Revista Mundo do Leite 90 - Abr/Mai 2018

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Marco Rosa

Ao leitor

A

bril chegou - e com ele a chance de tornar ainda mais produtivas as fazendas de leite Brasil afora. O que se fizer agora, será colhido na virada do ano e depois. A reportagem “Hora de pensar grande” trata de várias iniciativas que devem ser tomadas desde já, entre elas a de garantir uma pastagem “no ponto” quando as chuvas voltarem e preparar adequadamente o terreno onde produzir o alimento da estação seca de 2019. Pasto ao ponto, aliás, é o tema da entrevista com o professor Sila Carneiro, da Esalq/USP. O assunto é tão relevante que ganhou a capa da revista, sem prejuízo da concorrente, uma matéria sobre a importância dos controles zootécnicos na pecuária leiteira. Outro destaque da edição é a reportagem sobre os cuidados que se deve ter ao comprar animais. Algumas doenças, como tuberculose e brucelose, não dão na vista mas são capazes de infectar todo o rebanho e causam enormes prejuízos. Essa pauta surgiu de uma conversa entre o técnico e nosso Produtor Secreto. O produtor resolveu fazer “um limpa” na propriedade. Descartou vários animais que ou não enxertaram num tempo razoável ou não corresponderam ao trato extra. Resultado: com oito cabeças a menos, o produtor vai às compras para aumentar o potencial produtivo na fazenda. E nessa hora, como disse o técnico, todo cuidado é pouco. Sérgio de Oliveira

Mundo do Leite

Capa

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Entrevista O professor Sila Carneiro, da Esalq, ensina como o manejo correto da pastagem faz aumentar a produtividade da fazenda

Planejamento

10 As estratégias para 2019 devem ser pensadas a partir de agora

Produtor Secreto

18 Descarte radical. Como recompor o rebanho sem doer no bolso?

Saúde animal

20 Antes de tratar, saiba quais são as doenças dos cascos 22 Na hora de comprar animais, exija garantia de sanidade

Controles zootécnicos

26 Parece chato, mas anotar pode tirar o produtor do vermelho

Consorciação

30 O estilosantes quer entrar na pecuária leiteira em grande estilo

Cooperativas

32 Languiru projeta crescer 10% e deixar para trás a fase ruim

Colunistas 14 Christiano Nascif: Grandes produtores em pequenas áreas 17 Marcelo de Rezende pede mais cuidados com a terra 24 Marcos Veiga comenta a importância da higiene na ordenha 34 Ismail Ramalho Haddade: Um bom papo com suas vacas faz bem

É uma publicação bimestral da DBO Editores Associados Ltda., com circulação em fevereiro, abril, junho, agosto, outubro e dezembro.

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Entrevista Dr. Sila Carneiro

Pasto é mais exigente que soja

Engenheiro agrônomo formado pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz em 1986, o professor Sila Carneiro fez mestrado no Departamento de Zootecnia da Esalq em 1991 e em seguida prestou concurso e foi admitido como docente da instituição. Fez doutorado na Massey University, na Nova Zelândia. Foi lá que surgiu o interesse e o treinamento na área de pesquisa que ele desenvolve hoje, com plantas forrageiras e pastagens. O professor Sila recebeu a equipe da Mundo do Leite logo após uma aula no departamento.

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Larissa Saraiva

minada estrutura, porque é essa altura, é essa estrutura que determina quanto a planta cresce, de que jeito ela cresce, que tipo de componente ela acumula… Essas características determinam quanto o animal come, como ele consome, qual é a ingestão de nutrientes que ele tem, que é o que acaba determinando o quanto de desempenho ele vai obter. Adubação, irrigação, suplementação, conservação, são todos meios ou ferramentas de que o técnico dispõe para poder implementar, manter ou ajustar a forma como o pasto fica na área. É uma combinação de fatores de produção que deveria ter como lógica gerar uma condição de pasto ótima para atender o objetivo que o produtor tem de produção.

Mundo do Leite – O que o senhor costuma dizer aos alunos? Sila Carneiro – Basicamente, as pessoas estão muito preocupadas com disciplinas mais profissionalizantes, disciplinas finais, como forragicultura, no que diz respeito a manejo da pastagem, manejo do pastejo, adubação, conservação, suplementação. São assuntos extremamente importantes, mas são acessórios. Planta e animal não respondem à quantidade de adubo pela quantidade de adubo. Não respondem ao tipo de suplemento pelo tipo de suplemento. Fertilizante, irrigação, são formas de você propiciar, à planta no campo, ser mantida numa determinada condição, determinada altura, deter-

ML – E isso tem sido compreendido e aplicado… SC – Já faz alguns anos que esse tipo de estudo vem sendo feito. Eu voltei ao Brasil em 1994, e naquela época existia o paradigma do sistema intensivo de produção, aquele em que o método de pastejo é o rotativo, o pasto é adubado com nitrogênio, é irrigado, a rotação é feita respeitando uma sequência de piquetes, na ordem cronológica, em um número de dias pré-determinado em função do cultivar e da espécie – 28, 30, 35 dias. Na realidade, isso funciona muito bem quando o pasto da pessoa cresce devagar. Tanto faz colher a planta no ponto certo ditado pela planta ou colher no calendário, 30 dias, 35 dias. Pra quem não fazia o controle isso é um avanço quântico em termos de gestão da fazenda, de mudança de paradigma de gestão, ou seja, como controlar


para poder produzir. Mas à medida que o ambiente melhora, com os animais fazendo a desfolha de maneira mais uniforme, concentrando a excreta e a urina num determinado lugar, o produtor se predispondo a jogar fertilizante no pasto, isso, em questão de um ano, dois anos, melhora muito a condição de crescimento das plantas no pasto. E aí, na mesma área, elas passam a crescer numa velocidade muito maior. E elas crescendo mais rápido, o produtor começa a sentir sintomas que antes ele não tinha, quais sejam, a dificuldade de rebaixar o pasto, a necessidade de fazer repasse o tempo inteiro, o pasto fica muito alto e acumula colmo, talo, e ele se vê na necessidade de roçar o pasto. O indivíduo compra uma roçadeira e acha que aquela é a solução perfeita pra fazenda, ele tá feliz roçando pasto todo ano. Na realidade, quando isso acontece, é sinal que ele realizou o benefício do primeiro investimento, que é organizar a colheita. E ele está pronto para entender, agora, por meio da sinalização do sistema, que aquilo que ele assumia como controle, que era fazer a rotação, no sentido certo, respeitando a cronologia no tempo fixo, é agora um problema sério, porque a planta não reconhece cronologia, ela não cresce em função de dias, ela cresce em função de condição de crescimento: água, luz, temperatura.

cima das outras, ela começa a fazer colmo e começa a dificuldade de baixar o pasto, de repassar o pasto. Prejudica os animais que fazem o repasse porque os força a comer um material que não é tão bom. Prejudica a planta porque remove muita área foliar e isso faz a planta rebrotar muito lentamente, favorecendo a entrada de invasoras. Enfim, ocorre um processo de degradação da área. Então, esse produtor, quando chega nesse ponto, vem e pergunta pro técnico: “Olha, até agora eu fiz tudo que você falou pra mim. Eu dividi meus piquetes, estou fazendo a minha ocupação mais curta possível” – no caso do gado de leite, o ideal é que seja de um

ML – E o que o produtor tem que fazer? SC – Como ele agora tem um solo melhor, fertilidade melhor, a planta cresce mais rápido. E o que há dois anos era uma coisa boa, agora, com uma velocidade maior de crescimento e com o mesmo tempo de rotação dos piquetes, ela vai além do ponto, ela vai ficar mais alta, e quanto mais alta a planta, a partir de um determinado momento ela começa a fazer sombra nela própria, e toda planta sombreada responde fazendo colmo, talo, que é o alongamento dos entrenós como forma de empurrar a folha nova por cima das outras. É questão de sobrevivência! E aí, quando ela projeta folha nova por

A principal praga do pasto é o boi, ou é a vaca. Quem é que vai sair matando boi e vaca para manter a perenização da pastagem?”

Com o tempo, o pastejo rotacionado melhora tanto o solo que exige mudança

dia ou menos de um dia -, “o que eu tô fazendo de errado?” Se o técnico não está preparado para entender o processo evolutivo do indivíduo ele vai achar que na prática a teoria é outra. E não é. Se o produtor está num nível de melhora e de ganho que ele próprio implementou, o que ele precisa entender agora é que aquela que era a solução dele quando ele entrou no sistema passou a ser o problema, porque o pasto dele agora cresce tão bem que os dias fixos de rotação que ele faz, relativamente, é um prazo muito longo, porque o pasto é muito bom. Se você parar para pensar que a planta tem um ponto de colheita certo, quando você colhe a planta e deixa ela pra iniciar o crescimento ela tem que iniciar a rebrota e terminar a rebrota nesse ponto. Quanto mais rápido ela cresce, menos tempo ela levará pra chegar nesse ponto, então obviamente o tempo de descanso do pasto tem que ser encurtado. Quando o indivíduo não encurta o tempo e mantém a velocidade alta de crescimento, o capim sempre vai passar do ponto, e quanto melhor o pasto, pior o problema, porque mais passa, e essa é a ironia do sistema. O indivíduo que não entende, ele investe e passa a ser refém da solução, que na realidade não é a solução, porque o senso de controle não vem do calendário, mas vem da organização da colheita. E, na organização da colheita, quando se faz rotativo, o pressuposto báMundo do Leite – abr/mai 2018

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Entrevista sico é: “Você tira o animal do pasto para ele crescer na ausência dos animais”, e isso quer dizer que você tem a obrigação de saber a hora de trazer os animais de volta, e quem diz que está na hora de trazer de volta não é o calendário, é a própria planta! Existem indicadores de campo que dizem pra você: “Tá na hora de pôr”. O que eu costumo dizer pro produtor é: “Seu pasto fala com você. Você escuta?” A gente precisa aprender a linguagem do pasto. E você me perguntou: isso está sendo usado? Bastante. O Sebrae de Minas Gerais tem um programa que se chama Educampo Leite. Eu fiz muita palestra em Minas Gerais. E de 94 pra cá, se você começar a falar em pastejo rotacionado em simpósios e reuniões de produtores, as pessoas já têm dificuldade de falar de rotacionado com o uso de período fixo de descanso. Já existe consciência da importância de você variar o descanso. Ele pode ser mais curto quanto melhor for o crescimento da planta, ou mais longo em função de um crescimento mais lento. Tem produtores que se beneficiam muito disso daí. Isso vale pra leite e pra corte. ML – E isso é no olho... SC – No olho, transformando a ciência em prática. Se você pegar um pasto mal manejado e trabalhar ele no ponto certo de colheita, você pode esperar um incremento de produção de leite por vaca por dia da ordem de 20% a 30%. Isso vem não de adubação, não de suplementação, vem simplesmente de pôr a vaca no pasto na hora certa. Se você pensar em taxa de lotação, o seu ganho é da ordem de 40% a 50% a mais de animais por hectare. “Mas como pode colocar um animal num pasto mais baixo, teoricamente com menor produção, como é que vai caber mais animais?” Vai, porque você vai desperdiçar menos. A redução das perdas é da ordem de 75%. Você não precisa roçar. A necessidade de repasse praticamente desaparece. Então, quando você associa o ganho de lotação e o ganho de produção por animal nós estamos falando de um incremento de produtividade – quilos de leite por hec6

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O descanso da pastagem não tem que seguir o calendário. É a planta que determina

tare por dia – da ordem de 40% a 50%. Isso é ganho que tá na mão do produtor! Não é negar o benefício da adubação. Ela é necessária, irrigação também. Todos os insumos são muito bons, desde que sejam usados no contexto em que você colhe a forragem do pasto em primeiro lugar. Para eu dobrar a produtividade de uma fazenda hoje, na maior parte das vezes não preciso lançar mão de R$ 1 em insumo adicional. Basta colher bem a forragem. Em colhendo bem, aí sim, use e abuse do fertilizante nitrogenado, de irrigação, de genética, de suplementação, porque para cada real investido nisso, por você assegurar a colheita bem-feita, o retorno é sempre muito alto.

