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Ao leitor
T
alvez a primeira entidade de produtores rurais a romper com o cartorialismo que por décadas tomou conta das organizações do setor foi a Associação Mato-grossense dos Produtores de Algodão, a Ampa. O hoje ministro Blairo Maggi foi um dos articuladores da sua criação e seu primeiro presidente. A partir do exemplo da Ampa, surgiu a Aprosoja MT, e daí pipocaram novas entidades Brasil afora. As duas associações provocaram uma pororoca nas antigas entidades patronais pelo profissionalismo, clareza de propósitos e ação política em defesa dos seus segmentos. Os ministérios da Agricultura, da Fazenda, do Planejamento, dos Transportes, entre outros órgãos governamentais e bancos públicos, tiveram que se mexer para atender às demandas dos produtores organizados. Para evitar as constantes viagens a Brasília, os agricultores se organizaram nos Estados e montaram suas sedes nacionais na capital federal – Abrapa e Aprosoja Brasil. Ali, executivos bem-preparados não dão descanso ao Executivo e ao Legislativo. E têm, ao longo do tempo, obtido várias conquistas. Conto toda esta história para saudar a criação da Associação Brasileira dos Produtores de Leite (Abraleite), inspirada exatamente na atuação das co-irmãs do agro. A entrevista de seu presidente, Geraldo Borges, é indicativa de que os produtores de leite enfim têm uma entidade combativa e atuante, focada em seus interesses. Sérgio de Oliveira
Mundo do Leite
Capa 4 Uruguai
12 Ameaça de suspensão das importações de lácteos assustou
Cooperativas
16 Frísia elege a gestão como foco principal em 2018
Produtor Secreto
18 Aprendendo com os erros: mas sem perder a esperança
Saúde animal
22 Papilomatose: uma doença cuja gravidade está na cara
Tecnologia
24 Com irrigação subterrânea produtividade se mantém o ano todo
Nutrição
28 Aminoácidos “protegidos” não são para qualquer rebanho
Silagem
30 Para não esquentar a cabeça no inverno, prepare o silo agora
Suplementação
31 Faça chuva ou sol, seus animais precisam de proteína e energia
Colunistas 8 Christiano Nascif: Quando flexibilizar o sistema de produção 10 Marcelo de Rezende enaltece a grandeza do leite 15 Sergio Saud: A hora certa de inseminar as suas vacas! 20 Alexandre Pedroso fala sobre o aleitamento de bezerras 34 Ismail Ramalho Haddade: Tecnologia não substitui conhecimento
É uma publicação bimestral da DBO Editores Associados Ltda., com circulação em fevereiro, abril, junho, agosto, outubro e dezembro.
Diretores
Daniel Bilk Costa, Demétrio Costa e Odemar Costa Diretor Responsável
Demétrio Costa Redação
Editor: Sérgio de Oliveira
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Ariosto Mesquita, Cris Olivette, Luiz Antonio Cintra, Niza Souza, Tatiana Souto
COMERCIAL/Marketing
Gerente: Rosana Minante
rosana@midiadbo.com.br EDITORAÇÃO
Edson Alves Coordenação Gráfica
CONSULTOR TÉCNICO/ZOOTECNISTA
Tiragem e circulação auditadas
Arte
Editor Edgar Pera
sergio.oliveira@mundodoleite.com.br
Colaboradores
Entrevista Geraldo Borges, presidente da Abraleite, fala sobre os projetos de interesse do produtor de leite que estão no Congresso e analisa a representação política do setor.
Executivos de Contas
Andréa Canal, José Geraldo Caetano, Maria Aparecida de Oliveira, Mario Vanzo, Marlene Orlovas e Vanda Motta Impressão e Acabamento
Walter Simões
São Francisco Gráfica e Editora
Circulação e Assinaturas
DBO Editores Associados Ltda.
Gerente: Margarete Basile
Rua Dona Germaine Burchard, 229 Perdizes, São Paulo – SP – 05002-900 Tel.: 11 3879-7099 e 3803-5500 - www.portaldbo.com.br e-mail:redacao@mundodoleite.com.br
Mundo do Leite – fev/mar 2018
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Entrevista Geraldo Borges*
A nova voz do leite
C
om uma vida política ativa, Geraldo Borges, 47 anos, já foi por duas vezes presidente do Sindicato Rural de Brasília - hoje é vice-presidente da entidade e conselheiro da Associação Nacional do Girolando e da Federação da Agricultura do DF, além de produtor rural no Pará e em Minas Gerais. Foi assistindo ao protagonismo de entidades como a Aprosoja que surgiu a ideia de montar uma associação que “realmente representasse os produtores de leite”. Em julho de 2017 nasceu a Abraleite, entidade da qual Borges é o primeiro presidente.
*Presidente da Abraleite
Mundo do Leite - Qual é a pauta para 2018? Geraldo Borges - Em termos de Congresso Nacional, a gente vai ter uma luta grande. São dez Projetos de Lei que dizem respeito ao leite e que beneficiam produtores de todo o Brasil. Vamos trabalhar muito em cima da aprovação desses projetos. Alguns já estão no Senado, outros estão pra sair da Câmara para o Senado…
duzem leite e acabam concorrendo com o Brasil não têm - como também nós temos um Código Florestal rigoroso, e eles não têm. Existem diferenças muito grandes e as regras comerciais da OMC não permitem isso, mas o Mercosul está deixando acontecer. Os projetos em andamento vão buscar essa equivalência, e isso vai fazer com que o Uruguai, por exemplo, deixe de mandar leite para o Brasil por um bom tempo até se adequar às nossas condições.
ML - O senhor pode destacar os mais relevantes? GB - Tem um projeto de lei que já está no Senado e outro muito parecido na Câmara que obrigam que tenha uma paridade de condições entre os países do Mercosul para que o produtor brasileiro não seja penalizado. Nós temos uma cascata enorme de impostos que eles não têm - Argentina não tem, Uruguai e outros países que pro-
ML - Quais os outros? GB - Um outro projeto obriga a utilização da palavra leite somente para produtos que são exclusivamente leite. Leite de soja, leite de coco, leite de arroz, leite de amêndoa não poderiam mais usar a palavra leite. E também aqueles produtos mistos, vendidos em caixinhas, para crianças, onde existe uma série de outros produtos misturados. Às vezes o leite é o menor ingrediente do pro-
4
Mundo do Leite – fev/mar 2018
duto. Nosso objetivo não é atacar ninguém, e sim criar uma organização na cadeia produtiva, porque tem profissionais falando mal do leite e certamente quem tem interesse em vender um produto que substitui o leite é que está por trás disso. Isso engana o consumidor, levado a consumir um produto que não é verdadeiramente leite, através da utilização errada da palavra. Essas indústrias que produzem esses produtos possivelmente são as que patrocinam médicos e outros palestrantes que têm falado mal do leite de vaca, às vezes sem nenhum tipo de comprovação científica. ML - Algum outro projeto que o senhor destacaria? GB - Todos os projetos que estão em tramitação são importantes, mas destaco o projeto que altera a única lei que trata especificamente do leite, a 12.669, de 2012, porque ela é inócua. Queremos torná-la eficaz.
ML- Como assim? GB - Hoje ela apenas diz que as empresas deverão informar a cada dia 25 o valor que irão pagar pelo leite. O projeto tinha uma abrangência muito maior: obrigava a existir contrato de fornecimento de leite, coisa que não há. Isso gera uma insegurança muito grande. Se não tem contrato não tem nem aviso prévio, então elas dizem “a partir de hoje não busco mais seu leite”. É assim que funciona o mercado hoje. Essa obrigatoriedade existia no projeto, mas na aprovação da lei, como não existia uma Abraleite para cuidar disso, houve gestão dos laticínios e conseguiram retirar do projeto partes importantes como a obrigatoriedade do contrato, a obrigatoriedade de 60 ou 90 dias de aviso prévio, a obrigatoriedade de realmente informar um preço verídico e não vir com subterfúgios, como o de dizer “Vamos pagar 30 centavos o litro de leite, mas, se tiver qualidade, pode ganhar mais 20 centavos”... Criam escala de exigências. Por exemplo, criam uma tabela de volume: para quem entregar até mil litros o preço é X, de mil a cinco mil litros é Y, de cinco mil pra cima é Z. A grande maioria das indústrias coloca lá na fatura quanto vai ser o leite fornecido nos próximos dias, seguindo essa lei, mas acharam subterfúgios: deram um preço ao leite-base, de 30 a 40 centavos, e o resto o produtor fica a ver navios. São metas inatingíveis de qualidade, de volume, etc. A gente quer retirar esses subterfúgios também. Moralizar a cadeia produtiva. ML - Mais algum destaque? GB - Existe um projeto de lei que estava parado há quatro ou cinco anos na Câmara e a Abraleite conseguiu que fosse aprovado e encaminhado ao Senado. Ele proíbe a aquisição via governos - estaduais, prefeituras e governo federal - de todos os produtos lácteos - leite, leite em pó, soro, bebida láctea, iogurte, queijo, etc -, produzidos por outros países. Essa lei, inclusive, acabaria com o excesso de leite que veio do Uruguai, o descontrole das importações do Uruguai - não existe nenhum tipo de cota de importação, o que acaba ajudando a complicar mais nossa cadeia produtiva.
