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Adubação, intensificação e a escolha do melhor pasto.
U
m exemplo de intensificação da produção a pasto no Sul do Pará, que além da adubação e rotação inclui até o uso da irrigação, nada comum para a região, é o tema da reportagem de capa desta edição que traz nosso especial anual sobre pastagens. O repórter Renato Vilella mostra como o produtor Edmilson Dias Duarte mudou o rumo da exploração pecuária em sua Fazenda Valadares, de Marabá, depois de anos de resultados ruins e de rebanho diminuindo por causa da síndrome da morte do braquiarão e degradação dos 900 hectares de pasto. A mudança começou em 2013 e mescla quatro sistemas de produção: rotacionado irrigado e adubado em 49 hectares; rotacionado adubado de sequeiro em 454 ha; pastejo alternado com adubação leve em 181 ha, e pastejo contínuo sem adubação em 216 ha. Só no irrigado adubado, a produção chega a extraordinárias 104 arrobas por hectare/ano, mas a chave dos bons resultados está na integração dos sistemas. Com rebanho de 3.250 cabeças em 2016, a produção média passou de 38 @/ha/ano e a meta é chegar a 60 @/ha/ano em 2019, com 5 mil cabeças e 850 hectares adubados. Aliás, questão da adubação de pastos, e como evitar os erros mais comuns nessa prática, é outro destaque do Especial, com base em observações do professor Moacyr Corsi. O Especial também traz artigo com potencial para polêmica sobre a escolha da forrageira para a formação ou reforma de pastagens. O zootecnista, produtor, consultor e professor da Fazu, de Uberaba, Adilson Aguiar lista nove parâmetros para definir a cultivar adequada a cada fazenda. E nenhum deles prioriza as virtudes proclamadas de qualidade e produtividade das novas forrageiras em relação às anteriores. Não que as negue, mas o que Adilson sustenta, com base em estudos realizados durante anos na Fazu, é que também em relação aos capins se aplica o princípio de que as diferenças, em função do ambiente e manejo, podem ser maiores dentro de uma mesma variedade do que entre variedades diferentes. Considerando, como ele mesmo cita, que anualmente sejam plantados de 4 a 5 milhões de hectares com gramíneas forrageiras no Brasil, vale a penas conferir o que diz nas páginas 72 e 73.
osta Demétrio C
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demetrio@revistadbo.com.br 4 DBO novembro 2017
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Publicação mensal da
DBO Editores Associados Ltda. Diretores
Daniel Bilk Costa Demétrio Costa Odemar Costa Redação Diretor Responsável Demétrio Costa Editor Executivo Moacir de Souza José Editora Assistente Maristela Franco Repórteres Fernando Yassu, Marina Salles, Mônica Costa e Renato Villela Colaboradores Adilson Aguiar, Alcides Torres, Alisson Freitas, Ariosto Mesquita, Carolina Rodrigues, Denis Cardoso, Enrico Ortolani,Rogério Goulart e Tatiana Souto. Arte Editor Edgar Pera Editoração Edson Alves, Célia Rosa e Raquel Serafim Coordenação Gráfica Walter Simões comercial/Marketing Gerente: Rosana Minante Supervisora de Vendas: Marlene Orlovas Executivos de Contas: Andrea Canal, José Geraldo S. Caetano, Maria Aparecida Oliveira, Mario Vanzo e Vanda Motta Circulação e Assinaturas Gerente: Edna Aguiar Tiragem e circulação auditadas pelo
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Arames Belgo: uma marca da Belgo Bekaert Arames
Sumário Eventos 12 C ongresso das Mulheres mostra avanço organizacional
Prosa Quente 14 C armen e Regina, a dupla
dinâmica do Núcleo Feminino.
Mercado 22 Coluna do Scot – De olho no fim do ano
24 A rroba patina, mas mercado
futuro sinaliza alta no curtíssimo prazo.
26 P ressão de alta na reposição perde força em outubro
28 I ndicador do Cepea é criticado,
mas muitos ainda não informam preços.
32 C oluna do Rogério – Use o
indicador do Cepea a seu favor
Cadeia em Pauta 34 P ercalços da JBS parecem longe do fim
36 P aralisação no MS represou 70.000 bois
40 A ngus Gold, a carne que será certificada por marmoreio.
42 N ova parceria para ampliar a
carne sustentável do Pantanal
Especial Pastagem 62 P rofessor Corsi aponta onde se
52 Reportagem de capa
erra mais na adubação
Intensificar é “costurar” sistemas Projeto no sul do Pará confirma tendência de intensificação através da integração de diferentes sistemas de manejo de pastagens e insumos
68 P ercevejo-castanho: ainda poucas formas de controle.
72 T roca de cultivar tem
de seguir critérios certos
74 T odo o cuidado no controle de invasoras
78 P ronta IN que eleva o teor de pureza de sementes
82 A plicativo para o Semiárido mostra saldo forrageiro
Seleção 84 B rahman Xagu vai da genética à produção comercial
Raças 86 A portuguesa Alentejana chega como opção de carne macia
Edição: Edgar Pera Arte final: Edson Alves Foto: Renato Villela (Lote de macho em pasto irrigado de mombaça na Fazenda Valadares, em Marabá, sudeste do Pará.
Saúde Animal 100 Mantido o calendário para retirada da vacinação contra a aftosa
104
oluna do Ortolani – A préC história dos equinos
Nutrição 90 D uas empresas lançam ração
Manejo 106 B ezerro “do cedo” tem vantagem
Genética e Reprodução
108 M anta de couro torna a pesagem
“impermeável”
92 G enética “sob medida” ganha mais adeptos
96 C RV investe em
parcerias e genômica
também na terminação do bezerro “vapt vupt”
Leilões 112 M artelo entra definitivamente na era da internet
118
RS dá o tom nas vendas de outubro
Seções
8 DBO on line 10 Do Leitor 18 Giro Rápido
6 DBO novembro 2017
46 Cadeia em Pauta notas 90 Raças em Notícia 120 Eventos/Agenda
124 Empresas e Produtos 130 Sabor da Carne
DBOonline
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Para acesso aos destaques desta página, digite as primeiras palavras de cada chamada na busca do Portal DBO. Entrevistas
O pesquisador João Kluthcouski é entrevistado pelos editores da revista DBO. João K, como é chamado, 67 anos, pesquisador da Embrapa Cerrados e idealizador dos sistemas integrados de produção, falou aos jornalistas Maristela Franco e Moacir José para a seção Prosa Quente, da revista DBO de outubro. Acompanhe no vídeo uma pequena mostra do entusiasmo de João K com a braquiária, para ele a “alma” da ILP. Consórcio de girassol com capim é receita de João K. para o Cerrado. Um novo tipo de consórcio é a indicação de João K, para a safrinha do Centro-Oeste. Trata-se da dupla girassol e capim, que vem ganhando força no sul e sudeste de Goiás. Na entrevista para a editora assistente da DBO, Maristela Franco, João K. diz que o sistema proporciona lucro maior que milho ou sorgo. Confinamento no muro otimiza fornecimento de ração. A repórter Marina Salles esteve na Fazenda Barreirinho, em Poxoréu, MT, e ouviu do pecuarista Hélio Cavalcanti Garcia como ele fez para abastecer os cochos de seu confinamento, que ficam dos dois lados de um muro, utilizando apenas um pequeno motor elétrico para puxar a ração do tonel por um tubo grosso que passa pelo muro e a distribui.
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Dia a dia do boi gordo
Acompanhe no Portal DBO as cotações diárias do boi gordo nas principais praças pecuárias por meio da análise de Sidnei Maschio, tirada do programa Terraviva DBO na TV.
Começa a fase de implantação de pastagens.
Segundo técnico, fim do período seco é momento estratégico para começar a preparação de novos pastos ou reforma de áreas degradadas. Marcelo Ronaldo Villa, do Departamento Técnico da Matsuda, destaca a importância da escolha de semente certificada, acrescentando que o investimento do produtor na formação da pastagem é a melhor maneira de garantir sua longevidade e lucro na atividade
DEZ notícias a um clique
1. Impacto da redução do ICMS em
Goiás. Em setembro, saída de gado para abate em outros Estados aumentou 60%, o que representa 5% do total de animais abatidos em GO.
2. IB amplia produção de tuberculina
bovina, usada para diagnóstico de tuberculose no gado. Instituto Biológico de SP é a única instituição brasileira a produzir o antígeno.
3. Marfrig retoma atividades em Ji-
Paraná. Unidade em Rondônia voltou a funcionar no dia 18 de outubro.
4. China vai liberar exportações de
mais 22 frigoríficos brasileiros. São 11
8 DBO novembro 2017
de bovinos e 11 de aves. Segundo o ministro Blairo Maggi, falta apenas a visita técnica. Com isso, serão 56 unidades autorizadas a vender para a China.
5.
Falta de chuvas acende sinal de alerta para pecuaristas em MT. Pluviosidade em algumas regiões do Estado até o final de outubro chegou a ficar 66% abaixo do índice de outros anos, o que pode prejudicar o desenvolvimento das pastagens, diz o Imea.
6.
IZ desenvolve produto contra carrapatos. Os diferenciais da fórmula são sua ação rápida e a utilização de óleos essenciais em lugar de composto sintético em sua composição.
7.
Maggi: carne do BR já recuperou mercados. Em audiência na Câmara, ministro disse que apenas 3
países ainda não retomaram compras após a Operação Carne Fraca.
8. Embrapa lança portal sobre parasitoses.
Objetivo é divulgar informações e estratégias para combater doenças de ovinos, caprinos e bovinos.
9.
Nicarágua adota o PMGZ Internacional. Depois da Bolívia, o país centro-americano é o segundo a adotar o programa de melhoramento genético da ABCZ.
10. Inspeção: novo modelo é tema de
audiência na Câmara. Diretor da Acrimat diz que, apesar dos casos de corrupção, Sistema de Inspeção Federal é um patrimônio e pode ser melhorado, como o Ministério promete para breve.
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Do leitor
Nelore e marmoreio Li com muito interesse a matéria assinada por Carolina Rodrigues na revista DBO de setembro de 2017, intitulada “Nelore caminha para carne marmorizada”. Conduzimos alguns dos trabalhos pioneiros nessa área, iniciado em 2002, com apoio da marca OB. Há, porém, alguns pontos que merecem ser comentados. Primeiramente, existe, sim, ampla variação genética na raça Nelore para a deposição de gordura intramuscular. Isso foi apresentado em inúmeros congressos e seminários, além de revistas internacionais. Em segundo lugar, temos que discordar do professor Bento Ferraz, da USP, com o qual mantemos estreitos laços. O mercado para a carne brasileira hoje é mundial, e quem manda nas características desejadas é o consumidor. O Brasil tem capacidade primordial para produzir o boi “verde”, mas também cada vez mais o boi “verde e amarelo”. Aliás, a terminação com dietas contendo grãos traz vantagens para as pastagens durante a estiagem, econômicas – no sentido de encurtar o ciclo de produção, e ambientais – porque reduz de forma expressiva a emissão de gases de efeito estufa por quilo de carne produzida. Finalmente, gostaríamos de expressar a nossa concordância com as colocações do colega Argeu Silveira. A seleção genética para a marmorização é uma decisão do criador, e caso ele faça essa opção deve seguir os protocolos estabelecidos pelos programas de melhoramento. De acordo com a American Angus Association, que conduz o mais respeitado programa 10 DBO novembro 2017
de melhoramento de gado de corte nos EUA, a marmorização possui uma herdabilidade de 0,48, o que significa que mais da metade da variação fenotípica na marmorização provém do ambiente, provavelmente do nível nutricional. É fundamental, portanto, que a seleção para esta característica seja feita baseada em avaliações genéticas rigorosas, com dados coletados de forma padronizada, por técnicos credenciados e respeitando os grupos de contemporâneos, lotes de manejo e idades apropriadas. É o que tem sido feito pela Aval Serviços Tecnológicos, junto à Associação Nacional de Criadores e Pesquisadores. Lançamos as primeiras DEPs para área de olho de lombo e espessura de gordura em 2003, e as DEPs para marmoreio em 2013, mostrando com trabalho sério o nosso compromisso com o desenvolvimento de ferramentas confiáveis para o criador. O Brasil é grande, mas o mundo é bem maior. Há espaço para muitos sistemas de produção e categorias de produto. Que vençam aqueles que conseguirem atender às exigências dos seus mercados consumidores com eficiência e rapidez. Roberto Sainz Professor da Universidade da California, Davis, EUA
Silagem de mombaça Gostaria de mais informações a respeito da reportagem “Silagem de capim mombaça viabiliza sequestro de bezerros”, da DBO de junho de 2017, páginas 72 e 74. Minhas dúvidas são: qual a quantidade de silagem de mombaça deve ser fornecida para cada bezerro de 200 kg; qual a composição de cada concentrado, em termos percentuais, para farelo de milho, de soja, núcleo mineral e ureia e, finalmente, qual o percentual máximo de concentrado deve ser dado para esses bezerros – 0,7%, 1,2% do peso vivo? Aécio Teixeira Vitória da Conquista, BA
O consultor André Sorio, citado na reportagem, responde:
No caso da Nelore Pezo, os animais entram no confinamento recebendo 15 kg de silagem de mombaça por dia, em média. É importante lembrar que os animais ocupam as baias apartados por peso, para dar maior uniformidade ao lote, e a entrada se dá com 180 a 240 kg de peso vivo. Conforme vai aumentando o peso dos animais, aumenta-se a quantidade de silagem. Se o clima obrigar que o confinamento se estenda, a quantidade de silagem pode chegar no fim a 30 kg por cabeça. Quanto à ração, ela é monitorada para ficar em 1 % do peso vivo dos animais. Ou seja, começa com 1,8 a 2,4 kg e vai aumentando. A formulação da ração almeja que se tenha um produto com 20% de proteína bruta e 65% de energia, para evitar que os animais engordem, pois a finalidade do confinamento desses animais é manter o ciclo de crescimento e não fazer a terminação, já que eles voltam para o pasto no mês de outubro.
Correções Cometemos um equívoco na matéria “Previsão de cio e parto à moda hi-tech”, publicada à página 92 da edição de outubro. Onde se lê que as temperaturas para identificação do cio das vacas foram medidas no intervalo entre o oitavo e o décimo dia da realização dos implantes hormonais de progesterona nos animais, o correto é entre o oitavo e o décimo dia da realização do protocolo de IATF (inseminação artificial em tempo fixo). Já na seção “Prosa Quente”, no início do texto da página 12, cometemos dois erros de grafia: o sobrenome do pesquisador João K é Kluthcouski (sem “s” antes do “h” e com “c” depois dele, e não “k”, como saiu impresso). O sobrenome do ganhador do Prêmio Nobel, Norman Borlaug, também teve a letra “u” trocada de lugar.
ourofinosaudeanimal.com
Master LP Maior concentração de resultados comprovados na balança. Master LP é o endectocida seguro para o rebanho que elimina parasitas internos e auxilia no controle dos parasitas externos. Com 4% de Ivermectina, reduz o número de manejos, contribui para maior ganho de peso e torna a recria mais rápida.
Master LP x Concorrentes
30% a mais de ganho de peso Kg
32% a mais de retorno sobre investimento Estudos realizados pelo Departamento Técnico da Ourofino em mais de 1000 animais.
Eventos
Avalanche rosa
plenárias (quando se podia fazer purguntas) do que as exposições dos palestrantes. Ficou no ar uma pergunta, feita por uma das congressistas: feminismo é tabu no Agro? Sem resposta conclusiva, a pergunta ficou para a próxima edição do Congresso, em 2018.
Maristela Franco
Congresso mostra avanço organizacional das mulheres no Agro, apesar do preconceito de gênero, seja ele velado ou manifesto.
Grupo de mulheres da Comigo, Cooperativa Agroindustrial dos Produtores Rurais do Sudoeste Goiano: participação ativa nas plenárias.
Chanda Berk, diretora do USDA: “No futuro, teremos apenas líderes, sem distinção por gênero”.
A
Maristela Franco maristela@revistadbo.com.br
s estatísticas comprovam: há discriminação contra mulheres no agronegócio. Elas ocupam apenas 27% dos cargos de chefia nas fazendas (a maioria por herança) e 5% a 10% das funções diretivas nas empresas do setor. Essa disparidade, contudo, não parece detê-las. Uma pesquisa apresentada durante o 2º Congresso Nacional das Mulheres do Agronegócio, realizado entre os dias 17 e 18 de outubro, em São Paulo, SP, mostrou que as mulheres não se deixam mais intimidar. Quase 75% delas detectaram preconceito de gênero no campo (44,2%, de forma velada e 30%, de maneira evidente), mas um grupo grande (61,1%) não classifica esse preconceito como impedimento à liderança (veja detalhes da pesquisa à parte). Decididas, elas querem mais espaço no setor, como mostraram as seções plenárias do congresso, que reuniu mais de 1.000 participantes de vários Estados brasileiros, público 40% superior ao de 2016. O machismo sequer foi tema específico do evento, mas permeou boa parte das discussões, que abrangeram três grandes áreas: globalização, liderança empreendedora e visão de cadeia produtiva. Talvez para fugir às armadilhas da vitimização ou por não ter, de fato, vivenciado situações discriminatórias, algumas mulheres disseram não ter sofrido preconceito profissionalmente, enquanto outras fizeram questão de confirmar sua presença no dia a dia das fazendas. Esse debate, aliás, movimentou mais os bastidores e as seções
12 DBO novembro 2017
Participação em alta Idealizado pelo Transamérica Expocenter, em parceria com a Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG), o evento reflete a crescente participação das mulheres no campo, sejam elas trabalhadoras ou proprietárias rurais. Esse processo tem sido chamado de “empoderamento” (empowerment), neologismo criado na década 70 com base na palavra inglesa power (poder). Algumas mulheres disseram não gostar do termo, mas, como bem explicou a jornalista Vera Ondei, ex-repórter de DBO e hoje editora da Revista Dinheiro Rural, trata-se de um conceito já plenamente difundido. Referendada pela Conferência Mundial sobre Mulheres da Organização das Nações Unidas (ONU), em 1995, na cidade de Pequim, a palavra foi campeã de consulta no Dicionário Aurélio on line, em 2016. Nos últimos 30 anos, as conquistas femininas no Agro têm sido lentas, porém consistentes, disseram as palestrantes. Chanda Berk, diretora do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), por exemplo, informou que 30% das fazendas norte-americanos já são comandadas por mulheres. “No futuro, acredito que teremos apenas líderes, sem distinção por gênero. Precisamos buscar isso. Se as mulheres tiverem os mesmos recursos que os homens, 150 milhões de pessoas sairão da pobreza no mundo”, disse ela, convocando as congressistas a se “empoderarem”, ou seja, tomarem consciência do valor que têm. Já Krista Harden, ex-secretária do USDA e atual vice-presidente mundial de políticas públicas e sustentabilidade da DuPont, conclamou-as a contar suas histórias, “usando as redes sociais e todos os canais disponíveis para que o mundo saiba o que estão fazendo”. Maria Beatriz Giraldo, presidente da Associação Argentina de Produtores, acrescentou: “temos um papel crucial no Agro por sermos consideradas mais confiantes nas negociações sobre sustentabilidade, por exemplo. Precisamos trabalhar globalmente para nos fazermos ouvir”. Primeira mulher a ocupar a diretoria financeira da Cargill no Brasil, Solange Ferreira lembrou que o “protagonismo” feminino é muito recente (teve início nos anos 90), por isso muitas mudanças estão por vir. Mariana Lorenzon, diretora de excelência operacional da Bayer, reforçou essa ideia. “Por enquanto, as mulheres ocupam de 5% a 10% dos cargos diretivos nas empresas, mas a nova geração já é diferente, demonstra uma garra e determinação maiores”, salientou. A advogada Estela Camargo salientou que o Brasil ainda trata a maioria da população (as mulheres) como minoria. “Até pouco tempo atrás, as mulheres ainda precisavam de autorização do marido para trabalhar. Hoje, já somos 40% da força de trabalho e ocupamos 37% dos cargos de gerência”. Representante da pecuária de corte no
Cesar Cinato/Siegel press
Debate sobre globalização, com Carla de Freitas (segunda à esq.) representando a pecuária de corte.
evento, Carla de Freitas disse que a questão da maternidade precisa ser discutida, pois leva muitas mulheres a abandonar suas carreiras. “Horários flexíveis podem ajudar”, disse. Interesses globais No painel macroeconômico sobre globalização, o posicionamento das congressistas foi por um mercado livre, pois não pode haver fronteiras para a produção de alimentos. Já no painel sobre integração de cadeias produtivas, a ex-secretária de agricultura do Estado de São Paulo, Mônica Bergamaschi, defendeu maior comunicação com o consumidor final, tanto para saber o que ele quer quanto para informá-lo sobre a realidade do campo. “Ninguém valoriza o que não conhece”, lembrou. Participando desse painel, Teka Vendramini, diretora executiva de pecuária da Sociedade Rural Brasileira (SRB), reforçou o compromisso da entidade com a cadeia e destacou o surgimento de grupos femininos, em várias partes do País, para discutir sua própria realidade e temas ligados ao setor. No dia 16 de outubro, Teka recebeu 207 mulheres de 13 desses grupos, para entender melhor como elas estão organizadas e quais seus desafios. Na ocasião, foi sugerida a criação do “movimento 1 + 1”, que, na prática, visa estimular cada mulher integrante desses grupos a convidar outra para participar. Segundo Teka, a reunião foi muito positiva e outras deverão ser organizadas no próximo ano. Carminha Misso, agricultora e presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Luís Eduardo
Pesquisa mostra avanços Encomendada pela Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG), com patrocínio da Bayer, DuPont, Adama, Matsuda e Yara, a pesquisa feita pela empresa paulista Ipeso, de Sorocaba, SP, mostrou que a maioria das mulheres do Agro se sentem preparadas para exercer suas funções, não relatando problemas de liderança. Foram realizadas 862 entrevistas por telefone, com profissionais que atuam “antes, dentro e fora da portei-
Magalhães, na Bahia, disse à DBO que as mulheres já participam regularmente de atividades classistas, mas precisam sair dos bastidores. Outra liderança feminina forte do Agro, Zênia Aranha, presidente da Comissão das Produtoras Rurais da Farsul (Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul), foi homenageada durante o congresso pelo trabalho que desenvolve. O evento também contou com 15 workshops sobre temas diversos, como cooperativismo, integração lavoura-pecuária, sucessão familiar e bem-estar animal, este último ministrado pela produtora Carmen Perez, presidente do Núcleo Feminino do Agronegócio, e pelo professor Mateus Paranhos, da Unesp-Jaboticabal. Luciano Vacari, superintendente da Associação dos Produtores Rurais do Mato Grosso (Acrimat), também marcou presença, ministrando um workshop sobre qualidade de carne. O público do congresso se mostrou muito participativo e questionador. A agrônoma Marlova Haes, da empresa Fortgreen Comercial Agrícola, de Ijuí, RS, por exemplo, protestou contra o uso de mulheres como chamariz nas feiras agropecuárias, sendo aplaudida efusivamente. Muitas mulheres vestiam camisas padronizadas, estampando o laço rosa símbolo do congresso. Encerraram o evento cantando a música feita pelo publicitário José Luiz Tejon especialmente para elas, já disponível no youtube. n
ra”. A maioria era de proprietárias (59,2%) à frente principalmente de minifúndios, pequenas e médias fazendas (89,1% do total). Apenas 29,1% das entrevistadas moram no campo; a maioria (54,4%) reside em cidades ou se divide entre os dois lugares (16,5%). Cerca de metade delas também exercem outras atividades. Veja mais dados da pesquisa: • 74,2% relatam preconceito de gênero, sutil ou evidente; • 61,1% disseram não ter tido
problemas de liderança; • Mais de 90% se sentem aptas a exercer qualquer atividade no campo, exceto tarefas pesadas, como carregar caminhões; • Mais de 70% gostariam que os filhos as sucedessem; • 34,3% fazem todo o serviço doméstico; • 54,5% se interessam por gestão e 27,3% por negociação; • Mais de 90% estão no facebook e whatsApp; • 73,2% apontam família como maior fonte de satisfação.
Teka Vendramini, diretora de pecuária de corte da SRB, recebeu mais de 200 mulheres em reunião pré-congresso.
Carminha Misso, presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Luíz Eduardo Magalhães: “Mulheres precisam sair dos bastidores”.
novembro 2017 DBO
13
Prosa Quente
Dupla dinâmica do NFA
Carmen Perez Cargo no FNA - Presidente Natural – de São Paulo, SP. Formação – Prática gerencial em pecuária de corte e heveicultura. Especialidade – Gestão com foco em bem-estar animal, trabalho que desenvolve há quase 10 anos, sob orientação do professor Mateus Paranhos, da Unesp-Jaboticabal. Experiência profissional – Administra a Fazenda Orvalho das Flores, em Barra dos Garças, MT, especializada em cria e produção de borracha (64.000 pés de seringueira). Também cuida da Fazenda do Bosque, localizada no mesmo município e pertencente à irmã (78.000 pés de seringueira). Carmen assumiu a gestão da primeira propriedade, hoje referência em manejo racional, ainda muito jovem, aos 22 anos, quando sua mãe recebeu parte das terras do pai como herança. Aprendeu tudo que sabe sobre pecuária sozinha, na prática diária, com apoio de técnicos como Fernando Andrade, da Coar Consultoria, de MG.
Criado em 2010, principalmente para troca de experiências e informações na área de gestão, o Núcleo Feminino do Agronegócio (NFA) se tornou referência nacional em liderança, inspirando a criação de vários outros grupos de mulheres pelo País. Em 2017, foi transformado em associação, processo comandado por sua atual presidente, Carmen Martins Perez, e sua vice, Regina Célia Cardoso Margarido. O NFA agora tem estatuto registrado em cartório e regras muito claras de funcionamento. Trata-se do primeiro grupo de mulheres pecuaristas (em sua maioria de gado de corte) a criar uma entidade desse tipo no Brasil. Os demais grupos, sejam eles presenciais ou virtuais (WhatsApp), funcionam de maneira informal ou estão ligados a sindicados rurais e cooperativas. Para conhecer a nova entidade e também homenagear as mulheres do Agro, que realizaram seu segundo congresso nacional no mês de outubro, em São Paulo, DBO recebeu Carmen e Regina para uma conversa, em seu estúdio. Apesar dos perfis diferentes (Regina é mais racional, contida, analítica; Carmen, mais sensitiva, expansiva, articuladora), as duas se complementam, formando uma dupla superdinâmica, com muitos planos para 2018. Veja nesta edição do Prosa Quente uma parte da entrevista que concederam aos editores Moacir José e Maristela Franco.
Moacir - Como surgiu o NFA e qual sua finalidade? Carmen Perez - Surgiu da necessidade de compartilhar
experiências e informações sobre gestão. Em 2010, um grupo de cinco mulheres lideradas pela Carla de Freitas, proprietária da Fazenda Bela Vista, em Chupinguaia, RO, decidiu se reunir regularmente para discutir problemas comuns e aprender juntas. Gostaram tanto da experiência, que foram convidando outras produtoras amigas. Naquela época, não se falava de mulher no Agro. Nestes últimos sete anos, muita coisa aconteceu, não somente com as mulheres, mas com o agronegócio, que virou uma potência. O Núcleo reúne, hoje, 21 integrantes, mas outras seis estão em processo de adesão. Fui convidada a participar em 2011, pela Carla, que era presidente à época. Pensei nas dificuldades que teria para me deslocar até São Paulo (moro em Ribeirão Preto). Minha filha era pequena; hoje ela está com sete anos. Conversei com meu marido e ele me incentivou. Achei muito
14 DBO novembro 2017
Regina Margarido Cargo no NFA - Vice-presidente Natural - Lucélia, SP. Formação – Zootecnia, com mestrado na USP– Pirassununga. Especialidade - Nutrição animal e gestão de confinamento; foi uma das pioneiras na formulação de rações à base de subprodutos da indústria de cana-de-açúcar. Experiência profissional - Iniciou sua carreira no confinamento da antiga Usina Vale do Rosário, em Morro Agudo, SP; continuou na gestão desse negócio após a fusão da Vale com a Santa Eliza, do Grupo Biagi, em 2007, e após a empresa ser adquirida pelo Grupo Louis Dreyfus, em 2009. Quando deixou a companhia, há dois meses, comandava o Departamento de Nutrição Animal, com duas fábricas de ração, uma de melaço e uma de leveduras; 300 pecuaristas-parceiros do programa cana-boi, que ajudou a idealizar; e um confinamento que engordou 7.873 bovinos em 2016. Atualmente, administra a fazenda da família.
bacana a primeira reunião da qual participei na Fiesp com umas 15 mulheres lideradas pela Carla, com muita seriedade. Ela batia na mesa e falava: “Silêncio!” (risos...). Tinha me avisado que quem chegasse atrasada devia ficar fora da sala. Fiquei tão preocupada com essa questão da pontualidade que, em outra reunião, me confundi e fui um dia antes! (risos...) Maristela - E você, Regina, como entrou no NFA? Regina - Fui convidada em 2015, pela Beatriz Biagi, sele-
cionadora de Nelore em São Paulo. Já tinha ouvido falar do Núcleo, formado por mulheres fazendeiras. Tive dúvidas quanto a poder participar das reuniões, pois minha rotina de trabalho era muito pesada. Não sabia se poderia contribuir com o Núcleo, formado por mulheres fortes, mas também me senti extremamente honrada. Fui atraída pela curiosidade, pois lidava somente com homens no ambiente de trabalho, e queria participar de um grupo fe-
Moacir - A gestão é um dos assuntos de maior interesse pra vocês? Carmen - Sim, por isso decidimos investir também na ges-
tão interna, transformando o NFA em associação, para crescer de forma organizada.
Maristela - O que muda com essa reestruturação? Carmen - A associação traz maior comprometimento. Ago-
ra, temos um estatuto, uma diretoria, composta por mim e a Regina; a Sílvia Morgulis, que é diretora administrativa; a Maria Antonieta Guazzelli, diretora financeira; e a Cris Bertelli, que é nossa diretora de comunicação. Temos também um conselho fiscal, ao qual prestamos contas, composto pela Carla de Freitas, a Chao En Hung e a Marisa Saad. Regina - Esse grupo é composto por mulheres produtoras muito fortes, que vão para o campo. Algumas ajudaram a abrir fazendas, têm uma história rica, muita coisa para ensinar. Queríamos levar essa experiência a mais mulheres, mas precisávamos fazer isso de forma estruturada, com regras claras. O NFA é um grupo de trabalho, composto por gestoras e nosso estatuto reflete isso. Maristela - Que benefícios se tem por ser associação? Carmen - Podemos nos organizar melhor do ponto de vis-
ta financeiro, por exemplo. Antes, não podíamos ter conta em banco como pessoa jurídica, tínhamos de usar a conta particular de alguma integrante. As despesas eram pagas por meio de vaquinhas. Agora, temos mensalidades, no valor de R$ 95, para formar um pequeno caixa e ajudar a financiar atividades, principalmente debates e whorkshops. Uma associação pode firmar convênios, parcerias ou contratos com instituições públicas ou privadas, tem um orçamento anual, calendário de reuniões, regras para eleições e entrada de novos sócios. Antes, era tudo mais informal, inseguro. Moacir - Você falou em comprometimento com o quê exatamente? Carmen - Com o principal objetivo da associação, que é
compartilhar experiências para fortalecer processos produtivos nas fazendas das integrantes. Comprometimento também com participação (a sócia deve frequentar pelo menos 5 de nossas 10 reuniões anuais) e com o fortalecimento do grupo, para que ele se torne referência para outras mulheres. Nosso foco é o negócio; queremos dar voz à mulher que trabalha no campo, uma voz forte, de liderança. Regina - O NFA já é muito conhecido, porque reúne mulheres de várias partes do Brasil, é nacional. Se você me perguntar quantas seremos nessa associação, não saberei
Fotos: Larissa Saraiva
minino. Na primeira reunião da qual participei tinha gente até com mais tempo de trabalho no Agro do que eu; e as reuniões eram extremamente produtivas. Resolvi ficar. Uma de minhas primeiras sugestões foi convidar o professor Moacyr Corsi para nos dar uma palestra. No final, ele disse: “Que orgulho, Regina! Te conheci no início, no confinamento da Vale do Rosário, quase uma menina. Agora, olha aonde você chegou!”. Me senti gratificada!
te responder. Um número suficiente para que tenhamos voz. Os grupos femininos não estão apenas crescendo no Agro, mas mostrando sua cara. Essa é a diferença. Temos, inclusive, grupos de jovens mulheres, futuras fazendeiras. Maristela - Quais as metas de vocês para o mandato 2017/2018? Carmen - Nosso primeiro objetivo era conseguir um
CNPJ, criar um estatuto e o registro da marca NFA, o que demandou dedicação das participantes (quero aqui agradecer especialmente à produtora Lídia Massi, que nos ajudou muito). Agora, queremos criar um site oficial da associação, ampliar o grupo e fazer um workshop com as integrantes do Núcleo, para contarem suas experiências e expertises.
Regina Margarido e Carmen Perez (ao centro), com os jornalistas Moacir José e Maristela Franco.
Maristela - Qual é o processo de seleção das novas sócias? Regina - Alguém do grupo indica a pessoa, que nos man-
da um currículo. A diretoria marca uma entrevista com a candidata e apresenta um parecer às integrantes. Se houver concordância, a pessoa é autorizada a participar de seis reuniões de trabalho. Havendo afinidade e integração com o grupo, a indicação é apreciada em assembleia. Para aprovação, são necessários pelo menos dois terços dos votos. Carmen - Pode parecer burocracia, mas, por que fazemos isso? Tem gente que não compreende os objetivos do grupo; é preciso que isso fique claro antes que a candidata seja definitivamente integrada à associação. Moacir - Vamos falar um pouco de gestão, que é um dos centros de interesse do NFA. Existe realmente um jeito feminino de administrar ou isso é mito? Carmen - Acho que existe, sim. Por ter instinto materno,
que é meio selvagem (risos), a mulher olha as pessoas, os animais, o meio ambiente, tudo de forma diferente. O homem é mais imediatista, quer resultado e acabou. A mulher também quer lucratividade, mas se preocupa mais com o contexto, com o equilíbrio. E também tem essa tendência de compartilhar: “Fiz isso, não deu certo. O que você esta fazendo?”. Ela tem menos medo de assumir erros e são mais meticulosas. Regina - Eu acho que a mulher trabalha mais em equipe. E quando tem um objetivo, foca naquilo. Uma amiga, que trabalha numa multinacional, diz que os homens, quannovembro 2017 DBO
15
Prosa Quente detalhe. Sei que o preconceito de gênero existe (em algumas profissões, mais do que em outras), mas acho que, hoje, a mulher está mais preparada para enfrentá-lo. Precisa ter vontade, foco e muita determinação.
Integrantes do NFA no momento da entrega do novo estatuto, que foi prestigiada pelo economista Francisco Vila.
Maristela - Pesquisas identificam uma barreira invisível, batizada de “teto de vidro”, que impede mulheres de chegarem ao topo da pirâmide nas empresas. Você identificou isso em sua carreira como executiva, Regina? Regina - Não. Muitas mulheres ocupavam cargos diretivos
do entrevistados para uma vaga, querem saber mais sobre o plano de carreira, enquanto a mulher pergunta sobre a função que vai exercer, como é a equipe, etc. Acho que a mulher tem uma facilidade maior para delegar, principalmente quando se trata de trabalho corporativo. Ela não se preocupa muito se vão pegar o lugar dela. Acho que ela foca no trabalho e traz a equipe consigo. Tem esse espírito de mãe. Moacir - Nessa área de gestão, há temas que mobilizam mais vocês? Regina - Lucratividade, claro, mas o grupo tem mani-
festado grande interesse, por exemplo, por governança e sucessão empresarial. É um problema hoje. Os pais custeiam os estudos dos filhos, eles vão estudar fora do Brasil e voltam supercapacitados, mas preferem trabalhar no mercado financeiro. As fazendas acabam sendo arrendadas. Vi isso acontecer nos 30 anos em que trabalhei na usina. Algumas das mulheres do NFA já estão em processo de sucessão familiar e querem discutir isso. Carmen - Participei recentemente de uma reunião do Lide (Grupo de Líderes Empresariais), que reúne nomes como o ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, e eles estão discutindo sucessão sempre junto com governança. É um trabalho de formiguinha, que começa quando nossos filhos ainda são pequenos. Fizemos uma visita técnica em uma fazenda que tem um trabalho de sucessão muito interessante e vamos organizar uma palestra sobre o tema no ano que vem. Maristela - Uma pesquisa divulgada no Congresso Nacional de Mulheres do Agronegócio mostrou que 74% delas relatam preconceito de gênero sutil ou evidente. O machismo talvez seja até maior na pecuária. Como enfrentam isso? Carmen - Não discutimos muito isso no Núcleo, fala-
mos mais de negócios. Eu particularmente não senti preconceito de gênero na minha carreira, mas sei que tem mulher que sofre com isso. A solução é ter foco e seguir em frente. Regina - Entrei no mercado de trabalho muito jovem, enfrentando vários desafios: era mulher, zootecnista (à época, uma profissão pouco conhecida) e fui trabalhar em uma atividade nova no Brasil, o confinamento de bovinos com rações à base de bagaço de cana e outros subprodutos da usina. Nesse contexto, ser mulher era apenas um 16 DBO novembro 2017
na empresa onde trabalhei: diretoria de mídia, comercial, de recursos humanos. Eu era uma gerente sênior. Já ouvi falar do “teto de vidro”, sei que existe, mas não vivi isso. As mulheres, inclusive, ganhavam o mesmo salário dos homens, quando exerciam as mesmas funções. Moacir - Nas fazendas, já tem mulher querendo ser vaqueira? Carmen - Dizem que já tem; eu não conheço. É um traba-
lho que exige muito esforço físico. Tem de abrir colchetes, ninguém merece (risos). Acho que a mulher não precisa competir com a força física do homem. Não é igual. Regina - Eu fui vaqueira. Quando comecei no confinamento, só tinha eu, um trator e um tratorista. Fiz de tudo: distribui ração, embarquei gado. Os caras iam lá, colocavam os animais de qualquer jeito no caminhão, eu brigava mesmo, porque sabia que aquilo afetava o rendimento. Bati boca com vários caminhoneiros (risos). Hoje, a mulher não vive mais essas situações, as fazendas estão mais estruturadas. Maristela - Os papéis ainda estão muito definidos nas fazendas: o vaqueiro tem de ser homem, a mulher tem de fazer serviço doméstico. Ela não está inserida em todos os postos de trabalho e raramente chega ao cargo de gerente, por exemplo. Regina - Eu não conheço nenhuma. Carmen - É um processo longo de mudança. Precisamos
criar mais postos de trabalhos para as mulheres. Quando meus seringais chegarem ao ponto de sangria, pretendo contratar apenas mulheres das fazendas vizinhas, para aumentarem a renda.
Maristela - Que conquistas vocês obtiveram no Núcleo, nestes sete anos? Carmen - A disciplina de realizar 10 reuniões por ano já
foi uma conquista enorme, pois essas mulheres se mobilizam de várias partes do País para São Paulo. A criação da associação e do novo estatuto também foi um ganho importante. Regina - Tivemos conquistas também em representatividade: as portas da Sociedade Rural Brasileira, na gestão passada, da Teka Vendramini, foram abertas ao grupo e, hoje, participamos do Cosag, Conselho Superior do Agronegócio, da Fiesp. Carmen - Dentro das fazendas, as conquistas foram enormes, pois as integrantes se ajudam mutuamente na busca por maior produtividade. Trocamos informações sobre consultorias, projetos em andamento, tecnologias, custos, tudo. n
CENSO AGRO 2017.
NÓS VAMOS COLHER INFORMAÇÕES, O PRODUTOR RURAL VAI COLHER RESULTADOS. Com o Censo Agro 2017, o IBGE vai a campo para coletar informações e criar um retrato fiel da nossa agropecuária, que representa um dos setores mais importantes para o país, porque movimenta a economia e a vida de todos nós. Assim, a partir desses dados atualizados, o Brasil poderá criar políticas e soluções para todo tipo, tamanho e característica de produtor rural. Se desejar saber mais sobre o questionário ou outras informações, visite nosso site. Receba bem o recenseador do IBGE e responda corretamente as perguntas.
JUNTOS, VAMOS COLHER RESULTADOS PARA O BRASIL.
Saiba mais em censoagro2017.ibge.gov.br ou ligue 0800 721 8181
De outubro/2017 a fevereiro/2018.
