Revista DBO 449 - Março 2018

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Nossos Assuntos

O compromisso de sempre em mais um aniversário de DBO

A

cada número, desde março de 1982, o desafio não muda. Ao inaugurar com esta edição seu 37º ano de circulação, o empenho da equipe DBO continua sendo o de oferecer conteúdo de qualidade e relevância em prol de uma pecuária moderna, produtiva e ajustada às demandas crescentes da sociedade. Exemplo recente dessa pressão externa foi o embargo temporário da saída de um navio com 27 mil animais do Porto de Santos rumo à Turquia, focalizado pelos dois lados nesta edição. Enquanto o presidente da Associação Brasileira dos Exportadores de Gado, Lincoln Bueno, destaca a importância da atividade e aponta equívocos no episódio do navio em entrevista para a seção Prosa Quente, artigo do professor de etologia e bem-estar animal Mateus Paranhos chama o setor produtivo a uma reflexão sobre as causas do impasse e a necessidade de atualização dos regulamentos que inclua indicadores de bem-estar animal e não deixe o gado como commodity. Em sua coluna ‘Fatos e Causos Veterinários’, o professor Enrico Ortolani manifesta seu espanto a partir da conversa que teve num evento com um pecuarista do Tocantins feliz da vida por ter adquirido sua primeira balança após 20 anos na pecuária. – E como se virava sem ela?, questionou. “Nem eu sei”, respondeu o produtor. De pergunta em pergunta, do criador a consultores, fabricantes de balanças, Embrapa e universidades e sem nenhuma estatística a respeito, a estimativa de Ortolani é de que talvez sejam 10% ou pouco mais os que tenham balança na propriedade. Se vale como consolo, o contrapeso é que os médios e grandes produtores têm e, com isso, talvez metade do gado que vai a abate passa por balança antes de chegar ao frigorífico. A reportagem de capa mostra como uma fazenda de Amaralina, norte de Goiás vem explorando todas as possibilidades da integração lavoura-pecuária para produzir três vezes mais arrobas por hectare. As estratégias da Agropecuária TopGen estão detalhadas na matéria do repórter Renato Vilella. Por fim, DBO também registra o alívio representado pela decisão do Supremo Tribunal Federal que derrubou por 6 votos a 5 quatro ações de inconstitucionalidade contra pontos fundamentais do Código Florestal, como se resume na página 16.

osta Demétrio C

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4 DBO março 2018

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Publicação mensal da

DBO Editores Associados Ltda. Diretores

Daniel Bilk Costa Demétrio Costa Odemar Costa Redação Diretor Responsável Demétrio Costa Editor Executivo Moacir de Souza José Editora Assistente Maristela Franco Repórteres Fernando Yassu, Marina Salles e Renato Villela Colaboradores Alisson Freitas, Ariosto Mesquita, Carolina Rodrigues, Denis Cardoso, Enrico Ortolani, Rogério Goulart, Sergio De Zen e Tatiana Souto Arte Editor Edgar Pera Editoração Edson Alves, Célia Rosa e Raquel Serafim Coordenação Gráfica Walter Simões comercial/Marketing Gerente: Rosana Minante Supervisora de Vendas: Marlene Orlovas Executivos de Contas: Andrea Canal, José Geraldo S. Caetano, Maria Aparecida Oliveira, Mario Vanzo e Vanda Motta Circulação e Assinaturas Gerente: Margarete Basile Tiragem e circulação auditadas pelo

Impressão e Acabamento Log&Print Gráfica e Logística S.A.

DBO Editores Associados Ltda. Rua Dona Germaine Burchard, 229 Perdizes, São Paulo, SP 05002-900 Tel.: 11 3879-7099 Para assinar, ligue 0800 11 06 18, de segunda a sexta, horário comercial. Ou acesse www.assinedbo.com.br Para anunciar, ligue 11 3879-7099 / 3803-5500 ou comercial@midiadbo.com.br



Sumário Prosa Quente 12 L incoln Bueno, da Abeg, fala

do mercado de exportação de gado vivo

Meio Ambiente 16 S TF mantém conquistas do Código Florestal

Mercado 20 C oluna do Cepea – Quando

o descarte de fêmeas leiteiras influencia o preço da arroba

22 E stabilidade no preço do boi, mas expectativa é de alta.

24 R eposição em compasso de espera

26 C oluna do Rogério – O difícil

encontro de quem quer vender e de quem quer comprar bezerros de qualidade

Cadeia em Pauta 28 M ateus Paranhos aponta as

ineficiências do que está por trás do episódio do navio Nada

30 E ntra em marcha o programa da carne zebu

34 A rtigo aponta desvantagem do

boi inteiro no mercado de carne gourmet

36 B 3 e IEA preparam lançamento de novo indicador do boi

38 G overno do MS incentivará

produção de carne orgânica no Pantanal

42 Reportagem de capa

Genética e Reprodução 52 V endas de sêmen têm ligeiro

Fazenda do norte goiano amplia conceito de integração para triplicar rentabilidade

aumento, mas importações recuam 26%

54 O s exemplos práticos são

discutidos em workshop de genômica em Araçatuba, SP

Nutrição 56 T anino é opção natural de aditivo eficiente, mostra pesquisa da UFGoiás

Saúde Animal 60 C oluna do Ortolani – Sem

Edição: Edgar Pera Arte final: Edson Alves Foto: José Maria Matos (lote de garrotes caminham na Fazenda TopGen, em Amaralina, GO, tendo ao lado área de sorgo recém-colhido

balança, a pecuária não vai adiante.

Pastagens 74 B em manejado, o pastejo alternado, com

Fazenda em Foco 62 M esmo com frete elevado,

78 E mbrapa anima-se novamente com o uso

Barranco Branco consegue colocar bezerros desmamados de forma competitiva no mercado do Paraná.

Seleção 66 O Canchim de respeito da

Ipameri vai se despedir este ano

Instalações 70 B ebedouro forrado com plástico garante água de qualidade

apenas dois piquetes, mostra-se excelente opção para aumento da produtividade. do estilosantes Campo Grande

Eventos 82 N o Simpósio da DSM sobre vitaminas,

espaço nobre para o manejo de pastagens

86 M étricas e perspectivas do confinamento no simpósio da Premix

Leilões 88 L igeira recuperação nas vendas do primeiro bimestre

Seções

10 Do Leitor 18 Giro Rápido

6 DBO março 2018

41 Cadeia em Pauta notas 68 Raças Notas 90 Agenda de Eventos

92 Empresas e Produtos 98 Sabor da Carne





Do leitor Controle de verminoses Sou veterinário e administro uma fazenda em Chupinguaia, RO. Tenho uma dúvida referente ao controle estratégico de verminoses que o professor Enrico Ortolani já mencionou em alguns artigos em DBO. O professor menciona a utilização do sistema 5-8-11, no qual se utiliza o sulfóxido de albendazol no mês 5 (maio), o levamilose no mês 8 (agosto) e a moxidectina no mês 11 (novembro). Minha dúvida é qual a importância de se respeitar essa ordem na utilização dos princípios ativos. Outra dúvida seria em relação ao produto levamisole. Estive pesquisando e são poucas empresas que fornecem esse princípio ativo. Gostaria de indicação de marcas nas quais podemos confiar. Leandro Roso Chupinguaia, RO

O professor Enrico Ortolani responde: A vermifugação estratégica foi proposta pela primeira vez por pesquisadores da Embrapa de Gado de Corte após estudo de contagem de larvas e vermes adultos em bovinos e de larvas nas pastagens no decorrer do ano, quantidade de chuva e umidade no solo, entre outros fatores. Durante os estudos, foi proposto para grande parte do Brasil o esquema 5-7-9 (maio, julho e setembro) para bovinos desmamados até 2 anos de idade. Recentemente, porém, um trabalho feito na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul reestudou o assunto e comparou o 5-7-9 da Embrapa com a nova proposição o 5-8-11, obtendo melhores resultados, inclusive com maior ganho de peso para este último esquema. Porém, os pesquisadores propuseram o uso de dois vermífugos (doramectina nos meses de maio e novembro e moxidectina em

10 DBO março 2018

agosto). O principal problema que estamos enfrentando é a resistência parasitária, fazendo por exemplo com que a ivermectina já não atue bem contra uma série de vermes gastrointestinais. A doramectina está indo para o mesmo caminho e deve ser usada com muita cautela como anti-helmíntico, reservando seu uso temporariamente como bernicida. Discuti muito com o autor principal do estudo sul-mato-grossense, que concordou com minha proposta de empregar inicialmente o sulfóxido de albendazole no mês de maio, que é um princípio ativo diferente dos dois medicamentos citados acima, acompanhado do levamisole, também de outra categoria de princípio ativo que mataria os vermes possivelmente resistentes ao albendazole e empregando a moxidectina longa ação para combater os vermes que se instalam no início e no decorrer das águas. Desta forma, com uso de três princípios ativos diferentes continuaria a funcionar por mais tempo essa importante vermifugação estratégica e diminuiria muito a resistência anti-helmíntica, que é séria no Brasil. Quanto ao levamisole, realmente existem poucas marcas comerciais no Brasil, mas tenho empregado o Ripercol.

Botulismo Li a reportagem “Botulismo: uma tragédia anunciada”, na edição 443 de DBO, de setembro de 2017. No texto, o produtor Pérsio Tosi, que perdeu 1.100 animais num surto da doença em sua propriedade, em Campo Grande, MS, afirmou que não encontrou no mercado uma vacina específica contra botulismo e decidiu apostar em outro medicamento, polivalente, que prometia proteção para todos os tipos de clostridioses. As dúvidas são: uma vacina

específica contra o botulismo garante proteção maior do que uma polivalente? Qual vacina o produtor utilizou?

José Ricardo de Melo Queiroz Cássia, MG.

A pesquisadora Alessandra de Castro Nassar, do Laboratório de Bacteriologia Geral do Instituto Biológico-SP, responde: Existem no mercado vacinas polivalentes e monovalentes contra o botulismo, e posso afirmar que ambas conferem proteção segura contra as enfermidades discriminadas na bula. Quando falamos em vacina, porém, devemos sempre ter em mente que, por se tratar de um produto frágil, deve ser bem conservado, sob refrigeração e mantido em gelo no momento da aplicação, respeitando-se a dosagem e a temperatura recomendadas. Assim, é complicado afirmar que a vacina, polivalente ou monovalente, não tenha garantido proteção aos animais. Devemos, sim, questionar como foi feita a imunização do rebanho. O importante é sempre ter as vacinações em dia, fornecer sal mineral aos bovinos e sempre descartar de forma segura os bovinos mortos, em valas profundas e com colocação de cal para evitar a proliferação de bactérias e a consequente contaminação da propriedade.

Correção Cometemos um equívoco na edição final do artigo de William Labaki sobre a carne de Piemontês, na seção “Sabor da Carne”, publicada à página 82 da edição de fevereiro. O chef José Barattino é do restaurante “La Carne”, do Grupo Eataly, e não do Grupo D.O.M., como saiu publicado.



Prosa Quente

Exportação de gado vivo tem novos desafios Para crescer, atividade terá de garantir o bem-estar dos animais e diversificar mercados, para diminuir dependência da Turquia.

Divulgaçã

Q

uinto maior exportador de gado vivo do mundo, o Brasil ainda vê essa atividade ser bombardeada por frigoríficos que temem um recrudescimento da concorrência pela matéria-prima (bois) e por ativistas que criticam as condições de transporte marítimo dos animais, como aconteceu recentemente com o navio Nada, no Porto de Santos. Trata-se, contudo, de um comércio favorável aos pecuaristas, pois ajuda a sustentar os preços da arroba, e gera divisas para o País. No ano passado, os 400.660 animais exportados renderam US$ 269,3 milhões. Os desafios também são grandes, tanto no que se refere à logística de transporte, quando à regulamentação ambiental ou garantias de bem-estar animal, principal foco de questionamentos dos ativistas. Em entrevista exclusiva à editora assistente de DBO, Maristela Franco, o presidente da Abeg (Associação Brasileira dos Exportadores de Gado), Lincoln Bueno, traça um perfil do setor, aponta equívocos no episódio do navio Nada e defende a abertura de mais mercados para o boi brasileiro, como o do Vietnã. Bueno é proprietário do Frigorífico Mafripar, com plantas de abate em Xinguara e Castanhal, PA, e também da Mercúrio, segunda maior empresa de exportação de gado vivo do País. A Abeg conta, atualmemte, com seis associados, dentre eles a maior empresa do setor, a Minerva SA, responsável pela operação do navio Nada, em Santos, e a Agroexport Trading, de Uberaba, MG.

DBO - O Brasil exportou muito gado vivo para abate na primeira metade da década, chegando a 651.310 cabeças em 2013, mas depois as vendas perderam fôlego, recuperando-se a partir de 2016. O que aconteceu? Lincoln Bueno - Esse mercado começou muito voltado à

Venezuela, que, em 2010, foi responsável por 92% das importações de gado brasileiro, mas esse cliente entrou em crise econômica, a moeda dele desvalorizou em relação ao real, por isso as compras diminuiram drasticamente. A partir de 2016, a Turquia foi se interessando mais pelo gado brasileiro e agora são nosso maior comprador. Dos 400.660 bovinos vivos exportados pelo País no ano passado, 55,2% (221.250 animais) foram para a Turquia [o segundo maior importador foi o Egito, com 55.740 cabeças, seguido pelo Iraque, com 47.28; o Líbano, com 38.41; e a Jordânia, com 37.950]. Antes, o mercado turco era abastecido principalmente pela Espanha e pela Austrália, mas com a forte seca sofrida pelos australianos, nós fomos ganhando terreno. O Uruguai também exporta bastante gado para lá. A demanda deles é alta, devendo chegar a 1 milhão de cabeças neste ano. Trata-se de um país populoso, cuja economia está crescendo 4,5% ao ano. Tem muita gente com bom poder aquisitivo e que leva muito a sério seus costumes religiosos.

12 DBO março 2018

DBO - Por que a Turquia compra tanto gado vivo? Bueno - Porque não tem condições de produzir gado em

larga escala e também por questões religiosas. Esse país vive uma onda de conservadorismo religioso, sob o comando de seu atual presidente, Recep Tayyip Erdoğan, que segue muitos ditames da religião islâmica, incluindo o consumo de carne proveniente apenas de abate halal [ritual que consiste em fazer um corte em meia-lua no pescoço do animal, para que ele não sofra e não libere enzimas na carne na hora da morte]. Esse tipo de abate somente pode ser feito por pessoa capacitada, que durante a operação se volta para Meca e recita uma oração em nome de Alá. Os animais devem estar com boa saúde; ser inteiros (não castrados), pois os turcos preferem carne magra; e jovens, para que possam ser engordados dentro dos preceitos islâmicos. [O abate somente é permitido depois da eclosão do segundo dente definitivo; antes disso o animal é considerado juvenil e não passível de agressão]. Os turcos gostam de comprar garrotes com peso entre 260 e 270 kg, preferencialmente de raças de origem britânica, como o Angus e o Brangus.

DBO - Por que não compram Nelore? Bueno - Há várias versões sobre isso. Uma delas é que


eles considerariam o Nelore um animal bravo. Como o gado importado é distribuído em lotes para intermediários ou açougueiros no interior do país, eles preferem trabalhar com animais mais mansos, para facilitar essa movimentação. Outra explicação para a rejeição ao Nelore é que essa raça tem origem indiana e os muçulmanos foram massacrados durante a Guerra de Independência da Índia, quando fugiam desse país para o Paquistão. Como a vaca Nelore é um símbolo indu, eles não querem esse gado. Seja como for, a preferência deles é pelo Angus ou Brangus, que compram principalmente do Rio Grande do Sul, São Paulo e do Uruguai, também porque esses animais suportam melhor o inverno turco, que é rigoroso. Eles ainda compram machos mestiços de origem leiteira, que são desprezados no Brasil devido a seu baixo desempenho na produção de carne, e estão se tornando uma fonte de renda para os produtores de leite graças à exportação de gado vivo. Trata-se de um mercado de nicho, pequeno, mas com papel regulador. DBO - Por que o senhor acha que ele tem papel regulador? Bueno - Porque dá vazão a produtos como o mestiço lei-

teiro, que também vendemos gordo. No frigorífico, esse tipo de animal atinge rendimento de apenas 49% e nós os compramos pelo peso vivo, aplicando 52% de rendimento. A maioria, contudo, é exportada jovem, logo após a desmama. A captação desses machos mestiços é feita em várias bacias leiteiras do País. Eles representam até 80% do gado embarcado no Pará. O pessoal do Rio Grande do Sul vende apenas garrotes de origem britânica, enquanto São Paulo exporta os dois tipos de animais. Considero as exportações de gado em pé reguladoras porque elas ajudam a enxugar excedentes e manter o preço ao produtor atrativo, evitando escassez de matéria-prima. Também estimula a modernização da pecuária. Os turcos pagam até US$ 600 a mais por tonelada nos animais de origem britânica, como os produtos de IATF. Há um ano e oito meses, comprei aqui em Paragominas, PA, animais ½ sangue Angus por R$ 5,30 o kg. Hoje esse tipo de animal vale R$ 7,20 o kg (valorização de 40%). São R$ 2 a mais por kg. Sabe o que isso? Se o produtor vender um bezerro de 250 kg, ganhará R$ 500 a mais por cabeça. Se vender 300 bezerros, pode comprar uma camionete tope de linha com essa diferença.

DBO - Muitos frigoríficos são contra a exportação de gado vivo, alegando que ela diminui a oferta de bois. Como está essa questão hoje? Bueno - Acho que essa questão está elucidada. Alguns fri-

goríficos pensam muito no curto prazo, mas, se o mercado do bezerro entra em baixa no País e o criador passa a descartar vacas, diminuindo a oferta, é pior para a indústria, pois isso gera um pico de alta grande da arroba. Sou dono de um frigorífico (o Mafripar) e também exporto gado. Não vejo conflito de interesses, pois é importante ter diferentes opções de mercado, especialmente no Pará, que não tem acesso a mercados nobres como a Europa e os Estados Unidos. A Austrália é uma grande exportadora

de carne e de gado vivo ao mesmo tempo. Além disso, os importadores não compram animais Nelore, que respondem pelo grosso das exportações de carne do País e pelo abastecimento do mercado interno. Futuramente, talvez possa haver uma disputa pelos cruzados industriais, se a demanda por carne de qualidade aumentar muito, mas será pequena. DBO - O Pará ainda é o maior exportador de gado vivo do País? Qual o peso do Estado nesse segmento? Bueno - Quase 67% dos animais saem pelo porto de Bar-

carena, na Vila do Conde, PA, e o restante pelo Porto de Rio Grande, RS (que embarcou mais de 100.000 cabeças no ano passado) e pelo Porto de São Sebastião, SP. Acho que Santos não vai mais operar com esse tipo de mercadoria. Não exatamente por causa da pressão dos ativistas, mas porque se trata de uma cidade grande, tradicional. Aconteceu lá a mesma coisa que em Belém. A população reclamou do mau cheiro, de engarrafamentos causados pelos caminhões. São Sebastião é mais adequado pra São Paulo.

DBO - Voltando ao episódio de Santos, como os importadores turcos reagiram? Bueno - Não gostaram. Acharam um absurdo essa inter-

ferência no negócio deles e também as críticas ao abate halal, uma tradição secular que eles levam muitíssimo a sério. Cada um deve seguir seus preceitos. Se os veganos querem comer apenas vegetais, tudo bem, ninguém é contra, mas não podem vir em cima das tradições deles.

DBO - Os manifestantes de Santos não questionaram mais as condições de transporte e alojamento nos navios do que essa questão do abate? Bueno - Fizeram um caldeirão de críticas infundadas. O

O preço do quilo de bezerro cruzado valorizou 40% no Pará por causa das exportações de gado vivo”

transporte até o Porto de Santos foi feito no mesmo tipo de caminhão usado para conduzir animais pelas estradas brasileiras todos os dias, conforme regras estabelecidas pelo Ministério da Agricultura. O navio Nada não é um transatlântico de luxo, mas tem todas as condições para alojar bem os animais: sistema de renovação de ar em todos os andares, comida e água frescas, estrutura adequada para armazenamento de dejetos. A mortalidade durante a viagem é baixa, inferior a 1%. Nós vacinamos e vermifugamos todos os animais antes do embarque, que é acompanhado por veterinários do Mapa.

DBO - De onde saiu esse índice de 10% de mortalidade que falaram à época? Bueno - Isso é mentira, é fake news. Se fosse verdade,

se fosse 10%, seria um prejuízo gigantesco. Em muitas viagens, não morre nada. Os transportadores, alguns deles também importadores, são criteriosos nisso. Não entra nenhum animal fraco ou doente no navio. Os bovinos ficam em quarentena por 21dias após a chegada do último lote nos estabelecimentos de pré-embarque, fazendas que o Ministério da Agricultura autoriza a reuni-los e prepará-los para a viagem. Os bezerros são identificados DBO março 2018 13


A TRibuna

Prosa Quente com brincos eletrônicos e inspecionados por fiscais do Ministério durante a quarentena. Somente são embarcados animais negativos para doenças como brucelose e tuberculose. Depois, um veterinário turco faz uma nova inspeção e a triagem dos bovinos, procurando sempre não estressá-los. Nessa questão do bem-estar animal, tem muita gente de boa fé, cujas preocupações são legítimas, mas que não se dão conta de que o Brasil é um gigante do agronegócio, que tem muita gente interessada em atrapalhar nossas exportações. Basta lembrar aquele estudo “Farms here, forests there” (fazendas aqui, florestas lá), que pregava a conservação das florestas no Brasil para garantir a supremacia dos Estados Unidos no mercado de grãos. A gente sabe que tem um jogo comercial pesado por trás desse episódio em Santos.

DBO - Especialistas em bem-estar dizem que não existe legislação adequada no Brasil nessa área, relativa ao transporte de gado vivo. O senhor concorda? Bueno - Não, seguimos inúmeras regras nessa área estabe-

Viramos uma espécie de Geni, na qual todo mundo joga pedra... mas novas normas estão por vir para nos dar respaldo”.

lecidas pelo Ministério da Agricultura. Exporto bois vivos desde 2004, há 14 anos. No começo, os boi chegava e entrava direto no navio. Hoje, eles aguardam o embarque em estabelecimentos credenciados, que seguem determinações do Ministério. Nessas fazendas, os animais contam com bons pastos, sombra, água, alimentação específica para gado de exportação e espaço de no mínimo 10 m2 no confinamento, caso sejam mantidos nessas instalações. Foram feitas muitas adaptações e uma nova regulamentação está sendo aguardada para breve. Não por causa desse episódio de Santos. Essas novas normas estão sendo discutidas com o setor há um ano e meio. Vão nos dar mais respaldo. Em alto mar, o navio está fora da jurisdição brasileira, mas, quando aporta aqui, tem de ter seguro contra acidentes e suas instalações são vistoriadas pela Marinha. Depois, fiscais do Mapa verificam toda a parte relacionada aos animais: condições de alojamento, comida, água, ventilação, espaço nas baias...

DBO - Então, essa questão do espaço por animal no navio recebeu muitas críticas? Bueno - Se o espaço não fosse adequado, o Ministério

da Agricultura não liberaria a exportação. Se os animais ficassem amontoados, como disseram, não comeriam e poderiam morrer. Isso não interessa a ninguém. O tamanho dos currais é adequado ao número de bois. Muitos animais engordam dentro do navio. Se estivessem sendo maltratados emagreceriam. As condições de espaço eram adequadas... DBO - As de limpeza também? Recebemos um relatório da veterinária que fez a inspeção no navio e ela relatou muita sujeira, animais cobertos de esterco... Bueno - Essa veterinária não era especializada. Foi indica-

da pelo juiz que suspendeu a exportação e agiu na inspe-

14 DBO março 2018

ção como uma ativista. O navio já estava há dias parado, por causa da liminar judicial que o impedia de zarpar. Os andares de baixo, que são preenchidos primeiro, já estavam com algum acúmulo de dejetos, que não podiam ser lavados e jogados no Porto de Santos. O navio conta com uma câmara para receber material dessas lavagens, mas até certo ponto. Acho que faltou um pouco de comunicação por parte dos exportadores sobre a importância da atividade para a pecuária nacional. Então, viramos uma espécie de Geni, na qual todo mundo joga pedra: “é o estrume que caiu na estrada, um boi que deitou no caminhão”. No Pará, os estabelecimentos pré-embarque ficam a uma hora do porto. Em São Paulo, aproveitaram confinamentos já existentes no interior do Estado para isso. Os animais tiveram de viajar cerca de 500 km para chegar ao navio, criou-se toda uma ação midiática em torno disso, com muita informação deturpada. DBO - Por que insistiram em exportar gado vivo pelo Porto de Santos, se já havia um processo em andamento e outros fatores complicadores da operação? Bueno - Isso não estava muito claro. Já havia sido feito um

embarque de 27.000 animais em dezembro, sem problemas, e acharam que as exportações de gado vivo, retomadas em Santos após 20 anos de interrupção, pudessem ser realizadas normalmente. Dia 12 de janeiro, a Companhia Docas do Estado de São Paulo decidiu suspender qualquer operação, já pressionada pelos ativistas, e aguardando posição da Antaq, Agência Nacional de Transportes Aquaviários, que liberou as exportações dia 25 de janeiro. Então, eles prosseguiram com o transporte e embarque dos animais. Não imaginavam aquele caos todo, nem as multas milionárias. Também não se esperava que, após o encerramento do episódio, a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), em uma atitude que considero demagógica, multasse o Terminal Ecoporto em R$ 450.000, alegando que essa empresa não tinha licença ambiental para operar com bovinos vivos.

DBO - O senhor acredita que esse mercado vai crescer 20% ao ano como dizem? Bueno - Não. Trata-se de um negócio hoje muito depen-

dente da Turquia. Se esse país parar de comprar, perdemos quase 60% das vendas. Precisamos abrir novos mercados. A Austrália, por exemplo, domina o Vietnã, que compra mais de 400.000 animais por ano; domina a Indonésia, e outros países, como a Malásia. Os australianos são muito fortes e estão atentos aos movimentos do Brasil. Podemos concorrer de igual para igual com eles. A distância não é problema. O navio precisa apenas fazer uma parada técnica pra se abastecer de água, comida, fazer uma limpeza. Há vários rotas possíveis do Brasil para o Vietnã. O navio pode sair do Pará, passando pelo Mediterrâneo e pelo Canal de Suez, ou do Rio Grande do Sul, contornando a África. O governo brasileiro está trabalhando para abrir novos mercados. Se conseguir, mesmo que a Turquia diminua suas compras, acredito que as exportações seguirão firmes. n



Meio Ambiente

Alívio para quem derrubou mata Decisão do STF sobre a constitucionalidade do Código Florestal favorece os produtores rurais que desmataram áreas antes de 22/7/2008. marina salles

A

marina.salles@revistadbo.com.br

celeuma sobre o Novo Código Florestal (Lei 12.651), promulgado em 2012, teve fim no último dia 28 de fevereiro, quando o ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal, desempatou a votação sobre artigos questionados pela Procuradoria Geral da República e pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) por meio de quatro Ações Diretas de Inconstitucionalidade (ADIs). Por seis votos contra cinco, o plenário derrubou o parecer do ministro Luiz Fux, relator do processo, e votou pela isenção de julgamento por crimes ambientais e pelo perdão das multas dos produtores rurais que aderiram ao Programa de Regularização Ambiental (PRA) e desmataram áreas antes de 22 de julho de 2008, data do decreto com definições legais sobre infrações. Samanta Pineda, advogada especializada em direito ambiental, considera a decisão importante, porque respalda uma regra que carecia de segurança jurídica. “Eu acredito que esse julgamento porá fim a milhares de ações judiciais que, mesmo depois da vigência do Novo Código, foram movidas pelo Ministério Público querendo APP sem ser somada à reserva legal, querendo margem de rio na proporção que era antes”, diz ela, lembrando que o Artigo 15 do Código Florestal, considerado constitucional pelo STF, admite o cômputo das APPs no cálculo da Reserva Legal. Ela discorda, porém, que a lei seja uma espécie de anistia aos produtores rurais. “Eles não terão que pagar multa por desmatamento antes de 2008, mas deverão promover melhorias em prol do meio ambiente”, justifica. Outros pontos importantes Sobre a cota de reserva ambiental, foi feita uma alteração no texto do Artigo 48, que trata da compra da Cédula Rural Ambiental (CRA), definindo que a compensação precisa ocorrer em área de mesma “identidade ecológica” daquela que foi desmatada. A palavra usada anteriormente era “bioma”. Com essa troca, Samanta entende que o artigo ficou mais abrangente, contemplando o que diz também o Artigo 66, pré-requisito para o seu cumprimento. “Porque mesmo que a compensação seja no mesmo bioma, o Artigo

16 DBO março 2018

Plenário do STF, durante votação do Código Florestal no dia 28 de fevereiro.

66 não tem só esse critério”, afirma; ele trata ainda de equivalência de área, em tamanho, e de terras prioritárias para compensação segundo o Estado ou a União. “Com a mudança, os ministros deixaram a CRA com a mesma característica da compensação”, diz ela. Rodrigo Justus, advogado e consultor técnico sênior da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), tem outro ponto de vista. Ele acredita que a alteração pôs em conflito os dois artigos, na medida em que o termo “identidade ecológica” seria mais específico (ao referir-se ao mesmo tipo de vegetação da área desmatada, e não aos vários tipos de vegetação que podem compor um bioma), restringindo as áreas de compensação. “O que podemos fazer agora é aguardar o acórdão para questionar esse conflito através de embargos de declaração”, diz Justus. Os ministros do STF também tiveram maioria na votação para que terras indígenas e quilombolas em processo de titulação e demarcação, além das que já são homologadas, usufruam dos mesmos benefícios e tenham tratamento análogo ao concedido a produtores rurais com área inferior a quatro módulos fiscais. Foi proibida ainda a gestão de resíduos em áreas de preservação permanente (APP), o que a advogada Samanta Pineda acredita que não terá impacto direto para os produtores. “Isso vai fazer diferença para locais como a cidade de Rosana, SP, que fica entre os rios Paraná e Paranapanema, é área de preservação, e não vai poder fazer o tratamento dos seus resíduos, uma coisa incoerente do ponto de vista ambiental”, opina. Quanto à regra para preservação de áreas no entorno de nascentes e olhos d’água, ela acredita que a revisão dos ministros abriu precedentes. O que a preocupa é a determinação ter passado a valer não somente para cursos d’água perenes, mas intermitentes, o que, segundo Samanta, exigirá dos fiscais uma avaliação muito criteriosa do ponto de vista técnico. “Quando você vai renovar uma lavoura de cana no período chuvoso, por exemplo, surgem ali olhos d’água que desaparecem depois. Afloramentos que são decorrentes da chuva. Agora, imagine se o produtor for autuado por isso, essa é a nossa preocupação”, diz. n


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Giro Rápido

A Câmara dos Deputados e o Senado Federal aprovaram, no dia 28 de fevereiro, a Medida Provisória que prevê a prorrogação para o dia 30 de abril do prazo de adesão ao programa de parcelamento de dívidas de produtores com o Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural, o Refis do Funrural. A prorrogação depende, agora, de sanção presidencial. A Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) pleiteou novo prazo, alegando que precisam ser solucionadas pendências que traziam insegurança ao produtor, desde que o Supremo Tribunal Federal (STF) julgou, em março de 2017, constitucional a cobrança do imposto do produtor rural pessoa física. Uma delas é a Corte decidir se a dívida é ou não retroativa. Outra pendência tem a ver com o Congresso Nacional, que tem o poder, em sessão conjunta (provavelmente no mês de março), de derrubar os 24 vetos que o presidente Michel Temer fez ao sancionar, em 9 de janeiro, o Refis do Funrural. O principal veto é o perdão de 100% das multas, dado pelos parlamentares. No texto original enviado pela Presidência (e alterado pelo Congresso) previase o perdão de apenas 25% do total das multas. Na justificativa, o presidente argumentou que a medida, se mantida, estaria na contramão do esforço de ajuste fiscal que o governo empreende, além de desrespeitar os contribuintes que pagaram seus compromissos em dia. 18 DBO março 2018

Aplicativo da Embrapa facilita planejamento forrageiro O aplicativo “Pastejando” acaba de ser lançado pela Embrapa Clima Temperado, de Pelotas, RS, e pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel). O objetivo é facilitar a vida do produtor na realização do planejamento forrageiro da propriedade, seja ela de corte ou de leite. Em nota, a Embrapa explica que a ferramenta, disponível na plataforma Android para celulares, substitui a necessidade de utilização das planilhas eletrônicas ou cálculos manuais, aumentando a eficiência na gestão e, com isso, diminuindo o risco de perda na produção. A ideia também é planejar o fornecimento e cultivo de forragens de maneira que o produtor tenha o produto à disposição o ano todo. O app faz a projeção das variações do estoque de passagem, com base nos fluxos de entrada e saída dos animais. São calculados os valores reais da massa de forragem, o acúmulo, o desa-

Paulo Lanzetta / Embrapa

Mais prazo para a adesão ao Refis do Funrural

parecimento, aparecimento, crescimento, consumo e também perdas. Com isso, diz a Embrapa, é possível o produtor ter a real noção de como fará a distribuição de forrageiras nas estações do ano. É, também, uma boa ferramenta para sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF). O “Pastejando” é fruto do projeto “Protambo”, em parceria com a Faculdade de Ciência da Computação da UFPel e a empresa júnior pré-incubada Hut8. Pode ser baixado na PlayStore sob o mesmo nome.

