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Conta da intensificação: R$ 1 de adubo para R$ 7 de gado
Q
uatro safras depois do diagnóstico técnico e econômico, o processo de intensificação em curso na Fazenda Santos Reis, em Rio Maria, Sudeste do Pará, pode ser boa referência a quem busca tirar mais arrobas de seus pastos sem balançar o caixa. Com a rotação e adubação de 8% dos 7.400 hectares de pastagens, além de suplementação proteica-energética e um confinamento estratégico, a produção já passou de 6,61 @ por hectare/ano para 14,4 @/ha/ano só a pasto, número que sobe para quase 19 @ quando se inclui o confinamento estratégico. Visitada pelo repórter Renato Villela para a reportagem de capa, a fazenda de Roberto Paulinelli tem seguido à risca o roteiro de avançar aos poucos e com segurança nos investimentos, a partir do diagnóstico traçado pelo consultor Washington Mesquita, da Intensiva Consultoria e Planejamento Pecuário, de Goiânia, GO. Nem sempre valorizado pelos pecuaristas, Washington destaca que esse estudo é essencial para se detectar problemas previamente, evitar erros e medir resultados, além de definir a velocidade e o grau da intensificação com o proprietário. Nos primeiros dois anos-safra, a incorporação dos quase 600 hectares de pastos rotacionados e adubados, juntamente com a suplementação e o confinamento permitiram salto do lucro líquido por hectare de R$ 258 para R$ 688. Embora essa marca tenha caído no período 2016-17, a perspectiva é de forte recuperação na próxima temporada com o aumento da área intensificada para 17% da fazenda. Na projeção do consultor, a Santos Reis deverá terminar 9.850 cabeças a pasto e outras 7.500 em confinamento, número até superior ao rebanho médio de aproximadamente 17 mil animais. Sobre o custo da intensificação, Washington diz que geralmente o produtor pensa que caro é adubar, mas está enganado. “A despesa maior é com animais. Para cada R$ 1 gasto em adubação são dispendidos R$ 7 com a compra de gado”. Por isso, arremata, um dos pontos mais importantes num projeto de intensificação é o fluxo de caixa. Confira em detalhes o projeto, resultados e metas desta fazenda paraense na reportagem que começa à página 34.
osta Demétrio C
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4 DBO fevereiro 2018
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DBO Editores Associados Ltda. Diretores
Daniel Bilk Costa Demétrio Costa Odemar Costa Redação Diretor Responsável Demétrio Costa Editor Executivo Moacir de Souza José Editora Assistente Maristela Franco Repórteres Fernando Yassu, Marina Salles, Mônica Costa e Renato Villela Colaboradores Alcides Torres, Alisson Freitas, Ariosto Mesquita, Carolina Rodrigues, Denis Cardoso, Enrico Ortolani, Rogério Goulart e Tatiana Souto Arte Editor Edgar Pera Editoração Edson Alves, Célia Rosa e Raquel Serafim Coordenação Gráfica Walter Simões comercial/Marketing Gerente: Rosana Minante Supervisora de Vendas: Marlene Orlovas Executivos de Contas: Andrea Canal, José Geraldo S. Caetano, Maria Aparecida Oliveira, Mario Vanzo e Vanda Motta Circulação e Assinaturas Gerente: Margarete Basile Tiragem e circulação auditadas pelo
Impressão e Acabamento Log&Print Gráfica e Logística S.A.
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Arames Belgo: uma marca da Belgo Bekaert Arames
Sumário Prosa Quente 10 Para Samanta Pineda, é hora de colocar o CAR para funcionar.
Mercado 18 Coluna do Scot – Por que a
produção de carne será maior este ano
19
Com baixo consumo de carne, arroba patina no início do ano.
20
Coluna do Rogério – Apanhado geral aponta para um bom ano
21
Preço da reposição fica mais firme em janeiro.
Cadeia em Pauta 22 Refis do Funrural vem com
muitas dúvidas para os produtores
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Artigo de Fábio Lamonica alerta para as novas armas da União na cobrança de dívidas
28
Maturação a seco mobiliza pesquisadores brasileiros e dos EUA
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Genética do Adir vai para o Nordeste, pelas mãos do Masterboi.
Reprodução 44 Não há regra fixa para estação de monta de novilhas
Melhoramento 46 Pesquisa caminha para eficiência
34 Reportagem de capa
alimentar medida a pasto, com base na água
Intensificação sem complicação Fazenda Santos Reis, em Rio Maria, PA, enfrenta o desafio de começar a aplicar tecnologia para aumentar sua produtividade.
Nutrição 50 Pesquisa mostra boa vantagem no uso do resíduo de milho WDG
Gestão 54 Artigo de Moacyr Corsi
mostra por que sistemas intensivos não avançam com maior rapidez
Tecnologia 56 Pesquisa desenvolve bactérias promotoras de crescimento para aumentar teor proteico do capim
Saúde Animal 58 Coluna do Ortolani – A língua azul pode nos complicar?
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Tristeza parasitária bovina é desafio para pecuaristas gaúchos que fazem integração lavoura-pecuária
Fazenda em Foco 62 A receita da Beef Passion para uma carne tipo premium
Edição: Edgar Pera Arte final: Edson Alves Foto: Idelson Gomes (Bezerros de 10 meses mudam para piquete de mombaça, com lotação de 8 UA/ha, no Retiro Chácara Umary, em Rio Maria, PA)
Seleção 66 O Nelore indiano de 1962 preservado no trabalho de Arthêmio Olegário no MS
Leilões 70 Desequilíbrio entre oferta e procura prejudica segmento leiteiro em 2017
71
Mais um ano de queda para ovinos e caprinos; oferta foi a menor em 13 anos.
72
Mesmo com menos exemplares, equinos faturam R$ 13 milhões a mais.
Seções
8 Do Leitor 9 DBO on line 16 Giro Rápido
6 DBO fevereiro 2018
32 Cadeia em Pauta notas 48 Genética Notas 68 Raças Notas
74 Agenda de Eventos 76 Empresas e Produtos 82 Sabor da Carne
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Do leitor Controle de bernes em vacas gestantes Crio e recrio Nelore em Minas Gerais, em região montanhosa e fria, e com muita infestação de berne. Li a recomendação do professor Enrico Ortolani de que não se deve usar vermífugos, bernicidas e carrapaticidas à base de organofosforados em vacas no fim de gestação, por causa do risco de abortamento. Assim, como devo proceder para combater bernes e carrapatos nesses casos? A doramectina é um organofosforado? Um vendedor da Zoetis/Pfizer me disse que o Dectomax pode ser usado em vacas em gestação por não ser organofosforado. Informo, ainda, que tenho sucesso no controle da berne com o Ranger 3,5%. Rodrigo Otávio de Paula Belo Horizonte, Mg
O professor Enrico Ortolani responde: O problema é complexo, pois os organosfosforados e mesmo os piretroides podem causar aborto nessa situação. Nos machos e nas novilhas não prenhes podemos tranquilamente usar esses bernicidas, geralmente com bons resultados. Por questão de praticidade, tenho empregado esses medicamentos na forma “pour on”, no “fio do lombo”. Em vacas com berne no fim de gestação lanço mão, excepcionalmente, de medicamentos à base de doramectina, que ainda tem boa ação contra bernes. A resistência dos bernes a antiparasitários à base de ivermectina é muita alta, inclusive em sua região. Tanto a doramectina como a ivermectina são altamente ineficazes contra carrapatos, devido à resistência. A propósito, a ivermectina não é um organosfosforado. Não aplique
medicamentos por conta própria e consulte sempre seu veterinário.
Correções Faltou um hífen na expressão “bem feita”, usada no título do artigo do Cepea publicado à página 16 da edição de dezembro/2017. Quando tem sentido de adjetivo, como no caso do artigo, a expressão leva hífen. Quando funciona como advérbio, modificando um verbo ou o particípio, como, por exemplo, em “A escultura foi bem feita ”, não leva. O correto, portanto, seria “A lição bem-feita do Paraguai”. Na página 45, no fim da reportagem sobre fazendas vencedoras do Prêmio Famato em Campo, faltou citar que a ida de DBO a Cuiabá para acompanhar a premiação foi a convite da federação mato-grossense.
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8 DBO fevereiro 2018
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Para acesso aos destaques desta página, digite as primeiras palavras de cada chamada na busca do Portal DBO. Entrevistas
Entre os destaques do início do ano, o Portal DBO traz dois condensados de entrevistas da série Prosa Quente: Braquiárias e um caso de amor, com Cacilda Borges do Valle, pesquisadora da Embrapa Gado de Corte. Visibilidade para a carne brasileira, com Jogi Oshiai, especialista em comércio internacional, especialmente nas relações Brasil - União Europeia.
Dia a dia do boi gordo Acompanhe no Portal DBO as cotações diárias do boi gordo nas principais praças pecuárias por meio da análise de Sidnei Maschio, tirada do programa Terraviva DBO na TV.
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CRI e Alta Genetics iniciam fusão no Brasil. Acordo global fechado no final de 2017 cria maior organização de genética do mundo. Como previsto, as subsidiárias das empresas CRI e Alta Genetics no Brasil já iniciaram o processo de ‘due diligence’, com a reunião na manhã de 19 de janeiro na sede da Alta no Brasil, em Uberaba, entre o presidente da Alta, Heverardo Carvalho, e o diretor da CRI, Sérgio Saud. Em breve, será a vez de Heverardo visitar a sede da CRI no Brasil, em São Carlos, SP. Ambos os executivos reiteram que, apesar do acordo de fusão e cooperação, a ser concluído até o meio do ano, as empresas seguirão com operações independentes. Em 18 de dezembro de 2017 as empresas Koepon Holding BV (detentora da Alta Genetics, Valley Ag Software e SCCL) e Cooperative Resources International
Daniel Bilk Costa
DBOonline
Sergio Saud e Heverardo Carvalho em Uberaba
(CRI) - da qual fazem parte a Genex Cooperative, AgSource e Mofa Global -, anunciaram ao mercado seu processo de fusão. A nova empresa deve se tornar a maior organização genética do mundo, com sede em Wisconsin, nos EUA. O acordo é não-vinculativo e está sujeito a outras condições habituais, incluindo o atendimento a requisitos governamentais, entre outras aprovações. A estrutura de operações da CRI será mantida como uma cooperativa na entidade resultante da fusão.
DEZ notícias a um clique
1.
JBS aumenta capacidade de abate em MT. Frigorífico de Barra do Garças terá incremento de 50% na produção.
2. Famato orienta produtores sobre
PRA. Prazo de adesão ao Programa de Regularização Ambiental vai até 31 de maio de 2018.
3. Não jogue sua silagem de milho
genético da ABCZ, seguindo Bolívia e Nicarágua.
5. Aftosa: nova vacina é adiada para
2019. Previsão inicial era que dose com 2 ml começasse a ser aplicada no segundo semestre desse ano.
6. Carne bovina perde
úmido no lixo. Erros no ponto de colheita, na escolha do inoculante e na vedação do silo causam prejuízos nas fazendas.
competitividade. Com demanda enfraquecida, proteína tem perdido espaço para a de frango no mercado atacadista.
4. Panamá irá adotar PMGZ
7. Missão árabe visita frigoríficos
Internacional. País será o terceiro a receber programa de melhoramento
brasileiros. Comitiva dos Emirados Árabes e Arábia Saudita veio
inspecionar unidades que realizam abate halal.
8. Inoculação eleva proteína da braquiária.
Forrageiras apresentaram incremento de 15% na produção de biomassa e 25% no conteúdo total da proteína.
9. Mosca resistente aos piretróides. Produtos comerciais com esse princípio ativo têm demonstrado eficácia reduzida em surtos do inseto.
10. Projeto ‘Segunda sem Carne’ é vetado pelo
governador de SP. Proposta proibia o fornecimento de carnes e derivados em escolas estaduais, e restaurantes e refeitórios de órgãos públicos do Estado às segundas-feiras.
DBO fevereiro 2018 9
Prosa Quente
Mãos à obra!
Fotos: Edgar Pera
Para a advogada Samanta Pineda, o Brasil criou, com o Cadastro Ambiental Rural, uma excelente ferramenta de regularização fundiária. Agora, é preciso colocá-la para funcionar.
Q
uando começaram as primeiras discussões em torno da elaboração do novo Código Florestal, no ano de 2008, promulgado pela Lei 12.651, de 25 de maio de 2012, o nome da advogada Samanta Maria dos Santos Pineda começou a ficar em evidência. Especializada, quatro anos antes, em direito socioambiental pela Pontifícia Universidade Católica de Curitiba, sua cidade natal, Samanta teve participação ativa no processo, atuando junto à Frente Parlamentar da Agropecuária, que começou a assessorar, em 2006, por intermédio da Abag – Associação Brasileira do Agronegócio. Fortemente ligada ao meio rural – seus tios são produtores numa pequena propriedade em Clevelândia, sul do Paraná, onde, quando jovem, passava férias escolares e os ajudava na rotina da roça –, Samanta se incomodou com as críticas feitas por ambientalistas aos produtores rurais. “Por que acusam quem tanto trabalha?”, relembra. Para demonstrar que o produtor cuida do meio ambiente é que ela decidiu, em 2002, já advogada formada [em 2000, pela antiga Faculdade de Direito de Curitiba, hoje Centro Universitário Curitiba (Unicuritiba)], ministrar, de graça, palestras para sindicatos rurais no Estado. Dessa atuação, ficou conhecida dos deputados federais Moacir Micheletto, Max Rosenmann (ambos do PMDB) e Abelardo Lupion (DEM), todos do Pa-
10 DBO fevereiro 2018
raná. “Numa dessas palestras eu disse que estava tudo errado, que o direito ambiental estava deturpado e que ia matar o produtor, enfim, que a lei era ruim, que essa coisa de unidades de conservação não podia ser ato do poder público, e sim deliberação do Congresso Nacional. Aí, o Micheletto e o Max Rosenmann falaram que queriam que eu os assessorasse em Brasília”, lembra. Os maiores embates começaram a partir da publicação do decreto 6.514, de 22/7/2008, pelo então ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, estabelecendo a obrigatoriedade e o prazo de um ano para todos os produtores terem reserva legal. Além de assessora jurídica da FPA, Samanta, 44 anos, é sócia da Pineda & Krahn Sociedade de Advogados, com sede em Curitiba, PR, que ela abriu, inicialmente sozinha, no dia 11 de setembro de 2001, logo após ter-se formado em Direito. Hoje, o escritório conta com seis advogados, todos especialistas em meio ambiente. Desde 2016, ela atua numa filial em Ribeirão Preto, no norte de São Paulo, onde mora [é casada com o atual prefeito da cidade, Duarte Nogueira, vice-presidente do PSDB paulista]. “Advogamos as causas rurais e ambientais, no Brasil todo, e também prestamos consultoria jurídica aos Estados, na elaboração de legislações nessa área”, informa ela, citando como exemplo os Programas de Regularização Ambiental (PRAs) dos governos de Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, São Paulo e Paraná. O PRA, para ela, é justamente o passo seguinte que precisa ser dado, após esgotar-se o prazo final para inscrição no CAR – Cadastro Ambiental Rural, previsto para o dia 31 de maio próximo. Para falar sobre Código Florestal, CAR e PRAs é que ela visitou a sede de DBO e concedeu entrevista aos jornalistas Moacir José, editor executivo, e Marina Salles, repórter. Veja, a seguir, os principais pontos. Moacir – Qual o balanço que você faz do CAR, que, mais uma vez, foi prorrogado? Samanta – O que a gente pode presumir de uma forma
segura é que quem tem de fazer CAR já fez. Quem ainda não fez é porque não quer ou não pode fazer. Ou porque tem algum problema na área, não sabe quem é o dono ou porque tem muitos donos e tem conflito ou porque não tem acesso a um computador e um mapa para fazer seu cadastro. Então, não seriam necessárias mais prorrogações. Nem para os pequenos produtores;
não acho produtivo adiar mais. Até por uma questão de continuidade dessa política ambiental brasileira, que é pegar esse cadastro, separar o joio do trigo, quem desmatou antes, quem desmatou depois, quem tem passivo ambiental, quem não tem. E o CAR é uma ferramenta excelente pra isso.
imagens que foram utilizadas pelo CAR, assim como não o foi o mapa da propriedade que o produtor fez. Quando eu vou fazer um cadastro, a imagem é real.
Moacir – Quem não fizer o CAR vai fazer o quê depois? Samanta – Quem não fizer vai ter, de cara, dois proble-
Ele pode ser ativo, pendente ou cancelado. Quando o CAR é ativo? Quando você entrou lá, no sistema, cadastrou o seu perímetro e o seu perímetro bateu. Não precisa ser com georreferenciamento, que é uma exigência do Incra, não do CAR, e é diferente do georreferenciamento usual. Você pode colocar o mapa lá, que você mesmo mandou fazer. Se não der sobreposição nenhuma e suas áreas baterem certinho, seu CAR está ativo. Se não baterem as imagens ou der sobreposição de divisa, o CAR vai imediatamente para o status “pendente”, tanto o seu quanto o do vizinho. Aí, o órgão ambiental vai dizer: “deu sobreposição, apresente a sua declaração de confrontantes”. E aí os confrontantes vão ter de acertar onde é a divisa.
mas: multa e inacessibilidade a crédito. Quem precisar buscar crédito nas instituições financeiras não terá essa possibilidade. “Ah, mas eu tenho recurso próprio”. Ok. Mas todo mundo vai exigir o seu cadastro: o frigorífico que compra seu boi, a trading que compra sua soja para exportação, a cooperativa que compra o seu milho. Ninguém vai operar com você, se não tiver o CAR. Vai ser um documento obrigatório nas operações de compra e venda. Se você não fizer pela parte legal, cairá na parte ilegal do mercado. Moacir – E quem quiser fazer depois do prazo? Samanta – Vai ter que pedir, abrir um processo, porque
perdeu a chance de entrar num site e declarar. É como quando você perde o prazo da declaração de Imposto de Renda. Vai poder se regularizar, mas vai ter uma multa, dor de cabeça a mais do que se você tivesse feito no prazo. Marina – Quantas fazendas de pecuária têm passivo ambiental? Samanta – Não temos números específicos. Sabemos
que 30% do território brasileiro é ocupado com pecuária (23%) e agricultura (7%) e que 20% têm passivos que podem ser regularizados, ou seja, foram desmatados antes de 2008, de acordo com o Código Florestal Brasileiro.
Marina – Que benefícios o CAR pode trazer para o Brasil? Samanta – O CAR é uma ferramenta fantástica. Ela que
me diz o que fazer: se vai sobrar área, se vai faltar área, em que local está esse meu passivo, de que forma eu vou resolver. Do ponto de vista de monitoramento ambiental, para mim, é a melhor ferramenta que já inventaram. Com ele, fizemos em dois anos o que a Alemanha levou 400 anos para fazer: saber o que é área produtiva e o que é área preservada. Temos 63% de vegetação nativa no Brasil, 20% das quais estão em áreas privadas, cuidadas pelo produtor. Em número de hectares é uma coisa absurda; é maior do que países inteiros. Enfim, o CAR é um instrumento de regularização fundiária, que é o que a gente busca há tanto tempo. Isso explica algumas regiões terem área cadastrada maior do que a cadastrável [veja mapa no Anuário DBO].
Marina – Esse número maior não tem a ver com desatualização em relação ao Censo de 2006? Samanta – Não. Tem a ver, totalmente, com sobreposi-
ção de áreas. Porque o censo não serviu de base para as
Moacir – Como o produtor vai conseguir provar que a área é dele e não do vizinho ou de uma reserva indígena, etc.? Samanta – O CAR tem três estágios, três status, eu diria.
Moacir – E se for reserva indígena? Samanta – Aí, é o governo que tem que fornecer o
mapa. A Funai está fazendo o georreferenciamento de todas as reservas homologadas – não só as que estão em pretensão de – para que essas reservas tenham de fato a sua demarcação. E se uma reserva indígena invade a minha área, dependendo da situação, eu posso ter direito de contestação, de indenização, etc. Então, isso vai resolver muitos problemas fundiários, inclusive com reservas indígenas e unidades de conservação, áreas de quilombolas.
Moacir – Esse trabalho que você acabou de elogiar pode, efetivamente, perder sentido, se o Supremo Tribunal Federal der ganho de causa às ações de inconstitucionalidade impetradas e relativas a partes do Código Florestal? Samanta – Certamente. E eu vou chamar a atenção para
O CAR é uma ferramenta fantástica. Além de apontar se tenho passivo, ela me diz de que forma vou resolvê-lo.
uma coisa para a qual poucos estão atentos: o CAR veio para fazer a distinção entre a situação que havia antes de 22 de julho de 2008 e a que ficou depois dessa data, justamente a linha mestra sobre a qual se desenvolveu Código Florestal. Essa linha de corte significa dizer: quem desmatou antes dessa data vai poder ter faixas de APPs menores; vai poder fazer compensação de área de reserva legal fora da propriedade; vai ter um prazo maior de regularização... Ou seja, não é uma anistia – como dizem os ambientalistas –; é uma diferenciação de obrigações. Anistia é perdão. Quem desmatou não vai ter multa perdoada; vai ter a multa convertida em serviço ambiental, vai ter que ter reserva, vai ter que fazer programa de regularização. Agora, muita gente está preocupada com os artigos 59 e 60, que falam do PRA [Programa de Regularização Ambiental], e que ministro Luiz Fux [do STF, relator da ação] julgou inconstitucionais, mas pouca gente está ligada que o terceiro parágrafo dos
DBO fevereiro 2018 11
Prosa Quente artigos 7º e 17º – que ele também considerou inconstitucionais – tiram a divisão que a gente fazia entre o antes e o depois do dia 22/7/2008. Isso compromete o que a gente trouxe como conceito de área rural consolidada e aí acaba perdendo sentido todo esse cadastramento. Moacir – O ministro considerou que o artigo 60 é inconstitucional porque não se pode perdoar quem desmatou antes de julho de 2008. Mas você acabou de dizer que não se trata de perdoar e sim de pagar de outra forma. Isso não estaria contemplado nesse julgamento do STF? Samanta – É complexo. Porque as coisas se confun-
Sugiro que os produtores façam pressão para que seus Estados façam seus programas de regularização ambiental ”
dem. Quando ele julga inconstitucional, sim, está dizendo que quem cometeu uma infração tem que ter uma sanção, uma penalidade. E quem foi multado vai ter que pagar a multa. É difícil para o produtor isso. Vai dar um problema para quem foi multado? Vai. Apesar de que poucas pessoas foram multadas, efetivamente, por este desmate em APP e reserva legal. Então, ok, as multas serão aplicadas. Esta é a única consequência do julgamento dos artigos 59 e 60. Agora, o parágrafo terceiro do 7º e do 17º, implica não só que as multas não serão perdoadas como também que as áreas terão que voltar ao original. Ou seja, a APP não vai mais ser de 5 a 100 metros na sua reposição, mas sim de 30 a 500 metros. E as reservas legais não poderão mais ser diferenciadas para quem desmatou antes de 2008; terão de ser repostas. Moacir – Então, não há como negociar? Samanta – Se o entendimento do relator permanecer no
pleno [maioria dos 11 juízes do STF] é exatamente o que vai acontecer. [Quando esta edição seguiu para a gráfica, o julgamento das ações estava marcado para o dia 22 de fevereiro]
Marina – Aí, não teria mais aquele programa para conversão de multas… Samanta – A conversão de multas é para pagamento fora
de reserva legal e de APP. É onde poderia ter sido autorizado o desmatamento; mas como o produtor não pediu, ficou ilegal. Aí, sim, você pode converter. Mas vai ficar muito desproporcional. Porque você vai converter em área que não tenha sido multada. Onde foi multado, não haverá perdão; vão virar novas multas. Marina – Mas já está em vigor um programa de conversão... Samanta – Sim. Nesse mesmo decreto que a gen-
te cita como o divisor de águas, que é o 6.514, de 22/7/2008, estão disciplinadas as penas, tanto por infrações administrativas como por qualquer outra infração. O que aconteceu recentemente é que foi criado, pelo Ministério do Meio Ambiente, um programa de conversão de multas com modificações nesse decreto. Um delas, por exemplo, perdoa 60% da dívida, mas coloca 40% num programa que você tem que adotar. É uma espécie de PRA para áreas de desma-
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tamento fora de APP e de reserva legal. Esse programa continua valendo. Se você for multado hoje e quiser converter a sua multa, pode ir lá no órgão que te multou e dizer que quer aderir à conversão. Você vai ter um desconto e fazer alguma coisa de recuperação, adotar um programa – em São Paulo, por exemplo, tem o Programa Nascentes [7.700 ha em restauração e proteção de matas ciliares]. Moacir – Os Estados precisam do CAR para colocarem para funcionar o PRA? Samanta – Precisam. Se o CAR não for analisado pelo
órgão ambiental, como este vai propor um programa de regularização ao produtor? O Código Florestal deu regras gerais e poder aos Estados para regulamentar. Porque o Brasil é um continente, com biomas diferentes. Então, cada Estado tem sua peculiaridade e precisa tratar suas regularizações de acordo com isso. Alguns já fizeram a lição de casa: São Paulo fez uma lei de regularização ambiental; Mato Grosso tem o CAR próprio – havia migrado para o CAR federal, se arrependeu e voltou para o seu – e já tem um PRA em que o produtor pode aderir e mandar seu projeto online.
Moacir – Mas ainda não está valendo, não é? Samanta – Alguns Estados, como São Paulo, tentaram
colocar seus programas em vigência e sofreram ações de inconstitucionalidade pelo Ministério Público. Em São Paulo, a lei do PRA está suspensa. Cabe a questão: se nós temos um programa de regularização ambiental que diz que o produtor vai repor 20 metros de APP, em vez de 30 metros, será que não é melhor para o meio ambiente todos fazendo 20 metros, em vez de meia dúzia fazendo 30? O que tem acontecido, infelizmente, é que o Ministério Público tem funcionado como advogado de ONGs que não têm uma função definida. Muitas ONGs estão ajudando a fazer agricultura sustentável, sim; muitas merecem todo o nosso respeito, porque procuram caminhos. Agora, não podemos ser ingênuos: se, com todas essas restrições ambientais, trabalhistas, de logística, de tributo, ainda conseguimos ser o segundo maior exportador de alimentos do mundo, é óbvio que quem puder mandar para cá alguma ONG ambientalista para brecar nossa produção, vai mandar.
Moacir – E os Estados que ainda não fizeram a regularização? Samanta – Eu sugiro que os produtores façam pressão,
através associações, sindicatos, cooperativas, junto às Secretarias Estaduais de Agricultura e de Meio Ambiente, para que façam seus programas de regularização. E o PRA é simples. É só o Estado criar o método para se chegar aonde se tem que chegar: ter um prazo, definir tamanhos, se o ele vai fornecer mudas ou não, se o produtor vai apresentar um projeto num croqui ou por escrito… Porque, se não, o próprio produtor vai ser prejudicado.
Prosa Quente Marina – Quantos Estados estão nessa situação? Samanta – Faltam oito Estados, que, de certa forma, pe-
garam a legislação de um outro Estado e publicaram, mas ainda tá faltando alguma coisa. A maioria é de Estados pequenos, a maior parte do Nordeste. Mas há Estados grandes produtores que não têm, como Rondônia [região Norte], por exemplo, que publicou um decreto mas não diz o que tem que fazer. O que sugerimos é que as organizações dos produtores desses Estados vejam o que fizeram Paraná, São Paulo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, e façam as adequações necessárias. Marina – Um professor da USP, Gerd Sparovek, fez um levantamento e constatou que 60% dos produtores que desmataram antes de 2008 são grandes. E o que se argumenta é que a regularização seria mais importante para os pequenos... Samanta – A maioria dos pequenos hoje é fruto de divi-
Infelizmente, o Ministério Público tem funcionado como advogado de ONGs ambientalistas que não têm função definida”
são de terras, por herança, posse, usucapião, ou por algum tipo de assentamento. Os assentamentos são um problema à parte, porque têm grande área de passivo ambiental e não têm condição de fazer a sua reserva legal. Para eles, o PRA é muito importante, sem dúvida. Mas, se pensarmos em quantidade de propriedades que desmataram antes de 2008, as pequenas são em maior número do que as grandes. Pela lógica, quem precisa desmatar APP para viver, para dar escala? É o pequeno. Agora, se pensarmos em área, as das grandes propriedades são em maior número e, aí, ok, os grandes também serão favorecidos.
