Revista DBO 457 - Novembro de 2018

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Nossos Assuntos

A oportunidade que a degradação esconde

Q

ual a dimensão da oportunidade de ganho para os pecuaristas que se esconde atrás dos milhões de hectares de pastos degradados? Um olhar do engenheiro agrônomo e consultor Maurício Palma Nogueira, sócio-diretor da Athenagro e coordenador do Rally da Pecuária, aponta que, sem nenhuma sofisticação na estratégia nutricional além da mineralização da linha branca, o salto na produção pode superar 300% quando em lugar de pastos de nível 1 ou 2 de degradação se oferece ao rebanho pasto de boa qualidade. Em arrobas por hectare/ano, a mudança vai de 3 para 12,5, com base nos indicadores levantados no Rally. Em análise para o Especial Pastagem desta DBO, Maurício destaca que, mesmo não sendo item de maior relevância no custo de produção, a degradação tem efeitos indiretos que a tornam o maior gargalo financeiro da pecuária de corte brasileira ao comprometer a capacidade de suporte. É ter, por exemplo, uma propriedade com estrutura para 2.500 animais e só poder trabalhar com 750 ou 1.500 cabeças, na melhor hipótese; ter uma receita de R$ 60 a R$ 270 por ha/ano para pagar todas as despesas em lugar de R$ 840 a R$ 1.300 por ha/ano com pasto de qualidade. De acordo com Maurício, o simples diagnóstico e o uso da estratégia adequada para definir entre reforma ou recuperação já permite que o produtor se livre dos pastos de grau 1 e 2 de degradação sem necessidade de dinheiro de fora, em apenas 2 a 3 anos. A partir daí, é trabalhar para os pastos chegarem ao grau 5 e arrumar recursos para lotar a fazenda. Claro, com aplicação rigorosa de tecnologia e capacidade administrativa. Seguir na degradação é o fim do caminho. No extremo oposto da degradação, lotações de até 25 UAs por hectare e produtividade batendo em 130 @/ha/ ano são registros das Fazendas Rio Verde e Planalto, de São João da Ponte e Capitão Enéas, Norte de Minas, visitadas pela repórter Marina Salles para a reportagem de capa. Elas são exemplos de irrigação bem administrada, com manejo racional da água e energia, como também acontece na Fazenda Colorado, de Aruanã, GO, no relato do repórter Renato Villela. Confira isso e muito mais no Especial Pastagem e nas outras seções da sua DBO.

osta Demétrio C

demetrio@revistadbo.com.br

4 DBO novembro 2018

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Publicação mensal da

DBO Editores Associados Ltda. Diretores

Daniel Bilk Costa Demétrio Costa Odemar Costa Redação Diretor Responsável Demétrio Costa Editora Maristela Franco Repórteres Fernando Yassu, Marina Salles e Renato Villela Colaboradores Adilson Aguiar, Alisson Freitas, Ariosto Mesquita, Carolina Rodrigues, Danilo Grandini, Denis Cardoso, Enrico Ortolani, Leticia Maria Pereira Sanglard, Maurício Palma Nogueira, Sérgio Melo Monte Alto, Moacir José, Rogério Goulart, Tatiana Souto e Thiago Bernardino de Carvalho. Arte Editor Edgar Pera Editoração Edson Alves e Jade Casagrande Coordenação Gráfica Walter Simões comercial/Marketing Gerente: Rosana Minante Supervisora de Vendas: Marlene Orlovas Executivos de Contas: Andrea Canal, José Geraldo S. Caetano, Maria Aparecida Oliveira, Mario Vanzo e Vanda Motta Circulação e Assinaturas Gerente: Margarete Basile Tiragem e circulação auditadas pelo

Impressão e Acabamento Parque Gráfico da Gráfica FTD

DBO Editores Associados Ltda. Rua Dona Germaine Burchard, 229 Perdizes, São Paulo, SP 05002-900 Tel.: 11 3879-7099 Para assinar, ligue 0800 11 06 18, de segunda a sexta, horário comercial. Ou acesse www.assinedbo.com.br Para anunciar, ligue 11 3879-7099 / 3803-5500 ou comercial@midiadbo.com.br


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Sumário Prosa Quente 10 Oswaldo Furlan, idealizador e

Especial Pastagem 66 Maurício Palma Nogueira demonstra

administrador do GPB, fala do sucesso e das regras do grupo e do balizador de preços

a oportunidade oculta de ganho por trás da degradação dos pastos.

Mercado 22 Coluna do CEPEA – Produtividade da

Adubação exige planejamento. Especialistas apontam trilha segura

pecuária paulista é a maior do País

56 Reportagem de capa Irrigação de pastos impulsiona a produção pecuária. A reportagem que abre o Especial Pastagens detalha dois projetos bem consolidados de uso racional da água, um no Norte de Minas e outro em Goiás.

70 76

24

Como fugir dos equívocos na escolha e manejo de braquiárias e panicuns lançados pela Embrapa

26 Chegada das chuvas e melhora na

Unipasto lança aplicativo para rastreabilidade de sementes contra a pirataria

28

82 A batalha contra os capins invasores 88 A cochonilha está de volta e controle

104 Busca de qualidade e lucratividade

azenda em foco F 90 A Pontal, de Itapirapuã, GO, com

Seleção 106 Clélia Pacheco fez de sua fazenda em

Boiada de cocho derrubou cotação da arroba em outubro relação de troca aquecem reposição

Coluna do Rogério Goulart - Hora de sorrir de novo está voltando

80

Cadeia em Pauta 30 A competição da carne de laboratório 32 Projeto no Vale do Araguaia mostra

biológico é a arma mais promissora

34 Exportações para a Europa estão em

Nutrição 94 Estudo aponta impacto nas crias de

pecuária de bem com o meio ambiente

alta, estimulando adesões à Lista Traces

38 3o Congresso Nacional das Mulheres 44 Coluna do Danilo - Carne boa não vem

do acaso

Eventos 46 Rede Agro faz seu primeiro

evento em fazenda

Gestão 50 Mesmo com consultoria, de 420

fazendas 36% fecharam ano no vermelho

apenas 365 ha de pastos, é centro de uma forte operação de engorda

vacas que tiveram restrição alimentar

Instalações 96 Aspersores no telhado do cocho do

confinamento evita quebra de canos

Genética 98 Touros CEIP têm mercado em alta nos

leilões e na venda de sêmen

102 Atualização das normas para contratação de touros pelas centrais

Arte final: Edson Alves Foto de: Marina Salles

foram destaque na Goiás Genética

Piratininga, SP, uma vitrine do Bonsmara

Saúde animal 110 Artigo destaca contribuição da

homeopatia na prevenção de partos distócicos

112 Coluna do Ortolani - Novilha não é vaca gorda e merece ser valorizada

Nutrição 114 Na recomposição de vegetação

nativa, fique atento à lista de espécies exóticas que não devem ser usada

Instalações 118 Remates da Primavera Gaúcha puxaram resultados de outubro

Seções

8 Do Leitor 20 Giro Rápido

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122 empresas e produtos 124 Agenda de Eventos

130 Sabor da Carne



Do leitor JBS USA

Gosto de ler a revista para acompanhar os casos de sucesso e as notícias dos frigoríficos. Em uma das últimas edições, chamou minha atenção uma reportagem sobre a operação da JBS USA, da repórter Marina Salles. É interessante ver como uma empresa brasileira está lá fora, como cresceu e que tem uma equipe competente por trás. Manoel Natal Nunes de Souza, Campo Grande, MS

8 DBO novembro 2018

Vacinação contra a brucelose Parabéns à DBO pela entrevista com o professor Iveraldo Dutra. Foi muito esclarecedora e me levou a um questionamento: será que não está passando da hora de repensarmos nossos programas sanitários oficiais contra a brucelose e a tuberculose? Quem sabe, obrigando a vacinação com cepa RB51 para matrizes de até 36 meses? Em relação à tuberculose, falta muito para termos uma vacina?

Marcus Rezende, Ribeirão Preto, SP.

Marcus, muito obrigada por suas palavras. Sem dúvida é importante discutir mudanças no Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose (PNCEBT). A vacinação de outras categorias de fêmeas com RB51 seria bem vinda. Para isso, é necessário priorizar ações de educação sanitária para convencimento dos produtores. Quanto à tuberculose, os custos com o abate de

animais reagentes à prova tuberculínica e os problemas operacionais dos testes alérgicos criam grande expectativa, de produtores, técnicos e autoridades sanitárias por uma vacina de baixo custo, eficiente e segurança, reconhecida pelas autoridades internacionais. Surgem sempre notícias sobre novas tecnologias nessa área, mas, infelizmente estamos longe de ter um produto com todas as características de uma vacina ideal e que proteja contra a tuberculose. As particularidades dessa doença infectocontagiosa crônica nos bovinos dificultam muito o desenvolvimento de uma vacina nos moldes convencionais.

Iveraldo Dutra, professor da Unesp Araçatuba.

Errata Na seção Empresas e Produtos da edição de outubro, o título da nota sobre o produto Policlostrigen, da Biogénesis, está incorreto. Não se trata de um complexo vitamínico, mas de uma vacina.


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Prosa Quente

GPB entra em nova fase com balizador de preços e comitês Larissa Saraiva

À frente do grupo virtual, Oswaldo Furlan ressalta que perfil do pecuarista mudou: “ele quer tecnologia, informação e conhecimento”.

No GPB, todo mundo tem informação de qualidade sem pagar nada, e vamos seguir assim”

R

De perfil carismático – um misto de simplicidade afável e posicionamentos firmes, que lhe confere uma autoridade natural – o paulista Oswaldo Furlan, 50 anos, se tornou, em curto período de tempo, uma das lideranças mais respeitadas do setor pecuário, sem pertencer a nenhuma entidade classista. Trata-se de um fenômeno da internet. Desde que decidiu criar o GPB (à época Grupo Pecuária Bauru) no WhatsApp, em abril de 2014, para trocar informações com seis produtores que haviam (como ele) levado calote de um frigorífico, Furlan descobriu o poder aglutinador das redes sociais e decidiu usá-las à favor da categoria. “Falávamos mais de mercado, rendimento de carcaça, preço de insumos e manejo do que do calote do frigorífico. Percebi que havia uma demanda reprimida ali. As pessoas queriam se expressar, trocar informações”, diz ele. Não demorou para que o grupo atingisse mais de 256 pessoas (limite máximo do WhatsApp) e tivesse de migrar para um aplicativo de maior capacidade, o Telegran. Isso deu grande visibilidade a Furlan, que passou a ser chamado para dar entrevistas e participar de eventos. DBO foi um dos primeiros veículos a fazer uma reportagem sobre esse fenômeno das redes sociais. Hoje, o GPB tem 1.400 membros e se chama Grupo Pecuária Brasil, pois extrapolou sua região

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de origem. Se considerados seus 62 grupos coligados, muitos deles criados com ajuda de Furlan, já são 11.000 pessoas conectadas, em 16 Estados brasileiros e até no Exterior. Entre as ramificações do GPB está o GPB Rosa, somente para mulheres; o GPB Leite; o GPB Cocho, específico para confinadores e o GPB Sucessores. Juntos, esses 63 grupos constituem uma “rede virtual” extremamente ativa, que contabiliza milhares de postagens por dia. Tamanha representatividade abriu as portas de várias instituições para Furlan, que firmou parcerias e passou a frequentar reuniões de lideranças do setor. O GPB entrou em uma fase mais profissional e hoje trabalha em várias frentes, com apoio de seu Comitê Institucional, composto por 30 membros voluntários (dentre eles vários especialistas), que ajudam a traçar as diretrizes do grupo. O GPB conta ainda com quatro outros Comitês: um de Comunicação, um Gestor (espécie de ouvidoria), um Educacional, criado para levar conhecimento aos produtores a custo zero, e um dedicado exclusivamente ao Balizador GPB, iniciativa lançada neste ano para coletar preços de venda de bovinos e divulgá-los em tempo real, para que possam servir de referência em negociações com os frigoríficos. “É isso que o produtor quer: tecnologia, informação, conhecimento”, frisa Furlan. Sem esconder certa timidez, o gestor do GPB fala muito pouco de si mesmo. Poucos conhecem sua história. Pertence à primeira geração que vive exclusivamente de pecuária em sua família. Nasceu em Jaú, SP, e se formou em administração de empresas pela Instituição Toledo de Ensino (ITI), de Bauru. Seu pai comprou as primeiras terras no Estado de São Paulo em 1970, para aproveitar oportunidades de negócio, e arrendou grande parte delas para usinas de cana-de-açúcar, mercado forte na região. Mais tarde, transformou o restante em fazendas de cria/recria/engorda e montou um confinamento para terminação dos animais no município de Arealva, SP, com capacidade estática para 1.600 cabeças. A família também adquiriu terras no Centro-Oeste, Mato Grosso, Goiás e Tocantins, que Furlan passou a administrar após sua formatura, em 2003. Nesta entrevista para o Prosa Quente, ele conta à editora de DBO, Maristela Franco, e à repórter, Marina Salles, como tem conciliado sua vida de empresário com a de líder rural, e quais as conquistas já obtidas pelo GPB, em seus quatro anos de existência.


Maristela – O que fez o GPB crescer tanto? Furlan – Foram N fatores. As pessoas sempre disseram

que nosso grupo é atrativo porque não tem nada que disperse a atenção. É focado em pecuária [Furlan não admite piadas, termos ofensivos ou assuntos paralelos; teve de criar um grupo à parte de política, durante a campanha presidencial, para evitar problemas no grupo]. Além de ter foco, o GPB cresceu porque possibilitou a união da classe. Isso é indiscutível. Mais de 80% das pessoas que participam do grupo são produtores. Maristela – O setor sempre teve dificuldade para se articular na defesa de seus interesses. O problema está nos pecuaristas ou nas lideranças que não conseguem agregá-los? Furlan – Acho que as entidades que nos representam estão

muito arcaicas. Temos algumas confederações que não renovam a diretoria há 30 anos. Não é mais isso que o pecuarista quer. Ele quer tecnologia, saber da informação, saber da arroba, fazer bons cursos, aprender, melhorar sua rentabilidade. A realidade é mais dinâmica hoje. Muitos sindicatos estão patinando porque estão acomodados. A gente veio oferecer um modelo diferente, sem burocracia. Tudo é muito rápido e dinâmico dentro do grupo. Para você ter uma ideia, a gente reúne um grupo para compra coletiva de insumos em 3 ou 4 minutos. Marina – Como funcionam essas compras coletivas? Furlan – Tem alguns produtos sazonais, como polpa cítri-

ca, vacinas, que a gente cota e compra junto, de maneira meio informal, mas talvez tenhamos de organizar um departamento para isso, porque o grupo ficou muito grande e não podemos correr o risco de dar algo errado no caminho. O Luiz Roberto Zillo está organizando isso. Mas funciona de forma simples: perguntamos no aplicativo do GPB quem está interessado em comprar determinado insumo, criamos um grupo à parte com essas pessoas, cotamos o produto em várias indústrias e fechamos pelo melhor preço. Neste ano, reunimos tantos compradores de polpa cítrica que a indústria disse que não podia atender todo mundo. Fechado o negócio, cada produtor acerta o pagamento e a entrega da parte que lhe cabe.

Maristela – É uma espécie de corretora sem corretagem... Furlan – Tem corretagem sim, mas indireta. Em agosto,

fazemos um leilão em prol do Hospital do Câncer de Jaú, que rende mais de R$ 1 milhão. Quem obtém benefícios por meio do grupo (seja nas compras coletivas, seja em outros negócios) paga nossa “comissão” doando um bezerro para esse leilão beneficente.

Maristela – Você se sente um líder rural hoje? Furlan – Sim, porque muita gente me dá parabéns, fala

que estou fazendo uma coisa que a pecuária nunca teve. Meu amigo, Rodrigo Albuquerque, diz que estou dando à pecuária nacional algo precioso: meu tempo, parte da minha vida. Realmente, não consigo nem mensurar hoje quanto tempo já dediquei ao GPB, mas acabou sendo uma realização pessoal fazer algo sério, inovador, com

foco e credibilidade, que está dando bons resultados. Marina – Você pensa em transformar o GBP em associação? Furlan – Chegamos a pensar nisso, mas fizemos uma par-

ceria com a Sociedade Rural Brasileira e a Associação Brasileira de Pecuária Intensiva (Assocon) que está funcionando bem. Eles estão nos dando um apoio administrativo-financeiro, por isso, recuamos. Institucionalizar o GPB como uma associação custa muito caro (no mínimo R$ 12.000-R$ 15.000/mês). Teríamos de cobrar mensalidade e não queremos isso. No GPB, todo mundo tem informação de qualidade sem pagar nada. Mudar essa proposta no meio do caminho seria ruim, por causa da imagem deixada pela contribuição compulsória sindical. O produtor pagava 0,1% sobre o valor da terra (alguns até R$ 20.000/ano) para a CNA e o que recebiam? Não queremos nada compulsório no GPB. Aqui tudo é voluntário. Teve um produtor que já nos doou R$ 10.000. Nosso Comitê de Gestão gerencia o dinheiro dessas doações, mas, você nem precisa ficar curiosa: é uma merreca (risos).

Maristela – É mesmo? Furlan – Enviei uma mensagem ao GPB Cocho, que re-

úne 110 confinadores, solicitando um bezerro por ano para pagar despesas administrativas e 34 se dispuseram a doar. Isso dá quanto? Cerca de R$ 40.000/ano, R$ 3.400 por mês? É uma merreca de orçamento pra fazer tudo que nos propomos. Doações são nossa única fonte de receita. O que o comitê institucional está estudando é fazer parcerias com empresas para realização de pesquisas de mercado dentro do grupo, mediante uma remuneração, ou cobrar pela marca GPB, que hoje é forte.

Maristela – Vocês também fazem venda coletiva de bois? Furlan – Sim. Já fizemos 19 vendas coletivas, algumas

Nossas vendas coletivas têm beneficado especialmente os pequenos produtores”

com mais de 1.500 animais. Acima de 500 já desperta o interesse da indústria. Esses negócios têm beneficiado diretamente os pequenos, que conseguem melhores preços. Foram eles que ajudaram a criar o GPB. Agora é que os grandes estão começando a participar. Gente que vende até 40.000 cabeças por ano. A venda coletiva também é organizada de forma muito simples. Vemos quem tem interesse em vender boi em determinado período, fazemos um grupo separado, levantamos o número de animais, sexo, peso, raça, negociamos o preço e passamos para o produtor fechar individualmente o negócio. Marina – Vocês pensam em criar um comitê de venda de boi? Furlan – O grupo começou com algumas pretensões, mas

depois foram surgindo outras necessidades. Essa venda coletiva é importantíssima, mas ainda não temos estrutura para fazê-la de maneira contínua. Todo mundo no GPB trabalha de forma voluntária, dá a contribuição que pode. Teríamos de ter alguém dedicado às vendas e compras coletivas, mas não temos estrutura para isso ainda.

Maristela – Como você administra um grupo tão grande? Furlan – Olho as mensagens do GPB toda hora, todo dia,

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Prosa Quente sei tudo que está acontecendo no grupo. As regras são muito claras e quem quebra as regras, está fora. Sou mão de ferro e eles respeitam. A gente também preserva a fonte da informação. Toda informação postada tem de ter fonte. Para entrar no grupo, precisa ter um “padrinho”, alguém que já participa do GPB e responde por esse novo integrante. Excluímos apenas seis pessoas até hoje e colocamos 1.400 dentro do grupo. Marina – Qual é o critério de exclusão? Furlan – Desrespeitar as regras, como o horário para início

Não duvido que 90% dos dados processados pelo Cepea para calcular o indicador vêm da indústria”.

de postagem (5h30 da manhã) e a temática do grupo. Se alguém posta algo totalmente fora do foco, é advertido. Se reincide, falamos com o padrinho. Se não adiantar, excluímos, seja quem for a pessoa. Também retiramos do grupo quem não participa, não contribui. Normalmente, temos 15% postando e o restante lendo. Ler também é participar. O horário nobre de postagem é depois do Jornal Nacional e de manhã, até as 7:30. Depois dá uma parada. Para dar bom dia também tem limite de horário (até 7h) e pedimos para informar o local de onde está falando, porque, se alguém precisar de alguma coisa, pode localizar o participante. Gente com carreta quebrada na estrada ou com carga roubada já conseguiu ajuda dessa forma. Marina – Você já disse que essa troca de informações resultou em melhoria no rendimento de carcaça? Como? Furlan – Quando um produtor é lesado, informa o grupo.

Temos orientado bastante os produtores sobre como fazer o cálculo para não haver distorções e não vender para indústrias que pesam a mão na toalete da carcaça. Isso gerou uma concorrência positiva. Conseguimos melhorar o rendimento de muitos produtores participantes em 1,2 a 1,3 ponto percentual. Tem frigorífico que compra pelo peso vivo e já elevou seu percentual de 55% para 57%, por causa do trabalho de conscientização que fazemos no grupo. Imagine o benefício que isso trouxe para o produtor. Também vimos casos assim na bonificação de animais Angus certificados.

Marina – Por que vocês decidiram criar o balizador GPB? Furlan – Tentamos, junto com várias entidades do setor,

conversar com a B3 e o Cepea para melhorar a metodologia do indicador. Apresentamos, de forma clara, nossas sugestões, mas não foram acatadas. Então, decidimos fazer um balizador de preços (não é um indicador), para informar os pecuaristas das transações que estão sendo realizadas, tendo como fonte somente produtores. Não duvido que 90% dos dados processados pelo Cepea para calcular o indicador vêm da indústria. Posso estar errado, mas eles não abrem os números. No GPB, cada negócio informado aparece imediatamente na tela e fica lá disponível para consulta. Pela B3, não sabemos quantas vendas foram informadas para fechar aquele preço. Você fala com o Cepea e a Bolsa e eles dizem que estão estudando mudanças, mas não muda nada. Parece que a B3 é para os grandes (as indústrias, os especuladores), não para os produtores. Acabaram, inclusive, com a Câmara do Boi. 12 DBO novembro 2018

Maristela – Nosso articulista, Rogério Goulart acha que o indicador e o balizador desempenham papéis diferentes e deveriam trabalhar juntos, pois se complementam. Que acha disso?

Furlan – É possível. Nos dispomos a fazer isso a qualquer hora, porque monitorar e analisar preços é papel do Cepea, não do pecuarista. Somente estamos fazendo isso em razão das dificuldade que tivemos. E o mercado está aprovando nosso trabalho. Conseguimos mostrar a composição do nosso preço: se aquela venda foi feita por um pequeno produtor, por um grande, por quem está próximo ou longe da indústria, tem ou não ágio por qualidade. O Cepea não fornece essas informações e é auditado apenas no Estado de São Paulo. Eles mesmos nos informaram isso, o que gera vulnerabilidade. É preciso modernizar esse sistema, incluir os frigoríficos com Sisp (Serviço de Inspeção de Produtos de Origem Animal do Estado de São Paulo), que pagam mais pela arroba. O Cepea e a Bolsa ficam jogando a bola um para o outro e não incluem esses frigoríficos no indicador. Sabe quanto tempo demora para o Sisp entrar? É do dia para a noite. Os contratos regidos pelos critérios antigos são mantidos e os novos são fechados com o novo indicador. Maristela – O que estaria impedindo isso? Furlan – Na minha opinião, não é o Cepea, nem a B3, mas

os grandes frigoríficos que estão impedindo, porque as pequenas indústrias regionais pagam mais pela arroba. Isso mexeria na média do indicador. Não vão deixar os pequenos entrar nunca. O poder deles é muito forte. Maristela – O Rogério Goulart acha que o indicador do Cepea é importante porque tem um histórico gigantesco de dados, que permite análises mais aprofundadas... Furlan – Concordo com ele, mas é preciso admitir que

existem falhas nos dados captados no passado, porque uma indústria é capaz de informar uma infinidade de negócios em comparação com os produtores, que são muito pulverizados. A indústria pode informar o que quer, na quantidade que quer, no preço que quer, todo dia.

Maristela – Não aumentou o número de pecuaristas no Cepea? Furlan – Aumentou graças ao trabalho magnífico feito

pela Mariane Crespolini, que fez várias palestras e levou o aplicativo do Cepea para o Brasil inteiro. Acreditei naquele trabalho e apoiei. Presidente Prudente e Bauru são os municípios que mais têm colaboradores. A primeira pergunta para quem participa do balizador GPB é: “Você informa o Cepea? Sim ou não?” É inclusive uma pergunta para ajudá-los. Se ele informar sim, beleza. Respeitamos, para manter o Cepea vivo. Se responde não, damos o telefone para o produtor informar. Nosso objetivo não é atrapalhar. É abrir o que chamamos de “caixa preta”. Nós não podemos ter política envolvida nisso, mão grande, impedindo a melhoria da metodologia; mão grande segurando a rentabilidade do produtor. Marina – O GPB já se sentou com a Bolsa para discutir isso?


Seu equipamento de contenção está de acordo com o volume de manejo?

Para promover bem-estar animal, segurança para o profissional e melhores resultados para a propriedade, é essencial escolher o equipamento adequado para o tipo de manejo da fazenda. Pensando nisso, a Beckhauser trouxe o kit automação para a Linha TotalFlex, ideal para cria, recria e terminação a pasto ou semi-confinamento.

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Prosa Quente Furlan – Sim, mas não vou mais. Eu me senti um palhaço e muitos que estavam comigo também. Se eles quiserem mudar, melhorar, chamar pra fazer parceria... vamos fazer. Eu não estou aqui para dizer e bater no peito, eu sou o dono do GPB, não. Eu quero o melhor para a classe, o benefício do produtor, isento de qualquer patrocínio. O balizador está disponível para o Brasil inteiro. Não tem ninguém bancando. Se alguém informa um negócio que não seja verdade é excluído do grupo e do balizador no mesmo dia. Não tem nem segunda chance. Maristela – Quantas pessoas informam o balizador hoje? Furlan – Cadastramos quase 1.000 produtores em apenas

A exportação de gado vivo gera renda, empregos divisas; podemos fazer ajustes, se necessários, e seguir exportando”.

quatro meses. Nosso crescimento é substancial, considerando-se que não temos verbas para fazer campanhas de adesão. E percebo que está aumentando o número de informantes que têm gado confinado. Nossa meta é chegar a 4.000 participantes, número ideal para se ter no mínimo 150 informações/dia. Daí já baliza bem. São produtores do Brasil todo e sem participação da indústria. Quem informa tem uma senha e a identidade do informante é mantida em sigilo, para evitar qualquer tipo de retaliação.

Maristela – O balizador hoje tem apresenta diferença de quantos por cento em relação ao indicador? Furlan – Esse percentual varia de dia para dia, mas per-

cebo o seguinte: como nós conseguimos saber quantos negócios nos foram informados e não conseguimos saber quantos negócios foram informados ao Cepea, não dá para avaliar isso direito. Sinto que a indústria, para diminuir desconfianças em relação ao indicador, está começando a ficar mais próxima do nosso balizador. Estamos sempre à frente, porque temos a realidade do negócio de fato ocorrido, informado pelo produtor. E a indústria acaba acompanhando para evitar muita disparidade, porque ela tem muito contrato a termo. A diferença entre o indicador e o balizador já foi grande, agora está menor.

Maristela – Todas essas questões têm a ver com a falta de integração da cadeia. O GPB se preocupa com isso? Furlan – Acho que o GPB tem um papel muito importante

de representação do produtor. Estamos nos conectando com outras entidades (ABCZ, ABAG, SRB, Fiesp, Assocon) e criando um grupo de lideranças do Agro, para garantir maior representatividade ao produtor. Acho que existe realmente um divisor de águas de 2014 pra cá, porque, mesmo que a reivindicação seja difícil, a gente tenta atender. Estamos apoiando também a criação de uma frente parlamentar do agronegócio paulista, que não existia, e deverá ser formada até o início de 2019. Maristela – E o projeto da balança do produtor, continua? Furlan – Projetos de balança do produtor já foram fei-

tos em alguns Estados e nossa ideia era pegar o melhor de cada um e trazer para São Paulo para montar algo bem completo. As indústrias, em um primeiro momento, permitiram a instalação das balanças e nós fomos atrás de levantar os custos, ver quem poderia arcar com

eles. Tivemos até a surpresa de fundos de investimento querendo cobrir isso porque enxergaram uma oportunidade, mas seguramos o projeto, porque as diferenças que haviam no passado, de 3% a 4%, diminuíram tanto que estamos analisando melhor essa questão. Maristela – Então, vocês desistiram do projeto? Furlan – Não. O projeto continua. O que houve foi a mu-

dança da atual diretoria da Assocon, que será compartilhada entre o Sérgio Przepiorka e o Maurício Veloso. Precisamos do aval da nova diretoria e estamos aguardando isso. Temos quatro indústrias que ofertaram suas plantas em São Paulo e o programa já está contratado, os investimentos necessários para implantação já estão disponíveis. Porém, essa é a nossa prioridade número dois, vamos dizer. Temos outras atualmente

Marina – Que outros projetos o GPB está conduzindo? Furlan – O mais novo é o do grupo educacional, uma coi-

sa inovadora que teve muita aceitação. O objetivo é legar conhecimento técnico aos produtores, informação na forma de cursos, imersões e aulas com gente de grande conhecimento no setor. Hoje, quando uma oportunidade como essa chega até a gente, postamos no GPB e os primeiros que se manifestam, ficam com a vaga do curso. A procura é grande. Queremos criar mais oportunidades de aprendizado e atualização para os produtores.

Maristela – E quanto à exportação de gado vivo, por que vocês abraçaram essa bandeira? Consideram que ela tem grande impacto no mercado? Furlan – Sim, muito grande, e não somente para São Paulo.

Tem muito animal que vem de outros Estados e passa por aqui, fica no estabelecimento de pré-embarque (EPE), mas gera renda, divisa e emprego em outros lugares. Os produtores de bezerro meio sangue são beneficiados por causa dos preços. É uma bandeira sensacional, que estava sendo deixada de lado e que o meu colega Rodolfo Endres, do GPB, resgatou ao procurar a SRB, lideranças políticas e somar forças com a Associação Brasileira dos Exportadores de Animais Vivos (Abreav), que estava entrando sozinha nisso e ia morrer na praia, porque é uma entidade pequena e que não tem a representatividade do GPB. Antes de nós fazermos a campanha em outdoors defendendo a exportação de gado vivo, teve deputado me ligando, pedindo para não fazer, me pedindo paciência para estudar o caso junto às entidades do Agro. Mas não deu outra. Eu soltei a campanha.

Maristela – Você acha que a questão está resolvida ou, agora que passaram as eleições, haverá novo bombardeio? Furlan – Com a mobilização que estamos fazendo, mais

gente acordou para esse assunto, mesmo a população, que estava tendo uma imagem que não é verdadeira. A troca de grande parte dos deputados estaduais criará um ambiente mais favorável à discussão racional do assunto. Se há falhas no processo, podemos corrigir, mas não deixar de exportar. As ONGs podem fazer barulho. Nós vamos fazer ajustes para seguir exportando. n DBO novembro 2018 14


Logo o mundo terá 9 bilhões de habitantes. Produzir mais e melhor é imprescindível.

A população mundial não para de crescer. Logo, o planeta terá 9 bilhões de habitantes, e a alimentação de todos eles dependerá dos mesmos recursos naturais que temos hoje. Isso requer métodos de criação sustentáveis, que não prejudiquem o meio ambiente nem a rentabilidade do produtor. Ao mesmo tempo, a busca por proteína de origem animal de qualidade é cada vez maior, e sabemos que isso só pode ser obtido a partir de uma nutrição precisa e balanceada, combinada a cuidados específicos no manejo. Em tudo isso, a Guabi Bovinos está ao seu lado.


Nova linha Bovinos Mais tecnologias, novos resultados Quanto mais a ciência e a tecnologia evoluem, melhor o ser humano consegue compreender a natureza e se aproximar do que é natural. Neste caminho, para melhorar o desempenho da sua pecuária e agregar qualidade e valor à criação e ao produto final, a Guabi Bovinos lançou sua linha GuabiTech, com formulações e ingredientes de alta tecnologia, todos identificados pelo selo Gen Guabi. O selo Gen Guabi representa a reunião entre os avançados estudos do centro de pesquisas da Alltech, em Lexington - um dos maiores e mais modernos do mundo e o único especializado em Nutrigenômica Animal - ao profundo conhecimento da Guabi em formulação, balanceamento e aplicações ideais. São produtos que contêm aditivos naturais e minerais orgânicos, que previnem o antagonismo entre os nutrientes, propiciam maior biodisponibilidade e melhor aproveitamento da dieta e agregam benefícios para a saúde do animal e para a sua produtividade.


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Guabitech Supripasto 28 Semiconfinamento /Pellet 30 mm / Com aditivos / Indicado para o período seco.

SUPLEMENTOS MINERAIS Guabitech Aditivado Com proteína e ureia protegida / Com aditivos / Cria, recria e engorda.

Guabitech Recria Pronto uso / Com aditivos / Fases de Recria e engorda.

CONCENTRADOS Guabitech Grão Inteiro 38 Confinamento / Dieta Grão Inteiro / Com Aditivos

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NÚCLEOS

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Guabitech Núcleo Confinamento

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Bovinos de alto desempenho em engorda / Com aditivos

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Guabitech 20 Águas PE Proteico-Energético / Com aditivos / Indicado para o período das águas.

Guabitech Núcleo Lactação Vacas de alta produção em lactação / Com aditivos

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Giro Rápido Sindicato se reinventa para fazer caixa

ariosto mesquita de Campo Grande, MS

Com o fim da obrigatoriedade da contribuição sindical, estabelecida pelo governo Temer e considerada constitucional pelo STF em 29/7/2018, o Sindicato Rural de Campo Grande (SRCG) perdeu 85% de sua receita. Para compensar o rombo, a diretoria tomou várias iniciativas, uma das quais a criação do “Espaço Sindicato Rural de Campo Grande”, área multiuso para eventos, cursos, reuniões e festas mediante pagamento pelo uso de suas instalações, remodeladas em agosto. “A locação do espaço já representa 15% da nossa arrecadação”, diz o presidente da entidade, Ruy Fachini. Um dos primeiros eventos de porte foi o Repgen 2018, encontro técnico anual de reprodução e genética em pecuária de corte, realizado em agosto. De acordo com Fachini, cerca de 30% dos 650 produtores filiados continuam recolhendo a contribuição sindical, mesmo com o fim da obrigatoriedade. O SRCG cobra uma taxa anual de R$ 600 para associados com propriedades de até 1.999 hectares e R$ 1.200 para aqueles com área acima disso. As iniciativas para obter fundos, como o espaço multiuso, ajudaram a agregar novos associados. “Até agora (outubro), nosso quadro aumentou em 25 produtores”, disse Fachini, contente também por resgatar a tradicional “Rejan” – reunião-jantar que movimentava a pecuária campo-grandense nas décadas de 1980 e 1990. E, para sua satisfação, agora sem desembolso. “Fazemos parcerias com empresas de insumos, interessadas em trazer informações técnicas, financeiras e de gestão para o público nesses encontros mensais. Elas oferecem o palestrante e o jantar, enquanto nós cedemos a estrutura física”, explica. 20 DBO novembro 2018

Programa de retirada da vacina contra aftosa avança no País Seguindo o planejamento de retirar a vacinação do Brasil, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento tem tomado uma série de medidas. Uma delas foi criar formalmente uma zona de proteção no sul da Venezuela, na fronteira do município de Pacaraima, RR. Nesta área, o Serviço Veterinário Oficial de Roraima está vacinando e identificando visualmente os animais com brincos numerados. O cadastro oficial contabilizou 1.406 bovinos na zona de proteção, distribuídos em 13 propriedades, nove delas em área indígena. O Mapa também se manifestou sobre o pleito do Paraná de deixar de vacinar o rebanho em maio de 2019, e aceitou o pedido, desde que sejam feitas melhorias nos postos fiscais. Um relatório detalhado já foi en-

tregue pelo Mapa ao Estado para correção das pendências. Enquanto isso, em Mato Grosso, o Instituto de Defesa Agropecuária (Indea) apresentou uma proposta de criação de fundo público para fortalecer ações na área de sanidade. O fundo irá se chamar Fundeagro-MT.

Rússia reabre mercado para carnes do Brasil A partir de 1° de novembro, o Brasil poderá voltar a exportar carne bovina e suína para a Rússia. As restrições temporárias haviam sido colocadas em 1° de dezembro de 2017, após o país

alegar ter encontrado estimulantes de crescimento como a ractopamina no produto importado. O uso da substância é liberado no Brasil, mas proibido na Rússia e demais países da Europa.

Irã e Arábia Saudita poderão importar gado vivo do Brasil Já está aprovado no Irã e em fase final de aprovação na Arábia Saudita o Certificado Zoossanitário Internacional (CZI) que permite ao Brasil exportar gado em pé para estes destinos. A conquista foi comemorada pelo setor produtivo em função do potencial dos novos mercados. Atualmente, a Arábia Saudita importa 7 milhões de animais vivos por ano de diversos países e o Irã, acredita-se, tem condições de comprar 100.000 cabeças/ano do Brasil. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento atribui o interesse dos dois países à qualidade do gado brasileiro e ao reconhecimento sanitário do Brasil, perante a Organização Mundial de Saúde Animal, como país livre de febre aftosa com vacinação, livre de pleuropneumonia contagiosa e de risco para

a encefalopatia espongiforme bovina, mal da vaca louca. Em 2017, o Brasil faturou US$ 276 milhões com a exportação de gado vivo, e até julho de 2018 os embarques já somavam US$ 301 milhões. O setor produtivo também comemorou a autorização para transporte de animais vivos na cidade de Santos, SP.


