Revista DBO 454 - agosto de 2018

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QUANDO A TECNOLOGIA E O CAMPO ANDAM JUNTOS, O AGRONEGÓCIO NÃO PARA DE EVOLUIR.

1904

1400 Surgem os primeiros arames.

1927

1978

Diferente dos carros e outros produtos, o arame passou muito tempo sem evoluir. Até que, em 2009, a Taura acreditou na inovação do campo e criou o Barretos Multiuso Zn+. O arame de alta tecnologia da Taura é produzido com alto teor de carbono, por isso é mais fino, mais leve e mais resistente, além de ser triplamente galvanizado. Porque com a Taura o campo não para no tempo.

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1983

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2017

2009 Lanรงamento do Taura Barretos Multiuso Zn+.

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Nossos Assuntos

A cria confinada e a visita da Dra. Temple

U

m confinamento cujo objetivo não é a engorda, mas apenas manter o escore corporal dos animais. Esta é a imagem que está na capa, tirada nas instalações da Fazenda Santa Mônica, em São João da Ponte, Norte de Minas, onde o Grupo ARG toca um projeto inédito de tratar no cocho milhares de vacas prenhes e seus bezerros cruzados para produção de carne certificada. Com tradição na pecuária regional, mas com a dificuldade crescente da secura para alimentar um rebanho de 15 mil animais em 2013, o grupo capitaneado pelos irmãos Adolfo e Rodolfo Geo tentou o que pôde: irrigação de pastos, fornecimento de cana picada, silagem e até um confinamento para tratar 6 mil cabeças na seca em 2014. Com a contratação de consultoria, a grande mudança começou a avançar em 2015. Atualmente, quase 24 mil vacas paridas e novamente prenhes ocupam os piquetões dos confinamentos das fazendas Santa Mônica e Fortaleza, recebendo silagem de milho ou de capim, enquanto amamentam bezerros cruzados que sairão direto da desmama para a terminação. Os pivôs que ajudaram no passado recente somam 17 agora e outros mais serão instalados para sustentar a produção de alimentos para cerca de 40 mil vacas e suas crias, como está planejado para 2022. Outra marca do ineditismo do projeto, como detalha a reportagem da editora Maristela Franco, é que ele vai de ponta a ponta, da cria à colocação da carne com certificação Angus em rede parceira de supermercados de Minas. A reportagem é tema de abertura do tradicional Especial de Confinamento da DBO de agosto. Também nesta edição da DBO, destaque para a passagem por aqui da Dra. Temple Grandin, a mais celebrada especialista em questões de bem-estar animal. Ela participou de um workshop em São Paulo e visitou fazenda modelo no bom tratamento dos animais no Mato Grosso, tudo acompanhado pela editora Maristela Franco, que também traz entrevista exclusiva na seção Prosa Quente, a partir da página 10. Outra entrevista com Dra. Temple, desta vez para a repórter Marina Salles, poderá ser acompanhada no Portal DBO, clicando no topo em TV DBO.

osta Demétrio C

demetrio@revistadbo.com.br

4 DBO agosto 2018

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Publicação mensal da

DBO Editores Associados Ltda. Diretores

Daniel Bilk Costa Demétrio Costa Odemar Costa Redação Diretor Responsável Demétrio Costa Editora Maristela Franco Repórteres Fernando Yassu, Marina Salles e Renato Villela Colaboradores Alcides Torres, Alisson Freitas, Ariosto Mesquita, Carolina Rodrigues, Denis Cardoso, Enrico Ortolani, Juliano Fernades, Luis H. Pitombo, Moacir José, Pedro Veiga, Rogério Goulart e Tatiana Souto Arte Editor Edgar Pera Editoração Edson Alves e Jade Casagrande Coordenação Gráfica Walter Simões comercial/Marketing Gerente: Rosana Minante Supervisora de Vendas: Marlene Orlovas Executivos de Contas: Andrea Canal, José Geraldo S. Caetano, Maria Aparecida Oliveira, Mario Vanzo e Vanda Motta Circulação e Assinaturas Gerente: Margarete Basile Tiragem e circulação auditadas pelo

Impressão e Acabamento Parque Gráfico da Gráfica FTD

DBO Editores Associados Ltda. Rua Dona Germaine Burchard, 229 Perdizes, São Paulo, SP 05002-900 Tel.: 11 3879-7099 Para assinar, ligue 0800 11 06 18, de segunda a sexta, horário comercial. Ou acesse www.assinedbo.com.br Para anunciar, ligue 11 3879-7099 / 3803-5500 ou comercial@midiadbo.com.br



Sumário Prosa Quente 10 Maristela Franco entrevista Temple Grandin, celebridade internacional em bem-estar animal.

Mercado 20 Coluna do Scot – Exportação de bovinos vivos: tanta polêmica para quê?

22

Oferta enxuta deverá manter viés de alta para boi gordo no semestre.

24 26

Cotações estáveis para reposição

54

Grupo Adir consegue linha de credito do BB para financiar produtores

ganha espaço no cocho

76

Animais confinados consomem mais água e comem mais se bebedouro estiver limpo

78

Pedro Veiga escreve sobre mudanças profundas nos confinamentos norte-americanos e sobre as lições que podemos tirar disso

80

Cadeia em Pauta 30 Carrefour lança programa de

84

34

Compra de ‘carne sustentável’ do McDonald’s rompe 1 mil toneladas/ano e meta é ir muito além.

Genética 40 Corrida pelas DEPs de abate nos

programas de melhoramento do Nelore

44

Dispositivo ‘monodose’ de progesterona ganha força na IATF

48 50

Sobe grau de eficiência da IATF

Laboratório investe em FIV de meio sangue Angus com Brangus para carne gourmet

52 CRV Lagoa inaugura seu novo Centro de Performance em Sertãozinho, SP.

No semiárido do Norte de Minas Gerais, empresa usa confinamento para tratar mais de 23 mil vacas prenhes e com bezerro cruzado nove meses por ano, em projeto de produção de carne certificada Angus.

Especial confinamento 70 Ração total sem volumoso

Coluna do Rogério Goulart – O boi está em ‘perna de alta’.

controle de origem para produtores de bezerro do MT.

58 Reportagem de capa

Descanso do gado na chegada reduz problemas de adaptação e doenças Com biodigestor, fazenda do PR produz energia e adubo a partir dos dejetos do confinamento.

Edição: Edgar Pera Arte final: Edson Alves Foto de: Maristela Franco

88

do pasto nas águas e aliviar a carga com vendas e confinamento na seca.

90

Saúde animal 108 Morte súbita no confinamento?

Estudo ratifica precisão das pesagens diárias nas balanças de ‘passagem’ giro

Preço da arroba inibe segundo

Nutrição 94 Gordura protegida na dieta das

Pode ser enterotoxemia.

112

Coluna do Ortolani – Nova série de artigos trata das complicações no transporte de gado.

matrizes ajuda a melhorar eficiência reprodutiva em períodos críticos.

seleção

98

114

A boa opção do milho seco reidratado e soluções que podem facilitar seu uso direto ou preparação de silagem.

Fazenda em foco 102 A estratégia da Fazenda Joaíma, de Paragominas, PA, para tirar o máximo

O moderno Caracu Mocho da IAO, de Uberlândia, MG.

Leilões 118 Mudanças no calendário de

eventos por causa da Copa contribuíram para derrubar total de negócios em julho

Seções

8 Do Leitor 18 Giro Rápido

6 DBO agosto 2018

122 Agenda de Eventos 124 empresas e produtos

130 Sabor da Carne


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Resolutor Trata pneumonias com uma única dose.

Resolutor é o antibiótico da Ourofino com amplo espectro de ação para bovinos. Altamente concentrado, resolve infecções respiratórias que acometem os rebanhos.

Nova apresentação com 50 mL


Do leitor Corrigindo 1

Na seção Empresas e Produtos, da edição de julho, à pág. 124, dissemos que a fibra de aço para pisos lançada pela Belgo tem 60 mm de espessura. O correto é 60 mm de comprimento.

Corrigindo 2

A tabela da reportagem sobre uso de DDG como fonte proteica, publicada à pág. 80, na edição de junho, apresenta incorreções na coluna relativa ao suplemento 2. No quesito percentual de inclusão, o correto é 18,5% e não zero, como saiu publicado. Sem esse número, inclusive, o total não fecha 100%. Também no quesito custo, o correto é R$ 0,08/kg e não zero como publicamos. Confira na tabela abaixo. Tab 1 – Para um resultado semelhante, custo mais baixo para o DDG Suplemento 1

Suplemento 2

Suplemento 3

% de inclusão

R$ / kg

% de inclusão

R$ / kg

% de inclusão

R$ / kg

Farelo caroço algodão1

26,37

0,20

15,50

0,12

0

0

Milho grão2

69,90

0,44

50,01

0,32

50,03

0,32

Mistura Mineral3

3,76

0,06

15,99

0,23

12,77

0,19

Item

DDGs4

0

0

18,50

0,08

37,20

0,16

Totais

100

0,70

100

0,75

100

0,67

1 Tonelada cotada 2 Saca (60 3 Tonelada a R$ 1.500, a R$ 758; kg)-a R$ 38; FINAL.pdf composta por sal, caulim ANUNCIO REVISTA DBO ARTE 1 20/07/2018 08:37branco, calcário, núcleo, fosfato monocálcico, monensina; 4 Tonelada a R$ 430. Fonte: Grupo de pesquisa UnespFor.

C

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8 DBO agosto 2018

Desmatamento zero Na edição de julho de DBO, publicamos, na página 36, uma reportagem intitulada “Falar é fácil, difícil é fazer”, discutindo a questão do desmatamento zero e a morosidade com que caminha o pagamento por serviços ambientais no Brasil. Nossos leitores nos enviarm dois comentários sobre o tema: Sou totalmente contra qualquer novo desmatamento em qualquer que seja o bioma, porque já temos áreas abertas sobrando e sem produzir. Falta, contudo, apoio e financiamento para aqueles que tem terra. E, nas cidades, falta informação. As pessoas compram madeira, ainda hoje, sem conhecer sua procedência, apenas porque é mais barato. Elder Jose Bonetti Campinas, SP

O desmatamento zero foge aos limites da regulamentação legal. Quem o defende deveria antes correr atrás de alternativas efetivas para compensar os proprietários rurais por serviços ambientais prestados. Arrumar conta para os outros pagarem é fácil... Renato Gonçalves Ferreira Itajubá, MG



Prosa Quente

Ela entende a língua dos bichos Por ser autista e pensar por imagens, Temple Grandin decodificou o comportamento animal, criando novos parâmetros para a pecuária. André Velozo

10 DBO agosto 2018

H

oje, ela é uma celebridade internacional. Basta observar as filas de pessoas em busca de selfies ou autógrafos para constatar isso. Nascida em 1947, na cidade de Boston, Massachusetts, costa leste dos Estados Unidos, Mary Temple Grandin é reconhecida como uma das mais importantes especialistas em bem estar animal do mundo. Ganhou uma série de prêmios, como a medalha Dupla Hélice, entregue a pessoas que colaboraram para a melhoria da saúde humana; escreveu livros, teve sua vida descrita em filme e foi incluída pela revista Time, em 2010, na lista das 100 pessoas mais influentes do mundo. Difícil encontrar um estudo sobre bem estar animal que não mencione seu nome. Milhares de instalações, em frigoríficos e fazendas, foram construídas nos cinco continentes, com base nas teorias de Temple sobre a forma como os bovinos veem o mundo e constroem memória. “É por imagens”, repete como um mantra, ressaltando que sua mente também trabalha assim. Ela tem autismo altamente funcional, hoje mais conhecido como síndrome de Asperger, que se caracteriza por dificuldades de comunicação e interação social, além de movimentos cíclicos, mas também por aptidões especiais. Temple chegou a ser apelidada de “gravador” por seus colegas de escola quando criança, porque voltava sempre ao mesmo assunto. Mas sua mãe, Eustacia, e seu professor de ciências, Willian Carlock, perceberam sua grande inteligência e acuidade visual, estimulando-a a explorar essa habilidade. “Demorei a perceber que eu não pensava por palavras, como a maioria das pessoas, mas isso me ajudou a entender a língua dos bichos”, diz a professora e pesquisadora da Universidade do Colorado, onde também orienta estudantes, inclusive

brasileiros. Formada em psicologia, pelo Franklin Pierce College, com mestrado em zootecnia pela Universidade do Arizona e doutorado em comportamento animal, pela Universidade de Illinois, EUA, o maior feito de Temple foi usar sua percepção de autista para interpretar as reações “emocionais” dos animais (medo, ansiedade, dor, conforto) e decodificar seu comportamento, o que viabilizou intervenções para minimizar o estresse causado pelo manejo produtivo e reprodutivo. A convite de Mateus Paranhos, professor da Unesp-Jaboticabal, de SP, e coordenador do Grupo de Estudos em Etologia e Ecologia Animal (Etco), fez sua sexta visita ao Brasil, para conhecer o trabalho feito na Fazenda Orvalho das Flores, em Araguaiana (MT), pertencente à criadora Carmen Perez (que já foi capa de DBO) e também participar de um whokshop para 600 pessoas, em São Paulo. A visita foi realizada no dia 16 de julho e o evento, patrocinado pela JBS, Boehringer e Tortuga/DSM, ocorreu entre os dias 17 e 18. Cercada por admiradores, Temple mostrou-se extremamente solícita. Do autismo, ainda mantém certa rigidez corporal e o hábito de repetir mensagens (que transformou em recurso pedagógico), mas fala com grande desenvoltura em público e já não foge ao contato físico. Ao final do evento, deu vários abraços em Carmen Perez (de quem gostou muito) e no professor Mateus Paranhos, ao vê-lo visivelmente emocionado com a homenagem que recebeu de sua equipe, responsável pela organização do evento. Veja a seguir a entrevista concedida por Temple Grandin, com exclusividade, à editora de DBO, Maristela Franco, e também um relato de sua visita à Fazenda Orvalho das Flores.


DBO – A senhora desenvolveu intenso trabalho junto aos frigoríficos para adequar instalações e melhor o manejo no abate. O que já se conseguiu até agora? Temple – As instalações e o manejo das empresas que

investiram nisso já são muito bons. O difícil é manter essa qualidade. Isso exige supervisão contínua. Todos os dias, para ser mais precisa. Pois os manejadores podem estar sendo negligentes, mesmo tendo sido treinados. Uma coisa simples é a porcentagem de animais que caem durante o manejo. Não deve haver queda. Se eles começam a cair, escorregar, dar coice, se bater contra as paredes é porque há algum problema. Outras coisas que podem ser olhadas são: a vocalização, o berro na contenção e se os animais estão querendo voltar para trás, porque eles devem seguir sempre em frente. Estes são sinais de que tem coisa errada no manejo. É possível fazer um escore do comportamento dos animais. Se a nota cair, é porque há um problema, que deve ser corrigido. DBO - No Brasil, temos muitos casos de DFD, sigla em inglês para dry, firm and dark (carne seca, dura e escura) devido ao estresse sofrido principalmente no transporte. Como resolver esse problema? Temple: Mesmo com tempos longos de transporte, se

o manejo for bom, há baixa incidência de carne escura. É muito importante ter boas estradas [condição difícil no Brasil]. A conduta dos motoristas também é de suma relevância, pois, se eles brecam bruscamente, os animais balançam na carroceria e se machucam. Quando aceleram demais, os animais caem. Se você tem um motorista ruim, o animal passa todo o tempo da viagem se equilibrando, e essa tensão piora a qualidade da carne. Os músculos rígidos pioram a qualidade da carne. Então, o motorista precisa ser cuidadoso. No caso dos animais inteiros, as brigas no transporte e no frigorífico são as principais causas da carne ficar escura. Daí a necessidade de acalmá-los. Se houver um manejo tranquilo na fazenda, no caminhão e no frigorífico, isso já reduz o problema. DBO – Como a senhora vê a questão do transporte de animais vivos, que gera polêmica no Brasil? Temple – Não sou contra, mas depende de como é fei-

to o transporte. Viajar por um longo período é estressante para o animal. Eles precisam ter espaço suficiente para se deitar e dormir todos ao mesmo tempo, sem ficar uns em cima dos outros. Os australianos tiveram problemas com a exportação de gado vivo no passado e hoje transportam os animais nos navios em condições adequadas. E melhoraram também o processo de abate depois que circularam vídeos mostrando cenas de crueldade. Há dois anos, eu estive na Austrália e fui à Indonésia [um dos destinos das exportações deles] e vi as melhorias nos procedimentos pessoalmente. Eles me mostraram ser possível fazer esse tipo de transporte da forma correta.

A editora Maristela Franco (de preto), com Temple Grandin; Mateus Paranhos, do Etco, e Maria Lúcia Pereira Lima, do IZ, durante entrevista.

DBO – Que normas eles seguem? Temple – Normas do próprio país, que regem o contro-

le do transporte. Lá e também na Indonésia, o grande avanço que eu vi, na minha última visita, foi a melhoria na manutenção dos equipamentos e na supervisão do manejo. Temple Grandin foi bombardeada, durante sua visita ao Brasil, por perguntas sobre esse tema, que gera debates acirrados. O professor Mateus Paranhos, do Grupo Etco, que participou da entrevista, relatou a ela o episódio do navio Nada, retido no Porto de Santos com 25.000 animais embarcados, devido a protestos de organizações defensoras dos animais e liminares proibindo a continuidade da viagem. Temple, ainda não havia se inteirado do problema. O professor Mateus Paranhos mostrou-lhe fotos dos animais dentro do navio, feitas pela veterinária que inspecionou as condições de alojamento dos animais por ondem judicial, e sua reação foi incisiva:

Temple – No (Não). Os animais não tinham espaço su-

ficiente para se deitar todos ao mesmo tempo. O navio e as baias deste navio eram modernos. Pelas fotos, ele pareceu bom, mas os bois não tinham espaço. Estavam uns em cima dos outros. Talvez esse navio pudesse levar 15.000 animais, mas não 22.000. O problema maior é a lotação, não as instalações.

DBO – As ONGs também protestaram contra os abates religiosos halal e kosher. O que a senhora pensa disso? Temple – Muitas autoridades islâmicas já estão aceitan-

do o atordoamento. No Brasil, tem abatedouro de aves usando eletricidade para atordoar os animais antes do abate halal. O abate kosher pode ser feito com facão especial, mais longo, que eles acreditam que reduz a dor dos animais. Mas é preciso prestar atenção aos detalhes nesse tipo de abate. O manejo aqui é mais importante. DBO agosto 2018 11


Prosa Quente maristela franco

interessa é o resultado final: o gado tem de sair calmo. DBO – O que a senhora acha da instalação “budbox”? Temple – É muito simples, fácil de fazer, mas exige ha-

bilidade do manejador. Eu conheço gente que arrenda terras e coloca ali um curral móvel com budbox e tudo bem. Funciona, mesmo para os frigoríficos. Mas eu acredito ser perigoso, dependendo do tipo de animal. Eu fiz uma versão de budbox, com um lado sólido, mas coloquei uma passarela. Não entro ali porque há risco de acidente. Outra opção é ficar lá dentro, mas com uma proteção. Acredito que vai crescer o uso de budbox, mas por quem tem gado manso. E em fazendas de terras arrendadas que usam currais simplificados.

Temple Grandin aprovou a massagem neonatal feita na Fazenda Orvalho das Flores, de Carmen Perez: “Movimentos firmes, mas gentis”

Paranhos – No caso do navio Nada, a médica veterinária disse ser impossível ficar lá dentro, respirar lá dentro. Temple – Sim. É preciso resolver o problema da ventila-

ção e seguir as normas de segurança para que as pessoas também tenham condições de estar ali, trabalhar ali e alimentar os animais. A concentração máxima de amônia permitida é de 25 ppm. Na foto que você me mostrou vi animais sem espaço. Uma coisa são ONGs querendo impedir a exportação de animais vivos, outra é a exportação ser feita da forma correta. Se você quer continuar com a atividade, precisa fazer direito.

DBO – O que a senhora acha do chamado manejo “Nada nas Maõs”, desenvolvido pelos seguidores de Bud Williams? A senhora desenhou currais com laterais fechadas e eles, abertas, para ter contado visual com o bois... Temple – O que considero importante é os animais não ve-

rem o lado externo do curral, caminhões, por exemplo. Mas você pode trabalhar a parte interna do curral aberta sem problemas. A ideia principal é evitar que o gado fique perturbado, distraído com movimentos externos. Por isso, a cerca que dá para fora deve ser fechada. Agora, se estiverem no curral apenas vaqueiros com os quais o gado está acostumado, a cerca aberta ou fechada não vai mudar nada. Muda somente se chegarem 10 pessoas lá, se tiver carregamento de caminhões, tratores passando, aí o gado se assusta. Em confinamento, onde tem gente circulando o tempo todo, animais estranhos chegando, o curral fechado ajuda bastante. E ajuda também a manter os funcionários seguros. Para trabalhar com um curral aberto, mesmo que apenas do lado de dentro, o vaqueiro tem de saber onde se posicionar, porque, se a pessoa chegar muito perto, vai deixar o gado muito agitado, então é preciso manter uma distância segura, respeitar a chamada “zona de fuga”. Uma coisa é certa: quanto mais simples o curral, mais habilidade deve ter o manejador. Agora, não importa o sistema, o que 12 DBO agosto 2018

DBO – Quando a senhora conheceu o Bud Williams? Temple – Foi na década de 1970 e nós tínhamos muito

contato, nossa relação era muito boa, mas depois nos afastamos, mais ou menos nos anos 90.

DBO – Ele inspirou o seu trabalho de alguma forma? Temple – Desenvolvi o meu trabalho com base nas mi-

nhas experiências e pensei um manejo que qualquer um pudesse fazer, não apenas especialistas no assunto. Vejo que o manejo dele é mais voltado para quem tem habilidades especiais. Ele sempre foi um homem com traquejo ímpar no manejo do gado, mas a maior parte das pessoas não tem esse mesmo dom. Em grandes confinamentos sempre há muitos empregados novos e essas pessoas precisam ser treinadas. Você treina uma pessoa para usar um curral fechado, do jeito que eu recomendo, em uma tarde, e a pessoa sai trabalhando. Já para alguém aprender a manejar os animais seguindo as recomendações do Bud Williams são necessários pelo menos alguns dias. E controlar o gado é uma arte, que nem todos nós dominamos. Minhas ideias são baseadas em premissas muito simples, de apartar de seis a oito animais de cada vez, fazer o manejo... O Bud Williams não adota esses procedimentos, a técnica dele faz parecer que acontece uma “mágica”. Sinceramente, ele faz coisas com o gado que eu não consigo fazer, mas eu consigo explicar o comportamento dos animais frente a ele. No começo dos anos 1990, eu fiz diagramas explicativos da movimentação do gado a partir do jeito dele de manejar. Identifiquei os padrões, entendi o que acontecia quando ele se posicionava, mas Bud Willians virou para mim e disse que os diagramas não eram necessários. Eu discordo, acredito que pessoas comuns podem precisar deles. Se a gente fizer 20% do que ele fazia, a gente tem 90% de benefício. Olhando os meus diagramas, a gente pode aprender e corrigir nossas ações.

DBO – A senhora desenhou uma quantidade enorme de currais. Por que apenas um tipo [o circular] é usado? Temple – Isso acontece. Mas pior do que não aprovei-

tar uma ideia é usá-la pela metade. Hoje até usam o desenho correto, mas não usam o manejo correto para


maristela franco

aquele desenho. E as pessoas acham que o desenho substitui o manejo, existem alguns que não funcionam, isso é fato, mas o manejo é a outra parte do trabalho. A tecnologia é 50% e o manejo, 50%. DBO – Em quais pesquisas a senhora anda envolvida? Temple – Eu estou estudando sistemas de atordoamen-

to com dardo cativo. Embora não seja a minha linha de pesquisa favorita, foi para ela que consegui recursos. Esse é um tema que já avançou bastante, mas que tem campo para se desenvolver mais. O meu trabalho tem sido encontrar uma nova técnica de atordoamento que evitar o pedaleio (os coices) dos animais depois da morte. Porque o mecanismo que desencadeia o pedaleio é controlado pela medula, então você pode cortar a cabeça do animal e ele continua mexendo as patas. E isso é perigoso para os trabalhadores. Também estou avaliando o comportamento de vacas recém-paridas. Vejo se elas circundam o bezerro, se tem algum comportamento de proteção. Vi comportamento de reatividade em vacas Red Angus mais altas. Há 20 anos eu fiz um estudo para entender a reação do gado no tronco de contenção comparando a posição do redemoinho na testa e encontrei correlação disso com o comportamento materno. As avaliações que estou fazendo agora estão confirmando isso.

DBO – A senhora poderia listar os benefícios que o bem-estar animal trouxe para a pecuária? Temple – Animais calmos são mais produtivos, ganham

mais peso, têm melhores índices reprodutivos, ofere-

No curral, com Carmen Perez, Temple mostrou como devem ser manejados os animais sem estresse e correria

cem melhores condições de segurança para as pessoas, têm menos hematomas nas carcaças e geram muito menos prejuízo, como a quebra de equipamentos e instalações. E, finalmente, eu gostaria de dizer que é a coisa certa a se fazer, porque o gado sente dor, medo e sofre quando é manejado grosseiramente. Paranhos – Sim, costumo falar isso para os produtores: “Tratem bem seus animais porque simplesmente essa é a coisa certa a fazer”. Temple – Eu costumo dizer isso e mais: “Alguém pode estar filmando o que você faz de errado e isso imediatamente vai cair na internet, causando enorme estrago no seu negócio. Portanto, faça certo”.

Uma viagem com Temple Grandin

T

Maristela Franco

ive o privilégio de acompanhar Temple Grandin, o professor Mateus Paranhos e outros pesquisadores à Fazenda Orvalho das Flores, de Carmen Peres, em Araguaiana, MT. A propriedade desenvolve um trabalho ímpar com bem-estar animal na cria: faz massagem neonatal, não laça bezerros, seleciona vacas por índole materna, tem POP (procedimento operacional padrão) para manejos ao nascimento e à desmama, aboliu a identificação a ferro quente (exceção feita à marca da vacinação contra brucelose, que é obrigatória). DBO apresentou esse trabalho em reportagem de capa, no mês de dezembro do ano passado. O professor Mateus Paranhos, que acompanha o projeto desde 2007, queria mostrar esses manejos a Temple. Seria a primeira vez que a pesquisadora visitaria uma fazenda de gado de corte no Brasil. No dia 15 de julho, cheguei ao aeroporto de Goiânia às 13 horas e fiquei aguardando o avião que traria Temple e sua “comitiva” de São Paulo. Dali, pegaría-

mos uma aeronave menor para a fazenda de Carmen. O voo atrasou quase duas horas. Quando o grupo chegou, fiquei impressionada com a vitalidade da pesquisadora, de 71 anos. Ela havia viajado a noite inteira dos Estados Unidos para o Brasil, enfrentara atraso no vôo para Goiânia e demonstrava uma energia invejável. A viagem até a fazenda foi rápida e tranquila. Chegando lá, almoçamos; Temple comeu pão de queijo (que adorou), tomou “café americano”, mais leve (uma delicadeza da anfitriã) e fomos correr retiros. Em nenhum momento ela quis descansar. Queria ver o gado. Sua primeira frase foi de admiração: “Aqui parece a Austrália!”, disse, mostrando no celular algumas imagens das planícies secas daquele país, com gado Brahman, enquanto apontava os pastos também ressequidos da Centro-Oeste brasileiro, cheios de Nelore. Sua impressão de aridez local deve ter sido reforçada pela “tempestade de poeira” que nos atingiu ao chegarmos perto de um piquete onde vacas com bezerros ao pé aguardavam a visitante. Cansadas de esperar, as fêmeas levantaram tanto pó do chão que não dava DBO agosto 2018 13


maristela franco

Prosa Quente

Grupo de pesquisadores que acompanhou Temple na viagem e a equipe de vaqueiros da Fazenda Orvalho das Flores, no MT.

para enxergar nada. Tiveram de ser soltas. Temple não se incomodou. Com sua roupa de cowboy, enfrentou a poeira junto com o professor Mateus Paranhos para soltar o gado. Nos pastos contíguos, ela viu animais sem marca a fogo. Disse que, nos Estados Unidos, já não se marca mais os animais na face há 20 anos. No leste do país, esse tipo de identificação desapareceu completamente, mas no oeste, ela ainda persiste, por causa do abigeato (roubo de gado), como no Brasil. De volta à sede da fazenda, todos se reuniram em uma mesa montada no quintal da casa, sob as árvores, para conversar e jantar. Temple pôs-se a falar sobre a importância das pessoas no manejo do gado: “Tem gente que precisa ficar longe dos animais, outras são

excelentes com isso, até autistas”, riu, abandonando por alguns segundos a seriedade habitual. “Supervisione o serviço, para que os manejadores não retornem aos velhos hábitos”. “Use a bandeira corretamente, não como arma”. “Observe os animais: eles dizem o que sentem”. “Defecação em jatos é sinal de estresse intenso (medo)”. “Curral limpo é indicação de bom manejo”. “Devagar é rápido”. “Pequenos detalhes fazem grandes mudanças”. Temple fala assim, por tópicos. Mais ensina, do que conversa. Detesta termos vagos, que suscitam dúvidas, por isso está sempre exemplificando e pontuando. “Quatro coisas são sinais de medo: fuga, paralisação, vocalização e ataque. Nada disso pode haver na fazenda. Fiquem atentos”. No dia seguinte, 16 de julho, saímos bem cedo para ver a massagem feita em bezerros recém-nascidos. Temple gostou muito do modo como os vaqueiros realizaram o manejo – “com movimentos firmes, mas gentis”. Lembrou, porém, que é preciso mensurar os efeitos dessa prática para referendá-la. Aprovou o comportamento das vacas aguardando seu bezerros serem massageados – “estavam atentas, mas não nervosas”. Já no curral, Temple mostrou que enxerga o que ninguém vê: um prego no lugar errado, uma saída estreita demais, uma transição brusca entre o piso de terra e o concretado. No final da visita, ela deu seu aval ao manejo do gado, tranquilo, sem correria. Durante sua palestra, no workshop realizado dia 18 de julho, em SP, mencionou vários vezes o trabalho feito por Carmen na Fazenda Orvalho das Flores, classificando-o de “excellent” e “good job”. n

Workshop concorrido em SP Em São Paulo, a pesquisadora participou de uma série de eventos destinados a produtores, pesquisadores e pais com filhos portadores de autismo, todos muito concorridos. No Workshop Temple Grandin de Bem-Estar Animal, ela falou para um público de 600 pessoas sobre a preocupação da sociedade com o tema, destacou aspectos do comportamento dos bovinos, como a tendência de retornar ao lugar de onde vieram, e deu recomendações para o manejo em currais fechados e abertos. Outros palestrantes também se apresentaram no encontro. Um deles foi o professor Celso Funcia Lemme, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que ressaltou a necessidade de a cadeia se preparar para atender as exigências dos consumidores, principalmente, os mais jovens, muito preocupados com o tema do bem-estar animal. O discurso foi reforçado por Daniel Boer, executivo do McDonald’s, que contou ser esta uma demanda prioritária de seus clientes, tão importante quanto a segurança alimentar. Em sua fala, o professor Mateus Paranhos da Costa, difusor das técnicas da Dra. Temple no Brasil, reconheceu os avanços do País nesse contexto, embora ainda haja um longo

14 DBO agosto 2018

Para Temple, é fundamental dar uma boa vida aos animais. caminho a ser percorrido. Como conquista recente, ele destacou a alteração da normativa do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento sobre a marcação a fogo ou com nitrogênio líquido na face esquerda de fêmeas vacinadas contra a brucelose. “Agora, é obrigatória apenas uma marca ao invés de duas”, disse. Ao final do evento, várias pessoas foram homenageados com a medalha Temple Grandin de Bem-Estar Animal, dentre elas o professor Mateus Paranhos.





Giro Rápido Falta de antígenos dificulta produção de testes de turberculose

Pecuaristas de várias regiões do Brasil podem ter problemas para realizar exames de tuberculose em seus animais, porque a tuberculina bovina, antígeno necessário para realizar o teste, está em falta no País. Diante da situação, o Departamento de Saúde Animal do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) enviou memorando aos Estados facultando a exigência do exame no caso de animais em trânsito para reprodução ou participação em eventos agropecuários, até o abastecimento se normalizar. A situação já vinha preocupando desde o início de 2017, quando a produção de antígenos pelo Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar) foi suspensa por inconformidades nas instalações. Atualmente, apenas o Instituto Biológico de São Paulo (IB) e os Laboratórios Microsules, com unidades no Paraguai, Uruguai e Argentina, têm atendido a demanda do Brasil. Daniella Bueno, presidente do Instituto de Defesa Agropecuária do Mato Grosso (Indea), considera que a falta de insumos e a escalada de preço dos testes prejudicam o programa de erradicação da doença no Estado, que já estava em andamento. “É impossível trabalhar com o programa se não tivermos os exames”, diz ela. Guilherme Marques, diretor do Departamento de Saúde Animal do Mapa, concorda e afirma que o Ministério quer resolver a questão o mais rápido possível, embora não haja risco à saúde pública. A crise está sendo gerenciada com o fomento à produção de antígenos pelo IB e estímulos à importação. “Mais uma vez, fica claro que qualquer programa sanitário requer responsabilidade compartilhada entre o Estado e o setor privado. Os fornecedores de insumos precisam produzir não apenas o que é economicamente interessante para eles, mas também insumos que permitam o desenvolvimento da pecuária”, diz Marques. 18 DBO agosto 2018

Editora da Revista DBO recebe medalha Temple Grandin Durante o Workshop Temple Grandin de bem-estar animal realizado em São Paulo, SP, Maristela Franco, editora-chefe da Revista DBO, recebeu a medalha que leva o nome da pesquisadora americana, na categoria “divulgação do tema”. Jornalista atuante no setor há 28 anos, Maristela é autora de grandes reportagens focadas no assunto. A exemplo das capas “Marca a fogo nunca mais”, de dezembro de 2017, que traz o case da Fazenda Orvalho das Flores de Carmen Martins Perez, e da matéria de capa “Manejo na base da

confiança”, de julho do ano passado, sobre a técnica de manejo sem “Nada nas Mãos”.