Marina – Avançamos alguma coisa em pagamentos por serviços ambientais? Samanta – Demos vários passos nessa direção. Primei-
ro, porque temos imagens de satélite comprovando que 66% de vegetação do País está preservada – segundo estudo do Evaristo Eduardo de Miranda, da Embrapa Territorial – , e que 20% disso está dentro das propriedades rurais. Segundo, que o artigo 41, parágrafo 4º do Código Florestal diz que as APPs e as áreas de reserva legal são elegíveis para pagamentos por serviço ambiental. Por que isso foi um avanço? Porque a gente não conseguiu entrar no Protocolo de Kyoto, que era um protocolo que dizia que quem fizer um pouco a mais do que a lei exige podia receber por esse serviço ambiental. Isso se chamava adicionalidade. Você adicionar alguma coisa do que a lei já te exige. Para os outros países isso era ótimo, porque a lei não exigia nada deles. Eles não têm APP nem reserva legal. O Canadá não tem, a Argentina não tem, enfim. O Brasil não conseguia fazer algo a mais porque já era pesado para o produtor fazer o que a lei exige, quanto mais uma coisa além. Quando se colocou na lei que APP e reservas são elegíveis para esses fins, você trouxe para dentro de um mercado verde a possibilidade de esse mato ter valor. O segundo ponto foi a possibilidade de compensação de reserva legal. Quando você soma APP e reserva e sobra uma mata, ela passa a ter valor econômico, na medida em que pode ser
14 DBO fevereiro 2018
negociada e servir de compensação para quem não tem. Só isso causou um salto de mais de 85% no valor das áreas florestadas do Brasil. O conceito agora é pagamento por serviços ecossistêmicos. Porque cuido da água ao proteger o entorno da nascente, da beira do rio; cuido da biodiversidade ao implantar um corredor ecológico onde haverá polinização, porque eu permito ter abelhas naquela região; tudo isso tudo agora está tendo valorização no mercado. Agora, o que precisamos é a regulamentação da CRA, a cédula rural ambiental, que vai funcionar como um título em Bolsa, que vai permitir que quem não tem reserva compre esse título de quem tem reserva sobrando. O decreto está pronto desde 2016, mas existe um certo boicote. Porque quem negocia títulos no Brasil é Comissão de Valores Mobiliários e o Ibama diz que tem de estar nisso, porque diz que é ele que vai atestar se existe o mato. E a CVM e o próprio mercado imobiliário dizem que tem de ser monitorado por satélite, em tempo real, para que o comprador possa saber se o mato dele está lá todo dia, se não pegou fogo.... Moacir – O PRA tem a ver com o CRA? Samanta – Não. Não preciso do PRA para fazer com-
pensação. O PRA é uma forma de regularização onde eu assumo compromisso; é facultativo. Se eu sei que tenho déficit de reserva legal e APP a completar, peço ao órgão competente um prazo maior ou peço cessão das multas. Ocorre o mesmo com a CRA: se eu quiser adquirir uma Cédula Rural Ambiental em Mato Grosso do Sul para compensar minha reserva legal em outro lugar, posso fazer isso no balcão do Imasul, que é o órgão ambiental de lá. Marina – Se eu vou fazer a compensação precisa ser no mesmo bioma? Tem alguma regra que restrinja isso? Fazer do outro lado do País? Samanta – O artigo que fala de compensação é o 66,
ele não foi questionado pelo relatório do ministro. E lá no 66 ele diz que a compensação tem alguns requisitos. Primeiro que, sim, ela deve estar no mesmo bioma, que pode abranger vários Estados. A Mata Atlântica, por exemplo, começa no norte do Rio Grande do Sul, com enclaves até na Amazônia e no sertão do Nordeste... O artigo fala que tem de ser em área equivalente. Se eu devo 20 hectares, tenho 20 hectares para compensar. Nada mais do que isso. No mesmo bioma, numa área onde a mata exista ou esteja em recuperação, de fato, o que estimula a recuperação de áreas, o que é muito bacana. O que não aconteceu ainda foi a aceitação pelos Estados dessa compensação fora dos Estados. Porque como você vai ter uma análise do CAR e uma aprovação do CAR pelo órgão estadual ele tem o poder de dizer não, não aceito no outro Estado. O decreto que regulamenta a lei diz que se for em outro Estado tem de ser em áreas prioritárias para conservação, num parque, por exemplo. n
Giro Rápido Exemplo brasileiro
O Brasil “bateu um bolão” na 10ª Conferência do Fórum Global para a Alimentação e Agricultura (GFFA), que foi realizada no mês de janeiro, em Berlim, Alemanha, país que, além preservar áreas de vegetação nativa (fato ressaltado pelo ministro Blairo Maggi), também tem excelentes projetos na área de bem-estar animal. Carmen Perez, presidente do Núcleo Feminino do Agronegócio participou do evento a convite da Fundação Getúlio Vargas, e apresentou o trabalho que vem conduzindo nessa área, em sua Fazenda Orvalho das Flores, em Araguaiana, MT, que foi capa de DBO, em dezembro. Ela informa que se reuniu por dois dias com integrantes da World Farmers Organisation, uma associação de jovens fazendeiros. “No final, fizemos um relatório com sugestões para os 180 ministros de Agricultura presentes à Conferência. Foi uma experiência incrível”, diz.
O Prêmio ABC 2017 vai para …. O Chefe-Geral da Embrapa Territorial, Evaristo de Miranda, foi uma das personalidades do agronegócio homenageadas com o Prêmio ABC, no final do ano passado. “Me sinto honrado. Como sabem, chefio a unidade territorial da Embrapa, que monitora a agricultura brasileira. Nenhuma categoria profissional preserva mais o meio ambiente e dedica mais recursos e tempo a isso do que os produtores rurais brasileiros”. Os demais homenageados foram o Secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, Arnaldo Jardim; o presidente da CNA, João Martins; o pecuarista Carlos Viacava; o empresário Carlos Eduardo Pasetti e o jornalista Donário Lopes de Almeida. 16 DBO fevereiro 2018
Medicina Veterinária da USP recebe selo de excelência A Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ-USP) recebeu, em 12 de dezembro, o Selo de Ouro de Qualidade para o seu curso de graduação. O selo é conferido pelo Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) e a premiação foi entregue ao diretor da FMVZ-USP, José Antônio Visintin, pelo presidente do conselho, Benedito Fortes de Arruda. Apenas três instituições no Brasil, entre mais de 300 faculdades de veterinária, possuem o selo: além da USP, também a Faculdades de Medicina Veterinária da Universidade Estadual Paulista (Unesp), câmpus de Botucatu e a Universidade Federal de Lavras (Ufla), em Minas Gerais. Conforme a FMVZ-USP, o selo terá va-
lidade de cinco anos e será divulgado no site do Conselho de Medicina Veterinária para nortear futuros candidatos ao curso de veterinária sobre as melhores instituições brasileiras do gênero, assim como servir de modelo para as demais faculdades brasileiras.
Nova diretoria da ABMRA toma posse A Associação Brasileira de Marketing Rural e Agronegócio (ABMRA), com sede em São Paulo, empossou em 31 de janeiro sua nova diretoria para o período 2018-2019. Jorge Espanha, diretor executivo da empresa de biotecnologia Oxitec, assumiu para seu segundo mandato, tendo como vice-presidente Ricardo Nicodemos da Silva, da agência RV Mondel. A presidência do Conselho Consultivo ficou com Geraldo Alonso. Espanha destacou como prioridades da nova gestão a realização, este ano, da 18ª Mostra de Comunicação e Marketing Rural
e Agronegócio, e, do 13º Congresso de Marketing Rural e Agronegócio. Também integram a nova diretoria Roberto Fernando Alves de Souza, Júlio César Cargnino, Maurício Mendes da Silva, Marcelo Batistela, Jacques Paciullo Neto, Daniel Baptistella, Elcio Inhe, José Petroski, Alberto Meneghetti, Guilherme Rocha Vianna e Santiago Larroux.
Morre Carlos Sperotto, presidente da Farsul. Morreu em Porto Alegre, aos 79 anos, no dia 23 de dezembro, Carlos Sperotto, presidente da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul, a Farsul. Sperotto foi presidente da entidade por mais de 15 anos e seu mandato, o sétimo consecutivo, se encerraria em janeiro. Natural de Palmeira das Missões, era médico veterinário formado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Por meio de nota, a Farsul lamentou a morte de Sperotto. “Incansável na defesa dos produtores rurais, Sperotto contribuiu para
fortalecer o agronegócio gaúcho e brasileiro ao longo da vida e, em especial, durante seu período como dirigente da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul, que presidiu desde 1997”, diz a nota.
Infopec
Começou o Acrimat em Ação Começou no dia 19 de fevereiro a oitava edição do Acrimat em Ação, programa itinerante da pecuária de corte mato-grossense, que leva informações técnicas para os produtores do Estado. O tema principal será “Do pasto ao prato”, que avalia toda a cadeia da carne bovina, desde a produção de bezerros, avançando na recria e engorda e por fim no abate e comercialização da carne. Com término previsto para o dia 14 de maio, o programa envolverá criadores e técnicos de dezenas de municípios. Mais informações: ascom@acrimat.org.br
Mais matrizes nos frigoríficos do MT
Ao que tudo indica, em 2018 um dos principais assuntos em questão na pecuária de corte será a continuidade do movimento de intensificação dos abate de fêmeas. No Mato Grosso, onde em torno de 30% da renda principal gerada nas propriedades é oriunda da cria, a participação de matrizes com mais de 36 meses (plenamente aptas a reproduzir) cresceu 3 pontos percentuais em 2017, na comparação com 2016, saltando de 58% para 61% (veja gráfico acima), segundo dados do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea). No entanto, o mesmo estudo mostra que houve, no MT, um crescimento de participação de animais
Dados do Ministério do Trabalho e Emprego, referentes ao ano de 2016, indicam diminuição no número de empregos formais em todos os setores da economia brasileira. Na agropecuária, único setor com elevação de postos de trabalho em 2015, a queda foi de 1,7%, totalizando 1.483.211 postos de trabalho formais. Diante da expectativa de melhora na economia, espera-se que o mercado de trabalho apresente crescimento neste ano. Como é a proteção no Brasil Vegetação preservada nos imóveis rurais
13,1%
20,5%
8,0%
Vegetação protegida, preservada e conservada 13,2%
13,8%
Vegetação nativa em terras devolutas e não cadastradas
Pastagens plantadas
18,9%
13,2%
Propriedades rurais 13,2%
Como é a proteção em outros países
Vegetação nativa em terras indígenas
Pastagens nativas
mais jovens (tanto machos quanto fêmeas) nos abates totais, em 2017. No caso dos machos, a participação de animais com menos de 24 meses foi a maior da história (16%). Fêmeas dessa igual perfil de idade registraram participação de 13% no ano passado, a segunda mais alta da história. “A redução na idade de animais abatidos é fruto de uma busca cada vez maior dos pecuaristas por maior produtividade e rotatividade. Abater animais mais jovens significa diminuir o tempo de permanência deles no pasto, reduzindo assim custos de oportunidades e gastos com pastagens”, ressalta Yago Travagini, analista do Imea.
Fonte: IUCN 2014
Queda dos empregos
Vegetação nativa em unidades de conservação
Infográficos que sintetizam informações importantes da pecuária
Lavouras e florestas plantadas
9,0%
Outros 3,5%
Cidades, infraestruturas e outros
3,5%
Com o Cadastro Ambiental Rural (CAR), o Brasil ganhou uma fonte de informação confiável a respeito do uso de suas terras, que em conjunto com imagens de satélite da Embrapa permitiu calcular novos dados. Evaristo de Miranda, chefe-geral da Embrapa Monitoramento por Satélite, de Campinas, SP, afirma que hoje é possível dizer, com propriedade, que o País tem 66,3% de áreas preservadas, protegidas e conservadas, que somam 563,736 milhões de ha, área maior do que a superfície dos 28 países da União Europeia. “Na
média, os 4,3 milhões de imóveis rurais do País têm 48% de sua área coberta por matas”, ressalta Miranda. Um cenário, dessa magnitude, não é se vê em nenhum outro lugar do mundo. Levantamento global feito pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), apontava, já em 2014, que o Brasil tem cerca de 30% de áreas protegidas, ou seja, unidades de conservação e terras indígenas. O número, muito próximo dos 26,9% calculados pela Embrapa, é adequado para comparar o País com outros países que não têm um dispositivo legal, como o Código Florestal brasileiro, que obrigue os produtores a manter áreas de preservação dentro de suas fazen-
das ou fazer compensações, o que ajuda a explicar a estimativa da área protegida ser representativa da vegetação remanescente. Na Austrália, por exemplo, cuja área é de 7,6 milhões de km2, a área protegida chega a 17,5% e não passa de 5,3% na Índia, país com 3,2 milhões de km2. À frente dos demais, o Brasil conta ainda com a prerrogativa de ter, sob as áreas protegidas, segundo a Embrapa, territórios com grande potencial para exploração agropecuária, o que não se aplica a alguns dos países listados no gráfico, com áreas inóspitas, como são o deserto australiano e o chinês, os Andes e a Sibéria.
DBO fevereiro 2018 17
Mercado sem Rodeios
Alcides Torres Jr. –
Scot
Por que a produção de carne será maior este ano
A
produção de carne bovina no Brasil deve crescer este ano, em razão de vários fatores. Entre eles, a perspectiva de aumento no abate de fêmeas por causa da queda da cotação dos bovinos para reposição e da maior oferta de bovinos terminados. Outro estímulo ao aumento de produção e produtividade – com maior uso de tecnologia por parte da cadeia pecuária – virá de uma demanda maior por carne bovina, tanto no mercado interno quanto externo. Conforme o Boletim Focus, divulgado pelo Banco Central em 2 de janeiro, a expectativa é de que o Produto Interno Bruto (PIB) cresça 2,7% em 2018, expansão garantida principalmente pelo aumento do consumo das famílias. Em relação às exportações, que cresceram 8,1% em 2017 ante 2016, a expectativa também é positiva para 2018, com provável aumento na quantidade da proteína vermelha embarcada à China e Arábia Saudita, na possível reabertura do mercado dos Estados Unidos e da abertura de mercados como Indonésia, Coreia do Sul e Filipinas. A projeção de produção de carne bovina para 2017 – os números ainda não foram confirmados
Engenheiro agrônomo e diretorproprietário da Scot Consultoria, de Bebedouro, SP.
Estimativa do consumo per capita de proteína animal no Brasil 2013
2014
Var.%
2015
Var.%
2016
Var.%
Ovos
168
182
8,3%
191
4,9%
190
-0,5%
Carne suína
14,5
14,7
1,4%
15,1
2,7%
14,4
-4,6%
Carne de frango
41,8
42,78
2,3%
43,25
1,1%
41,1
-5,0%
Carne bovina
44,87
42,30
-5,7%
37,70
-10,9%
36,40
-3,4%
Em kg/habitante/ano para carne bovina, carne de frango e carne suína e em unidade/habitante/ano para ovos. Fonte: Scot Consultoria / Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA)
Estimativa de produção de carne bovina no Brasil
Produção de carne**
2017*
2016*
2015*
2014*
2013*
9.318
9.109
9.310
10.343
10.760
*Estimativa Scot Consultoria **Em mil toneladas de equivalente-carcaça Fonte: Scot Consultoria
18 DBO fevereiro 2018
pelo governo federal – já apontava essa tendência de crescimento. No ano passado, o País deve ter produzido 9,318 milhões de toneladas equivalente carcaça (veja tabela), montante ainda longe do ano de 2013, quando se produziram 10,76 milhões de toneladas, porém maior do que o de 2016, que alcançou a marca de 9,109 milhões de toneladas. E, agora em 2018, com perspectiva de maior produção de carne bovina, o ciclo pecuário tenderá à baixa de preços no mercado de reposição. Resumidamente, em períodos de preços do boi gordo e reposição em queda, abate-se maior quantidade de fêmeas com o objetivo de gerar caixa, porque a cotação dos bezerros e bois magros não está atraente. Já no período de preços altos é menor a participação de fêmeas no abate de bovinos, pois a produção de bezerros está interessante. Por exemplo: Em 2014 os preços estavam mais altos ante 2013. Consequentemente, houve menor participação de fêmeas nos abates – o mesmo ocorreu em 2015 e 2016. Vale destacar que em 2015 tivemos os maiores preços das categorias de reposição considerando uma série histórica que se inicia em 1994. Esse cenário estimulou a retenção de fêmeas, cuja participação no abate de bovinos caiu 2,5 pontos percentuais. A contrabalançar a maior oferta de fêmeas nos frigoríficos – e, consequentemente, maior produção de carne – está a expectativa de aumento no consumo de carne, que pode contribuir para segurar um pouco mais os preços da proteína em 2018. Nos dois últimos anos, considerando a carne sem osso no mercado atacadista paulista e a média de todos os cortes pesquisados pela Scot Consultoria, temos que foram períodos marcados por queda nos preços – também em função da crise política e econômica, que resultou em menor demanda por carne bovina e substituição por proteínas de frango, suína e ovos. De 2013 a 2016, enquanto o consumo de carne de frango caiu 1,7%, o de carne bovina caiu expressivos 18,9%. Com a melhora das condições econômicas em 2018, espera-se que a população migre novamente para a carne bovina, aumentando a demanda, segurando os preços no atacado e, consequentemente, contrabalançando quedas expressivas da arroba e dos animais de reposição em função da maior demanda na ponta consumidora. n
Mercado
Arroba patina no início do ano Preço do boi abre 2018 com tendência de baixa, refletindo a fraca demanda interna pela carne bovina Denis Cardoso
D
epois de atingir, em 10 de janeiro, o seu maior valor nominal em um ano (R$ 148,70), o Indicador Esalq/BM&FBovespa do boi gordo (São Paulo, à vista) seguiu trajetória oposta no restante do mês e acabou fechando o período com estabilidade na comparação com dezembro do ano passado, a R$ 146, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq/USP). No início de fevereiro, o indicador manteve a tendência baixista, com queda de 1% logo no primeiro dia útil, atingindo R$ 144,40. O enfraquecimento no preço do boi gordo no início do ano refletiu a baixa demanda interna pela carne bovina e a escolha do consumidor pelo frango, proteína mais barata. “As indústrias frigoríficas seguem cautelosas nas compras, pois há sinais de acúmulo de estoques nos entrepostos, consequência da maior dificuldade no escoamento da produção de carne bovina para o consumidor final”, relatou a Informa Economics FNP, de São Paulo, em seu boletim do início de fevereiro. Segundo a consultoria, as margens opera-
Indicador Boi Gordo sobe no Estado de São Paulo Datas da liquidações dos contratos negociados na B3 - antiga BM&FBovespa Especificações Preço à vista
31/1/2018
28/12/2017
R$ 146
R$ 146
Fonte: Cepea/Esalq/USP/BM&FBovespa. Média dos últimos cinco dias úteis em São Paulo. O valor é usado para a liquidação dos contratos negociados a futuro na B3.
Bezerro recua 2,3% em janeiro no Mato Grosso do Sul Datas de levantamento do Cepea 31/1/2018 28/12/2017 R$ 1.144,33 R$ 1.171,41 200 196 R$ 5,72 R$ 5,97 R$ 171,60 R$ 179,10
Especificações Preço à vista por cabeça Peso médio/kg Preço por kg Preço por arroba Fonte: Cepea/Esalq/USP
Mercado futuro indica arroba do boi acima de R$ 151 em outubro Mês para a liquidação dos contratos na B3
Data dos pregões
jan
Fev
Mar
Abr
Mai
28/12/17 148,00 147,00 147,45 147,15 147,75 31/1/18 Fonte: B3
-
Jun -
Jul
Ago
150,50 150,60
Set -
Out
Nov
Dez
153,80 153,50 153,20
144,80 144,15 144,30 144,35 145,45 148,05 149,20 149,75 151,20 150,40 150,40
cionais dos frigoríficos “se deterioraram consideravelmente no decorrer do mês de janeiro”. O médico veterinário Hyberville Neto, da Scot Consultoria, de Bebedouro, SP, ressaltou que a demanda pela carne bovina não reagiu nem com a proximidade do carnaval, quando sazonalmente há melhora de consumo. “Isso ajuda a explicar a forte pressão de baixa por parte dos compradores no início de fevereiro”, disse. Para o Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea), a baixa procura pela carne bovina se “deve à descapitalização do consumidor, que no início do ano se depara com compromissos financeiros, como os impostos anuais, gastos referentes à educação e contas provenientes das comemorações de fim de ano”. Quedas acentuadas Em janeiro, a FNP identificou quedas mais consistentes do boi no Norte. “No Pará, apesar da restrição de oferta, as indústrias seguiram ofertando a preços abaixo da referência, e houve grande dificuldade em estender as escalas de abate para mais do que três dias úteis.” No Mato Grosso do Sul e em São Paulo, as negociações foram isoladas, e os pecuaristas resistiram em fechar as vendas de seus primeiros grandes lotes do início do período de safra, aproveitando a boa condição das pastagens para manter seus animais nas fazendas. Segundo dados da Scot Consultoria, em janeiro, com um quilo de boi casado era possível adquirir 2,97 quilos de carcaça de frango, queda de 5% na comparação com a relação de troca observada em dezembro. “Ou seja, a carne bovina perdeu competividade frente ao frango no último mês”, enfatiza a consultoria. Segundo a Scot, no atacado, a carne bovina com osso recuou mais de 10% em janeiro, na comparação com dezembro. No entanto, no geral, a queda no valor do frango foi ainda mais consistente no primeiro mês do ano, segundo dados do Cepea. O frango inteiro resfriado, negociado na Grande São Paulo, teve desvalorização de 11% no mês passado, em relação a dezembro, fechando a R$ 3,20/kg. O preço do frango congelado teve queda mensal de 10,4%, para R$ 3,28/kg. O valor médio da asa encerrou o primeiro mês do ano a R$ 5,91/kg, com expressiva baixa de 17,5% sobre dezembro. O coração de frango recuou 15,6% no período, para R$ 12,80/kg. O animal vivo, na média do Estado de São Paulo, fechou janeiro cotado a R$ 2,44/kg, com retração de 7,4% frente a dezembro. Valorização das fêmeas Dados do Imea mostram que houve um aumento da participação de fêmeas com menos de 24 meses de idade nos abates totais do Mato Grosso em 2017. Além disso, a cada ano que passa, o pecuarista tem recebido preços melhores pela venda da vaca gorda aos frigoríficos. Segundo o Imea, a diferença entre o preço da fêmea e do boi levados ao gancho foi de 4,8% em 2017, ante os percentuais de 5,1% e 5,4% registrados em 2016 e 2015, respectivamente. Em 2008, essa diferença chegou a 9,5%. n DBO fevereiro 2018 19
Fora da Porteira
Rogério Goulart
Vamos começar o ano com um apanhado geral
Administrador de empresas, pecuarista e editor do informativo semanal “Carta Pecuária”, de Dourados, MS.
C
omeçemos pela arroba do boi gordo. Após bater R$ 125, em julho do ano passado, em SP, ela tem apresentado movimento de recuperação. Lembremos. Em agosto ela superou a queda nos preços em consequência da delação da JBS. No fim de janeiro, quando eu escrevia este texto, estava tentando deixar para trás a queda anterior ocorrida em função da Operação Carne Fraca. Essa barreira psicológica está um osso duro de roer. Os preços teimam em ficar ali ao redor dos R$ 145 em SP. Qual a razão? Até parece que o mercado está segurando com todas as forças a arroba para não sinalizar altas acima disso. Vamos ficar de olho – se os preços vierem abaixo de R$ 140, é uma sinalização para o mercado que podem cair mais. Se subirem acima de R$ 150/@ é sinal de alta. Acompanhe o que acontece nos demais segmentos do mercado. Bezerro Esse mercado começa 2018 um pouco mais fraco, ou “cansado”, como diria um amigo meu. A bem da verdade, o bezerro está caindo desde 2015, caro leitor. É o efeito da retenção de matrizes ao vivo e em cores. No andar da coisa, ainda não emite sinais positivos e concretos de que vai querer virar para alta. Vamos ficar de olho nos próximos meses: bezerro acima de R$ 1.200 é sinal de mercado que quer subir. Se cair abaixo de R$ 1.000, é sinal de que quer buscar preços menores. Atacado Quando olhamos os preços de 2015 para cá, a sensação é de que esse mercado está bem mais firme do que o do boi e o do bezerro. Apesar de ter tido uma boa queda logo após a Operação Carne Fraca, de lá para cá firmou e está em alta. Nem se parece com o que está acontecendo com o boi e o bezerro. Isso no sentido de que os preços da carcaça pelo menos estão tentando beliscar os picos anteriores. Tentou em meados de dezembro. Infelizmente não conseguiu romper, mas é um mercado que está bem mais interessante de acompanhar. Vamos ficar de olho: se o quilo da carcaça cair abaixo de R$ 9,80, é sinal de mercado frouxo. Se passar de R$ 10,40, será um sinal muito positivo de alta. Milho O cenário mostra estabilização nos preços. Diria mais uma indefinição. Veja, a saca desse cereal subiu constantemente desde julho do ano passado, saindo de R$ 25 para valores ao redor de R$ 33. O mercado futuro não projeta o milho muito longe de R$ 31 a R$ 33.
20 DBO fevereiro 2018
Tirando a montanha-russa que foi a explosão de alta em 2015 e o mergulho de baixa de 2016, um preço ao redor de R$ 33 pode ser considerado bem alto e próximo de onde o milho bateu e voltou nos últimos anos. Vamos ficar de olho: para preços em SP, abaixo de R$ 32 poderíamos considerar um mercado que quer cair. Milho rompendo os preços para valores acima de R$ 34 poderemos interpretar como um mercado que quer subir. Ciclo pecuário Este é o quarto ano do atual ciclo pecuário, iniciado em 2014. No Brasil os ciclos têm durado, em média, sete anos. Se bem que estamos passando por uma fase de transição, caro leitor. As cartas estão meio embaralhadas aqui. Há uma zona cinza no ar. O argumento que tem ganhado força e considero plausível é que esse ciclo tenderá a ser mais curto que o habitual, devido ao impacto da depressão econômica sobre a economia. Isso interferiu no aumento ou na antecipação da oferta de fêmeas para o abate, coisa que iria acontecer só mais para frente. Apesar de concordar, vou dar o benefício da dúvida e esperar para ver o que vai acontecer na safra de bezerros que está começando agora. Economia Os indicadores que a gente acompanha (13 no total), por influírem na pecuária, fecharam 2017 de forma positiva e mantiveram essa tendência neste início de 2018. A gente já disse isso aqui em outra ocasião: a pecuária é uma coisa lenta, os fatos demoram a mudar. Na economia, que envolve muito mais coisas, esse ritmo é mais lento ainda. O importante é que a tendência virou. Exportações Estão bem melhores e com tendência de melhorar mais neste ano? É a expectativa. Mas aí o dólar entra na equação. E também a taxa de juros brasileira. Se ela continuar caindo, diminuirá a pressão de baixa sobre o dólar. Mas é um assunto que não domino muito. Fico no básico: se o dólar cair é ruim para a pecuária. Resumo Espero um ano melhor. Tem de ser melhor, não é? Bom, pelo menos até aqui as margens da engorda já estão melhores. Uma boa parte dos animais caríssimos comprados como reposição em 2015 já foram ou estão sendo abatidos nesta safra. Com isso, os estoques nas fazendas aos poucos estão ficando mais baratos e o produtor tenderá a ficar um pouco mais capitalizado em 2018. n
Mercado
Preço da reposição fica mais firme A relação de troca para o recriador e para o invernista piorou em janeiro, segundo levantamento da Scot Consultoria.
A
Denis Cardoso
pressão de baixa observada no preço do boi gordo em janeiro “contaminou” o mercado de reposição, que também teve queda no ritmo dos negócios no primeiro mês do ano. O Indicador Bezerro Esalq/BM&FBovespa (animal Nelore, de 8 a 12 meses, à vista) fechou o último mês cotado a R$ 1.144, com desvalorização de 2% em relação ao preço de dezembro, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq/USP). No entanto, de acordo com levantamento da Scot Consultoria, de Bebedouro, SP, os preços do bezerro desmamado (6@) e de outras categorias da reposição ficaram firmes no mês passado na maioria das praças de comercialização do País. “A boa situação de suporte das pastagens, devido ao período do ano, estimula a compra de animais e dá sustentação aos preços”, avalia a zootecnista Isabella Camargo, da Scot. No início do ano, a demanda por machos foi superior à procura por fêmeas e as categorias mais negociadas foram as mais eradas (garrote e boi magro), segundo Isabella. A Informa Economics FNP, de São Paulo, relata que, de modo geral, “os leilões voltaram a ocorrer em janeiro e a quantidade de negócios foi suficiente para manter os preços sustentados, com variações positivas consistentes localizadas em algumas regiões”. No Sudeste, o mercado esteve mais aquecido no mês passado, especialmente em São Paulo. “A ocorrência de grandes leilões com alta liquidez superou as expectativas do mercado, e os preços de praticamente todas as categorias tiveram ajustes positivos, principalmente os dos animais mais erados”, informa. Em contrapartida, o mercado do Norte seguiu mais lento em janeiro, principalmente no Pará e Tocantins, praças onde as fortes quedas no valor do boi desestimularam a busca por animais de reposição por parte dos pecuaris-
tas. No Mato Grosso, a FNP identificou um mercado de reposição mais aquecido, com a demanda voltada aos bezerros machos, cujos preços estão mais valorizados. Preços regionais Segundo pesquisa da Scot, que considera a variação média de preços de animais machos e fêmeas anelorados em 14 praças pecuárias do País, o mercado de reposição subiu quase 1% em janeiro em relação ao valor médio de dezembro. Em São Paulo, o preço médio do bezerro desmamado (6@) teve alta de 2% no mês passado, para R$ 1.185. Na mesma praça, o garrote (9,5@) e o boi magro (12@) tiveram aumento mensal de 1%, para R$ 1.580 e R$ 1.958, respectivamente. Já a novilha (8,5@) ficou estável, a R$ 1.177. Em Goiás, os preços médios da reposição ficaram estáveis em janeiro ante dezembro, com o bezerro desmamado a R$ 1.147, o garrote a R$ 1.560 e o boi magro a R$ 1.842, de acordo com a Scot Consultoria. A exceção ficou para o valor médio da novilha, que teve uma pequena alta mensal de 0,7%, para R$ 1.027. No Mato Grosso, o bezerro fechou o primeiro mês do ano com valor médio de R$ 1.015, aumento mensal de 1%. Os preços do garrote e do boi magro subiram 1,1 % e 1,7%, respectivamente, para R$ 1.435 e R$ 1.687. A novilha fechou o mês com alta de 1,2%, para R$ 1.047. No Mato Grosso do Sul, o bezerro terminou janeiro com valor médio de R$ 1.100, com pequena valorização de 0,7% sobre dezembro. O preço do garrote ficou praticamente estável, a R$ 1.530, e o boi magro subiu quase 1%, para R$ 1.792. O valor médio da novilha teve leve baixa de 0,5% no período, atingindo R$ 1.090. Na Bahia, a cotação do bezerro desmamado recuou 0,5% no mês passado, para R$ 1.052. O garrote teve alta mensal de 1,6%, para R$ 1.432. O preço do boi magro subiu 1,5% na praça baiana, atingindo R$ 1.732. O preço da novilha ficou estável no período, a R$ 1.170. No Tocantins, o bezerro desmamado se valorizou 1,7% em janeiro, na comparação com dezembro, fechando a R$ 1.072. O preço do garrote fechou o período a R$ 1.437, com baixa mensal de 0,7%. O do boi magro subiu 0,5%, para R$ 1.657, e a novilha teve forte valorização de 10%, para R$ 1.112. Com a queda no valor do boi e a firmeza nos preços da reposição firmes, a relação de troca para o recriador e invernista piorou em janeiro. Em São Paulo, eram necessárias 8 @ de boi gordo para a compra de uma cabeça de bezerro desmamado (6 @), alta de 1,4% em relação a dezembro. No mesmo intervalo, para a aquisição de um boi magro (12@), eram necessárias 13,4 @ de boi gordo, alta de 5,4% em relação ao mês anterior. n
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Valor médio do bezerro desmamado em São Paulo, em janeiro; valorização de 2% sobre dezembro.
Preço médio do garrote na praça de Goiás, no mês passado; estabilidade na comparação com dezembro.
Valor médio do boi magro no Mato Grosso, em janeiro; aumento de 1,7% em relação ao mês anterior.
R$ 1.185
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R$ 1.560
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R$ 1.687
R$ 1.090
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Cotação média da novilha na praça do Mato Grosso do Sul; alta de 0,5% em relação ao último mês do ano passado.