ML- E as demandas no executivo? GB - Algumas começaram a ser atendidas. Dentre elas a desoneração da cadeia produtiva, principalmente do produtor de leite. Essa desoneração deve ser feita de várias formas. Por exemplo: hoje nós pagamos de 50% a 75% de imposto sobre equipamentos, implementos e insumos, enquanto o Chile paga 3%. Aquele robô que faz a ordenha, no Brasil são 75% de impostos, no Chile chega apenas a 3% de impostos. Não tem como ser competitivo com um Custo Brasil desses nas costas. O país precisa ter, seja sob forma de incentivo fiscal, seja sob forma de baixar o imposto, condições de competir em igualdade de condições. Também pedimos que no Plano Agrícola e Pecuário o leite fosse tratado com mais atenção, com prazos maiores de carência e taxas menores, entre outros pleitos. ML - Qual a sensibilidade do governo a esses pleitos> GB - Eles dizem que existe sensibilidade, mas que no momento os governos estaduais e federal estão com dificuldade e não podem abrir mão de arrecadação. Mas tem que se criar maneiras. Se não criar, vai ser sempre pelo Legislativo. Por exemplo, nas rações para bovinos já caminhou, é um dos projetos que falei, passou pela Câmara e agora deve estar indo pro Senado, que prevê a redução de impostos nas rações. Isso geraria uma economia de 9% para o produtor. Quando a gente percebe que o Executivo não vai resolver nós procuramos o Legislativo. Um outro projeto que está bem adiantado é o do queijo artesanal, porque ele viabiliza um ganho econômico, uma agregação de valor ao leite dos pequenos produtores. Um número grande de produtores faz queijo, em torno de 200 mil em todo o país. Eles não têm como ter ganho em escala, em volume de leite, então a maneira que eles têm de sair dessa crise é agregar valor no seu produto. Esse projeto viabiliza que qualquer queijo produzido artesanalmente em qualquer região do país possa ser comercializado em todo o país. Para não acontecer o que aconteceu no Rock`n Rio
Nós pagamos 75% de impostos sobre equipamentos, no Chile é 3%. Ninguém suporta esse Custo Brasil” com o queijo da Canastra, que é um queijo altamente respeitado, e que teve que ser descartado, jogado fora, por uma questão de legislação falha. O queijo era de excelente qualidade mas não tinha autorização para ser comercializado fora de Minas. ML - Como o senhor vê a questão da assistência técnica no Brasil? GB - Nós procuramos a Associação Brasileira das Entidades Estaduais de Assistência Técnica e Extensão Rural (Asbraer) logo após a criação da Abraleite, em julho de 2017. Iniciamos uma parceria e agora em janeiro tivemos uma reunião com o objetivo de aproximar todas as Emateres do país dos produtores de leite. A intenção é fazer um trabalho conjunto de melhoria da assistência técnica aos produtores de todo o Brasil. A gente sabe que tem algumas unidades que funcionam bem, como a de Minas, a do Distrito Federal, mas tem muitas que estão sucateadas, com problemas. Estamos solicitando aos estados e ao governo federal que essas Emateres que estão sucateadas tenham algum tipo de avanço e possam oferecer um serviço constante de assistência técnica ao produtor, com metodologia, com visitas, com supervisão. O pequeno precisa crescer, melhorar a produtividade, a qualidade, nós temos números que precisam ser melhorados no país como um todo. ML - Por que foi criada a Abraleite? Mundo do Leite – fev/mar 2018
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Entrevista GB - Este é um assunto muito delicado, porque existiam e existem entidades que atuavam e atuam, não de maneira exclusiva, com o assunto leite. Mas atuavam e atuam como representantes de classe. Podemos citar a CNA e a OCB a nível nacional e podemos citar as cooperativas e as federações de estados. E os sindicatos também, a nível municipal. Representantes têm muitos. O objetivo da Abraleite não foi vir para tomar espaço nem substituir nenhuma dessas entidades. Nosso objetivo, a nossa visão e o nosso papel é de vir completar, somar a essas entidades, tanto que no nosso quadro associativo existem centenas de sindicatos filiados - não só os presidentes, diretores, mas a própria entidade filiada, em praticamente todos os estados. Nós temos algumas federações de Agricultura que já se filiaram, várias cooperativas, várias associações regionais de produtores (várias Aproleites Brasil afora) e isso mostra que a gente veio criar realmente uma união no setor. É uma entidade que fala leite, respira leite 24 horas por dia, 365 dias por ano. Talvez essas outras entidades não possam fazer isso com exclusividade porque elas atuam em defesa de vários segmentos produtivos. Como nós, existem várias outras associações de cunho nacional que estão trabalhando e lutando pela defesa do produtor específico daquela atividade. Posso citar a Abramilho, a Aprosoja, a Aprotrigo, Abrapa, do algodão, e por aí vai. Nós não estamos inovando. Na verdade nós estamos correndo atrás do tempo perdido. ML - Mas havia, e há ainda, a Leite Brasil… GB - A Leite Brasil... Inclusive ela tem o nome de Associação Brasileira dos Produtores de Leite também. A Abraleite tem diferenciais em relação à Leite Brasil que fizeram com que a gente criasse essa entidade. Um deles é não ter vínculos com empresas de laticínio, e a Leite Brasil sempre teve, até no seu próprio estatuto. Ela sobrevive com arrecadação advinda de sete laticínios. Não que a Abraleite tenha os laticínios como inimigos, de maneira nenhuma, é um elo importante da cadeia, tanto quanto os 6
Mundo do Leite – fev/mar 2018
Não podemos ter a indústria nas decisões da associação que representa os produtores de leite do país”
diretoria que a gente estava montando, que a sede poderia ser transferida de São Paulo para Brasília, mas quando esbarrou na participação dos laticínios não deram nem resposta pra nós. A diretoria que estávamos criando aqui e os sócios-fundadores não aceitariam continuar recebendo dinheiro dos laticínios. “Ah, mas o laticínio debitou da conta do produtor…” Não interessa. Passou pela mão do laticínio, o laticínio fez essa gestão do dinheiro e essa entidade tem uma satisfação a dar a esses laticínios. Dessa forma ela não representa única e exclusivamente os produtores de leite.
produtores, o varejo e o atacado, mas que precisa cuidar das suas associações e deixar que os produtores cuidem das suas entidades. Nós não podemos ter nas decisões da associação que representa os produtores de leite a indústria, que, na maior parte das vezes, taxa o produtor até de ignorante. E a nossa classe é muito desunida e muito desorganizada, grande parte até desinformada. A ponto de, nesses anos todos, não ter tido representação. Nenhum produtor de leite do Brasil se sente representado pela Leite Brasil. Isso eu digo no presente, nos últimos anos. Ela começou atuando bem, o Jorge Rubez teve um papel importante, mas ela se perdeu no tempo. Talvez a gente entenda que ela caiu nesse anonimato, nessa fase ruim, podemos dizer de 2006 para cá, justamente pelo fato de ela ter esse envolvimento com os laticínios e não um envolvimento a nível nacional como a Abraleite. Nós somos milhares de associados em pouquíssimos meses. Nós tivemos o cuidado de trazer para nossa entidade produtores de todos os níveis, de todas as escalas de produção, da agricultura familiar aos maiores do Brasil. Eu e os 532 sócios-fundadores da Abraleite não nos sentíamos representados. Se uma entidade nasce com essa quantidade de sócios-fundadores é porque a classe está pedindo para ser representada, né? Houve um diálogo com a Leite Brasil, o próprio Jorge Rubez fez uma proposta para que fundíssemos, e não criássemos a Abraleite, mas não foi aceita porque a proposta dele era que poderia ser a
ML - Como funciona a Câmara Setorial do Leite? GB - A gente percebe que há visões antagônicas, opiniões antagônicas e defesas antagônicas principalmente dentro do governo federal quando se fala em Câmara Setorial do Leite. A indústria está super-bem representada lá, enquanto que nós, produtores, estamos pouquíssimamente representados. O número de entidades que representa a indústria é três vezes maior do que o número de entidades que representa os produtores, isso dentro da nossa casa, o Ministério da Agricultura. Será que não existe algo errado? A gente começa a entender que as decisões sempre foram tomadas em prol da indústria e nunca em prol do produtor e nem em prol da cadeia produtiva. Usaram esse termo cadeia produtiva errado durante anos, né? E quando se aperta falam que é o varejo, que é o atacado que detona. Eles devem ter também um trabalho difícil, mas essa ponte quem faz é a indústria, não é outro elo que faz essa ponte entre o produtor e o comércio. Nós produtores precisamos ter postura, precisamos ter posição. Tem momentos que nós vamos ser parceiros mas tem momentos que nós vamos impor respeito. É a única atividade em que o dono do produto não põe preço e não põe prazo de pagamento. Isso não existe. Temos amizade, temos respeito, porém precisamos mudar isso, e vamos mudar. Somos mais de 1 milhão de produtores, a maior categoria de produtores rurais do país, e não podemos ficar de braços cruzados.
Gestão Christiano Nascif Zootecnista, coordenador de assistência do Pdpl-RV do Projeto Educampo/Sebrae e proprietário da Labor rural. E-mail contatos@laborrural.com, tel. (31)3899-5251
Flexível ou Inflexível?
O
comportamento dos preços do leite pagos aos produtores, nos últimos 24 meses, mostrou-se assimétrico e com picos e vales extremos, o que não foi novidade para quem atua na cadeia láctea. Isso confirma a importância da adoção de sistemas flexíveis de produção de leite. O que são sistemas flexíveis de produção de leite? São aqueles que permitem ao produtor de leite ajustar, com maior rapidez e facilidade, os seus custos de produção, de acordo com as mudanças de cenário no mercado de preços de leite e de insumos. Quando os preços estão aquecidos, em alta, podemos desafiar mais o rebanho, usar insumos nobres, operando com um custo de produção um pouco mais elevado e sem perder eficiência.
Indicadores anuais para as propriedades participantes do Projeto Educampo Leite, divididas em relação ao percentual do preço de venda do leite comprometido com o pagamento dos Custos Operacionais Efetivos (COE) < 60 % COE/Preço
60 -70% COE/Preço
70 - 80% COE/Preço
80 - 90% COE/Preço
73
122
106
77
Produção média de leite (L/dia)
1.263
1.550
1.594
1.465
Produção / Vacas em lactação (L/dia)
17,39
18,21
18,78
17,57
Preço médio do leite (R$/L)
1,41
1,41
1,37
1,37
Custo operacional efetivo do leite (R$/L)
0,77
0,92
1,02
1,15
Indicadores Anuais
Amostra
Custo total do leite (R$/L)
0,98
1,12
1,21
1,35
COE do leite/preço do leite (%)
54,47
65,45
74,43
83,97
Gasto com volumoso na atividade / RB da atividade (%)
8,15
9,74
11,40
12,48
Fonte: SEBRAE/EDUCAMPO - Dados: outubro/16 a setembro/17, deflacionados pelo IGP-DI de outubro de 2017.
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Mundo do Leite – fev/mar 2018
Quando os preços estiverem em baixa, é necessário ajustar o manejo e os gastos com insumos à nova realidade. O equilíbrio entre as despesas e as receitas é fundamental para a sobrevivência do produtor. O que determina a flexibilidade de um sistema de produção não é o modelo adotado e, sim, como esse modelo é administrado. Podemos ter flexibilidade em todos os sistemas de produção: confinado (Compost Barn, Free Stall), semiconfinado ou extensivo (a pasto). Lembramos que extensivo, neste caso, não significa extrativismo, pois podemos ter modelos extensivos a pasto, por exemplo, com uso intensivo de tecnologias, de irrigação, com altos níveis de adubação e de produção de leite, por hectare, por ano. Partindo do princípio de que os gastos com alimentação constituem o item que mais permite flexibilização, entendemos que isso ocorra em todos os sistemas. Alimentação é o item que mais pesa no bolso do produtor de leite. Para cobrir as despesas com alimentação, concentrado, volumoso e minerais utilizamos 40% a 60% de toda a renda obtida com a atividade leiteira. Muito importante, não acham? Em todos as sistemas (confinado, semiconfinado ou a pasto) a dieta do rebanho deverá ser flexibilizada conforme o retorno econômico e financeiro que os animais proporcionarem, principalmente as vacas em lactação. Quanto mais eficiente for a relação benefício-custo, maior poderá ser o investimento em alimentação. O retorno com incremento na produção de leite gera, proporcionalmente, maiores receitas. É a proposta para investir com eficiência. A vaca submetida a uma dieta nababesca, no primeiro lote, é a mesma que será submetida a uma dieta franciscana, quando estiver no terceiro ou no quarto lote. O investimento deverá ser proporcional
ao retorno. Entenderam por que afirmamos que em qualquer sistema há espaço para flexibilização? Produtor de leite que não faz controle, no mínimo, mensal, não divide nem separa os lotes das vacas em lactação de acordo com o escore corporal, reprodução, estágio de lactação e produção de leite, certamente está perdendo dinheiro. Da mesma forma que a flexibilização deverá respeitar os critérios acima, deve ser considerado também o preço do leite e dos insumos que estão sendo utilizados. A conjugação e harmonização de todos esses fatores levam ao equilíbrio das receitas e despesas da melhor forma possível, respeitando os critérios técnicos e priorizando as prerrogativas econômicas e financeiras. Não há nenhuma racionalidade técnica e econômica em mantermos os mesmos gastos com a dieta quando, por exemplo, o preço do leite estiver na faixa de R$1,80/l e cair para R$1,10/l. Se não ajustarmos os gastos às receitas, a tendência é operar com grandes prejuízos. Análise Analisamos os dados obtidos por 378 produtores, participantes do Educampo Leite em Minas Gerais, no período de outubro/2016 a setembro/2017, com todos os dados econômicos deflacionados pela IGP-DI de outubro/2017. Observem no quadro acima, que os produtores que ganharam mais dinheiro, no referido período, foram aqueles que comprometeram, no máximo, 70% (faixa ideal) da receita obtida com a venda do leite, para cobrir as despesas com o custo operacional efetivo, ou seja, com alimentação, reprodução, mão de obra contratada etc. Aqueles que comprometeram acima de 70% ganharam menos dinheiro ou operaram com prejuízo econômico. Outra observação importante é que o volume médio de leite e a produtividade média das vacas em lactação, nos rebanhos dos quatro grupos analisados, foram praticamente os mesmos, ou seja, não foram esses resultados que influenciaram no final e na diferença entre os grupos de produtores analisados. Avaliando o mesmo quadro de indicadores, o atento leitor desta coluna irá perceber que o maior preço médio recebido pelo leite foi R$1,41/l e o menor, R$1,37/l. Uma diferença de R$0,04/l, ou seja de 3%. Por outro lado, a diferença do menor custo, R$ 0,98/l, para o maior, R$ 1,35/l, foi de R$ 0,37/l, o que representa 27,5%. Não foi coincidência o grupo de produtores que conseguiu produzir por um custo menor ganhar mais dinheiro do que o grupo que produziu
Taxa de Remuneração do Capital com Terra e Lucratividade Operacional para as propriedades participantes do Projeto Educampo Leite divididas em relação ao percentual do preço de venda do leite comprometido com o pagamento dos Custos Operacionais Efetivos (COE)
Fonte: SEBRAE/EDUCAMPO - Dados: Outubro/16 a Setembro/17, deflacionados pelo IGP-DI de Outubro de 2017.
a um custo muito maior. O grupo de menor custo alcançou um lucro médio, por propriedade, de R$ 186.755/ano e uma rentabilidade do negócio leite, incluindo o capital investido em terra, de 12,29% ao ano. Nada mal, não acham? O menor custo não só levou às maiores rentabilidades, como também às maiores lucratividades. Quanto maior a lucratividade, menor o risco de operar com prejuízo. O grupo com o menor custo obteve uma lucratividade, no período, de 31,87%, contra o grupo de maior custo, que foi de 4,50%. Isso significa que o grupo de maior eficiência e menor custo suporta uma queda de preço ou uma queda de volume de produção ou um aumento dos custos em até 31,87%, pois, mesmo assim, não operariam no prejuízo. Enquanto isso, para o grupo de maior custo esse fôlego foi de apenas 4,50%. Muito pouco não acham? O risco de perder dinheiro com a atividade leiteira é muito grande. Por isso insistimos: a atividade leiteira é muito atrativa para quem é eficiente e pouco ou nada atrativa para os ineficientes, como em qualquer negócio. Diante desses números, esperamos que os argumentos tenham sido suficientes para convencer o caro leitor sobre a importância de trabalhar com sistemas flexíveis de produção de leite. E o seu sistema de produção, caro produtor ou produtora de leite, está flexível ou inflexível?