Cresce campanha contra carne nos EUA Nos Estados Unidos, uma nova onda está invadindo as empresas: a abolição do consumo de carne nos refeitórios e eventos. Empresas mais radicais estão proibindo até o reembolso de refeições não vegetarianas. Em oposição à medida, o North American Meat Institute (NAMI) criou a campanha “I Choose Meat” (“Eu escolho a carne”), abraçada por funcionários que discordam da decisão. No site da campanha, estão sendo veiculadas informações sobre os benefícios do consumo de proteína animal e o real impacto da produção pecuária no meio ambiente. Segundo o porta-voz de relações públicas do Instituto, Eric Mittenthal, as empresas deveriam reduzir o consumo de energia e estimular os colaboradores a usarem o transporte público ao invés de tirar uma opção “deliciosa e nutritiva” do cardápio.

PR mantém meta de retirar vacinação em 2019 Integrante do Bloco 5 do cronograma de retirada da vacinação contra febre aftosa, o Paraná deixaria de vacinar seu rebanho em 2021, mas preferiu se adiantar e está trabalhando para suspender a vacinação após a campanha de maio de 2019. No início deste ano, o serviço veterinário do Estado passou por auditoria ampla, na qual teve bom desempenho: nota 4, em uma escala de 0 a 5. Em agosto ou setembro, terá

seu controle de trânsito animal, na divisa com outros Estados e países, avaliado. O governador de Santa Catarina, Eduardo Pinho Moreira, expressou preocupação com o controle das fronteiras internacionais com o Paraguai e a Argentina, de onde vem grande parte do milho consumido no Estado para nutrição animal. Uma força tarefa deverá dar mais agilidade à fiscalização do trânsito animal nessa região.

SRB reage à proibiçao da çaca aos javalis A Sociedade Rural Brasileira entrou com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) no Supremo Tribunal Federal contra a Lei Estadual 16.784, oriunda do projeto de autoria do deputado estadual Roberto Tripoli, que proibiu a caça de javalis, para controle da espécie, no Estado de São Paulo. Na ADI, a advogada Samanta Pineda pontua que a Lei Federal Nº

5.197/1967 permite o manejo de animais silvestres considerados nocivos à agricultura ou à saúde pública, norma posta em xeque pela nova regulamentação estadual. Ainda segundo a ADI, os javalis são agressivos e de acelerada reprodução na natureza, sendo capazes de atacar animais silvestres, destruir espécies da flora, danificar o solo e assorear nascentes e rios.


GTPS anuncia nova diretoria O Grupo de Trabalho da Pecuária Sustentável (GTPS) elegeu uma nova Comissão Executiva para liderar a entidade até 2021. Para o cargo de presidente, o representante eleito foi Caio Penido, pecuarista e membro do Conselho Administrativo do Grupo Roncador. O vice é Leonardo Lima, diretor de sustentabilidade da Arcos Dorados, e o tesoureiro, Breno Felix, diretor de operações e inovação da Agrotools. Segundo Penido, o desafio da próxima gestão será trabalhar a união dentro do GTPS para propor soluções que atendam aos interesses de toda a sociedade.

Vacari deixa a Acrimat Após mais de 10 anos dedicados à Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), Luciano Vacari se desligou do cargo de diretor-executivo. A decisão veio acompanhada do anúncio de que ele se dedicará a um projeto político, sua candidatura a deputado estadual. No início de sua trajetória profissional na Acrimat, em 2008, Vacari foi um dos entusiastas da ampliação do trabalho da entidade e ajudou a tornar sua atuação estadual. De 1970 a 2007, a Acrimat atuava apenas na Baixada Cuiabana, onde realizava a Exposição Agropecuária de Cuiabá.

Infográficos que sintetizam informações importantes da pecuária

De 1990 até 2017 a produtividade aumentou 146%

Nesse período a produtividade passou de:

1,63@ha/ano

4,01@ha/ano

235 milhões de hectares Deixaram de ser desmatados

com aumento de tecnologia nos últimos 27 anos

Ou seja, nos últimos anos o Brasil reduziu a área ocupada com o gado e ao mesmo tempo aumentou a produção de carne Evolução da área de pastagens da produção de carne

@/ha/ano

Apresentado durante o GAF (Global Agribusines Fórum), o selo Brazil Agro-Good for Nature, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, vai estampar produtos da pauta de exportações do País. O objetivo é destacar atributos como a qualidade e o caráter sustentável da produção nacional. A identificação faz parte de uma política de incentivo à abertura de novos mercados associada a um plano de melhoria da imagem do País.

Infopec

Milhões de hectares

Selo identificará produtos Agro

A área de pastagens em milhões de hectares

Produtividade @/ha/ano

Até 2027 a produtividade da pecuária deve crescer 45%. O que deve liberar 10 milhões de hectares em área. Isso ajuda a preservar a vegetação nativa do Brasil. regeneração da floresta nativa (Bioma amazônia) cidades, estradas, curso d’água e outros usos

agricultura (Anuais, florestas, semi perenes e perenes)

a área de florestas protegidas no brasil equivale a

6 vezes o tamanho da alemanha

pastagem em condição de uso pastagens em estágio avançado de degradação reservas legais e apps

vegetação nativa

99%

da água

utilizada na pecuária pertence ao ciclo natural das chuvas

Comentário da Revista: No infográfico organizado pela Abiec, é possível ver a evolução da pecuária brasileira, que teve um grande aumento de produtividade entre a década de 1990 e os dias de hoje. Embora ainda haja muito para avançar, as ilustrações acima, elaboradas pela Abiec, mostram que o País tem mais área preservada do que se pensa e pode produzir com sustentabilidade.

DBO agosto 2018 19


Mercado sem Rodeios

Alcides Torres Jr. –

Scot

Exportação de bovinos em pé: tanta polêmica para que? Engenheiro agrônomo e diretor-proprietário da Scot Consultoria, de Bebedouro, SP.

Isabella Camargo, zootecnista e analista da Scot Consutoria

“N

avio com 27.000 bovinos é retido no Porto de Santos por ordem da justiça” (fevereiro de 2018). “Justiça Federal suspende exportação de animais vivos em todo País” (fevereiro de 2018). “Projeto de Lei 31/2018 proíbe, no Estado de São Paulo, o embarque de animais vivos no transporte marítimo com a finalidade de abate para consumo” (julho de 2018). Essas foram algumas das manchetes no primeiro semestre do ano que revelam a dificuldade de se empreender no Brasil. Entretanto, apesar de tanta polêmica, a exportação de bovinos vivos não é prática recente. Segundo a Associação dos Criadores de Nelore do Brasil, o primeiro registro que se tem da raça no País ocorreu em 1868, quando um navio que se destinava à Inglaterra ancorou em Salvador. Segundo dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC), o primeiro registro de transações envolvendo gado vivo de corte ocorreu em 1997, quando foram exportadas 1.070 bovinos para a Bolívia e o Paraguai. Entretanto, foi a partir de 2003 que a exportação ganhou relativa representatividade. De 2003 para 2004, as vendas cresceram 378% e, a partir de então, não pararam mais. Vale destacar dois períodos na figura abaixo. O primeiro é 2011, quando a Venezuela, principal comprador da época, implementou uma política de desvalorização de sua moeda para incentivar exportações e diminuir importações. O resultado foi a queda de 38,8% nas compras de gado vivo do Brasil. O segundo período é 2015, quando a Venezuela, ainda o principal importador de bovino em pé brasileiro, começou a enfrentar problemas políticos e econômicos e reduziu dramaticamente as importações (queda de 66,8%), por falta de dinheiro. Esse tipo de comércio somente voltou a crescer após a Turquia se interessar por nosso gado.

Histórico de bovinos vivos exportados pelo Brasil

* Até Junho. Fonte: MDIC/ Elaboração: Scot Consultoria

20 DBO agosto 2018

Hoje, esse país é nosso principal comprador. De 2016 (retomada das exportações) a junho de 2018 (últimos dados oficiais do MDIC), a Turquia comprou 689.400 animais, o correspondente a 64,3% da exportações brasileiras de gado em pé. No primeiro semestre de 2018, foram embarcados 388.400 animais, dos quais 79,7% foram para a Turquia. A Brasil exporta também para o Líbano, Egito, Iraque e Jordânia. Segundo levantamento do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), em 2017 o Brasil foi o segundo exportador global de bovinos vivos, se considerado apenas o transporte marítimo, e o quinto, se somados todos os tipos de transporte. Estados que mais exportam O Pará é o principal Estado exportador de bovinos vivos, seguido pelo Rio Grande do Sul e São Paulo. De 2003 (início dos embarques pelo Pará) a junho de 2018, foram vendidas 5 milhões de cabeças, com faturamento de US$ 4,54 bilhões. No primeiro semestre de 2018, 52,8% dos embarques brasileiros forem feitos pelo Pará. O Rio Grande do Sul exportou, nos primeiros seis meses do ano, 82.400 cabeças, com faturamento de US$ 51,11 milhões, uma alta de 28,1% e 43,6%, respectivamente, em relação ao desempenho de 2017. Em São Paulo, os embarques chegaram a 75.400 animais até junho e o faturamento a US$ 57,35 milhões. Um aumento de 76,7% em quantidade e 92,7% em faturamento em relação a 2017. Os números crescentes das exportações em São Paulo e no Brasil despertaram a atenção de organizações cujo objetivo é paralisar essa atividade econômica. A PL 31/2018 visa proibir, em São Paulo, o transporte marítimo ou fluvial de bovinos vivos. Até o fechamento desta coluna, o projeto estava em discussão na Assembleia Legislativa do Estado. Conclusão Em 2007, o Brasil comercializou, em bovinos vivos, o equivalente a 0,2% de seu rebanho e 1% do abate nacional. No mesmo período, segundo dados do USDA, a Austrália exportou 928.000 cabeças, número correspondente a 3,6% de seu rebanho. O México, por sua vez, vendeu 1,2 milhão de bovinos, o que representa 7,3% do gado daquele país. A nosso ver, o comércio de bovinos vivos não atrapalha a indústria local e estimula a pecuária brasileira. É um mercado que deve ser aproveitado profissionalmente. Não é bom para São Paulo e nem para o Brasil a criação de normas que desestimulem a criação de empregos, a geração de renda, a arrecadação de impostos e principalmente a produção de alimentos para o País e o mundo. Essa é uma vocação nacional. n


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Desde 2002 a Asperbras Rotomoldagem desenvolve produtos inovadores e de alta qualidade para acompanhar a crescente evolução do agronegócio no Brasil. Em suas modernas fábricas localizadas em Penápolis, São Paulo e Simões Filho, Bahia, equipadas com máquinas italianas Caccia-Rotomec, de última geração, cria e produz inovação para a agropecuária. Os Cochos e Reservatórios para Suplementação Mineral, os Comedouros e Bebedouros fabricados em polietileno são destaques pelo design, grande durabilidade, resistência e praticidade no transporte. A Asperbras Rotomoldagem sabe da importância do agronegócio na economia e se coloca ao lado dos produtores brasileiros, atenta às suas necessidades e sempre na busca por soluções criativas, com a melhor relação custo benefício, segurança e durabilidade.

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Mercado

Preço do boi gordo mantém viés de alta Expectativa é de um quadro de oferta de animais bastante enxuto no segundo semestre Denis Cardoso

O

pecuarista tem tudo para ficar satisfeito ao longo deste semestre, pois o mercado do boi gordo tende a seguir o movimento de alta esperado para o período de entressafra. A oferta de animais prontos para abate continua enxuta, o que, na avaliação de analistas, será suficiente para manter os preços firmes no período. Em julho, o Indicador ESALQ/BM&FBovespa do boi gordo fechou a R$ 141,70 na praça de São Paulo, 1,6% acima do preço no fim de junho, de R$ 139,40, segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq/USP A oferta de “animais de capim” ficou para trás; agora o mercado dependerá do gado terminado no cocho. No entanto, lembra médico veterinário Hiberville Neto, analista da Scot Consultoria, de Bebedouro, SP, a disponibilidade de animais oriundos do primeiro giro de confinamento é restrita – devido ao alto preço do milho no primeiro semestre, poucos pecuaristas se aventuraram nesse modelo de engorda no período. Além disso, o valor do boi gordo se mostrou pouco atrativo no mercado futuro, o que inibiu ainda mais a engorda no cocho. Ainda não se sabe qual será o comportamento do recriador/invernis-

Contrato futuro indica arroba do boi em torno de R$ 150 em outubro Mês para a liquidação dos contratos na B3 Data dos pregões

jan

Fev Mar

Abr

Mai

30/5/2018

-

-

-

-

29/6/2018

-

-

-

-

-

31/7/2018

-

-

-

-

-

Jun

Jul

Ago

Set

Out

Nov

Dez

141,62 142,10 145,75 146,55 147,40 149,80 149,50 149,55 139,11 144,30 146,30 147,60 150,40 149,70 149,45 -

143,21 145,70 148,10 149,90 150,50 150,20

Fonte: BM&FBovespa.

Indicador Bezerro fica estável em julho, na praça do MS Datas de levantamento do Cepea Especificações

31/7/2018

29/6/2018

Preço à vista por cabeça

R$ 1.148,99

R$ 1.151,46

191,56

203,89

Peso médio/kg Preço por kg Preço por arroba

R$ 5,99

R$ 5,64

R$ 179,94

R$ 169,42

Fonte: Cepea/Esalq/USP

Indicador Boi Gordo fecha em alta em julho, em São Paulo Datas da liquidações dos contratados negociados na BM&FVBovespa Especificações

31/7/2018

29/6/2018

Preço à vista

R$ 141,70

R$ 139,40

Fonte: Cepea/Esalq/USP/BM&FBovespa. Média dos últimos cinco dias úteis em São Paulo. O valor é usado para a liquidação dos contratos negociados a futuro na BM&FBovespa.

22 DBO agosto 2018

ta para o segundo giro de confinamento, mas é possível uma retomada na atividade, já que os preços futuros do boi gordo subiram e o do milho caiu em junho, embora voltasse a subir em meados de julho, deixando ressabiados aqueles que não adquiriram antecipadamente o insumo. “Este ano, tivemos uma janela de compra de milho bastante curta”, diz o zootecnista Rafael Ribeiro, também analista da Scot Consultoria, referindo-se ao período de baixa no preço do grão (junho e início de julho). Gustavo Machado, consultor de mercado pela Agrifatto, de Bebedouro, aposta na manutenção do viés de alta no valor do boi gordo nos próximos meses, mas não joga todas as suas fichas. “Apesar da perspectiva de consumo fortalecido no segundo semestre, tanto por uma questão sazonal, quanto pelas eleições presidenciais (que injetam pontualmente maior volume de dinheiro na economia), a falta de tração na retomada econômica deverá limitar a demanda interna”, justifica. Machado lembra que os preços da carne bovina no varejo seguem achatados pelo consumo fraco e o ciclo pecuário está em fase de liquidação do rebanho, com a participação de fêmeas subindo 7% no primeiro trimestre deste ano frente mesmo período de 2017 (veja mais informações sobre o mercado de reposição na página seguinte). Em sua opinião, esta combinação limitará as máximas ao longo da entressafra. Boi em terras agrícolas O rebanho bovino do Mato Grosso, o maior do País, cresceu 10% entre 2009 e 2018, segundo o Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea), que se baseou em dados coletados pelo Indea-MT durante a campanha estadual de vacinação contra a febre aftosa, realizada em maio (foram imunizados 29,55 milhões de cabeças, 98% do rebanho local). O crescimento no Estado não é novidade, pois Mato Grosso abriga condições propícias para o desenvolvimento da pecuária de corte. O que chamou a atenção dos analistas do Imea foi a opção pelo incremento da pecuária em municípios essencialmente agrícolas, como Lucas do Rio Verde. Entre 2009 e 2018, os rebanhos bovinos triplicaram em Sapezal, Campo Novo de Parecis e Campos de Júlio, demonstrando, segundo o Imea, que a pecuária pode agregar valor à produção e mitigar riscos em áreas agrícolas. Grandes negócios Em julho, a imprensa vinculou notícias informando que a Marfrig Global Foods estaria próxima de fechar a venda de sua subsidiária de Keystone (com fábricas nos EUA, Austrália e países da Ásia) para a norte-americana Tyson Foods. Tal negociação resultaria na injeção de US$ 3 bilhões no caixa da companhia brasileira. n



Mercado

Cresce o abate de fêmeas no MT O ciclo pecuário atual de descarte intenso de matrizes pode ser vir como fundamento para a melhora nos preços da reposição

P

Denis Cardoso

ela primeira vez em quatro anos, o abate de fêmeas no primeiro semestre de 2018 superou o de machos no Mato Grosso, Estado com o maior rebanho bovino brasileiro, em torno de 30 milhões de cabeças. É o que mostram os dados divulgados pelo Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea), que apontou a matança de 1,27 milhão de fêmeas, 14% a mais em relação a igual período de 2017 (1,11 milhão de cabeças). O abate de machos no Mato Grosso alcançou 1,20 milhão de cabeças, 3,5% acima do volume de igual período de 2017 (1,16 milhão de animais). “Este resultado demonstra que o ciclo pecuário atual encontra-se na fase de descarte de fêmeas, o que pode servir como fundamento para a melhora nos preços da reposição em um futuro próximo”, prevê a equipe de analistas do Imea. Os números oficiais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que computou os abates gerais do Brasil sob inspeção sanitária (federal, estadual ou municipal) no primeiro trimestre de 2018, também apontam para um movimento maior de liquidação de fêmeas. Embora o abate de machos ainda tenha sido predominante no período analisado, o número de fêmeas levadas ao ganho ficou próximo: foram abatidas 3,595 milhões de vacas e novilhas, um crescimento de 8% sobre a quantidade registrada no primeiro trimestre de 2017, de 3,336 milhões de cabeças. Em relação aos machos, foram enviadas para as câmaras frias dos frigoríficos 4,126 milhões cabeças, uma elevação de 1,6% na comparação o mesmo período do ano passado (4,061 milhões de cabeças). Apesar da expectativa de elevação, os preços gerais da reposição continuam andando de lado atualmente, com o registro de poucos negócios na maioria das praças de comercialização. “De um lado, a piora na qualidade das pastagens proporcionada pelo período seco limita a busca pelas categorias mais jovens; de outro, o resultado aquém do esperado para o confinamento reduz a compra de ca-

tegorias mais eradas”, observa a zootecnista Isabella Camargo, analista da Scot Consultoria, de Bebedouro, SP. No Mato Grosso do Sul, o Indicador Bezerro ESALQ/ BM&FBovespa (Nelore de 8 a 12 meses) fechou o mês de julho a R$ 1.148,99, praticamente estável em relação ao fechamento de junho (R$ 1.151,46), de acordo com dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA). “O mercado de reposição segue com movimentação modesta, pois, em termos gerais, a oferta não é abundante, o que garante certa sustentação aos preços”, relata a equipe de analista da Informa Economics FNP, de São Paulo. Segundo a pesquisa mensal realizada pela Scot Consultoria, que considera a variação média de preços de animais machos e fêmeas anelorados em 14 praças pecuárias do País, o preço da reposição praticamente não oscilou entre junho e julho (ligeira queda de 0,3%). Negociação por praça Em São Paulo, o preço médio do bezerro desmamado atingiu R$ 1.142,50 em julho, queda de 0,7% sobre o valor médio de junho, segundo dados da Scot Consultoria. Em Goiás, o preço do animal de 6@ teve baixa de 1,3%, para R$ 1.150. No Mato Grosso, o bezerro teve alta de 0,9% no mês passado, atingindo R$ 1.155. Em Tocantins, a categoria sofreu retração mensal de 0,5%, chegando ao valor médio de R$ 1.077,50. Na Bahia, foi negociada a R$ 1.070, com queda mensal de 0,9%. O preço do garrote (9,5@) subiu em julho em algumas praças de comercialização e caiu em outras. A alta mais forte dessa categoria foi registrada em Goiás: aumento de 3,2% frente a junho, para R$ 1.560, segundo a Scot Consultoria. Nas demais praças, tanto as quedas mensais quanto as elevações de preços foram poucas representativas para o garrote. O preço do boi magro (12@) caiu 1,1% em São Paulo, em julho, para R$ 1.830, em relação ao mês anterior. Em Goiás, a categoria subiu 0,5%, também negociado, em média, a R$ 1.830. No Mato Grosso, o boi magro recuou 0,6%, ficando em R$ 1.730. Na praça do Mato Grosso do Sul, o preço do animal de 12@ registrou estabilidade, cotado a R$ 1.757,50. Na Bahia, o boi magro subiu 1,3% em julho, para R$ 1.800. Em Tocantins, atingiu R$ 1.590, com queda de 0,6% sobre junho, segundo a Scot Consultoria. O valor da novilha (8,5@) teve queda mensal em torno de 1% nas praças de Goiás e do Mato Grosso, atingindo preço médio de R$ 1.092,50 e R$ 1.060, respectivamente. Em São Paulo, subiu 0,9%, para R$ 1.152,50. Na praça de Tocantins, a novilha atingiu R$ 977,50 em julho, com elevação mensal de 0,8%. n

nnn

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R$ 1.142,50

R$ 1.560

R$ 1.730

R$ 977,50

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Valor médio do bezerro desmamado em São Paulo, em julho; queda de 0,7% sobre junho

24 DBO agosto 2018

Preço médio do animal do garrote em Goiás, no mês passado; valorização mensal de 3,2%

Cotação média do boi magro na praça do Mato Grosso, em julho; recuo mensal de 0,6%

Valor médio da novilha em Tocantins, no mês passado; elevação de 0,8% sobre junho


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A lógica da pecuária aprendida na infância Administrador de empresas, pecuarista e editor do informativo semanal “Carta Pecuária”, de Dourados, MS.

V

ocê deve ter feito isso quando criança. Tentou segurar uma bola debaixo d’água. Tentou empurrá-la ainda mais para baixo, ela escapou de sua mão e subiu forte, espirrando água na superfície. Essa é a primeira lição para uma criança: tem certas coisas que, por mais força que se faça para baixo, se recusam a afundar mais. Agora, se ela mesma criança segura a bola nas mãos e mete um chute para cima, somente para ver até onde ela vai, o que acontece? O objeto vai subir até certa altura, haverá uma inflexão e ele começará a cair. Segunda lição para a criança: por mais força imprima ao chute, a bola só vai subir até certa altura. Se, quando criança, aprendemos essas lições, será que, já adultos, conseguirpiamos lembrar delas e aplicá-las na análise dos preços do boi gordo? Primeira questão: será que a arroba cai indefinidamente? Segunda: será que o boi sobe sem parar? Com uma bola é mais fácil de enxergar o movimento, entende? Está na cara. Você vê a coisa acontecendo. A gente sente os movimentos. Sente a intensidade da pressão debaixo d’água. Sente o impacto do chute nos pés. Com preços a coisa fica meio imaginativa, abstrata. Mas vamos tentar. O conceito que queremos introduzir aqui para os leitores é o que chamo de “Perna de Mercado”. Existem as pernas de baixa e as pernas de alta. As pernas de baixa medem toda a queda dos preços desde o momento que você começa a afundar a bola debaixo d’água até ela escapar das suas mãos. Se a gente tivesse uma régua, poderia medir quantos centímetros a bola afunda antes de escapar. Nos

preços, fazemos a mesma coisa, porém medimos em porcentagem e não em centímetros. As pernas de alta aferem quantos metros a “bola” subiu desde que você deu o chute inicial até ela começar a cair. No caso dos preços, medimos as altas também em porcentagem. Agora, o que você acha? Conseguiria chutar a bola mais alto ou afundá-la mais fundo? Penso que a saída é chutar mais alto. É fácil uma criança chutar uns três metros para cima. Já afundar e segurar a bola mais do que 50 cm, com mãos tão pequenas? Difícil. Com os preços do boi é a mesma coisa! (Outros mercados também). Observe a figura abaixo e veja as pernas de alta e as pernas de baixa dos preços. Essa noção de pernas de mercado é uma das mais importantes para se enternder o comportamento dos preços da pecuária, caro leitor. O boi se comporta dessa forma, o bezerro também e o atacado se comporta de forma parecida. A lição é: tem épocas em que a gente está em pernas de baixa. Tem épocas que estamos em pernas de alta. Nunca ao mesmo tempo. Isso é bom. Isso nos dá um norte do que fazer na nossa atividade. Nos dá tempo de pensar no que fazer. Quem ganha nas medições? Observe novamente a figura. Nas pernas de baixa o sujeito consegue afundar a bola até ao redor de - 20% de profundidade. Não mais do que isso. Nas pernas de alta, o chute na bola ultrapassa fácil a altura de +20%. Estamos, no momento, em uma perna de alta, que começou em 2017. O chute até aqui atingiu +14% de altura. Até onde essa bola poderá subir? O que você acha? Cartas para a redação da DBO. n

Pernas de Alta e Baixa do Boi. O que vai mais longe: afundar ou chutar a bola?

Perna de alta

Perna de baixa

Fonte: Carta Pecuária, com dados de Cepea

26 DBO agosto 2018





Cadeia em Pauta

Controle de origem chega à cria fotos: divulgação

Grupo Carrefour e Instituto IDH lançam programa de sustentabilidade para pequenos criadores mato-grossenses dedicados à produção de bezerros

Reunião em Cuiabá reuniu executivos e autoridades políticas...

carne chegará ao mercado com selo “Sabor & Qualidade”.

Renato Villela

renato.villela@revistadbo.com.br Cada vez mais alinhado ao conceito de sustentabilidade e atento a oportunidades que lhe possibilitem agregar valor à carne bovina que comercializa, o Grupo Carrefour lançou, no dia 10 de julho, em Cuiabá, MT, um programa chamado “Produção Sustentável de Bezerros”, que será conduzido em parceria com a fundação holandesa IDH (Iniciativa para o Comércio Sustentável). Participaram do lançamento, no Palácio Paiaguás, sede do governo mato-grossense, várias autoridades políticas, incluindo o governador Pedro Taques; representantes do setor pecuário e executivos da rede varejista, como seu secretário-geral, Laurent Vallée, e o presidente do grupo no Brasil, Noël Prioux. O programa destina-se a pequenos pecuaristas que ficaram à margem do sistema de produção sustentável, por não conseguir cumprir seus requisitos. Com duração de três anos (2018 a 2020), ele terá orçamento de € 3 milhões e fornecerá assistência técnica aos produtores, para melhoria dos índices zootécnicos de seus rebanhos, além de auxiliá-los na regularização ambiental e fundiária. Assim, poderão obter financiamentos aos quais não têm acesso atualmente. A expectativa do Grupo Carrefour é beneficiar mais de 450 pequenas propriedades do Mato Grosso, em uma área correspondente a 150.000 hectares. As propriedades já foram escolhidas com base em critérios estabelecidos pela Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), outra parceira da emprei30 DBO agosto 2018

tada. Elas estão localizadas nos Vales do Juruema e do Araguaia (respectivamente regiões noroeste e leste do Estado), que reúnem 11 municípios relevantes para a atividade de cria, responsáveis por mais de 40% da produção de bezerros do Mato Grosso. Além disso, são regiões situadas em dois dos mais importantes biomas brasileiros: a Amazônia e o Cerrado. Essas fazendas ainda têm 80% da vegetação nativa preservada, o que pode transformar o projeto em uma vitrine para a pecuária sustentável. “Atualmente, cerca de 80% dos desmatamentos estão ocorrendo em pequenas propriedades. O programa mostrará que é possível produzir mais sem desmatar”, disse André Torres Baby, que comanda a Secretaria de Meio Ambiente (Sema) do Mato Grosso, que também atuará no projeto. Sem exclusão O Programa Produção Sustentável de Bezerros começou a ser gestado em 2016, quando o Carrefour lançou sua Plataforma de Pecuária Sustentável, que reúne todos os elos da cadeia, monitorando dados produtivos e socioambientais de fornecedores. O sistema, operado pela empresa Agrotools, de SP, verifica, por meio de análise de imagens de satélite, se os produtores que vendem gado para os frigoríficos parceiros do Carrefour apresentam inconformidades. A rede varejista não compra carne de animais provenientes de áreas desmatadas ou já embargadas pelo Ibama, de unidades de conservação, terras indígenas ou de fazendas que utilizam trabalho análogo ao escravo. “Não há


Fazenda do Vale do Juruema, alvo do projeto, que, em três anos, pretende recuperar 20.000 ha de pastagens.

dúvidas que que essa plataforma é importante para o controle de origem, mas também constatamos que ela pode excluir da produção sustentável uma categoria que não queremos que fique de fora: a dos pequenos produtores. Muitos deles não têm conseguido atender os critérios estabelecidos pelo varejo”, diz Paulo Pianês, gerente de sustentabilidade do Carrefour. Foi assim, segundo o executivo, que surgiu a ideia de lançar um programa voltado para o segmento de cria, elo mais crítico da cadeia, que abriga grande quantidade de pequenos produtores. A iniciativa é considerada uma entrega de resultado da estratégia “Produzir, Conservar e Incluir (PCI)”, lançada pelo governo do Mato Grosso em dezembro de 2015, durante a Convenção do Clima (COP 21), em Paris, com metas para 2030. Essa estratégia tem por objetivo captar recursos para aumentar a eficiência da produção agropecuária no Estado, conservar remanescentes de vegetação nativa, recompor ativos ambientais, reduzir emissões de gases de efeito-estufa e estimular a inclusão socioeconômica da agricultura familiar. “Nos faltava justamente o ‘I’ de Incluir, que está sendo contemplado agora pelo Programa de Produção Sustentável de Bezerros”, salientou Pianês. Presente ao encontro, Daniella Mariuzzo, diretora executiva da Fundação IDH no Brasil, recorreu a uma previsão nada otimista para enfatizar a importância do projeto. “Estima-se que, dentro de 10 anos, cerca de 50% dos pequenos pecuaristas serão eliminados da cadeia de produção por não ter acesso à tecnologia, mem à assistência técnica. Precisamos inclui-los na pecuária sustentável”. Segundo Daniella, nos próximos três anos o programa estimulará a intensificação de 20.000 ha de pastagens, com média de 45 ha por propriedade. A lucratividade é considerada um ponto essencial. “Muitas vezes, o pequeno produtor se vê obrigado a abrir (desmatar) novas áreas porque não está conseguindo sobreviver. Esperamos dobrar a lucratividade dessas propriedades e ter 100% delas regularizadas ao final desse prazo”, disse a diretora do IDH. Como funciona A primeira etapa do programa será o diagnóstico das fazendas, começando pela avaliação das condições de suas pastagens, pré-requisito para quaisquer

recomendações técnicas. A Acrimat fará esse levantamento em 300 propriedades no Vale do Araguaia e o Grupo JD, proprietário da Fazendas São Marcelo, do MT, outro parceiro do projeto, se encarregará das demais 150, no Vale do Juruema. “No nosso caso, a ideia é aproveitar a capilaridade regional da nossa equipe para realizar esse trabalho, que seguirá os moldes do Acrimat em Ação”, explica Amado de Oliveira Filho, consultor técnico da entidade, referindo-se ao programa itinerante de pecuária que leva informações técnicas aos produtores do Estado. Segundo Oliveira, muitas vezes o fazendeiro precisa apenas de informação e orientação. “Em algumas situações, basta vedar determinada área para recompor a reserva legal, solução simples e barata que elimina um passivo ambiental”, afirma o consultor, salientando que a equipe da Acrimat também poderá “colocar a mão na massa”, se necessário. “Podemos fazer a recuperação vegetativa em uma unidade demonstrativa dentro da fazenda, para replicação em outras áreas e propriedades vizinhas”. O produtor participante do programa também terá acesso a linhas de financiamento que antes lhes eram negadas por não terem Cadastro Ambiental Rural (CAR) ou escritura do imóvel. Para atender essa vertente do projeto, será realizada uma força-tarefa entre a Secretria de Meio Ambiente dp Estado e o Programa Mato-grossense de Municípios Sustentáveis (PMS). “A ideia é prover mecanismos que acelerem a regularização fundiária e a validação do CAR”, diz Daniela, do IDH. A diretora da fundação acredita que a maior parte dos recursos, no entanto, será investida no diagnóstico e melhoria produtiva das propriedades. “Essa etapa exigirá grandes deslocamentos. Algumas fazendas estão muito distantes, localizadas em assentamentos”. Outro desafio é a rastreabilidade dos rebanhos, que será iniciada pelos bezerros. “Isso encarece o projeto”, diz. O dinheiro não será repassado diretamente aos produtores, mas aos responsáveis por gerenciar o programa, ou seja, a Acrimat e a NatCap, empresa norte-americana associada a duas das principais organizações de conservação no mundo, a A Nature Conservancy e a World

Nöel Prioux, CEO do Carrefour Brasil: “Pequenos produtores são o futuro da cadeia”

Daniella Mariuzzo, da IDH: “Temos de incluir o pequeno produtor”.

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Cadeia em Pauta

Expectativa é dobrar a produtividade das fazendas.

