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PARCERIA ABCZ / EMBRAPA A precisão na seleção.
SUMÁRIO DISPONÍVEL EM: https://goo.gl/hktgUF
BANCO DE DADOS UNIFICADO E ROBUSTO. Avaliações genéticas representativas e consistentes para todas as raças zebuínas. Maior progresso genético nas características de importância econômica. Maior precisão na avaliação pela inclusão da genômica.
RAÇA BRAHMAN
263.605338.287 137.226559.491 dados fenotípicos
animais
RAÇA GIR
dados fenotípicos
animais
RAÇA GUZERÁ
385.671470.379 12.81336.352 dados fenotípicos
animais
RAÇA INDUBRASIL
dados fenotípicos
animais
10.174.361 12.129.928 12.277 17.40442.420
RAÇA NELORE
dados fenotípicos
animais
animais genotipados
RAÇA SINDI
dados fenotípicos
animais
RAÇA TABAPUÃ
586.376 543.431 dados fenotípicos
animais
NOSSA META PARA AGOSTO DE 2019: 100.000 ANIMAIS GENOTIPADOS
Nossos Assuntos
Nova onda do cruzamento e nosso boi commodity
S
Publicação mensal da
DBO Editores Associados Ltda. Diretores
etembro é o mês de nosso Especial Reprodução e Genética e ele começa destacando a terceira onda do cruzamento industrial no Brasil que, sem alarde, vai se espalhando a partir dos estados pecuários do Centro-Oeste. Ao contrário da primeira onda, de triste lembrança entre os anos 90 e começo dos anos 2000, em que valia qualquer cruzamento em nome do vigor híbrido, o movimento atual traz de volta os animais tricruzados. Só que agora com muito critério, aproveitando pelo menos para uma cria o potencial das fêmeas F1 Nelore x Angus que se tornaram o símbolo da segunda onda de cruzamentos. A reportagem de capa, de Moacir José, apresenta bons exemplos de fazendas que estão utilizando diferentes raças sobre as meio-sangue e também o alerta de especialistas para evitar os erros do passado. Nesta DBO de setembro também saudamos a chegada de um novo colunista, o zootecnista Danilo Grandini, com quase 30 anos de atuação em empresas de nutrição animal e atual diretor de marketing de uma delas para o Hemisfério Sul (Brasil, Argentina, África do Sul e Austrália). Com conhecimento profundo sobre nossa realidade de produção, e ao mesmo tempo em contato direto com o que se faz lá fora, ele se propõe a mostrar esse novo olhar. No primeiro artigo, à página 34, Danilo trata do chamado ‘boi commodity’, uma denominação incômoda para muitos pecuaristas que se empenham em produzir animais de melhor qualidade, embora ela até seja imprópria para o grosso do gado que vai a abate. Afinal, commodity pode ser traduzida como matéria prima padrão, produzida em larga escala, sem marca, com preço definido pela oferta/demanda, mas entre nós a padronização de cortes tem sido feita pela própria indústria, após o abate. Também vale a pena conferir o diagnóstico da saúde animal no Brasil na Prosa Quente com o professor Iveraldo Dutra, da Unesp, uma referência no setor. Ficamos obsoletos na maneira de atuar nessa área, diz ele, qualificando como inconcebível pensar em erradicar uma doença por vez. Primeiro a aftosa, depois brucelose e tuberculose e assim por diante. É preciso um Plano Nacional de Saúde Animal, sustenta o professor.
osta Demétrio C
demetrio@revistadbo.com.br 4 DBO setembro 2018
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Daniel Bilk Costa Demétrio Costa Odemar Costa Redação Diretor Responsável Demétrio Costa Editora Maristela Franco Repórteres Fernando Yassu, Marina Salles e Renato Villela Colaboradores Alisson Freitas, Alcides Torres, Ariosto Mesquita, Carolina Rodrigues, Danilo Grandini, Denis Cardoso, Enrico Ortolani, Moacir José, Rogério Goulart, Sérgio Morgulis, Tatiana Souto e Thiago Bernardino de Carvalho Arte Editor Edgar Pera Editoração Edson Alves e Jade Casagrande Coordenação Gráfica Walter Simões comercial/Marketing Gerente: Rosana Minante Supervisora de Vendas: Marlene Orlovas Executivos de Contas: Andrea Canal, José Geraldo S. Caetano, Maria Aparecida Oliveira, Mario Vanzo e Vanda Motta Circulação e Assinaturas Gerente: Margarete Basile Tiragem e circulação auditadas pelo
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DBO Editores Associados Ltda. Rua Dona Germaine Burchard, 229 Perdizes, São Paulo, SP 05002-900 Tel.: 11 3879-7099 Para assinar, ligue 0800 11 06 18, de segunda a sexta, horário comercial. Ou acesse www.assinedbo.com.br Para anunciar, ligue 11 3879-7099 / 3803-5500 ou comercial@midiadbo.com.br
Sumário Prosa Quente 10 Professor Iveraldo Dutra,
referência em saúde animal, diz que é inconcebível pensar na erradicação de uma doença de cada vez.
Mercado 18 Coluna do CEPEA – Maior abate no 1º semestre pressiona valor da arroba
20
Escassez de boiadas puxa reação no valor da arroba
22
Categorias de reposição também esboçam alta
Evento 42 Beef Day do boi 7-7-7 reúne mais Especial Genética e Reprodução 56 ANCP apresenta tabela
inédita de ‘frame’ para zebuínos, particularmente o Nelore, com índices associados a arrobas.
60
A importância da habilidade maternal nos touros utilizados na inseminação de ‘precocinhas’
64
Cadeia em Pauta 26 Carne Carbono Neutro, de sistemas
68
integrados pecuária – lavoura – floresta, poderá chegar ao mercado ano que vem.
28 Dados preliminares do Censo
derrubam rebanho bovino em quase 50 milhões de cabeças
32 Consultores apresentam aplicativo
e conceitos administrativos a produtoras do NFA
34
Coluna do Danilo Grandin – Um boi chamado commodity
Expedição 38 Os contrastes da pecuária do
Vale do Araguaia no trecho do Rally da Pecuária acompanhado pela DBO
Cruzamento industrial vive sua terceira “onda”, que valoriza fêmeas F1 e abre espaço para mais raças taurinas e para mais sangue Angus, respondendo à demanda com foco na qualidade.
de 1.200 produtores e técnicos
24
Coluna do Rogério Goulart – Promessas de Preços bons para o bezerro
46 Reportagem de capa
Edição gênica pode ajudar a produzir animais ‘sob medida’ Programas de melhoramento avançam na soma de dados genômicos, aumentando a eficiência da tecnologia.
72
Um ‘diu’ para evitar prenhez em vacas de descarte
76
Atenção às doenças reprodutivas melhora os índices de prenhez em torno de 5%
Pastagens 82 Adubação de pastos até pode não
dar lucro, mas não adubar é prejuízo, diz especialista Rodolfo Ciryneu.
Gestão 86 Plano de metas com premiação
melhora resultados da Fazenda Granada, de Rondonópolis, MT.
Edição: Edgar Pera Arte final: Edson Alves Foto de: Ariosto Mesquita
Nutrição 90 Bois no self-service reduz custos operacionais, mas é preciso controlar acesso à comida.
Saúde animal 94 Casos de raiva bovina aumentam e mostram falhas na prevenção
96
Coluna do Ortolani – Como o transporte afeta a garrotada
Internacional 98 Um retrato da JBS USA, gigante
com faturamento anual de US$ 38 bilhões.
Leilões 102 Valorização de reprodutores ditou tom das vendas em agosto
Seções
8 Do Leitor 16 Giro Rápido
6 DBO setembro 2018
106 Agenda de Eventos 108 empresas e produtos
114 Sabor da Carne
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Do leitor Pitada de Brangus “Adorei a reportagem ‘Pitada de Brangus na carne gourmet, publicada na edição de agosto, à pág. 50. cada edição a DBO traz matérias muito interessantes e que agregam conhecimento. Vocês alavancam nossas atividades na pecuária com mérito!” Lilian Iguma Fazenda Cerro Verde, Dourados, MS
Ração sem volumoso Gostaria de saber quais são os componentes da ração sem volumoso, que foi tema de matéria da DBO 454, de agosto.. Fernando Costa Matias De Marília, SP
Uma possibilidade é usar farelo de milho ou sorgo (como fonte energética), subprodutos como polpa cítrica, casca de soja e caroço ou torta de algodão (que além de proteína, têm fibra efetiva) e um núcleo mineral aditivado. Na falta
do milho, milheto, raspas de mandioca, babaçu ou até sementes processadas de urucum são opções.
Plantio enterrado A matéria “Plantio enterrado é melhor opção”, escrita pelo repórter Renato Vilela e publicada na edição de julho, à página 94, deu o que falar no Telegram. O leitor Roberto Teixeira de Buritis, MG, abriu um debate sobre o tema no Grupo de Pastagens, administrado pelo técnico Wagner Pires e que conta com 239 integrantes. Vilela disse acreditar que o plantio por meio de plantadeira realmente dá melhores resultados do que por meio da semeadura a lanço, especialmente quando feito junto com a aplicação de fertilizante. Já Wagner Pires explicou porque prefere semear a lanço: 1) A natureza planta a lanço; 2) O custo de uma plantadeira de linha é muito maior do que de uma esparramadeira, além de esta última ser mais fácil de regular e de monitorar a campo; 3) A distribuição
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de sementes a lanço é melhor e, por isso, evita a erosão. Porém, Pires fez ressalvas: “Usar uma semeadora acoplada na frente do trator e uma grade atrás é uma forma de tornar a prática mais econômica”. Já para a colheita de sementes, ele disse ser obrigatório o plantio em linha.
Errata 1 Diferentemente do que foi publicado na seção leilões da edição de agosto, na página 121, a MaisAtivo ainda não possui aplicativo para intermediar a compra e venda de gado. O processo é feito unicamente via internet (por meio do site www.superbid.com.br).
Errata 2 Na reportagem de capa da edição de agosto, houve uma troca de nomes. Quem está à frente da administração das fazendas, junto a Rodolfo Geo, é seu irmão José de Lima Geo, e não Adolfo, que cuida de outros negócios do Grupo ARG..
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Prosa Quente
Brasil precisa de um Plano Nacional de Saúde Animal Segundo o professor Iveraldo Dutra, da Unesp-Araçatuba, SP, isso evitaria problemas como a falta de tuberculina.
Cerca de 85% dos produtores desconhece as normas para erradicar a brucelose e tuberculose de suas fazendas”.
E
le é uma referência quando o assunto é saúde animal. Professor e pesquisador da Faculdade de Medicina Veterinária da Unesp de Araçatuba, SP, Iveraldo Santos Dutra começou cedo sua trajetória no setor pecuário. Natural de Jales, também interior paulista, “nasceu dentro de uma propriedade rural”, como diz, acompanhando o pai na atividade leiteira. Mudou-se com a família para o Rio de Janeiro, por influência do avô, que comprava e vendia gado na companhia do ex-boiadeiro Sebastião Ferreira Maia, o Tião Maia, mítico pecuarista que inspiraria a criação do personagem Sinhozinho Malta, sucesso da novela Roque Santeiro, da TV Globo, em meados dos anos 80. Dutra ingressou na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), para cursar veterinária aos 17 anos de idade. No segundo ano de faculdade, começou a estagiar como bolsista no antigo Instituto de Biologia Animal, que mais tarde se tornaria a Embrapa. Foi lá que conheceu “os maiores nomes da área de saúde animal”, como faz questão de enfatizar. Gente da estirpe dos mestres Jürgen Dôbereiner e Carlos Tokarnia, aos quais se refere com carinho e admiração. A oportunidade de tra-
10 DBO setembro 2018
balhar com os mestres lhe trouxe uma lição valiosa, que nortearia sua trajetória: o apreço pela pesquisa e o espírito empreendedor dentro da saúde animal. O início da carreira, já pela Embrapa, foi na cidade de Carrancas, no sul de Minas Gerais, com a missão de fazer a difusão de tecnologia dentro da saúde animal nos moldes que se via na área agronômica. “O Dr. Eliseu Alves nos dizia: ‘Vocês têm de falar a mesma linguagem dos produtores, falar tanto da saúde quanto da doença”’. O jovem veterinário seguiu à risca o desafio lançado pelo pesquisador, um dos fundadores da Embrapa. “Íamos até as fazendas explicar para os produtores o que era mastite subclínica, por que era importante vacinar, fornecer suplementação mineral para o gado”, recorda. Dois anos depois, Dutra deixou Carrancas rumo à Alemanha, graças a um convênio entre a Embrapa e o Instituto Nacional de Educação. “Quando me dei conta, estava de botina no aeroporto de Frankfurt”, relembra rindo. O mestrado e doutorado foram concluídos em três anos na Universidade de Giessen. O aprendizado de uma nova língua e a vivência de uma nova cultura somaram-se ao amadurecimento profissional do pesquisador. “Aprendi a fazer ciência”. Quando retornou ao Brasil, em 1986, a unidade em Carrancas havia sido extinta. Dutra retornou então para A UFRRJ; depois, foi contratado como consultor nacional da Embrapa e, em 1990, prestou concurso para a Unesp de Jaboticabal, na área de planejamento e saúde animal. A abertura de um novo curso de graduação em medicina veterinária na Unesp de Araçatuba e motivações familiares – sua esposa, que também é pesquisadora, havia passado num concurso na universidade – fizeram com que mudasse de endereço em 1992. Fiel ao ensino, pesquisa e extensão, pilares que sempre alicerçaram sua carreira e lhe ditaram o rumo a seguir, Dutra se envolveu com um projeto de pesquisa de grande envergadura na Amazônia. Com apoio financeiro da Academia Nacional de Ciências, dos Estados Unidos, o pesquisador está prestes a desvendar a origem do mal da cara inchada, doença que causou grande estrago nas décadas de 70 e 80, mas que nunca desapareceu por completo. Nesta entrevista à editora Maristela Franco e ao repórter Renato Villela, Iveraldo fala sobre a pesquisa, além de outros temas, como a recente crise no controle da brucelose e tuberculose por falta de insumos, falha vacinal e febre aftosa. Confira!
Maristela – Como o senhor vê a falta de antígenos para testes de tuberculose? Dutra – Com tristeza. Isso reflete a descontinuidade dos
programas de saúde animal no País. O Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose tecnicamente é fantástico, muito bem elaborado. Mas onde é que a gente esbarra? Na falta de insumos, cuja produção deveria ser responsabilidade do Estado, para garantir a execução do programa. Nos anos 80 e 90, o Ministério da Agricultura construiu o Lanagro, em Pedro Leopoldo, MG, para dar suporte a todos os programas oficiais, inclusive à produção de tuberculina. O problema é que as prioridades vão mudando. Nessas circunstâncias, deixa-se de produzir determinado insumo, imprescindível para realização dos testes e você simplesmente mata um programa. Renato – Com a suspensão da produção de tuberculina pelo Instituto de Tecnologia do Paraná (TecPar), o Instituto Biológico, de São Paulo, assumiu essa tarefa, mas a demanda é muito superior à capacidade do laboratório. A indústria veterinária não poderia entrar neste segmento? Dutra – Sem dúvida, mas é preciso fazer um plano de ne-
gócios. Quanto custa? Quem está interessado em produzir? Quais as exigências regulatórias? Há uma conjunção de fatores desfavoráveis. Não tem incentivo, não tem prioridade. Todo novo medicamento precisa passar pelo crivo do Ministério da Agricultura, procedimento importante e necessário, mas muitas vezes são criadas exigências que dificultam o trabalho da indústria. Por que a produção de antígenos não é um negócio? Tem de ser um negócio. Renato – Além da falta de antígenos, o que mais dificulta a erradicação dessas doenças? Dutra – Precisamos de uma coordenação mais efetiva,
mais contemporânea. Ficamos obsoletos na forma de executar tarefas de saúde animal. É inconcebível pensar em erradicar uma doença de cada vez – primeiro aftosa, depois a brucelose e tuberculose, etc. O mundo mudou. O Brasil carece de um plano nacional de saúde animal e não temos essa diretriz. As coisas vão acontecendo pontualmente e muitas vezes afetam não apenas os programas de erradicação, mas a continuidade das ações de educação e saúde. Há uma descontinuidade no processo de comunicação com os produtores. No caso da brucelose e tuberculose, essa é uma lacuna cruel. Temos uma massa crítica de veterinários capacitados, que pagaram para fazer cursos de treinamento para erradicação das duas doenças, produtores sensibilizados e, mesmo assim, nunca decolamos no número de propriedade livres certificadas.
Maristela – Por que não avançamos? Dutra – Porque atrelamos a certificação a um programa
oficial. Temos exemplos de propriedades que percorreram todo o processo para certificação e, na última etapa, que exigia a presença de um técnico da Secretaria, não conseguiu a certificação porque ele não pode ir. Inicial-
mente, eram muitos os produtores que queriam certificar suas propriedades, mas eles desanimaram, por falta de incentivo. Não falta somente antígeno (tuberculina), falta uma coordenação mais clara do programa, dizer quais são os objetivos, as metas. Acredito que essa iniciativa deveria partir do setor produtivo, dos próprios produtores, mas, infelizmente, ficamos à espera das autoridades sanitárias. É preciso tratar esse assunto com clareza: se tenho um animal na propriedade com brucelose ou tuberculose, o que faço? Tenho de abater, sacrificar, com quem fica o prejuízo? A África do Sul fez um programa de erradicação que contava com iniciativas voluntárias dos produtores, mas também com um programa de indenização. Por que não criamos um fundo de indenização para as áreas mais críticas e começamos a fazer um programa efetivo de erradicação? Fizemos um trabalho de pesquisa de campo para verificar a percepção de risco dos produtores sobre essas doenças. Perguntamos por que não buscam a certificação de livre de brucelose e tuberculose para suas propriedades. Cerca de 85% dos entrevistados disseram que desconhecem o programa. Está aí um ponto-chave. O Ministério da Agricultura, que regulamenta as ações do programa, a capacitação dos técnicos e a produção de insumos deveria estar fomentando esse processo. Renato – Após a edição da IN 10, de 2017 pelo Mapa, o produtor pode usar a vacina B19 também nas bezerras de três a oito meses. Que achou dessa estratégia e da classificação de risco para a brucelose e tuberculose? Dutra – São grandes avanços. A vacina com cepa RB 51
não induz à produção de anticorpos, portanto não gera testes “falso positivos” [como as fêmeas estão mais precoces, ciclando muito cedo, esse problema pode ocorrer também na faixa etária de até 8 meses quando se usa B19, levando ao descarte de animais sadios]. Quanto à classificação de risco, ela pode ajudar a atacar a brucelose e tuberculose regionalmente, considerando-se a dinâmica dos fluxos comerciais, como se fez com a febre aftosa.
Maristela – Como o produtor pode se livrar dessas doenças? Dutra – Vacinando corretamente as fêmeas e fazendo
análise de risco dentro da propriedade. Muitas vezes, o nível de prevalência é baixo. Com pouco investimento na segregação/descarte dos animais doentes, ele pode DBO setembro 2018 11
Prosa Quente eliminar as doenças. Contratando um veterinário habilitado pelo Ministério e pela Secretaria da Agricultura, o produtor pode fazer um levantamento epidemiológico de seu rebanho [sorologia], identificar eventuais animais positivos e comunicar isso ao órgão de Defesa, para fazer o abate sanitário. Se a prevalência for baixa, o processo não custa muito. Deixar a brucelose se disseminar e atingir 10%-20% das fêmeas, isso sim, custa caro. Renato – Que outras ações podem ser feitas para combater as duas doenças? Dutra – Na reposição, comprar apenas fê-
Se o Brasil quer ser tratado como fornecedor de proteína animal de qualidade, precisa eliminar doenças ‘jurássicas’ de seu rebanho”.
meas vacinadas e imunizadas; fazer testes de brucelose nas plataformas de leite, por meio de análise de amostras para detecção de anticorpos, indicativos da presença da doença, dentre outras medidas. O produtor precisa adquirir o hábito de fazer o teste de brucelose e tuberculose para todos os animais que vão entrar na propriedade. Essa é uma boa prática. Não temos limitações tecnológicas, mas operacionais. É importante lembrar que estamos tratando de duas zoonoses [doenças transmitidas para humanos]. Maristela – É possível medir o prejuízo causado por essas enfermidades no Brasil? Dutra – Acredito que de 10% a 15% do potencial que a
pecuária nacional tem para produzir bezerros vai para o ralo por conta da brucelose, que é o principal problema reprodutivo no gado de corte. Além disso, trata-se de uma barreira sanitária para a União Aduaneira (Rússia, Cazaquistão e Bielorrúsia). Cria-se uma situação difícil, não somente para os frigoríficos, que não podem abater animais oriundos de propriedades que tenham casos de brucelose ou tuberculose, mas também para os consumidores nacionais. Como é que eu digo para a população brasileira que estou proibido de exportar essa carne, mas ela pode ser comercializada no mercado interno?
Renato – Quando se fala em tuberculose, normalmente se pensa em leite. Qual o impacto da doença no gado de corte? Dutra – Basta lembrar do macho leiteiro, que vai para o
confinamento. Mesmo quando não se tem sinais clínicos da doença (adquirida pela ingestão de colostro na fazenda leiteira) nesses animais, ele podem apresentar lesões causadas pela tuberculose no abate. O problema já gerou restrições à exportação de carne brasileira em passado recente. Veja que inusitado: uma doença do gado leiteiro se transformou em uma barreira sanitária para exportação de carne. Tudo isso pode ser previsto dentro de uma análise de risco, de um plano de saúde animal. Infelizmente não é uma prioridade. Temos de trabalhar pela erradicação, com muito mais velocidade do que no combate à febre aftosa. Não dá para esperar 40 anos para erradicar uma doença. Podemos fazer isso em 5 ou 10.
12 DBO setembro 2018
Renato – Professor, vamos falar um pouco, agora, de reação vacinal, causa do embargo norte-americano à carne brasileira. Foram feitas mudanças na vacina antiaftosa, como a retirada do vírus tipo C e a redução da dose de 5 para 2 ml. O senhor acha que essas medidas são suficientes? Dutra – Essas medidas podem reduzir, mas não eliminar
as reações vacinais. A questão principal, a meu ver, é a falta de educação sanitária. Gosto de insistir neste ponto. Muitas vezes, o produtor pensa: se a vacina é obrigatória, a culpa por uma reação vacinal é de quem me obrigou a vacinar, quando, na realidade, ele consegue eliminar ou minimizar essas reações, em 80%-90% dos casos, se adotar boas práticas na compra, conservação e aplicação do produto. Lembro que, na década de 90, iniciamos uma campanha, pelo Fundepec, no Estado de São Paulo, para tirar a vacinação do traseiro, onde estão os cortes mais nobres, e aplicar no dianteiro. Era um problema sério para a cadeia produtiva nessa época, quando começamos a exportar mais carne e tínhamos que acessar novos mercados. Por isso, precisávamos acabar com essa não conformidade, esse risco. Comprava-se picanha com abscessos. Conseguimos tranferir a vacinação para a tábua do pescoço. Depois, criaram os produtos de longa ação, para reduzir o número de manejos do gado no curral. Quantos milhões de doses de vacinas e vermífugos temos aplicado na tábua do pescoço? E nós não fizemos nenhuma análise de risco sobre os resíduos, os veículos dos vermífugos e das vacinas. Isso tudo já era previsível.
Maristela – O senhor é favor do fim da vacinação contra febre aftosa no Brasil como propõe o Ministério? Dutra – Isso é uma necessidade. Quantos anos mais pre-
cisamos vacinar para conseguir erradicar essa doença? Do ponto de vista epidemiológico, temos um cenário favorável à retirada da vacinação e vejo isso como uma evolução natural, muito bem-vinda. Se o Brasil quer ser tratado como fornecedor de proteína animal de qualidade, tem de eliminar doenças “jurássicas” dentro do cenário internacional. A retirada da vacinação abrirá novas fronteiras para a carne brasileira. Se agregarmos valor à tonelada de carne exportada, será fantástico, estaremos gerando riqueza. A aftosa não gera riqueza. Temos, naturalmente, de tomar todas as medidas necessárias para impedir a reintrodução da doença. Para isso, é fundamental investir em educação sanitária. O produtor precisa saber o que fazer em caso de suspeita da doença.
Renato – Em 2011, a DBO fez uma reportagem sobre falha vacinal na prevenção de clostridioses, como o carbúnculo sintomático e o botulismo, por exemplo. Na ocasião, o senhor alertou para o fato de que algumas vacinas aprovadas pelo Mapa não estarem conferindo proteção a determinados agentes infecciosos causadores dessas doenças. Essa situação permanece? Dutra – Nos últimos cinco anos, não acompanhei a evo-
lução das vacinas contra clostridioses presentes no mercado, mas sei que alguns laboratórios investiram pesado no desenvolvimento tecnológico de suas vacinas;
C
Health
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L
Prosa Quente foram a campo descobrir quais cepas estavam presentes no ambiente; melhoraram seus processos de desenvolvimento e fizeram vacinas que protegem contra as principais clostridioses que ocorrem no Brasil. Existem vacinas que nunca geram reclamação, que seguem protocolos, com reforço 30 dias após a primeira aplicação, mas outras que não funcionam tão bem, às vezes porque se quer colocar tudo dentro do frasco. Por exemplo: antígeno contra tétano. Será que essa doença é tão importante para o gado quanto a gangrena gasosa, o botulismo e o carbúnculo sintomático? É aí que a vacina começa a se fragilizar, porque, se eu coloco um componente, tenho de tirar outro. Pesquisas já mostraram que alguns produtos aprovados pelo Mapa conferiam proteção de apenas três meses. No entanto, é preciso frisar que 99% dos surtos se devem a falhas durante o processo de vacinação. Maristela – Que tipo de erro o produtor comete? Dutra – Por exemplo, ele não dá a dose de reforço 30 dias
No Brasil, perdemos anualmente 16 milhões de bovinos, cujas carcaças ficam jogadas no pasto, trazendo risco de botulismo.
após vacinar o animal pela primeira vez [primovacinados], não garantindo uma produção adequada de anticorpos. Outro erro comum é não repetir a vacinação anualmente, como é recomendado. Aliás, não basta vacinar. É preciso estar atento às demais ações profiláticas, como a eliminação correta das carcaças [queima ou compostagem], a suplementação mineral correta, o fornecimento de água de qualidade [cacimbas são fontes frequentes de surtos de botulismo] e o monitoramento constante de alimentos conservados [bactérias causadoras de clostridioses podem proliferar em carcaças de roedores, por exemplo, que entram e morrem dentro dos silos]. São medidas importantes para reduzir a mortalidade animal.
Maristela – Falando em mortalidade animal, ela ainda é alta no Brasil e pouco diagnosticada. O produtor costuma atribuir as mortes quase sempre às mordidas de cobra, onças ou plantas tóxicas. Como jogar mais luz sobre isso? Dutra – Segundo o IBGE, temos uma mortalidade de 8%
na pecuária, ou seja, perdemos anualmente 16 milhões de bovinos, cujas carcaças ficam nas pastagens, trazendo riscos de botulismo. Não há estatística sobres essas mortes, nem de suas causas. O diagnóstico correto seria o ponto de partida para começar a buscar soluções. Cada região tem doenças e perfis de mortalidade diferentes. Deveríamos ter serviços veterinários atuando nessas áreas, com suporte de laboratórios de diagnóstico. O Lanagro deveria ser uma referência para os laboratórios regionais, mas isso não foi adiante, por não ser prioridade. Temos um serviço de patologia na Unesp de Araçatuba, que vai até a fazenda para fazer diagnóstico, mas não são todos os produtores que têm acesso a isso. Renato – Desses diagnósticos, quais são as principais causas de mortalidade? Dutra – Nos bezerros, a principal causa são diarreias cau-
sadas por patógenos como a Escherichia coli e os Rotavirus. Depois, vêm as infecções umbilicais. Algo banal, primário. E a gente fica discutindo: curo ou não curo 14 DBO setembro 2018
o umbigo, enquanto isso provoca uma mortalidade tremenda. Nos animais de recria, as perdas estão mais associadas à verminose e às clostridioses, principalmente o carbúnculo sintomático, e nos adultos, ao botulismo. A raiva também é muito relevante, seguida pelas intoxicações por plantas. São problemas relativamente fáceis de prevenir com um bom programa de vacinação, vermifugação e suplementação mineral. Os acidentes ofídicos nem entram nessa lista, mas, quando fazemos uma pesquisa de percepção de risco entre os produtores de gado de corte, 60% atribuem as mortes de bovinos em suas fazendas às cobras. Isso faz parte de uma cultura, do imaginário popular. Frequentemente, são clostridioses. Com vacinação contra essas doenças, se elimina de 70% a 80% da suposta “mortalidade por cobra”. Maristela – Muito tem se falado em metafilaxia, principalmente para prevenção de doenças respiratórias em confinamento. Estamos fazendo corretamente ou exagerando no uso de medicamentos? Dutra – O problema é generalizar. Acredito que seja uma
ferramenta para ser usada eventualmente. Presenciei uma ocasião, pouco tempo atrás, em que um lote inteiro, com peso perto de abate, contraiu pneumonia de um lote recém-chegado ao confinamento. Nestes casos, em que os animais apresentam febre alta e param de comer, a mortalidade entre 6-12 horas é elevadíssima. Daí se justifica aplicar um antibiótico, respeitando o período de carência para evitar problemas de resíduo na carne. Na minha opinião, ainda tem muita coisa a ser melhorada no transporte do gado, no manejo de entrada e na ambiência do confinamento. Somente depois de ajustar essas coisas é que devemos pensar em metafilaxia, mas como ferramenta tática, não como preconização geral. Renato – Para finalizar, poderia nos falar sobre as pesquisas que está conduzindo na universidade, atualmente, na área de saúde animal? Dutra – Estamos investigando a origem da cara in-
chada. As duas doenças que mais ocorrem em achados arqueológicos são as periodontais e os desgastes dentários. Uma de nossas orientandas, Ana Carolina Borsanelli. fez o primeiro microbioma da boca do boi, em um trabalho realizado na Escócia. O objetivo é saber quais microrganismos existem na boca desses animais e relacioná-los com a doença da cara inchada, que é a mais antiga que se conhece. Estamos voltando a algumas das 52 fazendas que o Dr. Jurgen Dobereiner, pesquisador da Embrapa, visitou nas décadas de 1960 e 1970, acompanhando os grandes surtos da cara inchada. Para nossa surpresa, o problema nunca desapareceu. Quando você analisa aquelas vacas de fundo, magras, e abre a boca delas, observa que têm severas lesões periodontais, afrouxamento dos dentes e desgaste dentário. Isso interfere diretamente na produção. Eu digo: nessas regiões, perdemos de 15% a 20% da produção potencial devido a esse problema, que nunca foi solucionado. n
Giro Rápido A “nova carreira” do professor Bento
Três anos após sua estreia, José Bento Sterman Ferraz, professor titular em melhoramento animal da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da USP de Pirassununga, mostrou-se bem à vontade e afiado como comentarista da qualificação genética dos touros oferecidos pela Agro-Pecuária CFM no seu vigésimo leilão anual, em 9 de agosto, no município de São José do Rio Preto, SP. Com frequência, suas observações pontuais sobre um animal ou uma bateria de reprodutores estimulavam novos lances no trabalho comandado pelos leiloeiros Adriano Barbosa e João Campo, da Central Leilões. Em pouco mais de quatro horas, foram vendidos 445 touros ao preço médio de R$ 10.840. Bento e o também professor titular da mesma FZEA, Joanir Pereira Eler, comandam as avaliações do programa de seleção Nelore da CFM desde meados da década de 90. Para ele, o trabalho no leilão é “uma pauleira, mas também um aprendizado pelo contato com os compradores, a oportunidade de chegar ao usuário da genética.”
DBO é homenageada pela CFM
Ao realizar seu 20º leilão anual, a Agropecuária CFM também prestou uma série de homenagens a colaboradores, compradores tradicionais e veículos de imprensa que contribuíram para o sucesso crescente do evento. A Revista DBO, representada por seu diretor Demétrio Costa, foi uma das homenageadas.
16 DBO setembro 2018
Sistema integrará laboratórios credenciados pelo Mapa O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) começou a instalar o sistema Hub Laboratorial para centralizar todas as informações de amostras dos seis Laboratórios Nacionais Agropecuários (Lanagros) e de 450 laboratórios credenciados pelo Mapa no País, onde são feitas cerca de 33 milhões de análises por ano. O secretário de Defesa Agropecuária, Luis Rangel, avalia que o Hub irá proporcionar maior grau de transparência ao serviço, como reivindicado pelos importadores. A proposta é rastrear as amostras desde a coleta na propriedade até o resultado final e acompanhar por onde ela está passando em tempo real. Os laboratórios, por sua
vez, poderão planejar melhor seu trabalho. O sistema é voltado ao combate de fraudes ou quaisquer desvios de finalidade nas análises laboratoriais. O foco inicial do sistema será nas análises de Salmonella e Listeria em carcaças de frango, dados os problemas apontados na “Operação Trapaça”, deflagrada em março.
Pecuária mato-grossense perde Zeno Albert A pecuária mato-grossense perdeu em 26 de agosto, o pecuarista e médico veterinário Zeno Albert, aos 74 anos, vítima de um infarto. Conhecido como Doutor Zeno, Albert era natural de Taquara, RS, e chegou ao Mato Grosso em 1983. Ele foi um dos pioneiros da técnica de cruzamento industrial e grande incentivador da pecuária intensiva no Estado. Formado pela Universidade de Santa Maria em 1972, tornou-se referência como consultor e palestrante, e prestava assessoria a diversos projetos agropecuários de bovinos e ovinos, tendo sido um dos idealizadores do Programa de Melhoramento da Pecuária (Promepe). Ele também foi colaborador da revista
Produtor Rural, do Sistema Famato, e ajudou na organização das edições do Encontro Internacional dos Negócios da Pecuária (Enipec), tendo lançado, na edição de 2008, o livro “Andropogon: descubra o seu potencial inexplorado”. Zeno Albert deixa a esposa Maria Beatriz, os filhos Alessandro e Kelly e a neta Alícia.
Camex revoga imposto sobre exportação de couro O setor de couros ganhou uma batalha histórica, após o Comitê Executivo de Gestão (Gecex) da Câmara de Comércio Exterior (Camex) decretar o fim de um imposto sobre a exportação de couro wet blue e couro salgado, que vinha sendo cobrado há 18 e 26 anos, respectivamente. No entendimento do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, que apoiou a decisão, o imposto era distorsivo e não estimulava o desenvolvimento da produção nacional, tendo sido importante o diálogo com representantes do setor para construir uma agenda estruturante. Há anos em discussão, o pedido de revogação do imposto partiu da Associa-
ção Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo) e foi referendado pela Sociedade Rural Brasileira (SRB), Confederação Nacional de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e Associação Brasileira de Criadores (ABC).
