Retrospectiva 2018: Revista DBO (pág.108 - ed.452)

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Seleção

A união faz a força FB–gap

Troca de material genético entre quatro grandes criatórios de Tabapuã garante a produção de animais precoces, ganhadores de peso e de excelente carcaça.

Da esquerda para a direita: Fernando Carvalho (técnico), Sérgio Germano (TJG), Rodolpho Ortemblad (CSC), Edson Ribeiro (GER Copacabana), Marcos Germano (TJG) e Paulo Ortemblad (TRO).

N

Carolina rodrigues

a economia, o bloco G20 define-se como um conselho formado pelos ministros de finanças da União Europeia e dos 19 países mais desenvolvidos do mundo, reconhecidos como “grandes potências mundiais”. Na pecuária de corte, mais precisamente no Zebu, um conceito similar surgiu em 2015, quando quatro grandes produtores de genética se juntaram no “G4 do Tabapuã” para produzir animais precoces, com foco em ganho de peso e qualidade de carcaça, características de forte peso econômico, diretamente relacionadas à rentabilidade da atividade. Formado pelos criatórios TRO (Tabapuã Rudge Ortenblad), CSC (Tabapuã do Córrego), TJG (Tabapuã Junqueira Germano) e GER (Tabapuã Copacabana), o projeto foi idealizado pelo zootecnista Fernando Garcia de Carvalho, diretor da empresa FB-GAP Gestão e Assessoria em Pecuária, que, depois de longos anos acompanhando fazendas dedicadas à seleção do Tabapuã, enxergou a necessidade de reunir criatórios que tinham linhas semelhantes de seleção para abastecer o mercado com informações mais precisas sobre a qualidade do Tabapuã, nos sistemas de produção de carne. Primeiro, ele fez um levantamento das propriedades que selecionavam a raça e participavam do PMGZ, Programa de Melhoramento Genético de Zebuínos da Associação Brasileira de Zebu, do qual é técnico habilitado. Depois, estruturou um cronograma de atividades e padronização de coleta de dados que permitisse gerar informações da produção e dos reprodutores de cada safra, a serem provados, posteriormente, em teste de progênie conduzido em parceria com a Alta Genectis, empresa com

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sede em Uberaba, MG, parceira do grupo desde o primeiro ano do projeto. “Na verdade, iniciamos um trabalho para demonstrar as qualidades que sabemos que o Tabapuã tem, embora ainda não sejam reconhecidas por criadores de outras raças. Hoje, todos os focos de estudos se concentram no Nelore, mas temos ganho de peso e rendimento de carcaça semelhantes ou até maiores”, avalia Sérgio Junqueira Germano, titular do TJG. Fernando Carvalho define o G4 como um plano piloto para a obtenção de resultados concretos que venham a servir para posicionar melhor o Tabapuã no mercado de produção. Com um total de 7.000 animais avaliados, as fazendas G4 usam dados do sistema integrado do PMGZ, de provas de ganho de peso (PGPs) e de mensurações de ultrassonografia de carcaça (importante aliada na identificação do touro que produzirá o melhor boi no frigorífico) para selecionar seus animais. O índice final das PGPs tem a seguinte composição: 25% são o peso calculadoo à idade padrão da prova; 25% correspondem ao ganho médio diário na prova efetiva (112 dias); 20% são avaliações visuais (tipo); 10% , dados de perímetro escrotal; 10%. relativos à área de olho de lombo; 5%, à espessura de gordura subcutânea (entre a 12ª e 13ª costela) e outros 5%, à espessura de gordura na garupa. Os melhores machos de cada safra, detectados em cada um dos criatórios, são enviados para coleta de sêmen na Alta Genetics e utilizados no G4 para teste de progênies em uma espécie de “rodízio” entre as fazendas. Embora sigam “cartilha” instituída pelo projeto, elas possuem sistemas independentes e estão localizadas em diferentes regiões do País: a TRO e a Córrego de Santa Cecília, no interior de São Paulo; a TJG, em Minas Gerais e São Paulo; e a Copacabana, em Mato Grosso do Sul. Um dos pré-requisitos do programa é a troca de material genético entre os participantes, de modo a garantir variabilidade genética nas avaliações dos tourinhos, provados em condições adversas de ambiente. Isso garante maior eficácia aos testes de progênie, que, no G4, segue a proporção de 25 matrizes para cada touro (quatro por criatório), resultando em 100 matrizes por reprodutor e 400 matrizes por safra. “Caso obtenhamos uma fertilidade média à desmama de 80%, teremos, já no primeiro ano, antes de o animal completar 48 meses, cerca de 80 filhos já sendo avaliados, o que imprime agilidade ao processo de seleção”, pontua Carvalho. É o que vem ocorrendo com os animais da safra 2014, que já começaram a desmamar bezerros nas suas respectivas fazendas. Dentre os touros testados na primeira bateria, estão Afamado TRO, Sandodo NB e Viber Copag, além


