 2 de novembro, para se aposentar. Foi sucedido, interinamente, por Luís Rangel, diretor do departamento de sanidade vegetal. O Mapa não informou quem será o próximo secretário de Defesa Agropecuária, mas fontes do setor apostam em Odilson Luiz Ribeiro e Silva, que foi adido agrícola em Bruxelas, no período 2010-2014, e hoje dirige o Departamento de Negociações Sanitárias e Fitossanitárias do Mapa.
cada Estado. Segundo Fernando Groff, do grupo técnico do Codesul, o relatório facilita a troca de experiências e torna mais transparente as dificuldades e acertos de cada membro. “Com o mapeamento será possível aprimorar as estratégias de defesa sanitária”, diz ele. Dos quatro Estados, apenas Santa Catarina é reconhecida pela OIE como livre de aftosa sem vacinação; os demais continuam vacinando. Juntos, eles possuem um rebanho estimado em 50 milhões de bovinos.
Liga de produtores A Assocon, Associação Nacional dos Confinadores, e a Acrimat, Associação dos Criadores de Mato Grosso, deram início a uma dificil empreitada: reunir associações de pecuaristas de todo o Brasil para formação de uma rede nacional. As duas entidades já estão conversando com membros da ABCZ, do GTPS e com os presidentes das Comissões de Pecuária de Corte das Federações ligadas à CNA. A medida visa aumentar o peso do Brasil na IBA, sigla em inglês para Aliança Internacional da Carne Bovina.
Campanha quente na ABCZ
A campanha pela presidência da ABCZ, cujas eleições estão previstas para agosto de 2016, esquentou no mês de novembro. Com duas chapas na disputa (algo raro para uma entidade acostumada a consensos), os debates têm se acirrado em torno do PMGZ, Programa de Melhoramento do Gado Zebu. Carlos Viacava, candidato a vice na chapa de oposição, emcabeçada
Carnes na COP 21
A entidade era formada por cinco países: Canadá, México, Estados Unidos, Nova Zelândia e Austrália e aceitou o ingresso do Brasil e do Paraguai, em setembro. De todos os membros, o Brasil é o único que não é representado por uma entidade nacional. “Garantimos nosso espaço na IBA, mas teremos mais força se conseguirmos levar para o debate temas que sejam de interesse de toda a cadeia bovina nacional”, argumenta Marcio Caparroz, diretor institucional da Assocon e responsável pela tentativa de agregar o setor.
por Arnaldo Manuel de Souza Machado Borges (o Arnaldinho), afirmou, em nota, que a atual diretoria estava se empenhando em ressuscitar o PMGZ, que havia ficado “adormecido” nos últimos três anos. Também em nota, Luiz Carlos Paranhos, presidente atual, respondeu dizendo que a afirmação não era verdadeira e que o programa registrou grande evolução nesse período. Em tréplica, Viacava retrucou que ao
invés de “ressuscitar”, como Lázaro, talvez devesse ter usado o termo “despertar de um sono profundo”, como Cinderela. Ou seja, a campanha esquentou e deve seguir acirrada até o próximo ano.
A indústria mundial de carnes bovina, suína e ovina, representada pelo IMS (International Meat Secretariat), que reúne empresas e entidades responsáveis por 75% desses produtos consumidos no planeta, se comprometeu, durante a 21ª Conferência do Clima (COP 21), realizada na primeira quinzena de dezembro, em Paris, a mitigar as emissões de gases de efeito estufa. Fernando Sampaio, que é diretor-executivo da Abiec e vice-presidente do Comitê de Sustentabilidade da IMS, disse que "o Brasil pode colaborar nesse sentido, por meio da produção intensiva e da recuperação de florestas previstas no Código Florestal". Outras entidades do setor produtivo brasileiro, como o Grupo de Trabalho da Pecuária Sustentável (GTPS), Associação Brasileira de Agronegócio (ABAG) e a Sociedade Rural Brasileira (SRB) também participam da COP 21.
18 DBO dezembro 2015
62.764 51,249
Toneladas
2011
2014
2010
17.949
21.354
2013
12.289
22.489
2012
13.289
2009
2008
2007
2006
42.788
Fonte: MDIC / SECEX / ABIEC
26.084
2015*
58.931
* Janeiro - Outubro
A decisão das autoridades norte-americanas de elevar o nível de resíduos de avermectinas na carne industrializada de 10 para 660 ppb (partes por bilhão) já está se refletindo nas exportações. A medida foi anunciada em dezembro de 2014 e as vendas, que já vinham aumentando de maneira modesta, deram uma boa arrancada, passando de 21.354 t, em 2014, para 26.084 t até outubro de 2015, o que permite estimar um aumento de pelo menos 25% ao
encerrar-se o ano. Apoiado na alta do dólar, o faturamento também cresceu, passando de US$ 226,1 milhões para US$ 248,9 milhões no mesmo período, praticamente o mesmo patamar de antes da crise das avermectinas, que levou o governo brasileiro a suspender preventivamente as exportações, entre junho e dezembro de 2014. O impacto, em volume, ainda não se faz sentir. A recuperação tem sido lenta e, somente, agora apresentou sinais de aceleração.
190 170 150 130 110 90 70 50 30 10 - 10
1,050,000 950,000 850,000 750,000
MargemLíquida(COT)/hectare
Apresentação de Sergio de Zen, do Cepea, em evento da CNA em São Paulo, mostra que a margem (receita obtida com as vendas de animais menos os custos operacionais totais) do pecuarista de cria, média Brasil desde 2004, ficou menor nos momentos em que houve aumento no abate de fêmeas. Naqueles em que a margem começa a melhorar, registra-se uma maior retenção de fêmeas. Esse cenário fica ainda mais evidente de janeiro de 2014 em diante. De 2005 ao início
Jan/15
Jul/14
Jul/13
Jan/14
Jul/12
Jan/13
Jan/12
Jul/11
Jul/10
Jan/11
Jul/09
Jan/10
Jan/09
Jul/08
Jul/07
Jan/08
Jul/06
Jan/07
Jan/06
Jul/05
650,000
Número de cabeças
Abate aumenta, criador perde.
Jul/04
O Brasil cumpriu mais uma etapa para liberação das exportações de carne in natura nacional para o mercado norteamericano. Uma missão formada por quatro auditores visitou 11 plantas frigoríficas, entre os dias 11 e 18 de novembro, e, segundo Antônio Camardelli, presidente da Abiec, aprovou os programas de controle da bactéria E. coli e outros processos sanitários adotados no País. Foram auditadas unidades do Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul ( Campo Grande, Navirai e Bataguassu), São Paulo ( Andradina), Goiás e Rio de Janeiro. A expectativa é de que o relatório da missão seja conhecido em até 90 dias.
Infográficos que sintetizam informações importantes da pecuária
Exportações de carne indutrializada para EUA em alta
Jan/05
Missão americana
Infopec
Jan/04
A partir da segunda quinzena de outubro, o Minerva Foods passou a emitir contratos para todos os pecuaristas que fazem a venda no mercado spot, que prevê a entrega imediata dos animais para o frigorífico. “Estamos formalizando 100% do negócio. Esta é mais uma iniciativa para garantir a transparência na relação com o pecuarista”, diz Fabiano Tito Rosa, diretor de compra de gado da companhia. Segundo o executivo, o pecuarista receberá via e-mail informações como número de animais, categoria, preço negociado, data de abate e os dados coletados pelo Serviço de Inspeção Federal (SIF), como classificação de peso, tratamento a frio e graxaria. As vendas spot representam 65% das negociações feitas pelo Minerva, o equivalente a 1,35 milhão de cabeças em 2014.
Em R$
Minerva lança contrato
550,000
Vacasabatidas
de 2007 foi o período mais desfavorável ao criador: chegou a amargar prejuízo, levando muita gente a sair da atividade. Em meados de 2007, a margem começa a esboçar melhora, mas um ganho mais expressivo vai ocorrer apenas a partir do fim de 2013, com a forte redução da oferta de animais, reflexo da seca. Nesse mesmo período, ocorre uma forte redução no abate de fêmeas, ocasionada pela baixa disponibilidade, fruto de um movimento de retenção.
DBO dezembro 2015 19
Coluna do Cepea
Sergio De Zen
Investimento de elevado retorno Aumento de produtividade pode aumentar lucro de pecuarista de MS em 44%
A
diminuição da oferta de animais na pecuária de corte brasileira, resultado principalmente da seca prolongada nos últimos anos, reforça a necessidade de o setor investir de modo a ter ganhos de produtividade. Levantamentos realizados pelo Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, em propriedades de Mato Grosso do Sul mostram que pecuaristas de ciclo completo que investem em infraestrutura, em técnicas que melhoram os índices zootécnicos e em gestão podem obter um crescimento expressivo de 60% no volume produzido em comparação com produtores que se mantêm com a estrutura considerada típica. Mesmo com aumentos nos gastos com insumos, o uso de técnicas aprimoradas de manejo e gestão pode gerar incremento de 44% na margem líquida do pecuarista sul-mato-grossense. Os resultados foram calculados com base em informações técnicas levantadas em 2014, com preços atualizados para 2015, referentes a uma propriedade típica (ou modal) de ciclo completo (cria, recria e engorda) da região de Três Lagoas, em MS. A fazenda típica (situação original) tem 1.000 hectares, sendo 768 hectares de pasto (não adubado), e plantel de 450 matrizes. A alimentação dos animais se dá basicamente por meio de pastagem, havendo suplementação com sal mineral durante o período das águas e sal proteinado nas secas. Ao ano, é produzido, em média, o equivalente a 6,15 arrobas por hec-
Professor da Esalq/ USP e coordenador de pecuária do Cepea (Centro de Estudos e Pesquisas em Economia Aplicada) Participou Rildo Esperancini Moreira e Moreira, da Equipe Pecuária de Corte do Cepea.
Na parte financeira, margens maiores para a intensificada. Margem por hectare/ano R$ 385,54 Margem bruta R$ 326,42
Margem líquida
R$ 230,62
R$ 159,92
Típica
20 DBO dezembro 2015
Intensificada
As vantagens da propriedade intensificada sobre a típica Índices Zootécnicos Taxa de Mortalidade de bezerros
Relação vaca/touro
Típica
Intensificada Diferença
4%
2%
-50%
40
25
-38%
Intervalo entre partos (meses)
14,4
14
-3%
Taxa de natalidade (matrizes)
75%
82,6%
10%
Taxa de desfrute
23,97%
28,2%
18%
34 meses
30 meses
-12%
1,15 UA/ha
1,74 UA/ha
51%
Idade de abate do boi gordo
Taxa de lotação Fonte: Cepea
tare, sendo entregues 159 bois gordos para abate, médias passíveis de serem melhoradas - Tabela 1. Ao se fazer uma simulação em que é intensificado o uso de tecnologias nessa propriedade típica, a produção sobe para 9,58 arrobas por hectare/ano e a venda para abate chega a 254 bois, ou seja, aumentos de quase 60%. Para isso, foram feitos investimentos, por exemplo, em cercas, cochos, implementos, mão de obra, manejo, suplementação mineral dos animais, insumos para pastagens e cana-de-açúcar. Houve elevação de 25% do número de divisões dos pastos. Além disso, 43 ha de pastagem foram substituídos por cana-de-açúcar, no intuito de alimentar as matrizes durante cinco meses do período das secas. Assim, na propriedade intensificada, o plantel aumentou em 42%, totalizando 640 matrizes. Os índices zootécnicos também tiveram melhoras significativas. Esse conjunto de investimentos elevou em 55% os gastos comparativamente à propriedade identificada como típica naquela região. Em contrapartida, a margem líquida por hectare se tornou 44% maior, passando de cerca de R$ 160 para R$ 230 por hectare/ano. Os ganhos do pecuarista sul-mato-grossense poderiam ter sido ainda maiores não fosse o encarecimento de insumos, como adubos e sal mineral, bastante utilizados para intensificação da propriedade analisada. De qualquer forma, esse resultado exemplifica o impacto positivo de um gerenciamento mais aprimorado da fazenda. n
Mercado
Exportação vira esperança para 2016 No Encontro dos Analistas, ninguém pôs ficha no consumo interno. Fernando yassu
C
yassu@revistadbo.com.br
om o ano se encerrando num clima de baixo astral e ninguém esperando qualquer novidade ou milagre no último mês de 2015, os olhos já estão postos em 2016. Em meio à crise política e econômica, houve pouca discordância, no Encontro dos Analistas, promovido pela Scot Consultoria e realizado no dia 28 de novembro em São Paulo, de que teremos mais um ano de preço bom para arroba. Sérgio De Zen, coordenador do Cepea, foi uma das vozes discordantes. Disse que não tem tanta certeza de que o atual ciclo vire só em 2017. Pode chegar antes, em 2016. Seu raciocínio: o preço alto da arroba em 2013, 2014 e 2015 derivou do forte abate de matrizes em 2011, 2012 e 2013 e da seca em 2013 e 2014, combinação que reduziu a oferta de bezerros, bois magros e finalmente bois gordos nos últimos três anos. Em 2016, a oferta de bezerros e bois magros, acredita De Zen, deve aumentar pelas razões opostas que levaram à atual ciclo de alta no mercado – a combinação de retenção de matrizes que pode ter começado em 2014 e se aprofundado em 2015 e o clima favorável que deve-se refletir nos indicadores zootécnicos (taxa de fertilidade e de desmama). O que pode mudar o cenário – tanto para não antecipar a virada do ciclo para 2016 ou para esticar o atual para além de 2017 – é o mercado externo. Em primeiro lugar, o câmbio deu uma extraordinária competitividade para a cadeia da produção de carne e o Brasil tem a arroba do boi em dólar de menor valor no seu mercado de referência para preço, que é o São Paulo, com arroba a menos de US$ 40. O câmbio já se refletiu nas exportações. Após tombo no primeiro semestre de 2015 e que deve impactar no resultado do ano, as exportações voltaram a ganhar força com a valorização do dólar. Em setembro, outubro e novembro, o Brasil embarcou média diária de quase 5 mil toneladas líquidas de carne in natura. No mesmo período do ano anterior, a média ficou em pouco mais de 4,5 mil toneladas. Além da competividade em termos de preço, está caindo no colo do Brasil o mercado chinês, como lembrou, no Encontro dos Analistas, Antônio Jorge Camardelli, presidente da Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne). A China já está importando 20 mil toneladas/mês de carne in natura. Mercado importante não só pelo volume, mas, também, pelo tipo de carne que importa, que são os cortes nobres e de maior valor agregado que o Brasil só conseguia vender para a Europa e para Dubai. “É um mercado para 240 mil tone-
ladas e US$ 1,2 bilhão”, informou Camardelli. Junto com a China, lembrou o presidente da Abiec, o Brasil reabriu o mercado da Arábia Saudita e de cambulhada deve reconquistar Kuait, Iraque, Bahein e Catar. Em relação a Hong Kong, porta de entrada para China e maior importador em 2014, o efeito subsituição foi só no início do ano. Quanto ao mercado russo, que foi maior até 2013 e puxou a queda nas exportações no primeiro semestre deste ano, os frigoríficos mudaram os ingredientes para baratear os produtos e os embarques voltaram a crescer em volume. Para completar, vem a iminente conquista do mercado norte-americano, que, acredita o presidente da Abiec, deve ocorrer no mais tardar até o final do primeiro semestre de 2016. O único entrave é político e se trava no Congresso americano, com a pressão do lobby da carne sobre os deputados federais e senadores. Tecnicamente, a importação está aprovada. Na cota brasileira, 59 mil toneladas de carne in natura, mas, como lembrou o presidente da Abiec, no extra-cota o Brasil consegue ser competitivo mesmo com a taxação. n Indicador bezerro tem nova alta em novembro Especificações Preço à vista/cab/R$ Peso médio/kg Preço à vista/kg/R$ Preço por @/R$
29/1 1.262 200 6,30 189
Datas do levantamento de preço no Mato Grosso do Sul 27/2 30/3 30/4 29/5 30/6 31/7 31/8 30/9 30/10 1.298 1.444 1.399 1.431 1.255 1.222 1.259 1.265 1.297 185 204 193 203 194 188 191 191 195 7,02 7,06 7,25 7,06 6,99 6,49 6,59 6,60 6,85 211 212 217 212 210 195 198 198 199
30/11 1.402 197 7,11 213
Fonte: Cepea/Esalq/USP.
Indicador Boi Gordo fecha novembro estável e não bate recorde de abril Datas de liquidações de contratos negociados na BM&FBovespa Especificações 29/1 27/2 30/3 30/4 29/5 30/6 31/7 31/8 30/9 30/10 30/11 Preço à 143,13 143,74 143,13 149,53 146,71 144,61 140,96 142,19 144,56 148,63 148,65 vista (*) /R$ Fonte: Cepea/BM&FBovespa. (*) Preço médio dos últimos 5 dia úteis do mês. Os valores são usados como referência para a liquidação de contratos negociados a futuro na BM&Bovespa.
Mercado futuro desiste de bois acima de R$ 150 em 2015 Meses de liquidação dos contratos negociados a futuro
Data dos pregões
Jan
Fev
Mar
Abr
Mai
Jun
Jul
Ago
Set
Out
Nov
Dez
30/12/14 142,95 141,52 140,59 139,99 139 29/1/15 - 143,30 142,41 141,41 141,3 - 143,1- - 143,32 27/2 144,7 143,86 143,39 144,95 145,36 148 31/3 - 148,57 148,81 148,97 150,15 152,9 154,87 154,87 157,29 30/4 - 145,56 145,5 145,5 148,2 150,83 152,96 154 29/5 146,3 148,89 151 151,93 152,42 152,86 152,29 30/6 142,4 142,33 144,07 144,93 146,12 146,01 31/7 - 141,62 143,85 144,7 146,1 146,37 31/8 - 144,48 146,92 148,6 147,7 30/9 - 147,74 150 152,6 30/10 - 150,88 152,7 30/11 147,3 Fonte: BM&FBovespa.
DBO dezembro 2015 21
Mercado
Reposição segue firme Pastos melhoram com a chuva, mas compradores resistem em fechar negócios nos preços vigentes Denis cardoso
N
denis@revistadbo.com.br
ão há espaço para reajustes de preços muitos expressivos, mas o mercado de reposição vem sendo capaz de se manter em trajetória de alta, mesmo que contida. “As chuvas mais regulares e em maior volume começam a recuperar os pastos, o que resultou num mercado um pouco mais aquecido”, avalia a engenheira agrônoma Maísa Módolo, analista da Scot Consultoria, de Bebedouro, SP. Essa procura, diz a analista, vem se mostrando mais firme para as categorias próximas à terminação. Segundo análise da Informa Economics FNP, consultoria de São Paulo, “há alguns meses nota-se uma movimentação de retenção de oferta de matrizes para o abate, fator que evidencia um maior interesse pelo mercado de reposição, já que as cotações do bezerro se mantiveram em patamares elevados durante o ano todo”. Na região Sul, informa a consultoria, o mercado de reposição, no início de dezembro, registrava um bom volume de animais negociados. “Os compradores de outros Estados continuam acessando fortemente o mercado sulista e absorvem facilmente a oferta”, avalia o Boletim Pecuário Semana da FNP. No Centro-Oeste, os animais de até 15 meses eram os mais demandados no início deste mês. No Sudeste, as negociações mais intensas envolviam bovinos de 15 a 18 meses, afirma a consultoria. No Norte e Nordeste, o longo período de estiagem continuava travando os negócios. Maisa Módolo lembra que a oferta ajustada à demanda continua sendo o principal fator de sustentação das cotações no mercado de reposição. “No curto prazo, a expectativa é de manutenção de um mercado com preços firmes; não há espaço para altas fortes, mas também não se espera recuos”, pondera. Segundo a analista, há resistência por parte dos compradores para fecharem negócios nos patamares vigentes no mercado de reposição, visto que o valor do boi gordo já não apresenta a mesma firmeza de meses anteriores. Porém, ressalta Maísa, a ex-
pectativa no curto prazo é de que as desvalorizações no mercado do boi gordo não afetem significativamente as cotações dos animais de reposição, justamente porque as ofertas de boi magro, garrote e bezerro continuam escassas na maioria das regiões de pecuária do País. Altas moderadas - Pesquisa mensal realizada pela Scot Consultoria mostra que a variação média de todas as categorias de animais anelorados (machos e fêmeas) de reposição, considerando 14 praças pecuárias do Brasil, subiu 1% em novembro na comparação com outubro. Em São Paulo, o preço médio do bezerro desmamado (6@) fechou novembro a R$ 1.327,50, com valorização de 1,7% sobre o valor de outubro, de acordo com a Scot. Nessa mesma praça, o boi magro (12@) subiu 1,8% no mês passado, para R$ 1.990, em média, enquanto o garrote (9,5@) teve elevação de 1,6%, atingindo R$ 1.740. A novilha (8,5@) alcançou R$ 1.347,50 no período, com valorização de 1%. No Mato Grosso, o bezerro desmamado foi negociado em novembro a R$ 1.155, em média, com alta de 1,3%. O garrote subiu 1,6%, fechando a R$ 1.562,50. O boi magro atingiu o valor médio de R$ 1.762,50, com aumento mensal de 1,7%. A novilha ficou em R$ 1.127,50, com alta de 1,3%. Na praça do Mato Grosso do Sul, o bezerro desmamado subiu 0,6% em novembro, para R$ 1.272,50, em média. O garrote e o boi magro tiveram aumento de 1,7% e 1,6%, respectivamente, fechando a R$ 1.652,50 e R$ 1.865. O valor da novilha teve alta moderada de 0,4%, atingindo R$ 1.277,50. Em Goiás, o bezerro desmamado subiu 2% em novembro, para R$ 1.260, em média. O garrote foi negociado pelo valor médio de R$ 1.702,50, com alta de 0,7% sobre outubro. O preço do boi magro ficou estável, vendido, em média, a R$ 1.910. A novilha subiu quase 1%, para R$ 1.220. Em Tocantins foram observadas a maiores altas para reposição, em termos percentuais, no mês passado. Destaque para a novilha, que subiu 7% no período, para R$ 1.205, em média. O bezerro desmamado registrou aumento de 1%, para R$ 1.257.50. O garrote teve alta de 3%, para R$ 1.647,50, e o boi magro subiu 2%, para R$ 1.807,50. Relação de troca – Em novembro último, eram necessárias 8,86 arrobas de boi gordo para comprar um bezerro desmamado (6@) na praça de São Paulo, com aumento de 13% sobre a relação de troca verificada em novembro de 2014, de 7,83@/bezerro. “A piora (por parte do recriador e invernista) das relações de troca continua”, afirma a analista da Scot. n
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Preço médio do bezerro desmamado (6@) em São Paulo, em novembro; valorização de quase 2% na comparação com outubro.
Valor médio do garrote (9,5@) na praça do Mato Grosso, no mês passado, elevação mensal de 1,6%.
Preço médio do boi magro (12@) em Goiás, em novembro; valor mensal estável na comparação com outubro.
Cotação média da novilha (8,5@) em Tocantins, em novembro; valorização de 7% em relação ao mês anterior
R$ 1.327,50
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22 DBO dezembro 2015
R$ 1.562,50
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R$ 1.910
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R$ 1.205
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Fora da Porteira
Rogério Goulart
Conversa de fim de ano tos, caro leitor. Isso sem falar no milho – a cotação desse grão subiu forte neste ano, muito em função dos embarques externos pelo preço favorecido em dólar. Para o ano que vem os custos de produção deverão ser olhados com bastante carinho exatamente porque uma boa parte deles será afetada pela inflação, que está em alta. O próprio animal também é um desafio. Se você comprou reposição este ano deve estar vendo o valor do seu estoque caminhando preocupantemente para cima. Atualmente boi gordo, garrote e bezerro valem, respectivamente, R$ 2.000, R$ 1.700 e R$ 1.300. São valores que deixam um invernista de orelha em pé. “O que eu faço?”, vem a pergunta. Bom, a resposta para isso é a mesma no caso da cria. O criador também está preocupado e vê o aumento dos colegas deixando vacas nas fazendas para aumentar a produção. O preço de um touro tem que vender um rim para pagar. Será que não haverá uma oferta excessiva de bezerros? Bom, não sei dizer, mas que essa oferta está aumentando, está. O bom criador e o bom invernista, e com isso quero dizer um criador que investe em bezerros de qualidade e um invernista que investe em nutrição e um bom manejo dos pastos, passa ao largo de um problema desses. Primeiro, porque um bom criador produz animais que são desejados. Animais que saem um pouco mais caros na hora da compra, mas que se pagam ao produzir bois mais pesados, mais rápidos no tempo e, dependendo da dieta, mais bem acabados. O invernista consegue, assim, produzindo mais, absorver esse ágio na hora da compra. Fora isso, o gado comercial, o gado sem genética comprovada, os “tucuras”, os “gabirus” e os “choqueados” podem sofrer um pouco já ano que vem com a concorrência. E o sujeito que dá uma ração de primeira linha pensa duas, três vezes antes de colocar esse tipo de animal na fazenda. Então, caro leitor, a mensagem é de otimismo. Uma fazenda produtiva e bem conservada, ligada em nutrição e tratando bem seus animais e seus funcionários não terá problema com os ventos contra atuais e nem os de 2016. As exportações são um brinde se realmente vingarem, como está sendo falado. n
Administrador de empresas, pecuarista e editor do informativo semanal “Carta Pecuária”, de Dourados, MS.
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S
abe aquela visita de fim de ano que a gente faz para os amigos? Senta-se ali na varanda da fazenda e, sem notar, surge um café, que passa a ser vagarosamente degustado. Dali a pouco surge um bolo com uma travessa de pão de queijo quentinho. A prosa flui e a gente vai revendo como passou (rápido) o ano e aproveita a oportunidade para refletir sobre o que a gente fez para chegar até aqui. Daí aparece a inevitável pergunta. “O que faremos daqui para a frente?” É esse o tom da prosa de hoje, caro leitor. Vamos sentar na varanda e conversar. Imagino que o seu ano de 2015 fechou melhor que o de 2014, certo? Bom, se você conseguiu chegar até aqui é porque alguma coisa fez certo. Você sabe tão bem quanto eu que a situação está difícil e, lamentavelmente, muitos não conseguiram chegar com seus negócios agora no fim do ano. A razão é bem simples, na verdade. Nenhuma empresa sobrevive sem vendas, o fluxo de caixa não aguenta. Mas como a conversa é sobre pecuária, dentro da porteira parece que está bom, não é? A prudência nos pergunta: “Até quando?” Aqui coloco minha posição. Não sou pessimista com a pecuária e nem com o futuro do País. Como disse o escritor Hernando de Soto, no livro O Mistério do Capital: “O momento triunfante do capitalismo é o seu momento de crise”. É uma forma distorcidamente inteligente e bem-humorada de encarar a bronca atual com pensamento positivo. Funciona pensar assim? Claro, mas por via das dúvidas é bom não deixar o cavalo com as rédeas soltas em terreno acidentado. Uma das formas de vermos o lado positivo está no próprio preço de venda dos animais. Se pegarmos os preços da arroba do boi gordo de janeiro até novembro de 2014 em São Paulo a média girou ao redor de R$ 124/@. Nesse mesmo período de 2015 os preços fecharam em média ao redor de R$ 145/@, uma boa alta de 17%. É bem provável que você conseguiu captar parte dessa alta. O bezerro também foi bom. Em 2014 teve média de R$ 1.000 por cabeça. Até agora, em novembro, enquanto escrevo essas linhas (penúltima semana do mês), está com média de R$ 1.300 por cabeça. Nada mau. Agora, a gente sabe que boa parte do sucesso do negócio pecuário, além de saber vender bem o seu gado, consiste em sempre deixar a casa arrumada. Com isso quero dizer manter os seus custos de produção em ordem, tentar evitar comprar animais excessivamente caros para não ter um estoque caro, manter a fazenda limpa e possuir uma equipe adequada para as suas necessidades de produção. Só que mesmo assim algumas coisas não estão sob o nosso controle e é aí que a coisa pega. Pegue o dólar, por exemplo, a gente não tem controle sobre ele e o sujeito é uma figura que influencia muito a cotação dos adubos, defensivos agrícolas e medicamen-
DBO dezembro 2015 23
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Cadeia em Pauta
Selos são a garantia de que a associação, o produtor e o frigorífico se enquadraram nas novas regras.
Mais raças na PGA CNA aperta o cerco e quatro associações formalizam a adesão ao protocolo de rastreabilidade Mônica Costa
N
monica@revistadbo.com.br
ão tem mais jeito.Toda associação de criadores de bovinos que trabalhe com programas de qualidade ou queira usar o nome da raça nos cortes produzidos terá de aderir ao Sistema Gestor dos Protocolos de Rastreabilidade (SGPR), coordenado pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e hospedado na Plataforma de Gestão Agropecuária do Ministério da Agricultura (PGA - MAPA). Quem não fizer isso, ficará impedido de estampar o nome da raça em marcas de carne. As novas regras de rotulagem entraram em vigor no dia 28 de agosto deste ano, mas somente a partir de outubro, quando a CNA criou um site (www.canaldoprodutor/frigorificos) para consulta dos protocolos por parte dos fiscais agropecuários que trabalham nos frigoríficos, é que as entidades aceleraram o passo para se adequar à legislação. A Associação Brasileira de Angus foi a primeira a formalizar sua adesão, em maio de 2015. A ACNB, Associação dos Criadores de Nelore do Brasil, sediada em São Paulo, realizou a cerimônia de adesão ao protocolo no dia 12 de novembro, com a presença do presidente da entidade, Pedro Gustavo Britto Novis; do presidente da CNA, João Martins, e de técnicos das duas entidades. “Ti26 DBO dezembro 2015
vemos de adequar nosso protocolo às novas regras para garantir a continuidade do processo de certificação do Programa de Qualidade Nelore Natural, e evitar prejuízos, tanto para o produtor, que ficaria sem o prêmio pela carcaça, quanto para o frigorífico, que poderia perder espaço no mercado consumidor”, explicou Novis. O Nelore Natural é um protocolo de certificação conduzido em parceria exclusiva com o Marfrig, que comercializa cortes bovinos com o selo em seis casas especializadas, no Estado de São Paulo. O conceito de produção não mudou, mas o rótulo da carne não leva o termo “Natural”, pois o Mapa ainda ainda não possui regulamentação que o defina. No dia 9, a Associação Brasileira de Hereford e Braford (ABHB) também formalizou a adesão de seu protocolo à SGPR, em uma cerimônia na sede Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (FARSUL), em Porto Alegre, RS, para a utilização das marcas Carne Certificada Hereford e Carne Braford Certificada, comercializadas pelo Marfrig. Investindo em certificação há um ano, a Associação Brasileira de Criadores de Charolês, de Esteio, RS, também já garantiu o registro de seu protocolo para a Carne Charolês Certificada, abastecida por 13 produtores, que entregam ao Frigorífico Verdi, de Santa Catarina, entre 350 e 400 bois por mês. “A garantia de que só as marcas oficiais estarão no mercado estimula nosso programa de certificação. Nossa meta é certificar de 800 a 1.000 cab/mês”, aponta Eldomar Kommers, coordenador do Programa Carne Charolês Certificada e responsável técnico pelo protocolo. Para isso, a associação já negocia com outros frigoríficos da região sul. Certificação Wagyu A Associação dos Brasileira dos Criadores de Bovinos da Raça Wagyu (ABCBRW) precisou definir os critérios para a certificação de animais da raça afim de se enquadrar ao Sistema Gestor dos Protocolos de Rastreabilidade. São dois rótulos:
Farsul
ACNB
Pedro Novis, da ACNB, e João Martins, da CNA, comemoram a inclusão do Nelore no protocolo: continuidade ao PQNN.