A dieta do rebanho deverá ser flexibilizada conforme o retorno econômico e financeiro dos animais”
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Ação Ideal Marcelo de Rezende
Engenheiro agrônomo especializado em sistemas intensivos de produção de leite e corte e diretor-presidente da Cooperativa para Inovação e Desenvolvimento de Atividade Leiteira (Cooperideal), e-mail marcelo@cooperideal.com.br
O leite e sua grandeza!
O
O leite pode e deve continuar sendo uma das principais fontes de trabalho e renda do país”
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agronegócio é responsável por aproximadamente ¼ do Produto Interno Bruto brasileiro. De acordo com balanço da CNA, o PIB do agronegócio é de quase 1,5 trilhão de reais. A atividade leiteira é um dos destaques desse Brasil que dá certo, crescendo cada vez mais em importância econômica para o país. Atualmente o Brasil produz ao redor de 35 bilhões de litros de leite anualmente, responsável pelo sustento de mais de quatro milhões de trabalhadores que compõem sua cadeia produtiva, no campo e na cidade. Nenhuma outra atividade, seja ela rural ou urbana, emprega tanto quanto a cadeia láctea. Para se ter uma ideia da grandeza e da importância social e econômica da atividade, a indústria automobilística, com toda sua robustez, emprega bem menos, 132 mil pessoas. É cada vez mais acelerado o aumento no número de fazendas de grande porte no país, fato que tem contribuído para o aumento da produção e da qualidade do leite produzido. Mas o leite não é só para os grandes; milhares de pequenas e micro propriedades, de base familiar em sua maioria, também têm contribuído com o desenvolvimento da atividade leiteira. Podemos citar o caso de uma pequena propriedade do sudoeste paranaense, que com acompanhamento técnico da Cooperideal evoluiu de uma produção inicial de 30 para mais de 300 litros/dia em 2013, em uma área total de 4,5 ha, e que conseguiu, naquele ano, uma sobra financeira mensal de R$ 3.803,32 (R$ 45.639,87/ano). Este ganho obtido, apesar de parecer pequeno, era duas vezes superior à renda média das pessoas ocupadas no setor privado na região metropolitana
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de São Paulo, onde o ganho mensal em 2013 era de R$ 1.924. Com a sobra mensal obtida no leite na época, o produtor poderia contratar um paulistano para trabalhar em sua propriedade e ainda teria como sobra um ganho superior ao salário médio de R$ 1.847,80 de um carioca. Além do valor embolsado, esta família teve como ganho outros R$ 10.180 que foram investidos no pagamento de financiamentos obtidos durante o processo de estruturação da fazenda, principalmente para aquisição de animais e equipamentos. O patrimônio como um todo cresceu 254% em 8 anos, saindo de R$ 85.885 para R$ 218.115. Mesmo com uma evolução patrimonial tão significativa, a remuneração sobre o valor do patrimônio ainda foi de 12,5% no ano. A propriedade que anteriormente utilizava quase a totalidade de sua renda para o pagamento de despesas de custeio (94,8%), com a evolução técnica passou a gastar somente 47%. A margem bruta por área, obtida pela diferença entre a margem bruta anual e o salário anual do produtor e dividida pela área utilizada na atividade (4,5 ha), foi de R$ 9.495,53 /ha/ano, demonstrando o potencial de geração de renda do leite em áreas de produção intensificada. Apesar da diferença de níveis tecnológicos entre as diversas unidades produtoras, é possível afirmar que o leite pode e deve continuar sendo uma das principais fontes de trabalho e renda para o país. À medida que forem eliminados gargalos relacionados à infraestrutura básica, como fornecimento de energia elétrica de qualidade e melhoria das estradas, a atividade terá um protagonismo ainda maior no desenvolvimento do país.
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Uruguai
Vizinho assustado A ameaça brasileira de suspender as importações de leite do Uruguai contribuiu para aumentar a insegurança do setor naquele país
Cesar Perera, produtor familiar uruguaio, ficou preocupado com a notícia
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Luiz Antonio Cintra
À
frente de um pequeno tambo familiar de 25 hectares, o produtor de leite Cesar Perera levou um susto quando soube, em outubro passado, que o governo brasileiro ameaçava limitar as compras de leite de seu país, o Uruguai. “Ficamos surpresos com a notícia da suspensão das importações. Deixar de vender para o Brasil seria muito ruim para nós, ainda mais nesse momento. A preocupação foi grande, mas parece que o problema já foi resolvido”, diz Perera, atualmente com 60 vacas em produção, de um total de 100 animais e média de 15 litros/vaca/dia. Arrendatário de um programa do governo federal, Perera está instalado na região sudoeste do Uruguai, na Colônia Fernandez Crespo, a cerca de 95 km de Montevideo. Paga anualmente US$ 80 por hectare para usar as terras (não tem o direito de posse), valor que considera
Mundo do Leite – fev/mar 2018
“muito baixo”, comparado ao das terras privadas, arrendadas atualmente pelo dobro do valor, segundo ele. Com uma margem de lucro de cerca de 12%, o produtor uruguaio tem vendido o litro do leite a 33 centavos de dólar. Trabalhando com a esposa, Moriana, e a ajuda esporádica do filho, Damian, estudante de 13 anos, Perera deseja ampliar a produção, mas vê empecilhos. “O maior problema é a baixa rentabilidade. E a mão de obra assalariada é um custo importante”, diz o produtor. “Queremos crescer, mas precisamos de estímulo, inclusive porque a mão de obra só vale a pena para quem tem ao menos 100 vacas em lactação”, diz Perera. Na área que utiliza, ele produz apenas pasto para o gado. Aproveita a condição de sócio-cooperado da Conaprole para comprar os insumos por meio de um braço da cooperativa, a Proleza, responsável por fornecer os insumos veterinários e para alimentação. Perera é secretário da Asociación Nacional de Productores Lecheros (ANPL), hoje com cerca de 2 mil associados. Para ele,
Natalia Barboza, do Ministério da
poder exportar para o Brasil é um dos principais incentivos para se manter na atividade. “É como um irmão maior com quem você pode contar”, argumenta.
Agropecuaria, criticou a atitude brasileira: “Afetou as expectativas
Poucos clientes No último trimestre de 2017, a produção de leite voltou a crescer no Uruguai, após três anos seguidos de queda. Hoje, é de cerca de 2 bilhões de litros anuais, dos quais aproximadamente 1,4 bilhão de litros são exportados (cerca de 1 bilhão para o mercado brasileiro). O pequeno país vizinho, parceiro do Mercosul, já foi o sétimo colocado no ranking mundial de exportadores, mas viu sua posição abalada pela crise do setor. No ranking de 2016 do site WTEx, aparece em 16º lugar. O Brasil, com seus 35,4 bilhões de litros produzidos ao ano, ficou na 25ª posição entre os exportadores. A sensação de alívio dos uruguaios pelos sinais de recuperação do mercado lácteo durou pouco. Em outubro do ano passado, após afirmar que iria apurar denúncias sobre a suposta entrada de leite argentino disfarçado de leite uruguaio (já descartada), o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, anunciou a suspensão das licenças para importação de leite do Uruguai. Pode-se imaginar o desastre vislumbrado por Perera – e pelo restante dos produtores de leite uruguaios. A medida de Maggi chegou quando a presença dos lácteos uruguaios no mercado brasileiro refluíra: de janeiro a outubro, acumulava queda de 28%, na comparação com o mesmo período de 2016, devido à maior oferta interna de leite. Mas a iniciativa mandou o sinal que os produtores brasileiros esperavam do governo, que, assim, demonstrava estar atento ao momento ruim do setor. A ação do governo brasileiro também serviu para expor o risco de o Uruguai depender de poucos importadores. Primeiro houve a retração da Venezuela, país que já foi o principal importador de leite do Uruguai, por conta da crise econômica. Agora a ameaça do Brasil, que ocupou o vácuo venezuelano. O Brasil comprou 61% das exportações de lácteos uruguaios em 2016. Assunto delicado A grita brasileira chegou em um momento complicado, especialmente para a indústria uruguaia. “Depois do aumento da oferta puxada pelo aumento dos preços e alguma bolha especulativa, muitos produtores acreditaram que os preços permaneceriam em níveis recordes e se endividaram para ampliar a produção”, afirma a economista Natalia Barboza, da Opypa (Oficina de Programación y Políticas Agropecuarias), órgão que assessora o Ministério da Agropecuária do Uruguai.
da cadeia produtiva”
No relatório anual divulgado em dezembro, a economista da Opypa afirma que o endividamento dos produtores chegara, em setembro de 2017, a US$ 333 milhões, o equivalente a 48% do faturamento previsto para o ano, com inadimplência estável, de cerca de 3%. No caso da indústria, o estoque da dívida era de US$ 223 milhões – alta de 17% e inadimplência bem maior, de 16%. “Para os produtores, a posição brasileira gerou incertezas, acabou se somando aos problemas internos que já enfrentavam. Não creio que se exportou menos por causa disso, mas certamente afetou as expectativas da cadeia produtiva. Foi uma medida unilateral, rápida, tivemos alguma dificuldade para entender a sua motivação. Acreditamos que havia pressões internas, que não chegamos a compreender completamente. De qualquer forma, não há lugar para cotas dentro do Mercosul”, diz Natalia. A suspensão intempestiva das importações pelo Brasil é um assunto ainda hoje delicado para produtores, laticínios e representantes dos dois governos. “Como criar cotas para o Uruguai, se somos sócios no Mercosul?”, pergunta um profissional brasileiro ligado ao setor, que prefere não se identificar. Algumas vezes citado como exemplo, o caso da Argentina é bem diferente – as cotas temporárias resultaram de um acordo privado entre os dois países, não imposto por uma das partes. Hoje limitada a 54 mil toneladas ao mês (ampliáveis em mais 5 mil toneladas, em caso de necessidade), a oferta argentina deixará, no entanto, de ficar sujeita às cotas a partir de maio, conforme previa o acordo original. O sentimento velado entre os produtores uruguaios para não criar atritos com o principal cliente é de que o Uruguai foi pego como chivo (bode) expiatório. Laticínios No relatório anual da Opypa, dois pontos chamam a atenção de cara. Além do peso brasileiro como principal mercado comprador, há também uma forte concentração em dois laticínios uruguaios. A Conaprole, maior cooperativa do país que responde por 75% da captação, Mundo do Leite – fev/mar 2018
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Uruguai
Martin Berruttti, gerente comercial da empresa de lácteos Estancias del Lago
comercializou, no ano passado, 82% do leite em pó integral, equivalentes a US$ 213 milhões, entre janeiro e outubro. Em segundo lugar, com 12% das vendas, aparece a Estancias del Lago, apontada como a grande novidade da cadeia leiteira uruguaia, por causa da integração vertical entre produção primária e processamento industrial. Localizada em Santa Bernardina, no Sudoeste do Uruguai, a Estancias del Lago tem ganho posições na pauta de exportação do país, sendo um exemplo do esforço para ganhar competitividade e ampliar o leque de destinos para a exportação, os dois pontos centrais da cadeia láctea uruguaia. Neste momento Martín Berrutti, gerente comercial da Estancias del Lago, prospecta novos clientes, que ele prefere chamar de parceiros, mundo afora, com destaque, claro, para o Brasil. “Temos uma estrutura inédita na América do Sul, com a integração da agricultura, com
37 mil hectares destinados à alimentação do gado, além do tambo e da planta industrial, tudo em um mesmo espaço”, diz. “Já exportamos para 25 países, principalmente porque possuímos uma matéria-prima de excelência, o que nos permite ter um produto final premium. Já fomos auditados pelos maiores players do mercado internacional de leite, inclusive do Brasil”, diz Berrutti. Atualmente a Estancias del Lago possui cerca de 13 mil vacas próprias em produção. “A nossa planta industrial está a apenas 150 metros do tambo, totalmente mecanizada, o que confere uma qualidade excepcional ao leite que produzimos. Não exportamos para muitas indústrias, mas apenas para aquelas que valorizam nossa produção”, diz Berrutti. Ano positivo Na avaliação do executivo, 2018 será um ano positivo para a cadeia leiteira. “Quando o preço do petróleo sobe, sobem os preços internacionais do leite, pois esses países exportadores de petróleo são fortes importadores de leite: Rússia, Argélia, Arábia Saudita, Emirados Árabes e mesmo Venezuela, que lamentavelmente segue fora do mercado”, diz. “Em 2018 teremos preços melhores, com leves ajustes ao longo do ano”, afirma. “Não somos um player massivo, não causaremos prejuízos a ninguém nem temos volumes importantes. Além disso. diversificamos as exportações. O Brasil é um mercado muito importante, mas, por uma questão estratégica, buscamos outras alternativas também”, afirma o executivo.