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Tributos
Refis do Funrural veio carregado de dúvidas
arte: edson alves
Vetos presidenciais à lei que estipulou o parcelamento do débito e definições pendentes no STF e Congresso aumentam insegurança do pecuarista
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TATIANA SOUTO
ma nuvem de incertezas paira sobre a cabeça dos pecuaristas desde que o governo Michel Temer sancionou o Refis do Funrural, no dia 9 de janeiro deste ano. A nova lei, de número 13.606/2018, publicada no dia seguinte no Diário Oficial da União e chamada de Programa de Regularização Tributária Rural (PRR), autoriza, entre outras medidas, o parcelamento de uma dívida referente ao Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural (Funrural), que é a contribuição para Previdência Social pelo empregador rural. As dúvidas começaram no ano passado, quando, em 30 de março, o Supremo Tribunal Federal (STF) considerou constitucional a cobrança deste tributo do empregador rural pessoa física, incidente sobre a receita bruta obtida com a venda da produção. A decisão da Corte contrariou o entendimento do Tribunal Federal da 4ª Região, que afirmara ser “indevido o recolhimento da contribuição para o Funrural sobre a receita bruta proveniente da comercialização da produção rural de empregadores, pessoas naturais”. A decisão do TRF-4 se valia do argumento de que lei anterior, de número 10.256, de 9/1/2001, antes considerada válida pelo STF, passou a ser inconstitucional porque não definiu as condições necessárias para a cobrança do Funrural. O TRF da 1ª Região também tinha entendimento pela inconstitucionalidade do Funrural. O STF, porém, modificando seu próprio entendimento anterior, considerou constitucional o recolhimento.
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Determinou, também, o fim dos cerca de 15 mil processos que correm na Justiça brasileira, em diversas instâncias, com pedidos de liminares, sentenças e acórdãos favoráveis ao não recolhimento do imposto. Após aquele 30 de março, iniciou-se um período de intensos debates sobre como seria o pagamento desse passivo, que, conforme declarações do ministro da Agricultura, Blairo Maggi, equivaleria a 25% da atual safra – Maggi, porém, não informou os cálculos que basearam este número, nem o valor, em reais, da dívida. Para a Scot Consultoria, de Bebedouro, SP, a volta da cobrança poderia onerar a pecuária entre R$ 14 bilhões e R$ 16 bilhões, se persistisse a alíquota de 2% incidente sobre a produção. 24 vetos Nas discussões no Congresso Nacional, capitaneadas pela Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), e entre várias entidades do setor, chegou-se ao Refis do Funrural. O texto aprovado pela Câmara e pelo Senado, porém, não foi acatado na íntegra pelo presidente Michel Temer, que lhe impôs 24 vetos. Entre os benefícios preservados no texto, está a redução da alíquota de cobrança de 2% para 1,2% para pessoas físicas e a redução no valor de entrada para começar a pagar o passivo, de 4% do total da dívida para 2,5%. Outra questão que favoreceu a cadeia produtiva foi a possibilidade de o setor agropecuário poder escolher, a partir de 2019, se recolhe o imposto apenas sobre a folha de pagamento ou sobre o valor bruto da comercialização. Uma das reivindicações essenciais do setor produtivo, porém, que serviria como importante estímulo à adesão ao Refis, foi vetada por Temer: a possibilidade de desconto integral das multas sobre a dívida. O presidente desconsiderou esse desconto, mas manteve o abatimento integral dos juros. Outra medida que reforça a insegurança do setor é o exíguo prazo para adesão ao Refis: 28 de fevereiro deste ano. Lembrando que as dívidas a serem inclusas no programa são as acumuladas até 30 de agosto de 2017, podendo ser parceladas em até 176 vezes, em pagamentos mensais. Só podem ser cobradas, também, multas de cinco anos para cá, já que, conforme orientação da própria Receita Federal, antes deste prazo o débito deixa de ser passível de cobrança judicial, a não ser que o devedor já tenha sido autuado pela própria Receita – evitando o que tecnicamente se chama de “decadência” da dívida.
O desestímulo à adesão ao Refis provocado pelos vetos presidenciais se une a uma série de indefinições. Uma delas é a “modulação” do julgamento do STF em relação à decisão que tomaram em 30 de março do ano passado. Ou seja, os ministros do Supremo ainda têm que definir a partir de quando a cobrança do Funrural vai valer e, portanto, se há dívida retroativa ou não. Outra expectativa do setor produtivo é a possibilidade de o Congresso Nacional (Câmara e Senado, em sessão conjunta) derrubar os vetos presidenciais – entretanto, ainda não há uma data definida para a reunião das duas Casas para definir a questão e, mesmo se houvesse, a derrubada do veto, que exige maioria de dois terços dos parlamentares, também é uma incógnita, informa o engenheiro agrônomo com especialização em direito e relações governamentais Gustavo Carneiro, do Instituto Pensar Agro (IPA), que assessora a Frente Parlamentar da Agropecuária. Com tantas condicionantes e o “banho de água fria” dado pelos vetos ao Refis, os pecuaristas e frigoríficos e demais adquirentes de produtos agrícolas seguem em dúvida sobre se aderem ou não ao parcelamento. Entre as fontes ouvidas por DBO, há porém um consenso: cada caso é um caso e o ideal é o pecuarista consultar seu advogado e contador de confiança para verificar, em primeiro lugar, se há de fato uma dívida. Em segundo lugar, levantar o valor do débito, se houver, para verificar se seria ou não vantajoso aderir ao Refis sob as condições atuais. O advogado Marcelo Guaritá, da Sociedade Rural Brasileira (SRB), confirma essa recomendação. “Que se faça avaliação caso a caso. São muitas as hipóteses e os setores que se comportaram de forma diferente durante esse imbróglio. O maior problema, de fato, é na pecuária de corte, além do setor arrozeiro.” Guaritá informa, ainda, que a SRB entrou com pedido no STF para que a dívida seja cobrada a partir da decisão da Corte, e não retroativamente. “Estamos trabalhando pela modulação (no STF)”, diz Guaritá. “E há um artigo na lei do Refis do Funrural que possibilita o produtor parar de pagar o parcelamento, caso a retroatividade da cobrança seja abolida”, informa. Além disso, ele alerta que se o Congresso, mais para a frente, conseguir derrubar os vetos presidenciais, também só serão beneficiados os produtores e empresas rurais que tiverem aderido ao Refis. Com e sem liminar Advogados especialistas no tema concordam também que o “dono” da dívida pode não ser, necessariamente, o pecuarista. Se o criador entrou na Justiça com liminar desautorizando o frigorífico a descontar a alíquota então vigente, de 2,1% sobre o valor bruto obtido com a venda de gado, o devedor do Funrural é ele mesmo. Já se o pecuarista não entrou com decisão judicial e também não teve a contribuição descontada na operação comercial com o abatedouro, a dívida é do frigorífico, pois este, ou por força de liminar ou por displicência, não recolheu o tributo. Isso se justifica porque o Funrural é um imposto pago pelo produtor pessoa física (também pode ser pago por pessoa jurídica em transações que envolvam venda da
produção agrícola), mas recolhido pelo comprador pessoa jurídica – ou seja, em vez de repassar o valor bruto da arroba ao criador, a empresa é obrigada a descontar a porcentagem referente ao imposto. Com o Refis do Funrural, a porcentagem foi fixada em 1,2% para pessoas físicas e 2,5% para pessoas jurídicas. Aos 1,2% acrescentam-se, ainda, descontos de 0,2% de contribuição ao Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) e de 0,1% de Riscos Ambientais do Trabalho (RAT), somando alíquota total de 1,5% para pessoa física e de 2,8 para jurídica. ”Frigoríficos que não recolheram o Funrural por conta própria vão ter de se resolver com a Receita Federal, não com o pecuarista”, sentencia o advogado Luís Fernando Cavalheiro Pires, assessor parlamentar do Sistema Farsul (Federação de Agricultura e Pecuária do Rio Grande do Sul). “Já pecuaristas que entraram com liminar são responsáveis pelo débito”, continua Pires, informando que no Sindicato Rural de Santo Ângelo (RS), por exemplo, dos 400 associados ativos, pelo menos 250 entraram com liminar. Adiamento do prazo De todo modo, Pires comenta que o Sistema Farsul está pleiteando nas instâncias legais o adiamento do prazo de adesão ao Refis, de 28 de fevereiro para 30 de junho deste ano. A expectativa até lá, justifica o advogado, é que os nós relativos à modulação da dívida no STF e à votação no Congresso Nacional para derrubar os vetos já tenham sido desatados, dando mais segurança jurídica ao produtor rural e a empresas agrícolas para aderir ou não ao Refis. Caso o prazo não seja estendido, Pires também defende uma atenta avaliação, por parte do produtor, junto com seu contador e advogado. “Ele pode optar por aguardar os próximos capítulos no STF e no Congresso e a prorrogação da adesão”, pontua o advogado da entidade gaúcha. “Mas se nada disso acontecer e ele perder o prazo de 28 de fevereiro não terá os benefícios do Refis.” Independentemente do que ocorrer, o advogado da SRB, Marcelo Guaritá, diz que parte da insegurança jurídica se esvaiu com a decisão do STF. “Agora a regra é o pagamento, antes era exceção”, diz. “O passado é caso a caso e ainda confuso, mas comemoramos o futuro.” Ele lembra que há a obrigatoriedade de todo o setor agrícola e pecuário de recolher a contribuição. Sobre essa obrigatoriedade, porém, Pires, da Farsul, suscita outra dúvida: “O presidente vetou um ponto que nos preocupa muito, que é a isenção do tributo na venda entre produtores rurais. Na pecuária pode haver bitributação porque o produtor que faz cria vende o terneiro para outro produtor e recolhe o Funrural sobre o valor de venda. Posteriormente, aquele mesmo animal vai para abate e o abatedouro recolhe novamente o tributo. Ou seja, o encargo incide duas vezes sobre o mesmo animal, o que não é justo”. Ou seja, a nuvem de incertezas deve continuar pairando um bom tempo ainda sobre o setor. n
O Congresso Nacional pode derrubar os vetos presidenciais, mas o Senado e a Câmara ainda não marcaram data para definir a questão.” Gustavo Carneiro, do Instituto Pensar Agro
Agora, a regra é o pagamento; antes, era exceção.” Marcelo Guaritá, da Sociedade Rural Brasileira
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Tributos
Produtor receia arcar com débito que não é dele
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Estamos em compasso de espera” Humberto Tavares, criador de Nelore em Itapirapuã, GO.
stamos órfãos.” Assim define a situação dos pecuaristas em relação ao Refis do Funrural o criador de gado Nelore Humberto de Freitas Tavares, de Itapirapuã, GO. O pecuarista comenta que não teve o Funrural descontado pelos frigoríficos no período em que a cobrança estava suspensa. E que agora, entre o meio produtivo, há forte indefinição sobre de quem é a dívida – do criador ou do frigorífico. “Além disso, entidades que deveriam nos representar, como a própria CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), parecem ter atuado mais em favor dos interesses dos frigoríficos”, critica. “Tenho a impressão de que a indústria trabalhou pela aprovação do Refis mais para usar como moeda de troca para o abatimento de outros débitos com a União, como o previdenciário.” Para ele, o Refis não beneficiou o produtor, principalmente porque considera um débito que não necessariamente é do pecuarista. “Além disso, há o entendimento de importantes juristas de que a dívida não existe”, pontua. Diante disso, Tavares defende que no mínimo se estenda o prazo de adesão ao Refis. “Do jeito que está, ninguém vai ser louco de aderir. Estamos em compasso de espera.” Outro pecuarista goiano, que trabalha com cria, recria e engorda em Santa Helena de Goiás, Pedro Ribeiro Merola, tem mais certezas do que Tavares em relação ao “dono” da dívida: “Se o pecuarista entrou com liminar a dívida é dele; se não entrou, é do frigorífico”, sentencia. “A responsabilidade de recolhimento do Funrural sempre
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foi do frigorífico; se eu não entrei com liminar proibindo o desconto, ficou a critério único e exclusivo do abatedouro deixar de pagar (seja por meio de liminar ou não) e agora ele deveria assumir a dívida”, diz ele, corroborando o entendimento dos especialistas ouvidos por DBO. Depósito em juízo Merola acrescenta que ele também tem uma empresa jurídica que comercializa grãos e que entrou com liminar impedindo o desconto do Funrural na venda às esmagadoras de soja. “Mas estipulei que o valor do imposto deveria ser depositado em juízo. Agora o dinheiro está lá, depositado, e é só o governo pegar”, diz. No caso da pecuária, Merola é pessoa física e não entrou com liminar. “O frigorífico não recolheu o Funrural porque não quis. Tenho colegas na mesma região que entraram com a liminar e no período em que não houve a cobrança eu recebia pela arroba exatamente o que eles recebiam – não havia de fato o desconto nem para mim nem os que tinham a liminar.” Merola defende, porém, que o governo federal perdoe qualquer pendência retroativa referente ao tributo. “O setor não tem como arcar com essa dívida agora e, na verdade, eu também gostaria que o frigorífico não tivesse essa obrigação, porque prejudicaria não só a empresa, como toda a cadeia.” Ele diz que a dívida deveria ser perdoada porque a Justiça demorou anos para julgar o tema. “A culpa é da Justiça. Se ela tivesse decidido em poucos meses tudo já estaria resolvido e não haveria esse imbróglio.” n
Artigo
Fábio Lamonica
Novas armas (inconstitucionais) da União Advogado, especialista em Direito Bancário e do Agronegócio
Por dívidas em atraso com a União, o governo pode agora bloquear bens móveis e imóveis, sem a decisão de ação judicial.
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União, uma entidade da Federação do Estado brasileiro, é quem possui os meios de cobrança mais agressivos contra seus devedores. A Lei nº 13.606/2018 ficou conhecida no agronegócio por ter instituído o “Programa de Regularização Tributária Rural”, isso para o fim de regularizar a controversa questão da cobrança do Funrural - Fundo de Apoio ao Trabalhador Rural. Ocorre que essa lei trouxe um “jabuti”, um “penduricalho”, ou seja, um assunto diferente daquele tratado pela lei. Essa prática, por si só, já é inconstitucional, mas se tornou, com o tempo, corriqueira e aceitável por todos. Com isso, aproveitando que era preciso tratar das “benesses” da regulação dos débitos relativos à contribuição do Funrural (uma vez que, após anos de discussão, entendeu-se que os “produtores rurais estavam errados”), houve A Lei 13.606/2018 traz, embutido, um a inclusão de um “jabuti”, ou seja, um assunto diferente novo dispositivo, do que ela própria trata. Essa prática, absolutamente inconstitucional. por si só, é inconstitucional. Aliás, já há inclusive uma Ação Direta de Inconstitucionalidade no Supremo Tribunal Federal (STF) questionando o dispositivo. Os débitos junto à União (impostos, contribuições previdenciárias, etc.) que não tenham sido pagos da forma, no valor e no momento certo (segundo o entendimento da União), após processo administrativo serão inscritos na Dívida Ativa da União (DAU), e serão exigidos pela Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN). O devedor, então, será notificado administrativamente, para que o débito seja pago no prazo de cinco dias. E se o valor não for pago em cinco dias? A partir de 10 de janeiro de 2018, além da inscrição do nome do suposto devedor em órgãos de restrição ao crédito como Serasa, SCPC e afins, os bens móveis (carros, caminhões, etc.) e bens imóveis poderão se tornar indisponíveis. Até então, isso somente acontecia por meio de expressa autorização judicial, após o prazo em que 26 DBO fevereiro 2018
o suposto devedor era citado (tomava conhecimento da ação judicial). Agora, de forma administrativa e sem necessidade de autorização judicial, o suposto devedor tem seus bens bloqueados, sofrendo danos que muitas vezes não podem ser reparados. Perceba o leitor que estamos falando também de produtores rurais que possuem débitos de securitização no âmbito do Pesa (Programa Especial de Saneamento de Ativos) que foram cedidos para a União. Com isso, após a notificação, os bens, como terras utilizadas para o plantio e subsistência, poderão ser bloqueados. Um ponto importante é que a União utiliza os dados cadastrais para o envio das notificações, sejam elas eletrônicas ou físicas, para encaminhar a comunicação, sendo que, passados 15 dias da expedição, é considerada como entregue. Nossa Constituição tem princípios fundamentais que não poderiam ser violados. Um deles diz justamente que ninguém poderá ser privado de seus bens sem o chamado devido processo legal. O processo legal é justamente a possibilidade de discussão da situação (no caso de suposta dívida com a União) perante um juiz de direito. Toda e qualquer privação de bens deve ser autorizada por um juiz, seguindo as determinações da legislação processual. Por causa disso é que o novo procedimento é absolutamente inconstitucional e isso pode (e deve) ser alegado em eventual procedimento que um suposto devedor venha a sofrer em que as disposições da nova lei sejam aplicadas. Assim, mais uma vez, os produtores que tenham dívidas com a União devem ter atenção redobrada e utilizar de todas as armas de que ainda dispõem (inclusive alegando a inconstitucionalidade da referida lei) para que ilegalidades como essa não venham a prejudicar e dificultar ainda mais o exercício da atividade na produção de alimentos, com o bloqueio de bens sem que seja possível apresentar os argumentos de defesa perante um juiz de direito. n Texto publicado originalmente na edição de fevereiro da revista Agro DBO.
Fotos: maristela franco
Cadeia em Pauta
Workshop Brasil-EUA discutiu parceria entre os dois países e futuro do mercado de carne gourmet
Carne maturada a seco conquista fãs devido a seu sabor diferenciado e alto grau de maciez
Maturação a seco mobiliza pesquisadores Unicamp e Universidade do Nebraska estudarão técnica, que coleciona fãs no Brasil e deve movimentar US$ 11,7 milhões/ano nos EUA até 2020. Maristela Franco
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maristela@revistadbo.com.br
pesar de serem cruciais para o desenvolvimento da cadeia pecuária bovina, as pesquisas focadas em qualidade de carne no Brasil sofrem com a escassez de recursos e também de especialistas na área. Para enfrentar esse problema, a Faculdade de Engenharia de Alimentos da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), instituição de referência nesse segmento científico, firmou uma parceria com a Universidade de Nebraska, EUA, que prevê a realização de trabalhos em conjunto e intercâmbio de estudantes. O projeto foi apresentado dia 13 de dezembro, durante o Workshop sobre Ciência para a Indústria da Carne Bovina de Alta Qualidade, em Campinas, SP, coordenado pelo professor Sérgio Pflanzer, sucessor do professor Pedro
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de Felício, que se aposentou da Unicamp em 2016. O evento reuniu cerca de 80 pessoas, dentre produtores, especialistas em mercado gourmet e cientistas, com destaque para o professor Chris Calkins, da Universidade do Nebraska, famoso por ter desenvolvido o corte flat iron (veja entrevista concedida, com exclusividade, à DBO). Um de seus trabalhos atuais, que contará com paticipação da Unicamp, é sobre a dinâmica de desidratação da carne durante o processo de maturação a seco (dry aged, em inglês), que virou “coqueluche” na América do Norte e na Europa. Segundo a consultoria norte-americana Allied Market Research, esse tipo de produto já responde por 10% das vendas de carne nos Estados Unidos, devendo movimentar US$ 11,7 milhões até 2020, considerando-se crescimento anual de 1,3%. No Brasil, vários açougues especiais, como os paulistas DeBetti, Feed, Santa Bárbara e Villabeef, vêm comercializando dry aged desde 2014. Trata-se de uma carne com alto valor agregado, que chega a custar R$ 200 o kg, dependendo do corte e do tempo de maturação. O preço salgado se deve a três fatores. Primeiro: trabalha-se com carne nobre, bem acabada e marmorizada, pois se necessita de uma cobertura adiposa de no mínimo 6 mm, além de gordura entremeada, para evitar perda muito rápida de água. Segundo: os cortes desembalados ficam no refrigerador por 30 a 90 dias, sob temperaturas de 0 a 3 °C, ventilação constante e umidade de 75% a 85%, controladas diariamente, o que gera custos com energia e mão de obra. Terceiro: a carne perde de 30% a 50% de seu peso original, devido à desidratação e ao descarte da camada superficial escura e dura que se forma durante o processo e que a protege dos patógenos, a exemplo da casca nos queijos curados.
Pesquisa de base Por todos esses fatores, a carne dry aged tem conquistado número crescente de fãs. É vista como uma iguaria, devido à maior maciez (durante o processo de maturação, as fibras da carne são quebradas por ação enzimática) e ao sabor concentrado, descrito por degustadores profissionais como próprio de assado, com toque amanteigado ou amendoado, enquanto os produtos maturados a vácuo teriam traço mais “metálico, sanguíneo”. Por se tratar de um processo artesanal (outro item que lhe agrega valor), ainda não se sabe tudo o que acontece com a carne durante a desidratação a frio, considerando-se variáveis de raça, sexo e condições ambientais, daí a necessidade de mais pesquisas, principalmente com cortes de Nelore, uma contribuição importante que a Unicamp pode dar. Ainda não existe legislação regulamentando a produção dry aged
no Brasil e os trabalhos científicos desenvolvidos pela Unicamp podem ajudar a estabelecer padrões de produção. A difusão da maturação a seco no País mostra que o mercado de carne gourmet está se sofisticando, puxado pela melhor qualidade da matéria-prima (boi), conforme mostrou Fábio Dias, diretor de relacionamento com pecuaristas da JBS. O maior problema continua sendo o boi inteiro e a chamada “indústria do empurra” (o pecuarista produz o boi que lhe convém, empurra para o frigorífico, que emparra a carne para o varejo e este para o consumidor). Segundo Marcelo Shimbo, da Prime Cater, SP, chegou a hora de ouvir o cliente final e produzir o que ele quer. Filipe Ribeiro, doutorando da Universidade de Nebraska, destacou que os norte-americanos conseguiram fazer justamente isso, por meio da tipificação de carcaças e rotulagem de produtos. n
Entrevista: Chris Calkins
Pela agregação de valor
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m dos maiores especialistas em qualidade de carne dos Estados Unidos, o professor Chris Calkins, da Universidade de Nebraska, se tornou conhecido mundialmente após desenvolver uma pesquisa, junto com seu colega Dwain Johnson, da Universidade da Flórida, para agregar valor aos cortes do dianteiro, que haviam sofrido grande desvalorização nos anos 90. Foram avaliados 39 músculos quanto à maciez, suculência e outras características sensoriais, o que gerou grande número de informações úteis tanto para a indústria quanto para os consumidores. O trabalho também possibilitou o desenvolvimento de pelo menos cinco novos cortes, com destaque para o flat iron. Esse corte saboroso, quase tão macio quanto o filé mignon, embora seja oriundo da paleta, antes era transformado em carne moída. Ao trabalha-lo no sentido longitudinal e eliminar o tecido conjuntivo entremeado, Calkins criou um novo “hit” do churrasco. Nesta entrevista à DBO, o pesquisador fala sobre esse trabalho, a parceria Brasil-EUA na área de qualidade de carne e uma nova tecnologia de predição de maciez em carcaças ainda no frigorífico.
DBO - O que o senhor espera da parceria Unicamp-Universidade da Nebraska? Calkins - Que nos permita desenvolver,
conjuntamente, pesquisas de interesse para a indústria da carne bovina, como a maturação a seco. As duas universidades solicitaram bolsas de pesquisa de dois anos sobre o tema. Está prevista uma visita do professor Sérgio Pflanzer à Universidade de Nebraska [realizada em janeiro], o que ajudará nossos estudantes a entender melhor a agricultura global. Ele também identificará estudantes brasileiros interessados em nos visitar e pesquisar qualidade de carne. DBO - O senhor poderia nos relatar os resultados de seu trabalho com músculos do dianteiro, visando à obtenção de novos cortes? Calkins - Todos as nossas pesquisas bus-
cam agregar valor à carcaça, melhorar a rentabilidade dos produtores e beneficiar os consumidores. Ao desenvolver novos cortes, como o flat iron, o petit tender e o ranch cut, que garantiram incremento de receita de US$ 50 a US$ 70 por animal. [Em 2012, segundo o Meat Institute, o flat iron foi responsável por US$ 80 milhões em vendas. O estudo de Calkins foi financiando pelo
Beef Checkoff, programa de promoção da carne bovina norte-americana, com base em contribuições dos produtores, que pagam US$ 1 por animal abatido]. DBO - O senhor desenvolveu uma tecnologia para predição da maciez. Quando ela poderá ser usada nos frigoríficos? Calkins - Estamos em fase final de tes-
tes. Assim que terminarmos, vamos disponibilizar a técnica para uso na indústria. [Calkins criou um método de predição da maciez com base no escaneamento hiperespectral do contrafilé. As imagens captadas por uma câmara especial são enviadas para um software, que indica o nível de maciez da carne por meio de modelagem estatística. O equipamento está sendo adaptado para uso na indústria, o que facilitará a triagem de carcaças para mercados específicos].
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Cadeia em Pauta 57,6%, e cumpriam os padrões de qualidade de um dos mercados mais exigentes do mundo, a Europa. Surpreso com o trabalho, Rodero diz que a Masterboi dará preferência para o abate de animais com essa genética, a princípio, para abastecer o mercado interno. “Acreditamos no potencial da carne de qualidade para atender nosso mercado regional, e vamos investir nisso tanto na linha de cortes Masterboi Grill como de carnes do dia a dia”, diz. Em 2017, o frigorífico, que conta ainda com dois centros de distribuição, um em Recife, PE, e outro em João Pessoa, PB, abateu 300.000 cabeças, cerca de 90% de animais zebuínos (o restante de raças britânicas), e exportou cerca de 10% de sua produção para o Oriente Médio. Com plantas em Tocantins (acima) e no Pará, frigorífico abate 300.000 cab/ano.
Genética Adir avança para o Nordeste Selecionador faz parceria com o Masterboi, que quer investir em carne de qualidade. marina salles
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marina.salles@revistadbo.com.br
ara atender a uma demanda crescente dos consumidores por carne de qualidade, o frigorífico Masterboi, cuja penetração maior é no Nordeste, da Bahia até o Maranhão, firmou parceria com o Grupo Adir, de Adir do Carmo e Paulo Leonel, pai e filho selecionadores de gado Nelore a pasto na Fazenda Barreiro Grande, em Nova Crixás, GO, e na Estância 2L, em Ribeirão Preto, SP. Diretor da Masterboi, Amaro Rodero, explica que a escolha foi baseada na busca por animais bem acabados, jovens e de carne macia, o que a Masterboi - com duas plantas localizadas no Norte do País, uma em Nova Olinda, TO, (com capacidade de abate de 600 bois/dia, que no ano passado operou com 400 cabeças/dia), e outra em São Geraldo do Araguaia, PA, (com capacidade para 1.000 bois/dia, que opera com 700/dia) - avalia que a genética Adir, presente em 17 Estados brasileiros, irá entregar. Os resultados dos abates técnicos feitos pelo Grupo Adir nos últimos cinco anos, com acompanhamento do professor Sérgio Bertelli Pflanzer Júnior, da Unicamp, foram determinantes para a tomada de decisão. O mais recente, de julho, contou com dez animais apartados aleatoriamente na Fazenda Nova Piratininga, em São Miguel do Araguaia, GO. Com idade entre 18 e 19 meses, os garrotes abatidos tinham acabamento de gordura desejável, de a 4 a 6 mm, rendimento de carcaça de
30 DBO
fevereiro 2018
Funcionamento do programa Paulo Leonel, do Grupo Adir, afirma que, em 2018, sua meta é comercializar 500.000 doses de sêmen de touros 2L, alta de 210% em relação a 2017, o que será impulsionado principalmente pela Masterboi. A primeira etapa dos trabalhos dentro da parceria será encontrar fazendas, num raio de 300 km das plantas da empresa, interessadas em fazer uso da genética Adir. O prêmio a ser pago ao produtor pelo diferencial da carcaça ainda não foi definido, mas já há pistas sobre o seu direcionamento, de acordo com Rodero. “Focaremos em idade, peso e acabamento de carcaça. Quanto melhor o resultado do animal, maior será a remuneração do produtor”, diz. Segundo Paulo Leonel, o destaque ficará por conta de não haver penalização prevista para o pecuarista em qualquer instância. “Se o pecuarista não cumprir as exigências do programa, a Masterboi vai pagar na arroba do boi o preço de mercado. Não haverá desconto por menor cobertura de gordura, por exemplo”. Para garantir que a premiação seja concedida apenas a filhos de touros 2L, o Grupo Adir irá se encarregar da rastreabilidade dos animais nas fazendas fornecedoras e, em caso de dúvida, será sempre solicitado o teste de paternidade. A carne dos primeiros animais abatidos no programa deve chegar às três lojas, com bandeira Masterboi Express e “lojão de Carnes Masterboi”, em Recife, PE, em 2019, e a expectativa é de que quantidades maiores, para distribuição em outras redes do Norte e Nordeste, passem a ser entregues a partir de 2020. A consolidação do projeto está prevista para 2021 e, nesse prazo, segundo Leonel, o objetivo é estar inseminando 2 milhões de vacas/ ano dentro do programa. Mais recente, é ainda a parceria entre o Grupo Adir e a Cooperativa do Agronegócio do Boi (Cooperboi), com sede em Maceió, AL. Firmado em janeiro de 2018, o contrato prevê o fornecimento de genética de touros 2L para os 52 cooperados da associação, cujo intuito é ter maior padronização de carcaça. Hoje, apenas 30% do gado abatido anualmente pela cooperativa segue as exigências colocadas por eles como meta. Os produtos da genética Adir serão vendidos com a marca Boi de Engenho, em processo de homologação. n
Cadeia em Pauta
Exportação de gado vivo sob “tiroteio”
O
episódio dramático do navio Nada, retido por vários dias no Porto de Santos com uma carga de 25.197 garrotes destinados à Turquia, deixou uma certeza: falta regulamentação adequada para a exportação de bovinos vivos no País, embora essa atividade já seja antiga e apresente crescimento expressivo. Em 2017, o País exportou 400.660 cabeças, 40% a mais do que em 2016. Sem regras claras de bem-estar animal, a atividade se transformou em alvo de ativistas, que chegaram a acampar no Porto de Santos, em protesto contra supostos maus tratos e condições impróprias de alojamento dos bovinos no navio. Em meio ao tiroteio, a prefeitura do município utilizou seu Código de Posturas, que estabelece normas disciplinares de higiene pública, para multar a Minerva Foods no valor de R$ 1,4 milhão, principalmente por transitar com as laterais dos caminhões lacradas com fitas adesivas que dificultavam a inspeção (conforme relato da veterinária que participou da blitz) e por despejar dejetos em via pública. Este foi apenas um dos capítulos dessa história complicada. Após 17 anos sem exportar bovinos vivos, o Porto de Santos havia voltado a trabalhar com esse tipo de carga em novembro de 2017, visando reduzir sua capacidade ociosa em decorrência da crise econômica. Houve quem comemorasse, mas sem analisar
32 DBO fevereiro 2018
a complexidade logística da operação e movimentos ativistas contrários ao transporte de bovinos em navios. Pressionada, no dia 12 de janeiro, a Codesp, Companhia Docas do Estado de São Paulo, suspendeu preventivamente as exportações de gado em pé pelo Porto de Santos, em função de um processo em curso na Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), que, poucos dias depois (25 de janeiro) declarou não haver impedimento ou necessidade de autorização especial para o negócio. Com isso, novo embarque foi iniciado, com consequências desastrosas, principalmente para os animais, que ficaram retidos no porto em condições complicadas. Situação surreal Além da multa milionária por supostas irregularidades no transporte do gado, que estava em fazendas nos municípios de Altinópolis e Sabino, SP, percorrendo mais de 500 km até o Porto de Santos, a Minerva Foods teve de lidar com um problema ainda maior: o juiz federal, Djalma Moreira Gomes, acatou um pedido de liminar da ONG Fórum Nacional de Proteção Animal, no dia 2 de fevereiro, suspendendo a exportação de gado vivo em todo o Brasil, até que o país importador se comprometesse a adotar práticas de abate compatíveis
Brasil embarca cerca de 400.000/ano
com as preconizadas pela legislação nacional. Em outras palavras: os turcos teriam de deixar de fazer abate Halal. Para complicar ainda mais essa situação, a Minerva foi novamente multada pela prefeitura santista, em R$ 2 milhões, devido ao mal cheiro causado pelos dejetos dos animais, com acréscimo de R$ 500.000 diários, caso a empresa não solucionasse o problema. Problema que, aliás, não tinha solução, pois o navio não podia zarpar, nem os animais desembarcar em tempo recorde. A história somente foi encerrada no dia 4 deste mês, após a Justiça Federal acatar recurso da Advocacia-Geral da União, para liberação do navio. Toda essa confusão talvez não tivesse ocorrido, se a atividade fosse regida por regras claras de bem estar animal, conforme já salientou vários vezes o professor Mateus Paranhos, da Unesp-Jaboticabal. Sem elas, fica difícil manter exportações regulares de gado vivo livre de percalços. (M.F.) n
Cadeia em Pauta Parceria Varanda–Angus garante carne certificada Reconhecido pelos cortes de alta qualidade e premiado no Brasil e na América Latina, o restaurante Varanda Grill, de Sylvio Lazzarini, cujas três unidades ficam na cidade de São Paulo, SP, firmou parceria com a Associação Brasileira de Angus (ABA) para certificar 100% da carne da raça que chega à mesa de seus clientes. Lazzarini afirma que o objetivo é investir na divulgação da qualidade da carne Angus e dar ao consumidor mais uma garantia de procedência. “Queremos contar a história do Angus e destacar os seus atributos, mostrar o que faz da carne da raça uma das mais demandadas no mundo”. Com a parceria, o cardápio do Varanda passará a estampar o selo Carne Angus Certificada. A parceria firmada no fim do ano passado já está em vigor, e a carne dos primeiros animais abatidos em dezembro chegou à
rede em janeiro. Além de atender ao Varanda Grill, cuja demanda é por 6 toneladas de carne Angus/mês, com perspectiva de crescimento de 50% no primeiro semestre deste ano, a ABA irá certificar também parte dos produtos comercializados pela distribuidora Intermezzo Gourmet, do Grupo Cavour, dirigido por Lazzarini. A distribuidora entrega carne bovina para 150 restaurantes, dos quais 18 já compram carne Angus. “Com a parceria, esperamos aumentar esse número”, afirma ele. Ao todo, incluindo o fornecimento para o Varanda, a Intermezzo negocia 18 toneladas de carne/mês. Para Fábio Schuler Medeiros, coordenador nacional do Programa Carne Angus Certificada, a iniciativa do empresário, de buscar a certificação Angus, prova o quão exigente são os padrões da associação. “Essa é uma parceria considerada por nós muito importante, porque o Sylvio, além de dono de restaurante e pecuarista, é um dos maiores conhecedores de carnes de qualidade do Brasil”.