PIB da agropecuária bate recorde de crescimento A agropecuária foi o setor com melhor desempenho na economia em 2017. As riquezas geradas pelo campo, medidas no Produto Interno Bruto da Agropecuária (PIB agro), atingiram R$ 299,47 bilhões, alta de 13% em relação a 2016 e o maior avanço da série histórica, medida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Este salto na economia rural foi o principal responsável pelo PIB positivo do País no ano passado, de 1%. O recorde refletiu o excelente desempenho da agricultura em 2017, com uma safra recorde de grãos e destaque para a expansão nas produções nacionais de milho (55,2%) e soja (19,4%) lembrando que, em 2016, houve quebra de safra. Para 2017, especialistas e representantes do setor calculam que deve haver novo avanço no PIB agro, mas não tão expressivo, em torno de 0,5% a 1%, tendo em vista que em 2016 houve uma quebra de safra, em 2017 safra recorde e, este ano, a colheita de grãos deve ser um pouco menor do que o recorde do ano passado.

Suplementos minerais tiveram bom desempenho Está consolidado o balanço de 2017 de desempenho da Associação Brasileira das Indústrias de Suplementação Mineral (Asbram), que conta com 70 empresas associadas e responde por 67% das vendas do setor. Segundo dados fornecidos pela entidade, no ano passado, foram comercializadas, por estas empresas, 1.999.000 toneladas de insumos, alta de 3,25% em relação a 2016. O crescimento foi o mesmo do segmento como um todo, cujas vendas subiram de 2.789.114 toneladas, em 2016, para 2.984.000 t, em 2017. À épo-

ca do fechamento do Anuário DBO 2018, as estimativas apontavam para um avanço mais tímido do setor, com incremento de apenas 0,6% na comercialização, esperada para ser de 2.806.000 t de insumos. O novo presidente da Asbram, Ademar Leal, proprietário da Campo Rações e Minerais, com sede em Goiânia, GO, tomou posse do cargo em 22 de fevereiro e já assumiu o compromisso de realizar uma campanha de esclarecimento sobre o uso correto da suplementação para melhorar o desempenho das vendas.


Na edição de fevereiro, nesta seção, na página 17, publicamos um gráfico com inconsistências e alguns números errados. O texto que o acompanhou fica adequado com o gráfico que está ao lado, onde se destaca a distribuição de áreas protegidas e preservadas (563 milhões de hectares) do território brasileiro, que correspondem a 66,3% da área total do País. Mas o gráfico que deveria ter saído é o de baixo, onde o percentual de áreas protegidas, preservadas e conservadas aumenta para 74,3%, porque inclui as pastagens nativas, que, embora não sejam áreas com florestas, representam um tipo de vegetação importante, cujo uso pela pecuária não interferiu na conservação do bioma em que está inserida. Carlos Alberto de Carvalho, pesquisador da recém-inaugurada Embrapa Territorial, de Campinas, SP, explica que o compromisso de o Brasil manter essa área toda – que corresponde a 631 milhões de hectares - é incomparável no mundo, porque, muito embora não esteja inteiramente recoberta por mata, está legalmente comprometida com a manutenção e ou recomposição da vegetação. Ele informa, ainda, que no levantamento feito pela Embrapa Territorial, em maio de 2017, não haviam sido considerados imóveis rurais do Mato Grosso do Sul e do Espírito Santo, o que permite inferir que esse número seja ainda maior. Os três termos que ajudam a definir de quem é a responsabilidade legal sobre o cuidado de áreas de vegetação são os seguintes: Áreas protegidas: mais usual em outras partes do mundo, foi cunhado pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) e é usado pela Embrapa para designar unidades de conservação, como parques, terras indígenas e vegetação nativa em terras devolutas (sem destinação definida) e uma minoria de terras que ainda não foram inscritas no Cadastro Ambiental Rural. São todas de responsabilidade do Estado brasileiro e totalizam 45,8% total. Outros 20,5% são de áreas preservadas e de responsabilidade de agricultores e pecuaristas, na forma de APPs (áreas de preservação permanente) e de reserva legal, como determina o Código Florestal. Finalmente, as áreas conservadas se referem aos 8% de pastagens nativas, também a cargo das propriedades rurais.

em io ár

A geração de jovens dos Estados Unidos chamada de millennials – nascidos entre 1980 e 2000 e que, portanto, estão hoje com idades que variam de 17 a 37 anos – gasta muito pouco (apenas 2,5%) de seu orçamento com carnes (o nível mais baixo entre as gerações) e querem saber, cada vez mais, onde e como essas carnes foram produzidas; ou seja, exigem rastreabilidade dos produtos. A constatação foi divulgada pelo site Drovers.com, com base num estudo divulgado em janeiro pelo serviço de pesquisa econômica do USDA, o Departamento de Agricultura dos EUA. Os millennials – também conhecidos como “geração Y” – representariam hoje um contingente de 83 milhões de pessoas, 27% da população norte-americana. Nem mesmo a reabertura do mercado chinês para os EUA (em setembro do ano passado) – o mais promissor do mundo hoje – aliviaria a preocupação que os fazendeiros devem ter com o futuro do consumo interno: as 2,2 milhões de toneladas embarcadas para o gigante asiático são suficientes para apenas três dias de consumo na rede de fast food McDonald´s.

Os números corretos de gráfico que saiu errado

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Jovens exigentes

Infográficos que sintetizam informações importantes da pecuária

Uso

O Rhône Capital, fundo americano, anunciou a compra da Fogo de Chão, rede brasileira de churrascarias, por US$ 560 milhões. A churrascaria possui 38 restaurantes nos Estados Unidos, nove no Brasil, duas parcerias no México e duas no Oriente Médio. O Rhône Capital é um fundo de investimento com mais de US$ 5 bilhões em ativos sob sua administração, com investimentos em aviação, produtos químicos, bens de consumo, alimentos e varejo. A primeira unidade do Fogo de Chão foi aberta em 1979, em Porto Alegre, pelos irmãos Jair e Arri Coser. Em 2011, os fundadores venderam sua parte à gestora de investimentos GP, que já detinha 35%. A empresa, por sua vez, passou a rede em 2012 ao fundo de private equity americano Thomas H. Lee Partners, por US$ 400 milhões.

Infopec

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Fogo de Chão muda de dono

Gráficos Embrapa Territorial

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Coluna do Cepea

Abate de vacas leiteiras e sua influência no preço da arroba

Sergio De Zen Professor doutor da Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz), da USP (Universidade de São Paulo), e pesquisador responsável pela área de pecuária do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP Colaboraram: Cristiane Mariano Analista de mercado da Equipe Pecuária do Cepea. Natália Grigol Pesquisadora da Equipe de Leite do Cepea

A

diferença entre os preços da arroba do boi gordo e da vaca aumentou em janeiro deste ano frente a igual mês de 2017 em importantes Estados pecuários, como Rio Grande do Sul, São Paulo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Goiás. Esses dois últimos se destacam, com a diferença entre os preços do macho e da fêmea tendo mais que dobrado em um ano – resultado que pode estar atrelado ao desestímulo na pecuária leiteira nos últimos meses. Em Minas, a diferença passou de R$ 4,85/@ em janeiro/2017 para R$ 10,51/@ em janeiro/2018. Tal resultado se deve à queda de quase 3% no preço da vaca entre janeiro/2017 e janeiro/2018, enquanto o boi subiu 1,23%, cenário que pode estar atrelado à maior oferta de novilhas em Minas no período analisado – o Cepea considera o preço da novilha no cálculo da média da vaca. No Rio Grande do Sul, enquanto em janeiro de 2017 o boi era negociado a R$ 10/kg morto e a vaca a R$ 9,54/kg, no mês passado, o macho foi vendido por R$ 9,62/kg e a fêmea, R$ 8,62/kg. Ou seja, a diferença entre os preços passou de R$ 0,46/kg (ou de R$ 6,83/@) em janeiro/2017 para R$ 1/kg (R$ 14,99/@) em janeiro/2018. Nesse período, a vaca se desvalorizou quase 10%, ao passo que o boi gordo caiu 3,8%. A queda mais intensa na vaca esteve atrelada à maior oferta nacional da categoria. Conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de janeiro a setembro de 2017 o abate de vacas e novilhas cresceu 8,6% e 9,32%, respectivamente, frente a igual período do ano anterior. Quanto à participação de fêmeas no abate total de animais em 2017 (até setembro) foi de 42%, ante 39% em 2016. A princípio, o aumento do abate de fêmeas no primeiro trimestre não causa estranheza, já que é entre janeiro e março que as vacas va-

Diferença de preços entre o boi gordo e a vaca (em R$)

Fonte: Cepea/Esalq-USP

20 DBO março

2018

zias são descartadas. Além disso, a maior participação das fêmeas no abate total ocorre geralmente em anos de queda no preço do bezerro e da arroba, como em 2017. No entanto, pesquisas do Cepea apontam que o aumento no abate de fêmeas esteve relacionado, ainda, a fatores exógenos ao mercado de corte, como os abates crescentes de vacas leiteiras. É o caso de Minas Gerais e do Rio Grande do Sul, que, juntos, representam 40,4% da produção nacional de leite, segundo o IBGE. De acordo com levantamento do Cepea, o maior descarte de vacas leiteiras se deve à crise no setor, que resulta em quedas drásticas de preços do leite desde junho/2017. Deste mês a janeiro/2018, o preço médio em Minas Gerais registrou queda acumulada de 23,8%, com o leite pago ao produtor chegando a R$ 1,0062/ litro em janeiro. No Rio Grande do Sul, o recuo foi de 26,6%, com a média de janeiro a R$ 0,9486/litro (valores deflacionados pelo IPCA de janeiro/2018). A queda das margens levou os pecuaristas a reduzir investimentos e, para uma parcela mais vulnerável, estimulou o abate de vacas, a mudança de padrão genético do rebanho e a cria de bezerros para uma gradual transição para o mercado de corte. A articulação entre as cadeias de corte e leite não é novidade. Em 2016, por exemplo, quando tanto os custos de produção do leite quanto os preços do bezerro estiveram em alta, muitos pecuaristas investiram na cria de machos, o que também colaborou para a redução de 3,9% da produção daquele ano em relação à de 2015. Ao mesmo tempo, um estudo em andamento do Cepea tem estimado que cerca de 30% dos bezerros que são terminados têm alguma origem leiteira. É frente a essas situações que se nota a dificuldade em quantificar a intensidade dos efeitos de um mercado sobre o outro. Grande parte do problema está, também, na ausência de dados discriminados em relação às categorias do rebanho brasileiro. É nesse sentido, inclusive, que se destaca o trabalho do Cepea, que, desde 2002, alimenta uma importante base de dados sobre produção pecuária. Por fim, o aumento do diferencial dos preços do boi e da vaca e a maior participação de fêmeas no abate indicam que, para o mercado de corte, a oferta de carnes pode se elevar – e pressionar as cotações da arroba. Por outro lado, uma maior oferta de carnes acarretaria em preços mais atrativos, o que, num cenário de recuperação econômica, estimula o consumo. Vale lembrar que, mesmo diante de cortes menos padronizados oriundos do maior abate de fêmeas, tanto o mercado interno quanto o externo possuem demandas específicas capazes de absorver essa produção. n



Mercado

Estabilidade no preço do boi Analistas preveem recuperação da demanda por carne bovina, o que pode puxar a arroba para cima Denis Cardoso

M

ais um mês de frustração para o pecuarista, que se deparou com um mercado travado em fevereiro, repetindo a morosidade observada no mês anterior. Embora a economia brasileira venha dando sinais de recuperação, a fraca demanda interna pela carne bovina continua fazendo com que os frigoríficos operem com bastante cautela, cadenciando as suas compras o máximo possível. O Indicador Esalq/BM&FBovespa (São Paulo, à vista) encerrou fevereiro a R$ 145,15, com leve reajuste de 0,6% na comparação com o valor de janeiro (R$ 146), segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq/USP). Na avaliação de analistas, os preços do boi gordo só não registraram seguidas quedas nos dois primeiros meses do ano porque os pecuaristas estão conseguindo segurar a boiada na fazenda, favorecidos pelos bons volumes de chuvas e, consequentemente, pela melhoria das condições das pastagens. No entanto, na visão de consultores, é possível uma reviravolta no mercado nos próximos

Indicador Bezerro tem forte alta mensal no MS Especificações Preço à vista por cabeça Peso médio/kg Preço por kg Preço por arroba

Datas de levantamento do Cepea 28/2/2018 31/1/2018 R$ 1.205,24 R$ 1.144,33 206,56 200,08 R$ 5,83 R$ 5,72 R$ 175 R$ 171,6

Fonte: Cepea/Esalq/USP

Indicador Boi Gordo fica estável em São Paulo Datas da liquidações dos contratos negociados na BM&FVBovespa 28/2/2018 31/1/2018 R$ 145,15 R$ 146

Especificações Preço à vista

Fonte: Cepea/Esalq/USP/BM&FBovespa. Média dos últimos cinco dias úteis em São Paulo. O valor é usado para a liquidação dos contratos negociados a futuro na BM&FBovespa.

Indicador Boi do Gordo a quase R$ 152 em outubro Mês para a liquidação dos contratos na B3 Data dos pregões

jan

Fev

Mar Abr

Mai

28/12/17 148,00 147,00 147,45 147,15 147,75 31/1/18 28/2/2018

Jun -

Jul

Ago

150,50 151,60

Set -

Out

Nov

Dez

153,80 153,50 153,20

145,64 144,80 144,15 144,30 144,35 145,45 148,05 149,20 149,75 151,20 150,40 150,40 -

146.01 145,80 145,25 145,10 146,20 148,00 149,95 150,50 151,90 151,65 151,65

Fonte: BM&FBovespa.

22 DBO março 2018

meses, influenciada por um conjunto de fatores, a começar pela recuperação do consumo interno de carne bovina. A médica veterinária Lygia Pimentel, diretora da consultoria Agrifatto, de Bebedouro (SP), diz que a conjuntura macroeconômica sugere um ano positivo para os preços pecuários. “A expectativa para 2018 é de ampliação da demanda por carne bovina, com pressão positiva nos preços pagos aos pecuaristas”. Em 2016, pico da crise econômica, o consumo brasileiro per capita recuou para 36,7 kg, segundo dados da Agrifatto. No ano passado, essa demanda alcançou 39,2 kg/hab/ano. “Espera-se que essa curva positiva se mantenha este ano e retome patamares acima de 40 kg/hab/ano, reaproximando-se do nível de 2013”. Analistas acreditam que a demanda pela carne vermelha também será puxada por dois grandes eventos este ano: a Copa do Mundo e as eleições. Afinal, o tradicional churrasco em dia de jogo é inevitável na maioria dos lares dos torcedores brasileiros. No caso das eleições, o dinheiro de campanhas políticas injetado na economia deve aumentar o consumo, especialmente no segundo semestre. Segundo o médico veterinário Hiberville Neto, da Scot Consultoria, de Bebedouro, SP, também é preciso considerar a possibilidade de pressão negativa no preço do boi gordo induzida pelo aumento de oferta de animais prontos para o abate, sobretudo de fêmeas, devido ao movimento de descarte iniciado em 2017, influenciado pela queda de rentabilidade da cria. A oferta de fêmeas tende a pressionar as cotações, mas a melhoria da situação econômica deve amenizar essa pressão de baixa, diz ele. No entanto, continua Neto, não é um ano para ficar à espera do mercado, que sugere o “travamento” (operações de hedge) de preços do boi gordo no mercado futuro na B3 (antiga BM&FBovespa). “Lucro garantido hoje é melhor que a esperança de um resultado melhor amanhã”. Ainda segundo Neto, no curto prazo poderá haver uma maior pressão ocasionada pela desova de bezerros da desmama, o que deve aumentar a oferta de matrizes no gancho. “Também teremos, em maio, maior oferta de animais prontos para o abate de todas as categorias, por causa da entrada do período seco”. Diferencial de base O Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea) identificou um estreitamento no diferencial de base (diferença entre o preço do boi gordo) entre Mato Grosso e São Paulo em fevereiro. Até meados do mês passado, a diferença de preço entre as praças ficou em -10,30%, exibindo um aumento de 3,14 pontos percentual no comparativo anual e registrando o menor valor desde jul/17. Este movimento, segundo analistas do Imea, está atrelado à menor desvalorização sofrida pelo boi gordo em Mato Grosso quando comparado a São Paulo durante o período analisado. “Um dos fatores que podem justificar isto é a reabertura de diversas plantas frigoríficas no Mato Grosso nos últimos meses, contribuindo para um ambiente de maior competição entre as indústrias, dando mais opções de negócios aos pecuaristas”, diz o Imea. n



Mercado

Reposição em compasso de espera

7,79 arrobas de boi gordo para a compra de uma cabeça de bezerro desmamado (6@), queda de 1,8% em relação a janeiro e alta de 1,9% na comparação com o mesmo período do ano passado. No curto prazo, Isabella recomenda aos invernistas muita atenção para oportunidades. “A proximidade com o período de confinamento pode colaborar para preços firmes para garrote e boi magro e piorar a relação de troca com o boi gordo”, alerta.

Início da programação para o confinamento vai estimular demanda por animais jovens

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Denis Cardoso

mercado de reposição seguiu com pouca movimentação em fevereiro, influenciado pela estabilidade no preço do boi gordo. “O principal fator para a lentidão do mercado é a incerteza quanto ao valor do animal terminado, o que tem afastado os compradores”, ressalta zootecnista Isabella Camargo, analista da Scot Consultoria, de Bebedouro (SP). No entanto, apesar da menor quantidade de negócios, as cotações não sofreram, pelo menos até o início de março, pressão de baixa. Isso porque, diz Isabella, a ponta vendedora consegue reter os animais, devido à melhor capacidade de suporte das pastagens, aguardando melhores negócios. “A demanda por machos está maior do que por fêmeas e as categorias mais procuradas são as mais eradas, principalmente garrote”. Tal movimento deve-se ao início da programação para o período do primeiro giro do confinamento, informa Isabella. Segundo a Informa Economics FNP, no fim de fevereiro e início de março registrou-se uma maior liquidez nos leilões, estimuladas justamente pelo início da procura dos produtores pelos animais que serão alocados no primeiro giro da engorda intensiva. Dessa forma, os preços se mantiveram um pouco mais sustentados, com ênfase para os machos de todas as categorias. No entanto, para as categorias mais jovens, a expectativa também é de aumento de oferta ainda neste mês de março, início do período de desmama. Relação de troca Em fevereiro, em São Paulo, eram necessárias

Preços por categorias e praças Em fevereiro, as cotações dos animais de reposição registraram comportamentos distintos, que variaram conforme a praça de negociação e a categoria negociada. No geral, com exceção do Mato Grosso, onde o valor do bezerro desmamado subiu, as quedas mensais mais fortes foram registradas para a categoria de 6@. Em São Paulo, o bezerro fechou o mês passado a R$ 1.164, em média, queda de 1,8% ante janeiro, segundo a Scot Consultoria, de Bebedouro, SP. Na praça de Goiás, essa mesma categoria animal alcançou o valor médio de R$ 1.118 no mês passado, com decréscimo de 2,6% sobre a cotação média do mês anterior. No Mato Grosso do Sul, o bezerro atingiu o preço médio de R$ 1.092, baixa de 0,7% na comparação com janeiro. Em Tocantins, a categoria sofreu queda mensal média de 3,8%, para R$ 1.032, enquanto na Bahia a retração foi de 2,1%, ficando em R$ 1.030. No Mato Grosso, o mercado de reposição esteve mais aquecido, o que fez com que o bezerro subisse 3,4% em fevereiro, para R$ 1.050, na comparação com janeiro. Outras categorias Nas mais várias praças de comercialização do País, o boi magro (12@) e o garrote (9,5@) registraram variações distintas no mês passado. No Tocantins, o boi magro teve queda de 2,4%, atingindo o valor médio de R$ 1.618, enquanto o garrote foi a R$ 1.390, com desvalorização mensal de 3,3%. Em Goiás, o boi magro registrou valor médio de R$ 1.804, com baixa de 2,1% sobre janeiro, e o garrote foi a R$ 1.532, com queda de 1,8%. No Mato Grosso, o boi magro e o garrote registraram aumento mensal de 1%, para R$ 1.706 e R$ 1.450, respectivamente. No Mato Grosso do Sul, o animal de 12@ fechou fevereiro a R$ 1.748, com queda de 2,5% sobre o mês anterior. O garrote atingiu R$ 1.522, com retração mensal de 0,5%.

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Preço médio do bezerro desmamado em fevereiro em Tocantins; desvalorização de 3,8% na comparação com janeiro

Valor do bezerro desmame na praça do MT, no mês passado, elevação de 3,4% em relação ao mês anterior

Cotação média do boi magro em Goiás, em fevereiro; decréscimo de 2,1% sobre janeiro.

R$ 1.032

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R$ 1.050

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R$ 1.804

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Valor médio do garrote na praça do MS no mês passado; baixa de 0,5% na comparação mensal



Fora da Porteira

Rogério Goulart

Falta a ponte entre vendedor e comprador de gado bom Não podia existir um intermediário que garantisse o padrão de lotes comerciais?

Administrador de empresas, pecuarista e editor do informativo semanal “Carta Pecuária”, de Dourados, MS.

S

empre faço uma pergunta quando saio para comprar gado: “Será que o lote que vou ver é bom mesmo?” Para não perder a viagem, ajuda muito se o vendedor tiver, antes, filmado ou fotografado o lote. E também conversar com o corretor, que invariavelmente e como de praxe dirá que o rebanho é bom, de primeira, cabeceira, top, bruto, de raça... Assim, depois de ver as fotos e vídeos e conversar com o corretor, se ainda há interesse, é hora de sair de casa para ver o gado pessoalmente. Pode até enviar uma pessoa de muita confiança que saiba o tipo de animal de que você gosta. Muitas vezes, porém, lamento dizer, o gado não era do jeito que precisava ser. Paciência. Vamos para outra tentativa. A minha angústia em momentos de compra de animais de reposição é que tanto você quanto eu, apesar de nos depararmos com lotes não muito bons, sabemos que há gado excelente disponível para venda, caro leitor. Isso porque o criador tem investido muito em genética, com centrais cumprindo um papel importantíssimo nesse sentido. Na nutrição também. É um processo lento e que se espalha, de maneira benéfica, pelo País. O difícil é saber onde está este gado e seus compradores. Vejamos: existem muitos tipos de compradores de bezerro. Tem para todos os gostos e finalidades. O que tenho em mente é aquele sujeito que vai comprar para engordar na fazenda, em pastos bons, com ração. E que terminará o animal a pasto ou, talvez, no confinamento. Para esse tipo específico de invernista, os resultados zootécnicos finais da engorda provenientes da compra de um animal “bruto” são visivelmente superiores aos de animais comerciais. Compare dois animais. Um comercial. Outro tope. Pelo mesmo peso inicial e final, vai, 20@, o bezerro de raça virará boi gordo com esse peso em menos tempo de fazenda do que o outro. Quanto tempo menos? Essa é a pergunta chave. No fim, o que importa é o que você vai gastar, não é? Se, para virar boi gordo, um animal fica três meses a menos na fazenda ao custo de R$ 50 por mês, aquele animal, no fim, sairá R$ 150 mais barato que o comercial. Isso significa que vale, sim, na prática comercial, pagar mais por um gado de qualidade, de

26 DBO março 2018

raça. No fim, ele vai para abate com menos tempo de fazenda. Convencido disso, o leitor pode pretender sair para comprar somente animais de raça, provenientes de criadores que entendem e investem em qualidade do gado e que todo ano fazem a desmama e colocam esse produto no mercado. Mas, se eu sair hoje com esse objetivo, consigo comprar com facilidade esse tipo de animal? Não. É uma pena que ainda seja assim. Existe um monte de criadores que produzem qualidade. Querem ser valorizados pelo seu esforço. E há um monte de invernistas que querem ter a alegria de comprar um lote “de encher os olhos”. Mas essas duas partes não se conhecem. Não se falam. Vivem em mundos diferentes. Dá trabalho, demanda tempo e muitas visitas infrutíferas em currais para conseguir juntar uma boa quantidade de animais desse padrão. Não seria interessante se existisse um elo entre quem produz qualidade e quem quer comprá-la? Quem é que poderia ser o elo entre esses dois agentes? Eu, como comprador de bezerros, gostaria de ligar para alguém e perguntar o seguinte: “Amigo, tenho fazenda na região de Caarapó, MS. Quem você sabe que produz bezerro de qualidade nessa região? Quem usa sêmen de comprovada origem, quem já está fazendo um trabalho de seleção na vacada? De quem eu poderia comprar esses bezerros?” Daí a resposta: “Olha, senhor, tenho oito clientes que se encaixam nesse perfil. Cinco produzem Nelore e três Angus. Deixe-me ver se há disponibilidade de bezerros e colocamos vocês em contato”. Sabe de quem é esse papel? Proponho que seja das centrais de genética, seus consultores e técnicos. Eles estão “com a faca e o queijo nas mãos”, como se fala em Minas. Imagina um serviço casado? O sujeito compra o pacote de genética para melhorar o seu plantel e, de quebra, leva também os contatos dos invernistas que querem e estão ávidos por esse tipo de animal. Você dá vazão ao produto comprovadamente melhor do seu cliente. A contraparte compradora fica satisfeita e voltará no ano que vem. Ganha-ganha. Fica aí a sugestão. Depois escreva para a revista contando o que achou da ideia. n


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Artigo

Mateus Paranhos da Costa

O episódio do navio Nada e a pecuária de commodity

Faltou transparência e o conjunto de acontecimentos colocou em xeque a eficiência do sistema de fiscalização do Mapa.”

É

a tribuna

Mateus Paranhos da Costa, professor de Etologia e Bem-Estar Animal do Departamento de Zootecnia da FCAV/UNESP de Jaboticabal.

necessário que o setor produtivo faça uma reflexão mais profunda sobre as causas do impasse sócio-jurídico decorrente da exportação de bovinos pelo porto de Santos, no navio “Nada”. A causa desse impasse foi a alegação de que os animais embarcados no navio estavam sendo submetidos a maus tratos, condição, em tese, contrária às disposições legais definidas pela Constituição Brasileira (Art. 225, ß1, VII, “... incumbe ao poder público.... proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que... submetam os animais a crueldade...”) e pela Lei de Crimes Ambientais Nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998 (Capítulo IV, Seção I, Art. 32), que considera crime ambiental praticar ato de abuso, maus tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos. Essas determinações legais se baseiam em princípios éticos para nortear nossas relações com os animais. Entretanto, não há, na legislação brasileira, segundo meu conhecimento, definições claras quanto ao que caracterize crueldade, ato de abuso ou maus tratos aos animais. As regras de mercado também raramente levam em conta princípios éticos para estabelecer e conduzir nossas relações com os animais de produção “comoditizados”, focando apenas na geração de lucro. Aí está o principal elemento causador dos conflitos sociais e jurídicos observados durante o embarque dos bovinos no navio Nada. Discussão polarizada Uma parcela importante da nossa sociedade entende que os animais (como seres sencientes) devem ser tratados segundo preceitos éticos de respeito e consideração. Não aceita a ideia de que eles podem ser vistos como objetos ou “comodities” e acionou a Justiça por entender que havia desrespeito às leis, caracterizado pela ocorrência de maus tratos aos animais. Conflitos como este são recorrentes e podem se prolongar indefinidamente. O primeiro passo para “desfazer esse nó” é reconhecer que há incompatibilidade entre certos princípios éticos fundamentais que orientam nossas relações com os animais e a visão de mercado para, então, buscar alternativas que permitam harmonizar esses interesses. Não é uma tarefa fácil, tanto do ponto de vista social quanto jurídico.A dis-

28 DBO março 2018

Operação de embarque de animais no Porto de Santos foi cercada por controvérsias

cussão sobre este tema está muito polarizada, com posicionamentos extremados de quem defende ou ataca a prática de exportação dos animais vivos, independentemente de considerações de como essa atividade é ou deveria ser feita. Quem está interessado na promoção da exportação foca na questão econômica (segundo seus interesses no negócio) e quem defende a extinção dessa atividade, foca na questão dos direitos dos animais (segundo princípios éticos e interpretações legais que entendem ser relevantes para caracterizar a ocorrência de maus tratos aos animais). Portanto, é baixa (ou nula) a probabilidade de harmonização desses interesses. A situação é agravada pela omissão do Estado. Não temos normas que permitam aos serviços de


Recomendações da OIE Precisamos, urgentemente, de normas e regulamentos detalhados, claros e objetivos, que incluam indicadores de bem-estar animal validados cientificamente, de forma a permitir uma fiscalização mais segura e eficiente, como proposto pela Organização Internacional de Saúde Animal (OIE). São vários pontos que devem ser considerados: espaço por animal, condições de alimentação, limpeza, atenção aos indivíduos que não se adaptam às condições próprias de cada modalidade de transporte. No caso específico do transporte marítimo, há recomendações internacionais que podem (ou devem) servir para orientar a definição de normas brasileiras como, por exemplo, no Capítulo 7.2 do Código de Sanitário de Animais Terrestres, que trata do transporte marítimo de animais. Em seu Artigo 7.2.1, ele estabelece um tempo mínimo para a viagem; no Art. 7.2.5, determina que o sistema de ventilação deve ser funcional mesmo quando o navio está parado; no Art. 7.2.7, estabelece que o descanso pré-jornada é necessário, caso o bem-estar dos animais seja prejudicado durante o período de coleta, devido ao ambiente físico ou ao comporta-

divulgação / Inspeção Técnica requisitadA pela Justiça Federal

defesa agropecuária brasileiros realizar uma avaliação objetiva e segura das condições de bem-estar dos animais quando transportados por via terrestre, fluvial ou marítima. Sequer existe empenho das autoridades para disciplinar esta e outras atividades que envolvem a questão do bem-estar dos animais de produção. Infelizmente, a improvisação ainda é a regra.Além disso, não há iniciativas concretas que permitam avaliar o risco e mitigar os potenciais efeitos negativos que eventos como este (ocorrido com o navio Nada) trazem para as cadeias produtivas da pecuária brasileira. Tomando como exemplo os recentes acontecimentos no porto de Santos: aparentemente todos os envolvidos com a ação foram pegos de surpresa. A caracterização dos problemas (bem documentados no relatório da médica veterinária nomeada para realizar a perícia judicial no navio) e a falta de uma resposta oficial bem estruturada para justificá-los (ou derrubá-los), evidenciam isso. Faltou transparência e o conjunto de acontecimentos colocou em xeque a eficiência do sistema de fiscalização do MAPA. Além dessa “paralisia oficial”, há pouca transparência na condução das atividades relacionadas com a exportação de animais vivos para o abate. Lamentavelmente, essa questão não tem sido tratada com o cuidado que merece. Um fato agravante é que os projetos de lei relativos ao bem-estar dos animais de produção em andamento no Congresso Nacional têm vieses extremos (tudo pode ou nada pode), sem qualquer embasamento científico, aumentando ainda mais a polarização dos debates sobre o tema.