Giro Rápido Roberto Rodrigues assume Cátedra da Esalq O ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, atual coordenador do Centro de Agronegócios da Fundação Getúlio Vargas, tornou-se, em outubro, o primeiro titular da recém-criada Cátedra Luiz de Queiroz da Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queriroz/USP) sobre sistemas integrados. A cadeira tem por função gerar debates e atividades sobre o tema, destinados a professores e estu-
dantes. “Nossa intenção é difundidar conhecimento interdisciplinar”, diz Luís Gustavo Nússio, diretor da Esalq. Ex-aluno da universidade, formado em agronomia em 1965, Rodrigues é também embaixador especial da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura) na área de cooperativismo.
Futuros produtores A Famato e o Senar-MT formaram mais 29 lideranças agropecuárias por meio do programa Futuros Produtores do Brasil _ turma 2017. Criado em 2013, o programa já formou cinco turmas, com 135 participantes. O objetivo é despertar nos jovens a paixão pelo campo e apresentar as inúmeras oportunidades de carreiras relacionadas ao agronegócio, preparando-os para sucessão familiar. Segundo José Luiz Fidelis, diretor de Relações Institucionais da Famato, 93% dos formados devem continuar no campo. Nos quatro módulos do projeto, os jovens tiveram a oportunidade de participar de palestras técnicas e vocacionais, dinâmicas em grupo, visitas técnicas a propriedades rurais e nas empresas Archer Daniels Midland (ADM), Basf, Casa Bugre (Campinas) e também na bolsa de valores B3 (a antiga BM&FBovespa, em São Paulo). Foram abordados 15 temas: profissionalização dos produtores rurais; horta nas escolas e reaproveitamento de sobras de alimentos; armazenamento comunitário de grãos; difusão do cooperativismo; melhoramento de pastagens; implantação de sistema de reflorestamento em reserva legal; recuperação de parte das margens do córrego Mutum; leite verde; melhoramento genético do rebanho leiteiro do Mato Grosso; assistência técnica e universitária em pequenas propriedades; sistema compost barn em Tapurá; otimização das áreas assentadas; horta nas escolas para crianças e contribuição sindical e uma nova forma de obtenção de renda. 18 DBO novembro 2017
Chefia interina na Embrapa Gado de Corte A Embrapa Gado de Corte já tem um novo chefe-geral, o administrador de empresas Ronney Robson Mamede. Ele vai ocupar interinamente o cargo até que seja iniciado o processo seletivo para a escolha do novo gestor da unidade, sediada em Campo Grande, MS. A previsão é de que permaneça no posto até o início de 2018. Mamede substitui o pesquisador Cleber Soares de Oliveira, que as-
sumiu a diretoria executiva de Transferência de Tecnologia da Embrapa, em Brasília, DF. Desde 2015 Mamede vinha ocupando o cargo de chefe-adjunto de Transferência de Tecnologia na mesma unidade sul-mato-grossense. Já no posto, ele diz que está trabalhando para firmar parcerias para a abertura de cursos de educação à distância, além de programar eventos próximos. Um deles é a feira tecnológica anual Dinâmica Pecuária (Dinapec), cuja edição 2018 está agendada para 7 a 9 de março, na sede da unidade.
Multas ambientais podem financiar recuperação do Taquari Com mais de 1 milhão de hectares de pastagens alagadas em 2015, após o rompimento na margem esquerda do Rio Taquari, o Pantanal sul-mato-grossense finalmente pode vislumbrar a reversão desse quadro. No dia 21 de outubro, durante o 2º Encontro Carta Caiman, em Miranda, MS, o presidente da República, Michel Temer, anunciou que converterá parte dos R$ 4,6 bilhões de multas ambientais federais para a recuperação de bacias importantes. A do Taquari deverá receber pelo menos
R$ 1,4 bilhão, estima Felipe Augusto Dias, diretor executivo do Instituto Socioambiental da Bacia do Alto Taquari SOS Pantanal, organizador do evento. Ele trabalha com a data limite de março de 2018 para que os recursos sejam oficialmente destinados. O acidente no Taquari, provavelmente provocado pelo assoreamento do rio, obrigou ao deslocamento de pelo menos 40.000 animais. O cálculo é da Embrapa Pantanal, que estima ter o bioma uma produção anual de 650.000 bezerros.
Valor Bruto da Produção bate em R$ 535 bilhões O Valor Bruto da Produção agropecuária (VBP) deve fechar 2017 em R$ 535 bilhões, informa José Garcia Gasques, coordenador-geral de Estudos e Análises da Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura. O valor é recorde e representa crescimento de 2,1% sobre o ano anterior. Dito de outra forma, o agronegócio, embora tenha patinado, mesmo crescendo pouco continuou a sustentar a economia brasileira. O levantamento é feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e contempla 21 das principais culturas exploradas no País. Dos R$ 535 bilhões, a pecuária garantiu 40% do PIB do setor, com R$ 169,5 bilhões, e a agricultura, R$ 365,9 bilhões. Em 2017, porém, os motores foram o setor sucroalcooleiro, que cresceu 33,4%, e o milho, puxado pela avicultura, com expansão de 14,6%.
52,2
68,3
38,1
32,9
51,3
79,6
62,9
38,1
59,1
56,9
28,8
4º
1º
2º 3º trimestre
4º
1º
2º 3º trimestre
4º
1º
2014
2015
2º 3º trimestre
2016
Abate outros Estados
8% 7% 6% 5% 4% 3% 2% 1% 0
51,0
50,4
2º 3º trimestre
28,0
46,8 1º
2017
Participação no abate total
Preferência por frigoríficos locais Em julho deste ano, Mato Grosso reduziu de 7% para 4% a alíquota do ICMS sobre a movimentação de bovinos para abate em outros Estados. O objetivo da medida temporária _ que vigorou até o fim do mês passado _ era proporcionar um pouco de alívio para o mercado pecuário mato-grossense, abalado pela crise econômica e pelos escândalos envolvendo a JBS, o maior frigorífico do País. No entanto, no período da vigência da alíquota reduzida, a movimentação interestadual de gado para abate no 3º trimestre de 2017 seguiu o padrão dos últimos anos, atingindo números semelhantes para o período. “Independentemente do valor de ICMS, o pecuarista mato-grossense dá preferência para os frigoríficos do Estado na hora de abater seus animais, pois a movimentação em grandes distâncias pode provocar custo maior do que o da alíquota reduzida”, diz Yago Travagini, analista do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea). No entanto, diz, a medida “foi importante para deixar o ambiente de negócios competitivo, dando mais opções para o produtor e acirrando a disputa entre as indústrias frigoríficas do Mato Grosso”. Receita das exportações brasileiras estratificada pelos principais Estados exportadores em 2017 200
520,9
500 400
352,2
401,9 352,2
382,5
419,6
450,7
471,4
291,9
300 200
Mato Grosso
Rio Grande do Sul
São Paulo
Goiás
Rondônia
fev/17
fev/17
fev/17
fev/17
0
fev/17
100 fev/17
A saga de três cavaleiros (os irmãos Jorge e Pedro Luiz Dias de Aguiar e o vaqueiro José Reis) que percorreram 14.000 km pelo País está retratada no livro “Marcha Brasil 14 mil _ Três homens, sete cavalos e um país continental”. Conforme Pedro Luiz, os cavalos não tinham traquejo para longas jornadas e, por isso, no início da viagem houve desentrosamento, mas após alguns dias de marcha o descompasso se dissipou. O maior problema foram as ferraduras: trocaram um jogo por dia. O livro por ser encontrado na Livraria da Vila, Alameda Lorena, 1.731, São Paulo, SP.
Bovinos do MT encaminhados para abate em outros Estados
fev/17
Do Oiapoque ao Chuí, a cavalo.
Infográficos que sintetizam informações importantes da pecuária
fev/17
Em comemoração do aniversário da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul) foi lançado o livro “Celeiro de Fartura: A história dos 40 anos da Famasul”, que traz um compilado da trajetória da instituição. O nome foi inspirado em um verso do hino do Estado e faz referência à produção agropecuária na região. Em nove capítulos, um para cada presidente que a Famasul já teve, estão textos e fotos que datam de 1977 até hoje. As pesquisas para elaboração do material foram feitas pela jornalista Juliana Feliz, autora da obra.
90 80 70 60 50 40 30 20 10 0
jan/17
Famasul, 40 anos.
Mil cabeças
Está em processo de aprovação pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica a compra da brasileira Integral Nutrição Animal pela norte-americana Cargill. A aquisição visa fortalecer o negócio da Cargill no segmento de suplementos minerais, proteicos, proteico-energéticos e premixes no Centro-Oeste. O valor do negócio não foi informado, mas a Cargill destaca que comprará 100% dos ativos da Integral, incluindo uma fábrica localizada em Goianira, centro de Goiás. A planta tem 100 funcionários e uma receita líquida anual de R$ 80 milhões. Hoje, a Integral tem grande peso em Goiás, e atua também em Mato Grosso, Minas Gerais, Tocantins, Pará, Bahia e Distrito Federal.
Infopec
Milhões de US$
Cargill compra a Integral
Outros Estados
Contra a maré, MT bate recorde de exportação em setembro. Mato Grosso, o Estado com o maior rebanho bovino do Brasil, registrou em setembro a maior quantidade de carne bovina in natura para exportação, alcançando 27.760 toneladas, informou o Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea). Além do recorde mensal, MT se destacou no mês por ser o único, entre os seis maiores exportadores estaduais (que representam 98% do total embarcado), a ter desempenho positivo na comparação com agosto. O aumento frente ao oitavo mês do ano foi de 2,18%. Em relação a setembro de 2016, houve avanço de 45,12%. Em termos de receita, Mato Grosso arrecadou US$ 121 milhões, também acima do valor obtido no mês anterior. Por sua vez, o Brasil viu sua receita com a exportação da proteína animal in natura cair 9,5% no comparativo entre setembro/2017 e agosto/2017. Ainda assim, o valor faturado em setembro foi o segundo maior registrado neste ano e o maior valor para o mês desde 2013.
novembro 2017
DBO 19
Mercado sem Rodeios
Alcides Torres Jr. –
Scot
De olho no fim do ano Comportamento do consumo de carne será determinante para traçar cenário mais otimista para o preço da arroba Engenheiro agrônomo e diretor-proprietário da Scot Consultoria, de Bebedouro, SP. Com a colaboração de Gustavo Aguiar.
A
os trancos e barrancos, o mercado do boi gordo chegou ao último bimestre de 2017. Após as altas de preços da arroba observadas em agosto e meados de setembro, a cotação acabou perdendo sustentação em meados de outubro. Desde março, porém, a pecuária vem sendo assombrada por acontecimentos inesperados – tudo começou com a Operação Carne Fraca, deflagrada pela Polícia Federal no dia 17 daquele mês. Em seguida, vários outros episódios abalaram o setor, incluindo-se aí a delação da JBS; a instituição, pela mesma empresa, de pagamentos somente a prazo pela arroba e a suspensão das importações de carne brasileira pelos Estados Unidos, entre outros fatos. O ano foi coroado, em outubro, com a interrupção do abate de bovinos pela JBS em Mato Grosso do Sul e pelo anúncio, por parte da mesma empresa, de férias coletivas no Pará. Todas essas ações e medidas tomadas pelo maior frigorífico do País obviamente afetaram o mercado. Apesar da possibilidade de serem pontuais – no dia 23 de outubro, por exemplo, a JBS retomou as compras no Mato Grosso do Sul – e de não haver abundância de oferta de gado, essas duas últimas notícias promoveram uma “descontinuidade” no mercado. Assim, restando dois meses para acabar o ano, o que fazer e esperar? Para tentar prever o imprevisível, é de valiosa ajuda compreender o padrão do mercado neste período do ano. Para isso, apresentamos as estatísticas de comportamento de preços em São Paulo nos três últimos meses do ano, de dez anos para cá. Na Figura 1, apresentamos as variações da arroba
do boi gordo entre outubro e novembro e novembro e dezembro, desde 2007. Neste período, de outubro a novembro, em média, a cotação da arroba do boi gordo subiu 3,5% (mínimo: queda de 3,5% em 2009; máxima: alta de 13,1% em 2007). Ainda de 2007 a 2016, de novembro a dezembro, a cotação da arroba do boi caiu em média 1,5% em São Paulo (mínimo: queda de 7% em 2010; máxima: alta de 4,4% em 2013). Nota-se que as maiores altas aconteceram nas fases de alta do ciclo de preços pecuários (o que não é a realidade vivenciada agora, em 2017), e que a amplitude das variações diminuiu nos dois últimos anos, em 2015 e 2016, o que pode ser uma resposta à fase de baixa do ciclo, verificada nos últimos anos, bem como uma consequência da situação de crise financeira, em que o consumo de carne bovina não apresentou o aquecimento tradicionalmente observado. Diante do exposto, o que se conclui é que o grau de dificuldade para desenhar cenários de mercado está especialmente alto este ano. Como sabemos, comportamento passado não é garantia de desempenho futuro. O quadro vigente é de uma oferta que não é abundante, em razão do confinamento “enxuto” este ano e do atraso na terminação de gado de pasto, e de uma expectativa de aquecimento da demanda (por causa do fim de ano), em função do período de festas, que ainda precisa ser validada. Adotando uma postura conservadora, e considerando este mais recente acontecimento (fechamento temporário de plantas da JBS), se não houver uma forte recuperação do consumo no fim de ano, podem-se esperar apenas variações moderadas nesta reta final de 2017. Veremos. n
Queda mais contida no último bimestre dos dois últimos anos
Fonte: Scot Consultoria - www.scotconsultoria.com.br
22 DBO novembro 2017
LINHA
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Mercado
Arroba patina, mas futuro sinaliza alta. Preço boi no físico recua quase 2% em outubro, mas futuro aponta até R$ 145 em dezembro. Denis Cardoso
C
om o pasto ainda castigado pela forte estiagem nas principais regiões pecuárias e a escassez de animais prontos para abate, esperava-se preço um pouco mais atrativo. Era essa a expectativa que muitos pecuaristas tinham em outubro, o pico da entressafra. No entanto, mesmo com o mercado futuro sinalizando recuperação nas cotações (veja tabela), o preço da arroba no mercado físico recuou, refletindo a baixa demanda interna pela carne bovina, que inibe compras mais agressivas dos frigoríficos, receosos em elevar demasiadamente os seus estoques, diante da grande dificuldade de escoamento da produção. Em outubro, o Indicador Boi Gordo sofreu retração de 1,7%, em São Paulo, na comparação com setembro, de acordo com Cepea-Esalq/BM&FBovespa.
Indicador Boi Gordo recua em outubro no Estado de São Paulo Datas da liquidações dos contratados negociados na BM&FVBovespa Especificações
31/10/2017
29/09/2017
Preço à vista
R$ 140,35
142,76
Fonte: Cepea/Esalq/USP/BM&FBovespa. Média dos últimos cinco dias úteis em São Paulo. O valor é usado para a liquidação dos contratos negociados a futuro na BM&FBovespa.
Preço do bezerro sobe 1% em outubro na praça do MS Datas de levantamento do Cepea 31/10/2017 29/09/2017 R$ 1.194,55 R$ 1.184,20 R$ 201,79 R$ 195,53 R$ 5,92 R$ 6,05 R$ 177,59 R$ 181,69
Especificações Preço à vista por cabeça Peso médio/kg Preço por kg Preço por arroba Fonte: Cepea/Esalq/USP
Preço futuro do boi avança e aponta para arroba a R$ 145 Mês para a liquidação dos contratos na BM&FBovespa Data dos pregões
31/8/2017 29/9/2017 31/10/2017
jan
-
Fev Mar Abr Mai Jun -
-
Fonte: BM&FBovespa.
24 DBO novembro 2017
-
-
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Jul -
Ago
Set
Out
Nov
Dez
141,66 143,90 142,55 140,25 143,63 142,03 142,20 141,00 142,50 139,43 142,45 145,60
Parte dessa queda é reflexo da surpreendente decisão da JBS em paralisar os abates, no dia 18 de outubro, em suas sete unidades do Mato Grosso do Sul, alegando insegurança jurídica após o bloqueio de R$ 730 milhões pela Justiça (veja matéria na pág.36). Mesmo voltando atrás, reabrindo todas as plantas a partir de 24 de outubro, a ação impactou o mercado e os frigoríficos concorrentes elevaram a pressão, derrubando as cotações nas principais praças, com grande impacto no Mato Grosso do Sul. Segundo o médico veterinário Hyberville Neto, da Scot Consultoria, de Bebedouro, SP, resolvido o problema com a JBS no Mato Grosso do Sul, o mercado voltou à normalidade, isto é, continuou (e continua) convivendo com cenário de demanda patinando e oferta restrita de “boi de capim”. No entanto, diz o analista da Scot, a expectativa para este mês de novembro é de maior entrada de bois terminados no segundo giro de confinamento. A notícia boa para os pecuaristas, na avaliação dos analistas da Informa Economics FNP, de São Paulo, é que, com a baixa oferta de animais de confinamento, os frigoríficos terão dificuldade para sustentar ao longo deste mês de novembro a pressão baixista que fizeram em outubro. “Os ajustes negativos deverão ser cada vez mais raros e já é possível observar um movimento de sustentação dos preços”, relata a FNP, em seu Boletim Pecuário Semanal. De olho no futuro Levantamento realizado do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea) mostra que a seca deste ano está sendo bastante severa no Estado. Em alguns municípios, os índices de pluviosidade em setembro-outubro foram bem inferiores ao mesmo período do ano passado. É o caso de Canarana, que recebeu apenas 49 milímetros no acumulado nos dois últimos meses, 66% abaixo do registrado em igual período de 2016 (145 mm). Em Diamantino, o volume caiu 41%, enquanto que em Rondonópolis, a queda foi de 33%. “Estes números são preocupantes pois podem significar atraso na entrega de bois futuramente”, avalia a equipe de analista do Imea. Se no físico o mercado recua, o preço futuro registrou forte reação. O contrato para dezembro atingiu R$ 145,60/@ na B3 (atinga BM&FBovespa), quase R$ 6/@ acima do mercado físico. Segundo a Agrifatto, de Bebedouro, SP, os últimos registros de projeção positiva para dezembro frente a outubro ocorreram em 2013 e 2014. A consultoria ressalta que o contrato de dezembro precificado a R$ 145, equivale ao patamar registrado em fevereiro, quando o indicador Cepea apontava a segunda melhor cotação para 2017, de R$ 144,90/@. Ainda de acordo com a Agrifatto, a máxima registrada no segundo semestre deste ano ocorreu em setembro, de R$ 143,47/@. n
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Mercado
Pressão de alta na reposição perde força em outubro Poucos negócios são registrados nas principais praças do País, refletindo as incertezas em relação ao preço do boi.
A
Denis Cardoso
trajetória de alta acentuada que vinha ocorrendo no mercado de reposição nos últimos meses perdeu força em outubro. As incertezas quanto ao valor do boi gordo, resultado da dificuldade de escoamento da carne bovina no mercado doméstico, afastou os compradores do mercado, segundo a zootecnista Isabella Camargo, analista da Scot Consultoria, de Bebedouro, SP. “Além disso, a escassez de chuva em algumas regiões nos últimos meses e, consequentemente, a baixa capacidade de suporte das pastagens colaboram para a pouca procura pelas categorias de reposição”, acrescenta. A análise de Isabella corrobora com a visão dos analistas da Informa Economics FNP, de São Paulo. “A baixa qualidade do pasto e as incertezas no mercado do boi gordo ainda mantêm muitos compradores cautelosos na hora de fazer reposição”, diz a FNP, em seu Boletim Pecuário Semanal. Outro fator que contribuiu para o arrefecimento no volume de negócios foi a piora na relação de troca do recriador/invernista. Segundo a Scot Consultoria, em outubro, eram necessárias 7,57 arrobas de boi gordo para a compra de um bezerro desmamado de 6@, o que em setembro foi a 7,32@ de boi/bezerro. Porém, os negócios de outubro passado ainda foram melhores para o recriador/invernista do que a relação observada no mesmo período de 2016, quando a troca era de 7,64@/bezerro. Para Isabella, mesmo diante da menor demanda, os criadores resistem em entregar animais com preços menores. “Quando ocorrem negócios, a preferência é pelas categorias mais eradas, a fim de fazer giros mais rápidos”, afirma. No curto prazo, o aquecimento dos negócios no mercado de reposição, segundo ela, dependerá do comportamento da arroba do boi e também das chuvas.
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Preço médio do garrote em São Paulo, em outubro; aumento mensal de 1,1%
Valor médio do boi magro no Mato Grosso, em outubro; elevação de 3,1% na comparação com o mês anterior
Preço médio da novilha em Goiás, no mês passado; queda mensal de 3,5%
R$ 1.087
R$ 1.435
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Valor médio do bezerro desmamado no Mato Grosso do Sul, no mês passado; alta de 2% sobre setembro
26 DBO novembro 2017
Cotações Embora o movimento de alta tenha perdido força em outubro, os preços da reposição seguem relativamente firmes nas principais regiões pecuárias do País. Dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) mostram que o Indicador ESALQ/B3 (animal Nelore, de 8 a 12 meses) iniciou o primeiro dia útil de novembro a R$ 1.192 no Mato Grosso do Sul, o que significou estabilidade na comparação com o valor verificado há um mês. De acordo com a pesquisa mensal realizada pela Scot Consultoria, que considera a variação média de preços de machos e fêmeas anelorados em 14 praças pecuárias do Brasil, o mercado de reposição registrou leve aumento de 0,5% no mês passado em relação ao valor médio de todas as categorias observado em setembro. No Mato Grosso do Sul, o bezerro de 6@ fechou outubro cotado a R$ 1.087, em média, com valorização de 1,9% sobre setembro, segundo dados da Scot. Nessa mesma praça, o garrote (9,5@) subiu 1,2% no mês passado, para R$ 1.510, enquanto o boi magro (12@) teve alta de 1,5%, atingindo R$ 1.742. O preço da novilha (8,5@) ficou estável em outubro, a R$ 1.102. Em São Paulo, o bezerro de 6@ registrou acréscimo de quase 1% no mês passado, para R$ 1.072, e o garrote teve alta de 1,1%, ficando a R$ 1.435, em média. O boi magro atingiu R$ 1.720 no último mês, com desvalorização moderada de 0,7%, sobre setembro. Nessa mesma praça, a novilha subiu 1,9%, para R$ 1.130. Na praça do Mato Grosso, as altas mensais da reposição foram um pouco mais expressivas, sobretudo para os animais mais erados. O valor do bezerro desmamado fechou outubro a R$ 1.015, com valorização de 1,2% sobre setembro. O garrote subiu 2,2%, para R$ 1.415, e o boi magro teve alta de 3,1%, para R$ 1.645. O preço da novilha teve acréscimo mensal de 1,2%, para R$ 1.052. Em Goiás, o mercado de reposição teve comportamento mais estável, exceto para a novilha, cujo preço recuou 3,5% em outubro, para R$ 1.042. Na Bahia, o bezerro desmamado registrou alta de 1,8% no mês passado, para R$ 1.015. Nessa mesma praça, o preço das demais categorias de reposição ficaram estáveis. No mercado de Tocantins, o animal de 6@ também teve aumento de 1,8%, segundo levantamento da Scot Consultoria, fechando o último mês a R$ 1.017. Nessa praça, a alta mais forte foi registrada para o garrote, que subiu 3,2% em outubro na comparação com o valor médio de setembro, para R$ 1.455. Em Minas Gerais, o boi magro teve alta mensal de 1,2%, para R$ 1.670, enquanto o bezerro e o garrote registraram estabilidade. Nessa praça, o valor da novilha caiu 1,7% em outubro, para R$ 1.165. n
R$ 1.645
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Mercado
Indicador do Cepea na berlinda Crítica é que ferramenta é manipulada, mas pesquisa informal aponta que 30% dos pecuaristas não informam preço de venda de sua boiada.
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Como podemos reclamar do levantamento se participamos tão pouco?” Rodrigo Albuquerque, consultor e idealizador da pesquisa
Denis Cardoso
m qualquer seminário/simpósio sobre o mercado pecuário de gado de corte, há quase sempre alguém na plateia que levanta dúvidas sobre a qualidade das pesquisas de informação de preços que resultam na formação do Indicador Esalq/B3 (antiga BM&F Bovespa) do boi gordo, elaborado pelo Cepea - Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, da USP de Piracicaba-SP (Esalq). Normalmente, os debates em torno desse assunto ficam restritos ao “calor do evento”, tendo pouco ou nenhuma influência nos trabalhos diários da equipe do Cepea, que hoje se esforça para aumentar a base de informantes que resulta na composição do índice do boi gordo e outros 24 indicadores regionais (veja entrevista com o professor Sergio De Zen, da Esalq, na pág. ao lado). No entanto, uma pesquisa recente coordenada pelo pecuarista goiano Rodrigo Albuquerque, analista do blog “Notícias do Front” (inserido no portal www.nf2r.com.br), ajuda a colocar, ordenadamente, luz sobre o tema, apontando de maneira esclarecedora o que pecuarista pensa hoje sobre os tradicionais indicadores que balizam os negócios diários envolvendo o boi gordo. “O aprendizado principal extraído dessa pesquisa é que existe muita coisa a evoluir no que chamo de ‘elo perdido da pecuária’, que é a comercialização de gado”, avalia Albuquerque, que direcionou todas as respostas do questionário à equipe do Cepea responsável pelos indicadores. Uma das consta-
Com que frequência você informa ao Cepea sobre os preços negociados?
Quem você considera que seja o atual “dono” do indicador de preço Esalq/BMF Bovespa? Sou informante, mas quase nunca informo – 31%
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tações negativas elucidadas pela enquete, segundo o consultor, é que, no universo dos 244 pecuaristas que participaram anonimamente da pesquisa – perfazendo um rebanho total de aproximadamente 1,6 milhão de cabeças, espalhadas em 11 Estados, nas cinco regiões do País –, é que 30% dos entrevistados não informam preços ao Cepea e apenas 31% deles se declararam como informante frequente (veja ilustrações abaixo). “Como podemos reclamar do levantamento se participamos tão pouco?”, indaga o consultor. A situação é ainda mais preocupante quando se analisa o perfil geral dos entrevistados: são, no entendimento de Albuquerque, grandes produtores, com média anual de rebanho de 6.615 cabeças, “muito provavelmente de nível de tecnologia médio/alto”. Apesar da baixa adesão dos pecuaristas envolvidos na pesquisa, quase 60% reconheceram a importância do levantamento do indicador do boi gordo para o seu negócio pecuário, o que, na opinião do consultor, revela uma contradição em relação ao resultado da resposta dada acima pelos produtores. Outra informação contida na pesquisa deixou o consultor goiano igualmente apreensivo: nesse universo de supostamente produtores seletos (familiarizados com o uso de tecnologias), quase a metade (48%) dos que responderam à pesquisa e que se declararam como não informantes disseram ter dúvidas sobre como se informa preços ao Cepea e que gostariam de fazê-lo. Nesse sentido, o Cepea vem criando outros mecanismos para promover o aumento mais consistente e rápido de sua base de informações, como a criação, no ano passado, do aplicativo “Cepea Boi”. “O lançamento dessa ferramenta foi um ‘gol de placa’ Você toparia pressionar o frigorífico com o qual você comercializa a informar o seu negócio ao Cepea? Frigoríficos – 31%
Não, pois receio retaliação comercial
3%
Já peço expressamente para o frigorífico informar
3%
Nunca informo, pois não sou informante – 33%
Pecuarista – 3%
Sou informante e quase sempre informo – 10%
Cadeia pecuária – 34%
Sou informante e sempre informo – 15%
BMF – 8%
Não
Sou informante e às vezes informo – 11%
Esalq/CEPEA – 24%
Sim
Com certeza, caso fosse convecido
13% 19%
Talvez
5% 56%
do Cepea, pois o aplicativo é simples, rápido, efetivo. Eu mesmo só comunico meus dados por meio dele”, afirma o consultor. Quem é o dono? Em eventos em que há espaço para debates em torno do mercado pecuário, parte dos produtores que colocam em xeque a qualidade do serviços de recolhimento de informação do Cepea apresenta como argumento para tal desconfiança um suposto “comportamento tendencioso” por parte dos frigoríficos , que estariam manipulando os dados informados para reduzir o preço pago pela arroba. A resposta a uma das questões inseridas na pesquisa elaborada por Rodrigo Albuquerque confirmou esse clima de incerteza. Questionados sobre quem seria o atual “dono” do indicador de preço Esalq/B3 , 1/3 dos entrevistados respondeu se tratar dos “frigoríficos” (veja gráfico). O consultor goiano esclarece que a responsável pelo Indicador é a B3, resposta acertada na pesquisa por apenas 8% dos participantes. “A B3 é a dona e o Cepea é a fábrica, enquanto pecuaristas e frigoríficos são os agentes fornecedores das informações, que, por sua vez, têm como cliente toda a cadeia pecuária”, elucida. Segundo Albuquerque, é preciso deixar de lado essa ideia de que o frigorífico é responsável pela distorção dos preços, tratando essa questão com uma abrangência maior, mais profunda e mais responsável. “Se a matéria prima (preços informados)
não chega em boa quantidade e qualidade na fábrica (Cepea), não há como se obter um produto final de excelência. Em vez de criticar o indicador ou a instituição centenária, o pecuarista deveria se questionar com relação ao que tem feito pela qualidade do indicador”, avalia o consultor. Outro ponto da pesquisa coloca pressão sobre o entrevistado, com a seguinte indagação: “Você toparia pressionar o frigorífico com o qual você negocia a informar o seu negócio ao Cepea? Apenas 3% disseram já ter este procedimento. Outros 3% afirmaram que não tomariam essa iniciativa, por medo de retaliação comercial. “A boa nova é que 92% disseram estar disponíveis para ajudar, desde que convencidos”, afirma. Mas, afinal, o que fazer para aprimorar a ferramenta do indicador? Para Rodrigo Albuquerque, há “dois remédios” para aperfeiçoar o modelo: o primeiro é aumentar a base de informantes; o segundo (“que seria a solução ideal”), é ter a informação de todos os negócios de abate de gado, de todas as grandes indústrias, ao Cepea, independentemente do serviço de inspeção utilizado. “Enquanto não se consegue a segunda solução, que seria a definitiva, é preciso trabalhar fortemente para aumentar a base de informantes. Isto é fundamental para toda a cadeia pecuária, inclusive para a B3, pois essa base é justamente o gargalo que estamos enfrentando no momento”, define.
Cepea esclarece e responde a críticas
de um sistema onde pessoas ganham e outras perdem. Então, logicamente, elas terão opiniões contraditórias. Acredito que algumas adequações são necessárias, mas o importante é lembrar que o indicador tem metodologia pública, com auditoria de dados, o que se traduz em transparência e confiabilidade.
Para discutir a questão do Índice Esalq/B3, que tanto preocupa, no dia 17 de outubro, um encontro na Esalq, em Piracicaba, reuniu vários representantes de classe (Sociedade Rural Brasileira, ABCZ, CNA...). Procurado depois por DBO, Sergio de Zen, professor da Esalq/USP e coordenador de pecuária do Cepea, concedeu a seguinte entrevista exclusiva. DBO – O senhor concorda que o indicador Cepea não é totalmente eficaz e que necessita de aprimoramento? Sergio – Essa afirmativa é um pouco forte e contra-
diz o peso do indicador para o mercado, que tem um processo evolutivo constante. Nessa análise, é preciso manter a imparcialidade, pois estamos falando
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48%
dos produtores que responderam à pesquisa disseram ter dúvidas sobre como se informa preços ao Cepea
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DBO – Como responde à afirmação de que existe manipulação para derrubar preços? Sergio – Temos testes estatísticos, inclusive de al-
guns analistas mais cuidadosos, que demonstram que não existe como sustentar essa afirmação. O que existe é um conflito de interesses. Agora, o universo do indicador mudou muito ao longo dos últimos 15 anos e, por isso, a amostra deve ser mais ampla, de forma a evitar qualquer tipo de tendência.
DBO – O que o Cepea já fez e ainda pretende fazer para aperfeiçoar essa ferramenta? Sergio – De 1994 até hoje, o indicador evoluiu de
Testes estatísticos não permitem afirmar que há manipulação” Sergio de Zen, coordenador de pecuária do Cepea
forma técnica e o Cepea sempre se propôs a fazer modificações e aprimoramentos. As mudanças sugeridas passam pela aprovação da Bolsa, e casos DBO novembro 2017 29
Mercado que impliquem alterações metodológicas precisam da aprovação da CVM (Comissão de Valores Mobiliários). Então, é um processo técnico e longo. Somente nos últimos 12 meses, foram incorporados mais de 1.500 produtores no universo do indicador. DBO – Uma das propostas colocadas em prática recentemente (no ano passado) foi o aplicativo “Cepea Boi”. Qual avaliação faz sobre o uso dela? Sergio – Vamos dizer que está um pouco acima das
expectativas. O País é continental e, por isso, a expansão é custosa. Demanda recursos financeiros, mas principalmente humanos. No entanto, no período de setembro de 2016, quando o Cepea Boi se consolidou como ferramenta, até meados de outubro passado, o número de colaboradores cresceu 46%, o que resultou numa base atual de informantes ao redor de 4.000 produtores. A nossa expectativa é acrescentar mais 5.000 na nossa rede de informação, o que exige um trabalho enorme. DBO – Rogério Goulart, também colunista de DBO, diz que a função principal do indicador é liquidar contratos na Bolsa e que o pecuarista só deve utilizá-lo “em último caso” e, mesmo assim, não o do dia da negociação (veja mais à página 32). Como avalia essa opinião? Sergio – Falamos que o indicador liquida contratos
da B3, mas, na realidade, hoje temos 24 indicadores regionais, ou seja, temos milhões de bois indexados nestes indicadores. O preço reportado ao Cepea, nesse caso, é o preço “spot”, que representa a compra de um número pequeno de animais que vão completar a escala. Mas concordo plenamente com o Rogério quando sugere que os pecuaristas deveriam usar o indicador regional para estimar os “ris-
30 DBO novembro 2017
cos de base”, ou seja, as diferenças entre os preços da região e os do mercado futuro. O contrato a termo é um instrumento muito bom para o planejamento do produtor, mas ele deveria ser feito com preços fixados no mercado futuro. Caso ele acredite num preço maior, pode sair dessa situação fazendo um contrato de opção de compra, criando um “corredor de segurança”, que fixa o mínimo e deixa o máximo em aberto. DBO – O consultor Rodrigo Albuquerque divulgou uma pesquisa que fez sobre os indicadores Cepea e, numa das respostas, entre os entrevistados que se declararam informantes do Cepea, 70% disseram que informam hoje com mais frequência do que faziam há três anos. Como avalia essa resposta? Sergio – Tudo é muito delicado quando falamos de
preços. Mas se trata de entender o mercado. Tomando somente São Paulo como base, temos um pouco mais de 120.000 produtores no Estado, destes, 73.000 vendem menos de 20 animais por ano. São os típicos fornecedores das empresas locais, com fiscalização no SIM [Serviço de Inspeção Municipal], e representam cerca de 3% do total de gado abatido. Na outra ponta temos 1.800 produtores que vendem mais de 350 animais por ano e representam 37% do total de abate. No centro, temos 45.000 produtores que vendem entre 20 e 350 animais ano, representando 60% do total. Então, quem forma os preços? O grupo pulverizado dos médios produtores. Que vende até quatro lotes por ano. Por isso, o produtor grande sempre terá preços melhores e vem daí a maior fonte de reclamações. Fora isso, existem eventos esporádicos que podem afetar o mercado em momentos pontuais. n
nnn Quem forma os preços é uma fatia de
60%
, de 45.000 produtores que vendem entre 20 e 350 animais por ano
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Fora da Porteira
Rogério Goulart
Use o indicador do Cepea a seu favor
A Administrador de empresas, pecuarista e editor do informativo semanal “Carta Pecuária”, de Dourados, MS.
função do Indicador Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, da Esco la Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da USP) é ser um informativo de preços com base colabora tiva. É você e eu, ao fazermos nossos negócios, informar mos espontaneamente preços e outros dados ao Cepea, que pega esses números e calcula os preços médios nego ciados do dia. É uma ferramenta de análise de mercado, de tendências, de sazonalidade. Sua razão inicial é ser usado no vencimento de cada contrato futuro como preço final do negócio que expira na Bolsa. Com o tempo, porém, essa função acabou sendo am pliada. Deixou de ser do “Cepea” e passou a ser o indica dor da pecuária. Hoje, no Brasil, não há negócio pecuário sem esse indicador. Ficaríamos sem norte. Dependería mos dos compradores de frigoríficos e de informações espontâneas dos grupos de internet para achar o valor correto do merca do do dia para cada pra ça/Estado/região. Não é fácil levantar quantidade tão grande de informa ções, algo que o Cepea, dentro da Esalq/USP, em Piracicaba, faz isso há mais de 20 anos. O indicador tem que ser valorizado pelo que ele é: um indicador neutro, sem viés; um um espelho do que acon teceu com os preços do boi gordo no País. Na minha opi nião, ele nivela o jogo, retira a assimetria da negociação, as partes se tratam como iguais. Se usado com a devida interpretação, é uma ferra menta que ajuda a decidir o mais importante no comércio de gado: vendo agora ou espero mais uns dias? O estudo do indicador dá esse tipo de resposta. E o melhor: tira do pecuarista o estresse de toda vez negociar o gado com o frigorífico, a partir “do zero”! Pessoalmente, uso e estudo o indicador há muito tem po: como pecuarista, meu primeiro negócio com boi na Bolsa ocorreu há 20 anos. De lá para cá, só compro e ven do gado totalmente influenciado pelos dados do Cepea. Como analista, faço testes nas bases de dados para checar se não há distorções. Busco vestígios de manipulação dos preços “dentro das regras”. Não achei evidência até aqui. Por isso, considero o indicador bom, útil, válido, neu tro, confiável. Enfim, um sucesso. Não é à toa que são fei tos não só negócios de compra e venda de gado, mas tam bém de aluguel de pastos e de compra e venda de terras. Até o governo usa o indicador como um dos componen tes para estudar a inflação. São, enfim, raros os confinamentos ou as vendas con tíuas de gado que não usam como base o indicador Cepea.