CSC

Tendência observada nos rebanhos G-4 e do PMGZ para efeito genético direto no Área de Olho de Lombo

Seleção por desempenho abriu espaço para a contratação de tourinhos jovens pela Alta Genetics

de tourinhos da safra 2015 como Golpe TJG, Bacuru do Córrego e Balancin TRO, este classificado elite na PGP do TRO e também nas avaliações da Aval Serviços Tecnológicos. “Como o peso por si só não determina adequadamente o valor de um animal produtor de carne, há uma busca por tecnologias e mensurações que indiquem com maior precisão a composição da carcaça”, observa Paulo Ortenblad, titular do Tabapuã TRO, referindo-se ao peso que as mensurações de ultrassom têm assumido na escolha dos animais indicados para teste de progênie. Validação para carne Na avaliação de sobreano da safra 2016, que começou a ser finalizada em maio, foram identificados, na fazenda, animais elite com área de olho de lombo (AOL) de até 88,35 cm2 e espessura de gordura (EGS) de 8,67 mm (milímetros), medidas relacionadas ao rendimento de carcaça e à precocidade de acabamento. Nos animais considerados “regulares”, a média ficou em 63,89 cm2 para AOL, por exemplo. Embora os dados pertençam apenas ao criatório TRO, que adota o sistema de recria em confinamento, em outras fazendas do G4, onde a recria é feita totalmente a pasto, alguns animais considerados elite registraram até 75 cm2 de AOL, um forte diferencial do grupo, expresso nos gráficos de tendência genética das últimas safras avaliadas pelo PMGZ. “Se olharmos apenas os fenótipos dos animais, saberemos muito pouco para onde estamos caminhando na seleção, já que trabalhamos com quatro fazendas de manejos nutricionais totalmente distintos”, observa Yuri Farjalla, da Aval. “Por isso, todas as tomadas de decisão são feitas com base nas DEP’s, o que nos permite excluir os efeitos ambientais e nutricionais para comparar indivíduos de sistemas de produção diferentes e determinar quais deles são realmente superiores para a produção de carne”, ressalta o produtor. Segundo relatório de José Aurélio Garcia Bergmann, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e consultor do projeto, o progresso genético do G4 têm se mantido acima da média da população do PMGZ nas últimas safras, para as características de carcaça e acabamento (veja o gráfico) que, bem amarradas nos quatro plantéis, começam a preencher, devagar, uma lacuna no melhoramento genético da raça. Em 2017, o

Fonte: JAGBergmann Consultoria Genética

PMGZ lançou as primeiras DEPs de carcaça para o Tabapuã, graças ao trabalho de coleta das fazendas do G-4, que já caminha para a inclusão de medidas também associadas ao desafio de fêmeas jovens (precocinhas), em duas das propriedades do grupo, pertencentes ao TJG e ao CSC. “A expectativa é de que, nos próximos anos, possamos gerar dados sobre precocidade sexual e colaborar para o lançamento de novas DEPs do Tabapuã com este enfoque de seleção”, projeta Sérgio Germano, do TJG. O programa tem uma base de 3.000 matrizes em trabalho seletivo para os acasalamentos dirigidos, que, além do controle de pesagens, passam pela ultrassonografia de carcaça também ao sobreano, com mensurações antecipadas nas fazendas que se dedicam ao desafio de precoces (entre 14 e 16 meses), para melhor estimar a correlação dos dados de carcaça com a avaliação ginecológica. “Acabamento de carcaça e precocidade sexual caminham juntas; esse é um casamento que queremos manter no G4”, observa Farjalla. Qualidade “exposta” Todos estes diferenciais, segundo Rafael Oliveira, gerente de produto de corte da Alta Genetics, levaram a empresa a “comprar” a ideia do projeto há quase quatro anos. “O Tabapuã é, hoje, a única raça que, além do Nelore, tem medidas de carcaça como parâmetro de avaliação de um programa”, diz Oliveira, afirmando que encontrar trabalhos que incentivem a redução do ciclo da pecuária é um dos grandes desafios das centrais. “O mercado preconiza peso, carcaça e precocidade, tudo que buscamos no Nelore, e o que vem norteando de maneira geral a escolha de touros que fazem parte do portfólio das outras raças”. Na ExpoGenética 2018, marcada para o próximo mês de agosto, em Uberaba, a Alta Genetics e o G4 devem expor a progênie dos primeiros touros avaliados para mostrar o padrão dos animais nascidos do projeto, qualidade novamente confirmada nos relatórios do professor Bergmann. Somente nos últimos três anos, a média do rebanho G4 partiu de TOP 30% para TOP 20%, um aumento considerável na qualidade genética dos animais produzidos para um conjunto de características de interesse econômico que compõe o índice ABCZ, e não apenas nas de carcaça. n DBO junho 2018 109


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