Foco no alvo errado Para o pesquisador Glauco Carvalho, da Embrapa Gado de Leite, o mercado brasileiro deveria deixar de se colocar numa postura defensiva. “Temos de ir num sentido pró-mercado, estamos já há algum tempo falando da proteção da nossa indústria, do nosso mercado, e deixando coisas importantes fora da discussão, fugindo da pauta para a indústria de laticínios ficar em uma situação semelhante à dos grãos no Brasil. Precisamos atacar os problemas estruturais, como as distorções tributárias, para dar maior competitividade aos produtos brasileiros, não criar cotas”, afirma Carvalho. “Precisamos lembrar que estamos participando da OMC, qualquer negócio ou acordo que possa ser entendido como interferência indevida ao livre-
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Mundo do Leite – fev/mar 2018
-comércio poderá resultar em advertência ou penalização”, diz Carvalho. As variações de preços recentes demonstrariam, diz o pesquisador, o desencontro entre oferta e demanda. Em 2016, a variação dos preços, entre o mínimo e o máximo ao longo do ano, foi de 50%, e de 30% em 2017, menciona Carvalho, ante média histórica de 12% a 15%. “Ocorre que 2015 foi um dos piores anos em termos de rentabilidade para os produtores, o que fez a produção cair no Brasil por dois anos seguidos. Em 2016 faltou leite, mas a indústria conseguiu repassar os preços maiores. Em 2017, o ano foi ruim para a indústria, que não conseguiu repassar”, diz o pesquisador. “No primeiro semestre, o consumo caiu 4,5% e a produção subiu 3,5%, foi um des-
Glauco Carvalho, da Embrapa Gado de Leite: “Precisamos atacar os problemas estruturais”
compasso. No terceiro trimestre de 2017, segundo dados da Nielsen, o consumo subiu 2,6%, então a reação já começou. Estamos com um cenário de reação moderada, com a economia ainda saindo do buraco”, diz Carvalho. Para o pesquisador da Embrapa, uma dose maior de concentração do setor de laticínios seria benéfica por conferir maior poder de negociação junto às grandes redes de varejo.
Genética Sérgio Saud Presidente da Associação Brasileira de Inseminação Artificial - Asbia
A hora certa de inseminar as fêmeas
“T
empo é dinheiro.” Essa frase ilustra bem uma das fases importantes da inseminação artificial de bovinos: a detecção do cio das fêmeas. Em média, o tempo de duração do cio é curto, variando de 10 a 18 horas. Se o inseminador perder o timing, um novo cio só ocorrerá de 17 a 24 dias, sendo que, em média, a repetição acontece a cada 21 dias. Como vaca vazia significa prejuízo financeiro para o produtor, é importante detectar por que o cio não ocorreu. Pode ter sido por problemas reprodutivos, estresse, cistos ou infecções uterinas, má nutrição ou alguma outra doença. Mas se esse não for o caso do seu rebanho, basta ficar atento aos sintomas do cio para aproveitar o período ideal de inseminação. O sintoma mais claro de cio é o fato de a vaca aceitar a monta do touro. Mas, além disso, existem sintomas secundários. Já no pré-cio, é possível detectar alterações físicas e de comportamento da fêmea, tais como vulva inchada e brilhante, corrimento de cor de clara de ovo na vulva e cauda erguida. Além disso, o animal fica agitado e se movimenta mais, urina e muge constantemente, procura outras fêmeas no cio para montar, perde o apetite e produz menos leite. Como as condições do dia, dentre elas o calor excessivo, podem atrapalhar a expressão desses sintomas, o melhor horário para identificar o cio é bem cedo pela manhã ou ao final da tarde. Os mesmos sintomas verificados no pré-cio ocorrem no cio, mas a diferença é que a vaca passa a aceitar a monta do touro. Este momento deve ser anotado, pois o inseminador terá, em média, 12 horas de tempo hábil para inseminar o animal com maior sucesso. Vale lembrar que, se o cio foi identificado pela manhã, a inseminação deve ocorrer na parte da tarde do mesmo dia. E se ocorrer no final da tarde, a inseminação deve ser realizada na manhã do dia seguinte. Outros sinais de cio são pelo da garupa desarrumado pela monta de outro animal e muco grudado
na cauda e nas pernas. Para ajudar na identificação do cio, o produtor pode, ainda, utilizar rufiões (machos submetidos à cirurgia ou fêmeas androgenizadas) ou adesivos marcadores, mais usados hoje em dia. Assim, quando o touro ou outra fêmea sobe na vaca, marca as costas do animal, ajudando a perceber que ela aceitou a monta, especialmente em horários em que o inseminador não esteja presente, como em cios noturnos e cios curtos. Os rufiões devem ser incorporados ao lote de fêmeas um mês antes do início da estação de monta. Aproveitamento do cio Além de saber o momento de inseminar, é preciso entender quando não aproveitar determinados cios. Por exemplo, se o animal apresenta infecção uterina (o muco da vagina tem cor turva ou aparência suja em decorrência da presença de sangue ou pus). Neste caso, o médico-veterinário deve ser comunicado para definir o melhor tratamento para o animal. Cios que ocorrem antes dos 45 dias do parto também não devem ser aproveitados, pois o útero ainda não está preparado para uma nova gestação. As novilhas com baixo peso corporal, mesmo com cio identificado, não devem ser inseminadas para evitar o comprometimento de seu desenvolvimento corporal. As fêmeas gestantes que apresentam os sinais de cio também devem ser descartadas. Além de todas as técnicas citadas acima, existem outras tecnologias disponíveis no mercado que facilitam o trabalho do inseminador nesta etapa. Mas é fundamental para o sucesso da técnica que o profissional responsável pelo procedimento esteja capacitado e comprometido com o resultado do trabalho e saiba observar bem o comportamento da vaca antes de realizar a inseminação. Há, ainda, a possibilidade do cio induzido com hormônios, método utilizado na Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF), mas isso é assunto para um próximo artigo. Mundo do Leite – fev/mar 2018
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Cooperativas
Foco na gestão Raio X Data de fundação: 1º/8/1925 Localização: Carambeí, PR Área de abrangência: Paraná e Tocantins N. de cooperados: 836 Áreas de atuação: Agrícola e Pecuária (Suínos e Leite)/ Silvicultura Captação de leite em 2017: 212.142.280 litros Volume diário de captação – média 2017: 582.000 litros Estrutura física: 7 entrepostos, 11 lojas agropecuárias, 3 indústrias de intercooperação Produtos lácteos: Colônia Holandesa, Naturalle, Colaso Abrangência de Mercado (Lácteos): Paraná/Interior de SP
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uando perguntado sobre o principal desafio dos cooperados da Frísia Cooperativa Agroindustrial, antiga Batavo, o presidente Renato Greidanus não titubeia: “gestão”, responde, com a experiência de quem está em seu quarto mandado no comando da cooperativa e há 17 anos na diretoria – antes foi diretor-conselheiro e vice-presidente. Os cerca de 836 cooperados da Frísia se dividem entre produção agrícola, suinocultura e pecuária leiteira – entre 300 e 320 produzem leite. “Temos produtores que produzem perto de 50.000 litros/dia, enquanto outros produzem 250 litros/dia. A maioria fica entre 2.000 e 5.000 litros de leite/dia”, explica. “Embora o uso de tecnologia venha crescendo entre os associados, mesmo entre os produtores que trabalham em regime familiar, a gestão ainda é um grande desafio, seja ela operacional, financeira... Todos estão se desenvolvendo tecnicamente dentro da Frísia, com uso de ferramentas de gestão cada vez mais modernas, mas precisamos investir muito para manter o nosso produtor competitivo”. Segundo Greidanus, a área técnica da cooperativa tem feito um grande esforço para desenvolver o nível de profissionalização na gestão da propriedade. Há dois anos, adotou o programa MDA, em parceria com a Clínica do Leite, da Esalq/USP. “Nós trouxemos o MDA para cá. É um programa específico de gestão de propriedade que trabalha a nível técnico e econômico. Isso está muito bem estruturado para que o produtor possa enxergar onde realmente está falhando na produção, identificar onde estão os problemas e atacar aqueles pon-
Renato Greidanus 58 anos, é técnico agrícola e produtor rural – “de um monte de coisa”. No leite, é um dos investidores na Melkstad – a Cidade do Leite, projeto que conta com 6 parceiros e tem hoje mais de 1.300 vacas em lactação no sistema free-stall no município de Carambeí, com produção entre 45 mil ++e 50 mil litros/dia.
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tos que contribuem para um resultado pior na propriedade.” Esse modelo de gestão, segundo o presidente, já está bem implementado nas propriedades de alguns produtores. “Eles assumiram o MDA”, diz. Os técnicos da Frísia – cerca de um para cada 30 produtores, só para o leite – também participaram do curso para replicar para todas as propriedades que possam utilizar essa ferramenta. “Para 2018 vamos manter o foco nessa questão. Se o produtor não buscar a profissionalização, a possibilidade de sair do negócio é muito grande. Ele tem que ter conhecimento dos números da sua propriedade de forma muito clara para enxergar o que está fazendo bem-feito e o que está deixando a desejar”. Greidanus avalia que os setores de ordenha, resfriamento e armazenamento do leite estão muito bem resolvidos nas propriedades dos cooperados, mas que ainda há um déficit considerável em infraestrutura, que precisa ser melhorada, para aumentar o nível de produtividade e até os controles dos produtores. “Existe a questão do bem-estar animal que precisa melhorar. Falta de piso, de uma parte coberta para os animais terem acesso bom para as instalações, de local adequado para armazenar a forragem; em época de chuva, o produtor sofre muito com barro, não são condições ideais para as vacas. Isso não é uma realidade de todas as propriedades mas a gente sabe que ainda existem produtores que enfrentam esses problemas”. Segundo o presidente, a cooperativa faz um acompanhamento da parte financeira junto com o produtor para que ele possa decidir o momento certo de fazer o investimento. “A gente dá essa assessoria para que ele possa tomar a decisão mais acertada em termos de buscar os recursos. Temos convênios com bancos e com o BNDES para que a gente possa, juntos, fazer esses investimentos. A gente entra como apoiador e até como avalista dentro do processo”. Ele explica que o produtor trabalha com um contrato de fornecimento de leite para a cooperativa, o que dá segurança de fazer esse tipo de parceria.
