Saúde Animal
Quando errar é fatal O
Na hora de comprar animais, a garantia de sanidade vem em primeiro lugar Vera Campos
Antes de comprar animais, o produtor deve exigir do vendedor laudos que comprovem que eles estão sadios
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produtor que pretende iniciar ou ampliar um plantel de gado leiteiro tem de, necessariamente, antes da compra, exigir do vendedor laudos que comprovem a sanidade dos animais e que garantam, sobretudo, que eles não estão infectados pelas bactérias da tuberculose e da brucelose, doenças crônicas e incuráveis que levam ao descarte de animais. Essa é a garantia para não ser surpreendido depois por problemas desse tipo e ter de arcar com os prejuízos e riscos de contaminação de todo o rebanho. Caso o proprietário não disponha de laudos para essas duas doenças, o comprador deve solicitar que os animais sejam testados, na propriedade do vendedor, e por veterinários credenciados. Os resultados saem de imediato. “Em relação à brucelose e à tuberculose, todo o cuidado é pouco”, afirma o médico veterinário Ricardo Jordão, responsável técnico do Laboratório de Produção de Imunobiológicos do Instituto Biológico de São Paulo, que produz antígenos para a detecção dessas doenças. “Até mesmo animais já vacinados contra brucelose ou provenientes de propriedades certificadas como livres de brucelose e tuberculose devem ser testados previamente, antes da compra, a fim de se evitar riscos de propagação das doenças”, ressalta. A brucelose e a tuberculose bovinas se espalham por todo o território nacional, mas algumas regiões se destacam.
Brucelose
Tuberculose
A brucelose é uma doença infectocontagiosa crônica que atinge bovinos de todas as idades e de ambos os sexos. Provoca abortos, retenções da placenta, metrites, subfertilidade, infertilidade, nascimento de animais fracos e queda na produção de leite. Os animais contaminados têm de ser mortos, segundo determinação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
Em bovinos, a tuberculose causa lesões em diversos órgãos e tecidos, como pulmões, fígado, baço e até nas carcaças e no úbere. Dependendo da fase da infecção, os animais podem apresentar emagrecimento acentuado e tosse, mas, muitas vezes, não há sintomas perceptíveis. Nesse caso, a tuberculose se torna crônica, causa queda na produção leiteira e pode ser transmissível para o homem tanto pelo leite como pela aspiração de gotículas de saliva de animais contaminados.
Mundo do Leite – abr/mai 2018
É o caso do Centro-Oeste, com prevalência mais elevada da brucelose. Em relação à tuberculose, a prevalência de focos (propriedades com pelo menos um animal infectado) ocorre mais no Espírito Santo e em Minas Gerais. Certificação O impacto negativo dessas doenças sobre a pecuária e a saúde humana é tão grande no Brasil que, em 2000, o Mapa implementou o Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e da Tuberculose Animal (PNCEBT). Além da intenção de reduzir a prevalência e a incidência de novos casos em todo o país, o Programa objetiva criar um número significativo de propriedades certificadas ou monitoradas que ofereçam ao consumidor produtos de baixo risco sanitário. “É recomendável, portanto, que os compradores busquem essas propriedades na hora de adquirir novas cabeças”, diz Jordão. “Ainda assim, o comprador deve exigir novos testes de detecção de tuberculose e de brucelose nos animais desejados, pois pode ser que o plantel tenha recebido algumas cabeças recentemente e alguma delas esteja contaminada, com a doença em fase de incubação”, salienta. Até mesmo as fêmeas vacinadas contra a brucelose devem ser submetidas aos testes, “pois nenhuma vacina dá 100% de garantia de que o animal não seja infectado”. Os testes devem ser realizados na propriedade do vendedor, pelo veterinário de campo, de preferência com a presença do comprador. O de brucelose é feito in vitro, após coleta de sangue dos animais, e o de tuberculose in vivo, e são dois: o primeiro é simples, de rotina, realizado com o antígeno da bactéria tuberculina bovina, e o segundo, feito em seguida, com antígenos da tuberculose bovina e da aviária.
Não pode faltar Atualmente, o Instituto Biológico de São Paulo (IB) é a única entidade credenciada pelo Mapa para o desenvolvimento de antígenos para brucelose e tuberculose. Até há pouco mais de um ano, a produção era feita também pelo Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar). Juntas, as duas entidades produziam cerca de 10 milhões de doses/ano, mas não supriam plenamente o mercado, estimado, em 2016, em 11 milhões de doses. Por inconformidades encontradas na produção, desde dezembro daquele ano o Tecpar está proibido de fornecer os antígenos. Para atender a demanda, que vem num crescente por conta das adesões dos criadores ao Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e da Tuberculose Animal, o governo autorizou, no ano passado, a importação, pela iniciativa privada, de antígenos da fabricante uruguaia Microsules. A boa notícia é que o IB está recebendo investimentos de cerca de R$ 4 milhões, provenientes de diversas fontes, incluindo-se aí o governo do Estado de São Paulo e agências de fomento, para aplicar na compra e instalação de equipamentos que vão multiplicar por dez a capacidade produtiva da instituição para a produção de antígenos para testes de brucelose e tuberculose, hoje na casa das 4 milhões de doses/ ano. A meta inicial, no entanto, é triplicar esse volume. O aporte possibilitará também a produção de frascos menores contendo apenas 10 doses para testes de Tuberculina e 30 para testes de Brucella, o que evitará o desperdício nas propriedades e reduzirá os custos da aplicação. Atualmente, os fracos vêm com 50 e 160 doses, respectivamente, e o que não é utilizado acaba sendo descartado pelos criadores. De acordo com Ricardo Jordão, em março, os contratos de fornecimento estavam prestes a serem assinados. A previsão é de que os novos equipamentos estejam instalados e funcionando a partir do início de 2019. “O objetivo é atender toda a demanda nacional por antígenos de brucelose e de tuberculose”, finaliza.
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