Animais em “baias” no navio Nada, já sujos e cansados, durante o período em que se aguardava decisão da Justiça.

mento social dos animais. Segundo meu conhecimento, nenhum desses pontos é contemplado nas normas ou regulamentos brasileiros. É necessário que esse debate seja conduzido com moderação e com base em comprovações científicas. O primeiro passo é reconhecer os animais de produção como seres sencientes e não mais como “coisas”, merecendo, portanto, considerações éticas quando conduzimos qualquer atividade que os envolvam, incluindo seu transporte. Assim, seremos capazes de usar o conhecimento disponível ou desenvolver pesquisas que fundamentem cientificamente as peças legislativas reguladoras da exportação de animais vivos, bem como de outras atividades envolvendo nossos animais de produção. É essencial também estarmos atentos e abertos às demandas da sociedade, levando-as em conta quando definimos estratégias sobre a criação e o manejo dos animais de produção. Essas ações devem ser conduzidas de forma clara, integrada e transparente, fazendo uso de bons mecanismos de comunicação que permitam o acesso à informação e à participação da sociedade. Esses são alguns dos requisitos necessários para o desenvolvimento responsável e sustentável das cadeias produtivas da pecuária brasileira. Só assim poderemos nos defender das críticas daqueles que pregam o fim da produção animal e também ficar menos susceptíveis aos riscos que certos acontecimentos (como os episódios relativamente recentes que culminaram com a Operação Carne Fraca e com o naufrágio do navio carregado de bois no Porto de Barcarena, PA), trazem para a imagem da pecuária brasileira. n

Infelizmente, no que diz respeito a transporte, a improvisação ainda é a regra.

DBO março 2018 29


Cadeia em Pauta

Programa Carne Zebu ganha a estrada

Márcia Benevenuto

Primeira etapa contabiliza 4.250 vacas inseminadas e 8.500 doses de sêmen distribuídas para 12 fazendas comerciais

O

Vivemos hoje o momento de agregar valor à nossa genética” Henrique Ventura Superintendente técnico adjunto de Melhoramento Genético da ABCZ

Carolina Rodrigues

Programa Carne Zebu, lançado pela Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ) em julho de 2017, com o objetivo de avaliar a qualidade dos touros Nelore PO registrados em características de qualidade de carcaça e carne, comemora sua primeira etapa efetiva de funcionamento, com 4.250 vacas comerciais inseminadas. Nesta estação de monta, o programa usou material genético de 17 reprodutores, pertencentes a 10 grandes criatórios parceiros do PMGZ (Programa de Melhoramento Genético de Raças Zebuínas). Com metas ambiciosas, o Carne Zebu pretende acompanhar o desenvolvimento das progênies nascidas em rebanhos comerciais, com posterior avaliação de carcaças nos frigoríficos, para mostrar que touros registrados são produtivos e conectados com as reais necessidades do mercado. “Já presenciamos essa discussão inúmeras vezes. Hoje vivemos outro momento, que é o de agregar valor à nossa genética, melhorando a percepção dos produtores quanto à sua real qualidade”, diz Henrique Ventura, superintendente técnico adjunto de Melhoramento Genético da ABCZ. Nesta primeira etapa, o Carne Zebu contou com 21 participantes (dentre selecionadores e produtores de gado comercial), provenientes de Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais, Tocantins e Rio Grande do Sul, mas esse número deverá aumentar em 2018, com a inclusão de outras raças zebuínas ao programa (Tabapuã, Guzerá e Sindi). “Tivemos um início muito bom e já estamos preparados para o trabalho de campo e coleta de informações”, diz Ventura, res-

30 DBO março 2018

ponsável por modular o projeto. Depois dos nascimentos, as progênies serão submetidas a controle zootécnico até o abate, com suporte de uma equipe especializada da ABCZ. Os animais serão pesados ao desmame e ao sobreano, quando serão feitas a medição do perímetro escrotal, a avaliação visual pelo método EPM (Estrutura, Precocidade e Musculatura) e a ultrassonografia de carcaça para validar informações de área de olho de lombo (AOL) e marmoreio (MAR). “Concluída essa etapa, validaremos as informações por meio de abate técnico. Partimos do princípio de que a genética deve ser o insumo para a produção diferenciada de carne”, salienta. Sistema contínuo Segundo Luiz Antônio Josahkian, superintendente técnico da ABCZ, os programas de produção de carne no Brasil seguem uma sistemática de mercado que tem pouca ou nenhuma conexão com as avaliações genéticas visando à melhoria efetiva do sistema de produção, e isso precisa mudar. “Estatisticamente, faltam subsídios para construirmos algo mais sólido com os dados de abate disponíveis no País”. O Programa Carne Zebu prevê o uso combinado de diferentes informações para retroalimentar o sistema de avaliação genética da entidade. Além do controle de ponderal, um dos pré-requisitos do programa da ABCZ é a genotipagem dos animais à desmama para maior acurácia das análises geradas. Os marcadores moleculares serão utilizados em conjunto com a avaliação in vivo das progênies e com os resultados obtidos nos abates técnicos, que se somarão aos dados de genealogia do Serviço de Registro Genealógico das Raças Zebuínas (SRG).



Cadeia em Pauta Cronograma da 1ª Bateria do Programa Carne de Zebu Ano

Ações

2017

• Escolha dos touros e fazendas participantes • Coleta e distribuição de sêmen • Início das inseminações

2018

• Fim da estação de monta • Nascimento das primeiras progênies • Comunicado dos nascimentos à ABCZ

2019

• Início das pesagens e dados de identificação • Primeiras genotipagens • Avaliação por EPM

2020

• Avaliação por ultrassonografia de carcaça • Início dos primeiros abates técnicos

2021

• Início das avaliações genéticas para características de carne e carcaça no PMGZ • Primeiras diretrizes para o programa de carne certificada para raças zebuínas

Elaboração: DBO

Essa combinação permitirá entender as relações entre as características medidas no animal vivo, quando jovem, e as características do produto final, o que, segundo a ABCZ, servirá de base para uma seleção mais precoce e mais eficiente dos reprodutores com potencial para transmitir características desejáveis de carne e carcaça a seus descendentes. “Será um programa com início, meio e fim”, diz Josahkian.

O objetivo do programa é a melhoria contínua do rebanho” Luiz Josahkian Superintendente técnico da ABCZ

Distribuição Para garantir igualdade de condições aos touros avaliados, o programa estabeleceu regras criteriosas. Os rebanhos comerciais colaboradores receberam 100 doses de sêmen por touro avaliado, podendo testar um ou mais reprodutores, conforme sua disponibilidade de matrizes. A correlação adotada foi de 50 vacas por touro (duas doses de sêmen por matriz). Cada touro teve o mesmo número de doses coletadas para uso no mesmo número de vacas, em um mesmo número de rebanhos, para garantir que os acasalamentos ocorressem ao acaso. Em vez do nome do touro, o colaborador recebeu um código de identificação gerado pela própria ABCZ e que corresponde ao animal. Segundo Henrique Ventura, o “sêmen codificado” foi a alternativa encontrada para eliminar preferências durante o processo. “Queríamos evitar favoritismos”. Participaram do programa como fornecedores de genética, entre outros, os criatórios do Rancho da Matinha, Nelore Paranã, Agropecuária Naviraí, Martendal, Genética Aditiva, Fazenda Vera Cruz, Colorado, Agro Maripá, Nelore Di Gênio, Nelore RFA. “Queremos igualdade nas avaliações, já que todos os projetos participantes são bastante conhecidos, com um trabalho genético muito consistente”, diz Ventura. Os touros utilizados foram desta-

32 DBO março 2018

ques nas avaliações do PMGZ e passaram por uma comissão avaliadora para entrar no programa. No caso dos animais classificados no Programa Nacional de Touros Jovens (PNAT), a adesão foi direta. Ao todo foram distribuídas 8.500 doses de sêmen, sendo 500 doses por touro. Para a ABCZ, um dos grandes objetivos do programa é a melhoria contínua dos rebanhos comerciais, que, além de receber material genético superior, deverão manter os animais em grupos contemporâneos bem estabelecidos até o sobreano, conceito básico do melhoramento genético. “Conseguir sensibilizar os produtores a aceitar esse desafio talvez seja a etapa mais difícil de um programa deste porte”, diz Josahkian, que se surpreendeu com o número de adesões. O superintendente técnico da ABCZ também aponta, como benefício a evolução da base genética destes rebanhos, já que a progênie de fêmeas dos touros testados será utilizada na reposição do plantel, trazendo um verdadeiro “up-grade” para as propriedades. Participaram da primeira bateria 12 rebanhos comerciais, entre eles o da Fazenda 3R, de Rubens Catenacci, em Figueirão, MS, onde foi desenvolvido o projeto-piloto. “A carne de qualidade depende necessariamente de processos de seleção, que devem visar cada vez mais a precocidade e a qualidade da carcaça. Esse é o caminho”, diz o pecuarista. Na propriedade foram inseminadas 360 vacas, com sêmen de 10 touros PO. O pecuarista já está inscrito na segunda bateria, também como fornecedor de genética para outras fazendas parceiras, além de seguir como rebanho colaborador nas avaliações do programa. n

De olho na carne certificada A ABCZ pretende usar as informações coletadas no Carne Zebu para, futuramente, criar um programa de carne certificada das raças zebuínas. Com as primeiras inseminações em 20172018, a previsão é que os abates comecem efetivamente daqui a dois anos, tempo suficiente para que a entidade defina os frigoríficos parceiros do projeto. Por enquanto, a entidade se limita a dizer que avaliará características qualitativas e quantitativas da carne para identificar linhagens do zebu PO que possam ser provadas no gancho, em características como rendimento de carcaça, cortes na desossa, maciez, sabor e suculência. “Temos competência técnica para avaliar as carcaças, mas ainda não sabemos onde serão feitos os abates. Já temos alguns parceiros em vista, mas nada concreto ainda”, declara Josahkian.



Cadeia em Pauta

Compensa sair do macho inteiro Experimento mostra vantagem para castrados cirurgicamente e novilhas, se o mercado comprador for o de carne gourmet.

fotos: Lenise F. Mueller da Silveira

O lote de novilhas Angus x Nelore teve excelentes resultados zootécnicos e o segundo melhor resultado financeiro. Só a cobertura de gordura foi excessiva, em função do longo período de confinamento.

P

Lenise Freitas Mueller da Silveira, doutoranda pela USP de Pirassununga, a autora do estudo.

roduzir carne de qualidade a partir de machos cruzados castrados cirurgicamente e novilhas é viável economicamente e mais vantajoso na comparação com o uso de animais inteiros ou imunocastrados. Essa é a conclusão de experimento científico conduzido pela médica veterinária Lenise Mueller da Silveira, doutoranda em Zootecnia (qualidade e produtividade animal) pela Universidade de São Paulo. O estudo levou mais de dois anos para ser concluído, entre o abate (março de 2014) e o resultado das análises laboratoriais (meados de 2016) e serviu de base para dissertação de mestrado da veterinária, em janeiro/2017. As duas categorias apresentaram melhor retorno financeiro em função da combinação entre uma melhor remuneração da arroba e um menor custo de produção em confinamento, a despeito de os machos inteiros terem apresentado maior peso final, maior ganho de peso e rendimento de carcaça que só perdeu para o das novilhas. Nos números finais do experimento, com animais cruzados Angus x Nelore, o lucro (receita em relação à despesa) dos animais castrados cirurgicamente foi de 28% e o das novilhas, 26%, ante 25% para os inteiros e 16% para os imunocastrados (veja tabela na página ao lado). O objetivo inicial do trabalho – conduzido no campus de Pirassununga da USP, sob orientação da doutora Angélica Simone Cravo Pereira, responsável pelo Laboratório de Ciência da Carne e em parceria com o Grupo VPJ Alimentos, de Jaguariúna (do empresário Valdomiro Poliselli Júnior), que forneceu os animais e, depois, a carne para as análises laboratoriais – foi o de

34 DBO março 2018

confirmar a hipótese de que novilhas e machos castrados meio-sangue Angus x Nelore apresentariam melhores características qualitativas na carne, em comparação com machos inteiros. A necessidade de se investir em tecnologias genética (cruzamento entre raças), nutricional (suplementação em confinamento) e de manejo (castração) compuseram a base dessa hipótese, uma vez que a adequada deposição de gordura na carcaça é um dos atributos que qualificam esta carne como sendo de melhor qualidade, para atender às novas exigências dos consumidores, que procuram no varejo carne mais macia e saborosa. Confinamento mais longo O experimento foi realizado com 176 bovinos (quatro grupos de 44 cada) pertencentes ao Programa de Certificação de Carne Angus, em confinamento de 190 dias e abatidos com idade média de 20 meses. Lenise Silveira esclarece que a duração da engorda foi propositalmente maior do que a usual (100 a 120 dias), para que se pudesse dar mais tempo aos machos inteiros para depositarem gordura intramuscular e alcançarem um escore de marmorização tão favorável quanto o dos demais grupos. O período de engorda foi dividido em três fases, com mudança na composição da ração: adaptação (21 dias), crescimento (49 dias) e alto desempenho (120 dias). Outra ressalva feita pela doutoranda da USP, em função do alongado período de confinamento, foi a necessidade de três aplicações de vacina para a imunocastração dos animais desse grupo, ante o normal de duas aplicações, para que o seu efeito não fosse diminuído ou cessado antes do momento certo para abate dos ani-


mais. Esse fato, evidentemente, aumentou o custo de produção da arroba dos animais desse grupo. Já a castração cirúrgica do outro grupo de machos foi realizada 30 dias antes da entrada no confinamento, por método fechado, através de incisão lateral na bolsa escrotal. Ao fim do experimento, e visando a realização de cálculo de desempenho dos animais, a equipe da USP de Pirassununga coletou dados como ingestão de matéria seca de cada lote, ganho de peso médio diário e peso vivo final. Em seguida, os animais foram transportados até o frigorífico comercial, sem mistura dos lotes, sob a supervisão das pesquisadoras responsáveis. Os bovinos foram abatidos no Frigorífico Boa Vista Alimentos, de Goianira, GO. Partindo do pressuposto de que determinadas características da carcaça – especialmente o acabamento – são influenciadas pela condição sexual do animal, durante o abate foram coletados dados sobre peso de carcaça quente e rendimento de carcaça, enquanto na desossa foram analisados pH, área de olho de lombo, espessura de gordura subcutânea e escore de marmorização. Vantagem anulada Lenise Silveira destaca que os números do trabalho apontam para uma maior eficiência dos machos inteiros no confinamento, uma vez que apresentaram maior peso vivo final, maior ganho de peso médio diário, maior área de olho de lombo e maior peso de carcaça (confira na Tabela 1). No entanto, esse desempenho foi impulsionado por um consumo maior de alimentos (ingestão de matéria seca), o que fez aumentar o custo de produção dessa categoria em relação às demais (confira na Tabela 2). Ela ressalta que a aparente vantagem do macho inteiro – que, por ser mais pesado, rende mais no gancho e no valor pago pelo frigorífico – não resiste ao resultado financeiro de lucratividade, quando se coloca na conta o custo de produção e o adicional de preço pago por animais de melhor acabamento de carcaça. Esse diferencial foi de 8% no valor pago pela arroba do macho castrado cirurgicamente e de 10% pelo da arroba da novilha, bônus praticados pela VPJ Alimentos, e que têm como base a média de preços da arroba levantada pelo Cepea na região. Além disso, o rendimento de carcaça dos inteiros não apresentou diferença substancial em relação às outras categorias sexuais, mesmo os machos inteiros apresentando uma carcaça mais pesada. Outro fato apontado pelo estudo – já de conhecimento dos pecuaristas – é que a deposição de gordura na carcaça (subcutânea e intramuscular) dos inteiros é menor do que a dos castrados e revelou-se também em relação à das novilhas. “Ressalta-se, ainda, que, em geral, há uma maior susceptibilidade dos machos inteiros ao estresse pré-abate, o que acarreta severos problemas na qualidade da carne”, diz Lenise. O desempenho dos imunocastrados (peso maior da carcaça, maior rendimento) foi muito parecido com o

dos machos inteiros e se assemelhou ao dos castrados cirurgicamente em espessura de gordura, o que os coloca em condição de ser alternativa à castração cirúrgica. “Porém, é preciso levar em conta, o custo com as vacinas”, alerta Lenise. Vantagem mantida Já com relação às novilhas, a doutoranda da USP de Pirassununga chama a atenção para o fato de que houve excessiva deposição de gordura em suas carcaças (16,5 mm), quando o ideal seria um acabamento uniforme, entre 6 e 10 mm. Como isso se deveu ao longo período de confinamento, o encurtamento da engorda para 120 dias daria para essa categoria a vantagem de ter uma excelente cobertura, com um custo de produção mais baixo ainda. Fica a dúvida se, nesse encurtamento, outros indicadores de desempenho seriam prejudicados. Lenise concorda que, de fato, isso poderia acontecer, por exemplo, com o ganho de peso, mas lembra que fêmeas (novilhas) começam a depositar gordura na carcaça mais cedo, em comparação com machos castrados e não castrados, e que isso seria uma vantagem a ser considerada. “Some-se a esse fator o genético (animais cruzados), o da idade dos animais e o da dieta altamente energética, e, aí, é provável que as novilhas tenham uma equivalência muito próxima à dos machos castran dos, por exemplo”, diz ela. (Moacir José) Tabela 1 - Dados de desempenho e custo de produção Inteiros

Castrados

Imunocas-

Peso de entrada (kg vivo)

251

226

266

255

Peso de saída (kg vivo)

555

478

509

468

Ganho de peso (kg vivo)

304

252

243

213

Ganho de peso (kg/dia)

1,6

1,33

1,28

1,12

trados

Novilhas

Peso carcaça quente (kg)

319

274

292

275

Rendimento carcaça (%)

57,49

57,36

57,38

58,81

Área de olho de lombo (cm2)

84,7

65,4

68,5

66,6

Espessura de gordura (mm)

7,5

11,9

12,6

16,5

Consumo m.seca/dia (kg)

8,96

8,24

8,29

7,57

Escore marmorização

5,4

6,7

6

6,7

Custo diário (R$)

4,77

4,17

4,59

4,28

Custo/período (R$)

906

792

872

813

Preço da @ paga (R$)

143

155

143

155

Preço de compra (R$)

1.380

1.243

1.463

1.275

Ganho por cabeça (@)

5,5

5,5

5,5

5

Preço de venda (R$/cab)

3.048

2.828

2.790

2.839

761

793

455

751

25%

28%

16,3%

26,5%

Resultado líquido (R$/cab) Lucro líquido

As três dietas do experimento foram formuladas a partir do Programa RLM® - Ração de Lucro Máximo, da Esalq/ USP, de acordo com as demandas nutricionais estimadas pelo Sistema NRC norte-americano. Os ingredientes utilizados foram gérmen de milho, milho grão seco, torta gorda (exceto na terminação), silagem de milho, bagaço de cana hidrolisado, farelo de girassol, farelo de soja (só na adaptação), núcleo mineral e uréia, com proporções variáveis em percentual de matéria seca. O nível de proteína bruta médio foi de 15% e o de NDT, de 70%. A dieta de adaptação teve proporção de 25% de volumoso e 75% de concentrado; A de crescimento, 15% de volumoso e 85% de concentrado; e a de terminação, 15% de volumoso e 85% de concentrado.

DBO março 2018 35


Cadeia em Pauta

Boi gordo terá novo indicador Arquivo DBO

B3 admite parceria com o Instituto de Economia Agrícola para criação de um índice inédito de preços para São Paulo, mas evita comentar o assunto.

Os negócios com NF-e/Sisp representam 20% das transações em SP

S

Denis Cardoso

erá lançado um novo indicador diário para o boi gordo negociado no Estado de São Paulo, segundo informações reveladas por Fabiana Salgueiro Perobelli Urso, representante da área de commodities da B3 (antiga BM&FBovespa), durante reunião fechada da Câmara do Boi, realizada em dezembro do ano passado com a participação de pecuaristas e representantes do setor produtivo. No início do ano, a assessoria de imprensa da Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento de São Paulo (SAA), responsável pelo Instituto de Economia Agrícola (IEA), divulgou um texto confirmando a assinatura de um termo de cooperação entre o instituto, a B3 e a Secretaria da Fazenda para a elaboração do novo indicador. Pelo acordo, a Secretaria da Fazenda ficaria encarregada de entregar ao IEA/SAA toda a base de negociações de boi gordo com Notas Fiscais Eletrônicas (NF-e) geradas por frigoríficos com SISP (Serviço de Inspeção de São Paulo). Em poder dessas notas fiscais, o IEA seria responsável pela criação de uma nova metodologia de cálculo do indicador, baseada nas informações de preço e quantidade de animais negociados que constam dos documentos emitidos pelos frigoríficos. Segundo a assessoria de imprensa da SAA, o índice se-

36 DBO março 2018

ria lançado neste mês de março ou em abril, embora houvesse quem considerasse o prazo curto demais para a criação de um indicador de boi gordo. Além disso, eventual mudança de regra na B3 “obrigaria a liquidação imediata de todos os contratos futuros em aberto”. Participantes da reunião da Câmara do Boi de dezembro enxergaram com bons olhos a iniciativa da B3 em procurar o IEA para a composição de um novo indicador. Presentes no encontro, o pecuarista Victor Campanelli, da Agro-Pastoril Paschoal Campanelli, com sede em Bebedouro (SP), o empresário Oswaldo Furlan, coordenador e presidente do Grupo GPB (Grupo Pecuária Brasil), e Bruno Andrade, gerente da Assocon (Associação Nacional de Pecuária Intensiva), criticaram a metodologia de levantamento de informações para elaboração do Indicador boi gordo/Esalq/ Cepea, sujeita, segundo eles, à manipulação de dados por alguns frigoríficos, que utilizam a ferramenta como pressão para reduzir o preço pago pela arroba do boi. Na avaliação do professor Sérgio De Zen, coordenador de pecuária do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), entidade que há mais de 20 anos é responsável pelo Indicador do boi gordo Esalq/BM&FBovespa/São Paulo, principal balizador dos negócios com os frigoríficos e referência para a liquidação dos contratos futuros na bolsa paulista, qualquer tentativa para aumentar a quantidade de informações para a geração do indicador é bem-vinda. “Tempos atrás, nós mesmos do Cepea fomos atrás da Secretaria da Fazenda para obter autorização (sem sucesso) para recebimento dessas mesmas notas fiscais, com o intuito de agregar valor ao nosso índice”, conta. No entanto, De Zen minimiza o impacto das NF-e/ Sisp na composição do indicador. “Os negócios com Sisp representam apenas 20% das transações com boi gordo no Estado de São Paulo”, disse ele, revelando também que, até o fechamento desta edição da DBO, no início de março, não recebera nenhuma informação oficial sobre o novo indicador. “A nossa equipe continua trabalhando normalmente na composição dos indicadores diários, não só para São Paulo, mas para outras 24 praças regionais”, afirmou De Zen, acrescentando que os índices são elaborados a partir de coleta de informações fornecidas diretamente pelos frigoríficos num universo de mais de 4.000 mil pecuaristas. Procurados pelo repórter da DBO, a B3 e o Instituto de Economia Agrícola, que seria o órgão responsável pela elaboração e divulgação do indicador, se recusaram a falar sobre o assunto. n


Informe Especial Senepol

A

ntigamente, nossos avós tinham o costume de falar o seguinte: “Vaca de tostão, boi de milhão”! O que eles queriam dizer é que o touro exerce um papel muito importante no resultado e no desenvolvimento de um plantel e que, na hora de comprar um reprodutor, devemos procurar o que há de melhor no mercado e esquecer de vez o “boi cabeceira de boiada”. O touro tem uma influência grande na evolução do rebanho, podendo produzir até 100 filhos por ano e garantir maior rentabilidade ao negócio. Conforme comprovou pesquisa feita pela Scot Consultoria, as fazendas que estão utilizando touros puros de origem, com Registro Genealógico Definitivo (RGD), da raça Senepol em cruzamentos industriais estão recebendo espontaneamente bonificação da indústria frigorífica, em decorrência da qualidade da carcaça do gado. Os animais meio-sangue Senepol chegam a engordar quase uma arroba por mês durante a fase de cria e, na hora da venda, o produtor obtém uma diferença de peso de mais de uma arroba por animal em comparação a outras raças.

Mas você sabe o que exigir na hora de comprar um touro puro Senepol? O superintendente Técnico da Associação Brasileira dos Criadores de Bovinos Senepol, Celso Menezes, esclarece quais cuidados tomar na hora de adquirir um reprodutor da raça, para não levar “gato por lebre”. Confira:

Como escolher um Touro Senepol? Há algumas décadas, não tínhamos em nosso País a disponibilidade que temos hoje de raças e de associações de criadores sérias, que conduzem o Registro Genealógico e o Melhoramento Genético dos animais. A primeira coisa que um criador tem que exigir é o Registro Genealógico do touro, ou seja, a sua “Carteira de Identidade”, na qual você tem todos os dados sobre o animal, como: • A idade correta - no certificado consta a data de nascimento oficial e o comprador poderá se certificar de que não está comprando “gato por lebre”; • Seu grau de pureza, para ver se realmente é 100% PO - para poder usufruir de 100% da Heterose no cruzamento (o que chamamos de choque de sangue), o touro tem que ser puro e somente o certificado de registro é que vai dar essa garantia oficial;

Cuidados na hora de comprar um touro Senepol • A sua genealogia - é no certificado de registro que está a garantia de que as informações do pai, da mãe e dos avós estão corretas, pois estas passam por um rigoroso processo regulamentado pelo Ministério da Agricultura, incluindo exame de DNA para todos os produtos de FIV/TE; • O plantel de origem - fundamental para verificar se o animal tem procedência ou não, inclusive na parte sanitária. Você já imaginou comprar um touro portador de Brucelose, introduzi-lo em seu rebanho e o prejuízo que isso pode lhe causar? Além do Registro Genealógico Definitivo (RGD) que, no caso da raça Senepol, indica que o animal foi inspecionado por técnico credenciado, que está dentro do padrão racial e segue isento de defeitos que possam comprometer a vida produtiva e reprodutiva do mesmo, temos que exigir também o Exame Andrológico (verificação de que o touro está apto para a reprodução), os exames sanitários (no mínimo Brucelose e Tuberculose) e a Avaliação de Desempenho, ou seja, a certificação de que o animal participou de uma prova de Avaliação (que pode ser prova coletiva ou individual do criatório) de que foi bem classificado, tendo, assim, a capacidade de produzir bezerros bem conformados e com bom ganho de peso.

Na hora da compra, que características devo avaliar no touro? É preciso prestar atenção em todas as características de conformação, como a qualidade de aprumos e cascos, o comprimento do umbigo, o desenvolvimento da bolsa escrotal, o comprimento geral do corpo e de sua coluna vertebral, mostrando que o animal tem força nesta região para suportar o grande peso corporal, masculinidade e desenvolvimento muscular, amplitude na região torácica denotando grande capacidade respiratória e cardíaca etc.

Por que investir em um touro Senepol? Para dar conta de acompanhar a vacada Nelore ou azebuada em nossos pastos, o touro tem que ser bem adaptado, vigoroso, ter alta libido, alta capacidade de emprenhar e produzir uma bezerrada sadia e precoce, com excelente acabamento de carcaça. Para aguentar esse “batidão”, o touro Senepol sai na frente de qualquer outra raça. O Senepol é o único taurino com essa capacidade de adaptação e de produzir bezerros

precoces com muito vigor híbrido, pois possui a pelagem vermelha que absorve menos calor, tem pelo curto para facilitar a troca calórica com o ambiente e um número muito maior de glândulas sudoríparas com alta eficiência. Não possui chifres, passando essa característica para a sua progênie, o que facilita o manejo, melhora o ganho de peso e deixa a bezerrada muito mais mansa. Outra vantagem que encontramos na raça Senepol é a produção de bezerros com peso adequado ao nascer, praticamente não tendo problema de partos. A bezerrada nasce pequena (34 quilos para as fêmeas e 37 quilos para os machos) e desmama pesada (com 210 quilos as fêmeas e 240 quilos os machos), pois tem alta conversão alimentar.

O que ganho com isso? O produtor vai aumentar a sua rentabilidade, ou seja, o seu lucro, pois vai abater os animais mais cedo (em um sistema normal de pastejo mais suplementação básica, vai abater os animais 1/2 sangue Senepol de 22 a 26 meses de idade, pesando de 420 a 460 quilos de peso vivo). Além disso, a qualidade da carne desses animais é bem melhor, sendo reconhecida e bonificada pelos frigoríficos, podendo receber até 15% de bonificação, aumentando ainda mais o lucro do produtor. Outro ponto a ser observado é que esse tipo de animal (1/2 sangue Senepol) tem sido muito procurado para exportação, uma nova fatia de mercado que está em franco desenvolvimento no Brasil.

