Ao leitor
Q
ualquer que seja o tamanho do rebanho leiteiro, convenhamos: suas vacas merecem um bom ambiente na hora de cumprir a sagrada missão de produzir leite em quantidade suficiente para cobrir todos os custos envolvidos em sua manutenção - e, se tudo correr bem, fazer sobrar algum no seu bolso. Por isso mesmo, uma sala de ordenha limpa, confortável, onde as ações são feitas com tranquilidade, é condição necessária. Não precisa luxo, apenas praticidade. A repórter Tatiana Souto conversou com alguns especialistas sobre esse tipo de instalação e trouxe dicas importantes para o produtor de leite que deseja implementar essa benfeitoria em sua propriedade. Há até mesmo uma sala de ordenha móvel, que pode ser deslocada a bel prazer do produtor. Mundo do Leite conversou também com o coordenador de Pecuária de Leite da Cooperativa Frísia, no Paraná, e descobriu que as oscilações - para não dizer solavancos - do mercado estão derrubando aqueles produtores que não estão fazendo direitinho o dever de casa, ou seja, que ainda não mantêm rigorosa gestão financeira do negócio. Entre outros assuntos, tratamos da possibilidade de se avaliar, através da genômica, as características do Girolando; conhecemos o famoso CPZ da Esalq, onde os técnicos e consultores de pecuária de corte e leite pegam no batente antes de sair para o mercado; e descobrimos que a cana e agulhas compartilhadas são direta ou indiretamente responsáveis pelo avanço de uma doença perversa: a tripanossomose bovina. Boa leitura. Sérgio de Oliveira
Mundo do Leite Diretores
Diretor Responsável
Redação
Editor: Sérgio de Oliveira sergio.oliveira@mundodoleite.com.br
Entrevista
4 Jefferson Pagno, coordenador de Pecuária de Leite da Frísia
Genética
10 Parceria permite conhecer o Girolando pelos genes
Educação
19 A fazendinha da Esalq onde treinam os craques da Zootecnia
Produtor Secreto
20 Um ano depois, nosso produtor tropeça na pressa de comprar
Nutrição
22 Nesta seca suas vacas têm comida garantida?
Saúde animal
25 Tripanossomose: cana e agulha fazem a doença avançar
Colunistas
6 Marcelo de Rezende e a crise da assistência técnica pública 8 Christiano Nascif: Tolerância Zero para margem bruta negativa 26 Ismail Ramalho Haddade: Vaca rústica não é vaca de leite
Arte
Editor Edgar Pera
COMERCIAL/Marketing
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rosana@midiadbo.com.br Executivos de Contas
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São Francisco Gráfica e Editora
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Colaboradores
Circulação e Assinaturas
Fernanda Yoneya, Luiz Antonio Cintra e Tatiana Souto
Tiragem e circulação auditadas
Andréa Canal, José Geraldo Caetano, Maria Aparecida de Oliveira, Mario Vanzo, Marlene Orlovas e Vanda Motta
EDITORAÇÃO
CONSULTOR TÉCNICO/ZOOTECNISTA
Edson Gonçalves
As salas de espera e de ordenha são a reta de chegada de um manejo cuidadoso dos animais, e nesta hora as vacas fazem questão de limpeza, conforto e tranquilidade para produzir
É uma publicação bimestral da DBO Editores Associados Ltda., com circulação em fevereiro, abril, junho, agosto, outubro e dezembro.
Daniel Bilk Costa, Demétrio Costa e Odemar Costa Demétrio Costa
Capa 16
Gerente: Margarete Basile
Impressão e Acabamento
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Rua Dona Germaine Burchard, 229 Perdizes, São Paulo – SP – 05002-900 Tel.: 11 3879-7099 e 3803-5500 - www.portaldbo.com.br e-mail:redacao@mundodoleite.com.br
Mundo do Leite – jun/jul 2018
3
Entrevista Jefferson Tramontini Pagno Todo produtor é importante
Jefferson Tramontini Pagno, médico veterinário, é coordenador de Pecuária de Leite da Cooperativa Frísia
O
s cooperados da Frísia, com sede em Carambeí, PR, têm em média 24 mil vacas em lactação por ano, com produção média individual de 25 litros por dia. Em algumas fazendas, onde a produção é mais intensificada, os animais chegam a produzir em média 28 a 29 litros/dia e no inverno até 32 litros/dia. Segundo o coordenador de Pecuária de Leite da cooperativa, Jefferson Pagno, há 7 anos na Frísia, é um leite produzido com muita qualidade. Ele dá números: nos cerca de 600 mil litros de leite produzidos por dia, a média ponderada de células somáticas fica em 286 mil; a contagem bacteriana em 18 mil. Ou seja, um padrão de leite internacional, próximo ao padrão canadense, cuja média de células somáticas fica em 200 mil. “É uma segurança para os clientes e parceiros na outra ponta do negócio de que estão adquirindo um leite produzido com sustentabilidade por famílias que dependem do negócio leite e que vivem esse negócio no dia a dia.” 4
Mundo do Leite – jun/jul 2018
Mundo do Leite: Como você avalia a produção de leite dos cooperados da Frísia? Jefferson Pagno: Nós estamos inseridos numa região diferenciada no que diz respeito à tecnologia em nível produtivo e também de qualidade de leite no Brasil. A região dos Campos Gerais e a Cooperativa Frísia vêm evoluindo muito nas últimas décadas em tecnologias e manejo devido aos resultados zootécnicos das propriedades dos cooperados. Nos últimos anos trabalhamos bem forte com a parte de gestão da propriedade, porque nós temos um nível de tecnologia de reprodução muito alto, com animais altamente produtivos, porém identificamos um gargalo que era a parte de gestão, não só da parte financeira, dos indicadores zootécnicos, mas também a gestão de pessoas. A gente trabalhou muito forte em um projeto com a Clínica do Leite e conseguimos colher bons frutos. Fizeram com que mudasse a realidade da Frísia. Hoje, quando comparamos com três anos atrás, tanto o resultado zootécnico-financeiro quanto o resultado de satisfação dos nossos cooperados no quesito assistência técnica, no apoio da cooperativa no dia-a-dia das propriedades, mudou muito.
uma boa gestão, bons processos, bons procedimentos e não esquecer da parte ambiental e social. Isso é o que nós estamos buscando desenvolver cada vez mais nas nossas propriedades.
ML: Ainda tem muito o que avançar? JP: A evolução é constante. Estamos aprendendo a cada ano e a cada momento. Temos um grande caminho a percorrer ainda, porque ainda temos grandes gargalos nas nossas propriedades. Apesar de termos uma média de produtividade alta, bons rebanhos e boas fazendas, temos um grande número de produtores e até mesmo técnicos que trabalham na região que têm que desenvolver mais, aperfeiçoar mais as suas técnicas e o seu jeito de fazer as coisas para produzir leite. Leite corre na veia do nosso produtor, mas isso não quer dizer que vão ter bons resultados. Tem que ter
ML: Tem muita gente desistindo? JP: Nesse primeiro trimestre nós tivemos o que eu considero um alto número de produtores que deixaram a atividade. Não deixaram a cooperativa, e sim a atividade do leite. Alguns por motivo de família – um outro gargalo é a sucessão familiar. Tivemos três propriedades que pararam sua atividade por questão de sucessão familiar, ou porque as pessoas que assumiram o negócio não estavam muito por dentro da propriedade, de como é ser um produtor de leite, como é estar todo dia na atividade, na produção. Isso aconteceu. Um dos fatos que ajudou a ampliar esse problema de desistência foi o que o mercado colocou para
ML: Quais os principais gargalos que você identifica? JP: A gente observa ainda hoje nas propriedades que muitos produtores não fazem a conta do custo de produção. Dos trezentos produtores, sessenta estão fazendo a análise financeira e econômica da sua atividade. Isso ainda é muito pouco. Com tudo que o Brasil passou nos últimos anos, e principalmente a produção de leite no ano passado e começo deste ano, não está sendo muito fácil para os produtores. E quem não tocar o seu negócio de uma forma profissional, como uma empresa, não vai mais produzir leite, vai sair do negócio. É isso que a gente tem percebido no dia-a-dia. Propriedades que têm resultados ruins e são administradas de uma forma errada ou arcaica estão colocando seus plantéis à venda e o produtor está partindo para uma outra atividade porque não consegue mais sustentar a família ou as famílias que vivem da produção de leite.
os nossos produtores: preço de leite baixo, alto custo de produção, então quem não tinha um apoio ou não soube aproveitar o apoio como o que a cooperativa dá deixou a atividade. Quem não estava preparado, deixou a atividade. Mas em contrapartida nós temos produtores que mudaram o seu negócio. Aumentaram a produção, fizeram parcerias entre eles – grandes condomínios, pequenos condomínios, condomínios familiares – e essas pessoas estão sabendo se adaptar a essa nova forma de produzir leite. Isso reflete na nossa produção do ano passado. A gente conseguiu crescer 20% em relação ao ano anterior. É um crescimento bastante forte e um pouco atípico do que a gente tem na nossa história de produção. Surgiu um novo modelo de negócio e alguns negócios novos. ML: O aumento de escala é um dos caminhos? JP: Sem dúvida. Hoje o custo de produção – custo de energia, de óleo, de alimentação, o custo do salário mínimo - vem subindo anualmente. Quando nós pegamos o custo dos grãos, o milho tem um custo totalmente diferente do que estava no ano passado, então tem que intensificar a produção sim, só que de uma forma sustentável, de uma forma planejada. Não adianta você comprar animais, dobrar o número do plantel,
aumentar de uma forma exagerada, porque você não vai ter uma harmonia entre o plantel produtivo e o plantel não produtivo, que são as bezerras e novilhas. Se você não estiver preparado para a necessidade de produção de forragem, não vai conseguir chegar ao sucesso. Vai chegar ao insucesso mais rápido do que se você não tivesse feito um investimento errado. O planejamento e a estruturação do crescimento vêm sendo estudados e trabalhados pela nossa equipe técnica e hoje a gente consegue montar um planejamento estratégico para a propriedade dos nossos cooperados. Isso é um grande diferencial, porque a gente diminui o risco de os nossos cooperados chegarem à falência financeira, e para a cooperativa essa organização do crescimento é muito importante porque ela depende dos cooperados. Nós temos plantas industriais que estão montadas com base na produção que temos no campo. Se hoje nós perdermos uma propriedade, por pequena que seja, de 200, 300 litros de leite por dia, por problema de sucessão familiar ou de erro de planejamento, de compra equivocada de animais, para nós é um problema, porque a gente está perdendo um cooperado, uma família, e nós poderíamos estar ajudando essa família a melhorar a sua qualidade de vida. Esse lado social nos preocupa bastante.