MPF dá parecer favorável à exportação de gado vivo Após muita discussão, a Procuradoria Geral da República (PGR) deu parecer favorável ao transporte de animais vivos nas proximidades do Porto de Santos, em São Paulo, ao entender ser competência exclusiva da União legislar sobre matérias de direito agrário e agropecuário, comércio exterior, transporte e regime de portos. A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil, que impetrou o pedido de mudança da lei municipal que proibia o trânsito, comemorou a decisão.
Cargill faz balanço de projeto no Canadá O projeto piloto de produção de carne sustentável da Cargill no Canadá praticamente dobrou de tamanho na comparação do primeiro trimestre deste ano com o terceiro de 2017, quando foram produzidos 450.000 kg de carne bovina, e pagos créditos de US$ 18,50/cab aos produtores. O crédito varia a cada trimestre conforme o número de animais qualificados no projeto, seu peso e demanda do mercado consumidor pela carne e é pago pelos varejistas e operadoras de serviços alimentícios que recebem a carne.
Veganismo pode não ser sustentável, aponta estudo. Ao analisar em conjunto 10 dietas diferentes, pesquisadores americanos de seis universidades chegaram à conclusão de que a dieta vegana – ou seja, sem qualquer item de origem animal – não é tão sustentável quanto parece. O problema, explicam eles, não é a dieta em si, mas a perspectiva de suprir desta forma a demanda por alimento da população norte-americana, usando as terras agrícolas disponíveis no país. Segundo o estudo, dietas com pequenas quantidades de carne, derivados de leite e ovos podem alimentar mais pessoas. Isso as torna mais sustentáveis do ponto de vista econômico e ambiental.
Infopec
Infográficos que sintetizam informações importantes da pecuária
Cresce o rebanho em cidades campeãs agrícolas do MT 1º
Sapezal
% de crescimento do rebanho de 2009 à 2018 183%
2º
Campo Novo do Parecis
181%
3º
Campos de Júlio
176%
35.448
4º
Colniza
95%
275.156
5º 6º 7º 8º
Feliz Natal Serra Nova Dourada Lucas do Rio Verde Itiquira
81% 67% 64% 59%
13.329 36.332 10.988 134.368
9º
Nova Lacerda
55%
93.609
10º
Campo Verde
45%
38.376
Municipío
Δ do rebanho de 2009 à 2018 75.202 87.769
A partir de dados coletados durante a campanha de vacinação do rebanho bovino do Mato Grosso contra a febre aftosa, em maio, o Imea (Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária) fez um levantamento que mostra que, no período de 2009 a 2018, cresceu consideravelmente o plantel de bovinos em cidades com grande vocação agrícola. No ranking das 10 cidades que mais expandiram o seu rebanho no período analisado, aparecem seis municípios reconhecidos como grandes expoentes na produção de grãos e algodão: Sapezal, Campo Novo do Parecis, Campos de Júlio, Lucas do Rio Verde, Itiquira e Campo Verde (veja tabela). Considerando a cultura do algodão, das seis cidades acima, cinco estão entre as 10 maiores produtores de algodão do Mato Grosso. Na cultura da soja, os seis municípios listados estão entre os 20 maiores municípios produtores do Estado. Na cultura do milho, dos seis municípios listados, cinco estão entre os 20 maiores produtores mato-grossenses. A expansão da pecuária nesses municípios é fruto de um processo de intensificação, o que tem contribuído para agregar valor aos negócios e/ou mitigar riscos”, observa Yago Travagini, analista do IMEA. Segundo ele, na maioria dos casos, esse avanço do rebanho é explicado pelo uso de técnicas como o confinamento, o semiconfinamento e a integração lavoura-pecuária-floresta (LPF). Nesses municípios, tanto a pecuária quanto a agricultura avançaram nos últimos anos”, relata ele.
Cai interesse do pecuarista do MT pelo confinamento em 2018 Pesquisa indica variação de quase 4% em relação ao ano anterior* Estimativa Jul/2018 Número de animais confinados no Mato Grosso
681.488
Estimativa Abr/2018
Resultado em 2017
707.680
694.145
Variação das expectativas em 2018 -3,7%
*2º levantamento de intenções de confinamento em 2018. Fonte: Imea.
O segundo levantamento anual de intenção de confinamento em Mato Grosso, também divulgado pelo (Imea), apontou queda de 3,7% na quantidade estimada de bovinos confinados, para 681.000 cabeças, em comparação ao apurado em abril. A pesquisa contatou 163 técnicos, gerentes e donos de fazendas, de um universo de 210. Desse universo, 16% dos informantes ainda não sabiam se iriam “fechar” seus animais em 2018; quase 35% disseram que não iriam confinar; e 54,6%, que iriam. O aumento nos custos da alimentação e reposição, além da estagnação do preço do boi gordo, explicam a queda na intenção de confinamento. Sozinho, o preço do milho, principal componente energético da dieta no cocho, registrou alta de 55,5% entre julho de 2017 e julho de 2018. No mesmo período, o farelo de soja acumulou alta de 43%. O custo da diária no confinamento saiu de um patamar de R$ 5,94 cab/dia, em 2017, para R$ 6,37/ cab/dia neste ano, encarecimento de 7,4%, de acordo com o Imea. Com esse cenário, a rentabilidade dos confinadores que não se resguardaram, por meio de mecanismos de proteção de preço, ficou comprometida, disseram os analistas.
DBO setembro 2018 17
Coluna do Cepea
Maior abate no 1º semestre pressiona valor da arroba Thiago Bernardino de Carvalho, pesquisador da área de Pecuária do Cepea. cepea@usp.br
D
epois de quatro anos de quedas consecutivas (de 2014 a 2017), o volume de animais abatidos no primeiro semestre voltou a aumentar em 2018. Esses dados divulgados pelo IBGE em agosto, dentre outros fatores (como maior produtividade e demanda doméstica desaquecida), ajudam a explicar o movimento de queda nos preços do boi gordo ao longo da primeira metade deste ano. Preço Esse movimento baixista foi bastante semelhante ao verificado no mesmo período de 2017, que, vale lembrar, foi marcado por fortes turbulências. Em 2017, a operação “Carne Fraca” (deflagrada em março), a dela-
Nº de animais abatidos e peso total dash carcaças no 1º semestre dos anos de 2013 a 2018
Fonte: IBGE; Elaboração: Cepea/Esalq-USP
Médias mensais do Indicador do Boi Gordo ESALQ/B&FBovespa no 1º semestre de 2013 a 2018*
Fonte: Cepea/Esalq-USP * Valores deflacionadas pelo IGP-DI de jul/18
18 DBO setembro 2018
ção da maior indústria frigorífica brasileira (que resultou em forte redução da compra de animais por parte desse grande player) e a retomada do desconto do Funrural desfavoreceram os negócios efetivados pelo pecuarista de engorda no primeiro semestre e pressionaram as cotações da arroba no período. Tomando-se como base os valores médios mensais do Indicador do Boi Gordo ESALQ/BM&F Bovespa (Estado de São Paulo), deflacionados pelo IGP-DI de julho/2018, observam-se quedas consecutivas no primeiro semestre do ano. A primeira alta mensal foi registrada somente em julho. No acumulado do primeiro semestre, o Indicador caiu 10,44%, mesma tendência de 2017, quando a queda de janeiro a junho foi de 11,5%. Nos anos anteriores, os movimentos dos preços foram diferentes, com alta de 0,62% na primeira metade de 2016, pequena queda de 2,2% em 2015 e elevação de 5,65% em 2014. Abate No acumulado de janeiro a junho deste ano, 15,4 milhões de animais foram abatidos no Brasil, volume 4,05% superior ao do mesmo período de 2017, quase 3% acima do verificado no primeiro semestre de 2016 e praticamente o mesmo volume de 2015 (alta de apenas 0,25%), de acordo com os dados do IBGE. Já quando comparado aos primeiros semestres de 2013 e 2014, os seis primeiros meses de 2018 registraram número de abate inferior em 7,52% e 8,87%, respectivamente. Esses números mostram a recuperação do rebanho para abate depois de reduções tanto no volume de animais quanto na produtividade, causados pela forte seca que atingiu o Centro-Sul do Brasil entre 2013 e 2014. Por usa vez, esse cenário resultou em aumento de preços ao longo da cadeia nos anos seguintes e, consequentemente, em investimentos em tecnologia, que fizeram com que o rebanho voltasse a crescer, principalmente em 2017 e 2018, e apresentasse melhor produtividade. Quando se analisa o peso total das carcaças abatidas, verifica-se que, no primeiro semestre de 2018, foram contabilizadas 3,77 milhões de toneladas, quantidade 3,92% superior à de 2017 e 2,48% à de 2016, mas 4,87% inferior à de 2014, ainda de acordo com levantamento do IBGE. Um dado mais relevante ainda é o indicador de peso de carcaça individual. De janeiro a junho de 2018, ele foi de 244,68 kg/cab, praticamente o mesmo registrado no primeiro semestre de 2017 (-0,13%), mas 10,25% e 4,39%, respectivamente, superior aos de 2013 e 2014, anos de muita seca e de queda na produtividade. n
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Mercado
Arroba segue caminho da alta Quadro de escassez na oferta de boi e exportação em ritmo forte sustentam os negócios Denis Cardoso
E
mbora o consumo doméstico de carne bovina esteja em ritmo desacelerado, por conta da permanência de indicadores econômicos ruins, a expectativa é de valorização do preço da arroba durante este período seco, de entressafra. Os frigoríficos continuam com dificuldade para comprar grandes lotes de bois prontos para abate, problema agravado pela falta de oferta de animais terminados no cocho. A elevação nos preços da “boia”, sobretudo no do milho, inibiu a corrida pelo confinamento no primeiro giro (desova no mercado em junho-julho) e, pelo jeito, a quantidade de animais no segundo giro (entrega dos bovinos no período entre outubro e dezembro) também será comprometida pelos custos altos da ração. Em geral, os preços da arroba do boi gordo subiram em agosto em grande parte do País, mantendo a tendência altista iniciada quando as chuvas escassearam nas principais regiões pecuárias e as pastagens começaram a se deteriorar. No acumulado parcial de agosto (31/7 a 29/8), o Indicador do boi gordo ESALQ/BM&FBovespa (Estado de São Paulo) fechou em R$ 146, alta de 3% ante o preço registrado no fim de julho (R$ 141,70), segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada
Contrato futuro indica do boi gordo chega a quase R$ 152 em outubro Mês para a liquidação dos contratos na B3 Data dos pregões
jan
Fev Mar
Abr
Mai
Jun
29/6/2018
-
-
-
-
-
31/7/2018
-
-
-
-
-
-
29/8/2018
-
-
-
-
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Jul
Ago
Set
Out
Nov
Dez
139,11 144,30 146,60 147,60 150,40 149,70 149,45 143,21 145,70 148,10 149,90 150,50 150,20 -
146,60 149,00 151,80 151,40 151,60
Fonte: BM&FBovespa.
Indicador Bezerro fica estável em agosto, na praça do MS Datas de levantamento do Cepea Especificações Preço à vista por cabeça
29/8/2018
31/7/2018
R$ 1.146
R$ 1.148,99
Peso médio/kg
180
191,56
Preço por kg
R$ 6,36
R$ 5,99
Preço por arroba
R$ 191
R$ 179,94
Fonte: Cepea/Esalq/USP
Indicador Boi Gordo fecha em alta em agosto, em São Paulo Datas da liquidações dos contratados negociados na BM&FVBovespa Especificações
29/8/2018
31/7/2018
Preço à vista
R$ 146,00
R$ 141,70
Fonte: Cepea/Esalq/USP/BM&FBovespa. Média dos últimos cinco dias úteis em São Paulo. O valor é usado para a liquidação dos contratos negociados a futuro na BM&FBovespa.
20 DBO setembro 2018
(Cepea/Esalq/USP). Com o dólar em alta (no fim de agosto chegou a R$ 4,20), as exportações brasileiras de carne bovina continuaram ganhando força no mês passado, pois a elevação da taxa cambial representa aumento de competitividade do produto brasileiro – como a produção de carne tem a maior parte do custo em real e se vende pela moeda norte-americana, isso representa “mais reais” no bolso das empresas exportadoras, facilitando as negociações por valores que também agradem os compradores. Dito isso, o valor do boi no mercado físico sobe atualmente não só pela falta de animais terminados, mas pela boa demanda externa pela carne bovina. Depois de sofrer grande queda em junho, influenciada sobretudo pela greve nacional dos caminhoneiros, no fim de maio, os embarques aumentaram em julho, tendência que se manteve até o mês passado. Só para Hong Kong, o principal mercado importador, o Brasil elevou em 18% os embarques no acumulado de janeiro a agosto, em relação ao mesmo período de 2017, segundo dados do Rabobank, com escritório em São Paulo. A China, segunda maior compradora, foi ainda mais agressiva: os embarques subiram 44% na mesma base de comparação. Segundo estimativa da equipe de analistas do Rabobank, as exportações brasileiras de carne bovina podem crescer 5% em 2018, comparativamente à 2017. No mercado interno, prevê o banco, também deve haver recuperação do consumo, apesar das incertezas em relação à economia durante este segundo semestre – geradas, sobretudo, pelas expectativas em torno das eleições de outubro. “O consumo está melhorando gradualmente em relação aos baixos níveis observados no período recente de recessão (2014-2016)”, observa o Rabobank. Dados preliminares mostram que o consumo local de carne bovina aumentou em 1% no ano passado em relação a 2016, e o Rabobank espera aumento adicional de 2% em 2018. Futuro próximo No mês passado, o contrato futuro do boi gordo com vencimento em outubro (pico da entressafra) rompeu a barreira dos R$ 151/@, chegando a quase R$ 152/@ (veja tabela ao lado) na B3 (antiga BM&FBovespa). Desde maio, os preços futuros oscilavam entre R$ 149 e 151/@. Tal comportamento da arroba no mercado futuro é mais um sinal de que o boi tende a subir nos próximos meses. A outra demonstração de que, no curto prazo, os pecuaristas podem ganhar a queda de braço com os frigoríficos é a baixa escala de abate das indústrias. Segundo levantamento da Informa FNP, consultoria de São Paulo, na última semana de agosto, diante da baixa oferta de animais terminados, os frigoríficos operavam com escalas extremamente curtas – entre três e quatro dias úteis. n
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Negócios com reposição menos travados Boi gordo em alta incentiva a busca por animais nas principais regiões pecuárias
O
Denis Cardoso
mercado de animais reposição segue firme, viés que se mantém desde o início de julho, influenciado pela recuperação no preço do boi gordo. “Com a arroba do boi subindo, os recriadores e invernistas se lançaram com maior afinco aos negócios e o mercado ganhou um pouco mais de ritmo”, avalia o zootecnista Breno de Lima, analista da Scot Consultoria, de Bebedouro. No balanço geral, na média de todas as categorias de machos e fêmeas anelorados, em 14 praças pesquisadas pela Scot Consultoria, as cotações da reposição fecharam agosto com alta de quase 1% na comparação com julho. Segundo análise da Informa Economics FNP, de São Paulo, o mercado de reposição segue sustentado na maior parte do País, com a procura se mantendo ativa e a oferta, mais retraída. “A demanda está direcionada, em algumas regiões, aos machos acima de 18 meses, animais que já serão destinados à engorda em confinamento. Em outras regiões, os produtores preferem adquirir os bezerros de até 12 meses para engorda em regimes de semiconfinamento”, relata a equipe de analista da FNP. No Mato Grosso do Sul, berço da atividade de cria no País, os preços dos bezerros seguiram caminho oposto e sofreram ligeiros recuos no fim de agosto. “Embora ainda existam registros de negociações de até R$1.300 por bezerro, estes valores limitam-se aos animais mais pesados, acima de 240 kg”, informa a consultoria paulista. Diante da forte seca no Estado, inclusive com registros de geadas, a capacidade de os criadores reterem seus animais nas pastagens é restrita, acrescenta a FNP. No Mato Grosso, pecuaristas de algumas regiões, como em Cáceres, evitavam comprar grandes quantidades de bois magros em agosto, ainda inseguros a respeito dos custos do confinamento. No entanto, em outras áreas do Estado, como no Vale do Araguaia, os produtos se mostraram mais otimistas em relação ao segundo giro da engorda intensiva e chegaram a fechar negócios de boi magro por até R$ 2.000/cabeça, informa a FNP.
Apesar das recentes altas no mercado de reposição, a arroba do boi gordo subiu mais no mesmo período, o que contribuiu para a melhora do poder de compra do recriador/invernista. A relação de troca entre arrobas de boi gordo e bezerro de desmama melhorou para o recriador. Em São Paulo, no fim de agosto, eram necessárias 7,93 @ de boi gordo para a compra de um bezerro de desmama (6@), ante a relação de troca de 8,03@/bezerro registrada em igual período do mês anterior. No entanto, em relação ao mercado de grãos, o recriador/invernista vem perdendo poder de barganha. Além da alta do milho, principal fator de desestímulo para o confinamento, o o preço do farelo de soja preocupa o pecuarista. Estudo do Instituto de Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea) mostra que, no Mato Grosso, a relação de troca entre arrobas de boi gordo e farelo alcançou 18,75 @/tonelada no mês passado, a pior negociação para o mês de agosto desde 2012. Em contrapartida, refletindo a safra recorde deste ano, o preço do caroço do algodão caiu consideravelmente no Estado, favorecendo a relação de troca envolvendo este ingrediente. Em agosto, eram necessárias 2,82 @ para a compra de uma tonelada de caroço, a melhor relação para o mês de agosto desde 2010. Preços regionais Em São Paulo, os preços médios dos animais de reposição subiram em agosto. O boi magro (12@) teve elevação de 2,5%, atingindo R$ 1.876, segundo a Scot Consultoria. O garrote (9,5@) registrou alta de 1,3%, para R$ 1.536,50, em média, na comparação com julho. O bezerro desmamado (6@) subiu 0,7% , para R$ 1.150. O valor da novilha (8,5@) ficou estável, fechando a R$ 1.150. Na praça do Mato Grosso, o valor médio do bezerro desmamado caiu 1,8% em agosto, para R$ 1.134, em média, na comparação com julho. O garrote sofreu leve queda de 0,5%, para R$ 1.502, enquanto o boi magro teve baixa mensal de 0,8%, para R$ 1.716. O preço da novilha também caiu 0,8%, fechando a R$ 1.052. No Mato Grosso do Sul, segundo dos dados da Scot Consultoria, o bezerro desmamado fechou agosto a R$ 1.162, com valorização de 3,1% sobre o preço de julho, enquanto o garrote teve decréscimo de 0,5%, atingindo R$ 1.538. O boi magro subiu 0,9%, para R$ 1.774. O preço da novilha teve alta de 2,9%, para R$ 1.116. Na praça do Goiás, o valor do bezerro desmamado atingiu R$ 1.152 em agosto, com estabilidade em relação ao preço médio de julho. O garrote também ficou estável, a R$ 1.560, em média. O boi magro teve alta de 1,1%, chegando a R$ 1.850, em média. A novilha também subiu, para R$ 1.108, com valorização de 1,4%. n
nnn
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nnn
R$ 1.162
R$ 1.876
R$ 1.502
R$ 1.108
nnn
nnn
nnn
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Valor médio do bezerro desmamado no MS, em agosto; valorização de 3,1% sobre julho
22 DBO setembro 2018
Preço médio do boi magro na praça de São Paulo, no mês passado; elevação mensal de 2,5%
Valor médio do garrote no Mato Grosso, em agosto; queda de 0,5% em relação ao mês anterior.
Cotação média da novilha na praça de Goiás; acréscimo de 1,4% na comparação com julho.
Fora da Porteira
Rogério Goulart
A inflação não serve apenas para comparar banana com banana Administrador de empresas, pecuarista e editor do informativo semanal “Carta Pecuária”, de Dourados, MS.
G
ostaria de falar um pouco sobre os preços do bezerro. Sabe, leitor, aqueles momentos em que a gente olha para trás e vê aquele ótimo preço que saiu no leilão há alguns meses e pensa: “Puxa, será que vou ver aquele preço novamente?” Sim, veremos novamente, caro leitor. A carne, o boi e o bezerro acompanham a inflação. Mas tem de ter paciência. Leva um bom tempo até que eles voltem lá para o alto. Deixe-me mostrar um estudo sobre valores ao longo do tempo, que, com certeza, você achará interessante, e tem a ver com o que falei. O comparativo dos últimos 18 anos de valores desse pequeno animal (bezerro) demonstra o que efetivamente saiu de negócio lá atrás e mostra esses mesmos valores atualizados para hoje, usando a inflação. A inflação serve para a gente comparar banana com banana. Comparar os preços de hoje com os do passado. Não confie apenas na memória. Calcular, de cabeça, quanto vale hoje um bezerro de 7@ que custava R$ 200 em 2000 pode lhe trazer problemas. A atualização monetária serve para isso: para trazer esses valores para hoje. Esse bezerro de R$ 200 valeria hoje ao redor de R$ 700. Observe a Figura 1 (abaixo), para acompanhar o que estou dizendo. A linha de cima, no gráfico, mostra o preço do bezerro com inflação embutida. A linha de baixo é o que aconteceu no dia. O que importa para nós é o que realmente rendeu a coisa, né? O bezerro “nominal”, isto é, sem inflação, pode ter saído de R$ 200, em 2000, para R$ 400, em 2008, o que é ótimo, mas não foi o suficiente para recuperar o valor. Teria de estar por volta de R$ 600 para igualar os R$
Figura 1. Quanto tempo demorou para o bezerro ultrapassar seu último pico de preço?
24 DBO setembro 2018
200, se você me entende. Por isso que usamos a correção da inflação. Para tirar esses erros da memória, para efetivamente observar os preços da forma correta. Tivemos um pico de preço em 2002, ao redor de R$ 800 a cabeça. O valor caiu, permaneceu em um patamar inferior durante seis anos e somente em 2008 voltou a se equiparar ao valor de 2002. Alguns meses depois, ainda em 2008, tivemos outro pico, desta vez ao redor de R$ 1.100. Aqui, de novo, a história se repetiu e demoramos os mesmos seis anos para recuperar esse valor, em 2014. Aí ele foi subindo que nem um foguete até 2015, quando bateu no pico de R$ 1.650 por cabeça (só que era R$ 1.450 no dia, ok?). Pois é... não atingimos ainda isso daí. Há três anos estamos saudosos, lembrando esses excelentes valores pelo pequeno animal produzido. Veremos novamente o pico? Claro. Quando: daqui a três anos? Veremos um bezerro valendo acima de R$ 1.600? Como estão se comportando os preços do bezerro em 2018? Observe a figura 2, abaixo. E anime-se. O preço do bezerro voltou a subir em 2018. Depois de um longo período de preços baixos, parece que a coisa vai continuar melhorando mais adiante. É claro que tem toda uma análise do mercado consumidor aqui dentro e exportações com dólar alto (em agosto, chegou a R$ 4,20), mas o resumo é que o cenário é mais animador. Então, é boa notícia. Dá tempo ainda para investir na cria. A colheita de preços bons está pela frente. Mas você já sabe disso, correto? O bezerro de 2020 vai começar na estação de monta deste ano. Bons negócios. n Figura 2. Variação do preço do bezerro entre 2000 e 2018
Cadeia em Pauta
Marfrig venderá Carne Carbono Neutro Grupo firmou parceria mercadológica com Embrapa para difundir marca-conceito, que visa à mitigação de emissões de metano pelos bovinos por meio do plantio de árvores.
O
“Vamos colocar o produto no mercado e depois avaliar possíveis premiações” Manduca, da Marfrig
“Vamos lançar também o selo Carne de Baixo Carbono, para projetos de lavoura/pecuária” Robrto Giolo, da Embrapa
Ariosto mesquita
pecuarista que investe em sistemas integrados recebeu uma boa notícia em 10 de agosto: a Embrapa e a Marfrig firmaram uma aliança estratégica para colocar no mercado a chamada Carne Carbono Neutro (CCN), obtida em propriedades que compensam a emissão de gás metano (de efeito estufa) por meio da integração da pecuária/floresta (IPF) ou lavoura/pecuária/floresta (ILPF). Projeções da Associação Rede de Fomento, feitas no final de 2017, indicam que, dos 14 milhões de ha de produção integrada no Brasil, 2,3 milhões usam esses dois sistemas. A expectativa da Marfrig é colocar a carne carbono neutro no mercado, no início de 2019. Por enquanto, a empresa não estabeleceu bônus para os produtores participantes. O produto será identificado com um selo, já registrado junto ao Instituto Nacional de Propriedade industrial (Inpi). A parceria Marfrig/Embrapa foi anunciada durante um dia de campo na Fazenda Boa Aguada, do Grupo Mutum, situada no município de Ribas do Rio Pardo, MS, a 159 km de Campo Grande. A propriedade, com área total de 20.000 ha, tem 12.000 ha de eucalipto, dos quais 4.000 são consorciados com pastagens para recria/engorda de 3.000 animais. Parte dessa área integrada (60 ha) foi transformada em Unidade de Referência Tecnológica (URT), onde a Embrapa Gado de Corte desenvolve experimentos há seis anos, para validar o sistema de produção da carne carbono neutro, cujo protocolo está em fase final de elaboração. “Esperamos concluir o documento para entrega ao Ministério da Agricultura em outubro deste ano”, prevê Roberto Giolo de Almeida, pesquisador da Embrapa Gado de Corte. Caberá à Marfrig estimular seus fornecedores a aderir ao protocolo CCN em áreas integradas já existentes ou em projetos que ainda serão montados. Produção experimental A produção de carne carne carbono neutro foi trestada, na URT da Fazenda Boa Aguada, em seis
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Experimnto conduzido pela Embrapa na Fazenda Boa Aguada, MS, confirmou compensação de emissões.
áreas: duas testemunhas (floresta e pasto solteiro) e quatro silvipastoris (IPF), com diferentes espaçamentos e arranjos. A floresta de eucalipto solteiro tinha 1.166 árvores/ha, com duas linhas simples e 3 metros entre renques; a IPF 1, 357 árvores/ha, com duas linhas simples e 14 m entre renques; IPF 2, 238 árvores/ha, com duas linhas simples e 21 m entre renques; a IPF 3, 178 árvores/ha, com duas linhas simples e 28 m entre renques e a IPF 4, 441 árvores/ha, com linha tripla e 28 m entre renques. O sistema (48,12 ha divididos em seis módulos, com dois piquetes de 4,01 ha em cada) começou a ser avaliado dia 5 de abril de 2017, quando 25 machos Nelore de 264 kg e 17 meses, pertencentes à própria fazenda, foram colocados na área. A recria/engorda a pasto durou cerca de 463 dias, período durante o qual ganharam 9,7@/cab. O abate foi realizado, dia 12 de julho, no Frigorífico Naturafrig, em Penedo, MS, com os animais pesando 523 kg aos 32 meses de idade. Para confirmar a capacidade de compensação de gases de efeito estufa pelo sistema, foram feitas medições tanto do metano produzido pelos animais quanto das captações de carbono (CO2) pelas árvores, usando-se metodologia de aceitação internacional. As emissões médias (em piquetes de 4,01 ha) foram de 10 t CO2 equivalente, enquanto a fixação atingiu 16 t. “Em todos os quatro arranjos de IPF, independentemente da quantidade de árvores, a fixação de carbono foi maior do que a emissão de gases pelos bovinos. Portanto, já no primeiro ano, o sistema produziu carne carbono neutro. Vamos continuar avaliando ao longo dos próximos 10 anos”, diz o pesquisador Rodrigo Gomes. No dia de campo, a Embrapa ainda apresentou avaliações de custos de implantação dos sistemas, projeções preliminares de receitas, po-
tencial de compensação por serviço ambiental e desempenhos da forrageira, do componentes florestal e dos bovinos nos diferentes esquemas de integração. Nova safra experimental teve início no dia 9 de agosto. “Nosso objetivo agora é avaliar o desempenho de 22 animais cruzados Nelore/Angus, que, teoricamente, são menos resistente ao estresse térmico e provavelmente serão favorecidos pelo sombreamento”, projeta Gomes. Novo selo à vista A parceria Embrapa/Marfrig também promete, em um segundo momento, colocar no mercado um outro selo: a Carne de Baixo Carbono (CBC), originária de sistemas de integração lavoura-pecuária (ILP), atualmente o modelo de junção produtiva mais disseminado no País. Projeções de órgãos especializados estimam sua adoção em aproximadamente 10 milhões de ha. O Protocolo CBC só deve ser concluído em 2019. De acordo com o gerente corporativo de compra de gado da Marfrig, Maurício Manduca, tanto a carne carbono neutro quanto a de baixo carbono são conceitos novos, cuja estratégia comercial ainda está sendo definida. “Primeiramente, vamos colocar este produto no mercado. Quando ele for reconhecido pelo consumidor, logicamente trará ganho adicional ao produtor”, explica o executivo. Os pesquisadores da Embrapa, contudo, projetam, no futuro, ágios de pelo menos 2,5% sobre o valor da @ de boi para a carne carbono neutro e de 0,8% para a
carne de baixo carbono, produzida em áreas de ILP. Manduca ainda não sabe quantos pecuaristas têm potencial para aderir aos modelos, nem qual a quantidade de carne será ofertada no mercado com selo. No entanto, relaciona condições de produção capazes de indicar regiões de maior adesão ao protocolo: “No caso da CCN, o produtor deverá estar próximo às grandes indústrias de processamento de madeira, para escoar sua produção florestal. Nessa condição o Mato Grosso do Sul se encaixa bem, graças, sobretudo, ao polo de celulose de Três Lagoas. Já a CBC pode ter boa oferta a partir do Mato Grosso, onde as áreas de ILP vêm aumentando bastante”. n
A adesão ao protocolo CNN deve ser maior entre produtores próximos a polos madeireiros
Saiba mais sobre a Carne Carbono Neutro (CCN) O que é e como surgiu? – Trata-se de marca-conceito desenvolvida pela Embrapa Gado de Corte e registrada no Inpe que permite certificar propriedades que mitigam as emissões de carbono da pecuária por meio do plantio de árvores para madeira ou lenha. O embrião da ideia surgiu em 2012 quando pesquisadores brasileiros apresentaram experiências de ILPF durante o II Congreso Colombiano y I Seminario Internacional de Silvopastoreo, realizado na Colômbia. A CCN foi amadurecendo até se chegar aos primeiros lotes abatidos, em 2016. A marca-conceito terá um selo (Carne Carbono Neutro ou Carbon Neutral Brazillian Beef, em inglês). O que é a mitigação de gases de efeito estufa? - As árvores plantadas de forma intercalada entre áreas de pastagens permitem que os gases emitidos pelo sistema entérico dos bovinos, que, teoricamente,
colaboram para o aumento do efeito estufa (aquecimento global) do planeta, sejam neutralizados. Isso acontece de forma compensatória, pois as árvores fazem o sequestro de carbono. Como são calculadas as emissões e neutralizações? – Os cálculos são feitos com base nas emissões de metano, principal gás de efeito estufa, por meio índices e equações. Já as neutralizações são quantificadas por meio de análises do carbono acumulado no tronco das árvores, tendo-se como base o inventário florestal da área. Softwares desenvolvidos pela Embrapa ajudam a quantificar o estoque de madeira disponível e fazem projeções sobre a quantidade de carbono sequestrada da atmosfera e imobilizada nas árvores. Como obter o selo CCN? – Os pré-requisitos e parâmetros de obtenção estão detalhados
Carne servida no dia de campo da Fazenda Boa Aguada, no MS, era de animais com selo CCN nos textos da Embrapa “Carne Carbono Neutro: um novo conceito para carne sustentável produzida nos trópicos” (documentos 210 e 243 e suas versões atualizadas). A certificação, por sua vez, deverá ser feita por empresas legalmente autorizadas pela Embrapa. O selo será concedido ao produto (carne), mas a Embrapa acena com a possibilidade de a propriedade também ser reconhecida pela adoção de práticas sustentáveis. Mais detalhes podem ser obtidos no site da Embrapa.
DBO setembro 2018 27
Cadeia em pauta
Qual o tamanho do nosso rebanho, afinal? Dependendo do levantamento, número de bovinos no Brasil varia em milhões. sito Animal (GTAs) emitidas no País, número de abates inspecionados e comunicação sobre vacinação contra febre aftosa – para estudar os números. Por meio de sua assessoria de imprensa, o Mapa informou à DBO que vem realizando reuniões com o IBGE no Rio de Janeiro, mas ressalta que os dois órgãos usam metodologias diferentes para calcular o tamanho do rebanho e que os bancos de dados não trocam informações. O gerente técnico do Censo Agropecuário 2017, Antônio Florido, confirma essas reuniões na capital fluminense. “O Mapa está avaliando os números do Censo na ‘data de corte’, que é 30 de setembro de 2017, para checar se os dados deles, na mesma data, são semelhantes aos que apuramos”, explica Florido.
Números preliminares apurados pelo IBGE falam em rebanho de 171, 8 milhões de cabeças
U
Tatiana Souto
m número chamou a atenção do setor pecuário, em julho, quando o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou os resultados preliminares do Censo Agropecuário 2017. O rebanho brasileiro seria, segundo o levantamento, de 171,8 milhões de cabeças, entre gado de corte e leite, 46 milhões a menos do que havia apurado o próprio órgão em sua Pesquisa Pecuária Municipal (PPM), referente ao rebanho de 2016. Conforme a PPM, o rebanho nacional era de 218,2 milhões de animais. Tamanha diferença entre uma pesquisa e outra, entretanto, pode ser “corrigida” nos próximos meses, já que os resultados do Censo 2017 são preliminares. Os números finais deverão ser divulgados somente em julho de 2019. O IBGE, contudo, está decidido a identificar a causa da disparidade. Seus técnicos se juntaram aos do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) – que centraliza dados sobre as Guias de TrânRebanho bovino brasileiro*
(em cabeças, gado de leite e de corte) Censo Agropecuário 2017 IBGE 171,8 milhões de cabeças (dados preliminares) Pesquisa Pecuária Municipal IBGE 218,2 milhões de cabeças (em 2016) Consultoria IEG FNP 194 milhões de cabeças (*) Esses números variam muito por causa da metodologia empregada no levantamento, tanto do IBGE quanto das consultorias.
