Retrospectiva 2018: Revista Mundo do Leite (pág.22 - ed.91)

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Nutrição

Suas vacas têm o que comer? Ideal, nesta época de seca, é garantir o fornecimento de uma dieta nutritiva aos animais sem gastar muito

Um dos critérios que os produtores devem observar é o teor de proteína e energia de cada volumoso

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Fernanda Yoneya

om a aproximação do inverno e o pasto começando a rarear nas propriedades leiteiras, o produtor tarimbado já sabe com o que vai poder contar para a alimentação do rebanho. Ideal, nesta época, é garantir o fornecimento de uma dieta nutritiva aos animais sem gastar muito. Na Fazenda Fundanga, em Aimorés, Minas Gerais, o produtor de leite Lúcio Antonio Oliveira Cunha conta que, na época da seca, alguns pecuaristas de sua região trabalham, além da pastagem irrigada, com suplementação volumosa com silagem de cana e silagem de milho. “Nesse caso, priorizamos a pastagem produzida para as vacas em lactação e suplementamos as demais categorias. Mas todas as categorias, a princípio, têm acesso ao pasto irrigado e recebem a forragem suplementar somente para completar a demanda por volumosos”, explica Cunha. “Em relação às dietas, fazemos os devidos ajustes para cada categoria de acordo com sua demanda e composição do volumoso fornecido.”

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A prioridade dos animais mais produtivos - de 17 a 20 litros/dia - na pastagem irrigada se justifica, segundo Cunha, por causa do melhor valor bromatológico do pasto em relação às demais opções forrageiras. “Assim, a dieta desses animais fica mais competitiva”. Em relação ao custo final da dieta, Cunha diz que, em termos de competitividade, a pastagem irrigada, para vacas de média produção, é a mais interessante. Em seguida, ele cita a suplementação com silagem de cana, em razão do baixo custo da matéria seca da silagem da gramínea. Por último vem a silagem de milho, que, além do custo elevado, na região precisa de irrigação, o que praticamente dobra seu preço em comparação às regiões que conseguem produzi-la em sequeiro. Segundo Cunha, um dos critérios que os produtores consideram é o teor de proteína e de energia de cada volumoso. A silagem de milho, por exemplo, tem 9% de proteína e 67% de energia; a silagem de sorgo, 10% de proteína e 60% de energia; a cana, 2% de proteína e 60% de energia. “Para as categorias que consomem somente pastagem extensiva nesse período, como o capim amadurece, ele perde qualidade. E isso eleva a demanda de proteína e minerais, que precisa ser ajustada no concentrado fornecido. Assim, conseguimos manter um desempenho satisfatório. Isso é mais usado para animais jovens e vacas solteiras. Mesmo assim, eles recebem suplementação volumosa também”, explica Cunha. O produtor possui 11,5 hectares de pasto irrigado, entre mombaça, jiggs e braquiária. Segundo ele, o mombaça, em relação à braquiária, tem como vantagens o melhor valor nutritivo e a maior resistência a pragas e ao excesso de umidade. Engenheiro agrônomo, Cunha tem experiência no acompanhamento técnico de outros produtores de leite, principalmente de Minas Gerais e do Espírito Santo. Ele afirma que resultados de análises bromatológicas constataram que, enquanto o mombaça tem, em média, 16% de proteína, a braquiária tem de 12% a 14%. “Mas já há informações de que o mombaça alcance até 20% de proteína.” A Fundanga tem área total de 125 hectares e Cunha mantém rebanho de 85 fêmeas adultas e 40 fêmeas jovens. O plantel é da raça jersolando. A média da produção de leite é de 1.200 litros por dia.


Sobressemeadura Prática comum na região da Fundanga, em locais onde o inverno é mais rigoroso, é a sobressemeadura de aveia preta e azevém nos piquetes. “Isso possibilita produzirmos pastagem mesmo em invernos mais frios, quando a produção da pastagem tropical fica comprometida”, afirma Cunha. A técnica consiste em, na entrada do inverno, entre abril e maio, semear o azevém na dosagem de 50 quilos por hectare e a aveia na dosagem de 100 quilos por hectare no piquete antes de o gado entrar. Quando o gado faz o pastejo, ele pisoteia a semente e faz a incorporação na área. Logo em seguida, se for mombaça (capim de porte alto), é feita a roçada a uma altura de 20 centímetros do chão. Se for capim de porte baixo (tifton, por exemplo), a roçada é feita na altura de 10 a 15 centímetros do chão. Essa semente germina ao longo do período de descanso da pastagem e, já na próxima rodada, a planta começa a ser pastejada. Nesse período mais frio do ano, como essas plantas de clima temperado vegetam bem, o gado tem essa suplementação dentro do próprio piquete. “Essas plantas de clima temperado têm um potencial de produção de certa forma limitado,

mas que no inverno é competitivo. Permite 5 UA por hectare, com 20% a 25% de proteína. Fica uma dieta muito mais barata, porque a demanda por proteína fica muito menor. A qualidade da dieta fica muito boa e essa forragem dura todo o inverno”, diz Cunha. Conforme a região e a disponibilidade do produto, os cereais de inverno – aveia preta, aveia branca e cevada –, cuja época de plantio se estende até maio, podem compor a dieta durante a seca. O cereal pode ser fornecido in natura, inteiro ou triturado, direto no cocho. No caso da aveia, ela possibilita uma boa cobertura do solo e pode ser usada como forrageira. O triticale, cereal rústico, compõe a dieta animal na forma de forragem verde, feno, silagem de planta inteira ou de grão úmido ou grãos secos para rações. Já a cevada pode ser oferecida na forma de grãos ou como forragem. No entanto, segundo dados da Embrapa Gado de Leite, a maior limitação da cevada úmida é a energia, especialmente para vacas de alta produção de leite (acima de 25 kg/dia). Para vacas com produção abaixo de 20 kg de leite/dia, a cevada úmida pode ser uma boa alternativa, dependendo de seu preço e da disponibilidade.