Wildlife Fund (WWF), que administrará a os recursos das ações executadas pela Fazendas São Marcelo. A Fundação Carrefour, instituição internacional responsável pelo investimento social do grupo, repassará €1,9 milhão e o IDH atuará como cofinanciador do projeto, fornecendo mais € 1,6 milhão. Valor agregado Outro pilar do programa será o pagamento diferenciado pelos animais dos produtores que participarem do projeto. A Fazendas São Marcelo se comprometeu a absorver boa parte dos bezerros produzidos no Vale do Juruema. “Firmamos um acordo com a Marfrig e

pagaremos ágio de 5% sobre o valor vigente de mercado do bezerro na região”, diz Arnald Eijsink, diretor do Grupo JD. Segundo o gestor, que se define como um “âncora” incentivador do projeto, a garantia de venda de determinada mercadoria tem impacto direto dentro da fazenda. “Produzir sabendo que já tem comprador garantindo é um incentivo para o produtor”, afirma. Atualmente, a Fazendas São Marcelo, que fornece carne para supermercados do Carrefour e para a rede de restaurantes Outback, somente é capaz de atender 1/3 da demanda de seus clientes por bovinos sustentáveis, devido a desafios em relação à rastreabilidade de suprimentos indiretos. Segundo o gerente de sustentabilidade do Carrefour, Paulo Pianês, a carne dos animais criados nessas propriedades, recriados e abatidos na Fazendas São Marcelo abastecerão a linha “Sabor & Qualidade”, lançada pelo grupo em junho deste ano. “Hoje não temos produção suficiente com identificação de origem. Acredito que, com o aporte dos pequenos produtores, poderemos suprir nossa demanda”, disse. A carne também chegará às gôndolas com o selo do Instituto Mato-Grossense de Carnes (Imac). A instituição, que retomou suas atividades em março e é responsável por definir critérios de qualidade para a carne produzida no Estado, promete ser um parceiro de peso na empreitada. “Colocaremos nosso cadastro das propriedades à disposição do programa para verificação das condições sociambientais das propriedades, visando promover os ajustes necessários”, diz Guilherme Nolasco, que assumiu o comando do Imac. O novo presidente do instituto está esperançoso com o alcance do programa. “É um projeto de inclusão que tem tudo para dar certo e ser multiplicado mais à frente”. n

Iniciativa partiu dos produtores A “semente” do projeto “Produção Sustentável de Bezerros” foi lançada há dois anos, no município mato-grossense de Gaúcha do Norte, por meio dos produtores que reivindicaram junto à Acrimat um programa de incentivo direcionado à primeira fase da produção pecuária. “Todo mundo pensa em investir na recria e engorda. Nossa preocupação é dar sustentabilidade econômica à cria”, conta Marcos Jacinto, produtor e diretor da Acrimat. A iniciativa não foi adiante por falta de recursos do governo do Estado, até ser resgatada pelo Carrefour, IDH e Fazenda São Marcelo, parceiros do

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projeto Produção Sustentável de Bezerros. “Já temos o ‘boi Imac’ e precisamos do bezerro com certificação de origem. Acredito que o programa atenderá essa demanda”, diz Jacinto, referindo-se ao selo do Instituto Mato-grossense de Carnes, que atesta a qualidade e procedência da carne produzida no Estado, em consonância com a legislação socioambiental. No campo, a expectativa em relação ao projeto é alta. O produtor Ademar Lucena Moreira mostra que, ao menos no discurso, já está alinhado com o conceito do programa. “Precisamos buscar tecnologias sem abrir novas

áreas”, disse. Dono da Fazenda Santa Maria, propriedade de 600 ha localizada em Juruema, MT, Moreira tem um plantel de apenas 250 matrizes Nelore e participou do dia de campo na Fazenda São Marcelo, no mesmo município, para se inteirar do programa. Há dois anos ele está recuperando as pastagens de sua fazenda, mas, por não dispor de uma assistência técnica agronômica, não se sente totalmente seguro quanto à eficácia dos procedimentos que realizou. “Estou esperando o agrônomo para saber se fiz a calagem do jeito certo e se a escolha da forrageira está correta”, diz.


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Cadeia em Pauta

McDonald’s quer mais carne sustentável Projeto da empresa na Amazônia Legal quase quadruplicou produção entre 2016 e 2017, mas a ordem é avançar de forma segura.

Hambúrguer de carne sustentável produzida com bovinos 100% monitorados.

Marina Salles

A

No futuro, a pecuária sustentável será a única a existir” Leonardo Lima, do Mc Donald’s

marina.salles@revistadbo.com.br

rede de fast food McDonald’s, que, em 2014, assumiu o compromisso público de somente comprar carne bovina produzida com base em critérios de sustentabilidade, já comemora avanços nessa área. No Brasil, a empresa quase quadruplicou a meta estabelecida, saltando de 250 t, em 2016, para 970 t em 2017. Segundo Leonardo Lima, diretor da Arcos Dourados, administradora do McDonald’s na América Latina, esse crescimento tem sido gradativo. “Queremos avançar devagar para estimular o aumento de produtividade dos nossos parceiros, sem desmatamento, seja ele legal ou ilegal”, disse. Hoje, a rede (que tem 930 restaurantes e 2 milhões de clientes no Brasil) compra 33.000 t de carne bovina por ano. O objetivo é suprir 100% dessa demanda com animais produzidos de forma sustentável, mas a empresa não estabeleceu um prazo para isso.”Nem com bola de cristal eu seria capaz de dizer quando alcançaremos nosso objetivo, mas este é um movimento em curso. Com a pecuária sustentável caminhando, passo a passo, ela será a única a existir no futuro”, afirma. Parceria O McDonald’s iniciou suas compras de carne sustentável no Brasil pela Amazônia Legal, justamente a região de onde não comprava carne desde sua chegada ao mercado brasileiro, em 1979. “Tínhamos essa posição em função do desmatamento, mas ficamos sabendo de projetos de pecuária sustentável, por meio de grupos globais de debate sobre o tema, e decidimos visitá-los para con-

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ferir pessoalmente como estavam funcionando. Vimos que é possível elevar a produtividade (@/ha) de forma eficiente, respeitando a legislação do Código Florestal e o bem-estar animal e achamos que era necessário iniciar nossas compras de carne sustentável pela Amazônia para estimular a adesão de mais produtores”, diz. O projeto tem sido conduzido pela Pecsa (Pecuária Sustentável da Amazônia), empresa sediada em Alta Floresta, MT, em seis municípios mato-grossenses da região amazônica (Alta Floresta, Carlinda, Itaúba, Nova Canaã do Norte, Paranaíta e Nova Monte Verde). “É impressionante ver a diferença entre a pecuária extensiva e a sustentável. Na primeira, o gado come quando tem comida, bebe água quando encontra uma fonte natural e a produtividade é baixíssima. Na outra, mais tecnificada, o pecuarista domina a produção e engorda os animais em plena seca”, afirma Lima. Boa parte dos bovinos chega ao frigorífico com 20,5 @ (machos) e 13,5 @ (fêmeas), aos 24 meses, apresentando acabamento de gordura uniforme. Os abates seguem protocolo rigoroso de bem-estar animal. Os frigoríficos habilitados a abater animais para a rede não pagam prêmio por sustentabilidade, mas por qualidade da carne. Anualmente, o McDonald’s faz um diagnóstico das fazendas com base no guia de indicadores de sustentabilidade elaborado pelo Grupo de Trabalho da Pecuária Sustentável (GTPS), visando estimular a melhoria contínua das propriedades. n

Avanços no Canadá O primeiro país escolhido pelo McDonald’s para implementar sua política de compra de carne bovina sustentável foi o Canadá, onde a rede de fast food montou um projeto piloto em 2015, em parceria com a Canadian Cattlemen’s Association (Associação Canadense de Criadores de Gado). Após o encerramento desse piloto, a Canadian Roundtable for Sustainable Beef (CRSB), Mesa Redonda Canadense para a Produção de Carne Sustentável, que reúne empresas de entidades de toda a cadeia produtiva (órgão semelhante ao GTPS, Grupo de Trabalho da Pecuária Susténtável), elaborou parâmetros para a certificação desse tipo de produto. Em julho, o McDonald’s anunciou que será a primeira empresa do Canadá a incluir o selo da CRSB em seu cardápio. A estimativa é de que 20 milhões de hambúrgueres de carne Angus sustentável sejam comercializados pela empresa nos próximos 12 meses.



Cadeia em Pauta Frigorífico Supremo Com quatro plantas frigoríficas em Minas Gerais e 40% de market share no Estado, o Frigorífico Supremo planeja investir R$ 60 milhões em suas unidades para crescer no mercado nacional e internacional. A ideia é seguir o padrão da unidade-sede da empresa, em Ibirité, MG, que faz tanto abate quanto desossa.A planta de Carlos Chagas será modernizada e as de Campo Belo e Abaeté receberão

equipamentos de desossa. Atualmente, 70% da produção do Grupo Supremo é destinada ao mercado interno e 30% é exportada. Com a adaptação das fábricas, concluída até 2020, a empresa espera aumentar sua capacidade de abate de 1.000 animais/dia para 1.500 animais/dia, elevar seu faturamento em 9% e atender a mercados mais exigentes, como a União Europeia e os Estados Unidos.

Abiec questiona dados de exportações Lançado em abril, do novo sistema de coleta de dados de exportação da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) tem gerado controvérsias e problemas para os frigoríficos, de acordo com a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec). Antonio Camardelli, presidente da entidade, diz que os números não refletem a realidade. Segundo o sistema oficial, foram embarcadas 54.400 toneladas de carne bovina em junho, queda de 39,9% ante o mês anterior e de 45,4%, em

relação a igual período de 2017, mas questiona a veracidade desses números, que classificou de “improváveis”, mesmo com a greve de caminhoneiros. O preço de US$ 5.100/t, valor 22,5% superior ao de maio, também não estaria correto. “O que vimos foi queda de preços”, contestou Camardelli. “Essa situação deixa os exportadores sem referência”, disse. Em nota, a Secex disse que, durante a transição de sistemas, os dados podem demandar revisão, mas não deu prazo para isso.

Festival Corrientes 348 e Swift Black Até 13 de setembro, o restaurante Corrientes 348 promove, em suas quatro unidades cariocas e duas paulistas, um Festival de Carnes Uruguaias, com cortes da marca Swift Black, da JBS, produzidos no país vizinho especialmente para o evento. Serão servidos clássicos da “parrillada”: bife angosto, bife ancho, tapa de cuadril, picanha em corte especial e pulpón de vacío. Os animais foram confinados na região de Durazno, a 190 km de Montevidéu, no Uruguai, durante 200 dias, com dieta de alto grão. O abate aconteceu no frigorífico Bpu sob supervisão da JBS. Sete

toneladas de carne foram entregues às unidades do Corrientes 348. Segundo Henrique Freitas, gerente de marcas e especialidades da companhia, todo o processo foi monitorado para garantir o padrão de qualidade Swift Black. A parceria da JBS com o restaurante Corrientes já dura oito anos. O frigorífico tem participado também dos festivais da raça Devon, Hereford e Caretas (cruza de Angus/Hereford). Fundado em 1997, o Corrientes 348 é administrado pelos sócios Jair Coser, ex-Fogo de Chão, Ana Maria Leis e Mara Santalla.

Nelore Natural avança no Brasil Central O Programa de Qualidade Nelore Natural (PQNN), conduzido pela Associação dos Criadores de Nelore do Brasil (ACNB), em parceria com a Marfrig Global Foods, está em expansão. No dia 30 de julho, duas novas unidades da indústria, localizadas no município de Paranaíba, MS, e Pirenópolis, GO, passaram a abater animais do programa, juntando-se às unidades de Promissão, SP, Tangará da Serra, 36 DBO agosto 2018

MT, Bataguassu, MS e Mineiros, GO (sete no total). “O Nelore Natural valoriza os pecuaristas que produzem animais de acordo com os padrões pré estabelecidos pelo PQNN, oferecendo remuneração adicional aos produtores que investem na raça”, explica o Nabih Amin El Aouar, presidente associação. Podem participar do programa machos e fêmeas. As bonificações podem chegar a R$ 5/@.


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Genética

Começa a corrida pelas DEPs de abate Programas de melhoramento iniciam abates técnicos para identificar animais superiores em qualidade de carne, mas empreitada não é fácil. Genético do Zebu, que decidiu provar touros PO registrados em características de carcaça por meio do Programa Carne Zebu, lançado em março passado e que prevê, inclusive, a criação de um projeto de carne certificada de origem zebuína. O segundo é o PMGRN, Programa de Melhoramento Genético da Raça Nelore, conduzido pela ANCP (Associação Nacional de Criadores e Produtores), que deverá lançar, muito em breve, um conjunto de novas DEPs provenientes de abates técnicos acompanhados e validados pela USP de Pirassununga (SP). O Geneplus, coordenado pela Embrapa Gado de Corte, também está seguindo esse caminho, mas ainda sem data para lançamento de DEPs de abate.

Inclusão de medidas de carcaça no programas e a percepção de sua importância pelos criadores são dois desafios à frente

A

carolina rodrigues

carne de qualidade nunca esteve tão nitidamente no “farol” do setor pecuário como agora. Produtores, pesquisadores, frigoríficos e também os programas de melhoramento genético da raça Nelore já navegam nessa forte tendência. Deu-se a largada para a obtenção de DEPs (diferenças esperadas na progênie) para características de carcaça e carne com base em “abates técnicos”. O objetivo é identificar touros superiores nesses quesitos e validar informações obtidas por meio de medições indiretas (escores visuais) e técnicas não invasivas (imagens de ultrassom). As DEPs de abate funcionarão como uma “prova dos nove” para essas metodologias, confirmando, no gancho do frigorífico, se o animal realmente atende às demandas do mercado de carne de qualidade, que cresce 30% ao ano no Brasil, segundo estimativas de especialistas. Dois fortes players da genética dispararam nessa direção. O primeiro é o PMGZ, Programa de Melhoramento

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Validação de informações As iniciativas da ABCZ e da ANCP convergem na mesma direção: avaliar características qualitativas como rendimento no gancho, peso de carcaça quente, área de olho de lombo, índice de marmoreio e maciez da carne, com possibilidade de se incorporar, futuramente, dados sobre rendimento de desossa; porcentagem de osso, gordura e músculo; coloração, pH e perfil de ácidos graxos da carne, além de perdas durante a cocção. “Sempre quisemos direcionar nosso trabalho para as demandas do mercado consumidor, mas não se trata de um processo simples. É preciso estabelecer um padrão para os animais destinados ao abate técnico, mantê-los em grupos contemporâneos desde o nascimento, criar um protocolo de manejo pré e pós-abate, identificar as carcaças, fazer medições, coletar amostras para testes de maciez. São procedimentos que demandam tempo e custam dinheiro, por isso somente estão sendo feitos agora”, explica o técnico da ANCP, Argeu Silveira, um aglutinador de bons resultados em projetos de pecuária extensiva ligados ao melhoramento genético, que vê as iniciativas com bons olhos. As DEPs de abate da ANCP foram delineadas pela equipe técnica da associação e por Cláudio Magnabosco, pesquisador da Embrapa Cerrados, entidade parceira do Programa Nelore Brasil e detentora de um dos maiores bancos de informações geradas por abates técnicos no País. São dados relativos a características de carcaça e carne de quase 800 animais dos Grupos OB (Ovídio Brito) e CV (Carlos Viacava), que há anos vêm desenvolvendo trabalhos nessa área. O que esses programas esperam é que as novas DEPs deem maior robustez às avaliações já realizadas. Para a maciez em particular, ain-


da não existe uma metodologia específica de seleção e a possibilidade mais promissora tem sido o uso de marcadores moleculares. “Vamos validar nossas predições em animais pós-abate. Se estivermos no caminho certo, haverá um ganho de acurácia nas características. Se não, teremos de construir outros caminhos. Nos dois casos, haverá ganhos no processo”, analisa Argeu Silveira. Henrique Ventura, superintendente adjunto de melhoramento genético na ABCZ, concorda e acrescenta: “Os abates nos possibilitarão entender as relações entre as características medidas no animal vivo, quando jovem, e as do produto final. Isso servirá de base para uma seleção mais precoce e mais eficiente dos reprodutores na área de qualidade de carne”. A correlação das medidas de ultrassonografia com os abates técnicos gira em torno de 85%, um alto índice de assertividade, que poderá aumentar com a incorporação dos novos dados. Atualmente, existe na ANCP um número razoável de DEPs estimadas para área de olho de lombo, marmoreio, peso da carcaça quente e peso da porção comestível. Algumas deverão ser validadas e outras novas geradas à medida que os abates técnicos avançarem. A ABCZ também já tem DEPs para área de olho de lombo e acabamento de carcaça, mas quer incluir em seu sumário informações sobre características ligadas à qualidade de carne. Como é o protocolo As inseminações para obtenção dos primeiros animais destinados aos abates técnicos da ANCP já foram realizadas em cinco fazendas (Brasil e Agronova, de Mato Grosso; Matinha, de Minas Gerais; Terra Boa, de São Paulo, e Hora Agropecuária, do Mato Grosso do Sul), que aceitaram o desafio de testar sua genética no gancho do frigorífico. Juntas, elas possuem quase 15.000 matrizes. Para a primeira série de abates técnicos, foram selecionados 19 touros jovens genotipados (pré-requisito do programa), cujo sêmen será usado em cerca de 1.300 vacas (quase 70 por reprodutor), de forma a garantir no mínimo 25 filhos (machos) de cada um para abate técnico. Os bezerros nascerão a partir de agosto/setembro deste ano, mesmo período previsto para nascimento da primeira bateria do Programa Carne Zebu, da ABCZ, que conta com 20 fazendas participantes.As progênies de cada animal em teste serão reunidas

Projeto da Embrapa Cerrados soma informações relativas à qualidade de carne e carcaça de quase 800 animais, um dos maiores bancos de dados do País.

em grupos de manejo, com identificação individual por meio de chips, brincos ou marca a fogo. No protocolo estabelecido pela ANCP, além de pesados ao nascimento, à desmama e ao sobreano, os animais serão submetidos à medição de circunferência escrotal e à ultrassonografia de carcaça, esta última em data próxima ao abate, previsto para 2020, em unidades do Frigorífico Minerva. As análises laboratoriais de maciez serão feitas pela equipe da professora Angélica Pereira, do Departamento de Nutrição e Proteção Animal da USP-Pirassununga (SP), com base em amostras coletadas de animais castrados, abatidos com até dois anos de idade, com 550 kg de peso vivo e no mínimo 5 mm de gordura subcutânea. Como diversos fatores interferem na maciez, a ANCP estabeleceu regras rígidas de manejo para evitar distorções nos resultados dos testes: não misturar lotes, evitar jejum acentuado pré-abate, não estressar os animais no transporte, conduzi-los calmamente na rampa de abate, fazer rápida sangria, retirar o couro com cuidado, não fazer estimulação elétrica na carcaça, resfriá-la na velocidade adequada, fazer a leitura da área de olho de lombo, retirar as amostras para análise com 2,54 cm de espessura, identificar cada bife, embalá-los a vácuo, resfria-los a 7°C, maturá-los por sete dias e congelá-los. “Temos inúmeras iniciativas isoladas no Brasil, que não contam com protocolos estabelecidos, ou seja, amontoam informações mal coletadas e desconectadas que não levam a lugar nenhum. Precisamos de dados bem coleta-

O custo é alto, por isso é preciso atenção na coleta dos dados para que eles sejam, de fato, aplicáveis” Claudio Magnabosco, pesquisador da Embrapa Cerrados

ANCP estabeleceu protocolo rígido para avaliação da qualidade da carne

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Genética dos para que sejam aplicáveis e justificáveis, já que o custo desse processo é alto”, alerta Magnabosco.

É fundamental que os abates técnicos estejam alinhados com as DEPs para que a parte comercial não se sobreponha à técnica” Carlos Viacava, Grupo CV

Empreitada difícil A empreitada das DEPs de abate não será fácil. Vários projetos já tentaram coletar informações de abate para uso em seleção, sem resultados positivos. O PQNN (Programa de Qualidade Nelore Natural), criado em 1999, por Carlos Viacava, à época presidente da Associação dos Criadores de Nelore do Brasil e hoje vice-presidente da ANCP, é um exemplo disso. O programa chegou a fazer uma série de abates técnicos, com supervisão do professor Pedro de Felício, da Unicamp, mas não conseguiu transferir as informações geradas para os rebanhos comerciais devido à falta de controle dos dados e identificação de parentesco, essenciais para geração de DEPs. “Não havia, como ainda não há, remuneração para qualidade de carne no Brasil e isso desestimulou os participantes. Eu posso ter um touro cujos filhos produzem carne macia. Ok. Mas quem vai tirar proveito disso? Nem eu, nem o produtor que compra minha genética, nem o frigorífico, pois ele mata, empa-

cota tudo e vende sem diferenciação. Isso precisa mudar urgentemente”, diz. Para o criador, a dificuldade na adoção de DEP’s para características de qualidade de carne se deve, basicamente, ao desconhecimento sobre seu impacto econômico na atividade pecuária. Vários projetos individuais também têm procurado usar dados de abates técnicos para identificação de touros superiores em características de carcaça e carne. Para vários especialistas ouvidos por DBO, contudo, a intenção deles pode até ser boa, mas é preciso tomar muito cuidado nas avaliações, conduzindo-as com base em protocolos rígidos, e principalmente incluindo-os em uma base genética ampla. “É claro que você somente vai saber a contribuição de um touro para qualidade de carne via progênie, já que ninguém abate touro. Mas é fundamental que esses abates estejam conectados e alinhados com modelos estatísticos que possibilitem avançar na seleção, através de DEPs. Por enquanto, a maioria desses projetos é usada apenas como ferramenta de marketing, já que todo mundo quer vender seu próprio ‘peixe’. Mas temos de tomar cuidado, para que a parte comercial não se sobreponha à técnica”, alerta Viacava. n

Correndo sozinho Um dos projetos que tem usado abatestar três importantes linhagens: Go4-6 mm de gordura, ante 18@, 57% e tes técnicos para promover sua genética lias, de 1950, representada por Jiandut 4-6 mm, respectivamente, da linhagem no mercado é o Grupo Adir, de Ribeirão FIV, Jallad FIV da 2L e Palluk POI FIV da Bitelo. Foram abatidos 10 novilhos por Preto, SP. Desde 2014, ele vem testan2L; Visual, de 1970, com Naman FIV da touro, todos recriados a pasto e termido no gancho cinco touros de linhagem 2L; e Bitelo, de 2000, com OPUS FIV do nados em confinamento por 96 dias, sob POI (puros de origem importada), com Brumado. “Eu queria uma prova real do o mesmo regime alimentar. “Não discriorientação do geneticista Fausto Pereira valor dos meus touros e não uma probamino quem faz DEPs, mas precisamos Lima e análises laboratoriais realizadas bilidade de acerto. Optei por animais de saber para onde elas estão conduzindo pelo professor Sérgio Pflanzer, da Fadiferentes gerações do Nelore e o pior a seleção do Nelore”, diz o criador. culdade de Engenharia de Alimentos da resultado foi o do Opus, que é um touO projeto de melhoramento do GruUnicamp, em Campinas, SP. O projeto ro mais atual. Isso indica que a carcaça po Adir para qualidade de carne tem sido recebeu ressalvas durante a reportagem do Nelore está piorando no Brasil ou, no reconhecido por parceiros importantes. de DBO, tanto no que diz respeito à esmínimo, deixando de evoluir”, adverte No ano passado, a Fazenda Conforto, colha dos touros (considerada aleatória), o criador. Novilhos oriundos das linhaque confina mais de 50.000 animais/ano, quanto no que se refere à amostragem da gens mais antigas, por ele consideradas passou a oferecer bônus aos criadores progênie por touro para abate (que seria “mais puras” (Golias e Visual), pesaram que lhe fornecerem novilhos com genépequena) e, principalmente, por se tratar 20@, com 58%-59% de rendimento e tica Adir, devido a seu melhor desempede um projeto desconectado de uma nho no confinamento, e o Frigorífico base mais ampla de avaliação (grupo Masterboi, de Recife, PE, firmou parde rebanhos). “Sem comparações, ceria com o grupo para fornecimento você não prova sua genética, apenas de cortes diferenciados. “Cerca de tira proveito de um ou outro exemplar 90% das carcaças apresentam acaespetacular que tenha nascido na sua bamento mediano (um índice excefazenda”, observa Viacava. lente) e 10% atingem gordura de 7-10 Paulo Leonel, diretor do Grupo mm, com padrão premium, valorizado Adir, rebate as críticas. Segundo ele, por churrascarias e steakhouses”, inseu trabalho foi iniciado quando não forma Amaro Rodero, diretor do Gruse falava em DEPs de abate: seu propo Masterboi, que se mantém distantocolo é rígido (“quem quiser, pode te das discussões sobre a inclusão vir conhecer”, diz) e a escolha dos re- Grupo Adir tem parceria com o Masterboi para dos dados de abate nas bases do o fornecimento de cortes diferenciados produtores foi criteriosa. Ele decidiu melhoramento genético.

42 DBO agosto 2018



Genética

Reúso de dispositivo é mais indicado para grandes fazendas

Modelo monodose é descartado imediatamente após o uso

Só uma dose Cresce uso de disposítivo intravaginal com uma única dose de progesterona

O

Nova tecnologia é grande avanço, pois evita contaminação” Ed Hoffman, professor da USP Jaboticabal.

Denis Cardoso

sistema que prevê o reúso por três e até quatro vezes de dispositivos intravaginais de progesterona em protocolos de inseminação artificial em tempo fixo (IATF) pode estar com os dias contados no Brasil. Isso porque, nos últimos tempos, têm surgido, no mercado brasileiro, opções de compra de dispositivos de uma dose única, também chamados de “monodose”, por terem contêm conteúdo hormonal sob medida para a sincronizar a ovulação de apenas uma fêmea, sendo imediatamente descartados após sua utilização. Desde que a IATF começou a deslanchar no Brasil, há pouco mais 10 anos, é bastante comum ver, nas fazendas de gado de corte, uma série de dispositivos intravaginais mergulhados em tanques, para lavagem e desinfecção dos equipamentos e sua reautilização durante a mesma estação de monta ou até mesmo na estação seguinte. Motivo: redução de custos. Se uma fazenda tem, por exemplo, 3.000 vacas, co reúso evita a compra de 1.000 novos dispositivos. Por isso, os produtores passaram a lavá-los após o primeiro uso e reaplicá-los em mais uma ou duas fêmeas. Se ainda sobrar um pouco de progesterona no dispositivo, pode-se, inclusive, guardá-lo para aplicação na estação subsequente, mas, na prática, o que se faz muito é usá-lo poor três vezes e guardar a “quarta dose” para indução de puberdade nas novilhas, na temporada reprodutiva seguinte.

44 DBO agosto 2018

Nova tecnologia A subsidiária brasileira da multinacional Boehringer Ingelheim, com sede em Campinas, SP, é um das empresas que estão apostando na fabricação e venda de dispositivos de dose única. No ano passado, ela lançou um produto contendo apenas 0,96 g de progesterona, sob medida para sincronização da onda folicular de uma única fêmea, durante o protocolo de IATF. “Trata-se de um grande avanço tecnológico, pois elimina-se o método arcaico de lavagem do dispositivo em tanques, que pode causar contaminação do ambiente, caso haja despejo inadivertido ou acidental de conteúdos no meio ambiente”, diz Ed Hoffmann, professor da USP-Pirassununga. Segundo o veterinário Renato Girotto, proprietário da RG Genética Avançada, de Água Boa, MT, que realizou 50.000 inseminações na última estação de monta (em 27 fazendas diferentes), algumas equipes de IATF já estão optando por usar somente dispositivos monodose durante a estação de monta. “No nosso caso, ainda preferimos trabalhar com os dois tipos; a decisão de qual deles utilizar depende do número de vacas a sincronizar na propriedade”, observa. Em fazendas que têm uma escala pequena de animais, de 200 a 600 vacas, Girotto dá preferência ao dispositivo monodose. “Com esse tipo de tecnologia, eu consigo agilizar bastante o processo da IATF em fazendas menores, pois basta o produtor comprar 300 dispositivos vacas para 300 vacas, por exemplo, e sincronizá-las rapidamente, em uma única etapa, enquanto que, se ele comprasse 100 implantes de múltiplo uso, teria de repetir esse procedimento mais duas vezes”, compara. Já nas propriedades maiores, que contam com assistência de uma equipe especializada em IATF, como é o caso da RG Genética, Girotto acredita que ainda seja mais vantajoso adotar o dispositivo de múltiplo uso, tecnologia que barateia o protocolo em torno de R$ 4 a R$ 5, na comparação com os programas atendidos com o dispositivo monodose. Desde que se tome todos os cuidados, evidentemente, para preservar a saúde das fêmeas e evitar danos ao meio ambiente. n




do Nelore no Brasil

ANOS

A MAIOR TRANSFORMAÇÃO DA PECUÁRIA M U N D I A L PA S S A P O R E S S A S L I N H A S .

1868

2018

20 a 30 setembro

Parque Fernando Costa

Uberaba-MG

Participe da mais importante exposição do Nelore, que encerra o Ranking Nacional da Raça.

‣PESAGEM E DATA BASE: 22/09 ‣JULGAMENTO NELORE: 24 a 30/09 ‣JULGAMENTO NELORE MOCHO: 28 a 30/09

DE 01 A 15 ANIMAIS: R$ 350,00 para sócios R$ 400,00 para não sócios

LEILÕES:

26/09 19h - Leilão ACNB & Amigos - Prenhezes 27/09 21h - Leilão Touros de Qualidade Verdana 28/09 21h - Leilão Rima & Giber - Expoinel 2018

A PARTIR DO 16º ANIMAL: R$ 300,00 para sócio R$ 350,00 para não sócio

INSCRIÇÕES E INFORMAÇÕES: (11) 3293.8900 / rankingnacional@nelore.org.br EVENTOS

‣XIV EXPOSIÇÃO INTERNACIONAL

S I M U LT Â N E O S :

‣20ª EXPOSIÇÃO NACIONAL

DA RAÇA BRAHMAN

DO GIR LEITEIRO

A P O I O

‣2ª EXPOSIÇÃO GUZERÁ CENTRO SUL UBERABA

R E A L I Z A Ç Ã O

w w w. ne lore . org. br

|

neloreoficial

|

acn bn elored ob rasil


Reprodução

Grupo Gerar registra evolução na IATF Taxa de prenhez com técnica sobe de 51% para 53%

nnn Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul respondem por

36%

do total de vacas submetidas a IATF; taxa de prenhez média dos três Estados é de

52,7% nnn

D

moacir josé

ois pontos percentuais de crescimento pode parecer pouco, mas significa muito quando se trata de “subir a régua” da taxa média de prenhez dos rebanhos que utilizam protocolos de inseminação artificial em tempo fixo (IATF). É isso que o Gerar (Grupo Especializado em Reprodução Aplicada ao Rebanho) registrou em seu balanço da estação reprodutiva 2017/2018: 53% das 1,362 milhão de matrizes com dados analisados ficaram prenhes na primeira inseminação. Na estação 2016/2017, o percentual foi de 51%, para um total de 1,027 milhão de matrizes. Ou seja, houve crescimento também no número de animais que receberam protocolos de IATF, o que valoriza ainda mais o crescimento na taxa de prenhez, que é recorde no período que vai de 2007 (um ano após a fundação do grupo) até 2018. Segundo Izaias Claro Júnior, coordenador de serviços técnicos da Zoetis – multinacional norte-americana da área de saúde animal que apoia o grupo através de parceria no fornecimento de fármacos para a IATF –, o crescimento é considerável e aumenta o desafio do grupo, que é se aproximar da média de 55% de taxa de prenhez à primeira inseminação. Para ele, o resultado obtido nesta última estação reprodutiva é fruto tanto da conscientização do pecuarista quanto da profissionalização dos 250 técnicos do Gerar, que, hoje, ampliam seu escopo das avaliações, abrangendo, além do aspecto reprodutivo das matrizes, também sua saúde e nutrição. Da parte dos pecuaristas, a conscientização se traduz, dentre outras coisas, pno naior empenho em vacinar o re-

Vacas inseminadas e índice de prenhez dos rebanhos assistidos pelo Gerar

48 DBO agosto 2018

banho contra doenças ligadas à reprodução, como IBR, BVD e leptospirose. Conforme o Gerar, 38% das fêmeas foram vacinadas nesta estação de monta, ante 28% da estação anterior. Outro dado que confirma o avanço sólido da técnica é o crescimento no uso de hormônios de indução de cio em novilhas. Segundo o relatório do Gerar 2018, foram quase 100.000 fêmeas induzidas nesta estação, ante 54.000, em 2016/17, e 27.000, em 2015/16. Na opinião do veterinário Edmundo Rocha Vilela, proprietário da Lageado Biotecnologia e Pecuária, de Mineiros, GO – que na última estação reprodutiva inseminou aproximadamente 260.000 fêmeas (19% do total do grupo) –, esse avanço se explica pela praticidade e pela expectativa de bom resultado que a indução proporciona. “É uma necessidade para fêmeas que não estão ciclando, mas, quando aplicado àquelas que já estão nessa condição, funciona como uma pré-sincronização de cio”, avalia. Para Vilela, o gasto se justifica, dependendo da quantidade de animais, Segundo ele, o protocolo de indução custa R$ 5 por cabeça e só compensa não gastar esse valor, se o veterinário que faz o toque de ovário nas fêmeas encontrar pelo menos 190 novilhas ciclando, o que representaria R$ 954 (um salário mínimo), que é o custo da diária desse profissional. Se se acrescentar o custo do deslocamento do técnico à fazenda, o número aumenta. “As novilhas diagnosticadas e em anestro irão passar por indução de qualquer forma”, complementa.. A categoria com maior número de inseminações (54%) continua sendo a de multíparas (746.200). As novilhas vêm em segundo, com 215.376 cabeças, e, em terceiro, as primíparas, com 170.700. As fêmeas zebuínas formam o maior contingente (82%) de animais inseminados no Gerar, com 1,121 milhão, seguidas pelas cruzadas (12%), com 168.528, e as taurinas (4%), com 52.602. Representatividade Além dos 1,362 milhão de dados coletados e analisados, os profissionais do Gerar Corte também realizaram IATF em mais 1 milhão de cabeças, em todo o Brasil. Esse total de 2,362 milhões de fêmeas representa 26% das 8,904 milhões de fêmeas de corte que receberam protocolos de IATF na estação 2017/18, segundo levantamento da equipe do professor Pietro Baruselli, da USP. Mais 2,511 milhões de protocolos foram dirigidos a vacas leiteiras. Ou seja, o corte respondeu por 78% do total. O relatório do Gerar Corte também traz o registro de 45.026 protocolos de transferência de embriões em tempo fixo (TETF), com taxa de prenhez de 43%. Segundo Izaias Claro Jr., será finalizado o ranking das fazendas top 1% em IATF, aquelas que, na estação 2016/17, conseguiram média de 76% na primeira inseminação. A divulgação do relatório com os resultados da estação reprodutiva dos rebanhos atendidos pelo Gerar Corte estava programada para o período de 2 a 5 de agosto, quando esta edição seguia para a gráfica. Neste ano, o encontro dos técnicos foi organizado nas dependências do Hotel Transamérica Resort Comandatuba, na ilha de mesmo nome, no sudeste da Bahia. n



Genética

Pitada de Brangus na carne gourmet Projeto de FIV com sêmen de touros provados da raça mira maior oferta de cruzados com 56% de sangue Angus Marina Salles

U

A FIV proporciona uma pressão grande de seleção e isso nos permite dar um salto no melhoramento genético” Lilian Iguma, do Origens BRA

marina.salles@revistadbo.com.br

m projeto de produção de embriões em escala, para gerar bezerros comerciais a partir de oócitos de matrizes meio sangue Nelore/ Angus fertilizados com sêmen de touros Brangus provados está sendo lançado pelo laboratório de melhoramento genético bovino Origens BRA – Biotecnologia de Reprodução Animal, de Dourados, MS. O objetivo é obter animais com 56% de sangue Angus, adaptados às condições de cria do Brasil Central, para atender às demandas mais exigentes do mercado de carne gourmet. A estimativa é de produção e transferência de cerca de 2.000 embriões na próxima estação reprodutiva. Inicialmente concebido pelo pecuarista Lauro Satoshi Iguma, de Dourados, que há vários anos se dedica à produção de cruzados Angus para programas de carne de qualidade com a terminação de cerca de 2.000 animais por ano, o programa já tem o apoio da Associação Brasileira de Brangus pelo seu potencial de revalorização da raça. O presidente da Associação, João Paulo Schneider da Silva (Kaju), adianta que o projeto será apresentado aos criadores no dia 27 de agosto, durante a Expointer, em Esteio, RS. A veterinária Lilian Iguma, sócia-diretora do Origens BRA, laboratório afiliado da In Vitro Brasil, da ABS Pecplan, informa que a fase preliminar do projeto foi concluída em julho com a apartação de cerca de 300 fêmeas 1/2 sangue do rebanho da família, na Estância Cerro Verde, de Panambi, distrito de Dourados. A seleção foi realizada pelo técnico e diretor da associação, José Luis Arbiza, com base em características raciais e de musculatura. As etapas seguintes envolverão a avaliação reprodutiva e análise de carcaça via ultrassonografia com software de avaliação para mensurar área de olho de lombo, maciez e porcentagem de gordura subcutânea. Da nova triagem, deverão sobrar 70 fêmeas para coleta de oócitos e posterior fecundação in vitro com sêmen (sexado ou não) de touros provados Brangus.