28 DBO setembro 2018
Bezerros de fora O representante do IBGE relata que a data de corte – ou seja, o “retrato do campo brasileiro” naquele momento – foi escolhida em consenso com o Mapa, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e a Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais (Contag). Entretanto, no caso do rebanho bovino, não parece ser apropriada, pois deixa “de fora” os bezerros nascidos na primavera e no verão, quando ocorre o pico de parições no País. “Pelo menos 15 milhões de animais, que é o número estimado de nascimentos no período, não teriam sido contabilizados por causa da data de corte, em setembro”, justifica Florido. “Se esses nascimentos entrassem nas contas do censo, o rebanho subiria para 186 milhões de cabeças, um número mais próximo do obtido na PPM, embora ainda com um importante desvio”, assinala. Ele destaca, porém, a dificuldade em estabelecer essa data de corte e também da contagem do rebanho bovino por causa da própria dinâmica da criação. “Em qualquer período do ano que eu considerar fazer um corte, corro o risco de não ter toda a movimentação do gado registrada adequadamente, seja por meio de GTAs, comunicação de vacinação, os animais que foram transferidos de uma propriedade para outra, os que seguiram para abate, etc. Se houver um delay entre essas comunicações por parte dos pecuaristas e a inserção de dados no banco do Ministério, a contagem fica prejudicada. Essa é uma hipótese”, comenta Florido. A diferença de metodologia entre a Pesquisa Pecuária Municipal, feita anualmente, e o Censo Agropecuário, realizado a cada 10 anos, é outra possível explica-
Cadeia em pauta Utilização da terra no Brasil, segundo o censo. Grandes grupos de utilização das terras (ha)
Anos 2006
Diferença 2017
Absoluta
%
Lavouras permanentes
11.679.152
7.982.183
-3.696.969
-31,7
Lavouras temporárias
48.913.424
55.383.875
6.470.451
13,2
Pastagens naturais
57.633.189
46.847.430
-10.785.759
-18,7
Pastagens plantadas
102.408.873
111.775.274
9.366.401
9,1
Matas naturais
95.306.715
106.211.639
10.904.925
11,4
Matas plantadas
4.734.219
8.485.503
3.751.285
79,2
FONTE: IBGE, Censos Agropecuários 2006/2017
ção para a disparidade de números no total do rebanho bovino. Enquanto o censo considera visitas em todos os estabelecimentos rurais do País, um a um, a PPM trabalha por amostragem estatística e dados como os acima citados (GTAs, comunicação de vacinação, abates, etc.). O censo 2017 apurou que, de um total de 5,072 milhões de estabelecimentos rurais do País, havia 2,52 milhões deles com 171,8 milhões de cabeças de bovinos em 2017, com destaque para Mato Grosso (24,1 milhões de animais), Minas Gerais (19,4 milhões) e Mato Grosso do Sul (18,1 milhões). Visão das consultorias Consultorias que acompanham o assunto concordam que a diferença de metodologias pode provocar esse desvio. “O censo é declaratório; o pesquisador pergunta para o fazendeiro o tamanho do rebanho dele. Já na pesquisa municipal, a projeção é estatística”, diz o diretor-fundador da Scot Consultoria, Alcides Torres, em vídeo postado no site da consultoria. Scot assinala, porém, que o rebanho bovino brasileiro é tão grande que essa diferença entre as duas pesquisas “não afeta o que importa, que são os preços de mercado”. A IEG FNP, que há anos divulga números próprios em relação ao tamanho do rebanho bovino brasileiro, também percebe (“desde sempre”) discrepâncias entre os números dos dois levantamentos. “O censo é uma contagem nas propriedades, não uma amostragem. Então, teoricamente, seus dados seriam os corretos. Fazemos nossas
No Censo, o produtor declara ao entrevistador quantos animais tem na fazenda
30 DBO setembro 2018
projeções com base neles”, diz José Vicente Ferraz, diretor técnico da FNP. Desde os anos 90, quando surgiu a pesquisa municipal, ela já apresentava divergências, garante Ferraz. Atualmente, a FNP calcula em 194 milhões o número total de bovinos no País. “Geralmente, nossos números são intermediários entre a PPM e o censo.” Ferraz faz mais ressalvas em relação à pesquisa municipal, que, segundo ele, tem alguns números equivocados. “A metodologia usada na pesquisa cruza uma série de indicadores, inclusive de produtividade. No contexto nacional, um Estado pode compensar outro, mas, analisando detidamente cada unidade da federação, percebe-se que há discrepâncias”, diz. Ele comenta, por exemplo, que a pesquisa pecuária municipal do IBGE parece atribuir o aumento da produção de carne mais ao crescimento do rebanho. “Já nós acreditamos que ela se baseia mais na produtividade”, diz. Aguardando números finais O censo também não escapa de críticas por parte de Ferraz. “No levantamento anterior, de 2006, havia alguns erros de base. Por exemplo, em um município que acompanhamos de perto, porque fazemos trabalho de consultoria, o rebanho total contabilizado ali era metade do plantel de um único criador que atendíamos”, relata. Ele adverte, entretanto, que é preciso entender as dificuldades em recensear um país gigante como o Brasil. Atualmente, a consultoria está trabalhando sobre os números de 2017 apresentados pelo IBGE. “Estamos analisando tabela por tabela para ver a congruência delas em relação às nossas projeções.” Ferraz lembra, porém, que os dados do IBGE ainda são preliminares e que, por enquanto, revelam uma discrepância de 23 milhões de cabeças em relação aos da IEG FNP. “Quando os números finais forem divulgados, se eles continuarem muito distantes dos nossos, vamos ver o que fazemos; se isso ocorrer, será difícil continuar acompanhando o censo.” Já a consultora Lygia Pimentel, da Agrifatto, prefere trabalhar tanto com os números do Censo Agropecuário quanto com os da Pesquisa Pecuária Municipal do IBGE, a depender da situação. “Se eu quero apurar tamanho de rebanho, me baseio nos dados do censo. Se eu quero apurar tendências, como a de crescimento do plantel, uso a PPM”, explica. Como o censo ocorre só a cada 10 anos, a consultora destaca a dificuldade de trabalhar com dados oficiais neste intervalo tão grande de tempo. “Sou obrigada a utilizar a PPM, que é anual”, salienta. Lygia acredita, entretanto, que o total do rebanho apontado pela pesquisa municipal esteja inflado. “Por uma questão de bom senso, até pelo volume anual de abates, nós acreditamos que seja um número menor de bovinos”, diz ela, que também se baseia, em seus trabalhos, nos números do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), que calculava em 2017 um rebanho brasileiro em 226 milhões de cabeças, 51 milhões de cabeças a mais em relação ao Censo Agropecuário do IBGE. n
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Cadeia em Pauta
NFA busca gestão moderna Consultores apresentam novo aplicativo e conceitos técnico-financeiros para produtoras
Grupo de participantes do NFA com palestrantes da reunião de agosto, em São Paulo, SP.
MARISTELA FRANCO
O
De São João da Ponte, MG
Núcleo Feminino do Agronegócio (NFA), associação composta por 26 produtoras de várias partes do País, se reuniu em São Paulo, no dia 23 de agosto, para discutir um tema essencial na pecuária: gestão. Buscando o caminho da produtividade, elas organizam reuniões mensais para troca de experiências e atualização técnica. Dessa vez, participaram do encontro 37 pessoas, incluindo os palestrantes Antônio Chacker, do Instituto Terra de Métricas Agropecuárias (Inttegra), de Maringá, PR, e André Altenfelder Silva, da empresa Agrotechs, de São Paulo. O primeiro foi convidado para falar sobre novos conceitos em gestão na pecuária e o segundo para apresentar o aplicativo Agrotechs, que promete facilitar o registro de dados por parte dos funcionários nas operações de campo, aposentando as velhas cadernetas de papel. O Agrotechs não exige internet para funcionar. Os registros feitos a campo ficam guardados no celular do funcionário, sendo imediatamente baixados quando ele se reconecta com a rede. O produtor pode alimentar o aplicativo com informações da fazenda,
32 DBO setembro 2018
mapas, dados de clima, identificação da equipe, atividades produtivas e lista de tarefas programadas, com descrição, data, local e pessoa responsável por sua execução. O funcionário recebe a ordem de serviço diretamente no celular e pode fazer comentários, tirar fotos e registrar áudios para comunicar ocorrências ao gestor. Mesmo de longe, o dono da fazenda sabe imediatamente o que está acontecendo, consegue emitir relatórios e analisar a produtividade dos funcionários. Para uma fazenda, o custo do aplicativo é de R$ 250/ mês e para duas ou mais propriedades, R$ 399/mês. Chacker Dizendo-se grato ao NFA, que o convidou para a primeira palestra há 10 anos, Chacker relembrou a trajetória tanto de sua empresa quanto de algumas fundadoras do grupo, como Carla Freitas, proprietária da Agropecuária Bela Vista, em Chupinguaia, RO, e Lídia Regina Massi Serio, da LMS Agro, com fazendas no Paraná e Mato Grosso do Sul. “Em 2008, a Terra tinha uma equipe de sete pessoas e acompanhava 25 fazendas; hoje, somos 48 consultores e atendemos 352 clientes. Vocês também evoluíram muito como empresárias, mas não foi fácil. O papel aceita quase tudo e a realidade quase nada. Erramos muito, mas também aprendemos muito. As fazendas hoje são completamente diferentes; algumas faturam sete vezes mais”, destacou. Às iniciantes nas práticas modernas de gestão, Chacker avisou: existe uma espécie de crise do segundo ano. “No primeiro, é aquele entusiasmo, todo mundo motivado; no segundo, não nasce a quantidade de bezerros que era pra nascer, a fazenda não fatura o que tinha de faturar, o gerente resolve ir embora [risos], mas isso faz parte do processo de mudança”, ponderou. Segundo o consultor, uma coisa efetivamente muda a fazenda: a capacidade da equipe de executar tarefas. “Nossa amostragem ainda é pequena, mas as propriedades geridas por mulheres têm conseguido isso, apresentando, na média, resultados econômicos acima dos obtidos pelas propriedades administradas por homens”. Para Chacker, agora é hora de investir na logística e reestruturação organizacional das empresas do setor, para se trabalhar com equipes mais enxutas e funcionais. “O resultado da pecuária vem da excelência operacional, porque o boi é uma commodity, tem de produzir barato”, frisou ele. Isso não significa, segundo o consultor, gastar muito pouco (por exemplo, R$ 10/ cab/mês), porque, assim, a fazenda produzirá quase nada. Significa investir de forma eficiente, visando maior produtividade. Conforme mostrou Chacker em sua apresentação, as fazendas Top 10 rentáveis assistidas pela Terra Consultoria gastaram R$ 30/ cab/mês, na cria; R$ 46, na recria/engorda; e R$ 35, no ciclo completo, sempre abaixo da média de cada segmento, que foi de R$ 42, R$ 57 e R$ 53/cab/mês, respectivamente. n
Janela Aberta
Danilo Grandini
Um boi chamado commodity
O Zootecnista, com pós-graduacão em análise econômica, e diretor de marketing de Phibro para o Hemisfério Sul (Austrália, África do Sul, Argentina e Brasil).
nnn Produzir commodity não é demérito, mas também não é sinônimo de despadronização.
nnn
fato de o boi brasileiro ser, frequentemente, visto como uma commodity decepciona muita gente do setor pecuário. Seja pelo amor à atividade, seja pelo desejo de ver seu trabalho valorizado. Devido ao desconhecimento do significado original desse termo, poucos o apreciam. A transcrição literal do inglês para o português é: mercadoria. Até aqui, tudo bem, pois realmente se trata de uma mercadoria. Mas, ao aprofundar um pouco mais nossa análise etimológica, chegamos a outras definições: matéria prima produzida em larga escala, sem marca, obedecendo a padrões, passível de ser estocada, com ampla comercialização e preço definido pela oferta/demanda. É fato que alguns segmentos têm feito esforços exitosos para criar marcas diferenciadas de carne no mercado interno (hoje esse nicho corresponde a 1% do abate nacional), mas também é fato que o País produz uma commodity chamada carne. E não há demérito algum nisso. A ressalva está no item “obedecendo a padrões”. É aí que a coisa pega. No Brasil, um boi é abatido sem penalizações pela indústria nacional quando fornece 240-360 kg de carcaça, apresenta gordura de escassa a abundante e até 48 meses de idade. Como o leitor pode observar, trata-se de uma faixa muito ampla, o que, obviamente, torna nossa “commodity” boi vivo muito heterogênea. A triagem dos animais abatidos e a padronização dos cortes obtidos fica a cargo da indústria. Bom, então, tudo certo, já que, ao final do processo, temos um padrão. Não, porque isso desestimula a evolução do setor. Por exemplo, o percentual de animais abatidos tardiamente (mais de 24 meses) no País é de 91,5%. Um grande frigorífico nacional me informou que, entre 2015 e 2016, 34% dos machos foram para o gancho com mais de 42 meses. Ou seja, há pouca margem para valorização do produto e, pior, baixíssimo retorno financeiro para quem produz neste modelo.
Novilhas até 24
meses
87,5%
12,5%
83,5%
16,5%
87,5%
12,5%
83,0%
17,0%
2011
88,3%
11,7%
83,6%
16,4%
2012
89,2%
10,8%
81,3%
18,7%
2013
90,1%
9,9%
78,7%
21,3%
31
2014
89,8%
10,2%
77,8%
22,2%
2015
90,4%
9,6%
78,2%
21,8%
2016
91,4%
8,6%
77,8%
22,2%
2017
91,9%
8,1%
77,8%
22,2%
2018*
91,5%
8,5%
76,9%
23,1%
Como é a carne commodity no mundo* produtores
Abate anual (em milhões de cab)
Brasil 1
42
Confinamento (em milhões de cab) 4,6
%
do peso final vindo do confinamento**
México 2
6,8
4
45
Argentina 3
12,5
3,7
49
África do Sul 4
3,2
1,75
49
Adaptado de : 1 – ABIEC 2017, 2 – Sagarpa 2014, 3 – IPCVA/CAF, 4 - DAF. * USA e Austrália não constam da tabela porque possuem sistema de tipificação, com pagamento diferenciado. ** Peso/cab
34 DBO setembro 2018
Perfil do abate brasileiro, por sexo e idade Vaca acima de 24 meses
Commodity com padrão Em um mundo onde outros segmentos do setor de proteína animal entregam produtos consistentes, aten-
Principais
tos aos desejos do consumidor, e cujas práticas de produção alcançam os limites da perfeição, o setor pecuário brasileiro ainda tem de lidar com questões básicas como a eterna discussão setorial: “produzo o que me pagam” (pecuaristas) versus “pago o que recebo” (frigoríficos). Assim todos perdemos. Em outros países, a “construção” de uma commodity capaz de atender bem às demandas dos mercados/consumidores ocorreu quase que naturalmente, devido a limitações climáticas e extensão territorial. Nesses países, com raras exceções, pasto é lugar de vaca/bezerro, a recria dura poucos meses (quando existe) e a terminação é intensiva. Cerca de 30% a 59% dos animais abatidos são engordados com cereais/grãos e 45%-49% do peso do animal vem do confinamento. No Brasil, apenas 11% dos animais abatidos vão ao cocho e 1/3 do seu peso final vem desse sistema (veja tabela abaixo). Óbvio que esses países passaram a usar grãos forçados pela limitação de recursos naturais (água e pastos), mas produzem commodity, porém padronizada e de qualidade (animais com menos de 18 meses). No Brasil, os recursos que lá faltam, aqui abundam, mas estamos de fato fazendo bom uso deles? O Boi 7-77, modelo de produção proposto pela APTA-Colina, demonstra claramente a viabilidade econômica de um sistema de 21@ aos 24/26 meses, mas, no geral, estamos utilizando bem nossos recursos, valorizando os ativos da propriedade e educando novas gerações para gerar riquezas? Gosto de acreditar que chegaremos lá e que estamos nos mobilizando para isso. Completo, em 2019, 30 anos de formado. Vi e tomei parte de várias mudanças no modelo de produção de bovinos de corte. Nosso modelo segue em construção. Quanto antes chegarmos lá, melhor! n
Boi acima de 24
Novilhos até 24
meses
2009 2010
fonte: Athenagro, dados
IBGE. * Janeiro a Março
meses
Cadeia em Pauta JBS lança novo canal para compra de gado O quadro Conexão JBS, exibido diariamente no programa de TV Balcão do Boi (que começa às 8h no Canal Rural), é a nova ferramenta da companhia para estreitar o relacionamento comercial com os pecuaristas. Nele, são apresentadas janelas de oportunidade para compra de gado em datas futuras nas unidades habilitadas dentro do protocolo 1953, que tem potencial de bonificação de até R$ 13 por arroba. Eduardo Pedroso, diretor executivo de originação da JBS, afirma que ao saber com antecedência o planejamento de compras do frigorífico, o produtor localizado em um raio de 300 km da planta, pode direcionar sua produção
para o protocolo, tendo maior chance de fechar negócio com maior premiação. A poucas semanas no ar, o Conexão JBS já agilizou uma série de contratos, e também tem orientado os pecuaristas sobre quais cruzamentos genéticos mais adequados ao Protocolo 1953.
Marfrig vende Keystone e tem surpresa com a National Beef Com a assinatura de Marcos Molina, acionista controlador da Marfrig, foi concluída a venda da processadora de carnes Keystone à Tyson Foods por US$ 2,5 bilhões. Adquirida por US$ 1,26 bilhão em 2010, a Keystone era avaliada pelo mercado em US$ 3 bilhões. O acordo de venda envolveu os negócios da empresa na Ásia e Estados Unidos, com exceção de uma fábrica de hambúrguer em solo americano. Os recursos da venda da Keystone serão usados para reduzir o endividamento da Marfrig, que teve prejuízo líquido de R$ 582 milhões no segundo trimestre, pressionado pela adesão da empresa a um programa de renegociação da dívida do Funrural, que impactou seu balanço em R$ 616 milhões,
segundo a Reuters. A aquisição da National Beef, anunciada em abril, também reverberou no último mês com a divulgação de uma cláusula que obriga a empresa a comprar a preço de mercado, daqui a cinco anos, ações de investidores minoritários do frigorífico americano, que detém 49% da National Beef . Isso desagradou acionistas. Diante da nova situação, eles temem que a relação dívida/Ebitda da Marfrig continue alta, mesmo com a venda da Keystone. Em agosto, a Marfrig recomprou, ainda, unidades de confinamento pertencentes ao casal de acionistas controladores Marcos Molina e Márcia Marçal dos Santos, por R$ 95 milhões.
Minerva estuda abrir IPO no Chile Com a redução do seu endividamento comprometida pela desvalorização do real e um prejuízo de quase R$ 1 bilhão no segundo trimestre de 2018, a Minerva Foods está estudando fazer uma oferta pública inicial de ações (IPO) de suas operações internacionais na bolsa do Chile. Desta forma, a empresa pretende colocar seus ativos fora do Brasil (fábricas na Argentina, Paraguai, Uruguai e Colômbia) sob o guarda-chuva da 36 DBO
setembro 2018
subsidiária chilena Athena Foods. Em bases anuais, o faturamento das operações internacionais da empresa é de cerca de R$ 6 bilhões, 40% da receita total. Edison Ticle, diretor financeiro da Minerva, estima que o IPO da Athena seja realizado até um ano, para ajudar a empresa a acelerar seu processo de desalavancagem e vender uma participação minoritária, de ao menos 25% da Athena, um patrimônio da ordem de R$ 950 milhões.
Expedição técnica
Contrastes no Vale do Araguaia Fotos: Ariosto Mesquita
Rally da pecuária registra desafios e avanços tecnológicos da pecuária de corte em visita a fazendas do oeste goiano e sudeste do Tocantins.
Roteiro 4 - 1020 km, de Goiânia (GO) a Palmas (TO)
Equipe do Roteiro 4 sendo recebida por produtor do Vale do Araguaia
A
Ariosto Mesquita
bate aos 5 anos e aos 18 meses; pasto rapado e capim irrigado; pastagem com 30 anos e área de reforma anual. Estes são alguns dos contrastes da bovinocultura de corte praticada ao longo do Vale do Araguaia, no Brasil Central, e documentados pelo Rally da Pecuária 2018. Essa grande “expedição técnica”, realizada anualmente pelas consultorias Athenagro e Agroconsult, tem por objetivo traçar um perfil da pecuária brasileira por meio de amostragens de campo. Para este ano, foram definidos sete roteiros. DBO acompanhou o de número quatro, que partiu de Goiânia, GO, no dia 31 de julho; percorreu extenso trecho a oeste do Estado (70% da rota), entrou pelo sul do Tocantins e terminou em Palmas, em 4 de agosto, sem ver uma gota de água caindo do céu. A viagem foi realizada em pleno período de seca na região. Em boa parte dela, a estiagem já durava mais de 90 dias. Junto com a equipe do Rally, DBO visitou várias fazendas, a maioria delas escolhida de forma aleatória, ao longo da margem direita do rio Araguaia, que divide GO e MT, onde ainda predomina a pecuária tradicional, sem controle de custos. No município de Faina (209 km da capital, Goiânia), autointitulado “Portal do Vale do Araguaia”, parte do grupo entrou por um desvio na rodovia GO-164 e foi parar na Fazenda de Cima, propriedade do criador Joaquim Pereira Jacó (o “seu” Quinca), de 92 anos, que, mesmo
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A Goiânia, GO
B Araguapaz, GO
C Nova Crixás, GO
D Porangatu, GO
E Gurupi, TO
F Palmas, TO
ressabiado, recebeu a equipe. Enquanto preenchia questionários e acompanhava a coleta de amostras de pasto (base do trabalho a campo do Rally), o pecuarista relatou ter comprado seus 871 ha (484 de pastagens) há 40 anos, onde mantém um rebanho de cria de 600 cabeças. Indagado sobre sua lucratividade por hectare, admitiu: “Não tenho ideia”. Quando o assunto foi calagem, disparou: “Calcário aqui é só Deus!”. Adão de Morais Ramos, capataz e único funcionário da fazenda, explicou como os animais são tratados na seca: “Damos silagem e ração balanceada, comprada pronta. É caro, mas não sei dizer quanto”. O produtor afirma desmamar cerca de 300 bezerros/ano e descarta fêmeas com idades entre 8 e 10 anos. Inseminação artificial ainda não é realidade na fazenda: “Aqui é monta natural, com uma média de 50 vacas para cada touro”. Cauteloso, “seu” Quinca não quer saber de crédito rural: “Não pego dinheiro de banco. Tenho medo de dívida”. Também não pesa seus animais, por falta de balança. “Quando eventualmente compro bezerros, avalio no olho”, explica. Boi sanfona Mais adiante, no município de Araguapaz (263 km de Goiânia), a expedição desembarcou na Fazenda Maria Thereza (1.300 ha de área total) que faz engorda em 860 ha de pasto, divididos em piquetes de 38 ha, em média. O gerente, Reginaldo Francisco
Coleta de amostras de pastagens para análise: uma das tarefas da equipe de técnicos do Rally
Pecuária tradicional do Vale do Araguaia está sofrendo com a estiagem e a baixa tecnologia
Luís, admitiu não conhecer o Rally (que está em sua 8ª edição), mas recebeu e atendeu a equipe com presteza e boa dose de sinceridade: “A terminação aqui só funciona, na prática, de janeiro a abril. No período seco, de maio a outubro, oferecemos um proteinado, mas, mesmo assim, a falta de pasto faz cada animal perder, em média, duas arrobas neste período. No entanto, com a chegada das chuvas, o boi recupera isso até dezembro”. Esse “boi sanfona” explica o fato de a fazenda comercializar muitos animais na faixa das 18@ em idade avançada. “Os mais novos vão para o gancho com idade entre dois e três anos, mas boa parte ainda morre com quatro ou cinco anos de vida. Boi de 18 @ no final das águas tem de ser vendido, senão ele volta para 16@. Aquele que não atinge esse peso acaba ficando na fazenda e chega uma hora que tem de ir para o abate com qualquer peso”, relata. Em 2017, a propriedade terminou cerca de 400 animais. Perguntado se a propriedade já tentou antecipar a idade de abate, Luís foi enfático: “Não compensa. Milho e ração estão muito caros. Não se ganha nada. Essa é a realidade da região. Para jogar concentrado no cocho tem de ter muito dinheiro. E com certeza não dá lucro”. Apesar de não produzir volumoso ou grão para os meses secos e trabalhar ainda com roçada manual, a Fazenda Maria Thereza apresenta infraestrutura razoável para tocar um rebanho médio de 950 cabeças. Possui curral, brete, embarcadouro, balança (pesa cada animal duas vezes ao ano), diversidade de forrageiras (humidícola, andropogon, braquiarão e massai), faz reforma de pastagem (70 ha/ano) e conta com apoio técnico (profissionais de Araguapaz) na área sanitária. Quando fala do período em que a fazenda trabalhava com cria (ainda restam algumas
poucas vacas prenhes), o gerente mostra que é do ramo: “Por aqui, vaca durava até 18 anos, mas isso é ruim para o pecuarista. Quem faz certinho, descarta aquelas que não produzem. Não pegou cria, manda para o gancho”. Mas quando é indagado sobre o custo da arroba produzida na propriedade, Luís se esquiva, com humor: “Isso não pode ser calculado, senão o cara deixa o negócio”. Tecnologia e pé no freio À medida que a “caravana” foi se deslocando rumo ao norte do Vale do Araguaia, começou, porém, a encontrar propriedades mais tecnificadas, a maioria produzindo em alta escala, fazendo integração lavoura-pecuária e confinamento, mesmo em tempos de milho caro. O alto custo do cereal atrapalhou os planos do zootecnista Thiago Amorim, gerente-geral do Kiko´s Ranch, grupo que possui seis fazendas (8.600 ha) e arrenda outros 15.000 ha, visando à engorda de 35.000 cab/ ano. Todo o negócio é de propriedade do empresário Francisco Eroides Quagliato Filho (Kiko), apaixonado pela pecuária norte-americana apesar de ter batizado suas propriedades com nomes de novelas brasileiras. As equipes do Rally passaram pelas Fazendas “Velho Chico” e “Favorita”. Nesta última, de recria/ engorda, em Nova Crixás (378 km de Goiânia), às margens da Rodovia GO-164, o gerente Amorim respondeu ao questionário aplicado pela expedição e avisou que, devido à dificuldade de obter milho, estava reduzindo o número de animais confinados na propriedade de 8.500 para 7.800 bois. “Nossa previsão era comprar milho a R$ 27 e não a R$ 32 o saco ”, informou Amorim à equipe do Rally, em 1º de agosto. Naquele dia, a margem de
Não pego dinheiro de banco; tenho medo de dívida” Joaquim Pereira Jacó, proprietário da Fazenda de Cima, no município de Faina, GO.
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Expedição técnica
Na Fazenda Favorita, da Kiko’s Ranch, em Nova Crixás, GO, cerca de 105 ha são irrigados e usados para recria/engorda.
Não usamos herbicidas nas pastagens da ILP, porque elas duram apenas seis meses” Mateus Benedeti, gestor da Fazenda Tambori, em Nova Crixás, GO.
A equipe do Rally também passou pela Fazenda Tamburi, que faz integração lavoura-pecuária e terminação em confinamento.
lucro da fazenda estava bastante curta, já que o boi gordo valia R$ 137/@ e seu custo era de R$ 129/@, mas a forte estrutura do grupo lhe permitia adotar medidas de contenção sem causar grandes transtornos internos. “O mercado tá feio. Demos uma segurada na reposição em julho. Vamos aguardar o que vai acontecer mais à frente. Só não podemos parar. Temos milhares de bois para engordar e mais de 100 famílias trabalhando para isso no grupo”, observa Amorim. Com 2.100 ha, a Fazenda Favorita reserva 550 ha para o plantio de milho e sorgo para silagem (16.000 t/ano) e faz ILP em outros 500 ha (milho/sorgo para silagem + capim), dos quais 105 são irrigados por pivô central. A propriedade ainda conta com 360 ha de pastagens solteiras rotacionadas, subdivididas em piquetes de 25 ha cada. Como não produz milho-grão, a propriedade depende em 100% de fornecedores de Canarana, Querência e Gaúcha do Norte, no lado mato-grossense do Vale do Araguaia, para atender uma demanda de 62 t de milho/dia (44.895 t/ano). As flutuações de mercado, contudo, parecem não inibir os projetos do Kiko’s Ranch, que planeja intensificar ainda mais a produção na Fazenda Favorita, a partir de 2019. “Estamos ampliando a capacidade estática do confinamento, de 9.000 para 14.000 cabeças e nos preparando para fazer semiconfinamento”, revela Amorim. Os piquetes que margeiam os corredores serão subdivididos em unidades de 10 ha cada e receberão uma linha de cocho. “Assim, os vagões poderão tratar os animais de pasto nas águas, acelerando a engorda”, diz. Lavoura nas águas, pecuária na seca Ainda em Nova Crixás, a equipe conheceu o projeto de ILP da Fazenda Tamburi, de 2.500 ha. A área é ocupada por pastagens durante seis meses (abril a setembro), recebendo animais de recria. Ao final desse período, o capim é dessecado, as cercas são retiradas e o pasto dá lugar à lavoura. Com o fim da colheita,
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geralmente nos últimos dias de março, o capim volta a ocupar a área, iniciando um novo ciclo. Uma das vantagens desse sistema é impedir a disseminação de plantas daninhas. “Não usamos herbicida nas pastagens de ILP, pois elas duram apenas seis meses. Não há roçada e a reforma de pasto aqui é anual”, observa Mateus Benedeti, gestor administrativo da Tamburi Agronegócios e cunhado do proprietário da fazenda, Marcelo Pereira Barreto. Com 53 funcionários, a Tamburi concentra sua terminação em um confinamento que tem capacidade estática para 10.000 cabeças e funciona de maio a dezembro, geralmente com dois giros de engorda. Em 2017, a propriedade terminou 17.000 animais. As instalações contam com uma rede de aspersores para climatização e bem-estar animal. “Nossas médias são de 360 kg na entrada e 540 kg na saída; 1,6 kg de ganho médio diário (GMD) e 57% de rendimento de carcaça”. Para completar, a propriedade vem apostando bastante em parcerias com fazendas vizinhas. Ela planta grãos em terras de terceiros, colhe e entrega a área com capim para o parceiro. Este, por sua vez, tem a permissão de usar tanto os pastos quanto o confinamento da Tamburi. O agrônomo Maurício Palma Nogueira, coordenador do Rally da Pecuária, aplaudiu o modelo de integração da Tamburi e entende que ele pode ser replicado. “Aqui em Goiás, com volume de chuvas bem limitado, essa alternativa é real e pode ser adotada em outras regiões. No Mato Grosso, por exemplo, muitos produtores estão percebendo que o melhor negócio é substituir parte do milho safrinha por boi”. Segundo ele, na integração clássica, que trabalha com intervalos de dois a três anos entre lavoura e pasto, a grande preocupação do pecuarista é com o tempo em que a agricultura ocupa as terras: “Acredito muito mais em um sistema de integração como esse, que garante a produção anual de grãos e de carne. Não gosto da integração feita exclusivamente para reformar pasto. Acho que é pensar pequeno”, diz o consultor. n
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Eventos
Abertura do evento contou com a presença de autoridades de Colina e do secretário da Agricultura de São Paulo, Francisco Jardim.
Beef Day difunde conceito do boi 7-7-7 Evento recebeu 1.275 pessoas para um tour tecnológico voltado à produtividade Maristela Franco
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maristela@revistadbo.com.br
om formato inédito, o 2º Beef Day, realizado dia 15 de agosto, na Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta) de Colina, SP, reuniu público recorde: 1.275 pessoas interessadas em discutir as etapas de produção do Boi 7-7-7. Para o evento, foi montado um palco, em torno do qual as empresas patrocinadoras instalaram tendas de lona dispostas em círculo, onde receberam produtores vindos de várias partes do Brasil, Argentina e Paraguai. A cerimônia de abertura do Beef Day contou com a presença do secretário de Agricultura do Estado de São Paulo, Francisco Jardim; de autoridades municipais e diretores da Apta. Em seguida, os participantes do dia de campo foram convidados a formar grupos e fazer um tour por oito “estações”, onde assistiram palestras de pesquisadores e técnicos de empresas. Os anfitriões do evento – Flávio Dutra de Rezende e Gustavo Resende Siqueira, pesquisadores da Apta
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Colina – reforçaram o conceito do Boi 7-7-7, que foi criado por eles há 7 anos e está revolucionando o setor, ao mostrar ser perfeitamente possível produzir animais mais pesados e precoces (21@ aos 24 meses), conforme divulgou reportagem de capa de DBO, em junho. Flávio Dutra emitiu vários alertas aos produtores que decidirem trilhar esse caminho: “Cuidado ao avaliar resultados, pois quem paga a conta da fazenda é a carcaça, não o peso vivo! Procure não deixar o boi perder o peso que já ganhou, pois seus órgãos internos diminuem e demoram para voltar a trabalhar a favor da engorda! Ter pasto com muita folha é essencial para se tirar maior proveito da ração! Vale a pena cobrir o cocho para evitar desperdício de suplemento! O boi fala por meio das fezes: analise-as, rotineiramente, para ver se ele está indo bem”. Na estação ao lado, Gustavo Siqueira lembrou que o estresse pode “roubar” parte do desempenho do animal. É importante aprimorar o manejo para otimizar resultados, pois a margem da pecuária está estreita. “Para ganhar dinheiro, temos de atentar cada vez mais aos detalhes. Dar um descanso aos animais antes de processá-los para entrar no confinamento, por exemplo, garante melhor ganho no cocho”, ressaltou o pesquisador. Gustavo está iniciando estudos na Apta Colina para avaliar os efeitos do manejo sobre a produção: “Devemos ou não deixar os animais em jejum antes do embarque? O estresse influi na eficiência alimentar durante o confinamento? Cuidado com a prática de ‘castigar’ o boi (deixá-lo sem comida) antes de enviá-lo ao boitel, para enquadrá-los em uma faixa de diária mais barata [bois mais leves, comem menos]. Isso pode causar prejuízos pra você, porque animais estressados engordam pouco e ficam mais tempo em confinamento”, alertou. Desafio da recria Para conseguir 7@ na recria, o maior desafio é fazer o animal engordar após a desmama, que coincide com a seca. Nesse período de 150 dias, segundo Felipe de Almeida Nascimento, doutorando da Unesp-Jaboticabal, o ganho deve ser de pelo menos 300 g/ cab/dia para se atingir a meta de 2@/cab/período. Em seguida, vem o verão (meta de 900 g/cab/dia) e o outono (600 g/cab/dia), para se obter as 5@ restantes. “É necessária atenção, pois o que se faz na seca influi no ganho das águas. Existe uma interação entre as fases”, alertou Nascimento. Um estudo feito na Apta-Colina, comparando diferentes estratégias de suplementação, mostrou que, independentemente do produto fornecido na seca, o ganho nas águas cai muito quando se suplementa os animais apenas com sal mineral. O melhor resultado econômico na recria foi obtido fornecendo-se proteinado no período de estiagem e proteico-energético na proporção de 0,3% a 0,5% do peso vivo na estação chuvosa. “O importante é garantir que o animal tenha ganhos crescentes e estabelecer metas para cada fase, além de estratégias para atingi-las. O produ-
Eventos zem o consumo no confinamento, porque matam bactérias do rúmen. “Monitorem os insumos adquiridos e usem produtos capazes de absorver essas toxinas que roubam seu dinheiro”, pontuou.