Infopec

Procisur traça novas políticas O Programa Cooperativo para o Desenvolvimento Agroalimentar e Agroindustrial do Cone Sul (Procisur) realizou conferência em Montevidéu, capital do Uruguai, para discutir políticas públicas de desenvolvimento sustentável. Os recursos hídricos mereceram atenção especial e o Brasil foi destaque nas apresentações, com o entorno do Distrito Federal sendo citado como um dos maiores pólos de irrigação da América do Sul. As mudanças climáticas foram um painel à parte e o manejo integrado mereceu ênfase. Criado em 1980, o Procisur tem como principal objetivo impulsionar a integração tecnológica agropecuária dos países membros.

A aprovação e sanção da lei 10.766 concedeu ao Conselho do Fundo Emergencial de Saúde Animal de Mato Grosso (Fesa-MT) o direito de estipular a alíquota cobrada pelo abate de animais no Estado, que passou a ser regida pelo governo a partir do ano passado. Com base na legislação, o Fesa reduziu a alíquota ao mínimo, de 45% do valor da Taxa de Defesa Sanitária Animal calculada pela Unidade Padrão Fiscal (UPF) vigente. Assim, o recolhimento caiu de R$ 3,44 para R$ 2,17/ animal abatido.

Senado adia prazo de adesão ao Refis do Funrural O Senado aprovou no dia 16 de outubro a Medida Provisória 842/2018 que, entre outros pontos, prorroga o prazo de adesão ao Programa de Regularização Tributária Rural, o chamado Refis Rural, que permite o parcelamento de débitos retroativos com o Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural (Funrural) até o dia 31 de dezembro de 2018. A Sociedade Rural Brasileira comemorou a decisão: “O produtor estava no limbo jurídico. O prazo acabou antes da prorrogação que havia sido anteriormente concedida”, afirmou, em nota, Marcelo Guaritá, advogado da SRB.

VBP da pecuária de corte cresce 17% e atinge recorde no MT Evolução do valor bruto de produção da bovinocultura de corte

Após registrar queda em 2017, o Valor Bruto da Produção (VBP) da bovinocultura de corte do Mato Grosso crescerá 17% em 2018, na comparação anual, para R$ 12,8 bilhões, segundo a quarta estimativa do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (IMEA). Trata-se do maior valor nominal registrado desde que VBP começou a ser mensurado no Estado, a partir de 2010 (veja gráfico). Dois fatores explicam a recuperação do VBP neste ano. O primeiro é o avanço no total de fêmeas abatidas pelos frigoríficos do Estado, que no acumulado de janeiro a setembro cresceu 13,55% em relação ao mesmo período de 2017 e a valorização do preço médio obtido com a venda do boi gordo e vaca gorda, que atingiu R$ 126,73 no acumulado dos primeiros nove meses do ano, ante valor de R$ 121,80 em igual intervalo do ano anterior, um crescimento de 4%.

Tempo para o bezerro chegar a boi gordo sem dar prejuízo Ponto de equilíbrio da atividade de recria – engorda Fonte: IBGE, Usda, IEA, Cepea, Scot Consultoria.

Fesa-MT poderá definir alíquota para abate de animais

Infográficos que sintetizam informações importantes da pecuária

Ficou mais difícil ganhar dinheiro com a pecuária nos últimos anos? Um gráfico da Scot Consultoria mostra que sim. Com base na evolução dos pesos de abate do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (Usda) para estimar valores anteriores a 1997, a Scot calculou quanto sobrava e sobra de dinheiro para o produtor (custeio e lucro) após subtrair do preço de venda dos animais o custo da reposição. Com os dados atualizados para o ano de 2018, e adoção de um custo médio mensal de R$ 45/cabeça (para manter a pasto animais de recria-engorda), foi avaliado o tempo máximo para o animal atingir seu peso médio de abate. O gráfico acima mostra que na década de 1980 era possível não ter lucro nem prejuízo com um boi ficando na fazenda por até 61,8 meses, o que caiu para 34,1 meses em 2010. Ou seja, ficou 1,8 vezes mais difícil ser recriador desde então. E criador, porque o preço do bezerro subiu, mas o custo de produção da cria também.

novembro 2018 DBO

21


Coluna do Cepea

Produtividade paulista é a maior do País Thiago Bernardino de Carvalho é pesquisador da área de Pecuária do Cepea. cepea@usp.br

A

inda que São Paulo não concentre o maior rebanho brasileiro, o Estado registra a produtividade mais elevada do País, seguida por Mato Grosso – este, sim, maior produtor de gado e exportador nacional de carne bovina. Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), no segundo trimestre deste ano, a produtividade paulista atingiu, em média, 260,3 kg de carne por animal (aqui são considerados os abates de boi, vaca, novilho e novilha). Esse número é 1,13% superior ao registrado no primeiro trimestre de 2018 e 5,94% maior do que a média brasileira, que foi de

Peso da carcaça (todas as categorias reunidas), em kg/cab, no segundo trimestre de 2018

Fonte: IBGE. Elaboração: Cepea

Evolução da produtividade de carne bovina (em kg/cab/ano) no Brasil, de 1997 a 2018*

*2018 – janeiro a junho Fonte: IBGE. Elaboração: Cepea

22 DBO

novembro 2018

245,68 kg/animal, no segundo trimestre deste ano. Em Mato Grosso, a produção de carne por animal de abril a junho foi de 259,40 kg, 0,84% acima da observada no trimestre anterior e 5,58% a mais do que a média nacional. Vale destacar que, tradicionalmente, a produção de carne por animal de abril a junho é mais elevada, devido à maior oferta de alimentos (pastagem e milho da safra de verão) e ao ciclo natural de produção da cadeia, que tem, no final da safra, a necessidade de terminar mais rapidamente os animais. Sobre São Paulo, especificamente, um dos motivos de produtores buscarem maior produtividade está no fato de a pecuária, no Estado, sofrer forte concorrência de outras importantes atividades, como a cana-de-açúcar e a laranja. Mato Grosso, por sua vez, atingiu a segunda posição de maior produtividade por animal devido ao uso adequado da logística, tendo em vista que a proximidade com a produção de grãos faz pecuaristas produzirem gado mais pesado. Evidentemente, além disso, a produção mato-grossense realiza um manejo adequado e utiliza boa genética. No entanto, quando comparadas as produtividades de São Paulo e de Mato Grosso, no segundo trimestre deste ano, frente às do mesmo período do ano passado especificamente, verificam-se respectivas quedas de 2,02% e de 1,1%. Isso é reflexo do menor uso de grãos na alimentação animal em 2018 em relação a 2017. Naquele ano, vale lembrar, os grãos registravam preços inferiores aos atuais, cenário que fez com que os produtores reforçassem o uso desses alimentos. Já em 2018, muitos pecuaristas paulistas acabaram deixando seus animais mais tempo no pasto. O terceiro Estado mais produtivo em 2018 é Goiás, com 252,04 kg/animal, diferença de quase 7 kg por cabeça frente aos dois principais produtores. Na sequência está Mato Grosso do Sul que, no segundo trimestre de 2018, registrou produtividade média de 250,77 kg/animal, ainda segundo dados do IBGE. Isso indica que as pecuárias goiana e sul-mato-grossense têm ainda mais espaço para crescimento. Esses dados ajudam a entender os movimentos de preços e de mercado que ocorreram nos últimos anos e que vêm sendo observados em 2018 nos Estados de São Paulo e Mato Grosso. A maior oferta de animais em 2017 e 2018, devido justamente à maior produtividade, somada a um mercado doméstico desaquecido pressionaram as cotações ao longo do primeiro semestre de 2018. Já neste segundo semestre, ainda que a produção tenda a diminuir por conta da entressafra, é a forte demanda internacional que tem possibilitado recuperação dos preços domésticos da arroba. n


C

Health

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Mercado

Boiada de cocho derruba preço Frigoríficos aproveitam a maior oferta de matéria-prima para elevar suas escalas de abate Denis Cardoso

O

s preços do boi gordo registraram queda no mês passado, interrompendo uma sequência de valorizações mensais no terceiro trimestre do ano, período de entressafra de animais recriados e terminados exclusivamente pelo sistema a pasto. Em 30 de outubro, o Indicador ESALQ/BM&FBovespa do boi gordo (Estado de São Paulo, valor à vista) atingiu R$ 147,65, com retração de quase 3% em relação ao preço verificado no fim de setembro, de R$ 151,80. Segundo analistas, em outubro, diferentemente do que ocorreu nos três meses anteriores, a indústria frigorífica conseguiu, enfim, ganhar a queda de braço com os pecuaristas, forçando para baixo os preços do boi depois que constatou um fluxo maior de oferta de animais terminados no cocho, oriundos da programação de segundo giro de confinamento no País. Com escalas de abate relativamente confortáveis, atendendo entre cinco e seis dias úteis, os frigoríficos iniciaram o mês de novembro em posição de cautela, esperando o melhor momento para voltar mais enfaticamente aos balcões de negócios. Além do razoável nível de es-

Contrato futuro indica boi gordo a R$ 150 em dezembro de 2018 Mês para a liquidação dos contratos na B3 Data dos pregões

jan

Fev Mar

Abr

Mai

Jun

Jul

Ago

31/8/2018

-

-

-

-

-

-

-

28/9/2018

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-

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30/10/2018

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Set

Out

Nov

Dez

146,27 150,00 152,75 152,25 152,45 151,28 150,65 150,65 151,15 -

147,70 148,45 150,05

Fonte: BM&FBovespa.

Indicador Bezerro registra queda no MS Datas de levantamento do Cepea Especificações

30/10/2018

28/9/2018

Preço à vista por cabeça

R$ 1.205,86

R$ 1.143,82

183,18

183

Peso médio/kg Preço por kg Preço por arroba

R$ 6,58

R$ 6,25

R$ 197,48

R$ 187,5

Fonte: Cepea/Esalq/USP

Indicador Boi Gordo recua no Estado de São Paulo Datas da liquidações dos contratados negociados na BM&FVBovespa Especificações

30/10/2018

28/9/2018

R$ 147,65

R$ 151,80

Preço à vista

Fonte: Cepea/Esalq/USP/BM&FBovespa. Média dos últimos cinco dias úteis em São Paulo. O valor é usado para a liquidação dos contratos negociados a futuro na BM&FBovespa.

24 DBO novembro 2018

toques de matéria-prima nas unidades industriais, o posicionamento menos agressivo nas compras de animais terminados reflete o fraco consumo de carne bovina no mercado doméstico, ainda fragilizado pelo estágio de dormência em que se encontra a economia brasileira. Também contribuiu para uma maior lentidão dos negócios no início de novembro o movimento mais forte de recuo do dólar frente ao real, registrado sobretudo depois da confirmação da vitória de Jair Bolsonaro na disputa presidencial com Fernando Haddad. O dólar mais fraco, dizem os analistas, inibiu um pouco o apetite de compras de frigoríficos que também exportam carne bovina, um segmento que estava em pleno vapor justamente pela forte desvalorização do real em relação ao dólar (a taxa cambial atingiu a R$ 4,20 no fim de agosto), quadro que havia deixado o produto brasileiro bastante competitivo no mercado internacional – como a produção de carne tem a maior parte do custo em real e se vende pela moeda norte-americana, quando o dólar sobe, essa negociação externa resulta em “mais reais” no bolso das empresas exportadoras, facilitando as transações por valores que também agradam os compradores internacionais. Segundo relatório divulgado no início deste mês de novembro pela Informa FNP, consultoria de São Paulo, em termos gerais o recuo do dólar impactou negativamente no volume de aquisições do chamado “Boi Europa”. “Parte dos frigoríficos brasileiros que possuem habilitação para exportação ajustou negativamente em R$1,00/@ os seus pagamentos de bonificações para os animais de maior qualidade”, relata a FNP. Perspectivas Na avaliação do analista Gustavo Machado, consultor da Agrifatto, de Bebedouro, SP, enquanto houver oferta confortável de bovinos terminados por confinamento, os preços internos do boi gordo seguirão tendência de baixa. No entanto, avalia Machado, ainda que o consumo doméstico de carne bovina continue patinando, um eventual repique para a demanda em dezembro (motivado pela entrada do décimo terceiro salário e pelo tradicional churrasco das festas de final de ano) pode puxar para cima as cotações, especialmente com a oferta de confinamento terminando antes desse período. “Para dezembro, o contrato futuro na B3 (antiga BM&FBovespa) pode exibir fortalecimento se a projeção acima se concretizar e, se confirmada, poderá trazer oportunidades de trava via mercado futuro”, observa Machado. Em janeiro, período com concentração de contas a pagar (IPVA, IPTU, material escolar e despesas do final de ano), o consumo de carne bovina poderá esfriar novamente e, por decorrência, acomodar o valor da arroba. n



Mercado

Viés de alta para os preços da reposição Chegada da chuva e melhorias na relação de troca para o invernista incentivam a busca por animais

O

Denis Cardoso

Indicador do bezerro ESALQ/BM&FBovespa (animal Nelore, de 8 a 12 meses) subiu 5,7% em outubro na praça do Mato Grosso do Sul, para R$ 1.209,11, em comparação ao valor verificado no fim de setembro (R$ 1.143,82), segundo levantamento do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea). Foi o maior valor nominal deste indicador registrado em final de mês em 2018. Preços similares aos alcançados em outubro só foram computados pelo Cepea em fevereiro-março, o bimestre com melhores médias para essa categoria animal neste ano. Nos meses seguintes, as cotações seguiram uma trajetória marcada por quedas, até a forte reversão deste viés no mês passado. Segundo dados da Scot Consultoria, de Bebedouro, SP, na média de todas as categorias de machos e fêmeas anelorados nas 14 praças de comercialização pesquisadas, as cotações tiveram valorização de quase 1% em outubro, em relação à setembro. “Mesmo com a pressão de baixa sobre o preço do boi gordo no mês passado (veja texto na página anterior), as referências no mercado de reposição seguiram firmes”, afirma o zootecnista Breno de Lima, analista da Scot. Fatores altistas O movimento de alta do mercado de reposição foi influenciado por dois principais fatores. O primeiro deles foi a elevação do poder de compra dos criadores/invernistas. Desde junho último, as contas da relação de troca entre arroba de boi gordo e animais de reposição passaram a ficar mais atrativas aos recriadores e invernistas, estimulando mais negócios no setor. Dados da Scot Consultoria mostram que, no período de junho a outubro deste ano, na praça de São Paulo, a cotação média do boi gordo subiu 7,7% enquanto o preço do bezerro anelorado (6@) teve aumento de 5%. Com isso, em outubro, foram necessárias 8,01 @

de boi gordo para a compra de um bezerro desmamado – em junho, essa relação de troca foi de 8,21@ de boi/bezerro. O segundo motivo para explicar o viés altista nos preços da reposição, segundo Breno de Lima, foi a ocorrência de bons volumes de chuvas até agora nas regiões pecuárias do Centro-Sul do País, consideradas “dentro da normalidade” pelos meteorologistas, diferentemente do que aconteceu no ano passado, quando houve atraso na chegada das chuvas. “Isso tem contribuído para a recuperação das pastagens, abrindo mais oportunidades de negócios no mercado de reposição”, avalia. Além disso, continua o analista, o maior volume de chuvas adiantou, em algumas regiões pecuárias, a saída de animais do cocho e antecipou a relação de troca, aumentando, assim, a demanda por reposição e dando ritmo ao mercado. Preços regionais No Mato Grosso do Sul, o bezerro de 6@ fechou cotado a R$ 1.192 em outubro, em média, com valorização de 0,6% sobre setembro, segundo a Scot Consultoria. Nessa mesma praça, o garrote (9,5@) subiu 0,8% no mês passado, para R$ 1.570, o mesmo percentual de alta do boi magro (12@), que fechou a R$ 1.830. O preço da novilha (8,5@) registrou elevação de 1,3%, atingindo R$ 1.170. Em São Paulo, o bezerro de 6@ teve acréscimo de 1,3% no mês passado, para R$ 1.208, e o garrote ficou estável, a R$ 1.572, em média. O boi magro atingiu R$ 1.940 no último mês, com valorização de 0,7% sobre setembro. A novilha subiu 1,2%, para R$ 1.164. Na praça do Mato Grosso, o valor do bezerro desmamado fechou a R$ 1.116 em outubro, com valorização de 0,5% sobre setembro. O garrote subiu 0,8%, para R$ 1.512, e o boi magro teve alta de 1,1%, para R$ 1.732. O preço da novilha apresentou acréscimo de 0,9%, para R$ 1.054. Em Goiás, o bezerro desmamado encerrou outubro a R$ 1.186, o que significou valorização de 1,6% em relação ao mês anterior. O garrote subiu 0,4%, para R$ 1.576, enquanto o boi magro teve alta de 0,8%, atingindo R$ 1.900. O valor da novilha registrou acréscimo de 1,2%, para R$ 1.126. Na praça da Bahia, o bezerro desmamado teve alta de 2,3% no mês passado, chegando a R$ 1.120. Nessa mesma praça, o preço do garrote subiu 1,3%, para R$ 1.522, e o boi magro ficou estável, a R$ 1.800. A novilha teve alta de 0,5% no mês passado, atingindo R$ 1.226, em média. n

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R$ 1.208

R$ 1.570

R$ 1.732

Valor médio do boi magro no Mato Grosso, em outubro; elevação de 1,1% na comparação com o mês anterior

Preço médio da novilha em Goiás, no mês passado; valorização mensal de 1,2%

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Valor médio do bezerro desmamado em São Paulo, em outubro; alta de 1,3% sobre setembro

26 DBO novembro 2018

Preço médio do garrote no Mato Grosso do Sul, no mês passado; aumento mensal de 0,8%

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R$ 1.126


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Fora da Porteira

Rogério Goulart

O “motor Brasil” está voltando a funcionar Administrador de empresas, pecuarista e editor do informativo semanal “Carta Pecuária”, de Dourados, MS.

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uas coisas deverão impactar a pecuária em 2018 e repercutir ainda mais forte nessa atividade em 2019. A primeira delas é a clara retomada no consumo interno de carne. Há uma diferença gritante entre o que estava acontecendo nesta mesma época do ano passado, em 2017, e o que estamos vivendo agora. Observamos o comportamento do mercado interno por via indireta, caro leitor. Por exemplo, através do tráfego de cargas nas estradas, vendas de papelão ondulado, consumo de energia elétrica, emissões de passagens aéreas, endividamento médio das famílias, vendas de carros ou massa salarial. Todas essas informações são como peças de um quebra-cabeças que vamos montando e tentando enxergar os rumos da economia. Nem é necessário ressaltar que onde vai a economia também vai a pecuária. A razão dessa conexão é que o consumo interno está diretamente relacionado à quantidade de dinheiro que as pessoas têm no bolso e essa quantidade de dinheiro (renda) está diretamente ligada ao comportamento da economia nos últimos meses. Quando a gente olha para essas peças, não sei você, mas eu tenho visto claramente uma retomada no motor chamado Brasil. Por exemplo: hoje, a massa salarial está praticamente igual à da registrada antes da crise; as vendas de papelão ondulado também demonstram que o mercado está encomendando mais produtos do que antes; o crescimento nas vendas de carros, motos e o tráfego nas estradas, idem. Essas coisas melhorando são sinais de que já existe e existirá, mais para frente, uma perspectiva de maior demanda por carnes. Como assim? Simples: existe uma relação entre renda e aumento no consumo de carne bovina. Quando a renda aumenta e a população migra de classe de renda, de baixo para cima, há um aumento efetivo no consumo em quilos de bife por família. A gente viu isso acontecer entre 2002 e 2012. Milhões de pessoas migraram para cima. Daí, de 2014 até 2017, o que tivemos foi o contrário disso. Milhões de famílias tiveram de abortar seus novos hábitos de consumo e voltar para a classe de renda em que estavam antes. Algumas até retrocederam para duas classes de renda inferiores. A queda absurda de renda e de empregos nesse período foram as consequências mais nefastas da maior crise econômica pela qual passou o País. Praticamente ninguém vivo hoje no Brasil viu uma crise tão forte quanto a atual. Mas a retomada no consumo em si mesma não é suficiente para fazer os preços su-

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birem. Afinal, os preços não aumentam se você tiver muita oferta de carne quando a procura está aquecida. A alta nos preços é sempre um descasamento entre demanda e oferta. Então, para os preços subirem, tem de “faltar” carne. Aqui entramos na oferta, segundo grande determinador dos preços. Para entender seu cmportamento, temos de, obrigatoriamente, olhar para o que está acontecendo com o abate de fêmeas. Deixe-me ir direto ao ponto. Quem faz o boi subir é a vaca. É a oferta de fêmeas para abate que influencia a alta do boi. Não é a oferta de boi em si, entendeu? Se não tem fêmeas naquela época, se faltarem vacas, pode ter uma cachoeira de machos abatidos que seus preços, ainda assim, subirão. Então, partindo do princípio de que “quem manda no boi é a vaca”, frase que cunhei há mais de 15 anos, o abate de fêmeas é o que olharemos em 2019 para verificar a direção do mercado. Você sabe, caro leitor, qual fator influencia o pecuarista a escolher se vai ou não aumentar a quantidade de vacas na estação de monta? É o lucro do bezerro. É o lucro, a sensação do lucro, a perspectiva do lucro para o futuro imediato que dispara o gatilho da maior ou menor oferta de fêmeas para abate. Adivinha! Parece que, nas últimas “leituras” do abate de fêmeas já começou a entrar no ar. A oferta de fêmeas começou a se estabilizar. Ou seja, aqui nos parece que há uma inclinação para que a oferta de fêmeas comece a perder ímpeto de aumento e passe a nos sugerir um cenário, no qual, daqui um ano, a oferta de vacas abatidas seja menor do que foi no último ano. A ironia é que nem precisa cair. Basta parar de subir (como disse, estabilizar) para fazer estrago. Há, ultimamente, a intenção de se reter fêmeas? Sim. O bezerro parou de dar prejuízo e os preços dos touros subiram forte neste ano. Um país que se encontra com o mercado interno voltando a se aquecer e, ao mesmo tempo, vê sua oferta de carne diminuir é receita para alta nos preços. Duvida? Nós já vimos esse filme antes, caro leitor. Obviamente, não com a mesma intensidade e nem pelas mesmas razões que as atuais, mas o ritmo é parecido. Estou otimista. Se o desenrolar dessa história estiver alinhado com o que estou dizendo aqui poderemos sorrir para 2019 e, mais ainda, para 2020. Avisarei aqui se mudar alguma coisa nesse cenário ou se os fatos fizerem eu mudar de ideia. n


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Cadeia em Pauta

Qual o futuro da carne? Shutterstock

Evento Horizons, em SP, apresenta cenário desafiante para o setor, nas próximas décadas.

Carne obtida em laboratório a partir de células tronco de animais

L

Termo carne limpa é jogada de marketing”. Catherine Walker, da Agrominds

denis cardoso

eite sem vaca, clara de ovo sem galinha, carne bovina sem boi. Parece fake news, mas não é. Dezenas de startups e empresas espalhadas pelo mundo estão apostando pesado na produção, em larga escala, de proteínas alternativas. Vários dos especialistas que participaram do evento Horizons, organizado pela empresa da área de nutrição animal,Trouw Nutrition, em Atibaia, SP, acreditam não somente na existência futura de um mercado pujante de carnes de laboratório (já apelidadas de “frankenmeat”, em alusão ao famoso personagem literário Frankenstein), mas também na expansão do comércio mundial de insetos de cativeiro, utilizados como ração para animais e consumo humano. Para continuar produzindo carne em grande escala, ajudando a alimentar os 9,8 bilhões de habitantes do planeta em 2050, conforme projeções da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), o Brasil terá de mostrar que pode fazer isso de forma sustentável, pois a concorrência das “proteínas alternativas” será forte. Segundo Catherine Walker, consultora da Agrominds, as empresas envolvidas com pesquisas nessa área já estão fazendo campanhas de marketing antes mesmo de colocarem seus produtos no mercado, relacionando-os principalmente à preservação do meio ambiente. Dentre as várias formas de identificá-los (carne in vitro, carne artificial, carne cultivada, carne de laboratório), optaram pelo termo “carne limpa”, tomando emprestado um conceito positivo já consolidado no setor energéti-

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co, que indica produção gerada por meio de fontes naturais não prejudiciais ao ambiente. Os pecuaristas devem ser preparar, porque vem artilharia pesada por aí. Projeções citadas por Catherine, com base em estudos europeus, mostram que a tal “carne limpa” reduziria as emissões de gases de efeito estufa em 78-96%; o uso da terra, em 99%; e uso de água, em 82%-96%, na comparação com a pecuária convencional. O “apelo ético” relacionado ao bem estar animal seria outro ponto forte da carne de laboratório, por sua produção não necessitar de abate. Questões ligadas à saúde humana também são um chamariz para o produto artificial, explicou Catherine, pois a produção em larga escala seria realizada em ambiente totalmente controlado, sem risco de contaminação de alimentos e também com a possibilidade de modelação do perfil de ácidos graxos adicionados à carne. Pontos fortes da pecuária Não será tão fácil, contudo, substituir a produção animal natural, pois se trata de um setor já organizado, que emprega milhões de pessoas e está preparado para atender demandas crescentes. “Nos próximos 35 anos, a humanidade precisará consumir a mesma quantidade de alimentos demandada nos últimos 8.000 anos”, salientou Stefan Mihailov, presidente da Trouw Nutrition Brasil. Citando os dados da FAO, Mihailov lembrou que, em 30 anos, serão 2,2 bilhões de pessoas a mais no planeta e o mundo precisará produzir 70% mais alimentos para atender tal demanda. O Brasil, segundo ele, tem todas as condições para ser protagonista desse desafio, pois tem boa disponibilidade de terras, água e luz, o que nos garante condições para produzir mais alimentos do que nossos concorrentes, como os Estados Unidos e China, que enfrentam limitações climáticas ou de terras. Entretanto, o País terá de alinhar seu sistema de produção às novas demandas da sociedade. “O consumidor moderno – mais urbano, sofisticado e conectado –, busca alimentos mais seguros, vindos de animais que não foram tratados com antibióticos, e exige maior transparência dos fornecedores”, afirmou. Mark Wiessing, presidente do Rabobank Brasil, um dos palestrantes do evento, lembrou que, em 1960, havia, no planeta, 15 ha de terras agricultáveis por pessoa e hoje apenas 0,5 ha. O executivo ressaltou, contudo, que o Brasil tem 170 milhões ha de terras agricultáveis, 42 vezes o tamanho da Holanda, seu país de origem. Desse montante, 40%-45% podem ser explorados de forma mais sustentável, elevando significativamente a oferta brasileira de alimentos. Ainda segundo Wiessing,


exigiria estrutura bastante complexa e muito dinheiro. O caminho mais viável tem sido explorar o nicho de carnes processadas, como os hambúrgueres.

Maioria dos palestrantes do evento Horizons acredita na existência de forte mercado de proteínas alternativas

nas fazendas de gado de corte, o uso de técnicas como confinamento/semiconfinamento e a integração lavoura-pecuária-floresta, podem ajudar a liberar (sem corte de uma única árvore), mais de 10 milhões de ha para produção de grãos, “quase o tamanho de Portugal”. Além de produzir de forma mais sustentável, a pecuária convencional terá de aprender a explorar melhor seus pontos fortes. Um deles é a qualidade gustativa de seus produtos. Pesquisas de opinião sobre um eventual consumo de carnes de laboratório mostram resistência das pessoas em consumi-las, caso venham a ser ofertadas no mercado. Artificialidade (produtos não naturais), falta de sabor, impactos negativos sobre os trabalhadores do campo (colocando-os fora do agronegócio) e preços supostamente mais altos, em relação aos produtos convencionais, são alguns dos pontos negativos citados pelas pessoas envolvidas nas pesquisas. De fato, ainda há grande dificuldade das empresas que investem na produção desses alimentos de encontrar fórmulas capazes reproduzir fielmente um bife bovino. Isso

Sangue de beterraba O primeiro hambúrguer de laboratório do mundo, criado pela equipe coordenada pelo cientista holandês Mark Post, a partir de células extraídas de uma vaca, foi apresentado em 2013, durante uma conferência científica realizada em Londres. Para dar a seu produto um aspecto de carne mal passada, Mark Post usou espécie de “sangue” feito com suco de beterraba, que tem aspecto semelhante ao da mioglobina, substância natural presente na carne bovina convencional. A ideia é aproveitar a memória gostativa do consumidor e fazê-lo se sentir comendo um beef de verdade. O cientista criou, em 2015, a startup Mosa Meat, para arrecadar fundos, e promete lançar comercialmente seu hambúrguer artificial até 2020, a um preço estimado de US$ 10 por unidade. A empresa já tem concorrentes fortes. Em 2016, a startup Memphis Meats anunciou a primeira almôndega e, em 2017, o primeiro nuggets de frango de laboratório. A Memphis captou US$ 17 milhões junto a investidores como Bill Gates (Microsoft), Richard Branson (Virgin Group) e a gigante Cargill. Neste ano, a Tyson Foods, maior empresa de carnes dos EUA, comprou uma participação minoritária da startup. Com os novos recursos, a Memphis prevê lançar seus produtos “frankenmeat” no mercado até 2021. Há ainda os hambúrgueres vegetais, que miram não somente o público vegetariano/ vegano, mas também consumidores de carne convencionais preocupados com o meio ambiente. A startup Beyound Meat, que desenvolveu o hambúrguer com proteína de ervilha, extrato de levedura e óleo de coco, recebeu investimento de US$ 72 milhões de empresas como a Tyson New Ventures e de personalidades, como o ator Leonardo Di Caprio. n

Hoje, temos apenas 0,5 ha agricultável por pessoa no mundo” Mark Wiessing, do Rabobank

Precisamos investir mais em sustentabilidade” Stefan Mihailov, da Trouw Nutrition.

Insetos comestíveis à mesa

Correndo paralelamente, o mercado mundial de insetos direcionados ao consumo humano deve superar a casa de US$ 1 bilhão em 2023, conforme prevê o pesquisador Arnold Van Huins, da Universidade de Wageningen, na Holanda. Segundo ele, atualmente existem 231 startups/empresas ligadas ao setor, espalhadas pelo mundo. O setor movimenta US$ 400 milhões/ ano, com a venda de 2.000 espécies de insetos comestíveis. As mais populares são besouros, larvas, abelhas, vespas, moscas, formigas, borboletas, grilos, gafanhotos e cigarras. No Brasil, há 135 espécies de insetos comestíveis, alimento consu-

mido especialmente por tribos indígenas. Seu apelo comercial, segundo Huins, é seu baixo custo e impacto ambiental, mas ainda há muita rejeição a aos insetos no Ocidente, onde os consumidores os consideram sujos e repulsivos. Para Catherine Walker, o surgimento de um mercado de carnes de laboratório e insetos não signfica o fim da pecuária tradicional, mas um alerta à cadeia produtiva. Ela precisa buscar se posicionar, de forma mais enfática e organizada, em relação ao emprego de tecnológias que têm permitido, aos produtores brasileiros. avançar em produtidade, nas últimas décadas, re-

duzindo os riscos ambientais da atividade e garantido o bem-estar dos animais. “É possível que, à luz dessas novas tecnologias, seja possível encontrar um meio termo entre preservar o churrasco da família e alimentar a população mundial, nos próximos anos”, define a pesquisadora.

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Cadeia em pauta

Pecuária de bem com o meio ambiente Projeto conduzido pela Liga do Araguaia apresenta seus primeiros resultados

Liga do Araguaia já conseguiu recuperar 20.000 ha de pastagens degradadas de um total de 67.000.

O

Tatiana Souto

projeto Carbono Araguaia, conduzido, desde 2015, pela Liga do Desenvolvimento Sustentável do Vale do Araguaia (formada por 24 fazendas do leste mato-grossense), começa a dar bons resultados. Um dos mais visíveis é a recuperação, em apenas três anos, de 26.000 ha de pastagens degradadas, de um total inicial de 67.000 ha, por meio da técnica da integração lavoura-pecuária. A taxa de lotação também avançou, passando de 0,9 para 1,12 cabeça por hectare. Quando todos os 67.000 ha estiverem recuperados e forem manejados de forma mais intensiva, será possível atingir outra meta produtiva do projeto, a redução da idade média de abate para menos de 24 meses. Os ganhos de produtividade já alcançados são consequência de um objetivo maior: provar que a pecuária não é a vilã das emissões de gases do efeito estufa; pelo contrário, se bem manejada, pode retirar esses gases da atmosfera, em grandes volumes. Os resultados do Projeto Carbono Araguaia foram apresentados dia 23 de outubro, no auditório da

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Fundação Getúlio Vargas (FGV), em São Paulo, durante um encontro organizado pelo Observatório ABC, coordenado pelo GVAgro, centro de estudos de agronegócios da instituição. O trabalho nas fazendas do Vale do Araguaia está sendo realizado em parceria com a Embrapa, com apoio do Grupo Roncador (que tem uma propriedade na região) e da Corteva Agrosciences, devendo se encerrar em 2020. No encontro em São Paulo, o pesquisador Eduardo Assad, da Embrapa Informática Agropecuária, e o consultor Roberto Strumpf, da consultoria Pangea Capital, informaram qual o montante de gases de efeito estufa que o projeto já conseguiu retirar da atmosfera. Segundo Strumpf, pastagens em boas condições armazenam 7,33 toneladas de carbono equivalente (CO2eq) por ha/ano, ante 2,02 toneladas das degradadas. Com a recuperação de 26.000 ha, o projeto já viabilizou a captura de 190.000 toneladas de CO2eq/ano. Meta futuras “Queremos ter 34.000 ha de pastagens recuperadas e uma taxa de lotação média de 1,52 cabeça por hectare nas fazendas da Liga até 2020, metas já quase alcançadas. Fomos modestos na definição dessas metas e elas somente não foram atingidas ainda por causa das turbulências ocorridas no setor, nestes nos últimos anos”, comenta Strumpf. “O produtor investiu em recuperação de pastagem, mas, em função dos problemas conjunturais, faltou recursos para intensificar”, lamenta. O rebanho das 24 fazendas do projeto, contudo, cresceu, passando de 80.000 bovinos, em 2015, para 87.000, em 2018, com meta de chegar a 117.000 até 2020. Em relação às emissões de equivalente carbono, o objetivo é zerar a conta, ou seja, sequestrar 100% do metano e óxido nitroso produzidos pelos animais. “Quando pudermos reduzir a idade de abate para 24 meses, no mínimo, o animal ficará menos tempo emitindo esses gases de efeito estufa”, diz Assad, da Embrapa. Segundo ele, o Brasil tem hoje mais de 50 milhões de hectares em estágio avançado de degradação e a recuperação/reforma dessas áreas é a melhor forma de se neutralizar as emissões entéricas dos bovinos. “O Brasil emite 1,368 bilhão de t de CO2eq/ ano. A agropecuária responde por 31% desse total, sendo 17% ligados à fermentação entérica e 17% à agricultura (manejo do solo e outras atividades)”, diz o pesquisador. Mas, como o carbono equivalente emitido pelo boi é resultado do que ele retira do pasto, deve-se fazer um balanço entre os dois sistemas (animal/planta). Um pode neutralizar o outro. “Não é correto pensar somente nas emissões dos animais, isolando-as da pastagem, que tem imenso potencial para sequestrar carbono”, assegura. n



Cadeia em Pauta dor de Protocolos de Rastreabilidade de Adesão Voluntária do Instituto CNA, Paulo Costa. “Já a fiscalização e auditoria dos processos permanecerão como atribuição exclusiva do Ministério”. Até janeiro deste ano, apenas 1.628 estabelecimentos pecuários estavam habilitados a exportar carne bovina para a Europa, compondo a chamada Lista Traces, que é específica para o bloco. Essas propriedades abrigam 4 milhões de bovinos, sendo 65% provenientes de confinamentos. São estabelecimentos que cumprem os requisitos necessários para atender a UE – como a participação no Sisbov – e normalmente conseguem adicionais de R$ 1 a R$ 2/@. Com o aquecimento das exportações neste ano, esse prêmio tem, inclusive, chegado a R$ 3/@, segundo informa Sérgio Ribas, diretor comercial do Serviço Brasileiro de Certificações (SBC). Um acréscimo de 50% que faz muita diferença no bolso do produtor.

Nova Instrução Normativa do Mapa indicou primeiros passos para que a CNA passe a gerir, futuramente, o banco de dados do Sisbov.

Boi Europa em alta Exportações para a UE têm aumentado, mas número de fazendas no Sisbov continua baixo.