Carlos Sperotto (esq.) e Gedeão Pereira, da Farsul, participam da cerimônia de assinatura com Fernando Lopa (dir.), executivo chefe da ABHB.
um para a carne de animais puros e outra para a carne de animais cruzados e, de acordo com Rogério Satoru Uenishi, superintendente de registros da associação, a medida será um divisor de águas. “Agora poderemos padronizar e unificar as diversas marcas de carne Wagyu existentes no mercado brasileiro, distinguir carnes de animais puros e as de cruzados e proteger o criador que investe na genética”disse. O rebanho Wagyu é formado por 5.000 animais puros e mais de 30.000 cruzados, que eram comercializados diretamente pelos criadores. A produção em maior escala da carne bovina teve início há cerca de dois anos e está entre as mais propagadas no segmento gourmet, embora houvesse poucas garantias sobre a procedência da matéria-prima. Para Daniel Steinbruch, coordenador técnico do protocolo, a certificação muda este cenário. “Além da avaliação fenotípica, a conformidade determina que os animais puros apresentem o Registro Definitivo (RGD) e animas Cruzados, com o mínimo de 50% de sangue Wagyu, o Certificado de Controle de Genealogia (CCG), documentações emitidas pela ABCBRW após a vistoria de um dos Inspetores de Registro Wagyu credenciados junto ao Mapa”, explicou. O protocolo aceita machos castrados e fêmeas, com cronologia dentária até 6 dentes e acabamento mínimo de gordura mediana a uniforme (4 a 10 mm). Os cortes serão produzidos por 10 frigorificos (quatro plantas em São Paulo, duas unidades no Rio Grande do Sul, outras duas no Mato Grosso, uma em Goiás e outra no Mato Grosso do Sul) indicados pelos 50 associados . Ainda não há expectativa sobre o volume de animais que serão abatidos porque o controle do processamento pela ABCBRW terá início agora. As mudanças também devem aproximar mais criadores da associação, já que apenas os habilita-
dos poderão se beneficiar do selo e será um instrumento para inibir o ingresso de carne Wagyu importada da Austrália e do Uruguai. Participação do produtor A adesão das associações ao protocolo abre caminho para que os produtores que já participam dos programas de qualidade geridos por elas também integrem o SGPR e possibilita auditorias oficiais, sob a responsabilidade da Coordenação dos Sistemas de Rastreabilidade, ligada à Secretaria de Defesa Agropecuária (SDA/Mapa). Os fiscais federais locados nas plantas de abate já estão checando se os protocolos de certificação das respectiva raças foram aprovados pela CNA e se o frigorifico fiscalizado está autorizado a produzir a matéria-prima com aquele selo. Cada associação paga uma taxa à CNA para manutenção de seu protocolo PGA, mas Juliano Hoffmann, coordenador do sistema, não informa valores. Diz apenas que não há custos para os pecuaristas participantes dos protocolos. “Quem já investe em animais de qualidade terá seu prêmio assegurado ao realizar o cadastramento voluntário no SGPR e o consumidor continuará pagando o mesmo valor pela carne com selo da raça”, assinalou o coordenador. Hoffman explica que a PGA já tem os dados do criador, que são enviados pelos órgãos de defesa dos Estados todas as vezes que a propriedade emite uma GTA ou participa de campanhas de imunização contra doenças, como a aftosa. “Para aderir ao protocolo, o criador terá que clicar no link que aparece ao lado do selo da raça de interesse e incluir o número do CPF e o mesmo email já cadastrado na PGA”, diz. A associação fica encarregada de transferir para o SGPR os dados dos lotes abatidos e embalados com os selos pelos frigoríficos. “As entidades que já trabalham com a mesma plataforma utilizada pela PGA poderão fazer a trans-
nnn Apenas
15%
da carne com selo Nelore vão para o varejo
nnn
DBO dezembro 2015 27
Cadeia em Pauta missão dos dados automaticamente. Mas também é possível entrar no sistema para fazer a inclusão manual das informações, no caso das associações que ainda não possuem o programa”, explicou.
nnn
3.000
criadores podem aderir ao protocolo para produzir a Carne Certificada Hereford
nnn
Mais transparência A certificação oficial deve aumentar a transparência dentro da cadeia pecuária bovina e conferir maior confiabilidade às marcas que levam nomes de raça. “Consideramos essa iniciativa importante, porque ela amplia a oportunidade de consolidar o Nelore como raça produtora de carne de qualidade,” afirmou Pedro Gustavo Novis, presidente da ACNB. A carne do gado Nelore, que representa 80% do rebanho nacional, é a mais consumida no mercado interno, mas a maior parte do produto é vendido como commodity, o que explica, em parte, a tímida demanda do consumidor final por cortes com o selo da raça. Apenas 10% a 15% das 1.200 toneladas do total produzido anualmente dentro do Programa de Qualidade Nelore Natural são destinadas ao varejo com selo. “Com a adesão à PGA e a maior visibilidade conferida ao protocolo, esperamos firmar novos acordos comerciais com o setor varejista”, afirma Novis. Atualmente o PQNN conta 500 associados.
28 DBO dezembro 2015
De acordo com Fabiana Rosa de Freitas, responsável técnica pelos protocolos da ABHB, mais de 300 pecuaristas já preencheram o cadastro de adesão voluntária ao protocolo da raça Hereford, porém outros 3.000, registrados dentro do Programa Carne Pampa, ainda poderão aderir nos próximos meses. “Com o aumento das garantias na fiscalização do uso do selo da raça, temos recebido mais pedidos de produtores interessados em trabalhar com a genética Hereford e se beneficiar dos prêmios”, diz ela. Desde que começou a trabalhar com o protocolo, a associação contabilizou 450 toneladas de cortes vendidos no varejo. Já o selo Carne Certificada Braford ainda está em fase de pré-lançamento e será abastecido por animais criados exclusivamente a pasto, com a possibilidade de suplementação somente na fase de terminação do animal. “Há uma grande demanda de pecuaristas da região central do Brasil por genética Braford, onde a maior parte destes animais deverá ser criada”, aponta. As cinco plantas do Marfrig habilitadas em novembro deste ano pela associação (Promissão, SP; Mineiros, GO; Bataguassu, MS; Tangará da Serra e Paranatinga, MT) deverão produzir os cortes com o selo Braford à partir de 2016. n
Cadeia em Pauta
Marcos Molina compra Jacarezinho Negócio envolve toda a parte de pecuária da empresa, na Bahia. Maristela Franco
A
Ian Hill, presidente da Jacarezinho: “Genética para carne premium”.
maristela@revistadbo.com.br
Jacarezinho Nova Terra, referência no País em seleção de Nelore com CEIP (certificado especial de identificação e produção), foi 100% adquirida pelo controlador da Marfrig Foods, Marcos Molina, como pessoa física, por valor não revelado. O empresário sempre teve fortes ligações com o setor pecuário. Nutrindo especial interesse por genética, pretende montar um dos maiores projetos de seleção do País, com bases no Mato Grosso do Sul e Bahia. A compra da Jacarezinho (codificada sob o termo “parceria privada”) foi anunciada em nota ao mercado, dia 13 de novembro, e divulgada em primeira mão pelo Portal DBO. A equipe atual será mantida. Ian Hill permanece como presidente da empresa e David Makin, ex-CFM, será seu diretor financeiro. A “fusão” da Jacarezinho Nova Terra com as duas fazendas que Marcos Molina já possui no Mato Grosso do Sul resultou na formação de um plantel de 30.000 matrizes Nelore, que será incorporado ao programa de melhoramento da Conexão Delta Gen. Segundo Ian Hill, estão previstos investimentos expressivos em ferramentas modernas como a seleção genômica. “Vamos unificar o trabalho, incorporando matrizes gradativamente ao programa”, informa o executivo, que já tem por meta comercializar de 3.000 a 4.000 touros com CEIP por ano, em futuro próximo. Histórico rico A Jacarezinho foi fundada, em 1993, quando o empresário Alexandre Grendene Bartelle adquiriu uma pro-
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Meta é produzir até 4.000 tourinhos CEIP em futuro próximo
priedade da CFM, em Valparaíso, SP, investindo forte na seleção de Nelore “cara limpa” (não registrado) e comercializando tourinhos com CEIP. Em 2003, devido ao avanço da cana e dos seringais no oeste paulista, essa propriedade foi destinada à agricultura e o rebanho bovino transferido para o extremo oeste baiano (municípios de Wanderley e Cotegipe), onde a empresa adquiriu 47.000 ha, instituindo a Jacarezinho Nova Terra. Mais tarde, Grendene comprou outras propriedades em Boianápolis e Mangabeira, no mesmo Estado, para um projeto agrícola, mas nem essas terras nem as de Valparaíso entraram no negócio fechado com Marcos Molina. A Jacarezinho Nova Terra é reconhecida por seu pioneirismo na seleção para precocidade sexual, tendo como estrela o touro Kulal, que já comercializou 500.000 doses de sêmen. Possui seu próprio programa de acasalamento dirigido (PAD), faz identificação paternal por DNA, trabalha com DEPs (Diferença Esperada de Progênie) genômicas desde 2013 e, neste ano, lançou o selo DepPlus para identificar os reprodutores selecionados com base nessa tecnologia. Também produz embriões em larga escala e suas matrizes foram escolhidas como doadoras de oócitos para o Programa Marfrig Mais (+), que objetiva obter novilhos cruzados superprecoces Angus/Nelore, a partir de embriões sexados, visando produzir carne premium. Segundo Ian Hill, foram essas qualidades do plantel Jacarezinho que levaram Molina a adquirir a empresa, após cerca de um ano de negociações. A proposta é fortalecer o trabalho de produção de embriões e fomentar o uso de genética melhoradora pelos produtores de gado comercial. “O Marcos gosta muito de pecuária e é fã número um da Jacarezinho. Vamos crescer muito nos próximos anos”, diz. n
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Cadeia em Pauta
Pecuária mais que sustentável Roncador
Projeto do Grupo Roncador fornecerá crédito de carbono para as Olimpíadas
Explicação sobre pesquisa com CO2 na Fazenda Água Viva Maristela Franco
U
maristela@revistadbo.com.br
m programa inédito de sustentabilidade está surgindo nas margens do Rio das Mortes, mais especificamente na Fazenda Água Viva, em Cocalinho, MT, região de beleza natural incomparável e grande vocação pecuária. Conduzido pelo Grupo Roncador, uma das maiores companhias agropecuárias do País, ele visa mitigar emissões de GEEs (gases de efeito estufa); criar um núcleo de produção integrada, com foco em carne de qualidade; reduzir a pressão por abertura de novas áreas, estimular a restauração de florestas e rastrear a produção desde o bezerro. Trata-se do Programa Liderar, Liga de Desenvolvimento Regional Sustentável do Vale do Araguaia, que conta com apoio do governo mato-grossense, da Associação dos Produtores do Mato Grosso (Acrimat), da Associação Nacional de Confinadores (Assocon), de ONGs, instituições de pesquisa e empresas de insumos do setor. Ele começou a ser formatado há dois anos, mas foi lançado oficialmente em novembro de 2015.
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O programa abriga duas iniciativas diferentes: o Projeto Integradora, por meio do qual o Grupo Roncador pretende criar uma rede de parcerias com os produtores de bezerros da região, para terminação em semiconfinamento; e o Projeto Carbono Araguaia, que objetiva mitigar emissões de GEEs por meio de práticas pastoris sustentáveis. Este último foi escolhido pela Dow AgroSciences como um dos cinco projetos responsáveis pela compensação dos gases de efeito estufa emitidos durante os Jogos Olímpicos Rio 2016, que têm a companhia como patrocinadora oficial e parceira na área de carbono. A Dow integra o Programa Abraça Sustentabilidade, lançado pelo comitê organizador dos jogos, e se comprometeu a mitigar 500.000 toneladas de hidróxido de carbono equivalente (CO2eq) até a abertura do evento, em agosto de 2016, e mais 1,5 milhão de toneladas até 2026, relativos a emissões indiretas. O acordo com a Roncador foi firmado dia 24 de novembro, por meio da assinatura de um memorando de entendimento (MoU), em breve cerimônia realizada na capital paulista, durante a reunião do GTPS, Grupo de Trabalho de Pecuária Sustentável. O Projeto Carbono Araguaia prevê a montagem de um verdadeiro “laboratório ambiental” na Fazenda Água Viva, que, durante dois anos, medirá as emissões e capturas de carbono em 1.000 hectares (ha) de pastagens da propriedade e em 50.000 ha de produtores parceiros, onde se pretende replicar tecnologias que possibilitam mitigar as emissões de CO2eq. Esse inventário será feito com base na metodologia GHG Protocolo Agrícola, desenvolvida pelo World Resource Institute (WRI), Embrapa e Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). A verificação ficará a cargo de certificadoras internacionais. Origem do projeto A Fazenda Água Viva tem 3.000 ha, dos quais 2.000 são formados com pastagens. Fica na região do Médio Araguaia, conhecida como Vale dos Esquecidos, por ter permanecido isolada e sem infraestrutura durante décadas. “Hoje, é o Vale dos Encontrados, pois está atraindo gente e tem tudo para se desenvolver”, diz Caio Penido Dalla Vecchia, diretor de novos negócios e sustentabilidade do Grupo Roncador. “Por vários anos, a Água Viva ficou meio de lado, porque estávamos envolvidos com o processo de intensificação da Fazenda Roncador, em Querência, maior propriedade da família, hoje voltada à integração lavoura-pecuária. Somente de três anos para cá, comecei a pensar na possibilidade de transformá-la em uma propriedade modelo, para difusão de tecnologias na região, que registra baixíssima produtividade nas áreas abertas”, conta Dalla Vechia. A ideia inicial era associar as belezas naturais do Vale a um projeto de pecuária sustentável, mas a empresa não sabia muito bem que rumo tomar. “Fui conversando com as pessoas, amadurecendo ideias
Caio Penido Dalla Vecchia (esq.), da Roncador, com o presidente da Dow, Welles Pascoal, durante assinatura de acordo, em SP.
até chegar ao projeto atual”, diz ele. Hoje, a Fazenda Água Viva já está toda recuperada, possui quatro módulos de rotacionado e adota técnicas intensivas de produção (controle de invasoras, adubação, suplementação, cruzamento industrial etc), que a habilitam a sediar o Projeto Carbono Araguaia. No último dia 26 de novembro, 60 produtores da região participaram de um dia-de-campo na propriedade para conhecer melhor o que está sendo proposto pela Dow e o Grupo Roncador. Cerca de 20 deles demonstraram interesse em aderir ao projeto, que terá um técnico contratado para gerenciá-lo e acompanhar as propriedades parceiras. “Nenhum projeto é bom se não for replicável”, diz Dalla Vecchia. O principal investimento será em recuperação de pastagens, que é o maior gargalo da pecuária de corte, mas, segundo Roberto Risolia, líder de sustentabilidade da Dow, também serão realizados dias-de-campo, com a presença de consultores especializados, para orientar os produtores sobre novas técnicas de nutrição, bem-estar, genética, gestão financeira etc. “Nosso principal objetivo é elevar a produtividade da fazenda, melhorar a rentabilidade do produtor e capturar CO2”, explica o executivo. Para participar do Projeto Carbono Araguaia, é necessário cumprir alguns quesitos básicos, como não desmatar ilegalmente, não ter áreas sobrepostas com reservas indígenas e não utilizar trabalho escravo. Nove municípios deverão ser beneficiados. Projeto Integradora Visando perenizar essa iniciativa de pecuária sustentável, Dalla Vecchia criou um modelo de negócio com base em parcerias, que será conduzido junto com o Carbono Araguaia. “São projetos irmãos”, salienta. A região do Médio Araguaia é caracterizada por áreas de varjão, com vocação para a cria, mas essa atividade hoje é praticada com baixa tecnologia. “A Fazenda Água Viva também adotava esse modelo, mas, como temos terras mais altas, decidimos
transformar a propriedade em uma unidade receptora de bezerros”, explica Caio. Esses animais, fornecidos por produtores parceiros, serão recriados nos módulos de rotacionado e terminados a pasto com ração (semiconfinamento). “Um dos pilares do projeto é o uso intensivo das pastagens da Água Viva, que deverão sustentar altas lotações e alcançar altíssima produtividade, capturando grande quantidade de CO2”, acrescenta Risolia. Em 2016, a propriedade já deverá receber 1.600 bezerros, 50% próprios e 50% de parceiros. “Vamos começar devagar, para ir testando o modelo, mas a intenção é aumentar gradativamente esse número, até chegar a 15.000 abates por ano. Arrendaremos áreas ou enviaremos parte do gado para a Roncador, se necessário”, informa Caio. Os bezerros serão adquiridos por preço diferenciado, mas o diretor de sustentabilidade da Roncador ainda não definiu ágios. “Modelos de contrato e premiação estão sendo elaborados por Maurício Nogueira, da Agroconsult e serão discutidos com os potenciais parceiros. Nossa intenção não é simplesmente terceirizar a cria, queremos agregar valor a toda a cadeia, e viabilizar uma demanda do Ministério Público que é o rastreamento total da produção”, diz. Segundo Dalla Vecchia, há grande preocupação com a qualidade da carne produzida no projeto. “Ela tem de ser sustentável, mas macia, do contrário não há possibilidade de agregar valor ao produto e comercializá-lo por preço diferenciado”, justifica o empresário, que já está buscando apoio junto aos frigoríficos. “O mercado de carbono ainda não existe para o pecuarista, mas, quando existir, esse grupo já estará pronto para comercializar créditos”, completa Risolia. Para agregar valor à carne do Vale do Araguaia, Dalla Vecchia também está buscando pagamento por serviços ambientais: “Temos de avançar nesse sentido; as Olimpíadas nos darão oportunidade de mostrar que o Brasil tem projetos de intensificação sustentável, que preserva suas florestas e que elas devem gerar valor para os produtores”. n
Jogos com carbono zero Esta não é a primeira vez que a Dow encara o desafio de compensar as emissões das Olimpíadas. Para os jogos de inverno Sochi 2014, na Rússia, a empresa criou o programa “Futuro Sustentável”, investindo em tecnologias para aprimorar processos agrícolas, industriais e de materiais para construção, em diferentes locais da país, compensando 520.000 t de CO2. Agora, a tarefa é realizar os primeiros “jogos neutros” da história das Olimpíadas. A prefeitura do Rio também está participando dessa maratona ambiental e tem por meta reduzir 16% de suas emissões até 2016, plantando 10 milhões de árvores, dentre outras medidas.
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Cadeia em Pauta
Carne na berlinda
Relatório da OMS que relaciona consumo de carne ao câncer provoca polêmica mundial
P Para a norte-americana Nicolette Niman, estudo não leva em conta vida das pessoas que cuidam da saúde.
Da Redação
rovocou forte reação a divulgação, no final de outubro, pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que o consumo excessivo de carne processada, como salsichas, linguiças e presunto, pode causar câncer de intestino (colorretal). A Agência Internacional de Pesquisa sobre Câncer (Iarc), da OMS, incluiu carnes processadas na lista do grupo 1 – juntamente com tabaco, amianto e fumaça de diesel, que têm “evidências suficientes” de potencial de provocar câncer. “O risco aumenta com a quantidade de carne consumida”, alertou o chefe do Programa de Monografias da Iarc, Kurt Straif, em nota. Já a carne vermelha não processada, grupo no qual a Iarc inclui carne bovina, de cordeiro e de suíno, foi classificada como “provável” agente cancerígeno na lista do grupo 2A – onde também está o agrotóxico glifosato, herbicida largamente utilizado na agricultura mundial. A Iarc – através de um grupo de 22 especialistas de 10 países – fez uma revisão “completa” de toda a literatura científica acumulada – “mais de 800 estudos que investigaram a associação entre 12 tipos de câncer e consumo de carne vermelha ou carne processada, em vários países” – para concluir, por exemplo, que o consumo de 50 gramas diárias de embutidos (uma salsicha ou duas fatias e meia de presunto) aumenta o risco de câncer colorretal em 18%. Mas verificou também associações com câncer de pâncreas e próstata. A reação mundial ao estudo da OMS – principalmente das entidades ligadas ao setor de carnes e até da FAO – o órgão nas Nações Unidas para Alimentação e Agricultura – fez com que a OMS lembrasse que o trabalho não
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recomenda que as pessoas parem de comer carne, mas que reduzam seu consumo. E observou que fará um estudo de acompanhamento sobre o relatório, embora confirme os dados. Especulações Pedro Marcelo Arias, chefe da Divisão Técnica de Comércio e Mercados da FAO, considerou que o estudo da OMS terá um impacto direto no consumo mundial de carne e propôs a realização de um estudo “em profundidade” para acompanhá-lo. Federico Stanham, presidente do Instituto Nacional de Carnes (Inac), do Uruguai – um dos maiores exportadores sul-americanos –, discordou. “Esse relatório precisa ser contextualizado. Ele não diferencia, por exemplo, os sistemas de produção dos diversos países. No sistema uruguaio, é a pasto, natural, que não utiliza antibióticos ou anabolizantes”, externou. O médico cardiologista brasileiro Wilson Rondó Júnior, autor do livro “Sinal verde para a carne vermelha”, compartilha da mesma opinião. Para ele, carne de animais confinados a vida inteira, que receberam alimentos que não pasto e hormônios de crescimento, tenderiam a produzir carne com maior potencial para o problema, o que não é o caso da produção brasileira e sul-americana. Mesmo assim, acha que há um certo exagero na conclusão desse parecer, sugerindo que o estudo foi influenciado por interesses contrários à carne bovina. Segundo ele, mesmo no caso de embutidos, onde existe “uma certa evidência de tendência carcinogênica, que não podemos descartar”, a ocorrência de casos de câncer de cólon é de três para cada 100.000 adultos, um número muito pequeno. Posição semelhante foi expressada pela norte-americana Nicolette Hahn Niman, advogada, pecuarista e também autora de livro em defesa da carne bovina – convidada a palestrar sobre o assunto no 9º Simpósio da Asbram (veja à pág 52). Para ela, o estudo mostra que as pessoas que comem carne processada têm um pouco mais de tendência de ter um tipo específico de câncer (o colorretal). Mas ressalva que a razão de a OMS dizer que a carne vermelha poderia ser cancerígena é porque a maioria dos estudos que ela revisou não faz distinção entre carne processada e não processada. “Então, esse é um ponto importante porque sugere que talvez não haja vínculo real entre as duas, mas algo no processamento da carne. E mesmo esta conexão pode ser pequena.” Para ela, as pessoas que têm muita preocupação com as questões de saúde – aquelas que se exercitam mais, que comem bastante comida fresca e vegetais – são as que reduziram seu consumo de carne processada e carne vermelha. E a OMS tenta, em sua análise, controlar essa ideia de tendência do usuário. “Mas é difícil fazer isso, porque há muita diferença no estilo de vida de pessoas que são saudáveis e outras que não se preocupam com a saúde.” Tanto ela quanto Wilson Rondó concordam que o problema dos estudos que envolvem a carne bovina é que não levam em conta essas diferenças, tanto de forma de criação dos animais como de estilo de vida dos consumidores. n
Capítulo Esta é a décima e última edição do Projeto Portas Abertas, um canal criado por DBO para comunicação entre a indústria e os pecuaristas. Você perguntou, nós respondemos.
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Maristela Franco | maristela@revistadbo.com.br
Qual a influência do ciclo pecuário no preço da carne Pergunta feita pelo pecuarista Alaor Procópio de Ávila, proprietário da Fazenda Panorâmica do Turvo, em Indiara, GO, onde faz recria/engorda, produzindo 31@/ha/ano.
hegamos à última reportagem desta série sobre o funcionamento da indústria. O questionamento de Alaor Ávila vem a calhar, pois permite elucidar o processo de comercialização da carne. O ciclo pecuário influi, sim, no preço do produto, já que ele rege a oferta, mas, segundo Waldir Cicerelle Junior, gerente executivo de inteligência comercial da JBS, outros fatores também são considerados no processo de “precificação”. Esse neologismo, que faz parte do vocabulário corrente dos gestores atuais, foi criado para definir a “arte” de se determinar valor de venda às mercadorias ou serviços, já deduzidos todos os custos e considerada uma margem pré-definida de lucro. No caso da carne bovina, trata-se de um exercício tão complexo que a JBS instituiu, há quatro anos, um departamento específico de pricing (precificação), que é comandado por Waldir Cicerelle e reúne 15 pessoas. “Antes, a formação do preço da carne se dava de forma empírica, por tentativa e erro. Não tínhamos muitas informações de mercado; dependíamos exclusivamente da percepção dos vendedores e de dados de custo. Agora, trabalhamos com modelos matemáticos e estatísticos, que consideram curvas de sazonalidade, tendências mercadológicas, previsões de demanda, dentre outras coisas”, conta Cicerelle, explicando que um software específico processa essas informações e indica as faixas 36 DBO dezembro 2015
Nonono
Fotos: JBS
C
Produtos prontos para consumo ajudam a indústria a agregar valor à carne
de preço que garantem melhor retorno à empresa. “Hoje, o processo é muito mais assertivo, porque projetamos cenários com base em dados múltiplos, considerando variáveis tanto do mercado interno quanto externo, sempre fazendo comparações entre eles para ver qual a melhor alternativa”. Correlação com a @ – A JBS fez vários estudos de “elasticidade” de preços,
por corte e mercado, visando entender quanto eles podem subir ou descer sem inviabilizar a venda ou gerar prejuízos para a empresa. Cada produto tem um comportamento comercial específico que precisa ser considerado. Alguns cortes, como a picanha e o filé mignon, por exemplo, apresentam baixa correlação com o preço da arroba ou com o ciclo pecuário. “Às vezes, o boi sobe e o filé cai, pois seu valor é regido mais por fatores mercadológicos do que pelo custo da matéria-prima. Já o dianteiro tem alta correlação com a arroba”, informa o executivo, que libera uma massa significativa de “preços” semanalmente (toda segunda-feira), por cortes, por Estado e por canal de venda.”Na maior parte das vezes, conseguimos seguir essa tabela”, garante. Segundo ele, frequentemente os pecuaristas vão à gôndola e veem que o filé mignon subiu em tempos de queda da arroba e já falam em margem abusiva, quando, na verdade, o mercado específico desse corte está demandante, enquanto outros estão em baixa. Há forte sazonalidade nesse mercado. A demanda por picanha, por exemplo, cresce muito no último trimestre, por causa das festas de final de ano. Já o dianteiro, que pesa significativamente no resultado da indústria, tem pouca procura nessa época. “A alta de um corte compensa a queda de outro. Ao final do processo de comercialização, temos de cobrir os custos”, diz Cicerelle.
A indústria trabalha com margens muito variáveis, pois o mercado da carne é uma gangorra. “Em alguns cortes, a margem é até negativa, porém, isso tem de ser compensado por outros, para fechar os custos no boi casado”, explica o executivo. Essa variação também ocorre no varejo. Muitas vezes, as redes escolhem um corte como “capitão de categoria”, ofertando-o em promoções, pelo valor de compra, para atrair os consumidores à seção de carnes, mas, elevam o preço de outros cortes para compensar o desconto agressivo. “Monitoramos diariamente os preços ao consumidor, por meio de encartes publicados pelas grandes redes varejistas. Uma empresa especializada faz a coleta desse material, digita os preços e nos envia um relatório. Com base nessas tabulações, vemos que, muitas vezes, o varejo tem oportunidade de trabalhar com margens mais coerentes”, diz Cicerelle. Segundo ele, a empresa vem discutindo com seus clientes formas de “precificar” melhor a carne bovina, buscando uma equação mais justa para os vários elos da cadeia. “O varejo ainda tem dificuldade para trabalhar com esse produto, que foge à essência de seu negócio. Ele precisa manipular as peças, fracioná-las, colocar em bandejas. Isso gera muitas perdas, pois há escassez de mão-de-obra qualificada”, justifica Cicerelle. Força de vendas - Hoje, a JBS trabalha basicamente com quatro canais de venda no mercado interno. O primeiro deles são os supermercados e redes atacadistas (autosserviço), que compram grandes quantidades de carne (carretas fechadas) e são atendidos por gerentes de contas, responsáveis pela montagem de planos de negócios de médio a longo prazos, elaboração de parcerias e acompanhamento pós-venda. O segundo canal é o pequeno varejo (açougues, padarias, minimercados etc). “Temos 1.000 vendedores na rua, em todo o Brasil, para atender esse segmento. Cada um deles visita, em média, 25 clientes por dia”, diz Cicerelle. Trata-se de uma venda mais spot (direta), com frequência semanal e em quantidades menores (caixas com cortes específicos). Para facilitar a logística de distribuição, são elaboradas rotas que partem dos centros de distribuição (CDs) e vão
Credito
Formação de margens -
O pequeno varejo recebe cortes em caixas e gira estoques rapidamente, o que exige atendimento semanal
percorrendo as lojas dos clientes. Cada vez menos se vende carne com osso, devido à carência de mão-de-obra, custos operacionais e falta de espaço nas lojas. “Normalmente, esses pequenos varejistas compram um mix de cortes, conforme o perfil de seus clientes”, esclarece Cicerelle, acrescentando que, para a JBS, também não é interessante vender carne com osso, pois a empresa tem feito um esforço de fixação de marca, que pressupõe cortes embalados. “Além da Friboi, destinada ao dia-a-dia, temos marcas diferenciadas como a Maturata, Grill, Swift Black e Angus”, enumera o executivo. Especialização - Um terceiro importante canal de vendas é o chamado food service, que inclui todos os estabelecimentos que compram a matéria-prima carne para transformá-la em produtos prontos para consumo (padarias, bares, restaurantes, lanchonetes, cozinhas industriais, etc). “Temos uma equipe dedicada exclusivamente a esse segmento, que tem necessidades diferentes”, diz o
gerente da JBS, citando ainda um quarto canal: o televendas, criado neste ano e destinado ao atendimento de varejistas com comportamento de compra irregular e baixo volume. “Montamos uma central telefônica em Uberlândia, com 45 vendedores, que ligam para os clientes oferecendo o produto. Já temos 3.000 nomes nessa lista”, informa Cicerelle. O esquema de vendas para o mercado externo é semelhante ao do grande varejo. Cada mercado é atendido por um trader (vendedor), que normalmente fala a língua do país importador e conhece sua cultura. “Temos traders especializados em Egito, Rússia, China, Europa etc. Eles fazem as vendas por telefone, em feiras internacionais ou em viagens de negócios, pois precisam conhecer bem os mercados que atendem”, esclarece Cicerelle. Normalmente, a venda é feita para distribuidores nos países de destino, mas também podem ser diretas. “Para o mercado externo, elaboramos tabelas de preços quinzenais, pois o ciclo de venda é mais longo e as cotações variam menos”. n
Esperamos, caros leitores, que esta série de reportagens tenha ajudado a eliminar algumas de suas dúvidas sobre a indústria. O Projeto Portas Abertas termina nesta edição, mas continue enviando suas considerações para o e-mail maristela@revistadbo.com.br.