Mais rapidez “Há muitos anos a gente criou uma linha interna de financiamento para o produtor fazer investimentos menores com maior rapidez. Ele pode usar um certo limite de crédito que tem, baseado no volume de sua produção, e com isso consegue fazer investimentos que as linhas do BNDES não conseguem atender. Às vezes é a reforma de um silo, compra de animais, retenção de novilhas e animais jovens, que pesam no custo de produção e o produtor precisa de um fôlego para poder tratar desses animais até o momento de produzir. A gente não subsidia, mas tenta fazer com uma taxa de juros que seja compatível com a atividade. Melhor que a do mercado aberto, com certeza. A gente sempre se baseia no que é praticado no crédito rural”. A sucessão familiar, segundo Greidanus, é outra grande preocupação da cooperativa, e também está ligada à sustentabilidade da propriedade. “Precisamos criar um ambiente propício para que a próxima geração possa sentir que a atividade é rentável e dá condições de se ter qualidade de vida na família”. Para o presidente da Frísia, o produtor hoje está seguro na sua atividade porque tem à disposição toda a área de industrialização da produção, com as plantas industriais da cooperativa. “O produtor participa desses negócios também. Ele não é só um produtor de leite, participa da rentabilidade da cadeia produtiva da porteira para fora através das plantas industriais, onde a gente faz o beneficiamento, faz vendas, faz B2B (business to business, ou negócio entre empresas) com nossas parceiras, e isso, lógico, tende a agregar valor à produção. O produtor também é investidor nessas plantas. Ele se capitaliza dentro da indústria, baseado no volume de leite entregue, e isso faz com que ele também participe da distribuição dos resultados da indústria baseado no volume entregue e no
capital social que ele tem dentro da indústria. Elas são unidades de negócios, e ele é sócio dessas unidades de negócios, com o capital social dele. Por outro lado, a cooperativa também tem um contrato de fornecimento de matéria-prima com o produtor, para que possa amarrar as duas pontas”. Mercado Em uma rápida análise do mercado para este ano, Greidanus desabafa: “Em 2018 as margens provavelmente vão continuar apertadas. Esperamos que haja algum crescimento econômico, que a demanda aumente. Mas há uma força muito Precisamos criar um ambiente grande contrária à propício para que a próxima produção de leite. Grandes empresas geração possa sentir que a estão fazendo camatividade é rentável” panhas de não uso do leite, dizendo que lactose faz mal. São forças que acabam atrapalhando o mercado de consumo. O consumidor não entende o que está acontecendo, e a gente como setor precisa proteger muito bem a nossa produção. Mas o próprio mercado precisa entender que é uma atividade extremamente importante e que o leite é muito bom para a saúde, nunca fez mal pra ninguém. Não existe produto substituto pro leite. Existem outros produtos, que não são derivados de lácteos. São tendências, mas o leite ainda é um produto de primeira necessidade.” Esse ano, segundo ele, também é um ano político e o mercado reage muito em cima disso. “A cotação do dólar pode influenciar, o mercado internacional pode influenciar o nosso preço, são várias as situações que podem interferir no preço pago ao produtor. Por isso o foco na gestão”.
MUITO MAIS LEITE. COM MAIS QUALIDADE.
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Fotos Sérgio de Oliveira
Capítulo 3
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Visita 9/01/18
Decepção Educativa Quando deixamos a fazenda do Produtor Secreto em janeiro, a animação era grande: as vacas em lactação pela primeira vez entraram num piquete e pelo visto estavam muito satisfeitas. O técnico deixou orientações precisas sobre o manejo dos próximos 28 dias, quando as vacas deveriam retornar a este primeiro piquete, depois de girar por todo o sistema (o mombaça leva esse tempo para se recuperar): observar se o número de vacas colocado no piquete era de mais ou de menos – ou seja, se nas 24 horas que permaneceriam em cada piquete elas teriam comido o capim até a altura do joelho de uma pessoa (recomendável), ou se tinha sobrado ou faltado pasto. “Se sobrou, coloque mais uma cabeça. “Se comeram até abaixo do joelho, tire uma vaca”. Outra recomendação foi de que, assim que os animais trocassem de piquete, sempre de tardezinha, o pastejado ante-
riormente recebesse meio quilo de ureia a lanço, desde que houvesse umidade suficiente para “molhar o bico da botina pela manhã”. A expectativa era grande, tanto em relação ao aumento da produção de leite devido à alimentação melhor como no aspecto reprodutivo. O técnico da Cooperideal até presenteou o produtor com um “Calendário dos 21 dias”, onde se anota a data de cobertura da vaca e, depois de 21 dias, verifica-se se ela voltou ao cio ou não – este é o período médio da ciclagem. Se não voltou, no quadro já está indicada a data provável do parto. Nos despedimos com o compromisso de voltar à fazenda dali a exatos 28 dias, para verificar o giro completo dos piquetes, o número de coberturas e saber dos resultados no romaneio do laticínio. Não imaginávamos o que nos aguardava.
A revista Mundo do Leite e seus parceiros estão proporcionando assistência técnica especializada a um produtor de leite com o propósito de mostrar que a atividade é rentável quando gerida de forma profissional. Acompanhe o passo a passo deste projeto pioneiro inovador páginas da revista e no Portal DBO. Inspire-se! Mundo edo Leite – nas fev/mar 2018
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Visita 6/02/18
A cerca não estava bem eletrificada e entre a descoberta da falha e a substituição do aparelho passou-se uma semana, período em que os animais foram soltos na várzea. Com isso, a rotação atrasou. Agora, porém, ele conta com um medidor para não correr riscos.
O primeiro piquete pasteja do, que deveria estar novamente com os animais após exatos 28 dia s, estava com o capim enorme. A pro dução de leite permaneceu a mesma.
De volta ao sistema, as vacas já aprenderam o “caminho da roça”: do piquete para a área de lazer e vice-versa.
Com o manejo atrasado, o pasto passou do ponto e o capim criou talos que as vacas recusam
...e passar uma roçadeira para baixar o capim até a altura do joelho
A solução: jogar a ureia apó sa saída das vacas...
Recomendações do técnico:
• Fazer toque nas vacas para verificar prenhez e definir descartes •Dar meio quilo de farelo de soja para as vacas em lactação para verificar aquelas que merecem permanecer no rebanho
Apesar dos tropeços, deixamos as vacas em um novo piquete, com rotação ajustada.
Realização
Apoio
Patrocínio Mundo do Leite – fev/mar 2018
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Sustentabilidade Alexandre M. Pedroso Consultor de Bovinos Leiteiros da Cargill Nutrição Animal, e-mail alexandre_pedroso@cargill.com
Aleitamento de bezerras - quanto dar de leite?
A Dar leite em quantidades elevadas nos primeiros meses de vida do animal não é a melhor estratégia
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tualmente tem sido prática comum nas fazendas dar quantidade elevada de leite para as bezerras na fase inicial de suas vidas, especialmente naquelas em que se utiliza leite “in natura”, mas isso pode ser um “tiro no pé”. Diversos trabalhos de pesquisa, realizados na última década no Canadá e EUA, mostraram que fornecer mais leite do que os tradicionais 4 litros por dia para as bezerras na fase de aleitamento resulta em maior peso ao desmame, e pode ocasionar maior produção de leite na primeira lactação desses animais. Com a divulgação desses resultados, essa prática passou a ser utilizada como rotina em muitas fazendas no Brasil, onde é comum aleitar as bezerras com até 8 litros ou mais por dia. No entanto, essa prática pode não produzir os resultados desejados. Certamente, as bezerras que consomem mais leite na fase de aleitamento serão desmamadas com peso maior do que as que recebem
Mundo do Leite – fev/mar 2018
quantidades moderadas. Mas isso não garante que se beneficiarão desta prática na fase adulta. E isso tem sido cada vez mais notado em fazendas brasileiras. É claro que o aleitamento adequado é fundamental para a saúde e bom desenvolvimento da bezerra, o que por sua vez é imprescindível para que o sistema seja lucrativo e sustentável, mas é preciso entender que dar leite em quantidades elevadas nos primeiros meses de vida do animal não é a melhor estratégia para que essa bezerra se torne uma vaca produtiva e eficiente. Depois do desmame, as bezerras receberão, obviamente, apenas alimentação sólida. A preferência de consumo do animal sempre será pelo leite, de forma que quanto maior a quantidade recebida desse alimento na fase de aleitamento, menor será a quantidade ingerida de ração inicial nesse período. Se a ingestão do alimento sólido for insuficiente, o desenvolvimento funcional do rúmen será retardado, e com isso as bezerras podem sofrer bastante depois da desmama, perdendo todo o benefício de tomar muito leite na fase anterior. Teor de sólidos Nas fazendas que utilizam leite “in natura” para as bezerras pode haver um problema adicional. Se considerarmos que esse leite muitas vezes é aquele não destinado à comercialização, é fundamental que seja pasteurizado ou acidificado para se evitar problemas sanitários com os animais. Além disso, a composição do leite pode variar significativamente ao longo dos dias, especialmente os teores de gordura e proteína, o que significa que as bezerras podem não ter uma dieta constante nessas condições. Muitas fazendas produzem leite com teores relativamente baixos de sólidos, e o consumo de leite com menos de 12,5% de sólidos pode reduzir bastante o aporte de nutrientes para as bezerras. Some-se a isso a oscilação na composição do leite ao longo do tempo, o cenário para as bezerras pode ser um pouco mais complicado. Em fazendas mais eficientes já é prática comum a correção do teor de sólidos do leite para que o mesmo seja fornecido às bezerras com melhor quantidade de nutrientes. É preciso atenção nesse manejo, pois não é recomendável que o teor de sólidos do leite fornecido às bezerras fique acima de 14%, sob pena de induzir diarreia. O momento da desmama é um período bastante estressante para a bezerra, pois ela passa a não ter
mais acesso ao seu alimento preferido, que é o leite. A partir daí todos os nutrientes que ela precisa serão fornecidos pela alimentação sólida, e para que o animal continue saudável e se desenvolvendo bem após a desmama é fundamental que a ingestão de alimentos seja consistente nesse período. Quanto maior o consumo de ração inicial na época da desmama, melhor será o desempenho da bezerra depois da desmama, por isso não se deve correr o risco de que o fornecimento excessivo de leite possa prejudicar essa ingestão de ração. No Brasil Central – com foco em SP, MG e GO – a mortalidade de bezerras pós-desmama é muito alta, girando entre 8% e 11%. Em grande parte, isso se deve à ocorrência de tristeza parasitária bovina, doença transmitida pelos carrapatos, que acomete 100% dos rebanhos dessas regiões. Se o consumo de ração inicial não for satisfatório na desmama, muito provavelmente o consumo de alimentos na transição pós-desmama também será insatisfatório. Com consumo inadequado de alimentos, e consequente ingestão insuficiente de nutrientes, o sistema imune do animal é prejudicado, o que fará com que a bezerra fique muito mais vulnerável à ocorrência de doenças, como a tristeza. Ração inicial Hoje, a recomendação técnica para garantir um bom desenvolvimento das bezerras no período pós aleitamento é que no momento da desmama as bezerras estejam consumindo pelo menos 1,5-2,0 kg de ração inicial ao dia. Isso é fundamental para que o rúmen se desenvolva adequadamente, o que por sua vez é indispensável para que os animais estejam
saudáveis e se desenvolvam bem pós-desmama. Para tal, fornecer a elas quantidade muito elevada de leite pode ser um desafio. Dependendo do sistema, pode ser mais interessante limitar o fornecimento de leite para que o consumo da ração inicial seja maximizado. Seis litros de leite ao dia, associados ao fornecimento de uma ração inicial de alta qualidade e bom manejo sanitário dos animais, é mais do que suficiente para garantir o bom desenvolvimento das bezerras. A meta para a desmama é que bezerras de raças grandes atinjam pelo menos o dobro do peso ao nascimento, e que aos 90 dias de vida atinjam cerca de 100 kg de peso. Outro aspecto fundamental da criação de bezerras, ao qual muitas vezes não se dá a devida atenção nas fazendas, é o fornecimento de água para os animais. É imprescindível que as bezerras tenham acesso irrestrito a água fresca e limpa, desde os primeiros dias de vida. Ainda existe a crença de que pelo fato de beber leite a bezerra não precisa tanto de água, mas isso não é verdade. Baixo consumo de água vai levar a menor consumo de ração inicial, que é o principal fator responsável pelo desenvolvimento funcional do rúmen. Em resumo, para que as bezerras leiteiras se tornem vacas produtivas, é fundamental que na fase de aleitamento, além de serem adequadamente colostradas, recebam quantidade adequada de leite, sem excessos, e que tenham acesso irrestrito a água e à ração inicial de alta qualidade. Monitorar o consumo dessa ração é imprescindível, pois no momento da desmama as bezerras devem estar ingerindo pelo menos 1,5-2,0 kg da ração ao dia. Com isso terão uma transição pós-desmama mais tranquila e poderão se desenvolver bem e com saúde!