5_gasparim_revista_DBO_print.pdf 1 01/02/2018 16:52:16
Projeto da JBS beneficia pequenos produtores A parceria entre a empresa e pecuaristas da região de São Miguel do Guaporé, em Rondônia, firmada em 2017 no âmbito do Programa Selo Combustível Social, gerou renda de R$ 3,5 milhões para 100 famílias, proveniente da venda de 1.961 bovinos para abate. A meta da JBS é chegar a 50 mil cabeças no biênio 2018/2019, com receita de R$ 90 milhões. A parceria é parte do projeto de capacitação de pequenos criadores locais, com garantia de compra pela empresa. Até então, o Selo Combustível Social era oferecido exclusivamente para pequenos agricultores que produziam oleaginosas, especialmente soja. Como o sebo bovino é a segunda matéria-prima mais importante para produção de biodiesel no País, a inclusão da cadeia de carne gerou estímulo à produção do combustível. Em 2017, a JBS produziu 210 milhões de litros de biodiesel em suas usinas de Lins (SP) e Campo Verde (MT).
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DBO fevereiro 2018 33
Capa
Com tecnologias já consolidadas, como rotação, adubação e suplementação, o rebanho passou de 8.470 para 13.960 cabeças.
Intensificação: por onde começar? Veja como a Fazenda Santos Reis, no PA, enfrentou esse desafio e conseguiu mais que duplicar sua produtividade no período de quatro anos. Renato Villela
de Rio Maria, PA.
A
renato.villela@revistadbo.com.br
intensificação é um sonho acalentado por muitos pecuaristas, que querem migrar da pecuária extensiva, com seus modestos índices produtivos, para sistemas que lhes garantam maior rentabilidade. A questão é como fazer tal transição sem comprometer o caixa da fazenda. Essa talvez seja a maior preocupação de quem deseja intensificar. A solução, entretanto, é mais simples do que se pensa: basta começar
34 DBO fevereiro 2018
pequeno para crescer com segurança. Foi o que fez a Fazenda Santos Reis, especializada em recria/engorda e localizada no município de Rio Maria, no sudeste do Pará, região inserida no bioma amazônico. Com a rotação/adubação de apenas 8% de seus 7.413 ha de pastagens, suplementação proteico-energética dirigida e um confinamento estratégico, essa propriedade conseguiu aumentar sua produção total em 183% no período de quatro anos, passando de 6,61@/ ha, em 2013/2014, para 18,7@/ha, na safra 2016/2017. Somente nos dois primeiros anos-safra, seu lucro líquido subiu de R$ 258 para R$ 688/ha. Embora esse valor
Fotos: Idelson Gomes
Evolução da produtividade a pasto na Fazenda Santos Reis, sem considerar o confinamento 25,00
@/ha/ano U.A./ha
20,00 15,00
14,16
13,20 6,61
5,00
Roberto Paulinelli (de chapéu) com o consultor Washington Mesquista: parceria afinada.
tenha caído 56% em 2017, devido à crise que atingiu o setor, a fazenda está faturando bem acima da média nacional, que é de R$ 87/ha na recria/engorda, segundo estimativa da consultoria catarinense Agroconsult (veja quadro sobre resultados econômicos à pág 36). Intensificar ou comprar terras? Antes de optar pela intensificação, o proprietário da Santos Reis, Roberto Paulinelli, fazia pecuária tradicional. Quando pensava em aumentar a produção, sempre recorria à velha tática predominante na região: comprar mais terras. No Pará, muitos ainda acreditam que, para ser lucrativa, uma fazenda precisa ser grande, crença que tem suas raízes na história do Estado. Há 20 anos, com apenas 14,76@ de boi gordo se comprava 1 ha. Era mais barato aumentar a área do que explorá-la de forma intensiva. Hoje, a realidade é outra: um hectare custa seis vezes mais (78@) e as margens baixas da pecuária extensiva já não garantem lucratividade, mesmo em grandes áreas. Patina-se no atoleiro. “Eu investia um capital alto em terras, mas não tinha retorno financeiro”, relata o produtor, que também é dono do Frigorífico Rio Maria, no mesmo município. Antes de se decidir pela intensificação, como muitos Paulinelli se perguntou: “por onde devo começar?” Na busca por informações, procurou o zootecnista Washington Mesquita, da Intensiva Consultoria e Planejamento Pecuário, de Goiânia, GO, que o levou para conhecer alguns projetos de pastejo rotacionado em andamento no Pará. “Vi que era possível aumentar a receita sem comprar mais terras e saí convencido de que a pecuária precisa ser produtiva. Esse mito da fazenda grande tem de acabar”, diz o produtor. A intensificação é especialmente promissora no Pará. Enquanto, no Centro-Oeste, o produtor convive com seis meses de chuva e seis meses de seca, na região amazônica a estação chuvosa dura 60 dias a mais e o índice pluviométrico supera o patamar 100 mm/mês. “Essa vantagem, contudo, é muito mal explorada. Com tanta chuva, seria possível tirar maior proveito da adubação e produzir massa
14,40
9,16
10,00
0
19,88
@/cab/ano
5,00
1,37
1,26
1,06 Diagnóstico
2014/2015
2015/2016
8,70
7,55
6,23
1,63
1,54 2016/2017
2017/2018*
forrageira suficiente para sustentar até 8,5 UA/ha, mas, infelizmente a maioria das fazendas da região trabalha com lotação de no máximo 1,5 UA/ha, porque o produtor não usa tecnologia”, comenta Washington Mesquita. Como começar? Seguro de que o caminho para a lucratividade era a intensificação, Paulinelli deu sinal verde ao consultor para elaboração de um diagnóstico técnico-econômico da fazenda. Essa etapa do projeto é essencial, mas muitos pecuaristas tendem a suprimi-la. Com isso, deixam de detectar problemas previamente, erram nas decisões e ficam sem referência para medir resultados. Mesquita percorreu todos os pastos da Santos Reis, verificou as instalações e as condições das pastagens, analisou amostras de solo, estudou gráficos pluviométricos, estimou a oferta forrageira, avaliou as estratégias nutricionais adotadas, a genética dos animais, o fluxo de caixa da fazenda e o perfil de seu proprietário, que definirá a velocidade e o grau de intensificação. Pro-
Fazenda em números
Nome: Fazenda Santos Reis Sistema de produção: Recria-Engorda Localização: Rio Maria, PA Área total: 8.169 ha Área de pastagem: 7.226 ha Área intensificada atual: 593 ha
Belém do Pará
Rio Maria
Histórido do projeto desde o diagnóstico em 2013 Fazes do projeto
Diagnóstico
Indicadores Ciclo Desfrute pecuário % 13/14 25%
Rebanho cab. 8.470
Animais
Abate Confina-
a pasto
mento
Total
1.328
790
2.118
1º ano
14/15
55%
10.810
5.151
795
5.946
2º ano
15/16
62%
12.558
4.453
3.333
7.786
3º ano
16/17
79%
13.960
6.628
4.400
11.028
4º ano
17/18
103%
16.841
9.846
7.500
17.346
Fonte: Intensiva Consultoria e Planejamento Pecuário. Adaptação DBO.
DBO fevereiro 2018 35
Capa
Idelson Gomes
de desfrute de 25% e ciclo produtivo de 32 meses. Tinha taxa de lotação de 1,06 UA/ha e produção de 6,61 @/ha/ano, índices muito próximos das médias nacionais, que são baixas (0,8 UA/ha e 4,56 @/ha/ano, respectivamente). Além de avaliar o sistema de exploração pecuária da propriedade, Mesquita também estimou seu potencial produtivo, constatando que seria possível obter de 50 a 60@/ha, nos módulos rotacionados, ou 1020@, na área total. Com base nisso, ele elaborou um “plano de desenvolvimento pecuário”, cuja prioridade inicial era rotacionar/adubar 6% das pastagens nos dois primeiros anos, sempre tendo a suplementação e o confinamento como ferramentas de apoio na seca. “Projetamos o fluxo de caixa e estabelecemos uma rotina de avaliação sistemática de custos e resultados técnico-econômicos”, explica o consultor.
Potencial produtivo do rotacionado é de 50 a 60@/ha
Que área escolher? O “plano de desenvolvimento pecuário” funciona como uma bússola para o projeto, mas, para colocá-lo em prática, é preciso definir qual a primeira área a intensificar. A tendência dos produtores é escolher os piores pastos, na intenção de “matar dois coelhos com uma só cajadada”, ou seja, recuperar pastagens degradadas ao mesmo tempo em que intensificam seu uso. “O mais indicado, porém, é começar pelas áreas férteis, porque gasta-se menos com adubo e a resposta é melhor”, explica Mesquita. Seguindo essa premissa, em meados de
jetos tecnificados demandam maiores investimentos, avaliações constantes de resultados e acompanhamento próximo do fazendeiro ou gerente. “Quem vive da pecuária, como Paulinelli, muitas vezes possui perfil mais adequado à intensificação, porque pode dedicar tempo à propriedade, diferentemente de quem tem outro negócio como atividade principal”, diz o consultor. O diagnóstico técnico-econômico é como uma fotografia instantânea da fazenda. Em 2013, a Santos Reis, que tem área total de 8.169 ha, sustentava 8.247 machos comerciais em pastejo contínuo, registrando taxa
Quanto rendeu e quanto custou? A intensificação melhorou todos os indicadores da Fazenda Santos Reis. A capacidade de suporte dos módulos rotacionados e adubados passou de 4,51 para 5,78 UA/ha, em quatro anos, puxando a lotação geral da propriedade de 1,06 para 1,54 UA/ha, com projeção para 1,63 UA/ha, nesta safra. Como a produção nas áreas intensivas, passou de 27 para 51@/ha, no mesmo período, projetando-se 60@ em 2017/2018, o índice geral da fazenda pulou de 6,61para 14,40 @/ ha/ano. Nesta safra, quando 17% da área estará intensificada (1.239 ha), a perspectiva é de se produzir 19,88@ a pasto. Somando-se o confinamento, serão 27,2@/ha. O rebanho, que era de 8.470 bovinos, em 2013/2014, subirá para 16.841 cabeças, em 2017/2018. A taxa de desfrute, antes de 25% e hoje de 79%, deverá alcançar os 103%. Mesquisa calcula esse índice dividindo o número de animais abatidos pelo estoque médio anual da fazenda ; no caso, 17.321 por 16.841 previstos para este ano. Com uma evolução tão positiva dos indicadores zootécnicos, era de se esperar uma lucratividade também ascendente, o que, aliás, vinha ocorrendo, até aparecerem a Operação Carne Fraca e a deleção da JBS no meio do caminho. O lucro operacional da fazenda despencou de R$ 689/ha, em 2015/2016, para R$ 302/ha em 2016/2017. “Além da queda drástica no valor da arroba, tivemos de amortizar um ágio de 30% a 40% no preço originalmente pago na compra do bezerro”, relembra o consultor. As perspectivas para este ano parecem mais promissoras. Com a estabilidade nos preços dos animais de reposição e a melhoria no mercado do boi
36 DBO fevereiro 2018
gordo, espera-se obter lucro de R$ 568/ha. A crise de 2017 afetou os resultados da área intensiva, cujo lucro operacional foi de R$ 1.386/ha, praticamente o mesmo valor alcançado no início do projeto, mas, para o ciclo atual, que se encerra em agosto, a projeção é bem mais positiva: R$ 2.200/ha. Falta, contudo, responder a uma pergunta importantíssima: quanto custou esse projeto de intensificação? “O produtor pensa que caro é adubar, mas está enganado. A despesa maior é com animais. Para cada R$ 1 gasto em adubação, são dispendidos R$ 7 com compra de gado”. Na Fazenda Santos Reis, fo-
Rentabilidade da Fazenda Santos Reis 800 688
700
689
600
568
500 400 300
258
302
200 100 R$ – *Projeção
Diagnóstico 2014/2015 2015/2016 2016/2017 2017/2018*
Renato Villela
2013, o consultor escolheu uma área de 257 ha, que estava em boas condições e tinha menor diversificação de gramíneas. A facilidade logística também pesou nessa escolha. Após correção e adubação fosfatada da área, ela foi estruturada em seis módulos de 38 a 55 ha, formados por oito piquetes cada. Como a infraestrutura ficou pronta somente no final da seca, pouco antes de se iniciar o projeto, o produtor teve de trabalhar com aguadas naturais. Hoje, todos os módulos são abastecidos por bebedouros artificiais. “Não faz sentido investir em intensificação e fornecer água de má qualidade para os animais”, diz Mesquita. No mesmo ano, outra área foi escolhida para intensificação: a chamada Chácara Umary, de 336 ha. Esse retiro não seria normalmente incluído no projeto, por ter muitas grotas e estar com as pastagens degradadas, mas, devido à sua proximidade da rodovia, o produtor decidiu transformá-la em vitrine do sistema rotacionado na região, apesar do maior investimento. As pastagens já reformadas foram divididas em oito módulos, com 38 a 40 ha, subdivididos em oito piquetes cada. No ano anterior, Paulinelli havia tentado produzir silagem de milho nessa gleba, mas a umidade excessiva do solo durante a estação das chuvas impediu o trabalho operacional. Máquinas e tratores atolaram. “Entendemos que a área não tinha aptidão agrícola, mas pecuária”, diz. Para formação dos módulos, optou-se pelo mombaça, capim produtivo e mais resistente ao excesso de umida-
Animais são comprados com peso médio de 180 kg e já recebem suplementação
ram investidos no projeto R$ 11.314/ha, mas apenas 9,5% desse valor (R$ 1.080) foram usados na compra de adubo, ante 69,2% (R$ 7.830/ha) aplicados em gado, considerando-se uma taxa de lotação de 5 UA/ha. “Por isso, um dos pontos mais importantes de um projeto de intensificação é o fluxo de caixa. De nada adianta investir em adubação, se o produtor não tiver dinheiro para comprar animais”, lembra o consultor. Os gastos com nutrição representaram 8,7% do total (R$ 985/ha); os custos operacionais efetivos (mão-de-obra, óleo diesel, depreciação, vacinas, vermífugos) responderam por 7,6% (R$ 864/ha) e os investimentos em infraestrutura (bebedouros, cercas, cocho, estradas) somaram 4,9% (R$ 555/ha).
Maior custo da intensificação é o gado 0,8
R$ 250
R$ 180
R$ 90
R$ 35
R$ 864
R$ 985 R$ 1.008 R$ 7.830 69,2%
0,7
Investimento – R$ 11.314/ha
0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0
7,6%
2,2%
1,6%
0,8%
Cercas
Água
Cocho
0,3% Estradas
COE
8,7%
9,5%
Nutrição Adubação Animais
de do solo e do ar, condições que desencadeiam a síndrome da morte do braquiarão, principal causa de degradação de pastagens no bioma amazônico. A cultivar também é menos susceptível ao ataque de cigarrinhas, problema comum na região. Em que ritmo intensificar? Dos 593 ha escolhidos inicialmente para o projeto, 383 ficaram prontos para pastejo rotacionado na safra 2014/2015, o equivalente a 5,3% da área total de pastagem. Embora os módulos tivessem potencial para sustentar 8,5 UA/ha naquela safra, a ocupação foi de 4,51 UA/ha. Mesquita explica o porquê. “Ninguém está preparado para a máxima intensificação no primeiro ano. Nem o solo, nem a planta, nem a equipe da fazenda. O ideal é começar aos poucos e crescer gradativamente, aprendendo com erros e acertos”, diz. Muitas situações são novas e justificam essa cautela. Em pastagens extensivas não adubadas, por exemplo, normalmente se trabalha com lotações baixas e sobra de capim, para enfrentar eventuais veranicos. Já quando se faz uso de adubação e altas lotações, é diferente. Se faltar chuva e a produção de forragem cair bastante, o produtor pode ser obrigado a tirar o gado do piquete de uma hora para outra. “Os riscos são maiores, por isso é preciso estar preparado e ter uma estratégia, como reserva de volumosos ou uma área pulmão, para onde se possa levar o gado, caso necessário”, explica o consultor. Ajustar o manejo à espécie forrageira é outro desafio de quem intensifica. Nos módulos rotacionados adubados da Fazenda Santos Reis, predomina o mombaça (40%), cujos piquetes são pastejados por dois a quatro dias, com período de descanso de apenas 16-24 dias, porque esse capim rebrota mais rápido do que os do gênero Brachiaria. As alturas de entrada e saída dos piquetes são de 70 e 30 cm, respectivamente. Nos módulos de braquiária (31% da área intensiva), a ocupação é de quatro dias e o descanso mais longo (24 a 28 dias). Os animais entram no piquete quando o capim atinge 30 cm de altura e saem quando ele chega a 15 cm. Nas demais pastagens da fazenda, são usados três sistemas de pastejo diferentes: o contínuo, o alternado (20-30 dias de ocupação) e o rotacionado sem adubação. Neste último sistema, adota-se descanso de 24-28 dias, para o mombaça, e de 28-32 DBO fevereiro 2018 37
Capa
Renato Villela
“Munck” ergue bag carregado de sacos de sal.
dias, para a braquiária. As alturas de entrada e saída nessas áreas são mais conservadoras (90 e 40 cm, para o panicum e 40 e 20 cm, para a braquiária). As adubações são realizadas no início de novembro e finalizadas em março/abril, dependendo das chuvas. As aplicações são feitas no máximo quatro dias após a saída dos animais do piquete. Com base na análise do solo e no balanço de massa forrageira, hoje os módulos rotacionados da Santos Reis recebem fertilizante suficiente para sustentar potencialmente 7 UA/ha nas águas. São 320 kg de N, 80 Kg de P2O5 e 50 Kg de K2O/ha/ano, em seis parcelas”, diz o consultor. Essas parcelas não são iguais; podem variar por ciclo de
pastejo, conforme a necessidade. “Nossa meta é atingir uma correlação de 5,3 kg N aplicado para cada @/ha”, informa Mesquita, acrescentando que as aplicações de calcário e gesso são feitas ano sim, ano não, para o manter o pH do solo próximo de 6, com 80% de saturação de base. Como sustentar altas lotações? Com a intensificação das pastagens nas águas, a fazenda precisou adotar estratégias para sustentar o mesmo número de animais na seca. Uma solução foi fazer suplementação dirigida, usando desde proteinados de baixo consumo até proteico-energéticos em grandes quantidades, conforme a categoria animal e o sistema de pastejo. “Nosso objetivo é aumentar o ganho individual que, associado ao aumento na taxa de lotação, garante maior produtividade de carne por hectare”, explica o consultor. Como antes a fazenda fornecia apenas sal mineral comum no cocho, o novo modelo de suplementação foi sendo introduzido aos poucos, mediante treinamento da equipe e ajustes na infraestrutura da propriedade. Os cochos, por exemplo, eram baixos (70 cm) e muito curtos (1,5 cm linear/cabeça), inadequados mesmo para o fornecimento de sal mineral, e tiveram de ser reformados, de acordo com o tipo de suplemento a ser
Rota da suplementação A mudança na estratégia de suplementação dos animais, com fornecimento de produtos em grandes quantidades (alto consumo), exigiu ajustes na logística de distribuição da fazenda. Antes, o sal mineral era levado até os piquetes em uma carreta puxada por trator e armazenado em bombonas plásticas com capacidade para 8 a 10 sacos. Rapidamente, esse sistema se mostrou incapaz de garantir a reposição dos estoques com a agilidade requerida. “Foi aí que imaginei como ganharíamos eficiência operacional se usássemos um caminhão Munck para distribuir o sal armazenado em bags”, relata o consultor Washington Mesquita. Comuns na agricultura, os big bags (embalagens com capacidade para até 1,5 t) armazenam de 25 a 30 sacos de sal. Para suspendê-los já carregados, é necessário um Munck, termo utilizado para designar um tipo de guindaste com comando hidráulico, projetado para facilitar a colocação de objetos pesados em cima dos caminhões. Hoje, a logística de trato funciona da se-
38 DBO fevereiro 2018
guinte forma: o funcionário pega os sacos de sal armazenados no barracão e coloca-os sobre uma esteira rolante, que joga-os dentro do bag. Depois de cheio, esse bag é dependurado no Munck, por meio de alças, e conduzido até a carroceria do caminhão. Carregado, o veículo está pronto para percorrer a “rota do sal”, como são chamados os corredores que cortam os piquetes. Os bags são deixados em pontos estratégicos ao longo do corredor (um recipiente para cada quatro piquetes), onde ficam armazenados em estrados feitos com madeira reciclada (lascas quebradas ou oriundas de cercas antigas), revestidas com lona plásti-
Um tamanho de cocho para cada suplemento Sal mineral linha branca
3
Suplemento de baixo consumo
12
Suplemento de alto consumo
30
Ração
40
Medidas usadas na Fazenda Santos Reis, PA, em centímetros lineares, por cabeça.
ca para proteger os sacos da chuva. Com o estoque à mão, fica fácil para o tratador, que se desloca de moto, fazer a reposição do suplemento no cocho. As vantagens do caminhão Munck não se restringem à facilidade operacional. A nova estratégia permite economia significativa em maquinário, combustível e mão de obra. Para abastecer os cochos de 18.000 animais, meta estabelecida pela fazenda, estima-se que seriam necessários de três a quatro tratores rodando diariamente. Além do gasto com óleo diesel, a fazenda teria de destinar até oito funcionários para essa tarefa: dois para cada trator, mais dois para o caminhão (motorista e ajudante). “No final das contas, o Munck sai mais barato”, diz Mesquita. É preciso ressaltar, porém, que o trator tira de letra terrenos mais acidentados, enquanto o caminhão Munk exige melhor infraestrutura para transitar. “Tivemos de melhorar as estradas e fazer manutenção de todo o trajeto, anualmente”, afirma o consultor.
Capa
Renato Villela
No extensivo, terminação é feita com suplemento de alto consumo.
fornecido (veja quadro da pág 38), e tiveram sua área de acesso, antes esburacada, preenchida com cascalho. No primeiro ano do projeto, foram suplementados apenas alguns lotes com proteinado de baixo consumo (0,5 g/kg de peso vivo), para que os peões pudessem se acostumar à nova rotina e o produtor avaliasse o retorno da tecnologia. Somente depois disso, Mesquita iniciou um programa efetivo de suplementação, que foi reforçado há dois anos pela adoção do “sequestro” de bezerros, sistema já bastante difundido no Centro-Oeste. Essa técnica também se mostrou vantajosa no Pará, porque a região, que historicamente tem média pluviométrica de 1.800 mm de chuvas/ano, começou a registrar secas atípicas. Em 2016, a Santos Reis chegou a ter de comprar volumoso para tratar o gado, mas agora está produzindo 13.000 t de silagem de milho e capim, parte dela destinada ao sequestro de bezerros, estratégia que favorece a reposição. “Consigo comprar bezerro mais barato, porque a maioria dos produtores está com falta de pasto nesse período”, conta Roberto Paulinelli. Outro benefício do “sequestro” está no melhor desempenho dos animais na fase inicial da recria. Segundo Washington Mesquita, se os bezerros fossem suplementados na seca, quando os pastos estão ruins, engordariam no máximo 200 g/cab/dia. Já recebendo 80% de silagem de milho e 20% de concentrado no cocho, por dois meses, ganham 700g/cab/dia. A dieta é ajustada para que esse índice seja inferior ou igual ao do rotacionado nas águas, pois o bovino precisa ter ganho crescente, nunca decrescente. O custo por arroba produzida é menor no “sequestro”: R$ 130, ante R$ 200 a pasto, onde os bezerros ganham uma arroba a menos. Além disso, a liberação das pastagens na seca aumenta sua longevidade, pois a gramínea consegue mobilizar livremente suas reservas de carboidrato para uma nova rebrota e produção de massa verde. “Se os animais comem essa rebrota, o capim cresce menos, o solo fica mais exposto, as invasoras aparecem e, paulatinamente, ele começa a degradar”, diz o consultor. Por que suplementar nas águas? Quando saem do sequestro e voltam para o pasto, os garrotes continuam sendo suplementados, para que eles não percam ritmo de ganho e o produtor possa explorar todo o potencial produtivo das pastagens. Aqueles ani40 DBO fevereiro 2018
mais com peso médio acima de 180 kg em outubro são apartados e conduzidos para os módulos rotacionados adubados, onde recebem de 1 a 3 g de proteinado ou proteico-energético por quilo de peso vivo, conforme as condições do mercado. “Se o preço do milho estiver baixo e houver boa perspectiva para a arroba, usamos proteico-energético em maiores quantidades”, explica Mesquita. Os garrotes permanecem na área rotacionada/adubada por seis a oito meses, ganhando em média 800 g/cab/dia. Quando atingem peso de 360 a 420 kg, no início da seca do ano seguinte, são transferidos para o confinamento. Os bons resultados obtidos com a suplementação nas águas surpreendeu Paulinelli. “Como outros produtores, eu pensava que somente se fazia suplementação na seca, porque nas águas o pasto está bom e por isso não há necessidade”, conta o produtor, que ainda não pensava em termos de custo por arroba ganha. Como os pastos, especialmente aqueles bem manejados e adubados, têm qualidade nesse período, o suplemento fica mais barato, devido ao menor teor de proteína bruta (18% a 20%, ante 40% do produto fornecido na seca). Com isso, o custo da arroba nas águas cai para R$ 70, em contraste com R$ 200, na seca. Como há fartura de capim, os animais comem menos proteinado, sem perder desempenho, mesmo sob altas lotações. “É mais fácil empurrar o carro na descida”, compara Mesquita. Nas pastagens não intensificadas, a estratégia é diferente. Os bezerros são adquiridos no início das águas, com 180 kg, e suplementados com proteinado de baixo consumo (1 a 1,5 g/kg de peso vivo), ganhando, em média, 750 g/cab/dia. Como a pastagem é de pior qualidade, o produto é mais proteico (25% a 30% de PB). Quando os garrotes atingem 300 kg, a suplementação é mantida no mesmo nível, se as condições de mercado forem favoráveis, ou diminuída para 0,5 g/kg de PV, se não forem. Segundo Mesquita, animais com esse peso respondem melhor à suplementação, o que possibilita reduzir a quantidade fornecida, em caso de encarecimento dos grãos, sem prejudicar seu ganho de peso. A partir dos 420 kg, tem início a fase de terminação a pasto, com suplementação mais pesada. Os animais recebem de 3 a 5 g de proteico-energético contendo gordura protegida por quilo de peso vivo e engordam, em média, 1,1 kg/cab/dia. No ano passado, foram abatidos
Renato Villela
Capa
Maioria dos animais do confinamento vem do rotacionado
com 560 kg aos 28-30 meses, apresentando rendimento de 54% a 55%, com GMC (ganho médio em carcaça) de 720 g/cab/dia. Qual o papel do confinamento? Os animais recriados nos módulos rotacionados adubados são majoritariamente terminados em confinamento (70% a 80%). Apenas o fundo fica a pasto para abate no ano seguinte, recebendo o mesmo tipo de suplementação fornecida aos das áreas não intensificadas. Atualmente, com capacidade estática para 4.400 cabeças, o confinamento também ajuda a dar suporte, na seca, às altas lotações obtidas nas águas. A fazenda poderia ter escolhido outras alternativas – arrendamento de pastos, irrigação, semiconfinamento –, mas optou pela engorda exclusivamente a cocho, porque ela confere maior velocidade ao sistema produtivo como um todo, além de poupar terras. Como todas as tecnologias adotadas na fazenda, o confinamento começou pequeno
e cresceu de forma gradativa. Em 2014, foram arraçoados apenas 790 bois, com ração à base de silagem de milho e capim, mais concentrado. Em 2016, esse número pulou para 3.333; em 2017, para 4.400 e, neste ano, a fazenda planeja confinar 7.500 bois. A maioria desses animais é proveniente do rotacionado intensivo adubado. Eles entram nas instalações no início da seca (junho/ julho), pesando 360 a 420 kg. Para que já comecem ganhando peso, são “pré-condicionados” a pasto por 60 dias. Recebem em cochos móveis de 3 a 5 g de proteico-energético por quilo de peso vivo. “É uma forma de subsidiar o ganho compensatório que teríamos nas primeiras semanas, que tecnicamente não nos interessa, pois representa ganho em vísceras e não em carcaça”, explica o consultor. A propriedade faz apenas um giro de confinamento, com duração média de 110 dias. Os bois ganham de 1 a 1,1 kg de carcaça/cab/dia, totalizando 7,2@/cab no período. São abatidos com 20-24 meses, pesando 19@. Esse sistema de engorda ganhou participação crescente no sistema de produção da fazenda. Em 2014/2015, ele respondeu por apenas 8% das 6,61@ produzidas na propriedade. Sua participação no lucro líquido foi de R$ 42,5/ha, 16,45% do total registrado (R$ 258,52/ha). Já no ciclo 2016/2017, o confinamento garantiu 23% da produção (4,3 das 18,7 @ha) e 42% do lucro. Trata-se de uma participação expressiva, mas é bom olhar para o retrovisor. Em 2016, ano de má memória para os confinadores, pois o preço do milho estourou e a arroba não ultrapassou os R$ 129, o confinamento deu prejuízo de R$ 54,33/ha. Nem por isso, a fazenda abandonou essa estratégia de engorda. “Não se pode abrir mão de uma tecnologia por causa de um ciclo ruim. O confinamento é uma ferramenta gerencial para aumento da produtividade e rentabilidade do sistema intensivo, por isso persistimos”, diz Mesquita. n
Foto: Idelson Gomes
“Mula de patrão”
Roberto Paulinelli: paixão pelas mulas desde criança.