50 DBO agosto 2018

Do projeto piloto, participarão as fêmeas da Estância Cerro Verde, de Dourados, MS.

Lilian conta que a iniciativa do pai se apoia na convicção de que o mercado de carne gourmet caminha para um novo patamar, onde os animais com 50% de sangue europeu tende a fornecer commodity. Neste contexto, a FIV baseada em fêmeas 1/2 sangue selecionadas e associadas à melhor genética Brangus se torna ferramenta poderosa para aumentar a percentual de Angus no produto final, sem perder a adaptação às condições do Centro-Oeste. Parceiros selecionados O projeto piloto do Laboratório Origens BRA será realizado junto com produtores-parceiros, que fornecerão bezerros 1/2 sangue para a Estância Cerro Verde. Para isso, eles deverão faz um manejo diferenciado e usar tecnologias como a inseminação artificial em tempo fixo. Lilian Iguma acredita que a viabilidade comercial do projeto está na possibiidade de obter até 120 embriões por dose de sêmen convencional ou 60, no caso de sêmen sexado. Os embriões serão entregues aos parceiros sem custo, mas, para cada prenhez confirmada aos 60 dias, eles serão devedores do equivalente a 1,7 @ de boi gordo, conforme valor do Cepea/SP. Segundo Lilian, após esse período, desde que seguidas todas as recomendações, as perdas normalmente não passam de 5%. Para ter 1.000 bezerros na próxima estação de nascimentos, a diretora do Origens BRA estima ser necessário fertilizar 1.800 receptoras. No 1º diagnóstico, após 30 dias, a taxa de prenhez média costuma ser de 40%. As fêmeas que não emprenham têm uma segunda chance e são ressincronizadas. Lilian também destaca que a FIV, utilizada com critério, pode propiciar um salto de 3 a 4 gerações no melhoramento genético do rebanho. n


66º

MEGA

LEILÃO

15 TOUROS DE REPASSE, SAFRA DE 2015.

NELORE MOCHO CV

30.09,

DOMINGO,

FAZENDA SANTA GINA PRESIDENTE EPITÁCIO.

400 TOUROS

AVALIAÇÃO GENÉTICA

DA SAFRA 2016, FECHANDO DOIS ANOS DE IDADE.

PELA ANCP.

ANIMAIS

200 JOVENS MATRIZES

RÚSTICOS, PRECOCES E FÉRTEIS.

PRENHES DOS MELHORES TOUROS DA ATUALIDADE.

LEILOEIRA

PRECOCIDADE

GENÔMICA

ILPF

LUCRO

O primeiro parto aos 22 meses permite uma pecuária de ciclo curto.

Maior acurácia e intensidade de seleção.

Pecuária sustentável e nutrição saudável.

Raça adaptada resulta em mais rentabilidade.

TRANSMISSÃO

APOIO

PATROCÍNIO


fotos: divulgação

Genética

Piquetes do novo CP oferecem uma área de 18 m2 por animal.

CRV Lagoa inaugura centro de performance Instalações em SP têm capacidade para alojar 1.000 animais participantes de provas. Alisson Freitas,

D

Novas instalações permitem que o CP rode o ano inteiro sem interrupções” Cesar Franzon, gerente de Inovação e Rebanho da CRV.

de Sertãozinho, SP.

epois de 11 anos operando em área arrendada, o Centro de Performance (CP) da CRV Lagoa agora tem casa própria. As novas instalações, com capacidade estática para receber 1.000 animais, foram inauguradas no dia 26 de julho, em Sertãozinho, SP. A estrutura foi montada no espaço onde antes ficavam os piquetes destinados aos reprodutores em coleta na Central. Eles foram transferidos para a outra empresa do grupo, a Bela Vista, em Botucatu, SP, em agosto do ano passado De acordo com o gerente-executivo de Inovação e Rebanho da CRV Lagoa, Cesar Franzon, o novo CP é fruto de um investimento de R$ 1,5 milhão e foi projetado visando oferecer as melhores condições de bem-estar aos animais. São 20 piquetes com capacidade para até 50 bovinos e área de 18m² por cabeça. Também foi construído um novo sistema de drenagem e os cochos ganharam cobertura, o que possibilitará o uso das instalações também no período das águas. “Pensando em dois giros por ano, conseguimos alojar facilmente 2.000 animais, oferecendo a melhor condição de conforto possível”, afirmou o executivo, acrescentando que algumas associações de raças já demostraram interesse em utilizar o novo Centro de Performance, entre dezembro e abril do próximo ano.

52 DBO agosto 2018

Um dos principais ganhos proporcionados pela nova sede é a intensificação das provas de eficiência alimentar. Com a ampliação da estrutura, foram adquiridos 10 novos equipamentos GrowSafe e Intergado, e agora a unidade possui 33 cochos para avaliar essa característica. Outra novidade do CP é a participação dos animais oriundos do programa de melhoramento genético da CRV Lagoa, o Programa de Avaliação e Identificação de Novos Touros (Paint). Após a saída de diversos criatórios, há cerca de quatro anos, o programa foi reestruturado e hoje conta 70 rebanhos cadastrados. “Depois de muito esforço, conseguimos alcançar o mesmo número de fazendas de antes. O programa segue ajudando os parceiros a alavancar seus resultados”, destacou o diretor-presidente da empresa, Luis Adriano Teixeira. Presença constante em provas de desempenho, o pecuarista Ricardo Carneiro, da Senepol Soledade, de Uberlândia, MG, participa do Centro de Performance desde sua primeira edição. Ele acredita que a nova estrutura ampliará a oferta de animais avaliados no mercado e pode incentivar mais criatórios e empresas a promover provas nos mesmos moldes. “Precisamos fomentar mais iniciativas como essa, pois o uso de animais geneticamente superiores é o princípio básico da pecuária produtiva. Os filhos de um touro avaliado costumam ser desmamados pesando de uma a duas arrobas a mais do que os de reprodutores sem avaliação”, exemplificou. O Senepol é a raça com maior participação no CP deste ano, respondendo por 55% dos 620 animais inscritos (225 machos e 114 fêmeas). Em seguida aparece o Nelore, com 204 animais. Já as raças Santa Gertrudis e Angus são representadas por 46 e 31 tourinhos, respectivamente. Os animais serão submetidos a avaliações de qualidade de carcaça, ganho de peso médio diário, perímetro escrotal, morfologia, escores visuais e eficiência alimentar, dentre outras características. Os exemplares classificados como Top 30% serão vendidos em um leilão no início de dezembro. n



Genética Grupo Adir firma parceria com BB

N

o dia 25 de julho, o Grupo Adir assinou um convênio inédito com o Banco do Brasil para a criação do Programa de Melhoramento Genético Adir BB. A parceria foi oficializada na Chácara 2L, em Ribeirão Preto, SP, e prevê a abertura de créditos da ordem de R$ 100 milhões para a aquisição de material genético, serviços, estrutura e insumos veterinários, tendo o Grupo Adir como uma espécie de “avalista” dos empréstimos. Foram oferecidas três modalidades de crédito já existentes no BB (Investe Agro, FCO e Pronaf), dependendo das necessidades do produtor quanto a prazos e taxas de juros. Com o convênio, o criatório torna-se o único do País a obter linhas de crédito específicas para intermediar a negociação com os pecuaristas, incluindo, obviamente, a comercialização de seus produtos (touros, matrizes, sêmen e embriões). “Seremos um elo de integração entre os produtores e o BB, o que para nós um reconhecimento do mercado”, diz Paulo Leonel, que já coleciona parcerias. Há sete anos, por exemplo, o Grupo Adir mantém contrato com a Agropecuária Nova Piratininga, dona de 100.000 cabeças em São Miguel do Araguaia, GO. Todo o plantel

54 DBO agosto 2018

dessa empresa é inseminado com sêmen de touros Adir (90.000 doses/ano). O grupo também firmou parceria com a Fazenda Conforto, em Nova Crixás, GO, um dos maiores confinamentos do Brasil, para bonificação de fornecdeores que utilizam genética Adir no rebanho para produção de machos comerciais, pois a Conforto constatou diferença de desempenho desses animais em ganho de peso e características de carcaça, que lhe garantiam maior índice de premiação Cota Hilton. O grupo mantêm ainda um acordo com o Frigorífico MasterBoi, fruto dos abates técnicos realizados regularmente na fazenda e do projeto de carne de qualidade do criatório. Esse extenso “currículo”, segundo Leonel, despertou o interesse do Banco do Brasil. O projeto Adir BB começou a ser discutido durante a Expozebu, realizada em maio em Uberaba, MG, quando o diretor do Grupo Adir conheceu Marco Túlio Moraes da Costa, também diretor de Agronegócio do Banco do Brasil. De lá para cá, as discussões avançaram rapidamente para a consolidação do programa, que tem como objetivo elevar a produtividade nas fazendas brasileiras. Pelo acordo, os criadores terão acesso rápido e simplificado ao crédito rural, com condições de pagamento adequadas ao ciclo pecuário. Os financiamentos envolvem prazos de três a dez anos, com taxas de 4,6% a 10% ao ano.“Queremos que o produtor salde a dívida com o retorno do capital investido”, diz o diretor de agronegócio do BB. (C.R.)



NOVILHOTAS MULTIQUALIFICADAS

prontas para atrair resultados na próxima estação de monta.

Nós preferimos


Foto: Ney Braga

16 DE SETEMBRO 2018 DOMINGO | 13H30

TRANS MISSÃO CANAL RURAL

Transmissão

Leiloeira

Avaliação

Catálogo disponível nos sites www.ranchodamatinha.com.br www.programaleiloes.com (34) 3312.0030 @ranchodamatinha


ESPECIAL

A vez é das fêmeas Maristela Franco

Empresa monta projeto inédito de confinamento de vacas com bezerro ao pé no norte de MG para produzir carne gourmet, a partir de genética Angus.

Visão de um dos módulos onde as vacas permanecem confinadas oito meses por ano

Maristela Franco

A

de São João da Ponte, MG

vez é das fêmeas na pecuária de corte. Vários projetos focados na intensificação da cria têm surgido no Brasil, visando produzir mais quilos de bezerros/ha ou melhorar os índices reprodutivos do plantel, mas um deles, particularmente, quebrou paradigmas: o confinamento de vacas com bezerros ao pé do Grupo ARG. A empresa está conduzindo esse projeto inédito em duas fazendas, a Santa Mônica, em São João da Ponte, e a Santa Terezinha, em Jequitaí, que somam juntas 17.000 ha e abrigavam um rebanho de 56.937 cabeças em julho de 2018. Desse total, 23.611 são matrizes, alojadas em “piquetões” de chão

58 DBO

agosto 2018

batido pensados especialmente para elas. As vacas ficam a pasto apenas de janeiro a março. Seu “lar oficial” é o confinamento de cria, onde permanecem nove meses por ano, amamentando seus bezerros, gestando outros e parindo-os lá mesmo, em lotes específicos. O termo confinamento é empregado aqui mais em função das instalações do que da dieta. O objetivo do projeto não é engordar as matrizes, mas mantê-las em condições corporais adequadas para reprodução. Por isso, comem somente silagem de milho ou de capim, produzidos sob 22 pivôs. “Ao invés de levar as vacas ao pasto, levamos o pasto até elas”, brinca Vitoriano Dornas, diretor de agronegócios do Grupo ARG, empresa que também atua nas áreas de construção civil, gás e óleo, empreendimentos imobiliários e exportações.


Fotos grupo arg

Os lotes de 100 matrizes ficam em piquetões alongados, com água à vontade, 50 cm de área de cocho, sombrites para minimizar o estresse térmico e 200 m2 de espaço por vaca/bezerro, o que lhes permite caminhar ou até mesmo se isolar do resto do grupo. Ao lado desses piquetões, foram montados creep feedings com 10 cm de área de cocho por animal. É impressionante como os bezerros se adaptam rapidamente às instalações. Mesmo antes de experimentar o suplemento disponível no cocho do creep, já estão mastigando porções da silagem fornecida às mães. Da fazenda à mesa Todas as matrizes Nelore são inseminadas com Angus. Após a desmama, seus bezerros(as) são transferidos para um confinamento de engorda, onde permanecem por oito meses, sendo abatidos com 19@ (machos) e 17@ (fêmeas), aos 13-14 meses. Trata-se do mais alto nível de intensificação já visto no Brasil, pois ocorre nas duas pontas do sistema: a cria e a engorda, eliminando a recria e viabilizando a pecuária de ciclo anual no Semiárido. O objetivo do projeto – ousado tanto no conceito quanto nas diretrizes – é produzir carne de alta qualidade, para atendimento da rede de supermercados Super Nosso, que tem 43 lojas na região metropolitana de Belo Horizonte e almeja fatias crescentes do mercado regional de carne premium, em franco crescimento.

Acima, vista dos “piquetões” de confinamento de vacas, com cochos voltados para o corredor central e sombrites. A comida é produzida em pivôs centrais.

As duas empresas firmaram uma parceria farn-to-table (da fazenda à mesa), sem intermediação. Os animais estão sendo abatidos no Fricon, que recebe couros e subprodutos como pagamento. Essa indústria tem inspeção federal e fica em Contagem, município vizinho a Belo Horizonte. Já a desossa é feita por uma empresa contratada e a rede varejista se incumbe do preparo, embalagem e venda dos cortes, sob o selo “Angus Super Nosso”, certificado pela Associação Brasileira de Angus. Neste ano, o Grupo ARG vai abater 6.000 cruzados (500 cabeças/mês). Sua meta, porém, é terminar 12.000 novilhos(as) e produzir 2.400 t de carne em 2019, aumentando gradativamente esse montante, até chegar a 38.400 animais, com produção de 8.832 t em 2022. A parceria com a rede Super Nosso foi formalizada no ano passado e os abates começaram oficialmente no final de janeiro. A rede varejista começou faturando R$ 16.000 com o projeto, em fevereiro, e fechou junho com R$ 1,8 milhão, devido à boa aceitação do consumidor, estimulada por uma campanha de divulgação na TV mineira. A expectativa da empresa, segundo seu gerente industrial, Bruno Cruz, é que o projeto garanta faturamento anual superior a R$ 40 milhões, em futuro próximo. Na loja visitada por DBO, em Belo Horizonte, mais da metade da carne ofertada era Angus, com apresentação impecável (veja matéria à pág 66). Por que confinar vacas? Ao ler esta reportagem, você deve estar se perguntando: por que tirar as vacas do pasto, se esta é a forma mais barata de se produzir bezerros? Para entender a decisão tomada pelos proprietários do Grupo ARG – Adolfo Geo (fundador da empresa) e seus filhos, José de Lima Geo Neto, Adolfo Geo Filho e Rodolfo Geannetti Geo – é preciso voltar no tempo. As fazendas Santa Mônica e Fortaleza de Santa Terezinha ficam no Semiárido Mineiro, que tem sido duramente castigado pela seca. Nos últimos seis anos, a região norte do Estado perdeu 70% de suas pastagens (mais de 500.000 ha) e seu rebanho caiu de 3,5 milhões para 1,4 milhão de cabeças, devido à falta de forragem para alimentar o gado. Houve não somente perdas de animais, mas uma verdadeira “diáspora bovina”, com despovoamento de vastas áreas até então produtivas. “Antes, a gente mantinha um rebanho de 15.000 cabeças a pasto nas Fazendas Santa Mônica e Santa

nnn

Projeto em números

Fazendas: Santa monica e Santa Terezinha Localização: São João da ponte e Jequitai Área total: 17.000 ha Vacas confinadas: 23.611 Abate de precoces em 2018: 6.000 cab. meta para 2019: 12.000 cab.

São João da Ponte

MG

Jequitai

Belo Horizonte

nnn

DBO agosto 2018 59


fotos: Maristela Franco

ESPECIAL

Vitoriano Dornas, diretor de agronegócios do Grupo ARG, e Geraldo Sales Lana, administrador das fazendas: “Nosso aprendizado é diário, pois não temos referência técnica desse modelo no Brasil”.

Terezinha, mas, a partir de 2013, as coisas começaram a desandar. As pastagens foram perdendo capacidade de suporte, depois morrendo, e, em 2015, já não podiam sustentar nem 500 cabeças”, conta Geraldo Sales Lana, administrador das propriedades. A família Geo deparou-se com um grande dilema: desistir da pecuária e vender as terras, ou investir em tecnologia. Optou por investir. Para que o gado não morresse de fome, construiu um primeiro confinamento, em 2014, com capacidade para 6.000 cabeças (hoje desativado) e colocou boa parte do rebanho no cocho, durante a seca. “Um dos melhores professores que existe é o serviço. Tendo um pouquinho de inteligência, ele ensina tudo que a gente precisa. Os problemas vão aparecendo e a gente vai resolvendo”, sentencia o administrador. Segundo “Seu” Geraldo, não dava para distribuir volumoso no pasto para as vacas, porque isso as faria andar muito, perder energia e emagrecer, além de pisotear um capim já castigado pela estiagem. O mais indicado era fechá-las no confinamento. “Primeiro, a gente tratou a vacada com cana picada, mas não deu certo. Depois, passamos para a silagem de milho e, finalmente, para a silagem de capim mombaça. Tudo produzido debaixo de pivôs, que foram a salvação da pecuária. Há três anos, chegamos a colocar toda a recria em pastos irrigados”, diz “Seu” Geraldo, que trabalha com a família

Bezerros no creep feeding, anexo aos “piquetões” das vacas.

Índices reprodutivos do plantel em 2017 Nº de IATFs

grupo racial

% de renhez/IA

% de Perda gestacional

Nº de gestações

Prenhez final (%)

Angus

827

63

2,4

524

92,1

Nelore

17.457

53

4,7

9.220

79,7

Total

18.284

53

4,5

9.744

80,3

Fonte: Grupo ARG

60 DBO

agosto 2018

Geo há 38 anos. Aos poucos, os pivôs foram tomando conta da área das fazendas. Hoje, são 20, a maioria deles instalados na Santa Mônica (principal unidade produtora do projeto), onde 14 pivôs equipamentos irrigam 1.169 ha. Sobraram, nesta propriedade, apenas 3.820 ha de pastagens de sequeiro, que serão irrigados no futuro. A meta da empresa é ter 40 pivôs funcionando, pois há fartura de água no subsolo. “Sem a irrigação e o confinamento de vacas, teríamos apenas um terço do rebanho que temos hoje”, garante “Seu” Geraldo. Bendito 0800 Após afugentar o fantasma da seca, o Grupo ARG decidiu contratar a Rehagro, consultoria de Belo Horizonte, MG, para avaliar o projeto inédito e fazê-lo dar dinheiro. À época (2015), apenas uma pequena parte das matrizes era inseminada com Angus; as restantes produziam animais Nelore comuns, vendidos a baixo preço na região. Os consultores da Rehagro fizeram vários testes comparativos e constataram que os cruzados tinham melhor desempenho no cocho do que os Nelore e maior valor de mercado. Como o projeto tinha custos altos para os padrões da pecuária, a única saída era direcioná-lo à produção de carne premium. Depois de analisar os números da consultoria, os diretores do Grupo ARG resolveram destinar todas as matrizes ao cruzamento industrial. “Colocaram 100% do plantel no cocho, para ganhar escala, e passaram a produzir somente novilhos(as) superprecoces”, relata Vitoriano Dornas, que fez parte da equipe responsável pelo diagnóstico das fazendas e depois foi contratado como diretor de agronegócios do grupo. Havia, porém, outro grande desafio a vencer: encontrar um comprador disposto a pagar preço compatível com a qualidade e custo dos animais produzidos. Foi aí que a rede de supermercados Super Nosso


grupo arg

entrou em cena. Vale detalhar um pouco essa história. Após algumas tentativas frustradas de parceria com frigoríficos, os diretores do Grupo ARG se voltaram para o varejo. Como não conheciam ninguém nesse segmento, pegaram o telefone, ligaram para o 0800 do SAC (Serviço de Atendimento ao Consumidor) do Super Nosso e explicaram seu projeto. Por sorte, a funcionária que atendeu essa ligação percebeu a dimensão do negócio e informou o telefone da responsável pela área de marketing da rede, que levou a proposta até seus diretores. “Essa foi a primeira grande parceira do setor fechada por meio de um 0800”, comemora Fábio Schuler Medeiros, gerente nacional do Programa Carne Angus Certificada, que gosta especialmente do episódio. Tudo se encaixou de forma perfeita, mas fica uma questão: trata-se de um projeto único ou ele pode ser replicado em outras regiões? Seus gestores acreditam que sim, desde que se tenha alimento na seca e boas parcerias comerciais, elemento com alto efeito transformador na pecuária. “Quando o Grupo ARG nos procurou, estávamos justamente buscando alternativas para atender uma clientela mais exigente, que valoriza produtos com qualidade garantida e está disposta a pagar por esse quesito”, salienta Bruno Cruz, do Super Nosso. A empresa havia eliminado os açougues de suas lojas por uma série de razões (perdas, contaminação bacteriana, menos tempo de gôndolas) e estava investindo em novas tecnologias, como as embalagens com atmosfera modificada, que garantem maior vida de prateleira à carne. “Queríamos oferecer a nossos clientes produtos diferenciados em sabor e maciez. Houve um casamento perfeito entre o projeto do Grupo ARG, baseada na produção de novilhos superprecoces, e o nosso projeto, que é montar a melhor boutique de carnes de supermercado de Minas Gerais”, salienta o executivo.

Ajustes técnicos Para viabilizar uma parceria dessas dimensões, com mais de 23.000 vacas submetidas à inseminação artificial em tempo fixo (IATF), em lotes semanais para garantir oferta regular de novilhos(as), foi preciso planejar bem o manejo. A estação de monta, que antes era convencional (janeiro a março), foi invertida para evitar que os bezerros nascessem no período de chuvas, quando a mortalidade causada por doenças respiratórias pode chegar a 12%, devido à umidade e à maior contaminação no confinamento. “Passamos a vacinar os animais contra doenças respiratórias, alongamos a estação (já em função do projeto) e a transferimos para o período mais seco do ano, com início em 1º de maio e término em 15 de dezembro. Com isso, conseguimos baixar a mortalidade para 1,25%”, informa o diretor do grupo, Vitoriano Dornas. Os animais nascem de fevereiro a setembro e a desmama vai de agosto a março. “Como não temos nascimentos todos os meses, ajustamos a dieta de

Programa de fomento à F1 O Grupo ARG deverá lançar, em breve, um programa de fomento para produção de fêmeas F1, visando à reposição de seu plantel. “Já temos alguns parceiros em vista”, informa o diretor de agronegócios, Vitoriano Dornas. A escolha da genética ficará à cargo da empresa, para garantir que as fêmeas sejam precoces, apresentem potencial genético para produção de carne de qualidade e tenham frame adequado ao projeto. “Queremos matrizes de tamanho moderado, pois são menos exigentes, apresentam boa conversão alimentar e geram bezerros também precoces, em ganho de peso e acabamento”, esclarece o executivo. As novilhas F1 fornecidas pelos parceiros serão pagas a preço diferenciado. Com o crescimento das exportações de gado vivo, está mais fácil fazer esse tipo de parceria, segundo Dornas, porque os navios levam os machos cruzados e deixam as fêmeas, para as quais o produtor precisa dar melhor destinação.

Vista aérea dos silos de silagem de milho e capim que abastecem os confinamentos

Maristela Franco

Lote de fêmeas 1/2 sangue recém-adquirdas pela empresa para substituição das vacas Nelore

DBO agosto 2018 61


Maristela Franco

ESPECIAL

Dieta da vacas é exclusivamente composta por volumosos (silagem de milho e capim). O objetivo não é engordá-las, mas manter bom escore corporal.

crescimento na recria para escalonar a produção e usamos a Fazenda Santa Terezinha de Jequitaí, que faz pecuária a pasto com estação de monta convencional, para suprir a demanda do projeto nos meses de menor oferta (outubro a janeiro). Essa fazenda fica em uma região onde chove mais”, explica o executivo. As fêmeas são submetidas a três IATFs, sem repasse com touros, categoria eliminada das fazendas. No ano passado, a empresa realizou 18.284 protocolos, registrando índice final de prenhez de 80,3%, com destaque para as matrizes ½ sangue Angus, que atingiram o patamar de 63% na primeira IATF, ante 53% das zebuinas, 10 pontos percentuais a mais. “Em função disso, decidimos trabalhar apenas com vacas cruzadas a partir de 2019. Paramos de inseminar Nelore com Nelore para reposição e estamos substituindo gradativamente essas matrizes por novilhas F1 adquiridas de terceiros. Acabamos de comprar mais de 20.000 em julho”, informa Dornas. A meta da Manejo nutricional Dieta das matrizes

Categoria

Dias de lactação

Vaca em lactação

30

450

9,3

2,07

Milho

Vaca em lactação

60

450

10,3

2,29

Milho

Vaca em lactação

90

450

9,2

2,04

Milho

Vaca em lactação

120

450

8,3

1,84

Mombaça

Vaca em lactação

150

450

10,1

2,24

Mombaça

Vaca em lactação

180

450

9,8

2,18

Mombaça

Vaca seca

-

450

7,8

1,73

Mombaça

Vaca seca

-

450

8,5

1,89

Mombaça

Vaca seca

-

450

10,8

2,4

dietas

Silagem

62 DBO

agosto 2018

onsumo Peso (Kg) Cde MS

% do PV

empresa, segundo ele, é abater apenas animais ¾, com 75% de sangue Angus, pois eles têm melhor desempenho no cocho e garantem carne de melhor qualidade. “Temos machos com esse grau de sangue pesando quase 18@ aos 10-11meses”, diz “Seu” Geraldo. A reposição ou ampliação do plantel será feita por meio de parcerias (veja quadro à pág. 61). Dessa forma, 100% das vacas serão destinadas à produção de cruzados e as fazendas do grupo economizarão área, além de gastos com recria de fêmeas. Vitoriano Dornas admite que um plantel de vacas ½ sangue pode trazer perda de rusticidade e incremento nos custos com silagem, pois elas comem um pouco mais. “Porém, também emprenham mais cedo, produzem mais bezerros e desmamam animais mais pesados”, argumenta. A meta do grupo para 2019/2020, quando o plantel de vacas estará renovado (somente matrizes F1), é alcançar 91,5% de prenhez, 83,2% de nascimentos e 81% de taxa de desmama. “Também estamos fazendo um esforço para reduzir perdas gestacionais, hoje de 4,5%. Estamos coletando fetos mortos e enviando para análise laboratorial, na tentativa de diagnosticar as causas dessas perdas”, diz. Programa nutricional A formação dos lotes de vacas é feita com base em dois critérios: categoria reprodutiva (nulíparas, primíparas, multíparas) e fase pós-parto. Até os 120 dias de lactação (quatro meses), período de maior demanda nutricional para as fêmeas, que precisam produzir bastante leite para os bezerros, elas consomem silagem de milho, na proporção de 1,84% a 2,29% do peso vivo (PV). Na fase final de lactação (150 a 180 dias), quando o bezerro já está mamando menos e comendo maior quantidade de ração no creep, passam a receber de 2,24% a 2,18% do PV na forma de silagem de capim, percentual que cai para 1,73% a 1,89% nas vacas secas (veja tabela ao lado). Esse programa nutricional foi elaborado pelo professor Flávio Portela, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq). Como se trata de um protocolo novo no Brasil, a equipe está aprendendo junto, na prática. Os percentuais de fornecimento, por exemplo, foram estabelecidos com base na tabela do NRC (National Research Council), dos EUA, mas Portela já fez ajustes, pois as vacas mantiveram a condições físicas adequadas para concepção comendo menos alimento do que o recomendado por essa tabela, o que permitiu reduzir custos. A meta é manter as vacas com um escore de condição corporal (ECC) de 3,5, em uma escala de 0 a 5”, salienta Portela. Olhando a vacada no confinamento, percebe-se que essa condição é boa, nem gorda, nem magra. Cerca de 30 dias antes do parto, um veterinário da empresa avalia o ECC das fêmeas, para eventual ajuste da dieta. Se o escore estiver abaixo de 3,5, substitui-se a silagem de capim, que tem 49% a 50% de NDT (nu-



ESPECIAL trientes digestíveis totais) pela de milho, com 68% de NDT. O teor de proteína bruta da dieta não chega a ser problema, pois o mombaça ensilado tem 10%-11% de PB, suficiente para a manutenção das matrizes e produção de leite para os bezerros. O teor de proteína da silagem de milho tem sido ajustado com adição de ureia. “Se incluíssemos farelo de soja no cardápio, teríamos um custo extra de R$ 1,7 milhão/ano em nosso orçamento, sem garantia de produzir mais bezerros”, explica Dornas, informando que a empresa apenas fornece proteinado no cocho quando a silagem de capim apresenta baixa qualidade, devido a problemas na colheita. Como o custo de alimentação das vacas é alto, o gestor estuda a possibilidade de antecipar a desmama

de seis para quatro meses, pois, os bezerros demonstram independência precoce em relação às mães dentro do confinamento e essa antecipação traria grande economia. No ano passado, o peso médio à desmama foi de 236 kg, entre machos e fêmeas. As vacas são mantidas em cinco módulos de confinamento, na Fazenda Santa Mônica. As fêmeas de reposição, sejam elas próprias ou adquiridas de terceiros, ficam em outro módulo seperado, anexa às instalações de engorda da mesma propriedade. Essas novilhas comem apenas silagem de milho, em percentuais diferentes, conforme as faixas de peso, também estabelecidas pelo professor Flávio Portela, da Esalq. Fêmeas com peso entre 248 e 269 kg, por exemplo, comem 6,16 kg de matéria seca (MS)/cab/dia, enquanto aquelas com 317 e 344 kg, ingerem 7,87 kg. “Esse projeto é o paraíso dos nutricionistas”, brinca Fábio Schuler, da ABA.

grupo arg

Engorda a jato A

s instalações de engorda do Grupo ARG têm capacidade instalada para 25.000 cabeças, na Fazenda Santa Mônica, e 10.000 cabeças, na Santa Terezinha de Jequitai, o que permite à empresa engordar até 100.000 animais por ano, em três giros, se desejar. Os bezerros chegam ao confinamento ainda muito jovens (seis meses de idade), mas, como nasceram nos “piquetões” de cria, não estranham o novo ambiente, mesmo porque já conhecem os companheiros de lote. “Pesquisas mostram que os animais transferidos imediatamente após a desmama para o confinamento apresentam melhor eficiência alimentar do que os provenientes da recria a pasto”, explica Vitoriano Dornas. Na engorda, os bezerros contam com 33 cm de área de cocho e espaço de 11 m2 por cabeça. Um dos módulos do confinamento, com capacidade para 10.000 bovinos, teve seu piso concretado, visando à coleta de matéria prima (dejetos) para abastecimento de um biodigestor, que será montado ainda neste segundo semestre. “Um dos nossos maiores custos é justamente a energia elétrica, usada para bombear água para os pivôs e fazê-los irrigar as plantações de milho e mombaça”, diz Dornas, informando que o biodigestor produzirá 5 megawatts/hora de energia, atendendo toda a demanda do projeto, que é de 1 mega, e ainda gerando excedentes para venda. “Nossa ideia é fornecer energia para a rede Super Nosso, por valor abaixo do

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preço de mercado, pois eles são nossos parceiros e também têm grandes despesas com energia elétrica”, diz. O Grupo ARG está pleiteando uma linha de financiamento viabilizar a instalação do biodigestor. “Além de dar destinação ambientalmente correta aos dejetos dos bovinos, vamos produzir biofertilizante para a lavoura e, futuramente, até vender créditos de carbono”, pontua o executivo da empresa. Dieta bem planejada Apesar de já estarem acostumados ao cocho, pois ficam junto com as mães nos “piquetões” e comem ração de creep feeding, os bezerros são submetidos, preventivamente, a um protocolo de adaptação. Durante 21 dias, recebem três tipos de dieta: a primeira com 40% de volumoso, a segunda com 30% e a terceira com 20%, para evitar quaisquer problemas metabólicos. Após essa fase, eles entram no chamado período de desenvolvimento, que dura 75 dias. Nessa etapa, consomem uma ração mais rica em proteína e com teor de energia adequado, para que cresçam ao invés de engordar. So-

Vista aérea do confinamento de machos, onde são produzidos novilhos superprecoces, abatidos com 19@ aos 13-14 meses.



fotos: Maristela Franco

ESPECIAL

Visão geral do confinamento de machos, com a fábrica de rações ao fundo.

mente depois disso, começa a terminação propriamente dita, cuja duração é de 150 dias. A dieta é simples: silagem de mombaça, milho moído, farelo de soja, ureia, sal, calcário, sulfato de amônia e núcleo aditivado. O que muda é a proporção desses ingredientes, conforme a fase do confinamento. “Durante o crescimento e engorda, trabalhamos com uma ração muito próxima da norte-americana, que contém 90% de concentrado. A nossa tem 85%”, salienta Dornas. A formulação não leva subprodutos, porque não há oferta desses ingredientes na região e, alguns, como o caroço de algodão, são proibidos em dietas para bovinos destinados ao mercado de carne premium. O alto

percentual de milho na ração de terminação (77,15%) deve-se à necessidade de garantir acabamento de gordura entre 3+ e 4 (5 a 10 mm de espessura) e imprimir marmoreio às carcaças, o que se consegue apenas com dietas contendo muito amido. Segundo Dornas, cerca de 60% da deposição de gordura entremeada tem a ver com o ácido propiônico, cuja produção aumenta em animais que ingerem rações ricas em grãos. Apesar de os machos serem abatidos muito jovens, a empresa decidiu castrá-los, para aumentar o percentual de marmoreio na carne. “O projeto é sério candidato ao selo Angus Gold. A castração era o último item que faltava para essa certificação”, salienta Fábio Schuler, da ABA. A empresa está fazendo a intervenção cirúrgica quando os animais atingem 360 kg, Com isso, permanecem pelo menos 200 dias no confinamento sem produção de testosterona. “Estamos fazendo um experimento comparativo na fazenda e constatamos que os animais inteiros ganharam 49 kg (1,5@) a mais do que os castrados, mas esperamos reduzir essa diferença com ajustes no manejo”, diz o gestor. Estrutura moderna O Grupo ARG conta com infraestrutura moderna para atender as demandas do confinamento. A fábrica de rações trocou o moinho de rolo pelo de martelo (mais eficiente); a colheita do milho é feita com automotriz; os silos graneleiros podem estocar até 150.000 sacas, permitindo à empresa fazer compras estratégicas de insumos, e o trato é automatizado. Foram instalados tags (sensores) tanto nos currais do confinamento de cria quanto nos das instalações de engorda, para garantir maior precisão à distribuição da dieta, evitando desperdícios. “As operações são controladas com aju-

Supermercado “gourmet” O Grupo Super Nosso é a terceira maior rede varejista de Minas Gerais, com três bandeiras: Super Nosso (17 unidades), Momento (12 pontos menores, de conveniência) e Apoio Mineiro (14 atacarejos), que devem faturar R$ 2,3 bilhões em 2018. Nas lojas Super Nosso, a companhia adota o conceito de “supermercado gourmet”, com produtos de melhor qualidade, importados ou artesanais, voltados às classes A e B. “Decidimos firmar essa parceria com o Grupo ARG, para lançamento de nossa marca própria de carne premium, porque o projeto tem tudo a ver com nosso cliente. Já estávamos caminhando nesse sentido, ao investir em uma unidade industrial de

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perecíveis, que hoje processa 700 t/mês de produtos, dos quais 130 t são carnes (80% bovina)”, salienta o gerente Bruno Cruz. Parte dos cortes já chega à unidade limpos e embalados, mas alguns mais sofisticados são preparados pela equipe do Super Nosso, como a costela minga, assado de tira, bananinha, tomahawk, short ribs, shoulder e chuck tender, que antes a rede não comercializava. “Não vendemos carne Angus apenas para finais de semana, mas para todos os dias, porcionados e acondicionados em bandejas, prontos para uso”, diz. Segundo ele, o grande desafio do projeto é colocar todo o boi na mesa do consumidor. O selo Angus Super Nosso já repre-

Gôndola do Super Nosso com apresentação do selo Angus, lançado em parceria com o Grupo ARG.

senta de 15% a 20% das vendas de carne bovina do grupo, que pretende investir pesado também na produção de hambúrguer (resfriado e congelado).


