Anuário DBO - Janeiro 2018

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Um ano não tão ruim quanto pareceu no início

M Moacir José

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Anuário DBO 2018

uitos charam que seria um ano a estimativa de crescimento no mercado de desastroso para a pecuária brasileira, sêmen de corte. No fim da cadeia, o varejo depois de um primeiro semestre fechou o ano com margem na casa dos 60%, cheio de problemas, a começar pela operação mas teve vários momentos em que bateu nos Carne Fraca, da Polícia Federal, em março. 70% (bem superior à da indústria, que teve Outros, de natureza política, engrossaram o pico próximo dos 40%). caldo, atingindo a economia como um todo e No que diz respeito ao mercado de venda a cadeia da carne, em particular, com queda de animais de seleção destinados à produção nas exportações e preço deslizando para baixo de carne, a recuperação dos preços da arroba com velocidade maior do que a que se previa no segundo semestre não foi suficiente para no fim de 2016. evitar o encolhimento da fatura final em 10%, de Mas a recuperação observada no R$ 647 milhões em 2016 para R$ 579 milhões segundo semestre “salvou a lavoura”, não no ano passado, com recuo principalmente na propriamente no sentido de reverter para o oferta de gado das raças zebuínas e taurinas. Na lucro todas as operações. Para o pecuarista, oferta, só as compostas cresceram, destaque por exemplo, em termos para a Braford, que vendeu reais (descontada a quase 5.000 animais por R$ 26 Segundo semestre inflação), a arroba do milhões, mesmo faturamento boi ficou 10% menor do ano anterior. amenizou perdas para uns com relação a 2016, Duas outras boas notícias e tirou outros do vermelho segundo levantamento do ano que passou, uma na do Cepea/USP. Queda área do Meio Ambiente e duas vezes superior outra na de Saúde Animal. à registrada no período 2016-2015, de 4,8%. No âmbito do Cadastro Ambiental Rural Mesmo com custos menores do que os (CAR), 431 milhões de hectares já foram registrados no ano anterior, o produtor viu seu cadastrados, abrangendo a totalidade das poder de compra encolher em relação a alguns regiões Norte, Sudeste e Sul, restando menos dos principais insumos da pecuária. de 5% na Centro-Oeste e 13% na Nordeste. Na Para a indústria, que já estava com uma de Saúde Animal, o Ministério da Agricultura boa perspectiva para 2017, pela expectativa considerou todo o território nacional livre de de preços mais baixos – em função da maior aftosa com vacinação, status que deverá ser oferta de animais para abate –, o céu foi de ratificado pela Organização Mundial de Saúde “brigadeiro” no segundo semestre e a fatura Animal em maio deste ano, em Paris. Foi total, de US$ 6,2 bilhões, foi 14% superior à finalizado, também, o cronograma de retirada do ano anterior, ultrapassando, também, a da vacinação, por regiões, com início marcado registrada em 2015, de US$ 5,9 bilhões. para maio de 2019. Preços mais baixos dos insumos e arroba Para este 2018, o consultor José Vicente mais encorpada no segundo semestre Ferraz, da IEG/FNP, prevê turbulências no favoreceram outras cadeias de insumos, como horizonte, em função de um quadro de a de suplementação animal, que vendeu polarização na disputa pela Presidência da quase a mesmo quantidade de 2016 mas República. Mas acredita que os efeitos negativos faturou (R$ 6 bilhões), 6% mais, em números na economia atingirão com menos força o ainda a ser ratificados. Crescimento próximo agronegócio. do estimado pela indústria veterinária (7%), com fatura na casa dos R$ 5 bilhões. E 5% é Boa leitura


O seu compromisso com o Brasil agora tem um novo selo de qualidade

Com este selo, o consumidor vai poder identificar as empresas do agronegócio que fazem bem para você e para o Brasil inteiro. O agronegócio sempre foi um líder do desenvolvimento e da modernização do país. Agora, com o Programa Agro+ Integridade, este compromisso fica ainda mais forte. Com este novo selo, criado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, o consumidor vai poder identificar as empresas e entidades do agronegócio que atuam com ética, transparência, respeito às leis, aos trabalhadores e ao meio ambiente. O merecido reconhecimento dos consumidores para quem produz alimentos que fazem bem às pessoas e à economia do país inteiro. Um verdadeiro pacto do agronegócio pela integridade. Para saber como se cadastrar e obter o selo, acesse agricultura.gov.br.

MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO


Entrevista José Vicente Ferraz

Política será o complicador de 2018 Diretor da consultoria IEG/FNP prevê ano conturbado, mas acredita que pecuária pode ir bem. Fotos: Edgar Pera

nas mãos de poucas empresas tem sido causadora de mais problemas do que de soluções. Além de atuar como consultor da IEG – os projetos agropecuários são realizados pela divisão de commodities (Informa Economics), que tem escritórios nos Estados Unidos, Canadá, Inglaterra e Bélgica –, Zé Vicente é o responsável pela coordenação técnica de duas publicações que são referência para a agropecuária brasileira: os anuários Anualpec e Agrianual. Veja, a seguir, os principais pontos da entrevista por ele concedida, no escritório da IEG/FNP, em São Paulo, ao editor-executivo de DBO, Moacir José.

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erá uma eleição “complicadíssima”, muito polarizada, e seus efeitos certamente atingirão a economia brasileira. Mas a pecuária, assim como o agronegócio como um todo, deverá sofrer menos do que outros setores. Essa é a síntese do que pensa José Vicente Ferraz, um dos mais experientes analistas de mercado da pecuária de corte nacional. “Zé Vicente”, como é mais conhecido, está habituado a analisar situações que podem afetar empreendimentos no agronegócio. Ele é diretor técnico da consultoria IEG/FNP – a primeira sigla é a do grupo britânico IEG (Informa Economics Group), complexo global de informações profissionais que faz análises técnicas e econômicas de investimentos, setoriais, avaliações patrimoniais e pesquisa de mercado, entre outros trabalhos; e a segunda, da consultoria paulista da qual ele foi um dos fundadores, em 1989, e que foi incorporada pelo IEG, em 2005. Formado engenheiro agrônomo pela Esalq-USP, de Piracicaba, com pós-graduação em administração de empresas pela Fundação Getúlio Vargas, de São Paulo – na área de concentração em economia de empresas – ele carrega em seu currículo atuação em cargos de direção e gerência em empresas de grande porte, como o Grupo Bonfiglioli [Cica e Banco Auxiliar], além de ter sido consultor independente junto a importantes instituições públicas e privadas [foi integrante do Consórcio Nacional de Engenheiros Consultores]. Tem uma posição crítica com relação ao governo atual – ao qual “falta autoridade moral” para fazer passar reformas como a da Previdência –, assim como considera que a concentração do poder econômico

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DBO – Vou fazer uma pergunta relacionada ao seu artigo publicado na edição 2017 do Anuário DBO: você acha que os fatos como a Operação Carne Fraca, a volta da cobrança do Funrural, as delações dos irmãos Batista e os problemas da JBS influenciarão o atual ci­ clo pecuário? José Vicente Ferraz – Sim. Além desses eventos, no ano passado, as questões política e econômica do País tiveram um peso importante em termos de formação de preços, e o ciclo pecuário ficou em segundo plano; pois o preço passou a ser determinado por uma conjuntura excepcional. Mas não é fácil determinar o quanto cada fator desses o influenciou, até porque o ciclo de produção do boi é longo. É preciso ver até que ponto essas situações anormais vão ter continuidade. A operação Carne Fraca, por exemplo, já foi superada. Agora, há outras que podem continuar alterando a normalidade da situação. A política, por exemplo. Este é um ano de eleições. Dependendo do que acontecer, pode ter impacto nas perspectivas para a inflação, no câmbio, que é muito importante para as exportações.... DBO – Um real desvalorizado favorece as ex­ portações... Ferraz – Sim, mas ele pode se valorizar também. Se as pesquisas indicarem o favoritismo de um candidato bastante alinhado com ideias ortodoxas na área econômica, o câmbio pode cair. DBO – O que seriam essas ideias ortodoxas? Ferraz – Coisas do tipo mais austeridade fiscal, uma reforma mais profunda na Previdência... Nessa questão política, estou prevendo um ano extremamente volátil, porque deverá haver uma polarização mais intensa, que vai sinalizar linhas opostas. Não vai dar para fazer uma convergência, como aconteceu, por exemplo, na primeira vez em que o Lula foi eleito [2002], que também foi polarizada. Só que ali ele fez a tal da “Carta aos Brasileiros”, que acalmou o


Entrevista

José Vicente Ferraz

mercado, e ele acabou ganhando a eleição.

buiu, nas de militar que vai ficar de fora da reforma...

DBO – E, depois, teve o apoio de muitos em­ presários... Ferraz – Exatamente. Só que, hoje, ele perdeu essa condição. Porque vai ter de se apoiar numa militância que não vai aceitar que ele faça acordos com o “outro lado”. Se fizer, perde o apoio. [Esta edição seguiu para a gráfica em 23 de janeiro, um dia antes do julgamento do ex-presidente pela 8ª turma do Tribunal Regional Federal, de Porto Alegre, RS.]

DBO – E não se fala também da dívida monstruo­ sa [estimada em R$ 450 bilhões] das empresas privadas com o INSS... Ferraz – Pois é. Aí, o pessoal fala “É, mas estão todas quebradas!” Pois, então, que se cobre das que não estão! Os bancos – que são os mais lucrativos do mundo – devem e não pagam. Tem que começar a cobrar.

DBO – Há quem acredite que o cenário de 2018 não vai mudar muito, porque as reformas do governo atual seguirão seu curso; problemas poderiam vir só em 2019. Concorda com essa avaliação? Ferraz – Não. Na minha visão, quando você tem uma conturbação política muito grande, a economia do País fica vulnerável. A política atual do governo é tentar injetar dinheiro na economia – a liberação [das contas inativas] do FGTS, por exemplo -, porque percebeu que não haverá retomada de investimentos estrangeiros, que só virão – se vierem – no final de 2019, depois de os investidores saberem quem vai assumir e que linha vai adotar. Quando você tem, de um lado, um candidato que diz que vai estatizar tudo, fazer reforma agrária, etc... e, de outro, um que diz que vai privatizar tudo, a coisa fica complicada... O investidor estrangeiro vai esperar definir o quadro. Além da troca de acusações normais numa campanha, ainda vai ter Lava-Jato... Vai ser um “tiroteio”. Complicadíssimo! DBO – Ou seja, não vai ser bom para o mercado da carne... Ferraz – Não vai ser bom para a economia em geral. O quanto não vai ser bom é que não sabemos. Mas acho que o impacto será menor para o agro, que tem uma resistência muito maior. O mundo precisa da carne brasileira e isso ameniza a coisa, como ficou demonstrado no episódio da Operação Carne Fraca. DBO – Como vê o fato de os governistas estarem jogando todas as fichas na questão da Reforma da Previdência? Ferraz – O pessoal está fazendo barulho com essa questão porque sabe que se a reforma não for aprovada agora, só será mexida de novo em 2022... Porque os caras que vão disputar a eleição este ano vão ser contra. Se não forem, perdem a eleição! O cálculo político é que tem de aprovar agora, porque é um governo altamente impopular, que já está “queimado”. Agora, economicamente falando, [a reforma da Previdência] pode até ser uma medida necessária, mas é preciso ter autoridade moral para implantá-la, o que parece não ser o caso desse governo. Mais: eles não têm coragem de contar para a população que o problema todo está nas aposentadorias do serviço público, nas do setor rural, nas de gente que nunca contri-

DBO – Concorda com o argumento de que a pe­ cuária será beneficiada em 2018 por fatores que aque­ cem a economia, como Copa do Mundo e as próprias eleições? Ferraz – Sim. São atenuantes. Acho até que 2018 não deverá ser um ano tão ruim para a pecuária. Em termos reais, talvez até fiquem um pouco mais elevados do que em 2017. DBO – Que indicadores você considera para afir­ mar isso? Ferraz – O preço da arroba. Não houve [em 2017] nenhuma grande despencada, nenhuma grande disparada... Assim como não foi ruim o ano de 2016. Se a remuneração do pecuarista estiver num bom nível e cair um pouco isso não significa que está ruim. Aliás, em termos reais, a partir de 2007 o preço da arroba do boi mudou de patamar de oscilação [ver gráfico abaixo]. Ruim é quando o produtor de média tecnologia perde dinheiro.

Investimentos estrangeiros só virão – se vierem – no fim de 2019, após se conhecer o que pretende fazer o candidato vencedor.

DBO – E quem é o produtor de média tecnologia? Ferraz – É o que tem algum nível de eficiência – produtividade razoável com custo competitivo. Não dá para dar um número, porque cada caso é um caso. E também não dá para fazer uma média, porque as situações são muito heterogêneas; tem particularidades imensas. Tem gente que ganha na escala, tem gente que ganha na tecnologia, na localização (terra barata)...

Historicamente, ainda bons anos (16 e 17) para a arroba do boi

Valores expressos em reais, região noroeste de SP; valor real desconta a inflação. Fonte: Informa Economics/FNP

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Entrevista

José Vicente Ferraz

DBO – Dá para usar, por exemplo, a taxa interna de retorno, que, alguns anos atrás, você calculou em cer­ ca de 2% para a pecuária? Ferraz – Melhorou um pouco. Sem incluir a valorização da terra, a pecuária daria hoje uma taxa de retorno entre 4,5 e 5%. DBO – Você acha que as exportações podem avan­ çar mais este ano, a exemplo do que ocorreu em 2017 [14% em faturamento e 9% em quantidade]? Ferraz – Se aumentar a exportação, vai encarecer o produto no mercado interno. Por que a produção de carne para 2018 já está dada, pelo número de bezerros nascidos dois anos atrás. DBO – Isso implica dizer que a produção não está aumentando... Ferraz – Está aumentando pouco. Agora, o que é importante para o produtor é saber se a renda dele vai aumentar ou não. Na minha percepção, acho que, essencialmente, os preços vão ser parecidos com os praticados em 2017. Não deverá haver nem grandes altas nem grandes baixas. Também deverá ser um bom ano para as indústrias frigoríficas.

A concentração é ruim porque afeta a concorrência, que é o motor do capitalismo.

DBO – Dados do Anualpec mostram que o consu­ mo de carne vem caindo nos últimos anos – de 33 kg per capita em 2014 para 31,5 kg em 2017 [previsão]. Você acha que vai continuar caindo? Ferraz – Essa é a tendência, de elitização do consumo. E não é só no Brasil. Isso decorre da dificuldade muito maior de se produzir um boi do que um frango ou um porco. DBO – Mas como vai melhorar a situação da pe­ cuária, se o consumo é decrescente? Ferraz – A hipótese é que a produção cresce lentamente e o consumo diminui, per capita, por que a população mundial continua crescendo. É mais gente, comendo menos. Isso explica as exportações estarem aumentando. E os preços também. DBO – Ou seja, o que importa é a produção conti­ nuar aumentando... Ferraz – Isso. Principalmente via ganhos de produtividade. Até porque a pecuária está perdendo área para a agricultura. Nesse sentido, se não houvessem crises, poderíamos continuar avançando bastante em fatores que promovem a melhoria da produtividade, na implantação de sistemas de integração lavoura-pecuária, de fazer uma séria de coisas que são importantíssimas para manter a nossa competitividade, para manter a pujança do setor. Só que isso demanda investimento. E aí a gente volta para aquela questão da política... DBO – A pecuária nunca foi uma grande toma­ dora de recursos...

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Ferraz – Não se trata de crédito, mas de investimento, que, de alguns anos para cá, vem se tornando cada vez mais necessário. A modernização da pecuária tem exigido investimentos em maquinários, em gestão. DBO – E a concentração da indústria frigorífica? Muda alguma coisa com essa “balançada” da JBS? Ferraz – Ela já perdeu uma fatia de mercado, essencialmente, para a Marfrig e para o Minerva, e para alguns outros frigoríficos médios, que estão conseguindo captar mais matéria-prima. Talvez perca mais ainda, não sabemos; vai depender do que vier aí pela frente. DBO – Sempre se argumenta que ela só conseguiu chegar aonde chegou por causa da “política dos gran­ des campeões”, implantada no governo Lula... Ferraz – Concordo com isso em parte. Porque não se pode negar que os caras da JBS são muito eficientes. Prova disso é que foram para os EUA e deram um show; botaram o frigorífico lá em cima. Conhecem o mercado, sabem trabalhar. O erro não foi o BNDES ter ajudado a JBS, foi ter deixado o mercado na mão de dois ou três, quando deveria deixar na mão de cinco ou seis. Antes tinha isso: Friboi, Marfrig, Independência, Bertin... Para manter o mercado saudável, tem que ter concorrência. DBO – Nos Estados Unidos, três ou quatro grandes grupos dominam o setor também... Ferraz – É, mas não me cite os EUA como grande exemplo. A Disney acabou de comprar a Fox... Entramos numa questão filosófica do capitalismo: essa concentração é boa ou ruim? Eu só tenho visto problemas! No setor de mídia, nós não conseguimos vender uma página [de anúncio], porque está tudo concentrado! Executivos, pessoal de vendas, concentram tudo e mandam um monte de gente embora... Isso é vantagem? Outra coisa: quando você começa a eliminar a concorrência, deixa de gastar em pesquisa. Facilita a criação de cartéis. Veja o caso das empreiteiras. Tem cinco ou seis dominando; com dez já começaria a ficar mais complicado de combinar preço, dividir áreas onde cada uma vai atuar... Então, o capitalismo não funciona sem concorrência. Tem que ter briga pelo mercado. DBO – Briga tem, mas não está sendo travada com as armas mais adequadas. É isso? Ferraz – A concorrência obriga o sujeito a seguir a lei. O concorrente que se sentir lesado pode te acionar, te prejudicar, acabar com você. As sacanagens de mercado ocorrem quando não tem concorrência. Foi assim que os países ricos se desenvolveram, com a concorrência. E começaram a declinar quando começou essa história de megafusões. Isso para mim é um desastre! n



Análise Gestão

Planejar e treinar estão na ordem do dia Acompanhar, interpretar resultados e aplicar o planejado é sempre um desafio.

D Mário Garcia É médico veterinário, consultor e diretor da Exagro Excelência em Agronegócios, consultoria sediada em Nova Lima, MG, e que atende a 400 fazendas de gado de corte em 13 Estados brasileiros.

efinitivamente, a palavra gestão passou pode influenciar decisivamente no resultado fia fazer parte do vocabulário da pecuária. nal. E por aí vai. Cada uma dessas e das demais etapas está Cada vez mais, produtores e empresas do setor percebem que é no gerenciamento dos re- sujeita a falhas e apresenta diferentes resultacursos que está a diferença entre as empresas dos, conforme o nível de eficiência adotado pela que dão certo e as que não conseguem alcançar empresa e sua capacidade de lidar com erros. Se, seus objetivos. Em artigos, eventos e palestras, por exemplo, o responsável por colocar a boiada o tema é lembrado como essencial na condu- para pastejar tiver alguma preocupação pessoção de sistemas produtivos. Assim, ideal é saber al e errar no momento de entrada ou saída dos quais pontos mudam o resultado final e que efe- animais dos piquetes – ou se não ajustar a carga, tivamente fazem a diferença na gestão financei- o suporte e os períodos de pastejo –, o resultado ra, produtiva, de pessoas ou de todo o processo, vai ficar abaixo do planejado. Quando todo o processo é planejado e exposto para a equipe, os erenfim. Tecnologias, protocolos e metodologias de ros não desaparecem, mas passam a ser tratados trabalho estão disponíveis para todos, graças à numa outra dimensão, sendo corrigidos e garandifusão feita por instituições de ensino e pesqui- tindo os resultados esperados, o que serve, tamsa, mídia ou outros meios. Mas, então, por que bém, como aprendizado consistente. todas as fazendas não utilizam o melhor capim, os melhores equipamento e produtos? Ora, por- Nível de acerto varia muito – Muita gente que “o melhor” não existe. O que pode ser apli- acredita que esteja aí o “segredo do sucesso” de cável em determinadas situações pode não mos- algumas empresas mais eficientes: a assertividatrar resultados satisfatórios em outras. Cresce a de nas decisões sobre os rumos a serem tomacada dia o leque de possibilidades de máquinas, dos e o planejamento correto das questões que produtos e serviços que, por si só, não garantem envolvem um novo projeto. Com um olhar mais uma mudança de patamar em termos de produ- detalhado, porém, mesmo entre as empresas que atingem a performance desejada, podemos tividade ou rentabilidade. Neste ponto é que entra o planejamento que, separá-las em dois grupos: as que apresentam quando elaborado de forma consistente, consi- desempenho superior – de forma consistente dera recursos disponíveis e indicadores de de- durante períodos prolongados – e as que atingem excelentes resultados sempenho factíveis para em alguns momentos, mas cada situação. É no plaque não se sustentam com nejamento que definimos Essas competências são altamente as variações do mercado. qual deverá ser a direção correlacionadas às demandas e E o que de fato faz de determinado projeto. com que algumas empreAlém disso, na tomada de oportunidades atuais sas apresentem resultadecisão conjunta o planedos superiores e consigam jamento ganha corpo, remantê-los? Enfim, quais sulta em mudanças de aticompetências é preciso internalizar para atingir tude e em melhoria contínua de processos. A intensificação de uma área de pastagens, esses resultados? Desempenhos melhores estão por exemplo, exige processos como coleta de relacionados a melhores processos, executados amostras de solo e de forragens e interpretação por uma equipe competente. O gerenciamento dessas análises, com recomendação de corre- do fluxo de coleta de dados, análise e geração de tivos e fertilizantes para se atingir determinada informações relevantes em termos de efeito no produção. Além disso, consideram-se também resultado são competências altamente correlacotação, compra e transporte de insumos, uso de cionadas às demandas e oportunidades atuais. máquinas próprias ou alugadas, regulagem de Aprender a lidar com os erros e criar soluções equipamentos para aplicação, a aplicação em si conjuntas dentro de um propósito maior cria en– que deve ocorrer nas quantidades planejadas e gajamento e mudanças de comportamento, que, nos momentos corretos. E os insumos precisam, com certeza, fazem a diferença. Formar um time depois de comprados, ser armazenados em lo- capaz de funcionar de forma integrada deve escal correto e sempre pensando na logística, que tar entre os principais objetivos.

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Análise

Gestão

Coletar dados e analisá-los em determinaResultado compensa largamente o custo elevado do momento todo mundo faz. Planejar proTop 10% cessos; validar o essencial; ver quem, quando e 1 onde coletar; treinar a equipe (depois, é claro, Resultado operacional (EBITDA) (R$/ha/ano) 615,30 de demonstrar a importância da existência e da Retorno sobre capital investido (rebanho e máquinas) 25,4% qualidade dos dados); expurgar os dados que Produção (@/ha/ano) 11,1 contaminam a análise; gerar as informações e Produção (cabeça/ano) 5,9 analisá-las de forma sistemática é outra história! Custos variáveis R$/cabeça/ano 197,40 Analisar o ganho de peso de um lote que enCustos fixos e despesas R$/cabeça/ano 266,40 trou no pasto do capim recém-introduzido, a Custeio total R$/cabeça/ano 463,80 idade ao abate dos filhos do touro tal ou o acabamento e a viabilidade da tecnologia nutricioCustos variáveis R$/ha/ano 510,90 nal que “todos” estão usando é o que se vê por aí. Custos fixos e variáveis R$/ha/ano 498,10 Já nas fazendas que desejam estar acima da méCusteio total R$/ha/ano 1.009,00 dia, esses processos precisam começar a ser en1 Em rebanho e máquina. Fonte: Benchmarking Exagro 2016 carados como rotina e não como análise pontual. Isso porque, mesmo após validada determinada tecnologia ou evento, os processos continuam “rodando” no dia a dia, e é por meio dos controles cado pelo número de tratos por dia, vezes o núdiários, expostos e compartilhados com toda a mero de dias de suplementação, pode justificar equipe, e análise das informações geradas a par- uma mudança de rota ou até mesmo um investimento em novo traçado das estradas. tir deles, que identificamos falhas em processos. Se há até pouco tempo a maioria das fazenPessoas que não estão habituadas a essa rotina, mais cedo ou mais tarde perguntarão: “Mas das tinha como certo que uma das premissas para quê todo esse trabalho, se continuamos a “corretas” era a redução de custos, hoje isso pode fazer as coisas como sempre fizemos?” Aí entra não ser totalmente verdadeiro. As novas tecnoloa outra competência: a análise das informações, gias podem aumentar os custos em um primeipossibilitando aprendizado contínuo. É a anti- ro momento, mas se trouxerem um resultado suga diferença do ver e do enxergar. Para que todo perior que justifique o investimento, a premissa esse processo funcione, a equipe – em todos os de foco somente em redução de custos pode não ser a mais acertada. Obseus níveis –, precisará ser serve, na tabela, os resultreinada, até começar a entados das fazendas que xergar as conexões que à “Formar um time capaz de compuseram a média e as primeira vista passam desfuncionar de forma integrada deve “top 10%” em termos de percebidas. Todas as etapas precisam ser conheciestar entre os principais objetivos.” resultados. Mesmo com um custo total por hectare das nos detalhes. Os erros 73% superior, as top 10% e acertos devem ser explitiveram um resultado opecitados e discutidos. Só assim geramos a oportunidade de enxergar, com racional 170% maior (última linha da tabela). E o muitos olhos, os problemas e as possibilidades desafio de investir mais, aumentar o custo e colher um resultado superior não é um fator que de mudança. “por acaso” foi superior. Ele foi planejado e bem Como mensurar os efeitos? – Por meio de executado. A “Era do Conhecimento” nos impõe vários quais indicadores percebemos os efeitos de treinamentos realizados? Geralmente, algumas per- desafios, tecnológicos, de treinamento de pesguntas iniciais demonstram que faltou coletar al- soas, velocidade e necessidade de atualização, e gum dado ou separar determinado grupo para muito mais. Mas também nos traz uma série de análise. É uma das razões pelas quais os proces- oportunidades, como nunca tivemos. Análises sos levam tempo para ser maturados e ajustados de projetos, tecnologias, enfim, tudo que imagia cada situação. Por exemplo: quais as atividades narmos, hoje pode ser planejado e acompanhaou setores tiveram maiores margens de lucro? do para que se meçam não só os desvios em reIsso deve ser medido em percentual ou em reais? lação aos resultados esperados, mas quais etapas Pela área utilizada ou pela demanda de recursos? do processo mais influenciaram o resultado. Para Dependendo do indicador que se escolha, pode que todo esse potencial possa ser utilizado, leva mudar o objeto de investimentos futuros... Outro tempo, porque as equipes precisam se conhecer exemplo: quantos quilômetros são gastos para a e ter claro o que cada um faz e o impacto do que suplementação dos animais? Este dado, multipli- isso causa no resultado final. n

Média R$ 228,40 11,7% 6,1 4,8 153,50 294,50 448,00 227,10 356,10 583,30

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Sumário ________

E Joséntrevista Saúde Animal Vicente Ferraz relativiza perdas de 2017 e vê um 2018 conturbado 6

Análise

Mário Garcia fala da importância do planejamento e treinamento

Mercado Brasileiro

Os escândalos que abalaram a cadeia da carne Rebanho bovino beira as 220 milhões de cabeças Descarte de fêmeas devem inflar os abates Boi gordo e bezerro se desvalorizam em mais de 10% Preço da arroba cai mais do que preço de insumos Números divergem, mas há consenso de que o confinamento cresceu.

Mercado Mundial

Produção de carne bovina deve bater em 267 milhões de toneladas Exportação de carnes de frango e de suíno aumentam receita Produção e consumo de carne bovina cresce em ritmo lento Avanços consistentes na comercialização Exportações brasileiras crescem 14% em faturamento

Cadeia da Carne

Indústrias registram boas margens Recuperação à vista no varejo Produção e consumo de carne gourmet crescem em ritmo lento

Meio Ambiente

CAR registra 431 milhões de hectares, próximo dos 100%. Acordo de Paris: falta pôr em prática.

10

15 16 18 22 26 28

33 34 36 38 40

45 48 49

53 56

Editora Assistente Maristela Franco Publicação mensal da DBO Editores Associados Ltda. Diretores Daniel Bilk Costa, Demétrio Costa Odemar Costa Redação Diretor Responsável Demétrio Costa Editor Executivo Moacir de Souza José

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Repórteres Fernando Yassu, Marina Salles e Renato Villela Colaboradores Alisson Freitas, Ariosto Mesquita, Carolina Rodrigues, Denis Cardoso, Luiz H. Pitombo, Roberto N. Filho e Tatiana Souto Arte Editor Edgar Pera Editoração Edson Alves, Célia Rosa e Raquel Serafim

59 62 64

Brasil declarado livre da aftosa com vacinação Mais autonomia no combate à tuberculose e à brucelose Depois de queda, indústria veterinária cresceu 7% em 2017.

Suplementação

67 70

Indústria sofreu, mas deu a volta por cima. Flávio Portela aponta os desafios futuros do confinamento

Pastagem

75 76 78 80

Degradação avança mais rápido do que a reforma Integração lavoura-pecuária já ocupa 11,5 milhões de ha Maior equilíbrio entre oferta e demanda de sementes de forrageiras Moacyr Dias-Filho mostra a vantagem da profissionalização

Genética

83 86

Mercado de sêmen tem um bom crescimento em 2017 O uso da genômica pode virar rotina nas fazendas de corte no Brasil

Leite

92 94 96

Produção deve subir, após queda forte em 2017. Preços recuam em ano atípico Laticínios pagaram menos ao produtor, mas vendas não aumentaram.

Leilões

Queda no faturamento é generalizada em raças de corte Novos compradores sustentaram o mercado de genética do Nelore Angus menor faturamento em cinco anos No Braford, recorde em número de animais vendidos. Fêmeas puxam vendas da raça Hereford Depois de 14 anos de crescimento, Senepol patina em 2017.

Coordenação Gráfica Walter Simões comercial/Marketing Gerente: Rosana Minante

100 102 110 112 116 117

Impressão e Acabamento Log&Print Gráfica e Logística Ltda. DBO Editores Associados Ltda.

Supervisora de Vendas: Marlene Orlovas Executivos de Contas: Andrea Canal, José Geraldo S. Caetano, Maria Aparecida Oliveira, Mario Vanzo e Vanda Motta

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Mercado Brasileiro Por Denis Cardoso

Balanço

Crises ‘fora da porteira’ derrubam cadeia Além de ciclo em baixa, escândalos abalam mercado da carne.

O

comportamento da pecuária de abscessos no produto, uma reação a ruim no ano passado. O setor de exporcorte no ano passado fez lembrar componentes da vacina da febre aftosa. tação, mesmo com os graves problemas A soma de notícias negativas trouxe vivenciados pela JBS, líder do mercaum famoso slogan de um deputado federal paulista eleito com mais de influências diretas ao preço do boi gor- do, teve avanço significativo, surpreen1,3 milhão de votos: “Pior que está não do, que fechou o ano com desvaloriza- dendo até os mais otimistas. Segundo fica”. Pois o que parecia bastante im- ção real (descontada a inflação do perí- a Associação Brasileira das Indústrias provável ocorreu: depois de viver um odo) de 10%, segundo dados do Cepea. Exportadoras de Carnes (Abiec), os emano bastante desafiador (vide Anuário Em termos nominais, o Indicador Esalq/ barques totais de carne (in natura, miDBO 2016), o pecuarista amargou situ- BM&FBovespa do boi gordo fechou údos, industrializadas, tripas e salgada) ação ainda pior ao longo de 2017, frus- 2017 com valor médio de R$ 138, queda alcançaram 1,53 milhão de toneladas, trando a esperança dos que acredita- de 9% sobre o preço de 2016. número 9,5% acima do total registrado A atividade de cria foi um dos seg- em 2016. O faturamento alcançou US$ vam numa reviravolta do setor. Sorte foi uma palavra que não fez mentos mais prejudicados pela série de 6,28 bilhões em 2017, avanço de 14%. parte do vocabulário de grande parte dos envolvidos Melhoria – Depois de dois Pecuária bovina de corte do Brasil em números com a cadeia da pecuária. anos seguidos de demanda 2017 2016 2015 2014 Não bastasse conviver com enfraquecida, o Cepea prevê Rebanho1 219,3 218,2 215,2 212,4 os mesmos problemas de crescimento de 2% no con2016 – pelo menos na maior sumo interno de carne bovi1 Abate 40,0 39,2 40,5 46,3 parte do ano –, entre os quais na em 2018, com a esperada Desfrute (%) 17,8 17,6 18,8 21,8 forte retração no consumo recuperação do poder aquiProdução de carne2 9.318 9.109 9.310 10.343 interno de carne bovina, o sitivo da população – reflexo 2 segmento da pecuária de do controle da inflação, queConsumo interno 7.574 7.509 7.701 8.572 corte foi abalado por uma séda da taxa de juros, redução Consumo per capita3 36,5 36,4 37,7 42,3 rie de fatores negativos além do índice de desemprego e Exportações2 1.796 1.660 1.665 1.846 da porteira da fazenda, que melhoria do Produto Interno 2 afetaram significativamente Bruto (PIB). A Scot ConsulImportações 51,6 60,4 55,9 74,5 a rentabilidade da atividade. toria lembra que 2018 será *Estimativas Scot Consultoria. (1) Em milhões de cabeças; (2) Em mil toneladas equivalente-carcaça. Obs: no item Exportações estão incluídas carne salgada, in natura e industrializada, sem miúdos ou tripas. (3) kg/habitante/ano. Fontes: Scot Consultoria, um ano de eleições e Copa com dados do Secex/MDIC, IBGE e Abiec. Adaptação: DBO. Solavancos – Como tais do Mundo, o que contribuiacontecimentos foram amrá para, respectivamente, o plamente noticiados ao longo do ano problemas que anestesiaram o mercado aumento do fluxo de dinheiro (contrapassado, não cabe aqui detalhar cada pecuário. O preço do bezerro, que desde tações para campanhas eleitorais e ouum deles, mas é importante deixá-los 2016 já passava por um processo natu- tros gastos) e a maior realização de fesregistrados. A relembrar: o primeiro so- ral de desvalorização – fruto da reversão tas (comemoradas entre os amigos com lavanco ocorreu em 17 de março, quan- do ciclo pecuário –, recuou 12,6% em o indispensável churrasco). do a Polícia Federal deflagrou a Opera- 2017, para R$ 1.151 (valor nominal), em Do lado da oferta, espera-se uma ção Carne Fraca, que pôs em xeque o média, de acordo com o Cepea. continuidade da venda de fêmeas para Com a estagnação do mercado de re- o abate, aliada à desova de animais criasistema de inspeção sanitário brasileiro. Em abril, outro entrave: o retorno da co- posição, sobrou para as matrizes: cres- dos a pasto que não entraram no cocho brança da contribuição do empregador ceu a proporção de fêmeas levadas ao em 2017, por causa da baixa atratividarural ao Fundo de Assistência ao Tra- gancho – atingiu, segundo pesquisa do de da engorda intensiva. Tais motivos balhador Rural (Funrural). Logo em se- IBGE, 32,7% de participação nos abates poderiam pressionar o preço do boi guida, em maio, explodiu a bomba mais totais inspecionados (período de janeiro para baixo, porém é preciso, desta vez letal: a delação premiada dos donos da a setembro) em 2017, ante 30% em igual (ao contrário de 2017), considerar o “faJBS, que trouxe estragos para toda a ca- intervalo de 2016. Tal tendência explica, tor demanda”, que pode ser o ponto de deia pecuária e provocou enormes tur- em parte, o aumento dos abates totais em equilíbro do mercado. “As dúvidas são bulências nas áreas econômica e po- 2017, que somaram 40 milhões de cabe- quanto e qual fator será mais relevante lítica do País. Por fim, em junho, outro ças, crescimento anual de 2%. na precificação do boi gordo, mas deveretrocesso: o embargo dos Estados Unimos ter um ano de variações contidas, dos sobre a carne bovina in natura bra- Fora da curva – Nem todos os elos da possivelmente competindo com a inflasileira, depois que foram identificados cadeia pecuária tiveram desempenho ção”, avaliam analistas da Scot. n Anuário DBO 2018

15


Mercado Brasileiro Por Denis Cardoso

Rebanho

Seis anos de crescimento Estimativa é de que plantel passou de 218 milhões de cabeças em 2016 para 219,3 milhões em 2017

E

nquanto alguns países reduziram o seu plantel de bovinos e outros passaram por um período de recomposição do rebanho, o Brasil manteve, em 2017, a sua tendência de crescimento contínuo no número de cabeças de gado, registrando, no ano passado, o sexto aumento anual consecutivo (ascendente desde 2012). Segundo estimativas da Scot Consultoria, de Bebedouro, SP, o rebanho nacional (corte e leite) alcançou 219,3 milhões de cabeças no ano passado, um avanço de 0,5% em relação ao plantel de 2016, de 218, 2 milhões. A consultoria utiliza metodologia do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) como parâmetro para as suas previsões anuais do rebanho bovino. Os dados numéricos que ilustram o mapa desta página referem-se ao ano de 2016 e foram retirados do banco de estatísticas oficiais do IBGE, apurados pela pesquisa Produção da Pecuária Municipal (PPM) e divulgados em setembro de 2017. Portanto, os dados oficiais que apontarão o tamanho do plantel em 2017 só serão divulgados pelo órgão governamental no fim do segundo semestre de 2018. Porém, as previsões iniciais divulgadas pela equipe de analistas da Scot em relação ao rebanho brasileiro de bovinos têm andado em linha com os dados oficiais do IBGE divulgados quase um ano depois. No Anuário DBO 2017, a consultoria projetava um rebanho de 218,4 milhões de cabeças para 2016, enquanto os números divulgados pelo IBGE em setembro último indicaram um rebanho de 218,2 milhões, ou seja, uma diferença adicional de apenas 200 mil cabeças. Previsão pessimista – Em 2018, entretanto, o ciclo de crescimento duradouro do rebanho brasileiro será rompido, segundo previsão da mesma Scot Consultoria. O analista Hyberville Paulo D’Athayde Neto adianta a este Anuário DBO 2018 que o plantel sofrerá redução de 0,6%, caindo para 217,9 milhões de animais. “Essa expectativa de recuo baseia-se no aumento dos abates de fêmeas, em decorrência do recuo na rentabilidade da

16 Anuário DBO 2018

Rebanho bovino total em 2016: 218,2 milhões de cabeças* Norte

Em 2016: 47.983.190 Em 2015: 47.175.989

Nordeste

Em 2016: 28.467.739 Em 2015: 29.092.184

Centro-Oeste

Em 2016: 75.072.762 Em 2015: 72.705.736

Sudeste

Em 2016: 39.123.700 Em 2015: 38.812.076

Os maiores rebanhos

MT............ MG............ GO............ MS............ PA.............

