Ao Leitor Você valoriza seus funcionários? Em um meio no qual a rotatividade de mão de obra parece ser a tônica, Mundo do Leite traz, em sua reportagem de capa, a experiência de produtores e especialistas para capacitar e principalmente estimular e reter os colaboradores nas propriedades. Uma coisa é certa: trabalhadores motivados _ e isso não tem a ver apenas com salário _ revertem em lucro para o produtor. O trato com os animais melhora e a produtividade do rebanho aumenta. Além disso, esta edição traz como novidade o colunista de Saúde Animal, o médico veterinário e professor da Unesp José Luiz Moraes Vasconcelos. Em seu artigo inaugural, ele aborda o estresse térmico em vacas leiteiras. Boa leitura!
LUIZ PRADO
Invista em seus funcionários
16 Capa
Gestão
Invista em seus funcionários e motive-os. O retorno é gratificante.
10 Indicadores zootécnicos e de produção
Equipamentos
26 Limpeza do sistema de ordenha
Nutrição
34 Silagem bem compactada
Saúde animal
Capa: Lay-out: Edgar Pera Arte final: Edson Alves Foto: Luiz Prado
42 Tripanossoma se dissemina nos rebanhos
Colunistas
14 Gestão, Christiano Nascif 30 Qualidade, Marcos Veiga 38 Sustentabilidade, Alexandre Pedroso 45 Saúde Animal, José L. M. Vasconcelos 50 Seguindo em frente, Ismail Haddade
Seções
toda a potencialidade da produção leiteira
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3 Ao Leitor 8 Mercado 9 Palavra da Indústria 47 Eventos 48 Empresas e Produtos
Mundo do Leite
Entrevista João Rosseto Jr. O engenheiro agrônomo e instrutor 4 do Projeto Balde Cheio conta sua experiência e
Qualidade
CBT e CCS
Até junho deste ano, todo o Centro-Sul terá de se adequar aos parâmetros da Instrução Normativa 62
Tiragem desta edição: 20 mil exemplares. Tiragem e circulação auditadas
É uma publicação bimentral da DBO Editores Associados Ltda., com circulação em fevereiro, abril, junho, agosto, outubro e dezembro.
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Arte
Daniel Bilk Costa, Demétrio Costa e Odemar Costa.
Editor: Edgar Pera
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Entrevista
JOÃO ROSSETO JR.
Ele era aquele garoto que, na fazenda do pai, ia para o pasto apartar os bezerros das vacas na hora da ordenha. Praticamente tem “leite no sangue”. Em 1992, logo depois de formado – em agronomia, como não poderia deixar de ser –, João Rosseto Junior continuou na atividade, auxiliando pecuaristas de uma associação de produtores de leite do Paraná a melhorarem seus índices produtivos. Conheceu o Projeto Balde Cheio no fim dos anos 1990. A partir daí prestou assistência técnica em Cerqueira César, em Itapeva, também no Estado de São Paulo. Já como instrutor do projeto, a convite do dr. Artur Chinelato, alçou voos maiores. Passou a prestar assessoria, já por meio de sua própria consultoria, a Agrodinâmica, montada em 2000, em Rondônia, Pernambuco, Piauí e até na Colômbia. Passou a ser o que o dr.Chinelato chama de “lactopsicoterapeuta”, ou seja, não só dá assistência técnica a produtores interessados em melhorar seus índices como a animar aqueles que estão quase desistindo.
‘Na propriedade, só não temos controle sobre o preço do leite’ Mundo do Leite – Como você começou no leite? João Rosseto – Eu era aquele moleque que apartava os bezerros. Sou nascido e criado no sítio de minha família, em Piraju, interior de São Paulo. Eu ajudava a tirar leite, e desde bem pequeno gostava disso. Aí, quando tive de decidir o que ia cursar, fiquei em dúvida entre veterinária e agronomia. Optei por agronomia mas, em seguida, todos os meus cursos e treinamentos focaram na parte zootécnica, principalmente, que mescla um pouco de tudo. Hoje faço o que realmente gosto, que é alimentação de rebanhos, manejo, produção, reprodução, gestão... A fazenda do seu pai ainda existe? É de pecuária leiteira? Existe. Mas ele já se aposentou e não tira mais leite. Arrendou para a cana. Como eu viajo muito, não consigo ficar ali,
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Mundo do Leite fev-mar/2016
cuidando dela o tempo todo, como é necessário para tocar uma atividade leiteira.
Então, a primeira pergunta ligada à produção: para a fazenda de leite ir para a frente, de fato, olho do dono é essencial? Dedicação constante e obrigatória? Costumo falar que, no leite, não tem como não ser eficiente em tudo. E isso exige dedicação. Não tem como tirar bastante leite e produzir mal o alimento das vacas. Ou tirar muito leite a um custo muito alto. Não tem como ter bons índices reprodutivos, e o leite não ter qualidade... Todos os pontos têm de ser nota 10 para que realmente haja lucro na atividade. Não dá para ser mais ou menos. E isso exige dedicação.
Os produtores costumam reclamar muito do preço do leite – que, inclusive, está em valores mais baixos do que os bons preços de 2014. Diante desse cenário, você acha possível o produtor lucrar? Lógico. A questão é a seguinte: o único fator que eu não consigo interferir diretamente é no preço do leite. Em todos os outros fatores, dentro de uma propriedade leiteira, eu consigo. E são eles que podemos aprimorar. Posso melhorar a qualidade do leite e conseguir um preço maior por litro, mas ter um leite de qualidade é obrigação e também consequência de tudo o que eu fiz da porteira para dentro. Então, preciso de um sistema de produção que dê resultado mesmo com o preço do leite em baixa. Ter um sistema funcionando bem, aliás, é essencial para que o produtor sobreviva em épocas de preços baixos.
Qual o perfil dos produtores que você atende? Olha, são de pequenos, com 100 litros por dia, a médios, com 1.500 litros/dia, inclusive com propriedades que criam búfalos. E é um trabalho desafiador, porque,
Costumo falar que, numa propriedade leiteira, não tem como não ser eficiente em tudo. E isso exige dedicação” quando se trabalha com produtores deste porte, o que mais se ouve falar é que com a evolução da atividade os pequenos e médios vão “sumir” e dar lugar a propriedades maiores, de produção mais volumosa. Nossa proposta, então, é montar um sistema em que eles não sejam excluídos, como ocorreu, por exemplo, nos Estados Unidos e mais recentemente vem ocorrendo na Argentina. Montamos um sistema com custo muito baixo, com base pasto. Aí fica viável se manter na atividade e ter lucro. Não pregamos tecnificação excessiva, como confinamento, compost barn, free stall, alimentação só no cocho... Isso tudo se traduz em custos muito altos e exige escala grande de produção para compensar.
Com a adoção do Balde Cheio em larga escala, você acha que a tendência no Brasil é a manutenção desses pequenos e médios então? Bem, no nível do Balde Cheio, com certeza. O programa dá justamente condições para quem quer continuar na atividade. Ele permite, dá oportunidade, não exclui ninguém, independentemente do tamanho. Vou dar um exemplo: você acha que uma propriedade de 2 hectares pode ser lucrativa no leite? Muita gente acha que não. E nós provamos que sim. Temos, no Piauí, uma propriedade de 2 hectares que tira 450 litros de leite por dia. Isso dá cerca de R$ 18 mil a R$ 20 mil reais por hectare/ ano. O custo de produção dele é baixíssi-
mo, de R$ 0,70 por litro, no máximo. A lotação, alta, de 22 unidades animais por hectare. É um resultado bastante interessante e viável. Base 100% pasto, com irrigação.
Falando em irrigação, muitos produtores acham que no Balde Cheio tem que se irrigar pasto. Como é isso? Sim, muita gente acha isso, o que não é verdade. Cada propriedade tem de ser analisada de forma individual. Há áreas em que simplesmente não dá para usar irrigação. Vou lá, cavo um poço semiartesiano e vejo que a água é salobra. Ou seja, não pode ser usada. O que o projeto faz é analisar cada propriedade e ver o que é possível fazer nela para melhorar os índices produtivos e a gestão. Temos de adaptar as técnicas – que não são só irrigação – de acordo com a necessidade de cada fazenda. Não existe um pacote tecnológico fechado. Há diretrizes, mas não um pacote pronto para cada propriedade. Essas diretrizes e técnicas buscam a redução dos custos de produção. Técnicas não faltam. Atualmente, para qualquer situação já se desenvolveu uma técnica produtiva. Só é necessário saber utilizá-las para tornar a propriedade viável economicamente.
E no caso de uma propriedade com relevo muito acidentado, por exemplo? Olha, é difícil, em qualquer terreno, que não haja um pedaço de terra possível de se instalar um pasto e intensificar seu uso, aumentando a lotação animal. Aí trabalhamos em cima disso. E o interessante: quando se intensifica a pastagem acaba até sobrando terra. Se numa propriedade de 50 hectares vou manter cerca de 40 animais só em 2 hectares – o que é bastante possível – sobram 48 hectares para outras atividades. Fiz isso com um produtor, que antes mantinha todo o rebanho leiteiro nos 50 hectares, e ele me disse: “Nossa, ganhei mais uma propriedade!”
Nessas andanças você já se deparou fev-mar/2016 Mundo do Leite
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Entrevista
JOÃO ROSSETO JR.
com produtor que estava a ponto de desistir? Sim, muitos. É muito comum, aliás. Como o dr. Artur Chinelato (o principal difusor do Balde Cheio) fala, você tem de ser um “lactopsicoterapeuta”. Dentro do projeto Balde Cheio, não há só a parte técnica. Tem a parte motivacional também. A gente tenta animar o produtor, mostrando o que fazer e até onde ele pode chegar e até “desacerelá-lo”, quando está muito empolgado com os resultados. No fim do ano passado, por exemplo, fui a uma propriedade no interior de São Paulo, onde o produtor me disse que esta seria sua última tentativa. É uma área relativamente grande, com cana e mais 40 hectares para o leite. De outubro, quando comecei o trabalho, para cá, já conseguimos melhorar e afinar a reprodução, a produção de leite aumentou e a pastagem, rotacionada em 2,2 hectares, também está de ótima qualidade. Ele ficou animado porque agora acertou o manejo.
O que ele estava fazendo de errado anteriormente? Primeiro, ele estava sem diretrizes. Os técnicos iam ali, acompanhavam o que estava sendo feito, mas sem planejamento geral e sem traçar objetivos. Não sabia calcular o tamanho do rebanho e a produção à qual ele queria chegar. Em segundo lugar, o controle de dados do rebanho, de reprodução e lactação, por exemplo, existia, mas estava solto. Ele anotava um monte de coisa, mas não sabia por quê. Separamos as bezerras, pesamos, fizemos controle leiteiro e várias outras medidas para melhorar a gestão da produção. E a coisa vai caminhando bem agora e ele está super animado. A questão é reunir os dados da propriedade, todos os números, e saber o que fazer com isso. Pelo menos uma vez por mês, se debruçar sobre esses números e ver que atitudes tomar. Ver, por exemplo, quais vacas produzem mais e dar o melhor alimento
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Mundo do Leite fev-mar/2016
Nossa proposta é montar um sistema em que pequenos e médios produtores não sejam excluídos. Montamos um sistema com custo muito baixo, com base pasto. Aí fica viável se manter da atividade e ter lucro” para elas – elas pagam o alimento com o leite. Quem trabalha melhor, ganha mais.
Nesses anos todos que você trabalha com o leite, acha que está melhorando a qualidade? Melhorou sim, e bastante. Ainda tem muito o que melhorar, mas hoje em dia CBT, para o produtor, é contagem bacteriana total, e não marca de trator (risos). Em Rondônia, por exemplo, quando eu comecei a prestar assistência técnica, era uma tristeza. Via panela de pressão, recipientes reutilizados em cima daqueles tablados de madeira na porteira da fazenda para o caminhão de leite pegar. Imagina isso naquele calor. Hoje não se vê mais isso por lá. Ainda tem bastante latão, mas também há muito tanque de expansão refrigerado. Hoje se fala em qualidade.
E qual a responsabilidade dos laticínios em relação à melhoria da qualidade? Deveria ser maior, mas teve mobilização na indústria em favor da qualidade também, principalmente por meio do pagamento adicional. Aqui no Estado de São Paulo, por exemplo, eu presto assessoria para uma associação de produtores
em Cerqueira César, e que recebem pagamento por qualidade do leite já há alguns anos. Todo mundo tem acesso aos índices de todo mundo. E isso cria uma competição saudável. O pecuarista olha os índices do colega e fica comparando. Tentando melhorar, chegar aonde o colega chegou e ver o que ele faz pra isso. Vê CBT, CCS, índice de gordura... É positivo.
E sobre técnicos? Os produtores ainda não se conscientizaram de que é bom ter um acompanhando a propriedade com frequência? Infelizmente, ainda não. Atualmente, o que mais acontece é chamar o técnico quando a “vaca está indo pro brejo”. São chamados pontuais. Por exemplo, quando a vaca está tentando parir há dois dias, quase morrendo, aí ligam pro veterinário. Ou tentam fazer algo diferente por conta própria, não dá certo, e aí chamam o técnico pra consertar. Mas o fato, também, é que não há tantos técnicos assim que realmente entendam de gestão da propriedade em todos os seus níveis. Há poucos treinados para isso. E o técnico tem de entender de animal, de administração, de pasto... E o que não entender, tem de conhecer alguém de confiança que entenda. E não deve haver resistência do produtor em contratar um técnico. Ele tem de perceber que o técnico é seu parceiro e vai auxiliá-lo a aumentar a produção e lucrar mais.
Treinar técnicos com essa visão geral é uma das premissas do Balde Cheio, não? Sim, exatamente. O que se pensa do Balde Cheio, erroneamente, é que ele é um projeto de piquete rotacionado ou de pasto irrigado. Isso é um absurdo. Primeiro, que o projeto é de transferência de tecnologia para treinar técnico e produtor de leite pra trabalhar na propriedade leiteira. Mas o Balde Cheio é, fundamentalmente, um projeto de gestão. n
08/06/2016 5ª MOSTRA DE TRABALHOS CIENTÍFICOS 8h30 às 10h | Apresentação dos trabalhos inscritos na Mostra Científica. 10h30 | Palestra: Lavoura de Leite: Um Novo Conceito de Produção – Zootecnista Davi Teixeira – Diretor Executivo da SIA – Serviço de Inteligência em Agronegócios. 13h30 | Abertura Oficial do 13º Simpósio do Leite. 14h30 | 7º FÓRUM NACIONAL DE LÁCTEOS. TEMA: Cenário da qualidade do leite no Brasil e visão da indústria e produtores e ações governamentais em prol da qualidade do leite. Moderador: Dr. Paulo Carmo Martins - Chefe geral Embrapa gado de leite Juiz Fora/MG. Convidados: 1 | Alceu Moreira - Deputado Federal e Presidente da Sub Comissão de Política Agrícola. 2 | Caio Tiberio Dornelles da Rocha - Secretário de Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo/ MAPA. 3 | João Augusto Araújo Telles - Chefe da Divisão Técnica do SENAR/RS. 4 | Vilmar Fruscalso, Eng° Agrônomo e Doutorando em Bovinos de Leite - ATR (Assistente Técnico Regional) da Emater/RS na área de Criações.
09/06/2016 13º SIMPÓSIO DO LEITE
INGRESSOS 1º Lote: R$ 80,00 (De 15/02 a 30/03/2016)
8h15 | Palestra 01: Impacto do tratamento precoce do edema de úbere Dr. e Prof. Marcelo Feckinghaus. Apoio Ouro Fino.
2º Lote: R$ 90,00 (De 01 a 30/04/2016)
9h15 | Palestra 02: Atualidades na hipocalcemia de vacas leiteiras: prevenção e implicações - Dr. e Prof. Rodrigo Almeida/UFPR Curitiba - Apoio Bayer.
Para grupos acima de 15 pessoas, o valor da inscrição será de R$80,00 por pessoa.
11h15 | Palestra 03: Criação de Terneiras: Como criar a futura vaca em lactação - Cristiane Azevedo Apoio Zoetis. 13h30 | Premiação da 5ª Mostra de Trabalhos Científicos. 14h | Palestra 04: Doenças de cascos em bovinos leiteiros Dr. e Professor Rogério Carvalho Souza PUC/MG - Apoio R&R Aperfeiçoamento e ReHagro. 15h15 | Paletra 05: A visão neozelandesa de melhoramento de bovinos leiteiros aplicada ao Brasil: passado, presente e futuro - Dr. Wagner Beskow, Ph.D. pesquisador e consultor Transpondo - Apoio LIC NZ Brasil.
3º Lote: R$ 100,00 (De 01 a 23/05/2016)
Neste caso, as inscrições serão aceitas apenas por e-mail, constando o nome de cada pessoa, CPF e apenas um comprovante de depósito para todo o grupo até dia 01/05/2016. Ingressos no dia do evento estão sujeitos à disponibilidade.