ML: Como você define o público da Frísia? JP: Os trezentos produtores que nós temos têm média de produção em torno de 2 mil a 2.300 litros de leite por dia. Tem propriedade que produz 150 litros por dia com mão de obra familiar, um sistema mais simples, e temos propriedades de 54 mil litros por dia. É uma diferença muito grande. Trinta a 35% dos nossos produtores produzem em torno de 75% a 80% do leite. Então nós temos de 120 a 130 produtores pequenos – até 500, 1.000 litros de leite por dia – e depois vai crescendo conforme a sua escala de produção. E temos quatro ou cinco propriedades com produção de mais de 20 mil litros por dia. Essa é a nossa realidade hoje. Então eu tenho que dar apoio técnico tanto para o grande produtor – uma assistência técnica mais intensificada, não é mais qualificada, mas com uma atenção um pouco maior porque é um negócio empresarial ‑ e também tem que ter um modelo de assistência técnica para aquele produtor pequeno e médio. Apesar de serem pequenos e médios essas propriedades são muito importantes para nós. Todas as propriedades têm a mesma importância para nós. Eles têm a assistência técnica no mesmo formato. O mesmo grupo de técnicos trabalha com todos os produtores.
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Ação Ideal Marcelo de Rezende
Engenheiro agrônomo especializado em sistemas intensivos de produção de leite e corte e diretor-presidente da Cooperativa para Inovação e Desenvolvimento de Atividade Leiteira (Cooperideal), e-mail marcelo@cooperideal.com.br
Técnico ou Pirotécnico?
M
ais de um milhão de produtores de leite deixaram a atividade nas últimas décadas no Brasil. Outros tantos sobrevivem com dificuldades, buscando se equilibrar em um mercado de preços oscilantes e de aumento de custos constantes. Os ventos das mudanças que têm soprado forte sobre o setor produtivo do leite nos últimos tempos, ainda que favoráveis em alguns aspectos, atuam para o estabelecimento de um mercado cada vez mais concentrado, deixando os produtores ainda mais inseguros quanto ao seu futuro na atividade. O trabalho técnico da Cooperideal, desenvolvido junto a produtores e apoiado por diversos parceiros da cadeia produtiva do leite nas várias regiões do país, tem se deparado com muitas dessas propriedades que estão prestes a deixar a atividade, grande parte delas pela falta de acesso ao conhecimento técnico, hoje imprescindível para o enfrentamento dos grandes problemas que assolam quem deseja produzir leite no Brasil. Os ganhos de eficiência na produção de leite, oriundos da adequação às exigênO serviço público de extensão rural cias gerenciais não tem conseguido impedir que e produtivas da produtores médios e pequenos continuem atividade, dependem da elevação desassistidos” do nível de conhecimento aplicado, e a dificuldade de acesso ao conhecimento técnico enfrentada pela grande maioria das fazendas produtoras de leite é uma situação contraditória em um país que possui uma infinidade de escolas ensinando ciências agrárias e que formam anualmente milhares de técnicos. O serviço público de extensão rural, apesar de ainda existir em praticamente todos os estados da federação e atuar na maior parte dos municípios brasileiros, não tem conseguido impedir que os produtores, em especial os pequenos e médios, continuem desas6
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sistidos, e esse processo tem certas semelhanças com o que ocorre em grande parte dos rebanhos leiteiros, onde as produtoras, sem alimentação e manejo adequados, são descartadas em função da baixa produção, mesmo sem nunca terem tido a oportunidade de demonstrar seu verdadeiro potencial produtivo. Infelizmente, a enxurrada de programas de desenvolvimento lançados com o objetivo de alavancar o setor não tem apresentado resultados práticos que justifiquem sua existência. A solução para a desassistência dos produtores de leite parece lógica, pois se de um lado existe uma multidão de produtores que demanda por conhecimento técnico e do outro há uma imensidão de técnicos com formação na área e que precisa de trabalho, bastaria apenas unir as pontas. Infelizmente não é assim. O fato é que a grande maioria dos produtores de leite desassistidos teria grande dificuldade de se adequar ao trabalho de qualquer técnico que exigisse o mínimo de participação e de controle do produtor em relação a aspectos organizacionais e gerenciais da atividade. A grande maioria de nossos produtores ignora a necessidade e a importância de tais aspectos dentro do processo produtivo, e a cultura do “simplesmente fazer”, sem planejar, medir, controlar e corrigir, é imperativa nas fazendas de leite. Tal situação obviamente pode ser mudada com capacitação, treinamento e orientação adequada, porém, como toda mudança comportamental, essa também demanda tempo e disciplina, situação que fere de morte a expectativa dos produtores, que ao procurar pela assistência técnica valorizam apenas as ações imediatistas, de preferência com procedimentos e técnicas que estejam em destaque na mídia naquele momento e que apresentem resultados rápidos, ainda que sem nenhum efeito duradouro; normalmente pirotecnias agrícolas que não atendem às necessidades específicas de cada fazenda e de uma atividade de ciclo longo, como a produção de leite.
Conheça o FUTURO da produção e reprodução do seu rebanho, com MAIOR CONFIABILIDADE. NAS SUAS MÃOS O POTENCIAL GENÉTICO DE SEUS ANIMAIS EM RELAÇÃO À: Características com alta confiabilidade
Produção
Reprodução
Componentes do Leite
• EBV Leite
• Idade ao 1 parto • Intervalo entre partos
• Beta Lactoglobulina • Beta Caseína A2** • Kappa Caseína I e II
o
Condições Genéticas
• Paternidade (pai e mãe) • Avô materno* *
• DUMPS • CVM** • BLAD • Brachyspina**
* Informação comercial não oficial da Associação Brasileira dos Criadores de Girolando. A confirmação de parentesco será realizada mediante a indicação dos progenitores pelo criador e contando que os mesmos tenham sido genotipados. CLARIFIDE® só irá CONFIRMAR, ou não, a informação indicada. ** Disponível como teste complementar, por uma taxa adicional.
Copyright Zoetis Indústria de Produtos Veterinários Ltda. Todos os direitos reservados. Material Produzido MAI/2018.
Parentesco
Gestão Christiano Nascif Zootecnista, coordenador de assistência do Pdpl-RV do Projeto Educampo/Sebrae e proprietário da Labor rural. E-mail contatos@laborrural.com, tel. (31)3899-5251
Tolerância zero
A
atividade leiteira, por possuir alta quantidade de capital empatado, deve ser sempre analisada em longo prazo, tanto sob a ótica das receitas como das despesas. Uma medida fundamental para avaliar, em curto prazo, é a margem bruta da atividade. Margem bruta (MB) é o resultado da renda bruta menos o custo operacional efetivo da atividade (COE). Em suma, é o valor, em reais, resultante da subtração de todas as receitas obtidas com a venda de leite, animais, variação do inventário animal, excedente de silagem, cana-de-açúcar e outras, menos as despesas operacionais efetivas como concentrado, mão de obra, volumosos, energia elétrica, minerais, combustíveis etc. São as despesas que normalmente o produtor tem que pagar todo mês e que variam de acordo com a produção. Via de regra, essas despesas aumentam ou diminuem de acordo com o volume de leite produzido. A margem bruta deve ser avaliada em curto prazo, pois, se for negativa, a receita que está sendo obtida para pagar as despesas do mês será insuficiente. Se continuar dessa forma, o produtor estará quebrado! A esta situação dá-se o nome de Ponto de Fechamento. É melhor o produtor deixar a atividade, parar de produzir, ficar em casa sem fazer nada, pois assim terá apenas os custos fixos e o prejuízo será menor. Nesta situação, o produtor somente irá sobreviver se o seu caixa for socorrido por recursos externos à propriedade, o que não é saudável em médio e em longo prazo. Uma hora essa conta terá que ser paga. Margem bruta negativa deve ser tratada com tole-
Comparativo de indicadores selecionados entre os anos 2012 e 2013 para 29 propriedades do Educampo Indicadores
2012
2013
Produção média de leite (L/dia)
836,56
975,18
Produção / Vacas em lactação (L/Vaca/dia)
17,72
18,38
Produção / Mão de obra permanente (L/h)
229,80
288,75
Produção / Área para pecuária (L/ha/ano)
5.487,41
6.153,33
Gasto com mão de obra na ativ./renda bruta da atividade (%)
18,05
13,60
Gasto com concentrado na ativ./renda bruta da atividade (%)
44,34
31,76
Fonte: Sebrae Minas - Período: Jan/12 a Dez/17 - IGP-DI: Março/18.