42 DBO fevereiro 2018
Musa, Jóia, Clara, Famosa... O ritmo cadenciado da marcha macia, confirmada pelo conforto do cavaleiro, encanta o criador que, debruçado sobre o cercado de madeira, observa seus animais “desfilarem” na pista de areia. “As mulas são a paixão do meu pai”, entrega a filha Bruna Paulinelli. Não é difícil constatar isso. O gosto pela criação de muares, herança afetiva deixada pelo pai João Paulinelli, está expresso nas palavras e, acima de tudo, no olhar carinhoso que Roberto dedica a suas mulas marchadeiras. Com um plantel-base de 130 éguas, entre
mangalarga marchador e mangalarga paulista, 20 jumentas e 200 mulas, o criador faz uma seleção criteriosa, tanto do sêmen dos jumentos quanto dos animais híbridos nascidos. “Sempre busquei produzir uma tropa marchadeira e de boa índole, que eu chamo de ‘mula de patrão’”. Roberto explica os atributos que o animal deve possuir para merecer tal alcunha. “Tem de ter andamento macio, ser manso e de confiança. Sabe como é: nem sempre o patrão é bom cavaleiro, então precisa de um animal confortável, que não refuga, nem dá coice”.
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Reprodução
A regra é não impor regra
ARQUIVO DBO
Qual é a melhor opção para o pecuarista: estação de monta de novilhas antes, depois ou junto das vacas? A resposta varia de acordo com a realidade de cada fazenda.
Para entrar na estação de monta, é desejável que as novilhas tenham bom escore corporal
O ideal para a estação de monta é durar, no máximo, quatro meses”, Alessandra Nicácio, da Embrapa
Marina Salles
A
marina.salles@revistadbo.com.br
o colocar no calendário a estação de monta, o pecuarista facilita a gestão da fazenda, concentra os nascimentos de bezerros e o manejo reprodutivo. Mas, ainda que ele restrinja a estação a três ou quatro meses do ano, pode ficar a dúvida: o ideal é antecipar a reprodução das novilhas em relação à das vacas, começar a estação de ambas na mesma data ou atrasar a das novilhas? Para quem faz inseminação artificial em tempo fixo (IATF) e tem maior controle sobre o ciclo estral dos animais, qualquer estratégia é válida, desde que se respeite a realidade da fazenda. Com as transformações na pecuária nos últimos anos e maiores investimentos em adubação e suplementação, as questões acima ganharam relevância. Segundo Alessandra Nicácio, pesquisadora da Embrapa Gado de Corte, os produtores sempre colocaram as novilhas para entrar em estação de monta antes das vacas com a crença de que, quanto mais cedo elas emprenhassem, melhor seria para a fazenda, porque teriam uma vida útil maior. O raciocínio não está errado. De acordo com José Luiz Vasconcellos, “o professor Zequinha”, da Unesp Botucatu, SP, é indicado para o pecuarista que tem boa oferta de pasto e produz o bezerro do cedo, mas não para todos. “Parir em agosto num pasto de braquiária maravilhoso, de quem faz ILP (integração lavoura-pecuária), é diferente de parir num pasto seco”, alerta o professor. E para cenários tão distintos, existem recomendações diferentes. Para escolher a estratégia mais adequada caso a caso, Zequinha recomenda ao pecuarista dar um passo avante e olhar com carinho para
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suas primíparas. “Se ele disser que as com mais dias de pós-parto estão mais bonitas, ele deve antecipar a entrada (na estação de monta) das novilhas que estão aptas à reprodução, já que elas não têm bezerro ao pé e podem estar prontas até antes das vacas. Agora, se as mais bonitas forem as com menos dias de paridas, o que é comum no Brasil Central, ele deve atrasar as novilhas”, diz. Alessandra, da Embrapa, lembra que esse “estar bonita” tem relação direta com o escore corporal das fêmeas e oferta de forragem no período seco. “As novilhas que ficam mais tempo em pastos de menor qualidade acabam não comendo o quanto precisam, porque a lactação gera uma necessidade nutricional ainda maior do que a gestação e, se essa demanda não é suprida, o animal perde peso e escore enquanto amamenta a cria”, diz. Assim, as novilhas que emprenham mais cedo, e passam mais tempo no pasto seco, tendem a apresentar pior escore corporal já na estação de monta seguinte, enquanto as que pariram mais tarde podem ter melhor condição de gestar um novo bezerro. A constatação da pesquisadora, por muito tempo empírica, ganhou respaldo científico com um experimento conduzido pelo professor Zequinha há mais de dez anos. Na época, ele observou, tanto em animais Nelore quanto em meio-sangue Angus, redução mais acentuada na condição corporal das vacas de primeira cria quando tiveram o parto no início da estação de monta e o pós-parto, consequentemente, no fim do período seco. “A gente já via isso como problema no campo, mas não tinha pesquisas a respeito”, pontua Alessandra. No experimento de Zequinha, entre as novilhas Nelore paridas em setembro, a condição corporal em dezembro, já na estação de monta, teve média de 2,85 (em uma escala de 1 a 5), enquanto a das paridas em dezembro foi de 3,20. O reflexo do escore aparece no desempenho das primíparas na IATF. Teoria posta em prática A Fazenda Quatro Irmãos, em Campo Grande, MS, assessorada pela Única, consultoria especializada em reprodução animal, de Presidente Prudente, SP, adota a estratégia de atrasar as novilhas. O veterinário da empresa, José Ricardo Cardoso de Macedo, conta que o resultado é sensível para a categoria animal mais exigente entre as matrizes. “Hoje, temos uma taxa de prenhez de 50% entre as primíparas na primeira IATF, 15% maior do que era antes do atraso no calendário, e prenhez de 87% após três IATFs”, diz. O esquema começou a ser posto em prática há seis anos. A repetição da estratégia não tem contraindicação, a não ser, segundo o professor Zequi-
Três hipóteses para o calendário da estação de monta 90 dias
Início da estação de monta das vacas
Início da estação de monta
60 dias 30 dias
1º Nov
1º Dez
Novilhas adiantadas Novilhas adiantadas
1º Jan
Fev
Mar
Abr
Mai
Novilhas atrasadas Novilhas e vacas
Jun
Jul
Ago
Set
Parto das novilhas adiantadas
Out
Nov
1º Dez
Parto das novilhas atrasadas
Novilhas atrasadas
nha, quando vira uma fórmula que acomoda o produtor. “O atraso é somente uma ferramenta para, na pastagem intermediária, o pecuarista conseguir emprenhar a primípara. Isso não significa que fazendo esse manejo ele não precisa cuidar do pasto”, diz. Macedo, consultor da Quatro Irmãos, conta que, mesmo fazendo adubação, o proprietário da fazenda não abre mão do novo calendário. “Pensar em adiantar as novilhas, a gente não pensa, nem em fazer a estação delas junto com a das vacas, por conta do resultado da prenhez. O que queremos, sim, é encurtar a estação”. No ano passado, a estação das multíparas na fazenda começou em 1º de outubro e das nulíparas, em 15 de novembro, tendo, ambas, encerramento previsto para 28 de fevereiro. Alessandra, da Embrapa, explica que o ideal é chegar a uma janela de até quatro meses, para não espaçar demais os nascimentos ou ter de manejar os bezerros recém-nascidos junto das vacas em reprodução. Macedo afirma estar trabalhando para diminuir o intervalo gradativamente e a meta é reduzir, em média, 15 dias a cada ano. Para evitar alongar o intervalo entre partos, a técnica de inseminação artificial em tempo fixo (IATF) também é determinante para o sucesso da estratégia, e permite, senão à novilha, pelo menos à primípara ter um bezerro nascido mais cedo. Diego Palucci, médico veterinário e Gerente de Negócios de Corte do Rehagro, consultoria de Belo Horizonte, MG, vê com otimismo os dois lados da moeda. “É verdade que o bezerro da nulípara atrasada tende a ser mais leve, até 10 kg mais leve para cada mês de atraso, mas é melhor ter um bezerro mais leve na primeira estação e uma vaca prenha na segunda, do que essa primípara perder escore corporal e ter mais chances de ficar vazia”, diz. Já o professor Zequinha lembra que o que é bom para uma propriedade pode não ser para outra. Daí a necessidade de o pecuarista olhar para dentro da porteira antes de tomar qualquer decisão. Palucci reforça a mensagem: “O produtor precisa entender que atrasar novilha não faz nenhum sentido para quem faz integração lavoura-pecuária, por exemplo, tem boa oferta de pasto ou faz alguma suplementação. Nesses casos, o que eu
recomendo é fazer a estação junto com as vacas, porque a fêmea, não perdendo escore, vai dar um bezerro mais pesado depois”. Estação de monta conjunta Diretor da Cria Fértil, empresa especializada em inseminação artificial de Goiânia, GO, Ricardo César Passos só trabalha com novilhas e vacas entrando em estação de monta no mesmo dia, e se programa para alcançar a janela, considerada ideal por ele, de intervalo entre partos de 75 dias. A estratégia permite às matrizes zebuínas, cuja gestação dura em média 290 dias, concluir seu ciclo reprodutivo dentro de um ano, embora exija investimentos em nutrição. Para atingir a meta, Passos mantém foco no peso de entrada dos animais na estação de monta, que deve girar em torno de 70% de seu peso adulto. “Se você tem uma vacada comercial de 350 kg, as novilhas precisam pesar 280 kg, porque, nesse patamar, elas já têm maturidade sexual”, justifica. Definido o peso alvo, o passo seguinte é adotar um plano nutricional para alcançar o objetivo e emprenhar mais animais o quanto antes na estação de monta. No caso das novilhas que entram em reprodução com idade entre 12 e 14 meses, outra premissa indispensável é investir em genética para precocidade sexual, para responderem aos protocolos em idade jovem. Independentemente do cenário, priorizar o desempenho das categorias mais jovens da fazenda é, para Passos, a melhor opção. “No Brasil, nossa eficiência produtiva está abaixo de 50% e eu acredito que precisamos mudar isso. Não vai ser possível com todos os rebanhos, mas dá para deslocar o resultado de alguns produtores para cima”, diz. O que o preocupa é a pouca atenção que está sendo dada à recria. “Se de 100 novilhas o pecuarista emprenhar 70% e, depois, de 70 primíparas emprenhar 50%, em dois anos, ele coloca para fora da fazenda 65 fêmeas jovens. Se optar por não descartá-las, para não diminuir o rebanho, sua única alternativa é dar chance para animais que não emprenharam. Animais que podem ter problemas sanitários ou genética inferior. É só isso que precisa ficar claro”, afirma o consultor. n
O pecuarista deve olhar para dentro da porteira antes de tomar qualquer decisão” professor Zequinha, da Unesp
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Melhoramento Kadijah Suleiman
Rodrigo da Costa Gomes, pesquisador da Embrapa Gado de Corte, localizada em Campo Grande, MS, explica que o primeiro passo do estudo, ainda em andamento, foi aferir se havia diferença no consumo de água entre os bovinos no confinamento, e variabilidade genética para a característica de eficiência hídrica. A análise de um banco de dados, cedido à Embrapa, com informações de 749 novilhas, com controle genealógico, avaliadas em provas de ganho de peso promovidas pelo criatório Senepol da Grama, de Pirajuí, SP, mostrou que sim.
Bebedouros eletrônicos poderão ficar nos pastos e facilitar identificação
Eficiência alimentar medida pela água Nova linha de pesquisa da Embrapa pretende selecionar animais via correlação entre consumo de água e de alimentos Marina salles
F
marina.salles@revistadbo.com.br
erramenta de seleção cada vez mais valorizada, a eficiência alimentar – maior produção de carne com a mesma quantidade de alimento – pode ganhar um novo impulso na pecuária brasileira, com a perspectiva de se poder obtê-la a partir de mensurações feitas a pasto, onde é criado 90% do rebanho brasileiro. Até agora, saber quanto um animal ingere de alimento requereu um controle sofisticado e caro, basicamente feito em sistema de confinamento, com cochos eletrônicos. Isso pode mudar, caso se confirme a hipótese de pesquisadores da Embrapa Gado de Corte, de Campo Grande, MS, de que a eficiência alimentar dos bovinos tem alta correlação com o seu consumo de água, permitindo que, ao se calcular um, seja possível estimar o outro. Assim, bastaria a instalação de bebedouros eletrônicos no pasto, a um custo bem mais baixo, para que o problema se resolvesse.
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Números promissores “Avaliando provas de 90 dias de 2014, 2015 e 2016, identificamos uma média de consumo diário de água pelos animais de 24,7 litros, e nessa curva tinham novilhas que bebiam 13 litros/dia e outras que bebiam até 40 litros/dia”, conta Gomes. Gilberto Romeiro de Oliveira Menezes, melhorista da Embrapa, foi quem ficou responsável por avaliar a correlação entre as medidas de consumo de água e de alimento, que deram os primeiros indicativos de que a pesquisa pode estar no caminho certo. A pedido de DBO, ele comentou alguns resultados, ainda preliminares: “Os dados do Senepol da Grama apontam para uma associação positiva entre essas características, o que significa que se eu partir de A como critério de seleção, não vou piorar B”, explica. “Eles também mostraram que a herdabilidade para o consumo hídrico é maior do que para o consumo alimentar”, conclui. O estudo precisa ser repetido com mais animais, com machos e e envolver outras raças, mas é considerado promissor. Os pesquisadores usaram cochos eletrônicos da empresa Intergado, de Contagem, MG, para calcular o consumo hídrico residual (CHR) das novilhas Senepol, com peso médio de 460 kg e idade de 17 meses. A medida é análoga ao consumo alimentar residual (CAR), usado para medir eficiência alimentar e calculado pela relação entre o consumo esperado de cada animal (dado seu peso médio metabólico e ganho de peso) e seu consumo real. Isso permitiu dividir as novilhas em dois grupos (veja tabela na página seguinte): um com alto CHR (que consumiram mais água do que o esperado) e outro com baixo CHR (que consumiram menos água do que o esperado). Os animais com melhor eficiência hídrica, ou seja, baixo CHR, consumiram cerca de 9% menos alimento e tiveram conversão alimentar em torno de 10% maior (entenda as métricas no box ao lado). Comparando os grupos, não houve diferença em relação ao ganho de peso e peso vivo. O acabamento de carcaça e marmoreio foram considerados equiparáveis. Desde a concepção desta nova linha de pesquisa, em 2017, na Embrapa, o que se vislumbra é responder, num futuro próximo, se medindo o consumo de água no pasto será possível estimar o consumo de matéria seca. Gomes afirma que hoje esse processo é bastante
Relação entre eficiência alimentar e hídrica Variável
Alto CHR
Baixo CHR
PV1 final (kg)
467
461
GMD2 (kg/dia)
0,848
0,848
CMS3 (kg/dia)
7,85
7,17
CA4 (kg/
1kg)
9,75
8,87
CAR5 (kg/dia)
0,31
– 0,34
EGS6 (mm)
8,21
8,31
Marmoreio
3,23
3,46
1Peso vivo. 2Ganho médio diário. 3Consumo de matéria seca. 4Conversão alimentar. 5Consumo alimentar residual. 6Espessura de gordura subcutânea (acabamento de carcaça). Fonte: Embrapa
Gado de Corte.
complexo e executado somente por cientistas. “Para medir o consumo de matéria seca no pasto precisamos acompanhar os animais por 10 dias e levá-los duas vezes por dia no curral para ingerirem um mineral em pó, chamado óxido de titânio. Como não é metabolizado, esse mineral sai nas fezes do gado e permite que com uma análise se estime sua ingestão de matéria seca”, diz. Como interfere bastante na rotina dos animais, segundo Gomes, o resultado não é preciso. Se confirmada a alta correlação entre a eficiência alimentar e hídrica dos bovinos, a instalação a campo de bebedouros eletrônicos pode resolver o problema de se mensurar a eficiência alimentar a pasto. E, mesmo no confinamento, Gomes acredita em uma redução nos custos de se investigar essa característica. “Atualmente, medir a eficiência alimentar no confinamento é algo custoso porque você depende não só de ter equipamentos caros, que são os cochos eletrônicos, como também de fornecer uma dieta para os animais por um perío-
do de cerca de 90 dias, fatores que geram um gasto de R$ 1.000/cabeça”, diz. Com a compra unicamente dos bebedouros, ele calcula que esse valor possa cair em torno de 80%. Os sistemas de bebedouro geralmente funcionam por meio da medição do peso do recipiente de hidratação antes e depois de o animal beber água. Testes com Nelore De acordo com Gilberto Menezes, o próximo passo é montar um experimento na Embrapa Gado de Corte com gado Nelore, em que um mesmo grupo de animais seja monitorado no confinamento e no pasto, em período subsequente. “O consumo alimentar a gente não vai conseguir medir nas pastagens, mas podemos ver a relação do consumo hídrico no pasto e no confinamento, para ir fechando o cerco”. Nas Faculdades Associadas de Uberaba (Fazu), análises de eficiência alimentar e hídrica estão sendo feitas com dados de animais Nelore P.O. que passaram por provas de ganho de peso. Juliana Jorge Paschoal, coordenadora do curso de Zootecnia, afirma que o primeiro trabalho publicado confirma a alta correlação entre essas características. O esforço, no momento, é aumentar a acurácia das informações a partir de novos bancos de dados. “Eu acredito que daqui uns quatro anos teremos tudo pronto para fazer uso da eficiência hídrica como parâmetro de seleção”, afirma Juliana. Para Gomes, embora o objetivo principal seja usar o indicador indiretamente para selecionar animais com melhor desempenho alimentar, o critério virá com o bônus da seleção de animais mais eficientes para o consumo de água. “Na minha opinião, essa questão ainda vai recair sobre a pecuária como um novo gás do efeito estufa”, diz. n
No futuro, mensurar a eficiência alimentar a pasto poderá ser mais fácil”, Gilberto Menezes, da Embrapa
Eficiência combinada A avaliação da eficiência alimentar pode ser feita com base em mais de 40 indicadores. No estudo conduzido pela Embrapa, os pesquisadores optaram por relacionar a eficiência hídrica com dois deles, os mais comuns: • Conversão alimentar: correlaciona a quantidade de alimento (matéria seca) ingerida para o ganho de um quilo de peso vivo. Valores mais altos de conversão são, na verdade, piores. Rodrigo Gomes, da Embrapa Gado de Corte, explica que isso acontece porque, se o valor é maior, subentende-se que o animal teve de consumir mais alimento para ganhar 1 kg de peso, ou seja, gerou mais
custos. A limitação da medida é que ela estabelece uma ponte direta com o peso adulto do macho e da fêmea, levando à seleção de animais mais pesados, ponto crítico para a reprodução. • Consumo residual alimentar: calculado pela diferença entre a estimativa do consumo de matéria seca pelo animal e seu consumo efetivo, quando negativo, o CAR demonstra que o animal é mais eficiente, ou seja, demanda menos comida do que o previsto, considerando seu peso e ganho de peso. Um risco de usar o CAR isoladamente é privilegiar animais que comem menos e são mais magros à época de termi-
nação, podendo apresentar pior acabamento de gordura. Na tabela, fica claro que os animais com maior eficiência eficiência hídrica, foram também os que tiveram melhor conversão alimentar e CAR negativo. Apesar do resultado vantajoso em conjunto, Gomes frisa que em qualquer programa de seleção nenhuma dessas características deve ser olhada sozinha. “É por conta das limitações dos critérios que em uma prova de CAR, você precisa fazer o monitoramento do acabamento de carcaça por ultrassom”, exemplifica. “Os melhores resultados são obtidos com a combinação dos fatores”.
DBO fevereiro 2018 47
Genética Senepol faz parceria para coleta de sêmen A ABCB Senepol e a Central Uberaba firmaram parceria para a coleta de sêmen de touros da raça Senepol. O contrato foi assinado por Pedro Crossara, presidente da associação, e por Renato Gonçalves de Andrade, gerente comercial da central de inseminação artificial de bovinos. A parceria terá duração de dois anos e começa a valer em fevereiro. Os associados terão direito a preços exclusivos na contratação dos serviços oferecidos pela Central Uberaba. Segundo Crossara, o objetivo é democratizar o acesso a esse tipo de serviço para pequenos, médios e grandes criatórios. A parce-
Bela Vista coleta 2 milhões de doses Já em sua nova sede, no município de Botucatu, SP, a Central Bela Vista comemora os resultados alcançados em 2017. Com 420 touros em coleta, a empresa produziu mais de 2 milhões de doses de sêmen. Nas novas instalações, a empresa conta com 440 piquetes distribuídos em 130 hectares. Situada em altitude próxima
Divulgação
Caldonegro, promessa de um grande raçador.
Caldonegro, líder absoluto em sumários importantes
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ria transforma a central na “casa” do Senepol e também em um dos maiores polos de genética da raça no mundo. “Recebemos com frequência a visita de comitivas estrangeiras interessadas em adquirir a genética bovina brasileira e agora, com a vinda de touros Senepol, a central passa a ser uma vitrine importante para a raça”, diz Andrade. A Central Uberaba tem capacidade para abrigar 69 touros. O presidente da ABCB Senepol lembra que, com a parceria, as instalações da central também poderão ser utilizadas pelos associados e pela entidade para a realização de dias de campo e outros eventos técnicos. O Senepol chega em 2018 aos 100 anos de seleção no mundo e 18 anos no Brasil.
Embrapa tem prova de nutrição em Goiás
de 1.000 metros, a área é beneficiada pelo clima ameno da Serra de Botucatu, que, com o isolamento sanitário, é importante fator para a produção de sêmen congelado de bovinos e bubalinos das mais diversas raças de corte e de leite. Dois meses após a mudança, a Central Bela Vista obteve a aprovação para renovação de sua certificação ISO 9001 (gestão da empresa) e ISO 14001 (gestão ambiental). Em 2017, a empresa
também firmou parceiras: desde agosto para coleta de sêmen de reprodutores submetidos a teste de progênie da Agro-Pecuária CFM e da DeltaGen. A empresa também faz coleta de touros testados no PNAT da ABCZ, no Qualitas, no Paint (CRV Lagoa), além de dispor dos touros das principais centrais de inseminação do País (ABS Pecplan, Alta Genetics, Araucária Genética, CRI Genética, CRV Lagoa, Gensur e Select Sires).
Pelas marcas obtidas em alguns dos principais sumários da raça Nelore, o touro REM Caldonegro, pertencente à Genética Aditiva (Campo Grande, MS) e listado na bateria da ABS Pecplan (Uberaba, MG), vem se firmando cada vez mais como uma das grandes promessas para, quem sabe, alcançar o topo do ranking de animais de centrais de genética mais procurados pelos pecuaristas. “Sem dúvida é um touro diferenciado, de musculatura evidente, capaz de imprimir aos seus filhos características importantes, como rápido ganho de peso e precocidade sexual”, destaca Argeu Silveira, diretor técnico da Associação Nacional dos Criadores
e Pesquisadores (ANCP). Segundo Silveira, no ano passado, Caldonegro não só foi líder absoluto em três importantes sumários – da própria na ANCP; do PMGZ (Programa de Melhoramento Genético de Zebuínos); e do Geneplus Embrapa –, como bateu recordes em número de pontos nos três índices com caraterísticas gerais dos programas (MGTe; iABCZ; e IQG, respectivamente). Embora tenha se destacado nos sumários, Caldonegro, nascido em 2013, filho de REM Uponic em vaca Provador IZ, ainda possui baixa acurácia (confiabilidade dos resultados), já que até o momento tem poucas progênies avaliadas no mercado.
O Centro de Desempenho Animal da Embrapa Arroz e Feijão iniciou, em fevereiro, mais uma etapa da Avaliação de Consumo Alimentar Residual de Touros Jovens Superiores. A prova é realizada no Núcleo Regional da Embrapa no município de Santo Antônio de Goiás, GO. A prova terá início em 20 de fevereiro e se encerrará em 20 de maio. Participam animais machos Nelore, nascidos entre 20 de agosto e 20 de novembro de 2016. O centro conta com infraestrutura de confinamento com 24 cochos acoplados a balanças eletrônicas, para monitorar o consumo e comportamento alimentar de até 180 animais adultos simultaneamente.
Nutrição
Questão de oportunidade
Daniel Ornelas
Incorporação de grãos umidos de destilarias (WDG) na dieta bovina reduz o custo nutricional da arroba produzida em confinamento em até 16,5%
Pesquisador mostra WDG usado no experimento da Unesp
Ariosto mesquita,
U
de Estrela d’Oeste, SP
ma pesquisa inédita no Brasil, conduzida por professores da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Botucatu, comprovou eficiência e economia nas formulações que incluíram grãos úmidos de destilarias (WDG, do inglês Wet Distillers Grains) como substituto proteico/energético parcial do milho e do farelo de soja no cocho. Comparado com uma dieta comum à base de milho e farelo, as com WDG proporcionam lucro por boi gordo até 39,7% maior (de R$ 456,56 para R$ 637,48). Boa parte disso veio com a redução do custo nutricional da arroba produzida, que caiu até 16,4% (de R$ 88,83 para R$ 74,29). O WDG é um subproduto obtido do processamento de milho para produção de etanol. No Brasil, seis indústrias – quatro no Mato Grosso e duas em Goiás – trabalham com o cereal para a obtenção do biocombustível. Entre elas, apenas uma, a FS Bioenergia, de Lucas do Rio Verde, MT, processa exclusivamente milho. As demais são “flex”: moem tanto cana-de-açúcar quanto milho (este, somente na entressafra da cana). Ao contrário do DDG (Dried Distillers Grains, ou “grãos secos de destilaria”), que carrega de 10% a 15% de umidade em sua composição, o WDG carrega
50 DBO fevereiro 2018
de 67% e 68% (confira reportagem sobre sua utilização na alimentação de bovinos na DBO edição 412, de fevereiro de 2015). No estudo da Unesp, iniciado em junho de 2017 e finalizado em janeiro deste ano, os pesquisadores Otávio Machado Neto, Mário Arrigoni, Cyntia Ludovico e Luís Arthur Chardulo avaliaram desempenho, eficiência, custo alimentar e características de carcaça de 100 animais meio sangue Nelore x Angus. “Optamos por estes animais em função do crescimento, no Brasil, do número de vacas Nelore inseminadas com Angus. Esta composição racial permitirá também a avaliação da qualidade da carne, última etapa deste estudo, que deverá ser concluída em laboratório até março”, explica o professor Otávio Machado Neto, coordenador do trabalho, viabilizado graças a uma parceria público-privada: a Unesp usou sua estrutura técnica (professores, acadêmicos, laboratórios) e de confinamento em Botucatu, SP. A Fazenda Turbilhão, de Estrela d’Oeste, SP, ofereceu os animais e a Cargill, o WDG, produzido na unidade da SJC Bioenergia, uma joint venture entre a multinacional e o Grupo São João, instalada em Quirinópolis, GO. Já o Confinamento Monte Alegre (CMA), de Barretos, doou 15 toneladas de feno de capim tifton-85. O abate aconteceu no dia 14 de dezembro nas instalações do Frigoestrela, em Estrela d’Oeste. Todos os parceiros têm acesso integral ao resultado final e suas avaliações. Avaliação Para a obtenção dos resultados, os pesquisadores submeteram os animais no início do confinamento a uma pré-adaptação de cinco dias. Neste período, o feno foi oferecido sem restrições, juntamente com 1,2 kg/cabeça/dia de farelo de soja. Em seguida veio a dieta de adaptação com percentuais decrescentes de feno (40%, 31%, 24% e 18%). Neste momento, os 100 animais foram divididos em quatro grupos de 25. O primeiro (controle) recebeu alimentação sem WDG. Os outros três receberam o subproduto em 6,5% do total da dieta. Esta fase durou 21 dias. Na dieta final, ao longo de 103 dias, o grupo controle recebeu a composição clássica, com predominância de milho moído (74%) e farelo de soja (10%). Os demais tiveram o milho (energia) e a soja (proteína) substituídos em níveis distintos pelo WDG, que passou a representar percentuais totais de 15%, 30% e 45% da dieta em cada um dos grupos. Os animais (machos inteiros) confinados com peso médio inicial de 370 kg obtiveram ganho
Tabela 1 - Componentes das dietas e correspondentes percentuais de participação nos grupos com níveis crescentes de oferta de grãos úmidos de destilaria (WDG) em substituição parcial e gradual ao milho e farelo de soja
Ariosto Mesquita
Componentes
T - 0% (1)
T - 15% (2)
T - 30% (3)
T - 45% (4)
Bagaço de cana
7,10%
7,10%
7,10%
7,10%
Feno de tifton-85
4,20%
4,20%
4,20%
4,20%
Milho moído
74,92%
65,27%
52,00%
38,73%
Farelo de soja
10,36%
4,78%
2,94%
1,10%
-0-
0,23%
0,34%
0,45%
3,42%
3,42%
3,42%
3,42%
Cloreto de potássio Núcleo mineral-vitamínico
1. 0% de WDG; (2) 15% de WDG; (3) 45% de WDG; (4) 45% DE WDG OBS: preços (por kg) dos alimentos disponibilizados nas dietas: bagaço de cana (R$ 0,08), núcleo (R$ 3,06), milho moído (R$ 0,51), farelo de soja (R$ 1,33), WDG (R$ 0,38) feno de tifton-85 (R$ 1,02) e cloreto de potássio (R$ 4,04).