Estação sobre suplementação na recria ao lado de lote confinado, que não estranhou a movimentação do dia de campo.
tor precisa planejar a vida inteira do animal e não tomar decisões imediatistas”, ressaltou Nascimento. Segundo ele, o outono é um período crítico na pecuária, porque os dias ficam mais curtos, a chuva diminui e a temperatura começa a cair em algumas regiões, reduzindo tanto a oferta quanto a qualidade do capim e isso puxa o desempenho animal para baixo. “Se o produtor fornecer apenas sal mineral aos bovinos, seu ganho de peso cairá 80% entre o começo e o final do outono (de 600 para 100 g/cab/dia). Os lotes tratados com proteico-energético também apresentam redução, porque o pasto está piorando, mas em menor grau (40%)”, explicou o pesquisador. “Outra vantagem da suplementação de outono é que o gado chega adaptado ao cocho e fica mais manso”, salientou Nascimento, apontando os bois que comiam tranquilamente no confinamento ao lado da tenda, sem se importar com a movimentação de participantes do evento. Enquanto isso, em outra estação próxima, Letícia Custódio, outra doutoranda da Unesp-Jaboticabal, alertava os produtores para os prejuízos causados pelas micotoxinas produzidas por fungos. Elas redu-
O Beef Day foi encerrado com um churrasco, a cargo do mestre parillero Carlos Lopez, da Escola Argentina de Parrileros, trazido ao Brasil pela Connan. Ele assou duas novilhas fornecidas pelo Frigorífico Minerva, usando uma técnica inédita de preparo em grelha suspensa.
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Genética para o Boi 7-7-7 Além da nutrição, o Beef Day abordou questões associadas à genética, tema da palestra da pesquisadora Maria Eugênia Mercadante, do Instituto de Zootecnia de Sertãozinho, SP, que recomendou aos produtores investir em touros melhoradores. “Não é caro, se considerarmos que a genética traz ganhos permanentes para o rebanho, ao contrário de outras ferramentas, que exigem investimento contínuo”, argumentou. Desde 1980, o IZ mantém em suas instalações dois rebanhos: um geneticamente melhorado e um para controle. Ambos são criados nas mesmas condições ambientais, de nutrição e manejo, mas o primeiro tem desempenho muito superior, por causa do melhoramento genético. Segundo Maria Eugênia, a diferença de peso entre os reprodutores dos dois grupos aos 4 anos é de 410 kg. Os bezerros do rebanho selecionado apresentam peso 25% maior à desmama e 80 kg a mais aos 12 meses de idade, chegando cinco meses antes às 16@ e se tornando um boi 7-7-7 aos 23 meses. Na estação seguinte, José Luiz Moraes Vasconcelos (o professor Zequinha), da Unesp-Botucatu, SP, abordou o conceito da prenhez precoce (aos 14 meses), que segue a mesma filosofia do Boi 7-7-7. O objetivo é conferir maior velocidade ao desfrute e, consequentemente, à produção de carne dentro da fazenda. “Evidentemente, quem decide se andará a 30, 100 ou 200 km por hora é o produtor. Se ele quiser ir devagar, não precisará de quase nada. Se quiser andar depressa, precisará de quase todas as tecnologias disponíveis”, salientou Zequinha, acrescentando: “Vaca que emprenha cedo desmama cedo; bezerro que nasce cedo desmama mais pesado; essa é a fórmula mais barata para se conseguir precocidade, pois a bezerra do cedo chega mais fácil e com menos comida à condição corporal para IATF aos 13-14 meses, antecipando em um ano sua vida reprodutiva”. Zequinha perguntou ainda aos presentes: “Qual é o seguro da atividade de cria?”. Sem aguardar resposta, disparou: “Bom escore corporal, gente”. “A vaca”, explicou ele, “tem de parir gorda, porque, mesmo que ela perca peso, vai ficar com escore 3, adequado para emprenhar. Se parir magra, o produtor não vai conseguir fazê-la atingir essa condição”. Outro detalhe importante destacado por Zequinha: vacas boas emagrecem durante a fase de aleitamento e podem não emprenhar, por falta de suplementação, levando o produtor a descartar, indevidamente, as melhores matrizes do plantel. “O descarte precisa ser voluntário (abate das fêmeas ruins) e não involuntário (abate das vazias)”, frisou. n
ESPECIAL Genética e Reprodução Depois de virar sinônimo da inseminação de fêmeas Nelore com genética Angus, o cruzamento industrial volta a valorizar as novilhas F1 para a produção de tricruzados com mais sangue Angus ou de outro taurino, com foco na qualidade. Confira também no Especial
• A tabela inédita de
‘frame’ para a raça Nelore A bem-vinda parceria de programas de melhoramento para compartilhar bancos de genótipos e fenótipos Um alerta sobre o cuidado na escolha de touros para inseminar precocinhas e preservar habilidade maternal Como melhorar os índices reprodutivos apurando melhor os casos de doenças como IBR, BVD e leptospirose Edição gênica pode ajudar a produzir animais sob medida Um ‘diu’ para evitar prenhez em vacas de descarte.
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ESPECIAL
Genética e Reprodução
A nova “onda” do cruzamento industrial Manutenção de fêmeas F1 no rebanho e tricruzados com mais sangue europeu marca movimento que tem por meta produzir mais carne de qualidade.
À esq., tricruzados Nelore/Angus/Senepol da Fazenda Vaca Branca, do MS; á dir., tricurzados com sangue Caracu, do Projeto Taurino Tropical, do MT; e acima, novilhas Nelore/Angus/Brangus, da VPJ, de SP. Todos exemplos da nova “onda”.
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Moacir José
Carcaças de animais Nelore/Angus/ Limousin destinadas à marca 1953, da JBS.
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evagarinho, sem muito alarde, avança a “terceira grande onda” do cruzamento industrial na pecuária brasileira. Apesar do histórico conturbado, essa ferramenta foi posta a serviço da produtividade nas últimas duas décadas; assumiu caráter bem mais profissional, ao se alinhar às demandas de mercado, e agora enfrenta um grande desafio: experimentar novas possibilidades produtivas, utilizando fêmeas F1, em sua maioria Nelore/Angus. Até pouco tempo, o destino dessas matrizes era o gancho do frigorífico, porque não se queria complicar o manejo, mas, gradativamente, foi-se descobrindo as vantagens de manter as F1 na fazenda. Por duas razões. Primeira: após a primeira cria, já bem desenvolvidas, elas podem ser engordadas e fornecer carcaças de maior valor agregado. Segunda: aproveita-se sua habilidade materna para desmamar bezerros mais pesados e, de preferência, com maior percentual de sangue europeu, para produzir carne premium, que tem demanda crescente. A “terceira onda” do cruzamento industrial no Brasil chegou primeiro nos Estados pecuários do Centro-Oeste, mas já avança também para o Norte e Sudeste. Não se trata do retorno aos “multicruzamentos” dos anos 80 e 90, quando muitos produtores misturavam quaisquer raças em busca de uma “heterose mágica”, sem verificar se eram complementares ou adequadas a seu sistema de produção. Hoje, os projetos se guiam pelo mercado e contam com apoio dos frigoríficos. Quem surfa bem na nova “onda” tem foco. Os que não têm levam grandes tombos, como no passado. A força que agora impulsiona o cruzamento industrial é o valor agregado. O tema voltou a frequentar eventos, tanto nas palestras quanto nos coffee breaks. Discute-se como aproveitar a habilidade materna das fêmeas F1 – sejam elas ½ sangue Angus/Nelore ou não – para produzir qualidade. Há várias propostas em debate no setor, que cabe ao pecuarista analisar, sempre atento à realidade de sua fazenda e do mercado. Primeira onda: “viva a heterose” A primeira grande onda do cruzamento industrial teve seu ápice na década de 90 e meados dos anos 2000, quando touros e sêmen de várias raças taurinas foram usadas em matrizes zebuínas, principalmente Nelore, conforme registrou DBO à época. Algumas, inclusive, desembarcaram em solo brasileiro nesse período. O objetivo principal dos produtores, que se encantavam com o vigor híbrido dos cruzados, era produzir os chamados “novilhos precoces”. Associava-se precocidade com qualquer tipo de “choque sanguíneo”, incluindo de Nelore com raças leiteiras, e os problemas pipocaram por todo lado: baixa resistência dos cruzados ao calor e ao carrapato, dificuldade dos touros europeus de cobrir a vacada nas condições do Brasil Central e, principalmente, despadronização das carcaças e falta de acabamento de gordura. Em 2002, os frigoríficos começaram a penalizar os produtos de qualidade inferior que chegavam às plantas de abate e o cruzamento industrial entrou em crise. As vendas de sêmen de raças europeias despencaram e muitos projetos foram abandonados. “Vendeu-se a ideia de que o animal nascido desses cru-
zamentos teria o mesmo comportamento dos zebuínos, com a vantagem da precocidade. Mas faltou orientação sobre a nutrição”, diz Luciano Andrade, especialista em nichos de mercado da Minerva Foods. Essa também é a visão do consultor Antônio Carlos Silveira, ex-professor da Unesp de Botucatu, e, à época, um dos grandes defensores do cruzamento industrial. “O principal erro foi achar que o cruzado era igual ao zebu, que podia ser terminado a pasto, com uma nutrição malfeita, sem grãos. E, na monta natural, não havia zelo pelo bem-estar”, diz Silveira, lembrando, ainda, a busca pela “raça milagrosa”, que levou à experimentação desenfreada. Segundo Fábio Dias, diretor de relacionamento com pecuaristas da JBS, que também acompanhou de perto esse movimento, “o pecuarista somente tinha uma preocupação na cabeça: peso. Depois, percebeu que, para terminar os animais cruzados, precisava abatê-los com 3-4@ a mais do que os Nelore.” Segunda onda: IATF e Angus As restrições impostas ao cruzamento com raças europeias pela dificuldade dos touros de cobrir a campo foram suprimidas 10 anos mais tarde, com o advento de uma nova técnica: a IATF (inseminação artificial em tempo fixo), que eliminou a observação de cio, facilitou o manejo e “massificou” a genética melhoradora. Começava, assim, a segunda onda do cruzamento industrial, que permitiu o uso em larga escala, principalmente da britânica Angus, cujas vendas de sêmen foram crescendo a cada ano, devido às características de precocidade da raça e demandas do mercado de carne premium. Todos os produtos nascidos (machos e fêmeas) eram abatidos, seja porque o produtor obtinha bom preço pelas novilhas, seja porque não sabia que genética colocar na F1. O crescimento e profissionalização do cruzamento foi respaldado por novas técnicas de suplementação a pasto e terminação em confinamento, que também contribuíram, de forma decisiva, para a resolução dos problemas de acabamento de carcaças dos animais mais jovens.
O principal erro foi achar que o cruzado era igual ao Nelore” Antônio Carlos Silveira, consultor
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ESPECIAL
Genética e Reprodução boutiques de carne, food service e também supermercados. Foi com base nesse protocolo, aliás, que a JBS lançou a linha 1953, que paga bonificação diferenciada aos produtores (veja matéria a respeito na DBO de abril).
Nutrição adequada na terminação, requisito agora atendido.
A segunda onda coincidiu com a consolidação do Brasil como maior exportador de carne bovina do mundo. De 10 anos para cá, contudo, o País precisou enfrentar o desafio de produzir não somente quantidade, mas qualidade. Na terceira onda de cruzamentos que se inicia, muitos acreditam que é preciso mudar para um patamar ainda mais alto de produção, ampliando a base de fêmeas F1 no País e nelas jogando mais genética taurina, seja proveniente de raças continentais (muitas quase aniquiladas com a crise do cruzamento, 15 anos atrás), seja de sintéticas ou britânicas. O foco está no atendimento a nichos de mercado, que exigem produção diferenciada ou sob medida, com planejamento prévio. “Todo mundo quer essa carne. Por isso, o produtor tem pressa”, arremata Silveira. Luciano Andrade, da Minerva, afirma que o bezerro tricross é mais valorizado e, na terminação, torna-se uma “máquina de conversão de carne”, fornecendo carcaça de qualidade superior. Fábio Dias, da JBS, confirma que o corte de contrafilé de animais tricruzados (bem produzidos) é muito bom, especialmente o obtido de machos castrados e novilhas. Isso os qualifica a integrar o Protocolo Multiraças da empresa, voltada à produção de carne premium para restaurantes,
Terceira onda: desafio nutricional A questão agora é: que fazer para não repetir os erros do passado, principalmente em termos de acabamento? Convidado frequentemente para palestrar sobre o tema, Alexandre Zadra, supervisor de vendas da central norte-americana Genex, reforça a importância da questão nutricional. “Para produtos de vacas Nelore com raças não totalmente adaptadas (Brangus, Braford, Canchim, Bonsmara), que terão 56% de sangue europeu, criados em regiões mais frias, é preciso dar ração e concentrado. Tem de ter capricho no pós-desmama, suplementá-los até 400 kg de peso vivo e castrar os machos 60-100 dias antes de sua entrada no confinamento”, preconiza. Agora, se a opção for usar uma raça pura europeia, seja ela britânica ou continental, em cima da meio-sangue Nelore/ Angus, o que eleva o grau de sangue europeu para 75%, a recomendação de Zadra é desmamar o bezerro e mandá-lo direto para o confinamento. “São animais muito suscetíveis ao ataque de carrapatos e ao calor; não terão bom desempenho se ficarem no pasto”, assegura. Se o produtor optar pela cobertura natural das F1, Zadra lembra que não se deve colocar touros grandes em lotes de novilhas. “Elas demoram 10-15 dias mais para parir do que a novilha Nelore. Por isso, é fundamental a facilidade de parto”, diz. O tamanho dos touros é também uma das preocupações do zootecnista Cristiano Leal, gerente de gado de corte europeu da central holandesa CRV Lagoa. Segundo ele, os produtores ainda pecam nisso ao definir acasalamentos, principalmente com touros Angus. “Muita gente escolhe o touro top para peso aos 12 meses, de potencial extremo para ganho de peso, simplesmente porque acha que isso é o melhor. Mas não lembram que o bezerro terá de ser alimentado ao pé da vaca, receber suplementação a pasto, para desmamar com 280-300 kg e ir direto para o confinamento. Se não fizer isso, o resultado irá frustrar. Mas a culpa não é da genética, é do manejo dos criadores”, resume. A manutenção das F1 na fazenda por uma
1a Onda do cruzamento Anos 80
1996-1997
2002-2003
Maior contato dos produtores com a técnica, importação de sêmen, embriões e até animais de várias raças europeias. Período de aprendizagem e experimentação, com base apenas na heterose e visando precocidade, sem direcionamento para mercados específicos.
Pico da primeira onda de cruzamentos. Surgimento de alianças mercadológicas e projetos de grande porte com múltiplas raças. A falta de conhecimento sobre nutrição e erros de manejo, contudo, levam à produção de carcaças despadronizadas e sem acabamento.
Frigoríficos começam a penalizar carcaças de baixa qualidade e dão preferência aos animais “brancos” (Nelore). O cruzamento entra em crise, chegando ao “fundo do poço”. As vendas de sêmen das raças europeias caem. Fim da primeira onda em 2004.
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Permanência atrelada à relação de peso Um dos grandes desafios do cruzamento industrial é a manutenção das fëmeas meio-sangue no plantel após a primeira cria, pois o peso adulto desses animais pode se tornar muito elevado, o que resulta em maior consumo e custo de produção. Para Alexandre Zadra, da Genex, uma maneira de contornar o problema é observar a relação kg de bezerro desmamado/kg de vaca, que não deve ser inferior a 40%. Por exemplo, se a vaca tem 550 kg, seu bezerro precisa pesar no mínimo 220 kg. “Normalmente, a meio-sangue aumenta de peso até a terceira parição; depois, se estabiliza. Mas, se essa proporção vaca/bezerro ficar abaixo de 40%, ela se torna antieconômica”, diz o técnico.
Não adianta o bezerro desmamar pesado, se a vaca pesar quase três vezes o peso dele.
ou mais estações de monta também deve ser decidida com base em critérios econômicos (veja dicas de Alexandre Zadra no quadro da página ao lado). Escolha orientada Ter objetivos claros é essencial para obter bons resultados nessa nova onda de cruzamentos. Cristiano Leal e Fábio Dias lembram que, antes de escolher touros e efetuar cruzamentos, o pecuarista precisa olhar para sua própria fazenda, seu sistema de produção e sua região.”O sistema de produção vem primeiro; se a região da fazenda tem boa oferta de grãos, de energia, a terminação pode ser em confinamento; aí, a coisa pode funcionar bem para raças europeias continentais, como Charolês, Limousin, Simental, que têm velocidade de ganho de peso, mas são um pouco mais tardias em acabamento. É o caso do Mato Grosso, onde o pessoal pode jogar essas raças em cima da meio-sangue Angus. Quanto mais energia, maior pode ser o frame. E para cada frame, há um sistema de produção mais adequado”, preconiza o diretor da JBS. Já no Mato Grosso do Sul, onde há menor oferta de grãos, é preferível trabalhar com raças mais compactas, britânicas, para manter os animais a pasto e terminá-los com menos grãos. Neste caso, a melhor opção seria produzir tricruzados
com genética Brangus, Braford, Senepol e Bonsmara em cima da meio-sangue. Para Fábio Dias, a F1 ser Nelore/Angus não é uma condição, mas uma possibilidade. Segundo ele, nada impede que o criador tenha uma meio-sangue de raça europeia continental, por exemplo, sobre a qual joga genética Angus. “O importante é trabalhar com animais jovens (0 a 2 dentes), machos castrados ou fêmeas, e colocar gordura mediana na carcaça [3 a 6 mm de cobertura]”, preconiza. Luciano Andrade, do Minerva, concorda com Dias. “Esse tricruzado de Angus sobre vaca meio-sangue de uma raça continental com Nelore é um animal com excelente velocidade de crescimento e ganho de peso, que pode apresentar acabamento rápido, se tiver um frame de médio para baixo. Se o frame for muito grande, o tricruzado não termina, mesmo com peso de 21-22@”, alerta. Quanto à idade e à condição sexual, Andrade reforça que, se o animal entregue for inteiro, tem de ser jovem (0 a 2 dentes, na faixa de 18 a 20 meses). “Nossos principais compradores do mercado externo não querem carne de animais de 36 meses, inteiros; a restrição é grande e há muita desclassificação”, avisa. Outra restrição, no caso da JBS, vem da nutrição: a ração não pode conter caroço de algodão, que, em níveis elevados, altera o sabor da carne
2ª Onda
Não se pode colocar touros grandes em novilhas F1” Alexandre Zadra supervisor de vendas da Genex
3ª Onda
2004-2005
2014-2015
2017-2018
O cruzamento é retomado gradativamente, com apoio da IATF, que chega ao campo nessa época. Os produtores usam majoritariamente genética Angus, abatem machos e fêmeas e visam o mercado de carne premium. Tem início a segunda onda do cruzamento.
Angus supera o Nelore em venda de sêmen, projetos se tornam cada vez mais profissionalizados, terminação dos cruzados passa a ser feita em grande parte em confinamento e cresce a base de fêmeas F1 Nelore/Angus no País.
Terceira onda de cruzamentos, usando as F1 para elevar a régua da carne de qualidade e aproveitar melhor as carcaças das fêmeas cruzadas. JBS lança protocolo multirraças e projetos voltados ao mercado premium buscam marmoreio com mais sangue Angus.
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ESPECIAL
Genética e Reprodução
Fechado no sangue Angus entrando no confinamento com 11 meses e 380 kg. O primeiro lote de 700 novilhas tricruzadas (20 meses) foi realizado em agosto e as carcaças processadas na planta de desossa da VPJ, em Pirassununga, região leste de São Paulo. Amostras da carne obtida estão sendo avaliadas para características como maciez e marmoreio. Mas testes anteriores, elas deram ao empresário uma certeza: quanto mais sangue Angus o animal tem, melhor carne ele produz. Segundo Poliselli, a diferença de peso e o maior percentual de animais com bom nível de marmoreio na carne explicam a opção pelo incremento de genética Angus em seu sistema. Ele constatou que apenas 20% das fêmeas F1 de 16 meses, com 18@, apresentam marmoreio equivalente à classificação Prime norte-americana (de maior bonificação), enquanto, nas tricruzadas Brangus/Angus/Nelore, com 16 meses e 19@, essa proporção foi de 30%.
Fêmeas Nelore/Angus/Brangus da VPJ são destinadas a mercados ainda mais exigentes em qualidade
A
É carne para exportação; a que o mundo quer” Valdomiro Poliselli, dono da grife VPJ
inda que caibam diversas raças no pacote tecnológico do cruzamento industrial, muitos produtores estão apostando 100% das “fichas” na britânica Angus, que tem posição garantida no mercado de carne premium. A associação de criadores da raça, inclusive, está fazendo uma campanha pelo melhor aproveitamento das fêmeas F1, seja voltando com Angus nessa fêmea; seja usando um “parente próximo”, o Brangus; seja projetando cruzamento futuro com Ultrablack, raça recém-introduzida no País. A ideia é produzir, no Brasil Central, um tricross com maior percentual de sangue Angus, para atender mercados mais exigentes em qualidade. Quem optou por esse caminho foi o pecuarista Valdomiro Poliselli Júnior, detentor da grife VPJ de carnes especiais, que possui seis lojas no Estado de São Paulo (Jaguariúna, Campinas, Vinhedo, Alphaville, Pirassununga e Ribeirão Preto e uma no Paraná (Curitiba). Ele fazia somente cruzamento terminal, em sua propriedade, no município de Nova Crixás, GO, mas de dois anos para cá vem retendo as F1 para inseminação com Brangus (apenas um protocolo de IATF), com repasse feito por touros da mesma raça. Os bezerros, machos e fêmeas, que pesam, na desmama (8 meses), 250 kg ou mais, vão direto para o confinamento; os que pesam menos do que isso seguem para uma recria curta, a pasto, de 100 dias,
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Investimento em Ultrablack A partir de 2019, a VPJ também pretende usar genética Ultrablack (raça norte-americana que apresenta até 85% de sangue Angus) na vacada meio-sangue, com expectativa de que 50% dos produtos (com 64% de sangue Angus, mesma idade e peso médio de 21@), alcancem padrão Prime. “É carne para exportação; a carne que o mundo escolheu como a melhor”, garante Poliselli, citando como exemplo países como EUA, Canadá, Argentina e Austrália, justamente nossos maiores concorrentes no mercado internacional. Para ele, a raça britânica se sobressaiu, com consistência, no grande leque de opções disponíveis na pecuária brasileira dos últimos 30 anos. “Já se fez de tudo. Mas, na hora de ‘apertar o nó’ [da qualidade], tem que ser o Angus”, diz o empresário, deixando claro que é contra o uso de outras raças em cima da meio-sangue Angus/Nelore. Um dos motivos por ele apontado é a manutenção do bônus pago pela carcaça de animais dentro do Programa Carne Angus Certificada, benefício adicional para quem entrega animais com pelo menos 50% de sangue da raça. “Estamos orientando nossos parceiros fornecedores a fazer o cruzamento de Angus ou Brangus em cima da meio-sangue, para que aproveitem as vantagens que essas fêmeas oferecem”, diz ele. Segundo a Associação Brasileira de Angus, o País teria um contingente de 2 milhões de animais nessa condição. De sua parte, a VPJ paga pelas fêmeas em conformidade com o programa arroba de boi mais 7%, enquanto, para os machos (castrados), arroba de boi mais 5%. Com relação à dificuldade de se criar animais com grau de sangue muito elevado, como é o caso dos pro-
ESPECIAL
Genética e Reprodução dutos que serão gerados pelo Ultrablack, ou por um 3/4 Angus, Poliselli admite que não é qualquer região do Brasil que tem condições de sucesso nessa empreitada. Ele, que possui fazenda em Mococa, região leste de SP, com
Senepol em 1/2 sangue Angus obtém “farol verde” da JBS
Bezerras tricross da Fazenda Dois Irmãos, no MS: precocidade.
O Lucas Miglioli optou por usar touros a campo para manter taxa de prenhez elevada.
utra propriedade do Brasil Central que optou por uma terceira raça para o cruzamento industrial foi a Fazenda Gruta Azul, de Dois Irmãos do Buriti, região central do Mato Grosso do Sul, a apenas 60 km da capital Campo Grande. Ali Lucas Miglioli, gerente geral da fazenda, que pertence ao sogro, Norberto Leite, termina novilhos tricruzados da sintética Senepol sobre vacada 1/2 sangue Angus x Nelore. No ano passado, foram 300 cabeças (180 machos, inteiros, e 120 fêmeas), com 20-22 meses de idade e peso médio de 20@ para os machos e 16@ para as fêmeas, com rendimento de carcaça variando de 54% a 55%. Os animais são terminados em confinamento por 10010 dias, com silagem de capim mombaça, mais milho grão e farelo de soja, tendo recebido, na recria, suplementação concentrada na proporção de 1% do peso vivo. “Temos conseguido classificar os animais como ‘desejáveis’, no Programa Farol da Qualidade da JBS”, diz ele, referindo-se a machos inteiros com até seis dentes definitivos, pesando de 16 a 23@ e com cobertura de gordura entre mediana e uniforme. Miglioli conta que a família trabalha desde 2006 com cruzamento industrial, inicialmente fazendo apenas cria, primeiro com sêmen de touros Red Angus em vacas
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um rebanho de 500 cabeças de Angus, arrisca dizer que, da metade sul dos Estados de Mato Grosso do Sul e Goiás, “ainda dá”, mas considera difícil, por exemplo, para quem está no Mato Grosso.
Nelore, depois Angus preto, em duas fazendas de Corumbá, no Pantanal sul-mato-grossense.Os bezerros eram vendidos à desmama, com média de 230 kg. Senepol em monta natural Mesmo obtendo bom preço por esses produtos (R$ 1.300, no caso dos machos, e R$ 1.000, no caso das fêmeas), os Miglioli decidiram partir para o ciclo completo, em 2015, e optaram por manter as F1 Angus/Nelore na fazenda, por serem mais precoces (emprenham entre 12 e 15 meses, com peso entre 290 e 350 kg, em estação de monta que vai de outubro a dezembro ou de novembro a janeiro, dependendo do clima). O uso de touros Senepol na cobertura natural (30 reprodutores, atualmente, para servir 800 novilhas meio-sangue) deve-se a alguns fatores: “Praticidade de manejo, pois o touro dessa raça cobre bem a campo e é resistente, por ser um taurino rústico; as fêmeas têm facilidade de parto, com produtos que nascem pequenos [25 kg] e depois ganham peso rapidamente [os machos desmamam com 215 kg e as fêmeas, com 207 kg]”, enumera Lucas Miglioli. Ele conta que deixou de fazer inseminação porque as novilhas meio-sangue Angus “davam mais trabalho” para inseminar, apresentando menor taxa de prenhez. Com touros, o índice hoje é de 87%. Com relação ao manejo alimentar e reprodutivo dessas fêmeas, são suplementadas com proteinado de baixo consumo, na base de 1% do seu peso vivo, o que corresponde a 2-3 kg por dia. Isso para que tenham um bom escore corporal (entre 3 e 4) na entrada da estação reprodutiva. As que não emprenham são descartadas para engorda. As que emprenham têm no máximo duas crias. A partir desta estação de monta, a Gruta Azul vai utilizar as 1/2 sangue mais eradas para transferência de embriões de Senepol, uma forma de reproduzir a genética da raça sintética e economizar na compra de touros. Outros projetos estão direcionando tricruzados para o selo 1953 da JBS. Em Diamantino, MT, clientes do Projeto Taurino Tropical, conduzido pelo criador José Neves Ferreira, que seleciona Caracu, estão colocando touros dessa raça taurina adaptada ao clima brasileiro em novilhas ½ sangue Nelore/Angus. Segundo Eduardo Pedroso, diretor de originação da JBS, os produtos fornecem carcaças de excelente qualidade. Já a Fazenda Vaca Branca, em Naviraí, pertencente aos irmãos Neto e Júlio Jacintho, estão usando Angus na vacada F1 Nelore/Bonsmara, e Juliano Cunha, da Fazenda Ouro Verde, em Confresa, MT, optou por colocar genética Limousin em fêmea ½ sangue Angus/Nelore, também com bons resultados, segundo Pedroso.
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Genética e Reprodução
Aposta no Charolês
U
Animais 3/4 Charolês são imbatíveis no cocho” Murilo Pess, produtor em Camapuã, MS
suário da genética europeia continental, com 80 touros Charolês de linhagem norte-americana, o criador Murilo Pess, de Paraíso das Águas, região nordeste do Mato Grosso do Sul, faz cruzamento industrial há 15 anos e já tem Charolês há 20, fazendo gado meio-sangue com vacas Nelore. Testou várias raças para aproveitar a fêmea Charolês/ Nelore, inclusive “todas as zebuínas”; continentais, como o Simental, Limousin, e britânicas, como a Angus. Reconhece que o tricruzado de Angus, abatido jovem, em torno dos 14 meses, apresentou melhor cobertura de gordura, no confronto, por exemplo, com o 3/4 Charolês. “Metade do lote deste último deu cobertura de gordura entre 3 e 4, enquanto no de Angus o percentual subiu para 80%. Mas os 3/4 pesaram quase 19@, 1,5@ a mais do que os Angus”, diz ele, referindo-se a um abate feito em 2015, com machos inteiros (176 dias em confinamento) e fêmeas (150 dias em confinamento). O sistema de terminação foi a engorda a cocho logo após a desmama. “Nesse sistema, o 3/4 Charolês é imbatível no ganho de peso”, diz o criador. Mas, confirmando o que dizem os técnicos, a recria a pasto desses animais seria problema para ele, pois o ataque de carrapatos na região é grande. “Na seca, tem de tratar até da vacada meio-sangue, coisa que não acontece com as Nelore”, diz Pess. Outra confirmação é a questão do insumo caro inviabilizando a terminação em confinamento – algo que também ocorre na região onde está a Fazenda Bela Vista 2, pertencente à família de Pess. Da mesma forma, manter a meio-sangue Charolês/Nelore por muito tempo na fazenda foi um problema, pois, a partir da segunda cria, ela se torna um animal muito pesado (600 kg de peso vivo), o que não somente eleva os custos de manutenção da matriz (relação desfavorável alimento x pro-
Fazenda Bela Vista 2, de Camapuã, MS, já testou tricruzados de Angus (esquerda).
dução de bezerro), mas também reduz seu valor de mercado. “Até 3 anos de idade, ainda consigo vender essa meio-sangue a preço de boi; depois disso, é arroba de vaca. Por isso, o ideal é tirar uma cria dela e mandar para o frigorífico”, avalia, informando que essas fêmeas emprenham em torno dos 14 meses, gerando a primeira cria aos 24 meses. Hoje, a Bela Vista 2 tem 1.350 matrizes meio-sangue Charolês/Nelore, prenhes de três tipos de touros (Charolês puro, 3/4 Charolês/Nelore e Nelore), em cobertura a campo durante a estação de monta realizada entre novembro de 2017 e fevereiro de 2018. Dos 80 touros em serviço, 60 são Charolês, com frame 6 e facilidade de parto constante na prova norte-americana. Como Pess considera que houve um crescimento grande no número de vacas meio-sangue e que terá dificuldade de terminar todos os animais em confinamento, por causa do custo do milho (R$ 32 a saca), a opção, no momento, será vender boa parte das cruzadas e começar o processo de novo.
Bonsmara apurado
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ropriedade pequena, encravada em uma região canavieira, no município de Tietê, SP, a Fazenda Palmeiras, pertencente à família Morganti, optou por não abater as fêmeas Bonsmara/Nelore após a primeira cria, como estão fazendo muitos produtores. Preferiu voltar com a mesma raça nas F1. Hoje tem 170 matrizes, muitas já com 7/8 e 15/16 de sangue Bonsmara, ou seja, são animais praticamente puros. Segundo André Morganti, que cuida da propriedade, o bom manejo alimentar e sanitário, garante bons resultados com esse tipo de cruzamento. Os animais são recriados a pasto e terminados em semiconfinamento. No início de agosto, por exemplo, ele mandou para o frigorífico Cowpig, de Boituva, 40 km distante, um lote de 20 novilhas de dois anos de idade, que foram abatidas com peso de 17,5@ e rendimento de carcaça de 56%. Foram suplementados por 90 dias, com ração à
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base de polpa cítrica, proteinado e núcleo mineral, em pastagens de braquiarão adubado. “Recebemos por elas preço de arroba de boi mais 10%. O padrão da carcaça pode ser comparado, tranquilamente, ao de um animal de 3/4 de sangue Angus, por exemplo”, avalia ele. Segundo Morganti, carrapatos na propriedade existem, mas o controle com quatro a cinco tratamentos anuais tem sido suficiente para impedir que o desempenho dos animais seja afetado. “Nunca tive um caso de babesiose na fazenda”, garante. Perguntado se, agora, voltaria a ter zebuínos na propriedade, para começar o processo de novo, ele diz que não. Informa, por outro lado, que, apesar de não ser um selecionador da raça, já vendeu tourinhos para pecuaristas que os utilizaram em vacada meio-sangue. “Todos gostaram do desempenho deles. Não tive reclamação”, assegura. n
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Genética e Reprodução
Frame size com “jeitinho” brasileiro
fotos arquivo bob sainz
Usada rotineiramente em fazendas norte-americanas, medida é adaptada para o Nelore e se expressa em arrobas de boi gordo.
Bob Sains apresentou proposta de frame para zebuínos, pela primeira vez, no Congresso da ANCP, em maio.
À esq, animal de frame 6 (médio); à dir., frame 7 (grande). A diferença na altura é de 10 cm, para mesma idade e acabamento.
Carolina Rodrigues
E
nfim, surge um frame size para o Nelore. A proposta, discutida durante o Seminário da ANCP (Associação Nacional de Criadores e Pesquisadores) deste ano, em Ribeirão Preto (SP), é fruto de uma longa pesquisa feita por Roberto Sainz, o “Bob”, pesquisador da University of California (Davis/EUA), que realizou, nos últimos 30 anos, uma série de análises de curvas de crescimento da raça, sua composição corporal e eficiência na produção de carne para criar um sistema de classificação por frame inédito no zebu. O modelo foi elaborado com base em informações do banco de dados da ANCP, relativos ao período 2002-2017. A intenção da entidade é criar uma DEP (diferença esperada na progênie) para frame no programa de melhoramento genético do Nelore, até o final de 2019. Parâmetro usado desde o Velho Oeste norte-americano, quando não existiam balanças para pesar os animais no momento da comercialização, o frame size é uma medida feita no posterior do animal – altua do topo da garupa ao solo – que possui estreita relação com o peso adulto, também indicando o momento ideal de abate. No Brasil, entretanto, nunca se mensurou frame em zebuínos, por dois motivos. Primeiro,
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porque não havia um modelo específico para esse tipo de animal (a maioria das escalas foram desenvolvidas para taurinos). Segundo, pelo uso intensivo das avaliações visuais de escore corporal para identificar biótipos mais precoces e produtivos nos programas de melhoramento. Os técnicos responsáveis por essas avaliações também emitem notas para vários quesitos, mas não fazem uso de medidas fenotípicas nas suas análises. Nelas, quem manda é o “olho bem treinado”. “Quando falamos de frame, falamos de dados quantitativos individuais, como peso e altura. São propostas totalmente diferentes, embora os objetivos sejam semelhantes”, diz Sainz, diferenciando o novo método de avaliação. “No frame, podemos prever, quantitativamente, qual o peso ideal de abate de cada animal ou de um lote, em arrobas de boi gordo. Isso foge dos métodos tradicionais de avaliação visual”, ilustra o pesquisador, que pretente fazer uma releitura do frame size de avaliação e desmitificar a imagem “demodê” que se construiu sobre ele nos últimos anos. Como foi elaborado Introduzido nos Estados Unidos com a Lei Agrícola, ainda em 1946, o frame size faz parte do sistema de classificação de gado comercial do USDA (Departamento de
Altura do posterior
to o produtor nesse tipo de análise”, afirma Raysilso Lôbo, parceiro do pesquisador na nova empreitada.
