Revista Mundo do Leite 71 - Fev/Mar 2015

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Ao Leitor Em busca de produtores Reconquistar a confiança dos pecuaristas de leite e estimular o ingresso de mais interessados na atividade estão entre os objetivos de três cooperativas do Paraná _ Batavo, Capal e Castrolanda _ e de uma paulista, a Colaso, para reativar a bacia leiteira do sudoeste de SP. O primeiro passo da “intercooperação”, como está sendo chamada a aliança, já foi dado, com a construção de um moderno laticínio em Itapetininga, SP, que deve fechar este ano com captação de 1 milhão de litros/dia, como relata a nossa reportagem de capa. A intenção das três cooperativas do Sul? Avançar no rico mercado paulista, já parcialmente conquistado pela Colaso, e ter, de quebra, mais matéria-prima para as unidades paranaenses. Quem se habilita?

Capacitação

Capa 18 Mecias Machuga (foto),

24 Assistência técnica melhora a vida no campo

de Itapetininga, SP, fornece leite para a Colaso, que se uniu a cooperativas do Sul.

Extensão

30 Com o balde e o bolso cheios

Nutrição

38 Silagem do jeito certo

Colunistas

8 Saúde Animal, José Cláudio Mancilha 15 Gestão, Christiano Nascif 36 Sustentabilidade, Alexandre M. Pedroso 43 Nutrição, Flávio Augusto P. Santos 46 Qualidade, Marcos Veiga 50 Seguindo em Frente, André Novo

Seções

3 Ao leitor 6 Mercado 7 Palavra da Indústria 48 Empresas e Produtos

Mundo do Leite

Entrevista Luiz Gustavo Nussio 5 O recém-empossado diretor da Esalq/USP quer tornar a universidade e suas ações em prol da agropecuária mais visíveis para o público.

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Gestão

É tempo de se planejar

Uma aula de gestão, de vários especialistas, espera o leitor nesta reportagem sobre como pensar na propriedade leiteira a curto, médio e longo prazos. Capa: Lay-out: Edgar Pera Arte final: Edson Alves Foto: Luiz Prado

É uma publicação bimentral da DBO Editores Associados Ltda., com circulação em fevereiro, abril, junho, agosto, outubro e dezembro.

Daniel Bilk Costa, Demétrio Costa e Odemar Costa.

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Arte Editor Edgar Pera

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Demétrio Costa

Edson Alves e Célia Rosa

Redação Editora Tânia Rabello

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Entrevista Luis Gustavo Nussio Desde o dia 16 de janeiro, a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo, tem um novo diretor: o engenheiro agrônomo Luiz Gustavo Nussio. Egresso do Departamento de Zootecnia da mesma universidade, onde atua desde 1989, tem especial ligação com a pecuária, e reconhece: “O leite é a minha paixão”. Seus estudos são principalmente os voltados à conservação de forragens para ruminantes. Nesta entrevista exclusiva à Mundo do Leite, anuncia que, entre suas prioridades, está aproximar a universidade dos produtores rurais, dando mais “visibilidade” à instituição, fora do campus de Piracicaba, SP.

Mais luz sobre a Esalq propriedades rurais. Estamos fazendo isso por meio de uma nova área, chamada internamente de “visibilidade institucional”. Trata-se de uma política interna justamente para que, como o próprio nome diz, as nossas ações se tornem mais visíveis fora da universidade. Muitas já estão sedimentadas, mas são pouco acionadas pelo produtor. Detectamos, então, que precisamos melhorar a maneira de as pessoas perceberem que essas ações estão à disposição. Vamos fazer isso reformulando o site da universidade e também preparando nosso pessoal interno para atender a todo tipo de demanda.

O departamento de visibilidade foi criado agora, com a sua gestão, ou ele já existia?

Tânia Rabello Mundo do Leite – Como aproximar mais o produtor rural da Esalq? LUIZ GUSTAVO NUSSIO – A Esalq já tem uma série de atividades tradicionais ligadas à produção agrícola e pecuária. Nosso departamento de extensão é bastante ativo e estamos, inclusive, ampliando algumas atividades voltadas para pequenas e médias propriedades, fortalecendo, nestas classes de propriedade, iniciativas que já ocorrem com empresas e grandes

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Já existia, mas estamos não só dando seguimento a este departamento, como fortalecendo-o.

No caso específico do pecuarista de leite, quais são os programas que já existem e que a Esalq pretende dar mais visibilidade? Temos programas bem assistencialistas, ligados ao Departamento de Economia, Administração e Sociologia – onde se abriga o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, o Cepea, que faz a cotação Brasil do leite e publica o Boletim do

Leite –, voltados aos produtores, inclusive aos pequenos. Pretendemos continuar com os trabalhos que ali são feitos e fortalecer este elo, principalmente no sentido de estimular a organização dos produtores. Há, ainda, trabalhos no Departamento de Zootecnia, ao qual eu pertenço, originalmente, e que são mais voltados ao atendimento na área técnica. A Zootecnia atende desde questões relativas à nutrição dos animais, manejo de pastagens, reprodução a questões gerenciais do ponto de vista técnico. Para este departamento também pretendemos dar mais visibilidade.

Quantos produtores de leite têm sido atendidos? Creio que, de uma forma direta e indireta, temos atingido cerca de cem propriedades leiteiras, entre pequenas, médias e grandes.

Como um produtor de leite pode acessar a universidade e se beneficiar de programas voltados a ele? Na página da Esalq, na internet (www.esalq.br), sempre há atualizações sobre pecuária leiteira e ali o produtor pode se informar a respeito. E, à medida que o trabalho de aumentar nossa visibilidade estiver efetivado, as informações passarão a ser divulgadas em várias mídias, inclusive esta revista, de forma que o


Queremos dar visibilidade às ações da Esalq que podem prestar serviços à agropecuária.” produtor saberá sobre nossas ações, fortalecendo nosso elo com a cadeia produtiva.

Como a Esalq pretende ampliar a difusão da tecnologia gerada dentro da universidade, de uma maneira bem prática? Seria por meio da extensão rural? A Esalq tem o papel muito mais de formação de multiplicadores que vão fazer a extensão rural do que propriamente o da extensão rural em si. Não temos corpo técnico institucionalizado para ir a campo e fazer a extensão. Este papel cabe mais à Secretaria de Agricultura e Abastecimento, por meio da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (Cati), no Estado de São Paulo. Então, nosso espírito é muito mais o de formar multiplicadores, oferecendo cursos técnicos e gerenciais a esses agentes do campo, organizando as informações e demandas dos produtores que chegam até nós e repassando a solução para esses multiplicadores. Nossa função pode ser muito mais de conexão entre o setor produtivo e a academia, fazendo com que o conhecimento de alto nível aqui gerado seja repassado para o multiplicador, que o repassará de maneira prática para o produtor rural.

Como o aluno da Esalq, seja de agronomia, zootecnia ou veterinária, se encaixa neste processo? Da seguinte maneira: temos diversos grupos na universidade, ligados a diversos professores e seus projetos. São projetos tanto de pesquisa ou mais diretamente ligados à extensão rural em si, e outros até de ensino de graduação. O aluno pode, então, se encaixar em um desses projetos, conforme a sua afinidade. Ele participa do desenvolvimento da tecnologia, que será mais para a frente dispersada para os produtores, ou, ainda, participa do projeto de extensão,

aonde ele acompanha os projetos desses professores no campo, também contribuindo para levar o conhecimento ao produtor.

De alguma maneira há planos de a Esalq sedimentar mais ainda as pontes entre os alunos e os produtores rurais? O universo de conexão entre alunos, professores e produtores vai depender dos projetos. Sempre que o aluno faz uma pesquisa ele está dentro de um projeto. Então, esse conjunto de projetos é disseminado por meio de alguns canais, entre eles a Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz, a Fealq, que é uma mediadora desses projetos, além de nossas seções de cultura e extensão. Dentro dos projetos, os alunos sempre têm ligação com produtores.

Como um estudioso bastante ligado à área de leite, quais são, na sua opinião, os principais desafios da pecuária? O Brasil tem enfrentado, na pecuária leiteira, questões fundamentais. Eu diria até que a alimentação do rebanho é uma questão de soberania nacional. Nesse quesito, cabem ações efetivas em relação ao manejo de pastagem, que é a base da produção de volumosos no Brasil, e de volumosos suplementares no período da seca. Um segundo pilar é a nutrição de animais. Outra prioridade e que tem arranhado a imagem do setor é a profilaxia de doenças e o controle de zoonoses, calcanhares-deaquiles da atividade pecuária. E, em última análise, também a qualidade do leite, o produto final. Este último quesito envolve não só a zootecnia, mas também ações na indústria leiteira. São essas as questões que devem ser resolvidas pela pecuária leiteira.

Dentro deste diagnóstico, como a Esalq pode contribuir?

Bem, desde o começo dos tempos a Esalq é pioneira na formação de pessoal de alto nível. Nossa maior e histórica contribuição é na formação de recursos humanos; somos reconhecidos por isso. Agora, tecnicamente falando, temos contribuições muito importantes também na área de raças de animais, além de manejo de pastagem e nutrição. Somos bastante reconhecidos também como uma universidade que sempre se importou com o manejo dos animais, manejo que se reflete no conjunto da obra, que nada mais é do que o conjunto das orientações ligadas a pasto, nutrição, bem-estar. Por isso somos reconhecidos também como um grupo que tem visão de todo o processo, do todo.

Tendo em vista que o sr. é bastante ligado à pecuária leiteira, haverá algum tratamento especial na sua gestão à essa área? Como administrador do conglomerado Esalq, tenho expectativas de proporcionar progressos em várias áreas, entre elas, a pecuária de leite. Nosso trabalho está sendo muito voltado no sentido de firmar parcerias interinstitucionais, com Embrapa, ministérios, etc. E também pretendemos nos inserir na contribuição da formulação de políticas públicas, lançar mão do nosso corpo técnico e altamente especializado. Queremos opinar e ajudar na definição do que seriam as metas prioritárias da produção tanto no nível estadual quanto federal. No caso específico do leite, o Departamento de Zootecnia tem contribuições importantíssimas. Queremos também contribuir para a internacionalização da área de leite, com o estímulo às exportações, e atuando, por que não?, como consultores de ministérios para a abertura de novos mercados. n fev-mar/2015 Mundo do Leite

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Mercado O leite nas pistas Preços médios dos leilões de gado leiteiro¹ Praça²

Total de animais vendidos

Faturamento (em R$)

Preço médio (em R$)

MG

26

105.200

4.046

SP

108

223.780

2.072

GO

-

-

-

Comparação entre 2013 e 2014 2 (Até 31/12 de cada ano) 2013

2014

Média de preços (em R$)

4.947

5.667

Total de animais vendidos no País

39.305

30.853

(1) Período de 12/12/2014 a 12/1/2015; (2) Nas três principais praças de comercialização

Variação do preço do leite ao produtor Média nacional ponderada - em R$/litro

Laticínios apontam estabilidade Preço do leite teve 8 meses consecutivos de queda Tânia Rabello Após oito meses consecutivos de queda do preço do litro do leite pago ao produtor, a tendência agora é de estabilidade, indicam os analistas de mercado ouvidos pela Mundo do Leite. Conforme o consultor Rafael Ribeiro, da Scot Consultoria, de Bebedouro, SP, “os preços parecem ter encontrado um piso”. Em janeiro (para o leite entregue em dezembro), o litro chegou a R$ 0,89 na média nacional, segundo a Scot, e a R$ 0,8446 líquidos, conforme o Cepea/Esalq-USP. Segundo Ribeiro, 60% das indústrias falam em estabilidade nas cotações, até porque também está em jogo a garantia de o laticínio ter matéria-prima para continuar trabalhando. “O volume captado em Minas, Goiás e São Paulo já começou a cair, por causa do início da entressafra, segurando um pouco mais os preços”, comenta Ribeiro, lembrando que neste cenário o que vem auxiliando o produtor são os preços mais baratos de alguns insumos, como milho e farelo de soja. “O milho desvalorizou-se 13,9% em fevereiro em relação a fevereiro do ano passado e, o farelo de soja, 4,6%”, diz.

Como contraponto, os fertilizantes – que encareceram por causa da valorização do dólar sobre o real – pesaram mais

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no bolso. Para se ter ideia, segundo Ribeiro, a ureia está 1,6% mais cara em fevereiro deste ano e o supersimples, 3,5% mais caro em relação ao mesmo período do ano passado. Além disso, outro fator de peso é o aumento do salário mínimo, elevando o custo com a mão de obra. De todo modo, tanto Ribeiro quanto o analista Wagner Yanaguizawa, do Cepea, ressaltam que o produtor tecnificado e com escala de produção está conseguindo ter lucros, embora apertados. Ribeiro destaca que, mesmo estabilizado por volta de R$ 0,90, o preço do litro do leite está num patamar “historicamente alto”. Já Yanaguizawa diz que “muita gente vem desistindo da atividade, por não ter suporte econômico, pois oito meses de baixa consecutiva tornam difícil a situação”. Por isso, ressaltam, é importante que o produtor busque sempre a produtividade por meio da tecnificação. “Assim ele ganha em escala de produção e consegue sobreviver nos tempos de ‘vacas magras’”, diz Ribeiro. Para este ano, o analista destaca que o cenário é de incertezas. Deve continuar havendo, segundo ele, um grande volume de leite estocado nas indústrias. Além disso, não há perspectiva a curto prazo de aumento de exportações ou de uma melhora na economia que estimule o consumo maior de lácteos. n


Palavra da Indústria

Piracanjuba completa 60 anos Com faturamento de R$ 2 bilhões, empresa está entre as cinco maiores do Brasil. A Piracanjuba, empresa que se situa entre as cinco maiores do mercado de laticínios no Brasil, está comemorando 60 anos. Com faturamento de mais de R$ 2 bilhões e capacidade de processamento de 4,3 milhões de litros de leite por dia, a Piracanjuba tem três fábricas produtoras de leite e derivados: em Governador Valadares, MG _ inaugurada no fim de 2014 _; em Bela Vista de Goiás, GO, e em Maravilha, SC, gerando mais de 2.000 empregos diretos e produzindo mais de cem artigos, distribuídos em todo o Brasil com as marcas Piracanjuba e Pirakids. O slogan desenvolvido para marcar as seis décadas foi “Há 60 anos, gostamos de fazer o que te faz bem”. Como parte das comemorações, a empresa está organizando uma campanha nacional de marketing que contemplará comerciais em TVs aberta e paga, anúncios em revistas direcionadas para consumidores finais, profissionais de saúde e trades, além de ações nas mídias sociais.

“A história da Piracanjuba é construída com toda dedicação, cuidado e carinho, a partir de produtos e serviços que proporcionam qualidade de vida e bem-estar, colaboradores e parceiros. Hoje estamos entre as 20 marcas mais presentes nos lares do País”, orgulha-se a gerente de Marketing da empresa, Lisiane Guimarães. Entre a programação comemorativa, estão também encontros com produtores de leite nos três municípios onde a empresa possui unidades, um selo comemorativo e um livro, ainda em elaboração, além de lançamentos exclusivos. Boa parte dos produtos e novidades da Piracanjuba vai sair do novo laticí-

nio da empresa, em Governador Valadares, no Vale do Rio Doce, Minas Gerais. Em dezembro do ano passado, o Laticínios Bela Vista – dono da marca Piracanjuba – deu início às operações da nova fábrica, que demandou investimentos de R$ 60 milhões, com capacidade de processamento de 300.000 litros de leite por dia.

A nova indústria foi desenvolvida para atuar nas linhas de leite longa vida integral, desnatado, semidesnatado, creme de leite e bebida láctea, que serão destinados ao abastecimento do mercado mineiro e dos Estados do Rio de Janeiro, Espírito Santo e de toda Região Nordeste. A estratégia de abrir uma fábrica em Minas Gerais foi a mesma adotada na Região Sul, em Santa Catarina. “Com isso, nos instalamos em uma tradicional bacia leiteira e ficamos mais próximos de importantes mercados, facilitando a comercialização. Os incentivos fiscais concedidos pelo governo, como a redução do ICMS, também influenciaram a escolha”, destaca o diretor de Relações Institucionais da empresa, Cesar Helou. O Laticínios Bela Vista já conta com duas unidades de captação de leite no Estado mineiro, uma em Iraí de Minas e outra em Santa Vitória. “Minas tem grande oferta de matéria-prima e temos muito espaço para crescer no Estado”, diz Helou. A fábrica de Governador Valadares, totalmente automatizada, com sistema de rastreabilidade ativa – que permite identificar o percurso do leite da fazenda até a caixinha, prevenindo fraudes _, representará, já em 2015, 7% do faturamento total do Laticínios Bela Vista. Em 2017, esse percentual deve chegar a 10%. n

‘Há 6 anos, gostamos de fazer o que te faz bem’ é o slogan comemorativo da Piracanjuba para 2015.” Lisiane Guimarães Gerente de Marketing

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Saúde Animal José Cláudio Mancilha

Nas verminoses, atenção aos animais jovens.

FERNANDO YASSU

Bovinos de até 18 meses de idade são mais suscetíveis, pois ainda não desenvolveram resistência.

Bezerros. Sistemas de criação a pasto põem animais em maior risco de contrair vermes

José Cláudio Mancilha Veterinário formado pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, especialista em bovinos de leite

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A

s verminoses são doenças provocadas por vermes que parasitam os bovinos, mais incidentes nos animais jovens, pois normalmente animais adultos acima de 18 meses de idade têm resistência a verminoses, não necessitando de maiores cuidados, salvo algumas exceções. Em rebanhos leiteiros, as verminoses se fazem mais presentes em sistemas de criação extensivos a pasto, causando prejuízos econômicos aos animais jovens quando não cuidados, provocando queda de desempenho, perda de peso, má aproveitamento dos alimentos e diarreias. Atualmente, com a tendência maior de haver sistemas de produção de bovinos de leite mais voltados para os confinamentos ou pastejos

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mais intensificados, os problemas com verminoses foram drasticamente reduzidos, pois nestes sistemas as possibilidades de sobrevivência dos vermes no meio ambiente e de contaminação são menores e normalmente toda fazenda leiteira tem um programa básico de controle de verminoses ou mesmo de ectoparasitas que, muitas vezes, também ajudam a controlar o problema, reduzindo muito a sua ocorrência. Quando presentes, as verminoses provocam baixos índices de crescimento ou perda de peso; pelos arrepiados e sem brilho e anemia, sinais que muitas vezes se confundem com problemas de nutrição e carências minerais, papeira, diarreia e até hemorragia intestinal, que é verificada pela ocorrência de sangue nas fezes dos animais acometidos. Em casos mais graves, pode levar o animal à morte, principalmente por diarreia, anemia e fraqueza.