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Tatiana Souto

proveitando o cenário favorável às exportações de carne bovina in natura, que bateram recordes neste ano, devido à desvalorização do dólar, as indústrias frigoríficas brasileiras ampliaram seus embarques para a União Europeia (UE). Segundo balanço da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), foram vendidas 84.837 t para esse bloco econômico, entre janeiro e setembro, 12,05% acima das 75.710 t comecializadas em igual período do ano passado. O faturamento também subiu 26,18%, chegando a US$ 621 milhões. O incremento das exportações coincide com mudanças no Sisbov (Serviço Brasileiro de Rastreabilidade da Cadeia Produtiva de Bovinos e Bubalinos), instituídos pela Instrução Normativa 51, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), publicada em 8 de outubro. Alguns procedimentos foram simplificados e estabeleceram-se as condições para transferência gradativa da gestão do protocolo Europa para a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). “Questões operacionais ficarão, futuramente, a cargo da iniciativa privada”, confirma o coordena-

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Expectativa de maior adesão “Com a melhoria ou sustentação do ágio pelo crescimento nas exportações para a Europa e a desburocratização gradativa do Sisbov, nossa expectativa é de que mais fazendas participem da Lista Traces”, diz Ribas. Desde 2014, essa lista de fazendas se mantém estável, mas já se nota, segundo ele, uma maior movimentação no mercado. Mesmo antes da nova IN 51, fazendas da região de Tangará da Serra, Campo Novo do Parecis e Sapezal, no sudoeste do Mato Grosso, já vinham se preparando para integrar o Sisbov. “Tem muita gente se profissionalizando”, comenta o executivo da SBC. O diretor de compra de gado da Minerva Foods, Fabiano Tito Rosa, assinala que qualquer melhoria no sentido de facilitar o ingresso de novas fazendas na Lista Traces “é sempre muito bem vinda”, já que existe demanda na União Europeia pela carne bovina brasileira. Ele adverte, porém: “Mudanças são benvindas, desde que sejam mantidas as garantias exigidas pelos clientes lá fora”. Paulo Costa, da CNA, salienta que o atual modelo permite controle efetivo dos rebanhos nas propriedades exportadoras, mas defende uma simplificação ainda maior das regras. “Antes da Instrução Normativa 17, de 2006, que instituiu o Sisbov, o País chegou a ter mais de 15.000 fazendas habilitadas para exportação. Talvez esse número seja um exagero, mas estamos trabalhando abaixo do nosso potencial”, argumenta. Segundo Tito Rosa, a pequena adesão à Lista Traces não tem dificultado a captação de “bois Europa” – jargão do setor para os animais de fazendas que exportam para a UE. “Temos muitos parceiros certificados e um bom volume de gado para ser abatido durante o ano”, diz o diretor do Minerva, ressaltando, porém, que a maior parte da oferta se concentra no segundo semestre, pois a maioria dos animais são provenientes de confinamentos. “Se a


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Cadeia em Pauta gente conseguisse ter uma produção mais equilibrada ao longo do ano seria bacana”, diz. Sazonalidade é problema O representante do frigorífico explica ainda que, apesar do número estável de fazendas na Lista Traces, a quantidade de bois Europa vem aumentando no mercado, porque a pecuária está mais intensificada. “Isso favorece as exportações, embora seja importante garantir uma oferta constante ao longo do ano, o que exigiria maior participação de fazendas que produzem bois a pasto Sisbov”, repete o executivo. Sérgio Ribas confirma a existência de uma sazonalidade neste segmento, que tem sido favorável ao produtor. “Em função da menor oferta de bois Europa no primeiro semestre, o ágio costuma aumentar no segundo semestre”, explica. O número de certificadoras do Sisbov, que foi superior a 70 antes da instituição da Lista Traces, caiu bastante e hoje se mantém estável. “São 23 empresas privadas credenciadas pela Secretaria de Defesa Agropecuária do Mapa para realizar auditorias em propriedades que buscam habilitação para a Lista Traces”, informou o Ministério da Agricultura, por meio de sua assessoria de imprensa. Paulo Costa, da CNA, comenta que uma das propostas da entidade

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é justamente acabar com a obrigatoriedade da contratação de uma certificadora. As fazendas, segundo ele, poderiam ser vistoriadas por um profissional independente e devidamente capacitado. “Acreditamos que as certificadoras prestam um bom serviço aos produtores, entretanto, defendemos que sua contratação seja opcional”, diz. Para Antônio Jorge Camardelli, presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), os entraves impostos ao Brasil desde a criação da Lista Traces são o principal obstáculo enfrentado pela indústria para estimular os pecuaristas a produzir boi Europa. “Não conseguimos incentivar novas adesões ou manter quem já está na lista produzindo com regularidade, porque enfrentamos vários empecilhos para colocar nossa carne no mercado europeu e não conseguimos remunerar os produtores suficientemente para cobrir os custos adicionais de uma propriedade certificada. Isso não existe em outros países para os quais exportamos”, critica. “Eles (os europeus) estipulam o maior número possível de travas porque conhecem o potencial competitivo do Brasil. Sempre tentaram restringir a entrada do nosso produto para reduzir nossa competitividade”, critica. Segundo Camardelli, o protecionismo europeu tem de acabar. “Ou você é competitivo ou não é”, sentencia. n



Cadeia em Pauta

Mulheres em alto e bom som Fotos: Marcelo donatelli

Congresso Nacional das Mulheres do Agronegócio reuniu 1.500 congressistas em São Paulo, que expuseram suas ideias, dividiram experiências e deram voz a suas queixas

Plateia cheia: 1.500 mulheres participaram do congresso.

Renato Villela

A

renato.villela@revistadbo.com.br

s mulheres estão cada vez mais presentes no agronegócio. À medida que sua participação avança, seja no dia a dia das fazendas, seja nas empresas do setor, cresce igualmente sua percepção sobre obstáculos que enfrentam no meio rural. Desde a tributação elevada e dificuldade de se escoar a produção em vias esburacadas, até os rigores da legislação ambiental e certo ressentimento quanto à maneira como o setor é visto por parte da sociedade urbana e da grande mídia. Queixas antes restritas ao discurso dos homens começam a ganhar uma versão amplificada nas vozes femininas. Reunidas no 3o Congresso Nacional das Mulheres do Agronegócio, em São Paulo, SP, nos dias 23 e 24 de outubro, 1.500 representantes desse segmento – eram 500 no primeiro encontro, há três anos – reivindicaram seu espaço para expor ideias, opiniões, experiências e insatisfações, mas também mostrar ao setor e a si próprias sua capacidade de mobilização. Segundo dados preliminares do Censo Agropecuário 2017, divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em 11 anos o número de mulheres à frente dos estabelecimentos rurais passou de 12,68% (2006) para 18,67% em 2017. A maioria dessas empreendedoras do Agro está em postos de liderança. Pesquisa feita pela Abag (Associação Brasileira do Agronegócio), com 862 mulheres, divididas em três categorias – antes da porteira (serviços que atendem a fazenda), dentro das propriedades (produtora) e fora da porteira (atividades relacionadas ao comércio e industrialização) mostrou que 59,2% das mulheres são proprietárias ou sócias. A área de atuação com maior presença feminina é a agricultu-

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ra, com 42% de participação, sendo as principais culturas soja, milho e hortifrutigranjeiros. A pecuária vem logo a seguir, com 25% das mulheres entrevistadas. Papel de protagonista Elas também estão ocupando cada vez mais espaço no mundo corporativo do Agro. Se antes precisavam forçar a entrada em um universo eminentemente masculino, agora são as empresas que abrem suas portas para recebê-las. “As mulheres têm desempenhado um papel cada vez mais relevante na Cargill ”, afirmou Luiz Pretti, presidente da multinacional no Brasil. Segundo Pretti, 30% dos funcionários da Cargill são mulheres e 26% ocupam cargos de liderança. “Temos um compromisso de elevar esse percentual para 50% até 2030”, disse. O gerente de sustentabilidade corporativa da BASF para América Latina, Emiliano Graziano, chamou a atenção para a importância feminina em um tema bastante debatido no congresso: o desperdício de alimentos. A dupla arroz e feijão, símbolo da culinária brasileira, representa aproximadamente 38% do montante de alimentos jogados fora no País, segundo pesquisa demandada pelos Diálogos Setoriais União Europeia-Brasil, em projeto liderado pela Embrapa e apoiado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). “A mulher tem papel-chave para evitar o desperdício porque é a principal responsável pela transmissão do conhecimento no meio rural”, disse Graziano. O presidente da John Deer no Brasil, Paulo Herrmann, conclamou a força feminina a enfrentar os novos desafios do setor pecuário, ao mencionar a fabricação de carne em laboratório a partir de células animais, onda que começa a pipocar mundo afora por iniciativa de startups do Vale do Silício e da Europa. “Para competir contra essas ‘ameaças’, precisamos melhorar nossa eficiência produtiva e as mulheres têm muita capacidade para contribuir nesse quesito”, disse. O executivo ressaltou ainda a tecnologia cada vez mais presente no campo. A chamada “agricultura 4.0” tem sido responsável pelo regresso das novas gerações. “Muitos jovens foram para a cidade, mas estão voltando. O futuro está no campo”. Desabafo coletivo A plateia do congresso, distribuída em quatro blocos (“arenas”) – reproduzindo o formato de uma mandala com os debatedores no centro – ouviu dos especialistas que o País avança na sustentabilidade do seu negócio, em função do maior uso de insumos biológicos e sistemas integrados de produção. “Hoje temos 14 milhões de ha de ILPF (Integração Lavoura-Pecuária-Floresta) e devemos ampliar mais 4 milhões de ha até 2030”, disse Cléber Soares,



Fotos: renato villela

Cadeia em Pauta

Vozes do Agro: Raquel Fancelli, da Fazenda Santa Rosa, e....

diretor executivo de Inovação e Tecnologia da Embrapa. O cenário econômico do País também foi discutido. Zaina Latif, economista chefe da XP Investimentos, de São Paulo, fez um prognóstico pouco animador sobre o comportamento do dólar, que impacta os custos de produção (insumos). “A cotação está baixa por conta da expectativa em relação ao novo governo, que tem o benefício da dúvida, mas a tendência internacional é de valorização da moeda norte-americana”, disse. Assim que se abriu espaço para perguntas da planteia, no primeiro dia de evento, ficou claro que as mulheres precisavam falar. E elas falaram sobre a imagem do setor. “Somos vistos como vilões. Poluímos o mundo e não produzimos alimentos saudáveis. É assim que a sociedade e a mídia nos trata. Somos reconhecidos no mundo como grande produtores. Aqui, somos massacrados”, disse Raquel Schenkel Fancelli, da Fazenda Santa Rosa, no município de Rio Verde, no MT, onde são produzidos grãos, suínos e bovinos. O desabafo, aplaudido, foi uma espécie de salvo conduto para novas manifestações, que tiveram como alvo desde o descaso por vias ferroviárias para transportar a produção até os altos impostos que incidem sobre a atividade

a jovem Vivian Machado, da Agropecuária 2M, no TO.

agropecuária. “Como é possível o Brasil avançar e ser o celeiro de alimentos que todos esperam, com uma tributação dessas? Os produtores estão enforcados. É muito difícil produzir no Brasil”, criticou Vivian Machado, da Agropecuária 2 M, em Barra do Ouro, TO, que produz animais meio-sangue Wagyu Akaushi (pelagem vermelha). À frente do MAT (Mulheres do Agronegócio Tocantinense), Vivian questionou o Código Florestal, que estabeleceu reserva legal de 80% na Amazônia Legal, 35% no cerrado, 20% em campos gerais, e 20% nos demais biomas das outras regiões do Brasil. “Quem está nas áreas de Amazônia Legal deveria, ao menos, ter algum tipo de benefício fiscal, juros mais baratos. Como é que consegue sobreviver explorando somente 20% da área?”, questionou. Ao acompanhar este repórter para tirar uma foto para esta reportagem, Vivian foi parada mais de uma vez, deixando a impressão de ter sido porta-voz de insatisfações até ali reprimidas. “Você disse o que estava engasgado na nossa garganta”, ouviu de uma congressista, a quem agredeceu, antes de fazer um convite. “Participe da nossa rede”. “É um site das mulheres pelo Agro. Chama-se Glamour Rural. Temos de divulgar”, disse, virando-se para mim. n

“O que nos move é a fé e a vontade de fazer” No segundo e último dia do evento, antes do término da plenária da manhã, uma mulher ergueu o braço e pediu a palavra. Lilia Ticiana da Rita Cardoso, vinda de Angola especialmente para o congresso, estava um pouco incomodada com o que ouvia. Formada em Gestão Agrícola, em uma universidade de Lisboa, Portugal, Lilia retornou para Angola 12 anos atrás, então com 22 anos, para “enfrentar o desafio do agronegócio”. Essa tarefa incluía desde a retirada de minas terrestres dos campos agrícolas até lidar com o total desinteresse do governo angolano pela atividade. “Busquei consultores fora de Angola. Nem sem-

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pre consegui investimentos para os agricultores, mas fiz os projetos técnicos para ajudá-los. Não posso desanimar, porque tenho amor pelo campo”, disse, convicta. Talvez por vivenciar uma realidade tão dura, como a de agricultores que precisam guardar as sementes dos frutos que consomem para formar pomares, Lilia disse, ao microfone, que as mulheres no congresso lhe pareciam “mimosas” (quis dizer “mimadas”), e que deveriam lutar em vez de reclamar. O tom de seu depoimento não foi agressivo. A plateia, que a aplaudiu, pareceu entender que o discurso partiu de um referencial muito diferente do que estamos acostumados

por aqui. Ao me conceder uma breve entrevista, logo após seu pronunciamento, se explicou. “Quis dizer que as mulheres daqui agem muito com base na emoção, não na razão. Se estás a sofrer, mexa-se, faça sua voz ser ouvida. O que nos movimenta é a fé e a vontade de fazer”.


Pureza na origem, grandeza nos resultados.

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Cadeia em Pauta Maragogipe é hexa no concurso de Bataguassu

A Agropecuária Maragogipe, localizada em Itaquiraí, MS, de propriedade de Wilson Brochmann, venceu o Concurso de Carcaças Angus de Bataguassu, MS, pelo segundo ano consecutivo e foi sagrada hexacampeã da prova. Referência na produção de carcaças meio sangue Angus de alta qualidade, a fazenda conquistou o primeiro lugar tanto na prova de machos (com

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animais de 350 kg de carcaça e rendimento de 58,8%) quanto de fêmeas (309,6 kg e 57,8%, respectivamente). Também arrematou o segundo lugar nas duas categorias.Ficaram, em terceiro lugar, a Fazenda Rio Bonito, da Colpar Participações (na prova de machos) e a Fazenda Pureza, de Natalino Cavalli Júnior (na prova de fêmeas). O concurso é promovido pela Associação de Angus e reuniu 1.377 animais de 16 produtores.A entidade também participou da feira Sial Paris, em outubro, onde lançou o livro “Angus, a carne do gourmet do Brasil”.

Hong Kong quer alterar regra para importação Destino de alta relevância para o mercado brasileiro, que responde por 25% dos embarques totais do País, Hong Kong ameaça restringir o número de frigoríficos brasileiros habilita-

dos a exportar carne para seu território, porta de entrada para a China. A restrição seria decorrência do episódio da Operação Carne Fraca, que denegriu a imagem dos produtos cárneos do Brasil Hoje, qualquer estabelecimento integrante da chamada lista geral definida pelo governo brasileiro, com cerca de 700 plantas, pode exportar para a cidade, mas Hong Kong já pediu alterações no modelo, e cobrou respostas quanto do governo brasileiro. A proposta, encaminhada ao Ministério da Agricultura, era de criar uma lista com 350 estabelecimentos que seguissem padrões sanitários e de rastreabilidade específicos, mas, diante da demora no retorno do Mapa, as autoridades Hong Kong propôs trabalhar com uma lista de apenas 80 plantas. O impacto desta decisão, segundo fonte ouvida pelo Jornal Valor Econômico, seria grande, visto que hoje 230 unidades frigoríficas exportam carne para esse dentino, regularmente.



Janela Aberta

Danilo Grandini

Nada ao acaso Zootecnista, com pós-graduacão em análise econômica, e diretor de marketing de Phibro para o Hemisfério Sul (Austrália, África do Sul, Argentina e Brasil).

Volto de uma viagem de 18 dias, passando por dois países muito interessantes. O primeiro é a África do Sul, que tem uma produção muito diferente da que estamos acostumados a ver e uma vontade grande de ingressar no comércio internacional de carne vermelha. O segundo, de onde escrevo, é a Austrália, um ícone do “valor agregado”. Neste último, participei de uma reunião, na sede da MLA (Meat Livestock Austrália), organização responsável pela elaboração de políticas e estratégias para o setor pecuário. Já na subida da escadaria, visualizo um painel enorme, no qual se lê: “good meat doesn´t just happen”, carne boa não vem do acaso. Esse slogan poderia parecer banal, pois, de certa forma, em todos os lugares do mundo que visito, ouço: “Aqui fazemos qualidade, a melhor carne do mundo etc”. Mas, o “juiz do jogo” (a verdade) logo surge, quando começa a transitar pelo sistema de produção do país e vejo que boa parte das conversas é centrada em métricas e qualidade. Na prática, o setor pulsa produção e parece que isso une ainda mais as pessoas. Não existe distração e o bate papo flui em todos os níveis hierárquicos. Para quem gosta do tema, não existe monotonia. Discute-se de tudo: desde Ph/cor/gordura de carne até dias de cocho, múltiplos de mantença, densidade de energia e acessibilidade de mercados. Há toda uma cultura voltada à agregação de valor, da qual, obviamente, os vários elos se beneficiam. O slogan “carne boa não vem do acaso”, além de estratégico, é tático, ou seja, indica quais as ferramentas/ações necessárias para se chegar lá, neste caso: regra definida, informação e transparência. A existência de uma tipificação nacional voluntária na Austrália, com auditores credenciados e independentes, assim como uma infraestrutura adequada, possibilita que os critérios cheguem à origem, ou seja até o produtor. Bem informado, ele interpreta e

Valores médios pagos na Austrália por animais confinados com dietas de alta energia, por no mínimo 100 dias. Peso carcaça (kg)

Idade (Nº de dentes)*

Gordura (mm)

Preço (US$/kg)**

220 - 240

0–2

5 a 22

3,68

240 - 260

0–2

5 a 22

3,72

260 - 280

0–2

5 a 22

3,76

280 - 300

0–2

5 a 22

3,80

300 - 320

0–2

5 a 22

3,84

*Número de dentes definitivos **Valores de 08 de Outubro 2018

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colabora com as mudanças, que, ao final, beneficiam a todos, principalmente, eles próprios. Para se ter uma ideia disso, em uma discussão de determinado grupo, buscava-se resolver um problema qualitativo – 1,8% dos animais produzidos em confinamento apresentavam coloração de carne acima do score 4 (mais escura), que caracteriza animal de pasto. Qual foi a decisão tomada? Não comercializar os bois como oriundos de confinamento, mesmo isso significando perder valor (por volta de 5,5%). “Ops!! Como assim?”, você pergunta, “mas eles foram produzidos em confinamento, como podem ser vendidos como de pasto?”. Sim, o que manda na Austrália é a característica do produto vendido, não o processo de produção. Como diziam os romanos frente à fama duvidosa de sua imperatriz: “Não basta ser mulher de César, tem que parecer mulher de César”. Impossível não lembrar dos comentários de meu amigo, Igor Sokoloski, que, frente a algumas situações complicadas, sempre pergunta: suporta auditoria? Amigo Igor, esta turma australiana suporta. Mais uma lição aprendida A lição que trago dessas viagens é essa: apesar de concordar que o Brasil produz uma carne extremamente competitiva (nossa fortaleza atual), é preciso ir além, seguindo o exemplo de organização e seriedade de nossos concorrentes. A carcaça bovina fornece de 16 a 35 cortes comerciais. Em tese, a sobrevalorização dos mais nobres deveria cobrir os custos daqueles destinados aos mercados mais competitivos (de menor preço). Uns deveriam complementar os outros, pois aqui falamos de uma boa carcaça, mas ainda sem avançar em quesitos como marmoreio e outros atributos de uma carne gourmet, que permite maior agregação de valor. O confinamento no Brasil, ajustando-se idade e nível de acabamento, poderia seguir esse conceito. Na tabela ao lado, apresento valores pagos na Austrália por uma categoria semelhante à produzida pelos confinadores brasileiros, também composta majoritariamente por novilhos cruzados de raças taurinas com zebu e submetidos a 100 dias de confinamento. A carcaça tem padrão (idade e acabamento), independentemente do peso em que é comercializada. Isso é o que devemos buscar O caminho não é simples e tampouco fácil, principalmente quando se trata de vitória coletiva, que exige alianças amplas dentro do setor produtivo. Nosso modelo segue em construção. Quanto antes chegarmos lá, melhor! n



Eventos

RedeAgro vai a campo Aliança composta por nove empresas do setor encerra seu Circuito 2018 com evento para 150 pessoas, na Agropecuária Maragogipe, em Itaquiraí, MS. para discutir questões ligadas ao agronegócio, frequentemente abordando temas mais amplos, como sucessão, macroeconomia, sistemas integrados e inovação tecnológica. Segundo Bernardo Arruda Reis, diretor comercial e de marketing da Prodap, em cinco anos já foram realizados 13 encontros itinerantes, todos em ambiente fechado, para públicos menores, organizados quase em formato de aula, para que os produtores e técnicos presentes pudessem interagir mais facilmente com os palestrantes. Dessa vez, explicou Reis, a RedeAgro quis mostrar in loco a evolução já obtida na pecuária. “O projeto da Maragogipe permite isso”, salientou.

Emocionado, Wilson Brochmann fez um breve relato histórico da empresa da família, presente no MS desde os anos 70.

Maristela franco

A

maristela@revistadbo.com.br

RedeAgro, aliança estratégica sem fins lucrativos, formada por empresas de diferentes áreas do agronegócio para profissionalização da pecuária, realizou seu 13º Circuito de debates em 18 de outubro, no Mato Grosso do Sul. Pela primeira vez o evento teve caráter open farm, ou seja, ocorreu em uma fazenda em Itaquiraí, pertencente à Agropecuária Maragogipe, que concordou em abrir suas “portas” para os convidados da Rede. O evento contou com a participação de cerca de 180 pessoas, em sua maioria pecuaristas da região. Para o dia de campo, foram montadas quatro estações com tendas brancas, cada uma delas dedicada a uma parte do sistema de produção da fazenda. Próximo à sede, foi instalado um pequeno estande de máquinas da John Deere, para apresentação das novidades tecnológicas dessa empresa. A RedeAgro é composta pela Prodap, Corteva (antiga Dow Agrosciences), John Deere, Totvs, Valley Irrigation, DeLaval, Barenbrug, Zoetis e Fundação Dom Cabral, uma escola para formação de executivos de São Paulo. Desde que essa aliança foi criada, em 2013, procurou promover encontros

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Pioneirismo no MS Apesar da forte chuva que caiu na tarde no dia do evento, os produtores puderam conhecer um pouco do trabalho feito pela Maragogipe, que já tem 30 anos de história na pecuária. Na parte da manhã, foram apresentadas palestras sobre genética e gestão em um auditório improvisado no hangar da propriedade. Bernardo Reis explicou a filosofia da RedeAgro, que busca o compartilhamento de conteúdos estratégicos para o desenvolvimento sustentável da pecuária. Neste ano, a aliança empresarial escolheu dois Estados para realização de eventos: o Mato Grosso – onde discutiu “Estratégias Aplicadas ao Agronegócio”, na sede da Associação dos Produtores do Mato Grosso (Acrimat), em Cuiabá – e Mato Grosso do Sul, onde foi organizado o dia de campo. Emocionado com a presença de tantos produtores no evento (muitos deles velhos amigos), o proprietário da Agropecuária Maragogipe, Wilson Brochmann, relembrou a trajetória de sua família em terras sul-mato-grossenses desde a década de 70 e destacou que esse trabalho não seria possível sem as parcerias que firmou ao longo do caminho. “Fomos um dos pioneiros da inseminação artificial no Mato Grosso do Sul, em 1979, e também um dos primeiros projetos no País a acreditar no mercado de carne de qualidade, que nós abastecemos, por meio de uma parceria de longa data com a Marfrig”, salientou. A Fazenda Maragogipe tem 10.000 ha de área, faz integração lavoura-pecuária, seleção de Nelore e cruzamento industrial, terminando seus animais em confinamento. Em outubro, conquistou o hexacampeonato no disputadíssimo concurso de carcaças promovido pela Associação Brasi-


leira de Angus, em Bataguassu, MS. O rebanho da empresa soma 22.000 cabeças em cinco fazendas, quatro no MS e uma no Rio Grande do Sul. Gestão ajustada Conforme explicou Lucas Marques, técnico da Prodap, foram feitos vários ajustes no sistema de produção da Maragogipe, nos últimos anos, principalmente no manejo de pastagens, já que estas estavam sendo usadas acima de sua capacidade de lotação. “Foi o primeiro desafio que enfrentamos quando iniciamos nosso trabalho na fazenda. Tivemos de convencer o Seu Wilson de que era necessário reduzir o rebanho e abrir mão de algumas categorias animais para preservar o grande patrimônio genético da fazenda, que é seu plantel de cria. Somente depois disso, podíamos voltar a intensificar. Precisávamos retroceder um pouco, para poder voltar a crescer. Agora a gente tem muita clareza do que quer para o projeto. Isso é fundamental em gestão, pois qualquer estratégia começa com um objetivo definido”, lembrou o consultor, acrescentando: “O primeiro passo que você dá não te leva onde você quer chegar, mas te mostra onde você está”. Mesmo tendo patrimônio genético Nelore valioso, forjado após quase 18 anos de seleção contínua dentro do Programa de Melhoramento Genético Delta Gen, a Maragogipe não estava conseguindo expressar todo o potencial de seu rebanho devido a falhas gerenciais. “Elaboramos um programa de suplementação a pasto e ajustamos questões administrativas para que a sede, em Porto Alegre, e a fazenda trabalhassem de maneira alinhada, de mãos dadas”, diz Marques. Tudo isso foi feito sem a presença do Seu Wilson, que ficou seis meses afastado, devido a problemas de saúde, e sem o apoio de um gerente, que tinha acabado de sair. “Como fazer o projeto andar sem eles? Esse foi nosso principal desafio, mas conseguimos chegar lá. De nada adianta fazer um bom planejamento e ajustar a parte orçamentária de uma propriedade se as ações não forem executadas com precisão e clareza de objetivos pela equipe”, salienta. Voltando-se para o público presente, Marques questionou: “Vocês sabem como obter máxima geração de caixa de um negócio, o famoso Ebtda (resultado antes de juros, impostos, depreciações e amortizações)? Observem essa ilustração: a receita tem várias alavancas (preço de compra, rendimento de carcaça, arrobas produzidas) e os custos também (preço de aquisição de animais, custo de produção etc). Os dois braços dessa árvore precisam estar alinhados, bem articulados, para se ter geração de caixa e lucro”, explicou. Segundo o consultor, não se pode chegar em dezembro e dizer que a fazenda não deu lucro; é preciso acompanhar os indicadores zootécnicos e econômicos mês a mês, com base em metas, que são estabelecidas estimando-se o poten-

Matrizes com bezerros ao pé apresentadas durante o dia de campo.

cial produtivo da fazenda (quanto de alimento ela consegue fornecer) e o potencial do gado em converter esse alimento em arrobas. “Ainda não conseguimos vender capim; temos de transformá-lo em carne”, assinalou. Importância da nutrição Concluídas as palestras no hangar, os participantes do dia de campo se dividiram em vãs contratadas especialmente para o evento e foram ver o gado no pasto. A primeira estação era justamente a das matrizes Nelore com bezerros ao pé. Enquanto o público ouvia as explanações técnicos, os lotes eram conduzidos pelo corredor pelos vaqueiros. O veterinário Luis Fernando Boveda, gerente da Jacarezinho e palestrante do evento, lembrou que, para se trabalhar com fêmeas precoces, que emprenham com menos de 24 meses, é fundamental ajustar o manejo nutricional, porque elas precisam ganhar pelo menos 600 g/cab/dia após a desmama para atingir no mínimo 300 kg aos 15-18 meses. “No Brasil, ainda pecamos muito na mineralização e suplementação do rebanho”, alertou. Como o céu estava se tornando cor de chumbo, em função da chuva que se avizinhava, os participantes do dia de campo se encaminharam para as vãs, passando rapidamente pela segunda estação (de recria) e seguindo direto para o confinamento, que visitaram debaixo de grande aguaceiro. Infelizmente, foi possível observar os belos lotes de cruzados Angus que depois venceriam o concurso de Batagassu apenas pelo vidro da janela dos veículos, mas os produtores já estão acostumados à imprevisibilidade do clima da região. “São Pedro, no sul do Mato Grosso do Sul, é muito temperamental, mas não podemos reclamar, porque ele está nos dando bastante chuva, para compensar o ano passado, que foi seco”, disse um dos participantes a esta repórter. Após o encerramento da visita às estações, todos retornaram à sede, onde puderam apreciar um churrasco preparado pela equipe do especialista em carnes, Roberto Barcellos, da empresa Beef & Veal, com sede em Botucatu, SP. n DBO novembro 2018 47


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Gestão

O fantasma do prejuízo Ariosto Mesquita

Considerando a lucratividade, o padrão da pecuária de corte brasileira segue o do País: de um lado, muitas fazendas no vermelho; no outro lado, tudo azul.

Fazendas que focam em produção de arrobas por hectare têm mais lucro.

É assustadora a baixa rentabilidade da pecuária”. Antonio Charker, coordenador do Inttegra

Ariosto Mesquita

O

de Campo Grande, MS

estudo de Benchmarking 2017/2018, realizado pelo Instituto Terra de Métricas Agropecuárias (Inttegra), com sede em Maringá, PR, mostra que, de 420 fazendas avaliadas no Brasil, Paraguai e Bolívia (todas atendidas por consultorias técnicas), 36% fecharam o último ciclo pecuário no vermelho, ou seja, com rentabilidade líquida negativa, e 71% tiveram faturamento abaixo de R$ 200/ ha/ano. O levantamento foi realizado entre 1º de julho de 2017 e 30 de junho de 2018, com base nos números informados pelos pecuaristas atendidos pela empresa e por consultorias credenciadas. Os resultados foram apresentados no dia 8 de outubro, via internet, pelo coordenador do Inttegra, Antonio Chaker El-Memari Neto. “É assustador”, comenta Chaker. Segundo ele, o lucro médio de todas as fazendas foi de apenas R$ 28/ha/ano. “Este foi o resultado obtido pelo produtor sobre um hectare de terra que vale, pelo menos, R$ 10.000. Como pode trabalhar um ano para ganhar apenas R$ 28? É a mesma coisa que zero”, desabafa o consultor. Os estudos de benchmarking de ciclos anteriores mostram, infelizmente, que o resultado negativo de 36% das fazendas na safra 2017/2018 não é um ponto fora da curva. Em 2013/2014, o percen-

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tual de propriedades no vermelho era idêntico: 36%. Caiu para 22%, em 2014/2015; subiu para 32%, em 2015/2016, e 35%, em 2016/2017, para então retornar aos 36%, no ciclo 2017/2018. “Como a pecuária pode ser uma atividade segura se mais de um terço das fazendas tem prejuízo e 71% delas ganham menos de R$ 200/ha/ano”, questiona. A preocupação de Chaker é agravada pelo fato de esse universo ser formado apenas por propriedades que recebem consultoria técnica e têm à disposição seus números de desempenho, repassados pelo Inttegra. “Isso nos leva a crer que o problema é bem mais sério, considerando toda a pecuária brasileira”. As 420 fazendas (entre sistemas de cria, recria/engorda e ciclo completo) são atendidas por oito consultorias/empresas franqueadas da Inttegra e somam 1.694.000 animais e 1.358.000 ha de pastagens em 16 estados brasileiros e dois países vizinhos: Paraguai e Bolívia. Dentre as propriedades em território nacional, 24% ficam no Mato Grosso, 18% no Mato Grosso do Sul, 10% no Paraná, 9% em Goiás, 6% no Pará e 5% em Rondônia. As restantes estão distribuídas por Minas Gerais, Tocantins, Maranhão, Bahia, Acre, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, São Paulo, Espírito Santo, Rio Grande do Norte. O outro lado O ponto positivo do balanço, segundo Chaker, é que pelo menos uma parcela das propriedades está ganhando dinheiro. Ele classifica como “excelente notícia” o fato de as 30% mais rentáveis terem lucratividade média 16 vezes maior do que a média de todos os clientes do instituto (R$ 460,71 ante R$28,12/ha/ ano). “Se considerarmois as 10% mais rentáveis, que chamamos de ‘top 10%’, o lucro é 25,5 vezes maior: R$ 719 contra R$ 28/ha/ano. São números muito diferentes dentro de mesma atividade, o que mostra o enorme potencial da pecuária brasileira”, assinala. De acordo com o coordenador, os cinco indicadores que influenciaram diretamente no desempenho lucrativo das fazendas foram: desembolso/cab/mês, custeio fixo/ cab/mês, ganho médio diário global, produção a pasto (@/ha) e kg de bezerro desmamado por vaca exposta. Este último é considerado o “indicador mais poderoso da cria”, obtido, segundo ele, dividindo o total de quilos produzidos de bezerros pelo número de matrizes que entrou em monta há 20 meses. “Os melhores em rentabilidade foram justamente aqueles que gastaram menos e produziram mais. São pecuaristas que focaram seu investimento principalmente em pasto e nutrição”, afirma.



Gestão vidade, valor de venda da arroba e tamanho de área e de rebanho. “Tem fazenda com 1.500 animais ganhando mais dinheiro do que outras com rebanho superior a 10.000 cabeças; assim como pecuarista comercializando a arroba por R$ 127 e faturando mais do que aquele que entregou a R$ 135”, exemplifica. Segundo o consultor, os que efetivamente ganharam dinheiro no ciclo produtivo 2017/2018 foram aqueles que trabalharam com “paixão pelo lucro, mais do que pela atividade ou pelos animais”. Em sua opinião, são pecuaristas que, certamente, seriam bem sucedidos se tocassem um hotel, uma farmácia ou um restaurante. “Estes top rentáveis sabem quanto vão entregar de produção nos próximos meses e quanto irá entrar no caixa. Trabalham com planejamento. A ânsia pela produtividade muitas vezes faz o lucro despencar. Tem gente gastando o equivalente a R$ 25/cabeça em fertilizantes e, ao final, não vê a cor do dinheiro”, alerta.

Grande diversidade de resultados dentro da pecuária confirma potencial de crescimento d

Na opinião de Neto, outro indicador promete entrar no rol dos decisivos, nos próximos trabalhos de benchmarking do Inttegra. Trata-se do “faturamento por funcionário”, que, segundo ele, tem alta correlação com o lucro, denotando o uso eficiente de mão de obra na propriedade. O estudo da Inttegra mostrou que as fazendas que tiveram prejuízo faturaram R$ 202.271 por funcionário. A média de todos os clientes do Instituto ficou em R$ 249.862, antre R$ 453.842 dos 30% de fazendas que mais gastaram (tiveram maiores desembolsos) e R$ 330.027 por funcionário, no grupo das que apresentaram melhores resultados financeiros. “Ainda precisamos aprofundar a avaliação deste indicador”, admite. Neto também elencou os itens que, sozinhos, não fizeram diferença no resultado final, mas são variáveis impactantes. Dentre eles estão clima, localização geográfica, qualidade do solo, alta produti-

O sucesso deixa rastros A apresentação oficial, análise e interpretação presencial das informações e números captados nas 420 propriedades acompanhadas no ciclo 2017/2018 será feito no evento “O sucesso deixa rastros”, marcado para os dias 3 e 4 de dezembro, no Centro de Eventos Pantanal, em Cuiabá, MT. As seis edições anteriores foram realizadas, alternadamente, entre São Paulo, SP e Campo Grande, MS. Além da avaliação detalhada dos principais casos de sucesso das fazendas em destaque, a programação inclui painéis de convidados, como Fábio Dias Guerra, da JBS (Poder do aprendizado em conjunto no desenvolvimento da atividade pecuária), Lucas Oliveira, da DSM (Projetos de alta performance em ganho de peso e lucratividade) e Josinaldo Zanotti, da Geagro Soluções Gerenciais (Como estabelecer um projeto de lucro crescente). Ao final do primeiro dia será lançado o livro “Gestão Orientada ao Lucro na Pecuária”, de autoria do coordenador do Inttegra, Antonio Chaker Neto. n

“Sete segredos” das fazendas mais lucrativas 1) Produzir mais do que a média, mas não o máximo, com custo muito alto. 2) Gastar bem, ou seja, colocar dinheiro naquilo que faz diferença, como nutrição, pastagem e um pouco em custeio fixo. 3) Gastar menos: as fazendas que lucraram alto não foram as que menos gastaram, mas sim aquelas que desembolsaram menos do que a média das propriedades. 4) Manter equipe eficiente. 5) Trabalhar com reprodução ajustada (efi-

ciência e equilíbrio na relação entre kg desmamado/vaca exposta). 6) Manter mortalidade sob controle: em geral, morrem menos animais naquelas propriedades que mais faturam (propriedades no vermelho (1,9%); média de todos os clientes (0,9%), 30% top rentáveis (0,8%) e 30% com melhor desempenho (0,7%). 7) Respeitar sempre os três “números mágicos” da gestão pecuária, o que pressu-

(*) Avaliações feitas pelo coordenador do Inttegra, Antonio Chaker Neto, considerando os diversos sistemas produtivos.