O que é frame size? É uma medida de porte usada para indicar o tipo do animal e sua relação com o peso adulto, ou o peso na idade de abate. Como medir? A mensuração deve ser feita na altura da garupa do animal, com o auxilio de uma trena dependurada no suporte superior do brete, conforme mostra a figura.
Agricultura dos Estados Unidos) que avalia os animais em três níveis de frame: grande, médio e pequeno. No gado de seleção, a Breef Improvement Federation adota uma escala com nove degraus de frame, onde cada um representa um incremento de 100 libras de peso vivo (45 Kg), com o objetivo de facilitar o uso do sistema para o criador. No Brasil, a escala foi baseada na “moeda” de troca do pecuarista. Varia de 1 a 12, com cada incremento correspondente a uma arroba de carcaça (veja tabela 1). Para elaborar essa escala de frame, Bob Sainz considerou informações fenotípicas, dados de desempenho e características de carcaça, o que lhe permitiu criar equações de regressão de peso, em função do sexo e manejo (efeitos fixos), idade, altura e acabamento (efeitos contínuos). Com esse modelo matemático, ele estabeleceu os pesos adultos associados a cada frame, considerando-se 54% de rendimento e cobertura de gordura de 3-6 mm. “Nosso grande desafio foi traduzir isso tudo isso para o Nelore”, desabafa o pesquisador, que utilizou sua longa experiência com a pecuária norte-americana para estudar os parâmetros que pudessem ser aplicados à realidade brasileira. Ele garante que o frame está diretamente relacionado aos sistemas de produção. Fazendas com ampla oferta de forrageiras e sistema de criação intensiva, por exemplo, permitem uso de vacas maiores (frame 7-9), enquanto sistemas de produção com restrição alimentar podem trabalhar com animais de frame 5, sem necessariamente amargar prejuízo. Veja, na tabela 2, alguns exemplos de correlação da altura da garupa com a classificação. Segundo o pesquisador, para cada sistema de produção, o pecuarista deve buscar o frame ideal, considerando as relações entre tamanho, desempenho e precocidade. “O frame é uma ferramenta que auxilia mui-
Boas respostas Segundo pesquisa realizada pela ANCP, em colaboração com a Embrapa Cerrados e a Universidade Federal de Goiás, por meio do trabalho de doutorado de Nayanny Corrêa Guimarães, co-orientada pelo pesquisador Cláudio Magnabosco e pelo próprio Sainz, a herdabilidade do frame é alta (0,37), ou seja, ele responde bem à seleção. Já as análises genéticas envolvendo características de interesse econômico apontaram correlação positiva do frame com o peso aos 450 dias (abate) e com a idade ao primeiro parto, mas correlação negativa com acabamento. A altura traz consigo uma série de características, desejáveis ou não para o sistema em questão. Sainz observa que animais de frame maior, via de regra, terão maior poder de conversão alimentar, mas também serão mais exigentes. E, por serem grandes, podem apresentar problemas de fertilidade já que mais energia é conduzida para crescimento e menos para a área reprodutiva, comprometendo também a deposição de gordura. Já os animais de porte pequeno (frame baixo), segundo ele, podem causar prejuízos em relação ao desempenho e às arrobas vendidas, embora atinjam mais facilmente acabamento de gordura. O desafio para o pecuarista é encontrar equilíbrio entre porte e precocidade, seja sexual, seja de carcaça. “Frequentemente, vemos machos jovens inteiros chegar sem acabamento no frigorífico e esse erro não se deve apenas a falhas na nutrição, mas à escolha de um touro com frame inadequado para o sistema de produção da fazenda”. A pesquisa de Nayanny também trouxe surpresas: na análise dos dados da ANCP, o Nelore apresentou, em média, frame moderado, entre 6 e 7. “Essa é uma constatação inesperada, já que, durante bom tempo, houve tenTabela 1 – Escala total de Frame Score para o Nelore Frame
Peso da carcaça em @ de boi gordo Machos
Fêmeas
1
10
8
2
11
9
3
12
10
4
13
11
5
14
12
6
15
13
7
16
14
8
17
15
9
18
16
10
19
17
11
20
18
12
21
18
Fonte: ANCP/Embrapa Cerrados/University of California
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Genética e Reprodução
Distribuição da população Nelore por frame
Escala 1-12
Frame ajuda a estimar a idade de abate dos animais
Maioria dos animais Nelore têm frame mediano (6 e 7)
dência no País à seleção de animais Nelore de porte muito grande, por vezes associados às pistas de julgamento e também devido ao fato de os programas valorizarem muito características de crescimento, com pesos padronizados em diferentes idades”. À medida que a pecuária caminha para um ciclo curto de produção, os animais inevitavelmente se tornam precoces e moderados, mais perto do “chão”, como se diz na linguagem do campo. Efeito da precocidade No Grupo Genética Aditiva, de Mato Grosso do Sul, onde 70% dos machos produzem sêmen antes dos 17 meses de idade e 80% das fêmeas emprenham antes dos 14 meses, a experiência revela que a seleção para precocidade sexual baixou o frame do Nelore produzido a cada safra. “Nunca fizemos nenhum tipo de avaliação visual e já conseguimos essa mudança de biotipo na fazenda”, comemora Roberta Gestal de Siqueira, responsável pelo trabalho de melhoramento genético do grupo. William Koury Filho, criador do método de avaliação visual EPMURAS, um dos mais usados no País, garante que a correlação é facilmente compreensível já que o frame pode determinar o pico de desenvolvimento dos indivíduos, Tabela 2 – Relação altura/frame no Nelore Altura (m)
Machos
Fêmeas
1,20
3
4
1,30
5
6
1,40
7
8
1,50
9
10
Fonte: ANCP/Embrapa Cerrados/University of California
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onde se dá a desaceleração do crescimento e início da deposição de gordura subcutânea. “O modelo surge em um momento oportuno da atual seleção do Nelore”, diz. “Se observarmos que vivenciamos uma busca frenética do mercado por animais Top 0,1%, classificados por índices genéticos que contemplam de forma acentuado as medidas de peso, podemos produzir animais exagerados para a realidade dos nossos sistemas de produção. O uso do frame pode contribuir para a escolha do animal mais adaptado a determinado ambiente e realidade”, acrescenta Koury Filho. Para ele, a ferramenta reforça a necessidade de se selecionar bovinos de corte não exclusivamente na balança, mas sim pela composição corporal. “É comum encontrarmos animais de mesmo peso e biotipo totalmente distintos. O pecuarista tem de lembrar que, embora necessária, a balança é uma medida cega”, dispara. Critério interessante, mas não indiscutível, o frame não deve ser olhado de forma isolada, segundo Tiago Carrara, gerente de mercado da Alta Genetics. Isso porque ele se baseia apenas na altura da garupa do animal, deixando de lado outras medidas importantes e complementares na determinação do peso, como comprimento, profundidade e arqueamento de costelas. “Pode ser uma alternativa interessante, mas não deve ser adotada como critério independente, já que temos medidas diretas de peso, precocidade, acabamento e fertilidade, características que impactam mais no sistema de produção e já estão disponíveis na forma de DEPs”. Segundo ele, para quem está pensando em algo terminal (matar machos e fêmeas), olhar somente o frame size pode ser interessante, mas, no caso de criadores que têm escolhido touros nas centrais pelas múltiplas características avaliadas, o frame não deve ser o principal critério de escolha. n
ESPECIAL
Genética e Reprodução
Atenção à habilidade materna Experiência do criatório Nelore Jandaia, no MT, mostra que “cochilo” nesse quesito pode trazer grandes prejuízos aos sistemas de produção de precoces a pasto.
Fazenda Kuluene valoriza a habibilidade materna e agora só usa touros Top 25% para essa característica.
Carolina Rodrigues
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esde que começou a criar Nelore em 1964, o pecuarista William Koury, proprietário da Fazenda Kaluene, em Gaúcha do Norte, no Vale do Araguaia, MT, sempre procurou adequar seu projeto Nelore Jandaia às reais condições da pecuária de corte brasileira, inclusive quando a meta era desafiar fêmeas precocemente. O produtor tem conseguido mais de 50% de prenhez em novilhas de 14 meses, apenas com suplementação proteica a pasto. Nos últimos anos, porém, se deparou com um problema inesperado: perda de desempenho em função de queda na habilidade materna, característica que sempre valorizou muito. Durante a avaliação da safra nascida em 2015/2016, ele constatou diferença de até 23% no peso dos filhos das precocinhas, problema confirmado nos anos seguintes. “Aquilo nos chamou muito a atenção, pois os animais tinham passado pelos mesmos critérios de seleção e manejo a pasto”, lembra o zootecnista William Koury Filho, diretor da BrasilcomZ, empresa responsável pelas avaliações do projeto Nelore Jandaia. Qual seria a causa dessa disparidade? Para surpresa do produtor, a resposta estava no pedigree dos animais. Ele havia usado nas novilhas precoces sêmen de um touro provado, líder de vendas, recomendado pelas centrais para uso em precocinhas e com altíssimo potencial para ganho de peso, mas que mostrou ter baixo potencial genético para transmitir aptidão leiteira. “Só percebemos o problema quando as netas desse touro nasceram. Ele garantiu uma primeira geração espetacular, animais bons e ‘carcaçudos’, mas somente
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expressou sua parte negativa (baixa habilidade materna) na safra seguinte, quando suas filhas paridas tiveram de produzir leite para as crias, que pesaram quase 30 kg a menos aos quatro meses, período no qual o bezerro depende exclusivamente da mãe. Foi uma bomba de efeito retardado”, lamenta o pecuarista, garantindo que a diferença de peso observada na progênie poderia facilmente colocar em “xeque” o projeto de precoces da fazenda. “Se considerarmos que as precocinhas já têm dificuldade durante o aleitamento, pois concebem e parem com pouca idade, a baixa aptidão leiteira pode jogar por terra todo um investimento na seleção para precocidade”, alerta o produtor. “Se aquela fosse nossa média habitual não valeria a pena seguir em frente”. Devido à dimensão do problema, William Koury procurou DBO para fazer um alerta aos colegas produtores: “Cuidado na escolha dos touros para cobertura das precocinhas; verifiquem se eles realmente são capazes de transmitir habilidade materna a suas progênies, senão podem amargar grandes prejuízos”. Para essa característica, é fundamental avaliar as informações dos avôs maternos, prática pouco usual entre os pecuaristas, que costumam observar apenas as informações individuais do reprodutor. Quem manda são os avós Raysildo Lôbo, presidente da Associação Nacional de Criadores e Pesquisadores (ANCP), garante que o problema diagnosticado no plantel Nelore Jandaia é mais comum do que se pensa e deve-se à dificuldade de interpretação da DEP (diferença esperada na progênie) para habilidade
maternal. Trata-se de uma característica complexa, que demora a ser confirmada. Sua transmissão genética somente pode ser verificada quando as filhas do reprodutor estão amamentando suas crias; ou seja, quando ele tem sete-oito anos de idade e já deixou sua marca (positiva ou negativa) no plantel. Segundo o selecionador, uma forma de minimizar riscos é usar a genômica, que aumenta a acurária das DEPs para características tardias ou de difícil mensuração. Quando usou o touro mencionado, contudo, a genômica apenas engatinhava como ferramenta de seleção, com acurácia muito baixa para a característica, o que o levou a errar na escolha. “Hoje, essa tecnologia está muito mais acessível do que no passado, mas ainda restrita aos selecionadores. Penso como ficam os produtores de gado comercial, nas mãos dos quais a corda sempre arrebenta”, observa William Koury. A ANCP fez uma simulação para avaliar quanto a habilidade materna pode “impactar” na receita da fazenda. No estudo, um touro TOP 0,1% para essa característica (DEP 8,15) garantiu a seus netos 10,47 kg/cab a mais aos 210 dias de vida. A conta foi feita considerando-se que 1 kg de DEP materna equivale a 1,3 kg de peso vivo. Considerando-se o valor do bezerro a R$ 6/kg (cotação de março, quando foi elaborada a simulação), chegou-se a um ganho de R$ 62,79/ cab ou R$ 62.790 para cada 1.000 netos (veja tabela). Já o touro com DEP negativa (- 4,44) deu prejuízo na simulação. Seus netos ganharam 3,7 kg a menos, o que significa perda de R$ 34,21/cab ou R$ 34.210 para cada 1.000 netos. No criatório Nelore Jandaia, que produz cerca de 800 animais por ano e usou o touro negativo por quatro safras seguidas, o prejuízo está sendo mensurado, pois não se limita ao peso à desmama. Como o ciclo reprodutivo das fêmeas precoces é curto, o impacto econômico do uso de touros com baixa habilidade materna é bem maior. “Em sistemas de produção como o da Jandaia é fundamental que as precocinhas sejam boas de leite. Nos plantéis que fazem esse tipo de desafio, o cuidado na escolha do reprodutor deve ser redobrado”, diz Raysildo. Boia pode maquiar problema Nem sempre o produtor percebe que está usando um touro com baixo potencial para transmitir aptidão leiteira a suas filhas. William Koury conseguiu detectar o problema (que teve origem cinco anos atrás) por dois motivos. Primeiro: a propriedade tem gestão de dados. Segundo: a criação a pasto possibilita avaliar mais facilmente a contribuição da mãe. Na Fazenda Kuluene, os bezerros(as) recebem
Habilidade materna faz total diferença no peso dos bezerros durante os primeiros quatro meses de vida
apenas suplementação proteica a partir da desmama, na proporção de 0,1% do peso vivo, para evitar perda de peso durante a seca. Nas águas, as fêmeas, que precisam atingir peso mínimo de 300 kg para concepção aos 14 meses, são mantidas em bons pastos, consumindo o equivalente a 0,5% do peso vivo de mistura proteico-energética, pois precisam ganhar uma média de 430 g/cab/dia. Esse sistema é classificado pelas empresas de reprodução com regime alimentar 1, ou seja, pasto mais suplementação moderada. O regime 2 já se aproximaria mais de um semiconfinamento e o 3 do confinamento. Segundo Claudiney Martins, da Fertiliza Consultoria em Reprodução Animal, hoje, a maioria das propriedades que desafiam fêmeas precoces fazem uso de creep feeding ou suplementam mais pesadamente as fêmeas, na ordem de 1% a 2% do peso vivo do animal (regime alimentares 2 ou 3). “Essa é uma decisão particular de cada criatório, que deve optar pelo sistema de produção e os custos que melhor lhe cabem. Evidentemente, a expressão da precocidade sexual depende de uma boa alimentação. Se sofrer restrições nutricionais, o animal demora a ciclar, mas, quando o pecuarista capricha demais na boia, alguns fatores genéticos também podem ser maquiados. A habilidade materna é uma delas”, diz o técnico. O problema tende a ficar “escondido” nessas fazendas, mas aparece nas propriedades usuárias de sua genética, onde o ambiente muitas vezes se revela mais exigente. Medida preventiva O consultor observa que tão importante quanto a reconcepção é fazer com que as precoces entreguem um bezerro
Observem as informações dos avôs maternos dos touros para produção de leite antes de usá-los”
William Koury, proprietário da Fazenda Kuluene, em Gaúcha do Norte, MT.
Comparativo do impacto econômico de touros com diferentes avaliações genéticas Média de Peso aos 210 dias (em Kg) ACC**
TOP***
Equivalente MP210 (KG)
Retorno R$/
DEP* 8,15
51
0.1%
10,47
Touro 2
4,00
55
5%
Touro 3
-4,44
86
100%
Touro Touro 1
Nº de netos
Retorno Total (R$)
62,79
1.000
62.790
5,14
30,82
1.000
30.820
-5,70
34,21
1.000
-34.210
neto
* Diferença Esperada na Média das Progênies **Acurácia ***Índice de avaliação no Programa Nelore Brasil. Fonte: ANCP/Adaptação: DBO.
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ESPECIAL
Genética e Reprodução
Boia demais pode maquiar falta de habilidade materna”
Claudiney Martins, da Fertiliza Consultoria
similar ao das primíparas comuns. “Não adianta obter mais um bezerro por matriz, se ele não tiver qualidade”, salienta Martins. Na safra 2014/2015 da Fazenda Kuluene, as bezerras das precocinhas apresentaram, em média, 110,7 kg aos quatro meses, ante 119,5 kg das filhas das primíparas comuns, que pariram com três anos. Uma diferença de 8,8 kg/ cabeça. “Essas bezerras teriam de ser desmamadas com 220 Kg para chegar com 300 kg no início da estação de monta. Isso dá uma ideia da importância do peso aos 120 dias e, consequentemente da produção de leite da vaca, para um sistema de produção precoce a pasto”, diz o técnico. Para evitar novos transtornos e corrigir definitivamente o problema, o projeto Nelore Jandaia mudou seu critério de seleção. Somente está usando, na reprodução, touros no mínimo Top 25% em habilidade materna, confirmada pelo pedigree dos avós maternos. “Esse parâmetro permite que tenhamos fêmeas boas de leite, sem prejudicar outras características importantes”, diz William Koury, acrescentando que reprodutores positivos em aptidão leiteira contribuem significativamente para a lucratividade do rebanho. Nas avaliações de desmama da última safra, bezerros das matrizes superprecoces TOP 10% para peso aos 120 dias apresentaram 25 kg a mais do que as crias das fêmeas com
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percentil abaixo disso. “Se considerarmos o preço médio de R$ 6 por quilo de bezerro, são R$ 150/cab a mais na conta”, observa Koury. “Temos de produzir uma genética rentável para o produtor. Precocidade à base de ração é adquirida, não necessariamente transmida”, alerta. Para estimar melhor esses efeitos, a Jandaia e a ANCP iniciarão, ainda no mês de setembro, um novo estudo que permitirá isolar os fatores genéticos para estimar melhor as correlações efeito-ambiente, em um trabalho que será realizado com fêmeas precoces suplementadas a campo, em comparação com outras recriadas em confinamento. O trabalho contará com apoio de Pietro Baruselli, do Departamento de Reprodução Bovina da Universidade de São Paulo (USP), que trabalhará junto com a Fertiliza, para estudar fatores adicionais relacionados à concepção das novilhas, como tamanho do folículo ovariano dominante no momento da prenhez e a taxa de ciclicidade das fêmeas. A ideia é trazer maior clareza às discussões sobre o real impacto da nutrição na precocidade sexual. “Acredito que possamos trazer respostas importantes, principalmente para determinar se o produtor tem ambiente ou não para trabalhar com fêmeas precoces e qual o custo disso”, pontua Koury Filho. n
ESPECIAL
Genética e Reprodução
Vem aí o boi “customizado” Edição gênica pode ajudar a produzir animais “sob medida”, conforme as características das diferentes regiões do País e as preferências do pecuarista.
Pesquisadores estudam DNA da raça Caracu para identificar mutação responsável pela adaptação ao calor, visando transferi-la para embriões de Angus.
Ariosto Mesquita, de Campo Grande, MS
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magine um bovino Angus puro plenamente adaptado ao calor dos trópicos. Pois esse animal pode ser obtido, em breve, graças à edição gênica, uma técnica que permite ligar ou desligar genes (a parte funcional do DNA nos organismos vivos), intensificando ou inibindo características específicas nos indivíduos, adequando-os às demandas do produtor ou, como se diz hoje, “customizando-os”. Um grupo composto por mais de 20 pesquisadores da Embrapa pretende conseguir este feito até 2021. “A edição gênica funciona como um editor de texto: pode cortar sequências de informações e inserir outras. Não cria animais transgênicos, mas edita os genes que o organismo já possui. Tudo com uma precisão e uma biossegurança sem precedentes”, explica Luiz Sérgio de Almeida Camargo, pesquisador do Laboratório de Biotecnologia e Reprodução Animal da Embrapa Gado de Leite, com sede em Juiz de Fora, MG. Especialista no assunto, Camargo foi um dos protagonistas do III Simpósio de Reprodução em Gado de Corte & III Workshop de Genômica e Melhoramento Animal (Repgen 2018), realizado entre os dias 7 e 9 de agosto, em Campo Grande, MS. Seu minicurso, intitulado “Edição gênica: aplicações desta tecnologia na área animal”, esgotou as vagas com dias de antecedência, atraindo muita gente ligada à biotecnologia e genômica, incluindo pesquisadores de outras unidades da Embrapa. “Eu mesmo me surpreendi com tanto interesse”, admitiu. Camargo está diretamente envol-
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vido na pesquisa “Uso de Ferramentas de Edição Genômica para Reduzir o Efeito de Estresse Térmico em Raças Angus e Holandesa”, junto a mais de duas dezenas de colegas das unidades da Embrapa Gado de Corte, Gado de Leite, Pecuária Sudeste e Recursos Genéticos e Biotecnologia. Em busca de mutações Iniciado no ano passado, o estudo visa primeiramente identificar as mutações genéticas em animais da raça Caracu que lhes permitiram se adaptar às condições tropicais no Brasil. “Quando encontrarmos essas mutações, elas serão isoladas e usadas para indução da mesma característica em outros bovinos. Isso é feito cortando-se o DNA de um zigoto (primeira fase de formação do embrião) de um indivíduo Angus, em um ponto específico e injetando, em seu lugar, o segmento da mutação. O mesmo procedimento será feito para obter animais da raça Holandesa, de aptidão leiteira”, explica Camargo. A introdução do DNA é feita por meio de injeção citoplasmática. “É um procedimento muito simples e que não prejudica o desenvolvimento do embrião”, garante o pesquisador. O método de edição gênica adotado, segundo ele, é o “CRISPR”, sigla para o termo “Clustered Regularly Interspaced Short Palindromic Repeats”, que pode ser traduzido como “Repetições Palindrômicas Curtas Agrupadas e Regularmente Interespaçadas”. O CRISPR trabalha associado à proteína “Cas9”. No Brasil, entretanto, a ferramenta completa já foi aportuguesada como “Crisper”. O método foi desenvolvido em 2013, nos Estados Unidos.
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Luis Sérgio de Almeida Camargo, pesquisador da Embrapa: “Tecnologia pode transformar pecuária”.
Fotos Ariosto Mesquita
ESPECIAL
Minicurso sobre edição gênica esgotou vagas com dias de antecedência e atraiu pesquisadores.
O trabalho de coleta de informações para a pesquisa começou, segundo Camargo, em 2017. “Queremos conseguir em uma geração, o que levaríamos várias para atingir. Nossa meta é identificar a mutação até 2019 e trabalhar para que nasçam os primeiros animais ‘editados’ em 2021”, projeta. A escolha do Caracu como ponto de partida se deve ao histórico da raça. Originária da Península Ibérica (Portugal e Espanha), ela foi introduzida no Brasil em 1534 e, ao longo dos séculos, enfrentou o calor tropical, parasitas, doenças e comida escassa, moldando uma raça crioula (adaptada). O que interessa aos pesquisadores é identificar os genes responsáveis por essa adaptação. Entre os fenótipos característicos da raça Caracu, um dos que mais interessa a Camargo é o do pelo curto. “Caso se encontre a mutação responsável pelo encurtamento do pelo será possível transferi-la para o Angus”, observa. Questão legal Os esforços dos cientistas, contudo, não terminarão quando nascerem os primeiros animais “editados”. A partir dai terá início uma batalha legal. “Vamos submeter o trabalho à análise da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), solicitando um parecer oficial sobre a natureza não transgênica do animal”, revela. Um fato recente abriu precedente e animou os pesquisadores. No dia 7 de junho deste ano, a CTNBio aprovou o desenvolvimento do
Repgen 2018: público seleto Um dos organizadores do Repgen, o veterinário Álvaro Fortunato, classificou como “certeira” a decisão de colocar a ‘edição gênica’ como tema de um minicurso dentro do evento de genética: “O assunto é inovador para a pecuária e a procura foi excelente, sobretudo por parte do pessoal da academia e pelos apaixonados por genética animal”. O Repgen ainda contou com um segundo minicurso sobre “Manejo Reprodutivo” e vários paineis de debates. Fortunato contabilizou a participação de mais de 200 pessoas entre pecuaristas, profissionais, estudantes e pesquisadores originários de oito Estados brasileiros além de uma delegação de técnicos bolivianos.
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primeiro ser vivo obtido a partir de edição gênica no Brasil: uma levedura para a produção de bioetanol. Além do sinal verde, a comissão também entendeu que não se trata de um organismo geneticamente modificado, pois não foram encontrados rastros de outro DNA dentro dele. Camargo prevê, porém, muitas resistências a serem quebradas antes que a edição gênica permita avanços “sem precedentes” na pecuária. “Existem sentimentos diferentes na sociedade em relação a isso. A transgenia avançou bem na agricultura, mas ainda engatinha na pecuária. Há preocupações, algumas vezes compreensíveis e outras exacerbadas, sobre eventuais efeitos na saúde ou no ambiente. Com relação à edição gênica, teremos de fazer com que as pessoas compreendam corretamente o que é e como se faz”, diz o pesquisador. Segundo ele, a tecnologia pode prover um grande salto tecnológico na pecuária brasileira. “Qualquer laboratório de fertilização in vitro (FIV) poderá produzir o embrião ‘editado’ e entregar ao produtor. Junto com uma “empresa de edição gênica” (que domina essa tecnologia), ele terá como desenvolver seu próprio portfólio de características para escolha do pecuarista. No Brasil, existem mais de 50 laboratórios com estrutura para desenvolver esse tipo de trabalho. Há possibilidade de se fazer uma revolução no setor”, argumenta. Ele enxerga inúmeras alternativas a ser trabalhadas com a edição gênica. “É possível, por exemplo, obter animais que nasçam já castrados [sem produção de hormônios masculinos], imunes a uma determinada doença ou tolerantes ao carrapato. Poderemos até produzir bois ‘customizados’, adaptados às diferentes regiões do País”, prevê. Médico veterinário com experiência em biotecnologia da reprodução, o pesquisador da Embrapa Pantanal, Eriklis Nogueira, só vê vantagens no uso de edição gênica na bovinocultura de corte. “Poderemos obter animais sob medida para mercados mais exigentes ou para condições específicas de produção”. Ele observa que, nos Estados Unidos e na Europa, já existem aplicações comerciais da edição gênica e defende que haja investimento brasileiro nessa área para que o País não fique estagnado e ultrapassado tecnologicamente. “Com recursos disponíveis, temos capacidade para colocar a técnica no campo”, afirma. n
ESPECIAL
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O fim das “ilhas de genotipagem” fotos: Denis Cardoso
Parcerias promovem unificação de dados genômicos de programas de melhoramento genético, elevando a eficiência da tecnologia no País.
Apresentação da parceria Embrapa/ABCZ durante a Expogenética 2018: esforço de unificação de informações. Denis Cardoso, de Uberaba, MG
O
Não faz sentido ficar genotipando os mesmos animais”
Luiz Otávio Campos, pesquisador da Embrapa
surgimento de parcerias envolvendo a unificação de dados oriundos de importantes programas de melhoramento genético fortalecem a esperança dos que apostam no fim das chamadas “ilhas de genotipagem”, em futuro próximo. A expressão surgiu do fato de existir, até o ano passado, uma total falta de convergência entre os diferentes programas de seleção que lançam mão de análises genômicas (marcadores moleculares do tipo SNPs, Single Nucleotide Polymorphisms) para aumentar a confiança (acurácia) de suas predições dos valores genéticos de animais da raça Nelore. Essas “ilhas”, no entender de especialistas, só servem para retardar o avanço da seleção genômica dentro da pecuária brasileira, uma vez que o não compartilhamento dos dados genótipos de cada programa de melhoramento resulta em duplicidade de informações – o DNA de um mesmo touro é sequenciado por duas (ou mais) vezes. Isso reduz a eficiência no uso da tecnologia, uma das mais caras da pecuária atualmente (R$ 120/animal), o dobro do valor de uma IATF (inseminação artificial em tempo fixo), que custa R$ 60/vaca (incluindo protocolo, mão de obra e sêmen). “Como, na maioria das vezes, os touros que estão inseridos nos diversos programas de melhoramento genético são os mesmos e a informação genética de cada ser vivo (contida em
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seu DNA) é única, não faz sentido algum a gente ficar genotipando os mesmos animais”, diz Luiz Otávio Campos, da Embrapa Gado de Corte, um dos responsáveis pelas avaliações genéticas contidas no primeiro Sumário de Touros ABCZ/Embrapa, lançado durante a 11ª Expogenética, entre os dias 18 e 26 de agosto, em Uberaba (MG). Tendência importante Pesquisadores da Embrapa e membros da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ) aproveitaram o evento para detalhar o projeto de unificação dos bancos de genótipos (e também fenótipos) dos programas de melhoramento das duas entidades: o Geneplus e o Programa de Melhoramento Genético de Zebuínos. O PMGZ, aliás, comemorou 50 anos de existência durante a feira, tendo como marco inicial o primeiro controle ponderal, realizado em zebuínos, em 1968. “Juntos, nos tornamos ainda mais fortes”, disse o presidente da ABCZ, Arnaldo Manuel de Souza Machado Borges, referindo-se à nova parceria Embrapa/ABCZ, que visa acabar com as “ilhas de genotipagem”. Em abril passado, o setor foi surpreendido pelo anúncio de um projeto semelhante, lançado por dois renomados programas de seleção para Ceip (Certificado Especial de Identificação e Produção): o DeltaGen, com 40 anos de história, e a Cia de Melhoramento, formada há quatro anos por fazendas dissidentes do tradicional Programa de Avaliação e Identificação de Novos Touros (Paint), fundado em 1994, pela central CRV Lagoa, de Sertãozinho, SP. Rodrigo Dias, gerente técnico da DeltaGen, diz que o convênio permitiu elevar o número de touros genotipados de 15.000 para quase 30.000. “Esse avanço somente não foi maior porque haviam duplicações”, diz ele, referindo-se à repetição de análises genômicas de um mesmo touro participante dos dois programas de melhoramento. Ainda segundo Dias, o trabalho conjunto de equações genômicas não visa necessariamente a simples redução de custos com a tecnologia. A ideia é otimizar os investimentos, ou seja, a DeltaGen irá manter os recursos previstos para as avaliações genômicas antes da parceira, mas agora conta com um forte aliado para também “alimentar”, na mesma proporção, o banco de DNA dos rebanhos avaliados geneticamente. “Com isso, compartilhamos de imediato aquilo que já tínhamos em nossos acervos
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ESPECIAL
Genética e Reprodução individuais e, ao mesmo tempo, conseguimos aumentar mais rapidamente a representatividade de indivíduos genotipados do nosso banco conjunto”, ilustra. Embrião da parceria Segundo o diretor técnico da ABCZ, Valdecir Marin, a primeira troca de conversas sobre a possibilidade de união de dados dos programas Geneplus e PMGZ teve início há um ano, durante a própria Expogenética (edição 2017). “Naquele momento, quando se falou da ideia da parceria nos bastidores da feira de genética, o programa da PMGZ tinha em seu acervo não mais do que 1.000 animais Nelore genotipados; hoje, com essa junção de esforços, conseguimos ampliar o banco de dados para 12.277 touros com avaliações genômicas”, informa Marin. O diretor da ABCZ diz ainda que o trabalho conjunto entre os dois programas está apenas no começo. Já está programada a genotipagem de outros 50.000 animais da raça zebuína até dezembro deste ano. A previsão é de que a somatória das competências técnicas dos dois programas possibilite alcançar 100.000 animais com avaliação genômica até dezembro de 2019. “É um número bastante expressivo, considerando-se que, nos Estados Unidos, a primeira base de avaliação genômica da raça Angus contou com menos de 3.000 animais genotipados”, compara. Esta primeira fase da parceria ABCZ/Embrapa está sendo “vitaminada” por aportes do governo federal, responsável pelo repasse de subsídios que permitirão alavancar rapidamente o processo de genotipagem de Meu sonho é ver outros programas animais participantes dos dois programas de melhoraseguirem o mento. O objetivo, esclarece o superintendente técnico caminho do da ABCZ, Luiz Antonio Josahkian, é criar uma sólida compartilhamento população de referência de animais genotipados, resulde dados” tando em DEPs (Diferenças Esperadas nas Progênies) genômicas que irão beneficiar direta ou indiretamente José Aurélio Garcia Bergmann, os criadores. Na avaliação de Josahkian, essa primeiprofessor ra ação de apoio governamental será suficiente para aposentado da convencer os produtores a desembolsar seus próprios UFMG recursos em avaliações de DNA. “O uso da genômica é um caminho sem volta, por se tratar de uma ferramenta que possibilita rápido progresso genético dos rebanhos”, ilustra Josahkian. Resultados animadores Durante a Expogenética, os responsáveis pela composição do primeiro Sumário de Touros ABCZ/Embrapa divulgaram os resultados das avaliações conjuntas dos dois programas, que abrangeram 14,1 milhões de animais (das raças Nelore, Brahman, Gir, Guzerá, Indubrasil, Sindi e Tabapuã), incluindo os 12.277 genótipos da raça Nelore. Desse total, 2.510 touros tiveram as avaliações divulgadas na edição impressa do sumário (da versão online, constam dados de 50.000 animais). Diante do 70 DBO setembro 2018
Cerimônia de abertura da Expogénita, pelo presidente da ABCZ, Arnaldo Borges.
calhamaço de informações, o que chamou mais a atenção do público presente na Expogenética foi exatamente o enorme ganho de acurácia das avaliações genéticas proporcionado pelas inclusão das análises genômicas. “Rodamos duas vezes os dados genéticos dos touros, com e sem avaliação genômica. O resultado disso foi um incremento de acurácia a partir do uso de marcadores moleculares superior a 70% para a maioria das características avaliadas pelo programa”, relata Henrique Torres Ventura, superintendente adjunto de Melhoramento Genético da ABCZ. No caso da medida de perímetro escrotal (PE365), a acurácia média dos animais genotipados pela parceria ABCZ/Embrapa saltou de 18%, sem análise genômica, para 37%, com a genotipagem, um acréscimo de 105%. “Na prática, isso significa um forte aumento de segurança em relação aos touros jovens que serão usados na reprodução”, enfatiza Ventura. Para as características que medem a qualidade de carcaça, considerada de difícil mensuração pelo sistema de DEPs tradicionais (que envolve apenas dados dos fenótipos), o ganho de acurácia também foi bastante representativo. No que diz respeito à característica de área de olho de lombo (AOL), o incremento no grau de confiança foi de 86%. Na DEP genômica de acabamento de carcaça (ACAB), houve aumento de 89%. A característica Stayability (Stay – probabilidade de permanência das vacas no rebanho), medida de mensuração tardia pelo método convencional, o salto de acurácia foi de 76,6%. Também presente na Expogenética, o consultor José Aurélio Garcia Bergmann, professor aposentado da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), disse que seu sonho (e de muitos outros especialistas em melhoramento genético) seria ver outros programas da raça Nelore seguir o mesmo caminho de compartilhamento de dados de fenótipos e genótipos viabilizado pelas parcerias Embrapa/ABCZ e DeltaGen/Cia de Melhoramento. “Reconheço a enorme dificuldade para que essa ideia de democratização dos programas se materialize, mas a existência de uma única base genômica para todos eles já seria um enorme passo a ser realizado”, declara. n
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Genética e Reprodução
Evitando prenhez indesejada Contraceptivo resolve problema de vacas de descarte que acabam sendo cobertas por machos comerciais na propriedade, trazendo prejuízo para o produtor. Denis Cardoso
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Aplicação é simples e dura apenas 1,5 minuto/vaca”
Antônio Capistani, da Cort Genética
de algumas novilhas meio-sangue, também direcionadas ao abate. Segundo Barbosa, o dispositivo foi implantado em matrizes com bezerro ao pé, sem que houvesse prejuízo à amamentação. “Além disso, após a colocação do dispositivo, as fêmeas começaram a melhorar o escore corporal mesmo amamentando”, observa ele, acrescentando que os técnicos de inseminação que já trabalham nas duas fazendas do grupo começaram a ser treinados para que aprendam a colocar o DIUB.
magine uma situação corriqueira em grandes propriedades de cria. Após avaliar as vacas no final da estação de monta, as menos produtivas ou já velhas são separadas em um piquete para descarte, mas logo algumas começam a entrar em cio e atraem um ou dois machos, que pulam a cerca para copular. Em pouco tempo, parte do lote está prenhe, obrigando o produtor a manter essas fêmeas por mais um ano na fazenda. Isso lhe traz prejuízo, pois vacas de descarte chegam ao final da gestação com condição corporal ruim (magras), já que o feto absorve suas reservas de nutrientes, e elas acabam fornecendo carcaças inferiores, quando não morrem antes do abate. Seus bezerros, frequentemente, são de baixa qualidade, inclusive porque foram gerados por machos comuns da fazenda. Além disso, a propriedade deixa de fazer a reposição do plantel, gastando dinheiro para manter no pasto fêmeas pouco capacitadas para aleitamento e que já teriam cumprido seu ciclo reprodutivo na fazenda. Para impedir a monta indesejada e evitar problemas como os mencinados acima, o pecuarista e selecionador mineiro Luciano Barbosa, proprietário da tradicional grife familiar Nelore Totonho, optou pelo uso do DIUB (dispositivo intra-uterino bovino) em suas vacas de descarte, uma ferramenta que garante 100% de anticoncepção e que vem ganhando, paulatinamente, espaço na pecuária de corte brasileira. “Com a utilização do DIUB, conseguimos facilitar em muito o nosso manejo e planejar melhor o abate das vacas gordas”, conta Barbosa entusiasmado. Ele adotou a estratégia no ano passado, em 300 fêmeas de descarte, além
Quando colocar Recomenda-se a aplicação do dispositivo cerca de 60 dias após o parto e seu uso contínuo por dois ou três meses. “No momento do primeiro toque de diagnóstico de gestação após a inseminação artificial em tempo fixo (IATF), aplicamos o DIUB nas vacas que ficaram vazias (não-gestantes) e depois as destinamos à engorda”, conta o pecuarista Nicola Silva, gerente da Mombuca Agro, de Corumbá, MS. Ele diz que a empresa começou a usar o método anticoncepcional em fevereiro deste ano, em 2.000 vacas de descarte da Fazenda Lourdes, localizada na Nhecolância, no sul do Pantanal. “Trabalhamos com áreas de pastagens nativas bastante extensas, e, antes de optarmos pelo DIUB, não havia jeito de controlar a monta indesejada nas fêmeas de descarte que eram mantidas em sistema de engorda”, diz ele, acrescentando que, agora, os touros passaram a circular livremente no meio da vacada sem o registro de um único enxerto. Segundo Antônio Cabistani, diretor da Central Cort Genética Brasil, de Uruguaiana, RS, a tecnologia disponível para uso em mulheres há 70 anos, foi lançada no mercado
Dispositivo é introduzido no aplicador para colocação dentro do útero da vaca
DIUB pode ser usado em vacas com bezerro ao pé, sem prejuízo à amamentação.