Os bovinos normalmente se infectam pela ingestão oral dos ovos ou das formas jovens dos vermes (larvas) pela pastagem ou pela água contaminada. Os vermes podem se alojar nos pulmões ou no sistema digestivo. No intestino, os vermes lançam ovos que são eliminados pelas fezes, contaminando as pastagens e as águas. No meio ambiente ocorre ou não a eclosão dos ovos, que, quando eclodidos, dão surgimento às formas jovens dos vermes. Ovos ou formas jovens são ingeridos pelos animais, dando início a um novo ciclo. No caso de verminose pulmonar, o animal tosse, elimina os ovos, que são deglutidos e também eliminados pelas fezes. Os ovos ou larvas, quando ingeridos pelos animais, são absorvidos pelo intestino, ganham a circulação sanguínea e migram para os pulmões, onde se desenvolvem e completam seu ciclo de vida.


Basicamente temos dois tipos de verminoses: a pulmonar e a gastrointestinal. Na pulmonar, o verme responsável é sempre o mesmo, denominado Dictyocaulus viviparus, que parasita os pulmões, mais precisamente os brônquios, provocando pneumonia, com tosse seca, sem eliminação de muco ou catarro. Nas formas mais agudas e avançadas da doença pode haver lesão e colabamento dos brônquios, podendo levar o animal a óbito por pneumonia crônica.

Nas verminoses gastrointestinais estão envolvidos vários tipos de vermes que parasitam principalmente o abomaso e os intestinos. Dentre os mais importantes podemos citar Trichostrongylus, Ostertagia, Cooperia e Nematodirus, todos com efeitos semelhantes sobre o sistema digestivo, interferindo na absorção de nutrientes, provocando perdas de proteínas e outros nutrientes, atrofias e degenerações das mucosas intestinais e alteração no pH do abomaso, interferindo na digestão. Todas essas alterações resultarão em perdas e má absorção de nutrientes e vitaminas, levando à diminuição no desenvolvimento, a anemias e à perda acentuada de peso e até à morte. Existe uma verminose mais rara e grave dos bovinos, conhecida como fasciolose hepática, provocada por um verme denominado

Fasciola hepatica, que parasita o fígado, mais precisamente os dutos biliares, provocando insuficiência hepática aguda ou crônica e levando à hepatite necrótica e morte. Ela é rara, presente em determinadas regiões e depende de um caramujo do gênero Lymnaea como hospedeiro intermediário para seu completo desenvolvimento. Os parasitas se alojam e atingem a maturidade nos dutos biliares dos bovinos, por onde passam a eliminar seus ovos, que são excretados pelas fezes. Os ovos eliminados necessitam de áreas alagadas com cursos de águas lentos ou paradas para se desenvolver e eliminar formas jovens do parasitas que invadem ativamente os caramujos ou mesmo os ovos sendo ingeridos diretamente pelos caramujos. As formas jovens se desenvolvem no tecido dos caramujos, são eliminadas, contaminam as águas e pastagem, infectando os bovinos. No bovino, as formas jovens desenvolvidas no caramujo são absorvidas no intestino, ganham a circulação sanguínea e vão se alojar no fígado, onde se desenvolvem e atingem a maturidade. Em relação ao controle das verminoses, recomendamos vermifugação dos animais jovens a cada três ou quatro meses com produtos orais ou injetáveis, normalmente à base de avermectinas ou benzimidazóis ou levamisoles. n

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Gestão

É tempo de se planejar Pecuarista deve saber, na ponta do lápis, como, quando e por que o seu dinheiro está sendo usado. Fernanda Yoneya

I Inventário. Todas as categorias do rebanho devem passar por revisão periodicamente.

A

nício de ano é época propícia para o produtor de leite planejar atividades da propriedade e definir estratégias a serem adotadas ao longo dos próximos meses. Mas um bom projeto a médio ou longo prazos depende de uma boa organização do pecuarista, principalmente no que se refere a saber “onde se está” e “aonde se quer chegar”. Saber “onde se está”, o primeiro passo de um planejamento estratégico, significa fazer o “inventário” dos recursos disponíveis, isto é, avaliar área disponível, instalações, rebanho (todas as categorias), alimento (pasto, concentrado, suplementação), mão de obra e máquinas e equipamentos. Na outra ponta, deve estar a meta pretendida para a propriedade. “Planejar é projetar um trabalho ou serviço, determinar as metas da atividade e avaliar todos os recursos necessários para alcançá-la. Na pecuária leiteira, o primeiro ponto a ser considerado é uma análise

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detalhada do que realmente se tem ou do que se pretende ter”, afirmam os pesquisadores da Embrapa Gado de Leite Rosangela Zoccal e José Luiz Bellini Leite. “Planejamento requer saber onde se está (inventário da propriedade) e aonde se quer chegar (meta estabelecida). Tendo o ponto de partida (situação atual mostrada no inventário) e o ponto de chegada (situação desejada), um caminho lógico se apresenta”, dizem os pesquisadores. Antes de decidir sobre qualquer mudança, é importante que o produtor tenha em mãos os indicadores de desempenho zootécnico e econômico da atividade, o que se pode conseguir com a prática simples de tomar nota desses dados. Planilhas podem armazenar, de forma organizada, informações sobre os principais indicadores de desempenho zootécnico, como produção diária de leite; número de vacas em lactação e total de vacas; produção por vaca em lactação (litros/vaca em lactação/dia); produtividade da mão de obra (litros/funcionário/dia); produção por área de pastagem (litros/hectare); consumo de concentrado por litro de leite (quilos/litros), além de índice de fertilidade dos animais (do total de fêmeas cobertas, quantas ficam prenhes); índice de natalidade (proporção de bezerros nascidos em relação a fêmeas em produção); taxa de mortalidade e índice de animais descartados.


Segundo eles, o ideal é ter um planejamento de médio prazo (três anos), estabelecendo metas, e um de curto prazo (um ano), em que seria detalhado o que será realizado a partir do início do ano para se obter a meta estipulada. “Se o que foi planejado não for realizado, pode-se fazer o mesmo exercício considerando fevereiro como mês de partida e daí projetar os trabalhos, considerando que a atividade leiteira é contínua, não para durante o ano”, recomendam Rosangela e José Luiz. Uma boa gestão é aquela que contribui para a obtenção das metas estabelecidas e com o menor custo possível. O primeiro passo para isso é ter informação para a tomada de decisão envolvendo índices zootécnicos e econômicos da propriedade e acompanhamento das informações de mercado. No mercado existem programas de informática que ajudam na coleta e organização dos dados. “Além de produzir bem e com o menor custo possível, é importante lembrar que, como o leite é um produto perecível e de difícil estocagem, o produtor não tem muita margem de negociação no preço de venda, por isso a preocupação de produzir ao menor custo é essencial e, neste ponto, a compra dos insumos em parceria com outros produtores ou em conjunto com cooperativas é favorável.” Segundo os pesquisadores da Embrapa, o cálculo de quanto custa produzir o leite ajuda a definir as metas e corrigir distorções na propriedade. Basicamente, o produtor pode trabalhar com três indicadores: renda total; margem bruta e margem líquida ou lucro. A renda total é o valor obtido com a venda do leite, a venda de animais e o

Tânia Rabello

Entre os produtores, a Embrapa Gado de Leite tem difundido o conceito de gestão como a administração de tudo o que deve ocorrer na propriedade para a realização do que foi planejado. Por isso as anotações das informações zootécnicas e financeiras são fundamentais para se conhecer, administrar e tomar decisões e, nesse caso, a dica dos pesquisadores é procurar a melhor forma possível de fazer essas anotações. “Há vários tipos de planilha que podem ser utilizadas, que são as mais indicadas porque é grande a quantidade de informações que devem ser consideradas em um sistema complexo como a produção de leite. Quanto mais detalhada for a informação, mais fácil de se avaliar a atividade. O importante é anotar os dados de forma correta”, ensinam.

esterco. A margem bruta é o valor da receita total menos o custo operacional efetivo (não considera despesas como depreciação de maquinário e equipamentos). “Se o resultado for positivo, significa que o produtor cobre todo o desembolso realizado no período. Pode indicar a sobrevivência, pelo menos a curto prazo. Se o resultado da margem bruta for negativo, a atividade está antieconômica e não paga os gastos realizados”, afirmam os pesquisadores. A margem líquida é a receita total menos o custo operacional total. Se o resultado for positivo, a atividade está estável, com possibilidade de expansão e sobrevivência no longo prazo. Se for negativo, a condição do produtor é crítica para a sobrevivência no longo prazo, porque não está conseguindo remunerar os custos fixos. Se o resultado for zero, indica que a atividade está no ponto de equilíbrio e em condição de refazer o capital fixo no longo prazo”, dizem os pesquisadores da Embrapa.

Insumos. Meta econômica da propriedade indica a melhor época de aquisição

VALORES DE REFERÊNCIA Para tomar uma decisão de descarte ou compra de animais, além de considerar indicadores como produtividade por animal, é importante avaliar a composição do rebanho nas diferentes categorias. Alguns valores de referência para os indicadores: • Porcentual de vacas em lactação:

80%

• Duração da lactação:

300 dias

• Intervalo entre partos:

13 meses

• Taxa de natalidade:

93%

• Vida útil da vaca:

8 anos

• Vida útil do touro:

5 anos

• Número de partos por vaca: • Taxa de reposição:

7 13%/ano

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Gestão

Comida.

Critérios como crescimento ou estabilização

O item que representa

da fazenda, aumento ou não de pastagens, aquisição de equipamentos e máquinas, melhoria das instalações, descarte ou compra de animais só fazem sentido quando há metas a serem atingidas. De outra forma, afirmam, as decisões tomadas têm como propósito “apagar incêndio” – quando a máquina quebra ou quando as instalações começam a se deteriorar, por exemplo. “A meta para as propriedades produtoras de leite deve ser econômica e, com base nela, projeta-se o que será preciso para alcançá-la, em termos de recursos – animais, terras, mão de obra, máquinas e equipamentos, instalações – necessários.”

o maior custo é a alimentação das vacas leiteiras

Projeto estimula produtor a colocar as contas todas no papel Colocar tudo na ponta do lápis ainda não é um hábito comum aos produtores rurais, segundo o analista de mercado do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq/ USP) Wagner Yanaguizawa. Desde 2008, o Cepea, em parceria com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), estimula a profissionalização da gestão de fazendas leiteiras por meio do levantamento e divulgação de custos de produção de propriedades representativas das regiões pesquisadas. O projeto, chamado de Campo Futuro, já existia para outras cadeias produtivas e foi ampliado para o setor de leite. Até agora, o projeto já passou por 17 Estados, onde “mapeou” cerca

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de cem regiões leiteiras. “Em cada encontro do projeto, reunimos produtores, explicamos a diferença entre custos operacionais efetivos, custos operacionais totais e custos totais, apresentamos a eles as planilhas e fazemos em conjunto o preenchimento dos dados, levando em conta aquilo que é consenso entre os participantes de cada encontro. A ideia é conscientizá-los da importância de se ter controle dos custos de todas as etapas da atividade e, com isso, ajudá-los no planejamento”, diz Yanaguizawa. O Cepea recebe a atende a demandas de produtores interessados em receber o Campo Futuro na sua região. Mais informações no site do Cepea, www.cepea.esalq. usp.br

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Normalmente, o item que representa o maior custo na atividade leiteira é a alimentação do rebanho. Com isso, é imprescindível ter em mãos indicadores que permitam medir a eficiência do sistema de produção, como a taxa de lotação das pastagens, que é resultante do número de vacas em lactação dividido pela área (em hectares) destinada a essa categoria, e a produtividade das pastagens, que é a produção anual de leite em relação à área total do sistema produtivo. “Em muitos casos, o que se precisa é recuperar as pastagens ou realizar uma adubação, e não aumentar a área”, dizem os pesquisadores. Uma dica para evitar gastos desnecessários é buscar uma referência do potencial do solo obtido na região. “A alimentação é o item de maior impacto nos custos da produção de leite. Estabelecer uma estratégia alimentar do rebanho, com orientação técnica competente é o caminho mais adequado.” Para os pesquisadores da Embrapa, hoje não basta mais os produtores saberem o que acontece “da porteira para dentro”; é fundamental manter-se informado sobre o que acontece “da porteira para fora”. “A demanda e oferta de leite no País e no mundo, o nível de importação e exportação, políticas do governo para o setor... São vários fatores, distantes do dia a dia do produtor, mas que interferem no seu negócio, principalmente no preço do leite. Estar bem informado é condição imperiosa dos dias modernos. Ter acesso e saber utilizar as informações disponíveis é imprescindível. Não se pode tomar decisão sem informação. Ela hoje existe e está disseminada e o produtor deve aprender a acessá-la e selecionar o que é relevante para seu negócio. Informações de conjuntura e a dinâmica da cadeia produtiva do leite devem ser do interesse do produtor profissional.” “Para administrar uma propriedade leiteira de forma profissional é preciso, em termos de gestão, implementar o ciclo PDCA (Planejamento, Desenvolvimento, Controle e Avaliação). É o ciclo completo da gestão que começa no planejamento e vai até a avaliação e retroalimentação do planejamento do próximo ciclo.” Com uma experiência de 18 anos de atuação com produtores de leite, o engenheiro agrônomo Lúcio Antonio Oliveira Cunha reforça a importância de se traçarem metas num plano de gestão. “Um bom projeto começa pela meta que se quer alcançar, e que resulta da relação entre o potencial e as limitações da propriedade. A partir daí traçam-se os índices, custos e


resultados a serem alcançados. Uma vez apresentado o projeto final, técnico e produtor planejam a obtenção das metas de curto, médio e longo prazos”, afirma Cunha, que é consultor técnico do programa Balde Cheio, da Embrapa Pecuária Sudeste, e coordena o projeto no Espírito Santo. Cerca de 4.000 propriedades em todo o País fazem parte do projeto de transferência de tecnologia que promove o desenvolvimento da pecuária leiteira em pequenas propriedades. Em 2013 o programa Balde Cheio completou 15 anos.

“Quem planeja às vezes erra, quem não planeja às vezes acerta”, costuma dizer Cunha aos produtores de leite com que trabalha. Segundo ele, é a partir do fim de janeiro de cada ano, quando o produtor normalmente fecha o mês de dezembro, que a planilha de custos de todo o ano anterior é completada. Assim, explica o consultor, têm início todas as análises econômicas e administrativas da atividade, com base

nos resultados colhidos. “Primeiro analisamos, técnico e produtor, cada item da relação dos gastos operacionais e os confrontamos com sua meta ideal de participação no gasto total. Aí sabemos onde estamos eficientes (dentro ou abaixo das metas) ou ineficientes (acima das metas), definindo estratégias para nos mantermos eficientes onde já somos e alcançarmos a eficiência onde precisamos. Analisamos cada índice agronômico, zootécnico e econômico, buscando entender o porquê de cada índice e comparando com as metas traçadas no início do ano anterior”, explica o agrônomo. Segundo Cunha, itens como crescimento ou estabilização de pastagens, manutenção ou aquisição de máquinas e melhoria em instalações normalmente estão ligados às metas de investimentos previamente definidas. Já o item descarte ou compra de animais também é influenciado pela distribuição dos partos previstos para ocorrerem ao longo do ano. “Vai

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Gestão depender se os partos estão dentro ou abaixo do esperado. Analisamos ainda o desempenho produtivo e reprodutivo de cada vaca, os índices de eficiência zootécnicos obtidos, como intervalo entre partos. Essa ‘eficiência animal’ pode ser uma importante fonte receita que, eventualmente, pode patrocinar outros gastos estratégicos.” Na sua vivência no campo, Cunha destaca que é função do produtor fazer as anotações das fichas de campo, com as ocorrências zootécnicas (partos, coberturas, peso leiteiro, nascimentos, pesagem de bezerras e novilhas); econômicas (gastos e receitas), e climáticas (regime de chuvas e temperaturas máximas e mínimas). “Assim podemos preencher as fichas individuais e de acompanhamento do rebanho e as planilhas de custos.”

Toda essa teoria disseminada por pesquisadores e técnicos pode ser vista, na prática, na Fazenda Olhos D’Água, em Liberdade, Minas Gerais. Produtor de leite há 13 anos, João Paulo Varella conta que, antes de tomar qualquer decisão relativa a investimentos na fazenda, analisa de forma minuciosa, primeiro, o potencial de pastagens diante do rebanho atual. “O ponto básico para o planejamento e gestão do negócio é o conhecimento da propriedade”, resume o produtor. “Conhecer a propriedade, saber de tudo o que acontece, é essencial para tomar qualquer decisão, corrigir os erros e melhorar a gestão.” A Olhos D’Água possui 15 hectares de pastagens divididos em 125 piquetes, compondo 8 módulos, além de 16 hectares de milho para silagem e 0,5 hectare de cana-de-açúcar. O rebanho total é de 164 animais – 82 vacas em lactação produzem, em média, 45.000 litros de leite por mês. Para se organizar e sistematizar todas as informações da fazenda, Varella utiliza um programa de gerenciamento de rebanho específico para a reprodução e produção de leite. “São controlados ou apontados os eventos reprodutivos e o controle mensal de produção de leite, o que me permite fazer seleção e tomadas de decisão em relação ao arraçoamento (número diário de alimentação) das vacas.” Informações do acompanhamento veterinário na área de reprodução e sanidade também são armazenadas no banco de dados da fazenda. “Quem tem alimento pode aumentar o rebanho; quem não tem alimento deve diminuir o rebanho. Também devemos analisar se as instalações,

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CUSTO DE PRODUÇÃO DE LEITE A análise do custo de produção de leite auxilia na organização e controle do sistema de produção, permite a análise da rentabilidade e indica custos que podem ser reduzidos. O custo de produção de leite pode ser dividido em variáveis e fixos: • Custos variáveis: dependem da quantidade de leite produzida e, se o processo de produção for interrompido, deixam de existir. Exemplos: mão de obra, alimentação do rebanho, reprodução, medicamentos. • Custos fixos: são independentes da quantidade de leite produzida. Exemplos: depreciação de máquinas/benfeitorias, animais, implementos, seguro, impostos. FONTE: EMBRAPA GADO DE LEITE

máquinas e equipamentos permitem o aumento de produção. Devemos trabalhar para otimizar a produção de alimentos e animais, usando nossas instalações, máquinas e equipamentos. O que mais vejo na prática é excesso de instalações, máquinas e equipamentos e escassez de alimento e animais pouco produtivos”, afirma Varella, que é engenheiro agrônomo e atua como consultor em pecuária de leite e corte.