Onde encontro touro Senepol para comprar? A ABCB Senepol, entidade credenciada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento para realizar os trabalhos de Registro Genealógico e melhoramento da raça, disponibiliza em seu site a relação de todos os associados do Brasil. Lá os criadores interessados poderão consultar quem tem tourinhos para venda em uma região mais próxima de sua fazenda, além de outras informações sobre a raça e o PMGS - Programa de Melhoramento Genético da raça Senepol. O endereço é: www.senepol.org.br Para mais informações: (34) 3210 2324 ou (34) 9 9962 4357 pmgs@senepol.org.br falecomadiretoria@senepol.org.br www.senepol.org.br


Cadeia em Pauta

Pantaneiros ganham redução no ICMS para produzir carne sustentável e orgânica

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s pecuaristas com propriedades no Pantanal e dentro dos limites do Mato Grosso do Sul passam a ter direito à isenção fiscal sobre o recolhimento de ICMS na comercialização de carne bovina sustentável ou orgânica produzida dentro do bioma. A medida, para estimular a modernização da atividade e a integração dos produtores pantaneiros com novos negócios, foi anunciada pelo governo sul-mato-grossense no dia 27 de fevereiro, na abertura do fórum nacional “Oportunidades de Precificação de Carbono no Setor Agropecuário”, realizado na sede da Federação de Agricultura e Pecuária de MS (Famasul) . O prazo para o programa de incentivos entrar em vigor é de 30 dias a partir da data de seu lançamento. Será marcado pela publicação do protocolo e de sua regulamentação no Diário Oficial do Estado. “Esse tempo é necessário para a conclusão dos ajustes no sistema de tecnologia da informação da Secretaria de Estado da Fazenda”, informa o titular da Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar, Jaime Verruck. As isenções fiscais previstas são de até 50% do ICMS para carne sustentável e de até 67% do valor do tributo devido para quem produzir carne bovina orgânica. Os parâmetros que delineiam as características desses dois produtos são os mesmos adotados no protocolo da Associação Brasileira de Pecuária Orgânica (ABPO), que mantém acordo comercial de fornecimento de carne sustentável e orgânica para a Korin, empresa brasileira que comercializa alimentos naturais seguindo preceitos da Igreja Messiânica. “Inicialmente, os 22 pecuaristas associados à ABPO estarão aptos a receber os incentivos. Nossa expectativa é de que muitos outros se adequem e também sejam beneficiados”, observa Verruck. O presidente da ABPO, Leonardo Leite de Barros, comemorou o lançamento do Programa Carne Sustentável e Orgânica 38 DBO março 2018

Ariosto Mesquita

Jaime Verruck, da Secretaria de Meio Ambiente: pela fixação do homem no bioma.

do Pantanal, considerando a iniciativa como um divisor de águas: “No momento em que o Estado adota um protocolo privado como uma política pública, ele muda o futuro do Pantanal. Os efeitos serão fortes na fixação do homem pantaneiro no bioma, no uso de tecnologias limpas e na abertura para novos negócios, sobretudo em certificações e originação de produtos”. Trata-se do segundo programa de incentivos para a produção de carne bovina no MS. O primeiro – Precoce MS – estimula a produção de animais precoces com benefícios também na redução da carga do ICMS. O secretário Verruck reforça que o novo programa tem alcance limitado aos pantaneiros em território sul-mato-grossense. “Não chegamos a conversar sobre isso com o governo do MT”, avisa, se referindo ao Estado vizinho, por onde também se estende o bioma pantaneiro. De acordo com estudo da Embrapa Pantanal (Corumbá, MS), feito em 2016, só o Mato Grosso do Sul conta com aproximadamente 5 milhões de cabeças de gado dentro do bioma, sendo 2,7 milhões nas planícies (áreas alagáveis) e 2,3 milhões de animais em terras não alagáveis. (Ariosto Mesquita) n



Cadeia em Pauta

Agronegócio quer precificar carbono

ariosto mesquita

Mecanismo permite a um produtor compensar o passivo ambiental de suas terras adquirindo créditos de carbono ou pagando imposto. Ariosto Mesquita,

A

té o início de abril, especialistas do setor agropecuário devem divulgar as primeiras sugestões para estabelecer os termos de remuneração compensatória na emissão de gases de efeito estufa (GEE). Este é o prazo estabelecido para a finalização da Carta sobre Potencial de Precificação de Carbono na Agropecuária Brasileira, discutida no fórum nacional “Oportunidades de precificação de carbono no setor agropecuário”, realizado em 27 de fevereiro, em Campo Grande, MS. De acordo com a pesquisadora Lucimara Chiari, chefe adjunta de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Gado de Corte (Campo Grande, MS) e uma das organizadoras do evento, o documento será encaminhado ao Ministério da Fazenda, responsável pela coordenação do Projeto PMR (Partnership for Market Readliness – Parceria para Preparação do Mercado). O PRM Brasil tem por objetivo discutir a possibilidade de estabelecer preços para as emissões, em forma de tributo ou em mercado de carbono (compra e venda) junto à Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC) após 2020. “O documento estará longe de esgotar o assunto. Nele apontaremos em que pé estamos no processo e o que as cadeias produtivas do agronegócio esperam. O Fórum foi a primeira iniciativa para se tentar chegar a essa precificação”, explica Chiari. O grupo de especialistas também elaborará um documento na língua inglesa. O PRM Brasil tem, segundo a pesquisadora, até 2019 para delinear e apresentar ao governo federal as propostas dos diversos setores da economia. Pecuária: emissões líquidas Um dos apontamentos feitos ao longo dos debates, realizados no auditório da Federação da Agricultura e Pecuária do MS (Famasul), sugere um novo formato de cálculo de GEE para a pecuária brasileira, baseado em emissões líquidas. A proposta foi apresentada publicamente por Eduardo Delgado Assad, pesquisador da Embrapa Informática Agropecuária (Campinas, SP): “O Inventário Nacional de Emissões de Gases

40 DBO março 2018

Pesquisadores reunidos em Campo Grande, MS.

de Campo Grande, MS

de Efeito Estufa supõe que nossos bovinos são produzidos sobre uma placa de concreto. Nossa pecuária trabalha em cima de pasto, que faz fotossíntese. E, ao fazer fotossíntese, retira carbono da atmosfera e fixa parte no solo e outra na biomassa. Portanto, não existe apenas a emissão entérica. Temos de trabalhar com um balanço. Nosso objetivo é abrir um espaço no inventário para dizer que a emissão a ser usada para cálculo deve ser líquida e não bruta.” A ideia, segundo ele, é que esta diferença seja compensada em uma futura negociação de compra e venda no mercado de carbono, beneficiando o produtor. Aloísio Lopes Pereira de Melo, coordenador-geral de Meio Ambiente e Mudanças Climáticas do Ministério da Fazenda, argumenta que considerar as emissões líquidas na pecuária não deve afetar imediatamente o mercado de créditos. “Isso não é incorporado de forma automática. Uma coisa é alterar a metodologia de um inventário em nível nacional. Outra é como transformar isso em ativo que tenha valor para cumprir uma obrigação legal”, observa. Ele alerta que esta mensuração é extremamente complexa e exigirá muito do setor: “A agropecuária se depara sempre com alterações de manejo, flutuações climáticas e diferentes características de solo, relevo e umidade. Existe um conjunto de variáveis que tornam muito difícil estabelecer o quanto que efetivamente foi capturado e a quantidade emitida de carbono”, diz Melo. Toda a discussão acontece em função da necessidade de o País em cumprir a sua NDC (Contribuição Nacionalmente Determinada – da sigla iNDC em inglês: intended Nationally Determined Contribution), assumida no Acordo de Paris (firmado em 12/12/2015) como meta de emissões para 2025 e 2030, ou seja, reduções de 37% e de 43%, respectivamente, em relação à quantidade emitida em 2005. De acordo com números apresentados durante o Fórum, em emissões brutas totais esta redução até 2015 foi de 43,9%. Mas ,na agropecuária, os números mostram um aumento de emissões da ordem de 9,28% no mesmo período. n


Cadeia em Pauta Indonésia abre mercado para a carne do Brasil A Indonésia, quarto país mais populoso do mundo, com 265 milhões de habitantes e uma economia que cresce 5% ao ano, deve estreitar relações comerciais com o Brasil, a começar pela importação de carne bovina in natura. No mês passado, Andi Sulaiman, ministro da Agricultura daquele País, demonstrou interesse em acelerar o processo de importação com o agendamento, o mais rápido possível, de uma visita ao Brasil para conhecer a produção da proteína animal. O SecretárioExecutivo do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Eumar Novacki, que esteve em Jacarta, considera a Indonésia um mercado com grande potencial, conforme informou a Pasta, em nota. “Podemos apoiá-los não apenas fornecendo nossa carne de alta

qualidade a preços competitivos, mas também cooperando na área de genética, melhoramento de pastagens, cruzamento industrial e exportação de gado vivo”, afirmou. Os principais produtos brasileiros exportados para a Indonésia são os do Complexo Soja (37% das vendas), açúcar (25%) e algodão (20%).

Frigoríficos começam o ano “com o pé direito” Levantamento efetuado pelo Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea) mostrou que, em janeiro de 2018, a utilização da capacidade instalada das plantas frigoríficas no Estado do Mato Grosso chegou a 53,37%, dez pontos porcentuais acima do resultado em igual mês do ano anterior. Nesse período,

foram abatidas 451.400 cabeças, incremento de 6% em relação a janeiro de 2017. Reflexo do atual ciclo pecuário, em que o número de fêmeas indo para as linhas de abate é cada vez maior, chegando a 48,33% de participação, esse movimento vem incentivando a reabertura de plantas no Estado há alguns meses. Ao longo de 2017, entraram em operação unidades em Nova Xavantina, Mirassol do Oeste, São José dos Quatro Marcos, Barra do Bugres e Várzea Grande. Em 2018, a Marfrig reabriu um frigorífico de bovinos da Arantes Alimentos no município de Pontes e Lacerda com capacidade para abate de 700 animais/ dia e a Frigol reinaugurou uma planta pertencente à família Durli em Juruena, com capacidade para abater até 18.000 cabeças/mês. Também neste ano, a JBS aumentou em 50% o número de animais na linha de produção de Barra do Garças, embora não tenha informado a a capacidade produtiva da planta.

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Muito além da ILP

Fazenda do norte goiano amplia conceito de integração para triplicar sua rentabilidade e ganhar eficiência em todos os níveis josé maria matos

Lote de fêmeas em piquete de mombaça, ao lado de lavoura de sorgo parcialmente colhida para silagem na fazenda TopGen Amaralina, GO

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Renato Villela

de Amaralina, GO.

conceito de integração já não se restringe à tradicional dobradinha pecuária-agricultura. Vai muito além, envolvendo todos os setores produtivos da fazenda, com emprego de tecnologias complementares e multiplicadoras de resultados. A Agropecuária TopGen, empresa com 3.700 ha em Amaralina, no norte goiano, é partidária incondicional desse conceito. Com plantel de 2.000 matrizes Nelore, ela faz ciclo completo e extrai cada vez mais recursos estratégicos da agricultura, integrando (no sentido amplo da palavra) todas as suas atividades, na busca contínua por eficiência. A lavoura de soja, por exemplo, principal cultura agrícola explorada na fazenda, permite recuperar pastos degradados e fornece adubo residual para as pastagens temporárias de inverno. O sorgo de safrinha garante silagem tanto para engordar os animais de terminação quanto para “sequestrar” (tratar a cocho) os bezerros recém-desmamados na seca, estratégia que dá fôlego extra aos pastos rotacionados, por aliviar a lotação na entressafra. Além disso, garante palhada para a vacada parida na seca, com reflexos positivos sobre o ganho de peso dos bezerros. A suplementação proteica, o confinamento e a seleção genética completam esse “mosaico tecnológico”, acelerando o giro dos animais e a taxa de desfrute. Referência na seleção de Nelore e na venda de tourinhos com Certificado Especial de Identificação e Produção (CEIP), a TopGen é um dos expoentes do Programa Qualitas Melhoramento Genético e tem conseguido tirar máximo proveito do potencial produtivo de seus animais por causa da integração. Por encaixar várias peças (tecnologias) que interagem e se complementam dentro do sistema de produção, a empresa conseguiu triplicar sua rentabilidade, que passou de R$ 150/ha, em 2010, para R$ 470, em 2017, devendo chegar a R$ 1.000/ha até 2020. A produção subiu de 5,5 para 13@/ ha/ano, com meta para 24@/ha, um resultado excelente para fazendas de ciclo completo. Antes de reestruturar seu projeto, a Topgen tinha um rebanho de 6.000 animais; emprenhava as fêmeas aos 24 meses e abatia os machos aos três anos de idade. Hoje, seu rebanho é 33% menor (4.000 cabeças), pois 1.050 dos 2.400 ha de área útil da fazenda foram ocupados pela soja. Seus índices zootécnicos, no entanto, ficaram bem melhores. As novilhas são submetidas à IATF são (Inseminação Artificial em Tempo Fixo) aos 14 meses e os bois vão para o gancho aos 20-22 meses pesando 21@. No ano passado, apresentaram ren-

Renato Villela

O

renato.villela@revistadbo.com.br

dimento de carcaça de 57,5%. “Reduzi meu rebanho, mas tornei meu sistema de produção mais eficiente”, afirma Rodrigo Segantini do Nascimento, administrador da TopGen, que já está recompondo seu plantel e pretende, em 2020, manter o mesmo número de animais que tinha antes em uma área 50% menor. A força do cerrado Quando comprou a propriedade em 2000, o empresário Walter Alves do Nascimento, pai de Rodrigo, viveu a mesma saga dos empreendedores pecuários do Centro-Oeste. Com o auxílio de máquinas de esteira e autorização dos órgãos competentes, abriu a área para formar as pastagens da fazenda, suprimiu a vegetação nativa, arou a terra, gradeou-a uma, duas vezes e semeou capim (braquiarão e andropogon, este último tradicionalmente cultivado no norte goiano). Apesar de todo esse esforço, viu os pastos serem rapidamente ocupados pelo chamado “broto do cerrado”, uma mistura de espécies nativas, vigorosas e difíceis de combater. A partir daí, o que se desenhou foi um quadro comum na região e que, muitas vezes, empurra o produtor para um círculo deficitário e vicioso. “O primeiro pasto que meu pai plantou já no segundo ano precisava de reforma”, relembra Rodrigo. Aqui cabe um parêntesis sobre as invasoras do bioma Cerrado. Grosso modo, nas pastagens da região se

Fazenda em números

Nome: Agropecuária TopGen Sistema de produção: Ciclo completo Localização: Amaralina, GO Área total: 3.700 ha Área de pastagem: 1.000 ha Área de ilp: 1.050 ha

Da esquerda para a direita, o proprietário Rodrigo Segantini, o gerente Augusto Elias e o agrômomo Maurício Bueno. Parceiros em busca de produtividade.

Amaralina GO Goiânia

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fotos Renato Villela

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Área degradada repleta de invasoras...   ...abre espaço para o plantio da soja, que...     ...garante pasto novo para a pecuária.

encontram dois tipos de praga. A “mole”, fácil de controlar, e a “dura”, cujo combate é difícil, seja porque os herbicidas necessários são mais caros ou porque a forma de aplicação demanda mais mão de obra. É o caso da “lixeira” (Curatella americana), da “cagaita” (­Eugenia dysenterica) e do “araticum-do-cerrado” (Annona crassiflora), por exemplo, nas quais o herbicida precisa ser aplicado diretamente no caule para surtir efeito. Ao levantar os custos dessa empreitada, Segantini descobriu que gastava, em valores atuais, até R$ 400/ha para limpar os pastos praguejados. Como o broto do cerrado insistia em sempre reaparecer, a operação, além de onerosa, se mostrava infrutífera. “Reformar estava ficando caro e o efeito durava pouco, porque a terra continuava sem fertilidade e o pasto sujava rapidamente”. A insatisfação levou o produtor a tomar a primeira de uma série de decisões que

mudariam de vez o patamar da fazenda nos anos seguintes: cultivar soja para reformar pastos e diversificar o negócio. Soja como aliada Rodrigo Segantini assumiu as rédeas da propriedade em 2007, quando seu pai, que segue como conselheiro e entusiasta da fazenda, decidiu se dedicar a outros empreendimentos da família, nos ramos industrial e imobiliário. Basta dar uma volta com ele pelas lavouras e pastagens para perceber que é mais afeito aos bois do que aos grãos. Isso não impediu, entretanto, de enxergar como a agricultura podia ajudar na busca por pastagens mais duradouras. Essa constatação surgiu de um raciocínio simples, que muitas vezes o produtor ignora. “Pensei: mesmo se eu perder R$ 500 por hectare com a soja, ainda será mais vantajoso do que gastar

Genética dá respaldo ao projeto Membro do Qualitas desde 2.000, a TopGen é um dos destaques desse programa de melhoramento. A análise da tendência genética, índice que permite avaliar o impacto da seleção em determinada característica, revela a evolução que o rebanho alcançou ao longo dos anos. O peso à desmama dos machos aos 7 meses, que era de 191,9 kg em 2006, subiu gradativamente até chegar a 208,5 kg, em 2017. Apresentaram 15,3 kg a mais do que a média da safra de contemporâneos do Qualitas do ano passado. Vale ressaltar que esses pesos são obtidos após jejum de 12 horas no curral. Já o ganho de peso pós-desmama mais que dobrou, saltando de 61,5 para 130,14 kg neste mesmo intervalo de tempo. Os machos nascidos em 2016 apresentaram 338,7 Kg aos 450 dias, 45 kg acima da média de seus companheiros de safra do Qualitas. Esse desempenho permite que os animais sejam abatidos com até 20 meses de idade, uma das metas do programa. A vantagem comparativa da genética TopGen

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Touro Jaguar, aprovado no teste de Eficiência Alimentar. pode ser sintetizada no índice Qualitas, que tem 60% de seu peso relacionado a características de produção de carne a campo (como ganho pós-desmama e musculosidade) e 40% em características de importância para a produção de matrizes (peso à desmama e perímetro escrotal). Na safra 2015, o índice Qualitas da TopGen foi de 4,64 ante 3,72 dos contemporâneos, 25% acima da


média do programa. O avanço conquistado no campo da genética se reflete na produtividade da fazenda, que é de 13 @/ha/ano. “É mais do que o dobro da média das propriedades brasileiras que fazem ciclo completo” afirma Leonardo Souza, diretor do Qualitas. Nos últimos anos, a TopGen passou também a fazer seleção para eficiência alimentar. “Queremos descobrir quais machos comem menos e convertem mais, ou seja, têm menor custo de produção por arroba”, explica Souza. Iniciada em 2010, em parceria com a UFG – Universidade Federal de Goiás, a seleção por eficiência alimentar passou a ser feita também pela Unesp de Botucatu, em um acordo firmado em 2016. O “vestibular” para os touros é dos mais concorridos. No ano passado, dos 10.000 machos inscritos, apenas 1.800 foram certificados como reprodutores. Destes, somente 120 foram selecionados para a prova de eficiência alimentar, que elegeu 10 animais para coleta de sêmen. Seis estão contratados por centrais de inseminação. Um deles é o touro Portinari, que faz companhia a Jaguar (foto), o pioneiro touro da TopGen a figurar nessa seleta lista.

Renato Villela

R$ 400 por hectare para controlar o broto do cerrado, porque, nessa operação, não ganho nada, enquanto a lavoura deixa muitos nutrientes no solo”. Para iniciar a lavoura, Segantini dispunha de três tratores, uma plantadeira e um pulverizador pequenos, maquinário que deu conta do recado. O plantio começou em 2010, em 165 ha, e foi se expandindo nas safras seguintes. Somente em 2013, com o gado já “espremido” pela lavoura, é que as primeiras áreas reformadas retornaram em definitivo à pecuária. Pastagens semeadas em terras corrigidas pela agricultura tendem a ser mais longevas, se bem manejadas. “É possível explorar a forragem por até quatro anos sem aplicar grande quantidade de fósforo, utilizando apenas adubação de manutenção com nitrogênio e potássio”, afirma o agrônomo Maurício Bueno, responsável pela parte agrícola da propriedade. Nessas áreas têm sido aplicados, de dois em dois anos, 60 kg de nitrogênio, 10 kg de fósforo e 60 kg de potássio por hectare, o equivalente a 300 kg/ha da fórmula 20-05-20 (NPK), ao custo de R$ 360/ha. Segundo Adilson Aguiar, sócio-diretor da Consupec, consultoria de Uberaba, MG que acompanha a fazenda, mesmo sendo um nível de adubação baixo, para 3-4 UA/ha, é preciso ter cuidado com o manejo. Quando a carga está ajustada à oferta de forragem, por exemplo, não se deve adubar o pasto nas primeiras três ou quatro semanas da estação chuvosa, pois há bom aporte de nutrientes (principalmente nitrogênio, fósforo e enxofre), provenientes da mineralização da matéria orgânica, da decomposição da palhada ou mesmo da atmosfera, carreados pela água das chuvas após descargas elétricas. “A adubação, nessas condições, pode

produzir mais capim do que os animais darão conta de comer e esse erro de manejo será difícil de resolver, exigindo roçagem”, salienta o consultor. Foco no Nelore Como a entrada da agricultura na fazenda obrigou Segantini a vender parte do plantel, que caiu de 1.600 para 900 fêmeas, o produtor aproveitou esse passo atrás para tomar outra atitude ousada e reestruturar todo o rebanho da fazenda, dando início a um rigoroso processo de seleção genética. A primeira medida foi escolher uma raça. Tinha de tudo na propriedade: além de Nelore meio-sangue Angus, Bonsmara, Montana, Senepol, Santa Gertrudis. Peculiaridades do mercado aliadas a problemas sanitários precipitaram a decisão. “Eu não conseguia agregar valor às fêmeas F1, ninguém queria, a menos que fossem Angus. Além disso, os animais tinham muitos problemas de casco, alta infestação de carrapato, moscas e eram muito exigentes em termos nutricionais. Achei melhor ficar somente com o Nelore”, relata. O cruzamento industrial se foi, mas deixou um importante legado, na forma de desafio. “Para alcançar os índices produtivos e reprodutivos que queria, precisava conseguir, no Nelore, o que obtinha no cruzamento: fêmeas com precocidade sexual e machos precoces na terminação”. O caminho da TopGen na seleção começou a ser pavimentado, a bem da verdade, em 1998, quando, ainda em outra propriedade, o produtor adquiriu 380 matrizes Nelore da Granja Rezende, em Uberlândia, MG, criatório que se esmerava no melhoramento da raça. Ao focar apenas no Nelore, Segantini intensificou o uso de sêmen de touros melhoradores, via IATF, até chegar aonde queria. A precocidade sexual das fêmeas talvez seja a face mais visível dessa evolução. Com o apoio de um programa de suplementação, as novilhas, chamadas de

Candidatos a tourinhos da TopGen, em pastos rotacionados de capim massai.

Adilson Aguiar, da Fazu: “Carga ajustada à oferta de forragem”.

DBO março 2018 45


Renato Villela

Capa

Vacas multíparas recebem apenas sal mineral no cocho

“precocinhas”, são inseminadas aos 14 meses. Nos machos, a seleção também é apertada. Apenas 20% dos melhores animais nascidos na safra das fazendas integrantes do Qualitas são certificados como touros e recebem o Ceip, com chancela do Ministério da Agricultura. A fazenda vende, em média, 100 touros por ano, pelo preço médio de R$ 7.500. Pastos temporários O passo seguinte era resolver o problema da escassez de pasto nos meses de seca, que é severa na região. Mais uma vez a integração lavoura-pecuária se encaixou perfeitamente no projeto. Iniciada em 2010, com foco na recuperação da fertilidade do solo por meio da soja, ela se tornou também uma alternativa para produção de pastos temporários, para uso na seca. Segantini testou várias forrageiras em sobressemeadura com a soja. O capim pé-de-galinha, semeado uma única vez, não deixou saudades, devido à baixa produção de massa forrageira. A braquiária ruziziensis, carro-chefe dos sistemas de integração, foi deixada de lado pela lentidão no estabelecimento, o que provocava atraso na entrada dos animais. O milheto, promissor nos meses de maio e junho, “derretia” em julho. Perdia o vigor e perdeu o pretígio. Após essas tentativas malsucedidas, Segantini chegou ao mombaça, capim de alta produção capaz de ofeComo é o manejo de pasto da TopeGen Altura (cm) Alvos Forrageira Mombaça Massai Braquiarão MG-5 Braquiária humidicola Fonte: Consupec. Adaptação DBO

46 DBO março 2018

Entrada 90 30 30 30 25

Saída 45 15 15 15 13

recer pastagem de qualidade na seca. Funciona assim: a soja é plantada no início de novembro; em fevereiro, pouco antes da colheita, no ponto em que a cultura está “alourando” (estágio que marca o início da senescência das folhas, já no final do enchimento dos grãos), as sementes da forrageira são lançadas de avião. O capim fica pronto para o pastejo no final de abril, cerca de 25 dias após a colheita da soja, e é consumido pelos animais até o final de outubro, quando sofre dessecação e vira palha para o plantio direto, dando início a um novo ciclo agrícola. A despeito de ter conquistado a preferência do produtor, o mombaça é uma forrageira difícil de manejar em sistemas de integração, exigindo atenção no manejo. Devido ao hábito de crescimento cespitoso (em touceiras) característico do gênero Panicum, dois problemas podem acometer a cultura subsequente: manchas de solo descoberto e “envelopamento” da semente de soja, quando os discos do implemento puxam parte do capim dessecado para dentro do sulco de plantio, o que faz com que a semente caia em cima da palha ao invés de ser depositada sobre o solo. Para evitar que isso aconteça, é preciso ajustar a taxa de lotação de acordo com a forragem. Por precaução, alguns produtores optam por aumentar a taxa de semeadura. Mais adensado, o mombaça forma menos touceiras. Sistemas complementares As pastagens temporárias dão respaldo na seca aos 1.000 ha de pastos perenes, divididos em 25 módulos de pastejo rotacionado, compostos por três a oito piquetes, de 5 a 20 ha cada. A falta de uniformidade no dimensionamento se deve à topografia, nem sempre plana, da mesma forma que a distribuição das forrageiras respeitou a aptidão de cada espécie. Nas partes mais baixas (úmidas) foi introduzido o quicuio, que suporta alagamento. Uma mancha de solo cascalhento foi plantada com massai, adaptado a esse tipo de solo. As terras “macias” (mais férteis) foram reservadas para o braquiarão e os panicuns. Os módulos mais divididos e, consequentemente, com menor área por piquete (5 a 6 ha) são de massai e mombaça. A decisão de fatiá-los em mais piquetes se deve ao manejo, que é mais difícil nesses capins, em função de seu crescimento vigoroso nas águas. “Com mais divisões, o gado aproveita melhor a forragem”, afirma Augusto Elias Borges, gerente geral da fazenda e responsável pelo manejo do gado. Em contrapartida, os piquetes de braquiarão têm mais de 6 ha. “É um capim que, se bem manejado, ‘segura’ bastante forragem para a seca, por isso o utilizamos de forma estratégica, como reserva”. As pastagens temporárias de ILP, ocupadas de maio a outubro, também são divididas, porém em menor número de piquetes para não onerar a operação e, sempre que possível, respeitar o tamanho dos talhões de soja, que variam de 50 a 400 ha. As subdivisões são feitas apenas nas áreas acima de 250 ha, com a cerca elétrica fracionando-as em quatro


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Capa pastos. O tamanho médio dos piquetes nas pastagens temporárias é duas vezes maior do que o dos maiores piquetes perenes, que a fazenda maneja durante a estação chuvosa. Há uma justificativa para isso. “A partir de maio, quando começa a desmama, consigo fazer lotes maiores de bezerras. Como tenho oferta grande de forragem e bebedouros em todos os módulos, é possível trabalhar com lotes grandes sem prejudicar o desempenho individual”, diz Segantini. A organização dos lotes é rígida. Os animais são agrupados por categoria: novilhas, garrotes, touros e animais de descarte. O manejo, no entanto, é dinâmico. Cada lote pode girar em um ou dois módulos, de acordo com a época do ano

e a oferta de forragem. A transferência de parte dos animais das pastagens perenes para as de ILP é definida pela oferta de forragem, o que torna o manejo bastante dinâmico. “Em anos que chove mais e sobra pasto, coloco uma quantidade maior de bovinos, mas, geralmente, priorizo as categorias mais exigentes, como as precocinhas, algum lote de bezerros desmamados, tourinhos”. A entrada e saída dos animais dos piquetes, em ambas as áreas, é determinada pela altura-alvo da forrageira (veja quadro na página anterior). A taxa de lotação nas águas é de 3,5 UA/ha e na seca, de 1,15 UA/ha, média anual de 2,5 UA/ha.

josé maria matos

Precocidade no parto e no gancho

Precocinhas são inseminadas pela primeira vez aos 14 meses.

P

ara encurtar o ciclo produtivo e dar mais liquidez ao negócio, alicerçado na venda de tourinhos e no abate de machos inteiros, além da reposição de matrizes, a TopGen adota um programa de suplementação que se inicia na desmama. Por recomendação do Qualitas, as crias ao pé da vaca não recebem creep-feeding. “Com o processo de seleção, melhoramos a habilidade materna das matrizes, por isso não há necessidade de utilizar o creep”, justifica o veterinário Leonardo Souza, sócio-diretor do Qualitas. Assim que desmamam, a partir de maio, com peso médio de 200 kg aos sete meses, os bezerros são suplementados com sal proteinado na proporção de 0,2% do peso vivo, ou 400 g/dia. De novembro em diante a suplementação, crescente, passa para 1 kg/dia. O plano é “acelerar” o ganho de peso da recria durante a estação das chuvas, aproveitando a oferta maior de forragem. Apesar da estratégia ser a mesma para machos e fêmeas, o objetivo é diferente para cada categoria e está diretamente relacionado à etapa seguinte da criação.

48 DBO março 2018

As bezerras, desmamadas a partir de maio, estarão, no final do ano, com idade e peso adequado (em torno de 270 kg) para entrar na estação de monta, que vai de novembro a fevereiro (90 dias). Depois de passarem por indução hormonal, as superprecoces são inseminadas via IATF. O toque é feito 35 dias depois. As vazias são ressincronizadas e, mesmo que não emprenhem, são mantidas, pois a fazenda ainda está recompondo seu plantel. “Este deverá ser o último ano que não as descartaremos”, diz Segantini. As novilhas que dão positivo precisam atingir ao menos 400 kg para que possam parir com segurança e tenham condição corporal mínima para reconceber na estação de monta seguinte. Até o ano passado, a fazenda mantinha a suplementação das “precocinhas” até a desmama da primeira cria. Neste ano, por economia, o suplemento será fornecido somente até a parição. “É um teste que faremos para ver os resultados”, diz. A suplementação custa R$ 0,80/ cab/dia. A taxa de prenhez da categoria é de 60%. Para os machos, a meta é colocar de 150 a 180 kg durante a recria para que estejam prontos para entrar no confinamento na seca seguinte. Confinamento e sequestro Última etapa do sistema produtivo, o confinamento começa em junho e vai até novembro. Esses cinco meses, no entanto, não são reservados apenas à terminação, feita em apenas um giro. A estrutura, composta por 18 currais, separados em três módulos (seis piquetes cada), atende também os bezerros, estratégia conhecida como “sequestro”. Assim como acontece com a soja, as áreas de pastagem rotacionada e de ILP, esses dois modelos de confinamento se integram ao manejo da fazenda de forma bastante dinâmica. A primeira categoria a ser fechada é a das vacas vazias, que não emprenharam na estação de monta (o toque é feito em abril). No seu encalço vêm os bois, com idade entre 18 e 20 meses, que entram no confinamento pesando 13-14@. No ano passado foram abatidas 350 vacas de descarte e 300 machos que não passaram pelo crivo de



Capa

josé maria matos

zer com esse gado na seca?” A saída foi arrendar outra propriedade e levar os animais. “Tirei toda a desmama da fazenda”, relembra. Para agravar a situação, o produtor havia comprado 400 novilhas, que seguiram pelo mesmo caminho. “Só deixei as vacas para parir na fazenda”. Em outubro, no auge da seca, o pior aconteceu. O pasto arrendado pegou fogo. “Tive de vender todos os machos de recria. Foi um desastre”. Olhando pelo retrovisor, o ano “para se esquecer”, nas palavras do produtor, se tornaria outro marco de mudança na propriedade. “Percebi que tinha um negócio vulnerável, que não estava nas minhas mãos. Decidi que precisava ter um estoque mínimo de silagem na fazenda para não passar pelo mesmo apuro de novo”.