Otimizando a performance ruminal

- Auxilia na transição de dieta - Reduz o impacto do estresse calórico - Limita o risco de acidose

↑ Crescimento ↑ Eficiência alimentar ↑ Qualidade de carcaça vendas@phileo.lesaffre.com phileo-lesaffre.com


ESPECIAL Resultados técnicos do projeto Peso ao nascimento (Kg)

da de um software de gestão específico, mas tivemos de adaptá-lo para o confinamento de vacas, que é algo totalmente novo. Temos muitas demandas diferentes. Acabamos de contratar um engenheiro de controle e automação que está estudando formas de travar o sistema distribuidor do caminhão, assim que ele despeja a quantidade certa de dieta, para não haver desvio de trato”, diz Dornas. Segundo Fábio Schuller, a produção de novilhos(as) Angus do Grupo ARG é bastante padronizada e apresenta baixíssimo índice de desclassificação. “Aliás, esse tipo de problema diminui muito dentro do programa, em todo o Brasil, porque os produtores aprenderam a fazer cruzamento. Apenas 1% dos animais avaliados é desclassificado em função de características raciais e 10% por acabamento inadequado. Esses índices já foram bem maiores”, diz. Para garantir qualidade às carcaças, o manejo pré-abate dos animais foi aprimorado. “Deixamos de dar o último trato antes do embarque. Apesar disso ter afetado um pouco o rendimento, reduziu os problemas de pH no frigorífico. “Com a castração, talvez o problema se resolva definitivamente. Nas carcaças dos animais intei-

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32

Peso ao desmame (Kg)

236,8

Idade ao desmame (dias)

210

GMD do nascimento à desmama (Kg)

0,975

Idade média ao abate (dias)

428

Peso ao abate (Kg)

610

Duração do confinamento (dias)

218

GMD no confinamento (Kg)

1,712

Peso da carcaça (em Kg)

341,5

Peso da carcaça (em @)

22,8

Rendimento da carcaça (%)

55,96

Gando do nascimento ao abate (Kg)

578,39

GMD do nascimento ao abate (Kg)

1,351

ros já abatidos, registramos pH médio de 5,8. Para obter o selo Angus Gold, esse índice precisa ser menor”, explica o executivo. O transporte dos animais até o frigorífico é feito com caminhões próprios, por equipe treinada, e o processo industrial é acompanhando do abate à gôndola, por uma zootecnista especializada em qualidade de carne. n



ESPECIAL

Ração sem volumoso ganha espaço no cocho Fotos: Moacir José

Prática, versátil e mais barata, ela facilita o manejo e elimina riscos climáticos, garantindo ganhos de até 1,5 kg/cab/dia.

Ração sem volumoso da Fazenda Pontal, que decidiu usar esse tipo de dita devido a sua praticidade.

70 DBO

Moacir José,

P

de Itapirapuã, GO

raticidade, flexibilidade e custo atrativo. Essas são as três principais vantagens da chamada “ração total”, mistura sem volumoso que está chegando ao cocho dos confinamentos brasileiros. Apesar de não ser uma alternativa nova (formulações de engorda feitas somente com concentrado já foram usadas pontualmente no País, em outras épocas), esse tipo de dieta se “modernizou”, ganhou feição mais segura, em função de novos aditivos, e começou a chamar a atenção de produtores que não podem ou não querem produzir silagem de milho ou outra fonte de fibra em suas propriedades. Composta por farelos de milho ou sorgo (como fonte energética), subprodutos como polpa cítrica, casca de soja e caroço ou torta de algodão (que além de proteína, têm certo percentual de fibra efetiva) e um núcleo mineral aditivado, esse tipo de ração garante ganhos diários de 1,3 kg a 1,5 kg/cabeça, em média. Como é farelada, ela pode ser fornecida apenas uma vez ao dia, facilitando o manejo, mas seu uso exi-

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ge cuidado e monitoramento, pois se trata de uma dieta de alto concentrado (90% a 95% de matéria seca). Ou seja, ela é muito energética (76 a 79%% de nutrientes digestíveis totais, NDT). Por isso, pode causar distúrbios gástricos, diarreias e laminite (inflamação dos cascos). “Se bem manejada, contudo, a ração total sem volumoso é opção interessante para fazendas sem vocação agrícola ou que estejam em regiões sujeitas a veranicos”, ressalta o zootecnista Rogério Coan, sócio-proprietário da Coan Consultoria, de Ribeirão Preto, SP, que, junto com o também zootecnista Washington Mesquita, da Intensiva Consultoria, de Goiânia, GO, analisou a viabilidade técnica desse tipo de dieta, em artigo publicado por DBO, na edição de maio deste ano. Onde estão usando Uma região onde a dieta sem volumoso tem se mostrado interessante, segundo Coan, é o Vale do Araguaia. Apesar de estar encravada no noroeste de Goiás, terceiro maior produtor de milho do País (8,3 milhões de toneladas, segundo o último levantamento da Conab, de 10 de julho), parte do Vale apresenta altitude inadequada para produção desse grão e também alta frequência de veranicos de 20-30 dias no período de “grana” do milho, o que prejudica a produtividade da silagem e, indiretamente, eleva o custo de produção do confinamento. Ao excluir esse volumoso da ração, o produtor reduz riscos e barateia a diária alimentar, apesar de perder um pouco em ganho de peso (veja quadro à pág 72). A “ração total” também é uma alternativa para regiões semiáridas. Segundo informa Danilo Monteiro, diretor de marketing da Nutroeste, de Goiânia, GO, que tem comercializado núcleo para esse tipo de dieta, um dos clientes da empresa no norte de Minas Gerais excluiu até o milho da dieta, por ser difícil de encontrar, substituindo-o por sementes processadas de urucum, produto abundante na região, ainda que energeticamente inferior ao cereal. “Pode ser também babaçu, raspa de mandioca, milheto ou qualquer outro ingrediente seco, que componha uma dieta farelada com 90 a 95% de matéria seca”, explica.


Consumo diário na Pontal começa com 11 e chega a 14-15 kg/cab/dia

Versatilidade reduz custo Atraído pelo menor custo da “dieta total”, Fabiano Alves Tavares, proprietário da Fazenda Pontal, em Itapirapuã, 180 km a oeste da capital Goiânia, GO, montou uma estrutura na propriedade para armazenar ingredientes farelados, adquiridos em função de sua disponibilidade e preço. No primeiro semestre, quando os grãos normalmente estão mais caros, Tavares trabalha com uma mistura de 49,9% de milho e sorgo triturados, pois descobriu, após várias experimentações, que os dois grãos juntos dão melhores ganhos do que sozinhos. Além disso, a ração contém 30% de casca de soja; 15% de caroço de algodão; 0,1% de tanino, um antimicrobiano extraído de plantas que ajuda a combater a acidose; e 5% de núcleo mineral contendo outros aditivos que também desempenham essa função. Já no segundo semestre, a proporção de milho e sorgo sobe para 79,9% e o produtor tira a casquinha de soja da dieta, usando apenas 15% de torta de algodão, 0,1% de tanino e 5% de núcleo mineral. Neste ano, porém, Tavares vai usar somente sorgo no segundo semestre, pois o milho está caro: R$ 31 a saca, ante R$ 22 da saca de sorgo, uma diferença de 40%, o dobro da registrada tradicionalmente na região. “Tirando o milho, a dieta fica menos energética e é preciso manter os animais por mais tempo no cocho, mas o custo menor compensa”, justifica o produtor, que trabalha com esse tipo de ração desde 2005. No ano passado, ele confinou 6.000 bois, em quatro giros (dois nas águas, de 30 dias cada, e dois na seca, de 40 a 70 dias cada). Os animais começaram comendo 11 kg de ração sem volumoso e terminaram com 14-15 kg/cab/dia. “A raça não importa muito (ele confina Nelore, cruzados e mestiços leiteiros), mas sim seu custo de aquisição, seja para a recria ou engorda”, informa. Para Tavares, esse tipo de dieta foi uma ótima solução, pois ele não precisa produzir silagem (a área disponível na fazenda é de apenas 365 ha) e nem recorrer à terceirização, da qual não é adepto, pois tentou essa alternativa um ano e “levou um cano” de um operador de automotriz na hora da colheita. Com a ração farelada, ele também pode aumentar ou diminuir o número de animais confinados conforme sua conveniência ou

Fabiano Tavares confina o ano inteiro sem usar silagem

oportunidades comerciais, o que é difícil quando se trabalha com volumoso. Descarte de seleção Outro produtor que explora esse viés da ração contendo somente concentrado é Maurício Garcia, selecionador de gado Brangus, da grife Saga, em Chapadão do Céu, sudoeste de Goiás, quase na divisa com o Mato Grosso do Sul. Ele tem um confinamento com capacidade para terminação de 600 bovinos e realiza apenas um giro por ano (outubro a janeiro). No ano passado, engordou 280 machos e 200 fêmeas, em sua maioria animais de descarte do criatório Brangus, cujo plantel soma 1.000 matrizes. Como a propriedade também produz grãos e, no ano passado, a saca de milho estava cotada a R$ 17-R$ 18 na região (valores bem baixos), compensou fechar os animais com uma dieta sem volumoso composta por 75% de milho moído, 20% de torta de algodão e 5% de núcleo mineral. Composição da ração sem volumoso da Fazenda Pontal Quantidade Inclusão (kg) (%)

Ingrediente

Proteína bruta (%)

NDT (%)

Custo1

Primeiro semestre Milho grão

361

36,1

9,5

85

180,50

Sorgo grão

155

15,5

10,6

82

62,00

Casca de soja

300

30

12

88

162,00

Caroço de algodão

150

15

29

90

94,50

Núcleo Mineral

33

3,3

58

0

94,05

Tanino

1

0,1

0

0

9,00

14,9

83,3

602,05

Totais

Tabela composição 1.000 Faz Pontal 100 de ração Segundo semestre

Sorgo grão

749

75

10,6

82

274,63

Torta de algodão

200

20

28

73,5

126,00

Núcleo Mineral

50

5

58

0

140,50

Tanino

1

0,1

0

0

9,00

Totais

1.000

100

16,4

76,1

550,13

1Em

R$, considerando R$ 30 a saca (60 kg) de milho e R$ 22 a do sorgo; R$ 540 a tonelada da casca de soja; R$ 630 a tonelada da torta e a do farelo de algodão e R$ 2.810 a tonelada de núcleo mineral. Fonte: Fazenda Pontal; Elaboração: DBO

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ESPECIAL

Grãos, como o sorgo, são comprados no melhor preço e estocados em galpão.

Os machos entraram no confinamento com 400 kg e saíram com 540 kg; consumindo o equivalente a 2,5% de seu peso vivo, em média. A mesma estratégia já havia sido utilizada em 2015, quando esse tipo de dieta foi introduzida na propriedade para alimentar, em uma área de pastagem reformada após lavoura de soja, alguns animais descartados da seleção por apresentarem problemas de casco. “Gostei muito do resultado. Havia também machos com umbigueira, vítimas de sodomia ou velhos, que foram vendidos a preço de vaca, mas foi bom, porque, se ficassem na fazenda, o prejuízo seria maior”, diz Garcia. Neste ano, porém, com a saca de milho cotada a R$ 35, a decisão do produtor foi vender a colheita e deixar os animais para engordar a pasto. Pré-requisitos importantes Tanto o confinamento profissional de Fabiano Tavares quanto o estratégico de Maurício Garcia contam com cochos cobertos, um dos requisitos para uso da ração sem

volumoso. Conforme explica Danilo Monteiro, da Nutroeste, se o produto for molhado pela chuva, terá de ser consumido em no máximo seis horas. Depois disso, ele começa a fermentar e é rejeitado pelos animais, gerando perdas. Outro cuidado importante é adaptar previamente os bovinos à dieta, por 14 a 21 dias, para ajustar a flora bacteriana ao alimento farelado e evitar problemas de acidose. Maurício Garcia admite que teve problemas, no começo. “Por um erro de interpretação, antecipamos a entrada dos animais no confinamento e eles apresentaram diarreia e perda de peso. Tivemos de voltá-los para o pasto”, conta. Para evitar esse tipo de transtorno, Tavares, da Fazenda Pontal, usa uma estratégia de adaptação interessante: animais com mais de 14@, oriundos da recria ou comprados, recebem, ainda a pasto, 3 kg de ração sem volumoso e, depois, 1 kg a cada três dias, até chegar a 11 kg/cab/dia, quando já podem ir para o confinamento. Nas instalações, vão recebendo 100 g a mais todos os dias, até se atingir o máximo de 14-15 kg/cab/dia. Tavares faz leitura de cocho pela manhã. Se o recipiente amanhecer limpo, o funcionário aumenta em 100 g a quantidade fornecida; se houver uma sobra pequena, a quantidade é mantida; se a sobra for grande, a quantidade é reduzida em 100 g/cab/dia. Neste último caso, o tratador, Paulo Henrique Soares, é orientado a verificar a origem do problema e solucioná-lo. O baixo consumo pode ser causado, por exemplo, por sujeira na água, que atrapalha a ingestão de alimentos. Desde que começou a usar dietas sem volumoso, em 2005, Tavares eventualmente registrou casos de acidose no confinamento, devido à falta de ingredientes com bom teor de fibra efetiva na dieta. Esses transtornos gastrointestinais foram resolvidos com ajustes na formulação, uso de ureia protegida e a inclusão, no núcleo mineral, de aditivos como antibióticos promotores de crescimento (mo-

O que fazem os norte-americanos Dietas sem volumosos sempre foram o “sonho” dos confinadores norte-americanos desde o final dos anos 60, por facilitar o trato dos bovinos, manejados aos milhares. A experiência lhes mostrou, contudo, que era necessário manter algum nível de fibra na mistura (8% a 9%), para garantir a saúde ruminal e, consequentemente, o consumo em níveis adequados. Conforme explica Flávio Portela Santos, professor do Departamento de Zootecnia da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/ USP), quando a ração contém volumoso, o animal come mais. Se ele estiver inge-

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rindo 8,5 kg de MS/cab/dia de uma dieta sem forragem alguma, basta acrescentar 5% de silagem de capim para que passe a comer 9,2 kg; mais 5% de forragem e o consumo sobe para 10 kg de MS; e assim por diante. O ganho de peso vai de 1,3 kg para 1,6 kg/cab/dia. A partir de certo ponto, porém, o aporte de energia começa a cair e a transformação do alimento em carne piora. O ponto de equilíbrio seriam justamente os 8%-9% de volumoso na dieta adotados pelos norte-americanos, que, apesar de não resultar no maior ganho de peso, garantem melhor conversão ali-

mentar. Segundo Portela, isso não significa que a dieta sem volumoso é inviável. Já se pensou assim, mas hoje se sabe que vários subprodutos (casquinha de soja, polpa cítrica, caroço de algodão) contêm fibra efetiva suficiente para estumular a salivação e evitar quedas drásticas de consumo, além de distúrbios digestivos. “Raramente se vê alguém fornecendo somente milho moído mais núcleo mineral aos animais, pois o risco de acidose é elevado, principalmente em confinamentos grandes. As dietas com subprodutos, contudo, podem ser uma alternativa interessante”, diz o professor.



Arquivo fazenda porto alegre

ESPECIAL

Luciano de Oliveira, de Mundo Novo, GO, largou a silagem, em função, também, do risco climático.

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nensina, salinomicina e virginiamicina) e taninos. Hoje, o confinamento segue tranquilo. Sem desperdício Outro criador que assegura não registrar problemas de acidose nem refugo de cocho com a dieta sem volumoso é Luciano de Oliveira, gestor da Fazenda Porto Alegre, no município goiano de Mundo Novo, região noroeste do Estado. Assistido pela Coan Consultoria, Luciano tam-

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bém faz a adaptação dos animais no pasto, pelo período de 14 a 21 dias, fornecendo inicialmente 1,5 kg de ração/ cab/dia, com acréscimo diário de 0,5 kg/cab até atingir o equivalente a 2% do peso vivo do animal, em matéria seca, estabilizando-se a partir daí. “Não há desperdício de comida (sobra do dia anterior), o ganho em carcaça é de 1 kg/cab/dia e o rendimento é alto (58%); tudo isso com a comodidade de fornecer apenas um trato diário, às vezes dois, quando quero estimular um pouco o consumo”, lista Oliveira, que também faz recria/engorda, terminando cerca de 2.000 animais por ano. Ele começou a confinar bovinos há três anos e usa a ração sem volumoso há dois, formulando-a com fubá de milho, torta de algodão, caroço de algodão e núcleo mineral específico. “Usamos aditivos em doses manipuladas no decorrer do confinamento, com proporções diferentes nas fases de adaptação e terminação”, informa. A adoção da tecnologia decorreu de duas situações desvantajosas das silagens de capim e sorgo, adotadas no primeiro ano do confinamento: risco de veranico e custo alto, no caso do sorgo. Para ele, a dieta sem volumo é quase um “tratamento” e só funciona se a adaptação for bem feita. Quanto ao custo da arroba colocada com essa dieta, garante que é menor ou igual ao de uma dieta com uma boa silagem de milho, pelo menos na maioria dos confinamentos brasileiros. n



ESPECIAL

Boi somente come bem com água de qualidade Uso de hidrômetro no bebedouro ajuda a avaliar consumo e determinar período ideal de limpeza

O

Animais ingeriram 28 l/ cab a menos, por falta de limpeza dos cochos e engordaram menos.” Anderson Panzera, nutricionaista do Fazenda Santa Helena de Água Boa, MT.

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Renato Villela renato.villela@revistadbo.com.br

zootecnista Anderson Alex Panzera, da Fazenda Santa Helena de Água Boa, no município de Água Boa, MT, localizado no Vale do Araguaia, andava com uma pulga atrás da orelha. Coordenador de nutrição do confinamento da propriedade, que pertence ao Grupo Mantiqueira, Panzera queria saber se a dimensão dos bebedouros, com capacidade para 700 litros, instalados nos piquetes do confinamento, era suficiente para o número de animais alojados (150 em cada lote). “Precisava saber se o tamanho dos bebedouros estava suficiente para suprir o consumo de água recomendado, que é de 40 a 60 litros diários por bovino”, diz. Para se certificar de que os animais estavam, de fato, bebendo o volume de água prescrito pela literatura, o zootecnista decidiu fazer uma medição por amostragem. Instalou hidrômetros em quatro dos 200 piquetes do confinamento, que tem capacidade estática para 30.000 bois. O hidrômetro mostrou que o consumo estava dentro dos parâmetros indicados, entre 40 e 45 litros/cab/dia. Panzera, no entanto, decidiu investigar se a frequência de limpeza do bebedouro influenciava no volume de água ingerido pelos animais”. Normalmente, há muita divergência sobre o número de vezes que o bebedouro deve ser limpo. Três, duas vezes por semana, todos os dias?”, indaga. Para dissipar mais essa dúvida, o zootecnista, que havia medido o consumo limpando o bebedouro em dias alternados, solicitou ao responsável pela tarefa que deixasse de fazer a limpeza por dois dias seguidos. A nova medição revelou um dado surpreendente: o consumo de água despencou para 28 l/cab/dia. Para comprovar a máxima “boi que não bebe não come”, Panzera foi ao cocho e constatou sobra de comida. Os animais que tiveram acesso à água mais limpa comeram mais: 13 kg de MS/cab/dia ante 11,7 kg registrados no lote que bebou água suja por dois dias consecutivos. “Essa diferença (1,3 kg de MS/cab/dia) representa menos 280 g/dia de ganho de peso. Para um lote de 150 animais, são 42 kg a menos”, afirma. A constata-

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Hidrômetro forneceu informação estratégica

ção motivou mudanças na rotina de trabalho. “Além de limparmos o bebedouro dia sim, dia não, temos uma pessoa que percorre diariamente o confinamento para se certificar de que os bebedouros estão limpos”. Dimensionamento do bebedouro A importância de se estabelecer uma limpeza periódica dos bebedouros vem ao encontro de outro aspecto a ser considerado pelo produtor: o dimensionamento da instalação. “A tendência é que os bebedouros sejam cada vez menores, pois garantem economia de água quando precisam ser esvaziados para ser limpos”, afirma o consultor Tiago Fernandes, da empresa Irrigaboi, de Jales, SP. Para justificar sua preferência por modelos menores, Fernandes propõe o seguinte cálculo: ao optar por um bebedouro de 500 litros ao invés de outro, com capacidade para 1000 litros, o produtor economiza, em um giro de engorda de 100 dias e considerando-se o esvaziamento do bebedouro para limpeza dia sim dia não, até 25.000 litros de água (500 l x 50 dias). “Isso sem contar a menor formação de lama ao redor da instalação”, completa. Para dimensionar a instalação, o consultor calcula 3 cm lineares por animal. “Um bebedouro com 3 m de comprimento e consumo de ambos os lados é suficiente para suprir um lote de até 200 animais”. A localização do bebedouro também deve ser considerada no projeto do confinamento. Diferentemente do que muitos pensam, a instalação não deve ficar próxima ao cocho, pois desse modo os animais acessam o bebedouro com a boca cheia de resíduos e sujam a água mais rapidamente. Para evitar que isso aconteça, a recomendação é posicionar os bebedouros a uma distância correspondente a 30% da largura do piquete, do fundo à linha de cocho. No caso de um piquete que tenha 40 m de profundidade, por exemplo, o bebedouro deve ficar a 28 m do cocho (12 m do fundo da cerca ao fundo do piquete). “Desse modo, garantimos água de melhor qualidade para os animais”. n



ESPECIAL

Engorda intensiva dos EUA passa por mudanças profundas Que lições nós, produtores brasileiros, podemos tirar disso?

Pedro Veiga Paulino Rodrigues é zootecnista, doutor em nutrição animal pela Universidade de Viçosa e Universidade da Califórnia, com pós-doutorado em crescimento animal e qualidade de carne pela Universidade de Iowa, EUA.

Gado confinado mudou de mãos nos EUA; agora é dominado por grandes empresas especializadas.

S

empre que se fala sobre confinamento de bovinos de corte, os Estados Unidos surgem como referência mundial. Confinador que se preze já visitou a terra do “Tio Sam” para conhecer seu sistema intensivo de produção. Técnicos e professores de renome estudaram nas famosas “land-grant universities”, onde fizeram o tão sonhado (e suado) PhD. Realmente, não é de se desprezar toda a experiência e know how que os americanos têm nessa área. Temos muitas coisas a aprender com eles; coisa que podem fazer diferença em nossa atividade, especialmente no quesito eficiência. Exemplo: enquanto, no Brasil, temos um colaborador para 600 bois; nos Estados Unidos, esse número varia de 1.200 a 2.800. Ou seja, usamos nossa mão de obra com metade da eficiência. Enquanto os norte-americanos fazem de um a dois tratos, nós realizamos três, quatro e até seis. Quem já visitou confinamentos nos EUA ficou impressionado com a “tranquilidade” que ronda o lugar. Às 16 hs, o gado já está todo tratado e os funcionários foram embora, enquanto, no Brasil, tem gente na lida das 5 da manhã até altas horas da noite. Pagamento de hora extra no hemisfério norte não existe. Aqui, nos esgoelamos para finalizar as atividades dentro do tempo normal, para evitar gastos extras na folha de pagamentos. Também, pudera! O confinamento comercial nos EUA começou a surgir, como indústria de fato, em 1942. Em 1962, a floculação de milho foi introduzida nos projetos em larga escala. Ou seja, há mais de 50 anos eles usam uma tecnologia de processamento de grãos que para nós ainda é novidade. Claro que temos de considerar as diferenças enormes que existem entre os dois países em vários aspectos, como características raciais dos animais, alimentos usados, clima, qualificação de mão de obra, robustez e qualidade de equipamentos, etc. Ainda assim, podemos avançar mais rapidamente na busca por maior profissionalização. O que está mudando lá O interessante, é que a indústria norte-americana de confinamento está sendo forçada a se reiventar. Transformações profundas ocorreram nos últimos anos. Por décadas, a dieta fornecida aos animais foi muito igual e consistente em termos de ingredientes: milho floculado, feno de alfafa, sebo bovino, alguns poucos subprodutos e suplemento contendo minerais, vitaminas e aditivos. Os dados zootécnicos de performance, ou seja, consumo, ga-

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nho de peso e conversão alimentar, eram bem padronizados, mantendo nutricionistas e consultores dentro de uma certa “zona de conforto”. No entanto, a partir do momento em que os Estados Unidos passaram a produzir etanol à base de milho de forma mais contundente, no começo dos anos 2000, tudo mudou! Os preços do milho subiram de patamar e os subprodutos da indústria do etanol passaram a ser ofertados a preços atrativos. Os hoje tão falados DDG(S), WDG(S) e suas diferentes vertentes tiveram de ser utilizados em grandes quantidades nas dietas. Ou seja, o que antes era basicamente alto amido/baixa proteína, passou a ser baixo amido/alta proteína. Com alterações profundas nas dietas, alguns nutricionistas se perderam tentando manter os índices zootécnicos dentro da faixa que sempre estiveram e não perceberam que o mais importante não era se esforçar para manter números bonitos de ganho e conversão, mas buscar o máximo retorno econômico, mesmo que, para isso, os resultados técnicos tivessem de ser um pouco sacrificados. Muitos tiveram de antecipar a aposentadoria. Hoje, cerca de 97 % dos confinamentos norte-americanos estão usando subprodutos oriundos da produção de etanol a partir de milho; 97 % usam ionóforos na dieta, cuja concentração aumentou de 25-30 ppm, na década de 80, para 33-40 ppm atualmente. Mais de 50% já empregam os chamados DFM (direct fed microbials), que nada mais são do que prebióticos e probióticos que melhoram a conversão alimentar em combinação com os tradicionais ionóforos. Além disso, o gado mudou de mãos. Antes, mais de 70% dos animais pertenciam a produtores independentes e as instalações de engorda funcionam como boitéis (custom feedlotes). Hoje, o negócio é dominado por companhias especializadas. Houve grande concentração da indústria do confinamento, associada a estruturações mais complexas de proteção de risco. Novas tecnologias de produto como os beta-agonistas, DFM (direct fed microbials), bem como de processos, como o manejo de cocho limpo, permitiram que o peso de carcaça dos bois americanos aumentasse 3,2 kg/cab/ano, nas últimas três décadas. Muitos ainda se perguntam se já chegaram ao limite de peso. Enquanto isso, no Brasil, discutimos acabamento mínimo de gordura, ganho de peso vivo, ganho compensatório...Temos muito o que evoluir. Essa é nossa grande motivação! Avante Brasil!! n



ESPECIAL

Descanso pós-transporte melhora ganho no cocho fotos Arquivo DBO

Com essa e outras medidas, fazenda paulista conseguiu reduzir problemas de adaptação e casos de doenças respiratórias no confinamento

Renato Villela Animais que chegam à fazenda devem descansar pelo menos 10 dias antes de ser processados

O produtor Adam Perrone: “Zeramos os casos de pneumonia”

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renato.villela@revistadbo.com.br

uando chegam às fazendas com destino ao confinamento, os bois magros normalmente são conduzidos direto ao tronco de contenção para “fazer barba, cabelo e bigode”, como diz a expressão popular. Isso significa, no caso dos bovinos recém-chegados, ser vacinados, vermifugados, pesados, identificados com brincos ou marca a fogo e agrupados em lotes. Essas operações (necessárias, porém estressantes), que os confinadores chamam de “processamento”, têm sido realizadas logo após a chegada do caminhão na fazenda, devido à maior facilidade de manejo, pois os animais já estão presos no veículo, bastando desembarcá-los e passá-los pelo tronco. Essa prática imediatista, entretanto, pode trazer prejuízos pouco percebidos pelo produtor. Dar um descanso, ainda que breve, aos animais após a viagem pode melhorar seu ganho de peso, garantir-lhes maior resistência imunológica e reduzir a taxa de refugo de cocho. Adam Perrone Sammour, sócio-proprietário da Agropecuária 3i (Três Irmãos), que confina 15.000 animais na Fazenda Maravilha, em Colina, SP, descobriu a importância do descanso pré-processamento por acaso. Em 2017, ele aguardava uma leva de bois magros vindos de Goiás, quando uma das carretas boiadeiras do comboio que tansportava cerca de 800 bois, quebrou na estrada, atrasando bastante a viagem. Os animais, que haviam saído de Aruanã, GO, às seis horas da manhã, chegaram

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à Fazenda Maravilha somente no meio do dia seguinte, após percorrer quase 900 km. “Devido ao estresse causado pelo incidente, preferi não realizar o processamento na chegada, como sempre fazia, e soltá-los direto no confinamento para descansar”, conta Sammour. A decisão se revelou acertada. “Os animais se adaptaram melhor à dieta e não apresentaram refugo de cocho”, relembra o confinador, que estava acostumado a registrar esse tipo de problema em 7 a cada 500 animais confinados por “giro” de engorda. A “lição” aprendida com o incidente da carreta mudou o protocolo de recebimento dos bois magros na fazenda. Hoje, mesmo aqueles comprados em um raio de 200 km de distância são processados somente uma semana após sua chegada. Além disso, Sammour vacina os animais contra doenças respiratórias na propriedade de origem pelo menos 10 dias antes do embarque. “Com isso, zeramos os casos de pneumonia no confinamento”, garante. Segundo o produtor, os novos procedimentos também melhoraram o desempenho dos animais no cocho. “O ganho de peso aumentou 100 g/cab/dia, em média”, afirma Sammour, que engorda os animais por 100 a 120 dias. Nos primeiros 10 dias de confinamento, eles comem uma dieta de adaptação que leva feno. Depois, recebem a dieta de terminação, que contém 13% de volumoso (silagem de milho, bagaço de cana) e 87% de concentrado (polpa cítrica, silagem de grão de milho úmido, farelo de soja ou amendoim, melaço de soja, gordura protegida, caroço de algogao e núcleo mineral). Os



ESPECIAL

Confinamento da Fazenda Maravilha tem capacidade para engorda de 15.000 bois.