30.296.096 23.637.803 22.879.411 21.800.990 20.476.783

cria”, afirma ele. Neto acrescenta que, além da redução efetiva no número de fêmeas nas fazendas de corte, essa queda será consequência da ausência dos bezerros dessas matrizes que foram para o gancho. Recorde – O rebanho recorde em 2016 é o maior da série histórica (iniciada em 1974), 1,4% superior ao plantel de 2015, de 215,2 milhões. Entre as regiões do País, destaque para o Centro-Oeste, que registrou um efetivo de 75 milhões de bovinos em 2016, o que representa 34,4% do rebanho nacional, com aumento de 3,2% sobre o plantel de 2015 (72,7 milhões de cabeças). Mato Grosso é o Estado com maior número de bovinos, com 30,3 milhões de cabeças (quase 14% do total brasileiro), seguido por Minas Gerais (23,6 milhões de bovinos e 11% de participação), Goiás (22,8 milhões, 10,5%), Mato Grosso do Sul (21,8 milhões, 10%) e Pará (20,4 milhões,

Sul

Em 2016: 27.577.786 Em 2015: 27.434.523 *Rebanho de corte e de leite, em cabeças. Fonte: IBGE/Pesquisa Pecuária Municipal, dados disponíveis em dezembro de 2017

9,4%). Na época de divulgação dos números de 2016, a equipe de analistas do IBGE relacionou a forte expansão do número de cabeças de gado no Centro-Oeste à extensão do território, o que favorece a pecuária de animais de grande porte. Outra razão, na avaliação dos técnicos do instituto, é a proximidade dos centros de criação com polos de produção de grãos e unidades industriais de abate. O Norte é outra região que tem puxado o avanço do rebanho bovino nos últimos anos. Em 2016, registrou um plantel de quase 48 milhões de cabeças, um acréscimo próximo de 2% quando comparado com 2015 (47,1 milhões de bovinos). Entre os municípios, os líderes em gado bovino em 2016 estão São Félix do Xingu (PA), Corumbá (MS), Ribas do Rio Pardo (MS), Cáceres (MT) e Marabá (PA), com rebanhos de 2,20 milhões de cabeças, 1,820 milhão, 1,148 milhão, 1,113 milhão e 1,073 milhão, respectivamente. n


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Mercado Brasileiro Abates

Por Denis Cardoso

Fêmeas puxam números para cima Descarte de matrizes deverá continuar em 2018, elevando a oferta.

N

ão há como fazer uma ano passado, um acréscimo Evolução anual (em milhões de cabeças) retrospectiva sobre o de 9% sobre a quantidade comportamento dos observada no mesmo pe20171 2016 2015 2014 abates de bovinos de corte em ríodo do ano anterior (6,8 40 39,2 40,5 46,3 Total2 2017 sem mencionar, logo de milhões de fêmeas adulinício, o papel das fêmeas no tas) – crescimento este que 29,7 30,6 33,9 Inspecionado 22,83 processo de mudança de tencomprova o movimento de Boi (peso@) 18,87 18,73 18,48 18,09 dência desse setor. Depois de descarte de matrizes. um período de retenção de Com isso, a participação Vaca (peso@) 13,61 13,40 13,27 13,15 matrizes, entre 2014 e 2016 – de vacas nos abates gerais (1) Dados de 2017 são preliminares, até setembro, referentes aos abates inspecionados. (2) Estimativa da Scot Consultoria. (3) Parcial, até o terceiro trimestre; no quarto trimestre de 2016 foram abatidas 7,4 milhões de cabeças. Fontes: Pesquisa movimento puxado pela boa de gado inspecionado atinTrimestral de abate, IBGE e FNPPC. Elaboração DBO. rentabilidade no segmento de giu 32,7% no acumulado de cria -, um número maior de vajaneiro a setembro de 2017, cas e novilhas foi enviado ao gancho ao de cabeças no período de janeiro a se- o representou um aumento de 2,7 pontos longo de 2017 (veja tabela nesta página tembro de 2017 (último dado disponí- percentuais na comparação com o resulcom dados sobre a participação das ma- vel até o fechamento desta edição), o que tado verificado no período de 12 meses trizes nos abates gerais). Tal comporta- significou elevação de 2,2% sobre a quan- de 2016 (30%). Conforme pode ser obmento refletiu a reversão do ciclo pecu- tidade de animais abatidos nos primei- servado no quadro abaixo, foi a maior ário, ou seja, os preços dos animais de ros nove meses de 2016, de 22,3 milhões participação de matrizes no abate total reposição ficaram menos atrativos (veja de cabeças. No último trimestre de 2016, dos últimos quatro anos. texto na página 22), desestimulando o IBGE registrou o abate de 7,4 milhões No caso das novilhas, o crescimenos criadores a produzir mais bezerros – de cabeças, número que, se se repetir no to dos abates, em termos percentuais, além disso, muitos deles se viram força- último trimestre de 2017 (o anúncio só foi ainda maior: no período de janeiro a dos a vender suas fêmeas para geração deverá ocorrer no fim de fevereiro), ele- setembro de 2017, foram para o gancho vará o total de abates ao patamar de 30 2,1 milhões animais, avanço de 10,5% de receita e fechamento das contas. Em 2018, o abate de fêmeas será inten- milhões de cabeças inspecionadas, o que sobre a quantidade registrada em igual sificado, como prevê o analista H ­ yberville significará um aumento anual de 1,7% período de 2016, de 1,9 milhão de cabePaulo D’Athayde Neto, da Scot Consulto- sobre 2016. ças. Fecham o total de abates dos três Em relação a sexo, foram levados ao primeiros trimestre do ano mais 1,1 miria. A continuidade deste movimento ajudará a explicar a maior pressão de oferta gancho 12,22 milhões de bois no acu- lhão de novilhos. de animais para os frigoríficos esperada mulado de janeiro a setembro de 2017, para este primeiro semestre do ano. “O praticamente a mesma quantidade re- Abates totais – Como as pesquisas do ano deve ser de aumento da oferta de fê- gistrada em igual intervalo de 2016 IBGE só envolvem os dados de abates com meas para abate, com um crescimento (12,26 milhões de machos). Em relação inspeção sanitária, cabem às consultorias paralelo da demanda”, observa Neto. Se- às vacas, foram abatidos 7,4 milhões de de mercado fazer o trabalho de estimatigundo estimativa da Scot Consultoria, os animais nos primeiros nove meses do va das matanças gerais de gado no País, abates totais de bovinos poo que envolve os abates infordem alcançar 41,8 milhões de mais. Hyberville Neto, da Scot, Percentagem de vacas no abate mensal no Brasil cabeças em 2018, o que repreexplica que, para se chegar a sentaria um crescimento de esse cálculo, são relacionados 4,5% em relação ao resultadados diversos, incluindo núdo projetado pela consultoria mero de couros utilizados pepara 2017, de 40 milhões de los curtumes e estudos de escabeças. timativas de informalidade. Assim, os abates totais alcanNúmeros oficiais – Dados çariam algo em torno de 40 oficiais do Instituto Brasileimilhões de cabeças em 2017, ro de Geografia e Estatística o que representa aumento de 2017* 2016 2015 2014 Média 2007/2017 (IBGE) mostram que os aba2% em relação aos abates es32,68% 30,02% 30,43% 32,54% 32,33% tes com inspeção sanitária timados pela consultoria pau(federal, estadual ou municilista em 2016, de 39,2 milhões *Números de 2017 são preliminares, considerando abates até setembro. Fonte: Pesquisa trimestral de abate inspecionados, IBGE, elaboração DBO. pal) atingiram 22,8 milhões de animais. n

18 Anuário DBO 2018





Mercado Brasileiro Por Denis Cardoso

Preços

Boi gordo e bezerro: queda real superior a 10% Ao longo de 2018, situação tende a melhorar para recriador/invernista, sobretudo na relação de troca.

A

penca de notícias negativas no setor pecuário impactou fortemente os indicadores do boi gordo em São Paulo e do bezerro no Mato Grosso do Sul, que registraram queda nominal, respectivamente, de 9,2% e 12,6% em 2017 na comparação com o ano anterior, para R$ 138 e R$ 1.151, segundo o Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP/SP. Descontada a inflação, a arroba do boi gordo registrou queda real de 10%, enquanto que o bezerro teve desvalorização de 13%. No primeiro semestre de 2017, a arroba do boi gordo alcançou valor real de R$ 140, retração de 12,5% sobre o preço médio verificado no primeiro semestre de 2016, de R$ 160. No segundo semestre do último ano, a arroba atingiu média de R$ 141 (valor corrigido pela inflação), baixa de 7,3% na comparação com igual período de 2016.

Cotação média da arroba do boi em SP* 2017

2016

Janeiro

147,23

157,91

Fevereiro

143,68

161,00

Março

142,47

161,77

Abril

137,12

162,90

Maio

138,21

158,50

Junho

132,03

158,60

Julho

128,79

158,45

Agosto

138,71

153,10

Setembro

146,90

150,79

Outubro

144,05

151,96

Novembro

143,34

150,57

Dezembro

146,11

149,63

Média anual (R$)

140,72

156,27

Média anual (US$)

44,15

45,02

Média 1º semestre (R$)

140,13

160,12

Média 2º semestre (R$)

141,32

152,42

Média em 10 anos R$ 137,46 (US$ 61,19) *Média ponderada dos preços de SP considerando quatro praças de SP: Araçatuba, S. J. Rio Preto, P. Prudente e Marília-Bauru. Valores a prazo deflacionados pelo IGP-M de dezembro de 2017. Fonte: Cepea/Esalq, elaboração DBO.

22 Anuário DBO 2018

O indicador do bezerro também teve a sua pior média no primeiro semestre de 2017: ficou em R$ 1.149, com forte redução de 18,5% sobre o valor médio de igual período do ano anterior, de R$ 1.411. No segundo semestre do ano passado, o bezerro alcançou preço médio de R$ 1.178, queda de 7,2% sobre o valor de R$ 1.270 do segundo semestre de 2016. Sem citar a palavra prejuízo, a zootecnista Isabella Camargo, da Scot Consultoria, de Bebedouro, SP, diz que, assim como em 2016, o ano passado foi “bastante desafiador” para o pecuarista. De maneira geral, é indiscutível, segundo ela, a brusca queda de rentabilidade dos produtores a partir de meados de março, quando o setor teve o primeiro percalço, com a chamada Operação Carne Fraca. Dali até julho (o mês de pico da baixa do boi no último ano), a arroba sofreu forte depreciação - mas a maior “bomba” explodiu em maio, quando todos foram pegos de surpresa com a notícia da delação premiada dos donos da JBS. Mesmo no período de forte turbulência, Isabella e outros analistas do time da Scot garantem que ouviram histórias de pecuaristas que conseguiram engordar o caixa em 2017, fechando com boas margens de

venda do boi gordo. “Foi aquele produtor que fugiu do risco de mercado logo nos primeiros meses do ano, optando pelo hedge (proteção de preço) na B3 (antiga BM&F)”, avalia a zootecnista . Cria em baixa – No ano passado, a atividade de cria foi a que mais sentiu o peso da série de problemas ocorrida além das porteiras das fazendas. Isso porque o setor já acumulava retrações nos preços do bezerro e demais categorias de reposição desde 2016 em razão da reversão natural do ciclo pecuário, ou seja, o início da fase de baixa depois do período de bonança iniciado em 2013. Como o preço da arroba do boi gordo seguiu trajetória de baixa na maior parte do ano, os recriadores e invernistas decidiram postergar ao máximo as suas compras de animais de reposição, o que elevou a sobreoferta de bezerros e demais categorias, acelerando ainda mais o movimento de queda. Segundo levantamento da Scot no segmento de reposição, todas as categorias de machos e fêmeas das 14 praças pesquisadas tiveram desvalorizações nominais em 2017. Destaque para os bezerros e bezerras de desmama (oito meses de idade), que registraram as maiores quedas anu-

Cotações médias mensais e anuais do boi¹

Médias anuais R$/arroba Campo Grande, MS

Goiânia, GO

Triângulo, MG

São Paulo**

2017

131,58

129,67

135,41

141,35

2016

143,81

144,27

146,11

156,70

*Média ponderada dos preços. Valores a prazo corrigidos pelo IGP-M de dezembro de 2017. **SP: Considerando as praças de Araçatuba, S. J. Rio Preto, P. Prudente e MaríliaBauru. Fonte: Cepea/Esalq, elaboração DBO.



Mercado Brasileiro

Preços

Cotação média do bezerro em MS* 2017

2016

Janeiro

1.225

1.408

Fevereiro

1.186

1.432

Março

1.132

1.447

Abril

1.141

1.448

Maio

1.104

1.376

Junho

1.103

1.351

Julho

1.138

1.301

Agosto

1.120

1.287

Setembro

1.202

1.278

Outubro

1.201

1.266

Novembro

1.207

1.248

Dezembro

1.197

1.241

Médio anual (R$)

1.163

1.340

365

385

Média 1º semestre (R$)

1.149

1.410

Média 2º semestre (R$)

1.178

1.270

Média anual (US$)

Média em 10 anos R$ 1.099 (US$ 481) *Média ponderada dos preços a prazo, considerando as seguintes praças de MS: Campo Grande, Dourados, Três Lagoas, Cassilândia e Pantanal. Valores a prazo corrigidos pelo IGP-M de dezembro de 2017. Fonte: Cepea/Esalq, elaboração DBO.

Relação de troca boi gordo/bezerro em 2017

ais, de 10,9% e 10,5%, respectivamente, em termos nominais, na comparação com os valores médios de 2016. Desestimulado, o criador enviou mais fêmeas para o gancho, elevando a participação de matrizes e novilhas nos abates totais. Recuperação e esperança - Quando tudo “parecia perdido” em 2017, o mercado do boi gordo reagiu no último quadrimestre do ano, tanto no mercado físico quanto futuro. Com a retomada da arroba do boi e, paralelamente, a recuperação da economia brasileira, os analistas de mercado avaliam com certo otimismo o comportamento do setor em 2018, pelo menos nas áreas de recria e engorda. Dessa vez, parece certo que os pecuaristas devem aproveitar melhor a atual boa relação de troca “boi gordo/bezerro”, ou demais categorias da reposição. No ano passado, grande parte dos produtores que terminou a boiada carregou um estoque de gado bastante caro, por ter sido comprado na época da disparada do valor do bezerro (2014 e 2015). Em 2017, a média de arrobas de boi gor-

SP¹

CG

GO

MG

SP1

2,08

2,05

2,11

2,09

CG

1,94

1,91

1,97

1,95

GO

1,91

1,88

1,94

1,92

MG

2,00

1,97

2,02

2,00

(1) Dados de SP consideram quatro praças: Araçatuba, S. J. Rio Preto, Presidente Prudente e Marília-Bauru. CG – Campo Grande, MS; GO – Goiânia, GO; MG – Triângulo Mineiro. É considerado um boi gordo de 17@ e bezerro Nelore de 8 a 12 meses. Fonte: Cepea/Esalq, elaboração DBO.

do necessárias para a compra de um bezerro desmamado (6@), em São Paulo, foi de 7,59@, enquanto em 2016 atingiu média de 8,18@, ou seja, houve uma melhora de 7,2% no poder de compra do recriador, segundo a Scot Consultoria.

Grande volatilidade no mercado futuro As operações com boi gordo na B3 (antiga BM&FBovespa) – mercado futuro e opções - cresceram 46,5% em 2017, para 886.191 contratos (o equivalente a 17,7 milhões de cabeça), em relação ao resultado registrado em 2016, de 604.637 contratos (12,1 milhões de cabeças). Embora tenha ocorrido, em termos percentuais, um significativo aumento anual em 2017, a recuperação dos negócios no mercado futuro segue lenta, muito aquém dos números registrados nos tempos áureos das transações com boi gordo na bolsa brasileira, quando as operações chegaram a bater o volume recorde de 1,7 milhão de contratos (34,2 milhões de cabeças), em 2008. Segundo Leandro Bovo, sócio diretor da Radar Investimentos, de São Paulo, no ano passado, os preços no mercado futuro passaram a apresentar enorme volatilidade principalmente a partir da delação dos controladores da JBS, em maio. Em meados de julho, no mercado físico, o boi

24 Anuário DBO 2018

gordo atingiu a sua mínima em São Paulo, de R$ 122,80/@. Antes disso, no fim de junho, o contrato futuro com vencimento em out/17 do boi gordo bateu a mínima de R$118/@. "Ou seja, a queda do boi no mercado futuro foi ainda mais desastrosa", reelembra Bovo. Antes do vendaval - No entanto, segundo o sócio da Radar Investimentos, os pecuaristas que, no início de 2017, optaram pelas modalidades de proteção de preços disponíveis na B3 conseguiram bons resultados, já que os diferenciais de base estreitaram significativamente ao longo do ano - em alguns Estados como Goiás e Minas Gerais chegaram a ficar zerados com relação a São Paulo. No final de 2016 e início de 2017 o preço do boi gordo no Estado de São Paulo estava ao redor de R$ 150/@ e o mercado futuro precificava os mesmos R$ 150/@ para out/17 e R$ 145/@ para

maio/17, ou seja, bem acima do s preços vigentes em boa parte do ano passado. "Há um ditado que diz: você pode até perder o jogo, mas não deve perder a lição. O ano de 2017 foi uma grande lição sobre os riscos imponderáveis e suas consequências muitas vezes traumáticas para o setor", observa Bovo.

Número de contratos com boi gordo 886.191 +46,5%

1.170.100 1.063.850 1.018.069 1.058.254 775.881

604.637

2017 2016 2015 2014 2013 2012 2011 Fonte: BM&FBovespa. *Cada contrato equivale a 20 bois de 16,5 arrobas.


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Mercado Brasileiro Por Denis Cardoso

Custos

Arroba cai mais que insumos Despesas diminuem 1,4% em 2017, mas preço da arroba encolhe 4,2%.

O

s custos gerais da pecuária brasileira de corte caíram em 2017, mas não o suficiente para amenizar o impacto da perda de valor da arroba do boi gordo no mesmo período. Em termos nominais, o valor da arroba do boi gordo teve queda de 4,2% em 2017, em média, segundo análise realizada pelo Cepea/Esalq-USP em 11 Estados do Brasil, que considerou cotações computadas de janeiro a novembro (dados disponíveis até o fechamento do Anuário DBO). No mesmo intervalo de comparação, o custo operacional efetivo (COE) – que compreende os gastos mensais com insumos, pagamento de salários e impostos – registrou queda de 1,4%. Ou seja, com o “bolso” menos pressionado, seria o momento do pecuarista elevar a rentabilidade com o seu negócio, mas acabou surpreendido pela avalanche de notícias desfavoráveis ao preço do boi gordo (veja matérias nas páginas anteriores). Ainda de acordo com o estudo do Cepea/Esalq, o custo operacional total (COT), que considera o COE e a depreciação de máquinas e instalações, caiu 1% em igual período do ano passado. Entre os Estados brasileiros analisados, as piores relações “custo/preço do boi” foram observadas no Paraná e no Rio Grande do Sul. No primeiro, houve forte retração de 9,10% no preço do boi gordo entre janeiro e novembro de 2017, para um leve aumento de custo de 0,12% e 0,85% no COE e COT, respectivamente. No RS, o valor da arroba caiu 8,85%, para o COE positivo de 0,87% e um COT negativo de 0,97%. No entanto, seguindo comportamento contrário da maioria dos Estados pecuários, situações favoráveis foram registradas em Tocantins, Pará e Rondônia. Os três Estados registraram variação positiva acima de 4% para o boi gordo, enquanto os custos gerais da pecuária oscilaram em torno de 2% (veja tabela). Entre os insumos relevantes para a produção de gado de corte, o bezerro e

26 Anuário DBO 2018

outros animais de reprodução (o item de maior peso no custo total) registrou avanço de participação em 2017 em relação ao ano anterior. Segundo dados do Cepea/Esalq, em novembro do ano passado, esse item respondia por 50,50% do custo (COT), um avanço de 3,77 pontos percentuais sobre novembro de 2016 (veja tabela). Em compensação, a participação do item suplementação mineral, que figura em segundo lugar na lista dos insumos com maior peso no custo da pecuária, caiu pela metade na mesma base de comparação, saindo do patamar de 10,3% em novembro de 2016 para 5,63% em igual mês de 2017. Relação de troca – Como foi informado nas páginas anteriores sobre o mercado, a relação de troca boi gordo/bezerro esteve mais favorável para os recriadores/invernistas em 2017. No entanto, no ano passado, o pecua­ rista pagou mais por outros insumos importantes da pecuária, quando se analisa a relação de troca de quatro insumos (arame, calcário, vacina para febre aftosa e sal mineral), além de um trator agrícola. No ano passado, com valor médio do boi gordo, à vista, deflacionado pelo IGP-M de dezembro de 2017, em 13 Estados (RS, SC, PR, SP, MG, MS, MT, GO, TO, RO, PA, BA e MA), com-

Custos da pecuária de corte em queda (%) Estados

COE1

COT2

Boi gordo3

Bahia

-5,64

-4,99

-5,48

Goiás

-2,08

-1,78

-0,97

Minas Gerais

-2,17

-1,66

-2,89

Mato Grosso

-1,91

-1,21

-0,27

M. G. do Sul

-0,18

-0,27

-2,69

Pará

2,25

1,93

4,42

Paraná

0,12

0,85

-9,10

R. G. do Sul

0,87

-0,97

-8,85

Rondônia

0,22

1,53

4,25

São Paulo

0,47

0,95

-4,40

Tocantins

0,96

0,84

4,93

Brasil4

-1,42

-1,09

-4,23%

(1) Custo Operacional Efetivo: considera a variação nominal acumulada de janeiro a novembro de 2017 nos preços pagos por insumos, salários e impostos relacionados à pecuária de corte. (2) Custo Operacional Total: abrange o COE e a depreciação de instalações, equipamentos e formação de pastagens. (3) Variação da cotação da arroba de janeiro a novembro de 2017, em reais. (4). Juntos, os Estados citados representam quase 80% do rebanho nacional. Fonte: Cepea/ USP e CNA.

prou-se uma menor quantidade de insumos na comparação com o ano anterior (veja tabela). No caso do trator, de acordo com a simulação do Cepea/ Esalq, em 2017, foram necessários, em média, 50,08 bois gordos para a compra da máquina, ante a média 39,73 animais registrada em 2016. n

O que se comprou com o preço de um boi gordo* 2017

2016

Média em dez anos

Arame Liso Ovalado 1.000m

10,63

12,34

9,53

Calcário Dolomítico (tonelada a granel)

41,56

49,02

45,44

1.783,89

1.880,60

1.422,50

34,79

35,26

35,91

Vacina aftosa (dose) Sal mineral 80-90g de P (sc 30kg)

Quantos bois gordos foram necessários para adquirir... Trator 50 a 100 Cv (2017) e trator 4x2 e 4x4 – 60, 63,73,75,78 Cv (em 2016)**

50,08

39,73

50,20

*Animal de 17@. Valores dos insumos à vista, em São Paulo. **Antes de 2015, trator 4x2 e 4x4v – 65 e 75 Cv. Preço médio do boi à vista, deflacionado pelo IGP-M de dezembro de 2017, em 13 Estados (RS, SC, PR, SP, MG, MS, MT, GO, TO, RO, PA, BA e MA). Fonte: Cepea/USP, elaboração DBO.



Mercado Brasileiro Confinamento

Por Luiz H. Pitombo

Cenário desanimador revertido a tempo Após forte retração, número de animais fechados volta a crescer em 2017.

E

m 2017, a linha declinante no nú- sa beneficiaram outros frigoríficos, que zembro a cotação média já havia subimero de animais terminados em passaram a receber estes animais. “Foi do para R$ 146/@, ou 16% a mais, tamconfinamento foi, finalmente, necessário um período de adaptação bém segundo dados do Cepea. rompida. Nos anos 2015 e 2016, o re- até que essas indústrias adequassem Os resultados de 2017 também focuo acumulado na quantidade de ani- sua estrutura, com a situação voltando ram afetados, segundo Pessina, pela mais confinados, em relação aos anos ao normal, as exportações ganhando maneira com que o pecuarista conduanteriores, chegou a 22%, prenuncian- impulso no segundo semestre e o mer- ziu seus negócios: “Quem confinou no do dificuldades para 2017. Porém, fa- cado interno dando sinais de melhora, primeiro giro pagou mais caro pelo boi tores diversos, entre os quais a reação pois o consumo doméstico estava bem magro e vendeu na baixa, com marnos preços no chamado segundo giro, retraído”. gem mínima ou negativa, enquanto no iniciado em agosto, quando os valores segundo giro os animais adquiridos esda arroba do boi gordo estavam bem Arroba garante margens – Quan- tavam a preços mais baixos e a arroba mais atrativos que os do primeiro, re- to ao resultado econômico em 2017, os em recuperação, garantindo a lucrativerteram a tendência de queda. Segun- ganhos dos confinadores, na avaliação vidade”. do cálculos preliminares da Associação de Pessina, foram pequenos. Parte deLevantamento feito pelo gerenteNacional da Pecuária Intensiva (Asso- les conseguiu apenas empate com os -executivo da Assocon, Bruno Andrai n v e st i m e n t o s, de, nas praças de Goiás e São Paulo, con), 3,4 milhões embora o custo considerando o valor da ração e dos de cabeças foram Segundo cálculos da Assocon, da ração fosse fa- animais, mostra que os confinadores terminadas no vorável – na mé- goianos conseguiram resultados meano passado, 6% 3,4 milhões de cabeças foram dia, o milho foi lhores do que os paulistas, por exema mais do que no terminadas no ano passado, cotado a R$ 30 plo. Embora a arroba seja mais valoriano anterior. 6% a mais em relação a 2016. por saca, posta zada em São Paulo, os pecuaristas do A Agroconem Campinas, SP, Estado pagaram mais pelo boi magro e sult, de Floriavalor 32% abai- pela ração que os de Goiás, onde a conópolis, SC, que trabalha com pesquisa própria, estima xo da média do ano anterior, segundo tação média foi de R$ 1.861 por cabecrescimento próximo (5%), mas traz levantamento do Centro de Estudos ça, com dieta ao custo de R$ 6,7/aninúmeros totais maiores. Para a consul- Avançados em Economia Aplicada, de mal/dia, valores 5,6% e 16% inferiores, toria, a quantidade confinada no ano Piracicaba, SP (Cepea/Esalq-USP). “O respectivamente, aos de São Paulo. passado ficou entre 5,2 milhões e 5,3 que determinou as margens foram os De acordo com Andrade, para os pemilhões de cabeças e deve crescer de valores da arroba do boi gordo”, afirma. cuaristas paulistas, a atividade pode Estes começaram a apresentar quedas não ser rentável caso o boi magro es4% a 7%. Já a Assocon vislumbra, a partir de expressivas a partir de julho de 2016 e teja cotado acima de R$ 2.100 por casua base de dados, um aumento per- foram bater no fundo do poço em ju- beça e a alimentação supere o valor centual de até 12% em 2018, com 3,8 lho de 2017, com 20% a menos, ou R$ de R$ 9,00/animal/dia. Para os goiamilhões de animais a serem fechados 126/@ em termos nominais a prazo no nos, os negócios deixam de ser inteaté o fim do ano. Em média, os confina- Estado de São Paulo. Porém, em de- ressantes com um boi magro acima de mentos no País realizam 1,4 giro/ano. “A situação econômica do Brasil, a opeRentabilidade do confinamento (R$) ração Carne Fraca, a delação envolvenCusto da Custo Custo da Valor da Resultado do o JBS, a interrupção das exportações Ano aos EUA e as indefinições quanto ao dieta operacional engorda arroba1 direto2 Funrural comprometeram as intenções 2017 85,47 26,98 112,45 138,87 26,43 de confinamento no primeiro giro, que 2016 121,44 27,28 148,72 152,87 4,15 se inicia em abril”, justifica Alberto Pessina, presidente do Conselho de Admi2015 79,56 23,79 103,35 145,46 42,12 nistração da entidade. Em sua opinião, 2014 75,07 21,79 96,86 126,33 29,48 as delações da JBS impactaram mais os negócios do que a Operação Carne Fra2013 76,08 20,48 96,55 102,67 6,12 ca. Segundo ele, a interrupção dos aba2012 76,84 19,38 96,22 94,89 -1,33 tes em plantas do grupo e a recusa de (1) Preço médio Brasil, em valores nominais. (2) Diferença entre preço da arroba e custo da arroba ganha no cocho. Fonte: Agroconsult Pecuária pecuaristas em vender para a empre-

28 Anuário DBO 2018


PECUÁRIA DE PRECISÃO MONITORAR PARA MAXIMIZAR A PRODUTIVIDADE Na era da informação em massa, banco de dados (big data) e produção de alimentos em larga escala, é notório que na bovinocultura de corte - por mais que nossos homens do campo coloquem “a mão na massa” - ainda exista o desafio de replicar proporcionalmente à essa demanda, eficiência e controle, como ocorre no mundo automotivo. Em especial, o controle do protagonista do processo, o boi. A pecuária de corte requer o monitoramento de variáveis relacionadas intrinsecamente ao animal: saúde, bem-estar, nutrição. E extrinsecamente: ambiente, manejo e operação. Aliar esses fatores à intensificação da produção de bovinos da forma que ocorria há 10 anos não permite o desfrute máximo, mesmo quando os números se mostram positivos. Otimizar o ganho é desejável, porém, minimizar as perdas é crucial para a eficiência. Desde a década de 80, a agricultura de precisão (AP) tornou o processo mais eficiente. O campo foi tomado por maquinários automatizados, computadores de bordo, GPS, sensores de monitoramentos, drones, softwares e aplicativos para assegurar que a lavoura e o solo recebam exatamente o que necessitam para aumentar a produtividade com menor desperdício. A pecuária de precisão, um pouco atrasada, chega com a mesma finalidade, porém, paralelamente: da eficiência do uso pesticidas para o uso de medicamentos veterinários, da adubação para a nutrição animal, da erva daninha para as afecções nos bovinos, da automatização do trator para automatização do manejo, do monitoramento de rendimento de plantio para o monitoramento de performance animal.

Não se trata de teoria. Projeções do mercado apontam que a agricultura de precisão acresce a produtividade em 20% e a economia de insumos em 30%. Para o Sistema de Pecuária de Precisão lançado recentemente pela Bosch também é esperado incremento de 20 a 30%. O sistema que monitora o animal individualmente e diariamente, informando seu peso e ganho de peso durante a permanência do mesmo no confinamento ou pasto. A partir das curvas de performance dos animais, pode-se identificar aqueles que não trarão retorno (“boi ladrão”), boi pronto, possíveis animais doentes e falhas no manejo nutricional e operacional através das curvas de performance dos lotes. A identificação do animal com brinco eletrônico também acusa automaticamente a presença de entreveros e perdas. Ao conhecer os números individuais ou do grupo em tempo real, estas perdas deixam de ser mascaradas e permitem a aplicação de melhorias. A Bosch sempre foi pioneira em tecnologia e tem papel fundamental na modernização da indústria automotiva. Em relação à pecuária isso não poderia ser diferente. Com toda a sua estrutura e história começamos nossa parceria com o produtor rural. Em 2018, além do Módulo Performance responsável pela pesagem e monitoramento de ganho peso, lançaremos novos módulos da nossa plataforma de pecuária de precisão. Serão novas tecnologias que trabalharão de maneira integrada para solucionar mais dores na cadeia produtiva, tornando-a mais forte como um todo.

PARA MAIS INFORMAÇÕES: 0800 9429 111 WWW.PECUARIA.BOSCH.COM.BR


Mercado Brasileiro

Confinamento

Os pecuaristas esperam maior demanda por carne em 2018 R$ 2.000 por cabeça e a ração a partir de R$ 7,50/animal/dia. Num levantamento geral realizado entre os associados da entidade, os indicadores zootécnicos dos animais confinados apontaram entrada com peso médio de 13,26@ e saída com 19,97@, com ganho médio diário de 1,5 kg, graças à melhoria na dieta.

Em termos de resultado econômico, Nogueira concorda que, no segundo semestre de 2017, os valores foram mais atrativos que os do primeiro, o suficiente para tornar o ano mais rentável, em relação a 2016. E aponta uma das razões: “O valor médio da arroba do boi gordo caiu 9%, mas, em compensação, o da nutrição, importante custo da atividade, despencou 30%”. Na virada do ano, o consultor mostrava boa dose de cautela sobre as perspectivas para 2018: “Há frigoríficos ainda envolvidos em investigações e existem questões políticas que podem alterar o cenário”. Mesmo assim, considerando a tendência de maior aplicação de tecnologia, ele acredita que a quantidade de animais terminados em confinamento poderá crescer.

Intensificação e pouco hedge – “No geral, os pecuaristas têm adotado o confinamento de olho na intensificação da propriedade e no aumento da rentabilidade”, avalia Maurício Nogueira, coordenador de Pecuá­ria da Agroconsult. Em sua opinião, são poucos Horizonte favorável – Para Nogueios produtores que recorrem à Bolsa ra, o horizonte parece mais claro em de Mercadorias e Futuro para realizar 2018, com a perspectiva de PIB positioperações de hedge (contrato futuro) vo e de demanda maior pela carne. “O para garantir sua receita e que 2017 que temos sugerido para aqueles que não foi favorável a este tipo de opera- fazem confinamento estratégico é que ção. “No primeiro semestre, a situação olhem para sua propriedade, façam já estava ruim, mesmo antes de surgi- planejamento, busquem garantia no rem problemas em parte da indústria hedge”, salienta. Alberto Pessina, da Assocon, aponfrigorífica, e o mercado futuro trabalhava em baixa, sem espaço para esta ope- ta aspectos positivos para justificar a expectativa de crescimento na quantiração”. Conforme Nogueira, a maneira dade de animais confinados em 2018, mais comum de comercialização no entre os quais as previsões de crescimento de 2,6% setor é a do cona 3% do PIB, o trato a termo do que pode indupecuarista com Apesar da projeção de produção zir aumento da o frigorífico. No menor de grãos este ano, não demanda interentanto, os nedeve haver nenhum estouro no na por carne. Ele gócios com base preço do milho em 2018 cita também estinesta modalimativas de cresdade refluíram cimento do merno ano passado, pois a indústria e o mercado já espera- cado mundial, com a recuperação de vam que a arroba fosse declinar e evi- economias importantes, que podem tavam fechar contratos. “Foi um ano comprar mais do Brasil. “Os preços no complicado, com previsão de PIB nega- País estão bastante competitivos”, diz tivo, o que comprometeu a demanda, e Pessina, referindo-se ao custo da raas coisas só mudaram quando a arro- ção. Ele lembra que, apesar da projeba começou a subir pela reativação de ção de produção menor de grãos na plantas paradas, retomada das exporta- safra em curso, existe um bom estoções e milho em patamares favoráveis”, que de milho, que não deve apresendiz. Ele acredita que esse quadro, alia- tar nenhum estouro em seu valor. Ele do ao atraso das chuvas e falta de pasto, também espera melhora nas relações fez com que parte dos animais perma- de troca com a reposição, em função necesse no cocho em 2017, devendo da nova safra de animais que começa a chegar ao mercado. n ser abatidos em 2018.

30 Anuário DBO 2018




Mercado Mundial Por Luiz Pitombo

Todas as carnes

Produção volta a subir Crescimento continua lento; o de carne bovina foi maior.