Colheita de sorgo para silagem. Variedade forrageira produz 57 t/ha.

seleção para se tornarem reprodutores. Eles pesaram no gancho 21@, com rendimento de carcaça de 57,5%. Mais de 70% foram classificados como desejáveis no Programa Farol da Qualidade da JBS (machos inteiros, com até 2 dentes e 3-4 mm de gordura). Segantini recebeu de R$ 1 a R$ 2 a mais por arroba. A pequena quantidade de bois abatidos é reflexo da redução de matrizes nos últimos anos. Segantini espera que, em 2020, com o rebanho já estabilizado, possa abater 600 bois por ano. A dieta do confinamento é constituída por silagem de sorgo, sorgo moído (produzidos na fazenda), farelo de soja e núcleo mineral. Em média, os animais permanecem 60 dias no cocho, mas a estadia pode ser abreviada ou estendida, de acordo com o mercado. “Se o boi gordo estiver em alta e o custo da arroba colocada estiver baixo, posso segurar um pouco mais”, afirma o produtor. À medida que os caminhões conduzem os bois a caminho do frigorífico, os currais vão sendo liberados para machos e fêmeas recém-desmamados. A estratégia começou a ser utilizada na fazenda em 2014, por sugestão da empresa que presta assistência na área de nutrição. Na época, a fazenda colocava a desmama durante a seca na pastagem de milheto, semeado nas áreas de ILP. Como a forrageira definhava em poucos meses, o ganho de peso conquistado se perdia. “Tinha a sensação de nadar e morrer na praia”. A despeito de aprovar a medida, foi somente um ano depois, em 2015, que Segantini sentiu na pele a importância do “sequestro” para seu sistema de produção. Naquele ano choveu pouco, apenas 800 mm (a média na região é de 1.300 mm) e de forma concentrada. As sementes de mombaça lançadas sobre a soja não germinaram. O sorgo produziu pouca massa para ser ensilada. “Quando chegou abril, pensei: o que vou fa-

50 DBO março 2018

Sorgo veio para ficar Foi assim que a silagem de sorgo entrou de vez na rotina da fazenda. São cultivados 350 ha de sorgo grão, na safrinha após a soja, com aproveitamento da palhada para pastejo após a colheita. “Normalmente, coloco vacas paridas nessas áreas”, explica Segantini. A TopGen também cultiva 150 ha de sorgo forrageiro, base da dieta do confinamento e do sequestro. Essa planta chama a atenção pelo porte e produtividade. No ano passado, o sorgo Santa Elisa, também conhecido como V-38 ou sorgo IAC (Instituto Agronômico de Campinas), produziu 57 t/ha, quase o dobro do que a antiga variedade que a fazenda costumava plantar, a um custo de R$ 50/t. Neste ano, a intenção do produtor é fechar toda a desmama no confinamento. Além de aliviar a taxa de lotação durante a seca, a dieta com silagem de sorgo e proteinado permite que os bezerros ganhem peso durante a seca (500 g/dia), a um custo de R$ 22,50/cab/ mês, (consumo médio de 15 kg/dia). Se ao invés de levar os bezerros ao cocho, o produtor optasse pelo aluguel de pasto, desembolsaria praticamente o mesmo valor por mês, com a diferença de que os bezerros, mesmo com proteinado, “malemá” ganhariam mais de 200 g/dia durante a seca. Para Segantini, há outras desvatagens. “Teria de pagar frete, deslocar mão de obra, trator, levar cocho para proteinado. As fontes de água normalmente não têm qualidade, sem contar o risco de roubo, que sempre acontece quando se arrenda um pasto”, diz. O sequestro ainda ajuda Segantini a puxar a estação de monta para mais cedo. “Os bezerros têm de nascer entre agosto e novembro, no máximo”, diz. Os números comprovam que o “bezerro do cedo” sai na frente em termos de ganho de peso. Na safra passada, os animais nascidos em agosto de 2017 desmamaram em maio deste ano com 258 kg, em média, e os do mês de novembro com 240 kg, enquanto aqueles que nasceram em dezembro pesaram 193,5 kg. “Toda tecnologia que eu introduzo na fazenda tem por objetivo melhorar a rentabilidade da fazenda, que tem de funcionar como uma empresa. A pecuária tem de dar dinheiro”, finaliza o produtor. n



Genética

Onda de notícias negativas afeta negócios com sêmen Centrais tiraram o pé do acelerador em 2017, reduzindo a produção e a importação de material genético. Denis Cardoso

A

o observar rapidamente a tabela abaixo com os dados gerais sobre o comportamento do setor de inseminação artificial no Brasil, o leitor da DBO pode até ter a impressão de que o mercado foi bem em 2017, afinal houve crescimento anual de 3,5% nas vendas totais de sêmen, considerando gado de corte e de leite – atingiram 12,1 milhões de doses, ante 11,7 milhões de doses registradas em 2016, segundo dados da Associação Brasileira de Inseminação Artificial (Asbia). Separadamente, o setor de leite registrou avanço anual de 10%, com 4 milhões de doses comercializadas, enquanto o de corte teve ligeiro aumento de 0,6%, alcançando 8 milhões de doses no ano passado. No entanto, um olhar mais atento aos números divulgados no fim de fevereiro pela Asbia mostra que, sim, a crise na economia brasileira e os problemas graves envolvendo o setor pecuário – Operação Carne Fraca e deleção premiada dos irmãos donos da JBS – afetaram negativamente o segmento, que, até 2015,

Estagnação nas vendas de sêmen de corte reflete a crise vivenciada pela pecuária em 2017 Segmento

2017

2016

Variação (%)

Comercialização mercado interno Gado de corte

8.071.287

8.022.665

0,6

Gado de leite

4.063.151

3.699.057

9,8

Total

12.134.438

11.721.722

3,5

Corte e leite

8.153.496

Corte e leite

341.986

Produção total no Brasil 8.659.379

-5,8

Exportação 296.371

15,4

6.449.441

-8,8

Importação Corte e leite

5.883.893

Prestação de serviços Corte e leite

1.291.620

*Vendas em número de doses. Fonte: Asbia

52 DBO março 2018

1.037.350

24,5

vinha apresentando taxas contínuas e consistentes de crescimento nos últimos anos – em 2016, o mercado reverteu esse viés altista, registrando queda total (sêmen de corte e leite) de 7% sobre de 2015. Um dos principais termômetros para constatar o abalo no setor de genética pode ser visualizado na penúltima linha da tabela, no item “importação”. Quem acompanha o mercado de sêmen de corte sabe que uma das principais molas propulsoras dos negócios nos últimos anos foi a forte retomada da técnica do cruzamento industrial no Brasil Central, tendo como protagonista absoluta a genética Aberdeen Angus, inserida na vacada Nelore por meio de uma ferramenta altamente eficiente, a Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF). Também é de conhecimento de todos envolvidos com o uso da tecnologia a necessidade de se buscar fora do Brasil essa genética Angus, sobretudo nos Estados Unidos, Canadá e Argentina, onde, diferentemente do que ocorre no País, existe uma enorme gama de programas de avaliação da genética do gado taurino, resultando na oferta de touros provados, com DEPs (Diferenças Esperadas na Progênie) para as principais características de interesse econômico o pecuarista. Ou seja, normalmente, as grandes centrais situadas em países da América do Norte e Europa aproveitam o rico material genético da raça taurina produzido pelas matrizes para abastecer os botijões de nitrogênio de suas filiais no Brasil, onde o mercado é altamente promissor – segundo levantamento do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), no universo de 55 milhões de fêmeas de corte em idade reprodutiva existentes no Brasil, apenas 12% da vacada é inseminada (no leite, de um rebanho total de 25 milhões de fêmeas aptas à reprodução, somente 6% passa pela inseminação). Remessas menores Os dados de 2017 da Asbia indicaram que as multinacionais de genética reduziram consideravelmente as suas remessas de sêmen de corte ao Brasil, que atingiram 2,9 milhões de doses no total, com retração de 26% (ou 1 milhão de doses a menos) em relação ao montante de 2016 (3,9 milhões de doses). Na comparação com 2015, quando foram importadas 4,3 milhões de doses de sêmen de corte, a queda no ano passado superou os 30%. Do montante importado, a maioria absoluta é composta por sêmen de Aberdeen Angus (a Asbia só releva os números anuais de doses por raça no relatório referente aos resultados do primeiro semestre de 2018, previsto para ser divulgado em agosto próximo). “De fato, essa queda nas importações foi um dos sinais de que as centrais de genética tiraram o pé do acelerador no ano passado, refletindo as notícias ruins no setor pecuário e também a continuidade da crise econômica”, reconhece o presidente da Asbia, o médico veterinário Sérgio de Brito Prieto Saud, também diretor executivo da CRI Genética, de São Carlos, SP.


Outro dado numérico que mostrou o comportamento mais cauteloso dos principais agentes que atuam no mercado brasileiro foi a retração anual na produção total de sêmen (veja tabela). Ou seja, com as fortes turbulências do ano passado, as empresas optaram por não correr grande risco, reduzindo seus estoques no Brasil. Assim, de acordo com a Asbia, as centrais de genética e as empresas prestadoras de serviços terceirizados de coleta de sêmen produziram, juntas, 8,1 milhões de doses em 2017, o que representou um recuo de 6% sobre as 8,6 milhões de doses produzidas em 2016. Solavanco no 1º semestre No ano passado, o maior solavanco no segmento de inseminação de gado de corte ocorreu no primeiro semestre, quando as vendas de sêmen caíram 3,4% em relação ao mesmo período de 2016. “O desempenho do setor está estritamente ligado ao comportamento do preço da arroba do boi gordo, que oscilou em baixos patamares (média anual de R$ 140,7/@, valor a prazo, deflacionado, segundo o Cepea) na maior parte do ano passado”, lembra o presidente da Asbia. A recuperação nas vendas internas de sêmen de corte só ocorreu a partir do último quadrimestre do ano, justamente quando o preço do boi, surpreendentemente, iniciou trajetória de alta. “Foi um alívio para o nosso setor”, avalia Saud, que vê com o otimismo o comportamento do mercado de inseminação de bovino de corte em 2018. “A demanda pela carne bovina tende a subir com a recuperação da economia, puxando o preço do boi e, consequentemente, a venda de sêmen de corte”, prevê. No entanto, para o setor leiteiro, o quadro ainda é de pessimismo. “No leite, o problema de preço baixo persiste e muitos produtores saíram da atividade”. Outros setores Isoladamente, os segmentos de exportação e de prestação de serviços se destacaram no ano passado. Embora os embarques de sêmen ainda sejam bastante irrisórios se comparados ao montante de doses comercializadas no mercado interno, o setor tem mostrado forte aceleração, sobretudo na área de corte, informa o

Importação de sêmen de raças de corte (2,9 milhões de doses) teve retração de 26% em relação a 2016

presidente da Asbia. No ano passado, as vendas externas atingiram 342 mil doses (corte e leite), uma elevação de 15,4% sobre 2016 (296 mil doses). Chama atenção também o crescimento do setor de prestação de serviço, que alcançou 1,3 milhão de doses de sêmen (leite e corte) produzidas em 2017, 24,5% acima das 1 milhão de doses registradas em 2016. Segundo Bruno Grubisich, diretor de markentig da Asbia e diretor-presidente da Seleon Biotecnologia, de Itatinga (SP), um dos fatores para o incremento do segmento foi a própria crise econômica, que fez muitos pecuaristas deixar de procurar os catálogos de touros das centrais para investir na coleta de seus próprios reprodutores, muito deles adquiridos em leilões. “Foi uma maneira que o pecuarista encontrou de reduzir custos sem necessidade de abrir mão do uso da IATF”, entende Grubisich. Um outro motivo para o avanço da prestação de serviço em coleta de sêmen, segundo o diretor de marketing da Asbia, é a maior disponibilidade de animais com genética superior, oriundos de diversos programas de melhoramento das mais importantes raças de corte. “Há uma procura crescente de criadores e/ ou programas de seleção pelas centrais prestadoras de serviço, com objetivo único de coletar sêmen de touros jovens, selecionados para participar de testes de progênies”, observa. n

DBO março 2018 53


Genética

Em workshop, a genômica aplicada à pecuária na prática. Evento em Araçatuba, SP, concilia ciência, técnicos e pecuaristas para mostrar exemplos da técnica e discutir novos desafios.

Discussões técnicas e exemplos do uso da ferramenta ocorreram em 27 de fevereiro

E

Saímos do desenvolvimento para a aplicação efetiva” José Fernando Garcia, Agropartners Consulting

Carolina Rodrigues

m março de 2011, quando DBO cobriu o 1º Workshop Internacional de Genômica Aplicada à Pecuária, no campus de Araçatuba da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Estadual Paulista (Unesp), muitas eram as dúvidas dos participantes. As principais diziam respeito à tecnologia em si, a começar pela compreensão de suas reais contribuições à pecuária de corte. Hoje, oito anos depois, a genômica virou algo menos hermético e “mágico”, com excelentes resultados, que comprovam sua eficiência em fazendas melhoradoras. Em razão da maior confiabilidade no uso da ferramenta nas avaliações genéticas, nas fazendas de São Paulo e Mato Grosso do Sul da Katayama Agropecuária, por exemplo, aumentou de 200 para 800/ano o número de matrizes expostas a touros jovens. Já no Grupo Rezende, a tecnologia vem sendo amplamente utilizada na produção de novilhas precoces no Pantanal, com cerca de 2.000 acasalamentos genômicos já programados para a próxima safra. Assim, a edição deste ano do evento, novamente realizado em Araçatuba entre os dias 26 e 28 de fevereiro, se debruçou sobre resultados práticos da genômica,

54 DBO março 2018

apresentados para um público formado por cientistas brasileiros e estrangeiros, geneticistas, técnicos e muitos pecuaristas. O workshop, parceria da Unesp com a Delta Gen e o Paint (da CRV Lagoa), contou com o apoio da Neogen do Brasil e da Central Leilões, que conduziu um Dia de Campo na Fazenda Santana da Vista Alegre, propriedade que genotipa 100% dos animais e tem o maior mérito genético genômico dentro do Programa Delta Gen. Na opinião de José Fernando Garcia, idealizador do projeto à frente da Unesp e consultor sênior da AgroPartners Consulting, diferentemente da montanha de hipóteses sobre o futuro discutidas desde o primeiro workshop, a genômica vive um momento de validação respaldada pelo avanço da tecnologia e pelo melhor entendimento de como utilizar, processar e analisar a ferramenta. “Pudemos acompanhar painéis de empresas e grupos de melhoramento, mostrando o uso efetivo da genômica. Não são mais professores e pesquisadores falando de suas experiências. Saímos do desenvolvimento para a aplicação efetiva e isso é gratificante”, avalia o pesquisador, destacando a importância da ciência para que a genômica se “descole” das DEPs nos próximos anos. Isso porque, embora as respostas confirmem o aumento da acurácia dos animais jovens, proporcionando eficiência da seleção por meio da redução do intervalo de gerações, além da possibilidade de trabalhar características de difícil mensuração pelos métodos convencionais de seleção, recai sobre a genômica a difícil tarefa de promover profundas transformações na pecuária de corte nos próximos anos. DNA mutante Premiada como o “grande avanço da ciência em 2015”, a edição do genoma é uma delas. O terreno vem sendo preparado pelos pesquisadores por meio de estudos para conhecer quais são as variações dentro do genoma que permitem identificar “pontos” responsáveis por categorias desejáveis, para, então, aplicá-las ou caracterizá-las em marcadores e inseri-las em determinados animais ou raças. Neste sentido, espera-se que a mutação do genoma promova rápidas mudanças no cenário do melhoramento genético bovino. Um dos experimentos, em desenvolvimento no Brasil, vem sendo realizado a partir de clones de animais da raça Angus que têm o pelo slick (pelo zero),


característica correlacionada com a seleção para resistência a altas temperaturas e parasitas. Um avanço importante, já que essa é uma das principais características dos bovinos adaptados, pois o pelo curto permite uma transpiração melhor do animal, cumprindo de maneira mais eficiente a função de regulação térmica do suor. Os primeiros produtos vão nascer em junho deste ano, em parceria da Agro Partners e a In Vitro Brasil, com pesquisadores do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês), mas ainda não foi anunciada oficialmente. “Aos poucos vamos identificar as variações que nos interessam, transformá-las em um marcador simples que nos possibilite selecionar animais que tenham a característica desejada. Caso não tenham, trazer raças que possam agregar essas características por meio da edição do genoma. A edição gênica é a ponta do iceberg, mas estamos construindo uma boa base para sua incorporação”, afirma Garcia.

Um exemplo dessa aplicação vem dos Estados Unidos, onde foram produzidos dois bezerros mochos (sem chifres) da raça Holandesa pela indução de mutação do gene que determina o desenvolvimento de chifres. Experimento conduzido no Brasil também está nas mãos da Embrapa Pecuária Sudeste, a partir de 200 animais Nelore, nos quais se buscam genes que possam explicar a variação no desempenho para medidas de eficiência alimentar e qualidade de carne. “Ainda não chegou ao chão da fábrica, muito menos no varejo, mas tanto nós, quanto indústria, já temos de nos preparar para isso”, observa Mauro Meneguetti, gerente da Linha de Cria – Bovinos da Zoetis, empresa responsável pelo Clarifide, painel de marcadores moleculares usados na projeção das DEPs genômicas utilizadas pelo programa de melhoramento genético da ANCP (Associação Nacional de Criadores e Pesquisadores), que esteve presente no evento. “São tendências de uma genômica altamente eficiente, focada em novas biotecnologias moleculares.”

Busca pela individualidade

O

evento também jogou luz sobre a criação de painéis de mercadores desenhados especificamente para determinadas populações. Projeto mais robusto nessa linha foi apresentado no fim do ano passado, na Convenção Nacional da Angus em Fort Worth, Dallas, EUA, e bastante discutido no evento de Araçatuba. Intitulado de Angus GS, a ferramenta desenhada pela equipe de geneticistas da Angus Genetics Inc. (AGI), em parceria com a norte-americana Neogen, utiliza um painel de 50 KB de alta densidade e visa regiões específicas do genoma do Angus ligadas às características de interesse, possibilitando um aumento substancial na acurácia das características selecionadas ou até mesmo na inclusão de novas DEPs no processo de seleção. Na prática, isso significa melhorar a precisão do teste com marcadores adicionais para traços específicos, como conformações de cascos, tolerância a altitude, maciez da carne, longevidade das vacas, habilidade de troca de pelo e conformação de tetos e úbere. “Trata-se da genômica aplicada de maneira direcionada para uma determinada raça e suas peculiaridades”, disse Dan Moser, presidente AGI, que apresentou dados sobre a evolução e os caminhos percorridos pela genômica aplicada no Angus americano, dono de um dos maiores bancos de genótipos do mundo, com quase 460.000 avaliações genômicas, boa parte delas realizada nos últimos cinco anos. A criação de um chip específico vem justamente da alta demanda em genotipagem da raça no País, referência no uso da genômica. Em 2011, o número de genótipos não chegava a 11.000 na população de re-

ferência, número muito abaixo do atual. O que se discute, agora, são os benefícios dessa nova ferramenta para o Angus nacional. No Brasil, são utilizados chips desenvolvidos para o Bos taurus (raças predominantemente de origem europeia), que cobrem de maneira generalizada o genoma desta categoria animal, porém não permitem adaptações ajustadas às especificidades de cada raça. Segundo Francine Campagnari, gerente comercial da Neogen do Brasil, a empresa vem estudando possíveis parcerias com a Associação Brasileira de Angus (ABA). “Os geneticistas ainda não decidiram se vão aderir, mas este é um processo que, a exemplo dos Estados Unidos, deve começar via associação”, diz Francine. Além do Angus GS, a empresa anunciou o lançamento da segunda versão do Z-Chip, um painel de marcadores já existente para a raça Nelore e disponível para rebanhos brasileiros. Presente no evento, Gabriela Giacomini, gerente de Operações do Programa Montana Composto Tropical, diz que existe aí uma lacuna a ser preenchida, já que esse chips “universais” não estão validados para taurinos adaptados ou compostas tropicais, como o Montana. “A tecnologia deve avançar na velocidade que a genômica tem se instaurado como ferramenta de seleção para nossos melhoristas”, pondera a zootecnista. O Programa Montana Composto Tropical ainda não tem lidado com DEPs genômicas, embora tenha iniciado a composição de uma população de referência há cerca de cinco anos, em parceria com a Universidade de São Paulo (USP), campus Pirassununga, SP, que já soma cerca de 2.000 amostras de DNA. n

Paíneis de marcadores para populações específicas já são realidade nos EUA” Francine Campagnari, gerente comercial da Neogen do Brasil

DBO março 2018 55


Kaique de Souza

Nutrição

Vista geral do confinamento experimental da Universidade Federal de Goiás, onde foi realizado o experimento.

Taninos ganham espaço no cocho Aditivo tem efeito “poupador” de proteína verdadeira nas dietas de confinamento e vai bem a pasto, ajudando a controlar a diarreia do broto. Maristela Franco

C

Melhor conversão alimentar foi obtida com a associação de taninos com monensina” Juliano Fernandes, professor da UFG

maristela@revistadbo.com.br Colaborou Denis Cardoso

resce, no Brasil, a oferta de aditivos alternativos aos antibióticos na alimentação animal, amparando-se em alertas da Organização Mundial de Saúde (OMS) sobre o risco da chamada “resistência cruzada”, surgimento de bactérias insensíveis a antibióticos usados em humanos devido a seu emprego como promotores de crescimento em animais. Mesmo quando são destinados exclusivamente à pecuária - caso dos ionóforos monensina, lasalosida e salonomicina - há países, como os integrantes da União Europeia, que adotam o chamado princípio de precaução para excluí-los das rações. O Brasil, como os Estados Unidos, admite o uso regulado desses produtos, com base em estudos científicos, mas deve fazer ajustes em sua legislação em 2019, conforme plano já apresentado à OMS e ainda não divulgado. Enquanto isso, surgem no mercado aditivos alternativos que se propõem a substituir os antibióticos no modulação das bactérias ruminais e no controle da acidose, embora não se limitem a essas funções. É o caso dos taninos, substâncias com ação antimicrobiana que são encontradas em folhas, caule, raízes, sementes ou frutos de vários tipos de plantas. Um trabalho realizado em novembro de 2017 pelo mestrando em zootecnia Kaique de Souza Nascimento, sob orientação do professor Juliano Fernandes, da Uni-

56 DBO março 2018

versidade Federal de Goiás (UFG), constatou efeitos positivos desses produtos na terminação intensiva de bovinos. Foi testada uma mistura de taninos extraídos da castanheira portuguesa e do quebracho (árvore nativa do Chaco argentino), que está sendo comercializada no Brasil desde 2016 pela SilvaFeed, empresa de nutrição animal ligada à multinacional italiana SilvaTeam (veja quadro na página ao lado). O objetivo do experimento foi verificar a influência do produto sobre o ganho de peso, tanto em comparação com a monensina (aditivo mais comumente usado em confinamentos no Brasil) quanto em associação com esse antibiótico. Kaique Nascimento também avaliou a capacidade dos taninos de melhorarem a metabolização da proteína, o que permite reduzir o uso de fontes protéicas verdadeiras (por exemplo, farelo de soja) na formulação e, consequentemente, baratear a dieta. Efeito sobre o desempenho Foram usados, no experimento, 160 novilhos meio sangue Angus e Nelore, confinados de junho a outubro de 2017 (105 dias, sendo 14 de adaptação). Todos receberam a mesma ração à base de milho moído, bagaço de cana, farelo de soja, ureia e núcleo mineral, com diferenças apenas no núcleo mineral e no teor de proteína. O trabalho contou com quatro tratamentos: T1 ou controle, no qual os animais receberam a ração descrita acima, com 14% de PB (proteína bruta) e 25 ppm de monensina na matéria seca; T2, que consistiu no fornecimento da mesma ração, porém associando-se monensina com taninos; T3, que continha apenas tanino,


em quantidade idêntica à do tratamento anterior (para verificar o efeito isolado desse aditivo natural) e T4, cuja ração apresentava um ponto percentual a menos de protéina do que as precedentes (13%) e também associava monensina com taninos, nos teores já relatados. Segundo o professor Juliano Fernandes, esses aditivos naturais não apenas se mostraram eficientes por si mesmos, como se associaram bem à monensina, além de favorecerem a metabolização da proteína, permitindo reduzir a quantidade de farelo de soja na dieta. O melhor resultado, em termos de ganho de peso, foi obtido no tratamento 3 (apenas taninos), que registrou ganho de 1,96 kg cab/dia, ante 1,92 kg do tratamento T2 (associação de aditivos) e 1,77 kg do controle (apenas monensina). O melhor desempenho diário propiciado pelos taninos resultou em maior peso no gancho do frigorífico: 301,89 kg (1,24 kg de ganho em carcaça), ante 295 kg e 1,17 kg por animal, respectivamente, do controle. Durante os 105 dias de confinamento, os bovinos que receberam núcleo aditivado com o extrato natural ganharam 20,5 kg de peso vivo a mais do que o lote tratado com monensina. Esse bom resultado, segundo Fernandes, se deve à melhora no metabolismo ruminal. A melhor conversão alimentar foi observada nos dois lotes tratados com monensina associada aos taninos, independentemente do nível de proteína da dieta (veja tabela abaixo). “A monensina é sabidamente reguladora de consumo. Caso o nutricionista queira controlar a ingestão de alimentos, por questões de custo, a associação desse ionóforo com taninos pode ser interessante, pois ele obterá ganho de peso superior ao garantido pela monensina sozinha”, salienta Fernandes. Nos dois casos (dieta com 14% e com 13% de proteína), a associação dos dois aditivos garantiu melhor conversão. No primeiro caso, os animais consumiram 5 kg de matéria seca para cada 1 kg de peso ganho e, no segundo, 5,07 kg, ante 5,18 kg do tratamento controle (apenas monensina). Segundo Fernandes, o T4 se mostrou alternativa especialmente interessante, pois os animais comeram quase a mesma quantidade do grupo controle, porém ganharam mais peso do que este (1,81 kg, ante 1,77 kg/cab/dia), apesar da menor quantidade de farelo de soja contida na dieta, o que significa menor custo de engorda. Efeito “poupador” Esse efeito “poupador” dos taninos se deve à sua capacidade de se ligar às proteínas dietéticas, impedindo que elas sejam degradadas pelas bactérias ruminais. As proteínas seguem direto para o intestino, onde são absorvidas e aproveitadas, resultando em maior ganho de peso e economia de ração. Na pesquisa da UFG, a simples redução de um ponto percentual no teor proteico da dieta (o que equivale a 10% menos farelo de soja na formulação), resultou em economia de R$ 0,20 por animal/dia, já considerado o preço

O que são taninos?

Semente da castanheira

Árvore de quebracho no Chaco

Os taninos são polifenóis que desempenham funções de defesa em algumas plantas, seja em caso de estresse ambiental, seja de ataques de bactérias, fungos ou animais herbívoros, que evitam ingeri-las por causa da adstringência (gosto de travo). No experimento da UFG, foram usados taninos do tipo condensado, produzidos na Argentina, com base em extratos retirados da castanheira (Castanea sativa), que vem da Itália, e do quebracho (Schinopsis lorentzii), árvore sagrada dos índios Toba, natural da região do Chaco argentino. Nas duas espécies, a substância é retirada da casca do caule. Os taninos para alimentação animal são comercializados na forma de pó e entram na dieta em pequenas quantidades: 12 a 15 g/cab/dia nas formulações para confinamento e 5 a 10 g, dependendo da categoria animal, nos suplementos para pasto.

do aditivo. Essa economia pode ajudar a viabilizar economicamente o confinamento, quando as margens ficam apertadas, ou, sob condições favoráveis, permite abre espaço na matriz de custos para tecnologias como a gordura protegida, que melhora o acabamento de carcaça. Vários trabalhos, realizados nos Estados Unidos, França, Itália, México e Argentina confirmam a ação dos taninos sobre o metabolismo proteico. No Brasil, uma das primeiras pesquisas nessa área foi realizada em 2011 pelo zootecnista Rafael Mezzomo, na Universidade de Viçosa. Ele observou aumento de 24,1% no fluxo de proteína metabolizável (absorvida no intestino) em animais tratados com taninos. Ao reduzir o teor proteico de uma ração de alto concentrado de 7,5% para 2,5%, devido ao uso de taninos, Mezzomo não observou queda no desempenho animal. Isso significa que foi possível reduzir a quantidade de farelo de soja na dieta em 66%, conforme Resultados da pesquisa da UFG com animais confinados durante 105 dias

Tratamentos*

GPD (kg/cab/ dia) 1

Consumo de MS (kg) 2

Conversão alimentar 3

Consumo (MS/% PV)4

PC

PC

inicial (kg) 5

final (kg)

RC (%)6

GPDC (kg/cab/ dia)7

T1

1,77

9,06

5,18

2,07%

172,35

295,22

55,83

1,17

T2

1,92

9,56

5,00

2,16%

171,40

298.95

54,97

1,21

T3

1,96

10,16

5,23

2,28%

171,70

301,89

55,27

1,24

T4

1,81

9,11

5,07

2,09%

170,99

296,45

55,74

1,19

(1)GMD: ganho de peso diário; (2) MS: matéria seca; (3) em kg de ração/kg de peso ganho; (4) kg de matéria seca por % de peso vivo; (5) PC: peso de carcaça; (6) RC: rendimento de carcaça; (7) GPDC: ganho de peso diário em carcaça. *Tratamentos: T1 (Monensina – 14% de PB); T2 (Monensina + taninos – 14% de PB); T3 (taninos – 14% de PB); T4 (Monensina + taninos – 13% de PB). Fonte: UFG

março 2018

DBO 57


silvafeed

Nutrição

Animais de fazenda parceira do Grupo Pecsa, em Alta Floresta, MT, recebendo a pasto 1% do peso vivo em suplemento contendo taninos

mostrou artigo publicado por DBO, em junho de 2013. Nas condições do experimento, caso 1.000 bovinos estivessem sendo confinados por 100 dias, ao invés de 92 t de farelo de soja, se usariam apenas 30 toneladas. Na suplementação a pasto Segundo Marcelo Manela, diretor de ruminantes da Silvafeed no Brasil, os taninos também estão garantindo bons resultados na suplementação a pasto. Um trabalho, realizado na Fazenda Porte Alegre, em Mundo Novo, GO, mostrou que animais tratados por 107 dias com suplemento energético contendo taninos em associação com flavomicina, na proporção de 0,5% do peso vivo, ganharam 1,1 kg/cab/dia, ante 842 g do grupo controle (apenas flavomicina). O peso de carcaça foi, respectivamente, de 19,81@ e 18,52@. No lote tratado com a associação de aditivos, o custo ficou em R$ 56,42 por arroba ganha, ante R$ 68,58 do grupo controle, e o lucro líquido no período chegou a R$ 441,6/cab, ante R$ 252,7/cab do tratamento apenas com flavomicina, R$ 188,9 a mais por animal. Os taninos também estão ajudando a combater a chamada “diarreia do broto”, que acomete animais na transição da seca para as águas. Nesse período do ano, o capim se enche de folhas novas, com muita água e pouca matéria seca, o que aumenta a taxa de passagem do alimento, provocando diarreia. Segundo Washing58 DBO março 2018

ton Mesquita, da Intensiva Consultoria e Planejamento Pecuário, com sede em Goiânia, GO, os taninos minimizam esse problema porque são capazes de reduzir a solubilidade da proteína e melhorar a consistência das fezes. Mesquita também inclui taninos na suplementação de animais alojados em pastagens rotacionadas que recebem adubo nitrogenado regularmente, porque, nessas condições, a gramínea contém mais proteína da fração A (constituída por nitrogênio não protéico advindo da ureia), que normalmente não chega ao intestino e, devido à ação do aditivo natural, é melhor aproveitada, garantindo aumento de até 300 g por cab/ dia nas águas. Como atuam no metabolismo ruminal, inibindo o crescimento de bactérias grampositivas, os taninos ainda ajudam a reduzir as emissões de metano. Por esse e outros motivos, estão sendo usados pelas fazendas parceiros do Grupo Pecsa (Pecuária Sustentável da Amazônia), de Alta Floresta, MT, que fornece carne para o McDonald’s, rede de fast food que não admite uso de antibióticos promotores de crescimento. Segundo Marcelo Manella, pesquisas mostram que os taninos podem reduzir as emissões de metado pelos animais em 35% e de amônia, via esterco, em 15%. De acordo com ele, os taninos já foram incluídos como aditivo na tabela de requerimento do NRC, inclusive com a função de redução de metano. n



Fatos & Causos Veterinários

Enrico Ortolani

Sem balança, não dá!

