Retrospectiva 2018: Revista Mundo do Leite (pág.30 - ed.90)

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Consorciação

Mais leite com

estilosantes

Especialistas querem provar que o estilosantes campo grande (ECG) também é funcional para a formação de pastos e consumo por animais em fazendas leiteiras

A

leguminosa demorou 10 anos para ser desenvolvida pela Embrapa. Foi apresentada ao Brasil no ano 2000 para uso na pecuária de corte, mais precisamente em plantio conjugado com a braquiária, ajudando a revigorar solos arenosos, de baixa fertilidade, e servindo como alta fonte proteica. Agora, especialistas querem provar que o estilosantes campo grande (ECG) também é funcional para a formação de pastos e consumo por animais em fazendas leiteiras. Para isso, a Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural de Mato Grosso do Sul (Agraer) firmou pareceria com a Embrapa Gado de Corte (Campo Grande, MS) e implantou uma unidade de demonstração (UD) em Guia Lopes da Laguna (a 233 km da capital sul-mato-grossense). O objetivo é validar e apresentar o modelo a médios e pequenos produtores em dias de campo ao longo de 2018 e 2019. “Na literatura há relatos de pecuaristas que conseguiram elevar sua produtividade no leite entre 20% e 30% com o uso de pasto de braquiária consorciado com estilosantes”, adianta o pesquisador da Embrapa Celso Dornelas Fernandes, que supervisiona o projeto graças à sua experiência de quase duas décadas acompanhando o desempenho da forrageira, que é resultado da mistura de duas espécies de leguminosas: Stylosanthes capitata e Stylosanthes macrocephala. Segundo ele, o que se pretende com esta iniciativa é autenticar cientificamente este procedimento e disseminar sua prática e correto manejo para a produção leiteira. A UD começou a ser implantada entre dezembro e janeiro, em 5 hectares da Chácara São Marcelo, de 36 ha. A propriedade pertence ao agropecuarista

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Mundo do Leite – abr/mai 2018

Nino Lima

Ariosto Mesquita

Consórcio estilosantes campo grande x piatã na Chácara São Marcelo, em Guia Lopes da Laguna, MS

Cassiano dos Santos, o terceiro elo desta parceria. Em 2,5 ha foi instalado um pasto solteiro de braquiária piatã (área controle). A outra metade recebeu o consórcio piatã + estilosantes. Em ambas foram respeitadas a mesma densidade de piatã e carga de adubação (calcário + fósforo + potássio). Na área de consórcio, foram adicionados três quilos de sementes de estilosantes por hectare. A previsão é de que os primeiros animais comecem a pastejar na UD no início de abril. “Nestes dois anos trabalharemos em pastejo contínuo e com taxa de lotação variada, observando sempre a altura das forrageiras”, explica Nico Rodrigo Cabral de Barros Lima, zootecnista e coordenador do escritório da Agraer em Guia Lopes da Laguna. Segundo ele, a taxa média de lotação prevista para as duas áreas é de três vacas em lactação/ha. A implantação da UD em uma propriedade considerada típica da chamada “agropecuária familiar” na região faz parte da estratégia de disseminação do modelo, que inclui pelo menos quatro dias de campo para avaliação e demonstração de desempenho nas águas e nos meses secos (maio a setembro). “O primeiro evento deve acontecer até o fim de abril. Ainda teremos poucos números, mas os produtores


Fixação de nitrogênio O ECG é reconhecido na pecuária de corte por carregar altos níveis de proteína bruta (entre 12% e 18% da massa seca) e possuir boa capacidade para fixar nitrogênio no solo. É recomendado como melhorador de estruturas em áreas arenosas. Na atividade leiteira, segundo Fernandes, ainda não tem aplicabilidade destacada. Através da UD, a Embrapa, em princípio, deve manter, em pastagem leiteira, a mesma recomendação de proporcionalidade das forrageiras em consórcio para formação de pastos na pecuária de corte: de 20% a 40% para o estilosantes e de 80% a 60% para o piatã.

Ariosto Mesquita

de leite da região poderão conhecer a estrutura e ouvir relatos do proprietário. Quase sempre esta conversa entre eles funciona melhor do que orientações de pesquisadores. Os produtores falam a mesma língua”, justifica Lima. Fernandes, da Embrapa, trabalha com uma estimativa de custos médios para implantação de áreas de consórcio piatã/ECG pelo produtor: “Caso o pecuarista já possua um pasto com a braquiária, já conta com banco de sementes e por isso terá que desembolsar pouco. Calculo algo entre R$ 100 a R$ 120 por hectare, incluindo sementes, adubação e maquinário. No entanto, se ainda tiver de formar a área com as duas forrageiras, calculo que este valor varie entre R$ 220 e R$ 250”. Ele alerta ainda para a necessidade de o produtor tomar todas as medidas para que o pasto não fique aquém ou além de suas possibilidades: “Será muito importante o ajuste de manejo, sobretudo com relação à altura e à saída de animais”.

O consumo de estilosantes em alta escala ou como única forrageira (em pasto solteiro) por bovinos é condenado pela Embrapa. A mesma postura deverá ser adotada para a pecuária leiteira. Em situações em que isso ocorreu em fazendas de corte, surgiram inúmeros relatos de doenças e mortes de animais ao longo das duas últimas décadas. A tendência é que o excesso de estilosantes provoque o surgimento de fitobezoares, estruturas no formato de bolas que se desenvolvem no rúmen do animal e que podem se deslocar para o intestino e obstruir seu funcionamento, provocando uma infecção generalizada. “Por isso a necessidade de o produtor seguir os preceitos de manejo que recomendamos”, alerta Fernandes. A Embrapa ainda estuda recomendar, aos produtores de leite, algumas variações para a utilização do estilosantes como reforço nutricional para as vacas em lactação. Uma delas é o cultivo solteiro para colheita, picagem e oferta no cocho junto com volumoso. A outra passa pelo plantio da leguminosa visando a produção de uma silagem “mix” com milho.

O pesquisador Celso Fernandes em área cultivada com Estilosantes

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