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põe atender seguir os itens anteriores e atingir: ● Na recria/engorda, faturamento 15 vezes superior ao valor da folha (salário, mais engargos, prêmios e benefícios). Na cria, a referência entre as mais rentáveis é 6 a 8 vezes; e no ciclo complet, 8 a 10 vezes. ● Manter a margem sobre a venda superior a 30% (nunca opere abaixo disso). ● Cada R$ 1 gasto por animal, deve gerar, no mínimo 10 g de ganho/cab/dia.


Marina salles

• Irrigação de pastos pede manejo racional da água e energia para garantir lucro e sustentabilidade • Maurício Palma Nogueira: degradação dos pastos é o maior gargalo da pecuária brasileira • Especialistas apontam trilha segura para a adubação • Pesquisador alerta para equívocos de produtores na escolha e manejo de braquiárias e panicuns lançados pela Embrapa • Aplicativo e selo da Unipasto viram arma contra pirataria de sementes • A batalha contra os capins invasores • Adilson Aguiar: a cochonilha está de volta e controle biológico é o método mais promissor

APOIO:




Especial Pastagens Especial Pastagem

Irrigação bem administrada Manejo racional da água e energia é essencial para que projetos irrigados obtenham lucro e se alinhem ao conceito de sustentabilidade marina salles

A Em uma área irrigada de 70 ha, a Fazenda Rio Verde produz capim para 1.070 animais de cria.

marina.salles@revistadbo.com.br

s técnicas de irrigação são milenares. Datam do Antigo Egito e Mesopotâmia, 3.000 anos antes de Cristo. Naquela época como hoje, os produtores enfrentavam o mesmo desafio: administrar bem a água para produção de alimentos. Com a difusão da irrigação em pastagens, o bom manejo dos recursos hídricos se tornou imperativo na pecuária. Não basta simplesmente “economizar” água, é preciso evitar desperdícios por meio do planejamento correto dos projetos, que devem ser montados a partir de análise das condições climáticas da região, das demandas da planta (capim) e da capacidade de armazenamento hídrico do solo, visando uma maior produtividade e o uso cada vez mais racional dos insumos. Isso sem falar da rede energia elétrica, “coração” do sistema, que bombeia a água e lembra, diariamente, ao produtor, que levá-la à torneira ou aos equipamentos de irrigação tem um custo, que será ainda maior quando o governo começar a cobrar pelo uso desse recurso natural. Segundo Luís César Dias Drumond, especialista em nutrirrigação e professor da Universidade Federal de Vi-

çosa (UFV), essa “regalia” (água de graça) deve acabar dentro de no máximo cinco anos. Mais um motivo para o produtor fazer um manejo racional da irrigação de pastagens, maximizando a produção e minimizando custos, por meio de projetos mais eficientes. “Acho que a cobrança pode trazer ônus para o orçamento, mas, quem sabe, também incentivará os produtores a revisar seus sistemas hidráulicos a cada três anos, se conscientizando quanto ao valor econômico, social e ambiental da água, que deve ser bem usada, como a energia e os insumos”, afirma. DBO apresenta, nesta reportagem, que abre o Especial de Pastagens, dois exemplos de projetos que já têm essa consciência: o da JBJ, em Aruanã, GO, e o de Antônio Augusto Athayde Júnior, proprietário das Fazendas Rio Verde, em São João da Ponte, e Planalto, em Capitão Enéas, ambas no Norte Mineiro. Os dois projetos irrigam pastagens com pivôs e se preocupam com o uso racional da água. Segundo o professor Luís Drumond, é fundamental fazer contas para saber quanto se produz de carne com 1 mm de água, com 1 kg de adubo e com 1 kWh. “Na universidade, estamos estudando esses parâmetros”, afirma. Os produtores mencionados nesta reportagem ainda não atingiram esse nível de detalhamento, mas moDaniel Rodrigo Versiani Mendes

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Susto dos grandes A decisão de Antônio Augusto Athayde Júnior (mais conhecido como Júnior Athayde) pela irrigação decorreu de um susto, desses bem grandes. Após três anos de seca, seguidos por mais três de pouca chuva (400 a 700 mm, valor bem abaixo da média da região, que é de 1.000 mm/ ano), esse produtor mineiro viu suas pastagens morrerem e seu rebanho passar fome. Filho e neto de pecuaristas, ele nunca tinha vivido algo parecido em sua região, conhecida como a “nata do Nortão”, por seu bom acesso a estradas, terras produtivas e relativa disponibilidade de água, vinda do céu, de rios ou do subsolo. Selecionador de Nelore, ele buscou alternativas para salvar seu plantel de cria. “Eu tinha R$ 400.000 na época e pensei em fazer reforma de pasto em 400 ha, mesmo sem chuvas. Estava desesperado com a falta de capim para minhas matrizes. Até procurar apoio técnico e descobrir que a irrigação era a luz no fim do túnel”, relata o produtor. Gustavo Amaral, da Alcance Consultoria, de Montes Claros, MG, foi quem aconselhou Júnior a investir nesse sistema. “Parecia uma proposta muito ousada, mas as vacas estavam emagrecendo. Mostrei ao Júnior que a irrigação daria maior segurança a seu negócio, já que reformar pasto sem chuva era arriscado demais”, diz. Diante da baixa capacidade de suporte e grande mortalidade de capim, Júnior topou a empreitada e instalou, em fevereiro de 2015, um primeiro pivô para irrigação de 30 ha na Fazenda Rio Verde, que se decida à cria, e nele colocou 25 UA/ha. “O plano, naquele momento, era tirar a fazenda do sufoco e, por isso, a lotação era altíssima. Colocávamos 300 vacas de manhã na área e tirávamos na hora do almoço, para colocar outras 300 à tarde, que comiam até o jantar”, conta Amaral. Com esse esquema, ele conseguiu suprir metade da exigência nutricional dos animais, não deixando uma única vaca PO morrer de fome. Confiante nos resultados do projeto, em 2016, Júnior instalou um segundo pivô na Rio Verde, desta vez para irrigar 40 ha. “A ousadia foi tanta que comecei a receber visitas de gente querendo ver as vacas debaixo do pivô”, diz. A colocação dessa categoria animal em pastagens irrigadas é rara de se ver, tanto no Brasil quanto no mundo. Nem mesmo o professor Drumond tinha tido notícia de um projeto assim antes. Para dar suporte à recria/engorda, feita na Fazenda Planalto, distante 50 km da Rio Verde, Amaral convenceu Athayde a deixar de plantar milho para silagem, em 7 ha irrigados por aspersão, e formar essa área com capim, além de ampliá-la para 11 ha. O objetivo era recriar os animais (tanto os de seleção quanto os de corte) principalmente a pasto, para reduzir custos. Sua preparação (engorda ou venda como tourinhos) passaria a ser feita, em perí-

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nitoram regularmente seu sistema, o que já é um grande avanço. Começaremos pelo projeto mineiro, onde o conceito de uso racional da água se tornou uma questão de sobrevivência.

odo curto, no confinamento, cujas instalações têm capacidade para 200 cabeças. Sucesso do plano B Três anos após iniciar o projeto, os números provam que o plano B de Amaral estava certo. Nos 70 ha irrigados da Fazenda Rio Verde (7% da área total), Júnior Athayde produziu 80 @ de bezerro/ha com 500 matrizes, no ano passado. Ele atribui seu sucesso à manutenção do escore corporal das fêmeas durante o período seco. Eles apresentaram 70% de prenhez com uma IATF e desmamaram bezerros com 8@ (machos) a 7,2@ (fêmeas), aos 7,5 meses de idade. Isso a um custo de R$ 62/cab, 45% menor do que a média da região em sistema de sequeiro, que é de R$ 90 por animal. Já a Fazenda Planalto abriga 400 cabeças em 234 ha de área efetivamente empastada e produz tanto tourinhos quanto animais para abate, que ganham, em média, 7@ a pasto e 4@ no confinamento. Segundo Amaral, em 2017, a produtividade na área irrigada desta fazenda foi de 135 @/ha. Para reaver o investimento feito nos dois pivôs da FaRio Verde (R$ 280.000 e R$ 340.000, respectivamente, em valores da época, sem correção), Júnior Athayde precisou ter disciplina e acreditar nas recomendações de seu consultor. Segundo o professor Luís Drumond, contratar técnicos especializados para elaborar esse tipo de projeto é fundamental para se fazer uso racional da água e da energia. “Muitos produtores compram os equipamentos com base em recomendações do vendedor de pivô e isso

Gustavo Amaral (à esq.) e Júnior Athayde começaram a trabalhar juntos em 2015, para reverter um problema causado pela seca.

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Fazenda Rio Verde Município: São João da Ponte, MG Área total: 988 ha Área irrigada: 70 ha Rebanho: 1.070 cabeças Produção: 80 @ de bezerro/ha/ano

Fazenda Planalto

São João da Ponte Capitão Enéas

Belo Horizonte

Município: Capitão Enéas, MG Área total: 313,6 ha Área irrigada: 11 ha Produção: 135 @ de tourinho/ha/ano

nnn

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fotos marina salles

Daniel Rodrigo v. Mendes

Especial Pastagem

No capricho: sistema de fertirrigação fica dentro de uma casa de alvenaria; bombas e transformadores são cobertos por sombrite.

traz problemas futuros, pois, mesmo que a pessoa entenda de hidráulica, não conhece as características nem o sistema de produção da propriedade”, alerta. Segundo ele, antes de se montar o projeto, é preciso analisar uma série de dados, como variações climáticas, condições de solo, demanda de matéria seca pelo rebanho, lâmina d’água necessária para irrigar a área, etc. Planejamento é fundamental, tanto para se evitar erros no layout quanto no sistema hidráulico. “O primeiro passo é trabalhar com um coeficiente de segurança na irrigação, não de ignorância”, diz o professor.

Luis Drumond, professor da Univerdade Federal de Viçosa, diz que a água será cobrada em futuro próximo.

Projeção do sistema Gustavo Amaral concorda. Para que Júnior Athayde não ficasse à mercê das frequentes quedas de energia que ocorrem no Norte de Minas, o técnico dimensionou a irrigação com margem de segurança. “Eu poderia recomendar 9 mm por pivô em 21 horas, mas trabalhei com 11 mm, para conseguir irrigar rapidamente a área quando volta a energia”, explica o consultor. Segundo ele, picos de tensão ocorrem principalmente à noite e, por isso, Athayde não trabalha com “demanda contratada”, modalidade de cobrança de energia que confere um desconto ao produtor quando ele concorda em pagar por uma quantidade fixa de energia em determinado horário, usando-a ou não. Athayde optou pelo consumo efetivo, apesar da tarifa ser mais cara (R$ 0,42/ kWh, ante 0,04/kWh da demanda contratada), porque tem mais liberdade e não é multado por exceder limites ou irrigar fora do horário. Os pivôs da Fazenda Rio Verde fazem regas de 3 mm (maio/julho) a 6 mm (agosto/outubro, pico da seca), sempre durante a noite, gastando, em média, R$ 70 de energia por ha/mês. Ficam parados no máximo 55 dias, no período chuvoso, quando os animais são transferidos para os pastos de sequeiro. Além do dimensionamento correto do projeto, para se conseguir manejar corretamente a dupla água/energia, obtendo bons resultados produtivos, é importante escolher bem o local para instalação do pivô, que deve ficar próximo da fonte de captação hídrica, para evitar perdas de água por atrito durante seu transporte, além de maior esforço de bombeamento e, consequentemente, maior gasto de energia. Na Fazenda Rio Verde, o primeiro pivô foi instalado em área plana, a 630 m do poço artesiano que o abas-

58 DBO novembro 2018

tece. O segundo equipamento fica ao lado do primeiro. Amaral, também escolheu tubulação com diâmetro adequado e um transformador compatível com as bombas dos pivôs e dos poços, para evitar desperdício de energia na rede. Uma bomba de 40 kVA, por exemplo, pede um transformador de 50 kVA. Caso o produtor opte por “demanda contratada”, deve considerar a capacidade de bombeamento do sistema; do contrário, poderá pagar por uma energia que não conseguirá usar. Layout diferenciado Outro detalhe importante na fase de planejamento é o layout do sistema irrigado, que deve garantir máximo aproveitamento do capim, considerando-se flutuações na produção em função da maior ou CUSTO DE IMPLANTAÇÃO DO PIVÔ Item

Custo (R$/ha)

Calagem

225

Implantação da pastagem (sementes, fertilizantes, mão de obra, etc)

1.200

Cerca elétrica convencional (arame, madeira, mão de obra)

160

Rede de água (caixas d’água, bebedouro, rede, registro)

350

Pivô instalado

8.000

Total

9.935

Valores corrigidos para 2018. Custos adicionais do projeto – poço (bomba + perfuração): R$ 20.000/pivô; Sombrites na área de lazer: R$ 8.000/pivô.

CUSTOS OPERACIONAIS (70 ha de área irrigada com pivôs) Item

Custo (R$/ano)

%

Fertilizantes

238.000

67

Energia elétrica

58.800

17

Manutenção de equipamentos

7.000

2

Sal-mineral

26.500

7

Mão-de-obra

24.400

7

Total

354.700

100

Fonte: Alcance Consultoria


marina salles

menor luminosidade. A dica de Drumond é calcular uma oferta média anual e definir o número de piquetes com base nela. As pastagens irrigadas por pivôs na Fazenda Rio Verde – uma de 30 ha, formada com MG5, e outra de 40 ha – são formadas com MG5 e fracionadas, respectivamente, em 12 e 16 piquetes de 2,5 ha cada. O tamanho regular do piquete, além de favorecer o pastejo, facilita o manejo da fertirrigação. Com esse layout, o tempo de ocupação por piquete varia de 1 dia (na primavera/verão) a três dias (no outono/inverno), com média de 21 dias de descanso. São manejados dois lotes por pivô, com ajuda de quatro cercas móveis. Um corredor circunda todo o perímetro do pivô, dando acesso quatro áreas de lazer externas, uma em cada quadrante. Elas são equipadas com bebedouro, sombrite e cochos de sal. Gustavo Amaral diz ter optado por essa alternativa, ao invés de uma área de lazer interna central, para evitar perda de capim por pisoteio. “Ficou mais caro, porém esse custo se paga rapidamente, pois ganhamos 1 ha de pasto irrigado que seria destinado à área de lazer e deixamos de perder 10% de capim pisoteado, que acaba morrendo”, afirma, lembrando, porém, que isso nada tem a ver com compactação do solo. Segundo o professor Drumond, é mito que altas lotações em pastagens irrigadas causem compactação, embora seja importante caprichar no manejo. “O produtor às vezes acha que é a pata do boi que compacta o solo, quando, na verdade, o problema está na boca do boi, por conta do superpastejo”, diz ele, explicando que a compactação não ocorre porque o tempo de permanência dos animais no piquete é curto e o descanso é longo. Além disso, as folhas que morrem (matéria orgânica) formam uma espécie de colchão, que protege o solo. Já as raízes do capim quebram eventuais adensamentos, criando canais para a infiltração da água, o que favorece o desenvolvimento das plantas.

Manejo racional dá lucro A rotina de manejo do gado nos pivôs da Fazenda Rio Verde é bem diferente da adotada por outras fazendas, justamente em função da categoria animal alojada no sistema: vacas de cria. Elas não ficam direto nas pastagens. Todos os dias, das 6 às 9 horas da manhã, fazem um primeiro turno de pastejo e depois descansam na área de lazer, retornando ao pivô para um segundo turno à tarde, que vai do 12 às 17 horas. Esse esquema foi criado para evitar que elas deitassem sobre o capim, mas acabou contribuindo também para manter o boa saúde dos bezerros, que não apresentam doenças nem problemas de casco, já que não ficam direto no ambiente mais úmido do pasto irrigado. As áreas de lazer externas também facilitam o manejo das vacas na hora da parição e a cura do umbigo dos recém-nascidos. No dia da visita de DBO, em meados de outubro, todas as 1.070 cabeças da Fazenda Rio Verde (500 matrizes de corte, 220 novilhas de recria e 350 bezerros recém-nascidos, de uma safra esperada de 450) estavam sob os dois pivôs. No primeiro, que funcionava como pasto-maternidade manejado em sistema de desponte e repasse, um lote de vacas paridas puxava a fila do rotacionado, seguido por outro de fêmeas em estágio final de gestação. “Nesse esquema, quem manda no lote da frente é o lote de trás, pois vai acertando o capim para os próximos pastejos”, explica Amaral. Já a área do segundo pivô estava dividida em dois módulos de 8 piquetes, o primei-

No pastomaternidade, vacas e bezerros pastejam em dois turnos por dia, para não estragar o capim

Check-list do manejo racional Cálculo da evapotranspiração: Todo o manejo em pasto irrigado depende da evapotranspiração e, por isso, Drumond recomenda investir em uma estação meteorológica automatizada que custa pouco (cerca de R$ 1.500), e fornece dados específicos da fazenda. Quanto mais precisa a informação, mais racional o manejo. ■ Correção de acidez: Solos irrigados costumam acidificar em função da adubação nitrogenada e, nessa situação, a correção do pH deve ser feita com o capim já im■

plantado. A cal agrícola e o pó de calcário fino são opções para resolver o problema. ■ Adequação da adubação: Sem análise de solo, não se faz adubação. O ideal é realizá-la duas vezes por ano (uma no outono/ inverno e outra na primavera/verão). ■ Ajuste da lotação: Principalmente em projetos de recria-engorda, trabalhar com carga alta sem planejamento é perigoso. Para não incorrer em erros, uma dica é calcular o potencial máximo de suporte do pasto e ir elevando a carga gradualmente.

Se o potencial é de 10 UA/ha, por exemplo, o indicado é trabalhar com 8 UA/ha, para ir aprendendo a manejar o pasto, cujo limite máximo de suporte pode ser atingido com os mesmos animais, conforme estes vão ganhando peso e atingindo ponto adequado para abate.

DBO novembro 2018 59


ro ocupado por novilhas de 24 meses e bezerras desmamadas; e o segundo por vacas com bezerros ao pé, nascidos em setembro. O processo é dinâmico e a fazenda trabalha, em média, com 8 UA/ha, sempre ajustando a lotação e a adubação para reduzir perdas. Manejo da adubação Segundo Amaral, a produção média de matéria seca (MS) nas pastagens irrigadas é de 38 t/ha/ano, já incluído o resíduo pós-pastejo. As perdas giram em torno de 20%. Para o professor Drumond, o ideal seria no máximo 10% e a fazenda está trabalhando para isso, embora não seja tarefa fácil. “O Júnior Athayde conseguiu resolver o problema da falta de alimento nas fazendas, agora precisa aumentar o rebanho para absorver toda a oferta produzida”, pondera o especialista. Como não consegue aumentar rapidamente seu rebanho, pois não quer reduzir a pressão de seleção sobre as matrizes, o produtor usa o fertilizante nitrogenado para ajustar a produção forrageira. “Em janeiro/março, quando o capim começa a crescer muito, freamos a adubação e reservamos o produto para jogar em agosto/outubro, quando a fazenda mais precisa”, diz. Por ter escolhido a área para instalação do pivô em função de sua proximidade do poço artesiano e não da fertilidade do solo, Athayde precisou investir alto em correção. Somente no primeiro ano do projeto, aplicou 1.200 kg de ureia (que contém 550 kg de N), 250 kg de MAP (o equivalente a 120 kg de fósforo), 600 kg de cloreto de potássio, 20 kg de ácido bórico e 20 kg de sulfato de zinco por hectare. Como existe uma ciclagem de nutrientes, pelas fezes e urina dos animais, as aplicações de fósforo, neste ano, foram reduzidas à metade e as de potássio, a um terço. Também não foi necessário aplicar mais calcário, porque a água do poço da propriedade já contém cálcio e magnésio (é salobra). O produtor faz análise anual do solo (em maio) para ajustar a adubação. Segundo o professor Drumond, o ideal seria fazer pelo menos duas vezes por ano.

Daniel Rodrigo V. Mendes

Especial Pastagem Especial Pastagens

Corredor externo possibilita mudança de piquete

O adubo é aplicado até três dias após a saída dos animais do piquete pastejado, sempre diluído em água (fertirrigação). A mistura é feita em uma casinha de alvenaria construída próxima ao reservatório e ao poço da fazenda. Nela ficam as bombas, o adubo e as caixas para diluição do insumo. Caprichoso, Júnior planejou a instalação pensando na comodidade dos funcionários e fez mais algumas adaptações no projeto. Cobriu o reservatório com sombrite, para não formar lodo; montou uma cobertura para os transformadores não desarmarem com o calor e usou um filtro para passar o líquido da fertirrigação da caixa de preparação para a caixa injetora, engatada à bomba do pivô (veja fotos à pág. 58) Júnior Athayde ainda não tem estação meteriológica na fazenda, uma das ferramentas do manejo racional de água. Usa dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) disponíveis gratuitamente na internet e relativamente robustos para sua microrregião. “Existem 15 estações meteorológicas em um raio de 20 km dos pivôs. Como o Júnior vai diariamente à fazenda, ele mesmo calcula quando e quanto irrigar”, explica Amaral. Segundo ele, a conta que precisa ser feita é simples: “A evapotranspiração é débito e a irrigação/chuva, crédito. Com base nesses dois itens, calculamos a lâmina d’água diária a ser aplicada”, diz. Sem esse cuidado, a produção da pastagem é comprometida, seja por falta, seja por excesso de água, também prejudicial, pois provoca encharcamento do solo, escorrimento superficial ou lixiviação de nutrientes.

A seleção do Nelore Jata, genética a toda prova

Um dos destaques da marca Nelore Jata, o touro Jata Jumbo

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Quando recebeu metade da Fazenda Rio Verde do pai, após sucessão programada no ano 2000, Antônio Augusto Athayde Júnior decidiu mudar o sistema de produção da época, a recria/engorda, para a cria. Apaixonado por essa atividade e atento à demanda por touros na região, ele comprou cerca de 400 matrizes Nelore PO e começou a montar seu plantel de seleção. Passou a inseminar as vacas, providenciou seu registro na Associação Brasileira de Zebu (ABCZ) e, em 2004, ingressou no Programa de Avaliação e Identificação de Novos Touros (Paint), da central CRV Lagoa, de Sertãozinho, SP.


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Especial Pastagem Especial Pastagens Para Júnior Athayde, a avaliação genética sempre esteve em primeiro lugar: “Temos o valor de cada matriz calculado em função de suas progênies e o mesmo vale para os touros”, diz. Entusiasta do assunto, ele ajudou a criar a Cia de Melhoramento em 2014 e hoje comercializa touros PO e Ceip (certificado especial de identificação e produção), buscando unir o melhor dos dois mundos, na sua opinião: padrão racial, aprumos e altos índices de desempenho. Com esse foco, hoje seus critérios de seleção são: precocidade sexual, habilidade materna, qualidade de acabamento, docilidade e temperamento, peso ao sobreano e fenótipo. “Meu objetivo é fazer uma pecuária de ciclo curto”, resume. Também em 2000, Athayde alinhou a Fazenda Planalto, que havia adquirido em 1994, com a nova vocação da Rio Verde. “Diminuí a compra de machos e passei a levar meus próprios bezerros para lá”, explica. Em 2010, lançou a marca Nelore Jata, que tem touros de destaque, como Jata Jumbo, touro PO/ Ceip da safra 2012 com musculatura muito desenvolvida. Impactado pela seca, seu rebanho precisou ser reduzido em 20% em 2015 e o manejo de seleção foi reestruturado. Quando chegam à Planalto, os

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bezerros pré-avaliados ficam em pastagens irrigadas, lambendo sal mineral e os demais vão para o sequeiro e são suplementados na proporção de 0,1% do peso vivo, durante a seca; 0,2% do PV, nas águas e 1,3% do PV um pouco antes de entrar no confinamento. A mudança somente foi possível, como já foi dito, porque a área irrigada, antes destinada à produção de silagem, virou pasto e passou também a produzir 1.000 t/ano de silagem de capim para tratar os tourinhos e engordar animais de corte no confinamento. Os touros Nelore Jata são vendidos aos 24 meses com peso entre 600 e 650 kg. Já os machos de corte são abatidos com 21 meses, pesando 20 @. Cerca de 70% deles apresentam acabamento de carcaça mediano, obtendo dos frigoríficos da região um diferencial por qualidade. As vacas de descarte e novilhas não destinadas à reposição são terminadas nas áreas irrigadas por pivôs da Fazenda Rio Verde. As novilhas ficam nessa área ganhando peso cerca de 30-45 dias após a desmama, sendo vendidas na faixa de R$ 145-R$ 150/@, às vezes por preço até melhor do que os machos de corte. A receita do negócio como um todo depende, em 40% da venda de bois gordos; em 30% do descarte de fêmeas e em 30% da comercialização de reprodutores. n


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Cerca muda conforme os animais rodam no pivô. Vergalhões sustentam os fios, que são manuseados com auxílio de um carretel.

De fatia em fatia Modelo de delimitação dos piquetes, cerca móvel é barata e fácil de montar e desmontar. renato villela

A Fernando Custodio, técnico da Trust, usou no projeto materias econômicos, como os fios eletrostáticos.

renato.villela@revistadbo.com.br

Fazenda Colorado, localizada no município de Aruanã, GO, pertencente ao Grupo JBJ Agropecuária, que já foi capa de DBO em agosto, encontrou uma forma inovadora, simples e barata de piquetear suas pastagens irrigadas sob pivô central, destinadas à recria. Ao invés de dividir a área circular com várias cercas elétricas, layout mais usual nas fazendas, optou por delimitar apenas um piquete, em formato de “fatia de pizza” e mudar a cerca, conforme os animais vão rodando na área. Além de reduzir custos, já que a empresa tem sete pivôs, o modelo possibilitou uso mais racional da água e energia, tema desta reportagem de capa. Os pivôs têm de 120 a 170 ha e abrigam 4.400 machos Nelore de recria, com lotação de 6,4 UA/ha. Os animais são colocados na área após a colheita da soja/ milho e do corte do capim para produção de silagem, destinada ao confinamento do grupo. Eles permanecem no pasto temporário de julho a outubro (média de 120 dias) e ganham, em média, 700 gc/cab/dia, com aporte de suplemento protéico na proporção de 0,1% do peso vivo. “Assim que os animais atingem 370 kg, vão para a terminação a cocho”, explica Fernando Sagrado Bogaz, gerente de confinamentos da JBJ. Fácil de manusear Para viabilizar o modelo simplificado de delimitação de piquetes, foi necessário instalar cercas fixas eletrificadas na circunferência externa do pivô e em sua área de lazer. Assim, para isolar a fatia de pasto a ser ocupada, basta “puxar” duas linhas, do centro à extremidade do

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círculo. Seu tamanho é definido com base na taxa de lotação prevista e determinado por coordenadas de GPS. Cada piquete tem um colchete (porteira) que dá acesso à área de lazer, onde estão bebedouro e cochos. “Para que a corrente elétrica não seja interrompida quando o colchete está aberto, usam-se cabos subterrâneos”, explica Fernando Custodio, técnico da Trutest, que atende o projeto. A cerca elétrica é composta por dois fios eletroplásticos (o de cima eletrificado; o de baixo, negativo) e vergalhões de ferro com 1,5 m de altura, dispostos a cada 20 m. Por ser flexível, o fio eletroplástico é muito fácil de manusear. Basta desenrolá-lo ou recolhê-lo com auxílio de um carretel, sempre que se deseja remover a cerca. “O mesmo funcionário que abastece os cochos de sal muda a cerca de lugar”, conta João Bosco Bittencourt Júnior, supervisor de pecuária da fazenda. Os animais permanecem, em média, dois dias em cada piquete. Além de ser fácil de manejar, o modelo de cerca adotado pela JBJ tem baixo custo. O quilômetro da cerca sai por cerca R$ 2.295, ante R$ 8.500/km da cerca convencional. Além disso, ela é superversátil. “Se percebo que o gado está comendo menos em uma determinada ponta do piquete, por exemplo, posso trocar a cerca para reduzir o espaço e, dessa forma, homogeneizar o pastejo naquela área”, diz Júnior. Para evitar o desperdício de água na irrigação das pastagens, a fazenda decidiu montar uma estação meteorológica e fazer análise de solo para avaliar a capacidade máxima de retenção de água pelo solo, acima da qual ocorrem perdas por percolação no perfil ou por escorrimento superficial. Esses dados são enviados para uma plataforma online, acompanhados das especificações do equipamento e a da exigência de cada cultura, variável de acordo com seu estágio de desenvolvimento. “Desse modo, calculamos de forma precisa a quantidade de água necessária. A soja, por exemplo, requer mais irrigação no momento do enchimento dos grãos. A pastagem, por sua vez, é mais exigente no início da sua implantação”, explica Juliano Marques, da Icrop, de Uberlândia, MG, que presta assistência nessa área à fazenda. A irrigação é feita, preferencialmente, no período das 21:30 às 6 h, para aproveitar a tarifa verde, que permite economia de até 80% no custo da energia. n



Especial Pastagem

Degradação de pastagens e a oportunidade oculta Maurício Palma Nogueira, é engenheiro agrônomo, CEO da Athenagro e coordenador do Rally da Pecuária.

N

ão é exagero afirmar que a degradação dos pastos representa o maior gargalo financeiro da pecuária brasileira. Mesmo não sendo o item de maior relevância no custo de produção, seus efeitos indiretos limitam a capacidade produtiva do sistema, resultando em consequências econômicas negativas. Com a capacidade de suporte comprometida, a propriedade movimentará menor quantidade de animais em relação a seu potencial. Assim, uma estrutura dimensionada para atender cerca de 2.500 cabeças acabará sendo administrada com apenas 700 a 1.500 cabeças, por exemplo. As vendas para ratear os diversos custos dessa estrutura serão proporcionais ao tamanho limitado do rebanho. A degradação, portanto, causa aumento na participação dos custos fixos e indiretos em cada arroba produzida, até mesmo nos itens que, teoricamente, não se relacionam com a degradação, como é o caso da folha de pagamento. Diretamente, o custo da degradação incide nas operações de reforma ou recuperação. De maneira prática, o cálculo é obtido pelo custo da reforma do pasto, dividido pelo número de anos que esse pasto levará para ser reformado novamente. Ambas as informações devem ser levantadas conforme a realidade de cada fazenda. Em nossas análises, já identificamos pastos sendo reformados ao custo médio de R$ 1.200 a R$ 3.900/ha. A variação depende da região, da qualidade do solo e do pacote tecnológico usado pelo produtor. Vida média de 9 anos O tempo de duração dos pastos também varia conforme a estratégia das fazendas. Há casos de reformas a cada 3 anos e outros em que as pastagens são usadas por mais de 30 anos. Nessa análise, são desconsideradas as fazendas que operam com integração lavoura-pecuária e os sistemas que preconizam reformas frequentes. Dentre o público entrevistado pelo Rally da Pecuária em 2018, a média de duração das pastagens está por volta dos 9 anos. Nas edições de 2011 a 2014, essa média era de 6,5 anos de duração, o que sinaliza algum avanço no manejo. Pela metodologia que adotamos, qualquer insumo aplicado em superfície – seja ele defensivo, corretivo ou fertilizante – será computado como custo de produção no orçamento anual e não como depreciação. Quanto melhor for o trato cultural do pasto no sistema de produção, maior será sua durabilidade e capacidade de suporte. Consequentemente, menor será o custo da depreciação por arroba produzida. Segundo os indicadores acompanhados pela Athenagro, a participação da degradação das pastagens nos custos de produção é de aproximadamente 20% nos sistemas

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Degradação das pastagens é o maior gargolo financeiro da pecuária de corte brasileira

menos produtivos, e tende a zero nos mais produtivos, situação em as gramíneas forrageiras se perenizam. Em uma propriedade cujos pastos são conduzidos adequadamente, o orçamento anual com insumos agrícolas é alto, porque ela gasta muito mais por hectare, assumindo despesas consideravelmente superiores à média. Degradação x produtividade O ganho financeiro, no entanto, virá da quantidade de arrobas que serão produzidas e vendidas por hectare. Em um exercício elaborado a partir da realidade de campo, consideramos que as fazendas que manejam as pastagens com alta tecnologia poderiam produzir cerca de 12,5@/ha/ ano, enquanto, em uma situação de pastos em avançado estágio de degradação, a produção se limitaria a menos de 3@/ha/ano, conforme emostra o gráfico 2. É importante ressaltar que o cenário ilustrado nesta figura é conservador. Ou seja, a produtividade dos pastos mais degradados está superestimada, enquanto a do pasto de qualidade 5, na melhor condição, está subestimada. Ainda são necessárias duas considerações sobre os dados expostos na figura 2. Não analisamos a inserção de adubações intensivas, com altas doses de nitrogênio em equilíbrio com os demais nutrientes, conforme a análise de solo. Foram consideradas apenas adubações de manutenção, aplicadas em maiores proporções nas áreas à medida que se caminha no sentido dos pastos de melhor qualidade. O cálculo da produtividade também não envolveu nenhuma estratégia de nutrição mais sofisticada. Toda a análise se baseou apenas em fornecimento de mineralização comum, adotando produtos da chamada linha branca. O


objetivo não é sugerir um sistema de produção, mas sim isolar e analisar o impacto econômico de um bom manejo das pastagens. Custo por nível tecnológico Dando sequência à análise, foram comparados os custos por hectare e a diferença entre a receita esperada e o orçamento anual destinado ao pasto, para cada situação. Nos sistemas de menor tecnologia, o custo é a própria depreciação do pasto, ou seja, o valor da reforma dividido pelo número de anos em uso. Nos de maior tecnologia, o desembolso é anual, com manutenção da fertilidade do solo e controle programático de invasoras e insetos. Observe os números na figura 3. Independentemente da estratégia, os custos das pastagens oscilam entre R$ 250 e R$ 350 por ha/ano. Já na baixa tecnologia, o produtor contará com apenas 3@ a 5@/ha para pagar todas as contas. A receita, depois de descontado o custo do pasto, será de R$ 60 a R$ 270 por hectare, recurso que ainda precisará bancar todas as demais despesas, incluindo funcionários, nutrição, manutenções, sanidade, máquinas etc. Constata-se, portanto, a inviabilidade econômica de uma propriedade com elevada proporção de pastos em estágio avançado de degradação. Nas situações de tecnologias mais elevadas, os mesmos custos dedicados às pastagens serão sustentados por vendas de 8@ a 12,5@/ha, permitindo uma receita descontada entre R$ 840 a R$ 1.300/ha/ano. Considerou-se cerca de R$ 136/@ no ciclo completo, apliccando-se média ponderada entre preços de venda de machos e fêmeas. Eliminando os gargalos provocados pela degradação, os produtores terão recursos disponíveis para galgar novos saltos tecnológicos em outras dimensões da produção. É o exemplo das estratégias nutricionais, envolvendo produtos mais sofisticados e as diversas opções de inserção de grãos ou concentrados na dieta. A produtividade crescente possibilitará ganhos ainda mais expressivos, abrindo espaço para intensificação de parte da área e crescimento vertical do sistema produtivo. E o mais interessante é que o recurso financeiro para iniciar o processo está disponível na própria fazenda. Caminho possível Estimativas apresentadas nos relatórios do Rally da Pecuária indicam que o simples diagnóstico e adoção adequada da estratégia, para definir entre reforma ou recuperação das pastagens, possibilitaria eliminar os pastos de qualidade 2 e os degradados em apenas dois a três anos, com os mesmos recursos que o produtor já disponibiliza. A partir do terceiro ano, ainda sem colocar dinheiro de fora, as pastagens de qualidade 3 e 4 começariam a caminhar no sentido da qualidade 5, revertendo o processo de degradação. O investimento demandado estaria restrito ao aumento do rebanho, dada a necessidade de se adequar à nova situação. Não se passa de um nível de tecnologia para outro sem invistimento.

Custos operacionais e com degradação de pastagens (em R$/ha/) 140

131,9

120

23%

100

30%

102,9

102,0

18%

80

30,7

0

1-3 @/ha

20% 15%

18,4

20

25%

99,2

13%

60 40

103.1

103,3

3-6 @/ha

5%

12,9 6-12 @/ha

Custos operacionais totais

0%

3%

1% 0,9

3,5

0% 0,3

-5%

12-18 @/ha 18-26 @/ha 26-38 @/ha

Degradação das pastagens

-10%

% do custo operacional

Fonte: Athenagro

Projeção de produtividade em função da qualidade das pastagens (em @/ha/ano) 12,5 9,9 8,0

3,8

Qualidade 5

Qualidade 4

Qualidade 3

2,8

Qualidade 2

Degradado

*Considerando apenas linha branca na mineralização do gado Fonte: Athenagro.

Comparação dos custos das pastagens por nível de tecnologia e diferença esperada entre receita e orçamento 1.342 1.049 843 364

301

248

241

271

232 63

Qualidade 5

Qualidade 4 Custos das pastagens

Qualidade 3

Qualidade 3

Degradado

Receita menos custo do pasto

Fonte: Athenagro

O sucesso do processo depende da aplicação rigorosa da tecnologia e do aprimoramento da capacidade administrativa. É fundamental considerar que sistemas mais tecnificados demandam maior complexidade administrativa, além de aumentar a exposição a riscos climáticos e de mercado. Sem os devidos cuidados, a expectativa de gerar lucro em escala pode acabar transformando-se em prejuízo também em escala. A melhoria do resultado econômico com o aporte tecnológico é inquestionável, desde que seja implementado com o devido rigor. n novembro 2018 DBO

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Especial Pastagens Especial Pastagem

Adubação exige planejamento Marina Salles

Encontro dos Encontros, da Scot Consultoria, reforça necessidade de se programar operações, para não “queimar” tecnologia.

