Revista DBO 442 - Agosto 2017

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Nossos Assuntos

Sinalização tardia, mas boa para o confinamento.

A

pesar de todas as indicações de que o número de animais confinados este ano ficará abaixo dos anos anteriores e das dúvidas sobre a rentabilidade da engorda intensiva nas operações em curso, um moderado otimismo ganhou espaço nas discussões e análises no final de julho. Em Campo Grande, MS, esse foi um tema dominante nas palestras do Circuito InterCorte, acompanhadas pela repórter Marina Salles. Para Bruno Andrade, da Associação Nacional da Pecuária Intensiva, a queda prevista no número de cabeças confinadas será reflexo da demora do produtor em definir se iria confinar ou não, em função das turbulências do mercado e da queda no preço da arroba no primeiro semestre. Agora, o sinal estaria melhor, inclusive pelo fato de que a menor oferta de gado de cocho deverá estimular a recuperação desse valor. Essa perspectiva mais favorável está bem fundamentada na análise preparada pelo zootecnista Rogério Coan e pela médica veterinária Lygia Pimentel para o Especial de Confinamento desta edição da DBO. O diretor técnico da Coan Consultoria e a pecuarista e consultora da Agrifatto afirmam que, mesmo com a arroba do boi gordo 15% menor que em 2016, a engorda intensiva será atividade compensadora em 2017. Segundo eles, num ano que avançou com arroba pressionada, posições indefinidas no mercado futuro e ausência de contratos a termo, tudo contrário ao interesse do confinador, duas boas notícias tiveram o poder de mudar o quadro: a safra recorde de grãos, barateando a dieta, e a boa oferta de bois a preços competitivos, componentes que representam 95% dos custos do confinamento. Rogério e Lygia simulam custos e resultados em vários Estados para demonstrar as maiores chances de lucro operacional em 2017. Ganhar no confinamento em situações adversas, no entanto, exige gestão afinada, e um respeitado exemplo disso, no meio, é o de André Perrone, diretor da Companhia Agropecuária Monte Alegre, de Barretos, SP, que confina em torno de 30 mil animais por ano. Com uma estrutura baseada nas melhores tecnologias, seu modelo de gestão está detalhado na reportagem da editora assistente Maristela Franco, que abre o novo especial de confinamento da DBO.

osta Demétrio C

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4 DBO agosto 2017

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Publicação mensal da

DBO Editores Associados Ltda. Diretores

Daniel Bilk Costa Demétrio Costa Odemar Costa Redação Diretor Responsável Demétrio Costa Editor Executivo Moacir de Souza José Editora Assistente Maristela Franco Repórteres Fernando Yassu, Marina Salles, Mônica Costa e Renato Villela Colaboradores Alcides Torres, Alisson Freitas, Ariosto Mesquita, Carolina Rodrigues, Denis Cardoso, Enrico Ortolani, Rogério Goulart e Tatiana Souto. Arte Editor Edgar Pera Editoração Edson Alves, Célia Rosa e Raquel Serafim Coordenação Gráfica Walter Simões comercial/Marketing Gerente: Rosana Minante Supervisora de Vendas: Marlene Orlovas Executivos de Contas: Andrea Canal, José Geraldo S. Caetano, Maria Aparecida Oliveira, Mario Vanzo e Vanda Motta Circulação e Assinaturas Gerente: Edna Aguiar Tiragem e circulação auditadas pelo

Impressão e Acabamento Prol Gráfica Ltda.

DBO Editores Associados Ltda. Rua Dona Germaine Burchard, 229 Perdizes, São Paulo, SP 05002-900 Tel.: 11 3879-7099 Para assinar, ligue 0800 11 06 18, de segunda a sexta, horário comercial. Ou acesse www.assinedbo.com.br Para anunciar, ligue 11 3879-7099 / 3803-5500 ou comercial@midiadbo.com.br


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Sumário Prosa Quente 12 I van Wedekin aponta as

deficiências da pecuária de corte

Mercado 22 C oluna do Cepea – Por que o

preço da carne não caiu no varejo?

Especial Confinamento 80 C erca elétrica inibe brigas 86 A ntes de fechar o gado, “socialize” a boiada.

90 N IRS garante análise de

26 B ezerro de 6@ se afasta

96 A rtigo sinaliza cenário

dos R$ 1.000

28 C oluna do Rogério – Milho, o amigo do peito da pecuária.

Cadeia em Pauta 34 B rasil recua e preenche 86% da Cota Hilton

38 A plicativo permite acompanhar tarefas dos peões

40 P lano de vendas de ativos da JBS sai do papel

Eventos 50 I ntercort debate cuidados na decisão de confinar

54 N a reunião da SBZ, as tendências

do bem-estar que vêm da Europa.

Pesquisa 60 C leber Soares faz um balanço

de dois mandatos na Embrapa Gado de Corte

Confinamento Monte Alegre aposta em ferramentas modernas de gestão para motivar equipe, controlar processos e melhorar a produtividade

entre a boiada vizinha

24 B aixo valor do boi gordo trava negócios

66 Reportagem de capa

ingredientes em minutos favorável a quem vai confinar

Reprodução 102 G rupo Gerar destaca

touros que são referência em resultados de IATF

Seleção 106 G enética indiana

reafirma seu vigor

112 N a terra de Gim

e de Ludy de Garça, o café vira rei.

Fazenda em Foco 118 P ecuarista muda manejo e a produção salta de 7 para 38@

Nutrição 130 M oduladores intestinais favorecem a imunidade dos animais

Edição: Edgar Pera Arte final: Edson Alves Foto: Maristela Franco (André Perrone, à frente de sua equipe de coordenadores, no Confinamento Monte Alegre, em Barretos, SP)

Saúde Animal 132 C uidado com higiene na

vacinação evita abscessos

136 C adeia produtiva pede e Mapa

deve retirar adjuvante de vacina

138 F im da vacinação contra aftosa pode começar pelo Sul

142 C oluna do Ortolani – Uma reflexão sobre os 40 anos de veterinária

Instalações 144 C reep feeding móvel e cocho com esteira de borracha

Leilões 146 V enda de touros esquenta o mês de julho

Seções

8 DBO on line 10 Do Leitor 20 Giro Rápido

6 DBO agosto 2017

116 Genética/Notas 124 Raças em notícia 154 Eventos/Agenda

156 Empresas e Produtos 162 Sabor da Carne



DBOonline

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Para acesso aos destaques desta página, digite as primeiras palavras de cada chamada na busca do Portal DBO. Entrevistas Pecuária: “Aspecto financeiro não é tudo”. Painéis da InterCorte, em Campo Grande, MS, mostraram importância da diversificação de atividades para uma produção mais sustentável. Um dos cases apresentados foi o do Grupo Mutum, que há mais de dez anos mantém parceria com a Embrapa em sistemas silvipastoris. Ouça a entrevista de Moacir Reis, do Grupo Mutum, e de Fabiana Alves, da Embrapa, à repórter Marina Salles.

Eduardo Biaggi, ex-presidente da Associação Nelore e da ABCZ, fala ao repórter Alisson Freitas sobre leilões e mercado e reitera sua profissão de fé no papel do Nelore na produção de carne de qualidade, sem necessidade de cruzamentos.

Coloque o portaldbo.com.br entre os seus favoritos e mantenha-se diariamente atualizado sobre as cotações e as notícias mais relevantes da pecuária de corte, pecuária leiteira e agricultura.

Embarcadouro desenvolvido pela Embrapa Gado de Corte, de Campo Grande, MS, privilegia o conforto animal. Instalação faz parte do conceito de ‘curral calmo’.

Dia a dia do boi gordo

Acompanhe no Portal DBO as cotações diárias do boi gordo nas principais praças pecuárias por meio da análise de Sidnei Maschio, tirada do programa Terraviva DBO na TV.

Quem esteve na Embrapa Gado de Corte em 19 de junho, para o dia de campo que antecedeu a InterCorte, pôde ver de perto o Mangueiro Digital. Laboratório de pecuária de precisão ao ar livre, o projeto de “curral calmo” conta, entre outras instalações, com um embarcadouro diferente do tradicional. Lançado em parceria com a Tramassul, o modelo foca o bem-estar animal. Em vídeos disponíveis no Portal DBO, obtenha mais detalhes da instalação e assista também à entrevista do pesquisador Pedro Paulo Pires, concedida à repórter Marina Salles.

DEZ notícias a um clique

1. Mercado futuro sinaliza melhora no confinamento. Cotação da arroba para outubro subiu 12% desde a miníma de R$ 119,50, registrada no fim de junho, e rentabilidade da atividade volta a ser interessante.

2. Frigorífico da Marfrig em Nova

Xavantina, MT, é reaberto. Pecuaristas da região veem iniciativa como um avanço, mas querem a abertura de mais plantas.

3. Preços de forrageiras têm queda no

1º semestre. Recuo em 2017 favorece a reforma de pastagens; expectativa é de maior oferta e qualidade das sementes.

4. Preço da @ no MT é o menor desde 2014. No dia 19, cotação chegou a

8

DBO agosto 2017

R$ 114,14, menor valor desde setembro/2014; expectativa é de um 2º semestre melhor.

5. Produção de carne bovina

deve crescer 20,5% em dez anos. Relatório projeta que Brasil fornecerá 11,44 milhões de toneladas da proteína em 2027.

6. Registro no SIF deve ficar

mais rápido. Novo sistema permite inclusão automática de produtos de origem animal já regulamentados.

7. Cosalfa fará ação na Venezuela. Objetivo é apoiar os venezuelanos a imunizar e inspecionar o rebanho bovino contra a febre aftosa.

8. Ajuste no descongelamento de

sêmen aumenta taxa de prenhez. Experimento conduzido por Luciano Penteado, da Firmasa, mostrou que a variação brusca na temperatura das palhetas pode reduzir a eficiência da IATF.

9. Três casos de raiva em bovinos

são confirmados em SP. Sistema de saúde no sudoeste do Estado está em alerta; produtores foram orientados a vacinar todo o rebanho.

10. EUA confirmam caso

atípico de vaca louca. Segundo o Departamento de Agricultura (USDA), evento não altera o status de risco dos EUA para a doença.


Mais que digital

Banco do Brasil. O maior parceiro do agronegócio. Porque o campo alimenta e faz o país crescer.

Quem é do campo sabe a importância de ter um banco parceiro, com soluções sob medida para todas as etapas da produção. Quem é da cidade reconhece a importância do agronegócio para o país. É por isso que o Banco do Brasil é o maior apoiador do produtor rural e o maior financiador do Plano Safra.


Do leitor Castração para o mercado gourmet Gostaria de saber mais a respeito da castração de bovinos F1 para o mercado gourmet, tema abordado no Cadeia em Pauta, em DBO de junho de 2017. Qual a idade ideal para castrar esses F1? Qual o método mais adequado?

Luiz Fernando Bosa Palmas, TO

A professora-doutora Angélica Pereira, da USP de Pirassununga, responde:

Ressalto, primeiramente, que o objetivo da pesquisa mencionada na reportagem não foi avaliar a idade ou o método de castração dos animais. De toda forma, quanto à idade, em relação à castração cirúrgica, seguimos o protocolo da fazenda, que é castrar antes do confinamento, respeitando um período de recuperação do animal, a fim de compará-lo com os imunocastrados (também seguimos o protocolo da empresa). Existem algumas pesquisas no Journal of Animal Science em relação ao período ideal de castração, de acordo com o bem-estar animal e a curva de crescimento dos tecidos nos animais. Recomenda-se castrar até seis meses depois do nascimento (quando levase em conta o bem-estar) ou assim que o animal atingir a puberdade (quando aproveitamos melhor a curva de deposição de músculo no animal). É bom lembrar, porém, que dependendo do manejo e da nutrição adotados, a puberdade varia. Em geral, zebuínos bem manejados alcançam a

10 DBO agosto 2017

puberdade ao redor de 15 meses. Os mal manejados, ao redor de 24 meses. Bovinos cruzados bem manejados, ao redor de 12 meses e mal manejados ao redor de 20 meses. Esses prazos, porém, não são regra e dependem de cada sistema. Já em relação ao método mais adequado, temos um projeto intitulado “Influência da condição sexual sobre o desempenho, características da carcaça e qualidade da carne de bovinos cruzados Angus x Nelore terminados em confinamento”, onde avaliamos os métodos e comparamos os resultados, em qualidade de carne, inclusive com o da de fêmeas. Obtivemos resultados bastante interessantes em relação à qualidade de carne, mas sua descrição não caberia neste espaço.

Calendário vacinal adequado Sou produtor rural em São Fidélis, RJ, e gostaria de saber qual o calendário vacinal ideal de bovinos, bem como de vermifugação, tanto para gado de leite quanto de corte.

Flávio Berriel Abreu São Fidélis, RJ

O professor Enrico Ortolani responde:

Em gado de corte, as seguintes vacinas devem ser aplicadas: para fêmeas de 3 a 8 meses, contra brucelose. Contra febre aftosa, há duas etapas/ano de vacinação. A primeira é para animais com até 2 anos e a segunda, para todo o rebanho. As vacinações opcionais são contra clostridioses – carbúnculo sintomático (manqueira) e hemático, tétano, botulismo, enterite necrótica,

edema maligno e hemoglobinúria bacilar. Essas doenças podem ser prevenidas por uma única vacina, comercialmente disponível, que contém todos esses agentes de proteção. Sugere-se vacinar os bezerros aos 3 e aos 5 meses de idade. Para rebanhos muito sujeitos ao botulismo sugerese vacinação anual. Touros e vacas devem ser imunizados contra tétano a cada três anos. Já no caso da vacina contra raiva não basta ter o ataque de morcegos, mas deve-se verificar se eles estão contaminados com o vírus rábico. Para constatar a necessidade de vacinação consulte a Secretaria de Agricultura de seu Estado. A vacinação contra leptospirose deve ser feita toda vez que ficar comprovado o surgimento de abortos em vacas (geralmente no terço final de gestação) ou nascimento frequente de bezerros fracos. A vacinação é anual em todo o rebanho, a partir de animais de 4 meses. Em rebanhos com alta frequência de leptospirose sugere-se vacinar duas vezes/ano. Em relação à vermifugação estratégica, melhor adotar o esquema 5-8-11. Todos os bovinos de 3 meses a 2 anos devem ser vermifugados em maio (5), agosto (8) e novembro (11) com os seguintes princípios ativos de vermífugos: em maio, albendazole ou sulfóxido de albendazole; em agosto, levamisole, e em novembro, moxidectina. Caso se confirme verminose por Oesophagostomum sp, vacinar também bovinos com mais de 2 anos em maio. Caso se confirme verminose em bezerros com menos de 3 meses por Strongyloides, vacinar aos 2 meses com moxidectina e as fêmeas recém-paridas em seguida ao parto.



Prosa Quente Para o consultor de agronegócio e ex-secretário de Política Agrícola do Mapa, Ivan Wedekin, a maioria dos pecuaristas de corte brasileiros ainda é....

Fotos: Edgar Pera

carente de eficiência

O

nome de Ivan Wedekin está intimamente li­ gado ao nascedouro do conceito de agronegó­ cio no Brasil. No início dos anos 1980, mais precisamente em 1984, ele ingressava numa das empresas mais pujantes do setor de insumos do agro­ negócio brasileiro, a Agroceres, então capitaneada pelo arrojado empresário Ney Bittencourt de Araújo, pioneiro na divulgação, em terras brasileiras, do conceito de agribusiness, que começava a ser difundido a partir da Uni­ versidade de Harvard, nos EUA. Formado em agronomia pela Esalq, da USP de Piracicaba, em 1974, foi assessor econômico de Bittencourt e, seis anos depois, passou a diretor comercial da Agroceres, empresa líder de merca­ do na produção de sementes de milho. Antes de ingressar na empresa, havia trabalhado (1975 a 1977) no Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getúlio Var­ gas, no Rio de Janeiro, no Grupo de Informação Agrícola (GIA), à época coordenado pelo economista Paulo Ra­ bello de Castro, atual presidente do BNDES. Nascia ali uma identificação de propósitos que se con­ substanciou na parceria firmada entre ambos, quando fun­ daram, após a saída de Wedekin da Agroceres (1996), a RC.W Consultores. Parceria que durou até 2002, quando Wedekin foi convidado por Roberto Rodrigues – nomea­ do ministro da Agricultura no primeiro mandato do ex­ -presidente Lula – a assumir a Secretaria de Política Agrí­ cola do ministério. Ali, foi o responsável por implementar

12 DBO agosto 2017

ações delineadas um ano antes no planejamento estratégi­ co do agronegócio, ratificado durante o 1º Congresso Bra­ sileiro da Abag (Associação Brasileira do Agronegócio), entidade presidida por Roberto Rodrigues até 2001. Entre elas, a instituição das Letras de Depósito do Agronegócio e as Letras de Recebíveis do Agronegócio, instrumentos financeiros para captação de recursos para o setor. Permaneceu no Mapa até julho de 2006, de onde se­ guiu para a Bolsa de Mercadorias e Futuros, como dire­ tor de commodities. A partir de 2010 assumiu a direto­ ria de commodities da Bolsa Brasileira de Mercadorias, onde ficou até 2015, para, então, em junho, constituir a Wedekin Consultores, que presta serviços de avaliação de negócios e de empresas. É, também, presidente da Câ­ mara de Crédito, Seguro e Comercialização do Ministério da Agricultura. Natural de Buritama, noroeste do Estado de São Paulo, 64 anos, Ivan Wedekin tem, do lado pater­ no, origem de imigrantes alemães (avô) e do materno, mi­ grantes baianos. Em junho, lançou, durante a BeefExpo, em São Paulo, capital, o livro “Economia da pecuária – fundamentos e o ciclo de preços”, junto com Luiz Anto­ nio Pinazza, Fernanda Kesrouani Lemos e Vinicius Madri Vivo. Nesta entrevista aos editores Moacir José e Maristela Franco, ele fala sobre temas abordados na publica­ ção, sobretudo a questão do ciclo pecuário e a condição do pecuarista dentro da cadeia da carne. Maristela – Quando a história do ciclo pecuário começou a ser contada? Wedekin – Foi 40 anos atrás, em maio de 1977, quando o

economista Paulo Rabello de Castro publicou o primeiro estudo sobre o ciclo de preços da pecuária – a natureza cí­ clica, com momentos de alta e de baixa. Isso, em alguns países, está mais relacionado ao aumento ou à redução do rebanho. Aqui no Brasil, mais especificamente, a gente fala de ciclo da pecuária se referindo a esse fenômeno do movimento dos preços das diversas categorias animais, liderada pelo boi gordo. Desde 2015 a pecuária brasileira está traçando uma curva de baixa dos preços, fato que an­ tecipei na BeefExpo de 2016, quando se projetavam pre­ ços de R$ 170 para a arroba do boi gordo, muito diferente dos R$ 125 de hoje...

Moacir – O ciclo parece uma coisa tão consolidada para nós. Por que muita gente “não acredita”, como você falou na sua palestra da BeefExpo deste ano? Wedekin – Pois é. É porque nos anos 1980 e 90, a hiperin­

flação bagunçou os preços da pecuária. Zootecnicamen­


400

R$/@

leo

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350

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Fonte: IEA-Valores corrigidos para Abril/17 pelo IGP-DI/Elaboração: Wedekin Consultores

450

Hiperinflação Estabilização Real

150

2017

2014

2011

2008

2005

2002

1999

1996

1993

1990

1987

1984

50

1981

100

1978

toramento mais apurado, especialmente do abate de fê­

SP: Preço real do boi gordo ao produtor 1954-2017

1975

Maristela – Mas por que é tão difícil prever quando essa “chave” vai ser virada? Wedekin – É porque faltam mais estatísticas, um moni­

bientes controlados, ou seja, é num galpão, não tem qua­ se interferência de fatores externos, chuva, seca; o ciclo é mais curto e a indústria, que lidera o processo de pro­

1972

ve que vira o processo de um lado para o outro.

Moacir – Mas na avicultura o produtor faz o ciclo completo de produção. Isso não tem influência? Wedekin – Avicultura e suinocultura são indústrias de am­

1969

Maristela – Isso tem o mesmo peso que tinha no passado ou outros fatores passaram a influenciar mais pesadamente na formação do preço? Wedekin – Não. Este é o fator mais importante. Ele é a cha­

ra muito a convivência entre sistemas de produção que rendem 5 @/ha/ano e outros com até 70 @/ha/ano. O desnível tecnológico entre piso e teto é muito alto. Isso prejudica a competitividade da pecuária de corte. Esse diferencial é muito pequeno na avicultura, por exemplo, que não tolera um produtor ter um custo equivalente a 1,8 kg de ração para conseguir 1 kg de carne, se a média de conversão alimentar for de 1,7 kg de ração. Ele que­ bra. Por quê? Porque é uma cadeia muito coordenada. Ao contrário do que ocorre com a cadeia da pecuária bovina.

1966

mento determinante do ciclo é o abate de fêmeas. A vaca tem dupla aptidão: quando vai para o abate vira carne, um bem de consumo; quando é matriz e produz bezerros é um bem de produção, como se fosse uma fábrica. É essa oscilação entre abater mais ou menos fêmeas que tem o potencial de influenciar os preços do boi gordo para cima ou para baixo. Há, também, dentro da estrutura dos fenô­ menos de preços da pecuária, a expectativa do pecuarista. Antes mesmo da Operação Carne Fraca e das delações da JBS, havia a expectativa de que a baixa de preços conti­ nuaria. Com isso, com esse “desincentivo”, o pecuarista manda mais fêmeas para abate, aumentando a oferta de carne, que, por sua vez, pressiona os preços para baixo, o que confirma a expectativa do pecuarista...

A pecuária tolera muito a convivência entre sistemas de produção que rendem 5 @/ha/ano e outros com até 70 @/ha/ano. O desnível tecnológico é muito alto. Isso prejudica a competitividade.”

Maristela – A produtividade não melhorou, na sua visão? Wedekin – Melhorou um pouco. Porque a pecuária tole­

1963

Moacir – Ou seja, nem sempre alterações de preços causadas por fatores externos ao ciclo zootécnico alteram o ciclo pecuário... Wedekin – Exato. E a gente explora bastante isso. O ele­

pecuária, para o qual dedicamos um capítulo inteiro no li­ vro. Boa parte dos 11 anos de aumento no preço da carne foram determinados pelo aumento de demanda da popu­ lação durante os governos do ex-presidente Lula, quando houve uma “explosão” no crescimento da classe média. Ao mesmo tempo, a produção de carne bovina no Brasil praticamente se estagnou: cresceu apenas 0,5% ao ano. Então, a gente elogia muito a pecuária bovina brasileira, mas do ponto de vista de eficiência ela está devendo. Ela continua perdendo mercado para outras carnes.

1960

com a melhora da tecnologia, se consiga um encurtamen­ to do processo produtivo de um animal. Antes, abatia-se boi com quatro anos; hoje a média é de menos de três. Então, ela tem um efeito positivo e permanente sobre os preços da pecuária. Mas, nas estatísticas que temos desde 1954, em levantamentos do Instituto de Economia Agrí­ cola (IEA), da Secretaria de Agricultura de São Paulo, você identifica ciclos de diferentes durações. Seja pela amplitude horizontal (duração em anos), seja pela ampli­ tude vertical (oscilação entre pico e baixa de preços), que são afetados pela economia. Por exemplo, de 2006 para cá, temos dois ciclos: um completo, de alta, que terminou em 2015, e outro, de baixa, que está em andamento. Mui­ to embora o preço do boi tenha subido nestes 11 anos. Por exemplo, em 2006 o preço da arroba, corrigido pelo IGP da FGV para os dias de hoje, equivaleria a R$ 100; foi su­ bindo até chegar a R$ 160 em 2015.

Maristela – As crises também deturpam a visão do ciclo, não? Wedekin – Sim. São os efeitos da macroeconomia sobre a

1957

Moacir – Em artigo no Anuário DBO, José Vicente Ferraz, da Informa Economics FNP, afirma que os ciclos pecuários já estão mais curtos, entre seis e sete anos. Concorda com a avaliação? Wedekin – Concordo com o Ferraz, porque é natural que,

meas. Os dados de abate são trimestrais, não especificam segmentação regional... São decisões de milhares de pro­ dutores, cada um com uma motivação, sentindo onde o “calo aperta” de forma diferente. Mas há também o fator “onda”, como essa de expectativa de baixa, quando todo mundo começa a mandar animais para abate.

1954

te, o ciclo está relacionado ao período em que a vaca é coberta (ou inseminada) pelo touro, produz um bezerro, que depois se transformará num boi gordo. Um ciclo que demoraria sete ou oito anos. Mas as variáveis econômi­ cas interferem nos preços da pecuária. Só depois do Pla­ no Real (1994) é que houve uma estabilização e pudemos perceber nitidamente três ciclos da pecuária.

agosto 2017 DBO

13


Prosa Quente dução, praticamente determina o nível tecnológico a ser adotado, do começo ao fim do processo. Maristela – Por que a pecuária é tão intolerante à baixa produtividade? Wedekin – Há diferentes níveis de pecuaristas, a maioria

deles com uma visão mais patrimonialista do negócio, mais avessos a ter menos terra e a ter mais tecnologia. Para ser um pouco provocativo, eu diria que a discussão do momento é a pecuária se transformar num ramo da agricultura... Ela tem de correr mais riscos. Maristela – Acho que o pecuarista não vai gostar muito disso... (risos) Wedekin – Pois é. Qual é o elemento central, além do gado?

A produção de pastagem, que absorve menos de 2% do que é usado em adubos no Brasil. Ou seja, os 160 milhões de pastagens que temos são utilizados de uma forma mais extrativista. É preciso que a pastagem seja encarada como cultura, para que possamos produzir mais carne por hecta­ re. O que estamos vendo é que muitos agricultores de soja e milho, que já estão acostumados ao risco, estão entrando na pecuária... Vão fazer uma terceira safra. Maristela – Você acha fundamental, então, que o pecuarista assuma mais riscos? Wedekin – Sim. Para a pecuária ganhar mais tecnologia,

tem de investir. Para isso, pode abrir mão de um pouco de área e produzir a mesma coisa.

A pecuária tem um faturamento muito baixo, comparado ao que o produtor tem imobilizado em terra e em gado. Isso faz com que ela tenha de ter uma margem alta para poder remunerar esse capital.”

Moacir – Há um movimento por intensificação na pecuária, inclusive por parte do segmento da cria, e a adubação é um dos vetores disso. Wedekin – Concordo que haja um investimento maior.

Mas o movimento da intensificação não é dominante. Há uma rigidez da produção, que cresceu só 0,5% ao ano. Como houve uma alta de preços na pecuária nos últimos 10 anos, isso significa que o preço do boi continua sendo definido por um certo nível de ineficiência. Porque esse preço ficou relativamente mais alto do que deveria ser. E isso é que causa a perda de mercado para outros segmen­ tos da proteína animal. Moacir – Então, não dá para dizer que o pecuarista está descapitalizado... Wedekin – Eu diria que o pecuarista está “menos líquido”.

Ele tem um patrimônio em terra, com preços que ficaram mais altos nos últimos 20 anos, com um estoque de gado que poderia estar produzindo mais. Nesse sentido, ele está hipercapitalizado, mas com pouca margem operacional. Ou seja, sobra menos dinheiro em caixa.

Maristela – E a questão da volatilidade dos preços? Wedekin – Quarenta anos atrás ela era muito maior. O pes­

soal ganhava dinheiro comprando gado na baixa e ven­ dendo na alta. Hoje, isso já não cabe mais. Porque o pre­ ço do boi está muito pouco volátil. Ou seja, a variação anual entre pico e piso gira em torno de 11%. Esse é um 14 DBO agosto 2017

indicador que se calcula a partir da variação do preço da arroba de um dia para outro, expressa em termos anuais. A volatilidade dos preços do milho e da soja, por exem­ plo, é de 20% a 25%. É uma faixa que o boi gordo tinha lá no passado. Outra coisa que não existe mais é o preço ficar maior na entressafra do que na safra. Porque o aba­ te de animais (por causa do confinamento) é até maior no segundo semestre (que seria a entressafra). Então, fi­ cou muito mais difícil ganhar dinheiro com a variação do estoque do que no passado. Isso significa que o produtor tem de ganhar dinheiro com a produtividade. Moacir – Outra afirmação contida no livro é a de que a intensificação depende do aumento do capital investido. Que pode vir da venda de terra, de um novo sócio ou do crédito rural. Acredita que o pecuarista terá de trilhar este último também? Wedekin – A pecuária brasileira é muito pouco intensiva no uso de insumos. E no Brasil não temos crédito para aqui­ sição de terras e um crédito muito limitado para compra de animais. Porque isso é investimento e o Sistema Na­ cional de Crédito privilegia o custeio, que é muito maior para produtos como milho, soja, trigo e café. Nesse sen­ tido, não vejo muita possibilidade de o pecuarista levan­ tar recursos para investir em bens de capital, seja terra ou gado. É mais fácil ele aumentar a produtividade. A pecuá­ ria tem um faturamento muito baixo, comparativamente ao que o produtor tem imobilizado em terra e em gado. Isso faz com que ela tenha de ter uma margem alta para poder remunerar esse capital. Quando pecuaristas inova­ dores ou agricultores que entram na atividade conseguem resultados melhores, isso tende a derrubar ainda mais a margem daqueles pecuaristas tradicionais. Maristela – Você poderia explicar melhor a afirmação de que é o atacado – e não o varejo – o elemento central na formação dos preços da pecuária? Wedekin – Fizemos modelos econômicos para chegar à

conclusão de que o varejo reflete a variação do preço no atacado apenas três meses depois, porque ele não gosta de mexer no preço de venda. Então, seja elevação ou redu­ ção de preço, isso só é transferido para o consumidor três meses depois. E o pecuarista também não comanda o pre­ ço do boi. É um ledo engano achar isso. Ele é tomador de preço, ou seja, recebe o valor imposto pelo atacado e pelo varejo. Outra coisa é que o custo de produção do pecua­ rista não determina o preço da mercadoria. Um exemplo disso ocorreu no ano passado, quando o custo do confina­ mento aumentou (milho, boi magro...) mas o preço do boi gordo não acompanhou; pelo contrário, caiu. O pecuarista pode não gostar disso, mas tem de entender. É a realidade. Ele é tomador de preços em todos os sistemas de produ­ ção e também no que diz respeito a insumos.

Maristela – O pecuarista é o elo fraco da cadeia, como se costuma dizer? Wedekin – Olha, há divergências. A margem do frigorífico

– a agregação de valor que ele faz do produto recebido, o



Prosa Quente boi – é relativamente muito pequena. E se a margem é pe­ quena, ele tem de ter escala. Tem de ter giro. Então, em termos de lucro líquido sobre vendas, rentabilidade (o que sobra no fim do ano em relação à receita), eu diria que o negócio de uma pecuária bem administrada é mais lucra­ tivo do que o negócio de um frigorífico. Moacir – Outra afirmação no seu livro é que “gerenciar a rentabilidade da pecuária é um caminho sem volta, um imperativo”. No que isso se traduz num momento de baixa de preços? Wedekin – Olha, é sempre difícil administrar as coisas em

momentos de baixa. Mas, basicamente, é controlar cus­ tos. Agora, é preferível o pecuarista vender seus animais o quanto antes, em vez de estocá-los na propriedade.

Moacir – Por quê? Wedekin – Porque estocar boi no pasto é botar mais le­

Em termos de lucro líquido sobre vendas, uma pecuária bem administrada é um negócio mais lucrativo do que o negócio de um frigorífico.”

é um pouco antagônico dizer que a concentração dos frigoríficos prejudicou os produtores. Moacir – Mas pode ter havido prejuízo para os pequenos frigoríficos... Wedekin – Olhamos 100 anos de história da indústria fri­

gorífica no Brasil, que é uma história com uma frequên­ cia muito grande de acidentes de percurso. Só que agora chegamos a um momento diferente desse passado. Por­ que essas quatro grandes indústrias frigoríficas têm ações negociadas na Bolsa, num nível de governança que nunca tivemos. Isso faz uma grande diferença. Hoje, a nossa in­ dústria é competitiva no mercado internacional. Maristela – Você acha que a concentração é um caminho sem volta? Ou algo pode mudar com essa crise na JBS? Wedekin – Acho que o cenário é de acomodação. Pode ha­

nha na fogueira da baixa, já que em algum momento – na seca, por exemplo – você vai ter de desovar esse boi re­ presado e aí o preço vai despencar. Um ano atrás, a arroba do boi gordo estava em R$ 156 em São Paulo; depois da Operação Carne Fraca caiu para R$ 145; depois da dela­ ção da JBS caiu para R$ 137 e hoje [11 de julho] está em R$ 125. Porque ela já estava “viajando” na rota de baixa.

ver algum rearranjo, em termos de propriedade, mas isso não vai prejudicar o futuro de crescimento da nossa pecu­ ária, que é vista como necessária para abastecer boa par­ te da demanda mundial, principalmente a dos países asi­ áticos, China à frente. Nosso potencial exportador para a Ásia é enorme. Só precisamos fazer o dever de casa de melhorar a eficiência da pecuária.

Moacir – Mas o que todo mundo pensa é que se vender agora o preço vai cair ainda mais... Wedekin – É uma reação natural, até por causa da insegu­

Moacir – Chegaram a estudar o nível de concentração em países concorrentes do Brasil? Wedekin – Não. Agora, a concentração é algo que aconte­

rança que esses fatos trazem. Mas olhando o que aconte­ ceu nestes 40 anos de ciclo da pecuária, a lição é: se a fase é de baixa, vou vender antes e repor depois. Claro que o pecuarista tem de tomar essa decisão considerando uma visão de médio prazo, de que o negócio pecuário tem um ciclo – seja ele de seis, sete ou oito anos –, de que não dá para ganhar todos os anos, e aproveitar esses momentos de baixa para fazer uma reposição melhor. Maristela – Outra coisa interessante do seu livro é que você considera que o nível de concentração dos frigoríficos no Brasil é apenas “moderado”, quando a maioria das pessoas acha que ele é excessivo. Como chegou a essa conclusão? Wedekin – Fizemos uma revisão bibliográfica do que

há de melhor no Brasil e no mundo em relação a ci­ clo pecuá­rio, inclusive do movimento de concentração ocorrido nos EUA na década de 1990. O USDA contra­ tou diversos estudos para saber se a concentração dos frigoríficos [77% do mercado nas mãos de quatro em­ presas] estava prejudicando o preço aos pecuaristas. E isso ocorreu num momento de baixa. No caso do Bra­ sil, a concentração ocorreu num momento de alta dos preços da pecuária: os quatro maiores (JBS, Marfrig, Minerva e BRFoods) detinham 36% dos abates com SIF em 2005 e passaram a ter 56% em 2015. Mas os sete processos analisados pelo Conselho Administrati­ vo de Defesa Econômica (Cade) envolvendo operações de compra de frigoríficos no Brasil não concluiu pela existência de poder de mercado, que é eu lançar mão do meu tamanho para prejudicar algum fornecedor. Então, 16 DBO agosto 2017

ce em outros segmentos da pecuária, como o de sementes, e em outras áreas da economia. Faz parte do jogo. O que órgãos de regulação de direito econômico têm de fazer é defender os interesses do consumidor e da concorrência. Moacir – Você afirma que a elevada ociosidade na indústria frigorífica é um fator que barra a entrada de novos concorrentes nesse segmento. Quando o frigorífico adquire outros, fecha plantas e fica com um nível de ociosidade elevado, ele não está exercendo esse poder de mercado? Wedekin – A existência de capacidade ociosa é uma barrei­ ra à entrada de novos concorrentes, mas ela pode ocorrer por outros motivos: desnível de tecnologia, por exemplo; plantas que não estão no nível daquilo que os importado­ res demandam. Mas insisto: a indústria frigorífica é uma indústria de margem pequena – você não tem ociosidade porque quer –; além disso, a quantidade de animais aba­ tidos não tem crescido ao longo destes últimos dez anos. Maristela – Quanto tempo você estima que durará a baixa? Wedekin – Essa é a resposta que vale um milhão de dóla­

res! (risos) Não dá pra saber com exatidão, mas acredito que pelo menos mais uns 12 meses ainda estaremos nessa fase. Uma reversão de preços só lá pelo segundo semestre de 2018. Como a economia está muito fraca ainda, pode­ mos esperar duas coisas: queda de preços da carne no va­ rejo e uma estabilização nos indicadores de desemprego. Isso não vai resolver o problema, mas daria um “refresco” para os produtores. n



SUPLEMENTAÇÃO VITAMÍNICA PARA GADO DE CORTE CONFINADO

Guilherme Gomes | Gerente Técnico - Vallée

Por que suplementar animais confinados com Vitaminas ADE? Será que vale a pena? Essas perguntas surgem sempre que se pensa em qual o melhor Protocolo Sanitário de entrada de confinamento. Para responder, vamos primeiro entender um pouco mais sobre as diferenças entre deficiência e carência marginal. No caso de Vitaminas, é importante dissociarmos os fenômenos de deficiência e de carência marginal. Deficiência ocorre quando determinado nutriente apresenta-se em quantidades insuficientes na dieta e provoca uma sintomatologia específica ou não. Já a carência marginal acontece quando determinado nutriente, embora presente em quantidade insuficiente na dieta, não provoca sintomatologia alguma, o animal não exibe fenotipicamente nenhuma anomalia detectável. Pode-se afirmar que a carência marginal é um estágio imediatamente anterior à deficiência, em que o nível de desnutrição foi insuficiente para provocar qualquer sintomatologia, mas o animal já manifestou menor eficiência produtiva. Esse é um ponto muito importante, que pode ser a cereja do bolo quando pensamos em termos de ganho de peso e qualidade da carcaça dos animais confinados. Animais com carência marginal das Vitaminas ADE

não conseguem expor todo o seu potencial genético. Dessa forma a suplementação injetável com essas Vitaminas pode sim valer a pena. Vamos agora entender mais sobre o confinamento e suas particularidades, bem como conhecer um pouco mais sobre essas Vitaminas. O gado confinado sofre variações consideráveis quanto ao manejo, principalmente o nutricional, que precede sua chegada e coloca os lotes a serem confinados em um patamar comum, independentemente de sua origem. É o desafio fisiológico que os animais irão enfrentar para atingir ganho de peso e qualidade de carcaça adequados, em resposta ao manejo que passarão a receber até o abate. Desafios inerentes ao manejo de confinamento incluem o transporte, o estresse de restabelecimento da ordem social, excesso de poeira ou de barro, dependendo da época do ano, limitações de espaço, mudanças na dieta e o contato com animais oriundos de propriedades diferentes, que aumenta o risco de contágios diversos. Dentre as estratégias empregadas para uniformizar os lotes e buscar respostas homogêneas ao aporte nutricional dos confinamentos está a suplementação vitamínica. Vitaminas são cofatores enzimáticos que controlam o metabolismo animal, sendo requeridas em quantidades mínimas, mas essenciais para boas respostas ao manejo nutricional de bovinos. De acordo com Sewell (2017), as necessidades vitamínicas de bovinos de corte estão restritas largamente ao conjunto ADE, pois as bactérias ruminais possuem habilidade de sintetizar a Vitamina K, assim como as do Complexo B (Tabela 1). A variação da condição nutricional prévia, já mencionada em relação ao gado que chega ao confinamento, justifica a suplementação vitamínica, principalmente porque é pouco prático tentar determinar os níveis de Vitaminas nesses animais.

Tabela 1. Características das Vitaminas A, D e E e recomendações para bovinos em confinamento para terminação: Vitamina

Forma

Fontes

Recomendações*

Vitamina A

Pró-Vitamina A (carotenos, criptoxantina)

Forragens verdes, milho amarelo, silagens e fenos (mas com mais baixa disponibilidade). Betacaroteno é a forma mais comum

2200 UI/kg

Vitamina D

Ergocalciferol (D2) Colecalciferol (D3)

Plantas

275 UI/kg

Vitamina E

Alfa-tocoferol

Gérmen de trigo, sementes de oleaginosas, forragens verdes e conservadas (mas decai com o processamento e o tempo de armazenamento)

200 – 500 UI/kg

Vit. E p/ Carcaça**

-----

-----

500 UI/d durante 100 dias

*NRC. **Qualidade da carne. Fonte: Modificada de Marina e Medeiros (2015) e de Alberta Feedlot Management Guide (2015).

No que diz respeito à Vitamina A, esse nutriente está presente em abundância nas pastagens, na forma de carotenoides (Pró-Vitamina A), durante o período quente e chuvoso do ano (águas), caindo drasticamente os teores na forragem durante a seca. Para animais em regime de confinamento, praticamente todos os alimentos (fenos, silagem, bagaço, capineiras, concentrados) contêm pouca ou nenhuma quantidade de Vitamina A. Esses fatos sugerem que durante o período crítico do ano (seca), o aporte nutricional de Vitamina A é muito pequeno ou mesmo nulo,

valorizando a saúde animal.

ficando os animais dependentes das reservas hepáticas por ventura acumuladas no período favorável do ano (águas). Entretanto, os fatores que governam a deposição e a remoção de Vitamina A hepática ainda não são bem conhecidos. Entre as várias funções dessa Vitamina, destaca-se a capacidade de preservar os epitélios e mucosas dos tratos respiratório, digestivo e reprodutivo dos bovinos. Além disso, ajuda a manter o funcionamento renal e da visão, o desenvolvimento dos ossos, músculos, dentes e tecidos nervosos.


