Revista DBO 424 - Fevereiro 2016

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Nossos assuntos

Anime-se, regularize a situação no CAR. uma pena o pecuarista ficar irregular, sujeito a restrições de crédito e sanções do Ministério Público por causa de um percentual tão pequeno de passivo ambiental. A afirmação do professor Ricardo Ribeiro Rodrigues, do Laboratório de Ecologia e Restauração Florestal da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da USP - Piracicaba, tem muito lastro. Bem antes do novo Código Florestal e da exigência de inscrição das propriedades no Cadastro Ambiental Rural, o Laboratório da Esalq já trabalhava em projetos de regularização nessa área. Começou em 1998 e desde então equacionou problemas de 42 indústrias sucroalcooleiras do Estado de São Paulo, que estavam sujeitas a restrições de crédito e pressão do Ministério Público. Além disso, pouco depois da virada do milênio também passou a regularizar a situação de fazendas e o balanço da adequação agrícola e ambiental promovida chega hoje a 4,2 milhões de hectares, incluindo a restauração de 9.800 ha de matas ciliares. O professor Rodrigues diz que os diagnósticos feitos pela equipe da Esalq mostram que os passivos são bem menores do que se supunha em relação à reserva legal, e menores ainda no que se refere às APPs, áreas de preservação permanente. E as soluções, na maioria das vezes, demandam mais determinação do que investimentos. O prazo final para o ajuste está chegando, vai até 5 de maio. No início do ano, 2,2 milhões de imóveis rurais já se encontravam no Sistema Nacional de Cadastro Ambiental Rural, representando 258 milhões de hectares ou quase 65% do total, com 140 milhões de hectares a cadastrar. A rica experiência derivada dos trabalhos do Laboratório de Ecologia e Restauração Florestal da Esalq nos diferentes biomas acompanha as sete páginas da reportagem de capa da editora assistente Maristela Franco e pode oferecer um bom alento aos que ainda estão fora do CAR. Entre outros exemplos, está a possibilidade de recompor a reserva legal com espécies madeireiras ou frutíferas, criando uma poupança verde.

osta Demétrio C

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DBO fevereiro 2016

Publicação mensal da

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Daniel Bilk Costa Demétrio Costa Odemar Costa Redação Diretor Responsável Demétrio Costa Editor Executivo Moacir de Souza José Editora Assistente Maristela Franco Repórteres Carolina Rodrigues, Denis Cardoso, Fernando Yassu e Mônica Costa Colaboradores Alcides Scot, Alisson Freitas, Ariosto Mesquita, Enrico Ortolani, Lídia Grando, Renato Villela e Rogério Goulart. Arte Editor Edgar Pera Editoração Edson Alves e Célia Rosa Coordenação Gráfica Walter Simões Marketing Gerente: Rosana Minante Comercial Gerente: Paulo Pilibbossian Supervisora de Vendas: Marlene Orlovas Executivos de Contas: Andrea Canal, José Geraldo S. Caetano, Maria Aparecida Oliveira e Vanda Motta Circulação e Assinaturas Gerente: Edna Aguiar Tiragem e circulação auditadas pelo

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Sumário Prosa Quente 12 Antônio Chaker fala sobre

Genética 46 Campeões da IATF têm média

desafios de gestão

36 Reportagem de capa Estudo da Esalq mostra que passivo ambiental não é tão assustador quanto parece à primeira vista. E professor aponta os caminhos para quem precisa se adequar.

de prenhez acima de 70%

50 Índice bioeconômico Mercado 20 Arroba do boi segue em alta 21 Coluna do Rogério – Combinação explosiva favorável

22 Mercado se mantém firme na maioria das praças

24 Coluna do Scot – O mercado

alia DEPs com rentabilidade

52 Negativa de prenhez tem de ser detectada logo

Fazenda em Foco 54 Pai e filho saem da quase

desistência para o lucro exemplar

da carne de qualidade

Seleção 58 O acerto de Mário Bertin com o

Cadeia em Pauta 26 ABCZ: candidatos

Santa Gertrudis no Centro-Oeste

69 Coluna do Ortolani – Como

prontos para a largada.

28 Minerva adere

Pastagens 62 O que fazer para não deixar as

ao Programa Angus

30 Graxarias faturam

invasoras entrarem na fazenda

mais, com menos bois.

32 Mato Grosso lança programa para valorizar sua carne

Foto: Maristela Franco (pasto formado em área com afloramento de rocha na Fazenda Capoava, Itu, SP.) Arte final: Edson Alves

Saúde Animal 64 Cuidar bem da água do

gado é prevenir prejuízos

68 Danos com casco podem

roubar muito peso do gado

vencer a resistência dos vermes

Leilões 70 Ovinos e equinos sustentam a agenda de janeiro

Eventos 72 Famato premia fazendas mais rentáveis do MT

Seções

8 DBO online 10 Do Leitor

6 DBO fevereiro 2016

18 Giro Rápido 60 Raças/notas

74 Eventos/Agendas 76 Empresas e Produtos

82 Sabor da Carne


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Atualize-se diariamente sobre as cotações e as principais notícias das cadeias produtivas da carne, leite e da agricultura no Portal DBO. Para saber mais sobre os assuntos em destaque nesta página, acesse www.portaldbo.com.br/dbo-online

Vídeos

O presidente da Associação Brasileira de Angus, José Roberto Pires Weber, e o diretor do Programa Carne Angus, Reinaldo Titoff Salvador, visitaram a DBO e falaram com Maristela Franco para o Portal sobre o acordo com mais um grande grupo frigorífico, o Minerva, para comercialização da carne Angus, especialmente no mercado externo.

Dia a dia do boi gordo

Sergio De Zen, professor da Esalq - USP e coordenador do CEPEA, prevê o fim dos ciclos pecuários com a profissionalização cada vez maior do setor.

Áudios

Nelson Ziehlsdorff, titular da operação da canadense Semex no Brasil, revela em entrevista ao editor do Portal, Sérgio de Oliveira, que sua empresa projeta crescimento de 15% este ano. O avanço se dará com a soma da venda de sêmen e prestação de serviços de coleta pela central Tairana e de transferência de embriões pela central Cenatte. Daniel Steinbruch, criador de Wagyu no interior paulista e um dos titulares do Programa Kobe Premium, fala sobre o incentivo do pagamento de até duas vezes o preço da arroba em bezerros da raça.

Confira as cotações diárias do boi gordo nas principais praças pecuárias através da análise de Sidnei Maschio, tirada do programa Terraviva DBO na TV.

DEZ notícias a um clique

1. Syngenta aceita oferta de compra feita pela ChenChina. Chineses se dispõem a pagar US$ 43 bilhões pela multinacional suíça de defensivos e sementes.

8. Aumenta a margem dos frigoríficos.

6. Quem tem medo de amarrar o boi

4. Abiec investe em ações promocionais

7. Pecuária pode favorecer redução das

8

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Prevista para fim de julho ou início de agosto, ela terá disputa pela primeira vez em 18 anos. O Portal DBO ouviu os dois candidatos: Arnaldo Manuel Machado Borges e Frederico Cunha Mendes.

5. Rebanho bovino do MT atinge o

3. Imea registra valorização recorde do

na Arábia Saudita e Emirados Árabes, que apresentam um dos maiores potenciais

Eleição ABCZ

Escócia sobre recuperação de pastagens no Cerrado.

Uberaba, MG, também terá animais além de tecnologias para a pecuária.

bezerro em janeiro, no MT, em relação ao boi gordo. Na troca, deu 1,71 bezerro por boi gordo.

Equipamentos apropriados facilitam o semiconfinamento. O Portal DBO tem reapresentado na íntegra várias reportagens da revista como esta que saiu em junho de 2015 - No pasto e na dose certa - sobre máquinas para distribuição adequada de ração nos cochos do pasto que tornaram bem mais eficiente a operação nos semiconfinamento.

para o crescimento das exportações brasileiras de carne.

recorde de 29,26 milhões de cabeças em 2015, 2,77% acima do ano anterior. Maior contribuição foi na retenção de fêmeas.

2. ExpoZebu Dinâmica, em maio, em

Vale a pena ler de novo

gordo na Bolsa? Confira indicações básicas para fazer seguro de preço, especialmente na atual conjuntura.

emissões de gases de efeito estufa. É o que diz artigo de cientistas do Brasil e

Em janeiro, chegou a 17,9% contra 12,3% há um ano.

9. Preço do milho e exportações.

Embarque de 4,4 milhões de toneladas em janeiro foi 21% menor que o número de dezembro e tirou pressão sobre as cotações no mercado interno.

10. Máquinas agrícolas despencam em

janeiro. Balanço da Anfavea aponta recuo de 30% sobre dezembro e 53% sobre janeiro de 2015.



Do leitor Qual diagnóstico?

Estou com dois bezerros com provável infestação por fungos. Eles são criados no pasto braquiária marandu. Já apliquei Agrovert Plus, Terramicina, além de soro, cálcio, Mercepton , sem obter melhoras. Envio a foto com um dos bezerros afetados. O que posso fazer?

Jaime Antonio Balbo Divinópolis, MG

O médico veterinário Enrico Ortolani responde: O caso em questão, conforme a foto, é a dermatofilose, causada pela bactéria Dermatophillus congolensis. Geralmente, ocorre na bezerrada após temporadas chuvosas, atacando bezerros mais fracos. Considero a dermatofilose não apenas uma doença infecciosa, mas também genética, pois touros que têm certos genes facilitam que seus descendentes sejam suscetíveis. Além de melhorar a alimentação, oferecendo, por exemplo, um sal proteinado com consumo de 0,6% do peso vivo dos bezerros/dia, um tratamento com três doses, uma a cada semana, de terramicina longa ação (20 mg/kg de peso vivo) deve resolver o problema.

Manejo do tífton

Meus parabéns à DBO e ao grupo paulista Valim pelo excelente trabalho, focalizado na reportagem de capa da edição de novembro. Gostaria de saber qual a estratégia adotada para a estimativa da produção de forragem, se usam o corte do quadrado, altura de entrada e saída dos animais e oferta de forragem por cabeça. Nathan Machado Cavalcante Maringá, PR

O zootecnista Helbert Santana, consultor do Grupo Valim, responde: Usamos, sim, o método do quadrado. Coletamos as amostras de forragem

10 DBO fevereiro 2016

na entrada (25 cm de altura) e na saída (12 cm de altura) dos animais em cada pasto/piquete. Após a coleta, fazemos a pesagem inicial da amostra, depois levamos ao Koster (aparelho que retira a umidade do volumoso) e depois pesamos novamente a amostra para encontrar o teor de matéria seca e, consequentemente, a produtividade inicial, o consumido e o residual de matéria seca. Procuramos sempre trabalhar com a eficiência de pastejo em 75-80%, pois nossos pastos são de sequeiro. Devido aos índices pluviométricos da região onde está a fazenda, temos potencial de produção de 33 toneladas de matéria seca por ano.

Seringas plásticas

Como fabricantes de seringas plásticas hipodérmicas, damos os parabéns à reportagem de DBO de dezembro: “Seringa na IATF, só se for certificada!”. Este foi mais um, entre tantos acertos, da revista.

Luiz Antonio Saldanha Rodrigues SR Productos para la Salud Pedro Juan Caballero, Paraguai

A propósito do texto “A jornada solitária do bezerro”, publicada na seção “Fora da Porteira”, do colunista Rogério Goulart, na edição de novembro de 2015, a Redação recebeu três manifestações de leitores sobre o assunto. Francisco Anselmo Fiorotto, de Rio Claro, SP, diz que o preço do bezerro vai encostar novamente no preço do boi gordo e isso vai acontecer antes do fim do primeiro trimestre de 2016. Seus motivos: 1) A retenção de fêmeas em 2014 e 2015 vai provocar aumento da oferta no período abril a agosto de 2016; 2) Muitos confinadores passaram a fazer sua própria cria, para suprir pelo menos parte de sua demanda; 3) A quantidade de gado a ser confinado será menor do que a de 2015, porque a relação de preço do bezerro com o boi gordo assustou muitos produtores e pela insegurança do preço do boi gordo em 2016. Leandro Valente Andrade, de Sapezal, MT, acha que a redução no abate de matrizes, nos últimos anos, levará, no futuro próximo, a um

maior número de fêmeas em idade reprodutiva e, consequentemente, maior número de bezerros produzidos e disponíveis no mercado de reposição. “Se considerarmos que haverá maior oferta de bezerros desmamados para reposição e com a mesma demanda, a tendência é de que o preço do bezerro caia no futuro próximo. Em relação ao preço do boi gordo e da carcaça, acredito que para o próximo ano os preços mantenhamse nos patamares atuais, em função dos seguintes pontos: 1) Aumento na inflação e redução do poder de compra da população; 2) Substituição da carne bovina por outras fontes proteicas (carne de frango, suína, ovos, etc); 3) Compradores internacionais estão negociando descontos para a compra da carne brasileira. Giuliano Rensi, de Campo Novo do Parecis, MT, diz que no Estado a realidade é diferente da vivenciada pelo colunista, que tem propriedade em Caarapó, MS. “O bezerro aqui também está caro, mas vários confinadores mudaram a estratégia: em vez de matar o boi com 19 a 20@ estão colocando 23@, graças ao adendo da genética cruzada e à melhora no gado branco também. Justamente para buscar melhorar a relação, uma vez que nosso custo de dietas é relativamente baixo (em alguns casos a @ produzida fica abaixo de R$ 80), o que nos permite a compra de bezerros (de qualidade superior) pagando até R$ 6 o quilo vivo, já que, com algumas premiações dos frigoríficos, podemos agregar até 12%. Acredito que essa relação não vai melhorar, pois cada vez mais os produtores estão fazendo seus próprios bezerros; as propriedades de cria estão mais especializadas (várias já estão fazendo FIV no gado comercial e a IATF hoje é coisa corriqueira). Está mais difícil de achar oferta, de venda de lotes grandes, pois quem gasta para fazer este tipo de bezerro já tem destino certo: os grandes grupos fazem fila para comprar esta qualidade. Por isso, na minha opinião, o preço não vai baixar a curto e médio prazos.


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Prosa Quente Especialista em gestão financeira e mão-de-obra, Antônio Chaker, do Instituto Terra de Métricas, garante:

A meta é o coração da fazenda conta com 25 consultores associados e escritórios em Sinop (MT), Maringá (PR), Palmas (TO) e Redenção (PA). O instituto trabalha principalmente com gestão financeira e de pessoas, com base em metodologia própria, cujo coração é a meta. “Dela vem tudo: inovação, superação e mérito”, justifica. Em conversa com os jornalistas Moacir José, Maristela Franco e Fernando Yassu, o consultor explica o que o produtor precisa fazer para ganhar dinheiro com pecuária. Maristela - Tempos atrás, você mencionou, em uma de suas palestras, que 57% das fazendas atendidas à época pela consultoria registravam prejuízo. Por que isso acontecia? Chaker - Esse número é da safra de 2012/2013. Para

U

m dos palestrantes mais requisitados do País no setor pecuário, Antônio Chaker el-Memari Neto, 41 anos, diretor do Instituto Terra de Métrica Agropecuária, com sede em Maringá, PR, é um tímido que aprendeu a falar a língua do produtor. Simples no discurso, ele explica, para auditórios lotados, como transformar fazendas usando técnicas modernas de gestão. São mensagens diretas, que também chegam ao campo por meio de projetos de consultoria. Do avô paterno (sírio), ele herdou o sobrenome. Do materno – um agricultor que saiu de Sorocaba, SP, foi plantar palmito na Ilha de Marajó (PA) e depois mudou-se para Canindeyu, no Paraguai, onde a família mora até hoje – Chaker herdou o gosto pela terra. A vocação para consultor descobriu mais tarde, na prática. Nascido em Belém do Pará, ele se formou em zootecnia pela Universidade Estadual de Maringá (UEM), em 1997. Iniciu sua carreira profissional na fazenda do Grupo Mate Laranjeira, à época administrada por Cesário Ramalho, atual presidente da Sociedade Rural Brasileira. Em 2002, após concluir o mestrado em produção animal também pela UEM, ele fundou a Consultoria Terra Treinamento (depois Desenvolvimento) Agropecuário. Em dezembro de 2014, deixou a empresa para criar o Instituto Terra de Métricas Agropecuárias, que hoje

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nós, foi um grande susto, porque a gente sempre teve a pecuária como uma atividade segura. Naquela época, o aumento dos custos de produção, somados a um baixo índice de produtividade e ao valor da arroba em torno de R$ 95, fazia com que mais da metade das fazendas não conseguisse avançar economicamente. Na safra seguinte, a arroba subiu, mas ainda assim 30% das propriedades continuaram registrando prejuízo. Na safra 2014/2015, esse percentual caiu para 23%. Das fazendas que deram lucro, 60% ganharam menos de R$ 200/ha, mas também é importante ressaltar que 18% embolsaram R$ 400 e 10%, R$ 850 por hectare. Isso deixa claro que a pecuária oferece oportunidade de ganhos sensacionais, que chegam perto dos R$ 1.000/ha. Moacir - O que esses 23% que ainda tiveram prejuízo em 2014/2015 fizeram de errado? Chaker - A origem do problema continua sendo bai-

xa produtividade associada a custos altos, muitos deles indiretos (que não dizem respeito ao boi), como despesas administrativas, folha de pagamento inchada, gastos com infraestrutura, falta de estratégia tributária. Essas fazendas acabam carregadas de custos fixos indiretos e não põem dinheiro em pasto, cerca, água, nutrição. O dinheiro sai do caixa e a produção não acontece. Algumas das fazendas não tinham prejuízo simplesmente porque produziam pouco, mas por uma combinação de querer tecnificar e não conseguir “performar”. Projetaram ganhos de 700 g/cab/dia e conseguiram somente 550,


Fazendas que dão lucro têm um diferencial competitivo e uma grande capacidade de executar o que foi planejado” porque a cerca não ficou pronta, o capim passou do ponto de pastejo etc. Essas 200 g abaixo da meta fizeram o custo disparar. Às vezes falta domínio da tecnologia, mas principalmente falta a fazenda se preparar para usá-la. O certo é pensar grande, começar pequeno e crescer rápido. Maristela - E as fazendas que dão lucro, o que têm em comum? Chaker - Maior capacidade de fazer acontecer. Elas

têm um comportamento exclusivo, um jeito próprio de fazer as coisas, um diferencial competitivo e uma grande capacidade de execução. Têm um time que faz o combinado, que executa o cronograma. Têm foco. Algumas pequenas fazendas do Paraná, por exemplo, conseguem produzir uma silagem espetacular, terminar novilhos superprecoces em confinamento e vender sua carne em nichos de mercado. Quando se vai para Rondônia, o diferencial é um ótimo manejo de pasto, gestão de caixa e boas estratégias de reposição. No Mato Grosso do Sul, encontramos fazendas de médio e grande porte usando a integração lavoura-pecuária como diferencial competitivo. Então, as fazendas escolhem algo no qual são melhores, mas, acima de tudo, têm capacidade de execução. Operam de formas diferentes, mas sempre com foco na obtenção de lucro superior a R$ 500/ha/ano. Nessas fazendas, o que se combina acontece.

Yassu - Para isso, a equipe tem de acreditar no que está fazendo. Chaker - Essa coisa de acreditar vem essencialmente

da participação no planejamento. A fazenda precisa abater tantos animais por ano, como fará isso? O capataz, o gerente, o coordenador de pecuária (dependendo de cada organograma) participar das reuniões, dar sugestões, que serão profundamente debatidas. A gente estimula isso, porque existe uma cultura do não discordar, de aceitar sem discutir e isso acaba sendo muito prejudicial. Estimulamos o pessoal a discordar, a questionar. A mão de obra é o coração do negócio. É muito comum as pessoas perguntarem: será que minha equipe está preparada? A gente também não sabe responder. Um profissional vale aquilo que ele é capaz de produzir. Quando os números começam a surgir, aquele encarregado tido como fraquinho e que poderia ser dispensado acaba se revelando muito bom: registra menor mortalidade, maior cumprimento de orçamento, menor diferença de inventário de estoque e menor rotatividade de equipe. Acontece que ele era mal-hu-

morado, enquanto o outro, que parecia bom, se vendia muito bem, mas tinha índices piores em tudo. Yassu - Como você mede a rotatividade? Chaker - No final do trimestre, vemos quantas pes-

soas foram admitidas e demitidas. Se a fazenda começar com quatro funcionários e terminar com três, teve 25% de rotatividade naquele setor. Mesmo as melhores fazendas trocam 20% da equipe por ano. É alto. Antes buscávamos rotatividade zero, mas hoje nossa é meta é de 10%. Mais importante do que esse número é garantir que a fazenda continue funcionando, mesmo se perder esse ou aquele funcionário. Moacir - E quando você detecta que tem gente demais na fazenda? Chaker - Existem alguns indicadores de equipe que

orientam a tomada de decisões. No ciclo completo, por exemplo, trabalhamos com um funcionário para cada 800 cabeças; na recria e engorda, com um para cada 1.000. Temos fazendas com um peão para cada 1.200 cabeças, onde o trabalho está sempre em dia, porque as pessoas pensam logisticamente a operação. Outras com um para 800 animais, onde a coisa não anda. Na fazendas de corte, 75% dos funcionários têm de estar diretamente ligados ao boi. Se chego lá e encontro mais de 25% de funcionários indiretos, fica claro que tem gente demais e que a folha está pesando sobre o faturamento.

Yassu - Normalmente quando a pessoa está em situação ruim, não visualiza nada, não busca consultoria porque acha caro. É caro fazer essa transformação? Chaker - A agropecuária tem um ritmo diferente. A

gente até brinca que os próximos 12 meses de uma fazenda já são passado, porque você não tem grandes mudanças em curto período de tempo. Quando se tem uma situação crítica (alto grau de endividamento, pastos degradados), a primeira mudança deve ser cultural. O produtor precisa reconhecer que, se continuar fazendo o que sempre fez, terá o resultado que sempre teve. A partir do momento em que ele reconhece isso, podemos elaborar uma estratégia para que a fazenda passe a ser “caixa-dependente” (gaste só o que tem), parando o endividamento. Normalmente, tem mais gado do que cabe nos pastos, por isso a fazenda degrada. Então, sugerimos investir em categorias que estão mais perto do abate. Vamos tirando as eras mais tardias com tecnologia de nutrição. Vamos reformando gradativa-

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Prosa Quente É fundamental criar a imagem de que a fazenda é um lugar bom para se trabalhar, atraindo gente capacitada”. mente a fazenda (8% a 15% das áreas por ano), de forma direta ou por meio de integração. Se há possibilidade de arrendar as áreas mais degradadas para a agricultura, para nós é uma mão na roda, porque podemos acertar com o arrendatário a formação de pastos de safrinha na seca. Com isso, temos elementos para começar a potencializar a fazenda. Moacir - Quanto tempo demora para a fazenda mudar de fato, sair do vermelho? Chaker - Uns quatro anos. Não temos grandes mu-

O produtor precisa reconhecer que, se continuar fazendo o que sempre fez, terá o resultado que sempre teve.”

danças em tempo inferior a isso, por conta do tempo de aprendizado, da necessidade de se respeitar o caixa, do ciclo de produção. A vaca tem de emprenhar, parir, desmamar para termos um animal que ainda precisará ser recriado e engordado. Claro que é possível encurtar esse ciclo comprando animais para colocar nos pastos novos, mas é preciso ver se esse dinheiro não vai fazer falta lá na frente. A maior mudança, contudo, vem de cima para baixo, com o dono entendendo que precisa compartilhar as decisões, que pecuária é uma questão muito técnica. Na área de nutrição, por exemplo, o resultado é medido em gramas. O camarada não pode errar. Ele precisa ser mais um gestor de informação do que alguém que decide tudo. Yassu - Qual é o peso da mão de obra na transformação da fazenda? Chaker - Total. O motor da transformação são as pes-

soas. E sempre de cima para baixo, sempre a partir do dono ou da dona.

Maristela - Como atrair bons funcionários? Somente com bons salários ou é preciso mais? Chaker - O salário é um dos componentes. Deve es-

tar de 5% a 10% acima da média da região, não mais que isso. Também é fundamental criar a imagem de que a fazenda é um lugar de time bom, de craques. Às vezes, o gerente ou o capataz é bom para a fazenda, mas não para os funcionários. Será preciso abrir mão desse líder. É importante que as pessoas digam: ‘É bom trabalhar lá, o salário é bom, tem curso toda hora, bonificação para quem bate metas, escola para as crianças’. A gente chama isso de blindagem. Não é ser paternalista, mas criar condições para que as pessoas tenham orgulho do lugar onde trabalham. Quanto à bonificação, é melhor que ela seja menos frequente, porém de valor mais alto. Por exemplo, dois salários a mais por ano. Com isso, eu passo a atrair, selecionar, treinar e manter bons funcionários.

14 DBO fevereiro 2016

Maristela - Os salários na pecuária ainda estão baixos? Chaker - Não, estão aumentando cada dia mais. No

Norte do País, são maiores do que no Sul. Para falar em valores: grande parte dos capatazes de gado ganha em torno de R$ 1.700 a R$ 2.000 por mês. O campeiro na casa dos R$ 1.400. Quando você vai para alguns grandes projetos de pecuária do norte do país (Roraima, por exemplo), é comum um capataz ganhar R$ 2.300. Então, você vê que são valores que estão subindo, estão sendo atualizados. Moacir - Até quanto a mão de obra pode representar na planilha de custos da fazenda? Chaker - Tranquilamente, até 20%. Pode ser mais, se

tiver entrega de serviço. O ideal é ter menos pessoas, de melhor performance, mesmo que isso signifique salários 10% acima da média.

Yassu - Tem gente com várias fazendas e custos altos. Você recomenda vender as menores para aplicar na maior? Chaker - A última opção é abrir mão de patrimônio.

A terra costuma valorizar oito vezes o que ela consegue gerar de caixa. Se a gente olha para o mapa do Brasil e faz uma linha na altura de Vilhena, em Rondônia, atravessando o Mato Grosso e olhando para a parte superior do País, a valorização média nos últimos dez anos foi de 17%. Quando se abre mão desse ativo para fazer caixa, você abre mão de um ganho imobiliário que é muito importante. Por isso, a gente é fã número um da integração lavoura-pecuária. Quando a fazenda não tem condições de plantar, basta procurar arrendatários que façam isso, mesmo porque, para fazer agricultura, é preciso ter a fazenda organizada e investir pelo menos R$ 2.000/ha em máquinas. Precisa daquela curvinha de aprendizado. Quando eu receber a primeira área de arrendamento, ela já estará “mansa” após três anos de agricultura. Aí eu posso plantar, porque a equipe está melhor estruturada. Por isso, a visão é sempre de 4 anos para se obter resultados. Maristela - Vocês têm indicadores de referência para desempenho? Chaker - Sim, mas eles evoluíram muito. Antes, fa-

lávamos em ganho de 450 g/cab/dia na recria; hoje, são 550 g. A gente está medindo coisas que nunca acreditamos que iríamos medir. Isso indica a revolução que está ocorrendo na pecuária, que saiu de 1 UA (unidade animal) para 4 UAs/ha. Uma pecuária que ganhava muito pouco e agora ganha R$ 1.200/ha. E vai continuar subindo.


Yassu - Usando a linguagem futebolística, quanto tempo demora para um time se encaixar, para tudo rodar direito numa fazenda que tinha problema? Chaker - Um ano. Mas time bem encaixado não sig-

nifica time que ganha sempre. É como no futebol. O líder tem que entender que a motivação do grupo tende a cair, as expectativas mudam. O desafio não é somente formar um bom time, mas mantê-lo motivado. Maristela - Você costuma dizer que a pecuária vive a crise do “como”. Que crise é essa? Gostaria de entender. Chaker - Todos sabem que um funcionário motiva-

do produz mais, que gastar menos e racionalizar custos é positivo, que produzir mais arrobas por hectare eleva o faturamento. Todos sabem o que deve ser feito, mas não como. Essa é a crise: como gastar menos? Como manter um funcionário motivado? Como aumentar minha produtividade? Qual o primeiro passo? Não saber como, imobiliza, às vezes. É importante lembrar que cada fazenda tem um “como”, mas basicamente é preciso cumprir duas coisas: previsão de receita e previsão de despesas. A primeira depende do ganho de peso, que depende da plataforma genética, nutricional e sanitária. Estamos convencidos de que a meta é o motor de tudo. Para os peões, a meta é abater tantos animais, em tal data e com tantas arrobas. Só que, para isso, tem que ter ganho de peso no verão, primavera e inverno.