Fazenda Fortaleza Fazenda Santa Paula Criando Gado Leiteiro há mais de 50 anos.

Lúcio Oliveira Cunha, da Fazenda Fundanga, em Aimorés, MG

Aloysio de Andrade Faria Criador Fazenda Fortaleza Via Anhanguera, Km 116 Nova Odessa, SP Fone.: (19) 3466-1150 Fazenda Santa Paula Rod. SP 340, Km 123 Vila das Garças Campinas, SP

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Nutrição

Como “fechar” uma boa dieta

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produtor Lucas Vilela Filgueiras, da Fazenda Canaã, em Mineiros, GO, dá a dica para o período de escassez de pasto: investir na confecção “bem feita” de um volumoso “de boa qualidade e o mais produtivo possível” e, com ajuda de assistência técnica, “fechar uma dieta” com antecedência. “Consigo programar as compras de itens como milho, caroço de algodão, farelo de soja, casquinha de soja, entre outros ingredientes.” Assim, afirma, evita desperdício, oferece um alimento de qualidade às vacas e o custo não pesa no bolso. Na Canaã, o investimento em irrigação de pastagens garante um alimento mais rico para as vacas mais produtivas durante a seca. Já os animais de menor produção consomem cana-de-açúcar. “Vacas de menor produção, vacas secas, animais no pré-parto, novilhas prenhes, vazias, todas essas categorias vão para o cocho na época seca, com uma dieta adequada para cada categoria. Na região, Filgueiras diz que, além da silagem de milho e da cana, são alternativas aos produtores silagem de mombaça e de sorgo forrageiro. “Vale lembrar que, independentemente da forrageira, os cuidados devem ser os mesmos na hora de ensilar e dar aos animais.” O produtor utiliza a cana há quatro anos e vê como vantagens da gramínea a boa produtividade de matéria seca por hectare, no ganho de peso verificado nos animais de recria e na produção de leite do rebanho. Outro atrativo da cana é o fato de sua maturação fisiológica coincidir com o período de escassez de forragem nas pastagens (na região, vai de maio a setembro). “As dietas são divididas por produção dos lotes de vacas em lactação e por peso dos lotes de recria. Tendo esses dados em mãos, ajustamos as dietas com a disponibilidade de misturas que temos disponíveis, como ureia, farelo de soja, caroço de algodão, milho, sempre buscando fechar a melhor dieta com um menor custo para obter melhor lucratividade”, diz Filgueiras. Análise Para cada alternativa de volumoso, a recomendação é fazer uma análise da sua composição química a cada troca de silo ou de canavial, ou uma amostra a cada 30 dias, para que o técnico possa balancear a quantidade de concentrado e a sua composição. A Fazenda Canaã, que trabalha com animais jersolando, possui 19 hectares divididos em quatro módulos, cada um com uma gramínea diferente: zuri, mombaça, jiggs e braquiária. A área de mombaça e jiggs (8 hectares), irrigada, é destinada para vacas em lactação - são 135 animais em lactação e produção de 2.230 litros/dia. A área de cana soma 14 hectares e é suficiente para tratar quase 24

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todo o rebanho na seca. São 260 animais, entre bezerras, novilhas e vacas secas. Para vacas com média de 20 litros de leite por dia, a cana-de-açúcar tem se mostrado economicamente viável, de acordo com o zootecnista André Carrijo Rodrigues, que integra o programa Senar Mais Leite. “As principais vantagens são a alta produtividade, com baixo custo por unidade de matéria seca, por estar madura no período da seca e apresentar baixo risco agronômico.” Como a cana é pobre em proteína bruta (nitrogênio) e em alguns minerais, como o enxofre, é preciso suprir essas deficiências, daí a necessidade de adicionar ureia e sulfato de amônio. “Um outro alimento que não pode faltar é o caroço de algodão ou outro ingrediente que contenha óleo livre. Mas o caroço de algodão tem restrição e não pode ser usado em quantidade maior que 3 quilos por animal, em função de seu excesso de óleo, o que pode causar problemas ruminais”, afirma o zootecnista. “Além do caroço de algodão, é preciso fazer a correção com farelo de soja, e mais uma fonte de energia (milho), além do núcleo mineral. Com esses ingredientes se fecha uma boa dieta, que pode ser ofertada a qualquer categoria dentro de uma propriedade leiteira, variando somente a quantidade para suprir as exigências nutricionais de cada categoria”, diz Rodrigues. Outra fonte de alimento é o grão de soja, que é, conforme a Embrapa Gado de Leite, excelente alimento em termos de proteína e energia e pode ser usado no lugar do farelo de soja, “desde que se use com base na sua composição para o balanceamento de dietas”. Seu preço deve ser em torno de 30% menor que o do farelo de soja para valer a pena e para vacas de até 25 kg/dia de leite; não é preciso tostá-la antes de ser fornecida às vacas.

O técnico André Carrijo Rodrigues (à esq.) e o produtor Lucas Filgueiras na Fazenda Canaã, em Morrinhos, GO


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