Os itens mais representativos nos custos de produção de leite são, segundo o produtor, alimentos concentrados (farelos), alimentos volumosos (pastagens e silagens) e mão de obra. “Na compra de alimentos concentrados e insumos agrícolas, ao longo do tempo, desenvolvi parceiros fornecedores que me garantem bons produtos e preços justos com o mercado. Procuro fazer compras estratégicas em épocas de preço interessante.” Para isso, diz ele, o acompanhamento constante do mercado de leite e insumos é fundamental. “A conjuntura é determinante. No meu caso, em épocas de crise me programo para reduzir investimentos em custos fixos, como instalações, máquinas e equipamentos, e aumentar investimentos em fatores produtivos, como alimentos e animais. Sem esquecer de outro item de fundamental importância, escasso e caro: a mão de obra. Temos de investir em pessoas. Pode não ser diretamente em salários, mas em aprendizado e capacitação. “O que transforma os chamados volumosos em leite são os animais. O bom animal deve exigir nosso maior investimento. E isso só é possível quando temos bom alimento para oferecer a estes animais.” Varella conta que controla os custos de produção por meio de uma planilha da Embrapa Pecuária Sudeste que é usada no programa Balde Cheio. n


Gestão Christiano Nascif

É possível lucrar com leite no modelo de mão de obra familiar?

A

ntes de responder à pergunta, vamos contextualizar algumas questões. Segundo a Pesquisa Pecuária Municipal 2010, do IBGE, 81% dos estabelecimentos rurais no Brasil são de agricultura familiar. Destes, 58% têm a atividade leiteira como uma das fontes de renda, com a predominância de pequenos produtores. Para termos melhor dimensão, 91,5% dos considerados produtores de leite no Brasil produzem até 100 litros/dia, sendo responsáveis por 45% do leite. É muito produtor em relação ao volume total, sendo importante ressaltar que, além da atividade leiteira, esses produtores exploram outras atividades, quando não trabalham para terceiros para compor renda. Essas informações foram extraídas do Censo Agropecuário de 2006 e da Pesquisa de Pecuária Municipal 2010, ambas do IBGE. Estes trabalhos citam que existem 1.350.809 estabelecimentos rurais que produzem leite no Brasil, para a produção de 30,71 bilhões de litros de leite ao ano. Em Minas Gerais, que é o maior Estado leiteiro do País, há 188.786 produtores com volume inferior a 100 litros/dia. Temos, portanto, um problemão a resolver, pois podemos afirmar que, com 100 litros de leite/dia, a atividade leiteira como negócio não faz o menor sentido do ponto de vista de sustentabilidade econômica, social e ambiental.

Christiano Nascif Zootecnista, coordenador de assistência do Pdpl-RV e coordenador técnico do Projeto Educampo/Sebrae.

Outro ponto equivocado é separar e criar uma ilusória polarização quando confrontamos agronegócio com agricultura familiar. Da mesma forma, não tem lógica a existência de um Ministério do Desenvolvimento Agrário para discutir assuntos inerentes ao Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), pois entendemos que a agricultura familiar é agricultura, ou não é? E, como qualquer negócio, tem que gerar lucro. O problema começa por confundirem e acreditarem que existem dois tipos de agricultura familiar no Brasil. Um tipo é aquela assistencialista,

que gera dependência visceral, que leva à divisão e à propagação da miséria no campo, e que, em vez de ensinar, capacitar e criar condições de uma vida digna ao produtor, oferece uma varinha de anzol para pescar lambari quando o ideal seria ofertar um barco pesqueiro. Este produtor nunca sairá da base da pirâmide, sendo reprovável tal estratégia no âmbito econômico e social. O outro tipo _ a que prezamos e queremos _ é uma atividade sustentável econômica, ambiental e socialmente, com adoção de tecnologias apropriadas e o pecuarista tendo o seu lado empreendedor aflorado e inserido no mercado.

A agricultura familiar real proporciona reais condições de o pequeno produtor se tornar médio ou grande. Existem vários casos de agropecuaristas no Brasil que iniciaram pequenos e hoje ocupam, com destaque, os primeiros lugares no cenário nacional e internacional. Um dos motivos por este marasmo e estagnação dos tidos como pequenos produtores de leite no Brasil, na sua maioria com a adoção predominantemente de mão de obra familiar, é a grande precariedade da assistência técnica e extensão rural voltadas para este público. Eles precisam de ter acesso às tecnologias mais apropriadas para solucionar os seus problemas e melhorar resultados, tirando-os do perverso assistencialismo. No Brasil há programas de sucesso, como o Educampo/Sebrae; Balde Cheio/Embrapa; Minas Leite e Geraleite, entre outros. São neles que a recém-criada Anater deve se inspirar para reverter este cenário do pequeno produtor rural no Brasil. Conforme pesquisas do Ministério da Agricultura, somente 9% dos produtores rurais têm acesso à assistência técnica regular, e 78% nunca tiveram uma visita à sua propriedade de um profissional para este fim. É ou não é de se espantar? Outro tema que deriva desta discussão é a sucesfev-mar /2015 Mundo do Leite

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Gestão são familiar. Em 2005 o professor Sebastião Teixeira Gomes/UFV, por solicitação do Sebrae Minas, fez o segundo diagnóstico da pecuária leiteira de Minas. Neste trabalho foi mostrado que 47,49% dos filhos dos produtores de leite mineiros querem continuar na atividade. Este valor não teve variação quando se separaram por estratos os pecuaristas que produzem até 50 litros/dia; de 51 a 200 litros; de 201 litros a 500 litros; de 501 litros a 1.000 litros e acima de 1.001 litros. Os filhos dos outros 52,51% produtores de leite entrevistados querem trocar de atividade rural (minoria), vender ou deixar a propriedade. Como um filho que vive num ambiente de dificuldade, muito trabalho e pouco dinheiro, sem perspectivas de melhoria, vai querer continuar na atividade? Portanto, arranjar meios para que o pequeno produtor saia da pobreza e dar um basta no assistencialismo são questões fundamentais para manter o homem no campo e seus sucessores. Diante do exposto, agora podemos responder: é possível ganhar dinheiro com a pecuária leiteira familiar no Brasil? Sim, desde que... Utilizando os dados do projeto Educampo Leite do Sebrae Minas de setembro/2013 a agosto/2014, com os dados econômicos de 564 produtores para o IGP-DI de agosto/2014, podemos confirmar esta resposta. Separamos os produtores de leite que participam do Educampo da seguinte forma: aqueles que comprometem menos de 3% da renda do leite para pagar a mão de obra foram considerados de regime familiar. Acima disto, foram considerados regime de contratação de mão de obra de terceiros. Para sintetizar o sucesso em cada grupo, familiar ou contratado, usamos a rentabilidade do negócio: acima de 6% ao ano de rentabilidade (taxa de remuneração do capital com terra, TRCCT) foi considerado um sucesso. Abaixo, um insucesso em ambos os grupos. No quadro, percebam que a maioria dos indicadores técnicos dos produtores de sucesso econômico no modelo familiar é semelhante aos também com sucesso do modelo de mão de obra contratada. Confirma-se então que, independentemente do modelo familiar ou contratado, pequeno, médio ou grande produtor, a produtividade e a eficiência tecnológica ao usar os fatores de produção como terra, mão de obra, animais, sempre foi, e ainda mais forte será, o divisor de águas

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9%

Regular

Porcentagem de produtores rurais de acordo com o acesso à assistência técnica rural

13%

Ocasional

78%

Nunca

de quem ganha e de quem perde dinheiro com a atividade leiteira. Percebam que os custos de produção e volume de leite produzido por dia, com as devidas proporções, se comportaram de forma lógica nos quatro estratos apresentados na tabela. Ao analisar o ponto de cobertura total, notem que para o grupo de produtores no modelo familiar não operar com prejuízo econômico eles deveriam ter vendido no mínimo 566 litros/dia. Já no modelo de mão de obra contratada, 1.253 litros/dia. Tais volumes, a se permanecerem inalterados os custos e o preço do leite, são necessários para não ter prejuízo. Ou seja, é onde o produtor consegue ter lucro igual a zero, que é o ponto de cobertura total. Os resultados são média de ambos os grupos para o período analisado, não significando que, para ganhar dinheiro com a atividade leiteira de forma familiar, outros pecuaristas tenham que produzir este volume mínimo de MDO Familiar

MDO Contratada

Rentabilidade - TRCCT (%a.a.) Descrição < 6% > 6% < 6% > 6% Vacas em lactação / Rebanho (%) 35,33 40,20 36,23 40,98 Vacas em lactação / Área para 0,91 2,00 0,93 1,30 pecuária (cab.) Vacas em lactação / dh (cab./dh) 19,07 25,35 20,78 27,00 Produção média de leite (l/dia) 542,67 924,27 1.114,52 2.024,04 Produção / Vacas em lactação (l/dia) 14,67 17,29 14,80 18,92 Produção / Mão-de-obra 273,48 431,16 286,95 467,20 permanente (l/dh) Preço médio do leite (R$/l) 1,14 1,17 1,17 1,21 Custo operacional efetivo do leite (R$/l) 0,76 0,73 1,00 0,88 Custo operacional total do leite (R$/l) 0,99 0,86 1,11 0,94 Custo total do leite (R$/l) 1,07 0,93 1,20 1,01 Gasto com concentrado na ativ./ren34,77 29,76 34,40 31,57 da bruta da atividade (%) Margem líquida da atividade (R$/ano) 30.587,70 104.896,74 24.313,48 202.193,59 Margem líquida por área (R$/ha) 488,68 2.177,43 293,54 1.909,73 Ponto de cobertura total 566,67 928,85 1.253,81 1.698,21 da atividade (l/dia) Fonte: CPD Educampo/Sebrae


leite. O que foi retratado se refere a casos específicos da amostra, não devendo ser comparado aleatoriamente com outros produtores de leite.

O grande destaque vai para a rentabilidade. Os produtores com predominância de mão de obra familiar e que fizeram o dever de casa obtiveram rentabilidade de 12,48% ao ano, ou seja, o negócio foi viável e atrativo economicamente. Portanto, é possível ganhar dinheiro com a atividade leiteira no modelo de mão de obra familiar? Sim, desde que se melhore a estrutura de ensino e capacitação dos produtores rurais do Brasil; que haja política de crédito de forma orientada com custos compatíveis com a rentabilidade do negócio a ser desenvolvido; e estrutura de assistência técnica e gerencial e de extensão rural eficiente, para que estes produtores, até então tratados de forma equivocada por um assistencialismo brejeiro, possam efetivamente ser competitivos.

Nos últimos anos houve atuação mais efetiva do Sebrae, Senar, parcerias públicas privadas, com o objetivo de transformar a realidade dos pequenos produtores rurais brasileiros. Mas, diante do tamanho do problema, trata-se de atuação modesta. Assim, esperamos que a Anater saia logo das intenções e vá para a prática. Dentre as várias conclusões a que podemos chegar deste artigo, uma é a necessidade de que tenhamos uma classe média rural solidificada por meios do trabalho das famílias dos agricultores e preservando as suas tradições produtivas. Para isto é fundamental mantê-los no campo, reduzindo a descontrolada urbanização brasileira e, principalmente, proporcionando a estas famílias rurais oportunidade de ascensão social, dignidade e prosperidade. Para que isto ocorra, os meios já existem, falta apenas utilizá-los de forma eficiente para atingirmos o objetivo final com êxito. As outras conclusões ficarão ao critério da liberdade de interpretação dos respeitados leitores desta singela coluna. n

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Capa

Sudoeste paulista busca reativar bacia leiteira José Maria Tomazela

N

o Sítio São José, distrito de Gramadinho, zona rural de Itapetininga, sudoeste paulista, as vacas do criador Mecias Lúcio Machuga, de 42 anos, são conhecidas pelo nome. Belinha, uma Girolanda “quase Holandesa”, é a atual campeã em produção de leite, com 32 litros por dia, seguida por Índia, com 24 litros diá-

Força vem da união de quatro cooperativas – três do Paraná e uma de São Paulo – para aumentar a captação na região.

rios. Mas a mochinha Mirna é um dos xodós de dona Margarete Glovaski Machuga, a esposa de Mecias, pois dá 22 litros por dia com uma teta a menos – o úbere ficou incompleto depois de uma mastite. Com um rebanho de 25 cabeças, sendo 13 vacas em lactação, sete em regime de cria e cinco novilhas, o casal Machuga representa a média do produtor de leite na região, que de-

Leiteiras dos Machuga. Em Itapetininga, vacas do Sítio São José produzem leite entregue Fotos luiz Prado

para a Colaso, em Sorocaba, SP.

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tém uma das mais tradicionais bacias leiteiras paulistas. A propriedade é pequena, mas tecnificada, tem ordenha mecânica, pasto rotacionado com cercas elétricas, capim adubado e, desde a estiagem de 2014, que vem se prolongando por 2015, parte da área é irrigada. São apenas 33.000 metros quadrados de pastagem – pouco mais de três campos de futebol – para manter bem alimentadas vacas e novilhas. A produção média de 213 litros por dia sustenta o casal e gera receita para novos investimentos.

Criadores de gado leiteiro como os Machugas, com produto de qualidade e potencial para aumentar a quantidade, representam 80% dos produtores de leite da região e atraíram o interesse de pesos-pesados da produção leiteira do Paraná, as cooperativas Castrolanda, Batavo e Capal. Numa aliança estratégica com a tradicional Cooperativa de Laticínios de Sorocaba (Colaso), que atua na região há 80 anos, o trio paranaense acaba de por em operação em Itapetininga um dos mais modernos laticínios do Estado de São Paulo, com capacidade para processar até 1,5 milhão de litros por dia.

Fidelidade. Margarete e Mecias Machuga ainda preferem ficar na cooperativa de Sorocaba.

A expectativa é a de que a parceria, chamada de intercooperação, resulte numa retomada da atividade na região, no passado uma importante bacia leiteira, e ajude o Estado de São Paulo a recuperar o terreno perdido, nos últimos anos, na produção de leite. Estatística do Instituto de Economia Agrícola (IEA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado, indica que a atividade vem perdendo competitividade desde 1998, quando São Paulo deixou de ser o segundo produtor nacional – atualmente ocupa a sexta posição entre os Estados brasileiros. A falta de fidelidade dos produtores às cooperativas, que resultou numa desestruturação do setor, está entre as causas des-

A “macrometrópole” do leite Localização das plantas (laticínios) Intercooperação – Itapetininga (SP) Colaso – Itapetininga (SP) Capal – Arapoti (PR) Castrolanda – Castro (PR) Batavo – Ponta Grossa (PR)

Total de cooperados Colaso – 280 Capal – 1.586 Castrolanda – 786 Batavo – 742

PR

SP

se desestímulo que a intercooperação pretende enfrentar. Desde o fim do ano passado, a nova unidade de Itapetininga processa entre 400.000 e 500.000 litros por dia, mas deve chegar a 800.000 no primeiro semestre e a 1milhão de litros ao fim de 2015. As cooperativas paranaenses já operam de forma conjunta duas plantas de lácteos nas cidades de Castro (Castrolanda) e Ponta Grossa (Batavo). O convênio operacional com a Colaso, que já tinha uma planta em Itapetininga, evitou não só uma possível concorrência, como assegurou aos novos parceiros presença mais destacada no mercado paulista, o maior do País em consumo de lácteos.

Produção de leite atual (antes da intercooperação) Colaso – 330 mil litros/dia Faturamento (total) Capal – 265 mil litros/dia Colaso – R$ 193 milhões Batavo – 860 mil litros/dia Capal - R$ 770 milhões Castrolanda – 413 mil l/dia Batavo – R$ 1,4 bilhão Castrolanda – R$ 1,7 bilhão Total de leite captado por todas atualmente: No Paraná: 2 milhões de litros/dia No sudoeste paulista: 500 mil litros dia Potencial de expansão para os próximos cinco anos em São Paulo: Captação de leite: 1,5 milhão de litros Número de cooperados: 600

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Capa Modernidade. Novo laticínio da intercooperação em Itapetininga vai processar 1 milhão de litros de leite por dia

A unidade de Itapetininga custou R$ 120 milhões e está a 160 quilômetros da capital, a 140 de Campinas e a 120 quilômetros da região oeste da Grande São Paulo. O acesso a esses mercados é feito por malha viária que inclui algumas das melhores estradas do Brasil, como a Rodovia Castelo Branco. A proximidade do maior centro consumidor do País, aliada ao potencial da região para recuperar a condição de importante bacia leiteira paulista, foram fundamentais para a ação conjunta entre as cooperativas, segundo o gerente de Negócios Leite da Castrolanda, Henrique Costales Junqueira. “Foram estabelecidos convênios e diálogos também com outras cooperativas do Estado para fortalecimento da cadeia leiteira na região”, afirmou.

Produção em queda

Ao fincar base em Itapetininga,

A região atendida pelo Escritório de Desenvolvimento Regional de Itapetininga, foco principal da intercooperação, teve queda significativa na produção de leite nos últimos anos, seguindo a mesma tendência do Estado de São Paulo, segundo o Instituto de Economia Agrícola (IEA), da Secretaria de Agricultura paulista. A participação da produção da região de Itapetininga em relação ao Estado atualmente é pequena, de apenas 2,92%. Em 2009, era de 109.900 litros diários, ou 5,39% da produção estadual de 2 milhões de litros. Em 2013, caiu para 51.800 litros, num total de 1,77 milhão do Estado. No mesmo período, o rebanho leiteiro oscilou de 25.600 para 32.900 cabeças. Ou seja, houve aumento no número de cabeças e queda na produção leiteira.

as cooperativas paranaenses marcaram território para uma expansão de seus negócios entre as matrizes de Castro, Arapoti e Ponta Grossa e a chamada macrometrópole paulista – as regiões metropolitanas de São Paulo, Campinas, Baixada Santista e a recém-criada região metropolitana de Sorocaba. A bacia leiteira paulista pode se estender por um

eixo de 160 quilômetros de terras boas, entre Itapetininga e Itararé, na divisa com o Paraná. De acordo com Costales, além de captar matéria-prima em São Paulo, a Colaso deve criar uma sinergia com as unidades paranaenses de lácteos, que já processam 2

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milhões de litros de leite por dia. Segundo ele, a marca Colaso tem uma fatia de mercado regional importante e não deve ser desconsiderada, mas a intercooperação trabalha com outras marcas de lácteos, como Castrolanda, Chocolate e, com destaque, a marca Colônia Holandesa. Apesar das oito décadas de tradição na região de Sorocaba, a Colaso vinha perdendo espaço no fomento à produção de leite. Muitos pecuaristas trocaram os pastos pela cana-de-açúcar ou passaram a produzir soja. O preço baixo do leite nos últimos anos acabou desestimulando os criadores. Entretanto, a crise do setor sucroalcooleiro está fazendo muita gente desistir da atividade.