Mercado O leite nas pistas
Praça²
Total de animais vendidos
MG
464
2.203.410
4.749
SP
166
527.150
3.176
GO
-
-
-
Preço médio (em R$)
Comparação entre 2014 e 2015 2 (Até 31/12 de cada ano) 2014
2015
Média de preços (em R$)
5.810
4.867
Total de animais vendidos no País
17.114
18.512
(1) Período de 16/11/2015 a 16/2/2016 (2) Nas três principais praças de comercialização
Variação do preço do leite ao produtor Média nacional ponderada - em R$/litro
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Principal preocupação na entressafra vai ser custo do milho Tatiana Souto
Preços médios dos leilões de gado leiteiro¹ Faturamento (em R$)
Preço do leite em alta
Mundo do Leite fev-mar/2016
Em plena safra do leite, no mês de janeiro, os preços pagos ao produtor subiram em vários Estados. Conforme o Cepea/Esalq-USP, após quedas consecutivas desde setembro de 2015, as cotações se firmaram no início do ano. Na “média Brasil”, o valor bruto pago ao produtor subiu 0,77% no primeiro mês de 2016 ante dezembro/2015, indo a R$ 1,0615/litro. Em termos reais, houve recuo de 4,5% em relação a janeiro do ano passado. A tendência de alta continua para os próximos meses, aponta a Scot Consultoria. Isso porque o volume captado deve sofrer um recuo – natural nos meses da entressafra que se anuncia – e também porque, com o aumento nos custos de produção, os laticínios têm aceitado pagar um pouco mais pelo litro. “Os aumentos dos preços no atacado também têm permitido os repasses para o produtor”, informa a Scot, lembrando ainda que o fim período de “recesso” no consumo de leite, ou seja, os meses de férias, deve aumentar a demanda pelo leite. “A previsão é que o consumo interno continue patinando”, diz. Laticínios e cooperativas ouvidos tanto pelo Cepea quanto pela Scot preveem novas altas no preço do leite para os pró-
ximos meses. Segundo o Cepea, entre os entrevistados pela instituição, 51,9% dos agentes (que representam 66,7% do volume amostrado) acreditam em valorização. “Outros 36,5% esperam estabilidade em fevereiro, o que representa 25,6% do leite amostrado. Já 11,5% ainda têm expectativa de queda nos valores.” Para a Scot, “a expectativa é de mercado firme. Os aumentos devem ser mais fortes daqui pra frente. A captação menor, com a curva de produção recuando nas principais regiões, colabora com este cenário”, diz a consultoria. A principal preocupação para o pecuarista de leite nesta entressafra – quando aumenta o consumo no cocho por parte do rebanho leiteiro em função da perda de qualidade nutritiva dos pastos – está na alta nos custos de insumos que compõem a ração, o chamado concentrado. O milho, seu principal ingrediente, vem batendo recordes de preços desde o ano passado, quando as expressivas exportações do cereal fizeram disparar as cotações no mercado interno. Em janeiro, o indicador Esalq/ BM&FBovespa referente à região de Campinas fechou a R$ 42,27 a saca de 60 quilos no dia 29, diz o Cepea, “expressiva alta de 14,77% no acumulado do mês”, diz o centro. Ou seja, o pecuarista que puder investir no cultivo não fará mau negócio.
Palavra da Indústria
Ano próspero para a Castrolanda Cooperativa de Castro, no Paraná, faturou 16% mais no ano passado, com R$ 2,26 bilhões Tatiana Souto desnatado) e os produtos lácteos crus (leite cru pré-beneficiado integral, semidesnatado e/ou desnatado).
L
ácteos continuaram a ser o principal segmento a garantir os excelentes resultados da cooperativa Castrolanda, de Castro, PR, no ano passado. Conforme relatório divulgado no dia 11 de fevereiro de 2016, a cooperativa teve faturamento bruto, em 2015, de R$ 2,26 bilhões, ou 16,3% mais ante R$ 1,95 bilhão em 2014. Os produtos mais representativos deste resultado foram lácteos, com 28% (ante 30,2% em 2014); soja, com 15% (ante 13,9% do ano anterior) e suínos, com 10% (ante 10,6% em 2014). Em mais um ano de crescimento – em 2014, a cooperativa já havia faturado 13,5% mais ante 2013 –, a Castrolanda garantiu aos cooperados a distribuição de R$ 25,2 milhões.
Embora seja um valor expressivo, o Conselho de Administração da Castrolanda lembra que as sobras líquidas totais foram de R$ 57 milhões, ou 21% abaixo das apuradas em 2014. “O resultado foi comprometido em grande parte pelos custos pré-operacionais da Unidade Industrial de Carnes, que opera em parceria com as cooperativas Frísia e Capal”, explicou a cooperativa de Castro,
Em outubro, houve a inaugura-
Os lácteos são líderes no faturamento anual da cooperativa paranaense, representando, em 2015, 28% da renda bruta
em nota. “Essa unidade opera no seu primeiro ano num mercado interno e externo altamente competitivo. Entretanto, a Unidade de Carnes terminou o ano já exportando para 15 países, com volumes batendo as mil toneladas por mês, ou 22% do volume produzido.” Além disso, o Conselho lembra que, internamente, a “paralisia da economia brasileira” também afetou o resultado das sobras líquidas totais. De todo modo, o ano passado foi de boas notícias, tanto no setor de lácteos quanto em outros segmentos operados pela cooperativa. Já em janeiro, a Usina de Beneficiamento de Leite, sediada em Castro, recebeu a habilitação do Ministério da Agricultura para exportar os produtos lácteos UHT (bebidas lácteos UHT nos sabores chocolate e morango); lácteos parcialmente desidratados (leite concentrado padronizado e
ção do frigorífico Alegra Foods, também em Castro – iniciativa do Grupo Intercooperação, integrado pela Frísia, Capal e Castrolanda –, responsável por abates de suínos. Neste mesmo mês, a tradicional Agroleite – a maior mostra da cadeia leiteira do País – também ocorreu em outubro, em vez de agosto, reunindo, sob organização da Castrolanda, animais de raças leiteiras, palestras técnicas, exposições, leilões e feira de negócios. O ano encerrou-se com a conquista, em novembro, do prêmio Sescoop de Excelência em Gestão. A Castrolanda foi reconhecida na categoria Ouro de Excelência em Gestão, “a única do agronegócio cooperativista nesta categoria”, destaca. “Nesta edição, 246 cooperativas do País inscreveram trabalhos, que passaram por várias fases de avaliação e foram reconhecidas 32 entidades de vários segmentos”, lembra o Conselho de Administração da Castrolanda. n
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Gestão
O rebanho todo em planilhas Indicadores de desempenho financeiro e zootécnico são ferramentas indispensáveis para orientar gestão e garantir lucro
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Isoladamente, alguns indicadores não explicam a saúde financeira ou zootécnica de uma propriedade” André Novo Embrapa Pecuária Sudeste
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omo todo negócio, para dar lucro a produção de leite precisa de um bom gerenciamento. Mas o que é mais importante: custo de produção ou renda? Para ajudar o produtor a organizar sua propriedade e responder a essa pergunta, existem diversos indicadores de desempenho zootécnico e econômico que orientam a condução da criação e os investimentos na propriedade, garantindo uma boa renda. Dedicar um tempo para fazer as anotações necessárias e conhecer de fato o rebanho pode mudar a realidade da propriedade leiteira e garantir ganhos maiores no mesmo pedaço de terra. Informações como porcentual de vacas em lactação, produção de leite de cada animal, produtividade por hectare, idade ao primeiro parto, qualidade do leite, ganho de peso das novilhas, qualidade da alimentação, além das anotações de todas as despesas da propriedade, são fundamentais para buscar uma gestão eficiente. “Basicamente, os indicadores de desempenho – econômicos e zootécnicos – são índices relativos à eficiência dos diferentes sistema de produção”, resume o pesquisador e diretor-adjunto da Embrapa Pecuária Sudeste, André Novo. Mas ele alerta que é preciso fazer uma análise agregada. “Isoladamente, alguns indicadores não explicam a saúde financeira ou zoo-
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Fotos: Luiz Prado
Niza Souza
Como qualquer atividade, pecuária deve ter controle
técnica de uma propriedade. Por isso, é importante o produtor estar atento ao histórico dos dados, entender os principais indicadores e os números ideais para cada um”, orienta. O agrônomo Marcelo de Rezende, coordenador técnico da Cooperideal, acrescenta que uma atividade complexa como a produção de leite precisa ser conduzida com um mínimo de gestão e controle. Segundo ele, nas fazendas onde não existe nenhum tipo de anotação ou escrituração dos eventos ocorridos, o gerenciamento adequado se torna impossível, impedindo o produtor de visualizar a real situação do negócio. Infelizmente, lamenta o técnico, essa é a realidade da maior parte das fazendas leiteiras no Brasil.
Nos índices zootécnicos, exemplifica o agrônomo, são essenciais informações sobre partos (identificação da vaca, data, sexo da cria); sobre coberturas (data, tipo de monta – natu-
ral ou inseminação artificial – e identificação do touro) e pesagem mensal da produção individual de cada animal. Já nos indicadores econômicos, a dica é anotar todas as despesas e receitas relacionadas à atividade leiteira no decorrer do mês (veja quadro na abaixo). A eficiência no gerenciamento da propriedade também pode esbarrar na resistência do produtor em investir, sob o argumento de que os preços baixos do leite e insumos caros tornam inviável o investimento no negócio. Mas, em uma propriedade bem organizada e gerenciada, aumentar o custo de produção não significa necessariamente reduzir a renda. “Existem propriedades que conseguem produzir com baixíssimo custo, mas com escala tão pequena que não gera renda. Por outro lado, quem produz um volume elevado por hectare,
Planilhas exigem anotações diárias A Embrapa Gado de Leite propõe uma metodologia para controle e avaliação dos principais indicadores técnicos na propriedade de leite baseada em três planilhas: indicadores de desempenho da propriedade, que sirva para avaliar e acompanhar a evolução mensal da produção e produtividade; idade ao primeiro parto e intervalo de partos, e produção e duração da lactação, ambas para o controle reprodutivo e produtivo das vacas do rebanho, a unidade básica de produção numa propriedade leiteira. Com o uso das planilhas, o propósito é obter informações que auxiliem o produtor a avaliar a situação tecnológica da propriedade, identificar os pontos fortes e fracos e, com isso, poder tomar as decisões necessárias. Outra dica é que as planilhas ou fichas sejam afixadas em local apropriado (estábulo, curral, etc), para facilitar o registro dos dados. A planilha “Indicadores de Desempenho da Propriedade Leiteira” (IDPL) é recomendada para a elaboração de diagnósticos e
com alta eficiência e uso intensivo de tecnologia, tem condições de suportar custos maiores e garante boa renda”, salienta André Novo. O agrônomo Marco Antônio Penati, pesquisador da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), recorda de um levantamento feito há alguns anos pelo Projeto Balde Cheio, da Embrapa. Segundo ele, o estudo mostra que a renda de uma propriedade leiteira está mais relacionada ao lucro do que ao custo de produção. “É claro que o custo é importante e não pode ser maior do que o preço recebido pelo produto”, pondera.
A renda de uma fazenda leiteira é composta, quase que totalmente, pelo volume de leite vendido e complementada pela venda de animais, em menor participação. Portanto, para
acompanhamento mensal da evolução do rebanho e de diversos indicadores técnicos, como porcentagem de vacas em lactação, produção de leite por vaca ordenhada e pelo total de vacas, relação “produção de leite e concentrado consumido” pelas vacas em lactação, taxa de lotação das pastagens, entre outros. A planilha “Idade ao Primeiro Parto e Intervalo de Partos” é indicada para o controle e avaliação do desempenho produtivo e reprodutivo das vacas leiteiras. Cada planilha é formada por dois quadros principais - Idade ao primeiro parto e Intervalo de partos. Reúne numa única ficha as informações: a) data de nascimento; b) idade ao primeiro parto (IPP); c) datas dos partos; e d) intervalo de partos (IP), permitindo assim uma rápida visualização e avaliação de cada vaca do rebanho. Com estas informações o produtor pode tomar as decisões necessárias para corrigir eventuais falhas no manejo. Por exemplo: a idade ao primeiro parto (IPP) é um indicador da eficiência do sistema de cria e recria das fêmeas leiteiras; o intervalo de partos (IP) é uma boa medida da eficiên-
Via de regra, temos muitos animais no rebanho gerando despesa e poucos produzindo receita” Christiano Nascif CPD Educampo Sebrae
cia reprodutiva. A planilha “Produção e Duração da Lactação” (PDL) é indicada para o registro mensal da produção das vacas em lactação, obtida nos controles leiteiros. Reúne numa única ficha, de forma ordenada, as seguintes informações: a) relação das vacas em lactação com as respectivas datas de parição; b) produção de leite por vaca durante a lactação (kg ou litros/dia/mês); c) data de secagem e duração da lactação; e) produção total e média (kg/dia de leite). Quando a vaca parir novamente, pode-se determinar o intervalo de partos. Com a planilha PDL o produtor, ordenhador ou retireiro, pode avaliar a evolução da produção e persistência da lactação das vacas, além de elaborar gráficos mostrando as curvas de lactação. Com estas informações, o produtor pode selecionar suas vacas baseando-se critérios objetivos e tomar as decisões necessárias. As planilhas estão disponíveis no site: http://www.cnpgl.embrapa.br/totem/conteudo/Outros_assuntos/Outras_publicacoes/ Uso_de_planilhas_para_controle_em_pequenas_propriedades.pdf
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Gestão
Existem propriedades que conseguem produzir com baixíssimo custo, mas com escala tão pequena que não geram renda” Marcelo Rezende Cooperideal
aumentar o lucro, o produtor tem de melhorar a renda, aumentando a produtividade dos animais. Para isso, é preciso investir, principalmente, na nutrição de todo o rebanho, não apenas nas vacas em lactação. É neste ponto que os indicadores zootécnicos são importantes e ajudam no gerenciamento do negócio. Uma alimentação de qualidade, por exemplo, tem impacto direto na redução da idade ao primeiro parto (IPP), pois a novilha precisa atingir um peso mínimo para dar cria, e também do intervalo entre os partos. O ideal é que a IPP seja até 24 meses e as vacas fiquem prenhes uma vez por ano. De modo geral, ensina André Novo, deve-se prestar atenção ao número de vacas em lactação em relação ao total de vacas do rebanho. Quanto mais esse índice for próximo de 83%, melhor. Por exemplo, para um rebanho com 100 vacas, 83 devem estar produzindo leite simultaneamente. Com relação ao total de animais do rebanho, o índice deve ser de, no mínimo, 50% a 55% de animais em lactação. “O restante deve ser composto por bezerras e novilhas”, destaca
A ‘roda da fortuna’. Neste quadro, visão total do rebanho
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o pesquisador da Embrapa, frisando que é importante contar com a ajuda de um técnico especializado para diagnosticar problemas estruturais e propor soluções mais eficazes. O zootecnista Christiano Nascif, da Labor Rural, frisa que esses indicadores são referência para rebanhos estabilizados, ou seja, que não sofrem grandes variações no número total e nem nas composições de animais. Em rebanhos não estabilizados, diz ele, o mínimo indicado é ter 40% do plantel composto por vacas em lactação. Esse número de animais em produção é importante para garantir uma liquidez mínima para atividade leiteira, que é o principal problema do produtor de leite no Brasil.
“Via de regra, temos muitos animais no rebanho gerando despesa e poucos produzindo receita e no fim do mês a conta não fecha. O que produz giro de capital para o produtor de leite são boas vacas paridas no curral. Assim, vende-se mais leite e fatura-se mais”, diz Nascif, sugerindo que os rebanhos leiteiros no Brasil são compostos, em média, por 20% de vacas em lactação em relação ao total de animais do rebanho. “Está aí um dos motivos das reclamações dos produtores de leite brasileiros quando veem as contas fecharem no vermelho no fim do mês.” Aumentar o índice de produção de leite diário de uma propriedade depende basicamente de dois indicadores: a produtividade por animal (litros/vaca em lactação/dia) e o número de vacas em lactação por hectare. “É preciso ter o maior número de vacas em lactação e produzindo o máximo possível. Quanto maiores forem esses índices, maior a produção por hectare”, diz Penati, da Esalq. Para isso, o produtor precisa investir em tecnologia e melhorar a produção de volumosos na propriedade, senão não é possível aumentar o número de animais e a produtividade. “O número ideal depende da estrutura e do sistema de produção de cada caso, mas em média três vacas em lactação por hectare é um bom número, considerando que o produtor recria a novilha na própria fazenda”, exemplifica o pesquisador. “O ideal é que cada produtor busque o potencial dos animais dentro do sistema de produção adotado.”
Em mililitros. Ter noção do volume produzido é essencial
Já sobre o índice de vacas em lactação com relação ao rebanho, Penati explica que um dos fatores que influenciam é a reprodução. O ideal é a vaca parir todo ano. Quanto menor o intervalo entre os partos, maior o número de vacas em lactação por hectare. Outro fator é a persistência da lactação. Segundo ele, o indicado é que o período de lactação seja dois meses menor do que o intervalo entre partos.
Outra fonte de renda que poderia ser importante no lucro da propriedade, mas na prática não ocorre, é a venda de animais excedentes. Isso normalmente não acontece, explica o pesquisador, porque o produtor não consegue índices zootécnicos adequados por causa da reprodução e porque as novilhas têm ganho de peso baixo, em razão da falta de investimento na nutrição dos animais. Com isso, demoram para começar a produzir leite. Além disso, o pesquisador afirma que o produtor pode aumentar seu rebanho se adotar
um sistema de produção mais intensivo. “Mas antes de saber quais os melhores índices e indicadores, o produtor tem de conhecer o seu rebanho”, alerta Penati. Conforme resume Marcelo de Rezende, da Cooperideal, a busca por melhores índices – da eficiência no uso do solo, no desempenho animal, na reprodução, na persistência e na estrutura do rebanho – permite um aumento significativo na quantidade de vacas em lactação por hectare na propriedade. Além disso, possibilita que a fazenda leiteira alcance alta produtividade. “Em um ambiente adequado de gestão do negócio, essa produtividade garante renda para o produtor e um bom retorno sobre o capital investido na atividade.” O zootecnista Christiano Nascif, da Labor Rural, orienta que é importante sempre associar renda com despesa. “Para aumentar o lucro não podemos aumentar a receita ou diminuir o custo de qualquer maneira. É importante que haja um equilíbrio entre os dois fatores”, acredita. Segundo Nascif, quando o produtor limita o comprometimento porcentual da renda para cobrir certas despesas com os fatores de produção, como gastos com concentrado, mão de obra, volumosos e medicamentos, ele busca garantir uma margem mínima de lucratividade. Para isso, salienta, é importante adotar sistemas flexíveis de produção, aqueles que se consegue ajustar as despesas de acordo com, principalmente, a queda das receitas.