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Referência circular Só que isso, caro leitor, infelizmente, gerou um pro blema, estatístico, matemático, técnico, chame do que quiser. É que, ao usar o preço do indicador geramos uma referência circular. Ou seja, ele passa a ser usado como amostra de preço que ele próprio gerou e isso não pode acontecer, porque, inevitavelmente, irá excluir parte dos negócios da base de dados. Resultado: ao vender seu gado usando o indicador, você estará dependendo da “bondade” dos outros pecua ristas e frigoríficos que fecham outros negócios com ani mais que provavelmente não são tão gordos e bons quanto os seus. Você, com toda a sua responsabilidade e cuidado com a engorda do gado, deixa para que, no final, a in formação de outras pessoas determine quanto valem seus animais. Resumo da ópera: você não faz seu preço. Isso passou a ser fonte constante de enorme insatisfa ção por parte de quem vende o gado usando o indicador. O que fazer, então? A saída é buscar outras alternativas, que, de certa for ma, nos fazem voltar às origens. Deixe-me dar quatro exemplos. 1) Preço fixo futuro. Se você escolher como referên cia, por exemplo, o preço para outubro de 2018, a indús tria lhe passaria, hipoteticamente, R$ 150/@ (cotação da Bolsa no fim de outubro/2017). 2) Contrato futuro com desconto/ágio no valor. Algo como “compro seus animais para dezembro usando o contrato de dezembro menos R$ 5 ou mais R$ 5”. Você usa a Bolsa como referência e busca o melhor momento, de hoje até lá, via mercado futuro para travar os preços. 3) Preço fixo + 50% do que vier acima do combinado. Gosto desse. Tenho a vantagem de saber, com transparên cia, por quanto venderei o animal no futuro, com a vanta gem de que, se o mercado subir, não ficarei “chupando o dedo”. Vou ter metade da alta no meu bolso. 4) Média de cinco dias do indicador. Já tem preceden te: é o que a Bolsa usa para a liquidação do contrato. En tão, nas suas vendas, use a média de cinco dias em vez de usar simplesmente o indicador do dia. Não sei quem disse que vender pelo indicador é um avanço na negociação de gado. Não é. Avanço mesmo é você próprio definir a hora e o preço dos seus animais junto ao comprador, usando uma das sugestões acima para fixar os valores ou outras formas mais criativas que o mercado sugerir. Avanço é você ser dono do seu ne gócio do início ao fim. É importante pensar que quanto mais informamos os nossos negócios ao Cepea, maior a qualidade dos dados e mais robusta e consistente fica a informação que o indicador publicará. Mas ele é uma referência. Por isso, deixe de usá-lo e volte a vender, de fato, o seu gado. Pense nisso. n
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Cadeia em Pauta
Caminho repleto de pedras Os percalços que a JBS vem enfrentando este ano, desde a delação dos irmãos Joesley e Wesley em maio, parecem longe do fim. Dinheiro no caixa da JBS com vendas de ativos negociados pela JBS
Vendeu... • Operações de confinamento da Canadá.
em Alberta,
para a americana • A subsidiária irlandesa , que é controlada pela holding J&F. • A participação de 19% na empresa ao grupo mexicano •A •A
para o consórcio
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para
• Operações de carne bovina na Argentina, Uruguai e Paraguai ao Grupo Minerva
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Denis Cardoso
caminho trilhado pela JBS este ano tem sido repleto de pedras e até mesmo algumas rochas de difícil remoção. Após a divulgação da delação premiada dos irmãos Joesley e Wesley Batista, sócios da holding J&F, que controla o maior frigorífico do mundo, em 17 de maio, os obstáculos só aumentaram. Praticamente o único alívio nesse período pós-delação foi a arrecadação de R$ 6 bilhões com a venda de ativos no Brasil e no mundo para sanar uma dívida de R$ 20,5 bilhões. Em 10 de setembro, porém, a empresa dos Batista sofreu forte revés, quando Joesley recebeu ordem de prisão por parte do ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), após a divulgação de uma nova gravação com diálogos comprometedores trocados com o executivo da J&F, Ricardo Saud, que também foi preso. Ambos são suspeitos de omitir informações dos investigadores, o que quebra cláusulas do acordo de colaboração premiada firmado com Ministério Público Federal. Dessa maneira,
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Joesley perdeu, na prática, a imunidade conquistada para os crimes delatados no âmbito da Operação Lava Jato. Três dias depois, Wesley Batista, então presidente global da JBS, também teve a prisão decretada pelo juiz João Batista Gonçalves, da 6ª Vara Criminal Federal de São Paulo, acusado de se beneficiar do efeito da delação premiada no mercado financeiro (compra de dólares e a venda de ações da JBS), decisão que se estendeu a Joesley. Até o fechamento desta edição, ambos estavam presos em São Paulo. Atualmente, a JBS passa por outra turbulência, marcada pela volta do comando do patriarca da família Batista, José Batista Sobrinho, conhecido como Zé Mineiro, de 84 anos e fundador da empresa. Ao assumir a presidência da JBS, em meados de setembro, ele desagradou ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), detentor de 21,3% do controle da JBS. O banco defende a saída de familiares do clã Batista em prol de uma gestão mais profissional. Reestruturação A despeito da experiência do patriarca, o processo de reestruturação da JBS agora está depositado nas mãos do irlandês Jeremiah O’Callaghan, que desde meados de outubro ocupa a presidência do Conselho de Administração da JBS. Homem de confiança dos Batista, Jerry, como é conhecido, também é diretor de Relações com o Mercado da companhia e tem larga experiência no setor de carne bovina, acumulando passagens pelos antigos frigoríficos Mouran, de Andradina, SP, e Bordon, Campinas, SP – este detentor da marca Swift, parte do portfólio da JBS. O executivo irlandês trabalha na JBS há 21 anos, ingressando na empresa para estruturar a área de exportação, tendo posteriormente participação marcante no processo de abertura de capital da empresa em 2007. Com profundo conhecimento das operações da JBS no mundo, sobretudo nos Estados Unidos, Jerry é um dos responsáveis pela elaboração do plano de abertura de capital na Bolsa de Nova York, a Nyse. A oferta pública inicial de ações, conhecida como IPO, na sigla em inglês, da JBS Foods International estava programada para ocorrer ainda neste semestre. Em 16 de outubro, porém, a JBS solicitou a retirada do pedido de registro de IPO à Securities and Exchange Commission, que regula o mercado de capitais dos EUA. No dia seguinte, porém, a própria empresa esclareceu ao mercado que mantém a intenção de listar a subsidiária JBS Foods na Nyse em “momento mais oportuno”. Ao Valor Econômico, uma fonte próxima à JBS afirmou que a intenção é abrir o capital em 2018. Embora a empresa mantenha o otimismo em relação ao IPO nos EUA, uma coisa é certa: a série de turbulências nos últimos meses vem atrapalhando o plano de fortalecimento das operações internacionais da companhia. Com a abertura de capital consolidada, a ideia era a de que a JBS Foods, com sede na Holanda, reunisse todos os negócios da JBS, com exceção das operações de couro e carne bovina no Brasil. Hoje, os EUA represen-
Cadeia em Pauta tam mais da metade das vendas globais da companhia. Embora longe dos holofotes da Lava Jato, José Batista Júnior, o irmão mais velho de Joesley e Wesley Batista, conhecido como “Júnior Friboi”, também tem sofrido revezes em seus negócios. O empresário, que se desligou do grupo JBS em 2013 e criou a sua própria companhia, a JBJ, viu recentemente sua principal transação, a compra do frigorífico Mataboi Alimentos, efetuada há três anos, ser reprovada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Em 18 de outubro, o órgão antitruste solicitou o cancelamento em 30 dias dessa operação, alegando que o parentesco entre o dono da empresa e os controladores da JBS poderia gerar problemas de concentração no mercado de compra de gado e abate dos bovinos. Para analisar a concorrência, a Superintendência-Geral do Cade considerou a JBJ e a JBS como um grupo econômico único. Em seu parecer, o Cade destacou como um dos indicativos da atuação coordenada entre as duas companhias a eleição de Júnior Friboi para o cargo de diretor presidente interino da JBS em setembro do ano passado. A decisão também levou em conta o fato de que o pai dos irmãos Batista, José Batista Sobrinho, ter pequena participação societária da JBJ. Logo após a ordem do Cade para desfazer o negócio, o presidente do Mataboi, José Augusto Carvalho, disse que a empresa iria recorrer da decisão na Justiça.
No vácuo da JBS Ao deixar de lado as graves questões nos âmbitos político, jurídico e criminal vivenciadas pela JBS e direcionar o foco para o mercado de carne bovina, não há como não citar o caminho atualmente seguido pela principal concorrente da JBS, a Marfrig Global Foods. Enquanto a JBS retraiu investimentos e vendeu ativos, anunciando inclusive a paralisação temporária dos abates em Mato Grosso do Sul (veja na pág. 36) –, a Marfrig amplia investimentos, com a reabertura e o arrendamento de frigoríficos localizados em pontos estratégicos. O mais recente negócio, anunciado em meados de outubro, envolveu o aluguel de uma planta em Pontes e Lacerda, Mato Grosso, onde a JBS domina as operações de compra e abate de gado. Essa unidade pertence à empresa Arantes Alimentos, que está em recuperação judicial, e tem capacidade diária para 800 cabeças, ou mais de 15.000 bovinos/mês. Somente este ano, a Marfrig decidiu reabrir cinco unidades, fechadas desde 2015, como reflexo da baixa oferta de animais no mercado. São as plantas de Nova Xavantina, MT; Pirenópolis, GO; Paranaíba, MS; Alegrete, RS, e Ji-Paraná, RO. Além disso, a companhia iniciou um segundo turno de operação da unidade de Mineiros, GO. Estima-se, assim, que a capacidade de abate da companhia em 2017 poderá saltar das 170.000 cabeças/mês para algo em torno de 300.000/ cabeças/mês, alta de 75%. n
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Cadeia em Pauta Paralisação da JBS represa 70 mil bois no MS, estima Acrissul. Não houve desabastecimento para atacadistas e varejistas, mas o pecuarista teve de segurar os bois no pasto. A paralisação das sete indústrias frigoríficas da JBS no Mato Grosso do Sul entre os dias 18 e 24 de outubro chegou a frear a comercialização de até 70.000 bois gordos. A estimativa é do presidente da Associação dos Criadores de Mato Grosso do Sul (Acrissul), Jonatan Pereira Barbosa. Ele chegou a este número tomando como base uma média diária de abate de 7.000 animais e interrupção de dez dias no processo. Segundo o dirigente, o clima de insegurança do produtor diante da instabilidade dos negócios da JBS após a prisão de seus dois principais executivos – os irmãos Wesley e Joesley Batista – foi amenizado, em parte, com o aumento da comercialização de gado gordo com indústrias de Estados vizinhos. “Entre julho e setembro deste ano, o pecuarista do Mato Grosso do Sul vendeu boa parte do seu boi de capim para frigoríficos de São Paulo e do Paraná. A
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quantidade de transações foi cinco vezes superior à de igual período do ano passado”, revela. Barbosa vem percebendo uma ligeira queda no fluxo de animais do MS para as unidades JBS no próprio Estado: “O movimento de entrega para a empresa, que já representou 60% de nossos negócios, agora deve estar perto de 40%”. Antiga parceira da JBS em alianças comerciais, a Associação Sul-Mato-Grossense de Produtores de Novilho Precoce (Novilho MS) garante que seus associados não foram prejudicados com a paralisação dos abates. “O intervalo de interrupção foi muito curto. Além disso, nosso grupo sabe mapear risco e monitora o que acontece no mercado”, justifica Klauss Machareth, superintendente da entidade, que reúne 383 pecuaristas e que em 2016 encaminhou 171.267 animais para abate. Sua oferta já chegou a representar 30% do total processado na unidade 2 da JBS em Campo Grande.
A JBS anunciou a suspensão de todas suas atividades nos sete frigoríficos do MS a partir do dia 18 de outubro, alegando insegurança jurídica depois que a Justiça Estadual bloqueou R$ 730 milhões em recursos da empresa. A alegação foi o não cumprimento de compromissos assumidos para o recebimento de incentivos fiscais concedidos pelo governo sul-mato-grossense para instalações e operações de unidades industriais. A medida pôs em suspense os empregos de 15.000 funcionários dos frigoríficos no Estado. Boa parte foi para as ruas da capital, Campo Grande, em manifestações pedindo solução para o impasse. Após negociações, a JBS retomou as atividades no dia 24 de outubro, depois de oferecer bens em garantia para ter suas contas desbloqueadas. Em nota oficial, a JBS afirma que, com o acordo, será capaz de manter as condições necessárias à preservação das suas operações. As plantas da JBS processadoras de carne bovina no MS estão localizadas em Campo Grande (duas), Cassilândia, Naviraí, Anastácio, Ponta Porã e Nova Andradina. (Ariosto Mesquita)
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Cadeia em Pauta Adilson Rodrigues/Pecpress
Reynaldo Salvador (à dir.) e Fábio Medeiros (à esq), respectivamente diretor e gerente do Programa Carne Angus, com Valdomiro Poliselli, no lançamento do novo selo.
Fábio medeiros
Cortes da marca Black Angus, da VPJ, com alto nível de marmoreio.
Angus certificará carcaças por marmoreio Iniciativa pioneira é exigência do recém-lançado selo Angus Gold, para carne de alta qualidade. VPJ é primeiro projeto a conquistá-lo. Maristela Franco
A
maristela@revistadbo.com.br
tendendo a uma demanda crescente do mercado, a Associação Brasileira de Angus (ABA) lançou, dia 28 de outubro, durante o 20° Leilão Angus VPJ, de Valdomiro Poliselli Júnior, em Jaguariúna, SP, um novo selo para carnes de alta qualidade – o Angus Gold. Trata-se de uma certificação inédita no Brasil em marca racial, pois demanda não apenas a classificação dos animais por peso, idade, sexo e acabamento, mas também por marmoreio (gordura entremeada), conforme padrões estabelecidos pelo USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos). Os inspetores da ABA que trabalham nos frigoríficos credenciados pela associação farão avaliações de marmoreio preferencialmente a partir do corte do Longissimus dorsi (contrafilé), entre a 12ª e a 13ª costelas. Até o momento, esse tipo de avaliação vinha sendo realizada no País apenas para fins de pesquisa ou por amostragem.
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A primeira empresa a obter o novo selo da ABA foi a VPJ Alimentos, que irá estampá-lo nas embalagens de sua linha mais sofisticada – a Black Angus –, abastecida exclusivamente por novilhas precoces, bem acabadas, tratadas em cocho desde a desmama e abatidas com no mínimo 500 kg de peso vivo, o que permite imprimir marmoreio à carne. “Nos Estados Unidos, essas novilhas seriam facilmente classificadas com High choice, mas buscamos uma média cada vez mais próxima do Prime. Já produzimos regularmente essa carne de alta qualidade; agora, com o selo Gold criado pela ABA, nosso produto poderá se distinguir conceitual e efetivamente dos demais disponíveis no mercado”, explica Valdomiro Poliselli. A linha Black Angus da VPJ é destinada a hotéis, restaurantes de alta gastronomia e empórios especializados. Prateleira de cima Segundo Fábio Schuler Medeiros, gerente sênior nacional do Programa Carne Angus Certificada, a ideia de criar um selo específico para cortes de alta qualidade já vem sendo discutida há alguns anos, mas somente agora se chegou às condições adequadas de lançamento. “Os consumidores estão cada vez mais exigentes e dispostos a pagar por produtos de maior valor agregado. Não podíamos ficar alheios a essa tendência, por isso decidimos diferenciar animais de padrão superior dentro do rebanho certificado pelo Programa Carne Angus. Eles receberão o selo Gold e os demais continuarão sendo denominados Premium”, explica o executivo, informando que várias outras empresas, além da VPJ, estão interessadas na nova grife, já devidamente autorizada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. A carne Angus Gold, segundo Medeiros, irá se posicionar na prateleira de cima das marcas comerciais disponíveis no mercado, pois terá protocolo de produ-
ção exigente. Além de passar pela análise de padrão racial normalmente feita pelos técnicos do programa da ABA – são certificados somente bovinos com no mínimo 50% de sangue Angus, mochos, sem cupim e bem caracterizados em termos de pelagem –, os animais terão de ser jovens, apresentando apenas “dentes de leite”, no caso de machos inteiros e castrados meio-sangue, ou até dois dentes incisivos definitivos, no caso dos castrados ou fêmeas com no mínimo 62% de genética Angus. O protocolo do selo Premium é mais tolerante com os meio-sangue, aceitando animais de até dois dentes, se forem machos castrados, e até quatro dentes, se forem fêmeas. Outra exigência para obtenção do selo Gold é que os bovinos tenham no mínimo acabamento uniforme (6 a 10 mm de espessura de gordura subcutânea), enquanto o Premium admite acabamento mediano (3 a 6 mm). O novo selo também tem como crivos: um pH final da carcaça de no máximo 5,79; coloração da carne atraente para o consumidor, com tonalidade rubi brilhante; ausência de contusões ou falhas operacionais nas peças; excelência na apresentação visual dos cortes e no mínimo modest marbling (nível modesto de marmoreio), o que já coloca essa carne no topo da pirâmide de qualidade. Nos Estados Unidos, apenas 15% atingem esse escore. Acima dele, se encontram apenas os níveis moderate marbling (Choice + ), que representa 5% do total, e significant marbling (Prime), com suas subdivisões slightly (ligeiramente), moderately (moderadamente) e abundant (abundante), com 3% da produção. Como será medido Para viabilizar a medição de marmoreio em escala comercial dentro do Programa Carne Angus Certificada, a ABA firmou parceria com a Universidade de São Paulo, campus de Pirassununga, visando à capacitação de seus técnicos. O curso, ministrado pela professora Angélica Pereira, apresentou não apenas conceitos teóricos, mas, principalmente, orientações práticas sobre medição da gordura intramuscular, que hoje pode ser feita automaticamente nos Estados Unidos, com equipamento apropriado, mas no Brasil ainda dependerá de observação visual. Os técnicos utilizarão padrões fotográficos oficiais do USDA, que foram importados pela ABA para uso, inicialmente, na unidade de desossa da VPJ Alimentos, em Pirassununga, SP. “Mais unidades industriais serão habilitadas à medida que outras marcas certificadas pelo programam forem demandando o novo selo”, diz M edeiros. A avaliação de marmoreio é feita após 24 horas de resfriamento das carcaças, que deverão ter sido previamente aprovadas, tanto do ponto de vista sanitário quanto de acabamento (mínimo gordura uniforme). Como esse corte fraciona o contrafilé, inviabilizando sua venda para mercados que demandam peças inteiras, o protocolo operacional do Angus Gold permite que esse procedimento seja feito, alternativamente, entre a 11ª e a 12ª costelas ou entre a 10ª e a 11ª, dependendo
do mercado ao qual o produto se destina. Além da análise de marmoreio, o inspetor da ABA fará, na sequência, medições de pH, usando equipamento específico, e análise de cor da carne, também com base em padrões fotográficos. Valorizando terroirs Se as carcaças forem aprovadas, receberão o carimbo “AG” (Gold). Em caso negativo, serão identificadas com a letra “a”, que simboliza Premium. Produtos que não se enquadram em nenhuma dessas classificações levam o carimbo @, podendo ser destinados à fabricação de produtos industrializados (enlatados, hambúrgueres, carne cozida), com direito ao selo Angus. Carcaças de machos inteiros com quatro ou mais dentes definitivos, independentemente de seu peso e acabamento de gordura, são automaticamente desclassificadas dentro do programa, mas podem ser comercializadas normalmente no mercado de carne commodity. A ABA já pensa em criar novos selos para diferenciação de outros produtos especiais. “Queremos valorizar os diferentes terroirs (sistemas de produção) da carne Angus”, salienta Fábio Medeiros. É o caso dos produtos de fêmeas F1 Nelore-Angus inseminadas com Ultrablack, que terão 66% de sangue britânico. Valdomiro Poliselli, um dos primeiros a investir nesse tipo de cruzamento no Brasil complementa: “Esses animais serão obtidos nas condições do Centro-Oeste, terminados em confinamento, e fornecerão carne de qualidade muito próxima à do animal puro. Por isso, merece um selo somente para eles”. n
nnn
40% da carne produzida nos EUA é classificada como Select;
37% Choice –
(pouco marmoreio);
15% Choice
(marmoreio modesto);
5% Choice +
(marmoreio moderado) e
3% Prime
(marmoreio abundante, moderadamente abundante e ligeiramente abundante).
nnn
“Réguas” de avaliação do grau de marmoreio
Prime + (Abundant) 1
Prime (Mosderately Abundant) 2
Prime – (SlightlyAbundant) 3
Choice + (Moderate) 4
Choice (Modest) 5
Choice – (Small) 6
1 Prime + (marmoreio abundante), 2 Prime (marmoreio moderadamente abundante), 3 Prime – (marmoreio ligeiramente abundante), 4 Choice + (marmoreio moderado), 5 Choice (marmoreio modesto), 6 Choice – (pouco marmoreio). Fonte: USDA.
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Cadeia em Pauta
Cada vez mais sustentável fotos andré dib
Protocolo firmado em torno do boi pantaneiro permite assinatura de parcerias para ampliar a produção de carne bovina com selo do Pantanal
No Pantanal, as comitivas de boiadeiros ainda fazem parte da paisagem
O que não falta no Pantanal é capim para dar de comer ao gado” Leonardo Leite de Barros, da ABPO
Marina Salles
O
marina.salles@revistadbo.com.br
Pantanal está entre as maiores planícies alagadas do mundo, onde duas estações bem definidas, uma de chuvas e outra de seca, dão o tom da paisagem que se estende desde Mato Grosso do Sul até Mato Grosso, alcançando também Bolívia e Paraguai. Entre fevereiro e outubro, a maior parte da área de 210.000 km² fica submersa e, no vaivém das águas, 4.700 espécies de plantas e animais convivem em harmonia. Há 250 anos, o boi ganhou espaço nesse santuário ecológico. Em grandes propriedades, com lotação média de uma a duas cabeças/hectare, o “bombeiro” do Pantanal, como ficou conhecido, evita que na seca as pastagens de capim nativo cresçam demais e peguem fogo, ameaçando o restante da vegetação. E foi essa convivência harmônica entre bovinos e o bioma que motivou a elaboração do protocolo da carne sustentável do Pantanal, assinado no dia 3 de outubro no restaurante Nambu, em São Paulo, capital, pela Associação Brasileira de Produtores Orgânicos (ABPO) e a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e que pode ser acessado pelo link: https://goo.gl/ZAYRhj. A certificação, concedida pelo Instituto Biodinâmico (IBD), foi inspirada no protocolo da carne sustentável da Korin, empresa brasileira que segue os preceitos da agricultura natural do fundador da Igreja Messiânica, Mokiti Okada. De acordo com a organização não-governamental WWF (World Wildlife Fund) - que firmou parceria com a ABPO em 2003, defendendo a preservação do bioma associada à cultura do homem pantaneiro -, a atividade pecuária está entre os motivos que explicam o alto percentual de preservação da vegetação original do Pantanal:
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82%, contra 60% da Amazônia, 50% do Cerrado e 12% da Mata Atlântica. Segundo a Embrapa, no Pantanal, há mais de 200 espécies de gramíneas com maior e menor potencial para a alimentação de bovinos. História Leonardo Leite de Barros, atual presidente da ABPO, que congrega 18 produtores com rebanho de 80.000 animais em 115.000 hectares de área, afirma que a formalização do protocolo e do selo Carne Sustentável ABPO contribuirá para que a produção de carne certificada no Pantanal tenha um incremento ainda em 2017, indo de 700 para 1.000 cabeças/mês até o fim do ano. Em 2001, quando a ABPO foi fundada, a produção do boi orgânico apenas começava. De olho no mercado externo, o extinto Frigorífico Independência foi o primeiro a apostar nesse nicho, que também teve como precursor o cantor Almir Sater, com o projeto Vitelo Pantaneiro. Nenhuma das iniciativas vingou e, em 2005, a ABPO, do MS; a Associação Brasileira dos Produtores de Animais Orgânicos, do MT, e a JBS firmaram uma aliança que chegou a abater 2.000 bois/mês, mas que, em razão de dificuldades comerciais definhou, até ser encerrada, em 2013. Com a entrada da Korin no mercado de carne bovina, em 2011, a pecuária pantaneira ganhou nova opção, além da carne orgânica. “Nosso desejo sempre foi o de produzir o boi orgânico, mas com o boi sustentável fomos construindo essa cadeia”, afirma Reginaldo Morikawa, diretor superintendente da empresa. Desenhado junto à ABPO, o projeto da Korin no Pantanal culminou com o lançamento da carne sustentável em outubro de 2014 (a partir de um protocolo criado pela própria marca) e da carne orgânica, em abril de 2016. Leonardo Leite de Barros entende que, desde que resguardada a vocação do bioma para a pecuária extensiva, a adesão de novas empresas à comercialização de carne do Pantanal, seja ela orgânica ou sustentável, é bem-vinda. “O sonho da ABPO foi e continua sendo levar para o consumidor da cidade a carne pantaneira, que tem uma história secular envolvendo a relação do homem com um território”, diz Barros. Hoje, da produção de 700 cabeças/ mês pelos associados, metade é orgânica, metade sustentável. “Com o protocolo, novos clientes, além da Korin, poderão explorar o nicho do boi sustentável”, acrescenta Barros. A rede de supermercados Zaffari, a Wessel, de hambúrgueres, e o açougue Taurino’s são alguns dos interessados em fechar parceria com a associação. No momento, somente o Naturafrig, de Rochedo, MS, faz o abate dos animais certificados. Mais flexível do que a legislação para produção de orgânicos, o protocolo do boi
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Determinações do protocolo da ABPO Os animais têm que... ✔ Ter, necessariamente, nascido no Pantanal. ✔ Ter permanência mínima de 180 dias na propriedade certificada antes do abate. ✔ Ser livres de tratamento com ionóforos, antibióticos e promotores de crescimento. ✔ Ser livres de tratamento preventivo com medicamentos sintéticos e alopáticos.* ✔ Ser identificados individualmente conforme preconiza o Sisbov. A fazenda tem que... ✔ Estar em total conformidade com o Código Florestal Brasileiro e com o Cadastro Ambiental Rural.
✔ Apresentar programa de uso do solo, com alocação e descrição completa das áreas produtivas e de preservação ambiental. ✔ Ter taxa de lotação ajustada para evitar compactação do solo. ✔ Adotar práticas produtivas que respeitem e promovam a biodiversidade. ✔ Ter um plano de recuperação para áreas degradadas ou em risco de degradação. ✔ Realizar o tratamento de todos os efluentes domésticos utilizando fossas sépticas. *É permitido o uso deles caso o animal apresente agravamento do quadro clínico com risco de morte ou sofrimento, mas somente em até três ocasiões.
sustentável da ABPO não veta necessariamente o uso de ureia na alimentação dos animais nem o uso de vermífugos sintéticos de forma preventiva até que eles atinjam idade de 15 meses. As exigências, segundo Morikawa, são diferentes, e embora também haja zelo pelo bem-estar animal no caso do boi sustentável, o orgânico precisa seguir regras mais estritas. Uma delas é dar o tempo de 40 minutos para que os animais se ambientem ao caminhão antes de o veículo seguir para o frigorífico. Validação da FPS Para atestar o quão sustentáveis são as fazendas integrantes do programa, será usada a ferramenta Fazenda Pantanal Sustentável (FPS) desenvolvida pela Embrapa Pantanal, de Corumbá, MS. Jorge Antônio Ferreira de Lara, chefe-geral da unidade, explica que, para dar uma nota geral para cada propriedade, a ferramenta congrega critérios econômicos (baseados nos índices zootécnicos das fazendas e em sua rentabilidade), ambientais (de
Case da Korin
Quando conhecemos a produção no Pantanal, nos encantamos” Reginaldo Morikawa, da Korin
Primeira empresa a ter um protocolo de carne sustentável produzida no Pantanal, a Korin foi fundada em 1994 pela Igreja Messiânica do Brasil com o objetivo de produzir alimentos de forma conservacionista. No início, se destacou pela produção de frangos orgânicos. Para lançar suas linhas de carne vermelha, sustentável e orgânica, investiu cerca de R$ 2 milhões. Diretor-superintendente da empresa, Reginaldo Morikawa explica que, ao entrar no mercado de carne bovina, a dificuldade era pagar ao produtor um prêmio pela carcaça e vender todos os cortes, com exceção do traseiro, sem diferencial de preço. Abatendo hoje cerca de 260 animais orgânicos (machos e fêmeas)/mês e 260 novilhas sustentáveis/mês, o que totaliza cerca de 120.000 toneladas/ano, a empresa passou a ter escala para segregar alguns subprodutos da indústria frigorífica,
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Marina Salles
Cadeia em Pauta
Em São Paulo, autoridades se reuniram para prestigiar a assinatura do protocolo da carne sustentável do Pantanal
qualidade da água, diversidade da flora e fauna) e de inclusão social (obrigatoriedade da carteira de trabalho e uso do homem pantaneiro na lida do campo). A validação da FPS está em curso e, por meio do acompanhamento da Embrapa Pantanal junto a 20 produtores do Mato Grosso e 20 do Mato Grosso do Sul, a previsão é de que seja incorporada oficialmente ao Programa de Carne Sustentável da ABPO em 2019. “Não necessariamente os índices que nós definirmos hoje vão ser os finais, mas nossa preocupação é manter os princípios fundamentais”, afirma Lara. O principal deles é respeitar a individualidade das fazendas que, no Pantanal, são muito heterogêneas. Atualmente, o trabalho de transferência de tecnologia da Embrapa Pantanal no bioma está calcado na adaptação da desmama precoce e inseminação artificial em tempo fixo (IATF) à realidade local; e no estudo de como a substituição de pastagens nativas por pastagens cultivadas de outras regiões, a braquiária sendo mais comum, pode ser benéfica para a produção pecuária sem causar prejuízos ao ecossistema. Ainda assim, a intensificação tem um limite claro. “No Pantanal, em um período do ano as terras ficam submersas, então você não pode ter uma lotação muito alta, sob pena de ter que tirar o animal do pasto ou ele morrer de fome lá dentro”, diz Lara n como couro, ossos e sangue. A fim de dar destino ao dianteiro, lançou ainda uma linha de processados em que comercializa hambúrgueres, quibe, almôndega e carne moída - o que ajuda a baratear, inclusive, o preço dos cortes mais nobres, que, aos poucos, deixam de carregar o ônus do restante da cadeia. Os pontos de venda da carne vermelha da Korin chegam a 250 entre as capitais São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. O custo do produto sustentável é, em média, 10% maior do que o de uma carne com procedência vendida no supermercado, e a carne orgânica custa de 20% a 30% mais do que a sustentável. De acordo com Morikawa, o prêmio pago ao produtor pelas fêmeas sustentáveis hoje é de 6% a 8% sobre a cotação da arroba do boi gordo em Campo Grande, MS. No caso do orgânico, tanto para machos como fêmeas, isso sobe para 10%. Nos próximos dois anos, a expectativa da Korin é dobrar a produção de carne vermelha, chegando a 240.000 t/ ano.
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Angus alcança índices inéditos em Bataguassu
A
edição 2017 do concurso de carcaças Angus, realizado pela Associação Brasileira de Angus (ABA) no dia 26 de outubro, na unidade da Marfrig em Bataguassu, MS, apresentou resultados inéditos. Pela primeira vez desde que o concurso teve início, em 2003, dois lotes de fêmeas meio-sangue Angus obtiveram a pontuação de 100%, o escore máximo de desempenho. As duas carcaças campeãs pertencem ao criador Wilson Brochmann, proprietário da Agropecuária Maragogipe, de Itaquiraí, MS. Como critério de desempate, a comissão julgadora adotou o peso médio por animal e a vitória foi para o lote 16, que registrou 313 kg/carcaça (20,8@) e rendimento de 58,4%. O lote 17, que também atingiu a nota máxima, ficou em segundo lugar por ser um pouco mais leve, com 304 kg/carcaça (20,2@) e rendimento de 57%. A Agropecuária Maragogipe, que agora ostenta o título de pentacampeã no concurso de Bataguassu, também fez dobradinha nos machos. O lote campeão foi o de número 7, com 99,25 pontos, com 390 kg/carcaça (26@) e rendimento de 61,5%. Na sequência, o lote 8, que atingiu 355 kg (23,72@) e 59,7% de rendimento, obteve 98,5 pontos. Os animais apresentados pela Maragogipe tinham entre 13 e 14 meses. O terceiro lugar dos machos e fêmeas foi conquistado pela propriedade de Thereza Tie Kikuti Hoshika e Outros, com o lote 1 (326 kg/carcaça e 21,7@) nos machos, e o 18 (259 kg/carcaça e 17,2@) nas fêmeas. Foram 1.425 animais avaliados, divididos em 35 lotes de 20 propriedades. As médias foram maiores do que as do ano passado: os machos alcançaram 21,9@, ante 21@ da edição anterior, e as fêmeas pesaram 17,2@, ante 16,9@ de 2016. Capricho no acabamento Wilson Brochmann, o maior campeão dos concursos de carcaças em Bataguassu, comemorou o incremento substancial de peso em relação à disputa de 2016. O lote campeão de machos pesou, na média, 46 DBO novembro 2017
Dois lotes de fêmeas meio-sangue obtiveram pontuação máxima.
47 kg a mais do que o lote do ano anterior, enquanto o de fêmeas teve incremento de 33 kg em relação ao de 2016. A conquista, garante ele, é resultado de um trabalho de muitos anos no cruzamento industrial, pautado por dois grandes pilares relacionados à genética: o melhoramento das fêmeas Nelore, por meio de parceria de 17 anos com a DeltaGen, e a escolha minuciosa de sêmen de touros Angus melhoradores. “As mães dos animais deste ano são melhores do que as do ano passado e as de 2018 serão melhores ainda”, garante o criador. Outro diferencial foi o ajuste na alimentação dos animais, que elevou o ganho de peso tanto no período de creep feeding quanto no do confinamento. “Fizemos mudanças na alimentação em novembro de 2016, um trabalho que está próximo de completar um ano. Os animais abatidos nesse concurso de carcaça são dessa nova geração”, ressaltou Brochmann. A Maragogipe tem 26.000 cabeças divididas em cinco fazendas: quatro delas no Mato Grosso do Sul (três em Itaquiraí e uma em Iguatemi) e uma no Rio Grande do Sul (Camaquã).
Cadeia em Pauta São Paulo modifica calendário de vacinação contra aftosa A Defesa Agropecuária do Estado de São Paulo vai ajustar o calendário de vacinação contra a febre aftosa com os Estados fornecedores de gado a partir de maio de 2018. De acordo com Fernando Buchala, coordenador da área, tem início em novembro a segunda fase da campanha de vacinação, e em maio de 2018 o Estado terá duas campanhas “cheias”, quando 11 milhões de bovinos deverão ser imunizados, ou seja: o pecuarista terá que vacinar todo o rebanho em duas campanhas seguidas. “Em novembro de 2018, apenas os animais até 24 meses serão imunizados. Desta forma adequamos o nosso calendário ao já adotado pelos Estados de Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Paraná e Minas Gerais”, explicou.
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A medida vai evitar problemas com animais de recria, por exemplo, que precisavam passar por vacinações assistidas (com a presença de técnicos da Defesa Agropecuária) caso entrassem em São Paulo após o mês de maio, para evitar que ficassem com o programa de imunização incompleto e só voltassem a ser vacinados um ano e meio depois de ter recebido a primeira dose no Estado de origem. “Também atenderemos a uma demanda do Conselho Nacional de Pecuária de Corte, que afirma que a vacinação das matrizes em novembro afeta a eficiência da IATF durante as estações de monta. Agora poderemos reduzir estes riscos.” O anúncio foi feito no dia 1º de novembro, durante o lançamento da segunda etapa da campanha de vacinação contra a febre aftosa na Fazenda Jacutinga 1, em Flórida Paulista, de propriedade da pecuarista Teresa Cristina Vendramini, diretora executiva da Sociedade Rural Brasileira.
Decreto centralizará inspeção animal A Operação Carne Fraca, deflagrada em março pela Polícia Federal, acendeu o debate sobre a inspeção dos frigoríficos no Brasil e deve impulsionar a aprovação, nas próximas semanas, de um decreto que centraliza na sede do Ministério da Agricultura o controle dos fiscais que atuam nos frigoríficos e fábricas de alimentos de origem animal. O objetivo, segundo informou Luís Eduardo Rangel, secretário de Defesa Agropecuária do ministério ao jornal Valor Econômico, é acabar com a excessiva hierarquia que existe hoje na tomada de decisões nesse segmento. Com a mudança, a prerrogativa de comandar os fiscais, que antes era das superintendências estaduais do ministério _ principais alvos da Operação Carne Fraca _ passará a ser do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal (Dipoa).
• Intensificação em vários níveis • Onde se erra mais na adubação • Percevejo-castanho, o duro de matar. • Troca de cultivar exige critério • Ministério exigirá sementes mais puras • Aplicativo aponta saldo forrageiro APOIO:
UNIPASTO: TRABALHANDO PELA EXCELÊNCIA DE CADA SEMENTE.
UMA PARCERIA: Baixe o app
A Associação para o Fomento à Pesquisa de Melhoramento de Sementes Forrageiras – Unipasto, agrega mais de 31 empresas e produtores de sementes de forrageiras localizados nos Estados da Bahia, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e São Paulo. Fundada em 2002, a partir da parceria firmada com a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), a Unipasto atua em prol da pesquisa científica para o lançamento de novas cultivares forrageiras e tecnologias para diversificar e fortalecer o desempenho da agropecuária nacional. Em conjunto com a Embrapa, a Unipasto contribui para que o setor de sementes forrageiras participe efetivamente nas elaborações e implementações de leis e normas, através das entidades oficiais reguladoras do mercado de sementes, além de promover um ambiente de negócios mais competitivo e justo para produtores e mercado. Nosso objetivo visa a excelência das sementes forrageiras nacionais, trabalhando na busca de soluções no combate à pirataria sobre a multiplicação e a comercialização ilegal de cultivares protegidas. Na busca constante em inovação e tecnologia, a Unipasto fez uma parceria com a CEPTIS Agro, que detém o direito de uso da tecnologia suíça de autenticação e rastreamento, e desenvolveu em projeto inovador no agronegócio nacional. A Semente Legal alia uma etiqueta de segurança autenticável e inviolável, com um sistema de rastreamento e controle seguro da cadeia. Mais que uma solução, a Semente Legal é também uma campanha que visa proteger as cultivares contra a pirataria e o comercio ilegal de sementes forrageiras.
ASSOCIADOS OURO
(65) 3311-4777
(67) 3355-5353
(62) 3295-4466
(19) 3227-2066
(62) 3291-4451
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(18) 3653-2727
(77) 3628-1571
(16) 2111-1500
(34) 3281-4818
(67) 3354-5555
(62) 3297-7350
(67) 3358-5400
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(16) 2111-0505
AUTORIZADOS
(67) 3351-6699
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(19) 3227-2066
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Especial Pastagens Especial Pastagem
Intensificar é “costurar” sistemas
Fotos: Renato Villela
Projeto no sul do Pará, o “Eldorado” da pecuária, confirma tendência de intensificação na região, integrando diferentes sistemas de manejo de pastagens e insumos.
Da esquerda para direita, o consultor Arley Siqueira, o produtor Edimilson Duarte, seu filho Edimilson Jr., e o consultor Caio Ramos.
O
Renato Villela renato.villela@revistadbo.com.br de Marabá, PA
sul do Pará foi visto, durante muito tempo, como o “Eldorado” da pecuária de corte brasileira. Apesar das dificuldades logísticas, a região reunia condições extremamente favoráves à criação de gado – vastas extensões de terras baratas, solos naturalmente férteis, alta luminosidade, chuvas quase o ano todo. Essas condi-
A DBO 52 DBOnovembro novembro2015 2017
ções atraíram muitos produtores, especialmente do Sul e Sudeste, mas, nos últimos anos, o “Eldorado” paraense perdeu um pouco o brilho. Devido à exploração extensiva, muitas pastagens se degradaram; a oferta de terras baratas diminuiu e o clima já não é assim tão generoso. Secas atípicas e prolongadas têm surpreendido os pecuaristas, deixando-os sem pasto para o rebanho. Neste novo cenário, estão surgindo projetos de intensificação de pastagens cada vez mais tecnificados, que buscam explorar melhor as potencialidades
da região (ainda bastante atrativas), sem usar a velha cartilha do machado, fogo e superpastejo. A busca incessante – e inócua – por novas áreas tem cedido lugar à intensificação e, acreditem, usando inclusive irrigação, que até pouco tempo era considerada desnecessária no Pará. A Fazenda Valadares, em Marabá, 684 km ao sul da capital paraense, ilustra bem esse processo evolutivo, com seus percalços e conquistas. Voltada à seleção de gado Nelore para venda de tourinhos e à recria/engorda de machos comerciais, por muitos anos essa fazenda ostentou produtividade pouco superior à média regional de 3 @/ha/ano, explorando suas pastagens de forma extensiva, quase sem aporte tecnológico, mas, em 2013, assumiu nova trajetória. Cansado dos modestos índices de rentabilidade que vinha obtendo e disposto a explorar ao máximo o potencial de suas terras, o proprietário da Valadares, Edimilson Dias Duarte, decidiu dar uma guinada em seu projeto pecuário. Usando diferentes sistemas de manejo de pastagens e insumos, que se ajustam às demandas das diferentes categorias animais e à capacidade de investimento da fazenda, ele conseguiu incrementar a lotação da fazenda em 38,2%. De 2.350 cabeças, em 2014, o rebanho passou para 3.250, em 2016. Com isso, a produtividade média mais que dobrou, subindo de 16 para 38,3 @/ha/ano, resultado excelente para o País. E melhor: com custo viável. Olhar sistêmico A caminhada rumo à intensificação na propriedade tem sido lenta, porém segura. Com auxílio da empresa Alcance Consultoria e Planejamento Rural, de Montes Claros, MG, Duarte adotou quatro sistemas de produção a pasto: rotacionado irrigado/adubado, que pode ser definido como o nível mais intensivo, porém de menor escala (49 ha, cerca de 6% dos 900 ha formados com capim); rotacionado de sequeiro adubado, presente em 50% da área (454 ha); pastejo alternado com adubação leve (181 ha; 20% do total) e pastejo contínuo sem adubação (216 ha, que correspondem a 24%). O sistema desta última área não é totalmente extensivo, pois já recebeu melhorias, como divisões de piquetes e bebedouros. No primeiro sistema, a produtividade, em 2016, foi bastante alta: 104@/ha. No segundo, chegou-se a 41,4@; no terceiro, a 33@ e, no quarto, a 14,5@/ha. A lotação ficou, respectivamente, em 9, 4, 3 e 1,7 UA/ha. Vistos isoladamente, esses números podem levar à seguinte conclusão: “quanto mais intensificado for o sistema, melhor”. Trata-se, contudo, de uma ideia precipitada, pois é a junção dos três sistemas que dá funcionalidade ao projeto da Valadares, como mostraremos ao longo desta reportagem. Devidamente integrados, eles se autosustentam. Este, aliás, é um dos maiores diferenciais da propriedade: seu olhar sistêmico. Seria fantástico irrigar e adubar toda a fa-
zenda, por exemplo, mas essa medida drástica elevaria muito os custos, aumentaria perigosamente a dependência de insumos e exigiria investimentos em infraestrutura ou gado acima da capacidade de desembolso do produtor. Com três sistemas diferentes de exploração, a fazenda pôde avançar de forma planejada rumo à intensificação. Começar, contudo, não foi fácil. Primeiro, Duarte, um produtor metódico e cauteloso (veja quadro à pág. 56), teve de se conscientizar de que estava tomando o caminho certo. A natureza lhe deu o estímulo decisivo. Começo difícil Duarte comprou a primeira gleba da Fazenda Valadares – batizada com esse nome em homenagem a sua cidade natal, Governador Valadares, no Vale do Rio Doce, norte de Minas Gerais – quando ainda era um jovem produtor, em 1986. Hoje, a propriedade soma 1.200 ha, sendo 900 de pastagens. Pode ser classificada como de porte médio, para os padrões da região Norte. Sem muita escala, o produtor viveu um verdadeiro drama, no final dos anos 1990, que acabaria se tornando o marco inicial de seu projeto de intensificação. As pastagens começaram a secar, vítimas da síndrome da morte da braquiária, mais conhecida por morte súbita do braquiarão, nome popular da Brachiaria brizantha cultivar Marandu, capim mais atingido pelo problema. “Eu plantava e o capim morria”, relembra Duarte. De uma hora para outra a propriedade, que era toda formada com braquiarão, viu sua capacidade de suporte despencar. “Comecei a diminuir a lotação. E, cada vez, as pastagens sustentavam menos gado. Pensei: vou quebrar”. De 2000 a 2005, o produtor reuniu esforços e recursos para substituir o Marandu pelo Mombaça. Reformando 200 ha por ano e aplicando pequena quantidade de fósforo nas novas pastagens, ao final do quinto ano Duarte se viu diante de outro problema, comum em áreas recém-reformadas que não têm manejo adequado mapa região do pará
Belém
Marabá
nnn
Fazenda Valadares
Localização: Marabá, PA. Área total: 1.200 ha Área de pastagem: 900 ha Atividades: seleção e recria/ engorda de gado comercial Rebanho: 3.700 animais Produtividade média: 38,3 @/ ha/ano Lotação média: 3,7 UA/ha
nnn novembro 2017 DBO
53
Especial Pastagem
Touros PO são vendidos aos 24 meses com peso médio de 600 kg.