DBO dezembro 2015
37
Capa
Angus, o desafio da carcaça bem-acabada. Programa Carne Certificada Angus prega sincronização de genética e nutrição como caminho para se ter carcaça de animais cruzados bem-acabada FERNANDO YASSU
N
yassu@revistadbo.com.br
o embalo da IATF (Inseminação Artificial em Tempo Fixo), o cruzamento industrial voltou com força no Brasil, após mergulhar em profunda crise no período 2003/2004 ao gerar carcaças despadronizadas e principalmente sem acabamento de
gordura, que chegaram a ser penalizadas pelos frigoríficos, conforme noticiou DBO em várias reportagens da época. Boa parte do boom atual do cruzamento se deve ao Angus, cuja imagem sempre esteve associada à precocidade e à carne de qualidade, quesitos altamente desejáveis na pecuária. A raça nadou de braçada na nova onda do cruzamento. Nos últimos seis anos, registrou a maior taxa de crescimento na venda de sêmen, dentre
Estima-se que, de cada 100 bovinos de corte nascidos, mais de 50% tenham sangue Angus.
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as especializadas em corte no Brasil, suplantando, por larga margem, a Nelore, principal zebuína e dona da segunda maior fatia do mercado genético nacional. De 2009 a 2014, a venda de sêmen de Angus, incluindo as variedades preta (Aberdeen) e vermelha (Red), cresceu 180%, média de 30% ao ano. Esse percentual é três vezes maior do que o crescimento registrado pelo segmento de corte como um todo (58%), 10 vezes superior ao das outras europeias (17,5%) e 33 vezes ao do Nelore (padrão e mocho), que foi de apenas 5,37%. De cada 100 doses de sêmen vendidas das raças de corte em 2014, 52 eram de Angus. Em 2009, a Angus vendia 29 doses para cada 100 comercializadas no segmento corte e ficava atrás da Nelore, com 48 e hoje 32. Estima-se que nasceram aproximadamente 2 milhões de bezerros com sangue Angus de inseminação artificial em 2014. Além da precocidade e maciez da carne, outra característica explicaria a preferência dos pecuaristas brasileiros pela raça: sua facilidade de acabamento de carcaça. Levados pela euforia e raciocínios simplistas, muitos produtores passaram a usar a genética Angus sem adequá-la ao sistema de produção e ao manejo nutricional da fazenda, repetindo os mesmos erros que quase mataram o cruzamento industrial em 2003 e arrastaram criatórios de várias raças de corte europeias para o buraco. Alguns frigoríficos já acusam esse problema nas carcaças, que pode gerar frustração, tanto dos produtores, que esperam receber ágios, quanto da indústria, que busca na raça suas qualidades reconhecidas. Alerta educativo No Mato Grosso do Sul, a Associação dos Produtores de Novilho Precoce do Mato Grosso do Sul (Novilho Precoce MS), entidade que tem 350 sócios e faz notável trabalho de extensão com foco em acabamento de carcaça, registrou, no primeiro ano de adesão ao Programa Carne Certificada Angus, um índice de desclassificação, por falta de acabamento de gordura, em 60% das carcaças de machos cruzados, entregues no período das águas para abate na planta JBS, em Campo Grande, MS. Já na seca, o percentual de animais classificados subiu para 60%-70%. Considerando-se que boa parte dos novilhos recebeu trato no cocho, a reprovação de 30 a 40% dos animais preocupou. Nessa mesma unidade da JBS que abate os animais dos associados da Novilho Precoce MS e recebe gado cruzado Nelore/Angus de outros pecuaristas do Estado, 69% dos machos inteiros e 65% dos castrados chegaram para abate nos nove primeiros meses de 2015 com acabamento de gordura entre escasso (menos de 3 mm) e ausente (zero de gordura). Para os machos castrados, o pior mês foi janeiro, quando apenas 21% tinham padrão de acabamento exigido pelo Programa de Carne Certificada Angus, que é mediano (3 mm de gordura) e uniforme (acima de 4). Para os inteiros, o pior mês foi feverei-
Carcaças de animais Angus com acabamento ideal para produção de carne de alta qualidade.
ro, quando 89% foram desclassificados. Fábio Schuler Medeiros, gerente sênior nacional do programa Carne Angus, explica que esse tipo de problema é normal em plantas frigoríficas “debutantes” no processo de certificação, como é o caso dessa unidade da JBS. “Estamos fazendo reuniões com os produtores de Campo Grande e região para orientá-los sobre o uso da genética Angus e o manejo nutricional dos animais. Após esse trabalho de orientação, o índice de classificação costuma subir para patamares satisfatórios. Nas unidades que já trabalham há mais tempo com Angus, esse índice varia de 70% a 90%”, salienta o técnico. É o caso da Marfrig, que está completando nove anos de adesão no Programa Carne Certificada Angus. Hoje, a empresa registra 84% de animais com padrão de acabamento de carcaça entre mediano e uniforme nos animais cruzados recebidos na planta de Mineiros (GO), 67% na unidade de Bataguassu (MS) e 73% na de Promissão (SP). No início, a empresa padeceu com carcaça mal acabada, segundo José Pedro Crespo, diretor de originação da Marfrig. “Era o nosso ponto crítico e para ter escala tivemos que assumir a terminação dos animais no nosso confinamento para ter animal com padrão para produzir carne de alta qualidade. Hoje, já abatemos mais animais com sangue Angus terminados em fazendas-parceiras e em boitéis do que os terminados em nossas unidades de engorda”, diz o executivo.
Nos frigoríficos debutantes em produzir carne certificada, é normal carcaça mal acabada. É o preço da aprendizagem”. Fábio Medeiros, gerente sênior do programa Carne Certificada Angus
Impacto no bolso Entregar animais com carcaças sem cobertura adequada de gordura representa um grande prejuízo para o pecuarista. Em primeiro lugar, ele desperdiça o potencial genético de uma matéria prima (bezerro ou garrote 1/2 sangue Angus) bastante valorizada no mercado DBO dezembro 2015 39
Capa Fotos: Book do Programa Carne Certificada Angus
Carcaça com acabamento de gordura escassa (menos de 3 mm), com arroba vendida a preço de boi comum.
Carcaça com acabamento de gordura ausente, normalmente vendida pelo preço da arroba de vaca.
O primeiro passo para acertar o acabamento da carcaça é sincronizar genética com nutrição” Reynaldo Titoff Salvador, Diretor do Programa Canre Certificada Angus.
Carcaça com acabamento mediano (entre 3 e 4 mm), que é bonificado no Programa de Carne Certificada Angus.
e também de maior custo no seu ciclo de produção. Ao usá-la para produzir um animal precoce mal acabado, acaba por vendê-lo a preço de boi comum (carcaça com acabamento escasso) ou de vaca (gordura ausente). Se conseguisse abatê-lo com acabamento entre mediano e uniforme, receberia prêmio que pode chegar até a 10% acima do valor de mercado. Não é só: ao vender esses animais como bois comuns, o pecuarista paga, no Mato Grosso do Sul, alíquota cheia de ICMS (Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços), que, no Estado, é de 7%. Nos classificados como precoces, ele tem três faixas de desconto: 35%, para animais com quatro dentes definitivos; 50%, para os que já trocaram dois dentes, e 65%, para os que não trocaram a dentição (dentes de leite). Na ponta do lápis, poderia economizar, no Mato Grosso do Sul, respectivamente 2,45%, 3,5% e 4,55% apenas em tributo. “O prejuízo não é apenas do produtor. Também perde a indústria, que fica sem uma excelente matéria prima para produzir carne de alta qualidade e perde o consumidor, que é privado desse produto de primeira linha”, diz o zootecnista Eduardo Krisztan Pedroso, diretor de originação da JBS para os Estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul. Ele lamenta: “Estamos recebendo machos cruzados Angus precoces, pesados (520 a 540 kg) e com acabamento de gordura entre ausente e escasso. Os pecuaristas não estão sabendo tirar proveito da grande vantagem que os animais meio sangue oferecem, que é o bônus proporcionado pelo vigor híbrido ou choque de sangue, que melhora o desempenho do gado e a produtividade do rebanho. O pecuarista precisa entender que não basta o animal ter sangue Angus para ser bem acabado. É preciso
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Carcaça com acabamento uniforme (entre 4 e 6 mm), o tipo mais desejado pelos frigoríficos e que pode ter bonificação de até 10%.
cuidar da nutrição. Animais cruzados são mais exigentes, especialmente os de alto desempenho”, explica. Continuidade garantida Apesar das dificuldades iniciais, a JBS, segundo Pedroso, pretende levar o Programa Carne Angus para outras unidades da empresa e até estuda ajustes nas bonificações para machos 1/2 Angus desde que castrados. Ele justifica: “A carne de novilhas e de novilhos castrados Angus certificados tem ótima aceitação no mercado. O nosso maior desafio é aumentar o volume de carne certificada Angus e ainda manter o padrão desejável de qualidade nos 365 dias do ano para atender nossos consumidores, que, por sinal, são muito exigentes”, diz Pedroso. Segundo ele, a única maneira de se elevar o índice de aproveitamento das carcaças da raça para produção de carne de alta qualidade é intensificar o trabalho que já vem sendo feito em parceria com a ABA (Associação Brasileira de Angus). “Estamos conversando diretamente com os produtores, em eventos ou visitas às fazendas, com base nos romaneios de abate que eles recebem do frigorífico. Os dados dos animais entregues – peso vivo, peso de carcaça limpa, rendimento e acabamento – funcionam como um raio-x do sistema de produção, apontando os erros e os acertos na terminação dos animais”, diz Pedroso. Paralelamente a esse corpo a corpo, a empresa está criando um banco de dados que mostra o grau de acabamento de carcaça conforme a genética usada e a nutrição fornecida em cada fazenda na cria, na recria e na terminação dos animais. “Há uma relação direta entre a genética e o programa de nutrição do gado”, justifica o zootecnista. Outra medida da empresa é criar um ranking das fazendas com base no percentual de animais classifi-
cados para o Programa Carne Certificada Angus. “Esperamos que esse feed-back ajude os pecuaristas a corrigir as falhas no sistema de produção e a melhorar o padrão de acabamento das carcaças”, diz Pedroso. Como a JBS, a Novilho Precoce MS também não pretende desistir de trabalhar com animais Angus. “Nossa intenção é corrigir os erros”, garante o médico veterinário Klaus Machareth, superintendente técnico da entidade. “Estamos recomendando a nossos associados que comprem sêmen de touros Angus com perfil adequado ao sistema de produção de suas fazendas, que mudem a nutrição se necessário e façam uma pré-seleção dos animais antes do embarque, carregando apenas os mais bem acabados e deixando os outros alguns dias a mais no cocho. Fizemos isso com o Nelore e o resultado foi muito bom”, observa o médico veterinário. “O resultado, contudo, somente aparecerá em 2017, quando a geração de bezerros da próxima estação de monta chegar ao frigorífico para abate”. Escolha do sêmen Na opinião de Roberto Barcellos, da consultoria Beef &Veal, com sede em Botucatu, SP, a origem dos problemas de acabamento pode estar na escolha de sêmen de touros de alto desempenho por parte dos cria-
dores, que visam obter bezerros pesados à desmama, aproveitando a valorização desses animais cruzados no mercado. “Muitas vezes, eles escolhem reprodutores avaliados com base no modelo de pecuária norte-americano, que visa à produção de carcaças muito pesadas. Seus filhos não ficam prontos para abate antes dos 580 kg de peso vivo. Normalmente, o peso de abate chega a 620 kg. Precisam ser tratados em creep feeding e ir para o confinamento após a desmama, ficando no cocho por pelo menos 180 dias. A pasto, eles não terminam”, diz o consultor. Outro erro cometido por pecuaristas que estão fazendo cruzamento industrial é comprar sêmen com base no preço, segundo Barcellos. “Estabeleceu-se um valor máximo para compra de sêmem de cruzamento industrial, mas nem sempre o touro com perfil físico adequado ao modelo de produção da fazenda fica dentro desse “teto”, como é o caso de touros norte-americanos com DEP (diferença esperada de progênie) positiva para provas de carcaça (quality grade e yield grade). Normalmente, dá para comprar apenas sêmen de touros geneticamente desatualizados e sem mercado em seus países de origem, a maioria deles sem avaliação positiva para marmoreio. Sêmen de touro com essa característica cus-
Há um teto no preço de sêmen de cruzamento industria. E preço não é um bom critério na escolha genética” Roberto Barcellos, diretor da Beef& Veal Consultoria, de Botucatu, SP.
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Capa ta caro, mas vale a pena gastar um pouco mais e comprar material genético compatível com o sistema de produção da fazenda”, diz o agrônomo.
O ideal para acabar animal cruzado é fazer a nutrição fetal, tratar o bezerro no creep e colocar no confinamento após desmama” Edmundo Villela, diretor da Lageado Consultoria, que inseminou 205.000 vacas com sêmen Angus em 2014.
Avaliação complementar Edmundo Villela, diretor da Lageado, empresa que presta serviços na área de biotecnologia da reprodução em 230 fazendas de vários regiões do País e é responsável pela gestão técnica do Programa Fomento Angus da Marfrig, aponta outro problema. Segundo ele, os dados de DEPs dos touros testados, tanto no Brasil quanto no exterior, são de animais puros. “Nem sempre um touro positivo para determinada característica vai passar essa característica para o filho, que é cruzado. Existe o efeito da heterose e também da mãe zebuína. Os resultados são muitas vezes variáveis e contraditórios. Por essa razão, não me prendo muito aos dados de DEPs. Eles servem apenas de referência, especialmente quanto ao frame, marmoreio e acabamento”, diz. Como insemina 205.000 vacas por ano, Vilella elabora um ranking de touros com base nas informações que recebe dos clientes da empresa. “O primeiro item que avalio é a fertilidade. Se o touro não fecunda, não gera bezerro. E sem bezerro não tenho bois gordos”, justifica. Ele desenvolveu um programa que armazena os dados de cada touro, mensurando o desempenho de suas progênies cruzadas. No total, Villela usa de 10 a 12 touros por ano e no final da temporada exclui os três piores em desempenho e incorpora novos reprodutores para teste em cada estação de monta. Nessa avaliação particular, colabora com a Alta Genetics, que criou, em parceria com a Unesp de Bauru, o único programa de avaliação de animais cruzados Angus do País, o Programa de Avaliações de Cruzamento (Pacto).
Tipos de touros Angus ideais para cada sistema de terminação no Brasil (*) Modelo de terminação Inteiros terminados com suplementação a pasto
Castrados terminados em confinamento
Inteiros terminados em confinamento
5 – 5,5
5
6 – 6,5
6
Avaliação para precocidade, com Deps
Avaliação para precocidade, com DEPs
Castrados terminados a pasto
Frame score/ tamanho
Características básicas
Pelame
Avaliação para
EGS e EGP8 e AOL
EGS e EGP-8 e AOL
positivas para
desempenho (ganho de peso), AOL e marmoreio
Curto
Curto
Curto
positivas para
(*) Programa Carne Certificada Angus/Associação Brasileira de Angus
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Avaliação para desempenho (ganho de peso), AOL e marmoreio
Curto
Touro de frame moderado e pelo curto, ideal para produzir bezerros para quem maneja gado a pasto.
Além de formar o próprio banco de dados de desempenho dos touros que usa, Edmundo Villela diz que, na prestação de serviço de reprodução, não se limita a fazer a inseminação. “IATF é hoje commoditie. Então, procuro orientar meus clientes que fazem o cruzamento industrial a tratar o gado cruzado para ele tirar o melhor proveito possível da heterose. Não adianta trabalhar com animal de alto desempenho sem lhe dar comida. Confinamento de 90 dias não termina esse gado. Para tirar proveito, tem que implantar a nutrição fetal, fornecer trato aos bezerros em creep feeding e confinar após a desmama, produzindo um animal precoce de 21 arrobas e bem acabado”, explica. Para quem não tem esse aparato de nutrição, ele recomenda usar um touro de frame moderado, que, após 90 dias de cocho, acaba bem a carcaça. Sincronia necessária Diretor do Programa Carne Certificada Angus, o médico veterinário Reynaldo Titoff Salvador classifica os problemas de acabamento relatados pela JBS como “erros normais” de pecuaristas que estavam habituados a trabalhar com Nelore e agora estão aprendendo a manejar animais cruzados. “São tipos bovinos diferentes, com exigências nutricionais diferentes. O primeiro passo para acertar é sincronizar genética com nutrição. Há um tipo ideal de touro para cada sistema de produção e para as condições brasileiras”, diz Salvador. Ele explica: “Se a fazenda maneja o gado a pasto e usa touro Angus de grande porte (frame acima de 6), vai produzir um animal grande, pesado e magro. Já as fazendas que tratam os bezerros no creep feeding, confinando-os após a desmama, se usarem sêmen de touros de frame moderado (5), produzirão animais que não crescem e se transformam em bolas de gordura. Se os dois invertessem os tipos de touros, acertariam”, diz. Segundo Salvador, no Rio Grande do Sul, onde a tradição é produzir bois a pasto sem suplementação e o confinamento ainda não se difundiu por causa do inver-
Capa
Confinamento é essencial para terminar bem a carcaça de animais com frame/score entre 6 e 6,5
no chuvoso que dificulta o trato do gado no cocho, o tipo que prevalece é o animal de frame moderado. “Como a pecuária gaúcha sempre manejou o gado em campo nativo, ficou a tradição de se abater animais leves como na Argentina. E o tipo adequado a esse sistema é o de frame moderado (5), que fornece carcaça bem acabada com 235 kg de peso, em média (15,5@). Esse bovino termina bem a pasto. Dos 20.000 animais com sangue Angus que recebemos por ano, 80% se enquadram no padrão de acabamento de gordura exigido no Programa Carne Certificada Angus”, diz Diogo Soccal, do setor de originação do Frigorífico Silva, de Santa Maria, RS. Segundo Reynaldo Salvador, o tipo Angus gaúcho é também o mais indicado para as fazendas situadas na região que costeia o Pantanal, a chamada peripantaneira, onde a pecuária de corte mais avança no Mato Grosso do Sul. Ele justifica. “Como não há oferta abundante de grãos nessa região e a alimentação concentrada é onerada por conta do frete, a tradição nessa região é manejar o gado a pasto, em regime extensivo. Nessa condição, não adianta trabalhar com animal de alto desempenho em peso, que, sem comida, não dá acabamento de gordura”, observa. DEPs balizadoras Na região sudeste do Mato Grosso do Sul, onde a oferta de grãos é abundante, ele considera viável usar touros com frame acima de 6, desde que a fazenda trate O Salto do angus nas Vendas de sêmen1 Taxa
Raças
2009
2014
Angus2
1,318 milhão
3,697 milhões
180%
30%/ano
Nelore3
2,162 milhões
2,279 milhões
5,38%
0,89%/ano
410 mil
482 mil
17,47%
2,91%/ano
4,490 milhões
7,116 milhões
58,47%
9,74%
Outras raças europeias
Todas as raças de corte
acumulada
1em doses; 2inclui as variedades preta e vermelha; 3inclui as variedades padrão e mocha
Fonte: Asbia (Associação Brasileira de Inseminação Artificial).
44 DBO novembro 2015
Média/ano
os bezerros no creep feeding e os confine por 180 dias, da pós-desmama até a terminação. “Nessa região, a ração concentrada é altamente competitiva, viabilizando o trato de animais de alto desempenho”, diz. O médico veterinário recomenda o mesmo tipo de animal para as fazendas situadas em Goiás e Mato Grosso. Além de abrigar os maiores projetos de confinamento do País, esses Estados estão bastante avançados na integração lavoura-pecuária, que garante pastagens de qualidade para recria a pasto”. Além de escolher touros com perfil físico adequado ao sistema de produção de cada fazenda, Reynaldo Salvador recomenda que os pecuaristas, na hora de escolher o sêmen, analisem as DEPs-chave dos reprodutores. Quem termina animais a pasto, deve trabalhar com touros de tamanho moderado com boa aptidão para precocidade de acabamento (DEPs para EGS, espessura de gordura subcutânea) e rendimento de carcaça (DEP para AOL, área de olho de lombo). Como os animais vão ser manejados a pasto, os touros escolhidos, segundo o médico veterinário, também devem ser adaptados (pelagem curta) e resistentes à infestação por carrapato. Nos reprodutores de frame acima de 6, Salvador recomenda que se analise quesitos como desempenho, nas idades-padrão, para acabamento de carcaça (EGS), marmoreio (gordura entremeada) e AOL (rendimento de cortes de traseiro). O diretor do Programa Carne Angus desaconselha o uso de touro com frame acima de 6,5 para o Brasil. “No sistema de recria e terminação típico do País, esse tipo de animal vai produzir apenas carne commodity”, observa. Exemplo de sucesso A “catequese” dos pecuaristas para que sincronizem genética com nutrição tem gerado bons resultados. À medida que os pecuaristas aprendem os atalhos para acabar bem os animais, o resultado no gancho melhora. “Produzir carcaça e carne de qualidade exige aprendizado contínuo”, sentencia Salvador. Ele cita como exemplo a evolução do projeto da VPJ Alimentos, com sede em Pirassununga, SP. “No início, de cada 100 animais cruzados que recebíamos, apenas 20 tinham padrão para produzir carne de alta qualidade. Hoje, o aproveitamento é total”, confirma Antônio Augusto de Miranda, diretor da empresa. “O segredo é casar genética com nutrição”, repete. A VPJ trabalha com touro de alto desempenho para peso (frame 6,5), mas com boa avaliação para acabamento e para marmoreio. “Além do trato no creep feeding, os animais, todos castrados, são confinados logo após a desmama, por 180 dias, sendo abatidos com idade entre 15 e 20 meses”, informa Miranda. Dos Estados que participam do Programa Carne Certificada Angus, que certificou 332 mil animais em 2014, o que mais evoluiu tecnicamente foi Goiás, segundo Fábio Medeiros. Explica-se: os dois pro-
Capa jetos mais avançados na terminação de animais Angus (Marfrig e VPJ) estão em território goiano. Nos dois casos, os animais são castrados e terminados com 180 dias de confinamento. “Em 2014, 89,15% dos animais produzidos em Goiás apresentaram acabamento adequado (mediano e uniforme) e receberam bonificação”, conta Medei-
ros. O segundo em classificação foi São Paulo, com 82,5% de aproveitamento. Mato Grosso já conseguiu 77,5% m 2014. Contando os abates na planta da Marfrig em Bataguassu, a primeira a entrar no Programa Carne Certificada Angus no Mato Grosso do Sul, e na planta da JBS em Campo Grande, a média do Estado foi de 63%.
Sêmen nacional ou importado? Por causa do alto custo, Brasil tem poucos touros Angus testados, mas sêmen nacional acompanha crescimento do importado. Das 3,6 milhões de doses de sêmen de touros Angus comercializadas no Brasil em 2014, dois terços foram importadas, a maioria dos Estados Unidos e, em menor quantidade da Argentina, que tem touros com perfil muito semelhante ao dos animais da raça criados no Brasil. O maior entrave ao uso de sêmen nacional é que o País tem poucos touros Angus provados, por causa dos altos custos do teste de progênie. O Promebo (Programa de Melhoramento de Bovinos de Carne, conduzido pela Associação Nacional dos Criadores Herd Book Collares para raças taurinas de corte) iniciou um teste de progênie de Angus em 2007,mas suspendeu a prova após a segunda rodada, em 2008, por falta de interessados em bancar o projeto. Retomou as avaliações cinco anos atrás e vem realizando o teste regularmente desde então, mas o número de touros participantes dificilmente tem passado de cinco por ano. Na última prova, foram seis animais que já inciaram a coleta de sêmen na central Progen, de Dom Pedrito, RS. José Roberto Weber, presidente da ABA, explica que, além dos custos altos, outra dificuldade para realização de testes de progênie da raça é o entendimento entre os criadores e as centrais de inseminação. “Para bancar o teste de progênie, a central exige do dono dos touros um contrato mais longo para comercializar o sêmen do reprodutor com exclusividade, única maneira de amortizar o investimento. E nem sempre consegue fechar esse acordo”, diz Weber. Informações disponíveis Na falta de touros testados em quantidade suficiente para suprir o mercado de inseminação artificial, a maioria dos reprodutores Angus nacionais com sêmen disponível no mercado brasileiro tem como credencial apenas dados de desempenho indi46 DBO dezembro 2015
Weber, presidente da ABA: entendimento para testar touros nacionais.
vidual nos dois programas de avaliação de animais jovens das raças europeias: o Promebo e o Centro de Performance da CRV Lagoa. O primeiro, lançado há 21 anos, avalia 20 características, incluindo pesos às idades-padrão (210, 365 e 450 dias), ganho de peso diário (GMD), acabamento de gordura (EGS) e rendimento de carcaça (AOL). O programa também mensura a adaptação do animal ao clima, medindo o comprimento de pelo e a resistência ao carrapato, por meio da contagem de insetos. Segundo a médica veterinária Fernanda Nogueira Kuhl, coordenadora do Promebo, o programa avaliou, da safra 2013/2014, 1.900 machos Angus, pertencentes a criatórios do Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina e Rio de Janeiro. No final da avaliação, o programa elabora um ranking dos 100 melhores em desempenho, que é divulgado no sumário. Dessa lista, saem os touros para o teste de progênie, como os seis do último. Essa prova é bancada pelas centrais de inseminação Progen e Alta Genetics. O Centro de Performance da CRV Lagoa, que recebe os animais à desmama após uma pré-seleção nas fazendas, mensura 12 características ligadas à produção (entre eles, pesos às idades padrão, perímetro escrotal, ganho de peso diário, espessura de gordura e rendimento de carcaça). Os animais são confinados no Centro de Performance, em Sertãozinho, e a dieta se assemelha à do melhor pasto. O que se busca é identificar animais superiores para as condições de criação do Brasil. No final da prova, a empresa promove um leilão para a venda dos reprodutores. n
Nutrição
Gordura desejada Cresce a procura pela chamada gordura “protegida”; que proporciona dietas altamente energéticas, visando um melhor acabamento de carcaça.