A Vitamina E aumenta a imunidade dos bovinos face ao estresse, sendo a administração de 400-800 UI/cabeça/dia nos primeiros 30 dias de confinamento capaz de reduzir a incidência de doenças respiratórias e aumentar o desempenho do animal. Na dose de 500 UI/dia nos últimos 100 dias de confinamento, a Vitamina E aumenta sua concentração na carne, melhorando a coloração, estabilidade da gordura e vida de prateleira. A Vitamina E não é armazenada em grandes quantidades no organismo, sendo que o fígado e o tecido adiposo apresentam os maiores níveis da Vitamina. Tem papel importante na proteção da Vitamina A do organismo, evitando sua oxidação, no metabolismo da energia, nos Ácidos Nucleicos e Aminoácidos, bem como na Síntese do Ácido Ascórbico. Também participa da produção de hormônios Tireotróficos, Adrenocorticotróficos e Gonadotrofinas, estando direta e indiretamente envolvida no crescimento e na reprodução. A Vitamina E facilita a absorção da Vitamina A e sua estocagem no fígado, sendo que uma deficiência de Vitamina E pode induzir a uma deficiência de Vitamina A, mesmo em dietas contendo níveis adequados desta (FOX, 1992). Já a Vitamina D pode melhorar a maciez, embora dependa de altas concentrações no organismo e de fornecimento por período mais longo, respeitando-se a carência. As recomendações do NRC indicam o aporte de 275 UI/kg ao dia. Situações em que ocorra limitação de radiação solar, dietas altas em grãos podem requerer suplementação com Vitamina D. A deficiência dessas Vitaminas pode resultar em perda de apetite e peso, bem como em maior susceptibilidade a infecções (Diarreias e Pneumonias). Além desses sintomas, os animais deficientes podem apresentar vista opaca, pelos arrepiados e sem brilho, além da visão noturna mais fraca. Em confinamento, animais deficientes em Vitamina A podem ter respiração difícil (movimentos respiratórios rápidos e superficiais) sob temperaturas elevadas.

De acordo com vários estudos, a estabilidade de Vitaminas solúveis na ração é reduzida por exposição à luz ultravioleta (sol), oxigênio, calor, gorduras e óleos, umidade e minerais. Normalmente, para se manterem estáveis, as formulações têm de permanecer resfriadas, longe da luz e secas. Vitaminas podem perder estabilidade quando combinadas com premix mineral concentrado ou nas misturas já prontas para uso. A peletização ajuda a manter a estabilidade das vitaminas, mas essa não é a realidade da maioria dos concentrados fornecidos nos confinamentos. O Betacaroteno é o precursor da Vitamina A nas plantas, que, quando são processadas para feno e silagem, sofrem degradação intensa, o que torna essencial sua suplementação na maioria dos confinamentos onde as forragens normalmente são processadas e armazenadas. A Vitamina E também sofre perdas consideráveis com o processamento das plantas. A ensilagem pode impor perdas de até 80% da Vitamina E contida na planta fresca, assim como o calor no processamento da soja grão ocasiona perdas significativas. A Vitamina A injetável via intramuscular aumenta mais eficientemente as reservas hepáticas, em comparação com aquela adicionada na dieta, e deve ser usada na chegada dos animais ao confinamento. A disponibilização de um produto injetável de alta estabilidade, mesmo em temperatura ambiente, deve ser uma estratégia que garanta os níveis recomendados nos animais, o que facilita sobremaneira a conservação e manejo em confinamentos. Muitas vezes, existem fundamentos teóricos baseados em pesquisas de qualidade que deixam de beneficiar os produtores por questões logísticas, e não por falta de conhecimento. O uso estratégico de um produto de qualidade que assegure todos os benefícios das Vitaminas A, D e E é sem dúvida um avanço, pois diminui uma série de riscos de deficiências, incluindo aquelas que podem ocorrer devido ao mau uso e às condições inadequadas de conservação de produtos em geral.

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Giro Rápido ABCZ lança projeto Carne de Zebu Com o objetivo de mostrar a eficiência para a produção de carne de touros zebuínos puros de origem (PO), a Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ) criou um projeto, batizado de Carne de Zebu. Ainda em fase experimental, a versão piloto está sendo conduzida na Fazenda 3R, de Rubens Catenacci. Henrique Ventura, superintendente adjunto de Melhoramento Genético da ABCZ, explica que, na condição de parceira, a fazenda contará com a avaliação genética de dez de seus reprodutores. Durante o processo, espera-se coletar dados de peso ao desmame e sobreano, perímetro escrotal, aspectos visuais e itens relacionados à qualidade de carcaça e carne dos animais. Para garantir que todos os touros sejam testados em iguais condições, os acasalamentos serão feitos ao acaso e com um mesmo número de vacas. Serão utilizados machos avaliados no Programa de Melhoramento Genético de Zebuínos (PMGZ), incluindo os classificados no PNAT (Programa Nacional de Avaliação de Touros Jovens). De acordo com Ventura, a ideia é que se conheçam as DEPS de qualidade de carcaça e carne desses touros, que será apresentadas ao mercado posteriormente.

MT é líder em preservação ambiental Segundo a Embrapa Monitoramento por Satélite, Mato Grosso tem quase 65% de sua área, de 90 milhões de hectares, preservada. E os agropecuaristas são os responsáveis por mais da metade desta porção: 34%. Segundo Evaristo Miranda, chefe-geral da unidade, o levantamento foi feito com base nos dados do Cadastro Ambiental Rural (CAR), de áreas indígenas, de preservação e informações do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea). O Estado é o primeiro do Brasil a ser totalmente mapeado pela Embrapa, o que resultou no estudo “Atribuição, Uso e Ocupação das terras de Mato Grosso”. 20 DBO agosto 2017

Governo aprova Refis do Funrural Após longa discussão entre governo e a bancada ruralista no Congresso, o presidente Michel Temer editou a medida provisória que ficou conhecida como o Refis do Funrural (Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural). A medida, que faz parte da ofensiva que o governo vinha fazendo em troca de votos pela reforma da Previdência, permite o parcelamento de débitos de produtores rurais pessoas físicas e adquirentes de produção rural à seguridade social vencidos até 30 de abril de 2017. O Programa de Regularização Tributária Rural (PRR) abrange dívidas no âmbito da Receita Federal e da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional. Os interessados poderão aderir ao parcelamento até o dia 29 de setembro deste ano. O parce-

lamento do PRR permite o pagamento de uma entrada de 4% do total da dívida, sem descontos, em até quatro parcelas iguais e sucessivas. O restante do débito poderá ser dividido em até 176 prestações, com desconto de 100% nos juros e de 25% nas multas e encargos. As condições gerais valem tanto para o produtor pessoal física quanto para o adquirente de produção rural. Para adquirentes de produção rural com dívida igual ou superior a R$ 15 milhões, o PRR ainda dá uma outra opção para liquidação dos débitos, com pagamento da entrada em espécie. Além do Refis, a MP também reduziu para 1,2% a alíquota da contribuição do empregado rural pessoa física destinada à seguridade social a partir de 1º de janeiro de 2018.

CNA a ABIEC firmam parceria Os presidentes João Martins, da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), e Antônio Jorge Camardelli, da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (ABIEC), assinaram, no dia 1º de agosto, um Termo de Cooperação, em que as duas entidades assumem o compromisso de promover ações conjuntas para aprimorar a cadeia produtiva da carne bovina. Entre as medidas estão a apresentação de pleitos unificados junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA); o desenvolvimento de um novo Sistema Brasileiro de Classificação de

Carcaças Bovinas; a melhoria da imagem da carne bovina e a criação de um fundo de amparo à cadeia produtiva. Os testes para implantação do novo Sistema Brasileiro de Classificação de Carcaças foram concluídos na última semana de julho, tendo como base o sistema de classificação do frigorífico Minerva. E as negociações para a transferência da gestão da Base Nacional de Dados/SISBOV do MAPA para a CNA, que deve reduzir a burocracia no processo de certificação para exportação de carne bovina para a União Europeia, também estão avançadas.

Sementes mais baratas

tagens”, afirma Mariane Crespolini, pesquisadora do Cepea. No fim do período das águas, janeiro e fevereiro, a demanda por sementes para pastagens esteve mais aquecida, o que estimulou novos reajustes, de 2,1% e 0,8% respectivamente. Mas, a partir de março, os preços começaram a cair. No Mato Grosso do Sul, o quilo da semente de marandu recuou mais de 50% e, em São Paulo, a semente do mombaça teve desvalorização de 38%. Segundo Mariane, há possibilidade de novas quedas no preço das sementes no segundo semestre. “A nova fase de plantio tem início em setembro e os pecuaristas já deveriam estar se organizando para adquirir a matéria-prima para a reforma de seus pastos, mas não temos observado grande movimento”, informou.

Depois dos reajustes recordes no preço das sementes forrageiras, que chegaram a triplicar em 2016, como noticiado na edição de setembro de DBO, os valores recua­ ram pouco menos de um ano depois. De acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Esalq/ USP, o preço das forrageiras, que chegou a R$ 25/kg no último trimestre do ano passado, já caiu 50% em média, no primeiro semestre de 2017, voltando aos R$ 12,50. O recuo é reflexo direto de um aumento expressivo na oferta das sementes, mas que não foi totalmente absorvido pelo mercado. “Os pecuaristas estão desanimados com as sucessivas quedas no preço da arroba e por isso investem pouco na reforma de pas-


Um ano após inaugurar sua sede na rua Normandia, em São Paulo, SP, a Associação Nacional da Pecuária Intensiva (Assocon) anunciou mudança de endereço. Desde o dia 1o de agosto, passou a ocupar uma sala na Sociedade Rural Brasileira (SRB), localizada no Vale do Anhangabaú, na rua Formosa, 367, centro da capital. Com a mudança, esse passa a ser o único endereço da associação no País, que fechará também seu escritório em Goiânia, GO. Gerente técnico da entidade, Bruno de Andrade informa que a parceria com a SRB visa aproximar a Assocon dos debates do setor. Ele e mais dois técnicos, que ainda serão contratados, farão parte da equipe fixa da associação em São Paulo.

Paraguai estuda criar instituição como o INAC Na busca por agregar valor à carne bovina, a Associação Rural do Paraguai (ARP) está tentando criar uma entidade nos moldes do Instituto Nacional de Carnes (INAC), do Uruguai. A iniciativa surge em um momento considerado positivo para o país no setor, após ter conquistado um mercado considerável e ser reconhecido pela qualidade dos seus produtos no exterior, informa a associação. “A questão é que nos falta marketing e não temos preço”, diz Silvio Vargas, representante da ARP no Departamento de Misiones. A meta do país é alcançar os patamares de preços praticados pelos argentinos e uruguaios na venda de sua carne mundo afora.

Rebanho/Abate

Rebanho

25

Abate

Produção

Produção

1.000.000 900.000

23

800.000

20

700.000

18

600.000

15

500.000

13

Toneladas

28

400.000

10

300.000

8

11% Rebanho (dez anos)

2015*

2014

2013

2012

2011

2010

2009

2008

2007

0

2006

0

2005

100.000 2004

3 2003

200.000

2002

5

2001

Assocon na SRB

Infográficos que sintetizam informações importantes da pecuária

Preços da arroba à vista(*), com desconto do Funrural.

2000

Após mais de oito anos de serviços prestados às Fazendas Brasil, em Barra do Garças, MT, onde ocupou o cargo de gerente agropecuário, o veterinário Rogério Fonseca Guimarães Pereso assumiu a recém-criada posição de gerente de contas-chave de corte para a América Latina da ABS Global. No novo cargo, sua principal atribuição será criar soluções genéticas customizadas para clientes com diferentes sistemas de produção e avaliar a oportunidade de lançar novos produtos no Brasil, Argentina, Colômbia, Uruguai, Chile e México.

Infopec

Milhões de cabeças

Novos desafios

2% Produção (dez anos)

8% Abates (dez anos)

Fonte: IBGE /SIPOA/SFA | Elaboração: DECON/SISTEMA FAMASUL.

Nota: *Estimativa do rebanho

Rebanho menor, mas produção maior Desde 2003, o rebanho bovino sul-mato-grossense caiu 12,5%, passando de 2,5 para 2,1 milhões de cabeças, mas a produção de carne no Estado aumentou, conforme levantamento da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul). Segundo Eduardo Riedel, secretário de gestão estratégica do Estado, essa redução acompanha uma tendência mundial e atende à necessidade de aumento

de produtividade, devido à perda de área da pecuária para a agricultura e o reflorestamento. As pastagens passaram de 21,8 milhões ha, em 2010, para 19,4 milhões, em 2016. Para manter suas margens, os produtores investiram em tecnologia, aumentando sua produtividade, especialmente após 2011, como mostra o gráfico. Os dados são do Sistema de Informação Geográfica do Agronegócio (Siga-MS).

Pecuarista do MT é pressionado a vender a prazo A compra de boi à vista ficou mais rara e menos atrativa para os pecuaristas no Mato Grosso, como aponta um estudo divulgado pelo Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea). De junho de 2016 a junho de 2017, o deságio aplicado sobre essa modalidade comercial, em comparação com a venda a prazo (30 dias), passou de 1,69% para 3,46%, o maior percentual médio registrado no Estado nos últimos oito anos. “A última vez que registramos percentual maior do que este foi em abril de 2009, quando essa diferença ficou em 3,60%”, compara Yago Travagini, analista do Imea. O aumento do deságio sobre a venda à vista tem forte correlação com a atual crise da JBS, envolvida nos escândalos de corrupção apurados pela Operação Lava Jato da Polícia Federal. Desde que a deleção premiada dos irmãos Joesley e Wesley Batista veio à tona, em

Diferença à vista e à prazo Data jun.16 jul.16 ago.16 set.16 out.16 nov.16 dez.16 jan.17 fev.17 mar.17 abr.17 mai.17 jun.17

Boi gordo Boi gordo Diferença à vista

à prazo

(%)

132,16 131,91 130,68 131,79 134,00 131,29 127,80 127,19 125,51 125,12 123,66 124,15 119,81

134,43 134,44 133,48 134,57 136,96 134,39 130,77 130,10 128,43 128,15 126,95 127,66 124,10

-1,69% -1,89% -2,10% -2,07% -2,16% -2,31% -2,27% -2,24% -2,27% -2,37% -2,58% -2,75% -3,46%

17 de maio, a JBS passou a comprar somente a prazo, sendo seguida por outros frigoríficos do Estado, que conta hoje com 23 abatedouros.

agosto 2017

DBO 21


Coluna do Cepea

Por que o preço da carne não caiu no supermercado? Sergio De Zen Professor doutor da Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz), da USP (Universidade de São Paulo), e pesquisador responsável pela área de pecuária do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP

Mariane Crespolini Mestre e doutoranda em economia pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e pesquisadora do Cepea

O

s preços do boi gordo seguem em queda no País. Comparando-se as médias mensais de julho de 2016 até a parcial de julho de 2017, o indicador do boi gordo Esalq/B3 (antiga BM&FBovespa) cedeu significativos 19,8%, em termos nominais. Foi o recuo mais expressivo para o período desde o início da série histórica do Cepea, em 1997. Somente no acumulado de 2017 (até 20 de julho), a arroba do boi gordo se desvalorizou 16,59% – também a maior queda para o período desde o início da série. Ainda que os preços do boi tenham caído, no mercado atacadista de carne com osso o valor da carcaça casada de boi (dianteiro, traseiro e ponta de agulha) registrou queda de apenas 3,2% entre julho de 2016 e a parcial de julho/2017. Ao contrário das cotações do boi gordo, que estão em queda mensal desde julho de 2016, a carcaça casada se valorizou no segundo semestre de 2016, com baixas ocorrendo apenas em 2017. Considerando-se 2017, a carcaça casada se desvalorizou 9,8%, recuo bem menos expressivo do que o observado para a arroba. Como ilustrado no gráfico, até junho de 2008, as cotações da arroba e da carcaça casada variavam de maneira muito próxima. Em diversos períodos, as valorizações do boi foram superiores às da carne no atacado. Porém, após junho de 2008, as linhas passaram a se distanciar. Mesmo que em alguns momentos as variações tenham se aproximado, com valorização do boi superior à da carcaça, nunca mais as linhas se encontraram. A diferença entre essas variações, considerando-se 2001 como ano-base, tem efetivamente ocorrido desde a metade de 2016, com a queda de preço da arroba expressivamente superior à da carne. Muitos fatores explicam o recuo de preços da cadeia. O primeiro relaciona-se aos maiores investimentos de pecuaristas em períodos anteriores, que resultaram em ga-

Variação acumulada do boi gordo e da carcaça casada

Carcaça casada/boi Arroba boi gordo

Fonte: Cepea.

22 DBO

agosto 2017

nhos de produtividade e também à maior disponibilidade de fêmeas para abate no início de 2017. Esta conjunção, somada à demanda ainda sem fôlego para absorver o excedente produzido, pressionou as cotações já em janeiro. Após a Operação Carne Fraca e os recentes desdobramentos da delação premiada da JBS, que reduziu expressivamente a quantidade de animais abatidos, a necessidade de preencher escalas de indústrias concorrentes foi rapidamente atendida, conferindo-lhes maior poder de negociação. Se a grande empresa tivesse mantido compras, a queda não seria tão abrupta. Para o consumidor, a quantidade de carne que chegou ao atacado foi menor, limitando a baixa de preço. Falta e excesso É o tipo de evento que foge do controle do produtor: excesso de oferta de animais para abate de um lado e escassez de carne para o consumidor nacional de outro, embora este não esteja no seu melhor momento. Este cenário foi agravado por dois fatores: o primeiro, o fato de a produção primária ser composta por um número muito elevado de pecuaristas com pouca organização em comercialização conjunta e grande heterogeneidade no produto ofertado, o que caracteriza estes últimos como agentes econômicos tomadores de preços. O segundo fator é que a delação ocorreu no pico da safra de boi. Assim, a disponibilidade de animais já era, sazonalmente, a maior do ano. Como o elo intermediário da cadeia é mais concentrado e organizado, as indústrias que continuaram comprando “normalmente” administraram as escalas para obter matéria-prima a preços mais baixos. De fato, como resultado de uma política que teve início em meados do ano 2000, algumas empresas tiveram hipertrofia. Isso não se caracteriza como concentração de mercado, mas como uma importância de mercado dessas indústrias. A solução para vencer os desafios de 2017 estaria no aumento das exportações, oportunidade que tem sido prejudicada pelos problemas de imagem da carne brasileira. Em situações normais, o mercado internacional absorveria o excedente produzido, dada a saída da Índia e a retração da produção e exportação australianas. No acumulado deste ano, o volume exportado é 8,36% menor do que o do primeiro semestre de 2016, conforme a Secex. O grande perigo é uma desestruturação do setor nos próximos anos, uma vez que o pecuarista busca gerar fluxo de caixa na venda de matrizes. Caso não haja uma política visando à manutenção do número de reprodutoras, a atividade pode entrar num um ciclo vicioso que custará caro, com a reconstrução do rebanho. n



Mercado

Baixo valor do boi gordo trava negócios No início de agosto, preço da arroba esboçou reação, mas no ano queda já alcança 16%. Denis Cardoso

A

pós bom volume de chuva no primeiro semestre, a seca, enfim, começou a dar as caras, aumentando a necessidade de o pecuarista vender o gado terminado. Mas vários problemas dificultam a negociação. Um deles é que o poder de barganha do criador, que diminuiu após vários frigoríficos forçarem a aquisição a prazo dos animais, aumentando o desconto na compra à vista. Para analistas, a dificuldade de fechar as vendas surgiu depois que a JBS, o maior frigorífico do País, decidiu só comprar bois a prazo, para preservar o caixa e enfrentar as turbulências causadas pela delação premiada dos proprietários, os irmãos Batista. Uma fonte de mercado, que não quis se identificar, diz que, pelo menos no que diz respeito à compra de animais, a JBS vive o melhor “dos mundos”. Adquire a boiada a prazo, sem desembolsar nada por isso na hora, e só paga os produtores 30 dias depois do desmonte dos animais no frigorífico, teoricamente com o dinheiro arrecadado pela venda dessa mesma boiada ao atacadista. “É um negócio da China”,

Indicador Boi Gordo recua 1% em julho no Estado de São Paulo Datas da liquidações dos contratados negociados na B3 31/07/2017 30/06/2017 R$ 125,53 R$ 126,56

Especificações Preço à vista

Fonte: Cepea/Esalq/USP/B3. Média dos últimos cinco dias úteis em São Paulo. O valor é usado para a liquidação dos contratos negociados a futuro na B3.

Preço do bezerro fica estável em julho no Mato Grosso do Sul Datas de levantamento do Cepea 31/7/2017 30/6/2017 1.098,16 1.100,69 220,09 223,00 R$ 4,99 R$ 4,93 R$ 148,68 R$ 148,07

Especificações Preço à vista por cabeça Peso médio/kg Preço por kg Preço por arroba Fonte: Cepea/Esalq/USP

Preço futuro do boi para outubro próximo aponta arroba de R$ 134,75 Mês para a liquidação dos contratos na B3 Data dos pregões

jan

Fev Mar Abr

Mai

31/5/2017

-

-

-

-

30/6/2017

-

-

-

-

-

31/7/2017

-

-

-

-

-

Fonte: B3

24 DBO agosto 2017

Jun

Jul

Ago

Set

Out

Nov

Dez

132,80 129,00 130,56 131,75 132,14 132,60 133,27 133,69 127,48 123,63 124,06 123,96 124,58 125,24 125,65 -

124,20 130,30 132,60 134,75 134,83 135,01

diz. Segundo a fonte, com essa estratégia o frigorífico deixa de procurar os bancos, atrás de empréstimos de curto prazo, “fugindo do custo dos juros e reduzindo a necessidade de capital de giro”. No entanto, o principal imbróglio enfrentado hoje pelo produtor que necessita vender o boi gordo é o baixo valor da arroba, relacionado com um mercado interno de carne bovina ainda bastante retraído, reflexo da crise econômica. É bem possível que a forte pressão de baixa imposta pelos frigoríficos desde o ano passado seja revertida aos poucos à medida que a estiagem se intensificar, restringindo a oferta de animais e encurtando as escalas dos frigoríficos. Mesmo assim, pelo menos ao longo de 2017, analistas acreditam que, se houver um movimento mais consistente de alta da arroba na entressafra, a oscilação deve ser comedida. Como o próprio pecuarista parece não acreditar em milagres, o quadro é de desânimo, resultando no travamento dos negócios nas principais regiões pecuárias. No início de agosto, o mercado já “ensaiava” uma tendência de alta da arroba, segundo dados do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP. O Indicador Esalq/B3 do boi gordo (Estado de São Paulo, valor à vista) atingiu R$ 127,08 em 2 de agosto (véspera do fechamento desta edição), aumento de 1,2% sobre o valor de fechamento de julho (R$ 125,53). Porém, mesmo com esse possível viés de alta, o “choro” do produtor faz todo o sentido. O Cepea mostra que a arroba do boi gordo, em São Paulo, acumulou no fim de julho uma queda nominal de 16%, em relação ao último dia útil de dezembro de 2016 (R$ 149,46). Na comparação com junho, com R$ 126,56, o boi recuou mais 1% no mês passado. Mercado futuro Uma luz no fim do túnel, porém, foi acesa pelo mercado futuro de boi gordo da B3 (antiga BM&FBovespa), em São Paulo. Depois de registrar um cenário altamente nebuloso nos primeiros seis meses do ano, os contratos futuros tiveram surpreendente reação a partir de julho (veja tabela). O contrato do boi com vencimento em outubro, em São Paulo, que chegou a atingir, no dia 21 último, R$ 119,83/@ (o menor valor já registrado para este contrato), se aproximou de R$ 135/@ na posição de 31/7/2017, forte valorização de 12,6%. Tal comportamento do mercado futuro, dizem os analistas, pode voltar a animar o confinador para o segundo giro de engorda intensiva no País. Quanto às exportações de carne bovina in natura, o resultado em julho foi outra boa notícia. Segundo dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC), os embarques somaram 106.400 toneladas, quantidade 6,2% superior à exportada em junho deste ano. Em receita, houve acréscimo de 6,7%, para US$ 450,7 milhões, em relação a junho.Na comparação com julho de 2016, as vendas externas em julho de 2017 subiram 29,5% e as receitas, 38,5%. n



Mercado

Bezerro de 6@ cai para menos de R$ 1.000

Isoladamente, o abate de fêmeas com mais de 36 meses cresceu 14,63% no período.

Descarte de fêmeas mostra que o ciclo de baixa continua bastante ativo

A

Denis Cardoso

pressão de baixa no mercado de reposição vem ganhando força, movimento que, em julho, fez derrubar fortemente os preços de todas as categorias na maioria das praças de comercialização do País. O bezerro desmamado (6 arrobas) foi a categoria que levou o maior tempo, segundo Scot Consultoria, de Bebedouro, SP. O fato é que, para este ano, já era esperada uma maior oferta de bezerros diante da menor participação de fêmeas nos abates em 2015, segundo relata a zootecnista Isabella Camargo, analista da Scot. “Isso naturalmente neste ano”, enfatiza. No entanto, continua Isabella, este cenário de queda ficou ainda mais intenso com a falta de interesse dos recriadores. “Eles se afastaram das compras de animais de reposição, frente a um mercado físico do boi gordo turbulento no primeiro semestre”, diz. Com essa situação, resta ao criador trabalhar de maneira cautelosa, com muito planejamento, porque, certamente, a maior participação de fêmeas nos abates em 2017 resultará em falta de oferta de bezerros daqui a dois anos. “O momento é de muita atenção na tomada de decisão; com pastos perdendo capacidade de suporte e grande oferta disponível, o mercado tende a ficar mais pressionado”, alerta a analista. Ciclo ativado Dados citados no boletim do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea), de Cuiabá, MT, mostram que o ciclo pecuário atual continua bastante ativo. Isto é, as fazendas de cria continuam descartando suas matrizes demasiadamente. Nos primeiros seis meses deste ano, o abate geral de bovinos no Mato Grosso teve seu pior primeiro semestre desde 2010, recuando 4,17% sobre igual período do ano passado. No entanto, o número de fêmeas abatidas no Estado cresceu 8,38% e atingiu a maior proporção no abate desde 2014 (48,9%).

Fortes recuos Segundo pesquisa mensal realizada pela Scot, que considera a variação média de preços de animais machos e fêmeas anelorados em 14 praças pecuárias do País, o mercado de reposição caiu quase 2,2% em julho em relação ao valor médio de junho. Em São Paulo, os preços médios do bezerro (6@) despencaram em julho, fechando a R$ 962,50, com desvalorização de 6,5% na comparação com o valor médio registrado em junho, de acordo com a Scot Consultoria. O valor do garrote (9,5@) também teve forte recuo, atingindo R$ 1.325, queda mensal de 4,5%. O boi magro (12@) fechou o período a R$ 1.667,50, em média, com retração de 3% sobre o mês anterior. O preço da novilha (8,5@) caiu ainda mais em julho, para R$ 1.077,50, queda de 6%. Na praça do Mato Grosso do Sul, o valor médio do bezerro desmamado teve forte baixa de 6% em julho, alcançado a média de R$ 972,50. O garrote registrou desvalorização de 3,6% atingindo R$ 1.330, enquanto o boi magro teve queda 2%, para R$ 1.632,50. Nesse mesmo período, o preço da novilha registrou brusca queda de 6,2% no MS, para R$ 1.632,50, em média. No Mato Grosso, o bezerro de 6@ fechou julho a R$ 952,50, queda de 2,4% sobre junho. Os preços do garrote e do boi magro caíram 2,4% e 1,8%, respectivamente, para R$ 1.327,50 e R$ 1.545. A novilha registrou baixa de 1,8%, atingindo o valor médio de R$ 982,50, segundo a Scot. Na praça de Goiás, o preço do bezerro desmamado encerrou julho a R$ 977,50, em média, queda de 2,1%, enquanto o garrote teve retração de 1%, para R$ 1.380. O boi magro caiu 1% no mês passado, ficando a R$ 1.650. O preço da novilha teve recuo de 0,7%, para R$ 1.042,50. Na Bahia, o preço do bezerro cedeu 2,6% em julho, para R$ 952,50. O valor do garrote atingiu R$ 1.405, queda de 1,3%. O boi magro teve baixa mensal de 2%, atingindo R$ 1.670. O valor da na novilha ficou estável. Com essas novas quedas da reposição, a relação de troca ficou favorável ao recriador/invernista, mesmo com o enfraquecimento do valor do boi. Em julho último eram necessárias 7,56 @ de boi gordo para a compra de um bezerro desmamado, frente a uma relação de troca de 7,83@/bezerro registrada em julho de 2016 – melhora de 3,4% no poder de compra, segundo dados da Scot.

nnn

nnn

nnn

nnn

Valor médio do bezerro desmamado (6@) no Mato Grosso do Sul em julho; desvalorização de 6% sobre junho.

Cotação média da novilha (8,5@) na praça de São Paulo, no mês passado; retração mensal de 6%.

Preço médio do garrote no Mato Grosso em julho; baixa de 2,4% em relação ao mês anterior.

Valor médio do boi magro (12@) em Goiás, no mês passado; recuo mensal de 1%.

R$ 972,50

nnn

26 DBO agosto 2017

R$ 1.077,50

nnn

R$ 1.327,50

nnn

R$ 1.650

nnn


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Aumente a qualidade da carcaça do seu rebanho e cresça no mercado. Fazendas Nova Canaã e Recanto Nova Crixás - GO

MEN OS DE

1,5% DE CA R CAÇAS I N DESEJÁVEI S.

Para alcançar resultados realmente expressivos, as Fazendas Nova Canaã e Recanto, em Nova Crixás (GO), contaram com assessoria completa da Premix. O índice que indica o nível da carne desejada pelo mercado, aumentou de forma expressiva de 6,05% em 2015, para 46,77 % em 2016. O confinamento teve duração de 93 dias e o ganho de peso foi de 123 kg por animal no período total, sendo o ganho de carcaça de 1,1 kg/ cabeça/dia e 57,84% de rendimento de carcaça final. Acesse

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Fora da Porteira

Rogério Goulart

Milho, o amigo do peito. O preço deste grão está lhe dando agora uma oportunidade única

Administrador de empresas, pecuarista e editor do informativo semanal “Carta Pecuária”, de Dourados, MS.

S

abe amigo do peito? Aquele que está sempre ao seu lado, oferecendo apoio? E que não lhe nega umas broncas quando você faz algo errado? É aquele sujeito que quer o seu bem e que, mesmo à distância, não se submete, trata você como igual, sem vaidade ou duplo sentido, e caminha lado a lado. Nos últimos anos, a pecuária de corte fez um novo amigo no Brasil, o Zea mays. Como ele é nosso amigo, podemos chamá-lo de milho. Juntamente com o desenvolvimento das tecnologias de nutrição, esse cereal tornou a engorda extremamente eficiente, rápida e competitiva. A maior vantagem disso, penso, é diminuir drasticamente a necessidade de área para engordar o gado. Como você pode ver no gráfico, falamos sobre esse grão amarelo há tempos, caro leitor. Os pontos vermelhos indicados na figura representam os perío­ dos nos quais falamos de milho em DBO. O objetivo com esse gráfico retrospectivo foi trazer esse “amigo” mais perto da gente. E perceber os momentos em que ele voltou de viagem e nos foi mais favorável. E favorável, para quem compra esse insumo, é tentar descobrir quando ele está de fato barato.

Dois extremos Olhando para trás, queria focar nos dois extremos nos preços, em 2014 e 2016. O melhor momento nos últimos anos para comprar o grão foi em 2014. Escrevi: “Posso estar errado, mas (...) a tentação é grande para colocar para dentro da fazenda a maior quantidade possível de milho. Digamos assim, cinco anos de milho? Se fosse possível comprar cinco anos de consumo de milho de forma econômica, acho que isso seria uma boa ideia”. Em 2016, porém, a preocupação com o fluxo de caixa nos mostrava que Preços mensais do milho em São Paulo Os sinais vermelhos indicam quando esta coluna escreveu sobre o grão

28 DBO agosto 2017

usar o cereal naqueles preços não era tão atrativo. O tempo passa, caro leitor. Andamos para frente ou para trás? No caso do milho, acho que voltamos no tempo. Estamos passando por nova fase de valores baixos deste nosso amigo em 2017. Não estão tão baixos quanto em 2014, mas entendo da mesma forma o contexto. Nas outras ocasiões, quando o grão chegou a valer por volta (ou abaixo) de R$ 25/saca, achava que a coisa estava barata. Acho a mesma coisa aqui. Espero que alguns leitores tenham se sensibilizado ao ler o texto de 2014 e comprado alguma coisa de milho na ocasião para estocar. Existem várias maneiras de comprar o grão. É claro que é uma coisa cara estocar. Quem é que tem caixa para isso? Só que temos algo parecido que faz praticamente a mesma coisa. A alternativa ao milho físico, guardado na fazenda, é comprar o grão futuro na Bolsa. Ao longo da sua vida profissional, até aqui, 2017, você deve ter assistido a inúmeras palestras, lido várias reportagens e acompanhado argumentações sobre fazer alguma coisa na tal da “Bolsa”. Milho, soja, boi, café, etanol, ouro, dólar, petróleo, tudo isso é negociado lá todos os dias. Como qualquer ferramenta nova que trazemos para dentro da fazenda, Bolsa é só isso, uma ferramenta. Você pode fazer um bom ou mau uso dela. Estamos passando pelo fim da colheita da segunda safra de milho. Os preços estão convidativos para estocar. Visto agora, no fim de julho, enquanto escrevo este texto (isso pode mudar), talvez os preços de venda do boi gordo nos digam que hoje a possibilidade de engorda “pesada” com milho para este ano não traga grandes benefícios em lucratividade. Mas aí é que está o ponto: que tal já pensar em milho para o ano que vem? As oportunidades de mercado estão aí. Você hoje já pode comprar milho para o ano que vem inteiro, se quiser. Com o mercado interno melhorando, aos poucos o consumo de carnes aumentará. Nesse nível de preços do grão, ele se torna muito atraente para ser exportado. Diante desses fatos, não fico confortável pensando que os estoques ficarão assim folgados e pressionados para sempre. Fica aí a dica. O que tenho tentado com meus clientes é pensar em maneiras de aproveitarmos esse momento tão especial, quando o melhor amigo da pecuária de engorda volta à sua casa depois de três anos viajando tão longe. Ele chega com um sorriso tão largo no rosto! Não dá para deixar de dar um grande abraço nele. Milho barato, que saudade! n



INFORME TÉCNICO

GERAR.

BENCHMARKING IATF 2017 O GERAR (Grupo Especializado em Reprodução Aplicada ao Rebanho) é um seleto grupo de técnicos que trabalham e discutem inovações e resultados referentes à IATF (Inseminação Artificial em Tempo Fixo) e TETF (Transferência de Embrião em Tempo Fixo). Os dados são coletados nas fazendas atendidas pelos técnicos, analisados pela equipe da UNESP/Botucatu-SP e apresentados nas reuniões anuais do grupo GERAR. Em 2017, o grupo superou o número de 1.000.000 de dados recebidos em um único ano e agora conta com um banco de dados com 3.972.878 informações de IATF. Esse ano o grupo gerou 1.027.266 dados de IATF que foram analisados e estão apresentados a seguir.

Cidades com pelo menos 1 técnico participante do GERAR

TAXA DE PRENHEZ À IATF (GERAR 2007 a 2017) 1.027.266

900.000 800.000 600.000 49,2%

48,4%

48,7%

48,8%

49,6%

48,8%

400.000 300.000

162.553

200.000 100.000 0

70%

681.496

700.000 500.000

80%

824.486

29.617 2007

69.102

101.142

51,4%

, 51,2%

315.847

353.412

52,0%

60% 51,6%

51,0%

50% 40% 30%

251.230

20%

156.727

10% 0

2008

2009

2010

2011

2012

Total de dados analisados

2013

2014

2015

2016

2017

Taxa de prenhez à IATF

TAXA DE PRENHEZ À IATF - POR RAÇA CRUZADA

TAURINA

ZEBUÍNA

2017

53,7%

(n=115.526)

2017

56,5%

(n=32.014)

2017

50,5%

(n=858.628)

2016

55,5%

(n=95.622)

2016

56,1%

(n=27.535)

2016

50,9%

(n=668.880)

2015

56,4%

(n=87.220)

2015

51,8%

(n=16.709)

2015

51,4%

(n=558.784)

Taxa de prenhez à IATF

1.000.000


TAXA DE PRENHEZ À IATF - POR CATEGORIA 2015

2016

2017

2015

2016

2017

NOVILHAS INDUZIDAS*

50,3% (n=10.738)

46,4% (n=27.803)

48,2% (n=54.255)

SECUNDÍPARAS

54,9% (n=9.621)

54,9% (n=12.821)

53,2% (n=28.730)

NOVILHAS

48,4% (n=113.949)

49,1% (n=144.228)

48,6% (n=163.243)

MULTÍPARAS

54,0% (n=382.890)

54,0% (n=428.116)

53,4% (n=560.049)

PRIMÍPARAS

47,1% (n=80.690)

47,4% (n=121.758)

45,9% (148.175)

SOLTEIRAS

51,5% (n=69.734)

51,8% (n=62.446)

50,6% (n=57.917)

*Novilhas que receberam protocolo de indução de puberdade + protocolo de IATF.

PROTOCOLO PREMIUM GERAR E RANKING DAS FAZENDAS 2017 0,3 ml E.C.P. + 1,5 ml Novormon®

O Benchmarking 2017 contou com os dados de 1.288 fazendas; desse total foram selecionadas as 758 fazendas que apresentaram mais de 200 IATFs em vacas Multíparas. As fazendas foram classificadas em ordem decrescente de acordo com a taxa de prenhez e apenas as fazendas TOP 50% (n=379) estão representadas na tabela abaixo:

Top 1%

Top 10%

Top 20%

Top 50%

7

68

76

228

2.430

35.759

46.356

153.241

Taxa de Prenhez à IATF:

76,7%

66,4%

61,4%

56,7%

% Fazendas que usaram Protocolo Premium GERAR*:

85,7%

78,8%

72,0%

64,9%

(6/7)*

((52/66)*

(54/75)*

(146/225)*

Ranking Nº. de Fazendas: Nº. de IATF:

* Não foram consideradas na análise as fazendas especificaram o protocolo utilizado. USO DE VACINAS REPRODUTIVAS PELO GRUPO GERAR - (No.quedenão animais vacinados com CattleMaster) NOVILHAS

TAXA DE PRENHEZ IATF - GERAR POR RAÇA USO DE VACINAS REPRODUTIVAS PELO ÀGRUPO - (Nº. de IATF em animais vacinados com CattleMaster) CRUZADA

NOVILHAS

2017 2016 2015

53,7%

(n=115.526)

55,5%

15.785 (n=95.622)2014

56,4%

TAURINA

110.386 14.022

4.995

2013

2012

(n=87.220)

2017

2015

2016

56,5%

(n=32.014)

56,1% 12.308

(n=27.535) 2017

14.200 15.963 201220162013

ZEBUÍNA

197.489 2015

50,5%

(n=858.628)

2016 261.221 50,9%

(n=668.880)

51,4%

(n=558.784)

2017

127.904

2014

2015 15.963 51,8% 14.200 2013 2012 12.308 2014

(n=16.709)

2015

2015

127.904

Copyright Zoetis Indústria de Produtos Veterinários Ltda. Todos os direitos reservados. Material produzido em agosto de 2017. Para informações, consulte o SAC: 0800 011 19 19. Cód. 30000915

48 h

CIDR/DIB ®




Cadeia em Pauta

Brasil recua na Hilton

gências, dificuldade (ou pouco interesse dos frigoríficos em firmar contratos fixos de fornecimento com produtores), questões cambiais e até problemas de imagem da carne brasileira. Antônio Camardelli, presidente da Associação Brasileira de Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec) descarta esta última hipótese. Segundo ele, a explicação para a queda nos embarques não está na Operação Carne Fraca, nem nas delações da JBS ou na cobrança do Funrural, mas na dificuldade (já histórica) do Brasil de produzir bovinos para atender a cota, dentro das normas estabelecidas pela União Europeia.