Evento reuniu mais de 1.500 pessoas para discutir desde a cria até a pecuária leiteira

marina salles

O

marina.salles@revistadbo.com.br

nitrogênio (N) é, sem dúvida, o item de maior custo dentro de um programa de adubação de pastagens e, para extrair dele os melhores resultados, o produtor precisa de uma ferramenta básica: planejamento. Essa foi a principal mensagem dos especialistas para cerca de 1.500 produtores, reunidos, entre os dias 1 e 4 de outubro, no Encontro dos Encontros, em Ribeirão Preto, SP. O megaevento discute desde sistemas de cria até pecuária leiteira, mas DBO decidiu focar na adubação, em função de seu Especial de Pastagens. Falar em planejamento pode parecer óbvio, mas é justamente por falta dele que se obtém resultados aquém do esperado. Os palestrantes lembraram que, na construção da fertilidade do solo, o nitrogênio é apenas a cereja do bolo ou a cobertura do edifício. Sua resposta depende de inúmeros fatores, começando pela correção do solo (base

de tudo) e passando pelos demais nutrientes. Por isso, é tão importante planejar cada etapa do processo. Conforme explicou Adilson de Paula Almeida Aguiar, professor das Faculdades Associadas de Uberaba (Fazu), de nada adianta começar um programa de adubação pela dosagem de N, porque isso seria dar um tiro no pé, fazer tudo de trás para frente e pular etapas imprescindíveis para o sucesso da estratégia, inclusive porque o adubo está mais caro (veja quadro abaixo). “Antes de mais nada, é preciso considerar as condições climáticas da região, principalmente a amplitude térmica e a distribuição de chuvas ao longo do ano, que estabelecem o potencial da gramínea para produção de forragem. Também é fundamental analisar as características do solo, tais como profundidade, capacidade de drenagem e fertilidade. Outros itens a serem considerados são a espécie forrageira instalada na área, o histórico de cultivo do solo, a rotação de culturas, o manejo do pastejo e a presença de pragas e plantas infestantes”, afirmou. Trilha segura Para construir uma “trilha” segura para a adubação eficiente, o produtor deve escolher, de preferência, as melhores áreas, com relevo plano a levemente ondulado, solos profundos e bem drenados, estande adequado de plantas forrageiras, boa cobertura de solo e pouca ou nenhuma presença de plantas invasoras. O passo seguinte é coletar amostras de solo para análise. “Esta é a etapa mais barata, mas também a mais crítica do processo, porque, se o produtor não executá-la direito, terá distorções na análise laboratorial, na recomendação e, consequentemente, na adubação”, disse Aguiar. O correto, segundo ele, é colher 20 amostras de cada área homogênea (com o mesmo tipo de

Fertilizantes estão mais caros em 2018 Quem deixou para comprar adubo na última hora, sentiu a alta de preços. Segundo levantamento da Scot Consultoria, entre janeiro e agosto, a ureia agrícola subiu 13%; o cloreto de potássio, 23% e o MAP, 19%, devido à maior área plantada com milho/soja e à alta do dólar, que influi bastante nos preços, já que o Brasil importa 90% do potássio que usa e 60% do nitrogênio e fósforo. “A demanda por fertilizantes para a pecuária ainda é pequena, por isso, a agricultura rege o mer-

70 A DBO DBO novembro novembro 2015 2018

cado desses insumos”, explicou Rafael Ribeiro, da Scot Consultoria. A menor produção interna de fertilizantes também tem pressionado as cotações. “No primeiro semestre, o produtor comprava uma tonelada de adubo com 7@ de boi gordo; no início de outubro, essa relação de troca já era de 8-9 @”, disse o analista. Como o pecuarista normalmente aduba as pastagens a partir de novembro e dezembro, quando as chuvas estão mais regulares, a dica do consultor é esperar

a virada de ano para negociar o adubo a preços mais atrativos. “Essa é uma época de menor movimentação no mercado interno, pois as lavouras de grãos já foram plantadas e as empresas costumam fazer promoções”, explicou. De acordo com a Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda), o consumo de fertilizantes para pastagens é de 500.000 t/ano, dentro de um mercado estimado em 35 milhões de toneladas importadas e 6 milhões produzidas, anualmente, no País.



Especial Pastagem Análise da relação custo-benefício das fontes de N Tipos de adubo

% de N

Perdas (%)*

Diferencial aceitável (%)**

Ureia convencional

45

28

---

Ureia protegida

45

7

21

Nitrato de amônio

32

4

24

20

6

22

Sulfato de amônio Fonte: Adilson Aguiar

*Por volatização e outras formas **Em em relação à ureia convencional

solo, espécie forrageira e histórico de uso) em três faixas de profundidade: 0-20, 20-40 e 40-60 cm. Depois, misturar as amostras do mesmo perfil de solo, separar no mínimo 250 g de cada uma delas em sacos plásticos e enviá-las para análise. O produtor também pode fazer essa amostragem com ajuda de tecnologias de precisão. Finalizada essa primeira etapa, é necessário planejar/ executar a correção do solo (veja quadro abaixo). Somente depois disso, é que se deve pensar na adubação potássica, fosfatada e nitrogenada, com base na análise do solo. Para definir as dosagens de N, normalmente são usados boletins técnicos ou o “modelo de balanço de massa”, software que calcula a quantidade de adubo a ser aplicada, em função das metas de produtividade. Ele compara as entradas de nutrientes no sistema (vindos da atmosfera, do solo, suplementos, fezes, urina, morte e decomposição de tecidos das partes aérea e subterrânea das plantas) com as saídas (por lixiviação, volatilização, fixação, escorrimento superficial, transferência pelo animal para a área de lazer e exportação

Dobradinha eficaz na correção do solo Velha conhecida dos produtores, a correção da acidez do solo com gesso e calcário é fundamental para se tirar proveito da posterior adubação. Conforme lembrou, em sua palestra, o pesquisador Djalma Martinhão Gomes de Souza, da Embrapa Cerrados, o calcário age em superfície e o gesso (que solubiliza mais rápido) atua ao longo do perfil do solo. É importante aplicar este último corretivo, porque, em várias regiões do Brasil, frequentemente se observam deficiências de cálcio e toxidez de alumínio em camadas mais profundas (até 60 cm), limitando o aprofundamento das raízes e a tolerância das plantas aos veranicos. “Quando se faz gessagem, os solos arenosos conseguem reter até 25 mm de água e os argilosos, 60 mm, o que permite à pastagem suportar até duas semanas de seca”, afirmou. Para determinar a recomendação de gesso em pastagens, Djalma sugere fazer amostragens pelo menos da camada localizada entre 30 e 50 cm do solo. “Se o resultado da análise nessa profundidade der saturação de alumínio maior do que 20% ou teor de cálcio menor do que 0,5 cmolc (centimol de carga) por decímetro cúbico (dm3), deve-se aplicar o gesso a lanço”, afirma Souza, “com ou sem incorporação ao solo”. O cálculo da dosagem deve considerar também o teor de argila, constante da análise laboratorial. As aplicações feitas com base nesses critérios têm efeito residual de pelos menos cinco anos, podendo chegar a 15 anos, dependendo do tipo de solo. A gessagem deve ser realizada imediatamente após a calagem.

72 DBO novembro 2018

Adubação nitrogenada deve ser feita logo após a retirada dos animais do piquete.

do produto animal, carne e leite), fazendo um balanço do nutriente e calculando as quantidades necessárias para se atingir a produção forrageira almejada (em kg de matéria seca/ha/ano) e garantir determinada lotação (em UA/ha). A escolha do tipo de adubo a ser aplicado depende do preço por ponto percentual de nitrogênio. Se o N do nitrato de amônio, por exemplo, custar até 24% mais do que o da ureia convencional, vale a pena optar por ele (veja tabela acima). Além de escolher bem o adubo, é fundamental planejar-se para comprá-lo na hora certa, pois seu custo está alto. Quem executa essas operações preparatórias com segurança, tem maior controle sobre os custos e o resultado final da operação. Com tudo em mãos (solo corrigido, adubo armazenado e recomendação de dosagem com base em metas produtivas), a etapa seguinte, também decisiva, é aplicar o produto no momento adequado. Capricho na aplicação e manejo Para o professor Moacyr Corsi, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), outro palestrante do Encontro dos Encontros, quanto mais cedo o pecuarista distribuir o adubo, melhor. O ideal, segundo ele, é jogar o fertilizante no máximo sete dias após a saída dos animais do piquete, pois os novos perfilhos são produzidos quase totalmente na primeira semana. Isso deve ser feito mesmo que não chova, pois a cobertura morta presente no solo mantém a umidade necessária na superfície para solubilização do N e rebrota do capim. Aguiar admite maior flexibilidade no prazo para adubação, alegando que pesquisa realizada na Fazu não constatou diferença na taxa de acúmulo em tratamentos feitos 1, 7 e 14 dias após o pastejo, mas ele também recomenda fazer as aplicações o quanto antes, por questões operacionais. Segundo Corsi, outra medida importante é regular bem os equipamentos para distribuição homogênea do adubo; manter uma disciplina de aplicação e caprichar no manejo do capim, para colher bem a forragem, do contrário, pode-se “queimar” a tecnologia. “Coletar dados e interpretá-los corretamente possibilita fazer ajustes na hora certa. Um bom indicador para análise é a eficiência de uso do nitrogênio, especialmente quando se trabalha com níveis mais altos de adubação”, diz o professor da Esalq, informando que esse indicador, nas fazendas, tem variado muito (de 5 a 12 kg de N por @). Outra recomendação dos especialistas é fracionar o adubo sempre que a quantidade anual superar



Especial Pastagem Carências de macronutrientes nas lâminas recémexpandidas que justificam adubação foliar Nível crítico g/kg Nitrogênio

Tanzânia

Mombaça

Decumbens

Marandu

21,4

18 a 20,8

17 a 22

19 a 23,2

Fósforo

1,1 a 1,4

1,1 a 1,2

1,5 a 1,6

1,2

Potássio

15

15,4 a 17,3

20 a 23

22

Cálcio

5,5

5,7

5

5,8

Magnésio

4,2

3,8

3,9

3,9

Enxofre

1,2

1,1

1,2

1,3

Fonte: Francisco Monteiro/Esalq

120 kg de N/ha, trabalhando-se preferencialmente com parcelas de 50-60 kg/ha. Em planejamento de longo prazo, é importante considerar o efeito residual das adubações. No primeiro e segundo anos, a dose de N para determinada meta de produtividade não muda, mas, a partir do terceiro ano, pode cair 10%15% ao ano e chegar à metade do valor inicial, a partir do sétimo ano, sem queda na produtividade e lotação.

#éAudi

Novidades na amostragem foliar Outra palestra interessante no Encontro dos Encontros foi proferida pelo professor Francisco Antônio Monteiro, também da Esalq-USP. Segundo ele, as plantas mostram quando estão

precisando de nutrientes, por isso sua avaliação visual é importante. Até pouco tempo, porém, era difícil fazer diagnose foliar, devido à dificuldade de amostragem do pasto. Antes, o produtor tinha de coletar toda a parte aérea da touceira de capim e enviar grande quantidade de material (colmos, bainha, lâminas de folhas maduras e jovens) para o laboratório. Mais tarde, testou-se uma metodologia de amostragem que simulava o pastejo (análise apenas das pontas das folhas, colhidas em uma passada de mão que imitava o bocado, movimento da língua dos bovinos), mas também não deu muito certo. O problema foi solucionado com a técnica L-R (+1 e +2), criada por Monteiro. Ela consiste em coletar apenas duas folhas recém-expandidas da porção de cima do capim, em sua fase de maior crescimento (novembro/fevereiro). “Para amostrar a planta por esse método, basta observar a pastagens de cima para baixo, procurando pelas folhas que estão bem abertinhas. A primeira é a “mais um” (+1) e a debaixo dela é a “mais dois” (+2)”, explica. As folhas podem ser destacadas com a unha. Um conjunto de duas corresponde a uma única amostra. Para capins com folhas maiores, a recomendação é destacar 60 lâminas em 30 plantas. Para os de folhas menores, 100 lâminas em 50 plantas. Veja na tabela acima os níveis críticos de nutrientes que justificariam a adubação foliar. n

74 DBO novembro 2018



Especial Pastagens Especial Pastagem

Capim certo no lugar certo Ariosto Mesquita

Embrapa alerta para emprego adequado de novas cultivas, para evitar prejuízos. ariosto mesquita

E

de Campo Grande, MS

rros durante o plantio, escolha de cultivar inadequada para as condições edofoclimáticas da fazenda, falta de atenção no manejo e solo mal nutrido. Estes, segundo o pesquisador Rodrigo Amorim Barbosa, da Embrapa Gado de Corte, MS, são os principais equívocos cometidos pelos produtores ao plantar os capins lançadas pela instituição nos últimos anos, com destaque para as braquiárias Paiaguás e Ibyporã e os panicuns Zuri, Tamani e Quênia, todos ainda sob proteção intelectual. Barbosa explica que é natural se fazer ajustes no manejo nos primeiros anos de cultivo, após a chegada dos capins ao mercado. “A nova gramínea é lançada com um pacote mínimo de recomendações, após passar por longa fase de testes”, justifica Barbosa, “mas o que preocupa é o fato de algumas características das plantas, previstas nos pacotes de lançamentos, estarem sendo ignoradas ou desconsideradas pelos produtores rurais”. Isso, de acordo com o pesquisador, pode criar imagens equivocadas sobre uma ou mais variedades, comprometendo tudo o que foi feito ao longo de anos de estudo e testes de campo pela Embrapa. Barbosa explica que uma das exigências do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), antes do lançamento de uma cultivar, é a realização do VCU (Valor de Cultivo e Uso), um ensaio de pastejo durante o qual o capim é submetido ao consumo animal por duas estações chuvosas e de seca, para evidenciar o potencial do material. Ao longo desse período, são coletados dados como taxa de lotação, produtividade animal e ganho médio diário, objetivando o registro da cultivar. “O boi é que dá a resposta final”, afirma. São cultivares devidamente provadas, mas que não podem ser plantadas em quaisquer condições, em qualquer parte do Brasil, como muitos produtores estão fazendo. Capins não genéricos Barbosa reforça que a Embrapa abdicou, nos últimos anos, de desenvolver capins “genéricos” (para uso em várias regiões) e focou em cultivares para condições específicas (uma demanda do mercado), como mostrou reportagem de DBO, em junho de 2017. Da lista de lançamentos, constam cultivares com maior tolerância ao encharcamento, às baixas temperaturas e uma braquiária transgênica tolerante à seca.

76 A DBO DBO novembro novembro 2015 2018

Rodrigo Barbosa, em área de testes da Embrapa

Um dos erros comuns cometidos pelos produtores tem sido confundir o Massai, um capim mais rústico, destinado à cria, com o Tamani, um panicum de mais fácil manejo, porém exigente em fertilidade. Os dois têm porte baixo e são visualmente parecidos, daí a confusão, que traz prejuízos para o produtor. No caso da Ipyporã, tem maior tolerância à cigarrinhas, inclusive à Mahanarva, o produtor tem errado na quantidade de sementes. Como se trata de uma planta de estabelecimento lento, é preciso seguir à risca as recomendações de plantio para as invasoras não passarem à frente da forrageira e brotarem primeiro, gerando problemas no estabelecimento da pastagem. Um relato recente de pragas nessas cultivar no Pará revelou, após observação de campo, que se tratava de em área de baixa fertilidade plantada com quantidade de sementes inferior à prescrita. O plantio deve observar o peso relativo das sementes nuas. No caso das incrustadas, deve ser desconsiderado o peso deste material. Outra dica é nunca rebaixar demais o capim, para não favorecer as invasoras.Quanto ao Quênia, o erro maior tem sido plantado em solos sujeitos ao encharcamento, que ele não tolera. Capim “bonitão” Dentre as cultivares lançadas mais recentemente pela Embrapa, o Zuri melhor recepção junto aos produtores,

A Unipasto decidiu abrir mão da exclusividade de comercializar a cultivar Tupi, braquiária humidícola lançada em 2012, devido à dificuldade de produção de sementes, o que elevevou os custos para o pecuarista. A cultivar retornou à Embrapa para que possa abrir edital em busca de intressados em sua comercialização.


PASTO LIMPO E PRODUTIVO É COM A AGROQUIMA


Especial Pastagem Estimativas para lançamento de novas forrageiras Em até 7 anos

Entre 7 e 15 anos

Acima de 15 anos

Braquiária brizantha, cultivar B4 (produtiva, mas de manejo complexo)

Híbrido de braquiária tolerante ao encharcamento

OGM de braquiária (transgênica) com tolerância à seca

Híbrido de braquiária decumbens

Híbrido de panicum tolerante a baixas temperaturas

------------

Híbrido de panicum com alta eficiência no uso de fósforo

Híbridos com alta eficiência no uso de nutrientes

----------------

Fonte: Embrapa Gado de corte (campo grande, ms)

por seus méritos e uso eficiente a campo. “É um capim bonitão”, brinca Barbosa, explicando que esse sucesso se deve muito à imagem de forrageira de grande produção, semelhante à do Mombaça, além de sua alta resistência à mancha das folhas, causada pelo fungo Bipolaris maydis. Este panicum, contudo, lançado em 2014, é exigente em fertilidade do solo e, sob altas lotações, requer adubação de manutenção para continuar produzindo bem O Zuri está sendo muito usado principalmente na região Norte do País. Estima-se que a forrageira já responsa por 9% do mercado de sementes protegidas comercializadas pela

Associação para Fomento à Pesquisa de Melhoramento de Forrageiras (Unipasto). Trata-se de um capim com boa sobrevida em ambientes úmidos, além de produzir entre 10% e 15% mais massa forrageira do que o Mombaça Dicas importantes Repor os nutrientes extraídos do solo pela planta não é uma preocupação tão presente na pecuária, mas, segundo o pesquisador da Embrapa, dificilmente teremos um capim com bom desempenho sem esta prática. Semear em área não corrigida ou com carência de nutrientes geralmente resulta em queda de produção, a partir do segundo ano. “Muitos produtores fazem isso e, depois, começam a dizer que a forrageira não aguenta lotação. Na verdade, é o capim que não aguenta o produtor que faz isso”, salienta Barbosa. Segundo ele, é fundamental definir metas de produção. O pecuarista deve estabelecer quantas arrobas pretende produzir por hectare e, a partir disso, fazer um planejamento que envolva o uso do capim, seu manejo e a reposição de nutrientes. Tudo deve começar a partir de uma boa análise de solo. “Dessa forma, o pecuarista fica sabendo as condições de seus solo, consegue fazer adubações na medida adequada e economiza dinheiro”, explica. n

Elevada produção de matéria verde. Excelente qualidade nutricional. Alta palatabilidade.

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78 DBO novembro 2018

Suporta pressão de pastejo e pisoteio. Alta capacidade de rebrota (entre 4 e 6 pastejos). Taxa de acúmulo diária até 100 kg de matéria seca/ha-1. Desenvolvimento radicular agressivo. Excelente sanidade foliar. Excelente resposta à adubação nitrogenada.

29/10/18 14:47



Especial Pastagem

Selo antipirataria Unipasto lança plataforma de rastreabilidade para garantir origem e autenticidades das sementes vendidas por seus associados

A

Marcos Roveri aposta na tecnologia para evitar o comércio de sementes piratas, que movimenta R$ 70 milhões por ano no Brasil

Associação para Fomento à Pesquisa de Melhoramento de Forrageiras (Unipasto) apresentou em outubro, durante evento da Scot Consultoria, em Ribeirão Preto, SP, sua Plataforma para Rastreabilidade Segura de Sementes, baseada em um aplicativo e um selo de segurança aplicado à sacaria. O objetivo da Unipasto é diferenciar as sementes legais produzidas por seus associados das sementes piratas, cujo comércio movimenta cerca de R$ 70 milhões/ano. A etiqueta “Semente Legal” já acompanha as sacas da Unipasto desde janeiro deste ano e carrega uma série de recursos que impedem sua falsificação. Em entrevista, o diretor-executivo da associação, Marcos Roveri, dá mais detalhes: DBO – Quais os prejuízos causados à pecuária pelas sementes piratas? Roveri - Principalmente baixa produtividade for-

rageira, maior contaminação por pragas e doenças, que resultam em pastos mal formados e com deficiências nutricionais. Ao adquirir um material clandestino, ele também deixa de contribuir para o fomento da pesquisa voltada ao desenvolvimento de novas cultivares. Agora o produtor tem ferramentas para coibir fraudes.

DBO – Onde é colocado o selo e que informações ele fornece ao produtor? Roveri – O pecuarista pode ver a etiqueta em to-

das as sacarias das sementes desenvolvidas pela Embrapa e protegidas para produção e comercialização exclusiva da Unipasto: as braquiárias Paiaguás e Ipyporã e os panicuns Zuri, Tamani e Quênia. O selo garante ao produtor que ele está adquirindo sementes autorizadas e de qualidade e também representa segurança para revendas e distribuidores. No entanto, os benefícios vão muito além. O selo carrega um código único rastreável, conhecido como QR Code, que dá acesso a uma série de informações de rastreabilidade dentro da cadeia de produção, a partir da Unidade de Beneficiamento, a UBS. Por meio dele, a pessoa tem acesso, por exemplo, a diversos dados de origem, de licenciamento e ao termo de conformidade. A leitura deste código é feita pelo aplicativo “Semente Legal”, que pode ser baixado gratuitamente na Internet. DBO – Esta etiqueta não está sujeita a falsificações? Roveri – É praticamente impossível. Ela carre-

ga oito dispositivos de segurança, alguns visíveis a olho nu, como o próprio código microtextos, microcortes,código único criptografado e impressão em alto-relevo. A tinta é a mesma utilizada pela Casa da Moeda do Brasil para imprimir notas de dinheiro, mudando de cor, conforme o ângulo de visão. Caso haja alguma tentativa de falsificação, no momento da leitura do código o aplicativo identificará o fraudador e oferecerá a possibilidade de denúncia. A plataforma permitirá mapear cada cultivar por todo o País. No momento em que alguém fizer a leitura do código pelo aplicativo, saberemos em que município ele está.

DBO – Esse aplicativo carrega outras informações? Roveri – Além de conteúdo próprio, ele está sendo ajus-

O selo permite rastrear toda a cadeia de produção de sementes

80 DBO novembro 2018

tado para funcionar de forma conjugada com o aplicativo Pasto Certo, da Embrapa, que traz os principais dados sobre as cultivares de forrageiras tropicais lançadas e licenciadas pela instituição no Brasil. Está disponível para os sistemas operacionais Android e iOS. Além de dar maior segurança ao produtor na hora da compra das sementes, o aplicativo também emite relatórios gerenciais que podem ajudar os órgãos públicos a melhor fiscalizar o setor. n



Especial Pastagem

Capins invasores trazem prejuízos à pecuária Eles estão presentes em várias regiões do País, geram perdas de no mínimo 30% e exigem protocolos próprios de controle.

N

Denis Cardoso

ão é de hoje que os pecuaristas brasileiros enfrentam problemas com capins invasores de pastagens. Agressivos e resistentes, mas de baixo valor nutricional, eles são encontrados em várias regiões do Brasil e trazem grandes prejuízos econômicos, porque competem por espaço, água, luz e nutrientes com as forrageiras cultivadas. Segundo Adilson Aguiar, professor das Faculdades Associadas de Uberaba (Fazu), níveis baixos de incidência dessas plantas daninhas reduzem a produção de forragem em 30%; níveis médios, em 55%-70%; e nível alltos, em 55%-70%, podendo levar à perda total da pastagtem. “De maneira sequencial, ocorre redução na produção, diminuição na capacidade de suporte do pasto, perda de qualidade do capim, queda no desempenho animal e menor produtividade por hectare”, ilustra. Além disso, na tentativa de controlar tardiamente as plantas infestantes, tem-se aumento considerável nos custos e depreciação no valor da propriedade, devido à degradação das pastagens. Cinco capins invasores fazem parte da “lista negra” de Aguiar: o annoni (Eragrostis plana); o navalha, também conhecido como capim-duro, navalhão ou cabeçudo (Paspalum virgatum); o capeta ou rabo-de-raposa (Sporobolus indicus); o amargoso (Digitaria insularis) e rabo-de-burro (Andropogon bicornis). Carlos Peres, coordenador de Produtos e Mercados de Pastagem da Arysta LifeScience menciona ainda o capim-sapé (Imperata brasiliensis), gramínea que também tem potencial para se transformar em invasora preocupante. Trata-se de uma planta com semelhança morfológica, fisiológica e bioquímica com as forrageiras cultivadas. Isso torna seu controle extremamente difícil, pois o pecuarista não consegue perceber a infestação e controlá-la a tempo. A distribuição geográfica dessas invasoras é ampla. O capim-navalha é encontrado nos Bioma Amazônico (norte do Mato Grosso, Pará, Acre) e Mata Atlântica (leste do Nordeste e Sudeste). “Ele tem infestado fortemente áreas úmidas, exigindo reforma e onerando o pecuarista”, explica Mário Henrique Drehmer, gerente de herbicidas da Nufarm Brasil. Já o capim capeta se espalhou por várias partes do País. Além dos biomas já citados, ele aparece nos cerrados do Centro-Oeste, no oeste baiano e no Pantanal (Mato Grosso e Mato Grosso do Sul). O annoni está 82 DBO novembro 2018

Controle químico com herbicida dessecamte deve ser feito com cuidado, para não atingir o pasto.

restrito à Região Sul, onde já fez estragos consideráveis. Somente o capim navalha conta, até o momento, com um herbicida seletivo, embora as empresas prometam novos lançamentos para faturo próximo. Inimigos temíveis Os capins invasores estão se tornando uma grande ameaça para a pecuária porque são plantas nativas ou naturalizadas, adaptadas às condições do ambiente em que se inseriram e, portanto, com alta capacidade de colonização. O Sporobolus indicus, por exemplo, originário da Índia, faz jus ao nome popular de “capeta” que recebeu no Brasil. Conforme explica Alcino Ladeira, pesquisador da Corteva Agriscience, uma touceira desse capim produz 300.000 sementes/ano, mais de 80% viáveis. Ele é resistente à seca, cresce em solos compactados, ressecados, rasos e pedregosos; suporta o fogo; sementeia quase o ano inteiro e, pelo fato de ser rejeitado pelos animais (tem colmos duros), abafa as gramíneas cultivadas. “O



Especial Pastagem

Trio de capins invasores com alto potencial de infestação: amargoso (à esq.), navalha (centro) e capeta (à dir.).

produtor gasta muito dinheiro com reforma na tentativa de eliminá-lo. O controle das invasoras de folhas estreitas é a nova fronteira do mercado de herbicidas para pastagens”, antecipa Ladeira. O navalha é outro capim de baixo valor ntricional que se multiplica rapidamente (produz de 8.000 a 15.000 sementes por ano). Tem folhas cortantes, daí seu nome. “Como gosta de solos úmidos, se tornou um sério problema nas regiões atingidas pela síndrome da morte do braquiarão, na Região Norte”, explica Drehme, da Nufarm. Tanto as sementes dessas duas gramíneas quanto as do annoni são muito longevas. Testes realizados em laboratório com germoplasta de capim-capeta, por exemplo, mostraram que 75% de um lote armazenado por 10 anos germinaram. Segundo Aguiar, outra característica desses três capins é que suas sementes têm dormência e germinam de maneira desuniforme, gerando sucessivas gerações de plantas e contínua reinfestação. Por serem pequenas e leves, elas podem ser dispersadas pelo vento, chuvas, implementos agrícolas e animais. Os equinos gostam das sementes de navalha, que espalham por meio de suas fezes. Já as de capim-capeta são expulsas da panícula envoltas em um composto viscoso, que, em presença de umidade (orvalho, água da chuva), aderem ao que encontram pelo caminho (pelagem de animais, roupas, implementos). As sementes de amargoso também têm capacidade de aderência, por serem pilosas. Além disso, essa planta se propaga por rizomas. Também muito prolífero (cada planta produz 300.000 sementes/ ano), o annoni ainda tem efeito alelopático sobre as gramíneas cultivadas, dificultando seu desenvolvimento. Controle difícil Com tantos mecanismos de sobrevivência, entende-se porque é tão difícil controlar esses capins invasores. “Alguns pecuaristas tentam eliminá-los pelo fogo, mas, com isso, acabam quebrando a dormência de suas sementes e favorecendo sua proliferação”, observa Aguiar. Segundo ele, antes de se iniciar qualquer tentativa de controle, é fundamental levantar o nível de infestação da área, para se escolher entre recuperação e reforma. Vale a pena recuperar quando a planta forrageira ainda cobre boa parte do solo e a infestação por capins invasores é inferior a 10% da composição botânica da pastagem, concentrando-se mais em reboleiras e malhadouros.

84 DBO novembro 2018

Nestes casos, o professor da Fazu recomenda ajustar a taxa de lotação à capacidade de suporte da pastagem, eliminar as invasoras e corrigir/adubar o solo. Caso o produtor opte pelo arranquio das plantas, deve depois queimá-las. “Este, contudo, é um trabalho hercúleo, lento e caro”, ressalta o consultor Wagner Pires. Os melhores resultados, em caso de baixa infestação, têm sido obtidos com controle químico. No Sul, onde as pastagens são baixas, o aplicador seletivo Campo Limpo tem sido eficaz no combate ao annoni, pois sua plataforma de tubos umidificados com glifosato passa apenas sobre o capim invasor, que é mais alto, deixando o pasto nativo intacto. No Norte, tem-se usado a enxada química seletiva, que permite o controle dos capins invasores por contato. “Na falta dessas alternativas, pode-se usar um pulverizador costal, desde que se aplique o glifosato bem no miolo da planta, sem levantar névoa, com baixa pressão nos espirros”, diz o consultor Wagner Pires. Outra opção, segundo Aguiar, é fazer pulverização aérea em baixo volume, pois a fitotoxidez do glifosato sobre o pasto é menor do que na aplicação costal ou tratorizada. No caso do capim navalha, a boa notícia é que acaba de ser lançado no mercado um produto, à base de Imazapique e Imazapir, que se mostrou eficaz no extermínio total desse invasor. Por enquanto, o registro abrange apenas essa espécie. Wagner Pires diz ter obtido bons resultados em experimentos conduzidos em fazendas. “Não somente com capim-navalha, mas também com capim-duro e outras invasoras de folhas estreitas”, diz. Quando reformar Se o estande de plantas forrageiras na pastagem está baixo, desuniforme, com falhas, e os capins invasores se encontrarem dispersos pela área, superando 10% de sua composição botânica, a única saída é reformar. Para isso, o produtor pode escolher o método direto ou indireto. No direto, adota-se a seguinte sequência de procedimentos, segundo Aguiar: dessecação da vegetação no último mês de chuvas da região, para eliminar totalmente as invasoras de folhas estreitas; gradagens pesada e intermediária do solo durante a seca, com intervalo de um mês entre elas; aração invertida, um mês antes do plantio da pastagem; uso de grade niveladora, semeadura ou plantio de mudas; cobertura das sementes ou das mudas; e aplicação de herbicida pré-emergente.


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Especial Pastagem A reforma por método indireto se faz via integração lavoura/pecuária. “Quando é possível introduzir uma lavoura na área após dessecação e preparo do solo, o controle fica mais eficaz e seguro, porque durante o ciclo da cultura agrícola é possível usar um amplo espectro de ingredientes ativos de herbicidas seletivos às lavouras, mas que controlam a maioria dos capins infestantes”, afirmar o professor, acrescentando que, neste caso, é possível aplicar herbicidas em pré-plantio, em pré-emergência, e em pós-emergência. Os melhores resultados de controle dos capins invasores em reforma têm sido obtidos justamente com ILP ou com plantio de Tifton 85 por meio de mudas, o que também permite aplicação de herbicida seletivo no pré-plantio, pré-emergência e pós-emergência. Métodos preventivos De nada adianta o produtor reformar as pastagens, contudo, se não tomar medidas preventivas para evitar reinfestação da área. Aguiar recomenda tomar especial cuidado com a compra de sementes forrateiras. Materiais sem procedência ou piratas podem estar contaminados não apenas por fungos, mas também capins invasores. O ideal é trabalhar com sementes com alto porcentual de pureza e trata-

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86 DBO novembro 2018

das. Outra medida importante é adotar um protocolo de recebimento de animais na propriedade, de forma a evitar que eles defequem em áreas livres de invasores. A limpeza de roupas e calçados dos trabalhadores (além de implementos, máquinas e veículos) ajuda a evitar ou diminuir infestações. O bom manejo da pastagem também é essencial para o controle de invasoras de folhas estreitas, pois garante às plantas forrageiras vigor suficiente para competir com as infestantes, evitando sua proliferação. Para isso, é necessário escolher cultivares adaptadas às condições de clima e solo da região; estabelecer o manejo correto do pastejo com base em alturas-alvo específicas para cada espécie de planta forrageira; ajustar a taxa de lotação à capacidade de suporte do pasto; controlar pragas e corrigir/adubar o solo. Segundo Aguiar, a prevenção é possível. A Austrália, que também sofre com o capim capeta, instituiu um programa nacional de manejo integrado para combatê-lo, que inclui comunicação de infestação por parte dos produtores e visitas técnicas às propriedades. Em 2007, 30% das pastagens daquele País estavam infestadas, mas eles conseguiram reverter esse quadro. “No Brasil”, diz o professor, há certa negligência em relação ao prejuízos causados por esses capins. “Cabe à pesquisa, em parceria com as indústrias de herbicidas, buscar alternativas viáveis para o problema”. n



Especial Pastagem

A cochonilha está de volta

Fazu (Faculdades Associadas de Uberaba) e integrante da Consupec (Consultoria e Planejamento Pecuário).

N

Multiplicação e danos A cochonilha aloja-se nos perfilhos do capim, concentrando-se principalmente junto aos nós dos colmos (caules ou hastes), sob a bainha das folhas, próximo às gemas, podendo formar grupos de até 10 cochonilhas por nó e aí sugar os colmos desde o colo (ou coleto) da planta, podendo secá­-la e até mesmo matá-la quando as populações são altas. Os danos lembram queimaduras provocadas por geadas ou por herbicida dessecante. 88 DBO novembro 2018

Adilson aguiar

Adilson Aguiar é professor da

os últimos anos, as pastagens brasileiras têm sofrido ataques de uma praga específica frequentemente desconhecida dos produtores: a cochonilha dos capins, espécie Antonina graminis. Trata-se de um inseto sugador de seiva, que mede cerca de 3 mm de comprimento por 1,5 mm de largura, tem corpo ovalado, de cor vermelha arroxeada escura e envolto por uma substância cerosa branca, de conformação semelhante a um saco. Ele se desenvolve bem sob temperaturas entre 24 e 29°C e, ao contrário da cigarrinha, que causa maior dano às pastagens nas águas, ataca mais na seca. Pode, contudo, ocorrer em qualquer época do ano, desde que as temperaturas não sejam muito altas (acima de 29°C), nem muito baixas (abaixo de 2°C), já que, a cada 10 semanas, surge uma nova geração (5 gerações por ano). A dispersão da cochonilha dos capins é feita pelo próprio homem, pelo vento e por outros insetos, como as formigas. No Brasil, ela foi identificada pela primeira vez na Bahia, em 1944; depois no Pará, em 1964, e no Estado de São Paulo, em 1966. Ficou mais conhecida dos pecuaristas, técnicos e pesquisadores nas décadas de 60 e 70, quando houve grande aceitação das espécies forrageiras Chloris gayana (Capim-de-rhodes) e Digitaria decumbens, cultivares Pangola e Transvala. O Pangola comum foi muito atacado por cochonilhas, a ponto de precisar ser substituído por outras cultivares. Também foram relatados surtos esporádicos em pastagens de Angola (Brachiaria mutica), Colonião (Panicum maximum) e Gordura (Melinis minutiflora). Por um bom tempo, a praga arrefeceu, mas voltou a atacar na última década. Primeiro, em pastagens formadas com a cultivar de braquiária híbrida Mulato II, e, mais recentemente, em áreas de Brachiaria humidicola, apesar de haver relatos sobre ataques, nesta ultima espécie, já na década de 80. A pesquisa identificou surtos desse inseto em mais de 90 variedades de gramíneas. No semi-árido do norte de Minas Gerais e dos Estados do Nordeste, as cochonilhas são conhecidas como a principal praga da palma forrageira, entretanto, trata-se de outra espécie, a Dactylopius coccus, conhecida por cochonilha-do-carmim.