É claro que o custo é importante e não pode ser maior do que o preço recebido pelo produtor” Marco Penatti Esalq/USP
“O preço ainda oscila muito no Brasil e a renda do leite é responsável por 70% da renda total da atividade leiteira. Por isso, é necessário e providencial que o produtor, juntamente com o seu técnico, busque explorar a atividade com sistemas flexíveis de produção. Sistemas engessados não permitem ajustar as despesas proporcionalmente em relação às receitas”, ensina Nascif. Não há uma fórmula pronta que sirva para todas as propriedades para garantir uma boa renda. Mas, de acordo com Nascif, é possível buscar alguns índices. O custo total do leite em relação à renda bruta, por exemplo, deve ser entre 85% e 90%. Os gastos com concentrado devem ser entre 30% e 35% em relação à renda com a atividade leiteira. n fev-mar/2016 Mundo do Leite
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Gestão Christiano Nascif
Energia e combustíveis, mais um peso nos custos de produção Com o reajuste das tarifas em 2015, esses insumos passaram a ter maior importância na atividade leiteira Christiano Nascif Zootecnista, coordenador de assistência do Pdpl-RV e coordenador técnico do Projeto Educampo/Sebrae.
O
crescimento é movido por inovação e invenção. Certas invenções resultam em incrementos, e outras revolucionam. A ordenhadeira mecânica é uma das invenções que podem tornar a atividade leiteira mais produtiva e, portanto, ser considerada um incremento. Já a eletricidade transformou a economia nos últimos dois séculos, permitindo o uso de novos tipos de máquinas, como a própria ordenhadeira. Por essa razão, alguns economistas chamam-na de tecnologia de uso geral. Uma ordenhadeira mecânica ajuda muito os produtores. Já a eletricidade torna todas as empresas mais produtivas, não importa se urbanas ou rurais. No entanto, os efeitos positivos desses avanços resultam em novos custos e é sobre eles que vamos tratar. Há até pouco tempo, os gastos com energia e combustíveis não tinham grande relevância para a atividade leiteira. Em 2015, porém, passaram a figurar entre os maiores custos e um dos motivos de atenção e preocupação na atividade. Entre 2010 e 2014, houve um represamento dos reajustes
Gráfico 1. Produção de leite x Gasto com energia e combustíveis1
(1) Desequilíbrio entre o aumento anual da produção de leite e os gastos com energia e combustíveis no período de 2011 a 2015. Fonte: CPDEducampo, elaborado por Labor Rural, período de outubro/2011 a setembro/2015 (IGP-DI). Amostra: 178 propriedades.
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de combustíveis e uma manipulação das tarifas de energia elétrica, o que retardou artificialmente as altas destes insumos. Em 2015, os preços foram finalmente reajustados. Analisamos os valores das tarifas de energia elétrica rural, entre 2004 e 2015, com todos os valores deflacionados para outubro de 2015 (IGP-DI). Verificamos que o preço do megawatt/hora, em reais, subiu de R$ 186,42 em 2014 para R$ 258,47 em 2015. Houve, portanto, um acréscimo real de 39% na tarifa de eletricidade rural, acima da inflação no período. Com etanol, gasolina e óleo diesel não foi diferente. O valor médio de 1 litro de diesel, corrigido pelo IGP-DI de outubro de 2015, teve aumento real de 13,17% em 2015, quando comparado a 2012. Esse aumento, sem dúvida, contribuiu para encerrarmos o ano passado com uma inflação acima de 10% ao ano pela primeira vez desde 2002.
Esses reajustes fizeram com que os gastos com energia e combustíveis para a produção de leite, que, até 2014, ocupavam o sétimo lugar na lista de custo total da produção de 1 litro de leite, passassem, em 2015, para o sexto lugar, perdendo em ordem decrescente para os gastos com concentrados, mão de obra, volumosos, remuneração do capital e depreciações. Os gastos com energia e combustíveis ocupam o quarto lugar entre os custos variáveis da atividade leiteira, superando os mais badalados: minerais, medicamentos, qualidade do leite e aleitamento artificial. Percebam que, talvez por desconhecimento, muitas vezes nos preocupamos muito em economizar nos gastos com minerais, material de ordenha e qualidade do leite e não nos atentamos para o uso racional da energia elétrica e combustíveis nas propriedades, o que é um erro. Até 2014, em média, os gastos com esses insu-
mos giravam em torno de R$ 0,04/litro de leite produzido. Em 2015 foram a R$ 0,05/litro. Pode parecer pouco o aumento de R$ 0,01, mas isso representa 25% mais nos gastos com energia e combustíveis. Avaliando os dados de uma mesma amostra, de produtores de leite participantes do Educampo Leite/Sebrae Minas, com os dados econômicos deflacionados pelo IGP-DI de outubro/2015, percebemos um desequilíbrio entre o aumento anual da produção de leite e os gastos com energia e combustíveis no período de 2011 a 2015. Enquanto o aumento acumulado da produção média de leite deste grupo de produtores foi de 27%, o aumento com os gastos acumulados de energia e combustíveis foi de 17%, somando os incrementos dos anos de 2011, 2012, 2013 e 2014. No entanto, de 2014 para 2015, enquanto a produção média de leite deste mesmo grupo aumentou somente 5%, de 1.528 litros/dia para 1.605 litros/dia, os gastos com energia e combustíveis saltaram de R$ 26.447 para R$ 32.518/ano, aumento de 23% (veja gráfico 1). É ou não é para se preocupar? Dessa forma, em 2014, o custo operacional efetivo médio, das 178 propriedades analisadas desde 2011, era de R$ 620.029/ano. Do total de custos variáveis, os gastos com energia e combustíveis representavam 4,27%. Em 2015, o custo operacional efetivo/ano das mesmas fazendas foi de R$ 641.675/ano, ou seja, um aumento de 3,5%, em relação a 2014 (R$ 620.029/ano). Em razão dos aumentos excessivos de energia e combustíveis, porém, em 2015 a participação desses gastos na composição dos custos variáveis subiu de 4,27% em 2014 para 5,07% em 2015, aumento de 19%, ou seja, o peso desses gastos nos custos variáveis foi muito maior no último ano do que nos anteriores (veja gráfico 2).
Para o grupo analisado, com produção média de 1.605,37 litros de leite por dia, a variação nos valores gastos com energia elétrica causa um impacto considerável na rentabilidade. Caso esses valores aumentem 20%, a margem líquida da atividade diminuirá R$ 6.653,61, redução que não podemos desconsiderar, pois, para cada R$ 1 aumentado nos gastos com energia e combustíveis, haverá redução de R$ 1,03 na margem líquida. Assim, destacamos a necessidade dessas ações: Dedicar especial atenção às estratégias para o uso racional de energia elétrica e combustíveis no
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Gastos com energia e combustíveis X Custos variáveis
Fonte: CPDEducampo, elaborado por Labor Rural. Período: Outubro/2011 a setembro/2015 (IGP-DI: Outubro/2015). Amostra: 178 propriedades.
planejamento da atividade leiteira; Compensar o aumento dos gastos com combustíveis e energia com o aumento da eficiência no uso da mão de obra e, principalmente, do rebanho, aumentando a produção e produtividade de leite; Analisar a relação benefício-custo das tecnologias com alta demanda de energia elétrica e combustíveis como, por exemplo, a utilização de sistemas de irrigação; Avaliar corretamente o dimensionamento de máquinas e equipamentos, para que não haja ociosidade e, por consequência, desperdício de energia elétrica e combustíveis; Conhecer detalhadamente a composição do seu custo de produção de leite, item por item, é fundamental para que o produtor saiba, por ordem de prioridade e importância, para quais fatores deverá dispensar maior atenção; Estimular, principalmente por meio de políticas públicas, a geração de energia em nível de propriedades rurais, como por exemplo, a tecnologia do biogás; a utilização de fontes de energia alternativa, a exemplo da solar; o reuso e a reciclagem da água e a utilização dos resíduos orgânicos gerados pela atividade leiteira. Para uma gestão eficiente, recomendamos, então, que a utilização racional de energia e combustíveis faça, a partir de agora, parte da agenda de todo produtor que busca o sucesso na atividade leiteira pois, mais do que a importância econômica, deve-se considerar a sua relevância na sustentabilidade ambiental. n
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Mão de obra também é investimento Produtor deve se conscientizar de que formar, treinar e valorizar funcionários reverte em lucro para a propriedade
Na lida. Qualificação de funcionários é cada vez mais atribuição do pecuarista
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Tânia Rabello
Pensando no futuro. Quando contrata um funcionário, Gontijo foca na evolução do novo colaborador
Welliton Moraes
Luiz Prado
“S
empre que admito um novo funcionário, brinco com ele, dizendo que esse contrato de trabalho é para os próximos 20 anos. Depois, falo que não gostaria de forma nenhuma chegar daqui a 20 anos e vê-lo na mesma função. Tenho como obrigação ajudá-lo a crescer profissionalmente e materialmente, e dar ao filho dele uma condição de vida e oportunidades de trabalho melhores do que as que ele teve.” Embora essa visão de longo prazo do gestor e proprietário da Fazenda da Gurita, Paulo Gontijo, ainda seja exceção na rotina dos produtores de leite, ela tem se tornado mais frequente, principalmente entre aqueles que já perceberam que rentabilidade e produtividade estão diretamente relacionadas a profissionais mais bem qualificados. G ontijo, que mantém sua propriedade leiteira na cidade mineira de Bom Despacho, na região do Alto São Francisco, assinala que, com a adoção de diversas atividades de aperfeiçoamento gerencial, tem conseguido elevar a produção da propriedade. O avanço no desempenho é, em grande medida, atribuído à maior motivação e ao comprometimento dos funcionários. A Gurita, que conta com 11 colaboradores, produziu no ano passado 1.411.902 litros de leite, ante 1.326.425 litros registrados em 2013. A produtividade média é de 27.300 litros/hectare/ano, para 237 vacas em lactação”, calcula o produtor. Além disso, reforça que a produtividade por vaca/dia subiu de 17 litros no ano passado para 18 litros, em média – isso com um rebanho maior, pois no ano passado eram 190 vacas em lactação. Ou seja, os funcionários conseguiram aumentar o rendimento médio das leiteiras mesmo com mais vacas para cuidar. O resultado crescente, explica Gontijo, deriva sobretudo dos investimentos que vêm sendo realizados em programas de qualifica-
Muitas vezes a melhoria na formação da mão de obra é alcançada com ações que não geram custos, como uma conversa, uma orientação, saber o que está acontecendo e qual a melhor maneira de ajudar” Paulo Gontijo, da Fazenda Gurita, em Bom Despacho, MG
ção e motivação de mão de obra, que na fazenda administrada por ele são baseados em princípios como bem-estar e respeito ao trabalhador, ambiente de trabalho sadio e motivador, além do compromisso e da disposição em superar metas. Do nascer ao pôr do sol, o desafio diário do pecuarista é cultivar um olhar atento, que enxergue com clareza os pontos fortes e fracos de seus colaboradores para que saiba como expandir os primeiros. “Muitas vezes essa melhoria na formação da mão de obra é alcançada com ações que não geram custos, como uma conversa, uma orientação, saber o que está acontecendo com cada um e qual a melhor maneira de ajudá-los”, recomenda. Ele tenta ir sempre além das informações técnicas e assim formar uma visão mais ampla de quem trabalha com ele. Já nas entrevistas iniciais de admissão, faz perguntas que lhe permitem entender mais a história do candidato e perceber o quanto ele está disposto a crescer na carreira. Nesse processo, conta o gestor, podem ser descobertas afinidades e habilidades fev-mar/2016 Mundo do Leite
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Capa São as pessoas que vão ordenhar, tratar, inseminar, cuidar dos bezerros. É comum gestores entrarem no famoso ‘rodão’ do dia a dia e esquecerem de dar atenção ao funcionário, fazer um elogio por uma atitude correta, e mais, ajudar seu companheiro de trabalho a se desenvolver” Geraldo Assis, da Fazenda Queima-Ferro, de Pitangui, MG
específicas e que não seriam identificadas numa entrevista padrão.
M as lembra que a fase é de transição e de mudanças. Considera que tanto produtores como trabalhadores têm de se acostumar a modelos produtivos que eliminam rotinas antigas e instauram novas, mais colaborativas, que seguem indicadores, planilhas, metas e que determinam os rumos que os negócios deverão tomar. Trata-se de um universo novo para ambas as partes e que é ainda mais desafiador para os funcionários que, segundo Gontijo, são em sua maioria analfabetos funcionais. Entre os contratados por ele, boa parte tem pelo menos até a 8ª série, mas afirma que mesmo assim, quando precisam fazer controles e anotações, têm dificuldade com números. A perspectiva do gestor da Gurita é que as técnicas de qualificação passem porteira para dentro cada vez mais depressa. “Impera entre os trabalhadores a ideia de que quem sabe dirigir um trator é um tratorista, mesmo sem saber acoplar um implemento e muito menos
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regulá-lo e ou operá-lo. Na ordenha ocorre a mesma coisa. Se a pessoa sabe ligar a máquina e colocar as teteiras é tido como ordenhador, mesmo sem saber dos cuidados com o esfíncter das vacas, com a qualidade do leite, com anotações de carência de medicamentos e outros tantos cuidados necessários para ser realmente um ordenhador”, explica o criador. G ontijo afirma que tem recorrido a vários instrumentos de meritocracia para estimular os funcionários e aumentar o interesse deles em capacitação. “Temos um sistema de premiação por metas atingidas. O levantamento desses resultados é feito mensalmente e seu montante pago trimestralmente, para que o montante a ser recebido seja mais expressivo e não se confunda com o salário”, detalha. Todos os funcionários da Gurita são contratados, mesmo assim, de acordo com o gerente, a rotatividade ainda é elevada, acima do que seria satisfatório. Dos 11 funcionários, apenas um tem seis anos, além de outro com três anos e dois com dois anos de casa. Os demais têm todos cerca de um ano de trabalho. “Tem mais oferta do que mão de obra, daí toda essa movimentação”, explica ele, confessando que a rotatividade do trabalho no campo é um dos aspectos que mais o incomodam. “Em minha empresa, em Belo Horizonte, tenho diversos funcionários com mais de 20 anos de casa e alguns desde sua fundação há 26 anos”, conta. O utro obstáculo é o custo, que não cabe no faturamento de boa parte dos produtores. Uma das soluções são a parcerias, que reduzem desembolsos. Entre os parceiros da Gurita es-
tão laboratórios, centrais de sêmen, representantes de equipamentos voltados para ordenha e agronegócio e maquinário agrícola. Por meio desses acordos, a Gurita implementou metas zootécnicas e financeiras anuais, acompanhadas mensalmente e que balizam a tomada de decisões sempre feitas por meio de análise desses indicadores. Nas reuniões mensais são explicados os motivos das cobranças feitas. “Esse procedimento é muito importante, pois, quando começamos com a gestão por metas, alguns achavam que os dados passados eram inventados”, recorda. essa paisagem de mudanças, é quase N consenso que a qualificação técnica terá pouca efetividade se for descolada de atitudes que criem um ambiente de trabalho amistoso e que estimule a convivência e o comprometimento com os afazeres. Esta é a opinião do gerente da Fazenda Queima-Ferro, Geraldo Assis, de Pitangui, MG, com 15 funcionários e 500 vacas em lactação. O gestor calcula que a produção por vaca/dia aumentou de cerca de 17 litros no ano passado para algo próximo a 19,5 litros vacas/dia este ano e atribui parte significativa desse avanço da produtividade à valorização da mão de obra. “São as pessoas que vão ordenhar, tratar, inseminar, cuidar dos bezerros. É comum gestores entrarem no famoso ‘rodão’ do dia a dia e esquecerem de dar atenção ao funcionário, fazer um elogio por uma atitude correta, e mais, ajudar seu companheiro de trabalho a se desenvolver. Por causa desse ‘rodão’ do dia a dia costumamos dar respostas prontas, em vez de indagar o colaborador com uma pergunta simples que o faça pensar, raciocinar e, com isso, aprender a resolver problemas”, analisa Assis, que também é técnico agropecuário e administrador de empresa. Embora não tenha números sobre o nível de rotatividade do pessoal, considera que esse percentual é baixo, de acordo com o esperado, e por ser reduzido, Assis assinala que ele não tem impacto significativo nos processos e nos resultados finais obtidos na fazenda. D e igual modo, ele frisa que tão importante quanto criar indicadores, fazer projeções e planilhas, é desenvolver tudo isso em parceria
Visão do todo. Funcionário deve saber o que está fazendo e por quê
com o funcionário, para que ele entenda o que está sendo feito e se comprometa com os resultados. “O importante é que o colaborador sempre saiba o que está fazendo e por quê”, acrescenta o especialista, lembrando que motivar o funcionário é outro desafio, que exige do gestor criar atividades periódicas que ampliem a percepção de trabalho em equipe. Reuniões, formação de agendas, treinamentos, visitas a outras fazendas, comunicação bem feita
Toda proposta de mudanças e novas formas de trabalho tem, em um primeiro momento, uma rejeição muito grande, porém a confiança dos funcionários deve ser conquistada pouco a pouco” João Rosseto Júnior, engenheiro agrônomo e sócio-proprietário da Agrodinâmica, de Avaré, SP
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Capa executar suas funções tendo em mente maior produtividade, redução de custos e ganhos de qualidade nos processos. Depois, continua a consultora, os produtores admitem que é preciso também realizar atividades que promovam o engajamento da sua equipe e reforce o comprometimento na condução dos negócios e na obtenção de resultados, até porque começam a entender que a adoção de princípios de responsabilidade socioambientais abrange não só o uso mais equilibrado dos recursos naturais, mas também o gerenciamento adequado dos recursos humanos.