Embarques atingiram 86% da cota, que continua sofrendo com burocracia. Da Redação

A

pós avançar bastante no cumprimento da Cota Hilton, nos últimos anos, chegando a atingir 93% das 10.000 t a que tem acesso na safra 2015/2016, o Brasil voltou a patinar nesse importante segmento do mercado internacional. Os embarques entre 1o de julho de 2016 e 30 de junho de 2017 atingiram 8.576 t (86% do total da cota), sete pontos percentuais a menos do que no período anterior. O que justificaria a queda no atendimento a um nicho comercial atrativo para os frigoríficos, que movimenta exclusivamente cortes nobres in natura para a União Europeia com baixa carga tributária? A diferença entre o valor do produto Hilton, taxado em 20% ao ingressar na UE, e o extra-cota, que paga 12,8% de imposto mais 3.040 euros por tonelada, pode chegar a US$ 4.000/t a favor do exportador. Então, o que impediu o Brasil de cumprir a cota em 2016/2017, se já havíamos chegado tão perto dos 100%? DBO constatou que não é fácil responder a essa pergunta. Há muitas variáveis envolvidas: especificidades de contratos de empresas, atratividade pontual de outros mercados que compram cortes nobres e têm menos exiAdesão à lista traces não avança Ano Propriedades Animais vivos 2014 2015 2016 2017

1676 1635 1641 1657

4.002.551 4.069.192 4.101.888 4.340.881

Fonte: Mapa. Adaptação DBO

“Tropeço” de 650 t em 2016/2017 10000

92,30

85,76 Fonte: Abiec . Adaptação DBO

79,90

8000 6000 4000 2000

40,79 29,78

2012/2013

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2013/2014

2014/2015

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Sisbov empacado O padrão de carcaça Hilton nem é tão exigente – bois de até 36 meses (se castrados) ou até 24 meses (se inteiros), gordura escassa a mediana, peso mínimo de 14@. As exigências quanto à procedência, contudo, são restritivas. Os animais devem vir de estabelecimentos rurais aprovados no Sisbov (Eras), ser rastreados desde a desmama e terminados predominantemente a pasto. “A burocracia é tanta que, dependendo do tamanho da propriedade e do número de animais, a relação custo/benefício fica pouco favorável. Isso gera dúvida em relação aos benefícios da cota”, diz Camardelli. O número de fazendas habilitadas para exportar ao mercado europeu (Lista Traces) evidenciaria o desinteresse dos produtores. Dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), mostram que, desde 2014, a Traces está “empacada” na casa das 1.650 fazendas, com rebanho de cerca de 4 milhões de cabeças, todas as categorias incluídas. O Mapa não informa a quantidade de bezerros rastreados desde a desmama para que se possa ter uma ideia da oferta disponível para a Hilton. Faltam estatísticas nessa área. Sobram, porém, queixas em relação ao ágio. A zootecnista Consolata Piastrella, diretora da Piastrella Rastreabilidade Animal, de Goiânia, GO, diz que alguns produtores deixaram de vender animais rastreados para os grandes frigoríficos porque o ágio não compensa, preferindo entregá-los a abatedouros com inspeção municipal ou estadual, que oferecem mais por arroba. Em Naviraí, MS, o criador José Jacintho Neto, deixou de entregar animais para a Hilton neste ano-cota, devido à insegurança nas negociações. “Muitas vezes preparamos lotes para a Hilton, o frigorífico informa que não está comprando esse tipo de animal naquele momento e temos de arcar com os custos”, afirma o pecuarista. Ele tem preferido vender suas novilhas Bonsmara para indústrias do sul do País, que compram fêmeas taurinas a preço de boi. “Vou receber R$ 10 a mais por arroba”, afirma. Segundo Adam Sammour, de Colina, SP, o ágio da Hilton caiu de R$ 6/@, em 2016 para R$ 5/@, em 2017. “E as exigências aumentaram. Só estão comprando animais castrados com até dois dentes, apesar de o protocolo Hilton aceitar bois de até 4 dentes”, informa o produtor, que vende animais para o Minerva. Procurado por DBO para esclarecer essa questão, o frigorífico alegou estar em período de silêncio, por determinação da Comissão de Valores Mobiliários.


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Cadeia em Pauta Só Uruguai e Paraguai chegaram lá. Países Argentina Brasil Austrália Uruguai N.Zelândia Paraguai Total*

Cota (ton.) 29.500 10.000 7.150 6.376 1.300 1.000 55.326

Safra 16/17 23.111 8.576 4.051 6.365 1.161 982 44.246

Partic.% 78 86 57 100 89 98 80

Safra 15/16 Partic.% 21.600 73 9.230 92 6.745 94 6.079 97 1.293 99 778 78 45.725 82

*Não estão incluídas 11.500 t de Estados Unidos e Canadá, não utilizadas desde 2012. Fonte: Abiec. Adaptação: DBO

Velho impasse Se o cumprimento da Cota Hilton depender da flexibilização das regras estabelecidas pela União Europeia, o Brasil continuará tendo dores de cabeça, pois esse impasse continua. “Há tempos estamos aguardando uma resposta de Bruxelas a nosso pedido de modificação da Instrução Normativa No 17, que criou a Lista Traces, e também nas regras da Cota Hilton”, diz Camardelli. Em nota, o Mapa informou não ter recebido manifestação das autoridades europeias em relação ao protocolo enviado. Os Estados autorizados a exportar a proteína para a UE são os mesmos desde 2008 (MT, MS, GO, MG, SP, ES, PR, SC e RS). Neste ano, Goiás liderou as vendas com 39,3% do total, seguido por São Paulo (33,6%), Mato Grosso (5,3%), Mato Grosso do Sul (5,2%), Minas Gerais (4,4%), Rio anuncio_soesp_18,4x12cm.pdf 1 01/08/17 17:28 Grande do Sul (1,8%) e Espírito Santo (0,4%).

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O governo brasileiro também aguarda o credenciamento de frigoríficos situados nos Estados de Tocantins, Rondônia e Distrito Federal para exportação à UE desde junho de 2016, quando uma missão de inspeção do bloco esteve no País para vistoriar as plantas. Não há sequer previsão para liberação do Rio de Janeiro, Acre, Pará, Amazonas e Estados do Nordeste, reconhecidos internacionalmente como livres de aftosa com vacinação desde 2014. O plano de solicitar aumento da participação do Brasil na cota, como compensação pela entrada da Croácia na Comunidade Europeia, também perdeu fôlego. “O Brasil não tem trocas comerciais que respaldem esse pedido”, lamenta Camardelli. Não apenas o Brasil teve dificuldades para cumprir a Hilton na safra 2016/2017. Como mostra a tabela, dos seis países que exportam para esse nicho de mercado, apenas Uruguai e Paraguai conseguiram participação próxima a 100%. No conjunto, os países fornecedores ativos (Estados Unidos e Canadá não vendem dentro da cota desde 2012), exportaram 44.246 t na safra 2016/2017, ante 45.725 t em 2015/2016, ou seja, quase 1.500 t a menos. O maior recuo foi o da Austrália, que na safra anterior exportou 94% das 7.150 t a que tem direito, e nesta safra recém-terminada cobriu apenas 57% desse total. Já a Argentina, que tem a maior porção da Hilton (29.500 t), conseguiu embarcar 78% desse montante, cinco pontos percentuais acima do desempenho da safra anterior. n



Tecnologia

Fazenda na palma da mão Munido de GPS, aplicativo Go.farm permite “rastrear” ser viços, controlar estoques e registrar ocorrências na fazenda em tempo real. esse histórico? Ele possibilita realizar análises de processos e custos. Quase todo mundo sabe o que precisa fazer na fazenda, mas não quando fazer. Dependendo do momento em que faço a roçagem do pasto, por exemplo, posso ter maior incidência de invasoras e ser obrigado a repetir o manejo, o que gera custos desnecessários. Analisando o histórico de atividades, enxergo isso facilmente”, diz o produtor, que antes pedia para seus funcionários fazerem esses registros manualmente, sem muito sucesso, e agora tem tudo na palma da mão.

Aplicativo registra rota realizada pelo funcionário e emite relatórios

Maristela Franco

F

maristela@revistadbo.com.br

ábio Medeiros, proprietário da Fazenda Filipinas, em Xapuri, Acre, cansou de estabelecer tarefas para seus peões e não vê-las cumpridas, recebendo explicações como “choveu” ou “não deu tempo”. Como não fica direto na propriedade, pois tem outros negócios em São Paulo, não conseguia controlar efetivamente os serviços. Agora consegue. Com ajuda de um aplicativo que desenvolveu em parceria com o consultor Jean-Pierre Grandsire, de GO, Medeiros acompanha, em tempo real, desde a distribuição de sal no cocho até o conserto de uma cerca ou a mudança de um lote de piquete. O aplicativo se chama Go.farm e será lançado internacionalmente no mês de novembro, em português, espanhol e inglês. Ele não necessita de internet e utiliza o GPS para localização exata do peão, que, munido de seu celular, registra a tarefa que está realizando por meio de mensagens de voz, texto e fotografias. No final do dia, o fazendeiro pode reconstituir o caminho percorrido pelo funcionário, saber quanto tempo ele gastou para executar cada serviço e emitir relatórios. A ideia do aplicativo surgiu da necessidade de eliminar planilhas de acompanhamento diário que Medeiros levava quase uma hora para lançar no computador e checar por telefone. Se queria saber o consumo de sal por piquete, qual pasto havia sido roçado ou fazer um histórico de atividades era uma missão quase impossível. “Que importância tem

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Diferenciais competitivos “O que diferencia o Go.farm dos demais aplicativos existentes no mercado é sua funcionalidade”, diz Grandsire. Para o peão (que precisa baixá-lo no celular), ele funciona como uma “caderneta de bolso digital”. Sua localização já é registrada pelo GPS e os demais procedimentos são fáceis. Para registrar o abastecimento de um cocho, por exemplo, basta entrar no aplicativo, ler o código de barras impresso na embalagem do saco (imediatamente o sistema identifica o produto), clicar em repor saleiro, depositar o suplemento, inserir no campo numérico quantos sacos distribuiu e fotografar o cocho cheio. “Não tem havido resistência dos funcionários ao aplicativo, pois eles gostam de mexer no celular e mostrar que estão trabalhando direitinho. Já o fazendeiro pode até usar os relatórios de serviço para montar programas de bonificação”, diz Medeiros. O Go.farm também faz registro de ocorrências, como um foco de incêndio, um animal morto ou uma cerca quebrada, e emite alertas sobre o estoque de sal, as condições dos pastos, acidentes etc. Sua “mensageria” interna permite que os funcionários conversem entre si. Segundo Grandsire, são tantas as possibilidades de uso que é difícil listá-las. O aplicativo pode ser usado para registrar nascimentos (data e local exatos do parto); inventariar patrimônio por meio da geração e aplicação de QR Codes, que facilitam a coleta de dados; monitorar o rebanho etc. Por seu ineditismo, o Go.farm chamou a atenção da aceleradora de startups Triple Seven Investiments, de SP, que o apresentou a investidores, em maio. Segundo Grandsire, a ideia é fornecer aos pecuaristas um serviço de assinatura mensal, com custo variável conforme o número de funcionários. “A economia com deslocamentos já pagará esse custo”, garante ele. n



Cadeia em Pauta Plano de vendas de ativos da JBS sai do papel

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ma das mais relevantes notícias do mês de julho relativa à situação da JBS foi anúncio da venda de sua participação na Vigor Alimentos, controlada pela J&F Investimentos (holding da JBS), para a mexicana Lala Foods. O negócio rendeu R$ 5,7 bilhões. Essa negociação inclui a fatia de 19,43% na Vigor, além de 50% das ações que a empresa láctea tinha na Itambé. A Vigor, segundo relato da própria compradora mexicana, é focada em produtos de maior valor agregado, como iogurtes e queijos. A empresa conta com 7.600 funcionários, 14 unidades industriais e 31 centros de distribuição. Por sua vez, a Itambé trabalha com um portfólio completo de lácteos, como leite em pó, leite condensado, doce de leite, iogurte e leite longa vida (UHT). A transação envolvendo a Vigor mostra que a JBS está conseguindo, enfim, colocar em prática o seu “plano de

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desinvestimento”, assim nomeado pela J&F, que prevê levantar pelo menos R$ 15 bilhões no curto prazo, para abater parte dos R$ 70 bilhões de suas dívidas. Em maio, os irmãos Joesley e Wesley Batista assinaram acordo de leniência após admitirem o pagamento de propinas a quase 2.000 políticos, que estabeleceu o pagamento de multa de R$ 10,3 bilhões ao longo de 25 anos. Antes de anunciar a transação envolvendo a Vigor, a JBS havia concretizado a venda de sua participação majoritária na Alpargatas, a empresa fabricante das tradicionais sandálias Havaianas, para o consórcio formado pelos grupos Itaúsa Investimentos e Cambuhy Investimentos, pertencentes às famílias Setúbal (dona do Itaú Unibanco) e Moreira Salles (também acionista do Itaú), respectivamente. O valor dessa transação ficou em torno de R$ 3,5 bilhões. Também em julho, a JBS recebeu autorização do CADE (Conselho Administrativo da Defesa Econômica) para a venda de suas unidades frigoríficas situadas

na Argentina, no Uruguai e no Paraguai, sem restrições, para o grupo concorrente Minerva Foods, por US$ 300 milhões (R$ 1 bilhão). Outro negócio efetivado em meados de julho pela JBS foi a venda, por US$ 40 milhões, de sua operação de confinamento de gado no Canadá, para a MCF Holdings. Essa operação contemplou, além da estrutura de confinamento localizada em Brooks, na Província de Alberta, uma fazenda adjacente. O processo de venda de seus ativos deve continuar nos próximos meses. A JBS anunciou que pretende se desfazer da Eldorado Celulose, da subsidiária irlandesa Moy Park, segunda maior empresa de carne de frango do Reino Unido, e da Five Rivers Cattle Feeding, seu braço de confinamento de bovinos nos Estados Unidos. A holding J&F também busca negociar a sua saída das marcas de cosmético e produtos de limpeza Flora, que tem no portfólio produtos populares como os sabonetes Francis, as linhas de cabelo Neutrox e Ox e o detergente Minuano. (D.C.)



Cadeia em Pauta Crise não tem solução no ‘curtíssimo prazo’, diz Maggi O ministro da Agricultura, Blairo Maggi, esteve em Alta Floresta, MT, no dia 20 de julho e admitiu aos produtores locais que não há uma solução “no curtíssimo prazo” para a crise na pecuária naquele Estado, após o caso JBS e a delação dos seus proprietários, os empresários Joesley e Wesley Batista, além da suspensão da importação de carne bovina in natura pelos Estados Unidos, decretada em junho. Conforme o Ministério da Agricultura informou, em nota, Maggi disse que a Pasta está em busca de “parceiros” para que sejam reabertos frigoríficos no Mato Grosso. “Com toda a animosidade política, o governo não pode simplesmente quebrar todo mundo. O que o Ministério da Agricultura está fazendo? Buscando parceiros para que frigoríficos que estavam fechados, e a gente sabe por que estavam fechados, possam

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funcionar”, disse Maggi, durante a reunião com a cadeia pecuária matogrossense. “No curtíssimo prazo não temos muita coisa a fazer, mas podemos estimular.” Maggi citou, ainda, unidades que estão sendo reabertas em Cáceres e em Nova Monte Verde e a perspectiva de que plantas frigoríficas também possam retomar o abate e o processamento nas cidades matogrossenses de Matupá, Brasnorte, Nova Xavantina e Várzea Grande. “A dificuldade que temos serão oportunidade para a reabertura dos frigoríficos. Isso vai mudar o patamar da arroba do boi e vamos ter uma pecuária muito mais disputada.”

Quali-SV vai avaliar qualidade do serviço veterinário oficial O Ministério da Agricultura implementou em 25 de julho o Programa de Avaliação da Qualidade e Aperfeiçoamento dos Serviços

Veterinários Oficiais das instâncias Sistema de Atenção à Sanidade Agropecuária (Suasa), o Quali-SV. Por meio da Instrução Normativa 27, publicada no Diário Oficial da União, o programa reforçará os controles sobre a saúde dos rebanhos, que tem reflexos positivos na segurança alimentar, informou o ministério. Os serviços veterinários estaduais e do Distrito Federal serão monitorados por dados técnicos e avaliações presenciais por meio de auditorias e supervisões. O método permitirá ter uma visão mais objetiva, atualizada e global dos serviços veterinários. Estados e DF passarão por auditoria dos fiscais federais agropecuários do ministério a cada três anos, sendo que a Pasta já tem cronograma de auditorias até 2019. Neste ano, elas devem ser realizadas em 10 Estados. As avaliações envolvem recursos humanos, físicos e financeiros, além da capacidade técnica e operacional do serviço veterinário oficial.



Cadeia em Pauta Agricultura vai centralizar Defesa Agropecuária Uma importante mudança está em curso na Defesa Agropecuária brasileira. Estão previstos, para a primeira quinzena de agosto, uma portaria e um decreto que visam centralizar em Brasília, DF, todas as ordens de serviço de fiscalização federal para frigoríficos e outras fábricas de alimentos de origem animal. Com a medida, o Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal (Dipoa) passará a ter controle sobre os fiscais que atuam nos frigoríficos. Hoje, esse papel é das Superintendências Estaduais do Ministério da Agricultura, principais alvos da Operação Carne Fraca. A reestruturação é uma resposta à pressão dos importadores da carne brasileira, em especial norteamericanos e europeus, que em seus relatórios de auditoria não poupam críticas ao sistema de defesa

agropecuária brasileiro, afirmando que a gestão sobre os fiscais é muito fragmentada e descentralizada e que a falta de profissionais é crônica. “A temperatura chegou a um nível inaceitável”, reconheceu Luís Eduardo Rangel, secretário de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), em entrevista ao jornal Valor Econômico no dia 3 de agosto. O ministério já havia anunciado, no mês passado, que contratará 300 médicos veterinários para atender à necessidade temporária em atividades de inspeção na produção de carnes e de 300 auditores fiscais agropecuários por meio de concurso.

Instituto Biológico faz diagnóstico de ‘língua azul’ O laboratório de viroses de bovídeos do Instituto Biológico de São Paulo (IB/Apta), da Secretaria de Agricultura do Estado, realizou o diagnóstico de

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44 DBO agosto 2017

língua azul em 17 mil bovinos com até 12 meses de idade que foram exportados para o Egito em agosto. No primeiro semestre de 2017, outras 20 mil amostras foram enviadas para o laboratório que é o único no País habilitado para fazer este tipo de avaliação. A identificação de eventuais bovinos infectados é parte do protocolo sanitário adotado pelo país africano e também é exigência para a exportação de sêmen e embriões. Segundo a pesquisadora Líria Hiromi Okuda, responsável pelas análises no Instituto Biológico, os bovinos são considerados reservatórios da doença, que não afeta o ser humano, “mas ovinos e animais silvestres picados por mosquitos contaminados, do gênero Culicoides spp., podem desenvolver quadro hemorrágico e morte”, afirma. As análises começaram a ser realizadas em 24 de julho. A equipe de pesquisadores e técnicos do IB tem prazo de 15 dias para liberação dos resultados.



Cadeia em Pauta Arroba em queda acirra ‘guerra fiscal’ Na tentativa de frear a desvalorização da arroba do boi gordo, vários Estados estão apelando para a redução da alíquota do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) nas transações interestaduais. No ano, a arroba já acumula queda de 11,4% na média nacional, conforme a Scot Consultoria, de Bebedouro, SP. Em julho, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Acre anunciaram a redução na cobrança do imposto. No Mato Grosso, onde a arroba já se desvalorizou 10% desde o começo do ano, a cobrança do ICMS caiu de 9% para 4% no dia 1º de julho, por um prazo de 90 dias. Já no Mato Grosso do Sul, onde há um “estoque” de 300.000 cabeças sem compradores, segundo a Associação dos Criadores de Mato Grosso do Sul (Acrissul), a alíquota caiu de 12% para 7% por 90 dias. Goiás, que tem fronteira com os dois

Informativo traz custo de confinamento A Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP, em Pirassununga, SP, está publicando desde julho um instrumento auxiliar de análise e gestão financeira de confinamentos, por intermédio de seu Laboratório de Análises Socioeconômicas e Ciência Animal (LAE). No Informativo Mensal do Índice de Custo de Produção de Bovinos Confinados constam as variações mensais dos custos da diária-boi, bem como dos custos operacionais efetivos (COE), dos custos operacionais totais (COT), entre outros, além dos coeficientes técnicos utilizados para os cálculos de três tipos de confinamento considerados como referência, sendo um em Goiás, com

46 DBO agosto 2017

Estados, tratou de tomar a mesma medida, reduzindo o imposto de 12% para 7% em 21 de julho, por tempo indeterminado. A Secretaria estadual da Fazenda de Goiás também reduziu a pauta fiscal do gado bovino destinado ao abate: queda de 0,22% para a fêmea de 13 a 24 meses e de 1,59% para machos da mesma idade. No Acre, o Conselho Nacional de Política Fazendária reduziu a alíquota em 80%, de 12% para 2,4%, nas transações interestaduais até 30 de setembro. Segundo Assuero Veronez, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Acre, há uma oferta mensal de 30 mil cabeças para abate e apenas dois frigoríficos habilitados a exportar. “Em um deles a escala de abate já se estende por dois meses”, disse. Pelo menos 10% dos bovinos do Acre já estão sendo abatidos por frigoríficos de Rondônia, o que provocou uma gritaria entre os pecuaristas, que estão pressionando o governo estadual a reduzir a alíquota de 12% para até 5%. Segundo a

Associação dos Pecuaristas de Rondônia, apenas 15% das 300 mil cabeças terminadas/ mês no Estado estão indo para o gancho. Um mês após a adoção da medida, a arroba está cotada a R$ 113, em média, no Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, recuos de 3,7% e 3,8% respectivamente. Segundo o zootecnista Gustavo Aguiar, analista da Scot Consultoria, essas quedas devem começar a perder o fôlego nos próximos dias, porque a arroba em São Paulo (referência para o País), onde a alíquota segue a 12%, deve recuar com o aumento da oferta. “Com a possível queda na arroba, a procura por gado de outros Estados perde a competitividade por causa do frete e o mercado volta a se estabilizar.” A arroba do boi gordo em São Paulo fechou julho valendo R$ 127, recuo de 2,4%, mas não deve haver muito espaço para novas baixas, considerando a recuperação observada no mercado futuro, com a arroba avaliada em R$ 134 para outubro.

capacidade para 16.500 cabeças/ano, e dois em São Paulo (um para 27.000 cabeças/ano e outro com 3.000 cabeças/ano). Este último somente o realiza no período seco do ano, para aliviar pastos e aproveitar os melhores preços da arroba, enquanto os dois primeiros usam o confinamento como atividade exclusiva durante o ano todo. O projeto surgiu a partir da tese de mestrado do zootecnista Gustavo Lineu Sartorello, sob a orientação do professor Augusto Gameiro, coordenador do Lae. “O próprio mercado sente falta de uma planilha adequada e padronizada para a avaliação de resultados; meu trabalho surgiu daí”, explica Sartorello. As pesquisas para o estabelecimento da planilha contaram com a colaboração inicial de um confinamento que possuía um rigoroso controle de custos.

Depois, foi aprimorada com sugestões de outros 19 confinamentos de São Paulo e Goiás. A planilha continua, porém, aberta a sugestões dos usuários. O informativo também traz comentários que procuram elucidar o comportamento dos valores e suas variações pesquisadas mês a mês. Um dado que tem se confirmado, como aponta o pesquisador, é de que o custo do confinador temporário é mais elevado do que os outros dois, por fatores como um período maior de amortização da infraestrutura e equipamentos ao longo do ano. Por exemplo, em junho a diária-boi do produtor paulista na seca foi de R$ 8,67 e a do goiano, de R$ 6,47. O informativo e a planilha no formato Excel podem ser solicitados pelos e-mails lae-indicadores@ usp.br ou gsartorello@gmail.com.



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Otimismo para confinar. Com ressalvas. Fotos: Marina Salles

Debatedores da etapa Campo Grande da InterCorte veem limite estreito entre lucro e prejuízo

Evento em Campo Grande, MS, reuniu cerca de 800 pessoas

MARINA SALLES

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Apesar da insegurança, margem deve ser positiva este ano” Bruno Andrade, da Assocon

de Campo Grande, MS. marina.salles@revistadbo.com.br

erá valido a pena confinar este ano? Foi o que não só produtores, mas palestrantes da sétima etapa do Circuito InterCorte em Campo Grande, MS, pararam para se perguntar entre os dias 20 e 21 de julho, no Centro de Eventos Albano Franco. Com público estimado em 800 pessoas, entre participantes e expositores, o encontro contou com painéis para discutir as perspectivas para a atividade até dezembro e, principalmente, para refletir sobre o que deve pesar mais na balança em 2017. De um lado, o preço dos insumos está em baixa e, de outro, turbulências e ciclo pecuário em baixa fazem a cotação do boi gordo recuar. Bruno de Jesus Andrade, gerente técnico da Associação Nacional da Pecuária Intensiva (Assocon), antiga Associação Nacional dos Confinadores, está seguro de que este será um ano de melhores margens para o produtor, ainda que a estimativa

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da entidade aponte queda de 5% no número de animais confinados no País em relação a 2016, quando 3,2 milhões de cabeças foram terminadas neste sistema, segundo estimativa da Assocon. “No ano passado, a maioria dos confinadores teve margem praticamente nula ou ficou no prejuízo, o que este ano promete ser diferente”, diz. Em sua opinião, a provável queda no número de cabeças confinadas este ano significará que o produtor demorou para decidir se iria confinar ou não. “Agora, resta saber se a decisão de confinar cabe na janela”, instiga. Essa melhora de margem viria da conjugação entre redução dos custos de produção e menor oferta de gado para abate, que pode pressionar os preços da arroba para cima. Raciocínio aceito com ressalvas por João Danilo de Jesus Ferreira, consultor técnico nacional de bovinos de corte da Cargill, esse otimismo parece ter alguns obstáculos no caminho. Razão pela qual o consultor estima uma queda ainda maior no número de animais que serão fechados este ano, de 15 a 20%, nos cinco Estados em que a atividade é mais expressiva (GO, MT, SP, MS e MG) e que respondem por 80% do confinamento no Brasil. “Infelizmente, a turma está reduzindo a quantidade de animais porque olha muito o valor de venda e se esquece do custo de produção e da margem”, afirma. Segundo seus cálculos, o gasto com arrobas de entrada (boi magro) deverá responder por 71% dos custos do confinamento em 2017, seguido de despesas com nutrição (21%). Os 8% restantes são despesas operacionais (5%) e outros gastos (3%), que podem ser gerenciados pela p ­ropriedade. (A propósito da questão de margem, veja artigo de Rogério Coan e ­Lygia Pimentel à página 96) Custo da nutrição No quesito nutrição, a queda no preço dos insumos, especialmente do milho, liderou a argumentação a favor do saldo positivo no confinamento este ano, o que Danilo Ferreira julga também ser um fator de extrema importância. Segundo ele, a grande maioria (67%) dos 20 clientes da Cargill que, juntos, confinam 450 mil animais/ano, usa o milho como principal ingrediente da dieta no cocho, representando entre 60 e 65% do volume da



Eventos

Confinar este ano pode ou não valer a pena, depende da situação” Danilo Ferreira, da Cargill

O preço da arroba em baixa dificulta a tomada de decisão” Nedson Pereira, confinador no MS

dieta. “O que pode determinar um maior ou menor benefício será a variação no preço da saca”, diz. Por exemplo, num cenário de saca a R$ 19 que é realidade em Mato Grosso do Sul - ele estima que o custo da tonelada da matéria seca fique em R$ 470 e o custo nutricional seja de R$ 75/ arroba produzida. Se o custo da saca do milho passar para R$ 24, a tonelada de matéria seca salta para R$ 550, e o custo da arroba produzida, para R$ 85. Item de menor peso na composição dos gastos no confinamento, o custo operacional não deve ser menosprezado. Para Ferreira, como ele está atrelado diretamente à infraestrutura da fazenda, a questão da escala de produção é fundamental para a redução desse custo. “Se a escala não aumenta, o impacto do custo operacional é maior no custo da arroba produzida”, explica. Segundo ele, muitas vezes o produtor subestima esse custo, lançando em sua planilha o valor de R$ 0,50/ cabeça/dia, quando atualmente ele alcançaria de R$ 1,20 a R$ 1,70. Contas indispensáveis Para demonstrar as possibilidades de ganho ou prejuízo que o confinador pode ter, Danilo Ferreira fez uma simulação em que mesmo a saca do milho a R$ 19 não é suficiente para pagar as contas, caso o produtor tenha planejado adquirir o boi magro no mercado. Na simulação, considerando um confinamento de 93 dias, peso de entrada de bois Nelore de 12,5@ (a R$ 130/@) e ganho de peso diário de 1,6 kg, ele conclui que haverá prejuízo de R$ 55/cabeça. O custo desse boi magro (R$ 1.625), segundo ele, era realidade no Mato Grosso do Sul e também em Goiás no final de julho. Para esse animal chegar a 18,5 @ será necessário desembolsar mais R$ 93/@, chegando-se a um custo total de R$ 2.183/animal. Como o preço médio praticado na praça de Campo Grande, na penúltima semana de julho, de R$ 115, essa engorda geraria uma receita de R$ 2.128/cabeça. O consultor acredita, porém, que o preço do boi gordo pode registrar alguma melhora, até em função da possibilidade de uma oferta menor de animais neste segundo semestre, porque menos gente decidiu apostar no confinamento. Supondo que a cotação suba para R$ 120, a situação já muda e o lucro por cabeça bate em R$ 37. Se a arroba chegar a R$ 125, o lucro vai a R$ 129. De qualquer maneira, não é um número excepcional. No ano passado, o Confinamento Santa Fé, em Santa Helena de Goiás, por exemplo, registrou lucro de R$ 180/cabeça, como citado em matéria da edição de julho de DBO. Para quem pretende confinar para aproveitar a

52 DBO agosto 2017

estrutura da fazenda, mesmo com uma arroba a R$ 115, o consultor da Cargill recomenda que avalie se vale a pena adiar o abate. “Às vezes, o custo operacional por animal aumenta por período, mas ele acaba tendo uma receita maior”, argumenta Ferreira. Vantagem no ciclo completo Outra situação em que o confinamento fecharia no azul este ano seria com o boi magro próprio. Nedson Pereira, produtor em Bandeirantes, região central do Mato Grosso do Sul, deve confinar 1.150 cabeças em 2017, praticamente o mesmo número do ano passado. “Como os animais são nossos, eu acredito que a conta ainda vá fechar no positivo, mesmo com o preço da arroba tendo caído muito nos últimos dias”, diz. Ele se refere ao fato de a arroba ter registrado cotação R$ 126 no início de julho e ter despencado para R$ 115 no final do mês. De olho na baixa do milho e na desvalorização de outros insumos, a única certeza que Pereira tem agora é que o custo da dieta no seu confinamento foi reduzida em pelo menos 30% em relação ao registrado no ano passado. “Caiu não só o preço do milho, como também o do farelo de soja e o da torta de algodão. Com isso, o custo da diária baixou de R$ 10,50/cabeça/dia para R$ 7/cabeça/dia este ano”, observa Nedson, que também é presidente da Novilho MS [entidade que reúne 350 produtores e que abate 150.000 novilhos e novilhas precoces por ano]. Mas, se os custos de Pereira ficarem próximos dos apresentados por Danilo Ferreira, o produtor sul-mato-grossense pode ficar tranquilo. Com um boi magro saindo para ele a R$ 76/@ (R$ 950), seu lucro deverá ser de R$ 620 por cabeça ou R$ 41,36/@, valor quase duas vezes maior do que o obtido por quem teve de comprar esse animal no mercado. Fora da porteira Também não ficou de fora da InterCorte a questão do planejamento nas transações de venda de boiadas do confinamento, o que para Bruno Andrade, da Assocon, teve grande impacto nas contas em 2017. “Quem fechou contrato de boi na BM&F em fevereiro ou março conseguiu fixar a venda em R$ 145-150/@. Agora, números desse calibre não são mais realidade, o que desanima quem tenta negociar sua boiada no balcão da indústria”, avalia. Apesar disso, Andrade acredita que a margem de lucro no confinamento este ano deve alcançar, na média, o equivalente a uma arroba. É o que ele tem observado da expectativa demonstrada pela maioria dos 92 associados da Assocon, que em 2016 responderam pela engorda de 700 mil cabeças (20% do total no País), distribuídas em 10 Estados brasileiros. n



Eventos

Bem-estar em alta fotos renato villela

Consumidor europeu exige tratamento digno de animais de produção, tendência apontada na Reunião da Sociedade Brasileira de Zootecnia.

Mais de 1.100 pessoas compareceram ao evento Renato Villela

de Foz do Iguaçu, PR

H

renato.villela@revistadbo.com.br

á uma mudança em curso no comportamento do consumidor, e ela não está atrelada à variação de preços ou à qualidade dos produtos. É cada vez maior a preocupação – e a demanda – por itens que atendam aos preceitos de bem-estar na forma como os animais são tratados em seus respectivos sistemas de produção. O “Eurobarômetro 2016”, pesquisa de opinião pública que o Parlamento Europeu encomenda periodicamente para avaliar a qualidade de vida, expectativa e necessidades dos cidadãos europeus, mostra que 94% dos entrevistados consideram importante garantir o bem-estar dos animais de produção. Questionados sobre se gostariam de ter mais informações acerca do modo como esses animais são tratados dentro das fazendas, 44% responderam “certamente, sim”, aumento de 11% em relação à mesma pergunta feita em 2006. Os dados foram apresentados pela pesquisadora Mara Miele, da Universidade de Cardiff, do País de Gales, Reino Unido, durante a 54ª Reunião Anual da SBZ (Sociedade Brasileira de Zootecnia), realizada entre 24 e 28 de julho em de Foz do Iguaçu, PR. A enquete mostrou ainda que 59% dos europeus estão dispostos a pagar mais por produtos “amigáveis” ao bem-estar animal. “Os consumidores estão se conscientizando de que essa responsabilida-

54 DBO agosto 2017

de deve estar distribuí­da por toda a cadeia”, disse. Segundo a pesquisadora, no entanto, muitas vezes o consumidor fica sem saber se o produto que está levando para casa obedece a esse preceito. “Faltam normas específicas que permitam informar de forma clara ao consumidor que o produto é ‘amigável’ ao bem-estar animal. Na maioria dos casos, essas informações vêm no meio de outras especificações, como meio ambiente e segurança alimentar.” Mesmo sem essas regulamentações, as empresas estão atentas à demanda do mercado. Além de buscar produtos que cumpram esses requisitos, procuram mostrar aos consumidores que suas marcas estão em sintonia com o bem-estar animal. Um exemplo é a propaganda de um iogurte exibido pela pesquisadora. O vídeo “Mary, the cow”, sucesso no YouTube, mostra uma vaca que acalentava o sonho de “ser livre como um cavalo”, “galopando” livremente por uma praia, numa referência – ou reverência – a uma vida sem estabulação. “É o marketing emocional”, diz Mara. Liberdade às galinhas No Brasil, as empresas também estão se movimentando nessa direção. É possível encontrar no mercado, por exemplo, uma nova linha de ovos produzidos por galinhas livres de gaiolas. Lançado com o rótulo da Taeq, marca exclusiva do Pão de Açúcar, o produto está disponível em embalagens de dez unidades e pode ser comprado em todas as lojas da rede no Estado de São Paulo, nas cidades de Curitiba, PR; Uberlândia, MG, e Campo Grande, MS, além de algumas lojas da rede Extra nas mesmas localidades. O produto custa, em média, 15% mais do que os ovos convencionais – os caipiras chegam a custar 40% mais. A rede de restaurantes Giraffas, que tem mais de 410 lojas espalhadas pelo País, informou que a partir de 2025 adquirirá somente ovos produzidos nessas condições. O movimento segue uma tendência global. No ano passado, a Arcos Dourados, controladora do McDonald’s na América Latina, anunciou que após esse prazo só comprará ovos de galinhas em sistemas cage free (livres de gaiolas), mesmo compromisso assumido pela Restaurant Brands International (RBI), que opera a rede Burger King. “Trata-se de um novo modelo de negócios, que leva em conta o bem-estar animal”, diz Fernanda Vieira, gerente de Programas da Humante Society International (HSI), uma das principais ONGs globais de proteção animal. A pressão sobre as cadeias produtivas de aves e


Informe Especial Senepol

Raça Senepol terá “Mega Encontro Internacional”

A

s soluções integradas da pecuária

Chagas, abordará a importância da nutrição para

segundo dia do I Seminário Internacional. A

de corte para produção de carne

redução do ciclo de produção. Outro palestrante

experiência norte-americana com a avaliação

bovina de qualidade e as tendências

do I Seminário Técnico Internacional da Raça

genética do Senepol será tema da palestra do

de mercado estão entre os temas

Senepol será o presidente da Nova Assocon –

diretor e geneticista chefe da AGI (subsidiária

que estarão em debate durante o “Mega Encontro

Associação dos Confinadores, Alberto Pessina,

da American Angus Association) Stephen Miller.

Internacional do Senepol – Do Pasto ao Prato”.

que trará as novidades dos sistemas de produção

Ele também falará sobre “A DEP Genômica na

Agendado para o período de 30 de agosto a 10

para terminação eficiente.

raça Angus nos EUA: Resultados e Desafios”. Já o norte-americano Tad Sonstegard, da empresa

de setembro, o evento acontecerá durante a 54ª Exposição Agropecuária de Uberlândia- Camaru

Programas de Certificação da Carne

especializada em edição de genes, ministrará a

2017, considerada uma das principais feiras do

O I Seminário Técnico Internacional da Raça

palestra “Gene Slick: Importante diferencial da

calendário da raça Senepol.

Senepol mostrará ainda como a indústria e as

raça Senepol”.

associações de criadores têm conduzido seus A programação do Mega Encontro Internacional

programas de certificação da carne. Serão

Já especialistas brasileiros na área de genética

do Senepol contará com uma série de atividades,

compartilhadas as experiências das Associações

abordarão

tais como dias de campo, cursos, leilões,

de Hereford/Braford, de Angus e de Nelore.

avaliação de desempenho, Consumo Alimentar

lançamentos, mostra de animais e degustação de

Outros temas que estarão em debate serão

Residual (CAR), ultrassonografia de carcaça, a

carne gourmet Senepol. “Será um evento épico

“Carne Bonificada: Carne de Qualidade para

importância do arquivo zootécnico nacional da

para a raça Senepol, com a possibilidade dos

o consumidor e lucro para o produtor” e “A

raça e da avaliação intra rebanho, como evitar

criadores se atualizarem sobre temas de extrema

experiência do cooperativismo explorando nichos

a dupla musculatura. Outro destaque será o

relevância para o setor que precisa se mostrar

do mercado de carne”.

Programa de Melhoramento Genético do Senepol

os

resultados

das

provas

de

(PMGS), lançado este ano pela ABCB Senepol,

cada vez mais eficiente.”, destaca o presidente Associação Brasileira dos Criadores de Bovinos

O painel “Manejo/Sanidade” finalizará os

organizadora do evento. A seleção genômica,

Senepol (ABCB Senepol) Pedro Crosara Gustin.

debates do primeiro dia do I Seminário Técnico

que faz parte do PMGS, assim como as soluções

Internacional da Raça Senepol. A importância

genômicas para bovinos desenvolvidas pela

O I Seminário Técnico Internacional da Raça

do manejo racional no aumento da eficiência

empresa Neogen/Deoxi também serão abordadas

Senepol, agendado para os 5 e 6 de setembro,

produtiva será abordada pelo professor da

durante o Seminário.

também integra a agenda do Mega Encontro e já

UNESP, Mateus Paranhos. Durante o painel

está com inscrições abertas (www.senepol.org.br).

também haverá palestra sobre profilaxia e

O professor da USP, José Bento Ferraz,

Especialistas renomados de diversos segmentos da

saúde de casco, ectoparasitas e prevenção

finalizará a série de palestras do I Seminário

pecuária estão entre os palestrantes. No primeiro

de doenças, tais como: Leucose, IBR, BVD,

Técnico Internacional de Senepol, enfocando

dia, o painel “Cenário Econômico e o Papel da

Brucelose, Leptospirose.

como a raça pode se manter competitiva no médio e longo prazo.

Pecuária Integrada” terá palestras do diretorfundador da Scot Consultoria Alcides Torres sobre o

O primeiro dia do Seminário encerrará com a

atual momento econômico da pecuária de corte. Já o

Mostra de animais da raça Senepol, a partir das

presidente da Associação Brasileira de Inseminação

20h, e happy-hour, promovidos pelos promotores

Artificial (ASBIA), Sérgio Saud, falará sobre “IATF

do leilão do dia 6 de setembro, que ocorrerá no

como ferramenta para o aumento da produtividade

Parque Camaru.

na pecuária de corte”.