Moacir - E a previsão de despesas? Chaker - Feita a previsão de receitas, separo as des-

pesas em três tipos: custos fixos, custos variáveis e investimentos (reforma de cercas, currais, casa de funcionários etc). Os fixos são tudo aquilo que eu gasto, independentemente da minha estratégia alimentar. O custo fixo tem de ser inferior ao variável, se não algo está errado. Maristela - Normalmente não é assim? Chaker - Exato. Na grande maioria das fazendas, o

custo fixo chega a 60% ou 70% do total. Isso significa que elas estão gastando menos com o boi, pois os custos variáveis são vacina, vermífugo, nutrição etc. Quando fecha o balanço, geralmente essas fazendas têm mais despesas do que receita, não dá para fazer todos os investimentos previstos para o ano. Aí, a gente revê o balanço, tira investimentos não produtivos e revisa custos fixos, para que eles gerem lucro. A fazenda tem de dar dinheiro, mesmo que o dono não dependa da pecuária; é disciplinador para o negócio.

Maristela - O planejamento orçamentário é feito por quem? Chaker - Sempre pela equipe da fazenda. A gente

apenas fornece o método. Antigamente, fazíamos o

orçamento e eles diziam que estava errado. Então, agora a gente ensina a fazer e apenas acompanha o processo. Foi identificado um déficit de tantos mil? Onde vocês vão cortar? Ah, não dá para cortar em nada? Então, tem de assumir que a fazenda vai dar prejuízo neste ano. Moacir - Qual seria um lucro bom para a pecuária? Chaker - Acima de R$ 450/ha. A média, nas 160 fa-

zendas que acompanhamos, é de R$ 184/ha. A gente isola o Pantanal, onde não dá para ter lotação alta. O foco não é lucro/ha, mas ganho sobre o valor do rebanho, que deve ser de pelo menos 15%. Se eu tenho 1.000 cabeças, no valor de 1,250 milhão, preciso ganhar R$ 187.500. O ativo de maior liquidez da pecuária é o gado; se eu vender meu rebanho e aplicar em renda fixa, vou ganhar pelo menos isso. E a atividade garante até 25% de retorno. Temos de ter um parâmetro. O pecuarista precisa fazer contas. Cerca de 100 g a mais cab/dia pode aumentar o lucro final em 70%. Quando aumento o ganho de peso, produzo uma arroba mais barata e melhoro o giro. Existem fazendas com 1.000 cabeças que abatem 330 bois por ano; outras com rebanho idêntico, abatem 800. É preciso imprimir velocidade ao giro de estoque. Hoje, as fazendas de cria dão menos lucro, na média, mas não prejuízo. Já na recria e engorda, tenho desde perda de R$ 500 até lucro de R$ 1.500/ha, porque elas se expõem mais ao risco.

nnn Um bom lucro para fazendas de gado é

R$ 450

por hectare, em média.

nnn

Maristela - Qual é o perfil ideal de líder para o fazendeiro? Chaker - Primeiro, seria um cara inspirando por con-

quista. No dia-a-dia, ele destina metade do tempo para supervisionar, ver se o capim foi plantado corretamente, se o boi foi mudado de piquete etc. A outra metade do tempo ele busca oportunidades para que seu negócio cresça. É uma pessoa que sabe fazer, mas delega; que não se afunda na lama do operacional, mas pensa estrategicamente, conseguindo vislumbrar a fazenda daqui há dez anos e trabalhar para atingir seus objetivos. Aquele pecuarista cuja fazenda somente funciona quando ele está lá, é um grande trabalhador, mas não é um grande líder.

Moacir - E o líder gerente? Chaker - É quem sofre mais pressão, do dono ou gru-

po de donos e da equipe dele. Por isso, tem de ser um cara muito desembaraçado, mas também apaixonado pelo projeto, alinhado com a visão do dono. Tem de entender de orçamento, de boi, máquinas e saber lidar com gente. Ou seja, precisa reunir uma série de habilidades e ser um cara batedor de metas. Como a demanda por esse tipo de profissional vem crescendo, ele tem se valorizado. Em projetos menores, seu salário mensal varia de R$ 4.000 a R$ 6.000; nos grandes, de R$ 10.000 a R$ 14.000, podendo chegar R$ 25 mil. n

Veja no Portal DBO trechos da entrevista com Antonio Chaker

DBO fevereiro 2016 15


INFORME TÉCNICO

GERAR.

BENCHMARKING IATF 2015 O GERAR (Grupo Especializado em Reprodução Aplicada ao Rebanho) é um seleto grupo de técnicos que trabalham e discutem inovações e resultados referentes à IATF (Inseminação Artificial em Tempo Fixo) e TETF (Transferência de Embrião em Tempo Fixo). Os dados são coletados nas fazendas atendidas pelos técnicos, analisados pela equipe da UNESP/Botucatu-SP e apresentados nas reuniões anuais do grupo GERAR. Esta iniciativa começou em 2006 e hoje conta com 250 técnicos de todo o Brasil, que construíram um banco de dados com 2.151.820 informações de IATF/TETF. Em 2015 o grupo gerou 682.656 dados que foram analisados e estão apresentados a seguir.

Cidades com pelo menos 1 técnico participante do GERAR

700.000

682.656

600.000 500.000 400.000

48,4

48,2

48,7

49,7

48,9

300.000 100.000 0

36.148 2007

69.102

51,2

315.847

353.414

52,0

50%

30% 20%

162.642

101.140

60% 40%

251.230

179.641

200.000

48,9

51,4

70%

10% 0

2008

2009

2010

2011

Total de dados analisados

2012

2013

2014

Taxa de prenhez à IATF

TAXA DE PRENHEZ À IATF - POR RAÇA

56,4% CRUZADA (n=87.230)

52,3% TAURINA (n=17.143)

51,4% ZEBUÍNA

(n=559.500)

2015

Taxa de prenhez à IATF

HISTÓRICO GERAR: TAXA DE PRENHEZ À IATF


TAXA DE PRENHEZ À IATF - POR CATEGORIA NOVILHAS ≤ 18m

50,3% (n=10.738)

SECUNDÍPARAS

54,9% (n=9.621)

NOVILHAS ≥ 24m

48,4% (n=113.959)

MULTÍPARAS

54,0% (n=382.933)

PRIMÍPARAS

47,5% (n=81.796)

SOLTEIRAS

51,5% (n=69.735)

PROTOCOLO PREMIUM GERAR E RANKING DAS FAZENDAS 2015 0,3 ml E.C.P. + 1,5 ml Novormon®

48 h

CIDR/DIB ®

Top 1%

Top 2 a 10%

Top 11 a 20%

Top 21 a 50%

5

45

50

147

3.916

23.015

49.026

85.041

Taxa de Prenhez à IATF:

73,2%

65,5%

61,1%

57,1%

% Fazendas que usaram Protocolo: Premium GERAR*

100%

85%

73,3%

69,5%

(34/40)*

(33/45)*

(98/141)*

Ranking No. de Fazendas: No. de IATF:

(4/4)*

* Não foram consideradas na análise as fazendas especificaram utilizado. USO DE VACINAS REPRODUTIVAS PELO GRUPO GERAR - (No.que de não animais vacinadoso protocolo com CattleMaster) NOVILHAS

TAXA DE PRENHEZ À IATF - POR RAÇA USO DE VACINAS REPRODUTIVAS PELO GRUPO GERAR - (No. de animais vacinados com CattleMaster)

NOVILHAS

56,4% CRUZADA (n=87.230)

15.963 14.200 14.200 15.963

52,3%

2015

2015

20122012 2013 2013 12.308 12.308 2014 2014

14.200 15.963 2012

2013

TAURINA (n=17.143)

12.308 2014

2015

51,4% 127.904 127.904 ZEBUÍNA

(n=559.500)

127.904

Copyright Zoetis Indústria de Produtos Veterinários Ltda. Todos os direitos reservados. Material produzido em agosto de 2015. Para informações, consulte o SAC: 0800 011 19 19.

O Benchmarking 2015 contou com os dados de 1.121 fazendas; desse total foram selecionadas as 494 fazendas que apresentaram mais de 200 IATFs em vacas Multíparas. As fazendas foram classificadas em ordem decrescente de acordo com a taxa de prenhez e apenas as fazendas TOP 50% (n= 247) estão representadas na tabela abaixo:


Giro Rápido Mais Inovação avança no MS Criado pelo Senar/MS, o Programa Mais Inovação (de recuperação de áreas degradadas e reforma de pastagens) completa 4 anos com números expressivos. De 2012 até 2015, cerca de 600 produtores foram atendidos em 31 municípios. “Promovemos a recuperação de pastos e estimulamos a intensificação via IATF”, explica a gestora do Senar-MS, Mariana Gilberti Urt. O programa já cobriu 37.252 hectares. Só em 2015 foram recuperados ou reformados 20.500 ha e a expectativa é de crescimento anual médio de 25%. Os produtores do MS interessados devem procurar o sindicato rural de seu município. O investimento do produtor é de R$ 1.500 pagos a cada ano, até o máximo de três anos.

Infopec

Um ano ruim para a recria-engorda

Pós-graduação em ILPF Começam em 18 de março as aulas do 1º curso de pós-graduação em ILPF do MS. Serão 18 meses de conteúdo prático e teórico na sede da Fundação MS, em Maracaju, MS. O curso é parceria entre a Fundação MS e a Unoeste, de Presidente Prudente, SP. O corpo docente será composto por profissionais das duas instituições, além de pesquisadores da Embrapa. Informações, tel. (67) 3454-2631, com Alex Melotto. 18 DBO fevereiro 2016

47,0

Dólar Comercial 31,7

Ouro 15,5

Títulos IPCA

13,2

CDI 10,7

IGP-DI 8,8

Ciclo Completo-AT

7,9

Poupança

6,2

Recria e engorda-AT

Ciclo completo foi o melhor posicionado

4,5

Arrendamento-regiões de cana

Rentabilidade (%)

3,3

Cria-AT

2,8

Ciclo completo-BT

1,7

Leite-AT

0,4

Recria e engorda-BT -0,4 Cana-de-açúcar -1,0 Cria-BT -7,6 -13,3 -20,0%

2015

2014

Ciclo completo AT (1)

8,8

8,6

Recria e engorda AT (1)

6,2

8,5

Arrendamento

4,5

4,5

Cria AT (1)

3,3

2,7

Agricultura anual

3,0

2,5

Ciclo completo BT (2)

2,8

2,3

Leite AT (1)

1,7

7,9

Recria e engorda BT (2)

0,4

0,7

Cria BT (2)

- 1,0

- 1,1

Leite BT (2)

- 7,6

- 3,8

Atividade

3,0

Soja e milho

Semana da Carne

Entre 13 e 19 de junho, São Paulo, SP, vai receber a Semana da Carne, com promoção da Sociedade Rural Brasileira e apoio da Secretaria de Agricultura. O Beef Expo abre a semana e será realizado entre 14 e 16 no Centro de Eventos Pro Magno, na zona norte, com palestras; feira tecnológica; exposição de animais e julgamentos. O Circuito InterCorte será em 16 e 17 de junho, no Parque Ibirapuera. Também no parque serão realizados o Global Meet Beef, encontro que reunirá governo, exportadores, indústria e associações; o Caminho do Boi; a Livraria Cultura do Boi e a Exposição Arte do Boi, além do Leilão Pecuária Solidária. Informações, www.srb.org.br.

Infográficos que sintetizam informações importantes da pecuária

(1) Aplicação crescente de tecnologia; (2) baixa tecnologia.

Leite-BT

Fonte: Scot Consultoria

Ibovespa -10,0%

0%

10,0%

Num ano de turbulências na economia, brasileira e mundial, o desempenho econômico da pecuária foi prejudicado. Mas o segmento que sofreu o maior impacto foi o da recria-engorda. É a conclusão a que chegou a Scot Consultoria, na montagem do gráfico sobre rentabilidade do setor frente a outras atividades. Ele caiu mais de dois pontos percentuais com relação ao obtido em 2014, quando havia empatado com o segmento de ciclo completo. E ficou em 8º lugar no ranking montado pela consultoria, duas posições a menos do que no ano anterior. E isso falando de gente que aplica tecnologia na propriedade. Para quem não aplica, a rentabilidade não chegou a 0,5%. Para Gustavo Aguiar, analista de mercado da consultoria paulista, a reposição cara foi a principal razão do tombo. E alerta: 2016 deve repetir o que aconteceu ano passado. Mesmo assim, a recria-engorda teve desempenho melhor do que outras atividades,

20,0%

30,0%

40,0%

50,0%

como arrendamento de área para a cana e produção de grãos (soja e milho). Quem se saiu melhor foi o segmento de ciclo completo, inclusive pelo fato de não ter o custo de aquisição de animais para a recria-engorda. E o segmento de cria também avançou. Situação muito parecida com o que aconteceu em 2014. Tombo maior tomou quem está no leite. Mesmo com alta tecnologia, a rentabilidade despencou seis pontos percentuais. Preço baixo e custo alto foi a combinação que levou a esse resultado. Nas demais atividades, dólar e ouro repetem 2014 como as mais rentáveis mas com números muito maiores. “São número atípicos, produto da instabilidade política e econômica”, interpreta Aguiar. Para ele, o CDI é o ativo financeiro que passa a ser referência para as atividades agropecuárias. “A poupança, ao ficar abaixo da inflação, perdeu essa condição”, explica.



Mercado

Arroba segue em alta Com a melhoria dos pastos em janeiro, pecuaristas seguraram animais na fazenda. Denis Cardoso

C

om a chegada das chuvas em janeiro e a melhoria na qualidade das pastagens, os pecuaristas seguram a boiada na fazenda e postergam as vendas neste início de ano, à espera de preços mais remuneradores. A estratégia de cadenciar as negociações diretas com a indústria frigorífica, aliada a um mercado geral de baixa disponibilidade de animais terminados, surtiu o efeito desejado em janeiro: o Indicador Boi Gordo, do Cepea/Esalq-USP, em São Paulo, subiu mais 2% na comparação com dezembro, para R$ 152,21, seguindo a tendência altista registrada desde meados de 2015 – em relação a julho (R$ 139,99), a arroba acumulou alta nominal de quase 10% (veja tabela). No mercado futuro, a sinalização é de continuidade do movimento de alta do boi gordo – os contratos para o fim de julho de 2016, na BM&FBovepsa, apontavam, em 29 de janeiro, para um valor de arroba de R$ 156,94 (veja tabela). Além da retenção proposital de boi, os frigoríficos sofrem com a continuidade do quadro de escassez natural de oferta de animais em 2015, ainda consequência da seca registrada em 2013-

Indicador bezerro sobe 7,5% em janeiro, para R$ 1.381, sobre o valor de dezembro Datas do levantamento de preço no Mato Grosso do Sul Especificações 30/3 30/4 29/5 30/6 31/7 31/8 30/9 30/10 30/11 30/12/2015 Preço à vista/ 1.444 1.399 1.431 1.255 1.222 1.259 1.265 1.297 1.402 1.285 cab/R$ Peso médio/kg 204 193 203 194 188 191 191 195 197 200 Preço à vista/ 7,06 7,25 7,06 6,99 6,49 6,59 6,60 6,85 7,11 6,42 kg/R$ Preço por 212 217 212 210 195 198 198 199 2,13 193 @/R$

29/01/2016 1.381 185 7,46 224

Fonte: Cepea/Esalq/USP.

Indicador Boi Gordo fecha janeiro com valorização, seguindo tendência altista registrada desde meados de 2015 Datas de liquidações de contratos negociados na BM&FBovespa

Especificações Preço à vista (*)

31/3

30/4

29/5

30/6

30/7

31/8

30/9 30/10 30/11 30/12 29/01

147,61 149,07 146,48 143,67 139,99 142,66 144,65 148,25 148,23 149,12 152,21

Fonte: Cepea/BM&FBovespa. (*) Preço médio dos últimos 5 dia úteis do mês. Os valores são usados como referência para a liquidação de contratos negociados a futuro na BM&Bovespa.

Mercado futuro sinaliza continuidade de alta e arroba acima de R$ 160 em SETEMBRO Data dos

Meses de liquidação dos contratos negociados a futuro

pregões

Jan

Fev

Mar

Abr

Mai

Jun

Jul

Ago

Set

Out

Nov

Dez

30/12/2015 150,17 151,87 151,27 152,20 152,48 153,32 154,20 155,16 156,10 157,00 157,94 157,87 29/01/2016 150,93 154,05 155,20 154,59 153,81 155,40 156,94 158,64 160,29 161,90 163,00 162,94 Fonte: BM&FBovespa.

20 DBO fevereiro 2016

2014 (que prejudicou a pastagem e retardou o desenvolvimento do gado) e do abate excessivo de matrizes nos anos de 2011 a 2013. Em 2015, com a união desses dois fatores, o boi bateu recorde histórico de preço real em abril do ano passado, atingindo o pico R$ 160,83/@ (valor médio, a prazo, deflacionado pelo IGP-M de dezembro de 2015), segundo dados do Cepea/Esalq. Ainda no ano passado, com a disparada o valor da matéria-prima, a indústria frigorífica foi obrigada a desativar uma série de unidades de abate, com o intuito de ajustar a linha de produção à realidade do mercado – além da falta de boi gordo, o consumidor final, abalado pela crise macroeconômica, reduziu a demanda pela carne bovina, optando por proteínas mais baratas, sobretudo o frango. Escalas e margens comprometidas Neste início deste ano, os frigoríficos relataram grande dificuldade em completar suas escalas de abate. Muitas indústrias, principalmente as de pequeno e médio portes, reduziram substancialmente o volume de animais enviados ao gancho e/ou optaram por intercalar os dias de matanças. Como janeiro é um mês tipicamente fraco para o consumo interno de carne bovina, mesmo com a realocação das escalas de abate, há relatos de aumento de estoques nas câmaras frias dos frigoríficos. Com o consumo interno de carne bovina enfraquecido pela queda do poder aquisitivo de parte da população, as maiores esperanças da cadeia produtiva recaem sobre as exportações. No entanto, atualmente, as vendas para o mercado internacional, que absorve apenas 20% da produção anual de carne bovina (de cerca de 9,3 milhões de toneladas equivalente-carcaça), caminharam em ritmo lento. Segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex), em janeiro, o Brasil exportou 78 mil toneladas equivalente-carcaça de carne bovina in natura, queda de 25% sobre dezembro (104 mil toneladas). Em receita, os embarques recuaram 29,5% no primeiro mês do ano, para US$ 304,9 milhões, na comparação com dezembro (US$ 432,7 milhões). Analistas, porém, apostam no aumento das exportações este ano, impulsionado pela questão cambial (a desvalorização do real torna o produto mais competitivo) e pelo fortalecimento da presença em países com grande potencial de consumo, como China, Hong Kong, Rússia. Nessa onda de otimismo, é preciso considerar também a iminente abertura do mercado dos Estados Unidos para a carne in natura brasileira, que pode ocorrer ainda neste primeiro semestre de 2016, segundo expectativa da Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne). n


Fora da Porteira

Rogério Goulart

Combinação explosiva

Retenção de Fêmeas

Inflação acumulada 20% 15% 10% 0% -5% -10%

Fonte: CEPE

set 09 dez 09 mar 10 jun 10 set 10 dez 10 mar 11 set 11 dez 11 mar 11 jun 12 set 12 dez 12 mar 12 set 13 dez 13 mar 13 jun 13 set 14 dez 14 mar 14 jun 14 set 15 dez 15 mar 15

jan.16

dez.15

nov.15

set.15

out.15

jul.15

Tempo

ago.15

jun.15

abr.15

mai.15

mar.15

fev.15

Jan.15

-15%

Meses

Fonte: IBG

25% 20% 15% 10% 5% 0% -5%

Acumulado no período

Sacas de Milho compradas com 1@

2015

Retenção de fêmeas – Parece coincidência, mas não é. Imediatamente após o bezerro romper a barreira dos R$ 900 no final de 2013, a oferta de fêmeas para o abate passou a se reduzir, e a tal ponto que inverteu a conta: em vez de mandar mais vacas para o gancho, estamos mandando menos. O saldo está ficando nos pastos e essa fase a gente chama de retenção de matrizes. Lembre-se, caro leitor, da máxima da pecuária, de que quem manda no boi é a vaca, no sentido que o grande balizador dos preços dos machos é a oferta de fêmeas. Enquanto o preço do bezerro for bom para o criador – como agora -, e, por

2014

nnn

Fato raro – Adivinhou aonde dólar, milho, retenção de fêmeas e a inflação desembocam? Sim, nos preços dos machos. E esse tipo de alinhamento é raríssimo. O mais raro ainda é ver isso acontecendo em plena retenção de fêmeas, o que, para mim, gera um fator explosivo na conta. Meu intuito aqui é alertar o colega sobre essas coisas e sugerir uma atitude sobre o que fazer. Se o que comentamos acima representar um realinhamento dos preços do boi gordo, então você não precisa se preocupar com a venda do seu gado em 2016. Precisa se preocupar só com seus custos de produção. Por isso, sugiro comprar seguro de preço na Bolsa. Com um detalhe: um seguro baratinho, num valor que cubra o seu custo de produção. O cenário desenhado por essas quatro coisas me deixa otimista com relação a 2016. Mesmo com crise econômica. É um ano que deve ser encarado sem paixões. n

2010

Elementos da “combustão”, porém, são a favor do pecuarista.

2009

nnn

2013

Milho – Esse dólar, do jeito que está, torna a exportação do milho mais competitiva e pressiona para cima os valores no mercado interno, encarecendo a ração para o gado. A gente está vendo o milho subindo mais de 50% nos últimos meses e isso é uma rasteira na conta de engorda do gado. Milho hoje é tão importante quanto os funcionários. Então, uma ração mais cara pressiona para cima indiretamente os preços do boi gordo, através da provável diminuição da margem do negócio. Veja no gráfico a relação de troca da arroba do boi com o milho se deteriorando.

2012

Dólar – A moeda norte-americana saiu de valores ao redor de R$ 2,20 em 2014 para R$ 4,08 no final de janeiro, quando eu escrevia estas linhas. O enfraquecimento do real barateia nossa carne lá fora, tornando nosso produto mais competitivo. Isso gera maiores embarques externos potenciais. Não se engane, caro leitor, os efeitos da alta do dólar estão começando a ser sentidos agora e ainda serão sentidos por alguns trimestres.

Inflação – Não é segredo que a inflação subiu em 2015 e que há sinais de que continuará essa tendência em 2016. Mas chamo a atenção para o gráfico respectivo, que mostra três momentos distintos. Além do anual, acrescentei taxas de dois e três anos – essas, sim, mais alinhadas com o tempo na pecuária, como a cria, que demora ao redor de 18 meses entre gestação e desmama e uma engorda a pasto, hoje ao redor de 24 meses. As três taxas de inflação fecharam em alta. O boi gosta de um “cheirinho de inflação”, caro leitor, e isso tem muito a ver com o fato de que a carne é um produto que é consumido praticamente imediatamente após o abate, considerando que mais de 80% do nosso abate é absorvido internamente. Isso, de certa forma, torna a pecuária um setor muito sensível à corrosão da moeda. Aqui também há uma pressão para uma manutenção e correção de preços dos machos.

Variação ano a ano nos abates

Administrador de empresas, pecuarista e editor do informativo semanal “Carta Pecuária”, de Dourados, MS.

causa disso, os valores do gráfico continuarem negativos (negativos = retenção), a pressão sobre a arroba do boi permanecerá forte. Isto porque entre 30% e 50% do abate nacional é preenchido por fêmeas. Na falta delas, como agora, os compradores se debatem por machos.

2011

O

que a alta do dólar, o milho caro, a retenção de fêmeas e inflação subindo, juntos, podem ocasionar na pecuária de corte? Foram peças que se moveram bastante no tabuleiro da pecuária no último trimestre (novembro a janeiro) e que nos permite um rápido esboço, para vermos onde isso tudo vai desembocar. Pode abrir um sorriso, caro leitor. Penso que o resultado é uma boa notícia para o produtor.

Anos n

1 ano

n

2 anos

n

3 anos

DBO fevereiro 2016 21


Mercado

Preço de reposição mantém firmeza Em São Paulo, cotações de garrote e boi magro têm alta de 4% e 2% em janeiro. Denis cardoso

O

denis@revistadbo.com.br

registro de chuva resultou na melhoria das pastagens em algumas das principais regiões pecuárias do Brasil, o que contribui para o aquecimento dos negócios no mercado de reposição neste início do ano. As comercializações diretas entre criadores e recriadores/invernistas ganham um pouco de fôlego, embora as vendas por meio de leilões continuem em ritmo lento, informa o Boletim Pecuária da Informa Economics FNP, consultoria de São Paulo. No entanto, apesar do aumento de interesse por parte dos compradores, a oferta restrita de bezerros, garrotes, bois magros _ entre outras categorias _ ainda dita o comportamento do mercado de reposição, cujos preços oscilam em patamares elevados há dois anos. Só em 2015, o preço real do bezerro anelorado (de 8 a 12 meses) subiu 20% sobre o ano anterior, atingindo valor médio de R$ 1.396 (corrigido pela inflação) no Mato Grosso do Sul, segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/ Esalq-USP). Na comparação com o valor histórico dos últimos dez anos, de R$ 926,70/bezerro (deflacionado), o preço médio no ano passado apresentou forte elevação de 50,6%, também conforme o Cepea. “Atualmente, as cotações estão firmes em São Paulo e Mato Grosso do Sul, onde a demanda está mais aquecida devido ao bom volume de chuvas registrado nessas regiões e, consequentemente, à recuperação do pasto”, diz a zootecnista Isabella Camargo, analista da Scot Consultoria, de Bebedouro, SP. Em contrapartida, nos Estados de Goiás e Mato Grosso, os preços caíram para a maioria das categorias em janeiro, influenciados pela demanda mais lenta justamente por causa da menor capacidade de suporte dos pastos. Segundo pesquisa mensal realizada pela Scot, que

nnn

nnn

Preço médio real do bezerro anelorado em 2015 (corrigido pela inflação) no MS, 50,6% acima da cotação média dos últimos dez anos, segundo o Cepea.

Valor médio nominal do garrote (9,5@) na praça de SP, em janeiro, segundo a Scot Consultoria.

R$ 1.326

nnn

22 DBO fevereiro 2016

considera a variação média de preços de animais machos e fêmeas anelorados em 14 praças pecuárias do País, o mercado de reposição ficou praticamente estável em janeiro, apresentando ligeira alta (0,5%) na comparação com o valor médio de dezembro. Em São Paulo, o bezerro desmamado (6 arrobas) fechou o mês passado cotado a R$ 1.367,50, em média, com alta de 0,6% sobre dezembro. Nessa mesma praça, o garrote (9,5@) subiu quase 4% em janeiro, para R$ 1.827,50, enquanto o boi magro (12@) teve alta de 2%, atingindo R$ 2.022,50. A novilha (8,5@) alcançou valor médio de R$ 1.375 no mês passado, com acréscimo mensal de 2,6%. No Mato Grosso do Sul, os preços da reposição seguiram firmes em janeiro, registrando, porém, valorizações mais moderadas em relação às computadas na praça paulista. O boi magro teve elevação mensal de quase 1%, para R$ 1.895, de acordo com a Scot Consultoria. Os valores das outras principais categorias analisadas (bezerro, garrote, boi magro e novilha) ficaram praticamente estáveis em relação a dezembro. Em Goiás, o mercado de reposição seguiu tendência baixista em janeiro, com destaque para a queda mensal de 4% no valor do bezerro desmamado, que fechou a R$ 1.180. Na mesma praça, o garrote teve retração de 0,6% no mês passado, para R$ 1.682,50, em média, e o boi magro recuou 1%, atingindo R$ 1.930. O preço da novilha caiu 1,2% no período, para R$ 1.277,50. No Mato Grosso, com exceção da novilha, que teve baixa de 2,2% em janeiro (valor médio de R$ 1.097,50), as demais categorias registraram ligeira desvalorização, em torno de 0,5% na comparação com dezembro. Troca A relação de troca entre boi gordo e bezerro está entre as mais baixas da história. Segundo dados do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea), em janeiro último, com a venda de um boi de 17@, foi possível comprar no mesmo período, na praça do Mato Grosso, 1,71 bezerro de ano, valor quase 12% menor na comparação com os dados históricos registrados no Estado. “Relações de troca mensais boi/bezerro acima da série histórica não são vistas no Estado desde novembro de 2014”, informa o relatório do Imea. Com isso, alerta o instituto, “a atual situação vivida pelo mercado de reposição é vantajosa do ponto de vista econômico, mas, como o processo de recomposição de rebanho está em pleno andamento, estratégias para mitigação de riscos se tornam cada vez mais necessárias”. n

nnn

nnn

R$ 1.827,50

R$ 1.930

R$ 1.375

nnn

nnn

nnn

Preço médio nominal do boi magro (12@) em Goiás, no mês passado; queda de 1% na comparação com dezembro, informa a Scot.