Planta não reconhece cronologia, ela não cresce em função de dias, ela cresce em função de condição de crescimento: água, luz, temperatura”

ML – Por que a maioria dos produtores não faz o sistema rotacionado e muito menos tem esse olhar clínico, digamos, em relação a esse conhecimento? SC – Na agricultura, a diferença entre a quantidade de conhecimento disponível em relação ao que é realizado no campo hoje, é muito pequena. O agricultor brasileiro é muito eficiente, ele entende o benefício do uso do conhecimento e da técnica. Não é à toa que o Brasil é líder mundial nisso. Em contrapartida, o pecuarista nacional é extremamente tradicionalista. Existe conhecimento, nós estamos conversando sobre ele, mas a realidade na média geral do país fica longe disso. E a distância é a dificuldade que o indivíduo tem de usar essa informação, a resistência que existe. Por tradição, pelo conceito de que pasto é aquela coisa barata que cresce verde e que está sempre lá, que não pode ser adubado porque fica caro... Serviços que favorecem a chegada dessa informação de uma maneira mais fácil para o produtor, como o exemplo do Educampo, são importantes. Goiás tem programas dessa natureza, Mato Grosso também. Algumas empresas particulares que trabalham com insumos passaram a levar a informação, para a fidelização de cliente. Mas na média o problema é grande porque, primeiro, o indivíduo tem uma consciência muito errada do que é produzir animal a


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Entrevista pasto. Pasto, se for comparar com qualquer outra cultura agrícola, é muito mais exigente. Em termos de manejo e em termos de fertilidade. Uma cultura agrícola é planejada para gerar um grão, um cereal ou um fruto, e esse grão ou cereal ou fruto requer enchimento, que vem do que a planta produz enquanto ela cresce. Para isso ela tem que ter bastante folha pra fazer fotossíntese e exportar isso pro fruto. Qualquer praga que prejudique a área foliar da planta, que comprometa a fotossíntese e a produção para encher o grão, precisa ser eliminada. E a agricultura faz isso. Ela mata a praga para favorecer a cultura. O pasto é uma planta que, primeiro, não é de um ciclo só. Ela é perene. Então ela tem que ser colhida, recolhida, recolhida, recolhida, indefinidamente, porque é perene. Já começa aí o processo. Segundo, é uma cultura que é colhida pela própria praga. A principal praga do pasto é o boi, ou é a vaca. Quem é que vai sair matando boi e vaca para manter a perenização da pastagem? A praga tem que ser muito beneficiada para produzir muito leite e carne sem matar a cultura. É como chegar prum produtor de algodão e dizer que ele tem que produzir muita pluma de algodão e caminhões e caminhões de bicudo! Se você levar pro lado da formação, qualquer cereal tem uma semente que é enorme relativamente ao tamanho da semente de uma planta forrageira. E tamanho de semente, basicamente, é a quantidade de reserva que a semente tem. Uma planta de milho, de feijão, de arroz que germina tem uma quantidade de reserva, enquanto ela não faz folha e não é auto-suficiente, muito maior do que uma planta que vem de uma semente de forrageira. Qualquer déficit hídrico, qualquer limitação de nutrientes que atrase o crescimento dessa planta é muito mais severo. Então, os cuidados de instalação e manutenção da forrageira são muito maiores. Uma planta que é predada constantemente, que tem que se renovar o tempo inteiro como é o pasto… Nutriente não cai do céu. Ele é retirado do solo. O cara da agricultura entende isso e fertiliza, corrige o solo, faz adubação de manutenção, e o 8

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O Brasil tem uma deficiência muito grande no processo de transferência da informação de onde ela é gerada, que são as universidades, centros e institutos de pesquisa, para o usuário no campo” pecuarista acha que o pasto não pode ser adubado porque se adubar fica caro! Que o pasto tem que produzir a vida inteira e o animal tem que comer e ficar gordo, produzir muito leite! O cara que faz isso, infelizmente, não encara a atividade dele como profissional. O indivíduo que tem um olho aberto passa a valorizar a planta, entende que a base de alimentação dos animais para o sistema dele é o pasto, e portanto precisa cuidar bem do pasto. Tanto que o melhor pecuarista hoje não é o pecuarista tradicional. É o agricultor que entendeu a necessidade da rotação de culturas e trouxe, além de outras culturas de rotação, o pasto como forma de auxiliar a qualidade do solo. E esse indivíduo leva pra pecuária a cultura de manejo, a cultura de agricultura que ele tem. Quer saber qual é a demanda do animal, qual é o requerimento da planta, e ele fornece. ML – O senhor acredita que o caminho entre a universidade e o produtor está devidamente pavimentado ou ainda tem buracos no percurso? SC – Na minha opinião o Brasil tem uma

deficiência muito grande no processo de transferência da informação de onde ela é gerada, que são as universidades, centros e institutos de pesquisa, para o usuário no campo. Existia uma rede de extensão rural que foi desaparecendo com o tempo. As Emateres, Catis e tudo mais. Prestavam um serviço muito bom, chave no processo, que é levar a informação, coisa que em país desenvolvido existe de uma maneira muito forte. A Nova Zelândia tem um sistema muito forte de extensão. Trabalha com produtores que se reúnem, fazem grupos de discussão, e tudo mais. Os Estados Unidos, de maneira diferente, também têm. Nós não temos nem um tipo e nem o outro no Brasil. Então fica um buraco. Quem é que faz essa transferência? Quem gera o conhecimento, porque sente a necessidade de que a informação seja usada, sabe a importância disso. Cabe então ao pesquisador treinar alunos e treinar pessoas, cabe a ele arrumar tempo para isso. E isso limita muito porque a gente não é valorizado na universidade pela informação que leva, mas sim pelo que gera, e por conta disso não é muita gente que se preocupa em fazer extensão. Apesar disso, em qualquer discurso de reitor de universidade a universidade é descrita como uma tríade de pesquisa, ensino e extensão. Mas se você for ver como é que opera, a valorização do docente é por pesquisa, depois ensino, e por último, extensão. Então, existe sim uma deficiência de serviço de extensão. ML – Isso seria papel do Estado? SC – Isso é papel estratégico do país. Se tem ciência, tem conhecimento de qualidade – e o país é reconhecido pela ciência que faz –, como é que se explica esse conhecimento não chegar na base? É porque existe um hiato aí, carente. O investimento precisa ser feito, e quem tem que fazer é o órgão central, é quem toma conta das políticas agrícolas do país. Isso alavanca a produção do país, porque quem sustenta o produto interno bruto do país há bastante tempo é a agropecuária.



Planejamento

Coleta de solo para análise para verificar a necessidade de calagem e adubação

Hora de pensar grande Qualquer estratégia alimentar para o rebanho em 2019 deve começar a ser planejada agora, em abril Tatiana Souto

O

período seco do ano começa a partir de abril no Centro-Sul, onde se concentra a maior parte da produção leiteira no País. Além das manutenções de praxe na infraestrutura da propriedade, como revisão e eventuais consertos de telhados, sombrites, cochos, cercas, estradas de terra e de acesso do rebanho às instalações, em função da menor incidência de chuvas, este é o momento também de o produtor começar a planejar o ano seguinte. Mas já, se 2018 mal começou? Sim. Especialistas ouvidos pela reportagem fazem coro na seguinte orientação: o ano em que estamos, em se tratando de pecuária leiteira, deve ter sido inteirinho pensado e planejado no ano anterior. Mês a mês, segue-se uma agenda de práticas rotineiras, mas essenciais. E as principais medidas são as relacionadas à garantia de alimentação farta e de qualidade ao rebanho, não importando se a época for a das águas ou de estiagem. Assim, a principal orientação para o pecuarista que quiser garantir pasto e outro tipo de volumoso, como silagem ou cana-de-açúcar picada, para o ano que vem é já ir providenciando, em abril, a coleta de amostras de solo para posterior análise, indica o engenheiro agrônomo sênior da Cooperativa Agroindustrial dos Produtores Rurais do Sudoeste Goiano,

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a Comigo, Eduardo Hara. Ao coletar essas amostras dos piquetes de pastagem e das áreas destinadas ao plantio de milho e cana ou alguma outra forrageira, é possível identificar as necessidades de adubação e correção do solo de cada talhão. “Em seguida, pode-se aplicar o calcário para corrigir a acidez, preparando o terreno para receber o adubo quando as águas voltarem”, diz Hara. Ele comenta também que, agora em abril, a procura por calcário e fertilizantes por parte dos grandes produtores de grãos ainda não é intensa, pois eles estão concentrados na colheita da safra de verão. “Assim, dá para comprar esses insumos a preços menores”, informa. O calcário é aplicado, na orientação de Hara, em piquetes que acabaram de ser pastejados. “Vai saindo (o rebanho do piquete), vai jogando (o calcário)”, diz. Período ideal O coordenador do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural do Rio de Janeiro (Senar-RJ), Maurício Sales, é categórico: “A vaca é consequência de uma boa pastagem”. Ele também confirma que os cuidados com a comida do ano que vem começam agora. “Abril é o período ideal para planejar como será o pasto de verão e do inverno na próxima temporada”, diz. Já no caso da cana, que costuma ser servida picada no cocho no período seco e tem um ciclo mais longo, de um ano e meio, o preparo do solo começa agora para se ter a gramínea somente na seca de


Na sobressemeadura, o gado entra e, no pisoteio, ‘planta’ as sementes, que brotarão e garantirão alimento farto no inverno” João Rossetto Júnior Engenheiro agrônomo da Agrodinâmica

“A vaca é consequência de uma boa pastagem” (Maurício Sales)