C

álculos preliminares da China e, em menor proProdução mundial de carnes1 indicam que a oferporção, dos Estados Unidos. ta mundial de alguNo país asiático, que é líder 2018 2017 Part. 2016 mas das principais carnes na produção desta carne, os 113.070 111.034 42% 109.969 – suína, de frango e bovina bons retornos obtidos de– poderá crescer após clavem impulsionar a produ91.278 90.175 34% 89.098 ra estagnação em 2016. O ção, bem como o crescimenacréscimo esperado na proto no plantel de matrizes e 62.554 61.373 23% 60.443 dução de 2017 não chega a o maior peso das carcaças. Total 266.902 262.582 259.510 ser grande, 1%, atingindo 262 Com desempenho similar ao 1 Em mil toneladas equivalente-carcaça. Os dados de 2018 são previsões e os de 2017, preliminares. milhões de toneladas, segundo ano passado, a carne de Fonte: USDA, outubro/2017. Adaptação: DBO do dados do Departamento frango mostra uma estimatide Agricultura dos Estados va de alta de 1,2% na produUnidos (USDA). Para 2018, o órgão nor- pela queda na produção de aves, princi- ção, acumulando 91,2 milhões de tonete-americano, que acompanha os países palmente por causa da gripe aviária. ladas RTC. As principais contribuições Em termos de preços, a FAO ava- devem vir de Estados Unidos, Brasil, Íncom números mais expressivos, indica a possibilidade de aumento de 1,6% na lia que o primeiro semestre de 2017 foi dia e União Europeia. mais favorável e trouxe altas, com o seprodução mundial. É a carne bovina que tende a apresen- gundo semestre trazendo estabilidade, Perspectivas de mercado – A institar a maior elevação de 2017, ou 1,5%, so- pela maior competição e demanda fra- tuição financeira Rabobank, com sede na mando 61,3 milhões de toneladas equi- ca do mercado externo. O índice de pre- Holanda, divulgou, no fim do ano passavalente-carcaça (t. eq.), que representam ços das carnes elaborado pela entidade do, seu relatório internacional sobre as 23% do total dessas carnes. O segundo mostrou um crescimento de 9% entre tendências do mercado de carnes e aquimaior aumento deve ocorrer na produ- janeiro e outubro, mas houve diferenças cultura para 2018. ção de aves, com 90,1 milhões de tone- entre as proteínas. Dados parciais do Logo no início são apresentados alladas equivalente-carcaça prontas para ano mostram que, individualmente, foi guns tópicos relevantes, como o que uso (RTC, do inglês – ready-to-cook), ou a carne ovina a que mais se valorizou, afirma que “a produção, que se expan1,2% superior, mantendo sua participa- 39%, porém seu peso no índice é menor de ao redor do mundo e que aumenta ção em 34% da oferta. A suína, que repre- do que os das carnes bovina, suína e de a competição – entre espécies e fluxos senta 42% da produção, deve crescer 1% aves, que aumentaram de valor perto de de comerciais – cria muitas oportunida7% cada uma. e acumular 111 milhões de t. eq. des na área global da proteína animal”. Como principais responsáveis por esse Visão ampla e preços – A Organiza- Números para 2018 – As projeções crescimento estão o Brasil, a China e os ção das Nações Unidas para Agricultu- para este ano feitas pelo USDA apresen- Estados Unidos. ra e Alimentação (FAO) também realiza tam elevação na produção das três prinEm um resumo das principais perssuas estimativas da produção mundial cipais carnes, que podem resultar ao fim pectivas, o estudo mostra que na Améride carnes, contudo, utiliza um univer- do ano em 266,9 milhões de toneladas, ca do Norte são as carnes bovina e de suso mais amplo, quer de países, como de com crescimento de 1,6%. As carnes bo- ínos que devem liderar a expansão, e o carnes, incluindo a de ovinos e outras de vina e suína podem ter aumento seme- consumo doméstico dos países deve sumenor expressão. Com variações per- lhante, com a primeira ligeiramente à bir. Na Europa, a produção deve crescer centuais próximas às do USDA, calcu- frente, 1,9%. A maior parcela de incre- bem pouco, liderada pela carne de aves, la que em 2017 foram produzidos 324,8 mento da bovina, que pode atingir o to- enquanto na cadeia suína existe uma similhões de t. eq., com boa parte desse tal de 62,5 milhões de t. eq., deve vir dos tuação estrutural de elevado suprimento acréscimo de 1% tendo origem nos Es- Estados Unidos e do Brasil, que poderão interno, com o aumento de consumo estados Unidos, no Brasil, na Rússia, no aumentar sua produção em 2,8% e 2,6%, perado para este ano sendo muito pequeMéxico e na Índia, seguidos de Argen- respectivamente. O primeiro, de acordo no. Um aumento na importação de carne tina, Turquia e Tailândia. A China, que com o USDA, deve ser beneficiado pela bovina e suína é esperado para a China. é o maior produtor de carnes, com 25% expansão do seu rebanho e o Brasil, pelo A produção desta última proteína deve do total mundial, ou 81 milhões de t. eq., incremento dos embarques ao exterior. crescer, mas em uma taxa menor do que A quantidade prevista para a proteí- a do ano passado. Finalmente, para o sedeve ficar estagnada, segundo a FAO, uma vez que o incremento das carnes na suína é de 113 milhões de t. eq., com tor de aves, a maior incerteza continuará ovina, bovina e suína será neutralizado aumento de 1,8%, atribuído à expansão sendo a gripe aviária no país asiático. n Anuário DBO 2018

33


Mercado Mundial Aves e Suínos

Por Luiz H. Pitombo

Exportação cai, mas receita cresce. Gripe aviária e consumo retraído de carne suína na China afetam a demanda

A

pós o encolhimento da te destaca que, no ano passaNo Brasil, evolução semelhante. oferta mundial de carne do, o setor não foi afetado pelo Espécie Frango Porco de frango e de suínos em câmbio, que se manteve relati2016, números preliminares de vamente estável, contribuindo 2017* 2016 2017* 2016 2017 indicam crescimento na para as exportações, e pelo cus13,05 12,90 3,76 3,73 Produção1 produção. O Departamento de to da ração, já que o setor conAgricultura dos Estados Unitou com preços equilibrados 4,32 4,38 0,69 0,73 Exportação1 dos (USDA, na sigla em inglês) dos grãos, além da boa oferta. 2 7,20 6,85 1,62 1,48 Receita projeta aumento de 1,2%, para 42,00 41,10 14,70 14,40 Consumo3 90 milhões de toneladas equiTendência positiva – Ao fim *Números preliminares: (1) Em milhões de toneladas; (2) Em bilhões de US$; (3) Em kg/habitante/ano. valente-carcaça prontas para do ano passado, a ABPA previa Fonte: ABPA, adaptação DBO. uso (RTC, do inglês ready-too crescimento da produção e -cook). Quando se fala apenas das exportações nacionais de uma fase de reestruturação das fazendas em toneladas-equivalente caraves e suínos em percentuais caça (t.eq.), o avanço projetado é de 1%, visando melhoria nas áreas ambiental e superiores aos totais mundiais projetados sanitária. para 111 milhões de t.eq. pelo USDA. Este calcula o incremento da No mercado interno brasileiro, Fran- produção mundial de frango em 1,2% e dos Dentre os maiores produtores mundiais de frango – EUA, Brasil, União Euro- cisco Turra, presidente da Associação Bra- embarques externos em 3,3%, onde um dos peia e China –, todos devem garantir quan- sileira de Proteína Animal (ABPA), avalia fatores favoráveis é a retomada do comértidades maiores este ano, com exceção do que o setor viveu sua mais profunda crise cio brasileiro após os problemas internos país asiático, que deve reduzir em 5,7% sua de imagem no ano passado. “Os equívocos de 2017. Para a carne suína, esses percenprodução, para 11,6 milhões de toneladas nas generalizações na divulgação da Ope- tuais podem ficar entre 1,8% e 2,5%, respecRTC. O motivo é a interrupção do comércio ração Carne Fraca deixaram, de imediato, tivamente, com a China fazendo a diferende aves vivas, com o objetivo de impedir a marcas profundas no setor produtivo, seja ça na quantidade produzida, enquanto no disseminação da gripe aviária, e a baixa dis- junto ao público brasileiro ou nos merca- comércio exterior se espera uma demanda ponibilidade de animais de avós nos plan- dos internacionais”, lamenta. Um total de forte no México, Filipinas e América do Sul 77 países adotou algum tipo de sanção às (Argentina, Chile e Colômbia). téis que gerarão as futuras aves de corte. Quanto às exportações globais da pro- carnes de aves e de suínos, reduzindo as No caso do Brasil, a associação estiteína de frango, o órgão norte-americano vendas externas em cerca de 200 mil to- ma que a produção interna de carne suína calcula a comercialização de 11 milhões de neladas. No entanto, o pronto trabalho re- possa crescer entre 2% e 3% sobre o ano toneladas RTC em 2017, 3,6% mais ante o alizado pela entidade junto aos clientes fez de 2017, alcançando 3,8 milhões de toneano anterior. Apesar do avanço, foi menor com que ao fim do ano apenas três países ladas, tendo como sustentação a retomado que os 4,2% de 2016. É esperado um me- de menor expressão nas compras ainda da da economia do País e a manutenção nor fluxo de vendas da União Europeia, que mantivessem o bloqueio total. dos custos de produção. Quanto aos emEm quantidade, a previsão da ABPA barques externos, a projeção é de aumenfigura entre os cinco maiores participantes aponta para a venda externa de 4,32 mi- to para 720.000 toneladas, ou 4% a 5% a deste mercado. lhões de toneladas de frango, 1,3% a menos mais ante o ano passado, com a retomada Suínos – Em relação à produção, o recuo do que em 2016, embora a receita possa das vendas para a Rússia, que, espera-se, na oferta virá da União Europeia, para 23,4 crescer 5% e atingir US$ 7 bilhões. O resul- terá maior demanda em função de sediar milhões de toneladas equivalente-carca- tado final foi favorecido por vendas melho- a Copa do Mundo de futebol. Também ça. A situação se justifica por um menor res para Egito, África do Sul, Iraque, Japão, engrossam a expectativa a conclusão de plantel de matrizes e pela redução na de- México e Angola. acordos com a Coreia do Sul e a abertura Situação similar ocorreu com a carne do mercado peruano. manda da China, que deve aumentar sua produção, bem como os Estados Unidos, suína, embora com números mais expresEm relação à carne de frango, a previsão ambos importantes fornecedores. Tendo sivos. As vendas estimadas pela ABPA de- é de aumento na produção entre 2% e 4%, em vista o comércio exterior do ano pas- vem atingir 690.000 toneladas, ou 5,4% me- atingindo até 13,5 milhões de toneladas, insado, a exportação global de carne suína nos que em 2016, com a receita chegando a fluenciado pelos mesmos fatores da carne pode recuar para 8,2 milhões de tonela- US$ 1,6 bilhão (+9%). Apesar da redução no suína. A quantidade exportada poderá chedas equivalente-carcaça, ou 0,6%, influen- total embarcado, Turra comemora o resul- gar a 710.000 toneladas, com elevação entre ciada pelo comportamento do mercado tado considerando a situação da China, que 1% e 3%, condicionada, no caso, à recupechinês, que apresenta fraca demanda. Já reduziu suas compras, mas houve incre- ração do nível dos embarques para a União a produção chinesa está crescendo, após mentos da Rússia e do Uruguai. O dirigen- Europeia, Oriente Médio e China. n

34 Anuário DBO 2018



Mercado Mundial Luiz H. Pitombo

Produção e Consumo – carne bovina

Crescimento lento e seguro EUA, Argentina, Turquia, México e Brasil se destacaram.

A

nálises sobre a produção da carne bovina no cenário internacional in­ dicam que ela retomou força e cres­ ce há três anos consecutivos. Os percen­ tuais não são elevados, mas estão acima dos projetados para outras carnes. O relatório do Departamento de Agri­ cultura dos Estados Unidos (USDA) esti­ ma para 2017 61,3 milhões de toneladas equivalente carcaça (t.eq.), 1,5% acima do ano anterior, com o consumo acom­ panhando de maneira próxima este cres­ cimento, 1,1% e atingindo 59,3 milhões de t.eq. Os maiores incrementos devem ocor­ rer nos Estados Unidos (5,2%), Argentina (4,1%), Turquia (2%), México (1,9%) e Bra­ sil (1,8%). Dos grandes participantes deste mercado, a Austrália pode apresentar es­ tabilidade. Na avaliação da Organização das Na­ ções Unidas para Agricultura e Alimenta­ ção (FAO), este país da Oceania poderá enfrentar até pequena queda na produção de 1%, mas que é bem menor que os 14% a menos de 2016. A situação é conseqüên­ cia da retenção de animais para recompo­ sição do rebanho que agora chega ao seu fim, após ter sido afetado por seca.

Principais produtores mundiais de carne bovina1 País

2018

2017

2016

EUA

12.448

12.109

11.507

Brasil

9.700

9.450

9.284

UE

7.900

7.890

7.881

7.110

7.070

7.000

4.300

4.250

4.200

China Índia

2

Argentina

2.900

2.760

2.650

Austrália

2.250

2.125

2.125

México

1.960

1.915

1.879

Paquistão

1.800

1.780

1.750

Turquia

1.600

1.515

1,484

Outros

12.448

12.109

11.507

Total

62.554

61.373

60.443

1 Em mil toneladas equivalente-carcaça.

Os dados de 2018 são previsões e os de 2017, preliminares. 2 Índia inclui carne de búfalo. Fonte: USDA, outubro/2017. Adaptação DBO.

36 Anuário DBO 2018

Especificamente sobre a América do Sul, a análise da FAO destaca o crescimen­ to esperado no continente de 2% e que rompe com três anos de queda. Os ga­ nhos mais apreciáveis devem ser os obti­ dos pelo Brasil e pela Argentina, o primei­ ro em função de custos de alimentação relativamente mais baixos e clima favorá­ vel, e o segundo, pelos mesmos motivos acrescidos de um aumento do rebanho. Devem igualmente aumentar sua produ­ ção a Colômbia e o Uruguai. Em relação aos principais consumido­ res de carne bovina, o USDA estima au­ mentos expressivos no Paquistão (5,1%), Estados Unidos (4,4%), China (2,8%), Ar­ gentina (1,9%) e Turquia (1,8%). Retrações são esperadas na Rússia (-1,25%), Índia (-0,45%) e União Europeia (- 0,9%). Mesmo considerando estas variações, a participação dos maiores consumidores no mercado global não sofre alterações ex­ pressivas sobre 2016. Na primeira posição devem estar os Estados Unidos (20%), se­ guidos pela China, Brasil e UE, todos com percentuais semelhantes (13%). A Argen­ tina e a Índia aparecem em seguida, igual­ mente com números próximos (4%). Avanços – As projeções para o conjun­ to da produção mundial em 2018, segundo o USDA, apontam para a evolução de pra­ ticamente 2%, atingindo 62,5 milhões de (t.eq.). Dentre os principais países, todos devem apresentar quantidades superio­ res, sendo que a aproximadamente meta­ de deste crescimento é esperado que ocor­ ra em apenas dois países, Estados Unidos e Brasil, que aumentarão sua produção em 2,8% e 2,6%, respectivamente. O potencial de aumento das exporta­ ções fundamenta este crescimento do Bra­ sil, segundo o órgão, enquanto que o nor­ te-americano acontece em função de um aumento de rebanho, que entra em seu quarto ano de expansão. Os estoques inter­ nos do país estão elevados e os preços mais baixos, o que deve impulsionar as vendas externas. De acordo com análises da insti­ tuição financeira Rabobank, com sede na Holanda, além da expansão do rebanho dos Estados Unidos, outro fator que deve

ser determinante é o peso das carcaças. Devem igualmente apresentar aumen­ tos em sua produção a Austrália (6%), Tur­ quia e Argentina. O Rabobank salienta que é o primeiro aumento de produção na Aus­ trália desde 2014. As participações dos paí­ ses na quantidade total, como aconteceu com o consumo no ano passado, não de­ vem apresentar variações expressivas, com os Estados Unidos permanecendo em pri­ meiro (20%), seguido pelo Brasil (15%), UE (12%) e China (11%). O ano deve ser igualmente favorá­ vel ao consumo, com o USDA prevendo incremento de 2% no total mundial que poderá chegar a 60,5 milhões de ton. O maior incremento de consumo é espera­ do para a Turquia (6,8%), enquanto que dentre os grandes espera-se elevação na Argentina (2,8%), Estados Unidos (2,7%), Brasil (2,4%), China e México, ambos bem próximos (2%). Pelas análises da instituição finan­ ceira holandesa, o mercado do Estados Unidos deve mostrar aumento no con­ sumo de todas as proteínas animais. Já o aumento do consumo brasileiro estaria fundamentado no esperado crescimento interno da economia. n

Principais consumidores mundiais de carne bovina1 País EUA

2018

2017

2016

12.524

12.191

11.678

China

8.140

7.985

7.765

Brasil

7.953

7.745

7.652

U. Europeia

7.840

7.830

7.906

Argentina

2.550

2.480

2.434

2

2.450

2.425

2.436

México

1.875

1.840

1.809

Rússia

1.770

1.824

1.847

Paquistão

1.726

1.711

1.685

Índia

Turquia

1.628

1.523

1.496

Outros

10.847

10.548

10.791

Total

60.550

59.362

58.714

(1) Em mil toneladas equivalente-carcaça. Os dados de 2018 são previsões e os de 2017, preliminares. (2) Índia inclui carne de búfalo. Fonte: USDA, outubro/2017. Adaptação DBO.


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Mercado Mundial Por Denis Cardoso

Exportação e Importação

Avanços consistentes em 2017 Vendas totais podem crescer 3% em 2018, repetindo o desempenho favorável no ano passado.

D

epois de registrar avanço de 4% em 2017, as exportações mundiais de carne bovina devem crescer 3% em 2018, para algo próximo de 10,1 milhões de toneladas equivalente-carcaça, segundo previsão do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). A expansão global dos embarques será impulsionada pela Índia, Brasil, Austrália, Estados Unidos e Argentina, ou seja, alguns dos tradicionais protagonistas do comércio exterior de carne vermelha, que, ao longo de 2018, terão excedentes na produção da matéria-prima para conti­ nuar abastecendo o mercado internacional. Segundo dados preliminares do USDA, em 2017 os embarques mundiais de carne bovina alcançaram em torno de 9,8 milhões de toneladas equivalente-carcaça, ante 9,4 milhões do ano anterior. Pelos números da Organização das Nações Unidas para Agricultura (FAO), o

Principais exportadores mundiais de carne bovina1 País

2018

2017

2016

Índia 2

1.850

1.825

1.764

Brasil

1.825

1.760

1.698

Austrália

1.525

1.450

1.480

EUA

1.320

1.285

1.159

570

570

587

Nova Zelândia Canadá

475

475

443

U. Europeia

420

400

344

Uruguai

420

432

421

Paraguai

380

380

389

Argentina

350

280

216

Méxic o

295

280

258

Outros

626

654

663

Total

10.065

9.791

9.422

1Em mil toneladas equivalente-carcaça. Os dados de 2018 são previsões e os de

2017, preliminares. 2As exportações da Índia referem-se à carne de búfalo. Fonte: USDA, outubro/2017. Adaptação DBO.

38 Anuário DBO 2018

comércio mundial de carne bovina teve crescimento de 2,2% no ano passado, atingindo 9,1 milhões de toneladas. Uma das principais novidades no mercado de exportação é que em 2018 a Argentina, um tradicional produtor de carne vermelha, vai consolidar o seu retorno consistente ao comércio internacional, figurando no ranking dos dez maiores países exportadores (veja tabela). O país da América do Sul, que já ocupou o terceiro lugar no ranking mundial, registrava queda nos embarques desde 2005, após proibições de exportação e aumento de impostos por parte do governo local. Depois de um período de reconstrução de rebanho bovino que durou quase quatro anos, a Argentina elevou os seus embarques anuais no ano passado e vai exportar 350 mil toneladas equivalente-carcaça em 2018, com aumento de 25% sobre as 280 mil toneladas embarcadas em 2017, segundo estimativa do USDA. No entanto, em comparação com os países que atualmente ocupam o topo do ranking de exportação, a Argentina ainda está longe de trazer incômodo aos concorrentes. O Brasil (veja mais informações nas páginas 40 e 42) e a Índia disputam hoje o primeiro lugar nas exportações globais, com leve vantagem para os indianos em termos de quantidade. Segundo estimativa do USDA, o país asiático deve embarcar 1,85 milhão de toneladas equivalente carcaça em 2018, ante 1,82 milhão em 2017. Por sua vez, nas projeções do USDA, as vendas externas do Brasil chegarão a 1,825 milhão de toneladas equivalente carcaça, ante 1,760 milhão no ano anterior. Os dois países, tanto o Brasil quanto a Índia, são conhecidos internacionalmente por vender cortes de carne bovina com preços bastante competitivos – os indianos exportam carne bubalina, de qualida-

de inferior, porém de menor custo. Com esse perfil de exportação, nos últimos anos a Índia tem registrado avanços significativos no mercado internacional, abastecendo especialmente consumidores da Ásia e do Oriente Médio, justamente as regiões onde a carne brasileira tem maior penetração. Ainda em relação às exportações, destaque para outros dois gigantes da carne bovina, os Estados Unidos e a Austrália. Segundo o USDA, em 2018, os norte-americanos devem produzir quantidade recorde de carne bovina, estimada em 12,4 milhões de toneladas, estimulados pelo quarto ano seguido de expansão do rebanho bovino. Com isso, o departamento norte-americano prevê elevação de 2,7% nos embarques deste ano, para 1,32 milhão de toneladas equivalente carcaça. Em 2017, as exportações de carne bovina dos EUA atingiram 1,28 milhão de toneladas, crescimento de 11% sobre as

Principais importadores mundiais de carne bovina1 País

2018

2017

2016

EUA

1.374

1.341

1.367

China

1.025

925

818

Japão

815

780

719

Coreia do S.

560

550

513

Rússia

480

520

522

Hong Kong

410

425

453

U. Europeia

360

340

369

Chile

300

290

269

Egito

280

250

340

Canadá

235

225

254

México

210

205

188

Outros

1.943

1.897

1.879

Total

7.992

7.748

7.691

1 Em mil toneladas equivalente-carcaça. Os dados de 2018 são previsões e os de 2017, preliminares. Fonte: USDA, outubro/2017. Adaptação DBO.


Mercado Mundial

Exportação e Importação

vendas de 2016 (1,16 milhão de toneladas). Depois de reduzir as suas exportações em 2017, a Austrália deve registrar recuperação em 2018, alcançando vendas em torno de 1,52 milhão de toneladas equivalente carcaça, uma elevação de 5% sobre o volume esperado para 2017, de 1,45 milhão de toneladas, de acordo com estimativa do USDA. Em relação à concorrência, os australianos devem incomodar principalmente os EUA, pois os dois países disputam consumidores que pagam valores bastante altos pelos cortes de carne vermelha, como o Japão e a Coreia do Sul.

porco, a demanda doméstica pela carne bovina cresce em maior velocidade nos últimos anos, puxada pela elevação de renda individual e pelo aumento da população. Nesse contexto, a China se viu obrigada a buscar cada vez mais o mercado internacional, gerando uma competição feroz entre os fornecedores da matéria-prima. O USDA prevê que as compras de carne vermelha da China ultrapassem 1 milhão de toneladas em 2018, um crescimento de 11% sobre a quantidade de 2017, de 925 mil toneladas (volume 13% acima das importações de 2016). Em 2018, os países da América do Sul, com destaque para o Brasil, além de Uruguai e a Argentina, continuarão a ser os principais fornecedores da China. As exportações da Austrália, que já foi o maior fornecedor para o mercado chinês, seguirão limitadas pelos estoques restritos, uma vez que o rebanho local continua em reconstrução.

A China – Não há como citar o mercado importador de carne bovina sem começar pela China, hoje o segundo maior importador mundial da commodity, atrás apenas dos Estados Unidos (os norte-americanos, prevê o USDA, devem importar 1,37 milhão de toneladas equivalente carcaça em 2018, praticamente o Comércio entre gigantes – Ainmesmo volume de 2017, de 1,34 mi- da em relação à demanda internacional da China pela carne vermelha, é lhão de toneladas). No período de 2011 a 2016, de preciso lembrar que os Estados Uniacordo com o USDA, a produção dos conseguiram recuperar o acesso chinesa de carne bovina registrou ao mercado chinês, que, em maio de um salto de 8%, para 7 milhões de 2017, autorizou a entrada de produtos frescos, toneladas equivarefrigeralente carcaça. No dos, congeentanto, esse avanOs EUA não devem conseguir lados e deço não foi suficienimpor rapidamente a sua sossados. A te para preencher a reabertura lacuna deixada pelo tradicional força exportadora significa um forte crescimenno mercado chinês novo desafio to do consumo doaos exporméstico, que avantadores norçou 20% durante o mesmo período, para 7,8 milhões de te-americanos, que estavam há 13 toneladas. Internamente, a produ- anos sem vender carne bovina para ção de carne na China é limitada pe- China, devido ao problema da dolos altos custos, infraestrutura ina- ença da vaca louca. Antes disso, em dequada da cadeia de frio, além de 2003, os EUA eram os principais foruma indústria fragmentada de pro- necedores de carne bovina à China, dutores de pequena escala, basea- tendo uma participação de dois terdos no interior do país, com dificul- ços do mercado local. No entanto, no curto prazo, os dades para atender a demanda dos principais centros de consumo do EUA não devem conseguir impor rapidamente a sua tradicional forleste chinês. Embora tradicionalmente o con- ça exportadora no mercado chinês sumidor chinês tenha uma maior de carne bovina. Na avaliação dos preferência pelo frango e a carne de especialistas do USDA, as remessas

Comércio mundial de bovinos vivos1 Principais exportadores2 País/ano

2018

2017

2016

México

1.225

1.200

1.130

U. Europeia

1.010

1.000

997

Austrália

900

800

1.154

Canadá

730

665

766

Brasil

430

350

293

4.850

4.532

4.841

Total geral

Principais EUA

importadores2

1.925

1.815

1.708

Turquia

700

700

494

Egito

250

250

300

China

100

120

133

México Total geral

35

31

31

3.086

3.014

2.778

1Em mil cabeças, países de maior expressão acompanhados pelo USDA. Os dados de 2018 são previsões e os de 2017, preliminares. 2A partir de 2015, a Colômbia e Venezuela não são mais acompanhados nesta pesquisa. Fonte: USDA/FAS, outubro/2017. Adaptação DBO.

de carne dos EUA para o gigante asiático serão limitadas pelos serviços comerciais já estabelecidos pelos países concorrentes e pela preferência do consumidor chinês pela carne magra, em detrimento da carne com marmoreio (gordura entremeada), característica principal do produto norte-americano. Exatamente por isso, a indústria exportadora do Brasil não se sente amea­çada em perder para os EUA parte do mercado que foi conquistada na China, segundo disse o presidente da Abiec (entidade representante dos exportadores brasileiros), Antonio Camardelli (veja matéria nas páginas seguintes). Além desses fatores, a China proí­ b e a entrada de gado tratado com hormônios de crescimento, uma das características do rebanho bovino dos EUA. Portanto, essa adaptação dos produtores norte-americanos de carne bovina às exigências específicas do mercado chinês não ocorrerá de uma hora para outra, o que deixa países como o Brasil, a Argentina e o Uruguai livres para continuar explorando a forte demanda da China. n Anuário DBO 2018

39


Mercado Mundial Exportações brasileiras

Por Denis Cardoso

Sustos no caminho, mas um ‘final feliz’. Em ano adverso, exportações brasileiras crescem em 2017 e se aproximam do recorde histórico

N

otícias ruins cada), da Esalq/USP), Exportação de carne bovina por tipo não faltaram os problemas vivenReceita1 Quantidade2 Preço médio3 em 2017 para ciados pela JBS fizeTipo 2017 2016 2015 2017 2016 2015 2017 2016 2015 o setor pecuário ram com que outros brasileiro, que abagrupos nacionais exIn natura 5.085 4.349 4.659 1.572 1.400 1.078 4.203 4.037 4.320 laram todos os elos pandissem seus abaIndustrializada 516 600 659 224 263 106 5.760 5.692 6.206 da cadeia. O segtes e voltassem a opeMiúdos 582 496 536 207 195 189 2.537 2.806 2.831 mento de exportarar plantas paradas, ção de carne bovielevando suas partiTripas 69 49 62 20 18 21 2.656 3.293 2.891 na, porém, apesar cipações nos mercaSalgadas 28 19 23 5 3 4 6.001 5.258 5.553 de alguns “sustos” dos interno e externo. Total 6.283 5.516 5.939 1.534 1.400 1.399 4.096 3.939 4.244 no meio do cami“Mesmo com os cho(1) Em US$ 1.000. (2) ) Em toneladas líquidas. (3) Em US$ por tonelada líquida. Fonte: Midc/Secex/Abiec nho, foi o que meques internos, mas nos sentiu os peraproveitando o cenácalços ocorridos no ano passado. Em 1,40 milhão de toneladas registradas em rio de oferta instável no mundo, as extermos práticos, a Operação Carne Fra- 2016 (9,5% mais). A receita total alcan- portações brasileiras de carne bovina ca, deflagrada em 17 de março, que in- çou US$ 6,2 bilhões, ante US$ 5,5 bilhões acumulam números positivos”, enfatiza vestigou pagamentos de propina envol- do ano anterior. O preço médio, conside- o relatório do Cepea. vendo funcionários do governo federal rando todos os tipos de carne, ficou em O segundo entrave ocorreu em jue indústrias de proteína animal, foi a US$ 4.096 por tonelada no período de nho, quando os Estados Unidos suspenque trouxe mais estragos aos embar- janeiro a dezembro do ano passado, um deram as compras de carne in natura ques nacionais de carne bovina. Em acréscimo de 4% sobre o valor de 2016, brasileira, depois de terem detectado ababril, mês seguinte à operação coorde- de US$ 3.939. cessos (acúmulo de pus) relacionados à No entanto, apesar da recuperação reação dos bovinos à aplicação da vacinada pela Polícia Federal, as vendas externas recuaram 25% em receita e 34% dos embarques, a indústria brasileira na contra o vírus da febre aftosa. Em noem volume na comparação com o mês ainda ficou longe de alcançar, em recei- vembro, foi a vez da Rússia, outro imporanterior. Na ocasião, relembra Antônio ta, o recorde histórico de 2014, quando tante cliente, bloquear as importações Camardelli, presidente da Associação as exportações de carne bovina geraram da carne brasileira, dessa vez alegando a Brasileira das Indústrias Exportadoras divisas ao País de US$ 7,2 bilhões. Em existência de substâncias como ractopade Carne (Abiec), países que represen- quantidade, porém, o Brasil esteve bem mina e outros estimulantes para o crestam 60% das exportações totais do País perto do recorde, de 1,54 milhão, tam- cimento da massa muscular animal, tipo decidiram vetar temporariamente a bém obtido em 2014. de produto proibido para uso em boviA Abiec estima que, pelo menos em nos no Brasil. entrada do produto brasileiro, incluindo os dois dos maiores clientes, como quantidade, o recorde de 2014 será facilAté o fechamento deste Anuário Hong Kong e China. No entanto, tal ini- mente superado em 2018, podendo al- DBO, os dois países não haviam retociativa dos importadores não compro- cançar 1,680 milhão de toneladas, o que mado as importações. Porém, segunmeteu os resultados finais do setor, já significaria crescimento de quase 10% do entrevista concedida pelo presidenque, afirma Camardelli, graças a um es- sobre o resultado do ano passado. Em te da Abiec em dezembro último, as forço conjunto entre representantes da receita, a entidade prevê fechar o ano negociações para a reabertura desses indústria e do Ministério da Agricultu- com ganhos totais de US$ 6,9 bilhões, dois importantes mercados avançaram ra, Pecuária e Abastecimento (Mapa), o um avanço anual de 10,5%. e a expectativa era de que tudo voltasAlém da Operação Carne Fraca, a se à normalidade ainda no início deste Brasil conseguiu reverter rapidamente os embargos, retomando a rota de cres- indústria exportadora enfrentou outros ano. Inclusive, segundo Camardelli, os cimento das exportações logo nos me- três obstáculos ao longo do ano passa- dois países estão na lista dos importado. Com a delação dos donos da JBS, em dores que devem ajudar o Brasil exporses subsequentes. “Em um ano atípico para o setor, as maio, a líder global em proteína animal tar um volume recorde de carne bovina nossas exportações cresceram 14% em reduziu a produção interna de carne, o em 2018. No ano passado, a receita obfaturamento”, comemora o presidente que levou a um imediato encolhimento tida com as vendas de carne bovina aos da Abiec. Em quantidade, o Brasil expor- de oferta aos mercados doméstico e in- EUA, que em 2016 havia reaberto o mertou 1,534 milhão de toneladas de carne ternacional. No entanto, lembrou a equi- cado de carne bovina ao Brasil depois (in natura, processada, miúdos, tripas e pe de analistas do Cepea (Centro de de mais de 15 anos de bloqueio, alcansalgadas) em 2017, para 134 países, ante Estudos Avançados em Economia Apli- çou US$ 295 milhões, ante 284 milhões

40 Anuário DBO 2018



Mercado Mundial

Exportações brasileiras

obtidos no ano anterior. Por sua vez, as aquisições da Rússia resultaram em faturamento total de US$ 486 em 2017, ante US$ 408 milhões arrecadados em 2016. Potência chinesa – O entusiasmo maior dos exportadores brasileiros, porém, é com a China, hoje o segundo maior comprador de carne bovina brasileira, atrás de Hong Kong. No ano passado, os chineses compraram 214 mil toneladas líquidas de carne bovina do Brasil, crescimento de 29% sobre 2016 e de 120% na comparação com 2015. Em receita, os embarques do ano passado registraram um salto de 33% sobre o ano anterior, para US$ 939 milhões, e quase dobraram em relação ao montante de 2015. Não bastante a atual agressividade dos compradores da China, o Brasil continua recebendo a visita de técnicos chineses interessados em elevar ainda as compras de carne vermelha do País. Camardelli informa que neste início do ano mais 11 unidades frigoríficas devem receber habilitações para negociar com os importadores chineses, o que poderia resultar numa receita adicional de R$ 500 milhões ao Brasil. Segundo o presidente da Abiec, o fato de os EUA terem conseguido, no ano passado, a liberação para também exportar carne bovina à China, depois de 13 anos de bloqueio comercial (veja texto da página 39), não trás

42 Anuário DBO 2018

Os maiores importadores de carne bovina e derivados do Brasil Países Hong Kong

Receita1 2017

Quantidade2

Preço médio3

Partic.4

2016 2015 2017 2016 2015 2017 2016 2015

2017

1.528 1.145 1.089

406

330

298

3.761 3.469 3.660

24,3

China

939

706

476

214

166

97

4.395 4.261 4.885

14,9

UE

713

739

802

110

118

121

6.494 6.277 6.607

11,3

Irã

559

369

381

133

95

97

4.204 3.891 3.913

8,9

Egito

529

551

611

154

177

196

3.442 3.117 3.375

8,4

Rússia

486

408

579

151

139

179

3.215 2.941 3.231

7,7

EUA

295

284

287

39

33

31

7.465 8.550 9.309

4,7

Chile

281

301

261

65

71

55

4.347 4.237 4.747

4,4

Arábia Saudita

168

112

-

42

29

-

3.990 3.847

2,6

1 Em US$ 1.000; 2 Em toneladas líquidas. 3 Em US$ por tonelada líquida. 4 Participação percentual considerando a receita total em 2017.

preocupação à indústria brasileira. “O tipo de carne deles, marmorizada (gordura entremeada), não concorre com a nossa carne Nelore, magra”, desconversa Camardelli. No entanto, a quantidade de parágrafos dedicados pelos analistas do USDA (Departamento de Agricultura Norte Americano) ao retorno dos EUA ao mercado chinês de carne bovina, em seu relatório de outubro, pode ser um dos indícios do enorme interesse norte-americano pelo mercado do gigante asiático, o que pode resultar em ações estratégias específicas para este mercado, pelo menos no longo prazo, de acordo com análise do USDA. Também não se pode des-

-

Fonte: Mdic/Secex/Abiec.

considerar a tradicional força dos EUA no segmento de carne bovina: o maior importador mundial da commodity (à frente justamente da China) também é um dos maiores exportadores. No curto e médio prazos, porém, o concorrente mais forte do Brasil parece ser mesmo a Índia, hoje o maior exportador mundial de carne bubalina (tipo de produto que entra no mesmo nicho da carne bovina). Embora de menor qualidade, o produto indiano tem preço bastante competitivo, o que tem garantido forte penetração em mercados onde a carne brasileira também tem grande presença, como na Ásia, Oriente Médio e Egito. n




Cadeia da Carne Por Maristela Franco

Indústria Frigorífica

Indústrias registram boas margens Apesar dos escândalos, exportações e queda da arroba salvaram faturamento

O

ano de 2017 teve turbulências de de mercado, se desvalorizou. Segundo o sobra – Operação Carne Fraca, que Centro de Estudos Avançados em Econoresultou no embargo temporário de mia Aplicada da Escola Superior de Agri22 países ao produto brasileiro; retomada cultura Luiz de Queiroz (Cepea/Esalq), o da cobrança do Funrural, em abril; dela- valor mensal da arroba passou de R$ 147, ções da JBS, em maio; suspensão das im- em janeiro, no Estado de São Paulo, para portações pelos Estados Unidos, em ju- R$ 137, em abril, após a Operação Carne nho, e pela Rússia, em novembro. Nunca Fraca. Em maio, subiu para R$ 138, mas, o setor foi tão violentamente atingido por depois, foi novamente pressionado para escândalos de repercussão nacional e in- baixo, devido às delações dos irmãos Baternacional, mas nem mesmo esses “tor- tista e à consequente redução nos abates pedos” tiveram poder para detonar as pela JBS. Em julho, o boi gordo registrou o margens dos frigoríficos. Conforme le- pior preço do ano (R$ 128), se recuperanvantamento efetuado pela Scot Consulto- do nos meses seguintes, porém sem ultrapassar a barreiria, de Bebebouro, ra dos R$ 150. SP, as indústrias Crise da JBS abriu espaço para os Essa desvafecharam o ano lorização sigcom média posiconcorrentes, que reativaram ou nificativa da tiva, sempre aciarrendaram plantas, especialmente nas matéria-prima ma do patamar regiões onde há maior concentração. garantiu, para histórico, que é de os frigoríficos, 20% (veja gráfico margens supeà pág. 46). Após a Operação Carne Fraca, por exemplo, que riores a 20% durante todo o ano, resultaderrubou o preço da arroba, a diferença do bem diferente do registrado em 2016, entre o preço pago pelo boi e o valor apu- quando a diferença entre o valor de comrado com a venda da carne desossada, pra do boi gordo e o valor médio de vencouro, miúdos e subprodutos oscilou en- da da carne, couro, miúdos e subprodutre 36% a 38%, valores inéditos na história tos foi quase negativo (0,3 a 0,5%, para quem não fazia desossa, e 11% a 13%, do indicador. Há três razões para o bom desempe- para quem fazia). No segundo semestre, nho da indústria. A primeira é que a en- em função da corrida dos concorrentes xurrada de escândalos pouco afetou a para ocupar espaços deixados pela JBS, demanda interna. A segunda é que os em- os abates cresceram, elevando a oferta bargos internacionais após a Operação de carne no mercado interno. Com mais Carne Fraca foram curtos e as restrições produto disponível, os preços no varejo russas ocorreram em período de poucos caíram, reduzindo as margens dos frigorínegócios (final do ano), o que resguardou ficos, mas não muito, pois as exportações as exportações. A terceira é que o boi gor- ajudaram a escoar excedentes e a arroba do, commodity sensível às instabilidades continuou reprimida. “Entre junho e ju-

lho, por exemplo, enquanto o boi gordo se desvalorizava em 3,2%, em São Paulo, a cotação da carne sem osso resistia, caindo apenas 2,3%”, explica Isabella Camargo, da Scot Consultoria. Grandes sustos – Mesmo com margens positivas, os frigoríficos sofreram em 2017. O anúncio desastrado da Operação Carne Fraca (com seus equívocos e generalizações) desqualificou o serviço de inspeção sanitária do País, gerando uma série de problemas com países importadores. “Tivemos produtos em trânsito, que não sabíamos se seriam devolvidos; cargas paradas em portos; estoques acima do normal. Foi um momento muito difícil, muito tenso”, relembra Luciano Pascon, diretor-presidente do Frigol, quarta maior indústria frigorífica do País, que, até a retomada dos negócios, precisou reduzir suas operações e teve os resultados do mês de abril, tanto em produção quanto em receita, prejudicados. As coisas somente começaram a se normalizar em junho, aí já sob um novo contexto: a crise do maior player do setor, que abriu oportunidade para outras empresas incrementarem sua produção. Justamente por isso, 2017 foi também um ano de oportunidades. “Surgiram circunstâncias muito diferentes daquelas com as quais a gente lida no dia a dia da operação, causando uma incerteza momentânea grande, mas isso nos permitiu lançar as bases do nosso projeto de expansão”, admite Pascon, referindo-se ao arrendamento de duas unidades: uma em Cachoeira Alta, GO, no mês novembro de 2017 e outra em Juruena, em

2017 - Um ano de turbulências e escândalos Março

Abril

Maio

Junho

Julho

Agosto

Setembro

Novembro

Operação Carne Fraca e embargos

STF ressuscita Funrural

Delação da JBS

Embargo dos Estados Unidos

Pior média da arroba no ano

JBS põe ativos à venda

Acordo de delação é anulado

Embargo russo

45 Anuário DBO 2018


Cadeia da Carne

Indústria Frigorífica

Frigoríficos focam no mercado de carne de qualidade

Margem da indústria superou o patamar histórico em 2017

janeiro de 2018. O Frigol, que faturou R$ 1,5 bilhão no ano passado, conta agora com cinco abatedouros de bovinos. Após investimentos em infraestrutura, eles lhe permitirão processar 80.000 animais/ mês até o fim deste ano ou início de 2019 e elevar sua receita anual para R$ 2,4 bilhões (aumento de 60%). Para isso, a empresa pretende investir mais em carne de qualidade com marca, nicho que vem crescendo bastante no Brasil. Briga por espaço – A Marfrig Foods, segunda maior indústria frigorífica do setor, também adotou essa estratégia. Em 2018, pretende comercializar 60% de sua produção com marca. Aproveitando o espaço deixado pela JBS no mercado brasileiro, essa empresa elevou sua capacidade de abate de 200.000 para 300.000 animais/mês em 2017. Reabriu cinco plantas (Nova Xavantina, no MT; Pirinópolis, em GO; Paranaíba, no MS; Alegrete, RS; Ji-Paraná, RO) e arrendou outra, em Pontes e Lacerda, MT. Seguindo o exemplo dos concorrentes, a Minerva Foods também reativou uma unidade em Mirassol D’Oeste (MT) e passou a trabalhar no Brasil com apenas 20% de ociosidade. Além disso, comprou todo o parque industrial da JBS na Argentina, Paraguai e Uruguai (nove plantas e duas processadoras) por R$ 1 bilhão, ampliando sua capacidade total de abate em 50%. Para a líder JBS, o ano foi muito difícil, mas, dadas as dimensões da crise, a companhia demonstrou capacidade de

Fonte: Scot Consultoria

resistência. Precisou se desfazer de ativos no Mercossul (negócio já mencionado), no Canadá (confinamento da Five Rivers em Alberta) e nos Estados Unidos (demais unidades de engorda dessa empresa, vendidas para a Pinnacle Asset Management), mas manteve as plantas próprias no Brasil. Devolveu alguns abatedouros arrendados, manteve outros fechados, trabalhou com maior capacidade ociosa, teve dificuldades para obter empréstimos para capital de giro, passou a comprar bois somente a prazo, mas não soçobrou. O primeiro semestre foi crítico para a companhia – a queda drástica das ações de janeiro a agosto, reduziu seu valor de mercado de R$ 32 bilhões para R$ 23 bilhões; ela perdeu parte dos fornecedores e clientes; teve dificuldades para negociar dívidas –, mas fechou o ano relativamente estável. O cenário ainda é de instabilidade, mas não se preveem grandes “abalos sís-

micos” em 2018. No geral, as indústrias frigoríficas estão otimistas. “Acho que vai ser um ano bom”, prevê Luciano Pascon, do Frigol. Segundo ele, o consumo interno deverá crescer em pelo menos 2%, como prevê o Cepea, devido à recuperação do setor industrial e à queda no desemprego; as exportações continuarão sendo favorecidas pelo desenvolvimento dos países emergentes, especialmente na região asiática; o embargo russo não deve durar muito, porque o país sediará a Copa do Mundo e precisa importar mais carne. Pascon também acha que haverá boa oferta de bois, porque a pecuária está se modernizando. “Os pecuaristas pioneiros, que investiram em tecnologia, estão produzindo mais e com qualidade. O cenário para 2018, portanto, é positivo. Mesmo que o boi se valorize, teremos condições de repassar esse aumento, em função da maior demanda”, diz o executivo. n

Anuário DBO 2018

46


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Cadeia da Carne Varejo

Por Tatiana Souto

Recuperação à vista Reação no consumo de carne bovina começou em 2017; em 2018 situação dependerá da economia.