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rância zero. Nesse caso é necessário buscar sistemas de produção de leite com sustentabilidade econômica e financeira. Em 2012, de um total de 155 propriedades atendidas pelo Educampo/Sebrae em Minas Gerais, somente 29 operaram com margem bruta negativa. Aos consultores dessas propriedades, foi lançado um desafio: tornar a margem bruta positiva, no prazo mais curto possível. O que será que aconteceu? Utilizamos, como exemplo, uma amostra de produtores entre 2012 e 2013, participantes do Educampo, pois nos últimos anos o Projeto não tem tido uma amostra significativa de produtores com margem bruta negativa. Em 2013, dessas 29 propriedades, somente sete não conseguiram sair do vermelho. Portanto, 22 deram um choque de gestão no seu empreendimento: melhoraram seus indicadores técnicos e reduziram seus custos operacionais, fazendo com que a margem bruta se tornasse positiva. Quais foram os indicadores que, modificados, contribuíram para o melhor resultado dessas 22 propriedades? O volume de leite médio aumentou de 837 l/dia para 975 l/dia. Com melhorias no manejo e com o aumento da reprodução do rebanho, de 47 para 53 vacas em lactação por dia, a produtividade média, que era de 17,7 l/vl/d e passou para 18,4 l/vl/d. Esse aumento de volume contribuiu para aumentar a produtividade da mão de obra nas 22 propriedades: de 230 l/dh, passou para 289 l/dh. A produtividade da terra seguiu a mesma tendência: era de 5.487 l/ha/ano, passou para 6.153 l/ha/ano. É o efeito mágico do ganho em escala de produção, que é aumentar o volume de leite com maior eficiência, produzindo mais e melhor com menos. Esse assunto tem sido tratado reiteradamente neste espaço. Este ganho de eficiência refletiu no bolso dos 22 produtores. Em 2012, 18,05% da renda bruta da atividade leiteira desses produtores eram utilizados para pagar a mão de obra e, em 2013, caiu para 13,60%. Para os gastos com concentrado, em 2012, eram comprometidos 44% da renda bruta e, em 2013, reduziu drasticamente para 32%. Sendo assim, o custo operacional efetivo por litro de
leite (COE/l) que, em 2012, era R$ 1,29/l, caiu para R$ 1,11/l em 2013 - uma redução de 14%. Esta queda, somada ao aumento do preço do leite, na média do ano - em 2012, era R$ 1,20/l, foi para R$ 1,38/l em 2013 - tornou possível a essas 22 propriedades saírem de uma margem bruta negativa de R$ 44.509,49/ano e chegarem a R$ 90.992,88/ano, positiva. Um espetáculo, não acham? Alguns leitores devem estar imaginando que o resultado positivo somente se deveu ao aumento ocorrido no preço do leite: grande engano. Se não houvesse o aumento também do volume de leite e se não fossem reduzidos os custos operacionais, a margem bruta alcançada seria muito menor e sobraria muito pouco para esses 22 produtores. Como os leitores desta coluna já sabem, o preço é importante, mas produzir leite com eficiência e custos equilibrados é essencial. Quanto aos sete produtores que não operaram com tolerância zero em relação à margem bruta das suas propriedades, não podemos dizer mais nada. Eles preferiram deixar a consultoria do Educampo, achando-a muito cara, apesar de representar cerca de R$ 0,01/l no custo de produção do leite. Para escrever este artigo, procuramos informações sobre eles e ficamos sabendo que os sete produtores deixaram a atividade leiteira: quatro deles venderam as propriedades e três estão morando nelas, mas têm como principal fonte de renda o salário que ganham prestando serviços para os produtores vizinhos. Triste, não acham? Para resolver com precisão e energia a situação de margem bruta negativa, primeiramente busque reduzir os custos operacionais dos fatores que mais influenciam no resultado final da margem bruta, que são os gastos com concentrado, mão de obra, volumosos,
Comparativo de indicadores selecionados entre os anos 2012 e 2013 para 29 propriedades do Educampo
Fonte: Sebrae Minas - Período: janeiro/2012 a dezembro/2013 - IGP-DI: março/2018.
energia elétrica e combustível. Com os custos equilibrados, busque aumentar o volume de leite com eficiência e lembre-se de duas coisas: o aumento do volume de leite com margem bruta negativa acelera a sua falência e a gestão tem que ser por margens máximas e, não, por custos mínimos. Você, produtor e leitor que nos lê: qual a margem bruta da sua atividade leiteira (MB = RB – COE)? Se não sabe, pergunte ao seu consultor. Se estiver negativa, tenha tolerância zero, saia da inércia e, rapidamente, resolva essa situação, antes que seja tarde demais. Entretanto, se o seu consultor não souber lhe responder, substitua-o urgentemente; aja, também, com tolerância zero.
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Genética
Mapeamento genético do Girolando, a seu dispor Sonho do criador de saber se a bezerrinha recém-nascida será uma vaca produtiva vira realidade
Tatiana Souto
primeiro parto, que denota a tão almejada precocidade do rebanho. Este tipo de análise já está disponível para o criador e a um preço relativamente barato: R$ 200 por fêmea avaliada. O laboratório responsável por destrinchar o DNA do bovino será o da Zoetis, empresa multinacional do setor de saúde animal e genética. As análises serão feitas em Kalamazoo, Estado de Michigan, EUA. Do envio da amostra até o resultado, são necessários 60 dias. Em parceria com a Embrapa Gado de Leite – detentora do projeto inicial de avaliação genômica da raça –, a Associação Brasileira dos Criadores de Girolando e a central de inseminação artificial CRV Lagoa, a Zoetis lançou, no dia 8 de maio, em São Paulo, o produto denominado Clarifide Girolando. A empresa já detém o Clarifide Holandês, voltado à avaliação genômica deste gado europeu. Com o trabalho conjunto entre poder público e iniciativa privada, a raça Girolando é a primeira brasileira – fruto do cruzamento entre o zebuíno Gir e a europeia Holandesa – a ter a ferramenta de análise genética à disposição.
principal raça leiteira criada no Brasil, o Girolando, colhe os primeiros resultados após o mapeamento do seu DNA, anunciado no ano passado. A partir de agora, será possível detectar, ainda na fase de bezerra, com a análise genômica (ou dos genes) se o animal tem potencial para ser um campeão na produção de leite ou já pode sair do creep feeding direto para o descarte. Selecionando com maior grau de certeza os bons e eliminando os menos produtivos antes de alcançarem a idade reprodutiva, é possível acelerar enormemente a evolução e o melhoramento genético do rebanho. Basta, para isso, o pecuarista enviar um tufo de pelos da cria ao laboratório, que vai averiguar as combinações de genes do animal em questão e se ali há um grupamento que se manifesta favoravelmente ou não à farta produção leiteira. Outros critérios também estão em jogo: o intervalo entre partos (quanto menor o período entre cada parição, melhor) e a idade ao
Escolha óbvia Em se tratando de gado de leite no Brasil, a escolha pelo Girolando chega a ser óbvia: trata-se da raça que representa 80% do rebanho leiteiro do País, de cerca de 20 milhões de vacas em lactação, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). “Um salto na produção desse rebanho por meio do melhoramento genético, utilizando-se de ferramentas genômicas, contribuirá para um aumento expressivo da produção e da qualidade do leite”, anima-se o pesquisador da Embrapa Gado de Leite e idealizador, há quase dez anos, do projeto genômico do Girolando, Marcos Vinicius Barbosa da Silva, com parceria inicial da Associação da raça. “Além disso, o Brasil estará em pé de igualdade nesta tecnologia em relação ao restante do mundo”, orgulha-se. Barbosa da Silva explica que a tecnologia se resume a analisar o DNA – recomendavelmente das bezerras – e nele detectar os grupamentos de genes que “se ex-
A
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Genética pressam” para determinadas características. No caso do Clarifide Girolando, avaliaram-se quais os genes responsáveis por garantir precocidade, alta produção leiteira e condições de a bezerra, quando adulta, parir a intervalos cada vez menores entre um e outro parto. “Se os genes responsáveis por essas qualidades desejáveis não se expressarem, significa que o bovino não terá bom desempenho em quesitos tão essenciais à rentabilidade da produção leiteira”, comenta o pesquisador da Embrapa. Para mapear qual o conjunto de genes responsáveis por garantir essas qualidades foi necessário uma extensa consulta ao banco de dados da raça, desenvolvido e alimentado desde o ano 2000 pela Associação Brasileira dos Criadores de Girolando. A entidade forneceu as informações zootécnicas de 200 mil animais. Foram reunidas informações de pedigree, de controle leiteiro (quanto cada vaca produziu dia a dia, por lactação), com que idade elas pariram pela primeira vez (indicador de precocidade sexual) e quando voltaram a parir novamente, entre outros critérios. “A partir desse banco de dados, um grupo de animais foi genotipado (ou seja, teve seu DNA mapeado), dentro do projeto Genoma Girolando, para que sua genética se tornasse referência naquelas qualidades desejadas”, complementa o coordenador operacional do Programa de Melhoramento Genético da Raça Girolando, Marcello Cembranelli, da associação. Já a Zoetis, além de contribuir com um aporte financeiro para as pesquisas, ingressou também com tecnologia de ponta para análise de DNA e laboratórios. “Nós já trabalhávamos com genômica com raças de leite”, conta o gerente de Produtos de Bovinos Leite
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da Zoetis, Cleocy Mendonça Jr. “No caso do Girolando, inicialmente foram analisadas 8,6 mil amostras de DNA da raça para se chegar ao grupo de genes responsáveis por expressar as características desejadas”, descreve. Com o Girolando, a expectativa inicial da Zoetis é receber 3 mil amostras para análise por ano. Número que vai crescer ao longo dos anos, acredita o executivo da empresa, à medida que os pecuaristas tomarem mais conhecimento da tecnologia e suas vantagens. Touros Já o interesse da CRV Lagoa, por fim, não é na avaliação direta das bezerras, mas sim dos touros reprodutores da raça Girolando e se eles são ou não talhados para transmitir precocidade, alta produção leiteira e um poder de suas filhas terem um maior número de partos ao longo da vida útil. “Vamos testar os touros pela tecnologia da genômica”, informa o gerente executivo de Inovação e Rebanho da CRV, Cesar Franzon. Assim, os pecuaristas que quiserem avaliar o potencial dos touros de sua propriedade em transmitir essas características à prole também podem enviar amostras de pelos dos animais para a CRV analisar. “Teremos exclusividade na avaliação dos touros, mas as análises de DNA serão feitas nos laboratórios da Zoetis”, comenta ele, acrescentando, porém, que a avaliação dos touros terá um preço mais elevado. “Em parceria com a Associação do Girolando também serão feitos testes de progênie. O produto final que vamos entregar ao pecuarista não será apenas a avaliação do genoma, mas as Diferenças Esperadas de Progênie em relação a várias características de interesse do produtor.”