Fundada em 1933, a Colaso (Cooperativa de Laticínios de Sorocaba) tinha 360 cooperados no momento em que ocorreu a aliança e captava 330.000 litros de leite por dia. Em 2013, a cooperativa faturou R$ 180 milhões, o valor mais módico entre as integrantes da aliança. Com faturamento de R$ 1,7 bilhão, a Castrolanda possui 786 cooperados, enquanto a Batavo fatura R$ 1,4 bilhão e tem 742 cooperados. A Capal, com matriz em Arapoti, no Paraná, fatura R$ 770 milhões e possui quadro de 1.500 sócios. De acordo com a zootecnista Ana Paula Roque, coordenadora do Programa Cati Leite da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado em Itapetininga, a aliança entre as cooperativas já motivou uma corrida de criadores em busca de melhoria genética e aumento no plantel. As primeiras reuniões realizadas com técnicos


Boa alimentação e gestão. Programa Cati Leite, do governo de SP, ensina manejo do gado, do pasto e das contas os iniciantes.

das cooperativas, das quais ela participou, empolgaram os produtores locais. A expectativa é a de que a intercooperação permita acesso a insumos com preço mais acessível e a material genético – touros ou sêmen – de melhor qualidade. Muitos pequenos criadores já buscam apoio dos órgãos de extensão da Secretaria para melhorar as pastagens e o manejo do rebanho, um dos objetivos do Cati Leite. Eles aprendem a aproveitar melhor a área com o sistema de pastejo rotacionado e a usar planilhas zootécnicas e financeiras para avaliar os resultados da atividade. Equipes da Secretaria já se reuniram com gerentes da intercooperação para uma atuação conjunta. Segundo Ana Paula, o que preocupa é que muitos interessados nunca criaram gado e estão entrando agora na área, na expectativa de ganhar dinheiro com a produção de leite. Há casos de pessoas que deixaram campos de atuação absolutamente diversos para tentar a sorte na pecuária leiteira. Há ainda agricultores que estão formando pasto em áreas de lavoura, num processo inverso à tendência recente de transformar pastagens em canavial. “Temos alertado que o dia a dia do produtor de leite é difícil, uma rotina pesada que implica sacrifícios

pessoais, além de não haver retorno rápido”, disse a zootecnista.

A difícil lida diária com o leite não assustou, porém, a agora produtora Vera Lúcia Justo dos Santos, do Sítio Santa Catarina, em Angatuba, município da região. Há quatro anos, ela era esteticista e dona de um salão de beleza no centro da cidade. Vera e o marido, o metalúrgico Osnei José dos Santos, trabalhavam duro para manter a casa e prover os estudos da filha, Débora Cristina. “Meu marido tinha um pequeno sítio no Bairro dos Leites, mas a gente nem sabia bem o que fazer com ele.” Um dia, durante uma faxina, Vera achou algumas anotações que Osnei tinha feito havia 15 anos, em que revelava um sonho: criar vacas e tirar leite.

Vera procurou o marido, que acabara de se aposentar, e foi direta: “Está lembrado disso? Eu topo.” Com a ajuda de um casal de amigos, eles ergueram o curral, barracão e compraram três vacas. Meses depois, já eram sete animais. Hoje são 24 boas matrizes, num plantel de 50 cabeças, incluindo bezerros e novilhas. No fim de 2014, estavam produzindo 330 litros por dia. “São Girolandas, mas muito próximas de Holandesas puras”, disse Vera. O pasto, formado principalmente com mombaça, é rotacionado. São dois módulos com cerca de 8.000 metros quadrados cada, trabalhados com cerca elétrica. No fim do ano, outro módulo de 7.000 metros com gramínea jiggs estava pronto para o uso. O casal toca a propriedade com a ajuda da filha e do genro, José Carlos de Oliveira Júnior. A ordenha é mecânica e o tanque de expansão, para armazenar o leite, é próprio. A família recebe assistência técnica do Cati Leite e de empresas de insumos. O leite do sítio foi premiado em 2014 num concurso da Tortuga. A qualidade da produção garante à dona Vera um bônus pelo preço pago pelo laticínio. No fim do fev-mar/2015 Mundo do Leite

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Capa ano, quando outros produtores da região recebiam R$ 1 pelo litro, ela embolsava R$ 1,22. Seu compromisso atual é com o laticínio Vigor, mas ela já foi procurada pela Colaso. “Nosso leite é bom e eles vêm atrás da gente.” Há casos de profissionais que deixaram outras atividades para produzir leite. Um veterinário de São José dos Campos pediu a conta num frigorífico e se mudou para Itapetininga com a esposa para entrar de cabeça num novo projeto de vida. O casal arrendou 6 hectares em janeiro do ano passado no Bairro Gramadão e iniciou a formação de pastagem com a gramínea jiggs numa área de 1 hectare. Nos outros, plantou cana-de-açúcar. Como plantel inicial, foram compradas dez vacas das raças Jersey e Holandesa. O investimento incluiu a estrutura de ordenha com tanque de expansão. A produção inicial, de 150 litros/dia, já é entregue à Colaso, mas o plano é chegar, em três anos, a 500 litros/dia. Ana Paula dá assistência aos novos criadores. “Eles estão fazendo tudo certinho, mas sabem que o retorno é de longo prazo”, disse. O prefeito de Itapetininga, Luis de Fiori, acredita que a chegada das cooperativas paranaenses vai alterar toda a cadeia p ­ rodutiva da região. Segundo ele, os produtores serão incentivados a melhorar a genética dos rebanho, reformar as pastagens e produzir leite com mais qualidade para conseguir melhor remuneração. Fiori, que, além de prefeito, é empresário, também decidiu entrar no negócio do leite. Ele preparou as pastagens no município, Alambari, e já adquiriu parte do plantel. Fiori diz que o novo negócio ainda é incipiente, mas mostra sua confiança no futuro da bacia leiteira na região. Alguns produtores, como o próprio Machuga, ainda estão na expectativa das mudanças anunciadas pela

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Mundo do Leite fev-mar/2015

intercooperação. “Tivemos algumas reuniões, mas o incentivo ainda é pouco”, disse. Em 2014, ele contabilizou uma receita direta de R$ 75.800 com o leite, mas as despesas atingiram R$ 49.900. Do saldo de R$ 25.900, ele investiu R$ 21.000 no sistema de irrigação da pastagem. “Foi tudo feito com dinheiro próprio”, afirmou. Ele recebeu proposta de migração para outro laticínio, mas preferiu continuar com a Colaso. “Meu leite é bom e a proposta de remunerar pela qualidade é mais interessante.”

O gerente da Castrolanda acredita que, aos poucos, o modelo aplicado no Paraná, e que fez com que a parte centro-oriental do Paraná se tornasse referência na produção leiteira, será aplicado no sudoeste paulista, respeitando as adaptações necessárias. “Temos a expectativa de que os cooperados percebam os esforços feitos em breve.” As mudanças na organização da cadeia do leite são dependentes da criação de uma infraestrutura para o atendimento dos cooperados da Colaso, que está sendo providenciada. “A primeira mudança tem foco no apoio e na organização da produção do cooperado, na transparência das relações entre cooperativa e cooperado e na qualidade da produção”, disse. A Colaso já instituiu um sistema de pagamento que valoriza a qualidade e vem atuando na profissionalização de controles e no transporte do leite. “Esse é um grande avanço conquistado pela equipe que faz a gestão do processo em Itapetininga e também pelos cooperados. As cooperativas Castrolanda e Capal estão se estruturando para o fornecimento de insumos com preços competitivos aos produtores. No futuro, esperamos levar uma assistência técnica efetiva e até mesmo o crédito.”


Programa Cati Leite auxilia produtores e iniciantes

A

Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo atua no estímulo à produção de leite por meio de sua Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (Cati), desenvolvendo, na região, o projeto Cati Leite, vinculado ao Programa Estadual de Microbacias, que incentiva a produção agropecuária conciliada com a preservação ambiental. O Microbacias estimula a preservação de nascentes e matas ciliares para a proteção e produção da água, insumo essencial para a atividade rural. Já o Cati Leite tem unidades demonstrativas nos municípios de Angatuba, Cesário Lange, Itapetininga, São Miguel Arcanjo, Sarapuí e Tatuí, todos na área de captação da Colaso. A zootecnista Ana Paula Roque integra o Escritório de Desenvolvimento Ru-

ral (EDR), braço da Secretaria em Itapetininga, e realiza visitas para analisar o que existe na propriedade e, junto com o produtor, planejar ações para a melhoria da produtividade do rebanho, redução de custos de produção e aumento da renda. As principais áreas de trabalho na propriedade são alimentação do rebanho leiteiro, manejo sanitário, reprodutivo, manejo de ordenha e qualidade do leite. “Participamos das reuniões entre a intercooperação e os produtores, acompanhando as decisões tomadas com a disposição de colaborar com a cooperativa para a melhoria da atividade leiteira na região. Vários produtores atendidos pelo nosso programa são fornecedores da cooperativa”, disse. Os produtores reclamam do alto custo de produção e do baixo valor pa-

go pelo leite. Uma vaca leiteira boa, Girolanda ou Jersolanda, com produção entre 15 e 20 litros/dia, custa entre R$ 2.000 e R$ 2.500. Uma Holandesa de 35 litros/dia sai em torno de R$ 5.000.

O arrendamento de áreas para pastagem sai em média R$ 30 por cabeça ao mês. Parte dos sais minerais e outros insumos tem o preço atrelado ao dólar, cuja cotação está elevada. No início de janeiro, os laticínios pagavam média de R$ 1 o litro de leite, fora o frete. O ano passado foi ainda mais difícil para os produtores de leite por causa da seca. Houve perda de rebanho e elevação no custo da alimentação. A expectativa é a de que, com a entrada das cooperativas paranaenses, o leite seja um produto mais valorizado na região. n

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Capacitação

Assistência técnica melhora a vida no campo Nova ministra da Agricultura, Kátia Abreu, assume com promessas de investir em extensão rural para os pequenos produtores.

Assistência técnica. Presença de extensionistas na propriedade pode quadruplicar a produção leiteira

Mônica Costa

A

o assumir o cargo de ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), no dia 4 de janeiro, Kátia Abreu destacou, entre as várias medidas que pretende levar à frente, a necessidade de ascender socialmente as classes D e E de produtores rurais para a classe C. Entre seus planos, em quatro anos, ela pretende melhorar a renda de 800.000 produtores que atualmente estão enquadrados nas classes mais baixas – dos quais, estima-se, por meio de estatísticas do Censo Agropecuário do

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Mundo do Leite fev-mar/2015

IBGE de 2006, que pelo menos 200.000 tenham alguma ligação com a pecuária leiteira. E foi enfática: sem extensão rural e assistência técnica, nada feito. Se tomarmos como base os dados do próprio Mapa e também do IBGE, a pecuária leiteira está entre as atividades rurais que concentram o maior número de pequenos produtores. Também segundo o Instituto Brasileiro de Economia da FGV (Ibre/FGV), quase 90% dos pecuaristas de leite são agricultores familiares e pequenos produtores. com renda mensal abaixo de R$ 5.000. Embora a produção leiteira tenha registrado um


crescimento médio de 4,5% ao ano entre 2009 e 2014, a estratificação social do setor tem sofrido poucas alterações e, entre os motivos apontados pelo Ibre estão justamente a falta de extensão rural e de políticas de crédito eficientes.

Para Kátia Abreu, a capacitação será, então, a estratégia para beneficiar o produtor rural, especialmente aqueles que estão “no meio do caminho”: saíram da extrema pobreza, mas dependem de ajuda especializada dos órgãos oficiais para uma produção efetiva e rentável. Para isso, a Pasta vai alocar recursos em programas de extensão rural, incumbência que cabia ao Ministério do Desenvolvimento Agrário. Pesquisa da Associação Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural (Asbraer) prova que o caminho escolhido pela ministra está certo: propriedades que recebem assistência

técnica e extensão rural têm uma renda quase quatro vezes maior do que as que não recebem. Entretanto, a mesma pesquisa indica que esta é uma realidade que beneficia apenas 30% do setor: dos 5 milhões de famílias que vivem no campo, apenas 1,5 milhão são atendidos por programas de extensão, por intermédio de 15.000 técnicos. Isso significa que 3,5 milhões de propriedades rurais sobrevivem sem nenhum tipo de assistência técnica, pelo menos a oficial. “Já sabemos onde estes produtores estão e estamos envolvendo empresas públicas e privadas para a criação de uma rede nacional de assistência técnica”, informa Caio Rocha, secretário de Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo do Mapa. Em 2014, o Mapa repassou R$ 27 milhões em recursos para a capacitação na pecuária leiteira.

fev-mar/2015 Mundo do Leite

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Capacitação Programa Balde Cheio http://www.cppse.embrapa.br/balde-cheio, tel. (16) 3411-5626

prir a demanda. “O ideal seria de 3.000 a 4.000 técnicos e hoje contamos com 1.200 profissionais para atender 104.000 produtores”, diz.

Goiás Mais Leite E-mail: senar@senargo.org.br, tels. (62) 3412-2700 e 3412-2701

Para reverter este quadro, o governo do

Onde procurar assistência para a pecuária leiteira

Cetanp, do Rio Grande do Sul www.emater.tche.br, tel. (54) 3298-8037 Emater-PR www.emater.pr.gov.br, tels. (41) 3250-2100 e 3520-2166 Emater-MG/Programa Minas Leite Site www.emater.mg.gov.br, tel. (31) 3349-8001 Senar-RJ www.sistemafaerj.com.br, tel. (21) 3380-9500 Pronatec Agro E-mail: depros.gab@agricultura.gov.br, tel. (61) 3218-2433

O dinheiro foi direcionado para o Pronatec Agro, de capacitação para o segmento rural, formado a partir da parceria entre o Mapa e o Ministério de Educação (MEC). “O programa visa à preparação do produtor rural para receber a assistência técnica e, no caso do produtor de leite, superar a média nacional, que é de 5 litros/vaca/dia”, completa Rocha. “Sem o acompanhamento técnico adequado, a capacitação do produtor perde toda a sua eficiência”, afirma o médico veterinário Ronei Volpi, presidente da Comissão de Leite da Federação da Agricultura do Paraná (Faep) e do Conseleite-PR. Para Volpi, que já esteve à frente da Superintendência do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), é importante que a cadeia produtiva se conscientize de que a assistência técnica é uma estratégia que deve ser assumida por todos os envolvidos. “O Estado não tem condição de atender plenamente ao segmento”, diz. No Paraná, atualmente há apenas um técnico para 400 produtores rurais, informa Volpi. “São mais de 100.000 unidades produtivas que trabalham na produção leiteira e a imensa maioria depende dos projetos de extensão rural”, confirma Natalino Avance de Souza, diretor técnico do Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-PR). Souza reconhece que, embora o leite seja o principal projeto trabalhado pela extensão rural do Paraná, a Emater não é capaz de su-

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Mundo do Leite fev-mar/2015

Paraná aprovou uma lei que confere à instituição a atribuição de desenvolver e coordenar um novo grupo de assistência técnica estadual. O projeto Emater do Futuro vai funcionar com um multiplicador de técnicos extensionistas: recursos do MDA serão destinados para a Emater, que deverá identificar entidades (cooperativas, ONGS, consultorias) que apresentem as condições necessárias (equipamentos e mão de obra) para promover a extensão rural. As habilitadas receberão recursos e capacitação dos profissionais para atender o produtor rural. “Com a ampliação do time de especialistas, nossa expectativa é a de que o atendimento dobre de 30% para até 60% no primeiro ano”, estima Diniz Dias Doliveira, gerente estadual de Desenvolvimento e Tecnologia da Emater-PR. A transferência de tecnologia já é uma ferramenta aplicada na pecuária de leite para melhorar a renda do produtor e fortalecer sua permanência no campo. O projeto mais conhecido é o Balde Cheio, desenvolvido em 1998 pela Embrapa Pecuária Sudeste, com o objetivo de capacitar profissionais da assistência técnica, extensão rural e pecuaristas em técnicas, práticas e processos agrícolas, zootécnicos, gerenciais e ambientais. As tecnologias são adaptadas regionalmente em propriedades que se transformam em salas de aula, monitoradas ao longo de quatro anos. Desde sua fundação, em 1998, a iniciativa já atendeu mais de 4.000 propriedades em 25 Estados. Uma das principais estratégias do Balde Cheio são as parcerias, atualmente 175, efetuadas com órgãos públicos de assistência técnica e extensão rural, instituições de ensino e pesquisa e financeiras) e privadas (cooperativas, laticínios, associações, federações de agricultura, e Sebrae, entre outros). “Após a capacitação os produtores passam de 2 UA (unidade animal) por hectare para até 17 UA/ha”, assegura Marcos Henrique Teixeira Júnior, coordenador do Programa Goiás Mais


Tecnificacão. Com assistência técnica, produtor fica menos resistente a novas tecnologias.

Leite, que utiliza a metodologia do programa Balde Cheio para capacitar os produtores rurais do Estado. O Projeto da Federação da Agricultura do Estado de Goiás (Faeg) conta com a parceria do Senar, que é responsável pelo técnico multiplicador, prefeituras e empresas privadas que financiam a estrutura e os técnicos extensionistas nas regiões onde o programa é adotado. Desde 2010, o Goiás Mais Leite tem capacitado cerca de 2% dos pecuaristas do Estado, algo em torno de mil produtores por ano. “Não temos profissionais suficientes para atender os 60.000 produtores de leite”, explica o coordenador do programa. Para que seja eficiente, o programa, que conta com 62 técnicos, estabelece uma média de 15 propriedades por profissional. A medida garante que os pecuaristas sejam habilitados a cuidar de sua produção e recebam o monitoramento adequado nos quatro anos seguintes. “Os resultados atestam que as propriedades que participaram da primeira turma, em 2010, registraram aumento de 25% a 27% na produção diária de leite com resultados positivos na melhoria de renda e qualidade de vida dos produtores”, comenta Teixeira Junior e cita, como exemplo, o pecuarista que antes distribuía o lei-

te produzido em sua propriedade com uma bicicleta. “Hoje ele produz quatro vezes mais e, além de melhorias na sua moradia, pôde comprar um carro para entregar a matéria- prima”, diz.