De aparência granulada, subproduto da soja pode substituir parcialmente fontes como caroço de algodão ou milho
H
Denis Cardoso
á sete meses, a Agro-Pastoril Paschoal Campanelli, orientada por consultores em nutrição, decidiu aumentar radicalmente a densidade energética da ração fornecida aos cerca de 55.000 bovinos confinados anualmente pelo grupo, em Altair, interior paulista. Para isso, lançou mão de um ingrediente nobre, de custo bastante alto no Brasil (cerca de R$ 3.000 a tonelada), mas cada vez mais procurado por pecuaristas de gado de corte, sobretudo grandes confinadores: a gordura protegida, um produto sólido, de consistência granulada, à base de óleo de soja (resíduo de refinarias), vendido em sacos de 25 kg ou em embalagens big bags (1.250 kg). “Graças ao uso deste insumo, o nível de extrato etéreo (EE) de nossa dieta de terminação saltou de 2% para 8%”, informa o proprietário Victor Paschoal Cosentino Campanelli, referindo-se ao teor total de gordura bruta (lipídeos) contida na matéria seca da ração. Em outras palavras: com a inclusão da gordura protegida, o grupo Campanelli não só acrescentou um ingrediente novo à dieta dos bovinos, mas mudou profundamente o conceito nutricional até então vigente em seu sistema de engorda intensiva. Ou seja, uma ração que antes era formulada basicamente com milho (amido), carregada de carboidratos e pobre de lipídeos, hoje é altamente energética, tendo a gordura protegida como carro-chefe. “Foi como se mudássemos de religião”, brinVictor ca Campanelli, para depois explicar o motivo da troca Campanelli de crença: “Tínhamos a necessidade de elevar a oferta passou a de animais com melhor acabamento de carcaça, um dos fornecê-la ao quesitos básicos em qualquer programa de qualidade de gado, movido pela necessidade carne, que oferece bonificações sobre o preço de mercade melhor do do boi gordo. E, sem dúvida, a gordura protegida é acabamento na uma das melhores alternativas para se alcançar os alvos carcaça. almejados em programas desse tipo”, sentencia. 48 DBO dezembro 2015
A Agro-Pastoril Paschoal Campanelli participa do Marfrig Club, programa da Marfrig Global Foods, que tem como objetivo estreitar o relacionamento com o pecuarista (atualmente agrega mais de 1.300 fazendas em todo o País). “Temos uma parceria sólida com o Marfrig e tenho certeza que, fazendo um boi de melhor qualidade, consigo melhores negócios”, enfatiza Campanelli. A estratégia de mudança de conceito nutricional já surtiu efeito, garante o proprietário. Segundo ele, antes de optar pelo adensamento da dieta via gordura protegida, 35-40% do total de animais terminados pelo grupo eram classificados com acabamento de carcaça uniforme (deposição de gordura subcutânea acima de 6 até 10 mm de espessura, além de marmoreio - gordura entremeada). Atualmente, esse percentual subiu para 60-70%, compara. Ainda segundo o pecuarista, ao investir na melhoria de acabamento, consegue-se, por tabela, aumentar o rendimento de carcaça, embora, pondera ele, seja difícil quantificar com precisão esse percentual de ganho no gancho do frigorífico (por questões estratégicas, Campanelli prefere não revelar o rendimento médio obtido atualmente com os animais terminados no cocho) . O pesquisador Rodrigo Dias Lauritano Pacheco, da Empresa Mato-grossense de Pesquisa Agropecuária, Assistência e Extensão Rural-Empaer-MT, de Várzea Grande, diz acompanhar de perto a evolução de demanda pela gordura protegida nos últimos anos. “Primeiramente, esse ingrediente atraiu mais produtores de leite; agora verificamos um maior interesse por parte dos grandes confinadores”, atesta o pesquisador da Empaer-MT, que tem recebido com maior frequência amostras do produto de fabricantes dispostos a aprimorar a tecnologia. Segundo ele, o Brasil segue os passos dos produtores norte-americanos, que utilizam há décadas a gordura na dieta dos bovinos. Porém, nos EUA, prevalece o uso de gorduras líquidas, de origem animal (como o sebo) e restos de óleos de frituras de restaurantes, a chamada “gordura amarela”. No Brasil, o uso de gorduras de origem animal é proibido (medida preventiva contra a doença da vaca louca). O tipo de gordura com maior procura atualmente pelos confinadores é o que contém óleo de refinarias de soja, segundo informa Hélio Zylberlicht, dono da empresa Nutricorp, com fábrica em Araras, SP, e uma das líderes na venda do ingrediente. “Compramos o resíduo (gordura) em forma líquida e o transformamos em pó”, explica ele. Segundo o empresário, para atender à demanda crescente pela tecnologia, a
Nutrição companhia pretende inaugurar, em fevereiro próximo, uma segunda fábrica de produção de gordura protegida e de outros ingredientes (como gordura de óleo de palma, essa voltada para o segmento leiteiro), localizada em Araçatuba, SP. “Em volume, o nosso crescimento anual de venda de gordura protegida gira na casa de 30%”, afirma Zylberlicht, sem, porém, revelar os números da empresa. O elevado preço do produto (cerca de R$ 3/kg), entretanto, continua sendo um fator limitante para um avanço mais vigoroso no uso do insumo em sistemas de engorda intensiva ou semi-intensiva. Como a soja é dolarizada, o seu valor atualmente encontra-se, inclusive, acima dos patamares históricos, devido à disparada cambial registrada no último ano. Segundo o pesquisador da Empaer-MT, justamente por se tratar de um ingrediente de custo elevado, o seu uso abrange uma categoria específica de produtores, já bastante familiarizada com o emprego de tecnologias de ponta. “Normalmente, quem decide incluir a gordura protegida na dieta está com os números do conPara Rodrigo finamento bem ajustados e consegue mensurar claraPacheco, da mente o retorno do investimento”, esclarece Pacheco. Empaer-MT, por Campanelli compartilha da mesma opinião. “É uma ser caro, produto fonte energética de valor altíssimo, que exige um condeve ser bem trole rigoroso no custo da dieta. No entanto, temos controlado. como estratégia trabalhar com o indicador de custo de ganho, ou seja, não importa quanto custa o ingrediente, mas sim o quanto ele traz de benefício zootécnico”. Adensamento Segundo o pesquisador Pacheco, em geral, as fontes de gorduras possuem 2,25 vezes mais conteúdo energético que os carboidratos. No caso da gordura protegida, o seu maior apelo está no fato de apresentar altíssimo
50 DBO dezembro 2015
teor de extrato etéreo (ao redor de 85%), o que proporciona inúmeras vantagens em relação ao uso de outras fontes de lipídeos, como o caroço de algodão, ingrediente já bastante utilizado em dietas de confinamento. “O caroço, embora seja um insumo mais barato (seu valor de mercado gira ao redor de R$ 700 a tonelada), possui apenas 20% de extrato etéreo; o restante é composto por outros nutrientes como fibra e proteína”, compara. A Agro-Pastoril Paschoal Campanelli também diz utilizar o caroço de algodão na dieta dos bovinos, porém o seu emprego é limitado, já que o uso intensivo do ingrediente traz impacto negativo no sabor da carne, segundo teorizam alguns especialistas do setor. Por sua vez, a gordura protegida, por ser associada a sais de cálcio, que agem como uma capa protetora, não se dissolve no rúmen, passa quase incólume pelo abomaso e se decompõe no intestino em cálcio e ácido graxo (gordura), suprindo, assim, as necessidades nutricionais específicas do animal. Ainda utilizando o caroço de algodão como comparativo, a opção pela gordura protegida favorece a operação logística do confinamento, por se tratar de um produto usado em pequenas proporções (por causa do alto teor de extrato etéreo) e de fácil armazenamento. “O menor volume de material permite que os sacos de gordura protegida sejam descarregados rapidamente no galpão do confinamento”, afirma Campanelli. Na hora do trato, basta acrescentar a gordura a outros ingredientes inseridos no vagão misturador. No caso do subproduto do algodão, a logística é bem mais complexa: necessita-se de carretas basculantes para o transporte do caroço até a fazenda. O manejo de grandes quantidades do ingrediente também demanda o uso de empilhadeiras e caminhões para o deslocamento até a fábrica de ração instalada na propriedade. n
Nutrição
Boas perspectivas para os suplementos
Fotos: Moacir José
Pesquisa divulgada no 9º Simpósio da Asbram revela disposição de pecuaristas em continuar investindo em nutrição
Bertelli, o presidente até então: boa surpresa.
moacir josé
de Campinas, SP.
S
moacir@revistadbo.com.br
e depender dos pecuaristas que utilizam a nutrição como ferramenta para ganhos de produtividade, os próximos anos continuarão com boas perspectivas para os fabricantes de suplementos minerais. Pelo menos é isso que aponta a pesquisa feita pela Scot Consultoria, de Bebedouro, com 500 Intenção de uso pecuaristas (375 de corte de 125 de leite), entre os de suplementos meses de junho e julho deste ano, sob encomenda da 0,3 % Asbram (Associação Brasileira das Indústrias de Suplementos Minerais). Numa das questões dirigidas aos entrevistados, sobre qual seria o potencial da atividade por eles conduzida para o aumento da 30,1 % suplementação mineral por cabeça, 63% disseram que pretendem manter o nível de consumo 63,7 % % desses produtos; menos de 1% disseram que vão 5,9 reduzi-lo e 30%, ser alta a possibilidade de aumentarem o consumo. Isso significa que, no mínimo, a demanda por Diminuir suplementos deverá repetir o desempenho esperado Manter para 2015 pela entidade: entre 2 e 3% de aumento Aumentar pouco com relação a 2014. O crescimento não é nada en Aumentar muito tusiasmante, se for comparado com o de 2014 sobre 2013 – 21% -, mas não pode ser desprezado dentro 52 DBO dezembro 2015
de um quadro de encolhimento pífio da economia brasileira neste ano – menos 3%, segundo as projeções feitas até o fim de novembro. É como entende Lauriston Bertelli, presidente da Asbram em final de mandato. “Não é grande coisa, mas, dentro da conjuntura da economia brasileira, ‘salva a pátria’”. Os dados da pesquisa foram apresentados pelo diretor da Scot, Alcides Torres Júnior, no dia 13 de novembro, no hotel Royal Palm Plaza, em Campinas, segunda maior cidade do Estado de São Paulo, 99 km a noroeste da capital. Foi o segundo dia do 9º Simpósio Nacional da Asbram, que é realizado a cada dois anos e que reuniu cerca de 100 pessoas, este ano com o tema “Como crescer e ter lucro em tempos difíceis”. Antes dele, o economista Felipe Cauê Serigati, pesquisador do Centro de Agronegócios da Fundação Getúlio Vargas, em SP, onde também é professor, apresentou vários gráficos e números mostrando as causas que levaram a economia ao estágio atual de quase estagnação e as dificuldades que o governo enfrentará nos próximos anos. Mas, ao final, destacou um dado que já vem sendo defendido por outros especialistas: o de que o segmento agro continuará se destacando dos demais em 2016. Bahia na cabeça Esta é a terceira vez que a Scot realiza esse tipo de pesquisa (a anterior foi em 2011), que não é analítica; apenas reflete a opinião dos entrevistados naquele momento. “As conclusões dos números têm de ser tiradas pelas indústrias que compõem a Asbram”, alertou Scot no início da apresentação. Os entrevistados da pesquisa foram divididos em três grupos, conforme o tamanho do rebanho. No caso dos produtores de gado de corte, até 1.000 cabeças (G1), de 1.000 a 5.000 (G2) e acima de 5.000 cabeças (G3). Nesse segmento, ficaram de fora da pesquisa apenas alguns Estados (SC, RJ, ES, todos do Nordeste, exceto o Maranhão, além de Amazonas, Acre e Amapá), ou seja, o restante responde pela grande maioria da produção nacional. Na Bahia encontra-se o maior rebanho médio por propriedade, 9.767 cabeças, bem superior à média da pesquisa, de 5.686 cabeças. E o Paraná foi o Estado com a menor média, 2.654 cabeças. “Notamos que o Paraná perdeu muito rebanho, em função do avanço da agricultura”, avaliou Scot, num dos poucos momentos em que fez alguma interpretação dos números. As vendas diretas do fabricante para o pecuarista continuam sendo o carro-chefe de vendas de suplementos para gado de corte, respondendo por 75% do total; 18% ficam com as revendas e 9,6% com as cooperativas. Com relação ao suplemento utilizado, 67% dos pecuaristas entrevistados preferem o produto pronto, e, desses, 50% compram proteinados de baixo con-
Pretendem usar produtos mais completos? (% de SIM) 52,6 % 44,0 % 44,4 % 43.2 %
42,9 %
Crescimento anual do PIB (%)
53,3 %
50,0 %
46,7 %
Total
MA
BA
PR
SP
TO
RO
RS
MG
GO
PA
3.0
2.9
2.4
1.0 0.9 1.0
0.2 -0.9
-1.2
18,8 %
MS
0.7
0.4
32,1 %
MT
2.5
41,1 %
40,0 %
39,4 %
Agronegócio: o setor que sentirá menos a crise
-2.0
-3.1
2015*
Indústria
Serviços PIB
2016*
2017*
Fonte: Pesquisa Scot Consultoria
Fonte: Banco Central.
sumo e 21%, proteinados de alto consumo; 15,2% se referem a suplemento mineral energético, 8% compram sal mineral com ureia e 16,8%, suplemento para diluir. 10,5% ainda compram apenas sal branco, algo que causou uma certa surpresa ao diretor da Scot. José Luiz Bianchi, diretor operacional da Connan Companhia Nacional de Nutrição Animal, com sede em Boituva, SP, também se mostrou surpreso com a informação. “Acho um percentual muito elevado, uma vez que o cloreto de sódio só fornece dois elementos (cloro e sódio), enquanto que nos suplementos temos uma série de outros elementos que favorecem um melhor desempenho dos animais. Esse comportamento remonta aos primórdios da mineralização animal no Brasil”, compara.
pe Serigati, o 9º Simpósio da Asbram contou com a participação dos brasileiros Maurício Palma Nogueira, agrônomo e sócio da Agroconsult, de Florianópolis, e Pedro Janot, administrador de empresas e ex-executivo de grandes empresas, e de dois palestrantes estrangeiros: a norte-americana Nicolette Niman e o britânico Greg Young. Maurício e Nicolette fizeram palestras dirigidas à defesa da carne bovina, enquanto Janot e Young falaram de liderança.
Resposta auspiciosa Diante da pergunta se nos próximos anos existiria a expectativa de os pecuaristas utilizarem produtos mais completos na área de suplementação, na média, 41% responderam que sim. A maior parcela ficou novamente com o pessoal da Bahia (53%), acompanhada de perto de Tocantins (52%) e São Paulo (50%). Os pecuaristas de Minas Gerais foram os que se mostraram menos preocupados com esse quesito: apenas 19% disseram sim. Por faixa de rebanho, na média Brasil, uma surpresa: o G1, grupo de pecuaristas com até 1.000 cabeças, teve 42% de respostas “sim”, maior que o G2 (36%) e quase empatado com o G3 (45%). Esse foi, na opinião do presidente Lauriston Bertelli, o resultado mais interessante da pesquisa, uma vez que demonstra a disposição de boa parte dos pecuaristas de investir em produtos mais elaborados (que carregam em sua composição aditivos e promotores de eficiência alimentar e que balanceiam elementos fundamentais para o desempenho dos animais), também mais caros. Além da pesquisa da Scot sobre consumo de suplementos e da apresentação do economista Feli-
2.0
Agropecuária
-1.9
-3.0
-5.9 2014
1.0 1.0
2018*
* Previsão do Boletim Focus de 06/11/2015.
Nova direção O simpósio também é o foro em que se oficializa a chapa que comandará a entidade nos dois anos seguintes. E, neste, foi divulgado o nome de Nelson Lopes, presidente da Vaccinar, empresa de nutrição e saúde animal com sede em Goiânia, GO. Para ele, um dos principais desafios será ampliar o número de associados em pelo menos 50%, ou seja, passar das atuais 56 empresas filiadas para 75, o que significará 25% do universo de 300 empresas que atuam na área de suplementação animal no Brasil. A gestão de Lauriston Bertelli conseguiu aumentar o quadro de associados de 41 para 56. Para isso, Lopes pretende continuar com o trabalho de convencimento e de informação junto a esse universo. “Existe uma certa desconfiança, motivada pela falta de conhecimento, o que nos impediu até agora de encorpar mais a entidade”, justifica ele. Ele explica que muitos têm receio de que os dados de suas empresas sejam expostos, o que não acontece. “Temos um contrato com a auditoria Tonelli que impede que sejam divulgados dados das empresas, de forma que o associado sabe o número dele e a média dos associados, mas nunca o de um concorrente”, esclarece. A eleição da nova diretoria da Asbram estava marcada para o dia 15 de dezembro, quando esta edição de DBO começou a circular. n
Lopes, o presidente escolhido: atrás de mais associados.
DBO dezembro 2015 53
Nutrição
Compactação. Trator deve passar inúmeras vezes sobre a massa
Tempo para compactar deve ser 20% maior do que para cortar
Silagem bem compactada Sedimentação correta e vedação eficiente garantem a qualidade do alimento por um longo período
P
Lídia Grando
or viver em um país tropical, o produtor brasileiro tem pouca tradição em guardar comida para os animais consumirem no inverno. A forma mais conhecida de reservar este alimento é a produção de silagem feita de milho, sorgo ou alguma outra gramínea. Dentre as etapas da ensilagem, compostas pelo corte da planta na época ideal, o enchimento do silo, a compactação da massa verde picada e a vedação, o maior descuido, normalmente, ocorre nas etapas finais de preparação, para que o alimento fique bem conservado e tenha qualidade para longa vida útil. “O principal erro está na compactação”, diz o professor de Nutrição de Ruminantes da Universidade Estadual de Ponta Grossa, PR, João Ricardo Alves Pereira. A compactação tem, entre as suas funções, tirar o ar entre as camadas, elevar a temperatura e favorecer a ação das bactérias produtoras de ácido lático, importante para a conservação do silo com qualidade. Pereira lembra que há programas atualizados de nutrição que pretendem aumentar a partícula no corte, mas, para isso, a boa compactação torna-se ainda mais importante. Para executá-la, a receita é utilizar um trator pesado (acima de 95 cavalos) para passar incansavelmente sob o silo a cada camada distribuída. “A recomendação é que se usem 20% mais de horas para compactar do que para cortar”, sugere. Por exemplo, se foram necessárias dez horas para o corte, para a compactação serão necessárias 12 horas. Pereira explica que o silo deve ser
54 DBO dezembro 2015
completado de forma “rampada”, ou seja, inclinado em direção à sua entrada. Para melhor efetividade da compactação, as camadas devem ser bem distribuídas e finas. Pereira sugere que tenham de 15 a 20 centímetros de altura e não mais do que isso. Para essa etapa final da conservação, a escolha da lona de cobertura coroará o processo, se for de boa qualidade. “A vedação é um passo onde muitos pecam, por achar que fizeram uma boa compactação”, diz o professor Luiz Gustavo Nussio, da Esalq/USP. Por permitir trocas de gases, as tradicionais lonas pretas, feitas de cloreto de polivinil (PVC) ou polietileno, são ineficientes como barreira para o oxigênio. Isso ocorre por causa da dilatação de microcoporos com o calor. “O ideal seria encontrar uma lona que cumprisse a função de ser uma barreira mecânica e de oxigênio”, afirma Nussio, reconhecendo que essa ferramenta ainda não está disponível plenamente. “Mas começam a surgir alternativas tecnificadas”, relata. Dentre as opções, há uma lona de poliamida que seria uma barreira para o oxigênio, “mas que tem baixa resistência mecânica e rasga mais facilmente”, explica Nussio. “Há quem a use com uma tela ou uma lona dupla-face, recobrindo-a”, afirma, reforçando a importância da vedação. Pereira, do Paraná, também ressalta a importância do investimento na lona de vedação e sugere como alternativa, cujo uso vem crescendo, os sacos de armazenar grãos feitos de lona. “Por sua melhor qualidade, eles são comprados e cortados na lateral para que se tornem uma manta”, explica. Sua função principal é ser uma resistente barreira física. Como alternativa para dificultar a entrada dos gases, ainda pode-se fazer a cobertura da lona. “Temos testes com bagaço de cana que comprovam ser um material interessante por sua capacidade de aglomeração”, explica Nussio. Ele lembra que podem ser usados outros resíduos orgânicos ou terra, mas “é sempre preciso o cuidado na abertura para evitar contato com micro-organismos e a contaminação”. Para evitar acúmulo de água devem ser feitas valetas no perímetro do silo para o escoamento da chuva. Alternativa para ainda maior vedação lateral, caso haja disponibilidade, está em encher sacos com pedras para que sirvam como peso e firmem a lona. O silo deve ser cercado e vistoriado periodicamente para evitar a entrada de animais. n
Raças
Paixão, seleção e expansão. Fotos Ariosto Mesquita
Incentivado pelo irmão, Raphael de Freitas iniciou a criação. Hoje é ‘sinônimo’ de Canchim.
Raphael de Freitas com tourinhos de 14 meses: ‘marqueteiro’ do Canchim.
E
Ariosto Mesquita
le é um apaixonado pelo gado Canchim. Hoje, mais do que isso, é um “marqueteiro” da raça bovina, como se autodefine. Estamos falando do pecuarista Raphael Antonio Nogueira de Freitas, proprietário da Fazenda dos Ipês, em Aparecida do Taboado, no leste do Mato Grosso do Sul, região conhecida como Bolsão do MS. O próprio nome da fazenda é uma das principais marcas de Canchim do País, raça surgida no cruzamento do gado Zebu com Charolês, este originário da França e com forte presença nos Estados Unidos. Eram oito horas da manhã de 6 de outubro. Freitas já aguardava a repornnn
Fazenda em números MS
Aparecida do Taboado
Campo Grande
Nome: Fazenda dos Ipês Localização: Aparecida do Taboado, MS Área: 1.200 ha Área arrendada: 670 ha Área de pasto: 1.550 ha (capim marandu) Área de cana: 40 ha Rebanho médio: 2.900 cabeças Taxa de lotação média: 1,47 UA/ha Produção de silagem de cana: 2.700 a 3.000 t/ano Produção média anual de animais de seleção: 160 (entre machos e fêmeas, registrados pela ABCCAN) Produção anual de bezerros: 1.100
nnn
56 DBO dezembro 2015
tagem de DBO na varanda do escritório da fazenda, a 75 km do centro de Aparecida do Taboado. Trajando uma alinhada camisa azul-claro e um chapéu panamá, o pecuarista era pura disposição para os seus 75 anos de idade, 20 dos quais dedicados a um trabalho de melhoramento genético da raça, tanto em sua propriedade quanto como membro ativo da Associação Brasileira dos Criadores de Canchim (ABCCAN), onde já foi diretor administrativo, de leilões e de marketing. No período em que esteve à frente do marketing, revelou-se um estrategista. Um de seus principais focos foi a realização periódica de leilões de alto nível. “Vi que era fundamental fazer de quatro a cinco bons leilões anuais, ajudando a projetar a raça pelo País. Nos últimos anos, começamos a vender para Estados como Rondônia e Pará, o que não ocorria antes”, afirma. A base de expansão veio justamente com os leilões organizados por ele e pelo colega e pecuarista Luiz Carlos Fernandes. O pregão de touros PO, realizado em julho na Expopar, em Paranaíba, MS (distante 128 km da fazenda), por exemplo, fechou com a média geral de R$ 8.808. Todos os 48 lotes foram vendidos, com renda de R$ 422.800. O leilão, atualmente, é referência em se tratando de seleção da raça no Brasil. É planejado a partir da observação do mercado. Há três anos, Freitas notou que o número de bons compradores de touros era de, no máximo, seis, e resolveu mudar o quadro. “Decidi criar um leilão de bezerros meio-sangue Canchim no sábado, antecedendo o de reprodutores PO na segunda-feira, durante a feira de Paranaíba”, relata. Na edição deste ano, ele relata que a bezerrada (1.000 cabeças), com até 270 kg e idade de 8 a 10 meses, foi vendida pela média de R$ 1.800 (machos) e R$ 1.400 (fêmeas), valores superiores ao de um “magnífico bezerro Nelore”, que, segundo Freitas, não ultrapassa R$ 1.450 na região. “Dois dias depois, no leilão de reprodutores, tivemos 23 compradores diferentes, quase um para cada dois touros. Com tanta valorização, quem estava só engordando meio-sangue passou a querer produzir também”, avalia. “Nossos leilões no Bolsão se tornaram sinônimo de padrão de qualidade. Passaram a atrair compradores de vários Estados. Paranaíba já vem sendo chamada de capital do bezerro Canchim. É a ‘Camapuã’ dos nossos bezerros”, afirma, referindo-se à cidade do MS que detém o título de “capital do bezerro de qualidade”, conferido por lei estadual. Avaliação de desempenho A integração entre o trabalho de Freitas pela raça e sua atividade na Fazenda dos Ipês sugere uma profícua harmonia. Ele tenta aproveitar experiências e oportunidades externas, da mesma forma que não guarda segredos sobre o sucesso de seu rebanho, há seis anos concentrado na seleção de reprodutores PO de alta linhagem e na produção de bezerros meio-sangue Canchim, estes representando hoje 80% do faturamento comercial da fazenda. Incansável, Freitas é um dos criadores e idealizadores da Prova Canchim de Avaliação de Desempenho (PCAD), realiza-
Vaca Nelore de 7 anos amamenta, no dia da desmama, bezerrão meio-sangue de 8 meses.
Estação de monta: Novilhas Nelore são submetidas ao cruzamento com touros da raça Canchim.
da anualmente pela ABCCAN, desde 2010. Este ano, teve início no dia 7 de junho, em Jussara, GO, e no dia 15 do mesmo mês em Angatuba, SP. A pesagem final ocorreu em novembro. “Nesta edição tivemos a participação de 350 tourinhos de várias regiões do Brasil. Dividimos em duas cidades distintas para facilitar o deslocamento dos animais”, explica. Atualmente em sua 6ª edição, a PCAD é considerada, pela ABCCAN, a mais importante prova de avaliação de taurinos no Brasil. Como principal ferramenta de análise genética da raça, é conduzida pelo Programa de Melhoramento Geneplus, da Embrapa. Freitas lembra que suas particularidades e objetivo final foram sendo compreendidos aos poucos pelos participantes. “É uma prova de desempenho, não de ganho de peso. Não basta ‘tacar’ ração que nem louco para ver quem engorda mais. É para distinguir os touros bons e não os touros gordos. Muita gente demorou a compreender isso. Logicamente, o ganho de peso é um dos itens avaliados, mas não é o único.” O índice de classificação geral da prova, da qual participam apenas animais registrados pela ABCCAN, avalia as seguintes características, com as respectivas ponderações: peso ao fim da prova (20%); ganho de peso na prova
(20%); perímetro escrotal (13%); conformação frigorífica (7%); espessura de gordura avaliada por ultrassom (7%); área de olho de lombo avaliada por ultrassom (7%); escore de classificação final (7%); escore de marmoreio avaliado por ultrassom; pelagem (3%); umbigo (3%); aprumos (3%) e pigmentação de mucosa (3%). Apuro tecnológico Raphael de Freitas também é um dos fundadores do Grupo de Desenvolvimento da Raça Canchim (Gedecan), focado na busca e aplicação de tecnologias atualizadas na pecuária de corte, enfatizando a DEP (Diferença Esperada na Progênie) com a parceria da Embrapa, que indica o técnico a ser contratado. Surgido em 2008, o grupo tornou-se uma ferramenta comum de melhoramento genético da raça. Além de Freitas, são integrantes, até hoje, os mesmos pecuaristas fundadores: Denis Ferreira Ribeiro (Fazendas Água Marinha e Esmeralda, respectivamente nos municípios de Santa Bárbara, SP, e Ribas do Rio Pardo, MS); João Paulo Marques Canto Porto (Fazenda Santa Helena, em Jussara, GO); Júlio Silvestre de Lima (Fazenda São Joaquim, em Carvalhos, MG) e Luiz Carlos Dias Fernandes (Fazenda Santa Maria, em Três La-
Da engenharia à pecuária Raphael de Freitas não tinha a menor afinidade com a pecuária e nada conhecia da atividade. Formado em engenharia, trabalhava no início dos anos 1970 na construção da barragem da Usina de Jupiá, no Rio Paraná (divisa MS e SP). Como investimento, uniu-se a três outros colegas e comprou 4.000 hectares de terras no lado do então Estado do Mato Grosso (hoje Mato Grosso do Sul). Com um incentivo governamental, que permitia descontar 100% do imposto de renda no plantio de eucalipto, o grupo decidiu instalar 150 ha com a espécie exó-
tica. “Mas já no primeiro ano o incentivo acabou e ficamos a ver navios. Foi aí que surgiu meu irmão, Ernesto de Freitas, que era engenheiro agrônomo. Em 1973, decidimos entrar na pecuária. No ano seguinte, ele começou a tocar a fazenda. Metade da área foi formada com financiamento do antigo Polocentro, dinheiro do governo que cobrava 2% de juros ao ano sem correção monetária em época de inflação alta”, diz. A partir daí, Freitas e os colegas entraram com pecuária de corte em sistema de ciclo completo, utilizando gado Nelore, acompanhando as orientações
nnn Prova de avaliação de desempenho é anual e analisa
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características da raça Canchim e é promovida pela ABCCAN
nnn
de seu irmão. “A fazenda não tinha pasto adequado para outras raças. O Nelore tem uma rusticidade que o fez suportar bem o momento.” Em 1993, os quatro decidiram dividir as terras. Freitas ficou com a sua parte: a Fazenda dos Ipês. Entre 1994 e 1995, o irmão começou a introduzir o gado Canchim, já com investimento em genética. Em 1996 houve o inesperado: “Meu irmão faleceu e tinha de passar a entender de pecuária para tocar a fazenda. Em homenagem a ele, decidi não vender a propriedade e mergulhei no assunto, sobretudo na raça Canchim. Hoje, sou um apaixonado”.
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Raças
Semiconfinamento com 600 matrizes: rebanho é alimentado com silagem de cana, feita na propriedade, e sal proteinado.
nnn Integram o Grupo de Desenvolvimento da Raça Canchim
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criadores, com fazendas em quatro Estados
nnn
goas, MS). Importantes contribuições à raça vieram a partir de viagens desse grupo aos EUA e à França, de onde importaram sêmen de Charolês de animais com características que pudessem retocar alguns detalhes do rebanho brasileiro, como pelagem curta e umbigo corrigido. “Este ano, o Gedecan importou mil doses de sêmen de um touro norte-americano de pelagem boa, curta, ideal para nosso clima. Eu fiquei com pouco mais de cem doses e comecei a inseminar nesta estação de monta. É o que chamamos de ‘refrescamento’ da raça”, explica Freitas. Dentro do grupo, todos vendem animais um para o outro. “É quase um processo de troca, a preço de custo.” Para capitalizar mercado e logicamente os resultados desses investimentos, o Gedecan realiza o Leilão Virtual Canchim Primavera, que ocorre sempre no início da estação (em 23 de setembro). Este ano, em sua sexta edição, comercializou 39 touros (PO e LA), atingindo uma média de R$ 8.901 e fechando com renda de R$ 347.169. Das 350 fêmeas utilizadas para a produção de animais de seleção, 250 são matrizes Canchim e 100 são matrizes “A” (F1 meio-sangue Canchim/Nelore). As matrizes Canchim passam pela monta natural ou IATF com sêmen de touros da mesma raça. “O animal resultante é o OS, conhecido como puro sintético, que chamamos de PO”, explica. Nas matrizes “A”, Freitas faz IATF utilizando sêmen importado de touros Charoleses (da França e dos Estados Unidos). Deste processo nasce um animal com cerca de 5/8 de sangue Charolês, que é classificado como Canchim MA. Na desmama, esses animais são vistoria-
dos pela ABCCAN. Aqueles aprovados são registrados e se juntam ao lote de tourinhos em piquetes rotacionados (incluindo as áreas de milheto). “Aqueles não aprovados eu coloco junto ao grupo de bezerros meio-sangue Canchim para serem comercializados”, observa.
Em 2009, adeus aos frigoríficos.