Para mais informações: (34) 3210 2324 ou (34) 9 9962 4357

Melhoramento Genético

senepol@senepol.org.br

A diretora da Associação Brasileira de Indústrias

As mais modernas ferramentas de seleção da

marketing@senepol.org.br

de Suplementos Minerais (ASBRAM), Beth

raça Senepol serão apresentadas ao longo do

www.senepol.org.br


Eventos em abordar assuntos suínos é maior por causa do transversais e amplos”, uso de sistemas de produção afirma Patrick Schimimuito restritivos, como é o dt, professor da UFPR caso da manutenção das po(Universidade Federal edeiras em gaiolas ou das do Paraná) e coordeporcas em celas individuais nador do evento. Nas de gestação. “As duas casalas onde foram mideias têm um grau de bem-esnistrados os workshops, tar muito baixo, por isso são foi possível acompaprioridade nas reivindicações Mara Miele, nhar desde os recentes por mudanças”, afirma a pesdo Reino Unido: avanços na microbioloquisadora Carla Forte Maio- “responsabilidade é gia ruminal até o resullino Molento, coordenadora de toda a cadeia”. tado de pesquisas feitas do Laboratório de Bem-Esjunto a consumidores tar Animal (Labea), da Uniespanhóis sobre a quaversidade Federal do Paralidade da carne de diná (UFPR). Aparentemente, ferentes categorias de a pecuária de corte no Brasil bovinos. Houve espaparecer passar ilesa por essa ço ainda para estuquestão, uma vez que o sisdantes de graduação tema de produção de bovie pós-graduação aprenos que predomina no País sentarem 960 trabalhos é “ao ar livre” (a pasto). Mas científicos, expostos em não é bem assim. “A vida lipôsteres. vre no campo não garante Patrick Com o mote “Pensar boas condições de bem-estar Schimidt, da e discutir os desafios fuaos bovinos. Temos que lemUFPR: encontro turos”, o evento procubrar que há animais morrendiscutiu desafios rou conciliar os avanços do de fome ou subnutridos ou futuros. na pesquisa com vista a ainda enfrentando os desafios impostos por parasitas”, afirma Ma- aumentar a produção com a nova posteus Paranhos da Costa, coordenador tura dos consumidores. “Hoje, a aceido Grupo de Estudos e Pesquisas em tação da sociedade para o consumo Etologia e Ecologia Animal (Etco), de produtos de origem animal é muida Unesp de Jaboticabal. Sobre a pos- to diferente da que tínhamos há 20 sibilidade de, a exemplo do que está anos e isso precisa ser levado em conacontecendo na avicultura, o bem-es- ta nos sistemas de produção”, pondetar ser visto como uma oportunidade ra Schimidt. O professor ressalta ainde negócio na pecuária, Paranhos se da a necessidade de mudança nas leis mostra reticente. “Não creio que se- que regem a pesquisa dentro das insria suficiente, pois criaríamos nichos tituições. “O pesquisador que trabade mercado que seriam atendidos por lha com animais de produção é obripoucos produtores, o que nos levaria gado a obedecer à mesma legislação a ter ‘animais-nicho’. A promoção do de quem trabalha com animais de labem-estar seria para poucos e não para boratório.” Na prática, significa dizer que testar duas dietas para quantifitodos, o que não acho ser correto.” Principal fórum científico relacio- car a diferença do leite produzido por nado à produção animal no Brasil, a uma vaca se equivale ao experimenReunião Anual da SBZ reuniu mais to de uma droga num camundongo. de 1.100 pessoas em Foz do Igua- “A legislação diz que, se você usou o çu, PR. Estiveram presentes 79 pa- animal para fins de pesquisa uma únilestrantes provenientes de 19 países, ca vez, ele deve ser abatido, indepenalém de congressistas de 11 naciona- dentemente do que for (de produção lidades, fato inédito na história das ou laboratório). Precisamos de critéreuniões da SBZ. “Isso mostra que rios diferentes.” De acordo com Paa programação científica foi bastan- trick, a SBZ estuda fazer uma carta te atrativa. Não nos preocupamos em de intenções solicitando adequação n responder a problemas pontuais, mas da legislação. 56 DBO agosto 2017





Pesquisa elianA cezar

Fim de ciclo, novos desafios. Embrapa Gado de Corte completa 40 anos com muitas contribuições para a pecuária nacional. “Intensificação sustentável” é, agora, o objetivo a ser alcançado. moacir josé

N

de Campo Grande, MS moacir@revistadbo.com.br

o ano em que comemora 40 anos, a Embrapa Gado de Corte, sediada em Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul, passará por uma troca de comando. É que o chefe-geral da unidade, Cleber Oliveira Soares, completou dois mandatos consecutivos e será substituído, conforme o estatuto da instituição. Mas ele já tem destino certo: no fim de julho, Soares foi escolhido, a partir de uma lista tríplice, para ocupar o cargo de diretor executivo de Transferência de Tecnologia na sede da Embrapa, em Brasília, DF. Para a diretoria executiva de Administração e Finanças na mesma unidade na capital do País foi escolhida a analista Lúcia Gatto, que também era da Embrapa Gado de Corte. Já a diretoria executiva de Pesquisa e Desenvolvimento será ocupada pelo pesquisador Celso Luiz Moretti. A escolha dos nomes foi feita pelo ministro da Agricultura, Blairo Maggi. O mandato é de dois anos, com possibilidade de renovação por mais dois. Médico veterinário formado pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, com mestrado em parasitologia, Soares ingressou na Embrapa em 2001 e liderou 20 projetos de pesquisa, com ênfase nas áreas de genômica, imunologia e biotecnologia aplicada a patógenos. Está na Embrapa Gado de Corte, como chefe-geral, desde janeiro de 2011, e se orgulha do fato de a unidade ter sido a que maior contribuição (33%) deu ao balanço social da empresa, na média dos últimos dez anos. O balanço social é um estudo que quantifica o retorno financeiro que os investimentos em tecnologia feitos na pesquisa proporcionam para a sociedade. No relatório de destaques da unidade em 2016, uma estimativa do efeito resultante de tecnologias da Embrapa Gado de Corte para o agronegócio brasileiro – seja em ganhos de produtividade ou redução de custos de produção – ficou na casa dos R$ 6 bilhões. O relatório também destaca a celebração de mais de 60 DBO agosto 2017

Soares faz balanço de 2 mandatos na Gado de Corte

100 contratos de cooperação técnica para pesquisa e desenvolvimento e transferência de tecnologia, e a capacitação de mais de 7.000 profissionais na tecnologia de integração lavoura-pecuária-floresta, além de quase 5.000 em bovinocultura de corte. Contando com um quadro de 234 funcionários, sendo 59 de pesquisadores, 54 deles com título de PhD, ou seja, doutores, no ano passado, a unidade teve verba para custeio de R$ 10,3 milhões, 63% disso recebidos do Tesouro Nacional, via Ministério da Agricultura, e os 37% restantes compostos por receitas próprias, vindas da venda de produtos e de royalties, principalmente. Na entrevista a seguir, Soares fala das ­realizações da unidade em seus dois mandatos e dos desafios que ela tem pela frente. DBO – Fale um pouco sobre o que você está imaginando que vai deixar para seu sucessor. Que coisas estão encaminhadas e que desafios existem pela frente. CLEBER – Vou fazer uma retrospectiva. E uma proje-

ção do cenário. Para nós, é motivo de orgulho estar à frente de um centro nacional de pesquisa de uma cadeia de valor de extrema relevância econômica, social, científica e também ambiental. Se olharmos pela ótica do modelo de inovação de ciência e tecnologia, 40 anos é muito pouco. Estudos ligados à ciência e inovação pelo mundo falam que o primeiro ciclo de maturidade tecnológica, instrumental e gerencial de uma instituição de ciência e tecnologia se dá com 50 anos. Então, a Embrapa está rumando para o fim do primeiro ciclo. Isso nos deixa numa situação de reflexão positiva, pelo crescimento que a Gado de Corte teve, pela contribuição que ela deu ao agronegócio brasileiro. Mas, por outro lado, nos preocupam as projeções para o futuro. Quando a Embrapa foi cria-



Pesquisa da – esta é uma metáfora interessante de um colega nosso – toda a ação de pesquisa e tecnologia que ela desenvolvia era, comparativamente, como acender uma vela num quarto escuro: iluminava tudo. Hoje o quarto está claro... Fazer a diferença agora é muito mais desafiador. DBO – A transformação do mundo por causa da internet, da velocidade de informação, é o principal? CLEBER – Também. É claro que esse processo, os no-

vos paradigmas da evolução da humanidade, principalmente os ligados à informação, aceleram muito essa dinâmica que angustia a sociedade. Todos nós queremos fazer uma “virada de chave” um pouco mais rapidamente. E, coincidentemente ou não, a virada do agronegócio brasileiro, tropical, coincide com a virada da Embrapa. DBO – Especificamente no gado de corte, essa virada está acontecendo em quais áreas? CLEBER – Trinta ou 40 anos atrás, o que explicava a

Em quase todos os bifes consumidos no Brasil existe alguma tecnologia nossa”

produtividade do agronegócio brasileiro era a terra. Hoje é a tecnologia. Quanto maior a tecnologia, maior a produtividade. E a contribuição da Embrapa e da Embrapa Gado de Corte nesses 40 anos foi imensa. Sem medo de errar, quase a totalidade dos bifes consumidos no Brasil tem pelo menos alguma tecnologia nossa. Porque 92% das pastagens cultivadas tropicais saem daqui, 92% das sementes comercializadas de pastagens tropicais saem daqui. Se a tecnologia não for nossa, a orientação técnica é. Se não for orientação técnica, é manejo nutricional. O primeiro desafio da Embrapa Gado de Corte, quando ela foi criada, em 1977, foi o da deficiência mineral nas terras do Cerrado. Hoje é quase impossível você ter um produtor que não use pelo menos o sal boiadeiro. Se não for na suplementação mineral, é na orientação genética. Hoje temos um banco de dados de genética bovina com dados de mais de 30 milhões de animais registrados. Ninguém no mundo tem isso. Quanto ao manejo sanitário, fomos os primeiros a desenvolver uma vacina contra tristeza parasitária bovina. Nós que desenvolvemos o conceito da vermifugação estratégica, para solucionar o maior problema da pecuária nos anos 1970 a 90, diarreia de bezerro, de vaca. Isso foi resolvido com orientação básica ao produtor, para que passasse a vermifugar o gado apenas nos meses de maio, julho e setembro. Antes, ele gastava rios de dinheiro com vermífugo.

DBO – Que pontos você colocaria como desafios daqui pra frente? CLEBER – Arrisco dizer que entre os maiores desafios

está a intensificação sustentável da produtividade da pecuária brasileira. Ou seja, não dá mais para a gente abrir mais nenhum hectare de pastagem. A sociedade não aceita, não tem necessidade, nós temos tecno-

62 DBO agosto 2017

logia. A pecuária já vem contribuindo com o efeito poupa-terra. Quando intensificamos, sobra terra para outras atividades agropecuárias. E isso é um caminho sem volta. DBO – O abatedouro que a Embrapa montou não está mais funcionando. Por que não foi adiante? CLEBER – Desativamos porque o frigorífico, seja labo-

ratório ou comercial, é um tipo de estrutura que você tem de estar sempre atualizado. E a legislação em relação a isso é muito rigorosa. Então, optamos por fazer parcerias com diversos frigoríficos para analisarmos os dados dos nossos experimentos, em vez de termos uma instalação onerosa, que precisa de manutenção frequente. E que demanda muita mão de obra para um abate eventual. Não se justifica. DBO – Então, foi mal dimensionado? CLEBER – Na época, início dos anos 1980, não. Foi

construído para abater até cinco animais por dia e atendia muito bem.

DBO – Também constatamos que experimentos para mensurar a eficiência alimentar deixaram de ser feitos por aquele sistema de cochos do tipo Calan Gate para o de cochos automáticos, do tipo Grow Safe. Cleber – Essa é uma linha de pesquisa inovadora e

muito promissora. A do Calan Gate ficou obsoleta. O animal ficava numa baia, só que você tinha de ir lá todo dia fazer a pesagem. Hoje, o pesquisador responsável vê o consumo de água e ração do animal do escritório, com uma precisão altíssima. Temos de avançar instrumentalmente também. DBO – E a situação dos pesquisadores que estão começando a sair e a se aposentar? Há incentivo à demissão voluntária? Qual o efeito que isso pode ter na unidade? CLEBER – Pelo fato de sermos “celetistas”, existe a

possibilidade de o empregado que se aposentou continuar trabalhando. O outro fato é que a Embrapa, tradicionalmente, mais ou menos a cada dez anos, faz um plano de demissão incentivada (PDI). Com isso, abrem-se novas vagas.

DBO – Como funciona? CLEBER – A Embrapa (todas as 46 unidades) tem 9.600

empregados e a perspectiva é que próximo de 1.500 tenha condições de participar de um eventual PDI. O problema é que o governo está discutindo com vários órgãos a proposta de uma relação de 1 para 9. Ou seja, de cada 10 empregados que saem, repõe-se apenas uma vaga. Para a Embrapa isso é inviável! Seria repor só 150 vagas. Tem um impacto qualitativo muito grande. Por isso, nosso presidente, Maurício Lopes, está trabalhando para que possamos fazer um PDI em outros moldes. A expectativa do ministro da Agricultura, Blairo Maggi, é de que saia este ano. Mas ainda não sabemos como vai ser. n


Bruno Ribeiro de Oliveira

• Gestão com métrica e metas • Matéria-prima avaliada em minutos • Cerca elétrica para evitar brigas • Familiarização de lote reduz estresse • Análise: cenário mais favorável este ano.

a DBO agosto 2017




ESPECIAL

Confinamento

Foco em pessoas dá resultado

CMA, de Barretos, SP, aposta em ferramentas modernas de gestão para motivar equipe, controlar processos e melhorar produtividade.

André Perrone (à frente) com Tiago Zarpelon, da Nutron/Cargill (extrema esquerda) e sua equipe. Da eq. para a dir: José Antônio Orlandini (coordenador financeiro) Joice Montarelli (coordenadora comercial), Pedro Henrique Magri Castro (coordenador administrativo); Patrícia Seixas Pires Valala, (responsável técnica), Reginaldo José dos Santos (supervisor de produção) e Marcelo Riciel Guerreiro (coordenador operacional). Junto ao grupo, na extrema direita, Bruno Chiaramonti, do Instituto Aquila.

66 DBO agosto 2017


Maristela Franco

emuneração variável, com base na produtividade, favorece o engajamento da equipe e ajuda a melhorar a receita do confinamento? Sim, diz o veterinário André Perrone Reis, diretor da Companhia Agropecuária Monte Alegre (CMA), em Barretos, SP, um dos projetos mais profissionalizados do País, pioneiro no uso de tecnologias de ponta e adepto da meritocracia. O confinador faz, contudo, uma ressalva: “Antes de pagar prêmios, estabeleça claramente as funções do funcionário; informe-o sobre o que se espera dele; crie ferramentas gerenciais para medir seu desempenho e garantir um processo de melhoria contínua; do contrário, o resultado pode ser nulo”. Perrone descobriu, na prática, que a remuneração por produtividade não funciona bem sozinha. Deve fazer parte de um plano mais amplo de gestão, que inclua desde o estabelecimento de rituais de rotina corporativa até a definição de metas individuais e coletivas, estímulos à participação da equipe na solução de problemas e inteligência competitiva. A CMA confinou 29.000 animais no ano passado, 90% deles em sistema de parceria, com destaque para as modalidades “padrão” (quando o cliente recebe, no abate, pelo peso entregue ao confinamento), e “arrobas produzidas” (quando ele paga um valor fixo por arroba ganha, diferentemente do boitel, que cobra diárias). Como é uma empresa “prestadora de serviços”, a CMA precisa fidelizar seus clientes e buscar máxima eficiência. Por isso, tem investido pesado em tecnologias, gestão de pessoas e adequação ambiental, o que lhe garantiu vários prêmios, como o Nelson Pineda e o Aliança da Terra, além da certificação Rain Forest Alliance (selo do sapinho verde). Seu confinamento foi o primeiro do País a cumprir os requisitos desse protocolo internacional, passaporte para mercados exigentes como o europeu. A CMA também é habilidada pelo Ministério da Agricultura a fazer quarentena de animais que vão ser exportados vivos. Quando André Perrone assumiu os negócios agropecuários da família em 2000, após voltar de uma temporada nos Estados Unidos, onde fez pós-graduação na Universidade do Texas, a Estância Monte Alegre (adquirida por seu avô, Oswaldo Perrone, nos anos 50) possuía apenas um pequeno confinamento para 300 cabeças. Hoje, o projeto tem capacidade estática para 17.000 bovinos. Seus 53 funcionários recebem salários acima do patamar regional, têm boas condições de trabalho, transporte diário gratuito até Barretos, plano de saúde, segurança laboral e cursos de capacitação (média de oito por ano). Ainda assim, Perrone teve de percorrer longo caminho até conseguir integrar efetivamente sua equipe (dos vaqueiros aos coordenadores de área) na busca por melhor produtividade e lucratividade.

Divisor de águas O grande divisor de águas da empresa foi 2015, ano desafiador para os confinadores brasileiros (milho caro, reposição nas alturas, pouca demanda por serviços de engorda). “Tivemos de trabalhar com gado de padrão genético inferior e mexer na dieta. Nossos indicadores pioraram”, lembra Reginaldo José dos Santos, supervisor de produção da CMA. Essa conjuntura desfavorável estimulou Perrone a iniciar sua terceira “onda de gestão”, como bem define Bruno Chiaramonti, do Instituto Áquila, consultoria internacional que tem assessorado a empresa nessa área. As duas primeiras ondas ocorreram entre 2012 e 2014, quando Perrone adotou indicadores zootécnicos mais elaborados; investiu na automação da fábrica, com apoio da Nutron/Cargill; criou seu primeiro programa de bonificação por produtividade; iniciou um projeto-piloto de automação de trato e começou a usar a plataforma informatizada ERP SAP, que garante rígido controle de custos e resultados financeiros. DBO registrou alguns “movimentos” dessas ondas em 2012, quando Perrone participou de uma reportagem de capa também sobre gestão, neste mesmo Especial de Confinamento. À época, ele engordava 33.000 bois por ano. Utilizando as informações geradas pela automação, conseguiu eliminar ineficiências na fabricação e na distribuição da dieta. Tudo corria bem até chegar 2015, com seu “choque conjuntural”. Naquele

Vista aérea do confinamento da CMA, que tem certificação Rainflorest Alliance

Evolução do indicador eficiência alimentar da CMA

Kg de ração/@

R

maristela@revistadbo.com.br

DBO agosto 2017 67


ESPECIAL

Confinamento

No detalhe, tag (sensor) que transmite número do piquete ao caminhão

ano difícil, Perrone percebeu que o esforço feito até então não havia sido suficiente para preparar a empresa para crises externas, garantindo-lhe agilidade. “Foi então que contratei o Instituto Aquila para estudar nosso conjunto de processos. Era preciso ir além da fábrica de rações, envolver todos os funcionários na busca por melhorias, fazer ajustes finos que garantissem ganhos em todos os setores, para maior segurança financeira da companhia”, salienta o empresário. O investimento na integração da equipe e no aperfeiçoamento de processos deu bons frutos. “O tempo de cocho, que chegou a 120 dias em 2015, caiu para os atuais 101 dias, e o ganho de peso foi de 1,5 para 1,7 kg/cab/ dia”, informa Reginaldo Santos. A conversão alimentar passou de 7,48 para 6,31, melhorando o índice de eficiência biológica, que é fundamental para a rentabilidade do confinamento, pois mexe nos custos. Em 2015, a empresa gastou 160 kg de MS para produzir 1@, ante 140 kg

Sistema automatizado permite mensurar quantidade de ração colocada no cocho

Análise de indicadores anuais do Confinamento Monte Alegre Indicadores zootécnicos 2014

Desvio 2015 14/15

Desvio 2016 15/16

18.445

Desvio 2017 16/17 (parcial)

Animais (cab)

15.748

29.140

9.876

Peso de entrada (kg)

374,6

4,9%

393

-2%

385

2,5%

395

Dias de cocho

107

12,1%

120

-13,5%

104

-2,9%

101

Peso de saída (kg)

552,8

3,7%

573,7

- 4%

550,4

3,2%

568,2

Ganho diário (kg/cab)

1,665

-9,6%

1,506

5,7%

1,592

7,9%

1,719

Consumo *

11,66

-3,7%

11,27

-4,7%

10,74

0,9%

10,8

Conversão alimentar**

7

6,9%

7,48

-9,9%

6,74

-6,4%

6,31

* Consumo em kg de MS/cab/dia; ** Conversão alimentar em Kg de MS/@ ganha. Queda no indicador

68 DBO agosto 2017

Melhoria no indicador

em 2015; ou seja, 20,62 kg a menos. Aplicando essa diferença sobre os 29.000 bois engordados naquele ano, que ganharam 229.970@ no período (7,93@/cab), conclui-se que a CMA economizou 4.741 t de ração, que, ao custo de R$ 650/t, representam R$ 3 milhões. Isso somente em função da eficiência biológica, que segue melhorando e está em 134 kg/@ (veja gráfico à pág. 67). Fábrica virtual A principal ferramenta utilizada nessa “terceira onda” de gestão foi a chamada “fábrica virtual”, que permite visualizar toda a cadeia de produção, revelando conexões entre setores, gargalos e possibilidades de aperfeiçoamento. Mais do que um raio X, ela é uma espécie de fotografia em alta definição da estrutura organizacional, com possibilidade de zoom (mudança de foco) do micro ao macro. “Isso nos permite enxergar as relações dentro da cadeia, melhorando sua eficiência”, diz Chiaramonti. A CMA montou sua fábrica virtual ao longo de 2015/2016 com ajuda de toda a equipe, pois é necessário descrever/ analisar detalhadamente cada etapa do processo. Com essa base construída, foi possível dar início à “quarta e atual onda” de gestão da empresa, iniciada em abril deste ano, que visa estabelecer rituais de avaliação em todos os níveis, conectar os indicadores produtivos com os financeiros e elaborar um planejamento estratégico bem mais consistente para 2018/2023. “Cada ferramenta de gestão introduzida na empresa revelou fragilidades que precisavam ser eliminadas. Enxergá-las é mais difícil do que se imagina, mas, quando conseguimos isso, avançamos rápido”, salienta Pedro Henrique Magri Castro, coordenador administrativo da CMA. A automação do trato, por exemplo, permitiu identificar desperdícios de ração, baixando o custo da arroba produzida e melhorando a performance dos animais. O sistema é composto por “tags” (sensores) instalados na entrada e na saída de cada piquete de engorda. Quando o caminhão distribuidor, munido de antena e computador de bordo, passa pelo primeiro tag, o sistema registra o número daquele piquete e a balança eletrônica do caminhão contabiliza automaticamente a quantidade de ração distribuída até o segundo tag (saída). Dessa forma, é possível saber, com precisão, quanto cada lote recebeu de alimento. Os dados coletados são geridos por um software de nutrição, que integra todos os processos. Até 2015, a CMA trabalhava basicamente com metas-meio, que funcionam como pontos de verificação de processos (check points). “Quando um lote de bois entrava na esteira de produção, definíamos uma meta de consumo, monitorando-as com ajuda da automação e de leituras de cocho, mas isso não significava que iríamos atingir nossa meta-fim, que é fazer os animais ga-


nharem 7,5@/cab em 100 dias de cocho, porque outros fatores interferem no processo. A fábrica virtual mostrou isso claramente não apenas para mim, mas para toda a equipe; nos deu uma visão sistêmica do negócio”, diz Perrone. “Quando olhamos apenas as partes, corremos o risco de priorizar indicadores pouco relevantes ou que não impactam diretamente no resultado final. Por isso, muitas vezes a empresa faz grandes esforços de gestão e não avança”, acrescenta Chiaramonti. Clientes internos Durante o processo de “elaboração” da fábrica virtual, o consultor do Instituto Aquila fez quase um trabalho de reportagem investigativa, questionando e esmiuçando cada detalhe do confinamento, que ele, por não trabalhar com pecuária, desconhecia. Dessa forma, estimulou as pessoas a refletir sobre o que fazem rotineiramente e a identificar seus “clientes internos”. Essa é uma das van-

tagens da ferramenta: ela mostra para quem cada setor está “trabalhando”. Por exemplo: os corretores que captam bois no mercado, precisam estar atentos à qualidade genética dos animais, pois a equipe de manejo alimentar depende disso para atingir suas metas. O manejo também depende do pessoal do embarque, para que os bovinos não percam muito peso no transporte, e da equipe de recepção, que precisa processar os animais em, no máximo, dois dias úteis, para não atrasar o início da engorda e esticar a estadia no confinamento. “Conhecendo essas inter-relações, o funcionário sabe qual o impacto de seu trabalho sobre o dos outros; conscientiza-se da importância de suas tarefas diárias e sente-se parte de um grupo, o que é muito positivo”, explica Chiaramonti. Dentro de cada setor da fábrica virtual, existem pessoas que precisam trabalhar de maneira alinhada, mas, segundo o consultor, frequentemente elas passam a “bola” (produto) para outras sem avisar que

O que é uma fábrica virtual? A fábrica virtual é um conceito largamente adotado pela indústria, para aprimoramento de processos e treinamento de operadores. Hoje, as grandes montadoras de automóveis, por exemplo, já contam com ­softwares capazes de mostrar aos novos funcionários até que ponto apertar um parafuso e detectar problemas na linha de montagem antes que aconteçam, economizando insumos e mão de obra. Na pecuária, ainda não se chegou nesse nível, mas a simples compreen-

são de que um confinamento também é uma linha de montagem já melhora o fluxo operacional. É possível organizar melhor tanto a entrada quanto a saída dos “produtos” (bois), evitar desperdícios, reduzir horas extras, antecipar problemas e maximizar resultados. A ilustração abaixo apresenta, de forma resumida, a cadeia de processos da CMA. Cada retângulo é um setor que tem seus “clientes internos”, regras operacionais e metas para entrega dos melhores resultados.

cadeia de processos entrada

processo

Originação

Gado Bovino

Operações manejo / alimentação Recepcionar gado bovino

Manejar gado bovino

Embarcar para abate

saída Faturamento

Acerto com pecuarista

Satisfação acionista Ebitda

Acompanhar abate Faturamento

Produção da dieta

Gado Bovino

Satisfação cliente Prazo

Insumos alimentares

Recepcionar insumos

Produzir a dieta

Custo

Processos de suporte Departamento pessoal

Compras

Financeiro

Contabilidade

Qualidade Manutenção

Fiscal

agosto 2017

DBO 69


ESPECIAL

Confinamento bebedouro, por exemplo, prejudica o consumo de ração, que resulta em menor eficiência biológica, que derruba o peso final e, consequentemente, a receita bruta. Nenhum indicador deve existir se não estiver inserido nessa árvore por meio de uma relação causa e efeito. Quando as metas são cumpridas nos níveis operacionais e não geram o resultado financeiro esperado é sinal de que algum indicador importante foi esquecido ou apresenta inconsistência. “Sem essa ferramenta de gestão, as decisões são tomadas mais com base no feeling do que em dados reais”, explica Chiaramonti. “Antes, analisávamos informações zootécnicas separadas das financeiras. Chegava o pessoal da produção e dizia que seu resultado tinha sido ótimo, que o boi tinha ganhado 2 kg/cab/dia, mas o financeiro falava o contrário e não sabíamos as causas. Agora podemos entender isso melhor”, diz Perrone.

Eficiência de fabricação é um dos principais indicadores operacionais da CMA

está “quadrada”, ou seja, com problemas. Ao descrever suas tarefas, os funcionários da CMA não apenas “desenharam” a fábrica na qual estavam trabalhando, mas também aquela em que gostariam de trabalhar. “Fizemos uma brainstorming (tempestade de ideais) para desenhar uma linha ideal de produção. Qual o boi que dá melhor resultado no confinamento? Aquele com estrela na testa? Vamos buscá-lo! Esse boi precisa comer apenas 5,8 kg de ração para ganhar 1 kg de carne? Vamos perseguir essa meta. Foi um exercício incrível, que envolveu, inclusive, as empresas parceiras das áreas de nutrição, sanidade, rastreabilidade e abate”, informa Perrone. Ár vore de indicadores Com a fábrica virtual montada, foi possível elaborar a árvore de indicadores estratégicos, gerenciais e operacionais da empresa. Eles devem estar perfeitamente alinhados e ter como “raiz” o Ebitda, sigla em inglês para earnings before interest, taxes, depreciation and amorzation (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização). Para que essa “raiz” seja forte, o “tronco” e os “galhos” da árvore devem estar bem desenvolvidos. No caso do confinamento, esse “tronco” é constituído por dois indicadores gerenciais: os custos e a receita bruta, que se ramifica em padrão racial do gado, ganho final em arrobas por giro e comercialização. Cada um desses “ramos” se desdobra em indicadores operacionais e estes em outros ainda mais específicos. O ganho final em arrobas, por exemplo, depende da originação, da eficiência biológica e do processamento dos animais no curral. Já a eficiência biológica depende da fabricação da dieta, da eficiência de trato, da limpeza de bebedouros etc. A estruturação da árvore de indicadores é feita sempre com base na relação causa e efeito. A falta de limpeza do

70 DBO agosto 2017

Planos de ação A árvore de indicadores permite mostrar a contribuição de cada setor para o lucro apurado. “De R$ 100 ganhos por cabeça, por exemplo, 40% podem ser garantidos pela originação, que conseguiu captar gado de qualidade; 30% pelo manejo nutricional, que conseguiu fazer o boi engordar bem, etc”, diz o confinador. Se o resultado de R$ 100/cab é insuficiente para garantir o caixa da empresa, todo o processo é reavaliado em busca de ineficiências para aumentar o resultado do indicador-fim, que Chiaramonti gosta de chamar de “dinheiros CMA”, assim mesmo, no plural, porque vários setores produzem receita para cálculo do Ebitda. Como a árvore de indicadores é grande, nem todos são monitorados diariamente, apenas os considerados “críticos”, cujos desvios podem comprometer o resultado. Estes estão fixados nos painéis de gestão a vista de cada setor, junto com os indicadores individuais dos funcionários, mensurados diariamente. O processo de conexão entre indicadores físicos e financeiros ainda está em andamento, exigindo planos de ação nas áreas de informática, finanças e compra de gado. Todos esses planos têm um responsável, data para começar, data para terminar e status (em andamento ou concluído). Para análise de problemas, a empresa utiliza a metodologia PDCA (do inglês plan, do, check, adjust; planejamento, execução, checagem e ajuste), criada pelo economista norte-americano Walter Shewhart. Na primeira etapa, são identificadas oportunidades, analisados os fatos/dados e elaborados planos de ação; na segunda, a empresa treina os envolvidos e executa as ações; na terceira, utiliza os rituais de gestão e os painéis a vista para monitorar essas ações; na quarta, padroniza processos bem-sucedidos e implementa medidas corretivas para os planos que não deram resultado, iniciando um novo ciclo de PDCA. Esse método é usado em várias instâncias da empresa, ajudando na solução de problemas. n


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ESPECIAL

Confinamento

“Rituais” de gestão aumentam produtividade

U

ma das grandes novidades introduzidas no Confinamento Monte Alegre, neste ano, foram os “rituais” de gestão, que possibilitam monitorar os indicadores e analisar planos de ação. Esses “rituais” – assim chamados porque têm regras fixas e regularidade quase religiosa – são reuniões de avaliação realizadas em três níveis: operacional (N 3), composto pelos funcionários que fazem o confinamento funcionar; gerencial (N2), formado pelos coordenadores de área e diretor (N1), representado pelo proprietário da empresa. No Nível 3, as reuniões, comandadas pelos líderes de equipe, são diárias, duram no máximo 10 minutos e têm por objetivo checar metas individuais e setoriais, além de discutir problemas que estejam atrapalhando a rotina operacional. Os funcionários são informados dos resultados diários e estimulados a dar sugestões. Esses “rituais” já estão bem estabelecidos na fábrica de rações e começam a ser implantados nos demais setores do confinamento. No setor de manutenção, por exemplo, a pauta é bem prática. O líder pode começar a reunião escrevendo no quadro de gestão a vista que apenas duas das três cercas com problemas foram consertadas no dia anterior (cumprimento de 67% da meta). Em seguida, ele perguntará ao funcionário encarregado porque isso aconteceu. Este pode responder, digamos, que acabou o arame. O líder registrará a ocorrência e as medidas corretivas; por exemplo, pedir ao almoxarifado para comprar mais rolos antes do término do estoque. Os gargalos que a equipe não con-

segue resolver são levados pelos líderes aos coordenadores de área nas reuniões N2, que ocorrem semanalmente, todas as sextas-feiras. No caso do confinamento, a função é exercida pelo veterinário Marcelo Riciel Guerreiro. Se o problema vindo da base persistir, é levado pelos coordenadores ao diretor da empresa, André Perrone, nas reuniões N1, normalmente na segunda terça-feira do mês. Filtro natural Esses “rituais” de gestão funcionam como filtros naturais para problemas que não precisam ser levados à diretoria, estimulam a participação dos funcionários na busca por soluções e agilizam processos. DBO assistiu a uma reunião N3 na fábrica de rações, realizada após o primeiro trato, para avaliar o trabalho do dia anterior. A veterinária Patrícia Seixas Pires Valada, supervisora técnica do confinamento, reuniu sua equipe e informou: “Batemos as metas de eficiência na fabricação da ração e de uniformidade de trato”. Em seguida, ela anotou os resultados no painel de gestão a vista e se dirigiu ao tratador João Luiz de Oliveira: “Seu índice de acerto, João, foi de 98%, acima da meta de 95%”. Após parabenizar o funcionário, ela lhe entregou uma folha para assinar, contendo um gráfico de desempenho, no qual as barras pretas representavam a quantidade de ração prevista por curral; as verdes, acertos do tratador; as vermelhas, distribuição a mais e as amarelas, a menos. Apesar de o monitor do caminhão indicar a quantidade a ser distribuída, é preciso ter habilidade para jogar o Níveis organizacionais da empresa

DIRETRIZES / ALINHAMENTO (de indicadores e de ações)

Reunião de N3 da fábrica de ração

72 DBO agosto 2017

DESVIOS / PROBLEMAS (de indicadores e de ações)



ESPECIAL

Confinamento de um dos tratadores. “Tentamos fazer todo o serviço dentro do prazo com apenas um caminhão, mas vimos que isso não é possível”, ressaltou. O FCA é preenchido a mão e depois transferido para o computador. Após concluir o “ritual” de gestão, a chefe de equipe transferiu os resultados dos funcionários para uma tabela mensal, que permanece fixada no painel para que eles possam saber em quantos dias bateram suas metas e, consequentemente, quanto receberão por produtividade.

Patrícia Valada anota resultado em painel de indicadores. Gráfico de desempenho é assinado pelo tratador João Luiz de Oliveira.

alimento de maneira assertiva e uniforme no cocho. “Aqui diz que errei em dois currais. Preciso prestar mais atenção para conseguir 100%”, se autoavaliou o tratador. A fábrica de ração tem uma sala de comando informatizada, que permite visualizar todas as operações em tempo real, seja no trato ou na mistura. O sistema trabalha sempre com quantidades previstas e realizadas. Ao chegar pela manhã, Patrícia avalia as três leituras de cocho noturnas e a primeira da manhã, depois lança no sistema quanto cada lote deve receber de ração. Às 7:20, quando os operadores da fábrica começam seu trabalho, já encontram esses valores na tela. “Na mistura, trabalhamos com meta de 90%. Era de 80%, mas conseguimos avançar 10 pontos percentuais em três anos”, diz a veterinária. Registro de desvios Na reunião N3 assistida por DBO, os operadores da fábrica também conseguiram bater suas metas. Os resultados individuais foram todos colocados no painel de gestão a vista. Encerrada a análise tanto da eficiência de trato quanto de fabricação, Patrícia passou ao terceiro indicador da fábrica: o horário de trato. Neste, havia ocorrido desvio. O confinamento da CMA fornece quatro refeições diárias ao gado alojado. A primeira é a mais importante e deve ser concluída até no máximo 8:50 h da manhã. No dia anterior à reunião, essa meta não fora cumprida. Patrícia imediatamente abriu um formulário de FCA (fato-causa-ação), no qual registrou: fato (atraso de 38 minutos), causa (quebra de uma peça do equipamento que despeja o melaço na caixa de mistura), ação (providenciar peça sobressalente). “Assim, caso o problema volte a acontecer, estaremos preparados”, diz Guerreiro. Patrícia anotou no quadro o resultado do primeiro trato e dos três seguintes. No último também havia ocorrido atraso. Novamente, ela abriu um FCA, informando o desvio, explicando que este ocorrera devido à ausência

74 DBO agosto 2017

Ampliação do programa O sistema de cálculo das bonificações varia de um setor para outro, mas todos estão associados a metas individuais. A equipe de manejo, por exemplo, trabalha com três indicadores básicos: tempo de processamento dos animais no curral após sua chegada à fazenda, morbidade (número de animais tratados) e mortalidade. Os valores-referência para os dois últimos indicadores ainda estão sendo definidos – para evitar interpretações equivocadas, como aplicar medicamentos em excesso para evitar mortalidade a qualquer custo –, mas um trabalho pioneiro na área sanitária já está dando bons resultados. “Antes, a bonificação era para a equipe: se a mortalidade ficasse abaixo de determinado patamar, todos ganhavam; se subisse, todos perdiam. Agora, o bônus é por dupla responsável pela ronda sanitária e por linha de cocho (o confinamento tem 10 ao todo). Isso gerou uma competição benéfica”, informa Perrone. No setor de manutenção, o programa de bonificação está começando a ser implantado com base em indicadores de execução: percentual de bebedouros limpos; percentual de manutenção do piso dos piquetes, de reparo de cercas e do sistema hidráulico. “Toda quinta-feira, eu e Patrícia fazemos uma vistoria no confinamento para identificar problemas como dificuldade de acesso ao bebedouro devido à presença de buracos ou lama; cochos ou canos quebrados; arames rompidos etc. Depois, mon-

Marcelo Guerreiro, coordenador operacional, mostra indicadores do setor de manutenção



ESPECIAL

Confinamento tamos uma programação de serviços, que é entregue ao líder do setor na reunião N2 de sexta-feira, para execução na semana seguinte”, explica o coordenador do confinamento, Marcelo Guerreiro. Se o funcionário conserta, por exemplo, todos os acessos a bebedouros programados para segunda-feira, ele cumpriu sua meta diária. Se não, é aberto um formulário FCA. A manutenção de cercas, por exemplo, influi no indicador de inconformidade de lote, que causa problemas na hora do embarque. Segundo André Perrone, esse conjunto de “rituais” já está se refletindo na base da pirâmide organizacional da empresa. Cada funcionário passa a visualizar seu desempenho no painel de gestão a vista, podendo observar o número de metas atingidas (bolinha verde) ou não (bolinha vermelha). Isso gera um certo incômodo positivo e maior comprometimento. “Em uma das reuniões N3, um funcionário responsável pela manutenção dos currais disparou que não estava gostando daqueles pontos vermelhos, que precisava tirá-los de sua ficha; ou seja, conseguimos

Integrando experiência com inovação

A introdução de tecnologias e ferramentas modernas de gestão na propriedade não é um processo simples, nem isento de resistências. Muitas vezes, o funcionário não compreende o que está sendo proposto, não domina aquela tecnologia ou não acredita nela. Foi o caso de Irineu Alves, um antigo tratador da CMA que sabia “ler” o comportamento dos animais no cocho e achava que o trato automatizado não iria funcionar tão bem quanto a distribuição com base na experiência, no feeling. “Eu tinha medo de que os animais passassem fome, pois o computador não estava ali para ver, no olho deles, se estavam satisfeitos”, diz Irineu. O impasse foi resolvido quando a CMA atrelou o sistema de indicadores à bonificação, gerando uma “concorrência sadia” entre os tratadores. Hoje, Irineu (que foi promovido a líder de setor de manutenção) admite que o sistema automatizado de trato é positivo para a empresa, porque garante maior controle de dados e também parâmetros para melhoria do desempenho dos funcionários. Com bom humor, ele brinca: “Mas olha, qualquer coisa, se o sistema falhar, tem meus olhos aqui!”.