Meta é chegar a 5.000 animais em 2019
Lote de bezerros recém-comprados na praça de alimentação do rotacionado.
de adubação: a primeira gleba plantada já dava sinais de degradação. “Invasoras, perda de peso por animal, diminuição da capacidade de suporte; veio tudo a reboque”, conta. Mais uma vez acuado pela queda na produção e na renda, o pecuarista lançou mão de outra estratégia: comprar boi e “dar de parceria” para terminação na fazenda de produtores vizinhos. Fez isso por cinco anos, de 2008 a 2012, quando foi vencido pela insatisfação. “O ganho de peso era muito desigual entre os animais”, explica. A chance de virar o jogo, ou “arremeter o avião”, como diz, veio por meio de uma oportunidade rara que lhe bateu à porta: a compra de uma área de 143 ha de pastagem degradada. Desta vez, no entanto, a história tomaria outro rumo. “Decidi que faria diferente; usaria técnicas adequadas de manejo de pasto para trazer meu gado de volta”. Primeiro passo da intensificação Mais do que um ponto de partida, esses 143 ha se tornariam um projeto piloto dentro da propriedade. Estruturados em três módulos de 60, 54 e 24 hectares, subdivididos em seis piquetes (decisão que seria revista posteriormente), a área foi inicialmente destinada à engorda de machos inteiros. Quando comprou os garrotes, em 2012, Duarte estimou, de forma
Evolução do projeto de intensificação da propriedade Ano
Área adubada (ha)
Nº de cabeças
Produção (@/ha/ano)
2014
143
2.350
16,20
2015
485
2.780
21,80
2016
635
3.250
38,31
2017
735
3.700
42,52
2018
800
4.300
51,15
850
5.000
60,83
2019 1Dados
54 DBO novembro 2017
parciais até junho de 2017; 2Metas a serem alcançadas
conservadora, que conseguiria amortizar o dinheiro investido no prazo de seis anos, engordando 2,5 UA/ ha. Com a adubação de parte da área, conseguiu obter lotação de 3,5 UA/ha no sistema rotacionado. O mercado também deu uma ajudinha. “Oito meses após colocar o gado no pasto, o valor da arroba passou de R$ 90 para R$ 120. Com isso, meu payback (retorno sobre investimento), caiu para dois anos e meio”. Como não poderia deixar de ser, o produtor ficou empolgado. “Vi que a intensificação era melhor do que eu imaginava. Antes de completar um ano, dobrei a área adubada”, recorda-se. Diante de resultado tão promissor, é natural o desejo de “adubar a fazenda inteira”, como considerou Duarte, mas era preciso conter o ímpeto. “Nos projetos de intensificação, muitas vezes o produtor investe pesado na adubação, mas se esquece de que precisa colher aquela massa forrageira que produzirá a mais. Ou seja, precisa investir na compra de gado. Do contrário, jogará dinheiro fora”, pondera Arley Siqueira, zootecnista da Alcance Consultoria, que presta assistência à fazenda. A ressalva, mesmo parecendo óbvia, é fundamental para quem está começando a intensificar e tem caráter muito afoito. Além disso, antes de iniciar a adubação, é preciso responder algumas perguntas importantes: “Qual sistema rotacionado é mais indicado para as diferentes categorias animais? É melhor trabalhar com lotação alta ou baixa? Qual quantidade de adubo é indicada por hectare?”. Para cada categoria, uma estratégia O primeiro passo para a montagem do novo modelo produtivo, iniciado em 2014 com o auxílio da Alcance Consultoria, foi estabelecer uma meta futura – aumentar o rebanho para 5.000 animais até 2019 (veja tabela ao lado). Para atingir essa meta ambiciosa, traçou-se um plano estratégico de intensificação gradativa das pastagens de sequeiro. “O crescimento da área adubada, ano a ano, tem acompanhado a previsão
Vacas se revezam nos piquetes alternados
de aumento do rebanho na propriedade”, explica Caio Felipe Pereira Ramos, também consultor da Alcance. Assim como na área-piloto de 143 ha, outras partes da fazenda foram estruturadas em módulos, piqueteadas para rotação e munidas de bebedouros. Para isso, foi perfurado um poço artesiano, que bombeia água para um reservatório com capacidade para 250.000 litros, e que atende 80% do rebanho. Os demais bebedouros são abastecidos por água de uma nascente. O manejo e nível de adubação dos módulos de pastejo de sequeiro dependem da categoria animal alojada. A maioria, novilhas e matrizes em produção, incluindo primíparas, ficam em módulos de alternado (revezamento entre dois piquetes, a cada período de 20 ou 30 dias). Trata-se de uma opção pessoal de Duarte, que ainda torce o nariz quando ouve falar de rotacionado para vacas de cria. “Acontecem muitos acidentes com os bezerros nas áreas de lazer, porque normalmente a lotação é muito grande. Na minha opinião, esse tipo de sistema não funciona para matrizes paridas”, diz. A taxa de lotação nessa área, que atualmente soma 181 ha, é de 3 UA/ha. Ela é subdividida em sete módulos de 17 a 30 ha, que sustentam cerca de 800 fêmeas. Além da adubação de base (fósforo e potássio), feita de acordo com a análise de solo, esses módulos também recebem aplicações de nitrogênio em dosagem relativamente baixa (135 kg/ha), por meio de ureia jogada a lanço, em três a quatro parcelas, durante a estação chuvosa. O consultor Arley Siqueira explica que a adubação leve e, principalmente, o modelo de pastejo alternado não permitem alto desempenho animal. “O retorno econômico da intensificação na cria é inferior ao da recria/engorda, por isso o investimento também é menor. O objetivo é aumentar um pouco a lotação, não produzir mais arrobas por hectare”, justifica. Apesar de o gado Nelore PO ser o carro-chefe do negócio, Duarte desconsidera o valor agregado dos bezerros puros, para não “mascarar” as contas no momento de
...onde recebem suplementação protéico-energética.
avaliar a viabilidade econômica da intensificação e definir quais níveis de adubação adotará. As cerca de 300 vacas restantes (predominantemente multíparas, todas PO) permanecem em 216 ha pastejados de maneira contínua, divididos em nove piquetes não adubados, mas cuja lotação, de 1,7 UA/ha, é bem superior à média regional de 0,8 UA/ha. As matrizes recebem somente sal mineral (110 g/cab/dia). Rotacionado multiuso Parte da área rotacionada e adubada é destinada à recria/engorda. Ao todo são 16 módulos, com dimensão variável (13 a 35 ha), e subdivisão também irregular (4 a 10 piquetes). No ano passado, a fazenda conseguiu produzir 41,4 @/ha nessa área, devido Sistemas de produção da Fazenda Valadares Extensivo s/ Alternado Rotacionado Irrigado adubação adubado* adubado adubado
Total
Área (ha)
216
181
454
49
900
% da fazenda
24,0%
20,1%
50,4%
5,4%
100%
Lotação (UA/ha)
1,7
3,0
4,1
9,0
3,7
% do rebanho
11%
17%
58%
13%
100%
104,0
38,3
@/ha/ano
14,5
32,9
44,7
Custo/@ produzida
R$ 91,00
R$ 79,96
R$ 69,18
R$ 68,50 R$ 72,75
Custo/Cab/mês
R$ 60,28
R$ 68,10
R$ 58,92
R$ 61,58 R$ 58,29
*O alternado tem custo mais alto por cab/mês, porque é adubado, mas a lotação é menor do que no irrigado e rotacionado de sequeiro. Fonte: Alcance Consultoria
Categoria animal de acordo com o sistema Área (ha) 216
Sistema Tab area Extensivo sem adubação
Categoria Cria e Recria
181
Alternado adubado
Cria e Recria
454
Rotacionado/sequeiro adubado
Recria e Engorda
49
Rotacionado/irrigado adubado
Engorda
novembro 2017 DBO
55
Especial Pastagem principalmente à maior intensificação das pastagens nas águas, quando a lotação atinge até 6 UA/ha, em alguns módulos, com ganho médio de 800 g/dia. Como o foco aqui é o ganho em arrobas, a adubação é superior à do sistema alternado. São aplicados de 160 a 225 kg de N/ha no período chuvoso, de acordo com a taxa de lotação pretendida. Geralmente, 14 módulos são destinados à recria de animais PO e três à recria/engorda de machos comerciais, outro negócio importante da fazenda. Os bezerros puros são transferidos para a área logo após a desmama, com oito meses de idade, pesando entre 250 e 260 kg. São animais nutricionalmente exigentes, principalmente as fêmeas, que, desde 2014, estão sendo desafiadas na reprodução aos 17 meses. Para que emprenhem nessa idade, elas precisam ter acesso a pastagens de qualidade e receber suplementação (400 g/dia de proteico-energético). Os resultados têm sido bastante promissores. “Estamos conseguindo um índice de prenhez de 57%”, conta o produtor. Esse ano, as filhas das “precocinhas” serão desafiadas junto com suas mães na mesma estação de monta. Da mesma forma, os machos candidatos a touro necessitam de boa comida, pois são comercializados aos 24 meses com 600 kg, em média. No ano passado, a fazenda vendeu 280 reprodutores, a R$ 8.700 cada.
Já a engorda de machos comerciais, que ajuda a ajustar a lotação, depende de oportunidades de mercado. Duarte costuma comprar bezerros desmamados ou garrotes de 300 kg (10 @). “Prefiro estes últimos, porque nossa meta é mantê-los na fazenda por no máximo 12 meses”, justifica. Tanto os garrotes PO quanto os comerciais são suplementados com 2 g de proteinado por quilo de peso vivo até atingirem 400 kg. Depois, recebem 3 g/kg de PV até serem vendidos (no caso dos tourinhos) ou abatidos (machos de corte). Dependendo do número de animais adquiridos para engorda, o fazendeiro ajusta o nível de adubação nas águas e define estratégias para o período seco. Com 70% das pastagens adubadas, em algum nível, nas águas, manter a fazenda com altas lotações no período de estiagem é um grande desafio. “Não queria o ‘efeito sanfona’, ou seja, ter gado ganhando peso no período de fartura de forragem e perdendo na época de menor oferta. Também não queria ser obrigado a vender parte dos animais por falta de pasto”, relembra. Das alternativas que se apresentavam à mesa, a possibilidade de confinamento ou “sequestro” (fornecimento de volumoso durante a estiagem para manutenção dos animais), foi sumariamente descartada. “Tô fora. Não sou agricultor, morro de medo de grão”, diz Duarte, que escolheu uma solução pouco usual no Pará: a irrigação.
Sonho de ser fazendeiro realizado
Antes de se tornar pecuarista, Edimilson Dias Duarte viveu literalmente sobre trilhos. Por mais de trinta anos, trabalhou na iniciativa privada, no setor de engenharia ferroviária. Morou no Iraque – em uma base de lançamento de mísseis, para ser mais exato – entre 1978 e 1983,
56 DBO novembro 2017
período em que a construtora Mendes Júnior, em plena guerra Irã-Iraque, construiu a ferrovia que liga a capital Bagdá às cidades de Akashat e Al Qaim, localizadas no noroeste do país, próximas à fronteira com a Síria. “Os faróis dos carros eram pintados para não chamar a atenção durante a noite e evitar o risco de bombardeios”, relembra. De volta ao Brasil, participou do projeto da estrada de ferro Carajás, principal via de escoamento do minério de ferro extraído da Amazônia brasileira para o mercado internacional. Em 1985, Duarte assumiu o posto de gerente de manutenção do trecho de Marabá – em seus 900 km de extensão, a ferrovia vai de Parauapebas, no Pará, até a capital São Luís do Maranhão. Fixou moradia por lá mesmo e, um ano depois, em 1986, comprou o seu primeiro lote de terra, com as economias que trouxe de fora. Vinte anos haviam
se passado desde que sua família fora obrigada a vender a propriedade rural, devido à morte do pai. Duarte estava de novo com os pés na terra. “Estou realizando meu sonho de ser fazendeiro”, contou à reportagem. O hiato na pecuária, no entanto, não foi em vão. A trajetória no mundo corporativo ajudou bastante o produtor a trilhar seu novo caminho. “Incorporei os princípios de gestão que aprendi na iniciativa privada. O conceito de produtividade, o planejamento, a importância de estabelecer controle orçamentário”. Perfeccionista, busca o tempo todo aperfeiçoar o sistema de produção. “Meu filho diz pra mim: ‘Pai, para o senhor nunca está bom’. É que estou sempre em busca do que se pode melhorar. Vou para as coisas com o objetivo de ver defeito. Fiz isso a minha vida inteira trabalhando em estrada de ferro, onde a tolerância é de milímetros. Se errar, o trem descarrila”.
LANÇAMENTOS COM ALTA TECNOLOGIA: BRS ZURI
(65) 3311-4777
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Especial Pastagem
Irrigação tem papel estratégico
Na foto, é possível ver ao fundo o piquete já pastejado sendo irrigado por aspersores.
C
omo não queria fazer confinamento, nem mexer com agricultura, Duarte decidiu irrigar suas pastagens para manter a produtividade de arrobas por hectare elevada. Talvez essa ideia soe um pouco estranha, já que o Pará se encontra na região amazônica, onde muitos pensam que chove sem parar. “Não é como imaginam. Uso a irrigação cinco meses no ano”, disse Duarte ao repórter de DBO, que, meio cabreiro, tentava entender essa escolha em região com média pluviométrica de 2.000 mm anuais. “Quando você aduba no sequeiro é que percebe as irregularidades do regime de chuvas no Pará. Já tive muito problema para adubar o capim aqui”, explica. O quarto e mais intensivo sistema de pastejo da Fazenda Valadares foi montado em fevereiro de 2016, em 49 ha, mediante investimento de R$ 20.000/ha, quase R$ 1 milhão. Ele mantém forte interação com o sistema rotacionado/adubado de sequeiro, do qual recebe animais na seca, garantindo novo salto à intensificação. A irrigação tinha por objetivo inicial regularizar a produção ao longo do ano, mas se mostrou flexível e abriu novas possibilidades para a fazenda, como a terminação de animais comerciais em plena entressafra. “Programo minha produção para vender quando os preços são mais atrativos. A reposição também é favorecida. Com a irrigação, tenho como antecipar a reposição, comprando garrotes na seca, quando os preços costumam ser mais baixos”, diz Duarte. “Com isso, aliviamos a lotação sem reduzir o número de animais, pois os garrotes são mais leves”, acrescenta o consultor Caio Ramos. A falta de pasto também pode ser atenuada pelo capim debaixo dos aspersores. No dia que a reportagem de DBO visitou a fazenda, na primeira quinzena de outubro, dois dos módulos estavam sendo ocupados pelo gado PO, um com tourinhos e o outro com vacas prenhes. “A seca está muito severa neste ano. Tenho que cuidar dessas categorias”, disse Duarte.
58 DBO novembro 2017
Viabilidade econômica A área irrigada foi inicialmente dividida em três módulos: um de 13 ha, um de 14 e outro de 16 ha, todos subdivididos em piquetes pequenos, de 1 ha. Os animais saem do sequeiro e entram no irrigado com 450 a 500 kg (em anos bons de chuva). Nesta área, são suplementados de forma mais intensa, na proporção de 5 g por kg de peso vivo, pois a meta é ganhar 1 kg/cabeça/ dia. Os piquetes são pastejados por três a quatro dias, seguidos de 18 a 26 dias de descanso. Tanto a entrada quanto a saída dos animais são determinadas pela altura do mombaça (90 e 40 cm, respectivamente). Os machos comerciais permanecem cerca de 150 dias nos módulos, até serem abatidos com 600 kg (20 @). Poderiam ser enviados para o frigorífico mais cedo, mas trata-se de um capricho pessoal de Duarte, que prefere aproveitar bem o potencial de ganho em carcaça. A adubação no sistema irrigado é pesada: 540 kg de N/ha, via fertirrigação, distribuídos assim que os animais deixam os piquetes (veja quadro à pág. 58). No ano passado, a fazenda registrou, nessa área, lotação média de 9 UA/ha, mais do que o dobro do que se consegue no sequeiro, com produtividade de 104 @/ha/ano. O número chama a atenção dos muitos visitantes que Duarte costuma receber na fazenda, interessados em conhecer seu sistema de produção. “O camarada vem aqui, olha, mas não acredita que é possível produzir esse tanto de arroba por hectare”, conta o produtor, como quem se espanta com o próprio resultado. Neste ano, ele espera trabalhar com 10 UA/ha. A meta para 2018 é chegar a 12 UA/ha, com o aumento da adubação. Outro ponto que, naturalmente, desperta curiosidade é o custo. Afinal de contas, irrigar sai caro. Será que compensa? Os cálculos feitos pela consultoria que assessora a fazenda mostram que, de fato, o custo de produção no sistema irrigado é maior do que no rotacionado de sequeiro e no extensivo. São R$ 61,58 ante R$ 58,92 e R$ 60,28/cab/mês no rotacionado/adubado e contínuo, respectivamente. Isso significa que o desembolso mensal é maior, mas, como o irrigado sustenta maior número de animais por hectare, seu custo de produção por arroba (indicador que mede a eficiência e lucratividade do sistema) é menor, especialmente em comparação com o extensivo (veja tabela). Enquanto, neste último, produzir uma arroba custa R$ 91 e, no adubado, R$ 71,40, no irrigado o valor é de R$ 68,50. “A produtividade maior nesse sistema dilui os custos de produção, por isso a arroba sai mais barata. Exemplo disso é alternado, que recebe adubação, mas tem lotação inferior aos módulos mais intensivos. Neste sistema, o custo por cabeça é ainda maior do que no irrigado”, reforça Arley Siqueira.
Especial Pastagem À esquerda, detalhe do aspersor no sistema de irrigação em malha fixa. À dir. lote de bois inteiros na praça de alimentação do módulo rotacionado irrigado.
Lotes menores A montagem do projeto de irrigação exigiu seis meses de estudo. O produtor foi ao norte de Minas Gerais conhecer diferentes modelos também assistidos pela Alcance Consultoria. Duarte optou pela irrigação por malha fixa, em razão da maior facilidade de manutenção, levando-se em conta a disponibilidade de peças de reposição e mão de obra no sul do Pará. A área a ser irrigada, antes degradada, já estava no plano de intensificação da fazenda, e sua escolha se deveu também à proximidade da rede elétrica e da água. Bastou um ano de irrigação, para o produtor entender
Pastagem fertirrigada A irrigação no módulo de pastejo rotacionado é feita por aspersores fixos. São 36 a 40 pontos por piquete. O intervalo de rega é definido de acordo com a capacidade de irrigação do equipamento e a reserva de água no solo, que deve ser suficiente para suprir as demandas do capim. Na Fazenda Valadares, esse intervalo costuma ser de dois dias na época seca. A quantidade de água a ser distribuída é calculada a partir dos níveis de evapotranspiração, que são medidos por meio de uma pequena estação meteorológica instalada na sede da propriedade, onde também são medidas variáveis como volume de chuva, velocidade do vento e a intensidade luminosa.
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Detalhe importante: a irrigação deve ser feita logo após a saída dos animais. “Não se irriga o piquete em que o gado está nem aquele no qual entrará. Como a lotação é alta, o pisoteio com o solo úmido pode danificar as plantas”, explica o consultor Arley Siqueira. A fazenda aproveita o manejo da irrigação para adubar os pastos. A fertirrigação traz uma série de vantagens. “Conseguimos uma aplicação mais homogênea e barateamos o custo, porque esse sistema dispensa trator e mão de obra”, afirma. Somente a adubação nitrogenada é feita por meio de aspersores. As formulações de adubos com fontes de potássio e fósforo solúveis em água ainda são muito caras, inviabilizando seu uso por enquanto.
o comportamento do mombaça quando se supre um dos poucos fatores que limitam seu crescimento na região Norte: a água. Com luminosidade e temperatura favoráveis o ano todo, a irrigação permite eliminar a sazonalidade na produção de forragem, mas surgiu outro desafio. “O capim começou a crescer muito e a demandar lotes muito grandes para pastejo da forragem, o que não era bom”, conta o produtor. O que desagradou Duarte não foi propriamente a necessidade de adquirir mais animais, o que já era esperado, mas ter de rotacionar de 100 a 150 cabeças por módulo. “Percebi que isso prejudicava o desempenho individual dos animais, o que dificultava sua terminação. Eu somente conseguia ‘acabar’ 85% dos bois que colocava nos módulos irrigados. Os demais 15% comiam pasto, mas não engordavam tanto, nem forneciam carcaças com acabamento adequado”, afirma. Para Duarte, o diagnóstico para o desempenho desigual estava na sodomia, cuja frequência cresce com o aumento da taxa de lotação de bovinos inteiros no piquete. Animais sodomizados, como se sabe, tendem a ganhar menos peso. Na tentativa de solucionar essa questão, o produtor dividiu ao meio uma das três áreas de lazer. Assim, um dos módulos – o maior, de 16 ha – ficou partido em dois, com oito piquetes cada um. “Desse modo, ao invés de trabalhar com um lote grande de 150 bois, passei a rotacionar dois com 80. Aumentei o número de animais na mesma área do irrigado e diminui o tamanho do lote, que é o que estava me causando problema”, afirma. Segundo o produtor, o ganho de peso ficou mais uniforme nos lotes. Duarte reconhece que esse foi um erro na elaboração do projeto. “Pensei somente na lotação e não no tamanho dos lotes. Esse foi o pecado”. Com a lição aprendida, o pecuarista retornou à primeira área rotacionada de sequeiro, onde iniciou a intensificação. “Comecei a redividir todos os meus módulos, para trabalhar com lotes menores. Quero ganhar em produtividade por área, mas também por indivíduo”. n
Especial Pastagens Especial Pastagem
Erros na adubação podem frustrar resultados Professor Moacyr Corsi, da Esalq, alerta para a época certa de aplicação e granulometria
Nos últimos anos, uma quantidade crescente de produtores tem apostado na adubação para intensificar a produção de suas pastagens, mas nem todos têm pleno domínio da tecnologia e acabam cometendo erros, às vezes pouco perceptíveis, mas que afetam negativamente o resultado final, frustrando expectativas de produção. Conforme explica o professor Moacyr Corsi, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, em entrevista exclusiva para o Especial de Pastagens 2017, concedida à editora assistente de DBO, Maristela Franco, a maior parte desses erros são cometidos por falta de disciplina e planejamento. Segundo ele, bons resultados dependem da aplicação do adubo na dose certa, na hora certa e da forma certa, seguida de uma boa colheita do capim. Se a eficiência de N for alta (50 kg de matéria seca por kg do nutriente, por exemplo) e a eficiência de pastejo de 70%, pode-se conseguir facilmente produção de 7,5 t de MS/ha, que permite sustentar 4,2 UA/ha, ante 1 UA/ha da média nacional. O potencial da adubação, portanto, é grande, mas exige conhecimento cada vez maior da tecnologia e da fisiologia da planta. Veja abaixo as recomendações do professor Corsi.
1) Quais os erros mais comuns cometidos pelos produtores na hora de fazer adubação? Corsi - O principal erro está na falta de disciplina
na aplicação do fertilizante. Eles aplicam no momento errado e, por isso, não obtêm a melhor resposta em eficiência na adubação. Como a gente mede essa eficiência? Em quilos de matéria seca por quilo de nutriente aplicado. O melhor resultado é obtido quando se aplica o adubo logo após o pastejo. Isso tem uma razão. O nitrogênio age de duas formas para melhorar a produção: faz crescer as folhas e aumenta a produção de perfilhos. De certa forma, a ação sobre as folhas é limitada, pois seu número por perfilho é determinado. Por exemplo, o braquiarão, se bem nutrido e com condição favorável de crescimento, apresenta seis folhas verdes por perfilho. Quando ele começa a produzir a sétima, uma morre e continuam seis. Então, para ter maior produção de forragem, é preciso agir sobre perfilhamento, aumentar o número de perfilhos [meristemas ou gemas auxiliares, localizados na base das touceiras de capim].
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Maristela - Podemos fazer isso? Corsi - Sim. Imediatamente após o pastejo, no in-
tervalo de uma semana mais ou menos, surge um grande número de perfilhos. Se eles forem estimulados pela adubação, vão se desenvolver e aumentar bastante a produção de matéria seca. Se o produtor atrasar a aplicação do fertilizante e distribuí-lo quando o capim já está alto, a resposta será bem menor. Estudos com Panicum maximum, por exemplo, mostram produção de 32 g de matéria seca de perfilhos na primeira semana após o corte, em contraste com 1 g na segunda semana, ou seja, apenas 3% da produção registra nos primeiros sete dias pós-pastejo. Ou seja, os perfilhos nascidos na segunda semana são responsáveis por um percentual pequeno da forragem que será colhida pelos animais.
Maristela - Precisa aplicar o fertilizante nitrogenado rápido, então? Corsi - Sim, durante a primeira semana após o pas-
tejo. Quanto mais rápido, melhor. Evidentemente, em uma propriedade, o produtor não vai adu-
Especial Pastagem rios nutrientes para produzir bem. O produtor joga N, a planta fica muito verde, mas em três anos a produção cai. É necessário fazer análise do solo uma vez ao ano e seguir as recomendações para equilibrar a disponibilidade de nutrientes. Às vezes, deixa-se de colocar potássio, por exemplo, e a planta apresenta dificuldade para fotossintetizar, cresce de forma mais lenta. Às vezes, falta fósforo. O produtor precisa construir fertilidade no perfil do solo. Ao invés de investir nisso, ele pensa em fazer adubação foliar, por exemplo, tecnologia que ainda não está comprovada para pastagens. No futuro, com o aperfeiçoamento das moléculas e estudos sobre época de aplicação, talvez tenhamos boas respostas, mas ainda não temos informação que corrobore o uso dessa técnica. Maristela - O produtor também erra na distribuição do adubo? Corsi - Frequentemente. Não apenas porque ele usa
Adubação nitrogenada deve ser feita após chuvas de 80 mm
bar todo dia os piquetes de onde se acabou de retirar os animais. Para facilitar as operações, ele pode definir dois dias da semana para isso; assim, adubará os piquetes no máximo três dias após o pastejo. Maristela - Por que os produtores erram na hora de adubar? Corsi - Primeiro porque desconhecem a fisiologia
da planta e a dinâmica dos perfilhos; segundo, por falta de disciplina e organização. Eles não se planejam, não definem dias para adubar, não preparam as máquinas e verificam, com antecedência, quais piquetes foram pastejados. Falta comunicação interna. Outro erro comum é não monitorar o clima. A adubação precisa ser feita, no mês de outubro, assim que caírem 80 mm de chuva. Se o produtor atrasar um mês após esse “dia zero”, pode deixar de produzir 3,6@/ha, devido à forragem não produzida. Trata-se de uma perda muito alto, considerando-se que a média da pecuária brasileira é de 5@/ha. Trata-se do período mais favorável à produção de forragem e é justamente quando os animais mais precisam de comida, pois estão saindo da seca. As fêmeas, por exemplo, estão entrando em reprodução, precisam ganhar peso para ciclar. Maristela - Que outros erros são cometidos? Corsi - Eles pensam que basta aplicar nitrogênio
e está tudo certo, quando a planta precisa de vá-
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máquinas inadequadas, mas porque não as regula direito e, como o adubo muitas vezes tem grânulos de tamanho e densidade diferentes, estes são distribuídos de forma também diferente. Ou seja, a aplicação fica desuniforme. Por exemplo, o potássio entra nas misturas na forma de cloreto de potássio, cujos grânulos normalmente são maiores e mais pesados do que os da ureia. Ele é lançado mais longe e o nitrogênio mais perto, o que prejudica a produção. Para evitar isso, é preciso regular adequadamente o equipamento, usando bandejas de verificação. Esse tipo de problema é mais comum em adubações com mais nutrientes. Na adubação nitrogenada, o cuidado maior deve ser com a presença de pó, que não deveria ter, mas é comum, por exemplo, no nitrato de amônia. O pó cai muito perto em uma quantidade muito grande e os grânulos do produto mais longe, o que desuniformiza o pasto. Algumas partes ficam muito verdes, outras meio amarelas, porque faltou adubo. A gente somente consegue corrigir isso no ciclo de pastejo seguinte.
Maristela - Os pecuaristas estão cada vez mais interessados em adubação para intensificar a produção, mas ainda se mostram receosos. Que recomendações o senhor daria a eles, para fazer certo e obterem os resultados esperados? Corsi - Para que tenham segurança de que a adu-
bação dá resultado, eles precisam coletar, analisar e interpretar dados. O que é uma análise de dados? É comparar resultados com base em um parâmetro. Isso normalmente é fácil de fazer, o difícil é interpretar essa informação. Por que estamos obtendo um resultado abaixo do projeta-
Especial Pastagem do? Porque os nutrientes, por exemplo, foram distribuídos de forma desbalanceada; o fósforo, em nível muito alto, interferiu na disponibilidade do zinco para a planta. Para fazer essa interpretação, é preciso conhecimento técnico. Dados mal interpretados podem queimar a tecnologia. O produtor investe, gasta dinheiro, não obtém resultado (porque não fez corretamente a adubação) e acaba desistindo. Somente por meio de análises de solo e visitas à fazenda, o técnico pode descobrir o que está acontecendo. Outra coisa muito importante: o produtor tem de saber produzir e também colher. Essas duas coisas andam juntas. A adubação exige bom manejo do pasto. Fazendo uma analogia com a soja, de nada adianta eu produzir 70 sacas/ha e minha máquina colher somente 40. Quando o problema está na distância incorreta de adubação, é fácil resolver. Um erro desses é tão evidente e o prejuízo tão grande que é logo percebido e resolvido. O difícil é aquela situação do tamanho dos grânulos, que nem todos percebem. Principalmente no caso do nitrato de anuncio_soesp_18,4x12cm.pdf
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amônio, que, muitas vezes, é vendido mais barato justamente porque o grânulo está estourado. E tem de ter um cuidado danado com isso, porque se você aplicar esse produto farelado na planta molhada pelo orvalho, ela queima. Precisa fazer estocagem correta do adubo e monitorar sua consistência. O ideal seria ter todos os macro e micronutrientes no mesmo grânulo. Estamos caminhando nesse sentido. Maristela - Que mensagem final o senhor gostaria de deixar para o produtor? Corsi - Ainda não conhecemos o potencial produti-
vo e econômico da adubação em pastagens. A literatura aponta que as gramíneas forrageiras respondem bem a aplicações de até 400 ou 600 kg de nitrogênio por hectare. Estamos na metade do caminho e achando que já está bom, mas tem um potencial enorme não explorado. Meu alerta para o produtor é que ele precisa não apenas explorar bem essa tecnologia, mas colher bem o capim. Melhorando a eficiência de pastejo, pode conseguir n resultados econômicos e competitivos.
Especial Pastagens Especial Pastagem
Um inimigo duro de matar fotos: patrícia torres
Percevejo-castanho continua a provocar danos significativos. Mas algumas medidas podem ser tomadas para minimizar o prejuízo.
Disseminado por todas as regiões produtoras do País, o inseto suga a raiz das gramíneas. Plantas mortas em reboleira, um dos sinais de infestação do percevejo-castanho no campo. Ariosto Mesquita,
E Queremos fazer com que o sistema podutivo suporte o ataque do percevejo” Fabrícia Torres, da Embrapa Gado de Corte
de Campo Grande, MS
studo realizado pela Embrapa Gado de Corte (Campo Grande, MS) em 28 hectares de pastagens em sistemas de integração lavoura-pecuária (ILP) e lavoura-pecuária-floresta (ILPF) indica que, com manejo eficiente de forrageiras, boa adubação e níveis adequados de umidade, é possível reduzir a incidência do percevejo-castanho (Scaptocoris ssp), praga disseminada pelas principais regiões produtoras do Brasil. As conclusões do estudo devem ser divulgadas no final deste ano ou, no mais tardar, no início de 2018. A expectativa dos pesquisadores é oferecer alternativas a outras medidas que, nas últimas duas décadas, foram sugeridas para limitar os danos causados pelo inseto (plantio de forrageira consorciado com leguminosas e carga de adubação, entre outras), cuja infestação é quase sempre imperceptível aos olhos do pecuarista, e em alguns casos, incontrolável, uma vez que a espécie vive e age sob a superfície do solo, sugando a raiz das gramíneas. Como trabalhar a bovinocultura de corte em sistemas integrados não é uma condição acessível para grande parte dos pecuaristas, a Embrapa busca opções que envol-
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vam o manejo de pasto. “A ideia é tentar fazer com que o sistema produtivo suporte o ataque do percevejo, ou seja, que o pecuarista consiga conviver com a praga”, observa Fabrícia Zimermann Vilela Torres, que lidera os trabalhos, conduzidos em conjunto com outros cinco colegas. A equipe está avaliando flutuações populacionais e o desenvolvimento do inseto em diversos perfis de solo, períodos do ano e diante de forrageiras diferentes. Na Fazenda Crescente, em Campo Grande, sete capins (cultivados em parcelas de 25 m2) estão sendo avaliados: as braquiárias piatã, marandu e paiaguás e os panicuns massai, tamani e zuri, além da gramínea andropógon. Embora o estudo ainda esteja em andamento, a Embrapa já publicou resumos a respeito. Os pesquisadores identificaram maior nível de infestação no sistema chamado S5 (lavoura um ano/pastagem três anos), em especial nos piquetes de braquiária piatã solteira (cerca de 100 adultos e perto de 250 ninfas) e consorciada com milho (perto de 80 adultos e quase 300 ninfas). No sistema S3 (pastagem quatro anos/lavoura quatro anos – com milheto e eucalipto), a população de percevejo foi menor (abaixo de 50 indivíduos, tanto adultos quanto ninfas). A equipe avaliou sistemas e subsistemas em pastagem contínua, lavoura contínua e lavoura quatro anos/pastagem quatro anos, tendo como testemunha uma área com pastagem degradada. A coleta de amostras foi feita até a profundidade de 60 centímetros em quatro pontos de captura em cada piquete de 0,7 hectare, totalizando 172 pontos, usando um perfurador de solo movido a gasolina. Foram encontradas insetos das espécies Scaptocoris castanea e Scaptocoris carvalhoi, a maior parte deles em profundidade intermediária (entre 20 e 40 cm), 70% dos quais ainda na fase de ninfas. Adubação e água De acordo com Fabrícia Torres, não existe método estabelecido para eliminar o percevejo-castanho. “O controle químico com inseticidas não é recomendado. Não existem produtos registrados para seu uso em pastagens e o custo para tratar quimicamente extensas áreas na pecuária é muito elevado. Além disso, há o alto risco de contaminação ambiental. Em locais com ataques mais severos encontramos até reboleiras infestadas com plantas daninhas que surgiram após a morte do capim. Nessas terras, a única alternativa é o replantio, ou seja, a reforma do pasto”. Para quem enfrenta problemas com infestação, a sugestão de Fabrícia é manejar corretamente o pasto para conviver com a situação. “Dessa forma, as plantas suportam melhor o ataque, principalmente quando ocorre a melhoria das condições nutricionais da forrageira”. Os pesquisadores acreditam que o efeito residual da adubação em áreas de ILP e ILPF ocupadas pelo gado após o cultivo de grãos possa reduzir os níveis de infestação do inseto. “Observamos que em áreas onde a correção do solo e a fertilização foram realizadas recentemente, as plantas estão mais nutridas e sentem menos o ataque do percevejo”,
Especial Pastagens
Pesquisadores da Embrapa Gado de Corte retiram amostra do solo para avaliar a população de percevejos
afirma a pesquisadora da Embrapa, lembrando que estudos anteriores já haviam evidenciado que em terras bem fertilizadas a infestação é menor. Fabrícia acompanhou um trabalho desenvolvido junto ao Programa de Pós-Graduação em Produção Vegetal da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), realizado em Aquidauana, região centro-oeste do Estado. O estudo avaliou a flutuação de infestação em três hectares de área irrigada, dividida em 28 piquetes e cultivada com o panicum mombaça. Coletas mensais indicaram picos populacionais nos meses de maio, junho e julho. “Os maiores danos nas pastagens aconteceram quando o proprietário retirou a adubação e cortou a irrigação para economizar água”, revela.