Publieditorial
Novo equipamento tem
Non on no onononoono nono no on noo no no no o nonono nonon ono nono non onon on ononon
bicos rede Non on no onononoono nonocom no on noo interna o fluxo de leite no no no o nonono nonon onopara nono dosar non onon on ononon
A pressa é inimiga da amamentação Nova tecnologia de bicos está ajudando fazendas brasileiras a proporcionar uma mamada mais tranquila aos bezerros
N
a missão de amamentar os bezerros, um dos grandes desafios do produtor é garantir que a ingestão do leite ocorra em um ritmo adequado para que a sua digestão se processe com eficiência. O funcionamento do organismo dos ruminantes justifica tal necessidade. É fundamental para a saúde do bezerro que todo o leite consumido vá diretamente para o abomaso, que é a quarta câmara do estômago dos ruminantes. Esta região reúne as condições necessárias para uma boa digestão. Porém, quando um bezerro mama rapidamente, seja pelo uso de sondas ou alimentação em baldes, isso pode não acontecer. A alimentação rápida pode causar dois problemas: produção insuficiente de saliva, que é uma grande aliada na
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digestão, e o transbordamento do leite para o rúmen, local que não possui as enzimas capazes de digerir este alimento. A soma destes fatores, consequentemente, resulta em uma coagulação deficiente, permitindo que o leite integral entre no intestino delgado, passe por um processo de fermentação bacteriana e culmine em uma diarreia nutricional. As bactérias E. coli, presentes no intestino, se multiplicam rapidamente quando em contato com o leite cru. “As diarreias nutricionais são, simplesmente, o resultado final de uma quantidade excessiva de lactose no intestino, causada pela passagem muito rápida do leite pelo abomaso sem que ele tenha sido completamente digerido. Essas diarreias, muitas vezes, evoluem para diarreias infecciosas por causa do
elevado número de agentes patogênicos que usam o excesso de lactose como fonte de energia para se proliferarem”, explica o sócio-diretor da Quality Consultants of New Zealand (Qconz), Bernard Woodcock. Sobre as consequências da má digestão do leite, Woodcock acrescenta ainda que, quando o bezerro não produz a quantidade necessária de saliva, isso pode levá-lo a sugar orelhas, umbigo, úbere ou outros objetos à sua volta para tentar produzir a saliva que não foi gerada durante a amamentação. “Este tipo de comportamento, incentivado pela mamada rápida, é conhecido como mamada cruzada”, observa. Mamada longa A solução para evitar este tipo de transtorno aos animais e à fazenda passa pelo entendimento do que acontece quando o bezerro está inserido em uma condição natural de amamentação. Quando um bezerro é amamentado na
vaca, ele bebe o leite lentamente e, por conta disso, produz muita saliva. Esta ação causa o fechamento da goteira esofágica, fazendo com que o leite passe diretamente para o abomaso sem entrar no rúmen. A goteira esofágica é um músculo curvo localizado na garganta do bezerro. A sua função é direcionar os alimentos para o lugar correto. Quando o bezerro bebe água ou se alimenta com ração, a goteira esofágica permanece aberta e direciona esses alimentos diretamente ao rúmen para digestão. Em compensação, no instante em que o bezerro está mamando na vaca, a goteira esofágica se fecha, formando um canal que direciona o leite para o abomaso, onde ele deve ser processado. Este canal é de pequeno calibre e não consegue cumprir sua função quando recebe grandes quantidades de leite rapidamente. Quando o bezerro mama lentamente e o leite entra no abomaso, a renina e outras enzimas coagulam o leite. O co-
No Brasil, o especialista também é sócio e diretor executivo de outra companhia neozelandesa, a Milk Bar, que trouxe para o país uma solução em amamentação que, justamente, evita a mamada rápida por parte dos bezerros. Em resumo, os bicos possuem uma rede interna que controla o fluxo do leite, evitando que os animais o bebam muito rapidamente. Assim, o leite é direcionado para o abomaso e os bezerros produzem a quantidade de saliva necessária para uma melhor coagulação do leite. A solução chegou ao Brasil em julho de 2015, quando começaram os primeiros testes. De acordo com Woodcock, os bezerros alimentados com os bicos apresentam maior ganho de peso diário, ficando 10,68% (ou 2,982 kg) mais pesados aos 42 dias de idade. O produto, que já está sen-
Produto tem duas versões: com cinco bicos (acima) ou para alimentação individual (abaixo)
alho, por sua vez, é quebrado por outras enzimas antes de chegar ao intestino em um estado que favoreça a sua absorção. Além disso, o processo de sucção lenta induz a produção de saliva, que balanceia o pH (potencial hidrogeniônico) dentro do abomaso para ajudar na coagulação do leite. “A saliva contém enzimas essenciais, como a lipase, necessárias para a diges-
do produzido no Brasil, pode ser encontrado em casas agropecuárias em duas versões: individual, com um bico, e coletivo, com cinco bicos. Os bicos ficam acoplados em recipientes plásticos de quatro litros (individual) e de 36 litros (coletivo). O especialista conta que, além da redução nos casos de diarreia e mamada cruzada, as fazendas que utilizam os referidos bicos estão obtendo outros benefícios, como a eliminação do timpanismo, por exemplo. “Além disso, com bezerros mais saudáveis e eficientes em mãos, estes produtores estão conseguindo antecipar o desmame, o que, consequentemente, favorece a antecipação do ciclo reprodutivo dos animais”, afirma o especialista. “Os benefícios da mamada lenta não param por aí. Nota-se, inclusive, melhorias no comportamento animal.
tão da gordura e possui também propriedades antibióticas naturais, a primeira e principal defesa de um bezerro contra infecções”, lembra Woodcock. “O simples ato de submeter a bezerrada a uma amamentação lenta, ou seja, mais próxima ao natural, previne a diarreia nutricional, reduz ou elimina a mamada cruzada após a alimentação e proporciona taxas superiores de crescimento.”
Como o bezerro fica plenamente saciado, ele também fica mais tranquilo e manso e assim se desenvolve. A longo prazo, o produtor tem uma vaca que tende a dar menos trabalho para ordenhar, o que permite redução no uso da ocitocina, por exemplo.”
Para mais informações: www.milkbar.com.br
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Capa
Sinta-se em casa
Sérgio de Oliveira
Salas de espera e de ordenha devem proporcionar conforto aos animais, além de serem funcionais, limpas e arejadas
Da sala de espera para a ordenha: muita calma nesta hora
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Tatiana Souto
uncionalidade, limpeza, ambiente seco e conforto tanto da vaca quanto do ordenhador são as premissas básicas a serem seguidas em duas importantes instalações: a sala de ordenha e a sala de espera. Respeitar essas regras, entretanto, não significa lançar mão de construções ou equipamentos sofisticados, orienta o chefe-adjunto de Transferência de Tecnologia da Embrapa Pecuária Sudeste, André Novo, de São Carlos (SP). Ele comenta, aliás, que é “prudente” não investir pesado em novas instalações, principalmente se o rebanho for pequeno, em torno de 20 a 30 vacas. “Projetos simples, sem sofisticações desnecessárias, são sempre bem vindos”, garante ele, observando ainda que, no Brasil, a diversidade de sistemas de produção “não permite a definição de um modelo único que sirva para todos os produtores” e que, por isso, são encontradas muitas adaptações pelo País. O objetivo, enfim, é atender às premissas acima citadas. Levando-se em conta também quanto tempo o produtor está disposto a gastar na ordenha, entre todas as outras tarefas de uma propriedade leiteira. “Se ele quiser ficar menos tempo nessa atividade terá de ter equipamentos e sala dimensionados para receber um número maior de vacas por vez”, orienta Novo. Este cálculo é feito levando-se em conta que o tempo necessário para o animal entrar e sair da sala de ordenha, já com o úbere vazio
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e higienizado, dá, em média, 3 a 6 minutos, a depender do sistema de ordenha. “Se tiver bezerro ao pé, vão uns 8 minutos, pelo menos”, diz Novo. O engenheiro agrícola Andrew Jones, diretor da Ajagro, consultoria especializada em pecuária de leite e que faz projetos para o setor, acrescenta que as dimensões dessas duas salas – mesmo que sejam adaptadas em construções já existentes – devem levar em conta projetos presentes e futuros do pecuarista. “A sala de ordenha contabiliza o tamanho atual do rebanho e sua possibilidade de expansão.” Nos projetos da Ajagro, Jones diz que pergunta sempre ao criador qual sistema de produção ele pretende e o seu objetivo de médio e longo prazos. “Tudo tem de ser pensado não só para hoje, mas para o futuro: quantas vacas ele vai ordenhar agora, qual vai ser o fluxo de ordenha, qual a lucratividade esperada por animal, entre outras questões”, diz Jones. Simples mas funcional Novo, da Embrapa, reforça que simplicidade e funcionalidade são obrigatórios. “Recomendamos até que o pequeno produtor não considere uma prioridade investir muito nessas instalações, já que o capital aplicado nisso tem de ser o menor possível. Sala de espera, por exemplo, não é algo que, diretamente, vá garantir mais leite”, sentencia. Ele conta, ainda, que entre os produtores ligados ao Programa Balde Cheio, a maioria tem uma sala de espera de chão batido e com boa drenagem, ventilação e sombra adequada, para garantir o conforto térmico, tão essencial às vacas em lactação. Piso de concreto, por exemplo, só se vê em propriedades onde houve um recorte do terreno e onde há risco de acumular muita água e formar lama. Outro pesquisador da Embrapa, da unidade Gado de Leite, em Juiz de Fora (MG), Bruno Campos de Carvalho, comenta que alguns cuidados podem auxiliar na maior produtividade. Uma leve inclinação do piso do espaço onde as vacas aguardam para ser ordenhadas, por exemplo, confere maior drenagem da água e facilidade de limpeza de dejetos. O piso de concreto frisado nas áreas em que as vacas têm de passar ou ficar também previne escorregões. “Se o piso for escorregadio, as vacas percebem e ficam inseguras, resultando em stress e, consequentemente, menos leite”, comenta o pesquisador.