Irineu Alves: testemunha de mudanças positivas

76 DBO agosto 2017

melhoria na produtividade apenas mostrando ao colaborador como ele está trabalhando, permitindo que ele se autoavalie diariamente”, relata Perrone. Os “rituais de gestão” também ajudam a acompanhar o desempenho de funcionários recém-contratados. “Antes, quando um líder era questionado sobre um novato, dizia: é bom, pontual, honesto, dedicado. Agora, além dessas qualidades, ele precisa estar batendo metas; caso não esteja, reforçamos o treinamento”, frisa o confinador. Troca de informações As reuniões N3 têm se revelado produtivas não apenas na CMA, mas em várias empreesas, de diversos setores, porque geram troca de informação diária. “Muitas vezes pensamos que essas trocas são automáticas entre os integrantes da equipe, que trabalham lado a lado, mas não são. Por meio dos rituais, conseguimos que as pessoas discutam aquilo que interessa à empresa (os indicadores) e se ajudem mutuamente”, explica Chiaramonti, citando um exemplo da Votorantim Energia, que também adota essa metodologia. “Em reunião de N3 dessa empresa, alguém relatou que determinada máquina estava ligando e desligando. Imediatamente, um colega da mesma área recomendou verificar se o cabo estava roído porque, em outra ocasião, havia visto um rato dentro do duto. Não deu outra: ao puxar o cabo, o funcionário se deparou com um roedor dependurado nele. O problema que poderia demandar um dia de trabalho daquele funcionário, investigando causas, foi resolvido em meia hora”, diz o consultor. Os formulários de FCA (fato-causa-ação) são “insumos” para análises mais amplas dos gestores. O supervisor do confinamento pode verificar por meio deles se, por exemplo, quedas frequentes de energia estão prejudicando o desempenho dos animais. Pode discutir a questão na reunião N2 e calcular, com ajuda dos colegas do financeiro, quanto isso representa em termos econômicos, para levar à diretoria uma proposta detalhada para aquisição de um gerador. “Essas análises prévias tornam as reuniões N1 mais objetivas e produtivas”, diz o consultor do Instituto Aquila. Segundo ele, como os problemas e desvios são registrados diariamente em formulários, nada é esquecido. “Antes, o que acontecia? O líder de infraestrutura, por exemplo, via uma cerca com problema e pensava: ‘preciso avisar o Marcelo’. Ia almoçar, depois não encontrava o Marcelo e acabava esquecendo. Isso já não acontece mais, porque, na reunião N3, tudo é checado diariamente, anotado e depois passado para o supervisor”, diz Chiaramonti. “Os rituais de gestão organizaram o caminho da informação, tanto da base para o topo da pirâmide corporativa, quando do topo para a base”, assegura. n


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ESPECIAL

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Confinamento

Cerca elétrica na divisa dos currais: fim das brigas e da mistura de lotes.

Cada um no seu quadrado Uso da cerca elétrica nos currais do confinamento impõe respeito, inibe brigas entre bois de currais vizinhos e impede mistura de lotes. Renato Villela

D

renato.villela@revistadbo.com.br

ois bois se encaram e reclinam o pescoço até ficar cabeça a cabeça. Como se desejassem medir forças, iniciam um duelo, cada qual tentando empurrar seu oponente para trás. No meio do caminho, a cerca convencional que os separa vai ao chão. Fios de arame arrebentados, lascas quebradas, lotes misturados. O produtor Thiago Vilas Boas, da Fazenda Aurora, em Itaberaí, GO, cidade distante 90 km da capital Goiânia, cansou de ver essa cena se repetir em seu confinamento, que tem capacidade estática para 4.500 bois. Ao todo, são 23 piquetes de engorda, dispostos lado a lado. Como a maior parte dos bovinos confinados é de machos inteiros, as brigas dentro do lote e entre lotes vizinhos eram frequentes. “Tive muitos problemas com bois

80 DBO agosto 2017

que varavam cercas ou quebravam a perna enroscando-se nos fios de arame. Era uma confusão”, conta o confinador. Para conter o estrago causado pelos altos níveis de testosterona, no ano passado Vilas Boas decidiu trocar a cerca convencional dos piquetes pela elétrica. A adoção da tecnologia, pouco comum nesse sistema de produção, vem crescendo ano a ano. “Não me vejo mais construindo currais de confinamento sem cercas eletrificadas”, afirma. Segundo o confinador, o fim dos confrontos entre os bois de piquetes vizinhos não foi o único benefício trazido pela medida. “Agora posso colocar fêmeas ao lado de machos que eles não forçam mais a cerca tentando mudar de curral”. Até mesmo as brigas dentro dos lotes de animais inteiros arrefeceram. “Acredito que seja porque a noção de espaço diminuiu, pois os bois ‘sabem’ que, se chegarem perto da cerca, tomam choque”. A condução do gado para o curral de manejo também está mais ordenada. “Antes, os bois seguiam amontoados pelo corredor. Agora, caminham praticamente em fila, distantes meio metro da cerca”. Estrutura leve Cercas elétricas não se caracterizam pela robustez. Aliás, essa é uma das premissas da tecnologia, que tem na economia de materiais seu principal argumento. “A resistência física é o que menos importa, porque o choque é o que efetivamente segura os animais”, explica Sérgio Dornelles, da Tecnoverde Soluções, de Alegrete, RS. Vilas Boas, no entanto, preferiu manter a estrutura que já tinha nos currais, com lascas espaçadas a cada 2 m. “Deixei a cerca mais robusta para que o boi pudesse visualizá-la melhor”, justifica o confinador. O técnico da Tru-test, Guilherme Gomes Garcés, que atua em Goiás/Tocantins e foi o responsável pela montagem do projeto da Fazenda Aurora, garante, no entanto, que é perfeitamente possível trabalhar com espaçamentos maiores. “Tenho clientes que constroem cercas elétricas de confinamento com três a cinco metros entre lascas”, diz. Normalmente, essas cercas são compostas por cinco fios, com eletrificação de apenas um (o terceiro). Eles são espaçados 25 cm entre si, o que facilita a emissão do choque, quando o animal encosta simultaneamente no fio positivo (eletrificado) e no negativo, mas também cria um problema. Com um espaço tão curto entre os fios, ocorre o que os especialistas chamam de indução eletromagnética, que consiste no surgimento de uma corrente elétrica nas proximidades do condutor, no caso, o fio eletrificado que “transfere” a eletricidade para os negativos. Trocando em miúdos: ocorre “fuga de energia” da cerca. Para evitar que isso aconteça, Garcés interliga todos os cinco fios no final de cada cerca com um pedaço de arame, fazendo, deste modo, a ligação com o aterramento, que é conectado ao último fio (veja foto da pág. 82). “Quanto menos indução tiver a cerca, mais potente é o choque”, explica.



ESPECIAL

Confinamento

O técnico Guilherme Garcés mostra como os fios devem ser interligados para fazer o aterramento da cerca.

Uma das dúvidas frequentes dos produtores é se o fio eletrificado pode passar sobre o bebedouro, que normalmente fica na divisa da cerca, servindo a dois piquetes. O receio é de que os animais, condicionados pela “contenção psicológica” a não se aproximar da cerca elétrica, deixem de usar o bebedouro. Como mostrou reportagem de DBO no Especial de Instalações de maio de 2016, o gado bebe água normalmente, se o bebedouro tiver tamanho adequado e houver distância suficiente entre o animal e o fio eletrificado quando ele for beber água. Se levar choque, não se aproximará mais do local. No confinamento da Fazenda Aurora, os bebedouros são divididos pelos três primeiros fios da cerca, sendo o último eletrificado. Por precaução, Vilas Boas decidiu revesti-los com mangueirinhas plásticas, destas utilizadas como isoladores nas estacas. Outro cuidado tomado pelo confinador foi substituir todos os fios por tábuas de madeira, no lance da cerca próximo ao cocho. “É muito comum um boi empurrar o que está ao lado com a cabeça quando está se alimentando. Se o animal toma choque, não se aproxima mais daquela região e eu perco um pedação da linha de cocho”, explica. Nesse lance perto do cocho, que mede 2 m (espaçamento entre as lascas), Vilas Boas colocou três tábuas de madeira dispostas em paralelo, como se fosse uma continuidade da cerca. A medida não é eficaz apenas para deixar o gado mais à vontade para comer, mas também para garantir a integridade da instalação e a própria segurança dos animais no curral. “Quando um boi empurra outro, muitas vezes acontece de um fio arrebentar, uma estaca partir ou o animal enfiar a pata no meio da cerca, correndo o risco de quebrá-la”, afirma. 82 DBO agosto 2017

O produtor Thiago Vilas Boas segura o fio eletrificado, isolado pela mangueirinha plástica, que passa sobre o bebedouro.

Cuidados com a cerca Como se faz para passar o choque de um curral para o outro? Evidentemente, o fio eletrificado não pode percorrer a linha de cocho, pois eventuais choques inibiriam o acesso dos animais à comida. A eletricidade é transmitida para o piquete adjacente pelo lado oposto, na parte de trás do curral, onde fica a porteira de entrada e saída do gado. Para que o fio conduza a eletricidade até o piquete vizinho, são empregados cabos subterrâneos, instalados debaixo da porteira. O uso de varões, prática bastante comum, deve ser evitada. “Fios suspensos a determinada altura a céu aberto funcionam como ‘antenas’, atraindo descargas elétricas”, adverte Guilherme Garcés. A conexão entre o cabo subterrâneo e o fio eletrificado da cerca de cada um dos currais é feita por meio de grampos conectores, jamais pelo fio da cerca. “Não se deve ‘torcer’ o arame porque isso quebra a galvanização, o que favorece a ferrugem e, consequentemente, dificulta a passagem do choque”, explica. Outro aspecto que merece atenção especial é o aterramento, feito com hastes de cobre ou galvanizadas, de 2,4 m de comprimento. O número de hastes necessárias é calculado de acordo com a potência do eletrificador, cuja compra deve ser feita com base em joules (unidade de potência), e não em quilometragem. A orientação de especialistas é de 1 jaule de potência “liberada” para cada 5 km de cerca. “O aterramento deve ter, pelo menos, três hastes, independentemente da potência do eletrificador. A partir daí, a regra é acrescentar uma haste para cada joule liberado”, explica Garcés. Como a seca na região é bastante severa, a Fazenda Aurora optou por instalar um número maior de



ESPECIAL

Confinamento

Detalhe da cerca de tábua de madeira, cuja função é evitar que animais tomem choque próximo ao cocho.

gasparim_revista_DBO_print.pdf 1 02/08/2017 14:51:19

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K

84 DBO agosto 2017

hastes. Além das três que compõem o aterramento principal, foram colocadas mais quatro na área dos bebedouros, uma próxima à horta ao lado da casa de um funcionário, onde os aspersores estão sempre ligados, e uma última haste no dreno da caixa d`água. “Quanto mais hastes, melhor o aterramento”, afirma Garcés. A função do dispositivo, onde está ligado o “fio terra”, é proporcionar um “caminho” de escoamento para descargas elétricas. O choque nada mais é do que o percurso da corrente elétrica de uma fonte – fio eletrificado – até a terra, passando pelo corpo do animal. Quando o solo é arenoso ou está muito seco – no caso de regiões onde a estiagem é prolongada – o terreno é mau condutor de eletricidade, prejudicando, assim, o trajeto da corrente elétrica, o que se traduz num choque de baixa intensidade, muitas vezes insuficiente para afugentar o animal. Nessas condições, se justifica a presença de mais hastes de aterramento. Garcés, no entanto, lembra que de nada adianta espalhar as hastes aleatoriamente pela fazenda. “É preciso escolher locais que, no pico da seca, tenham umidade, que é boa condutora de eletricidade”. n


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Período de Adaptação Estudo 1 - 21 dias CONSUMO (kg/dia) PESO FINAL (kg) Estudo 2 - 21 dias

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Monensina

7,71

6,49

360,2

349,7

Essential®

Monensina

CONSUMO (kg/dia)

6,56

5,87

PESO FINAL (kg)

342,3

334,9

Essential®

Monensina

Estudo 3 - 28 dias CONSUMO (kg/dia) PESO FINAL (kg)

8,94

7,37

409,4

403

Essential®

Monensina

Confinamento Estudo 1 - 124 dias CONSUMO (kg/dia)

10,26

9,52

PESO FINAL (kg)

504, 8

493, 2

GANHO DE PESO (kg/dia)

1,34

1,12

GANHO CARCAÇA (kg)

111,8

104,7

PESO CARCAÇA (kg)

281

274

ESPESSURA DE GORDURA (mm)

6,65

6,02

Estudo 2 - 120 dias

Essential®

Monensina

CONSUMO (kg/dia)

9,06

7,73

PESO FINAL (kg)

522

486

GANHO DE PESO (kg/dia)

1,64

1,39

GANHO CARCAÇA (kg)

136,2

121,7

PESO CARCAÇA (kg)

298,5

281

ESPESSURA DE GORDURA (mm)

4,7

4,4

Estudo 3 - 105 dias

Essential®

Monensina

CONSUMO (kg/dia)

10,33

8,89

PESO FINAL (kg)

504,2

501,5

1,15

1,08

87,36

85,67

PESO CARCAÇA (kg)

280

278,3

ESPESSURA DE GORDURA (mm)

4,12

3,4

GANHO DE PESO (kg/dia) GANHO CARCAÇA (kg)

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ESPECIAL

Confinamento

Antes de confinar, “socialize” os bois. fotos: etco

Familiarização reduz estresse, diminui sodomia e pode garantir desempenho maior ao final da engorda

Lote pré-adaptado no pasto ganha mais peso no cocho

Mônica Costa

P

Familiarização possibilita formação prévia de hierarquia social” Janaína Braga, do Grupo ETCO

monica@revistadbo.com.br

ermitir que os bovinos se acostumem aos seus pares e à vida de reclusão antes de serem confinados em baias de engorda favorece seu desempenho, pois eles já chegam adaptados ao cocho e sofrem menos estresse. Os benefícios dessa estratégia foram confirmados por um experimento conduzido, entre agosto e novembro de 2015, pela veterinária Janaína Braga (como parte de sua tese de doutorado), em parceria com os professores Mateus Paranhos da Costa, da Unesp-Jaboticabal, SP, e Fernanda Macitelli, da Universidade Federal de Mato Grosso, sua orientadora. Os três são integrantes do Grupo de Estudos e Pesquisas em Etologia e Ecologia Animal (Etco) e batizaram a adaptação pré-confinamento de “familiarização ampliada”, pois consideram que o animal deve ser “apresentado” não apenas ao cocho, mas também ao novo ambiente, à rotina de manejo e ao grupo social no qual será inserido. “O confinamento contém vários agentes estressantes. É preciso ajudar os animais a enfrentar esses desafios,

86 DBO agosto 2017

familiarizando-os à mudança de dieta (do capim para o concentrado), aos peões, ao vaivém dos veículos de trato e aos novos colegas”, diz Fernanda Macitelli. Não existe receita para essa “socialização” prévia. O manejo depende da realidade de cada fazenda, podendo variar de um simples agrupamento monitorado até o fornecimento da dieta de adaptação a pasto. “Algumas dessas estratégias exigem certo desembolso, porém bem menor do que o das diárias de confinamento, onde o produtor paga caro para adaptar seus animais”, salienta a pesquisadora. Independentemente da estratégia adotada, o importante, segundo o coordenador do Etco, Mateus Paranhos, é que os animais fiquem juntos pelo menos 15-20 dias antes de ingressar nas instalações, tempo suficiente para que definam uma hierarquia social, ou seja, o papel e o espaço de cada indivíduo dentro do grupo. “Apresentar um boi previamente a seus futuros colegas de confinamento permite que eles estabeleçam essa hierarquia com menos estresse”, diz Janaína. Segundo ela, os animais familiarizados buscam o cocho assim que entram nas baias de confinamento, podendo até dispensar dietas de adaptação, o que encurta o período de engorda, enquanto aqueles que não passam por esse processo levam até três semanas para começar a consumir plenamente a ração. Alguns podem até refugar o cocho ou ficar doentes. Delineamento da pesquisa Para mensurar o efeito da “familiarização” sobre o desempenho dos animais confinados, os pesquisadores do Etco acompanharam 900 machos Nelore inteiros, de 30 meses de idade, na Fazenda Haras Itapajé, que fica em Rondonópolis, MT, e pertence ao produtor Raul Amaral Campos. Foram criados dois grupos de 450 cabeças, cada um subdividido em três lotes de 150 cabeças. Os animais destinados à familiarização foram pesados, vacinados, vermifugados e colocados em piquetes de oito hectares cada (533 m2/cabeça). Os pastos ainda tinham disponibilidade de capim, pois o trabalho foi feito no primeiro giro de engorda, no início da seca. Os pesquisadores respeitaram o protocolo de pré-adaptação da fazenda, que se assemelha a um semiconfinamento. Os três lotes, com peso médio inicial de 402 kg, foram suplementados durante 21 dias na proporção de 0,75% do peso vivo em concentrado (3 kg/cab/dia). Ganharam 800 g/cab/dia e entraram no confinamento com 419 kg. Os outros três lotes de bovinos, que nunca haviam convivido juntos, passaram pelo mesmo processo sanitário e apartados pouco antes de entrar no confinamento, tendo de se socializar em piquetes de 2.000 m2 (espaço de 13,3 m2 por bovino). Os dois grupos em estudo foram acompanhados durante o período de engorda, com aferições de peso no 1º, no 21º e no 74º dias. Por já estarem acostumados aos companheiros e ao cocho, os bois familiarizados chegaram “turbinados”


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ESPECIAL

Confinamento

Familiarização garantiu 0,6@ limpas a mais em 74 dias Desempenho médio diário (em kg/cab) Tratamentos

Pesquisa acompanhou seis lotes de 150 animais por 74 dias

Gado entra embalado no confinamento” Hélio Gazzola, gerente da Fazenda e Haras Itapajé

Até 21º

21º ao 74º

*GMD/

dia

dia

período

Kg/ cab/período

Familiarizado

2,28

1,53

1,71

126,54

Não familiarizado

1,32

1,64

1,47

108,48

Fonte: Janaina Braga. Adaptado: DBO * Ganho médio diário

no confinamento, podendo receber ração mais energética. Por isso, nos primeiros 21 dias, ganharam 2,28kg/cab/dia, quase 1 kg a mais do que o grupo adaptado dentro das instalações, cujo ganho diário foi de apenas 1,32kg/cab (veja tabela). Nos 53 dias seguintes, os animais previamente familiarizados diminuíram a velocidade de engorda, provavelmente por já estarem se aproximando da fase de acabamento, e o grupo testemunha finalmente deslanchou, impulsionado também por efeitos compensatórios. Ainda assim, os familiarizados ganharam 18 kg (0,6@ limpas) a mais no período estudado. Por já estarem sendo tratados antes do confinamento, foram abatidos 15 dias antes, com maior peso final, melhor acabamento de gordura e, consequentemente, maior rendimento de carcaça. A familiarização também reduziu o número de interações agonísticas (brigas) e sexuais, como tentativas de monta nos companheiros. Com isso, diminuíram os casos de lesões e enfermidades provocadas por estresse, que resultam em animais de fundo, os chamados “bois ladrões”. Segundo Fernanda Macitelli, quando machos são colocados em espaços restritivos sem prévia adaptação, alguns podem enfrentar situações dramáticas, pois não têm como fugir dos bovinos dominantes. “Muitas vezes, vemos esses animais perambulando junto à cerca, tentando escapar, o que pode provocar acidentes, lesões e até mesmo danos às instalações. Nossa preocupação é com o bem-estar dos animais, por questões éticas, mas respeitá-los geralmente traz ganhos econômicos para o produtor”, diz a professora.

vel”, diz o gerente Hélio Abrão Gazzola, defensor desse tipo de manejo e de outras práticas recomendadas pelo professor Paranhos, que ele conheceu quando trabalhava nas Fazendas São Marcelo, em Tangará da Serra, MT, uma das pioneiras em manejo racional no País. A Fazenda e Haras Itapajé engorda parte de seus animais (2.500 cabeças) em 620 ha de pasto. Quando os últimos bois são enviados para abate, em fins de junho, a área é aproveitada para familiarização dos animais destinados ao confinamento. Gazzola trabalha com lotes compostos por 153 machos de 370 kg, que ficam juntos por pelo menos três semanas seguidas, recebendo dieta de adaptação. “As agressões praticamente desaparecem. Mas se um boi escapa e vai parar em outro lote, pode ser agredido, tamanha é a unidade do grupo”, diz o gerente. “Neste ano, adiamos a decisão de confinar por 60 dias. Quando o patrão decidiu fechar o gado, não tivemos tempo suficiente para fazer a adaptação e registramos 12 casos de refugo de cocho em 900 bois alojados. No ano passado, pré-adaptamos 5.000 animais e tivemos apenas dois casos”, compara. Além do bem-estar animal, Gazzola vê outro grande benefício na familiarização: a redução no custo de engorda, já que a suplementação a pasto é mais barata do que a dieta de confinamento (R$ 0,58 ante R$ 6/cab/dia). n

Familiarização na prática A familiarização de lotes de engorda pode ser adotada tanto em confinamentos quanto a pasto. Na Fazenda Haras Itapajé, que abriu as portas para a pesquisa do Etco, essa prática já é adotada com sucesso há oito anos. “Recebemos aqui cerca de 7.500 bois para engorda anualmente, vindos de outras propriedades do grupo, nos municípios de Itiquira e Pedra Preta, MT. Em minhas observações de campo, percebi que as brigas diminuíam quando eu separava os lotes no pasto antes de mandá-los para o confinamento, por isso decidi familiarizar previamente os lotes sempre que possí-

da, os animais devem ser identificados, vacinados e vermifugados antes da formação do lote. ✔ Para adaptar os animais também ao trato, os piquetes devem ser munidos de bebedouros e cochos para suplementação. ✔ É fundamental ter água em quantidade e de qualidade para todos. ✔ A familiarização deve durar entre 15 e 20 dias; ✔ Após esse período, transferir os animais para o confinamento, respeitando-se a formação inicial do lote.

88 DBO agosto 2017

Protocolo de familiarização ✔ Seja qual for a estratégia de familiarização adota-



ESPECIAL

Confinamento

NIRS garante análise de ingredientes em minutos Equipamento importado permite ao produtor analisar ingredientes, ajustar dietas rapidamente e reduzir custos

Modelo usado pela CMA conta com gaveta para ingredientes e emite tíquetes

Marina Salles

U

Com o NIRS conseguimos garantir o ganho de peso desejado” Bruna Caldas, zootecnista do Grupo Campanelli

marina.salles@revistadbo.com.br

ma tecnologia de análise de alimentos conhecida dos norte americanos desde a década de 1960 começa a ganhar espaço nos confinamentos do Brasil. É o chamado NIRS, sigla em inglês para near-infrared spectroscopy ou espectrofotometria de infravermelho próximo, na tradução em português. Ideal para medir indicadores nutricionais, como teor de proteína bruta, fibras em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA), cinzas e extrato etéreo, o equipamento, por muito tempo, esteve restrito às bancadas de laboratório, mas agora começa a chegar aos grandes confinamentos interessados em fazer ajustes finos na dieta, para evitar desperdícios e melhorar o desempenho animal. O surgimento de modelos móveis (com rodinhas) e portáteis (de mão) conferiram flexibilidade ao NIRS, permitindo que ele seja levado ao campo, o que facilita o trabalho dos nutricionistas. Pioneiro no uso do equipamento, que importou em 2015, André Perrone, proprietário da Companhia Agropecuária Monte Alegre, em Barretos, SP, dá um exemplo de como o NIRS

90 DBO agosto 2017

pode trazer economia. Se a ração fosse formulada com um gêrmen de milho contendo 9,5% de extrato etéreo (óleo), a ração teria, hipoteticamente, um custo de R$ 529/t de MS; com teor de 10,5% esse valor cairia para R$ 518/t, R$ 11,08 a menos por tonelada ou R$ 0,011 por kg. Como os animais comem 11 kg de MS/cab/dia, isso significa economia de R$ 0,12/cabeça ou R$ 12,9 em 100 dias de confinamento. Multiplicando-se esse valor por 29.000 animais confinados, o pecuarista deixaria de gastar R$ 353.510. O NIRS confere velocidade à tomada de decisões, possibilitando ajustes finos na dieta, quase em tempo real. As partidas de insumos podem ser avaliadas em menos de um minuto, enquanto em laboratórios prestadores de serviços essa análise demandaria de cinco a sete dias, já incluído o tempo gasto com correio. Nesse período, muitas vezes o insumo já foi usado e o teste não serve mais para nada. O NIRS também ajuda a “qualificar” fornecedores, garantindo que o valor nutricional acordado para determinado ingrediente seja efetivamente entregue. Na Fazenda Santa Rosa, do Grupo Campanelli, em Altair, SP, uma carga de farelo de soja, que seria usada para preparar 35.000 “refeições”, chegou com 10 pontos percentuais de proteína bruta abaixo do acordado. “Deveria conter 45% de PB e tinha 35%. Se não detectássemos



ESPECIAL

Confinamento

Grupo Campanelli optou pelo modelo de bancada, que mostra resultados no visor

essa variação com antecedência, teríamos prejuízo, além de menor desempenho animal”, explica Bruna Caldas, zootecnista da fazenda, que confina 55.000 cabeças/ ano. Bruna calcula que os bois deixariam de ganhar uma média de 70 g/cab/dia ou 7,7 kg de peso vivo em 110 dias de confinamento. “Como as análises com o NIRS fazem parte de nosso protocolo desde janeiro, essa partida e outras não-conformes foram devolvidas ou renegociadas”, afirma Victor Campanelli, administrador da propriedade. Feita a calibragem, qualquer ingrediente pode ser analisado” Marina Bonin, da UFMS

Custo x benefício O custo do equipamento varia de acordo com o comprimento de onda que ele é capaz de emitir, que vai desde a faixa do visível até aquela próxima do infravermelho. “Equipamentos capazes de trabalhar com comprimentos de ondas maiores são mais caros, mas também fazem uma gama de análises maior”, explica Marina de Nadai Bonin, da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (FAMEZ/UFMS). Para avaliar se vale a pena investir na

tecnologia, a professora recomenda ao confinador analisar na ponta do lápis suas necessidades, a quantidade de análises que realiza por mês, quanto elas custam e a velocidade de retorno das informações. Hoje, o preço médio das análises laboratoriais oscila entre R$ 120 e R$ 150 por amostra. Já o equipamento pode ser adquirido por R$ 75.000 (modelo portátil PoliSPEC NIRS, da empresa italiana It Photonics) até R$ 320.000 (bancada). André Perrone, que confina de 20.000 a 30.000 cabeças/ano, optou pelo modelo Agrinir, fabricado pela Dinamica Generale, que custou cerca de R$ 90.000 e se assemelha a uma mala com rodinhas. Segundo ele, o aparelho se pagou em 12 meses. “Como eu estou muito exposto ao mercado de insumos, e isso se reflete diretamente em minha produção de arrobas, fazer um ajuste mais fino da dieta foi fundamental para minha rentabilidade”, diz o confinador paulista, acrescentando que o equipamento também lhe rendeu credibilidade no mercado de feno, produto que comercializa e cuja qualidade nutricional pode ser atestada com o NIRS. Victor Campanelli, que investiu € 90.000 (em torno de R$ 320.000) em seu NIRS de bancada da marca dinamarquesa Foss, também está satisfeito, e afirma que o investimento compensa para quem tem escala, devido à segurança que traz à formulação das dietas e à garantia que fornece quanto à qualidade dos insumos adquiridos. “Comprar ingredientes com teor nutricional menor não é problema. Problema é desconhecer o que está sendo comprado e fornecer aos animais uma dieta incapaz de garantir o ganho de peso desejado”, completa. Segundo ele, além do valor de compra do equipamento, o produtor deve contabilizar o custo das análises laboratoriais para calibrá-lo e desenvolver curvas confiáveis de análise (veja quadro abaixo). Nos seis primeiros meses deste ano, somente com esses últimos itens, Campanelli gastou mais de R$ 100.000. Como funciona “O NIRS pode analisar desde grãos até capins e carnes”, explica Perrone. De maio de 2015 até agora, ele já analisou 13

Calibragem é fundamental “Pedra no sapato” de quem decide trabalhar com o NIRS, a calibragem do equipamento deve ser feita separadamente para cada ingrediente, que tem sua curva própria, além de indicadores específicos. “Como não temos técnicos especializados nas fazendas, isso acaba dando bastante mão de obra”, afirma Campanelli. A calibragem consiste em confrontar a leitura do NIRS com análises laboratoriais. “O que a gente faz é comparar estatisticamente os padrões de absorção de luz apontados pelo NIRS com os valores de referência obtidos em laboratório”, explica Marina Bonin. Desta forma, são moldadas as curvas dos ingredientes, que

92 DBO agosto 2017

podem variar mesmo dentro de um mesmo país, conforme a região, época de plantio de determinado insumo ou protocolo das indústrias processadoras. Desde que adquiriu o aparelho, em 2015, Perrone diz que levou pelo menos um ano para calibrar seu NIRS e garantir confiabilidade aos dados. Victor Campanelli está seguindo a recomendação do fabricante dinamarquês e calibrando as curvas com 10 amostragens para cada insumo, com repetição de duas análises por amostra em laboratório. O total de análises encomendadas por Perrone, no caso do NIRS móvel, chegou a 48 por ingrediente.



ESPECIAL

Confinamento

Hoje o produto também pode ser acessado via empresas” Tiago Zarpelon, da Cargill

ingredientes diferentes, incluindo o produto final das misturas. Os parâmetros avaliados satisfazem as necessidades do confinamento. “No milho, por exemplo, o importante é saber o teor de amido; no farelo de soja, o teor de proteína”, diz o confinador. “Dentre os principais cuidados no uso do equipamento, constam a coleta de amostras representativas do alimento, bem como sua correta identificação, embalagem e acondicionamento”, acrescenta a professora Marina Bonin. Como acontece no laboratório, alguns ingredientes podem ser analisados intactos no NIRS, mas, na maioria dos casos, há necessidade de fazer uma moagem prévia para garantir maior homogeneidade às amostras. No modelo portátil (de mão), estas são analisadas cada vez que o equipamento percorre – como se fosse um ferro de passar roupas – a superfície onde o ingrediente é colocado. No modelo usado por Perrone, a matéria-prima é depositada dentro de uma pequena gaveta inserida na lateral da máquina. Chamada de “cápsula de amostras”, essa gaveta conta com um vidro na parte superior, que deve ser limpo com água e secado com papel antes de cada leitura. Com a cápsula totalmente preenchida (sem espaços de ar), tampada e acoplada à máquina, é feita a leitura dos indicadores do ingrediente selecionado. O resultado sai impresso, na forma de um tíquete. O modelo de bancada adquirido por Campanelli mostra o resultado da análise em um visor digital. Independentemente do equipamento, quanto mais amostras os softwares integrados registram, mais precisa é a análise. Para equipamentos portáteis e móveis, a indicação dos fabricantes é repetir a análise das amostras até três vezes. Campanelli tem trabalhado com duas repetições. Caso o produtor não tenha condições de adquirir o equipamento, pode recorrer a algumas empresas que têm prestado

94 DBO agosto 2017

Modelo portátil faz a análise por varreduras de superfície

esse serviço como parte do seu pacote de atendimento. É o caso da Nutron, ligada à Cargill, que já conta com quatro equipamentos NIRS, sendo três portáteis e um móvel. As análises são oferecidas gratuitamente sempre durante as visitas dos técnicos às propriedades parceiras. “Nossa equipe é treinada para manusear o equipamento e conseguimos atender os clientes semanalmente”, afirma Tiago Galafassi Zarpelon, gerente regional de negócios bovinos de corte da Cargill. A DSM Tortuga, empresa de suplementos animais ainda não conta com equipamentos, mas faz a mediação para seus clientes em universidades que têm o NIRS. “Temos parcerias e nossos técnicos levam as amostras para serem analisadas nessas instituições, que cobram pelo serviço”, afirma Marcos Baruselli, gerente nacional de confinamento de bovinos de corte da empresa. O trâmite leva, em média, dois dias. n



ESPECIAL

Confinamento

Um cenário bem mais favorável do que o de 2016 Mesmo com a arroba do boi gordo 15% menor, confinamento será atividade compensadora este ano.

É Rogério Marchiori Coan Zootecnista, diretor técnico da Coan Consultoria, de Ribeirão Preto, SP. rogerio@ coanconsultoria.com.br

Lygia Pimentel Médica veterinária, pecuarista e consultora da Agrifatto, de Bebedouro, SP. lygia@agrifatto.com.br

quase unânime a opinião de que 2016 foi um ano repleto de tormentas, que atrapalharam a vida até mesmo dos mais experientes “pilotos” da pecuária, confinadores ou não. No início daquele ano, já havia forte tendência a preços mais baixos, tanto no mercado físico como na BM&FBovespa, apesar de a margem ainda seguir relativamente atrativa. Enquanto isso, o preço dos insumos (principalmente do milho) e do boi magro causavam certa insegurança, o que forçou técnicos, consultores e especialistas de mercado a exercitarem ainda mais as contas para viabilizar o confinamento em 2016. Alguma semelhança com o que está acontecendo em 2017? Nenhuma. Diferentemente do que ocorreu no ano passado, este ano começou com o mercado físico bastante pressionado pela cadeia frigorífica, posições indefinidas no mercado futuro e ausência de contratos a termo. Todas contrárias ao interesse do confinador. As únicas boas notícias – mas suficientes para mudar o quadro – são a safra recorde de grãos (que começa a mostrar seus números) e a boa oferta de bois magros (e a preços competitivos), componentes que, juntos, representam 95% dos custos de produção no confinamento. A pergunta que fica é: e se a remuneração da arroba do boi gordo não for compatível? Para nos cercarmos de alguma segurança, do ponto de vista econômico, é que temos de simular os custos e resultados do confinamento nos principais Estados pecuários. Para efeito de cálculo, estimamos o custo operacional (depreciações, manuseio e distribuição da dieta) em R$ 1,37/cabeça/dia para todos os Estados, tendo como referência a base de dados da Coan Consultoria para o ano de 2017. Quanto ao plano nutricional, procurou-se simular as dietas com maior eficiência produtiva e econômica, utilizando-se, para tanto, do software LRNS (Large Ruminant Nutrition System). Os insumos utilizados foram silagem de milho, milho grão moído, polpa cítrica peletizada (SP e MG), farelo de soja, caroço de algodão e núcleo mineral com aditivos e vitaminas.

96 DBO agosto 2017

Os animais considerados no cálculo são da raça Nelore, com peso inicial de 360 kg (12@), peso final de 544 kg (20,16 @ /Rendimento de Carcaça = 55,60%), tamanho corporal médio, machos não castrados, ganho de peso estimado de 1,620 kg/dia, ganho de carcaça de 1,078 kg/dia e 8,16 arrobas colocadas no período (114 dias). A ingestão de matéria seca (IMS) média foi estimada em 10,72 kg/cabeça/dia, implicando em uma eficiência biológica de 139,52 kg de matéria seca por arroba produzida. Para o boi magro (360 kg = 12@), a cotação da Coan Consultoria com fechamento no dia 27 de julho indicou que essa categoria animal até que está valorizada. Veja na tabela 1. Na média de sete Estados pecuários, o ágio sobre a arroba do boi gordo foi de 14,17%, superior aos 13,69% registrados na mesma época do ano passado. A diferença é que a média de preço da arroba do boi gordo caiu de R$ 137 para R$ 116. Ou seja, a arroba do boi magro encontrava-se 17% mais valorizada do que em 27 de julho deste ano, mas em patamares de comparação totalmente d­ iferentes. Patamar competitivo No que tange às cotações dos insumos, os custos de matéria seca das dietas e das diárias alimentares estão em patamares bastante competitivos este ano, quando comparados com 2016: o custo médio da matéria seca está 55% menor, graças a preços mais baixos de muitos insumos, especialmente em decorrência da segunda safra de grãos. Veja a tabela 2. Já com relação a custos com protocolo sanitário – R$ 8,08 por animal –, não houve diferença significativa com a base de dados de 2016. Considerou-se a aplicação de endectocida de largo espectro, vacina contra clostridioses, vacina contra Doença Respiratória Bovina e e­ ctoparasiticida. Com as informações descritas acima, realizamos os cálculos de custos da arroba produzida e da arroba colocada, demonstradas no gráfico de barras da pág. 98.


Tabela 1. Boi magro ligeiramente valorizado em relação a 2016, em sete Estados pecuários. Variáveis

Estados SP

MG

MS

MT

GO

TO

PA

Média

2017 boi magro1

138,80

137,00

135,10

128,50

137,20

131,90

125,00

133,36

@ boi gordo1

124,50

121,00

115,00

112,50

114,00

115,00

116,00

116,86

Ágio boi magro2

11,49

13,22

17,48

14,22

20,35

14,70

7,76%

14,17

Preço boi magro3

1.665

1.644

1.621

1.542

1.646

1.582

1.500

1.600

@ boi magro1

168,67

159,92

161,92

159,67

145,42

142,00

156,21

@

2016 155,92

boi gordo1

155,00

140,50

138,00

134,00

140,00

129,00

126,00

137,50

Ágio boi magro2

8,82%

13,82%

17,33%

16,36%

14,05%

12,73%

12,70%

13,69%

2.024

1.919

1.943

1.871

1.916

1.745

1.704

1.874

@

Preço boi magro3

Em R$/@; (2) % em relação ao boi gordo; (3) em R$. Fonte: Agrifatto

Observa-se que os custos por arroba produzida e arroba colocada ficaram, respectivamente, 27% e 50% inferiores aos registrados em 2016, permitindo concluir, sem sombra de dúvida, que 2017 será um ano de custos mais baixos de produção. Para o cálculo do lucro operacional, consideramos o custo alimentar, o preço do boi magro, o custo do protocolo sanitário e o custo operacional durante os 114 dias de confinamento. Para a remuneração da arroba, consideramos os diferentes cenários de cada ano, partindo de uma remuneração mínima de R$ 115/@ até R$ 140/@ para 2017 e de R$ 145 até R$ 170/@ para o ano de 2016, com variação de R$ 5/@. Veja as tabelas 3 e 4. Os números deixam claro que o confinamento este ano será mais lucrativo do que em 2016. Pelo fato de o custo de produção da arroba produzida ser menor, com menor investimento na compra do boi magro, menor custo alimentar e uma remuneração com tendência de alta, já que o patamar de R$ 135 para a arroba do boi gordo para o mês de outubro, na praça de São Paulo, parece estar próximo, trazendo um efeito cascata bastante positivo, quando se

considera o diferencial de base para os demais Estados. Outra análise interessante é aquela direcionada aos pecuaristas que utilizam o confinamento como estratégia, principalmente para quem realizou a reposição em 2016 a preços mais competitivos. Essa operação tende a deixar melhores margens ao pecuarista, diferentemente da outra modalidade, onde confinar por confinar parece não ter sido a melhor estratégia em 2016. Sinais da macroeconomia Com relação ao ambiente econômico do País, as últimas notícias trazem um pouco mais de alento. Apesar de a taxa de desemprego estar elevada, o saldo de vagas de emprego gerados em 2017 está positivo – 48.500 postos de trabalho foram criados até maio, uma alta acumulada de 0,13%. O endividamento das famílias está em 45,5%, o menor resultado da pesquisa feita pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo. E os dados do IBGE mostram que a renda média mensal do trabalhador aumentou 7,21% no primeiro trimestre deste ano, em comparação com o mesmo período do ano passado. Estes dados

Tabela 2. Dieta mais cara está no TO este ano; em diária por animal, PA lidera. Variáveis

Estados SP

MG

MS

MT

GO

TO

PA

Média

2017 Custo matéria seca1

0,57

0,53

0,51

0,41

0,52

0,59

0,63

0,54

Custo por cabeça2

6,03

5,61

5,36

4,29

5,44

6,16

6,58

5,64

Custo matéria seca1

0,80

0,80

0,84

0,81

0,84

0,87

0,89

0,84

Custo por cabeça2

8,60

8,63

9,04

8,65

9,02

9,28

9,52

8,96

2016

em

R$/kg/dia; 2 em R$/dia

agosto 2017 DBO

97


ESPECIAL

Confinamento Custos mais baixos em 2017

Tabela 3. Mais chances de lucro operacional em 2017 Estado SP

Remuneração

da

@,

em

R$

115,00

120,00

125,00

130,00

135,00

140,00

- 235,18

- 134,36

- 33,54

67,28

168,10

268,92 355,34

GO

- 148,77

- 47,95

52,87

153,69

254,51

MG

- 166,11

- 65,29

35,53

136,36

237,18

338,00

MS

- 115,10

- 14,28

86,54

187,36

288,19

389,01

MT

85,86

186,68

287,50

388,32

489,14

589,96

TO

- 167,37

- 66,55

34,27

135,09

235,91

336,74

PA

- 131,77

- 30,95

69,87

170,70

271,52

372,34

Tabela 4. Mesmo com @ cara, lucro operacional mais apertado Estado

Remuneração da @, em R$ 145,00

2016

150,00

155,00

160,00

165,00

170,00

SP

- 306,33

- 206,23

- 106,14

- 6,04

94,06

194,15

GO

- 245,60

- 145,50

- 45,41

54,69

154,79

254,88

MG

- 203,97

- 103,87

- 3,77

96,32

196,42

296,51

MS

- 274,74

- 174,64

- 74,54

25,55

125,65

225,74

MT

- 158,92

- 58,83

41,27

141,36

241,46

341,56

TO

- 104,92

- 4,82

95,27

195,37

295,46

395,56

PA

- 90,74

9,35

109,45

209,54

309,64

409,74

projetam uma inversão de tendência econômica com possível retomada do consumo. Outro sinal positivo é a recuperação das exportações. Em junho foram embarcadas mais de 100 mil toneladas de carne bovina in natura, mesmo diante da suspensão das importações dos EUA. Num cenário de maior oferta de animais, perspectiva de consumo em recuperação e exportações mudando de patamar, a indústria tem mostrado maior interesse em reabrir

plantas, também em função de uma possível boa margem de processamento para empresas que trabalham de maneira enxuta e eficiente. Outro fator extremamente positivo é o avanço das negociações da JBS com seus credores, de forma a amortizar, em um ano, cerca de R$ 2,5 bilhões de sua dívida de R$ 16 bilhões, o que torna mais distante o fantasma de uma recuperação judicial, melhorando também a perspectiva de demanda por animais terminados nos próximos meses. Como os preços da arroba do boi estavam em queda, em função, também, dos graves problemas que envolveram a JBS, o confinamento foi amplamente desestimulado. Por isso, é bem provável que um número menor de animais seja engordado no cocho. Caso esse cenário se confirme, aliado a um consumo em recuperação, poderemos ter um tom de entressafra neste segundo semestre de 2017. Algo que a B3 (ex BM&FBovespa) já sinaliza, com valores crescentes para a arroba do boi a partir de agosto, como mostra o Gráfico 2. É um movimento contrário ao observado logo após o escândalo da JBS, quando os preços no mercado futuro chegaram a declinar R$ 10/@ em uma semana. n

Evolução dos preços do boi gordo em SP x Projeção futura (R$/@) Mercado futura x Mercado físico – 2017

Jan

Fev

Mar

Abr

Mai

Projeção Futura

Jun

Jul

CEPEA médio/mês

Ago

Set

Out

Nov

Dez

139,33

134,46

115

124,58

134,32

120

128,66

134,24

125

136,07

132,10

136,80

132,80

130

143,33

138,60

135

145,99

140

144,99

140,92

148,49

145

144,87

150

Jan/18

Contratos em aberto Fonte: B3. Elaboração: Agrifatto

98 DBO agosto 2017


64 CV 0

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Confira os temas que serão abordados e participe!

o ã ç i d e 0 1 a

Painel Mercado

Painel Futuro

Apresentar o ambiente econômico brasileiro, posicionando onde o Brasil está no momento e para onde podemos seguir.