Reinaldo Cooke, da Universidade do Texas: “Estresse reduz eficácia da vacina”.

Fernanda Macitelli, da UFMT: “Animais descansados melhoram desempenho”.

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animais têm sido abatidos com 20-21 @, apresentando 56% de rendimento de carcaça. Descanso da viagem A decisão de não “processar” o gado no dia de sua chegada à fazenda é respaldada por especialistas da área sanitária. Reinaldo Cooke, professor do Departamento de Ciência Animal da Universidade do Texas, Estados Unidos, afirma que fatores causadores de estresse, como o transporte rodoviário, desencadeiam um processo imunodepressivo que diminui a eficácia da vacina. “Corticoides e outras substâncias produzidas em resposta ao estresse impedem o funcionamento adequado do sistema imune, reduzindo sua capacidade de produzir anticorpos ao antígeno da vacina e também a patógenos externos causadores de doenças”, explica. A professora Fernanda Macitelli, da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), endossa o argumento. “Se, logo depois do transporte, o animal passar por mais eventos estressantes, há grande chance de não se obter o efeito desejado com as vacinas aplicadas”, diz. Fernanda, que também é integrante do Etco (Grupo de Estudos e Pesquisas em Etologia e Ecologia Animal), lembra que a intensidade dos “efeitos deletérios” provocados pelo transporte depende do estado de conservação da estrada, da duração do trajeto e até mesmo do tipo de caminhão utilizado. A professora recomenda que o tempo de descanso pós-transporte seja proporcional ao tempo de viagem. “Se a duração for de até 6 horas, os bovinos devem descansar 24 horas. Acima disso, o indicado é manter os animais no pasto ou em piquetes, por dois a cinco dias, dependendo do nível de cansaço observado”. Durante esse período, é importante oferecer-lhes água de boa qualidade, além de volumoso e suplemento mineral-vitamínico à vontade, para abrandar o estresse. “Dentre os confinamentos que acompanhamos, aqueles que deram descanso aos bovinos após o transporte observaram melhoria em seu desempenho”, informa Fernanda. A diferença no ganho de peso pode não ser tão significativa, diz ela, mas os efeitos benéficos já mencionados (maior eficácia dos medicamentos, em especial no controle de doenças como a pneumonia, e queda no índice de refugo de cocho) já trazem grande economia para o pecuarista.

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Animais “familiarizados” Outro aspecto importante no pré-confinamento é o cuidado na formação de lotes. Da mesma forma como as viagens desgastantes, o “estresse social” causado pela mistura de animais oriundos de diferentes locais, tamanhos, sexo e até raça pode igualmente levar a perdas imunológicas e produtivas. Não é para menos. Apartados e alocados em grupos distintos, esses animais são encaminhados para um ambiente com espaço restrito, muitas vezes com excesso de poeira ou lama, tendo de aprender a beber água em bebedouros e a comer no cocho, no qual encontra alimentos desconhecidos. Tudo isso acrescido à disputa hierárquica dentro do lote. “Animais que passam por esse tipo de manejo na entrada do confinamento e vivem experiências negativas têm grande chance de permanecer vários dias – até mais de duas semanas – com desempenho negativo (perda de peso), não pagando sua diária”, diz Fernanda. Além de formar lotes mais homogêneos (peso, sexo, raça), recomenda-se, sempre que possível, dar um tempo para que os animais se acostumem uns aos outros após o processamento, principalmente quando vêm de locais diferentes. Trabalhos conduzidos pelo Grupo Etco em fazendas comerciais do Mato Grosso indicam que é importante manter lotes recém-formados por 10-15 dias em um piquete ou pasto, recebendo concentrado ou até mesmo uma dieta de adaptação, para que os animais se acostumem uns aos outros. “Esse processo é chamado de familiarização do lote, técnica que permite aos bovinos se adaptar gradativamente à nova dieta, aprender a comer no cocho, se habituar ao barulho do maquinário e à presença humana, assim como formar uma hierarquia social dentro do grupo, em área mais aberta”, diz Fernanda. Ao final desse período, os lotes poderão até passar pelo curral para ser novamente pesados, mas já estarão prontos para o confinamento. “Comprovamos que esse manejo reduz significativamente o estresse e aumenta o ganho de peso em 140 g/cab/dia, em média”, diz. Segundo a professora, o pecuarista deve lembrar que o confinamento é um ambiente “desafiador” para os bovinos, daí a importância desse conjunto de medidas de manejo. “Adotar práticas redutoras de estresse, como o descanso pós-viagem, a familiarização prévia ao lote de engorda, o espaço adequado no confinamento, o controle de poeira ou lama e o fornecimento de sombra para proteção contra o calor melhora a vida do animal e traz retorno econômico para o pecuarista”. Existem ainda estratégias nutricionais que auxiliam no pré-confinamento, como a adição de ingredientes como ácidos graxos essenciais, leveduras e saponinas na dieta, pois eles estimulam o sistema imunológico e, consequentemente, a resposta à vacinação e a resistência às doenças. “Essas alternativas podem complementar o programa de pré-condicionamento e manejo sanitário, que inclui vacinação contra doenças respiratórias cerca de duas semanas antes de os animais serem transportados até o confinamento”, frisa o professor Reinaldo Cooke. n


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Confinamento

Solução sustentável Com biodigestor, fazenda do Paraná economiza energia e produz adubo barato para lavouras

As instalações têm piso concretado, que é limpo duas vezes por dia para abastecer o biodigestor, que gera energia e biofertilizante.

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Ariosto Mesquita, de Leópolis, PR

Fazenda Santa Alice, de 3.347 hectares, localizada em Leópolis, no chamado Norte Pioneiro do Paraná, conseguiu um grande feito: transformar os dejetos produzidos pelos bovinos (fezes e urina), em “solução sustentável”. Usando tecnologias modernas, a propriedade converteu esses dejeos, cuja destinação ainda traz dor-de-cabeça para muitos pecuaristas, em matéria-prima para um biodigestor, que hoje cobre 80% de suas necessidades de energia elétrica. Os resíduos líquidos gerados durante o processo de biodigestão são transformados em biofertilizante, atendendo metade da demanda por adubo da fazenda, que também produz grãos. Segundo Leomar Monteiro, há 17 anos responsável pela gestão da propriedade, pertencente a José Luiz Jardim e Maria Aparecida de Paula Jardim, o biodigestor deu novo fôlego ao projeto pecuário da empresa, que faz parte da Cooperaliança, de Guarapuava, PR. Hoje, a fazenda produz cerca de 3.000 animais cruzados Nelore/Angus por ano. Na média, eles são abatidos com 20 @ aos 24 meses. Ganham 1,8 kg/cab/dia e fornecem 60.000@ de carne por ano. Esse sistema de produção intensiva demanda muita energia elétrica. “Com o biodigestor, conseguimos reduzir nossa conta de R$13.000, em média, para R$ 3.000 a R$ 4.000/mês. Já os gastos anuais com fertilização do solo, que chegavam a R$ 1.650/ha, hoje não passam de R$ 1.030/ha. Em produção de soja, essa diferença equivale a 10 sacas/ha, considerando a saca a R$ 65”, informa o gerente. A decisão de instalar um biodigestor na Santa Alice para geração de energia e produção de biofertilizante a

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partir dos resíduos do confinamento foi tomada em 2012, com o objetivo de tornar a propriedade autossustentável e ainda reduzir seus custos de produção. “O investimento totalizou R$ 1,3 milhão, dos quais R$ 1 milhão vieram do Programa ABC, dinheiro tomado entre 2013 e 2014, com prazo de dois anos de carência e 10 para pagar”, conta Monteiro, referindo-se ao Programa Agricultura de Baixo Carbono, do governo federal. O projeto ficou quase três anos parado, devido à necessidade de ajustes e cumprimento de trâmites legais, mas hoje é referência dentro do ABC para a pecuária, pois prevê a agregação de valor na produção intensiva de carne, com mitigação de emissões de gases de efeito-estufa. A primeira providência tomada por Monteiro foi readequar as instalações do confinamento para coleta dos dejetos produzidos pelos bovinos. O piso do galpão foi totalmente cimentado e seu sistema de escoamento sofreu adequações, para garantir que as fezes e a urina escorressem, por gravidade, até um reservatório, de onde são transportados para o biodigestor. Duas vezes por dia, funcionários da fazenda promovem a limpeza do piso das instalações, usando grandes rodos e jatos d’água, que ajudam a jogar o material no sistema de coleta. Isso também contribui para diminuir odores e evitar a proliferação de moscas. Como funciona O confinamento da Santa Alice tem capacidade estática para cerca de 700 cabeças e funciona o ano inteiro. “Cada animal produz, em média, 15 kg de fezes por dia, gerando cerca de 7 t de MS (matéria seca). O sistema tem capacidade para recolher até 40.000 l/dia de resíduo líquido”, explica o gerente da propriedade. O biodigestor



ESPECIAL

Confinamento é composto por um reservatório escavado no chão, impermeabilizado e perfeitamente vedado para evitar contaminação do solo. A cobertura é de polietileno de alta densidade. Dentro desse ambiente anaeróbico (sem oxigênio), o material coletado sofre a ação de bactérias. Boa parte do material orgânico acaba convertida em gás metano, “combustível” que alimenta um motor de 60 kVA. “A eletricidade produzida é entregue à empresa concessionária do Estado, a Companhia Paranaense de Energia (Copel), que nos paga em forma de créditos para consumo na fazenda. Já o material biofertilizante sai do biodigestor por gravidade e cai em um reservatório. De lá, ele é colhido para ser aplicado na lavoura, por meio de pivôs de irrigação e também em pastagens, por bombeamento mecanizado”, explica Monteiro. Dos 3.347 ha da fazenda, 1.840 são destinados à atividade pecuária. Cerca de 90% dos pastos de recria são formados por capim marandu e o restante por capins colonião, jaraguá e grama estrela. Excetuando-se a reserva legal e APPs (áreas de proteção permanente), o restante é ocupado pela agricultura. Além de produzir grãos (soja e milho), as lavouras respaldam a pro-

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dução pecuária. Cerca de 50% do milho cultivado na Santa Alice e 100% da aveia em grãos, plantada em cerca de 200 ha, em rotação com milho, vão para o cocho. O concentrado para rações é preparado na fazenda, assim como a silagem de milho, tanto a de planta inteira quanto a de grão úmido. Vantagens Leomar Monteiro não tem números precisos sobre amortização do investimento, mas lembra que o sistema de biodigestão com produção de energia e adubação biológica demanda algum tempo para dar retorno. “Mas compensa apostar nele, pois, além de se garantir destinação correta aos dejetos do confinamento, hoje uma preocupação crescente da sociedade, tem-se um ganho enorme em sustentabilidade. O sistema proporciona economia tanto para a agricultura quanto para a pecuária, devido à fertilização das lavouras e pastagens”, afirma. Quem faz uma avaliação econômica parcial dos benefícios do biodigestor para a pecuária é Umberto Jardim, gerente encarregado do setor. Segundo ele, na operação de venda de animais superprecoces (abatidos com 18 meses) para a Cooperaliança, a propriedade tem conseguido margem líquida de R$ 400 por novilho, não somente em função do prêmio recebido por qualidade, mas também por caus da redução no custo de produção. n

Para Leomar Monteiro, leva-se algum tempo para pagar o biodigestor, mas os benefícios indiretos são grandes.



ESPECIAL

Balança de pesagem diária sob teste Pesquisa da UFG avalia grau de acerto do sistema e efeitos do manejo

Juliano Fernandes tem pós-doutorado em nutrição de ruminantes pela Universidade de Nebraska, EUA, e é professor da Universidade Federal de Goiás (UFG).

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pecuária, a exemplo da atividade agrícola, vem se transformando diariamente. Ao flertar com os ideais da administração empresarial, a atividade perpetua uma celebre frase dessa ciência: “Para conhecer processos, é preciso medir”. E, para medir, há que ter precisão. Daí os termos agricultura e pecuária de precisão aplicados a sistemas baseados em novas tecnologias, como geoestatística e georrefenciamento. Dentre os parâmetros a ser medidos na pecuária bovina, o consumo de alimentos é crucial. Difícil de ser mensurado a pasto, ele pode ser levantado, com boa acurácia, nos confinamentos. O acompanhamento do peso corporal dos animais também é imprescindível para o sucesso da atividade, pois é justamente esse o produto comercializado pelo produtor junto aos frigoríficos, transformado em peso de carcaça. Pesagens dos animais no início e no final da engorda já fazem parte da rotina do confinamento, mas o desempenho individual somente é avaliado (ou medido) quando o ciclo de produção termina, no abate, o que elimina qualquer chance de resolver problemas surgidos durante o processo. A fim de contornar as dificuldades mencionadas anteriormente, a pesagem diária dos bovinos, por meio de balanças especiais, surgiu como opção interessante para o produtor rural. Um deles, o sistema de plataformas de precisão da Bosch, foi utilizado em um estudo conduzida por nossa equipe, na Fazenda Santa Fé, município de Santa Helena de Goiás, objetivando avaliar a precisão das pesagens individuais diárias de animais confinados, por meio de sua correlação com o peso aferido em currais de manejo tradicional. Estrutura disponível As plataformas de pesagem foram instaladas em 10 currais do Confinamento Santa Fé. Cada curral alojou 60 animais, totalizando 600 animais acompanhados durante o estudo. Para fazer a correlação das pesagens

Percentual de valores de pesagem acima ou abaixo do patamar médio. Média dos Pesos (kg)

492,6

492.63

Variação de Peso (%)

5%

4%

3%

Variação de Peso em (Kg)

24,63

19,70

14,77

Nº de animais variando abaixo

46

96

249

Nº de animais variando acima

83

142

282

% da variação total

2.78%

5.13%

11.46%

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Animais possando por sistema eletrônico de pesagem

(balança Bosch x manejo tradicional), a cada sete dias os animais foram levados ao curral de manejo, onde passaram por pesagem individual em balanças convencionais.Também se avaliou a influência da hora do dia em que a pesagem foi realizada, assim como o efeito da adoção de diferentes protocolos de manejo dos animais empregados durante as pesagens, tais como: 1) Manejar cada lote individualmente no curral, durante o processo de pesagem; 2) Manejar concomitantemente todos os lotes dentro do curral, alternando a sequência de fechamento dos lotes. Diariamente, as balanças do curral de manejo foram aferidas com peso conhecido, certificado pelo Inmetro. O estudo teve duração de 63 dias. O peso médio de entrada dos animais no experimento foi de 448,54 kg, contudo, como alguns animais atingiram ponto de abate antes do término da avaliação, foram consideradas apenas 4.635 pesagens. Os dados colhidos na balança do curral de manejo foram capturados pelo software de gestão da fazenda e também anotados por técnicos presentes no momento da operação, com o intuito de mitigar erros. Já os dados do sistema de pesagem individual diária da Bosch nos foram enviados pela equipe técnica da empresa para posterior análise. Tanto as pesagens dos animais realizadas nos currais quanto aquelas efetuadas pela Plataforma de Pecuária de Precisão registraram média de peso corporal de 492 kg, demonstrando que os dois sistemas apresentam resultados iguais. Quando se analisou a correlação dos pesos nos diferentes protocolos de manejo do gado antes da pesagem (ordem de condução dos animais no curral e o processamento dos lotes concomitantemente ou individuamente), constatou-se uma correlação de 96,26% entre


os valores fornecidos pelos dois sistemas, quando todos os lotes foram fechados no curral ao mesmo tempo, aguardando juntos o processamento, e uma correlação de 98,2%, quando se fechou lote por lote. No caso da ordem de busca dos animais – da primeira baia até a última ou em sentido inverso – as correlações foram de 96,06% e de 98,18%, respectivamente. Diante desses resultados, independentemente do método de busca dos animais, foi feita a correlação de todas as pesagens em conjunto, como demonstrado no gráfico. Chegamos ao valor de 97,11% e constatamos que apenas 2,89% das pesagens não estão relacionadas, o que pode ser explicado por fatores biológicos, como o jejum entre as operações de aferição de peso. Sistema é confiável Outra maneira de se avaliar os dados foi identificar quantos valores variaram em relação à média de peso do lote. Na tabela publicada neste artigo, temos o valor médio dos pesos, que é de 492,63 kg. Considerando-se 4% de variação do valor de pesagem (19,70 kg), apenas 5,13% dos pesos oscilaram para mais ou para menos. Esse percentual de 4% é o valor utilizado pela literatura para considerar o jejum de 12 horas pelo animal. A tabela também apresenta avaliações com 3% e 5% de variação. Ela mostra que 11,46% dos valores ficaram acima 10_gasparim_revista_DBO_PRINT.pdf 1 02/08/2018 16:52:25

Análise de corrleção dos sistemas de pesagem avaliadosl

ou abaixo de 14,78 kg e 2,78% flutuaram acima ou abaixo de 24,63 Kg. Diante dos dados apresentados, constatamos que a ferramenta de pesagem individual e diária dos animais em confinamento é uma forma de conseguir medir com muita exatidão o peso real dos bovinos durante a engorda. Pode, portanto, ser excelente alternativa de monitoramento da performance animal, ajudando o produtor na tomada de decisões rápidas e contínuas, como ajustes na dieta e determinação da melhor data para abate, o que reduz custos e melhora o resultado final do confinamento. n

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Confinamento

Preço da arroba inibe segundo giro Previsões de aumento no número de cabeças confinadas neste ano podem não se concretizar, devido à margem estreita. 5), esse valor não garante rentabilidade ao sistema”. Por isso, a projeção de 12% feita pela associação em maio pode não se confirmar. “Como as expectativas de rentabilidade pioraram, talvez o confinamento nem aumente em relação a 2017”, diz Andrade. Maurício Palma Nogueira, sócio-diretor da Athenagro, empresa que promove o Rally da Pecuária em parceria com a Agroconsult, confirma a pouca margem para hedge do boi gordo na B3, além de custos 20% maiores e uma série de incertezas. “Entre o fim de maio e início de junho, o colapso logístico no País bagunçou tudo”, relata Palma. “Em alguns casos, os ingredientes para confinamento chegaram a ser cotados a preços 20% superiores aos da semana anterior à paralisação dos caminhoneiros”. Mesmo que haja redução no segundo giro, Nogueira não acredita, porém, em retração expressiva no total de animais confinados no País, número que, segundo a Agroconsult, chegou a 4,57 milhões de cabeças em 2017. “No Brasil, essa atividade é quase uma necessidade, por estar fortemente atrelada à intensificação das pastagens”, justifica. A Athenagro deve divulgar novas previsões após o fim do Rally da Pecuária, neste mês de agosto.

Produtores colocaram “pé no freio”, devido a cenário conturbado e pouca garantia de lucro

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Tatiana Souto

ais do que o custo da alimentação ou dos animais de reposição, o principal entrave ao segundo giro do confinamento neste ano, segundo os produtores, é o preço da arroba, sem sinais de alta no mercado futuro. Por ocasião do fechamento desta edição, os contratos para outubro, na B3, estavam abaixo de R$ 150/@, justamente no momento em que os produtores se preparavam para o segundo giro de engorda. Pesquisa feita pela Associação Nacional de Pecuária Intensiva (Assocon) junto a seus associados e divulgada dia 17 de julho, constatou sinais de retração na atividade. Segundo Bruno Andrade, gerente executivo da associação, o valor ideal da arroba para os confinadores, em São Paulo, seria de R$ 165. “Mesmo se for acrescido de prêmios por rastreabilidade, cota Hilton e acabamento (entre R$ 3 e R$

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Visão da indústria A Minerva Foods, que faz pesquisa própria de confinamento nos Estados em que atua (SP, GO, TO, RO, MG, MT) e no Mato Grosso do Sul (onde compra gado para abater em SP), também percebeu que os produtores colocaram “o pé no freio” no segundo giro. Em maio, a empresa estimou aumento de 5,7% no número de cabeças confinadas neste ano, em relação a 2017. Se confirmada a projeção, seriam terminadas 2,49 milhões de cabeças nos Estados mencionados. “Mas, de maio para cá (dia 25 de julho, quando DBO fez a entrevista), muita água passou debaixo da ponte”, observa Fabiano Tito Rosa, gerente nacional de compra de gado da Minerva. Ele lembra que praticamente todas as pesquisas de intenção de confinamento realizadas no segundo trimestre apontavam avanço da atividade em 2018. “Embora o pecuarista tivesse de arcar com aumentos no custo dos grãos, tinha boa expectativa em relação à arroba.



ESPECIAL

Confinamento – abril/2018), com destaque para o garrote e o bezerro de 12 meses, com altas nominais de 9,12% e 12,84%, respectivamente. Mas, ainda em maio, a principal preocupação de 45,1% dos produtores entrevistados pelo instituto era com eventuais quedas no preço do boi, o que acabou se confirmando. Segundo a Scot Consultoria, no começo do ano, com o preço do milho em baixa e o boi em alta na B3, projetavam-se taxas internas de retorno de 15% para a atividade. “Esperava-se que a arroba iria subir mais na entressafra e isso afetaria o mercado futuro, com preços maiores na bolsa”, diz o analista Alex Lopes. O cenário, porém, mudou. Com a arroba a menos de R$ 151, a atividade consegue apenas cobrir seus custos. Sem embarcar na onda pessimista, Confinamento Santa Fé pretende aumentar lotação no segundo giro.

Todo mundo estava otimista com a melhora na economia do País, o consumo interno de carne bovina e as exportações, mas o preço do boi caiu, o consumo não deslanchou, o milho continou caro mesmo após a entrada da safrinha e a economia avançou pouco”, lembra o executivo. Com tal cenário, apesar de o primeiro giro ter apresentado bons resultados, principalmente para quem tinha milho barato estocado da safra passada, a percepção dos produtores para o segundo giro ficou negativa. Mas Tito Rosa também acredita, como Maurício Palma, da Athenagro, que o uso do confinamento como ferramenta estratégica pode sustentar um pouco a atividade. “Perante um cenário difícil, muitos produtores tendem até a migrar para o semiconfinamento, mas não param de confinar”, diz. Posicionamento de custos Principal insumo usado nas rações de confinamento, o milho chegou a assustar os produtores neste ano, chegando a R$ 45 a saca, no final de junho, mas voltou a cair para patamares mais razoáveis, segundo Breno Lima, analista da Scot Consultoria, de Bebedouro, SP, estabilizando-se em R$ 35 a R$ 36 a saca de 60 kg, em julho. O farelo de soja, contudo, continua caro. A tonelada da oleaginosa chegou a R$ 1.287 em abril deste ano, ante R$ 830 em abril do ano passado, um aumento de 51,41%. Esta fonte proteica está sendo substituída, em grande parte, pela torta de algodão, cujo preço foi de R$ 832,07 para R$ 392,57/t (queda de 52,82%), no mesmo período. O boi magro também apresentou queda ao longo do ano, em várias regiões, conforme o levantamento da Scot. Em São Paulo, por exemplo, um garrote Nelore de 12 @ valia cerca de R$ 2.000 em fevereiro e, em julho, era cotado a R$ 1.820”, informa analista da Scot, ressaltando que o cenário é favorável à reposição. Em seu primeiro levantamento de intenção de confinamento, o Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea), havia traçado cenário diferente. Todas as categorias de reposição analisadas, em maio, registraram valorização no comparativo anual (abril/2017

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Janelas de oportunidade O Confinamento Santa Fé, em Santa Helena de Goiás, contudo, esbanja otimismo. “Estou empolgado”, afirma o pecuarista Pedro Merola, que pretende confinar entre 75.000 e 80.000 cabeças em 2018. No fim de julho, ele estava prestes a alojar 20.000 animais em suas instalações. “Estou animado porque o preço do milho baixou e ninguém está querendo confinar”, justifica. “Com essa situação, acredito que vai haver uma lacuna no segundo semestre e faltar boi. E eu vou ter boi.” Merola não separa seu negócio em “giros”, pois confina o ano todo. Nos próximos meses, acredita, o preço da arroba deve reagir bem, por causa da oferta restrita, e do bom ritmo das exportações de carne bovina. “Só tem motivo bom. Não tem nada de negativo acontecendo”, diz. No primeiro semestre, por causa da alta do preço do milho, Merola confinou 40% menos do que esperava. Agora, espera recuperar escala para superar seu recorde de 73.000 cabeças confinados em 2016. Em Jaciara, MT, Ricardo Alves Loto, proprietário da Fazenda Nossa Senhora Aparecida, está menos animado, mas como aumentou o rebanho, pretende confinar 600 animais e semiconfinar outros 1.100 para liberar área. Segundo ele, um preço atrativo na região seria R$ 140/@, mas as cotações em julho eram de R$ 128. Loto, contudo, espera que, nos próximos meses, apareça uma “janela” de bons preços. “Ela não surgiu de julho para agosto, mas vai acontecer”, diz o criador. Segundo ele, os frigoríficos agora estão com escalas alongadas (20 dias), mas elas vão se encurtar, porque vai faltar boi. De todo modo, Loto vai travar parte da produção na B3 ou vender a termo. Como ele tem boi próprio, o que pesa mais em seus custos são insumos como a ureia, que aumentou 15% desde o início do ano, e o núcleo, com alta de 8%. “O farelo de soja subiu demais pra gente, tanto que não usamos neste ano. Substituímos por torta de algodão e conseguimos uma economia de R$ 70/t.” Já o milho, após uma expressiva alta, caiu de R$ 30 a saca, em março, para R$ 25, em julho. “Esses custos estão contornados. A preocupação é mesmo com a arroba em outubro”, finaliza. n



Nutrição

Gordura protegida melhora resultados da IATF Fazenda de Araguaçu, no Sul do Estado do Tocantins, adiciona gordura protegida à dieta das matrizes para elevar a eficiência reprodutiva em períodos críticos.

Estudos comprovam que a inclusão da gordura protegida na dieta aumenta a densidade energética do alimento fornecido aos animais

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Denis Cardoso

o ano passado, às vésperas do início da estação de monta, o atraso das chuvas e a qualidade ruim das pastagens preocupavam o pecuarista Fabio Maya, gerente da empresa Vera Cruz Agropecuária, do Grupo Otávio Lage, sediado em Goianésia, GO. Ele matutava para resolver o problema da possível falta de “boia” para as 3.250 matrizes Nelore mantidas na Fazenda Bandeirantes (5.800 hectares de pastagens e área total de 8.713 hectares), em Araguaçu, TO, onde a Vera Cruz produz os tourinhos OL – marca de melhoramento genético da empresa. Então ele lembrou dos conselhos de um técnico de empresa de nutrição sobre as vantagens do uso da gordura protegida, e, sem pensar duas vezes, pôs a mão na massa. “Como a qualidade do pasto estava comprometida pela estiagem, resolvemos apostar na formulação de uma dieta com gordura protegida para garantir índices satisfatórios de prenhez nos lotes de vacas submetidas a inseminação artificial em tempo fixo (IATF)”, diz Maya, que contou com o apoio técnico da Vaccinar, de 94 DBO julho 2018

Belo Horizonte, MG, empresa de nutrição que produz a própria gordura protegida (derivada de óleo de soja) em Almeida Campos, também em Minas. Segundo Leonardo Tadashi Egawa, assessor técnico da Vaccinar, o uso desse insumo como nutriente para bovinos não é recente. Inicialmente, foi utilizado na pecuária leiteira para diminuir o balanço energético em vacas de alta produção. Depois, passou a ser adotado em fazendas de gado de corte com o objetivo exclusivo de aumentar o ganho de peso de machos durante a fase de terminação em confinamento e, mais recentemente, na melhoria dos índices reprodutivos de vacas de corte. Segundo Egawa, diversos estudos comprovaram que a inclusão da gordura protegida na dieta animal aumenta a densidade energética do alimento fornecido ao gado, sem, contudo, elevar a quantidade de concentrado, o que reduz as chances de ocorrência de acidose, laminite e outras complicações capazes de colocar em risco a estabilidade e a saúde ruminal. “Basicamente, a gordura protegida é um suplemento energético, uma fonte de ácidos graxos insaturados que passam inertes pelo rúmen (daí a origem do nome “protegida”) e são metabolizados no intestino, onde ocorre seu aproveitamento”, explica. Ainda segundo Egawa, o uso do insumo também resulta na maior capacidade funcional do ovário, na elevação dos níveis de progesterona no sangue, no aumento da população e tamanho dos folículos, no desenvolvimento e na vida útil do corpo lúteo. “A melhora de todos esses mecanismos proporcionada pela gordura protegida contribui para o melhor desempenho reprodutivo”, diz ele, ressaltando outro aspecto importante. “O uso estratégico desse insumo traz facilidades operacionais para as fazendas de corte com estruturas complexas de trato e que trabalham com grandes rebanhos. Com o adensamento da dieta, o consumo será sempre menor, sem prejudicar a ingestão de nutrientes. Com o menor consumo pelos animais, o reflexo é nítido na logística de fornecimento dos suplementos ou dietas no cocho”, conclui. Experiência bem sucedida Na Fazenda Bandeirantes,a dieta com gordura protegida começou a ser fornecida em novembro do ano passado (às vésperas da estação de monta, ini-



Nutrição

Ao usar a gordura protegida aumentamos o aporte de energia na dieta sem elevar a quantidade de nutrientes” Fábio Maya, gerente da Vera Cruz Agropecuária

A gordura protegida melhora o desempenho reprodutivo” Leonardo Egawa. da Vaccinar

ciada em 15 de dezembro) para 420 vacas, justamente as que passariam pelos primeiros protocolos de IATF na estação de monta e estavam em “apuros” devido à escassez de forragens de qualidade. “Precisávamos recuperar rapidamente os escores de condição corporal dessas matrizes para não comprometer os resultados das primeiras inseminações”, explica o gerente de pecuária da Vera Cruz, acrescentando que a Fazenda Bandeirantes realiza até três IATFs ao longo da estação de monta, com duração de 105 dias. A meta, alcançada com sucesso, era conseguir média próxima de 5 pontos de escore corporal nessas multíparas paridas, considerando uma escala de 1 a 9. “Com essa estratégia nutricional, conseguimos, logo no início da estação de monta (dezembro/janeiro) obter taxa de prenhez ao redor de 90% com a aplicação de duas IATFs”, diz Maya, lembrando que animais nascidos no início da estação de monta apresentam um diferencial muito grande de desempenho em relação aos nascidos no período final. A Vera Cruz possui uma indústria de formulação de suplementos em Goianésia, a 470 quilômetros da Bandeirantes, e uma frota própria na fazenda para buscar os formulados e as misturas. A questão logística, segundo Fabio Maya, teve grande peso na decisão da empresa de apostar no uso de um suplemento proteico contendo gordura protegida. “Com os problemas climáticos que tivemos na região, a ideia era conseguir aumentar o aporte de energia na dieta sem elevar a quantidade de suplemento fornecida, pois dificuldades de logística interna (distribuição dos depósitos até os cochos) e externa (da fábrica até a fazenda) não permitiam que suplementássemos com maior quantidade por vaca naquele momento”, justifica. Dessa maneira, continua Maya, para elevar o escore de condição corporal na Bandeirantes, teríamos dificuldade para suplementar as vacas com outros insumos energéticos que exigissem quantidades mais altas de consumo diário, como 0,5% ou 0,7% do peso vivo, por exemplo. “Precisaríamos de mais pessoas na equipe de saleiros, além de mais conjuntos de tratores e carretas na distribuição e fornecimento dos suplementos para atender essa demanda de suplementar com maior quantidade”, enfatiza Maya. Assim, o emprego da gordura protegida num grupo total de 420 vacas permitiu à Bandeirantes trabalhar com um consumo diário de 0,3% do peso vivo, com um adicional de 23% de energia para cada quilo de suplemento. A fórmula do sucesso A pedido da DBO, o zootecnista Leonardo Egawa enviou uma sugestão de comparativo entre fórmulas de dietas com e sem gordura protegida. Na composição com gordura, tal insumo aparece com

96 DBO julho 2018

Comparativo de resultados entre dois tipos de suplementos* Com Sem Suplementos gordura

gordura

R$/kg de produto

1,85

1,33

Número de vacas

100

100

Peso das vacas (kg)

480

480

Consumo suplemento (% PV)

0,3%

0,3%

Consumo suplemento (kg/dia)

1,44

1,44

Custo do suplemento (R$/dia)

2,66

1,92

Custo do suplemento (R$/período)

111,89

80,44

Custo adicional da gordura protegida (R$/período)

31,45

-

3.144,96

-

Taxa de prenhez (%)

82

69

Bezerros nascidos

82

69

Ganho adicional da gordura (R$)

14.300,00

-

Lucro pelo uso da gordura (ganho adicional da GP – custo adicional da GP)

11.155,04

-

Custo adicional da gordura protegida (R$/número de vacas)

*Considerando período de suplementação de 42 dias e valor de venda do bezerro a R$ 1.100. Fonte: Vaccinar Nutrição e Saúde Animal

15% de matéria natural, acrescida por 34% de milho, 15,5% de farelo, 24% de mineral, 7,5% de sal branco e 4% de ureia. No caso de um suplemento sem gordura, a participação do milho subiria para 52,5%, acrescido de 12% de farelo de soja, 24% de mineral, 7,5% de sal branco e 4% de ureia. Egawa também faz um comparativo dos resultados zootécnicos e financeiros das duas diferentes dietas (veja tabela ao lado), tendo como base o trato para 100 vacas durante um período de 42 dias. Com o mesmo consumo de suplemento (0,3% do peso vivo), a dieta com gordura teve um custo adicional de R$ 0,70/animal/dia ou R$ 3.144,96 para as 100 vacas, em 42 dias. Das 100 vacas que receberam suplementação com gordura, 82 delas apresentaram prenhez, e das 100 que não consumiram a gordura, 69 ficaram prenhes. Assim, com este resultado, teve-se um ganho adicional de 13 bezerros para o grupo alimentado com a gordura. Caso cada bezerro fosse vendido a R$ 1.110, o ganho bruto adicional para a vacada alimentada com gordura seria de R$ 14.300. Descontando o custo adicional de R$ 3.144, haveria um ganho real de R$ 11.155. Na esteira do sucesso com o trabalho nutricional realizado nas matrizes, a Fazenda Bandeirantes decidiu testar a dieta com gordura protegida em estação de outono com 665 novilhas, em desafio para prenhezes precoces (entre 14 e 18 meses de idade), com o intuito de melhorar a ciclicidade desses animais jovens. Os trabalhos ainda não foram concluídos. n



Nutrição

Aproveitando mais o milho Equipamentos simples permitem reidratação do grão a custo acessível, viabilizando o confinamento em propriedades sem aptidão agrícola.