Treinamento. Há maior interesse de produtores em capacitar funcionários
e atividades de lazer, como torneios de truco, churrascos e brindes são algumas dicas motivacionais de Assis. Todas essas atividades, complementa o técnico, contribuem para fomentar a cultura da qualificação de mão de obra e de gestão. Para a consultora organizacional em projetos setoriais Andréa Salerno, no segmento leiteiro ainda há dificuldades acentuadas em fazer com que os produtores adotem práticas de gestão pautadas pela qualificação da mão de obra e orientadas por indicadores, métodos e procedimentos que modifiquem o seu modo de produção, tornando-o, além de mais produtivos, mais alinhados a princípios de responsabilidade social e ambiental. “Essa defasagem vem sendo aos poucos superada, com um número crescente de produtores que mudaram suas práticas e reconheceram que essas mudanças expandiram o desempenho da sua propriedade”, analisa Andrea, que atua como consultora independente em diversos municípios mineiros, além de prestar serviços para o Sebrae de Minas Gerais. N um primeiro momento, ela percebe que há um interesse maior nos recursos que capacitem tecnicamente os funcionários e que forneçam a eles informações necessárias para
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Essa é uma lacuna que pode ser preenchida com o estabelecimento de parcerias entre produtor e trabalhador. Para a consultora, quanto mais o trabalho compartilhado for valorizado, maiores serão as possibilidades de se desenvolverem modelos de negócios eficientes, capazes de atender e mesmo superar demandas. Mesmo porque, assinala, com o desenvolvimento tecnológico, que reduziu distâncias, acelerou processos, acirrou a competitividade e tornou mais rígidas as cobranças por qualidade, as parcerias em vários níveis se tornaram um dos mecanismos mais apropriados para garantir a continuidade dos negócios. “Aliar-se a seus funcionários, a outros produtores, cooperativas, associações, entre outros elos do processo produtivo, pode abrir novas possibilidades de atuação e de atualização das atividades”, comenta a especialista, acrescentando que as parcerias têm sido a forma encontrada por muitos produtores de leite para implementar recursos de aprimoramento profissional a custos mais condizentes à sua capacidade de desembolso. Mesmo aí, Andrea alerta que é preciso encontrar parceiros e colaboradores que tenham afinidades e similaridades relativas às metas, ao tamanho da propriedade, à proximidade e à produção. Entre os técnicos, o que tem prevalecido é a sensação de que é preciso quebrar paradigmas para que o produtor veja o dinheiro aplicado na formação e motivação profissional não como despesa, mas sim como investimento. João Rosseto Júnior, engenheiro agrônomo e sócio-proprietário da empresa Agrodinâmi-
ca, de Avaré, SP, que presta consultoria e realiza pesquisa para pecuaristas de leite, diz que a resistência dos trabalhadores mais experientes é mais encrespada, mas de antemão também admite que somente a assiduidade e a frequência do treinamento profissional poderá melhorar esse cenário. Também salienta que há aqueles produtores que conseguem visualizar as novidades mais rapidamente e outros que demoram para abrir os olhos para a nova realidade. “Toda proposta de mudança e novas formas de trabalho tem, em um primeiro momento, uma rejeição muito grande, porém a confiança dos funcionários deve ser conquistada pouco a pouco”, constata. N a opinião de Rosseto, o maior obstáculo para o avanço na qualificação profissional nas propriedades leiteiras é, sem dúvida, a escassez de mão de obra especializada. Ele argumenta que existem poucos jovens dispostos a trabalhar no meio rural. E prossegue: “A mão de obra que se está apresentando é oriunda da cana-de-açúcar ou de gado de corte, com perfil diferente do necessário para a pecuária leiteira”, constata. Também considera que os recursos financeiros necessários para investir em mão de obra não chegam a ser um impeditivo relevante. utro receio que ronda a cabeça de uma O parcela dos produtores é a dificuldade de reter o profissional mais bem qualificado. A médica veterinária Soraya Barbosa inclui essa percepção entre os obstáculos difíceis de serem superados e alerta que esse receio pode emperrar o desenvolvimento da fazenda, cujos resultados dependem diretamente do desempenho da mão de obra. E, para desemperrar essa engrenagem, Soraya reforça que é preciso desfazer essa visão e investir mesmo em capacitação, em melhores condições de trabalho, moradia e em tecnologias que aumentem a eficiência e o desempenho. “O treinamento ensina os funcionários a entender os números, a identificar as causas dos problemas e, dessa forma, participam dos resultados, sentem que fazem parte do negócio e auxiliam nas soluções, ficando mais comprometidos”, acentua Soraya, que trabalha em conjunto com o também médico
O treinamento ensina os funcionários a entender os números, a identificar as causas dos problemas e, dessa forma, participam dos resultados, sentem que fazem parte do negócio e auxiliam nas soluções, ficando mais comprometidos” Soraya Barbosa, médica veterinária da GS Consultoria Rural, de Poços de Caldas, MG
veterinário Guilherme Barbosa, na empresa GS Consultoria Rural, que atua na região de Poços de Caldas, MG, além de atuarem como consultores do projeto do Sebrae-MG, Educampo/Danone no sul de Minas Gerais. Da mesma forma, ela enfatiza que faz parte desse processo acompanhar e supervisionar as rotinas, auxiliando o trabalho de cada funcionário; categorizar a fazenda em setores, definindo as atividades de cada colaborador, além de monitorar os resultados e compartilhar informações sobre as várias etapas do trabalho. Na sua avaliação, o discurso de que mão de obra qualificada está em falta é repetido principalmente por quem não investe em capacitação. “Bons funcionários não querem trabalhar em empresas desestruturadas e sem rotina”, aponta a técnica. Para Soraya, as resistências dos funcionários das propriedades leiteiras não diferem de qualquer outro setor do campo, que hesita diante do novo. “As resistências existem quando há comparações entre equipes e limitação de modelo mental”, alerta. Entre os tipos de instrumentos de qualificação profissional mais usados, Soraya destaca: treinamento teórico e prático nas propriedades, com perguntas antes e depois para avaliar o aproveitamento; visitas a outras propriedades para ampliar os modelos mentais que auxiliam na capacitação, apontando sempre os procedimentos corretos, enfatizando aquilo que está certo e não apenas focar nos erros; palestras e cursos com profissionais sendo alguns realizados em formatos de dia de campo e outros com estudo de casos. n fev-mar/2016 Mundo do Leite
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Qualidade
Na ordenha. Cuidados para evitar contaminação com bactérias no leite ou alto índice de células somáticas começam na propriedade rural
Este ano, Centro-Sul terá de se adequar à IN 62 Prazo para que produtores reduzam aos limites máximos a contagem de CCS e CBT termina no dia 30 de junho Fernanda Yoneya
E
ste ano os produtores do Sul, Sudeste e Centro-Oeste terão de se adequar ao que é considerada a “última etapa” da Instrução Normativa 62, que prevê a adoção de parâmetros de qualidade para o leite brasileiro, relativos à contagem máxima de células somáticas (CCS) e de bactérias no leite (CBT). A chamada IN 62 substituiu outra instrução normativa, a 51, de 2005, que, inicialmente, previa que até 2011 fossem cumpridas as regras relativas à qualidade da matéria-prima fornecida à indústria. Os parâmetros exigidos pela IN 51, entretanto, e seu prazo máximo para cumprimento foram considerados inviáveis pelo setor. Assim, foi editada a IN 62, que estabeleceu 2016 como limite para que pecuaristas do Centro-Sul se adequassem aos novos parâmetros (veja tabela). No ano que vem, a IN passa a vigorar também no Norte e Nordeste.
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“Vale lembrar, porém, que esse processo de adoção de parâmetros para a qualidade do leite não é algo que surgiu de repente e, agora, os produtores terão de se adequar. Desde a IN 51 já se vão praticamente dez anos de trabalho”, afirma o gerente técnico da Clínica do Leite, Laerte Dagher Cassoli. A Clínica do Leite, vinculada ao Departamento de Zootecnia da Esalq/USP, auxilia, entre outras atribuições, produtores e indústria a aumentar a qualidade do leite por meio de análises, treinamento e pesquisas. A instituição acompanha cerca de 45 mil fazendas em Minas Gerais, São Paulo, Goiás, Paraná e Mato Grosso do Sul. Esse universo abrange cerca de 25% do leite produzido no País. Desses 25%, a clínica calcula que metade esteja em fase de adequação aos parâmetros da IN 62. Já o Conselho Brasileiro de Qualidade do Leite (CBQL) tem uma visão otimista da IN 62 para o setor neste ano “decisivo”. “As implicações
(da IN) são positivas, pois, para melhorar a qualidade do leite brasileiro, metas ou valores ideais devem ser estabelecidos. Mesmo para os produtores que ainda estão distantes dos valores máximos aceitáveis de CCS e de CBT, pelo menos a IN 62 indica um caminho a ser trilhado”, afirmam o presidente do CBQL, Rodrigo de Almeida, e o vice-presidente do conselho, José Augusto Horst. “Mas, obviamente, essas metas não bastam por si só, pois muito mais relevante é a formação, a conscientização e o treinamento de produtores, empregados e profissionais comprometidos com a qualidade do leite”, dizem. O Conselho, criado em 2000, promove a pesquisa e a educação relacionadas à qualidade do leite e seus derivados. O órgão divulga e valida novas tecnologias, e é responsável pela difusão de informações para produtores, indústrias, estudantes e profissionais da área. Almeida é professor associado da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e Horst é gerente do Programa de Análise de Rebanhos Leiteiros da Associação Paranaense de Criadores de Bovinos da Raça Holandesa. “Para os rebanhos com CCS e/ou CBT um pouco acima dos valores máximos recomendados, cinco meses são suficientes para que as contagens recuem e fiquem dentro dos valores sugeridos. Mas, obviamente, para a grande maioria que produz leite com CCS e/ou CBT muito altas, cinco meses não são suficientes”, dizem Almeida e Horst.
Na avaliação de Cassoli, da Clínica do Leite, o que falta ainda é definir as consequências para quem não entregar o produto com a qualidade estabelecida. “Isso não está escrito em lugar nenhum e, nesse sentido, não há pressão para quem ultrapassa os limites”, afirma. “O que acontece com um leite que ultrapassa o limite máximo de CBT, por exemplo? Infelizmente, nada. A legislação não prevê. Ou seja, temos os limites de qualidade, um sistema de monitoramento, mas não temos orientação clara de que ação deve ser tomada em caso de “infração”, diz Cassoli. Atualmente, conforme o gerente da Clínica do Leite, o governo cobra qualidade da indústria, que, por sua vez, repassa a exigência para o produtor. “Hoje, quem atende aos critérios de qualidade da indústria recebe por isso.” Cassoli ressalta que o objetivo, nesse caso, não é punir os
pecuaristas, mas educar e orientar. “Essa definição de consequências teria um caráter inclusivo, não punitivo. Muitas vezes, o produtor tem informação, sabe que tem problemas, mas não consegue fazer sozinho.” Ele destaca que a má qualidade é consequência da má gestão da propriedade. “A qualidade ruim vem de processos ruins. Se o produtor quiser rever sua qualidade terá de rever seus processos”, ressalta o gerente da clínica. O CBQL concorda com o fato de que é preciso definir “consequências” para quem não se ajustar. Almeida e Horst destacam que a legislação inicial é de 2002 (IN 51). “Ao longo deste período, observamos que houve melhorias significativas com trabalho envolvendo produtores, indústrias e ações governamentais. Por outro lado, sempre tivemos aqueles que nada fizeram, ou fizeram somente o suficiente para se manter dentro do que era solicitado”, dizem. “Assim, novamente, teremos os que já estão dentro dos valores referenciados, os que estarão trabalhando para a melhoria e os que vão aguardar alguma ação de fiscalização. Mas isso não torna inviável a aplicação da IN 62”, ressaltam. Almeida e Horst acrescentam, porém, que apenas a legislação não resolve. “A partir de julho de 2016, quando nas três regiões citadas a última etapa da IN 62 deverá ser adotada, os produtores que ainda entregarem leite com CCS acima de 400.000 células/ml e/ou CBT acima de 100.000
A qualidade ruim vem de processos ruins. Se o produtor quiser rever sua qualidade terá de rever seus processos” Laerte Cassoli Gerente técnico da Clínica do Leite
Índices decrescentes¹ Prazos A partir de 1º/7/2008 a 31/12/2011 A partir de 1º/7/2010 a 31/12/2012 A partir de 1º/1/2012 a 30/6/2014 A partir de 1º/1/2013 a 30/6/2015 A partir de 1º/7/2014 a 30/6/2016 A partir de 1º/7/2015 a 30/6/2017 A partir de 1º/7/2016 A partir de 1º/7/2017
Sul, Sudeste e Centro-Oeste Norte e Nordeste CBT (UFC/ml)² CCS (cs/ml)³ CBT (UFC/ml) CCS (cs/ml) 750.000
750.000
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100.000
400.000
(1) Com base nas IN 51 e 62; (2) Contagem Bacteriana Total; (3) Contagem de Células Somáticas. Fonte: Mapa
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Qualidade preço de seu leite amplamente bonificado, e os que produzem leite de má qualidade deveriam ter seu leite fortemente penalizado.”
Para os membros do CBQL, qualidade não
Análise de leite. Há amostras de qualidade tanto em pequenas quanto em grandes propriedades. Comprometimento do produtor é o que conta
UFC/ml, continuarão a entregar seu leite aos laticínios, e o produto continuará a ser processado e consumido”, dizem. Para eles, a solução passa mais por adotar sistemas de pagamento de qualidade. “Eles são mais efetivos em aprimorar a matéria-prima do que punir com base na legislação”, acreditam. “Muito simplificadamente, acreditamos que os bons pecuaristas deveriam ter o
Qualidade melhora rendimentos, diz produtor Há 20 anos na atividade, o produtor Adriano José Vilas Boas, da Fazenda São Miguel, em Botelhos, Minas Gerais, comprova a tese de que produzir conforme os padrões de qualidade exigidos pela IN 62 se reflete de maneira positiva nos seus rendimentos. Ele conta que, no início de 2015, a CCS na propriedade variava de 600 mil a 700 mil por mililitro de leite, acima do permitido – seu “problema” era com a CCS; a CBT nunca apresentou variações que comprometessem a qualidade. “Na época, lembro que recebia, no mínimo, R$ 0,02 a menos por litro vendido. Senti, no bolso, como a perda de qualidade afeta a atividade.”
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tem a ver com tamanho ou localização da propriedade. “Ser pequeno ou grande produtor não deveria ser uma desculpa em produzir com qualidade insatisfatória. Encontramos leite de boa qualidade tanto em grandes fazendas, como em pequenos rebanhos. O que há em comum nestas duas fazendas? Pessoas comprometidas”, avaliam. A contrapartida para o produtor deveria, na visão do Conselho, ser na forma de pagamento com altas bonificações por litro de qualidade entregue, e descontos na qualidade insatisfatória. “Produzir leite de boa qualidade deveria ser o normal, não algo excepcional. Não podemos nos esquecer que na ponta da cadeia dos lácteos temos crianças, adolescentes, idosos, que acreditam estar consumindo um alimento saudável e nutritivo”, dizem Almeida e Horst. “Além disso, enquanto produzirmos com qualidade tão heterogênea, continuaremos a ser importadores líquidos de lácteos o que é no mínimo embaraçoso para um país com o nosso contingente de vacas e tão ampla extensão territorial e disponibilidade de alimentos.” n
Em março daquele ano, o pecuarista ingressou em um programa realizado em parceria pela Danone e pela Clínica do Leite da Esalq e, em pouco mais de seis meses, conseguiu baixar o índice de CCS para 200 mil. Na época, vigorava o limite de 500 mil. “Foi um sucesso”, lembra Vilas Boas, destacando que sua remuneração, na ocasião, passou de R$ 0,02 a menos por litro de leite para R$ 0,06 a mais. “O projeto incluía, basicamente, monitorar o gado, vaca por vaca, e melhorar a rotina de higienização pré e pós-ordenha. Feito isso, detectamos as vacas doentes – como quadros de mastite – e separamos as que tinham cura e as que deveriam ser descartadas”, afirma o produtor, que possui 100 vacas em lactação e produtividade por animal de
22 quilos/dia. Hoje, segundo ele, se o produtor mantiver um nível de CCS de 400 mil a 500 mil/ mililitro, o preço “empata”. “Nem ganha nem perde, por isso é bom trabalhar para baixar esse índice. Aí a gente consegue uma remuneração melhor da indústria”, afirma. Vilas Boas diz, no entanto, que o excesso de chuvas na região tem dificultado o manejo do gado, cujo sistema de criação é semiconfinado e a pasto. “As vacas se alimentam no cocho e seguem para o pasto. Como há uma grande quantidade de barro, tem de redobrar a atenção com a higienização dos tetos e, assim, conseguir manter os níveis de CCS abaixo do limite.” O nível atual, segundo o produtor, é de 300 mil/mililitro de leite.