Em 2014, em pesquisa conduzida pela acadêmica Glenda Moreira Weis e co-orientada por Fabrícia, uma área foi adubada, irrigada e submetida a rotação. No ano seguinte, sem tais manejos, a pastagem apresentava sintomas de amarelecimento, subdesenvolvimento e plantas mortas em reboleiras. Como as raízes estão concentradas em camadas mais superficiais do solo, as plantas sofreram rapidamente com a suspensão da irrigação e da adubação, ficando fracas e mais suscetíveis à praga. Os percevejos-castanhos são considerados insetos polífagos, ou seja, se alimentam de várias plantas, sugando suas raízes. Hoje, estão disseminados pelas principais regiões produtoras. Autor do livro “Pragas de Solo no Brasil”, lançado pela Embrapa em parceria com a Fundação Centro de Experimentação e Pesquisa Ginecotripo (Fundacep Fecotrigo), o professor Paulo Marçal Fernandes, da Universidade Federal de Goiás, destaca três espécies especialmente danosas: Scaptocoris castane, Scaptocoris carvalhoi e Scaptocoris buckupi. Segundo o professor, a presença do inseto pode ser identificada pelo forte odor exalado durante revoadas e quando a terra é revolvida. No pasto, os danos iniciais são indicados por reboleiras de diversos tamanhos com forrageiras definhadas e amareladas. “Os percevejos causam danos pela toxicidade de sua saliva e pela retirada de seiva das raízes, acarretando o enfraquecimento e até a morte das plantas”, explica. Em sua opinião, os tratos culturais ajudam, mas não resolvem de vez o problema. “Rotação de cultura e preparo de solos são pouco eficazes em razão de estes insetos se distribuírem ao longo do perfil do solo em profundidades que variam de 0 a 120 cm e se alimentarem de diversas plantas hospedeiras”. n
Criador não sabe o que fazer
Estamos entrando no segundo ano com o percevejo na fazenda e não temos o que fazer para controlar a infestação” Rubens Catenacci, criador em Alcinópolis, MS
Reconhecido como um dos mais eficientes produtores de bezerros de qualidade no Brasil, Rubens (“Rubinho”) Catenacci tem perdido o sono com a incidência de percevejos-castanhos nas pastagens da Fazenda 3R, em Alcinópolis, região norte do MS. Há um ano começou a perceber reboleiras, cavou e encontrou a praga. O pecuarista estima já ter perdido algo próximo a 2% de suas pastagens, o que equivaleria a 100 dos 5.000 hectares de pasto. “Estamos entrando no segundo ano com o percevejo na fazenda e não temos o que fazer para controlar esta infestação. Ele está atacando todos os capins, principalmente as áreas de piatã, braquiarão e dictyoneura”, relata. Ainda na atual estação das águas (outubro a março), Catenacci pretende aplicar gesso para tentar estimular as forrageiras a absorver mais água e nutrientes
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do solo. “Ainda não experimentamos, mas dizem que onde tem gesso o percevejo não pega”, justifica o criador. O uso do gesso tem fundamento, embora a expressão “não pega” possa ser exagerada – como se sabe, o mineral é elemento de adubação de pastagem (reduz saturação de alumínio e aumenta a quantidade de cálcio no solo). Com seu uso, as pastagens tendem a se tornar mais tolerantes aos veranicos (estresse hídrico), comuns no Cerrado, pois ganham capacidade em absorver mais água e nutrientes. O gerente da fazenda, Rogério Rosalin, considera a praga o maior problema para as pastagens da 3R: “Não conseguimos controlar. Procuramos modos de inibi-la, mas há uma total falta de informação. Ficamos até mesmo em dúvida se é ou não o percevejo-castanho. O certo é que o pasto anda secando muito, fora do normal”.
Especial Pastagens Especial Pastagem
arquivo Dbo
Escolha a cultivar pelos motivos certos Adilson Aguiar, zootecnista, produtor, professor da Fazu (Faculdades Associadas de Uberaba) e integrante da Consupec (Consultoria e Planejamento Pecuário).
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alcula-se que sejam plantados, anualmente, de 4 a 5 milhões de hectares com gramíneas forrageiras no Brasil. A escolha correta da cultivar é, a meu ver, a principal das 15 etapas desse processo, pois eventuais erros tendem a comprometer a exploração de todo potencial produtivo das pastagens no futuro, por meio do uso de tecnologias. Adoto nove parâmetros para definir a cultivar adequada a cada fazenda: adaptabilidade às condições climáticas; adaptabilidade às condições de solo; comportamento do capim frente a pragas e doenças; presença de componentes causadores de distúrbios metabólicos; aceitação por parte da categoria animal à qual o pasto se destina; forma de estabelecimento (sementes ou mudas); objetivos da exploração (pastejo, silagem, pré-secado ou feno); método de pastejo (se lotação contínua, alternada ou rotacionada); e nível tecnológico do sistema de exploração das pastagens (se extensivo, intensivo sem irrigação ou intensivo irrigado).
Indicadores de produtividades em pastagens rotacionadas entre 1988/99 e 2002/03 (Fazu) Cultivares Tanzânia
MF1 prépastejo (t MS/ha) 5,1
MF póspastejo (t MS/ha) 2,6
TAF2 (kg MS /ha/dia) 86
Taxa de lotação (UA/ha) 5,3
GMD3 (g/cab/ dia) 630
Mombaça
5,0
2,2
81
5,0
610
Tifton 85
5,7
2,6
85
5,9
550
1 MF: massa forrageira em toneladas de matéria seca por hectare; 2 TAF: Taxa de acúmulo de forragem, em kg de matéria seca por dia; 3GMD: ganho médio diário; UA/ha: Unidade Animal por hectare. OBS: produtividades alcançadas sob temperatura média de 23°C, 1.670 mm/ano de chuv, 357 kg de N, 80 kg de P2O5, 185 kg de K2O e 43 kg de enxofre por hectare, na média dos quadro anos. Fonte: Resende; Aguiar, 2004. Adaptação: DBO
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Quando apresento esses parâmetros, muitos me perguntam: “Mas, e a qualidade da forrageira? E seu potencial produtivo? E sua capacidade de suporte? Não são importantes?” Sempre se deu muita ênfase a esses quesitos, pois, de fato, a qualidade da forragem determina o maior ou menor desempenho individual, enquanto o potencial de produção e, consequentemente, sua capacidade de suporte, definem a taxa de lotação, com reflexos sobre a produtividade em arrobas por hectare. Sabendo como pensam muitos pecuaristas e técnicos, as empresas produtoras de sementes forrageiras enfatizam tais parâmetros em seus materiais publicitários. Até mesmo os pesquisadores de empresas públicas os exaltam no lançamento de novas cultivares. Qual o peso do genótipo? Acredita-se que a produção e a qualidade da forrageira sejam determinadas pelo genótipo, que é “a soma total de todos os genes de um indivíduo, seu potencial ou mérito genético, do qual seus descendentes receberão uma amostra aleatória”. Qualquer característica manifesta é chamada, no estudo de melhoramento genético, de fenótipo, “a expressão visível ou mensurável das várias características que constituem um indivíduo”. Podem ser classificadas como qualitativas, por exemplo, as características botânicas, e como quantitativas, as características produtivas da forrageira, que nos interessam neste artigo. Seja qual for a característica, ela expressa a herança genética transmitida pelos antepassados do indíviduo (o genótipo) em um determinado ambiente, e da interação genótipo específico/ambiente específico. O peso do genótipo na expressão do fenótipo tem sido quantificado pelo parâmetro herdabilidade da característica, que é “um termo usado para descrever a força da herança na determinação das diferenças entre indivíduos em uma característica determinada”. A herdabilidade indica o grau em que o fenótipo é um indicador de genótipo. Ela pode ser classificada em baixa (abaixo de 0,25 ou 25%), média (entre 0,25 e 0,5 ou 25% a 50%) e alta (acima de 0,5 ou de 50%). Pois bem, qual é a herdabilidade das características que determinam os parâmetros de qualidade e produção de forragem? É baixa! Ou seja, as diferenças de qualidade e produtividade entre diferentes espécies forrageiras e dentro da mesma espécie se devem mais ao meio ambiente (leia-se aqui, manejo) do que ao genótipo.
Pesquisa vê pouca diferença “Mas, não existem mesmo diferenças entre plantas forrageiras para aqueles parâmetros? Novas cultivares não são superiores às tradicionais?”, voltam a me perguntar. Há sim, mas são pequenas e se devem mais às diferenças ambientais e à interação genótipo/ambiente do que às diferenças entre genótipos. Os dados das tabelas 1, 2 e 3 dão suporte a essas conclusões. Há 20 anos, integrantes do Grupo de Estudos e Trabalhos em Pasto (GET) vêm comparando as cultivares de Panicum maximum mombaça e tanzânia e o capim-tifton 85 na fazenda escola na Fazu (Faculdades Associadas de Uberaba), sob sistema de pastejo intensivo. Também vêm comparando a braquiária híbrida Convert HD 364 com seus progenitores, desde 2012. Avaliando os parâmetros ganho médio diário (GMD) e taxa de lotação (TL) nos períodos chuvoso e seco, e a produtividade por hectare, de sete cultivares de Brachiaria sp e seis de Panicum maximum lançados pela Embrapa – desde a primeira, cultivar de braquiária brizanta marandu ou braquiarão, apresentada ao mercado em 1984, até o atual híbrido ipyporã, em 2017, e desde o primeiro panicum, capim tanzânia, lançado em 1990, até o mais recente, o híbrido quênia, em 2017 -, não encontramos diferenças significativas entre essas cultivares que justifiquem escolher uma delas com base nos parâmetros de qualidade ou produção de forragem, e muito menos substituir uma planta forrageira já estabelecida por outra, em função desses dois parâmetros. Ainda há um conceito arraigado de que cultivares de P. maximum têm melhor qualidade de forragem e produzem mais por hectare do que as de outros gêneros ou espécies, sendo, portanto, mais indicadas para sistemas intensivos de produção a pasto. Usa-se esse argumento até mesmo para se justificar a reforma de pastagens ainda produtivas apenas com o intuito de introduzi-las na fazenda, o que de forma nenhuma recomendo. Importância do manejo Se as diferenças entre forrageiras nos quesitos qualidade e quantidade de forragem não são significativas, como escolher a cultivar para plantio? O foco deve estar nos seguintes parâmetros e na seguinte ordem: adaptação da forrageira às condições climáticas da região, já que o homem não consegue interferir nos elementos e fatores climáticos; depois, adaptação às características dos solos da fazenda, seguindo a ordem relevo (o homem não interfere), profundidade (o homem não interfere), drenagem (há limitações pela legislação ambiental) e fertilidade (interferência total). Por fim, o comportamento da planta forrageira frente a pragas e doenças. Todos os outros parâmetros dos nove citados no início deste artigo são passiveis de interferência e controle pelo homem, até mesmo as questões fitossanitárias. As tão desejadas qualidade e quantidade de for-
Produtividade de diferentes cultivares em 450 dias de pastejo alternado (Fazu)1 Cultivares Indicadores Lotação (UA/ha)2 (g/cab/dia)3
Convert 3645
Braquiária decumbens
Capim Marandu
Braquiária ruziziensis Média
4,46
4,02
3,83
3,60
3,98
760
700
660
700
720
Produtividade (@/ha)
62
55
50
54
55
EUN (kg PC/Kg N)4
2,93
2,44
2,44
2,60
2,60
GMD
1
Período de avaliação: junho de 2013 a março de 2014 e de outubro de 2014 a março de 2015; 2 UA: Unidade Animal por hectare; 3 GMD: Ganho Médio Diário; 4 EUN: Eficiência no uso de nitrogênio (112 kg de N via adubação, assumindo-se mais 9 kg de N atmosférico, 7,5 kg de N mineral do solo e 142 kg de N proveniente da matéria orgânica); 5 Híbrido de braquiária. OBS: produtividades alcançadas com 2.150 mm de chuva, 5 t de calcário, 1,26 t de gesso e 209 kg de P2O6, 130 kg de K20, 318 kg de N e 123 kg de enxofre (do gesso) por hectare. 4 EUN: os animais receberam apenas sal mineral. Fonte: Silva; Aguiar, 2014; Costa; Aguiar, 2015; Coelho: Aguiar, 2016. Adaptação: DBO
ragem são parâmetros que o homem tem toda a capacidade de determinar através do manejo correto da pastagem. Se o pecuarista pretende intensificar a produção animal em pasto deve começar pelas pastagens cujas espécies forrageiras estejam adaptadas há anos na sua fazenda, mesmo que mal manejadas, desde que o estande de plantas esteja uniforme. Para o pecuarista, seria mais fácil ter disponível no mercado forrageiras que naturalmente apresentassem melhor qualidade e maior quantidade de forragem, independentemente das práticas de manejo adotadas. Ele acredita que isso seja possível, mas infelizmente, não é. Precisa mudar de atitude. Nas três tabelas, vê-se que as taxas de lotação variaram de 3,6 a 5,9 UA/ha (Fazu), que o ganho médio de peso anual ficou entre 445 g (Embrapa) e720 g/ cab/dia (Fazu) e as produtividades foram de 20,6 (Embrapa) a 62@/ha em 450 dias (Fazu). Pergunto então: qual é a produtividade média das pastagens brasileiras? Para ganho médio de peso é de 270 g/cab/dia. Para taxa de lotação, é de 0,84 UA/ha. Para produtividade, é de 3,24@/ha/ano. Então, caro pecuarista, se a sua fazenda ainda tem índices na média das pastagens brasileiras, ou mesmo seu dobro ou triplo, preocupe-se primeiro em mudar o manejo da pastagem para aumentar sua produtividade antes de pensar em substituir a espécie forrageira tradicionalmente explorada. n Comparativo entre gêneros (Embrapa) GMD (g/dia) Forrageiras Brachiaria sp1 Panicum Média
sp2
Lotação (cab/ha)
Chuvas
Seca
Chuvas
Seca
Produção (@/ha/ano)
590
300
4,20
1,7
29,6
610
320
3,90
2,2
24,7
600
310
4,05
1,95
22,6
OBS: Tabela montada com base em vários experimentos feitos pela Embrapa
novembro 2017 DBO
73
Especial Pastagens Especial Pastagem
Todo o cuidado no controle de invasoras Avaliar bem a situação antes de escolher o método de combate é fundamental.
Aplicação após o corte do nó da ciganinha com produto contendo corante
N
Luiz H. Pitombo
ão é difícil entender por que algumas plantas costumam receber classificações pejorativas como daninha, invasora, praga, peste, flagelo e outras coisas piores. Nativas ou exóticas, elas se destacam por sua capacidade rápida de crescimento e por produzir grande quantidade de sementes nas mais variadas condições de solo e clima. São, também, muito habilidosas em táticas de dispersão de sementes, competição por luz, água e nutrientes. Várias possuem mais de uma forma de propagação, desfrutam de rápido estabelecimento inicial e por vezes produzem mais de uma geração ao ano. Seu sistema radicular é farto e podem criar mecanismos de resistência ao controle. Ao fim, são rústicas e fortes, e por isso predominam sobre a cultura de interesse econômico, seja um pasto, uma lavoura ou um pomar. Ao redor do mundo, cerca de 8.000 espécies já foram
identificadas como realmente infestantes, tanto de pastos quanto de lavouras, das quais 250 são preocupantes. Justamente por sua grande capacidade de se instalar e de resistir ao ambiente, seu controle ou eliminação devem ser muito bem planejados, alerta o zootecnista Haroldo Queiroz, da área de Difusão de Tecnologia da Embrapa Gado de Corte, de Campo Grande, MS. “Qualquer forma de controlar essas plantas exige uma avaliação e um diagnóstico prévios, constatando, por exemplo, no caso de pastos, se não é a área que já está degradada (facilitando o surgimento das invasoras) ou se o principal problema são mesmo as plantas infestantes”, diz, e complementa: “Muitas vezes elas são consequência de um problema anterior”. Identificada a situação e as espécies existentes, o grau de infestação e a parcela de perda de pasto que justifique seu controle, o próximo passo é avaliar as alternativas viáveis, considerando a retirada da invasora por método manual ou mecânico, como as roçadas, ou por meio de agroquímicos, com a aplicação de herbicidas, ou ainda a associação de ambas as formas. Preventivamente, é importante ter segurança da qualidade e a pureza das sementes das forrageiras utilizadas, evitando a introdução de plantas não desejadas na área. “É o valor cultural (VC) ou a pureza da semente que garante que ela não carrega plantas alheias à cultura principal, além de larvas ou ovos de nematoides que podem infestar o solo e prejudicar a pastagem ou a lavoura”, salienta. Quando animais de outras propriedades forem introduzidos na área, é igualmente conveniente que eles pastejem antes num piquete segregado para que ali eliminem as fezes que podem trazer sementes de plantas estranhas à forrageira instalada. Queiroz comenta que, na presença de certas infestantes, o controle químico é um recurso indispensável, como
Protocolo simplificado para controle de herbáceas e semiarbustivas em pastagens Princípios ativos* 2,4 D + Pictoram; Floroxypir + Pictoram; Aminopiralide + 2,4 D; Aminopiralide + fluroxypir; Glyphosate (n/ seletivo); Triclopir; Triclopir + Picloram; Metsulfuron-methyl
Invasoras Algumas herbáceas: fedegoso, assa-peixe branco, assapeixes, malva branca, guanxumas, maria-mole, beldroega, cheirosa, losna branca, erva-quente, joá, carrapicho, picãopreto, macela, gervão, leiteira, casadinha, carqueja etc. Algumas semi-arbustivas: pata de vaca, fruta de lobo, mamica de porca, erva-de-rato, alecrim do campo, matapasto, erva-quente, cambará, espinheiro, jurubeba, cipó-de-cobra, limãozinho
Recomendações** • Aplicação foliar (tratorizada, costal ou aérea), no período chuvoso, com as invasoras em vigor vegetativo, para melhor absorção do herbicida. • Havendo efeito “guarda chuva” por parte de outra planta, fazer repasse. • A densidade de infestação define se a aplicação será dirigida ou em área total. • Em pastagens de Massai, sensível ao 2,4 D, usar Triclopir, também indicado para cipós.
* Principais princípios ativos usados pelos fabricantes, em diversas formulações e concentrações; a dosagem também varia conforme a invasora e o tipo de aplicação. ** ATENÇÃO: Informações simplificadas; siga sempre as orientações completas do fabricante e/ou técnico. Fontes: empresas; Adaptação e elaboração: DBO.
A DBO 74 DBOnovembro novembro 2015 2017
Especial Pastagem é o caso da ciganinha (Memora peregrina), do capim-navalha ( Paspalum virgatum), da taboca (Guadua spp) e do limoeiro-bravo (Citrus limonia) e na rebrota de várias espécies nativas, formando a chamada juquira, dentre outras. Uma novidade que estaria sendo pesquisada é a de um controle químico que facilita o combate à ciganinha, por ser de absorção foliar, uma vez que hoje deve-se antes retirar a parte aérea da planta (as folhas) para que o produto seja aplicado no toco. Apesar da importância desses produtos químicos, o pesquisador avalia que muitos são aplicados de maneira incorreta, em pastos degradados, antes mesmo que eles sejam recuperados. “Um pasto em boas condições tem efeito alelopático, inibindo previamente várias das infestantes”, diz ele, referindo-se à capacidade de algumas plantas eliminarem substâncias no solo que bloqueiam o crescimento de ervas concorrentes. Independentemente do porte do pecuarista, diz que este tipo de falha ocorre, mas que os pequenos se tornam mais vulneráveis em função do menor grau de informação técnica e da falta de recursos. “Ele pode preferir, por exemplo, investir R$ 600/hectare na aplicação de um herbicida em vez de R$ 2.500/ha na reforma da área degradada”, ilustra. Expansão e treinamento “Ao considerar uma área de 150 milhões de hectares de pastagens com espécies cultivadas, entre 10% e 15% são tratadas por herbicidas”, estima o engenheiro agrônomo Marcos Gaio, presidente da Nufarm para a América Latina. A Nufarm atua, entre outros segmentos, na fabricação de herbicidas. Se de um lado Gaio reconhece que a área tratada ainda é pequena, por outro diz que isso também significa um grande potencial para o aumento do uso desses agroquímicos. Ele conta que a empresa, de origem australiana, atua em diferentes culturas, mas que tem nas pastagens uma prioridade. A situação em que os herbicidas são utilizados nas várias regiões do País difere, como também as formas de apliProtocolo simplificado para controle de arbustivas em pastagens Princípios ativos* Picloram; Triclopir; Aminopiralide + fluroxypi
Invasoras
Recomendações**
Ciganinha, amarelinho, arranha-gato, aroeirinha, espinho-agulha, cipóde-cobra, espinhoagulha, pau-de-angu, cambará, camboatá, unha-de-vaca, leiteiro
• Aplicação do produto no caule (Triclopir) ou no toco, em qualquer período do ano. • Corte do caule rente ao solo; no caso da ciganinha, após sua batata ou nó.
Protocolo simplificado para controle de palmáceas em pastagens Triclopir
Babaçu, bacuri, tucum, indaiá, pindoba
• Aplicar produto com óleo adesivo, no olho da planta.
* Principais princípios ativos usados pelos fabricantes, em diversas formulações e concentrações; a dosagem também varia conforme a invasora e o tipo de aplicação. ** ATENÇÃO: Informações simplificadas; siga sempre as orientações completas do fabricante e/ou técnico. Fontes: empresas; Adaptação e elaboração: DBO.
76 DBO novembro 2017
cação, que podem ir desde a puramente manual (por pulverizador costal), passando por pulverizadores terrestres até as que utilizam aviões em grandes áreas. Mas um dado em comum, aponta o executivo da Nufarm, é o fato de serem realizadas particularmente por pecuaristas que procuram aumentar sua produtividade por área. “O controle mecânico, como o das roçadeiras, pode ser utilizado de maneira associada e complementar”, comenta Gaio. Uma das limitações frequentes, assinala, e que também ocorre em áreas de agricultura, é a existência de equipamentos em condições inadequadas e a má regulagem de bicos – problema no qual a assistência da empresa procura ajudar. Gaio cita também um novo serviço, que começou a ser oferecido desde agosto e que utiliza drone associado a um aplicativo. O equipamento sobrevoa as pastagens e monitora a infestação. A partir desses dados, são elaborados relatórios que permitem aos técnicos realizar as recomendações de controle. O grande potencial para a ampliação no uso de herbicidas em pastagens é igualmente reconhecido pelo engenheiro agrônomo Carlos Peres, coordenador de Produtos e Mercados de Cana-de-Açúcar e pastagens da multinacional Arysta, que também produz herbicidas, entre outros agroquímicos. Ele acrescenta que se trata de um mercado muito diversificado, pelas próprias características geográficas do País e pelas plantas infestantes regionais. Comenta, porém, que a expansão do uso desses produtos ocorre num ritmo mais lento do que o da agricultura. “O pecuarista, em geral, é mais cético e tem seus investimentos um pouco mais sob controle, até mesmo pela volatilidade do valor da arroba, o que limita a velocidade da expansão do uso”, afirma. A tendência é a de que produtores de médio e grande portes, mais tecnificados, adotem primeiro a tecnologia. Além disso, a utilização dos herbicidas, com segurança ao aplicador e ao meio ambiente, trazendo bom resultado no pasto, depende de assistência técnica e de sua boa capilaridade espacial, salienta Peres, que tem observado que nem todas as empresas conseguem ter esse alcance, por causa das dimensões do País. A ausência de informações e critérios pode fazer com que o pecuarista utilize uma dose maior do que a recomendada, perdendo dinheiro e contaminando o solo, ou uma quantidade menor, situação em que gastará recursos sem obter o resultado esperado. Por vezes, diz que plantas não são controladas por um único princípio ativo, sendo necessário utilizar associações, enquanto certas pastagens como a do capim massai (Panicum maximum cv massai), são sensíveis ao 2,4 D, devendo este, porém, ser evitado e substituído por outros princípios, dada a sua alta toxicidade. Também merecem atenção, aponta Carlos Peres, o treinamento dos funcionários que farão a aplicação, a regulagem apropriada dos equipamentos e a utilização dos herbicidas no período certo, com atenção às condições climáticas, evitando tempo muito seco ou em situação que chova após a aplicação, trazendo a perda do produto. O estágio de desenvolvimento da infestante também é importante, por exemplo, em função do tipo de produto. n
Informe Especial Senepol
Programa de Melhoramento do Senepol garante avanços para a raça
A
Associação Brasileira dos Criadores
Primeiro pilar estratégico do PMGS, o Registro
a de Dupla Musculatura, que é responsável pelo
de
(ABCB
Genealógico é a ferramenta oficial que garante
desenvolvimento anormal da massa muscular
Senepol) está aliando a genômica
a identidade dos animais e permite conhecer
nos animais, levando a problemas de manejo e à
aos
de
o valor de um animal a qualquer tempo. Ele
diminuição no teor de gordura na carne.
avaliação genética da raça. Com isso, o Programa
gera informações essenciais para as provas de
de Melhoramento Genético do Senepol (PMGS)
avaliação de desempenho e para o Programa de
Já a avaliação genética e a geração das DEPs
passa a contar com quatro pilares de atuação:
Avaliação Genética. A ABCB Senepol conta, em
(Diferenças Esperadas na Progênie) é o
Registro
seu banco de dados, com mais 60 mil registros.
terceiro pilar do PMGS. O Senepol tem sido
Bovinos processos
Genealógico,
Melhoramento
Senepol
Genético
tradicionais
Provas e
Zootécnicas,
Genômica.
avaliado desde 2010 pelo Geneplus/Embrapa
A
expectativa é de que o processo de seleção genética
Já as Provas Zootécnicas (segundo pilar do
e a expectativa é ampliar o banco de animais
seja acelerado com a união das informações
PMGS) são pré-requisitos para que os animais
avaliados. A raça conta com um Sumário de
provenientes desses quatro pilares. “Trata-se
possam receber a Certificação do programa. A
Touros, que teve a última versão publicada
de um programa oficial visando a orientar os
ABCB Senepol utiliza as informações coletadas
em setembro.
criadores quanto à necessidade de conhecimento
nas provas chanceladas para ampliar a base
do valor genético de seus animais, pensando
de dados do programa. Os primeiros dados
A genômica entra como o quarto pilar do
não apenas em produzir um adequado touro
genômicos gerados pelo PMGS vieram de uma
PMGS e estima-se que essa ferramenta
melhorador para ser acasalado com a vacada
prova zootécnica. Foi feita a genotipagem de
possibilite ganhos em vários aspectos. Um
brasileira, mas também que esta genética irá
quase 300 animais que participaram do Programa
deles é em relação à determinação dos níveis
impactar ao longo de toda a cadeia pecuária,
de Avaliação e Qualificação de Doadoras
de endogamia, variabilidade e diversidade
chegando ao real objetivo final, que é o prato do
Senepol – Safiras (prova de desempenho
genética dos rebanhos. Na parte de genealogia,
consumidor”, assegura o presidente da ABCB
chancelada pela ABCB Senepol), finalizada em
ajudará a determinar a paternidade dos animais
Senepol, Pedro Crosara Gustin. Participam
outubro. O resultado traz dados genômicos de
para o correto registro genealógico, assim
do programa pesquisadores da Embrapa
duas características de relevância econômica
como a composição racial individual dos
Gado de Corte e da UNESP e especialistas
para o Senepol. Uma delas é o SLICK, que é
animais a partir da comparação com as
da área de genômica, identificação animal
a capacidade que um bovino possui de tolerar
raças formadoras do Senepol. Para formar
e certificação de sistemas, além da equipe
altas temperaturas do ambiente sem redução da
um banco de animais genotipados, foram
técnica da ABCB Senepol.
produtividade. Outra característica avaliada foi
coletadas 2.500 amostras em várias provas de desempenho. Além disso, todos os touros do Sumário também serão genotipados. Os criadores interessados em participar do PMGS devem ser associados da ABCB Senepol. O termo de adesão pode ser obtido pelo e-mail: pmgs@senepol.org.br.
Para mais informações: (34) 3210 2324 ou (34) 9 9962 4357 pmgs@senepol.org.br Provas Zootécnicas (segundo pilar do PMGS) são pré-requisitos para que os animais possam receber a Certificação do programa
falecomadiretoria@senepol.org.br www.senepol.org.br
Especial Pastagens Especial Pastagem
Sementes terão de ter maior nível de pureza barenbrug
Instrução Normativa do Ministério da Agricultura elevará para 80% teor de pureza das braquiárias e para 60% dos panicuns.
Amostragem de sementes permite determinar a qualidade do lote
Marina Salles
E
marina.salles@revistadbo.com.br
stá pronta a Instrução Normativa 30, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), que elevará de 60% para 80% o grau de pureza das sementes de braquiária e de 40% para 60% o dos panicuns. Ela está em poder de André Felipe Carrapatoso Peralta da Silva, diretor do Departamento de Fiscalização de Insumos Agrícolas (Dfia), da Secretaria de Defesa Agropecuária (SDA) do Mapa, que promete encaminhá-la em breve para ser assinada pelo ministro Blairo Maggi. Existem pressões contrárias à mudança, movidas, ao que tudo indica, por interesses comerciais. Mas Peralta garante que não voltará atrás da decisão, que, confirmada pelo ministro, valerá já a partir da próxima safra de plantio, a partir do início das chuvas (outubro de 2018, em regiões como Sudeste e Centro-Oeste). Um dos motivos é que Peralta vem negociando a questão com o setor de sementes desde 2011, em sete longos anos de polêmica. A mais recente alteração nas normas de pureza para sementes forrageiras ocorreu em 2009/2010. “Adotamos uma postura mais democrática, tentando ouvir o setor para não desestabilizá-lo, mas chegamos no limite”, afirmou Peralta à DBO. Segundo ele, a mudança foi sendo adiada por
A DBO 78 DBOnovembro novembro2015 2017
causa de peculiaridades do mercado e por questões operacionais ligadas à colheita das sementes, que é feita no solo, por varredura. Quando o material é capturado pelas colheitadeiras _ junto com terra e outras impurezas como nematoides, fungos, ovos de cigarrinha, palha, pedras, sementes de plantas daninhas e de outros capins _, tem apenas 20% de pureza, percentual que vai aumentando nas etapas de pré-limpeza e processamento. Como muitas empresas atendem apenas ao mercado interno, ainda trabalham com material relativamente sujo e se opõem a mudanças nas regras, argumentando, inclusive, que elas não interessam aos pecuaristas. “Após anos de discussão, concluímos que não podemos trabalhar com regras tão complacentes por causa de questões de mercado ou de práticas inadequadas de usuários”, diz Peralta. Uma das questões de mercado às quais ele se refere é o preço da semente. Segundo o diretor, o argumento do setor produtivo é o de que o aumento no teor de pureza vai encarecer o insumo e estimular a pirataria ou o mercado de sementes sujas (fora do padrão mínimo de pureza estabelecido pela legislação), que, aliás, já existe. Isso instituiria uma concorrência desleal e roubaria mercado justamente de quem cumpre as regras. “Tenho ouvido esse argumento há anos, mas não se pode trabalhar pensando na ilegalidade”, afirma. Segundo ele, a decisão sobre o aumento no grau de pureza das sementes forrageiras está tomada e somente pressões políticas alheias a seu controle poderão barrar a publicação da IN. Debate acalorado Procurado por DBO, Marcos Roveri José, coordenador do Comitê de Forrageiras da Associação Brasileira de Sementes e Mudas (Abrasem), informou que a entidade preferiria a manutenção dos padrões de pureza atuais por um prazo de cinco anos, para que pudesse “colocar em prática uma agenda positiva”: buscar alternativas junto ao governo para aumentar o efetivo de fiscais; analisar a conivência de comerciantes na venda ilegal e divulgar na mídia os benefícios de optar por sementes de melhor qualidade. O posicionamento aconteceu em reunião realizada no dia 31 de outubro último. “Isso tornaria o ambiente mais favorável para aprovar a normativa nos termos propostos pelo ministério”, diz Roveri, que também é gerente executivo da Unipasto, que congrega 31 empresas produtoras de sementes. Tanto a Unipasto como a Anprosem
(Associação Nacional dos Produtores de Sementes), que reúne 60 associados, endossam o posicionamento do comitê da Abrasem. Murilo Nahas Batista, diretor técnico da JC Maschietto, de Penápolis, SP, que há anos participa das discussões sobre o tema, não é contra as mudanças, mas manifesta preocupação com a “sustentabilidade” do mercado. Ativo combatente da pirataria e defensor da criação de um selo de qualidade para as sementes forrageiras (chegou a encaminhar essa sugestão à Abrasem), ele explica que, no Centro-Sul, as sementes de braquiária com 60% de pureza e taxa de semeadura de 8 quilos/hectare são bem aceitas, mas a situação é diferente no Norte. Lá, mais de 90% do produto comercializado está fora do padrão. Uma das justificativas dos pecuaristas para comprar esse tipo de semente, segundo Nahas, é a falta de equipamentos adequados nas fazendas para trabalhar com taxas de semeadura inferiores a 10 kg/ha. “No Maranhão, no Pará e em Rondônia, eles estão acostumados a semear a lanço, no mínimo 50 a 60 kg/ha. Aproveitando-se da situação, empresas de sementes e produtores clandestinos abastecem o mercado”, explica o empresário. Marcos Roveri, da Unipasto, compartilha a preocupação de Nahas com a fiscalização, pois o ministério, atualmente, conta apenas com 80 agentes federais agropecuários para fiscalizar o mercado de sementes. “Esse número tende a diminuir, porque os servidores estão se aposentando e há falta de verba para concursos públicos”, diz Roveri. Mesmo reconhecendo o problema, André Peralta não vê possibilidade de condicionar a publicação da IN 30 à ampliação da estrutura de fiscalização. “Para o assunto andar, vamos ter de fazer o caminho contrário: melhorar a IN e esperar que a gritaria sobre a falta fiscalização reforce o pleito por mais agentes.” Mariana Bassanezi Gasparim, da Sementes Gasparim, de Presidente Prudente, SP, defende que o próprio mercado se autorregule. “A liberação dos padrões mínimos deixaria o consumidor livre para escolher o que deseja, com base em critérios agronômicos ou financeiros. Se ele quisesse uma semente com 60% de pureza, nós forneceríamos; se preferisse uma com 80%, caberia a nós atender a essa demanda. O que não se pode ignorar é que esse mercado para graus de pureza mais baixos existe. Se o pecuarista não encontrar esses produtos em empresas idôneas, vai adquiri-los de quem não tem CNPJ nem endereço fixo”, afirma. Comercializando exclusivamente sementes incrustradas, a Barenbrug, de Guaíra, SP, defende justamente o contrário: que se trabalhe com níveis de pureza entre 90% e 95%. “É uma tendência”, afirma Álvaro Peixoto, diretor-geral da empresa no Brasil. Visão de produtor Com o objetivo de verificar a opinião dos produtores e eventuais resistências às novas regras, o Ministério da Agricultura solicitou à Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) um parecer sobre a questão. Após
Entre as impurezas que podem vir com as sementes estão nematóides e pragas
consultar suas 27 afiliadas, a entidade se posicionou a favor das mudanças na legislação, defendendo a necessidade de se trabalhar com informações confiáveis e reduzir os riscos de introdução de pragas ou doenças nas fazendas, o que reduz os custos de plantio e a manutenção das pastagens. Procuradas por DBO, porém, pelo menos uma das federações, a Famato, de Mato Grosso, disse não ter sido consultada pela CNA. Algumas empresas de sementes forrageiras discordaram do parecer e criticaram a falta de acesso ao conteúdo completo do levantamento, que também não foi compartilhado com a reportagem. Henrique Della Rosa, sócio-proprietário da Fazenda Agropecuária Rosane, em Nova Bandeirantes, norte do MT, é da mesma opinião da CNA. Ele não quer apenas sementes puras, mas garantias de que está levando para a fazenda o produto descrito no rótulo. “Já comprei semente com valor cultural anunciado de 80% e, quando fui plantar, o fabricante me disse para considerar apenas
Maior rigor fiscal nas fazendas No período 2008/2017, o Ministério da Agricultura fez uma média de 670 autuações por ano, todas as culturas incluídas, aplicando multas no valor de R$ 3 milhões/ano. Esse montante, porém, ainda é considerado insuficiente pelas empresas do setor para coibir a pirataria. Segundo André Peralta, do ministério, a ideia não é elevar o valor da multa para o produtor formal de sementes forrageiras, cujos valores já considera altos, mas enquadrar os pecuaristas que comercializam ilegalmente essas sementes como “produtores”, autuando-os por conduta indevida. Hoje, se a cultivar for de domínio público, como o marandu, por exemplo, o fazendeiro pode multiplicá-la para uso próprio sem problemas, mas, se for protegida, deve obrigatoriamente comunicar o ministério que detém esses estoques. Caso seja pego com quantidade de sementes acima de suas necessidades, pode ser punido. A multa aplicada aos produtores formais de sementes forrageiras depende do valor do produto comercializado. Se a germinação ou a pureza estiverem fora do padrão, a multa poderá variar de 40% a 81% do valor do insumo. Se a pureza estiver 50% abaixo do permitido, a infração será considerada gravíssima e a multa pode chegar a 125% do valor de comercialização. Para reincidentes, este valor dobra.
novembro 2017 DBO
79
Especial Pastagem
A elevação do padrão do pureza não pode mais ser adiada” André Peralta, do DFIA
65%, um absurdo”, relata. Há cinco anos, ele adquiriu uma plantadeira, por cerca de R$ 12.000, que lhe permite fazer a regulagem do plantio a menores taxas de semeadura. Della Rosa é categórico quanto ao custo-benefício das sementes de baixa qualidade: “Trata-se de uma questão preocupante, pois o pecuarista batalha durante anos para combater plantas daninhas e, quando reforma o pasto, continua com problemas”. Hoje, Murilo Nahas, da JC Maschietto, calcula que a semente representa de 5% a 7% do custo total da reforma, que inclui preparo, correção e adubação do solo, mais plantio. Na média do mercado, 1 kg de sementes de braquiária com 60% de pureza vale R$ 11. Ou seja, fica muito mais caro levar pragas para a fazenda. Segundo Peralta, se o produtor tiver de trabalhar com sementes mais “sujas” e “pesadas”, para plantio, por exemplo, de avião, é melhor que incorpore material inerte na própria fazenda. “Assim, evita-se transportar impurezas, que, além de representar perigo fitossanitário, encarecer o frete”, diz ele. Nahas calcula que, em 30 toneladas do produto com 60% de pureza, 18 t são de sementes e o restante de material inerte. Considerando-se um frete de São Paulo ao Pará por R$ 0,40/kg, R$ 4.800 dos R$
3_gasparim_revista_DBO_print.pdf 1 01/11/2017 10:06:32
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80 DBO novembro 2017
12.000 pagos pelo pecuarista seriam para transportar impurezas. Para ele, a comercialização de sementes puras representa realmente um avanço do ponto de vista fitossanitário e é direito do governo federal modificar as regras, mas também é dever dele garantir o cumprimento, coibindo a pirataria e outras práticas ilegais. Bom exemplo A fiscalização da produção, o transporte e o uso das sementes é tarefa do Ministério da Agricultura, cabendo aos Estados fiscalizar seu comércio. A exceção à regra é Mato Grosso, cujo Instituto de Defesa Agropecuária (Indea) recebeu, em 2016, autorização do Ministério para atuar também no transporte e nas propriedades rurais. Isso graças aos recursos do Fundo Mato-Grossense de Apoio à Cultura da Semente (Fase-MT), criado em dezembro de 2012, por iniciativa da Associação dos Produtores de Sementes de Mato Grosso (Aprosmat). Com o fundo, a associação arrecada cerca de R$ 12 milhões/ano com todas as culturas (R$ 1,2 milhão/ano com forrageiras), mediante a cobrança de uma taxa, que, no caso das sementes de capim, é de R$ 0,04/kg. Desde a assinatura do convênio, parte da arrecadação total do fundo (até 30%) pode ser destinada ao Indea. n
MAXXUM DA BARRA
PRODUÇÃO DE ALTA PERFORMANCE
Este é o Maxxum da Barra, touro da raça Senepol avaliado para produção de alta performance e contratado pela CP CRV Lagoa. De carcaça exuberante, está pronto para produção de bezerros precoces. A SENEPOL DA BARRA evolui a cada geração e possui um plantel consolidado, com os animais 100% avaliados para garantir genética melhoradora, além da venda permanente de doadoras, touros, sêmen e embriões. Senepol da Barra, a genética da qualidade.
(16) 99747-0574
/senepoldabarra
www.senepoldabarra.com.br Acesse o QR Code e assista ao filme sobre a Senepol da Barra.
Especial Pastagens Especial Pastagem
Aplicativo calcula saldo de forragem embrapa
Imagens como a de escassez de forragem na Caatinga são apresentadas ao produtor, para que ele informe eventuais semelhanças com a sua propriedade.