R Professor titular da Clínica de Ruminantes da FMVZ-USP ortolani@usp.br

nnn Compradores de frigoríficos comemoram quando compram boiadas eradas vendidas pelo ‘olhômetro’, sem o peso da balança. Ganham em média 2@ por boi só porque o pecuarista não pesou antes os seus animais.

nnn

ecentemente, num evento pecuário, perguntei a um recriador do Tocantins quais eram as novidades em sua atividade. Ele encheu o peito e me disse que havia sido a recente compra e instalação de uma balança, depois de quase 20 anos na pecuária. Perguntei como ele tinha se virado até o momento para realizar compra e venda, e acompanhar o desempenho do gado. Sua resposta foi automática: “Nem mesmo eu sei como me virava. Eu estava cego e não percebia”. Perguntei quantos criadores em sua região tinham balança e ele me afirmou que não ultrapassavam 10%. Corri num grande vendedor de balanças, que estava expondo ali mesmo, e, segundo suas estimativas, de 4% a 10% dos criadores tinham esse equipamento instalado. Procurei no local um importante consultor, que visita fazendas Brasil afora. Ele não tinha esse número, mas arriscou que, provavelmente, o percentual não deveria estar errado. A partir dessa indefinição escrevi para consultores e nutricionistas Brasil afora e para a Embrapa Gado de Corte. Ninguém tinha esse número preciso, que no chutômetro ficou entre 5% e 20%. Porém, um dos pesquisados identificou que a presença da “gangorra de pesar” é maior em propriedades grandes e mais tecnificadas. Assim, ele arriscou que uns 50% dos bovinos de corte teriam acesso à balança. Até conheço fazendas que têm balança, mas não a usam devidamente, mantendo-a como um enfeite, ou possuem o equipamento quebrado ou desregulado. É digno de nota que o Censo Agropecuário 2017 do IBGE também não investigou, em seu longo questionário, a presença de balança em estabelecimentos pecuários. Fiz meu pós-doutorado na Escócia e fiquei surpreso com as mais completas informações que eles têm de sua pecuária. Sabiam até que os gastos públicos com um homem no campo eram oito vezes inferiores aos do mesmo ser humano vivendo na cidade. Daí a decisão do governo de subsidiar o óleo diesel para o fazendeiro, para evitar que seus funcionários migrassem para as metrópoles Eficiência Nossa pecuária evoluiu muito nestes 40 anos. ­Saímos da condição de importadores de carne para um dos principais exportadores. Mas ainda temos muito o que evoluir. Enquanto nossa taxa de desfrute patina nos 22%, a terra de Tio Sam mantém os 38% e os australianos, 31%. Eles são mais eficientes do que nós. Seus processos de criação são mais bem controlados. A presença de balança nas propriedades é um termômetro disso. A suposição que apenas 50% de

60 DBO março 2018

nosso gado é passível de ser pesado faria um fazendeiro australiano rolar de dar risadas, pois lá a esmagadora maioria do gado é pesada. Em minha modesta propriedade, tenho uma balança simples, não digital, mas igualmente eficiente, que uso para pesar minhas poucas reses, em especial as de recria e engorda. Rotina sagrada Quinzenalmente, quando chego ao sítio, tenho como rotina iniciar a pesagem dos bovinos e comparar seu peso anterior. É impressionante como a evolução do peso revela o que aconteceu com cada um deles. Se o peso individual ficou abaixo do que eu esperava, tento interpretar ainda no brete da balança ou na soltura do animal o que interferiu no resultado. A rês ficou embernada, contraiu alguma bicheira, apresentou diarreia, sofreu ataque constante de morcego, se machucou por brigas ou acidente, estava mancando, nariz escorrendo, lacrimejou demais etc.? Dependendo do que aconteceu, atuo para resolver o problema ali mesmo, aplicando o tratamento de acordo com o caso. Mas analiso também o desempenho, por meio do peso médio do lote. Dou especial atenção quando esse passa a ganhar menos do que o esperado. Isso reflete problemas de manejo, tendo como o mais comum o mau uso das pastagens. Confirmo isso checando, em seguida, a altura dos capins já pastados, que podem estar abaixo do que é indicado, revelando superpastoreio. Outras causas comuns são rompimento de cerca e mistura de machos inteiros com vacas, excesso de animais por comprimento linear de cochos, defeitos no bebedouro, briga entre machos, erros na formulação da ração ou falta de oferecimento desta e vai daí para diante. Investigando-se a fundo acha-se geralmente a causa. O resultado rotineiro obtido na balança me indica uma série de informações vitais no manejo animal da propriedade. Por exemplo, que bovinos devo descartar, ou acelerar a engorda, a hora certa para colocar novilhas em cruzamento, a melhora do desempenho após um determinado tratamento e o quanto sua programação genética está melhorando seu plantel no decorrer dos anos. Mas o bom uso da balança ganha destaque na venda dos animais. Muitos experientes compradores de frigoríficos me disseram que é um paraíso quando compram boiadas muito eradas pelo “olhômetro”, sem uso da balança. Ganham em média 2@ por boi. Sem comentários. Frente a isso, proponho uma cruzada para que todas as fazendas possuam esse importante equipamento, convocando a Embrapa, as associações de raça e de criadores e os consultores técnicos a mudar esse panorama. E você, como pode colaborar? n



Fotos Ariosto Mesquita

Fazenda em Foco

Animais selecionados para recria e terminação na Fazenda Tapira, em Umuarama, PR.

Vacas 1/2 Devon/Nelore usadas em tricross com Bonsmara (animais 1/2 Bonsmara, 1/4 Nelore e 1/4 Devon).

Bezerrada barata Pecuarista cria animais no Pantanal, MS, mas faz recria e engorda no Paraná. Ele prova que o negócio é bom, embora a distância indique o contrário. Ariosto Mesquita

S

de Porto Murtinho, MS.

ão quase 250 km de percurso até a cidade mais próxima (Jardim, no sudoeste do Mato Grosso do Sul), metade deste trajeto feito em uma sinuosa e precária estradinha de terra Pantanal adentro. Em seguida, os caminhões ainda enfrentam mais 505 km até o norte do Paraná. Mesmo com toda esta distância, o pecuarista Duarte Castro Cunha Neto (33 anos) vislumbrou um bom negócio na produção de bezerros no Pantanal e no seu transporte para recria e engorda no estado vizinho. O negócio é feito entre a sua Fazenda Barranco Branco, em Porto Murtinho, MS, e a propriedade da família (Fazenda Mineira, em Nova Olímpia, PR), que ele ajuda a administrar junto com o pai, Roberto de Castro Cunha. O sistema de trabalho integrado ainda está em implantação, mas já existe uma nítida evolução nos resultados, sobretudo na Barranco Branco, onde tudo começa. Neto obteve na safra 2016/2017 uma média de desembolso por animal (macho, Nelore) desmamado de R$ 693 (média de 210 kg de peso vivo), ante a média de R$ 798 dos 30% considerados mais rentáveis. O indicador “desembolso/cabeça/mês” também lhe foi favorável no período: gastou R$ 34,23, em média, ante R$ 54,61 da média dos clientes da consultoria. Somando o valor de frete e ICMS por indivíduo (R$ 120), ele consegue colocar um bezerro no Paraná por R$ 813,95, valor bem inferior aos R$ 1.365 que ele pagaria, em média, por cabeça em terras paranaenses no ciclo 2016/2017 (R$ 6,50 o kg). Sua margem (diferença bezer-

62 DBO março 2018

ro PR x bezerro MS) é, portanto, de R$ 551,05. Na comercialização de parte de seus bezerros para propriedades vizinhas no Pantanal, Neto também obteve margem positiva de 40% no último ciclo, resultado da diferença entre o valor médio de venda de bezerro – peso vivo de 210 kg – na região (R$ 1.155) e o seu desembolso por bezerro desmamado. Os números e os cálculos foram repassados pela Terra Desenvolvimento Agropecuário, consultoria que começou a acompanhar o trabalho na Barranco Branco no ciclo 2014/2015 com o objetivo de apurar seu desempenho na gestão da atividade de cria. A empresa não divulgou os cálculos relacionados à produção e entrega de fêmeas, mas garante que os resultados são semelhantes. Intensificação A Barranco Branco é uma das 285 fazendas de bovinocultura de corte espalhadas por 15 estados brasileiros (além de Paraguai e Bolívia), alvo do trabalho da empresa, desenvolvido em conjunto com o Instituto Terra de Métricas Agropecuárias (Inttegra). Com 3.370 hectares e um rebanho de 3.000 cabeças, o dobro em relação ao que dispunha no ciclo 2014/2015, está localizada no oeste do MS, com uma de suas linhas limítrofes distante 16 km da margem esquerda do Rio Paraguai, no Pantanal de Porto Murtinho (490 km da capital, Campo Grande). Adquirida pela família de Neto em 1976, já foi propriedade de engorda e por muito tempo de ciclo completo, no estilo de pecuária extensiva de baixa tecnificação, perfil que ao longo de muitos anos foi regra absoluta no Pantanal. “Eu assumi a administração da Barranco Bran-


Porto Murtinho

nnn

A Fazenda em números

MS Campo Grande

Nova Olimpia

PR

Neto, em sua fazenda no Pantanal: bezerro de custo baixo, mesmo colocado no Paraná.

co há 10 anos, quando tinha 23 de idade. Os negócios eram isolados. Não havia integração com a propriedade no Paraná, onde meu pai tocava com agricultura e uma pequena área de pasto”, conta o pecuarista, que sentia falta de ter às mãos indicadores que lhe dessem a real dimensão produtiva da propriedade. Esse desenho, com uma ou outra alteração, durou até o ciclo 2014/2015, quando Neto foi convocado pelo pai para ajudar na administração e condução dos trabalhos da propriedade no Paraná. “Eu achei que valeria a pena intensificar”, conta. Esse primeiro passo, ainda em processo de consolidação, foi dado na Barranco Branco. Neste momento, ele buscou a consultoria técnica, estabeleceu metas e ajustou procedimentos na propriedade (sobretudo em reprodução e nutrição) para aumentar o rebanho e a produção de bezerros. Na Fazenda Mineira, em Nova Olímpia, o trabalho de intensificação começou mais tarde (há menos de dois anos). A propriedade tem uma área de 2.300 hectares, dos quais apenas 270 destinados à pecuária (o restante serve à agricultura). Em 2017 acomodou no verão entre 800 e 900 cabeças (a maioria oriunda da Barranco Branco), das quais 300 passaram por confinamento estratégico para ajustar a lotação a pasto nos meses mais secos. “Minha meta é trabalhar com 1.500 cabeças ao ano em 310 hectares, de forma bem mais intensiva”, revela. A expectativa é de que os animais de reposição, recebidos da Barranco Branco a custo bem inferior às aquisições no mercado local, interfiram diretamente na rentabilidade final a partir dos abates. O período de recria/terminação varia entre 12 meses (fêmeas) e 18 meses (machos). Habilidade materna na reprodução Na reprodução, Neto apostou na intensificação da IATF (inseminação artificial em tempo fixo), em cruzamento industrial e no desafio de fêmeas. No ciclo 2016/2017, os animais Nelore representavam 65% da produção da propriedade. Os 35% restantes vieram de cruzamento triplo (tricross) a partir de vacas meio sangue Devon/Nelore. “Minha opção por estas fêmeas acontece pela excelente habilidade materna que carregam. Nelas uso inseminação com Bonsmara para a obtenção de um animal ½ Bonsmara, ¼ Nelore e ¼ Devon. Nas vacas que não emprenham faço repasse com touro Nelore”, explica. Segundo ele, todas as fêmeas que não ficam na fa-

Curitiba

Nome: Barranco Branco Localização: Pantanal de Porto Murtinho, MS (490 km a oeste da capita, Campo Grande) Área total: 3.370 ha Atividade atual: cria Rebanho médio em 2017: 3.000 cabeças Rebanho de matrizes: próximo a 1.500 vacas Bezerros desmamados na safra 2017/2018: 950 animais

nnn

zenda para reposição seguem para recria e engorda no Paraná (quase 400 bezerras em 2017), assim como boa parte dos machos (pouco menos de 200). Cerca de 300 bezerros foram vendidos na propriedade ao longo do ano passado. Os índices reprodutivos logo mostraram sensíveis melhoras (leia quadro na página seguinte). Entre os ciclos 2014/2015 e 2016/2017, o percentual de fertilidade geral do rebanho saiu de 75,1% para 88,8%. O número de matrizes deu um salto de 42,6% (de 728 para 1038 animais). Em janeiro deste ano, Duarte já estimava contar com quase 1.500 fêmeas. No último ciclo, o pecuarista começou a desafiar novilhas. “São fêmeas resultantes de cruzamento que desmamam e entram na estação no mesmo ano com idade entre 12 e 15 meses de idade”, explica. A primeira resposta a este procedimento (safra 2017/2018) mostrou índice de fertilidade de 60%. A fazenda, naturalmente, sentiu impactos das intempéries do mercado pecuário em 2017. Ainda assim e mesmo encaminhando recursos para uma ligeira e “necessária” reforma nas residências de funcionários, a Barranco Branco não perdeu o foco. Além de já ter obtido bons números, projeta outros no mesmo nível para a atual safra. O número de bezerros nascidos no ciclo 2017/2018, por exemplo, superou em mais de 40% o registrado em 2015/2016. A projeção da Terra/Inttegra é que entre estas duas safras a taxa de desmame varie de 68,4% para 74,5% e que o total de bezerros desmamados pule de 643 para Ciclos e evolução de indicadores na Fazenda Barranco Branco Indicadores Número de matrizes

2014/2015 2015/2016 2016/2017 2017/2018 728

940

1038

1476

75,1%

77,4%

88,8%

82,2%

expostas em relação à safra anterior

-0- (1)

(2)

16,9%

16,1%

Bezerros desmamados

-0- (1)

Índice geral de fertilidade

Aumento de vacas

643

897

950 (3)

68,4%

81,6%

74,5% (3)

-0- (1)

0,64

0,74

0,78 (3)

-0- (1)

6,7%

5,4%

4,1%

Taxa de desmame Lotação global (ua/ha) Índice de mortalidade de bezerro

(3) Informação indisponível ou inconsistente; (2) Ciclo de referência; (3) Projeção. Fonte: Instituto Terra de Métricas Agropecuárias (Inttegra)

DBO março 2018 63


Fazenda em Foco

Antes, o pessoal fazia corpo mole. Agora, a equipe está comprometida” Reginaldo do Santos Gerente da Barranco Branco

Pasto e suplementação Para a produção de comida barata e eficiente houve plantio de forrageira, reforma e uma redução no tamanho das pastagens. Cada pasto com invernadas de 120 hectares foi dividido em dois. “São 20 pastos com aproximadamente 60 hectares cada um. Outras áreas, geralmente ocupadas por capins nativos, ainda estão em processo de limpeza”, conta Neto, que não tem o cálculo preciso da extensão das terras ocupadas atualmente pelas forrageiras cultivadas (Massai, Xaraés, Humidícola e Mombaça). Segundo ele, boa parte da propriedade é tomada por mix de plantas. “Mesmo em pastagens cultivadas é difícil não encontrarmos uma mistura vegetal. As terras da fazenda carregam um forte banco de sementes nativas”, justifica. Outra aposta de Neto foi na suplementação que era “praticamente zero” até o início das mudanças. “Fazemos este trabalho de forma estratégica, com a desmama, que é uma categoria barata e que responde bem, e com as fêmeas primíparas, para ajudar a obter bons índices de fertilidade, acima de 80%”, explica. Neto, porém, não conseguiu consumo regular com material farelado. Teve de optar pela suplementação líquida (um proteico-energético oferecido a 1% do peso vivo) que, mesmo um pouco mais cara (R$ 1,60 contra R$ 1,30 do quilo da farelada, em média), acabou ajudando na desmama de um bezerro com custo de produção altamente competitivo. “Quando Neto ofertou suplementação em tanques, junto aos cochos, ele reduziu o trânsito de comida pela fazenda e liberou a equipe para outros afazeres. Além disso, o

Reservatórios de suplementação líquida ficam perto dos cochos

consumo é mais homogêneo”, avalia Mota, da Terra Desenvolvimento. “O custo um pouco mais alto para a aquisição deste material líquido é compensado, com sobras, pelo melhor aproveitamento, pela pouca alteração e boa segregação nas chuvas e pelo maior intervalo para reposição. O reabastecimento dos tanques é feito a cada três dias”, completa o pecuarista. Mesmo com toda a otimização produtiva e de mão-de-obra, o processo de intensificação produtiva na Barranco Branco poderia ser mais oneroso não fosse a interferência direta do proprietário nas decisões financeiras e no acompanhamento da equipe. “Aqui tudo que invisto é pensado para dar retorno na produção. Além disso, a fazenda não tem funcionário ocioso. A turma é enxuta, comprometida e ciente do que tem de fazer”, observa. Dentro do processo de tecnificação, Neto espera “em breve” chegar ao ponto de trabalhar no Pantanal com um rebanho médio de 5.000 fêmeas, sendo 3.000 em parição, 1.000 na desmama e 1.000 para reposição. “Espero que a lotação, hoje quase em 0,8 unidade animal (ua) /ha, possa atingir a casa de 1,6 ua/ha”, projeta. n

Mudança brusca No início dos trabalhos de intensificação na Fazenda Barranco Branco, Duarte Neto se deparou com um imprevisto. Acostumada a uma rotina de trabalho menos atribulada, a equipe de colaboradores travou o processo. “Diante da ameaça à sua zona de conforto, a turma não se mostrou disposta a evoluir com a fazenda”, conta o pecuarista. Segundo seu relato, foi uma espécie de motim. Tarefas simples, como o abastecimento de cochos, eram boicotadas. “Existiam até conversas paralelas na tentativa de provocar o desentendimento meu com o gerente”, revela. Neto não teve alternativa. Em plena estação de monta 2014/2015 (que vai de outubro a janeiro), trocou a sua equipe (seis funcionários), do campeiro à cozinheira.

64 DBO março 2018

Fotos Ariosto Mesquita

950. “O percentual de desmame é o principal indicador que entra na formação do custo do bezerro, pois aponta o número de animais que se conseguiu formar em relação às matrizes que foram expostas” explica o técnico da empresa, Luciano Mota Braga, que acompanha a propriedade. “Os ajustes de manejo, como a separação de categorias de fêmeas, com diferentes necessidades nutricionais, ajudou a elevar este índice”, aponta.

A exceção foi o gerente da propriedade, Reginaldo Gomes dos Santos (Galego), que “assumiu a bronca” junto com seu patrão. “O pessoal fazia corpo mole, não tomava iniciativa e mal sabia identificar pastos. Na cozinha, o almoço era só arroz, feijão e carne. Nada variava. Salada, nem pensar”, conta Galego, que trabalha na fazenda há mais de 20 anos. Neto manteve o mesmo número de funcionários (sete: o gerente, três campeiros, uma cozinheira, um tratorista e um cerqueiro). Com a nova equipe, “comprometida, enxuta e com um perfil aberto à tecnificação”, o produtor conseguiu dar encaminhamento às mudanças que fizeram com que ele conseguisse eficiência para produzir um animal barato.


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Eventos Canchim ■ V CONVENÇÃO DA RAÇA CANCHIM 65 anos da raça – 22 a 23/03/2018 • Embrapa CPPSE/São Carlos-SP Palestras – Debates – Visita Técnica ■ CANCHIM TECNOSHOW COMIGO 9 a 13 de abril – Rio Verde / GO – Exposição ■ LEILÃO DE LIQUIDAÇÃO CANCHIM IPAMERI 22 de abril – Realização Estância Bahia e Canal Terra Viva ■ PCAD 2018 Início em junho – Angatuba/SP – Entrada dos animais ■ LEILÃO CANCHIM FAZENDA CALABILU E CONVIDADOS Julho – Venda de animais

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Seleção

Ipameri, legado de respeito.

Fotos: maury dorta/embrapa

Próximo de liquidar seu plantel, João Paulo Porto conta como construiu um patrimônio genético e participou efetivamente da modernização do Canchim.

Criatório fez história na produção de touros com DEPs equilibradas e fenótipo funcional

E

A decisão de me desfazer do plantel foi uma das mais difíceis que já tomei” João Paulo Canto Porto

Carolina Rodrigues

ra novembro de 2017, final da Prova Canchim de Avaliação de Desempenho, considerada o Oscar do gado Canchim, quando João Paulo Canto Porto, nome dos mais conhecidos na raça, anunciou que liquidaria seu plantel, após quase quatro décadas de dedicação e investimentos. O que motivou tal decisão é um problema recorrente e preocupante da atual pecuária de corte: o desinteresse dos filhos pela atividade e a temida falta de sucessão para os negócios. “Foi uma das mais difíceis que já tomei”, disse o criador, frente ao público de quase 200 pessoas que acompanhavam os resultados da prova, em Angatuba, SP. Ele relembrou parte de sua trajetória e agradeceu o apoio de pesquisadores, amigos e diretoria da Associação Brasileira de Criadores de Canchim (ABCCAN), entidade da qual participou efetivamente, incluindo dois mandatos consecutivos como presidente em épocas decisivas para a consolidação da raça no País. A data do leilão - 22 de abril próximo - foi anunciada no início de março, quando era fechada esta edição de DBO. Apaixonado pela seleção, João Paulo Porto iniciou seu trabalho em 1981, 28 anos após o surgimento da raça, pelas mãos de Antônio Teixeira Vianna, pesquisador da Embrapa Sudeste, que tinha como objetivo trabalhar na composição de um bovino que se adaptasse melhor às diferentes condições climáticas brasileiras, com adicionais em ganho de peso. Porto foi um dos primeiros a estrutu-

66 DBO março 2018

rar um plantel de animais registrados e precursor no uso de touros próprios para testar a qualidade dos reprodutores na produção de bezerros cruzados com o Nelore na Fazenda Santa Helena, em Jussara, GO. “Decidi tratar o Canchim como raça, não apenas como produto experimental oriundo de sangue 5/8 Charolês com 5/8 zebu, como predominava naquela época. Vi que existia potencial para o nosso gado e decidi explorá-lo em todas as possibilidades que surgiam”, conta Porto, que, além de pecuarista, é engenheiro químico. Tal instrução, segundo ele, sempre o ajudou a pensar a raça pela parte técnica em parceria com outros criadores, como o saudoso Francisco Jacintho, o Xixico, com quem organizou as primeiras viagens para a França e para os Estados Unidos, de onde importou sêmen dos melhores touros Charolês, dando espaço às iniciativas que ganharam estrada País afora. Por mais funcionalidade Um dos seus principais desafios como presidente da associação brasileira de criadores, ainda em 1992, foi a introdução o cruzamento MA no sistema de registro definitivo, visando à evolução genética da raça e à injeção de linhagens americanas do Charolês em detrimento das francesas utilizadas no Brasil até então. O objetivo era corrigir “deficiências” da raça e introduzir características produtivas ao rebanho brasileiro por meio de linhagens já selecionadas para facilidade de parto, pelagem curta e pigmentação bem definida. O criador foi, também, o primeiro a ter um animal MA registrado. “Na verdade, não me considero um visionário, nem grande inventor. Dediquei-me a criar uma raça oriunda do cruzamento de um zebu com um europeu e aprendi, com minha própria raça, que cruzamentos sempre resultam em maiores ganhos”. O esquema MA consistia em uma série deles. Inicialmente, cruzava-se um touro Canchim com uma vaca Nelore, que resultava na vaca A. O touro Nelore com a vaca Canchim também produzia a vaca A. Esta vaca, por sua vez, cruzada com um touro Charolês resultava no touro MA. O touro MA cruzado com a vaca MA produzia, enfim, o Canchim puro e apto para registro. O cruzamento representava também uma pequena mudança na composição sanguínea dos animais, que saía de 62,5% para 65% de sangue europeu. Segundo o criador, aquele foi o início da evolução genética do Canchim e o que deu abertura à introdução das DEPs (Diferença Esperada da Progênie) já na década seguinte, em parceria com a Embrapa Gado de Corte,


com mudanças substanciais quanto à fertilidade dos touros, habilidade materna das fêmeas e conformação frigorífica dos animais. “Eu, como criador do Centro-Oeste, optei por um gado rústico e pesado, mas seleção é constância. Os animais devem ser equilibrados, seja nas DEPs, seja no fenótipo.” O conceito, ele ainda o aplica na seleção. Em 2017, o criador importou uma remessa de sêmen do touro Ledger, líder do sumário americano de Charolês, para não perder de vista o aprimoramento das características necessárias para garantir ao Canchim Ipameri boa estrutura óssea e musculatura, excelente rendimento de carcaça e precocidade nos cruzamentos e nos abates, principal nicho do mercado de touros Canchim. Amplo horizonte Segundo estudo da Embrapa Pecuária Sudeste, cruzamentos Canchim com Nelore geram animais para abate com peso de 2,7@ superior ao Nelore puro. A proporção chega a ser de 19,3 @ ante 15,8@. O ganho equivale à antecipação da idade de abate em seis meses, tendo como base condições de pastagem com taxa de lotação média de 1 unidade animal por hectare (UA/ha), hoje realidade da maioria das propriedades brasileiras. Na prática, isso ocorre em função da melhor conversão alimentar gerada pelo vigor híbrido obtido, explica a pesquisadora Cintia Marcondes, da Embrapa Pecuária Sudeste, já que introdução de 5/16 de genes oriundos do Charolês em animais zebuínos aumenta a eficiência nutricional, com a mesma oferta quantitativa e qualitativa de pasto. A comprovação de superioridade em rendimento frigorífico e ganho de peso, com o adicional da rusticidade, é hoje a principal bandeira dos criadores no fomento e divulgação da raça, que tem pela frente a difícil tarefa de aumentar sua competitividade no mercado de reprodução. No último relatório da Associação Brasileira de Inseminação Artificial (Asbia), publicado no segundo semestre de 2017, a venda de sêmen fechou com queda de 18%, registrando 7.706 doses comercializadas em 2016, ante 9.423 vendidas em 2015. Algo bem diferente se vê no comércio de touros. No ano passado, o comércio de reprodutores ultrapassou 250 exemplares, número que não se via nas pistas desde 2012. Somente na Ipameri, o preço médio girou em torno de R$ 7.500 por animal vendido na “porteira”, valor similar ao registrado nos pregões da raça. Esta realidade evidencia o fato de que o cliente da raça Canchim dá preferência à utilização do touro em detrimento da inseminação. É nesse sentido que Porto aposta cada vez mais na utilização dos touros Canchim no tricruzado, como terceira raça no cruzamento com fêmeas meio-sangue Nelore e Angus. “À medida que os resultados obtidos com o emprego do Canchim tornam-se mais conhecidos, a tendência é seu melhor uso nos cruzamentos”, avalia. Antes, o Canchim era procurado exclusivamente por criadores de São Paulo, norte do Paraná, Mato Grosso do Sul e Goiás. Hoje, a demanda espalha-se tam-

bém por Mato Grosso, Bahia, Pará e Tocantins, Estados compradores da genética Ipameri. Na última safra foram produzidos cerca de 100 touros adquiridos por uma clientela cativa e dispersa por vários Estados, motivo que reforçou a ideia da liquidação. “Gostaria muito de preservar tudo o que consegui em prol do desenvolvimento genético e a maneira mais segura de garantir isso será repassar este legado para os atuais criadores, que, assim como eu, têm muito amor pela raça”, diz.

Novilhas em recria na Fazenda Santa Helena, em Jussara, GO

Produção multifacetada Além da produção de touros líderes na venda de sêmen, todos bem posicionados no Sumário Geneplus da Embrapa Gado de Corte, a Ipameri produziu animais que marcaram história por apresentar uma régua equilibrada de DEPs, sinal de uma seleção “multifacetada” e voltada para diversas características de real interesse econômico. Bom exemplo é Abio MN da Ipameri, responsável por produzir inúmeros descendentes ganhadores das provas de desempenho (PCADs), com excelentes avaliações também em características de carcaça. O animal tem IQG (Índice de Qualidade Genética) Top 0,1%, o que o coloca como um dos melhores touros do Sumário Geneplus, além de “transmitir a melhor pelagem dentro da raça, com filhos de excepcional desenvolvimento”, acrescenta Maury Dorta, técnico da Embrapa e responsável pelas avaliações da PCAD. Abio é irmão próprio de Uruguai da Ipameri, ambos filhos de Quixuxu da Ponte Alta, Reservada Campeã Nacional 2004 e matriarca que produziu grandes destaques do plantel, hoje com 200 matrizes PO que irão à venda na liquidação. O rebanho total contabiliza 12.000 animais, incluindo gado comercial, que embora não desperte a mesma paixão que o Canchim, tornou-se uma opção rentável para o criador nos últimos anos. Na Fazenda Santa Helena são produzidos animais precoces e superprecoces, com um abate de cerca de 5 mil cabeças por ano. O pecuarista aproveita os ganhos proporcionados pela genética aliada à agricultura (sorgo, soja, milho e feijão) para se aprimorar no cruzamento industrial, atividade que dará continuidade junto aos filhos. “Seleção demanda tempo, juventude e força de trabalho. Do alto dos meus 78 anos já me sinto lisonjeado pelas oportunidades que tive e pelas escolhas que fiz. O Canchim foi, sem dúvida alguma, a melhor delas.” O projeto conta com outra propriedade rural em Barra do Garças, MT, dedicada exclusivamente à cria. n DBO março 2018 67


Raças Marina Salles

Nelore

El Aouar toma posse na presidência da ACNB O novo presidente da Associação dos Criadores de Nelore do Brasil (ACNB), Nabih Amin El Aouar, tomou posse do cargo para o biênio 2018/2020 no dia 19 de fevereiro deste ano, em São Paulo, em um evento no restaurante Varanda Grill, no Jardim Paulista. Pecuarista no Espírito Santo, tornou-se membro da Associação Capixaba dos Criadores de Nelore em 2003 e, em 2005, foi convidado para ser diretor de Marketing da entidade. Apenas dois anos depois assumiu seu primeiro mandato à frente da associação regional, tendo sido eleito mais três vezes para o cargo. Em seu discurso, El Aouar lembrou da sua trajetória na pecuária, que teve início em 1986, quando seu pai faleceu e ele, filho único, assumiu a propriedade da família. Destacou também seus feitos como presidente da associação no Espírito Santo, como a criação do Congresso Capixaba de Pecuária Bovina, realizado há nove anos. Fomentou, além disso, uma série de eventos, além da Expoinel-ES. Hoje,

Senepol

Carne certificada Pesquisa encomendada pela Associação Brasileira dos Criadores de Bovinos Senepol (ABCB Senepol) à Scot Consultoria apontou que 73,2% dos pecuaristas que produzem e vendem animais meio-sangue Senepol recebem um ágio na negociação, sendo que o maior diferencial foi para os bezerros cruzados (17% a mais em relação à cotação tradicional) e bois magros (+18%). No caso do boi gordo, a média foi de 16,3%. Pedro

68 DBO março 2018

a sucursal da ACNB no Estado promove oito ações por ano, entre dias de campo, palestras e simpósios. À DBO, El Aouar falou de seus planos, agora à frente da ACNB. DBO – Quais as prioridades da sua gestão? El Aouar – Vamos continuar investindo em

todas as ações que a associação já promove, como Circuito Boi Verde, Expoinel, Nelore Fest, julgamento de animais em pista, Universidade do Boi e da Carne e Nelore Natural. Além disso, apostar nos animais comerciais, em produção de carne, de alimento, e em acesso à informação e ao conhecimento sobre a raça.

DBO – Quais as metas para o biênio 2018/2020? El Aouar – Uma delas é realizar pelo

menos uma etapa, em cada Estado, do Circuito Boi Verde, e até três ou quatro em Estados com maior rebanho bovino, como Mato Grosso. Acredito que assim teremos uma disputa mais acirrada, o que é positivo para o melhoramento genético Crosara Gustin, presidente da associação, vê no cenário uma oportunidade de investir em agregação de valor, principalmente no fim da cadeia. “A pesquisa da Scot nos mostrou que o mercado já reconhece os atributos da raça e está pagando mais por isso.” Para 2019, o objetivo é ter um programa de certificação junto à Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) operante e pagando bonificação formal aos produtores mediante parcerias com frigoríficos. Com 594 associados e 89.691 animais PO registrados, a associação es-

El Aouar: “A ideia é promover pelo menos um circuito Boi Verde por região”.

de qualquer raça. Hoje, com 1% do rebanho nacional, o Espírito Santo já tem duas etapas. Lá, nós convidamos cerca de 200 participantes a cada uma delas, entre técnicos, pecuaristas e estudantes, e, além do gerente do Circuito, o Guilherme Alves, dez estagiários acompanham a semana inteira de abates. DBO – A ideia é replicar esse modelo no País? El Aouar – Sim. Acredito no potencial

multiplicador dos estudantes, na criação de oportunidades de estágio como forma de eles levarem o que aprendem nos seus cursos de Ciências Agrárias até o pecuarista.

tima crescer 10% em número de membros e 20% em animais em 2018, mantendo as médias alcançadas em 2017. Crosara acredita que o crescimento se dará motivado por dados que serão levantados pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq-USP). O centro vai medir os resultados econômicos de pecuaristas que trabalham com touros Senepol. “Com o estudo, vamos saber qual o aumento de margem proporcionado pela compra desses touros registrados, a rentabilidade do negócio e os custos dos produtores”, afirma Crosara.