E

m um ano turbulento acima). Já no ano passado, com Preços* da carne bovina começam a ceder (em %) para a cadeia pecuária a supersafra de grãos referente 2017 2016 2015 2014 como foi 2017, o setor vaao ciclo 2016/2017 e a conserejista conseguiu não só manquente queda de custos para o Carne dianteiro -2,3 1,2 23 11 ter, como aumentar, suas marprodutor – além das turbulênCarne traseiro -6,6 5,9 16 16 gens de lucro em relação a cias ligadas à Carne Fraca, dela2016. A média da margem do ção dos irmãos Batista, da JBS, e Média -4,5% 3,6 19,5 13,5 varejo no ano passado ficou em decisão da empresa de só com(*) No varejo. Fonte: Departamento de Economia e Pesquisa da Abras/GFK Brasil 65%, informa o analista Alex prar bois a prazo, situações que Lopes, da Scot Consultoria, oito derrubaram o preço da arroba pontos percentuais acima do desempe- fica ele, acrescentando que o consumo de no mercado físico _, o preço da carne bovinho do setor em 2016, que teve margem de carne bovina começou a reagir, mas timi- na começou a ceder e a atrair novamente o 57%. Até mesmo a Operação Carne Fraca, damente, em 2017. “Por mais que tenha- brasileiro. “Até janeiro de 2017, a carne boque abalou o setor da porteira para dentro mos indicadores econômicos melhorando vina havia subido demais; depois, começou a partir do segundo a cair”, confirma Lima. No fim do ano, o ree também as exsemestre, a recupe- ajuste médio da proteína ficou negativo em portações, acaÁrea de açougue dos ração efetiva do con- 4,5% (na tabela). bou beneficiando o segmento O executivo da GFK Brasil acrescenta supermercados pode ter aumentado. sumo é lenta. A inflação em queda aliviou que, com a crise econômica, o consumidor varejista, que abEm 2016, ela respondeu por 12,5% um pouco os custos, ficou “mais racional” e deve voltar a comsorveu parte do do faturamento. mas ainda assim não prar, “aos poucos”, mais proteína vermelha produto não exhouve melhora sig- neste ano de 2018, à medida que tiver seguportado, por caunificativa do poder rança maior de que a situação do País esteja sa do bloqueio momentâneo de vários países à proteína de compra do brasileiro”, diz o analista da melhorando, principalmente em relação ao animal brasileira, e viu o preço da carne bo- Scot Consultoria. nível de empregos. A cautela tem razão de vina baixar, com a oferta maior, sem necesser em relação às carnes em geral, já que, na sariamente repassar totalmente ao consu- Reação discreta – Marco Aurélio Lima, cesta básica, as carnes bovina, de frango e o diretor de Atendimento da GFK Brasil – pernil suíno são os alimentos que mais pemidor essa desvalorização. Números do Instituto de Economia Agrí- empresa que elabora, em parceria com a sam, com 40% do custo total, diz Lima. cola (IEA) apontam que o quilo da carne Abras, o índice de preços do setor –, conbovina no varejo em março, mês da Carne firma que no ano passado houve uma dis- Perspectiva – Ainda para 2018, a persFraca, caiu para R$ 22,30, ante R$ 22,43 em creta reação no consumo de carne bovina. pectiva em relação ao desempenho da carfevereiro. “A Carne Fraca, de fato, não afe- “Em 2016 a sensação que o consumidor ti- ne bovina no varejo – assim como de todas tou o varejo”, confirma Alex Lopes. As car- nha era de que o produto estava muito caro as outras proteínas animais – é de que ele vai nes têm peso importante no setor varejista. e por isso realizou a troca por proteínas estar “completamente alinhada” com o comConforme a Associação Brasileira de Su- mais baratas, como carne de frango e suí- portamento da economia, avalia Alex Lopes, permercados, em 2016, a área de açougue no”, informa Lima. da Scot. “O consumo de carnes é extremaDe fato, o reajuste médio da carne bovi- mente alinhado à situação econômica, prin(bovinos, aves e suínos) contribuiu com 12,5% do faturamento do setor, equivalente na no varejo avançou em 2016 (Veja tabela cipalmente o do traseiro bovino, que tem a R$ 42,3 bilhões. Deste moncortes mais nobres”, diz. “Se houver tante, cerca de 90% refere-se à recuperação dos indicadores – não só Margem avança, mas pouco.1 carne bovina (R$ 38,1 bilhões). dos econômicos, mas do poder efeti75% vo de compra, além de juros baixos e Ajuste – Lopes, da Scot, coa inflação não subir muito –, deve ha70% menta que o setor varejista ver a retomada do consumo”, reafirconseguiu se ajustar em meio ma o analista, acrescentando que isso 60% à turbulência e à crise econôpode resultar em alta de preços para mica que ainda assombrou os a proteína animal por causa da maior 50% brasileiros em 2017. “O varejo demanda e, consequentemente, em aprendeu a trabalhar com um aumento das margens do varejo, situJaneiro/2017 Janeiro/2018 estoque muito mais regulado ação que já ocorreu em anos anterio(1) Margem do varejo em relação à carne bovina. Fonte e elaboração: Scot Consultoria em relação à demanda”, justires, de ­­consumo pleno. n

48 Anuário DBO 2018


Cadeia da Carne Marina Salles

Qualidade

Apenas uma ‘marolinha’ Nicho de carne tipo gourmet não se abalou com as tempestades de 2017

N

em mesmo os reveses enfrentados pela pecuária em 2017 brecaram o crescimento do mercado de carne gourmet. Roberto Barcellos, engenheiro agrônomo e diretor da Beef&Veal, consultoria de Botucatu, SP, especializada em projetos para pecuária de corte, se arrisca a dizer que o impacto da Operação Carne Fraca não gerou reflexos na demanda direcionada a este nicho, cujo público vem se fidelizando e aumentando de tamanho. “No Brasil, das 40 milhões de cabeças abatidas em 2017, 2%, ou seja, em torno de 800 mil animais, atenderam ao mercado de carne de qualidade, e é o aumento da demanda, com os consumidores cada vez mais exigentes, que ajuda a explicar o crescimento médio de 10% no faturamento de importantes casas de carnes nos últimos 12 meses”, diz. “As pessoas estão optando por comer menos, mas comer melhor, e já trocam com facilidade cortes como a picanha por cortes do dianteiro de animais especiais, de carne mais macia e saborosa”. Além das boutiques de carne, os supermercados e o segmento de food service, que inclui todos os estabelecimentos que compram carne para transformá-la em produtos prontos para consumo (bares, restaurantes, lanchonetes), estão investindo na elevação do padrão de qualidade da sua matéria-prima para ampliar o público-alvo. A expectativa dos atores do mercado de carne gourmet é de que a demanda por carnes de qualidade cresça na casa de 20% ao ano. De toda a produção de carne de qualidade, segundo Barcellos, cerca de 90% é certificada por associações de raças e o restante faz parte de programas de qualidade desenvolvidos em torno de protocolos e marcas próprias, do varejo, dos frigoríficos e parceiros. Carnes certificadas de raças – Para as principais associações de raças do Brasil, o ano foi considerado bom, com algumas ressalvas. A Associação Brasileira de Angus (ABA) repetiu em 2017 o desempenho de 2016, e abateu 500.000 animais certificados. Fábio Schuler Medeiros, coordenador nacional do Programa Carne Angus Certificada, que conta com 5.000

Abate de animais certificados1 praticamente estável Programa Carne Angus Carne Charolês Carne Wagyu Carne Braford e Hereford Carne Devon Nelore Natural Total 1 Também

2017 (avaliados)

2017 (certificados)

2016 (certificados)

indisponível 4.200 3.2762 78.000 2.076 220.4132

500.000 1.600 3.2152 41.925 926 92.2672 639.933

500.000 1.715 5682 48.114 92.0662 642.463

chamados classificados pelas associações 2Até o final de novembro. Fonte: Associações. Adaptado por DBO.

produtores e é o maior programa de carne de qualidade do País, considera o resultado positivo. “É importante dizer que em 2017 aumentamos a quantidade de produtos comercializados, graças ao redirecionamento de cortes de dianteiro e costela para mercados mais selecionados e que ampliamos o número de plantas de abate para 35, abrangendo um total de 11 Estados”, afirma. A quantidade de carne certificada Angus comercializada chegou a 30.000 toneladas, crescimento de 20% em relação ao ano anterior, apesar da suspensão da certificação nas unidades da Marfrig no Rio Grande do Sul (Bagé, São Gabriel e Alegrete) e em Mato Grosso (Paranatinga), em maio. O abate certificado pela Marfrig continua nas unidades de Promissão, SP; Bataguassu, MS; Mineiros, GO, e Tangará da Serra, MT. “Reconhecida como a vedete do food service nos restaurantes, a carne Angus Certificada ganhou em 2017 dois prêmios, o Gold Medal, no World Steak Chalenge, no Reino Unido, e o Superior Taste Award (3 estrelas), do International Taste & Quality Institute, da Bélgica, o que é importante para valorizar nosso produto lá fora”, diz Medeiros. O Brazilian Angus Beef hoje custa, em média, US$ 9.630/tonelada no exterior e a estratégia da ABA para 2018 é continuar investindo no reconhecimento da marca. A cooperativa CooperAliança, fundada há 10 anos em Guarapuava, PR, aumentou o número de abates de animais certificados Angus em 8,5% em 2017, comparativamente a 2016; e das

22.712 cabeças abatidas pela empresa, 83% participaram do programa da ABA. Marina Araújo, chefe do departamento técnico da cooperativa, explica o porque: “Foi o produto ao qual conseguimos agregar mais valor e que teve a maior demanda”, diz, referindo-se à linha Aliança Angus Premium. A Associação Brasileira de Hereford e Braford (ABHB) responsável pelo Programa Carne Pampa bateu a marca de 1.141 toneladas de carne produzidas em 2017, aumento de 3,63% em relação a 2016, apesar de os abates certificados terem tido queda de 12%, indo de 48.114 cabeças para 41.925. A grande razão para o melhor desempenho foi o maior aproveitamento dos animais na desossa, tanto no que diz respeito aos cortes de dianteiro como de traseiro; e a diminuição nos abates foi reflexo do encerramento da parceria do programa com as três plantas da Marfrig no Rio Grande do Sul, em abril. Fabiana Rosa de Freitas, gerente executiva do programa, afirma, porém, que uma porta se fechou, mas outras se abriram. Hoje, o Programa Carne Pampa trabalha com os frigoríficos Famile, El Golli, Silva, São João e com a Cooperativa Novicarnes, todos do sul do País, e, em 2017, participou de 14 eventos gastronômicos dentro de grandes feiras como a ­Tecnoshow Comigo, ShowRural e AgroBrasília. “Cada vez mais chefs renomados também estão em busca da carne certificada Hereford, porque primam por qualidade e porque querem contar uma história, e isso nós temos”, diz. Anuário DBO 2018

49


Cadeia da Carne

Qualidade

Parceria do Marfrig deve continuar com a Nelore O Programa de Qualidade Nelore Natural (PQNN), da Associação dos Criadores de Nelore do Brasil (ACNB), teve incremento tímido no número de abates de animais certificados em 2017, de 0,2%. Mas o número de abates geral, de todos os participantes (que já são mais de 330, alta de 6,5% em relação a 2016), cresceu 16%, e foi de 190.319 para 220.413 em 2017, ambos dados computados até novembro. O programa, que abate 100% dos animais certificados em plantas da Marfrig não sofreu impacto da reestruturação das marcas da empresa, que deixou de estampar em suas embalagens o selo da grife Nelore. Até o fechamento desta edição, André Luis Locateli, gerente executivo da ACNB, informou que não havia sido posta em pauta qualquer possibilidade de encerramento do contrato entre o frigorífico e o PQNN. “As duas partes têm interesse em manter a parceria”, diz. O prêmio continua sendo pago aos produtores normalmente. Otimista, Locateli espera que preços melhores para o boi gordo em 2018 impulsionem a produção, embora grande parte dos analistas do setor enxergue um cenário mais difícil para a arroba. Mais recente, o Programa Carne Certificada Charolês, criado em novembro de 2014, teve um ano estável, com o abate de

50 Anuário DBO 2018

1.600 animais certificados e produção de 400 toneladas de carne para o mercado interno, enquanto o selo de certificação da Carne Wagyu, de 2015, explodiu. Entre os animais cruzados, o número de abates saltou de 417 para 3.001, alta de 466%, explicada pela adesão temporária da Marfrig ao selo. A Associação Brasileira dos Criadores de Bovinos da raça Wagyu trabalha também com um selo para animais puros de origem, cujos abates aumentaram 41,7%, indo de 151 cabeças para 214. Já a raça Devon, que iniciou os abates em maio, em seu primeiro ano de existência conquistou 120 produtores, que abateram 2.076 animais, sendo 926 classificados. Outros projetos – No ramo dos projetos com protocolos próprios, o ano de 2017 foi mais acelerado. Apostando na prestação de serviços, Marcelo Shimbo, proprietário da Prime Cater, consultoria de São Paulo, aumentou as vendas da sua marca de carnes, a 481, em 66% relativamente a 2016, e comercializou, em 2017, 120 toneladas por mês. Ele vende carne de qualidade porcionada do Brasil, Uruguai, Argentina e Austrália para 350 restaurantes, seus principais clientes, e evita o desperdício do fracionamento de peças inteiras direto na cozinha. Shimbo, que começou os negócios em 2012 atendendo o restaurante Pobre Juan, mais tarde fez parcerias com empórios e desde novembro último colocou seus produtos na internet. “O retorno foi melhor do

que eu esperava, e sem propaganda, alcancei 5.000 acessos ao site na primeira semana”, conta. A taxa de retorno dos clientes ativos, em apenas dois meses, já é de 25%. No Feed, açougue de carnes especiais de Pedro Merola, o cliente é o consumidor final e em 2017 o negócio cresceu 13,5%. Por questões comerciais, Merola não revela o valor absoluto das vendas, mas diz que a expectativa é crescer ainda mais em 2018, uma vez que, em dezembro, o aumento da confiança do consumidor já foi sentido, e elevou as compras dentro da loja em 18% em relação ao mesmo mês do ano anterior. Localizado no Itaim Bibi, bairro nobre da capital paulista, o açougue recebe, em sua grande maioria, homens com idade entre 25 e 45 anos, das classes A e B, e com perfil de compra focado em cortes para churrasco. Na linha das carnes especiais, procuradas pelas donas de casa para consumo diário, Roberto Barcellos, da Beef&veal, lembra do case da marca Rubia Gallega, do Grupo Pão de Açúcar (GPA). Em 2017, o abate da rede deve se manter na casa de 24.000 animais, marca alcançada em 2016, após o lançamento de uma linha de carne moída e hambúrgueres. Segundo Barcellos, a margem de lucro do varejo com a comercialização de carnes de qualidade chega a ser três vezes maior do que com carne ­commoditie. Atentos ao mercado gourmet, os frigoríficos também têm investido cada vez mais em marcas próprias. n




Meio Ambiente Por Tatiana Souto

Cadastro Ambiental Rural

Regularização ainda enfrenta obstáculos Próximo passo é começar a regularizar passivos ambientais, com a legislação ainda falha.

O

ano que se encerrou foi praticamente de finalização do Cadastro Ambiental Rural (CAR), iniciado em 2014. Até dezembro de 2017, um total de 431,6 milhões de hectares em propriedades rurais no País foi inserido na base de dados do CAR, divididos em 4,7 milhões de imóveis rurais, conforme balanço do Serviço Florestal Brasileiro (SFB), órgão responsável pelo Sistema Nacional de CAR (Sicar), ligado ao Ministério do Meio Ambiente. Inicialmente, com base em dados do Censo Agropecuário do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2006, calculava-se que 397,8 milhões de hectares seriam passíveis de cadastro. Ou seja, os números atuais superaram em 33 milhões de hectares a previsão inicial. As Regiões Sul, Sudeste e Norte já ultrapassaram a previsão inicial de área cadastrável e a região com menos cadastros efetivados (87,2%) é a Nordeste (Veja gráfico). Conforme o SFB, ainda há remanescentes de áreas a serem inseridas no CAR, sobretudo as ligadas às pequenas propriedades e posses rurais e as de povos e comunidades tradicionais. Para atender a esses proprietários, o governo federal decidiu, no dia 29 de dezembro do ano passado, em edição extra do Diário Oficial da União, prorrogar o prazo do CAR para 31 de maio de 2018. De acordo com o diretor-geral do SFB, Raimundo Deusdará, em nota, a partir daí “não há qualquer sinalização de que o prazo (que já havia sido prorrogado outras duas vezes) possa ser estendido novamente”. Ele comentou ainda que foi “bastante relevante” em dezembro a quantidade de inscrições de cadastros de imóveis de até quatro módulos fiscais. Só naquele mês, 12,3 milhões de hectares foram cadastrados no Sicar, sendo Amazonas, Goiás, Rio Grande do Sul, Bahia, São Paulo e Piauí os maiores responsáveis pelo incremento de área. Agora, a estratégia até maio será uma “busca ativa” pelos pequenos lotes da agricultura familiar e pelas áreas ocupadas por povos e comunidades tradicionais, disse Deusdará. Encerrado o prazo, em maio, o SFB, juntamente com os Estados, pretende “dar mais atenção e concentrar esforços na re-

gularização ambiental”, complementa a gerente executiva de Cadastros e Florestas do SFB, Janaína Rocha. Ela diz, ainda, que o fato de o prazo ter sido novamente adiado “não tem tanto impacto”, pois a maioria dos produtores principalmente grandes e médios – já cumpriu sua obrigação. “Os processos de regularização estão correndo, os Programas de Regularização Ambiental (PRAs) estão sendo consolidados nos Estados e divulgados para os produtores e órgãos de assistência técnica rural e a validação dos dados está começando a caminhar”, continua Janaína. Ela informa que até o dia 9 de janeiro um total de 320.000 cadastros já havia sido analisado pelos técnicos ambientais de sete Estados, que se utilizaram do módulo de análise do Sicar. Essas análises levam em conta as informações declaradas pelos produtores rurais no CAR e as comparam

com imagens de satélite antes de julho de 2008, com base no novo Código Florestal. Faltam, ainda, portanto, 20 Estados fazerem por conta própria suas análises de dados ou as integrarem ao Sicar. “Ainda há um longo trabalho pela frente após a finalização do prazo, mas é importante frisar que a análise do CAR é constante, já que imóveis rurais mudam de mãos o tempo todo”, prevê ela. Penalidades – Deusdará complementa que os imóveis rurais que não fizerem o CAR dentro do prazo deixarão de ter acesso aos benefícios previstos no Código Florestal (Lei 12.651/2012), como a adesão ao Programa de Regularização Ambiental (PRA), o bloqueio a financiamentos bancários a partir de junho de 2018 e a “regra da escadinha”, que é a determinação de larguras diferencia-

CAR em números Norte 132,9 milhões de hectares

Nordeste 66,3 milhões de hectares 76,1 milhões de hectares de área cadastrável

100%

área cadastrada

87,2%

área cadastrada

96,5%

área cadastrada

Centro-Oeste 125,3 milhões de hectares 129,9 milhões de hectares de área cadastrável

100%

área cadastrada

Sudeste 64,3 milhões de hectares

100%

área cadastrada

Sul 42,8 milhões de hectares

431,6

milhões de hectares já cadastrados

4,7

milhões de imóveis rurais

Anuário DBO 2018

53


Meio Ambiente

Cadastro Ambiental Rural

Prazo final para preencher o cadastro é 31 de maio de 2018 das para recomposição florestal de Áreas de Proteção Permanente (APPs), como margens de rios e mananciais, de acordo com o tamanho do imóvel rural. A advogada Samanta Pineda, especializada em direito ambiental e consultora jurídica da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), acredita, porém, que, mesmo com a prorrogação, “quem não fez o CAR até agora dificilmente vai fazer. Ou porque não tem acesso a computador ou porque simplesmente não quer fazer”, reforça. Ela defende que 2018 deve ser voltado à consolidação, nos Estados, dos Programas de Regularização Ambiental (PRA). E informa que, até dezembro de 2017, 16 Estados já haviam feito o seu PRA. “Faltam 10, mas mesmo os Estados que já aprovaram seus programas enfrentam obstáculos”, diz. São Paulo, por exemplo, é alvo de uma ação do Ministério Público estadual que suspen-

54 Anuário DBO 2018

deu a implementação do PRA. Além disso, há Estados que ainda não aprovaram legislação sobre o assunto. Já Mato Grosso enfrenta uma ação de inconstitucionalidade do Ministério Público Federal _ o Estado considerou, para o preenchimento do CAR, a matrícula do imóvel, e não o imóvel todo, como uma unidade econômica. “Há, porém, imóveis rurais de um mesmo proprietário ou de herdeiros, mas que têm várias matrículas em lotes contíguos e que são administrados como uma única unidade econômica”, explica Samanta. “Quando o governo federal for checar as informações, analisando as imagens de satélite com os limites da propriedade declarados pelo proprietário, verá que o imóvel que abriga várias matrículas é, na verdade, uma única fazenda e assim deve ser tratada para finalidade de regularização ambiental”, continua. “Se se considerar apenas a matrícula de cada lote, corre-se o risco de cada unidade ter menos de 4 módulos fiscais e de o produtor se livrar de recompor florestas, já que áreas de até 4 módulos são

isentas de recomposição, de acordo com o novo Código Florestal.” Samanta Pineda destaca outro aspecto importante, que pode fazer “cair por terra” não só o CAR, mas o Código Florestal como um todo. Há algumas Ações Diretas de Inconstitucionalidade (Adins) em trâmite no Supremo Tribunal Federal (STF) e que estão previstas para serem julgadas em 22 de fevereiro na Corte. “São pleitos dos ambientalistas que têm por intenção de fato acabar com o Código Florestal”, diz. “Todos os avanços que conseguimos, como considerar na porcentagem obrigatória de área preservada tanto as parcelas de reserva legal como as APPs, por exemplo, podem ser considerados inconstitucionais”, explica a advogada. “Outro ponto é reconhecer o direito de o proprietário rural não ter cometido infração ao desmatar além do permitido, já que a lei mudou inúmeras vezes em vários Estados”, diz. “Se o STF votar favoravelmente ao pleito dos ambientalistas, todos os avanços conseguidos com o novo Código Florestal vão cair por terra”, finaliza. n



Meio Ambiente Clima

Por Tatiana Souto

Acordo de Paris: falta pôr em prática. COP-23, na Alemanha, iniciou a elaboração de um ‘livro de regras’ a ser adotado pelos países.

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ncerrada em 18 de novembro de 2017, em Bonn, na Alemanha, a 23ª Conferência das Partes (COP-23) da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima teve como objetivo iniciar a elaboração de um “livro de regras” para que comecem a ser postos em prática os compromissos assumidos por mais de 190 países no Acordo de Paris, assinado na COP de 2015. Na ocasião, na capital francesa, as nações participantes consolidaram a lista de medidas que cada uma delas tomará para garantir a redução de suas emissões de gases do efeito estufa a fim de frear o aumento da temperatura global. O compromisso é impedir que a temperatura suba mais do que 2 graus Celsius acima dos níveis pré-Revolução Industrial e reunir esforços para que o índice chegue, de fato, a no máximo 1,5 grau. O livro de regras continuará em elaboração ao longo de 2018 e em dezembro, na COP de Katowice, Polônia, deve ser aprovado. Formalizadas, as medidas passam a valer a partir de 2020 – desta data em diante, os países colocarão em prática suas propostas, ou “contribuições nacionalmente definidas” (NDC, na sigla em inglês). Conforme explicou, em nota, a GV Sustentabilidade, da Fundação Getúlio Vargas, o documento será uma referência importante para tirar do papel instrumentos essenciais do Acordo do Clima. Aquém do necessário _ Há, porém, a observação de que as NDCs apresentadas pelos países até agora não são suficientes para impedir o aumento da temperatura global. “Os compromissos assumidos não garantem nem um limite máximo de 3 graus Celsius, por isso é importante aprofundar as NDCs para que possamos impedir o aumento da temperatura global acima dos níveis propostos no Acordo de Paris”, comenta Tasso Azevedo, membro do Grupo Estratégico da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura e coordenador do Sistema de Estimativa de Emissões de Gases de Efeito Estufa do Observatório do Clima. Outra medida importante aprovada em Bonn refere-se ao modelo de diálogo

56 Anuário DBO 2018

proposto pelo governo de Fiji – que presidiu a conferência na Alemanha –, denominado “Talanoa”, que visa ampliar e desenvolver novas formas de participação dentro do processo decisório das COPs, envolvendo não só governos, mas também a sociedade civil e todos os interessados, a fim de construir maior empatia e entendimento entre as partes. Conforme a GV Sustentabilidade, Talanoa amplia o número de atores e é importante fator para estimular o aumento do grau de ambição das NDCs. Além dessas resoluções, outro assunto que permeou a conferência em Bonn foi a adoção das NDCs antes mesmo de 2020, para que se comece já a reduzir as emissões. “O que se busca é acelerar a ambição dos países antes desta data”, diz Tasso Azevedo, justificando sua afirmação com base na necessidade de ampliar as medidas de redução de emissão de gases do efeito estufa para se chegar ao aumento de menos de 2 graus na temperatura média global. Para que as reduções aconteçam, o consenso é de que a agricultura é fundamental no processo. Conforme a própria Coalizão, o Brasil tem papel importante

Sete metas brasileiras para reduzir emissões no setor agropecuário 1. Restaurar 12 milhões de hectares de florestas até 2030 2. Restaurar 15 milhões de ha de pastagens degradadas e 5 milhões de ha de áreas de integração lavoura-pecuária-floresta até 2030 3. Fortalecer o Plano ABC (agricultura de baixo carbono) 4. Aumentar a participação da bioenergia sustentável na matriz para 18% até 2030 5. Fortalecer o cumprimento do Código Florestal 6. Promover o desmatamento ilegal zero até 2030 7. Ampliar a escala de sistemas de manejo sustentável de florestas FONTE: MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE

nisso, e está entre os 37 países que trouxeram a agricultura de baixo carbono (ABC) para suas metas. Ainda em relação à agropecuária, o Brasil estipulou, entre suas NDCs, vários outros itens (veja quadro). E também anunciou, na COP 23 um edital de R$ 200 milhões para recuperação da cobertura vegetal na Amazônia Legal, incluindo aí a regularização ambiental das propriedades rurais, por meio do Fundo Amazônia, gerido pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Foi assinado, além disso, o Plano Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa (Planaveg), que permitirá restaurar 12 milhões de hectares de florestas até 2030. Outra medida foi o Renovabio – sancionado em dezembro pela Presidência da República –, que é a Política Nacional de Biocombustíveis. ILPF _ Tasso Azevedo lembra que um dos maiores avanços já obtidos pelo Brasil é a ampliação das práticas de integração lavoura-pecuária-floresta. “Estudos da Embrapa estimam que entre 2015 e 2016 existiam 11,5 milhões de hectares no País com sistemas integrados”, comenta. De todo modo, ainda há muito a avançar, reconhece. “O Brasil possui mais de 280 milhões de ha de áreas de uso agropecuário, praticamente um terço do território”, comenta. “A maior parte é de pecuária extensiva e uma parte importante é subutilizada e se encontra em diferentes estágios de degradação. Neste contexto, a recuperação de áreas degradadas visa não só o objetivo ambiental, mas também a recuperação econômica das propriedades e o bem-estar da sociedade.” Azevedo lembra, ainda, que o Brasil tem muito a contribuir na redução das emissões de gases do efeito estufa. “O País é o sexto maior emissor e mais de 70% dessas emissões vêm dos setores ligados ao uso da terra – agricultura, pecuária, desmatamento e degradação florestal”, explica. “Mas também é o país com maior capacidade de absorção de carbono da atmosfera com conservação florestal, reflorestamento e práticas de bom manejo do solo.” n




Saúde Animal Aftosa

Por Marina Salles

Enfim, Brasil será declarado livre da doença. Reconhecimento da OIE deve ocorrer em maio; em 2019, começa a retirada da vacinação.

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m 2017, o Brasil foi anunciado País livre de febre aftosa com vacinação pelo ministro da Agricultura, Blairo Maggi, e deve ter seu novo status reconhecido, em maio de 2018, pela OIE (sigla do francês para Organisation I­nternacional des Épizooties), na Assembleia-Geral de Delegados da instituição em Paris, França. As últimas áreas a se tornarem livres com vacinação foram, em abril passado, o Estado de Roraima e, em dezembro, Amapá, Amazonas e a totalidade do Pará. Segundo Guilherme Marques, diretor do Departamento de Saúde Animal do ministério, o resultado é fruto de um longo trabalho, que começou em 1934, com ações para prevenção e controle da doença. A década de 1990 marca o início do processo de erradicação. O último foco de febre aftosa no País foi registrado em 2006, em uma fazenda no municí-

pio de Eldorado, sul do Mato Grosso do Sul, próximo à fronteira com o Paraguai. Na América Latina, o caso mais recente é de junho de 2017 e foi identificado na cidade de Tame, noroeste da Colômbia, a 1.200 km do Brasil por vias transitáveis. Após notificação e confirmação, a Colômbia chegou a ter suspenso seu status de livre com vacinação, mas conseguiu recuperá-lo em dezembro (a não ser na zona de contenção), depois de sacrificar os animais doentes e estabelecer medidas de controle. O Brasil tem 17.000 km de fronteira seca com dez países da América do Sul, dos quais, considerando a maior parte do território, seis são livres com vacinação, um é livre sem vacinação e três não têm a situação reconhecida pela OIE. Segundo Guilherme Marques, do ministério, a decisão de retirar a vacinação contra febre aftosa do Brasil é defi-

Quando será a retirada da vacina Guiana Francesa: não reconhecida; Suriname: não reconhecida; Guiana: livre sem vacinação; Venezuela: não reconhecida; Colômbia: livre com vacinação; Peru: livre com vacinação; bia Bolívia: livre com vacinação; lôm Co Paraguai: livre com vacinação; Argentina: ­livre com vacinação; Uruguai: livre com vacinação

Gu

ia

Venezuela

na

Suriname

ru Pe

Bloco 1 – Acre e Rondônia Fim da vacinação: maio/19

Bolívia

Bloco 2 – Amazonas, Amapá, Pará e Roraima Fim da vacinação: junho/20 Bloco 3 – Alagoas, Ceará, Maranhão, Paraiba, Pernambuco, Piauí e Rio Grande do Norte

Paraguai

Fim da vacinação: junho/20 Bloco 4 – Bahia, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Sergipe, São Paulo e Tocantins

Argentina

Fim da vacinação: junho/21 Bloco 5 – Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina* Fim da vacinação: junho/21 * livre sem vacinação desde 2007

Uruguai

Guiana Francesa

nitiva e está respaldada em um estudo com mais de 570 milhões de animais submetidos a análises soroepidemiológicas, que comprovou que não há circulação do vírus no País. A apresentação oficial do cronograma de retirada da vacina ocorreu durante a 44ª Reunião Ordinária da Comissão Sul-Americana para a Luta contra a Febre Aftosa (Cosalfa), em abril, em Pirenópolis, GO. A proposta passou por modificações até chegar à configuração atual, que divide o Brasil em cinco blocos (veja mapa). A primeira data de suspensão da vacinação é abril de 2019 e a última, junho de 2021. Em curso _ O plano estratégico de retirada da vacina está em curso, e o Bloco 1, formado pelo Acre, cujo rebanho bovino é de 14 milhões de cabeças, e Rondônia, com 3 milhões, está em dia com o cronograma. Eliana Déa Lara Costa, chefe da Divisão de Febre Aftosa do ministério, informa que ambos os Estados foram auditados em setembro e aguardam os relatórios finais da Pasta para conhecer, cada um, seu plano de ação, corrigir não-conformidades e promover melhorias na vigilância sanitária em 2018. Além deles, devem integrar o Bloco 1 municípios da região sul do Amazonas e do oeste do Mato Grosso, a fim de que se crie uma área de proteção, para controle redobrado do trânsito animal. Anselmo de Jesus, presidente da Agência de Defesa Sanitária Agrossilvipastoril do Estado de Rondônia (Idaron), afirma que 101 ações foram apresentadas pelo Ministério da Agricultura para tornar viável a retirada da vacinação em 2019. “Pode ser que a gente já cumpra algumas delas e outras não, mas eu acredito que a nossa situação na fronteira seja das mais confortáveis no Brasil. Temos uma barreira física, que é a floresta amazônica, nos separando do Estado do Amazonas e dos países vizinhos, e vacinamos o gado boliviano 25 km para dentro do território deles na fronteira”, afirma. Quanto ao aspecto financeiro, de Anuário DBO 2018

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Saúde Animal

Aftosa

Segurança sanitária gera preocupações nos Estados

onde somente é possível chegar de barco ou avião. “No começo foi um susto saber que seríamos os primeiros a fazer a retirada da vacinação, mas agora, depois das reuniões com o ministério, estou suma relevância para lidar com situações convencido de que o processo será feito emergenciais durante a retirada da vaci- com responsabilidade e segurança”, diz. na, De Jesus acredita que o Estado esteja “O passo difícil tem sido convencer os resguardado. “Nosso Fundo Estadual de produtores, para o que estamos fazenSanidade Animal (Fesa) tem hoje cerca do campanhas e dando instrução. Com de R$ 63 milhões e o Fundo Emergencial a retirada da vacina, novas portas devem da Febre Aftosa do Estado de Rondônia se abrir para o mercado de carne bovina (Fefa), que é privado, tem outros R$ 10 do Acre”, diz Queiróz. Representantes de outros Estados milhões”, diz. O Fefa foi criado em 1999, de quando data o último foco de febre af- estão preocupados com as fontes de retosa em Rondônia, para apoiar o serviço cursos para manter essa segurança sapúblico na redução do risco de contami- nitária. Francisco Manzi, diretor técnico da Associação dos Criadores de Mato nação pela doença. No Acre, a situação também é favo- Grosso (Acrimat), afirma que o setor rável à retirada da vacinação, segundo produtivo não terá condições de arcar Ronaldo Queiróz, presidente do Institu- com nenhuma taxa adicional, embora o to de Defesa Agropecuária e Florestal do fundo do Estado, de R$ 44 milhões, lhe Estado, o Idaf. O Fundo Pecuário do Es- pareça insuficiente para atender a uma tado tem cerca de R$ 6 milhões e é usa- situação de emergência. Maurício Velodo, dentre outras atribuições, para finan- so, presidente da Comissão de Pecuária da Federação de Agricultura de ciar a vacinação em municípios isolados, de 1Corte An_Central_Uberaba_Parceria_Senepol.pdf 22/01/18 16:19

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60 Anuário DBO 2018

Goiás (Faeg), expressa a mesma inquietude: “Não podemos usar a contribuição voluntária dos produtores para assumir a responsabilidade de todo o Estado”, afirmou. O fundo de Goiás é da ordem de R$ 160 milhões. Guilherme Marques assegura, porém, que haverá contrapartida do governo federal, caso seja decretada uma emergência sanitária. “Uma comissão formada pelas esferas federal, estadual e privada vai estabelecer o valor de indenização e uma emenda parlamentar vai determinar a alocação dos recursos”, afirma o diretor do Ministério da Agricultura. Sobre a formação de um banco de vacinas, Marques, que também é presidente da Cosalfa, diz que a responsabilidade de gerenciamento já está a cargo do Centro Pan-Americano de Febre Aftosa (Panaftosa), que tem um banco de antígenos dividido entre os participantes do Panaftosa, o que inclui o Brasil. Cumpridos os prazos estipulados no plano de retirada da vacina, o País deve ser reconhecido livre de aftosa sem vacinação em 2023. n



Saúde Animal Por Roberto Nunes Filho

Outras doenças

Mais autonomia para os Estados Combate à brucelose e à tuberculose será feito de acordo com realidades locais

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o ano passado, 22.279.165 doses de vacinas contra a brucelose foram distribuídas entre os estados brasileiros, de acordo com balanço do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal. Deste total, 21.807.965 referem-se à vacina B19 e 471.200 doses são da RB51, que passou a ser utilizada em fêmeas com idade entre três e oito meses. Em 2017, o plano brasileiro para combater a brucelose e a tuberculose animal se reinventou para tornar-se mais efetivo, flexível e contemplar as particularidades de cada estado. Por meio da Instrução Normativa nº 10/17, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) revisou o regulamento técnico do Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e da Tuberculose Animal (PNCEBT), instituído pelo mesmo órgão em 2000, justamente com o propósito de reduzir a prevalência e a incidência dessas doenças em bovinos e bubalinos, visando a erradicação das mesmas. Um das mudanças é, justamente, a possibilidade de o pecuarista também utilizar a vacina RB51 em bovinos com idade entre três e oito meses. Anteriormente, havia a exclusividade no uso da B19 nas fêmeas com essa faixa de idade e a RB51 era utilizada apenas em animais adultos. Ou-

Propriedades certificadas Estado BA DF ES GO MG PE PI PR RJ RN RS SC SP

Propriedades livres 27 1 2 2 45 3 2 46 2 1 1451 394 35

Fonte: Map

62 Anuário DBO 2018

tra novidade, bastante significativa, é que a atuação do PNCEBT passou a se basear na classificação dos estados quanto ao grau de risco para brucelose e tuberculose e na definição de procedimentos de defesa sanitária de acordo com essa classificação, que parte de “risco desprezível” e chega até a indicação de “risco alto”. Essa atualização, portanto, inaugurou uma nova era no combate a essas preocupantes enfermidades que prejudicam a pecuária brasileira. “Com a revisão do PNCEBT, deixamos de ter um único plano padrão para todo o País e abrimos a possibilidade para que cada estado tenha autonomia e mais agilidade para tratar essas doenças de acordo com a sua realidade”, explica a chefe da Divisão de Sanidade de Ruminantes do Mapa, Valéria Burmeister Martins. “No primeiro ano de execução da nova estratégia, o índice vacinal, relacionado à brucelose, atingiu os 80% recomendados pelo programa na maioria das unidades federativas”, complementa o coordenador geral de Planejamento e Avaliação Zoossanitária do Mapa, Ronaldo Carneiro Teixeira. “Mas há estados que conseguiram margens superiores.” Este é o caso da pecuária paulista, que conseguiu vacinar 93,5% das fêmeas bovídeas (bovinas e bubalinas) contra a brucelose, de acordo com a Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo. Este índice é superior a 2016, quando 92,8% de fêmeas foram vacinadas. Das propriedades cadastradas, 85,6% vacinaram seus animais durante o ano. O número de fêmeas bovídeas com idade para receber a vacina contra a brucelose foi de 923.620 cabeças e, deste total, 864.074 foram vacinadas. A nova versão do PNCEBT também preconiza um conjunto de medidas sanitárias compulsórias, associadas a ações de adesão voluntária. As ações compulsórias consistem na vacinação de bezerras, entre os três e oito meses de idade, contra a brucelose e o controle do trânsito de animais. Ou seja, sempre que animais provenientes de um estado de alto risco entrar em uma área de risco baixo, será preciso submeter os bovinos a exames.