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Instalações
Ordenha exige limpeza criteriosa dos equipamentos A higienização dos sistemas de ordenha e tanques de refrigeração possui etapas que devem ser seguidas com rigor a cada retirada de leite das vacas Roberto Nunes Filho
Q Rotina obrigatória. Limpeza e higienização periódica dos equipamentos evitam contaminação do leite e
Fotos Luiz Prado
perda do produto
uando o assunto é sistema de ordenha e tanque de refrigeração, os cuidados não devem se restringir apenas ao instante da compra destes equipamentos. Afinal, mais importante do que realizar uma boa aquisição é estabelecer e cumprir uma rotina operacional que garanta o bom funcionamento destes sistemas e a qualidade do leite produzido. Diante disso, a higienização torna-se um fator estratégico. Uma higienização mal realizada acarreta o acúmulo de leite nos equipamentos, o que aumenta a contagem bacteriana total. Quando a qualidade da produção é prejudicada, diversas podem ser as consequências, como risco à saúde do consumidor e a diminuição do rendimento de derivados lácteos. Além disso, equipamentos sujos têm sua vida útil reduzida e são fontes de contaminação para o rebanho,
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podendo levar a casos de mastite e de aumento da contagem de células somáticas. A começar pelos sistemas de ordenha canalizados, o processo de higienização deve ser iniciado imediatamente após a finalização de cada ordenha. De acordo com o técnico da Embrapa Gado de Leite, Armando Carvalho, o primeiro passo é realizar um pré-enxágue com a utilização de água morna, a uma temperatura em torno de 45 graus, de forma a remover boa parte dos resíduos de leite que ficam no interior do equipamento. O próximo passo que o produtor deve ter especial atenção é a chamada lavagem alcalina, realizada com detergente alcalino clorado. O objetivo desta etapa é remover o acúmulo de gorduras fixadas na tubulação do sistema. Conforme orienta a especialista de produto da DeLaval, Renata Travaglini, este enxágue deve ser realizado por 10 minutos a uma temperatura de 75 graus. “Além disso, para garantir a completa solubilização da gordura, a temperatura de saída da solução após este período não deve ser inferior a 40 graus”, destaca Renata. Na sequência, a especialista sugere um novo enxágue com água em temperatura ambiente para remover qualquer resíduo da solução alcalina. Feito isso, o fluxo da higienização dos sistemas de ordenha segue com a utilização de mais um detergente, desta vez com propriedades ácidas, que eliminam proteínas e sais minerais. Segundo o gerente comercial da GEA, Eric Almeida, a solução de detergente ácido com água, em temperatura ambiente, deve circular pelo equipamento durante 10 minutos. “O enxágue ácido também ajuda na conservação das áreas que possuem borrachas. O ácido neutraliza a alcalinidade do cloro utilizado anteriormente, que é prejudicial à borracha”, observa o especialista. Estas são as medidas a que todo sistema de or-
denha deve ser submetido logo após a retirada do leite das vacas. Tais passos duram, em média, 45 minutos, de acordo com os especialistas. Mas há ainda outra etapa que integra o processo de higienização que acontece 30 minutos antes da próxima ordenha, chamado de sanitização. Este, por sua vez, faz a desinfecção do sistema, eliminando as bactérias. “Geralmente, os sanitizantes são feitos à base de cloro ou ácido peracético”, ressalta Almeida, da GEA. “A sanitização é feita com água na temperatura ambiente por poucos minutos. Por fim, é muito importante que o equipamento seja bem drenado para que resíduos desta solução não se misturem ao leite que passará pelo sistema logo em seguida.” Quanto à dosagem dos produtos descritos neste processo, as quantidades a serem utilizadas dependem da qualidade da água usada na propriedade leiteira, tanto em seus aspectos microbiológicos, como físico-químicos, que devem ser periodicamente analisados com o auxílio de especialistas. Tudo depende também do tamanho do sistema e do quanto ele é exigido e das particularidades de cada fabricante. Importante destacar que o produtor apenas utilize produtos registrados pelo Ministério da Saúde. Com relação ao descarte das soluções após a higienização das ordenhadeiras, os especialistas consultados afirmam que os detergentes empregados possuem ação biodegradável e não agridem a natureza. “As soluções descartadas na limpeza também podem ser direcionadas para as lagoas de dejeto, onde sofrerão degradação e poderão seguir o fluxo de aproveitamento ou descarte”, esclarece Renata.
A especialista lembra, inclusive, que a limpeza externa dos equipamentos também merece atenção. Neste caso, o produtor deve utilizar um detergente próprio para limpeza manual, mas com pH
Etapas para higienização dos equipamentos SUBSTÂNCIA
TEMPERATURA
OBJETIVOS
Água
45°C
Remover resíduos de leite
Detergente alcalino clorado
75°C
Remover acúmulo de gordura
Enxágue intermediário
Água
Ambiente
Remover resíduos da solução alcalina
Enxágue ácido
Detergente ácido
Ambiente
Remover proteínas e sais minerais
Sanitizantes (desinfetantes)
Ambiente
Desinfecção / remoção de bactérias
ETAPA Pré-enxágue Enxágue alcalino
Sanitização
levemente alcalino para facilitar a remoção de resíduos sem agredir a pele das mãos. A higiene dos equipamentos vem acompanhada de diversos pontos que exigem atenção. Afinal, empregar recursos e tempo em um processo ineficiente de higienização é sinônimo de prejuízo. Uma importante questão é que a limpeza não está exclusivamente associada aos produtos escolhidos. O gerente comercial da GEA, Eric Almeida, alerta que a limpeza do sistema de ordenha também depende da sua montagem. “Dependendo do projeto e de como ele é estruturado, pode haver pontos que não sejam bem drenados ou limpos, onde o produto não consegue ter contato. Por isso, a estruturação de um processo eficiente de higienização começa no projeto”, recomenda Almeida. Equipamento bem planejado, produtos de primeira e água sem qualidade também não adianta. Afinal, uma boa higienização depende de um conjunto de fatores. Toda água utilizada na limpeza de equipamentos de ordenha e tanques de refrigeração deve ser limpa e livre de contaminantes. O ideal é que, semestralmente, sejam feitas análises microbiológi-
Renata Travaglini
Lissandro Stefanello Mioso
Especialista de Produto da De Laval
Supervisor de Projetos Especiais da Sulinox
Temperatura da solução que retira a gordura dos equipamentos não deve ser inferior a 40 graus”
Deve-se atentar às recomendações de tempo, temperatura e diluição do produto de limpeza para eficiência da lavagem” fev-mar/2016 Mundo do Leite
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Instalações Limpeza de pequenas ordenhas O processo de higienização de ordenhas pequenas sem sistema de canalização segue os mesmos passos em relação aos grandes sistemas, porém realizado de forma manual. No enxágue alcalino, por exemplo, após o preparo da solução de limpeza em água a 45 graus em um balde, o equipamento deve se manter ligado para que aspire toda a solução preparada. Na sequência, é preciso desmontar as unidades de ordenha, colocando-as no balde com esta mesma solução de detergente, e escovar a superfície e parte interna dos coletores, teteiras e mangueiras. O latão deve ser limpo da mesma maneira. “Após a escovação, as superfícies devem ser bem enxaguadas com água em temperatura ambiente, até a remoção do excesso de espuma e da solução de limpeza. Após enxágue, é só montar as unidades de ordenha, colocar os latões de cabeça para baixo para secarem e pendurar as unidades de ordenha em um local limpo”, orienta Renata Travaglini, especialista de produto da DeLaval.
cas e físico-quimicas da água utilizada para garantir o uso apropriado na limpeza dos equipamentos. “Outro ponto é a atenção às recomendações de tempo, temperatura e diluição do produto de limpeza para a eficiência da lavagem”, lembra o supervisor de Projetos Especiais da Sulinox, Lissandro Stefanello Mioso. “Os detergentes alcalinos requerem água à temperatura superior a 60 graus, enquanto os ácidos atuam em temperatura na faixa dos 40 graus ou até mesmo em temperatura ambiente.” Quanto ao aspecto humano, capacitação e
O produto ideal Muitas são as opções de detergentes e desinfetantes voltados à limpeza dos sistemas de ordenha e tanques refrigeradores. Fundamental é que o produtor pesquise e saiba identificar as características de um bom produto. De acordo com o pesquisador da Embrapa Pecuária Sudeste Luiz Francisco Zafalon, essas características são as seguintes: a) Apresentar solubilidade rápida e completa e não ser corrosivo; b) Ser capaz de remover a dureza (excesso de sais de cálcio ou magnésio) da água; c) Possuir boa capacidade de umedecimento e penetração; d) Possuir ação emulsificante;
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constantes reciclagens devem ser palavras de ordem em qualquer propriedade leiteira, assim como o uso dos indispensáveis equipamentos de proteção individual (EPI). Afinal, os funcionários estão lidando com produtos químicos e água em temperatura elevada. Por isso, o uso de luvas, máscaras, botas e óculos de proteção são indispensáveis. “Os fabricantes de detergentes, inclusive, devem disponibilizar as fichas de segurança dos produtos químicos e também colocar no rótulo as informações necessárias quanto aos EPIs e como proceder em caso de acidente com os produtos”, ressalta Renata, da DeLaval.
Tanques de refrigeração Para os tanques, os mesmos princípios de higienização da ordenhadeira mecânica são seguidos. A diferença é que a lavagem
e) Possuir ação de dissolução de resíduos sólidos; f) Possuir ação enxaguante; g) Ser atóxico; h) Ser econômico; i) Ser estável durante a armazenagem. Quando esse conjunto de características não é seguido, contribui-se para uma higienização mal realizada. Já no caso dos desinfetantes responsáveis pela sanitização, as seguintes características devem ser preconizadas: a) Devem ser eficientes contra todos os tipos de micro-organismos patogênicos; b) Não ser corrosivo nem para o material, nem para a pele;
c) Ter baixa toxicidade; d) Ter propriedades detergentes que permitam a ruptura da tensão superficial dos líquidos e o umedecimento uniforme dos locais tratados; e) Não apresentar gosto ou cheiro que venham a alterar as qualidades organolépticas dos produtos alimentícios. Produtos que contrariam estes princípios causarão danos às borrachas que entram em contato com o leite, tubulações, etc. Quanto à qualidade do leite, uma higienização mal realizada influenciará, sobretudo na qualidade microbiológica do leite, com um aumento da contagem total bacteriana do leite do tanque de expansão.
é, basicamente, manual nos equipamentos que não possuem sistema automático de limpeza. Aqui, todas as partes que tiveram contato com o leite devem ser limpas, em especial, a pá de agitação, a tampa e o bocal de saída do leite do tanque. Os tanques mais utilizados no Brasil são os verticais abertos. Por não possuírem sistema de limpeza automática, esses equipamentos requerem lavagem com auxílio de escovas para limpeza mecânica que não danifiquem sua superfície. “Neste caso, geralmente, se colocam 10% de água em relação ao volume do tanque para a diluição dos produtos”, explica Mioso, da Sulinox. “No geral, os passos para a limpeza dos tanques são os mesmos da ordenha. Importante lembrar que, em tanques de lavagem manual, o mesmo deve ser desligado da rede elétrica para a realização do processo de limpeza”, alerta o especialista. “Além disso, na limpeza de tanques abertos, os funcionários não devem nunca entrar no tanque para limpá-los. Isto pode ser perigoso, gera contamina-
Eric Almeida Gerente comercial da GEA
A estruturação de um processo eficiente de higienização começa no projeto” ção das superfícies e pode danificar o tanque de leite”, complementa Renata Travaglini. “Já os tanques refrigeradores fechados têm sistema de limpeza automático com uso de programadores. A base da limpeza é a mesma dos equipamentos canalizados, ou seja, a higienização ocorre em etapas com uso dos mesmos detergentes alcalino clorado, detergente ácido e, posteriormente, a sanitização.” n
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Qualidade Marcos Veiga
Vale a pena tratar a mastite subclínica?
Luiz Prado
Deve-se avaliar criteriosamente o agente causador da doença e também o custo/benefício de eliminar a doença do rebanho
Risco. Mastite não tratada pode resultar até na perda do quarto mamário
A
Marcos Veiga Professor Associado da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP, campus de Pirassununga, SP.
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mastite, uma das principais doenças do gado leiteiro, pode se apresentar de duas formas: a clínica e a subclínica. Na forma clínica, a doença é facilmente percebida, pois os sintomas de alteração do leite (grumos, coágulos, leite aquoso) ou do úbere são visuais. Neste caso, a recomendação principal é o tratamento imediato do quarto afetado, pois o objetivo principal é proporcionar uma condição de bem-estar e saúde do animal, assim como buscar o retorno imediato da produção de leite. Na realidade, o produtor praticamente se vê obrigado a tratar a vaca, pois o leite não pode ser comercializado. E, sem o tratamento, corre-se o risco do agravamento da doença, que pode levar até à perda do quarto mamário. Já as vacas com mastite subclínica não
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apresentam sintomas visíveis de alteração das características do leite ou do úbere. Para identificação desta forma da doença é necessário o uso de algum dos métodos de diagnóstico, como o CMT (california mastitis test) ou a CCS (contagem de células somáticas) do leite enviado ao laboratório. Diferentemente da clínica, o leite de vacas com mastite subclínica pode ser comercializado normalmente. No entanto, dependendo da prevalência da doença no rebanho, há a preocupação de descontos quando o leite é remunerado com base na CCS do tanque. Os sistemas de pagamento por qualidade reduzem o preço do leite com alta CCS, cujo desconto varia entre as empresas de laticínios. Atualmente, estima-se que cerca de 30% a 40% das vacas leiteiras apresentem mastite subclínica e que acima de 50% dos rebanhos leiteiros tenham CCS do tanque acima de 400.000 células/mililitro. Uma das principais dificuldades para o controle da mastite é a falta de rotina de diagnóstico da forma subclínica. Na maioria dos rebanhos, essas vacas doentes permanecem sem nenhuma medida de controle durante toda a lactação, sendo que a maioria das vacas pode ser fonte de transmissão da mastite contagiosa para as vacas sadias. Para muitos produtores, a forma subclínica simplesmente não existe, pois não há uma rotina de diagnóstico. O principal prejuízo é a redução da produção leiteira e a manutenção de reservatórios de agentes contagiosos dentro do rebanho.
Sendo assim, uma das medidas mais recomendadas para o controle dessa mastite é
adotar uma rotina de realização mensal da CCS ou CMT de todas as vacas em lactação. Com base nos resultados de CCS, pode-se então identificar quantas vacas têm mastite subclínica e as que mais contribuem para o aumento da CCS do tanque. Para tomar decisões acertadas sobre o que fazer com animais com alta CCS, é necessário coletar amostras de seu leite para identificação da causa da mastite. Isso é feito por meio da cultura (mais informações sobre coleta de amostras: http://qualileite.org/). As principais medidas são: segregação do animal na linha de ordenha; descarte de vacas com mastite crônica; tratamento durante a lactação e aguardar o tratamento de vaca seca na secagem. Na busca de soluções rápidas e imediatas, alguns produtores e técnicos podem tentar o tratamento durante a lactação, visando, assim, não somente reduzir a CCS do tanque e melhorar o preço do leite, mas também diminuir o potencial de transmissão de agentes contagiosos no plantel. No entanto, não é recomendável o tratamento da mastite subclínica somente com base nos dados de CCS individual das vacas sem conhecer as causas da mastite. Esta decisão de tratamento deve levar em conta os benefícios e custos, e principalmente, se tal medida traz retorno econômico ao produtor. Sendo assim, numa situação em que a qualidade tem grande impacto no preço do leite, pode-se avaliar se o tratamento, mesmo de casos subclínicos, é uma estratégia viável, desde que criteriosamente utilizada. A decisão de tratar ou não mastite subclínica deve ser feita com base nos possíveis benefícios e custos em cada situação específica e em relação ao tipo de agente causador envolvido, conforme o quadro.
Entre as vantagens do tratamento, podemos citar a cura das infecções intramamárias, a redução de CCS, de casos clínicos, de descartes e, além disso, a melhoria do bem-estar. Em relação ao rebanho, pode-se esperar que o tratamento reduza a transmissão da mastite contagiosa e melhore a qualidade do leite, o que pode significar maior remuneração. Contudo, deve-se considerar os seus custos: descarte do
Benefícios e custos do tratamento de mastite subclínica na lactação Benefícios
Custos
Para a vaca: Aumento da taxa de cura e redução Medicamentos e diagnóstico da duração das infecções Diminuição de casos clínicos
Mão de obra para tratamentos e manejo
Diminuição da CCS
Descarte do leite com resíduos
Aumento do bem-estar
Descarte desnecessário de leite, quando o tratamento não seria necessário para a cura
Para o rebanho:
Custo do não tratamento
Redução da transmissão e de novas Demora na melhoria da qualidade do leite infecções Diminuição da CCS do tanque e melhoria da qualidade
Aumento do risco de exposição do rebanho Aumento do descarte e redução do conforto do animal
leite com resíduos de antibióticos (pode representar até 60% do total dos custos diretos), medicamentos, custos de exames laboratoriais e mão de obra. Sendo assim, a decisão de tratar ou não deve ser tomada com base nestes fatores e na probabilidade de cura. Atualmente, a principal recomendação dos especialistas é para o tratamento de vacas com mastite causada por um tipo específico de agente contagioso, o Streptococcus agalactiae. Rebanhos que enfrentam problemas de alta CCS no tanque em consequência desse agente podem passar pelo tratamento intramamário (dois a três dias de tratamento, com antibióticos do grupo dos beta-lactâmicos: penicilinas e cefalosporinas) nas vacas positivas para tais agentes. Tradicionalmente, este tipo de tratamento é chamado de “blitz terapia”, pois é possível atingir taxas de cura de até 95%, uma vez que essa bactéria é altamente sensível ao medicamento. Os benefícios diretos da blitz terapia são a redução da CCS do tanque, a redução (e até erradicação) de um agente altamente contagioso do rebanho, o aumento de produção de leite e melhoria da remuneração pelo leite. Desta forma, os resultados de pesquisa indicam que o tratamento da mastite subclínica causada por S. agalactiae é vantajoso e traz retorno financeiro no curto e médio fev-mar/2016 Mundo do Leite
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Qualidade ainda menores para as vacas velhas e com alta CCS antes do tratamento. Outros importantes agentes causadores de mastite subclínica como S. dysgalactiae e S. uberis apresentam taxas de cura maiores, entre 75% e 60%, mas mesmo assim não têm recomendação de tratamento durante a lactação, pois os benefícios do tratamento ao longo da lactação não superam os custos envolvidos. Nesta situação, é mais vantajoso segregar as vacas com isolamento de agentes contagiosos como S. aureus e aguardar a secagem para o tratamento de vaca seca. As vantagens do tratamento de vaca seca são evidentes, pois as taxas de cura atingem cerca de 80%, não implica descarte do leite, além do benefício da prevenção de novas infecções durante o período seco.