Carvalho recomenda, ainda, as salas de ordenha com fosso, onde o ordenhador fica de pé. “Isso lhe dá mais conforto, item importante num segmento onde a mão de obra é cada vez mais escassa”, diz. Em salas sem fosso – ou seja, onde as vacas ficam no mesmo nível do chão –, o ordenhador é obrigado a agachar e levantar várias vezes, seja para fazer a higienização dos tetos, instalar ou retirar as teteiras ou mesmo ordenhar as vacas manualmente. “Isso causa um desconforto”, justifica. O piso do fosso pode ser frio ou concretado – importante é ter boa drenagem, por isso também deve ser levemente inclinado. Em relação ao formato das baias na sala de ordenha – se em “espinha de peixe”, horizontal ou em fila, Carvalho comenta que essa escolha depende da rapidez com que se quer tirar leite e do tamanho do rebanho (veja ilustração). Um item essencial para garantir o conforto térmico das vacas é a ventilação adequada dessas duas instalações. A saída mais simples e funcional, própria para rebanhos menores, é ter um pé-direito alto na sala de espera e na de ordenha, de pelo menos 3 metros de altura, e aberturas laterais para garantir a circulação do ar. Com o pé-direito alto, o ar quente sobe e não fica parado entre os animais. André Novo recomenda, ainda, que se o telhado for de
material que esquenta muito, como zinco ou amianto, o pé-direito deve ser um pouco mais alto, de 4 metros. “O sombreamento nos dois ambientes também é importante”, acrescenta Carvalho. “Vacas em lactação se estressam com o calor”, continua. A sombra pode ser providenciada, por exemplo, por meio de uma extensão maior do telhado ou, em caso de investimento menor, por telas de sombrite. E, inicialmente, é recomendável que as janelas desses ambientes não estejam viradas diretamente para o sol. Em propriedades com rebanhos maiores, pode-se instalar também ventiladores e aspersores de umidade para conferir maior conforto térmico ao rebanho. Contenção Quanto ao cercado dessas salas, inclusive nas baias de contenção dos animais na ordenha, uma boa solução é o tubo galvanizado, recomendam Novo e Carvalho. “É roliço, não machuca as vacas caso elas encostem e não acumula resíduos de lama, esterco ou urina, pois é fácil de lavar. Além disso, tem excelente resistência ao peso dos animais”, explica Carvalho. Novo diz que a madeira roliça também pode ser empregada, caso signifique investimento de baixo custo. Na opinião de Carvalho, porém, a madeira impregna sujeira e fica úmida por mais
Os sistemas mais comuns
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A) Espinha de peixe – recomendada para plantéis de mais de 50 vacas. Vacas entram e saem em lotes. Sistema tem fosso de 1,5 a 2 m de largura. A plataforma das vacas fica 75 cm acima do piso do ordenhador. Angulação das vacas é de 30 ou 45º e o espaço por vaca, de 1 a 1,2 m. É possível ordenhar 40 vacas/homem/hora B) Ordenha tipo passagem – é o tipo mais utilizado, quando há presença do bezerro ao pé, especialmente em rebanhos mestiços. É o sistema de contenção mais barato, podendo-se utilizar de madeira a tubos de aço galvanizados. Em relação à espinha de peixe, pode necessitar de maior investimento em alvenaria e equipamentos (principalmente tubulações). Velocidade
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de ordenha é de 20 a 40 vacas/homem/hora. Distância entre úberes é de 2,3 m, o que aumenta a carga de trabalho do ordenhador C) Ordenha tipo Tandem – alto custo de investimento em contenção, tipo boxe, sendo menos suscetível a ampliações. Tem dois portões por boxe, um de entrada outro de saída. São utilizadas de 4 a 6 unidades de ordenha por homem, e é ideal para rebanhos maiores que 40 vacas/ homens/hora. No geral, a Tandem é mais rápida que a Espinha de Peixe. Permite o manejo individual dos animais. Distância entre úberes: 2,3 m D) Ordenha Paralela – é rápida, com investimento bastante variado em instalações. Tem fosso, que mede de 1,8 a 2 m de largura, com pla-
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taforma das vacas a 75 cm do solo. A angulação é de 90 graus nas baias de contenção. O acesso da ordenhadeira é feito por trás das vacas. Pode ser utilizada tanto em grandes rebanhos, de mais de 500 vacas, quanto em pequenos, de menos de 100 vacas. A distância entre úberes é de 70 a 75 cm, o que facilita o trabalho do operador E) Ordenha Carrossel – Para rebanhos grandes e de alta produção. Sistema muito caro, com altos investimentos em instalações e equipamentos. O tempo de rotação do carrossel é de 7 a 12 minutos, podendo ser ajustado. O sistema tem de 14 a 28 contenções. Um ordenhador pode manejar até 70 vacas/hora com 14 contenções.
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Capa tempo, o que não seria recomendável, principalmente na sala de ordenha, que deve ser um ambiente seco e limpo. Outro item que traz conforto às vacas é que elas tenham bebedouros à disposição na sala de espera. “Na ordenha, não é tão necessário, já que costuma ser rápida”, comenta André Novo. Comedouro também não, diz o pesquisador da Embrapa Pecuária Sudeste. “As vacas passam muito pouco tempo por dia na sala de espera e na de ordenha. É desnecessário que se alimentem ali.” André Novo sentencia, finalmente, que o mais importante para quem está começando a criar vacas leiteiras é
Pronta entrega
Andrew Jones junto ao Mobimilk, uma sala de ordenha móvel e prática
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raticidade, limpeza, conforto das vacas e da mão de obra, baixo custo de instalação e um leite de qualidade. O engenheiro agrícola Andrew Jones, diretor da Ajagro, quis reunir todas essas qualidades em um só equipamento e, para tanto, projetou e patenteou o Mobimilk: uma sala de ordenha móvel, construída num módulo semelhante a um contêiner, que o produtor de leite encomenda e recebe pronta, na propriedade. O equipamento básico vem com a sala de ordenha, com capacidade para quatro vacas, com o sistema de ordenhadeiras da EuroLatte, parceira no projeto, e uma sala onde fica o tanque de expansão, com capacidade para até 1,5 mil litros. Podem ser ordenhadas, por hora, entre 24 e 30 vacas. O Mobimilk fica acima do nível do solo, e, assim, o ordenhador trabalha como se estivesse numa sala com fosso. A altura básica é 80 centímetros, mas ela pode ser regulada, garantindo maior conforto ao trabalhador. Outra vantagem, explica Andrew Jones, é o fato de a “caixa” ter possibilidade de acoplar outros módulos, caso o produtor aumente o plantel. “Não há necessidade de obras de construção civil, apenas de um ponto de energia elétrica e outro de água”, diz o enge-
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reduzir custos com investimentos em instalações. Aproveitando, por exemplo, alguma instalação pré-existente na propriedade e adaptando-a. “Futuramente, o rebanho cresceu, vai ter necessidade de um investimento maior, aí se planeja uma nova instalação”, diz. E acrescenta que a qualidade do leite – que deve ser a principal preocupação do produtor – não está ligada diretamente a essas instalações, embora, obviamente, elas devam ser ambientes limpos e confortáveis. “A qualidade do leite é da limpeza do teto da vaca pra frente. Isso interfere muito mais do que o ambiente onde a ordenha ocorre”, finaliza.
nheiro. “O equipamento pode, também, ser colocado junto a uma sala de espera para que as vacas adentrem o Mobimilk.” A entrada dos animais é feita por uma rampa e a saída, por outra. O ordenhador fica do lado de fora, com acesso aos úberes dos animais. Jones conta que, após trabalhar décadas com o setor leiteiro, inclusive em grandes agroindústrias, percebia a falta da qualidade do leite como um dos principais gargalos. Nas viagens que fez ao exterior conheceu um projeto semelhante ao seu Mobimilk e, após uma tentativa fracassada de parceria com uma empresa da Dinamarca, resolveu, ele mesmo, projetar e “tropicalizar” o equipamento. “Por ser bem ventilado e garantir sombra aos animais, o Mobimilk pode ser usado em qualquer região do Brasil”, garante. O engenheiro agrícola explica que a qualidade do leite é garantida – levando-se em conta, obviamente, a limpeza do ordenhador e as corretas higienizações dos equipamentos e dos tetos das vacas – pelo rápido resfriamento da matéria-prima e pelo fato de o tanque de expansão ficar em uma sala fechada e fresca e com telas-mosquiteiro, à prova de insetos e de morcegos. “O leite sai da vaca e quase que imediatamente é resfriado, no tanque de expansão, que fica dentro do Mobimilk”, diz Jones. Para manter mais fresco o ambiente da sala do tanque, ele projetou no teto uma saída de ar tipo persiana, para a saída do ar quente. Na segunda edição do Ideas for Milk, promovido no ano passado pela Embrapa Gado de Leite, em Juiz de Fora (MG), o Mobimilk ficou em terceiro lugar. Ele foi apresentado pela primeira vez na Expointer, também em 2017. Jones comenta que já há pedidos de orçamento e que é possível financiá-lo dentro das linhas do Finame e do Programa Mais Alimentos. O módulo básico custa R$ 68,7 mil. “Faço sob encomenda. O pedido vem, a gente fabrica e entrega na fazenda pronto e já testado. É só ligar a energia e a água e pôr pra funcionar”, diz.