Para 2015, o número de técnicos deve registrar um aumento de 50%, para 90 profissionais, o que representará a inclusão de mais 450 propriedades. No Rio Grande do Sul, o Centro Regional de Qualificação Profissional de Produtores Rurais de Nova Petrópolis (Cetanp), na Serra Gaúcha, capacita pequenos produtores leiteiros desde 1994. “Nosso público-alvo é o agricultor familiar, que recebe a qualificação profissional e acompanhamento posterior”, explica o engenheiro agrônomo Arnaldo Basso e coordenador do centro, que é mantido pela Emater-RS com o apoio da prefeitura, cooperativas instituições de crédito e escolas técnicas da região. Mais de 14.000 produtores já passaram pelos cursos da entidade e os resultados apontam para aumento de até dez vezes na renda mensal entre 1997 e 2014. “Filhos têm decidido continuar na propriedade, além de agricultores que, em vias de deixar o campo, se qualificaram e se reintegraram ao processo produtivo, com elevada autoestima e inserção social”, afirma Basso. fev-mar/2015 Mundo do Leite

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Extensão

Com o balde e o bolso cheios

E

Ariosto Mesquita

Fotos: Ariosto Mesquita

m 2007 a produção era irrisória: apenas 70 litros/dia. Em 2011 chegou a 1.200 litros/ dia em 150 hectares, ou a 3.000 litros/hectare/ ano. Daí em diante continuou crescendo, até atingir os atuais 5.855 litros/hectares/ano (1.123 litros/dia em 70 hectares). Hoje, a Fazenda Santa Tereza é considerada uma das nove produtoras de leite de maior evolução em eficiência dentro

da Cooperativa Mista Agropecuária de Juscimeira (Comajul), que reúne 900 cooperados no centro e no sul do Mato Grosso. A propriedade, a 36 quilômetros de Rondonópolis, MT, apostou em um programa voltado inicialmente para pequenos produtores, mas que não exclui os demais. Desde o fim de 2011, a fazenda (de 255 hectares, sendo 200 disponíveis para produção), de propriedade de Carlos Roberto de Andrade Franco Ziliani (o Goy), passou a adotar os conceitos do projeto Balde Cheio, desenvolvido pela Embrapa Agropecuária Sudeste com foco na assistência técnica à propriedade leiteira de cunho familiar. Outrora pouco produtivo e agora chancelado como um dos principais pecuaristas de leite em ascensão entre os cooperados da Comajul (que considera como grande a produção leiteira igual ou superior a 1.000 litros/dia), Goy sabe que fazer parte do Balde Cheio só foi possível graças à anuência dos organismos que executam o projeto na região: a própria Comajul (assistência a campo) e a consultoria do Sebrae/MT.

Goy conheceu o Balde Cheio em 2011. Junto com outros criadores ele foi ver de perto, a convite da Comajul, os resultados de uma pequena propriedade em Campo Verde, MT – o Sítio São Francisco, de 27 hectares,que, em apenas

O pecuarista Carlos Ziliani. “Minha decisão foi tomada depois que técnicos da cooperativa, que orientam a instalação do Balde Cheio, vieram à fazenda e disseram que o projeto era viável também para mim.”

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Mundo do Leite fev-mar/2015

Fazenda no Mato Grosso adere ao programa inicialmente voltado a produtores familiares e salta de 70 litros/dia para mais de mil litros/dia em três anos.


6,3 hectares, elevou sua produção de 70 (4.055 litros/ha/ano) para 380 litros/dia (22.015 litros/ha/ ano) –, que já havia adotado o sistema. “Gostei da ideia e vi que poderia adotá-la. Os técnicos da Comajul viram também que seria tranquila a inserção da Santa Tereza no Balde Cheio.” No início do programa, a produtividade era de 3.000 litros/ha/ano. Em 2012, já subiu para 7.000 litros/ha/ano (1.920 litros/dia em 100 hectares). A meta agora é atingir uma produção diária na faixa de até 4.000 litros/dia com um rebanho médio de 130 vacas em lactação, em 70 hectares. Caso atinja esta meta, Goy entrará na faixa de 20.857 litros/ha/ano. Além disso, conseguiu reduzir seu custo de produção de R$ 0,84/litro para R$ 0,71/litro. Entrega na cooperativa por R$ 0,99/ litro em quer elevar ainda mais sua eficiência.

Para isso, está tomando providências a fim de resolver pelo menos dois gargalos: a ausência de mão de obra qualificada e fidelizada para a execução de procedimentos e o acúmulo de informações a serem planilhadas para o controle de custo de produção, renda bruta e resultado líquido. Outro problema segue sem solução: a “pequena disponibilidade” de assessoramento técnico a campo diante de uma exigente demanda da propriedade. Para tentar contornar o problema da mão de obra, a principal mudança foi no sistema de remuneração de seus cinco funcionários. Aumentou os salários e passou a acrescentar remuneração em animal e por produtividade. Todos recebem salário fixo, mais quatro bezerras/ano, além de um diferencial sempre que a produção/ dia superar a marca de 18 litros por vaca. “A fazenda fica com os 18 litros. O que passar é dividido por igual entre os funcionários”, explica. Outra meta fixada pelo programa é que as novilhas emprenhem com até 18 meses. O ideal, de acordo com técnicos do programa, seria, na verdade, cobertura de acordo com o peso, buscando efetivá-la aos 15 meses, com parição aos 24 meses. Mas se, decorrente do manejo dos animais e da inseminação artificial bem feita, o funcionário conseguir que a novilha emprenhe aos 18 meses, Goy também estabeleceu gratificações, de R$ 15 por animal, ou R$ 3 para cada um dos nossos cinco colaboradores.

Os números da Santa Tereza Índice

Total

Área disponível da propriedade

200 ha

Área utilizada no leite

70 ha

Produção diária

1.123 litros

Vacas no rebanho

48%

Vacas em lactação

63,24%

Produção por vaca (litros)

12,1

Vacas em lactação por área (vacas/ha)

1,42

Produtividade anual

5.855 litros/ha/ano

Custo por litro de leite

R$ 0,71

Preço de venda do leite

R$ 0,99/litro

Idade à primeira cria

22-26 messes

Intervalo entre partos

16 meses

Resultados referentes ao período de junho de 2013 a maio de 2014. O produtor não realiza venda de nenhum animal, ficando todos na recria

Conforme o desempenho, cada um pode ter uma remuneração mensal final de até R$ 2.000 a mais do que o salário na carteira”, completa. Os estímulos têm funcionado. “Passei a ter uma equipe mais coesa”, diz. Uma das novas contratações é a do seu gerente-geral, Elias Vieira de Araújo, que, até então, tinha experiência apenas em pecuária de corte.

Goy (de chapéu) e seus funcionários. Cada um recebe salário fixo, quatro bezerras/ ano e participação na produtividade.

fev-mar/2015 Mundo do Leite

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Extensão

Assistência técnica. Zootecnista da Comajul, Cristiano Rezende Garcia é assessor técnico do programa Balde Cheio.

“Já no primeiro mês de trabalho ele me deu de retorno líquido o equivalente a três meses de tudo o que recebe, ou seja, ele está se pagando com sobras”, garante o pecuarista. O salário fixo mensal de Araújo é de R$ 2.172. “Com as participações e as quatro bezerras por ano, o valor sobe para algo perto de R$ 5.000/mês”, conta. “Logicamente eu fico feliz com isso; se ele está ganhando, também estou”, completa. Na medida em que sua produtividade crescia e a estrutura ficava mais complexa, Goy encontrava dificuldades no planilhamento convencional, com lançamentos de dados à mão. O zootecnista e assessor técnico do programa pela Comajul, Cristiano Rezende Garcia, explica este quadro: “Imagine a diferença em se preencher a planilha de receita e despesa de uma pequena propriedade de 12 ou 15 hectares para outra de 200 hectares e que usa 70 hectares só no leite? Este controle fica cada vez mais complexo na medida em que o conjunto do trabalho ganha uma nova dimensão”.

A alternativa foi a aquisição de um software de controle zootécnico e financeiro, o SGFLeite – Sistema de Gerenciamento de Fazenda Leiteira, que custou R$ 166,50, em pagamento único, sem cobrança de taxas de uso. “Falta lançar os dados referentes a apenas dois últimos meses. Em breve terei todas as informações atu-

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Mundo do Leite fev-mar/2015

alizadas sobre o rebanho e a produção da fazenda em planilha e a qualquer tempo”, comemora. A única dificuldade ainda não resolvida é o pouco tempo que Goy alega ser destinado para o assessoramento técnico pelos técnicos do Balde Cheio. O zootecnista Garcia, por exemplo, é um dos sete especialistas que dão assistência a campo pela Comajul em todo o Mato Grosso. Ele é responsável por mais de cem propriedades. A recomendação é a de que ele faça duas visitas/ mês de meio período (matutino ou vespertino), a cada fazenda. “Para atender os pequenos talvez seja suficiente, mas não há como dar assistência em nível adequado para propriedades de maior escala com essa limitação”, explica o técnico, que sugere que propriedades maiores poderiam se associar e contratar uma consultoria particular afinada com os princípios do Baldo Cheio. O chefe-adjunto de Transferência de Tecnologia da Embrapa Agropecuária Sudeste, André Luiz Monteiro Novo, não vê problema em que arranjos pontuais sejam feitos entre as partes, envolvendo ajuda de custo e remuneração à parte: “A essência do Balde Cheio é a capacitação dos técnicos. O atendimento às demandas deve ser ajustado entre cooperativa, produtor e o especialista. De modo geral duas visitas mensais de meio período são suficientes, mas há casos em que o pecuarista solicita auxílio do profissional até mesmo para a parte gerencial”. Voltada exclusivamente para a pecuária de corte até 2007, a Santa Tereza é focada na produção de leite, apesar de destinar 130 dos seus 200 hectares úteis para recria de Nelore. Nos 70 hectares voltados para o leite, o criador tem hoje 315 animais das raças Holandesa e Girolando, sendo 151 vacas, das quais 95 em lactação. A lotação, portanto, é de 1,35 vaca/hectare. Antes do Balde Cheio, já rotacionava a pastagem com cinco módulos de capim braquiarão (braquiária marandu), cada um com 30 piquetes. A partir de 2011 manteve um módulo de 5 hectares de marandu em sequeiro e mais quatro módulos irrigados, somando 11 hectares, de capim mombaça. Reservou ainda 10 hectares para cultivo de napier (para silagem) e 3 hectares para cana forrageira.

“A principal mudança foi produzir com o menor gasto possível. Sem a irrigação, meu


Os números do Haras Dourado Índice

Total

Área total da propriedade

100 ha

Área utilizada no leite

50 ha

Produção diária

1.477 litros

Vacas no rebanho

57%

Vacas em lactação

71,4%

Produção por vaca

14,6 litros/dia

Vacas em lactação por área (vacas/ha) Produtividade anual

Dos cavalos para o rebanho. Antonio

1,31

Carlos Dourado e

8.985 litros/ha/ano

sua esposa, Sandra,

Custo por litro de leite

R$ 0,61

deixaram um haras

Preço de venda do leite

R$ 1,06

em favor da pecuária

Idade à primeira cria

22-26 messes

leiteira e se tornaram

Intervalo entre partos

14,5 meses

produtores exemplares.

Resultados referentes ao período de junho de 2013 a maio de 2014

custo na ração seria exorbitante. A base alimentar tem de ser o pasto. O que falta a gente suplementa”, explica o pecuarista. A economia, segundo ele, foi significativa: “Gastava de três a quatro caminhões de ração por mês. Hoje uso, no máximo, um caminhão e meio”. Além de nova estrutura de pastagem e irrigação, Goy também investiu em máquinas, equipamentos e em animais. “Sempre fiz inseminação e agora estou investindo em transferência de embriões para produzir gado três-quartos Girolando. Com uma genética mais apurada e as diretrizes do Balde Cheio, pretendo atingir minha meta final de produtividade – 25 a 30 litros/ animal dia – em até três anos”. Para colocar a Fazenda Santa Tereza no projeto Balde Cheio, Goy seguiu o caminho adotado por outra propriedade de Rondonópolis: o Haras Dourado, considerado pela Comajul e pelo Sebrae/MT como a principal referência em produção de leite e genética leiteira da região. Outrora uma fazenda de cavalos, passou a apostar no leite por pura necessidade e acabou aderindo ao programa não para ampliar, e sim para enxugar sua produção e seus custos. O proprietário, Antonio Carlos Dourado, engenheiro civil, trabalhava no ramo de construção. O trabalho lhe proporcionava boa renda, tanto é que por meio dele teve condições de adquirir a propriedade. De uma hora para ou-

tra o negócio afundou e ele se viu tão somente com os 100 hectares do haras e sua “vontade de trabalhar”. Como tinha algumas vaquinhas, sua esposa, Sandra Okazaki Amorim Dourado, começou a vender leite de porta em porta. “Eram de 20 a 40 litros/dia há 15 anos; hoje o trabalho evoluiu muito”, conta a professora aposentada. O crescimento não foi pouco. O Haras Dourado chegou a atingir a produção média de 2.500 litros/dia em 100 hectares (9.125 litros/ ha/ano) com 170 vacas em lactação. Mas algo não estava certo, pois as contas não fechavam. “Tinha um elevado custo com insumos. As despesas eram altas com um rebanho grande, excesso de recria, animais desvalorizados e baixa estrutura. Nos meses secos gastava muito no fornecimento de silagem de cana e cevada e no fim do mês sobrava pouco”, lembra Dourado.

Depois que entrou no Balde Cheio, em 2011, o criador procurou aperfeiçoar a atividade, a fim de aumentar a sua eficiência. A produção média diária é de 1.477 litros e a pecuária leiteira ficou concentrada em 60 hectares (8.985 litros/ ha/ano) e com 101 vacas Girolando em lactação – 14,6 litros/vaca/dia. A meta é atingir a produção de 12.166 litros/ha/ano. Nos 40 hectares restantes, Dourado aproveita para investir em um pequeno rebanho de corte. fev-mar/2015 Mundo do Leite

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Extensão Em outubro de 2011 a fazenda tornou-se “propriedade oficial Balde Cheio” e passou a servir de referência e palco para dias de campo na divulgação da eficiência do projeto. O rebanho foi totalmente reestruturado. Um total de 85 vacas foi para o frigorífico. “Eram animais com mastite crônica, problemas de casco e idade avançada”, conta o pecuarista. De área única de pastagem com marandu, o Haras Dourado ganhou um sistema rotacionado, com área adubada e irrigada (3,91 hectares com capim mombaça), onde ficam as vacas em lactação o ano todo. Nas áreas de sequeiro as forrageiras são o marandu e o tanzânia. O pecuarista, entretanto, não vê o Balde Cheio como “salvador da pátria” e não esconde críticas ao programa. “A irrigação aparece como a solução para ter pasto de alta qualidade no período seco, mas a presença ou não da água não é o único fator limitante no período na região. Temos outros, como a baixa temperatura nas madrugadas de inverno e o menor tempo de luminosidade na-

tural”, salienta. “Também não temos ações efetivas para resolver problemas de reprodução ou orientações claras de como conduzir um processo de mineralização animal”, completa. Quanto à irrigação, André Novo, da Embrapa Agropecuária Sudeste, admite que o raciocínio do pecuarista esteja correto, mas observa: “Mesmo com a irrigação, é impossível manter a mesma lotação das águas na região de Rondonópolis. Se no verão são 12 vacas/hectare, passamos para 8 vacas/hectare mesmo com oferta de água nos meses secos justamente pelo menor tempo de luz natural/dia. A diferença é que, sem irrigação, esta lotação poderia cair para 1 ou 2 vacas/hectare.” Sobre os outros dois pontos, é claro: “Na área de reprodução um veterinário da cooperativa deve fazer acompanhamento a cada 60 dias, mas é bom lembrar que tecnologias como FIV e transferência de embriões não integram o Balde Cheio. Já sobre mineralização, qualquer técnico pode dar esta assistência”.

Os desafios do leite no Mato Grosso Mato Grosso tem o maior rebanho bovino do Brasil, com 28,4 milhões de cabeças, segundo o Instituto de Defesa Agropecuária do MT (Indea, 2014). É o maior fornecedor de carne vermelha do País (abate de quase 6 milhões de cabeças de gado em 2013) e agora parte para melhorar seu desempenho na pecuária leiteira. A atividade no Estado sofre, porém, com as longas distâncias, rodovias não pavimentadas, e um reduzido mercado consumidor. Além disso, os produtores trabalham com baixa tecnificação e escolaridade e encontram dificuldades de acesso à assistência técnica e a alguns insumos. O último Diagnóstico da Cadeira Produtiva do Leite, feito pelo Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea), em 2012, indicava que a média de produção animal do Mato Grosso era de 3,1 litros/vaca/dia, inferior à média nacional: 3,8 litros/vaca/dia. Dos 380 produtores entrevistados, apenas 18% declararam trabalhar com ordenha mecânica. Além disso, as 20.900 propriedades cadastradas na pecuária leiteira apresentavam

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uma média de produção de 92,6 litros/dia. A escolaridade média é de 4,66 anos de frequência à educação formal. A produção aumenta à medida que a escolaridade cresce. No estrato até 50 litros de leite/dia, a escolaridade é de 3,76 anos. Acima de 500 litros atinge a faixa de 10 anos de presença nas escolas. Mas outros números geram otimismo: nos últimos 32 anos, e excetuando os Estados do Norte, o Mato Grosso foi o único a apresentar crescimento médio da produção acima de 5% ao ano. Só entre 2013 e 2014 o Valor Bruto da Produção (VBP) do leite do MT subiu 20%, a produção se elevou em 5,1% e o preço em 13,4%. Para 2015, as previsões do Imea são de um aumento de 10% no VBP, pulando dos atuais R$ 538 milhões para R$ 617 milhões. Esta escalada fez o Estado sair de décimo maior produtor (em 2012) para o oitavo no ranking brasileiro (em 2014), com aproximadamente 800 milhões de litros/ano, de acordo com estimativa da Associação dos Produtores de leite de Mato Grosso (Aproleite/MT). n


A credibilidade evoluiu ainda mais e ganhou números atualizados. GENÉTICA AMERICANA DO LEITE: ABSOLUTA.