Nelore II

Circuito Boi Verde divulga resultados de 2017 ruena, MT. Em segundo lugar, fiO Circuito Boi Verde 2017, Acabamento de gordura dos animais avaliados cou a Fazenda Santa Bárbara e promoção da Associação dos 65,4 Rancho Seco, de Ivinhema, MS, e, Criadores de Nelore do Brasil em terceiro, a Campanário Agrope(ACNB), contou com a participa54,0 cuária, de Laguna Carapã, MS. No ção de 112.311 animais, dos quais campeonato “Melhor compra de 6.015 foram abatidos. Este núme1999 - 2016 37,2 gado”, disputado entre os frigoríro representa alta de 21% ante os 2017 ficos, a unidade do Marfrig de Ba4.934 animais do ano anterior. O 25,2 taguassu, MS, foi a campeã, com circuito foi realizado em oito etamaior número de animais participas, em cinco Estados (Espírito pantes e maior média de pontuação Santo, Goiás, Mato Grosso, Mato 6,6 8,7 1,8 0,7 0,3 alcançada pelos lotes na avaliação Grosso do Sul e Rondônia). A ini0,0 de carcaças. Fizeram parte do circiativa, desde 1999, tem por objeAusente Escasso Mediano Uniforme Excessivo cuito quatro frigoríficos: Marfrig, tivo realizar provas de julgamento em quatro etapas, com a compra de de carcaça para coleta de dados de abates técnicos. Desde sua criação, a ida- 90,1% tinham mais de 18@. Para o geren- 2.587 cabeças; JBS, em duas, com 1.930 de dos animais avaliados vem diminuindo te de Produto da ACNB, Guilherme Alves, animais, e Frisa, em duas, com a aquisie, em 2017, a maioria, 73,5%, foi abatida a evolução é resultado do trabalho das fa- ção de 1.498 animais. Em 2018, a expecjovem, com até 24 meses. A parcela com zendas, que têm buscado fazer uma pecuá- tativa é repetir as etapas onde o circuito já acontece e expandi-lo para outras localiacabamento de gordura mediana e unifor- ria cada vez mais rentável e eficiente. Em 2017, a vencedora do Circuito Boi dades. Informações: www.nelore.org.br e me também avançou, com 74,1% das carcaças avaliadas. Em termos de peso vivo, Verde foi a Fazenda São Marcelo, de Ju- tel. (11) 3293-8900.

DBO março 2018 69


Instalações

Fotos Dagoberto Custódio

Com 3,5 m de comprimento, por 0,8 m de largura e 0,8 m de altura, o reservatório armazena 2.500 litros e serve a 200 bois.

Bebedouro revestido de lona é garantia de água limpa Fácil de ser limpo, ele também aumenta a durabilidade do material da instalação. marina salles

N

Dagoberto Custódio, que inventou o sistema.

marina.salles@revistadbo.com.br

a Fazenda JM, em Castanheira, noroeste de Mato Grosso, o produtor Dagoberto Antônio Custódio não passa apuro com o gado e, se tem um problema, cria ele mesmo a solução. Há dois anos, construiu dez bebedouros com forro de lona plástica no confinamento e aposentou seus bebedouros de metal. “O bebedouro enferrujava muito rápido por causa dos dejetos dos animais que caíam lá dentro”, conta. Com isso, a limpeza lhe tomava tempo e não havia garantia de que a qualidade da água se mantivesse. Como tinha madeira à disposição, Custódio optou por construir a caixa do bebedouro com esse material – embora o mais indicado fosse fazê-lo em alvenaria – e revestiu o seu interior com lona plástica, de 1 milímetro (mm) de espessura. A lona evita que a madeira fique embebida em água e apodreça mais rápido. Se fosse construir uma nova caixa, Custódio diz que daria preferência à de alvenaria, por ter durabilidade maior e custo menor. “Acredito que meus bebedouros de madeira terão vida útil de cinco anos, enquanto um de alvenaria poderia durar dez”, compara. Ele calcula que cada instalação idêntica à sua custaria hoje em torno de R$ 1.000 (­confira os materiais no quadro ao lado).

70 DBO março 2018

Localizados sempre na divisa entre dois piquetes para otimizar o uso, os bebedouros da Fazenda JM (de 3,5 metros de comprimento; 0,8 m de largura e 0,8 m de altura) têm capacidade para armazenar 2.500 litros de água e servem 200 bois. A cada três dias, Custódio esgota as caixas e, com uma vassoura, lava a lona e empurra os dejetos para um flange, espécie de ralo, acoplado a ela. A peça e um registro permitem dar vazão à água por um cano. O fundo da estrutura é falso e, por isso, a recomendação, antes de edificá-la, é compactar bem o solo. A lona é sobreposta às paredes e toca o chão. Para os animais não mexerem na boia, o produtor acrescentou no projeto uma tampa de madeira – movimentada por dobradiças (veja na foto) –, que a mantém escondida. “Quando eu achei que tinha pensado em tudo, foi que os bois me surpreenderam e um acabou caindo no bebedouro num empurra-empurra”, comenta Custódio. Para resolver a questão, ele construiu pilares ao redor da estrutura e pregou, praticamente na altura da cabeça dos animais, uma tábua de ponta a ponta. Colocada justo na área de acesso do bebedouro, essa tábua obriga o gado a abaixar a cabeça para beber água e evita a passagem, principalmente de suas patas, pelo vão. n Lista de materiais • Madeira ou cimento para construir a caixa de 3,5 m de comprimento, 0,8 m de largura e 0,8 m de altura. • Lona plástica de contenção de 1 mm com 2,6 m de largura por 5,2 m de comprimento • 1 flange de duas polegadas • 1 m de cano de PVC • 1 registro de duas polegadas • 1 boia de uma polegada • 1 par de dobradiças • Uma tábua de madeira pequena para a tampa da boia e outra mais comprida, para pregar nas pilastras de frente para a área de acesso ao bebedouro. É recomendado fincar as pilastras no chão, a 1 m de profundidade.



Pastagens

Pastoreio que ‘bate um bolão’

Fotos Maristela Franco

Subestimado pelo produtor, pastejo alternado dá resultados próximos aos do rotacionado e ajuda a intensificar pastagens.

Animais sob pastoreio alternado: lotação de 3,5 a 4 UA/ha.

Maristela Franco maristela@revistadbo.com.br

N

as últimas décadas, o pastoreio de lotação rotacionada se tornou quase sinônimo de intensificação, como se ele fosse o único método de manejo disponível para obter altas lotações e produzir mais carne. Essa premissa, contudo, não é verdadeira. Segundo Adilson Aguiar, consultor e professor da Fazu (Faculdades Associadas de Uberaba), trabalhos realizados com pastoreio alternado por alunos da instituição desde 2013, em condições adequadas de fertilidade do solo e manejo, têm obtido resultados semelhantes aos do rotacionado, tanto em lotação quan-

Ensaio conduzido na Fazenda São Joaquim, GO, comparando os métodos de pastejo sob lotação rotacionada e alternada* Indicadores Nome dos piquetes

Módulos de pastejo avaliados A

Método de pastoreio Nº de piquetes

B

C

AR

Lotação rotacionada 8

8

8

AA

Alternada 4

2

Espécies de capim

Xaraés

Marandu

Lotação em cab/ha

4,8

4,9

4,1

4,1

4,7

Lotação em UA/ha

4,2

4,4

3,5

3,4

3,6

Ganho cab/dia

1,1

1,1

1,2

1,2

1,3

Produção @/ha

23,2

23,4

21,5

22,3

26,4

*Ensaio técnico com duração de 131 dias, realizado entre dezembro de 2016 e abril de 2017. OBS: Resultados alcançados com 931 mm de chuvas e 0 a 2 t/ha de calcário + 0 a 0,5 t/ha de gesso + 48 a 94 kg/ha de P2O5 + 0 kg/ ha de K2O +107 a 189 kg/ha de N + 75 kg/ha de enxofre (do gesso). Fonte: Aguiar, 2017/Adaptação DBO

72 DBO março 2018

to em ganho de peso. “Nesses experimentos, alojamos de 3 a 4,8 UA/ha nas águas, com ganho médio diário de 580 a 660 g/cab/dia na recria, e 740 g a 1,04 kg/cab/ dia na engorda, apenas com suplementação mineral, em pastagens do gênero Brachiaria sp”. Ao contrário do que se pensa, é perfeitamente viá­ vel adubar sistemas de pastoreio sob lotação alternada. Segundo Aguiar, chegou o momento de se quebrar paradigmas (ou preconceitos) em relação a essa modalidade de manejo intermitente, pois ela pode ajudar muita gente a iniciar um processo de intensificação com menos investimentos. “Aproveitando as instalações já existentes na propriedade, com algumas adaptações, o produtor pode montar vários módulos de alternado e usar o dinheiro disponível para comprar corretivos e adubos, por exemplo, o que já vai melhorar bastante sua produção”, argumenta Aguiar. Foi o que fez Ademar Pereira Leal Filho, quando comprou 67 ha de um vizinho em 2016, incorporando-os aos 174 ha da Fazenda São Joaquim, que arrendara do pai dois anos antes para montagem de um projeto de pecuária intensiva. Até 2014, essa propriedade, no município de Jandaia, 120 km ao sul de Goiânia, GO, foi explorada de forma tradicional. Para que ela pudesse sustentar altas lotações, Ademar Leal (como é mais conhecido) investiu pesado na montagem de módulos de pastoreio de lotação rotacionada, construindo cercas elétricas, corrigindo o solo com calcário, aplicando adubo fosfatado, perfurando um poço artesiano e montando uma rede hidráulica para levar água até os bebedouros nas áreas de lazer dos módulos. “Quando comprei as terras do meu vizinho e o Adilson me sugeriu trabalhar com o alternado, foi ótimo, porque eu pude respirar um pouco e começar a intensificar os pastos novos, sem fazer grandes desembolsos”, conta o produtor, que também é dono da empresa de nutrição Campo Rações. Resultados surpreendentes Leal hoje trabalha com cinco módulos de pastejo rotacionado e três de alternado. Em um ensaio de validação técnica orientado por Adilson na propriedade, entre dezembro de 2016 e abril de 2017, o módulo de alternado avaliado “bateu um bolão”, suportando 3,6 UA/ha, valor muito próximo ao da média de quatro rotacionados (3,8 UA/ha). Todos os piquetes eram formados com Brachiaria brizantha (cultivares Marandu e Xaraés), previamente corrigidos com calcário, gesso e fósforo. No período, choveu 900 mm e os módulos receberam de 107 a 189 kg de nitrogênio e 75 kg de


enxofre por hectare. Na média, os bovinos engordaram 1,3 kg/cab/dia no alternado, mais do que no rotacionado, onde o ganho médio foi de 1,2 kg/cab/dia, com suplementação proteico-energética na proporção de 0,3% do peso corporal. A produtividade também foi maior: 26,4@/ha ante 22,3@/ha, em média, do rotacionado (veja tabela na pág. ao lado). Leal aduba todos os piquetes com lotação intermitente, independentemente do método de pastoreio utilizado. “Sem adubação, os resultados não seriam tão bons”, esclarece. Caso venha a comprar mais terras, diz que continuará usando o alternado. Não exatamente por causa do menor investimento exigido ou da menor movimentação dos animais (o lote permanece no piquete por 9 a 11 dias, nas águas), mas porque esse tipo de pastoreio permite trabalhar com lotes menores, bem apartados, o que evita problemas de dominância. Nos sistemas que adotam o rotacionado, normalmente os lotes são grandes, chegando a 500 cabeças. Segundo Adilson Aguiar, a inseminação artificial em tempo fixo (IATF) também traz consigo esse desafio dos lotes menores, pois a maioria das fazendas somente consegue protocolar de 120 a 240 vacas por dia. “Se é preciso mantê-las juntas no mesmo pasto, por que não trabalhar com pastoreio alternado? Já se daria às fêmeas melhores condições nutricionais”. Sistema ajustado Apesar de ter apenas 240 ha de área total e 191 ha de pastagens, a Fazenda São Joaquim alojava, por ocasião da visita de DBO, em dezembro passado, um rebanho de 845 animais, com lotação de 4,4 cab/ha, mas esse índice é pontual. O estoque de gado da propriedade flutua ao longo do ano pecuário, que vai de 1º de novembro a 31 de outubro. “No final de 2016, estávamos com 659 cabeças, comprei 541 animais em 2017 e vendi 775 (692 para abate), chegando, em outubro, com 541 animais alojados”, informa Ademar Leal, que, de início, queria trabalhar com lotação de 4 UA/ ha/ano, mas descobriu ser necessário cautela. “Quando elaborei o projeto, pensava muito em lotar, lotar e lotar a fazenda, mas esqueci do ganho individual. O Adilson me alertou para isso e ajustamos nosso sistema. Hoje, trabalho com uma lotação média de 2,8 UA/ ha/ano e ganho de 1,1 kg/cab/dia. A meta das 4 UA, com potencial para 5 a 7, será atingida de forma mais gradativa”, afiança. Por não ter área suficiente para sustentar matrizes, Leal começou fazendo apenas recria, mas, devido a problemas de mercado, incorporou também a terminação. Ele compra animais Nelore, cruzados Angus e mestiços de origem leiteira de 10-15 meses, com peso de 230 a 270 kg/cab, procurando abatê-los em no máximo um ano, o que garante à propriedade uma taxa de desfrute de 95%. Por enquanto, faz a recria sem lançar mão do chamado “sequestro” de bezerros (trato a cocho na seca) e termina os bois em semiconfinamento ou confinamento a pasto. Em 2017, como os frigo-

ríficos pararam de fazer contratos a termo, Leal decidiu escalonar as vendas para minimizar riscos: vendeu cerca de 20% dos animais nas águas (fevereiro, abril), 49% na seca (junho, julho, agosto) e 31% na saída da entressafra (outubro). Como ele participa do Grupo do Boi, formado por pecuaristas goianos que negociam 60.000 cabeças por ano coletivamente, ele recebe um bônus (não revelado) sobre o valor da arroba na praça de Goiânia/GO. A fazenda consta da Lista Traces (propriedades aptas a exportar para a União Europeia) e muitos de seus animais, comprados e rastreados aos 10 meses de idade, atingem padrão Cota Hilton. No último ano pecuário (2016/2017), a São Joaquim produziu 3,5@/ha a pasto e mais 14,8@ em confinamento. Com custo final de R$ 2.145/cab e receita bruta de R$ 2.620/cab, obteve lucro líquido de R$ 478 por animal e R$ 1.733 por hectare. Resultado excepcional para os padrões da pecuária, especialmente em um ano complicado como foi 2017, abalado por escândalos que provocaram queda acentuada da arroba. Nada disso seria possível, no entanto, sem um bom manejo de pasto.

Ademar Leal (ao centro) com o manejador Geneci e a zootecnista Cíntya Tongu: equipe afinada

Lições valiosas de manejo Na São Joaquim, os pastos recebem atenção diária, estejam eles sob lotação contínua, alternada ou rotacionada. “O ideal é trabalhar com os três métodos de pastoreio, pois isso dá mais flexibilidade ao sistema de produção da fazenda, tanto na gestão de recursos quanto no atendimento às demandas das diferentes categorias do rebanho”, afirma Aguiar. O pastoreio de lotação alternada também é feito com base nas alturas-alvo e demanda observação do comportamento das diferentes espécies forrageiras. Do contrário, os animais podem rebaixar demais o pasto (problema mais fácil de visualizar) ou subutilizá-lo (erro de manejo frequentemente desconsiderado pelos produtores, embora traga consequências quase tão nocivas quanto o primeiro). “Muitos produtores acham que pasto bom é DBO março 2018 73


Maristela Franco

Pastagens

Geneci troca os animais de piquete sempre que o capim atinge a alturaalvo para saída, estipulada em 20-15 cm.

pasto sobrando, quando na verdade estão fornecendo alimento de baixa qualidade aos animais e prejudicando seu desempenho, além de dificultar o manejo do capim”, alerta Aguiar. Encontrar o ponto certo de colheita da forragem é a preocupação número um da Fazenda São Joaquim. Segundo Leal, quando Aguiar visitou a propriedade pela primeira vez, em outubro de 2016, gostou da concepção do projeto, mas apontou problemas no manejo. Para manter a mesma lotação sem prejudicar o ganho individual, ele recomendou aumentar a adubação, mas alertou: “Cuidado, porque essa fazenda pode passar na frente de vocês, tomar o cabresto, pois o capim é como um burrinho, se não for domado desde novo, ninguém segura”. Segundo Leal, foi justamente o que aconteceu: “o capim adubado fez zuuuum, cresceu muito rápido. Passamos um aperto para acertar o manejo”. Muita gente – alerta o produtor – não se dá conta desse problema. No início das águas, deixa o pasto crescer primeiro para depois colocar o gado e aí já não domina Balanço do abate 2016/2017 Nº de animais

692

Peso médio de entrada (kg)

194

Peso médio de saída (kg)

309,8

Rendimento médio (%)

55,1

Ganho médio (kg/cab/dia)

0,954

Ganho carcaça (kg/cab/dia)

0,633

Peso médio carcaça quente (kg) @ limpas produzidas

293 8

Custo @ produzida (R$)

112,9

Custo final boi (R$)

2.145

Receita bruta/cab (R$)

2.620

Lucro por cab (R$) Fonte: Fazenda São Joaquim

74 DBO março 2018

478

o capim, que acumula hastes e folhas velhas, perdendo qualidade nutricional. Quando isso acontece, a única saída é passar a roçadeira, mas é uma incongruência adubar e depois roçar, porque se desperdiça um insumo caríssimo. «Para evitar subpastejo, é preciso rodar mais rápido, transformar os animais em coletores de folhas, não de hastes, otimizando o ganho individual. O pasto deve estar sempre podado, como uma grama”, salienta Leal. Outra lição aprendida com Aguiar foi que os pastos também precisam ser rotacionados ou alternados na seca, embora com lotação menor. “A gente não fazia isso, porque achava que o capim ia sofrer, mas, na seca passada, rodamos normalmente os lotes e o desempenho foi melhor, sem prejuízo para o capim, que continuou vegetando, embora em ritmo mais lento. Tive pasto brotando aqui em julho/agosto, no auge da estiagem”, conta o produtor. Mais uma lição de Aguiar: tudo que o produtor tiver de fazer na fazenda (alta pressão de pastejo, tratos culturais), que faça entre outubro e dezembro, porque nesse período as pastagens estão no auge e, mesmo quando pressionadas, se recuperam. Equipe afinada Os bons resultados da São Joaquim também se devem ao preparo de sua equipe. Manejador habilidoso, Geneci Lourenço de Souza, 53 anos, vaqueiro de profissão, levanta às 6 h da manhã, percorre os piquetes para verificar a presença de pragas e invasoras, registra as ocorrências para tomar ações corretivas, observa a altura do pasto nos piquetes e começa o jogo de xadrez do manejo, que lembra a movimentação de peças em um tabuleiro. “Não sigo a sequência dos módulos de rotacionado. Sempre olho o capim. Quando vou tirar o lote de um piquete e vejo que outro à frente já está passando do ponto, criando cana na parte de baixo, transfiro os bois para ele, e



Campo Rações

Pastagens

depois volto ao piquete anterior. Essa decisão é tomada na hora”, conta Geneci. Em 2016, quando ele soube que um técnico viria à fazenda para orientá-lo no manejo do pasto, pensou: “Um caboclo vem aqui falar de capim? Capim não tem explicação! Mas eu estava enganado. Foi bom demais! A gente estava fazendo muita coisa errada e não sabia”. Na Fazenda São Joaquim, cujos pastos são predominantemente de braquiária, trabalha-se com altura de 28-35 cm na entrada do lote e 20-15 cm na saída, seja no alternado ou no rotacionado. O capim é mantido mais baixo, porém denso, com o mesmo número de folhas do pasto alto, sem acúmulo de hastes. A adubação depende das metas anuais estabelecidas para cada módulo, das chuvas e do giro de animais. “Se o preço do bezerro sobe muito, suspendo as compras, diminuo a lotação e a aplicação de N. É fundamental gerenciar bem esses fatores”, frisa Leal.

Maristela Franco

Área de lazer do módulo de rotacionado “flex”, usado para confinamento na seca

Animais são suplementados tanto nas águas quanto na seca

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O adubo nitrogenado é a quinta preocupação do produtor. Em, primeiro lugar está o animal (ganho de peso); em segundo, o capim (manejo da lotação); em terceiro, os custos de produção; em quarto, a suplementação e, somente em quinto, o fertilizante. “Trata-se de uma ferramenta incrível quando se quer elevar a lotação, mas precisa ser bem calibrada para não se desperdiçar recursos”, salienta Leal. O produtor tem a fazenda toda mapeada quanto à fertilidade do solo, por meio de GPS, e faz análises anuais para corrigir a acidez e eventuais deficiências de fósforo, potássio e outros nutrientes. No ano passado, a fazenda aplicou 200 kg de N/ha no período chuvoso, quantidade abaixo do previsto, porque faltou gado para consumir toda a forragem produzida. A distribuição do fertilizante é feita pelo ajudante Adriano Andrade Material, 29 anos, que também é responsável pelo trato dos animais. Suplementação versátil Quando chegam à fazenda, os bezerros são identificados com brincos eletrônicos, submetidos ao protocolo sanitário e apartados em lotes relativamente homogêneos, conforme sua raça e peso. Após a formação dos grupos, não se mexe mais neles. Se um piquete acumula muita forragem, o ajuste de lotação é feito trocando-se um lote menor por um maior. “Identificamos o grupo de animais com menor potencial de ganho com o número zero. Ele pode ser imediatamente revendido após a triagem ou engordado para abate com 16-17@, pois não vale à pena esticar sua estadia na fazenda”, explica a zootecnista CíntyaTongu, gestora do projeto. Todas as informações relacionadas aos animais (data de entrada, peso, raça, idade, valor de compra, número do Sisbov) e dados de campo (adubação, dias de permanência nos piquetes) são lançadas no computador e correlacionadas por meio do software de gestão MultiBovinos. A fazenda procura seguir um “plano de voo” (programação de abate) e define estratégias nutricionais que lhe permitam atingir as metas de ganho por etapa. “Não é fácil cumpri-las. Parte dos animais chega à fazenda mais pesada, porém muitos entram com 8@ e saem com 20@, o que exige ganho médio de 1@/ mês”, salienta Leal. Nas águas, os garrotes normalmente recebem 0,3% do peso corporal em suplemento proteico-energético. Esse percentual é ajustado, conforme a oferta forrageira e a lotação, podendo chegar a 2% no período de confinamento a pasto. Ademar Leal tem alguns módulos de rotacionado “flex”, que podem ser usados tanto para suplementação nas águas quanto para confinamento na seca. Com formato retangular, eles são cortados na longitudinal por um corredor de acesso, que fraciona a área de lazer ao meio. Os cochos de trato são voltados para esse corredor, o que facilita o trato, pois o caminhão abastece a linha da esquerda na ida e a da direita na volta. Com instalações flexíveis como estas, Leal pode diversificar as estratégias de produção, mas sempre respeitando o pasto. n



Pastagens

Nova chance para o estilosantes

A

Ariosto Mesquita

pós presenciar, em apenas cinco anos, um recuo na área de cultivo da leguminosa estilosantes campo grande, de 5 milhões para apenas 1,5 milhão de hectares, a Embrapa Gado de Corte tenta, agora, resgatar a confiança do pecuarista brasileiro nessa forrageira. Desenvolvido na mesma unidade da Embrapa, sediada na capital de Mato Grosso do Sul, esse estilosantes é reconhecido por possuir alta carga de proteína bruta (12% a 18% da massa seca) e grande capacidade de fixar nitrogênio no solo, com até 180 quilos por hectare/ano. Mas também apavorou o pecuarista ao provocar problemas no rúmen de bovinos, levando-os em alguns casos à morte, principalmente por causa do manejo incorreto da pastagem. É por meio da integração lavoura-pecuária (ILP) que a Embrapa Gado de Corte pretende revitalizar o uso do estilosantes campo grande, ou ECG. Sua adequação para sistemas integrados vem surpreendendo. Quando a forrageira foi lançada, em 2000, integrar lavoura e pecuária era só um conceito. Hoje é uma realidade, sobretudo no Centro-Oeste. Estimativa mais recente da Embrapa indica que os sistemas integrados já ocupem 14 milhões de hectares no Brasil, sendo cerca de 80% com ILP. Salto de produtividade “Por iniciativa dos próprios agricultores, descobriu-se por exemplo que o ECG não é hospedeiro da ferrugem, da mancha-alvo nem de nematoides, incluindo o do gênero Pratylenchus, considerado polífago, ou seja, que pode parasitar um amplo número de espécies vegetais”, explica o pesquisador da Embrapa Gado de Corte Celso Dornelas Fernandes, responsável pelo desenvolvimento, lançamento e aperfeiçoamento do manejo desta forrageira tropical. “Assim, muita gente está optando em plantá-lo em rotação de cultura com a soja. O estilosantes campo grande fica um ano e meio na área e sai para dar lugar à oleaginosa. Vi fazendas pularem de produtividade de 26 para 56 sacas/hectare nesse período. E ainda há a possibilidade de ganho econômico: alguns fazendeiros na

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fotos: Ariosto Mesquita

Animada com a integração lavoura-pecuária, Embrapa investe no resgate dessa leguminosa que pecuaristas vêm deixando de lado.

Desenvolvido na Embrapa Gado de Corte, estilosantes campo grande teve sua área plantada reduzida, em 5 anos, de 5 milhões para 1,5 milhão de hectares.

região de Sapezal, MT, estão firmando parcerias com empresas para a produção de sementes de ECG”, revela o pesquisador. Essa nova perspectiva animou a Embrapa a programar a entrada no mercado de um novo estilosantes, dessa vez da linha guianensis (ECG é da linha macrocephala x capitata), o estilosantes bela. A promessa é que em 2019 essa variedade já esteja à disposição do produtor, com quantidade de sementes suficiente para plantio em até 10.000 hectares. A Embrapa não abre muitos detalhes, mas garante que a nova leguminosa será direcionada para solos argilosos (com média de 50% de argila), focada na integração lavoura-pecuária e apresentará desempenho inicial mais ágil do que o do ECG em solos arenosos (de 20% a 25% de argila). “O produtor que usa o ECG na integração em rotação com a soja geralmente se assusta quando, após 60 dias de semeadura, vê a planta com 10 centímetros de altura. Ele acha não vingou. O bela surgirá do solo mais rapidamente.” Até o momento, foram realizados testes com o estilosantes bela em talhões de pesquisa em Mato Grosso do Sul, Piauí, Distrito Federal, Acre, Minas Gerais e Goiás. As avaliações sob pastejo foram conduzidas no Acre, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal e sinalizam, por enquanto, segundo Fernandes, a não formação de fitobezoares no rúmen dos bovinos (problema provocado pelo ECG em sistemas mal manejados – veja na foto na pág. ao lado): “Em quatro meses sob consumo de material puro os animais não apresentaram formação das bolas fibrosas no rúmen. Não ocorreu nenhuma morte. Acreditamos ser mérito da constituição foliar do bela, que carrega fibras menores, quebráveis e mais digeríveis em relação ao ECG. No entanto, como estamos cautelosos, vamos avaliar com mais tempo antes de afirmar alguma coisa”.


Fibras foliares do estilosantes campo grande são longas e podem “embolar” no rúmen dos bovinos

Na estilosantes bela, a estrutura das folhas, com fibras menores, permite maior absorção pelo rúmen.

Os problemas com o estilosantes campo grande começaram após seu lançamento, em 2000, e não haviam sido detectados durante os dez anos em que a variedade foi pesquisada. Apesar de ter sido apresentado à pecuária brasileira como uma alternativa para plantio consorciado com braquiárias, sua apregoada capacidade de melhorar a estrutura de solos arenosos (para o qual é indicado) sem grandes investimentos em insumos para adubação, fez muita gente abusar na dose. “A recomendação da Embrapa é para que o ECG represente entre 20% e 40% do consórcio, deixando a braquiária com o restante. No entanto, vi muita gente semeando áreas com mais de 70% da leguminosa e exagerando na lotação. O superpastejo provoca a tendência do desaparecimento da braquiária, desequilibrando o sistema”, explica o pesquisador Fernandes. Isso, segundo ele, acontece principalmente nos meses mais úmidos, quando o estilosantes fica menos palatável do que a braquiária, que tende a ser mais procurada

pelo animal. Além do superpastejo, Fernandes acrescenta outro agravante nas águas: a eventual presença do percevejo-castanho. “Este inseto tem hábitos subterrâneos. Alimenta-se da raiz da braquiária, onde injeta uma toxina, que provoca a morte da planta. Quando isso acontece nos consórcios em solos arenosos é muito comum a presença de reboleiras. Como o ECG é resistente ao percevejo, a tendência é de que apenas ele prevaleça no pasto.” Além do desequilíbrio do sistema a partir do superpastejo e/ou presença do percevejo, que reduz a área de braquiária, o plantio solteiro do ECG acabou favorecendo o surgimento de fitobezoares. “Fitobezoar é uma estrutura que se forma no rúmen do animal, semelhante a uma bola. Ela surge a partir de um núcleo mineral, que pode ser um grão de areia. No processo de ruminação, as fibras da folha e das flores vão se enrolando neste núcleo e formando esferas de vários tamanhos.

‘Estilosantes tem alto poder de fixação de nitrogênio no solo’, defende o pesquisador Celso Fernandes, da Embrapa.

Sementes ganham mercado na agricultura Criadas para atender propriedades pecuárias, empresas produtoras de sementes de pastagens descobriram na agricultura um mercado promissor. A primeira demanda surgiu há 20 anos, com a disseminação do plantio direto e o uso da braquiária em cultivo consorciado com milho. Nos últimos dois anos, a partir da entrada de lavouras em áreas arenosas no Centro-Oeste, os agricultores vislumbraram no plantio do estilosantes campo grande (ECG) uma opção para revigorar essas terras de baixa fertilidade. No Mato Grosso, o ECG entra como alternativa à outra leguminosa, a crotalária, para o condicionamento de solos e controle de nematoides. Na Germi-

pasto, de Campo Grande, MS, a comercialização de sementes de estilosantes para agricultores varia entre 30 e 40 toneladas/ano, o suficiente para o plantio de 5.000 hectares, diz o gerente comercial, Daniel Leme Di Raimo. Um dos atrativos é o custo por hectare: “Gasta-se R$ 150 para semear crotalária e R$ 100 para o estilosantes”. Apesar de ser considerado um negócio em expansão, o ECG na agricultura é um nicho para a empresa, que comercializa até 5.000 toneladas/ano de sementes de pastagens. Já a Sementes Boi Gordo, de Mato Grosso do Sul, comercializa o estilosantes para pecuaristas do Mato Grosso. Seu gerente de Marketing, Shunji

Hisaeda, explica que, em alguns casos, o desempenho produtivo da soja, cultivada após o estilosantes, salta de 35 para 66 sacas/ha. Além da comercialização para agricultura, Hisaeda vem firmando parcerias com empresas agrícolas para a multiplicação de sementes de ECG. “A Boi Gordo entra com insumos e a fazenda com o cultivo. Ao fim, cada parceiro fica com 50% do resultado da colheita.” Atualmente, a demanda por sementes de ECG da Boi Gordo fica dividida entre a pecuária e a agricultura: “É meio a meio. Há dois anos, a bovinocultura de corte ainda contribuía com 70%. Estimo que já tenhamos vendido o suficiente para o plantio de 10 mil hectares”.