Capim atacado por cochonilhas pode ter sua produção fortemente prejudicada

Quando a incidência é alta (11-15 cochonilhas por perfilho), tem-se perda de 20%-30% na produção forrageira. A amostragem para classificação dos níveis de controle e danos é feita por meio da coleta de 10 colmos por área homogênea. Como métodos de controle, recomenda-se o manejo integrado de pragas (MIP), que prevê a adoção de várias ferramentas: métodos preventivos (uso de sementes com alto grau de pureza, tratadas com inseticidas; limpeza de roupas, máquinas, veículos, implementos); métodos culturais(diversificação das espécies forrageiras, estabelecimento correto da pastagem, manejo adequado do pastejo, correção da acidez do solo, adubação); métodos mecânicos (bom preparo do solo no período da seca, em caso de estabelecimento de pastagens) e ainda métodos biológicos, fisiológicos e químicos. Têm-se testado inseticidas para combater as cochonilhas desde a década de 50, mas com resultados erráticos, obtendo-se melhores resultados com produtos sistêmicos. Já o controle biológico com a vespinha Neodusmetia sangwani, inimiga natural da praga, tem se mostrado bastante promissor. Esse inseto de 1 mm de comprimento deposita seus ovos no corpo das cochonilha, evitando que ela se reproduza. A vespinha pode ser obtida junto ao Instituto Biológico, em Campinas, SP. n



Fazenda em Foco

Engrenagem de alta eficiência Propriedade goiana usa diferentes estratégias nutricionais, adubação de pastagens e boa gestão comercial para produzir 131@/ha na fase de engorda.

FOTOS: MOACIR JOsé

enfático. Além do hadge direto, ele faz contrato a termo com os frigoríficos, quando considera interessante. Tudo para garantir a rentabilidade de uma operação que envolveu 4.413 bovinos terminados em confinamento em 2017, número que deve chegar a quase 6.000 em 2018. Para abater essa quantidade de animais no ano passado, Tavares alojou, na Fazenda Pontal, mais de 2.000 bois por giro, com peso médio de 468 kg, o que representa uma elevada lotação de 5,7 UA/ha. Apenas na fase de engorda – que é feita de forma intensiva a pasto, a partir das 14@, e em confinamento, das 16@ até o peso de abate (21@) –, Tavares conseguiu produzir 131@/ha/ ano, produtividade muito expressiva para a pecuária de corte.

Machos com mais de 14@ recebem o correspondente a 2,3% do peso vivo em suplemento ainda no pasto.

Moacir José,

A

de Itapirapuã, GO

nutrição é crucial no esquema produtivo da Fazenda Pontal, localizada em Itapirapuã, região oeste de Goiás, especialmente por se tratar de uma propriedade pequena, com apenas 365 ha de área disponível. Uma das estratégias nutricionais dessa propriedade – a ração sem volumoso– foi, inclusive, objeto de reportagem de DBO, no Especial de Confinamento publicado em agosto. Mas, a Pontal tem muito mais do que isso para mostrar. Seu proprietário, Fabiano Alves Tavares, dá especial atenção à gestão e não desgruda os olhos da rentabilidade, monitorada mês a mês, com foco principalmente no preço do bezerro (pois faz recria/engorda) e no custo da suplementação. Como estes dois itens norteiam seu negócio, Tavares monitora-os por meio de uma planilha eletrônica, para analisar a rentabilidade provável de seu negócio, o que facilita a tomada de decisões. Normalmente, o produtor trabalha com faixas de preços, tanto para o bezerro (ágio de R$ 10 a deságio de R$ 10) quanto para o milho (R$ 24 e R$ 44/ sc), grão responsável por 70% do seu custo alimentar. Nas simulações, ele pré-fixa o valor de venda da arroba de boi gordo, pois trava o preço na Bolsa de Mercadorias e Futuros, inclusive por meio da modalidade opções (seguro contra a oscilação de preços). “Não consigo ver a pecuária hoje sem essas ferramentas”, diz,

90 DBO novembro 2018

Fugindo do ágio Além de estar atento às premiações dos frigoríficos para animais de melhor qualidade, o produtor goiano capricha na reposição, fazendo compras estratégicas e usando a Pontal (uma fazenda prioritariamente de engorda) também para abrigar animais de recria, sempre que vantajoso. A maioria da garrotada, contudo, é mantida em 822 ha de pastagens arredadas de fazendas vizinhas. Tavares costuma comprar lotes de machos Nelore ou anelorados em número superior a 50 cabeças. “Busco animais mais baratos, na faixa das 9 a 12@, para fugir do ágio [diferença a mais entre o preço da arroba de bezerro e a de boi gordo]. Nem sempre consigo, mas esse é meu objetivo”, explica o produtor. Na tabela publicada nesta reportagem – atualizada no início de outubro –, o boi magro de 13,9@, que Tavares comprou por R$ 1.975 (R$ 142/@, valor equivalente à do boi gordo) permitiu rentabilidade mensal de 3,57%, apesar do custo alto da ração, devido do encarecimento do milho (R$ 34/sc). “Minha meta é uma rentabilidade igual ou superior a 3%”, diz ele, que tenta sempre manter uma proporção de 30% de animais de recria e 70% de engorda na fazenda. Mesmo controlando custos (tanto na compra dos garrotes quanto na alimentação), Tavares não descuida da qualidade das carcaças. Segundo ele, no ano passado, 97% dos 4.413 animais abatidos, na planta do Minerva em Palmeiras de Goiás, foram classificados como Cota Hilton. Ração direto Após a compra, os animais com menos de 14@ vão para as áreas de recria, nas fazendas arrendadas


ou na Pontal, que conta 350 ha de pastagens, subdividida em 16 pastos. São agrupados em função da idade e do peso, aceitando-se no máximo 2@ de diferença entre os mais leves e os mais pesados, dentro do lote. A suplementação é contínua, da recria à engorda. Nas águas, isso permite aumentar a lotação; na seca, evita a perda de peso. Os garrotes recebem o equivalente a 1,6% do peso vivo (PV) em concentrado no pasto, visando ganho de 1 kg/cab/dia, durante 60-100 dias, tanto nas águas quanto na seca. Já os bois 14 ou mais arrobas comem 2,3% do PV em ração. Quando estão perto da fase final de terminação, são preparados, ainda a pasto, para consumir a dieta sem volumoso fornecida no confinamento, que tem 12 baias, cada uma delas com 25 x 50 m e capacidade para 100 cabeças. Nessas instalações, eles recebem 3 kg de ração/cab/dia, nos três primeiros dias de adaptação, e depois 1 kg a mais, a cada três dias, até se chegar a 11 kg/cab/dia. A estrutura da Fazenda Pontal é simples, mas funcional: pastos de boa qualidade (braquiarão), bebedouros com água encanada e cochos cobertos. “A adaptação à dieta sem volumoso exige apenas bom pasto e tempo adequado, para não se ter problemas de acidose”, diz Tavares. Apesar de usar o peso como principal critério para formação dos lotes, o produtor observa a idade do bovino antes de destiná-lo à engorda. “Não direciono um animal muito novo, mesmo que já esteja pesado, para a terminação a cocho com ração sem volumoso, porque ele pode virar ‘bolita’ [alusão ao tipo de animal pequeno e gordo produzido pelos argentinos]. Espero ele crescer um pouco e desenvolver sua musculatura para que possa produzir carcaças mais pesadas”, explica. No confinamento, o consumo equivalente de ração também fica na faixa dos 2,3% do peso vivo. Começa com 11 kg e termina com 14-15 kg/cab/dia (aumento de 100 g/cab/dia), visando a um ganho mé-

Fabiano Tavares (à frente), com seu gerente, Divino Ferreira da Silva, que cuida do manejo do gado.

dio diário acima de 1,7 kg/cabeça. “Conduzo a nutrição de forma a colocar 2@/mês nos animais”, diz. O confinamento funciona o ano inteiro, com dois giros nas águas e dois na seca. Nas águas, o período de permanência dos animais nas instalações é menor (30 a 40 dias), pois eles já vêm mais pesados do pasto, onde contam com forragem de boa qualidade, capaz de atender 40% das demandas dos animais por nutrientes. Já na seca, o capim fornece apenas 10% dos nutrientes e os bois têm de ir mais cedo para o confinamento, onde permanecem por cerca de 70 dias. Nos pastos, veda e adubação. Para garantir forragem de qualidade nas águas, Fabiano Tavares aduba não somente os 350 ha de pastagens da Fazenda Pontal, como também os 822 ha alugados em propriedades vizinhas. São feitas duas aplicações de 120 a 180 kg de ureia/ha por ano, dependendo da análise do solo e da quantidade de massa forrageira que se deseja produzir. Além disso, o solo é corrigido a cada dois anos, com cerca de 1.500 kg de calcário/ha. O pecuarista capricha no manejo: veda totalmente os pastos por 60-70 dias, não no período que antecede a seca, mas no final desta, em outubro-novembro, quando as noites

Rentabilidade considerando-se diferentes ágios da reposição e preços do milho1 Ágio na arroba (R$) 10

5

0

saca milho

-5

-10

24

29

34

Ponto de empate

(R$) 39

44

Milho Sc

Arroba R$

60

-23

@ comprada

152

147

142

137

132

145

145

145

145

145

145

165

Custo ração/dia2

0,63

0,63

0,63

0,63

0,63

0,53

0,58

0,62

0,68

0,72

0,88

0,63

Custo ração total

713

713

713

713

713

600

657

702

770

815

997

713

Custo animal

2.114

2.045

1.975

1.906

1.836

2.017

2.017

2.017

2.017

2.017

2.017

2.305

Custo total

2.828

2.759

2.689

2.619

2.550

2.617

2.674

2.719

2.787

2.833

3.014

3.019

@ vendida

142

142

142

142

142

142

142

142

142

142

142

142

Lucro3

190

260

329

399

469

401

344

299

231

186

4,92

0,16

Rentabilidade (%)4

6,74

9,44

12,27

15,25

18,39

15,34

12,89

11,01

8,30

6,57

0,16

0,01

Rentabil./mês (%)

1,96

2,75

3,57

4,44

5,36

4,47

3,76

3,21

2,42

1,91

0,05

0

1 - Considera um animal com peso de entrada de 417 kg, consumo de 11 kg de ração/dia, durante 103 dias, para um ganho estimado de 1,05@ líquida/dia e peso final de 21,26@. 2 – Composta por 70% de milho, com a saca a R$ 34, e 30% de sorgo, saca a R$ 29. 3 – Diferença entre receita e custo total, considerando preço de venda (receita) de R$ 3.019. 4 – Proporção entre lucro e custo. Fonte: F.Tavares/Fazenda Pontal

DBO novembro 2018 91


Fazenda em Foco principalmente pelo fato de o pecuarista trabalhar apenas com animais inteiros. “Pago um colaborador terceirizado, todos os meses, para fazer medições na voltagem das cercas. Até agora, não houve necessidade de recuperação de lascas ou reparos”, garante.

Trato de todos de 2.500 animais é feito em apenas 4,5 horas.

começam a ficar mais quentes (acima dos 20°C). Este é justamente o momento de se começar a pensar em adubação nitrogenada. Cumprido o requisito da temperatura, são necessários pelo menos 60 mm de chuva para se fazer a aplicação de ureia. Os pastos de braquiarão são liberados para entrada dos animais quando estão com 30 cm de altura. “Pensei em trocar essa cultivar por algum Panincum, de crescimento mais rápido, mas vi que o manejo seria mais complicado, que a lotação não iria aumentar muito e que eu não teria muita disponibilidade de forragem na seca. Por isso, desisti”, explica Tavares. Isso, contudo, não atrapalhou em nada seu projeto, pois o fornecimento progressivo de suplemento no pasto supre boa parte das demandas nutricionais dos animais, reduzindo a ingestão de capim, e isso acaba funcionando como um limitador de consumo, impedindo que o pasto fique rapado. O sistema rotacionado com cerca elétrica revelou-se fundamental,

Fim da sazonalidade O fornecimento constante de suplemento e depois ração aos animais foi a saída encontrada por Fabiano Tavares para acabar com a “sazonalidade” ou flutuações no ganho de peso, que caracterizava seu sistema de produção anterior, que era altamente dependente de silagem na seca, volumoso depois eliminado da fazenda. Tavares tem conhecimento de causa sobre o tema. Não apenas porque é pecuarista, mas também porque foi diretor de ruminantes da empresa de nutrição norte-americana Alltech durante 13 anos e visitou muitas fazendas que enfrentavam esse problema, em várias regiões do Brasil. Para alimentar bem seus animais o ano inteiro, ele investiu em um galpão de 4.500 metros para armazenar insumos e montou uma pequena fábrica, onde mistura os ingredientes da ração sem volumoso (milho ou sorgo triturados, casca de soja, caroço de algodão, núcleo mineral e tanino). Nessa fábrica, Tavares também prepara o sal proteinado dos animais de recria, que contém fosfato bicálcico, sal, calcário calcítico, núcleo mineral, ureia protegida, ureia comum e tanino. “Fui construindo essa estrutura por etapas. Comecei em 2012 e terminei em 2017”, conta o produtor, que calcula ter investido na fábrica o valor já atualizado de R$ 800.000.

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Automação no curral Os animais são pesados todas as vezes que mudam de fase (da recria para a engorda a pasto e desta para o confinamento). O trabalho é feito por apenas duas pessoas: o gerente da Pontal, Divino Ferreira da Silva, que faz a apartação dos lotes, e o próprio Tavares, que opera o tronco de contenção automático, equipamento adquirido por R$ 65.000. “O pessoal acha caro esse tipo de tronco, mas não vê que o custo por cabeça é diluído e que o investimento se paga em um ano”, ressalta. Os números comprovam essa afirmação. Considerando-se 10 anos de depreciação, o equipamento sai por R$ 6.500/ano. Se forem pesados 10.000 bovinos quatro vezes por ano, serão ínfimos R$ 0,16 por cabeça. “Tudo isso com segurança muito maior, manutenção praticamente zero e economia de mão de obra. Tem mais: deixei de usar dois funcionários, poupando R$ 16.000/ano, o equivalente a três anos de amortização”, calcula. Para chegar neste número, Tavares considerou a pesagem de 10.000 animais três vezes por ano (300 cab/dia ou 100 dias de trabalho) e uma diária de R$ 80. Tanto no pasto quanto no confinamento, os animais têm livre acesso à ração, servida uma vez por dia. Considerando-se os dois sistemas, a fazenda tem quatro linhas de cocho: duas destinadas à recria, uma à terminação a pasto e outra ao confinamento. São feitos de quatro a cinco carregamentos de ração por dia, todos na parte da manhã. Paulo Henrique Soares, responsável pela tarefa, fornece primeiro a ração do confinamento, depois segue para as duas linhas de recria e termina com a de engorda a pasto. “Ele trata 2.500 animais em 4,5 horas”, calcula Fabiano Tavares. Na parte da tarde, o funcionário prepara a “boia” do gado para o dia seguinte. Como destacado na reportagem da edição de agosto, a Fazenda Pontal faz leitura de cocho. Se, na hora do trato, o recipiente estiver limpo, Soares aumenta a quantidade fornecida em 100 g/cabeça. Se observa uma sobra pequena, mantém a quantidade distribuída até então. Se constata sombra grande, reduz o trato seguinte em 100 g/cabeça e procura descobrir a causa da queda no consumo, como problemas no bebedouro, por exemplo. Água suja diminui o consumo do animal. Adepto de tecnologias que agregam valor a seu produto final, Fabiano Tavares começou a fazer avaliação de carcaças por ultrassonografia, em 2018. Sua ideia é passar a formar os lotes de acordo com capacidade de ganho em carcaça dos animais(1 kg/cab/dia) e estruturar-se para terminá-los com 21@ aos 24 meses, dentro do conceito do boi 7-7-7. n



Nutrição

Cuidar da vaca é cuidar do bezerro Negligência com a alimentação da matriz gestante pode ser a causa do insucesso produtivo em bovinos de corte

A

bovinocultura de corte está sujeita à sazonalidade de produção forrageira. Aliando-se este fato à adoção de estações de monta bem definidas, com início em novembro e término em janeiro, é inevitável que haja uma queda na oferta e qualidade das pastagens ao longo da gestação das fêmeas. Diversos trabalhos tentam entender os impactos da restrição nutricional no desenvolvimento da progênie. Para muitos, isso ainda é algo inimaginável. Contudo, um estudo recente com 30 animais Angus, divididos em dois subgrupos, publicado na revista científica BMC Genomics por pesquisadores da Universidade do Estado de Iowa e da Universidade Federal de Viçosa, MG, comprovou os efeitos da nutrição gestacional sobre o desenvolvimento dos bezerros. Um subgrupo recebeu alimentação adequada (controle) e o outro uma dieta que atendia apenas 70% de seus requerimentos de mantença, durante os 40 dias finais do período gestacional. Após o nascimento, as matrizes e as progênies de ambos os grupos foram manejados conjuntamente e receberam o mesmo tratamento alimentar, de modo que a única variável fosse a alimentação na fase gestacional. Após a desmama, as crias de ambos os grupos foram submetidas a condições de desafio para avaliação da resposta imune, em virtude de alterações da nutrição materna durante o período gestacional. Depois, 21 dias após o tratamento, foram coletadas amostras para avaliação do transcriptoma de seus tecidos muscular e sanguíneo. A partir de tal análise, é possível identificar a expressão de grande números de genes e desvendar quais processos biológicos relevantes foram ou não alterados em virtude da nutrição materna durante a gestação. Um resultado importante foi a maior expressão de genes envolvidos em metabolismo de glicose e ácidos graxos no músculo da progênie de matrizes que sofreram restrição energética na gestação. Dentre tais genes, encontra-se o SYT3, que está envolvido em processos de resistência à insulina, sugerindo assim que animais oriundos de matrizes que sofreram restrição energética durante a gestação podem ter dificuldade de assimilação de glicose pelo tecido muscular esquelético. Além disso, nestes mesmos animais, foi identificada maior expressão de genes envolvidos no metabolismo de ácidos graxos, que são unidades menores formadoras do tecido adiposo. Assim, é possível que tais mecanismos possam implicar em redução da deposição de gordura de marmoreio na carne destes ani-

94 DBO novembro 2018

Foto: UFV

Leticia Maria Pereira Sanglard, estudante de doutorado da Universidade do Estado de Iowa, EUA. Colaboraram Márcio Duarte e Nick Serão, da Universidade Federal de Viçosa (UFV), e Nicola Serão, do Iowa

Experimento mostrou que nutrição gestacional interfere na desenvolvimento e saúde do bezerro.

mais, uma vez que a glicose é a principal fonte de carbono para deposição dessa gordura tão desejada pelo mercado consumidor. Em relação ao sistema imune, os resultados do estudo demonstraram que animais oriundos de matrizes que sofreram restrição energética durante a fase gestacional apresentaram menor expressão de genes que indicam melhoria na resposta imune frente ao desafio imposto a eles. Tal resultado assinala que não fornecer alimentação adequada às vacas no final da gestação prejudica a resposta imune da progênie, podendo acarretar prejuízo no desempenho produtivo do animal ao logo de sua vida. Novos trabalhos se encontram em fase de execução pelo Grupo de Pesquisa em Nutrição Gestacional e Programação Fetal, liderados pelo professor Márcio Duarte, da UFV e por Mateus Gionbelli, da Ufla, em parceria com Nicola Serão, da Universidade do Iowa. O objetivo dessa pesquisa é delinear estratégias nutricionais maternas, durante o período gestacional, que possam ser aplicadas na prática, de modo preciso, para produção de animais de acordo com a demanda do mercado. n


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Instalações

Modelo inovador de aspersão reduz custo de manutenção e deve girar em meia lua (180º), para não molhar o telhado.

Chuva do telhado Aspersores instalados na cobertura dos cochos do confinamento reduzem problemas como quebra de canos por pisoteio. Renato Villela

Arquivo DBO

renato.villela@revistadbo.com.br

Outra opção para evitar quebra são os postes de concreto protendido

96 DBO

Implantar um sistema de aspersão nos piquetes do confinamento ajuda a reduzir a poeira e, consequentemente, a ocorrência de doenças respiratórias como a pneumonia, mas frequentemente o produtor enfrenta problemas com esses equipamentos, como a quebra de algum cano, devido ao pisoteio dos bois, ou de aspersores, já que os bovinos têm o hábito de se coçar nos postes onde os dispositivos são fixados. Por vezes, a própria base de apoio do aspersor não suporta a pressão e tem de ser trocada. Para contornar esses problemas, o agrônomo Leandro Ribeiro Fernandes, sócio proprietário da Water Tech, de Araçatuba, SP, aproveitou o telhado que cobre a linha de cocho do confinamento para instalar os aspersores, deixando toda a tubulação do lado de fora dos piquetes. “Além de eu não ter problemas com manutenção frequente do material, sobrou mais espaço para os animais, pois não precisamos colocar estacas ao redor dos aspersores para protegê-los”, explica. Materiais resistentes A ideia do agrônomo de posicionar os aspersores sobre o telhado é recente. Foi colocada em prática

novembro 2018

em um dos projetos de confinamento que montou neste ano. Fernandes “cobriu” o telhado da linha de cocho com aspersores dispostos a 20 metros uns dos outros, distância correspondente ao raio de alcance do jato d`água. “É o suficiente para umedecer até o fundo do piquete”, garante. Os aspersores, que são fixados na própria estrutura metálica da cobertura, giram em meia lua (180°) e não em 360°, como é usual nos piquetes. “Não queremos molhar em cima do telhado, porque a água vai escorrer e formar lama”, explica o agrônomo Leandro Fernandes. Os dois aspersores localizados no começo e no final da linha de cocho giram 90°, porque não há necessidade de cobrir a meia lua nas extremidades. Fernandes diz que os aspersores são do tipo “rotor”, utilizados em gramados de futebol e campos de golfe. “O tamanho da gota d’água lançada por eles é menor, para não incomodar os animais. Além disso, esses modelos não fazem barulho, ou seja, não assustam o gado”, diz. Materiais resistentes Como nem sempre os confinamentos têm cochos cobertos, quem optar por instalar os aspersores dentro do piquete deve tomar alguns cuidados. Um deles é usar materiais que suportem a ação dos bovinos. O consultor Tiago Fernandes, da Irrigaboi, de Jales, SP, recomenda ao produtor usar postes de concreto protendido (mais resistentes) para sustentar os aspersores. O ideal é trabalhar com postes com 2,5 metros de comprimento, dos quais 1,5 metro ficará enterrado no solo. A protensão é uma tecnologia que confere ao concreto maior resistência à tração, sendo indicada para situações em que o material sobre alto nível de flexão, como no caso dos aspersores em confinamentos. “Os bois podem encostar, coçar e brincar à vontade com os postes que eles não quebram. Funcionam até mesmo como um dispositivo anti-estresse para os animais”, diz Fernandes. Segundo ele, o cano em cuja ponta é fixado o aspersor não se danifica, pois é feito de polietileno de alta densidade (pead) e fica alojado em uma reentrância (cava) do poste de concreto, no qual é fixado por arames (veja foto ao lado). O consultor lembra que, ao instalar um sistema de irrigação, o pecuarista tem de considerar o “diâmetro a ser molhado”, que deve ser igual ou próximo à largura do piquete. “Em um confinamento cujos piquetes têm 40 m de fundo, por exemplo, o aspersor deve atingir 40 m de diâmetro, para molhar da beira do cocho até a extremidade inferior do piquete”. De acordo com Fernandes, o sistema de aspersão deve garantir, diariamente, uma lâmina d`água de 2,8 a 3,5 mm, o equivalente a 2,8 -3,5 litros de água por metro quadrado, para manter o solo úmido e evitar a formação de poeira. Esse volume não deve ser lançado de uma única vez, mas ao longo do dia. n



Genética

Acima, touros da Agropecuária Jacarezinho, uma das pioneiras do CEIP, e, ao lado, um exemplo do certificado, emito pelo Programa Nelore Qualitas.

Mercado de CEIP em alta Números obtidos com exclusividade por DBO mostram que esse segmento cresceu de forma expressiva nos últimos anos. Reportagem de Denis Cardoso e Carolina Rodrigues

C

Neste ano, devem ser certificados 33.159 animais” Cézar Franzon, presidente do Conceip

om 23 anos de existência, o CEIP (Certificado Especial de Identificação e Produção), regulamentado pelo Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) em 1995, vem ganhando espaço no mercado de genética Nelore. O número de produtores adeptos desse tipo de seleção aumentou 23,5% nos dois últimos anos, passando de 246 para 304, com rebanho estimado em 2,3 milhões de cabeças, conforme levantamento feito pelo Conceip, entidade representativa dos programas emissores de CEIP. A quantidade de matrizes avaliadas também cresceu bastante – de 379.000, em 2016, para 442.118, em 2018 (alta de 16,6%). Neste ano, deverão ser certificados 33.159 animais, nos oito programas que participam do Conceip, sete deles dedicados à seleção de Nelore. “Desse total, 13.625 são tourinhos, em sua maioria destinados à

98 DBO novembro 2018

cobertura a campo, mas também temos aumentado nossa participação nas Centrais. Hoje, temos 199 touros em coleta, ante 151 em 2016, 31,6% a mais”, informa César Franzon, presidente do Conceip. Devido à importância crescente do segmento, a Associação Brasileira de Inseminação Artificial (Asbia) decidiu diferenciá-lo do Nelore PO em suas estatísticas da raça Nelore. Ao fazer isso, constatou aumento de 10% nas vendas de sêmen, que passaram de 488.023, em 2015, para 537.526 doses, em 2016, abocanhando 23,6% do mercado total de Nelore detido pela Asbia, que, à época, era de 2,3 milhões de doses. Em 2017, a entidade registrou queda de 6% nas vendas de sêmen de touros CEIP e crescimento de 10% nas de Nelore PO, mas, segundo Sérgio Brito Prieto Saud, presidente da Asbia, foi um ano atípico, por causa dos escândalos que abalaram o setor. Pode, portanto, ter-se tratado de uma queda pontual, inclusive porque não ocorreu em centrais fora da Asbia, como a ST Repro, que vende somente sêmen de touros “ceipados” (veja box ao lado). Se consideradas essas empresas, o segmento já estaria comercializando expressivas 750.000 doses de sêmen/ano. Preços firmes No mercado de leilões, também se observa crescimento nas vendas de animais “ceipados”, segundo Lourenço Campo, da Central Leilões, de SP. “Acredito que já sejam realizados pelo menos 40 remates de criatórios CEIP no País, incluindo os chamados shoppings. Somente nós fazemos 22. Observamos um aumento de 20% na oferta de touros ceipados, Principais números do mercado CEIP Indicadores

2016

2018

Número de produtores

246

304

Estados Matrizes na base de avaliação Touros em centrais Doses de sêmen comercializadas*

17

18

379.000

442.118

151

199

600.000

750.000**

Fonte: Conceip. *Dados consideram vendas da Asbia e de outras centrais - **Estimado


em nossos leilões, entre 2017 e 2018, porque os programas de melhoramento entraram em uma fase de maturação grande e isso garante maior segurança aos compradores”, explica o leiloeiro. Franzon, do Conceip, estima que, dos 13.625 machos classificados anualmente pelos programas, 90% são vendidos em leilões. O preço médio dos touros também subiu. A base de dados de DBO registrou incremento de 30% a 50% em remates de dois criatórios pioneiros do segmento (CFM e Jacarezinho), entre 2008 e 2018. Há 10 anos, os machos dessas empresas eram vendidos à média de R$ 7.000/cab e, hoje atingem facilmente a cifra de R$ 9.000 a R$ 15.000. A Vera Cruz Agropecuária, do Grupo Otávio Lage, com sede em Goianésia, GO, vendeu 119 machos, neste ano, pela média de R$ 9.050/cab, segundo informou Fábio Maya, gerente de pecuária da empresa. “Além de conseguirmos preços médios 20%-30% acima do mercado regional, observamos grande liquidez (venda rápida) desses animais”, acrescenta Maya. A Vera Cruz participa do Programa Cia de Melhoramento e comercializa cerca de 500 touros/ano com avaliação genética, 50% CEIP e 50% PO. Com 3.250 matrizes mantidas na Fazenda Bandeirantes, em Araguaçu, TO, a empresa também tem gado comercial e busca uma genética de ciclo curto. A Fazenda Santo Ernani, em Barra do Bugres, MT, também tem conseguido boa média por seus touros (R$ 8.130/cab). “Valor 20% superior ao de reprodutores não avaliados na região “, diz seu gerente de pecuária, Renan Antonelli. Visão das centrais Há 10 anos, a contratação de reprodutores CEIP pelas grandes centrais de inseminação era pequena. Hoje, eles já representam mais de 20% do portfólio dessas empresas. Na Alta Genetics, por exemplo, os touros “ceipados” são 10 de um total de 39 contratos em 2018 (26%); na ABS Pecplan, 7 de 30 (23%), na CRV Lagoa, 12 de 31 (39%) e na Genex (antiga CRI), 19 de 93 (30,6%). Essa participação crescente de touros CEIP nas baterias tem várias razões. A principal delas, segundo Tiago Carrara, gerente de mercado da Alta Genetics, é o fato de os programas de melhoramento CEIP já terem nascido com foco em produtividade. “Os produtores que seguiram esse caminho fizeram ótimo dever de casa. Desde a década de 80 e início dos anos 90, quando surgiram os primeiros projetos, antes mesmo da certificação oficial, seu foco sempre foi produtividade, acima da questão racial. Hoje, existem diversos criatórios, tanto CEIP quanto PO, seguindo critérios equivalentes e isso é bom para a raça”, diz. Segundo Carrara, o mercado está numa fase em que o trabalho dos criatórios faz mais diferença do que o dos programas de melhoramento. “Cabe ao pecuarista escolher a genética que melhor atende suas demandas, por meio de uma análise crítica da serieda-

de no descarte, pressão e intensidade de seleção. Essa situação é extremamente bem vinda, ao possibilitar maior variabilidade de escolha, seja CEIP ou PO”, explica o executivo, salientando que os criatórios que buscam melhor eficiência nas fêmeas estão mais alinhados com as demandas do mercado atual. Gustavo Morales, gerente de Produto Corte Zebu da ABS Pecplan, tem opinião semelhante. “O CEIP está crescendo porque se consolidou como ferramenta de produtividade, bandeira que assumiu desde o início. O tempo de trabalho faz diferença”, diz o executivo, salientando, porém, que não se trata de uma prerrogativa des-

Bateria 100% CEIP A central de genética ST Repro, controlada pela norte-americana Sexing Technologies e sediada em Indaiatuba, SP, tomou uma decisão ousada: comercializar somente sêmen de touros Nelore CEIP. “Acreditamos ser este o modelo de seleção que mais garante incremento da produtividade no rebanho, por meio da maior Raçador Assis AJ, destaque da bateria precocidade e qualidade de da ST Repro reunida em Itatinga, SP carcaça”, diz Gabriel Crepaldi, diretor comercial da empresa, acrescentando que a ST Repro mantém, em seu catálogo, 22 touros Nelore “ceipados”, hoje reunidos na Seleon Biotecnologia, em Itatinga, SP, que presta serviços de coleta e processamento de sêmen para a central. O destaque dessa bateria, informa Crepaldi, é o raçador Assis AJ, provado em 2015 e com 130.000 doses vendidas nos últimos três anos. Em 2017, a ST Repro, que não é associada à Asbia, comercializou 180.000 doses de sêmen de Nelore CEIP, ante 110.000 doses, em 2016, e 52.000 doses, em 2015. Na opinião de Crepaldi, a forte pressão de seleção empregada nos programas de melhoramento CEIP permite efetivamente filtrar os melhores touros de cada safra. “Os animais que integram a bateria da ST Repro passam por um funil ainda mais apertado, pois apenas 20 a 25 animais de cada safra são escolhidos para um rigoroso teste de progênie, que indica os touros a ser contratados”, diz. O diretor da ST Repro salienta que os programas CEIP selecionam tanto animais registrados na ABCZ (Associação Brasileira de Criadores de Zebu) quanto animais “cara limpa”, sob condições de igualdade. “O importante é que tenham se destacado em desempenho, mantendo suas características raciais e funcionais”, afirma. Crepaldi diz que muitos projetos têm evoluído com a metodologia CEIP, seja em precocidade, emprenhando fêmeas com 14 meses de idade, seja em produção de carne, devido à maior velocidade de acabamento dos machos, maior rendimento de carne e distribuição inteligente de peso na carcaça. Para auxiliá-los nesse trabalho, a empresa lançou, no ano passado, o software PecPRO, que ajuda a programar atividades, como estações de monta, inseminação artificial em tempo fixo e transferência de embriões, além de controlar dados do rebanho (pesagens, gerenciamento de lotes, nascimentos etc).

DBO novembro 2018 99


Genética Principais Programas de Nelore autorizados a emitir CEIP Nomes

Fundação

Agropecuária CFM

1982

Delta Gen

1993

Paint

1994

ANCP

1997

Qualitas

2002

Nelore de produção

2002

Cia de Melhoramento

2015

Nelore de Geneplus

1997

Fonte: Mapa/Adaptação DBO

O número de matrizes CEIP avaliadas cresceu 16,6%, de 2016 para 2018.

Observamos um aumento de 20% na oferta de touros ceipados” Lourenço Campo, da Central Leilões

Já ultrapassamos a marca de 15.000 bovinos certificados” Marcelo Almeida, da Cia de Melhoramento

se segmento de seleção. “Também temos resultados produtivos excepcionais em projetos PO”, diz. Juliana Ferragute, gerente de Produto Corte da Genex, também faz questão de salientar que existe qualidade genética nos dois tipos de seleção, mas atribui o crescimento do CEIP às regras claras estabelecidas pelo Mapa, que permite certificar no máximo 30% da produção de machos, descartando-se os 70% restantes. “A pressão de seleção é determinada de maneira bem mais objetiva. Já os criatórios PO contam com um janela maior para a subjetividade, porque o produtor pode comercializar 100% de sua safra ou manter animais menos produtivos no plantel em função de sua caracterização racial, embora isso esteja ficando cada vez mais difícil, devido à pressão exercida pelos programas de melhoramento”, lembra Juliana. Pioneira na contratação de touros CEIP, muito em função do Paint (Programa de Avaliação e Identificação de Novos Touros), a CRV Lagoa já teve 70% de seu portfólio composto por animais oriundos desse programa, mas, desde 2016, tem aberto mais espaço ao chamado “PO de produção”, com avaliação em sumários. Segundo Ricardo Abreu, gerente da central de Sertãozinho, SP, o CEIP sempre esteve no DNA da empresa, que acumula um histórico de investimentos pesados neste produto. “Justamente por sermos líderes nesse segmento é que decidimos diversificar mais nossa oferta, atendendo uma demanda de pecuaristas, que também enxergam o touro PO de produção como uma fonte confiável de melhoramento genético”, justifica Abreu, lembrando, contudo, que a empresa continua acreditando no conceito de seleção CEIP, cujo mercado ajudou a consolidar. Expansão dos programas O site do Mapa lista 25 programas de melhoramento autorizados a emitir CEIP no País, 18 deles voltados à seleção de Nelore. Na década de 90, eram

100 DBO novembro 2018

apenas cinco. Os mais antigos são os da Agro-Pecuária CFM (intrarebanho), o Paint da CRV Lagoa e a Conexão Delta Gen, com participantes de várias partes do País. A Conexão, por exemplo, reúne 35 fazendas e rebanho de 200.000 cabeças, acumulando 700.000 avaliações. É responsável por 60% das vendas totais de sêmen Nelore CEIP no Brasil e tem 85 touros em centrais, segundo informa seu gerente técnico, Rodrigo Dias. “Sempre buscamos um equilíbrio entre produtividade e fenótipo. Não pensando em beleza, mas em funcionalidade. Touros como Kulau, da Jacarezinho, teriam sido descartados pelo critério da beleza, mas fizeram história. Agora, que temos 5.500 machos candidatos a touro por safra, podemos escolher os mais produtivos que têm boa caracterização racial. Vivemos uma confluência interessante, na qual o CEIP ficou mais bonito e o PO mais produtivo”, diz. O caso da Cia de Melhoramento é interessante e indica ventos favoráveis ao mercado CEIP. Criado em 2015, após uma cisão no Paint, esse programa cresceu muito em três anos. Começou com 50 fazendas em 13 Estados brasileiros, Paraguai e Colômbia, com rebanho de 50.000 cabeças, e hoje tem 65 participantes, totalizando 68.000 animais. O programa já tem um banco de dados com mais de 550.000 avaliações e 15.000 bovinos certificados, além de 40 touros selecionados para teste de progênie e 12 em coleta nas centrais. Marcelo Almeida, diretor da Cia de Melhoramento, atribui esse crescimento ao foco do CEIP em produtividade e ao Projeto Genômica 100%, que permitiu a genotipagem de 100% dos touros produzidos pela Cia. “Isso nos proporcionou incremento de 40% na acurácia, levando alguns produtores a inseminar 60% de seus planteis com touros do teste de progênie (machos de 15-22 meses)”, explica o executivo. Outro programa CEIP relativamente “jovem” que também tem crescido é o Qualitas, cujo plantel em avaliação passou de 4.000 para 35.000 matrizes em sete anos, com foco total em produtividade, por meio de seu projeto 20-20 (20@ aos 20 meses), conforme mostrou reportagem de DBO, na edição de outubro. n



Genética

Novas regras para o mercado de sêmen Normativa do Mapa atualizará requisitos zootécnicos para contratação de touros, com base em critérios estabelecidos pelas associações de raças.