Desenhar um cenário positivo para a pecuária, mostrando caminhos para uma produção mais valorizada e com pecuaristas mais ativos.

Painel Regulatório

Painel Técnico

Discutir os entraves legais no tema sustentabilidade, que são e/ou podem ser problemas para a pecuária brasileira se desenvolver.

Compartilhar cases, ideias e tecnologias para mostrar que a produtividade sustentável é o caminho para uma melhor rentabilidade na fazenda.

18, 19 E 20 DE SETEMBRO REALIZAÇÃO:

PROMOÇÃO E ORGANIZAÇÃO:

www.interconf.org.br



Reprodução

Ranking do Gerar aponta touros referência em IATF Reprodutores com alta fertilidade são utilizados em larga escala e permanecem como destaque nas baterias das centrais Denis Cardoso

U

de Bonito, MS.

m dos pontos fortes do Gerar (Grupo Especializado em Reprodução Aplicada ao Rebanho), que completou 11 anos, é o seu banco de dados de IATF (inseminação artificial em tempo fixo), que é “alimentado” anualmente pelos 250 técnicos integrantes do grupo, que hoje assistem em torno de 1.300 fazendas de gado de corte no Brasil, além de alguns países da América do Sul. Somente na última estação de monta (2016/2017), foram compilados mais de 1 milhão de protocolos de IATF, o que contribuiu para o acervo de quase 4 milhões de dados de inseminações desde a sua criação. Em meio a este calhamaço de informações zootécnicas, que servem como bússola para orientar as decisões mais importantes dos técnicos de campo para a estação de monta subsequente, destaca-se o ranking dos touros do Gerar Corte 2017, uma robusta lista com mais de 400 reprodutores utilizados pelos técnicos do grupo em programas de IATF, que revela os resultados individuais de fertilidade durante a estação de monta, além de outras três informações importantes: total de inseminações acumuladas na últi-

Dados de touros do Gerar Corte que se destacaram em programas de IATF na estação reprodutiva passada* Touro Wolf Centenário Prime Premier Rem USP Litio AJ Solid Gold Curve Bender Capané Sitz Logic Paint Phanton Assis AJ Walker

Raça Angus Angus Angus Nelore Nelore Angus Angus Angus Angus Nelore Nelore Angus

Central Alta Genetics Select Sires Select Sires Alta Genetics CRV Lagoa ABS Pecplan ABS Pecplan ST Repro CRI Genética CRV Lagoa ST Repro CRI Genética

inseminações

técnicos

fazendas

7.793 7.087 6.973 5.033 4.242 4.599 3.892 2.465 2.239 1.620 1.613 1.032

8 10 12 38 28 15 13 14 10 20 12 7

110 106 33 76 38 35 26 18 12 32 16 11

*Critério de escolha dos touros da tabela de acordo com a quantidade de inseminações e números de técnicos e fazendas que utilizaram o mesmo sêmen; para que todas as centrais participaram desta lista apenas os dois principais touros de cada central. Centrais que registram um número considerável de inseminações, mas com a participação de um número reduzido de técnicos (abaixo de 5), como é o caso da Central Bela Vista (4.815 inseminações com o touro AKIM (Angus) e da C.O.R.T (2.000 inseminações com o touro Ébano (Angus), não entraram nesta lista. Fonte: Relatório GERAR CORTE 2017

102 DBO agosto 2017

ma temporada e o número de técnicos e de fazendas que utilizaram esse sêmen. No ranking do Gerar estão disponíveis informações de touros que apresentaram taxa de prenhez igual ou acima de 50% na estação 2016/2017. Com tanta informação, DBO optou por mencionar apenas os chamados “touros referência” do ranking de 2017, cujo sêmen é largamente utilizado em fazendas adeptas da IATF e por uma grande quantidade de técnicos que atuam com reprodução (veja tabela na pág. 104). Além de acumular um histórico de sucesso em programas de IATF, esses reprodutores se destacam em características genéticas de alta importância ao pecuarista, tais como ganho de peso à desmama e ao sobreano, cobertura de musculatura na carcaça, acabamento de carcaça, área de olho de lombo e marmoreio, entre outras. A repetição de bons índices de prenhez em cada estação de monta eleva a acurácia (confiança) dos resultados dos “touros-referência”, fortalecendo ainda mais o seu status na temporada seguinte. Essa fidelidade aos touros topes em IATF está nítida no ranking do Gerar, que foi apresentado ao mercado durante a primeira reunião do grupo, realizada em Bonito, MS, entre 20 e 22 de julho – serão sete reuniões regionais ao longo do ano, em MS, RS, MT, SP, DF, MA e MG. O ranking, porém, não tem embasamento científico, ou seja, a análise considerou a base de dados de 1,027 milhão de inseminações em tempo fixo da mais recente estação de monta, enviadas pelos técnicos integrados ao grupo. Mas esses touros contam com o respaldo técnico das centrais que comercializam as partidas e de empresas prestadoras de serviço em coleta e processamento de sêmen. O material genético utilizado em programas de IATF também geralmente é testado por veterinários responsáveis pela gestão reprodutiva das fazendas. É o caso da equipe do veterinário Renato Girotto, da RG Genética Avançada, de Água Boa, MT, que assiste a 40 fazendas, perfazendo 70 mil IATF por ano. “Além de avaliarmos os resultados do Gerar e dos programas de fertilidade das centrais, nós rodamos um programa interno com todos os touros que usamos nas fazendas. Essa análise definirá quais reprodutores usaremos nas estações seguintes”, ilustra. O interesse pelo maior desempenho gestacional da vacada inseminada não é somente do criador, que, ao usar um touro altamente fértil em IATFs, “colherá” mais bezerros ao fim da estação. O próprio técnico é beneficiado ao trabalhar com touros bons em IATF. Não só pelo fato de garantir a manutenção da confiança do proprietário que o contratou, mas porque muitos dos profissionais recebem por prenhez comprovada, e não por vaca inseminada. Partindo do princípio de que todos os touros do Gerar registraram taxa de prenhez acima de 50%, vale a pena citar outras três informações que constam no ranking – quantidade de “inseminações”, “técnicos” e “fazendas”. Ou seja, se, na prática, eles estão sendo utilizados em larga escala em programas de IATF, é por-



Reprodução

Desafio das centrais é ter touros com perfil genético diversificado” Renato Girotto, diretor da RG Genética Avançada

Eles funcionam como “touros controle” em fazendas de pecuaristas parceiros” Leandro Cruppe, diretor de pesquisa da Select Sires

São boa referência, mas não podemos apostar todas as fichas num único touro.” Gabriel Crepaldi, diretor comercial da Sexing

que são bons. DBO conversou com alguns representantes de centrais de genética que participaram da reunião do Gerar em Bonito, coordenada pelo veterinário José Luiz Moraes Vasconcelos, o professor Zequinha, da FMVZ-UNESP Botucatu-SP, a universidade parceira do grupo que conta com o apoio da Zoetis. Segundo Leandro Cruppe, diretor de Pesquisa, Desenvolvimento e Marketing da Select Sires do Brasil, com sede em Porto Alegre, RS, além da garantir a melhoria dos índices zootécnicos relacionados à eficiência reprodutiva, o touro “referência” é um importante balizador do mercado de reprodutores geneticamente provados e com excelência em IATF. Explica-se: assim como o atacante português Cristiano Ronaldo já foi considerado pelos especialistas por quatro vezes o melhor do mundo de uma temporada futebolística, poucos duvidam do potencial do jogador Neymar, outrora um desconhecido em campos internacionais, para alcançar tal posto. Voltando para o universo pecuário, para se tornar o novo “bola da vez” em programas de IATF é preciso que o touro candidato ao posto de estrela construa um histórico consistente de excelentes resultados a campo, igualando ou superando os índices médios alcançados pelo touro referência. “Antes de lançar comercialmente qualquer touro na bateria, a Select Sires faz testes de desempenho de fertilidade em IATF nas fazendas de pecuaristas parceiros, utilizando sempre nos lotes de vacas inseminadas com os touros jovens um ou dois reprodutores de referência, o chamado ‘touro controle’”, explica o diretor da Select Sires, que possui uma bateria de 30 touros Angus direcionados para o uso de IATF no Brasil. Entre eles, dois se destacaram no Ranking do Gerar 2017: Centenário, de 9 anos, e Prime Premier (já falecido), ambos da raça Angus (veja tabela). “Centenário é o nosso touro de ‘combate’, ou seja, tem um preço de sêmen bastante competitivo no mercado de Angus, pois é um dos poucos de nossa bateria coletados no Brasil (na Central Bela Vista, de Botucatu, SP), o que barateia o custo de produção, além de ser de extrema confiança em termos de fertilidade”, justifica Cruppe. O touro Wolf (da raça Angus), da Alta Genetics, de Uberaba, MG, nascido em 2007, foi o melhor classificado do ranking em termos de inseminações, com 7.793 IATFs na última estação de monta, perfazendo um total de 110 propriedades (também líder nesse quesito, veja mais informações na pág. 116). “A Alta é a empresa que tem o maior volume de touros listados pelo Gerar”, afirma o gerente de Mercado da empresa, Tiago Carrara, acrescentando que esses são touros consagrados no Concept Plus, programa próprio da central de identificação de fertilidade. Na visão de Carrara, esses touros contrariam o “mantra” do melhoramento genético, de que a geração

104 DBO agosto 2017

seguinte precisa ser melhor do que a anterior. Segundo ele, o uso em larga escala e longos períodos desses reprodutores nada tem a ver com modismo. “No meu entendimento, trata-se de escolhas conscientes por parte dos pecuaristas e, enquanto o rebanho permitir – por causa da consanguinidade –, esses touros deverão continuar sendo utilizados intensamente”, avalia. O touro Lítio AJ, da CRV Lagoa, de Sertãozinho, SP, é um dos melhores exemplos de que a idade não faz diferença na hora de escolher um reprodutor para IATF. Um dos destaques do ranking Gerar de 2017, com 4.242 inseminações realizadas, o touro tem 11 anos e continua na ponta dos sumários de programas de melhoramento genético e altamente eficiente em protocolos de IATF. “No caso de Lítio, há fila de espera para comprar o seu sêmen”, conta Fábio Frigoni, supervisor técnico de Serviços da CRV Lagoa, de Sertãozinho, SP, que destaca o programa IFert (Índice de Fertilidade de Reprodutores Utilizados na IATF), que avalia o desempenho em IATF de touros jovens por meio de um programa estatístico realizado em parceria com a empresa Gensys. “O IFert consegue isolar o ‘fator touro’ dentro dos grupos contemporâneos avaliados, predizendo o real potencial de fertilidade no campo”, diz. Segundo Girotto, da RG Genética, quando se trata da compra de touros para cruzamento industrial, o principal critério levado em conta é a taxa de prenhez à IATF. “Como a finalidade principal é produzir animais para abate, a fertilidade acaba sendo o foco principal”, observa. No entanto, o grande desafio das centrais é manter na bateria touros bons em IATF, mas com perfis genéticos diversificados, com intuito de atender às diversas realidades de sistemas produtivos existentes no País. É o que vem fazendo a ST Repro, divisão de corte da Sexing no Brasil, com sede em Indaiatuba, SP, relata Gabriel Crepaldi, diretor comercial da companhia. “Mesmo que seja excelente em IATF, não podemos apostar todas as fichas no touro ‘âncora’, pois certamente o seu perfil genético não servirá para todos os modelos de produção”, sentencia. Além disso, continua, ao gerar uma demanda demasiada para um único touro, a central não teria quantidade de doses de sêmen suficiente para atender a todos os clientes. Sendo assim, a ST Repro aposta no trabalho de diversificação dos touros da bateria. Para isso, primeiramente, há dois anos e meio, utilizou, como referência para descoberta de touros jovens “talentosos” em IATF os reprodutores Capané e Capataz, ambos da raça Angus, coletados na Seleon Biotecnologia, de Itatinga, SP. Capané, um touro de 5 anos, foi um dos destaques do Ranking Gerar. Crepaldi diz que, atualmente, a central já trabalha com pelo menos dez touros de fertilidade reconhecida em IATF, tais como os reprodutores Cattelemaster e Incredible, ambos da raça Angus, que, com utilização maciça pelos pecuaristas, são inseridos no grupo controle para o processo de identificação de animais com taxa de prenhez acima da média. n



Seleção

Genética indiana reafirma seu vigor Nelore Jop

Produtos da nova importação de embriões começam a trazer benefícios para o Nelore brasileiro, com destaque para características adaptativas e de carcaça.

Doadoras indianas adquiridas pelo Grupo JOP em 2004; promessa de produtividade cumprida.

Q

Carolina rodrigues

uando uma nova importação de genética zebuína indiana foi anunciada, em 2009, surgiram inúmeros questionamentos quanto à efetiva contribuição dessa iniciativa para o melhoramento do Nelore, matriz produtiva do rebanho brasileiro. Oito anos depois, resultados de campo e avaliações genéticas confirmam que a decisão foi acertada. Além de produzir um “refrescamento de sangue” (redução da consanguinidade) no Nelore nacional, os animais oriundos dessa importação estão apresentando qualidades importantes para a raça, como o baixo peso ao nascer (característica que vêm se perdendo nos últimos anos, conforme mostrou reportagem de DBO, na edição de maio); maior capacidade para ganho de carcaça, quesito altamente valorizado tanto pelos pecuaristas quanto pela indústria frigorífica, e uma maior produção de leite, que se expressa em boa habilidade materna e maior peso à desmama. Desde 2009, desembarcaram no País cerca de 2.500 embriões vindos da Índia, representando inserção de nove progenitores importados no rebanho: Ch-

106 DBO agosto 2017

helano, Makinavari Palen, Jamphur, Gunthur, Thajur, Pallamali, Indirano, Yellamaru e Cacumano. Mais 2.847 embriões, de três outras linhagens, ainda estão em processo de liberação, e deverão chegar ao País nos próximos anos. Para José Bento Sterman Ferraz, professor da USP Pirassununga, SP, somente esse “sangue novo” já justifica a importação. A iniciativa foi capitaneada pelos chamados “novos importadores”: a dupla Jonas Barcelos, da Fazenda Mata Velha, MG, e Abelardo Luiz Lupion Mello (Nelore Beka, PR), que influíram decisivamente para liberação dos embriões, e o grupo Nelore JOP, composto por José Carlos Prata Cunha (Fazenda VRJC), Orestes Tibery Neto, Ângelo Tibery (Espólio OT), Pedro Augusto Ribeiro Novis (Fazenda Guadalupe), Carlos Mestriner (Agropecuária Onix), Gilson Katayama (Katayama Pecuária) e José Roberto Colli (Nelore Zeus). O processo que pôs fim a quatro décadas de reclusão do zebu no Brasil foi complexo e caro. Para revogar a proibição vigente desde 1964 e liberar a importação exclusivamente de embriões (animais continuam vetados), o governo federal exigiu que se cumprisse extenso protocolo sanitário, para evitar introdução de doenças no País. Os importadores também tiveram de montar uma estrutura na Índia para tornar viável a produção dos embriões e enfrentaram forte burocracia. Todo o trabalho foi conduzido com rigor técnico, para que se pudesse realmente contribuir para o melhoramento do Nelore nacional. Depois de nascidos, os animais passaram por inúmeras avaliações visando à seleção dos melhores indivíduos. Hoje, já estão disponíveis, inclusive, informações sobre os produtos de cruzamento de reprodutores das linhagens importadas com matrizes nacionais, os chamados “F1 indianos x Nelore PO”. O objetivo das aferições é atribuir real valor ao material genético trazido para o País, além de validar os ganhos dessa heterose intraracial. Heterose de respeito À frente do projeto da Mata Velha desde o início dos acasalamentos, Fernando Barros, da SAP Assessoria, confirma a superioridade dos produtos oriundos desse “choque” de sangue. “O touro indiano em vaca nacional garante animais mais uniformes, de tamanho moderado e mais revestido de gordura subcu-



fotos Nelore Jop

Seleção

Cacumano, uma das nove linhagens introduzidas no Brasil, para refrescamento do sangue Nelore.

Touro indiano em vaca nacional dá animais mais uniformes” Fernando Barros, SAP Assessoria

Sangue ‘novo’ justifica a importação” José Bento Ferraz, da USP de Pirassununga

Volta do baixo peso ao nascer e alta produção leiteira são características da nova genética

tânea. Não se tem o mesmo resultado cruzando touro nacional com vaca indiana”, adianta Barros. Já nasceram quatro safras de animais no projeto, mas só há duas gerações os dados são trabalhados isoladamente na Fazenda Entre Lagos, em Ribeirão Claro, PR, com o objetivo de direcionar melhor os acasalamentos, identificar e selecionar o melhor de cada linhagem. O trabalho já foi reconhecido pelo mercado. Shakti LEI Mata Velha foi contratado pela Alta Genetics em 2015 pela capacidade de transmitir carcaça e precocidade sexual aos seus filhos. Produziu sêmen de qualidade para congelamento aos 13 meses de idade. Hoje, alguns machos já têm o sêmen coletado a fresco aos 11 meses. “Quem conhece a história do Nelore sabe que todas as vezes que os produtores decidiram trazer material genético agregaram valor à raça. Não somente em 1962, quando se consolidaram as bases do rebanho brasileiro, mas também na década de 1980, com a entrada do chamado sêmen Nova Opção (importação não oficial), de onde saíram touros como Visual, Big Ben e Fajardo”, pontua Barros, que trabalhou por um longo período com Torres Homem Rodrigues da Cunha, um dos importadores pioneiros de 1962. Hoje, cerca de 90% do rebanho são constituídos por animais Nelore descendentes dessa última grande importação. Dados da ABCZ (Associação Brasileira dos Criadores de Zebu) revelam que, desde 1908, foram trazidos para o País 6.262 zebuínos, mas algumas linhagens como Karvadi, Taj Mahal, Golias, Godhavari, Rastan, Akasamu e Padhu foram muito usadas, gerando endogamia (acasalamento entre aparentados) e, consequentemente, queda de produtividade. Índices de endogamia acima de 5% já afetam características como adaptabilidade e fertilidade. “Agora eu pergunto: que há de mais importante do que isso para a rentabilidade do produtor brasileiro?”, dispara o professor Bento Ferraz.

108 DBO agosto 2017

Resgate necessário Ao lado do técnico Márcio Ribeiro Silva, da Melhore Animal Consultoria, Bento tem acompanhado a segunda geração oriunda dos embriões indianos importados pelo Grupo Nelore JOP, que se encontra na Fazenda Abrigo do Nelore, em Castilhos, SP. Segundo ele, já foram identificados nesse rebanho touros com DEPs de alta acurácia para baixo peso ao nascer (o que evita problemas no parto). Na última safra de bezerros avaliada, as fêmeas nasceram com 28 kg e os machos com 30 kg, mas se desenvolveram bem, atingindo pesos de 200 e 220 kg, respectivamente, aos 7 meses de idade, porque suas mães produzem boa quantidade de leite. “Já avançamos muito na seleção do Nelore no País, mas sabemos que a habilidade materna ainda não é uma característica tão bem resolvida”, diz o pesquisador da USP. Segundo ele, o que diferencia a nova onda de importação das demais é o fato de os criadores não terem simplesmente buscado animais para renovação de sangue, mas se baseado em critérios prévios de produtividade. Lourenço Miguel Campo, dono da Central Leilões, empresa com forte atuação no mercado da raça, concorda com Bento. “O biotipo dos animais importados é moderno. Trata-se de um gado de bom tamanho e muita musculatura. Prova disso é que, nas últimas mensurações de carcaça, algumas médias para área de olho de lombo (AOL), espessura de gordura subcutânea (EGS) e marmoreio (MAR) foram superiores às obtidas por aqui”, diz o leiloeiro. De olho na carcaça Esse também tem sido o diferencial observado pelo paranaense Abelardo Luiz Lupion Mello, do Nelore Beka. Desde o início, seus animais têm sido avaliados pelo PMGZ (Programa de Melhoramento Genético de Raças Zebuínas) e participado de provas de ganho de peso supervisionadas pela ABCZ, sendo também submetidos a análises de carcaça por ultrassom. Na safra 2015/2016, a média de AOL foi excelente: 82,54 cm² para fêmeas e 103,72 cm² para machos ao redor de 18



Nelore Jop

Nelore beka

Seleção

Excelentes resultados obtidos com AOL” Abelardo Lupion Mello, da Nelore Beka

Resultados excelentes com bezerros criados exclusivamente a pasto” Márcio Ribeiro, da Melhore Animal

Nadyal: exemplo de doadora indiana preconizada no processo de importação.

Filho de Avanindra em vaca PO, Beka Eloro comprova alto vigor híbrido do cruzamento interracial

meses. No quesito acabamento, os números superaram bastante a média nacional: 8,46 mm de gordura subcutânea para fêmeas e 6,99 mm para machos, com alto grau de marmoreio. O touro Beka Frutal FIV, filho do touro importado Avanindra TE LEI Mata Velha, registrou índice de 6,31 de MAR, valor quase duas vezes superior à média nacional de 3,74 mm, segundo dados da DGT Brasil, empresa responsável pelas avaliações. Também foram identificados animais destaques em AOL, medida ligada à musculosidade, rendimento de carcaça e ganho de peso. Beka Eloro FIV, outro filho de Avanindra, alcançou o valor de 160,2 cm², a terceira maior nas avaliações da safra pela DGT. Na maioria dos programas de melhoramento, a medida está em torno de 58 cm2. “São produtos de heterose, que demonstram alto vigor híbrido”, diz Luiz Comegno Júnior, gerente-geral do Nelore Beka. No Grupo Nelore JOP, a média de espessura de gordura no contrafilé (característica de carcaça que tem correlação com precocidade em fê­meas) variou de 4,25 a 15,8 mm, valores, que, segundo Bento Ferraz, explicam a alta taxa de prenhez das primíparas no projeto, hoje de 85%. “A rusticidade do gado importado vem se traduzindo em eficiência reprodutiva”, salienta o pesquisador. Na última avaliação genética, as fêmeas apresentaram ótima condição corporal, que se manteve no período da lactação, garantindo bom peso da progênie à desmama. As primíparas desmamaram machos com peso de 223 kg, média muito semelhante à dos bezerros das secundíparas e multíparas, que foi de 235 kg. Para Márcio Ribeiro, o segredo desse bom desempenho do gado indiano é a rusticidade. “Os resultados são excelentes se considerarmos que as fêmeas criaram esses bezerros exclusivamente a pasto”, diz ele.

ou proteico-energético, em quantidade apenas suficiente para garantir bons níveis crescimento e prenhez. As fêmeas chegam à puberdade com 360 kg e os machos com 600 kg, aos 24 meses. Na Mata Velha, a rusticidade fica clara na preparação dos animais para leilões. Segundo o técnico Fernando Barros, os animais importados ficam prontos quase três meses antes do que o gado PO nacional. “Tivemos de adaptar nosso manejo à rusticidade do gado indiano”, revela Fernando Barros, que trabalhou recentemente na preparação de garrotes que serão vendidos em um remate virtual, neste mês de agosto. “É um gado menos exigente.” Desde 2014, os “novos importadores” têm comercializado animais em leilões na Expozebu e na Expoinel, iniciando recentemente vendas também pela TV. “Já conquistamos o respeito dos produtores de vários Estados, que já começam a utilizar esses animais tanto no repasse da vacada PO quanto em rebanhos comerciais”, diz Barros. Nos primeiros leilões da genética indiana, os touros saíam por cifras altas, até R$ 200.000/cabeça. Hoje, esse valor varia de R$ 20.000 a R$ 50.000, um indicativo de que a genética indiana começa a migrar para a base da cadeia produtiva. n

Menor exigência Para expressar essa característica, o Grupo Nelore JOP utiliza protocolos nutricionais semelhantes aos das fazendas comerciais: suplementação com sal mineral

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Nomenclatura exclusiva Uma das iniciativas que favoreceram o avanço dessa nova genética foi a criação, em 2008, de uma nomenclatura específica para os animais importados indianos. A ABCZ abriu o Livro Especial de Importação (LEI) para registrar os animais vivos, sêmen e embriões com essa origem, diferenciando-os dos produtos Puros de Origem Importada (POI), oriundos das importações da década de 1960. “Isso ajudou muito a dissociar a imagem dos novos animais importados, de biotipo animal bem diferente, daqueles preconizados nos anos 60”, avalia Luiz Comegno Júnior, gerente do projeto Beka. Foram registrados 382 zebuínos LEI, dos quais 204 Nelore. Atualmente, o livro está fechado enquanto o Brasil aguarda a liberação dos embriões restantes na Índia. Os animais que deram origem aos embriões, como não podem ser trazidos para o Brasil, foram devolvidos aos criatórios indianos de origem.



Seleção

JM deixa legado histórico para retomar antiga aptidão familiar Entre as grifes que assinaram a história do moderno Nelore no País, Estância JM preser va o plantel no interior paulista, mas agora o rei é o café.

Gim e Ludy de Garça, touros recordes em comercialização de sêmen no País; produção ultrapssou 100 mil filhos.

Q

Carolina Rodrigues

uem nunca ouviu falar de Gim e Ludy de Garça, touros expoentes da pecuária de corte na década de 1980? Nascido na sétima geração de animais da Estância JM, em 1976, Gim ficou famoso pela capacidade de imprimir ganho de peso e beleza racial à progênie, atributos que o levaram à marca de 300 mil doses de sêmen comercializadas, ainda hoje uma das maiores do País. Gim foi descoberto pelo saudoso Jaime Nogueira Miranda, com a ajuda do peão Benedito Ferreira, o “Seu Bê”, funcionário dedicado que durante de 40 anos foi o olho clínico da Estância JM. Seu descendente, Ludy de Garça, nasceu quatro anos depois (1980), e, assim como o pai, tornou-se progenitor de uma remessa de touros que apadrinharam rebanhos pelo País, como Panagpur Al da Pauliceia, Bitelo da SS e Taju de Garça. Segundo os mais experientes, Ludy gerou 150 mil filhos, superando o pai, que produziu 100 mil filhos por inseminação artificial e morreu em 1996. Exímio conhecedor do Nelore, o criador Adir do Carmo Leonel garante que esses touros foram a primeira geração moderna do Nelore, os touros “melhoradores de média”, como diz ele. Ludy pesou 1.180 Kg e se destacou por transmitir peso e carcaça para seus filhos. Hoje, amparada pela história da raça, a Estância JM tem pretensões menores para o Nelore. Já não produz campeões nacionais, seja nas pistas ou na venda de sêmen. Faz uma pequena reserva de plantel em Garça, SP, e retomou uma antiga aptidão familiar: a produção de café em Minas Gerais. “Vivemos muito tempo do Nelore, raça com a qual obtive muito sucesso. Hoje crio, mas não seleciono. Deixo isso para quem está chegando”, diz Jayminho Miranda, sucessor de Jaime Miranda,

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que além de produzir grandes touros, também ficou conhecido pelo seu pioneirismo. Há quase 40 anos, a JM fez o que se tornou prática atual: o cruzamento das linhagens, utilizando animais de linhagens antigas e respeitadas da Bahia com os animais importados em 1962, o que resultou na produção consagrada de Gim e Ludy, genética que se alastrou como rastro de pólvora pelo País, tornando-se a glória e também o desafio da seleção da JM. Acredita-se que em 1990 boa parte do rebanho nacional carregava o sangue destes reprodutores. “Pelo sucesso dos nossos touros, tivemos de pagar o preço de uma barriga em uma geração”, conta Jayminho. A expressão designa a utilização de animais sem tanto apelo comercial para o mercado, que foram essenciais para refrescar o sangue do rebanho JM. “Éramos obrigados a experimentar todos os touros que surgiam na tentativa de encontrar linhagens novas para o nosso gado. O que as vezes dava certo, outras vezes, errado”, conta ele, revelando que o assunto foi recentemente lembrado na Estância 2L, de Adir do Carmo Leonel, em Ribeirão Preto, SP. “Confesso que por uma época fiquei com meu plantel de vacas um pouco bagunçado”. Referência histórica Uma bagunça, no entanto, bem organizada. Por 20 anos consecutivos, contados a partir de 1991, o criatório promoveu leilões anuais da Estância JM, eventos que tradicionalmente se posicionavam entre os mais valorizados do País e o maior faturamento no Estado de São Paulo. O último leilão, em 2010, faturou R$ 2,1 milhões na venda de 100 animais, incluindo doadoras e embriões, categorias que nos primeiros anos lideravam a oferta da JM. Naquele ano também foram ofertados tourinhos de produção, um mercado que já mostrava sua força crescente pelo País.


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Seleção Jaime Nogueira Miranda e Jayminho: aptidão para agronegócio sempre foi pautada por bons resultados na pecuária e na agricultura

Patrimônio da Estância JM, “Seu Bê” foi o “olho clínico” da Estância JM por 40 anos.

Jayminho lembra que na época começava a virar consenso entre os criadores de vanguarda que avançar é dar um passo atrás, como o de revalorizar os chamados leilões de produção, como era originalmente a série de vendas Nelore da Estância JM, quando foi lançada por seu pai Jaime Miranda, no começo da década de 90: “Ele juntava tudo que a fazenda tinha no momento e montava um leilão. Acho que os leilões continuam sendo a melhor maneira possível de vender: do lado do vendedor, porque reú­ ne uma grande quantidade de compradores em um único momento; do lado do comprador, pela comodidade. Mas o mercado é outro”. Até a virada de 2000 existia uma tradição muito forte na raça. Eram poucos criatórios, todos muito tradicionais, o que trazia prestígio aos leilões e, consequentemente, preços muito bons. “O problema é que isso se multiplicou e os animais tornaram-se muito parecidos, aparentados, irmãos”, lembra o criador. Segundo ele, a tradição de famílias com 40, 50 anos de criação sucumbiu ao movimento de multiplicação do Nelore, o que se intensificou com o avanço das tecnologias de reprodução, que começavam a se expandir na época. “Muita gente passou a criar e o mercado foi saturando. O pecuarista de sucesso na pista foi migrando para outras áreas. Isso colaborou muito para a mudança de perfil da pecuária,”, avalia Jayminho, que já não promove seus famosos leilões em Garça. O criador reduziu sua participação em exposições, até encerrá-la completamente em 2008 e, em 2016, anunciou seu desligamento do Leilão Elo de Raça, um dos eventos milionários da agenda da Expozebu, em Uberaba, MG, do qual participava desde a primeira edição, em 1990. “Naquela época vivíamos com 500 vacas porque tínhamos valor agregado neste produto. O que hoje, na região de Garça, ficaria inviável comercialmente”, diz Jayminho. Uma pequena reserva de plantel continua na Fazenda Santa Emília, em Garça, SP, onde são criadas 50 matrizes, sem baias. As fêmeas são inseminadas e repassadas com touros avaliados, os “bois de número”, como chama Jayminho. “Há quem selecione sem preservar características que levaram o Nelore a se tornar a principal raça do País. Mas há também quem saiba fazer bom uso das avaliações genéticas”, diz o criador, mencionando como exemplo o trabalho dos companheiros José Luiz Niemeyer, da Fazenda Terra Boa, Claudinho

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Sabino, da Chácara Naviraí, e Adir do Carmo Leonel, da Chácara 2L. “Claro, que são criadores diferenciados. Grandes conhecedores da raça, com competência para tirar proveito desta onda e fazer um Nelore altamente produtivo, sem abrir mão do racial, da habilidade materna, ou seja, sem abrir mão do equilíbrio”, pontua o criador, que utiliza o material genético destes parceiros para produzir tourinhos comerciais na região. Os animais que produz são vendidos à média de R$ 5.000 com pagamentos à vista ou em três parcelas, um mercado quase artesanal perto do que se movimentava em Uberaba. Retorno à origem O criador reduziu o plantel da raça Nelore para liberar área para o café no Estado de São Paulo. Ele vendeu as fazendas de engorda em Mato Grosso e adquiriu novas no Cerrado Mineiro, região reconhecida nacionalmente pela produção de cafés finos. Em 2018, o projeto de irrigação do cafezal completará 10 anos no distrito de Catiara, município de Serra do Salitre, com planos de voos maiores. O objetivo de Jayminho é que até o ano que vem todas as fazendas de café estejam mecanizadas. “Eu sempre soube fazer duas coisas: Nelore e café. Resolvi retomar nossa história com a cafeicultura da mesma maneira: com tecnologia e gestão”. Atualmente, ele divide a atividade com o filho, que, assim como o avô, é um apaixonado pela cafeicultura. Pai de Jayminho, Jaime Miranda foi um incentivador do cooperativismo, fundador da Cooperativa dos Cafeicultores da Região de Garça, a Garcafé, além de ter sido presidente do IBC – Instituto Brasileiro do Café na década de 1970, ano em que começou a enveredar para a pecuária seletiva. Atualmente, a área de pasto da Fazenda Santa Emília ocupa apenas 80 hectares. O restante se divide entre o café e a seringueira, atividade que vem crescendo a olhos vistos na propriedade: são 22.000 árvores plantadas. A cafeicultura ocupa um total de 100 hectares em São Paulo, com o triplo da área em Minas Gerais. Lá são mais de 300 hectares, com uma produtividade média de 67 sacas/ ha por safra. Toda a produção é negociada no mercado futuro. Há sete anos, a JM vende a safra antecipadamente, com garantia de preço pelo café entregue. “De fato, são muitas sacas para se chegar a uma vaca de milhão, mas ainda assim é vantajoso”, brinca o criador. n



Reprodução

Programa de fertilidade em IATF atinge 1,8 milhão de dados

E

m agosto, o Concept Plus Corte, programa de fertilidade de touros de corte no Brasil da Alta Genetics, de Uberaba, MG, divulgará ao mercado os nomes dos reprodutores com os melhores resultados em protocolos de IATF (inseminação artificial em tempo fixo) realizados na estação de monta 2016/2017. “Somente nesta última temporada avaliamos 232 touros de nossa bateria, sendo que 70 foram aprovados como ConceptPlus (alta taxa de fertilidade em IATF), quantidade acima do número de animais identificados em 2016 (54 touros)”, conta Manoel Sá Filho, gerente de Programas Especiais de Corte da Alta Genetics. Com o levantamento dos dados da última estação, o ConceptPlus completou três anos de divulgação dos resultados. Cada um dos 70 touros selecionados tem, em média, 4.274 dados de IATF avaliados, em 37 rebanhos diferentes. Ao todo, o programa já recebeu 1,8 milhão de dados. Na última estação, o percen-

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05/07/17

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tual de colaboradores cresceu 31%, para 102 técnicos, e o de fazendas parceiras, 68%, atingindo 1.176 propriedades, quando comparamos com 2015/2016. As informações foram enviadas de 15 Estados brasileiros, além de Argentina, Uruguai, Bolívia e Paraguai. O ConceptPlus não divulga os resultados individuais de taxa de prenhez à IATF dos touros selecionados. Segundo Sá Filho, para garantir a integridade da informação, o programa utiliza como modelo de seleção dos touros uma análise de bioestatística realizada nos EUA pela equipe do programa ConceptPlus, a mesma que há 16 anos trabalha com as informações para touros leiteiros. “Certamente, esta etapa é uma das grandes fortalezas do programa e que nos diferencia totalmente”, considera Sá Filho. Além de divulgar os touros de elevada fertilidade, o ConceptPlus elimina sistematicamente os reprodutores com piores resultados em IATF. “Somente nesta última estação de monta, descartaram-se 210 mil doses de sêmen oriundas desses touros de baixa fertilidade”, conta o gerente, acrescentando que esses animais são imediatamente retirados da bateria da Alta Genetics. n



Fazenda em Foco

Salva pelo manejo dos pastos

Fotos: Ariosto Mesquita

Depois de quase desistir da pecuária, Agropecuária Fazenda Rosane eleva produtividade de carne de 7@/ha para 38@/ha em área intensificada.

Parte dos 143 hectares intensificados na Agropecuária Fazenda Rosane: lotação média de 3,75 UA/ha em 2016/2017. Ao fundo, a vegetação da reserva legal.

Ariosto Mesquita

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de Nova Bandeirantes, MT

evanta, sacode a poeira e dá a volta por cima.” A famosa frase no samba “Volta por cima”, do compositor Paulo Vanzolini, espelha o que aconteceu com a Agropecuária Fazenda Rosane, hoje uma referência em pecuária na região de Nova Bandeirantes, na Amazônia mato-grossense (região oeste do Estado, 1.020 km ao norte da capital, Cuiabá). Adquirida pelos atuais proprietários (família Della Rosa) há quase duas décadas, apresenta altos e baixos em sua história. Depois de desempenhos à margem de riscos nos primeiros anos, a propriedade amargou seguidos resultados negativos entre 2008 e 2012 no seu sistema extensivo de produção em ciclo completo. Seus pastos sofreram um processo progressivo de degradação e foram tomados por invasoras. Em quatro anos o estoque de gado despencou de 6.000 para 3.200 animais. A conta fechava no vermelho, na casa de meia arroba/hectare/ano. A partir da safra 2013/2014 as coisas começaram a mudar, a começar pela eliminação da cria e a aposta em um sistema gradualmente intensivo de recria e engorda a pasto. Mas não foi nada fácil. Os proprietários, Devanir Della Rosa e o filho Henrique, por pouco não “jogaram a toalha”. Ao persistirem, encontraram um caminho ainda hoje trilhado e em expansão. Na primeira área intensificada de 143 ha (equivalente a 5,7% dos

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pastos da fazenda, justamente o setor em melhor condição), a produção de carne disparou de 7@/ha (safra 2013/2014) para 38,5@/ha. Apenas esta interferência injetou combustível e ânimo, elevando a média de toda a fazenda de pouco menos de 7 @/ha/ano para 11 @/ha/ ano. O faturamento líquido mais do que dobrou, saltando de R$ 210/ha para R$ 488/ha. Para a safra 2017/2018 mais 81 ha entram em intensificação. Enquanto isso, dois módulos de 22 ha cada estão em fase intermediária de preparação e outra parcela de 82 ha passa por um trabalho inicial de redimensionamento de pasto e cerca. “Nossa meta é introduzir na intensificação um pasto por ano até atingir 60% de nossa área produtiva, de aproximadamente 2.500 ha. Um quadro de conforto seria comprar 3.000, recriar 3.000 e abater 3.000 animais/ano”, calcula o gerente-geral da fazenda, Walldon Manteli, primo de Henrique, que assumiu a função em 2013. Segundo ele, a propriedade atualmente compra, recria e abate 2.200 animais/ano. Giro longo A Fazenda Rosane foi adquirida pela família Della Rosa em 1998 com apenas 266 ha abertos como pastagem de mombaça e braquiária, boa parte abandonada, sem uso para a pecuária. Aos poucos, a área produtiva foi ampliada e a produção de carne atingiu a faixa entre 6 e 7@/ha, muito superior à média do Estado, atualmente em 3,4 @/ha/ano, segundo a Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat). No entanto, o giro era longo: os animais iam ao gancho com idade entre três e quatro anos. Para completar, a produção estagnou, com a infestação de invasoras, como o capim navalha, e com o crescente esgotamento dos pastos, quadro que começou a corroer o estoque. nnn

A fazenda em números Nome: Agropecuária Fazenda Rosane Nova Bandeirantes

MT Cuiabá

Localização – Nova Bandeirantes, MT (1.020 km ao norte da capital, Cuiabá) Área total: 5.200 ha Área produtiva : 2.500 ha Sistema de produção: recria e terminação de machos Nelore a pasto com suplementação Rebanho médio atual: 4.400 animais Abate médio por ano/safra: 2.200 animais

nnn


Bezerros em pasto de marandu, de 17 anos, ainda em manejo extensivo.