Cotação média da novilha (8,5@) em São Paulo, em janeiro; valorização de 2,6% em relação ao mês anterior (dados Scot).


13

24 PARCELAS 2+2+2+2+2+14

ou à vista com 15% de desconto ou 14 parcelas (2+2+10) com 7% de desconto

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Mercado Sem Rodeios

Alcides Torres Jr. –

Scot

Carnes especiais no Brasil Este nicho tem crescido no mercado interno

A Engenheiro agrônomo e diretor da Scot Consultoria, de Bebedouro, SP. Colaborou

Felippe Reis,

analista de mercado da Scot.

É importante ressaltar o cuidado que se deve ter ao usar o termo ´carne de qualidade´, pois isso o Brasil tem de sobra.”

carne bovina produzida no Brasil é essencialmente uma commodity. Nos últimos anos, porém, um nicho tem obtido importância e volume: a produção de bovinos para produzir cortes de carne que atendam a demandas específicas. São produtos de maior valor agregado. Em um primeiro momento, o consumidor capitalizado tende, simplesmente, a “comprar” mais carne bovina. Após certo patamar, porém, as exigências mudam e outros atributos da carne passam a ser valorizados, sejam eles relacionados ao produto (marmoreio, por exemplo) ou aos processos, como a carne oriunda de regiões livres de problemas ambientais. A partir daí, quando se deixam de entregar somente commodities e segmenta-se o mercado, são identificados diferentes perfis de demanda. É por isso que, nos programas de carnes especiais, são diversas as raças utilizadas, desde as europeias continentais – para produção de carnes magras, com menor deposição de gordura –, passando pelos zebuínos, pelos cruzamentos industriais – para quem busca aliar rusticidade, precocidade e terminação –, às raças britânicas, mais precoces, menos rústicas e com maior deposição de gordura. Uma amostra de como tem se diversificado o rebanho nacional de bovinos é a evolução da venda de sêmen das raças Angus, Devon e Simental mocho (tabela 1), movimento impulsionado pelas especificidades dos programas de carne bovina existentes. Além da genética, o manejo nutricional, a idade de abate e a castração são alguns dos pontos que podem ser manejados conforme as exigências de cada programa. Gordura na carcaça Bovinos inteiros, por exemplo, quase sempre não se enquadram em programas que premiam por deposição de gordura na carcaça. No Brasil, somente Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul são conhecidos por terem um volume significativo de bovinos castrados. Segundo levantamento da Scot Consultoria, estima-se que 65% dos abates nacionais sejam de bovinos inteiros.

2009

2010

2011

2012

2013

2014

Evol.%

Angus

866

1.176

1.806

2.338

2.911

3.299

281

Nelore

1.959

2.498

3.017

3.057

2.698

2.100

7

Brangus

45

50.,

80,9

112,1

146,9

152,1

239

Devon

1,9

3,3

3,5

4,6

13,1

20,4

2012/2013

2013/2014

2014/2015

Cota

Brasil

2.977

4.078

7.989

10.000

Argentina

24.336

23.663

22.867

30.000

992

Paraguai

-

-

12

1.000

Uruguai

6.289

6.278

6.280

6.300

Simental mocho

0,1

0,3

3,1

11,3

2,3

10,8

16.562

Kobe (Wagyu)

13,2

12,9

15,4

34,9

29,2

15,2

15

24 DBO fevereiro 2016

Carne ‘magra’ A Taeq, por exemplo, por se destinar ao consumidor que busca uma carne bovina “magra”, admite no programa, dependendo da idade de abate, bovinos inteiros que naturalmente depositam menos gordura e que, certamente, seriam descartados em outros programas de bonificação. O Carne Angus certificada, da Associação Brasileira de Angus, é o maior programa nacional, e, conforme a demanda por carnes especiais aumenta, a tendência é de que o número de programas cresça. Embora a maioria dos programas destinem a produção ao mercado doméstico, há uma demanda por carnes produzidas sob determinados padrões, a ser explorada no mercado externo, como a Cota Hilton. A tabela 2 evidencia que o Brasil tem aumentado a exportação para a UE por meio da Cota Hilton. Note que, apesar do ganho em remuneração, nos três últimos anos não temos conseguido fornecer todo volume a que o Brasil tem direito na Cota, que é de 10.000 toneladas por ano. Falta produto com as características desejáveis. O acelerador do setor de carnes especiais são os consumidores, exigindo cortes diferenciados, gerando uma demanda que faça com que produtores e frigoríficos aumentem a oferta desse produto. De todo modo, está claro que o Brasil possui as ferramentas para produzir e atender o mercado de carne bovina em diferentes demandas. n Tabela 2. Desempenho na Cota Hilton*

Tabela 1. Venda de sêmen no Brasil*

*em mil doses. Fonte: Asbia; Elaboração: Scot Consultoria

É importante ressaltar, ainda, o cuidado que se deve ter ao usar o termo “carne de qualidade”, pois isso o Brasil tem de sobra. Tem qualidade de produto (relacionado à sanidade) e de processo, mesmo produzindo carne commodity. Tanto que exportamos carne in natura para mercados diversos. Para atuar em nichos específicos é preciso conhecer a demanda com a qual se quer trabalhar. É o consumidor quem determina qual carne especial será produzida. A carne Taeq, do Pão de Açúcar; a Swift Black, da JBS, e a Minerva Prime, da Minerva Foods, são exemplos de carnes produzidas dentro de programas de qualidade, que atendem a demandas específicas.

País

*Em toneladas. Fonte: Direção-Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural da Comissão Europeia; Elaboração: Scot Consultoria.



Cadeia em Pauta

“Fred” Mendes é apoiado pela atual diretoria

Prontos para a largada Campanha oficial só começará em junho, mas chapas que disputarão o comando da ABCZ já estão em campo. Moacir José

D

moacir@revistadbo.com.br

epois de 18 anos, a ABCZ – Associação Brasileira dos Criadores de Zebu, uma das maiores entidades de criadores de bovinos do mundo, com mais de 20 mil associados (12 mil ativos), terá uma disputa para eleger seu novo presidente. Os dois candidatos integram a atual diretoria. De um lado está Frederico Mendes Cunha, o “Fred”, diretor de informática da entidade, ao qual está subordinado o Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento, que coleta informações para alimentar o programa de melhoramento genético da entidade, o PMGZ, uma de suas principais funções, além do registro genealógico de oito raças zebuínas. De outro está Arnaldo Manuel de Souza Machado Borges, o “Arnaldinho”, primeiro vice-presidente, membro do corpo de jurados da ABCZ desde 1983, com mais de 380 julgamentos realizados, dentro e fora do País, além de participação em diversas outras diretorias da entidade. Na origem da disputa, há mais elementos de ressentimento por uma suposta ruptura de acordo do que propriamente divergências de fundo sobre prioridades e desafios a enfrentar. Arnaldinho afirma que havia um compromisso do atual presidente, Luiz Cláudio Paranhos, de que ele, Arnaldinho, seria o candidato da diretoria para esta eleição, uma vez que essa pretensão já havia sido manifestada na eleição do próprio “Cau” Paranhos, como é conhecido, e Arnaldinho acabou aceitando desistir e adiar seu projeto. Fred Mendes reconhece que essa era a pretensão

26 DBO fevereiro 2016

“Arnaldinho” comanda chapa dissidente

do adversário, mas se ampara no fato de 15 dos atuais 17 membros da diretoria terem apoiado seu nome, uma indicação do próprio Cau Paranhos. Arnaldinho alega que essa indicação não foi feita da forma tradicional – uma reunião presencial com todos os diretores e, algumas vezes, até com ex-presidentes da entidade –, e sim, uma consulta individual. Os dois membros da diretoria que não apoiaram o nome de Fred Mendes são justamente o próprio Arnaldo Manuel e seu primo Rivaldo Machado Borges Júnior, diretor responsável pelo programa Pró-Genética. Cau Paranhos nega que tenha assumido compromisso com o primeiro vice-presidente. “Não houve acordo. A consulta aos membros da diretoria sobre minha indicação, pessoal, do nome do Fred Mendes, foi, sim, individual, inclusive para o Arnaldo, que não se manifestou, nem contrariamente nem dizendo que pretendia ser candidato. O único que se manifestou contra foi o Rivaldo. Agora, reuniões da diretoria para indicar candidatos não acontecem há pelo menos três eleições; o perfil do candidato a ser indicado pela diretoria é construído ao longo de cada gest ão”, diz o atual presidente. Ele faz questão de frisar que não é papel da diretoria deliberar sobre nomes para a sucessão e que o processo é democrático; qualquer associado em dia com suas obrigações pode ser candidato. Nesse sentido, o processo eleitoral ainda não começou, pois a inscrição de chapas, por uma comissão eleitoral, tem prazo até o final de maio próximo. A data exata do pleito ainda não foi definida, mas deverá acontecer no início de agosto. Uma irônica coincidência: Cau Paranhos é filho de Fernando Paranhos, então candidato apoiado pela diretoria da ABCZ na eleição de 1998, que acabou derrotado na disputa com Rômulo Kardec de Camargos, o candidato dissidente. Mais atuante Ambos candidatos vislumbram uma ABCZ mais atuante. Fred Mendes, que encabeça a chapa “ABCZ Unida”, diz que a entidade está num momento muito bom, com estabilidade financeira, um bom quadro de colaboradores e protagonista em fóruns da pecuária brasileira. “Há maturidade na governança”, sintetiza ele, dizendo que isso é que


resulta nessa presença cada vez maior nos eventos de interesse da pecuária. Cita também como consequência dessa atuação a presença, em sua chapa, de Antônio Pitangui de Salvo, atual presidente da comissão de pecuária de corte da CNA – a Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil, poderosa entidade que reúne as federações de agricultura e pecuária do País e de onde foi sacado o nome de Kátia Abreu, atual ministra da Agricultura. Já Arnaldinho, no comando da chapa “Zebu forte; ABCZ para todos”, aposta na ampliação do Pró-Genética, o programa que oferta tourinhos oriundos do PMGZ para serem utilizados em vacada comercial de pequenos produtores Brasil afora, com financiamento a juros baixos. “Queremos parceria com todos os sindicatos rurais do País”, diz o 1º vice-presidente da ABCZ. O Pró-Genética existe desde 2006 e vem crescendo em interesse. No ano passado, comercializou 2.145 tourinhos, em 93 eventos (feiras agropecuárias, leilões, etc..), mais que o dobro dos 40 eventos realizados em 2014, quando foram vendidos 2.011 reprodutores. O número de interessados saltou de 2.100 para 3.900, segundo a ABCZ. Outra proposta da chapa é promover a técnica da ILPF (integração lavoura-pecuária-floresta), tida como uma das melhores iniciativas para a recuperação de pastagens degradadas e exemplo acabado do conceito de sustentabilidade. “Queremos divulgar os resultados da técnica, não ficar só no discurso”, diz o vice Carlos Viacava. Ele também defende parceria da entidade com a Abiec, visando valorizar mais a carne brasileira no Exterior. O peso do PMGZ No âmbito do PMGZ, Fred Mendes destaca o incentivo atual dado aos criadores que se dispuserem a ingressar no programa: um serviço de acasalamento gratuito para quem tem até 30 fêmeas zebuínas no rebanho, aprovei-

Raio x da ABCZ Nome: Associação Brasileira dos Criadores de Zebu Sede: Parque Fernando Costa, Uberaba, Minas Gerais Número de associados: 20.000 (12.000 ativos) Raças para registro genealógico: Nelore (padrão e mocho), Tabapuã, Guzerá, Indubrasil, Gir, Sindi e Brahman. Animais registrados em 2015: 586.000 Custo do registro: R$ 79,99 (sócios) e R$ 159,80 (não sócios) Número de técnicos: 105 Escritórios regionais: 22 Orçamento em 2015: R$ 53 milhões

tando a visita que o técnico da ABCZ faz à fazenda, para o registro dos animais. Ainda dentro do PMGZ, Fred destaca o papel do técnico da ABCZ no estudo da fazenda atendida, qual a tendência genética ali apresentada, o desempenho das fêmeas do rebanho, e auxilia o pecuarista a tomar uma decisão frente ao universo macro da genética. O PMGZ tem cerca de 12 milhões de animais avaliados (10 milhões de Nelore), dos quais, 1,1 milhão de matrizes. Arnaldo Manuel Machado Borges não critica o programa; ao contrário, reforça sua importância. Mas seu vice Carlos Viacava critica o fato de a atual diretoria ter atrelado a adesão ao PMGZ como condicionante para que os criadores participem de outros programas da ABCZ, como o PNAT (Programa Nacional de Avaliação de Touros Jovens), o que antes não ocorria. “Não acho correto impedir a inscrição de animais que estão em outros programas de melhoramento genético. Temos de pensar no ganho que a pecuária nacional terá com isso e não apenas o que uma associação ganhará”, diz Viacava. n

Quem é quem Nome: Arnaldo Manuel de Souza Machado Borges Formação: médico veterinário pela Universidade Federal de Minas Gerais Função na ABCZ: primeiro vice-presidente Onde tem fazenda: Uberaba, MG Raça que cria: Nelore

Nome: Frederico Mendes Cunha Formação: médico-veterinário pela Universidade Federal de Minas Gerais e pósgraduado em Reprodução Animal pela Universidade de Saskatchewan (Canadá) Função na ABCZ: diretor de informática Onde tem fazenda: Uberaba, MG; Caarapó, MS; Araputanga, MT; e Rio Branco, MT. Raça que cria: Nelore

Principais propostas da chapa “Zebu forte. ABCZ para todos”

Principais propostas da chapa “ABCZ Unida: Fred Presidente”

- Aproximar mais a ABCZ de seus associados, via corpo técnico da entidade; - promover uma feira permanente de genética na Estância ABCZ; - ampliação das atividades dos escritórios regionais em todos os Estados; - simplificar a burocracia e reduzir custos para os associados; - defesa da pecuária, fomentando exportações de animais, material genético e carne bovina; - Divulgar mais os benefícios da ILPF como técnica sustentável. Fonte: site www.arnaldoabcz.com.br

- desonerar o associado através de parcerias, patrocínios e desburocratização do Serviço de Registro Genealógico; - cursos gratuitos na Estância ABCZ, com ampliação do Sistema Produz, para atender áreas fora da genética bovina, como adubação de pastagens, manejo, sanidade e nutrição; - Estar mais próximo do associado e criar maior transparência quando das importantes tomadas de decisão inerentes a cada uma das oito raças que compõem a ABCZ; - Divulgar e defender a pecuária com planos de comunicação consistentes; - Angariar recursos e executar projetos com verbas governamentais definidas através de emendas parlamentares, o que não onera os associados. Fonte: site www.fredpresidenteabcz.com.br

DBO fevereiro 2016 27


Cadeia em Pauta

Miner va adere ao Programa Carne Angus

Os presidentes Fernando Galleti, do Minerva, e José Roberto Weber, da ABA, formalizaram a parceria, em São Paulo.

A nnn Empresa prevê abate de

3.000 animais/mês ainda neste ano, para abastecer duas marcas de sua linha Prime.

nnn

Renato Villela

carne Angus ganhou um reforço na disputa pelo mercado de cortes nobres. Após dois anos de negociações, a Associação Brasileira de Angus (ABA) firmou um acordo com a empresa Minerva Foods para participação no Programa Carne Angus Certificada, que congrega mais de 5.000 produtores no País. O contrato foi assinado dia 28 de janeiro, em São Paulo. “Trata-se de um sonho antigo que conseguimos realizar. Agora temos os três maiores frigoríficos exportadores do País como parceiros”, comemora Reynaldo Titoff Salvador, diretor do programa. “Queremos associar a expertise do Minerva em exportações com nossos esforços para promover a carne Angus brasileira no mercado internacional”, completa José Roberto Weber, presidente da ABA. A tabela de premiação dos produtores deverá ser divulgada em março. Procurada por DBO, a empresa não quis adiantar os valores das bonificações, que normalmente variam conforme o peso, idade, sexo e acabamento dos animais, além de itens como rastreabildade e participação na lista de fazendas aprovadas para exportação ao mercado europeu. A única pista fornecida por Luís Ricardo Alves Luz, diretor de mercado interno da Minerva Foods, é que o bônus mínimo será de 2% sobre o valor da arroba, percentual já praticado pela maioria dos frigoríficos parceiros do programa. O bônus máximo não foi revelado, mas não deve destoar muito das tabelas já vigentes, que garantem premiação de até 10%. Esse valor pode chegar a 12% em negociações à parte, se o animal

28 DBO fevereiro 2016

for rastreado, estiver próximo da indústria e puder atender a Cota Hilton, por exemplo. A parceria do Minerva com a ABA dá novo impulso ao programa, que já está presente em 27 plantas frigoríficas, pertencentes a 10 companhias diferentes, distribuídas por oito Estados brasileiros. No ano passado, os técnicos da associação avaliaram 400.000 carcaças. A expectativa é de que, a partir de agora, os abates aumentem de forma orgânica nos frigoríficos parceiros e possibilitem ao programa crescer 20% ao ano, atingindo a marca recorde de 1 milhão de animais avaliados em 2020. A adesão do Minerva ao protocolo de classificação da ABA indica que a companhia paulista, tradicionalmente vendedora de carne commodity, está revendo posições e se preparando para disputar, de fato, uma fatia do atrativo mercado gourmet. Não apenas no Brasil, mas também no Exterior. Novas marcas A Minerva Foods já havia avançado neste sentido, ao lançar, em 2013, sua linha Prime, destinada às churrascarias, restaurantes e supermercados. O acordo com a ABA possibilitou incorporar ao selo o nome Angus, que agora somente pode ser usado em rótulos de carne mediante chancela da associação, conforme dispõe a Circular No 01/2015 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Essa regulamentação condicionou a exploração comercial do nome de qualquer raça bovina ao cumprimento de um protocolo elaborado pela entidade que representa seus produtores, devidamente registrado no Mapa e integrado à PGA (Plataforma de Gestão Agropecuária), administrada pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil. Segundo Luís Ricardo Luz, o Minerva usará denominação racial em duas marcas de sua linha Prime: a Angus Selection Series e a Angus Gold Series. Ele não sabe precisar quantos animais serão captados no mercado para abastecê-las, mas informa que, em 2015, a linha absorveu de 1.500 a 1.800 cabeças/mês. “Nossa expectativa inicial é de que os abates mensais cheguem a 3.000 animais ainda neste ano”, informa Luz. Os técnicos da ABA deverão atuar em quatro das 17 plantas frigoríficas do grupo: Palmeiras de Goiás; Várzea Grande, no Mato Grosso; Barretos e José Bonifácio, ambas em São Paulo. Até o fechamento desta edição, previa-se o início dos abates certificados para fevereiro, com lançamento do produto no mercado (já sob novos rótulos), a partir de março. A duas marcas criadas pelo Minerva serão destinadas a públicos distintos. A Angus Selection Series compreende cortes especiais que os consumidores já estão habituados a encontrar no varejo, como o bife ancho, o contrafilé e o bombom de alcatra, enquanto a Angus Gold Series foi concebida para atender demandas da alta gastronomia. “Serão cortes maiores, diferenciados, alguns com osso, para preparo em estabelecimentos como hotéis e restaurantes”, informa Luz. As duas marcas serão abastecidas por animais precoces, com no mínimo 50% de sangue Angus e acabamento de gordura uniforme, conforme especificações do programa. A segmentação (triagem) das


carcaças para atender uma marca ou outra será feita principalmente nos níveis de acabamento e de marmoreio, que serão avaliados visualmente por profissionais. Mercado externo A decisão do Minerva de incorporar o nome Angus aos cortes Prime representa mais uma estratégia de marketing do que uma mudança nos padrões de seleção da matéria prima, uma vez que 98% dos animais usados anteriormente para abastecer essa linha já eram Angus. “Ter a chancela da associação confere maior credibilidade ao produto junto aos consumidores que ainda não conhecem a nossa marca”, explica Luciano de Andrade, especialista em nicho de mercado da Minerva Foods. O selo da ABA abre portas também no Exterior, principal mercado da companhia, que exporta 80% de sua produção. Quatro dos frigoríficos participantes do programa (JBS, Marfrig, Frigol e Silva) já estão comercializando carne com selo Angus na Europa e a Minerva Foods não quer ficar de fora dessa disputa. Durante a reunião que oficializou a parceria com a ABA, em São Paulo, o presidente da empresa, Fernando Galletti de Queiroz, confirmou que a demanda por cortes especiais é crescente, tanto no Brasil quanto no Exterior, é que a adesão ao Programa Carne Angus permitirá ao Minerva intensificar os abates de animais da raça e seus

cruzados. “Esperamos dobrar a produção da linha Prime e nosso faturamento, que já duplicou de tamanho no ano passado, em comparação com 2014”, informou o executivo à diretoria da ABA. Os mercados externos com maior potencial para exportação desse produto diferenciado são a Europa e alguns países asiáticos. “Antes não podíamos vender carne com denominação Angus para os europeus, porque eles exigem que programas de certificação voluntária como o nosso sejam referendados pela autoridade sanitária do País de origem. A Circular No 01/2015 do Mapa eliminou esse entrave”, salienta Weber. Para Reynaldo Salvador, é importante buscar mercados dispostos a pagar mais pela carne Angus, pois só assim os pecuaristas que investem em genética e nutrição para produzir essa carne de qualidade poderão ser mais bem remunerados. “Nosso foco sempre foi o produtor, que é nosso parceiro.” Conforme ele, o trabalho da ABA repercute no mercado como um todo. “Até quem não participa do programa é beneficiado, pois os animais não certificados também são vendidos a bons preços.” A expectativa da ABA é de que a demanda por cortes gourmet continue estimulando projetos de cruzamento industrial e a venda de material genético da raça. A entidade dará continuidade, neste ano, à parceria com a Abiec para divulgar a carne Angus brasileira em feiras internacionais, onde os frigoríficos fecham parte de seus negóciosnegócios. n

fevereiro 2016

DBO 29


Cadeia em Pauta

Menos resíduos para as graxarias Mesmo com recuo na oferta de matéria-prima, segmento aumentou faturamento em quatro anos. Mônica Costa

O

monica@revistadbo.com.br

País abate um número crescente de animais ano a ano, sejam eles bovinos, bubalinos ou suínos. É principalmente a partir dessas três espécies que surge um desafio para as graxarias – indústrias que aproveitam resíduos dos abates para transformá-los em subprodutos como farinhas de carne e osso para alimentação animal, biodiesel e artigos de higiene e limpeza. O desafio é a redução da oferta de matéria-prima, provocada nos últimos anos por acordos sanitários que permitiram ao Brasil exportar miúdos e outros coprodutos bovinos. Segundo a Associação Brasileira de Reciclagem Animal (Abra), que representa 70% das graxarias e fábricas de produtos não comestíveis independentes, em seu segundo diagnóstico do setor, recentemente divulgado, se em 2010 o segmento aproveitava 36,7% da carcaça de um bovino, em 2014 este aproveitamento reduziu-se a 35%. A Abra lembra que bovinos e bubalinos representam quase 60% do volume processado – a partir dos quais se fabrica o principal produto das graxarias, a farinha de carne e ossos, com 65,3% do mercado de reciclagem animal.

Com menos unidades, exportações IMPULSIONAM setor 2010

2014

Desempenho (em %)

PIB

5,81

7,9

36

Volume

5,42

5,3

-1,8

Exportação

443

107

143

Unidades

512

344

-33%

(1) Em bilhões de reais; (2) em milhões de toneladas; (3) mil toneladas. Fonte ABRA. Adaptação: DBO

30 DBO fevereiro 2016

Mesmo com menor volume de matéria-prima à disposição, entretanto, a produção dessas farinhas e gorduras registrou aumento de 36% no faturamento nos quatro anos analisados. Foi de R$ 5,8 bilhões para R$ 7,9 bilhões em 2014, crescimento médio anual de 8%. Segundo a Abra, foram produzidos no ano retrasado 5,3 milhões de toneladas de farinhas e óleos, a partir do beneficiamento de 12,4 milhões de toneladas de coprodutos, volumes que se mantiveram estáveis no período. As granjas de aves e suínos, com 80%, continuam sendo os principais consumidores dessas farinhas. Mas foi o aumento no segmento pet, de 14% para 16,5%, e também no volume exportado, de 2% para 3,5%, que garantiu a receita maior. “As exportações destes produtos, especialmente das farinhas, passaram de 44.000 para 107.000 toneladas, incremento 25,4% ao ano”, diz a Abra. Nas gorduras animais, as mudanças foram marcantes. O mercado de biodiesel passou de terceiro maior consumidor de gorduras em 2010 para o topo do ranking em 2014. Agora, abocanha 38% do total produzido, ante 17% em 2010. O antigo líder, o segmento de higiene e limpeza, reduziu sua participação de 41% para 31%. Já em relação ao sebo, higiene e limpeza seguem líderes no consumo, embora o recuo no período tenha sido expressivo, de 56% para 41%. As usinas de biodiesel, por sua vez, duplicaram a demanda, de 24% para 50%. Na produção animal – que considera os segmentos de aves, suínos e pets –, houve drástica redução no consumo dessas gorduras, de 13% para 5%. “O aumento de preço do sebo bovino tornou inviável seu uso como fonte de energia em dietas de frangos e ­suínos. O volume dos subprodutos destinados à fabricação de rações se refere quase que exclusivamente ao mercado pet food”, continua a análise. Outro fenômeno detectado pelo diagnóstico da Abra foi o aumento da concentração do mercado, provocado pelo encolhimento na oferta de matéria-prima e também pelo descompasso entre o preço praticado no mercado de gorduras e farinhas e o custo de produção. Assim, das 512 unidades em 2010, 344 unidades seguem ativas em 2014, redução de 33% no período. n


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Cadeia em Pauta

Mato Grosso na dianteira Estado cria o Imac, que vai reunir todos os elos da cadeia para alcançar mercados mais exigentes. Mônica Costa mônica@revistadbo.com.br

O

Instituto Mato-Grossense da Carne (Imac) será o primeiro órgão do Brasil a reunir todos os elos da cadeia para a promoção da pecuária de corte. A nova entidade, constituída por representantes da indústria frigorífica, dos pecuaristas e do governo estadual, será lançada em 2 de março, em Cuiabá. Foi inspirada no Inac (Instituto Nacional da Carne), do Uruguai, e no MLA (Meat and Livestock Australian), da Austrália e terá como meta o desenvolvimento de programas que assegurem a qualidade e a procedência da carne bovina produzida no Estado. Segundo o secretário Seneri Paludo, da Secretaria de Desenvolvimento Econômico do MT, o Imac se baseia em três pilares: promoção da carne; desenvolvimento de pesquisa e tecnologia para a padronização das carcaças e controle de pesagem e rastreabilidade. Testes com sistemas de pesagem e rastreabilidade terão início ainda neste semestre. O objetivo é utilizar nas indústrias o mesmo software usado nos frigoríficos uruguaios ou similar. “Estamos conversando com frigoríficos para a instalação de alguns modelos de balança como as caixas-pretas do Uruguai”, diz. O sistema adotado há mais de 40 anos pela cadeia pecuária do país vizinho é composto por pelo menos quatro balanças, instaladas em pontos-chave do frigorífico (no curral, para aferição do peso vivo após desembarque; após a sangria; antes da toalete e após essa operação). Tanto o pecuarista quanto a indústria têm acesso aos dados da pesagem, medida que praticamente zerou as discordâncias entre os elos. Aqui, o sistema de pesagem vai se chamar Sistema Eletrônico de Informação das Indústrias de Carne (Seiic). 32 DBO fevereiro 2016

O compartilhamento das informações coletadas vai tornar mais rigoroso o controle dos produtores sobre a produção comercializada, e os frigoríficos vão dispor de um sistema de rastreabilidade confiável para apresentar ao consumidor. Paludo reconhece que somente após a instalação do programa será possível identificar os rebanhos e suas características para a definição da próxima etapa, a criação de protocolos de qualidade para a certificação da carne bovina do Estado. “Mas queremos apresentar ainda no primeiro semestre de 2016 a logomarca que será adotada pelos selos de qualidade da carne do Estado”, afirma. Compulsório No primeiro ano de funcionamento, o Imac vai dispor de R$ 5 milhões do caixa do Estado. A partir de janeiro de 2017, a exemplo do MLA, será adotado o sistema de contribuição compulsória, que prevê o recolhimento de R$ 4 por bovino abatido. O criador deverá recolher R$ 1 por cabeça todas as vezes que emitir uma Guia de Trânsito Animal para abate; o frigorífico para onde serão encaminhados os bovinos deverá colaborar com mais R$ 2, e o Estado, com R$ 1. Em 12 meses o órgão deve arrecadar R$ 20 milhões, destinados aos programas e serviços que garantam ao pecuarista a criação de rebanhos dentro dos critérios definidos pelo Imac. Para isso, pecuaristas e frigoríficos terão a missão de chegar a um consenso sobre todos os temas antes de serem apresentados ao Estado, que terá o poder de veto. A expectativa é de que, com a medida, inédita, o relacionamento entre as partes melhore e a transparência na cadeia produtiva aumente. Até o fechamento desta edição o único cargo definido pelo governador, Pedro Taques, foi o da presidência do Imac, que ficou com o criador Luciano Vacari. n



Cadeia em Pauta Frigol volta ao páreo A Frigol, companhia com quatro unidades distribuídas entre SP e PA, concluiu, em janeiro, seu processo de recuperação judicial. Agora, se prepara para retomar o crescimento. Segundo Luciano Pascon, executivo-chefe da Frigol, a companhia avalia a receptividade dos investidores para voltar a fazer aquisições, o que pode incluir aportes no setor de carne de frango. “A intenção é transformar a Frigol, que fatura R$ 1,4 bilhão por ano, em uma empresa de alimentos à base de carne”, afirma. Entre as possibilidades está a emissão de títulos da dívida no Brasil ou no exterior para atrair sócios estrangeiros. “Em 2015 chegamos a ser sondados por investidores chineses.” No mercado interno, a Frigol pretende reforçar a estratégia de fidelidade com os açougues de supermercado no interior paulista. O projeto prevê consultoria do frigorífico em troca de fidelidade nas compras de carne e está em 20 supermercados, com previsão de ampliar para mais 70 em 2016.