Otávio Machado Neto: “O frete limita o uso do WDG”
médio diário (GMD) de 1,9 kg e foram abatidos com 615,9 kg. A maior variação de peso vivo final ficou entre o grupo controle, sem inclusão de WDG (601,8 kg), e o que recebeu 30% do WDG (630,08 kg). Em relação às características de carcaça, os números obtidos apontam um equilíbrio entre os grupos (veja tabela 3, na página seguinte). As vantagens no uso do WDG se sobressaíram na avaliação econômica. Em função de seu baixo preço no período da execução do estudo, o custo nutricional da arroba produzida durante o período de confinamento diminuiu na proporção em que aumentou a participação do WDG na dieta e isso influenciou diretamente no aumento da lucratividade pelo boi gordo (os preços atribuídos aos alimentos disponibilizados nas dietas podem ser conferidos na tabela 1, acima). O valor da tonelada do WDG natural à época da pesquisa era de R$ 120, considerando sua produção em Goiás e entrega (frete) em fazenda localizada em um raio de 200 km da indústria. O valor registrado em planilha de custos foi de R$ 380/t por presumir o consumo de matéria seca (o WDG utilizado carregava quase 70% de água). Uma preocupação dos pesquisadores foi em relação ao alto nível de proteína bruta (PB) nas dietas (veja tabela 2, ao lado) Segundo o professor Neto, são valores acima do que comumente são utilizados no Brasil (PB entre 13 e 14%). No entanto, a pesquisa não verificou queda na ingestão de matéria seca e no ganho de peso, geralmente relacionados ao consumo excessivo de proteína. “Isso permite a utilização do WDG como alimento energético, pois apesar de elevar o teor proteico das dietas, não traz danos aos animais”, avalia. Além da redução de custos, Neto considera que o uso do subproduto permite mais segurança à saúde ruminal na medida em que há redução da quantidade de amido oferecido no cocho com o WDG entrando como um substituto proteico-energético. “Ele é um alimento rico em fibra digestível, e não causa acidose láctica”, observa o professor, citando uma enfermida-
de comum em confinamentos de terminação quando há ingestão excessiva de formulações energéticas – a acidose provoca redução do ganho de peso, desidratação e até a morte, caso não seja tratada. Outra vantagem do WDG, segundo Neto, é o fato de sua alta umidade natural ajudar na uniformidade da dieta: “Isso não foi medido, mas adicionamos muito pouca água na dieta final para reduzir o pó e conter a seleção pelo animal”. Após este primeiro estudo, a equipe da Unesp já imagina um segundo trabalho, desta vez avaliando o desempenho do WDG na terminação de animais nelore. Um milhão de toneladas de DDGs Os resíduos da fabricação de etanol de milho começaram a ser utilizados no Brasil em 2012 quando a Usimat, primeira usina flex do país, instalada em Campos de Júlio, MT, iniciou suas operações. Hoje, o Mato Grosso conta com mais duas unidades do tipo, uma em São José do Rio Claro e outra em Jaciara, além de uma usina full (moagem exclusiva de milho) em Lucas do Rio Verde. De acordo com Glauber Silveira, vice-presidente da Associação Brasileira de Tabela 2 - Composição química das dietas com níveis crescentes de grão úmido de destilaria (WDG). T-0% 1
T-15% 2
T- 30% 3
T- 45% 4
PB (%) 5
14,84
16,18
19,11
22,04
FDN (%) 6
16,22
23,45
30,82
38,20
FDN-volumoso(%) 7
9,00
9,00
9,00
9,00
EE (%) 8
3,42
3,57
3,63
3,69
CNF (%) 9
62,76
54,04
43,43
32,83
ELm (Mcal/kg MS) 10
2,17
2,10
2,13
2,12
ELm (Mcal/kg MS) 11
1,49
1,42
1,45
1,45
(1) grupo controle, sem WDG; (2) grupo com 15% de WDG na dieta; (3) grupo com 30% de WDG na dieta; (4) grupo com 45% de WDG na dieta; (5) proteína bruta (6) fibra em detergente neutro; (7) fibra oriunda de volumoso; (8) extrato etéreo ou gordura bruta; (9) carboidratos não fibrosos; (10) energia líquida de mantença na dieta – em megacalorias por quilo de matéria seca; (11) energia líquida de ganho na dieta – em megacalorias por quilo de matéria seca.
DBO fevereiro 2018 51
Nutrição Tabela 3 - Desempenho animal e eficiência econômica na terminação de animais submetidos ou não à dieta com WDG Tratamento1
PI2
PF3
Custo Dieta4
GMD5
Rendimento
Ganho de
de carcaça
carcaça
Custo nutricional da @ produzida
Lucro por animal
0%
369,24
601,78
R$ 0,67
1,80 kg
56,9%
10,52@
R$ 88,83
R$ 456,56
15%
369,75
616,51
R$ 0,62
1,90 kg
56,1%
10,73@
R$ 85,47
R$ 504.64
30%
370,48
630,08
R$ 0,58
2,01 kg
55,3%
10,86@
R$ 79,47
R$ 578,70
45%
369,04
615,32
R$ 0,55
1,90 kg
56,6%
10,90@
R$ 74,29
R$ 637,48
(1) percentual de WDG na dieta final oferecida para cada um dos quatro grupos de 25 animais; (2) peso inicial médio por animal; (3) peso final médio por animal (4) por quilo de matéria seca; (5) ganho de peso médio diário por animal. OBS: Total de 129 dias em confinamento, incluindo: cinco dias em dieta de pré-adaptação, 21 dias em dieta de adaptação e 103 dias em dieta final.
Produtores de Milho (Abramilho) e um dos diretores da recém-criada União Nacional do Etanol de Milho (Unem), só as quatro usinas do Mato Grosso devem processar perto de 1,2 milhão de toneladas de milho neste ano. “Isso representa uma produção de 500 milhões de litros de etanol e de 250 mil toneladas de resíduos secos”, diz, se referindo aos DDGs (Dried Distillers Grains with Solubles, ou grãos secos de destilaria com solúveis – resultado da secagem do WDGs). “Trazendo este cálculo para grãos úmidos, este número seria pelo menos três vezes superior em função da carga de água”, completa. Silveira prevê uma expansão considerável do mercado de etanol de milho, devido à grande disponibilidade do cereal no Centro-Oeste. Em recente apresentação, ele mostrou dados de junho de 2017 da Companhia Nacional de Abastecimento, segundo os
quais a relação entre o que produz e o que é consumido internamente no Brasil aponta para um superávit, apenas no Mato Grosso, de 23,4 milhões de toneladas de milho. “Com os projetos já confirmados e em implantação, em cinco anos o estado deverá produzir dois bilhões de litros de etanol e um milhão de toneladas de DDGs”, estima. Em Goiás, duas fábricas produzem etanol de milho no modelo flex: a SJC Bioenergia, em Quirinópolis, e a Usina Rio Verde, em Rio Verde. A SJC Bioenergia trabalha com o cereal de dezembro a março, na entressafra da cana. Na safra 2016/2017, moeu 600 t/dia. Até janeiro ainda não havia fechado os números da safra 2017/2018. Sua capacidade instalada, entretanto, é de 1.600 t/dia de milho, o suficiente para produzir perto de 600 t/dia de WDG, equivalente a 72 mil toneladas em quatro meses. n
DDG ou WDG? Uma das motivações do estudo da Unesp vem da previsão de oferta crescente de resíduos de grãos úmidos e secos, sobretudo no Mato Grosso, Estado onde o cereal de segunda safra historicamente tem o menor preço de mercado no Brasil. Mas, no eventual uso deste subproduto para a alimentação de bovinos, em que o pecuarista deve optar: DDG ou WDG? O professor Otávio Machado Neto é da opinião de que o maior problema para o DDG se firmar no mercado é o custo da secagem. “Alguns diretores de usinas me disseram que o alto preço de um secador é o gargalo principal. Um deles me relatou que um equipamento simples exigiria desembolso de R$ 5 milhões para uma vida útil de cinco anos”, conta o professor. Por outro lado, o DDG suporta armazenagem por longo período e seu valor nutricional concentrado (por
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ser seco) viabiliza o frete por longas distâncias. Já o principal limitador do WDG, segundo ele, é justamente a distância. O frete tende a ser alto diante do volume de água que carrega. “O produtor tem de fazer conta. Talvez um raio de distância de 200 km entre a propriedade e a indústria fornecedora seja o limite. Nossa pesquisa foi feita em São Paulo com WDG trazido de Goiás. Dependendo dos preços finais e em sistemas produtivos comerciais, este cenário seria proibitivo pelo custo de transporte”, avalia. Outro limitante à utilização do WDG seria a necessidade de consumo em curto espaço de tempo para evitar deterioração. Para tentar superar este empecilho, a equipe da Unesp recebeu o WDG (200 toneladas) em junho de 2017 e fechou toda a carga em silos bag. “O último foi aber-
to no início de dezembro em muito bom estado. Houve uma leve degeneração na parte frontal, mas sem comprometimento da qualidade total”, conta Neto. Para não apostar “no escuro”, os pesquisadores se preveniram fazendo a inoculação da carga com um combo de lactobacilos: “Não sabíamos como seria o comportamento no material em silos. Dessa forma, preferimos pecar por excesso na tentativa de conter eventual deterioração anaeróbica diante da exposição ao oxigênio”. O custo desta operação, segundo ele, foi de R$ 700 para cada tonelada tratada. No entanto, este procedimento não pode ser considerado em termos científicos. “Não temos a informação se a inoculação foi efetiva, uma vez que tratei 100% do material. O fato é que o WDG ficou viável até o fim do experimento”, afirma.
Artigo
Moacyr Corsi
Por que sistemas intensivos não avançam com maior rapidez? Moacyr Corsi Engenheiro agrônomo, professor titular do Departamento de Zootecnia da Esalq/ USP, de Piracicaba. Colaborou: Laís Bellodi Arruda Graduanda em Ciências Agronômicas da Esalq/USP.
P
articipei, no ano passado, em Rondonópolis, MT, durante o 8º Simpósio Nutripura, de uma mesa redonda em que se questionava as razões pelas quais não ocorre maior aceitação dos sistemas intensivos de produção na pecuária. Esse questionamento me fez lembrar uma conversa que tive, no início da década de 70, com o doutor Aristeu Mendes Peixoto, à época catedrático da zootecnia de ruminantes da Esalq. Era bem cedo, quando o encontrei na sala do café. Logo, ele externou que eu parecia preocupado. Relatei que havia vendido um gado e que, após ter feito os cálculos, percebi que não havia tido o lucro esperado. Ele, na calma que o caracterizava, perguntou se o comprador fazia esse tipo de negócio com frequência. Afirmei que devia fazer, ao menos, uma dúzia de tentativas ao dia. O doutor Aristeu, então, colocou a xícara de café sobre o balcão e me passou mais uma das suas lições inesquecíveis, ao fazer a seguinte pergunta: “Você vende esse gado três a quatro vezes no ano e quer competir com alguém que treina muito, várias
Falta de coleta, análise e interpretação de dados
Insegurança para realizar investimentos
Desconhecimento do potencial produtivo/econômico dos sistemas de produção
Indisciplina ao realizar as atividades produtivas (plantio, adubação, controle de doenças, pragas e plantas invasoras, etc..)
Ausência de parâmetros (índices produtivoseconômicos) desafiadores
Podem aplicar a tecnologia correta, mas não no momento certo e como consequência colhem resultados indesejados.
Limita tomadas de decisão para baixar os custos de produção
Planejamento questionável ao definir metas
Diminuem a credibilidade econômica e a confiança do produto no sistema de produção pecuária
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vezes ao dia? Você terá pouca chance nessa disputa”. A mensagem dessa conversa foi clara no sentido de que devemos controlar nossos negócios. Naquele dia resolvi comprar uma balança e, desde então, uso esse equipamento para tomar decisões em sistemas de exploração intensiva. Do mesmo modo, na ocasião da mesa redonda do simpósio no Mato Grosso, apontei que não haveria progressos na aceitação da intensificação da pecuária se não ocorresse a coleta, análise e, principalmente, a interpretação de dados. Isto porque a falta de informações gera insegurança para que se realizem investimentos no sistema de produção. Já ouvi relatos de um pecuarista que, no início da implantação do projeto de intensificação, valorizava as visitas de amigos que o elogiavam em relação às benfeitorias da propriedade, embora fossem mais comedidos em relação à iniciativa inovadora de intensificação. Após um ano, esse produtor me confessou que gostava de receber visitas, mas que não tinha tanto entusiasmo em lhes mostrar tudo o que havia sido implantado. Passado mais algum tempo, disse-me que não conseguia entender o amigo que não usava dessas ferramentas e passou a limitar visitas à sua fazenda. Analisando o comportamento deste pecuarista é possível que, no início do projeto, ele precisasse de afirmação por meio das opiniões que apoiassem suas iniciativas de intensificação. Depois, quando os dados coletados passaram a indicar resultados positivos, passou a ser menos dependente de observações de terceiros e, finalmente, se convenceu de que a análise dos resultados lhe permitia sentir-se seguro produtiva e economicamente. A falta de coleta, análise e interpretação de dados leva ao desconhecimento do potencial produtivo/econômico do sistema de produção. Como consequência, impede a obtenção de parâmetros (índices produtivos/ econômicos) desafiadores. Sem eles, o planejamento para se definir metas que permitam a sustentabilidade econômica, ambiental e social da pecuária é fortemente questionável. E, sem planejamento, o produtor comete uma série de erros que corrobora para os maus resultados obtidos atualmente na atividade, como está apresentado na ilustração. Hoje, considera-se uma produtividade entre 12 a 15@/ha/ano como “adequada” à pecuá ria. Nesse caso, com o nível de preço da arroba em R$148/@ (fim de janeiro, praça de São Paulo), a atividade poderia ser comparada à produção de 25 a 31
sacos de soja por hectare (R$ 71/saca de 60 kg, cotação do Cepea em Paranaguá, PR, no mesmo período). Considerando-se que uma produtividade razoável para a soja está na casa de 50 sacos/ha, isso equivaleria a uma produtividade de 24@/ha/ano. Assim, com níveis abaixo de 30@/ha/ano, a pecuária terá poucas chances de ser protagonista do agronegócio; continuará sendo coadjuvante. A falta de dados sustenta a indisciplina do pecua rista em realizar, no momento correto, a tecnologia necessária. Nesse sentido, entende-se por coleta de informações o reconhecimento da situação do sistema de produção. Com as informações em mãos, é possível se realizar a análise dos dados, que consta na comparação dos índices obtidos com parâmetros já estabelecidos. Contudo, apenas a análise dos dados não é suficiente para se conseguir modificar a situação do sistema. Falta, nesse caso, o aspecto mais importante, que é a interpretação dos mesmos. Essa, por sua vez, consta na interação desses parâmetros com cada sistema de produção para que, com isso, possa se definir e se tomar decisões com base na individualidade de cada projeto. Facilmente, o produtor que atrasa a adubação por 30 dias no início do período chuvoso (coleta), num sistema de pastagens de alta lotação (4 cabeças/ha)
e desempenho animal (ganho de 750 gramas/cabeça/ dia) (análise) deixa de ganhar cerca de 3@/ha (30 x 750 (sinal de dividido) 4 cabeças = 90 kg) (interpretação). Nesse mesmo sentido, se há demora para controlar ataques de lagarta ou cigarrinha, seu lucro pode ser reduzido em mais 4 ou 5@/ha. Recentemente, mostramos em palestra que, em apenas oito erros dos possíveis a serem cometidos na propriedade, a redução na receita líquida pode equivaler a uma soma de 35@/ha/ ano em sistemas de exploração intensiva de pastagem. (veja matéria publicada na edição de novembro/2017 desta revista) Porém, quando se conhece e se compreende os índices da fazenda, é possível, em épocas de retorno mais estreito do sistema, ajustar os gastos sem prejudicar a produtividade, a partir da mudança de comportamentos relacionados a gargalos do sistema, como a disciplina com relação à qualidade e ao momento de execução de atividades. Assim, é possível avaliar a eficiência da tecnologia aplicada com relação ao uso de adubação, defensivos, suplementação nutricional do rebanho, etc. Para concluir, comparo o que disse a mim o doutor Aristeu naquela manhã da década de 70 com o significado do ditado popular que diz: “São poucos os que resistem, por paixão, à falta de lucro na atividade”. n
DBO fevereiro 2018 55
Tecnologia
Promissora associação
fotos embrapa sorgo
Pesquisas conduzidas com bactérias promotoras de crescimento indicam aumento na produção forrageira e no teor proteico do capim
Pastagem formada com sementes tratadas com Azospirillum em um dos ensaios realizados pela Embrapa
Bactérias promotoras de crescimento produzem fitormônios que estimulam a produção de perfilhos no capim
Maristela Franco
D
maristela@revistadbo.com.br
esde que a agrônoma Johanna Döbereiner (a cientista brasileira mais citada pela comunidade científica mundial) provou, na década de 60, que bactérias do gênero Rhizobium fixadoras de nitrogênio atmosférico podiam ser aliadas preciosas da cultura da soja, poupando adubo nitrogenado, pesquisadores vêm estudando novas associações promissoras, inclusive com gramíneas forrageiras. A Embrapa Soja acabou de concluir uma pesquisa de fôlego nessa área, constatando aumento de 15% na produção forrageira e de 25% no teor de proteína bruta em pastagens das braquiárias brizanta e ruziziensis, formadas com sementes inoculadas com cepas específicas do gênero Azospirillum brasiliense. Classificada como bactéria promotora de crescimento vegetal (BPCV), o Azospirillum já é usada com sucesso em lavouras de milho e, em associação com rizóbios, nas culturas da soja e do feijoeiro. O primeiro inoculante comercial para uso em braquiária, desenvolvido com base nas pesquisas da Embrapa, foi lançado neste mês, durante a Show Rural Coopavel, em Cascavel, PR, pela empresa paranaense Total Tecnologia. Foi a própria Johanna Döbereiner quem descobriu, na década de 70, que algumas gramíneas forrageiras se mantinham produtivas ao longo do ano, com ajuda de bactérias encontradas em suas raízes. Posteriormente, constatou-se que esses microrganismos não fixam quantidades tão grandes de nitrogênio como os
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Planta inoculada (à dir.) apresenta maior quantidade de raízes, o que lhe garante melhor resistência à seca.
rizóbios nas leguminosas, a ponto de dispensar adubações. Como o capim tem fisiologia diferente, suas raízes são “colonizadas” por outros gêneros de bactérias, que disponibilizam no máximo 40 kg de N/ha. “Trata-se de uma contribuição importante, pois é possível reduzir o emprego de fertilizantes e seu impacto sobre o meio ambiente, mas o que realmente diferencia as BPCVs que se associam ao capim são sua capacidade de suprimir patógenos, ajudar a solubilizar fosfatos e, principalmente, exsudar fitormônios, substâncias químicas que atuam internamente como reguladores de processos fisiológicos e promotores naturais de crescimento, levando à maior produção de massa forrageira”, explica a agrônoma Mariângela Hungria, pesquisadora da Embrapa Soja. O trabalho com Azospirillum em braquiárias teve duração de cinco anos. Foram realizados ensaios a campo no Paraná e no Mato Grosso do Sul, comparando-se três tratamentos: inoculação das sementes com bactérias mais adubação em cobertura com 40 kg/ha de nitrogênio, na forma de ureia, cerca de 30 dias após a emergência; apenas aplicação de fertilizante nitrogenado (40 kg de N/ha) e nem adaubação nem inoculação (testemunha). Os pesquisadores realizaram 26 cortes para avaliação de produção de massa forrageira e análise do teor proteico nas folhas. “Constatamos que o tratamento com 40 kg de fertilizante mais inoculante garantiu produção equivalente à que teríamos com 80 kg de adubo, ou seja, a bactéria substituiu bem esse insumo”, informa Mariangela. Testada por dois anos em fazendas, a tecnologia se mostrou economi-
camente viável. A inoculação sai por R$ 10 a R$ 15/ ha, enquanto 40 kg de adubo nitrogenado (quantidade que a bactéria consegue fixar e o produtor não precisa comprar) custa no mínimo R$ 150/ha. “Temos uma redução de custo expressiva na formação da pastagem”, diz a pesquisadora. Se considerado o aumento de 15% na produção e de 25% no teor de proteína do capim, a relação custo-benefício se torna ainda mais positiva. Resultados com Paiaguás Outro experimento com bactérias promotoras de crescimento vegetal foi conduzido em 2017, por Camila Duarte, no Departamento de Zootecnia da Universidade Estadual de Maringá, como parte de sua tese de doutorado, que tem Mariangela Hungria e Ulysses Cecato, da UEM, como orientadores. Camila registrou bons resultados com esses microorganismos em associação com braquiária brizanta, cultivar Paiaguás, em casa de vegetação. Ela avaliou tratamentos com duas estirpes de Azospirillum brasiliense, duas de Pseudomonas fluorescens e uma de Pantoea ananatis, em comparação com plantas não inoculadas. Os melhores resultados foram obtidos com as cepas Azospirillum fluorescens CCTB 03 e Pantoea ananatis AMG221, que apresentaram alongamento folear de 2,28 e 2,14 cm/dia, respectivamente, ante 1,06 cm da testemunha (aumento de 115% e 106%). Essas cepas também favoreceram a produção de 65,2 e 63,7 perfilhos/vaso, respectivamente, ante 30,8 do capim não inoculado. Todos os tratamentos com BPCVs registraram incremento na produção de massa verde. A diferença em relação à testemunha foi crescendo a cada corte realizado ao longo do ano (veja tabela). As cinco cepas testadas garantiram aumento de 23,5%, 34%, 84,7%, 68,2% e 76,4% na produção, respectivamente. As plantas tratadas com a cepa Azospirillum fluorescens AMG221 garantiram não apenas maior quantidade de forragem total (50 g de matéria seca por vaso), mas também desempenho mais consistente, começando com 15,49 g, no primeiro corte, e terminando com 25,86 g de MS/vaso, no último. Mais uma vez o bom desempenho das plantas inoculadas foi atribuído aos fitormônios produzidos pelas bactérias, principalmen-
Mariangela Hungria, da Embrapa Soja, mostra novas aliadas do capim.
te o ácido indol acético, que atua na divisão celular e influi no crescimento das folhas, colmos e sistema radicular, aumentando, consequentemente, a produção de massa forrageira. Com raízes abundantes e longas, a planta consegue absorver maior quantidade de água e nutrientes, tornando-se mais resistente ao estresse hídrico e a doenças. Os pesquisadores agora querem estudar o efeito dos fitormônios na produção de raízes, cujo crescimento eles favorecem. Também pretendem analisar a viabilidade da reinoculação, que poderia ser feita por meio de pulverizações, ajudando a perenizar pastagens e mantê-las sempre produtivas. Camila e Mariangela fazem questão de ressaltar os benefícios que as BPCVs trazem para o meio ambiente, já que a maior produção de forragem ajuda no sequestro de carbono da atmosfera. No trabalho conduzido por Mariangela, estimou-se que o aumento de 15% na produção de biomassa seriam equivalentes a 100 kg de carbono por hectare/ano ou 300 kg de equivalente CO2/ha/ano. Considerando-se a economia com adubo nitrogenado (40 kg de N/ha), se teria outros 180 kg de CO2/ha. “Trata-se de uma tecnologia em plena sintonia com as metas do Plano ABC (Agricultura de Baixa Emissão de Carbono)”, salienta a pesquisadora da Embrapa. n Produção forrageira de Paiguás inoculada com diferentes cepas de bactérias (em g de MS/vaso)
camila duarte
Bactérias/Cortes
Experimento em casa de vegetação da UEM
1
2
3
4
5
6
Final Total
Não inoculado
11,96 9,54 10,95 13,05 11,56 11,54 16,25
85
A. brasiliense Ab-V5
13,10 9,03 12,78 14,86 15,36 15,51 24,42
105
A. brasiliense Ab-V6
14,88 10,49 13,44 13,96 12,62 21,64 27,40
114
P. fluorescens CCTB 03 15,49 10,77 14,54 16,98 22,44 25,86 50,78
157
P. fluorescens ET76
14,35 10,23 14,90 17,23 20,27 23,75 41,78
143
P. ananatis AMG521
13,86 11,29 15,82 18,64 20,99 30,05 39,68
150
Fonte: Camila Fernandes Domingues Duarte/UEM
DBO fevereiro 2018 57
Fatos & Causos Veterinários
Enrico Ortolani
A língua azul pode nos complicar?
U Professor titular da Clínica de Ruminantes da FMVZ-USP ortolani@usp.br
nnn Doença provocada por vírus ataca ovinos mas bovinos parecem não estar imunes. Todo cuidado é pouco.
nnn
ma má notícia no apagar das luzes de 2017 passou despercebida de nossas fontes de informação pecuárias. A Turquia, grande importadora de bovinos vivos do Brasil, suspendeu as compras do Rio Grande do Sul. Motivo: o surgimento de dois casos de língua azul em ovinos na região de Santa Maria, RS. A partir daí, as autoridades sanitárias do Uruguai se puseram em vigilância total na fronteira seca com o Brasil para evitar a chegada da doença. Seria uma intriga internacional? Por que todo esse embaraço? A língua azul é causada por um vírus que ataca primordialmente ovinos, vez por outra bovinos, e raramente caprinos e búfalos. O transmissor é o mosquitinho pólvora, chamado de maruim, que pica o animal infectado, se alimenta do sangue dele, contamina-o e repassa o vírus à rês sadia. Esse mosquitinho vive por 90 dias, com mais frequência no período chuvoso e quente, em locais úmidos e pantanosos. O maruim está presente em todo o Brasil. O vírus não sobrevive fora do mosquito ou do ruminante. Agulhas contaminadas, carrapatos, piolhos e outros agentes sugadores também poderiam mecanicamente carrear o agente. Em alguns casos, o vírus pode ultrapassar a placenta e contaminar o feto. Sêmen e embriões também poderiam adquirir a doença. Nos ovinos, a língua azul provoca febrão prolongado, inchaço na ganacha e na língua, tornando-a engrossada e azulada, devido à menor circulação de sangue, lacrimejamento, salivação, perda de apetite, pneumonia, diarreia com sangue, fraqueza, torcicolo, manqueira, abortamento e daí por diante. Alguns ovinos morrem. Animais que sobrevivem apresentam marcado retardo de crescimento e baixa produtividade. Nos bovinos, esses sintomas são mais moderados, o que não impede que alguns poucos possam morrer, abortar ou reduzir a produtividade. Não há tratamento específico e, felizmente, a língua azul não atinge o homem.