2019. Sales comenta ainda que abril/maio é um período importante para planejar o nível de fertilidade do solo em função da lotação de cada piquete. “Se eu tenho 2 hectares de pasto e 10 vacas, com um reforço na fertilização do solo é possível trabalhar com 20 animais no mesmo espaço”, justifica. “Para isso tem de ‘apertar’ não somente a adubação, como também instalar irrigação.” Como medida de precaução, para garantir uma boa nutrição do plantel ao longo do ano, Sales lembra que qualquer projeção feita agora deve pensar sempre um pouco além das necessidades do gado: “Se a região costuma ter, por exemplo, três meses de estiagem, deve-se calcular a produção de forragem para quatro ou cinco meses”, recomenda. Uma providência que pode ser tomada agora em abril, mas apenas para quem tem pasto irrigado, é a sobressemeadura dos piquetes, ensina o engenheiro agrônomo João Rossetto Júnior, da Agrodinâmica, consultoria com sede em Cerqueira César (SP). Na estiagem do Centro-Sul do País, costuma-se utilizar para isso a aveia ou o azevém, que resistem mais ao frio, mas não à seca – por isso devem crescer sob irrigação. “Antes de o gado entrar no piquete faz-se a semeadura dessas gramíneas (à escolha do produtor, se aveia ou azevém), e, em seguida, uma adubação nitrogenada de cobertura”, explica Rossetto Júnior. “O gado entra e, no pisoteio, ‘planta’ as sementes, que brotarão e garantirão alimento farto no inverno.” Também neste mês de abril e como estratégia para prolongar a qualidade de áreas não irrigadas pode-se fazer uma última adubação de cobertura, já que no quarto mês do ano ainda há chance de chover um pouco, sendo que a umidade é essencial para o fertilizante ser absorvido pelo solo. Outro assunto a ser pensado já desde abril para o ano que vem diz respeito ao tamanho do rebanho

que se quer ter até lá. A principal orientação do consultor e pesquisador Wagner Beskow, sócio administrador da Transpondo Pesquisa, Treinamento e Consultoria, com sede em Cruz Alta (RS), é que “o produtor não pode ficar querendo aumentar a produção de leite simplesmente aumentando o rebanho”. Antes de tomar a decisão de adquirir mais animais – seja em que época for e, inclusive, nesta época do ano, com a tendência de o leite subir por causa da estiagem, as vacas costumam subir de preço também, lembra Sales, do Senar – Beskow orienta o pecuarista a medir a eficiência produtiva do rebanho. “Que resultado ele tem por vaca/dia? Se o custo fixo dele for, por exemplo, equivalente a 15 litros de leite por animal/dia, cada vaca tem de produzir um volume maior do que este para o produtor começar a ter lucro”, exemplifica. “Então, pode-se pensar em aumentar o rebanho, mas isso só se o rebanho for eficiente e a ‘casa’ do produtor estiver arrumada e bem planejada”, diz. “Assim, essencial é pensar, primeiro, em aumentar a produtividade dos animais disponíveis, além da produtividade dos funcionários, da terra e de todo o sistema produtivo.” Preparativo Para isso, agora em abril volta-se à questão de iniciar os tratos com o solo para garantir maior produtividade, reafirma o consultor da Transpondo. “O que ele fizer agora já é um preparativo para a volta do período das águas, lá por setembro/outubro. O produtor vai ter de decidir agora se forma mais pasto, se intensifica, se forma mais piquetes, se vai irrigar...”, orienta Beskow, assinalando que a partir da decisão tomada as estratégias terão de ser adotadas agora. Ele alerta também para a necessidade de se evitar o pastejo excessivo de áreas nos meses de seca – medida que se inclui na estratégia de conseguir

“O produtor não pode ficar querendo aumentar a produção de leite simplesmente aumentando o rebanho” Wagner Beskow Consultor da Transpondo

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Planejamento um rebrote vigoroso e uniforme lá na frente, quando as chuvas voltarem. “Produtores que têm pastagem perene – sendo a mais comum com braquiária – e mantêm os animais pastejando no inverno vão sobrecarregar a área, subalimentar o gado e tolher a recuperação das plantas no retorno das águas, pois os poucos brotos que surgem no período seco o gado vai lá e come. Em novembro, com o período chuvoso já estabelecido, o pasto não se recupera porque o gado consumiu a área quando ela deveria estar em pousio, formando uma reserva de carboidratos para rebrotar na época certa.” Descarte Outra estratégia que pode ser adotada em abril – mas não necessariamente só neste mês – é o descarte de animais improdutivos, mais velhos e com problemas crônicos de saúde, orienta Eduardo Hara, da Comigo. “Se houver menor capacidade de pasto na propriedade, por causa da estiagem, é uma medida efetiva de redução de custos”, justifica. “Podem ser descartadas, por exemplo, vacas com problemas incorrigíveis nas patas (se o problema resultar em produtividade

“Se houver menor capacidade de pasto na propriedade, por causa da estiagem, o descarte de animais é uma medida efetiva de redução de custos” Eduardo Hara Engenheiro agrônomo da Comigo

menor de leite), com doenças crônicas e aquelas de maior idade e com menor potencial produtivo”, diz o agrônomo. Já para a aquisição de animais ele comenta que não é necessariamente uma boa época do ano para se pensar nisso. “A não ser que se adquira uma vaca prenha, que vá parir nos meses de seca – aumentando a produção leiteira da propriedade – e que se tenha alimento suficiente e de qualidade”, diz Hara, ressaltando que essa decisão deve ser muito bem pensada, e posterior a todas as outras medidas estratégicas que já deveriam ter sido tomadas em relação à garantia de nutrição do rebanho. E que foram feitas lá atrás. Um ano antes.

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Gestão Christiano Nascif Zootecnista, coordenador de assistência do Pdpl-RV do Projeto Educampo/Sebrae e proprietário da Labor rural. E-mail contatos@laborrural.com, tel. (31)3899-5251

Grandes produtores em pequenas áreas

O

investimento para estruturar uma propriedade, com objetivo de produzir leite, é muito alto. Predominantemente, do capital investido na atividade leiteira, no mínimo 50% são destinados às terras. Analisamos 478 propriedades participantes do Projeto Educampo/Sebrae, em todo o Estado de Minas Gerais. Dessas, dezoito utilizam 100% das terras arrendadas para a atividade leiteira; 223, investem de 40% a 60% do capital em terras, enquanto 129 propriedades investem mais de 60% em terras. A realidade brasileira, assim como a sua, caro leitor e produtor de leite que nos lê neste momento, é a mesma. No período de janeiro a dezembro de 2017, os produtores com 100% das terras arrendadas produziram, em média, 967 litros/dia; os que possuem 40% a 60% produziram 1.510 l/d; e aqueles que possuem acima de 60%, produziram 1.163 l/d. A pergunta é: quem ganha mais dinheiro, o produtor de leite que trabalha em terras arrendadas ou o que utiliza a própria terra? A resposta é: depende. Vamos combinar: para responder a esta pergunta de forma imparcial, a possível valorização ou desvalorização

Indicadores técnicos estratificados da atividade leiteira dos produtores do Educampo, em Minas Gerais Indicadores

Unidade

100% arrendada

40-60% terra própria

> 60% terra própria

18 fazendas

223 fazendas

124 fazendas

Área usada para pecuária

ha

50

96

110

Produção média de leite

L/dia

967,14

1.510,52

1.163,70

Vacas em lactação/Área para pecuária

Cab.

1,10

0,87

0,67

Produção/Área para pecuária

L/ha/ ano

7.072,50

5.763,16

3.868,02

Fonte: Sebrae Minas. Dados de janeiro a dezembro de 2017, deflacionados pelo IGP-DI de janeiro/2018.

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das terras não entra na análise. O que será avaliado é o negócio atividade leiteira e não o empreendimento rural. Os resultados positivos ou negativos da especulação imobiliária não comporão o resultado final da análise. O grupo de produtores com 100% das terras arrendadas utiliza, em média, 50 hectares para a atividade leiteira. Já o grupo com 40% a 60% utilizou 96 hectares, enquanto o grupo com mais de 60% investido em terras utilizou 110 hectares. Como grande parte do capital empatado na atividade leiteira está em terras, ganhar ou não dinheiro, para os produtores com terra própria, dependerá da eficiência com que a utilizam. Dessa forma serão mais eficientes no uso do capital empatado e, consequentemente, colocarão mais dinheiro no bolso. Aqueles que arrendaram colocaram 1,10 vaca em lactação/hectare (vl/ha); já os que possuem terra procederam assim: os que investiram 40% a 60% do capital colocaram 0,87 vl/ha; os que investiram mais de 60%, colocaram 0,67 vl/ha. Ressaltamos que o valor-referência para esse indicador, em sistemas de semiconfinamento, é de, no mínimo, 1 vl/ha. A produtividade média dos rebanhos, medida em litros por vaca em lactação por dia (l/ vl/d), teve resultado bem semelhante; entretanto, a produtividade de leite por hectare por ano (l/ha/ano), indicador que mede a eficiência no uso das terras, foi bem diferente entre os grupos. O grupo do arrendamento alcançou a marca de 7.072 l/ha/ano e o de mais de 60% alcançou 3.868 l/ha/ano. Diferença significativa, não acham? Se 7.072 l/ha/ano é uma boa marca, embora ainda precise ser melhorada, imagine os outros dois grupos analisados. Essa baixa eficiência no uso da terra certamente pesará no bolso desses produtores. Será? O ineficiente uso das terras reflete no alto capital empatado por litro de leite produzido por dia (R$/l/dia). Enquanto os arrendadores empataram R$ 526 l/d, o grupo de 40% a 60% empatou R$ 1.415 l/d e aqueles com mais



Gestão Gráfico 1: Indicadores econômicos estratificados da atividade leiteira dos produtores do Educampo, em Minas Gerais.

Gráfico 2: Indicadores econômicos estratificados da atividade leiteira dos produtores do Educampo, em Minas Gerais.

Fonte: Sebrae Minas. Dados janeiro a dezembro de 2017, deflacionados pelo IGP-DI de janeiro/2018.

Fonte: Sebrae Minas. Dados janeiro a dezembro de 2017, deflacionados pelo IGP-DI de janeiro/2018.

de 60% empataram R$ 2.455 l/d. Principalmente para este último, é muito capital empatado para produzir pouco leite, ou seja, isto é ineficiência. O valor-referência para aqueles que produzem em terra própria é de R$ 1.200 l/d e, para os produtores que utilizam terras arrendadas, é de R$ 500 a R$ 600 l/d. Quando a cabeça não pensa, o bolso paga. Os arrendadores alcançaram R$ 577 por hectare por ano de lucro com a atividade leiteira no período analisado. Os produtores do grupo de 40% a 60% conseguiram R$ 636 por hectare por ano, e os com mais de 60% do capital empatado em terras alcançaram R$ 424 por hectare/ano. Quando analisamos as taxas de rentabilidade, a eficiência ou ineficiência no uso da terra fica ainda mais gritante. Se não incluímos o valor empatado em terra na análise, a taxa média de retorno sobre o capital dos arrendadores é igual a 11,49% a.a; a taxa média de retorno do grupo que utilizou 40% a 60% da terra é igual a 11,00% a.a; e do grupo com mais de 60%, 11,04% a.a. Ao incluir-

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Mundo do Leite – abr/mai 2018

mos a terra, somente para os grupos com terra própria, a taxa de retorno do capital passa a ser de 5,53% a.a para o grupo de 40% a 60% e de 3,23% a.a para o grupo com mais de 60%. Em ambos os casos a atividade leiteira se mostra viável, porém, pouco atrativa economicamente. Para o grupo com mais de 60% do capital empatado em terra, pior ainda, muito abaixo dos 6% a.a, que é o valor real mínimo aceitável para se ter uma atividade economicamente atrativa. Diante do exposto, o que é melhor: desenvolver atividade leiteira em terras arrendadas ou próprias? Depende. Se você, produtor, for eficiente para alcançar alta produtividade de leite por hectare, com equilíbrio econômico e financeiro, tenha a sua própria terra, que será para você um ótimo negócio. Caso contrário, a atividade leiteira em terras arrendadas será o melhor negócio e o seu bolso agradece. Uma certeza temos: a tendência da atividade leiteira é por grandes produtores de leite em pequenas áreas.