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Saúde Animal
O bicho é feio A papilomatose leva à redução da produção de leite, perda do couro e pode até causar a morte do animal Cris Olivette
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ambém conhecida como verrugose ou figueira, a papilomatose é uma doença infectocontagiosa que causa prejuízos consideráveis ao rebanho. Apesar de não ser de notificação obrigatória às autoridades sanitárias, como a febre aftosa, por exemplo, a enfermidade é um problema muito sério: leva à redução da produção de leite, perda do couro e, eventualmente, pode causar a morte do animal. “Somos procurados frequentemente por produtores que relatam ocorrências da doença nos rebanhos. Isso demonstra que a proliferação continua existindo e é grave”, afirma a pesquisadora do Laboratório de Genética do Instituto Butantan, Rita Stocco. “Atualmente, são conhecidos quase 20 tipos do papilomavírus bovino. No Brasil, ocorrem com mais frequência os dos tipos 1, 2 e 4”. A boa notícia é que o Butantan está, após pelo menos duas décadas de estudos, na fase final de
Por ser uma doença viral o animal infectado pode contaminar outros, caso não seja isolado
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desenvolvimento de uma vacina profilática que tem o poder de evitar que a doença se estabeleça. “Já fizemos testes práticos que foram bastante eficientes. O passo seguinte será a regulamentação do produto, feita pelo Ministério da Agricultura. Portanto, não podemos prever quando ela chegará ao mercado.” Rita conta que o desenvolvimento de vacina terapêutica (ou seja, para tratar animais afetados) está em estágio menos avançado. “É importante ressaltar o prejuízo que a doença vem causando à pecuária nacional. Temos grande porcentagem de gado infectado e grande porcentagem de gado afetado.” Aumento de casos Pesquisadora do Instituto Biológico, Líria Hiromi Okuda afirma que neste ano houve aumento no número de relatos de ocorrências de papilomatose. “Vários produtores e veterinários de campo, de diferentes regiões do Estado de São Paulo, estão entrando em contato conosco para informar o problema e pedir orientação.” Líria diz que durante muito tempo o Biológico pesquisou a doença e chegou a produzir uma autovacina curativa para tentar conter as ocorrências. “Produzíamos a vacina a partir das verrugas dos animais, que eram enviadas pelos proprietários. Preparávamos vacinas vivas, porque o vírus não era inativado. Por isso, a aplicação era recomendada somente em animais doentes, para não contaminar os saudáveis. Os retornos que recebíamos indicavam que a vacina era eficiente. Mas, por questão de custo, paramos essa produção.” A pesquisadora diz que no início dos anos 2000 chegou a realizar estudos sobre o assunto em parceria com outros institutos. “O Butantan foi um deles; inclusive, cedemos material para que iniciassem pesquisas para a produção de vacina em larga escala.”
Orientações Líria conta que recentemente desenvolveu técnica para obter diagnóstico molecular para papilomavírus. “O produtor que quiser obter o diagnóstico deve coletar o material e nos encaminhar para analisarmos. As orientações estão no site http:// www.biologico.sp.gov.br/ nos links: Exames/Área de Sanidade Animal/Manual de colheita e envio de amostras.” Rita, porém, não recomenda a autovacina. “Por não ser uma vacina específica, ela pode ocasionar a proliferação do problema”, salienta. Segundo ela, por ser uma doença viral o animal infectado pode contaminar outros, caso não seja isolado. “A transmissão da forma cutânea se dá por meio de contato direto entre um animal infectado e um sadio, ou por meio do contato indireto através de cercas, bebedouros, seringas e agulhas.” Por esse motivo, Líria ressalta que antes de comprar um animal o produtor faça levantamento prévio para saber se houve caso de papiloma na propriedade. “Sempre que comprar um animal, ele deve permanecer por certo tempo em área de isolamento,
antes de ser colocado junto com os demais.” Outra questão importante é em relação à descontaminação do ambiente. “O local ocupado pelo animal doente deve passar por descontaminação. O papiloma é um vírus fácil de ser destruído, basta lavar a área com desinfetantes usados normalmente na propriedade. Para ter um rigor maior, também se pode jogar cal e deixar a área em isolamento por um período”, diz Líria. Enquanto a vacina não chega ao mercado, as pesquisadoras afirmam que a melhor forma de evitar a doença é efetuando um bom manejo na propriedade: manter os animais doentes isolados, realizar ordenha higiênica, não compartilhar instrumentos, esterilizar instrumentos cirúrgicos e descontaminar periodicamente a área que abriga animais doentes. “Em animais muito bem cuidados e em condições adequadas de manejo, a doença pode regredir, mas em condições não adequadas ela só progride e pode se transformar em tumores na bexiga e no trato digestivo, prejudicando cada vez mais o animal”, acrescenta Rita.
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Tecnologia
Leite ao máximo No interior de São Paulo, propriedade implanta sistema subterrâneo de irrigação e arranca produtividade média de 250 litros/ha/dia. Preço da tecnologia assusta.
Á
Ariosto Mesquita
Fotos Ariosto Mesquita
gua e adubo direto na raiz do capim. Com este procedimento, o Sítio Austrália, em Araçatuba, SP, vem conseguindo a média de 250 litros de leite por hectare/dia ao longo dos 12 meses do ano. O resultado supera em quase três vezes o obtido em campos de pesquisas na Região Sudeste com sistemas convencionais de irrigação por aspersão. É bem verdade que esta produtividade vem sendo obtida em apenas 1,5 hectare de pasto cultivado com capim Tifton 85, abrigando 42 vacas em lactação. Mas o desempenho foi suficiente para a tomada de decisão que promete turbinar de vez os números da propriedade em 2018: ampliar de 3,5
Trator enterra os tubos de gotejamento em área onde será formado um novo pasto
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ha (2 ha são utilizados para animais de recria) para 10,5 ha a área irrigada. Quem chega ao sítio de 18,2 ha no noroeste paulista e encontra o pasto verdejante, com alta lotação em qualquer época do ano e sem apetrechos de irrigação clássica (principalmente por aspersão ou por gotejamento superficial), fica com a pulga atrás da orelha. No entanto, basta um olhar mais minucioso para encontrar, junto ao solo entre os piquetes, pequenas estruturas de pressurização. Na área de benfeitorias, plaquinhas de identificação de dois recintos dão as pistas finais: Sala de Máquinas e Fertirrigação. Nesta pequena construção, algo em torno de 50 metros quadrados, fica o coração do negócio. A partir dela, água e insumos (nutrientes e defensivos) são bombeados para uma rede de tubos de gotejamento enterrados a uma profundidade média de 30 centímetros e distância entre linhas de tubos de 90 cm. Atualmente são 38,5 quilômetros de extensão em atividade. Com a expansão, esta malha chegará a 115,5 km. A meta final é levar o gotejamento subterrâneo para 16 hectares (176 km de tubos). Metas Toda esta configuração objetiva atender às metas traçadas em conjunto pelo proprietário, Dartagnan Pádua Maia, e pelo economista e gestor da propriedade, Ruy Padula, para a próxima década: desenvolver o rebanho próprio de animais Jersey e Jersolando (cruza Jersey x Holandês), produzir e comercializar genética leiteira e entregar uma média de 2.500 litros de leite/dia. Demanda e preço não parecem problemas. O Sítio Austrália é fornecedor credenciado da Nestlé e trabalha ao longo do ano com uma margem líquida de R$ 0,30 por litro comercializado, o que lhe garante um faturamento médio anual de R$ 27.375/ha. Em novembro de 2017, quando a Mundo do Leite visitou a propriedade, o resultado se mostrava pontualmente mais significativo: o litro do leite era comercializado a R$ 1,45 para um custo de produção de R$ 1,05. “Neste custo está incluído tudo: funcionários, sêmen, adubação nitrogenada, energia, água e todo o
A malha subterrânea fica a 30 cm de profundidade e tem 90 cm entre um tubo e outro
sistema de irrigação”, garante Padula. A estrutura de gotejamento subterrâneo, segundo ele, não é das mais baratas: “Pode sair por aproximadamente R$ 15 mil/ ha, mas optamos por um nível alto de tecnificação e para isso investimos R$ 20 mil/ha. Os primeiros 3,5 ha foram implantados no início de 2016 e estamos pagando ao longo de seis anos”. A tecnologia foi adquirida junto à Rivulis, empresa originária de Israel, país que desenvolveu uma irrigação considerada das mais eficientes do mundo. No que se refere à atividade de produção de leite, o Sítio Austrália é uma referência. “Agora no início de 2018 devemos receber a visita de uma comissão de
Custo elevado “Inicialmente, o que mais assusta a mim e a outros colegas é o custo elevado de implantação deste sistema de irrigação. Diluir e amortizar o investimento ao longo dos anos não é tarefa fácil para produtores de leite no Brasil”. A opinião é do engenheiro agrônomo Cecílio Viega Soares Filho, professor da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Estadual Paulista (UNESP), campus de Araçatuba. Ele visitou o Sítio Austrália em 2017 e avalia prós e contras desta tecnologia. O preço de instalação por hectare (R$ 20 mil), segundo ele, é salgado, mas prefere não fazer comparações com outras estruturas em função da diversificação de níveis de intensificação: “Em meados do ano passado, me chegaram informações sobre custos médios de irrigação por aspersão na
dirigentes de organismos públicos e privados interessada no desenvolvimento de uma política de incentivo à pecuária leiteira no estado de São Paulo. Além disso, produtores de Marília, Lins, Dracena e Pereira Barreto conheceram nosso trabalho e estão determinados a instalar estruturas semelhantes”, revela Padula.
Ruy Padula, gestor do Sítio Austrália
Vantagens O projeto de produção do Sítio Austrália existe há pouco mais de 2,5 anos. Ele prioriza o volume de leite produzido por hectare. “Depois de optar pela compra de animais Jersey e Jersolando, começamos a estudar
casa de R$ 7 mil/ha no noroeste paulista, mas isso é variável e depende muito da estrutura adquirida e do grau de dificuldade de implantação”. Cecílio também teme que o gotejamento subterrâneo em um nível fixo de profundidade possa dificultar o desenvolvimento total da forrageira: “É inegável que o gotejamento em lâmina de dois mm represente economia de água em se tratando de irrigação de pastagem. No campus da UNESP em Ilha Solteira, temos áreas irrigadas por aspersão que exigem seis mm. No entanto, a instalação da rede de tubos gotejadores em uma profundidade de 30 cm abaixo da superfície pode ser um fator limitante para a planta aprofundar e distribuir suas raízes”. Por outro lado, Cecílio admite que aparentemente as virtudes da irrigação subterrânea se sobressaem. Ele se surpreendeu, por exemplo, com o alto nível de
suporte do sistema em unidades animais por hectare (ua/ha): “De todos os projetos de pecuária que já visitei nada se aproxima em termos de taxa de lotação. Conheci propriedades usando o Tifton 85 irrigado suportando cargas de até 16 ua/ha. Nunca na casa de 22 ua/ha como no Sítio Austrália”. A lucratividade da propriedade administrada por Padula também chamou a atenção do professor, em que pese o alto investimento, sobretudo na implantação da rede e em adubação: “Uma margem média de R$ 0,30/litro pode ser considerada boa”. Segundo ele, para os demais produtores de leite da região o lucro na atividade não passou de R$0,20 ao final de 2017. (*) Guilerme Acácio de Sene, Keila Abadia Barbosa, Josiane Cristina de Andrade, Pércia Monteiro Rocha Soares da Silva, Dilson José Rodrigues Júnior, Andreza Izabel Oliveira, Flávio Moreno Salvador, Diogo Gonzaga Jaime, Dawson José Guimarães Faria e Antonio Carlos Barreto.