S
aber qual a oferta de capim no pasto e calibrá-la para que não falte nem sobre alimento para os animais é uma tarefa que faz parte da rotina do pecuarista. E, se o clima não colabora, o desafio tende a ser maior. Atenta a essa necessidade, a Embrapa Caprinos e Ovinos, de Sobral, CE, desenvolveu o aplicativo “Orçamentação Forrageira” especialmente para produtores do Semiárido. Na região, que compreende uma área de 982.563 km², e que vai do norte de Minas Gerais, passando pela Bahia, Alagoas, Sergipe, Pernambuco, Paraíba, Rio grande do Norte, Ceará e Piauí, a média pluviométrica não passa de 1.000 ml/ano. O objetivo da ferramenta é permitir que produtores do Semiárido, que dificilmente escapam da seca, estimem sua produção de forragem para o ano todo com base em uma série histórica de dados climáticos e informações que eles mesmos incluem no aplicativo. Entre essas informações estão o tamanho da área de pasto da propriedade; a quantidade de animais de cada espécie, que se alimentam de forragem (bovinos de corte ou leite, caprinos e ovinos); as diferentes categorias animais a que pertencem (matrizes, reprodutores ou animais jovens) e seu peso médio. A quantidade de forragem disponível é calculada por avaliação visual. “No aplicativo, são exibidas fotos da
A DBO 82 DBOnovembro novembro2015 2017
Caatinga e o produtor tem que dizer quantos hectares de pasto da sua fazenda apresentam aquelas características de produção de forragem que ele vê na imagem, sendo elas: produção baixa, média e alta”, explica Vinícius Guimarães, chefe de transferência de tecnologia da unidade. Um item adicional tem relação com a pastagem nativa. “Se conta com capim buffel, gramínea tropical adaptada à seca, ele também informa em que proporção ela está presente na sua área.” Antes de dar o resultado final sobre o saldo de forragem (diferença entre a quantidade de capim disponível e a que é demandada pelos animais do rebanho em um período de tempo), o aplicativo ainda pede o valor (em toneladas) do estoque de silagem, palma forrageira e feno da propriedade. Dependendo do cenário desenhado na simulação, o produtor pode ser notificado de que não terá capim suficiente para alimentar os animais em determinados meses ou que terá produção excedente. Em ambos os casos, a ideia é que ele tenha informação para tomar decisões mais assertivas. “Se sabe que está sobrando capim, o produtor pode vender silagem ou comprar mais animais. O que queremos é dar um instrumento para ele se planejar”, diz Guimarães. Até o fechamento desta edição, o lançamento do aplicativo estava previsto para acontecer em 7 de novembro, durante a feira Semiárido Show, em Petrolina, PE. A partir desta data, ele poderá ser baixado na Google Play, já que conta apenas com versão para dispositivos com sistema operacional Android. O app Orçamentação Forrageira foi idealizado pela pesquisadora da Embrapa Caprinos e Ovinos Ana Clara Cavalcante e desenvolvido em parceria com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). (Marina Salles) n
Seleção
Brahman Xagu vai da genética à produção comercial Fotos: Arquivo Fazenda Stein
Além de tourinhos apreciados nas regiões Norte e Nordeste, criatório de Rogério Stein abriga núcleo da britânica Angus, para produção de carne certificada
Manejo e seleção criteriosos compõem o projeto paranaense
N
Carolina Rodrigues
a lista dos produtores que levam genética à base da cadeia produtiva, ou seja, fazem seleção e também produzem gado para abate, de alta qualidade, Rogério Francisco Stein ocupa um espaço marcado pela diversificação: seleciona Brahman e Angus, faz cruzamento de Brahman com Nelore, utiliza as meio-sangue para inseminar com Angus e vende 80% da produção de cruzados como gado precoce e superprecoce. Na fazenda, localizada em Nova Laranjeiras, região oeste do Paraná, convivem 150 matrizes Brahman PO, 70 Angus e 1.200 vacas comerciais – parte delas receptoras de aproximadamente 200 embriões de FIV (fecundação in vitro) por ano. É desses ventres que Stein [pronuncia-se “stáin”] pretende extrair e comercializar 300 touros Brahman por ano, nos próximos quatro anos. Atualmente, a Brahman Xagu – como é conhecida no mercado – vende 70 touros em negócios na própria fazenda e em remates pelo País. No Leilão da ExpoBrahman, realizado em setembro passado, em Uberaba, MG, Rogério Stein vendeu o touro MR Xagu Fzst 174 por R$ 33.000, preço recorde da mostra. O animal é destaque em precocidade, fertilidade e em eficiência alimentar, característica ainda não inserida nas avaliações do plantel, mas já observada nos grupos de contemporâneos da fazenda.
84 DBO novembro 2017
As Fazendas Stein – um conjunto de seis propriedades que abrangem uma área contígua de 700 hectares – começaram sua história 25 anos atrás, trabalhando com cruzamento entre as raças Nelore e Angus. O interesse pela criação do Brahman puro surgiu durante um dos grandes campeonatos da mineira Expozebu, e cresceu à medida que Rogério Stein visitou grandes criatórios da raça pelo mundo, alguns localizados na região do Chaco, no Paraguai, outros no Texas, nos Estados Unidos. Entre eles, grandes referências da raça, como os norte-americanos J.D. Hudgins e V8 Brahman Ranch, duas potências do Brahman no mundo. Seu plantel foi estruturado com genética importada dessas regiões, além de outros grandes planteis brasileiros Brahmania, Fazenda Santa Bárbara. “Para mim, o Brahman é, de fato, o zebu mundial. Tem boa rusticidade, grande habilidade materna e, ao mesmo tempo, precocidade sexual e ótimo ganho de peso”, expressa o criador. Os passos seguintes consolidaram a marca Xagu em participações no Circuito do Brahman e em exposições agropecuárias importantes do Paraná, como Londrina, Maringá, hoje seu mercado preferencial. A seleção dos animais de pista ocorre quando eles estão com três meses de idade, fase em que são apartados os exemplares de “cabanha”, como os gaúchos gostam de chamar a recria dos animais que concorrem nos campeonatos. Eles, no entanto, representam apenas 3% do rebanho PO. A maior parte do gado vai para áreas de pastejo rotacionado. Os critérios da seleção são obter um Brahman de alta fertilidade, umbigo e aprumos devidamente corrigidos. Estes últimos registraram avanços significativos de 20 anos – quando a seleção da raça no Brasil ainda engatinhava – para cá. Manejo cauteloso Além de perseguir o biotipo ideal para o sistema de produção brasileiro, o criador adota manejo reprodutivo e nutricional eficientes. A propriedade tem área de maternidade para o período final da gestação, com condições que favorecem a parição das vacas. A taxa de prenhez da vacada PO chega aos 93%, enquanto na comercial é de 87%. No manejo nutricional, é adotado o creep-feeding para os bezerros, que, após a desmama, seguem para recria em pasto rotacionado, área onde permanecem até se tornarem produto de venda aos dois/três anos de ida-
Fazenda planeja incrementar a produção de 70 para 300 touros ao ano
de. Aqueles que não são aprovados como tourinhos são incorporados ao rebanho de animais para abate. Antes de saírem da fazenda, os tourinhos passam por exame andrológico e, depois disso, têm suporte dos índices de dois programa de melhoramento: um conduzido pela ANCP (Associação Nacional de Criadores e Pesquisadores), outro, pela ABCZ (Associação Brasileira dos Criadores de Zebu). Quanto maior o universo de avaliações, maior é a garantia do vendedor de que haverá comprador para seu produto: “Os programas permitem que o comprador enxergue a posição de seu fornecedor de genética no rebanho nacional e trazem benefícios adicionais ao vendedor”, entende o criador. Avaliação O sistema de avaliação começa desde o nascimento dos animais, com a pesagem de 100% do rebanho para não perder de vista a facilidade das matrizes em parir seus bezerros. Quando atingem 120 dias é realizado o primeiro descarte, processo que ocorre junto com as pesagens realizadas pela ANCP. Os animais são avaliados pelo desenvolvimento e fenótipo, inclusive habilidade materna das vacas. Também é feita uma avaliação intermediária, quando as fêmeas entram na estação de monta, entre 13 e 15 meses de idade, com peso médio entre 290 e 330 kg. O mesmo rigor técnico é aplicado nos machos entre 18 e 24 meses, quando passam pelo andrológico e pela última análise visual fenotípica. Os reprova-
dos são descartados junto com os animais que não se enquadram nas características funcionais e de biotipo exigidas pelo criatório. Tamanha exigência já levou o Brahman Xagu a mercados distantes. Hoje, os tourinhos da marca são comercializados para o Pará e Tocantins (Norte do País), além do Maranhão e Bahia (no Nordeste). Cruzados Mas o pecuarista gosta de valorizar também o impacto da genética Brahman na qualidade do rebanho comercial, que é majoritariamente composto por vacas meio-sangue Brahman x Nelore, que são inseminadas, via protocolo de IATF, com touros Angus. As que não emprenham vão para repasse com touros Brahman. Parte das bezerras nascidas desse repasse é apartada para reposição do plantel comercial e o restante, descartada para abate. Nos últimos anos, a fazenda se transformou num polo de comercialização de animais para abate de altíssima qualidade. Boa parte da produção, cerca de 800 bezerros, é adquirida por criadores que abatem animais em plantas visitadas por técnicos da Associação Brasileira de Angus, que chancelam a carne desses animais com o selo do Programa Carne Angus Certificada. A diferença de peso é pequena: enquanto os tricruzados Angus x Brahman x Nelore desmamam com 220 kg, os Brahman 3/4 são desmamados com 210 kg, em média. n
Rogério Stein, à direita, em visita ao criatório norteamericano J.D. Hudgins, ponto de referência para a base da seleção.
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Raças
Alentejana desponta como opção de carne macia
arquivo acbra
À esquerda, novilho puro da raça Alentejana, em Portugal. À direita, novilhas F1 Alentejano x Nelore, no MT: resistência ao calor e aos carrapatos.
P Lisboa
Alentejo
mônica costa monica@revistadbo.com.br
roveniente do Alentejo, centro-sul de Portugal, a raça bovina que toma emprestado o nome da região está sendo testada por criadores brasileiros, que veem nela uma alternativa para a obtenção de carne mais macia do que a de zebuínos na produção a pasto, sem perda de rusticidade. Desde 2014, já foram exportadas 45.000 doses de sêmen da raça para o Brasil, conta o zootecnista Nuno Carolino, pesquisador do Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (Iniav), entidade pública similar à Embrapa, com sede em Santarém, uma das cinco sub-regiões do Alentejo, onde o clima mediterrâneo é caracterizado por invernos pouco chuvosos e frios e verões secos e quentes, semelhante a parte do Brasil. “Os produtos do cruzamento com o Nelore apresentaram carne marmoreada e com bom acabamento de carcaça, guardando semelhança com cortes do francês Limousin e do britânico Angus”, diz Carolino, que veio ao Brasil em 2013 para avaliar os primeiros resultados do cruzamento da raça com um plantel de fêmeas Nelore de uma fazenda situada em Santo Afonso, centro-sul do Mato Grosso, próxima a Tangará da Serra. Além do cruzamento industrial, o técnico assegura que o uso de touros para monta natural é outra opção, pois a Alentejana suporta temperaturas de até 40 graus Celsius no verão, situação muito comum no Centro-Oeste e no Nordeste brasileiros. “Algo que raças continentais como Limousin e Charolês ou a britânica Angus não aguentam”, diz. As características da Alentejana chamaram a atenção de um grupo de pesquisadores da Embrapa Meio-Norte, em Teresina, PI, que avalia o desempenho de diferentes
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Anísio Ferreira Lima Neto
De 4 anos para cá, raça portuguesa vem sendo testada em criatórios brasileiros.
genótipos de bovinos e seus cruzamentos em sistemas intensificados de produção. O médico veterinário Anísio Ferreira Lima Neto, integrante do grupo, está acompanhando o desempenho dos cruzamentos com a raça portuguesa desde 2013, quando conheceu Carolino. No ano seguinte, o pesquisador da Embrapa foi para Portugal, onde avaliou os atributos da raça, conheceu o sistema de produção e a qualidade da carne. “Além da resistência ao calor, o Alentejano também tem alta resistência a ectoparasitas e produz carne macia.” Em setembro passado, Lima Neto voltou a Portugal, convidado a participar de um simpósio em Coimbra, onde palestrou sobre o potencial do Alentejano em clima subtropical. Apresentou uma avaliação de 2002 feita pelo pesquisador Pedro Barbosa, da Embrapa Pecuária Sudeste, que comparou peso médio de carcaça, idade de abate e espessura de gordura de bovinos de origem britânica, continental e zebuína e seus cruzamentos, na terminação a pasto (veja tabela na página 87). Com relação à qualidade da carne, Carolino diz que, em Portugal, a Alentejana – com 25% do plantel de 118.000 fêmeas de 15 raças autóctones e 6% do rebanho nacional – tem a maior representatividade entre os cortes bovinos certificados com Denominação de Origem Protegida, classificação concedida a produtos provenientes de vitelos e novilhos puros de origem, que agrega valor à matéria-prima, geralmente destinada a mercados nobres como Luxemburgo, Bélgica e Alemanha. “Aqui, os animais são abatidos em média aos 15 a 16 meses, quando a cobertura de gordura é pequena, porque a dieta mediterrânea não aprecia muito a gordura. Mas, no cruzamento com o zebu, os pecuaristas poderão explorar mais a capacidade de deposição de gordura na carcaça, a partir dos 20 meses, para atender às preferências brasileiras”, diz Carolino.
Peso de abate @
Raças puras 13,8 15,3 15 F1 Britânica x Zebu 16,3 15,1 Continentais x Zebu Continentais x Britânicas 15,1 Britânicas Continentais Zebuínas
Idade
Espessura
de abate
gordura (mm)
33,4 36,8 34,5
4,2 1,9 5,7
35,8 31 38
3,4 3,3 1,6
Anísio Lima Neto (à esq.), da Embrapa, e o pecuarista José Eusébio: dois entusiastas da raça portuguesa.
arquivo pessoal Anísio Lima Neto
Raças, cruzamentos e qualidade da carne em produção a pasto
Fonte: Barbosa, Pedro, Embrapa Pecuária Sudeste. Adaptação: DBO
Alentejanos brasileiros Conhecedor da raça e de suas potencialidades, o pecuarista José de Brito Eusébio, dono de três fazendas de cria no Mato Grosso – a Tamanduá, em Tangará da Serra; a Urutau, em Mirassol d’Oeste, e a São José, em Pontes e Lacerda, todas no sudoeste do Estado –, decidiu apostar nas características do Alentejano para produção de bezerros de cruzamento industrial. Em 2015, importou 25.000 doses de sêmen e utilizou parte do material para inseminar metade das 12.000 matrizes submetidas à reprodução na estação de monta. A outra metade foi inseminada com Angus. No ano seguinte, apenas a genética da raça portuguesa foi utilizada na estação de monta. “Já estou na terceira safra de bezerrros, com ótimos resultados, tanto que consigo vendê-los pelos mesmos valores dos produtos de cruzamento com Angus”, diz Eusébio, referindo-se a animais desmamados aos 7 meses, com peso em torno dos 280 kg. Com relação aos bezerros Nelore (desmamados com 220 kg kg, em média), o diferencial de preço é 15% maior. O criador destaca, ainda, que os cruzados de Alentejano são mais rústicos e resistentes do que seus pares de Angus. “Tive poucos casos de problemas com carrapatos, o que acontecia muito com os meio-sangue Angus”, diz
Aposta no Brasil O Brasil tem sido o principal mercado da genética da raça Alentejana além-mar. Angola e Moçambique, na África, são outros dois mercados visados pela Associação dos Criadores de Bovinos da Raça Alentejana (ACBRA), sediada em Portalegre, outra sub-região do Alentejo, e que congrega 60 integrantes, informa Pedro Espadinha, presidente da entidade. “No Brasil, além da exportação de sêmen, já temos pecuaristas de Pernambuco, Maranhão e Piauí interessados na aquisição de embriões”, diz. Todo o material genético
ele, lembrando que essa vantagem se estende aos compradores desses animais, que os terminam em confinamento, para abate entre 18 e 20 meses e peso ao redor das 20@. Lima Neto, da Embrapa, também avaliou o desempenho das novilhas meio-sangue Alentejano x Nelore, retidas pelo criador. “Pariram com média de 580 kg, com idades variando entre 24 e 27 meses.” Na ponta da seleção, criadores de Caracu também têm recorrido ao material genético da raça portuguesa para refrescar as características europeias do rebanho. Fernando Prado Ferreira, dono da Fazenda Verde Prado, de Monte Alegre do Sul, centro-leste de São Paulo, explica que a raça que chegou ao Brasil junto com os colonizadores, há mais de 500 anos tem influência do Alentejano em suas raízes. “A reintrodução dessa genética reaviva os atributos originais do Caracu”, diz. Seu outro objetivo é obter Alentejanos puros com cruzamentos por absorção, o que pode ser alcançado entre sete e nove gerações. Para isso, mantém um rebanho de 60 animais cruzados de Caracu com Alentejano. “Pretendo ter o primeiro rebanho de Alentejanos brasileiros”, afirma. n
da raça – que possui protocolo fitossanitário estabelecido pelo Ministério da Agricultura brasileiro – passa pela empresa Agrounion, especializada em logística e assessoria aduaneira, com sede em São Paulo, capital. Está nos planos da associação desenvolver uma estratégia para conquistar clientes nos trópicos, calcada na parceria com criadores brasileiros que já usam a genética alentejana em seus rebanhos e divulgá-la por meio de dias de campo. Também quer ampliar as pesquisas com a raça para consolidação de um banco de dados. Outra medida é a distribuição de sêmen em centrais. “Até 2022 pretendemos estar com uma atuação
Carne macia do Alentejano se assemelha à do Limousin e do Angus” Nuno Carolino, pesquisador do Iniav, de Portugal.
mais marcante no mercado brasileiro”, diz Espadinha. As 45.000 doses de sêmen da raça até agora importadas pelo Brasil representam ainda muito pouco no conjunto das raças europeias, ainda que, na comparação com as continentais Charolês e Limousin, fique um pouco mais bem posicionada. Segundo o relatório anual da Asbia (Associação Brasileira de Inseminação Artificial), a quantidade representa menos da metade das 95.000 doses de Charolês (incluindo a variedade mocha) importadas no mesmo período (2014 a 2016), mas foi quatro vezes e meia maior do que as de Limousin, que somaram perto de 10.000 doses.
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Raças Senepol
Agora com avaliação genômica A edição 2017 do Programa de Avaliação e Qualificação de Doadoras Safiras do Senepol, em 13 de outubro, em Lins, SP, inovou ao apresentar os dados genômicos de duas características de relevância econômica: a Slick (capacidade de suportar altas temperaturas do ambiente) e a de dupla musculatura. Ao todo, 263 animais tiveram o DNA analisado e, para o gene Slick, 80,9% apresentaram a frequência do alelo S (positivo) e 19,1% do alelo s (normal). Uma diferença desejada, segundo José Fernando Garcia, especialista em genômica e
membro do Conselho Deliberativo Técnico da raça. “É importante que os animais possuam em seu DNA as duas cópias do gene Slick com essa pequena alteração, de tal forma que sejam resistentes ao calor e transmitam a característica”, diz. Em relação à dupla musculatura, a análise constatou que, de maneira geral, os animais apresentaram 90,5% de frequência do alelo DM (normal - não mutado) e apenas 9,5% do alelo DM (mutado). Também dentro do esperado. “O gene da dupla musculatura é responsável pelo desenvolvimento anormal da massa muscular nos animais e sua ocorrência leva ao aparecimento de problemas de manejo por causa do aumento do risco de dificuldades de parto e diminuição no teor de gordura”, explicou. Pedro Crosara Gustin, presidente da Associação
Brasileira de Criadores de Bovinos Senepol (ABCB Senepol), anunciou que outras provas chanceladas pela entidade também utilizarão a genômica. “Estamos fazendo o mapeamento do genoma de uma população de 2.500 animais, cujas amostras foram coletadas pela Embrapa Gado de Corte nos últimos quatro anos”, afirmou.
animais geneticamente superiores. São ponderadas 11 características: ganho de peso diário, peso final na prova, perímetro escrotal, área de olho de lombo, espessura de gor-
dura subcutânea, conformação frigorífica, qualidade de pelagem, correção de umbigo e prepúcio, aprumos, caracterização racial, além de rendimento de carcaça e qualidade de carne. Em 2016, os animais entraram em avaliação com média de 280 kg (entre 7 e 11 meses) e deixaram a prova em torno de 490 kg (com 14 a 17 meses). A diferença entre os grupos é de 90 dias, seguindo o preconizado em avaliações de desempenho. A prova é coordenada pela ABCCAN, segue protocolos do Programa Geneplus e conta com a orientação da Embrapa Gado de Corte.
Canchim
Prova de desempenho chega à sétima edição Foi realizada em 11 de novembro a 7ª edição da Prova Canchim de Avaliação de Desempenho. Cerca de 200 animais, divididos em dois grupos nascidos entre julho e agosto e entre setembro e novembro, oriundos de 20 criatórios, passam pelos testes a cada edição, cujo objetivo é identificar, entre os garrotes, aqueles capazes de produzir
Devon
No banco de genética na CRI A raça Devon passa a compor o banco de sêmen da CRI Genética, empresa do segmento de inseminação artificial de São Carlos, SP. O animal contratado foi o touro Brado de Santa Alice 1180, de propriedade de Henrique Olmedo Ri-
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bas. O touro conquistou o campeonato do troféu José Almeida Collares, conferido aos Campeões do CDP, na edição de 2017. A Cabanha Santa Alice, de Santa Maria, RS, investe em carne gourmet por meio do programa Ruby Beef e foi esta uma das características que chamaram a atenção da gerente de Produto Corte da CRI, Juliana Ferregute. “Brado é um dos touros que poderão atender à demanda do projeto.”
Nutrição
Sal que não molha Empresas investem em tecnologias para evitar empedramento, que gera desperdícios e consumo desuniforme.
Foto: Texto Assessoria
Demonstração da tecnologia “Dry”, da Trouw Nutrition, no Encontro dos Encontros, da Scot Consultoria, em Ribeirão Preto, no mês outubro. maristela franco
S
maristela@revistadbo.com.br
e o capim é o “arroz-feijão” do boi, o sal mineral é seu acompanhamento perfeito e indispensável, por fornecer os demais nutrientes necessários ao bom desenvolvimento do animal. Um problema comum no campo, contudo, pode prejudicar sua correta ingestão: o chamado “empedramento” do sal no período chuvoso. Quando entra água no cocho, o cloreto de sódio se dissolve e complexa com o fósforo, formando crostas que dificultam seu consumo pelos animais. Esse problema chamou a atenção de várias empresas, que estão oferecendo alternativas ao produtor. Uma delas é o sal em bloco, que resiste às chuvas por ser prensado (veja reportagem na DBO de junho). Outra é o “sal que não molha”, novidade apresentada ao mercado, em outubro, por duas grandes empresas do setor: a Trouw Nutrition, que detém a marca Bellman, e a Nutron/Cargill. Nenhuma das duas revela os componentes que conferem impermeabilidade ao suplemento, mas garantem que o pecuarista não terá mais problemas com empedramento do sal no cocho, o que reduz desperdícios, dispensa a construção de instalações cobertas, permite distribuição do sal apenas uma vez por semana (o que reduz custos) e garante seu consumo adequado no período das águas. Do ponto de vista nutricional, a nova tecnologia se apresenta como um avanço, pois a formação de crostas no cocho, além de causar transtornos em termos de manejo, exigindo esforço (e tempo) do “salgador” para quebrá-las e eliminá-las, garante, segundo as empresas, um fornecimento regular e equilibrado de nutrientes, pois elementos como o fósforo, zinco, cobre, não são lixiados e parcialmente perdidos.
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Dr y Technology A nova linha da Trouw Nutrition, ligada à multinacional Nutreco, de origem holandesa, tem por base a “dry technology”, que demandou três anos de pesquisa em laboratório, conforme explica Josiane Lage, supervisora de P&D para bovinos de corte da companhia. Desenvolvida totalmente no Brasil, a tecnologia permite ao produto – de consistência granulada fina – manter sua integridade, mesmo após chuvas fortes. Apesar de a água às vezes se deposita em cima do produto, como na foto ao lado, ele pode ser consumido pelos animais sem nenhum risco. “Fizemos testes em fazendas e o produto se mostrou tão eficiente quanto o convencional”, diz Josiane. A nova linha da Trouw é composta por quatro suplementos, destinados principalmente às matrizes e animais de recria/ engorda: um com 60, outro com 80 e um terceiro com 90 g de fósforo por kg, além de um sal contendo ureia. A Trouw Nutrition pretende produzir 300 t dos produtosaté o final do ano, comercializando-os por preço 10% superior ao do mineral convencional. Tecnologia SAWT A Nutron, pertencente à Cargill, também está apostando nesse novo mercado a partir de 2018. Usando uma tecnologia chamada SAWT (Superior All-Weather Technology), trazida dos Estados Unidos, a empresa lançou a linha Probeef Resist, que também promete evitar o empedramento ou o empastamento do sal mineral. A água passa pelos grânulos sem umedecê-los, escorrendo pelas frestas do cocho. Um dos grandes benefícios da tecnologia, segundo os especialistas da empresa, é a redução do desperdício e melhores índices tanto produtivos quanto reprodutivos, pois as fêmeas entram na estação de monta melhor mineralizadas. O produto da Nutron/Cargill tem uma cor mais caramelizada, devido ao uso de um corante, e grânulos maiores, para que não sejam levados pelo vento. “Essa tecnologia já é usada nos Estados Unidos há 25 anos, mas tínhamos dificuldade para trazê-la para o Brasil, pois seu processo fabril é complexo. Agora, podemos fabricar o produto aqui”, informa Pedro Veiga, gerente global de tecnologia para bovinos da empresa. Após lançamentos regionais, em Campo Grande, Cuiabá e outras cidades, o Probeef Resist será colocado no mercado, provavelmente no início de 2018. n
Linha da Nutron, que terá lançamentos regionais neste mês.
TOURO CANCHIM
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Bezerro 1/2 sangue Canchim/Nelore
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Melhoramento
Genética ‘sob medida’ ganha adeptos Arquivo F. Vera Cruz
‘Customização’ atende a demandas específicas de selecionadores para garantir maior satisfação dos clientes.
Fazenda Vera Cruz está entre as que personalizaram o projeto de seleção para valorizar a tourada produzida no Mato Grosso
Carolina Rodrigues
A
O touro é o componente principal do melhoramento. Porém, nem sempre é bem utilizado” Rafael Oliveira, gerente de corte Zebu da Alta Genetics
“customização” _ do inglês customization, que quer dizer adaptar algo a necessidades específicas _ está chegando forte à genética. É cada vez maior o número de selecionadores interessados em trabalhar com “índices dirigidos”, montados para atender a demandas próprias de seus rebanhos. O Rancho da Matinha foi uma das primeiras empresas a personalizarem seu projeto, seguida por outros selecionadores. Os programas de melhoramento rapidamente procuraram atender a essa nova demanda. Nos últimos três anos, Cláudio Magnabosco, pesquisador da Embrapa Cerrados, customizou três projetos de seleção integrantes do programa de melhoramento do Nelore conduzido pela ANCP (Associação Nacional dos Criadores e Pesquisadores), da qual é conselheiro técnico. José Fernando Garcia, da AgroPartners Consulting, de Itu, SP, também enveredou por esse caminho, usando a genômica (veja quadro da pág. 94). Resultados práticos já são contabilizados na forma de maior peso à desmama, redução na idade ao primeiro parto e melhoria em características de carcaça.
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A central de inseminação Alta Genetics também se rendeu à nova tendência, lançando, em agosto último, durante a Expogenética, em Uberaba, MG, um programa chamado “Plano Genético”, testado em sete fazendas-piloto. A iniciativa visa identificar o melhor perfil de touro para cada rebanho, considerando-se condições climáticas, mercado regional, sistema de produção e metas de seleção dos clientes. “Temos, hoje, grande quantidade de sumários, índices e avaliações genéticas no mercado, o que resulta em avanços, mas também em dúvidas quanto à escolha do reprodutor. Nem sempre os campeões dos sumários trazem retorno em termos de produtividade para determinado rebanho”, diz Rodolffo Assis, técnico de Gado de Corte da Alta, salientando que a customização veio para ficar. “Se, na agricultura, cada produtor usa a cultivar de milho mais adequada às condições de sua fazenda, por que o pecuarista deve escolher reprodutores com base em modelos genéricos?”, questiona. A Alta capacitou 100 técnicos para atuar no programa e está formando outros 50. Para identificar o touro adequado a determinado sistema de produção, a empresa faz um diagnóstico completo da fazenda, usando um software desenvolvido especialmente para o programa, e elabora índices específicos, considerando informações genéticas do rebanho do cliente e dos sumários da ANCP, Geneplus, PMGZ, Aliança e Qualitas, no caso de raças zebuínas, e Promebo, sumários americano e argentino da raça Angus, no caso das taurinas. “É necessário sempre conciliar as avaliações intrarrebanho com as interrebanhos, para eliminar riscos de seleção isolada”, alerta Raysildo Lôbo, presidente da ANCP, com apoio de Magnabosco: “O que propomos é uma composição de índices dirigidos para características que interessam a determinada fazenda, sem esquecer as DEPs (diferenças esperadas de progênie), base dos programas de melhoramento, fundamentais para delinear projetos sob medida”, diz Lôbo. Mudança de peso Uma das empresas adeptas da “customização genética” é a Fazenda Bartira, braço pecuário da multinacional canadense Brascan, que tem 10 fazendas de cria nos Estados de São Paulo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Goiás, com um rebanho total de 40.000 cabeças. Escolhida para participar como propriedade-piloto do Programa Plano Genético da Alta, a Bartira _ que já conseguiu aumentar o ganho de peso dos bezerros em 30 kg (de 220 para 250 kg) nas últimas quatro safras
sitos igualmente importantes para seu público-alvo, que é composto por invernistas e confinadores, para os quais vende anualmente cerca de 15.000 bezerros. O ganho em carcaça passou a ter participação de 25% no critério de escolha – a mesma do peso à desmama _, ficando atrás somente do peso ao sobreano (30%), enquanto a probabilidade de prenhez das filhas tem peso de 10% e a área de olho de lombo (AOL), outros 10%. “O animal deve dar lucro para o cliente dentro e fora da porteira da fazenda”, justifica Levy Campanhã, diretor de Pecuária da Bartira. De abril a outubro, a empresa vendeu 11.000 animais no chamado “Circuito Bartira”, conjunto de leilões que ganhou fama pela oferta de bezerros de excelente qualidade em suas cinco praças de atuação. Os Nelore (8 meses) alcançaram média de R$ 1.220/cabeça, ante R$ 1.050 pagos no Mato Grosso do Sul, Estado onde é vendida a maior parte da produção da empresa. Já os bezerros de cruzamento industrial registraram média de R$ 1.500/cabeça, ante R$ 1.190 pagos por este tipo de produto no mercado. Ainda serão comercializados outros 3.000 até novembro. Segundo Campanhã, o chamado “índice de recompra” (clientes que voltam a procurar os produtos da empresa) tem se mantido em 60% após o trabalho de customização. Maior ganho na carcaça Outra fazenda que está tirando proveito deste conceito é a Vera Cruz, dos irmãos Jairo e Eduardo Machado, no Mato Grosso. Desde 2013, eles classificam animais elite e superiores pelo Índice Vera Cruz (IVC), usado de forma adicional no processo de seleção, sob orientação do pesquisador Cláudio Magnabosco. “Isso não invalida o trabalho dos programas de melhoramento; apenas garante que eles tenham maior eficiência”, observa Jairo Machado, que hoje participa do Programa de Melhoramento Genético da Raça Nelore, da ANCP; do Programa de Melhoramento Genético do Zebu, da ABCZ (Associação Brasileira de Criadores de Zebu), e do Programa Nelore Qualitas, que emite Ceip (certificado especial
Arquivo alta Genetics
_ agora escolhe touros com base também em outros que-
Equipe da Alta e da Fazenda Bartira: Plano Genético proporciona ganho na balança e na pista de leilões.
de identificação e produção). A customização, segundo o selecionador, proporcionou forte redução na idade ao primeiro parto, de aproximadamente 24 para 21 meses, característica altamente correlacionada a ganhos de carcaça. “Nos últimos três anos, a média de área de olho de lombo (AOL) do nosso gado avançou de 54,27 para 56,72 centímetros quadrados (cm2), e a de espessura de gordura aumentou de 2,43 para 3,45 milímetros (mm) a pasto”, informa o produtor. Esse ganho se traduziu em dinheiro no bolso. No mais recente leilão da fazenda, em julho, em Barra do Garças, MT, touros “customizados” atingiram cotação média de R$ 15.876, ante R$ 9.745 na média dos demais. Os irmãos Machado até deram a esses animais um codinome sugestivo: touros “cifrados”, em referência à “cifra Vera Cruz”, marca a fogo em forma de cifrão impressa na paleta dos animais, prática inaugurada no ano passado e que funciona como uma espécie de “selo adicional de garantia”. São “cifrados” apenas animais elite e superiores no Índice Vera Cruz, que passam no crivo genético de desempenho, rendimento de carcaça e acabamento, além dos requisitos básicos de padronização racial, que conferem a eles também o registro definitivo da ABCZ.
Genômica vê mais longe Usando ferramentas mais sofisticadas, como a genômica, José Fernando Garcia, pesquisador da Unesp-Araçatuba, SP, e diretor da empresa AgroPartners Consulting, de Itu, SP, desde o ano passado vem desenvolvendo projetos sob medida para fazendas que buscam diferenciais de seleção. Uma delas é a Casa Branca Agropastoril, de Paulo de Castro Marques, em Silvianópolis, MG, que iniciou, em 2016, a genotipagem de 1.500 animais Angus e Simental para identificar sequências de DNA responsáveis pela resistência ao calor e ao carrapato, dois obs-
táculos ao avanço das raças taurinas no Brasil Central. Dentro de três anos, a fazenda pretende fazer acasalamentos apenas com base nessas avaliações, permitindo a maior ocorrência dos genes-alvo. Para Garcia, o papel da genômica não é simplesmente elevar a acurácia de características comuns dentro de determinada população, como se faz hoje. “Ela pode ir muito além, ajudando a selecionar biotipos diferenciados, conforme os objetivos do produtor.” Além da Casa Branca, a AgroPartners também atende o criador Fábio Almeida, selecio-
Animais ‘cifrados’ saem por preços 40% maiores” Jairo Machado, sócio da Vera Cruz
nador da grife Nelore do Golias, de Araçatuba, SP, que busca identificar genes para marmoreio. Os acasalamentos já foram realizados e serão validados a partir de 2018. “Na próxima etapa, descobriremos se os animais que carregam esses marcadores apresentam realmente carcaças com gordura entremeada”, diz o pesquisador. Garcia destaca a importância da validação dos resultados para características poligênicas _ aquelas em que mais de um gene influencia no resultado _ como é o caso da qualidade da carne. “Nas características monogênicas, como as de resistência dos taurinos ao calor e ao carrapato, a garantia é de quase 100%”, assegura.
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Melhoramento Requisitos básicos para uma genética sob medida PROGRAMAÇÃO Traçar um plano de metas e resultados esperados, onde estarão inclusos o objetivo geral e os específicos do programa personalizado do criador OBJETIVOS ECONÔMICOS Vendas de bezerros ao desmame Produção de animais precoces para fertilidade e terminação Velocidade de crescimento pré e pós-desmame Qualidade de carne
CRITÉRIOS DE SELEÇÃO Habilidade materna – DEPs maternais Precocidade sexual – DEPs para PE, IPP, 3P e EG DEPs direta para PD e PS DEPs para AOL, EG e maciez
INFRAESTRUTURA Equipe comprometida com o trabalho; controle zootécnico eficiente;estrutura física adequada – curral, balança, escritório, etc.; rebanho bem identificado;manejo sanitário adequado;pastagens bem divididas e identificadas; participar no mínimo de um programa de melhoramento genético reconhecido pelo Ministério da Agricultura – assessoria técnica Fonte: Cláudio Magnabosco
Hoje, segundo Jairo, esses reprodutores representam 20% do rebanho. A genética personalizada da fazenda tem atraído crescente interesse das centrais de inseminação, que contrataram 18 de seus reprodutores nos últimos cinco anos. Os irmãos Machado se inspiraram no trabalho pioneiro do Rancho da Matinha, de Luciano Borges, com sede em Uberaba, MG, que há sete anos trabalha com um índice personalizado de seleção criado pelo
pesquisador norte-americano Michael D. MacNeil, com foco, principalmente, em eficiência alimentar. A Matinha trabalha com dois índices próprios: um para selecionar reprodutores destinados ao mercado de cria (vendedores de bezerros), outro para o mercado de ciclo completo. Os animais são classificados pelo valor econômico estimado da sua progênie, permitindo a seleção dos que serão pais melhoradores do lucro da geração seguinte. Ou seja, o valor da diferença esperada da progênie (DEP) é expresso em reais, para melhor identificação do lucro projetado por animal. “Não existe uma receita para todos os males, assim como não existe um índice que atenda a todo mundo em 100%”, diz Borges. Segundo ele, o produtor que quiser “personalizar” seu projeto de seleção deve saber o que busca, para saber também o que oferece. Considerada uma das maiores vendedoras de touros do País, com média de R$ 17.547/cabeça na ExpoGenética, a Matinha está colhendo os louros da customização. Com um dos maiores bancos de dados em avaliação por eficiência alimentar do País, a empresa tem feito campeões nesse quesito. O atual líder nacional é Al Capone MAT, com 5,16 kg de matéria seca para cada quilo de peso ganho, e Avatar MAT, com o segundo melhor índice: 5,75 kg de MS/kg ganho. O consumo alimentar é a característica que mais influencia na composição do IRM (Índice Real Matinha), com participação de 23%. n
INFRA ESTRUTURA Equipe comprometida com o trabalho Controle zootécnico eficiente Estrutura física adequada – curral, balança, escritório, etc. Rebanho bem identificado Manejo sanitário adequado Pastagens bem divididas e identificadas Participar no mínimo de um programa de melhoramento genético reconhecido pelo MAPA – assessoria técnica PROGRAMAÇÃO Traçar um plano de metas e resultados esperados, onde estará incluído o objetivo geral e específicos do programa personalizado do criador
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Genética
Casa Branca Agropastoril testará tourinhos Angus; Coamo fornecerá a cooperados sêmen de corte e de leite.
A
central genética CRV Lagoa, de Sertãozinho, SP, anunciou, no dia 10 de outubro, na capital paulista, uma série de ações que a empresa vem conduzindo, entre elas novidades na área da genômica e a concretização de duas importantes parcerias: uma com a Casa Branca Agropastoril, do empresário Paulo de Castro Marques, ex-presidente da Associação Brasileira de Angus, e outra com a Coamo Agroindustrial Cooperativa, com sede em Campo Mourão, PR, uma das maiores cooperativas do País, com 28.000 associados e atuação em 68 municípios. Com a Casa Branca, a parceria testará tourinhos Angus nascidos de embriões importados dos Estados Unidos, da Argentina e do Canadá, num centro de performance semelhante ao que a CRV tem em Sertãozinho e que será instalado na Fazenda Santa Ester, em Silvianópolis, MG. Um dos objetivos principais é agregar a mensuração de eficiência alimentar aos futuros reprodutores. “Vamos avaliar essas progênies para verificar quais linhagens se adaptam melhor às nossas condições”, define Marques, que desde 2015 já importou 500 embriões da raça. Como contrapartida, a CRV terá preferência na escolha dos tourinhos que a agropecuária ofertará ao mercado, para coleta e comercialização de sêmen. A ideia do empresário é ofertar ao mercado entre 100 e 120 tourinhos por ano. Já com a Coamo, a parceria – firmada em julho último – prevê o fornecimento exclusivo de doses de sêmen da central para os cooperados que têm atividade pecuária, de corte e de leite. Luís Adriano Teixeira, gerente de Vendas e Marketing da CRV Lagoa, estima que há um potencial de comercialização de 250.000 doses por ano, 60% disso para gado de leite e o restante para corte. “Com esta parceria, poderemos expandir nossa presença no Paraná, em Santa Catarina e no Mato Grosso do Sul”, avalia Teixeira. Já para Leandro Teixeira, gerente do Departamento de Compras de Produtos Veterinários da Coamo, a parceria permitirá o acesso de pequenos produtores a material genético de ponta. Incremento na genotipagem Outra novidade anunciada foi o investimento na
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Daniel Smith
CRV investe em parcerias e em genômica Paulo de Castro (esq.), da Casa Branca, e Paul Vriesekoop, presidente da CRV, firmam acordo.