Ação Ideal Marcelo de Rezende

Engenheiro agrônomo especializado em sistemas intensivos de produção de leite e corte e diretor-presidente da Cooperativa para Inovação e Desenvolvimento de Atividade Leiteira (Cooperideal), e-mail marcelo@cooperideal.com.br

Cuidando da nossa terra

A

A utilização de plantas tropicais de alto potencial produtivo tem viabilizado a atividade leiteira mesmo em micropropriedades”

lguns anos atrás escrevi sobre os fatores de produção a serem manipulados na produção de leite (terra, capital, trabalho e conhecimento). Voltaremos ao tema destacando a terra, fator que merece um destaque especial pois encerra toda a eficiência ou ineficiência da aplicação dos demais fatores, com impacto direto sobre a produtividade e consequente rentabilidade da atividade. De maneira geral a terra não é o principal fator de limitação ao crescimento da atividade leiteira nas nossas propriedades, seja pelo tamanho médio das áreas disponíveis para a atividade, pelo nível de fertilidade inicial das áreas ou por seu valor monetário. As propriedades de menor extensão de terra, comumente encontradas no sul do país, imprimem a esta região a maior taxa de crescimento e de profissionalização da atividade do país, demonstrando que propriedades de menor área são viáveis para a produção de leite. A utilização de plantas tropicais de alto potencial produtivo tem viabilizado a atividade mesmo em micro-propriedades, cuja capacidade de suporte pode ser aumentada em várias vezes em relação ao manejo e ao uso tradicional de plantas menos produtivas. O tipo de solo e a fertilidade também não têm sido fatores impeditivos para a produção de leite, que se tem utilizado cada vez mais da adição de matéria orgânica ao solo (principalmente dejetos de aves e suínos) para a recuperação rápida da fertilidade mesmo em regiões de terras exauridas. Em relação ao valor monetário, o Brasil possui preços de terras significativamente menores que países tradicionais na

produção de leite, como Estados Unidos, Nova Zelândia e os países da União Europeia. Mesmo com preços ainda acessíveis, a valorização da terra tem colocado cada vez mais pressão sobre a atividade leiteira, que necessita ser competitiva em relação às outras opções produtivas do meio rural. O desenvolvimento da agricultura e os bons índices de produtividade alcançados pelos produtores exercem forte influência sobre a valorização da terra nas diversas regiões produtoras, exigindo das atividades de pecuária um maior nível de especialização e eficiência, capaz de oferecer a seus proprietários uma remuneração sobre o capital investido ao menos próxima daquela oferecida pela agricultura. Uma vez que a eficiência na produção animal passa necessariamente pelo sucesso na produção de forragem, independentemente do sistema de produção adotado, são obrigatórios investimentos em fertilidade e manejo adequado do solo na atividade pecuária, e quanto menores forem esses investimentos, maiores serão as necessidades de área (e, portanto, de capital) para uma mesma produção animal. O fator terra ainda é explorado de maneira extremamente ineficiente na pecuária, exigindo maior nível de atenção em relação à conservação e recuperação da fertilidade do solo, ações que farão com que a atividade demande menores áreas para a produção, deixando para trás a caraterística comumente extrativista da atividade. Fatores relacionados à preservação ambiental e à alta valorização das áreas agricultáveis cada vez mais têm obrigado os produtores de leite a buscar alternativas que promovam a eficiência no uso desse precioso bem.

MUITO MAIS LEITE. COM MAIS QUALIDADE.

Mundo do Leite – abr/mai 2018

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Capítulo 4

Sérgio de Oliveira

Adeus às vacas Corria o mês de fevereiro quando nosso Produtor Secreto recebeu o médico veterinário para fazer o exame de toque no rebanho, conforme recomendação do técnico. Seguindo outra recomendação, feita durante a nossa 8ª visita, o produtor também vinha fornecendo meio quilo de farelo de soja por cabeça para as vacas em lactação, de olho no aumento do leite no tanque. Ao final das contas, emergiu um quadro mais realista do rebanho: seis vacas e duas novilhas, ou estavam vazias além do período razoável, ou não reagiram à ração extra no cocho. Resultado: foram descartadas. Foi uma ação radical. Ao eliminar uma vaca ain-

da em lactação e outras, secas, que ele acreditava estarem prenhes – além das novilhas -, o produtor provocou, num primeiro momento, a redução da produção de leite - e a queda da expectativa de produção futura na fazenda. Observando-se o quadro de previsão de partos (as datas de parição foram estimadas pelo veterinário), verifica-se que no curto prazo o produtor não terá condições de aumentar a produção, uma vez que só uma vaca deve parir em abril. Em nossa 9ª visita, no dia 6 de março, o técnico explicou ao produtor qual a melhor estratégia para recompor o rebanho, de modo a rapidamente aumentar a produção de leite. O ideal, segundo o

A revista Mundo do Leite e seus parceiros estão proporcionando assistência técnica especializada a um produtor de leite com o propósito de mostrar que a atividade é rentável quando gerida de forma profissional. Acompanhe o passo a passo deste projeto pioneiro inovador páginas da revista e no Portal DBO. Inspire-se! Mundo edo Leite – nas fev/mar 2018

A


ESQUEMA REPRODUTIVO

PREVISÃO DE PARTOS Abril Nome

Secagem

Parto

Baixinha

22/02/18

23/04/18

Nome Guitarra

Maio

Estado

Estado

Reprod.

Produtivo

Prenhe

Seca

Princesa

Prenhe

Seca

Mafalda

Prenhe

Lactação

Cocada

Prenhe

Lactação

Nome

Secagem

Parto

Princesa

12/03/18

11/05/18

Guitarra

24/03/18

24/05/18

Lokinha*

Vazia

Lactação

Azeitona

Novilha

24/05/18

Dálmata

Novilha

24/05/18

Ligeirinha*

Vazia

Seca

Baixinha

Prenhe

Seca

Nome

Secagem

Parto

Ameixa

Prenhe

Lactação

Folia

Novilha

24/06/18

Orquídea**

Vazia

Lactação

Estrela

Prenhe

Lactação

Junho

Julho Nome

Secagem

Parto

Mococa

Prenhe

Lactação

Mococa

24/05/18

24/07/18

Azeitona

Prenhe

Seca

Nome

Secagem

Parto

Dálmata

Prenhe

Seca

Cocada

18/06/18

18/08/18

Folia

Prenhe

Seca

Ameixa

24/06/18

24/08/18

Agosto

*Descartadas

**Pariu recentemente

Setembro Nome

Secagem

Parto

Estrela

24/07/18

23/09/18

Nome

Secagem

Parto

Mafalda

04/08/18

03/10/18

Outubro

técnico, é adquirir novilhas ou vacas (de no máximo duas lactações) mojando, escalonando as parições (de acordo com o quadro de coberturas exibido pelo vendedor) para ocorrerem naqueles meses onde menos vacas remanescentes devem parir. Considerando que estamos às portas do período de seca, o técnico também recomendou que não se adquiram todos os animais de uma só vez. Aquelas vacas que só vão parir mais adiante implicariam um custo de alimentação desnecessário num momento de queda da produção de leite. O produtor foi orientado a comprar três ou quatro vacas bem chegadinhas, para parir já no mês de abril. Depois, ao longo dos meses, ele poderá ir comprando as demais ca-

Realização

Apoio

beças, até completar o número de oito que foram retiradas do rebanho - ele não pretende, por enquanto, aumentar o rebanho. A ideia é que, com a volta das chuvas e recuperação da pastagem dos piquetes, em outubro/novembro, se tenha todo o potencial produtivo da fazenda sendo utilizado. Naturalmente, os animais adquiridos terão maior capacidade de produção de leite e serão acompanhados em seus aspectos reprodutivos, como já vem sendo feito com as vacas em lactação (Veja quadro Esquema reprodutivo). Para as vacas em lactação que permaneceram na propriedade, o técnico recomendou a seguinte dieta supementar: 1 kg de farelo de soja para cada seis litros de leite produzidos pelo animal, ou, no caso de se dar ração, 1 kg para cada três litros produzidos. Algumas recomendações em relação à compra dos animais são tão importantes que mereceram uma reportagem à parte. Veja à pág. 20.

Patrocínio Mundo do Leite – fev/mar 2018

B


Saúde Animal

Quando errar é fatal O

Na hora de comprar animais, a garantia de sanidade vem em primeiro lugar Vera Campos

Antes de comprar animais, o produtor deve exigir do vendedor laudos que comprovem que eles estão sadios

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produtor que pretende iniciar ou ampliar um plantel de gado leiteiro tem de, necessariamente, antes da compra, exigir do vendedor laudos que comprovem a sanidade dos animais e que garantam, sobretudo, que eles não estão infectados pelas bactérias da tuberculose e da brucelose, doenças crônicas e incuráveis que levam ao descarte de animais. Essa é a garantia para não ser surpreendido depois por problemas desse tipo e ter de arcar com os prejuízos e riscos de contaminação de todo o rebanho. Caso o proprietário não disponha de laudos para essas duas doenças, o comprador deve solicitar que os animais sejam testados, na propriedade do vendedor, e por veterinários credenciados. Os resultados saem de imediato. “Em relação à brucelose e à tuberculose, todo o cuidado é pouco”, afirma o médico veterinário Ricardo Jordão, responsável técnico do Laboratório de Produção de Imunobiológicos do Instituto Biológico de São Paulo, que produz antígenos para a detecção dessas doenças. “Até mesmo animais já vacinados contra brucelose ou provenientes de propriedades certificadas como livres de brucelose e tuberculose devem ser testados previamente, antes da compra, a fim de se evitar riscos de propagação das doenças”, ressalta. A brucelose e a tuberculose bovinas se espalham por todo o território nacional, mas algumas regiões se destacam.

Brucelose

Tuberculose

A brucelose é uma doença infectocontagiosa crônica que atinge bovinos de todas as idades e de ambos os sexos. Provoca abortos, retenções da placenta, metrites, subfertilidade, infertilidade, nascimento de animais fracos e queda na produção de leite. Os animais contaminados têm de ser mortos, segundo determinação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).

Em bovinos, a tuberculose causa lesões em diversos órgãos e tecidos, como pulmões, fígado, baço e até nas carcaças e no úbere. Dependendo da fase da infecção, os animais podem apresentar emagrecimento acentuado e tosse, mas, muitas vezes, não há sintomas perceptíveis. Nesse caso, a tuberculose se torna crônica, causa queda na produção leiteira e pode ser transmissível para o homem tanto pelo leite como pela aspiração de gotículas de saliva de animais contaminados.