Setor em destoca e enleiramento: trabalho inicial visando a intensificação que será feita no ano que vem

“Até então, a gente agia como a maioria dos p­ ecuaristas. Medíamos a produção só quando mandávamos o gado para abate. Ou seja, não medíamos nada. Existia a ideia do quanto de carne produzíamos, mas não havia parâmetros de custo. Vieram daí os maiores desafios: admitir que não sabíamos fazer e tomar a decisão de sair da zona de conforto”, confessa Waldon, que trabalha na propriedade do tio há 16 anos. A ascensão dele ao cargo de gerente-geral ocorreu justamente no momento de transição e de incertezas, mas também de expectativa e de esperança. Seu primo Henrique (então aos 24 anos) estava concluindo o curso de zootecnia e havia passado seis meses cumprindo estágio nos Estados Unidos. “Ele chegou com todo o gás e pronto para assumir a sua parte na gestão da fazenda”, conta. Depois de levantar a produtividade da propriedade, Henrique apresentou ao seu pai um projeto que propunha a adoção de um sistema de recria e engorda de machos em pastagens. Aprovada a ideia, logo foram descartadas as matrizes, assim como o rebanho Nelore PO que vinha sendo desenvolvido desde 2007. De imediato, os primos resolveram reformar 150 ha de pastagem. A decisão, no entanto, quase quebrou de vez o negócio. “O maquinário que tínhamos não dava conta da área; arrancávamos as invasoras, mas elas continuavam a se multiplicar. Acabamos perdendo o controle sobre o capim navalha. Foi um desespero. Quase deixamos a pecuária”, conta Manteli. A virada O impasse durou até o momento em que Henrique Della Rosa mergulhou em uma pós-graduação em Piracicaba, no interior de São Paulo, e conheceu o professor Moacyr Corsi, da Esalq/USP, agrônomo e doutor em ciência animal e pastagens. O pecuarista foi fisgado pelas argumentações de Corsi, que pregava a possibilidade de aumentar a produção de carne de 7 @ para uma faixa entre 30 e 50 @/ha, dando prioridade ao manejo adequado do pasto. “Na época, ele estava colhendo os primeiros resultados de um projeto (Pecuária Verde) em Paragominas, no Pará. Os números me deixaram bastante impressionado.

Piquete reformado com mombaça recebe animais com 320 kg e abate previsto para maio de 2018.

Lembro que, ao chegar de uma aula do professor, por volta da meia-noite de uma sexta-feira, corri para acordar meu pai e relatar a ele boa parte do que tinha ouvido na Esalq”, conta Henrique. Mas, antes de comprar a ideia, a família teve que compreender o que seria feito, além de convencer seus 12 funcionários a abraçarem a causa. “Passamos por uma restruturação mental. Ninguém acreditava na possibilidade de atingirmos 30@/ha/ano. Tivemos de falar que a meta seriam 15@ para que houvesse adesão da equipe”, lembra Waldon. Henrique Della Rosa conta que quando acertou com o professor Corsi, a família tinha noção de onde poderia chegar, mas não de como fazer isso. Até porque a fazenda contava com boas gramíneas _ o panicum mombaça e as braquiárias xaraés e marandu. “Neste sentido, o principal papel desenvolvido pelo professor foi – e ainda é – de nos orientar sobre a forma correta de intensificação. Na prática, ele nos ensinou a manejar a forragem, melhorando inicialmente o ganho de peso e posteriormente a taxa de lotação. Com o aumento da taxa de lotação, aprendemos a redimensionar cochos e bebedouros, e a melhorar o manejo sanitário”, explica Henrique. O gerente Waldon confessa que se surpreendeu com os métodos de Corsi: “Achei que a gente ia começar adubando pastagem, algo que já fazíamos com nível tecnológico baixo e que tinha como resultado desperdício de capim. Ele descartou a ideia, explicando que antes de qualquer coisa tínhamos de aprender a colher nossa produção de pasto. Descobri que não sabíamos nada. Fiquei chocado. Tive até depressão”, conta. No redimensionamento de pasto, os 143 ha foram divididos em 12 piquetes e a adubação ganhou em fundamentação. Passou a ser feita uma análise de solo para se definir o nível de adubação. Neste processo, são coletadas amostras em cerca de 30 pontos por piquete. “Trata-se de uma análise superficial de solo e de micronutrientes. Desconheço algo semelhante na região para a pecuária”, afirma Manteli.

Queremos chegar a 3.000 animais” Henrique Della Rosa, um dos proprietários da Fazenda Rosane

O gerentegeral, Waldon Manteli: ‘Passamos por uma reestruturação mental’.

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Fazenda em Foco Evolução (em @) ao longo de quatro safras Safra

Produtiv.

Tx Desfrute

Comercializada

Custo

Margem -0,39

13/14

7,0

37%

2,6

3

14/15

22,8

75%

17,1

15

2,10

15/16

35,7

77%

27,4

22

5,39

16/17

38,5

72%

27,6

20

7,59

*Meta de GMD, taxa de lotação e produtividade para o período seco de 2017

Sinais de recuperação Os primeiros sinais de recuperação vieram já na primeira safra após as mudanças (2014/2015). O ganho de peso médio dos animais saltou de 341 gramas/ dia para 686 gramas/dia; a lotação passou de 1,2 para 2,35 UA/ha (unidade animal/hectare) e a produtividade por hectare fechou em 22,8@/ha, muito além das 15@ colocadas como meta inicial para a equipe. “Isso apenas com o manejo correto de pastagens, sabendo a hora certa de colocar e de tirar os animais do pasto”, revela Manteli. Na safra 2015/2016, os números da área de 143 ha ficaram ainda melhores: a taxa de lotação média (águas + seca) foi de 3,1 UA/ha na safra, com projeção de 3,74 UA/ha para a safra atual; a margem entre a arroba comercializada e seu custo ficou em 2,1@, com previsão de mais que triplicar (7,59@) nesta safra. Ciclo curto e suplementação Alguns procedimentos pontuais foram de difícil assimilação, como a pesagem de todos os animais a cada 30 ou 60 dias. “A gente simplesmente não pesava”, revela Waldon Manteli. Por outro lado, toda a equipe vibrou com a redução de um ano do ciclo produtivo em toda a fazenda, com os animais indo a abate aos 30 meses, ante a média de 42 meses até a safra 2013/2014. “Adquirimos animais pós-desmama sempre com peso superior a 200 kg. Até o abate, temos de colocar, em média, mais 340 kg. Alguns lotes de bezerros chegam à fazenda e entram no setor intensificado na seca para chegar no período das águas pesando em torno de 370 kg. Estes morrem com idade média de 24 meses com peso médio de 19@”, conta o gerente.

Evolução da lotação 5,0 4,5 4,0 3,5 3,0 2,5 2,0 1,5 1,0 0,5 0

UA/ha águas

UA/ha seca

UA/ha ano

3,74 3,17 2,35 1,2 13/14

120 DBO agosto 2017

14/15

15/16

16/17

Piquetes de saída (à dir.) e de entrada (à esq.), reformados com mombaça na safra 2016/2017.

O uso da área intensiva e o consequente desafogo de outros setores de pasto ajudaram neste encurtamento. Nas águas, os 143 ha recebem quase 5 UA/ha de lotação. “Com isso, consigo reduzir o número de animais em pastos menos tecnificados. Eles ficam com pouca lotação e alto resíduo. Essas áreas continuam sendo extensivas, mas produtivas. Em média, me garantem 9@/ha/ano, bem mais do que as 7@ que tínhamos em nossa melhor área antes das mudanças”, informa Waldon. A partir da safra 2016/2017, a Agropecuária Fazenda Rosane iniciou um trabalho estratégico de suplementação mínima com o objetivo de aliviar a carga dos pastos durante os meses secos (junho a setembro). “Sempre fizemos terminação a pasto, mas alguns animais passaram a ser acabados com a ajuda de ração. É coisa mínima, em torno de 0,5% do peso vivo. Na pesagem de março, separo aqueles que apresentam entre 440 e 479 kg. Tenho certeza de que mesmo que ganhem 900 gramas/dia não chegarão ao ponto de abate até o fim das águas. Assim, recebem uma suplementação média de 1,1 kg/dia e morrem até maio ou começo de junho. Os demais, acima de 480 kg, não recebem suplementação, pois em algum pasto extensivo vão conseguir um ganho médio diário mínimo de 600 gramas para serem abatidos antes da estiagem.” Assim, Manteli consegue “limpar” a fazenda para o período seco, liberando pasto para atender a outras categorias (animais com peso entre 300 e 350 kg) que serão terminadas no ano seguinte. Indagado sobre até onde pretende levar a intensificação na Agropecuária Fazenda Rosane, o proprietário, Henrique Della Rosa, diz que planeja, em médio prazo, elevar o rebanho (que já pulou de 3.200 para 4.300 cabeças em quatro anos) e manter uma taxa de desfrute alta (era de 37% na safra 2013/2014). “Até 2020 queremos chegar a 6.000 animais com uma taxa de desfrute próxima de 60%. Para isso teremos de suportar uma lotação anual acima de 2 UA/ha com um ganho médio de 550 gramas/dia”, projeta. n





Raças Angus

Começa no sul circuito de Touro A Associação Brasileira de Angus (ABA) iniciará em agosto o Circuito Tou­ ro Angus Registrado, projeto que preten­ de levar a várias regiões do País informa­ ções sobre o uso de reprodutores como fator de melhoramento genético dos re­ banhos. Os eventos começam pelo Rio Grande do Sul, com duas semanas de ati­ vidades promovidas em parceria com os núcleos regionais e sindicatos rurais. No dia 8 de agosto às 19h, haverá apresenta­ ção do projeto no Sindicato Rural de Rio Grande, no sul do Estado. Na ocasião, o gerente de Fomento da Angus, Mateus Pi­ vato, fará uma explanação sobre as van­ tagens do uso desses reprodutores e dará dicas sobre os melhores cruzamentos para diferentes cenários. O roteiro ainda inclui palestra sobre o controle eficiente do car­ rapato, em palestra ministrada por Ulis­ ses Ribeiro, técnico da Elanco Brasil. O circuito também percorrerá Bagé (dia 9

Canchim

Prova de desempenho de touros na Embrapa A sétima edição da Prova de Avaliação e Desempenho de Touros (PCAD) realizada, pela Associação Brasileira dos Criadores de Canchim (ABCcan) em parceria com o pro­ 1

29/07/17

10:27

grama Geneplus, da Embrapa Gado de Corte, já começou. Em junho ocorreu uma pesagem de adaptação dos animais à dieta e, em 19 de julho, a primeira pesagem que conta para o resultado final de ganho de peso na compe­ tição. De acordo com Valentin Suchek, dire­ tor de Marketing da ABCCan, este ano par­ ticipam 15 criatórios, de SP, PR, MS, MG e GO. Ao todo, são 114 animais inscritos, sen­ do 74 no grupo 1 (de animais nascidos entre junho e agosto) e 40 no grupo 2 (nascidos en­ tre setembro e novembro de 2016). As carac­ terísticas avaliadas neles vão desde ganho de peso diário e perímetro escrotal até espessura de gordura subcutânea e conformação frigorí­ fica, dentre outros. Na categoria de elite, são premiados animais em três colocações, sendo elas ouro, prata e bronze. Para Suchek, a im­ portância da prova está na oportunidade de se­ lecionar novos raçadores para melhoramento do Canchim. “No ano passado, parte dos ani­ mais premiados foi contratada por centrais de coleta de sêmen”, diz. A prova tem patrocínio da Ilma Agropecuária e será realizada em An­ gatuba, SP, onde fica a sede da empresa. A úl­ tima pesagem de animais da PCAD está pre­ vista para 11 de novembro.

PUBLIQUE

An_Estuque_NeloreCEN_DBO_Ago2017.pdf

de agosto), Livramento (dia 10), Alegre­ te e São Francisco de Assis (dia 15) e São Borja (dia 16). Segundo o presidente da ABA, José Roberto Pires Weber, o pro­ jeto é uma das bandeiras da atual gestão. “Precisamos levar informação ao campo, mostrar aos criadores que usam a nossa genética como tirar o melhor proveito de seu investimento e escolher os reproduto­ res que trarão o objetivo almejado aos re­ banhos”, frisou. O dirigente reforça que Touro Angus Registrado é garantia de origem conhecida e descendentes igual­ mente superiores e dentro dos padrões da raça. “Com Touro Angus Registrado não há surpresa”, pontuou.

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LEILÃO 2017

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Raças Braford

Raça participa de teste de desempenho A raça Braford vai participar de mais uma edição do teste de desempenho pro­ movido pelo Centro de Performance da CRV Lagoa, em Sertãozinho, noroeste de São Paulo. Os criatórios participan­ tes: Agropecuária Sereno e São Bento do Verde (São Sepé, RS); Rancho Centau­ ros (São Francisco de Paula); Três Ma­ rias (Lavras do Sul); Rio Negro e Nos­ sa Senhora Auxiliadora (Bagé); Santa Fé (Palmeira, PR) e Fazenda Nova (Araça­

Senepol I

Prova em Monte Alegre A Max Performance Senepol, que é a prova de ganho de ganho de peso do Programa “Produza Senepol, conta com a parceria da central de inseminação ar­ tificial CRI Genética e está sob a coorde­ nação técnica e científica da Associação Nacional de Criadores e Pesquisadores (ANCP). De acordo com Nilson Gamba Jr, coordenador do programa, as novas parcerias vão colaborar para a formação do índice de avaliação dos animais. “Va­

tuba, SP). Conforme o gerente de Ope­ rações da ABHB, Felipe Azambuja, “os animais já foram embarcados”. A prova em Sertãozinho avalia o desempenho dos animais em confinamento, porém com dieta balanceada a fim de simular o de­ sempenho do animal em regime de pas­ tagem. Já na Prova de Avaliação a Cam­ po de Reprodutores Hereford e Braford (PAC), organizada pela ABHB em parce­ ria com a Embrapa Pecuária Sul, os ani­ mais são pré-selecionados pela avaliação à desmama e submetidos a condições de desempenho a campo, onde o fator am­ biental é reintroduzido, de forma a buscar os animais mais adaptados. mos dispor de ferramentas de avaliação que vão nos ajudar a identificar indivídu­ os como touros e doadoras jovens dentro de um programa de melhoramento gené­ tico”, explica. A terceira edição da prova está sendo realizada na Fazenda Santa Ju­ liana (Aldeia Senepol), em Monte Alegre de Minas, MG, desde de junho. O resulta­ do final sobre o desempenho no ganho de peso dos 141 animais(machos e fêmeas) e de características como precocidade se­ xual, fertilidade, entre outras, será anun­ ciado no dia 15 de novembro, com a clas­ sificação dos animais.

Senepol II

Encontro em Uberlândia O Mega Encontro Internacional do Se­ nepol – do Pasto ao Prato ocorre de 30 de agosto a 10 de setembro em Uberlândia, MG, durante a 54ª Exposição Agropecuá­ ria, e tem como principais atrações dias de campo, cursos, leilões, mostra de animais e degustação de carne. O primeiro Semi­ nário Técnico Internacional da Raça Se­ nepol, agendado para os dias 5 e 6 de se­ tembro, também integra a agenda. Entre os

126 DBO agosto 2017

temas confirmados para os painéis estão o cenário econômico atual para a pecuá­ ria de corte; importância da nutrição para redução do ciclo produtivo e tecnologias para seleção da raça. Casos de programas de certificação de carne também integram o cronograma de palestras, com destaque para o Programa de Melhoramento Ge­ nético do Senepol (PMGS), lançado em 2017 pela ABCB Senepol.

Nelore

PQNN renova com Marfrig A Associação de Criadores de Nelore do Brasil (ACNB) renovou neste mês de julho sua parceria com a Marfrig no âm­ bito do Programa Qualidade Nelore Natu­ ral (PQNN). Com o novo contrato, a tabela de premiações oferecidas pela Marfrig aos animais abatidos foi renovada, informou a ACNB. Além disso, a associação alterou algumas condições para a participação dos produtores no PQNN. A nova tabela e as novas condições entraram em vigor no úl­ timo dia 17 de julho. A partir de agora, as premiações para os machos podem che­ gar a R$ 3 por arroba e para as fêmeas até R$ 5 por arroba, sendo o peso e a cober­ tura de gordura na carcaça fatores deter­ minantes para as maiores remunerações. A idade, de acordo com o sexo dos animais da raça Nelore, também define a premia­ ção. Mesmo os produtores que já vinham participando do programa devem firmar o novo termo de adesão, informou a ACNB.

Workshop Tabapuã O evento técnico sobre a raça será realizado no dia 23 de agosto, durante a ExpoGenética 2017, no salão nobre, no Parque Fernando Costa, em Uberaba,MG. O objetivo do workshop, organizado pela Associação Brasileira dos Criadores de Tabapuã (ABCT), é apresentar os resultados do 1º Teste de Eficiência e Desempenho Alimentar realizado na fazenda escola das Faculdades Associadas de Uberaba (Fazu). Entre os demais assuntos a serem abordados estarão a importância da ultrassonografia para obtenção das medidas de carcaça e uma aula prática sobre o uso da ferramenta.


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15 DE AGOSTO - 21h - CANAL RURAL MAFRA AGROPECUÁRIA VIRTUAL (16) 98156-0070

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3º LEILÃO VIRTUAL ACNB & AMIGOS PRENHEZES NELORE 27 DE SETEMBRO - 20h ASSOCIAÇÃO DOS CRIADORES DE NELORE DO BRASIL VIRTUAL EXPOINEL 2017 - UBERABA - MG (11) 3293-8900

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Artigo

Moduladores intestinais favorecem imunidade Primeiro, o colostro garante proteção ao animal; depois, é preciso complementar sua dieta. Fernando Antônio Nunes Carvalho, médico veterinário, autor dos livros Nutrição de Bovinos a Pasto e História da Suplementação Mineral no Brasil

As primeiras oito semanas são cruciais para o desenvolvimento do sistema imunológico”.

Suplementação de bezerros, em creep feeding, com MOS favorece imunidade

P

oucos pecuaristas compreendem a importância da microbiota intestinal para o desenvolvimento e a saúde dos bovinos ao longo de sua vida. Quando esses animais nascem, seu microbioma gastrointestinal é estéril, mas, assim que o bezerro entra em contato com contaminantes externos, principalmente oriundos da mãe, seus intestinos são povoados por microorganismos, principalmente enterobactérias e cocos gram-positivos. No rúmen-retículo, esse processo de colonização ocorre de forma lenta e complexa, levando semanas ou mesmo meses para se estabelecer, até apresentar um padrão. Já nos intestinos, os microorganismos se instalam de forma imediata, dinâmica e sem padrão determinado. As primeiras colonizações (oito primeiras semanas) definirão a eficiência funcional, a capacidade de absorção de nutrientes e o desenvolvimento do sistema imunológico do bovino ao longo de toda sua vida. Esse processo é influenciado pela genética do animal, por fatores ambientais (época do ano, local do parto), pela idade da mãe, por sua condição corporal ao parto e tempo de gestação; pela qualidade do colostro e o momento em que este é ingerido; pelo tratamento da mãe ou do lactente com antibió­ ticos, antes e depois do parto. De qualquer forma, alguns cuidados simples ajudam no bom desenvolvimento da microbiota intestinal. É importante, por

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exemplo, que, nas primeiras horas após o nascimento, o neonato excrete o mecônio, material fecal de cor esverdeada, bastante escura, produzida pelo feto. Essa excreção somente é possível quando o animal ingere o colostro, que tem ação laxante, antisséptica, imunológica e nutricional. Quanto mais rápido isso ocorrer, maior será a absorção pelos intestinos das imunoglobulinas maternas (células de defesa), que protegerão os bezerros por meses. O colostro também é rico em MOS, um oligossacarídeo (açúcar) que resiste tanto à digestão ácida do estômago quanto à enzimática do duodeno (parte inicial do intestino delgado) e ajuda no desenvolvimento da microbiota intestinal neonatal. O MOS seleciona os microrganismos benéficos que devem se multiplicar nos intestinos e inibe a multiplicação dos indesejáveis, especialmente das bactérias patogênicas que podem causar processos inflamatórios, clínicos ou subclínicos, trazendo danos irreversíveis às vilosidades intestinais (veja ilustração na página ao lado). Após beber o colostro e começar a mamar, os bezerros ficam relativamente protegidos, mas é importante que recebam, a partir dos 30 dias de vida, em sistema de creep feeding, suplementos contendo moduladores intestinais capazes de reforçar seu sistema imunológico e garantir boas taxas de crescimento. Moduladores e seus efeitos Tem-se incluído em dietas de mamíferos, inclusive de humanos, uma série de moduladores de resposta imunológica, como o GOS (galacto-oligossacarídeos), o FOS (fruto-oligossacarídeos), o LOS (L Lactulose), a inulina, o PDX (polidextrose), o já citado MOS (mano-oligossacarídeo) e os betaglucans. Estes dois últimos, obtidos a partir de leveduras de cana, são os mais usados em dietas de bezerros. A modulação da resposta imune ocorre com o aumento dos níveis séricos (sanguíneo) e intestinais de células de defesa do organismo, as imunoglobulinas, em resposta a patógenos, sejam eles oportunistas e/ou invasores. Dentre os mecanismos de ação dos modulares intestinais constam: 1) A adsorção (retenção) de bactérias patogênicas, especialmente aquelas de fímbria tipo I, como


a Salmonella e a Escherichia Coli. Diminuindo sua aderência à mucosa intestinal, esses moduladores “sequestram” as bactérias patogênicas e as levam consigo quando eliminados por meio das fezes. 2) Ligando-se aos macrófagos (células de defesa), os moduladores deflagram uma reação em cadeia, que resulta na ativação dessas células e na liberação de citocinas, por meio da resposta inflamatória clássica. Com isso, aumenta-se a capacidade do animal de obter resposta imune inata (primeira reação do sistema de defesa a um invasor patogênico), o que é biologicamente muito mais “barato”, em energia e enzimas, e pode evitar o uso do “caro” sistema imune específico, grande gastador de energia e reações enzimáticas. Quanto mais eficiente for o sistema imune inato, mais resistente será o animal aos patógenos invasores e menos dispêndio de energia e enzimas se terá. 3) Os moduladores intestinais também promovem o aumento da síntese de imunoglobulinas (anticorpos), em especial a IgA, presente no sangue, muco, saliva e colostro. 4) Dentre os moduladores intestinais, o betaglucans tem forte ação sobre as micotoxinas, em

Conhecendo o papel da microbiota Os ruminantes têm dois tipos de microbiota, a ruminal e a intestinal. Esta última é menos conhecida dos produtores, porém tão fascinante e essencial quanto a primeira, especialmente para a modulação do sistema imunológico, como já descrito. Trata-se de um imenso, rico e pouco conhecido conjunto de microorganismos (bactérias, fungos, leveduras, protozoários, vírus, parasitas), que interagem o tempo todo com seu hospedeiro (animal) e se altera em gênero, número e grau conforme a idade, o tipo de dieta ingerida, a atividade hormonal, o meio ambiente e demais fatores que afetam o bovino, sejam de origem interna e/ou externa, tanto para o bem como para o mal. A ciência “conhece” e pesquisa os microrganismos desde meados do século XVII, porém mais pela ótica da patologia, ou seja, como causadores de doenças e processos inflamatórios danosos a seus hospedeiros. Somente em meados do sé-

Efeito de patógenos sobre a mucosa intestinal

Normal

Vilosidades sadias

atrofiado Crípita dilatada

Células epiteliais

Vilosidades danificadas

Veia Artéria

Cripita normal

Vaso linfático

Artéria

OBS: As vilosidades (dobras do tecido epitelial) são fundamentais para a absorção de nutrientes e defesa do organismo.

especial sobre o grupo das aflatoxinas, sendo excelentes adsorventes das mesmas, tanto quanto os silicatos de alumínio, mas sem o inconveniente de se ligar a minerais essenciais e vitaminas presentes na dieta, prejudicando o metabolismo dessas substâncias, como ocorre com os silicatos. n

culo XX, alguns cientistas começaram a ver certos microorganismos como benéficos, especialmente para o sistema imunológico, que é composto pelas células de defesa, maiores guardiãs da saúde do indivíduo. Isso explica porque hoje se dá maior atenção à microbiota intestinal, cuja densidade varia muito ao longo do dia, devido aos vários ciclos de multiplicação e morte de trilhões de microrganismos. Ela é predominantemente composta por bactérias, mas todos os seus integrantes são importantes. Um papel intrigante, por exemplo, é o dos vírus bacteriófagos, que mantêm relações simbióticas com bactérias, transferindo para elas códigos genéticos que ajudam a selecionar agulhas mais benéficas ao equilíbrio intestinal. Sem esse equilíbrio, não há saúde. O papel regulador da microbiota é de extrema importância. Ela ajuda a manter um pH adequado no intestino, por meio da síntese de ácidos orgânicos que criam ambiente desfavorável às bactérias patogênicas; auxilia no balanço entre cátions e anions existentes na dieta; na absorção de nutrientes pelas vilosidades intesti-

Microbiota é composta por fungos, bactérias, virus e outros microorganismos. nais e no metabolismo hídrico; favorece o equilíbrio eletrolítico (sódio e potássio); promove o metabolismo tanto proteico quanto lipídico, energético, macromineral e micromineral; participa da síntese de vitaminas do complexo B, do metabolismo das vitaminas A e E e ajuda na inativação de micotoxinas. Também funciona como barreira físico-química contra patógenos, controlando sua população; promove a proliferação de tecidos linfoides na mucosa intestinal; ajuda no controle da temperatura corporal e na formação de um bolo fecal saudável.

agosto 2017 DBO

131


Saúde Animal

Higiene é a chave para evitar abscessos Conheça algumas medidas que ajudam a reduzir a formação de nódulos nos animais após a vacinação Renato Villela

G

Desinfecção da agulha só com água quente” Iveraldo Dutra, da UnespAraçatuba, SP

renato.villela@revistadbo.com.br

arantir a higiene no ato de vacinar é a medida mais eficaz para evitar a formação de abscessos, aqueles nódulos protuberantes que se caracterizam pela presença de pus, sinal de infecção normalmente provocada por sujeira (não confundir com os granulomas causados por vacina e que foram a causa do fechamento do mercado norte-americano à carne brasileira). A falta de higienização adequada das agulhas é uma das principais responsáveis pelo o aparecimento de abscessos. Segundo o professor Iveraldo dos Santos Dutra, da Unesp de Araçatuba, SP, as agulhas devem primeiro ser limpas com água corrente e sabão; depois colocadas em água fervente, durante 15 minutos, para que se consiga uma boa desinfecção; secadas com papel toalha e guardadas em local limpo. Dutra desaconselha o uso de iodo ou quaisquer outros desinfetantes com essa finalidade. “Trata-se de prática antiga, que deve ser abolida, pois não acrescenta nada”, afirma. O professor explica que o efeito bactericida dessas soluções tende a se perder à medida que aumenta a concentração de material orgânico nos recipientes onde as agulhas sujas são colocadas para assepsia. “Em vez de desinfetar, esse meio se transforma numa fonte de contaminação, pois os patógenos se desenvolvem nele”, diz. Como nem sempre é possível esterilizar as agulhas durante a vacinação, o ideal é que o produtor trabalhe com um jogo de peças, de acordo com o número de animais a serem vacinados. “Uma para cada dez animais é uma proporção excelente”, afirma Dutra. Para esse tipo de vacinação, recomendam-se agulhas com dimensões de 10 x 15 mm, 10 x 18 mm ou 15 x 15 mm. A via de administração subcutânea (embaixo da pele) é a mais comum na rotina das fazendas. O responsável pelo manejo deve se certificar de que a agulha seja nova e esteja com a ponta afiada e íntegra, pois, assim, ao retirá-la do animal após a aplicação da dose, o corte em bisel (em sentido “transversal”) se “fecha”, como se fosse uma

132 DBO agosto 2017

Do jeito certo: Puxe a pele do pescoço e aplique a vacina em posição paralela à do corpo do animal.

tampa. “Se estiver cega ou rombuda, a agulha não corta, mas perfura a pele, abrindo uma porta para entrada de contaminantes e sujeiras, causa de muitos abscessos”, explica o consultor Marcus Rezende, com atuação na Região Norte do País. Deve-se evitar ainda o contato com o corpo da agulha. “Se os dedos estiverem sujos, a contaminação é levada para dentro do frasco e injetada no animal junto com o medicamento”, adverte Dutra. Sensibilidade à temperatura Outro cuidado diz respeito à conservação da vacina. Compostas por agentes que induzem a resposta imune no animal (bactérias, vírus atenuados ou inativos), vacinas são sensíveis à luz, ao calor e ao frio extremo. Altas temperaturas, por exemplo, podem matar os vírus atenuados da vacina contra a brucelose, tornando-a inviável. O congelamento, por sua vez, é capaz de, mesmo por poucos segundos, estragar uma vacina antirrábica, já que altera a emulsão (mistura entre líquidos imiscíveis), separando seus componentes, o que compromete a resposta imune. Além disso, quando a vacina é congelada, os adjuvantes, substâncias utilizadas para aumentar a produção de anticorpos, se desprendem dos antígenos aos quais estavam ligados. “Quando os adjuvantes


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Agulha rombuda é causa de muitos abscessos.” Marcus Rezende, consultor

ficam livres, o risco de provocarem uma reação de hipersensibilidade cutânea (abscessos assépticos) é muito maior”, explica Enrico Ortolani, professor da FMVZ (Faculdade de Medicina Veterinária da USP.) Segundo Ortolani, é preciso ficar atento à regulagem da temperatura das geladeiras na fazenda. As vacinas devem ser conservadas em temperatura entre 2 e 8 ºC. De nada adiantam todos esses cuidados com a higiene dos utensílios e a conservação da vacina se o manejo for feito de forma apressada, seja por despreparo ou por uma nociva competição entre os vaqueiros para eleger “o mais rápido” da vacinação. “Às vezes o vaqueiro é muito confiante e vacina os animais com pressa, aí surgem os problemas”, diz Dutra. Na opinião do professor, convém o produtor fazer uma “vistoria” no rebanho dez dias após a vacinação, tempo suficiente para que eventuais reações à vacina se manifestem. “Daí tem que averiguar quem aplicou, como aplicou (a vacina), para

corrigir eventuais erros. É fundamental qualificar o vacinador, com critérios claros e objetivos”, afirma. A condução dos animais também deve ser feita com calma, sem correria ou gritos. Dentro do curral, o produtor deve trabalhar com lotes de, no máximo, 20 animais; nunca encha o tronco coletivo a ponto de apertá-los. Nas mangas, devem ocupar no máximo metade do espaço disponível. Outra recomendação é conduzir um a um os animais até o tronco de contenção. Antes de imobilizar o bovino em troncos que têm pescoceira, é importante fechar a porteira dianteira e somente depois baixar o dispositivo. A utilização da pescoceira para parar os animais, além de machucá-los, diminui a vida útil do tronco. Mais dicas importantes sobre como proceder podem ser encontradas no Manual “Boas Práticas de Manejo _ Vacinação”, do Grupo de Estudos e Pesquisas em Etologia e Ecologia Animal (Etco), disponível para download gratuitamente no site http://www.grupoetco.org.br. n

Ideia criativa ajuda a reduzir abscessos em 80%

O

Para evitar a contaminação dentro do isopor, a seringa é encaixada na tampa da caixa. Desse modo, a vacina permanece sempre resfriada, mas sem contato com gelo ou água.

134 DBO agosto 2017

zootecnista Adriano Páscoa, da BEA Consultoria e Treinamentos, de Jaboticabal, SP, teve uma ótima ideia para melhorar o manejo de vacinação e, de quebra, reduzir o número de abscessos causados por sujeira: fazer um furo na tampa de uma caixa de isopor para nela depositar a seringa de cabeça para baixo, mantendo a vacina dentro do recipiente em temperatura adequada. A princípio a intenção era evitar danos à agulha quando o equipamento era colocado às pressas na caixa entre uma vacinação e outra. “Muitas vezes, a ponta da agulha batia no gelo e entortava”, conta Páscoa. Não demorou, porém, para que o zootecnista percebesse que este não era o único problema ocorrido durante o processo de vacinação. “À medida que o gelo começava a derreter, devido ao abre e fecha da tampa, a água sujava por entrar em contato direto com o gatilho, parte da seringa que o vacinador segura.” Como é difícil manter as mãos limpas durante o manejo de vacinação, mesmo com o uso de luvas, Páscoa fez o furo na tampa de modo a deixar o gatilho do lado de fora e o cilindro dentro da caixa. “Assim, não corro o risco de entortar a agulha nem contaminar a seringa com sujidades”, afirma. Os frascos de vacina devem ficar em outro isopor. A ideia da tampa vazada _ posteriormente aperfeiçoada pelo zootecnista Helton Miranda, que colocou um anel de tecnil no furo para dar maior sustentação à seringa _ foi colocada em prática em 2013, na Fazenda São Luiz, em Paragominas, PA, que participa do Projeto Pecuária Verde. Segundo Páscoa, esta e outras medidas, como o uso do tronco de contenção individual, a troca de agulha a cada 10 animais e o manejo adequado, ajudou a reduzir em 80% a ocorrência de abscessos na propriedade. n


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Saúde Animal Setor pressiona por mudanças na vacina antiaftosa

D

epois de muito relutar, a indústria veterinária enfim reconheceu que parte das reações locais decorrentes da vacinação contra a febre aftosa, motivo do embargo da carne brasileira in natura pelos Estados Unidos, pode estar relacionada a um componente do próprio medicamento: a soponina. Numa reunião em Brasília, DF, realizada no dia 14 de julho, representantes do setor privado, incluindo o Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para a Saúde Animal (Sindan), solicitaram ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), dentre outras medidas, a retirada desse adjuvante da composição da vacina antiaftosa. A substância, como mostrou reportagem de DBO de julho, tem como função melhorar a resposta imune no organismo do animal, mas em alguns casos provoca efeitos adversos _ reação de hipersensibilidade cutânea (granulomas). “A retirada da saponina reduzirá muito os

problemas de reação vacinal, à exceção dos abscessos causados por falta de higiene na vacinação”, garante Sebastião Guedes, presidente em exercício do CNPC, Conselho Nacional de Pecuária de Corte (veja matéria sobre como evitar esse tipo de problema à pág. 132) O ministro da Agricultura, Blairo ­Maggi, deu aval para a retirada da saponina, que o setor dá como certa, mas a área técnica do Mapa, cautelosa, diz que ainda são necessários estudos para referendar a medida. “Estamos analisando o pedido dos produtores de retirar esse adjuvante da vacina, além da redução da dose de 5 para 2 ml. Essas alterações exigem testes nos laboratórios oficiais e privados e, posteriormente, nos animais a campo. Não temos condições de definir prazo para a conclusão dos testes, necessários para garantir a qualidade do medicamento após as modificações”, informou o Departamento de Fiscalização de Insumos (DFIP) do Mapa em mensagem à DBO por e-mail. As entidades solicitaram ainda mudanças na forma de aplicação da vacina, optando pela via subcutânea para redu-

zir o risco de lesões. Outra reivindicação foi o fim da obrigatoriedade da vacinação para animais acima de 30 meses de idade, assim como para os animais que estão em processo de engorda, faltando 180 dias para abate. As propostas foram apresentadas pelos presidentes da Frente Parlamentar da Agropecuária, deputado Nilson Leitão (PSDB-MT), e da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), João Martins. Participaram do encontro a CNA, o Sindan, a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abrafrigo, a Associação dos Criadores do Mato Grosso (Acrimat), a Organização das Cooperativas do Brasil (OCB) e o CNPC. Também estiveram presentes representantes da Secretaria de Defesa Agropecuária (SDA/Mapa), do Departamento de Fiscalização de Insumos Agrícolas (DFI/ SDA) e do Lanagro (Rede de Laboratórios Nacionais Agropecuários), laboratórios oficiais do Ministério da Agricultura. (R.V.)

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Corrida contra o relógio Paraná e Rio Grande do Sul querem suspender a vacinação contra aftosa antes do prazo estipulado pelo Ministério da Agricultura

E

Retirada da vacina contra aftosa será um avanço para o País”, Guilherme Marques, do Mapa

MARINA SALLES marina.salles@revistadbo.com.br

stá pronto o cronograma para retirada da vacina contra febre aftosa do Brasil. Como noticiado por DBO na edição de maio, o plano é começar pela Região Norte e avançar em direção ao Sul, com o objetivo de respeitar, principalmente, o trânsito animal, que é mais intenso da porção Centro-Oeste para baixo. A versão mais recente do plano estratégico foi apresentada por representantes do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) em 5 de julho, em encontro na Sociedade Rural Brasileira, em São Paulo, SP. O documento ainda pode passar por ajustes, mas, segundo o Mapa, nenhuma das 64 entidades do setor consultadas se opôs à proposta, tendo enviado, ao todo, 14 sugestões de alteração. O cronograma prevê que o Brasil seja dividido em cinco blocos, mas, uma semana após a reunião na SRB, começaram a surgir divergências. O Estado do Paraná iniciou uma movimentação para retirada da vacina em 2019 em vez de 2021, como propunha o governo federal. Inácio Afonso Kroetz, diretor-presidente da Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar) confirmou para a

Situação do Brasil quanto ao controle da febre aftosa Zona livre sem vacinação • 1,1% do território nacional • 2% do rebanho bovino • 16,8% do rebanho suíno Zona livre com vacinação • Quatro zonas reconhecidas pela OIE • RR com reconhecimento nacional em 2017 • 78,7% do território nacional • 97,4% do rebanho bovino • 82,9% do rebanho suíno Zona não livre • 20,2% do território nacional 0,6% do rebanho bovino 0,3% do rebanho suíno

138 DBO agosto 2017

DBO que o assunto está sendo discutido, mas que não se trata de uma medida unilateral. “Apresentaremos o pleito se tivermos total apoio do setor privado e vamos ser auditados pelo ministério para provar a condição”, afirma. Não é de hoje que o Paraná almeja ser livre de aftosa sem vacinação. Em 2015, a discussão avançou e chegou-se a cogitar a retirada da vacina no mês de novembro. Com a polarização da cadeia produtiva, o plano acabou descartado. Segundo Kroetz, a permanência da vacinação breca o potencial exportador do Estado. “Temos o maior rebanho de suínos do País, com 9,3 milhões de cabeças, mas contribuímos com 13% da exportação nacional, enquanto Santa Catarina, que é livre sem vacinação, atende 38% desse mercado”. O Rio Grande do Sul também já manifestou a intenção de se adiantar ao cronograma. Questionado sobre as reivindicações, Guilherme Marques, diretor do Departamento de Saúde Animal do Mapa e atual presidente da Comissão Sul-Americana de Luta contra a Febre Aftosa (Cosalfa) para o biênio 2017-2018, disse que nada impede os Estados de buscarem uma condição diferenciada antes do previsto, desde que comprovem atender às exigências necessárias. Entre elas a da disposição de recursos físicos, humanos e financeiros, além de capacidade técnica e operacional para suspender a vacinação. “Vamos avaliar se eles contam com todas as barreiras, controle de trânsito e pessoal qualificado para colocar a mudança em prática”, exemplificou Marques. “A viabilidade do comércio interestadual também será decisiva, uma vez que animais não vacinados são impedidos de entrar em áreas livres”, completa. Trâmites para a retirada Plínio Lopes, auditor fiscal federal do Mapa, que também esteve no encontro da SRB, informa que a Organização Mundial para a Saúde Animal (OIE) exige ser comunicada com antecedência mínima de 30 dias sobre a suspensão da vacinação nos blocos ou Estados. “A aprovação do novo status leva até dois anos; passados 12 meses, o bloco ou Estado tem que apresentar um relatório de atividades intermediário e, em 24 meses, um relatório final”, diz. A expectativa é que o Brasil seja re-


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Raios de ação em caso de aftosa

Zona de proteção

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Evento na SRB teve a participação de jornalistas e produtores

conhecido livre de aftosa sem vacinação em 2023. Desrespeitado o prazo de transição, os efeitos são a suspensão do status vigente à data – no caso, o de país livre com vacinação – e a necessidade de provar essa condição novamente dentro de um prazo de até três meses. Atualmente, de um total de 181 signatários da OIE, 34 países, além da União Europeia (com 28 nações) têm o status de livres de aftosa sem vacinação. Na América do Sul, até agora, o único representante com esse status é o Chile. Paraguai e Uruguai entram na lista dos livres com vacinação, enquanto Peru e Bolívia caminham para obter este mesmo status. Atualmente, a maior parte do rebanho bovino brasileiro (97,4%) é livre da doença com vacinação; 2% são livres sem vacinação (Santa Catarina); e 0,6% é zona não-livre (o que inclui principal-

Composição dos blocos ainda pode ser alterada Na divisão em cinco blocos, Acre e Rondônia formam o grupo I, com suspensão da vacina em maio de 2019. O restante da Região Norte (grupo II), com exceção do Tocantins, e o Nordeste (grupo III), com exceção da Bahia, têm previsão de retirada no mês de junho de 2020. O grupo IV, composto pela maioria dos Estados da Federação, tem a retirada agendada para junho de 2021. E essa meta vale também para o Rio Grande do Sul, que, ao lado de Santa Catarina, formam o grupo V. Se confirmada a antecipação do Paraná e Rio Grande do Sul ao cronograma, há possibilidade de se formar um novo bloco. Antes da retirada da vacina, o Ministério da Agricultura prevê ainda a implementação de compromissos para fortalecimento da vigilância sanitária, reforço das fiscalizações de fronteira e treinamento de equipes de emergência para conter possíveis focos. O cronograma vem em seguida e considera tanto a viabilidade de trânsito de animais dentro do País como a realidade das diferentes regiões. Respeita também o histórico de focos de aftosa, com prioridade para a retirada da vacinação onde os casos são mais antigos.