Novilho MS bate recorde O preço acessível do milho em 2015, o clima favorável, a boa demanda e confinamentos com dois giros produtivos foram os principais ingredientes que colaboraram para o abate recorde da Associação Sul-Mato-Grossense dos Produtores de Novilho Precoce (Novilho MS). O ano passado fechou com 171.107 animais (90.920 fêmeas e 80.187 machos) o maior número em 18 anos de existência da entidade, superando em 15% o volume de 2014 e em 11% o recorde anterior de 2013 (143.939 e 151.895 cabeças, respectivamente). Para o diretor executivo da Associação, Klauss Machareth, o resultado “acentuado” aconteceu, em boa parte, graças à estratégia de vários confinadores, que apostaram em dois giros em um mesmo ano. “Normalmente, o animal entra no confinamento em julho e ali permanece de 70 a 90 dias. Em 2015, no entanto, muita gente apostou em fechar animais entre junho e setembro e entre outubro e dezembro. Todas as condições estavam a favor, e deu certo”, explica. Segundo ele, a abertura do núcleo da Novilho 34 DBO fevereiro 2016

MS, em 2015, na região de Santa Rita do Pardo (leste do MS) também colaborou: “São mais 18 produtores que juntos abateram 7.350 cabeças”. Portanto, o crescimento do número de associados também entra nesta conta. Saiu de 174 em 2010 para 383 em 2015.

BPA chega ao Paraná Com a entrega dos atestados pela Embrapa no fim de 2015, chega agora a 32 o número de propriedades brasileiras detentoras de certificação concedida pelo Programa Boas Práticas Agropecuárias – Bovinos de Corte. Passaram a integrar a lista as fazendas paranaenses Genko (Umuarama), São Francisco (Mamborê) e Dona Elisa (Luiziana), na categoria bronze (atendimento mínimo de 80% dos itens obrigatórios e 60% dos altamente recomendáveis) e Rio Sem Passo e Araucária (ambas em Luiziana) na classe prata (mínimo de 90% dos itens obrigatórios e 70% dos altamente recomendáveis). Todas elas estão na Cooperativa Maria Macia, de Campo Mourão. Conforme o coordenador-geral do BPA, Ezequiel do Valle, até abril mais sete propriedades do MS, integrantes da Novilho MS, devem engrossar a lista.

Linguiça com procedência A linguiça de Maracaju, produzida no município de mesmo nome, no sudoeste do Mato Grosso do Sul, agora tem sua originalidade protegida. O Instituto Nacional da Propriedade Industrial concedeu, em dezembro, o cobiçado selo de Indicação Geográfica na modalidade Indicação de Procedência. A certificação garante a origem, a qualidade e a identidade própria do produto ou serviço. Quem comemora são os 12 artesãos da iguaria, filiados à Associação dos Produtores da Tradicional Linguiça de Maracaju. De acordo com o seu presidente, Gilson Alves Marcondes, a expectativa é que as atuais 15 toneladas produzidas por mês dobrem em até um ano. O produto só pode ser preparado a partir de gordura e de cinco cortes do traseiro bovino (coxão mole, alcatra, picanha, contrafilé e filé mignon) e banhado em suco de laranja azeda produzida em Maracaju.



Capa

Quem tem medo de passivos ambientais? Com planejamento e determinação, é possível adequar áreas ao Código Florestal e ainda melhorar a rentabilidade do produtor Maristela Franco

P

maristela@revistadbo.com.br

bea consultoria

rimeiro veio o machado ou a motosserra, cortando as árvores mais altas; depois, o trator, eliminando a vegetação baixa, e finalmente o fogo, limpando as áreas para formação de pastagens, sempre próximas aos córregos ou rios, pois os bovinos precisam beber água. Assim foram montadas as fazendas de gado brasileiras, principalmente na região Norte, onde a ordem, nas décadas de 60 e 70, era desmatar para ocupar. Essa falta de planejamento hoje está cobrando seu preço. As imagens de satélite usadas para mapeamento das propriedades visando ao cadastro ambiental rural (CAR) mostram quan-

tos equívocos foram cometidos no passado, mas também fornecem informações essenciais à gestão da propriedade. Nunca o País passou por um recensiamento tão abrangente, nem teve oportunidade tão grande de mudança. Até o final de 2015, mais de 2,2 milhões de imóveis constavam do Sicar, Sistema Nacional de Cadastro Ambiental Rural, totalizando 258 milhões de hectares, 64,86% da área passível de cadastramento no País, que é estimada em 398 milhões de ha. Outros 140 milhões precisam ser cadastrados até 5 de maio, prazo final para inscrição no CAR, por enquanto sem possibilidade de nova prorrogação, segundo o governo. A etapa seguinte será corrigir os passivos. Doze Estados – Acre, Bahia, Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Paraná, Rio

Paisagem de Paragominas: boi em harmonia com a floresta.

36 DBO fevereiro 2016


de Janeiro, Rondônia e Santa Catarina – já lançaram oficialmente seus Programas de Regularização Ambiental (PRAs). Muitos produtores já estão apresentando seus Pradas, projetos para recomposição de áreas degradadas ou alteradas. A boa notícia é que os passivos não parecem ser tão grandes quanto se pensava. Segundo Ricardo Ribeiro Rodrigues, professor do Laboratório de Ecologia e Restauração Florestal (Lerf) da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), em áreas de preservação permanente (APPs) as irregularidades são ainda menores, conforme mostram diagnósticos realizados pela equipe da Esalq. Em Paragominas (PA), no Pará, elas representavam, em 2010, apenas 1,34% dos 24.638 ha pertencentes às 13 fazendas avaliadas. No Projeto de São Félix do Xingu, também no Pará, 2,5% da área de 2,795 milhões de ha do município constituíam fragmentos de APPs com obrigatoriedade de restauração e 2% correspondiam a déficits de reserva legal. “É uma pena o pecuarista ficar irregular, sujeito a restrições de crédito e sanções do Ministério Público por causa de um porcentual tão pequeno”, diz o professor.

lerf

(Fazenda Santa Maria, em Paragominas, PA)

Jatobá

Andiroba

Cacau

Jatobá

Plantio duba Mogno/Massaran

Plantio duba Mogno/Massaran

Ipê Amarelo

Cedro

Cedro

Cupuaçú

Cacau

Cupuaçú

Frejó

Andiroba

Frejó

Ipê Amarelo

buscar alternativas viáveis para eliminá-los. Tem prazo de 20 anos para realizar essa tarefa”, salienta. O Laboratório de Ecologia e Restauração Florestal da Esalq desenvolve projetos nessa área desde 1998. “Começamos com as indústrias sucroalcooleiras do Estado de São Paulo, que estavam sujeitas a restrições de crédito e forte pressão por parte do Ministério Público, devido a irregularidades ambientais. Já atendemos mais de 42 usinas”, relata Rodrigues. “O trabalho em fazendas de gado começou em 2002, quando pecuaristas de Presidente Prudente, SP, nos convidaram para adequar uma área de 50.000 ha, pertencente a 15 produtores. Agora, eles estão até com excedentes”, diz o professor, informando que o Lerf já promoveu a adequação agrícola e ambiental de Maristela franco

Histórico de improvisação Os problemas detectados se devem à falta de planejamento, ao uso inadequado do solo e à pressão da pecuária extensiva por terras. Boa parte das fazendas de gado já nasceu com irregularidades, não simplesmente por culpa dos produtores. À época, eles não tinham ferramentas para planejar a abertura das áreas e intensificar a produção. “Devido à baixa produtividade, que exigia mais terras, eles desmataram indiscriminadamente beiras de rios, encostas com declividade entre 25 e 45 graus, beiras de rios e áreas sem aptidão agrícola, por falta de orientação”, informa Rodrigues. Esse histórico de improvisação gerou insegurança e resistência ao diagnóstico ambiental. “Muitos produtores temem que seus passivos sejam enormes, quando não são; ou acreditam que terão de desembolsar muito dinheiro para eliminá-los, quando boa parte das áreas degradadas pode ser recuperada por meio de regeneração natural. Basta parar de roçá-las”, diz o professor. Segundo Rodrigues, nas glebas de Reserva Legal, pode-se fazer o enriquecimento da mata com espécies nativas (visando sua exploração econômica) ao custo de R$ 700/ha, que podem trazer rendimentos muito superiores ao capital investido. Somente quando a área está totalmente descoberta, numa região muito degradada, ocupada há muito tempo pela agricultura tecnificada ou dominada pelo capim, é necessário “plantar” florestas de fato. Nestes casos, o custo vai de R$ 7.000 a R$ 9.000/ha, mas esse valor cai drasticamente quando se utiliza mão-de-obra e mudas próprias, ou doadas por órgãos governamentais. Além disso, os recursos aplicados pelo produtor podem ser recuperados com juros e correção, no caso da reserva legal, se ela for explorada economicamente. “O pecuarista não deve assumir o discurso de que fazer adequação ambiental é caro. Precisa avaliar seus passivos e

Módulo de nativas para corte dentro da mata

Passivo pode ser resolvido dentro da fazenda”, diz Ricardo Rodrigues, da Esalq, mostrando futura árvore.

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Capa Exemplo de diagnóstico ambiental (Mapa indica passivos e áreas para recuperação)

Floresta estacional semidecídua degradada Floresta estacional semidecídua muito degradada Floresta estacional semidecídua ribeirinha degradada Floresta estacional ribeirinha muito degradada Maciço de gurucaia (Parapiptadenia rigida) Floresta paludosa degradada Cultura anual Pasto com invasoras Pasto sem regeneração natural Pasto em bom estado Pasto com área não levantada Pasto com regeneração de alta densidade e alto desenvolvimento Pasto com regeneração de alta densidade e baixo desenvolvimento Pasto com regeneração de baixa densidade e baixo desenvolvimento

Em Paragominas, APPs foram recuperadas a baixo custo.

Fonte: Lerf/Esalq

4,2 milhões de ha, restaurou 9.800 ha de matas ciliares e protegeu mais de 100.000 ha de fragmentos naturais remanescentes no País. Planejar é preciso A primeira etapa do processo é mapear a propriedade. “Usamos imagens de satélite como as do Google, que são analisadas e interpretadas. Depois checamos as informações localmente”, explica o professor da Esalq. A equipe percorre toda a fazenda, analisa as situações e conversa com o proprietário e os peões para saber quais áreas têm potencial para regeneração espontânea. Se um pasto é roçado com muita frequência é sinal de que as espécies nativas têm alto grau de resiliência e podem ocupar a área rapidamente, formando florestas a baixo custo. Durante a vistoria, são georreferenciadas todas as nascentes, cursos d’água, construções, matas e áreas agrícolas. Também são avaliados os processos erosivos, a declividade do solo, a presença de rochas, as condições da vegetação remanescente e o nível de degradação das pastagens. Somente depois de concluir esse trabalho, a equipe elabora o diagnóstico final, calculando os passivos. “Quando constatamos déficits de reserva legal, sempre propomos resolver pelo menos parte do problema dentro dos limites da fazenda, transformando em floresta as áreas agrícolas de baixa aptidão, cuja produtividade não justifique sua exploração. Esse é um dos principais eixos de nossa metodologia. Trata-se de uma forma racional e mais barata de resolver irregularidades. Não tem sentido o produtor gastar dinheiro comprando áreas fora, se possui áreas, na sua propriedade, com restrições de produção e baixo rendimento econômico”, diz Rodrigues. Conforme levantamento feito pelo professor Britaldo Silveira Soares Filho, do Instituto de Geociências da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), dos 210 milhões de hectares hoje ocupados por pastagens no País, apenas 120 milhões são de alta aptidão agrícola. Somente no Estado de São Paulo, onde se desmatou muito além do 38 DBO fevereiro 2016

permitido, existiriam 6,5 milhões de ha nessas condições (solos de baixa fertilidade, com alta declividade, presença de afloramentos de rocha). Pelo menos parte dessa área poderia ser usada para recomposição de reserva legal. Em suas andanças pelo País, Ricardo Rodrigues colecionou muitos exemplos de como a falta de planejamento pode gerar passivos ambientais. “Tempos atrás, visitei uma fazenda que estava reformando pastagens em uma área muito declivosa parecida com uma grota ou cratera. Quando expliquei ao dono que aquele local tinha baixa aptidão agrícola e devia ser destinado à reserva legal, ele parou os tratores na hora”, conta o professor. Em outra fazenda, um pecuarista deixou as áreas mais férteis com floresta e desmatou as menos férteis porque estavam perto dos rios. Quando se deu conta da inversão, já não havia mais o que fazer. “Em São Paulo e Minas Gerais, inúmeras propriedades têm hoje graves problemas de erosão em morros que nunca deviam ter sido desmatados para formação de pastos ou outra ocupação humana. Basta lembrar os escorregamentos de Teresópolis (RJ) anos atrás”, salienta. Integração vantajosa Os esforços de adequação ambiental são sempre melhor conduzidos em parceria com a equipe técnica responsável pela parte agrícola da fazenda. Foi assim no Projeto Pecuária Verde, coordenado pelo Sindicato Rural de Paragominas (PA), com apoio financeiro da Fundo Vale e da ONG The Nature Conservancy (TNC). Uma equipe técnica multidisciplinar elaborou estratégias de adequação ambiental, associadas ao uso planejado do solo, para cada fazenda participante. As glebas de alta aptidão agrícola foram intensificadas, usando-se ferramentas como pastejo rotativo, manejo adequado da lotação, adubação nitrogenada e suplementação do gado. Na Fazenda Santa Maria, do produtor Lourival Del Pupo, uma gleba de 114 ha, que antes alojava 80 bois, foi transformada em módulo de rotacionado e agora recebe 400 cabeças.


A intensificação mudou o perfil produtivo das propriedades, permitindo que as áreas de baixa aptidão pudessem ser pastejadas com carga menor, usadas para complementar a reserva legal ou destinadas a outras culturas (eucalipto, frutíferas etc). A produtividade das fazendas quintuplicou, passando de 7@ para 36@/ha/ano, em três anos, o que ajudou a custear o processo de adequação ambiental. Passivos foram zerados. Quase todas as fazendas tinham excedentes de reserva legal e irregularidades em APPs inferiores a 2% da área total, para surpresa e alegria dos produtores. Em 90% dos casos, os passivos foram recuperados por meio de regeneração natural. Apenas uma propriedade precisou plantar mudas em 10% da APP, mas diluiu o investimento em seis a oito anos. Após adequar as fazendas à legislação, a equipe coordenada pelo professor Ricardo Rodrigues propôs criar uma “poupança” para os produtores. Cerca de 30% da reserva legal foram “enriquecidos” com espécies madeireiras (andiroba, freijó, mogno, paricá etc) e frutíferas nativas (cupuaçu, cacau, pupunha). Os módulos somaram 1.200 ha de três propriedades do projeto, cujas florestas

já haviam sofrido manejo madeireiro e estavam menos fechadas, o que garante luz para as mudas. Devido aos cuidados que recebem (adubação, condução, controle de formigas etc), essas espécies crescem rápido, podendo ser exploradas em 20 a 25 anos, ante 30 anos do manejo tradicional. Foram plantadas 156 mudas/ha de espécies madeireiras, com pegamento médio de 80%. Ou seja, os pecuaristas vão poder explorar 124 árvores/ha, ante cinco do manejo tradicional. O custo médio do enriquecimento da reserva legal, em Paragominas, variou de R$ 660 a R$ 780/ha, dependendo da combinação de espécies e da mão de obra disponível. Espera-se uma taxa de retorno de 9,9% ao ano, podendo chegar a 17%, em algumas espécies. Somente a venda de castanha-do-pará e andiroba vão garantir receita anual de R$ 926/ha, a partir do vigésimo ano pós-plantio. O cupuaçu já começa a render no terceiro ano. Quando todas as espécies estiverem maduras, o lucro poderá chegar a R$ 43.000/ha, tornando a reserva legal não mais um “mico”, como é vista, mas uma ótima fonte de renda.

Maior desafio está no Sudeste Propriedades mais antigas têm mais irregularidades O projeto Pecuária Verde é um sucesso, mas será que é possível fazer trabalho semelhante em Estados de exploração agropecuária mais antiga, como São Paulo? Ricardo Rodrigues admite que, no Sudeste, o desafio é maior, porém ressalta que o primeiro passo para se eliminar passivos é querer fazê-lo. Disposição para isso não falta a Paulo Almeida Prado, que administra as Fazendas Capoava, de sua propriedade; Ingazinho, de sua esposa, a socióloga Maria Alice Setubal; e Jequitibá, que pertence ao casal. Os imóveis ficam no Bairro Pedregulho, em Itu, a 100 km da capital paulista, e somam 490,5 ha. Apresentam longo histórico de exploração e, consequentemente, maior número de passivos. “A Fazenda Capoava, por exemplo, foi aberta em 1730 e passou por vários ciclos econômicos: açúcar, café, pecuária de corte e, atualmente, ecoturismo associado à criação de animais Nelore, Caracu, Mangalarga e Crioulo. Ao longo de quase três séculos de atividade, essa fazenda foi desmatada sem critério. Queríamos ordenar o uso do solo e recompor matas derrubadas indevidamente”, explica Paulo Almeida Prado. O diagnóstico feito pela equipe do professor Ricardo Rodrigues, em 2013, indicou a necessidade de restauração de 39 ha de APPs nas três fazendas, 7,9% de sua área total. Cerca de 24,4 ha estavam ocu-

pados por pastagens bem formadas, exigindo plantio total de espécies, e 14,6 ha eram áreas de pastagens degradadas passíveis de recuperação por regeneração natural. Foram identificados apenas 26 ha de matas remanescentes fora das APPs para averbação de reserva legal, que, pelo Código Florestal antigo (opção dos proprietários), deveria totalizar 98 ha (20% da área). Outros 14,5 ha abandonados poderiam ser incorporação à reserva, mas, ainda assim, o déficit era de 40,5 ha. Quando recebeu esse diagnóstico, o casal ficou bastante apreensivo, mas não desistiu da empreitada. Maria Alice (mais conhecida como Neca) é educadora, ambientalista e defensora do desenvolvimento sustentável. Junto com o marido, decidiu transformar pastos de baixa produtividade em florestas. Eles não apenas montaram reservas para cada propriedade (23,77 ha na Fazenda Capoava; 17,4 ha, na Ingazinho e 57 ha, na Jequitibá), como também geraram pequenos excedentes. Ao todo, plantaram mais de 390.000 mudas.

Pastos da Fazenda Capoava, em Itu (SP), estão sendo recuperados.

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fotos: Guilherme Madalasso

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...e já transformada em mata, com um ano e sete meses.

Paisagem lunar Não foi difícil definir as áreas destinadas à restauração. As fazendas possuem afloramentos rochosos típicos da região de Itu, compostos por grandes pedras cinzentas, que se aglutinam nos morros, lembrando uma paisagem lunar, pelo inusitado das formas. “Difícil entender porque essas áreas foram transformadas em pastos, quando não têm condições de fornecer forragem ao gado. Provavelmente, a limpeza foi feita com fogo, sem controle nenhum”, lamenta Ricardo Rodrigues. Hoje, em várias partes da fazenda, as pedras convivem com espécies nativas, incluindo frutíferas. Foram adotadas várias técnicas de recuperação, desde a regeneração espontânea até o plantio total com ou sem enriquecimento (veja matéria à parte). A paisagem mudou totalmente e encanta os turistas que se hospedam no casario colonial da Fazenda Capoava, transformado em hotel. Como a área agrícola diminuiu após a adequação ambiental, ela foi intensificada, por meio da divisão e rotação de pastagens. Em áreas mais planas e férteis, o braquiária foi substituído pelo tifton ou pela grama estrela, que suportam maior lotação. O projeto agrícola ainda está em andamento, mas as três fazendas hoje abrigam um rebanho de 350 animais, entre bovinos e equinos, com possibilidade de dobrar de tamanho nos próximos anos, conforme as áreas agrícolas forem intensificadas.

“Também plantamos árvores nos pastos, para garantir conforto térmico aos animais. Dava pena vê-los sofrendo com o calor por falta de sombra”, diz Paulo Prado, que também está desenvolvendo um modelo inovador de loteamento, para quem gosta de natureza. São áreas de 1 ha cada, com espaço para construção de casas e uma pequena mata ao fundo, enriquecida com espécies madeiras e frutíferas que podem funcionar também como uma poupança para o investidor. O projeto de adequação ambiental conduzido por Paulo Prado e Neca Setubal está servindo de referência para o Bairro Pedregulho, que possui 120 propriedades rurais, muitas delas com histórico de ocupação semelhante. Além disso, a região tem muitos passivos ambientais porque está próximo de grandes cidades como São Paulo, Campinas e Sorocaba. “Em 2013, Pedregulho foi transformado em Unidade de Preservação Ambiental (APA) do município e estamos fazendo um plano de manejo para evitar seu crescimento desordenado. Trata-se de uma área enorme, com 7.505 ha, cortada por três rios. Vamos estimular atividades como o turismo rural, projetos agropecuários sustentáveis e iniciativas de recuperação de áreas degradadas como o da Fazenda Capuava”, informa Paulo César Meireles de Siqueira, presidente da Associação dos Proprietários e Moradores do Bairro do Pedregulho.

fotos: maristela franco

Área formada com adubação verde e espécies nativas um ano após o plantio...

Pasto rotacionado da Fazenda Capoava (à esq) e interior da mata formada em área de baixa aptidão agrícola. Quando volta, capim precisa ser controlado.

40 DBO fevereiro 2016



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Plantando florestas Para cada situação, uma técnica diferente. A metodologia de restauração usada pela equipe da Esalq procura reproduzir o processo natural de formação das florestas, chamado de sucessão vegetal. Primeiro surgem as espécies pioneiras, claramente dependentes de luz, que se estabelecem em clareiras ou bordas. Depois vêm as secundárias iniciais, que demandam sombreamento médio e ocorrem em sub-bosques pouco densos. Finalmente surgem as secundárias tardias ou clímax, em locais mais sombreados, onde permanecem por toda a vida ou crescem até atingir o dossel. Ao longo desse processo, várias espécies dão lugar a outras (sucessão) e a mata vai ganhando complexidade. Os técnicos que trabalham com recuperação de APPs e reservas legais procuram reproduzir essa dinâmica, utilizando mais de 120 espécies diferentes. O primeiro passo é povoar rapidamente a área degradada com nativas pioneiras. Se elas já estiverem presentes e apresentarem alta resiliência (capacidade de autoperpetuação), basta cercar a área e eliminar roçadas. No Pará e outros Estados da região Norte, as condições são muito propícias à regeneração natural, devido à abundância de chuvas, ao clima quente e à presença de florestas lançando sementes sobre as APPs transformadas irregularmente em pastos. Se mantidos livres Esquema de plantio do grupo de recobrimento e adubação verde

de interferência, essas áreas “sujas” (com juquira) se tornam matas em dois/três anos. Caso a resiliência da vegetação nativa seja mediana, garantindo apenas cobertura parcial da área, deve-se reforçar ou enriquecer a população de espécies das fases iniciais de sucessão, por meio do adensamento de indivíduos e ocupação de espaços vazios (pode-se usar mudas ou sementes coletadas nas florestas próximas). Mais tarde, quando a mata já estiver com dois anos de idade, basta fazer o chamado “enriquecimento”, que consiste no plantio de mudas de espécies de diferentes comportamentos vegetativos e formas de vida, em sua maioria pertencentes aos estágios finais da sucessão, aquelas que precisam de sombra para se desenvolver. Esse procedimento também pode ser usado para recuperar a diversidade biológica de florestas parcialmente degradadas. Método de plantio total Nos casos descritos acima, a natureza faz quase todo o trabalho sozinha, cabendo ao homem apenas monitorá-la ou apoiá-la. Mas, o que acontece quando a área a ser recuperada está totalmente degradada, ocupada por pasto denso ou cultura agrícola muito tecnificada, inserida numa paisagem também muito degradada? Neste caso, segundo o biólogo Ricardo Rodrigues, é preciso fazer plantio total, pois a natureza sozinha não vaio conseguir reproduzir a floresta. O primeiro passo é formar rapidamente uma capoeira. Para isso, é preciso dessecar o capim (se houver), preparar o solo e introduzir na área cerca de 20 espécies pioneiras de bom cobertura do solo, chamadas de espécies de recobrimento, consorciadas com leguminosas próprias para adubação verde (guandu, crotalária etc). Espaçamentos usados no grupo de enriquecimento funcional

Grupo recobrimento Grupo enriquecimento funcional Madeira final Madeira média

Semeadura do grupo recobrimento

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Semeadura do adubo verde

Obs.: várias espécies podem ter uso medicinal ou melífero concomitantemente.