Mundo do Leite – abr/mai 2018


É o caso do Centro-Oeste, com prevalência mais elevada da brucelose. Em relação à tuberculose, a prevalência de focos (propriedades com pelo menos um animal infectado) ocorre mais no Espírito Santo e em Minas Gerais. Certificação O impacto negativo dessas doenças sobre a pecuária e a saúde humana é tão grande no Brasil que, em 2000, o Mapa implementou o Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e da Tuberculose Animal (PNCEBT). Além da intenção de reduzir a prevalência e a incidência de novos casos em todo o país, o Programa objetiva criar um número significativo de propriedades certificadas ou monitoradas que ofereçam ao consumidor produtos de baixo risco sanitário. “É recomendável, portanto, que os compradores busquem essas propriedades na hora de adquirir novas cabeças”, diz Jordão. “Ainda assim, o comprador deve exigir novos testes de detecção de tuberculose e de brucelose nos animais desejados, pois pode ser que o plantel tenha recebido algumas cabeças recentemente e alguma delas esteja contaminada, com a doença em fase de incubação”, salienta. Até mesmo as fêmeas vacinadas contra a brucelose devem ser submetidas aos testes, “pois nenhuma vacina dá 100% de garantia de que o animal não seja infectado”. Os testes devem ser realizados na propriedade do vendedor, pelo veterinário de campo, de preferência com a presença do comprador. O de brucelose é feito in vitro, após coleta de sangue dos animais, e o de tuberculose in vivo, e são dois: o primeiro é simples, de rotina, realizado com o antígeno da bactéria tuberculina bovina, e o segundo, feito em seguida, com antígenos da tuberculose bovina e da aviária.

Não pode faltar Atualmente, o Instituto Biológico de São Paulo (IB) é a única entidade credenciada pelo Mapa para o desenvolvimento de antígenos para brucelose e tuberculose. Até há pouco mais de um ano, a produção era feita também pelo Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar). Juntas, as duas entidades produziam cerca de 10 milhões de doses/ano, mas não supriam plenamente o mercado, estimado, em 2016, em 11 milhões de doses. Por inconformidades encontradas na produção, desde dezembro daquele ano o Tecpar está proibido de fornecer os antígenos. Para atender a demanda, que vem num crescente por conta das adesões dos criadores ao Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e da Tuberculose Animal, o governo autorizou, no ano passado, a importação, pela iniciativa privada, de antígenos da fabricante uruguaia Microsules. A boa notícia é que o IB está recebendo investimentos de cerca de R$ 4 milhões, provenientes de diversas fontes, incluindo-se aí o governo do Estado de São Paulo e agências de fomento, para aplicar na compra e instalação de equipamentos que vão multiplicar por dez a capacidade produtiva da instituição para a produção de antígenos para testes de brucelose e tuberculose, hoje na casa das 4 milhões de doses/ ano. A meta inicial, no entanto, é triplicar esse volume. O aporte possibilitará também a produção de frascos menores contendo apenas 10 doses para testes de Tuberculina e 30 para testes de Brucella, o que evitará o desperdício nas propriedades e reduzirá os custos da aplicação. Atualmente, os fracos vêm com 50 e 160 doses, respectivamente, e o que não é utilizado acaba sendo descartado pelos criadores. De acordo com Ricardo Jordão, em março, os contratos de fornecimento estavam prestes a serem assinados. A previsão é de que os novos equipamentos estejam instalados e funcionando a partir do início de 2019. “O objetivo é atender toda a demanda nacional por antígenos de brucelose e de tuberculose”, finaliza.

Mundo do Leite – abr/mai 2018

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Saúde Animal Fotos Fabio Celidonio Pogliani

Fissura de linha branca

Dermatite digital e hiperplasia interdigital

Passo em falso Podem ocorrer diferentes doenças ao mesmo tempo em um mesmo casco, ou em diferentes cascos de um mesmo animal Cris Olivette

N

ão é raro identificar, em um rebanho leiteiro, alguma vaca mancando. Pode ser efeito de uma pisada mais forte numa pedra, coisa que logo passa. Mas pode ser também algo muito mais complicado, que vai atingir em cheio o bolso do produtor. “Saber identificar as doenças e suas causas, que podem ser de origem infecciosa, traumática, metabólica, genética, nutricional, entre outras, bem como identificar os fatores que aumentam as chances de ter o problema, é fundamental antes de tratar o casco doente de forma isolada ao contexto”, diz o professor da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ/USP), Fabio Celidonio Pogliani. “Podem ocorrer diferentes doenças em um mesmo casco, ou em diferentes cascos de um mesmo animal.

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Mundo do Leite – abr/mai 2018

Úlcera de sola

Após o produtor obter o diagnóstico correto, segundo Pogliani, é possível ter um panorama geral da situação na propriedade, para então elencar as prioridades e objetivos. “Com o diagnóstico é possível definir correções, mudanças e reformas na área. Individualmente, deve-se realizar o tratamento dos animais enfermos e descartar aqueles com problemas crônicos. Além disso, a mão de obra deve ser bem treinada para identificar precocemente os animais com problema e determinar mensalmente o escore de locomoção do rebanho.” Ele diz que dieta mal equilibrada pode deixar o casco mais frágil e cita como exemplo a deficiência de zinco e biotina, que tornam o casco predisposto a lesões traumáticas e, consequentemente, infecções secundárias. “Porém, quando se fala em desequilíbrio da dieta relacionado ao excesso de carboidratos, estudos recentes contrariam a teoria clássica de que este excesso de concentrados provocará acidose ruminal crônica (ou subaguda), tendo como consequência o surgimento de laminite crônica e suas sequelas, como doenças de ruptura do casco (úlcera de sola).” Segundo ele, estudos de revisão de literatura e estudos controlados e direcionados ao estabelecimento da relação causa-consequência comprovam que não há evidências que dão suporte a essa conclusão, havendo somente dados de forte correlação entre os acontecimentos. “A acidose ruminal crônica e as lesões de ruptura de casco ocorrem de forma simultânea, porém, o primeiro fator não é condição obrigatória para o surgimento do outro problema. Pesquisas demonstram que animais com pouca perda de condição corporal após o parto e confinados em ambiente confortável durante a lactação não apresentam elevada incidência de úlceras de sola, pouco importando a quantidade de concentrados recebidos na dieta.”


Entretanto, além da forma crônica, ele diz que quando a ingestão de concentrados é abrupta e em excesso, leva ao desenvolvimento de acidose ruminal aguda, fator determinante para o desenvolvimento da laminite aguda, em função de um quadro degenerativo que atinge os tecidos e o sistema vascular do casco. “Contudo, esta doença é de incidência reduzida na bovinocultura de leite.” Oferta de alimento Pesquisador da Embrapa Gado de Leite/Juiz de Fora (MG), Bruno Carvalho afirma que a alteração vascular prejudica a circulação do sangue na região dos cascos, alterando o padrão de formação do tecido córneo, tornando os cascos mais flexíveis e facilitando o seu desgaste, além de provocar má formação. “Podem ocorrer hemorragias e lesões como a doença de linha branca, dupla sola e úlcera de sola, relacionadas a má formação.” Carvalho diz que, no início da lactação, o aumento da oferta de alimento deve ser gradual e conter bastante fibra para estimular o rúmen. “Também é possível lançar mão de aditivos como o bicarbonato de sódio, que ajuda a tamponar o rúmen e manter o seu pH numa faixa controlada, para evitar a acidose ruminal.” O professor ressalta que o manejo correto é fundamental para a saúde do casco, assim como conforto e bem-estar estão relacionados com o volume da produção de leite e com a saúde dos cascos. Entre os fatores que acarretam problemas ele cita:

falta de apara funcional (casqueamento), instalações inadequadas, camas mal dimensionadas, espaço para alimentação impróprio, elevado tempo de espera antes da ordenha, alta densidade animal, pisos abrasivos e úmidos, longos percursos até a sala de ordenha, ambiente muito sujo de fezes e/ou barro, inexistência ou ineficiência de pedilúvio, entre outros. O pesquisador da Embrapa reforça a necessidade de que o animal tenha local confortável para deitar e descansar. “No período em que permanece deitada, a vaca alivia a pressão sobre os cascos. Se o local não for adequado, ela ficará mais tempo em pé, pressionando os cascos e aumentando a probabilidade de ter doença de casco.” Segundo ele, o local ideal de descanso pode ser na terra ou no capim, desde que esteja livre de objetos como cascalho e pedaços de pau. “Caso utilize cama de areia ou de borracha, o manejo tem de ser correto. A cama de borracha tem de ter cobertura de serragem e a cama de areia deve ter altura ideal.” Carvalho lembra que para aumentar a produção de leite a vaca precisa comer muito. “Quando está com problema de casco, o animal sente dor e prefere deitar. Assim, come menos, reduz a produção de leite e emagrece, aumentando o risco de ter doenças metabólicas.” Pogliani recomenda que a apara funcional (casqueamento) seja encarada como prevenção e não somente como um dos meios de tratamento. “Os animais devem ter os cascos aparados da forma correta e por profissional treinado, com frequência adequada.”

Quais são as principais doenças O professor Pogliani conta que em 2017 foi publicada a nomenclatura padronizada para o Brasil das doenças dos dígitos dos bovinos. No total, são 27 doenças listadas, porém, a incidência pode variar muito em função de diferenças de manejo, raça, produção de leite, tipo de confinamento etc, existentes no país. “Sem considerar regionalismos, podemos citar como as principais doenças a dermatite digital (origem infecciosa), úlcera de sola e a fissura da linha branca (origem traumática).” Pogliani ressalta que a atenção deve ser maior no período mais quente e chuvoso. Em relação à vaca, atenção ao

período pós-parto, sobretudo até os 100 dias. Já no período seco, o animal deve estar com o casco sadio, aparado e preparado para a próxima lactação. Em termos de perdas, o professor diz que pesquisa feita nos EUA aponta que o custo de tratamento de doença do casco pode girar em torno de US$ 478/ vaca, envolvendo perdas diretas e indiretas. Outro estudo cita custo total de US$ 246,90 por animal enfermo. “Dados nacionais apontam o custo médio de US$ 45/vaca somente para o tratamento, sem considerar as perdas indiretas.” Ele afirma que os prejuízos na produção de leite são proporcionais à gra-

vidade da claudicação, sendo que, para vacas com manqueiras de intensidade leve, a redução média na produção de leite é de até 5%. No entanto, em vacas com manqueiras graves a diminuição média pode chegar a 36%. “No contexto da saúde animal, outros sistemas também são acometidos direta e indiretamente por causa de doenças no casco. Dados de pesquisa nacional apontam que vacas com problemas de casco desenvolvem mais mastite (incidência 31% maior), metrite (incidência 12,5% maior), maior número de serviços por concepção (1,3 a mais) e o período de serviço também é significativamente maior, aumentando, em média, 65,5 dias.”

Mundo do Leite – abr/mai 2018

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Qualidade Marcos Veiga Professor Associado da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP, campus de Pirassununga, SP.

Alta CBT do

tanque

O

s problemas de higiene durante a produção e armazenamento do leite são as principais deficiências de qualidade na maioria das fazendas. Com o aumento do transporte do leite por longas distâncias e novos processamentos industriais, há necessidade de melhoria do padrão higiênico. Sem isso, o leite perde valor comercial, reduz o rendimento industrial e aumenta a frequência dos problemas e defeitos de qualidade. A cadeia industrial, como um todo, perde.