área de genômica. Trabalhando com genotipagem desde 2011, mas só a partir de 2014 no âmbito do Paint, o Programa de Melhoramento Genético para Rebanhos de Corte, a CRV possui uma base de dados – também chamada de rebanho de referência – de 9.600 animais da raça Nelore. Pretende, até o fim deste ano, dar uma incrementada nela com a genotipagem de mais 2.000 animais. A coleta já começou e abrangerá todos os rebanhos dos 68 parceiros do Paint, que contam com 59.000 matrizes. Segundo César Franzon, gerente de Inovação e Rebanho da CRV, a genotipagem será feita não só em vacas e novilhas, mas também em touros, erados e jovens, estes últimos em número próximo a 400. A ideia é validar e aumentar a acurácia desses reprodutores, candidatos naturais ao teste de progênie da empresa (cerca de oito aprovados por ano). Os aprovados passam a integrar a bateria de touros em coleta da central, atualmente de 140 Nelore 160 de outras raças de corte. “Com a genotipagem, identificaremos como melhoradores animais que nunca tiveram dados fenotípicos coletados”, explica Franzon. No caso das novilhas, a genotipagem – que será feita pela norte-americana Neogen – visa selecionar aquelas de genética superior, para que sejam futuras doadoras de embrião, conseguindo, assim, uma diminuição significativa no intervalo de gerações, o que acelera o progresso genético dos rebanhos. Franzon explica que A CRV detém um chip exclusivo para seu programa, de forma que consegue uma espécie de mapeamento de todos os genes que influenciam as 16 características de interesse econômico do Paint. Outra ação na área genômica é o lançamento de um programa para utilização específica em rebanhos comerciais, previsto para o início de 2018. Batizado como “HerdOptimizer” (“otimizador de rebanhos”, em tradução livre do inglês), a ideia é genotipar as novilhas de reposição dos plantéis, de forma que se consiga selecionar exemplares superiores, até em características de difícil mensuração, como eficiência alimentar, precocidade sexual e atributos relativos à carcaça. (Moacir José) n
Genética Selo 100% Maciez é novidade no RS O lançamento do selo “Homozigoto 100% Maciez” foi a novidade do Catálogo de Sêmen de Touros das Raças Angus, Hereforf, Braford e Brangus 2017/2018 da C.O.R.T. Genética Brasil, lançado no início da temporada de monta, em Esteio, no Rio Grande do Sul. A empresa, pioneira na utilização de marcadores moleculares em 100% da bateria de touros, criou o selo para identificar touros que apresentem as quatro enzimas responsáveis pela maciez no indivíduo e garantam a transmissão da característica à progênie. Nesta edição, receberam o selo dois touros Angus, um da seleção da Gap Genética, de Uruguaiana (RS), e outro touro de origem argentina, Don Léo. Na raça Braford o exemplar 100% carne macia foi o touro TOP 10 da Santa Ana Agropecuária, criatório que desde 2010 faz parte do programa de melhoramento genético Pampa Plus, com avaliação genômica há oito anos. O catálogo de touros da C.O.R.T.
Nelore Qualitas está aberto a novas parcerias Depois uma longa parceria com a Alta Genetics na contratação dos touros de seu teste de progênie, o Nelore Qualitas, programa de melhoramento genético ligado ao Ceip (Certificado Especial de Identificação e Produção), abriu o processo de coleta e distribuição de sêmen dos futuros “craques” da pecuária para outras centrais de inseminação do mercado. Desde o ano passado, elas podem acompanhar o processo de escolha dos touros jovens e contratar eleitos dentro de um rigoroso sistema de avaliação. Neste ano, foram escolhidos 18 animais da geração 2015 de um universo de 10.000 animais avaliados,
Genética contempla uma lista de 76 touros avaliados com base nos programas Promebo, Natura Delta G e Pampa Plus, todos com produtividade comprovada por outros dois certificados de superioridade genética: o TTR IATF, teste de termorresistência rápido, que avalia o sêmen dos touros com maior resistência do sêmen no processo de fecundação in vivo, criado há 10 anos, e o Selo 100% Homozigoto Preto, garantia de touros que carregam o gene da pelagem preta, algo desejável nos sistemas de produção para maior adaptabilidade das raças europeias e sintéticas às condições de Brasil Central. Selo 100% Homozigoto Preto, garantia de pureza racial do touro Angus conferida pela empresa nos últimos dois anos. Na prática, o selo indica que os filhos destes touros nascerão sem manchas irregulares de pelagem, garantia de genética mais pura e, consequentemente, maior heterose e produtividade no cruzamento industrial. dos quais 1.800 tourinhos pré-selecionados para o teste. Eles foram eleitos por características reprodutivas, produtivas, visuais e de desempenho, além da classificação por eficiência alimentar e qualidade de carne e de carcaça. Tal abertura resultou na contratação de animais pela CRV Lagoa e CRI genética, empresa que contratou QLT Portinari, da Agropecuária Topgen, quinto lugar da prova para conversão alimentar e sétimo para CAR (consumo alimentar residual). A Alta Genetics contratou outros dois touros nesta edição. O Nelore Qualitas foi criado em 2002 e reúne cerca de 40 fazendas no seu sistema de seleção e melhoramento genético, com 290 animais da base de parentesco e um total de 2,7 milhões de informações catalogadas ao longo de 15 anos.
Teste Progênie Angus aprova mais cinco touros As centrais Alta Genetics e Progen contrataram cinco touros do Teste Progênie Angus 2017, entre 100 touros jovens do Programa de Melhoramento de Bovinos de Corte (Promebo). São eles Faraó Tólio TE422,
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Tradição T73 Farrapo, Soldera 5125 Resource Gaspar, Ranger da Rio da Paz TE 1520 e Cia Azul 3264 Roger Candelero. Entre os destaques das características desses animais estão desde baixa DEP para peso ao nascer até DEPs altas para perímetro escrotal, ganho de peso à desmama, área de olho de lombo e índice de carcaça. Antes da contratação, os touros passaram pelo ritual de aprovação, que inclui distribuição de 500 doses de sêmen entre fazendas participantes do Promebo e comercialização de 2.000 doses no mercado. Fábio Barreto, diretor do Departamento Técnico da Progen, ressalta ser muito importante para a raça Angus o desenvolvimento de um trabalho de identificação dos melhores reprodutores adaptados à realidade nacional. “O que se quer é dar mais opções para o criador brasileiro, ainda dependente de importação de sêmen Angus, por falta de touros provados no Brasil”, diz ele.
Saúde Animal
Aftosa: calendário para retirada da vacinação será mantido. Mapa avisa: Estados que não cumprirem as metas poderão ficar fora do mercado.
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Mônica Costa monica@revistadbo.com.br
cronograma para a suspensão definitiva da vacinação contra o vírus da aftosa está em curso e não será postergado, ainda que algumas críticas e preocupações tenham sido colocadas por lideranças da cadeia pecuária. Guilherme Marques, diretor do Departamento de Saúde Animal do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (DSA/Mapa) e presidente da Comissão Sul-Americana para a Luta Contra a Febre Aftosa (Cosalfa), afirma que não há mais o que se questionar em relação à retirada da vacinação. “Temos um estudo com mais de 570 milhões de animais submetidos a anáSuriname Guiana lises soroepidemiológicas, além de Francesa todo o rebanho de suínos, caprinos e ovinos, que chamamos de sentinela, que não podem ser vacinados e que nunca tiveram a doença, o que comprova que não há mais circulação de vírus. Ou seja: se não tem vírus, por que vou continuar vacinando?”
A primeira rodada de reuniões com o setor produtivo dos Estados do bloco 1 – Rondônia e Acre – para explicar como o plano estratégico vai funcionar – e o que precisará ser feito nos próximos meses para que a região suspenda a vacinação em maio de 2019 – aconteceu entre os dias 23 e 25 de outubro, em Porto Velho. Marques foi questionado sobre de onde virão os recursos necessários para reforçar a vigilância sanitária e indenizar o setor produtivo, caso ocorra algum foco de aftosa após o fim da vacinação. Considerou que a questão de falta de pessoal e de recursos financeiros não é novidade, mas que ela não pode servir de “muleta para suprir essas deficiências”. Procurado por DBO, o diretor do DSA/Mapa é enfático ao afirmar que a descontinuação da vacinação não será feita de forma abrupta e irresponsável. “Temos um plano que levou sete anos para ser construído. É um estudo detalhado, com previsão de ações, que, se não forem cumpridas, não permitirão a mudança de status, com a manutenção da imunização. Mas o Estado ficará isolado”, alerta. Nesse plano estão previstas 16 operações e 101 ações que deverão ser adotadas pelos Estados até a data estipulada para a suspensão da vacinação no bloco. Aqueles que não forem aprovados nas auditorias poderão tornar-se “ilhas” onde a vacinação continuará, mas perderão a liberdade de movimentar seu rebanho
Argentina
Cronograma de retirada da vacinação Uruguai
Guiana Francesa: não reconhecida; Suriname: não reconhecida; Guiana: livre sem vacinação; Venezuela: não reconhecida; Colômbia: status suspenso para livre com vacinação; Peru: livre com vacinação; Bolívia: livre com vacinação; Paraguai: livre com vacinação; Argentina: livre com vacinação; Uruguai: livre com vacinação
Bloco 3 – Alagoas, Ceará, Maranhão, Paraiba, Pernambuco, Piauí e Rio Grande do Norte Implantação dos compromissos: 2º sem./17 – 1º sem./20 Comunicação à OIE sobre suspensão da vacina: maio/20 Fim da vacinação: junho/20 Vigilância soroepidemiológica: 2º sem./20 – 1º sem./21 Reconhecimento Mapa: 2º sem./21 Reconhecimento OIE: 1º sem./22
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Bloco 1 – Acre e Rondônia
Bloco 2 – Amazonas, Amapá, Pará e Roraima
Implantação dos compromissos: 2º semestre 2017 – 1º semestre 2019 Comunicação à OIE sobre suspensão da vacina: abril/19 Fim da vacinação: maio /19 Vigilância soroepidemiológica: 2º sem /19 – 1º sem./20 Reconhecimento Mapa: 2º sem/20 Reconhecimento OIE: 1º sem./21
Implantação dos compromissos: 2º sem./17 – 1º sem./20 Comunicação à OIE sobre suspensão da vacina: maio/20 Fim da vacinação: junho/20 Vigilância soroepidemiológica: 2º sem./20 – 1º sem./21 Reconhecimento Mapa: 2º sem./21 Reconhecimento OIE: 1º sem./22
Bloco 4 – Bahia, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás , Minas Gerais, Rio de Janeiro, Sergipe, São Paulo e Tocantins Implantação dos compromissos: 2º sem./17 – 1º sem./21 Comunicação à OIE sobre suspensão da vacina: maio/21 Fim da vacinação: junho/21 Vigilância soroepidemiológica: 2º sem./21 – 1º sem./22 Reconhecimento Mapa: 2º sem./22 Reconhecimento OIE: 1º sem./23
Bloco 5 – Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina* Implantação dos compromissos: 2o sem./17 – 1º sem./21 Comunicação à OIE sobre suspensão da vacina: maio/21 Fim da vacinação: junho/21 Vigilância soroepidemiológica: 2º sem./21 – 1º sem./22 Reconhecimento Mapa: 2º sem./22 Reconhecimento OIE: 1º sem./23 * livre sem vacinação desde 2007
(para comércio ou exposição) para os Estados do bloco que forem aprovados para suspender a imunização. Quem paga a conta? Representantes de entidades que congregam pecuaristas de alguns dos principais Estados produtores consideram preocupante a falta de transparência sobre a origem dos recursos para implantar o plano. Para Francisco Manzi, diretor técnico da Acrimat Associação dos Criadores de Mato Grosso, o desafio é grande, porque exigirá preparo e agilidade para neutralizar eventuais focos da doença. “O muro será derrubado e a cerca de proteção, que é a vacina, cortada. Precisaremos de uma vigilância forte, o que demanda recursos, num momento em que o País passa por uma crise econômica séria”, justifica. Mato Grosso está há 21 anos sem registrar focos de aftosa e a suspensão da vacinação está prevista para 2021 (bloco 5). Segundo Manzi, o Estado mantém um fundo de R$ 44 milhões, que ele considera insuficientes. “Retirar a vacina e fortalecer a vigilância é dispendioso e o setor produtivo não tem condições de arcar com nenhuma taxa adicional”, reclama. Com ele faz coro Maurício Veloso, presidente da comissão de pecuária de corte da Faeg, a Federação de Agricultura de Goiás, Estado que está no bloco 4, há 22 anos sem nenhum foco de aftosa e que conta com um fundo indenizatório quase quatro vezes maior, de R$ 160 milhões: “Não podemos usar a contribuição voluntária dos produtores para assumir a responsabilidade de todo o Estado.” Outro Estado do bloco 4 com recursos limitados a R$ 40 milhões em fundo destinado especificamente para o contingenciamento de foco é São Paulo. Há 21 anos sem foco, o Estado não tem fundo indenizatório para os pecuaristas. Mas isso não preocupa Pedro de Camargo Neto, vice-presidente da Sociedade Rural Brasileira: “Só precisamos de um decreto do governador para reabilitar o Fundepec-SP. Mas acho que deveríamos evoluir para um
seguro de catástrofe, pois o prêmio a ser pago pelo produtor seria pequeno”, argumenta. Levantamento do Mapa mostra que 15 unidades federativas contam com algum tipo de fundo (11 privados, 3 público-privados e 1 público), que em 2016 somavam cerca de R$ 500 bilhões. Podem ser acionados em caso de emergência, mas o item 10 do Plano Estratégico do Ministério ressalva que não podem ficar somente por conta do setor público, sob risco de se mostrarem “insuficientes e, em consequência, comprometerem a segurança sanitária do País.” Guilherme Marques assegura, porém, que haverá contrapartida do Governo Federal. “Caso seja decretada uma emergência sanitária, uma comissão formada pelas esferas federal, estadual e privada vai estabelecer o valor de indenização e uma emenda parlamentar vai determinar a alocação dos recursos” ,explica. Quanto ao seguro cogitado por Pedro de Camargo, Ricardo Sasse, proprietário da Proposta Seguros – empresa com sede em São Paulo e que administra o único seguro com esta finalidade no Brasil -, informa que a alternativa começou a ser avaliada por muitos Estados, após o anúncio do processo de suspensão da vacinação contra a aftosa. A ideia é que os fundos atuais sejam usados para pagar o prêmio que vai assegurar a cobertura de todo o rebanho do Estado. “Temos estudos mostrando que, se houver uma ocorrência de aftosa no Mato Grosso, por exemplo, a perda máxima seria de R$ 250 milhões, valor cinco vezes maior que o mantido pelo fundo de indenização do Estado atualmente, mas apenas 0,4% do patrimônio produtivo que é de R$ 58 bilhões (valor do rebanho mato-grossense formado por quase 30 milhões de cabeças).
A vacinação deveria estar suspensa há muito tempo” Sebastião Guedes Presidente do Giefa
Prontos para começar No bloco 5, Rio Grande do Sul e do Paraná – cada um deles com fundos que somam R$ 70 milhões, e há
Como vai funcionar O processo de transição de zonas livres de febre aftosa com vacinação para livre sem vacinação será feito em blocos, organizados de acordo com critérios técnicos, estratégicos, geográficos e estruturais. Serão cinco grupos (veja mapa). Em caso de reaparecimento de focos, a OIE permite que o País sacrifique ou não os animais, com diversos desdobramentos (são sete possibilidades) e prazos que variam de 3 meses até 2 anos. Segundo Ronaldo Carneiro Teixeira, coordenador geral de Planejamento e Avaliação Zoossanitária do DSA/Mapa, as ações serão decididas de acordo com a localização da propriedade, o número de focos e a brevidade da notificação. “A zona de contenção também será definida de acordo com estes fatores. Quanto mais rápido o pecuarista avisar as autoridades sa-
nitárias, menores serão os cinturões de isolamento e mais rapidamente o status sanitário poderá ser reestabelecido.” Esta metodologia foi negociada após a aparição do último foco da doença no Brasil, em 2005 no Mato Grosso do Sul. Naquela ocasião, praticamente todo o País teve o status sanitário suspenso até a delimitação das áreas afetadas. Além disso, a suspensão das exportações resultou em grande prejuízo econômico para toda a cadeia. “Agora podemos ter focos ativos contidos em uma zona de contenção desde que mantenhamos uma área de proteção sem ocorrência de focos e possamos demonstrar que não houve escape do vírus. A área afetada perde o status internacional da zona livre sem vacinação mas a zona e o bloco mantêm a condição”, completa Teixeira.
O risco de reintrodução do vírus é desprezível” Guilherme Marques Diretor do DSA/ Mapa
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Saúde Animal
É preciso manter um banco de vacinas para contenção de emergência” Emílio Salani vice-presidente do Sindan
16 e 11 anos, respectivamente, sem focos da doença -, não compartilham das mesmas preocupações dos Estados do Centro-Oeste. Ambos já se movimentam para se adiantar ao cronograma e, quem sabe, se juntar ao bloco 1 para suspender a vacinação em 2019 (o cronograma do bloco é 2021). Fernando Groff, coordenador do plano de evolução da febre aftosa da Secretaria de Agricultura do Rio Grande do Sul, afirma que o efetivo na vigilância sanitária é suficiente. São 324 fiscais e R$ 3,5 milhões em recursos federais para investimentos em equipamentos e carros. Ele informa que o Estado já solicitou ao Mapa uma visita em caráter colaborativo, para avaliar as condições e saber o que mais precisa ser feito. “Vamos deixar tudo em ordem”, diz, confiante. Inácio Kroetz, que assumiu a presidência da Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar) em 2012 com a missão de elevar a condição sanitária do Estado, informa que uma auditoria está prevista para janeiro de 2018 e já poderá apontar quais medidas devem ser adotadas para solicitar a suspensão da vacinação. “Estamos concluindo o processo de contratação de 35 médicos veterinários, que irão se juntar a um contigente de 838”, informa. De acordo com Inácio Kroetz, o Paraná possui 33 postos fixos de fiscalização (23 nas divisas com São Paulo e Mato Grosso e 10 na divisa com Santa Catarina) e outros três postos mantidos pelo Mapa na fronteira internacional com o Paraguai. Além destes, há outras dez unidades volantes e um acordo firmado entre a Adapar e a polícia rodoviária estadual que possui 56 postos fixos, vai fortalecer o controle de trânsito em território paranaense. Para Sebastião Guedes, presidente do Grupo Interamericano para Erradicação da Febre Aftosa (Giefa), vice-presidente de Relações Internacionais do Conselho
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Nacional da Pecuária de Corte (CNPC), a suspensão da vacinação já poderia ter ocorrido há muito tempo, não só nesses dois Estados sulinos. Segundo ele, 12 Estados e o Distrito Federal, onde estão 118 milhões de animais, não apresentam foco de aftosa há mais de 20 anos, enquanto outros nove, que somam mais 41 milhões de animais, não registram focos entre 15 e 20 anos. “Estudos epidemiológicos apontam que após cinco anos sem caso pode-se prescindir da vacinação”, informa. Guedes, entretanto, faz uma ressalva: é importante que o Mapa defina a formação de um banco de vacinas antes da suspensão. Para ele, esse banco deve ter entre 10 e 15 milhões de doses, que serão produzidas por fabricantes que participarem de licitações e apresentarem as melhores ofertas para compor esse estoque. Com ele concorda Emílio Salani, vice-presidente executivo do Sindan – Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal, especialmente no período que será de transição. Isto porque a indústria deixará de produzir o equivalente à demanda habitual dos Estados que deixarem de vacinar. No caso de Acre e Rondônia, por exemplo, que serão os primeiros, deixarão de ser produzidas de 25 a 30 milhões de doses da vacinas, calcula ele. O que se repetirá nos anos seguintes, com a suspensão da vacinação nos demais blocos. “O número de bovinos expostos será muito grande até o reconhecimento internacional pela OIE, e se houver algum problema, o País precisa dispor de um estoque local para a contenção de emergência”, alerta. Sem deixar de reconhecer a validade do argumento, Guilherme Marques, do Mapa, considera a medida desnecessária, já que a criação de um banco de vacinas e antígenos para toda a América Latina já está definida pela Cosalfa. “O Panaftosa vai gerenciar este banco, que terá unidades em diversos países participantes, inclusive no Brasil, diz. n
Fatos & Causos Veterinários
Enrico Ortolani
A pré-história de equinos e bovinos
S
ábia frase diz que o mistério gera curiosidade e esta é a base do desejo humano para compreender, desvendar e produzir conhecimento. Que bom que os homens são assim. Se não, ainda viveríamos na Idade da Pedra. No meu concurso para professor titular, tive que dar uma aula sobre doenças digestivas em bovinos, ligadas à minha linha de pesquisa. Para explicar melhor o Professor titular da Clínica de Ruminantes tema, resolvi elucidar como surgiram os ruminantes. Vou da FMVZ-USP aqui fazer um resumo dessa longa pré-história. ortolani@usp.br Tudo se inicia com a origem da Terra, a partir de uma explosão cósmica, há 5 bilhões de anos. Mais de 1 bilhão de anos depois, foram surgindo, nos mares, nutrientes e condições adequadas para o aparecimento de vida primitiva (protocélulas). Estas evoluíram, em mais 3 bilhões de anos, para originar os peixes. A primeira evidência de vida fora dos mares surgiu há 360 milhões de anos. Na ocasião, certos peixes mais desenvolvidos, com pulmões, deixaram marcas em áreas pantanosas e migraram para a superfície. As nadadeiras se transformaram em pernas e daí se originaram os répteis e os anfíbios. Esses animais foram se diversificando, dando nascedouro às aves e a outros seres, como os dinossauros, há 220 milhões de anos. O primeiro mamífero (Hadroconnn dium wui) a pintar no pedaço foi há 195 milhões de anos, Vamos primeiro um tipo de rato com não mais de 7 cm de comprimento. falar sobre Ele tinha cinco dedos em cada pata. Cerca de 125 milhões como surgiram de anos depois, surgiu o primeiro mamífero herbívoro, os equinos e, chamado Protungulatum (primeiro com cascos), que tino próximo nha uns 15 cm e cinco cascos em cada membro. Naquela ‘capítulo’, época o clima na Terra era favorável ao crescimento de os bovinos. plantas pteridófitas, como as samambaias, avencas e xannn xins, e grandes pinheiros, apreciados pelos dinossauros. Porém, aos 65 milhões de anos, aconteceu a queda de um meteorito no Golfo do México. Estima-se que esta rocha espacial tivesse uns 100 km de comprimento. O impacto foi tão forte que uma série de vulcões mundo afora começou a cuspir lava e fumaça, o que cobriu de fumaça o planeta. Essa cortina impediu, por longos períodos, que boa parte da luz solar atravessasse a Eohippus Mesohippus Merychippus atmosfera, dimi(50 milhões de anos atrás) (35 milhões de anos atrás) (10 milhões de anos atrás) nuindo a capacidade de fotossíntese das plantas. A vegetação se reduziu, e dizem que por isso os dinossauros foPliohippus Equus ram extintos: por (5 milhões de anos atrás) (atualmente) fome. Sobrevi104 DBO novembro 2017
veram animais menores que comiam menos, entre eles os herbívoros. Pteridófitas e pinheiros deram espaço ao crescimento de plantas angiospermas, caracterizadas por terem flores, frutos e sementes. Nos primeiros 10 milhões de anos depois da queda do meteorito, se disseminaram certos tipos de árvores, muito parecidas com as encontradas hoje em florestas tropicais, além de frutas, tubérculos e alguns tipos de grãos que temos hoje. Em seguida, apareceram os bambus, o arroz e uma enorme variedade de plantas. Porém, os capins só cresceram para valer há 26 milhões de anos. Como verão a seguir, o surgimento de outras plantas tem a ver com o aparecimento de novas espécies animais. Após 50 milhões e 48 milhões de anos surgiram, em sequência, dois animais que darão origem a agrupamentos diferentes. Falaremos neste artigo apenas do primeiro deles, o Eohippus, que é a base dos perissodáctilos (número ímpar de dedos funcionantes), que formarão os futuros equídeos. O Eohippus tinha o tamanho de um veadinho (25 kg e 60 cm de altura), com quatro cascos em cada membro dianteiro e três em cada membro traseiro. Foi encontrado nas florestas da América do Norte e da Rússia e comia folhas de árvores. Essa dieta fazia com que os seus dentes mastigadores (molares) ficassem mais afiados. Nos 40 milhões de anos seguintes, o Eohippus deu origem ao Mesohippus (meio-cavalo), que cresceu um pouco em peso (40 kg) e altura (1 m). Nos membros dianteiros passou a ter três cascos, com um deles centrais mais destacado em tamanho e outros dois atrofiados. Além de folhas, passou também a comer frutos, tornando seus molares mais arredondados. Ásia e Europa Com a chegada dos capins, o Mesohippus evoluiu para o Merychippus, ao redor de 17 milhões de anos atrás. Seu porte se expandiu muito (até 220 kg) e ficou mais alto (1,4 m), o casco central cresceu e os dois laterais ficaram ainda mais atrofiados. Eles viveram por 7 milhões de anos, se multiplicaram e se distribuíram por toda a Ásia e a Europa. Como esses cavalos passaram a comer capim, seus dentes ficaram mais altos e resistentes para prevenir o maior desgaste, visto que com o hábito do pastejo o animal ingere grande quantidade de terra, que é muito abrasiva aos dentes. A evolução final do cavalo passa pelo Pliohippus, que viveu até os últimos 2 milhões de anos e é o primeiro a ter só um casco por membro. É dele que vem o cavalo moderno, mais alto e elegante. A curiosidade é que os cavalos só não sumiram nos últimos 10.000 anos, quando a Terra ficou por quase 2.000 anos gelada, graças ao homem eurasiano, que passou a cuidar e alimentar a tropa. No segundo capítulo deste “Você sabia?”, vem a parte melhor: a origem dos bovinos. Vale a pena esperar! n
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Bezerro “do cedo” leva vantagem na terminação Pesquisa inédita mostra que bezerro nascido no início da estação de parição ganha mais peso na fase de engorda Bezerro nascido entre agosto e setembro: na hora do abate, R$ 100 a mais em relação aos mais tardios.
O
Renato Villela renato.villela@revistadbo.com.br
produtor mais atento sabe, por experiência própria, que o bezerro “do cedo”, denominação que se habituou a dar àquele animal nascido no início da estação de parição, costuma ser mais vistoso e ter um desenvolvimento superior em relação aos seus contemporâneos no rebanho. Esse conhecimento, de base empírica, oriundo da observação no dia a dia na fazenda, já foi comprovado na balança por inúmeros estudos no campo da reprodução que se propuseram a comparar o peso dos bezerros paridos no final do inverno/início da primavera com seus pares retardatários. Uma pesquisa inédita, no entanto, foi além e mostrou que esses animais, além do desempenho superior na recria, o que os coloca na posição de destaque como “cabeceira” da desmama, também apresentam maior capacidade de ganho de peso durante a fase de terminação no confinamento. Realizado na Agropecuária Fazenda Brasil, em Barra do Garças, MT, o estudo comparou o desempenho de 4.721 bezerros Nelore e meio-sangue Angus/ Nelore nascidos entre agosto de 2014 e setembro de 2015. Os animais foram divididos em três grupos, de acordo com os meses de nascimento: agosto-setembro, outubro-novembro e dezembro-janeiro. As crias foram desmamadas com idade entre sete e oito meses de idade e recriadas a pasto por 322 dias até entrarem no confinamento, onde permaneceram por mais quatro meses. Para avaliar o desempenho dos bois de modo mais preciso, os pesquisadores optaram por medir o ganho em carcaça, e não em peso vivo. Para tanto, subtraíram do peso final (carcaça após evisceração) o peso inicial do bovino, considerando seu rendimento de carcaça na entrada da engorda de 50%, como é de praxe nessas circunstâncias. Dividiu-se o resultado dessa conta pelo número de dias de confinamento para se chegar ao ganho em quilos de carne/dia.
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Os dados obtidos não deixam dúvida sobre o melhor desempenho do bezerro “do cedo”, que teve ganho em carcaça de 1,12 kg/dia, contra 1,06 kg/dia e 1,03 kg/dia das crias nascidas nos meses 10/11 e 12/01, respectivamente, durante o confinamento (veja quadro). Ou seja, uma diferença de praticamente 100 g de ganho diário. “A gente já sabia que esse bezerro tinha resultado bastante superior na desmama, mas acreditávamos que não parava por aí, por isso decidimos acompanhar o seu desenvolvimento até o abate” afirma Rogério Fonseca Guimarães Peres, atualmente gerente de pecuária de corte para América Latina da ABS Brasil, mas que na época foi um dos coordenadores do estudo. “O resultado é importante principalmente para quem faz ciclo completo, mas também para os confinadores, que podem se programar e adquirir esses animais para acelerar a etapa de engorda”, avalia a veterinária Isabella Marconato, que apresentou a pesquisa durante a reunião da SBZ (Sociedade Brasileira de Zootecnia), na cidade de Foz do Iguaçu, PR, em julho passado. O trabalho contou com a participação da Unesp de Botucatu, SP, e da unidade de Colina, SP, da Apta - Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios. Um olhar mais atento sobre o ganho adicional mostra como a engorda dessa categoria pode ser vantajosa financeiramente. Acompanhe o cálculo: considerando a arroba do boi a R$ 140 (cotação média em São Paulo no mês de setembro), o quilo de carne na carcaça sai por R$ 9,60 (145/15). Logo, 100 g equivalem a R$ 0,96. Multiplicando esse valor pelo número médio de dias de confinamento (120), chega-se à conclusão de que o bezerro “do cedo” rende R$ 115,20 (0,96 x 120) a mais no final da engorda. Segundo Rogério Peres, que foi gerente de pecuária durante nove anos da Agropecuária Fazenda Brasil, há várias medidas que, combinadas, podem aumentar o número de bezerros nascidos nos meses oito e nove. “É possível intensificar o manejo reprodutivo com o
encurtamento da estação de monta, a antecipação da idade à desmama e a suplementação de categorias específicas, como as primíparas e as vacas de segunda cria, que são mais sensíveis”.
Efeito da época de nascimento no ganho de peso diário em carcaça no confinamento Mês de
Total de
nascimento bezerros
Programação fetal O que explica, afinal, o ganho a mais na desmama e na terminação? Há uma série de fatores que, combinados, ajudam a entender o desempenho superior. Em primeiro lugar, agosto e setembro são meses ainda bastante secos. Os bezerros que nascem nessa época, portanto, não enfrentam lama e umidade. “Sofrem menos com problemas de diarreia” afirma Peres. Quando a temporada de chuvas se inicia, em meados de outubro e novembro, eles estão completando três meses e estão mais fortes para resistir a doenças. Além disso, é a idade em que, além do leite materno, o animal começa a pastejar, encontrando, também, um pasto tenro e nutritivo. Os pesquisadores apontam mais uma causa. É o que chamam de “programação fetal”. O conceito, bastante difundido na Austrália e nos Estados Unidos, diz respeito a como a nutrição da mãe influencia no desenvolvimento do feto, o que reflete diretamente em sua vida adulta. “Esse resultado da Fazenda Brasil é bastante animador, porque corrobora o que mostram as pesquisas”, afirma Pedro Veiga, consultor técnico de bovinos de corte da Cargill Nutrição Animal, um dos pioneiros a tratar sobre o tema no Brasil, há cerca de quatro anos. Veiga explica que o momento mais decisivo para o desenvolvimento do feto é o terço médio, entre o terceiro e o sétimo mês de prenhez. “É nesse estágio que se intensifica a miogênese, ou seja, a formação de fibras musculares, que garantirão o melhor desempenho desse animal na vida adulta”.
Peso à desmama (kg)
Recria (dias)
Peso de entrada no confinamento (kg)
Peso da carcaça
Dias de confinamento
Ganho em carcaça (kg)
Ganho diário em carcaça
8e9
1.309
215
337
378
329
120
140
1,12
10 e 11
2.089
193
319
354
304
123
127
1,06
12 e 1
1.323
166
315
334
287
125
120
1,03
Fonte: Agropecuária Fazenda Brasil. Adaptação DBO
Para compreender a correlação entre esse período de gestação e a época de nascimento do bezerro “do cedo”, basta olhar pelo retrovisor. As vacas que parirem em agosto/setembro conceberam em novembro/dezembro, o que significa que passam o terço médio da gestação nos meses de março/abril, quando ainda há disponibilidade de forragem, considerando as condições de Brasil Central. Reinaldo Cooke, professor de pecuária de corte da Universidade do Texas, explica que esse é o período em que a vaca prenhe é mais eficiente em responder a qualquer aporte nutricional para ganhar peso, uma vez que no terço inicial, a despeito de ser o melhor momento de oferta forrageira, o requerimento por parte do bezerro (amamentação) é muito maior. Segundo Cooke, é essencial que o produtor se atente à condição corporal do animal. Numa escala de escore corporal de 1 a 9, o desejável é que a vaca fique próxima a 5 durante o terço inicial e chegue até 6, 6,5 no terço médio. “Se a vaca prenhe está ganhando peso, significa que o máximo possível de nutrientes está passando para o feto”, n afirma o professor.
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Manejo
Pesagem “vapt vupt” Manta de couro feita na fazenda facilita vida do vaqueiro
Fotos: marina salles
professora da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e integrante do Grupo de Estudos e Pesquisas em Etologia e Ecologia Animal (Etco), da Unesp de Jaboticabal, SP.
Com cuidado, as patas do bezerro são encaixadas nos buracos da manta
U
Marina Salles marina.salles@revistadbo.com.br
m dos procedimentos que mais exige cuidado do vaqueiro é a pesagem dos bezerros recém-nascidos, muitas vezes não realizada na fazenda devido a dificuldades de manejo. Isso agora é coisa do passado. Com uma instalação simples, montada em um cercadinho específico para isolar os neonatos de suas mães, é possível fazer essa pesagem rapidamente, sem retirar o animal do pasto, e ainda efetuar todos os manejos sanitários como cura do umbigo, aplicação de medicamentos e identificação. Durante esses processos, o animal fica imobilizado e a segurança é total para o vaqueiro. A instalação mencionada consiste em um portal de sustentação munido de gancho com balança digital portátil, no qual o bezerro é dependurado. Para suspendê-lo no ar, usa-se uma manta de couro, com quatro furos para passagem das patas do bezerro e uma abertura no centro para deixar o umbigo à mostra (veja ilustração na pág. 110). Assim que o animal é “vestido”, o vaqueiro junta as argolas metálicas costuradas nas pontas de quatro fitas laterais da manta e acopla todas elas no gancho pendurado no portal, de sustentação que lembra um pequeno gol de campo de futebol. Essa instalação está sendo usada com sucesso em várias fazendas acompanhadas por Fernanda Macitelli,
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Praticidade e conforto A ideia da manta surgiu, em 2014, quando o professor Mateus Paranhos, coordenador do Etco, estava fazendo um trabalho na Fazenda São Marcelo, pertencente ao Grupo JD, em Tangará da Serra, MT, que participa de programas de melhoramento genético, e queria coletar o peso ao nascer dos bezerros. Como o número de nascimentos era muito grande – cerca de 10.000 partos nas várias propriedades do grupo – Mateus e seu então orientando de doutorado, Tiago Valente, com ajuda dos vaqueiros da São Marcelo, desenvolveram o conjunto portal/manta para possibilitar a pesagem rápida e segura dos recém-nascidos. O portal ou “gol” não tem segredo. É composto por dois postes simples de madeira, com 2 m de altura cada, dos quais 60 cm são enterrados no chão. Eles são unidos por uma tábua contendo um furo, no qual é amarada uma corda com a balança digital provida de gancho, equipamento facilmente encontrado no mercado. A manta também é muito simples, mas sua confecção exige alguns cuidados. Deve ser feita com material resistente e na medida correta. O ideal é usar uma peça de couro, mas, caso isso não seja possível, pode-se empregar lonas ou tecidos de polipropileno (ráfia plástica), desses usados na confecção de sacos de sal ou big bags. A peça de formato retangular (de 1,1 m de comprimento por 95 cm de largura), deve ser furada com precisão para se adaptar adequadamente ao bezerro. As cintas de sustentação também devem ter dimensão correta (de 40 cm cada), para que o animal não se apoie no chão e se machuque. Fernanda lembra que a colocação do bezerro na manta deve ser feita com muito cuidado, pois se trata de um recém-nascido. Há duas formas de “vestir” o animal. Se ele estiver deitado ou sentado, basta encaixar suas pernas nos furos. Se estiver de pé, o vaqueiro deve apoiá-lo em suas pernas e direcionar suas patas para os buracos certos, sempre segurando o animal pela virilha e pelo pescoço. Adaptações criativas O conjunto portal/manta tem sido usado em várias outras propriedades. Algumas foram além e aperfeiçoaram a ideia. É o caso da Fazenda Serra Dourada, em Santo Antônio de Leverjer, no Pantanal mato-grossense, onde o proprietário João Manoel Ribeiro Junqueira de Andrade usa a manta com um sistema de duas rol-
Frota renovada de navios em operação contínua.
Medidas para confeccção da manta de contenção
Seguir à risca as recomendações do molde é importante para garantir o conforto do bezerro
danas, adaptado por seus funcionários a partir da proposta apresentada por Fernanda Macitelli. Cada roldana reduz pela metade o esforço necessário para erguer o bezerro, o que facilita e agiliza o trabalho. Toda a estrutura é montada em um coreto de alvenaria com as laterais abertas e cobertura, o que viabiliza a instalação de uma das roldanas junto ao teto, além de proteger os funcionários do sol e da chuva. Nessa instalação, que conta com uma muretinha e colunas que sustentam a cobertura, uma das pontas da corda fica amarrada na viga de madeira do telhado e a outra serve para o funcionário fazer subir e descer a balança com o bezerro. As roldanas permitem variar essa altura: uma delas é usada como suporte para a balança (contando com um gancho para tanto) e a outra fica fixa (amarrada à viga do telhado). Como no cercadinho, as vacas não têm acesso ao
O uso da manta associado a roldanas reduz o esforço demandado do funcionário
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ilustrações: edson alves
Manejo
quiosque e uma mureta de 1,5 m impede sua passagem. Os únicos acessos à instalação são uma portinhola para entrada dos funcionários, que fica fechada durante o manejo, e uma entradinha para os bezerros (de 60 cm de altura e 50 cm de comprimento). Embora seja usada para pesar animais recém saídos do piquete maternidade, com um a dois dias de vida, essa infraestrutura pode atender também à pesagem de bezerros maiores, na desmama. Uma adaptação possível desse modelo para uso no pasto, consiste em tripé de ferro, com uma roldana presa no alto (veja a foto abaixo), e cuja corda de regulagem permite fazer subir e descer o bezerro. Em uma das pontas da corda é amarrado o gancho que segura a balança. A outra ponta fica livre para ser usada pelo funcionário, devendo ser amarrada no tripé quando for a hora de manter o bezerro dependurado. n
Com o auxílio de um tripé de ferro é possível pesar os animais no pasto
Leilões
O martelo na era da internet Público mais conectado e sinal de melhor qualidade impulsionam pregões de gado em plataformas virtuais e fazem “pipocar” aplicativos no mercado
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O leiloeiro Paulo Brasil diz que mercado agora está mais preparado para inovações digitais
Carolina Rodrigues
esde que os leilões de animais surgiram no País, pelo Rio Grande do Sul, na década de 1960, e, em seguida, começaram a se espalhar para outras regiões a partir de São Paulo, participar desses eventos exigia do produtor sair da fazenda, assistir pessoalmente à apresentação dos animais, acompanhar o leiloeiro e dar seus lances aos pisteiros para arrematar os lotes que desejava. O advento dos remates “virtuais”, pela televisão, eliminou a necessidade de deslocamento, mas o produtor ainda precisava gastar horas acompanhando os animais na tela. Isso, contudo, começa a mudar. Com a presença crescente de tablets e smartphones nas propriedades, uma fatia dos leilões está migrando para a internet, tirando proveito de conexões mais seguras, e garantindo maior mobilidade ao comprador e flexibilidade às vendas. O pecuarista recebe uma mensagem pelo aplicativo WhatsApp informando que o lote de seu interesse será ofertado nos minutos seguintes, esteja onde estiver (na fazenda, na estrada, na cidade) e pode dar seu lance pelo celular, finalizando a compra sem deixar de lado sua rotina, nem atividades importantes. A revolução digital seduziu leiloeiras, assessorias genéticas, produtoras de filmes, canais de televisão, leiloeiros e uma cadeia enorme de serviços que começa a se conectar na busca por estruturas de venda online (em tempo real) que garantam sua sobrevivência no mercado mobile.