72 DBO setembro 2018
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Genética e Reprodução Esquema de aplicação do dispositivo Diub
Corpo
Corpo uterino
Ovário
Cervix Vestíbulo vaginal Aplicador
pecuário há sete no setor pecuário, inicialmente na Argentina, país onde o produto foi desenvolvido, pelo inventor Enrique Turin. De lá para cá, a tecnologia ganhou adeptos em vários países da América do Sul, México, Estados Unidos e nações da Europa. Na avaliação de Cabistani, apesar de ser relativamente simples (semelhante a um manejo de inseminação artificial), de rápida aplicação (em torno de 1,5 minuto/vaca) e totalmente indolor para os animais (sem a necessidade de procedimento cirúrgico), a colocação do DIUB no útero da vaca exige um profissional treinado. Segundo ele, como a pecuária brasileira carece de mão de obra especializada, o emprego do dispositivo ainda caminha a passos lentos, “assim como a própria técnica da inseminação artificial, que existe há 60 anos e hoje é aplicada em menos de 15% do rebanho brasileiro”, compara. Entretanto, empresas grandes têm se interessado pela ferramenta, como o Grupo Bom Futuro, do Mato Grosso. “Eles começaram fazendo um experimento em 1.000 vacas, logo passaram para 7.000 e hoje usam o método anticonceptivo em mais de 20.000 fêmeas”, informa Capistani, salientando que essa empresa antes comprava apenas machos para a engorda e passou a adquirir fêmeas assim que descobriu o DIUB. “A tecnologia viabilizou um novo negócio para o grupo”, enfatiza o proprietário da Cort Genética, que representa a argentina Turin no Brasil. Além de garantir 100% de anticoncepção, o dispositivo intrauterino melhora o desempenho durante a engorda e também seu ren74 DBO setembro 2018
dimento de carcaça. O custo do DIUB é de R$ 25 por vaca, mas, segundo Capistani, esse dinheiro é “facilmente recuperado” pelo pecuarista devido ao acréscimo de 2 a 3@ no peso das fêmeas e à melhoria de 1,2 a 1,5 ponto percentual no rendimento de carcaça, em comparação com fêmeas engordadas sem aplicação do dispositivo. Esse aumento na produção de carne pode estar relacionado à presença de cobre no DIUB, já que esse elemento químico causa hipertrofia das células foliculares no ovário, inibe a taxa de hormônio feminino e libera hormônio masculino na corrente sanguínea, ação que altera a fisiologia da vaca e faz com que a gordura se distribua uniformemente na carcaça, garantindo maior rendimento no gancho do frigorífico. Esse efeito, contudo, ainda não está totalmente comprovado. Alguns trabalhos experimentais realizados por universidades obtiveram resultados inconsistentes nesse item, comparando-se vacas com e sem DIUB. Um desses trabalhos foi realizado por Hélio Lourêdo da Silva, da Escola de Medicina Veterinária da Universidade Federal de Goiás (UFG), que testou o dispositivo em 41 novilhas Nelore de 13-15 meses, engordadas para abate. Ao final de 421 dias de experimento, Silva não constatou diferença estatística significativa entre o grupo controle e o que recebeu DIUB em quesitos como ganho diário, peso final, rendimento e peso de carcaça quente. Outros trabalhos, contudo, constataram resultados positivos. Independentemente dessa questão, o DIUB cumpre bem sua principal função: n evitar prenhez indesejada.
ESPECIAL
Genética e Reprodução
Doenças reprodutivas geram fundo de maternidade Saiba como fazer o diagnóstico, que pode elevar o índice de prenhez no plantel de matrizes.
Renato Villela renato.villela@revistadbo.com.br
N
ormalmente, a eficiência reprodutiva de um plantel é medida por meio de indicadores como taxa de prenhez, idade ao primeiro parto e intervalo entre partos. Pouco se fala sobre o chamado “fundo de maternidade”, lote composto por fêmeas diagnosticadas como prenhes na estação de monta, mas que, por algum problema (perda embrionária ou aborto, por exemplo), acabam não parindo. “O fundo de maternidade está muito relacionado a doenças infecciosas que afetam a reprodução, embora deficiências nutricionais também possam estar envolvidas”, explica Danila Fernanda Rodrigues Frias, professora da Universidade Brasil, Campus de Fernandópolis, São Paulo. Para combater as perdas é preciso adotar um calendário sanitário, que será tanto mais eficiente quanto mais específico for. Para mensurar a dimensão do problema, uma equipe multidisciplinar fez um levantamento epidemiológico (procedimento, lamentavelmente, raro no Brasil), com base em amostras de sangue coletadas de 4.620 bovinos no Mato Grosso do Sul. A sorologia, realizada há três anos, confirmou ser alta a prevalência de doenças reprodutivas como a IBR, BVD e leptospirose nos rebanhos da região. O estudo, base do projeto de pós-doutorado de Danila, deu origem ao “Calendário de Manejos Reprodutivo, Sanitário e Zootécnico”, lançado pela Embrapa Gado de Corte, de Campo Grande, MS, e disponível para download gratuito (https://cloud.cnpgc.embrapa.br/cmrsz2017). Além da colaboração dessa instituição de pesquisa, o trabalho contou com financiamento da Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia do Estado do Mato Grosso do Sul (Fundect) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Um ano após a elaboração do calendário, os pesquisadores decidiram testá-lo a campo, aplicando as recomendações contidas nas planilhas em 10 propriedades com rebanhos comerciais e de seleção. Os números surpreenderam. Após um ano de adoção das vacinas contra doenças reprodutivas nas fêmeas e do exame andrológico nos machos, o percentual de
76 DBO setembro 2018
Não apenas carências nutricionais causam aborto; problema pode estar ligado também a doenças reprodutivas.
fundo de maternidade despencou em média 50% e o índice de prenhez subiu em média 5%, sem que tivesse sido feita nenhuma alteração no manejo nutricional. Os dados foram coletados pelo Grupo Especializado em Reprodução Aplicada ao Rebanho (Gerar), que reúne técnicos da Zoetis, veterinários, fazendas de gado de corte e leite, além do setor acadêmico. De acordo com Danila Fernanda Rodrigues Frias, a despeito de o calendário ter sido elaborado com base em amostras colhidas em rebanhos sul-matogrossenses, é adequado a qualquer região do Brasil. “Sugerimos a aplicação do calendário com a supervisão do médico veterinário, porque é o profissional que tem condições de conhecer a situação epidemiológica da região e, desse modo, fazer os ajustes de acordo com a realidade de cada fazenda”, diz ela. Diagnóstico é essencial É o que faz o veterinário Ricardo César dos Passos, diretor da Cria Fértil, de Goiânia, GO, nas fazendas que assiste. “Hoje elaboramos o calendário profilático a partir dos problemas sanitários que acometem as fêmeas na propriedade”, afirma. Segundo ele, há duas formas de se obter esse diagnóstico mais preciso. A primeira é indicada para aquelas fazendas que já trabalham com planejamento reprodutivo, ou seja, fazem controles mensais e, por isso, têm os dados à mão. Funciona da seguinte forma: terminada a estação de parição, são listadas as matrizes “fundo de maternidade”. Se os técnicos identificarem um percentual alto, superior a 3%, isso indica que é preciso investigar as causas do problema, que pode estar correlacionado com algum fator “silencioso”, não facilmente perceptível. “Constatado um percentual elevado de perdas embrionárias ou de abortos, fazemos a sorologia dessas fêmeas, identificamos as doenças e, então, incluímos as vacinações no protocolo sanitário”, diz Passos. Dentro dessa estratégia, o veterinário faz uma recomendação que considera crucial para a redução dos problemas reprodutivos: o descarte de 100% das matrizes do fundo de maternidade, sejam elas multíparas ou primíparas. “Muitas vezes o produtor quer dar uma segunda chance para a fêmea, mas é grande a probabilidade de que ela tenha uma doença
Informe Especial Senepol
Thiago Galdiano / Publique Banco de Imagens
ABCB Senepol lança Programa de Certificação de Carne
N
o ano em que completa 18 anos de
agrônomo Roberto Barcellos e pelo consultor
O programa está em fase de implantação e, em
Brasil, a raça Senepol passa a contar
Jorge Dias. Entre as regras do protocolo a serem
breve, os produtores interessados em receber o
com o Programa de Certificação
seguidas estão: classificação fenotípica (grau
selo SQA poderão se registrar na Plataforma
da Carne Senepol, que acaba de ser lançado
de sangue da raça, pelagem, tipo de animal,
da CNA, sem custo, e conhecer as regras e
pela Associação Brasileira dos Criadores de
maturidade, tipificação de carcaça), programa
o padrão racial requerido. A proposta é que
Bovinos Senepol. Com a raça sendo cada vez
nutricional e programa sanitário. Todo o
as carcaças entregues dentro dos critérios de
mais usada em cruzamento industrial no País,
processo de produção da carne será avaliado
qualidade do SQA recebam uma bonificação
esta é uma estratégia da entidade para tornar a
por técnicos do PMGS e, caso aprovado, o
acordada previamente entre o frigorífico e o
carne de Senepol ainda mais competitiva, além
produto receberá o selo SQA.
produtor, e com o apoio da ABCB Senepol.
de garantir segurança alimentar ao processo produtivo e as qualidades sensoriais do produto,
Segundo Barcellos, o projeto é integrado
como maciez, sabor e padronização, que são
com os demais elos da cadeia produtiva,
bastante demandadas pelos consumidores.
tendo o consumidor final como o foco. “É um trabalho que tem de começar de trás para
Para mais informações:
Intitulada SQA (Senepol Quality Assurance),
frente, identificar quem está produzindo,
(34) 3210 2324 ou (34) 9 9962 4357
a certificação foi desenvolvida com base
coordenar os produtores para trabalharem em
pmgs@senepol.org.br
em rigorosos protocolos de produção e
conjunto e criar a demanda na ponta final da
falecomadiretoria@senepol.org.br
padronização, elaborados pelo engenheiro-
cadeia”, diz o consultor.
www.senepol.org.br
ESPECIAL
Genética e Reprodução Atenção ao momento certo de vacinar! Para prevenir as fêmeas contra doenças reprodutivas , é preciso, antes Causas de aborto precisam ser de tudo, vacinar no momento certo. investigadas Em rebanhos que nunca tenham recebido a vacina ou cujo histórico sanitário seja desconhecido, o recomendado é aplicar duas doses: a primeira 60 dias antes da estação de monta e segunda (reforço) de 21-30 dias depois. Nos plantéis onde a vacinação já está inserida no calendário, basta o reforço anual. A exceção é a vacina contra a leptospirose que deve ser feita a cada seis meses. Nos casos em que é empregada a IATF (Inseminação Artificial em Tempo Fixo), o produtor pode programar a segunda dose (reforço) das novilhas para coincidir com o dia de aplicação do implante (dia 0), quando esses animais, ainda pouco habituados ao manejo, serão trazidos para o curral. Vale lembrar a importância do bem-estar na hora de vacinar. Animais estressados liberam maiores quantidades de cortisol, hormônio que interfere negativamente na resposta imunológica e, consequentemente, na proteção do animal.
78 DBO setembro 2018
reprodutiva e a dissemine no rebanho. As vacas solteiras, que entram vazias na estação de monta seguinte, representam o grupo de maior risco sanitário no plantel”, afirma. Caso o produtor não queira se desfazer dessas fêmeas, o que é bastante comum, a recomendação é isolá-las em outro piquete maternidade, específico para essa categoria e separado das demais matrizes. “Desse modo minimizamos o risco de espalhar uma contaminação”, diz Passos. O segundo modelo de diagnóstico sugerido pelo veterinário, mais adequado para propriedades que ainda não têm um “retrato epidemiológico” claro do plantel, é promover uma sorologia por amostragem, procedimento que pode ser feito em qualquer época do ano. “Analisar de 10% a 15% das fêmeas de cada lote é suficiente para saber como está a sanidade do rebanho e tomar as medidas necessárias”, afirma. Para Ricardo Passos, independentemente do caminho a ser escolhido, é importante que a fazenda faça uma inspeção rigorosa das fêmeas no período de parição (que, em boa parte do País, começa a partir de setembro), para criar uma espécie de “prontuário sanitário” dos animais que apresentarem problemas. “O funcionário deve ser orientado a anotar em uma caderneta qualquer anormalidade que detectar, como retenção de placenta, aborto, natimortos ou bezerros que nasceram fracos”, salienta n
ESPECIAL
Genética e Reprodução Alteração no PMGZ desagrada ACNB
Foi muito mal recebida pela Associação dos Criadores de Nelore do Brasil, a mudança na ponderação do Índice ABCZ que consta do novo Sumário de Touros do Programa de Melhoramento Genético de Zebuínos, lançado na ExpoGenética, em Uberaba, MG. A ACNB diz que não foi consultada e não concorda com a atribuição de 35% de peso no índice para a característica Stayability (Stay), que indica a probabilidade de um touro produzir fêmeas que possam gerar pelo menos três crias viáveis em 76 meses. Esse peso era de 15%. A ACNB lembra que adotou e reco-
ABS classifica touros para IATF Primeira central a criar selos que comprovam a superioridade de touros em programas de IATF, em 2012, a ABS Pecplan, de Uberaba, MG, lançou durante a Expogenética uma nova metodologia de certificação desses reprodutores. Trata-se do IATFmax, um programa com avaliações científicas mais “robustas”, que não levam em conta apenas o desempenho dos reprodutores nas diversas fazendas de corte, mas as demais variáveis que influem na fertilidade, tais como raça, idade, condição 80 DBO setembro 2018
menda o PMGZ como seu programa oficial de melhoramento desde 2015, quando também foi estabelecido o compromisso de que a associação atuaria junto à área técnica da ABCZ na definição das diretrizes do programa. Segundo a entidade, o forte aumento do peso da característica Stay no índice “impacta de forma significativa no trabalho de seleção desenvolvido por muitos criadores, principalmente aqueles que têm investido na multiplicação de genética de ponta por meio da fertilização in vitro (FIV) e da transferência de embriões. Além disso, o novo índice praticamente inviabiliza o uso de FIV em fêmeas com menos de seis anos, uma vez que, até esta idade, a fêmea precisará ser mantida em reprodução natural para que não tenha sua avaliação prejudicada”. Procurada por DBO, a ABCZ, através de sua assessoria de imprensa, disse que o diretor da área técnica da entidade, Valdecir Marin Júnior, só responderia a questionamentos após a realização de uma reunião, solicitada pela ACNB, para discutir o assunto, marcada para o dia 4 de setembro, quando esta edição de DBO já estava na gráfica.
corporal e manejo. “A interação entre esses diversos fatores trouxe mais agilidade e confiabilidade ao processo de identificação de touros com desempenho superior em IATF”, destaca o gerente do Departamento Técnico de Corte da ABS, Cristiano Ribeiro. Segundo ele, os dados dos protocolos de inseminação continuam sendo colhidos pela equipe do Grupo IATF da ABS, que completou 10 anos de existência em 2018. “A diferença é que agora todas as informações levantadas a campo recebem uma análise exclusiva e criteriosa por parte da nossa equipe de geneticistas”, explica o gerente. Essa nova metodologia leva em conta três categorias distintas de touros iden-
ANC lança prêmio para líderes em registro A Associação Nacional de Criadores Herd-Book Collares (ANC) lançou, neste ano, durante a Expointer 2018, em Esteio, RS, o prêmio Difusão Genética Nacional. A distinção foi concedida ao macho e à fêmea das raças Angus, Devon, Charolês, Hereford e Shorthorn que tiveram o maior número de filhos registrados nos livros Puro de Origem e Puro Controlado, no perí odo de 1º de julho de 2017 a 30 de junho de 2018. Segundo a Herd-Book, a novidade visa beneficiar criadores que trabalham intensamente para aprimoramento de seus plantéis, mas que, nem sempre, levam seu gado para as exposições. Segundo Sílvia Freitas, superintendente de Registro Genealógico da Herd-Book Collares, o prêmio somente é concedido às raças que tenham no mínimo 100 animais registrados no período. No caso das fêmeas é necessário ter pelo menos cinco descendentes nascidos e registrados.
tificados como superiores: IATFmax +, IATFmax + 3 e IATFmax + 6. Os animais do IATFmax+ são aqueles que apresentam taxa de fertilidade acima da média em até 2,99 pontos percentuais. Os IATFmax + 3 são os que atingem três pontos percentuais a mais em relação aos reprodutores da categoria anterior e os IATFmax + 6, como o nome já diz, garantem às filhas taxa de fertilidade seis pontos percentuais acima. Ao todo, nesta primeira fase do novo programa, 35 touros do catálogo ABS Pecplan receberam alguma dessas certificações, sendo 23 Nelore; oito, Aberdeen Angus; um, Red Angus; dois, Brangus e um, Braford.
Pastagens
Adubar dá dinheiro, sim. Especialista em forragens analisa o passo a passo da adubação de pastagens nas fazendas e ensina a corrigir erros para maximizar resultados
Somente quando o produtor vende o boi é que recupera o que gastou em adubação; por isso tem dificuldade para mensurar ganhos”, diz Rodolfo Wartto Cyrineu
São Paulo. Como o negócio tomou corpo, em 1990 abriu uma empresa nessa área, a Suporte Rural Consultoria. De 2009 a 2016, teve oportunidade de trabalhar em projetos de investidores internacionais, que o levaram para a Angola, na África, onde fundou, com outros colegas, a AgroKamba, empresa especializada no desenvolvimento sustentável e tecnificado de lavouras de grãos, fruticultura, pecuária de corte e de leite. Para Cyrineu, a produção a pasto tem um enorme potencial desperdiçado, muitas vezes pela falta de um bom manejo ou mesmo de orientação técnica. Em conversa com a repórter Marina Salles, ele discute a questão, que ainda inquieta muitos produtores. Marina – Por que muitos produtores brasileiros ainda não acreditam na adubação de pastagens? Cyrineu – A produção forrageira é como uma pirâmide,
P
or ser uma atividade de ciclo longo, não é fácil medir resultados na pecuária. Um exemplo clássico disso é o retorno econômico da adubação. Como o produtor aduba hoje para terminar o boi dentro de dois ou três anos, tem dificuldades para avaliar se obteve lucro ou prejuízo com essa prática. “O perigo está na falta de informação, que impede a correção de eventuais problemas e leva à repetição dos mesmos erros, mas a adubação bem-feita dá bons resultados”, diz o especialista Rodolfo Wartto Cyrineu, que tem longa experiência nessa área. Com graduação em Agronomia e mestrado em Economia pela Esalq-USP, Cyrineu cresceu na fazenda da família em Itapetininga, SP, onde começou sua trajetória na pecuária. Atuando na atividade desde 1986, ele se tornou especialista em forragicultura e também associou suas duas áreas de formação. “Aprendi cedo que não basta produzir muito, pois nem sempre máxima produção gera máximo lucro; o importante é ter rentabilidade”. Depois do primeiro emprego, ainda na fazenda da família, Cyrineu deu aulas na Escola Técnica Agrícola de Itapetininga e passou a assessorar produtores em
82 DBO setembro 2018
cuja base é constituída pelo clima, a parte central pelo solo e a ponta pelo potencial produtivo da gramínea. Se todos esses fatores estiverem ajustados e aplicarmos nitrogênio no pasto, vamos produzir bastante capim. Mas é preciso saber colhê-lo, por meio de um pastejo eficiente, e transformá-lo em carne, o que depende da qualidade da forragem, da genética e da idade do animal. Ou seja, trata-se de um processo complexo e demorado. Somente quando eu vendo o boi, recupero o dinheiro que gastei em fertilizante. Esse é um dos motivos pelos quais muita gente não acredita em adubação de pastagens. Se adubo o milho, poucos meses depois vejo o resultado da aplicação do insumo. É fácil de mensurar, porque a planta responde de forma direta, com maior crescimento e produção de grãos. Na pecuária, essa correlação não é direta. Adubamos o capim que o boi vai comer e esse boi demora de 2,5 a 3 anos para ser abatido. Se o produtor não medir o ganho de peso do animal e a produção de carne por hectare, não saberá se teve lucro, mas sabe quanto pagou pelo adubo. Fica somente isso na cabeça dele. Por isso, é fundamental medir, sempre, registrar dados. Marina – Como se mede esse retorno? Cyrineu – A literatura e a vivência de campo fornecem
parâmetros que ajudam o produtor a se orientar, começando pela conversão do adubo em forragem, a chamada eficiência do nitrogênio, ou seja, quantos kg de matéria seca (MS) são produzidos por kg de N aplicado. Posso produzir muito ou pouco pasto, dependendo da maneira como uso o adubo. A resposta
varia de 15 a 45 kg de MS/kg de N. A meta é obter mais de 45 kg. O produtor precisa estar atento a isso e também à eficiência de pastejo, quanto da oferta de capim é efetivamente consumida pelo boi, pois uma parte ele pisoteia, outra é talo e raiz que ele não consome. Se ele aproveitar menos de 50%, o produtor vai desperdiçar adubo. A meta deve ser 55% de aproveitamento. Tudo isso é preciso monitorar. Finalmente, é fundamental mensurar a conversão alimentar (kg de peso vivo/kg de MS de pasto), porque o objetivo, desde o início, é transformar capim em carne. Para cada 13 kg de MS de pasto, tem-se um 1 kg de carne, mas essa conversão pode ser melhor. E para cada kg de N aplicado, tem-se em média 1,45 kg de carne e a meta também deve ser maior (veja tabela acima). Quem quiser avaliar a relação custo-benefício da adubação, pode baixar uma planilha eletrônica pelo endereço https://goo.gl/vMcDJc e fazer uma simulação. Os itens de preenchimento obrigatório são o preço da arroba e do adubo (ureia), a eficiência do nitrogênio e do pastejo, e a conversão alimentar. Se os números forem baixos (por exemplo 20 kg de MS/ kg de N aplicado, 40% de eficiência de pastejo e 15 kg de MS por kg de PV ganho), com a ureia a R$ 1,45/kg e a arroba a R$ 140, para cada R$ 1 aplicado em adubação, recupera-se R$ 0,80. Esse é o cara que fala mal da adubação. Quem é eficiente diz que é um grande negócio. E está certo, pois é o nitrogênio que faz a planta emitir folhas, garante vida longa ao pasto (30 a 40 anos) e confere rentabilidade à pecuária, pois aumenta a lotação e, consequentemente, a produção de carne/ha. Há um déficit anual de 60 a 100 kg de N/ha, por isso as pastagens brasileiras têm crescimento bem limitado. Marina – No quesito eficiência de uso do nitrogênio, onde o produtor mais erra? Cyrineu – Em várias coisas, na distribuição, na dosagem,
no manejo e também em não considerar a capacidade de resposta da espécie forrageira. Cada capim tem um potencial de produção diferente com adubação. Se o produtor for aplicar muito N, deve escolher uma espécie que produza mais massa, como o mombaça, o tanzânia etc. Isso quer dizer que não devo adubar a braquiária? Pelo contrário, devo adubar sim, mas em doses menores, porque o potencial produtivo dela é menor, e não adianta insistir colocando mais adubo. Marina – Por que não adianta? Cyrineu – Um dado interessante sobre a adubação é que
a curva de saturação dela vira relativamente rápido. Se aplico 50 kg de N/ha em determinado capim nas chuvas e obtenho alta produção, aumentar essa quantidade para 60 kg/ha pode resultar em ganho insignificante. Quando jogo 150 kg de N/ha, de uma única vez, na pastagem, cai o rendimento da planta. Ela fica “saturada”. Por isso, a melhor estratégia é parcelar a adubação. Em uma área
Parâmetros para medir eficiência da adubação nitrogenada Parâmetros
faixa
média
meta
Eficiência N (kg MS/ kg N)
15 a 45
26
> 45
Eficiência de pastejo (%)
40 a 55
45
> 55
Conversão alimentar (kg MS/kg ganho)
11 a 17
13
12 a 16
0,5 a 1,7
1,45
> 2,2
kg de
PV ganho/kg N aplicado
Fonte: Geraldo Bueno Martha Júnior, pesquisador da Embrapa Cerrados.
adubada intensivamente e submetida a pastejo rotacionado, posso aplicar 300 kg de N/ha divididos em cinco parcelas de 60 kg toda vez que os animais saírem do piquete na época das chuvas, geralmente de outubro a fevereiro. Isso porque a resposta máxima por aplicação é de 50 a 60 kg/ha. Veja só quantas coisas é preciso observar. Ainda no quesito eficiência do nitrogênio, é preciso analisar a fertilidade do solo e ver como estão os níveis de outros elementos como o fósforo e o potássio, para que eventuais deficiências não limitem o crescimento da planta. Marina – Corrigindo o solo, o produtor já pode adubar? Cyrineu – Pode, mas precisa tomar cuidado com duas coi-
sas. Primeira: em hipótese alguma, deve fazer adubação fosfatada ou nitrogenada em cima de áreas recém calcariadas, porque o calcário reage com os fertilizantes, causando perda de até 20% por volatilização. O ideal é esperar 60 dias ou no mínimo 100 mm de chuva para adubar áreas corrigidas com calcário. O segundo cuidado é somente adubar quando as chuvas firmarem. Nunca distribuir o produto quando há risco de veranico.
Marina – Quais devem ser os critérios de escolha dos fertilizantes nitrogenados? Cyrineu – O nitrogênio pode ser fornecido na forma de ni-
trato de amônio, sulfato de amônio, ureia ou nitrocálcio, porque faz parte da molécula de todos esses compostos. Porém, cada fertilizante tem um preço e diferentes índices de perda em função da época do ano ou das chuvas. Consideremos, por exemplo, que o nitrato de amônio tem 30% de N e custa R$ 1.200/t. Como ele fornece 300 kg de N por tonelada, o quilo sai por R$ 4. Já a ureia vale R$ 1.450/t, mas por ter 45% de N, o quilo desse nutriente fica mais barato (R$ 3,20). Mas, não é tão simples assim. A ureia tem maior tendência de evaporar (até 80% quando não chove e o solo está seco). Se a região é marcada por veranicos, vale mais a pena comprar nitrato de amônio ou ureia protegida, que são menos suscetíveis à volatilização. Às vezes o produtor também escolhe esses adubos porque sua propriedade é muito grande e ele não tem como esperar chover para fazer as aplicações.
Marina – Em relação ao pastejo, quais os erros mais comuns? Cyrineu – O principal deles é não calcular corretamente a
lotação, gerando problemas de sub ou superpastejo. PesDBO setembro 2018 83
Pastagens
Cálculo correto da lotação é fundamental para bom aproveitamento da produção de forragem
quisas mostram que é possível aproveitar até 70% da forragem disponível, mas, no campo, o índice observado é de apenas 40% a 45%. Trata-se de um valor baixo. Praticamente metade da produção da planta se perde. Mas dá para chegar a 55%, se o produtor diminuir as sobras, ajustando a lotação. Se deixar um monte de folha velha e seca no pasto, o animal vai rejeitar essa forragem ou consumi-la por falta de opção, mas seu valor nutritivo será muito baixo e isso é um problema. Marina – Qual a maneira mais simples de ajustar a lotação? Cyrineu – O produtor pode definir uma meta de consumo
de matéria seca por animal e, sabendo qual a área de pasto e a oferta forrageira disponíveis, ajustar a lotação. Para calcular o teor de MS, o jeito mais simples é coletar uma amostra de pasto (1 m²) e desidratar no microondas. Mas eu prefiro fazer o manejo pela altura do capim. A braquiária, por exemplo, deve ter altura mínima de 20 cm e máxima de 40 cm para não perder qualidade. A quantidade de animais que o produtor vai colocar por área depende da estrutura da fazenda e da quantidade de adubo aplicada. Dá para trabalhar com lotação alta em pastagem piqueteada, manejada e adubada intensivamente, e com lotação mais baixa, em áreas sob pastejo contínuo.
84 DBO setembro 2018
Marina - Se não come bem, o animal não ganha peso? É essa a equação? Cyrineu - Sim, a eficiência de pastejo interfere na conver-
são alimentar. O animal transforma capim em carne, mas antes em ganho de peso. Quanto melhor a qualidade da forragem, melhor seu desempenho. Em um experimento com animais de 300 kg, que ganharam 700 g/cab/dia, variou bastante a quantidade de forragem necessária para produzir um quilo de carne quando o teor de nutrientes digestíveis totais (NDT) do capim era diferente. No caso de uma gramínea com 55% de NDT, o animal precisou comer 12,9 kg de MS para engordar 700 g e produzir um quilo de carne. Em outra com 60% de NDT, bastaram 10,7 kg de MS e em uma com 65%, 9,2 kg. Marina - Se fizer a lição de casa, o produtor ganha dinheiro com a adubação? Cyrineu - Sim, eu diria que ele perde se não adubar, por-
que os animais deixam de engordar o que poderiam, ainda mais na entrada da seca. Basta fazer a conta. Se tenho 100 garrotes de 12 @ e eles deixam de ganhar 500 g/cab/ dia por falta de pasto, em 90 dias, eu perco 150 @. Com a arroba a R$ 150, são R$ 20.000. E o animal ainda corre o risco de perder peso. Esse cálculo quase ninguém faz. n
Gestão
Peão que bate meta engorda o bolso Fazenda Granada, no MT, oferece bônus de até 110% sobre o salário a funcionários que ajudam a melhorar os índices produtivos do rebanho.