M

uito em breve, as centrais de inseminação artificial terão novas regras para contratar touros. As discussões sobre o tema ganharam fôlego em agosto, durante uma reunião a portas fechadas na ExpoGenética, em Uberaba, MG, da qual participaram representantes da Associação Brasileira de Criadores de Zebu (ABCZ), do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), da Associação Brasileira de Inseminação Artificial (Asbia), de programas de melhoramento e algumas empresas de inseminação. Na ocasião, a ABCZ propôs uma flexibilização das regras atuais, para permitir que animais PO não participantes de programas de melhoramento também possam ter seu sêmen vendido no País. Hoje, esse tipo de avaliação é pré-requisito para contratação de touros pelas centrais. A proposta foi recusada pelo Mapa, mas deflagrou um intenso debate, que se intensificou nos dois últimos meses e deverá resultar na publicação de uma nova instrução normativa sobre o tema, já no primeiro semestre de 2019. A flexibilização defendida pela ABCZ é considerada polêmica, mas, segundo Luiz Antônio Josahkian, superintendente técnico da entidade, ela se justifica por attualle comunicação

Para ser doador de sêmen, o touro terá não apenas de ser avaliado por um programa, mas também ser superior em certos indicadores de desempenho.

Carolina Rodrigues

102 DBO novembro 2018

três motivos. Primeiro, as centrais estariam dando peso excessivo aos animais classificados como TOP 0,1% nos sumários, criando distorções comerciais. Segundo: o modelo vigente partiria da ideia simplista de que todos os rebanhos ou fazendas precisam do mesmo tipo de genética. Terceiro: as regras atuais seriam excludentes. “Se o touro é TOP 0,1%, tem valor; se não é, está fora, mas temos muita coisa interessante entre o TOP 0,1% e TOP 10%, por exemplo, ou em fazendas não participantes de programas, que representam 70% da população zebuína”. Josahkian reconhece a importância das DEPs, mas adverte: “São predições, não oráculos infalíveis”. A ABCZ acredita que o livre comércio de sêmen daria maior autonomia ao mercado, sem as amarras comerciais que estariam penalizando bons animais. Revisão necessária A Portaria 07 que estabelece critérios para contratação de touros tem mais de 30 anos. Foi publicada em 20 de julho de 1987, quando os programas de melhoramento ainda estavam engatinhando no Brasil. “É preciso adequar a ‘essencialidade’ do documento à atual realidade de mercado”, admite a zootecnista Raquel Caputo, fiscal agropecuária do Mapa. Ela vem discutindo a questão com a Asbia e as associações de raça, incluindo a ABCZ, que foi convidada a apresentar uma nova proposta de revisão das normas. Segundo Raquel, o pedido de maior liberalização nas vendas de sêmen não foi aceito porque o mercado não está suficientemente maduro para isso. “Muitos produtores ainda têm dificuldade para interpretação e percepção do melhoramento genético. Poderia haver perda de avanços obtidos. Junto com as associações, iremos definir critérios essenciais para cada raça e, dessa forma, atenderemos também um pouco do pleito da ABCZ”, diz. Segundo Kléber Villela, coordenador de Produção Animal da Secretaria de Desenvolvimento e Cooperativismo (SDC/Mapa), todos os setores estão sendo ouvidos, porque não cabe ao Mapa definir critérios ou parâmetros para difusão de material genético. “Essa é uma prerrogativa das associações de raças”, explicou o representante do Mapa, ressaltando que a revisão das regras atuais é necessária, dadas as mudanças ocorridas no mercado. Apenas no primeiro semestre de 2018, as vendas de sêmen cresceram 14%, em relação a igual


alphapress comunicação

Normas podem ajudar centrais na triagem de touros para coleta de sêmen

período de 2017, passando de 2,57 milhões para 2,93 milhões de doses. “Precisamos modernizar o processo de certificação zootécnica para comercialização desse tipo de material, porque os reprodutores hoje têm sua genética propagada de forma exponencial por meio da IATF”, salientou Villela. Atualmente, para fazer parte do “time” de uma central de inseminação, um touro deve possuir registro genealógico ou CEIP (Certificado Especial de Identificação e Produção), ser avaliado por um programa de melhoramento genético, apresentar comprovação de paternidade por meio de microssatélites de DNA e ter exame andrológico positivo. No caso de animais jovens, aceitam-se informações de desempenho fenotípico e DEPs de pedigree como “garantia” para a venda de sêmen. Dos mais erados, exige-se uma “confirmação” da superioridade genética, mas sem determinar em quantas características ele precisa ser positivo, nem quais delas são fundamentais para determinada raça. Após a contratação, mesmo que a progênie avaliada mostre que o animal é negativo, ele pode permanecer em coleta. Fica a critério das centrais mantê-lo ou não no mercado e, ao produtor, multiplicar ou não sua genética. Que mudanças esperar A nova normativa, pelo que apurou DBO, estabelecerá, como critério de escolha dos touros, alguns indicadores de desempenho considerados essenciais pelas associações de raças, a partir dos programas de melhoramento. Tais indicadores seriam atualizados anualmente, permitindo a retirada de animais negativos do mercado e garantindo a qualidade do material genético comercializado no País. As mesmas regras seriam aplicadas aos criadores que produzem sêmen para uso próprio e utilizam centrais prestadoras de serviço, pois não é possível evitar que essa genética saia da fazenda, seja por meio da venda de novilhas

ou do próprio touro. Villela reforça que o comércio de sêmen somente pode ser feito por empresas credenciadas pelo Ministério ou por criadores, desde que respeitem os critérios vigentes, fator que reduz o risco de se colocar no mercado um material sem procedência e com agravantes, como doenças sexualmente transmissíveis e defeitos genéticos. A revisão da Portaria 07 já era esperada, pois, em 2014 o Mapa publicou uma normativa alterando as regras para importação de sêmen e já adotou, como critério de escolha dos reprodutores, uma lista de indicadores genéticos estabelecidos pelas associações de raça. No caso da importação de sêmen de Angus dos Estados Unidos, por exemplo, exige-se que o touro apresente desempenho acima da média, no sumário da American Angus Association, para pelo menos três dentre cinco características pré-definidas (peso à desmama, peso ao ano, peso de carcaça, gordura subcutânea e marmoreio). Segundo Villela, estava na hora de adotar esse tipo de requisito zootécnico também para o mercado doméstico. Posição das centrais As centrais vêm as mudanças com bons olhos. “Como, hoje, há muita oferta de animais de qualidade, uma regulamentação mais definida pode ajudar as empresas na triagem dos animais e criar um novo ‘degrau’ no mercado de sêmen”, diz Juliana Ferragute Leite, gerente de Produto Corte da Genex (antiga CRI Genética Brasil). Neimar Severo, da Alta Genetics, concorda com a concorrente, mas não prevê grandes mudanças. “Nossa posição como empresa multiplicadora de genética é escolher animais positivos, mesmo utilizando uma portaria antiga. Sempre fomos muito rigorosos na contratação dos animais”, garante. Para Sérgio de Brito Prieto Saud, presidente da Asbia, as novas regras deverão, sim, trazer mudanças. “Como a lei era muito vaga, ficava a critério do técnico definir o que era ou não melhorador. Essa subjetividade é ruim”. Segundo Saud, nenhum setor avança se não for regulamentado. “Isso não significa travar ou burocratizar; significa criar regras para que as operações sejam claras e objetivas”, diz. A Asbia participou ativamente dos debates sobre os novos requisitos zootécnicos para venda de sêmen. Dentre suas sugestões, consta uma maior valorização da genômica como ferramenta complementar na escolha dos touros, desde que as informações de DNA estejam associadas a avaliações fenotípicas convencionais. A proposta está sendo avaliada pelo Mapa. Para especialistas ouvidos por DBO, como as centrais têm hoje muito poder para definir o que entra ou não no mercado e estão sujeitas, como quaisquer empresas, a pressões comerciais ou políticas, critérios técnicos mais definidos para contratação de touros podem minimizar eventuais distorções. n

É importante relativizar a importância excessiva dada ao TOP 0,1% Luiz Antônio Josahkian, superintendentetécnico da ABCZ

Precisamos modernizar o processo de comercialização de material genético no País Kléber Villela, coordenador SDC/ Mapa

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Genética

Lucratividade pauta a Goiás Genética

A

busca incessante do pecuarista pelo animal mais lucrativo foi o foco da 8ª Goiás Genética, realizada em Goiânia, capital de Goiás, no período de 26 a 29 de setembro. O evento da Associação Goiana dos Criadores de Zebu (AGCZ) teve a parceria do Fundo para o Desenvolvimento da Pecuária em Goiás (Fundepec) e da Sociedade Goiana de Pecuária e Agricultura (SGPA). “O animal mais lucrativo depende, antes de tudo, da estrutura do negócio”, disse Roberto Sainz, PHD em Nutrição Animal pela Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, na palestra que abriu o primeiro dia de apresentações. Nele, a maciez da carne tornou-se pano de fundo para o debate dos palestrantes, que emitiram conceitos praticamente idênticos. Para Sainz, que assessora alguns projetos no Brasil, “a busca da qualidade começa com a genética, passa pela nutrição, ambiente, fatores de pré-abate, resfriamento, processamento agregado e método culinário”. Mas, chamou a atenção para um detalhe importante. “Para conseguir carne macia o pecuarista precisa produzir uma carcaça adequada”. Em sua palestra, o pesquisador abordou também a questão da reposição de energia para o ganho de peso e exigência de mantença. Para uma pecuária moderna, destacou a necessidade de introdução de chips e botons nos animais, objetivando seu acompanhamento detalha-

do praticamente hora a hora, principalmente para controlar os gastos no cocho. Desenvolveu algumas simulações, apresentando os resultados de ganho de peso, dados que ganharam complemento na apresentação de Renato Tângari Dib, professor do curso de Zootecnia e Medicina Veterinária da Universidade Estadual em São Luiz de Montes Belos, no dia seguinte, sobre estratégias de manejo da fase da recria. Entre os diferentes sistemas expostos, o professor evidenciou as vantagens do “sequestro” como alternativa para melhorar a eficiência do ganho de peso em um período de escassez de alimentos. Segundo Dib, podem existir ganhos na ordem de 0,6 a 0,8 kg/animal/dia, até a possibilidade de retornar aos pastos, mantendo o ganho de peso. O custo da arroba produzida neste sistema fica abaixo do valor de mercado da arroba do bezerro, que é a mais valorizada entre as categorias. O professor também frisou a importância da nutrição das matrizes na fase embrionária, que, junto com a recria estratégica no período das águas, permite trabalhar no sistema de produção do “boi 2222”, ou seja, bois com 22 meses com 22 arrobas. Segundo ele, a nutrição no terço médio e final da gestação, mais a quantidade de quilograma de bezerro desmamado por vaca exposta à reprodução e as estratégias inteligentes na recria são fatores indispensáveis para o sucesso econômico da atividade. A genética também foi apontada como ferramenta para aumento da lucratividade em fazendas produtoras de touros, tema que ganhou um dia inteiro (28) de apresentações a cargo dos programas de melhoramento ANCP, PMGZ, Delta Gen, PAINT e Qualitas, dois deles voltados para o gado PO e os outros três emissores de CEIP (Certificado Especial de Identificação e Produção). A mostra terminou com a venda de 70 reprodutores do rebanho da Embrapa Arroz e Feijão, entidade que trabalha em diferentes frentes de pesquisa relacionadas ao melhoramento genético da raça Nelore, incluindo a maciez da carne.

CORT Genética abre filiais no Centro-Oeste A CORT Genética Brasil, empresa de comercialização de sêmen com sede em Uruguaiana, RS, agora está presente no Centro-Oeste. O primeiro escritório foi inaugurado há quatro meses em Cuiabá, MT, e o segundo no início de outubro, em Campo Grande, MS, com parcerias já instituídas com empresas do setor como a Personal PEC, ligada à área de reprodução animal. Antônio Cabistani, diretor da CORT, explica que a abertura de novas praças resolve o problema de logística na

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distribuição de material genético de raças europeias e sintéticas para a região, que tem demonstrado demanda crescente nos últimos anos em função dos inúmeros projetos de cruzamento industrial. A expectativa é estruturar bancos de sêmen mais próximos do Brasil Central e atender às grandes regiões de pecuária. A empresa foi uma das pioneiras no uso

de marcadores moleculares na contratação dos touros de sua bateria, que somaram, no catálogo lançado em julho deste ano, cerca de 130 produtos, com predomínio das raças Angus, Brangus, Braford e Hereford, alguns já identificados como homozigoto de pelagem preta, também considerados animais mais puros; e maciez da carne, característica, altamente preconizada pelo mercado.


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Santa Silvéria é vitrine do Bonsmara

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Formada em psicologia, Clélia Pacheco conta como se tornou pecuarista e construiu um verdadeiro patrimônio genético da raça no interior de São Paulo.

Fazenda deixou de produzir animais comerciais em 2010, quando redirecionou seu projeto para a pecuária seletiva.

Q

CAROLINA RODRIGUES

uando assumiu a Fazenda Santa Silvéria, em Piratininga, SP, após o falecimento abrupto do pai, em 1990, Clélia Pacheco não tinha a menor ideia do que fazer para manter a propriedade originalmente estruturada para a cafeicultura. Sabia pouco sobre pecuária e absolutamente nada sobre Bonsmara. Não imaginava a trajetória que percorreria a partir desse ano, até se transformar em uma das principais referências do País na seleção da raça. Presidente da ABCB (Associação Brasileira de Criadores de Bonsmara) em dois mandatos, ela é uma principais lideranças femininas do setor, tendo, inclusive, ajudado a fundar o Núcleo Feminino do Agronegócio (NFA). Sua carreira começou como tantas outras hitórias de sucessão no País. Clélia recebeu cerca de 120 vacas mestiças e uma área total de 1.240 hectares, sem pastagens de qualidade, sem boas cercas e, principalmente, sem direcionamento. “Meu pai estava desanimado com a atividade. A fazenda vinha de uma fase de transição para a pecuária, devido a uma crise brava no setor cafeeiro. Foi uma fase muito difícil para a família”, lembra. Formada em psicologia experimental, ciência que analisa o comportamento observável a fim de testar modelos e teorias matemáticas sobre diversos aspec-

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tos, Clélia intuía que era preciso encontrar uma função para aquela área e torná-la sustentável em curto espaço de tempo. De imediato, percebeu a necessidade de aumentar a qualidade do pasto para alojar um maior número de vacas e touros. Ousada, fez um empréstico no banco (atividade considerada ousada para as condições da fazenda na época) e plantou milho. Com o dinheiro da colheita, fez as primeiras compras de gado e a primeira reforma nas pastagens. “Foi quando comecei a apartar fundo, meio e cabeceira do gado que ia nascendo, em uma decisão quase que intuitiva”, conta a produtora. Clélia passou a vender os melhores animais em leilões regionais, prática que lhe deu traquejo comercial e conhecimento para comparar sua produção com a de outros criadores. Ela lembra que seu gado tinha desempenho irregular, desmamava abaixo da média e, por isso, deixava a desejar na batida do martelo do leiloeiro. “Então decidi trazer genética para dentro de casa. Fiz meu primeiro curso de inseminação artificial na ABS Pecplan, em Uberaba, MG, onde percebi que era possível aumentar a qualidade do rebanho com sêmen Aberdeen Angus”. Da primeira inseminação, nasceram 60 bezerros de 120 vacas, que se desenvolveram acima da média de peso da fazenda, registrando a melhor desmama até então.


A criadora viu no cruzamento industrial uma saída para intensificar a produção, já que, com o tamanho da fazenda e sua localização – a 18 Km de Bauru – seria difícil obter remuneração adequada com cria convencional. Clélia fez cruzamentos com ótimos resultados. No final da década de 1990, já com 1.000 matrizes Guzonel e meio-sangue Angus/Nelore, estabeleceu a primeira estação de monta da fazenda para padronizar a desmama no mês de abril. O primeiro objetivo era separar parte da produção para terminação em confinamento, estratégia que lhe permitiu “engordar” também o caixa da Santa Silvéria e olhar para o que precisava ser ajustado na fazenda. O segundo era garantir participação no Leilão Cruza. Promovido pelo criador Álvaro Borges, esse remate era referência em venda de bezerros de qualidade na região de Bauru e ofertava cerca de 400 machos por ano. Impasse comum O interesse pela raça Bonsmara nasceu somente nos anos seguintes, quando a Santa Silvéria se deparou, como outras fazendas que faziam cruzamento industrial, com um grande dilema: se usasse raças zebuínas sobre fêmeas F1, produziria um animal tardio; se recorresse a um europeu, teria um gado mais exigente e menos rústico. Outra saída seria fazer cruzamento terminal (abate de todos os machos e fêmeas F1). Clélia, porém, considera a fêmea meio-sangue a melhor matriz do rebanho. “É rústica e tem boa habilidade materna”, justifica. Um dia, ao participar de um congresso de carne de qualidade no Hotel Hilton, na capital paulista, ela ouviu Carlos Maluhy, criador de gado Montana, falar sobre o Bonsmara, raça de origem africana tida como excelente opção para o “terceiro cruzamento”. Clélia arregalou os olhos: “Fiquei encantada com o que ouvi e achei que podia ir muito além do animal ¾. Podia fazer gado puro”. Em 1999, ela viajou para a África do Sul junto com uma comitiva brasileira que visitou 15 fazendas produtoras de Bonsmara, abrindo o intercâmbio genético entre os dois países, processo que resultou também em um acordo com a Associação Sul-Africana de Criadores de Bonsmara, para registro genealógico dos animais que começaram a nascer no Brasil, após os avanços no protocolo sanitário Brasil-África do Sul, já em 2000. Naquele ano, a Santa Silvéria recebeu 40 embriões congelados e algumas doses de sêmen, o que garantiu excelentes resultados sobre fêmeas F1 e no cruzamento direto com Nelore na temporada seguinte. No entanto, a inclusão de uma nova raça no sistema de produção provocou problemas de manejo, acarretando a perda de 30% dos bezerros nascidos no primeiro ano do projeto – os animais ganhavam peso rapidamente, passando, eventualmente, “do ponto”. Paralelamente, surgiram problemas com doenças como o carbúnculo sintomático (manqueira), causado pela bactéria Clostridium chauvoei, pre-

Clélia Pacheco produz 130 touros/ano em área de integração lavourapecuária, sistema que lhe permitiu melhorar as pastagens.

sente no solo formado com pastagens. “Quando se introduz uma raça nova em uma fazenda, tudo é experimentação, desde o manejo nutricional até o sanitário e reprodutivo”, diz a produtora. Aos poucos, porém, a fazenda foi se ajustando. Passou a investir em FIV (fertilização in vitro), aspirando novilhas aos 14 meses para acelerar a produção de genética pura e aproveitar a qualidade das receptoras meio-sangue do rebanho. Nesta altura, com todos os pastos já reformados, a fazenda foi novamente reestruturada. Em 2010, Clélia deixou de produzir animais comerciais para se tornar efetivamente uma produtora de genética, embora mantenha 340 hectares para cultivos agrícolas (60% ha ocupados por soja e 40% com milho). O gado é manejado em outros 382 hectares. No período de seca, os touros recebem aporte nutricional na recria, com uma média 0,6 a 0,8% do peso vivo de proteínado, cuidado que se estende também às novilhas de 14 meses e às primíparas. Nas chuvas, são utilizados apenas pannicuns (tanzânia, mombaça e MG5) para garantir máxima produtividade no sistema de produção a pasto, bandeira do Bonsmara no País. “Pelo fato de trabalhar com uma área pequena, sempre tratei o pasto como cultura, e meus animais como negócio. Acredito que a psicologia me trouxe bons fundamentos: experimentar coisas e ouvir as pessoas. Fazenda não é fábrica e gado não é máquina, precisa de talento e conhecimentos específicos”, observa. Ajuste fino A Fazenda Santa Silvéria adota, há 10 anos, um sistema de premiação por produtividade, com bonificações divididas em quatro indicadores: índice de prenhez e índice à desmama, além de perda pós-parto e mortalidade. Também desenvolve um programa de gestão financeira, orientada por Antônio Chacker, consultor do Instituto Inttegra, que, ao lado dela, traDBO novembro 2018 107


Seleção

Interesse pelo Bonsmara surgiu da experiência com cruzamentos que garantem boas matrizes F1 para o rebanho

balha na gestão de pessoas, processo fundamental na fase de implantação da “lavoura-pecuária”. Na época, a fazenda realizava até três reuniões mensais com seus colaboradores para “coletar” opiniões e “ajustar” a rotina de trabalho. “Percebemos que, quando todos se sentem parte do processo, existe maior comprometimento da equipe. Escolhi trabalhar com a produção de touros associada a um processo de alta tecnologia, onde os detalhes fazem a diferença. Hoje, já não realizamos mais reuniões e, ainda assim, minha produção, que é quase artesanal, flui bem”. Nesta safra, a fazenda produzirá cerca de 800 prenhezes, que deverão gerar 130 novos touros, número médio de produção dos últimos anos. A cabeceira é vendida no Leilão Anual Santa Silvéria, evento que ocorreu em 28 de julho deste ano, registrando o preço de R$ 9.682 por touro, maior média da raça Bonsmara nas duas últimas décadas, segundo o Banco de Dados DBO. Somente vão à venda animais de cabeceira, normalmente bezerros nascidos em agosto, fruto da estação de monta fixada em 90 dias. Nela, as fêmeas passam por uma IATF (inseminação artificial em tempo fixo), seguida do repasse com touro Bonsmara. O índice médio de prenhez na última estação

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chegou a 90%. “Eu sei que vender carne commodity não é para o meu tamanho. Por isso a “seleção commodity” também não é meu foco”. A fazenda segue à risca o sistema de avaliação Bonsmara, definido pela ABCB em 2001. Os animais seguem um cronograma regular de pesagens, com a primeira ao nascimento; a segunda, por volta dos 4 meses de vida do animal; a quarta, com um ano e a quinta ao sobreano, quando também são tiradas as medidas de perímetro escrotal. Eles somente recebem o registro se apresentarem um parâmetro mínimo de desempenho, algo único dentre as associações de raças nacionais. O certificado não depende apenas das avaliações visuais. São consideradas características sexuais secundárias bem definidas como critério de fertilidade e musculatura bem desenvolvida, além do frame, para determinar um biotipo mediano, ligado à precocidade de terminação. A adaptabilidade também é fundamental no processo. “O Bosnmara é a única raça que tem um olhar extremamente técnico sobre o registro porque nasceu de um longo processo de seleção focado em objetividade. Na África, os animais são desmamados e enviados diretamente para o confinamento, com resultados de até 20@ para machos de 14 meses”, diz Clélia, que, nos últimos anos, aderiu ao Programa de Melhoramento Genético Qualitas para aumentar a pressão de seleção sobre seus animais. Já foram avaliadas oito safras, registrando-se evolução genética significativa. O incremento médio à desmama foi de 2,6 kg/cabeça, com ganho, na fase pós desmama, de 4,3 kg por animal. Mas o ponto alto, segundo ela, está no ganho ao sobreano, que aumentou 7 kg devido aos ajustes finos na seleção. Além das avaliações geradas pelos dois métodos, a fazenda desenvolve um programa de acasalamento dirigido, que lhe permite corrigir problemas de consanguinidade e direcionar a produção para maior desempenho e precocidade, tanto sexual quanto de terminação. A média de idade ao primeiro parto caiu de 36 para 24 meses. “Se olharmos para a fase da ‘meia arroba’, que é o peso ao sobreano, acredito que a evolução sido gradativa”, diz Clélia, demonstrando que, quando o assunto é melhoramento genético, sempre há mais por fazer. n


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Saúde Animal

Homeopatia pode prevenir partos distócicos Sérgio Melo Monte Alto é veterinário e supervisor técnico da Real H

Posição inadequada da cabeça é um dos fatores que causam distocia fetal em bovinos.

O

parto é sempre um momento importante na vida da vaca e dos bezerros (as). Complicações nessa hora podem prejudicar tanto a mãe quanto comprometer a saúde e desempenho futuro dos recém-nascidos, com reflexos negativos sobre a produção pecuária bovina. Uma das complicações mais comuns na hora do parto é a distocia, que se caracteriza pela dificuldade da vaca em “expulsar” o feto. Esse desafio pode estar relacionado à mãe (distocia materna), ao feto (distocia fetal) ou a ambos. As distocias de origem materna geralmente estão relacionadas a problemas como hipocalcemia (falta de cálcio no sangue), dificuldade de contração do útero, pelve juvenil e torção uterina. Já a distocia fetal está mais ligada a partos gemelares, más formações fetais, posicionamento inadequado e tamanho desproporcional do feto. As vacas de primeira cria são as mais propensas a ter partos distócicos, que, frequentemente, levam à morte do bezerro, seja no nascimento (devido à falta de oxigenação) ou no período neotal (devido a doenças). Caso sobrevivam, esses animais podem ter seu desenvolvimento prejudicado. Além disso, fêmeas que têm parto distócico e necessitam de ajuda para a retirada do bezerro são 4,9 vezes mais propensas a apresentar complicações no pós-parto, como a retenção de placenta, problema que afeta a produção de leite das mães e, consequentemente, o desenvolvimento de suas crias. Ideal é prevenir Como o parto distócico prejudica a fertilidade das fêmes, causa atraso na reconcepção e nasci-

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Programa sanitário preventivo melhora a imunidade das fêmeas e evita problemas durante a parição.

mentos de bezerros fracos, medidas preventivas são fundamentais. Distocias fetais, por exemplo, podem ser evitadas escolhendo-se touros adequados para cobertura ou inseminação de determinado lote de vacas, de forma a evitar a geração de bezerros muito grandes em fêmeas com medidas pélvicas pequenas. Também é importante destinar novilhas à cobertura em função de seu peso, não de sua idade. Já na prevenção de distocias maternas, pode-se usar uma ferramenta moderna que auxilia as vacas na hora do parto: a homeopatia populacional, criada pelo doutor Cláudio Martins Real, veterinário e ex-professor da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul. Esse conceito considera os animais do rebanho como um único indivíduo. Todos, portanto, devem receber o mesmo tratamento preventivo, pois estão sujeitos ao mesmo tipo de manejo e às mesmas agressões de microrganismos ou toxinas. Ainda que não apresentem sintomas, sofrem alterações orgânicas e funcionais. Como a homeopatia populacional ajuda a prevenir partos distócicos? Simples, melhorando sua imunidade e eliminando toxinas por meio da drenagem celular. Com isso, eleva-se a taxa de partos normais e diminui-se casos de retenção de placenta, grande causadora de subfeterilidade futura. O tratamento preventivo é feito misturando-o o produto homeopático no sal mineral, em proteinados ou rações, de forma a garantir o consumo diário recomendado, nos 60 dias que antecedem e nos 20 dias que sucedem ao parto. Esse tipo de tratamento, além de seguro e sustentável, ajuda a melhorar a produtividade da pecuária bovina. n



Fatos & Causos Veterinários

Enrico Ortolani

Novilha não é sinônimo de vaca gorda!

O Professor titular de Clínica de Ruminantes da FMVZ-USP ortolani@usp.br

nnn “As tabelas de preços de venda de gado devem trazer valores específicos sobre novilhas jovens, destinadas ao mercado de carne de qualidade”.

nnn

passar dos tempos nos traz grandes mudanças, como o formato das nuvens nos céus em um dia com vento. A sábia letra da canção “Como uma onda”, de Lulu Santos e Nelson Motta, retrata bem isso: “tudo o que se vê não é igual ao que a gente viu há um segundo, tudo muda o tempo todo no mundo”. Feito o preâmbulo filosófico, afirmo que a pecuária de corte nacional não foge dessa realidade. Ela tem sofrido enormes mudanças nas últimas décadas, em especial nas três últimas, devidamente reportadas por DBO, neste meio tempo. A idade de abate reduziu muito e o peso médio das carcaças cresceu; os bovinos confinados e os cruzamentos industriais tomaram corpo; a qualidade da nossa carne evoluiu a olhos vistos; de importadores sazonais, nos transformamos em exportadores, competindo para valer com os peso-pesados tradicionais. Eu poderia falar mais sobre outras evoluções da pecuária, mas não é sobre isso que quero discorrer agora. No meio desses avanços, surgiram novos nichos de mercado. Com a melhora dos índices reprodutivos dos rebanhos, maior precocidade das fêmeas zebuínas e incremento do cruzamento industrial, principalmente com Angus, gerou-se um bom excedente de novilhas, além dos 15%-20 % normalmente destinados à reposição das vacas velhas e improdutivas do rebanho de cria. A geração desse excedente, associado ao conhecimento tecnológico de que novilhas bem manejadas podem fornecer carcaças com 13-14@ e mínimo de 3 mm de gordura em idade bem jovem , fez surgir (inicialmente em caráter local, depois regional e, posteriormente, em maior escala), uma especialidade de engordadores de novilhas para o abate. Preferência do consumidor O CEPEA-USP registrou esse avanço anualmente, desde 1997. Naquele ano, apenas 4% dos bovinos abatidos eram novilhas, representando 12% do total de fêmeas que foram para o gancho. Já em 2017, esse percentual atingiu o expressivo valor de 10,2 %, significando que uma em cada quatro fêmeas abatidas era novilha. Nos últimos cinco anos, em uma das regiões do sudoeste de São Paulo, cerca de 30% dos engordadores de gado se especializaram em produzir novilhas. Acompanhei indiretamente essa evolução. Conversei, no começo da década passada, com pequenos açougueiros do interior do Estado de São Paulo que compravam de diminutos frigoríficos regionais. Segundo eles, essas indústrias passaram a aceitar bem carcaças de novilhas que atendiam as demandas da freguesia, principalmente constituída por donas-de-casa de famílias pouco numerosas. Em 2010, visitei um mega supermercado de uma famosa rede multinacional. A ex-aluna responsável pela

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inspeção veterinária dessa empresa começou a visita, logicamente, pelo açougue. No fundo deste, se encontrava uma enorme câmara frigorífica que armazenava carcaças oriundas do Mato Grosso do Sul, que eram devidamente cortadas e embaladas para a venda. Notei de cara que boa parte delas era de novilhas, pelo diminuto tamanho e por outras características anatômicas. A profissional confirmou minha opinião e disse que, após o estudo de mercado e aceitação dos consumidores, a grande rede tinha passado a comprar 60% de carcaças de novilhas de origem reconhecida. Há poucos dias visitei outra grande rede de sacolões voltads à classe média e fiquei avaliando os cortes nas gôndolas, analisando por 20 minutos a preferência dos consumidores. Cerca de 30% das picanhas eram pequenas e com 3-4 mm de gordura, compatível com as de novilhas, que a atendente disse ser de machos superprecoces, para valorizar a mercadoria. O preço era cerca de 20% superior ao das outras picanhas maiores e, mesmo assim, 40% dos clientes preferiam essas peças diminutas. Uma senhora que viu minha argumentação com o atendente confirmou que aquela picanha atendia perfeitamente seu marido e os dois filhos pequenos e que seus sabor e textura superavam os das peças maiores. É preciso diferenciar Pesquisei o preço da arroba da novilha naquela região de São Paulo. O valor pago pelos frigoríficos era 1%-2% inferior ao do boi gordo ou idêntico ao deste, mas alguns fornecedores de novilhas meio-sangue Nelore-Angus recebiam bonificações até 5% acima do valor da arroba do boi-padrão. Porém, o que mais chamou e chama minha atenção é o fato de que esse novo nicho continua passando despercebido pelos institutos e consultorias que elaboram tabelas de preços de venda de gado, fundamentais para o pecuarista. Em geral, quando falam de fêmeas destinadas ao abate, incluem todas sob o chapéu “vaca gorda”. Mas, novilha não é sinônimo de vaca gorda, pois tem qualidade de carne bem melhor; rendimento de carcaça em torno de 50%, enquanto o das vacas gira em torno de 45% a 48%, dentre outros detalhes menores. Por meio deste artigo, cobro das empresas e instituições de renome responsáveis pela elaboração de tabelas de preços que precifiquem separadamente a nova categoria de novilhas destinadas ao abate. Finalizo citando o nome de uma canção de Jimy Hendrix, roqueiro da terra do Tio Sam, denominada “ E se o 6 virasse 9”. Seria possível isso acontecer? Do ponto de vista biológico, após o parto, a novilha (6) se torna vaca (9), mudando completamente de categoria. Para um bom entendedor .... n



ARQUIVO DBO

Meio Ambiente

Área de Preservação Permanente em processo de restauração

Cuidado com elas Pesquisa lista espécies exóticas que não devem ser usadas para recuperar matas Moacir José

R

de São Paulo, SP, e Sinop, MT

ealizado o Cadastro Ambiental Rural (CAR), identificados os eventuais passivos e elaborado um programa para sua regularização naqueles Estados que já possuem legislação para isso, é hora de pôr mãos à obra e recompor a vegetação nativa suprimida indevidamente, seja na reserva legal, seja nas áreas de proteção permanente (APPs). Mas, como fazer isso? Que cuidados tomar? O simples isolamento de uma área muitas vezes é suficiente para recompor uma mata, mas, quando é preciso plantar espécies nativas, como garantir que elas se desenvolvam adequadamente? Essa questão foi largamente debatida dentro do Projeto Imput (Iniciativa para o Uso da Terra), conduzido pelo Agroicone, de São Paulo, em parceria com a ONG norte-americana Climate Policy Initiative (CPI), e acabou resultando no lançamento de um guia sobre plantas não desejáveis na restauração florestal, que traz importantes alertas aos produtores.

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O guia conceitua o que são “espécies não desejáveis”, explicando que elas dificultam ou impedem o processo de restauração florestal, devendo ser eliminadas da área antes do plantio de nativas. “Não dá pra deixar braquiárias, por exemplo, na área de APP porque elas são muito agressivas, cobrem totalmente o solo, competindo com a flora local e impedindo seu desenvolvimento”, explica o engenheiro florestal Paolo Alessandro Rodrigues Sartorelli, coordenador editorial do guia. Segundo ele, essas gramíneas forrageiras talvez sejam as maiores “vilãs” da restauração ecológica, inclusive porque dificultam a infiltração de água no solo, podendo causar assoreamento de rios. Outra planta indesejável é a leucena, que impede o desenvolvimento das espécies nativas por sombreá-las demais ou se disseminar muito, em função de seu enorme banco de sementes e plântulas. Também são inimigas da regeneração florestal: o ipê de jardim, a tulipeira, a sete copas, a samambaia-brava, a albizia, o pinus e a taboa, dentre outras. Evitando atrasos Se constatar presença elevada de espécies não desejáveis nas áreas a restaurar, o produtor deve eliminá-las, medida já prevista por lei em dois Estados da Federação (SP e MT). “Pode-se não fazer esse controle prévio e deixar as espécies exóticas lá, torcendo para que a vegetação nativa ressurja espontaneamente e tome conta da área, mas há chances de essa estratégia não dar certo, trazendo prejuízos. As plantas indesejáveis podem impedir ou retardar o desenvolvimento das nativas, exigindo replantios e novos manejos, o que encarece ainda mais a recomposição florestal, por si mesma onerasa”, diz o técnico, que também é dono da empresa Baobá Florestal. Vale ressaltar que o produtor tem até 20 anos para recuperar reservas legais e APPs degradadas, mas, no Estado de São Paulo, por exemplo, precisa comprovar regularmente os resultados obtidos três anos após o início da restauração, depois aos cinco, 10, 15 e 20 anos, conforme dispõe a Resolução Nº 32, da Secretaria de Meio Ambiente, datada de 3 de abril de 2014. Ou seja, ele tem tempo, mas precisa fazer certo. Há vários métodos de controle de plantas indesejáveis, com seus prós e contras. A roçada manual ou mecânica das plantas herbáceas e o corte ou anelamento das arbustivas, por exemplo, são técnicas menos impactantes para o meio ambiente, porém menos eficazes (as invasoras retornam). A queimada controlada, sob autorização do Ibama, elimina várias espécies de gramíneas, mas somente pode ser feita por equipe treinada e antes do plantio das mudas. O pastejo sob alta lotação também ajuda a controlar gramíneas, sendo boa alternativa quando associada a outros métodos. Já os herbicidas são bastante eficazes, facilitando o manejo, mas seu uso tem sido questionado em restaurações


Parte integrante da Revista DBO edição de Novembro – 457

Destaque e guarde para colecionar

Fascículo

Controle certeiro 2 Criação e texto: Renato Villela. Projeto gráfico e ilustrações: Edson Alves. Supervisão técnica: Rovaina Doyle/IPVDF.

Estratégia de combate! Agora que você já sabe como é o ciclo de vida do carrapato e os danos que ele causa aos animais, chegou a hora de conhecer seus pontos fortes e fracos. A partir daí, será possível traçar uma estratégia de Combate Certeiro, tema deste projeto desenvolvido em parceria com a Bayer.

Pontos fortes

...e fracos do inimigo

Quando as condições ambientais são favoráveis, o parasito se multiplica mais rapidamente na pastagem, aumentando a infestação nos bovinos. Ao visualizar os carrapatos adultos, em grande número, no rebanho, o produtor pensa que é o momento certo para controlá-los. Entretanto, combater o inimigo no momento em que ele está mais forte não apenas diminui as chances de êxito como aumenta os gastos com carrapaticidas, o que é indesejável, além de antieconômico.

Quando as condições climáticas são desfavoráveis, o desenvolvimento do parasito é prejudicado, o que diminui o número de larvas na pastagem. Este é o período mais propício para combatê-lo. Ao atacar o parasito no estágio em que ele está mais fraco, as chances de sucesso aumentam. É o que os especialistas chamam de “controle estratégico”. O produtor gasta menos carrapaticida e aumenta suas chances de controlar esse terrível inimigo, que tanto prejuízo causa à pecuária.