TPI: Os melhores resultados para selecionar o seu rebanho. (valores relativos %)

Proteína Gordura Eficiência alimentar PTA TIPO Caracterização leiteira Composto de úbere Composto de pernas e pés Vida produtiva CCS DPR DCE DSB Produção Saúde e fertilidade Conformação PRODUCT OF USA

Fórmula Fórmula JAN 2010 DEZ 2014 27 16 10 -1 12 6 9 -5 11 -2 -1 43% 29% 28%

USE GENÉTICA AMERICANA.

E M P R E S A S

A S S O C I A D A S

27 16 3 8 -1 11 6 7 -5 13 -2 -1 46% 28% 26%


Sustentabilidade Alexandre M. Pedroso

Como melhorar a eficiência no uso de alimentos Manter as vacas separadas por grupos nutricionais é uma boa saída para otimizar a nutrição do rebanho ções adequadas que permitam o manejo eficiente dos animais em maior número de grupos. Isso vale para fazendas grandes, médias ou pequenas, seja em sistema de produção baseado em pastagens, seja em confinamento. Claro que há diferenças de sistema para sistema, mas os conceitos são sempre os mesmos.

Prestes a parir. Manutenção do escore corporal em níveis adequados beneficia reprodução e lactação.

Alexandre M. Pedroso Consultor em Nutrição e Manejo de Bovinos Leiteiros Cowtech Consultoria e Planejamento

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U

m dos pilares da sustentabilidade de qualquer fazenda, e, em minha opinião, o mais importante deles, é o lucro. Sem gerar valor e remunerar o capital investido, nenhuma fazenda pode se dizer sustentável. E, em qualquer sistema de produção de leite, o caminho para a lucratividade passa inevitavelmente pelo uso eficiente dos alimentos. Já escrevi muito sobre isso, já abordei inúmeras vezes o tema em meus cursos e palestras. E é um assunto que nunca se esgota. Em relação a esse assunto em particular, uma questão que sempre é tema de discussões técnicas é o agrupamento nutricional das vacas. Surpreende-me como muitos produtores de leite ainda relutam em adotar essa prática. Para conseguir os resultados esperados, o agrupamento deve obedecer a alguns critérios. Também é necessário que a propriedade se prepare para trabalhar com diferentes grupos de animais, tanto em relação ao treinamento da equipe, como às instala-

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Como qualquer empresa, o objetivo de uma fazenda leiteira é gerar lucro. E, para tal, eficiência produtiva é a chave. Do ponto de vista econômico, na atual conjuntura de preços pagos pelo leite e custo dos insumos, certamente quanto mais leite for produzido, melhor, mesmo que a relação quilo de leite/ quilo de alimento (eficiência alimentar) não seja considerada ideal. E, para conseguirmos fazer com que o rebanho produza o máximo possível, é fundamental atender corretamente aos requerimentos das vacas em cada fase da lactação. Por exemplo, oferecer nutrientes em excesso para vacas do meio para o fim da lactação pode ser um grande tiro no pé, tanto do ponto de vista econômico, quanto do ponto de vista da eficiência geral da fazenda, pois vacas que chegam ao parto muito gordas, com condição corporal excessiva, são as que mais apresentam problemas no início da lactação seguinte, de forma que sua eficiência produtiva fica comprometida. Em função disso, não há dúvida de que oferecer dietas específicas para cada lote é a melhor alternativa. Como já citado, as condições operacionais de cada fazenda devem ser consideradas, mas o objetivo deste artigo é debater os conceitos, de forma que cada produtor possa aplicá-los da melhor forma possível. Fornecer dietas diferentes para os diferentes lotes, à medida que a lactação avança, tem muitas vantagens, que em alguns casos podem não ser tão facilmente notadas. Talvez o principal benefício dessa


prática seja a melhor sanidade das vacas, o que acaba por se reverter em melhor desempenho produtivo e reprodutivo. Em rebanhos onde há muitas vacas com excesso de peso, isso pode ser mais difícil de perceber, mas ao longo do tempo os benefícios serão claros. Além disso, é possível reduzir bastante ou até eliminar o uso de alimentos mais caros, como certos aditivos, para as vacas de lactação mais avançada, que têm menores requerimentos nutricionais. Por exemplo, é possível e desejável formular uma dieta mais cara, com maior teor de energia e proteínas, para o lote de alta produção, de forma que o consumo e a produção de leite sejam maximizados, e a perda de escore corporal no início da lactação não seja tão intensa, sem ter custo adicional, pois é possível economizar bastante na dieta dos lotes de produção mais baixa.

Muita gente me questiona que isso não vale para sistemas de produção baseados no uso de pastagens, mas eu discordo. Por que não formular um concentrado específico para cada lote? Dá mais trabalho? Claro que dá, mas se o produtor quer ser mais eficiente e ganhar mais dinheiro, essa pode ser uma ótima alternativa. Obviamente é muito mais fácil e prático trabalhar com dieta ou concentrado únicos, mas é preciso avaliar muito bem os prós e contras. Conheço algumas fazendas nos Estados Unidos, e por aqui também, que possuem pequena variação na produção de leite entre os diferentes lotes e historicamente usaram dieta única por anos e anos, e estão mudando o manejo voltando a fazer dietas diferentes em função do nível de produção e estágio de lactação. A razão é simples, melhora o retorno sobre o custo dos alimentos (RMCA), que tem um impacto enorme sobre a rentabilidade geral da fazenda. A seguir, deixo minha visão de como imagino ser um bom manejo alimentar dos diferentes lotes de vacas. Para as vacas secas, a recomendação é seguir à risca os requerimentos apontados pelo modelo nutricional com que se trabalha, evitando variações no escore corporal (ECC) ao longo desse período. O ideal é que as vacas cheguem à secagem com ECC em torno de 3,0 a 3,5, dependendo do porte e da composição genética. Esse escore deve ser mantido por todo o período seco. É fundamental lembrar que o período seco deve ser dividido em dois – período seco inicial e lote pré-parto – e que cada um tem seus requerimentos específicos.

O lote de vacas recém-paridas é o que demanda maior atenção dentre as vacas em produção. Pessoalmente, eu recomendo manter essas vacas em lote separado por três semanas, para que sejam manejadas com o devido cuidado. Isso porque, nas primeiras semanas após o parto, as vacas têm dificuldade de consumir o que precisam para atender às suas elevadas exigências e ainda estão se adaptando à nova lactação, passando por adaptações fisiológicas, de forma que nessa fase ficam muito sujeitas à ocorrência de doenças e distúrbios metabólicos. O objetivo nessa fase é manter a saúde ruminal, e permitir a rápida retomada do consumo. Obviamente as vacas precisarão de níveis elevados de energia para evitar a mobilização excessiva de gordura corporal. Para esse lote a recomendação é manter 22% a 26% de amido em base seca e pelo menos 24% de fibra fisicamente efetiva (FDNfe). Em sistemas de pastejo a fibra quase nunca é problema, mas vacas que recebem acima de 8 a 10 quilos de concentrado podem ingerir mais amido do que o ideal, especialmente se a fonte de energia for o milho moído. Isso só reforça a necessidade de fazer um concentrado específico para cada fase, a fim de se obter o melhor desempenho e eficiência.

A partir das três semanas pós-parto, é possível montar um ou mais lotes de produção, dependendo da estrutura da fazenda. As vacas de produção mais alta antes dos 120 dias em lactação devem receber maiores níveis de energia e proteína, já as de produção mais baixa podem receber dieta menos energética, com maior inclusão de fibra. Via de regra os níveis de amido caem para 20% a 22% nas dietas de vacas de produção mais baixa e lactação mais adiantada, e o uso de subprodutos da agroindústria, como casca de soja, polpa cítrica, etc., pode ser maximizado no concentrado desses lotes. De forma geral, um bom agrupamento, além de diminuir as interações negativas entre os animais, contribui para reduzir o desperdício e a excreção dos nutrientes em excesso. Dessa forma, a divisão de lotes é benéfica para o produtor de leite por ajudar no controle de custos com alimentação. Isso permite o fornecimento de dietas mais adequadas, que beneficiam as vacas nos diferentes estágios de lactação e resultam em melhor eficiência, produtividade e rentabilidade, o que é fundamental para alcançar a verdadeira sustentabilidade. n

Vacas de produção mais alta devem, antes dos 120 dias de lactação, receber maior nível de energia e proteína.

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Nutrição

Silagem do jeito certo

Fotos: Luiz Prado

Corrigir pequenos equívocos garante uma alimentação de qualidade na seca

Marcela Caetano

Bem fermentada. Segredo de uma boa silagem é o planejamento correto.

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na Universidade Federal do Paraná e do Centro de Pesquisas em Forragicultura (CPFOR) da universidade. “Colher o grão na hora certa é decisivo para a produção correta de nutrientes por área e também para o processo de fermentação“, confirma o professor Ricardo Andrade Reis, do Departamento de Zootecnia da Universidade Estadual Paulista, em Jaboticabal. A planta deve ter entre 28% e 35% de matéria seca no momento da ensilagem. Para determinar o conteúdo da matéria seca, é possível fazer uso de técnica que requer o uso de um micro-ondas e uma balança. O produtor deve usar a planta inteira picada e desidratá-la no micro-ondas, para determinar a quantidade de matéria seca. “Com a tecnologia que se tem hoje não faz mais sentido determinar se a lavoura está no ponto só no olho”, diz Schmidt. Ele explica que o milho aumenta 0,5% o teor de matéria seca por dia. “Se o milho está com 28% de matéria seca, daqui a quatro dias ele vai estar com 30%. Com base nesse cálculo, fica mais fácil fazer um planejamento.”

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2. Picagem. Partículas em tamanho maior do que

1. Colheita. Conforme a Embrapa, a antecipação

3. Compactação. Este processo também precisa

do corte do milho para silagem eleva os teores de fibra e reduz os de energia, pela menor quantidade de grãos. Já a colheita tardia aumenta a resistência da massa ensilada à compactação, uma vez que os grãos estão mais duros e a porção vegetativa mais seca, reduzindo sua densidade. “É comum o produtor antecipar a colheita. Mas o problema é que o grão não está no estádio adequado de maturação e possui menor teor de amido. Assim, a silagem terá menor teor de energia”, diz Patrick Schmidt, professor de zootecnia

ser bem feito, pois, quanto mais compactado for o material, melhor será o resultado. Tem que usar o trator pesado ou, em pequena propriedade, vale até o pisoteio. “O trator precisa ter 40% do peso em relação ao que chega no silo por hora. Se são 10 toneladas por hora, serão 4 toneladas compactando, o equivalente a um trator médio”, ensina Schmidt.

specialistas consultados pela Mundo do Leite apontam quais os principais equívocos na colheita e ensilagem e mostram que o segredo de uma boa silagem é o planejamento. O milho costuma ser a planta eleita para o processo entre os produtores de leite, por causa do alto valor nutricional e da facilidade no manejo da cultura (que pode ser mecanizada), embora envolva mais riscos em comparação com alternativas como a cana e o sorgo, por exemplo. Por isso, as dicas dos especialistas são voltadas principalmente para este cereal.

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o recomendado podem levar à redução do consumo e do desempenho produtivo dos animais. Já as partículas muito pequenas podem causar problemas metabólicos. “Deve estar tudo uniforme e em tamanho pequeno. Um centímetro é o tamanho adequado”, ensina Schmidt. Conforme Reis, é fundamental afiar as facas da ensiladeira para obter esse resultado, já que o uso de partículas maiores pode levar à compactação inadequada e comprometer a fermentação.

4. Vedação. A vedação também tem seus segredos. É preciso usar uma lona de qualidade, que resista


à ação do sol. A borda deve estar bem enterrada, para evitar a entrada do ar, e deve-se colocar peso sobre a lona para ela ficar bem aderida ao silo. “O maior inimigo da silagem é o ar. Um furinho já pode dar problema. Fazendo uma boa vedação, o produtor garante que a fermentação seja a melhor possível”, diz Reis. O professor observa ainda que os tipos mais comuns de lona utilizados na pecuária leiteira ainda são preta ou dupla-face. “Esses materiais não são, porém, totalmente adequados para a vedação dos silos, uma vez que, ao serem expostos a altas temperaturas, os microporos se dilatam, permitindo a troca de gases entre silo e ambiente.” A entrada de oxigênio do ambiente para o silo, com consequente saída de dióxido de carbono e outros gases, estimula a atividade não desejável de micro-organismos dentro do silo. Ele informa que há lonas com baixa permeabilidade ao oxigênio, com películas de polietileno e poliamida. Embora o preço dessas lonas ainda seja mais elevado se comparado com as tradicionais lonas pretas e dupla-face, seu benefício é inegável sobre o processo fermentativo. Conforme Reis, mais de 95% dos produtores leiteiros ainda utilizam as lonas pretas e dupla-face. “Contudo, eles têm optado por usar algum material (terra, bagaço de cana ou pneus) sobre os silos. Esta estratégia simples e de fácil aplicação reduz a troca de gases entre silo e ambiente, promovendo melhor fermentação da massa ensilada e permite o uso mais eficiente das lonas.”

5. Tempo de armazenamento. A silagem deve ficar armazenada por, no mínimo, 21 dias. A partir desse período, quanto mais tempo ficar ensilada melhor, pois ocorrem fermentações secundárias que também são importantes. “O ideal é deixar por 60 dias”, diz Schmidt.

6. Inoculantes. Reis pondera que a utilização de inoculantes pode diminuir as perdas na ensilagem, contudo não há como corrigir os erros cometidos nas etapas anteriores do processo. “O aditivo, como definido pela própria palavra, pode acrescentar condições favoráveis ao processo”, frisa. “Se o produtor fizer tudo certinho,estão resolvidos 99% dos problemas que impedem a produção de uma silagem de qualidade. O inoculante pode ajudar a deixar o material melhor. Então, a opção por fazer uso ou não dos inoculantes é uma escolha pessoal”, pondera Schmidt. “Não é o inoculante que vai dar uma boa silagem,

mas ele pode ajudar se o resto tiver sido bem feito.” Conforme Reis, estudos relatam que o uso de inoculantes pode reduzir as perdas na superfície dos silos (principalmente no topo e laterais) para valores abaixo de 10%, dependendo do nível de compactação na ensilagem, tipo de lona utilizada na vedação dos silos e utilização de pesos sobre as lonas. Segundo ele, dados recentes mostram que somente 28% dos produtores de leite utilizam inoculantes durante a produção de silagem. “A expectativa e o que vem ocorrendo é que, cada vez mais, este tipo de aditivo seja utilizado no intuito de melhorar o padrão fermentativo e obter silagens de alto valor nutricional.” Além disso, quase 90% dos produtores não descartam o material deteriorado presente nas silagens, principalmente no topo e nas laterais do silo. “Neste sentido, o uso de inoculantes adequados diminui a população de fungos (responsáveis pela produção de micotoxinas) e micro-organismos aeróbios que se desenvolvem após a abertura dos silos, como bactérias do gênero Listeria, responsáveis por acometer animais e humanos com doenças quando presentes em grande quantidade neste material.”

Cobertura. Lona preta nem sempre é a mais recomendada, porque microporos podem fazer o ar entrar na pilha; produtores acabam, então, colocando terra sobre a lona para melhor vedação.

7. Planejamento. Para Patrick Schmidt, o primeiro erro do produtor é não adotar a tecnologia, ou ainda, adotar da forma que acredita ser a correta. “É uma atividade que exige muita mão de obra e rapidez. Por mais que tenha conhecimento, ele acaba fazendo da forma que consegue”, diz. fev-mar/2015 Mundo do Leite

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Nutrição 8. Por onde começar. O primeiro passo é escolher a cultura com o qual a silagem será produzida. As opções mais comuns são milho, cana, sorgo, milheto e capim. Fazer a escolha certa dependerá de clima, solo, tipo de animal que vai consumir e manejo da cultura. Boa parte dos produtores opta pelo milho. “O milho talvez seja a opção nutricional mais rica, mas tem custo maior e risco grande se comparado com cana, que não é tão boa mas é bem mais barata”, observa Schmidt. “Para quem tem produção de 15 a 20 litros de leite por dia é mais do que suficiente usar a cana”, opina. Reis pondera que, para o leite, o milho tende a ser a melhor opção. “A cultura tem adequado conteúdo de carboidratos solúveis, que são os principais substratos utilizados na produção de ácidos orgânicos (principalmente ácido lático) pelas bactérias ácido-láticas dentro do silo e baixo poder tampão (resistência à alteração do pH).” Além deste fator, ele destaca a facilidade de cultivo, disponibilidade de híbridos que se adap-

tam a diferentes condições de clima e de solo, e melhor “equilíbrio nutricional” entre energia e proteína quando comparado às demais forragens. Nessa escolha também devem pesar o tipo de maquinário ou pessoal necessários para plantio e a colheita, bem como a manejo da cultura. Para isso, é fundamental a orientação de um profissional. Um dos cuidados fundamentais a serem tomados é a adubação do solo, uma vez que cerca de 80% do potássio e 50% do cálcio e outros nutrientes ficam na palhada e são extraídos com a prática da silagem, empobrecendo o solo. Para isso, Vilela orienta a realização de uma análise de solo, para determinar qual é a necessidade de nutrientes e de que forma ela deve ser feita, com calcário, gesso ou esterco, por exemplo. “Sem seguir as recomendações agronômicas para a correção do solo, há grande risco de usar o adubo na quantidade diferente da recomendada e deixar de ganhar o que se poderia ao investir naquela cultura”, acrescenta Schmidt.