à comercialização de bezerros (machos e fêmeas), garrotes e novilhas produzidos em regime de cruzamento industrial de touros Canchim com vacas Nelore. Na outra ponta, permaneceu com a seleção de touros, matrizes e sêmen da raça para uso próprio e comercialização. A propriedade tem 1.200 hectares de área total, sendo 880 ha formados com pastagens (capim marandu) e 40 ha cultivados com cana para silagem. Duas áreas vizinhas foram arrendadas, totalizando mais 670 ha de pastagens. “São 2.900 cabeças de bovinos, correspondendo a 2.280 unidades animais (UA), o que me dá uma taxa de ocupação de
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á seis anos, Raphael de Freitas decidiu abandonar a atividade de ciclo completo, que dividia espaço na Fazenda dos Ipês com o trabalho de seleção Canchim, este conduzido desde 1995. Cansado da relação com os frigoríficos, reestruturou seu rebanho comercial para a cria, visando
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Silagem de sorgo e cana Na estação seca, os tourinhos são acomodados em uma espécie de semiconfinamento. Ficam nos próprios piquetes rotacionados, mas recebem, em uma mangueira central, suplementação com silagem de sorgo, de cana e ração proteinada, preparada na própria fazenda. “Aos 18 meses são novamente vistoriados pela ABCCAN. Os aprovados recebem o registro definitivo da associação e, após o exame andrológico, posso vendê-los ou utilizá-los como touros.” Processo semelhante ocorre com as bezerras Canchim. São vistoriadas duas vezes antes de receberem o registro definitivo. Assim, podem ser comercializadas como matrizes da raça ou utilizadas dessa forma na fazenda. Freitas garante: “Sou um dos maiores comercializadores de bezerros meio-sangue Canchim/Nelore do País”. Para isso, a Fazenda dos Ipês dispõe de uma média de mil matrizes Nelore e 150 meio-sangue e 40 touros Canchim selecionados. A estação de monta começa em meados de setembro e se estende por 135 dias. As matrizes que não emprenham na estação são descartadas e vendidas para frigoríficos. Anualmente são produzidos mil animais (machos e fêmeas). Algo em torno de 95% desses animais eu vendo em leilões”, diz o pecuarista.
1,47 UA/ha”, revela. Todo o gado é criado a pasto, com o apoio de um semiconfinamento temporário, que garante a nutrição dos animais no período mais seco do ano (julho a outubro), simultaneamente ao descanso de parte das pastagens até a volta das chuvas. Os 40 ha ocupados com cana estão divididos em cinco talhões de oito hectares cada, dos quais são produzidas entre 2.700 e 3.000 toneladas de silagem por safra. “A cada ano, um dos talhões de cana é renovado a partir o plantio de sorgo em dezembro, que é colhido e ensilado em março do ano posterior, obtendo entre 270 e 300 toneladas de silagem ao ano”, explica Freitas. No Bolsão de MS, sobretudo na parte leste, é comum a utilização do sorgo no lugar do milho em função de sua maior capacidade de resistência aos efeitos dos constantes e extensos veranicos na região. A Fazenda dos Ipês também está servindo como área de pesquisa (uma parceria com a empresa AGN Bioenergia). “Estamos testando diversas espécies de mudas de cana energia em uma área de 1 ha. São variedades que produzem muita massa. Duas delas serão escolhidas para ser multiplicadas e testadas com o gado. Dando certo, poderei reduzir minha área de cana de 40 para até
25 ha, abrindo espaço para a produção de silagem de sorgo.” Semiconfinamento A partir dos primeiros dias de julho, quando as pastagens começam a ficar bem secas, Freitas encaminha entre 600 e 700 matrizes prenhes para um semiconfinamento (capacidade máxima para 900 animais) de 20 ha divididos em piquetes de 2,25 ha onde são ofertados silagem e sal proteinado. À medida que o parto se aproxima, as fêmeas são levadas para uma área maternidade. As últimas geralmente saem em meados de novembro. “A partir daí fazemos a incorporação do esterco ao solo e plantamos sorgo, de onde posteriormente sai a silagem destinada aos tourinhos. Em seguida, planto o milheto, que será pastejado pelos mesmos animais entre o fim de abril e o fim de junho, quando o ciclo recomeça”, detalha o pecuarista. A fazenda ainda conta com aproximadamente 500 ha de pastos em rotação. O sistema é formado por piquetes entre 8 e 18 ha cada um, divididos por cercas (em sua maioria, elétricas). Em mangas centrais ficam os bebedouros e cochos de sal. n
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Raças Arquivo RCREC
produtos do Angus branco em cruzamento com essas raças têm o potencial de carregar as vantagens reprodutivas e de carcaça do Angus (preto e vermelho), com uma maior capacidade de adaptação a esses ambientes. Um estudo com a variedade, publicado pela Sociedade Americana de Engenheiros Agrônomos e Biólogos em 2008, deu conta da superioridade de novilhas Angus brancas no que diz respeito à taxa de sudorese. Nesse estudo, as novilhas Angus Ona exibiram uma taxa de transpiração 83% maior do que a de novilhas Angus preto descendentes de um plantel tradicional de Angus da Flórida, selecionado por várias gerações. Novilhas do criatório selecionado em Ona, sul da Flórida.
Angus branco? Tem. E está à venda. Universidade da Flórida, nos EUA, fará leilão de plantel ali desenvolvido.
O
Da Redação
Range Cattle Research and Education Center (RCREC, ou Centro de Pesquisa de Gado de Corte, numa tradução livre) da Universidade da Flórida, sul dos Estados Unidos, vai leiloar, em janeiro de 2016, o primeiro rebanho formado por animais da raça britânica Angus da variedade branca. Sim, a raça conhecida mundialmente pela precocidade, marmoreio e maciez de sua carne, tem outra coloração além da predominante preta e da minoritária vermelha. O desenvolvimento dessa variedade se deu praticamente por acaso, explicam os pesquisadores da universidade norte-americana. Batizada com o nome Ona White Angus – o Angus Branco de Ona, em referência à cidade da Flórida onde está localizada a universidade – a variedade é produto de animais com 3/4 de sangue Angus preto, de pele escura como este, mas os pelos brancos, influenciados pelo 1/4 de sangue resultante do cruzamento com animais das raças Charolês, Brahman e Simental. “É uma espécie de anomalia genética, que não está completamente compreendida”, explica material de divulgação do RCREC, garantindo não se tratar de animais geneticamente modificados. De acordo com os pesquisadores, essa nova variedade de raça de corte poderá reforçar o trabalho de seleção de empresas e criadores que se encontram nas regiões tropicais e subtropicais do mundo, particularmente em programas de cruzamento envolvendo vacas de fenótipo brancas, como Nelore e Brahman. Isto porque os
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Investimento alto O rebanho que vai a leilão é formado por 71 matrizes com idade média de cinco anos, três reprodutores, dois tourinhos e 13 bezerros. Foi formado ao longo dos últimos 12 anos, mas os primeiros exemplares com a pelagem branca surgiram em 1990, a partir de estudos desenvolvidos pelo professor F.M. Peacock, da própria Universidade da Flórida, que tinham por objetivo comparar as características de produtividade do Angus, do Charolês e do Brahman. Em 2002, foi identificado um pequeno, mas significativo número de bezerros brancos no rebanho desse experimento; as fêmeas foram, então, isoladas e cruzadas com touros Angus preto, identificando-se e apartando as matrizes responsáveis por transmitir essa coloração branca para seus descendentes. O problema é que o investimento para continuar com esse rebanho mostrou-se elevado para uma universidade pública, especialmente em se tratando de tecnologias de reprodução, particularmente a transferência de embriões. Por isso, o RCREC decidiu transferi-lo para um novo proprietário, com o desejo de que este invista no futuro da raça. Segundo o brasileiro João Maurício Bueno Vendramini, professor associado da Universidade da Flórida e especialista em forragens – que informou DBO sobre essa novidade –, os animais deverão ser arrematados por um único comprador nesse leilão, que ocorrerá pela internet, no dia 21 de janeiro. Interessados em dar lances devem cadastrar-se previamente no site http://www.producerscattleauctions.com. Para ele, o maior benefício para os criadores brasileiros seria o cruzamento do Angus branco com vacas Nelore para a produção de novilhas meio-sangue que, pela pelagem branca resultante, seriam mais adaptadas às condições tropicais do que as cruzadas com touros negros ou vermelhos. “Alguns touros Angus brancos foram testados em provas de desempenho e apresentaram ganho de peso, eficiência alimentar e área do olho de lombo semelhantes aos dos touros pretos e vermelhos testados, mostrando também potencial para produção de novilhos machos precoces e com qualidade de carcaça superior”, diz Vendramini. A variedade branca do Angus e informações sobre o leilão da Universidade da Flórida podem ser visualizados na internet em https://goo.gl/Xujnt8. n
Raças Canchim
Maury Dorta Jr
Termina a prova de desempenho
De 350 tourinhos confinados, saíram 16 elite e 40 superiores.
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m cerimônia realizada na Fazenda Santo Antônio, em Angatuba, SP, a Associação Brasileira dos Criadores de Canchim encerrou a 5º Prova Canchim de Avaliação de Desempenho (PCAD). No total, a versão 2015 avaliou 350 machos, que ficaram confinados nas Fazendas Santa Helena (em Jussara, GO) e Santo Antônio (Angatuba, SP). A prova, coordenada pelo Programa Geneplus, da Embrapa Pecuária de Corte, de Campo Grande, MS, foi realizada em duas etapas: a primeira avaliou os machos nascidos em julho e agosto e a segunda em setembro e novembro de 2015. Na Fazenda Santa Helena, em Jussara, GO, a prova que avaliou os tourinhos nascidos entre julho e agosto de 2014 teve seis animais classificados como elites e 12 como superiores. O campeão (Elite Ouro) foi Titan da Itamarati, do criador Luiz Carlos Bernardes, que
Angus I Pelo terceiro ano consecutivo, a Agropecuária Maragogipe, de Itaquiraí, MS, venceu o maior concurso de carcaças da raça Angus promovido no Brasil, que, neste ano, contou com 21 fazendas e 1.137 animais abatidos na planta do frigorífico da Marfrig, em Bataguassu, MS. A Maragogipe, do pecuarista gaúcho Wilson Brochmann, tem quatro fazendas no Mato Grosso do Sul (três em Itaquiraí
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também fez o segundo (Elite Prata), com Temido da Itamarati. Entre os animais nascidos entre julho e agosto e avaliados na Fazenda Santo Antônio, em Angatuba, SP, a prova de desempenho classificou 21 tourinhos como elite e 24 como superiores. O campeão, que recebeu o troféu Elite Ouro, foi Secreto JJ, do criador Júlio Silvestre Lima. O segundo, Elite Prata, foi para Rembrandt da Água Marinha, do criador Deniz Ferreira Ribeiro. Entre os machos nascidos entre setembro e novembro e confinados na Santa Helena, de Jussara, GO, a prova escolheu dez tourinhos elite e 28 superiores. O campeão foi Trivago da Itamarati, de Luiz Carlos Bernardes, que também fez o vice, com Trojan da Itamarati. Entre os animais nascidos entre junho e agosto e avaliados na Santo Antônio, 14 foram classificados como elite e 31 como superiores. O campeão, que ganhou o Elite Ouro, foi Urso MN da Vista Alegre, do criador Edson Rodrigues de Bastos. O troféu Elite Prata foi para Sideral 7443 da Santa Carolina, de Mário Nascimento Xavier. Na prova de Jussara, Marino MN da Itamarati, de Luiz Carlos Bernardes, ganhou o título de Progênie de Pai, com avaliação de 11 filhos. Em segundo, ficou Abio MN da Ipameri, de João Paulo Canto Porto, com sete filhos. Na prova de Angatuba, o título campeão da progênie de pai foi para Ocidente MN da Santa Carolina, do criador Edson Lima Matos, que teve cinco filhos avaliados. O troféu reservado campeão foi para Abio MN da Ipameri, de João Paulo Canto Porto, que teve três filhos avaliados.
e uma em Iguatemi) e uma no Rio Grande do Sul (Camacuã) e venceu nas categorias macho e fêmea. Na dos machos, o lote campeão, com média de 13 meses, produziu uma carcaça limpa de 357,46 kg (23,83 arrobas). O lote que ficou em segundo lugar pertencia ao pecuarista Geraldo Aparecido Paleari, da Fazenda Boa Sorte, de Campo Grande, MS, com carcaça de 304,37 kg (20,29 arrobas). Entre as fêmeas, o lote campeão produziu carcaça limpa de 302,14 kg (20,14 arrobas) e pertence à Agropecuária Maragogipe e o lote de fêmeas que ficou em segundo, produziu carcaça limpa de 287,81 kg (19,18 arrobas). Além do peso, os animais apresentaram acabamento de gordura entre mediano e uniforme, como exige o concurso e também o Programa Carne Certificada Angus. Fazendo cruzamento industrial com Angus há quatro anos, Brochmann não esconde o segredo da produção da carcaça de qualidade: genética e nutrição. No caso da genética, não é só do
Angus. A matriz Nelore, que origina o animal meio-sangue, passa, também, pelo crivo de seleção no Programa de Melhoramento Genético da Conexão Delta Gen. Para completar a receita da carcaça campeã, muita comida. “Tratamos o bezerro no creep feeding e confinamos após a desmama, com pouco mais de 150 dias de cocho. “Sem esse trato, não conseguiríamos acabar a carcaça” diz.
Raças Santa Gertrudis I Criador em Itaí, SP, Luiz Fernando Doneux Júnior foi eleito presidente da Associação Brasileira de Santa Gertrudis para o biênio 20162017, substituindo Antônio Roberto Alves Correia, que passa a ser o vice-presidente. A nova diretoria é integrada ainda por Vladimir Álvares de Mello e Paul Moller Steffen (primeiro e segundo assessores da presidência); Carson Zachary Geld (planejamento); Márcio Cabral Magano
Angus II Pelo segundo ano consecutivo, a Frigol e a Associação Brasileira de Angus (ABA) promoveram o Concurso de Carcaça Angus São Paulo. O abate foi feito na planta da empresa em Lençóis Paulista, SP, em 13 de novembro. Neste ano, participaram apenas novilhas. O ganhador foi o lote da Terral Agricultura e Pecuária, de Colômbia, SP. Com idade de 15 meses, o lote dente-de-leite, com peso de 233,84 kg de carcaça (15,6 arrobas), conquistou 93,12 pontos. Em segundo, ficaram os animais enviados pelo pecuarista Durval Gonzaga, do Sítio Santo Expedito, de Lençóis Paulista, com 91,31 pontos. Com
Angus III Os seis tourinhos Angus (cinco Aberdeen e um Red) escolhidos para teste de progênie já estão em coleta de sêmen na Progen, central de inseminação artificial com sede em Dom Pedrito, RS. Os machos foram recrutados da lista dos 50 melhores touros jovens do Sumário 2015 do Promebo (Programa de Melhoramento de Bovinos de Carne) e apresentaram índice genético final acima de 20. Após a avaliação visual quanto ao fenótipo, ficaram 30, dos quais saíram os seis para teste. Serão coletadas 500 doses de sêmen, que devem ser distribuídas, preferencialmente, para os pecuaristas que fazem IATF (inseminação artificial em tempo fixo). “Vamos distribuir o sêmen para quem se comprometer a fornecer informações sobre o desempenho das progênies de cada touro”, diz o diretor da Progen, Fábio Barreto, cuja empresa, em
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(jurídico); Henricus Joseph Beckers e Carlos Alberto Correia de Lima (primeiro e segundo diretores financeiros); Gustavo Barreto da Cruz, Djalma Aparecido do Amaral e Odair Sala (respectivamente primeiro, segundo e terceiro diretores de markering e eventos); Décio Antônio de Gouvêa Pedroso e Luiz Renato Macedo Franco (diretores de comunicação); Heloísa Maria Ayrosa Galvão Angerami e Luiz Ayres Marques (primeiro e segundo diretores-secretários); Thiago Amstalder Ribega e Ruy Júnior Selbah Barreto (diretores de melhoramento); Mário Henrique Frare Bertim e Lúcio Oliveira Cury (diretoria comercial).
carcaças que pesaram em média 218,63 kg (14,6 arrobas), o lote tinha 14 meses. O terceiro, pertencente ao pecuarista Gildo Rebesquini, da Fazenda Rancho Grande, conquistou 87,92 pontos e com carcaça que pesou em média 209,69 kg (14 arrobas). Coordenador regional do Programa Carne Certificada Angus e um dos jurados do concurso, Maychel Borges chamou a atenção para o elevado grau de padronização dos lotes, lembrando que 91% dos animais eram dentes-de-leite; 97,72% foram certificados e 85% apresentaram acabamento uniforme (mínimo de 4 mm de gordura). Na média, apresentaram carcaça de 14,64 arrobas.
parceria com a Alta Genetics, vai bancar os testes. Dos seis touros, cinco são de criatórios gaúchos (Estância Tradição, de Santa Vitória do Palmar; Cabanha Cantagalo, de Santana do Livramento; Cabanha Santo Antão, de Alegrete; Cabanha São Xavier, de Júlio de Castilhos; Tradição Azul, de Quaraí) e um do Paraná (Angus Rio da Paz, de Cascavel).
Braford/Hereford II Desde 1º de novembro, o frigorífico Marfrig passou a abater animais cruzados com sangue Braford e Hereford em suas plantas de Promissão, SP; Mineiros, GO; Bataguassu, MS; Tangará da Serra e Paranatinga, MT. Para os machos inteiros, a empresa aceita apenas animais dente-de-leite, com peso mínimo 240 kg de carcaça e acabamentos mediano (3 mm) e uniforme (4 mm), que receberão prêmios de, respectivamente, 3% e 4% sobre o valor da arroba regional apurada pelo Cepea. Para os machos castrados, a empresa aceita animais com dois dentes definitivos e carcaça entre 225 e 239,9 kg e paga prêmio entre 3% e 4% para acabamentos mediano (3 mm) e uniforme (4 mm). Para as fêmeas, a empresa aceita animais com até quatro dentes definitivos e, para fêmeas com carcaça acima de 240 kg e acabamentos mediano e uniforme, paga prêmio de 3% e 4%. Para novilhas com carcaça entre 225 e 239,9 kg, o adicional para acabamento mediano é de 2% e, para uniforme, 3%. Para fêmea com
carcaça entre 195 e 225 kg, o prêmio varia entre 1 (acabamento mediano) e 2% (uniforme). Os animais com sangue Braford devem ser originados de fêmeas F1 com qualquer raça europeia para garantir que o animal tenha mais de 50% de sangue de raças taurinas.
Santa Gertrudis II A convite da Santa Gertrudis Breeders Internacional (SGBI), Gustavo Barretto da Cruz, diretor de Marketing da Associação Brasileira da raça, visitou três fazendas no Texas, EUA. Começou pela King Ranch, em Kingsville, o berço do Santa Gertrudis nos EUA e responsável pela introdução deste bovino no Brasil. Em seguida, visitou a Briggs Ranch, em Victoria, onde conheceu em detalhes o manejo do gado. Depois, esteve no Harris Farms, em Glen Rose, para conhecer o plantel. Por último, Barretto foi recebido por John Ford, diretor-executivo da Santa Gertrudis Breeders Internacional
(SGBI), que apresentou o EPD Program ou a nova forma para se calcular a DEP (diferença esperada de progênie). O sistema cruza dados do fenótipo com o genótipo dos animais e forma um banco de dados com toda a linhagem para a composição da DEP. A novidade, em relação ao modelo tradicional, é que o novo sistema de melhoramento genético usa os dados do banco de DNA como base.
John Ford e Gustavo Barretto da Cruz
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Negligenciada, tripanossomose se espalha pelo País. Doença já chegou aos rebanhos de corte. Falta de medicamentos e de informação dificultam o tratamento.
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Febre, apatia, aborto, icterícia e anemia estão entre os sintomas” Fabiano Cadioli, da Unesp/ Araçatuba
Renato Villela
ma doença que poucos conhecem, difícil de ser diagnosticada e para a qual não há medicamentos específicos disponíveis no mercado está se espalhando sorrateiramente pelos rebanhos. É a tripanossomose ou tripanossomíase bovina, enfermidade causada por várias espécies de protozoários do gênero Trypanosoma, o mesmo que provoca a doença de Chagas nos humanos, transmitida pelo inseto barbeiro. No caso dos bovinos, o vilão é o Trypanossoma vivax, protozoário extremamente patogênico que causa estragos por onde passa, com a morte significativa de animais num curto espaço de tempo. Os tabanídeos _ insetos grandes e hematófagos conhecidos como mutucas _ atuam como vetores da doença e se suspeita que também a mosca-dos-estábulos (Stomoxys calcitrans) tenha sua parcela de culpa. Mas tudo leva a crer que são as más práticas de manejo as principais responsáveis por sua rápida disseminação. Registrada pela primeira vez no Brasil no início dos anos 1970, num rebanho de búfalos no Estado do Pará, a tripanossomose ficou restrita à Região Norte até 1995, quando um surto foi registrado em Poconé, no Pantanal do Mato Grosso. De lá para cá, vem se espalhando e hoje encontra-se praticamente em todo o território nacional. Para se ter uma ideia da agressividade da doença, o Estado de São Paulo, que havia registrado o primeiro caso da enfermidade em 2008, somou nada menos do que 16 surtos de tripanossomose entre 2013 e 2015. Em 15 dos 16 casos, a introdução do Tripanossoma vivax foi relacionada à compra de animais de outras propriedades. “Entre 30 e 45 dias depois de serem introduzidos no rebanho, esses animais, aparentemente saudáveis, apresentaram febre, apatia, aborto, icterícia e anemia. Muitos morreram”, afirma o veterinário Fabiano Antônio Cadioli, da Faculdade de Medicina Veterinária da Unesp/Araçatuba, especialista no assunto. Seringas e agulhas de uso comum Nos casos relatados, a doença atingiu o rebanho de duas fazendas de gado de corte. Em um dos criatórios, voltado à produção de gado de elite, a suspeita é que a
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Arquivo Fabiano Cadioli
Saúde Animal
Vaca debilitada pela doença, que às vezes é confundida com a tristeza parasitária bovina.
transmissão tenha sido feita por insetos, uma vez que a propriedade vizinha comercializava constantemente animais vindos de outras regiões. “O estresse do transporte muitas vezes deprime o sistema imunológico. Se o animal estiver infectado, a imunossupressão favorece o aparecimento da doença”, explica. A outra fazenda conciliava a atividade leiteira com confinamento. As vacas haviam sido diagnosticadas com a tripanossomose e a doença chegou até os animais confinados. “Neste caso a utilização de seringas e agulhas em comum entre os rebanhos por ocasião da vacinação pode ter transmitido a doença para o gado de corte”, afirma. O fato de a tripanossomose ser uma doença mais comumente disseminada em rebanhos de leite está intimamente associado a uma prática rotineira de manejo na atividade leiteira: a aplicação da ocitocina nas vacas em lactação. “É um hormônio que facilita a descida (liberação) do leite e que muitos produtores aplicam todos os dias antes de cada ordenha”, explica o veterinário Thiago Souza Azeredo Bastos, veterinário da Universidade Federal de Goiás. Bastos acompanhou o primeiro surto da doença no Estado, registrado em maio deste ano (veja quadro). A transmissão iatrogênica (por uso de agulhas infectadas, por exemplo) é considerada a principal forma de disseminação do Tripanossama vivax. “É mais eficiente do que qualquer mosca: 0,5 mL de sangue contidos numa seringa podem conter milhões de protozoários”, afirma Fabiano Cadioli, da FMV Alívio traiçoeiro A tripanossomose tem sintomas semelhantes à tristeza parasitária bovina, complexo de doenças que envolve a babesiose e a anaplasmose. Esta condição tem levado os produtores a cometer um grave equívoco. Inadvertidamente, tratam o animal como se ele estivesse acometido pela tristeza, aplicando para a tripanossomose a mesma dosagem do medicamento à base de aceturato de diminazeno prescrito para a doença transmitida pelos carrapatos. O alerta já havia sido dado por Cadioli em reportagem de DBO em julho de 2013. Na ocasião, o pesquisador chamava a atenção para as consequências da medicação incorreta. “A subdosagem tem induzido a uma resistência
Remédio indisponível Com a resistência do Tripanossoma vivax ao aceturato de diminazeno, resta ao produtor recorrer ao cloreto de isometamídio. O problema é que não existem medicamentos à base do princípio ativo disponíveis para compra no Brasil. Sua importação é concedida pelo Ministério da Agricultura, somente em casos especiais, “de emergência”, mediante solicitação junto ao órgão feita por um médico veterinário. “O problema é que entre reunir toda a documentação pedida, enviar ao ministério, obter autorização e receber o medicamento leva de 30 a 60 dias e a doença é muito rápida”, diz Thiago Bastos. No desespero, muitos produtores conseguem o medicamento ilegalmente, por meio de contrabando via Bolívia, Colômbia e Paraguai. Mas por que o governo não facilita a importação do medicamento? O próprio ministério responde, dizendo que havia um único produto à base de cloridrato de isometamídeo registrado no Brasil. A licença, concedida em 2005, expirou em abril de 2008 e sua renovação não foi concedida por “força de impedimento de ordem legal vigente à época”, conforme o Departamento de Fiscalização de Insumos Agrícolas (DFIA), do Mapa. Em janeiro deste ano, a empresa solicitou a reemissão da licença anterior, que foi indeferida pela área jurídica do
ministério. “Cabe esclarecer que desde 2005 nenhuma nova solicitação foi recebida pelo ministério”, diz o departamento, em nota. Para o pesquisador Fabiano Cadioli, da Unesp, a liberação em si não resolve a questão e o uso indiscriminado pode agravar a situação. “A administração do cloreto de isometamídio é complexa e requer critério.” Ao contrário dos medicamentos a que os produtores estão habitua dos a lidar, com a dosagem sendo calculada a partir do peso vivo do animal, no caso do cloreto de isometamídio a prescrição deve levar em conta o estágio da doença no rebanho e o “desafio epidemiológico” a que os animais estão submetidos. Segundo ele, nos rebanhos em que há alta infestação por insetos hematófagos, uso de ocitocina, compartilhamento de agulhas e seringas, além da frequente introdução de animais comprados, é preciso utilizar dosagens mais altas. “O número de aplicações varia de acordo com a resposta do rebanho.” Além disso, o produtor deve resistir à tentação de restringir o tratamento aos animais com sintomatologia clínica nos rebanhos onde a doença se instalou. “Animais gordos, aparentemente sadios, podem estar infectados. É preciso tratar todo o plantel, do bezerro ao touro.” Além disso, monitorar a evolução da doença por meio da sorologia a cada três meses ou uma vez a cada seis meses, dependendo da prevalência da tripanossomose. “É um procedimento essencial para saber como a doença está evoluindo”, afirma. O pesquisador acompanhou casos em que o surto foi controlado, mas a sorologia deixou de ser feita. “A doença voltou e tivemos que recomeçar o trabalho do zero.” Para Cadioli, a falta de conhecimento e de treinamento dos veterinários, que muitas vezes nem ouviram falar da doença na universidade, é um agravante. Como evitar A primeira medida para evitar a introdução da tripanossomose no rebanho é redobar a atenção ao comprar animais de outra propriedade. A quarentena é uma estratégica recomendada, principalmen-
Doença assusta em Goiás Bastaram apenas 20 dias para que a produção de leite de uma propriedade em Ipameri, GO, despencasse de 1.500 litros para 700 litros diários. Pouco tempo depois, outros sintomas se sucederam, como diarreia, letargia, lacrimejamento e perda progressiva de peso. Não tardou para que algumas vacas doentes, em decúbito lateral, não conseguissem mais se levantar. De um plantel de 300 fêmeas, 24 morreram e 40 foram abati-
das. “A princípio, pensamos se tratar de uma intoxicação por micotoxina ou até mesmo um caso de tristeza parasitária, mas os exames confirmaram que era tripanossomose”, relata Thiago Souza Azeredo Bastos, veterinário da Universidade Federal de Goiás. Acredita-se que a doença tenha entrado no Estado vinda das bacias leiteiras de Minas Gerais, de onde saem fêmeas para reposição e muitos machos
Thiago Bastos
do protozoário e dificultado muito os tratamentos nos rebanhos onde o diagnóstico inicial foi impreciso.” O problema se agravou e atualmente há protozoários resistentes ao princípio ativo. Apesar de não debelar a doença, o aceturato de diminazeno destrói a maior parte dos protozoários na corrente sanguínea. Com a redução do Tripanossoma vivax circulante, o animal melhora rapidamente sua condição. O que o medicamento faz é eliminar os protozoários sensíveis. Sobram os resistentes. Mesmo assim, após uma ou duas aplicações, aparentemente sadio, mas infectado, o animal muitas vezes é vendido para outro produtor, que não tem ideia do seu histórico. “Basta uma situação de estresse, como uma viagem longa, para trazer a doença novamente à tona. E ela volta com força total”, afirma.
Aplicação de ocitocina é a causa mais comum de disseminação
“Medicamento para combate é importado e tem obstáculos.” Thiago Bastos, da UFGoiás.
cruzados para confinamento. Segundo Maurício Velloso, presidente da Comissão de Pecuária de Corte da Faeg (Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás), o órgão está pleiteando junto ao Ministério da Agricultura e a Agrodefesa (Agência Goiana de Defesa Agropecuária) a obrigatoriedade de um atestado negativo para os animais que transitarem entre os Estados, como já é feito no caso da brucelose e tuberculose. “Estamos enfrentando um caso sério e difícil. Temos que tomar uma atitude”, diz.