Já as voluntárias consistem na certificação de propriedades livres de brucelose e tuberculose. Segundo o Mapa, há 2011 propriedades certificadas em território nacional, sendo a maior parte delas no Rio Grande do Sul, com 1.451 fazendas, seguindo-se Santa Catarina, com 394 fazendas, e Paraná, com 46. Agora, para que uma propriedade receba a certificação de que ela é livre de brucelose e tuberculose, bastam apenas dois testes negativos consecutivos, e não mais três, como era preciso antes da revisão do programa. n

Distribuição por Estados de vacinas contra a brucelose Estado AC AL AM AP BA CE DF ES GO MA MG MS MT PA PB PE PI PR RJ RN RO RR RS SC SE SP TO Total Fonte: Sindan

B19 362.270 65.025 49.800 9.300 608.525 64.500 24.840 121.125 2.226.600 446.555 2.519.075 2.299.570 3.956.225 1.960.910 20.100 115.175 106.850 1.040.145 58.275 20.525 2.046.565 74.075 1.618.165 0 35.825 1.191.795 766.150 21.807.965

RB51 15.425 11.675 5.000 6.500 2.000 4.950 0 300 37.000 9.000 52.700 6.950 61.950 3.325 200 2.000 1.625 100.475 2.300 2.500 33.850 0 54.600 16.750 0 20.150 19.975 471.200


LEILÕES 2018

TOUROS MELHORADORES COM A TRADIÇÃO DE UMA GRANDE MARCA

26º LEILÃO GRUPO TERRA GRANDE

27º LEILÃO GRUPO TERRA GRANDE

28º LEILÃO GRUPO TERRA GRANDE

300 TOUROS

500 TOUROS

250 TOUROS

XINGUARA-PA

PARAÍSO DE TOCANTINS-TO

TUCUMÃ-PA

10 DE JUNHO - DOMINGO

05 DE AGOSTO - DOMINGO

AVALIAÇÃO

14 DE OUTUBRO - DOMINGO

LEILOEIRA

FRETE

F A C I L I TA D O

www.grupoterragrande.com.br

TRANSMISSÃO


Saúde Animal Por Renato Villela

Indústria Veterinária

Retomada do crescimento Depois de retração inédita, setor fecha 2017 com aumento de receita.

A

pós amargar, pela primeira vez “Não morreremos sem a vacina”, avisa. na história, queda no faturamen- Apesar de minimizar o efeito da meto (1%) em 2016 _ descontado o dida, o fato é que gigantes multinacioIPCA (Índice de Preços ao Consumi- nais do setor investiram pesado nesse dor Amplo) de 6,26% _, a indústria ve- filão recentemente. Em julho do ano terinária no Brasil espera avançar este passado, a MSD Saúde Animal, braço ano, com cifras entre R$ 4,5 bilhões e veterinário da farmacêutica americaR$ 5 bilhões, em números ainda pre- na Merck, concluiu a aquisição do conliminares. A se confirmar a previsão trole acionário da Vallée, que detinha do Sindicato Nacional da Indústria de 60% do mercado de vacina antiaftosa, Produtos para Saúde Animal (Sindan), num acordo avaliado em US$ 400 mio resultado pode representar cresci- lhões. No fim de maio de 2017, a alemã mento de até 7% no faturamento, que Boehringer Ingelheim, que entrou para é a média histórica do setor, a ser de- valer no setor veterinário com a aquiduzido da inflação _ o IPCA no ano sição da Merial, inaugurou uma fábripassado foi de 2,95%. Segundo Emílio ca em Paulínia, interior paulista, para Salani, vice-presidente da entidade, a produzir de 130 milhões a 140 milhões melhora do cenário deve ser creditada de doses da vacina antiaftosa por ano. especialmente ao segmento de ruminantes, que contribui com 50% a 55% Cenário em 2018 _ O mercado da indo faturamento total da indústria e que dústria veterinária viveu em calmano ano passado cresceu cerca de 5%. ria em 2017, principalmente quando Além da participação dos antiparasi- comparado ao ano anterior, quando foi sacudido tários, que histopor importanricamente repretes aquisições. sentam a maior O País comercializa por ano A destacar, a fatia do bolo, Sacompra da fálani destaca os 330 milhões de doses de vacina brica da Zoeterapêuticos e a contra aftosa, com faturamento tis, em Guaruparticipação da de até R$ 420 milhões. lhos, SP, pela linha de produUnião Químitos voltados à reca, laboratório produção animal. “Os protocolos de inseminação artifi- de capital 100% nacional. Segundo escial são relativamente novos em nosso timativa de mercado, o ativo está avaportfólio, mas seu uso é cada vez maior liado em mais de R$ 500 milhões. É preciso mencionar ainda a americana nas fazendas.” A expectativa de crescimento na re- Eli Lilly, que colocou à venda a Elanco, ceita é um alento para o mercado ve- o braço de saúde animal da farmacêuterinário, que viu em 2017 o governo tica. Na opinião de Salani, que classianunciar, por meio do Plano Estratégi- fica a indústria veterinária atual como co de Erradicação e Prevenção da Fe- “extremamente concentrada”, novas fubre Aftosa (Pnefa), a retirada total da sões deverão ocorrer em 2018. “Acredivacinação no País até 2023. Por ano, to que alguns laboratórios terão que se são comercializados 330 milhões de fundir, inovar em seus produtos, busdoses de vacina antiaftosa, o que mo- car novas tecnologias para ter convimenta de R$ 400 milhões a R$ 420 dições de concorrer com os grandes milhões, segundo a indústria. Esse players do mercado.” O executivo está montante representa de 12% a 13% do otimista para este ano. “As exportações mercado de ruminantes e de 6% a 8% de carne têm boas perspectivas. Com a do total. Para Salani, as empresas do inflação sob controle e a retomada da setor saberão lidar com a mudança. economia, o desemprego tende a cair.

64 Anuário DBO 2018

Com mais dinheiro nas mãos do consumidor, a demanda por carnes deve aumentar, o que melhora o preço para o produtor, que por sua vez investe mais em saúde animal, lembrando que os medicamentos veterinários representam apenas 3% do custo de produção da cadeia bovina.” Nova vacina só em 2019 _ Protagonista de um imbróglio que provocou a interrupção da venda de carne in natura para os Estados Unidos _ embargo que persiste até hoje _, em razão dos nódulos presentes nas carcaças, a vacina contra a febre aftosa sofrerá mudanças, tanto em sua composição quanto na dose recomendada. Das modificações previstas, acertadas entre entidades do setor e Ministério da Agricultura, a retirada do vírus C, que representa de 2% a 3% do custo de produção, segundo o Sindan, já foi sacramentada para as vacinas que chegarão ao mercado em maio, na primeira etapa da campanha. A redução no volume da dose, de 5 para 2 mililitros, porém, deve ficar para 2019, segundo anunciou o ministério, o que desagradou a entidades que reivindicaram a mudança. “Estamos extremamente decepcionados com a lentidão da modernização da vacina antiaftosa e vamos cobrar a revisão desse prazo”, informa Sebastião Guedes, presidente da ­Câmara Setorial de Carne Bovina. Para Emílio Salani, do Sindan, o prazo mais estendido se deve à IN (Instrução Normativa) 50/2008, que estabelece as regras para teste e liberação das vacinas. “Não é apenas reduzir o volume, mas dar garantias de que uma dose menor terá a mesma eficácia e segurança. As vacinas são produzidas pela indústria e testadas pelo Ministério da Agricultura, o que demanda mais tempo”, justifica. A respeito da saponina, componente da vacina apontado como vilão das reações vacinais e causadora dos abscessos, Salani diz que a retirada, que será voluntária, ocorrerá também a partir de 2019. n




Suplementação Por Marina Salles

Indústria

Levanta, sacode a poeira... Apesar dos reveses enfrentados pela pecuária, o mercado de nutrição animal cresceu em 2017.

C

resceu pouco, edição), 7% superior Evolução da comercialização de suplementos minerais¹ mas cresceu: ao de 2016, ano em a produção de que a receita dera um Ano 2017² Partic.% 2016 Partic.% Var. 2016/2017 suplementos minesalto de 30% em relaPronto para uso 1.143.000 40,73 1.140.189 40,88 0,25% rais alcançou 2,8 mição a 2015, fechando Proteico energético 490.000 17,46 460.200 16,50 6,48% lhões de toneladas as contas com R$ 5,6 Proteico 425.000 15,15 488.120 17,50 -12,93% no ano passado, um bilhões em vendas. avanço tímido, de Núcleos 249.000 8,87 230.104 8,25 8,21% apenas 0,6% em relaPor produto – De Com ureia 176.000 6,27 172.100 6,17 2,27% ção ao ano anterior, acordo com a AsPara diluir 163.000 5,81 176.300 6,32 -7,54% frustrando as expecbram, os produtos tativas do setor, que prontos para uso foConcentrado 160.000 5,70 122.100 4,38 31,04% esperava uma evoluram os mais deman2.806.000 100% 2.789.114 100% 0,6% Total ção de dois pontos dados em 2017, com ¹Fonte: Dados de associados da Asbram, composta por 54 companhias filiadas, 67% do setor; ²Em toneladas, estimativa. percentuais sobre as 40,7% de participação 2,789 milhões de tonas vendas totais do de boi gordo à vista. “Foi um ano difícil, setor. Em valores absolutos, a demanneladas produzidas em 2016. Nelson Lopes, presidente da Asso- que, apesar dos pesares, acabou bem”, da subiu de 1,140 milhão de toneladas ciação Brasileira das Indústrias de Su- diz Lopes, lembrando que o mercado de em 2016 para 1,143 milhão em 2017. O plementação Mineral (Asbram) até este nutrição animal depende diretamente mesmo não aconteceu com os suplemês de fevereiro (ele passará o cargo do preço da arroba do boi – o que afeta mentos da “linha branca”, próprios para a Ademar Leal, presidente da Campo a pecuária de corte e a indústria de su- diluir, que, embora mais baratos, tiveRações e Minerais), atribui o resultado plementos minerais. “Esses episódios ram uma redução na procura, passando às intempéries no cenário político-eco- teriam nos deixado no negativo, não fos- de 176.300 toneladas vendidas em 2016 nômico nacional e, mais especificamen- se a recuperação no segundo semestre para 163.000 toneladas em 2017. Juntos, te, à quebra nas exportações de carne de 2017, puxada pela retomada da con- os prontos para uso e para diluir responbovina no segundo trimestre do ano fiança do pecuarista”, afirma Lopes. No deram por uma fatia de 46,54% do merpassado, provocada pela Operação Car- terceiro trimestre, as exportações de cado. ne Fraca, deflagrada pela Polícia Fede- carne bovina se normalizaram e o proEntre os produtos voltados para o ral para investigar suspeitas de fraudes dutor ganhou fôlego para negociar suas gado ganhar peso, o concentrado teve em frigoríficos, e pela retração dos negó- boiadas. Com a recuperação nas vendas destaque graças ao retorno da cotação cios no mercado interno após a delação de produtos para alimentação animal do milho a preços mais atraentes para de executivos do grupo JBS no âmbito no segundo semestre do ano passado, o o confinador e o semiconfinador. Na peda Operação Lava Jato – na ocasião, a faturamento do setor deve chegar a R$ 6 núltima semana de dezembro, a cotação empresa, então líder em abates no País, bilhões em 2017 (a contabilidade não da saca de 60 kg pelo Indicador Esalq/ suspendeu temporariamente a compra fora con­cluída até o fechamento desta BM&FBovespa era de R$ 33, quase 40% menos do que o recorde nominal do ano anterior, registrado no mês de junho, Participação dos Estados na comercialização de suplementos minerais quando a saca chegou a R$ 54. Impulsionado pelo melhor custo-benefício, o conRio Grande do Sul  3,4% Tocantins  3,3% sumo de concentrado subiu 31% de um ano para o outro, passando de 122.100 Paraná  4,3% Mato Grosso  18,5% para 160.000 toneladas. A participação Pará  5% no bolo total subiu de 4,4% para 5,7%. Com um ritmo de crescimento de 8%, o Minas Gerais  6,9% Mato Grosso do Sul núcleo também foi mais requisitado em 15,8% 2017, principalmente para terminação São Paulo  7,7% de gado criado a pasto, e atingiu a marGoiás  13,7% ca de 249.000 toneladas comercializadas. De acordo com levantamento do banco Rondônia  8,3% holandês Rabobank, 11% de todo o gado Outros Estados  12,8% abatido no Brasil em 2016 (29,7 milhões Anuário DBO 2018

67


Suplementação

Indústria

quando a retomada das exde cabeças, segundo o Instituto Produção de ração para animais no Brasil¹ portações e o barateamento Brasileiro de Geografia e EstaPor segmento² 2017 2016 Variação (%) dos insumos reanimaram os tística, IBGE, foi terminado em Aves de corte 32,3 32,1 0,6 criadores (leia sobre confinasistemas de semiconfinamento. Aves de postura 6,2 5,7 8,8 mento na página 28). “O baO grão mais barato em que na bovinocultura veio da 2017 alavancou as vendas de Suínos 16,5 16,4 0,6 Carne Fraca, Carne Fria, volprodutos proteico-energéticos. Bovinos de Corte 2,5 2,5 0 ta do Funrural e da interrupCom um novo pico na demanBovinos de Leite 6,0 5,6 7,1 ção momentânea das exporda, que tinha superado 470.000 Outros³ 4,9 4,8 2,0 tações de carne, o que mexeu toneladas em 2015, ganharam Total rações 68,4 67,1 1,9 com toda a cadeia produtiva, espaço novamente na dieta 2,8 2,8 0 Suplementos minerais4 reduzindo em decorrência a no cocho, com 490.000 tonela5 demanda por ração, concendas comercializadas em 2017, 71,2 70 2,0 Total geral 1Em milhões de toneladas; 2Fonte: Sindirações; 3Animais de estimação (pets), equinos, aquicultura e outros; 4Fonte: Asbram; trado e sal mineral”, argumenalta de 6,5% em relação a 2016. 5Estimativa. ta Zani. Baseado em relações Para Fernando Carvalho, code troca, esse mercado foi afeordenador do grupo de assuntos regulatórios da Asbram, há outras Demanda reprimida – De acordo tado pela diminuição dos abates e queexplicações para tal aumento, além da com levantamento do Sindicato Nacio- da no preço da arroba – dados da Scot cotação mais favorável do milho. “Nós nal da Indústria de Alimentação Ani- Consultoria, de Bebedouro, SP, mosacreditamos que os pecuaristas estão mal (Sindirações), o mercado de rações tram que, nas 30 praças pesquisadas em usando e vão continuar a usar cada vez deve fechar 2017 com 2% de aumento 17 Estados brasileiros, o preço do boi remais misturas múltiplas, porque elas na demanda, em relação a 2016, passan- gistrou baixa de 11,5% no acumulado têm dado resultado melhor para a per- do de 70 milhões para 71,4 milhões de do primeiro semestre de 2017, antes de formance dos animais na seca”, diz. Na toneladas. Na opinião do diretor execu- ­reagir, no segundo. contramão dessa tendência, o proteina- tivo da entidade, Ariovaldo Zani, a Opedo teve queda de quase 13% na comer- ração Carne Fraca e a delação da JBS fo- Outros segmentos – Na pecuária de ram os principais fatores responsáveis leite, a demanda por ração aumentou cialização. Para o futuro dos sais “ureados”, Car- pela desaceleração do ritmo produtivo 7,1% em 2017, passando de 5,6 milhões valho também não pinta um cenário da indústria de proteína animal no pri- para 6 milhões de toneladas. “Hoje, animador. Direcionado principalmente meiro semestre, prejudicando o desem- esse produtor tem tecnologia para propara a cria, o aditivo pode perder espaço, penho do segmento, mas não a pon- duzir alimento na própria fazenda, enem sua opinião, para os proteico-ener- to de comprometer o resultado ao final silar seu volumoso e economizar no géticos. “Com o advento da programa- do ano. “De julho a setembro o cenário frete, mas ele ainda compra o concenção fetal (que estimula a suplementação já era bastante animador, contribuindo trado para fazer a mistura”, diz Zani. das matrizes para suprir a necessidade para compensar as perdas que tivemos Para a avicultura, a expectativa é de que no começo de a produção de ração em 2017 chegue dos bezerros ain2017”, diz Zani. a 38,5 milhões de toneladas, um crescida no útero maSegundo ele, a mento de 1,8% em comparação com o terno), é natural O faturamento do setor deve chegar queda da infla- ano anterior, explicado principalmente haver essa subsa R$ 6 bilhões em 2017, 6% ção, acompanha- pelo incremento na produção de ovos. tituição”, afirma. superior ao de 2016, ano em que a da da redução Em 2017, as galinhas poedeiras dePara Nelson Loda taxa de juros, mandaram 6,2 milhões de toneladas de pes, todavia, o receita cresceu 30% sobre 2015 permitiu às fa- ração, 8,8% a mais do que no ano anteconsumo dos sumílias brasileiras rior, enquanto os frangos de corte tiveplementos com ureia pode ter sido brecado pela falta de retomar o consumo de itens alimenta- ram demanda estável, de 32,3 milhões matéria-prima, fornecida principalmen- res de primeira necessidade, como car- de toneladas do insumo. “Para 2018, te pela Petrobras. “Os pecuaristas não ne, leite e ovos. No final do ano, o consu- esperamos queda de 4% a 5% no alojaconsumiram mais porque não tinham mo de suplementos minerais chegou a mento de pintinhos”, afirma o diretoro produto disponível”, diz o presidente, 2,8 milhões de toneladas, praticamente -executivo do Sindirações. Na suinocultura, o avanço tímido, de 0,6%, colocou em fim de mandato na Asbram. Segun- o mesmo de 2016. Entre as cadeias produtivas, a da a comercialização de ração no patamar do ele, o cenário deve ser melhor para a pecuária em 2018, salvo se houver gran- bovinocultura foi a mais afetada pelos de 16,5 milhões de toneladas. Na pisdes reviravoltas com as eleições presi- acontecimentos do primeiro semestre cicultura, a demanda por ração cresdenciais no Brasil. A Asbram planeja de 2017, na opinião de Zani, citando ceu 8% em 2017, alcançando 910.000 conquistar 80% de participação no mer- como exemplo o primeiro giro no con- toneladas. O segmento de rações para cado de nutrição neste ano. Hoje, com finamento de gado de corte, o mais im- cães e gatos teve crescimento de 3,2% 54 companhias filiadas, responde por pactado pelo desenrolar da agenda ne- e o consumo chegou a 2,58 milhões de n gativa, em contraposição ao segundo, ­toneladas. 67% das vendas do setor.

68 Anuário DBO 2018


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Suplementação Análise

Desafios futuros do confinamento Aproveitar 99% do amido do milho e entender melhor a relação volumoso:concentrado

D Flávio Augusto Portela Santos, é agrônomo, doutor em ciência animal pela Universidade do Arizona e professor titular do Departamento de Zootecnia da Esalq/USP.

No milho flint (duro), cultivado no Brasil, a ensilagem dos grãos úmidos garante aumento de 15,13% na eficiência alimentar dos animais”

Devido à profissionalização do confinamento no Brasil, que exige melhor desempenho animal, essa atividade terá, nos próximos anos, grandes desafios, dentre eles: processar adequadamente os grãos de cereais para aumentar seu valor energético e compreender melhor como a relação volumoso:concentrado afeta o desempenho animal, temas amplamente discutidos no 8º Simpósio sobre Bovinocultura de Corte, realizado em dezembro de 2017, na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), em Piracicaba, SP. Como a principal fonte de energia usada pelos confinadores nacionais é o amido do milho, que representa 72% da matéria seca deste cereal, é necessário otimizar seu aproveitamento. Isso é particularmente importante no Brasil, onde se cultiva milho flint, que apresenta amido com menor digestibilidade do que o do milho dentado, predominante nos Estados Unidos. A moagem, independentemente do tamanho de partícula obtido, não é suficiente para otimizar a digestão do amido pelos bovinos. Para se atingir valores próximos a 99% de digestibilidade desse nutriente no trato digestivo total e aumentar, de forma significativa, a concentração de energia na dieta, as melhores alternativas são a ensilagem dos grãos úmidos e a floculação, tecnologias que deverão ser adotadas em maior escala no País nos próximos anos. O aumento da digestibilidade do amido não é o único, mas com certeza é o principal fator determinante do aumento da concentração de energia nos grãos de milho e consequente melhoria do desempenho animal. Desafio do milho flint - Em 2012, o professor Fred Owens, da Universidade de Oklahoma, EUA, publicou uma revisão literária sobre o tema. Nesse trabalho, ele compilou 17 experimentos conduzidos com milho dentado nos Estados Unidos que comparavam o processo de laminação com a ensilagem de grãos úmidos e constatou aumento de 5,7% na eficiência alimentar dos animais que receberam este último produto. Nos experimentos conduzidos no Brasil, com milho flint, verificou-se maior incremento na eficiência alimentar com a ensilagem de grãos úmidos, em comparação com a moagem fina e a laminação, do que nos trabalhos norte-americanos com milho dentado.

70 Anuário DBO 2018

Houve redução de 10,45% no consumo de matéria seca, aumento de 5,03% no ganho de peso e consequente melhoria de 15,13% na eficiência alimentar dos animais com o uso do milho ensilado úmido. Quanto à floculação, em 1997 o professor Owens compilou dados de trabalhos publicados entre 1974 e 1995, mostrando que esse tipo de processamento reduziu o consumo de matéria seca em 11,6% sem diminuir o ganho de peso, o que aumentou a eficiência alimentar em 12,3%, em comparação com o milho laminado. Trabalhos conduzidos a partir da década de 90 também confirmaram as vantagens da floculação sobre a laminação a seco de forma consistente no milho dentado. Em virtude da menor digestibilidade do amido dos cultivares de milho flint utilizados no Brasil, espera-se que os benefícios desse tipo de processamento sejam ainda maiores. Cinco experimentos conduzidos na Esalq, com bovinos ingerindo dietas com 68,8% a 85% de milho na matéria seca, confirmaram isso. A floculação aumentou a concentração de ELg (energia líquida de ganho) do grão em 24% a 29%, elevando a eficiência alimentar de bovinos confinados em 22,86%, valores consideravelmente maiores do que os relatados com milho dentado. Mais trabalhos, de diferentes centros de pesquisa, serão, contudo, necessários para se determinar, com maior segurança, o benefício real da floculação do milho flint no Brasil, além de sua viabilidade econômica. Relação concentrado:volumoso - Fontes de volumosos são incluídas em dietas de bovinos confinados por duas razões principais. A primeira delas é a manutenção de um ambiente ruminal saudável. A acidose é o principal distúrbio nutricional observado em bovinos alimentados com dietas contendo alto teor de concentrado. A estratégia mais utilizada pelos nutricionistas para evitar a acidose é a inclusão de alimentos volumosos na dieta. Essa inclusão de FDN (fibra em detergente neutro) proveniente de forragem aumenta o tempo de mastigação e ruminação, o que eleva a produção de saliva, cujos agentes tamponantes neutralizam os ácidos provenientes da fermentação de carboidratos no rúmen. O balanço entre a produção de ácidos no rúmen e a secreção de tamponantes salivares é o principal fator deter-



Suplementação

Análise

minante do pH ruminal. A atividade de mastigação ou ruminação, contudo, é afetada não apenas pelo teor de FDN da dieta, mas também pelas características da fibra proveniente dos volumosos ou dos co-produtos, principalmente a sua efetividade. Indiscutivelmente, a prática de incluir volumosos aumenta a segurança da dieta, mas, a partir de certo nível, há comprometimento do desempenho animal. Sendo assim, um dos maiores dilemas dos nutricionistas é definir qual a quantidade de determinado volumoso será incluída na dieta, em combinação com determinado alimento energético (fonte e grau de processamento dos grãos de cereais ou co-produtos), visando melhor desempenho animal e, principalmente, melhor resultado financeiro. O segundo principal motivo para a inclusão de volumosos na dieta é a necessidade de se aumentar o consumo de energia pelos bovinos. De modo geral, o consumo de matéria seca pelo ruminante é controlado por dois mecanismos: o enchimento ruminal e o controle quimiostático. No caso de bovinos confinados, recebendo dietas de 80% a 100% de concentrado, o mecanismo regulador de consumo é certamente o fisiológico ou quimiostático. Nessa faixa de ingestão energética, mesmo pequenas alterações no teor de volumoso ou de FDN da dieta causam alterações no consumo de matéria seca. Dados de 17 experimentos publicados em 12 artigos científicos na América do Norte, mostraram que a inclusão gradativa de volumoso na dieta aumentou linearmente o consumo de matéria seca, com resposta quadrática no ganho de peso diário e redução linear na eficiência alimentar. Fica claro que a dieta que proporciona o maior ganho de peso vivo não é necessariamente a que garante maior eficiência alimentar. Dados recentes - Em estudo que conduzimos, em 2017, no Centro de Pesquisa da empresa Nutripura, em Rondonópolis, MT, envolvendo 720 machos da raça Nelore, distribuídos em 24 baias, foram obtidos resultados similares aos reportados na literatura norte-americana. O objetivo do trabalho foi avaliar o efeito de níveis crescentes de feno de baixa qualidade (área de produção de sementes de capim Tamani) em dietas à base de milho moído, casca de soja, caroço de algodão, farelo de algodão, ureia e núcleo mineral-vitamínico. Na tabela 1, é possível ver que a inclusão de volumoso na dieta aumentou o consumo de matéria seca e o ganho de peso, mas reduziu a eficiência alimentar dos animais. A inclusão de 7% de FDN de volumoso (9,3% de feno) na dieta resultou no maior peso de

72 Anuário DBO 2018

carcaça quente dos animais com eficiência alimentar intermediária. Na Tabela 2, são apresentados os custos e margens líquidas por tratamento, com preços de ingredientes praticados na região de Rondonópolis (MT), em 2017. A maior margem líquida foi observada com inclusão de 7% de FDN de volumoso na dieta. Assim, fica claro que é possível manipular a ingestão de energia, o desempenho animal e o resultado financeiro do confinamento por meio de ajustes

Tab. 1 – Efeito de percentuais crescentes de fibra na dieta sobre o ­desempenho animal Níveis de fibra nos vários tratamentos

Parâmetros avaliados

4% FDNv

7% FDNv

10% FDNv

13% FDNv

P<0,05

PV incial, kg

427,22

427,02

425,65

424,52

-

PV final, kg

554,52

569,33

569,1

568,12

Quadrático

CMS, kg

9,72

11,00

11,32

11,60

Quadrático

CNDT, kg

7,85

8,78

8,92

9,03

Quadrático

GPD, kg

1,34

1,48

1,50

1,48

Quadrático

PCQ, kg

319,3

326,8

324,7

321,4

Quadrático

RC, %

57,61

57,42

57,20

56,75

Linear

EGS, mm

4,99

4,92

5,31

5,36

-

GPD/CMS

0,138

0,135

0,133

0,128

Linear

CMS/@, kg

138,8

148,7

158,0

164,4

Linear

Tab. 2 – Avaliação econômica de dietas para animais confinados com diferentes percentuais de fibra Tratamentos 4% FDN

7% FDN

10% FDN

13% FDN

Consumo de MS

9,72

11,00

11,32

11,60

R$/kg MS

0.434

0.429

0.426

0.424

Dias de cocho

96

96

96

96

Alimentação (R$)*

404,66

453,45

463,30

471,82

Custo fixo (R$1,50/d)

144,0

144,0

144,0

144,0

Custo total (R$)

548,66

597,45

607,30

615,82

Valor da @ (R$)

125,0

125,0

125,0

125,0

@ produzidas

7,05

7,55

7,46

7,27

Custo em R$/@

77,82

79,14

81,27

83,36

Margem em R$/@

47,18

45,86

43,73

41,64

Margem em R$/ cab

332,59

346,19

326,77

307,64

*Preços de ingredientes levantados na região de Rondonópolis, MT, em 2017.



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Degradação avança mais que reforma Apenas 22,2% dos pastos estão bem manejados e recebendo adubação de manutenção

A

relação entre as áreas de pastagem este forte desequilíbrio é uma situação de em recuperação e em processo de momento, agravada por um ano difícil para degradação é altamente negativa, in- a pecuária. “Isso pode ser revertido mais dicando que a velocidade de desgaste dos adiante”, observa. Quem avaliza a projeção do pesquicapins e deterioração do solo é significativamente mais rápida do que o ritmo de res- sador é seu colega da Embrapa Meio Amtauração das condições das terras de pecu- biente (Jaguariúna, SP), Celso Manzatto: ária no País. De um total de 180 milhões de “Este ritmo lento na restauração da qualihectares ocupados com pastos no territó- dade dos pastos é uma realidade clara. Eu rio brasileiro, apenas 40 milhões (grupo A – diria que a adesão a novos procedimentos classificação para melhor compreensão do de recuperação e reforma foi zero em 2017. leitor) estão em boas condições de uso, re- Não poderia ser diferente, diante do preço cuperados e de alguma forma e recebendo da arroba, cujo pico foi de R$ 140, enquanto adubação de manutenção. Os 140 milhões há cinco anos chegava a R$ 150. Em ano direstantes estão em degradação: 50 milhões fícil e sem dinheiro, ninguém faz casa nova”. de ha (grupo B) atendendo entre 30% e 50% Baseado em diversas avaliações de colegas, da capacidade de suporte e 90 milhões de Manzatto adota como referência os 53 miha (grupo C) contribuindo com menos de lhões de hectares de pastagens degrada30% do potencial da planta. O agravante é das no Brasil com nível de suporte abaixo que, atualmente, 95% das terras do grupo B de 0,6 unidade animal por hectare (UA/ha), estão caminhando para o grupo C (intensa- mas admite que o número vem crescendo. mente avançado em degradação de plan- “Muitos já falam em 60 milhões de hectares tas e solo), enquanto apenas 5% das pas- nesta situação”, ressalta. Manzatto coortagens do grupo C dena a Plataforma estão se transferinde Monitoramendo para o grupo A Poucos pecuaristas recuperaram to ABC, criada pelo (a partir de recupee reformaram pastos no Brasil governo federal no ração ou reforma). em 2017: “Em ano difícil e sem âmbito da EmbraEste quadro dinheiro ninguém faz casa nova”. pa Meio Ambiente foi desenhado por em março de 2016 Haroldo Queiroz, para acompanhar pesquisador e difusor de tecnologia da Embrapa Gado de os avanços das medidas de redução das Corte (Campo Grande, MS). Trata-se de emissões de gases de efeito estufa (GEE). uma estimativa, já que permanece uma Uma delas é a reforma e recuperação de lacuna em levantamentos oficiais sobre a pastagens. Em 2017, havia a expectativa da quantidade de terras já recuperadas nos ativação do Sistema Mobile, que mapeaúltimos anos nas áreas de pecuária. “No ria este trabalho nas fazendas por meio de Brasil, não há ninguém contabilizando uma rede de fomento de dados envolvendo área recuperada. Este dado não existe”, ga- estruturas públicas e privadas. “Infelizmenrante o especialista. A situação não é dife- te, não andou. Ficou para 2018. Esta é a nosrente quando se fala em degradação. Há, sa expectativa”, diz. segundo ele, desencontros e divergências de escala entre diferentes fontes: “A Em- Parceria – A estimativa de Haroldo Queibrapa vem tentando fazer esta identifica- roz, da Gado de Corte, foi feita a partir de ção via satélite, mas ainda não se dispõe sua experiência em procedimentos de de tecnologia que possa detectar os dife- transferência de tecnologia na área de bovinocultura de corte. Alguns dos principais rentes estágios de deterioração”. Dentro de uma radiografia atual, pelo parâmetros vêm das Unidades de Referênmenos um fato parece ser consenso: o ano cia Tecnológica (URTs), consideradas hoje de 2017 freou a reforma de pastagens no a principal ofensiva prática da Embrapa País. Queiroz faz questão de salientar que em uma parceria público-privada para le-

var conhecimento e estimular a recuperação de pastagens pelo País, seja de forma direta ou por intermédio de sistemas integrados, como integração lavoura-pecuária (ILP) e lavoura-pecuária-floresta (ILPF). “As URTs foram criação da Embrapa, fundindo conceitos de unidades de aprendizagem, de demonstração e observação”, explica. De acordo com o pesquisador, são mais de 300 URTs em todo o Brasil estimulando a adoção de várias tecnologias aplicadas em diversos segmentos produtivos. Boa parte dessa difusão é feita em dias de campo. Variação _ As áreas de uma URT são variadas e dependem do propósito, do segmento e da disponibilidade. Podem ser inferiores a 1 hectare _ no caso de unidades de hortaliças _, ou serem significativamente maiores. “A URT da Fazenda Água Boa, por exemplo, soma 800 hectares”, diz Queiroz, referindo-se à fazenda de Água Clara, MS, que mantém sistema silvipastoril. O difusor de tecnologia da Embrapa não sabe precisar quantas estão voltadas para a restauração da qualidade dos solos e rendimento de forrageiras, mas apenas a unidade da Embrapa em Campo Grande acompanha quatro delas. Além da Fazenda Água Boa, acompanha uma em Minas Gerais (Fazenda Lagoa dos Currais, em Curvelo _ ILPF permanente) e três no Mato Grosso do Sul: Água Boa; Fazenda São Mateus, em Selvíria (ILP) e Fazenda Jaó, em Três Lagoas (unidade de demonstração para expandir a experiência da URT da Fazenda São Mateus). Essas parcerias demandam obrigações e direitos para ambos. A propriedade que se candidata a abrigar uma URT, além de gastos estruturais com cercas, adubação e materiais, terá de se adequar às exigências da Embrapa, inclusive quanto à coleta de dados. Por outro lado, terá também suas vantagens. “Além da experiência direta que o produtor e sua equipe passam a ter com os técnicos da empresa, será sempre possível a localização e a solução de problemas de forma muito mais rápida. Além disso, a fazenda será a primeira a ter acesso à tecnologia ali consolidada”, explica. n Anuário DBO 2018

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Pastagens ILP e ILPF

Por Ariosto Mesquita

A integração avança mais um tanto Projeção aponta incorporação de mais 2,5 milhões de hectares em sistemas de produção ILP e ILPF

E

ntre 2016 e 2017, mais 2,5 mi- Gerais (1,21 milhão) e Santa Catarina tor. O criador, por exemplo, que depenlhões de hectares se somaram (822.000 hectares). dia tão-somente do preço do bezerro e Para Marchió, a integração lavoura- do descarte de vacas, ganha opções nos aos 11,5 milhões até então ocupados com sistemas integrados de pro- -pecuária (ILP) continua liderando os mercados de soja e milho. Acredito que dução, que combinam ou alternam la- modelos adotados no Brasil: “A ILP re- em 15 anos a pecuária brasileira passavoura, pecuá­ria e floresta. A projeção é presenta a porta de entrada para a re- rá por transformação semelhante à da de William Marchió, diretor-executivo forma de pastagem a custo zero. Como soja nos anos 1980 e 1990 no Brasil. O da Rede de Fomento ILPF (integração o produtor logo percebe que dá lucro, pecuarista vai programar a atividade, lavoura-pecuária-floresta), uma par- acaba perpetuando o trabalho integra- inclusive com muito trabalho concenceria público-privada criada em 2012 do”. Por outro lado, o executivo da Rede trado no mercado futuro”, avalia. para estimular a adoção desses mode- percebe uma desaceleração na adoPara ele, o maior desafio para disselos produtivos no Brasil e que a partir ção da integração lavoura-pecuária- minação e aperfeiçoamento dos sistede 2018 passará a funcionar como uma -floresta (ILPF), menos por sua efici- mas integrados é distribuição de mão associação (veja quadro abaixo). “O ência e mais pelo recuo nas opções de de obra qualificada pelo País, sobretulevantamento mostrou que, entre 2005 mercado para o componente florestal. do para a adoção de modelos com ajue 2015, as áreas ocupadas com integra- Ele toma como base a queda no valor da da extensão rural. Pedreira concorção pularam de 1,8 milhão para 11,5 pago pelo metro estéreo (pilha de ma- da que restrições de caráter logístico, deira com 1 metro climático e regional (solo, relevo, etc.) milhões de hecde comprimento, ainda dificultam o uso de sistemas intares. Tomando 1 de largura e 1 de tegrados em alguns biomas, mas entencomo base um Dos produtores originados altura com espaços de que isso pode ser superado: “Há 40 crescimento da pecuária que trabalham vazios entre as pe- anos, era impensável trabalhar pecuámédio anual de com sistemas integrados de ças) do eucalipto: ria e agricultura no Cerrado com a efi10% ao longo produção, 83% adotam a ILP. “Há oito anos, pa- ciência atual. Imagine o que a tecnolode 2016 e 2017, gavam-se entre R$ gia poderá proporcionar nas próximas é plausível afir100 e R$ 120. Hoje, décadas”, indaga. mar que podemos ter hoje entre 13,5 milhões e 14 caiu para um quatro deste valor”. Conforme estudo do Kleffmann O agrônomo Bruno Pedreira, pós- Group, com base em 2015, dos produmilhões de hectares ocupados com ILP -doutor em Ciência Animal e Pasta- tores originados da pecuária que traou ILPF”, projeta Marchió. A estimativa foi baseada em um es- gens e pesquisador da Embrapa Agros- balham com sistemas integrados, 83% tudo elaborado pelo Kleffmann Group silvipastoril (Sinop, MT), faz avaliação adotam a ILP. Em seguida, aparecem a (agência internacional de informação semelhante. Segundo ele, a ILP é o mo- ILPF, com 9%; IPF (pecuária-floresta), estratégica para o agronegócio, sedia- delo “mais profissionalizado” entre os com 7%; e outras combinações, com da na Alemanha), com acompanha- sistemas integrados. “A lavoura-pecuá- 1%. Entre os produtores de grãos intemento técnico da Embrapa Meio Am- ria traz poder de decisão para o produ- grados, 99% abraçaram a ILP. n biente, divulgado pela Rede em 2016 e fechado com dados até 2015. Sobre o ranking dos Estados que se destacam Rede de Fomento vai virar associação na adoção desses sistemas, o executiA Rede de Fomento ILPF entrou com nos com a Embrapa, de quem é parceira. vo prefere não dizer se houve alteradocumentação em cartório em janeiro Como associação, a Rede pretende tornar ção, apesar de admitir um crescimenpara se transformar na A­ ssociação Rede viável a captação de recursos externos to maior no Mato Grosso. “Afirmar que ILPF, o que lhe permitirá diversificar e para ampliar os trabalhos de transferência esse desempenho tenha sido suficiente ampliar ações. Até então, eram membros de tecnologia, capacitação técnica e comupara alterar o ranking seria chute”, avafundadores Embrapa, John Deere, Coca- nicação. Em 2018, o orçamento para difulia. Dessa forma, sugere aplicar o mesmar (cooperativa sediada em Maringá, são tecnológica deve ficar próximo a R$ 4 mo crescimento médio a­ nual de 10% PR), Syngenta e Soesp (Sementes Oeste milhões, segundo ­Marchió. Uma das metas (em 2016 e 2017) para efeito de atuaPaulista). A Unipasto (Associação para o é a realização de nova pesquisa sobre a lização de área. Assim, Mato Grosso Fomento à Pesquisa de Melhoramento de adoção de sistemas integrados no Brasil. do Sul continuaria na ponta da lista, Sementes Forrageiras) admitiu interesse “Somente isso demandaria algo em torno com 2,42 milhões de hectares, seguiem aderir, mas depende de ajustes inter- de R$ 2 milhões”. do por Mato Grosso (1,81 milhão), Rio Grande do Sul (1,69 milhão), Minas

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Pastagens Sementes

Por Roberto Nunes Filho

Maior equilíbrio entre oferta e demanda Queda no preço médio do quilo segurou receita das empresas

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a safra 2016/2017, o merve à frente deste desenvolvimenDesempenho do setor cado brasileiro de semento, essa cultivar possui bom valor Indicador 2017* 2016 Variação (%) tes forrageiras funcionou nutritivo, o que proporciona excede maneira mais equilibrada, em lente ganho de peso aos animais Área (mil ha) 192 210 -8,5 comparação à colheita anterior. e, consequentemente, redução da Produção (mil ton) 58 33 75,7 Depois de uma safra 2015/2016 idade de abate. Faturamento (R$ bilhões) 1,2 1,2 0 muito dura, onde fatores climáA instituição também concluiu *Estimativa. Fonte: Unipasto ticos reduziram em 24% a área o desenvolvimento da BRS Quplantada e em 50% a produção, ênia, que é um híbrido de panio setor conseguiu se aproximar dos pa- disponível, o que não gera risco de desa- cum maximum, de porte intermediário, fábastecimento do mercado.” drões de dois anos atrás. cil manejo e de alta qualidade nutricional. Além do maior equilíbrio entre oferta e Segundo a Unipasto, parceira da EmbraA área plantada aumentou 16,4%, ficando em 192 mil hectares. Já a produção demanda, outro aliado do mercado de se- pa nesta empreitada, os ensaios de desemregistrou salto expressivo de 76%, fechan- mentes forrageiras foi o modelo de Inte- penho animal realizados nos biomas Cerdo em 58 mil toneladas, de acordo com gração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), rados, Amazônia e Mata Atlântica foram Associação para o Fomento à Pesquisa de que segue auxiliando na movimentação do superiores em relação às cultivares momMelhoramento de Sementes Forrageiras setor. Sandra Ferreira esclarece que Mato baça e tanzânia, na ordem de 17% e 32%, Grosso, Mato Grosso do Sul, Pará e Tocan- respectivamente. “Essas duas cultivares se (Unipasto). No que diz aos preços, o cenário tam- tins, houve aumento na formação de áreas mostram como novas opções para sistebém se inverteu, uma vez que os desafios com sementes de forrageiras visando a pa- mas intensivos de produção a pasto e de de 2016 comprometeram a oferta e, conse- lhada para o plantio de milho safrinha.” exigência animal”, explica Roveri. Quanto ao faturamento Marcos Roquentemente, os preços dispararam, ficanAlém destas, a Anprosem fez o registro do em torno de R$ 25 o quilo, em média. Já veri calcula que a receita bruta deve ter da cultivar Miyagui, um panicum maxiem 2017, com a melhora da produção, o se mantido estável, na comparação com mum com excelente produção de massa e preço médio recuou cerca de 40%, passan- 2016, quando ficou em torno de R$ 1,2 bi- boa produção de sementes. “Nos ensaios, do para R$ 15, informa Sandra Ferreira, se- lhão. Os números consolidaddos da en- ela se mostrou superior ao mombaça”, obcretária executiva da Associação Nacional tidade só serão conhecidos no próximo serva Sandra. “Estamos concluindo oude Produtores de Sementes de Gramíneas mês de fevereiro. tros experimentos para atestar a eficiência e Leguminosas Forrageiras (Anprosem) . deste material, em relação a outros paniNovas cultivares – Em 2017, novas cuns. Mas, certamente, é outra opção para Houve casos – como o da Sementes cultivares de forrageiras foram lançadas, quem quer um pasto melhorado e produAcampo, de Tangará da Serra, MT – em o que traz à pecuária mais opções para tivo”, afirma. que o valor das sementes ficou até me- a formação das pastagens e alimentação nor, com média de R$ 11 o quilo nos me- do rebanho. Uma delas é a BRS Ipyporã, Em prol da qualidade – Em 2018, uma ses de maior comercialização. Sérgio Pa- que entrou no mercado para atender a de- das medidas que devem auxiliar o mercacheco, gerente comercial da empresa, manda por uma cultivar de braquiária de do brasileiro de sementes forrageiras é a explica que houve uma procura bastan- boa produtividade e manejo relativamen- efetivação da Instrução Normativa nº 30 te intensa entre os meses de maio e outu- te fácil, como a marandu, porém, com ele- que trata das normas e padrões de comerbro, justamente porque muitos produto- vado grau de resistência à cigarrinha da cialização das espécies forrageiras. Havia res adiaram a reforma das suas pastagens, cana do gênero Mahanarva. De acordo a expectativa de que essa diretriz entrasse em 2016, em função do comprometimen- com a Embrapa Gado de Corte, que este- em vigor no ano passado, mas isso não se to da oferta de sementes e da alta concretizou. substancial nos preços. Outra demanda é o Selo UniÁrea plantada das principais cultivares puras (em ha) “Para se ter uma ideia, a meta pasto, criado para combater as se2017 2016 Variação (%) era vender metade do nosso esmentes piratas, conta Roveri. O toque até outubro, mas acabaselo de autenticidade permitirá Marandu 68.272 45.779 49,1 mos comercializando 65% dele que o pecuarista faça a leitura de Mombaça 21.480 22.843 -6 por causa da grande procura”, reum código, por celular ou leitor B. Ruziziensis 21.291 11.099 91,8 vela Pacheco. “Importante destaótico, e tenha acesso a informacar que, mesmo com o aumento ções sobre produtor, local de oriBRS Piatã 9.634 8.215 17,2 da demanda, ainda há muitos progem, categoria e dados de germiFonte: Unipasto dutores de sementes com estoque nação e pureza. n

78 Anuário DBO 2018



Pastagens Análise

Por uma pastagem ‘profissional’ Há vários desafios para garantir um manejo adequado e constante, bem longe do amadorismo.