R
Denis Cardoso
eceber o décimo terceiro salário no fim de cada ano já é animador para qualquer trabalhador. Imagine, então, poder embolsar, além desse valor adicional estabelecido pela legislação trabalhista, mais do que o dobro do honorário mensal na metade do ano? Pois, na Fazenda Granada, situada em Rondonópolis, MT, os sete funcionários de campo (quatro vaqueiros, dois tratadores e um técnico de serviços gerais) foram agraciados, em junho último, com 110% a mais do salário individual, um prêmio estabelecido pelo “plano de metas” da empresa, criado por seu sócio-proprietário, Paulo Perez. “Começamos a trabalhar com metas anuais em 2014 e, deste então, houve melhorias significativas nos principais indicadores da propriedade”, conta Perez, responsável pela gestão da Fazenda Granada, que faz recria a pasto e engorda tanto em semi confinamento quanto em confinamento. A propriedade tem rebanho de 5.500 bovinos, alojadas em 1.431 ha de pastagens, e abate, em média, 3.500 cab/ano, 90% delas da raça Nelore. Todos os animais são rastreados e vendidos sobretudo para o mercado europeu. Segundo o produtor, dependendo do desempenho da equipe durante o ano pecuário (que, na Fazen-
Vista geral da Fazenda Granda, em Rondonópolis, MT, que adota uma sistema inédito de premiação de funcionários, com base em indicadores de produtividade.
86 DBO setembro 2018
da Granada tem início em 1º de maio e se encerra em 30 de abril do ano seguinte), a bonificação anual pode atingir quase dois salários adicionais por trabalhador. “Até agora, o máximo que eles conseguiram receber foi o adicional de um salário e meio, o que é um resultado excelente, embora sempre trabalhamos para que todos consigam alcançar pontuações máximas”, informa Perez, acrescentando que a fazenda realiza reuniões e treinamentos periódicos com a equipe, para eventuais correções de procedimentos. Metas arrojadas Qualquer que seja o percentual de premiação, continua Perez, os resultados positivos atingidos em função do plano de metas já justificam o pagamento adicional para os colaboradores, pois há significativa melhoria no fluxo de caixa da fazenda. “Quanto maior for o desempenho e responsabilidade, tanto individuais quanto coletivas, na execução desse plano, maior será o aprimoramento dos resultados, possibilitando, em contrapartida, maior reconhecimento e recompensa aos funcionários”, enfatiza. O plano estabelece metas anuais para três importantes indicadores, que têm impacto direto na lucratividade da fazenda: “mortalidade”, “desfrute dos machos” e “peso médio final dos animais”.
Esquema de bonificação em função do peso de abate (cada 1 ponto garante 10% a mais no salário) Arrobas/Terminação
Pontuação
Acréscimos
20@
1 ponto
10%
20,5@
1 ponto
20%
21@
1 ponto
30%
21,5@
1 ponto
40%
22@
1 ponto
50%
Fonte: Fazenda Granada
No quesito mortalidade, trabalha-se, atualmente, com a meta de 1%/ano em relação ao total do rebanho, o que garante 60% (60 pontos) de bonificação sobre o salário nominal. Entretanto, a fazenda prevê reduzir ainda mais as perdas de animais, para 0,5%/ano (meta ainda não conquistada pela propriedade), o que daria bônus de 80% à equipe (80 pontos). “Apesar de não termos conseguido atingir esse patamar ainda, desde que iniciamos nosso plano de metas anuais, a mortalidade caiu de 2,5% para menos de 1% do rebanho total”, diz Perez, acrescentando que, no último ano pecuário, o índice ficou em 0,93%. Segundo ele, a conquista da meta de 1% para mortalidade refletiu os cuidados constantes que os funcionários de campo passaram a ter em suas tarefas. “Algumas das atividades diárias que contribuíram para minimizar as mortes foram: o maior número de “rodeios” (inspeções) no rebanho, a maior atenção durante o controle sanitário (vermifugações, vacinações e controle de ectoparasitas), além da observação diária dos animais em confinamento”, ressalta. Desfrute e peso final Nos últimos anos, a Fazenda Granada se decidiu pela intensificação da recria/engorda, visando à produção de mais arrobas por hectare. Daí a atenção total aos outros dois índices que compõem o plano de metas: desfrute e peso final. “O processo de intensificação exigiu um compromisso ainda maior dos nossos colaboradores, principalmente com o acompanhamento efetivo de tarefas ligadas à nutrição, que vão desde a adubação de pastagens, passando pelo uso de proteinados, até o manejo dos animais nos sistemas de semiconfinamento e confinamento”, ilustra. Em relação à meta de desfrute dos machos do rebanho (porcentagem de animais abatidos em relação ao rebanho total no ano pecuário), o índice aceitável estabelecido para essa categoria de engorda é igual ou superior a 60%, ou seja, se a fazenda atingir essa meta, cada funcionário de campo recebe 60 pontos (60% a mais do salário). “Saímos de 55% de desfrute no ano pecuário de 2015/16 para 61% no ano pecuário seguinte”, recorda. Na última temporada (2017/18), porém, a equipe da fazenda deixou de receber os 60 pontos nes-
te quesito, já que a taxa de desfrute ficou abaixo da meta, atingindo 59,1%. Em compensação, os colaboradores conseguiram receber 30% de bonificação provenientes do maior abate de fêmeas. Segundo Peres, vacas e novilhas não entram na conta de desfrute do plano de metas, pois o número de cabeças da fazenda varia muito de um ano para outro, dependendo das oportunidades de boas aquisições no mercado. No entanto, para incentivar a engorda dessas fêmeas, a propriedade estabelece uma premiação de 0,5 ponto (ou 5% de salário adicional) para cada 50 animais abatidos no ano. Em 2017, foram enviados para o gancho 303 fêmeas, o que resultou no ganho individual de 3 pontos (ou 30% de bônus no salário dos funcionários). A Fazenda Granada também vem conseguindo evolução no peso da carcaça, terceiro item do plano de metas. Em 2015/16, os machos abatidos pesaram 19,78 @/cab; esse valor saltou para 20,53 @, em 2016/17 e, no último período (2017/18), alcançou 20,77@. Nesse item, os funcionários ganharam 10% a mais sobre o salário nominal quando a boiada ultrapassou a barreira das 20@. Acima desse patamar, conforme mostra a tabela, sempre que se incorpora 0,5 ponto percentual ao peso, o bônus sobe. Nos dois últimos anos pecuários, esse índice foi superior a 20,5@, então, a equipe ganhou 20% a mais de bônus anual, pagos no mês de junho. Se, no ano que vem, o peso atingir as 21@, passarão a receber bônus de 30%, e, se quebrarem a barreira das 22@, terão 50% a mais no salário.
Equipe composta por sete funcionários consegue receber, em bônus, um salário e meio a mais por ano.
nnn
Fazenda Granada
Localização: Rondonópolis, MT Área de pastagens: 1.431 ha Rebanho total: 5.500 cab abate anual: 3.500 cabeças/ano Rendimento de carcaça: 54,62% Peso da Carcaça: 20,77@ Índice de mortalidade: 0,93% Taxa de desfrute dos machos: 59,1%
MT Cuiabá Rondonópolis
nnn
DBO setembro 2018 87
Gestão Pré-requisitos Da mesma maneira que a equipe de campo da Fazenda Granada consegue acumular mais pontos cada vez que atinge as metas almejadas, também pode perder pontuação ao longo do ano e, consequentemente, ter, ao final dos 12 meses, menor remuneração individual no mês em que os índices da fazenda são avaliados (junho). Isso porque o plano de metas estabelece regras rígidas para três índices relativos à atuação do funcionário: segurança no trabalho, conduta e disciplina no trabalho e manejo animal. Para cada um desses três quesitos, os trabalhadores iniciam o período base com 100 pontos cada. Ao final da temporada, para usufruir das bonificações do plano de metas, cada um terá de ter garantido até 70 pontos em cada indicador. No quesito segurança, pode perder pontos em casos como acidentes de trabalho (com veículos motorizados, ferramentas, lida direta com animais, choques elétricos, etc) e a não utilização (ou uso incorreto) de equipamentos de proteção individual. No que se refere ao item conduta e disciplina, a pontuação individual é reduzida em casos como o não cumprimento da atividade estipulada pelo gestor e ausência física durante o período de trabalho sem justificativa plausível (atestado médico, por exemplo). Em relação ao ma-
88 DBO setembro 2018
nejo animal, a meta é usar boas práticas na lida diária dos bovinos e nos cuidados necessários em relação às instalações e estrutura geral da fazenda. “É certo que um manejo inadequado dos animais, como o comportamento agressivo dos funcionários, traz sérios prejuízos para a atividade, como contusões nos animais, diminuição do ganho de peso, menor qualidade da carcaça, baixa resistência a doenças e acidentes com os próprios funcionários”, relata. Segundo critérios do plano de manejo racional, cada ocorrência de violência com animais durante o manejo resulta na diminuição de 10 pontos no índice total. Se o problema for mais grave – morte ou acidente grave (fratura) por lida incorreta – perde-se 20 pontos. A utilização inadequada de implementos e maquinários prevê um desconto de 10 pontos. A não execução de serviços de manutenção preventiva e conservação (troca de óleo, filtro, graxa, cuidados com o curral, etc) é penalizada com a redução de 10 pontos. Em qualquer um dos três itens que fazem parte dos pré-requisitos obrigatórios para a participação do plano de metas, todos os funcionários da Fazenda Granada fecharam o último período pecuário com pontuações acima de 70 pontos, “o que demonstra a seriedade e o comprometimento de todos envolvidos”, festeja Perez. n
66º
MEGA LEILÃO
15 TOUROS DE REPASSE, SAFRA DE 2015.
NELORE MOCHO CV
30.09,
DOMINGO, FAZENDA SANTA GINA PRESIDENTE EPITÁCIO.
AVALIAÇÃO GENÉTICA
INÍCIO DO LEILÃO ÀS 12H.
PELA ANCP.
500 TOUROS DA SAFRA 2016, FECHANDO DOIS ANOS DE IDADE.
ANIMAIS
RÚSTICOS, PRECOCES E FÉRTEIS.
200 JOVENS MATRIZES PRENHES DOS MELHORES TOUROS DA ATUALIDADE.
LEILOEIRA
PRECOCIDADE
GENÔMICA
ILPF
LUCRO
O primeiro parto aos 22 meses permite uma pecuária de ciclo curto.
Maior acurácia e intensidade de seleção.
Pecuária sustentável e nutrição saudável.
Raça adaptada resulta em mais rentabilidade.
TRANSMISSÃO
APOIO
PATROCÍNIO
Nutrição
Animais sendo alimentados com ração contendo bagaço de laranja cru, que é um produto perecível.
Laranja em dose dupla Pesquisadora da Apta desenvolve silagem feita com bagaço fresco da fruta misturada com polpa cítrica peletizada
U
Tatiana Souto
ma silagem inédita, que mistura dois resíduos provenientes da mesma agroindústria (o bagaço de laranja e a polpa cítrica peletizada, ou PCP) está sendo testada em Colina, SP, pela Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta), órgão da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo. Além de garantir alimento barato, nutritivo e de qualidade para o gado em períodos de seca, a nova silagem ajuda a reduzir a poluição ambiental, conferindo um descarte apropriado à grande quantidade de material orgânico que sobra da fabricação de suco. Segundo a pesquisadora e coautora do estudo, Regina Kitagawa Grizotto, nas regiões produtoras de suco de laranja – sobretudo no norte e sudoeste paulistas –, as indústrias pequenas e médias geralmente doam parte do bagaço para pecuaristas e despejam o restante em aterros, que acabam soltando efluentes, como o chorume, líquido que polui o solo e mananciais, além de atrair grande quantidade de insetos. Já as empresas de maior porte, com mais recursos, processam o bagaço, transformando-os em pellets, ou polpa cítrica peletizada (PCP), vendida a preços razoáveis no mercado.
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Bagaço já misturuado com polpa cítrica peletizada, que absorve a umidade do produto.
“Nas propriedades rurais, o bagaço fresco, além de úmido e, por isso, altamente perecível, tem de ser usado muito rápido, se não provoca o mesmo problema ambiental”, explica a pesquisadora. Estudos apontam que o bagaço fresco contém 85% de umidade e entre 15%-25% de matéria seca, com alto nível de carboidratos que fermentam rapidamente. Por estragar muito depressa, recomenda-se que o pecuarista o utilize em três dias, no máximo, para alimentar o gado. Regina vem buscando desde 2014, com recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), uma fórmula adequada de silagem feita com a mistura desses dois ingredientes abundantes e baratos. “É um trabalho interessante porque nós colocamos dois elementos de mesma origem na silagem. Além de reciclar um resíduo industrial, mantém-se sua qualidade nutricional sem diminuir, por exemplo, seu teor de proteína ou carboidratos solúveis”. Percentual de mistura Com base nos estudos da Apta, a proporção ideal para ensilagem é de 20% de polpa cítrica (PCP) e 80% de bagaço de laranja, misturados de maneira uniforme. “O material seco da PCP é fundamental para absorver a umidade excessiva do resíduo cru, reduzir seu volume e evitar a produção de chorume”, diz. Segundo Regina, o processo de ensilagem é o mesmo utilizado no milho, no sorgo ou na cana-de-açúcar e pode ser feito tanto em silos de superfície quanto subterrâneos. “Coloca-se uma lona no chão, vai-se depositando a mistura e compactando-a bem com o trator, para retirar o ar da pilha. Depois que tudo estiver depositado e bem compactado, fecha-se o silo. Após esse processo, o tempo necessário para ocorrer a fermentação, com a produção natural de ácido lático, é de cerca de 60 dias, o mesmo prazo do milho, por exemplo”. A pesquisadora explica que a fermentação produz o ácido lático, cuja principal função é baixar o pH da massa
R|C
SUCESSO CONSOLIDADO! A PRÓXIM A E DIÇÃO JÁ E STÁ M A RC A DA, AGE N D E - S E !
04.AGO.2019
DOMINGO ÀS 12H FAZENDA RESSACA CÁCERES MT
W W W . N E L O R E G R E N D E N E . C O M . B R
Nutrição Comparação nutricional Os valores auferidos entre a silagem de milho e o bagaço fresco de laranja
Bagaço de laranja in natura MS
Processo de ensilagem do bagaço cru é igual ao do milho
Silagem ruim dura mais tempo, porque microorganismos não se desenvolvem tanto nela”. Regina Kitagawa Grizotto
ensilada. O processo ocorre durante o período em que a silagem fica fechada hermeticamente. “A redução do pH é um dos fatores de conservação do produto, pois evita o crescimento de micro-organismos deterioradores”, diz ela, acrescentando que “vale a pena” adicionar poupa cítrica peletizada à massa, pois isso garantidamente diminui a produção de gases e efluentes. “A PCP absorve a água livre do bagaço, impedindo que esta escorra na forma de efluente.” Segundo a pesquisadora da Apta, a silagem feita com resíduos da indústria de suco de laranja não é muito disseminada nas regiões citrícolas porque os pecuaristas costumam dar ao gado o bagaço in natura, diretamente no cocho. E quando eles decidem produzi-la, não adicionam a polpa cítrica peletizada. “Usam só o bagaço e inevitavelmente têm de lidar com o chorume”, afirma, reforçando a importância da mistura. Além da clara vantagem ambiental, Regina ressalta que se trata de uma fonte alimentar para o gado muito mais competitiva em relação à silagem de milho, cana-de-açúcar ou sorgo e tão nutritiva quanto. “O valor nutricional do bagaço de laranja se compara ao de cereais como milho e sorgo e isso tem interessado muito a produtores de gado paulistas”, diz ela, acrescentando outra vantagem: a eliminação do “trabalho extra” que o criador tem com silagens cultivadas. “O milho, o sorgo ou a cana têm de ser plantados, colhidos e picados, demandando tempo e mão de obra. Já o bagaço fresco e os pellets são obtidos diretamente na indústria de suco, a preços bem competitivos, e só precisam ser transportados até a propriedade, misturados e colocados no silo”, compara. A pesquisadora ressalta ainda que a oferta do produto é maior na seca, quando os pastos rareiam no País e os pecuaristas buscam complementar a alimentação de seus rebanhos. Mais etapas O desenvolvimento da silagem misturada foi a primeira etapa da pesquisa da Apta-Colina. A segunda será garantir sua durabilidade após a abertura do silo. Regina explica que até mesmo o silo de bagaço fresco dura mais depois de aberto do que o misturado com pellet de laranja.
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Silagem de milho
14,33
31,11
MO
-
94,23
PB
7,13
7,24
EE
5,99
2,84
FDN
19,64
54,41
FDA
16,03
29,15
MS: matéria seca; MO: matéria orgânica; PB: proteína bruta; EE: extrato etéreo; FDN: fibra em detergente neutro; FDA: fibra em detergente ácido. FONTE: VALADARES, FILHO F. C.
“Isso é compreensível, tendo-se em vista que, qualitativamente, a silagem misturada é mais nutritiva, bem conservada e atraente aos micro-organismos aeróbios, que atuam no alimento assim que a lona é retirada e o ar entra na pilha. Já a silagem feita apenas do bagaço fresco é muito úmida e, portanto, de baixa qualidade, atraindo uma quantidade menor de micro-organismos. Consequentemente, demora mais a se degradar. Quando uma silagem é ruim, dura mais tempo”, diz Regina. Trocando em miúdos: é como se os agentes microscópicos que estão no ar e modificam a silagem após ela ter sido aberta preferissem um alimento de melhor qualidade, acelerando o processo de degradação. Nos estudos feitos nos laboratórios da Apta, em Colina, verificou-se que a silagem de bagaço fresco pode ser fornecida até 115 horas após ser retirada do silo, enquanto a que leva poupa cítrica, 42 horas. Assim, para evitar a rápida degradação da nova silagem, a pesquisadora avaliou aditivos químicos e microbiológicos que, misturados à massa, mantivessem o padrão fermentativo e estendessem sua durabilidade. “Estudamos três complementos químicos e um aditivo microbiológico”, revela Regina, acrescentando que foram feitos experimentos em relação à quantidade ideal de cada um desses produtos, tanto na silagem de bagaço fresco quanto na mistura com 20% de polpa cítrica. “Estabelecemos a dose ideal para cada aditivo e, em seguida, os comparamos, em sua melhor dosagem, com a silagem de bagaço fresco com poupa cítrica peletizada”, salienta. A pesquisadora comenta que já chegou a uma conclusão, mas, como o trabalho referente a essa parte do estudo ainda não foi publicado, não pode, por enquanto, revelar qual o melhor aditivo e sua dosagem. Outras possíveis pesquisas, ainda sem data para começar, serão feitas com relação ao valor nutricional da nova silagem em comparação com as tradicionais, de milho e de cana. De todo modo, a pesquisadora garante que já é possível, para o pecuarista situado em regiões citrícolas, lançar mão da nova mistura na silagem. “É uma alternativa acessível para o produtor rural de qualquer tamanho”, comenta. n
Saúde Animal Bovino mordido pelo morcego hematófago causador da raiva, cujo controle é feito com aplicação de pasta anticoagulante.
Raiva bovina assusta Autoridades atribuem aumento de casos ao baixo índice de vacinação e à falta de pessoal qualificado para capturar morcegos.
A
Não há, no Brasil, nenhuma epidemia de raiva” Guilherme Marques, diretor do Departamento de Saúde Animal do Mapa.
94 DBO
Luiz H. Pitombo
raiva voltou às manchetes em 2018, devido ao ataque de morcegos hematófagos (Desmodus rotundus) a humanos – um paranaense morreu após ser mordido por morcego infectado, em Ubatuba, litoral paulista, e três jovens de uma ilha do arquipélago do Marajó, PA, também foram atacados pelo por esses mamíferos, vindo a falecer. Óbitos por raiva em humanos são raros, mas chamam a atenção para a doença, cujo controle em bovinos também tem recebido críticas, pois o número de casos aumentou 28% em 2017. Representantes do setor de saúde reclamam de queda na vacinação, dificuldades ou desleixo na comunicação de casos de ataque (nem todos os pecuaristas notificam as autoridades responsáveis) e falta de pessoal para a captura dos morcegos. O controle é feito com uma pasta anticoagulante, que, consumida por alguns animais, contamina outros de sua colônia, levando à redução da população. Segundo o Mapa, não existe motivo para alarde. “Não há, no Brasil, nenhuma epidemia de raiva que salte aos olhos”, afirma o médico veterinário Guilherme Marques, diretor do Departamento de Saúde Animal, do Mapa. Segundo ele, o sistema veterinário brasileiro passa por auditorias da OIE, que o classifica como “satisfatório”. Marques reconhece a necessidade de mais equipes para a captura de morcegos. No entanto, afirma que a escassez de pessoal também ocorre em áreas do próprio Mapa, “o que não impede os trabalhos, tanto que o País tem evoluído em seu status sanitário”. Ele diz que é preciso usar in-
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teligência, novas estratégia e os recursos disponíveis para combater a doença, como, por exemplo, o aplicativo para celular Pec Saúde Animal, criado pelo Mapa. Lançado no final do do ano passado, esse aplicativo (gratuito) permite que produtores e técnicos acessem documentos e registrem ocorrências e/ou suspeitas de enfermidades nos animais. “Posso comunicar a suspeita de um foco de raiva e em pouco tempo acionar uma equipe”, diz. Falta de comunicação O Estado com maior registro da doença é São Paulo, que teve 164 dos 640 focos ocorridos no País, no ano passado. A incidência da doença em terras paulistas aumentou 67%, em comparação com 2016, se concentrando principalmente na região de Botucatu. “Um dos prováveis motivos é a crescente população de javalis, cujo sangue também é alimento do morcego”, afirma o médico veterinário Paulo Fadil, gerente do Programa Estadual de Controle da Raiva dos Herbívoros. Neste ano, sua equipe já contabilizou a ocorrência de 121 casos (até agosto). “Infelizmente, os produtores deixaram de vacinar”, lamenta, citando também como justificativa para o aumento dos casos de raiva a falta de pessoal para a captura de morcegos. O quadro encolheu 50% desde o ano 2000, somando hoje 27 funcionários. Fadil também atribui a queda nos índices de vacinação ao fato de os pecuaristas não irem mais à Casa da Agricultura para emitir GTAs (guias de transporte animal), já que o serviço está disponível on line. “Perdemos, assim, a oportunidade de orientá-los sobre a raiva e outras doenças”, diz. Para ajudar a suprir tais deficiências, uma equipe ligada ao Programa Estadual de Controle da Raiva dos Herbívoros está desenvolvendo uma espécie de “banner eletrônico”, com alertas para imunização quando o produtor acessar a rede. Também deverá ser incluído um “informe” sobre mordeduras de morcego, o que permitirá o deslocamento de pessoal especializado até o local indicado. No Mato Grosso do Sul, onde os focos também aumentaram, o médico veterinário Fabio de Araújo, coordenador do programa estadual, registrou 40 casos de raiva bovina em 2017, ante oito em 2016. Em sua opinião, o número deve cair neste ano. Diferentemente de São Paulo, os produtores do estado têm vacinado o rebanho nas áreas de risco, demonstrando boa conscientização. n
Fatos & Causos Veterinários
Enrico Ortolani
Como o transporte afeta a garrotada
N
Professor titular de Clínica de Ruminantes da FMVZ-USP ortolani@usp.br
nnn Perda de peso em garrotes, durante o transporte, pode chegar a 2,5%, percentual bem maior o observado em bois para abate.
nnn
o artigo anterior, listei alguns malefícios do transporte para o gado, enfatizando que muito já foi escrito sobre a boiada que vai para o abate, porém quase nada sobre os bovinos mais jovens, que são comprados para a recria ou para a engorda. É o tema de nossa conversa agora. Há muito, tenho lido trabalhos internacionais sobre a influência negativa do transporte nos bovinos. Uma coisa é ler e teorizar, e a outra é ver e atestar na prática. Resolvi, em um trabalho de mestrado, estudar o assunto. Acompanhei um simples deslocamento, para um confinamento paulista, de 50 garrotes de 320 a 410 kg. O trajeto era de 170 km, com duração de 4 horas e 30 minutos. Nada de mais! Os caminhões-gaiola eram razoáveis e não foram lotados até as tampas, como é comum em nosso meio. Os motoristas pareciam cuidadosos, indo devagar nas lombadas e nas curvas mais fechadas, evitando dar freadas violentas que derrubam a boiada como pinos de boliche. Um bom sinal foi que todos os bovinos chegaram em pé no destino. É comum, em viagens longas ou quando o motorista não respeita a carga viva, que muitos bois terminem no chão, em especial os mais jovens. Pesamos a boiada e coletamos sangue na saída, na chegada e após 48 h de adaptação, no destino. Quanto mais leve o garrote, maior foi a perda de peso no transporte e no período de adaptação. O deslocamento provocou queda de peso de 2,5 %, em média, durante a viagem, e de 2,3 %, na adaptação. Para se ter uma comparação, um boi que vai para o abate perde, no mesmo trajeto, não mais do que 1,6 %. Causas da perda de peso Avaliando-se a perda de peso no transporte, cerca de 50% desse problema estão ligados ao alimento que a boiada deixou de comer e às fezes e urina eliminadas no trajeto, mas o resto deve-se ao enxugamento de líquidos da musculatura e do sangue. O trabalho demonstrou, pela primeira vez, que o líquido do sangue chegou a minguar até 30% nas reses mais leves, melhorando durante a adaptação para 10%, depois que o animal bebeu água. Para se ter uma ideia, um enxugamento do fluido do sangue na casa dos 20% a 30% representa uma desidratação moderada no organismo. Dentro dos pulmões existe uma série de tubos e canalículos interligados que levam e trazem o ar que entra e sai desse órgão. São os brônquios e os bronquíolos que parecem um tronco e uma copa de árvore invertida. Na parede desses canos, existem pequenos cílios vibrantes que tentam impedir que as bactérias migrem pulmão adentro, assim como ocorre com a secreção de um tipo de catarro limpo, que contêm substâncias antimicrobianas. Nas partes mais profundas dos pulmões,
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residem células ultrapoderosas que atacam os micróbios causadores da pneumonia. Pois é, quanto maior for o estado de desidratação nos pulmões, menos os cílios batem, mais espesso se torna o catarro, atuando menos sobre as bactérias, e as células ultrapoderosas perdem proporcionalmente seu vigor, como Sansão depois da cabeleira cortada. Não mencionei que o estresse de transporte libera uma série de substâncias anti-inflamatórias que se somam à desidratação, complicando o meio do campo das defesas pulmonares. Os norte-americanos, muito antes de criarem a brilhantina, denominaram as pneumonias, causadas após um longo deslocamento de seus garrotinhos para os confinamentos, de “febre do transporte”. Ainda hoje, 20% a 50 % da bezerrada recém-desmamada e castrada que se desloca por centenas ou milhares de quilômetros aos confinamentos na terra do Tio Sam tem de ser tratada contra essas pneumonias. Quanto mais jovem é a boiadinha, maior o percurso deslocado e o estresse sofrido, maior a chance de desenvolver a “febre do transporte”, na primeira quinzena de confinamento. Febre de transporte No meu trabalho, foram coletadas amostras da secreção da garganta para a procura de bactérias que poderiam invadir, a partir daí, os pulmões e causar pneumonia, após estes terem suas defesas debilitadas. Foi encontrada, na chegada ao confinamento, uma bactéria causadora de pneumonia em 35% dos animais, boa parte em garrotes mais leves e desidratados. Felizmente, alguns dias depois essas bactérias desapareceram e não geraram doença. Era de se esperar mesmo. Na terra de Trump viagens acima de 200 km é que passam a desencadear mais “febre de transporte”. Além do mais, os bovinos empregados no meu trabalho eram mais velhos e resistentes que os garrotinhos de lá, que têm suas defesas pulmonares menos apuradas. Bem, consultando minha bola de cristal, antevejo que teremos graves problemas de “febre do transporte” no futuro. Nossos confinamentos estão cada vez mais americanizados, pois ano-a-ano recebem animais cada vez mais novos, comprados em centros de cria mais distantes e comprados de marreteiros, que submetem a garrotada a pelo menos um deslocamento a mais. Quem viver verá! Ainda são poucas as iniciativas dos recriadores e confinadores em educar e cobrar dos caminhoneiros um tratamento mais tranquilo no carregamento e descarregamento da boiada, evitando a superlotação, e exigindo redução na velocidade, maior cuidado nas curvas, lombadas e freadas, durante o transporte. Use seu poder de consumidor e, em caso de abusos, chame o Procon. n
Internacional
De Swift a JBS USA
JBS
Operação norte-americana já representa 70% do faturamento global da companhia, que quer mudar imagem no Exterior e criar cultura empresarial unificada.
Na planta de Greeley, no Colorado, são processadas cerca de 5.500 carcaças/dia
Marina Salles
O
marina.salles@revistadbo.com.br
s americanos podem não ter ideia, mas, de cada cinco refeições com proteína animal que fazem, uma contém carne processada pelo Grupo JBS, atualmente a maior indústria produtora de carne bovina e de frango do mundo, e segunda no segmento de suínos e ovinos, com faturamento total de US$ 55 bilhões em 2017. Há 11 anos nos Estados Unidos, desde que comprou a Swift, a companhia mudou muito e quer ostentar o rótulo de empresa global de alimentos, não mais de um simples frigorífico. Segundo André Nogueira,
Visão da operação Beef nos Estados Unidos
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presidente da JBS USA, o grupo atua nos principais países produtores de proteína animal no mundo, além do Brasil, onde é líder de mercado e player importante do setor de alimentos preparados, desde que adquiriu a Seara em 2013. Hoje, as operações brasileiras respondem por apenas 14% da receita total da companhia, enquanto a JBS USA tem participação de 70%, com faturamento de US$ 37,8 bilhões em 2017. Sob o chapéu “USA” estão três grandes divisões de negócios: a Beef (carne bovina), a Pork (carne suína) e a Pilgrim’s (aves), com unidades nos Estados Unidos, Canadá, Austrália, Nova Zelândia e Europa (Moy Park). “Esse braço do grupo cresceu de forma consistente nos últimos 11 anos, por meio de uma série de aquisições: Pilgrim’s Pride (aves), em 2009; Tyson do México (aves), em 2014; Cargill Pork, Primo (embutidos) e Moy Park (aves e embutidos), em 2015; Gold’n Plump (aves) e Plumrose (suínos), em 2017”, listou Nogueira. Com isso, as vendas de proteína animal da JBS USA saltaram de US$ 21 bilhões/ano, no período 2008-2012, para US$ 34 bilhões, entre 2013 e 2017. Embalado pelas exportações para a Ásia (China, Japão, Coreia), Oriente Médio, América Central e América do Sul, esse ritmo de crescimento deve se manter, segundo Nogueira, em função da forte demanda por carne justamente nos países que não conseguem produzi-la e cujos processos de urbanização, fortalecimento da classe média e mudanças nos hábitos de consumo favorecem as exportações. Operação Beef USA Com faturamento líquido de US$ 21,7 bilhões em 2017, o maior dentre os negócios do grupo no Exterior, a JBS USA Beef reúne operações nos Estados Unidos, Canadá e Austrália, onde foram abatidos, no ano passado, 42.430 animais por dia em 22 plantas, nove delas nos Estados Unidos. Neste país, a companhia conta com duas classes de frigoríficos, em função de sua localização: “fed beef” e “regional beef”. Fazem parte da primeira categoria as plantas de abate de bovinos de corte em Hyrum (Utah), Grand Island (Nebraska), Cactus (Texas) e Greeley (Colorado), que ficam no Meio-Oeste norte-americano, próximas a feedlots (confinamentos). Já as unidades “regional beef” abatem animais leiteiros, vindos principalmente do leste dos Estados Unidos, bovinos orgânicos ou criados a pasto e vacas de descarte em Omaha (Nebraska). Com capacidade para processar 1.300 cab/dia, esta última planta recebe, em geral, matrizes de corte dos rebanhos de cria da região Meio-Oeste.
marina salles
JBS
Carne moída embalada a vácuo, produzida a partir de animais criados a pasto
André Nogueira, presidente da JBS USA, comanda um time de 35.700 pessoas.
Em visita à fábrica de Greeley, referência para “fed beef”, o grupo de jornalistas brasileiros que viajou a convite da JBS para conhecer as operações norte-americandas, se deparou com uma linha de produção com escala muito superior à dos frigoríficos brasileiros. Essa unidade industrial processa, em média, 5.500 machos por dia, com 600 kg de peso vivo/cab e rendimento de carcaça de 63%. Segundo Jay Rawlings, gerente geral da planta, cerca de 8% das carcaças recebem o carimbo Prime do sistema de classificação de carcaças norte-americano; 65% atingem padrão Choice; 20%, Select e somente 5% são consideradas “no roll” (sem classificação). Vistos de longe, os lotes de carcaças parecem iguais, embora o preço de mercado prove que são diferentes. “A padronização nos Estados Unidos é maior do que no Brasil, porque você não tem de lidar com grandes variações de uma fazenda para outra. Os animais vêm quase todos do confinamento e 70% deles são Angus ou cruzados dessa raça”, disse Nogueira. Na linha de produção, um profissional da fábrica observa os resultados da classificação das carcaças, enquanto elas vão sendo carimbadas por um servidor do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). Além do emblema desse órgão governamental, parte dos animais recebe a Certificação Angus Beef (CAB), após avaliação criteriosa quanto à qualidade da carne, que deve ter classificação de Choice para cima (20% da produção da planta). São produzidos em Greeley, 1.400 t (3,1 milhões de libras) de carne por dia, embalados em 34.000 caixas, que se destinam, em sua maioria ao mercado interno (73%), mas também às exportações, (27%), tendo a Ásia como principal destino.
ou “bricks of ground beef” (porções retangulares embaladas a vácuo). Algumas das vantagens deste tipo de apresentação, segundo Nogueira, são a facilidade de transporte, a maior vida de prateleira e a praticidade para o varejista, em especial, quando ele não dispõe de açougue na loja. “Há 20 anos, o Walmart deixou de cortar e moer carne em seus supermercados e essa é uma tendência, embora algumas empresas venham mantendo esse serviço como um diferencial”, explicou Nogueira. Segundo ele, há cinco anos a JBS USA não produzia nenhum “case ready ground beef” (carne moída pronta para ir para a gôndola do supermercado), e hoje já conta com cinco fábricas especializadas nesse segmento, produzindo 90.000 t/ano (200 milhões de libras). O cuidado com o produto final e o crescimento da demanda interna garantiram à JBS USA Beef um aumento de 5,4% na receita líquida no ano passado, em comparação com 2016. Todas as nove plantas da empresa nos Estados Unidos conduzem também algum tipo de operação de “value added” (valor agregado), com processamento, adição de temperos e marinação da carne, visando sua venda com a marca do supermercado. “Essa é uma diferença em relação ao Brasil. Temos menos marcas próprias em beef nos Estados Unidos, devido às características do mercado local. No porco, é o contrário”, explica o executivo. A JBS nos Estados Unidos também vende matéria-prima para empresas especializadas na fabricação de hambúrgueres (carne prioritariamente magra, de vaca, produzida em Omaha, e gordura, proveniente das plantas de abate de machos), além de explorar alguns nichos, como a carne orgânico e a produzida a pasto (natural).