A temperatura de armazenamento é o principal fator determinante da velocidade de multiplicação bacteriana

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Da vaca até o tanque Nas vacas sadias, o leite armazenado no úbere praticamente não apresenta contaminação. No entanto, a partir da ordenha, o leite pode ser contaminado por microrganismos a partir de três principais fontes: a) da própria glândula mamária (nas vacas com mastite subclínica), b) higiene de ordenha, c) do equipamento de ordenha e tanque. Desta forma, a contaminação inicial do leite depende das condições de saúde do úbere, da rotina e higiene de ordenha, do ambiente em que a vaca fica alojada e dos procedimentos de limpeza do equipamento de ordenha. Além disso, depois da ordenha, a temperatura e o período de tempo de armazenagem do leite são outros fatores que afetam a contagem bacteriana total (CBT). Mastite como fonte de contaminação Quando o leite é ordenhado de vacas sadias, a CBT do leite é bastante baixa, com valores abaixo de 1.000 bactérias/ml. Entretanto, nas vacas com mastite pode ocorrer aumento significativo da CBT do leite, de acordo com o tipo de microrganismo causador da infecção, do estágio e gravidade da mastite, da prevalência e do tipo de microrganismo causador. Exemplificando: vacas com mastite causada por estreptococos pode apresentar leite com alta contaminação (CBT > 10.000.000 ufc/ml), o que, em um rebanho de 100 vacas, pode representar aumento potencial de cerca de 100.000 ufc/ml sobre a CBT do tanque. O principal grupo de bactérias causadoras de mastite que aumentam a

Mundo do Leite – abr/mai 2018

CBT do leite é gênero Streptococcus, dentre os quais destacam-se como as espécies mais importantes S. agalactiae e S. uberis. Diferentemente do grupo dos estreptococos, Staphylococcus aureus não é considerado uma causa relevante de alta CBT no leite. Sendo assim, quando tanto a CCS quanto a CBT encontram-se elevados, pode-se suspeitar que as vacas com mastite subclínica causada por bactérias como S. agalactiae e S. uberis podem ser uma das fontes de contaminação do leite e de aumento da CBT do tanque. Higiene de ordenha A pele dos tetos e do úbere podem ser uma das fontes de contaminação e, consequentemente, aumentar a CBT. Esta contaminação vem do ambiente em que as vacas ficam no período entre as ordenhas. As bactérias de origem de esterco, lama, solo e do ambiente de forma geral são uma das principais causas de contaminação do leite. Durante o intervalo entre as ordenhas, enquanto as vacas estão deitadas, ocorre a contaminação da pele dos tetos e do úbere, principalmente se o ambiente estiver muito sujo. A cama ou ambiente das vacas pode ter elevada carga microbiana, podendo atingir CBT de 108 a 1010 ufc/ml. Nestas condições, os principais microrganismos são estreptococos, estafilococos, microrganismos formadores de esporos, coliformes e outras bactérias Gram-negativas. Para reduzir o impacto deste tipo de contaminação, uma das medidas mais simples é a desinfecção dos tetos antes da ordenha (pré-dipping). Estudos sobre métodos de preparação do úbere antes da ordenha indicam que a desinfecção dos tetos e a secagem com papel toalha reduz em cerca de 70% a CBT do leite do tanque. Além da melhoria da qualidade, uma boa preparação do úbere antes da ordenha estimula a descida do leite e reduz a ocorrência de novos casos de mastite ambiental. Equipamento de ordenha e contaminação A higiene das superfícies do equipamento de ordenha e do tanque de expansão, que entram em contato com o leite, são os principais locais de contaminação durante a ordenha e o resfriamento. Os resíduos de componentes do leite que ficam aderidos ao equipamento de ordenha facilitam a multiplicação dos microrganismos e permitem a formação de biofilmes. Em geral, bactérias de origem do ambiente da vaca (cama, solo, lama, esterco) e da água usada para a limpeza são as maiores fontes de contaminação do equipamento de ordenha.


Considerando a importância do equipamento de ordenha como fonte de contaminação do leite, os procedimentos de limpeza e higienização são fundamentais. As mangueiras e outras partes de borracha, quando não são trocadas frequentemente, podem apresentar rachaduras, onde ocorre acúmulo de resíduos de leite. Procedimentos de limpeza inadequados, como o uso de temperaturas abaixo da recomendada e/ou baixa concentração de detergentes, resultam em acúmulo de resíduos e de microrganismos, com alta contaminação do leite. Resfriamento imediato do leite A refrigeração imediata (para cerca de 4°C) após a ordenha é uma das principais medidas para manutenção da qualidade do leite na fazenda. Permite a manutenção da qualidade por até 48 horas de armazenamento, o que apresenta inúmeras vantagens, como a redução de custos de coleta de leite e aumento da qualidade dos derivados lácteos. A temperatura de armazenamento é o principal fator determinante da velocidade de multiplicação bacteriana. No leite não refrigerado (25-30ºC), os principais microrganismos predominantes são aqueles que acidificam o leite pela fermentação da lactose e produção de ácido láti-

co. Por outro lado, no leite refrigerado, após 48 horas predominam as bactérias psicrotróficas, as quais são capazes de multiplicar-se em baixas temperaturas e causar degradação da proteína e gordura do leite. Para minimizar a deterioração do leite armazenado pela ação bacteriana é necessário que a temperatura seja mantida abaixo 4ºC e por período máximo de 48 horas. O resfriamento do leite após a ordenha deve ser feito de forma rápida, para minimizar a multiplicação da contaminação microbiana inicial do leite. Quanto maior o tempo de armazenamento do leite resfriado, maiores as chances de multiplicação microbiana, e consequentemente de aumento da CBT. Após 2 dias de armazenamento do leite, as bactérias psicrotróficas se adaptam às condições de baixa temperatura e se tornam predominantes. Sendo assim, fazendas com alta CBT do leite podem buscar a solução do problema pela correção de medidas de manejo em uma ou mais fontes de contaminação (vacas com mastite subclínica causada por estreptococos, higiene de ordenha e limpeza do equipamento de ordenha e tanque). Além disso, outros possíveis fatores que podem aumentar a CBT do leite são a velocidade de resfriamento do leite pelo tanque e o tempo de armazenamento antes da coleta do leite.

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Controle Zootécnico

Anotar é da hora!

No final das contas, a diferença entre lucro e prejuízo mora nos detalhes

O produtor não apenas identifica falhas produtivas e reprodutivas do rebanho, mas também passa a conhecer

Luiz Prado

melhor o plantel

P

Fernanda Yoneya

arece chato, e é, correr para pegar o caderno e anotar toda vez que o touro – ou outra vaca – sobe na Carola. Ou se a Jandaia pariu. Ou ainda qual foi a produção de leite da Roxinha e de todas as colegas em lactação mês a mês. E não são só essas as anotações. Tem que anotar a temperatura máxima e mínima todo dia, a quantidade de chuva que caiu, a vaca que secou, e por aí vai. É chato mesmo. Mas, no final das contas, a diferença entre lucro e prejuízo mora nesses detalhes. Prática de gerenciamento que tem impacto direto na rentabilidade do produtor de leite, o controle zootécnico é cada vez mais adotado em propriedades que buscam aumentar a eficiência na gestão e investir em um manejo mais racional do rebanho. Pela técnica, o produtor faz anotações sobre informações da vida produtiva (controle leiteiro) e reprodutiva (controle reprodutivo) de todos os animais. E, com base nesse “banco de dados” - há vários

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modelos de planilhas e programas específicos para fazer esse controle -, o produtor não apenas identifica falhas produtivas e reprodutivas do rebanho, como também passa a conhecer o plantel e saber se ele está produzindo com eficiência. “Com essas informações em mãos, pode-se adotar medidas corretivas”, diz o médico veterinário Marco Aurélio Carneiro Meira Bergamaschi, da Embrapa Pecuária Sudeste, em São Carlos (SP). “Muitas vezes, o produtor tira leite e não sabe quanto está tirando. Outras vezes, ele tem eficiência, mas não se dá conta”, afirma Bergamaschi. Para entender a importância desses controles zootécnicos em propriedades leiteiras, o produtor tem de se conscientizar de que ele atua em duas atividades distintas: a criação de bezerras, que vão se tornar vacas após o primeiro parto, e a produção de leite propriamente dita. Em cada uma delas, anotar os eventos importantes é indispensável. Na primeira atividade, diz o médico veterinário, deve-se identificar o animal, registrar a data de nascimento de cada novilha e o peso ao nascer. “Nasceu a bezerra, começa o controle”, afirma Bergamaschi. O peso


da novilha também está relacionado à genética do pai e da mãe e esse controle serve para saber se o touro utilizado não comprometerá o parto, segundo o técnico. “Além disso, esse controle, se bem feito, pode ajudar o produtor a evitar gastos extras, já que uma bezerra gera custos na propriedade sem, por um período inicial, dar nenhum tipo de retorno.” Bergamaschi explica que o ideal é que a bezerra esteja parindo com dois anos de idade, tempo necessário, segundo ele, para que a vaca tenha estrutura para manter a gestação, parir adequadamente e produzir leite. “O tamanho e desenvolvimento do animal estão relacionados à genética e ao manejo implementado”, diz o veterinário. Na prática, o produtor deve pesar todas as bezerras mensalmente para acompanhar o crescimento do animal. E ficar atento à relação entre peso e idade, para que a novilha esteja “pronta para reprodução” com 15 meses. “Existem tabelas de crescimento, já consagradas, que orientam o produtor nesse controle. Com quatro meses, um animal tem de pesar tantos quilos. Com cinco meses, tantos quilos”, afirma o técnico. Bergamaschi, no entanto, faz um alerta aos produtores: “Só ter os números nas mãos não adianta. É preciso, a partir dessas informações, adotar as ações corretivas”. De acordo com ele, o produtor tem de verificar, por exemplo, se a nutrição da bezerra está garantindo um ganho de peso mês a mês. No caso de raças maiores, como a holandesa, a média de ganho de peso é de 800 gramas por dia. Com 15 meses, o peso estimado do animal é de 350 quilos. Em raças menores, como a jérsei, são 500 gramas por dia de ganho de peso esperado e um animal de 250 quilos com 15 meses de idade. “O produtor pesa, anota quanto foi o ganho de peso e compara. Se estiver abaixo ou acima do esperado, aí o produtor tem de entrar com a ação corretiva.” Essa “ação corretiva”, acompanhada de assistência técnica, diz o veterinário, inclui a revisão da dieta ofertada ao animal e o chamado “manejo em lote”, uma prática simples e de baixo custo (veja box). Lactação Após o parto, tem início outra fase da vaca, que é a lactação. Aqui também o controle zootécnico deve ser rígido, medindo o quanto a vaca produz de leite por mês. “O produtor define um dia do mês para ter uma referência. Todo mês, no dia determinado, ele mede a produção e anota. Normalmente, são duas ordenhas, o que torna possível medir a produção de 24 horas”, diz Bergamaschi. A partir desses dados, também com orientação técnica, pode-se definir a dieta do animal. A qual, de acordo com o médico veterinário, deverá atender as necessidades para que o animal se mantenha vivo, com bom estado corporal, produza e ainda sobre energia para a reprodução. “Se faltar nutrientes para a vaca, não tem gestação, há perda de peso e não tem produção de leite.”