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Moacyr Bernardino Dias-Filho Engenheiro Agrônomo Ph.D., pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental, Belém, PA

pesar dos grandes avanços, a pecuária brasileira ainda é pouco eficiente. E uma das principais causas é que uma proporção significativa das nossas pastagens é usada aquém do seu potencial. Isso decorre do montante das áreas de pastagens degradadas, ou em degradação, existentes no País, consequência direta da forma amadora com que elas são manejadas. Nesse manejo amador, entre outras falhas, não é feito um ajuste criterioso da taxa de lotação animal, não se respeita um intervalo adequado de descanso entre pastejos e não se corrige, periodicamente, a fertilidade do solo. O caminho para elevar a pecuária conduzida em pastagens de um nível amador para profissional é administrar essa atividade, independentemente da sua grandeza, como um negócio de natureza empresarial. Ou seja, para profissionalizar a atividade, ela tem que ser administrada de forma responsável, eficiente e racional. A chamada profissionalização da pecuária conduzida a pasto é um dos maiores desafios para uma parcela considerável dos criadores brasileiros. A razão é que a mudança de atitude requer a quebra de paradigmas, ou vícios culturais de manejo de pastagens, herdados do passado e ainda comumente praticados e aceitos. Dentre eles, talvez o mais nocivo seja o de não tratar as pastagens como uma cultura agrícola, admitindo que elas podem ser mantidas produtivas, sem o aporte de insumos para melhorar (ou manter) a qualidade do solo, ou, ainda, sem a observância dos princípios básicos de manejo do pastejo. Desse modo, não só a recuperação ou reforma de pastagens em degradação ou degradadas são ingredientes importantes na chamada “profissionalização” da atividade pecuária no Brasil,

Estimativa de retorno do capital investido1 Para cada real investido em:

Espera-se, em média, um retorno de:

Pastagem empresarial

R$ 4,00

Renovação

R$ 2,70

Recuperação

R$ 2,40

Pastagem tradicional

R$ 0,85

Pastagem empresarial = Manutenção periódica, desde a formação da pastagem, da taxa de lotação, fertilidade do solo, controle rotineiro de plantas daninhas e insetos-praga. Não há interrupção significativa do uso da pastagem e, quando há, seria apenas para observar o período de carência da aplicação de defensivos. Renovação = Nova formação da pastagem, com preparo mecânico e correção da fertilidade do solo, replantio da forrageira, com mudança ou não da espécie de capim. Uso da área é interrompido por cerca de 90 dias, para a formação da pastagem. Recuperação = Controle de plantas daninhas e de insetos-praga, adubação, replantio da forrageira nas áreas de solo descoberto. Se houver necessidade de interromper o uso da pastagem, o período é relativamente curto (cerca de 30 dias). Pastagem tradicional = Apenas com o controle periódico de plantas daninhas e de insetos-praga. Interrupção do uso da pastagem apenas para observar o período de carência da aplicação de defensivos. 1 A partir do segundo ou terceiro ano após a formação da pastagem, considerando implantação em solos de baixa fertilidade natural.

80 Anuário DBO 2018

mas também o manejo responsável e criterioso das áreas ainda produtivas e daquelas já recuperadas ou reformadas. Para isso, o produtor deverá ter pleno controle de o quanto a pastagem produz em forragem e qual a produtividade obtida em carne ou leite. De posse dessas informações, as decisões de manejo serão feitas de modo eficiente e racional. Portanto, o grande desafio para alcançar a plena profissionalização é estimular a capacidade gerencial do pecuarista, visando manter as pastagens produtivas desde a sua formação. Ao adotar essa estratégia preventiva de manejo, recuperações ou reformas periódicas de pasto podem ser praticamente suprimidas da propriedade rural. Nesse cenário, o produtor estaria adotando a chamada “pastagem empresarial”, ou seja, aquela conduzida de forma profissional, desde a sua formação. Assim, ao impedir, por meio de um manejo preventivo, a degradação, o produtor estaria se resguardando dos altos custos econômicos e ambientais, associados à existência de pastagens degradadas, ou em degradação, na propriedade rural e da necessidade de renovar ou recuperar essas áreas. Os custos associados às despesas com insumos e mão de obra certamente dificultam as decisões de intensificação de pastagens, visando o manejo preventivo, típico de uma “pastagem empresarial”. No entanto, essas despesas são diluídas ao longo do tempo, em decorrência da manutenção ou do aumento de produtividade da pastagem. De qualquer forma, como esses custos são imediatos e os lucros, cumulativos, é necessário que o produtor tenha capital de giro para investimento em intensificação, desde a formação da pastagem. O maior atrativo para o produtor optar pela chamada “pastagem empresarial”, investindo na formação correta e na manutenção ou no aumento da capacidade de suporte da pastagem, se baseia no princípio de que é mais rentável manter pastagens produtivas do que arcar com os custos e inconvenientes de recuperar ou renovar pastagens degradadas. Além disso, as perdas ambientais e econômicas de ter áreas com pastagens degradadas na propriedade rural são altas, em decorrência de desserviços ambientais e da baixa produtividade. Veja na tabela ao lado uma estimativa de retorno econômico. Portanto, o maior desafio para a pecuária bovina brasileira conduzida a pasto é abdicar do amadorismo no manejo de pastagens em favor do profissionalismo, próprio de uma pecuária empresarial. n




Genética Por Denis Cardoso

Inseminação Artificial

Corte se recupera e leite cai Vendas de sêmen em 2017 acompanharam crises no setor pecuário

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o primeiro semestre de peração nos últimos meses Mercado de sêmen bovino1 2017, as vendas de sêmen do ano passado, com valoSegmento 2017 2016 Variação (%) rizações contínuas nos prede bovinos de leite avançaram 25% sobre igual perío- Gado de corte ços do boi gordo. “A – alta na 2.572.611 2.662.547 -3,4 do de 2016 e as de corte caíram arroba coincidiu com a fase Gado de leite 2.112.896 1.692.396 24,8 3,4% (veja tabela). No segundo inicial da estação de monta 4.685.507 4.354.943 7,6 semestre, houve reversão da Total (a partir de outubro/novemtendência, com recuperação bro), o que estimulou uma Exportações (em nº de doses) das raças de corte, e queda no Corte e leite rápida corrida dos pecua162.871 101.554 60,4 leite. Esse é o diagnóstico preristas por material genético, Prestação de serviços liminar feito ao Anuário DBO aumentando a venda de sêpelo presidente da Associação Corte e leite men de gado de corte das 1.059.954 671.215 57,9 Brasileira de Inseminação Arempresas”, justifica Saud. Total do mercado de sêmen no Brasil tificial (Asbia), Sérgio de BriDiante da reversão de 5.908.332 5.127.712 15,2 to Prieto Saud, também diretor Corte e leite tendências, o presidente da executivo da CRI Genética, de Vendas em números de doses . 1Dados referentes ao primeiro semestre de cada ano. Fonte: Asbia Asbia previa, em meados São Carlos, SP. de janeiro, um fechamensado foi comemorado pelas empresas Em janeiro, Saud – conto positivo para o mercado firmou que a equipe da Asbia fazia o de genética, que esperavam um com- brasileiro de inseminação artificial em levantamento dos dados do último portamento ainda mais desfavorável, 2017. “Considerando o bom desempesemestre junto às 27 associadas da en- diante dos vários fatores negativos que nho do setor de corte no último semestidade (entre empresas do setor de ge- acometeram a pecuária na primeira tre do ano, é possível que, incluindo o nética, nutrição, saúde animal, asso- metade do ano (veja matérias na se- segmento de leite, as vendas de sêmen ciações de criadores e equipamentos), ção de “mercado brasileiro” deste Anu- tenham crescido algo em torno de 5% que representam 95% do mercado bra- ário DBO). Além disso, o mercado de no ano passado”, estima. sileiro de inseminação artificial. A di- inseminação artificial já vinha sofrenvulgação do relatório oficial com os nú- do lentamente os reflexos da crise eco- Reposição de matrizes – Ao lonmeros do segundo semestre, com os nômica brasileira, que em 2016 derru- go de 2017, segundo Saud, os pecuarisdados consolidados de 2017, ocorreria bou drasticamente o consumo interno tas deram continuidade ao movimento de carne bovina, interferindo negativa- de busca de genética Nelore, seguindo em fevereiro, logo após o Carnaval. Na primeira metade do ano passa- mente nos negócios de toda a cadeia. uma tendência já observada no ano ando, com a queda no setor de corte e o terior. Embora o Aberdeen Angus contiaumento no de leite, a comercializa- Reviravolta – Sérgio Saud diz que, des- nue soberano no ranking das raças mais ção interna de sêmen fechou o semes- de a metade do ano passado, todo o se- vendidas, os criadores voltaram a investir tre com alta de 7,6%, atingindo 4,68 mi- tor leiteiro passa por um período de crise, pesado na inseminação com Nelore por lhões de doses, frente a 4,35 milhões marcado pela drástica e veloz redução no causa da necessidade de repor o plantel dos seis primeiros meses de 2016. – No preço do leite pago aos produtores, o que de matrizes, em falta nas fazendas depois setor leiteiro, diante da recuperação resultou num movimento de descarte de do avanço do cruzamento industrial e, nos preços da matéria-prima, houve fêmeas e no fechamento de pequenos la- consequentemente, da maior produção um expressivo aumento nas vendas de ticínios. “Infelizmente, o segmento do lei- de fêmeas meio-sangue. sêmen no – período, atingindo 2,11 mi- te vive um período de total desestruturaComo de praxe, o próximo relatólhões de doses, alta de 7,5% sobre igual ção, ocasionada pelo aumento excessivo rio anual Index Asbia, previsto para feintervalo de 2016 (1,69 milhão de do- de oferta da matéria-prima e pela queda vereiro, apontará os dados do mercado ses). A comercialização de sêmen de no consumo doméstico de lácteos, além em 2017, mas não indicará vendas ingado de corte atingiu 2,57 milhões de de momentos de indefinição em relação dividuais por raça. Por questões estradoses de janeiro a junho de 2017, re- à troca de comando de grandes laticínios tégicas, essa informação é revelada na dução de 90.000 doses na comparação (como é o caso da Itambé, que pertencia metade do ano subsequente, ou seja, com o montante registrado no primei- à Vigor Alimentos, que era da JBS e foi no relatório referente ao primeiro sevendida ao grupo mexicano Lala)”, obser- mestre de 2018. No mais recente levanro semestre de 2016. Mesmo com variação semestral ne- va o executivo. tamento da Asbia, referente a 2016, a Seguindo caminho inverso ao do lei- Angus registrou venda de 3,69 milhões gativa, o resultado obtido na área de corte no primeiro semestre do ano pas- te, a pecuária de corte teve forte recu- de doses e foi seguida pela Nelore, com Anuário DBO 2018 –

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Genética

Inseminação Artificial

2,09 milhões. Entre 2010 a 2016, o Angus de pelagem preta registrou significativo avanço de 214%. O trabalho da Asbia de detalhamento das vendas por raça também mostrou uma tendência de crescimento do uso de touros Nelore com Ceip (certificado especial de identificação e produção), em detrimento do Nelore PO (puro de origem). Em 2016, foram comercializadas 537.500 doses de sêmen de Nelore Ceip, um acréscimo de 10% sobre o resultado do ano anterior (488.000). Demais setores – Um fator que chama a atenção no mercado brasileiro de inseminação é a forte ascendência do segmento de prestação de serviço, que é a terceirização do processo de coleta e processamento de sêmen. No primeiro semestre de 2017, o segmento foi responsável pela produção de 1,06 milhão de doses de sêmen (incluindo leite e corte), o que representou aumento de 58% acima das 671.200 doses registradas no primeiro semestre de 2016 (veja tabela na página anterior). Na avaliação de Bruno Grubisich, diretor de Marketing da Asbia e diretor-presidente da Seleon Biotecnologia, de Itatinga, SP, um dos fatores que levaram ao incremento do segmento de prestação de serviços foi a crise econômica. Principalmente no primeiro semestre de 2017, momento de piora do setor,

84 – Anuário DBO 2018

muitos pecuaristas deixaram de procu- as exportações tiveram forte crescirar os catálogos de touros das centrais mento no ano passado, sobretudo na para investir na coleta de seus próprios área de corte. No primeiro semestre, reprodutores da fazenda. “Foi uma ma- pela primeira vez, os embarques de neira que o pecuarista encontrou para sêmen de corte superaram os de leite, reduzir custos sem necessidade de segundo a Asbia, que justificou a muabrir mão do uso de tecnologia, no caso dança de tendência ao maior interesa IATF (inseminação artificial em tem- se dos vizinhos Bolívia e Paraguai pela genética zebuína brasileira. De janeiro po fixo)”, avalia Grubisich. Outro fator que fez com que cresces- a junho, o Brasil exportou 88.000 dose o interesse pelos serviços terceiriza- ses de sêmen de corte e 74.000 de leite, dos é a disponibilidade cada vez maior com vendas totais de 162.800, alta de de animais com genética superior, inse- 60% sobre 2016 (101.500 doses). ridos em diversos programas de melhoramento. Nesse sentido, avalia o diretor Expectativa – Com a recuperação da Asbia, no ano passado houve uma das vendas de sêmen de corte no fim procura crescende 2017 e a mete de criadores lhoria do quadro No primeiro semestre, e/ou programas econômico do de seleção pelas País, a expectatipela primeira vez, as centrais prestava da Asbia é de exportações de sêmen de doras de serviço, melhora do mercorte superaram as de leite. com o objetivo cado de genética de coletar sêmen em 2018. “A tende touros jovens, dência é que o seselecionados para participar de testes tor de corte mantenha o crescimento, de progênie. Além disso, muitos dos re- impulsionado pelo uso de IATF e a reprodutores adquiridos em leilões pro- tomada dos investimentos em cruzamovidos por importantes criatórios do mento industrial”, prevê Saud. Além País são destinados aos piquetes das disso, para o presidente da Asbia, a cricentrais prestadoras de serviço de cole- se da JBS foi superada. “Parece ter fita de sêmen. cado claro para o pecuarista que uma coisa são os executivos da JBS e outra Exportações – Embora ainda irrisó- é a empresa propriamente dita, que se rias na comparação com o tamanho mantém sólida, com os pagamentos do mercado interno de inseminação, em dia”, observa. n


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Genética Análise

Genômica: rotina nas fazendas em 2018? Ideia é definir modelos de negócio que tornem a tecnologia disponível a todos os criadores

O Fernando Flores Cardoso Médico Veterinário, PhD, chefe adjunto de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação da Embrapa Pecuária Sul, sediada em Bagé, RS.

uso da genômica para aumento da produção de carne deve ganhar magnitude no Brasil em 2018. Empregada inicialmente na avaliação genética de gado leiteiro (mais de 1 milhão de animais, predominantemente da raça Holandesa, já foram genotipados nos Estados Unidos e no Canadá), a tecnologia demorou um pouco a chegar ao gado de corte, devido a questões estruturais, como o pequeno número de touros com alta acurácia na estimativa do seu mérito genético e a grande diversidade de raças. Contudo, avanços significativos têm sido obtidos na última década. Nos EUA, o Angus, por exemplo, já conta com 300.000 animais genotipados. No Brasil, podemos prever que, até o final de 2018, a maioria dos programas de melhoramento de bovinos de corte já terá a genômica incorporada à sua rotina de trabalho. Três fatores nos levam a esta afirmação:

1 A redução no custo de genotipagem é um dos fatores capazes de contribuir para a incorporação da genômica nos programas de melhoramento do rebanho

Disponibilidade de populações de referência – Tanto os grupos de pesquisa em melhoramento de bovinos de corte nas universidades (unidades da Universidade Estadual Paulista em Araçatuba e Jabotical; da Universidade de São Paulo em Pirassununga; Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz etc.) quanto a Embrapa e o Instituto de Zootecnia (IZ) se empenharam, nos últimos anos, em estudos genômicos e na mensuração de fenótipos de alto valor econômico em parceria com programas de melhoramento de associações de raças (PMGZ-ABCZ, PMGSenepol, PMGRCanchim, Promebo-ANC/Angus, Pampaplus-ABHereford/Braford) e também com grupos privados (DeltaGen, DeltaG, CIA de Melhoramento, Rancho da Matinha, Nelore Qualitas, Paint, Geneplus, GenSys, ANCP, Zoetis). Dessas iniciativas, resultam populações de referência já consolidadas (raças Nelore, Braford e Hereford) ou em estágio avançado de desenvolvimento (raças Angus, Brangus, Canchim e Senepol).

2

Uso dos marcadores SNP para verificação de paternidade – Através da instrução normativa Nº 45, de dezembro de 2017, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento oficializou o uso de marcadores do tipo polimorfismo de nucleotídeo úni-

86 Anuário DBO 2018

co (os SNPs ou “snips”, do inglês Single Nucleotide Polymorphism) para verificação de parentesco e identificação genética. Como já vem ocorrendo em outros países, os testes com SNPs gradativamente substituirão os atuais, baseados em marcadores do tipo microssatélites. Como os chips de genotipagem na sua maioria já contêm SNPs para verificação de paternidade, os quais são definidos pela Sociedade Internacional de Genética Animal (ISAG), com um único teste o criador poderá verificar parentesco para fins de registro e também obter predições de mérito genético aprimoradas pela genômica. Isso atende a uma demanda de diversas associações e empresas empenhadas na implementação prática da genômica e será um grande impulso para a adesão dos rebanhos puros, especialmente os que usam técnicas de reprodução assistida, como transferência de embriões e fertilização in vitro, para as quais a confirmação dos pais por DNA é obrigatória para fins de registro genealógico.

3

Redução do custo de genotipagem – Os primeiros chips de 50.000 marcadores para bovinos custavam cerca de US$ 200 por animal (R$ 660 ao câmbio médio dos últimos meses). Atualmente, o mercado acena com um valor de R$ 90 a R$ 100 pelo mesmo serviço. Nesse patamar, ao redor do dobro do valor de teste de DNA de microssatélite exclusivo para paternidade, pode-se esperar uma adesão expressiva dos rebanhos envolvidos em programas de melhoramento, pelos ganhos na acurácia de seleção, pela possibilidade de antecipar essa seleção e reduzir o intervalo entre gerações, e por um melhor controle da consanguinidade, através de pedigrees e parentescos mais precisos. A expectativa do setor é que os conhecimentos genômicos e elementos de mercado disponíveis sejam capitalizados em 2018 para estabelecimento de modelos de negócio que disponibilizem a tecnologia de forma acessível e ampla a todos os criadores. Esse é o desafio do momento. Um modelo atrativo, de acordo com a experiência em outros países, prevê que organizações como as associações de criadores assumam o papel central, recebendo amostras biológicas associadas a



Análise

Uma das palavras de ordem em pesquisas genômicas é cooperação um sistema de identificação animal individual, compondo um banco de DNA para as raças envolvidas e centralizando as negociações com as empresas fornecedoras de serviços de genotipagem, na busca de menores preços, em contraponto às quantidades elevadas de amostras previstas com a ampla adoção da tecnologia pelos criadores. Essas organizações deverão conciliar os esforços de pesquisa de diferentes grupos, gerando populações de referência mais robustas, especialmente para os fenótipos mais valiosos, de forma que as predições genômicas possam ser feitas pelos diferentes programas de forma cooperativa, usando bases de dados compartilhadas. Cabe ressaltar que os ganhos econômicos mais evidentes com o uso da genômica em bovinos de corte deverão decorrer daquelas características de alto valor, mas que atualmente não estão incluídas ou têm pouca ênfase nos critérios de seleção, por serem difíceis de melhorar através dos métodos tradicionais. Por exemplo: características de baixa herdabilidade (ligadas à reprodução e saúde), limitadas a um sexo (idade ao primeiro parto e prenhez precoce em zebuínos), medidas tardiamente (habilidade de permanência no rebanho), com fenótipos de mensuração cara ou sujeitos à elevada interação com o ambiente (consumo de alimentos, produção de metano e adaptação), ou ainda que requerem o sacrifício ou a espoliação do animal (qualidade da carcaça e da carne, resistência a doenças e parasitos). Dificilmente uma iniciativa individual de um grupo ou programa poderá gerar, em curto período de tempo, uma população de referência com número suficiente de animais (geralmente muitos milhares) para predições genômicas acuradas nessas características. Portanto, cooperação deve ser a palavra de ordem. Nesse sentido, a Embrapa Pecuária Sul vem, desde 2010, desenvolvendo pesquisas genômicas em parceria com a Conexão Delta G, a GenSys Consultores Associados e a Associação Brasileira de Hereford e Braford (ABHB) com foco na maior adaptação dessas duas raças taurinas de corte ao ambiente tropical, com destaque para três características: resistência ao carrapato e aos agentes da tristeza parasitária, comprimento de pelame e pigmentação ocular. A população de referência já soma 5.414 animais jovens (64%

88 Anuário DBO 2018

Braford e 36% Hereford), com genótipos para 50.000 SNPs, e 230 touros com genótipos para 777.000 SNPs. Os ganhos genéticos obtidos para algumas das características estudadas são expressivos, como mostra a tabela abaixo.

Ganhos da genômica no melhoramento Característica

Acurácia da avaliação1 Tradicional

Genômica

0,51 0,34 0,24 0,26 0,40 0,29 0,30 0,32

0,79 0,47 0,40 0,48 0,53 0,40 0,52 0,50

Pigmentação ocular Pelame na desmama Pelame no sobreano Contagem de carrapatos Peso ao nascer Peso à desmama Peso ao sobreano Perímetro escrotal

Fonte: Reimann, 2016; Cardoso et al., J. Anim. Sci. 2015; Campos, 2017, Ferreira, 2017. 1 Em escala de 0,00 = nula a 1,00 = total.

Trata-se de um trabalho pioneiro no Brasil e no mundo, que possibilitou incluir informações genômicas nos sumários das duas raças a partir de 2012. Três edições foram produzidas até o momento e podem ser acessadas no portal da Embrapa. Na prática, o uso de touros Braford classificados nesses sumários no terço superior de resistência, em comparação com os do terço inferior, possibilita reduzir em 1/3 o nível de infestação por carrapatos dos filhos entre 12 e 18 meses de idade (veja figura abaixo).

Infestação dos filhos vs. resistência dos touros pela avaliação genômica 32,6 Contagem média de carrapatos nos filhos dos touros

Genética

27,4 20,8

Baixa

Média

Alta

Fonte: Cardoso, informação pessoal, 2016.

Este é apenas um caso de sucesso na aplicação da genômica no Brasil. Há vários, especialmente na raça Nelore, e muito mais está por vir. n

Ganho 54% 38% 67% 84% 33% 38% 73% 56%



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Leite Balanço

por Luiz H. Pitombo

Cadeia produtiva tenta sanar fragilidades Forte oscilação de preços da matéria-prima é principal desafio para o setor

O

incertezas, tanto em relacomportamento dos Pecuária bovina leiteira do Brasil em números1 ção ao comportamento do preços do leite em clima (com o fenômeno La 2017, com variações 2017 2016 2015 Niña) quanto à recuperaabruptas para baixo, difiVacas em ordenha 19.123.806 19.678.817 21.110.916 ção da economia e às eleicultou a vida dos produto34.628.635 33.624.653 34.609.588 Produção2 ções. A visão predominante res. A natural sazonalidade é de aumento na produção, climática, que normalmen1.810 1.708 1.639 Produtividade3 mas em patamares menote provoca elevação desses 38.513 55.098 76.813 Exportação4 res do que os de 2017, ou valores no segundo semesseja, no máximo 3%. Algutre, foi alterada e isso ge4 169.152 245.279 137.165 Importação ma alta no consumo tamrou em queda expressiva 173 171 174 Consumo5 bém é esperada, tendo das cotações durante todo como lastro a possível retoo período. Na média Bra1Com exceção das Exportações e Importações, os demais dados de 2017 são estimados. Para vacas em ordenha, produção e mada da economia. Quansil, que considera os Estaprodutividade, os números referem-se à Pesquisa Pecuária Municipal (PPM/IBGE) com projeção de 2017 pela Embrapa Gado de Leite. 2 Em mil litros. 3 Litros/vaca/ano. 4 Em toneladas de produtos, Mapa/Agrostat. 5Consumo aparente em equivalente litros/ to aos custos, a previsão de dos do Rio Grande do Sul, habitante/ano com elaboração pela Viva Lácteos. Fontes: Mapa, IBGE, Embrapa Gado de Leite, Viva Lácteos. Adaptação: DBO uma safra de grãos um pouSanta Catarina, Paraná, São co menor ante a recorde Paulo, Minas Gerais, Goiás e Bahia, o preço mais alto do litro crise econômica, os preços perderam de 2016/2017 deve acarretar valores mais altos para o concentrado. de leite pago ao produtor foi apurado sustentação. A indústria se propõe a continuTécnicos do Cepea têm alertado em maio, a R$ 1,2927, com números deflacionados (IPCA/IBGE). A par- que este descompasso entre oferta/ ar a estimular o consumo, expandir tir daí, começou a cair e não parou demanda e a volatilidade de, “que ex- mercados externos já conquistados e até dezembro, com R$ 1,0006/litro, põem a fragilidade da cadeia”, trazem avançar na abertura de outros. Mas a 30% a menos. Os números fazem par- desafios e a necessidade de discus- estratégia agora é diferente, atuando te do levantamento mensal do Centro sões em torno da ampliação do mer- não mais com commodities como leide Estudos Avançados em Economia cado externo, da melhoria da qualida- te em pó, mas com produtos de maior Aplicada (Cepea/Esalq-USP), de Pi- de da matéria-prima, da efetividade valor agregado, nos quais o Brasil tem racicaba, SP. Na comparação com a das políticas de pagamento por qua- se mostrado mais competitivo. Avanços também poderão ocorlidade, da transmédia Brasil de parência nas ne- rer em relação à apuração dos preços 2016, a queda Descompasso entre gociações entre do leite pago ao produtor. Parceria firanual foi de 9%. os elos da ca- mada entre o Cepea, a Organização O que aliviou oferta/demanda e a deia e da melho- das Cooperativas Brasileiras (OCB) um pouco a situvolatilidade de, “que expõem ria do nível de e a Viva Lácteos (que representa os ação foram o clia fragilidade da cadeia”. gestão de fazen- grandes laticínios) prevê que, a partir ma favorável e das e indústrias. de março, a divulgação das cotações os preços vantaTambém apon- mensais do preço pago ao produtor josos dos grãos ao produtor, que reduziram os gas- tam para a importância de se estimu- de leite deve ser antecipada em 15 tos com alimentação. O Custo Opera- lar o consumo de lácteos e o estabe- dias, reivindicação antiga da cadeia cional Efetivo (Cepea/CNA) caiu 4% lecimento de políticas de longo prazo produtiva e que beneficiaria a todos no ano, na média Brasil, ante alta de para o setor. Várias reuniões realiza- os envolvidos. Em relação à qualidade do leite, das pela cadeia produtiva no ano pas5,26% em 2016. Além disso, os bons resultados no sado começaram a tentar enfrentar um comitê trabalha junto ao Ministéprimeiro semestre levaram ao aumen- esses desafios, por meio da maior or- rio da Agricultura para analisar a real to de produção. Estimativas da indús- ganização, articulação e profissionali- situação das fazendas por intermédio de dados dos laboratórios existentes tria apontam para uma oferta 4,5% zação do setor. no País, visando estabecer parâmetros acima da de 2016, ou 35 bilhões de litros, para um consumo equivalen- Tendências – Representantes dos adequados à realidade (contagem de te de 173 litros de leite por habitante, produtores, da indústria, da pesqui- células somáticas e contagem bactepequeno aumento de 1,6%, mas ain- sa e de consultorias sinalizam 2018 riana total). Os resultados devem sair da abaixo dos 175 litros de 2014/2013. como um ano mais positivo para o em abril, para início de nova etapa da n Com a demanda retraída por causa da produtor, mas igualmente apontam IN 62 em julho. Anuário DBO 2018

91


Leite Rebanho e Produção

Por Luiz H. Pitombo

Centro-Oeste reduz ordenha

P

ela segunda vez consecutiva, o Brasil apresenta queda em seu rebanho leiteiro, de acordo com a Pesquisa Pecuária Municipal (PPM/ IBGE) de 2016. Foram contabilizadas 19,67 milhões de vacas, retração de 6,7%, que, no entanto, é menor do que os 8,3% apresentados em 2015. Com exceção do Norte do País, que obteve pequeno incremento (+0,5%) em 2016, todas as demais regiões recuaram, com a Sul no menor percentual (-1,1%) e a Centro-Oeste com o maior deles (-11,7%). Tais quedas de rebanho ocorrem na região desde 2014, acumulando, até a mais recente pesquisa, a perda de 690.000 vacas em ordenha (-18%). Goiás, com 73% do contingente da região e 11% do total nacional, tem influenciado na queda, com recuo de 11% no plantel, para 2,2 milhões de cabeças em 2016. “O Centro-Oeste, em especial Goiás, so-

sador Glauco Carvalho, da Embrapa Gado de Leite, em Juiz de Fora, MG. Total Brasil Quanto ao Norte, com rebanho reNorte 19,67 milhões de vacas lativamente pequeno, de 2 milhões de 2.084 Nordeste vacas, o pesquisador diz que o qua3.505 dro é de crescimento, embora predominem sistemas de produção não especializados, com baixas tecnologia e produção média por animal (900 litros em 2016). Ele ressalva, porém, que Rondônia é destaque na região, Centro-Oeste com média de produção por animal 3.068 de 1.318 litros de leite/ano. Sudeste 6.819 Ganhos em produtividade se desSul 4.200 tacam na pesquisa do IBGE de 2016, o *Obs.: em mil cabeças Fonte: IBGE/PPM 2016 que sugere a preocupação de descarte para ficar com as melhores vacas. freu um período seco que afetou a pecuá- Na média Brasil, o rendimento por animal ria de leite. O milho teve quebra e os custos foi de 1.708 litros/ano (+4,2%), com a Rede produção subiram. Além disso, existem gião Sul na dianteira, atingindo 2.965 litros/ muitos produtores que também trabalham ano (+2,3%). A maior produtividade média com corte e o valor da arroba elevado es- por Estado foi a do Rio Grande do Sul, com timula o abate de vacas”, explica o pesqui- 3.157 litros/ano (+2,7%). n

Vacas ordenhadas por região*

Produção deve subir após forte queda

R

esultados da Pesquisa Pecuária Municipal (PPM/IBGE) confirmaram a expectativa de queda na oferta de leite em 2016. O Brasil produziu naquele ano 33,6 bilhões de litros, volume que representa -2,8% sobre 2015, que já mostrava números mais modestos (-1,4%). “O ano de 2016 foi complicado, com variação de preços de 50% entre o máximo e o mínimo, quando a média é de 16%”, afirma o pesquisador Glauco Carvalho, da Embrapa Gado de Leite, em Juiz de Fora, MG. A queda mais importante ocorreu no Centro-Oeste (-13,7%), também influenciada pelo clima, atingindo 3,9 bilhões de litros, enquanto no Norte a produção subiu 2,3%, embora o volume seja pequeno de 1,8 bilhão de litros no ano. O Sul também aumentou a captação em 1%, mantendo-se superior ao Sudeste e liderando a produção no País (12,4 bilhões de litros) ou 37% do total. Para 2017, várias fontes estimam uma produção maior. Carvalho prevê possível

92 Anuário DBO 2018

nomia Aplicada (Cepea/Esalq/USP), de Piracicaba, SP, informa que o ÍndiTotal Brasil ce de Captação de Leite evoluiu 7,8% Norte 33,6 bilhões de litros em relação a 2016, considerando-se 1.876 Nordeste dados de janeiro a novembro. Para o 3.772 ano, ela espera um avanço menor, de cerca de 5%. “Isso nos leva aos níveis da PPM de 2014, ou 35 bilhões de litros”, afirma. Para a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), o auCentro-Oeste mento pode chegar a 33,9 bilhões de 3.972 litros (4%), porcentagem semelhanSudeste 11.546 te aos 4,5% projetados pela entidade Sul 12.457 Viva Lácteos, que reúne laticínios. *Obs.: em milhões de litros Fonte: IBGE/PPM 2016 Quanto a 2018, diante das incertezas políticas e econômicas, as excrescimento sobre a PPM de 2016, atin- pectativas variam mais e há quem prefira gindo-se 34,6 bilhões de litros (+3%). Ele não falar em percentuais. Nesta situaindica que a Pesquisa Trimestral do Lei- ção estão a CNA e a Viva Lácteos. Ambas te (PTL/IBGE), que abarca só a produção projetam um pequeno crescimento, a inspecionada, mostra crescimento acu- primeira delas em nível menor do que o mulado de janeiro a setembro (+4,3%), de 2017. O Cepea fala desde redução até em elevação (+3%) e a Embrapa Gado de com 17,7 bilhões de litros. Já a pesquisadora Natalia Grigol, do Leite, em crescimento (+2%), podendo n Centro de Estudos Avançados em Eco- atingir 35,3 bilhões de litros.