Capa Essas plantas de adubação verde crescem rápido, sombream a área e garantem condições favoráveis ao desenvolvimento das mudas de nativas. Terminado seu ciclo vegetativo (máximo de três anos) elas desaparecem sozinhas e cedem espaço às espécies de recobrimento, já formando uma capoeirinha. “Depois disso, caso isso não ocorra naturalmente, fazemos o enriquecimento artificial da futura mata, plantando 80 ou mais espécies no interior dessa capoeira, 2 ou 3 anos depois do plantio inicial, numa condição excelente de sombreamento médio e sem competição com gramíneas, garantindo com isso a perpetuação da área em restauração”, explica o professor da Esalq. O método de plantio usado para formação de matas depende da topografia. “Se o terreno for mecanizável, dessecamos o capim, preparamos o solo, corrigimos sua acidez e fazemos a marcação para plantio das espécies do grupo de recobrimento, cujas covas são abertas com subsolador a 40 cm de profundidade”, detalha Guilherme Madalasso, técnico da empresa paulista Bioflora, que presta serviços nessa área. O plantio das mudas é feito com equipamento manual, obedecendo-se um espaçamento de 3 m entre linhas e 3 m entre plantas. Quando o clima está seco, a Bioflora co-

loca hidrogel na cova, visando fornecer água à planta por pelo menos 15 dias. Concluído o plantio, é feita uma adubação rica em fósforo, em meia lua, na lateral da cova, para favorecer o enraizamento da muda. “É fundamental controlar formigas cortadeiras e eventuais rebrotas do capim”, salienta o técnico. Já as leguminosas são introduzidas na área com plantadeira, usando-se entre 15 e 20 kg de sementes/ ha, depositadas a 2 cm de profundidade, com espaçamento de 1 m entre linhas (veja ilustração). Quando o terreno é íngreme (não mecanizável), esse trabalho é feito com matraca. Cerca de uma semana após a semeadura, as leguminosas já estarão germinando. Se estiver chovendo bem, cerca de dois a três meses depois já é possível plantar as espécies de enriquecimento artificial para exploração econômica (madeireiras) ou não, caso haja interesse do produtor por esse negócio. O espaçamento, neste caso, é de 3 m entre fileiras e 6 m entre plantas, tomando-se o cuidado de alternar duas linhas de madeira média (que demora de 15 a 35 anos para produzir) com duas linhas de madeira final (corte após 25-35 anos). Caso as condições climáticas não sejam favoráveis ou faltem recursos, o produtor pode fazer o enriquecimento da mata até dois anos após sua formação. n

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62 . 3265.2400 (Jd. Guanabara) 62 . 3272.3200 (Pio XII) CATALÃO/GO: 64 . 3441.8811 FORMOSA/GO: 61 . 3642.9595

44 DBO fevereiro 2016

NOSSAS FÁBRICAS: 61 . 3487.8200 (Sobradinho) 61 . 3355.9600 (Taguatinga) 61 . 3362.3500 (Ceasa) CRISTALINA/GO: 61 . 3612.8282 PIRACANJUBA/GO: 64 . 3405.7600 ÁGUA BOA/MT: 66 . 3468.5900 BRASÍLIA/DF:

ANÁPOLIS/GO: 62 . 3310.8133 CATALÃO/GO: 64 . 3441.8844 BRASÍLIA/DF: 61 . 3487.8100 SORRISO/MT: 66 . 3545.9898 RONDONÓPOLIS/MT: 66 . 3439.9898


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Genética

As campeãs em IATF Fazendas atendidas pelo grupo Gerar conseguem índices médios de prenhez acima de 70% logo na primeira inseminação

P

Apenas fazendas com resultados positivos em mais de 200 multíparas participam do ranking.” Mauro Meneghetti , Gerente de produto bovinos da Zoetis

Denis Cardoso

arece história de pescador: fazendas de gado de corte já estão conseguindo taxas de prenhez surpreendentes logo na primeira aplicação da IATF, com resultados acima de 70%, em média. Ou seja, de cada 100 vacas inseminadas, tem-se confirmada, num intervalo máximo de 30 dias (prazo do primeiro diagnóstico precoce de gestação), prenhez positiva em 70 delas. Essas propriedades modelos em eficiência no uso de Inseminação Artificial em Tempo Fixo constam no banco de dados do Gerar (Grupo Especializado em Reprodução Aplicada ao Rebanho), um seleto grupo de técnicos (principalmente veterinários) criado em 2006 e que, desde então, reúne e analisa criteriosamente informações coletadas a campo referentes a trabalhos práticos de IATF e TETF (Transferência de Embriões em Tempo Fixo). Para ilustrar com fidelidade o desempenho em IATF de cada uma das fazendas, o Gerar criou um ranking contendo quase 500 propriedades, trabalho que utiliza como critério de classificação metodologia semelhante à adotada pelos sumários de touros

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de programas de melhoramento genético. Dessa maneira, do total de fazendas listadas, cinco delas foram classificadas como “top 1%”, justamente por apresentar os índices médios de prenhez mais altos na estação de monta 2014-2015. Juntas, essas cinco propriedades contabilizaram 3.916 inseminações, obtendo taxa média de prenhez de 73,2% (veja tabela na página seguinte). Seguindo ordem decrescente de acordo com o resultado de prenhez, aparecem 21 fazendas listadas como “top 5%”, que somam 9.393 IATFs, com prenhez média de 67,1%. No ranking, ainda são classificadas as propriedades “top 10%” (prenhez média de 64,1%), “top 20%”(taxa média de 61,1%) e “top 50%” (prenhez à primeira IATF de 57,1%). Para simplificar o entendimento do método de avaliação, basta imaginar uma pizza de cinco fatias, sendo que primeiro pedaço é melhor que o segundo, que, por sua vez, é superior ao terceiro, e assim sucessivamente. Os dados de IATF citados no ranking das melhores fazendas do Gerar destoam dos resultados totais colhidos pelos 250 técnicos integrados ao grupo. Foram analisadas 682.656 inseminações em tempo fixo, realizadas na estação 2014-2015, em 1.121 fazendas situadas em todo o Brasil. Juntas, a taxa média de prenhez em IATF para todas as categorias (novilhas, primíparas, secundíparas, multíparas e vacas solteiras) ficou em 52%. Ao analisar separadamente apenas a categoria de multíparas, a taxa de gestação média no ano passado foi de 54%, ou seja, 19 pontos percentuais abaixo do resultado de IATF médio obtido pelas cinco principais fazendas do ranking (73,2%). Segundo Mauro Meneghetti, gerente de produto bovinos da Zoetis, empresa responsável pelo Gerar, somente ingressaram no ranking das melhores em IATF as fazendas que registraram, na estação de monta de 2014-2015, resultados reprodutivos em pelo menos 200 vacas multíparas. Na avaliação de Meneghetti, teoricamente, quanto maior o número de animais inseminados, maior é o desafio de conseguir bons resultados em IATF – daí razão para a determinação de uma quantidade mínima de 200 animais por fazenda. “Uma coisa é propagar uma taxa média de prenhez acima de 70% em um lote pequeno de 20 vacas; outra é conseguir o mesmo percentual médio em mais de 2.000 matrizes inseminadas”, compara o gerente, citando um caso verídico, o da Fazenda Santa Paula, em Comodoro, MT, a primeira coloca-


da no ranking do Gerar 2014-2015, por ter alcançado a impressionante taxa de prenhez de 76,2%, em 2.114 vacas multíparas inseridas no primeiro protocolo de IATF. Responsável pelos trabalhos de reprodução na Santa Paula, que faz o ciclo completo, o médico veterinário Emerson Alessandro Lessi, da SevSêmen, de Cacoal, RO, diz ser impossível eleger uma ou duas variáveis que explicam o primeiro lugar no ranking do Gerar. “O desempenho de protocolos de IATF depende de uma somatória de fatores, que precisam estar ajustados tal qual uma engrenagem ou uma linha de produção industrial”, compara Lessi, integrante do Gerar desde a sua fundação, há quase dez anos. A DBO também conversou com outros dois técnicos responsáveis pelos serviços de IATF em fazendas ranqueadas como top 1%: os médicos veterinários Cleir Vieira Martins, da Global Genetics, de Amambai, MS, e Edmundo Rocha Vilela, diretor da Legeado Biocteconologia e Pecuária, de Mineiros, GO. O primeiro profissional orientou os trabalhos nas fazendas Santa Terezinha e Coqueiral, ambas em Amambai, segunda e terceira colocadas no ranking, com taxas de prenhez de 75,1% (total de 225 multíparas inseridas no protoloco de IATF) e 72,9% (média em 998 vacas), respectivamente. Edmundo coordenou os serviços realizados na Fazenda Celestina, em Mineiros, GO, que obteve prenhez média à IATF de 71,8%, em 337 matrizes. Cleir e Edmundo repetem discursos semelhantes ao mencionado pelo técnico Emerson Lessi ao justificarem os excelentes resultados alcançados nas fazendas assistidas por eles, ou seja, a combinação de ações bem-sucedidas, realizadas antes, durante e depois da estação de monta. Na opinião de Mauro Meneghetti, da Zoetis, uma coisa é certa: a “sorte”, que em muitos casos faz a fama do bom pescador, não entra na lista de fatores determinantes para o sucesso no uso da IATF. “Não é uma receita simples conseguir resultados médios na casa de 70% com apenas uma IATF, em lotes acima de 200 matrizes. Mas seria uma tremenda injustiça dizer que tais resultados são fruto da sorte, ou acaso, ou até mesmo de um determinado protocolo ou produto”, ressalta. Ao reunir informações repassadas pelo gerente da Zoetis e técnicos representantes das fazendas top 1%, é possível listar alguns dos principais fatores que elevam a chance de uma fazenda obter resultados em IATF muito acima da média. São eles: manejo correto dos animais; rotina e processos consolidados; suporte técnico no planejamento e execução da ferramenta; nutrição e genética das matrizes; qualidade de sêmen e da mão de obra prestada na inseminação; descarte de fêmeas não gestantes ao fim da estação de monta; e tempo de experiência no uso da tecnologia, além de comprometimento e capacitação de peões, capatazes, gerente e outros funcionários da fazenda.

Juntas, fazendas de gado corte registram taxa média de prenhez à IATF de 73%* Fazendas Santa Paula Santa Terezinha Coqueiral Celestina Rio do Ouro

Município Comodoro (MT) Amambai (MS) Amambai (MS)

Total de vacas multíparas

Taxa média Técnico de prenhez responsável

2.114

76,2%

225

75,1%

998

72,9%

Mineiros (GO)

337

71,8%

Novo Progresso (PA)

242

70,2%

Emerson Lessi Cleir Vieira Martins Cleir Vieira Martins Edmundo Rocha Vilela Bernar Teixeira Cruvinel

Classificação no ranking

Top 1% Top 1% Top 1% Top 1% Top 1%

*Estação de monta 2014-2015. Fonte: Grupo Gerar

Emerson Lessi, responsável pela Fazenda Santa Paula, a líder no ranking de IATF, diz que os animais da propriedade são manejados com cautela, de maneira calma, desde a captação das fêmeas no pasto até dentro do curral. “A estrutura física da fazenda, com corredores de acesso ao local da inseminação, também contribui para a eficiência e rapidez dos serviços, permitindo que os animais fiquem no curral o menor tempo possível”, destaca Lessi. Segundo Edmundo Vilela, da Lageado, na Fazenda Celestina, a quarta no ranking do Gerar, além dos cuidados com o manejo, a propriedade faz o descarte de matrizes mais agressivas, processo definido no momento da cura do umbigo do bezerro na maternidade. “Com o passar dos anos, melhorou a docilidade do rebanho, pois sabemos que a vaca reativa emprenha menos”, avalia. Além disso, ele destaca o “tempo de serviço de IATF realizado na fazenda de Goiás, que introduziu a tecnologia há 13 anos, o que faz com que as próprias matrizes, além dos funcionários, estejam bastante acostumadas com os manejos habituais da ferramenta. O suporte técnico no planejamento da IATF e a padronização de todas as atividades relacionadas à ferramenta também fazem parte da rotina das fazendas que se destacam com o emprego da tecnologia reprodutiva. “Na Fazenda Santa Paula, utilizamos protocolos adequados para cada categoria animal e raça das matrizes e cumprimos com rigor o cronograma de horários para execução dos serviços”, afirma o veterinário Lessi. Cleir Martins, da Global Genetics, destaca também o processo de capacitação dos funcionários das fazendas Santa Terezinha e Coqueiral, segunda e terceira do ranking do Gerar. “São realizados treinamentos periódicos com toda equipe de colaboradores, o que resulta em excelentes resultados produtivos, gerando premiações e reconhecimento para toda equipe ao atingir as metas estabelecidas”, afirma.

O desempenho dos protocolos de IATF depende de uma somatória de fatores.” Emerson Alessandro Lessi, Médico veterinário ServSêmen, RO

Damos treinamentos e premiamos a equipe quando ela atinge metas estabelecidas” Cleir Vieira Martins, Médico veterinário da Global Genetics, MS

DBO fevereiro 2016 47


Genética

O uso intensivo de IATF promoveu uma seleção natural de vacas boas para o uso da ferramenta” Edmundo Rocha Vilela, Diretor Lageado Biotecnologia e Pecuária, GO

48

A qualidade do sêmen e a escolha correta do touro e do profissional de inseminação também são de fundamental importância. “Todo o trabalho de IATF de uma estação de monta pode ir por água abaixo em segundos no caso de erros cometidos durante o processo de definição de uso do material genético e/ou de mão de obra especializada”, alerta Mauro Meneghetti, da Zoetis. Segundo Lessi, o processo de seleção de touros com melhor desempenho em fertilidade é feito na própria Fazenda Santa Paula. “Em cada estação de monta, usamos 70% das doses de sêmen de touros já trabalhados na fazenda e que registraram índices bons em protocolos de IATF”, diz o veterinário, acrescentando que o restante (30% das doses) é complementado com animais jovens, para mensurar seus desempenhos. Os cuidados com a nutrição das matrizes e genética também são consideradas itens de extrema importância para o alcance de bons resultados reprodutivos. Na Fazenda Celestina, a nutrição é básica, sendo constituída apenas de pastagens de brachiarias e sal mineral, mas a vacada recebe atenção especial, sobretudo em relação a escore de condição corporal (ECC). Durante o período de amamentação, as vacas são monitoradas e, quando se percebe a perda do ECC, utiliza-se técnicas como a antecipação do desmame em

DBO fevereiro 2016

30-40 dias, para dar maior possibilidade de recuperação da condição corporal. “A concentração da estação de monta em período curto (75 dias) também traz alívio para o sistema de pastagem durante a seca, sobrando mais capim para as matrizes prenhas”, afirma e Edmundo Rocha Vilela, da Lageado. Além disso, continua ele, o descarte de 100% das vacas vazias e a utilização intensiva da inseminação em tempo fixo (a fazenda praticamente não tem mais prenhezes de touros em monta natural) geram uma seleção natural para “vacas boas de IATF”. Por sua vez, a Fazenda Coqueiral investiu pesado em melhorias nas pastagens, corrigindo adequadamente o solo, com o fornecimento de tudo o que a planta precisa para se desenvolver e, sobretudo, rebrotar rapidamente para um novo pastejo, informa Cleir Martins. “Atualmente, 100% das áreas de pastagens da propriedade passam por algum tipo de adubação e correção, o que triplicou a capacidade suporte na fazenda”, diz o veterinário. Todas essas medidas juntas, sincronizadas e muito bem executadas, resultaram no sucesso enorme da IATF nestas propriedades. Porém, alerta Meneghetti, um único erro em um dos pontos citados acima se sobrepõe a todos os acertos, nivelando por baixo o resultado final. n



Genética

Melhoramento com viés econômico Comparação de rentabilidade entre progênies de vários touros é a nova proposta da ANCP Integrante do trabalho consultivo da ANCP e pioneiro na adoção de índices econômicos no Rancho da Matinha, em Uberaba, MG, o criador Luciano Borges diz que muito além de uma visão clara sobre a rentabilidade que determinado touro pode gerar para o sistema de produção, está o conceito de para onde caminha a atual pecuária de corte no Brasil: animais que atendam cada vez mais à produção de ciclo curto e garantam bom rendimento no gancho. “Temos mais de dez programas de melhoramento reconhecidos pelo Ministério da Agricultura e todos trabalham índices arbitrários para as características, sem estudá-las economicamente. Estamos abandonando o empirismo e equilibrando nosso índice de seleção. É um avanço enorme para quem cria Zebu no País”.

Primeiros animais avaliados pelo índice bioeconômico serão conhecidos a partir de março.

D

Carolina Rodrigues

epois de dois anos de um estudo que envolveu dez pesquisadores da Unesp, Embrapa, USP e entidades argentinas, a Associação Nacional de Criadores e Pesquisadores (ANCP) anunciou formalmente mudanças no índice de classificação do Mérito Genético Total (MGT), que agora passa a ser econômico. Sob a sigla MGTE (Mérito Genético Total Econômico), o novo índice bioeconômico foi aprovado pela diretoria e grupo consultivo de trabalho da ANCP no fim de 2015, e passa a valer oficialmente este ano, quando os criadores receberem a primeira avaliação genética de seus animais, nos meses de março e abril, período que antecede o lançamento do Sumário de Touros. O Programa de Melhoramento Genético da ANCP, com mais de 2,6 milhões de animais avaliados apenas na última safra, passará a estimar o valor genético dos animais com base no fluxo de caixa dos diferentes sistemas de produção vigentes no País. As mudanças permitirão comparar a rentabilidade entre as progênies de vários touros ao fim do ciclo de produção, seja ele qual for, e aprimorar a seleção de animais que possam garantir maior lucro à atividade, expressando as características genéticas em reais. “O perfil de seleção no Brasil mudou e os programas de melhoramento têm que acompanhar essas mudanças, do contrário eles vão deixar de caminhar em convergência com o interesse dos seus selecionadores”, diz Raysildo Lôbo, presidente da ANCP.

50 DBO fevereiro 2016

Novidades O equilíbrio a que se refere o dono da Matinha se deve à inclusão de novas características do MGTE, desta vez, melhor balanceado em crescimento, reprodução, fertilidade e carcaça. Diminui-se o valor excessivo até então dado para as DEP’s de peso, e aumenta-se o valor de características de reprodução, como a inclusão da stayability (longevidade), por exemplo, com 22% do total de 43% das características ligadas à reprodução. Também compõem o novo índice a DEP de 3P (probabilidade de parto precoce) e a DEP de AOL (área de olho de lombo), medida altamente correlacionada ao rendimento de carcaça. “Existe demanda internacional para melhorar o rendimento frigorífico, que é o que realmente se paga para o produtor. Já trabalhávamos na coleta de dados por ultrassonografia há 15 anos e isso permitiu incluir esta DEP no MGTE”, explicou Lôbo. O novo índice será composto por 10 DEP’s calculadas para peso ao desmame e aos 450 dias, habilidade maternal medida aos 120 dias e na desmama, perímetro escrotal aos 350 e 450 dias, stayability, probabilidade de parto precoce, idade ao primeiro parto e área de olho de lombo. Para o presidente da ANCP, as mudanças levam em conta os objetivos atuais da seleção e trarão impacto relevante para os compradores de touros. “O índice sempre foi uma moeda forte de comercialização e está se tornando uma ferramenta ainda mais equilibrada na escolha de animais que sejam mais rentáveis para o sistema de produção de cada comprador”, avalia. “Ele terá uma estimativa de que com o touro X poderá ganhar R$ 7 por bezerro; com outro apenas R$ 3 e, com um terceiro, perder R$ 4”, ilustra o presidente. “Vamos aplicar o conceito econômico no melhoramento genético.”


Técnicos da ANCP vão iniciar em breve a adoção do índice MGTE

Referência segura Ao formular este modelo estatístico, a ANCP utilizou todos os indicadores de preços disponíveis no mercado para compor uma estimativa de custos e receita de uma fazenda de ciclo completo, localizada no Brasil Central. O intuito foi criar uma condição regular de criação à média brasileira, englobando todos os sistemas vigentes – cria, recria, engorda e terminação, pontuou Gustavo Figueiredo, pesquisador da ANCP. Na classificação dos animais pelo novo índice foram considerados valores presentes e futuros dos custos de insumos e dos produtos comercializados no País, mais as avaliações fenotípicas e genéticas preditas para os animais que já vinham da base de dados do programa. “É um conjunto complexo de correlações que permite comparar de forma segura a rentabilidade da progênie de touros diferentes e escolher os animais que trarão lucro para cada tipo de negócio”, sintetiza Lôbo. Nome presente no grupo de estudos, e um dos gran-

des mentores do projeto, Jose Aurélio Garcia Bergmann, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), garantiu que para criar o índice bioeconômico foi necessário entrar na estrutura do mercado. “Custo, o que vende, quanto se vende e os objetivos de seleção do criador são fundamentais em processos como esse. Mas ainda precisamos discutir características como eficiência alimentar e algumas variáveis de custos, como níveis de tecnificação, por exemplo”, aponta o professor. “Embora seja uma iniciativa pioneira, ainda há espaço para ser melhorada”. 1 – Embora concorde com Bergmann, Alexandre Mendonça de Barros, sócio-diretor da MB Agro, que prestou consultoria para a validação dos dados, atenta para a importância da cria no modelo econômico do novo índice de seleção da ANCP. “Um programa de melhoramento seleciona touros para produzirem bezerros, ou seja, fazer fêmeas férteis e precoces, que produzam mais e desmamem melhor seus produtos. Esse é o foco dos melhoristas. E não podemos esquecer que a cria não apresenta níveis de tecnificação tão altos e distintos como a engorda e a terminação, por exemplo. Isso acaba minimizando os riscos das variáveis.” 2 – Em relação aos indicadores de preços usados na composição do índice, Barros acredita que, embora eles venham a mudar, isso não afetará o cálculo das DEP’s em reais (R$). “O modelo foi bem estruturado. Sabemos que os preços são flexíveis, sejam de insumos ou do boi, mas a relação bezerro/boi ou vaca/boi, que é a regente do mercado, não muda”. Segundo ele, os preços serão atualizados de tempos em tempos. 3 – O índice bioeconômico será o assunto principal do 22º Seminário Nacional de Criadores e Pesquisadores, marcado para 13 de maio, em Ribeirão Preto, SP. As mudanças no MGTE estão previstas apenas para 2017 n

MGTE será uma ferramenta mais equilibrada para a escolha dos animais mais rentáveis para o sistema de produção de cada comprador” Raysildo Lôbo, Presidente ANCP

DBO fevereiro 2016 51


Genética

Não emprenhou. Por quê? Quanto antes for detectada a negativa da prenhez, há mais tempo para as correções e nova tentativa de concepção.

Diagnóstico de prenhez é o momento ideal para avaliar todo o histórico da matriz

C

Lídia Grando

hegou a hora da prova dos nove. Passada a estação de monta, o médico veterinário deve fazer o diagnóstico de gestação para identificar as matrizes que emprenharam. Mais importante do que detectar as concepções, porém, é identificar também as vacas que não emprenharam, a fim de proceder a nova tentativa de inseminação artificial ou monta natural. A partir do exame, pode-se, realocar essas matrizes para pastos melhores ou iniciar uma ação sanitária para combater possíveis doenças reprodutivas. “A importância do diagnóstico está na destinação correta de cada fêmea não gestante”, afirma o técnico Carlos Antonio de Carvalho Fernandes, da Biotran, de Alfenas, MG. Em suma, o exame também permite recalcular a rota ainda durante a “viagem”. “Podemos identificar problemas logo nos primeiros lotes inseminados e tentar corrigi-los antes do término da estação”, lembra o veterinário Dorival Sornas Martineli, da Neobovina de Marília, SP. Para o diagnóstico de gestação, o exame pode ser feito por palpação retal ou por ultrassonografia. “A di-

52 DBO fevereiro 2016

ferença está no diagnóstico mais precoce da ultrassonografia”, compara Fernandes. Em geral, este exame pode ser feito 30 dias após a inseminação ou monta e, a palpação retal, 45 dias após. Não é recomendado que se antecipe o prazo, sob o risco de obter resultados duvidosos ou incorretos. No futuro, uma das promessas tecnológicas para antecipar ainda mais o diagnóstico e realizá-lo com maior exatidão está no uso da ultrassonografia doppler colorida, mas ela ainda não é executada na rotina de exames das fazendas. Risco mínimo Independentemente da técnica, se for realizada por médico veterinário capacitado, o risco é mínimo para o embrião. Outro quesito importante é a preservação do bem-estar na hora do exame. “A tranquilidade no manejo é essencial para não causar problemas à gestação que está no início”, afirma o técnico Cleir Vieira Martins Junior, da Global Genetics, de Amambaí, MS. Além do diagnóstico de prenhez, este é o momento de colher outras informações, como avaliação dos órgãos reprodutivos, levantamento do histórico animal, classificação do estado corporal e avaliação da estratégia utilizada para o caso de Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF). “O diagnóstico não pode ser uma mera constatação de uma situação, o essencial é o conhecimento técnico para avaliar e indicar o que deve ser feito”, comenta Fernandes, da Biotran. “É nesta hora que podemos reavaliar o animal e mudar o protocolo”, exemplifica Martins Junior, da Global Genetics, referindo-se principalmente às novilhas e primíparas que passaram por IATF. Martinelli, da Neobovina, complementa que também pode-se analisar o trabalho do inseminador e outras variáveis que compõem o custo do trabalho. “Quanto maior o número de prenhezes, menor se torna o custo com as gestações dos lotes inseminados”, lembra. Portanto, o diagnóstico de gestação é uma ferramenta com finalidade técnica, mas que se reflete diretamente no desempenho econômico da atividade. n Informações obtidas com o diagnóstico de gestação:

• Confirmação da prenhez • Avaliação da ciclicidade das matrizes

e da atividade dos ovários (folículos e corpos lúteos/ovulações) • Identificação de cistos ovarianos, patologias do aparelho reprodutor, gestações imprevistas por touros ou garrotes a campo • Avaliação visual do animal • Contabilidade do custo da gestação a partir dos resultados de inseminadores, sêmen usado ou outras variáveis.

Fonte: Neobovina



Fazenda em Foco

Coragem recompensada

Fotos: Ariosto Mesquita

Pecuaristas no Paraná apostam na gestão e mudança quase total de pastos e saem do prejuízo para um lucro exemplar

A declividade da fazenda, dentre outros aspectos, justificou a mudança de forrageira.