DBO dezembro 2015 67
Saúde Animal te quando se adquirem animais de regiões endêmicas, como o Pantanal, Triângulo Mineiro ou noroeste Paulista, ou áreas onde a doença tenha sido diagnosticada. Cadioli recomenda que os animais fiquem isolados por 30 dias e que sejam feitas, nos primeiros 15 dias, duas coletas de sangue, uma por semana, para análises sorológica e parasitológica. Se o animal adquiriu a doença num período inferior a 20 dias, haverá grande quantidade de protozoários circulantes no sangue, o que será detectado pelo exame parasitológico. “Caso a infecção seja mais antiga, o sistema imune do organismo teve tempo suficiente para produzir anticorpos, o que será denunciado por um exame sorológico”, diz Cadioli. Segundo ele, juntos,
Diagnóstico mais rápido e seguro Um teste inovador promete dar mais agilidade e segurança ao diagnóstico da tripanossomose no Brasil. Trata-se do Lamp, um método molecular de análise concebido para detectar mais rapidamente a doença do sono, causada pelo Trypanossoma brucei, transmitida pela mosca tsé-tsé (Glossina SP), enfermidade relativamente comum em áreas rurais do continente africano. Por aqui, os testes começam a ser utilizados a partir de 2016. “Em 30 minutos será possível saber se um animal está ou não infectado pelo agente causador da tripanossomíase”, diz Fabiano Cadioli. O pesquisador coordena a iniciativa, pioneira na América do Sul. Além da rapidez, o Lamp é prático – pode ser feito a campo – e mais seguro. “É mil vezes mais sensível para detectar o Tripanossoma vivax do que o método PCR, que era o mais confiável que tínhamos.” Atualmente, há três categorias de análises realizadas no País para diagnóstico da doença. Além do PCR, que busca o DNA do protozoário, há os testes parasitológico e sorológico. O primeiro é o mais utilizado a campo. Por meio da análise de sangue, vasculha-
68 DBO dezembro 2015
os exames se complementam, já que ambos têm suas limitações (veja quadro abaixo). “Dessa forma fechamos o cerco no diagnóstico ao parasita”, diz o veterinário. Para evitar a disseminação da tripanossomose no plantel, é preciso evitar o compartilhamento de seringas e agulhas. No caso do gado de leite, onde a doença é mais frequente, recomenda-se o uso de seringas e agulhas descartáveis, inclusive para a administrar a ocitocina e até mesmo vacinações. Os cuidados devem se estender aos materiais usados durante as técnicas de inseminação artificial, como luvas e bainhas, que devem ser descartadas. Outra medida importante é o controle de vetores, como a mosca-dos-estábulos, além de morcegos hematófagos.
-se o invasor. O problema é que, até 18 dias após o animal ter sido infectado, há uma grande quantidade de parasitas na corrente sanguínea, o que facilita sua detecção. Depois desse tempo, no entanto, a população do Tripanossoma vivax tende a oscilar. “Tem dias em que aparecem (no sangue), tem dias que não, sem nenhuma ordem lógica. Isso compromete o resultado do exame”, diz Cadioli. Com o passar do tempo, a tarefa fica ainda mais difícil. “Na fase crônica da doença, os protozoários se escondem no líquido do globo ocular ou no líquido céfalo-raquidiano”, diz o pesquisador. O teste sorológico, por sua vez, também tem suas restrições. Neste caso, a detecção da doença se dá pela presença de anticorpos no soro, líquido separado do sangue após sua coagulação. Na fase inicial da infecção, o organismo ainda não produziu as proteínas de defesa contra a tripanossomose. Animais muito magros, debilitados pela doença, por sua vez, tendem a não mais produzir ou produzir poucos anticorpos que não aparecem no teste. Há muitos protozoários circulantes, mas o sistema imunológico, enfraquecido, já não consegue responder. “É o que chamamos de ‘falso negativo’. O animal está infectado, apesar de o teste não acusar”, diz Cadioli.
Saúde Animal
Rumo à erradicação Cadeia articula o fim da vacinação contra aftosa Mônica Costa
U
monica@revistadbo.com.br
m plano de ação para a suspensão total da vacinação contra a aftosa até 2020 começou a ganhar corpo. Embora o prazo tenha sido definido pelo Programa Hemisférico de Erradicação da Febre Aftosa (PHEFA) em 2010 após duas tentativas fracassadas para a erradicação da doença na América do Sul, pouco se tem feito para garantir o cumprimento das metas. “Já passamos muita vergonha, porque as Américas poderiam estar livres da doença há muito tempo”, afirma Sebastião Guedes, presidente do Giefa, Grupo Interamericano para a Erradicação da Febre Aftosa, que, em parceria com o Conselho Nacional da Pecuária de Corte (CNPC), organizou em São Paulo, na última semana de novembro, o “Fórum 2020 - O futuro do Brasil sem febre aftosa”. Participaram o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, representantes das Federações de Agricultura e Pecuária (São Paulo, Paraná, Mato Grosso do Sul, Santa Catarina e Rio Grande do Sul), ABCZ, Abiec, Sindan, SNA, Assocon e Associação Rural do Para-
País não registra focos desde 2006
% rebanho
anos sem aftosa
13,8
+ de 9
21,4
+ de 10
64,8
+ de 15
70 DBO dezembro 2015
guai, Fundepec, e a Agência de Defesa Agropecuária do Paraná ( Adapar), membros do Giefa da Bolívia, do Paraguai e do Brasil, além de diretores do CNPC e do Panaftosa. Pronto para mudar Desde maio de 2014, quando a OIE (Organização Mundial da Saúde Animal) reconheceu mais sete Estados nordestinos e parte do Pará como livres da doença com vacinação, o Brasil passou a ostentar o título de maior rebanho comercial do mundo livre de aftosa, com ou sem vacinação. São 212 milhões de cabeças ou 98,9% do plantel nacional. “Em eventos de sanidade dos quais participo pelo mundo, quando digo que no Brasil apenas 4 milhões de bovinos estão em área livre sem vacinação, me perguntam se é uma amostra”, ironiza Guedes. Ele lembrou que os prazos para a erradicação da doença no continente já foram adiados duas vezes. “Havia um plano para suspender a vacinação em 2000, mas por questões políticas, a Argentina acabou disseminando o vírus para o Uruguai, que não vacinava o rebanho bovino fazia seis anos e para o Rio Grande do Sul, no Brasil, que havia suspendido a vacinação no ano anterior. Então determinou-se um novo prazo, para 2010, mas desta vez, foram os países Andinos (Bolívia, Equador e Venezuela) que apresentaram problemas. Após uma nova revisão, o PHEFA estabeleceu o ano de 2020 como nova meta”, explicou o presidente do Giefa. No Brasil, o último foco da doença foi registrado em abril de 2006 no Mato Grosso do Sul. Vinte estados não apresentam a doença há mais de 15 anos (veja mapa). Otorrino Cosivi, diretor do Panaftosa (Centro Panamericano de Febre Aftosa), informou que na América do Sul, o Paraguai e o Equador foram declarados livres com vacinação este ano. Segundo Cosivi, a Venezuela é o único que precisa de apoio técnico. “O país abriu as portas para a vistoria sanitária há apenas dois anos” disse. O Chile, parte da Colômbia e da Bolívia, o sul da Argentina, as Guianas (Francesa e Inglesa) e o Estado de Santa Catarina no Brasil, são livres de aftosa sem vacinação. Mercado promissor Tirso Meirelles, presidente CNPC, destacou que o fim da vacinação é fundamental para o aumento da competitividade da pecuária de corte. “Não podemos mais vender commodities. As oportunidades nos mercados não aftósicos passam de US$ 15 bilhões, com uma demanda de aproximadamente 3 milhões de toneladas de carne bovina por ano (veja quadro na página ao lado), mais que o dobro das exportações registradas em 2015 que devem ficar em 1,32 milhão/ton”. Segundo o economista Raphael Rocha, diretor da consultoria Brand Export, de São Paulo, os preços médios do mercado não aftósico, como o Japão, superam os US$ 12.000 por tonelada. “Podemos conseguir pelo
demanda anual de carne do mercado não aftósico País Estados Unidos
Consumo (ton/ano) 11.172.000
Volume importado em 2014 1.333.430
Austrália
760.000
10.000
Canadá
970.000
248.000
Nova Zelândia
108.000
13.000
1.875.000
212.000
715.000
550.000
1.285.000
706.000
México Coreia do Sul Japão
Oportunidade em toneladas para o Brasil (ton)
3.073.180
Faturamento (US$)
15.365.900
Fonte: Brand Export. Adaptado por DBO
menos mais 25% no preço de produtos regulares, como costela e dianteiro, e mais 100% em produtos como língua”, apontou o especialista. “Com a formalização do Tratado Transpacífico de Livre Comércio (TPP), haverá um corte de 77% na tributação da carne fresca dos EUA para o Japão num prazo de 16 anos. Isso amplia consideravelmente a competitividade do mercado norte americano frente ao Brasil”, disse. Além dos EUA, Austrália, Canadá, México e Nova Zelândia, que são concorrentes do Brasil na venda de carne bovina, estão no TPP. O outro risco são os países importadores: Chile, Cingapura, Malásia, Peru e Vietnã respondem pelas compras de 4,9% da carne bovina brasileira. Segundo Antônio Jorge Camardelli, presidente da ABIEC, a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne, o Brasil, por conta das barreiras sanitárias, atende apenas 45% dos dez maiores importadores da proteina vermelha em faturamento. “Japão, Coreia do Sul, Taiwan e Indonésia, que juntos representam um mercado de 250 mil toneladas de carne bovina, são abastecidos pela Austrália”, disse Camardelli, que defende o fim da vacinação. “Se os Estados estão prontos, devem suspender a vacinação”. Emílio Carlos Salani, vice-presidente do Sindan, Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal, afirmou que o setor apoia a medida. “Ficar contra a erradicação significa estar contra o avanço da sanidade animal no País”, diz. Segundo Salani, a indústria de vacinas antiaftosa representa cerca de 12% do faturamento do setor. “É um mercado de aproximadamente R$ 400 milhões, não causa tanta dependência”, relativizou. Por onde começar? Para suspender a vacinação, o Estado ou o Bloco deve adotar os ajustes técnicos exigidos pela Organização de Saúde Animal (OIE), como o reforço da vigilância sanitária nas regiões de fronteira e a ampliação do corpo técnico. Medidas que exigem a participação do
Governo Federal, através do Ministério da Agricultura (Mapa), que não mandou nenhum representante´para o evento. “A vigilância sanitária é o fator mais preocupante para que se tenha uma resposta rápida em caso de emergência com a recidiva da doença. E este é nosso principal problema”, aponta Sebastião Guedes. “A vacina ajuda a encobrir outras carências de estrutura e, além disso, é paga pelo produtor. Com a retirada da vacina, as despesas do governo aumentarão”, completa. No âmbito da iniciativa privada, o Giefa apresentou algumas propostas, como a suspensão em blocos, com base em aspectos geográficos ou em categorias e faixas etárias com a adoção de cinco doses (vacinação de bezerros aos 60 dias, 90 dias e depois a cada 6 meses até completar 630 dias) ; quatro doses (vacina aos 60 dias de vida e novas doses semestrais até completar 600 dias); a suspensão da vacina para animais acima de 2 anos; e a manutenção da imunização anual apenas para vacas leiteiras, de cria e de exposição, touros e animais de custeio, após os 24 meses. Durante o debate, a falta de consenso sinaliza para um longo caminho. Segundo Volnei Volpi, presidente do Conseleite e que representou a Secretaria da Agricultura do Paraná, o Estado está pronto para tomar a dianteira e deverá manter o calendário de imunização só até maio de 2016. “Depois vamos buscar o status de livre sem vacinação”, disse. Segundo Volpi, a posição do Estado é avançar com segurança, sem descuidar da vigilância sanitária e das avaliações de risco. “A possibilidade de formação de um bloco com São Paulo é pequena”, salientou, ao comentar os dados sobre índices de cobertura imunitária apresentados por Inácio Afonso Kroetz, presidente da Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar). O relatório sobre o monitoramento sorológico para avaliação da eficiência da vacinação contra a febre aftosa na zona livre mostra que índice de cobertura em São Paulo está próximo de 80% para três tipos de vírus, o que indica um nível inadequado de imunidade do rebanho. Tirso Meirelles, presidente do CNPC e membro da Faesp, enfatizou que São Paulo tem adotado as medidas necessárias para resolver o problema e defendeu a formação do bloco . “Estamos em um momento importante para a pecuária bovina com chances de ampliação do mercado exportador que hoje representa apenas 22% da nossa produção. Precisamos de uma agenda conjunta”, enfatizou. Antenor Nogueira, vice-presidente do Giefa e ex-diretor da Agência Goiana de Defesa Agropecuária, é defensor da suspensão da vacina em bloco.”Hoje, de 60% a 70% dos confinamentos estão em Goiás. E os animais são trazidos de Estados vizinhos como Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Tocantins. Se avançarmos sozinhos, ficaremos isolados”. Segundo Nogueira, o Paraná poderá sofrer muito mais que Santa Catarina se insistir em suspender a vacinação no ano que vem. “Em Santa Catarina são poucas cabeças, mas o Paraná depende de muitos bovinos dos Estados vizinhos “, lembrou. n
nnn Consumo do mercado não aftósico chega a
3
milhões
de toneladas por ano
nnn
DBO dezembro 2015 71
Saúde Animal
Contra ‘curso negro’, higiene.
Kadijah Suleiman/Embrapa gado de corte
A coccidiose afeta bezerros, mas deve ser considerada uma doença de rebanho.
Bezerros são a categoria mais suscetível à doença
N
Lídia Grando
a produção, não há etapa que requeira mais ou menos cuidados. Todas merecem atenção e, se negligenciadas, podem reduzir o lucro por hectare. De nada adianta uma prenhez sem intercorrências se o bezerro, ao nascer, morre por falta de rigor em práticas sanitárias. Entre as infecções mais graves que acometem animais jovens está a coccidiose ou eimeriose, também conhecida como “curso negro”. A médica veterinária Alice Maria Melville de Paiva Della Libera, professora da Universidade de São Paulo (USP), explica que, quando a coccidiose ocorre de forma muito severa, há destruição das vilosidades intestinais, e, consequentemente, interferência na atividade digestiva, na absorção do alimento e na taxa de conversão. “A coccidiose deve ser considerada como uma doença de rebanho”, afirma, alertando que a conta72 DBO dezembro 2015
minação é rápida. Portanto, a prevenção e o diagnóstico precoce são vitais. A doença ocorre principalmente em bezerros de três semanas a seis meses de idade. É conhecida por “curso negro” por causar uma diarreia com sangue, de cor escura. “Quando a infecção é intensa, boa parte do intestino é destruída e o resultado pode ser hemorragia e fezes com sangue”. Ela afirma que, além da diarreia escura, a doença se caracteriza por desidratação, anorexia, apatia e perda de peso. Meios de transmissão A transmissão ocorre principalmente pela ingestão de água e alimentos infectados, explica a médica veterinária Paula de Almeida Barbosa Miranda, da Embrapa Gado de Corte, de Campo Grande, MS. “A contaminação pode se dar, além disso, pela lambedura de pelos contaminados por fezes infectadas”. Por esse motivo, condições precárias de higiene, alta densidade de animais e umidade excessiva favorecem o surgimento da doença, explica Paula. É preciso também ter cuidado em locais com acúmulo de matéria orgânica, como no creep feeding, acrescenta o médico veterinário Rodrigo Malzoni de Souza, de São Paulo, SP, referindo-se à instalação específica para bezerros. Ele recomenda, além disso, cuidado com o piquete maternidade, para que se evite a contaminação ao nascer. O tratamento só é eficaz se for feito na fase inicial da doença, informa Alice Della Libera, da USP. Por isso, a importância da observação dos bezerros e da avaliação médica, se for identificada qualquer ocorrência. Há remédios que podem ser utilizados e é importante que a ação seja rápida, para barrar a disseminação da doença. Além disso, o ideal é que os animais infectados fiquem isolados. Segundo Paula, da Embrapa, há algumas vacinas no mercado que normalmente previnem a contaminação por agentes causadores de diarreias. Essas vacinas, porém, podem ser feitas nas matrizes prenhes, de 60 a 30 dias antes do parto, com ou sem reforço no bezerro após o nascimento, dependendo da recomendação do fabricante. O essencial na coccidiose é, efetivamente, a p revenção. n
Manejo preventivo • Instalações limpas e secas • Separação de acordo com a faixa etária • Evitar altas concentrações em pequenas áreas por longos períodos • Bebedouros e comedouros limpos e em local correto • Garantia de boa imunidade aos bezerros, cujo colostro é uma das fontes.
Manejo Arquivo DBO
Erro quase zero na identificação Brinco eletrônico tem como vantagem acompanhamento preciso do plantel
Q
Lídia Grando
uando o Sistema Brasileiro de Certificação de Bovinos e Bubalinos (Sisbov) foi instituído, no início dos anos 2000, a Agro Maripá, com fazendas em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e São Paulo, gostou da ideia e optou por aderir à identificação eletrônica. “Iniciamos há cerca de dez anos, por causa da rastreabilidade, mas percebemos que o melhor benefício se refletia mesmo era na parte administrativa”, conta o diretor operacional da Agro Maripá, Luiz Otávio Pereira Lima, que hoje tem todo o rebanho, de 19.000 cabeças Nelore, puros e de produção, identificado eletronicamente, e até cabras e equinos. No caso da Maripá, o principal benefício foi o fim da inclusão de dados incorretos, pois, no manejo, quando o animal é contido, há a leitura eletrônica do brinco por um bastão. “Imediatamente abre-se o cadastro no sistema conectado, para que as informações sejam inseridas”, explica o gerente de Tecnologia de Informação da Agro Maripá, Almir Roberto Dionizio. Em uma pesagem, por exemplo, os dados são registrados automaticamente e já se tem a informação do ganho diário do animal. “A informação pode ser comparada à meta predefinida. Se não for satisfatória, pode-se fazer uma apartação, revisar o trato ou as metas”, comenta o diretor. O mesmo benefício se tem para o cadastro de dados na hora da inseminação artificial. Ao identificar a vaca, há a informação do acasalamento, anteriormente designado, e são inseridas no sistema, entre outras informações sobre o inseminador. O zootecnista e consultor da Plangespec, Djalma O custo do investimento
Tipo de identificação
Rebanho (cabeças)
Custo unitário do brinco
Número de
Eletrônica
1.000
R$ 5,50
3
2,58
Eletrônica
6.000
R$ 4,50
3
2,25
Convencional
6.000
R$ 2,00
1
2,75
reutilizações
R$/Uso
Bastão de identificação custa R$ 5.000, com depreciação de R$ 0,83 cabeça/ano em seis anos. Para o software, se prevê uma depreciação de dez anos, com custo de R$ 3,64/ano. Cálculos para um rebanho de mil animais. Fonte: Plangespec
74 DBO dezembro 2015
Tudo registrado: na leitura eletrônica do brinco, os dados são passados automaticamente a sistema central.
de Freitas, de São Paulo, SP, diz que, mesmo em sistemas manuais eficientes, a taxa média de erros por manejo é de 7%. Com o animal no tronco de conteção, um número será “cantado” e deve ser entendido por uma segunda pessoa, que o anota. Depois, é lido e digitado no sistema por um terceiro responsável. “É inevitável que as pessoas se enganem ao ler esses números”, diz. Ele acrescenta que, no sistema manual de preenchimento, há maior necessidade de funcionários e de tempo para que se chegue à mesma informação que se teria em segundos no formato eletrônico. Em São Sebastião da Grama, SP, Amarildo de Gaspari, da Fazenda Diamante, tem um rebanho de 700 cabeças para engorda a pasto e confinamento e também investe na tecnologia. “É muito mais fácil. Eles fazem o manejo, me enviam os dados e gerencio as informações”, explica. O criador lembra que, no início, foi necessário acompanhar a equipe e treiná-la, mas, hoje, com o uso contínuo, não há mais necessidade de supervisão. Reutilização Para Freitas, da Plangespec, por sua reutilização, o custo do brinco eletrônico quase equivale ao do convencional se for reaproveitado por no mínimo três vezes (veja tabela). Ele recomenda que o produtor tenha atenção para um sistema que aceite a ferramenta. Além disso, sugere que se verifique a qualidade dos brincos. “Brincos com baixa qualidade causam erros de leitura”, comenta, lembrando o transtorno que causa à equipe não conseguir dar andamento ao manejo no momento em que o animal está contido. Apesar do custo mais acessível, um dos obstáculos para a adesão está na mão de obra. “É o principal fator que dificulta a adoção da tecnologia”, avalia Freitas, acrescentando à lista a alta rotatividade de mão de obra e a falta de conhecimento em informática. Por isso, ele sugere que o treinamento e o uso da ferramenta sejam feitos por vários colaboradores. E é bom treinar a equipe, pois, na mesma velocidade em que avança a tecnologia, avança a precisão exigida na gestão da pecuária. n
Fatos & Causos Veterinários
Enrico Ortolani
A resistência aos vermífugos Seleção genética faz com que muitos vermes sobrevivam a grande parte dos medicamentos
Professor titular da Clínica de Ruminantes da FMVZ-USP e pesquisador do CNPq. ortolani@usp.br
nnn Trabalhos recentes identificaram que
90%
das propriedades já apresentam resistência à ivermectina
nnn
N
os dois últimos artigos foram artistas principais os vermes do abomaso e dos intestinos. Segundo estimativas, a verminose causa um prejuízo anual de US$ 5,2 bilhões à nossa pecuária de corte, quase a dinheirama que angariamos com a venda de carne bovina mundo afora. Pelo andar da carruagem pode-se afirmar que cada vez mais esse prejuízo será maior e as verminoses, mais frequentes, mesmo nas melhores fazendas do ramo. A culpa disso chama-se resistência dos parasitas aos principais vermífugos de plantão. Para entender a resistência, há que se conhecer as categorias de vermífugos e como estes matam os vermes. Para tal, dividimos os vermífugos em grupos químicos. Esqueça o nome comercial e veja a bula para checar em que grupo o seu vermífugo de predileção está. Irei direto ao ponto citando os principais em circulação. O grupão das lactonas macrocíclicas é composto de dois subgrupos: as ivermectinas e as milbemicinas. No primeiro estão a ivermectina (I), a doramectina (D), a abamectina e a eprinomectina; no segundo a moxidectina. Todas elas matam os vermes de forma semelhante. Os medicamentos entram no parasita e vão direto ao seu sistema nervoso, que controla a contração muscular. Aí, excitam tanto a passagem do estímulo nervoso que o tiro sai pela culatra e o efeito é a paralisia muscular, facilitando sua expulsão pelo bovino. O grupinho do imidazotiazol tem com vermífugo principal o levamisole L que entra no sistema nervoso e provoca a contração muscular contínua, o que deixa o parasita rijo, facilitando sua expulsão. Os benzimidazóis agrupam vários princípios ativos, sendo o albendazol o mais utilizado e fazem com que os parasitas não consigam produzir energia, matando-os de fome. Os campeões Alguns desses vermífugos já são muito resistentes pelos vermes Haemonchus (H) e Cooperia (C) e em menor grau Oesophagostomum. O campeão dos campeões é a “I”, que, por ser muito barata e ser achada em qualquer quebrada, é utilizada a rodo desde a década de 80. Trabalhos recentes identificaram que 90% das propriedades já apresentam resistência à “I” e que este vermífugo nem causa “cosquinha” em 50% ou mais das “C” e dos “H”. A “D” está quase empatando esse jogo. Recentemente, atendi uma garrotada com diarreia brava e morte de alguns deles. Acreditava-se ser coccidiose e o tratamento deu com os burros n’água. Apurei que a fazenda medicou os desmamados por décadas com
I+D, num rodízio entre eles. O mal que os afligia era verminose, e não precisa nem dizer como ela se originou. Quando a “I” foi lançada em 1982 sua eficiência era tão alta que parecia que certos parasitas iriam sumir do mapa. Na prática, 99,9% dos vermes morreram nos primeiros contatos com esse vermífugo. Mas, os mixos 0,1% se multiplicaram aos poucos, tomando conta do pedaço. A resistência se deu por uma seleção genética. Os vermes birrentos tinham um gene que os permitia produzir uma substância (glicoproteína-P) que simplesmente conseguia remover a ivermectina para fora de suas células, impedindo que penetrassem no sistema nervoso. Mas a praga não parou por aí. Aos poucos, vermes resistentes à “I” foram se tornando birrentos também à “D”, à abamectina e agora à eprinomectina. Curiosamente, a tal de glicoproteína-P não é tão poderosa em bloquear a moxidectina. Concentrados também Depois de algumas décadas de uso de “I” e “D” a 1%, várias empresas lançaram os mesmos vermífugos a 3,5%. Os primeiros resultados foram muito bons, mas em questão de poucos anos surgiram “supervermes” produtores de muita glicopreoteína-P, diminuindo suas ações. Um trabalho novinho em folha em Mato Grosso do Sul verificou que produtos “I” e “D” concentrados estão perdendo o jogo de uns 4 a 1 para certos parasitas. Os especialistas são unânimes em afirmar que o uso contínuo destes vermífugos concentrados só irá intensificar a resistência. É bom que se diga que algumas poucas propriedades que empregaram rotação de vermífugos com diferentes grupos químicos estão em situação mais confortável. Mas quero deixar um alerta, pois muitas fazendas que diziam fazer rotação desses grupos, na verdade faziam rotação de marcas comerciais ou de vermífugos do mesmo princípio ativo. Essas estão ou estarão na mesma situação cabeluda descrita acima. Frente a esse dilema faço uma proposta arrojada e atrevida, mas tecnicamente correta. Se você se enquadra em algumas das situações descritas de uso abusivo e continuado de “I” e “D” e preza pela saúde e produtividade de seu rebanho, simplesmente risque do mapa o uso destes vermífugos pelos próximos cinco anos. Use sua liderança e convença seus amigos pecuaristas a fazerem o mesmo. Essa medida permitirá que nesse período outros vermífugos possam matar os vermes resistentes e quem sabe depois disso a “I” e a “D” voltem a funcionar. n DBO dezembro 2015 75
Genética
Show de precocidade Agropecuária Tulipa, no norte de Goiás, intensifica produção de Nelore hiper e superprecoce, entourando fêmeas entre 11 e 15 meses. Carolina Rodrigues
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carol@revistadbo.com.br
Evolução Caso consiga a façanha, Brüner contabilizará ganhos expressivos. Balanço realizado pela empresa indica que as fêmeas precoces fornecem “meio bezerro” a mais ao longo da vida reprodutiva, enquanto as superprecoces e diamantes garantem um a mais. “Dependemos do índice de prenhez. Nosso objetivo é aumentá-lo.” No primeiro desafio de cobertura da Tulipa, a taxa de prenhez foi de apenas 7%, índice que subiu para 52% em 2011, quando foram enxertadas novilhas entre 14 e 15 meses. Na estação de monta 2014-2015, já considerando as três categorias de precocidade, registrou-se índice de 66% e Brüner espera ultrapassar 70% na estação em curso (2015/2016), garantindo a reposição do plantel só com fêmeas com Fotos: Arquivo Agrap. Tulipa
e olho no futuro, o diretor executivo da Agropecuária Tulipa, Rodrigo Brüner, decidiu, há quase 20 anos, que a melhor maneira de fechar as contas de seu projeto de cria em Campinorte, norte goiano, seria obter um número maior de prenhezes por vaca nesta região de pouca chuva e muito calor. Cumpriu à risca a determinação. Em oito gerações, imprimiu alta precocidade ao plantel Nelore. Agora, tem novo desafio em mente: trabalhar apenas com fêmeas hiperprecoces e superprecoces, que emprenham dos 11 aos 15 meses, eliminando gradativamente as “precoces”, que enxertam aos 16-18 meses. “É preciso encurtar o ciclo de produção e isso só se faz desafiando as novilhas cada vez mais cedo”, diz. Na última estação de monta (2014/2015), das mil novilhas de 12-13 meses inseminadas e expostas a touros, 140, ou seja, 14%, emprenharam. Índice promissor. A categoria foi carinhosamente intitulada de “diamante”, por seu raro valor. A Agropecuária Tulipa começou a investir pesado em precocidade no ano de 2007, quando enxertou a primeira geração de novilhas de 16-18 meses, com parição aos 2628 meses. Para serem entouradas nessa idade, elas foram expostas aos reprodutores no outono, entre março e abril,
período fora da estação de monta de primavera/verão tradicional, que se estende de novembro a fevereiro. Em 2011, a empresa começou a trabalhar com superprecoces (14-15 meses), estabelecendo uma segunda estação de monta, a de verão. Deparou-se, então, com uma questão: manter duas estações na fazenda ou retardar a cobertura das primíparas, anulando os ganhos obtidos com a antecipação da idade de entoure das novilhas. Agora, com a intensificação do projeto de precocidade, tem a possibilidade de concentrar um maior número de fêmeas na estação de primavera/verão, aumentando a prole por matriz.