Educação
Clube de craques
Larissa Saraiva
Aos 40 anos, CPZ da Esalq é referência nacional
Murilo Meschiatti, gerente do setor de bovinos, ex-estagiário com mestrado e doutorado no Departamento do Zootecnia da Esalq
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Sérgio de Oliveira
nexa ao campus da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, em Piracicaba, fica a chamada Fazendinha, onde está instalado o Clube de Práticas Zootécnicas - CPZ. Criado pelos professores Vidal Pedroso de Farias e Moacir Corsi, o CPZ é o grupo de estágio mais antigo da Esalq. Ali, os alunos do curso de Agronomia com especialidade em Zootecnia colocam em prática o que aprendem nas salas de aula - e aprendem muito mais - sobre bovinos de corte e de leite. Por ali passaram nomes importantes da zootecnia nacional, e foi o berço de vários programas de desenvolvimento sustentável do negócio leite. Nem todos resistem ao rigor do estágio. Murilo Meschiatti, gerente do setor de bovinos, ex-estagiário com mestrado e doutorado no Departamento do Zootecnia da Esalq, explica que a filosofia do clube é o comprometimento com o trabalho. Os alunos da graduação que se candidatam ao estágio ficam sujeitos a uma disciplina rigorosa: o horário de trabalho se estende das 7 da manhã às 8 da noite, de segunda a segunda nos dois primeiros meses. Executam tarefas que vão do serviço braçal até a formulação e distribuição da dieta nos cochos. Chegar atrasado é cartão vermelho na hora. Estes dois meses são apenas um teste para ver se o aluno tem vocação para o trabalho numa fazenda de leite. Se não desistiu diante dos desafios, o estagiário é efetivado. Passa a ter um olhar mais técnico e a participar das decisões relativas à gestão do sistema. Após mais de um ano de estágio, o aluno é liberado, nas férias, para estagiar em fazendas leiteiras comerciais como “consultor”. Na volta, recebem mais conhecimentos técnicos, até estarem
em condições de sair para o mercado de trabalho. “Eles saem com um olhar amplo da fazenda” diz Murilo. Esse olhar, segundo Murilo, se adquire com a própria necessidade de manutenção do CPZ. “A gente é autossustentável. Do governo só vem a ração. O resto - medicamentos, compra de animais, manutenção - tem que sair da produção leiteira. “Algumas empresas parceiras que fazem doações de medicamentos, sementes… mas isso na verdade apenas compensa um pouco os erros a que estamos sujeitos, por se tratar de um processo de aprendizagem. É máquina que quebra, dosagem errada… Aqui eles aprendem o que fazer e, também, o que NÃO fazer.” Manejo O gado é criado a pasto, e o manejo da pastagem é um dos pontos focais do trabalho no estágio. São 15 hectares dedicados à produção de leite, com 80 vacas jersolandas em lactação, divididas nos piquetes por lotes de produção. Os capins que formam os 45 a 50 piquetes da fazendinha - cada um com cerca de 0,2 ha - são napier elefante, napier camerum e uma espécie nativa conhecida como sempre-verde. A lotação é de 10 UA/ha e o manejo da pastagem é feito com base na interceptação luminosa. A área reservada ao pré-parto é formada de tifton 85, uma gramínea de menor porte utilizada para possibilitar a visualização dos bezerros recém-nascidos. Outros 24 ha são utilizados para produção de milho para silagem. A produção atual é de 1.300 litros/dia em duas ordenhas, mas o plano, segundo Murilo, é puxar o rebanho para o sangue holandês e chegar a 100 vacas em lactação e produção de 2.000 litros/dia. Em setembro de 2017, sob a direção do professor Flávio Portela Santos e tendo como coordenador do estágio o professor Marco Antonio Penati, o CPZ comemorou 40 anos, com uma merecida homenagem ao professor Vidal. Suas atividades se expandiram neste período. Hoje oferece também cursos de extensão de 3 a 4 dias para pessoas de fora da instituição, e cursos de especialização em nutrição e pastagem, com duração de dois anos, para profissionais formados.
MUITO MAIS LEITE. COM MAIS QUALIDADE.
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Capítulo 5
Um ano, avanços e desafios Com esta edição, completa-se exatamente um ano desde que eu e o consultor técnico da Mundo do Leite, Edson Gonçalves, elegemos um pequeno produtor de leite para receber assistência técnica especializada, a cargo de um técnico da Cooperideal. Quem viu o pasto praguejado – na prática abandonado – onde as vacas se alimentavam no outono passado, e vê hoje o conjunto de piquetes instalado numa fração do terreno (1,6 hectare - Foto 1), tem uma boa ideia do quanto se avançou. Ainda mais quando vê uma nova área de 1,2 hectare já prevista para a formação de novos piquetes (Foto 2). Em nossa última visita, dia 15 de maio, a coleta de solo desse novo talhão já havia sido feita e o produtor – e o técnico – aguardavam o resultado para recomendação de calagem e adubação. Os novos piquetes se justificam porque no mesmo dia 15 desembarcaram na propriedade 15 novas vacas, adquiridas com a venda de oito cabeças no mês de março, obviamente com o aporte de recursos extras pelo produtor. (Foto 3) Ao invés de apenas repor as oito cabeças ao longo dos meses, conforme recomendado, adquirindo animais aos poucos, de preferência novilhas ou vacas jovens próximas de parir, de qualidade genética e potencial produtivo superior - para elevar a produção sem necessariamente elevar os custos -, nosso produtor secreto embarcou no que ele justifica como “oportunidade”. Próximo de sua fazenda, um produtor estava liquidando o rebanho, composto de vacas girolando de idades variadas. O produtor secreto comprou as 15 cabeças, das
1 Fotos Sérgio de Oliveira
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quais dez em lactação, acompanhadas de nove bezerros e bezerras ainda mamando. (Foto 4) Ao não seguir a recomendação do técnico, ele criou uma série de problemas para si e para a estruturação do projeto que visa a profissionalização da atividade. Primeiro, as novas vacas, embora diagnosticadas pelo veterinário como saudáveis, não vieram com as anotações zootécnicas recomendáveis. Ou seja, para saber quais estão prenhes, quando vão parir e qual o nível de produção, somente começando o trabalho do zero – as vacas remanescentes do rebanho original, depois de um ano, têm tudo isso registrado nas planilhas do técnico. Como não se conhece as datas de cobertura e parição das novas vacas, é possível que algumas tenham acabado de
A revista Mundo do Leite e seus parceiros estão proporcionando assistência técnica especializada a um produtor de leite com o propósito de mostrar que a atividade é rentável quando gerida de forma profissional. Acompanhe o passo a passo deste projeto pioneiro inovador páginas da revista e no Portal DBO. Inspire-se! Mundo edo Leite – nas fev/mar 2018
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secar e outras sequem rapidamente, permanecendo improdutivas no rabanho por um longo período, apenas consumindo renda do produtor. Segundo: na entrada da seca, serão mais 24 animais, entre vacas e bezerros, a serem alimentados, aumentando o custo geral de produção numa proporção ainda não sabida em relação ao aporte de produção imaginada. Terceiro: são vacas sem padrão genético apurado, o que o produtor chamou de “vacas rústicas”. E justificou: “a propriedade ainda não está em condições de receber vacas altamente produtivas, que exigem trato melhor”. A esse respeito, sugiro a leitura do artigo de Ismail Haddade nesta edição. A jornada rumo a um rebanho “especializado” ficou mais longa. Em resumo, em nome de uma “oportunidade”, o produtor contrariou várias recomendações do técnico, inclusive a de adquirir animais com maior período de lactação e que não necessitassem de bezerro ao pé para produzir leite. Agora, resta esperar que as novas recomendações – como por exemplo aguardar uns dez dias para iniciar o controle leiteiro das recém-chegadas, para que elas possam se adaptar ao novo ambiente – sejam seguidas. Que a quantidade de cana picada/ureia (Foto 5) seja suficiente para a mantença de todas as vacas em lactação, acrescida da necessária suplementação mineral. Que se faça um exame de toque nas vacas para verificar as prenhes e vazias e quando provavelmente haverá nascimentos. De qualquer modo, um novo exame de toque deverá ser feito mais adiante, porque vacas cobertas recentemente não serão diagnosticadas como prenhes agora.