Só as refinadas O interessante é que a doença se manifesta em raças ovinas mais refinadas, não atingindo as primitivas e resistentes, como a Santa Inês. Mesmo sem ficarem doentes, alguns podem manter no sangue pequenas quantidades de vírus. Assim, duas situações poderiam dar início a um surto em ovinos: ou quando uma raça sensível é introduzida em áreas que tenham o vírus em animais não doentes, mas contaminados; ou no caso de estes últimos serem introduzidos em reOvino acometido: febre alta e vermelhidão nas orelhas e narinas. banhos mais propensos à doença. 58 DBO fevereiro 2018
Nas duas situações a presença dos maruins é essencial. Os zebuínos estariam imunes à língua azul por serem também primitivos e resistentes? Curiosamente, o primeiro isolamento do vírus em gado bovino brasileiro foi feito em 1980, num rebanho Nelore importado pelos Estados Unidos, que estava em quarentena naquele país antes de ser liberado. O Ministério da Agricultura jurou que os animais não tiveram a doença, pois até aquele momento a enfermidade nunca tinha sido descrita no Brasil. Voltando no tempo, é possível que os Nelores importados da Índia também já portassem o vírus, pois a terra dos marajás luta contra essa doença há mais de 50 anos. Depois dessa mancada junto aos caubóis norte-americanos, os pesquisadores começaram a procurar anticorpos contra o vírus em bovinos e não é que acharam de Norte a Sul! Onde há esses anticorpos existe o vírus. Por incrível que pareça, a doença até agora não foi diagnostica em bovinos, mas houve surtos em ovinos: em 2001, no Paraná; em 2009, no Rio Grande do Sul; em 2013, no Rio de Janeiro e agora de novo em terras gaúchas. Por que os bovinos brasileiros não pegam essa doença, diferente do que acontece em outros locais do mundo? Animais resistentes? Falta de diagnóstico? Só Deus sabe! Na década passada a língua azul atacou os ruminantes da Europa, começando por Bélgica, Holanda, França, Alemanha e Suíça, passando pela Itália e outros países do Mediterrâneo. Foi um deus-nos-acuda e um prejuízo incalculável. O surto começava com os ovinos, açoitando em seguida os bovinos de leite e em menor grau os de corte. O transporte de animais, em especial de bovinos que mantêm o vírus mais tempo no sangue, de áreas infectadas teve que ser proibido até a erradicação do surto. Aí que mora o perigo! Pecuaristas gaúchos que vendem gado para a Turquia estão temporariamente num mato sem cachorro. E se a doença se espalha Brasil afora? Como ficarão outras centenas de pecuaristas que se especializaram em exportação de bovinos vivos? O controle da doença é complicado, pois o combate ao mosquito é quase impraticável. O ponto chave está no uso de uma vacina eficiente, mas não disponível no Brasil. A meu ver, o governo brasileiro deveria oferecer vacinas suficientes para imunizar ovinos em casos de surto para evitar algum risco de espraiamento da doença na região. Além disso, os veterinários deveriam ser mais bem treinados para diagnosticar a língua azul. Temos que ter em mente que sempre existe algum implicante irlandês, de olho atento, para botar defeito e complicar nossa tão importante exportação de carne bovina mundo afora. Isola! n
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Saúde Animal
Tristeza à espreita nas áreas de ILP do RS
Renato Villela
Transição dos terneiros das áreas sem carrapato para pastagens com a presença do parasita é um desafio para os produtores gaúchos
Terneiros que saem da resteva para áreas infestadas de carrapatos correm mais riscos
60 DBO
Renato Villela
C
renato.villela@revistadbo.com.br
olocar as vacas recém-paridas para pastejar nas áreas agrícolas de ILP – Integração Lavoura – Pecuária, tem se tornado uma medida arriscada para criadores gaúchos, que estão perdendo seus terneiros acometidos por TPB – Tristeza Parasitária Bovina.O problema não está relacionado às pastagens de aveia e azevém, que ocupam sazonalmente o espaço da soja ou do arroz, mas ao retorno desses animais aos pastos formados ou campos nativos, infestados de parasitas, após o fim do pastejo. É que nas áreas de integração, por conta da janela de cultura agrícola, quase não há carrapatos. O que para as mães é uma mera transição, dentro do sistema integrado, para as crias tem se revelado fatal. “Os bezerros entram nas pastagens desprotegidos, uma vez que não tiveram contato com carrapato nos primeiros meses de vida e por isso não desenvolveram imunidade ativa capaz de protegê-los contra os agentes patogênicos da anaplasmose e babesiose”, conta Rovaina Doyle, pesquisadora do IPVDF – Instituto de Pesquisas Veterinárias Desidério Finamor, de Eldorado do Sul. O veterinário Felipe Ribeiro Scherer, da Central NS Consultoria Veterinária, de Júlio de Castilhos, conhece de perto essa realidade. Scherer assessora dezenas de propriedades localizadas no centro do Estado onde a pecuária divide seu espaço com a agricultura. Como é
fevereiro 2018
comum na região, que tem forte presença da agricultura, em especial a soja, a estação de monta acontece num período diferente em relação ao restante do País. As vacas entram em reprodução de agosto a outubro e os bezerros nascem de maio a julho, quando as pastagens de aveia e azevém, ricas em proteína, já estão bem formadas na soca da soja. “É a melhor época de comida, tanto em qualidade quanto em qualidade, o que permite com que as vacas comam bem e produzam mais leite para os seus terneiros”, justifica o veterinário. Os números comprovam que a estratégia é bem-sucedida. Segundo Scherer, não é raro encontrar bezerros ao pé da vaca, com sete meses e prestes a desmamar pesando 250 kg. A partir de outubro, no entanto, estas áreas retornam à agricultura para o plantio subsequente da oleoginosa, obrigando vacas e crias a fazerem o caminho de volta às pastagens perenes. É aí que mora o perigo. Os terneiros, ao contrário de suas mães, praticamente não tiveram contato com o carrapato durante sua vida, uma vez que as pastagens de inverno, onde estavam, ficam praticamente “limpas”, já que a área anteriormente foi ocupada pela cultura agrícola, quebrando o ciclo da praga. Essa falta de “vivência” com o inimigo cobra seu preço mais adiante, pois a imunidade passiva, aquela adquirida via colostro na amamentação, tem duração limitada e perdura somente por três a quatro meses. À medida que essa proteção se esvai o risco aumenta. Os terneiros mais susceptíveis são acometidos pela Tristeza. Segundo o veterinário, é muito comum a doença se manifestar em 20% a 30% dos lotes. A TPB, complexo de doenças que inclui a anaplasmose e a babesiose, é a principal causa de morte de bovinos no Rio Grande do Sul (veja quadro na página ao lado). O que fazer? Controlar a Tristeza não é uma tarefa simples. As “vacinas” do IPVDF – a denominação correta é “premunição controlada” – contra a doença deixaram de ser produzidas em 2011, depois que uma portaria do Ministério da Agricultura exigiu readequações na planta do laboratório. O projeto de modernização, no entanto, não foi adiante pela falta de recursos, reflexo da situação de penúria que se arrasta e castiga o setor público no Rio Grande do Sul e que culminou até mesmo com a extinção da centenária Fepagro – Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária, há dois anos (o IPDVF foi transfe-
rido para a Secretaria Estadual da Agricultura, Pecuária e Irrigação). “Queríamos voltar a produzir, pois é uma herança científica do nosso laboratório, mas não temos condições atualmente”, diz Rovaina Doyle. Outro método de prevenção bastante conhecido é a premunição clássica, que prevê a inoculação de sangue de bovinos portadores crônicos de TPB em animais susceptíveis, seguido de tratamento com quimioterápico quando se estabelece a doença na fase aguda. Utilizada desde o início do século passado para imunizar bovinos de áreas livres de carrapatos e hemoparasitos a serem introduzidos em regiões onde o agente causador da doença está presente, a técnica requer o acompanhamento de um profissional experiente para que seja bem-sucedida. Diante dessas circunstâncias e graças também à facilidade de aquisição de produtos veterinários e à praticidade de aplicação, os produtores têm recorrido à quimioprofilaxia para controlar a doença. A medida consiste na administração de um antimicrobiano ou quimioterápico em doses subterapêuticas, ou seja, abaixo do recomendado para o tratamento da doença clínica. O objetivo é combater parcialmente os hemoparasitos na corrente sanguínea, de modo que sobrevivam numa quantidade insuficiente para desencadear a doença clínica, mas o bastante para estimular o desenvolvimento da resposta imunológica protetora. Os fármacos mais indicados atualmente são o dipropionato de imidocarbe e diaceturato de diminazeno. Existem muitas variáveis que podem prejudicar a eficiência do protocolo quimioterápico, por isso o produtor deve estar atento. Um dos cuidados a serem tomados é permitir o carrapateamento dos animais para que os parasitas possam inocular os patógenos. “Os bovinos precisam ter contato com alta infestação por, no mínimo, 15 dias após o início do protocolo”, diz a pesquisadora. Outras medidas auxiliares são a nutrição adequada e evitar longas viagens no período, para que a resposta imunológica seja a melhor possível. Vale ressaltar que os produtores e até mesmo técnicos têm dúvidas sobre o momento certo de aplicação do fármaco, do número de aplicações e do intervalo entre elas. Não há uma receita a ser seguida. “É tudo muito empírico”, diz a pesquisadora. O recomendado é seguir os protocolos prescritos por veterinários que prestam consultoria ou por empresas de saúde animal. Existem vários disponíveis no mercado. Controle do carrapato Para o veterinário e consultor Octaviano Pereira Neto, seguir um protocolo de quimioprofilaxia, seja ele qual for, é uma importante medida preventiva, mas não suficiente para controlar a doença. “Muitas vezes o produtor fica preocupado somente com a Tristeza e se esquece do carrapato”. Segundo Pereira, não por acaso, os picos de TPB no Rio Grande do Sul acontecem a partir de abril, período que corresponde à terceira geração de carrapatos, quando a população do parasita atingiu um patamar bastante elevado. “Isso significa que não hou-
ve controle no início da infestação”, diz. Se a presença do parasita é fundamental para estimular o desenvolvimento da resposta imune – dificuldade que está sendo enfrentada no manejo das áreas de ILP – e a alta infestação é um fator de risco para desencadear a doença, a pergunta a ser respondida é: como resolver essa equação? A exemplo dos protocolos quimioprofiláticos, não há uma única resposta. O veterinário Felipe Scherer, por exemplo, aposta no controle do carrapato com endectocidas de curta ação, aplicados nos terneiros de agosto a novembro, no início da infestação. “É uma forma de controlar o carrapato ao mesmo tempo em que se permite uma população mínima do parasita para induzir a imunidade nos animais”. Seu colega Octaviano Pereira, por sua vez, opta por carrapaticidas à base de Fluazuron para tratar animais a serem levados de áreas sem carrapatos para pastagens com a presença do parasita. O veterinário explica que, ao contrário dos demais produtos de ação neurotóxica, que matam imediatamente o carrapato, o Fluazuron é um inibidor de crescimento, impedindo que o parasita atinja a fase adulta, o que ocorre por volta do 14o dia de vida. “Até esse período, na fase de ninfa, o parasita causa menos dano ao animal, mas inocula os patógenos que sensibilizarão o sistema imune”. O produto é aplicado no dia em que os animais chegam na nova pastagem. A quimioprofilaxia é adotada se a doença atingir de 15% a 20% do lote. “Nesse caso adotamos a metafilaxia (tratamento massal), porque certamente a doença está se espalhando. Em vez de esperar para tratar os animais na medida em que adoencem, tratamos todos de uma só vez”, diz. n
Não temos condições de produzir a vacina”, Rovaina Doyle, do IPVDF.
Doença é a que mais mata Números oficiais (casos notificados) dão conta de que a TPB é responsável pela morte de 10.000 animais todos os anos no Rio Grande do Sul. Um estudo da UFRGS – Universidade Federal do Rio Grande do Sul em parceria com a Farsul – Federação de Agricultura do Rio Grande do Sul, no entanto, mostrou que a estatística está bastante subestimada. Em 2014, ano em que foi feito o trabalho junto a produtores, o registro de mortes ultrapassou 100 mil. Não bastasse a configuração do rebanho gaúcho, formado em quase sua totalidade de animais taurinos, portanto mais susceptíveis aos males causados pelo Rhipicephalus (Boophilus) microplus, o Rio Grande do Sul enfrenta um sério problema de resistência. Resultados de biocarrapaticidograma (teste de produtos carrapacitidas) realizados pelo IPVDF mostram que apenas 11% das amostras enviadas para o laboratório nos últimos dois anos mostraram-se sensíveis aos seis princípios ativos (mais uma combinação) disponíveis no mercado gaúcho. Pior: 28% das amostras são resistentes a cinco ou mais categorias. “Ou seja, essas propriedades não têm como fazer o tratamento correto do carrapato da forma como preconizamos, com a alternância dos princípios ativos nas três gerações que temos no Estado”, alerta Rovaina Doyle, do IPVDF.
fevereiro 2018 DBO
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fotos: ariosto mesquita
Fazenda em Foco
Os ‘Grand Passion’ em terminação, frutos de cruza entre Wagyu, Nelore e Angus, com idade média de 34 meses.
Ricardo Sechis alia a produção de carne premium à chancela da dieta dada aos animais por institutos de pesquisa
Receita para uma carne premium Pecuarista trata a pão-de-ló plantel que produz os cortes especiais Beef Passion
E
Ariosto Mesquita de Nhandeara, SP
le passou a infância ouvindo do pai, o italiano Amadeus Sechis, que o boi é um animal sagrado. Na juventude, enquanto cursava o segundo grau, entre os 15 e 18 anos, trabalhou como açougueiro na casa de carnes do irmão mais velho, Noriel, na pequena cidade paulista de Nhandeara, 510 km a noroeste da capital, São Paulo. Nem a graduação como engenheiro foi capaz de afastá-lo da pecuária. Ao contrário, ajudou Antonio Ricardo Sechis a desenvolver aquela que vem sendo considerada uma das melhores carnes bovinas brasileiras: a Beef Passion. A carne está presente em 41 pontos de venda do País, com 72 tipos de cortes distribuídos nos selos Australian Passion (meio-sangue Angus australiano com Nelore) e Grand Passion (meio-sangue Wagyu em cruzamento triplo com sangue 1/4 Nelore e 1/4 Angus). Simples, inquieto, curioso e carregando doses nada homeopáticas de coragem no DNA, Sechis pretende ir mais longe. Há pouco mais de quatro anos decidiu abrir as porteiras de suas cinco propriedades (quatro no
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Mato Grosso do Sul e uma em Nhandeara) para pesquisadores, a maioria dentro de um modelo de parceria público-privada, no qual ele cede animais, espaço e estrutura e recebe, em troca, conhecimento. O objetivo é o desenvolvimento de mais produtos e o aperfeiçoamento da qualidade da carne. Hoje, suas terras funcionam simultaneamente como espaço produtor de referência na bovinocultura de corte brasileira e uma grande fazenda-laboratório. O conhecimento gerado ali é aplicado em escala no rebanho de Sechis e posteriormente se torna público a partir de defesas de teses ou de artigos técnicos. Dieta validada Logo de início, um estudo de 2012, fruto de parceria com o Departamento de Engenharia e Tecnologia de Alimentos da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus São José do Rio Preto, validou o esquema nutricional usado hoje para a terminação dos animais Grand e Australian Passion, no qual a soja é o destaque. “O diferencial da dieta na linha Beef Passion é a soja em grão, a fim de aumentar a deposição de gordura insaturada na carne. Além de entrar como fonte de energia proveniente do seu extrato etéreo (óleo), a soja carrega proteína e, por isso, substitui fontes proteicas tradicionais, como os farelos de soja e amendoim”, explica Ismael Pereira, assistente técnico e comercial da Cargill Nutrição Animal, empresa responsável pela formulação da estrutura alimentar no confinamento da Fazenda Recanto Vó Cidinha, em Nhandeara. As gorduras insaturadas são consideradas as mais saudáveis para o consumo humano, com alta digestibilidade. Segundo Pereira, além da soja, a ração tem em sua composição silagem de milho, milho moído, gérmen de milho, polpa cítrica e núcleo, este último desenvolvido pela Cargill exclusivamente para os animais Beef Passion: “Ele carrega macrominerais, microminerais, minerais orgânicos, aditivos, vitaminas e uma combi-
fotos ariosto mesquita
No confinamento em Nhandeara, SP, gado come ração que privilegia deposição de gordura
Grãos de soja são um dos principais ingredientes na dieta servida no cocho
nação de vitamina E com elementos fenólicos, como a cianidina, cujo efeito antioxidante é três vezes superior ao da própria vitamina E”. A dieta, de acordo com Sechis, mudou a qualidade final da carne sem afetar o sabor. “O perfil de gorduras insaturadas pulou de 50% para 75%”, conta. Mais ômega 3 A mais recente pesquisa com o rebanho de Sechis está sendo realizada também pela Unesp e é uma das grandes apostas do criador. Trata-se da tese de mestrado “Avaliação da qualidade da carne de contrafilé de bovinos tricross Wagyu submetidos a três dietas contendo semente de girassol, semente de linhaça e soja em grão”, conduzida por Paula Carosio Pereira, sob a orientação da professora e engenheira de alimentos Andrea Carla da Silva Barretto. O trabalho está em fase final, com defesa de tese prevista para este mês. Entre os itens avaliados estão o perfil lipídico da carne e uma análise sensorial com potenciais consumidores (117 funcionários da própria Unesp). Os resultados, segundo a orientadora, indicaram que não houve diferença a considerar em textura, maciez e sabor. A dieta com grão de soja, porém, depositou na carne maior quantidade de ácidos graxos poliinsaturados (permitindo melhor presença deste em relação às gorduras saturadas) e volume superior de ômega 6, comum nos óleos vegetais e funcional para o organismo humano. Mas o que chamou a atenção foi o fato de a dieta com semente de linhaça ter elevado, na carne, o nível de ômega 3, gordura considerada uma das mais benéficas para o organismo humano. “A diferença se mostrou significativa em relação às demais dietas”, diz a professora. Na quantidade medida em miligramas por 100 gramas (mg/g) de carne, o tratamento com linhaça depositou no contrafilé de meio-sangue Wagyu 0,068 mg de ômega 3, quantidade 15,27% superior à dieta com soja em grão (0,059 mg) e 44,68% maior do que a ração com semente de girassol (0,047 mg). Apesar do melhor desempenho da ração com soja em grão na avaliação lipídica, Sechis está decidido a
Andrea Barretto, da Unesp, pesquisa a ração dada ao gado de Sechis.
usar também linhaça no cocho. “Acredito que seu potencial para a oferta de ômega 3 na carne é ainda maior. Observamos nas fezes dos animais que muitas sementes não foram quebradas”, revela. Isso abriu as portas para uma nova pesquisa, que deve ser realizada este ano, desta vez com linhaça triturada. A professora Andrea prefere não fazer prognósticos: “A partir do uso da semente fragmentada temos, sim, uma expectativa de maior deposição de ômega 3 na carne, mas também uma preocupação: será que não interferirá no sabor?”. Para esta pesquisa da Unesp, concentrada na área de confinamento da fazenda em Nhandeara, Sechis cedeu 24 animais (50% fêmeas e 50% machos) com 32 meses e peso médio de 507 kg, divididos em três grupos de oito. Todos receberam ração à vontade durante 100 dias antes do abate, ocorrido no Frigorífico Olhos D’água, em Ipuã, SP. Novo produto Outro estudo, conduzido por pesquisadores da Embrapa Gado de Corte (Campo Grande, MS), tenta validar um produto para a linha Beef Passion: um animal 3/4 Angus e 1/4 Nelore, proveniente de genética australiana para alto marmoreio. Dessa forma, Sechis busca um bovino com carne mais próxima do meio-sangue Wagyu, mas sem as características limitantes da raça japonesa, como o lento ganho de peso e a alta suscetibilidade para doenças. A primeira parte do trabalho foi toda concentrada na Fazenda Cantinho do Céu, em Cassilândia, MS (cria e recria a pasto). “São 115 animais, todos com 15 meses e peso médio de 350 kg ao fim de novembro de 2017, na reta final de recria. No mês seguinte seguiram para o confinamento em Nhandeara. Estimamos um tempo máximo de um ano para terminação, mas vamos monitorar com exames de ultrassonografia de carcaça a cada 60 dias. É possível até antecipar o prazo para abate”, conta Rodrigo da Costa Gomes, um dos pesquisadores da Embrapa envolvidos no projeto. Outro estudo, mais recente, está sendo conduzido pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), em Minas
Diferencial da dieta na Beef Passion é a soja em grão” Ismael Pereira, assistente técnico e comercial da Cargill Nutrição Animal.
fevereiro 2018 DBO
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Fazenda em Foco Gerais, em parceria com a Cargill. Ele tem como meta o melhoramento da qualidade da carne de vacas mais velhas. Sob este aspecto, o primeiro passo é uma avaliação comparativa entre novilhas jovens e vacas velhas, todas meio-sangue Angus. O objetivo é avaliar o efeito da idade na qualidade da carne. “Colocamos esses animais em dietas não tão elaboradas como aquela ofertada para o meio-sangue Wagyu, mas com características de alta energia. Testaremos quatro tipos de maturação. A tentativa é de obtenção de
uma carne mais macia do que o habitual”, revela Pedro Veiga, gerente global de Tecnologia de Bovinos de Corte da Cargill Nutrição Animal. O estudo envolve 40 animais: 20 novilhas e 20 vacas com idades médias de 15 meses e 8 anos, respectivamente. Todas foram fechadas em janeiro de 2018. O abate deve ocorrer em março. Entre maio e junho, uma segunda etapa deve avaliar o efeito genético na qualidade da carne. Nesta fase serão comparados os desempenhos de fêmeas Nelore e de vacas meio-sangue Angus. n
fotos: ariosto mesquita
Corte mais caro custa R$ 340/kg
Na ‘hora do recreio’, animais se distraem com bolas de futebol soltas no confinamento.
O
Para se coçar e exercitar, bovinos contam com sacos próprios para treino de box.
trabalho de Ricardo Sechis começa em suas quatro fazendas de cria e recria a pasto no Mato Grosso do Sul. Três delas (Cabaça, Bom Sucesso e Rodansechis) ficam em Alcinópolis (312 km ao norte da capital, Campo Grande) e uma (Cantinho do Céu) em Cassilândia, no chamado Bolsão (a 433 km da capital). Juntas, somam 4.800 hectares de área produtiva. Nelas, vacas Nelore recebem sêmen de Angus australiano (gerando o animal meio-sangue) e as fêmeas meio-sangue Angus recebem a genética Wagyu (cruzamento triplo meio Wagyu, 1/4 Nelore e 1/4 Angus). Por volta de 12 meses e peso médio de 275 kg (machos) e 250 kg (fêmeas), os primeiros seguem para engorda intensiva em Nhandeara. Os animais de cruzamento triplo deixam Mato Grosso do Sul só depois de 2 anos de idade (peso médio de 355 kg) e passam por uma recria a pasto em Nhandeara de dez meses antes de serem fechados. A terminação ocorre no Recanto Vó Cidinha, onde fica o confinamento. Com capacidade estática para 2.000 cabeças, é ali que os animais recebem as “regalias”. Toda a estrutura próxima aos cochos é coberta e climatizada. Cortinas de água (spray) são acionadas periodicamente e de forma programada, para garantir o conforto térmico. Um sistema de som espalhado ao longo do confinamento reproduz baladas pop, músicas clássicas e sons instrumentais. Bolsas de pancada (usadas em treinamento de boxe) servem de coçadores e massageadores. Aos fins de tarde é a hora do
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O produto final são cortes vendidos sob a marca Beef Passion
“futebol”, quando bolas são jogadas próximas aos cochos para a diversão da boiada. Sechis acredita que este procedimento seja um dos elementos fundamentais para o sucesso da carne Beef Passion. “Procuramos dar o máximo de conforto ao animal. Mesmo no frigorífico, momentos antes da insensibilização, ele ouve música e recebe afagos”, observa. Sechis é o fornecedor oficial para a Beef Passion, comandada pelos seus filhos (Amália, Júlia e Ricardo). Entrega 20 animais por semana com a seguinte relação de peso e idade: meio-sangue Angus (22 a 24 meses e 22 a 23 arrobas) e meio-sangue Wagyu (36 a 40 meses e 26 a 27 arrobas). Aqueles que não são selecionados (avaliação de formação de fibras por imagens de ultrassonografia) são destinados para a linha precoce OBA Reserve da rede OBA Hortifrutis. “São aproximadamente 3.000 animais/ano entregues nesta aliança comercial com a Rede OBA, terminados com idade média de 17 meses e peso entre 16 e 18 arrobas. Pela arroba recebo hoje R$ 170. Para o meio-sangue Wagyu e meio-sangue Angus, a Beef Passion me paga R$ 240 e R$ 191, respectivamente”, diz. Os cortes Beef Passion são os mais valorizados. Sechis revela que só o empresário Alex Atala, dono de quatro casas em São Paulo, consome em média 200 kg semanais desta linha. “O corte mais barato é a bochecha Australian Passion, de R$ 22/kg; o mais caro é o bife ancho Grand Passion, vendido a R$ 340/kg”, revela. n
Seleção
Nelore indiano do chanfro ao gancho
arquivo Fazenda Água Tirada
Arthêmio Olegário de Souza mantém linhagem fechada na importação de 1962 para preser var o padrão racial e produzir peso e carcaça no Mato Grosso do Sul
Arthêmio Olegário: plantel fechado em linhagens trazidas da Índia em 1962.
T
carolina rodrigues
odo último sábado do mês de março Arthêmio Olegário de Souza tem um compromisso inadiá vel ao lado dos parceiros e amigos Chico Carva lho, Sérgio Sarian e Reinaldo Azambuja: vender a cabe ceira da safra de touros no Leilão Nelorão do MS, um dos mais antigos eventos do calendário nacional e sinô nimo de qualidade da pecuária sul-matogrossense há 43 anos em Campo Grande, capital do Estado. Muito além da assinatura de uma das grifes mais tra dicionais do Mato Grosso do Sul – praça que lidera a venda reprodutores no País – o criador mantém o reba nho fechado na linhagem trazida da Índia em 1962 na Fazenda Água Tirada, em Maracaju, no Sul do Estado, formando com o Grupo Nelorão os únicos plantéis re manescentes da raça considerada “pura da Índia”, com gerações descendentes das principais famílias importa das pelo trio Rubens de Andrade Carvalho (pai de Chi co), Nenê Costa e Torres Homem Rodrigues da Cunha.
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“A gente produz o Nelore de origem: um animal de boa pelagem, chanfro curto, orelhas bem direcionadas, coste las amplas, anca larga, ossatura boa, cabeça curta, lombo reto, bom traseiro e carne nobre”, detalha o criador. “Ne lore bom é Nelore indiano”, diz. O faro para selecionador ele sempre teve. De família de pecuaristas, Arthêmio começou a criar gado puro em 1965, com o primeiro lote de 10 novilhas adquiridas de Geraldo Correia, criador uberabense que se estabeleceu em Maracaju. O encontro com a genética indiana veio da busca pelo touro que melhor cobriria as fêmeas com a garantia de pureza racial que tanto se buscava naquela época. Recorreu primeiramente à Fazenda Brumado, de Rubico Carvalho, com sede em Barretos, SP, onde adqui riu um descendente direto de Godavari, um dos genear cas formadores da base genética de Nelore do Brasil, que deu origem aos primeiros animais nascidos no plantel. A sequência foi dada com reprodutores tirados do trabalho de Joaquim Vicente Prata Cunha, o Tetente, filho de Tor res Homem, formando uma base genética composta 80% da marca Brumado e 20% da marca VR. “Para mim, o pedigree tem que nascer e morrer na Índia. Porque, como diz meu amigo Chico Carvalho, com raça você faz peso, mas com peso você não faz raça”. A premissa tornou-se verdade no campo. Na última safra de animais nascidos na Água Tirada, a média de desmame ficou em 320 kg nos machos e 300 kg nas fê meas, mostrando que a seleção para peso sempre esteve no planejamento da fazenda. Atenção especial também se dá à fertilidade do rebanho. Segundo Seu Artêmio, as matrizes parem regularmente e têm excelente habilidade maternal para cuidar e desmamar bem seus bezerros, en quanto os machos devem apresentar boas medidas de CE nas mensurações ao ano e sobreano para garantir que a característica seja impressa na geração seguinte. Atualmente, a média da CE dos touros da Água Tira da varia de 35 a 40 cm, com destaque para linhagens que vêm de Paraíso, Hong Kong e Garimpeiro da AT, sufixo dos animais produzidos na fazenda e reprodutores que revolucionaram a circunferência escrotal no Mato Gros so do Sul na década de 1980. “Pouco se falava disso na quela época e hoje vimos a importância do CE na im pressão de fertilidade ao plantel”. Hoje, Erexim da AT dá continuidade ao trabalho de melhoramento e Faulady da AT, filho de Garimpeiro e
nas duas últimas estações de monta e tem 1.500 doses de sêmen coletadas para a reserva da fazenda. “O que nota mos é uma bezerrada show em peso e carcaça. Tem mui ta gente fazendo seleção sem raça, quando isso é funda mental para a consistência genética.
Erexim da AT dá continuidade ao trabalho de melhoramento na Fazenda Água Tirada
neto de Janajur do Arroio, já começa também a despon tar com dados consistentes no Programa de Melhoramen to Genético de Raças Zebuínas (PMGZ) e alta pureza ra cial, característica primária dos animais AT. “Produzir touro atualmente é muito mais difícil do que no passa do. Ele tem que ser puro, estar entre os 20% melhores da safra e ainda passar pelo crivo de um determinado pro grama de melhoramento para que seja aceito e valoriza do pelo mercado, o que acaba penalizando bons animais. Antes bastava o animal ser bom. É muita onda, muita moda e tudo para complicar a vida de quem produz”. Tradição a alto custo Toda essa mudança trouxe dificuldades para a Água Tirada. A fazenda já chegou a ter 16 touros em centrais de inseminação, mas hoje conta com apenas quatro em coleta devido ao sistema de produção adotado. Enquan to a atual seleção baseia-se em números projetados pe las DEPs, as famosas diferenças esperadas na progênie, Arthêmio Olegário conduz a seleção pautado pela sensi bilidade de quem vive da atividade e direciona acasala mentos há 52 anos no piquete. O planejamento de cada geração é baseado na avaliação da vaca, seu pedigree e o touro que pode melhorar determinada característica, ob servando sempre a progênie nascida de acasalamentos anteriores. “Eu até olho a DEP do touro, mas para saber se vou conseguir posicioná-lo bem no mercado”, diz o criador. No último Leilão Nelorão, a média dos touros vendidos pela Água Tirada ficou em R$ 12.000 para ani mais puros e bem avaliados, sinônimo de que a tradição também pode ser aprimorada. Para manter a produtividade do rebanho e fugir da consanguinidade – vilã de plantéis que trabalham com li nhagens fechadas – há três anos o criador adquiriu Aloka LEI NJOP 7, touro resultante do processo da nova im portação de embriões liderada pelo Grupo Nelore JOP e outros dois importantes criatórios nacionais. O objetivo do investimento foi manter o rebanho fechado em ani mais originários da Índia, tirando o máximo proveito da heterose desta nova genética com o zebu selecionado no Brasil a partir da importação de 1962. Aloka foi utilizado
Seleção para carne A prova dos nove está nos garrotes e novilhas termi nados em semiconfinamento e confinamento, frutos do uso de touros elite da Água Tirada na vacada comercial da fazenda, além do rigoroso controle do rebanho a par tir das fêmeas escolhidas para formar o time de repro dutores. A seleção direcionada já começa a resultar em um novo núcleo de gado precoce na Fazenda Itamoro ty, propriedade de cria localizada no pantanal sul-mato -grossense, onde estão cerca de 300 matrizes e novilhas em reprodução, com taxa de prenhez em torno de 93% nas duas últimas estações de monta. O projeto começou há quatro anos e tem como fun damento aplicar a genética na ponta final da produção, aumentando a qualidade dos animais abatidos e as boni ficações no Novilho Precoce MS, programa do qual a fa zenda participa há quase 10 anos. Na última remessa en tregue – 120 animais em torno de 23 meses e peso médio de 22@ com 58% de rendimento – a premiação chegou a 3%. “Trabalhamos começo, meio e fim do nosso gado. Usamos nossos touros para pecuária comercial com ex celentes resultados de acabamento e ganho de peso”, diz José Adolfo Lima Souza, filho mais velho de Seu Arthê mio, que, ao lado do pai e do irmão Arthêmio Olegário Júnior, divide a rotina das três fazendas do grupo. Além da Água Tirada (que abriga os machos de aba te, o rebanho PO e o sistema de integração lavoura-pe cuária), o projeto conta com uma fazenda em Terenos, onde 90% das novilhas de descarte da Fazenda Itamoroty (avaliação feita ao sobreano com critérios de precocida de e fertilidade) são abatidas com acabamento 4 mm de gordura e 51,5% de rendimento de carcaça. “O negócio é verticalizar, se não o sujeito está frito”, diz Arthêmio, que pretende potencializar a precocidade do rebanho no pan tanal sul mato-grossense para reduzir a média da idade de abate e o aumento de acabamento nos próximos anos. Em 2017, 60% dos machos inteiros foram termina dos em torno de 23 meses, com de peso médio de 21,5 arrobas (@) e acabamento 3 mm de gordura. Outros 20% apresentaram acabamento de 4 mm e 55% de rendimen to de carcaça. A expectativa é que, em quatro anos, todos sejam abatidos por volta de 18 meses e 18 arrobas, com acabamento mínimo de 4 mm de gordura. “Nosso maior concorrente somos nós mesmos. Precisamos fazer com que a pecuária garanta a mesma rentabilidade da lavou ra. O objetivo do pecuarista deve ser a produção rentável. Se não for, ele está no negócio errado”, acrescenta José Adolfo. Além do sistema de produção em ciclo comple to, o Grupo Água Tirada conta com outras áreas dedica das exclusivamente à agricultura (soja, milho e cana-de -açúcar), sendo 100% em plantio direto e consórcio com brachiária ruziziensis. n DBO fevereiro 2018 67
Raças Brahman I
Associação inicia o ano com novo time A nova diretoria da Associação de Criadores de Brahman do Brasil (ACBB), eleita em dezembro, assumiu em janeiro os cargos para o biênio 2018/2019. Paulo Sérgio Scatolin foi eleito presidente executivo em eleições com chapa única. Nascido em Rio Claro, SP, Scatolin é formado em administração e ciências contábeis, é empresário e criador de Brahman desde 2003. Em sua trajetória
na pecuária, presidiu a Associação Paulista dos Criadores de Brahman e teve um cargo de direção na ACBB. Seu mandato deve ser de continuidade. “A diretoria do biênio 2016/2017 fez uma excelente gestão e vamos seguir na mesma direção, com responsabilidade e foco em manter a ACBB em uma boa posição frente aos associados, a ABCZ e demais parceiros. Sem dúvidas, teremos vários desafios à frente, mas estamos preparados para enfrentá-los”.