Fêmeas “Diamantes” mostram alto valor ao emprenhar na era de ano
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essa característica reprodutiva altamente desejável. Segundo o professor José Bento Stermann Ferraz, da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da USP, a redução da idade de entoure e de acabamento é a nova fronteira tecnológica para a pecuária em região de terras caras, como São Paulo, Paraná, Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais e Mato Grosso. “A precocidade sexual será cada vez mais indispensável”, salienta. Lições da cria O que motivou Brüner a buscar precocidade no Nelore foram questões econômicas. Filho de invernista tradicional, ele via o quanto custava manter fêmeas meio-sangue no projeto de engorda do pai, Antônio Carlos Brüner, na Fazenda Eugênia, em Inaciolândia, GO. Com peso aproximado de 600 kg, elas consumiam 2,3% do peso vivo em matéria seca por dia, desmamando bezerros em torno de 240 kg. Já as fêmeas Nelore (utilizadas apenas para repor o plantel de cruzadas) pesavam 450 kg e consumiam 30% menos que as demais. “Tínhamos 5.000 matrizes, que geravam 4.000 bezerros, sendo 2.000 machos e 2.000 fêmeas. Descobrimos que, para segurar as matrizes em casa, precisávamos de um animal mais econômico”, lembra Brüner, que ainda hoje produz 2.000 novilhos gordos na Fazenda Eugênia, a primeira do grupo. A Fazenda Tulipa, que tem área total de 7.500 hectares, foi adquirida, inicialmente, para resolver dificuldades com reposição do confinamento, que, segundo Brüner, eram tão grandes quanto hoje. Naquela época, os bezerros vinham do norte de Goiás e ter uma fazenda nessa região ajudava na lojística do projeto de engorda, que ficava no sul do Estado, um pólo agrícola importante, com grande disponibilidade de grãos. “A ideia era usar a Tulipa para fazer cria/recria, garantindo o abastecimento do confinamento da Eugênia. Com o tempo, a proposta inicial foi cedendo espaço à seleção de animais para venda de genética”, diz o criador, garantindo que tirou grandes lições da experiência. “Quando comecei, meu pai, que não acreditava na cria, me chamou e disse: “Vou te dar 400 vacas e separar 350 garrotes para fazermos uma comparação. Daqui a um ano, veremos quem terá mais dinheiro. Ele nunca fez esse acerto comigo, mas acho que ganhei”, brinca Brüner. Conhecendo o melhoramento Quando decidiu investir em precocidade sexual de fêmeas, em 2000, o criador procurou projetos que já trabalhassem com pecuária de ciclo curto, usando o Nelore como base. O primeiro endereço visitado foi a Agropecuária Jacarezinho, em Valparaíso, SP, um dos principais projetos de precocidade de Ceip (Certificado Especial de Identificação e Produção) do País, com quase 12.000 matrizes avaliadas e controladas pelo Programa de Melhoramento Genético da Conexão Delta G, hoje, Delta Gen. O objetivo era adquirir fêmeas precoces e touros, porém resultou em algo maior: abandonar o empirismo da seleção para assumir critérios na avaliação genética do rebanho cara limpa, utilizando dados do programa de
Seleção baseada na informação: Rodrigo Brüner (de óculos escuro), com (da esq. para a dir.) Pedro Veiga (Cargill/Nutron), Jorge Severo (Gensys), José Bento Ferraz (USP), Roberto Carvalheiro (Unesp) e Cassiano Pelle (DeltaGen).
melhoramento. Em dois anos, o núcleo de 50 matrizes adquiridas da Jacarezinho subiu para quase 200 fêmeas, e todo o rebanho de vacas comerciais passou a ser controlado pelo Delta Gen, ficando apenas com as fêmeas classificadas entra Deca 1 e Deca 5, ou seja, as 50% melhores do rebanho. Na mesma época, Brüner adquiriu fêmeas de duas outras empresas: a Agropecuária CFM e a Agropecuária Paquetá, que liquidou seu plantel em 2010, e aos poucos abandonou a produção das meio-sangue. “Eu ainda não tinha a expertise de quem fazia melhoramento, mas tinha foco. Eu lia, media, estudava e queria saber por que, no Brasil, as vacas emprenhavam aos 40 meses, enquanto, nos leilões da Jacarezinho, via novilhas de 18 meses sendo vendidas prenhes. Vi que dava para fazer Nelore precoce. Só precisava concentrar aquela genética em casa.” Boa estratégia A estratégia inicial foi inseminar as vacas com 70% de touros PO de linhagem Manah e IZ, e os outros 30% com touros Ceip, com destaque para dois reprodutores: Kulal AJ e CFM Diamante. O objetivo foi corrigir problemas de caracterização racial, aprumos e pigmentação, oriundos do uso excessivo de tourinhos Ceip. Mas o salto para a construção de uma base genética precoce ocorreu mesmo em 2005. Naquele ano, a empresa fertilizou 3.000 fêmeas com sêmen de Kulal AJ. Segundo Bento Ferraz, foi um tiro certeiro. “Sua genética deu padronização à vacada, além de fixar o gene da precocidade no plantel”, diz. Touro líder dos sumários de Ceip, Kulal ficou conhecido por imprimir precocidade sexual à sua progênie, com quase 22.000 filhos avaliados. De acordo com Brüner, as três primeiras gerações com sangue do reprodutor deram segurança para mais investimentos. “Comecei a ver sua produção e percebi que aquele era o caminho certo.” Hoje, existem cerca de 500 filhas de Kulal na Tulipa. Nessa época, a empresa começou também a usar IATF em substituição da IA convencional. Outro grande desafio imposto à propriedade. O veterinário Edgar Nagle, diretor técnico da AG DBO dezembro 2015 77
Genética Brasil, lembra que, na época, o protoloco custava R$ 50 por fêmea e não garantia 50% de prenhez. “Os números impressionaram. De um total de 200 fêmeas fertilizadas à época, 56% emprenharam, devido à qualidade genética do plantel.” O veterinário atribui a evolução da Tulipa aos ajustes na seleção, técnicas de reprodução e manejo alimentar. “Foram investimentos em todas as áreas. Quando percebemos que havia consitência genética para consolidar um projeto de precocidade, passamos a avaliar o que faltava no ambiente para que os animais expressasem melhor essa característica”, conta Nagle, que ainda presta consultoria técnica à empresa. Manejo estruturado Localizada em uma região que registra altas temperaturas e seis meses de seca bem definidos, a empresa teve que realizar experiências de manejo nutricional até consolidar seu projeto precoce. Decidiu suplementar os animais, tanto na cria quanto na recria, fornecendo-lhes o equivalente a 0,2% do peso vivo de proteinado, a um custo de R$ 10/cab/mês. Além disso, as matrizes com cria ao pé foram colocadas, após a parição, nos melhores pastos, entre novembro e abril. A partir de maio, quando as gramíneas forrageiras perdem qualidade, os animais são levados para 300 ha de pastos de inverno (braquiária ruziziensis), formados em áreas de integração lavoura-pecu-
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ária, projeto iniciado há três anos. Após a colheita do milho, o capim é usado para recria dos bezerros. Os machos não classificados como touros Ceip são, depois, enviados para engorda na Fazenda Eugênia, em Inaciolândia. O cuidado com as pastagens sempre esteve entre as preocupações da Tulipa. Os primeiros investimentos em adubação ocorreram em 2010 e 2011. No ano seguinte, já se começou a fazer integração-lavoura pecuária, mas o grande salto de produtividade foi garantido pelo pastejo rotacionado introduzido na fazenda no ano passado. Dos 4.720 ha de pastagens, 2.832 já estão divididos em 32 módulos de pastejo compostos por quatro piquetes de 18 a 25 ha. A lotação é de 1,5 UA/ha, mas pode subir futuramente. Com o manejo nutricional já adotado, as fêmeas estão chegando com 280-320 kg no início da estação de monta. O projeto também dá atenção especial às vacas de primeira e segunda crias. Essas categorias são apartadas e recebem suplementação diferenciada para obter boa taxa de reconcepção. “Se elas não tiverem trato adequado, não ciclam nos três meses após a parição”, diz Brüner. Além de serem colocadas nos melhores pastos, as primípas recebem sal proteinado nas águas, e ração na ordem de 600 g/cab/dia durante a seca. Na estação de monta 2014-2015, a taxa de prenhez das primíparas chegou a 80% e das secundíparas foi de 87%. n
Fotos: roberto nunes filho
Genética
Senepol é, ao lado da Nelore, a raça mais demandada para FIV e TE.
Bezerros sob encomenda Dia de Campo, realizado em Nova Divisa (MG), debate os diferenciais e benefícios das centrais de receptoras. ROBERTO NUNES FILHO
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de Divisa Nova, MG.
terceirização na produção de bezerros para rebanho de seleção é uma prática que está trazendo vantagens econômicas para muitos criadores e que tende a crescer no País. Os benefícios e a dinâmica deste mercado foram mostrados no Dia de Campo promovido pela central de receptoras Minerembryo e realizado no dia 27 de novembro nas fazendas Angola e Paca, em Divisa Nova, MG. Desde 1998, a empresa atua como central de receptoras para a FIV (Fertilização In Vitro) e totaliza mais de 130 mil embriões transferidos, dentre eles clones de alto valor genético. Hoje, a central conta com sete mil barrigas de aluguel. Há dois modelos de negócios. No primeiro, o cliente recebe a receptora com prenhês de sêmen sexado com 90 dias de gestação. Na outra opção, o criador recebe o bezerro desmamado ao custo de 27 arrobas calculado no dia da sexagem do embrião, realizada aos 60 dias de gestação. A Minerembryo trabalha com 17 fazendas próprias, arrendadas e de parceiros para a recria das novilhas, para a transferência dos embriões e para parto e pós-parto dos bezerros. Primeiramente, as fêmeas passam por fazendas de
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recria, onde contam com um rigoroso preparo sanitário. Nesta etapa, também são identificadas aquelas que possuem melhor potencial para gerar um bezerro de elite. As receptoras consideradas aptas seguem para a Fazenda Angola para a transferência de embriões. Ali, os funcionários identificam as fêmeas que diariamente entram no cio e passam essa informação para os laboratórios responsáveis por preparar os embriões dos clientes. “Sete dias depois, o embrião é implantado na vaca”, conta o gerente Habner Bastos Amorim. Conforme informa o médico veterinário Eduardo Muniz Lima, fundador da Minerembryo, a central registra entre 400 a 500 cios naturais por semana. “Optamos por trabalhar desta forma porque o cio natural traz um índice de prenhez maior e de mortalidade menor. A utilização de protocolos também pode ser utilizada, mas somente quando o cliente quer transferir 200 ou 300 embriões no mesmo dia”, esclarece o especialista. Passados 30 dias após a transferência dos embriões, as receptoras são palpadas. Aquelas que estão prenhas seguem para a Fazenda Paca, onde ocorre todo o processo de sexagem e preparo para o nascimento dos bezerros. Ganhos do produtor O comparativo de custos para produzir uma receptora prenha também merece atenção. De cada 100 embriões implantados, o criador obtém 48 prenhezes, que é uma média aproximada do mercado. O diretor da Minerembryo calcula que o custo por cada receptora prenha na fazenda gire em torno de R$ 3,7 mil. Na central, o desembolso do pecuarista por prenhez, com base neste cenário, gira em torno de R$ 3,3 mil. Há outros ganhos indiretos. Na média, as perdas de embrião na transferência feitas em fazendas ficam entre 12 e 15%. No caso da Minerembryo, as perdas ficam em 5,7% no intervalo entre 30 e 90 dias. Os clones puxam esses índices para cima, segundo o fundador da central mineira. “No caso dos clones, é um processo que força a natureza e que gera uma placentação maior”, diz Lima, informando que a Minerembryo transfere 90% dos clones bovinos do País. Além do conteúdo teórico, os pecuaristas e profissionais presentes também tiveram a oportunidade de conhecer um pouco da estrutura da Minerembryo. Um dos destaques foi o projeto de irrigação da Fazenda Angola, adotado para melhorar a qualidade hídrica do solo. A pastagem é formada, basicamente, pelas forrageiras Mombaça, Brachiarão e Capim Setária. Cerca de 30 bicos irrigam por aspersão uma área com 30 piquetes, cada um com 0,91 hectare. No período seco, os bicos são ligados uma vez por semana, a cada três horas, correspondendo a uma chuva de 30 milímetros. O custo total deste projeto foi de R$ 270 mil e, mensalmente, são desembolsados R$ 16,5 mil para a sua manutenção. De acordo com Lima, o investimento compensa, visto que o sistema irriga-
Pasto irrigado melhora desempenho do gado
do melhora o ganho de peso dos animais e potencializa a rentabilidade da área. A irrigação realizada na Fazenda Angola permite uma taxa de lotação média de 7,72 UA/ha. Depois de conhecerem os diferenciais desta propriedade, os convidados seguiram para a Fazenda Paca para observarem os processos relacionados ao parto e pós-parto dos bezerros. Palestrantes No campo da sanidade, a principal reflexão realizada pelos especialistas girou em torno da identificação e prevenção de doenças no rebanho. “É importante lembrar que o bezerro, desde a gestação, é um possível hospedeiro de várias doenças que já estão dentro do rebanho e que sempre há uma relação entre a tríade hospedeiro, agente e ambiente”, ressaltou Fabrício Torres, diretor do laboratório Axys Análises. “Há agentes, como o vírus da IBR, que é muito presente nos rebanhos e que pode se manifestar quando os animais passam por algum estresse ou quando, por algum motivo, há queda na imunidade. É o mesmo processo que ocorre em relação à herpes labial humana”, comparou. Dados apresentados pelo coordenador de território da Biogenesis Bagó, Renato Agostini, reforçaram a atenção que os pecuaristas precisam ter em relação aos desafios sanitários. Segundo um levantamento realizado pelo próprio laboratório, contemplando 55 mil amostras entre 2001 e 2014, a porcentagem de rebanhos positivos para o IBR no Brasil é de 84%. Deste total, 27% animais haviam manifestado essa doença. “No caso da leptospirose, identificamos 56% dos rebanhos positivos, sendo que 26% dos animais foram acometidos. Já a análise da BVD (diarréia viral bovina), 86% dos rebanhos deram positivos e 67% dos animais foram afetados”, revelou. E quando o assunto é a nutrição, o diretor técnico da Bovitron, Vicente Turino, destacou a necessidade de os criadores bem conhecerem as exigências nutri-
cionais dos bezerros para que possam realizar um manejo nutricional adequado. “Nos primeiros 30 dias, a vaca supre 100% da demanda energética do bezerro. No segundo mês, o leite atende 70% das necessidades metabólicas. A queda segue gradual e, no sexto mês, somente 27% da demanda energética é atendida pelo leite”, esclareceu. O especialista sugeriu, portanto, que até os 60 dias de vida o animal seja suplementado com amido (importante para o preparo ruminal) e proteína. A partir dessa fase, ele sugere que a oferta de energia seja maior do que a de proteína. “Na Minerembryo, por exemplo, o lote de bezerros com 30 a 90 dias recebe um concentrado com bastante qualidade de proteína metabolizada. E depois de 90 dias, usamos um suplemento que ofereça mais energia”, explica. No caso das receptoras, a silagem de milho é fornecida no pré-parto e no parto e no pós-parto as vacas recebem também a cevada e concentrado de energia para auxiliar na lactação. Criadores aprovam Um dos presentes no Dia de Campo foi Bruno Humberto Soares, supervisor do Grupo Monte Verde, de Uberlândia (MG). A fazenda é parceria há 14 anos da Minerembryo e, neste período, já produziram 24 mil prenhezes, em sua maioria de Nelore. Também estiveram presentes parceiros recentes, como Jr. Fernandes, da Grama Senepol (Pirajuí - SP), que também foi um dos palestrantes do Dia de Campo. O trabalho com a central começou há 16 meses com o objetivo de alavancar a produção da fazenda. Os primeiros lotes já foram entregues e, de acordo com Fernandes, estão sendo feitas cerca de 40 prenhezes por mês. Outro produtor e palestrante foi Maurício Coelho, da fazenda Santa Luzia (Passos - MG). Parceiro da Minerembryo desde 2010, a propriedade faz quase 100% das reproduções em FIV. Em 2014, a fazenda transferiu 5,8 mil embriões e, até outubro deste ano, 6,1 mil. n
Nossas perdas, entre 30 e 90 dias após o implante, é de apenas 5,7% dos embriões. Eduardo Muniz de Lima, médico veterinário e diretor da Minerembryo.
Fique atento Desde 2014, o Regulamento do Serviço de Registro Genealógico das Raças Zebuínas (SRGRZ) recomenda apenas o uso de receptoras com genética zebuína nos processos de TE e FIV para as raças Brahman, Cangaian, Indubrasil, Nelore e Sindi. Portanto, todas as receptoras não enquadradas nos requisitos devem ser registradas na ABCZ e identificadas por um número único no País, através de um sistema do SRGRZ. O registro em questão demanda o pagamento de valor equivalente aos emolumentos de um Registro Genealógico Definitivo de matrizes LA - Livro Aberto, para o cadastramento dessas matrizes receptoras no SRGRZ. Mas, a partir de janeiro de 2016, o valor do cadastro das matrizes não zebuínas será triplicado.
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Genética
Um olho no trabalho, outro na folga. Cronograma dos procedimentos do protocolo de IATF auxilia na redução de horas extras pagas aos funcionários
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Lídia Grando
Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF) tem como vantagem a sistematização do procedimento de inseminação. Vale-se de protocolos que colocam fim ao manejo diário de observação de cio, feito de segunda a segunda na inseminação convencional. É uma tecnologia que otimiza a fase reprodutiva da fazenda, porém, suas etapas como a aplicação de implantes e fármacos, inseminação, diagnóstico de gestação e ressincronização precisam ser feitas em intervalos exatos de dias. Se não há uma previsão e planejamento de datas, os manejos podem coincidir com finais de semana, feriados ou dias em que são feitas atividades administrativas, como o dia da “compra”, ou seja, quando a maior parte da equipe vai para o centro urbano mais próximo resolver seus compromissos pessoais e fazer a compra do mês. Portanto, antes de iniciar o protocolo de IATF é necessário que se estabeleça um cronograma exato contemplando todos os dias de manejo, considerando a agenda da fazenda e dos prestadores de serviço. Nas Fazendas Bartira, com sede em Goiânia, GO, e unidades em cinco estados, os protocolos de inseminação começam apenas nas segundas ou ter-
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ças-feiras. “Dessa forma, evito os manejos nos finais de semana”, comenta Levy Campanhã, gerente de pecuária das fazendas que contam com 20.000 matrizes em reprodução, sendo que 50% passam por IATF. Na Bartira, utiliza-se o protocolo com três manejos no curral. Se as vacas receberem o implante hormonal na segunda feira, elas voltarão após oito dias (terça-feira da semana seguinte) para retirada de implante e aplicação de fármacos e retornam, após dois dias, para a Inseminação, ou seja, quinta-feira. “Se eu iniciar na quarta ou na sexta, com certeza haverá trabalho no final de semana”, afirma Levy. Mudar a rotina e levar a equipe para o curral em domingos ou feriados implica em horas extras e questões trabalhistas, além do descontentamento das pessoas. “É necessário ter atenção a essas datas, para bom resultado do processo e para desonerar a folha de pagamento”, reconhece Campanhã. Com 300 matrizes, Dilce Tereza Flumian Braga investe na IATF desde 2002. Na fazenda Rio Araguaia, em Alto Araguaia, MT, o protocolo é diferente e exige quatro manejos no curral. “Aguardamos as chuvas para a recuperação do escore corporal das vacas e fazemos um cronograma junto a empresa prestadora de serviço”, explica Dilce sobre os manejos que serão executados. Ela lembra que prioriza deixar os domingos livres para o pessoal, “mas as vezes é inevitável” e ressalta a importância de negociar uma folga com antecedência. Com o protocolo utilizado, se começá-lo na segunda-feira (dia 0), os animais retornarão ao curral para aplicações e procedimentos na segunda seguinte (7º dia), quarta (9º dia) e sexta (11º dia). “Desta vez só não conseguimos liberar o dia 2 de janeiro que cairá em um sábado”, comenta sobre seu calendário. Alaor Pereira Martins Junior, da Lageado Biotecnologia, de Mineiros, GO, lembra que na maioria das vezes, evitam-se protocolos que iniciam as quartas, pois fatalmente irão implicar em manejos no domingo. “Em casos extremos, fazemos um ajuste que não comprometa o protocolo”, afirma. Emílio Leão Martins, médico veterinário e proprietário de duas fazendas em Goiás, em Mineiros e Rio Verde, respectivamente, uma para cria de 1.200 matrizes e outra para confinamento, lembra que apenas no diagnóstico de gestação, 30 dias após a inseminação, há flexibilidade para atrasar ou adiantar um dia e fugir do final de semana ou feriados. “Podemos fazer o diagnóstico após 28 ou 32 dias da inseminação”, comenta. Porém, a flexibilidade tem certo limite, já que no mesmo dia é feita a ressincronização das fêmeas que não emprenharam e sincronização do segundo lote de vacas paridas. “É importante avaliar e aliar todos os manejos”, afirma Martins. Após definidas as datas, ano a ano, normalmente, elas se mantém próximas, o que se torna uma facilidade tanto para a fazenda como para os prestadores de serviço. n
Genética Melhoramento
60.000 matrizes no DeltaGen
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m 17 de novembro, o programa de melhoramento genético DeltaGen se reuniu em Araçatuba, SP, para encerrar o ano-calendário 2015. O objetivo era fazer um balanço das ações da associação e contou com a presença do presidente, Rodrigo Brüner, e demais diretores, além de representantes do conselho técnico, coordenado por Cassiano Roberto Pelle. Entre os resultados, o incremento de 24% no total de animais avaliados em relação a 2014, além da adesão de mais três criadores. “Este ano participamos do Circuito ExpoCorte em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Tocantins e Rondônia, onde tivemos a oportunidade de conhecer mais criadores e reforçar o relacionamento com antigos associados”, diz Pelle.
O objetivo para 2016 é aumentar o número de associados em áreas potenciais da pecuária de corte, como Rondônia. “Rondônia e Tocantins são carentes de genética, com espaço para informação e trabalho no campo”, diz o coordenador. Desde que passou por mudanças institucionais, há dois anos, a Delta Gen intensificou ações com os selecionadores de Nelore, mantendo a proposta de controlar e aprimorar os principais componentes zootécnicos (fenótipos) em diferentes rebanhos, com base em um conjunto bem estabelecido de DEPs (Diferença Esperada de Progênie) para 22 características de interesse econômico. São 60.000 matrizes em avaliação, oriundas de 29 associados e 42 fazendas distribuídas por nove Estados. Apenas na desmama deste ano, entre maio e junho, foram obtidas informações de 37.016 animais analisados em peso, conformação, musculatura e habilidade materna. São mais de 500.000 avaliações completas desde 1993, quando o trabalho começou. “Em duas décadas, reunimos 500.000 avaliações individuais completas (à desmama e ao sobreano) do Nelore”, contabiliza Pelle. “É um banco potencial de informações genéticas.” (Carolina Rodrigues)
Nelore Em um universo de 500 mil animais da raça Nelore analisados por ultrassonografia para a avaliação da EGS (espessura de gordura subcutânea) e AOL (área do olho do lombo), a médica veterinária Liliane Suguisawa, da DGT Brasil, descobriu um campeão de marmoreio - gordura entremeada medida no contrafilé, com 5,02%. É o touro Quanupur da 2L, cria de
Adir do Carmo Leonel, selecionador de Nelore desde 1960 na Estância 2L, em Ribeirão Preto, SP. Para marmoreio, a média no Nelore fica entre 1,5 e 2% - e a partir de 3% a taxa é considerada significativa, segundo a médica veterinária. “É um touro ideal para quem pensa em produzir carne de alta qualidade, macia e suculenta”, diz Liliane.
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Leilões
Comércio morno de genética Depois de permanecer na casa de 12.000 lotes nos últimos meses, mercado recua para 5.297 ofertas em novembro. carolina rodrigues
Comparativo com novembro de 2014 Lotes
-14% Fatura (R$)
-18% Média
-5%
carol@revistadbo.com.br
O
s criadores de bovinos de carga genética para carne venderam, em 50 remates realizados em novembro, 5.297 lotes por R$ 47,3 milhões. Foram negociadas 2.948 fêmeas pela média de R$ 9.524 e 1.724 touros a R$ 8.388 por cabeça. As prenhezes somaram 620, ao preço de R$ 7.059; e cinco aspirações de folículos ovarianos que foram cotadas pelo altíssimo valor de R$ 90.480. Apesar da queda de 14% na oferta e outros 18% na receita em relação a novembro de 2014, os números do mês ano não mostram um mau resultado dentro do cenário de vendas frenéticas que permeou o segundo semestre. Em julho, a venda de bovinos de genética foi de 9.181 lotes, alcançando a casa de 12.000 lotes em agosto. O desempenho se manteve em setembro e outubro, caindo para a casa dos 5.000 lotes em novembro. O resultado, no entanto, é comum. O mês nunca foi um período de vendas frenéticas. Ele é caracterizado pela calmaria pós picos de venda e pelo início
50 remates de bovinos de genética para carne Pistas de novembro registram média geral de R$ 8.942 Raças
Lotes
Leilões
Renda (R$)
Média
Máximo
Nelore
4.249
34 (2)
39.202.610
9.226
646.400
Tabapuã
191
1
737.300
3.860
-
Hereford
187
5 (3)
1.339.630
7.164
23.500
Guzerá
163
3 (1)
1.063.330
6.523
-
Braford
153
2 (2)
504.730
3.299
-
Senepol
113
3
3.078.220
27.241
180.000
Brahman
83
1
375.200
4.520
-
Angus
78
3 (1)
480.200
6.156
-
Caracu
59
2
393.720
6.673
13.680
Devon
21
1 (1)
190.620
9.077
-
Total
5.297
50
47.365.560
8.942
646.400
Critério de oferta.(-) Dados das leiloeiras Agenda, Agreste, Anderson Lima, Camargo Agronegócio, Central, Clínica Veterinária, Connect, Estância Bahia, Escritório Central, Leilogrande, Leilonorte, Pampa, Programa, Querência, Rédea e Terço Leilões. (-) Quantidade de remates em que a raça dividiu pista com uma ou mais raças. Elaboração DBO.
84 DBO dezembro 2015
do encerramento do ano, com espaço também para o planejamento do ano que se inicia. Também não foi o pior desempenho. Em 2015, ficou acima de janeiro, de fevereiro e de março, meses considerados “esquenta motores” para o mercado de genética. Carro-chefe Os remates virtuais somaram o maior grupo de vendas em novembro. Foram 24 leilões, que negociaram 3.589 lotes por R$ 23,7 milhões (média de R$ 6.630). Nos remates presenciais, a região que mais promoveu eventos foi o Centro-Oeste, com seis remates, onde saíram 795 lotes por R$ 7,6 milhões e média de R$ 9.665. O mercado foi puxado por um grupo de criadores de Campo Grande (MS), que mesmo com o cancelamento da ExpoNelore MS, realizaram três leilões particulares. Eles responderam por 40% do total de genética comercializado na região. Na sequência está o Sul, ainda com influência das feiras da primavera, que cumpriu as últimas baterias na primeira quinzena de novembro. Foram nove remates, com 363 lotes por R$ 2,5 milhões e média de R$ 6.980. Fecham a conta de novembro o Sudeste, com sete eventos, 315 lotes e fatura de R$ 11,6 milhões, e o Nordeste, com quatro leilões, 235 lotes e R$ 1,6 milhão de fatura. Encerramento Mesmo com desempenho inferior quando comparado a outros meses do ano, novembro pode ser considerado o último mês efetivo do comércio de genética de 2015. Isso porque dezembro tem uma agenda muito tímida em andamento, com poucos leilões dedicados a vender exclusivamente genética para a produção de carne. Do total de 71 leilões programados, apenas 29 são de raças de corte, pouco mais da metade de novembro. Dezembro vem recheado de leilões de raças leiteiras, ovinas e caprinas, cenário favorecido por um grupo de exposições do Nordeste. A principal delas é a Fenagro, na capital baiana, Salvador, com uma bateria total de 11 leilões, 30% destinados a vender bovinos selecionados. O último leilão da categoria no ano está programado para 17 de dezembro, com a oferta de novilhas Nelore e será transmitido pelo Canal Rural. A agenda será retomada somente em fevereiro de 2016, precedida de alguns registros em janeiro. n
Jornal de Leilões www.jornaldeleiloes.com.br
raio x
direto da pista Em entrevista ao JL, Lauro Fraga, da ABCZ, fala sobre a importância do trabalho com touros jovens dentro dos programas de melhoramento genético. A categoria tem ganhado cada vez mais espaço nos leilões dedicados a vender reprodutores.
balanços e análises Exposição Nordestina recua 37% em oferta de animais Mostra em Recife, PE, termina com a venda de 251 lotes de bovinos, equinos, caprinos e ovinos. Expoapi espera superar R$ 12 milhões em negócios Feira de Teresina, PI, encerra calendário de eventos do ano com projeções otimistas.
Primavera soma R$ 76,9 milhões Temporada gaúcha negocia 11.229 exemplares em 145 remates. Farm Show mostra sua força Com queda de 16% na oferta, fatura permanece firme. Expoagro AL rende R$ 7 milhões Raças de corte e leite vão à venda em sete leilões na capital Maceió.
O Jornal de Leilões acompanhou em novembro os resultados de 131 leilões de raças bovinas de corte e leite, mais equinas, caprinas e ovinas. A movimentação financeira foi de R$ 101,1 milhões para 9.011 lotes, entre machos, fêmeas, prenhezes, aspirações e coberturas.
resultados
coluna jl
• Genética Eldorado faz pista limpa no Noroeste paulista
Prova do gancho “Uma coisa é estimar o que um animal é capaz de produzir por meio de avaliações genéticas, outra completamente diferente é comprovar o que de fato ele produz com o gado no gancho em abates técnicos”. Paulo Leonel, Estância 2L
Angus em alta “Os pecuaristas de São Paulo e regiões próximas entenderam a importância do cruzamento industrial para a produção de carne de qualidade e estão dominando cada vez melhor essa técnica”. Fábio Medeiros, Programa Carne Angus
FIV para todos “Antes a FIV era aposta para replicar animais de elite, mas é uma técnica bastante eficiente também para animais melhoradores a campo, proporcionando ganhos de produtividade e rentabilidade”. Bruno Grubisich, Verdana Agropecuária
• Verdana oferta 119 matrizes prenhes na retomada do programa GEN+ • 4º Encontro Nelore fatura R$ 1,7 milhão em Campo Grande • Rima MS foca no comércio de reprodutores provados no PMGZ • Valdomiro Poliselli dissemina genética Dorper VPJ para 11 Estados • Cabanhas Mauá e Charrua faturam mais de meio milhão • Fazendas do Lago exibe trabalho com Brahman e Wagyu pela TV • Monte Verde comemora 31 anos de história na capital carioca • Virtual Matrizes Lemgruber faz R$ 15.000 de média • Grama Senepol negocia nova geração de “Safiras”w
dezembro 2015
DBO 85
Leilões Conversa Rápida com
Antônio Balbino Neto
Fim da seleção Arrossensal
A
ntônio Balbino Neto dirige o grupo empresarial Antônio Balbino, que leva o nome do avô. O projeto pecuário inclui provas de ganho de peso oficializadas pela Associação Brasileira de Criadores de Zebu, a ABCZ, parte do criterioso trabalho de melhoramento genético do Nelore levado em Barreiras, no Oeste baiano. Em novembro, ele cumpriu a 10ª etapa ininterrupta de seu leilão, que vende a cabeceira do plantel tirada a partir de 3.200 matrizes puras das raças Nelore e Guzerá. A renda ultrapassou R$ 800.000. Como vê a valorização da genética de campo?
Mesmo que o escore não modifique a capacidade do animal em transmitir características, hoje é necessário que eles estejam cada vez melhor apresentados.” Antônio Balbino Neto, criador de zebuínos em Barreiras, BA.
É o caminho para quem produz animais melhoradores. Mesmo que em determinados segmentos da criação se demandem animais criados em sistema de confinamento, esse não é o ambiente de maior produção da pecuária no Brasil Central.
O que mudou na forma de fazer leilão e comercializar animais nos últimos 10 anos?