Modelo de kit da Agropec, MG, composto por silocontêiner e estrutura para reidratação de milho

C

ARIOSTO MESQUITA

omprar o grão seco, umidecê-lo e ensilá-lo pode ser um bom negócio. Foi o que pensou o engenheiro, empresário e pecuarista Paulo José Coelho e Francez em 2012, após tomar conhecimento de estudos sobre reidratação desse cereal desenvolvidos por especialistas da Universidade Federal de Lavras (Ufla), MG. Criativo por natureza, ele decidiu associar um silo-contêiner que havia desenvolvido com um sistema de reidratação e ensilagem de grãos. Deu certo. Com o produto obtido, ele conseguiu reduzir drasticamente o custo de engorda das fêmeas Nelore/ Angus e Nelore/Senepol semiconfinadas na Fazenda Boa Esperança, propriedade de 345 ha pertencente à sua esposa e localizada no município de Governador Valadares, MG. Os animais, que comiam ração pronta comprada por R$ 1,5 o kg, passaram a comer milho reidratado mais núcleo mineral, ao preço de R$ 0,20 a R$ 0,30/kg, uma redução de 80%, sem prejuízo ao desempenho animal. Como o Brasil planta grão tipo flint (duro), os pesquisadores recomendam processá-lo, visando elevar a quantidade de amido para digestão no rúmen. Dentre as alternativas de processamento disponíveis, a moagem, reidratação e ensilagem do grão seco é uma das mais acessíveis. O sistema desenvolvido por Francez é com-

98 DBO agosto 2018

posto por um silo-contêiner (100 m3), disposto a 2 metros do chão sobre pneus, pés metálicos ou de alvenaria. Esse silo pode ser abastecido facilmente por um sistema de transporte helicoidal (rosca sem fim), que consegue transferir 30 t de milho de um caminhão para o silo em apenas duas horas. “Do silo, os grãos são jogados em um moinho e umidecidos com uma mistura de água e inoculantes para evitar a fermentação butírica”, explica o produtor, se referindo ao ácido butírico, capaz de retardar a redução do PH da silagem, o que prejudica sua qualidade. A massa úmida pode ser usada para consumo imediato ou ensilada. “A quantidade de água adicionada ao farelo depende do grau de secura do grão. Usamos entre 4.500 e 5.000 litros para reidratar 10 t de milho moído, se seu índice de umidade estiver entre 8% e 14%”, esclarece. Para ensilagem, o material deve estar com 35% a 45% de água. Com essa estrutura, Francez consegue processar 10 t de milho por hora. Segundo ele, cada propriedade pede um tipo de projeto, em função do seu sistema de produção e recursos disponíveis, mas a reidratação seguida de ensilagem é especialmente vantajosa pra quem tem pouca área para plantio. “O produtor pode comprar o grão seco bem barato, durante a safra, com qualquer índice de umidade, e processá-lo, eliminando riscos de perda durante o armazenamento. Na Fazenda Boa Esperança, Francez está fornecendo esse tipo de produto a várias categorias animais, fazendo apenas ajustes na formulação. “Para semiconfinar vacas magras a pasto, por exemplo, basta fornecer de 4 a 8 kg de grãos reidratados/cab/dia”, explica. Francez vislumbrou nessa alternativa nutricional também uma oportunidade de mercado. Ele oferece, por meio de sua empresa, a Agropec Representações, boa parte da estrutura necessária (silo-contêiner mais kit reidratação) para produtores interessados. “Já atendi quase 50 fazendas”, garante. Moinho laminador Estruturas semelhantes à de Francez são encontradas em outras regiões brasileiras. No Paraná, por exemplo, a Sinuelo Agropecuária, com sede em Curitiba, criou um conjunto para laminação e reidratação de grãos com motores elétricos e capacidade de produção para 3, 5 e 10 t/dia. O conjunto é composto por um tanque em aço-carbono, unido a uma rosca transportadora com um variador de velocidade que permite regular a absorção de água e o fluxo de saída do ma-



Nutrição

Pesquisas mostram melhoria de até 20% na conversão alimentar com milho heidratado. Rodrigo da Costa Gomes, pesquisador da Embrapa Campo Grande.

fotos julio cesar a. gomes

O moinho laminador esmaga o milho, preparando para a reidratação e posterior ensilagem.

terial. Nele, os grãos permanecem em média 30 minutos, tempo suficiente, segundo a empresa, para se elevar o teor de umidade para 17%-20%. A segunda parte do conjunto é um moindo laminador, dotado de cilindros estriados, que amassa os grãos. Mesmo nesta fase, segundo Júlio César Gomez, diretor da empresa, o material continua a incorporar umidade. Com a laminação e reidratação do milho, Gomez entende que o pecuarista pode eliminar algumas barreiras que costuma enfrentar para fornecer ração com maior aproveitamento do amido. “Quando faz silagem de grão úmido, por exemplo, tem apenas 20 dias para colher a lavoura antes que ela passe do ponto correto de umidade. Trata-se de uma janela muito pequena. Com a reidratação, a operação pode ser feita a qualquer tempo, com baixo índice de perdas de milho por meio das fezes, ao contrário do que se vê nas dietas de grãos inteiros”. De olho nos criadores que preferem comodidade ou trabalham com baixa escala, Gomez investiu na comercialização do grão úmido reidratado pronto para o consumo. “O material é oferecido em bolsas anaeróbicas com capacidade para até 100 kg cada uma”, conta. O produto é oferecido por sua outra empresa, a Agrointer, com sede em Piraquara, PR. Técnica aprovada Pesquisador na área de nutrição animal da Embrapa Gado de Corte (Campo Grande, MS), o zootecnista, mestre e doutor Rodrigo da Costa Gomes aprova a uso do milho seco reidratado como alternativa ao colhido e ensilado úmido. “Existem pesquisas no Brasil que, cientificamente, atestam que tanto um material quanto outro propiciam ganho de peso semelhante e com eficiência alimentar superior ao uso do milho grão seco moído”, avalia. Como o milho flint (duro) usado no Brasil tem menor digestibilidade, Gome é taxativo: “Vale a pena o

100 DBO agosto 2018

pecuarista investir nessa alternativa alimentar”. Segundo ele, pesquisa recente mostrou que animais tratados, no confinamento, com ração à base de milho reidratado apresentaram conversão alimentar 20%, em comparação com os que receberam milho grão seco úmido. “Isso pode significar ganhos financeiros diretos para quem utiliza este material em confinamentos ou mesmo em semiconfinamento. Além disso, essa técnica pode ser adotada em propriedades que não têm aptidão agrícola e que, por isso, não produzem grãos. Vejo isso como uma grande vantagem”, diz o pesquisador. O estudo citado por Gomes é a tese de doutorado da zootecnista Naiara Caixeta da Silva, que avaliou a influência da reidratação e da inoculação do milho com a bactéria L. bucheri sobre as características da silagem e sobre o desempenho de bovinos de corte confinados. Em sua conclusão, ela recomenda o uso da técnica por “propiciar melhor eficiência alimentar”. Naiara também atesta que “a silagem de grão reidratado de milho é uma alternativa à silagem de milho grão úmido”, além de afirmar que “o inoculante não afeta os parâmetros metabólicos e o desempenho dos bovinos Nelore”. A pesquisa é datada de 2013 e foi apresentada à Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Jaboticabal, SP. Em artigo técnico de 2013, o médico veterinário Marcos Neves Pereira, da Universidade Federal de Lavras, e a zootecnista Renata Apocalypse Nogueira Pereira, da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig/MG), já apontavam as vantagens da reidratação do cereal para a bovinocultura de corte. Como a moagem e ensilagem do milho maduro é uma operação programável, a tecnologia pode ser adotada tanto por grandes quanto por pequenos produtores, principalmente se estes usarem um moinho comunitário. A reidratação aumenta a eficiência do uso da mão de obra e garante ganho financeiro pela possibilidade de armazenagem do milho na fazenda e pela melhoria na taxa de digestibilidade do amido, o que permite reduzir o uso de concentrados e reduzir o custo da diária no confinamento”. n



Fazenda em foco

Sem tempo ruim No Pará, a Fazenda Joaíma descobre fórmula para driblar a sazonalidade forrageira sem frear a produção de arrobas

Jackson Alves (à esq.) e Gervano Dias (à dir.) trabalham juntos para alcançar as metas da Fazenda Joaíma

Marina Salles

O

marina.salles@revistadbo.com.br

problema da sazonalidade forrageira não atormenta apenas pecuaristas do Centro-Oeste ou regiões com nítida distinção entre seca e águas. Na região amazônica, apesar de chover mais, esse também é um forte empecilho à produtividade pecuária, mas não intransponível. A Fazenda Joaíma, de 10.246 ha, localizada em Paragominas, no nordeste do Pará, recorreu à tecnologia para eliminar essa eterna “dor de cabeça” e fazer recria/engorda sem grandes flutuações na produção. Essa conquista deveu-se a mudanças gradativas no sistema produtivo a partir de 2015, sob orientação da Consultoria Exagro, de Nova Lima, MG. Em apenas dois anos, a propriedade conseguiu aumentar sua produção em 60%, passando de 7 para 11,22 @/ha/ano, enquanto o faturamento cresceu 40,5%, indo de R$ 217 para cerca de R$ 305/ha. Quando o produtor Lincoln Bueno passou a administrar a fazenda adquirida de um produtor baiano em 2010, nnn

Belém Paragominas

PA

Fazenda em números

Nome: Fazenda Joaíma Localização: Paragominas, PA Área total: 10.246 ha Atividade atual: recria e engorda Rebanho médio em 2017: 6.044 animais Abate total em 2017 (pasto + confinamento): 2.953 bois, com média de 531 kg, e 582 novilhas Angus pesando 465 kg.

nnn

102 DBO agosto 2018

a equação oferta forrageira versus lotação não fechava. “Perdíamos muito capim nas águas, pois não tínhamos animais suficientes para colhê-lo e, na seca, era gado demais para pouca comida”, relata. Buscando escapar desse aperto, Jackson Alves, consultor da Exagro, sugeriu antecipar 50% das compras de gado de janeiro/fevereiro para outubro, período de baixa oferta forrageira na região e, por isso, de pouca demanda por bezerros, o que torna seus preços mais baixos. Segundo Gervano Dias, gerente geral da propriedade, essa medida trouxe economia de 20% a 25% por quilo de animal adquirido. A decisão permitiu “virar totalmente a chave” do manejo de pastagens, tirando máximo proveito da forragem, cuja produção explode no início do ano. Na época das chuvas (janeiro a junho), que é chamada pelos paraenses de “inverno”, a fazenda chega a sustentar, no pico da produção de capim, cerca de 9.000 animais em 2.229 ha de área efetivamente empastada, ou seja, livre de grotas, igarapés ou juquira (mato). A Fazenda Joaíma – pertencente às duas filhas de Lincoln Bueno e uma sobrinha – recria prioritariamente gado Nelore, mas também alguns lotes de bezerros cruzados leiteiros, destinados à exportação em navios principalmente para a Turquia. Em 2017, somando todas as categorias e raças, a propriedade alojou uma média 6.044 bovinos, com peso médio de 270 kg. Rotacionado e confinamento Para aproveitar ao máximo o capim e sustentar altas lotações nas águas, dando adeus ao desperdício, Lincoln Bueno estruturou 65% da área empastada em módulos de pastejo rotacionado, com área de lazer central dotada de bebedouro e cocho. Cada módulo tem, em média, 20 ha, divididos em quatro piquetes de 5 ha, que são ocupados por sete dias e mantidos em repouso por 21 dias. A fazenda usa o sistema de desponte e repasse, com dois lotes: bois de engorda e garrotes. Jackson Alves explica que os machos com mais de 450 kg de peso vivo vão à frente, consumindo a ponta do capim, enquanto os garrotes de até 330 kg vêm atrás, rebaixando a gramínea até o ponto ótimo de pós-pastejo. Os machos em terminação recebem 2 kg de ração/cab/dia na área de lazer, para melhorar o acabamento de carcaça. Em junho, dependendo do peso dos animais, define-se todo o abate a pasto da fazenda, que em 2017 foi de 777 bois com média de 540 kg e 156 novilhas Angus pesando 498 kg. Foram vendidos ainda, para exportação, 1.546 bezerros cruzados de 238 kg, 550 garrotes de 425 kg e 985 bois de 522 kg. Como a capacidade de suporte das pastagens cai drasticamente na seca (2.500 para 700 kg de PV/ha nos


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2018

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PATROCÍNIO


Fazenda em foco

O sistema de manejo rotacionado é adotado em 84 módulos de 20 a 40 hectares.

Afinando a gestão, conseguimos lidar melhor com a questão da sazonalidade” Lincoln Bueno, administrador da fazenda

Atualmente, o confinamento da fazenda tem capacidade estática para 2.000 bois e faz dois giros anuais

pastos adubados), Bueno buscou alternativas para regularizar a produção ao longo do ano e acabou optando pelo confinamento. As instalações, construídas em 2015, tinham capacidade estática inicial para 1.000 animais. “Começamos com um giro de engorda e, no ano seguinte, passamos a fazer dois, o que facilitou o treinamento dos funcionários, porque preferimos trabalhar devagar e com solidez”, afirma Alves, da Exagro. No segundo semestre de 2017, com as instalações já concluídas, o confinamento recebeu 1.012 bois no primeiro giro (junho a agosto) e 1.080 no segundo (agosto a dezembro), além de 1.575 bezerros, “sequestrados” do pasto. Até o ano passado, os animais em terminação eram confinados com 390-450 kg, mas a meta deste ano é não aceitar peso inferior a 400 kg. A dieta no cocho, em 2017, tinha como base as silagens de planta inteira e de grão úmido de milho, que garantiram ganho diário de quase 1,6 kg/cab no primeiro giro, de 84 dias, e mais de 1,7 kg, no segundo giro, de 79 dias. No sistema, os animais foram abatidos com peso médio de 531 kg e 543 kg, respectivamente. Uma nova dieta foi formulada para o confinamento deste ano, usando earlage (veja box à pág.106).

Resultados econômicos e metas do projeto Parâmetros econômicos Custeio por animal (R$)

2015

2016

2017

2018

2019

2020

729

705

672

661

644

630

1.166

1.033

1.248

1.259

1.277

1.293

Lucro Operacional (R$/ha/ano)

217

102

305

318

468

636

Margem de Ebtida (%)

8,07

2,23

7,15

6,66

9,44

12,19

Custeio por hectare (R$)

Evolução da produtividade na Fazenda Joaíma Indicadores

2015

2016

2017

2018

2019

2020

@/ha/ano

7,11

7,89

11,22

13,21

14,61

16,52

Desfrute (%)

51,2

41,5

101,6

93,1

90,9

92,9

Lotação máxima *

803

993

1.053

1.059

1.081

1.103

Lotação mínima *

287

350

372

374

382

389

* Lotação medida em kg de peso vivo por hectare/ano.

104 DBO agosto 2018

Sequestro de bezerros A colocação de bezerros no confinamento – sistema conhecido no País como “sequestro” – foi mais uma alternativa encontrada para aliviar as pastagens na seca, garantir o bom desenvolvimento dos animais e aproveitar oportunidades de reposição favoráveis. A técnica é interessante, pois o custo da diária dos bezerros no confinamento é de apenas R$ 2,05/cab/dia (com ração concentrada e silagem produzidas na fazenda), e ela garante ótimo retorno. “A gente está sequestrando animais de 180 a 270 kg no período seco para ele passar 50, 60, 70 dias na linha do confinamento até termos disponibilidade de forragem novamente, porque, no ano seguinte, ele chega com peso para ser confinado. E isso aumenta nosso giro, garante vendas mais rápidas”, justifica o gerente, Gervano Dias. É preciso, contudo, ter cuidado com a readaptação dos animais ao pasto. “Como ele já pegou cocho, damos suplemento na saída para seu desempenho não cair”, diz. O custo do “proteico-energético Joaíma”, assim apelidado pelos funcionários, é de R$ 1,10/cab/dia. O produto contém 25% de proteína e é oferecido na proporção de 0,1% do peso vivo (200 a 300 g/cab/dia) durante as águas (janeiro a junho). No período seco, ele é trocado por um mineral proteico com 40% de proteína, cujo custo é de R$ 1,45/dia. Em sua primeira experiência com sequestro de bezerros, em novembro de 2017, a fazenda colocou no confinamento dois lotes: um de 276 cabeças, com 150210 kg, e outro de 844 cabeças, com 241- 270 kg. Os animais apresentaram desempenho expressivo no cocho e continuaram engordando a pasto. “Em junho deste ano, o primeiro lote já estava com média de 277 kg, ganho de 538 kg/cab/dia no período, enquanto o segundo acumulara 360 kg ou 676 g/cab/dia”, afirma Jackson Alves. Integração lavoura-pecuária Ainda com o objetivo de poupar pastagens na seca e acelerar a entrada dos garrotes no confinamento, a fazenda decidiu apostar na integração lavoura-pecuária. Lincoln Bueno já vinha investindo na agricultura para produzir grãos e silagem de milho, esta última destinada ao fornecimento de volumoso a navios transportadores de gado em pé. “Mas o cenário mudou em 2015 com o esfriamento desse mercado e a montagem do nosso confi-



Fazenda em foco

A rotação de culturas nos permite aumentar a lotação das áreas integradas” Fábio Laércio, gerente de agricultura

namento”, conta Dias. No mesmo ano do início das obras, foram feitas experimentações para transformar a área de agricultura em um polo de integração. “No começo, trabalhávamos com técnicos das empresas de sementes, que nos davam assessoria a cada 15 dias, mas, logo, vimos ser necessário investir em profissionalização”, diz Alves. Em 2017, dois anos após os primeiros experimentos, Fábio Laércio, técnico agrícola, foi contratado para integrar a equipe e assumiu o cargo de gerente de agricultura. Em 2018, em 415 ha de terras planas dentro da fazenda, ele organizou o plantio de 415 ha de milho – 175 consorciados com braquiarão, 99 para produção de earlage e 141 ha para silagem de planta inteira. Cerca de 170 ha plantados mais cedo, foram semeados ainda com sorgo safrinha (para substituir o milho no segundo giro do confinamento) e com capim. Fábio Laércio explica que, a partir de junho, os animais de recria ficam nesses pastos temporários, que somam 400 ha, considerando também uma área da fazenda cultivada com soja por um arrendatário e onde se planta, depois da safra, capim mombaça. As áreas de integração aliviam as pastagens permanentes da Joaíma, cuja lotação normalmente cai de 1.059 kg de peso vivo/ha, nas águas, para 374 kg na seca. Os animais entram nestas pastagens temporárias, de 400 ha, divididas em quatro piquetes, com cerca de 300330 kg e saem 80 dias depois com 390-400 kg, peso ideal para o confinamento. “Como a qualidade dos pastos da integração é melhor, por conta do benefício da rotação de culturas, os garrotes ganham peso ainda que a lotação nestas áreas seja de 825 kg de PV/ha, maior do que no restante da fazenda nesse período”, diz Fábio Laércio. “Isso significa que conseguimos colocar, em plena seca, 1.000 garrotes na área, lotação de quase 2 UA/ha”, completa. Assim como Laércio, outros funcionários calculam e manejam corretamente a lotação nos pastos, enquanto percorrem a Fazenda Joaíma. Andar com uma calculadora no bolso, para eles, virou sinônimo de contribuir com a produtividade. Na opinião de Gervano Dias, gerente-geral da fazenda, a mudança radical no sistema de produção tem muito a ver com a dedicação dos 35 colaboradores que integram a equipe.

Após a colheita do milho para silagem, terá início a safra de boi, sobre o capim Zuri

Metas para 2020 A previsão da Exagro é que a Fazenda Joaíma fature R$ 636/ha/ano até 2020, mais do que o dobro do valor alcançado em 2017. A margem deverá ser de 12,19%, quatro pontos percentuais acima do resultado obtido no ano passado, e a produção, de 16,52 @/ha/ano, 132% superior à do início do projeto. Para tornar reais os objetivos “planilhados” com minúcia, reuniões quinzenais são organizadas pela gerência com os funcionários, divididos em pequenos grupos. Nelas, planeja-se tanto as tarefas de execução prioritária nos 15 dias subsequentes quanto a troca de informações sobre questões pontuais da fazenda, desde a manutenção de cercas até problemas de relacionamento interpessoal. O acompanhamento da Exagro é feito a cada 60 dias, quando Alves fica por uma semana na propriedade e discute propostas de planejamento macro, que depois são transformadas em pequenos objetivos, cumpridos em etapas. Uma vez alcançadas as metas, os colaboradores são premiados por meio de um Programa de Participação dos Resultados (PPR). “Logo que começamos o trabalho na fazenda, propusemos o PPR para o senhor Lincoln e a iniciativa foi muito bem aceita”, diz o técnico da Exagro. “É uma forma de motivar os funcionários e fazê-los crescer junto com a fazenda”, acrescenta o empresário. Aproximadamente 5% do lucro líquido anual é destinado às bonificações, que variam conforme o valor do salário do funcionário perante o total da folha de pagamento. n

Earlage, a silagem de espiga Neste ano, a Fazenda Joaíma iniciou os primeiros testes com earlage, alimento já bastante usado nos Estados Unidos e que ficou conhecido, no Brasil, como “silagem da espiga de milho úmido”. Versátil, esse produto funciona, ao mesmo tempo, como fonte de energia (porque tem 70-75% de grãos) e fibra (porque contém 25%-30% de palha e sabugo). Segundo Jackson Alves, da Exagro, o material é rico em amido e facilmente digerido pelos animais, por ser processado. Além disso, é um alimento “nobre”, pois tem 85,3% de NDT (nutrientes digestíveis totais), situando-se entre a sila-

106 DBO agosto 2018

gem de planta inteira e a de grão úmido de milho. “Além dessas vantagens nutricionais, o earlage foi produzido com ótimo custo dentro da fazenda: R$ 153/ha, posto na trincheira”, afirma o consultor. Ele está sendo usado na propriedade para substituir parte da silagem de planta inteira na dieta do confinamento e do milho-grão, que demandava logística de armazenamento em silo de terceiros e gerava custos de transporte. Agora, com a produção do earlage, o milho-grão passará a ser vendido no mercado praticamente em sua totalidade, e a preços atrativos.


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Saúde Animal

Morte súbita no confinamento? Pode ser enterotoxemia. Essa doença, associada a dietas ricas em grãos mal balanceadas, pode causar grandes prejuízos, pois é letal. Única saída é vacinar.

Animais que consomem ração com muita energia são mais suscetíveis à doença, que pode causar morte súbida.

D

Mistura de lotes favorece contágio”, Carlos Lobato, professor da UFMG

108 DBO

Luiz H. Pitombo

evido à expansão dos confinamentos no Brasil, uma doença até pouco tempo restrita a ovinos e rebanhos leiteiros pode (ainda é necessário usar o verdo na condicional) estar atingindo também animais de corte. Essa doença é a enterotoxemia, integrante da temida família das clostridioses, que compreende o botulismo, o tétano e o carbúnculo sintomático, dentre outras enfermidades. Casos de morte súbita relatados em confinamentos do País têm sido associados à “moléstia da superalimentação”, nome pelo qual a enterotoxemia é conhecida, mas ainda não há diagnóstico conclusivo. Causada pela toxina epsilon, produzida pela bactéria Clostridium perfringes tipo D, a doença pode acometer bovinos que recebem rações muito ricas em amido, sem adaptação adequada, ou que ingerem formulaçoes desbalanceadas. Nestes casos, uma parte dos carboidratos fornecidos no cocho vai parar direto no intestino. Lá, eles se tornam substrato para o desenvolvimento desproporcional da bactéria Clostridium perfringens, que funciona como uma “bomba-relógio” com hora marcada para explodir. O problema pode acometer de 10% a 20% dos animais confinados, percentual que não seria considerado tão preocupante, não fosse a letalidade da doença. Em

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casos agudos, pode ocorrer a chamada “morte súbida”. Não há tratamento que resolva o problema. A única saída é a prevenção, por meio de vacinas. A bactéria Clostridium perfringens tipo D se encontra distribuída por todo o País. Pode ou não estar presente no intestino dos bovinos na forma de esporos, mas, em geral, sua convivência com esses animais é pacífica, a menos que se coloquem condições propícias à sua proliferação. As toxinas produzidas pela bactéria aumentam a permeabilidade do epitélio intestinal, criando portas de entrada para a corrente sanguínea, por meio da qual atingem os rins, os pulmões, o encéfalo ou o coração dos animais, provocando morte. Contágio e sintomas A enterotoxemia também atinge animais bem jovens, mas é no confinamento que se concentram fatores de maior risco para seu desenvolvimento. Além das dietas ricas em carboidratos, a mistura de animais de diferentes procedências e sua aglomeração em piquetes de engorda também favorecem o contágio, que, segundo o professor Francisco Carlos Lobato, da Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), se dá por via oral (ingestão de água ou alimentos contaminados) ou pelo contato com fezes de animais já infectados. Dedicando-se à pesquisa de vacinas contra as clostri-



Saúde Animal Vacinação correta evita problema Como os sintomas da enterotoxemia são comuns a outras enfermidades, é fundamental diagnosticar corretamente a causa da morte dos animais por meio de análise laboratorial (amostra de conteúdo intestinal, colhido por meio de necropsia poucas horas após o óbito). Identificada a toxina, a única medida de controle possível é a higienização do ambiente e a vacinação contra clostridioses, pois é impossível eliminar a bactéria do ambiente. José Zambrano, técnico da Rehagro Consultoria, de Belo Horizonte, MG, lamenta a falta de diagnóstico laboratorial que possibilite dimensionar o problema no Brasil: “Não tenho dúvidas de que a enfermidade exige atenção”. A enterotoxemia não é considerada uma zoonose, mas as carcaças dos animais mortos devem ser queimadas ou enterradas em covas com 1,5 m de profundidade, cobertas com cal antes de receberem terra, para evitar a proliferação da bactéria, a contaminação do meio ambiente e a ingestão de ossos pelos animais, causando botulismo. Zambrano recomenda que as fazendas escolham uma área como cemitério, onde também se possa realizar autópsias e coleta de material para diagnóstico. As medidas profiláticas dependem das condições da propriedade, mas vacinar é fundamental, respeitando-se as indicações da bula quanto à refrigeração da vacina, uso de

agulhas em bom estado e a essencial dose de reforço, para a correta imunização do animal. “Muitos produtores deixam de fazer esse reforço”, lamenta Lobato. Em animais jovens, a vacina contra essa e outras clostridioses pode ser administrada entre 4 a 8 meses de idade, com uma dose de reforço 30 dias depois ou de acordo com a recomendação do fabricante. Para animais destinados ao confinamento, sem informações sobre manejo sanitário anterior, recomenda-se a vacinação antes de sua entrada nas instalações. Outro aspecto vital é a propriedade contar com a orientação de um nutricionista para balancear a dieta, evitando uma carga muito elevada de carboidratos, que também pode causar acidose. Outra medida essencial, reforça Zambrano, é adaptar os animais à dieta de confinamento por cerca de 21 dias, para que a microbiota ruminal consiga processar adequadamente o novo alimento.

dioses e seu diagnóstico laboratorial, Lobato diz não ter registrado aumento nos pedidos de exame para enterotoxemia na UFMG, única instituição além do Instituto Biológico (IB) a realizar esse tipo de análise no País. Isso não significa, contudo, que a doença esteja sob controle. “Muitos casos de morte súbita nos confinamentos têm sintomas que sugerem se tratar de clostridiose, mas o agente causador não é identificado por falta de exame. A frequência da enterotoxemia no País pode estar mascarada”, pondera. Dependendo da quantidade de toxina produzida pelo Clostridium perfringens tipo D, a doença pode se manifestar de três formas: superaguda, aguda e subaguda. Na superaguda, a bactéria produz toxina em ta-

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manha quantidade que sequer se observam sintomas; o animal já é encontrado morto. Na forma aguda (mais comum), a doença ataca o sistema nervoso central e o animal apresenta incoordenação motora, prostração e sintomas clássicos de enfermidades neurológicas (vocalização, convulsões, perda de consciência), morrendo dentro de algumas horas. Já os sintomas da forma subaguda são inapetência, cólicas, cegueira e diarreia. Nestes casos, a morte se dá dentro de quatro ou cinco dias. Como ocorre com outras clostridioses, as carcaças se deterioram mais rápido e ficam inchadas, devido à produção de gases. “Por isso, muita gente pensa, equivocadamente, que se trata de picada de cobra”, diz Lobato. n


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Complicações no transporte de gado

U Professor titular de Clínica de Ruminantes da FMVZ-USP ortolani@usp.br

nnn Animais problemáticos não devem ser os últimos a embarcar

nnn

ma das fotografias mais marcantes que já vi foi de uma enorme boiada que acompanhava um peão berranteando no Pantanal. Desde o período colonial, essa foi a principal forma de transporte dos bovinos no Brasil. O gado dos pampas era conduzido pelos tropeiros até as alterosas de Minas Gerais, para alimentar os extratores de ouro. Essa forma de transporte ainda existe entre nós. Há pouco, cruzei com mais de 3.000 novilhas sendo deslocadas do Pantanal para pastagens mais altas. Entretanto, a cada ano essa prática se torna mais escasso. Estima-se que pelo menos 80% dos bovinos de recria/engorda são deslocados, durante suas vidas, de uma fazenda para outra ou para os matadouros. No século passado, antes de Juscelino Kubitschek, o principal meio de transporte de gado eram as ferrovias. Depois, o trem foi substituído pelo caminhão. Morei em uma cidade ferroviária e vi sairem centenas de vagões superlotados de gado da Alta Sorocabana com destino aos entornos da cidade de São Paulo. Dava dó! Gado cansado, sedento e deitado. Um pisando sobre o outro, e muitos chifres quebrados. O gado sofria muito e a carne era da pior qualidade. As pobres cozinheiras da época faziam muita musculação para amaciar a carne com martelinho. Felizmente, as coisas mudaram. Os frigoríficos, na década de 1970, migraram das regiões próximas à grandes concentrações populacionais para onde se engordavam os bois. Mesmo assim, muito gado ainda é transportado e os problemas de bem-estar e sanitários não se encerraram com os caminhões-gaiola. Falaremos nos próximos artigos sobre isso. O estresse gerado no transporte não se limita ao período da viagem. Inclui a lida de juntar e prender, antes e depois do embarque; subir e se colocar dentro da gaiola, viajar, esperar para o desembarque e chegar a um novo ambiente. Quase que invariavelmente existe gritaria, cachorros, cutucões, às vezes com choque elétrico, cabeçadas, pisoteio entre o gado etc. Dessa confusão toda, as principais consequências negativas são a perda de peso, a queda da resistência às doenças, contusões em animais mais jovens ou transportados de fazenda a fazenda, e a perda de qualidade das carcaças, quando o gado se destina ao abate. Muito se tem falado sobre esse último prejuízo, mas o assunto é pouco comentado em relação aos animais não destinados ao gancho. Efeito do temperamento O nível de estresse apresentado pelos bovinos durante o manuseio pré e pós-trânsito está grandemente associado à docilidade do gado e ao jeito como ele é tocado. As complicações de viagem são menores em vacas leiteiras mansas do que em gado de corte. Animais que pouco passam pela seringa (apenas uma ou duas

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vezes ao ano, na vacinação antiaftosa) são os mais problemáticos. Bovinos que foram tratados com violência em manuseio no curral sofrem muito no embarque. Geralmente, são mais difíceis de ser tocados, agrupados e de subir a rampa do caminhão. É o reflexo do medo. Se hoje Freud pudesse emitir uma opinião, ele repetiria o ditado popular: gato escaldado tem medo de água fria! Já os animais que são constantemente pesados, manuseados com tranquilidade na seringa, acostumados às pessoas alimentando-os diariamente e não tocados por cães sofrem bem pouco, entrando mais facilmente no caminhão. Gado que está prestes a ser embarcado não deve adormecer no curral, mas em algum piquete ao lado, pois a primeira situação deixa os animais mais nervosos. Um bovino agitado e sozinho pode pôr tudo a perder em um lote. Esses bovinos problemáticos não devem ser embarcados por último, pois, além de sofrerem mais, vão atrapalhar o deslocamento dos outros. Cuidado com a lotação Bezerros com até três meses de vida penam muito com o transporte. Quanto mais lotado estiver o caminhão, mais frequente é a morte por pisoteio, podendo chegar a 20%. Pelo menos 1 em cada 2.000 bois cevados chega morto ao frigorífico. A mortalidade por infecção generalizada nos dias que se seguem ao transporte também é alta na bezerrada. Isso ocorre, pois esse processo derruba a produção dos anticorpos que os protegem contra doenças infecciosas. Pense três vezes antes de transportar essa categoria de animais. A partir dos três meses de idade, aumenta gradativamente a resistência dos bovinos aos malefícios do transporte. Mas, esses efeitos podem ressurgir toda vez que o gado sofre grande estresse previamente ao embarque. A operação de manejo mais complicada é a desmama. Além disso, a sequência de viagens e agrupamentos de lotes diferentes de garrotes também interferem muito na produção dos abençoados anticorpos. Esse agrupamento de animais ocorre com frequência em nosso meio. Com o surgimento dos grandes confinamentos no País, voltaram à cena os chamados marreteiros, que compram a garrotada de porteira em porteira para revendê-los aos engordadores. Alguns marreteiros, inclusive, compram de outros do mesmo ramo. Esse gado, além de ser transportado de lá para cá, sofre o estresse de ter de se agrupar com bicharada diferente, gerando briga e luta por liderança no lote. O problema explode na chegada aos confinamentos. Em um próximo artigo, vamos contar as consequências que isso traz para o gado confinado ou recém-desmamado que não escapa de um caminhão-gaiola. Até nosso próximo, e imperdível, encontro! n



Seleção

A investida da IAO no Caracu Mocho José geraldo candido

Baseado em Uberlândia, MG, programa de seleção da empresa prioriza precocidade e aumento no rendimento da carcaça.