Ariosto Mesquita,

F

de Campo Grande, MS

oi uma mudança geral. Elton Zafanelli Silveira, de 39 anos, e seu pai, José Alfredo Silveira Bovo, de 73, tiveram de rever conceitos em relação à pecuária de corte. Só assim conseguiram retorno financeiro na atividade. Esta determinação fez com que as fazendas integradas Guaraúna e 3 Minas – a primeira de cria e a segunda, de recria e terminação –, em Alto Paraíso, no noroeste do Paraná, revertessem seus números de rentabilidade por hectare, saindo de um resultado negativo de R$ 27,61/hectare no ciclo nnn

Fazendas 3 Minas e Guaraúna Alto Paraíso Curitiba

Município: Alto Paraíso, PR Produção: cria (Guaraúna) e recria/terminação (3 Minas) Número de funcionários: 7 Área total: 1.694 ha Área total de pastagem: 1.414 ha Área de reserva e preservação permanente: 305 ha Rebanho médio: 2.937 cabeças (Nelore e cruzamento industrial) Animais comercializados 2014/2015: 1.573 Total de animais abatidos: 1.378 cabeças Rentabilidade no ciclo 2014/2015: R$ 306,10/ha

nnn

54 DBO fevereiro 2016

2010/2011 para um faturamento líquido de R$ 306,10/ ha na safra 2014/2015, com projeção de chegar perto dos R$ 400/ha em 2015/2016. Para obter esses resultados, pai e filho tiveram de centrar o foco do trabalho na melhoria da capacidade de suporte dos pastos. Isso só começou a acontecer depois de uma mudança radical na tecnologia de manejo de pastagem, feita com a ajuda de uma assessoria técnica. “O que eu entendia de pasto era fundamentalmente o contrário do que passei a adotar”, admite Elton, que é graduado em agronomia. Aos poucos ele vem assumindo o controle das propriedades, no lugar de seu pai. A maior guinada, conta, foi em relação às forrageiras. “Eu queria formar a fazenda inteira com mombaça. Sabia, por meio de instituições de pesquisa e leitura técnica, que os panicuns (gênero do mombaça) reúnem variedades mais produtivas e por isso insisti.” Mas o resultado não vinha. Elton e seu gerente administrativo, Edmilson Ferreira Barros, percebiam que o rebanho não rendia com o mombaça, embora continuassem relutantes em trocar a espécie de gramínea. “Usar braquiária? Deus me livre!”, exclama o pecuarista, ao relembrar de sua postura cinco anos atrás. O fraco desempenho da boiada, porém, fez com que Elton e seu pai superassem algumas desconfianças e buscassem uma solução em consultorias. A primeira aposta foi na área de gestão produtiva e administrativa, tocada pela Terra Desenvolvimento Agropecuário, empresa de Maringá, PR. A fórmula que permitiu aos proprietários ter uma consultoria à disposição foi a parceria firmada entre a Terra e a Coopercaiuá, uma cooperativa de pecuaristas da região de Umuarama, PR, da qual Elton e seu pai são integrantes. A Terra, via Coopercaiuá, assessora quatro propriedades ao custo de uma. Assim, o investimento foi dividido entre as quatro. Já dentro do primeiro ano (ciclo 2010/2011), a consultoria diagnosticou a necessidade de uma remodelação dos pastos por intermédio de um planejamento forrageiro. Para isso, seria necessária uma assessoria técnica específica para gestão de pastagens. A escolha recaiu sobre a Tecnopasto, que atua em Naviraí (MS), e no norte do Paraná. “Eu nem sabia que existia isso (assessoria para pasto)”, confessa Elton. Baixa fertilidade Logo no início do trabalho veio a constatação técnica: as características de baixa fertilidade e de declividade do solo das fazendas exigiam uma diversificação de


forrageiras. A 3 Minas conta com um solo arenoso, com baixo teor de argila (variando entre 10% e 20%). Dessa forma, as águas das chuvas escoam com mais facilidade entre os grãos de areia rumo a camadas mais profundas, levando consigo os nutrientes, o que torna o solo pouco fértil. Foi difícil engolir. “A última coisa que o dono de uma propriedade vai aceitar é que sua terra não é tão fértil quanto imaginava”, afirma Elton. “Em relação às pastagens, o que encontrei na Fazenda 3 Minas era basicamente um trabalho aleatório. Não havia planejamento para acomodação dos animais ao longo dos meses e anos. Algumas áreas já estavam rotacionadas, mas havia muito pasto alto, acima dos níveis ideais. Trabalhava-se dentro da filosofia de que o animal não pode tomar frio na canela. Isso já não vale mais”, conta o zootecnista Josmar Almeida Júnior, sócio-diretor da TecnoPasto. Em situações assim, segundo ele, a disponibilidade nutritiva cai bastante para o animal, apesar de o fato passar despercebido para muita gente. “Em uma área de 10 hectares, onde 4 ha tenham capim acima da altura ideal para pastejo, efetivamente teremos consumo de forrageira em 6 ha. Entretanto, normalmente se calcula a lotação efetiva sobre os 10 ha. Dessa forma, teremos um superpastejo sobre os 6 ha”, explica o consultor Almeida Jr. “A gente entendia que o pasto bom é o pasto alto. Mas o boi não vinha. O capim já tinha passado do ponto. A consultoria nos mostrou o erro. Disse, ainda, que o animal tem de comer o capim no momento certo”, lembra o patriarca José Alfredo Silveira Bovo. Em novembro de 2015 a Fazenda 3 Minas contabilizava 376 ha de pasto. Em 2012, 73% eram ocupados por mombaça. As braquiárias xaraés e marandu perfaziam, respectivamente, apenas 15% e 9% da área. Aos poucos este perfil de uma quase monocultura forrageira foi se alterando. Em 2015 já havia 44% de mombaça e 32% de xaraés. Ao fim do ano, esta braquiária também era presente na área de reforma convencional (11% dos pastos) e nos talhões em recuperação por meio de plantio em sucessão de sorgo e capim, este último semeado entre fevereiro e março (6% das pastagens da fazenda). “Apostamos em uma maior participação do xaraés, por ser uma espécie que produz um bom volume de pasto em solos de média e baixa fertilidade e que se adapta muito bem a áreas mais acidentadas e declivosas”, diz o zootecnista Almeida Júnior. O georreferenciamento feito pela consultoria classificou a 3 Minas como uma propriedade com declividade moderada o que, segundo Almeida Júnior, dificulta boas respostas de algumas espécies forrageiras. “Como o mombaça é de crescimento ereto, há maior risco de os nutrientes serem carregados pela água da chuva em terrenos inclinados.” Além dos aspectos técnicos, o xaraés também se revelou uma opção mais econômica para melhorar a produtividade do solo. “Com o investimento que se faz em aplicação de

Elton Zafanelli Silveira e seu pai, José Alfredo Silveira Bovo, ao lado de machos em terminação. Análise produtiva – Fazendas 3 Minas e Guaraúna Indicadores

2014/2015

Rebanho médio (cabeças)

2013/2014

2012/2013

2011/2012

2010/2011

2.937

2.958

2.863

2.915

2.678

13.921

16.554

16.239

11.197

11.602

Ganho de peso /dia (kg)

0,390

0,460

0,466

0,316

0,356

Lotação global (UA/ha)

1,70

1,55

1,47

1,29

1,23

1.414

1.579

1.579

1.741

1.798

Produção (@)

Área de pasto (ha) Faturamento (R$)

3.299.088,55 2.448.116,96 2.355.487,30 1.595.717,82 1.384.187,26

Custeio cabeça/mês (R$)

35,96

39,46

34,75

29,67

26,85

Custeio @ produzida (R$)

91,03

84,61

73,53

92,68

74,37

Desembolso @ prod. (R$)

111,14

91,73

79,92

115,00

94,37

Análise econômica – Fazendas 3 Minas e Guaraúna Indicadores Produção @/ha

2014/2015

2013/2014

2012/2013

2011/2012

2010/2011

9,85

10,48

10,28

6,43

6,45

Custeio @ produzida (R$)

91,03

84,61

73,53

92,68

74,37

Desembolso @ prod. (R$) Valor médio venda da @ (R$) Resultado por @ (R$)

111,14

91,73

79,92

115,00

94,37

142,23

113,80

94,36

95,68

90,09

31,09

22,07

14,44

(19,32)

(4,28)

Margem sobre a venda (%)

21,86

19,39

15,30

- 20,19

- 4,75

Taxa interna de retorno (%)

0,85

0,90

0,59

-0,94

-0,01

148,46

(124,28)

(27,61)

Resultado por ha (R$) Resultado produtivo

306,1 432.775.73

231,4 365.346,16

234.411,32 (216.315,21) (49.646,42)

calcário e fertilizantes para o plantio de 1 hectare de capim mombaça é possível reformar pelo menos 2 ha com esta espécie de braquiária”, explica o zootecnista. O consultor, no entanto, garante que não é contra o uso do mombaça. O que foi verificado, segundo ele, é que o xaraés está se mostrando mais eficiente no proDBO fevereiro 2016 55


Fazenda em Foco

John Lennon Damasceno, responsável pelo manejo, conduz lote de novilhas Nelore, de reposição, em pasto de capim xaraés.

cesso de aumento de lotação da propriedade dentro de suas características naturais. “Na safra 2011/2012 tínhamos 19% das áreas de pastagens ocupadas com mais de 2 UA/ha/ano. Atualmente, a parte preenchida por 2 a 3 UA/ha/ano caiu para 8%, mas surgiu a categoria de lotação de mais de 3 UA/ha/ano, que hoje é responsável por 32% de todo o pasto da fazenda”, revela Almeida Jr., que mensalmente visita as duas propriedades, monitorando o trabalho e fazendo ajustes de procedimentos. Os bons resultados da reforma dos pastos estão surgindo gradualmente. “Entre 2012 e 2015 as áreas de pastagens produtivas saltaram de 19% para 43% na 3 Minas”, revela Almeida Jr. O consultor classifica nestas condições os espaços que requerem correção e fertilização superficiais para manutenção e/ou aumento da produção das forrageiras. São áreas que não necessitam, portanto, de operações mecanizadas, como preparo mínimo ou total para incorporação de nutrientes ao solo. Mesmo antes de se chegar a estes números, o processo de gestão de pastagem já impressionava os proprietários das duas fazendas. O caráter científico das ações e o pragmatismo na aplicação de métodos para a obtenção de resultados chamaram a atenção de SilveiEspécies de pastagens Fazenda 3 Minas (2015)

56 DBO fevereiro 2016

Espécies de pastagens Fazenda 3 Minas (2012)

ra Bovo, que toca a pecuária na 3 Minas desde os anos 1970 (A Guaraúna foi adquirida no início da década). “Eu não conhecia o fato de se poder avaliar o metro quadrado de um determinado pasto para concluir que lotação cabe naquele setor. Achei genial”, admite. Almeida Júnior classifica este procedimento como “calibração da capacidade de suporte do pasto”, derivado da “técnica do quadrado”, utilizada para estimativas de disponibilidades em avaliações científicas. Geralmente são colhidas três amostras diferenciadas dos tipos de pasto presentes na área. “O objetivo é ‘calibrar o olho’ do gestor da pastagem para determinar a capacidade de suporte, ou seja, qual a lotação máxima da área que permita o máximo desempenho animal e também a não degradação da forrageira”, explica. Dentro deste processo, eventualmente surgem situações que fogem totalmente às regras “oficiais”. “Muitas vezes temos de manejar uma pastagem numa altura menor do que a indicada por instituições de pesquisa. Nas fazendas não se consegue trabalhar com uma mesma fertilidade de uma área de pesquisa da Embrapa, por exemplo”, observa o consultor. Adubação A adoção de consultorias técnicas exigiu mudanças de hábitos por parte dos proprietários, que passaram a entender a importância de alguns procedimentos. “Uma coisa que não fazíamos e agora executamos

Gerente operacional das fazendas, Edmilson Ferreira Barros examina cultivo de sorgo. Ao fundo, pasto de mombaça.

Condição das pastagens Fazenda 3 Minas (2015)

Condição das pastagens Fazenda 3 Minas (2012)


Indicadores são destaque entre 152 fazendas Após quatro anos de investimento tecnológico na produção e gestão, as fazendas 3 Minas e Guaraúna carregam indicadores considerados referência entre as 152 propriedades assessoradas em 2015 pela Terra Desenvolvimento no Brasil e no Paraguai. Elton, inclusive, foi um dos quatro pecuaristas da carteira da empresa escolhidos para relatar suas experiências no Encontro de Gestores, realizado pela consultoria em outubro, em Campo Grande, MS. As duas propriedades, juntas, foram classificadas entre as 30 fazendas mais rentáveis no quesito Resultado da Operação Pecuária (R$ 306/ha). Também está bem pontuada nos seguintes indicadores: fertilidades de vacas (88% – 5º lugar); mortalidade de animais novos (0,4% – 6º lugar); taxa de desmame (77% – 7º lugar); fertilidade geral (83% – 11º lugar); lotação a pasto (1,7 UA/ha – 12º lugar). Alguns números refletem a evolução das propriedades entre o início do trabalho (2010/2011) e o último ciclo (2014/2015). Apesar de uma redução na área de pasto de 21% (de 1.798 para 1.414 ha), a lotação global média cresceu 37% no período, pulando de 1,23 para 1,7 UA/ha/ano. A taxa de desfrute subiu 20%, saindo de 34% para 41% do rebanho. Outro número que chama a atenção é o desempenho da produção de arroba de carne por hectare. Em cinco safras evoluiu de 6,5 para 9,9 @/ha/ano, um salto de 53%. Em reais, o faturamento com a pecuária de corte aumentou 138% neste período. Partiu de R$ 1.384.187 para R$ 3.299.088. O resultado mostra que as fazendas saíram de um prejuízo de R$ 49.645 (-R$ 27,61/ha) na safra 2010/2011 para um resultado positivo de R$ 432.775 (R$ 306/ha) no último ciclo. Para Silveira Bovo, o ponto alto desta evolução em termos de resultados está no volume de abate: “Matávamos 500 cabeças/ano e esse número hoje triplicou em função da precocidade no acabamento dos animais”. O desafio agora, segundo ele, é produzir comida dentro da fazenda para o gado. “Fazemos alguma coisa, mas em baixa escala. A alternativa, talvez, seja apostar e investir na integração-lavoura-pecuária”, diz.

com frequência é a adubação de pastagem. Faltava coragem. Hoje aplicamos e monitoramos. Não se pode jogar o adubo e virar as costas. Trata-se de um cultivo. O capim tem de ser colhido como qualquer outra cultura”, defende Elton. Seu pai lembra que esses investimentos não são

baixos: “Logicamente estamos fazendo este trabalho nos pastos ao longo dos anos, mas só em 2015 investimos R$ 300.000 em calcário e adubo e isso equivale a aproximadamente 13% do nosso faturamento anual médio, incluindo áreas arrendadas”. Mas, além de oferecer pastagens adequadas e com melhor disponibilidade nutricional, as características produtivas das fazendas (sobretudo a oferta de animais precoces e superprecoces) exigiram um redimensionamento da suplementação a pasto. “Antes era ofertado apenas sal mineral e capim aos animais de recria e engorda. Só isso não permitia atingir idade para abate com peso adequado e muito menos antecipar o abate para atender à taxa de desfrute almejada: abate de 40% a 50% do rebanho médio de 3.000 cabeças”, conta Almeida Júnior. As duas fazendas adotam uma suplementação estratégica, com cargas e formulações diferentes para cada categoria e para cada idade de abate em sistemas de semiconfinamento e confinamento. Os procedimentos integram um planejamento forrageiro e alimentar indicados pela consultoria e adotados pelos proprietários. Só a nutrição, em 2015, consumiu 10% da receita das fazendas. Mola propulsora Técnicos, proprietários e os dois funcionários executivos das fazendas – Edmilson Ferreira Barros (gerente operacional) e Ednei Ferreira Barros (capataz de máquinas) – entendem que a reengenharia de pastagem foi a mola propulsora para sair do prejuízo ao lucro nas duas propriedades. Mas o trabalho de consultoria da Terra é mais amplo. De início, foi feito um levantamento de rebanho, área, produção por hectare, custo por cabeça e alocação dos investimentos. Detectar a necessidade de remodelação dos pastos foi, certamente, o principal. “Dentro do nosso diagnóstico, apresentado após 90 dias de trabalho, ao fim da safra 2010/2011, identificamos que a equipe das fazendas era boa; a infraestrutura das moradias adequada e que a relação dos colaboradores com os proprietários funcionava abertamente. O gargalo estava na baixa produtividade em relação à pastagem, a um bom rebanho e à nutrição devida”, explica Luciano Araújo, sócio e consultor da Terra Desenvolvimento, que a cada três meses visita a 3 Minas e a Guaraúna. Após os dois primeiros anos de trabalho já se sabia, com certeza, o gargalo que mantinha as contas no vermelho. “Fazíamos investimentos excessivos na melhoria estrutural que não garantiam propriamente um retorno produtivo. Deixávamos, por exemplo, de apostar em adubação e nutrição para fazer um bom curral ou área de confinamento. Tudo era importante, mas não influenciava diretamente a produtividade”, explica Elton. n

Para o consultor Josmar Almeida Júnior, “a técnica do quadrado funciona como calibração da capacidade de suporte do pasto”.

Luciano Araújo, sócio e consultor da Terra: “Em vez de curral, adubação de pasto”.

DBO fevereiro 2016 57


FOTOS: FERNANDO YASSU

Seleção

Mário Bertin (esq.), com o gerente da Fazenda Boa Esperança, Marcelo Rodrigues.

Constatação: machos meio-sangue têm peso à desmama semelhante ao dos meio-sangue Angus

Santa provado e aprovado Pecuarista com fazendas em SP e no MT seleciona e testa, com sucesso, tourinhos no calorão do Centro-Oeste. Fernando Yassu

G

yassu@revistadbo.com.br

estor da Fazenda Boa Esperança, em Lins, noroeste de São Paulo, o pecuarista Mário Bertin é pragmático quanto à raça que cria, a Santa Gertrudis. Para ele, a melhor é a que traz maior eficiência nos indicadores de desempenho. Seja em taxa de fertilidade e de desmama em fazendas de cria ou de ciclo completo ou, ainda, em ganho de peso e terminação precoce de carcaça em propriedades que exploram a recria e a engorda. Há sete anos, o gado Santa Gertrudis entrou na vida de Mário Bertin e ele iniciou a seleção da raça _ mas foi o acaso que o levou à criação deste gado de origem norte-americana. Na época, ele tinha ido ver um rebanho comercial em Sarutaia, sudoeste paulista. Na propriedade, de Reinaldo Paschoal, conheceu o plantel Santa Gertrudis, que estava em liquidação, juntamente com o gado comercial. Bertin gostou e, como o preço estava convidativo, arrematou todo o rebanho puro, que incluía vacas, novilhas e bezerras, além dos machos (bezerros e tourinhos). Iniciou, assim, uma despretensiosa seleção da raça, que, na época, não vivia um bom momento, em decorrência da crise no cruzamento industrial que já vinha desde 2003 e deixou sequelas nos criatórios de europeias e sintéticas.

58 DBO fevereiro 2016

O plantel de seleção foi transferido para a Fazenda Boa Esperança, de propriedade da mãe de Bertin, Juraci Frare Bertin, e os tourinhos em idade de serviço foram levados para a Fazenda Santa Terezinha, no município do mesmo nome, no nordeste do Mato Grosso, quase divisa com o Pará e o Tocantins, onde Bertin desenvolve a atividade de cria, que conta, atualmente, com 5.000 matrizes comerciais. Na época, havia 2.500 fêmeas em reprodução na Santa Terezinha. Até iniciar a criação de Santa Gertrudis, Bertin, como a maioria dos pecuaristas que fazem cruzamento industrial, inseminava as vacas com sêmen de touros Angus e fazia repasse com reprodutores Nelore – a única raça que ele sabia suportar o calor mato-grossense para cobrir com eficiência as matrizes. Entretanto, como tinha arrematado os machos Santa Gertrudis, resolveu testá-los a campo. Os tourinhos, que têm 3/8 de sangue zebuíno (Brahman), passaram no teste de campo. “Cobriram como os touros Nelore, e não se ressentiram do calor e das condições de criação no Mato Grosso”, conta Bertin. O criador comprovou o fato pelo nascimento dos bezerros: as crias meio-sangue Angus representaram pouco mais de 50% de sua safra de bezerros. Já nos lotes repassados com Santa Gertrudis, a produção de bezerros meio-sangue Santa Gertrudis/Nelore desmamados foi de 35% para cada cem matrizes em reprodução, proporcionalmente igual à dos grupos repassados com Nelore. “Em termos de fertilidade, não houve diferença entre os lotes de fêmeas repassados pelos touros Nelore ou Santa Gertrudis”, garante. E, na desmama, “vitória” do Santa Gertrudis: sem receber trato no creep feeding, os machos pesaram em média 220 kg _ o mesmo peso dos meio-sangue Angus e 10 quilos mais do que os bezerros Nelore. Na Fazenda Santa Terezinha, não se faz a suplementação dos bezerros com creep feeding. Bertin justifica: como vende toda a produção em São Paulo, ele tem que transportar o máximo de bezerros por viagem para ter eficiência no frete. Por essa razão, evita desmamar animais muito


Rebanho de fêmeas da Boa Esperança está entre os maiores do Brasil

pesados. “Se fizesse isso, colocaria menos cabeças por carreta, elevando o custo”, diz. Além de o Santa Gertrudis ter peso maior em comparação com o Nelore, agrega valor à produção: “Estou vendendo bezerro meio-sangue Santa Gertrudis com deságio de 5% em relação ao meio-sangue Angus. Já o macho Nelore é vendido com deságio de 15%”, diz o criador. Bertin descobriu outra vantagem no uso dessa raça de origem norte-americana _ o aproveitamento das fêmeas meio-sangue como matrizes, o que não é possível com F1 Angus por causa do calor do Centro-Oeste. “Fêmea F1 é uma ótima matriz, mas, no Mato Grosso, seria impossível por causa do calor e da infestação de carrapatos. E também produziria um bezerro com 75% de sangue europeu”, diz. No caso do meio-sangue Santa Gertrudis, a matriz tem 50% de sangue Nelore e quase 40% de Brahman. Além de melhor adaptação ao calor, essa matriz tem melhor habilidade materna. “Mesmo sem trato no creep feeding, os bezerros tricruzados, que têm 25% de sangue Nelore, 25% de Santa Gertrudis e 50% de Angus, desmamam com 240 kg só no leite, ou seja, com 20 kg mais do que os bezerros meio-sangue Angus e Santa Gertrudis e entre 30 e 40 kg mais do que os Nelores puros”, informa Bertin. Eficiente Para avaliar o desempenho dos bezerros meio-sangue Santa Gertrudis, o pecuarista retém parte da produção de bezerros (machos meio-sangue Angus e tricruzados; machos meio-sangue de Santa Gertrudis e machos Nelore). O resto ele vende à desmama. Já na avaliação pós-desmama, Bertin se surpreendeu com o desempenho dos machos meio-sangue Santa Gertrudis à recria e à engorda. “Em termos de ganho de peso, é semelhante ao meio-sangue Angus e ao tricruzado. A única diferença é que, para acabar bem a carcaça e produzir carne com marmoreio, exigem um tempo maior de cocho”, diz o pecuarista. Bertin usa, atualmente, para repasse de inseminação

Fêmeas são avaliadas para entrar, em breve, em programa de fertilização in vitro.

artificial das 5.000 matrizes Nelore e meio-sangue Santa Gertrudis, 100 touros dessa raça norte-americana e 100 Nelores – na proporção de 1 touro para 25 vacas. O Nelore é usado no repasse porque, segundo ele, precisa repor o plantel de matrizes para fazer o cruzamento industrial com Angus em IATF e Santa Gertrudis em repasse. Expansão A criação, iniciada sem grandes pretensões, já é uma das maiores da raça Santa Gertrudis, com 450 matrizes e produção de 100 tourinhos anuais _ 50 para uso próprio e 50 para venda. De olho no avanço do cruzamento industrial e no mercado de tourinhos para repasse de IATF, Bertin quer dobrar a produção de tourinhos e chegar a 200 por ano ou mais, se o mercado demandar. “O repasse, em regiões muito quentes do Pará, Tocantins, Rondônia, Bahia e Mato Grosso, pode ser feito, sim, com uma raça sintética, permitindo agregar valor não só nos bezerros de inseminação, mas também nos animais de repasse, como estamos fazendo no Mato Grosso”, diz. Para aumentar a produção de bezerros Santa Gertrudis, o criador vai investir em FIV (fertilização in vitro). Bertin já está avaliando as fêmeas e é deste plantel de 400 matrizes que vai tirar as doadoras de embriões. Para produzir os embriões, ele pretende buscar sêmen nos Estados Unidos. O perfil dos touros que busca, além do desempenho para ganho de peso, é um animal de frame abaixo de 7, umbigo corrigido e caráter mocho, além de avaliação de carcaça para rendimento (AOL), para acabamento (AGS) e para marmoreio (MAR). “Quero um Santa Gertrudis precoce, bom ganhador de peso e que produza carcaça bem acabada e carne de alta qualidade”, diz. Ele não tem dúvida de que os pecuaristas brasileiros que estão produzindo carne de qualidade vão redescobrir o Santa Gertrudis, especialmente com o avanço da IATF e do cruzamento industrial. “Em vez de agregar valor apenas à metade da produção de bezerros Angus, pode agregar em outros 25% ou ter maior eficiência na recria e na engorda em 75% dos animais”, diz Bertin. “É o que estou fazendo”, acrescenta. n

nnn O plantel de Bertin é um dos maiores da raça, com

450 matrizes e produção de 100 tourinhos/ano.

nnn

DBO fevereiro 2016 59


Raças Compostas

Unesp vai avaliar a genética Montana

A

Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Unesp, campus de Botucatu, SP, vai receber tourinhos Montana, raça composta desenvolvida nos Estados Unidos. No Brasil, a Montana tem maior percentual de raças adaptadas, daí ser também conhecida como “composta tropical”. A Unesp já conta com um plantel de Nelore puro, atualmente avaliado pelo Programa de Melhoramento Genético da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ). Os tourinhos serão cedidos pelo Programa Montana. O objetivo é avaliar os animais cruzados Montana-Nelore. “Para nós, a parceria vai ser uma excelente oportunidade para mostrar a força da genética Montana na produção de carne de qualidade”, diz a gerente de Operações do Projeto Montana, Gabriela Giacomini. Os professores da Unesp Botucatu, Otávio Rodrigues Neto e Cyntia Ludovico Martins, acrescentam que a FMVZ/Unesp vai avaliar as matrizes Montana-F1 Nelore quanto às características de fertilidade, habilidade materna e precocidade, e os touros – Montana

Angus

Dono da Cabanha Santa Joana, de Santa Vitória do Palmar, no Rio Grande do Sul, o pecuarista Ulisses Rodrigues Amaral (ao centro, com José Roberto Weber, da ABA, à esquerda, e Fábio Barreto, da Progen, à direita) ganhou mais um troféu Mérito Genético Angus. É o quarto em nove edições

60 DBO fevereiro 2016

Especialistas querem conhecer a viabilidade econômica de cruzados Montana-Nelore

quanto à capacidade de cobrir as fêmeas a campo e à qualidade da carcaça e da carne de animais com sangue Montana terminados a pasto e em confinamento. A Montana já é avaliada no Brasil pela Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP, campus Pirassununga.

do prêmio, conferido pela Associação Brasileira de Angus (ABA). “O ‘tetra’ é fruto de um trabalho de melhoramento genético de uma vida”, disse Amaral. “O segredo é estar atento aos resultados e saber usar as informações do Programa de Melhoramento de Bovinos de Corte”, explicou. “Hoje, temos três touros entre os dez primeiros desse programa.” Os outros ganhadores do Prêmio Mérito Genético foram os seguintes: em segundo lugar, ficou a Estância Tradição (Parceria Rotta Assis); em terceiro, a Cabanha São Xavier (Caio Cesar Fernandes Vianna); em quarto lugar, ficou a GAP Genética (Eduardo Macedo Linhares) e, em quinto, a Fazenda Rio da Paz (Antônio Zancannaro).

ABS Para sua bateria 2016 de touros para cruzamento industrial 2016, a ABS anunciou a contratação de dois touros Brangus. Os animais são pertencentes a criatórios do Mato Grosso do Sul e participam do Programa Geneplus, da Embrapa Gado de Corte, de Campo Grande, MS. São a Sanlopes Sociedade Agropecuária e a Estância São Geraldo, dos criadores Ítalo Lopes e Mauro Morais, respectivamente. “Acompanhamos o trabalho de seleção dessas duas fazendas há pelo menos 15 anos”, disse o representante da ABS no Mato Grosso do Sul, Mauro Pompeo. Sanlopes F7403 Boran tem 15 meses e é filho de Gladstone. Outro tourinho é 9513, da Estância São Geraldo, filho de Csonka.


or Nelore Força Raça Valor Nelore Força Raça Va ore LEILÕES Força OFICIAIS RaçaNELORE: Valor Nelore Força Raça Valor N rça mais Raça Valor Nelore Força Raça Valor Nelore F força para a raça ça Valor Nelore Força Raça Valor Nelore Força R e mais valor para oRaça seu negócio. or Nelore Força Valor Nelore Força Raça Va ore Força Raça Valor Nelore Força Raça Valor N rça Raça Valor Nelore Força Raça Valor Nelore F ça Valor Nelore Força Raça Valor Nelore Força R or Nelore Força Raça Valor Nelore Força Raça Va ore Força Raça Valor Nelore Força Raça Valor N 1º ShOppINg VILA REAL EMbRyO

LEILÃO MATRIzES INTEgRAL

22 A 28 DE FEvEREiRO

& OUROFINO

AgROpECUáRiA viLA REAL

28 DE FEvEREiRO – 13H – CANAL RURAL

ExpOiNEL MiNAs – UBERABA/Mg

NELORE iNtEgRAL, OUROFiNO

(34) 99161 0151

AgRONEgóCiO ExpOiNEL MiNAs – UBERABA/Mg

1º LEILÃO DE pRENhEzES –

(34) 99911 8220 / (16) 98129 9903

A ESSêNCIA DA VILA REAL 24 DE FEvEREiRO – 20H – CANAL RURAL

2º LEILÃO CARThAgO EMbRyO

AgROpECUáRiA viLA REAL

08 DE MARçO – 21H – CANAL RURAL

ExpOiNEL MiNAs – UBERABA/Mg

gRUpO CARtHAgO

(34) 99161 0151

sãO pAULO/sp (16) 3252-4607 / (34) 3314-9495

2º LEILÃO EAO EXpOINEL MINAS 2016

LEILÃO ELITE MONTE VERDE

25 DE FEvEREiRO – 21H – CANAL RURAL

CIDADE MARAVILhOSA -

EAO NELORE

pRENhEzES NELORE

ExpOiNEL MiNAs – UBERABA/Mg

18 DE MARçO - 20H - CANAL RURAL

(71) 98164 4146

gRUpO MONtE vERDE MANgARAtiBA/RJ

LEILÃO MINAS DE OURO

(34) 3338-7004 / 99801-9070

26 DE FEvEREiRO – 21H – CANAL RURAL BALUARtE AgROpECUáRiA,

LEILÃO ELITE MONTE VERDE

NELORE iNtEgRAL, FAzENDA DO sABiá,

CIDADE MARAVILhOSA -

NELORE COLORADO,

MATRIzES NELORE

MAFRA AgROpECUáRiA

19 DE MARçO - 20H - CANAL RURAL

ExpOiNEL MiNAs – UBERABA/Mg

gRUpO MONtE vERDE

(34) 99161 0151

MANgARAtiBA/RJ (34) 3338-7004 / 99801-9070

VI LEILÃO EXCLUSIVE 27 DE FEvEREiRO – 13H – CANAL RURAL RiMA AgROpECUáRiA E NELORE CRistAL ExpOiNEL MiNAs – UBERABA/Mg (31) 99803 2301 / (31) 99234 4262

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Pastagens

Vigilância contra as invasoras Com controle sistemático, é possível ter pastagens produtivas com baixo grau de infestação de plantas invasoras.