Hoje, as informações precisas dos programas de melhoramentos permitem à pecuária comercial acesso aos animais que tenham características importantes para melhorar o rebanho de forma ampla e específica. Isso trouxe a valorização de animais realmente melhores, com valor agregado para animais ainda jovens, mas com uma exigência grande nos tatersais. Mesmo que o “escore” não modifique a capacidade do animal em transmitir características, hoje, é necessário que eles estejam cada vez melhor apresentados para uma comercialização competitiva.
Com tantas tecnologias aplicáveis no melhoramento genético, as PGPs ainda são uma boa ferramenta de avaliação?
As provas zootécnicas de desempenho individual ajudam a “pescar” animais aptos a serem melhoradores em rebanhos que se propõem a realizar criação em sistemas similares aos das provas. Inseridas num campo de observação e medições realizadas pelos programas de avaliação, as PGPs ganham força no processo evolutivo do plantel.
Classifique a pecuária baiana nos dias atuais….
A pecuária baiana passa por profundas modificações, impulsionadas por desafios ambientais e do próprio mercado. O Estado se divide numa atividade que ainda é tradicional na prática, com sinais e perspectivas de caminhos alternativos dentro da oferta ambiental. As particularidades regionais são um desafio, mas também um fator positivo para adoção de políticas de incremento à atividade pecuária de corte.
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Em seu primeiro remate após ser adquirida por Vanessa Batista, a Arrossensal Agropecuária mostrou que a fama do Grupo Camargo na venda de Nelore de qualidade se consolidou. Em novembro, dois leilões virtuais venderam animais de elite e produção tirados na Fazenda Camargo, em Nortelândia, MT, totalizando R$ 4,2 milhões. Na conta estavam 49 fêmeas pela média de R$ 9.691 e 26 reprodutores a R$ 10.430; além de 42 bezerras, novilhas e doadoras de elite por R$ 3,5 milhões. Os remates anunciam o fim do trabalho com o gado PO na Arrossensal, que a partir de 2016 se dedicará exclusivamente a engorda de 6.000 bois em confinamento. Uma bateria de liquidação está prevista para março.
Quase 2.000 touros Com a oferta de quase 200 tourinhos Ceip, a Agro Pecuária CFM encerrou seu calendário anual de vendas na noite de 9 de novembro. Os animais saíram à média de R$ 6.200, arrecadando o total de R$ 1,1 milhão. A CFM é a maior vendedora de animais com certificado do Mapa no Brasil, e em 2015, colocou no mercado cerca de 1.800 machos vendidos em leilões.
Quinteto Guzerá Formado por cinco pesos pesados do Zebu, o grupo Seleção Guzerá ofertou, no início de novembro, 70 tourinhos avaliados pelo PMGZ (com média de 650 kg e 38 centímetros de CE) pela média de R$ 7.700. O projeto reúne o trabalho dos criadores Antônio de Salvo, Geraldo Melo Filho, José Silveira, Alberto Gonçalves, mais Joaquim e Túlio Martinho.
Alta performance no Senepol Após divulgar os resultados de Senepol do Centro de Performance (CP), a CRV Lagoa realizou, em parceria com a Senepol Soledade e um grupo de criadores, mais um leilão para vender produtos ranqueados na prova. A maior valorização coube ao campeão Fênix da Koelpe, da Senepol Koelpe, vendido em 50% por R$ 54.000 para Giuliano Wassal Filho. O garrote, de apenas de 14 meses, chegou ao leilão com peso de 390 kg e 39 centímetros de CE. Ele integrou a bateria de 37 lotes de touros e matrizes vendidos por R$ 863.080.
Novo recorde
Troca de mãos No início de novembro, a notícia de venda da Agropecuária Jacarezinho causou tumulto no mercado de animais com Ceip. O que mudaria? Como seria a continuidade do projeto? Os leilões estariam no planejamento? Para provar que as mudanças se atém só à diretoria, o novo comprador, Marcos Molina, promoveu mais um leilão da grife, mostrando que a oferta
de genética fará parte de nova gestão. O movimento financeiro ultrapassou R$ 2 milhões por 240 novilhas, 237 fêmeas prenhes e 319 embriões, todos com o selo DEPPLUS, marca que identifica produtos ceipados e com DEPs Genômicas. De quebra, também foram ofertadas 100 doses de sêmen de Kulal AJ, um dos principais reprodutores já produzidos na Jacarezinho.
Repetindo o feito de 2014, quando registrou a maior média dos leilões que venderam touros no ano, a Senepol Tufubarina emplacou novos R$ 20.747 no 4º Leilão Alta Performance, em 28 de novembro. Em arrobas de boi gordo, o resultado foi de 150,8 arrobas no Triângulo Mineiro, onde Gustavo Vieira faz seleção.
RM debuta no mercado Presença constante nas principais exposições e leilões do mercado Nelore de elite, Reinal e Márcia Caravellas debutaram na promoção solo de remates no início de novembro, na Chácara RM, em Uberaba, MG. O casal estreou com o pé direito, negociando 26 animais por mais de R$ 1 milhão. A média das fêmeas bateu em R$ 43.400, a terceira maior do mês.
Arte de vender
Entre os 10 mais A grife Vila dos Pinheiros, conduzida por Jaime Pinheiro, faturou o tricampeonato de Melhor Criador de Nelore no Ranking Nacional da ACNB em 2015, façanha de um grupo cada vez mais restrito de criadores. O desempenho não ficou restrito às pistas. Nos dias 6 e 7 de novembro, o criador promoveu uma dobradinha de leilões que rendeu R$ 7,1 milhões, uma das dez maiores faturas do ano. Como não poderia faltar em leilões deste porte, Jaime ofertou uma das joias de seu plantel, a matriz Melopéia TE Guadalupe, vendida em 33% por R$ 646.400 para o Grupo Cartago. Com a compra, a fêmea ficou valorizada em R$ 1,9 milhão.
Quem também encheu a pista com touros em novembro foi Carlito Guimarães. A segunda etapa do 23º leilão do criador aconteceu em Confresa, MT, e negociou 130 reprodutores Nelore à média de R$ 8.500. A primeira etapa do remate aconteceu em Água Boa, no mês de outubro.
DBO dezembro 2015 87
Eventos
Queda acentuada do boi frustra pecuarista de Rondônia Diferencial de preço em relação ao valor base de SP chega a quase 20%, ante o histórico de 10% verificado no Estado do Norte. Denis Cardoso,
de Ji-Paraná, RO
R
ondônia é um dos poucos Estados a registrar aumento de rebanho bovino nos últimos anos – possui o sétimo maior plantel do Brasil, de 12,7 milhões de cabeças (de corte e leite), segundo dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) –, mas os pecuaristas de lá convivem com um problema: o Estado é hoje o que registra o maior diferencial de preço do boi gordo em relação ao valor de São Paulo (base de referência, por ser o principal centro industrial e consumidor de carne bovina do País) depois do Acre. “Fomos surpreendidos este ano pela queda repentina do boi gordo”, diz, estarrecido, o pecuarista Daniel Breda, um dos participantes da última etapa do Circuito ExporCorte, evento realizado nos dias 25 e 26 de novembro na cidade de Ji-Paraná (RO) e que contou com a presença de 780 pessoas, segundo cálculos da Verum Eventos, responsável pela organização do circuito. A reclamação do pecuarista de Rondônia, que faz recria e engorda em Chupinguaia, RO, com rebanho de 4.000 cabeças, procede: em meados de novembro, o preço médio da arroba do boi gordo no acumulado daquele mês ficou em R$ 127,25 (a prazo) no EsFOTOS DENIS CARDOSO
Michel Tortelli, do Minerva: “Quem negociou no Mercado a termo para entrega em outubro, conseguiu R$ 145 em Rondônia, enquanto no balcão o preço estava em R$ 125/127”.
denis@revistadbo.com.br
Palestras técnicas, a grande atração do Circuito Expocorte, o último em Ji-Paraná, RO.
88 DBO dezembro 2015
tado, o que correspondia a um diferencial de 15,1% (ou de R$ 22,65) sobre o valor base de São Paulo registrado no mesmo período, de R$ 149,90, informa o médico veterinário Hyberville Neto, analista de mercado da Scot Consultoria, de Bebedouro, SP. No mês de agosto, o boi atingiu o valor médio de 119,50/@ na praça de Rondônia, resultando em um diferencial de preço de 17% (R$ 24,17) sobre o valor da arroba paulista em igual mês (R$ 143,67/@). Em janeiro de 2015, compara Neto, essa diferença de preço entre as duas praças de comercialização foi bem menor, de 7% (R$ 10,34) – o boi gordo em Rondônia foi negociado a R$ 134,40 (média mensal), para um preço em São Paulo de R$ 144,74 no mês mesmo período. Inconformado com a atual situação de preços em Rondônia, Daniel Breda cobrou explicações ao gerente de boi a termo da Minerva Foods, Michel Torteli, que também esteve presente no Circuito ExporCorte de Ji-Paraná e apresentou a palestra “Cenário da carne bovina no próximo triênio”. Da plateia, durante a mesa redonda de debates realizada após o primeiro bloco do evento (na parte da manhã de 25 de novembro), o pecuarista ouviu a resposta do executivo da Minerva: “Realmente, ninguém imaginava que o boi de Rondônia chegaria, no segundo semestre, a R$ 120/@; o próprio Minerva trabalhava inicialmente com a expectativa de diferencial de preço no Estado para o período de R$ 12 (em relação ao valor de São Paulo)”, admite Torteli, que, apesar da surpresa, acrescenta: “Isso acontece, faz parte da lei de oferta e demanda do mercado”. No entanto, em entrevista à revista DBO, Breda diz “estranhar” o fato de Rondônia ser o único Estado brasileiro a apresentar, ao longo deste ano, uma oscilação tão forte no diferencial de preço da arroba do boi gordo. No Pará, por exemplo, Estado do Norte também igualmente distante do maior centro consumidor de carne bovina, o preço médio do boi gordo em meados de novembro foi de R$ 135,80, a prazo, enquanto na praça paulista girava em R$ 144,74, uma diferença de 9,4% (R$ 9), informa a Scot Consultoria. Em janeiro deste ano, esse diferencial no Pará foi de 13,5% , ou seja, do começo do ano até meados de novembro, essa variação foi de apenas quatro pontos percentuais (metade do aumento de oito pontos percentuais ocorrido em igual intervalo na praça de Rondônia).
“Historicamente, o Pará sempre vendeu o boi gordo a preços inferiores aos praticados em Rondônia, até porque os frigoríficos sempre reverenciaram a qualidade de nosso gado”, enfatiza Breda, acrescentando que a indústria local “puxou o tapete do pecuarista” ao “forçar para baixo o preço da arroba do animal terminado”. Segundo ele, “existe um movimento no Estado para que haja uma maior concentração das grandes indústrias frigoríficas, reduzindo, assim, a competitividade das pequenas indústrias”. Com isso, continua Breda, “o pecuarista acaba tendo poucas opções para o escoamento do boi gordo, abrindo oportunidade para uma maior pressão de baixa por parte dos frigoríficos de maior porte”. Os três maiores frigoríficos do País (JBS, Marfrig e Minerva, nessa ordem) possuem unidades de abate em Rondônia, com destaque para o líder de mercado, que mantém quatro plantas em operação no Estado (em Pimenta Bueno, São Miguel do Guaporé, Porto Velho e Vilhena). Alegando falta de matéria prima, a JBS anunciou neste ano a paralisação, por tempo indeterminado, das atividades nas unidades de Ariquemes e Rolim de Moura. Diante da situação, Breda diz que está tendo “prejuízo” na venda do boi gordo, pois, em fevereiro-março deste ano desembolsou “R$ 180-200/@ na compra do bezerro desmamado, quando o valor da arroba do animal terminado em Rondônia girava ao redor de R$ 140, à vista, tendo um diferencial de base São Paulo em torno de R$ 10. “Com a reposição nas alturas e essa queda desenfreada no preço do boi gordo, agora estamos vendendo a boiada a R$ 123, à vista”, lamenta o pecuarista. Boi a termo: Segundo o gerente do Minerva, para não ficar à mercê das oscilações do valor do boi, é necessário adotar ferramentas de proteção de preço, como o mercado de boi a termo, sistema de garantia de preço futuro (hedge), por intermédio do frigorífico. “Principalmente na conjuntura atual, marcada por uma reposição com valores exorbitantes, o uso desse mecanismo de proteção se faz altamente necessário”, afirma ele, completando que o Minerva contabiliza operações de boi a termo com alguns pecuaristas de Rondônia, que, em outubro-novembro, venderam os animais terminados por R$ 145/@, ante o valor de balcão girando na época ao redor R$ 125-127/@. Na avaliação do diretor executivo da Associação Rural de Rondônia (ARR), Sérgio Ferreira, em vez de negociar isoladamente com a indústria, é preciso que haja uma maior união entre os pecuaristas do Estado, para controlar melhor a oferta do boi gordo e, assim, elevar o poder de barganha no momento da venda. Para isso, conta Ferreira, a associação estuda criar um fundo de reserva financeira, abastecido por cada um dos 200 produtores rurais (rebanhos de leite e de corte), para possibilitar a contratação de profissionais capazes de oferecer orientações aos
Em dois dias, circuito de Rondônia registrou 780 participantes.
associados, além de criar estratégias de negociação em massa da produção junto aos frigoríficos. “Devido ao grande interesse por nosso boi, podemos inclusive, dependendo do modelo de negociação, direcionar os animais daqui para frigoríficos de fora de Rondônia, localizados em Estados como São Paulo e Paraná”, avalia Ferreira. Rebanho O rebanho de Rondônia, segundo o IBGE, cresceu 3% em 2014 (plantel contabilizado no fim daquele ano), para 12,7 milhões de cabeças, em relação ao ano anterior. Segundo estimativa do diretor executivo da Associação Rural de Rondônia, em 2015, o rebanho bovino vai subir para algo próximo de 13 milhões de cabeças. “Aqui, temos boi pronto para o abate o ano todo”, garante Ferreira. No momento, continua ele, o Estado tem deslocado uma grande quantidade de bezerros desmamados para outros Estados, tais como Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e São Paulo, locais onde há atualmente carência de oferta de animais de reposição. Ainda segundo o diretor executivo da associação, a região pecuária do Cone Sul de Rondônia, na divisa com Mato Grosso, tem perdido espaço para produção de grãos e eucalipto, culturas mais competitivas que o boi atualmente. Mesmo assim, diz ele, o rebanho no Estado é ascendente porque o pecuarista local tem investido na intensificação da produção, sobretudo lançando mão de estratégias de engorda do boi em confinamento e semi-confinamento. Também, afirma Ferreira, há um maior deslocamento da produção de gado de corte do Cone Sul para a região Central do Estado (cidades como Porto Velho, Ariquemes, Buritis, Machadinho do Oeste, Vale do Paraíso), que, devido à topografia acidentada, não permite a entrada
Sérgio Ferreira, diretor da Associação Rural de Rondônia: “É preciso maior união dos pecuaristas na venda de boi”
Daniel Breda, pecuarista: “Este ano fomos surpreendidos pela queda repentina do preço.
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Eventos da lavoura. “Nessas regiões tem prevalecido o uso de tecnologias, daí o crescimento do rebanho de gado de corte no Estado”, diz.
Flávio Dutra, da Apta: “É viável ganho De 7 @ na cria, 7 na recria e 7 na terminação e boi de 21 @ e 24 meses”.
7.7.7 Na opinião do pecuarista Daniel Breda, a situação do mercado atual inviabiliza a produção de ciclo curto, baseada no conceito 7.7.7, que, aliás, foi tema corrente nas etapas do Circuito ExpoCorte, que antes do encerramento em Ji-Paraná, passou por Cuiabá (MT), em março; Campo Grande (MS), em julho; Uberaba, em setembro; e Araguaína (TO), em outubro. O sistema 7.7.7 preconiza a busca por animais com 7@ na desmama, 7@ na recria e 7@ na engorda/terminação, para abate com 21@ aos 24 meses de idade. “Fizemos o nosso dever de casa, adotando este modelo 7.7.7, mas infelizmente houve essa grande frustração em relação ao preço de venda desse boi”, afirma o Breta, que faz confinamento a pasto, com tratos diários de 7-8 kg de ração, abatendo os animais com 23-24 meses de idade. Para o pecuarista Rubens Catenacci, da Fazenda 3R, de Camapuã, MS, independentemente da atual situação
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de mercado, o pecuarista de Rondônia tem de continuar otimista e investir em tecnologias que possibilitam a intensificação da fazenda, com nutrição e genética. Seu Rubinho, como é conhecido, foi um dos palestrantes que mais agradaram ao público presente na ExporCorte em Ji-Paraná, arrancando aplausos calorosos e risadas da plateia quando disse que faz, em pequena parte de seu rebanho, “cruzamento industrial”, apenas para provar que a produção de Nelore puro é o melhor negócio”. “O Nelore é imbatível no trópico, com imenso potencial de rentabilidade ao criador”, diz ele, que, em 2015, alcançou média de R$ 2.100/animal em leilões de bezerros (com 8-9 meses de idade e peso ao redor de 300 kg) realizados no Mato Grosso do Sul. No final de sua palestra, provocou certo tumulto entre os participantes do evento ao oferecer o material imprenso da Fazenda 3R com as explicações sobre o sistema “Creep Confinatto 3R, que consiste no direcionamento de matrizes e bezerros em pastos rotacionados (estrutura em formato de pizza, com 10 piquetes): os animais são apartados das vacas e ficam fechados numa praça de central por 3 horas, recebendo ração, enquanto as matrizes pastejam sozinhas nos piquetes, o que permite uma melhor eficiência da colheita da forragem e potencializa o crescimento dos bezerros, além de elevar o escore corporal das vacas. n
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90 DBO dezembro 2015
MATO GROSSO
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MATRIZ: ANÁPOLIS (62) 3310-8133
Eventos
Gestão de pessoas matheus baralonowski
Tema de encontro marcou primeiro aniversário da RedeAgro
Prof. Malvezzi, da Fundação Dom Cabral: capacidade de interação define força da liderança.
A
demétrio costa, de Nova Lima, MG. demetrio@revistadbo.com.br
RedeAgro, aliança de empresas constituída em 2014 para difundir conhecimento e gerar soluções para empresários e gestores do agronegócio, promoveu a 5 e 6 de novembro seu quarto encontro, reunindo cerca de 100 pessoas na sede da Fundação Dom Cabral, em Nova Lima, região metropolitana de Belo Horizonte. O tema Gestão de Pessoas foi tratado em quatro palestras, duas de nível acadêmico através dos professores Sigmar Malvezzi, da Dom Cabral e do Instituto de Psicologia da USP, e Kedma Nascimento, da Dom Cabral, e duas com exemplos de caso, por conta de Aurélio Pavinato, diretor presidente da SLC Agrícola, e Wagner Silva, diretor de Recursos Humanos da mineradora Anglo American. A RedeAgro é uma parceria da Prodap, Dow AgroSciences, Tru Test, John Deere, Totvs e Valmont, com apoio da Dom Cabral. Além das palestras, foram realizadas duas mesas redondas com perguntas a palestrantes e convidados. Os tópicos a seguir foram tirados da primeira delas, mediada por João Rebequi, diretor presidente da Valmont. João Rebequi – Percebo que sempre que se fala em liderança se fala na questão do indivíduo e pouco na interação social do líder. Professor Sigmar, o líder é formado em que percentual com característica própria ou resultado da interação social dele? Sigmar Malvezzi – Há um consenso nas ciências sociais de que a liderança não é uma característica do indi-
víduo, mas da interação. Então, a interação tem um papel fundamental. É ela que define a força da liderança. Agora, o que o indivíduo precisa ter é um conjunto amplo de habilidades e condições pessoais que lhe permitam utilizá-las na interação. E por que não é a característica? Porque hoje e sempre você encontra líder rígido e líder flexível; líder introvertido e extrovertido, líder organizado e líder bagunceiro. Então, nenhuma característica jamais deu diferença significativa. É o contexto em que ela ocorre e em que a característica é colocada, que faz a força da liderança. Aprender a liderar é aprender a administrar a interação entre as pessoas Rebequi – Jorge, você como ex-presidente da Acrimat, Associação dos Criadores do Mato Grosso, me fale como está este debate de gestão de pessoas entre os produtores rurais por lá. Jorge Antônio Pires – Nós temos no Mato Grosso um Estado com 18 milhões de hectares ocupados com pecuária, e aproximadamente 9 milhões são de áreas degradadas, passíveis de atividade agrícola, até para melhoria das condições do solo. Essa nova fronteira de desenvolvimento do Estado está em área já consolidada, principalmente com a pecuária e a mão de obra da pecuária é uma mão de obra diferenciada da mão de obra agrícola, que tem melhor capacitação melhor treinamento, os equipamentos são outros. Então, nós temos hoje uma realidade no Estado em que a gente depende muito dessa capacitação e existe uma demanda muito grande de nós produtores em relação ao sistema S, para que possamos ter um treinamento da mão de obra através das entidades, principalmente para avançar na integração lavoura e pecuária. Sigmar – Gostaria de deixar algo de provocador: avaliação de desempenho não é algo simples como a gente trata. Quando você avalia desempenho você avalia quatro fatores distintos que não têm nada a ver um com o outro. Uma coisa é você avaliar competência... então, o Sigmar é ou não é competente, ter ou não ter competência é uma coisa; outra coisa é avaliar o desempenho, o ato, a ação dele. Alguém pode não ter competência nenhuma, mas o seu desempenho ser nota dez! Um terceiro fator é resultado; você pode ter toda a competência, fazer o melhor de qualidade no desempenho, mas não obter resultado. O que não pode ser associado assim. O quarto fator, que culturalmente é o mais complicado, é o mérito. O que é mérito? Mérito é uma relação entre competências, habilidades que o indivíduo tem para agir e a demanda que a tarefa traz. Então, a avaliação de competência é mais complexa, nós em geral misturamos os quatro fatores e isso é algo errado e gera muita confusão. Hoje uma das coisas difíceis é definir a competência isolada de alguém. Você pode dizer, o fulano é muito bom, mas ele é bom assim porque tem outro bom ao lado. Se tirar esse outro, 20% do que ele é bom fica perdido. Então, hoje, nós estamos caminhando para não fazer mais avaliações individuais, mas avaliações daquilo que se chama de competência complexa. No meio rural isso também funciona. n
Pecuária depende muito da capacitação de mão de obra.” Jorge Antônio Pires, Ex-presidente da Acrimat
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Empresas & Produtos
Biogénesis Bagó lança endectocida
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mpresa de capital argentino, o laboratório Biogénesis Bagó lançou Flok, endectocida à base de doramectina 1,1%, formulado para atingir o pico plasmático em curto período de tempo, o que proporciona ação rápida para controle de parasitos internos e externos. O produto é indicado contra vermes gastrointestinais, bernes, bicheiras (miíases) e carrapatos. “Em estudos de campo em uma região de alta infestação de carrapato, conseguimos 95% de eficiência nos sete primeiros dias e 99% em 21 dias”, diz o gerente de Produto, Pedro Hespanha.
Desde outubro, a Trouw Nutrition Brasil _ que opera no País com as marcas Nutreco, Bellmann, FriRibe, Fri-Aqua, Fatec e BR Nova) _ está com uma campanha de valorização do produtor rural. O slogan é “Sou produtor rural, com muito orgulho”. Além da divulgação em revistas, jornais, rádios e TV, a campanha conta, também, com adesivos para carros e notebooks, vídeos, camisetas, capas para celular, site e outdoors. “Se hoje temos uma diversidade de produtos à mesa, sabemos a quem agradecer: ao produtor rural”, diz o gerente de Marketing da Trouw, Alessandro Roppa.
Coimma
Com sede em Dracena, SP, a Coimma aproveitou o dia de campo da Fazenda Angélica, em Americana, SP, pertencente ao empresário Daniel Steinbruch, para mostrar o seu novo tronco de contenção hidráulico, que será comercializado a partir de 2016. Desenvolvimento para imobilizar o animal com eficiência e segurança, o novo equipamento, com design moderno, foi projetado para garantir o máximo de conforto para o animal e confiabilidade para o operador. Seu painel lateral é anatômico, revestido com bolsas de borracha de alta resistência, que imobilizam o bovino sem que nenhuma parte do metal toque o seu corpo. “É um equipamento flexível, que permite trabalhar com animais de todos os tamanhos; seu controle é móvel”, diz o diretor de Desenvolvimento da Coimma, Paulo Filho.
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Minerthal
Em resposta à pesquisa com 250 salgadores que trabalham em 50 fazendas no Centro-Oeste, a Minerthal decidiu lançar um manual de boas práticas de suplementação mineral. O levantamento revelou que a maioria desconhecia a importância do uso deste insumo tão essencial à pecuária. Com linguagem simples e fartamente ilustrada, a publicação traz o passo a passo para que a fazenda obtenha um bom resultado com a mineralização do gado. A orientação começa com indicações de procedimentos que o salgador deve tomar desde a chegada, a descarga e o armazenamento do produto na fazenda. Criou-se até um personagem, o salgador “Thal”, que
Taura Há sete anos comercializando arames lisos, farpados, cordoalhas e telas para a pecuária, além de aparelhos e acessórios para cerca elétrica e ferramentas para construção e manutenção de cerca (alicates e peças gripple), a Taura Brasil decidiu investir em start-ups (empresas iniciantes) que tenham projetos inovadores na agropecuária. Denominado Open Innovation, o programa é desenvolvido em parceria com a Ventiur (fundo acelerador que aplica seus recursos em pequenas empesas que precisam de capital para crescer) e a incubadora Tecnosinos, ligada à Universidade do Vale dos Sinos, de São Leopoldo, no RS.
mostra como distribuir corretamente o sal mineral no cocho. Além disso, apresenta fichas de controle de distribuição e explica também por que suplementar o gado. “As ações sugeridas na cartilha garantem melhor uso do produto e evitam desperdícios e falhas na suplementação”, diz o gerente técnico, Fernando José Schalck Jr.
Na primeira fase, a Open Innovation escolheu 15 projetos, que vão à segunda fase. Nesta etapa, os 15 projetos serão acompanhados por três meses. Nesse período, as start-ups receberão treinamento para validar as inovações e inserir os produtos no mercado. Também podem ganhar espaço na incubadora da Tecnosinos e receber aporte da Ventiur para crescer. Já a Taura, que não tem fábrica própria mas dispõe de empresas que fabricam sob sua encomenda, pretende aproveitar pelo menos uma inovação que revolucione o mercado em que a empresa atua e cinco inovações que tragam melhorias no processo de produção e dos produtos que existem no mercado.
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Sabor da Carne
Thiago Suíço
O charme das carnes salgadas Carne seca, de sol, serenada, charque: necessidade de conser vação originou produto hoje ser vido de várias formas. Thiago Suíço
é sócio da empresa Sal Marketing Gastronômico, de Cuiabá, MT, e parceiro da Acrimat para divulgação da carne bovina.
arquivo Sal Marketing Gastronômico
Carne “serenada”, uma das versões mais apreciadas da carne seca.
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em todo mundo sabe a diferença entre as peças de carne chamadas charque, carne de sol e carne seca. Antes de falar sobre elas, gosto sempre de comentar sobre a sua origem. Há quanto tempo temos geladeira em casa? Trinta, 40 anos? Pois é. Todos esses cortes são bem mais antigos do que nossa querida amiga geladeira. Tudo nasceu, enfim, da necessidade de se conservar a carne para a alimentação da família. Quando se caçava um animal ou se abatia uma vaca, era praticamente impossível comer tudo de uma vez só. Então, como guardar o que sobrou? Salga! Foi a resposta encontrada. Todos os três tipos de carnes são obtidos tendo o sal como elemento base. Umas com muito, outras com pouco sal. Carne de sol, “carne do Ceará”, “carne do sertão”, carne seca, charque, “carne de vento”, “jabá” ou o estrangeirado jerked beef, tudo isso se refere a um único tipo de produto: mantas de carne desidratadas e dessecadas. Independentemente do corte utilizado: normalmente a ponta de peito (também conhecida como “granito”), o lagarto, o coxão mole ou o coxão duro. A carne seca nada mais é do que a carne bovina salgada, curada e seca. Na salga, é adicionado
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nitrito de sódio ou de potássio. Depois, retira-se a salmoura e deixa-se a carne “no tempo”, para secar. Por isso, é uma carne com pouca umidade, mas também com o sal menos acentuado. O charque já é uma carne feita por imersão em solução salgada, seguida de secagem com mais sal e descanso num período que varia de 12 a 24 horas. Hoje em dia, tanto a carne seca como o charque são feitos de modo industrial. Pode-se até encontrar peças caseiras, mas, por segurança, a maior oferta é de origem industrial. Já a carne de sol é um tipo de carne seca obtida por um método um pouco diferente. Ela é manteada, salgada e depois vai direto para o sol, para secar. Esse método faz com que a carne perca muita água, o que tem um lado positivo, que é o de eliminar muitas bactérias que decompõem a carne. Por isso, é um método que conserva a carne por mais tempo, não necessitando que ela seja levada à geladeira. Em termos de textura e sabor, eu prefiro a ponta de peito, que é uma carne que tem mais gordura entremeada, facilitando, na hora do preparo, o processo de desidratação e conferindo, na hora do prato, um sabor mais acentuado. Além do que é mais barata do que o coxão mole e o coxão duro, que, por serem mais macios, apresentam o risco de desfiarem totalmente na hora do preparo. Esses dois cortes são mais apropriados para pratos de preparo mais demorado, como por exemplo na composição de um arroz carreteiro ou um “Maria Isabel”. O lagarto, assim como a ponta de peito, é um corte de fibra mais longa, que manteia e desfia bem. Com ponta de peito ou lagarto, de gado zebuíno ou cruzado, aqui no Mato Grosso a preferência maior é pela carne de sol. E para tornar mais conhecidos os benefícios da carne vermelha entre os consumidores é que temos, há quase dois anos, uma parceria com a Acrimat (Associação dos Criadores de Mato Grosso), num projeto chamado “A boa carne”. Nele, mostramos as diferentes maneiras de preparo de cortes e procuramos estimular os consumidores a incluí-las em seus cardápios do dia a dia. Essas dicas, em fotos ou vídeos, estão disponíveis na internet. Convidamos, pois, os leitores a acessar a página do projeto: http://aboacarne.com.br/a-boa-carne. n
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