Realização
Apoio
E, principalmente, que não se tome nenhuma decisão relativa ao manejo do rebanho sem consultar o técnico. Essa posição foi reforçada diante do produtor e de sua esposa, que se comprometeram a seguir as recomendações à risca, de forma a não comprometer o projeto. “Oportunidades” nem sempre são um bom negócio. (Sérgio de Oliveira)
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Nutrição
Suas vacas têm o que comer? Ideal, nesta época de seca, é garantir o fornecimento de uma dieta nutritiva aos animais sem gastar muito
Um dos critérios que os produtores devem observar é o teor de proteína e energia de cada volumoso
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Fernanda Yoneya
om a aproximação do inverno e o pasto começando a rarear nas propriedades leiteiras, o produtor tarimbado já sabe com o que vai poder contar para a alimentação do rebanho. Ideal, nesta época, é garantir o fornecimento de uma dieta nutritiva aos animais sem gastar muito. Na Fazenda Fundanga, em Aimorés, Minas Gerais, o produtor de leite Lúcio Antonio Oliveira Cunha conta que, na época da seca, alguns pecuaristas de sua região trabalham, além da pastagem irrigada, com suplementação volumosa com silagem de cana e silagem de milho. “Nesse caso, priorizamos a pastagem produzida para as vacas em lactação e suplementamos as demais categorias. Mas todas as categorias, a princípio, têm acesso ao pasto irrigado e recebem a forragem suplementar somente para completar a demanda por volumosos”, explica Cunha. “Em relação às dietas, fazemos os devidos ajustes para cada categoria de acordo com sua demanda e composição do volumoso fornecido.”
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A prioridade dos animais mais produtivos - de 17 a 20 litros/dia - na pastagem irrigada se justifica, segundo Cunha, por causa do melhor valor bromatológico do pasto em relação às demais opções forrageiras. “Assim, a dieta desses animais fica mais competitiva”. Em relação ao custo final da dieta, Cunha diz que, em termos de competitividade, a pastagem irrigada, para vacas de média produção, é a mais interessante. Em seguida, ele cita a suplementação com silagem de cana, em razão do baixo custo da matéria seca da silagem da gramínea. Por último vem a silagem de milho, que, além do custo elevado, na região precisa de irrigação, o que praticamente dobra seu preço em comparação às regiões que conseguem produzi-la em sequeiro. Segundo Cunha, um dos critérios que os produtores consideram é o teor de proteína e de energia de cada volumoso. A silagem de milho, por exemplo, tem 9% de proteína e 67% de energia; a silagem de sorgo, 10% de proteína e 60% de energia; a cana, 2% de proteína e 60% de energia. “Para as categorias que consomem somente pastagem extensiva nesse período, como o capim amadurece, ele perde qualidade. E isso eleva a demanda de proteína e minerais, que precisa ser ajustada no concentrado fornecido. Assim, conseguimos manter um desempenho satisfatório. Isso é mais usado para animais jovens e vacas solteiras. Mesmo assim, eles recebem suplementação volumosa também”, explica Cunha. O produtor possui 11,5 hectares de pasto irrigado, entre mombaça, jiggs e braquiária. Segundo ele, o mombaça, em relação à braquiária, tem como vantagens o melhor valor nutritivo e a maior resistência a pragas e ao excesso de umidade. Engenheiro agrônomo, Cunha tem experiência no acompanhamento técnico de outros produtores de leite, principalmente de Minas Gerais e do Espírito Santo. Ele afirma que resultados de análises bromatológicas constataram que, enquanto o mombaça tem, em média, 16% de proteína, a braquiária tem de 12% a 14%. “Mas já há informações de que o mombaça alcance até 20% de proteína.” A Fundanga tem área total de 125 hectares e Cunha mantém rebanho de 85 fêmeas adultas e 40 fêmeas jovens. O plantel é da raça jersolando. A média da produção de leite é de 1.200 litros por dia.
Sobressemeadura Prática comum na região da Fundanga, em locais onde o inverno é mais rigoroso, é a sobressemeadura de aveia preta e azevém nos piquetes. “Isso possibilita produzirmos pastagem mesmo em invernos mais frios, quando a produção da pastagem tropical fica comprometida”, afirma Cunha. A técnica consiste em, na entrada do inverno, entre abril e maio, semear o azevém na dosagem de 50 quilos por hectare e a aveia na dosagem de 100 quilos por hectare no piquete antes de o gado entrar. Quando o gado faz o pastejo, ele pisoteia a semente e faz a incorporação na área. Logo em seguida, se for mombaça (capim de porte alto), é feita a roçada a uma altura de 20 centímetros do chão. Se for capim de porte baixo (tifton, por exemplo), a roçada é feita na altura de 10 a 15 centímetros do chão. Essa semente germina ao longo do período de descanso da pastagem e, já na próxima rodada, a planta começa a ser pastejada. Nesse período mais frio do ano, como essas plantas de clima temperado vegetam bem, o gado tem essa suplementação dentro do próprio piquete. “Essas plantas de clima temperado têm um potencial de produção de certa forma limitado,
mas que no inverno é competitivo. Permite 5 UA por hectare, com 20% a 25% de proteína. Fica uma dieta muito mais barata, porque a demanda por proteína fica muito menor. A qualidade da dieta fica muito boa e essa forragem dura todo o inverno”, diz Cunha. Conforme a região e a disponibilidade do produto, os cereais de inverno – aveia preta, aveia branca e cevada –, cuja época de plantio se estende até maio, podem compor a dieta durante a seca. O cereal pode ser fornecido in natura, inteiro ou triturado, direto no cocho. No caso da aveia, ela possibilita uma boa cobertura do solo e pode ser usada como forrageira. O triticale, cereal rústico, compõe a dieta animal na forma de forragem verde, feno, silagem de planta inteira ou de grão úmido ou grãos secos para rações. Já a cevada pode ser oferecida na forma de grãos ou como forragem. No entanto, segundo dados da Embrapa Gado de Leite, a maior limitação da cevada úmida é a energia, especialmente para vacas de alta produção de leite (acima de 25 kg/dia). Para vacas com produção abaixo de 20 kg de leite/dia, a cevada úmida pode ser uma boa alternativa, dependendo de seu preço e da disponibilidade.
Fazenda Fortaleza Fazenda Santa Paula Criando Gado Leiteiro há mais de 50 anos.
Lúcio Oliveira Cunha, da Fazenda Fundanga, em Aimorés, MG
Aloysio de Andrade Faria Criador Fazenda Fortaleza Via Anhanguera, Km 116 Nova Odessa, SP Fone.: (19) 3466-1150 Fazenda Santa Paula Rod. SP 340, Km 123 Vila das Garças Campinas, SP
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Nutrição
Como “fechar” uma boa dieta
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produtor Lucas Vilela Filgueiras, da Fazenda Canaã, em Mineiros, GO, dá a dica para o período de escassez de pasto: investir na confecção “bem feita” de um volumoso “de boa qualidade e o mais produtivo possível” e, com ajuda de assistência técnica, “fechar uma dieta” com antecedência. “Consigo programar as compras de itens como milho, caroço de algodão, farelo de soja, casquinha de soja, entre outros ingredientes.” Assim, afirma, evita desperdício, oferece um alimento de qualidade às vacas e o custo não pesa no bolso. Na Canaã, o investimento em irrigação de pastagens garante um alimento mais rico para as vacas mais produtivas durante a seca. Já os animais de menor produção consomem cana-de-açúcar. “Vacas de menor produção, vacas secas, animais no pré-parto, novilhas prenhes, vazias, todas essas categorias vão para o cocho na época seca, com uma dieta adequada para cada categoria. Na região, Filgueiras diz que, além da silagem de milho e da cana, são alternativas aos produtores silagem de mombaça e de sorgo forrageiro. “Vale lembrar que, independentemente da forrageira, os cuidados devem ser os mesmos na hora de ensilar e dar aos animais.” O produtor utiliza a cana há quatro anos e vê como vantagens da gramínea a boa produtividade de matéria seca por hectare, no ganho de peso verificado nos animais de recria e na produção de leite do rebanho. Outro atrativo da cana é o fato de sua maturação fisiológica coincidir com o período de escassez de forragem nas pastagens (na região, vai de maio a setembro). “As dietas são divididas por produção dos lotes de vacas em lactação e por peso dos lotes de recria. Tendo esses dados em mãos, ajustamos as dietas com a disponibilidade de misturas que temos disponíveis, como ureia, farelo de soja, caroço de algodão, milho, sempre buscando fechar a melhor dieta com um menor custo para obter melhor lucratividade”, diz Filgueiras. Análise Para cada alternativa de volumoso, a recomendação é fazer uma análise da sua composição química a cada troca de silo ou de canavial, ou uma amostra a cada 30 dias, para que o técnico possa balancear a quantidade de concentrado e a sua composição. A Fazenda Canaã, que trabalha com animais jersolando, possui 19 hectares divididos em quatro módulos, cada um com uma gramínea diferente: zuri, mombaça, jiggs e braquiária. A área de mombaça e jiggs (8 hectares), irrigada, é destinada para vacas em lactação - são 135 animais em lactação e produção de 2.230 litros/dia. A área de cana soma 14 hectares e é suficiente para tratar quase 24
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todo o rebanho na seca. São 260 animais, entre bezerras, novilhas e vacas secas. Para vacas com média de 20 litros de leite por dia, a cana-de-açúcar tem se mostrado economicamente viável, de acordo com o zootecnista André Carrijo Rodrigues, que integra o programa Senar Mais Leite. “As principais vantagens são a alta produtividade, com baixo custo por unidade de matéria seca, por estar madura no período da seca e apresentar baixo risco agronômico.” Como a cana é pobre em proteína bruta (nitrogênio) e em alguns minerais, como o enxofre, é preciso suprir essas deficiências, daí a necessidade de adicionar ureia e sulfato de amônio. “Um outro alimento que não pode faltar é o caroço de algodão ou outro ingrediente que contenha óleo livre. Mas o caroço de algodão tem restrição e não pode ser usado em quantidade maior que 3 quilos por animal, em função de seu excesso de óleo, o que pode causar problemas ruminais”, afirma o zootecnista. “Além do caroço de algodão, é preciso fazer a correção com farelo de soja, e mais uma fonte de energia (milho), além do núcleo mineral. Com esses ingredientes se fecha uma boa dieta, que pode ser ofertada a qualquer categoria dentro de uma propriedade leiteira, variando somente a quantidade para suprir as exigências nutricionais de cada categoria”, diz Rodrigues. Outra fonte de alimento é o grão de soja, que é, conforme a Embrapa Gado de Leite, excelente alimento em termos de proteína e energia e pode ser usado no lugar do farelo de soja, “desde que se use com base na sua composição para o balanceamento de dietas”. Seu preço deve ser em torno de 30% menor que o do farelo de soja para valer a pena e para vacas de até 25 kg/dia de leite; não é preciso tostá-la antes de ser fornecida às vacas.