Teste. Caneca de fundo preto é uma das ferramentas
prazos, mesmo considerando os custos de descarte do leite e medicamentos. Para os demais agentes causadores de mastite, em particular para S. aureus, a recomendação é de que é mais adequado o tratamento da mastite subclínica no momento da secagem, usando-se a terapia da vaca seca em todos os quartos. Esta diferença de resposta ao tratamento ocorre principalmente pelas características dos agentes causadores de mastite e pelo local da infecção intramamária. Por exemplo, alguns agentes como S. agalactiae e Corynebacterium spp causam infecções superficiais, enquanto S. aureus e S. uberis são mais invasivos e se localizam em regiões mais profundas do úbere, o que dificulta a chegada dos antibióticos no local da infecção.
Mesmo que o tratamento de mastite subclínica causada por S. aureus possa reduzir a CCS do tanque e aparentemente eliminar o agente, os estudos sobre efeito do tratamento no médio e longo prazos indicam que as taxas de cura são baixas: 25% a 30%. Além disso, é importante destacar que as taxas de cura são
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Desta forma, fica evidente que a escolha de se tratar ou não casos de mastite subclínica passa necessariamente pela análise da situação particular de cada rebanho, com relação aos prêmios de qualidade, preço do leite, prejuízos enfrentados pelo rebanho e em especial quanto ao tipo de agente causador. As pesquisas científicas indicam que em algumas situações o tratamento de mastite subclínica pode ser uma estratégia que auxilia na redução de prejuízos e melhoria da qualidade do leite, desde que utilizada com critério e após avaliação dos custos e potenciais benefícios. Uma dessas situações é quando a fazenda tem vacas com mastite causada por S. agalactiae, pois a relação custo/benefício do tratamento é positiva para o produtor. Por outro lado, para os demais tipos de agentes, este retorno econômico é questionável no médio e longo prazos. Além disso, o tratamento somente seria recomendado para animais com alta probabilidade de cura, como as vacas jovens (aquelas de primeira e segunda lactações), para as vacas em terço inicial de lactação e também para vacas sem histórico de mastite crônica. O uso do tratamento continua sendo uma importante ferramenta de controle da mastite, mas as demais medidas preventivas para redução da transmissão de agentes contagiosos são sempre mais econômicas. n
Nutrição
Silagem bem compactada Qualidade do alimento garantida por longo tempo
Processo bem feito. Trator deve passar inúmeras vezes sobre a massa
Lídia Grando
P
or viver em um país tropical, o produtor brasileiro tem pouca tradição em guardar comida para os animais consumirem no inverno. A forma mais conhecida de reservar este alimento é a produção de silagem de milho. Dentre as etapas da ensilagem, compostas pelo corte da planta na época ideal, o enchimento do silo, a compactação da massa verde picada e a vedação, o maior descuido, normalmente, ocorre nas etapas finais de preparação. “O principal erro está na compactação”, diz o professor de Nutrição de Ruminantes da Universidade Estadual de Ponta Grossa, PR, João Ricardo Alves Pereira. A compactação tem, entre as suas funções, tirar o ar entre as camadas, elevar a temperatura e favorecer a ação das
bactérias produtoras de ácido lático, importante para a conservação do alimento com qualidade. Pereira lembra que há programas atualizados de nutrição que pretendem aumentar a partícula no corte, mas, para isso, a boa compactação torna-se ainda mais importante. Para executá-la, a receita é utilizar um trator pesado (acima de 95 cavalos) para passar incansavelmente sobre o silo a cada camada distribuída. “A recomendação é que se usem 20% mais de horas para compactar do que para cortar”, sugere. Por exemplo, se foram necessárias dez horas para o corte, para a compactação serão necessárias 12 horas. Pereira explica que o silo deve ser completado de forma “rampada”, ou seja, inclinado em direção à sua entrada. Para melhor efetividade da compactação, as camadas devem ser bem distribuídas e finas. Ele sugere que tenham
A vedação é um passo onde muitos pecam por achar que fizeram uma boa compactação” Luiz Gustavo Nussio, da Esalq/USP.
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Lallemand, sinônimo de Silagem de Qualidade Inoculantes específicos e lona Silostop, uma combinação lucrativa
O uso de produtos específicos é fundamental para uma silagem de qualidade. Por isso, a Lallemand Animal Nutrition desenvolveu inoculantes específicos para cada forrageira, considerando sua composição.
Você sabia que usar a lona certa é importante para evitar as perdas de silagem? A Lallemand, como uma especialista em silagem, sabe disso! Por isso, além de produzir e vender inoculantes, agora a empresa também distribui Silostop, líder global em tecnologia para barreira de oxigênio. A lona Silostop veda o silo impedindo que o oxigênio penetre na silagem, prevenindo perdas significativas. Para mais informações, procure seu representante Lallemand!
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Nutrição de 15 a 20 cm de altura. Para essa etapa final da conservação, a escolha da lona de cobertura coroará o processo. “A vedação é um passo onde muitos pecam por achar que fizeram uma boa compactação”, diz o professor Luiz Gustavo Nussio, diretor da Esalq/USP. Por permitir trocas de gases, as tradicionais lonas pretas, feitas de PVC ou polietileno, são ineficientes como barreira para o oxigênio. Isso ocorre por causa da dilatação de microcoporos com o calor. “O ideal seria encontrar uma lona que cumprisse a função de ser uma barreira mecânica e de oxigênio”, afirma Nussio, reconhecendo que essa ferramenta ainda não está disponível plenamente. “Mas começam a surgir alternativas tecnificadas”, relata. Dentre as opções, há uma lona de poliamida que seria uma barreira para o oxigênio, “mas que tem baixa resistência mecânica e rasga mais facilmente”, explica Nussio. “Há quem a use com uma tela ou uma lona dupla-face, recobrindo-a”, afirma.
Pereira ressalta a importância do investimento na lona e sugere como alternativa os sacos de armazenar grãos feitos de lona. “Por sua melhor qualidade, eles são comprados e cortados na lateral para que se tornem uma manta”, explica. Como alternativa para dificultar a entrada dos gases, ainda pode-se fazer a cobertura
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da lona. “Temos testes com bagaço de cana que comprovam ser um material interessante por sua capacidade de aglomeração”, diz Nussio. Ele lembra que podem ser usados outros resíduos orgânicos ou terra, mas “é sempre preciso o cuidado na abertur ado silo, para evitar contato com micro-organismos e a contaminação da masa de silagem”, diz. Alternativa para ainda maior vedação lateral, caso haja disponibilidade, está em encher sacos com pedras para que sirvam como peso e firmem a lona. n
Cuidado extra. Tempo para compactar deve ser 20% maior que para cortar
Sustentabilidade Alexandre M. Pedroso
Soja e milho caros. O que substitui? É hora de sair da zona de conforto e optar por outros produtos. O que a vaca precisa, efetivamente, é de um balanceamento adequado dos nutrientes Alexandre M. Pedroso Consultor em Nutrição e Manejo de Bovinos Leiteiros Cowtech Consultoria
gue com manejo adequado e correto programa de fertilização nitrogenada, é possível trabalhar com menos proteína no concentrado. E o impacto financeiro dessa mudança é enorme hoje em dia. Mesmo em dietas à base de silagem de milho, é viável utilizar teor mais baixo de proteína, pois é comum haver sobra desse nutriente nas formulações. O que de fato interessa para a vaca é a quantidade de proteína metabolizável (PM) que ela terá disponível para usar, e não o teor de proteína bruta da dieta. A tabela 1 mostra um exemplo de como é possível reduzir o teor de proteína bruta da dieta das vacas, mantendo o suprimento de pro-
Fotos Luiz Prado
e Planejamento
C
ustos de alimentação sempre foram, e sempre serão, uma grande preocupação nas fazendas leiteiras. Este ano, porém, os preços do milho e do farelo de soja estão pressionando muito os produtores de leite. Nesse cenário, o que pode ser feito para equilibrar custos? O caminho natural é pensar em fontes alternativas para substituir as tradicionais, mas também é preciso considerar, mais do que nunca, a revisão das formulações das dietas. Em sistemas de produção baseados em pastagens, em que o pasto é de alta qualidade, com bom teor de proteína, o que se conse-
No cocho. Mesmo em dietas à base de silagem de milho é viável utilizar teor mais baixo de proteína
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teína metabolizável, com menor custo. É uma situação comum, que vejo quase todos os dias em meu trabalho. Após o ajuste da dieta, o desempenho do lote permaneceu idêntico, o que mostra claramente que o balanceamento poderia ser melhorado. Com menor inclusão de proteína bruta foi possível atender corretamente às necessidades por proteína metabolizável, que é o que de fato importa para as vacas. Considerando essa diferença de R$ 0,92 por vaca/ dia, e que nesse lote havia, em média, 55 vacas, a economia anual seria de R$ 18 mil.
Para lotes de menor produção, é perfeitamente possível formular dietas equilibradas para vacas leiteiras sem usar o farelo de soja, mas, infelizmente, ainda vemos muita resistência entre nutricionistas e alguns fabricantes de ração em trocar ingredientes. Afinal, é bem mais confortável manter o padrão das formulações. Muitas vezes, quando se troca algum ingrediente, é necessário, por exemplo, fazer ajustes no balanceamento de minerais. Especialmente quando se passa a usar subprodutos da agroindústria. Mas a busca pela eficiência muitas vezes nos obriga a sair da zona de conforto. Subprodutos como o farelo de glúten 21
Tabela 1 - Dieta padrão X Dieta ajustada1 Dieta padrão2
Dieta ajustada2
Silagem de milho
21
21,2
Feno
1,4
0,8
Ingredientes
Milho moído
3,4
3
Polpa cítrica
3,9
4,4
Farelo de soja
4,2
3
-
7
0,43
0,43
Resíduo de cervejaria Núcleo mineral Composição Proteína Bruta3
17,2
16,5
Proteína metabolizável disponível4
2.530
2.535
Custo5
15,21
14,29
(1) Para lote de vacas leiteiras produzindo 30 kg leite/vaca/dia – formuladas com base no modelo DairyMax V. 2.12.5; (2) Em quilos/vaca/dia; (3) Em % de matéria seca; (4) Em gramas/dia; (5) Em R$/vaca/dia
(Promill/Goldenmill), o farelo de trigo e o resíduo úmido de cervejaria contêm teores interessantes de proteína, e podem entrar bem nas formulações substituindo o farelo de algodão. Trata-se de uma alternativa interessante que, combinada com ureia, pode substituir o farelo de soja. Vejamos outro exemplo na tabela 2.
fev-mar/2016 Mundo do Leite
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Sustentabilidade Tabela 2 - Dieta padrão X Dieta ajustada1 Ingredientes Silagem de milho Feno
Dieta padrão2
Dieta ajustada2
30
30
1
1
Milho moído
3,5
2,6
Farelo de soja
3,5
-
Farelo de algodão
-
3,5
Resíduo de cervejaria
-
5,5
0,4
0,4
Mineral Composição Proteína bruta3
15,4
15,3
Proteína metabolizável disponível4
2.183
2.204
Custo5
12,41
11,72
(1) Para lote de vacas produzindo 25 kg leite/vaca/dia – formuladas com base no modelo DairyMax V. 2.12.5; (2) Em quilos/vaca/dia; (3) em % de matéria seca; (4) Em gramas/dia; (5) Em R$/vaca/dia
Agora de um lote produzindo 25 quilos de leite/vaca/dia. Neste caso, a dieta padrão já tem teor mais baixo de proteína bruta. Não há excesso. Mesmo assim, é possível abrir mão do farelo de soja usando ingredientes proteicos mais baratos, o
Variação. Troca de ingredientes na ração enfrenta resistências
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que resulta em economia de R$ 0,69 por vaca/ dia. Fazendo o mesmo cálculo usado anteriormente, para este lote a troca da dieta representa uma economia de R$ 13.850 ao ano.
O objetivo de promover essas alterações na formulação das dietas é obviamente econômico. No entanto, outra possível vantagem é uma maior flexibilidade de formulação das dietas, pela disponibilidade de maior diversidade de alimentos; além disso, alguns subprodutos podem conter ingredientes especiais ou complementares aos já existentes, que proporcionam um “ajuste fino” da dieta, possibilitando melhor desempenho dos animais. Como exemplo, poderíamos citar o resíduo de cervejaria, que possui alto teor de proteína não degradável no rúmen, além de aminoácidos normalmente limitantes em dietas baseadas em milho e soja, podendo auxiliar no balanceamento de dietas de vacas leiteiras de alta produção.
Outro exemplo seria a fibra de alta digestibilidade da polpa de citros e da casca de soja, dois alimentos energéticos que normalmente têm efeito associativo positivo quando utilizados em substituição a parte do milho (amido), em dietas com alta inclusão de concentrados, trazendo benefícios tanto à saúde quanto à produtividade animal. Pela minha experiência de campo e dos diversos trabalhos de pesquisa de que participei, sempre que substituímos parte do milho moído dos concentrados por polpa cítrica, o desempenho dos animais não muda, e o impacto em custo pode ser bastante significativo quando o preço do cereal está elevado. O fundamental quando se formulam dietas é fornecer às vacas os nutrientes de que elas efetivamente precisam, na quantidade correta. No entanto, isso não pode ser feito sem controle de custos. Muitas vezes ficamos presos à nossa zona de conforto, mas há inúmeras possibilidades para atender adequadamente às necessidades do rebanho, reduzindo os custos de produção. Mais do que nunca é preciso trabalhar muito bem na compra de ingredientes e usar conhecimento e criatividade na hora de formular as dietas. n
ano
s
XX CURSO “NOVOS ENFOQUES NA PRODUÇÃO E REPRODUÇÃO DE BOVINOS”
PALESTRANTES - LEITE
Milo Wiltbank - University of Wisconsin Ric Grummer - University of Wisconsin Richard Wallace - Zoetis
Ronaldo Cerri - University of British Columbia Trevor DeVries - University of Guelph
PALESTRANTES - CORTE
John Arthington - University of Florida John Travis Mulliniks - University of Tennessee Ky G. Pohler - University of Tennessee
Mike Day - University of Wyoming Richard Wallace - Zoetis
Marcos V. B. da Silva - Embrapa Gado de Leite Michael Ballou - Texas Tech University
Jason B. Osterstock - Zoetis João Vendramini - University of Florida
CORTE
LEITE
Quinta-feira, 17 de março
Quinta-feira, 17 de março
08h45 - 10h: Impacto da nutrição da vaca pré parto na saúde da bezerra. 10h - 11h: Prevenção e controle de doenças em bezerras. 11h - 11h30: Intervalo. 11h30 - 12h30: Nutrição e manejo de vacas pré parto: o que aprendemos nos últimos 20 anos? 12h30 - 14h: Almoço. 14h00 - 15h: Entendendo como as vacas comem e ruminam e o efeito na saúde e produção de leite. 15h00 - 16h: Estratégias nutricionais para otimizar a eficiência reprodutiva. 16h00 - 16h30: Intervalo. 16h30 - 17h30: Raça Girolando no Brasil: dos cruzamentos aleatórios até a Era genômica. 17h30 - 19h: Apresentação dos dados nacionais.
08h35 - 09h30: Richard Wallace - Prevenção e controle de doenças em bezerros de corte. 09h30 - 10h30: João Vendramini - Desmame precoce: aspectos reprod. e manejo de bezerros. 10h30 - 11h: Intervalo. 11h00 - 12h10: John Travis Mulliniks - Melhorando a eficiência em sistemas de cria com otimização da utilização de pastagens. 12h10 - 14h30: Almoço. 14h30 - 15h30: Mike Day - Viabilidade técnica e econômica de antecipação de prenhez em novilhas Nelore ou cruzadas. 15h30 - 16h30: John Arthington - Fatores que influenciam na ingestão de suplem. minerais a pasto. 16h30 - 17h00: Intervalo. 17h00 - 18h00: Ky G. Pohler - Pontos-chave p/ maximizar a eficiência reprod. em gado de corte. 18h - 19h: João Vendramini - Suplementação de vacas de corte em pastagens diferidas.