Trabalho de Ilias Antônio de Oliveira se destaca na produção de um biotipo moderno da raça Caracu

E

Carolina Rodrigues

x-criador de aves e suínos, co-fundador da extinta Granja Rezende, sediada em Uberlândia, MG, Ilias Antônio de Oliveira virou pecuarista em tempo integral após a venda da empresa para a Sadia no final de 1999 em uma transação comercial de R$ 134 milhões. Na época, a Rezende possuía 10.000 matrizes Nelore cara limpa e exemplares mestiços, incluindo alguns Caracu. Decidido a investir em consultoria técnica e no melhoramento genético do rebanho, Ilias apostou nos mesmos preceitos da atividade anterior, baseados no uso intensivo de tecnologia para aumentar a produtividade e reduzir o ciclo de produção. Ficou com uma reserva de 100 novilhas de alta qualidade com bezerras ao pé, 280 novilhas de dois anos que entrariam em serviço naquela estação e 450 vacas prenhes de inseminação, adquiridas de seu sócio na Granja, Alfredo Rezende. Nos anos seguintes, intensificou investimentos no Caracu para explorar os benefícios da heterose a partir desta base Nelore. “Meu pai sempre foi um admirador da raça, a começar pelas potencialidades deste taurino adaptado na produção de uma pecuária de ciclo curto”, diz Andre-

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zza Oliveira Silva, filha mais velha do criador e quem divide com ele a rotina das fazendas do grupo. “É, sem dúvida, uma de suas maiores paixões”. O Caracu IAO começou a ser selecionado em Uberlândia, MG, por volta de 1990, com base em animais representantes dos principais criatórios do País. Além de matrizes tiradas de grandes criatórios mineiros e paranaenses – Estados que se destacam no universo de animais registrados pela Associação Brasileira de Criadores de Caracu –, a empresa apostou alto em animais oriundos dos projetos de seleção conduzidos pela Estação Experimental de Zootecnia de Sertãozinho (IZ), no interior de São Paulo, que deram norte aos primeiros critérios de seleção adotados: a busca por animais com alto desempenho, tendo como característica fundamental o peso ao sobreano (450 dias). A escolha não foi ao acaso. Desde que começou a ser estruturado, o projeto de seleção IAO conta com a assessoria de dois profissionais ligados ao IZ: José Geraldo Candido, médico veterinário e técnico da ABCCaracu, que trabalhou no então Instituto de Zootecnia de Sertãozinho na década de 1980, ao lado de José Benedito Freitas Trovo, dono de um currículo extenso de pesquisas na entidade. “Quando recebemos “seu” Ilias no IZ percebemos que ele era um produtor diferenciado, porque trazia para a pecuária de corte conceitos da avicultura, que fizeram a diferença no seu negócio”, diz Candido, sobre o criador que, hoje, com 83 anos de idade, viaja todo o mês para a Fazenda Paraíso, São José do Xingu, MT, para acompanhar de perto a engorda de 2.000 animais em sistema a pasto e semiconfinamento, todos entregues à JBS de Confresa, MT. Além deste plantel, o criador abate outros 1.500 animais em confinamento na Fazenda Douradinho, em Uberlândia, MG, onde é grande a incidência de animais, que aos dois anos de idade, ultapassam 55% de rendimento de carcaça, resultado do novo direcionamento na seleção: a produção do Caracu Mocho. Resgate necessário O resgate de linhagens mochas teve início há oito anos, motivado pela busca de “seu” Ilias por mais docilidade, facilidade de manejo, e, acima de tudo, velocidade de terminação. Nesta mesma época, Romeu Fernandes Nardon, pesquisador do IZ, fez um estudo comparativo da seleção de bovinos para desempenho


divulgação

Ilias Antônio de Oliveira, ao lado da filha, Andrezza, com quem divide a rotina das fazendas em MG e MT

Passo a passo Para avançar seguramente nesta “seara”, a IAO aumentou o crivo da seleção. Há três safras introduziu a ultrassonografia de carcaça na avaliação dos animais ao sobreano para identificar entre os grupos de contemporâneos indivíduos superiores em AOL (Área de Olho de Lombo) e EGS (Espessura de Gordura Subcutânea). “Já identificamos animais com alto grau de marmoreio, um forte indicativo de melhoria também na qualidade de carne”, observa Trovo. Mesmo com o diagnóstico, a característica não integra o índice de seleção, focado exclusivamente na carcaça e no acabamento. As duas características compõem o conjunto de avaliações, baseado em um cronograma de pesagens em períodos estratégicos e preestabelecidos pelos geneticistas. Na Fazenda Pouso Alegre, berçário da IAO, em Uberlândia, as mensurações começam desde o nascimento do bezerro e evoluem com a pesagem aos 120 dias (habilidade materna), 240 dias (habilidade materna e desenvolvimento do indivíduo), 365 e 450 dias (crescimento e acabamento). As duas últimas ocorrem na Fazenda Capim Barro Branco, propriedade vizinha destinada à recria dos animais, onde também são realizadas as avaliações morfológicas e andrológicas para as tomadas de decisão de descarte

Encontrar linhagens e variabilidade genética foi um grande desafio” José Geraldo Candido, consultor da IAO

josé geraldo candido

a partir da composição corporal e características de carcaça envolvendo animais das raças Nelore, Guzerá, Caracu e Nelore não controlado, onde identificou que, nas linhagens padrão, a raça deixava a desejar em carcaça e acabamento frigorífico. “Já sabíamos da qualidade do mocho, que evidenciava uma ossatura mais fina, com bom revestimento muscular e acabamento precoce. Foi assim que decidimos mudar definitivamente o foco na IAO”, revela Candido. Uma tarefa, no entanto, nada fácil. Embora existam registros de Caracu Mocho desde o início da colonização do País, poucos criatórios selecionavam a variedade de fato. “Encontrar linhagens e variabilidade genética foi um grande desafio”. Pesquisas referentes à origem do Caracu no Brasil apontam que desde o final do século XIX havia gado Mocho no País, mas o tipo foi quase extinto pela forte absorção dos zebuínos, que originou as variedades mochas Tabapuã, Nelore e Gir, hoje existentes. “Isso somente não ocorreu porque em 1980 a ABCCaracu incorporou o Mocho Nacional à raça, trazendo o resgate de algumas linhagens importantes”. A Embrapa (Cenargen) teve grande participação neste processo por meio de um estudo de reconstituição de genoplasmas conduzido por Trovo e sua equipe, que permitiu identificar na população exemplares remanescentes dessas linhagens e reintroduzi-los na criação. Um dos exemplares mais representativos foi o touro Sabor do IZ, reprodutor amplamente usado para a recomposição do plantel e um forte aliado da “virada” IAO para a seleção de animais sem chifres. Além do IZ, o criatório também bebeu na “fonte genética” de Cícero Junqueira Franco, da Fazenda Diamante, e Adílio Camargo Costa, da Fazenda Três Barras, dois ícones da seleção do Caracu Mocho. “Hoje, o que há de melhor no Caracu Mocho existe na IAO”, certifica Candido, revelando percalços no caminho. Nos primeiros anos de reestruturação, o criatório teve que administrar a perda de desempenho dos ani-

mais em decorrência da troca de um biotipo maior e pesado por um biotipo menor e precoce, também mais leve. A depreciação chegou a 6% nos primeiros anos de nascimento, perda compensada pela melhor “distribuição” deste novo modelo de Caracu. “Antes, nosso gado apresentava 50% de carne no posterior, e 50% no anterior. Atualmente, essa proporção está em 60%-40%, uma mudança bastante significativa”, observa Ivo Luiz Freitas Filho, veterinário da IAO, garantindo que a produção mudou muito, incluindo melhora na relação de desossa, etapa em que a qualidade do boi se revela efetivamente. “Hoje, registramos 80% de músculo e 20% de osso para novilhas ao redor de 20 meses e 16@. Isso mostra todo o potencial deste novo gado na produção de carne, que é o que mais nos interessa”.

Emir da TB, reprodutor que contribuiu na formação do novo plantel IAO.

DBO agosto 2018 115


e reposição do plantel de machos. As fêmeas são recriadas e avaliadas na Pouso Alegre. Os animais indicados para reprodução e direcionados para o mercado recebem uma marca a fogo com sinal “S”, na perna esquerda, sinônimo de superioridade genética. Já os candidatos à reserva do plantel são marcados no mesmo local, com o desenho de um chifre estilizado de Caracu e um cupim de zebu, referência ao projeto da IAO com as duas raças. Esses animais tradicionalmente ficam acima da média das avaliações da fazenda. Candido acrescenta ainda, que, com este grupo, todo o cuidado é pouco. Além do uso no plantel, os touros têm doses de sêmen coletadas em uma espécie de reserva genética, chamada por ele de “seguro-caução”. “A fazenda já perdeu bons touros com queda de raio e picadas de cobra, o que a levou a adotar medidas de precaução”, diz. Atualmente, a IAO utiliza 100% de touros de produção própria nos acasalamentos, fruto do rigor na seleção dos animais. O técnico observa que ao estruturar um programa de seleção, a partir de variabilidade genética, aumenta-se também a repetitividade das características desejadas reduzindo a necessidade de buscar genética de outros criatórios. “Controlamos o grau de endogamia no momento em que efetuamos os acasalamentos, ponto fundamental da gestão ge-

116 DBO agosto 2018

clécio duarte

Seleção

nética”, explica Candido. Além de touros em monta natural, o criatório faz IATF e aspira doadoras, multiplicando a melhor genética através de FIV para modelar e dar suporte ao projeto de seleção. Hoje, cerca de 40% dos machos nascidos tornam-se reprodutores na fazenda (cerca de 150 reprodutores ao ano). Alguns ficam na reserva do plantel e outro são destinados ao comércio. Toda a cabeceira da safra é comercializada nas fazendas de Uberlândia ou na Estância IAO, em São José do Xingu, MT. n

Opção pelo mocho aumenta a eficiência na engorda de 3.500 animais ao ano


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Leilões

Copa do Mundo esvazia as pistas em julho Adiamento ou antecipação de leilões e exposições devido à competição reduziu em 40% o número de remates no mês Alisson Freitas alisson@portaldbo.com.br

D

Oferta

– 26% Receita

– 29,3% Média

– 4,3%

epois de apresentar uma ligeira reação no fim do primeiro semestre deste ano, o mercado de leilões se deparou com pistas mais vazias em julho. O número de remates despencou 40% em relação a igual período no ano passado. De acordo com o Banco de Dados da DBO, foram realizados 60 leilões de raças de corte que comercializaram 7.485 lotes de machos, fêmeas, prenhezes, embriões e aspirações. Foi a menor quantidade de lotes vendidos para o mês de julho nos últimos nove anos. Na comparação com os 10.133 lotes de 2017, a queda foi de 26%. A receita nos leilões caiu na mesma proporção, registrando o pior desempenho desde 2014. O faturamento de R$ 62,5 milhões deste ano é 29,3% mais baixo do que o do ano passado (R$ 88,3 milhões). O preço médio foi o indicador que permaneceu mais estável, saindo de R$ 8.718 em 2017 para R$ 8.350 neste ano. Entre as categorias, o “tombo” foi mais sentido na venda de machos. No ano passado foram 7.208 animais comercializados ao longo do mês de julho, enquanto neste ano foram apenas 4.962. No entanto, a média se manteve estável, na casa dos R$ 9.400. Nas fêmeas, a diferença

60 remates dwe bovinos de genética para carne Pistas de julho registram média geral de R$ 8.350 Raças Nelore Brangus Brahman Guzerá Angus Braford Senepol Canchim Simental Charolês Bonsmara Caracu Hereford Tabapuã Santa Gertrudis Total

Lotes 6.257 184 154 139 136 128 118 74 68 54 52 47 33 32 9 7.485

Leilões 41 (7) 3 (1) 5 (4) 3 (1) 5 (3) 3 (3) 2 2 1 1 1 1 (1) 2 (2) 1 (1) 1 60

Renda (R$) 52.816.440 1.540.960 1.354.980 911.210 1.244.610 734.100 1.151.680 600.780 350.200 667.680 410.400 228.000 262.000 179.200 48.480 62.500.720

Média 8.441 8.375 8.799 6.555 9.152 5.735 9.760 8.119 5.150 12.364 7.892 4.851 7.939 5.600 5.387 8.350

Máximo 258.000 40.800 13.800 24.000 14.400 20.880 258.000

Critério de oferta.(-) Dados das leiloeiras Capitaliza, Central, Confboi, Connect, Correa da Costa, Estância Bahia, Leiloboi, Leilosul, Leilogrande, Leilosin, Leilosat, Marka, Minas, Pampa, Panorama, Programa, Progredir e Taquarí Leilões. (-) Quantidade de remates em que a raça dividiu pista com uma ou mais raças. Elaboração DBO.

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de oferta não foi tão grande: foram negociadas 2.508 bezerras, novilhas e matrizes, ante as 2.835 do ano anterior. A média caiu de R$ 6.719 para R$ 6.156. De acordo com o leiloeiro Paulo Brasil, parte dessa queda está atrelada a uma mudança no calendário de 2018, em virtude da Copa do Mundo. “Tivemos alguns leilões que foram antecipados para julho e outros que foram adiados para o mês seguinte (agosto). É necessário esperar um pouco mais de tempo para termos uma visão real do impacto dessa mudança de datas”, avaliou. Praças Maior praça vendedora de julho de 2017, Mato Grosso viu a sua agenda de remates desabar neste ano. Foram apenas dois remates, ante 11 no mesmo mês do ano passado. Com isso, o número de lotes negociados no Estado caiu de 1.745 para 463 e a receita, de R$ 16,2 milhões para apenas R$ 5,3 milhões. Além da alteração do calendário de leilões, o desempenho também foi impactado pela mudança no perfil de uma de suas principais mostras. Em Rondonópolis, no Sudeste do Estado, a Exposul foi deslocada para agosto. Já na capital, Cuiabá, a Expoagro deu espaço para a AgroMT, uma feira de tecnologia e equipamentos agropecuários. Pautada pela intensificação da venda de touros do segundo semestre, a Bahia se tornou a praça de maior movimentação, com a venda de 1.702 lotes por R$ 16,6 milhões. O resultado foi puxado, principalmente, pelo Mega Evento EAO, realizado nos dias 21 e 22 de julho, em Itagibá, no Oeste do Estado, que movimentou R$ 10,2 milhões por 871 animais avaliados. O destaque foram os 698 touros Nelore negociados à média de R$ 11.080, sendo a maior oferta da categoria no ano até então. Além deles, também passaram pelo martelo 144 doadoras e novilhas Nelore à média de R$ 15.339 e 29 tourinhos Red Brahman a R$ 11.964. Já no dia 28, em Cotegibe, a Agropecuária Jacarezinho arrecadou R$ 4,5 milhões em seu leilão anual de touros Nelore, aonde comercializou 266 machos com DEPs Genômicas ao preço médio de R$ 12.277 e 315 novilhas a média de R$ 4.133. Para Paulo Brasil, ofertas de touros em grandes volumes devem continuar puxando o mercado para cima nos próximos meses. “Em agosto, teremos a ExpoGenética que deve ampliar consideravelmente o número de lotes vendidos. A expectativa é que, pela primeira vez, a feira venda mais do que a ExpoZebu e a Expoinel”, conclui. n



Leilões Bruno Grubisich

A

ntes atuante no Nelore, a Verdana Agropecuária entrou de cabeça no mercado de Angus com a realização da primeira prova de desempenho do Centro de Referência Angus (CRA), cujo objetivo era encontrar reprodutores bem adaptados ao clima tropical, visando cruzamento industrial com a vacada Nelore. Os resultados foram divulgados em um dia de campo no dia 17 de julho, em Itatinga, SP. No dia seguinte, o criatório ofertou os tourinhos mais bem avaliados na prova em um leilão virtual. De acordo com o Banco de Dados da DBO, o remate comercializou 59 animais, alcançando a média de R$ 12.100, a maior do ano para machos Angus. Em conversa rápida com a DBO, o titular da Verdana Agropecuária, Bruno Grubisich, falou sobre os resultados do remate e a expectativa para as próximas edições. Como avalia o resultado do leilão?

Foi extremamente satisfatório e comprova a força inicial da prova. Durante quase um ano, foi possível acompanhar o desenvolvimento de cada um desses animais e 90% deles foram classificados como excepcionais. Inclusive, o animal melhor ranqueado para os quatro principais índices da prova (Confinador, Bezerros, Carcaça, Rusticidade) foi também o grande destaque do remate, sendo vendido por R$ 60.000, para a Agropecuária Zamlutti, de Campo Grande, MS.

Qual foi o perfil dos compradores?

A maior parte dos compradores trabalha com cruzamento industrial e atende a projetos de qualidade de carne no Brasil Central. No entanto, tivemos produtores de outras regiões investindo. O segundo animal mais valorizado do leilão, por exemplo, BF Ibere, foi arrematado por R$ 25.000 pela RR Agropecuária, que trabalha com cruzamento industrial no Sul do Pará.

Que retorno você teve dos criatórios participantes?

Todos ficaram extremamente contentes com a prova e as médias do leilão. O CRA é uma grande vitrine para os trabalhos de melhoramento genético. Quase todos os criatórios já confirmaram presença na próxima edição da prova. O nosso objetivo é ampliar a oferta para, pelo menos, 100 animais, seguindo os mesmos critérios de avaliação. É um trabalho a longo prazo que está apenas começando. 120 DBO agosto 2018

Terra Boa registra média histórica no Brangus

Fenelon agrofotos

Conversa Rápida com

Um dos principais expoentes do Brangus no Sudeste do País, José Luiz Niemeyer dos Santos promoveu mais uma edição do Leilão Touros Terra Boa, na tarde de 1º de julho, em Guararapes, SP. O remate fez história ao registrar a maior média para reprodutores da raça no Brasil, de acordo com o Banco de Dados da DBO, com 37 animais comercializados à média de R$ 17.513. Na conversão por boi gordo, o valor é equivalente a 125@, uma das maiores relações de troca do ano até então. Além dos machos, as fêmeas também conseguiram boa valorização, com a média de R$ 8.385 por 16 exemplares. Já na raça Nelore, que consagrou Niemeyer nas pistas de julgamento, a média dos 81 touros foi de R$ 9.042 e das 29 matrizes, R$ 9.144. Todos saíram com avaliações genéticas do Nelore Brasil, da ANCP; do PMGZ, da ABCZ; e do Nelore Qualitas. No total, o remate teve a participação de compradores de 11 Estados e movimentou R$ 1,7 milhão.

Pista cheia no Mega Leilão CV Com oferta de touros e matrizes provados, Carlos Viacava promoveu a maior oferta de animais Nelore Mocho da temporada ao comercializar 304 exemplares por R$ 2 milhões, no 65º Mega Leilão Nelore Mocho CV, realizado em Paulínia, SP, na tarde de 28 de julho. Uma das novidades deste ano foi a redução no número de parcelas de 24 para 14. O ponto alto do evento foi a venda de 187 reprodutores à média de R$ 7.766, com destaque para Cuddy de CV, que momentos antes do pregão foi contratado para reforçar a bateria da Alta Genetcis. O tourinho de 23 meses é filho de REM Amador em vaca Jaguarari de CV e teve 50% de sua propriedade negociada por R$ 44.800, para José Ricardo Sacchi. Também foram vendidas 117 novilhas à média de R$ 4.771. Todos os exemplares saíram com avaliação do Nelore Brasil, da ANCP, da qual Viacava é vice-presidente.


MaisAtivo entra no mercado de leilões rurais Com mais de 18 anos operando em leilões industriais, ativos judiciais e imóveis, a MaisAtivo anunciou a sua entrada no segmento rural como intermediadora de compra e venda de gado via internet e aplicativo para tablets e smartphones. Inicialmente o foco será em reprodutores e matrizes de raças de corte e leite, atuando também com gado comercial e ovinos. De acordo com o diretor da área rural da MaisAtivo, Roberto Leão, a empresa se encarregará da orga-

nização, do marketing e do serviço de pós-venda. Todos os animais a ser comercializados deverão ter um laudo técnico comprovando a sua qualidade genética e morfológica. “Queremos que o promotor se preocupe apenas em preparar os animais para o mercado”, destacou o executivo. Nos leilões da MaisAtivo não haverá defesa de lances. Caso o lote seja arrematado por um valor abaixo do preço mínimo estipulado, haverá uma mediação até que comprador e vendedor cheguem a um acordo.

Uma das primeiras ações da MaisAtivo será o cadastro e pré-lances para o Leilão Boi com Bula Premium. De 10 a 20 de agosto, os pecuaristas poderão avaliar os animais ofertados no remate e dar seus lances por meio do site www.superbid. com.br.

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Médias disparam no Charolês do Contestado A 14ª edição do Leilão Charolês do Contestado atraiu diversos investidores da região Sul do País ao Parque de Exposições Água Doce, SC, no dia 7 de julho, e alcançou excelente valorização em relação aos resultados do ano passado. O remate é um dos mais tradicionais do Estado e foi promovido por Marcus Gonzatto, da Cabanha Santa Lúcia; e Kiko Pagliosa, da Cabanha

Fazenda Vera Cruz celebra uma década de remates Uma das principais fornecedoras de genética do Mato Grosso, a Fazenda Vera Cruz celebrou os 10 anos de seu leilão anual na tarde de 21 de julho, em Barra do Garças, MT. O criatório faturou R$ 5,1 milhões com a venda de 183 touros à média de R$ 15.300; 38 fêmeas a R$ 5.842 e ainda 1.486 cabeças de gado geral. Quem brilhou na pista foi o touro de central Egito FVC, vendido em 33% por R$ 258.000 para Leandro de Souza, da Fazenda Santo Amaro, de Tesouro, MT. O animal de dois anos é filho do consagrado Faraó FVC e faz parte da bateria de reprodutores da Alta Genetics.

“Coroamos os 10 anos do nosso leilão com excelentes resultados. Fazemos isso com muita paixão e esperamos aumentar a qualidade da oferta no próximo ano”, celebrou o titular da Fazenda Vera Cruz, Jairo Machado Carneiro Filho

Pagliosa. Com o gado em pista, foram negociados 39 reprodutores ao preço médio de R$ 14.068, valor 48,5% mais alto do que a média de macho do pregão em 2017, segundo o Banco de Dados da DBO. O desempenho foi ainda melhor nas fêmeas. A média de R$ 7.935 para 15 animais deste ano é 51,2% maior do que a de R$ 5.248 da edição anterior.

Tourinhos Bonsmara brilham em SP A pecuarista Clélia Pacheco, da Fazenda Santa Silvéria, promoveu a primeira oferta exclusiva de Bonsmara do ano, na tarde de 28 de julho. O remate aconteceu na sede do criatório, em Piratininga, SP, e teve foco na venda de tourinhos da safra 2016. Os animais foram vendidos à média R$ 9.682, sendo o terceiro maior preço médio para machos da raça no Brasil nos últimos 10 anos, segundo o Banco de Dados da DBO.

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Eventos Agenda Interconf A Associação Nacional de Pecuária Intensiva (Assocon) promove a 11a edição da Interconf, Conferência Internacional de Pecuaristas, entre os dias 11 e 12 de setembro. O evento, que reuniu 900 participantes em 2017, é um dos principais encontros do setor pecuário para analisar cenários e apresentar tendências. A edição de 2018 da Interconf terá um painel abordando macroeconomia e política e um sobre o mercado agropecuário com a participação dos principais consultores do setor, além de estudos de casos internacionais e brasileiros. O evento será encerrado com a apresentação de um mapeamento análico da Assocon sobre o confinamento no Brasil.

Associação dos Criadores de Nelore do Brasil (ACNB), trazendo a público os nomes dos grandes campeões da raça. Nesta edição, a exposição vai abrigar novamente a Expobrahman, realizada pela Associação dos Criadores de Brahman do Brasil (ACBB) e, também a ExpoGil, realizada pela Associação Brasileira dos Criadores de Gir Leiteiro (ABCGIL). SIMPECC-SUL O Simpósio Sul-brasileiro de Pecuária de Corte (SIMPECC-SUL) ocorrerá entre os dias 17 e 18 de agosto, na sede da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, RS. Iniciativa dos formandos do curso de Medicina Veterinária da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o evento está em sua quarta edição. Da programação, constram temas como: o que (não) fazer para o controle do carrapato bovino; novos conceitos na aplicação dos medicamentos veterinários e estratégias para incremento dos

Expoinel A maior exposição da raça Nelore será realizada de 20 a 30 de setembro em Uberaba, MG. O evento finaliza o ano-calendário do Ranking Nacional da

índices de concepção nos protocolos de IATF. Mais informações no site: https:// simpeccsul2018.wixsite.com/ivsimpecc Encontro Internacional do Senepol Será realizado em Uberlândia, MG, entre os dias 30 de agosto e 8 de setembro, O II Mega Encontro Internacional do Senepol. O evento, promovido pela associação de criadores da raça, celebrará os 100 anos do Senepol no mundo e seus 18 anos no Brasil. Durante o encontro, que contará com a presença de selecionadores nacionais e estrangeiros, será realizado o II Seminário Técnico Internacional da Raça Senepol (3 e 4 de agosto). Estão previstos ainda o lançamento do Programa de Certificação da Carne Senepol SQA (Senepol Quality Assurance), a nomeação e a posse das criadoras gestoras do Núcleo Feminino do Senepol e a entrega dos Prêmios de Jornalismo e de Pesquisa & Inovação, promovido pela entidade. Mais informações pelo site www.senepol. org.br/megaencontro

As eleições da Pecuária Brasileira já começaram! Três partidos representarão o Encontro dos Encontros da Scot Consultoria: Partido dos Criadores, Partido da Adubação de Pastagens e Partido da Pecuária Leiteira. As propostas já estão definidas, todas em prol de uma pecuária mais produtiva. Analise criteriosamente e vote consciente! ENCONTRO DOS ENCONTROS OURO

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Empresas e Produtos Rotam lança novo inseticida

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Rotam do Brasil lançou o inseticida Cinelli 250 FS, destinado ao tratamento de sementes. Segundo Lucas Ferreira, coordenador de marketing da empresa, o produto é indicado para as gramíneas, algodão, cana-de-açúcar, trigo, feijão, soja e milho. De acordo com a empresa, o produto garante “maior proteção” da semente no solo, caso a semeadura ocorra com períodos de instabilidade climática ou ataque de pragas e doenças. Além do Cinelli, lançou o inseticida sistêmico Saluzi 600 FS, com formulação específica para proteger as plantas das pragas iniciais de solo e, após a germinação, do ataque de mosca-branca, pulgão do algodoeiro e percevejo barriga verde. O pacote de lançamento inclui ainda o inseticida Saddler 350 SC (Thiodicarb), que combate os nematoidesde-galha e nematoides-das-lesões, lagartas elasmo e

cigarrinha das pastagens. A eficácia do Programa da TS Rotam foi aferida pelos pesquisadores da empresa na área experimental de Arthur Nogueira (SP). O ensaio avaliou a combinação de Saluzi 600 FS, Cinelli 250 FS e Saddler 350 SC no tratamento de sementes para controle de percevejo-barriga-verde em milho, em condição de altíssima pressão. “O resultado foi bom: apenas 20% das plantas foram atacadas pelo percevejo. Na área testemunha, o ataque chegou a 75%, três dias após a emergência”, diz Carlos Guarnieri, técnico sênior da Estação Experimental.

Stoller inaugura núcleo tecnológico A Stoller do Brasil, empresa especializada em fisiologia e nutrição vegetal, aumentou sua capacidade de pesquisa com o Núcleo Tecnológico que inaugurou recentemente, em sua fábrica, localizada no município de Cosmópolis, SP. “Além de garantir maior sinergia entre as áreas agronômicas, biológicas e químicas, o núcleo contribuirá para melhoria dos processos de controle de qualidade de matérias-primas e produtos acabados”, diz Stella Cato, diretora de P&D. O centro contra com 940 m área e equipamentos modernos, com destaque para o ICP-OES (analisador de nutrientes inorgânicos) para diagnóstico de diversos elementos e o cromatógrafo líquido de ultra performance, que separa, identifica e quantifica as moléculas orgânicas (hormônios vegetais). Com o investimento realizado, o tempo de espera para análises diminuiu.

Zoetis lança site sobre uso de antibióticos Acompanhando a tendência mundial de uso responsável de antibióticos, a Zoetis lançou um site (https://goo.gl/KMRnaF) com vídeos, textos e pôsteres que instruem o produtor rural sobre a melhor forma de usar esses medicamentos na fazenda. Um check-list ajuda nesse processo. Para a Zoetis, os principais passos a se seguir são: 1) Diagnosticar a doença ou infecção; 2) Escolher o antibiótico mais adequado para a situação; 3) Usar o produto pelo tempo e via de administração corretas, seguindo sua bula; 4) Em animais de criação, respeitar o período de carência após o término do tratamento. De acordo com André Fernandes, da Zoetis, o objetivo final da iniciativa é contribuir com o tratamento adequado dos animais e dar a conhecer informações básicas sobre o tema, além de pesquisas recentes e dados atualizados. “O uso de antibióticos é um dos temas mais importantes da saúde animal, porque, ao mesmo tempo em que esses produtos são fundamentais para tratamentos de doenças em bovinos, eles precisam ser usados adequadamente para não gerar resistência”, diz o executivo. 124 DBO agosto 2018

UPL compra Arysta A UPL Corporation anunciou acordo com a Platform Specialty Products Corporation (NYSE: PAH) para a compra da Arysta LifeScience Inc. e suas subsidiárias, que são fornecedoras de soluções para proteção de cultivos, incluindo produtos biológicos e tratamento de sementes. O negócio custou US$ 4,2 bilhões e envolveu, também, uma subsidiária da Abu Dhabi Investment (ADIA) e a TPG, que se juntaram à UPL Corp, criando a “Nova UPL”. Para Jai Shroff, diretor da companhia, a compra vai transformar a empresa. Rakesh Sachdev, principal executivo da Platform, disse que a combinação da Arysta com a UPL criará um paradigma no mercado de proteção de cultivos. Martin E. Franklin, presidente da Platform, salientou: “Essa transação cria uma empresa de produtos químicos agrícolas com recursos altamente complementares. O futuro é brilhante diante do que as duas empresas podem realizar juntas”.


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Sabor da Carne

Marcelo “Bolinha”

Sabores da carne: o cheiro, o sabor e o que o boi come.

V

enho novamente falar de um assunto que tenho abordado muito em minhas palestras e apresentações, do Oiapoque ao Chuí, neste 2018. É sobre a importância da alimentação dos animais, para a obtenção de uma carne saborosa. Não importa a raça ou onde o bovino é criado: os animais são aquilo que comem. Em cada viagem que faço neste Brasil afora – a Rio Branco, no Acre; Janaúba, em Minas Gerais; Batatais, em São Paulo; Itapetinga, na Bahia; ou a Bataguassu, Mato Grosso do Sul –, faço meu trabalho, que é cortar, apresentar, inventar novos cortes ou simplesmente avaliar o produto que ali me deram para trabalhar. Tenho feito carnes assadas de gado puro, de raças zebuínas, taurinas, cruzadas, algumas das quais nunca tinha ouvido falar. Em todas, sempre faço avaliações olfativa e gustativa: cheiro a carne crua e, depois, assada; e a experimento depois de pronta. A carne tem um cheiro característico, que pode variar, de acordo com a circunstância. A carne de animais inteiros, por exemplo, tem um cheiro mais forte do que a de animais castrados, em função do pH mais elevado. O cheiro também pode ser alterado em função de algumas dietas mal elaboradas. Depois de assada, essa carne não fica nem com chei-

Marcelo Conceição “Bolinha”, de Porto Alegre, RS, é consultor em cortes e manipulação de carnes.

fotos: cristiano bizzinotto/ABCZ

O autor, em apresentação do “Vitrine da Carne”, durante a Expozebu 2018.

130 DBO agosto 2018

ro bom nem com sabor bom. Para evitar diferenças no sabor, sempre carrego, na minha bolsa de viagem, sal fino (ou o grosso moído), que deixa o sabor da carne menos agressivo, menos salgado. (Detalhe: faz oito anos que não uso sal grosso integral para temperar carne). Agora, é uma avaliação que só serve para meu estudo quando tenho todas as informações da origem e do que o animal comeu durante sua vida toda e na terminação. Ou seja, sua rastreabilidade. Muitas vezes, fico intrigado com o cheiro e o sabor da carne e peço um pedaço para levar para minha casa, em Porto Alegre. Viagem longa... E, quando chego em casa, em vez de dar preferência à carne produzida no Rio Grande do Sul – como costumo fazer quando estou junto com minha família –, preparo aquele corte que pedi para trazer do trabalho. Então, sirvo a carne no almoço ou na janta, e o que acontece muitas vezes é assim: – Que carne é essa? – Que gosto é esse? – Eu não quero; não vou comer essa carne ruim... Mas muitas vezes também ouço: – Bah, pai, que carne é essa? Que coisa “mais boa”. De onde “tu trouxe”? Que raça é? Etc.. etc... A memória gustativa é uma coisa maluca.... Sempre sei de onde é, mas não digo. Mas algumas vezes a surpresa também é minha, como aconteceu por estes dias. Ganhei duas picanhas e um “fraldão” (também chamado de fraldinha ou vazio), de boi “verde”, criado sempre no pasto, em Tucumã, região sudeste do Pará. Carne de boi pesado – 700 kg e quase 5 anos de idade –, castrado ao nascer, cada picanha com 2,2 kg e o fraldão com 4,3 kg. A carne estava MARAVILHOSA: macia, tenra, cheirosa, suculenta e tudo o mais que podia ter de bom. Só elogios. Percebo que é essa a carne que minha família e eu queremos na nossa mesa. Carne Premium. Que também poderia ser oriunda de animais terminados em “meio confinamento”; ou seja, que pastam a maior parte do tempo e têm acesso à ração apenas no fim do dia. Por tudo isso, o recado que deixo aos pecuaristas é: não basta engordar boi só para mandar para o frigorífico; para se ter um produto Premium, é preciso cuidar da alimentação dos animais. n




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