DBO março 2018 79


Pastagens As grandes não causam problemas. O transtorno surge com as pequenas, que se deslocam para o intestino e obstruem seu funcionamento. Isso causa uma infecção generalizada e mata o bovino”, detalha Fernandes. O problema não havia sido registrado ao longo das pesquisas (iniciadas em 1990) que culminaram no lançamento do ECG dez anos depois. Segundo o pesquisador da Embrapa, surgiu justamente pelo mau uso da tecnologia, assustando muitos pecuaristas. “As mortes ocorreram em percentuais pequenos dentro dos rebanhos. Coisa entre 1% e 2%, mas provocaram pânico. O efeito foi enorme. O fazendeiro que teve um animal morto deixou de comprar a semente. Ele e seus vizinhos”, conta Fernandes. Áreas impróprias A fama de que o ECG intoxicava o gado foi devastadora e resultou naquela redução expressiva da área ocupada pela leguminosa. O erro em se plantar em áreas impróprias também ajudou na má fama do ECG. “Ele chegou a ser semeado em regiões de São Paulo, Paraná e do Rio Grande do Sul, onde faz frio boa parte do ano. O estilosantes é uma planta tropical e não suporta geada”, explica. Realinhar o ECG dentro do sistema produtivo vem sendo uma tarefa árdua para a Embrapa, sobretudo para quem liderou a introdução do

80 DBO março 2018

material na pecuária. “Vez ou outra passo por situações difíceis. Produtores me ligam para saber o que devem fazer para matar o estilosantes. Nesse momento tenho de respirar fundo e dizer que ele possui uma pérola na fazenda. Afinal, é uma planta que fixa até 180 kg de nitrogênio por hectare/ano, recicla nutrientes, possui um sistema radicular profundo, ajuda a conter erosões, conta com uma ressemeadura natural e, em consórcio bem manejado com a braquiária, pode aumentar a produção de carne de uma fazenda de solos arenosos em até 27%”, afirma o pesquisador, em comparação ao uso de gramínea pura sem adubação nitrogenada. Outra explicação é em relação à contenção do surgimento do fitobezoar no rúmen do animal quando ele se alimenta em áreas de consórcios bem manejados. “Quando há a mistura equilibrada da fibra da gramínea com a planta leguminosa, as bolas não são formadas”, garante o pesquisador. Além do atendimento direto a pecuaristas, dias de campo e visitas em propriedades, a Embrapa lançou em 2015 uma nota técnica sobre o uso correto do ECG em pastagens consorciadas. O trabalho também traz recomendações para conter ou corrigir desequilíbrios na proporção entre as plantas. O documento pode ser acessado via internet pelo link http://old.cnpgc.embrapa.br/NotaTecnicaEstilosantes.pdf n



Eventos

Pasto, ainda o fator principal.

André Montejano

Palestras que ressaltam o recurso produtivo foram valorizadas no simpósio de vitaminas da DSM

Debate sobre o primeiro painel: pastagem e genética.

Moacir José

O

Antes de partir para outras tecnologias, o produtor deve dominar o manejo da pastagem.” Sila Carneiro, Professor da Esalq

moacir@revistadbo.com.br de Campinas, SP

adequado manejo da pastagem – componente mais barato no custo de produção de bovinos de corte – foi um dos pontos fortes do 3º Isvit – na sigla em inglês para Simpósio Internacional sobre Vitaminas e Tecnologias, evento promovido pela multinacional holandesa DSM (detentora da marca Tortuga), que reuniu especialistas brasileiros e estrangeiros em três dias (19 a 21 de fevereiro), no Royal Palm Plaza, resort instalado na cidade de Campinas, a 99 km da capital paulista. Conceitos como o de que um pasto com menos massa total pode abrigar mais animais do que um outro mais farto; de que evitar o desperdício deve ser a prioridade do produtor e que, nesse sentido, é melhor adubar menos e colher melhor a forrageira – emitidos pelo professor Sila Carneiro, do Departamento de Zootecnia da Esalq/USP, de Piracicaba –, prenderam a atenção de uma plateia estimada em 300 pessoas, a maior parte dela formada por técnicos da própria DSM, incumbidos de assessorar os pecuaristas em suas fazendas quanto ao uso de suplementos para o gado. Mas estiveram presentes, também, vários especialistas de grandes e conceituadas consultorias pecuárias.

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Ponto certo de colheita Trabalhando com o conceito de interceptação luminosa – máximo de incidência de luz que a planta consegue capturar de forma a potencializar sua produção de massa verde –; ponto ótimo de pastejo e resíduo de pastejo, Carneiro mostrou estudo com 450 novilhos Nelore em 96 piquetes de braquiarão, com alturas de entrada de 25 cm e 35 cm e saída com não menos do que 15 cm, e adubação nitrogenada de 50 kg e 200 kg/ha. Na média do experimento, o ganho de peso dos animais que entraram no piquete com 25 cm foi 35% superior ao dos que entraram no piquete com 35 cm de altura, enquanto a diferença entre o ganho dos animais no piquete adubado com 200 kg de N e o adubado com 50 kg de N foi de 22%. Isso denota que é possível aumentar a produtividade (produção de arrobas por hectare) apenas com um manejo adequado de entrada e saída dos animais no sistema de pastejo rotacionado. Na mesma linha de raciocínio, o professor Ricardo Reis, da Unesp de Jaboticabal, mostrou trabalhos em que se mensurou o desempenho de novilhas Nelore em pastos de braquiarão, no período das águas e na seca, em diferentes alturas de entrada e saída, e com três tipos de suplementos (sal mineral, proteinado e suplemento energético). Os melhores resultados, em termos de ganho de peso (entre 800 e 900 gramas/dia), ficaram com a faixa de altura do capim entre 25 cm e 35 cm, com suplemento, no período das águas. Ele ressalvou, porém, que o uso de suplementos deve ser avaliado do ponto de vista econômico, pois em algumas situações é possível prescindir dessa tecnologia. “Fornecer suplementos é mais cômodo para o produtor, até porque fazer manutenção adequada da pastagem é trabalhoso e tem um custo. Mas ele deve buscar primeiro um manejo adequado desse recurso natural”, externou. O professor Sila Carneiro reforça: “Bom manejo de pasto não exclui o uso de suplementos ou de técnicas como adubação. O que o produtor não deve fazer é investir em outra tecnologia – suplementação, adubação ou irrigação – sem antes dominar o recurso da pastagem. Fornecer suplemento antes disso pode levar, inclusive, o animal a reduzir o consumo de pasto. E isso acabará fazendo com que sobre forragem; ou seja, desperdício, prejuízo. Um círculo vicioso que precisa ser quebrado”, recomenda. Para Elder Oliveira, consultor da Exagro, de Nova Lima, MG, as apresentações ligadas à pastagem trouxeram de volta, com uma nova abordagem, conceitos de manejo que são importantes e sempre recorrentes,


como o do momento certo para uma suplementação eficiente, visando um melhor retorno econômico. “Para um evento que tem como tema vitaminas, suplementação, abordar eficiência de pastejo é muito importante. O manejo correto abre espaço para que se potencialize o uso do suplemento. Está alinhado com o que praticamos em nossa consultoria”, informou. Ele também concordou com uma resposta que o professor Sila Carneiro deu a uma pergunta da plateia, sobre manejo de repasse. “Ele está correto quando diz que é ruim fazer repasse de um pasto que passou do ponto. Ou seja, usar o repasse para corrigir um manejo errado”, completa. Nutrição na reprodução No aspecto suplementação, a palestra do professor Pietro Baruselli, da USP, mostrou resultado de pesquisa onde se procurou comparar o desempenho reprodutivo de vacas Nelore que receberam suplementação mineral com quelatos com grupo testemunha. A conclusão foi um aumento de tamanho dos folículos dominantes nas vacas suplementadas, o que aumentou as chances de ovulação no pós-parto e, consequentemente, uma melhor resposta nos protocolos de IATF. Mesmo com um resultado semelhante no que diz respeito à taxa de prenhez obtida (89,9% no grupo controle e 87,7% no mineralizado), a vantagem do grupo suplementado foi relativa ao tempo: as fêmeas emprenharam mais cedo, o que tem impacto na prática de concentrar o maior número possível de prenhezes para a produção do chamado “bezerro do cedo”. “As novilhas mais pesadas são as filhas de mães que

pariram no cedo”, concluiu o professor. Outra palestra mais específica de nutrição foi a do norte-americano Galen Erickon, da Universidade de Nebraska, sobre estimativa de valor energético dos alimentos. Seu recado foi o de que não basta fazer predição só do teor de proteína da silagem e que os nutricionistas que atendem fazendas devem também atentar para a predição da energia, pois ela está diretamente ligada com a digestibilidade dos alimentos. “Não é só o teor de matéria seca que conta”, definiu. Galen proferiu mais duas palestras: uma sobre formulação de dietas utilizando subprodutos do processamento de milho para bovinos confinados, como DDG e WDG, na sigla em inglês grãos secos e úmidos resultantes do processo de destilação do milho para a produção de etanol – e outra sobre os efeitos da fase de recria no desempenho e na composição corporal de animais terminados em confinamento. As apresentações foram consideradas de altíssimo nível. Manfred Folz, consultor da Boviplan, de Piracicaba, considerou que o processo de intensificação caminha para um momento em que a “sintonia fina” dos processos produtivos será cada vez mais exigida. “No caso da suplementação, as vitaminas são o topo do processo, que tem vários estágios. Mas é preciso medir primeiro. Muitos produtores pedem dicas de que sal utilizar, querem trocar de produto, mas não mensuram o consumo. Tem que medir primeiro!”, diz ele.

Para o professor Ricardo Reis, da Unesp de Jaboticabal, não se pode pensar só na comodidade de fornecer o suplemento.

Pesquisa revela brechas por onde se pode avançar

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e um universo de 2.406 propriedades de corte pertencentes a 1.977 pecuaristas, detentores de um rebanho de 6,3 milhões de cabeças, 75% delas fazem uso de algum tipo de suplemento para o gado e 83% têm algum controle de custos. Por outro lado, apenas 39% têm estação de monta e 43% não praticam o pastejo rotacionado em suas pastagens. Esses são alguns dos números da pesquisa que a DSM fez, batizada de “Raio X da Pecuária” e que foram apresentados na abertura do 3º Isvit por seu gerente de marketing, Juliano Sabella Acedo. A pesquisa também envolveu pecuaristas de gado de leite (459, em 651 propriedades). Nas duas modalidades, a pesquisa aconteceu em regiões mais expressivas na respectiva produção: no corte, a maioria foi dos Estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pará, Bahia e Goiás, enquanto no leite, predominaram propriedades de Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo e Santa Catarina. “Buscamos, através dessa pesquisa, ter dados con-

Principais desafios do setor

Fonte: Raio X da Pecuária / DSM-Tortuga

sistentes e confiáveis do panorama da pecuária brasileira, porque há muito pouca informação sobre isso. Ao mesmo tempo, buscamos encontrar as oportunidaDBO março 2018 83


Eventos

Juliano Acedo, da DSM, aposta na segmentação de venda de suplementos por categoria animal.

des de investimento em tecnologias e também orientar o pecuarista na parte de gestão. Há três anos que vimos capacitando nossa equipe técnica (70 pessoas), para fazer isso”, justifica Acedo. A ideia, segundo ele, é que o produtor seja mais eficiente; ganhe mais com a atividade. Com relação a alguns números da pesquisa com o pessoal de corte, ele enxerga grande espaço na segmentação do fornecimento de suplementos para cada categoria animal. Por exemplo, a taxa de desmama de bezerros dos produtores que disseram usar suplemento específico para vacas em reprodução foi 14% maior do que a dos produtores que disseram não usar esses produtos (72% de taxa de desmama para o primeiro grupo ante 82% do segundo). Outros dados interessantes: 47% dos entrevistados utilizam arrobas por animal como principal indicador zootécnico de suas propriedades, enquanto 38% utilizam o conceito de arrobas/ha/ano. Na comercialização, apenas 3% utilizam o mercado futuro da Bolsa de Mercadorias, 8% vendem em leilão, 14% no mercado a termo com os frigoríficos e 58% não utilizam ferramenta alguma. Isso, a despeito de a maioria considerar que os preços recebidos pela produção é o maior desafio do setor (veja gráfico na página 83). Outro dado por ele destacado foi o fato de apenas 57% dos entrevistados praticarem o pastejo rotacionado; do universo dos que não usam, 42% disseram que não implantam esse sistema em suas propriedades por falta de aguadas e cochos. “Não percebem que investir nisso vai trazer um retorno em produtividade, em produção de mais arrobas por hectare, que vai compensar o gasto”, declarou ele, em depoimento ao Portal DBO. n DBO viajou a Campinas a convite da DSM.

84 DBO março 2018

Parceria para benchmarking A DSM fechou uma parceria com a Inttegra, consultoria de Maringá e escritório em Campo Grande, MS, para coletar e processar informações de fazendas de clientes da empresa de nutrição, para a elaboração de um benchmarking – comparativo de resultados que permitem aos produtores se posicionarem em termos de produtividade e rentabilidade. Os resultados foram apresentados no 3º Isvit por Lucas Oliveira, gerente técnico nacional de gado de corte da DSM, e se referem à safra 2016-2017 e uma prévia do primeiro semestre da safra 2017-2018. São 85 fazendas de corte, que, na média, registraram lucratividade de R$ 84/ha, com resultados que vão do negativo (35% delas) até alguns altamente positivos (R$ 770/ha), nos tope 10. “Os resultados negativos nos chamaram a atenção e mostram que é preciso investir em gestão para revertê-los”, diz o técnico da DSM. Segundo Antônio Chaker, diretor da Inttegra, essas fazendas foram incorporadas ao benchmarking da consultoria, que conta atualmente com 200 fazendas de corte, totalizando, portanto, 285. “Inicialmente, fizemos o trabalho de coleta, processamento e retorno do resultado aos pecuaristas, como um diagnóstico. Mas ele gostaram e resolveram continuar o trabalho”, diz o consultor. Segundo Lucas Oliveira, a ideia é ampliar o número de fazendas para 150 até meados deste ano e para 300 até o fim de 2019. “É um programa de relacionamento super premium, pois os participantes do benchmarking não pagaram nada pelo serviço”, informa.



Eventos

Mercado, preço, mitos e métricas. Premix reuniu confinadores, pesquisadores e analistas para discutir questões técnicas do setor e estratégias em busca de rentabilidade.

Criadores e técnicos durante o 4º Encontro de Confinadores da Premix Alisson Freitas

C

Os indicadores devem ser avaliados de forma conjunta” Amanda Oliveira, Coordenadora de Confinamento da Premix

alisson@portaldbo.com.br do Rio de Janeiro, RJ

erca de cem confinadores participaram, de 27 a 28 de fevereiro, no Rio de Janeiro, RJ, de evento da Premix, que teve como tema “Viabilize seu confinamento, multiplique seus lucros”. O 4º Encontro de Confinadores contou com palestras relacionadas ao cenário macroeconômico, às perspectivas para este ano e ao uso de métricas. Na opinião do analista Rodrigo Albuquerque, da NF2R, o cenário é favorável para a atividade. “Há perspectiva de retomada de consumo interno de carnes e demanda aquecida nas exportações, o que deve colaborar por maior firmeza no preço do boi”, afirmou Albuquerque, que prevê avanço de 5% a 12% no número de cabeças confinadas este ano no País. A possibilidade de estreitamento de prazo entre os giros também foi destacada. Segundo ele, o confinador tenderá a distribuir a engorda ao longo do ano para reduzir a ociosidade das instalações. Pesquisa feita pelo próprio analista, com confinadores de várias regiões, apurou que eles pretendem engordar 45% do rebanho no primeiro giro (abril/maio/junho) e 55% no segundo (setembro/outubro/novembro). “Isso será ótimo para a cadeia. Os frigoríficos terão constância de oferta e o consumidor, carne de melhor qualidade”, concluiu. Mas o setor também deve se deparar com alguns desafios. Um deles é o aumento do preço da dieta. Milho e farelo de soja passam por expressiva valorização este ano, alertou Alexandre Mendonça de Barros, da MB

86 DBO março 2018

Agro. “Vivemos um um momento delicado em relação aos preços. Mesmo assim, acredito que o confinamento deverá crescer, embora os custos com alimentação preocupem.” Ele cita como motivo da valorização do milho e do farelo de soja a quebra de safra da oleaginosa na Argentina – o maior produtor e exportador mundial de farelo – e o provável atraso no plantio de milho safrinha no Brasil por causa do atraso na colheita de soja devido a excesso de chuva nas regiões produtoras – sobretudo no Centro-Oeste e no Paraná. Com fornecimento limitado de farelo pelo país vizinho, Mendonça acredita que os importadores procurarão o produto no Brasil, o que deve encarecer o insumo. Quanto ao milho, cuja safra de verão foi inferior à do ano passado, as projeções indicam colheita menor também no inverno, devido à semeadura fora da janela de plantio. O alívio, diz Mendonça de Barros, deve vir da estabilidade nos preços dos animais de reposição. “O produtor que já tiver grão comprado deve aproveitar o momento e travar os preços do boi gordo na Bolsa. É melhor garantir o que já tem do que correr o risco de o mercado virar”, aconselhou. Métricas O evento da Premix também debateu o uso de métricas. A Coordenadora de Confinamento da empresa, Amanda Oliveira, ressaltou que nem sempre ter bons índices zootécnicos significa que o pecuarista vai ter lucro. “Os indicadores devem ser avaliados de forma conjunta, não individual”. A executiva derrubou uma série de mitos, como a busca constante pelo aumento no ganho de peso na engorda a cocho. “Muitos pecuaristas só pensam em aumentar a taxa de ganho de peso. Mas se esquecem que, para isso, é necessário investir numa dieta melhor, lembrando que nem sempre gastar mais na alimentação é algo rentável”, afirmou. “O principal fator é a lucratividade da operação como um todo.” Outro mito é o de que o confinamento só entrega resultado se produzir acima de 6@ por animal, por giro. “Essa máxima, adotada por muito confinadores, está longe da verdade. Se o preço do boi magro estiver próximo ao do boi gordo, de fato compensa engordar por mais tempo. Mas se as cotações estiverem próximas, o ideal é abater mais cedo.” O tema também foi abordado pelo pesquisador Gustavo Rezende, da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta), que reforçou a necessidade de os produtores criarem protocolos para construir uma base de dados que lhes permita fazer comparações entre lotes e resultados na propriedade. “O produtor deve saber quais são as características do seu confinamento e parar de querer copiar o vizinho. Com protocolos bem estabelecidos e seguidos à risca, ele saberá o que pode melhorar no sistema e finamente sairá do ‘eu acho’ e do ‘eu imagino que seja’ para o ‘eu meço’ e ‘eu sei’”, concluiu Rezende. n DBO viajou ao Rio a convite da Premix


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Leilões

Mercado reage no primeiro bimestre Depois de um início ruim em 2017, as vendas voltaram a crescer nos meses de janeiro e fevereiro. Alisson Freitas alisson@portaldbo.com.br

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epois da baixa histórica que superou 80% no primeiro bimestre do ano anterior, o mercado de leilões de animais reagiu forte neste início de 2018. Entre janeiro e fevereiro, foram realizados nove remates que movimentaram R$ 4,7 milhões na venda de 628 lotes de machos, fêmeas, prenhezes e aspirações. Na comparação com o mesmo período do ano anterior, a oferta cresceu 92%, enquanto a receita subiu 62,5%, fazendo com que, com esse descompasso entre quantidade de animais vendidos e receita obtida, o preço médio registrasse resultado negativo, com recuo de 15%, passando de R$ 8.952 para R$ 7.599. Embora tenha apresentado crescimento expressivo na comparação com 2017, o desempenho segue bem abaixo do resultado médio do bimestre em anos anteriores. Em 2016, por exemplo, foram realizados 17 leilões que venderan 1.777 lotes por R$ 14,4 milhões. Vale lembrar que há dois anos a Expoinel MG, principal feira do primeiro bimestre, não traz leilões em sua programação. A mostra de Uberaba, MG, movimentava em torno de R$ 4,3 milhões e contribuía para engordar a receita do período. Na análise mensal, 2017 começou fraco. Em janeiro daquele ano, foram realizados apenas dois leilões, a metade do ano anterior. Com essa queda, a oferta recuou 43%, de 157 lotes em 2017 para os 67. A receita, por sua vez, despencou, caindo 73%, de R$ 1,9 milhão para R$ 510.800.

Pistas de janeiro tiveram oferta de apenas 67 lotes Raças

Lotes

Leilões

Renda (R$)

Média

Máximo

Senepol

56

1

459.200

8.200

-

Angus

11

1

51.600

4.691

-

Total

67

2

510.800

7.624

-

Critério de oferta.(-) Dados das leiloeiras Central e Macedo Leilões. (-) Quantidade de remates em que a raça dividiu pista com uma ou mais raças. Elaboração DBO.

Nelore respondeu por 76% da oferta de fevereiro Raças

Lotes

Leilões

Renda (R$)

Média

Máximo

Nelore

423

4

2.339.340

5.530

28.500

Senepol

138

3

1.921.960

13.927

36.720

Total

561

7

4.261.300

7.596

36.720

Critério de oferta.(-) Dados das leiloeiras Programa e WV Leilões. (-) Quantidade de remates em que a raça dividiu pista com uma ou mais raças. Elaboração DBO.

88 DBO março 2018

O grande salto em 2018 aconteceu em fevereiro, quando os números dispararam, mas o mês é tradicionalmente conhecido pela quantidade menor de negócios em razão do feriado prolongado de carnaval. No ano passado, a oferta no período triplicou, saindo de 171 lotes em 2017 para 561 neste ano. Já a receita de R$ 4,2 milhões é quatro vezes maior do que o R$ 1 milhão arrecadado no ano anterior. Fêmeas no comando Como de costume, as vendas do primeiro bimestre foram lideradas pelas fêmeas. A categoria respondeu por 60% da oferta e 64% da receita total do período. Foram vendidas 378 bezerras, novilhas e matrizes a R$ 8.152 de média, movimentando o total de R$ 3 milhões. Já os machos arrecadaram R$ 1,5 milhão, com 242 animais a R$ 6.235 de média. Ao contrário de temporadas anteriores, neste ano os produtores apostaram quase que exclusivamente em leilões virtuais. A plataforma foi usada para a promoção de oito remates, com a comercialização de 588 lotes por R$ 3,9 milhões. O destaque foi o Virtual Genética RS, que teve a maior oferta (155 lotes entre animais e prenhezes) e receita (R$ 1 milhão). O único remate presencial no período foi o WV Seleção Especial Senepol, que foi realizado no dia 3 de fevereiro, no Guarujá (SP), com venda de 22 machos (média de R$ 10.645) e 18 fêmeas (média de R$ 34.212). A receita ficou em R$ 850.000. O remate fez parte da programação da mostra itinerante WV Genétic Festival da WV Leilões. Expectativas aquecidas Assim como no ano passado, a expectativa do mercado é que as vendas ganhem força a partir de março. Até o fechamento desta edição, foram confirmados 27 remates, cinco a mais do que os 22 realizados em março de 2017. A agenda traz eventos de peso, com leilões de touros de grifes como Chácara Navirai, Katayama, VR, Grupo Nelorão do MS e TRO, que vende Tabapuã. Outro destaque será o Leilão de Liquidação do Grupo Carthago, no dia 10 de março, na Chácara do Nelore Nacional, em Uberaba, MG. O criatório, conduzido por Gabriel Belli, atraiu as atenções do mercado de Nelore Elite nos últimos anos por ser um dos principais investidores da raça a promover leilões disputados e conquistar diversos títulos nas pistas de exposições do País. n


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90 DBO março 2018

Intercorte A Intercorte 2018 já tem data marcada para três etapas: em Cuiabá (MT), ocorrerá entre os dias 12 e 13 de abril. Em Marabá (PA), será em 23 e 24 de maio e, em São Paulo (SP), nos dias 21 a 23 de novembro. O tema central da InterCorte este ano será “Comercializar: eis a questão!”. Desde 2012 a Intercorte percorre os principais polos de produção de carne no País para levar informação, discussão e tecnologia aos produtores. Mais informações podem ser obtidas no site www. intercorte.com.br Fórum Internacional O Fórum de Inovação em Saúde Animal da América Latina 2018 será realizado em São Paulo, entre

os dias 29 e 30 de maio. A ideia do evento é reunir importantes indústrias do setor de saúde animal no mundo para debater sobre as cadeias de bovinos, suínos e aves, realizar negócios e apontar as tendências globais para o setor. O evento tem como parceiro principal o laboratório Boehringer Ingelheim e, como parceiro associado, a Zoetis. Entre os palestrantes, estão representantes de importantes laboratórios multinacionais, como Zoetis, Vetoquinol, Elanco, Biogénesis Bagó, Boheringer Ingelheim, 4Vets e também do setor de nutrição, como a Royal Canin Brasil. Inscrições e mais informações podem ser obtidas no site www.animalhealthlatam.com/ pt-br/events/animal-health-latamportugues.


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Empresas e Produtos Novas cercas Belgo Bekaert

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Belgo Bekaert Arames lançou mais modelos de cerca especiais para a pecuária de corte. Entre elas, a Cercar, que conta com uma tela inteiriça e com balancins a cada 30 centímetros para evitar o afastamento dos arames e conferir maior resistência à infraestrutura. Além da contenção do gado, ela é indicada também para barrar a entrada de animais silvestres, como catetos e javalis, e para garantir maior segurança em áreas da propriedade na beira de estradas. Conforme a empresa, por ser reforçada, a cerca fica mais visível para bovinos, o que reduz o risco de eles se chocarem com a estrutura. “Mesmo se há o encontro do animal com a estrutura, a força da batida se dilui pela cerca, que tem a configuração de um painel, o que também evita que o animal se machuque”, diz o gerente de Produto e Marketing, Guilherme Vianna. Também neste ano a Belgo lançou a Belgo Campestre, própria para animais de médio e grande portes, e a Belgo Eletrix Light, que é eletrificada. Informações em www.belgobekaert.com.br

Clarion lança endectocida de alta performance

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Clarion, empresa fabricante de produtos veterinários com sede em Goiânia, GO, acaba de lançar o endectocida de alta performance Neomax, próprio para controlar vermes em bovinos de corte e de leite. Conforme a empresa explica, o produto contém tecnologia que garante excelente nível de controle de endo e ectoparasitas, mesmo os vermes persistentes

92 DBO março 2018

– ou seja, aqueles que já adquiriram resistência a vários princípios ativos. A formulação de Neomax contém 4,8% de eprinomectina, que confere “alto nível de proteção ao rebanho, proporcionando maior ganho em produtividade, com reduzido período de carência para o abate, de apenas 16 dias”, informa a Clarion, em nota sobre o produto. Para o leite, a carência é zero. É, ainda, um produto ideal para bovinos jovens, de recria, contribuindo para que eles obtenham alta performance no desenvolvimento corporal, encurtamento da fase de recria, maior liquidez na terminação e uma carcaça de maior qualidade, embora possa ser usado em todas as categorias de bovinos. Neomax é aplicado por injeção e tem três anos de validade. Mais informações podem ser obtidas em www. clarionbio.com.br/portfolio-item/neomax/


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DBO março 2018 93


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Sabor da Carne

Daniel Furtado

O prazer de transmitir conhecimento

Daniel Furtado É chefe de cozinha, churrasqueiro e proprietário de casa de carnes em Três Pontas, sul de Minas Gerais.

F

oi com muito prazer que recebi o convite dos organizadores da 3ª Expopec – a Exposição de Novas Tecnologias Voltadas ao Desenvolvimento da Pecuária, de Porangatu, Goiás, para integrar a equipe que cuidará da Vitrine da Carne. É um espaço que nós, chefes de cozinha, temos para transmitir conhecimentos a um público diverso, seja ele formado por donas de casa, pecuaristas, donos de restaurantes, de bares ou quaisquer outros interessados nesse mundo maravilhoso que é a culinária. Sou um especialista em preparo de carne suína, mas na Expopec farei demonstrações não só desse tipo de carne, como também da bovina, de aves e de ovinos. Todas elas têm sua importância na mesa do brasileiro e o que o nosso consumidor procura cada vez mais é não só ter conhecimento para preparar um bom prato à base de carne como também encontrar esse produto para compra de um jeito que ele possa ganhar tempo. Em outras palavras, o pessoal busca hoje cortes diferenciados, bem definidos, bem delineados, limpos de nervuras, e marmorizados, que possam ser levados para a churrasqueira, para o forno ou para a panela sem necessidade de muito trabalho. Querem só ter o trabalho de colocar a peça na grelha, no forno, no espeto. Ou seja, querem praticidade e melhor aproveitamento da carne. E isso já foi percebido por quem oferta carne para o varejo. No caso da carne bovina, o que o pessoal busca começa com a qualidade do gado – um gado bem trabalhado, bem alimentado e saudável, que vai ser abatido jovem e, com isso, proporcionar uma carne que possa ser bem trabalhada também. Agora, para poder usufruir de cortes saborosos e fáceis de preparar, como um contrafilé, uma picanha ou uma alcatra, é preciso conhecer bem as peças. Um

Almôndegas bovinas ao molho com polenta Ingredientes: 800 gramas de peito, sem gordura, moída duas vezes Sal a gosto; pimenta preta moída na hora; pimenta vermelha a gosto; 2 dentes de alho; 1 pitada de noz moscada; 1 colher rasa de farinha de farinha de trigo; 1 colher rasa de farinha de rosca; 1 ovo; polenta para acompanhar; molho tradicional de tomate; queijo parmesão; manjericão. Modo de preparo Misturar os temperos à carne, amassar, colocar a farinha trigo aos poucos e em seguida a farinha de rosca (verificar a consistência da carne). Montar os bolinhos com peso médio de 25 gramas cada. Fritar em óleo. Montar o prato.

98 DBO março 2018

coxão mole, por exemplo. É um corte que não vai bem na brasa e precisa ser preparado de outra maneira. Isso exige conhecimento. E é isso que o pessoal procura nos cursos que ministro Brasil afora. Donas de casa se interessam muito, mas também chefes de restaurantes pequenos, donos de boteco. Estes últimos, por sinal, vêm se configurando como um nicho de mercado muito interessante, porque os pratos (petiscos, principalmente) que eles preparam têm muita saída. E o capricho que um prato desses pode ter é, muita vezes, o diferencial de um estabelecimento frente a outros. Por isso, tenho muita satisfação de passar informações para esse pessoal. Uma das receitas que gosto de dar em meus cursos – que é um capricho só – é a almôndega de carne bovina ao molho, acompanhada de polenta, manjericão e queijo parmesão. Fazer essa almôndega com acém, por exemplo, ou com carne de peito, é uma ótima pedida. Ou acompanhada de mandioca, então, vira um excelente tira-gosto! É isso que o pessoal procura: pratos bons, saborosos, sem muita sofisticação. Poderia falar aqui também das carnes que vão na panela, também muito apreciadas, ou da costela de forno, mas o espaço não será suficiente; fica para um próximo artigo... Mas o que me dá muito prazer é transmitir conceitos e informações, porque, de uma maneira geral, as pessoas querem mais informações da carne bovina e seus diversos modos de preparo. E este é um momento em que, no Brasil, as pessoas estão se interessando mais e mais por esse produto. Para fechar, então, e não ficar só no discurso, vai aqui a minha receita de almôndegas para os leitores de DBO. Bom apetite! n DanielFurtado


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