Cada qual no seu pedaço Em um lote, há uma competição entre os animais dominantes - que comem mais e melhor e ganham mais peso do que deveriam - e os passivos que comem menos e não ganham o peso esperado. Para corrigir o problema, a estratégia é levar o animal que não está ganhando peso para um lote onde ele seja maior que o restante, ou seja, se torne o dominante na área. O mesmo pode ser feito com animais com excesso de peso - que podem ser transferidos para um lote em que tenham de competir com animais também “grandes” e, assim, não sejam mais os dominantes. “Em caso de animais para reprodução, o estado corporal não pode ser nem gordo nem magro. O sobrepeso compromete a reprodução e a produção, já que pode causar, por exemplo, deposição de gordura na glândula mamária. Já animais com baixo desenvolvimento não atingem o peso ideal aos 15 meses de idade e se tornam vacas tardiamente, o que atrasa o primeiro parto”, diz o médico veterinário Marco Aurélio Bergamaschi. A consequência disso, para o produtor, é que ele tem de investir em um animal que não dá retorno e perde em rentabilidade. “Fazendo uma conta simples, se um lote de 12 vacas atrasar o primeiro parto em um mês, o produtor perde um ano, ou seja, na média uma lactação e um bezerro a menos”.

Bergamaschi explica que, a partir da produção mensal de leite e do peso do animal, o produtor pode calcular a dieta. “A nutrição inclui três critérios: peso, produção diária de leite e condição corporal. O controle zootécnico é tarefa para a vida inteira”, afirma, acrescentando que o “custo-benefício” é mais que compensador, já que o produtor produz bezerras, garantindo a gestação do animal, e leite. Daí a importância, nesta etapa, do controle reprodutivo, no qual o produtor anota todos os eventos de reprodução: que animal entrou no cio e em que data e que vaca acasalou e quando. “Tendo essas informações disponíveis, passados 40 dias, o produtor faz o exame para saber se ela está prenhe. Confirmada a prenhez é possível estimar a data do parto e providenciar a secagem - interrupção da ordenha para que a vaca recomponha a glândula mamária, 60 dias antes do parto subsequente. “Tudo devidamente anotado, para ter registrado, além do cio e do acasalamento, dados da gestação, da secagem e do parto. Após o parto, se em 60 dias a vaca não manifestar cio, tem de checar, porque, passados 85 dias, sem uma nova gestação, o produtor já não consegue fechar a conta de um parto por ano, alerta Bergamaschi, citando como possíveis motivos da ausência do cio uma dieta desbalanceada, um estado corporal inadequado ou alguma alteração patológica (reprodutiva ou sanitária). “Com esse controle, que também é de grande utilidade para o veterinário da propriedade, o produtor traça metas, como manter vacas que tenham um parto por ano. Com a adoção do controle zootécnico, a chance de sucesso do produtor é grande.” Mundo do Leite – abr/mai 2018

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Controle Zootécnico

Tim-tim por tim-tim

Economia “Com certeza esses índices geram economia, pois a atividade é levada como uma empresa, em que tudo é seguido à risca e o produtor consegue saber o seu real custo de produção. Consequentemente, ele melhora a gestão da sua propriedade”, afirma Oliveira. Um exemplo disso é o produtor que não realiza a anotação do controle leiteiro. “Essa prática é realizada apenas uma vez ao mês, mas com o controle em mãos podemos dividir o rebanho em lotes e ajustar a dieta das vacas, fazendo com que a produção desses animais aumente até 30% ao dia”, calcula. Oliveira diz que as anotações feitas pelo produtor e a coleta desses dados auxiliam diariamente durante o processo de produção, já que detectam “gargalos” da atividade. “E também nos ajudam, produtor e técnico, na tomada de decisões.” Para Oliveira, aquele perfil de produtor tradicional, que não fazia nenhum tipo de anotação, está mudando a cada dia. “Os produtores estão procurando profissionalizar sua produção e melhorar a atividade com a ajuda da assistência técnica. O produtor 28

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Fredox Carvalho

N

a Chácara Bambuí, em Niquelândia, Goiás, a adoção dos controles zootécnicos é seguida à risca pelo produtor Carlos Antônio Machado de Miranda, que conduz a propriedade com o pai e a mãe. Na Bambuí, a prática começou há cerca de um ano, estimulada pelo médico veterinário Guilherme C. Mariano de Oliveira, que presta assistência técnica a Miranda por meio do projeto de assistência técnica e gerencial do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar). “De lá para cá, tudo melhorou”, diz o produtor, que possui um rebanho de 25 animais, sendo 18 vacas em lactação. O gado é girolando e holandês. Há um ano, conta Miranda, a produtividade de leite por animal/dia era de, no máximo, 15 litros. Atualmente, ele consegue uma média de 26 litros de leite por animal/dia. Isso, afirma, graças ao “caderno de produção leiteira”. É nesse “caderno” que Miranda faz todas as anotações do controle zootécnico do rebanho. “Registro tudo, bem organizado: nascimentos, cio, acasalamento, peso, produção de leite, dieta”, afirma. Antes, sem esse controle, ele não sabia, por exemplo, quando uma vaca iria criar. “Já teve caso de animal produzindo leite e dando cria.” O resultado é que a bezerra nasceu pequena e fraca. “Agora eu sei quando a vaca está prenhe, quando fazer a secagem e quando dar um descanso para o animal que acabou de parir. Consigo tomar essas decisões com mais segurança. Antes, ficava no escuro, não sabia de nada disso.”

Carlos Antônio

que não realiza esses controles não sabe a eficiência da sua atividade, trabalha no escuro”, avalia o veterinário. Segundo ele, o controle zootécnico resulta em aumento da produção, aumento de vacas em lactação, período de secagem correto, na avaliação de animais que podem ser descartados e ainda em uma maior rentabilidade para o produtor. Em média, de acordo com ele, há uma melhora do porcentual de vacas em lactação de 40% com o controle zootécnico. “Porque, a partir do momento em que produtor anota os dados reprodutivos do rebanho, ele consegue ter uma previsão de parto de cada animal, melhorando a eficiência reprodutiva, descartando animais com problemas reprodutivos, diminuindo os intervalos entre partos e estruturando o seu rebanho.” Outra vantagem do controle zootécnico comprovada na Bambuí foi em relação à alimentação do rebanho. Como não conhecia seus animais, Miranda fornecia o mesmo alimento, e na mesma quantidade, para todo o plantel. “Não sabia quem estava de sobrepreso, abaixo do peso, era a mesma coisa para todos os animais”, lembra. Hoje, monitorando animal por animal, ele sabe as necessidades nutricionais de cada um, o que resultou em um manejo mais racional e, consequentemente, na redução do custo com nutrição, especialmente com ração. “Como a dieta é balanceada, conforme as exigências de cada animal, fabrico minha própria ração na chácara. Tenho plantação própria de milho, mas, se precisar, compro milho e soja de outros produtores. Sei a qualidade dos ingredientes do alimento que vou produzir”, diz Miranda. Pelas contas do produtor, a economia com ração possibilitou a contratação de um funcionário para trabalhar na chácara. “O dinheiro que gastava em ração hoje paga um funcionário. Antes vivia no aperto, hoje tenho mais tranquilidade para investir na propriedade e ir melhorando a cada ano.”

Machado de Miranda (à esquerda) com o técnico do Senar Guilherme C. Mariano de Oliveira



Consorciação

Mais leite com

estilosantes

Especialistas querem provar que o estilosantes campo grande (ECG) também é funcional para a formação de pastos e consumo por animais em fazendas leiteiras

A

leguminosa demorou 10 anos para ser desenvolvida pela Embrapa. Foi apresentada ao Brasil no ano 2000 para uso na pecuária de corte, mais precisamente em plantio conjugado com a braquiária, ajudando a revigorar solos arenosos, de baixa fertilidade, e servindo como alta fonte proteica. Agora, especialistas querem provar que o estilosantes campo grande (ECG) também é funcional para a formação de pastos e consumo por animais em fazendas leiteiras. Para isso, a Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural de Mato Grosso do Sul (Agraer) firmou pareceria com a Embrapa Gado de Corte (Campo Grande, MS) e implantou uma unidade de demonstração (UD) em Guia Lopes da Laguna (a 233 km da capital sul-mato-grossense). O objetivo é validar e apresentar o modelo a médios e pequenos produtores em dias de campo ao longo de 2018 e 2019. “Na literatura há relatos de pecuaristas que conseguiram elevar sua produtividade no leite entre 20% e 30% com o uso de pasto de braquiária consorciado com estilosantes”, adianta o pesquisador da Embrapa Celso Dornelas Fernandes, que supervisiona o projeto graças à sua experiência de quase duas décadas acompanhando o desempenho da forrageira, que é resultado da mistura de duas espécies de leguminosas: Stylosanthes capitata e Stylosanthes macrocephala. Segundo ele, o que se pretende com esta iniciativa é autenticar cientificamente este procedimento e disseminar sua prática e correto manejo para a produção leiteira. A UD começou a ser implantada entre dezembro e janeiro, em 5 hectares da Chácara São Marcelo, de 36 ha. A propriedade pertence ao agropecuarista

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Nino Lima

Ariosto Mesquita

Consórcio estilosantes campo grande x piatã na Chácara São Marcelo, em Guia Lopes da Laguna, MS

Cassiano dos Santos, o terceiro elo desta parceria. Em 2,5 ha foi instalado um pasto solteiro de braquiária piatã (área controle). A outra metade recebeu o consórcio piatã + estilosantes. Em ambas foram respeitadas a mesma densidade de piatã e carga de adubação (calcário + fósforo + potássio). Na área de consórcio, foram adicionados três quilos de sementes de estilosantes por hectare. A previsão é de que os primeiros animais comecem a pastejar na UD no início de abril. “Nestes dois anos trabalharemos em pastejo contínuo e com taxa de lotação variada, observando sempre a altura das forrageiras”, explica Nico Rodrigo Cabral de Barros Lima, zootecnista e coordenador do escritório da Agraer em Guia Lopes da Laguna. Segundo ele, a taxa média de lotação prevista para as duas áreas é de três vacas em lactação/ha. A implantação da UD em uma propriedade considerada típica da chamada “agropecuária familiar” na região faz parte da estratégia de disseminação do modelo, que inclui pelo menos quatro dias de campo para avaliação e demonstração de desempenho nas águas e nos meses secos (maio a setembro). “O primeiro evento deve acontecer até o fim de abril. Ainda teremos poucos números, mas os produtores


Fixação de nitrogênio O ECG é reconhecido na pecuária de corte por carregar altos níveis de proteína bruta (entre 12% e 18% da massa seca) e possuir boa capacidade para fixar nitrogênio no solo. É recomendado como melhorador de estruturas em áreas arenosas. Na atividade leiteira, segundo Fernandes, ainda não tem aplicabilidade destacada. Através da UD, a Embrapa, em princípio, deve manter, em pastagem leiteira, a mesma recomendação de proporcionalidade das forrageiras em consórcio para formação de pastos na pecuária de corte: de 20% a 40% para o estilosantes e de 80% a 60% para o piatã.