Da cana para o milho Quase no ponto. Produtor Hemilson Rocha dividiu o cultivo de milho em três etapas para fazer a silagem

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Hemilson Rocha Pereira, proprietário da Fazenda Cachoeirinha, do Grupo Gera Leite, de Baependi, MG, apostará no milho para garantir a silagem de seu rebanho neste ano. No ano passado ele optou por reduzir a área destinada à cana, que utilizava in natura para alimentação

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dos animais, para apostar na silagem do cereal por causa da dificuldade de encontrar mão de obra qualificada para a colheita da cana, uma vez que o uso de máquinas exigiria uma redução da área cultivada. Embora a cana-de-açúcar tenha produtividade de 120 a 150 toneladas de matéria original por hectare e o milho tenha um resultado estimado de 60 toneladas/ha, Pereira estima que o valor nutricional mais elevado do milho e a possibilidade de cultivar sorgo na área destinada aos grãos devem compensar a mudança. “O custo da cana estava próximo do milho, em torno de R$ 60/tonelada. Mas, com a máquina, teríamos que produzir menos e oferecer um alimento de qualidade inferior aos animais. Acredito que vamos ter um mesmo valor, mas com uma qualidade muito maior”, diz Pereira. “A silagem de milho é mais nutritiva do que a de cana”, complementa Alexandre Vilela, assistente técnico da Aprovar, empresa que orienta


Pereira nas decisões relacionadas à nutrição. O produtor dividiu o cultivo do milho em três etapas. A variedade superprecoce será ensilada no fim de fevereiro e corresponde a 85 hectares. O milho superprecoce foi semeado em fins de setembro e leva em torno de 100 dias para ficar “no ponto”. Já a segunda leva de milho precoce para silagem foi semeada entre 20 de outubro e 20 de novembro, e tem período de 115 dias para ficar pronto. O milho padrão – que será usado para silagem de grão úmido - foi semeado em outubro/ novembro, e leva em torno de 150 dias para a colheita.

A cana tinha produtividade de 120 a 150 quilos/hectare, em 18 hectares. A primeira tentativa de plantio de milho foi no ano passado, quando a produtividade foi de 35 a 40 tonela-

das de milho em 35 hectares. “Neste ano choveu pouco, mas no momento certo, então os 85 hectares semeados devem render acima de 60 toneladas por hectare”, estima Pereira. Neste ano, o pecuarista também utilizará uma automotriz para ensilar mais rápido. “Isso dá mais qualidade. Esperamos aumentar a produtividade em 1 litro por vaca”, estima. Na propriedade, ele mantém um rebanho de 200 vacas três-quartos Holandês em lactação, em sistema de piquete rotacionado, cuja produção é vendida para a Danone. As vacas produzem 4.500 litros/dia “Nossa meta é chegar a 6.500 litros/ dia neste ano”, diz.

Além da Cachoeirinha, Pereira mantém a Fazenda Topada, também em Baependi, que abriga animais mais velhos e bezerras acima de cinco meses e obtém 1.700 litros/dia. De 13 a 17 meses, as fêmeas são levadas para a Fazenda

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Nutrição Lua Bonita, onde são inseminadas ou cobertas em monta natural. Após a prenhez confirmada, elas vão para a Cachoeirinha. O Grupo Gera Leite é composto por quatro produtores de Minas Gerais: Além de Hemilson e Livio Rocha Pereira, da Fazenda Cachoeirinha, participam Marcelo e Marilze Faria

Pereira, da Fazenda do Engenho, também de Baependi; Márcio Maciel Leite, do Sítio do Charco, Maurílio Ferreira Maciel, da Fazenda Quilombo, ambos de Cruzília, Minas Gerais. Juntos, eles produzem 16.000 litros de leite/dia e mantêm 800 vacas em lactação. n

Como medir matéria seca no micro-ondas

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1. Colha algumas plantas da lavoura, que sejam

7. Pese o prato e coloque no micro-ondas por

representativas da área, e triture-as na ensiladeira. A forragem picada deve ser revolvida e homogeneizada. Colete cerca de 300 gramas do material para determinar a matéria seca; 2. Pese o recipiente (prato) que será usado para secar a forragem, anote o peso ou tare (zere) a balança; 3. Pese 100 gramas da forragem picada; 4. C oloque o prato no micro-ondas e coloque um copo com dois dedos de água no fundo do aparelho. A água evita que amostra queime; 5. Programe o aparelho para 3 minutos em potência máxima; 6. R etire o prato e revolva a amostra com cuidado, evitando derrubar qualquer partícula fora do prato. Isso é importante para uniformizar a secagem. Garanta que não haja perda de material;

mais 2 minutos; 8. Retire o prato, revolva novamente e pese; 9. Coloque novamente no micro-ondas por 1 minuto. Repita esse passo mais uma vez (dois ciclos de 1 minuto cada); 10. A pós dois ciclos de um minuto, repita ciclos de 30 segundos por 3 a 4 vezes, pesando o prato entre os ciclos; 11. Quando o peso entre duas pesagens subsequentes for bem próximo, o processo estará concluído. O último valor (peso constante) dado refere-se ao teor de MS da amostra.

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Fontes: Bleine Conceição Bach e Patrick Schmidt, do CPFOR, www.ensilagem.com.br


Nutrição Flávio Augusto Portela Santos

Fibra e carboidrato na dieta de vacas Relação adequada entre ambos os ingredientes resulta em leite com teores ideais de gordura e proteína tes, que neutralizam os ácidos graxos voláteis e o lactato produzidos no rúmen a partir da fermentação microbiana dos carboidratos. Esse mecanismo deve garantir valores de pH ruminal satisfatórios para a sobrevivência e crescimento microbiano e assim para a saúde do rúmen. Quando níveis adequados de fibra na dieta não são atendidos, ou quando a fibra não apresenta características físicas adequadas (tamanho de partícula pequeno, com baixa efetividade física) para estimular a ruminação, o pH ruminal poderá ser reduzido, afetando negativamente o consumo de matéria seca, a digestão dos alimentos, a produção de leite, o teor de gordura do leite, além de aumentar a incidência de problemas de casco e, finalmente, pode causar a morte do animal.

Polpa cítrica. Coprodutos podem reduzir teor de amido na dieta

Flávio A. Portela Santos Professor titular do Departamento de Zootecnia, Esalq-USP. *Colaboraram Jonas de Souza e Fernanda Batistel, ambos zootecnistas e mestrandos em Ciência Animal e Pastagens pela Esalq/USP.

O

s carboidratos compreendem de 60% a 70% da ração de ruminantes e, nutricionalmente, podem ser classificados em dois grupos, de acordo com a digestibilidade: carboidratos fibrosos (celulose e hemicelulose: digestão lenta ou indigestível) e carboidratos não fibrosos (amido, açúcares e pectina: digestibilidade alta). A principal função dos carboidratos não fibrosos é fornecer energia para os micro-organismos ruminais e para o animal, enquanto os carboidratos fibrosos (CF) também fornecem energia para micro-organismos e para o animal, mas são fundamentais para a manutenção da saúde ruminal e para a otimização do consumo de alimentos. A fibra ou FDN (celulose, hemicelulose e lignina) da dieta, além de suprir energia, tem função física de estimular a ruminação e por consequência a produção de saliva, rica em agentes tamponan-

Por outro lado, dietas de vacas leiteiras com teores elevados de fibra ou FDN restringem o consumo de matéria seca, o consumo de energia e consequentemente a produção de leite. Assim, as dietas para vacas leiteiras devem ser formuladas de forma a manter relações adequadas entre carboidratos não fibrosos (amido, açúcares e pectina) de alta fermentação ruminal e que fornecem quantidade alta de energia com uma concentração adequada de FDN (CF + lignina) com vistas a maximizar o consumo de energia, a síntese de proteína microbiana e a produção de leite com teores adequados de gordura e proteína, mantendo o rúmen da vaca saudável. De modo geral os alimentos concentrados energéticos, como os grãos de cereais e os coprodutos como polpa cítrica, casca de soja, assim como os concentrados proteicos, como farelo de soja e de algodão, contêm FDN na sua composição. Em comparação com os alimentos fev-mar/2015 Mundo do Leite

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Nutrição Tabela 1. Teores recomendados para a dieta¹ Teor de fibra na forragem 19 18 17 16 15

Teor de fibra mínimo da dieta 25 27 29 31 33

Carboidratos não fibrosos máximos da dieta 44 42 40 38 38

(1) Em % de matéria seca de fibra (FDN) total, FDN de forragem e de carboidratos não fibrosos em dietas de vacas em lactação (dieta oferecida como ração total, forragem com tamanho de partícula adequado, e milho moído como fonte predominante de amido). Fonte: NRC (2001).

volumosos, tanto o teor de FDN é menor como a efetividade dessa fibra em estimular a ruminação também é menor, em virtude normalmente do tamanho menor de partícula e da maior digestão ruminal da FDN da maioria dos alimentos concentrados. O conceito de FDN fisicamente efetiva está relacionado ao tamanho de partícula da fração FDN. Partículas maiores do que 1,18 milímetro são consideradas fisicamente efetivas para estimular a ruminação. Fica claro dessa maneira que FDN não é uma entidade de característica constante e uniforme.

É possível formular diversas dietas com teores idênticos de FDN total, porém com valores totalmente diferentes de FDN fisicamente efetiva, ou seja, que resultarão em ambientes ruminais totalmente diferentes. Da mesma forma, a fração carboidratos não fibrosos também não é uma entidade de característica constante e uniforme. Como já mencionado, a fração carboidratos não fibrosos é representada por amido, açúcares e pectina. Esses compostos têm taxas de degradação ruminal distintas e geram quantidades e perfis de AGVs (ácidos graxos voláteis) distintos no rúmen, podendo causar maior ou menor abaixamento do pH ruminal. Dentre esses três compostos, o amido é o que apresenta maior capacidade de causar abaixamento do pH ruminal, normalmente por entrar em maior proporção na maioria das dietas para vacas leiteiras de alta produção, assim como por gerar maior produção de ácido lático no rúmen.

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Mundo do Leite fev-mar/2015

Não bastasse essa variação existente na fração carboidratos não fibrosos, a própria fração de amido também não é uma fração constante e uniforme. A taxa de degradação do amido no rúmen varia grandemente conforme a fonte de amido (aveia > cevada > milho dentado > milho duro e sorgo) e a forma como os grãos de cereais são processados (ensilado úmido > floculado > moído fino seco > moído grosso seco). Quanto maior a taxa de degradação (% por hora) do amido maior a liberação de energia no rúmen, o que é positivo, por outro lado, também é maior o risco de redução drástica do pH ruminal, o que é preocupante. Na Tabela 1 são apresentadas as recomendações do NRC (2001) para balanceamento de FDN e de carboidratos não fibrosos em dietas para vacas leiteiras. De acordo com o NRC (2001) a medida que o teor de FDN de forragem é reduzido na dieta abaixo de 19% da MS, é recomendado que se aumente o teor de FDN total e se reduza o teor de carboidratos não fibrosos da dieta. Na Tabela 2 são apresentadas três dietas para vacas em pico de lactação, produzindo ao redor de 31 quilos de leite, mantidas em pastagens tropicais bem manejadas. A dieta A contém apenas 42% de forragem na MS e, apesar dos teores de FDN total e de FDN de forragem estarem acima do mínimo recomendado na Tabela 1 (NRC, 2001), o teor de carboidratos não fibrosos da ordem de 46% da

Tabela 2. Dieta para o pico de lactação¹ Pasto (kg de matéria seca) Milho (kg de matéria seca) Polpa (kg de matéria seca) F. soja (kg de matéria seca) Soypass (kg de matéria seca) Óleo de palma prot. (kg de matéria seca) Min. + Vit. (kg de matéria seca) Bicarbonato de sódio (kg de matéria seca) TOTAL (kg de matéria seca) FDN (% de matéria seca) FDN de forragem (% de matéria seca) FDN fisic. efetiva (% de matéria seca) Carboidratos não fibrosos (% de matéria seca) Amido (% de matéria seca)

A 7,50 8,50 1,20 0,40 0,14 17,74 30,2 22,8 20,0 46,0 34,5

B 8,90 6,80 0,80 0,30 0,40 0,40 0,14 17,74 33,4 27,0 23,0 41,0 27,6

(1) Dietas para vacas no pico de lactação, produzindo 31 kg de leite, mantidas em pastagens tropicais.

C 8,90 5,20 1,20 1,00 0,40 0,50 0,40 0,14 17,74 33,7 27,0 23,0 40,0 21,0


Tabela 3. Dietas para vacas no pico de lactação¹ A

B

C

Silagem de milho (kg de matéria seca)

10,20

12,60

11,50

Milho (kg de matéria seca)

9,00

6,10

4,70

Polpa (kg de matéria seca)

-

-

1,00

Casca de soja (kg de matéria seca)

-

1,00

F. soja (kg de matéria seca)

3,80

3,80

4,20

Soypass (kg de matéria seca)

1,70

1,70

1,70

-

0,50

0,60

Óleo de palma prot. (kg de matéria seca) Min. + Vit. (kg de matéria seca)

0,60

0,60

0,60

Bicarbonato de sódio (kg de matéria seca)

0,17

0,17

0,17

TOTAL (kg de matéria seca)

25,47

25,47

25,47

FDN (% de matéria seca)

27,3

30,1

30,9

FDN de forragem (% de matéria seca)

18,4

22,8

20,7

FDN fisic. efetiva (% de matéria seca)

17,0

21,0

20,0

Carboidratos não fibrosos (% de matéria seca)

49,0

44,0

42,0

Amido, % MS

36,6

31,0

25,9

(1) Vacas produzindo 50 kg de leite, mantidas em confinamento.

MS é excessivo. Mais preocupante ainda é o teor de amido de 34,5% da MS. É importante lembrar que vacas em pastagens recebem o suplemento concentrado separado do volumoso, aumentando ainda mais o risco de acidose. Depressão da gordura do leite e acidose subclínica e até mesmo clínica podem ocorrer com dietas desse tipo.

Com o objetivo de reduzir os riscos impostos com a dieta A, a dieta B foi formulada para conter maior teor de forragem. Com o objetivo de manter a concentração de energia da dieta e a produção de leite, foi inclusa gordura inerte na dieta (sais de cálcio de óleo de palma). O aumento do teor de forragem na dieta e a consequente redução no teor de milho resultaram em aumento dos teores de FDN e de FDN de forragem e redução nos teores de carboidratos não fibrosos e de amido para patamares mais seguros. Apesar de a dieta B poder ser considerada segura com base nas recomendações da Tabela 1 (NRC, 2001), é comum se observarem baixos teores de gordura do leite de vacas mantidas em pastagens no início de lactação, quando o concentrado fornecido é rico em milho. Na dieta C o teor de amido foi reduzido pela substituição de parte do milho por polpa cítrica.

Essa é uma estratégia que pode contribuir para a manutenção de teores mais elevados de gordura do leite. Em experimento conduzido na Esalq com vacas confinadas produzindo ao redor de 30 quilos de leite, a redução do teor de amido da dieta de 31% para 25%, por meio da substituição de parte do milho por polpa cítrica resultou em aumento da produção de leite. Na Tabela 3 são apresentadas três dietas para vacas no pico de lactação, produzindo ao redor de 50 quilos de leite por dia em confinamento. A dieta A da Tabela 3 contém apenas 40% de forragem e apesar dos teores de FDN e de FDN de forragem estarem dentro da faixa considerada segura (Tabela 1; NRC, 2001), os teores de carboidratos não fibrosos de 49% e de amido de 36,6% são muito altos, e expõem as vacas a grande risco de acidose, redução do consumo de matéria seca, redução na produção de leite e depressão da gordura do leite. A dieta B contém 50% de forragem e os teores de FDN total e de FDN de forragem são mais altos que da dieta A, com teores mais baixos de carboidratos não fibrosos e de amido, conferindo maior segurança à dieta. Entretanto, o teor de 31% de amido na dieta pode ser excessivo e causar depressão da gordura do leite e até mesmo menor produção de leite em comparação com dietas contendo 25% de amido, como observado em estudo conduzido na Esalq. Na dieta C, os teores de FDN e de FDN de forragem foram aumentados e os teores de carboidratos não fibrosos e de amido foram reduzidos em comparação com a dieta A, por intermédio do aumento da proporção de forragem na dieta de 40% para 45% e da substituição de parte do milho por polpa cítrica e casca de soja. Nos exemplos acima foram apresentadas algumas das alternativas disponíveis para balanceamento de dietas para vacas leiteiras no que diz respeito aos teores de CF e de carboidratos não fibrosos. O uso de coprodutos com teores mais elevados de fibra e menores de amido que o milho, como polpa cítrica, casca de soja, caroço de algodão, farelo de trigo, farelo proteinoso de milho (promill e refinazil) e resíduo de cervejarias, são alternativas para evitar dietas com teores excessivos de carboidratos não fibrosos e de amido, além de contribuírem para aumentar o teor de FDN da dieta. n fev-mar/2015 Mundo do Leite

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Qualidade Marcos Veiga

Risco elevado para a mastite clínica Sujeira na ordenha, além de fatores individuais, entre outros, elevam a possibilidade de o rebanho ser afetado.

A

mastite clínica é um dos tipos de mastite que acometem vacas leiteiras. É facilmente percebida pelo ordenhador, quando, antes da ordenha, ele faz o teste de caneca de fundo preto e percebe alterações visuais no leite ou no quarto mamário afetado. Quando não se detecta eficientemente a mastite, uma porcentagem variável de vacas afetadas pode ser ordenhada, o que causa aumento significativo da Contagem de Células Somáticas (CCS) do tanque de expansão. Além disso, o leite apresenta alterações de composição e qualidade, e é inapropriado para o consumo humano. As perdas e custos são facilmente perceptíveis. As perdas diretas ocorrem pela redução da produção de leite nos dias anteriores, durante e após a ocorrência do caso clínico. Por exemplo, em vacas adultas, as perdas de produção iniciam-se uma semana antes do aparecimento dos sintomas e são estimadas em aproximadamente 2 a 3 quilos/dia durante duas semanas após o início do caso clínico. Além disso, a mastite clínica resulta em custos com tratamentos (medicamentos, descarte do leite com resíduo de antibiótico), descarte precoce de vacas e redução de desempenho reprodutivo. A doença também prejudica o bem-estar da vaca e implica aumento do risco de transmissão de mastite para outras vacas, caso o agente causador seja contagioso.

Marcos Veiga Professor Associado da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP, campus de Pirassununga, SP.

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Sendo assim, é recomendável que o produtor adote uma rotina confiável de detecção da mastite clínica (teste da caneca de fundo preto em todas as vacas e em todas as ordenhas), por meio do treinamento dos ordenhadores e do uso de um sistema de anotações de dados; uma rotina de coleta de amostras de leite (antes do tratamento com antibióticos) para cultura microbiológica (identificação dos agentes causadores de mastite clínica), e defina protocolos de tratamento, com base no perfil de agentes e nas demais informações do rebanho.