Sexta-feira, 18 de março
Sexta-feira, 18 de março
08h00 - 09h10: Impacto de doenças periparto nos requisitos nutricionais e desempenho produtivo. 09h10 - 10h20: Nutrição e manejo de vacas periparto: controvérsias e áreas para estudos futuros. 10h20 - 10h50: Intervalo. 10h50 - 12h00: Parâmetros produtivos e reprodutivos associados à expressão do estro e fertilidade. 12h00 - 14h00: Almoço. 14h00 - 15h10: O que é importante para a vaca de leite se sentir confortável? 15h10 - 16h20: Efeito da inflamação na saúde, desenvolvimento do embrião e na manutenção da gestação. 16h20 - 17h00: Intervalo. 17h00 - 18h10: Como otimizar os resultados de receptoras de embrião. 18h10 - 19h00: Mesa redonda com todos os palestrantes.
08h00 - 09h15: Jason B. Osterstock - Utilização de genômica na seleção genética em animais Nelore de rebanhos puros e em rebanhos comerciais. 09h15 - 09h45: Intervalo. 09h45 - 12h00: Apresentação dos dados nacionais 12h00 - 13h45: Almoço. 13h45 - 14h45: J. Arthington - Biofortificação: método altern. p/ suplementação de micronutrientes. 14h45 - 15h45: John Travis Mulliniks - Estratégias nutricionais e de manejo para melhorar a eficiência produtiva e reprodutiva e longevidade em gado de corte. 15h45 - 16h15: Intervalo. 16h15 - 17h15: Ky G. Pohler - Utilização de Glicoproteínas associadas à prenhez (PAGs) para entender e melhorar resultados de fertilidade em bovinos. 17h15 - 18h15: Mike Day - Novos conhecimentos relacionados à produção de sêmen e entendimento sobre a variação de resultados de prenhez à IATF devido efeito de touro. 18h15 - 19h: Mesa redonda com todos os palestrantes.
Local: Centro de Conv. Center Shopping Uberlândia - Minas Gerais Período: 17 e 18 de março de 2016
Organização: CONAPEC Jr. (UNESP - BOTUCATU) Coordenação: Prof. José Luiz Moraes Vasconcelos (FMVZ - UNESP - BOTUCATU)
HOTEIS (RESERVAS) AbasHotel...............................(34) 3235-4141 América Palace Hotel........(34) 3228-3500 Attie Park Hotel....................(34) 3221-3400 Confort Inn.............................(34) 2101-8400 Executive Inn.........................(34) 3218-0500 Grande Hotel Universo.....(34) 3214-2400 Hotel Apollo...........................(34) 3230-7700 Hotel Carlton Plaza.............(34) 3233-6300 Hotel Marajá...........................(34) 3236-4149 Hotel Plaza Shopping........(34) 3239-8000 Hotel Presidente...................(34) 3256-1200
Hotel Villalba..........................(34) 3225-9200 Hotel Ypê.................................(34) 3236-4116 Ibis Uberlândia..................... (34) 3253-7700 JVA Park Hotel...................... (34) 3257-6654 Parati Palace Hotel...............(34) 3212-5020 Parthenon Ilhabela.............(34) 3840-0064 Plaza Montblanc..................(34) 3228-3200 Porto Bello Palace Hotel...(34) 3253-6500 San Diego Suites..................(34) 3230-9000 Sara Palace Hotel.................(34) 3227-0915 Uberpalace.............................(34) 3236-6074 Umuruama Hotel................ (34) 3212-1322
Site: www.conapecjr.com.br E-mail: vasconcelos@fmvz.unesp.br
Apoiadores:
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Saúde Animal
Arquivo Fabiano Cadioli
Negligenciada, tripanossomose se espalha pelo País. Falta de medicamentos e de informação dificultam o tratamento Vaca debilitada pela doença, que às vezes é
Renato Villela
U
Febre, apatia, aborto, icterícia e anemia estão entre os sintomas” Fabiano Cadioli da Unesp/Araçatuba
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ma doença que poucos conhecem, difícil de ser diagnosticada e para a qual não há medicamentos específicos disponíveis no mercado está se espalhando sorrateiramente pelos rebanhos. É a tripanossomose ou tripanossomíase bovina, enfermidade causada por várias espécies de protozoários do gênero Trypanosoma, o mesmo que provoca a doença de Chagas nos humanos, transmitida pelo inseto barbeiro. No caso dos bovinos, o vilão é o Trypanossoma vivax, protozoário extremamente patogênico que causa estragos por onde passa, com a morte significativa de animais num curto espaço de tempo. Os tabanídeos _ insetos grandes e hematófagos conhecidos como mutucas _ atuam como vetores da doença e se suspeita que também a mosca-dos-estábulos (Stomoxys calcitrans) tenha sua parcela de culpa. Mas tudo leva a crer que são as más práticas de manejo as principais responsáveis por sua rápida disseminação. Registrada pela primeira vez no Brasil no início dos anos 1970, num rebanho de búfalos no Estado do Pará, a tripanossomose ficou restrita à Região Norte até 1995, quando um surto foi registrado em Poconé, no Pantanal do Mato Grosso. De lá para cá, vem se espalhando e hoje encontra-se praticamente em todo o território nacional. Para se ter uma ideia da agressividade da doença, o Estado de São Paulo, que havia registrado o primeiro caso da enfermidade em 2008, somou nada menos do que 16 surtos de tripanossomose entre 2013 e 2015. Em 15 dos 16 casos, a introdução do Tripanossoma vivax foi relacionada à compra de animais de outras propriedades. “Entre 30 e 45
Mundo do Leite fev-mar/2016
confundida com a tristeza parasitária bovina.
dias depois de serem introduzidos no rebanho, esses animais, aparentemente saudáveis, apresentaram febre, apatia, aborto, icterícia e anemia. Muitos morreram”, afirma o veterinário Fabiano Antônio Cadioli, da Faculdade de Medicina Veterinária da Unesp/Araçatuba, especialista no assunto.
Nos casos relatados, a doença atingiu o rebanho de duas fazendas de gado de corte. Em um dos criatórios, voltado à produção de gado de elite, a suspeita é que a transmissão tenha sido feita por insetos, uma vez que a propriedade vizinha comercializava constantemente animais vindos de outras regiões. “O estresse do transporte muitas vezes deprime o sistema imunológico. Se o animal estiver infectado, a imunossupressão favorece o aparecimento da doença”, explica. A outra fazenda conciliava a atividade leiteira com confinamento. As vacas haviam sido diagnosticadas com a tripanossomose e a doença chegou até os animais confinados. “Neste caso a utilização de seringas e agulhas em comum entre os rebanhos por ocasião da vacinação pode ter transmitido a doença para o gado de corte”, afirma. O fato de a tripanossomose ser uma doença mais comumente disseminada em rebanhos de leite está intimamente associado a uma prática rotineira de manejo na atividade leiteira: a aplicação da ocitocina nas vacas em lactação. “É um hormônio que facilita a descida (liberação) do leite e que muitos produtores aplicam todos os dias antes de cada ordenha”, explica o veterinário Thiago Souza Azeredo Bastos, veterinário da Universidade Federal de Goiás. Bastos acompa-
A tripanossomose tem sintomas semelhantes à tristeza parasitária bovina, complexo de doenças que envolve a babesiose e a anaplasmose. Esta condição tem levado os produtores a cometerem um grave equívoco. Inadvertidamente, tratam o animal como se ele estivesse acometido pela tristeza, aplicando para a tripanossomose a mesma dosagem do medicamento à base de aceturato de diminazeno prescrito para a doença transmitida pelos carrapatos. O pesquisador chama a atenção para as consequências da medicação incorreta. “A subdosagem tem induzido a uma resistência do protozoário e dificultado muito os tratamentos nos rebanhos onde o diagnóstico inicial foi impreciso.” O problema se agravou e atualmente há protozoários resistentes ao princípio ativo. Apesar de não debelar a doença, o aceturato de diminazeno destrói a maior parte dos protozoários na corrente sanguínea. Com a redução do Tripanossoma vivax circulante, o animal melhora rapidamente sua condição. O que o medicamento faz é eliminar os protozoários sensíveis. Sobram os resistentes. Mesmo assim, após uma ou duas aplicações, aparentemente sadio, mas infectado, o animal muitas vezes é vendido para outro produtor, que não tem ideia do seu histórico. “Basta uma situação de estresse, como uma via-
Doença assusta em Goiás Bastaram apenas 20 dias para que a produção de leite de uma propriedade em Ipameri, GO, despencasse de 1.500 litros para 700 litros diários. Pouco tempo depois, outros sintomas se sucederam, como diarreia, letargia, lacrimejamento e perda progressiva de peso. Não tardou para que algumas vacas doentes, em decúbito lateral, não conseguissem mais se levantar. De
gem longa, para trazer a doença novamente à tona. E ela volta com força total”, afirma.
Com a resistência do Tripanossoma vivax ao aceturato de diminazeno, resta ao produtor recorrer ao cloreto de isometamídio. O problema é que não existem medicamentos à base do princípio ativo disponíveis para compra no Brasil. Sua importação é concedida pelo Ministério da Agricultura, somente em casos especiais, “de emergência”, mediante solicitação junto ao órgão feita por um médico veterinário. “O problema é que entre reunir toda a documentação pedida, enviar ao ministério, obter autorização e receber o medicamento leva de 30 a 60 dias e a doença é muito rápida”, diz Thiago Bastos. No desespero, muitos produtores conseguem o medicamento ilegalmente, por meio de contrabando via Bolívia, Colômbia e Paraguai. Mas por que o governo não facilita a importação do medicamento? O próprio ministério responde, dizendo que havia um único produto à base de cloridrato de isometamídeo registrado no Brasil. A licença, concedida em 2005, expirou em abril de 2008 e sua renovação não foi concedida por “força de impedimento de ordem legal vigente à época”, conforme o Departamento de Fiscalização de Insumos Agrícolas (DFIA), do Mapa. Em janeiro de 2015, a empresa solicitou a reemissão da licença anterior, que foi indeferida pela área jurídica do ministério. “Cabe esclarecer que desde 2005 nenhuma nova solicitação foi recebida pelo ministério”, diz o departamento, em nota. Para o pesquisador Fabiano Cadioli, da Unesp, a liberação em si não resolve a questão e o uso in-
um plantel de 300 fêmeas, 24 morreram e 40 foram abatidas. “A princípio, pensamos se tratar de uma intoxicação por micotoxina ou até mesmo um caso de tristeza parasitária, mas os exames confirmaram que era tripanossomose”, relata Thiago Souza Azeredo Bastos, veterinário da Universidade Federal de Goiás. Acredita-se que a doença tenha entrado no Estado vinda das bacias leiteiras de Minas Gerais, de onde saem fêmeas para reposição e muitos machos cruzados pa-
Thiago Bastos
nhou o primeiro surto da doença no Estado, registrado em maio deste ano (veja quadro). A transmissão iatrogênica (por uso de agulhas infectadas, por exemplo) é considerada a principal forma de disseminação do Tripanossama vivax. “É mais eficiente do que qualquer mosca: 0,5 mililitro de sangue contidos numa seringa podem conter milhões de protozoários”, afirma Fabiano Cadioli, da FMV.
Aplicação de ocitocina é a causa mais comum de disseminação
Medicamento para combate é importado e tem obstáculos.” Thiago Bastos, da UF Goiás
ra confinamento. Segundo Maurício Velloso, presidente da Comissão de Pecuária de Corte da Faeg (Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás), o órgão está pleiteando junto ao Ministério da Agricultura e a Agrodefesa (Agência Goiana de Defesa Agropecuária) a obrigatoriedade de um atestado negativo para os animais que transitarem entre os Estados, como já é feito no caso da brucelose e tuberculose. “Estamos enfrentando um caso sério e difícil. Temos que tomar uma atitude”, diz.
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Saúde Animal discriminado pode agravar a situação. “A administração do cloreto de isometamídio é complexa e requer critério.” Ao contrário dos medicamentos a que os produtores estão habituados a lidar, com a dosagem sendo calculada a partir do peso vivo do animal, no caso do cloreto de isometamídio a prescrição deve levar em conta o estágio da doença no rebanho e o “desafio epidemiológico” a que os animais estão submetidos. Segundo ele, nos rebanhos em que há alta infestação por insetos hematófagos, uso de ocitocina, compartilhamento de agulhas e seringas, além da frequente introdução de animais comprados, é preciso utilizar dosagens mais altas. Além disso, o produtor deve resistir à tentação de restringir o tratamento aos animais com sintomatologia clínica nos rebanhos onde a doença se instalou. “Animais gordos, aparentemente sadios, podem estar infectados. É preciso tratar todo o plantel, do bezerro ao touro.”
Além disso, monitorar a evolução da doença por meio da sorologia a cada três meses ou uma vez a cada seis meses, dependendo da prevalência da tripanossomose. “É um procedimento essencial para saber como a doença está evoluindo”, afirma. O pesquisador acompanhou casos em que o surto foi controlado, mas a sorologia deixou de ser feita. “A doença voltou e tivemos que recomeçar o trabalho do zero.” Para Cadioli, a falta de conhecimento e de treinamento dos veterinários, que muitas vezes nem ouviram falar da doença na universidade, é um agravante.
Diagnóstico mais rápido e seguro Um teste inovador promete dar mais agilidade e segurança ao diagnóstico da tripanossomose no Brasil. Trata-se do Lamp, um método molecular de análise concebido para detectar mais rapidamente a doença do sono, causada pelo Trypanossoma brucei, transmitida pela mosca tsé-tsé (Glossina SP), enfermidade relativamente comum em áreas rurais do continente africano. Por aqui, os testes começam a ser utilizados a partir de 2016. “Em 30 minutos será possível saber se um animal está ou não infectado pelo agente da
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A primeira medida para evitar a introdução da tripanossomose no rebanho é redobrar a atenção ao comprar animais de outra propriedade. A quarentena é uma estratégica recomendada, principalmente quando se adquirem animais de regiões endêmicas, como o Pantanal, Triângulo Mineiro ou noroeste Paulista, ou áreas onde a doença tenha sido diagnosticada. Cadioli recomenda que os animais fiquem isolados por 30 dias e que sejam feitas, nos primeiros 15 dias, duas coletas de sangue, uma por semana, para análises sorológica e parasitológica. Se o animal adquiriu a doença num período inferior a 20 dias, haverá grande quantidade de protozoários no sangue, detectados pelo exame parasitológico. “Caso a infecção seja mais antiga, o sistema imune do organismo teve tempo suficiente para produzir anticorpos, o que será denunciado por um exame sorológico”, diz Cadioli. Segundo ele, juntos, os exames se complementam, já que ambos têm suas limitações (veja quadro abaixo). “Dessa forma fechamos o cerco no diagnóstico ao parasita”, diz o veterinário. É preciso também evitar o compartilhamento de seringas e agulhas. No caso do gado de leite, onde a doença é mais frequente, recomenda-se o uso de seringas e agulhas descartáveis, inclusive para a administrar a ocitocina e até mesmo vacinações. Os cuidados devem se estender aos materiais usados durante as técnicas de inseminação artificial, como luvas e bainhas, que devem ser descartadas. Outra medida importante é o controle de vetores, como a mosca-dos-estábulos, além de morcegos hematófagos. n
tripanossomíase”, diz Fabiano Cadioli. O pesquisador coordena a iniciativa, pioneira na América do Sul. Atualmente, há três categorias de análises realizadas no País para diagnóstico da doença. Além do PCR, que busca o DNA do protozoário, há os testes parasitológico e sorológico. O primeiro é o mais utilizado a campo. Por meio da análise de sangue, vasculha-se o invasor. O problema é que, até 18 dias após o animal ter sido infectado, há uma grande quantidade de parasitas na corrente sanguínea, o que facilita sua detecção. Depois desse tempo, no entanto, a população do T. vivax tende a oscilar. “Tem dias em que aparecem (no sangue), tem dias que não,
sem nenhuma ordem lógica. Isso compromete o resultado do exame”, diz. O teste sorológico também tem suas restrições. Neste caso, a detecção da doença se dá pela presença de anticorpos no soro, líquido separado do sangue após sua coagulação. Na fase inicial da infecção, o organismo ainda não produziu as proteínas de defesa. Animais debilitados pela doença, por sua vez, tendem a não mais produzir ou produzir poucos anticorpos que não aparecem no teste. Há muitos protozoários circulantes, mas o sistema imunológico já não consegue responder. “É o que chamamos de ‘falso negativo’. O animal está infectado, apesar de o teste não acusar”, diz Cadioli.
Sanidade José Luiz Moraes Vasconcelos
O calor excessivo e seus efeitos sobre o rebanho José Luiz Moraes Vasconcelos é médico veterinário formado pela UFMG e professor assistente doutor na Unesp de Botucatu (SP). Co-autor: Eraldo Laerte Drago Filho é zootecnista e aluno de mestrado do programa de pós- graduação da Unesp de Botucatu
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egundo a Organização Mundial Meteorológica, o ano passado foi um dos anos mais quentes em relação à média dos últimos anos. Infelizmente, de acordo com o laboratório britânico Met Office, com o fenômeno climático El Niño, 2016 deve ser ainda mais quente. O produtor deve estar se perguntando: “O que pode acontecer com as minhas vacas?” Em rebanhos submetidos a altas temperaturas, aumenta o risco de estresse térmico, que interfere no bem-estar dos animais – e, consequentemente, na produção leiteira. No Brasil, com o melhoramento genético de bovinos, a tendência é ter animais cada vez mais produtivos. Quanto mais produtiva a vaca, mais suscetível ela fica ao estresse térmico, pois consome mais matéria seca. E uma dieta de maior densidade nutricional aumenta a geração de calor no organismo. Ou seja, são justamente os animais mais produtivos que correm o maior risco de sofrer com o calor. Atualmente, parte das vacas leiteiras é criada em sistema de confinamento e protegida da radiação solar. A maioria do rebanho leiteiro, entretanto, é mantida em sistemas semiconfinados ou só a pasto, onde é exposto à radiação solar direta, aumentando o risco dos males advindos do calor excessivo. Para ter-se ideia, nos Estados Unidos, país subtropical e
Figura 1. Temperatura retal e frequência respiratória1
(1) Correlação entre temperatura retal e frequência respiratória (movimentos/minuto), onde cada ponto azul é uma vaca. Fonte: Barbosa et al dados não publicados.
temperado, com temperaturas mais amenas do que as nossas, o estresse térmico chega a causar prejuízo de quase US$ 1 bilhão/ano para a atividade leiteira (St. Pierre et al., 2003). Não temos essa conta no Brasil, que deve ser alta, pois, afinal, estamos em “um país tropical abençoado por Deus e bonito por natureza”. Nada é perfeito.