112 DBO novembro 2017
Não se trata de um fenômeno novo. Uma primeira tentativa de realizar leilões pela internet ocorreu há cerca de 10 anos, mas, segundo o leiloeiro Paulo Brasil – há quase três décadas exercendo a profissão –, o mercado ainda não estava preparado para absorver o conceito. “Existia gente boa em internet, mas amadora comercialmente. Hoje, a demanda é daqui para lá e não de lá para cá. Vivemos outro momento, com estratégias de venda melhor planejadas e compradores mais conectados”, diz ele, sem medo das mudanças que o novo formato impõe à profissão. “O leiloeiro é figura indispensável, pois sobre ele repousa a fé pública do remate”, enfatiza Brasil, que, em setembro, comandou quatro pregões online pela Estância Bahia Leilões, realizados dentro de um estúdio, com pisteiro e mesa operadora. Do primeiro para o quarto evento, constatou-se aumento de 10% na receita, o que, segundo ele, comprova o potencial do novo formato. Maurício Tonhá, dono da leiloeira com sede em Água Boa, MT, diz que “é uma tendência de outros segmentos, que começa a se consolidar no de leilões também”. Desafios modernos A migração dos leilões para a internet faz parte de um movimento maior de consolidação do mercado online, que também já conta com mais de 10 aplicativos de comercialização direta de animais, como o WebGados, de Marcos Marçal dos Santos, filho do empresário Marcos Molina, controlador da Marfrig. Nesses aplicativos, basta o produtor cadastrar seus produtos para venda e aguardar ofertas dos compradores. Concluído o negócio, o vendedor é avaliado, como no site Mercado Livre. O comprador pode fazer a pesquisa por meio de filtros, selecionar o tipo de animal que deseja, por idade, região e faixa de preços, o que confere maior velocidade à negociação. “Temos um leque imenso de opções. Caso haja baixa oferta em uma região, o pecuarista pode pesquisar em outras”, explica Marçal. É nesse universo de velocidade e múltiplas conexões que as leiloeiras vêm buscando se inserir, para ampliar mercado e sobreviver como empresa. Há várias formas de se usar a internet para vender gado: realizando eventos por tempo determinado (uma semana ou um mês, por exemplo, somente com postagens dos lotes); fazendo transmissões a partir de uma sala, com câmeras e equipe próprias; retransmitindo leilões virtuais da TV ou transmitindo leilões presenciais, feitos na fazenda ou recintos especializados (veja mais detalhes no quadro). “Os leilões são a forma mais antiga,
justa e democrática de comercialização. Continuarão a existir, mas de maneira prática”, prevê Paulo Brasil. Como ele, outros leiloeiros e empresários admitem ser preciso “modernizar” o formato, ampliando a conexão entre vendedores e compradores de qualquer parte. Paulo Horto, dono da Programa Leilões, aderiu à novidade em 2015, quando lançou o aplicativo Remate Web, por sugestão do filho mais velho, João Paulo Victor Horto, que coordena o projeto. Desde então já ocorreram 37 leilões com transmissão exclusiva e 200 retransmissões, que movimentaram R$ 15 milhões. “O tempo das pessoas está cada vez mais valioso e a internet ajuda a otimizá-lo”, diz ele. Além da necessidade de modernização, os leilões enfrentam outro grande desafio: o alto custo de realização. Um remate presencial demanda investimento de R$ 300.000 e um virtual tradicional (pela TV), entre R$ 50.000 e R$ 75.000; ante R$ 5.000 a R$ 12.000 do evento pela internet. Mesmo quando se faz transmissão via internet de uma venda realizada em recinto, o custo é mais baixo (R$ 15.000 a
De alto padrão, sim Proprietário do Canal do Leilão, plataforma on line que transmitiu o primeiro leilão pela internet no Brasil, em maio de 1996, o leiloeiro Djalma Barbosa não acha que essa tecnologia ficará restrita à venda de gado de corte ou touros de produção. Há cinco anos, ele firmou parceria com Associação Brasileira de Criadores do Cavalo de Hipismo na transmissão on line de leilões que apresentam média de R$ 80.000/ cabeça, com ofertas de até 70 lotes por remate e liquidez de 100%. "Claro, que o comprador de cavalo é diferente do de gado, mas seu objetivo é o mesmo: comprar bons animais", diz Barbosa, satisfeito com a ferramenta que decidiu explorar quando ninguém acreditava nela. Em 1996, o delay das transmissões chegava perto de um minuto e foram muitos os testes até definir um formato ideal para os vídeos que garantisse upload correto e boa qualidade de imagem. Hoje, o delay não ultrapassa três segundos e as imagens têm ótima qualidade. O produtor paga cerca de R$ 1.000 para inscrever um animal no Canal do Leilão, ante R$ 7.000 nos remates presenciais. Segundo o leiloeiro, o vendedor não precisa estabelecer preços compensatórios para restituir custos no momento da venda, tornando o mercado mais balizado. "Nos últimos 10 anos, tivemos valores muito descolados da realidade. Se não forem ajustados, inviabilizarão o sistema de venda por leilões", opina. Em sua plataforma on line, os vídeos dos animais são expostos pelo período de 15 a 20 dias antes do leilão, abertos para negociações que serão concluídas apenas no dia marcado para o evento. "Não são raros casos em que o leilão começa com 50% dos lotes já vendidos”, diz Barbosa.
R$ 30.000), cerca de 50% a menos do que na TV. Roberto Fabrizzi Lucas enxergou essa necessidade há seis anos, quando passou a transmitir leilões e shoppings para venda direta de animais pela MF Rural, uma das plataformas mais atuantes na área, com 180 eventos anuais, média de 15 por mês. “A internet cresceu em substituição à televisão. Acredito que em mais três anos os virtuais virem exclusividade da web.” Em setembro e outubro, ele transmitiu leilões das grifes Sant’Anna, Casa Branca e VPJ, que ocorreram simultaneamente com o recinto e a TV, sinal de que o mercado de produção já começou essa transição. Segundo os leiloeiros e empresários ouvidos por DBO, a internet tem maior potencial para crescer na base da pirâmide de remates – os que comercializam gado geral e movimentam mais de 30 milhões de bovinos por ano – ou em sua faixa intermediária, os leilões de touros de produção, para cobertura a campo de vacadas comerciais, mas terá dificuldades de chegar a leilões mais glamurosos como os da Expozebu, em Uberaba, MG, que podem custar até R$ 1 milhão, a não ser como ferramenta auxiliar. Eventos desta grandeza precisam da disputa tête-à-tête, do animal na pista e da adrenalina na hora da compra para se agregar valor ao produto e dar dinâmica ao show, como bem explica o leiloeiro Nilson Genovesi, expert em gerenciar emoções: “O leilão de elite tem um componente emocional muito forte e emoção agrega valor. Acredito que pela impessoalidade da internet, ela é realmente mais atrativa para leilões de produção ou gado geral”.
João Victor Horto, da Programa, coordena o aplicativo Remate Web.
Agora com vídeos A Correa da Costa, precursora no uso da internet para venda de gado geral no País, confirma esse prognóstico. Ela realiza cinco remates presenciais por semana com transmissão via internet, onde comercializa um total de 7.000 animais. No início, usava apenas fotos e fichas técnicas com informações sobre peso e idade dos lotes; agora, também inclui vídeos. Os leilões, quase diários, ocorrem na Estância Orsi, em Campo GranMODALIDADE Em estúdio
Retransmissão
Transmissão externa
On line
COMO FUNCIONA
PREÇO MÉDIO
Transmitido exclusivamente via internet e realizado em estúdio, com a presença de R$ 5.000 a leiloeiro, pisteiro e promotor (utiliza câmeras R$ 12.000 e material em vídeo dos animais). Ocorre simultaneamente com a televisão, onde o sinal contratado é retransmitido na R$ 1.000 a internet, seja na plataforma digital R$ 2.000 ou no aplicativo. Transmite leilões de recinto, onde o sinal é captado via satélite e enviado para R$ 15.000 a internet de fibra ótica (utiliza câmeras, a R$ 30.000 equipe externa e multilink). Feito com postagens dos animais Comissão de na web e espaço para o pré-lance, que 8% a 10% do é consolidado na data prevista de faturamento obtido encerramento ou no dia do leilão. no leilão*
*De 2% a 4% para gado geral
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Leilões
Leilões se atualizam para oferecer agilidade, comodidade e baixo custo.
Francisco Oliveira, do Canal Rural, diz estar atento às demandas dos clientes no campo virtual.
de, MS, e registram cerca de 200 acessos com tempo de permanência acima de 30 minutos. Quase 60% dos lances são finalizados pela internet. Além do gado geral, os produtos mais comercializados na internet são equinos e sêmen bovino, produto principal do aplicativo Remate Web, da Programa Leilões. Cerca de 70% dos lances foram para pacotes de sêmen. Mesmo movimentando valores já consideráveis, a internet representa apenas 1,5% do faturamento total dos leilões organizados pela Programa nos últimos dois anos. “Trata-se de um mercado ainda pequeno, mas com grande potencial. Temos, em média, 900 espectadores por leilão, somando site e aplicativo. Os eventos também são transmitidos pelo Facebook, alcançando, em média, 32.000 pessoas. O mercado está na rede”, diz João Victor Horto, que pretende fazer investimentos futuros no setor. A Correa da Costa tem a mesma disposição. Nos últimos cinco anos, ela investiu R$ 100.000 em aparelhos, filmadoras e programas para melhorar a qualidade das imagens e reduzir o delay (atraso de sinal nas transmissões via satélite) das transmissões pela internet.
De braços abertos As três grandes redes de TV especializadas do setor – Canal Rural, Canal do Boi e Terraviva – também estão de olho nesse novo mercado. Dono de mais da metade da grade de leilões virtuais, que ocupam 35 horas de sua programação semanal e representam 25% de todo o conteúdo exibido, o Canal Rural já tem grandes planos para o segmento web. A emissora, que antes pertencia à RBS (afiliada da Rede Globo no Rio Grande do Sul) e foi vendida à JBS em 2013, foi pioneira na chamada “televenda rural” e quer usar sua experiência no comércio eletrônico com duas finalidades: minimizar o efeito das crises do setor sobre seu faturamento, ao garantir um pacote de serviço mais “em conta” para o produtor, e sair à frente de seus concorrentes, com soluções digitais diferenciadas na comercialização de animais. Para Júlio Cargnino, presidente do Canal Rural, a revolução digital é inevitável. “A interação dos dispositivos com a TV transformarão o jeito de o comprador assistir aos leilões, mas a transmissão em vídeo continuará sendo necessária e pode ser enriquecida com estes recursos.” Atualmente, a empresa está no mercado web por meio da Lance Rural, plataforma que realizou 53 transmissões exclusivas e mais de 28 simultâneas com a TV em 2016, 126% a mais do que em 2015. Desde 2010, ano em que foi criada, já transmitiu 500 leilões que ofertaram cavalos, bovinos Braford, Hereford e Senepol. Muito além da presença na internet, a plataforma serviu de laboratório para que a emissora entendesse melhor o conceito digital, visando planejamentos futuros. “Se você me perguntar se essa necessidade já bateu na minha porta, vou dizer que na minha já bateu, mas na do meu cliente ainda não. Quando isso ocorrer efetivamente, queremos ter um pacote pronto para apresentar a ele”, acrescenta Francisco JB Oliveira, gerente comercial de leilões do Canal Rural. Em breve, a empresa deverá lançar uma nova plataforma digital de vendas, sem delay, com aporte alto de capital. Datas, valores e formato ainda não foram divulgados. n
Aplicativos de apoio Muitos aplicativos disponíveis no mercado funcionam como suporte para os leilões. O ZapAgrocom, por exemplo, lançado em 2013 pela produtora JM Matos, empresa que atua também na gravação de lotes para os leilões televisionados, se tornou ferramenta indispensável de divulgação e negociação pré-venda. Os lotes são apresentados no aplicativo dias antes dos remates e já identifica eventuais interessados. “Com isso, no dia do evento, a leiloeira parte de um lance inicial proposto pelo mercado, tornando a venda mais democrática e justa”, diz Adalberto Cardoso, promotor do Leilão Braúnas, que contou
114 DBO novembro 2017
com o suporte da JM Matos em seu leilão de outubro. A empresa promete novidades para breve. Até maio de 2018, o ZapAgrocom deverá apoiar a transmissão de leilões virtuais. O software passará por ajustes para transmitir esses remates de forma independente, segundo José Maria Matos, o idealizador do projeto. O utilitário tem uma média de 17.201 visitas por leilão e já conta com 5.310 downloads, sendo 83% para plataforma IOS. O total de remates publicados é de aproximadamente 100, até o momento. Além dele, estão disponíveis para o mercado os aplicativos uBoi, Pecuarista, ZapHorse, Leiteiro, Boi na Linha, Gado e Cia, entre outros.
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5º LEILÃO VIRTUAL DE TOUROS FAZENDA ARARAS
LEILÃO VIRTUAL DE FÊMEAS NELORE MATA VELHA 2017
LEILÃO VRJC EDIÇÃO VIRTUAL
LEILÃO VIRTUAL MATRIZES SANTA MARINA 2017
LEILÃO TOUROS PROVADOS GUADALUPE 2017
LEILÃO NELORE AL MARE ILHABELA 2017
05 DE NOVEMBRO - 14h - CANAL RURAL FAZENDA ARARAS VIRTUAL (31) 3539-9100
9 DE NOVEMBRO - 21h - CANAL RURAL JOSÉ CARLOS PRATA CUNHA VIRTUAL (18) 99786-0435 - (18) 99143-9390
LEILÃO
TOUROS P R O VA D O S GUADALUPE
13 DE NOVEMBRO - 21h - CANAL RURAL FAZENDA GUADALUPE VIRTUAL (18) 3303-7200 - (11) 2155-6550
23 DE NOVEMBRO - 21h - CANAL RURAL FAZENDA MATA VELHA VIRTUAL (34) 2103-5252
7 DE DEZEMBRO - 21h - CANAL RURAL FAZENDA SANTA MARINA VIRTUAL (18) 3622-1197
8 DE DEZEMBRO - 21h - CANAL RURAL GRUPO CARTHAGO - CRL AGROPECUÁRIA ILHABELA - SP (31) 99795-0227 - (34) 3331-6800
LEILÃO DE TOUROS SANTA CRUZ
18 DE NOVEMBRO - 13h - CANAL RURAL GIL PEREIRA - NELORE SANTA CRUZ IACIARA - GO (61) 3345-9451
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Leilões
RS dita o tom das vendas de outubro Estado respondeu por 50% da oferta e 42% da receita total dos remate do mês Alisson Freitas alisson@portaldbo.com.br
C oferta
+ 9,3% receita
– 5,2% média
– 13,3%
om a temporada de remates no Rio Grande do Sul a todo vapor, o mercado de leilões alta no número total vendidos em outubro. De acordo com o Banco de Dados da DBO, durante o mês foram negociados 12.534 lotes animais, embriões e prenhezes de raças bovinas de corte em 123 remates em todo o país, alta de 9,3% em relação aos 11.464 lotes vendidos em 140 leilões em outubro do ano passado. Se por um lado a oferta aumentou, a receita e o preço médio recuaram. O faturamento deste ano foi de R$ 83,2 milhões, 5,2% a menos do que os R$ 87,7 milhões de 2016. Já o preço médio saiu de R$ 7.657 para R$ 6.644, queda de 13,3%. De acordo com o leiloeiro Marco Petruzzi, da Rédeas Remates, apesar as expectativas baixistas da temporada, os remates conseguiram registrar boas liquidez e, em alguns casos, tiveram desempenho superior do ano passado. “Esperávamos que as incertezas do setor causasse um grande baque no ritmo das vendas, mas isso não se concretizou efetivamente e acompanhamos pistas limpas em todo o Estado”, afirmou. “Mais importante que o preço é a liquidez”, acrescentou. Petruzzi também destacou outro fator preponderante para as vendas na região Sul gaúcha. “Esse ano vimos uma forte demanda por terneiros para exportação de gado vivo, via Porto de Rio Grande. Com isso, as vendas de ventres e reprodutores de raças britânicas fluíram ainda mais”.
Remates de outubro tiveram oferta de 12 raças taurinas, zebuínas, sintéticas e compostas Raças Nelore Braford Angus Hereford Brangus Senepol Guzerá Brahman Montana Caracu Tabapuã Devon Total
Lotes 4.815 2.470 1.962 1.147 1.092 739 106 83 68 18 13 11 12.524
Leilões 38 (4) 38 (23) 35 (24) 28 (20) 16 (14) 4 1 2 (1) 1 1 2 (1) 1 123
Renda (R$) 40.166.300 15.318.560 10.655.750 6.899.020 5.687.070 2.714.000 644.300 442.030 376.200 108.000 74.160 125.920 83.211.310
Média 8.342 6.202 5.431 6.015 5.208 3.673 6.078 5.326 5.532 6.000 5.705 11.447 6.644
Máximo 268.800 45.600 138.000 34.500 46.800 5.760 5.280 268.800
Critério de oferta.(-) Dados das leiloeiras Abascal e Borges, Agenda, Agreste, Atalaia, BC, Camargo Agronegócio, Cambará, Capitaliza, Casarão, Central, Connect, Estância Bahia, EDS, Escritório Central, Parceria, Inove, Guarany, Knorr, Leiloboi, Leilosul, Leiloingá, Leilonorte, Marka, Programa, Raízes, Rédea, RG, Ricardo Nicolau, Santa Rita, Santa Úrsula, Socever, Tarumã, Tellechea & Bastos, Trajano Silva e Veterano Remates. (-) Quantidade de remates em que a raça dividiu pista com uma ou mais raças. Elaboração DBO.
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Praças Motor do mercado em outubro, RS foi palco de 68 leilões que arrecadaram R$ 35,4 milhões, respondendo por 50,7% da oferta e 42,6% da receita total de outubro. Durante o mês, foram realizados remates em 24 praças, com destaque para a Farm Show de Dom Pedrito, que movimentou R$ 3,9 milhões com a venda de 711 remates. A feira foi palco da 45ª edição do Guatambu, Alvorada e Caty, que teve umas das maiores receitas de toda a temporada de primavera ao negociar 415 animais Hereford e Braford por R$ 2 milhões. A segunda maior receita saiu de São Paulo, onde 985 lotes foram vendidos por R$ 11,3 milhões. O grande destaque foi o trio de Remates da Agropecuária Vila dos Pinheiros, que teve duas etapas presenciais, em Indaiatuba, e uma virtual. Juntos eles arrecadaram R$ 5,8 milhões por 245 lotes de machos, fêmeas e prenhezes Nelore Elite. O Estado também foi palco do 64º Leilão CV Nelore Mocho, em Presidente Epitácio, que teve o faturamento de R$ 4,2 milhões (veja mais sobre esse remate nessa mesma sessão). Realizados em Campo Grande, os Leilões da Nelore Kito, da Nelore Pintado e da Nelore 42 colocaram Mato Grosso do Sul nos holotes de vendas. Juntos, os remates comercializaram 793 lotes touros e matrizes Nelore por R$ 8 milhões, sendo a terceira maior fatura entre as praças. Taurinas e compostas As raças mais vendidas no País seguem sendo Nelore e Braford. Ambas tiveram desempenho similar ao do ano passado. Entre animais aspados e mochos, o Nelore teve 4.815 lotes negociados por R$ 40,1 milhões. Já no Braford, 2.470 touros e matrizes foram arrematados por R$ 5,6 milhões. Além delas, destaque para expansão do Hereford. Foram vendidos 1.147 lotes, 42,9%% a mais do que os 803 animais de outubro de 2016. A receita também subiu, saltando de R$ 5,5 milhões para os R$ 6,8 milhões deste ano. “Depois de anos com baixa de vendas o Hereford parece estar recuperando o seu espaço nos leilões de primavera. A raça é uma das que mais tem se destacado na produção de terneiros de qualidade”, avaliou o leiloeiro Marco Petruzzi. Outra raça que teve crescimento de vendas em outubro foi o Brangus, que movimentou R$ 5,6 milhões com 1.092 animais em 16 remate. Na comparação com outubro do ano passado, a oferta cresceu 42,8% e a receita 13,7%. n
Jornal de Leilões www.jornaldeleiloes.com.br
direto da pista
raio x Em entrevista ao Jornal de Leilões, André Locatelli, da ACNB, fala sobre o impacto do uso de touros melhoradores na produção de animais comerciais na raça Nelore. Segundo ele, os maiores impactos são na redução da idade de abate, aumento do peso e acabamento de gordura da carcaça.
balanços e análises Fêmeas ajudam Bagé a fechar no azul Tradicional feira da primavera gaúcha movimentou R$ 3,7 milhões com a venda de 565 animais. Receita da Expoinel cai pela metade Com quatro leilões a menos, feira teve queda de 53% na fatura em relação ao ano passado.
O Jornal de Leilões acompanhou em outubro os resultados de 177 leilões de raças bovinas de corte e leite e ovinos. A movimentação financeira foi de R$ 104,1 milhões para 14.504 lotes, entre machos, fêmeas, prenhezes, aspirações e coberturas.
coluna jl Genética Devon “Os produtores de gado comercial que usarem touros Devon em suas matrizes vão comprovar a rusticidade, adaptabilidade e resultados que só animais da raça são capazes de transmitir”, Henrique Ribas, Cabanha Santa Alice. Carne de Zebu “Posso afirmar com certeza absoluta de que não existe sucesso em sistema voltado à produção de carne bovina de qualidade, sem passar por um reprodutor Puro de Origem”, Valdecir Marin Júnior, ABCZ. Angus nacional “Temos urgência em provar a nossa genética Angus, dirigida exclusivamente para o sistema brasileiro de produção e, especialmente, para o cruzamento industrial em vaca Nelore”, Bruno Grubisich, Verdana Agropecuária.
resultados • VPJ faz a maior média de touros Angus do ano • Pista limpa no Remate da Agropecuária Quiri • Brangus domina oferta do Touros da Fronteira • Hereford é exclusividade no Tamanca e Rincão • Coronilha faz dobradinha em Vitória do Palmar • Nelore Curió negocia produção de touros no PA • Aurora e Sossego vendem mais de 100 touros Braford • Terra Grande abastece mercado de touros no Pará • Família Tellechea reúne produção em Uruguaiana • Montana RS mantém tradição de boas vendas • CEIP Alagoas vende quase 200 animais • Massahiro Ono ingressa no mercado de touros novembro 2017 DBO
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Leilões Conversa Rápida com
Valdomiro Poliselli Júnior
U
m dos principais criadores de Angus do País, Valdomiro Poliselli Júnior promoveu a 20ª edição do Leilão VPJ em 28 de outubro, em Jaguariúna, SP. O remate fez história ao ofertar, pela primeira vez, embriões da recém-chegada variedade da raça Angus, a Ultrablack, além de touros e matrizes Angus e exemplares de Brangus. Também houve o lançamento da nova empresa do Grupo VPJ, a Fórmula Genética, e do selo Gold, da Associação Brasileira de Angus (sobre este últmo, veja mais à pág. 40). Com o gado em pista, o Angus foi destaque com média de R$ 18.251 para touros e de R$ 18.900 para fêmeas. Foi a maior média de reprodutores da raça no ano, de acordo com o Banco de Dados da DBO. No Brangus, os touros saíram por R$ 7.592 e as fêmeas por R$ 4.335. Por fim, os 20 primeiros embriões Ultrablack vendidos no Brasil foram arrematados pela média de R$ 1.200. Em conversa rápida com DBO, Valdomiro avaliou o resultado do remate e revelou que promoverá o primeiro leilão de Brahman Vermelho do Brasil durante a ExpoZebu de 2018. Como avalia a primeira venda de embriões Angus Ultrablack?
Tivemos uma excelente média e lotes bem disputados, o que mostra que os produtores estão otimistas com o futuro da raça no Brasil. Ofertamos embriões filhos de vacas Brangus VPJ com reprodutores americanos de alta qualidade. Temos tido muito cuidado na formação do Ultrablack brasileiro. Utilizamos apenas genética totalmente adaptada, com animais de pelo zero e bons aprumos. Isso é fundamental para que a variedade consiga romper barreiras e que, futuramente, os touros consigam servir no Centro-Oeste e até mesmo no Nordeste.
A que pode ser atribuída a valorização dos touros Angus?
Apostamos na renovação do nosso rebanho em 2010 e implementamos a genômica na seleção, com foco nas características de área de olho de lombo, cobertura de gordura e marmoreio, por serem fatores ligados à qualidade de carne, e também para adaptabilidade. Hoje, nosso rebanho é muito bem avaliado para essas características e temos uma grande demanda por touros, tanto por parte dos produtores quanto pelas centrais de inseminação. Essa valorização comprova que o nosso trabalho dá resultado.
No ano passado um touro Brahman Vermelho foi o grande destaque do leilão, mas neste ano a raça não foi vendida. Por quê?
Estamos poupando esforços para promover o primeiro remate exclusivo de Brahman Vermelho do Brasil em maio de 2018, durante a ExpoZebu, em Uberaba, MG. Acredito muito no potencial dessa variedade e creio que ela desempenhará um papel importantíssimo na pecuária brasileira nos próximos anos, com os touros sendo usados em vacas meio-sangue Nelore/Angus.
118 DBO novembro 2017
Terra Grande leiloa 264 touros no Pará
Principal vendedor de touros do Norte do País, o Grupo Terra Grande cumpriu mais uma etapa de sua agenda anual de remates na tarde de 15 de outubro, em Tucumã, na região de São Félix do Xingu, no sudeste paraense. O criatório de André Curado negociou 264 reprodutores aspados e mochos ao preço médio de R$ 8.210, movimentando o total de R$ 2,1 milhões. Foi a segunda maior oferta de touros Nelore no Estado em 2017, de acordo com o Banco de Dados da DBO. Todos os animais saíram com avaliação genética do Geneplus, da Embrapa Gado de Corte, de Campo Grande, MS.
Adir vende touros para oito Estados Com oferta de 51 reprodutores Nelore PO e POI, Adir do Carmo Leonel promoveu mais uma edição do seu leilão anual de reprodutores na tarde de 14 de outubro, na sede da Fazenda Barreiro Grande, em Novas Crixás, GO. Os animais saíram ao preço médio de R$ 14.446, equivalente a 108,6@, com lance máximo de R$ 48.000. “Tivemos 35 compradores de oito Estados diferentes, o que demonstra o interesse dos pecuaristas em nossa genética e comprova que ela dá resultados”, destacou Paulo Leonel, que comanda o criatório ao lado de seu pai, Adir. Todos os touros vendidos eram filhos de animais que participaram de abates técnicos promovidos pelo criatório nos últimos três anos. Além deles também foram negociadas doses de sêmen e gado comercial. O total movimentado com as vendas foi de R$ 1,2 milhão.
Bagé tem o touro Braford mais caro do ano Uma das mostras mais antigas do País, a Expofeira de Bagé, RS, foi palco do Remate Premium, no dia 9 de outubro. A Agropecuária São Jorge e a Estância Rio Negro colocaram na pista suas produções de Hereford e Braford registrando alguns dos maiores lances das raças no ano. O grande destaque foi a venda do reprodutor TE 4094, da Estância Rio Negro, por R$ 48.000 para a ABS
CV oferta animais com DEP de maciez
Maior vendedor de touros do Brasil, Carlos Viacava (na foto com o filho Ricardo) fez a maior oferta de Nelore Mocho do ano na tarde de 1º de outubro. O criador faturou R$ 4,2 mihões, com a venda de 626 animais no 64º Mega Leilão CV, realizado no tattersall da Fazenda Santa Gina, em Presidente Epitácio, SP. Foi a primeira oferta de animais com DEP de maciez de carne, lançada recentemente pela ANCP e pela Embrapa Cerrados. Os 359 touros da safra 2015 saíram a R$ 7.697, com lance máximo de R$ 40.500 por 50% do reprodutor Terrantes da CV. Já nas fêmeas 267 novilhas saíram a R$ 5.530 de média, com lance máximo de R$ 90.000 para um lote com 15 animais.
Pecplan, sendo o maior preço da raça no ano, de acordo com o Banco de Dados da DBO. Já no Hereford, o lance máximo foi de R$ 30.400 para o animal de tatuagem L120. Em números gerais, no Braford, a média de touros foi de R$ 10.300 e das fêmeas foi de R$ 4.389 Já no Hereford os preços médios foram de R$ 11.526 para machos e de R$ 2.418 paras as fêmeas.
Pista cheia em Alegrete
Rodada intensa de negócios na Bulltrade CFM A Agro-Pecuária CFM fez a maior oferta de touros do mês ao colocar no mercado 393 reprodutores com Ceip, na noite de 9 de outubro, com o Leilão Virtual CFM Bulltrade. A ferramenta foi
lançada pela empresa há cerca de quatro anos e oferece ao comprador a possibilidade de realizar o pagamento em arrobas de boi gordo, conforme a cotação da B3 (antiga BM&FBovespa) para maio ou outubro. O remate teve mais de 20 compradores de sete Estados. O preço médio foi de R$ 6.153 e fatura ultrapassou R$ 2,4 milhões. “A cada edição o modelo de venda indexada à arroba prova-se mais interessante aos nossos clientes”, destacou Tamires Neto, gerente de Pecuária da Agro-Pecuária CFM.
RPK exibe produção variada
Reno Paulo Kunz exibiu a sua seleção variada de touros zebuínos e europeus no 6º Leilão RPK Genética, realizado no dia 14 de outubro, em Toledo, no oeste pa-
ranaense. O Abeerden Angus foi maioria, com 11 animais negociados por R$ 8.960; seguido de perto pelo Brangus, com 10 reprodutores a R$ 8.155 de média. As raças Braford e Brahman tiveram, cada uma, sete animais vendidos à média de R$ 8.560 e R$ 7.810, respectivamente. Por fim, cinco reprodutores da raça zebuína Nelore saíram por R$ 7.000 de média. Na foto ao lado, Carlos Peres (à esq.), da Leiloingá, e Reno Kunz celebram o resultado do leilão, que teve 100% de liquidez.
Em uma das maiores ofertas da temporada de primavera, o Remate Conexão Pampa teve a sua terceira edição em 21 de outubro, em Alegrete, RS. Puxado pela venda de fêmeas, o remate faturou R$ 1,7 milhão com a venda de 436 animais Hereford e Braford provados pela Conexão Delta G e pelo PampaPlus. A promoção ficou a cargo da Agropecuária São Pedro, da Cabanha São Fernando, da Estância Silêncio e da Fazenda São Manoel.
novembro 2017 DBO
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Eventos Agenda Rentabilidade no MT Em 24 de novembro, no auditório da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Mato Grosso (Famato), em Cuiabá, MT, acontece um evento do Projeto Rentabilidade no Meio Rural focado em produtores, pesquisadores e empresas do setor. A programação conta com palestras sobre as Estratégias do Programa Produzir, Conservar e Incluir (PCI), do governo de Mato Grosso; análises do mercado agropecuário do Estado e de sistemas de produção solteiros e integrados. Participam da iniciativa o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural de Mato Grosso (Senar/MT) e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). A inscrição é gratuita e pode ser feita pelo link www.sistemafamato.org.br/portal/ famato/form_inscricoes_rentabilidade.php Encontro em Campo Grande foca na gestão A 6ª edição do Encontro de Gestores – “O Sucesso Deixa Rastros” está marcada para 5 de dezembro, no Centro de Convenções
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Rubens Gil de Camilo, em Campo Grande, MS. A ideia do Instituto Terra de Métricas Agropecuárias (Inttegra) e da Terra Desenvolvimento Agropecuário, organizadores do evento, é apresentar soluções reais e casos de sucesso no agronegócio com foco na gestão. As experiências de sucesso foram coletadas em 285 fazendas em 15 Estados, além de Bolívia e Paraguai. Mais informações em www.melhoresdapecuaria.com.br ou pelo telefone (67) 99801-1532. Simpósio na Esalq Acontecerá em Piracicaba, SP, nos dias 7 e 8 de dezembro, o 8º Simpósio sobre Bovinocultura de Corte. Organizado pelo Departamento de Zootecnia da Escola Luiz de Queiroz (Esalq-USP), terá como tema a nutrição e manejo de bovinos no confinamento. Será no Teatro da universidade metodista da cidade, a Unimep, no campus Taquaral. No dia 7, os painéis versarão sobre a indústria da carne e o crescimento animal, focando também seu acabamento de carcaça. Na programação do dia 8, o assunto central é o
manejo nutricional dos bovinos. Mais informações em www.fealq.org.br. Visita técnica nos EUA A empresa Originale Turismo, com sede em São Paulo, capital, está promovendo o USA Tour&NCBA, visita técnica à exposição promovida pela NCBA (National Cattlemen´s Beef Association), a associação nacional de criadores de gado de corte dos Estados Unidos. Ela é considerada a maior e mais antiga feira de bovinos dos EUA e acontece em Phoenix, capital do Estado do Arizona, sudoeste do país. A saída será no dia 28 de janeiro e o retorno, em 4 de fevereiro. A parte técnica estará a cargo dos profissionais Charles Takeuchi, Alexandre Franke e Bruno Mazzer. O grupo é limitado a 25 pessoas e a confirmação deve ocorrer até o dia 8 de dezembro próximo. O endereço do evento na internet é http://convention. beefusa.org. Mais informações pelos fones 0800 771 1404 ou (11) 98644-0414 (whatsapp), com Andreia. Ou pelo e-mail eventos@originaleturismo.com.br
Empresas & Produtos IZ tem pronto carrapaticida à base de óleos essenciais
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Instituto de Zootecnia de São Paulo lançou um carrapaticida à base de óleos essenciais. A fórmula foi desenvolvida pelas pesquisadoras Cecília José Veríssimo e Luciana Morita Katiki e contou com a participação do farmacêutico Leandro Rodrigues e do bioquímico Germano Scholze, da empresa HYG System. O produto se diferencia pelo fato de não utilizar compostos sintéticos. Em testes, em 48 horas ocorreu a morte em diversas fases do parasita – larvas, ninfas, machos e fêmeas. teste in vitro mostrou 100% de mortalidade das fêmeas. “Normalmente, os produtos químicos demoram de 7 a 10 dias para começar a agir”, diz Leandro Rodrigues, que é aluno de pós-graduação em Produção Animal Sustentável do IZ. Outro destaque é a ação do produto em todas as fases do carrapato.
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Após a aplicação, todas as formas secam, inclusive as fêmeas ingurgitadas (cheias de sangue), inviabilizando a postura de ovos. “A aplicação é feita através de pulverização das áreas onde há maior concentração de carrapatos, como períneo, axila, barriga ou pescoço”, informa Germano Scholze. De acordo com estimativas da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), as perdas decorrentes da infestação de carrapatos em bovinos ultrapassam US$ 3 bilhões por ano no Brasil. Além disso, os carrapatos transmitem duas doenças, a anaplasmose e a babesiose. O projeto desenvolvido pelo IZ e pela HYG System foi a primeira parceria assinada pelo instituto nos moldes do Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT-IZ) e deve trazer ganhos estratégicos para a equipe de pesquisadores envolvida no projeto, o instituto e empresa parceira. Segundo Germano Scholze, a parceria busca agora interessados na comercialização do produto, que terá apresentação em embalagens de 1, 5 e 20 litros. Mais informações em (11) 97130-4432.
Pearson relança carrapaticida • O Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal (Sindan) lançou um Compêndio de Produtos Veterinários, com a lista de medicamentos aprovados pelo Ministério da Agricultura e que conta com informações de 3.023 produtos, de 114 empresas. O acesso pode ser feito pelo aplicativo CPVS, disponível nas plataformas Android, Windows e iOS.
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A Pearson, braço veterinário da indústria farmacêutica brasileira Eurofarma, colocou de volta no mercado o carrapaticida TacPlus Banheiro, que havia sido descontinuado há 15 meses por motivos comerciais, informa a empresa. O produto, que mantém a mesma formulação, é indicado para uso em banheiras de imersão, construídas em corredores anexos ao curral, muito comuns no sul do País, onde o gado, geralmente europeu (mais suscetível aos parasitas), caminha somente com a cabeça para fora.
O kit para aplicação contém duas latas de 800 ml de produto carrapaticida e um saco de 6 kg de pó alcalinizante. Pode ser comprado em revendas da região Sul ou, em outras partes do Brasil, sob consulta por telefone. Mais informações em euroatende@ eurofarma.com.br ou pelo telefone 0800-704-3876.
Caixa térmica para vacinas
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A Vallée desenvolveu uma caixa térmica para auxiliar quem faz vacinação do gado. Confeccionada em aço inox, com revestimento de aço galvanizado e capacidade para 40 litros, o utensílio permite que sejam acopladas até três seringas ao mesmo tempo. Além de facilitar o manejo, a caixa ajuda a manter a temperatura adequada para conservação de vacina e reduz os riscos de contaminação. Funciona assim: ao encaixar a pistola no orifício, localizado na parte frontal da caixa, o medicamento que está no cilindro é mantido sempre refrigerado, pois fica do lado de dentro, enquanto o gatilho, componente da seringa que entra em contato com as mãos do operador, é mantido para fora. Os compartimentos que abrigam as seringas são individuais. “Se houver vazamento, o medicamento não se espalha para o restante da caixa”, explica Leonardo Belli, gerente de produtos e mentor da ideia. A caixa térmica está disponível nas revendas que tenham produtos da Vallée em todo o País e poderá sair de graça para quem acumular determinado valor em compras.
• A Vaccinar quer se aproximar dos seus clientes. Para isso, lançou o programa “Portas Abertas”, que possibilita a clientes e interessados visitar as fábricas e verificar in loco o sistema de trabalho e tecnologia empregada pela empresa em sua linha de produção. Com esse programa, a empresa acredita que pode trocar informações com o produtor e conhecer suas demandas. Para agendar uma visita, o pecuarista deve contatar a equipe comercial da empresa no site www.vaccinar.com.br ou a Central de Atendimento.
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Sabor da Carne
Tatiana Bassi
Um festival para a costela do contrafilé Fotos: Guilherme Oliveira
Tatiana Bassi é sócia proprietária do Templo da Carne Marcos Bassi, localizado no bairro da Bela Vista, região central da capital paulista.
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á 29 anos, Marcos Bassi criou a costela do contrafilé, ainda em sua casa de carnes, na Rua Humaitá, no bairro da Bela Vista, em São Paulo. Bassi assava e vendia o corte em peças inteiras ou fatiava lascas para servirem de ingrediente principal de um delicioso sanduíche. Em 2010, o especialista em carnes resgatou o corte e acabou por transformá-lo em um grande evento. A costela do contrafilé, nome criado por este autêntico artesão da carne, é conhecida tecnicamente por prime rib, e está localizada nos cinco primeiros ossos, de um total de 13, do contrafilé. Deste mesmo corte é possível tirar também a saborosa bisteca e o
Inovação: Marcos Bassi conferiu nova ‘leitura’ à peça bovina de onde apenas se tiravam bifes, e dela surgiu a costela do contrafilé.
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bife ancho. Mas não se deve confundir os cortes: a costela do contrafilé está localizada no conjunto do contrafilé, enquanto a costela tradicional, conhecida como ponta de agulha, faz parte do vazio. Apesar dos nomes semelhantes, os cortes são totalmente diferentes e assados de maneiras diferentes e tempos distintos. Desde então, o Festival da Costela do Contrafilé tem sido um grande sucesso no Templo da Carne Marcos Bassi, na Rua 13 de Maio, também no bairro da Bela Vista. A Marfrig Global Foods, parceira da casa, prepara um lote especialmente para dar origem a essa iguaria, uma vez que esse corte não é tradicionalmente produzido para comercialização no mercado, pois geralmente o grande varejo transforma o contrafilé em bifes. A costela do contrafilé não é só um festival, mas um verdadeiro ritual, que começa na manipulação da carne. Os cortes são recebidos de forma bruta e preparados, um a um, pela equipe especializada do restaurante. Depois, a peça, de aproximadamente 2,5 quilos, é colocada inteira no espeto e utiliza-se apenas sal grosso como tempero. Em seguida, leva-se à churrasqueira, a 40 centímetros da brasa, por aproximadamente 40 minutos. De lá, linda e suculenta, vai inteira para a mesa do cliente, onde o garçom fatia macias camadas para iniciar a degustação. A iguaria volta para a churrasqueira para dar o ponto aos demais cortes. Depois de se fatiar a peça por três vezes, faz-se um corte entre os ossos, formando pequenas bistecas, que são grelhadas a 15 centímetros da brasa por 5 minutos, aproximadamente, ficando crocantes por fora e ao ponto por dentro. Para este ano de 2017, o Templo da Carne Marcos Bassi preparou nada menos do que meia tonelada para os amantes deste corte, o equivalente a 200 peças! O Festival da Costela do Contrafilé começou no dia 23 de outubro e terminará com a última peça pedida. Cada corte de costela de contrafilé serve até quatro pessoas e vem acompanhado de uma garrafa de vinho D’Alamel Carmenere. Fica o convite para os leitores de DBO. Bom apetite! n