Demanda interna em alta Apesar da importância do mercado externo, a companhia tem dado maior atenção à demanda norte-americana, que está em alta, principalmente pelo produto moído. Metade da produção nacional de carne bovina é consumida dessa forma, acondicionada em rolos, bandejas de isopor
Uma empresa, várias culturas Com o crescimento acelerado da companhia, liderar pessoas com base em um objetivo comum tem sido um dos maiores desafios da JBS USA. Na entrada das fábricas nos Estados Unidos, bandeiras de países do mundo todo decoram o teto das instalações e, na linha de proDBO setembro 2018 99
Internacional Bandeiras de diversos países indicam a diversidade cultural nas fábricas da empresa
JBS
dução, asiáticos trabalham ao lado de latinos, africanos e americanos. É possível ter contato, em uma única unidade fabril, com 30 idiomas diferentes. Transmitir a cultura da JBS, fundada no Brasil, para esse time é uma tarefa árdua, mesmo em plantas com mais tempo de incorporação. Na fábrica de suínos de Ottumwa, no Iowa, adquirida da Cargill em 2015, que abate 18.500 cab/dia e tem 2.230 funcionários, a transição começou há 2,5 anos e o clima organizacional vem mudando aos poucos. O gerente geral da operação, Troy Mulgrew, convidou os jornalistas brasileiros para participar de uma reunião semanal de avaliação da companhia pelos funcionários da fábrica, sob coordenação do Departamento de Recursos Humanos. Uma mexicana com 13 anos de empresa expressou seu descontentamento com as faltas constantes dos colegas e a inexistência de uma equipe de apoio para assumir o trabalho nessas situações. “Por causa das faltas, frequentemente me colocam para exercer funções das mais variadas; isso tem me causado dores no corpo e, na enfermaria, me dizem apenas que vai passar”, disse, após dar nota zero para o atendimento médico oferecido. Mulgrew explicou que o pessoal do setor havia sido trocado por não se adaptar às novas diretrizes da empresa, e que novos funcionários estavam sendo contratados para a linha de produção. Apesar das queixas, naquela reunião, a maioria das notas ficou entre 8 e 10, tanto para o serviço médico como para a área de recursos humanos e supervisão. Há dois anos, Mulgrew afirma que não teria tido a audácia de convidar a imprensa para uma reunião desse tipo, pois as notas não passavam de 3. “Embora tenhamos avançado, demora para mudar a cultura de uma empresa”, disse. Assim como no Brasil, os valores fundamentais da empresa (atitude de dono, determinação, disciplina, disponibilidade, simplicidade, sinceridade e humildade) estão expostos por toda parte, desde a sala do diretor até o
refeitório dos funcionários. Questionado sobre o impacto da delação premiada dos irmãos Batista no Brasil sobre algum desses pilares conceituais, o executivo responsável pela operação de suínos da JBS USA, Martin Dooley, disse que os dois negócios são independentes e que o episódio não influiu nas operações norte-americanas. Para atrair e reter pessoas, a fábrica de Ottumwa tem pago U$ 16,50 por hora trabalhada, duas vezes mais do que o salário mínimo no Estado do Iowa, que é de U$ 7,25/hora. Além disso, fornece bônus semestral, serviço médico e bancário, para facilitar a vida dos trabalhadores, em sua maioria imigrantes. “Também buscamos criar um sentimento de pertencimento, porque, se a companhia cresce, eles crescem conosco”, diz Dooley. n DBO viajou a convite da JBS
JBS USA Pork e Pilgrim’s Com 100% de sua operação nos Estados Unidos e cinco plantas com capacidade para abater 90.000 suínos/dia, a JBS USA Pork teve receita líquida de US$ 6,2 bilhões em 2017, aumento de 16,2% em relação a 2016, em função, principalmente, da aquisição da Plumrose, em 2017, que tem unidades em quatro Estados norte-americanos. Segundo o diretor da operação, Martin Dooley, a expectativa é de que o negócio continue crescendo, apesar do ciclo de queda nos preços da carne suína, acompanhado da construção de novas plantas de abate no país, e dos efeitos da guerra fiscal entre Estados Unidos e China, resultado de medidas protecionistas adotadas por Donald Trump. Na fábrica de
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Ottumwa, no Iowa, um encarregado relatou que o preço pago pelas patas e orelhas de porco enviadas à China já caiu pela metade. Já a Pilgrim’s Pride apresentou receita líquida de US$ 10,8 bilhões em 2017, em suas 36 plantas, que têm capacidade para abater 8,2 milhões de aves por dia em três países, resultado 9% superior ao de 2016. Nos Estados Unidos, o desempenho foi ainda melhor e o crescimento líquido, de 11,6%, na mesma comparação. São em terras norte-americanas que estão localizadas 26 das 36 plantas de aves da empresa, e onde foram centrados esforços para levar uma das unidades, a de Sanford, na Carolina do Norte, ao patamar de maior
Troy Mulgrew (à esquerda) e Martin Dooley (à sua direita) em foto com a equipe de Pork indústria produtora de frango orgânico do mundo. Lá são processadas 650.000 aves por semana, em uma linha de produção altamente mecanizada.
NA CFM, QUALIDADE E CONFIANÇA ANDAM SEMPRE JUNTAS.
A CFM chegou à marca dos 40 mil touros produzidos, feito inédito no mercado brasileiro, que comprova toda a qualidade e confiança conquistadas ao longo dos anos. São reprodutores Nelore de genética certificada, espalhados por todo o país, trazendo desempenho superior e retorno garantido.
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Leilões
Reprodutores ditam o tom das vendas em agosto A categoria respondeu por 80,6% da oferta no mês. A ExpoGenética, realizada em Uberaba, MG, foi o principal polo de negociações. Alisson Freitas Oferta
-12,5% Receita
-2,2% Média
+11,7%
alisson@portaldbo.com.br
O
mercado de leilões voltou a derrapar em agosto, período de maior concentração na venda de touros, em função dos preparativos para a estação de monta. Até o dia 31, foram encaminhados à DBO o resultado de 77 remates envolvendo raças bovinas de corte, quase 20 a menos do que os 93 leilões realizados no mesmo período no ano anterior. Com menos eventos, a oferta caiu 12,5%, saindo de 10.756 lotes em 2017 para 9.412 neste ano. Os reprodutores responderam por 80,6% da oferta total, com 7.584 exemplares. Já as fêmeas tiveram apenas 1.687 lotes vendidos, 28% a menos do que no ano anterior. No faturamento, a queda foi menor. A receita de R$ 99,9 milhões é 2,2% inferior à de agosto do ano passado (R$ 102,2 milhões). O tombo só não foi maior devido à elevação dos preços médios durante os remates. A média geral do mês foi de R$ 10.621, alta de 11,7% em relação aos R$ 9.509 de agosto de 2017. O grande polo de vendas do mês foi a ExpoGenética, em Uberaba, MG, que celebrou a sua 10ª edição com o melhor resultado de sua história. Durante a feira, foram realizados 12 leilões, que comercializam 1.524 lotes de machos, fêmeas, embriões e aspirações de matrizes por R$ 22,5 milhões,
77 remates de bovinos de genética para carne Pistas de agosto registram média geral de R$ 10.621 Raças Nelore Senepol Guzerá Angus Bonsmara Brahman Tabapuã Limousin Brangus Devon Simental Hereford Total
Lotes 8.516 423 119 83 80 55 40 30 24 20 15 7 9.412
Leilões 59 (7) 5 4 5 (3) 1 1 (1) 1 (1) 1 (1) 2 (1) 2 (1) 1 (1) 1 (1) 77
Renda (R$) 90.668.950 5.058.480 956.250 666.060 777.900 475.920 204.580 378.480 317.250 208.640 170.400 84.960 99.967.870
Média 10.647 11.959 8.036 8.025 9.724 8.653 5.115 12.616 13.219 10.432 11.360 12.137 10.621
Máximo 930.000 36.000 17.280 14.000 12.000 19.680 21.600 930.000
Critério de oferta.(-) Dados das leiloeiras Aroeira, Atual, Camargo Agronegócio, Central, Connect, Correa da Costa, Estância Bahia, Gralha Azul, Leiloboi, Leilosul, Leiloínga, Leilonorte, Leilopec, Leilomarca, Marca P, Pampa, Parceria, Programa, Santa Úrsula, Tellechea & Bastos, Trajano Silva e Verdó Leilões. (-) Quantidade de remates em que a raça dividiu pista com uma ou mais raças. Elaboração DBO.
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respondendo por 22,6%% do faturamento total do mês. A média de touros comercializados na feira foi de R$ 14.642, valor 32,5% em relação à média geral da categoria no mês (R$ 11.062). O desempenho foi alavancado pelas negociações de cotas de participação em diversos reprodutores de centrais. Responsável pelo comando dos principais remates do evento, o leiloeiro rural Adriano Barbosa destacou a alta procura por animais provados e dificuldade na venda de exemplares mais comuns. “Os touros de primeira linha saíram de forma rápida, com cotações altíssimas, chegando a passar de R$ 20.000, na média. Já os animais tidos como padrão, com muito esforço, foram vendidos a R$ 10.000”, destacou. Segundo o leiloeiro, essa diferenciação é influenciada pelas cotações na base da cadeia produtiva. “Há um excedente de produção de gado terminado e os preços do bezerro e do boi gordo estão desvalorizados em comparação com anos anteriores. Com isso, o pecuarista investe apenas em touros diferenciados, da qual ele sabe que terá retorno garantido com o abate de sua progênie”, explicou. Os grandes destaques entre os leilões foram o Megatouros Matinha, no dia 18, que teve a maior receita da feira, com a arrecadação de R$ 5,5 milhões por 464 animais a R$ 11.865 de média; e o Naviraí Camparino, no dia 25, que faturou R$ 5,1 milhões com a venda de 211 touros Nelore e Nelore Mocho a R$ 24.321, sendo a maior média para machos no ano, de acordo com o Banco de Dados da DBO. Com desempenho parelho a Minas Gerais, São Paulo foi a segunda praça mais aquecida do mês. O Estado foi palco de 14 remates, que comercializam 1.990 exemplares por R$ 22,6 milhões. A oferta foi concentrada em grandes ofertas de touros promovidas por criatórios tradicionais como a Agro-Pecuária CFM, em São José do Rio Preto; Fazenda Bela Alvorada e Katayama Pecuária, ambas em Guararapes. O fim do mês foi marcado pelo início da temporada de vendas no Rio Grande do Sul, durante a Expointer, realizada em Esteio. Embora responda por uma pequena fração da receita e oferta de agosto, a feira marca os preparativos finais para o início do circuito de remates de primavera, quando as cabanhas do Estado negociam toda a sua produção de touros e ventres em feiras regionais ou em remates solos. De acordo com o leiloeiro Marcelo Silva, a temporada deve ser aquecida, com médias satisfatórias. “Teremos uma comercialização franca, desde que a qualidade dos animais esteja à altura”, prevê. n
Leilões Conversa Rápida com
Tamires Miranda Neto
M
aior pista de touros Nelore com CEIP do Brasil, o Megaleilão CFM completou 20 anos na tarde de 9 de agosto, em São José do Rio Preto, SP. Em duas décadas, o remate já comercializou quase 16.000 reprodutores para 700 compradores de todos os estados brasileiros. Neste ano, as vendas aconteceram em ritmo eletrizante. Em cerca de quatro horas e vinte minutos, foram negociados 445 touros à média de R$ 10.840, ou seja, praticamente 100 touros vendidos por hora. Os trabalhos continuaram no dia seguinte, com a Megaloja nas fazendas da CFM em Magda, SP; e Dois Irmãos do Buritis, MG. Na oportunidade, foram negociados mais 121 touros, tendo como base a média do Megaleilão. Em conversa com a DBO, o gerente de pecuária da CFM, Tamires Miranda Neto, contou um pouco da história do evento e falou sobre as movimentações da edição deste ano. Como foi a celebração de 20 anos do Megaleilão?
Foi um remate muito especial, onde tivemos a oportunidade de homenagear os produtores, publicações e empresas que nos ajudaram a construir essa história. Conseguimos levar à pista animais de muita qualidade e o mercado respondeu de forma positiva. As negociações fluíram com muita rapidez e alcançamos a incrível marca de 100 touros vendidos por hora. O preço médio também nos surpreendeu muito e foi 7,3% mais alto do que o do ano passado.
O que puxou a valorização dos touros neste ano?
O pecuarista sabe que, independentemente da situação político/econômico do país, ele não pode deixar de produzir e o investimento em genética certificada dá retorno. Quem estipula quanto vale o animal são os próprios produtores. Não dá para fazer economia na hora de comprar um touro
Qual é o futuro do Megaleilão?
Devemos manter o sistema atual e fazer alguns ajustes para continuar democratizando a nossa genética. Acredito que encontramos o formato ideal de vendas, com preferência de compra em baterias e frete grátis para cargas fechadas. Nesse ano adicionamos duas novas rotas de entrega e nas próximas edições devemos ampliar ainda mais o alcance da malha rodoviária. A oferta vai continuar sendo de 450 touros no Megaleilão e 550 na Megaloja para manter a dinâmica deste ano.
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Grendene enche pista no Sudoeste de Mato Grosso
Pelo sexto ano consecutivo, Pedro Grendene abriu as porteiras da Fazenda Ressaca, em Cáceres, MT, para o Leilão 1.000 Touros Grendene, realizado em 5 de agosto. O remate estreou em 2013 e desde então se fixou como o de maior oferta de reprodutores da temporada. Este ano foram à pista 998 exemplares, entre cotas de participação e animais inteiros. O preço médio foi de R$ 9.243, perfazendo um total de R$ 9,2 milhões. Foi a segunda maior receita do ano, segundo o Banco de Dados da DBO. “O resultado foi fantástico. Conseguimos 100% de liquidez, mesmo com um volume tão grande de animais”, comemorou o diretor de pecuária da Grendene, Ilson Corrêa. Dois animais se distanciaram do grupo e geraram as maiores disputas do pregão. Truncado da Grendene foi vendido em 50% por R$ 92.000 para José Carlos Chabel, enquanto Mentor da Grendene teve a mesma cota de participação negociada por R$ 88.000 para Luis Bassaneze. O primeiro animal faz parte da bateria da Alta Genetics, enquanto o segundo tem seu sêmen comercializado pela ABS Pecplan.
Katayama celebra o seu maior leilão A Katayama Pecuária promoveu a 19ª edição do seu leilão anual nos dias 18 e 19 de agosto, na Estância Cachoeirinha, em Guararapes, SP. Foram vendidos 822 animais por R$ 7,8 milhões, na maior oferta da história do criatório. “Os números comprovam o reconhecimento do mercado em relação à qualidade e à assertividade da nossa seleção”, destaca o titular Gilson Katayama. Com pista ágil, os touros abriram o fim de semana de vendas na tarde do dia 18. Passaram pelo martelo do leiloeiro Lourenço Campo 609 animais à média de R$ 11.100, com lance máximo de R$ 183.000 por 50% do reprodutor Logan KA. No dia 19, foi a vez de as matrizes dominarem a pista. Foram negociados 203 animais, resultando na maior oferta da categoria no mês, segundo o Banco de Dados da DBO. A média geral foi de R$ 5.383, com destaques para as vacas prenhes e paridas, que saíram a R$ 14.775, em média. Além dos bovinos, ainda foram negociados alguns lotes de carneiros Dorper à média de R$ 4.050.
Genética Aditiva fatura R$ 6,5 milhões com dobradinha Um dos criatórios com maior número de touros em centrais de inseminação, a Genética Aditiva, do pecuarista Eduardo Folley Coelho, promoveu uma dobradinha de remates em agosto. Os trabalhos tiveram início na tarde do dia 4, quando aconteceu a 15ª edição do Mega Leilão Genética Aditiva, em Campo Grande, MS. Na oportunidade, foram comercializados 333 reprodutores da safra 2016 ao preço médio de R$ 13.777. Já no dia 22 de agosto, o criatório fez a sua estreia du-
rante a ExpoGenética, com a venda de 65 fêmeas a R$ 13.214 e duas cotas de participação de touros de centrais por R$ 1,2 milhão. Entre eles, destaque para a venda de 50% do reprodutor REM Dheef por R$ 930.000 para a Alta Genetics. A central também investiu R$ 306.000 para ficar com metade da propriedade do outro touro em oferta no remate, REM F22. Na somatória de ambos os eventos, a Genética Aditiva faturou mais de R$ 6,5 milhões com a venda de 377 animais. “Os resultados foram exce-
lentes, refletem o nosso trabalho de longo prazo em prol da melhoria do rebanho nacional”, celebrou Eduardo Coelho.
Adir vende Nelore e Sindi em São Paulo Após retornar a agenda de agosto no ano passado, o Leilão do Adir cumpriu a sua 29ª edição na tarde do dia 3, em Ribeirão Preto, SP. Nem mesmo o frio com garoa no dia do remate foi capaz de espantar os pecuaristas. O evento foi prestigiado por mais de 400 produtores de diversas regiões do país. Na pista, foram vendidos 17 lotes de machos, fêmeas e aspirações da raça Nelore à média de R$ 82.250 e 11 animais Sindi a R$ 11.000. “Foi um leilão de produtor para produtor. A genética ofertada é a realidade do que se produz e não uma probabilidade”, destacou o diretor do Grupo Adir, Paulo Leonel.
Primeiro leilão Sindi OT
Limousin reina no Sonho e Realidade
Consagrada nas mãos de Orestes Prata Tibery Júnior, a Marca OT estreou uma nova etapa da sua história. Na noite de 16 de agosto, em Campo Grande, MS, o filho de Orestinho, Ângelo Mário Prata Tibery, promoveu o primeiro Leilão da Sindi OT. Embora seja o seu primeiro remate com a raça, Ângelo já tem o seu trabalho de seleção de Sindi consolidado, sendo o Melhor Expositor da raça nas duas últimas edições da ExpoZebu. Foi justamente a Reservada Grande Campeã da ExpoZebu deste ano o animal mais valorizado do pregão. A matriz Cora OT teve 50% de sua propriedade comercializada por R$ 72.000 para a Sindi Mais, em parceria com o pecuarista York Correa. Em números gerais, o remate faturou R$ 1,3 milhão, com médias de R$ 21.717 para as fêmeas, R$ 12.611 para os machos e R$ 16.371 para as prenhezes.
O Limousin foi o grande protagonista da pista do Leilão e Shopping Sonho e Realidade, promovido pelo Grupo Bertê, na tarde de 18 de agosto, em Água Doce, SC. A raça respondeu por quase metade da oferta do remate, com 24 touros comercializados ao preço médio de R$ 12.540 e seis fêmeas a R$ 12.920. Foi a segunda oferta de Limousin no ano, segundo o Banco de Dados da DBO. O anterior foi o Elo de Raças, em Concórdia, também em SC. Desde 2015, a raça tem mantido o seu calendário com apenas dois eventos. Em 2018, foram comercializados 43 animais por R$ 543.840, alta de 44% na oferta e 48% na receita, em relação aos 30 exemplares por R$ 367.680 do ano passado. Além do Limousin, o Sonho e Realidade também vendeu
touros e matrizes Simental, Devon, Hereford, Braford e Brahman. O Shopping realizado antes do leilão também teve oferta de ovinos Ille de France e Texel. O total arrecadado durante o dia inteiro foi de R$ 1,2 milhão por 330 animais. DBO setembro 2018 105
Eventos Agenda ExpoBrahman 2018 A Associação dos Criadores de Brahman do Brasil promoverá, de 24 a 30 deste mês de setembro, a 14ª edição da ExpoBrahman no Parque Fernando Costa, em Uberaba, MG. Este ano, além do tradicional julgamento de animais, acontecerá entre os dias 27 e 28 de setembro o Brahman Jovem Internacional, encontro de jovens pecuaristas e estudantes de vários países para discutir inovações e novidades no ramo de empreendedorismo e startups do segmento. Representantes do Paraguai, Bolívia, Colômbia, Panamá e México já confirmaram presença no encontro, criado em parceria com a Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ), por meio da ABCZ Jovem. Outras atrações são os painéis e atividades práticas ligados ao melhoramento genético, bem-estar animal e meio ambiente. Mais informações: brahman@brahman.com.br. Encontro dos Encontros No início de outubro, a Scot Consultoria
realizará no Centro de Eventos do Ribeirão Shopping, em Ribeirão Preto, SP, o Encontro dos Encontros, focado em três temas. No dia 1° e 2 de outubro, o evento tratará da cria (gestão, reprodução e genética); nos dias 2 e 3, de adubação de pastagens; e no dia 4, de pecuária leiteira (valor agregado, mercados de nicho, qualidade e verticalização). Na programação também está previsto um dia de campo com visita a duas propriedades leiteiras. Uma delas é a Fazenda Rio Pardo, situada em Bocaina, SP, e outra a Fazenda Cravinhos, localizada no município de mesmo nome. Mais informações: www.scotconsultoria.com.br/ encontros, contato@scotconsultoria.com.br ou (17) 3343-5111. Congresso de Nutrição Animal O Colégio Brasileiro de Nutrição Animal (CBNA) vai promover, nos dias 16, 17 e 18 de outubro, o oitavo Congresso Latino Americano de Nutrição Animal (Clana). O evento será no Centro de Exposições Dom Pedro, em Campinas, SP, e contará com
40 palestras, todas em torno de um único tema: nutrição animal, para os setores de aves, suínos e bovinos, cujas cadeias de produção têm grande peso para a economia brasileira e presença cada vez mais significativa na pauta de exportações. Mais informações: cbna@cbna.com.br. Mulheres do agro Em sua terceira edição, o Congresso Nacional das Mulheres do Agro acontecerá este ano entre 23 e 24 de outubro no Transamérica Expo Center, em São Paulo, capital, ao redor do mote “2030 – O futuro agora, na prática”, com o objetivo de destacar as principais novidades do setor nas áreas de Big Data, previsão climática, nanotecnologia, mecanização, agroenergia e design thinking para gestão. Também serão apresentados os “cases” de sucesso das fazendas Água Branca, por Lilica Telles de Menezes, e Santa Brígida, por Marize Porto. Mais informações: www.mulheresdoagro.com.br ou mulheresdoagro@transamerica.com.br.
As eleições da Pecuária Brasileira já começaram! Três partidos representarão o Encontro dos Encontros da Scot Consultoria: Partido dos Criadores, Partido da Adubação de Pastagens e Partido da Pecuária Leiteira. As propostas já estão definidas, todas em prol de uma pecuária mais produtiva. Analise criteriosamente e vote consciente!
1 e 5 de ribeirão outubro preto/sp E N C O N T R O S . S C O T C O N S U LT O R I A . C O M . B R INFORMAÇÕES: 17 3343 5111
ENCONTRO DOS ENCONTROS OURO
Divisão Agrícola da DowDuPont™ PRATA
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experiência e excelência em nutricão animal ENCONTRO DE CRIADORES OURO
PRATA
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APOIO INSTITUCIONAL
ENCONTRO DE ADUBAÇÃO DE PASTAGENS OURO
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CO-REALIZAÇÃO
ENCONTRO DA PECUÁRIA LEITEIRA OURO
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LEILÃO VIRTUAL NELORE JOP
10 DE SETEMBRO - 21h - CANAL RURAL NELORE JOP VIRTUAL (18) 3301-8835 - (18) 99695-3617
LEILÃO PRENHEZES DE CLONES GENEAL 28 DE SETEMBRO - 12h GENEAL GENÉTICA ANIMAL EXPOINEL 2018 - UBERABA - MG (34) 3334-5100
LEILÃO VIRTUAL DE FÊMEAS VRC & FILHAS
11 DE SETEMBRO - 21h - CANAL RURAL VICENTE RODRIGUES DA CUNHA LUCIANA R. DA CUNHA OLIVEIRA LILIANA R. DA CUNHA ROCHA VIRTUAL (18) 3623-8101 - (18) 3623-8763
LEILÃO RIMA & GIBER - EXPOINEL 2018 28 DE SETEMBRO - 21h - CANAL RURAL RIMA AGROPECUÁRIA E NELORE GIBERTONI EXPOINEL 2018 - UBERABA - MG (31) 99803-2301 - (16) 99707-6075
29º LEILÃO FAZENDA SANT’ANNA
16 DE SETEMBRO - 14h - CANAL TERRAVIVA CARMO, JOVELINO E BENTO MINEIRO RANCHARIA - SP (18) 3265-1329
LEILÃO NELORE LINCE E OUROFINO 30 DE SETEMBRO - 13h - CANAL RURAL NELORE LINCE E OUROFINO GENÉTICA ANIMAL VIRTUAL (16) 98129-9903
VII LEILÃO NELORE HERINGER DE TOUROS PROVADOS
22 DE SETEMBRO - 13h30 - CANAL DO BOI DALTON DIAS HERINGER FAZENDA PARAÍSO - VILA VELHA - ES (27) 2122-2248
2º LEILÃO PECUÁRIA DO FUTURO AGRO SANTA BÁRBARA
25 DE SETEMBRO - 21h - CANAL RURAL AGROPECUÁRIA SANTA BÁRBARA XINGUARA VIRTUAL (63) 3233-4112
4º LEILÃO ACNB & AMIGOS PRENHEZES NELORE
27 DE SETEMBRO - 18h ASSOCIAÇÃO DOS CRIADORES DE NELORE DO BRASIL EXPOINEL 2018 - UBERABA - MG (11) 3293-8900
13º LEILÃO
& CO N V I D A D O S
17º LEILÃO IBC - NELORE BARROS CORREIA 20 DE OUTUBRO - 13h30 - INTERNET AGRESTELEILOES.COM.BR IRMÃOS BARROS CORREIA FAZENDA RECANTO - CHÃ PRETA - AL (82) 3327-1433
6º LEILÃO VIRTUAL DE TOUROS FAZENDA ARARAS 28 DE OUTUBRO - 14h - CANAL RURAL FAZENDA ARARAS VIRTUAL (31) 3539-9100
Apoio:
Acesse www.nelore.org.br e descubra as vantagens de ter um leilão oficial. (11) 3293.8900 • leilaooficial@nelore.org.br
Empresas e Produtos
O médico veterinário Luciano Roppa assumiu a presidência do Conselho da Yes, empresa que produz aditivos nutricionais. Roppa passou pela Guabi; foi sócio fundador da Nutron e seu presidente por 17 anos, além de diretor geral no Brasil da Trouw Nutrition, Grupo Nuteco.
Chave Bóia por rádio comando
Parceria Matsuda e ACNB
Um sistema para acionar bombas de captação de água em distâncias de até 30 km é o que oferece a empresa Águia Rádio Comando, de Lins, SP. A solução pode ser usada tanto para abastecer residências quanto reservatórios que servem bebedouros ou sistemas de irrigação. Segundo Jorge Montalvão, diretor da empresa, tentar automatizar esse processo em distâncias superiores a 200 m entre o tanque e a bomba de captação é praticamente impossível com o uso de sensores conectados por fios, devido à indutância produzida nos fios, que “retém” a passagem do sinal e atrapalha o funcionamento dos sensores. A “Chave Bóia” viabiliza o controle automático do acionamento da bomba através de sinal de rádio. Mais informações pelo telefone: (14) 3025-2225 ou no site www. aguiaradiocomando.com.br
A partir de uma parceria anunciada no mês passado, durante a Expogenética, em Uberaba (MG), a empresa Matsuda passou a ser a patrocinadora “master” (exclusiva) dos eventos da Associação dos Criadores de Nelore do Brasil (ACNB) no segmento de sementes de pastagens e suplementação mineral. O acordo tem duração de dois anos. Ao todo, a ACNB organiza 160 eventos por ano, em todo o Brasil, tais como leilões, julgamentos de pistas e feiras de pecuária. “A marca Matsuda estará presente em todos eles, visando reforçar a importância de fomentar ainda mais o uso de tecnologias para o aumento da eficiência da produção de carne a pasto”, ilustra Tadeu Rosa, representante do Grupo Matsuda no Espírito Santo e diretor da Associação Capixaba dos Criadores de Nelore (ACCN), entidade responsável pela articulação do acordo. O evento de lançamento do patrocínio da Matsuda na Expogenética contou com a presentça do presidente da associação, o capixaba Nabih Amin El Aouar.
Allflex compra a Agrident
Romancini lança nova balança
O Grupo Allflex, empresa do segmento de identificação animal presente em mais de 100 países, deverá ampliar seus serviços nessa área com a aquisição da empresa de tecnologia alemã Agrident, especializada em sistemas de captura de dados por radiofrequência. Fundada em 1997, a Agrident tornou-se empresa líder no oferecimento de tecnologia RFID ao mercado de identificação eletrônica com sistemas de leitura fixa ou móvel para gerenciamento e rastreabilidade. Com 60 anos de história, a Allflex tem subsidiárias de fabricação e tecnologia na América do Norte, América do Sul, Europa, China, Austrália, Nova Zelândia e Israel. No Brasil, sua fábrica inaugurada em Joinvile, SC, em 2002, é considerada uma das mais modernas e atende todo o mercado latino-americano. Informações pelo site www.allflex.com.br
A Romancini apresentou uma nova versão do modelo mais vendido da marca (o tronco S15 Plus), durante a Expointer. A principal inovação apresentada foi um dispositivo de acionamento duplo nos contentores laterais, que comanda os dois lados do tronco, facilitando a operação de pesagem. Nos modelos anteriores era necessário acionar o outro contentor. Houve reforço na pintura, com o uso do produto Gran Aço, que elimina banhos químicos. “O S15 Plus atende às demandas atuais de nossos clientes”, destaca a vicepresidente da empresa, Lu Romancini. Mais informações em: www.romancini.com.br
25 anos de Dectomax O laboratório Zoetis aproveitou a Festa do Peão de Barretos para comemorar os 25 anos do lançamento do Dectomax, seu carro-chefe de vendas na área de antiparasitários. Outra ação comemorativa foi a criação do mascote Dectoboi. Segundo a empresa, o Decomax já atingiu a marca histórica de 1,8 bilhão de doses vendidas no País, quantidade que poderia tratar quase nove vezes todo o rebanho brasileiro atual. Zoetz: www.zoetis.com.br
108 DBO setembro 2018
Mulato é exclusiva da Barenbrug A Barenbrug do Brasil agora tem exclusividade para comercializar as sementes da forrageira Mulato II no mercado brasileiro, na safra 2018/19. Essa braquiária híbrida tem pureza mínima de 95%, é incrustada e recebe tratamento com fungicida, inseticidas de amplo espectro, nutrientes e bioestimulantes. Mais informações sobre a cultivar no site www.barenbrug.com.br
Novo fertilizante biológico A Lithothamnium lançou o fertilizante biológico Algen. Produzido à base de algas marinhas, ele tem garantido, segundo a empresa, excelentes resultados nas lavouras e nos pastos. A tecnologia foi desenvolvida pela Oceana Brasil. Estudos realizados em Igarapé (MA) e Marabá (PA) mostraram que o produto promove maior vigor e desenvolvimento das pastagens, além de aumento expressivo no enraizamento e perfilhamento. www.oceanabrasil.com.br
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Bovinos
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Sabor da Carne
Gustavo Bottino
Muito além da picanha com sal grosso Gustavo Bottino é empresário e restaurateur
A
Churrascada é uma grande celebração do alimento feito no fogo. É uma ampliação do churrasco feito em casa, com todo o conceito de reunião de família e amigos, só que conduzido de forma profissional, com chefs mostrando criações um pouco mais complexas, métodos de preparo e receitas diferentes, com influência do mundo inteiro, que nos proporcionam experimentar sabores igualmente diferentes, demonstrando que a experiência gastronômica do churrasco pode ir muito além da simples picanha na grelha com sal grosso. Tudo isso embalado com muita música e diversão. É, portanto, algo muito maior do que uma simples confraternização. A ideia surgiu em 2015, de uma vontade do açougueiro Rogério Betti, do açougue deBetti, de São Paulo; do publicitário Felipe Versa, da agência Haute, produtora do evento; e minha, de levar para o Brasil todo esse conceito. Começamos com um evento em um antigo cemitério de trens em São Paulo com meia dúzia de chefs e amigos e abrimos a venda para 300 pessoas, mas, como os ingressos foram vendidos muito rapidamente, percebemos que havia um interesse enorme no evento e logo 1.300 ingressos foram vendidos para aquela que se tornaria a primeira Churrascada. Desde então, realizamos 10 edições. Além da edição anual na cidade de São Paulo procuramos prestigiar outras cidades que nos acolhem, com muito carinho, como já foi o caso de Rio de Janeiro, Goiânia, Indaiatuba, Ribeirão Preto e Barretos. Independentemente do tamanho, são eventos que contam com o apoio da indústria frigorífica de boa
Rogério Betti prepara o lombo bovino certificado Hereford, maturado a seco em sua casa de carnes; depois de pronto, aparência irresistível.
114 DBO setembro 2018
qualidade, não só a ligada à carne bovina. Tomou uma proporção tão grande que alguns chefs ficam ocupados a semana inteira com essa atividade. Nesse sentido, posso dizer que a Churrascada fundou um novo setor, que movimenta centenas de pessoas, que gera empregos e que contribui para o fomento de todas as marcas de carne, de associações de criadores e de parceiros que vêm conosco nesse processo, o que é muito gratificante. Tudo isso movido a muita comunicação: a churrascada é um sucesso nas redes sociais, com quase 300 mil seguidores, no mundo inteiro. Uma das ideias bacanas que exploramos na última edição, em São Paulo, dia 4 de agosto (3.000 pessoas, 6 toneladas de carne, 35 chefs, ingressos vendidos pela internet em apenas 3 horas), foi a primeira certificação de carne bovina maturada a seco – o processo conhecido como dry aged, especialidade do Rogério Betti. A iniciativa partiu da Associação Brasileira de Hereford e Braford, de Bagé, em parceria com o Frigorífico Silva, de Santa Maria, ambos no RS, que nos apoiaram com o fornecimento de 350 kg de lombos bovinos que foram servidos na churrascada. Além de ser uma carne proveniente de animais jovens (máximo de três anos de idade), certificados pela associação, ela passou por um processo que ressalta seu sabor e sua maciez. Ou seja, a qualidade ficou ainda melhor. Foi a terceira vez que a Hereford esteve conosco (as duas primeiras em 2016, também em São Paulo, uma na Churrascada e outra durante a BeefExpo). Isso é muito importante, porque é um trabalho sério feito pela associação e que precisa ser mostrado. Além desse tipo de iniciativa, desde o início “exportamos” alguns chefs para eventos no Exterior, ajudando a valorizar a gastronomia brasileira nessa área. Em 2015, Diego Belda e Carlos Tossi participaram do Big Grill, em Dublin, na Irlanda, para onde foi, também, em agosto passado, o chef Mário Portella. Este ano, também, fizemos uma edição no OStende Beach Festival, na Bélgica, com o próprio Rogério Betti. Por isso, uma ideia forte é internacionalizar a Churrascada, pois as coisas estão acontecendo de uma forma bastante orgânica, a pedido dos organizadores. Em suma, o interessante é que conseguimos transformar uma paixão nacional num grande evento, que, agora, começa a ganhar projeção internacional. Costumo dizer, porém, que não fizemos nada de mais: só aumentamos o volume de uma música que todos nós adoramos. n