Use o clima como seu aliado As duas variáveis climáticas que mais influenciam na sobrevivência e multiplicação do carrapato no ambiente são a temperatura, principal fator regulador das populações do parasito, e a umidade.

As altas temperaturas ressecam os ovos e são letais para as larvas (micuins), que, mesmo tentando se esconder na face interna das folhas ou na base da planta, se desidratam mais rapidamente e morrem.

Direitos de reprodução resevados à DBO Editores

O frio tem influência muito forte sobre o ciclo de vida do carrapato. Nas regiões onde o inverno é rigoroso, marcado por baixas temperaturas, a população do parasito diminui drasticamente, ou até mesmo desaparece.

A baixa umidade relativa do ar, que caracteriza os meses de seca no Brasil Central, prejudica o desenvolvimento do carrapato ao exercer papel semelhante ao das altas temperaturas sobre as larvas na pastagem.


Controle estratégico Trata-se da concentração de banhos ou aplicações de carrapaticidas em períodos desfavoráveis ao desenvolvimento do carrapato na pastagem. Como essas condições variam de região para região, o controle estratégico deve ser regionalizado. Ao atuar “estrategicamente” sobre uma geração menos expressiva, consegue-se reduzi-la bastante, de modo a gerar cada vez menos descendentes nas gerações subsequentes.

Como o carrapato se comporta nas diferentes regiões Centro-Oeste e Sudeste (acima de 800m)

Sul

Na maior parte do Sudeste e na região do Planalto Central ou Cerradão, em altitudes acima de 800 m, onde as temperaturas no verão não são tão altas, o fator de controle do carrapato é a umidade do ar, muito baixa durante a segunda metade da época seca, nos meses de julho, agosto e setembro.

Única região do País onde o frio rigoroso tem forte influência sobre o carrapato, que chega a desaparecer nessa época. O controle, no entanto, deve ser feito na primavera e verão, quando a população é um pouco maior, pois os bezerros precisam ter algum contato com o parasito para desenvolver imunidade contra a Tristeza Parasitária.

G = Geração

G = Geração

Período ideal para controle: julho a setembro

Período ideal para controle: set-out, dezembro e fev-mar

Centro-Oeste e Sudeste (abaixo de 400m)

Norte

Nas regiões mais baixas do Sudeste e Centro-Oeste, (altitudes inferiores a 400 m), o verão é marcado por chuvas e temperaturas altas. Embora essas condições sejam favoráveis à postura de ovos, essa época é ideal para o combate estratégico, pois as larvas não resistem ao forte calor dos meses de janeiro, fevereiro e março.

Nessa região, as condições climáticas são favoráveis ao desenvolvimento do carrapato durante o ano inteiro, o que dificulta o controle do parasito. De modo semelhante ao que se dá no Cerrado, deve-se aproveitar os períodos ocasionais de umidade do ar mais baixa para se fazer as aplicações estratégicas e diminuir sua população.

Período ideal para controle: janeiro a março

Período ideal para controle: agosto a outubro

Mito ou Verdade? Existem animais de “sangue doce”? VERDADE – Existem animais com menor reação alérgica ao carrapato, o que significa dizer que se coçam e se lambem menos, permitindo maior “carrapateamento”, condição que, no campo, lhes confere a alcunha popular de “sangue doce”. Além desses animais colocarem em risco todo o programa de controle estratégico, trata-se de uma característica geneticamente herdável, ou seja, que é transmitida para as futuras gerações. Por essa razão, recomenda-se que sejam eliminados do rebanho.

Na próxima edição você aprenderá a escolher as armas certas para combater o carrapato. Acompanhe mais informações no endereço portaldbo.com.br/controle-certeiro contato: renato.villela@revistadbo.com.br


Moacir josé

Embaúba é uma das árvores que estão indo bem no experimento da Embrapa Agrossilvipastoril

florestais, devido à possiblidade de contaminação ambiental. “Se bem usados, contudo, eles são excelentes ferramentas de manejo e reduzem os custos do processo”, explica Sartorelli. Para ajudar os produtores a diagnosticar o nível de degradação das áreas de reserva legal e APPs, o guia do Imput/Agroicone classifica as plantas indesejáveis em três tipos: alto, médio e baixo potencial invasor. “As braquiárias fazem parte do primeiro grupo, pois, em um ano, crescem quatro vezes mais do que as espécies nativas plantadas por muda e acabam por matá-las. O pinus também tem alto potencial invasor, pois forma um ‘tapete’ de folhas sobre o solo e não deixa outras espécies se desenvolverem”, enumera. Já o mogno africano, o eucalipto e a teca têm potencial invasor médio. “Muitas das espécies presentes no guia são encontradas em reflorestamentos antigos. Ou seja, erramos muito no manejo de plantas exóticas no Brasil, por desconhecimento. Apenas pegávamos o que estava disponível no viveiro. Agora, não podemos mais errar”, diz Sartorelli. Experimentos na Embrapa Também para auxiliar os produtores na elaboração de seus PRAs (Programas de Regularização Ambiental), a Embrapa Agrossilvipastoril, sediada

em Sinop, no médio-norte mato-grossense, iniciou, em 2012, uma série de experimentos com plantas nativas e técnicas de restauração, em quatro regiões representativas do Estado: Canarana, Campo Novo do Parecis e Guarantã do Norte, no bioma Cerrados; Vilhena, em Rondônia, que fica no bioma amazônico; e Sinop, localizado na zona de transição entre os dois. Todos os experimentos contam com sete tratamentos: 1) restauração natural (abandono de área); 2) semeadura direta a lanço; 3) semeadura direta em linha; 4) semeadura por mudas, misturando eucalipto com árvores nativas; 5) semeadura por muda, usando seringueiras junto com árvores nativas ou mogno africano ou pinho cuiabano; 6) semeadura por muda, empregando somente árvores nativas, sem manejo; 7) semeadura por muda, utilizando apenas árvores nativas, com poda. De acordo com o biólogo Ingo Isernhagen, pesquisador da área de restauração de ecossistemas e adequação ambiental da Embrapa Agrossilvipastoril, o primeiro grande desafio desse trabalho foi identificar e coletar espécies arbóreas representativas das paisagens do Mato Grosso. “Faltam coletores de sementes na região. Por isso, fizemos uma parceria com o Instituto Sócioambiental, de Canarana, que tem forte atuação nessa área”, diz Isernhagen, ressaltando que a maturidade do fruto de uma árvore é que determina a qualidade da semente. Para cada espécie, deve-se ter uma variabilidade genética de no mínimo 12 matrizes (árvores fornecedoras de sementes). O segundo desafio do projeto era dar sustentabilidade econômica e ambiental à recuperação florestal, por isso foram testadas 15 espécies de valor comercial, como o jambo da mata, cujos frutos podem ser comercializados; o açaí; o cajueiro, a castanheira, a embaúba (para fins medicinais) e o cumaru (fins medicinais e culinários). Na pesquisa, a Embrapa testou duas espécies consideradas não desejáveis pelo guia do Imput/Agroicone (o mogno africano, para madeira, e a acácia australiana, para lenha),

Não podemos errar mais no manejo das plantas exóticas” Paolo Sartorelli, engenheiro florestal

Ser viço Para acessar e baixar o PDF do Guia de Plantas não Desejáveis na Restauração Florestal, digite o endereço na internet: https://www.inputbrasil.org/ wp-content/uploads/2018/03/ guia-plantas-nao-desejaveis.pdf

DBO novembro 2018 115


Meio Ambiente

Controle – mecânico, químico ou biológico – é uma das atividades mais caras na restauração” Ingo Isernhagen, pesquisador da Embrapa

Indicadores de restauração No Mato Grosso, já foram definidos alguns indicadores que apontam a eficácia da restauração para subsidiar o PRA, dentre eles: a cobertura de solo, mensurada pelo tamanho da sombra projetada pela copa da árvore; a densidade populacional (quantidade de plantas em uma determinada área) e a riqueza de regenerantes (plantas provenientes de polinização feita por morcegos, aves e outros animais, significando que a mata passou a ser habitada). Não basta, contudo, avaliar a área usando esses indicadores. É preciso monitorar o processo de restauração florestal, pois agentes “regenerantes” também podem introduzir plantas não desejáveis na área. Além disso, é importante fazer manejo de “matocompetição”, que consiste em controlar gramíneas como as braquiárias, úteis em pastagens, mas nocivas em áreas naturais degradadas,

Nome científico Anacardium occidentale Astronium fraxinifolium Euterpe oleracea Handroanthus impetiginosus

Nome popular

Função principal

Caju Guaritá Açaí

Fruto Madeira Fruto

Ipê-roxo

Madeira

Trattinickia rhoifolia Caryocar brasiliense Mabea fistulifera

Amescla Pequi Mamoninha

Madeira Fruto

Copaifera langsdorffii

Copaíba

Óleo, madeira

Hymenaea courbaril

Jatobá

Fruto, madeira

Carvoeiro, tachi, justa-conta

Preenchimento

Tachigali vulgaris Dipteryx alata

Preenchimento

Baru

Fruto

Dipteryx odorata

Champanha, cumaru

Madeira

Parkia cf. Platycephala Bertholletia excelsa Guazuma ulmifolia

Faveira, angelim-saia Castanheira Mutambo

Preenchimento Fruto Preenchimento

Jambo-da-mata

Preenchimento

Embaúba-do-norte

Preenchimento

Bellucia grossularioides Cecropia sciadophylla Fonte: I. Isernhagen/ Embrapa

116 DBO novembro 2018

fotos: moacir josé

mas nenhuma delas trouxe prejuízo às nativas. O mogno foi introduzido na unidade de Canarana, em associação com o pequi, e na unidade de Campo Novo do Parecis, junto com a acácia, mas não sobreviveu. Em Canarana, devido ao ataque de insetos na copa e de formigas na base; em Campo Novo, por causa do solo arenoso. “É uma pena que não tenha vingado. Tínhamos a expectativa de que ele poderia ser cortado 15 a 20 anos após o plantio, fornecendo receita razoável”, lamenta Isernhagen. Segundo seu colega de Embrapa, o engenheiro florestal Diego Antônio Barbosa, o metro cúbico de mogno vale atualmente R$ 700. Quanto à acácia, até agora não expressou o potencial invasor que lhe é atribuído. “Vamos acompanhar”, diz ele.

Ataque de formigas é problema que deve ser enfrentado com muito rigor

conforme também aponta o guia do Imput/Agroicone. Segundo Isernhagen, o manejo de espécies indesejáveis pode ser mecânico, químico ou biológico (uso de adubos verdes), mas, independentemente do método empregado, trata-se da etapa mais cara do processo de restauração. Para complicar ainda mais o processo, umsa instrução normativa do Instituto de Defesa Agropecuaria do Mato Grosso (Indea) proibiu o uso de herbicida nessas áreas, decisão que chegou a motivar a criação de um grupo de trabalho para estudar sua aplicação em casos específicos. “Esperamos que o tema volte à pauta quando forem discutir a regulamentação de algumas etapas do PRA do Mato Grosso”, expressa Ingo Isernhagen. Segundo ele, os experimentos permitirão apresentar, em breve, as espécies que melhor se adequam ao processo de regeneração florestal, seja no que diz respeito à taxa de sobrevivência, seja no que se refere à função ecológica (cobertura de solo e atração de fauna, principalmente). Seu potencial econômico ainda será medido. “Pretendemos iniciar o desbaste dos eucaliptos aqui em Sinop ainda neste ano, o que já nos fornecerá alguns indicativos”, informa o pesquisador. Uma das árvores que não vingaram foi o açaí. “Acreditamos que faltou umidade no solo, algo bem usual durante os cinco meses de seca do Mato Grosso”, diz ele. n



Leilões

Primavera gaúcha puxa vendas

46,6% desse montante, com 2.480 reprodutores negociados, com destaque para o leilão virtual CFM Ultradenso, que teve oferta de 390 touros, e para o leilão do Grupo Terra Grande, em Tucumã, PA, com 227 animais ofetados. Já as fêmeas tiveram 4.482 lotes comercializados a R$ 5.144, menor média para a categoria no ano, de acordo com o Banco de Dados da DBO. A maior oferta ocorreu no Leilão de Liquidação Nelore Tonicão, em Campo Grande, MS, onde 338 fêmeas saíram a R$ 4.047 de média. O remate ainda vendeu 43 touros a R$ 9.129, movimentando o total de R$ 1,7 milhão.

Remates no RS responderam por 45,5% da receita e 55,3% da oferta total em outubro Alisson Freitas

Oferta

-22,1% Receita

-16,4% Média

+7,3%

alisson@portaldbo.com.br

A

pesar do ritmo intenso de remates da primavera gaúcha, o mercado de leilões voltou a recuar no mês de outubro, em relação ao mesmo mês de 2017. Até o fechamento desta matéria, em 31/10, foram encaminhados à DBO os resultados de 109 remates, que comercializaram 9.956 lotes de machos, fêmeas, prenhezes, embriões e coberturas de raças bovinas de corte. Na comparação com os 12.782 lotes comercializados em outubro do ano passado, a queda na oferta foi de 22,1%. A oferta mais enxuta fez com que os lotes fossem muito disputados e o preço médio subiu 7,3%, saindo de R$ 6.688 em outubro de 2017 para os R$ 7.175 do mês passado. No entanto, a valorização não foi capaz de impedir que a receita total caísse. Os remates de outubro faturaram R$ 71,4 milhões, valor 16,4% mais baixo do que os R$ 85,4 milhões de igual período no ano passado. As negociações foram puxadas pelos touros, com 5.322 exemplares comercializados à média de R$ 8.766. As raças Nelore e Nelore Mocho responderam por

109 remates de bovinos de genética para carne Pistas de outubro registram média geral de R$ 7.175 Raças

Lotes

Leilões

Renda (R$)

Média

Máximo

Nelore

3.691

37(2)

32.689.040

8.856

496.000

Braford

2.333

25 (16)

13.949.920

5.979

88.000

Angus

2.001

33 (17)

12.617.330

6.305

29.000

Brangus

870

17 (15)

5.338.820

6.137

93.000

Hereford

685

22 (15)

4.427.830

6.464

80.000

Senepol

231

4

1.498.320

6.486

27.000

Montana

65

1

385.500

5.931

-

Tabapuã

46

1

251.100

5.459

10.200

Devon

22

2 (1)

192.700

8.759

-

12

1 (1)

81.000

6.750

-

9.956

109

71.431.460

7.175

496.000

Charolês Total

Critério de oferta.(-) Dados das leiloeiras Agenda, Agreste, Aroeira, BC Remates, Braúna, Camargo Agronegócio, Cambará, Casarão, Central, Confboi, Centro-Oeste, Connect, Estância Bahia, EDS, Escritório Central, Inove, Knorr, Leiloboi, Leiloingá, Leilosin, Leilogrande, MS, Pampa, Parceria, Pioneiro, Programa, Rédea, Santa Rita, Santa Úrsula, Socever, Tellechea & Bastos, Trajano Silva e Veterano Remates. (-) Quantidade de remates em que a raça dividiu pista com uma ou mais raças. Elaboração DBO.

118 DBO novembro 2018

Movimentação nas praças Como de costume para o mês de outubro, a praça mais aquecida foi a do Rio Grande do Sul, com o circuito de remates de primavera entrando em sua fase final. Até o dia 31 de outubro, foram encaminhados à DBO os resultados de 58 remates em terras gaúchas, que faturaram R$ 32,4 milhões com a venda de 5.507 lotes, respondendo por 45,5% da receita e 55,3% da oferta total do mês. De acordo com o leiloeiro Fábio Crespo, independente dos preços obtidos, o mais importante da temporada foi o fato de os remates conseguirem vender grande parte dos produtos colocados na pista. O destaque foi a procura por raças sintéticas como Brangus e Braford por parte de pecuaristas do Mato Grosso, São Paulo, Minas Gerais, Rondônia e Pará. “A liquidez é um princípio básico que determina o sucesso de um leilão. Grande parte dos remates de primavera conseguiram vender muito bem em função da procura por animais de boa genética para a produção de carne de qualidade”, disse Crespo. Entre as mostras gaúchas, destaque para a Expofeira de Santana do Livramento, que arrecadou R$ 3,7 milhões com cinco remates; e para a Farm Show de Dom Pedrito, com R$ 3,6 milhões. A segunda maior movimentação em outubro ocorreu em Mato Grosso do Sul, onde 817 lotes foram vendidos por R$ 6,8 milhões. O grande protagonista foi o 4º Leilão Nelore Pintado Brasil, realizado no dia 20, em Campo Grande. Na ocasião, foram vendidos 102 touros da variedade pintada do Nelore ao preço médio de R$ 15.570 e 132 fêmeas a R$ 13.911. A receita foi de R$ 3,4 milhões, a segunda maior do mês, segundo o Banco de Dados da DBO. São Paulo foi a terceira maior praça de vendas. O Estado foi palco de três remates, que comercializaram 255 lotes por R$ 5,4 milhões. Quem atraiu os holofotes foi o estreante Rima Coronel’s, que alcançou a maior receita do mês ao movimentar R$ 3,4 milhões com fêmeas e prenhezes Nelore Elite. Outro destaque na praça paulista foi o Leilão VPJ Genética, de Valdomiro Poliselli Júnior, em Jaguariúna, que teve a maior valorização de touros das raças Angus e Brangus do ano, com médias de R$ 18.500 e R$ 19.923, respectivamente. n


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Leilões Conversa Rápida com

Valter José Potter

U

m dos eventos mais aguardados da primavera gaúcha, o Remate Guatambu, Alvorada e Caty cumpriu a sua 46ª edição em 18 de outubro, na Estância Guatambu, em Dom Pedrito, RS. O leilão manteve a tradição de bons negócios e teve como ponto alto a venda do touro Mike Tyson por R$ 80.000 para Bruno Salis Costa e Silva, da Estância Santa Ruth – foi o maior preço pago por um touro Hereford no Brasil, segundo o Banco de Dados da DBO. No balanço final das vendas, os touros Hereford registraram preço médio de R$ 13.500 e os Braford, R$ 11.200. Nas fêmeas, as médias foram de R$ 2.700 e R$ 3.200, respectivamente. Em conversa rápida com a DBO, o titular da Estância Guatambu, Valter José Potter, falou sobre o remate e o atual momento da pecuária gaúcha.

Como avalia o resultado do remate?

Foi excelente. Vendemos para mais de 50 pecuaristas de cinco Estados e alcançamos ótimos valores. Recebemos a visita de diversas centrais de inseminação, em busca de reprodutores para multiplicar essa genética. Prova disso foi o nosso destaque (Mike Tyson), que bateu recorde de preço da raça Hereford. A que pode ser atribuído essa valorização?

Trata-se de um animal diferenciado, que está participando do Teste de Progênie do Promebo. Ele tinha sido premiado na Expofeira de Bagé dias antes do remate e tem uma régua de DEPs extremamente equilibrada, com destaque para as avaliações de ganho de peso, facilidade de parto e precocidade de terminação, entre tantas outras.

Como está a procura por animais bem avaliados na DEP de resistência a carrapato?

É um trabalho a longo prazo da Conexão Delta G. Muitos pecuaristas têm se interessado por animais provados nessa característica, mas ainda estamos na fase de consolidação. Sem dúvidas, é um grande mercado a ser desenvolvido e, com certeza, fará a diferença na pecuária nos próximos anos. Quais as expectativas para os próximos meses?

Acredito que o cenário deve permanecer estável. A procura por carne no mercado interno está baixa e as exportações devem perder um pouco de fôlego devido à queda do dólar. No entanto, temos notícias boas, como a abertura do mercado de gado vivo para o Irã. Além disso, muitos libaneses têm procurado pecuaristas gaúchos a fim de aumentar suas compras. Esperamos que a situação econômica do país melhore no próximo ano. Sem dúvidas, a pecuária tem um papel fundamental para que isso aconteça. 120 DBO novembro 2018

FSL Angus engrossa oferta de touros da temporada Uma das principais referências da raça Angus no Sudeste, Antônio Maciel Neto (foto ao lado) promoveu o XI Leilão da FSL Angus Itu, na tarde de 21 de outubro. Foi o segundo remate do criatório em 2018. Até o ano passado, a FSL promovia apenas um leilão anual. A grande novidade desta edição foi o lançamento da FSL Angus Sul, em Montenegro, RS, fruto da parceria entre Maciel e os pecuaristas Roberto Machado e Sérgio Gabardo. Foram vendidos 78 reprodutores ao preço médio de R$ 8.100, valor equivalente a 54,3@ de boi gordo para pagamento à vista na praça. A maior disputa foi para o touro de central FSL 1965 Big Star, comercializado por R$ 16.800 para Claudio Diniz, da Estância Felicidade, de Jataí, GO. No total, o remate teve a participação de 35 compradores, oriundos de sete Estados. “Essa distribuição nas vendas se deve à confiança dos pecuaristas na nossa marca e aos resultados que os nossos touros estão alcançando na monta a campo no Brasil todo”, avalia Maciel.

Touro sai por R$ 72.000 no Leilão Adir Goiás Famoso pelo olho clínico na seleção, Adir do Carmo Leonel recebeu convidados na Fazenda Barreiro Alto, em Novas Crixás, GO, na tarde de 13 de outubro, para mais uma edição do Leilão Adir Goiás. O criador é uma das mais tradicionais personalidades da pecuária brasileira e mantém um trabalho de melhoramento genético voltado à produção de touros e gado comercial na região desde meados da década de 1980. Passaram pelo martelo 51 reprodutores Nelore à média de R$ 16.477. A maior disputa foi para Ultron da 2L, vendido por R$ 72.000. O animal é filho de Visual da Zeb VR, uma das linhagens mais procuradas por clientes do criatório, e registrou 3,24% de marmoreio em avaliação de carcaça. “Selecionamos touros para acasalar com vacas de qualquer linhagem ou raça, seja para plantel de gado puro ou rebanho comercial. Todos os animais são adaptados, padronizados, com dorso plano, racial preservado e aprumos corretos”, destacou Paulo Leonel, que conduz o trabalho ao lado de seu pai, Adir.


A Estância Bela Vista, de Santana do Livramento, RS, fez valer o seu protagonismo no Braford e registrou o maior preço médio do ano para machos e fêmeas da raça, em seu 54º Leilão anual, realizado na tarde de 16 de outubro. A média para touros reprodutores do criatório foi de R$ 14.800, enquanto as fêmeas saíram a R$ 8.126. Quem brilhou na pista foi o touro Comancheiro, que teve 50% de sua propriedade comercializada por R$ 88.000 para a Estância dos Sonhos, valorizando-o em R$ 176.000. Outro destaque foi a doadora Pandora da Bela Vista, comercializada por R$ 64.000. Além do Braford, o Hereford também teve espaço na pista. A média para os touros da raça foi de R$ 7.820. A Bela Vista é um dos criatórios com maior número de touros Braford em centrais de inseminação. O trabalho de seleção é conduzido por Celina Albornoz Maciel, terceira geração da família à frente dos negócios

Foto: Paulo Renato Pinheiro/ Bezier Filmes

Bela Vista mantém tradição de boas vendas

Montana RS completa 20 edições Como parte da tradicional Expofeira de Pelotas, RS, a Estância da Gruta e a Estância Santo Antônio reuniram sua produção de machos e fêmeas no Leilão Montana RS. O remate é exclusivo da raça na região sul do País e este ano chegou à sua 20ª edição. Os touros puxaram as vendas, com média de R$ 8.170 para 36 exemplares, valor 2,1% mais alto em relação à edição anterior do remate (R$ 8.000). Nas fêmeas, a valorização foi ainda mais alta. A média de R$ 3.150 deste ano é 31,3% maior do que os R$ 2.400 registrados em 2017. Todos os exemplares saíram do leilão com Certificado Especial de Identificação e Produção (CEIP), outorgado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).

Rima Coronel’s estreia na capital paulista Com oferta de machos, fêmeas e prenhezes Nelore Elite, o Leilão Rima Coronel’s debutou no mercado na noite de 22 de outubro, em São Paulo. O evento foi promovido por Ricardo Vicintin, da Rima Agropecuária, e por Fabiano Menotti, da Nelore CMF, marcando a estreia do pecuarista na promoção de remates. Foram vendidos 38 lotes por R$ 3,4 milhões, sendo a maior receita do mês, de acordo com o Banco de Dados da DBO. As prenhezes saíram a R$ 54.744; os machos, a R$ 104.000 e as fêmeas, a R$ 207.400, com destaque para a Grande Campeã da Expoinel, Rima FIV Malásia, vendida em 66% por R$ 496.000 para a Nelore OGT e Nelore Zini.

CFM retoma vendas pelo Bulltrade

Após celebrar duas décadas de história do Megaleilão, a Agro CFM retomou a sua agenda de remates com o Virtual Bulltrade, realizado na noite de 8 de outubro. O criatório ofertou 390 touros Nelore da safra 2016 com Certificado Especial de Identificação e Produção (Ceip), oferecendo a possibilidade de pagamento de acordo com a cotação da @ do boi gordo na B3 para outubro de 2019. O preço médio foi de R$ 6.005, movimentando o total de R$ 2,3 milhões. As vendas foram pulverizadas para 24 compradores de nove Estados. “O período de vendas foi muito oportuno, às vésperas do início da estação de monta, quando os produtores fecham suas baterias de touros para colocar na vacada ou repasse”, destacou Tamires Miranda Neto, gerente de pecuária da CFM. novembro 2018 DBO 121


Empresas e Produtos J.A. lança Turbovit B12

Kärcher lança o EASY! Service

A J.A Saúde Animal lançou o Turbovit B12, complexo vitamínico altamente concentrado e considaderado vital ao bom funcionamento do organismo animal. À base de vitamina B12, é indicado para bovinos, suínos, equinos, ovinos e caprinos. Sua principal função é estimular o processo de produção das células sanguíneas, auxiliando no tratamento das anemias e de animais debilitados. A vitamina B12 também promove incremento do apetite, contribuindo no desenvolvimento e no ganho de peso do animal, dando suporte àqueles mais debilitados e em estado de convalescência. Além disso, o produto pode ser usado como suplemento a animais em período de crescimento, gestação, lactação ou que foram submetidos a exercícios intensos. É indicado ainda em animais em regime de confinamento, semi-confinamento e naqueles criados a pasto. Mais informações: jasaudeanimal.com.br

O Kärcher EASY! Service é, como o nome indica, uma solução de serviço, acessível por aplicativo ou botão físico. O acionamento do botão gera um protocolo para a área de serviços Kärcher. Os dados do cliente e do equipamento são enviados para uma plataforma da empresa, criando automaticamente um protocolo de atendimento. O cliente recebe um alerta SMS no celular e no e-mail, informando o número do protocolo e a Kärcher entra em contato para o atendimento. Segundo a empresa, os benefícios são a facilidade de uso, economia de tempo, agilidade no reparo e comunicação direta com a central. “Somos uma companhia de vanguarda, atenta às demandas de nossos clientes; buscamos desenvolver soluções inovadoras que visem otimizar os processos de limpeza, assegurando economia de recursos”, diz Rafael Ferrari, gerente da linha de produtos profissionais da Kärcher no Brasil. Mais informações: www.karcher.com.br

IoT em máquinas agrícolas

Matsuda completa 10 anos na Bahia

A AGCO, fabricante de máquinas agrícolas, implantou a metodologia IoT (Internet das Coisas) em seus equipamentos. A novidade foi apresentada pela Ilegra, empresa global de negócios e tecnologia, no Gartner Symposium/ITxpo 2018. Durante o evento, o executivo da montadora, Jaime Brown, explicou o projeto “IoT: Colhendo Sucesso para AGCO e Process Mining Aplicado”, o processo de implementação da IoT e suas funcionalidades para melhorar a eficiência das máquinas. A Ilegra anunciou que testará o nível de maturidade digital das empresas, identificando o estágio em que estão e se estão preparadas para as novas exigências do mercado. “A ação tem como objetivo conscientizar as empresas de que a régua subiu e quem quiser seguir crescendo terá que mudar sua forma de trabalho e adquirir novas habilidades”, afirma Guilherme Sesterheim, responsável pela transformação digital na Ilegra.

Britânica Dechra adquire a Venco A britânica Dechra, que tem ações listadas na Bolsa de Londres, anunciou a compra integral da indústria veterinária paranaense Laboratorios Vencofarma do Brasil (Venco), pela qual pagou R$ 185 milhões. Em comunicado ao mercado, a Dechra estimou que o negócio, que ainda depende das condições usuais em transações desse gênero, deverá ser concluído neste mês de novembro. A Venco tem um portfólio amplo de vacinas voltadas a animais de produção e uma pequena linha de produtos para animais de companhia (pet).

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Em evento no município de Vitória da Conquista, Sudoeste da Bahia, o Grupo Matsuda comemorou 10 anos do início da operação no Estado e 70 anos em Vitória da Conquista, com presença de mais de 400 pessoas, entre pecuaristas, produtores rurais, técnicos e universitários. A empresa aproveitou os festejos para lançar a nova semeadeira Show Junior, desenvolvida para semear, com precisão, sementes de forrageiras, tanto as incrustadas, puras, com polímeros, quanto as convencionais. O equipamento atende pequenas, médias e grandes propriedades. Por suas dimensões reduzidas, pode ser acoplado na frente do trator, efetuando dupla operação com menor custo. Ou seja, pode semear e incorporar as sementes ao solo em uma única operação. Segundo a empresa, a melhor forma de se efetuar um plantio consorciado (milho x braquiária) é trabalhar em conjunto com a semeadeira traseira ou plantadeira em linha.

A aquisição da Venco pela Dechra marca o início da estratégia da britânica na América do Sul. A empresa informou que pretende investir “significativamente” na região nos próximos três anos. Datamars compra a Tru -Test A Datamars anuniciou a incorporação da Tru-Test, marca tradicional no mercado de equipamentos para a pecuária. O negócio incluiu todas as divisões de produtos de pesagem animal, leitores de identificação eletrônica, cercas elétricas e os medidores de leite, juntamente com as

suas marcas e modelos associados. Não é o primeiro negócio que a Datamars fecha nos últimos meses. Como empresa líder em rastreamento inteligente, identificação e soluções para gerenciamento de rebanho, também incorporou recentemente a Simcro, empresa de sistemas de aplicação para saúde animal. Segundo comunicado da Datamars, a aquisição estratégica da Tru-Test e da Simcro vão permitir ao grupo oferecer produtos e serviços conectando o manejo do rebanho com dados individuais dos animais nas operações do dia-a-dia do produtor. media@datamars.com.br.



Eventos Agenda Workshop Asbram A Associação Brasileira de Indústrias de Suplementação Mineral promove, no dia 22 de novembro, o Workshop Asbram Fornecedores de Suplementação. O evento tratará do relacionamento entre empresas e fornecedores, contará com a apresentação de produtos e serviços numa Mesa de Negócios e será palco da divulgação de dados do mercado de suplementação, no Painel de Estatísticas da Asbram, comandado pelo professor da Fundação Getúlio Vargas, Felippe Cauê Serigati. As atividades acontecem no Hotel Radisson Paulista, no Jardim América, em São Paulo, SP. Mais informações pelos telefones (11) 3061 9075 e 3061-9077. VII Encontro de Bovinocultura de Corte No dia 30 de novembro, acontece o VII Encontro de Bovinocultura de Corte organizado pela Escola Superior de

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Agricultura Luiz de Queiroz (EsalqUSP) para difundir conhecimentos e atualizações sobre a pecuária. Este ano, o público do evento, formado por produtores, pesquisadores e estudantes, será recebido em Barretos, SP, no Barretos Country Convenções e Eventos. Mais informações podem ser obtidas pelo e-mail cdt@fealq.org.br ou telefone (19) 3417-6600. As inscrições estão abertas em http://fealq.org.br/. Perspectivas para 2019 Em 5 de dezembro próximo, Sergio de Zen, professor da Esalq-USP e colegas do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), apresentam dados econômicos da bovinocultura de corte em 2018, resultados do Tour de Confinamento realizado pela DSM/ Tortuga, em parceria com o Cepea, e as perspectivas para a cadeia em 2019 em evento na Esalq-USP, em Piracicaba, SP. O objetivo é fazer um balanço da atividade

em 2018 e traçar um panorama do que está por vir. As inscrições podem ser feitas pelo e-mail boicepea@usp.br. IV Simpósio ILPF do Estado de São Paulo Apresentar e discutir as principais metodologias, inovações e soluções para a integração lavoura-pecuária (ILP) e integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), visando o aumento da adoção desses sistemas de produção, são os objetivos do IV Simpósio ILPF, que será realizado entre os dias 13 e 14 de dezembro no Anfiteatro do Pavilhão de Engenharia da Esalq-USP em Piracicaba, SP. Também faz parte da programação uma visita ao Sítio Nelson Guerreiro, em Brotas, SP. O evento tem apoio da Rede de Fomento ILPF, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e Secretaria da Agricultura de São Paulo. Para mais informações, entre em contato pelo e-mail ilpfgelq@gmail.com ou telefone (19) 99220-5959.


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Sabor da Carne

Cleuza Fidélis

Um prato que une tradição e aprimoramento

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Cleuza Ribeiro Fidélis e o marido, Carlos Altair Fidélis, são produtores de soja e milho no Sítio Fidélis, localizado no município de Doutor Camargo, a 40 km de Maringá, PR, onde está a sede da Cocamar, da qual são associados há 32 anos.

o último dia 16 de outubro, tive a honra e a felicidade de estar entre as cinco finalistas do “Festival de Sabores Chefs do Campo”, concurso promovido pela Cocamar ‒ Cooperativa Agroindustrial, de Maringá, no norte do Paraná, uma das 10 maiores cooperativas agropecuárias do Brasil. O que me levou até ali foi o prato que preparei ‒ costela recheada ao forno, receita de um antigo amigo da minha família que fui aprimorando ao longo dos anos. A costela foi o único prato à base de carne bovina dentre as cinco receitas vencedoras, de um total de 147 que concorreram nas categorias carnes e massas. Uma verdadeira maratona culinária que começou em junho e terminou mês passado, com a participação exclusiva de colegas integrantes dos 30 núcleos femininos que a Cocamar mantém. Participo há 12 anos do núcleo feminino de Doutor Camargo, junto com outras 23 amigas, com as quais troco experiências de cozinha ‒ receitas, modos de preparo e outros conhecimentos desse universo ‒, onde aprendo e também ensino, especialmente através de jantares que às vezes acontecem mais de uma vez por mês. Nada como uma boa conversa e uma boa comida à mesa... Outro motivo de orgulho foi minha receita ter colocado, pela primeira vez em três anos de concurso, o núcleo de Doutor Camargo na final. Mas, como eu dizia, a receita da costela recheada foi sendo aperfeiçoada ao longo dos anos, ainda que seja um prato que nunca

mudou sua história, que continua sendo a “marca registrada” da nossa família. Uma das modificações que introduzi foi temperar a costela com alho amassado, em vez de alho inteiro, como na receita original. Aliás, esse é o único tempero da carne. No recheio, outra modificação: cenoura cortada em pedaços pequenos, em vez de cortada em rodelas. Agora, o que não muda é o tempo de cozimento: são seis horas de forno, cinco delas em fogo baixo e a última hora em fogo mais alto, o que garante maciez e suculência a esse prato especial. Sim, porque costela é um prato que está na mesa de nossa família toda semana, com variações que simplificam seu preparo ‒ cozida na panela, com batatas, ou no forno, com papel alumínio ‒ assim como seus acompanhamentos. Isto porque considero a costela um dos cortes mais saborosos do bovino. Por falar em acompanhamentos, a farofa mineira é o preferido do pessoal que aprecia a costela ao forno. E ele também foi um dos pratos que procurei deixar do “meu jeito”. Introduzi tirinhas de mandioca, milho e ervilha, além dos tradicionais toucinho, linguiça calabresa, azeitonas, cenoura, cebolinha, cebola e salsa, e, logicamente, a farinha de mandioca e os ovos. Agora, algo que reforça minha alegria com a conquista desse prêmio é dizer que parte dos acompanhamentos da costela, como a ervilha e o milho, são produzidos em nosso sítio. Aqui eu nasci e aqui aprendi, com minha mãe, a ter o prazer de cozinhar. n

Costela recheada ao forno

Modo de preparo: Abra a peça de carne e tempere com sal e alho. Coloque, bem espalhados, por inteiro, toucinho, calabresa, cenoura cortada, milho, ervilha, cebola, pimentão, presunto e, por último, queijo muçarela.

130 DBO novembro 2018

Rogério Recco

Ingredientes: - 5 kg de costela de ripa desossada - sal e alho a gosto - 300 g de cenoura - 400 g de toucinho - 400 g de calabresa - 200 g de presunto - 300 g de muçarela - 1 porção (quantidade de 1 lata) de ervilha - 1 porção (quantidade de 1 lata) de milho - 1 pimentão (cortado em tiras) - 1 cebola (cortada em rodelas)

Enrole a peça como rocambole, amarre-a com barbante e, por fim, envolva-a com duas folhas de papel celofane. Deixe assar em forno baixo por 5 horas e aumente o fogo por mais uma hora. Sirva com arroz branco, feijão cozido na banha, farofa, maionese e salada de pupunha, ervilha e tomate. Serve 15 pessoas.




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