140 DBO agosto 2017

25 km 3 km 7 km

15 km

Arte: Edson Alves

Foco

mente o Amazonas). O Brasil pretende conseguir o status de livre com vacinação em maio de 2018. O orçamento para realização do plano deve ser definido no segundo semestre de 2017, mas a perspectiva é de que seja superior a R$ 200 milhões, que hoje é o que se tem em caixa para essa finalidade – entre recursos do governo federal e do Sistema Unificado de Saúde Animal (Suasa). O dinheiro será direcionado, entre outras atividades, para indenização de produtores em caso de emergência sanitária. Em caso de foco Se detectados focos de aftosa durante o processo de transição de status, o procedimento adotado segue a regra atual. “O que precisamos é diminuir o tempo de resposta às suspeitas e fazer diagnósticos mais rápidos”, alerta Guilherme Marques. Hoje, se confirmado um caso de aftosa no País, o plano de contingenciamento prevê que se isole um raio de 25 km do incidente, proibindo o trânsito animal. De fora para dentro, uma faixa de 15 km é considerada zona de proteção, 7 km formam o perifoco e 3 km o foco. Como é o protocolo O isolamento evita que a infecção se espalhe para outras áreas. “Enquanto no foco são sacrificados todos os animais e é adotado um protocolo de desinfecção da propriedade, no perifoco se faz um monitoramento intensivo para conter qualquer escape. A zona de proteção representa uma garantia adicional e também é controlada”, afirma Marques. Após esses passos e demonstrado que não há ocorrência do vírus no País faz-se em seguida, na zona focal, análise sorológica em animais sentinelas (bovinos nunca antes vacinados) e gradativamente é reconstituído o rebanho da área afetada, retirando-se o cordão de contenção. n


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Enrico Ortolani

Olhar o retrovisor para refletir

N

Professor titular da Clínica de Ruminantes da FMVZ-USP ortolani@usp.br

nnn Apesar da atual crise de preços na pecuária, é espantoso como ela evoluiu nos últimos 40 anos.

nnn

o último dia 9 de julho comemorei, jubilosamente, meus 40 anos de formatura, com direito a rega-bofe ao lado de queridos colegas espalhados pelo Brasil afora, do Acre ao Sergipe. Parece que foi ontem que recebi o “canudo”. Estava, ao mesmo tempo, empolgado e temeroso, como qualquer recém-formado. Imaginem, entrei na faculdade por gostar de clínica de bovinos e vejam onde o destino me levou. Devido à morte de um competente professor, fui convidado a ocupar seu lugar, justo em clínica de bovinos. O que eu poderia querer mais da vida? Mas, por outro lado, estava inseguro, pois em poucos dias teria que dar aulas, deixando a passividade de aluno e virando professor protagonista. Tremi um tanto, mas enfrentei o desafio de peito aberto. Agora, no meu aniversário de formatura, fiz um balanço, que foi bem positivo. Ajudei a formar mais de 3 mil veterinários, cinco dezenas de alunos de pós-graduação e iniciação científica, algumas novas descobertas e muita atividade de extensão. Foram mais de 600 palestras, 20 anos de consultoria veterinária, num expressivo programa rural de TV, e quase nove anos de coluna na respeitada DBO, contribuindo para chegar as boas-novas em suas mãos. No atual momento de crise da pecuária de corte olhei para o retrovisor e comparei como era essa criação quando me formei. Veja os números e como evoluímos. Em 1977, tínhamos 84 milhões de bovinos (hoje, 215 milhões), dos quais 68 milhões (194) eram de corte. Naquela época, o Ministério da Agricultura fez um plano para que melhorássemos a pífia produção, que era de envergonhar o mais entusiasta dos “brazucas”. Éramos grandes importadores de carne na entressafra, ao redor de 25% (hoje só 0,5%), e, na época de vacas gordas, exportávamos apenas 4% de produção (19,5% hoje). Os bois eram abatidos, em média, com 4,5 anos (27 meses) e a taxa de desfrute (percentual dos animais abatidos por ano sobre o total do rebanho) não passava dos 12% (21%). Apenas 0,02% das reses que iam para o gancho passavam por um confinamento (10%). Dava para o jovem Roberto Carlos rir do peso médio de abate dos bois, pois não superava os 420 kg. Hoje, o Michel Teló não se assusta com os mais de 550 kg. Os bovinos eram criados em 135 milhões de hectares, hoje empregamos 180 milhões, uma quantidade muito grande nas terras da Amazônia legal, que preocupa ambientalistas e muitos importadores, pressionados por consumidores naturalistas. Evoluímos um tanto na taxa de lotação média subindo de 0,5 bovinos/ha para 1,2/ha. Mas continuamos pecando no alto percentual de pastagens degradadas, pois antes eram 60% e hoje patinamos nos 55%, a despei-

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to do programa de integração lavoura-pecuária, melhor manejo de pastagem e de maior emprego de corretivos de solo e de adubos. Vale uma ressalva: quando os homens usavam smokings nos bailes, o preço dos adubos estava “pela hora da morte”, e a arroba era tão desvalorizada que não pagava o valor do NPK. Galopamos muito no campo da reprodução. A natalidade média das vacas na época da minissaia, do cabelão e das costeletas compridas não era superior a 50% e agora roda os 70%. Quando Ademir da Guia brilhava nos gramados, a idade média no primeiro parto batia os quatro anos; hoje reduziu-se para 32 meses. Pouquíssimas fazendas empregavam inseminação artificial. Hoje, espalhou-se Brasilzão afora. Falando em touros, a seleção genética andava de lado e não para a frente, e se vendia genética pela fama do “boi” e não pelo seu valor provado no teste de progênie, que é para onde estamos caminhando. Nutrição A suplementação mineral não atingia 25% dos rebanhos; hoje bate na casa dos 80%. Evoluímos mesmo no oferecimento de proteína, via sal proteinado, principal gargalo da produção, que micha o ganho de peso no período de estiagem. Quando o ator Roger Moore ainda era o agente 007, “meia dúzia” de pecuaristas usavam ureia ou proteína vegetal nas criações; hoje isso atinge uns 55% dos rebanhos. O emprego de subprodutos industriais (polpa cítrica, caroço de algodão e companhia) eram para “boi dormir”; hoje, acredita-se que pelo menos 20% das propriedades suplementem suas manadas com essas iguarias. Comidas boas necessitam de tempero e os aditivos entraram no cardápio de pelo menos uns 40% das boiadas. Na sanidade, tivemos altos e baixos. Surtos de febre aftosa eram considerados comuns e hoje estão quase banidos. A maior causadora de aborto era a brucelose, que hoje começa a entrar no eixo com a vacinação em massa. Em contrapartida, a neosporose ocupou seu lugar e não dá sinal de trégua. Não fizemos um bom trabalho no controle da cisticercose, que continua a castigar a pecuária como d’antes. Quando a novela Dancing Days hipnotizava os jovens, a mortalidade de bezerros atingia 12% e hoje reduziu-se a apenas 4%. Embora a resistência a certos vermífugos tenha surgido para ficar, aprendemos a prevenir melhor a verminose com o esquema “5-8-11”. O legal da vida é vencer os desafios de acordo com a forma que eles chegam até nós. Não se deixe abalar com essa crise temporária da pecuária. Melhore a produtividade e a sanidade do seu rebanho. Conte com minha torcida. Em pouco tempo, veremos a luz no fim do túnel! n



fotos: renato villela

Instalações

Cocho feito de esteira: três vezes mais barato do que o de concreto.

Creep-feeding móvel: leve, prático e fácil de transportar.

Ideias criativas, simples, úteis e baratas. Propriedade em Goiás inventou o creep feeding móvel e o cocho de esteira de borracha reciclada Renato Villela

A

renato.villela@revistadbo.com.br

Fazenda Nelore Pezo, em São Miguel do Araguaia, noroeste goiano, foi tema de DBO na edição de junho. Ali, a reportagem se deparou com duas boas ideias. A primeira invenção vista na propriedade é um creep feeding portátil, instalação que agrega num mesmo conjunto o cocho coberto e o gradil, portanto diferente dos modelos tradicionais, nos quais o “cercado” é uma estrutura independente, fixada no terreno de modo a delimitar a área de acesso exclusivo dos bezerros ao cocho. O segredo para impedir que as vacas comam a ração dos bezerros está no espaçamento reduzido (25 cm) entre as grades, capaz de permitir apenas a passagem da cabeça, menor, das crias. Segundo o administrador da fazenda, Ronaldo Peruccini, responsável pela ideia, a principal vantagem está na possibilidade de explorar o ­creep ­feeding em vários pastos sem a necessidade de

144 DBO agosto 2017

construir estruturas fixas em cada um deles. “Facilita muito o manejo. Toda vez que quero trocar o creep feeding de pasto, coloco em cima da caminhonete e transporto. É leve e prático de carregar”, conta. O único cuidado a ser tomado com o creep ­feeding portátil, que foi construído na serralheria da própria fazenda, é calçar a estrutura com estacas em ambos os lados para evitar que as vacas, ao se recostar, desloquem a estrutura, que pode tombar, por ser leve. “Isso só acontece no início. Depois, a curiosidade delas passa e não forçam mais”, diz Peruccini. Outra ideia que chamou a atenção foi o cocho do confinamento, feito de correia transportadora industrial. O material, confeccionado em borracha resistente – utilizado em esteiras para transporte de minérios – está substituindo os antigos comedouros, feitos em tecidos de big bag. “É muito mais durável do que o cocho de bag e custa mais de três vezes menos que o de cimento”, afirma. Segundo Peruccini, enquanto na região este último sai por R$ 250 o metro linear, o de correia custa de R$ 70 a R$ 75. Como o material é reciclável, descartado pela indústria, os tamanhos são variáveis. Normalmente, os retalhos variam de 15 a 20 metros. Na hora de construir o comedouro de borracha, Peruccini tomou alguns cuidados. As bordas da correia, por exemplo, foram parafusadas nas estacas paralelas ao longo da linha de cocho. “É para dar mais segurança à sustentação da estrutura”, explica. Outra providência foi garantir um leve desnível entre as extremidades de cada segmento de cocho. “Dessa forma evitamos o acúmulo de água”, explica. A fazenda construiu 300 metros de cocho reciclável para o seu confinamento, que tem capacidade estática para 2.000 animais. Ideias criativas, simples, úteis e, principalmente, de baixo custo. n



Leilões

Touros aquecem negócios em julho Aumento na oferta e no preço médio de reprodutores ditou o tom das pistas no mês Alisson Freitas alisson@portaldbo.com.br

A Oferta

–0,3% Receita

– 3,3% Média

– 2,9%

pós quedas consideráveis de negócios em meses anteriores, o mercado de leilões ficou mais estável no mês de julho. Foram realizados 87 remates que comercializaram 9.392 lotes de machos, fêmeas, embriões, prenhezes e coberturas de raças bovinas de corte por R$ 85,3 milhões, média geral de R$ 9.084. Mesmo com a queda de 12% no número de remates em relação a igual mês no ano anterior, a oferta se manteve, com apenas 23 lotes de diferença. Já o faturamento e o preço médio caíram 3,3% e 2,9%, respectivamente. De acordo com o Banco de Dados DBO, os 100 leilões realizados em julho de 2016 comercializaram 9.415 lotes à média de R$ 9.374, movimentando o total de R$ 88,2 milhões. O grande destaque foi o aumento da venda de machos, em virtude do início da programação para a estação de monta. Neste ano foram vendidos 6.913 reprodutores, alta de 4,4% em relação aos 6.621 do ano passado. O preço médio da categoria também subiu, saindo de R$ 9.368, em 2016, para R$ 9.493, crescimento de 1,3%.

Remates de julho tiveram oferta de 16 raças taurinas, zebuínas, sintéticas e compostas Raças Lotes Nelore 7.144 Braford 605 Senepol 428 Brahman 336 Tabapuã 137 Brangus 120 Canchim 103 Guzerá 103 Angus 80 Hereford 67 Bonsmara 66 Charolês 60 Montana 60 Caracu 52 Santa Gertrudis 17 Pardo-Suíço Corte 14 Total 9.392

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Renda (R$) 68.201.220 2.622.160 5.658.020 2.686.400 909.360 1.073.400 734.340 555.600 548.660 426.720 520.950 491.960 408.960 324.600 105.880 84.000 85.316.230

Média 9.547 4.334 13.220 7.995 6.638 8.645 7.130 5.394 6.858 6.369 7.893 8.199 6.816 6.242 6.228 6.000 9.084

Máximo 264.000 17.000 79.200 30.000 24.000 17.280 264.000

Critério de oferta.(-) Dados das leiloeiras Aroeira, Capitaliza, Central, Confboi, Connect, Correa da Costa, Estância Bahia, Esteio, GHP, KM, Leiloboi, Leilosul, Leilosin, Leilo Marca, MCN, Minas, Pampa, Programa, Remate, Ricardo Nicolau, Trajano Silva e WV Leilões. (-) Quantidade de remates em que a raça dividiu pista com uma ou mais raças. Elaboração: DBO.

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De acordo com o leiloeiro rural Guillermo Sanchez, a estabilidade de preços dos touros não era esperada, principalmente em função do atual momento do setor. “As constantes quedas nas cotações da arroba e do bezerro nos levavam a crer que os preços dos touros cairiam consideravelmente neste ano, mas isso não ocorreu. Os pecuaristas estão cientes de que, independente do momento econômico do País, eles não podem parar de produzir, e investir em genética é o melhor caminho para impulsionar a produção”, avaliou. O leiloeiro também acredita que a situação do setor deve melhorar em curto prazo. “O mercado já dá indícios de firmeza e eu não acredito que teremos novas quedas na arroba. Os preços devem permanecer nos patamares atuais ou até mesmo subir.” Pistas agitadas Na análise por Estados, a praça mais aquecida foi Mato Grosso. O gigante do Centro-Oeste foi palco de 10 leilões que movimentaram R$ 15,3 milhões com a venda de 1.617 animais. Com desempenho parecido, a Bahia aparece na segunda posição, com receita de R$ 14,4 milhões arrecadados com a negociação de 1.329 animais em quatro remates. No MT, a maior movimentação foi da Expoagro Cuiabá. Os três leilões de raças de corte realizados na feira arrecadaram R$ 5 milhões com 549 exemplares Nelore, Nelore mocho e Senepol, contribuindo com 33% da receita e 34% da oferta total do Estado no mês. Outro destaque foi o Leilão da Fazenda Vera Cruz, no dia 22, em Barra do Garças, onde 220 reprodutores Nelore foram vendidos à média de R$ 13.746 e 42 fêmeas à média de R$ 6.385, totalizando R$ 3,2 milhões. Já na Bahia ocorreu o leilão de maior oferta e receita do mês. Realizado nos dias 15 e 16 de julho em Itagiba, a quarta edição do Mega Evento EAO foi responsável por 65,7% da receita e 66,6% da oferta total do Estado no mês. O remate promovido pela família Odebrecht faturou R$ 9,4 milhões com 885 animais, sendo 772 touros Nelore e Brahman vermelho a R$ 10.749, e 163 fêmeas a R$ 10.546. Entre as raças, o grande destaque foi o aumento das vendas de Nelore mocho. A variedade sem chifres da raça foi a segunda mais vendida do mês, com nove remates que negociaram 1.029 animais por R$ 7,7 milhões. O desempenho do mocho em julho dobrou em relação ao registrado em todo o primeiro semestre do ano. De janeiro a junho, foram realizados 11 leilões Nelore mocho que venderam 472 animais por R$ 3,1 milhões. n



Jornal de Leilões www.jornaldeleiloes.com.br

direto da pista

raio x Em entrevista ao JL, Tamires Miranda Neto, da CFM fala sobre as expectativas da venda de touros ceip no segundo semestre do ano. De acordo com ele, o mercado deve permanecer aquecido pelo fato dos pecuaristas saberem que o selo outorgado pelo Mapa garante que eles terão retorno sobre o seu investimento.

balanços e análises Oferta de touros cai na Expopar Feira de Paranaíba, MS, vendeu 38% de reprodutores a menos do que na edição anterior

Megaleite volta a vender mais de 300 lotes Mostra na capital mineira, Belo Horizonte, teve a maior oferta de animais dos últimos três anos

coluna jl Pista cheia “O possível aumento na oferta touros pode provocar uma ligeira baixa nos preços, mas, quem tem qualidade e avaliação genética não terá problemas para vender a sua produção”. Jairo Machado, Fazenda Vera Cruz. Carne Zebu “A carne de qualidade depende muito da precocidade dos animais. É isso que nós, pecuaristas de gado zebu, temos que focar em nossos trabalhos de seleção”, Rubens Catenacci, Fazenda 3R.

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Escolha certa “Não existe uma fórmula padrão para se ter lucro. Cada criador precisa avaliar a sua realidade e escolher reprodutores com base em dados concretos”. Matheus Pivato, Associação Brasileira de Angus.

Correção Na edição passada, nesta seção, na página 120, houve um erro de ortografia no nome do touro de destaque do Leilão Nelore do Golias. Foi publicado que animal se chamava Estranho do Golias. O correto é Estanho do Golias. O reprodutor teve 50% de sua propriedade vendida por R$ 208.000 para os pecuaristas Jorge Camargo e Tadeu Barros.

O Jornal de Leilões acompanhou em julho os resultados de 158 leilões de raças bovinas de corte e leite e ovinos. A movimentação financeira foi de R$ 146,7 milhões para 12.991 lotes, entre machos, fêmeas, prenhezes, aspirações e coberturas.

resultados • São José e Vilarejo montam vitrine de Girolando • Nelore DP vende reprodutores aspados e mochos • Elite do Pasto Lemgruber oferta touros da safra 2014 • Bela Alvorada fatura mais de R$ 1,1 milhão • Divas CMI oferta fêmeas e embriões • Sabiá faz dobradinha com fêmeas de elite e produção • Ormon EAO foi destaque no Mega Evento EAO • Touros CVVR faz média de R$ 7.726 • Nelore HoRa reforça presença no MS • Vacas paridas lideram oferta no Girolando da Figueireda • Girolando com mercado aquecido em Valadares • Rancho T abre vendas da Expoagro Cuiabá • Touros Mochos são os mais valorizados no Leilão Japaranduba



Leilões Conversa Rápida com

Alcides Teixeira

E

m meados de 1978, o paulistano Alcides Teixeira desembarcava no Acre para trabalhar na fazenda do pecuarista José Jacinto Silveira. Ele gostou tanto da região que optou por ficar por ali mesmo. Em 2005, após quase 20 anos trabalhando com cria, recria e engorda de novilhos Nelore, Teixeira decidiu investir na seleção de gado Brahman. Desde então, tornou-se um dos principais selecionadores da região, com a marca Brahman do Teixeira, na Fazenda Diamante. Em seu 6º leilão anual, realizado na tarde de 15 de julho, na capital, Rio Branco, o criador vendeu 60 reprodutores ao preço médio de R$ 10.800, alcançando a segunda maior média para touros da raça este ano. Em conversa rápida com a DBO, Alcides Teixeira fala sobre a valorização de touros no remate e como a pecuária de seleção tem se desenvolvido por ali. A que pode ser atribuída a valorização dos animais do leilão?

Os touros tinham excelente avaliação genética no PMGZ, da ABCZ, e o Brahman tem apresentado excelentes resultados na região. Tivemos 39 compradores, sendo praticamente todos do Acre. Apenas um era de Rondônia. Até agora, todos os nossos leilões venderam muito bem. Só tenho a agradecer a todos os pecuaristas que confiaram no nosso trabalho.

La Aurora reforça presença no Brasil Central

Pelo segundo ano consecutivo, Diego Parodi apresentou a sua produção de touros e matrizes Angus, Brangus e Braford no Leilão Visionários do Centro-Oeste, realizado em 9 de julho em Campos de Júlio, no norte do Mato Grosso. Este ano o remate teve alta de 32% na oferta ao comercializar 150 animais. O Braford liderou as vendas, com 49 touros, à média de R$ 7.995 e 40 fêmeas a R$ 3.500. Já o Brangus registrou as maiores médias, com R$ 9.068 para os 18 machos e de R$ 4.500 para 40 ventres, em média. Por fim, também foram vendidos três touros Angus a R$ 14.080 de média. O leiloeiro Guilherme Minsen ainda bateu o seu martelo para selar a venda de 380 bezerros meio-sangue à média de R$ 1.128. O total arrecadado no leilão foi de R$ 1,3 milhão.

Quantos touros vende por ano?

Comercializo, em média, 100 reprodutores, sendo 60 no leilão e o restante na fazenda. A demanda é sempre maior do que a oferta. Os touros Brahman têm sido muito utilizados em cruzamento com vacas Nelore na região, produzindo fêmeas precoces, mansas e de excelente habilidade materna.

Desde quando trabalha com pecuária no Norte do País?

Eu vim para o Acre em 1978 trabalhar em uma fazenda e por aqui fiquei. Vi o rebanho local sair de 500.000 animais no fim da década de 1970 para os atuais 3 milhões. Comprei a Fazenda Diamante, na região de Rio Branco, em 1994, mas já trabalhava com cria, recria e engorda de novilhos Nelore há cerca de dez anos, por aqui mesmo. Só comecei na seleção de Brahman em 2005, atendendo aos pedidos do meu filho mais velho. A base do meu plantel foi formada com fêmeas da Brahman Querência e da Brahman Continental.

Como tem visto o desenvolvimento da seleção de bovinos no Acre?

Ainda temos poucos trabalhos de seleção, mas a qualidade do gado é muito boa. Como antes era muito caro trazer animais de outros Estados, os pecuaristas trouxeram apenas a cabeceira de rebanhos de São Paulo, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Mas a maioria trabalha com Nelore, eu sou um dos poucos que trabalham com Brahman.

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Canchim em dose dupla no MS Em julho, a raça Canchim movimentou Mato Grosso do Sul com dois leilões em praças importantes como Paranaíba, na região do Bolsão, e Bataguassu, no leste do Estado. Juntos, os remates movimentaram R$ 734.340 com 103 exemplares. A maior arrecadação foi do Canchim Calabilu, realizado em 12 de julho, em Bataguassu, no qual foram vendidos 70 reprodutores à média de R$ 8.430 e 25 fêmeas a R$ 3.680, totalizando R$ 513.500. O remate foi promovido pelo criador Luiz Adelar Scheuer, que trabalha com a raça há quase duas décadas em Capão Bonito, SP, e teve a Canchim Zuca Sobral e a Canchim Magalba como convidados.


ENCONTRO DOS ENCONTROS COTA OURO

COTA PRATA

COTA BRONZE

ENCONTRO DE ADUBAÇÃO DE PASTAGENS COTA OURO

COTA PRATA

COTA PRATA

COTA BRONZE

ENCONTRO DE CRIADORES

ENCONTRO DA PECUÁRIA LEITEIRA

COTA PRATA

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CO-REALIZAÇÃO

APOIO INSTITUCIONAL COTA PRATA

COTA BRONZE


Leilões Pista cheia no Leilão CV Maior vendedor de touros Nelore mocho do ano, Carlos Viacava promoveu mais uma edição de seu tradicional leilão de Paulínia, SP, na tarde de 23 de julho. Em seu 63º remate, o criador encheu a pista com 351 animais avaliados pelo Nelore Brasil e movimentou R$ 2,5 milhões. Foram as maiores oferta e receita da raça no ano, de acordo com o Banco de Dados DBO. “As vendas fluíram com ra-

Peso pesado Nelore JMP estreia com o pé direito Um dos grandes investidores recentes do mercado de genética Nelore, Maurício Cristianini fez a sua estreia na tarde de 2 de julho, com o 1º Leilão Nelore JMP, realizado no Terra Nova Eventos, em Campo Grande, MS. O evento teve oferta exclusiva de touros avaliados pelo PMGZ, da ABCZ, e arrecadou R$ 2,1 milhões. A média dos 127 animais foi de R$ 16.974, valor equivalente a 143,8@ de boi gordo para pagamento à vista no dia do pregão. Foi a maior média de reprodutores Nelore registrada no mês e a segunda maior do ano.

Montana na pista Na noite de 14 de julho, Luiz Felipe Maluhy coloriu a pista de Bataguassu, MS, com 60 reprodutores Montana no Superleilão Madeiral Pecuária Avançada. Foi a primeira oferta da raça do ano, de acordo com o Banco de Dados DBO. Os animais

pidez e tivemos 67 compradores de nove Estados”, disse Viacava. Os touros dominaram a oferta, com 248 animais da safra 2015 vendidos ao preço médio de R$ 7.549. Do grupo, destaque para os 28 tourinhos com Ceip, que saíram por R$ 8.600 cada, em média. Foi a maior oferta da categoria no ano. As fêmeas também brilharam, com 103 novilhas e matrizes a R$ 6.337 de média, sendo o maior preço médio e segunda maior oferta do ano, atrás apenas das 188 fêmeas vendidas no Super Mocho, em abril, em Londrina, PR.

eram marcados com Ceip pelo Programa Montana e foram vendidos ao preço médio de R$ 6.000, valor equivalente a 59@ na relação de troca por boi gordo no dia do pregão. Em 2016 foram realizados cinco leilões de Montana, que venderam 168 animais ao preço médio de R$ 7.571, movimentando R$ 1,2 milhão.

Brumado mantém tradição Abrindo a agenda do mês de julho, o Leilão Brumado cumpriu a sua 42ª edição na tarde do dia 1º em Barretos, SP. Com oferta de animais PO e POI, o remate movimentou R$ 992.520, registrando médias de R$ 8.136 para 50 machos e de R$ 6.165 para as 95 fêmeas. O grande destaque foi o bezerro Indu FIV POI Brumado, vendido em 50% por R$ 48.000. O lance vencedor foi dado por Adílson Francisco Rosa. O promotor Tonico Carvalho celebrou o resultado, principalmente em função do atual momento político-econômico do País “O saldo foi muito positivo. Tivemos alta de 8% nos preços médios e 100% de liquidez”, destacou o pecuarista, que conduz a seleção ao lado de seu irmão, José Rubens de Carvalho, o Rubiquinho. Eles são herdeiros de Rubico Carvalho, um dos responsáveis pela importação de gado da Índia na década de 1960.

Brangus rouba a cena no Leilão Terra Boa Uma das principais personalidades da seleção de Nelore do País, José Luiz Niemeyer começou a selecionar Brangus há pouco mais de uma década, sendo um dos principais fomentadores da raça na região noroeste de São Paulo, com a marca JT. De lá pra cá, o trabalho ganhou corpo e o criador tem conseguido fazer as maiores médias de touros em seu leilão anual. Neste ano não foi diferente. Na 10ª edição do seu remate, a raça compos-

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ta ganhou mais espaço, alcançando quase a mesma proporção de vendas do Nelore. Foram vendidos 34 reprodutores ao preço médio de R$ 14.569 e 11 fêmeas a R$ 9.534. Foi a maior média de touros Brangus do ano, de acordo com o Banco de Dados DBO. No Nelore, 55 machos saíram pela média de R$ 10.494 e 16 fêmeas foram arrematadas por R$ 9.630 cada. “Foi um leilão muito bom, com médias parelhas do início ao fim”, destacou Niemeyer.



Eventos Agenda Biociência Animal Está marcado para 5 de setembro o 4º Simpósio de Biociência Animal, em Pirassununga, SP, promoção da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da USP. Na programação constam apresentação do programa de biociência animal, de trabalhos científicos e um espaço para que as empresas participantes divulguem seus produtos, além de premiação dos melhores trabalhos sobre biociência animal. Mais informações: pamela.alexandre@usp.br ou porfirioxavier@usp.br. Interconf A Conferência Internacional de Pecuaristas (Interconf) promovida pela Nova Assocon (Associação Nacional da Pecuária Intensiva), ocorrerá de 18 a 20 de setembro, no Centro de Convenções da PUC em Goiânia, GO. O mercado pecuário será um dos focos desta 10ª edição do evento, que terá como tema “Entender para atender”. Haverá painéis que traçarão um panorama do mercado pecuário no atual contexto econômico e debates técnicos que apresentarão estudos de caso e entraves legais relativos à sustentabilidade, entre outros. No site www.interconf.org.br há mais informações. Expoinel A Expoinel 2017 – Exposição de gado Nelore realizada pela Associação de Criadores de Nelore do Brasil (ACNB) – ocorrerá este ano entre os dias 21 de setembro e 1º de outubro, no Parque Fernando Costa, em Uberaba, MG. Além da exposição de animais, o evento contará com julgamentos e leilões da raça. Informações em www.nelore.org.br Nespro/Bovinos de Corte Será realizada nos dias 26 a 28 de setembro, em Porto Alegre, RS, a 12ª Jornada Nespro e o 3º Simpósio Internacional sobre Sistemas de Produção de Bovinos de Corte, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). O evento é organizado pelo Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos 154 DBO agosto 2017

de Corte e Cadeia Produtiva (Nespro). Informações: nespro@ufrgs.br ou jornadanespro2017@gmail.com Encontro dos Encontros A Scot Consultoria promoverá entre 2 e 6 de outubro mais uma edição do seu Encontro dos Encontros, no Centro de Eventos do Ribeirão Shopping, em Ribeirão Preto, SP. O evento pretende reunir a cadeia pecuária e interessados. Dias 2 e 3 de outubro, será realizado o Encontro de Criadores; nos dias 3 e 4 de outubro, será a vez do Encontro de Adubação de Pastagens. Já nos dias 5 e 6 ocorrerá o Encontro da Pecuária Leiteira. Mais informações e programação completa em www.scotconsultoria.com.br Mulheres no Agronegócio Entre 17 e 18 de outubro, em São Paulo, SP, ocorrerá o 2º Congresso Nacional de Mulheres do Agronegócio, no Transamérica Expo Center. Entre as palestrantes, estão a presidente do Núcleo Feminino do Agronegócio, Carmen Perez, que falará sobre bem-estar animal; Cecília Falavigna, produtora do Paraná, que abordará gestão feminina, práticas e resultados nas cooperativas; Fabiana Alves, diretora do Rabobank, e Marlúcia Dalfert, do Sicredi, que falarão sobre crédito e sistema financeiro cooperativo. Mais informações: mulheresdoagro.com.br ou tel (11) 5643-3009, com Renata Camargo. Intercorte A etapa Araguaína, no Tocantins, da Intercorte ocorrerá nos dias 18 e 19 de outubro, no Parque de Exposições Dair José Lourenço e apoio do Sindicato Rural de Araguaína. O evento é composto por um workshop de dois dias no qual comparecem especialistas, que debatem com o público – formado 90% por pecuaristas – os vários aspectos da situação da pecuária no País. Além disso, há apresentação de novas tecnologias por empresas do setor, na feira de negócios que compõe o evento. Mais informações podem ser obtidas em www.intercorte.com.br



Empresas & Produtos Tru-Test lança indicador de pesagem

A

Tru-Test, líder mundial em pesagem eletrônica de animais, lançou no mercado brasileiro o S2, seu novo indicador de pesagem. O modelo é econômico e, segundo a empresa, também é preciso e ágil, permitindo conecção via bluetooth com computadores e smartphones Android. Segundo a empresa, o indicador de pesagem Tru-Test S2 chega para atender a uma demanda do mercado pecuário que busca economia, sem perder qualidade e alta tecnologia. Fácil de usar, ele possibilita boa visualização dos dados e tem bateria interna recarregável. Maiores informações no site www.trutest.com.br.

Agroquima é uma das finalistas do prêmio IEL Pela segunda vez consecutiva, a empresa goiana Agroquima Produtos Agropecuários, com forte atuação nas áreas de sementes e suplementos minerais, ficou entre as finalistas do Prêmio IEL, que destaca as melhores empresas para estagiar no País. O prêmio é concedido pelo Instituto Evaldo Lodi, ligado à Confederação Nacional da Indústria (CNI), e já está em sua quarta edição. A Agroquima venceu a seletiva regional de Goiás e concorre agora ao prêmio nacional, com divulgação prevista para outubro. “O diferencial do nosso programa

de estágio está na interligação entre o conhecimento teórico fornecido pelas universidades e o das práticas de campo, supervisionadas por profissionais qualificados”, diz Ana Paula Monteiro Rocha, secretária executiva de vendas da companhia. A Agroquima foi fundada em 1969, em Goiânia; está presente em seis Estados brasileiros (Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais, Tocantins, Pará e Maranhão) e possui quatro fábricas, além do laboratório Clarion Bio, que lançou há dois meses mais um produto: o Acura, antimicrobiano de ampla ação, que não deixa resíduos no leite (descarte zero) e permite abate dos animais quatro dias após sua aplicação.

Produto protege máquinas de roedores

Yes lança linha de suplementos

O anticorrosivo Protetivo Agro, desenvolvido pela empresa Quimatic Tapmatic, foi aprovado no teste de eficácia como repelente contra roedores que danificam as fiações e conexões de máquinas agrícolas. O produto tem ação anticorrosiva, melhora o aspecto visual do parque mecanizado e agora também ajuda a protegê-lo de danos causados a seus componentes internos por ratos, por exemplo, motivo de grandes prejuízos para os produtores. Película cerosa secativa antiestática, resistente à chuva e ao sol, o Protetivo Agro também repele a poeira, garantindo por longos períodos proteção contra a corrosão, mesmo quando os equipamentos, máquinas e ferramentas são armazenados em ambientes abertos, sujeitos a altas temperaturas ou chuvas fortes. Como resultado, tratores, arados, colheitadeiras, ferramentas e outros implementos podem ter vida útil maior e estar sempre prontos para uso. Ecologicamente correto, o produto não contém substâncias tóxicas ou metais pesados em sua formulação, evitando assim contaminação da colheita e do solo. Mais informações: www.quimatic.com.br

A Yes, empresa de biotecnologia em nutrição animal, lançou oYes-Bov, composto que associa levedura viva (Saccharomyces cerevisiae) com minerais orgânicos (aminoácidos quelatados e proteinados). Segundo Horones Almeida, gerente técnico e comercial da Yes, o produto melhora a digestibilidade ruminal, reduz o estresse dos animais que estão em confinamento; melhora o perfil de ácidos graxos voláteis (AGV) no rúmen e promove estabilidade do pH ruminal, diminuindo a acidose e úlceras ruminais. “Embora o mercado de carne bovina tenha apresentado oscilações neste ano e o confinamento dos animais ainda esteja relativamente baixo em comparação com outros anos, muitos clientes estão utilizando o produto e comprovando o desempenho animal proposto pela solução”, explica Almeida. Fundada em 2008 e com escritório em Campinas, SP, a Yes tem unidades em Lucélia, Novo Horizonte e Borá, no Estado de São Paulo, além de Londrina, no Paraná. Obtenha mais informações no site: www.yes.ind.br.

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Sabor da Carne

DANIEL LEE

Muito além do sal grosso

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nnn Outros condimentos, como vários tipos de pimentas (na foto acima), começam a ser utilizados para temperar a carne no Brasil.

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Brisket (peito bovino) defumado Prato típico norte-americano

fotos: TRíCIA VIEIRA

Daniel Lee é especialista em carnes, juiz e membro da KCBS – Kansas City Barbecue Society, do Tennessee, EUA. Reside em São Paulo, capital.

á até alguns anos, sinônimo de churrasco no Brasil era carne e sal grosso. Com o recente boom de consumo de cortes gourmets, porém, os temperos próprios para churrasco estão se diversificando e, mais do que isso, se internacionalizando. Num bom churrasco, a pimenta começa a ser um ingrediente recorrente, usada não só em molhos coadjuvantes, mas como o tempero principal. Além disso, a churrasqueira tem dividido espaço, nesses eventos, com a chapa de ferro fundido, a frigideira e o defumador – no caso deste, em churrascos ao estilo norte-americano. A diversificação de temperos segue o rastro traçado pelos apreciadores da boa carne no Brasil, que cada vez mais internacionalizam o tema, incorporando inúmeras técnicas para conferir novos sabores à proteína animal preparada na grelha, na chapa ou em qualquer outro utensílio. Afinal, se é uma tendência o aumento do consumo de cortes nobres e típicos de vários países (basta lembrar do argentino chorizo), os ingredientes acabam também tendo o seu uso aceito. Além do sal grosso e, quando muito, do tra-

Ingredientes: 5 kg de peito bovino 50 gramas de açúcar demerara 25 gramas de sal intermediário (entre o refinado e o sal grosso) 15 gramas de pimenta-do-reino preta moída Modo de preparo Besunte esses temperos em toda a carne e deixe um tempo para o tempero pegar. Em uma churrasqueira-defumadora, defume a carne à temperatura de 110 graus por 7 horas. Em seguida, embrulhe o corte com papel alumínio à mesma temperatura, por 6 horas. Como acompanhamento, sirva picles e molho barbecue com sriracha da De Cabrón Chillis.

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dicional molho de pimenta-malagueta, outros ingredientes picantes começam a ser incorporados, como a pimenta-do-reino (preta ou branca), a pimenta tailandesa sriracha e pimentas mexicanas, entre outros condimentos. Um dos países nos quais a pimenta é indispensável ao bom churrasco, por exemplo, são os Estados Unidos. No american barbecue, pimenta-do-reino, chilli, páprica, mostarda, cebola e alho em pó, além do sal comum, são indispensáveis. Os norte-americanos preferem o churrasco de defumação (veja receita) porque se utilizam basicamente de carnes duras, como o peito bovino, a bochecha e a costela. São cortes que levam um longo período de cocção, em churrasqueiras defumadoras, que adicionam o sabor da fumaça à carne. Um peito bovino, por exemplo, pode levar até 18 horas de preparo, a baixa e lenta temperaturas. A De Cabrón Chillis, empresa de Santa Cruz do Rio Pardo, SP especializada em pimentas, entendeu a nova tendência no Brasil e hoje está presente em praticamente todos os churrascos dos consumidores antenados. Um dos molhos que vêm ganhando o paladar brasileiro é o barbecue com sriracha, entre outros preparados pela De Cabrón. É importante lembrar, entretanto, que a pimenta não valoriza um corte mais do que outro, ela simplesmente eleva o paladar como um todo! Assim, garanto que todos os cortes próprios para churrasqueira, como fraldinha, filé de costela, chorizo e picanha, entre outros, podem ter seu sabor acentuado com esses novos temperos. Gosto muito, por exemplo, de fazer carnes utilizando sal e pimenta-do-reino moída e manteiga na chapa. Este último ingrediente, garanto, dá mais sabor à combinação. Além disso, a pimenta-do-reino e o sal completam o paladar interessante. As possibilidades são inúmeras e estão ao alcance da sua pesquisa e imaginação. A única restrição que faço às pimentas e a quem se interessar em adicionar esse ingrediente no próximo churrasco é: não consuma uma pimenta cujo ardor você não aguente. De resto, só terá boas surpresas! n



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