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que sistema de irrigação adotar. Decidimos pelo modelo israelense de gotejamento subterrâneo que, dentre as vantagens, permite ser implantado em qualquer tipo de área e ainda garante a manutenção de árvores que hoje são responsáveis pelo conforto térmico para os animais junto aos piquetes”, conta o gestor. Outras vantagens do sistema são a contenção de danos por interferência mecânica, climática ou animal, a redução de umidade na superfície do solo (minimizando a incidência de doenças e pragas) e menor consumo de água e energia. A fertirrigação (aplicação de água e nutrientes) diretamente na zona radicular tecnicamente reduz as perdas por evaporação. O Sítio Austrália aplica, em média, uma lâmina de dois milímetros (mm) de água/ha/dia (equivalente a 20 mil litros/ha/dia) nos meses chuvosos (outubro a março) e de quatro mm no período de estiagem (abril a setembro). A captação é feita em reservas naturais próprias. “Caso adotássemos algum modelo de irrigação por aspersão, por exemplo, a demanda por água seria três vezes maior”, garante. O rebanho atual conta com 150 cabeças (65 fêmeas adultas e 85 em recria) distribuídas em 5,5 hectares. Na área irrigada (3,5 ha) ficam os animais em recria (2 ha) e vacas em lactação (1,5 ha). Este último espaço é rotacionado, dividido em três piquetes de 0,5 ha. Ao final de 2017, 42 vacas faziam o giro em três dias. Segundo Padula, além do pasto cada animal recebe um lanche após as ordenhas da manhã e da tarde composto, em geral, por três kg de ração/dia além de silagem que varia entre 25 kg/dia, na seca e cinco kg/dia nas águas.
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Toda a parte nutricional da propriedade tem acompanhamento técnico de especialistas da Universidade Estadual Paulista (UNESP) e de uma consultoria sediada em Guararapes, SP (Êxito Rural). Para dar suporte à alta lotação de 28 cabeças/ha, o gestor teve de reforçar a adubação nitrogenada: “São 800 quilos de ureia por hectare, tudo aplicado pelos tubos de gotejamento diretamente nas raízes. Em um sistema convencional de irrigação poderia usar 350 kg, mas certamente sofreria perdas entre 10% a 90% por volatização”. A propriedade trabalha ainda na formação de um rebanho próprio de fêmeas. A reprodução utiliza sêmen sexado de origem americana (média de 130 doses/ano) com índice de prenhez na casa de 60%. Os eventuais machos (10% dos nascimentos) são comercializados como bezerros. “Não pretendemos comprar animais. Continuaremos a reproduzir o rebanho para desenvolver a genética que pretendemos oferecer a outros produtores”, explica Padula. Em função da oferta de pasto de qualidade o ano todo, a produtividade tem pouca variação ao longo dos meses. “Nossa média é de 250 litros/ha/dia, mas nas águas chegamos à casa de 280 litros/ha/dia”, afirma Padula. No estudo “Produção de leite em pastagens de Tifton 85 sob manejo de irrigação e sequeiro”, feito entre outubro de 2009 e julho de 2010 na região de Uberaba, MG, por acadêmicos (*) do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Triângulo Mineiro (IFTM), a produtividade média da área irrigada por aspersão foi de 70,89 quilos de leite/ha/dia, o equivalente a 73 litros/ha/dia ( 1 kg de leite = 1,03 litro).
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Ajuste fino na dieta Reconhecido como benéfico para a produção, o uso de aminoácidos “protegidos” requer nutrição no capricho
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uso de aminoácidos protegidos é relativamente recente na pecuária leiteira brasileira. Já amplamente empregados nos Estados Unidos e em países da Europa, esses produtos “protegidos” – tecnologia que lhes permite resistir mais à degradação no rúmen das vacas, e propiciar um melhor aproveitamento pelo organismo – costumam ter como foco, aqui, os rebanhos leiteiros de alta produção, criados em confinamento e que contam com sistemas nutricionais muito bem ajustados. No mercado brasileiro, são comercializados dois aminoácidos protegidos: a metionina e a lisina. Estudos comprovam que a metionina contribui, de fato, para expressivos aumentos na porcentagem de proteína do leite. E pesquisas mais recentes dão conta de que este aminoácido também é importante para melhorar a condição corporal e de saúde da vaca leiteira no crítico período de transição – entre três semanas antes do parto e quatro semanas após o parto, informa o consultor técnico da Cargill Nutrição Animal, Alexandre Pedroso.
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Já a lisina é ingrediente nutricional que contribui para o bem-estar geral da vaca, resultando em produção de leite maior e de mais qualidade. Tanto a metionina quanto a lisina – assim como todos os outros aminoácidos essenciais para o organismo – podem ser encontrados nos alimentos fornecidos a um rebanho bem nutrido. “O farelo de soja, por exemplo, é rico em lisina”, acrescenta Pedroso. Ele comenta, ainda, que nos Estados Unidos, onde é permitido fornecer para o gado farinha de sangue, há lisina suficiente para garantir um bom balanceamento nutricional sem que seja necessário lançar mão do produto protegido. Entretanto, a pesquisa aponta ambos os aminoácidos como os dois maiores limitantes à produção leiteira, caso faltem na dieta. “Limitante significa: se estiverem em falta, são os primeiros a prejudicar o desempenho produtivo do animal”, detalha Pedroso. Rebanhos que contam com um bom aporte nutricional, com a participação de todos os aminoácidos essenciais, podem usar metionina e lisina protegidas como um “ajuste fino”, recomenda Pedroso, que defende, porém,
um uso criterioso e muito bem planejado, em função do risco de aumento do custo de produção caso não sejam ministrados da maneira correta. “No sistema de pagamento pelo litro de leite adotado no Brasil por vezes não compensa financeiramente utilizar a tecnologia”, ressalta o consultor técnico. “Mesmo que haja um bônus ao produtor por maiores teores de proteína no leite, o aumento de custo pode não compensar, já que esses aminoácidos são importados e pagos em dólar”, justifica. O que não exclui sua recomendação de uso em rebanhos que contam com uma dieta bastante criteriosa. “Nos plantéis em que não se respeitam os requisitos mínimos nutricionais para as vacas leiteiras é necessário acertar tudo isso antes de investir na administração de aminoácidos protegidos”, alerta. Custo-benefício A zootecnista Fernanda Lopes, responsável pelos Negócios de Ruminantes na América do Sul pela empresa Adisseo Nutrição Animal – que produz e comercializa, entre outros produtos, metioninas protegidas para ruminantes – diz que esse aminoácido não pode ser tratado como um aditivo. “A vaca tem requerimento por aminoácidos e entre eles a metionina, que deve ser formulada nas dietas como um ingrediente nutricional e não simplesmente um aditivo”, explica, discordando da observação a respeito do aumento das despesas ao pecuarista ao adotar esta tecnologia. Segundo Fernanda, que tem mestrado e doutorado em nutrição de vacas leiteiras com ênfase no comportamento animal e digestibilidade de fibra pela Universidade de Wisconsin, nos EUA, a empresa trabalha com seus clientes buscando melhoria na eficiência da dieta, sendo que “a metionina pode, sim, entrar entra na formulação sem aumento do custo da dieta” garante. “Quando se formula um alimento para o rebanho, o que se busca é a eficiência produtiva e a melhora do custo-benefício, e não só o custo”, justifica. A professora Marina Danes, do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Lavras (Ufla), em Minas Gerais, concorda e reforça que aminoácidos são “nutrientes que devem ser balanceados na dieta”. “Para fazer isso, é necessário conhecer um pouco das exigências daquela categoria animal para o aminoácido em questão”, explica ela, acrescentando que, de fato, os dados mais consistentes atualmente são os relacionados à recomendação do uso da metionina protegida para vacas em lactação e transição. “Com certeza, todas as categorias animais se beneficiariam do balanceamento da dieta para aminoácidos, mas ainda não há dados suficientes para fazer recomendações para todas elas.” A professora reforça que a metionina é um ajuste fino da dieta, depois que adequações mais básicas tenham sido corrigidas. “A dieta tem que estar bem correta para que a vaca esteja funcionando no máximo e, então, o aminoácido ter espa-
ço pra fazer efeito.” Ela acrescenta: “Não adianta colocar aminoácidos protegidos em uma dieta em que o teor de fibra está inadequado e as vacas estão com acidose”. Saúde da vaca Fernanda Lopes ainda acrescenta que atualmente a empresa foca mundialmente na comercialização de metionina protegida para ruminantes, já que pesquisas apontam que o primeiro aminoácido limitante para vacas leiteiras é justamente este, “daí a prioridade dada pela Adisseo a esse aminoácido”, diz. Quanto ao uso da metionina, a especialista concorda que em sistemas nutricionais equilibrados os resultados surgem com mais clareza. “Por isso buscamos rebanhos que trabalham com dietas balanceadas, ou seja, vacas de alta produção.” Apesar de a metionina protegida ser mais conhecida pelo seu poder de aumentar rapidamente o teor de proteína no leite, a zootecnista ressalta que a empresa não foca apenas nisso ao divulgar o conceito de balanço de aminoácidos nas dietas. “Há várias pesquisas mostrando o efeito da metionina em outras áreas. De fato, o objetivo inicial, nos Estados Unidos, onde o pagamento é feito por sólidos, foi o fornecimento desse nutriente ao rebanho para aumentar o teor de proteína no leite”, comenta. “Efetivamente, o primeiro resultado visível é este, logo nas duas primeiras semanas de uso”, continua. “Mas o grande efeito benéfico, além do aumento na eficiência da dieta, é melhorar a saúde da vaca, tanto no período de transição como em termos gerais”, garante. Marina Danes complementa: “Conheço plantéis muito produtivos e com excelente manejo alimentar que estão se beneficiando dessa tecnologia para aumentar a eficiência produtiva de suas vacas”, diz. “Mas o manejo alimentar deve ser excelente para que os resultados com ajustes finos sejam observados.” A professora da Ufla informa, ainda, que o aminoácido mais estudado atualmente é a metionina. “Ainda precisamos entender melhor em que situações cada aminoácido apresenta maior potencial de resposta e também explorar mais as outras funções de cada um deles, não relacionadas apenas à síntese de proteína”, explica. “Essas outras funções podem estar relacionadas a benefícios na saúde animal ou na reprodução, mais difíceis de serem medidos a curto prazo, mas que devem ser levadas em conta na decisão de suplementar ou não o rebanho com aminoácidos protegidos.” Mesmo ainda com questões a serem exploradas em relação a esses produtos, o mercado é crescente, garante Fernanda Lopes, da Adisseo. No Brasil, onde a empresa intensificou a comercialização das metioninas protegidas há poucos anos, “o uso dessa tecnologia com ajuste fino das formulações ainda é um conceito relativamente novo, que ainda está sendo desenvolvido nas dietas de ruminantes”, conclui.