Produção de leite por região*



Leite Por Luiz H. Pitombo

Preços

Valores recuam em ano atípico Entressafra tem preços em queda e maior oferta não é absorvida

P

ecuaristas de leite foram extremamente desafiados em 2017. O ano se iniciou com valores extremamente altos pagos pela matéria-prima e com a ração mais em conta, por causa dos preços menores do milho e do farelo de soja, com a safra recorde. Para aproveitar o bom momento, muitas fazendas aumentaram a produção. No entanto, a cadeia produtiva se deparou com um consumidor retraído em razão da crise econômica. Assim, os valores do leite caíram praticamente durante quase todo o ano, até mesmo no segundo semestre, quando se espera uma alta sazonal. Após este ano desafiador e com as incertezas relativas a 2018, há, agora, a expectativa de que a situação melhore, com as variações de preço retornando à normalidade e produção e consumo se mostrando mais ajustados. Em janeiro do ano passado, o valor médio do preço do leite pago ao produtor no Brasil (considerando-se os Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Bahia e Goiás) foi de R$ 1,2189/litro, ou 17% acima de janeiro de 2016 em termos reais, de acordo com levantamento do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq-USP), de Piracicaba, SP. Apesar de certa estabilidade nos meses finais, dezembro apresentou a cotação média de R$ 1,0006/litro, 17% abaixo de dezembro do ano anterior. No valor médio consolidado no ano, o valor ficou em R$ 1,1769/litro, em valores deflacionados, o que representa queda de 9% ante a média de 2016. Por Estado, a retração mais intensa ocorreu em Goiás (-15,8%), Santa Catarina (-10%) e Minas Gerais (-9,3%). Regionalismos _ A pesquisadora Natália Grigol, da Área do Leite do Cepea, aponta que regionalmente diferentes fatores também afetam os preços, sugerindo, por exemplo, que a retração de Goiás pode estar associada ao comportamento dos preços do leite UHT, pois o Estado é importante fornecedor desse tipo de produto, cujos valores estiveram em queda. Para Santa Catarina, a pesquisadora indica como causa o aumento da produção sem a contrapartida do consumo, que teria recuado.

94 Anuário DBO 2018

Preços médios mensais pagos ao produtor de leite (em R$/litro deflacionados pelo IPCA de dezembro de 2017)* Mês/local

Brasil

MG

PR

RS

GO

BA

Janeiro

1,2189

1,2436

1,2418

1,2138

1,1614

1,1632

Fevereiro

1,2422

1,2579

1,2438

1,2467

1,1919

1,1485

Março

1,2568

1,2744

1,2453

1,2650

1,1961

1,1778

Abril

1,2814

1,3086

1,2816

1,2679

1,2297

1,1783

Maio

1,2927

1,3171

1,3021

1,2889

1,2238

1,1638

Junho

1,2909

1,3070

1,3123

1,2715

1,2217

1,1639

Julho

1,2528

1,2656

1,2879

1,2292

1,1584

1,1636

Agosto

1,1706

1,1721

1,1997

1,1421

1,0844

1,1704

Setembro

1,0984

1,1142

1,1172

1,0718

1,0265

1,1165

Outubro

1,0124

1,0455

1,0189

0,9580

0,9385

1,0854

Novembro

1,0047

1,0438

0,9864

0,9536

0,9335

1,0716

Dezembro

1,0006

1,0366

0,9890

0,9530

0,9313

1,0534

Média

1,1769

1,1989

1,1855

1,1551

1,1081

1,1380

*O IPCA de dezembro de 2017 foi o de 0,44% e o acumulado do ano, 2,95%. O valor de um mês refere-se ao leite entregue no mês anterior. Preço líquido, sem frete ou impostos. Fonte: Cepea-Esalq/USP. Adaptação: DBO

Muito se falou sobre o efeito das importações de leite em pó nos valores da matéria-prima, mas Natália discorda que isso tenha ocorrido, mesmo porque os volumes importados em 2017 foram inferiores aos de 2016 (-36%). “Em estudos, chegamos à conclusão de que não existe efeito direto das importações de leite em pó nos preços internos em nível nacional. O que pode acontecer é interferência na dinâmica da comercialização”, diz. A pesquisadora ressalta que a receita do produtor caiu bastante em 2017, mas

que ele foi “salvo” pelos preços atrativos dos grãos, embora as margens se tenham mantido bastante apertadas, levando muitos produtores a abandonar a atividade. A indústria também sofreu, aponta, embora não haja notícia de fechamento de plantas. Dados do Índice de Custo de Produção do Leite (ICPLeite/Embrapa), que mede as variações dos principais insumos, mostram recuo de quase 4% em 2017 em termos nominais, influenciado pelos valores dos concentrados, que cederam 16%. Todos os demais subiram, com destaque

Litros de leite necessários para comprar...* Insumos

2017

2016

Variação (%)

Concentrado 22% PB (t)

768,05

773,50

-0,70

Ureia (t)

1

988,75

984,60

0,42

Antibiótico2 (50 ml)

9,95

9,80

1,50

Antimastítico (10 ml)

4,98

5,00

-0,40

Sal mineral (30 kg)

70,74

71,80

-1,48

Herbicida 2,4D (litro)

41,06

49,00

-16,20

*Preços de insumos referentes ao Estado de São Paulo divididos pelo valor líquido do leite recebido pelo produtor paulista. Preços nominais, considerando dados acumulados até dezembro (1) Proteína Bruta; (2) Oxitetraciclina. Fonte:Cepea/Esalq-CNA. Adaptação: DBO


Leite

Preços

Variação do custo de produção em 2017 e 2016 (ICP Leite, em%)* Energia e combustível Reprodução Qualidade do leite Sanidade Sal mineral Concentrado Produção e compra de volumosos

2016 2017

Mão de obra ICP Leite

-20

-15

-10

-5

0

5

10

15

20

*Índice de Custo de Produção (ICP) do Leite da Embrapa, variação anual em valores nominais referentes ao Estado de Minas Gerais, considerando uma cesta média de produtos utilizados em fazendas com adoção de tecnologia. Participações dos itens ponderadas conforme seu peso real na composição do custo. Fonte: Embrapa Gado de Leite. Adaptação: DBO

(+7%) para o item sanidade e qualidade do leite, como detergentes para limpeza das ordenhadeiras. Em 2016, o índice geral havia subido quase 9%. Outro bom indicativo é o Custo Operacional Efetivo (COE), calculado pelo Cepea e pela Confederação da Agricultura e Pecu-

ária do Brasil (CNA), que se mostra similar ao ICPLeite para o ano passado (-4%), ante +5,26% do ano anterior. O analista da Scot Consultoria, Rafael Ribeiro, diz que “os resultados foram mais apertados, principalmente para produtores menos tecnificados”. Ribeiro ressalta que

2016 e 2017 foram anos de muita volatilidade de preços ao produtor. Natália Grigol, do Cepea, avalia que “o descompasso entre a oferta e a demanda deve ser menor em 2018, com o consumo se fortalecendo pela recuperação da economia”. Em função disso, acredita que possa haver uma melhoria nos preços ao produtor, descartando a possibilidade de novas quedas. Embora reconheça a dificuldade de projetar o ano que se inicia, Thiago Rodrigues, da CNA, espera um cenário de preços um pouco melhor do que o do ano passado ou mesmo similar, com a curva da sazonalidade tendendo à normalidade. Os custos de produção devem subir, em função de uma redução na safra de grãos e do atraso das chuvas, que pode afetar a produção de silagem de milho. Ribeiro, da Scot, também crê na possibilidade de um ano melhor ao produtor. Mas lembra que, a depender do comportamento do câmbio, pode haver alta no valor dos insumos. Ele chama a atenção, ainda, para a possível ocorrência do fenômeno La Niña, que pode trazer dificuldades aos sistemas a pasto.

Anuário DBO 2018

95


Leite Indústria

Por Luiz H. Pitombo

Produção cresce mais que o consumo Laticínios pagaram menos ao produtor, mas demanda pelo produto final não ajudou.

“F

tar novidades para estimular a oi um ano ruim para Importações e exportações (em kg de produto, Brasil 2017) demanda, incluindo a de proa indústria”, afirma, Itens Importação Exportação dutos mais elaborados. Marem relação a 2017, tins diz que têm sido ofertados Marcelo Martins, diretor-exeLeite em pó 103.439.393 5.478.958 derivados sem lactose, isotônicutivo da Viva Lácteos, entiQueijos 31.832.485 3.503.770 cos para desportistas, leite ordade que reúne laticínios e Soro de leite 21.081.458 49.500 gânico e outros. associações que captam 70% Outros produtos lácteos 5.321.433 2.736.892 Mas também ressalta a imdo leite sob inspeção sanitáportância de se avançar com ria produzido no País. Mas Manteiga e gorduras 5.106.983 318.461 as exportações e conta que o Martins também admite que, Iogurte e leitelho 1.287.350 751.844 setor tem divulgado os lácteos para o pecuarista, 2017 não foi Leite fluido 1.083.093 86.672 brasileiros no exterior e aberto bom, considerando a acentuanovos mercados, como o do Jada queda de preços pagos ao Leite condensado e creme 25.587.629 pão, que poderá adquirir leite produtor. Total de lácteos 169.152.195 38.513.726 condensado, bebidas lácteas e A explicação, segundo Fonte: Mapa/Agrostat janeiro 2018, adaptação DBO requeijão. “Temos demonstraMartins, está na lei da oferta do maior capacidade de come da procura, uma vez que a produção total de leite cresceu perto de aponta Martins. Mas ao início do ano, diz petição com produtos de valor agregado e 4,5%, como a entidade estima, atingindo que o setor mantinha conversas com o BN- o Japão entra com essa perspectiva, de mu35,14 bilhões de litros, enquanto o con- DES para acertos em linhas crédito visan- dança de estratégia e do perfil das exportasumo teria aumentado apenas 1,6% com do à construção de armazéns para ampliar ções, uma vez que com leite em pó não dá para resolver, de imediato, a questão da bai173 litros/habitante/ano em equivalente a estocagem pelos laticínios. Quando do fechamento desta edição, xa competitividade do País”, explica. leite, abaixo dos 175 litros de 2014/2013. Neste novo rumo, também salienta a As exportações do setor, que por hora são persistiam questões judiciais envolvendo a aquisição da totalidade da Itambé Alimen- venda de gorgonzola e queijos processapequenas, também não deslancharam. A maioria dos produtos teve queda nos tos pela francesa Lactalis, que poderá as- dos realizada para a Rússia e o crescimenvalores, mesmo aqueles básicos, como o sim se tornar líder na captação no País, su- to dos embarques desta categoria em 2017. Além deste país, compras foram igualmenleite UHT, que, se não foi cortado da mesa, perando a suíça Nestlé. te feitas principalmente por Taiwan, Chile acabou substituído por marcas de menor valor. Uma análise que também se faz é Exportação – O diretor da Viva Lácteos e Argentina, totalizando US$ 18,1 milhões, que, se em 2016 o consumidor aceitou pa- comenta que é papel dos lacticínios buscar com crescimento de 37% e dobrando sua gar preços mais elevados por leite e deriva- maior competitividade e sempre apresen- participação na receita total para 16%. Os queijos figuram entre alguns dos dos, em 2017 isso não ocorreu, obrigando a produtos que aumentaram suas vendas, indústria a fazer muitas promoções, vendo Saldo da balança comercial de lácteos pois a maior parte dos laticínios sentiu resua margem de lucro encolher. (em US$ 1.000) cuo no ano passado, com a receita encoLevantamento realizado no atacado lhendo 33% sobre o ano anterior e atinpelo Centro de Estudos Avançados em gindo US$ 112 milhões. As importações Economia Aplicada (Cepea/Esalq-USP), também recuaram, mas menos, 14%, chede Piracicaba, SP, que abrange cinco Esgando a R$ 561 milhões, com o saldo cotados (GO, MG, PR, RS e SP), mostra que mercial ficando negativo em US$ 449 mina média o leite cru comercializado entre lhões, pouco abaixo de 2016. Quanto ao as empresas recuou 12,4% de janeiro até leite em pó, que tanto se falou no ano pasnovembro em termos nominais. Já o UHT sado, as compras externas caíram em 36% caiu 7,1%, e os queijos prato e muçarela, e ficaram em 103.000 toneladas. 4,8%. A manteiga, porém, teve alta expresPara 2018, Martins, da Viva Lácteos, siva no período, de 10%, justificada pela não acredita em nenhum surto de imporoferta restrita de gordura no mercado intação, como a que ocorreu em 2016 por falterno e externo. ta de produto, e diz que o setor continuará “A capacidade de estocagem do varejo a atuar na ampliação dos mercados já exisé quase o dobro da capacidade da indústentes e na abertura de novos, como os da tria e ele está mais próximo do consumiFonte: Mapa/Agrostat 2018, adaptação DBO. China e do México. n dor, com melhor condição de negociação”,

96 Anuário DBO 2018




Leilões Por Carolina Rodrigues

Balanço

Incertezas alteraram rotina das pistas Crises do primeiro semestre fizeram vendedores “colocarem o pé no freio” e mercado se retraiu

U

m ano de tensões. Assim foi 2017 para grande parte dos envolvidos no mercado de leilões, setor que pela primeira em oito anos deixou a marca de R$ 1,1 bilhão e faturou R$ 1 bilhão na venda de bovinos de carne e leite, equinos, caprinos e ovinos. O segmento foi afetado por episódios que causaram impactos negativos no mercado da carne e, consequentemente, no mercado de genética voltada para melhorar o rendimento frigorífico, a precocidade de terminação e a qualidade do produto final. A comercialização ligada ao mercado de carne respondeu por 57% das vendas de 2017. Os 43% restantes, de bovinos de leite e de outras espécies, também foram contaminados pelo ambiente de crise e recuaram. Foi um ano de difícil entrega no abate, com preços da arroba instáveis (queda de 9% no acumulado do ano) e retração de 12% no preço do bezerro, categorias que influenciaram diretamente os ânimos na camada superior da cadeia produtiva: a dos touros e matrizes comerciais. As raças para a produção de carne somaram 679 leilões ante 749 promovidos em 2016, com recuo em todos os indicadores do mercado. A oferta encolheu 5%, mesmo percentual de queda na média de preços. O ano terminou com a venda de 67.289 animais por R$ 579,6 milhões, resultado bem aquém dos 71.089 lotes por R$ 646,9 milhões de 2016. O ano começou com a expectativa de recuperação mais forte da economia, que aos poucos foi ficando para trás, com a última previsão de crescimento do PIB ficando em apenas 0,7%. Com a deflagração da Operação Carne Fraca e o fechamento de importantes mercados importadores já em março, as consultorias apostavam no segundo semestre como a salvação da “lavoura”. Mas foi justamente neste período - a partir de maio de 2017 - que explodiram escândalos políticos envolvendo a JBS e o mercado não se recuperou como o esperado. Em julho, a arroba do boi gordo registrou o pior desempenho do ano, fechando média R$ 128,00. Com medo do futuro e da falta

99 Anuário DBO 2018

Raças bovinas de corte

679 leilões

Categorias Machos Fêmeas Prenhezes* Aspirações* Total

Lotes 37.678 26.518 2.992 101 67.289

Renda (R$) 346.582.620 202.787.720 27.966.260 2.213.120 579.549.720

Média 9.199 7.647 9.347 21.912 8.613

Fonte: Banco de dados DBO. *Garantia de um animal nascido.

Leilões de corte por mês Mês Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho Julho Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro Total

Leilões 4 4 22 40 54 60 99 93 105 132 50 16 679

Lotes 157 171 2.397 3.323 5.683 5.116 10.078 10.756 10.630 12.903 4.731 1.344 67.289

de investimentos no setor, os produtores deixaram de promover leilões. Assim, no primeiro semestre, o mercado encolheu 23% no comparativo com 2016, enquanto no segundo os números ficaram abaixo do necessário para uma possível retomada. De julho a dezembro foram comercializados 50.442 lotes, quantidade parelha aos 49.947 ofertados no mesmo período de 2016. Para Paulo Horto, dono da Programa Leilões, embora os resultados tenham sido insatisfatórios, o setor demonstrou firmeza nos momentos de crise. “Iniciamos a temporada dos grandes remates no olho do furacão e, ainda assim, obtivemos liquidez”. Sob outra ótica, Maurício Tonhá, da Estância Bahia Leilões, empresa com forte atuação no Mato Grosso, diz que amargou resultados até 20% menores nos remates de gado geral, mas garante que os problemas na base da cadeia produtiva tiveram pouco reflexo no segmento de touros e matrizes. “Criatórios consagra-

Renda (R$) 1.920.220 1.015.920 17.137.960 38.784.280 65.759.610 44.327.770 87.902.200 102.283.570 90.436.730 86.541.850 33.163.090 10.276.520 579.549.720

Média 12.231 5.941 7.150 11.671 11.571 8.665 8.722 9.509 8.508 6.707 7.010 7.646 8.613

Fatura Total: R$ 579,5 milhões Janeiro a junho

184 leilões, 16.847 lotes, renda de R$ 168,9 milhões Julho a dezembro

495 leilões, 50.442 lotes, renda de R$ 410,6 milhões Fatura 2016: R$ 646,9 milhões dos conseguiram se posicionar melhor e até registraram crescimento. A crise atrapalha, mas também seleciona. Foi o ano de se separar o joio do trigo”. Nas próximas páginas está o balanço das oito principais raças vendidas voltadas para a produção de carne em 2017, além da análise geral das raças de menor atuação no ano. O balanço dos mercados de leite, equinos, caprinos e ovinos será publicado na Revista DBO de fevereiro, edição de número 448. Confira! n


Leilões Por Carolina Rodrigues

Mercado da Carne

Recuo generalizado no faturamento Zebuínas, taurinas e compostas têm receita menor do que em 2016; na oferta, só as compostas cresceram.

O

ano de 2017 foi marcado por um recuo generalizado no mercado de leilões, ainda que a graduação dessa queda tenha sido pequena, em termos de faturamento, e tenha havido um aumento de oferta no segmento das raças compostas. No grupo das raças zebuínas – Nelore, Tabapuã, Brahman e Guzerá – , responsáveis por 70% de tudo que passou pelas pistas, os R$ 443,1 milhões arrecadados com a venda de 46.831 lotes foram 11% inferiores aos R$ 500 milhões movimentados em 2016. A oferta foi 8% menor e a média de preços por cabeça, de R$ 9.462, 4% inferior. Embora continue com grande participação no cenário da comercialização, as zebuínas já ocuparam espaço bem maior nos tatersais: até 2010, respondiam por 85% das vendas nacionais, deixando uma fatia mínima para as congêneres taurinas e compostas, situação que mudou com o avanço do cruzamento industrial e o aumento da disputa entre as raças que prometem melhores resultados quando se parte para animais frutos de cruzamento entre três raças. É nessa seara, justamente, que as compostas têm registrado aumento crescente no número de animais vendidos. O conjunto formado pelas raças Braford, Senepol, Brangus, Canchim, Bonsmara, Montana e Santa Gertrudis computou 160 remates (sete a mais do que na temporada anterior), com oferta de 13.185 lotes, 4% superior aos 12.760 lotes de 2016. Foi o único grupo que vendeu mais animais, ainda que a receita também tenha caído (4,5%): R$ 93,1 milhões, ante R$ 97,7 milhões contabilizados no ano anterior. Nas taurinas, a depreciação foi maior, motivada, principalmente, pela forte pressão que o valor da arroba do boi em queda causou no mercado de reposição. Os R$ 43,3 milhões movimentados com a venda de 7.273 lotes representaram recuo de 10,3% em relação à fatura do ano anterior, de R$ 48,3 milhões, quando foram vendidos 7.561 lotes, queda de oferta de 3,8%. Com um calendário estável de 120140 remates no período, Angus, Brangus, Hereford, Braford e Senepol continuaram

100 Anuário DBO 2018

Leilões de raças Zebuínas 2017 Regiões Leilões Lotes C-OESTE 107 12.161 SUDESTE 105 8.609 NORTE 40 4.091 NORDESTE 26 2.677 SUL 13 567 VIRTUAIS 171 18.726 BRASIL 462 46.831

2016 Média Leilões Lotes 9.174 126 13.260 17.055 122 9.214 8.656 54 3.945 8.716 29 2.517 8.246 11 362 6.478 176 21.470 9.462 518 50.768

2015 Média Leilões Lotes 9.447 135 12.645 19.440 128 10.475 9.477 55 5.130 8.530 36 2.798 9.347 17 802 6.255 171 21.916 9.867 542 53.766

Média 10.816 20.262 7.983 9.830 15.032 6.480 10.630

Lotes incluem machos, fêmeas, prenhezes e aspirações de folículos ovarianos. Média Expressa em reais. Fonte: Banco de Dados DBO.

Leilões de raças Taurinas 2017 2016 2015 Regiões Leilões Lotes Média Leilões Lotes Média Leilões Lotes Média SUL 101 5.614 5.795 111 5.623 6.451 126 6.797 6.632 SUDESTE 7 268 11.951 7 276 10.235 6 473 12.735 C-OESTE 1 14 6.000 3 60 7.994 3 135 8.267 NORDESTE 0 0 0 1 12 4.400 0 0 0 NORTE 0 0 0 1 7 3.936 1 11 6.524 VIRTUAIS 19 1.377 5.471 22 1.583 5.476 10 842 4.956 BRASIL 128 7.273 5.961 145 7.561 6.391 146 8.258 6.837

Leilões de raças Compostas e Adaptadas 2017 Regiões Leilões Lotes SUL 77 5.688 C-OESTE 21 1.262 SUDESTE 16 1.018 NORTE 2 94 NORDESTE 1 32 VIRTUAIS 43 5.091 BRASIL 160 13.185

2016 2015 Média Leilões Lotes Média Leilões Lotes Média 5.822 68 5.584 5.763 71 6.518 6.187 10.394 16 771 16.042 13 457 16.444 17.489 19 893 24.377 19 635 30.967 13.718 0 0 0 0 0 0 28.750 0 0 0 1 31 39.000 5.268 50 5.512 5.695 31 3.229 8.753 7.058 153 12.760 7.657 135 10.870 8.921

RAIO X DAS VENDAS 2017 Fatura total: R$ 579,5 milhões

Fatura por grupo Zebuínas:

Janeiro a junho

R$ 443,1 milhões

184 leilões, 16.847 lotes, renda de R$ 168,9 milhões

Adaptadas e Compostas:

Julho a dezembro

R$ 93,1 milhões Taurinas:

495 leilões, 50.442 lotes, renda de R$ 410,6 milhões

R$ 43,3 milhões

Fatura total 2016: R$ 647,2 milhões

Raças consolidadas em determinados nichos – como Bonsmara, Canchim e Montana – viram seu mercado crescer e devem continuar se beneficiando da procura dos pecuaristas por reprodutores que melhor deem continuidade a seus projetos de cruzamento. n

como “carros-chefes” no ano passado, não deixando espaço para outras taurinas que ainda estão com vendas abaixo de 100 exemplares por ano.



Leilões Nelore

Por Carolina Rodrigues

A genética amorteceu o tombo Participação da raça no mercado diminui, mas demanda por touros freia recuo.

O

s criadores de Nelore promoveram Lotes vendidos em leilões 412 leilões em 2017 e viram o de2017 2016 2015 sempenho da raça recuar 6% em Regiões Leilões Lotes Média Leilões Lotes Média Leilões Lotes Média relação a 2016, com a venda de 43.700 C-OESTE 103 11.871 9.224 123 13.073 9.467 129 12.335 10.909 lotes de touros, matrizes, prenhezes e aspirações. A fatura foi 10,3% menor, de R$ SUDESTE 95 8.143 17.376 108 8.488 20.135 117 10.037 20.688 420,9 milhões, e a média geral ficou em NORTE 36 3.827 8.656 46 3.610 9.615 49 4.571 8.167 R$ 9.633, retração de 4,7%. NORDESTE 24 2.535 8.811 27 2.264 8.596 32 2.678 9.960 A oferta foi a mais restrita desde 2009, mas não foram poucos os depoiSUL 8 463 8.687 7 280 10.183 11 671 16.836 mentos dados à DBO em que se ouviu VIRTUAIS 146 16.861 6.552 143 18.703 6.296 142 19.046 6.601 a frase “rebanhos consolidados não tiveBRASIL 412 43.700 9.633 454 46.418 10.113 480 49.338 11.010 ram problema para vender”, em referênLotes incluem machos, fêmeas, prenhezes e aspirações de folículos ovarianos. Média Expressa em reais. Fonte: Banco de Dados DBO. cia aos eventos de genética tope, alguns até com preços mais altos nos piores momentos de 2017. A média mais baixa re- te, nos leilões. Eles são verdadeiros chaRAIO X DAS VENDAS 2017 flete o que se chama no mercado de “con- marizes para o trabalho de seleção que solidação” da raça no segmento de leilões se desenvolve nas fazendas, permitindo Fatura total: R$ 420,9 milhões de produção, que se espraiam por dife- que o produtor se estabeleça como forrentes praças do País e abocanham uma necedor de genética primeiramente na Janeiro a junho sua região para depois alçar voos maiofatia cada vez maior do mercado. 125 leilões, 10.979 lotes, renda de R$ 127,1 milhões Já os eventos de genética mediana so- res pelo País. Nesta onda, criatórios bem estabelefreram para manter as cotações, mas seJulho a dezembro guiram firmes, sustentados pelos novos cidos navegaram com calma pelas ins287 leilões, compradores, ávidos por saltos rápidos tabilidades de 2017. Na ExpoGenética, 32.721 lotes, renda de R$ 293,8 milhões para entrar com força no gigantesco mer- realizada em agosto, em Uberaba, MG, onde é vendida a cabeceira da safra de cado de tourinhos. Fatura total 2016: R$ 469,4 milhões Dos 43.700 lotes comercializados grandes produtores de touros, as méentre aspados e mochos, os machos re- dias gerais foram 3% maiores. “Registrar presentaram 27.702 lotes (63%), ven- crescimento num ano em que quedas de Garças. “Todos os animais tinham avaliadidos por R$ 258,7 milhões. Foram 104 10% seriam totalmente compreensíveis ção genética consistente, o que ajudou a exemplares a mais que em 2016, quan- é um grande avanço”, avalia Paulo Horto, manter as cotações em patamares atrativos, do 27.598 touros movimentaram R$ da Programa Leilões, empresa respon- impedindo que e baixa nos preços afetasse 263,5 milhões. O mesmo pode se dizer sável por 80% das promoções da mos- os negócios”, destaca Jairo Machado. Os animais da Vera Cruz são avatra mineira. Grifes das cotações, que como o Boi Com liados por três programas de melhoraficaram parelhas Cotações de genética média Bula, promovi- mento genético (ANCP, ABCZ e Qualià última tempodo pelas Fazen- tas), modelo adotado pela família para rada: acima de R$ foram sustentadas por novos das Mundo Novo, democratizar a oferta e ampliar o nú9.300, valor bem compradores, ávidos por entrar Beabisa, EAO, e mero de investidores. O grande destapróximo dos R$ no mercado de tourinhos. Nelore Jandaia, e que do remate foi a venda de 33% do re9.550 registrados Touros de Ube- produtor Artilheiro FVC por R$ 231.000 em 2016. raba, organizado para José Josias Neto. O animal de 22 Sem volta – O que explica a estabilida- pelo Rancho da Matinha, tiveram alta de meses é filho de REM Amador em matriz Lemgruber e é Top 0,1% no Nelode do mercado de touros Nelore é a de- até 25% na média de preços. O mesmo vale para leilões regulares, re Brasil, além de Top 0,5% no PMGZ. manda crescente por animais avaliados. Os compradores já absorveram o concei- eventos sem o apelo das grandes exposi- O leilão também emplacou a segunda to da genética como chave para saltos em ções. No Mato Grosso, grifes tradicionais maior média de touros do Mato Grosso produtividade, enquanto os vendedores registraram alta entre 4% e 19%, esta úl- – R$ 13.746 para 200 lotes –, atrás apetêm se empenhado para tirar o melhor tima alcançada no 9º Leilão Nelore Vera nas do leilão da Fazenda Magda (Pissiproduto de seus programas de melho- Cruz, realizado em julho pelos irmãos natti Empreendimentos, de Carlinda, ramento, ofertando-os, invariavelmen- Jairo e Eduardo Machado, em Barra do MT), com 53 touros a R$ 14.174 cada.

102 Anuário DBO 2018


Reprodutores vendidos 2017 Regiões Leilões Lotes C-OESTE 102 10.105 MS 58 4.041 MT 33 5.109 GO 11 955 SUDESTE 62 5.045 MG 35 1.941 SP 26 2.985 NORTE 35 3.284 PA 16 1.722 TO 7 852 RO 6 437 NORDESTE 24 1.910 BA 10 1.563 SUL 5 61 PR 5 61 VIRTUAIS 115 7.297 BRASIL 343 27.702

Fêmeas vendidas

2016 Média Leilões Lotes 9.726 113 10.892 10.120 64 4.305 9.231 34 5.366 10.702 15 1.221 11.519 76 5.319 14.516 40 1.856 9.736 33 3.283 9.378 44 3.255 9.135 26 1.918 9.416 9 937 9.811 5 257 9.322 25 1.545 9.435 12 1.189 7.340 7 96 7.340 7 96 7.305 102 6.491 9.341 367 27.598

RAIO X DAS VENDAS 2017 Fatura total: R$ 258,7 milhões Janeiro a junho

92 leilões, 4.424 lotes, renda de R$ 43,2 milhões Julho a dezembro

251 leilões, 23.278 lotes, renda de R$ 215,5 milhões Fatura total 2016: R$ 263,5 milhões Liderança mantida – Por mais um ano, Mato Grosso permaneceu como o maior vendedor de touros do País. Negociou 5.109 reprodutores em 33 leilões da raça Nelore, que movimentaram R$ 47,1 milhões, cerca de 20% do mercado anual. O vizinho Mato Grosso do Sul sustentou a segunda posição no ranking e entrou para a conta com 4.041 touros (14%), vendidos por R$ 40,8 milhões. São Paulo, que conta com o peso de criatórios tradicionais no noroeste do Estado e leilões que vendem mais de 300 touros assinados por grifes como Katayama, CFM e CV, encorpou a lista com mais 47 pregões que arrecadaram R$ 29 milhões por 2.985 reprodutores. Nos leilões virtuais, foram vendidos outros 7.297 lotes, porém, por valores mais baixos. Enquanto a média dos presenciais girou entre R$ 9.000 e R$ 10.000

Média 9.629 9.572 9.422 10.741 11.597 14.863 9.981 9.772 9.550 9.810 11.361 9.547 9.584 8.300 8.300 7.646 9.550

2017 Regiões Leilões Lotes SUDESTE 65 2.733 MG 31 1.286 SP 33 1.361 C-OESTE 31 1.626 MS 21 1.103 MT 6 406 GO 4 117 NORDESTE 18 615 BA 6 344 NORTE 10 543 PA 5 458 TO 2 35 RO 1 7 SUL 4 396 PR 4 396 VIRTUAIS 92 9.200 BRASIL 220 15.113

nas grandes praças de comércio, na televisão os tourinhos saíram a R$ 7.305, valor 27% abaixo da média anual. Nas outras 16 praças que negociaram touros, a representatividade foi inferior a 10% do mercado. E se os touros venderam a contento, as fêmeas deixaram novamente a desejar. A categoria sofre com uma estratificação muito grande de preços e diferentes níveis de oferta, o que dificulta enxergar os nichos de venda responsáveis pela alta ou recuo de cada ano. De maneira geral, elas pressionaram os resultados da raça em 2017. A oferta foi 12,5% menor, enquanto o faturamento, outros 29%. A renda ficou em R$ 136,9 milhões, ante R$ 177,5 milhões de 2016. Olhando para trás, os números caracterizam situação de queda livre no mercado de fêmeas, que registrou vendas de 20.338 lotes em 2013, 19.037 em 2014, 18.564 em 2015, 17.278 em 2016 e 15.113 em 2017. O último pico registrado pelo Banco de Dados DBO ocorreu em 2011, quando 25.000 matrizes foram à venda em leilões da raça. Para as leiloeiras, entretanto, esses são sinais de reacomodação. Na década passada, muitos investidores compraram fêmeas com o intuito de fazer plantel, mas não se sustentaram na atividade, pelas dificuldades que encontraram no momento de vender tourinhos. Carlos Guaritá, dono da Leiloboi, de Campo

2016 Média Leilões Lotes 22.745 82 2.826 28.024 45 1.680 18.809 33 1.054 6.776 46 1.999 7.361 27 946 5.621 8 512 5.270 11 541 7.042 21 527 6.898 10 338 4.289 15 318 4.004 5 40 4.791 3 129 4.500 2 55 8.383 3 176 8.383 3 176 5.845 92 11.432 9.061 259 17.278

Média 31.536 325.573 26.352 8.846 9.462 8.083 8.490 6.960 5.368 5.703 5.843 3.057 4.409 10.718 10.718 5.542 10.275

RAIO X DAS VENDAS 2017 Fatura Total: R$ 136,9 milhões Janeiro a junho

86 leilões, 6.352 lotes, renda de R$ 69,8 milhões Julho a dezembro

134 leilões, 8.761 lotes, renda de R$ 67,1 milhões Fatura total 2016: R$ 177,5 milhões Grande, MS, define a causa: “O mercado de touros é altamente seletivo e ser vendedor dessa categoria exige persistência, consistência e tradição”. Somando todas as praças, 2016 computou 22 liquidações de plantel, que despejaram no mercado 3.716 fêmeas, cenário que contribuiu para uma queda ainda maior no comparativo com 2017. Ao se expurgarem da conta esses eventos, o recuo de oferta cai para 4% e no faturamento 11%, diminuindo a discrepância entre as duas temporadas. De qualquer forma, a faixa de leilões de fêmeas com genética selecionada a preços mais acessíveis vem se alargando. Ela representou quase a totalidade dos 220 pregões promovidos em 2017, com predomínio quase absoluto de matrizes comerciais. n Anuário DBO 2018

103


Leilões Tabapuã

Por Carolina Rodrigues

Promoções pesam no bolso do criador Redução no número de remates, de 32 para 24, causou recuo de 30% na receita.

D

epois de sustentar um calendário Lotes vendidos em leilões em torno de 30 remates ao ano, 2017 2016 2015 os criadores de Tabapuã sentiRegiões Leilões Lotes Média Leilões Lotes Média Leilões Lotes Média ram no bolso o custo de investir na orNORTE 2 181 7.630 7 248 7.520 7 509 6.329 ganização de leilões. No ano passado, NORDESTE 2 106 5.590 1 71 5.268 1 55 7.571 houve recuo de 25% no número de remates - de 32 para 24 - que movimentaC-OESTE 5 99 7.435 2 50 9.719 2 54 9.502 ram R$ 9,7 milhões na comercialização SUL 2 76 5.407 3 73 6.061 4 107 5.440 de 1.457 animais, com queda de 30% na SUDESTE 1 29 28.719 3 61 21.330 5 134 11.109 oferta e no faturamento, que, em 2016, VIRTUAIS 12 966 6.043 16 1.603 6.191 10 784 5.886 foi de R$ 14,3 milhões. BRASIL 24 1.457 6.720 32 2.106 6.834 29 1.643 6.596 A Tabapuã seguiu como a segunLotes incluem machos, fêmeas, prenhezes e aspirações de folículos ovarianos. Média Expressa em reais. Fonte: Banco de Dados DBO. da raça zebuína mais vendida em leilões pelo País, posição favorecida pela Reprodutores vendidos Fêmeas vendidas estratégia adotada pelos criadores em estabelecer uma agenda que pri2017 2016 2017 2016 vilegiou as exposições em praças forRegiões Lotes Média Lotes Média Regiões Lotes Média Lotes Média tes em comercialização de animais de NORTE 181 7.630 248 7.520 C-OESTE 38 6.919 15 8.495 produção. No ano passado, foram oito NORDESTE 71 6.470 47 6.289 mostras espalhadas por Goiás, Mato NORDESTE 35 3.806 24 3.267 C-OESTE 57 7.506 31 11.024 Grosso do Sul, Maranhão, Pará e Minas SUL 29 3.085 27 3.780 Gerais, número que pode ser consideSUL 47 6.839 46 7.400 SUDESTE 19 29.245 55 21.671 rado um gol de placa para raças que SUDESTE 3 44.800 5 19.440 precisam alargar a base de seleção no VIRTUAIS 650 4.992 889 5.081 VIRTUAIS 316 8.206 711 7.574 País. Os criadores também demonstraBRASIL 771 5.559 1.010 5.958 BRASIL 675 7.877 1.088 7.652 ram interesse em abrir novos mercados em promoções isoladas. Em 2017, foram duas estreias, uma na Bahia (1º to às promoções virtuais, que responRAIO X DAS VENDAS 2017 Leilão Canaã) e outra no Paraná (Ta- deram por 84% das vendas de matrizes. Os remates de estúdio venderam 650 bapuã da Auxiliadora). Fatura total: R$ 9,7 milhões Para 2018, a expectativa é que vol- do total de 771 fêmeas negociadas no Janeiro a junho te a crescer na esteira da demanda por ano, mostrando que em épocas de crise 8 leilões, touros de raças zebuínas, cuja genética a adesão pelos virtuais é ainda maior. A 602 lotes, renda de R$ 4,3 milhões tem um público cativo. No ano passado, maior oferta (200 lotes) foi registrada Julho a dezembro foram vendidos apenas 675 touros a R$ no Leilão Virtual Versátil e Cabo Ver16 leilões, 7.877, número bem abaixo dos 1.088 de, grife de Bernardo Alexandre de An855 lotes, renda de R$ 5,4 milhões drade e Murilo reprodutores neJosé Coelho Vitor, gociados no ano Fatura total 2016: R$ 14,3 milhões com seleção resanterior. A maior Agenda da raça – a segunda pectivamente em oferta ocorreu zebuína mais vendida – Redenção e em durante a Expoprivilegiou exposições em Curionópolis, no projetos de pecuária do Pará. Não vou sição de Xinguadizer que é melhor que o Nelore, mas Pará. ra, PA, uma das praças fortes Nos últimos posso garantir que resulta no melhor mais importananos, os paraen- cruzado com ele”, afirma Murilo Coetes mostras do ses têm promovi- lho, que produz 500 touros puros por Norte do País, que também figurou como a praça de do leilões de touros e de matrizes, le- safra na Fazenda Santa Lúcia e se dedimaior venda de machos no ano. O 3º vantando a bandeira do cruzamento ca ao cruzamento industrial na FazenLeilão Top Tabapuã comercializou 131 Nelore/Tabapuã para a produção do da Serra Azul, essa em Marabá, de onde touros pela média de R$ 7.817, com re- Tabanel, produto cada vez mais fre- tira 4.000 bois gordos por ano, 80% dequente nos abates regionais. “O Ta- les exportados vivos e o restante diregistro máximo de R$ 11.700. n Já o mercado de fêmeas ficou restri- bapuã trouxe peso e precocidade aos cionado para frigoríficos locais.

104 Anuário DBO 2018



Leilões Por Alisson Freitas

Brahman

Derrapagem nas pistas Com menos de 1.000 lotes vendidos, Brahman tem sua menor oferta em 14 anos.