Ariosto Mesquita

de leite da região poderão conhecer a estrutura e ouvir relatos do proprietário. Quase sempre esta conversa entre eles funciona melhor do que orientações de pesquisadores. Os produtores falam a mesma língua”, justifica Lima. Fernandes, da Embrapa, trabalha com uma estimativa de custos médios para implantação de áreas de consórcio piatã/ECG pelo produtor: “Caso o pecuarista já possua um pasto com a braquiária, já conta com banco de sementes e por isso terá que desembolsar pouco. Calculo algo entre R$ 100 a R$ 120 por hectare, incluindo sementes, adubação e maquinário. No entanto, se ainda tiver de formar a área com as duas forrageiras, calculo que este valor varie entre R$ 220 e R$ 250”. Ele alerta ainda para a necessidade de o produtor tomar todas as medidas para que o pasto não fique aquém ou além de suas possibilidades: “Será muito importante o ajuste de manejo, sobretudo com relação à altura e à saída de animais”.

O consumo de estilosantes em alta escala ou como única forrageira (em pasto solteiro) por bovinos é condenado pela Embrapa. A mesma postura deverá ser adotada para a pecuária leiteira. Em situações em que isso ocorreu em fazendas de corte, surgiram inúmeros relatos de doenças e mortes de animais ao longo das duas últimas décadas. A tendência é que o excesso de estilosantes provoque o surgimento de fitobezoares, estruturas no formato de bolas que se desenvolvem no rúmen do animal e que podem se deslocar para o intestino e obstruir seu funcionamento, provocando uma infecção generalizada. “Por isso a necessidade de o produtor seguir os preceitos de manejo que recomendamos”, alerta Fernandes. A Embrapa ainda estuda recomendar, aos produtores de leite, algumas variações para a utilização do estilosantes como reforço nutricional para as vacas em lactação. Uma delas é o cultivo solteiro para colheita, picagem e oferta no cocho junto com volumoso. A outra passa pelo plantio da leguminosa visando a produção de uma silagem “mix” com milho.

O pesquisador Celso Fernandes em área cultivada com Estilosantes

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Cooperativas

Raio X Sede: Teutônia (RS) Fundação: 1955 Atividade principal: Laticínios, aves e suínos Número de associados: 3.000 associados ativos, dos quais 2.700 são produtores de leite Volume captado de leite em 2017: 134,2 milhões de litros Captação de leite mensal no primeiro bimestre de 2018: 11,5 milhões de litros Captação média por produtor no primeiro bimestre de 2018: 271 litros/dia Estrutura: Indústria para envase de leite longa vida e derivados, localizada em Teutônia (RS). Principais produtos: Leite longa vida UHT (integral, semi-desnatado e desnatado). Área de abrangência: 70 municípios, localizados nos Vales do Taquari, Caí e Rio Pardo, Serra e Planalto Médio. Principais mercados: Leite: Rio Grande do Sul e Santa Catarina.

A

Ânimo renovado

os 62 anos de atividades, a expectativa da Cooperativa Languiru, sediada em Teutônia, RS, é crescer 10% e repetir a distribuição de sobras do exercício de 2017. Com isso, espera deixar para trás uma fase ruim. No primeiro bimestre de 2018, o volume de leite captado já reagiu, tendo crescido 17,3% em relação a 2017. A captação foi de 23 milhões de litros, demonstrando o ânimo renovado dos 2,7 mil cooperados da Languiru que se dedicam à atividade leiteira, de um total de 3 mil sócios ativos, quase todos também criadores de aves e suínos, em propriedades com área média de 10 hectares. Espalhados por 70 municípios da região do Alto Taquari, 85% dos cooperados estão em um raio de 20 km de Teutônia, o que facilita (e barateia) a logística e permite aos cooperados melhor acesso a insumos e assistência técnica. Presidente da cooperativa desde 2002, o engenheiro agrônomo Dirceu Bayer se anima ao comentar a melhora recente. “Para nós, 2018 deverá ser o ano do leite. Desde fevereiro o preço já reagiu, inclusive porque 25 mil pequenos produtores deixaram de produzir no estado e esse leite vai fazer falta no mercado”, diz o executivo. Bayer faz, contudo, uma ressalva: “A recuperação será possível desde que não se permita uma importação excessiva de leite, como ocorreu nos últimos anos”, afirma. Em 2016, diante da entrada da produção argentina e uruguaia e a queda da demanda, a cooperativa não conseguiu distribuir sobras aos associados. No ano passado, o leite voltou a ir mal. O resultado final da Languiru, no entanto, foi compensado pelos segmentos de aves e suínos, que permitiram à cooperativa encerrar o período com lucro líquido de R$ 18 milhões. Com isso, pôde distribuir R$ 7,5 milhões aos cooperados, entre sobras (R$ 2,4 milhões) e remuneração do capital.

Dirceu Bayer, presidente da Languiru Presidente da cooperativa desde 2002, Dirceu Bayer tem 36 anos de trabalho na Languiru. Começou como responsável pela área agropecuária, foi vice-presidente e membro do conselho de administração. Natural de Teutônia (RS), é graduado em engenharia agronômica pela Universidade Federal de Santa Maria e possui MBA em gestão do agronegócio pela Escoop – Faculdade de Tecnologia do Cooperativismo.

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Com três grandes áreas de atuação – leite, aves e suínos, cada segmento com cerca de 23% de participação – a Languiru projeta faturamento bruto de R$ 1,35 bilhão neste ano. Caso se confirme, será 10% maior que o faturado em 2017. A estratégia da cooperativa, diz o executivo, é apostar na industrialização e abrir espaço para uma margem de lucro maior dos associados. “Não trabalhamos com commodities, o nosso foco é agregar valor às matérias-primas, compradas em geral de outros estados”, diz Bayer. Segundo ele, apenas 5% do milho e da soja necessários para a produção de ração para o gado, aves e suínos são produzidos pelos cooperados. “Produzimos cerca de 300 produtos diferentes, um modelo de negócio com 26 unidades completamente diferente das cooperativas do país”. Em parceria com a SIG Combibloc e a Siemens, a Languiru lançou, em 2017, uma embalagem longa-vida com tecnologia de ponta, o QR Code. “Essa é uma tecnologia pioneira no mundo. Com o aplicativo é possível saber exatamente de onde veio aquele leite, a composição do produto daquela caixinha, que sempre varia, como varia o DNA de pessoa para pessoa”, diz. A nova tecnologia surgiu como resposta à crise de credibilidade que atingiu, alguns anos atrás, a cadeia leiteira gaúcha. A intenção é dirimir dúvidas em relação à qualidade dos lácteos da Languiru, afirma o presidente da cooperativa. Ela possui cerca de 3 mil funcionários, sendo 50 especialistas, entre técnicos, agrônomos, veterinários e outros profissionais. Com predominância de gado Holandês criado em sistema semi-intensivo, com alguma participação de Jersey, a Languiru tem visto crescer a presença do confinamento, com ampliação do uso do Compost Barn. A cooperativa possui convênios com inseminadores em praticamente todas as regiões onde possui associados. Mais recentemente passou a dar bônus em doses de sêmen, conforme o volume de leite produzido. Oferece ainda um software de melhoramento genético e acasalamento computadorizado, sem custos. Neste ano, diante da retomada tímida da economia e das incertezas políticas, a Languiru projeta investir R$ 25 milhões, um montante modesto, reconhece Bayer. “Queremos ampliar o mix de produtos derivados do leite, mas esse investimento vai ficar para 2019”,diz o executivo.


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Seguindo em Frente Ismail Ramalho Haddade

Você conversa com suas vacas todos os dias?

A

Devemos estar prontos para ouvi-las e respondêlas o quanto antes (a resposta, no caso, seria a correção do que seja necessário para melhor atendê-las)”

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procura por “respostas mágicas” que facilitem o planejamento e a condução da atividade leiteira é uma ação comum por parte de muitos produtores e técnicos. É como se estas respostas fossem únicas, independente das diferenças entre cada região ou propriedade envolvida no processo produtivo. Nos tempos de universidade, esta era uma das expectativas quando participávamos de Congressos ou de Simpósios na área de produção animal: a de que obteríamos “respostas únicas” que pudessem ser usadas sempre, sem que fosse necessário analisar a situação para o seu uso. Dentre os muitos exemplos, queríamos saber sobre: o número de animais que caberiam em cada hectare de pastagem; a distância mais adequada entre a área de sombra e a área de pasto; a quantidade e o tamanho dos bebedouros que deveriam ser instalados em cada área; a quantidade de ração concentrada que cada vaca deveria consumir conforme a sua produção; a quantidade de adubo que deveríamos colocar por piquete; e por aí vai... Especificamente em um desses Simpósios, com palestrantes de diversas regiões do Brasil, chamou minha atenção o fato de que, em duas palestras realizadas no mesmo dia, alguns dos valores citados como referência divergiam de maneira impressionante. É claro, devo ressaltar aqui, que nenhum dos palestrantes devia estar equivocado em suas colocações. O erro, ou talvez a inocência, era tratarmos, como iguais, tipos de sistemas, propriedades, ou mesmo regiões com características extremamente diferentes. Partindo deste ponto, destaco uma frase de Artur Chinelato de Camargo (pesquisador da Embrapa) que demonstra uma boa maneira de percebermos quais seriam as melhores respostas diante de situações individuais observadas em cada propriedade, manejo ou sistema produtivo: “O que vocês precisam é conversar mais com as suas vacas”. Um dia desses, lembrei-me imediatamente desta frase ao falar da importância dos padrões de comportamento dos animais de pro-

Mundo do Leite – abr/mai 2018

dução para um grupo de estudantes de Zootecnia. “Mas como é possível conversar com as vacas?”, perguntou um dos alunos. A ideia é que grande parte das informações que precisamos para entender o que seja necessário para melhorar o manejo ou corrigir falhas na infraestrutura do sistema passa pelo reconhecimento do que seja normal nas sequências de movimentos, nas posturas, nas mudanças de aparência, ou, mesmo, nas diferenças produtivas dos animais (controles leiteiros, parições, coberturas, etc). Como exemplo de padrão comportamental em condição de conforto pleno (elevada disponibilidade de forragem, distância adequada entre a área de sombra com bebedouro e a pastagem, corredores bem dimensionados, ausência de lama, dentre outros), o esperado seria a permanência das vacas no piquete por períodos em torno de 50 minutos após o início do pastoreio no final da tarde, até que se deslocassem em busca de água. Partindo-se desta informação, que pode ser flexível diante de cada situação, a permanência das vacas por mais ou por menos tempo do que o habitual, ou o menor trânsito pelos corredores, significará que elas desejam nos dizer algo. Devemos estar prontos para ouvi-las e respondê-las o quanto antes (a resposta, no caso, seria a correção do que seja necessário para melhor atendê-las). Assim, vamos criando as nossas próprias respostas para cada condição estabelecida. E, à medida que observamos mais as nossas vacas, mais rápido e melhor vamos percebendo o que elas querem nos dizer. Com esse pequeno texto, a forma mais oportuna de finalizarmos é afirmando que, quanto maior e melhor seja o diálogo, mais eficiente será a comunicação. Portanto, fica a pergunta: você tem conversado todos os dias com as suas vacas? Engenheiro agrônomo, professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo, campus de Santa Teresa



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