Nelore
Boi Verde fecha avaliação de carcaças O Circuito Boi Verde de Carcaças avaliou 6.015 animais nos estados do Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul em 2017. Os abates foram feitos nas unidades do Marfrig, da JBS e do Frisa. Grande parte dos animais era jovem, pesada e com o acabamento ideal. A Fazenda São Marcelo, de Juruena (MT), foi a vencedora, com 11.358 pontos, seguida pela Santa Bárbara e Rancho Seco, de Ivinhema (MS), com 11.309, e pela Campanário, de Laguna Caarapã (MS), com 11.223. No total,
participaram 35 fazendas. No campeonato “Melhor compra de gado”, onde se considera o número de animais participantes e a média de pontuação na avaliação das carcaças, a vencedora foi a unidade de Bataguassu (MS) da Marfrig, empresa que mais comprou animais avaliados (2.587 cabeças). Dos animais abatidos em 2017, 73% possuíam até 2 dentes incisivos permanentes e 34% tinham apenas dentes de leite. Em termos de peso, 90% tinham mais de 18@ e 65% apresentaram acabamento mediano.
Brahman II
Brasil tem melhor touro do mundo
No dia 16 de janeiro, o reprodutor CABR Mussambe 2264 foi eleito o melhor touro Brahman do mundo, durante o FWSSR Brahman Show, no Texas, Estados Unidos. Na final, ele superou um reprodutor americano e um sul-africano. Ele é filho de JDG Wellitngton 527/1 com a Grande Campeã da ExpoZebu 2010, CABR Dhifalla 899, CABR Mussambe. No ano passado, ele repetiu o feito de sua mãe, conquistando o título de Grande Campeão da ExpoZebu. O animal é de criação da Casa Branca Agropastoril, de Paulo de Castro Marques. Além de Paulo Marques, Mussambe é de propriedade dos pecuaristas Wilson Roberto Rodrigues, Charles Maia e Paulo Scatolin.
Angus
Santa Joana é pentacampeã do Mérito Genético Pela quinta vez, a Cabanha Santa Joana, de Santa Vitória do Palmar, RS, do criador Ulisses Rodrigues Amaral, ganhou o prêmio Mérito Genético Angus. A premiação destaca o criatório com melhor desempenho na produção de reprodutores validada pelo Programa de Melhoramento de Bovinos de Carne (Promebo). José Roberto Pires Weber, presiden-
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te da Angus, atribui a vitória à experiência da Cabanha na seleção genética. “O troféu reconhece o trabalho árduo da propriedade e a alta qualidade do seu rebanho”, diz. Durante a cerimônia, em dezembro, ele reforçou também que, em 2017, a Associação Brasileira de Angus registrou avanços no programa de carne certificada, com melhoria da qualidade
das carcaças entregues e valorização do preço da carne Angus no mercado internacional.
Leilões
Desequilíbrio entre oferta e demanda prejudica o leite Mercado cai 20%, pressionado pela volatilidade dos preços pagos ao produtor.
E
CAROLINA RODRIGUES
m 2017, dois fatores marcaram o mercado leiteiro: consumo enfraquecido e aumento da produção. O resultado foi a contínua queda do preço do litro do leite pago ao produtor, que, no acumulado do ano, chegou a 18,2% na média Brasil, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea). O recuo comprometeu as margens de lucro do pecuarista, que investiu menos em genética. A oferta nos remates caiu 24%, e a receita saiu de R$ 129,5 milhões para R$ 103,9 milhões (-19%). A queda foi puxada pela Região Sudeste, que abriga grandes bacias leiteiras, como Minas Gerais, o principal produtor de leite do País. As vendas regionais caíram 22%, registrando 9.457 animais por R$ 48,8 milhões. Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Sul também acompanharam a queda e terminaram o ano com retração de 25%, 2%, 13% e 45%, respectivamente. No primeiro semestre, o mercado se comportou conforme os preços do leite, que vinham em alta desde 2016. Em janeiro de 2017, o indicador Cepea registrou recorde da série histórica, de R$ 1,21/litro, R$ 0,20 acima da média registrada no período, o que favoreceu investimentos. De janeiro a junho foram comercializados em leilões leiteiros 11.849 lotes por R$ 61,9 milhões, desempenho que não se sustentou na virada do semestre. Com o aumento substancial da produção e o consumo em baixa, cresceu o desequilíbrio entre oferta e demanda. A baixa na entressafra – habitualmente registrada em agosto/setembro – foi antecipada para julho e, com a queda de preços, que chegou a 8% ao mês, veio o desinteresse pela compra de genética nos leilões. Para uma parcela mais vulnerável de produtores, os baixos preços do leite estimularam o abate de fêmeas e a gradual transição para o mercado de corte, por meio da mudança de padrão genético e cria de bezerros. Para outra parcela, a menor recei70 DBO fevereiro 2018
Lotes vendidos em leilões de raças leiteiras 2017 Regiões Leilões Lotes SUDESTE 112 9.457 NORDESTE 23 990 C-OESTE 8 745 NORTE 7 249 SUL 6 145 VIRTUAIS 97 7.946 BRASIL 253 19.532
2016 Média Leilões Lotes Média 5.163 133 12.150 4.980 6.864 32 1.007 7.797 6.330 16 861 6.844 5.022 6 331 4.915 5.690 11 262 6.345 5.231 125 10.789 4.818 5.323 323 25.400 5.099
2015 Leilões Lotes 167 17.480 47 1.780 23 2.632 12 403 12 434 155 9.416 416 32.145
Média 4.642 7.309 6.145 4.342 5.957 5.175 5.083
Lotes incluem machos, fêmeas, prenhezes e aspirações de folículos ovarianos. Média expressa em reais. Fonte: Banco de Dados DBO.
Mercado de raças leiteiras em 2017 Raças Girolando Holandês Gir Leiteiro Jersey Guzolando Jersolando Sindi Guzerá Leiteiro Total
Leilões 190 (58) 38 (20) 51 (26) 13 (9) 12 (10) 13 (13) 8 (4) 2 (2) 253
Lotes 14.412 2.423 1.162 532 466 282 214 41 19.532
Renda (R$) 66.584.230 13.046.820 15.708.690 2.360.610 2.242.270 815.560 2.918.960 299.200 103.976.340
Média 4.620 5.385 13.519 4.437 4.812 2.892 13.640 7.298 5.323
Critério de oferta. (-) Remates em que a raça dividiu pista com uma ou mais raças. Fonte: Banco de Dados DBO.
ta se traduziu em queda dos investimentos, seja em estrutura ou em animais que pudessem aumentar a produtividade. Entre julho e dezembro, foram vendidos 7.683 lotes por R$ 42 milhões, movimento 32% menor em relação a igual intervalo de 2016 e o menor resultado para o período desde 2006, segundo o Banco de Dados DBO. “O que se espera de positivo para 2018 é que haja recuo na produção e que os preços se estabilizem”, avalia Lucas Henrique Ribeiro, analista de mercado do Cepea. A expectativa é de melhora já a partir de março. Entre os principais fornecedores do mercado de genética no ano passado, os criadores de Girolando sentiram na pele os efeitos da retração. A oferta caiu de 18.463 para 14.412 lotes, e a média se manteve acima dos R$ 4.000. Mesmo com o recuo de 22%
RAIO X DAS VENDAS 2017 Fatura total: R$ 103,9 milhões Janeiro a junho
136 leilões, 11.849 lotes, renda de R$ 61,9 milhões Julho a dezembro
117 leilões, 7.683 lotes, renda de R$ 42 milhões Fatura 2016: R$ 129,5 milhões na oferta, foi na Girolando – entre as oito raças mais vendidas em 2017 – que se observou maior movimento de troca por animais produtivos. O Girolando movimentou R$ 66,5 milhões, 66% do total arrecadado nas pistas. A diferença para a segunda raça mais comercializada (Holandês) chegou a R$ 53 milhões e 11.989 lotes (veja tabela). n
Leilões
Mais um ano de queda Com 8.400 animais, oferta de ovinos e caprinos foi a mais baixa em 13 anos.
A
Alisson Freitas
comercialização de ovinos e caprinos teve nova baixa no ano passado. Foram realizados 86 remates que negociaram 8.400 animais por R$ 10,6 milhões. No comparativo com 2016, quando 12.964 animais foram vendidos por R$ 13,2 milhões, a oferta despencou 35% e o faturamento, 19%, de acordo com o Banco de Dados DBO. O recuo nas vendas tem sido realidade desde 2015, quando a oferta ficou abaixo de 15.000 pela primeira vez. A quantidade de animais vendidos em 2017 foi a mais baixa desde os 7.740 lotes de 2004. A arrecadação tem patinado na última década, alternando anos de alta e de baixa. No entanto, o faturamento do ano passado foi o menor desde 2003, quando a receita foi de apenas R$ 65.160. Com as pistas mais vazias, as disputas pelos poucos animais à disposição foi intensa. A média geral de R$ 1.269 em 2017 foi a maior dos últimos sete anos. Em relação aos R$ 1.022 do ano anterior, foi um salto de 24,2%. Uma das particularidades desse mercado é a alta concentração de vendas, principalmente na Região Sul do País, que contribui com 92% dos animais negociados ao longo do ano. O mercado está alicerçado no Rio Grande do Sul, principalmente nos meses de janeiro e dezembro, quando ocorrem as feiras de verão. Liderança Em 2017, os gaúchos realizaram 42 remates que venderam 6.798 animais por R$ 4,5 milhões. Os números representam 81% da oferta e 43% do faturamento nacional. As vendas da região são pautadas por animais de produção, principalmente da raça Corriedale. Todos os 2.966 animais da raça vendidos ao longo do ano saíram do RS. Se a produção está concentrada no Sul, a genética está presente no Nordeste. Dos nove Estados que compõem a região, apenas dois não sediaram remates. No total, 17 leilões negociaram 452 animais por R$ 2,9 mihões. O preço médio na região foi
Lotes vendidos em leilões 2017 Regiões Leilões Lotes SUL 48 7.224 NORDESTE 17 452 C-OESTE 1 96 SUDESTE 1 24 NORTE 0 0 VIRTUAIS 19 604 BRASIL 86 8.400
Média 700 6.629 681 715 0 4.173 1.269
2016 Leilões Lotes 55 11.556 19 546 0 0 2 90 0 0 22 772 98 12.964
Média 536 6.271 0 1.531 0 4.529 1.022
2015 Leilões Lotes 53 10.970 18 612 1 30 4 267 1 16 31 1.366 108 13.261
Média 566 5.903 4.056 2.832 1.718 3.878 1.208
Lotes incluem machos, fêmeas, prenhezes e aspirações de folículos ovarianos. Média Expressa em reais. Fonte: Banco de Dados DBO.
Mercado de raças ovinas e caprinas em 2017 Raças Corriedale Ideal Texel Ile de France Dorper Santa Inês Merino Australiano Anglonubiana Boer Hampshire Down Suffolk Poll Dorset Romney Marsh Savana Ovinos e caprinos* Total
Leilões 21 (11) 11 (8) 12 (9) 7 (4) 19 (8) 16 (7) 8 (6) 9 (3) 7 (3) 6 (3) 3 (2) 2 (2) 2 (2) 1 (1) 6 (4) 86
Lotes 2.966 921 638 515 496 309 287 214 129 128 98 69 14 13 1.603 8.400
Renda (R$) 2.081.800 467.470 892.450 390.100 1.892.340 2.047.890 271.810 1.154.160 671.460 175.260 179.730 32.480 25.580 34.120 341.560 10.658.210
Média 702 508 1.399 757 3.815 6.627 947 5.393 5.205 1.369 1.834 471 1.827 2.625 213 1.269
Critério de oferta. (-) Remates em que a raça dividiu pista com uma ou mais raças. (*) Leilões em que não foi possível identificar as raças vendidas. Fonte: Banco de Dados DBO.
de R$ 6.629, 5,7% maior do que no ano anterior (R$ 6.271). As vendas foram bem distribuídas entre os Estados, com foco em animais Santa Inês e Anglo-Nubiano. Em 2017, outra tradicional raça comercializada na região, o Dorper, esteve praticamente ausente das pistas. Foram vendidos apenas 81 animais em leilões nordestinos, 70% a menos do que no ano anterior. A praça de maior movimentação foi a Bahia, onde 105 exemplares saíram por R$ 938.160. A média de preços no Estado foi de R$ 8.935, com lance máximo de R$ 48.000 para uma fêmea Santa Inês, vendida no 1º Leilão Santa Inês Cativa,
RAIO X DAS VENDAS 2017 Fatura total: R$ 10,6 milhões Fatura 2016: R$ 13,2 milhões Janeiro a junho
34 leilões, 4.328 lotes, renda de R$ 4,7 milhões Julho a dezembro 5
2 leilões, 4.072 lotes, renda de R$ 5,9 milhões realizado em abril, em Salvador, durante a Expo Bahia. O remate registrou também o maior preço médio do ano, com 34 animais arrematados por R$ 10.807. n fevereiro 2018 DBO
71
Leilões
Oferta restrita e mercado pagador Puxado pela retomada de vendas de Crioulo, mercado de equinos fecha 2017 com alta de 23% na receita.
D
Alisson Freitas
epois de sofrer com algumas baixas históricas em 2016, a venda de equinos voltou a crescer no ano passado refletindo um cenário de oferta restrita e mercado pagador. Foram vendidos 16.051 lotes de machos, fêmeas, coberturas e embriões, queda de 15,5% em relação aos 18.988 do ano anterior. Com menos produtos à disposição, as pistas ficaram mais movimentadas e os preços dispararam. A média subiu 22%, saindo de R$ 21.322 em 2016 para R$ 25.983 do ano passado. Foi o valor mais alto dos últimos 15 anos, de acordo acordo com o Banco de Dados da DBO. O faturamento seguiu o mesmo caminho. Os remates de 2017 movimentaram R$ 417 milhões, 3% a mais que no ano anterior. O crescimento da receita está ligado à retomada nas vendas de Cavalo Crioulo. Se em 2016 a raça teve o seu pior desempenho de vendas da última década, no ano passado ela recuperou o seu espaço no mercado. Mesmo com menor oferta dos últimos nove anos, com 4.100 exemplares, o Crioulo foi a segunda raça equina mais vendida de 2017, ficando atrás apenas do Quarto de Milha. A média foi de R$ 16.965, 32% maior do que os R$ 12.600 do ano anterior. A valorização dos animais puxou também a receita, que saiu de R$ 55,3 milhões em 2016 para R$ 68,6 milhões no ano passado, alta de 23%. A raça teve o remate de maior faturamento de 2017, o da Cabanha Santa Edwiges, realizado no dia 19 de maio, em Esteio, RS. Na oportunidade 37 animais foram vendidos à média de R$ 240.716, totalizando a receita de R$ 8,9 milhões. Outra raça que engordou o faturamento de equinos foi o Mangalarga Marchador. Em 2016 a raça havia ultrapassado o Crioulo e se tornado a segunda mais vendida do país, no entanto, o mesmo não aconteceu no ano
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Mercado de raças equinas em 2017 Raças Quarto de Milha Crioulo Mangalarga Marchador Mangalarga Campolina Pampa Árabe Pantaneiro Paint Horse Puro Sangue Inglês Brasileiro de Hipismo Total
Leilões 202 (9) 135 (8) 73 (4) 21 (2) 13 (1) 9 6 3 4 (3) 1 5 465
Lotes 7.836 4.110 2.396 611 373 302 131 90 84 71 47 16.051
Renda (R$) 237.594.440 68.621.710 79.673.420 16.591.940 3.715.510 3.208.340 1.557.780 1.404.150 924.940 1.300.000 2.459.700 417.051.930
Média 30.321 16.696 33.253 27.155 9.961 10.624 11.891 15.602 11.011 18.310 52.334 25.983
Critério de oferta. (-) Remates em que a raça dividiu pista com uma ou mais raças. Fonte: Banco de Dados DBO.
Lotes vendidos em leilões 2017 Regiões Leilões Lotes SUDESTE 102 4.112 SUL 111 3.472 NORDESTE 65 3.061 C-OESTE 23 857 NORTE 3 67 VIRTUAIS 161 4.482 BRASIL 465 16.051
2016 Média Leilões Lotes 39.049 105 4.266 20.752 113 3.590 29.963 63 2.498 26.819 32 1.309 25.376 6 215 15.179 215 7.110 25.983 534 18.988
2015 Média Leilões Lotes 34.108 102 4.540 14.590 118 3.907 24.129 74 3.408 24.234 30 1.327 13.184 4 149 15.773 209 6.903 21.322 537 20.234
Média 34.748 17.060 28.927 22.791 12.028 16.925 23.320
Lotes incluem machos, fêmeas, prenhezes e aspirações de folículos ovarianos. Média expressa em reais. Fonte: Banco de Dados DBO.
passado e ela voltou para a terceira posição do ranking. A oferta despencou 47%, saindo de 4.465 lotes para 2.396. Em compensação, o preço médio subiu 97%, alcançando a cotação de R$ 33.636. Foi a segunda maior média do mercado de equinos em 2017, atrás apenas R$ 52.334 do Cavalo Brasileiro de Hipismo. A receita da raça foi de R$ 79,6 milhões, 4% maior do que a do ano anterior R$ 75,3 milhões) O líder absoluto de vendas segue sendo o Quarto de Milha, que respondeu por 49% da oferta e 57% da receita do total do mercado de equinos. A versatilidade da raça em diferentes modalidades de competição e trabalho lhe garante uma grande estabilidade de vendas, apesar das oscilações
RAIO X DAS VENDAS 2017 Fatura total: R$ 417 milhões Fatura 2016: R$ 404,8 milhões Janeiro a junho
212 leilões, 7.669 lotes, renda de R$ 199,1 milhões Julho a dezembro
253 leilões, 8.382 lotes, renda de R$ 217,9 milhões do mercado. Foram realizados 202 leilões, onde 7.836 lotes movimentaram R$ 237,5 milhões, desempenho similar ao do ano anterior (7.976 lotes por R$ 239,4 milhões). n
Eventos Agenda Dinapec De 7 a 9 de março, ocorre, em Campo Grande, MS, mais uma edição da Dinapec, cujo tema central será Agropecuária de Baixo Carbono. Além das palestras, os visitantes terão à disposição, nos 35 hectares do evento, mostras de tecnologias para produção integrada e sustentável. Os temas a serem debatidos são sistemas integrados de produção agropecuária, manejo de pastagens, produção de novilho precoce, produção de soja em áreas de pastagens, fertilidade do solo e pecuária leiteira. A coordenadora do evento, Thaís Basso do Amaral, informa que a Dinapec tem como parceiros a Federação de Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul), o Senar (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural), a Agraer (Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural), a Iagro (Agência de Defesa Santária e Vegetal), a Fundação MS e Chapadão e o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micros e Pquenas Empresas (Sebrae-MS). Informações em www.dinapec.com ou tel. (67) 3368-2141. Água e produção animal Nos dias 14 e 15 de março, ocorre no auditório da Embrapa Pecuária Sudeste, em São Carlos, SP, o 5º Simpósio de Produção Animal e Recursos Hídricos. Os objetivos do evento são internalizar o tema água em suas diversas dimensões nas cadeias produtivas pecuárias; subsidiar a comunidade científica com ideias e propostas de pesquisa
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relacionadas ao tema; fomentar políticas, programas e manejos relacionados às boas práticas hídricas; estabelecer indicadores de eficiência hídrica para avaliação do desempenho das diversas cadeias produtivas e estabelecer os desafios hídricos presentes e futuros. Mais informações em pecuaria-sudeste. eventos@embrapa.br ou pelo tel. (16) 3411-5704. Reprodução em corte e leite A Unesp promove, em Uberlândia, MG, mais uma edição do curso Novos Enfoques sobre Produção e Reprodução em Gado de Corte e de Leite. O evento será nos dias 22 e 23 de março e terá como palestrantes professores de universidades norte-americanas (Flórida, Iowa e Columbia). Entre os vários temas, estão uso de ionóforos e não-ionóforos como aditivos em suplementos de gado de corte a pasto; regimes de adaptação para gado recém-confinado: maximizando ingestão e minimizando acidose; estratégias para aumento da fertilidade em protocolos de inseminação artificial em tempo fixo e impactos da nutrição e manejo na formação de gordura intramuscular em bovinos em crescimento e terminação. Mais informações no site www. conapecjr.com.br/index.php e e-mail vasconcelos@fmvz.unesp.br. Expopec Está marcada para os dias 23 a 26 de março, em Porangatu, GO, mais uma Expopec. Sediada no município que
se autointitula “a capital goiana do bezerro de qualidade”, a mostra contará com exposição de animais puros de várias raças, oficinas do Senar-Goiás, palestras técnicas e de mercado e debates sobre tendência do mercado bovino, além da Estação Experimental de Pesquisa Agropecuária da Emater. Mais informações em www.feiraexpopec.com.br Recria e confinamento Entre 17 e 19 de abril, em Ribeirão Preto, SP, será realizado o Encontro de Confinamento e de Recriadores. O evento, organizado pela Scot Consultoria, ocorrerá no Centro de Eventos do Ribeirão Shopping. Da programação, além das tradicionais palestras técnicas, consta visita ao Confinamento Monte Alegre (CMA), em Barretos, SP. Mais informações: (17) 3343-5111 ou www. confinamentoerecria.com.br. Forragem em Lavras A Universidade Federal de Lavras (Ufla) promove, de 28 a 30 de maio, a 2ª Conferência Internacional sobre Forragens. Uso de inoculantes em silagens, adição de enzimas em rações, silagem estocada em fardos, qualidade de sementes forrageiras, entre outros, serão temas das apresentações. O evento contará com a participação de especialistas da própria Ufla e também da Universidade da Flórida e do Texas, dos EUA, e de Turim, Itália. Mais informações em www.nucleoestudo.ufla.br
Empresas e Produtos Tru-Test desenvolve software para balanças
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ma das maiores frabricantes de balanças eletrônicas do mundo, a Tru-Test está oferecendo, a seus clientes, uma ferramenta inovadora para monitoramento da engorda dos animais: o MiHub Gestão de Rebanhos. Trata-se de um software capaz de processar os dados brutos das balanças, agrupá-los, analisá-los e compará-los com as metas de ganho previamente estabelecidas. O MiHub elabora gráficos de fácil visualização, que ajudam o produtor na tomada de decisões. Fica mais fácil identificar problemas e formar lotes para abate. Os dados ficam guardados em “nuvem” e podem ser compartilhados facilmente com a equipe, seja no celular ou no computador. O
Premix lança dois núcleos
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Premix lançou dois novos produtos – ambos núcleos, um para o período das águas e outro para a seca. Os produtos são balanceados com uréia e macro e micro minerais. Os núcleos foram lançados para as regiões com boa oferta de farelos proteicos e energéticos, como o Centro-Oeste. Conforme Lauriston Bertelli, diretor de pesquisa e desenvolvimento da Premix, além da ureia e dos macro e micro minerais, os produtos contêm o Fator P, que é 100% natural e aumenta a digestão da fibra em até 10% e a produção de energia também em 10%, reduzindo a emissão de gás metano, que é altamente poluente, em 17%. Outra vantagem, segundo Bertelli, é que o produto proporciona aumento do ganho de peso em até 20% em animais em crescimento ou em terminação. Não é só: com os núcleos, o produtor vai manipular menor quantidade de ingredientes.
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módulo básico do MiHub, que compreende até duas fazendas, 10 usuários, armazenamento ilimitado e suporte online, é gratuito para quem tem indicador de peso ou leitor IDE da Tru-Test. Quem não tem, pode obter o software por meio de assinatura mensal de R$ 25. Já o preço do módulo-empresa, que compreende todas as funções do básico mais apoio ao usuário, treinamento e relatório, pode ser obtido por meio de consulta.
CRV tem novo presidente Em 1° de março, o médico veterinário Luís Adriano Teixeira tomará posse do cargo de diretor-presidente da CRV no Brasil, assumindo o comando tanto da CRV Lagoa, em Sertãozinho, SP, quanto da Central Bela Vista, em Botucatu, SP. Ele sucede o holandês Paul Vriesekoop, que exercia a função desde setembro de 2014. Formado em veterinária pela FMVZ-USP de São Paulo, capital, e com MBA em Gestão do Agronegócio pela Fundação Getúlio Vargas de Ribeirão Preto, SP, Teixeira tem passagem, como gerente de Operações, pelo Programa Montana e, como gerente de pecuária, pela Agropecuária CFM. Desde 2015, ele vinha ocupando o posto de gerente de Vendas e Marketing da CRV Lagoa.
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DBO 79
Sabor da Carne
William Labaki
A divina carne do Piemontês
Q William Labaki
posta à prova e, logo de início, verificada pelos experientes profissionais, foi a da maciez da carne. É um produto praticamente isento de gordura, seja ela subcutânea ou intramuscular. Assim, no caso do Piemontês, o chamado “marmoreio” encontrado na carne de outras raças de origem europeia não se mostrou indispensável para garantir uma carne tenra. Fator genético Essa é justamente uma das características que diferenciam a raça, pois o tamanho da fibra (curta) de sua carne e a reduzida incidência e distribuição de tecido conectivo intracelular (colágeno) são os fatores que conferem ao produto excepcional maciez. Ambas as características devem-se a um fator genético denominado “miostatina disfuncional”, desenvolvido ao longo de séculos de aprimoramento zootécnico, onde grande parte do ingresso nutricional é metabolizada pelo animal como hipertrofia muscular em detrimento do acúmulo de gordura. Voltando aos virtuosos preparos dos chefs Peyrou e Godoy, alguns pratos ganharam destaque nos cardápios dos restaurantes, como a carne cruda do Piemontês – semelhante ao steak tartare, ou seja, é uma carne crua (sem muita gordura), picada e temperada, no formato de “dadinhos com molho teriyake e shiitake”. Esta carne cruda é um prato original do norte da Itália, da região do Piemonte. Já para os que preferem carne grelhada, a tagliata (do italiano talhada, ou seja, cortada em pedaços) de contrafilé Piemontês expressa em sua plenitude o que, para uma boa parte dos amantes de carne de qualidade, não é dado desconhecer: o “sabor e a magia” de uma carne extremamente magra n e incrivelmente macia. Vale conferir!
fotos Ricardo D’Angelo
Sócio-proprietário da Goldy Alimentos Premium, pecuarista de leite e corte nas Fazendas Limoeiro e Sanhaço Azul, em Itu e Avaré, SP.
uando a carne bovina da raça italiana Piemontesa foi introduzida no mercado de São Paulo, há cerca de cinco anos, por iniciativa da Goldy Alimentos Premium, em parceria com o Frigorífico Cowpig, já estreou com o Selo de Aprovação da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Tal chancela, inédita para produtos cárneos, foi conferida a um hambúrguer lançado com a marca “Light Burger Piemontês”. Os baixos índices de gordura saturada e colesterol da carne, processada com ingredientes 100% naturais (extrato de alecrim como antioxidante), autorizaram o colegiado da instituição a reconhecer os atributos de carne saudável e de qualidade do produto e a ele conferir o selo da entidade. A carne dessa raça no País provém de animais criados na Fazenda Sanhaço Azul, de Avaré, SP, que seleciona o Piemontês há mais de 25 anos, lançando mão de genética pura de origem italiana e cruzamento industrial. O manejo é extensivo, em pastos de braquiária com suplementação mineral, e aos bezerros é dado acesso a creepfeeding, onde recebem complementação proteica. O sistema é de ciclo completo (cria, recria e engorda) e são enviados para abate somente machos três-quartos de sangue Piemontês fruto de cruza com Nelore. A idade em que vão para o gancho é de 24 meses, com a média de 500 quilos de peso vivo, com dupla musculatura proeminente. O rendimento de carcaça é invariavelmente superior a 60%. Recentemente, a empresa passou a ofertar cortes nobres para pontos de venda e conceituados restaurantes, dentre os quais Açougue Central e Bio-Comer Saudável, do Grupo D.O.M., do chef Alex Atala, ambos na capital paulista, comandados pelos chefs José Barattino, Alejandro Peyrou e Raul Godoy. A questão
Cortes de Piemontês são destinados, na capital paulista, a requintados restaurantes, como os do chef Alex Atala.
82 DBO fevereiro 2018
Carne cruda (ou crua) com fonduta de parmesão é um dos pratos feitos com a carne da raça
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