É preciso se preocupar sempre que apareçam invasoras, mais ainda se forem persistentes.

A

Lídia Grando

s plantas invasoras de pasto são como um inimigo silencioso. Chegam devagar, sorrateiras, e, quando menos se espera, já tomaram conta do pedaço. Quando estão na fase de lançar sementes, então, fica mais difícil retirá-las do pasto. A regra é ficar atento a alguns pontos estratégicos. “O início da instalação de plantas invasoras no pasto é praticamente imperceptível e quase sempre negligenciado”, diz o pesquisador Naylor Bastiani Perez, da Embrapa Pecuária Sul, de Bagé, RS, responsável pelo Método Integrado de Recuperação de Pastagens (Mirapasto). Os locais mais suscetíveis ao ingresso devem ser monitorados. São embarcadouros, mangueiras, piquetes de entrada de animais e proximidade de porteiras. As áreas de tráfego intenso de máquinas e veículos também são propensas, pois, com o solo descoberto, há maior facilidade de que apareçam as daninhas. As linhas de drenagem são outro ponto de atenção. “São locais ondem as sementes de fora da propriedade podem chegar, transportadas pela água da chuva”, explica Perez. Nesses casos, ele recomenda fazer uma aplicação localizada com herbicida seletivo para plantas invasoras de folha larga ou capina mecânica em alguns casos. “Para situações onde o nível já é elevado, deve-se utilizar as práticas de forma conjugada.” Por outro lado, é importante manter o solo em boas condições, para que a forrageira tenha força para competir com plantas indesejáveis, porém muitas vezes nativas e adaptadas. “O produtor deve ficar atento para a correção da acidez do solo e dos nutrientes que são impor-

62 DBO fevereiro 2016

tantes para a forrageira”, comenta o zootecnista Leandro Coelho de Araújo, professor de forragicultura da Unesp de Ilha Solteira, SP. Os animais adquiridos são outro ponto de atenção. Recomenda-se que na chegada sejam alocados em uma área de quarentena pelo risco sanitário e por poderem infestar as pastagens com sementes indesejadas. Elas podem estar aderidas ao animal ou, principalmente, nas fezes. “A passagem da semente pelo trato digestivo ajuda a superação de um estado de dormência, facilitando a germinação”, explica Perez, da Embrapa. Para benefício das sementes, as fezes facilitam sua preservação, pois promovem a “queima” do pasto, diminuindo a competição na área de esterco. “A invasora consegue uma ótima condição para o estabelecimento”, reconhece o pesquisador da Embrapa. Araújo, da Unesp, lembra que o mesmo cuidado deve-se ter na movimentação de animais entre piquetes sujos e limpos dentro da mesma propriedade. “Se possível, quando saírem de área infestada devem ficar até dois dias em local de quarentena para evitar que prejudiquem um pasto que esteja formado”, afirma o professor. Segundo Araújo, a avaliação de infestação deve ser visual e constante. “É preciso se preocupar sempre que apareçam invasoras, mais ainda se forem persistentes”, alerta. A avaliação deve ser caso a caso, porém ele recomenda que quando a infestação estiver em 40% da área se faça um controle químico pontual em vez de uma aplicação geral. É mais barato e racional e menos poluente. Perez, da Embrapa, diz que outro indicativo para o diagnóstico da infestação está no comparativo de ganho de peso entre áreas infestadas ou não. “Uma vez que a diminuição da produtividade seja maior do que o custo do controle, deve-se planejar a recuperação das áreas”, afirma, lembrando que as plantas tóxicas ou exóticas, com elevado poder de infestação, não permitem essa espera. n

Medidas eficientes para o controle preventivo

• Limpeza de roupas e calçados dos trabalhadores que circulam em áreas infestadas.

• Limpeza cuidadosa dos tratores e dos implementos.

• Fermentação de esterco e de materiais orgânicos.

• Uso de sementes de espécies de plantas forrageiras não contaminadas.

• Isolamento de áreas e quarentena de animais oriundos de zonas infestadas.

• Evitar a introdução de plantas ornamentais

que podem mais tarde migrar para a área de pastagem. • Adubação de reposição, com ênfase ao fósforo, para manter o nível desejado de nutrientes no solo, suficientes para garantir o vigor e a longevidade produtiva da pastagem. Fonte: Sistema de criação de bovinos de corte no Estado do Pará. Embrapa.


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Saúde Animal

O perigo pode estar na água Doenças provocadas por contaminações causam prejuízos que vão da perda de peso, descarte de carcaças, queda de índices reprodutivos até a morte de animais. fotos Aires Manoel de Souza

de alerta para os produtores sobre a importância de um bom manejo hídrico na fazenda, pois o botulismo é apenas uma das doenças transmitidas pela ingestão de água contaminada. Outras enfermidades, como a cisticercose, a fasciolose, a brucelose, a coccidiose e a salmonelose podem se disseminar por esse meio, trazendo prejuízos que vão desde a perda de peso, atraso no desenvolvimento e queda dos índices reprodutivos até a morte dos animais.

Açudes, cacimbas e rios devem ser constantemente monitorados. Produtor deve sempre se perguntar: “Eu beberia esta água?”

N

Renato Villela

o fim da década de 1990, o professor Aires Manoel de Souza deixou a sala de aula do curso de Veterinária da Universidade Federal de Goiás, onde leciona até hoje, e partiu para o campo em busca de explicações para um fenômeno estranho. Grande número de animais estava morrendo após apresentar sintomatologia nervosa (principalmente descoordenação motora e paralisia dos membros posteriores) em fazendas do Vale do Araguaia, região compreendida entre Goiás e Mato Grosso. Exames laboratoriais revelaram que o vilão da história era o botulismo. Mas como a doença estava se disseminando? Mortes provocadas por toxinas botulínicas estão normalmente associadas à osteofagia (ingestão de ossos), hábito decorrente da carência de fósforo. A dimensão do problema no Vale do Araguaia, contudo, sugeria a existência de outro meio de transmissão: a água. Aires e sua equipe foram incansáveis. Percorreram 130 propriedades de 12 municípios da região e coletaram amostras para exames microbiológicos de 300 cacimbas, poços rasos que armazenam água da chuva e são usados para dessedentação dos bovinos. Constataram que mais de 90% estavam contaminadas com toxinas produzidas pela bactéria Clostridium botulinum dos tipos C e D, patógenos responsáveis pela morte dos animais (veja quadro). Muito tempo já se passou desde essa “expedição” científica e o “mal das cacimbas” (como ficou conhecido o surto de botulismo de origem hídrica do Vale do Araguaia) tornou-se raro, após as medidas preventivas tomadas pelos produtores e o uso cada vez mais frequente de bebedouros artificiais. Contudo, ele continua servindo 64 DBO fevereiro 2016

As aparências enganam Um dos maiores desafios enfrentados pelos produtores no combate às doenças de origem hídrica é que elas são difíceis de identificar e, frequentemente, passam despercebidas. Ao ingerir água contendo algum patógeno, o bovino pode não manifestar nenhum sintoma (quadro assintomático) ou apresentar sinais clínicos comuns a várias enfermidades, como fraqueza, inapetência e pelos arrepiados. “A falta de correspondência entre os sintomas e a causa real da doença dificulta o diagnóstico e retarda o tratamento”, explica Vanessa Felipe de Souza, pesquisadora de sanidade animal da Embrapa Gado de Corte, de Campo Grande, MS. Um bom exemplo disso é a diarreia, presente na maioria das doenças que os animais contraem quando ingerem água contaminada. “Se ela apresenta cor esverdeada ou castanha, com cheiro pútrido, pode ser indício de verminose. Se é acompanhada de febre, o animal pode estar com infecção intestinal. Se as fezes contêm sangue escuro, as suspeitas recaem sobre a coccidiose. A simples observação dos sintomas não fecha o diagnóstico”, diz a pesquisadora, alertando sobre a necessidade de análises laboratoriais. Ela informa que o estrago causado por vermes, bactérias e vírus normalmente é maior nas categorias jovens, em especial nos bezerros até 3 meses de idade, mais suscetíveis a contrair doenças causadas pela ingestão de água contaminada. “Nessa faixa etária, o sistema imunológico ainda não está maduro e a imunidade transmitida pela mãe via colostro começa a diminuir gradualmente, o que os torna mais vulneráveis”, alerta. De acordo com Vanessa, quando a água é imprópria para o consumo a ponto de provocar doenças, sua aparência costuma ser esverdeada, devido à proliferação de algas (limo), ou escura por causa da presença de lodo. A ocorrência de bolhas na superfície pode indicar acúmulo de material orgânico, como restos de comida, fezes ou até mesmo cadáveres de pequenos animais em decomposição. O produtor, no entanto, deve desconfiar de eventuais problemas mesmo se a água aparentar boa qualidade, pois a contaminação é invisível.


Atenção também aos rios Um bom exemplo disso são os rios que cortam a propriedade, mas que, ao longo de seu percurso, atravessam cidades ou vilarejos sem saneamento básico. Suas águas podem conter ovos de parasitas, como a Taenia solium e a Taenia saginata, popularmente conhecidas como solitárias. Após ingeridos pelos bovinos, os ovos desses vermes se transformam em larvas, que se instalam em diferentes órgãos e tecidos do organismo do animal, principalmente cérebro e músculos. Os prejuízos causados pela doença variam do aproveitamento condicional da carcaça, após passar por tratamento específico, à condenação total (graxaria). Da mesma forma, açudes ou represas, mesmo com a água cristalina, podem servir de moradia para um caramujo de água doce (Lymnaea sp), hospedeiro intermediário da Fasciola hepatica, verme causador da fasciolose, que ataca e condena o fígado. Como mostrou reportagem de DBO de dezembro do ano passado, 14% dos animais abatidos no Rio Grande do Sul sob inspeção federal em 2014 apresentaram a doença. Monitoramento já “É importante que o produtor faça análises regulares da água que fornece a seus animais a fim de identificar contaminações por patógenos”, orienta Vanessa, salientando que essas análises devem ser não apenas microbiológicas, mas contemplar aspectos físico-químicos. Águas duras ou salobras, altamente alcalinas ou ácidas, por exemplo, podem ser prejudiciais mesmo se não estiverem contaminadas. “O animal tende a beber menos água quando ela apresenta baixa qualidade, o que leva à redução no consumo de matéria seca, com reflexos dire-

Toxinas que matam O botulismo causado por neurotoxinas produzidas pela bactéria Clostridium botulinum pode se apresentar sob a forma esporádica ou endêmica. A primeira está normalmente associada ao fornecimento de alimentos contaminados aos animais, principalmente feno e silagem. Sob condições de anaerobiose (falta de oxigênio), temperatura e umidade adequadas, esses produtos fornecem condições para o desenvolvimento da bactéria e podem deflagrar surtos repentinos de botulismo, com alta mortandade. O “mal das cacimbas” também pode ser classificado como botulismo esporádico. Ele ocorre principalmente na época da seca. Com as altas temperaturas e a falta de chuvas, o volume de água nesses reservatórios cai. Isso aumenta a concentração de matéria orgânica como fezes, urina e até mesmo carcaças de pequenos animais mortos, criando um ambiente propício à proliferação de algas e bactérias que consomem o oxigênio contido na água. Os esporos “adormecidos” do Clostridium botulinum, então,

Água esverdeada é sinal de contaminação, por causa da proliferação de algas.

tos no ganho de peso”, afirma Vanessa. A utilização de aguadas naturais ou de cacimbas é fortemente desencorajada pela possibilidade sempre presente de contaminação por fezes, urina ou carcaças de animais. Antônio Pádua Serronni, da Fazenda Ajuricaba, em Aruanã, GO, que, em meados dos anos 2000, perdeu 30 vacas vítimas do “mal das cacimbas”, optou por perfurar um minipoço e instalar placas solares para geração da energia elétrica necessária ao bombeamento da água, hoje armazenada em um reservatório com capacidade para 20.000 litros e distribuída por gravidade até os bebedouros que ficam nos pastos. Como o aquífero é relativamente raso, é possível encontrar água a uma profundidade pequena, de 25 metros, ao custo de apenas R$ 2.500. “A energia solar também barateou bastante nos últimos anos. Agora os animais bebem água de qualidade. Nunca mais

se desenvolvem e começam a produzir toxinas botulínicas. “Havia cacimbas no Vale do Araguaia abertas há 25, 30 anos e que nunca haviam sido esvaziadas para serem limpas e que por isso estavam com a água bastante contaminada”, conta o professor Aires. Já o botulismo endêmico deve-se à ampla disseminação do Clostridium botulinum no solo e outros hábitats. A bactéria pode ser eliminada junto com as fezes sem causar nenhum problema, entretanto quando esse animal morre por qualquer causa, sua carcaça em putrefação oferece condições de anaerobiose, temperatura, pH e nutrientes adequados para germinarem e produzirem toxinas que podem se concentrar nos ossos e gerar intoxicações. Como deficiências de fósforo são comuns em solos de cerrado, os animais, instintivamente, se alimentam de ossos de carcaças para suprir essas carências e contraem a doença. “Os surtos podem ocorrer também pela ingestão de ossos de aves, animais silvestres como tatus e até peixes. O risco estará sempre presente. Qualquer descuido pode levar ao aparecimento da doença”, alerta Aires.

“O produtor deve fazer análises regulares da água fornecida aos animais” Vanessa Felipe de Souza Pesquisadora Embrapa Gado de Corte, Campo Grande/ MS

DBO fevereiro 2016 65


Saúde Animal

“Todas as fontes hídricas devem ser monitoradas sistematicamente” Aires Manoel de Souza Professor de Veterinária na Universidade Federal de Goiás

tive problemas com botulismo ou qualquer outra clostridiose”, comemora. Nos anos que seguiram ao surto de 1990, muitos produtores da região adotaram essa medida, reforçando o controle preventivo com vacinação anual, seguida de segunda dose 30 dias depois da primeira aplicação. O professor Aires salienta, contudo, que o monitoramento das fontes hídricas não pode ser abandonado. “Há sempre possibilidade de algum animal não responder bem à vacina ou ela ser mal aplicada. Por isso, o produtor deve estar atento aos fatores de risco da doença, que são muitos na região do Vale do Araguaia”, salienta. Além das cacimbas, existem valetas construídas para segurar a água da chuva e evitar a erosão nas pastagens que acabam sendo usadas pelos animais para matar a sede. Elas também precisam ser monitoradas, bem como alimentos como ração, silagem e feno, que podem conter toxinas botulínicas. “É o que chamamos de botulismo esporádico”, diz Aires. Limpeza é fundamental O simples fato de instalar bebedouros na propriedade, ressalta o professor, não é garantia de água de boa qualidade. Essas instalações precisam ser bem dimensionadas e receber manutenção frequente. Se forem baixas, por exemplo, podem atrair animais silvestres, que acabam

morrendo por não conseguir sair do local. Seus cadáveres em decomposição deixam a água “podre” ou “choca”, sem oxigênio, criando condições ideais para o desenvolvimento do Clostridium botulinum. “A limpeza dos bebedouros é uma parte crítica do processo de fornecimento de água de boa qualidade”, afirma Vanessa Souza. Segundo ela, não existe uma recomendação única de intervalo para limpeza dos bebedouros. “Normalmente, ela deve ser feita uma vez por semana, para gado de corte.” A melhor forma de se avaliar a necessidade de limpeza é observar as condições da água. “A pergunta que o produtor deve se fazer é: eu beberia essa água? Se a resposta for negativa, provavelmente o bebedouro precisa ser limpo.” A operação de limpeza deve ser feita com o reservatório totalmente esvaziado. O fundo e as paredes internas devem ser esfregadas com escova ou vassoura. Excesso de limo pode ser removido com produtos à base de hipoclorito de sódio, como água sanitária, que deve ser totalmente retirada por enxágue antes do reabastecimento do bebedouro e sua liberação para os animais. Caso o produtor ainda dependa de cacimbas para dessedentar seu rebanho, também deve limpá-las pelo menos a cada cinco anos, esvaziando-as com dragas ou valetas de escoamento e retirando do local todo o material passível de provocar contaminação. n

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66 DBO fevereiro 2016


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Saúde Animal

Casco danificado. Segregação de animais afetados pode ser boa alternativa em confinamentos.

Perda pelos pés Problemas de casco, em confinamento, interferem no ganho de peso do animal.

N

Lídia Grando

o ano passado, o médico veterinário João Danilo Ferreira, diretor do Confinamento São Lucas, em Santa Helena de Goiás, GO, optou por um manejo diferente para tratar dos problemas de casco. Os animais com lesão em grau médio ou elevado foram colocados em curral específico para o lote que apresentava esse problema. Ao fim do período de engorda, o ganho de peso para esse grupo foi inferior em uma arroba, em média, na comparação com os animais do lote de origem. Não é só: esses bovinos passaram mais dias em trato no cocho do que os lotes que não apresentaram problema com os cascos. Mesmo com desempenho inferior, Ferreira comemora a estratégia do confinamento em segregar os animais lesionados: “Se ficassem no lote, teríamos com certeza que descartá-los antes do fim da engorda”, afirma. “E, se chegassem ao fim, a diferença de desempenho seria pior do que conseguimos com a segregação. Afinal, trabalhamos com uma lotação menor e dispensamos atenção e cuidados extremos, que incluíram até cirurgias para casos mais graves”, observa. Engordando 30.000 cabeças por ano, a incidência de problemas de cascos é baixa no Confinamento São Lucas. Em 2015, apenas 65 animais ficaram no curral especial e outros 120 animais apresentaram ocorrências leves. No total, não chegou 1%. Mas não é todo confinamento que apresenta incidências no nível do São Lucas. Segundo o consultor pecuário Rogério Coan, da Coan Consultoria, de Jaboticabal, SP, a doença “pode representar até 17% de morbidade em animais confina68 DBO fevereiro 2016

dos”. Morbidade refere-se ao conjunto de indivíduos, dentro da mesma população, que adquirem a doença. Portanto, para criadouros com índice alto de ocorrência da doença a atenção deve ser redobrada. A prevenção é a melhor saída. Ela começa na escolha dos indivíduos que serão confinados. “Quando é possível, evitamos que os animais com lesão de casco cheguem ao confinamento”, afirma Ferreira, do São Lucas. André Luiz Perrone dos Reis, médico veterinário e proprietário do Confinamento Monte Alegre, em Barretos, SP, com 25.000 cabeças confinadas no ano passado, é outro adepto da prevenção. “Na fazenda de origem, ou refugamos ou tratamos os animais antes de virem para o cocho”, afirma. Quando não é possível o descarte, os bois podem ser tratados nos primeiros dias a pasto, em piquete de adaptação, indica João Danilo Ferreira. “Dessa forma, buscamos reduzir o problema no confinamento”, lembra o médico veterinário. Outro ponto importante da prevenção, segundo o diretor do São Lucas, é vistoriar os caminhões, embarcadouro e currais. Antes do embarque e desembarque dos animais, devem ser retiradas dessas instalações pedras, cascalhos pontiagudos, pedaços de lasca, arame, ou qualquer outro elemento que possa ferir os animais e desencadear a enfermidade. Perrone, do CMA, lembra que a nutrição desbalanceada também pode causar problemas de casco, como acidose subclínica. “O manejo nutricional deve ser feito com bastante critério e regularidade”, afirma. Ronda sanitária Para identificar o problema logo no início, é fundamental fazer a ronda sanitária diária no confinamento. Deve-se ter equipe bem treinada para detectar o problema no animal. Normalmente, é recomendável entrar em todos os currais a cavalo ou a pé, fazer os bovinos se levantarem e caminharem para identificar se há algum animal mancando, com alteração de postura ou lesão nos cascos. “São sinais de que há algo errado”, afirma Ferreira, que nos casos mais leves prefere o tratamento no próprio curral ou a retirada do animal do lote por máximo de três dias. Um dos maiores problemas que provocam a lesão nos cascos no confinamento é a sodomia, comportamento no qual os animais dominantes saltam repetidamente sobre os outros. “O animal montado pode sofrer uma lesão e, com a contaminação há a afecção de casco”, comenta Perrone, do CMA. Ele acredita que a manutenção da rotina e horários de atividades, observação e retirada de animais que são muito montados podem diminuir a sodomia e, consequentemente, o risco de cascos feridos. Com o ano mais chuvoso, é importante que as vistorias e os cuidados sejam ainda mais frequentes, pois a lama é um agravante para os problemas de casco. Evitar infecções significa a garantia do ganho de arrobas como planejado e menor sofrimento para os animais. n


Fatos & Causos Veterinários

Enrico Ortolani

Drible a resistência dos vermes Novos estudos mostram maneiras mais eficientes de prevenir, mesmo com vermífugos, o ataque à boiada.

Professor titular da Clínica de Ruminantes da FMVZ-USP e pesquisador do CNPq. ortolani@usp.br

nnn Na hora da compra do vermífugo não se deixe enrolar pela conversa-mole do balconista, pelo melhor preço e propaganda mais bonita.

nnn

N

o artigo anterior, mostrei o precipício para o qual estamos caminhando em relação às verminoses, com destaque para a crescente resistência aos vermífugos. Como parte da resolução do problema, fiz uma proposta arrojada e atrevida: abandonar por cinco anos o uso de ivermectina e doramectina, que, creio eu, já esteja sendo seguida por vocês, sábios pecuaristas e técnicos. Embora complexo, o controle da verminose não é um bicho de sete cabeças. Para combatê-la bem, temos que conhecer suas artimanhas. Os vermes adultos põem ovos nas fezes e daí saem larvinhas que crescem na pastagem. As já grandinhas são abocanhadas pelos bovinos, viram adultas e fecham o ciclo. Se contarmos o número de vermes na natureza, encontraremos só 5% deles parasitando a boiada e os demais 95% nas pastagens, esperando para serem engolidos. Assim, querer eliminar os parasitas apenas com vermífugos não parece ser a estratégia certa, mas é o que tem sido feito pela maioria dos pecuaristas. Agora falaremos dessa operação e, no próximo artigo, de meios alternativos. Os vermífugos conseguem matar mais eficazmente os vermes adultos do que as larvas jovens tragadas pelo bovino. Assim, a eficiência de um vermífugo raramente atinge 100%. A vermifugação estratégica deve seguir regras de manejo para que funcione, levando em consideração quem deve ser tratado, quando, com que vermífugo, qual a dose, etc. O tratamento em massa, salvo exceções, deve ser feito no segmento da boiada de maior risco: os desmamados até o segundo ano de vida. Bezerros, vacas e bois erados devem ser vermifugados apenas se tiverem histórico de estrongiloidose no primeiro grupo e de esofagostomose nos últimos dois grupos, devidamente constatadas pelo seu veterinário de plantão. Mudança nos meses de tratamento Outro ponto chave é o tratamento no momento certo do ano. Para determinar o calendário de vermifugação, a Embrapa realizou uma série de estudos Brasil afora nas décadas de 1970/80 e determinou que em quase 70% do território brasileiro (a partir do norte de Santa Catarina, todo o Sudeste, Centro-Oeste e Paraná, Acre, Rondônia, Tocantins e Maranhão, sul do Pará, Amazonas e do Piauí e no sudeste e centro-oeste da Bahia) os tratamentos estratégicos deveriam seguir o esquema “5-7-9”, ou seja, em maio, julho e setembro. O calendário favorece que ao mesmo tempo sejam combatidos

os vermes nos animais e que se reduza a população de larvas nas pastagens. Um estudo muito apurado, que acabou de sair do forno, feito na Faculdade de Veterinária de Mato Grosso do Sul (UFMS) comparou o esquema da Embrapa e concluiu que melhores resultados (baseados em ganho de peso e número de parasitas na boiada) foram obtidos com vermifugações em maio, agosto e novembro, ou seja, “5-8-11”. Assim, memorize e adote isso no calendário do manejo sanitário da sua propriedade se você se encontra na área citada acima. É bom lembrar que na maioria das propriedades de corte brasileiras a vermifugação é feita duas vezes ao ano, na campanha da febre aftosa. O trabalho da UFMS também comparou o tratamento tradicional “5-11” com o “5-8-11” e este último ganhou de braçada em termos de produtividade e eficiência. Agora, o ponto polêmico: que vermífugos empregar? De cara, diria: esqueça de vez e deixe mofarem os vermífugos à base de ivermectina e doramectina. Deixaria, se possível, no banco de reserva a abamectina e eprinomectina, que são dessa mesma família e podem em breve aumentar o grau de resistência, se complicando como os dois primeiros. Sobram no arsenal de vermífugos injetáveis a moxidectina, o levamisole e o albendazole, este na forma de sulfóxido. Uma outra possibilidade seria o uso de triclorfon via oral, pois ele atua muito bem sobre os vermes resistentes. Por ser organofosforado, porém, há risco de intoxicação em caso de dosagem maiores, além da possibilidade de aborto. Assim, só seu veterinário deve decidir pelo uso e ser responsável pela aplicação. Outro detalhe importante na vermifugação estratégica é o tempo de atuação do anti-helmíntico no organismo. Levamisole e albendazole não permanecem mais de 30 dias; já doses reforçadas de moxidectina, até 120 dias. Assim, recomendo que nas vermifugações estratégicas no esquema “5-8-11” sejam empregados: em maio, o albendazole; em agosto, o levamisole e, em novembro, a moxidectina, para que esse efeito final sobre os parasitas seja mais prolongado. Quanto à dose empregada, leve a sério a recomendada pela bula e por seu veterinário. Na hora da compra do vermífugo não se deixe enrolar pela conversa mole do balconista, pela dica do vizinho ou dos peões, pelo melhor preço, propaganda mais bonita e charmosa ou pela fama de certas marcas. Faça a sua lição de casa seguindo as recomendações técnicas. Valerá a pena! n DBO fevereiro 2016 69


Leilões

Ovinos e equinos sustentam agenda Em mês de férias para as raças bovinas de corte, pregões arrecadam R$ 10,8 milhões. carolina rodrigues Comparativo com janeiro de 2015

carol@revistadbo.com.br

O

s selecionadores de raças bovinas, equinas, ovinas e caprinas começaram o ano de forma diferente da que encerraram 2015. Os olhos estavam atentos às pistas, mas houve pouca disposição para lances. Janeiro terminou com 39 leilões de seleção e oferta de lotes pela receita de R$ 10,8 milhões. Na comparação com igual período do ano passado, os números recuaram 18% em oferta e 40% em faturamento. O mercado de janeiro foi sustentado por duas demandas típicas do início do ano: ovinos e equinos, ambos movimentados por remates no Rio Grande do Sul. O mercado da primeira categoria de animais se dá em um circuito de feiras de verão tra-

Lotes

–18% Fatura (R$)

-40% Média

-26%

Ovinos e caprinos rendem R$ 2,3 milhões Raças

Lotes

Leilões

Renda (R$)

Média

Máximo

1.707

95

1.125.720

659

4.160

Texel

568

43

414.010

729

6.000

Ideal

305

54

171.330

562

2.500

Poll Dorset

178

31

96.640

543

-

Merino Australiano

48

22

68.160

1.420

-

Santa Inês

40

1

191.580

4.790

-

Suffolk

35

11

6.750

193

-

Ovinos e Caprinos*

1.217

11

251.270

206

-

Total

4.098

15

2.325.460

567

6.000

Corriedale

Dados das leiloeiras Agropec, Balcão, Casarão, Knorr, Leilonorte, Pioneiro, Raízes, Rédea e Tellechea & Bastos. (-) Quantidade de remates em que a raça dividiu pista com uma ou mais raças. (*) Leilões em que não foi possível identificar as raças vendidas.Critério de oferta. Elaboração DBO.