Quando se formula um alimento para o rebanho, o que se busca é a eficiência produtiva e a melhora do custobenefício, e não só o custo” Fernanda Lopes, da Adisseo
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Silagem
Quando o inverno chegar... O silo deve estar cheio de um alimento bem-acondicionado e de qualidade. Para isso, é preciso agir agora Niza Souza
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Igor de Carvalho: “Apesar das dicas, a consulta a um técnico é indispensável para se obter uma silagem de boa qualidade”
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ara não esquentar a cabeça no inverno, é bom se preocupar com o processo de preparação da silagem, do corte ao preenchimento dos silos. A qualidade do alimento, seja milho ou sorgo, é fundamental para garantir a boa produção das vacas leiteiras e a qualidade do leite. Para quem se programou direitinho, a lavoura deve estar agora em ponto de corte. O agrônomo Igor de Carvalho, especialista em produção de forragens, afirma que no caso do milho este ponto é quando a planta apresenta entre 30% e 35% de matéria seca. Já no caso do sorgo, para colhedoras sem processador de grãos, o ideal é entre 27% e 32% de matéria seca. “Os grãos no centro da panícula estarão começando a ficar farináceos. Por isso, a colheita é antecipada com o objetivo de reduzir as perdas de grãos nas fezes”. Para colhedoras com processador de grãos pequenos, o indicado é entre 30% e 35% de matéria seca. “Pode-se colher em estágio mais avançado para aumentar o teor de amido e a energia da silagem”. Outro ponto importante é o tamanho médio das partículas, o que representa um papel-chave na digestibilidade e na velocidade de passagem do alimento pelo trato digestório. O agrônomo Carlos Eduardo Freitas Carvalho, da Cooperideal, explica que o tamanho da partícula é extremamente importante por dois motivos: primeiro, porque quanto maior ela for, mais difícil será a compactação, com a retirada de todo o oxigênio para que se tenha o processo de fermentação anaeróbica no alimento armazenado. O segundo motivo está ligado à questão da digestibilidade e produção de bicarbonato pelo próprio animal através da saliva. O tamanho ideal, afirma o agrônomo, é entre 1 cm e 1,5 cm. “Quando a partícula é muito grande, a taxa de passagem dentro do rúmen do animal é mais lenta, o que
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dificulta o processo de digestão”, explica. “Menor que isso também não é indicado, pois a taxa de passagem fica muito rápida, o que vai fazer com que o aproveitamento e a digestibilidade da silagem seja perdida”, pondera. Ele destaca ainda a importância do maquinário para maceração dos grãos. “O mais importante é que a máquina tenha condição de macerar e danificar os grãos. Senão, eles vão entrar no processo digestório do animal e não vão ser aproveitados. Ou seja, a digestibilidade do amido vai ser muito baixa”, informa. Por isso, orienta, é interessante que os produtores tenham máquinas que consigam processar o alimento corretamente. “Máquinas como as automotrizes, que colhem silagem de maneira mais rápida que as antigas forrageiras puxadas a trator. Elas conseguem fazer essa maceração com um implemento interno chamado craquer. fazendo com que a digestibilidade da silagem seja boa”, explica Carlos Eduardo Carvalho. Vedação Já com relação à vedação, é extremamente importante que seja feita o mais rápido possível. O indicado é que o produtor faça mais de um silo em sua propriedade, para que feche a produção e armazenamento da silagem em no máximo três dias. “A vedação deve ser realizada o quanto antes, a fim de cessar a respiração das células e iniciar a fermentação anaeróbica”, explica o consultor. Ele orienta ainda a utilizar lonas de boa qualidade e, se possível, cobrir o silo com terra, pois o peso mantém a compactação, protege a lona do ressecamento, reduz o risco de furos por animais e reduz a infiltração de oxigênio através da lona. “Caso não seja possível a cobertura do silo com terra, o uso de filme barreira a oxigênio sob a lona convencional e de pesos sobre a lona são importantes para reduzir as perdas”, diz. Apesar das dicas, os especialistas aconselham os produtores a procurar assistência técnica profissional, para conseguirem produzir uma silagem de qualidade e, assim, garantir o bom desempenho do rebanho. “A consulta a um técnico da área de forragicultura é indispensável para que não se cometam erros experimentando novas tecnologias ou modismos que sempre aparecem no meio rural. Lugar de fazer teste é no campo experimental, não na propriedade”, diz Igor.
Suplementação
Energia o ano inteiro Mesmo no período das águas, é necessária uma suplementação energética para o rebanho No verão é possível trabalhar com um sistema de suplementação mais
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Cris Olivette
época das chuvas no Centro-Sul do País, entre outubro e abril, é marcada por temperaturas elevadas e períodos de maior luminosidade solar. “Isso faz com que as pastagens tropicais cresçam mais do que em outras épocas do ano, permitindo que os produtores consigam alimentar o rebanho predominantemente no pasto, reduzindo o custo de produção”, diz Carlos Eduardo Freitas Carvalho, membro da Cooperideal e consultor da Federação de Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg) e do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar). De todo modo, a alimentação exclusiva a pasto, mesmo no período das águas, não é recomendada. Deve-se ter uma suplementação, mesmo com o manejo adequado dos piquetes. Isso inclui adubação sob recomendação técnica e controle da entrada dos animais na área a ser pastejada conforme a altura das gramíneas. “Se consumido no ponto certo, o pasto tem teor muito bom de proteína, que supre as necessidades de vacas que produzem até 15 litros de leite por dia. Do ponto de vista energético, porém, é necessária uma suplementação”, diz Carvalho. Ele cita, ainda, que no período das águas os capins têm em média 18% de teor de proteína bruta e de 58% a 65% de energia. Suplementando os animais, Carvalho destaca que alguns produtores conseguem obter 25 litros de leite por dia. “Nessa época, é possível trabalhar com um sistema de suplementação mais enxuto, mas com potencial energético elevado, além de conciliar tudo o que o animal precisa, como sombra, água próxima e limpa, boa sanidade, controle de carrapatos, etc.” O professor do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Patrick Schmidt, confirma que, mesmo no verão, só o pasto não
enxuto, mas com potencial energético elevado
é suficiente para atender ao gasto energético do rebanho, principalmente quando ele tem nível elevado de produção. “É necessário, por exemplo, usar silagem de milho como suplementação, inclusive nas águas.” Ele explica que há diversos tipos de silagem, mas sempre que possível o produtor deve usar a de milho. “Não existe opção melhor, porque de todas as possibilidades é a que mais bem associa produtividade e qualidade.” Custo de produção O médico veterinário Pedro Luppi, especializado em nutrição, salienta que quando uma vaca tem déficit energético pode chegar a abortar. “Na verdade, o produtor não pode deixar de suplementar os animais em nenhum período do ano. O balanceamento correto da suplementação garante, além disso, qualidade maior do leite.” O especialista em nutrição da Embrapa Gado de Leite, Duarte Vilela, destaca que quando se fala em suplementação concentrada é preciso, porém, considerar o custo de produção. “O concentrado é um complemento, não pode ser o elemento principal da alimentação, para não encarecer o processo. Mas como vivemos em um país tropical, não são todos os anos que as forrageiras suportam bom nível de produção. Então, além da qualidade e disponibilidade da pastagem, o produtor tem de avaliar o grau de exigência do animal.” Vilela concorda que a partir de determinado nível de produtividade das vacas leiteiras é importante recorrer à suplementação concentrada, mas sempre avaliando qual é a melhor relação entre o preço do leite e o do concentrado, para saber se vale a pena explorar ao máximo a produção do animal em detrimento do Mundo do Leite – fev/mar 2018
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Suplementação máximo econômico. “Muitas vezes, o preço do leite não dá o retorno suficiente para repor o investimento.” O pesquisador alerta que forragem bonita não significa boa qualidade. “A energia é a maior deficiência das forrageiras em condições tropicais. Quando está bem frondosa, normalmente oferece proteína acima do que o animal exige, mas nem sempre a energia é suficiente. Aliás, a energia é o maior gargalo da produtividade brasileira.” Ele recomenda que o produtor faça avaliação técnica da qualidade da forragem no período da seca e das águas, porque ela varia conforme o volume de precipitação e nível de adubação. “Isso interfere na qualidade e na disponibilidade da forragem. O produtor tem que buscar a melhor eficiência para ter retorno econômico.” Mineralização Em relação à suplementação mineral, Luppi lembra que as pastagens brasileiras são deficientes em minerais. Por esse motivo, é importante que seja realizada constantemente, porque está relacionada diretamente com a imunidade do animal.
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“O fornecimento de minerais não pode ser suspenso em nenhum momento da vida do animal, porque quando falamos em imunidade estamos nos referindo à saúde, que envolve qualidade do leite, prevenção de doença, melhor reprodução e nível de produtividade.” Segundo ele, a suplementação mineral deve ter relação ideal de manganês e zinco para que haja a absorção correta dos demais minerais. “O único mineral de que a vaca sente necessidade é o sódio, mas todos têm valor. O fósforo, por exemplo, é importante para a produção de leite e reprodução, enquanto o zinco interfere na pelagem e casco. Selênio influência na reprodução e na imunidade.” O veterinário afirma que o fornecimento mineral deve ser baseado na produção da vaca e vai variar de acordo com a categoria: se é vaca seca, prenhe, bezerra ou novilha. “Na época das águas e da seca utilizamos, basicamente, a mesma parte mineral.” Além dos minerais que compõem as rações, ele indica que o suplemento seja colocado em um cocho para ficar à vontade. “Nas águas, para evitar que o produto fique exposto à chuva, recomendamos cocho coberto.”
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Mundo do Leite – fev/mar 2018
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Seguindo em Frente Ismail Ramalho Haddade
Pecuária de precisão não substitui o técnico
A
Com a “precisão” com que os processos passam a ser analisados, surgirá um número bem maior de opções”
o comentar exemplos práticos da “Zootecnia de Precisão”, coube-me uma reflexão sobre o significado da ação de “ser preciso” diante de estudantes que cada vez mais se beneficiam das facilidades da automação nos processos, da informática, da comunicação via smartphones e da internet. Procurei, além de chamar atenção para os benefícios da precisão nos processos produtivos, destacar os perigos de “achismos”, como o de que a tecnologia resolve todos os problemas e daqui a algum tempo não será mais necessário decidir nada, pois o computador fará isso por nós. Acredito que apesar da grande evolução da automação, dos computadores e da inteligência artificial, se for possível algum dia, ainda está muito longe de acontecer. No entanto, um efeito colateral é a tendência ao pouco questionamento e ao desinteresse pelos detalhes dos processos produtivos, podendo surgir profissionais menos capazes de aplicar conhecimentos básicos na solução dos problemas que acontecem nas propriedades rurais. De acordo com um estudo realizado na Escócia, em um futuro próximo o acesso aos dispositivos de busca poderá ser um dos maiores responsáveis pelo aumento do risco de demência das pessoas. Do jeito que é fácil acessar ferramentas como o “Google”, sempre preferiremos recorrer a elas ao invés de usarmos o nosso cérebro, a nossa memória e o nosso poder de raciocínio. Basta citarmos a questão adaptativa do ser humano de economizar energia para tudo, principalmente no ato de raciocinar. Se temos a opção de não precisar pensar, a tendência é ficarmos ligados no automático, com base na “lei do menor esforço”. Exemplo: É comum o estudante se sentir incomodado quando percebe que outra pessoa se sentou no seu lugar de sempre.
Resposta fácil
É mais simples aceitarmos que existam poucas opções de respostas para um problema (uma correta e a outra errada, por exemplo), pois será mais fácil decidir por aquela que julgamos ser a correta. Acho que é isso que todo produtor busca quando vai a uma reunião técnica: descobrir o que é correto para ele aplicar, não se importando com os detalhes de sua situação, que poderão
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Mundo do Leite – fev/mar 2018
resultar no insucesso da técnica, citada como infalível. Assim, situações comuns como a de ouvir alguém em quem você confia falar sobre um padrão de resposta (use inseminação artificial que funciona, o bom é sincronizar o cio dos animais, use o Compost Barn que é a solução, o melhor capim é o Mombaça, e por aí vai...), passa a ser verdade absoluta e deverá ser utilizada em qualquer situação, mesmo que possa ser totalmente absurda quando analisada para a sua realidade. Convém lembrar aqui que decidir sobre essas opções sempre será melhor se isso for feito por um técnico experiente e competente, que consiga avaliar o seu contexto e saber o que é apropriado para você. O problema é a tendência citada acima da extinção desse tipo de profissional. Mas, ainda bem que isso é só uma tendência, não é? Junte-se a isso o aumento da complexidade quando decidimos de forma precisa sobre o correto para cada situação. Com a “precisão” com que os processos passam a ser analisados, surgirá um número bem maior de opções. O simples ato de se manejar uma pastagem, ou de tomar decisões simples como a de corrigir e adubar o solo, poderão ser analisadas em detalhes que até então não eram percebidos. Isso e muito mais é possível com o uso da zootecnia de precisão. É só entender que esses podem ser objetivos próximos para uns, porém bem distantes para outros. Isto, para não cairmos na armadilha de usar “um canhão pra matar rolinha”. Ao escolher o caminho do sistema de produção, a decisão deve ser com base em análise individual da propriedade e do produtor. A escolha de ser “mais preciso” no processo produtivo deve ser mais uma opção técnica, diante dos objetivos do produtor e das possibilidades na propriedade. Ou seja, a automação e a precisão podem ajudar muito na eficiência do processo produtivo, mas ainda não substituirão, pelo menos por um bom tempo, a capacidade humana do raciocínio e do bom senso na hora de decidir. Engenheiro agrônomo, professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo, campus de Santa Teresa