Mundo do Leite fev-mar/2015

A mastite pode ser influenciada por dois fatores de riscos principais: os ligados ao rebanho e às características individuais da vaca. Dentro de um mesmo rebanho, sob as mesmas condições de alimentação, ambiente e manejo, observa-se diferença de suscetibilidade das vacas. Sendo assim, é importante conhecer quais características individuais influenciam no risco de uma vaca ter mastite clínica, o que pode auxiliar na decisão de cuidados especiais ou mesmo para decisões sobre viabilidade de tratamento ou descarte. Outro ponto importante é que, para conhecer estas características que aumentam a probabilidade de novos casos, é necessário ter uma boa rotina de anotações de informações e de histórico de mastite de cada vaca.

Em relação aos fatores de risco no quarto mamário, as principais características estudadas são ocorrência prévia de um caso de mastite, posição do teto, hiperqueratose (lesão na extremidade dos tetos) e gotejamento de leite entre as ordenhas. Desta forma, nos quartos mamários com mastite clínica há maior ocorrência de lesões graves de tetos do que nos sadios. Esta associação positiva entre hiperqueratose e mastite clínica eleva o risco de contaminação por micro-organismos patogênicos e menor capacidade de fechamento do canal do teto, o que aumenta a possibilidade de nova infecção. Além disso, a maioria dos estudos indica que o risco de mastite é maior nos quartos posteriores, provavelmente em razão da maior produção de leite em relação aos quartos dianteiros, o que implica maior tempo de ordenha destes quartos emaior probabilidade de lesões nos tetos. Fatores individuais influenciam significativamente o risco de mastite clínica durante a lactação. Dentre as características individuais importantes como fatores de risco, pode-se destacar: o número de lactações, o histórico prévio de mastite, a ocorrência de doenças


metabólicas no pós-parto e as condições de limpeza da vaca. Por exemplo, vacas que apresentaram dificuldade de parto (distocia), retenção de placenta ou claudicação têm maior risco de ter mastite clínica na lactação. Isso ocorre porque a imunidade da vaca baixa no período pós-parto. Sendo assim, cerca de 50% dos casos de mastite clínica ocorrem no primeiro mês pós-parto, pois este é um dos períodos mais críticos para o controle de mastite ao longo da lactação.

As vacas com alta produção de leite, acima de 7.000 quilos por lactação, também apresentam maior risco de ter mastite, conforme um estudo indicou. Assim, pode-se esperar que, quanto maior a produção média do rebanho, maior o risco de mastite e, consequentemente, maior deveria ser o cuidado para prevenir a doença. Outra característica associada é a CCS da vaca. O risco aumenta em vacas com alta CCS (maior do que 200.000 células por mililitro, cel/ml), na lactação anterior ou no mês anterior à ocorrência do caso clínico, principalmente aqueles causados por bactérias contagiosas. Por exemplo, quando avaliada a CCS do primeiro mês de lactação, as vacas com CCS alta apresentam maior risco de desenvolver mastite ao longo dos próximos meses de lactação. Vacas com histórico de mastite clínica durante a lactação anterior (ou durante um estágio anterior da mesma lactação) têm maior risco de a doença ressurgir na lactação seguinte. Um estudo estimou que o risco de um novo caso de mastite é duas vezes maior em vacas que apresentaram histórico de pelo menos um caso de mastite clínica na lactação anterior. Da mesma forma, vacas de primeira lactação apresentam menor risco do que vacas adultas. Isso indica que a resistência à mastite parece diminuir com a idade. No que se refere às características de rebanho que influenciam a ocorrência de mastite clínica, os principais fatores são associados ao aumento da exposição dos tetos aos agentes causadores de mastite (problemas de limpeza do ambiente, como deficiências de limpeza de cama e instalações, superlotação, falta de higiene na área de maternidade, deficiências de higiene na pré-ordenha) e também os fatores que diminuem a capacidade de resposta da vaca (deficiências de micronutrientes e de conforto). Rebanhos com baixa CCS do tanque (menor do que 150.000 células/ml) têm maior risco de mastite clínica e de aparecimento de casos de mastite aguda causada principalmente por Escherichia coli. Da mes-

ma forma, rebanhos com alta proporção de vacas com CCS menor do que 50.000/ml (acima de 60%) também apresentam maior risco de ocorrência de mastite clínica. Uma possível explicação está relacionada à redução da mastite contagiosa, que causa como consequência direta a diminuição da CCS. Ainda que não esteja claro qual o mecanismo, a redução da mastite causada por patógenos contagiosos resulta em maior predisposição do rebanho à mastite clínica causada por patógenos ambientais, porque os principais fatores associados à prevenção de mastite não dependem somente do número de células de defesa na glândula, mas da velocidade e do número com que estas células podem ser mobilizadas para combater a infecção. Rebanhos com problemas de limpeza do ambiente apresentam maior risco de mastite. Vacas mais sujas (com acúmulo de esterco, lama ou matéria orgânica) na região do úbere e pernas também têm maior risco de ter mastite clínica do que vacas limpas. A relação entre as condições de limpeza da vaca e a mastite ocorre porque a presença de sujeira no úbere eleva a contaminação na extremidade dos tetos.

Uma ferramenta simples para avaliação da condição geral de higiene da vaca é o uso de um escore de limpeza, baseado na avaliação visual do úbere e das pernas. A avaliação é feita por meio de pontuação que varia de 1 a 4 (1 = ausência de esterco; 2 = pequenos respingos de esterco – 2% a 10% da área; 3 = 10% a 30% das áreas com placas de esterco; 4 = mais de 30% das áreas cobertas com esterco). Problemas de higiene do ambiente das vacas leiteiras são um dos principais fatores de risco para ocorrência de novos casos de mastite ambiental, o que significa que medidas para melhoria da higiene apresentam bons resultados para prevenção da doença. A adoção de medidas de controle de mastite contagiosa em rebanhos leiteiros tem como reflexo a redução da CCS, situação frequente quando há forte incentivo pela bonificação do preço do leite para o produtor reduzir a CCS. Em consequência dessa redução, pode ocorrer aumento da incidência de mastite clínica, cujas causas geralmente são agentes de origem ambiental. O conhecimento dos fatores de risco pode auxiliar na tomada de decisões sobre a probabilidade de sucesso no tratamento e a necessidade de medidas específicas de controle e prevenção. n fev-mar/2015

Mundo do Leite

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EMPRESAS E PRODUTOS Zoetis

CONSÓRCIO CASALE

A terapia completa da vaca seca Para auxiliar o pecuarista a controlar a mastite no rebanho, a Zoetis apresenta ao mercado a sua “terapia completa da vaca seca”, que associa o uso de antibióticos intramamários, seguido da aplicação de selante interno. “A terapia traz mais benefícios em relação à redução de novas infecções e na incidência de mastites clínicas por até 150 dias após o início da lactação, e consequentemente a redução na CCS”, informa Pablo Paiva, gerente de Produto para a Linha de Leite da Unidade de Negócios Bovinos. A Zoetis apresenta o selante interno Teat Seal e o antibiótico Orbenin Extra DC. O primeiro bloqueia o canal do teto contra a entrada de bactérias da mastite e o segundo combate as bactérias. “Deve-se dar à fase seca da vaca a mesma importância que se dá à lactação, e esta terapia pode melhorar o controle de mastite e até o aumento da média de produção leiteira por animal.” Informações, tel. 0800 011 1919.

REAL H

Empresa completa 30 anos A Real H Nutrição e Saúde Animal completa 30 anos este ano, numa trajetória que começou em 8 de fevereiro de 1985, em Ribas do Rio Pardo, MS. A empresa, especializada na produção de medicamentos veterinários homeopáticos, calcula que esteve presente, nestas três décadas, no cocho de aproximadamente 15 milhões de cabeças de gado, tanto no Brasil quanto no Paraguai. Com a inclusão de medicamentos

Memória

Morre Lair Antonio de Souza

O maior produtor de leite do País, Lair Antônio de Souza, da marca de leite A Xandô, faleceu aos 85 anos no dia 7 de fevereiro, em São Paulo. Produtor de 70.000 litros de leite por dia, em Araras, SP, ele considerava seu trabalho um “hobby”. “Enfrentar desafios é tornar este hobby mais emocionante”, dizia. Com o espírito empreendedor que lhe permitiu investir em várias empresas, como de fertilizantes, de suco de laranja, de leite e do ramo imobiliário, Lair Antônio de Souza deixa, na pecuária leiteira, a marca da modernidade, como a ordenha em carrossel, que permite a ordenha simultânea de 72 vacas.

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Mundo do Leite fev-mar/2015

homeopáticos nos suplementos minerais, a ideia básica e inédita era obter melhor absorção e aproveitamento dos minerais e nutrientes em geral e, assim, melhorar a mineralização de bovinos. “Foram rompidos paradigmas não só no campo da nutrição animal, como também no próprio campo da homeopatia, que até então não aceitava a possibilidade de tratamento coletivo de populações – a homeopatia populacional”, diz o professor dr. Claudio Martins Real, médico veterinário e precursor da homeopatia veterinária no Brasil. Informações, tel. (67) 3028-9000.

CAPACITAÇÃO

Pronatec Agro forma 4.500 alunos Cerca de 4.500 alunos já foram capacitados, até janeiro, pelo Pronatec Agro, do Ministério da Agricultura com o Ministério da Educação. Até julho de 2015 a expectativa, segundo o Mapa, é a de que a oferta de capacitações cresça 500%, pulando para 23.600 formandos. O programa, que tem no Senar – Serviço Nacional de Aprendizagem Rural – um dos

A Casale lançou o Consórcio Nacional Casale, em parceria com a Agraben, inédito para criadores de gado de leite e de corte e “uma oportunidade para o produtor adquirir seus equipamentos de forma programada, como se fosse uma poupança, onde o objetivo é incrementar a produção e a rentabilidade”, diz o presidente da Casale, Celso Casale. Vários equipamentos das linhas Rotormix, Totalmix, Vertimix e CFC Super podem ser adquiridos por meio do consórcio, com baixa taxa de administração, sem taxa de adesão e planos de até 120 meses, ou dez anos. “Outro benefício é que o comprador paga meia parcela até a contemplação. É uma modalidade de consórcio inédita no Brasil para o agronegócio”, garante o gerente da Agraben, Andre Marchetti. Mais informações no site da Casale, www. casale.com.br.

principais parceiros, oferece cursos gratuitos em escolas públicas federais, estaduais e municipais e ainda nas unidades do Senai, Senac e Senat e em instituições privadas de ensino superior e de educação profissional técnica de nível médio. O Pronatec Agro oferece cursos como assistente de planejamento e controle de produção, operador de máquinas e implementos agrícolas, auxiliar de agroecologia, horticultor, forragicultor, e inclusive na pecuária leiteira. Informações no Senar da sua região. Ou em www.senar.org.br.

Husqvarna

Tratores para podar tifton Por possuir alto nível nutricional, o pasto de tifton vem se multiplicando nas propriedades e, de olho neste mercado, a Husqvarna apresenta os tratores modelos LT1597 e LTH1842, para cortar o capim após o pastoreio no piquete, revigorando-o e facilitando sua brotação. A vantagem é que o corte é uniforme. “Além disso, o equipamento tem um compartimento capaz de armazenar o capim cortado, que pode ser misturado a um composto proteinado e servido como ração”, explica o consultor técnico da Husqvarna, Paulo Figueiredo. A técnica do corte permite que o capim tenha brotação mais rápida. Tel. 0800 77 323 77.


eventos Aberta a temporada das grandes feiras

Começando com a Expodireto Cotrijal, em Não Me Toque, RS, entre os dias 9 e 13 de março, passando pela Tecnoshow Comigo, em Rio Verde, GO, entre os dias 13 e 17 de abril e encerrando-se em 1º de maio, com a Agrishow, em Ribeirão Preto, SP, que começa no dia 27 de abril, está aberta a temporada das grandes feiras agrope-

cuárias do País. Na Expodireto Cotrijal, a Emater/Ascar-RS trará várias tecnologias para os produtores de leite. Entre elas, o aproveitamento da água de chuva no manejo da atividade leiteira e demonstração de mais de 15 espécies de forrageiras e seu manejo na pecuária, por intermédio de pequenas áreas de demonstração. Além disso, haverá um esboço de silo construído, a fim de facilitar aos interessados o conhecimento do passo a passo para se construir um silo em suas propriedades, com ênfase na atividade leiteira.

Já a Tecnoshow Comigo, realizada no Centro Tecnológico Comigo (CTC), conta com mais de 130 hectares destinados a experimentos agropecuários – incluindo aí a pecuária leiteira. No ano passado, cerca de 500 expositores e mais de 80 mil visitantes participaram da feira.

A Agrishow, em Ribeirão Preto, SP, que no ano passado bateu recorde de negócios, com mais de R$ 2,7 bilhões, é a maior feira do gênero no País e, segundo seus promotores (Abimaq, Faesp, Anda e SRB), está também entre as três maiores feiras agrícolas do mundo, com mais de 800 expositores e 160.000 visitantes em 2014. Além das tecnologias embutidas em máquinas e implementos e que servem tanto à agricultura quanto à pecuária, a Agrishow 2015 traz demonstrações de máquinas agrícolas em sua parte dinâmica, incluindo de equipamentos adequados à pecuária de leite, como forrageiras de milho, de capim, recolhedoras de forragem, fenação, vagões misturadores e forrageiras de cana, entre outros. Veja o serviço completo das três feiras ao lado.

Agenda Expodireto Cotrijal, de 9 a 13 de março, em Não Me Toque, no Rio Grande do Sul. Promoção da Cotrijal. Feira agropecuária voltada à difusão de tecnologia agrícola e pecuária. Mais informações no site www.expodireto.cotrijal. com.br. Reprodução de bovinos. O curso Novos Enfoques na Produção e Reprodução de Bovinos, promovido pela Consultoria Pecuária Junior (Conapec Jr.), em Uberlândia, MG, será realizado entre 19 e 20 de março, com a coordenação do professor José Luiz Moraes de Vasconcelos. Informações e inscrições, tel. (14) 3880-2939 e conapecjr@conapecjr.com.br.

Tecnoshow Comigo, em Rio Verde, GO, trará também tecnologias voltadas ao produtor rural e à agroindústria, entre outros segmentos congêneres. Promoção da Cooperativa Comigo. Entre os dias 13 e 17 de abril, no Centro Tecnológico Comigo. Informações, no site www.tecnoshowcomigo.com.br. Agrishow Ribeirão Preto, em Ribeirão Preto, SP. A maior feira do País em difusão de tecnologia agrícola, principalmente a voltada à indústria de máquinas e equipamentos agrícolas, promovida por Abimaq, Anda, Faesp e SRB. Entre os dias 27 de abril e 1º de maio. Informações no site www.agrishow.com.br. fev-mar/2015 Mundo do Leite

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Seguindo em Frente André Novo

Um grande aprendizado Encerro minha participação nesta revista lembrando que o mais importante em qualquer atividade são as pessoas

D

urante mais de quatro anos tive a oportunidade de escrever aqui sobre vários assuntos relacionados à pecuária leiteira. Foi uma experiência e tanto! Revendo os temas das colunas, percebo que discutimos sobre quase tudo o que é relevante na fascinante arte de produzir leite. De sistemas de cota a impactos ambientais, de fundamentos básicos à sucessão nas fazendas, apresentamos nossa visão de como os diversos fatores se encaixam em um sistema de produção. Mudanças climáticas, dificuldade de mão de obra e variações nos preços do leite não poderiam ficar de fora, claro. A experiência holandesa foi relatada diversas vezes ao longo desta jornada, ilustrando como é a visão de um país desenvolvido em pecuária leiteira. Pela minha história profissional, não poderia deixar de ressaltar a importância da assistência técnica capacitada e o impacto do Projeto Balde Cheio. Se o amigo leitor me perguntar hoje, porém, após tanto escrever, quais seriam os pontos mais importantes para se ter sucesso na atividade leiteira, eu destacaria apenas dois: as pessoas e o conhecimento.

Certa vez, assisti a uma palestra inspiradora, que me deu a exata dimensão da importância das pessoas em qualquer atividade. O professor começou a aula perguntando a cada técnico presente onde ele trabalhava. O público era bem variado, assim como as respostas de cada um: cooperativa de tal lugar, laticínio de outro lugar, universidade de não sei onde, fazenda tal e assim por diante. Para espanto de todos, a cada resposta dos técnicos o palestrante dizia, com firmeza: “Esta empresa (ou indústria ou universidade ou fazenda) não existe!” Alguns ficaram revoltados e diziam: “Mas que sujeito petulante, como ele pode dizer que a minha empresa não existe?” O professor então acalmou a todos e explicou: “Imagine comigo que, amanhã, na sua cooperativa, ou no latícinio ou na

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Mundo do Leite fev-mar/2015

fazenda, ninguém apareça para trabalhar. O que acontecerá lá dentro? Absolutamente nada. Se na sua fazenda, todos os envolvidos na produção ficam do lado de fora da porteira, apenas observando sem intervir em nada, o que acontece lá dentro da fazenda? As vacas vão se auto-ordenhar? Ou as novilhas mais velhas vão cuidar das mais novas? Acho pouco provável. Da mesma forma, absolutamente nada vai acontecer. Em outras palavras, o que realmente faz diferença não são vacas, tratores, sistema de produção ou a composição do sal mineral. Quem define o destino de cada empresa são as pessoas”. Era isso o que o palestrante queria chamar a atenção, sobre a importância que devemos dar ao fator número 1 de qualquer atividade. Sem as pessoas, nada existe ou acontece.

Só que gente não é robô. As pessoas têm sentimentos, objetivos de vida diferentes e bagagem de sabedoria própria. Assim, o segundo fator mais importante é o conhecimento. Eu me refiro ao conhecimento que leva à tomada de decisões operacionais ou estratégicas, como, por exemplo, qual tecnologia adotar ou como interpretar as informações. As decisões de cada gestor, de cada técnico ou empregado, são sempre baseadas em um conhecimento prévio, na experiência de cada um, não é mesmo? Assim, quanto mais as pessoas são treinadas, viajadas e informadas, melhores são as decisões, mais sábias são as escolhas e melhores são os resultados. A experiência de ter escrito neste veículo de informação foi um grande aprendizado e espero _ do fundo do coração _ ter contribuído de alguma forma para ampliar os horizontes dos amigos leitores. Boa sorte a todos! n André Novo é agrônomo e chefe-adjunto da Embrapa Pecuária Sudeste, de São Carlos, SP.




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