Equinos somam 713 lotes Raças

Lotes

Leilões

Renda (R$)

Média

Máximo

Crioulo

618

15

Campolina

52

1

4.103.550

6.640

110.000

514.080

9.886

25.200

Mangalarga Marchador

43

1

472.540

10.989

30.160

Total

713

17

5.090.170

7.139

110.000

Dados das leiloeiras Business, Mape, Parceria, PH Negócios Rurais, Tellechea & Bastos e Trajano Silva Leilões. (-) Quantidade de remates em que a raça dividiu pista com uma ou mais raças. Critério de oferta. Elaboração DBO.

70 DBO fevereiro 2016

dicionalmente realizadas no início do ano pelo Estado, enquanto o de equinos se firma em um mundo de leilões menos glamorosos, destinados a vender a produção do cavalo Crioulo. Juntas, as duas categorias representaram 68% do total arrecadado no período. Os leilões de equinos movimentaram acima de R$ 5 milhões por 713 lotes, 86,7% da raça Crioula. Mesmo registrando o maior faturamento entre as categorias comercializadas em janeiro, os equinos sofreram desvalorização de 57% no comparativo com igual período do ano anterior. Cenário diferente foi registrado nos ovinos, que, com oferta mais enxuta, tiveram alta expressiva nos preços. O mercado movimentado por oito raças encerrou o mês com fatura de R$ 2,3 milhões, número 21% maior do que a receita de R$ 1,9 milhão apurada em 2015. Nesses eventos, a concentração foi de ovinos Corriedale, raça de aptidão para carne e lã, e menina dos olhos dos investidores do mercado de produção. Eles representaram 42% do comércio da categoria, com a comercialização de 1.326 fêmeas, a R$ 428; 381 machos, a R$ 1.466; o que resultou na média geral de R$ 567. Em preços, o destaque pertenceu ao Santa Inês, que dividiu pista com o Tabapuã no Leilão Bodas de Prata, conduzido e organizado pelo leiloeiro Roberto Leão. O leilão foi o representante único da raça no mês, com média de R$ 4.790 para 40 lotes. Sem precipitações Embora o mercado tenha registrado números aquém do esperado, especialistas preferem não fazer projeções precipitadas. Janeiro nunca foi um período de venda aquecida de bovinos com carga genética para carne, mote das vendas em leilões no País a fora. A agenda para este tipo de comércio começa a ganhar ritmo neste mês de fevereiro, com 16 leilões da categoria, e deslancha somente a partir de março. Em janeiro, as vendas de bovinos para carne ocorreram em apenas três leilões, que somaram 77 lotes por R$ 1,9 milhão, média de R$ 24.782. O valor foi puxado pela venda de exemplares Senepol, raça que registrou a maior valorização entre as bovinas selecionadas para a produção de carne no ano passado, com incremento de quase 40% sobre 2014, segundo o Anuário DBO 2016. No Genetic Festival, realizado no fim do mês, em Angra dos Reis, RJ, a raça alcançou média de quase R$ 52.000, com preço máximo de R$ 147.600 para a novilha Jukita da 3G FIV vendida por Sebastião Garcia Neto, da Senepol 3G. No mercado das zebuínas, os preços vieram mais amenos: média de R$ 8.000 para os reprodutores; R$ 7.187 para as prenhezes; e R$ 4.657 para as matrizes. n


Jornal de Leilões www.jornaldeleiloes.com.br

coluna jl Primeira impressão “O primeiro leilão de Senepol deste ano alcançou uma excelente média para início de temporada e mostrou que a raça deve manter o mesmo ritmo de vendas dos dois últimos anos”, Gustavo Vieira, Senepol Tufubarina

Sem aventureiros “Produzir reprodutor de qualidade não é para qualquer um. É necessário muita experiência, conhecimento, dinheiro, tempo, paciência e, principalmente, ferramentas genéticas”, Gabriela Giacomini, Programa Montana

O Zebu mundial “O Indubrasil tem atraído interesse de diversos criadores de outros países ao redor do mundo. É muito importante discutirmos o futuro da raça e como ela pode contribuir para a pecuária mundial”, Roberto Goes, ABCI

raio x O Jornal de Leilões acompanhou em janeiro os resultados de 39 leilões das raças bovinas de corte e leite, mais equinas, caprinas e ovinas. A movimentação financeira foi de R$ 10,8 milhões para 5.129 lotes, entre machos, fêmeas, prenhezes, aspirações e coberturas.

resultados

balanços e análises

• Território Senepol abre o calendário da raça com média de mais de R$ 50.000

Feovelha volta a faturar abaixo de R$ 1 milhão Feira de Pinheiro Machado, RS, obtém sua pior receita desde 2010

• Leilões Bodas de Prata celebram os 25 anos de martelo de Roberto Leão

Agrovinos fecha com alta de 63% na receita Com oferta mais enxuta, feira de Bagé, RS, movimenta R$ 452.010

• Leandro Pascoal liquida o plantel leiteiro da Fazenda Alto Jaguari

falecimento

• Agropecuária Vitória faz mais de R$ 2.000 de média

• Carneiros Corriedale puxam fatura do Produção São Mateus

Faleceu, em 23 de dezembro, Alexandre Crespo, leiloeiro e apresentador oficial do Freio de Ouro, na Expointer. Natural de Camaquã, RS, tinha 51 anos. Ele também gerenciava os leilões no Canal Rural no Sul do País. Deixa esposa e dois filhos, de 1 e 3 anos.

• C abanha Arvoredo exibe seleção Poll Dorset em Santana do Livramento, RS. • Fêmeas das raças Jersey e Holandês movimentam praça paulista • Remate Agrovinos movimenta mais de R$ 180.000 • Borregos Ideal são destaque no Remate Serra Nova

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Eventos

A ‘vitrine’ da pecuária de corte no MT

fotos: ariosto mesquita

Famato seleciona sete fazendas como referência na atividade no Estado. Duas integrarão missão técnica aos EUA.

Proprietários e gerentes das fazendas premiadas com diretores do Sistema Famato. Ariosto Mesquita,

N

De Cuiabá, MT.

uma iniciativa inédita, a Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato) selecionou sete fazendas como “referência” em pecuária de corte no Estado. Para tanto, utilizou critérios do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea) na avaliação de indicadores de produção, receita, custo, rentabilidade, sustentabilidade e eficiência, dentre outros. Foram selecionadas as Fazendas Bacuri (São José dos Quatro Marcos), Vale Verde (Nova Bandeirantes), Gamada & Fortuna (Nova Canaã do Norte), Mafra (Nova Mutum), Girassol Agrícola (Rondonópolis), Piraguassu (Porto Alegre do Norte) e Boqueirão (Santo Antônio do Leverger). Todas receberam troféus por serem consideradas as vencedoras da seleção, batizada de Prêmio Sistema Famato em Campo. A primeira fase do processo ocorreu entre 18 de setembro e 25 de outubro de 2015. Neste período, os pecuaristas interessados em concorrer se inscreveram gratuitamente no site da Famato. A partir daí, foram pré-selecionadas 13 propriedades, dando como prioridade a representação das principais regiões de pecuária do MT. Entre 6 e 27 de novembro, as escolhidas receberam visitas 72 DBO fevereiro 2016

de técnicos do Imea. Cinco avaliadores percorreram mais de 4.800 km durante 23 dias para finalizar o trabalho. A avaliação compreendeu em três estágios, com os seguintes pesos em pontuação: questionário aplicado (10%), desempenho econômico (45%) e lista de dez indicadores com pontuações diferentes (45%). As sete vencedoras foram apresentadas durante o segundo dia do evento Rentabilidade no Meio Rural em Mato Grosso, em 10 e 11 de dezembro, no auditório do Senar/MT. “São fazendas de sucesso e de alto desempenho que nos surpreenderam com inovações”, avaliou o gestor do Núcleo Técnico da Famato, Carlos Augusto Zanata. Na ocasião, ainda pela pontuação obtida, foram anunciadas as fazendas Boqueirão e Vale Verde como as que ganharam o direito (com todas as despesas pagas) de integrar uma missão técnica da Famato aos Estados Unidos. Ambas representarão a pecuária mato-grossense com a apresentação de seus cases na Universidade Estadual do Kansas, em Manhattan, no dia 4 de março, durante o evento “Cattlemens Day”. “Sou do tempo em que visitávamos um país para aprender. Agora invertemos o jogo. Vamos também mostrar o que fazemos”, festejou o presidente da Famato, Rui Prado. A entidade garantiu, também, às outras cinco fazendas selecionadas o custeio de metade das despesas, caso também queiram compor a missão técnica. Bem pesados Abater animais de sangue Nelore, Caracu e Brahman com idade máxima de 24 meses e peso final de 600 kg (macho) e 430 kg (fêmea) em ciclo completo a pasto e terminação em semiconfinamento. Este é um dos pontos altos da Fazenda Boqueirão, que vai mostrar suas técnicas aos norte-americanos. Considerado um dos pioneiros da agropecuária do Mato Grosso (veio do Rio Grande do Sul para o Centro-Oeste em 1976), Arno Schneider comanda a Boqueirão com a ajuda dos filhos. Atualmente, investe 6% dos gastos anuais da propriedade em adubação de pastagem. Com esta aposta ele afirma que sua receita hoje é cinco vezes maior do que há 20 anos, quando contava apenas com a fertilidade natural do solo. Sua estrutura de trabalho permite ganho médio de peso de 300 gramas/animal/dia nos meses secos e 1.350 gramas/animal de média em todo o ano. Faz ainda integração com floresta de teca. Em seus 2.600 hectares, a fazenda tem predominância de pastos de capim andropogon e de braquiárias marandu e xaraés. Defensor da atividade tecnificada, Schneider prevê bons tempos para a bovinocultura brasileira: “Em no máximo dez anos a pecuária dará um enorme salto em nosso País”. Até o consumidor Com foco centrado na reprodução (sistema de cria), a Fazenda Vale Verde, de 17.340 ha, vai mostrar, nos Estados Unidos, uma técnica adotada há dois anos: a comercialização direta da carne de bezerros por intermédio de grife própria, a “Natural Beef”, em loja própria em Tan-


O diretor operacional da Fazenda Vale Verde, Marcelo Zandonade, recebe o troféu das mãos do analista de pecuária da Famato, Marcos de Carvalho.

gará da Serra, centro-oeste do MT. A propriedade integra a Arca S/A Agropecuária, está dentro do bioma amazônico (norte do MT) e compõe o ciclo completo da atividade em conjunto com outra unidade do grupo: a Fazenda Fonte (Tangará da Serra), que reúne agricultura e pecuária (recria e terminação). De acordo com o diretor operacional da unidade, Marcelo Zandonade, que representou a Arca na premiação em Cuiabá, a Vale Verde trabalha com estação de monta de 83 dias e matrizes Nelore inseminadas (IATF) com raças britânicas. Também aposta no melhoramento genético com rebanho Nelore PO. Custos e rentabilidade Antecedendo a premiação, o Imea apresentou, no dia 10 de dezembro, estudos técnicos realizados ao longo de 2015 avaliando custos de produção e rentabilidade nas cadeias produtivas da bovinocultura de corte, bovinocultura de leite, soja, milho, algodão, cana-de-açúcar, floresta e piscicultura. As análises tomaram como base dados captados durante 35 reuniões (painéis) em diferentes regiões do Estado. Nove desses painéis foram exclusivamente sobre a atividade de corte. “Temos de observar que as quatro propriedades de cria visitadas são todas de pequena escala, com uma área

média de 340 ha”, avisa o até então gestor de projetos do Imea, Daniel Latorraca, responsável pela apresentação dos resultados, que em janeiro deste ano assumiu a superintendência do instituto. Para esta categoria o lucro líquido médio foi de 127,76/hectare/ano. Já nas propriedades de recria e engorda, a área média foi de 806 ha para um lucro líquido de R$ 84,96/ha/ano. “O estudo mensurou os efeitos de algumas variantes, dentre elas o dólar, o preço de defensivos e a comercialização de insumos”, observou. O custo operacional (RS/ha) destas fazendas ficou na média de R$ 120 “que é uma margem curtíssima diante de previsões da BM&FBovespa de uma arroba do boi gordo com valor estável até meados de 2016 no Mato Grosso, flutuando entre R$ 127 e R$ 129”, alertou Latorraca. Dentre os itens de maior peso identificados no custo operacional total das fazendas de recria e engorda, o destaque ficou para a reposição de animais (57,54%), seguido por custos fixos (11,23%) e suplementação (8,03%). No sistema de cria, os maiores impactos foram em custos fixos (22,44%), mão de obra (17,64%) e suplementação (16,03%). O gestor de Análise de Mercado do Imea, Ângelo Luís Ozelame, aproveitou o evento para apresentar alguns números recentes relacionados ao desempenho da cadeia da pecuária de corte mato-grossense. Alguns mereceram destaque, como a ociosidade do parque industrial frigorífico no Estado. A projeção, em dezembro, era encerrar o ano com 4,6 milhões de animais abatidos – fechou em 4,7 milhões, segundo boletim divulgado pelo Instituto de Defesa Agropecuária (Indea) em janeiro. A capacidade frigorífica do Mato Grosso, entretanto, é para 11,1 milhões de cabeças/ano. “Esta ociosidade gigantesca deixa clara a falta de animais. Temos oito plantas fechadas”, comenta Ozelame. A redução do estoque de animais aptos para o abate (com idade igual ou superior a 24 meses) reforça a situação. De acordo com o Imea, caiu de 3,95 milhões de cabeças em 2011 para 3,78 milhões em 2015. A expectativa de uma mudança, segundo Ozelame, está na inversão do ciclo pecuário: “Com o aumento da produção de bezerros, este estoque tende a subir para 3,96 milhões até o fim de 2016 e atingir perto de 4,35 milhões em 2017”. n

nnn Nova Bandeirantes

Nova Canaã do Norte

Porto Alegre do Norte Nova Mutum

Cuiabá Santo Antônio do Leverger

Rondonópolis

Pedra Preta

As premiadas Estância Bacuri Proprietário: Luiz Carlos Zimmermann Localização: São José dos Quatro Marcos Fazenda Vale Verde Proprietário: Paulo Cezar de Carvalho Bittencourt e família Localização: Nova Bandeirantes Fazendas Gamada & Fortuna Proprietário: Mário Wolf Filho Localização: Nova Canaã do Norte

Fazenda Mafra Proprietário: Mafra Agropecuária S.A. Localização: Nova Mutum Girassol Agrícola Proprietário: Gilberto Flávio Goellner Localização: Pedra Preta e Rondonópolis Fazenda Piraguassu Proprietário: Grupo Itaiquerê Localização: Porto Alegre do Norte Fazenda Boqueirão Proprietário: Arno Schneider e filhos Localização: Santo Antônio do Leverger

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Eventos Agenda Encontro de Confinamento A Coan Consultoria promoverá, entre 8 e 10 de março, em Ribeirão Preto, SP, seu 11º Encontro de Confinamento. O evento tem por objetivo discutir as perspectivas para o segmento, novas tecnologias, ações de gerenciamento e como traçar o melhor planejamento para o confinamento. Informações e inscrições em http://gestaoconfinamento.com.br Dinapec 2016 A Embrapa vai realizar, entre 9 e 11 de março, a Dinâmica Agropecuária (Dinapec) na vitrine tecnológica da Embrapa Gado de Corte, em Campo Grande, MS. A feira de tecnologias apresenta roteiros tecnológicos, oficinas e produtos em parceria com diversas instituições. Em quatro horas, gratuitamente, os visitantes terão a oportunidade de percorrer os roteiros, entre outros assuntos, sobre

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sistemas integrados e consórcios; novas cultivares forrageiras para o Brasil Central e manejo de pastagens; estratégias de melhoramento animal para o rebanho; tecnologias para a produção de novilho precoce; sanidade animal com foco em defesa agropecuária; pecuária de precisão e seu olhar no futuro. Informações e inscrições, www.embrapa.br/gado-de-corte, ou nos dias do evento. Produção e reprodução de bovinos O 20º curso Novos Enfoques da Produção e Reprodução de Bovinos ocorrerá nos dias 17 e 18 de março, em Uberlândia, MG. O curso terá coordenação do professor José Luiz Moraes Vasconcelos, da Unesp/ Botucatu e organização da Conapec Jr. Mais informações e inscrições podem ser feitas no e-mail conapec@conapecjr. com.br e tel. (14) 3880-2950.

Recursos hídricos e produção animal Estão abertas as inscrições para o 4º Simpósio em Produção Animal e Recursos Hídricos (Sparh). Realizado pela Embrapa Pecuária Sudeste, o evento ocorrerá em 22 e 23 de março, em São Carlos, SP. Especialistas do Brasil, Nova Zelândia, Portugal e Argentina vão tratar as principais questões produtivas, ambientais, sociais e econômicas relacionadas à produção animal e aos recursos hídricos. Serão apresentadas experiências de manejo hídrico de alguns países e abordados diversos temas, como nutrição animal e manejo ambiental, coleta e análises de qualidade da água em produção animal, uso de dejetos como fertilizante e cadastro ambiental rural. Inscrições (até 7 de março) no link www.cppse.embrapa.br/sparh


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Empresas & Produtos

Agroceres compra a Novanis

A O Annimal Pharm – serviço de inteligência de negócios em tempo real para saúde animal, animais de companhia e produção de alimentos – escolheu a Ouro Fino Saúde Animal como a melhor entre as empresas que atuam na América Latina categoria Best Company – Latin South América, versão 2015.

Os produtos orgânicos da Premix acabam de ser certificados pelo IBD, certificador de produtos orgânicos. O destaque é o Fator P, aditivo composto de aminoácidos, probióticos e ácidos graxos essenciais, que, segundo a empresa, melhoram a digestão de alimentos fibrosos, o metabolismo ruminal e a absorção de nutrientes.

Agroceres Multimix adquiriu o controle da Novanis Nutrição Animal, com atuação no Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Fundada por Arlindo Vilela, a Novanis cresceu não só vendendo sal mineral, mas sobretudo soluções tecnológicas em nutrição e difundindo o semiconfinamento. Mesmo como sócio minoritário, Vilela continua à frente da Novanis. Ele justificou a venda: “A Agroceres sempre foi reconhecida pela geração de tecnologias e disseminação de conhecimento técnico no agronegócio brasileiro. Juntos, vamos explorar todo o potencial de estrutura e conhecimento das duas empresas em prol de uma pecuária moderna, lucrativa e sustentável”, disse. Com a operação, a expectativa é de aumento no faturamento da Agroceres Multimix de R$ 300 milhões em 2015 para mais de R$ 400 milhões em 2016. O diretor comercial da Agroceres Multimix, Ricardo Ribeiral, falou em sinergia. “Já nas primeiras conversas, notamos essa sinergia entre

Nutreco

A Nutreco anunciou acordo com o Grupo The Heritage para adquirir a Micronutrients, líder global em hidroximicrominerais. O negócio ainda depende da aprovação dos órgãos reguladores. Com a Micronutrients, a Trouw Nutrition, marca da Nutreco, fortalece o portfólio da Selko Feed Aditives. “Nossa estratégia é trazer tendências globais para a cadeia de valor da proteína animal. O portfólio da Micronutrients se encaixa nessa estratégia. O negócio torna a Trouw Nutricion líder específica no segmento de aditivos”, comentou o CEO da Nutreco, Knut Nesse. O hidroximicromineral produzido pela Micronutrients é comercializado com a marca IntelliBond no mundo.

De Heus

Uma das maiores empresas de nutrição animal do mundo, de capital holandês, a De Heus – com operação própria no Brasil e em sociedade na MUB Brasil – anunciou a aquisição da Nuter, com atuação em Portugal e Espanha. Com 12 unidades de produção e 500 funcionários nesses dois países, a Nuter produz misturas minerais para bovinos de corte e de leite, para aves, suínos, coelhos, ovinos e caprinos.

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as empresas. A Novanis tem conhecimento técnico, além de ótimo relacionamento com clientes e mercado. Ela é forte na pecuária de corte. Já a Agroceres é forte em suínos e aves e tem investido pesado no segmento pecuário. Além disso, entramos no Centro-Oeste, onde a pecuária de corte mais avança”, explica. A Novanis tem fábricas em Rondonópolis, Água Boa e Campo Novos do Parecis (no Mato Grosso) e produção terceirizada em Campo Grande e São Gabriel D’Oeste (Mato Grosso do Sul). A Agroceres Multimix pertence ao Grupo Agroceres _ formado por 5 unidades de negócios (nutrição animal, genética de suínos,sementes de milho e sorgo, iscas formicidas e palmito cultivado). Com esta transação, a divisão de nutrição animal deve representar mais de 50% da receita do grupo, que faturou mais de R$ 700 milhões em 2015.

LS Tractor

Na contramão do mercado brasileiro de máquinas agrícolas em 2015, a LS Tractor, que fabrica tratores de pequena e média potência em Garuva, SC, não tem do que reclamar. Há dois anos no Brasil, a empresa já abriu 25 lojas e conta com 50 revendedoras em 14 Estados. Graças a essa capilaridade, incrementou as vendas em 10% na comparação com 2014. “Esperamos repetir a mesma performance em 2016”, diz o diretor comercial, André Rorato. As vendas foram puxadas no segmento de café, que conta com dois modelos – o R60 e o G40 – e uma nova modalidade de financiamento, o barter, que resultou em vendas de R$ 10 milhões. Em 2015, a empresa também lançou, na Expointer, no município gaúcho de Esteio, o modelo R60C (cabinado). LS Tractor, tel. (48) 3665-3006.

App para pastagem O consultor Wagner Pires desenvolveu o aplicativo “Diagnóstico de pastagem”, que pode ser baixado no celular na Google Play Store. O

aplicativo foi desenvolvido como uma ferramenta para o pecuarista diagnosticar o pasto e receber uma avaliação sobre o que fazer para torná-lo mais produtivo e sustentável. A metodologia leva em conta quatro fatores: plantas invasoras, fertilidade do solo, população de capim e outras plantas. “É essencial saber o nível de degradação da pastagem e o que fazer para resolver o problema para partir para a intensificação de seu uso”, diz.

Negócios virtuais

Uma feira rural 24 horas e online. Esta é a ideia da Feira Rural Online (www.feiraruralonline. com.br), já disponível na internet e que simula uma feira presencial de negócios. Trata-se, segundo seus desenvolvedores, de uma oportunidade para empresas do segmento rural apresentarem seus produtos com tecnologia de ponta, por um custo menor em comparação a uma feira física.


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Sabor da Carne

Valdomiro Poliselli Júnior

Cortes nobres: muito além da picanha. Valdomiro Poliselli Júnior é selecionador de Angus em Jaguariúna, SP, e proprietário da VPJ Alimentos, que abastece as principais boutiques de carne do Brasil e também fornece a matériaprima para as lojas de sua propriedade em Campinas, Jaguariúna, Vinhedo e Pirassununga, todas no interior de São Paulo.

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“Há dez anos, desafiamos o paladar de nossos clientes com cortes antes desconhecidos, mas tão ou até mais saborosos e suculentos do que a própria picanha.”

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arrego vivas na memória lembranças das fazendas de meus avós, produtores de café e de gado, onde quase todo o alimento consumido era ali produzido. Toda semana, uma rês jovem e gorda era abatida e eu sempre me perguntava por quê, em meio a tantos bois, eles escolhiam apenas novilhas. A carne era realmente singular, de impecável qualidade. Não entendia o porquê de uma carne como aquela não fazer parte do dia a dia do prato brasileiro. Estas memórias, somadas ao sangue do homem do campo correndo nas veias, esculpiram minha trajetória como produtor e selecionador de genética, e, principalmente, industrial de carnes diferenciadas. Outro estímulo para ingressar no segmento foi a crise do cruzamento industrial, em 2004, quando frigoríficos anunciaram que não mais comprariam animais provenientes da técnica que nós, da VPJ, dominávamos perfeitamente. Minhas fazendas de cria e confinamento funcionavam a todo vapor, com grande quantidade de novilhas cruza Angus jovens, entre 18 e 20 meses de idade e peso médio de 17@. Na época, resolvi abater algumas carretas e percebi as oportunidades que existiam no mercado doméstico para a carne de animais precoces e certificados. Há exatamente dez anos, desafiamos o paladar de nossos clientes com cortes antes desconhecidos, mas tão ou até mais saborosos e suculentos do que a própria picanha. Apresentamos um novo conceito de churrasco e contribuímos para reduzir um problema antigo na gastronomia: a falta de padrão da carne bovina. Quem entende de carne sabe que o “mapa do boi de primeira” oferece múltiplas possibilidades, inclu-

agência breeders

Short Rib, corte da costela bovina que caiu no gosto do consumidor por sua maciez e suculência.

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sive no dianteiro do animal. No começo, percebemos certa resistência dos consumidores à novidade, mas logo mitos foram derrubados. Duas décadas de seleção da raça Angus, com o auxílio de tecnologias avançadas, resultaram em incrível variedade de cortes nobres. Entender como o mercado de carne de qualidade era inexplorado talvez tenha sido nosso grande trunfo. Antes, dois ou três cortes do animal eram apreciados. Hoje, somente no dianteiro, temos sete apenas para churrasco, com destaque ao short rib. Extraído da costela juntamente com o centro de acém, recebeu o apelido de “costela premium”. Outro exemplo é o cowboy steak, de sabor marcante e marmoreio superior. Nas vendas, ele empata com a picanha. Cortes mais democráticos, como o granito maturado, oriundo da região do peito, e o american steak, do centro da paleta, possibilitaram que nossos produtos atingissem todas as classes sociais. São cortes que não perdem nada em sabor e maciez e são perfeitos para churrasco. A participação desses cortes nas vendas, porém, ainda é tímida. De um boi inteiro conseguimos extrair apenas um quilo de granito e cinco quilos de american steak. Os cortes maiores são mais requisitados pelas churrascarias, enquanto restaurantes grill preferem as linhas de steak. Nas melhores boutiques especializadas saem todos os produtos, diferentemente dos supermercados e redes de fast food gourmet, que focam nas linhas de hambúrgueres Angus certificados, nossa maior aposta. Para atender às donas de casa, desenvolvemos produtos ao dia a dia, apresentados em embalagens menores, como bifes de coxão, alcatra, contrafilé, picanha e também carne moída com ou sem gordura. Nosso ossobuco de traseiro e dianteiro, ideais para cozidos, também são muito solicitados. Também é uma preocupação recorrente o atendimento em nossas Steak Stores [casas de carne] em Jaguariúna, Vinhedo, Pirassununga e Campinas, no interior de São Paulo. Nossos funcionários recebem treinamento constantemente e têm na ponta da língua tudo que o cliente precisa saber sobre o modo de preparo, procedência, localização e características dos cortes ou mesmo indicar receitas saborosíssimas. A mesma filosofia é aplicada pelas dezenas de boutiques que atendemos em todo País. n



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