Mas o que é estresse térmico? É o desequilíbrio no organismo do animal em resposta à radiação solar, à temperatura ambiente e à umidade relativa do ar. As vacas não conseguem manter a temperatura corporal (a temperatura retal fica acima de 39,1 graus), pois a carga térmica recebida do ambiente, mais o calor proveniente de seu próprio metabolismo, são maiores do que a sua capacidade em dissipar calor. Com isso, ocorre o aumento da temperatura corpórea (maior do que 39,1 graus); da frequência respiratória (veja gráfico 2); o aumento do consumo de água e da salivação e a diminuição de ingestão de matéria seca, o que interfere diretamente na produção de leite e na fertilidade. Ou seja, há grande impacto na eficiência econômica do sistema. Uma forma simples de saber se sua vaca está com estresse térmico é avaliar a frequência respiratória. Se estiver acima de 65 movimentações por minuto, a temperatura retal provavelmente estará acima de 39 graus, o que já comprometerá negativamente a produtividade da vaca (veja gráfico 1). Em estudo que mostra o impacto negativo do estresse térmico na eficiência de produção de leite (Rhoads et al. 2009) foram avaliados dois grupos de vacas, um com estresse térmico e outro sem estresse térmico. O grupo com estresse térmico teve a mesma ingestão de matéria seca do grupo sem estresse. Os autores verificaram que o decréscimo da ingestão da matéria seca explicou apenas 50% da queda de produção de leite. O restante foi em decorrência da alteração do metabolismo e do aumento das exigências nutricionais para dissipar o calor. A conclusão é de fev-mar/2016 Mundo do Leite
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Sanidade que vacas com estresse térmico gastam mais energia e por isso se tornam menos eficientes. Estresse térmico também pode influenciar na fertilidade. Com a queda na ingestão de alimentos, as vacas perdem peso e entram em balanço energético negativo, o que faz com que atrasem para ciclar. De forma direta, o problema reduz a produção de estradiol, o comportamento de cio, o desenvolvimento embrionário e a fertilidade. Além disso, vacas estressadas com o calor também perdem mais gestações. Na figura 3 observa-se o impacto na inseminação artificial na fertilidade. Na mesma fazenda e com os mesmos animais, a fertilidade diminui muito nos meses mais quentes. A intensidade da queda depende da cada fazenda, do manejo que se oferece aos animais, da produção de leite e das estratégias utilizadas para reduzir o estresse térmico. Como citado acima, estresse térmico diminui a expressão de cio. Protocolos de IATF permitem inseminar vacas que não mostram cio. Porém, a IATF não esfria a vaca, ou seja, ao se utilizar o protocolo no verão os resultados serão menores do que no inverno.
Mas há como minimizar o estresse térmico? Estratégias de molhar e ventilar as vacas baixam a temperatura corporal. Quanto mais água e vento, melhor. Pense que, ao sair da piscina, se não estiver ventando ou se estiver ventando bastante, em qual situação vai sentir frio? Com certeza, na que tiver mais vento. Por isso é essencial molhar e ventilar a vacas, para que elas percam calor. Em estudo em Israel, em que se utilizaram diferentes estratégias de resfriamento (30 segundos molhando e 4 minutos e 30 segundos sob ventilação forçada): intensivo (7,5 horas/dia), moderado (4,5 horas/dia) e não resfriado (0 hora/dia), verificou-se que, quanto mais se resfriaram as vacas, melhor a produção de leite e a fertilidade. O custo do investimento em resfriamento é diluído rapidamente pela melhora da produção e reprodução. Qual sistema utilizar (ventiladores, aspersores, posicionamento dos equipamentos, ventilação cruzada). Estas questões devem ser discutidas a partir de particularidades de cada região e características individuais da fazenda. O importante é avaliar as vacas, sua temperatura retal e frequência respiratória. Outra informação importante é que se deve resfriar as vacas no pré-parto. Pesquisadores da Flórida, EUA, verificaram que resfriar vacas por todo o período
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Figura 2. Temperatura corpórea e frequência respiratória1
(1) Correlação entre temperatura corpórea e frequência respiratória (movimentos/min) em (T°C). Fonte: Adaptado de Brouk et al (2002)
seco aumentou a lactação seguinte, em torno de 5 quilos de leite/vaca/dia. Além disso, as vacas resfriadas tiveram melhor saúde pós-parto, com menor incidência de doenças como cetose, metrite e mastite. No sistema de produção de leite, a maior oferta de pasto é no verão. Deve-se manejar os animais para minimizar aumento da temperatura retal, visando reduzir a queda na ingestão de pasto. Deve-se ficar atento ao horário da ordenha, duração da ordenha, resfriar as vacas antes da ordenha, distância do pasto na ordenha, como se tocam as vacas para a ordenha, área de sombra, local com cochos de água. Não podemos nos esquecer que vaca com estresse térmico come menos e precisa de mais energia para produzir leite. Resfriar vaca é investimento prioritário em praticamente todas as fazendas de leite. Como citado, o Brasil é um pais tropical, e para produzirmos leite com eficiência temos que nos preocupar com estresse térmico. n
Figura 3. Taxas de concepção1
(1) Número de vacas gestantes/número de vacas inseminadas) de vacas Holandesas de alta produção, durante três anos
eventos Dinapec
Agenda
Entre 9 e 11 de março a Embrapa Gado de Corte, em Campo Grande, MS, promove a Dinâmica Agropecuária (Dinapec). A feira apresenta roteiros tecnológicos, oficinas e produtos em parceria com diversas instituições. Em quatro horas, gratuitamente, os visitantes terão a oportunidade de percorrer os roteiros sobre sistemas integrados e consórcios; produção leiteira com sustentabilidade; higiene na ordenha e manejo de bezerras; novas cultivares forrageiras para o Brasil Central e manejo de pastagens; estratégias de melhoramento animal para o rebanho; tecnologias para a produção de novilho precoce, com o uso de boas práticas agropecuárias e sanidade animal com foco em defesa agropecuária, entre outros temas. Ainda haverá oficinas sobre silagem feita a partir de feijão guandu e milho. Os
Agrishow A Agrishow, tradicional feira de demonstração de máquinas agrícolas e tecnologia, está marcada para os dias 25 a 29 de abril, em Ribeirão Preto, SP, no Polo Regional de Desenvolvimento Tecnológico dos Agronegócios do Centro-Leste. Além da demonstração ao vivo de máquinas agrícolas – inclusive as voltadas à pecuária leiteira –, a
Curso sobre novos enfoques na produção e reprodução
Dinapec ocorre em Campo Grande
minicursos, com diversos temas, contam com 25 vagas. Mais informações podem ser obtidas no site do evento: www.embrapa.br/gado-de-corte ou nos dias do evento.
Agrishow deste ano terá tecnologias voltadas à armazenagem, fertilizantes, irrigação, centros de pesquisa e universidades, máquinas e implementos agrícolas, entre outras. O público-alvo são agricultores, agrônomos, associações, comerciantes, empresários, estudantes, funcionários Públicos, industriais, pecuaristas, profissionais liberais e setor agroindustrial. Para mais informações, acesse o site www.agrishow.com.br ou tel. (11) 3598-7810.
Show Safra BR163 O Show Safra BR163, promovido pela Fundação Rio Verde, em Lucas do Rio Verde, MT, ocorrerá entre 29 de março e 1º de abril. O evento contará com a apresentação de várias tecnologias relativas principalmente ao cultivo de grãos. Além disso, palestras com os seguintes temas: manejo de doenças na cultura da soja, manejo integrado de plantas daninhas, manejo de pragas de difícil controle no cerrado e suinocultura de baixa emissão de carbono. Mais informações e inscrições, no site www.fundacaorioverde.com.br.
O 20º curso sobre novos enfoques na produção e reprodução de rebanhos será em 17 e 18 de março, em Uberlândia, MG. A organização do curso é da Conapec Jr., da Unesp Botucatu. No site www.conapecjr. com.br há mais informações sobre o evento, que contará com estudiosos em pecuária leiteira, entre eles Marcos Vinicius Barbosa da Silva, da Embrapa Gado de Leite; Michael Ballou, da Texas Tech University; Milo Wiltbank, da University of Wisconsin, e Richard Wallace, da Zoetis, entre outros. Entre os temas abordados, estão o impacto da nutrição da vaca pré-parto na saúde da bezerra; prevenção e controle de doenças em bezerras e nutrição e manejo de vacas-pré parto. Nutrição animal e recursos hídricos A Embrapa Instrumentação Agropecuária, no município paulista de São Carlos, vai sediar, entre 22 e 23 de março, o Simpósio Internacional de Nutrição Animal. O evento abordará a nutrição animal para os vários tipos de criações, entre elas pecuária de corte, suinocultura, avicultura e também pecuária leiteira. Entre os temas a serem apresentados, estão experiências em manejo hídrico na produção animal, manejo hídrico no Brasil, na Nova Zelândia, em Portugal e na Argentina; análises de qualidade da água em produção animal; uso de dejetos animais como fertilizantes e manejo nutricional em bovinocultura de leite. Informações, tel. (16) 2107-2800.
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EMPRESAS E PRODUTOS ABS Pecplan
Catálogo Leite Europeu 2016 já está publicado A ABS Pecplan acaba de lançar seu Catálogo Leite Europeu 2016. São mais de cem opções de genética das raças Jersey e Holandês, sendo 38 novidades. “Nosso catálogo conta com genética totalmente adaptada à realidade nacional, seja por meio de touros provados e/ ou genômicos”, informa o gerente de Produto Leite Europeu, Marcelo Mamedes. Além de novos touros, o catálogo 2016 apresenta a informação do RWD Transition Right, onde o produtor ganha mais segurança na definição da genética. “Este índice ajuda na escolha da genética para um período de transição mais saudável
e com menos problema”, destaca Mamedes. Ele lembra ainda que nesta edição uma das novidades são as informações das proteínas do leite Beta e Kappa Caseína, fatores cada vez mais considerados pela indústria. “A Kappa possibilita uma maior produção de queijo. Já alguns estudos apontam a Beta tipo 2 como ideal para impedir reações alérgicas e intolerância ao leite”, descreve. O catálogo da ABS Pecplan também conta com informações sobre os serviços técnicos oferecidos pela empresa e que podem aumentar o lucro e a produção nos rebanhos leiteiros. O material está disponível no
link: www.abspecplan.com.br/ catalogos/le2016/ e também com os representantes comerciais da empresa em todas as regiões brasileiras.
Zoetis
No Inovashow, portfólio completo para leite O Inovashow, promovido pelo Grupo Boa Fé-Ma Shou Tao, na Fazenda Boa Fé, em Conquista, MG, entre 16 e 17 de fevereiro, contou com participação e patrocínio da Zoetis. “Participávamos no antigo formato e não poderíamos ficar de fora dessa versão atualizada dos tradicionais eventos Ma Shou Tao Agrícola e Pecuária”, afirma o gerente de Contas Estratégicas – Bovinos Leite/Brasil, Luiz Celani. Um dos destaques foi o Imidofort B12, hemoparasiticida injetável para tratamento da anaplasmose e babesiose, enfermidades transmitidas pelo carrapato e insetos hematófagos e conhecidas como tristeza parasitária bovina. Zoetis, tel. 0800 01119.
MSD Saúde Animal
Tick Gard tem nova associação contra carrapatos A MSD Saúde Animal desenvolveu e acaba de lançar o Tick Gard, produto com associação de Fipronil 1,25% e
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Fluazuron 2,5% para controlar carrapatos em bovinos, tanto de leite quanto de corte. O primeiro princípio causa o efeito de knock-down, morte rápida, já o segundo age para que o ciclo de desenvolvimento de novos parasitas seja interrompido, conforme a empresa. “Um produto de formulação técnica eficiente é o que oferecemos para nosso cliente não sofrer mais com a questão de resistência parasitária no campo”, afirma o gerente de Produtos
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da MSD, Emerson Botelho. Como o problema está no ambiente, e uma fêmea do carrapato pode botar até 3 mil ovos em um ciclo, é preciso manter a ação do produto durante muito tempo. “Juntos, na dose certa, e com efeito combinado, Tick Gard ajuda a limpar o gado, proteger por muito tempo, aumentar a produtividade e lucratividade do nosso cliente”, comenta Botelho. Informações em www. msd-saude-animal.com.br.
oligo basics Uso de óleos essenciais na alimentação de vacas leiteiras O uso de óleos funcionais na alimentação de vacas foi tema de um evento realizado pela Oligo Basics em janeiro, em Carambeí e Castro, polos de produção leiteira no Paraná e referência em leite de qualidade. O evento, denominado 1º Encontro da Ciência Aplicada à sua Lucratividade e Sustentabilidade, abordou o uso desses óleos, que também é tema de duas teses de doutorado. Uma, conduzida sob orientação do professor Francisco Palma Rennó, da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP, e outra sob orientação do professor e pesquisador Arlindo Saran Neto, da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da USP. O evento, informa a Oligo Basics, que produz o aditivo para nutrição animal Essential, que é um óleo funcional, reuniu mais de cem participantes, entre produtores de leite e técnicos da região.
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Seguindo em Frente Ismail Ramalho Haddade*
A importância do técnico competente
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om o preço restritivo dos alimentos concentrados e a possibilidade da redução nos lucros, além do recuo no preço do leite, torna-se comum a dúvida: devo dispensar o técnico? Até quando precisarei dele na propriedade? Para iniciar a discussão, devo lembrar as sábias palavras do professor Vidal Pedroso ao comentar a respeito dos princípios para a produção eficiente de leite. São elas: 1) Analisar o que existe; 2) Pensar aonde se quer chegar; 3) Saber como fazer; 4) Planejar como fazer; 5) Controlar os fatores de produção, a renda e os custos. Estas são cinco diretrizes que qualquer técnico capacitado deveria seguir. Apesar de desconhecidas por muitos produtores, quando não são adotadas, elas põem em risco todo o esforço administrativo e o investimento, que pode passar a ser aplicado em fatores que não têm o poder de mudar a realidade da propriedade e a eficiência do produtor em ganhar dinheiro. Da mesma forma, parte da dúvida a respeito da manutenção do técnico na propriedade também se deve à desinformação a respeito dos detalhes envolvidos em cada decisão, ou em cada técnica escolhida e aplicada (o “saber como fazer”). Este desconhecimento pode resultar em frustrações, levando à ideia de que a técnica utilizada seja ruim. Um exemplo se dá pela avaliação do nível de conhecimento das pessoas envolvidas na produção (“Saber o que se tem”). De nada vale a adoção de um sistema de desmame precoce se as pessoas não estiverem preparadas para avaliar as condições de saúde das bezerras pós-desmame. Para este caso, a melhoria na eficiência da produção de leite comercializável seria prejudicada pelo atraso no crescimento dos animais jovens, e até mesmo pelo aumento da mortalidade, o que faz com que a técnica do desmame precoce seja erradamente interpretada pela geração de resultados negativos na produção das novilhas. De maneira semelhante, qualquer técnica empregada de forma inadequada será rejeitada em pouco tempo. Atualmente, o desenvolvimento dos sistemas
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baseados no manejo intensivo de pastagens representa interesse por grande parte dos produtores de leite. Nestas propriedades, sabe-se que a atenção ao retorno financeiro com o uso dos fertilizantes aumenta a cada dia. Assim, a eficiência no uso dos adubos nitrogenados parece ser um dos “pontos chave” para o sucesso com o uso da técnica dos piquetes. No entanto, será que é só definir a quantidade de adubo e simplesmente aplicá-la? Com certeza não. Aí existem diferentes informações que definem o “saber como fazer”, sendo decisivas no melhor uso deste nutriente pela planta. Com isso, este conhecimento é muito mais decisivo para o sucesso com o uso dos adubos, do que a decisão pela quantidade a ser usada.
Esclarecendo, ao avaliar as respostas na produção de forragem sob efeito da adubação nitrogenada, trabalhos atuais demonstraram grande variação quanto a seus resultados (valores de 5 a 89,2 quilos de matéria seca de pasto, para cada quilo de nitrogênio aplicado anualmente). Isso mesmo! A produção do pasto na situação onde a adubação foi mais eficiente chegou a ser quase 18 vezes maior! O fato explica muito da atual resistência ao uso das técnicas que, por sua condução errada, em vez de aumentar eficiência produtiva e financeira, resulta em frustrações e em uma visão de que a técnica não funciona. Por fim, o principal propósito deste artigo é chamar atenção para a responsabilidade na tomada de decisões, sendo necessária uma conduta competente para cada situação, além da filtragem das técnicas que seriam apropriadas para resolver cada problema que surge, e, finalmente, a detenção do conhecimento de como executá-las corretamente. Com isso, fica a mensagem de que o produtor recorra, e principalmente, valorize os técnicos competentes! n *Engenheiro agrônomo, professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo, câmpus de Santa Teresa
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