Retrospectiva 2018: Revista Agro DBO (pág.30 - ed.96)

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Fitossanidade

Agronegócio brasileiro, protagonista e sustentável. O controle de pragas exige um novo comportamento do agricultor, no planejamento e na ação, para sobreviver ao consumidor. Decio Luiz Gazzoni*

I

* O autor é engenheiro agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja e membro do Conselho Editorial da Agro DBO.

niciamos pelas premissas: 1. Inseticidas matam insetos. Abelhas são insetos. Logo, inseticidas matam abelhas. Alguns mais outros menos, e dependendo da dose e dos cuidados na aplicação. 2. Sem controlar pragas e sem polinização, cai a produção agrícola, os alimentos ficam mais caros, tornando mais difícil o acesso da população a eles. 3. O Brasil será o grande protagonista do comércio agrícola internacional, nas próximas décadas. Continuamos pela conclusão: portanto, nosso desafio será produzir mais e melhor, de forma sustentável, e, em especial protegendo os serviços ecossistêmicos, como a polinização efetuada pelas abelhas. E agora vamos à sustentação: regra de ouro para quem pretende ser protagonista no mercado internacional: não bastará produzir, será necessário fazê-lo com sustentabilidade. A preo-

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cupação com temas ambientais, sociais e de saúde pública constituirão o arcabouço onde se assentará o mercado, obviamente tendo sido atendidos os aspectos de preço compatível e qualidade exigida pelos consumidores. Focando em sustentabilidade ambiental, um dos aspectos a considerar é a preservação dos serviços ecossistêmicos. Cito dois exemplos icônicos, o controle biológico de pragas e a polinização, geralmente mediada por insetos, particularmente as abelhas. Os Programas de Manejo Integrado de Pragas (MIP) são delineados para atender triplos objetivos de a) proteger os cultivos contra pragas, evitando danos de impacto econômico; b) utilizar diferentes técnicas de controle de pragas; c) evitar danos ao ambiente – incluindo os serviços ecossistêmicos – e à saúde humana. Existem diversas técnicas de controle de pragas que em muito contribuem para a sustentabilidade de um sistema de produção, incluindo con-

trole cultural, uso de variedades resistentes, culturas armadilha ou isca, diversidade de cultivos, modificações de época de plantio, entre outras. Adicionalmente, podemos nos valer do serviço ecossistêmico de controle biológico, provido de forma gratuita pela natureza, ou utilizando agentes de controle biológico, comercializados por empresas especializadas. E existem os inseticidas, ferramenta poderosa, mas que precisa ser cercada de inúmeros cuidados no seu uso, para deles extrair os benefícios, evitando ou minimizando os impactos adversos. O período de floração em qualquer cultivo é extremamente crítico, pois as flores constituem um atrativo para abelhas polinizadoras à cata de mel e pólen para seu sustento, ou das suas colônias, em se tratando de abelhas de hábito social. Para a maioria dos cultivos, existe um benefício econômico derivado da polinização efetuada por abelhas, que é o aumento da produtividade. Nos cultivos que dependem fortemente da polinização entomófila, a presença de abelhas durante a floração é a diferença entre o agricultor ser viável ou ver fracassar o seu negócio. Portanto, nada mais óbvio do que introduzirmos em nossos sistemas de produção o conceito de proteção dos serviços ecossistêmicos, seja a conservação de solos, a produção de água, o controle biológico ou a polinização biótica – aquela realizada por seres vivos. Este não é um mero discurso romântico, de ativista ambien-


tal, mas uma consideração pragmática derivada da análise das exigências impostas no mercado internacional de produtos agrícolas, tanto de parte dos governos quanto da certificação dos agentes privados. Para minimizar o impacto negativo do controle de pragas sobre os polinizadores ou sobre os agentes de controle biológico, é necessário seguir, rigorosamente, as recomendações do MIP, que estão disponíveis para as principais culturas do agro brasileiro. O arcabouço conceitual do MIP é comum, exigindo conhecer os hábitos, a biologia, ecologia e os danos das pragas; monitorar constantemente as pragas na lavoura; controlar as pragas apenas quando absolutamente necessário para evitar um dano econômico; usar diferentes técnicas de controle de pragas, as quais devem ser harmônicas e integrativas; evitar ou reduzir a um mínimo aceitável qualquer impacto

negativo das técnicas de controle sobre o ambiente, os serviços ecossistêmicos e a saúde humana. Neste particular, atenção muito especial deve ser dedicada aos inseticidas. Seu uso deve obedecer integralmente as recomendações do MIP e aquelas contidas na bula do produto. Ademais, é muito importante a regulagem adequada dos equipa-

não atingir alvos não desejados fora dos limites da área de cultivo. Não custa lembrar que a aplicação de qualquer agrotóxico além dos limites da lavoura, atingindo áreas de vegetação nativa, causa forte impacto negativo nos serviços ecossistêmicos, podendo ser considerado crime ambiental, como tal punível pela legislação.

Inseticidas matam insetos. Abelhas são insetos. Logo, inseticidas matam abelhas. mentos de pulverização, atentando para a vazão adequada e para as faixas ótimas de temperatura e de vento. Recomenda-se observar uma faixa tampão entre as bordas das lavouras e as áreas contíguas, que possam servir de abrigo e alimentação para polinizadores. Deve ser evitada, a todo o custo, a deriva nas aplicações, para

Seguindo essas regras simples, além de reduzir o custo de produção e, em muitos casos, aumentando a produtividade, melhoraremos o nosso currículo perante o mercado internacional, aperfeiçoando nossa condição de grande exportador mundial, lastreado em boas práticas agrícolas e em uma agricultura sustentável.

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