A

s pistas com leilões do zebuíno Brahman ficaram mais vazias em 2017, ganhando, em número de animais comercializados, apenas do Guzerá. Embora o calendário de eventos tenha permanecido robusto, com 24 leilões, a raça teve a sua pior oferta dos últimos 14 anos. Foram vendidos 950 animais, 24% a menos do que os 1.250 lotes negociados em 26 remates em 2016. A receita também teve recorde negativo. Os R$ 6,8 milhões arrecadados no ano passado representaram valor 23% menor do que os R$ 8,8 milhões de 2016. Foi também o faturamento mais baixo desde os R$ 2 milhões por 187 animais de 2002. Os machos foram a categoria com maior perda na oferta, saindo de 613 exemplares em 2016 para 417 do ano passado. No entanto, a oferta restrita de reprodutores no mercado fez com que a disputa por lotes fosse mais intensa, elevando os preços. A média da categoria em 2017 foi de R$ 9.567, a maior dos últimos 15 anos. Na comparação com o preço médio de R$ 8.378 do ano anterior, o crescimento foi de 14,2%. Para o ex-presidente da Associação dos Criadores de Brahman do Brasil (ACBB), Adalberto Cardoso, sucedido por Paulo Scatolin no início de 2018, esse movimento reflete a crescente utilização da raça no cruzamento industrial e o melhoramento genético do rebanho brasileiro. “A seleção está cada vez mais rigorosa e, consequentemente, o número de animais disponíveis diminuiu”, destacou. A maior venda de machos do ano ocorreu no Leilão Brahman do Teixeira, em Rio Branco, AC. Na ocasião, 60 reprodutores saíram ao preço médio de R$ 10.800. Já a maior valorização ocorreu no Mega Evento EAO, em Itagibá, BA, onde 36 exemplares foram negociados pela média de R$ 11.242. Ambos os eventos foram realizados no mesmo dia: 15 de julho. Nas fêmeas, tanto a oferta como o preço caíram. Foram negociados 533 exemplares, 13,8% a menos do que no ano anterior, que contou com 618

106 Anuário DBO 2018

Lotes vendidos em leilões Regiões

2017

2016

2015

Leilões Lotes

Média Leilões Lotes

Média Leilões Lotes

Média

SUDESTE

7

205

9.627

7

338

9.878

5

229

6.838

C-OESTE

4

78

8.491

5

86

7.044

5

181

6.417

NORTE

1

60

10.800

1

70

9.300

1

22

7.200

NORDESTE

1

36

11.242

3

157

9.404

1

6

6.000

SUL

3

28

8.656

1

9

10.000

2

24

7.362

VIRTUAIS

8

543

5.302

9

590

4.561

12

1.140

5.104

BRASIL

24

950

7.169

26

1.250

7.082

26

1.602

5.566

Lotes incluem machos, fêmeas, prenhezes e aspirações de folículos ovarianos. Média Expressa em reais. Fonte: Banco de Dados DBO.

Fêmeas vendidas

Reprodutores vendidos

2017 Regiões

2016

Lotes Média Lotes Média

SUDESTE

95

7.871

125 11.888

SUL

4

7.380

2

8.520

NORDESTE

0

0

20

7.896

C-OESTE

0

0

11

4.080

VIRTUAIS

434

4.709

460

3.829

BRASIL

533

5.292

618

5.611

exemplares. Diferentemente do que aconteceu com os machos, os preços cederam 5,7%, saindo de R$ 5.611 de 2016 para R$ 5.292. Os dois principais remates da categoria foram realizados em maio, durante a Expozebu. No dia 6, o Virtual Nacional Brahman Produção emplacou a maior oferta de fêmeas do ano ao negociar 128 matrizes à média de R$ 3.872 e ainda 21 touros por R$ 6.754, em média. Dois dias antes, o Elos do Brahman havia vendido 19 fêmeas a R$ 13.358, o maior preço do ano. De quebra, o pregão também foi palco da venda do reprodutor de pelagem vermelha MR Uber Tufão POI 951 por R$ 108.000 para a Alta Genetics e Brahman do Lago, maior negociação da raça no ano. Além dele, também foram vendidos outros dois machos. A média da categoria no remate foi de R$ 50.000. Os leilões virtuais seguem sendo o

Regiões SUDESTE C-OESTE NORTE NORDESTE SUL VIRTUAIS BRASIL

2017 Lotes Média 110 11.144 78 8.491 60 10.800 36 11.242 24 8.869 109 7.667 417 9.567

2016 Lotes Média 198 8.309 75 7.478 70 9.300 137 9.624 7 10.423 126 7.041 613 8.378

RAIO X DAS VENDAS Fatura total: R$ 6,8 milhões Fatura 2016: R$ 8,8 milhões Janeiro a junho

6 leilões, 317 lotes, renda de R$ 1,9 milhões Julho a dezembro

18 leilões, 633 lotes, renda de R$ 4,9 milhões grande motor de negócios do Brahman. A plataforma foi usada para a promoção de oito remates, que venderam 543 animais por R$ 2,8 milhões, representando 57% da oferta e 42,3% da receita total da raça em 2017. Nas vendas de recinto, Minas Gerais foi a praça mais aquecida. O Estado foi palco de três remates, que faturaram R$ 1 milhão com 72 animais. n



Leilões Guzerá

Por Carolina Rodrigues

Oferta enxuta reduz fatura em 32% Avessos ao risco, criadores optaram por vender animais diretamente nas fazendas.

A

ssim como as demais raças zebuLotes vendidos em leilões ínas comercializadas em 2017, a 2017 2016 2015 Guzerá fechou o ano com desemRegiões Leilões Lotes Média Leilões Lotes Média Leilões Lotes Média penho inferior ao registrado em 2016. Só SUDESTE 5 232 10.907 6 327 10.927 4 75 20.483 que num gradiente maior: a oferta encolheu 26% (724 lotes ante 983 de 2016), C-OESTE 2 113 5.919 4 51 8.074 3 75 7.181 puxando a receita para baixo em 32% NORDESTE 0 0 0 2 25 6.348 7 59 6.438 (R$ 5,5 milhões, ante R$ 8,1 milhões no NORTE 2 23 11.043 1 17 9.435 2 28 8.493 ano anterior), já que a média de preços SUL 0 0 0 0 0 0 0 0 0 também ficou menor (R$ 7.708 por aniVIRTUAIS 7 356 5.976 13 563 6.855 12 946 6.202 mal ante R$ 8.305 de 2016). Para AdriaBRASIL 16 724 7.708 26 983 8.305 28 1.183 7.235 no Varela, presidente da Associação BraLotes incluem machos, fêmeas, prenhezes e aspirações de folículos ovarianos. Média Expressa em reais. Fonte: Banco de Dados DBO. sileira dos Criadores de Guzerá (ABCG), os criadores “enxugaram” a oferta e opReprodutores vendidos Fêmeas vendidas taram por vender animais nas fazendas para fugir do risco de promoverem lei2017 2016 2017 2016 lões e ficarem com a pesada conta na Regiões Lotes Média Lotes Média Regiões Lotes Média Lotes Média mão. Segundo ele, duas situações se deSUDESTE 116 10.223 189 9.651 SUDESTE 116 11.591 135 12.637 senharam ao longo do ano: a primeira, C-OESTE 68 6.449 27 8.289 C-OESTE 45 5.118 24 7.831 um mercado de elite retraído; a segunNORDESTE 0 0 8 6.630 NORDESTE 0 0 17 6.215 da, um mercado de produção mais ativo, NORTE 7 7.757 1 8.000 NORTE 16 12.481 16 9.525 mas a preços mais baixos. VIRTUAIS 221 7.256 434 7.649 VIRTUAIS 135 3.882 129 4.187 Na categoria de tourinhos “comerBRASIL 412 7.967 659 8.237 BRASIL 312 7.367 321 8.386 ciais”, as vendas ficaram em R$ 3,2 milhões por 412 lotes, média de R$ 7.967 por animal, valor 4% menor em relação ro bem menor do que a média de 1.000 RAIO X DAS VENDAS 2017 a 2016. O mesmo se observou no merca- matrizes comercializadas entre 2000 e Fatura total: R$ 5,5 milhões do de fêmeas, cotadas a R$ 7.367, ante R$ 2010. O mercado de fêmeas patinou nos 8.386 na temporada anterior. Os preços leilões: as ofertas variaram de 20 a 40 loJaneiro a junho máximos vieram na mesma toada e fica- tes por evento, com registro máximo de 7 leilões, 264 lotes, renda de R$ 2,7 milhões ram abaixo de R$ 50.000 nos 16 remates 46 animais vendidos no 33º Guzerá Perorganizados, quando, em 2016, alguns feita União, evento que também registrou Julho a dezembro 75 leilões, animais chegaram a ultrapassar a marca a maior venda de touros do ano (74 ma460 lotes, renda de R$ 2,8 milhões de R$ 100.000, sinal de um mercado bem chos). A grife Guzerá IT, dos irmãos Tarcimais aquecido para a elite. Varela atribui sius e Vinicius Tonetto, negociou 120 lotes Fatura total 2016: R$ 8,1 milhões por quase R$ 1,1 mital cenário à fallhão, configurando a ta de perspecEmpresários, que maior oferta da raça cas ao preço médio de R$ 19.130. A protivas do grantagonista foi Galera S, ofertada em 50% para 2017. de investidor, costumam ser os compradores Segundo Vare- por R$ 48.000. O leilão é promovido que geralmente de animais de elite, la, rebanhos conso- pela Guzerá Marca S, que, além de 74 tem como foco a se retraíram em 2017. lidados consegui- anos de um rigoroso acompanhamento compra de maram boa colocação zootécnico, investe no melhoramento trizes selecionano mercado, pre- genético do plantel vendendo animais das e doadoras de plantéis. “Este público é tradicional- missa válida até para os eventos que co- muito bem ranqueados no PMGZ (Promente composto por empresários que, mercializaram produtos de elite. No 23º grama de Melhoramento Genético de em épocas de recessão econômica ou de Leilão Guzerá Curvelo, por exemplo, de Zebuínos), da ABCZ. Os machos, 22,5 qualquer problema na atividade, voltam onde saem categorias mais valorizadas lotes, alcançaram média R$ 12.856. Na os olhos para o seu próprio negócio e dei- (doadoras e embriões), o desempenho troca por boi gordo o valor ficou equificou acima da média. Entre cotas de valente a 96,6 @ para pagamento à visxam a pecuária para segundo plano.” Nas duas últimas temporadas foram participação e animais inteiros foram ta em Belo Horizonte (R$ 130/@), uma n vendidas cerca de 300 fêmeas, um núme- vendidas 23,5 bezerras, novilhas e va- ótima relação.

108 Anuário DBO 2018



Leilões Angus

Por Alisson Freitas

Maior recuo em cinco anos Insegurança inibiu disposição de investir dos pecuaristas e faturamento encolheu 10,7% em 2017

A

s incertezas da economia e as criLotes vendidos em leilões ses do setor contribuíram para o 2017 2016 2015 cenário de baixa nas vendas de Angus em 2017. Com uma oferta de Regiões Leilões Lotes Média Leilões Lotes Média Leilões Lotes Média 5.249 lotes de machos, fêmeas, embriSUL 65 3.871 5.252 75 4.199 6.065 80 4.820 6.155 ões e prenhezes – praticamente a mesSUDESTE 4 172 12.812 3 95 14.540 4 363 13.420 ma de 2016 (recuo de apenas 1,2%) -, C-OESTE 0 0 0 1 40 8.273 2 125 8.488 o faturamento foi o mais baixo dos últimos cinco anos: R$ 29 milhões, 10,7% NORDESTE 0 0 0 1 12 4.400 0 0 0 inferior aos R$ 32,5 milhões de 2016. VIRTUAIS 12 1.144 5.693 10 903 5.900 4 437 4.404 Mesmo assim, a raça deteve a terceira BRASIL 81 5.187 5.600 90 5.249 6.203 90 5.745 6.532 maior receita entre as raças bovinas de Lotes incluem machos, fêmeas, prenhezes e aspirações de folículos ovarianos. Média Expressa em reais. Fonte: Banco de Dados DBO. corte, perdendo apenas para a Nelore e para a Senepol. De acordo com o presidente da AssoReprodutores vendidos Fêmeas vendidas ciação Brasileira de Angus, José Roberto 2017 2016 2017 2016 Pires Weber, a queda já era esperada, reRegiões Lotes Média Lotes Média Regiões Lotes Média Lotes Média fletindo as oscilações do setor em 2017. “A economia patinou e também tivemos SUL 1.682 8.119 2.079 8.874 SUL 2.189 3.050 2.118 3.309 as crises que abalaram o mercado pecuSUDESTE 70 15.987 46 14.584 SUDESTE 82 12.935 49 14.498 ário, que deixaram os produtores com reC-OESTE 0 0 40 8.273 NORDESTE 0 0 12 4.400 ceio de investir. Com isso, os preços de todos os insumos caíram e o mercado de VIRTUAIS 546 7.048 394 7.866 VIRTUAIS 514 4.722 507 4.353 genética não ficou imune”, destacou. BRASIL 2.298 8.104 2.559 8.812 BRASIL 2.785 3.650 2.686 3.715 Na análise por categorias, as fêmeas puxaram a dianteira nas vendas com 2.785 animais, respondendo por 53,7% De quebra, o remate ainda teve a maior RAIO X DAS VENDAS 2017 do total de lotes vendidos ao longo do receita do Angus no ano, ao movimenFatura total: R$ 29 milhões ano. A maior oferta aconteceu no Leilão tar R$ 1,7 milhão. Principal polo de criação e negócios Santa Nélia, realizado no dia 20 de ouJaneiro a junho 6 leilões, tubro, durante a Expofeira de Jaguarão, da raça Angus, o Rio Grande do Sul re820 lotes, renda de R$ 4,2 milhões RS, no circuito de remates de primavera. gistrou vendas de 3.655 lotes por R$ 18,2 milhões em 2017, Na ocasião, foram Julho a dezembro 75 leilões, ante 3.848 lotes negociados 300 4.367 lotes, renda de R$ 24,8 milhões por R$ 22,3 miventres ao preFêmeas responderam lhões em 2016, ço médio de R$ por 53% da oferta; Fatura total 2016: R$ 32,5 milhões queda de 18,3% 1.329 e ainda 36 78% delas foram vendidas em receita. “Por touros a R$ 9.345. na Região Sul. ser uma grande de machos e fêmeas do ano ao negociar Já nos machos, a região produto- 37 reprodutores ao preço médio de R$ oferta caiu 10,2%, ra de grãos, o Rio 18.251 e 10 ventres a R$ 18.900. O remate saindo dos 2.559 exemplares em 2016 para os 2.298 do Grande do Sul esteve mais suscetível à de Valdomiro Poliselli Júnior foi palco da ano passado. O comércio da categoria pressão de baixa. Até conseguimos sus- maior negociação do ano: a compra de se concentrou entre os meses de setem- tentar a oferta, mas os preços foram bem 50% do reprodutor VPJ Trevor Upward por R$ 138.000 para a Angus LF9, do jobro outubro, durante o pico de vendas menores”, analisa ­Weber. Se no Rio Grande do Sul os preços ca- gador de futebol Luís Fabiano, um dos da temporada da primavera gaúcha. No entanto, a maior oferta aconteceu em íram, o mesmo não aconteceu em São novos investidores no comério de sêmen um remate fora desse período: realizado Paulo. Os dois leilões realizados no Esta- de touros da raça. Além disso, o evento em Porto Alegre, RS, no dia 7 de maio, o do venderam 113 lotes por R$ 1,2 milhão. foi o primeiro a vender embriões da reRevolution negociou 201 touros de pro- O grande destaque foi o Genética VPJ, cém-chegada variedade Ultrablack no dução a R$ 5.426 de média e também realizado em Jaguariúna, em 28 de ou- Brasil. Os 20 lotes ofertados saíram a R$ n 165 fêmeas ao preço médio de R$ 3.752. tubro, que registrou os maiores valores 1.200 de média.

110 Anuário DBO 2018


Realizadores

Promoção & Organização


Leilões Por Alisson Freitas

Braford

Oferta histórica e fatura preservada Com 4.761 lotes, raça bate o recorde de produtos vendidos.

F

ruto do cruzamento do Hereford com zebuínos, quase sempre o Nelore, o Braford tem conquistado espaço nos leilões. O grande salto ocorreu em 2015, quando 4.716 lotes foram negociados por R$ 30,5 milhões. Mesmo com o recuo no ano seguinte, a raça se manteve entre as mais vendidas do País. Em 2017, ela volta a se destacar, com recorde de 4.761 exemplares comercializados, alta de 1,5% em relação aos 4.691 lotes de 2016, de acordo com o Banco de Dados da DBO. O número de remates também foi recorde: 67, seis a mais do que no ano anterior. O faturamento oscilou pouco: R$ 26,3 milhões, ante R$ 26,6 milhões de 2016. Os reprodutores seguem sendo o impulsionador de vendas da raça. Foram negociados 1.827 machos, 3,2% a mais do que no ano anterior. O comércio da categoria movimentou R$ 16,5 milhões, 63% do total arrecadado pelo Braford em 2017. No entanto, o preço médio recuou 3,9%, saindo de R$ 9.436 de 2016 para R$ 9.072. Se os machos contribuíram com a maior movimentação, as fêmeas lideraram em quantidade. Os 2.904 exemplares vendidos no ano passado alcançaram 61% da oferta total. O preço médio da categoria foi de R$ 3.321. Os resultados foram semelhantes aos 2.896 lotes a R$ 3.372 de 2016. Assim como em grande parte das raças taurinas e compostas, o comércio de Braford está concentrado no mês outubro, quando tradicionalmente ocorre o pico de vendas do circuito de remates de primavera no Rio Grande do Sul. Foi de lá

112 Anuário DBO 2018

Lotes vendidos em leilões 2017 Regiões Leilões Lotes SUL 57 3.598 C-OESTE 3 208 VIRTUAIS 7 955 BRASIL 67 4.761

2016 Nédia Leilões Lotes 5.871 48 3.731 6.126 4 214 4.128 9 746 5.533 61 4.691

2015 Média Leilões Lotes Média 5.648 51 4.508 6.224 8.493 3 150 12.225 4.996 2 58 11.838 5.674 56 4.716 6.484

Lotes incluem machos, fêmeas, prenhezes e aspirações de folículos ovarianos. Média Expressa em reais. Fonte: Banco de Dados DBO.

Reprodutores vendidos

Fêmeas vendidas

2017 2016 Regiões Lotes Média Lotes Média SUL 1.469 9.508 1.412 9.773 C-OESTE 107 8.833 169 9.501 VIRTUAIS 251 6.620 190 6.877 BRASIL 1.827 9.072 1.771 9.436

2017 2016 Regiões Lotes Média Lotes Média SUL 2.099 3.352 2.295 3.108 C-OESTE 101 3.257 45 4.706 VIRTUAIS 704 3.239 556 4.353 BRASIL 2.904 3.321 2.896 3.372

que saíram as maiores valorizações. Realizado em Camaquã, em 7 de outubro, o Remate Santa Tereza teve a maior média de touros, 30 animais ao preço médio de R$ 19.817. Já a maior média de fêmeas ocorreu no Remate da Estância Bela Vista, que comercializou 25 matrizes pela média de R$ 6.948, em Santana de Livramento, no dia 17 do mesmo mês. Além de outubro, maio tem se fixado como importante para o calendário da raça. Desde que o selecionador Pedro Monteiro Lopes promoveu o Megaleilão Pitangueira, em 2015, o mês costuma ser usado por criadores para vender animais de produção. Em maio de 2017, foram vendidos 598 lotes por R$ 2,3 milhões em três remates. No dia 7, em Porto Alegre, RS, o Revolution registrou a maior venda de machos do ano,

RAIO X DAS VENDAS 2017 Fatura total: R$ 26,3 milhões Janeiro a junho

7 leilões, 743 lotes, renda de R$ 2,9 milhões Julho a dezembro

60 leilões, 4.018 lotes, renda de R$ 23,4 milhões Fatura total 2016: R$ 26,6 milhões ao comercializar 112 animais de produção, a R$ 4.879 de média. Já o Onda Cara Branca, da Associação Brasileira de Hereford e Braford (ABHB), liderou o ranking de fêmeas, ao negociar 304 matrizes prenhes a R$ 2.939 de média no dia 16, durante a Exposição Nacional da raça, em Alegrete, RS. n



Leilões Por Alisson Freitas

Brangus

Reprodutores puxam alta Vendas de Brangus disparam em 2017 e raça alcança receita inédita

N

em mesmo as oscilações do setor em 2017 foram capaz de frear o ritmo acelerado de vendas de Brangus. A raça tem mantido crescimento constante desde 2009 e no ano passado conseguiu bater alguns recordes. A oferta de 3.146 lotes, foi 29% maior do que a de 2016, quando foram comercializados 2.434 exemplares. Desde 2008 a raça não vendia tantos animais em leilão. No faturamento, o desempenho foi ainda melhor. A receita de R$ 18,5 milhões foi a maior já registrada pelo Brangus no Brasil. Em comparação com os R$ 14,3 milhões arrecadados em 2016, o crescimento foi de 29%. A média geral se manteve estável na casa de R$ 5.900. O carro chefe das vendas segue sendo os reprodutores, que em 2017 tiveram alta de 38,4% de oferta. A quantidade de machos vendidos saiu de 1.000 exemplares de 2016 para 1.384 lotes no ano passado. Foi o maior número dos últimos 15 anos. Em compensação, o preço médio caiu 9%, saindo de R$ 9.575 de 2016 para R$ 8.710 no ano passado. Acompanhando o ritmo dos machos, a oferta de fêmeas também cresceu. Foram vendidos 1.762 ventres, 22,9% a mais do que os 1.434 do ano anterior. Mas, ao contrário dos touros os preços da categoria cresceram. A média de R$ 3.677 de 2017 é 9,8% maior do que a de R$ 3.349 do ano anterior.

114 Anuário DBO 2018

Lotes vendidos em leilões Regiões SUL SUDESTE C-OESTE NORTE VIRTUAIS BRASIL

2017 Leilões Lotes 26 2.022 3 198 2 68 1 24 10 834 42 3.146

Média 5.744 7.905 5.921 6.667 5.743 5.891

Leilões 24 3 2

2016 Lotes 1.762 112 55

Média Leilões 5.950 30 10.564 3 6.648 2

2015 Lotes 1.945 93 29

Média 6.122 12.005 8.508

7 36

505 2.434

4.644 5.907

64 2.131

9.376 6.509

1 36

Lotes incluem machos, fêmeas, prenhezes e aspirações de folículos ovarianos. Média Expressa em reais. Fonte: Banco de Dados DBO.

Reprodutores vendidos

Fêmeas vendidas

2017 2016 Regiões Lotes Média Lotes Média SUL 911 9.160 703 10.167 SUDESTE 127 9.941 89 11.806 C-OESTE 28 7.950 35 8.219 NORTE 24 6.667 VIRTUAIS 294 7.023 173 6.293 BRASIL 1.384 8.710 1.000 9.575

2017 2016 Regiões Lotes Média Lotes Média SUL 1.111 2.944 1.059 3.150 SUDESTE 71 4.263 23 5.760 C-OESTE 40 4.500 20 3.900 VIRTUAIS 540 5.046 332 3.786 BRASIL 1.762 3.677 1.434 3.349

Os maiores remates da raça foram dois velhos conhecidos do mercado. A maior oferta e receita aconteceram no Mega GAP, que tradicionalmente abre a temporada da primavera gaúcha. O remate aconteceu no dia 25 de setembro, em Uruguaiana, RS e comercializou 202 touros ao preço médio de R$ 10.732 e 154 fêmeas a R$ 3.638. No total, passaram pela pista 356 animais, o equivalente a 14,6% da quantidade total de lotes vendidos ao longo do ano. Já as maiores médias, tanto de machos como de fêmeas, foram registradas no Leilão Terra Boa, promovido por José Luiz Niemeyer dos Santos

RAIO X DAS VENDAS 2017 Fatura total: R$ 18,5 milhões Janeiro a junho

5 leilões, 653 lotes, renda de R$ 3,3 milhões Julho a dezembro

37 leilões, 2.493 lotes, renda de R$ 15,2 milhões Fatura total 2016: R$ 14,3 milhões no dia 2 de julho, em Guararapes, SP. Na oportunidade, 34 touros foram arrematados a R$ 14.700 e 11 fêmeas a R$ 9.600 de média Nacional da raça, em Alegrete, RS. n



Leilões Hereford

Por Alisson Freitas

Fêmeas comandam retomada Oferta aumenta 32% e receita vai a R$ 14,4 milhões, 14% superior à de 2016.

S

e na maioria das raças bovinas as Lotes vendidos em leilões vendas em leilões recuaram na 2017 2016 2015 comparação com o ano anterior, no Hereford o movimento foi inverso. Regiões Leilões Lotes Média Leilões Lotes Média Leilões Lotes Média Após a forte queda em 2016, a raça enSUL 41 1.436 6.342 43 1.115 7.249 45 1.493 7.263 cerrou 2017 com crescimento expressiVIRTUAIS 2 73 3.652 3 26 4.073 0 0 0 vo em vendas. Foram realizados 43 remates, que neBRASIL 43 1.509 6.212 46 1.141 7.176 45 1.493 7.263 gociaram 1.509 animais, alta de 32,3% soLotes incluem machos, fêmeas, prenhezes e aspirações de folículos ovarianos. Média Expressa em reais. Fonte: Banco de Dados DBO. bre 2016, que registrou vendas de 1.141 entre machos, fêmeas, embriões e preReprodutores vendidos Fêmeas vendidas nhezes. De acordo com o Banco de Dados da DBO, foi a maior oferta da raça 2017 2016 2017 2016 desde os 1.833 registrados em 2014. A Regiões Lotes Média Lotes Média Regiões Lotes Média Lotes Média receita seguiu o mesmo ritmo, saindo de SUL 679 9.636 711 9.422 SUL 737 3.452 404 3.424 R$ 8,1 milhões de 2016 para os R$ 9,3 milhões do ano passado, alta de 14,9%. VIRTUAIS 14 3.857 10 5.040 VIRTUAIS 59 3.603 16 3.469 O desempenho surpreendente é BRASIL 693 9.519 721 9.361 BRASIL 796 3.464 420 3.425 justificado pelo aumento na venda de fêmeas: elas representaram 52% da oferta total de Hereford no ano, com a que os 721 de 2016. Com oferta menor, RAIO X DAS VENDAS 2017 venda de 796 exemplares, 89% a mais a média da categoria subiu, saindo de R$ do que as 420 do ano anterior. O preço 9.361 para R$ 9.519, alta de 1,7%. TamFatura total: R$ 9,3 milhões médio mostrou estabilidade, com ligei- bém foram vendidos 20 lotes de prenheJaneiro a junho zes e de embriões a R$ 1.000 de média. ra alta de 1,1%. 4 leilões, Para Fernando Lopa, diretor-executi109 lotes, renda de R$ 419.080 vo da Associação Brasileira de Hereford Vendas concentradas – As vendas de Julho a dezembro e Braford (ABHB), a demanda aquecida Hereford concentraram-se no mês de ou39 leilões, por fêmeas mostra que a genética adap- tubro, que respondeu por 76% dos lotes 1.400 lotes, renda de R$ 8,9 milhões tada da raça está entregando bons re- vendidos e por 73% do faturamento da sultados em diferentes projetos. O perfil raça no ano. O mês é marcado por ser o Fatura total 2016: R$ 8,1 milhões pico de negócios da oferta também da temporada de ajudou. Segundo remates da prima- O destaque foi o Leilão Mãe Rainha e ele, a maior parMovimento vera gaúcha, que, Meia Lua, realizado no dia 16 de setemte dessas fêmeas surpreendente recupera em 2017, abrigou bro, em Lages, que comercializou 16 refoi de matrizes de trajetória ascendente 28 promoções, produtores à média de R$ 17.100 e 16 três anos e meio e interrompida em 2016 movimentando fêmeas a R$ 17.900. Foram as maiores com prenhez conR$ 6,8 milhões em médias no ano. firmada. No Paraná, quatro leilões de Here1.147 lotes. Lopa estima Embora tenha havido mais vendas ford venderam 90 animais por R$ 578,4 que 70% desses animais serão usados em trabalhos de seleção, principalmen- do que no ano anterior, o mercado se- mil. O cenário de concentração pode mute para produção de reprodutores. “O gue restrito à região Sul do País, soHereford é uma das melhores opções bretudo no Rio Grande do Sul, Estado dar nos próximos anos. Fernando Lopa para uso em fêmeas F1”, assegura. As que, em 2017, promoveu 29 remates afirma que um dos principais objetivos demais 30% das femeas devem ser usa- (apenas um fora do mês de outubro), da ABHB é levar a raça para outros Estadas em cruzamentos com raças zebuí- onde foram comercializados 1.172 lo- dos. Segundo ele, já existem alguns tranas para produzir animais meio sangue tes (77% do total) por R$ 6,9 milhões balhos de seleção no Centro-Oeste e até mesmo no Nordeste do País. Com os re(73% do total). Braford O segundo maior mercado foi San- sultados de 2017, a expectativa é que a Se a oferta de fêmeas cresceu, a de machos seguiu no sentido oposto. Foram ta Catarina, com 174 lotes comercializa- oferta da raça continue crescendo nos n vendidos 693 machos, 4% a menos do dos por R$ 1,6 milhão em oito remates. próximos anos.

116 Anuário DBO 2018


Leilões Por Alisson Freitas

Senepol

Crescimento interrompido Com vendas em alta desde que chegou ao Brasil, raça teve seu primeiro ano de baixa.

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ais nova entre as raças compostas criadas no País, a Senepol registrou crescimento expressivo de vendas nos últimos 14 anos. O boom aconteceu em 2016, quando superou a raça Angus e assumiu a segunda posição no ranking de maiores receitas. No entanto, não conseguiu manter o ritmo em 2017. No ano passado, foram promovidos 48 remates que venderam 4.276 lotes entre machos, fêmeas, embriões, prenhezes e aspirações, queda de 15,2% ante o ano anterior, que registrou 5.041 animais vendidos. Em receita, a queda foi ainda mais expressiva. O faturamento de R$ 41,6 milhões foi 20% menor do que os R$ 51,9 milhões de 2016. Para o presidente da Associação Brasileira de Criadores de Bovinos Senepol (ABCB Senepol), Pedro Crosara, a queda se justifica pela instabilidade econômica do País e das crises que o setor passou em 2017. O cenário de baixa nos valores também está relacionado à mudança no perfil de grande parte dos animais comercializados nos leilões, sobretudo fêmeas. No ano passado, foram negociadas 1.034 matrizes à média de R$ 23.856 e movimentaram R$ 24,6 milhões. Em 2016, foram vendidas 1.262 fêmeas por R$ 34,6 milhões de 2016. “Em 2017, tivemos baixa significativa no número de doadoras provadas vendidas nos leilões. Em contrapartida, cresceu a oferta de matrizes de produção, o que justifica a queda de preços”, destaca Crosara. A venda de touros seguiu sentido oposto. Foram negociados 1.199 reprodutores em 2017, 46,3% a mais do que os 820 exemplares do ano anterior. O salto está atrelado ao crescente uso da raça no cruzamento industrial, principalmente em matrizes F1. Se a quantidade cresceu, os valores caíram. A média de R$ 10.520 de 2017 é 22,2% menor do que o valor de R$ 13.497 do ano anterior. Embora os animais tenham contribuído para a maior movimentação, o comércio de Senepol ainda está amplamente atrelado aos embriões. Os 2.029

Lotes vendidos em leilões 2017 Regiões Leilões Lotes SUDESTE 10 726 C-OESTE 12 726 NORTE 1 70 NORDESTE 1 32 VIRTUAIS 24 2.722 BRASIL 48 4.276

2016 2015 Média Leilões Lotes Média Leilões Lotes Média 21.539 11 564 33.370 11 393 44.008 13.079 8 373 24.481 5 187 25.217 16.136 0 0 0 0 0 0 28.750 0 0 0 1 31 39.000 5.299 33 4.104 5.852 26 2.992 8.683 9.730 52 5.041 10.310 43 3.603 13.655

Lotes incluem machos, fêmeas, prenhezes e aspirações de folículos ovarianos. Média Expressa em reais. Fonte: Banco de Dados DBO.

Reprodutores vendidos Regiões C-OESTE SUDESTE NORTE NORDESTE VIRTUAIS BRASIL

2017 Lotes Média 331 11.599 146 9.477 45 15.350 11 10.760 666 9.883 1.199 10.520

2016 Lotes Média 100 14.934 110 15.837 0 0 0 0 610 12.840 820 13.497

Fêmeas vendidas Regiões SUDESTE C-OESTE NORTE NORDESTE VIRTUAIS BRASIL

2017 Lotes Média 216 56.818 190 27.315 25 17.550 21 38.173 582 10.248 1.034 23.856

2016 Lotes Média 314 48.733 227 33.231 0 0 0 0 721 16.370 1.262 27.455

lotes vendidos em 2017 responderam por 47,5% da oferta total da raça.

RAIO X DAS VENDAS 2017 Fatura total: R$ 41,6 milhões

Praças – São Paulo segue como a principal praça de venda de Senepol. Foram realizados seis remates no Estado que movimentaram R$ 13,3 milhões com a venda de 625 lotes. A oferta foi conduzida por grifes consagradas como Soledade, de Ricardo Carneiro; Grama, de Júnior Fernandes; e 3G, da Família Garcia. Berço da raça no Brasil, Minas Gerais perdeu espaço no calendário, com a venda de apenas 101 lotes por R$ 2,2 milhões em quatro leilões. Em 2016, os cinco leilões realizados no Estado movimentaram R$ 7,6 milhões, com a venda de 220 lotes. Com o aumento da oferta de touros, a raça tem conseguido ampliar a presença em áreas fortes em cruzamento industrial. Em MT, por exemplo, no Leilão Genética MT, a oferta saltou de 97 lotes de machos e fêmeas em 2016 para 119 reprodutores no ano passado. O movimento se repetiu no MS, onde foram vendidos 480 animais em 2017 ante os 227 do ano anterior. Em 2017, a raça teve o seu primeiro leilão no Norte do País. A oferta foi con-

Janeiro a junho

22 leilões, 1.899 lotes, renda de R$ 19,3 milhões Julho a dezembro

26 leilões, 2.377 lotes, renda de R$ 22,3 milhões Fatura total 2016: R$ 51,9 milhões duzida pela Senepol Taquari, no dia 27 de julho, em Rio Branco, durante a maior exposição agropecuária do Acre. Na oportunidade, foram vendidos 45 reprodutores à média de R$ 15.350, sendo o maior preço médio da categoria no ano, de acordo com o Banco de Dados da DBO. O remate também comercializou 25 fêmeas a R$ 17.550, gerando a receita de R$ 1,1 milhão. Outra praça inédita foi Porto de Galinhas, PE, onde ocorreu o Território Senepol, que faz parte da mostra itinerante WV Genetic Festival, na segunda quinzena de janeiro. O pregão faturou R$ 920 mil, com a venda de 11 machos a R$ 10.760 de média e também 21 fêmeas a R$ 38.173. n Anuário DBO 2018

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Leilões Demais taurinas e compostas

Por Carolina Rodrigues

Poucos leilões, mas bons resultados Grupo formado por 12 raças acumulou receita de R$ 11,5 milhões em 41 remates

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oze raças bovinas para a produção Compostas e adaptadas que promoveram abaixo de 10 leilões em 2017 de carne ficaram abaixo da marca Raças Leilões Lotes Renda (R$) Média (R$) de 10 leilões ao longo de 2017, movi1 Bonsmara 5 459 2.783.550 6.064 mentando R$ 11,5 milhões em 41 remates. 2 Canchim 6 290 2.008.940 6.927 Apesar da pequena atuação no mercado – Montana 41 216 1.532.760 7.096 apenas 2% da fatia dos leilões –, algumas raças registraram resultados surpreendenSanta Gertrudis 2 37 261.000 7.054 tes na última temporada, entre as quais se Total 15 1.002 6.586.250 6.573 destacaram as compostas e sintéticas, cuja Critério de oferta. (-) Remates em que a raça dividiu pista com uma ou mais raças. Inclui machos, fêmeas e prenhezes. Cada lote corresponde a um animal nascido ou a nascer. Fonte: Banco de Dados DBO. estrutura sanguínea mistura genética taurina e zebuína. Juntas, elas responderam por Taurinas que promoveram abaixo de 10 leilões em 2017 62% da oferta do “subgrupo” de leilões, indicando aumento do interesse do mercado Raças Leilões Lotes Renda (R$) Média (R$) por este tipo de produto. 142 1.241.200 8.741 Devon 84 Nunca na história do Bonsmara ven137 1.222.080 8.920 Charolês 63 deu-se tão bem. Foi a primeira vez que os 129 808.600 6.268 Caracu 64 criadores da raça ultrapassaram a marca 3 71 767.760 10.814 Simental 4 de 400 lotes nas pistas, com faturamento de Marchigiana 1 32 107.360 3.355 R$ 2,7 milhões. Dois picos expressivos de 2 30 367.680 12.256 Limousin 2 vendas já haviam sido registrados anteriorWagyu 1 22 333.000 15.136 mente: um em 2002, quando 250 animais 1 arrecadaram R$ 1,3 milhão; outro em 2014, 14 84.000 6.000 Pardo-Suíço Corte 1 com 179 lotes ofertados por R$ 1,4 milhão. Total 26 577 4.931.680 8.547 O mérito pelos resultados deve ser creditaCritério de oferta. (-) Remates em que a raça dividiu pista com uma ou mais raças. Inclui machos, fêmeas e prenhezes. Cada lote corresponde a um animal nascido ou a nascer. Fonte: Banco de Dados DBO. do em grande parte aos criatórios paulistas, que se empenharam em promover leilões da raça a partir do segundo semestre de tourinhos ranqueados pelo seu teste de nas de menor expressão, a queda foi geral de 2017. Dois deles tiveram o comando do desempenho anual. Animais prontos para nas oito raças do grupo (veja quadro acicriador Fábio Jatene, da Fazenda Santa Jo- o serviço de monta a campo e avaliados ma). Diferentemente do universo das comana, de Presidente Venceslau, que ofertou, pela Prova Canchim de Avaliação de De- postas, que se espalham por diferentes praem dois momentos distintos de agosto, 120 sempenho (PCAD) foram oferecidos pela ças do País, as taurinas seguem restritas à machos Bonsmara, negociados pela média primeira vez ao mercado, resultando na região Sul do Brasil, especialmente ao Rio de R$ 9.264. Foi a maior oferta de touros do venda de 80 touros pela média de R$ 8.269. Grande do Sul, onde os produtores, preoano. Também estão no grupo a Fazenda O comércio de touros ultrapassou 250 cupados com a queda nas exportações e exemplares, núme- com a retração do mercado interno de carSanta Silvéria, de ro que não se via ne bovina no primeiro semestre do ano Piratininga, SP, da nas pistas do Can- passado, seguraram parte dos investimencriadora Clélia PaEm 2016, 11 raças tos em genética. Assim, as vendas caíram chim desde 2012. checo, e a Fazenda faturaram R$ 12,3 milhões A Montana fi- de R$ 7,5 milhões em 2016 para R$ 4,3 mida Mata, de Tatuí, na realização de cou com o tercei- lhões em 2017, retração de 34%. SP, do criador Fer50 remates. Em relação à oferta, o melhor desemro lugar entre as nando Luiz Altécompostas que penho foi registrado pelo Devon, raça que rio. Esta última foi mais cresceram nos últimos cinco anos colocou nas pisdestaque da raça na venda de fêmeas, com 241 matrizes ne- em vendas (de 168 para 216 lotes), en- tas 487, 613, 201, 340 e 142 lotes, respectigociadas pelo Canal do Boi, algo inusitado quanto a Santa Gertrudis viu seu mercado vamente. Em três leilões assinados pelas cair depois da alta de 135 lotes negocia- cabanhas Arapari, São Luiz e Fazenda Sopara a categoria. As 12 raças que compõem este mercado dos em 2016. Com o mercado abasteci- nho e Realidade, os touros saíram acima são fornecedoras quase exclusivas de touri- do, a situação voltou ao “habitual” (média de R$ 13.000, uma das maiores cotações nhos a campo, a preços acessíveis e ganha- de 40 lotes), com tendência de uma oferta de machos no ano. Criadores de Wagyu e Limousin também conseguiram bons preram espaço com esse trunfo, a exemplo do contida também em 2018. ços, com valores médios de R$ 15.240 e R$ que ocorreu com o Canchim, que voltou a n crescer no ano passado ancorado na venda Tombo generalizado – Entre as tauri- 13.140, respectivamente.

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