Fitopatologia
Manejo de doenças de plantas causadas por oomicetos É importante ao produtor rural saber identificar as doenças na lavoura, para não incorrer em tratamentos inadequados. Fotos: Howard F. Schwatz
José Otávio Menten1 e Ticyana Banzato2
Batata
O
omicetos é um grupo de “fungos” que pertencem ao Reino Cromista e se caracterizam por apresentarem hifas sem septos e parede celular com
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β-glucanas, celulose e sem quitina. As estruturas reprodutivas assexuadas são os esporângios, que posteriormente originam os zoósporos por meio de clivagem citoplasmática, e as estruturas re-
produtivas sexuadas são os gametângios: oogônio (gametângio feminino) e o anterídio (gametângio masculino), responsáveis na maioria das vezes pela sobrevivência do oomiceto no solo. São parasitas obrigatórios os agentes causais das ferrugens brancas (Albugo) e dos míldios (Plasmopara, Peronospora, Peronosclerospora, Pseudoperonospora, Sclerophthora, Basidiophora e Bremia) e parasitas facultativos os agentes causais da requeima, gomose, podridões, cancro, murcha e queimas (Phytophthora) e de tombamento, podridão das raízes, colo e colmo (Pythium). Assim como os demais fungos e outros agentes causais de doenças de plantas (bactérias, vírus, nematoides e fitoplasmas), os oomicetos causam doenças quando encontram hospedeiros suscetíveis e ambientes favoráveis. Geralmente em condições de alta umidade/chuvas e temperaturas amenas/baixas, infectam, colonizam e se reproduzem nas plantas, interferindo em diversos processos fisiológicos, causando sintomas característicos. A doença mais importante causada pelos oomicetos é a requeima da batata e do tomate, causada por Phytophthora infestans. Esta doença foi responsável pela morte de 2 milhões de pessoas e provocou fuga de 1 milhão de imigrantes da Irlanda, espe-
Fotos: Yuan-Min Shen
cialmente para os EUA, por volta de 1845, devido a redução de 80% na produção de batata, base de alimentação da população naquela época. No Brasil a requeima da batata e do tomate infesta a maioria das lavouras de tomate e batata, no Sul, Sudeste e Centro-Oeste, e causa significativos prejuízos aos produtores. Mais de 50% das espécies de plantas cultivadas podem ser afetadas por oomicetos, entre as principais estão: algodão, arroz, cacau, cana, feijão, fumo, milho, seringueira, sorgo, abacate, abacaxi, caju, citros, maçã, mamão, morango, videira, alface, cebola, crucíferas, cucurbitáceas, gengibre, ornamentais e solanáceas. Para manejar doenças de plantas, podem ser utilizadas diversas medidas que fazem parte dos métodos biológicos, químicos, genéticos, culturais, físicos e integrados. Para controle de doenças causadas por oomicetos a medida mais utilizada é a aplicação de fungicidas, que pertencem a grupos, em geral, diferentes dos produtos normalmente usados para controle de ascomicetos, basidiomicetos e deuteromicetos (estes fungos têm ergosterol na membrana celular; os oomicetos têm pouco ergosterol) e uso de cultivares com resistência genética aos oomicetos. Além disso, é possível adotar diversas medidas culturais como local de cultivo sem neblina e sem solos encharcados, arejamento, poda, material de propagação sadio, eliminação de tecidos doentes e de hospedeiros alternativos, rotação de cultura com espécies não hospedeiras, boa drenagem, nutrição equilibrada, evitar ferimentos nas plantas com o trânsito do maquinário, pH do solo equilibrado, descompactação do solo e semeadura rasa contribuem para reduzir a quantidade dessas doenças. A utilização de agentes de controle biológico,
Tomate
Mais de 50% das espécies de plantas cultivadas podem ser afetadas por oomicetos. como aplicação de Trichoderma e Gliocladium, e de medidas físicas como solarização e armazenamento em baixas temperaturas, também podem contribuir com o manejo das doenças causadas por oomicetos. Entre os fungicidas estão os conhecidos genéricos, e podem ser utilizados produtos imóveis/ protetores e erradicantes como cúpricos, mancozeb, clorotalonil, tiram, metiram, captana, propinebe, fluazinam, folpet, famoxodine,
zoxamida, fentina, ditiamina e mandipropamida. Também podem ser utilizados fungicidas sistêmicos/curativos especializados em oomicetos, como cimoxamil, metalaxil-M, fosetil, benalaxil, dimetomorfe, iprovalicarbe, propamicarbe, azoxistrobina, acibenzolar-S-metil e outros. Estes produtos, por serem sítio-específicos, devem ser usados com critério e rotacionados para reduzir a possibilidade de surgimento de linhagens resistentes aos oomicetos.
*Os autores são 1 – Professor Sênior USP/ ESALQ, Secretário do Meio Ambiente de Piracicaba e Membro do CCAS (Conselho Científico Agro Sustentável) 2 Engenheira Agrônoma Doutora em Fitopatologia USP/ESALQ
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