O técnico André Carrijo Rodrigues (à esq.) e o produtor Lucas Filgueiras na Fazenda Canaã, em Morrinhos, GO
Saúde Animal
Doença injetável Picadas de insetos ou de agulhas compartilhadas são um perigo para o rebanho leiteiro
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Luiz Antônio Cintra
om registros há décadas no país, a tripanossomose bovina tem cada vez mais chamado a atenção de pesquisadores e autoridades ligadas à saúde animal. O aumento da incidência e os prejuízos crescentes, em especial nos rebanhos leiteiros, têm ampliado os esforços em pesquisa e prevenção, mas os resultados, dizem os especialistas, ainda estão longe do desejável. Vinda provavelmente da África, a doença, discreta porém com alto potencial destrutivo, entrou no território brasileiro pela região Norte. Ao contrário do famoso trypanosoma cruzi, transmissor da doença de Chagas, o gênero ligado à doença bovina não afeta a saúde humana. Hoje a tripanossomose cresce com rapidez nas demais regiões, particularmente no Sudeste. Uma das linhas de pesquisa associa o crescimento da tripanossomose em São Paulo, Espírito Santo e Minas Gerais à proximidade dos rebanhos com áreas de cultivo de cana-de-açúcar. A mutuca, um dos principais vetores da doença, encontra nos canaviais um habitat propício ao seu desenvolvimento. Outro vetor relevante são as moscas dos estábulos, que como as mutucas carregam o protozoário do trypanosoma causador da doença e encontram, em particular na vinhaça produzida pela moagem da cana, um local de fácil multiplicação. De dois anos para cá, o Instituto Biológico de São Paulo tem sido procurado com frequência, diante do aumento dos casos suspeitos. “Em muitos municípios paulistas, temos registrado surtos de moscas dos estábulos, que supõe-se estejam associados ao uso da vinhaça para fertirrigação das lavouras de cana. Em áreas próximas das lavouras, a maior presença dessas moscas provocou o aumento dos casos de tripanossomose”, avalia a médica veterinária Fernanda Calvo Duarte, do IB. “Existem muitos municípios com problemas enormes relacionados a essas moscas. Ainda precisamos estudar mais, mas é uma relação que pode existir sim”, afirma. A veterinária também chama a atenção para o que os pesquisadores consideram ser a maior causa de transmissão da doença, aí sim diretamente relacionada ao manejo do gado leiteiro. “O uso generalizado da ocitocina, o
hormônio lactante das vacas paridas, que muitos produtores injetam nos animais diariamente por acreditar que são úteis para fazer o leite descer, é a principal causa da transmissão”, diz Fernanda. “O maior problema é o compartilhamento da agulha entre os animais, o que acelera a difusão”, avalia. Atualmente, segundo a pesquisadora, a orientação é coibir a prática porque, além de não ter o efeito desejado na produção leiteira, ainda coloca em risco a saúde do rebanho. Sintomas Os sintomas iniciais da tripanossomose estão ligados à menor resistência dos animais. É frequente o gado ficar anêmico, assim como surgirem doenças oportunistas, em decorrência da imunodepressão. Em alguns surtos mais agudos, a morte dos animais pode ser muito rápida, em questão de poucas semanas. Nos animais afetados pela doença, a produção de leite cai muito. Os animais perdem peso, já que reduzem o aproveitamento da alimentação. Em alguns casos, registram-se ainda sintomas neurológicos, como tremores e a paralisação das patas traseiras. Um complicador para o combate à tripanossomose está relacionado aos casos em que a doença permanece incubada, mas os sintomas não se manifestam. Por isso nem sempre a quarentena dos animais evidentemente doentes é eficaz. Para tirar a dúvida, o caminho é realizar um teste laboratorial, anda que não seja 100% eficiente. “O diagnóstico é muito complicado. É possível que, no mesmo animal, o resultado dê positivo em um dia, mas negativo alguns dias depois”, afirma a pesquisadora. “O método para a detecção da tripanossomose é semelhante ao da malária, precisa ser feito logo em seguida à coleta do sangue do animal, a campo de preferência, o que é muito difícil de ocorrer”, afirma. A pesquisadora chama atenção para o fato de a transmissão ocorrer em um período curtíssimo de tempo, de poucos minutos, entre uma mutuca, por exemplo, picar um animal infectado e outro até então sadio. O tratamento é possível, mas não é fácil. Segundo a pesquisadora do IB, o medicamento recomendado – o diaceturato de diminazene – foi frequentemente mal utilizado, o que aumentou a resistência do protozoário. Outro medicamento recomendado é o cloreto de isometamidium, que não é registrado no Brasil e requer autorização específica para importação do Ministério da Agricultura, o que costuma ser demorado e, por esse motivo, ineficaz em caso de surtos. “Mesmo a dosagem do cloreto é complicada. É difícil estimar a quantidade de protozoários presentes no animal, o que prejudica o cálculo da dosagem correta”, avalia Fernanda. O melhor, portanto, é controlar as moscas dos estábulos e mutucas, e evitar a todo custo o uso compartilhado de agulhas. Mundo do Leite – jun/jul 2018
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Seguindo em Frente Ismail Ramalho Haddade
Vaca rústica ou especializada, eis a questão!
N O conceito de “vaca rústica” sempre apareceu impregnado como uma espécie de motivo para justificar a não aplicação dos saberes técnicos”
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a opinião do professor Vidal Pedroso de Faria, “Talvez um dos maiores entraves para a estruturação do setor leiteiro nas regiões em desenvolvimento seja o fato de que a produção extrativa é uma das atividades agrícolas mais fáceis de serem executadas, não exigindo conhecimento técnico, planejamento nem esforço adicional. Se a vaca reproduz, aparece a possibilidade de retirada e venda do leite, e o uso de animais rústicos garante a possibilidade de convivência com subnutrição, doenças e fatores estressantes do meio...” De fato, o conceito da “vaca rústica” sempre apareceu impregnado como uma espécie de motivo para justificar a não aplicação dos conhecimentos técnicos para uma pecuária leiteira especializada no mundo tropical. Da mesma forma, a rusticidade sempre foi uma excelente maneira de os produtores transferirem o problema da falta de conhecimentos aplicados em suas propriedades para a pobre coitada da vaca. O termo “vaca rústica” é sempre muito associado ao da “vaca adaptada”. No entanto, estes conceitos parecem divergir muito, sendo óbvio constatar que quanto mais “rústica” for uma vaca, mais longe ela estará da vaca leiteira especializada. Esta última deve ser selecionada para eficiência produtiva e reprodutiva (potencial genético para leite, persistência de produção, eficiência reprodutiva, dentre outros). Partindo-se deste ponto, a eficiência pode ser muito bem conjugada à adaptação como, por exemplo, aos problemas do excesso de calor. Talvez aí esteja o “x” da questão: o da aplicação de conhecimentos técnicos na definição do tipo de animal especializado para cada sistema. Com isso, o melhoramento no quesito “adaptação ao calor” poderia caminhar muito bem, mesmo quando consideradas as “vacas leiteiras especializadas”. Principalmente, quando na análise de conhecimentos simples que aumentassem a eficiência das vacas em adquirirem menos e perderem mais calor para o ambiente. Estes seriam muito bem-vindos para manter o equilíbrio térmico dessas vacas no ambiente quente. Dentre esses conhecimentos, pode ser citada a seleção para tamanho corporal (redução da massa corporal
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aumenta sua superfície externa em relação ao seu volume, o que pode favorecer a perda de calor). Além disso, estudos sobre aspectos da pelagem, da pigmentação da pele, da disposição e do formato das glândulas produtoras de suor, da eficiência fisiológica na manutenção da temperatura corporal, dentre outros, devem ser muito bem-vindos para a seleção de vacas leiteiras especializadas, principalmente por esses aspectos variarem muito, mesmo quando comparadas duas vacas de uma mesma raça. Assim, poderemos sempre explorar o melhoramento, pois em tudo que haja variação haverá sempre grande possibilidade de seleção daqueles indivíduos superiores, sem esquecer que o principal objetivo é a seleção das vacas que cumpram o seu papel produtivo na propriedade leiteira. Mesmo assim, em hora nenhuma deveremos abdicar do conhecimento técnico ao planejar o ambiente em que essas vacas permanecerão, principalmente, para minimizar os seus efeitos negativos. Novamente citando os efeitos adversos do calor excessivo, deveremos sempre planejar a propriedade quanto à construção de sombras, à ventilação em seus locais de descanso, à logística dos sistemas para diminuir o seu deslocamento, dentre outros. Assim, “vaca adaptada” não deve ser entendida como vaca imune a qualquer adversidade, ou seja, quando considerado o bem estar da vaca leiteira no ambiente, deveremos sempre conjugar a adaptação de vacas eficientes com as condições de conforto em que elas se encontram. Diante do exposto, a palavra “rusticidade” como sinônimo de coisa adequada não pode estar associada a animais de produção. A estes, reserva-se o conceito de “adaptação” estando sempre equilibrada com a “eficiência produtiva”. Lembrando sempre que a palavra adaptado precisará de um complemento, ou seja... Adaptado a que condições?... Enquanto que a “vaca rústica” pode ser ruim em qualquer condição a que ela seja imposta. Engenheiro agrônomo, professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo, campus de Santa Teresa
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