Retrospectiva 2018: Revista Agro DBO (pág.42 - ed.103)

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Manejo

Como conhecer seu solo e sua saúde Temos solos diversos em lavouras, mas a maioria é pobre, e só a ciência agronômica pode responder como melhorar essa qualidade Hélio Casale *

* O autor é engenheiro agrônomo, cafeicultor, consultor e membro do Conselho Editorial da Agro DBO.

N

a leitura dos livros encontramos ideias e conceitos teóricos e práticos sobre todas as ciências. Uma leitura recente da bibliografia agronômica me deixou entusiasmado sobre como enriquecer nossos solos. Trata-se do livro “Manual do solo vivo”, que é um exemplo digno de ser ressaltado por suas qualidades e cuja leitura recomendo enfaticamente. A autoria é da doutora Ana Maria Primavesi, que é austríaca de nascimento, mas desde os primeiros anos vive no Brasil, e já é nonagenária. Engenheira agrônoma, ela é uma apaixonada pela agricultura e por solos vivos e equilibrados, e é adepta de uma agricultura integrada ao ecossistema, coisa difícil de ser entendida hoje em dia com os plantios de grãos em larga escala. Em sua longa atividade tornou-se legendária. Com visão diferenciada ela vem divulgando ideias de manejo do nosso solo tropical que nem sempre são aceitas pela comunidade científica, mas que no dia a dia estão mostrando seu acerto. Vejamos, resumidamente, o que ela pensa e nos presenteou no livro Manual do solo vivo. Uma mulher grávida que recebe pouco cobre na alimentação, mas geneticamente necessitaria de mais, vai ter um filho cujo cérebro não se desenvolverá adequadamente. Se uma criança recebe menos iodo do que o necessário, nasce com cretinismo. Se for de-

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ficiente em manganês, provavelmente será aleijada, bem como os animais. Se, com sua dieta diária, ela recebe menos zinco do que geneticamente é programado, será mentalmente atrasada e muito “parada”, ou seja, quase deficiente mental. O zinco é o “lixeiro” do sangue. Se um atleta recebe zinco não se cansa tão rápido. O psiquiatra gaúcho Juarez Callegaro evidencia que chumbo, cádmio e outros metais tóxicos estão em excesso nas pessoas violentas. O homem é o que o solo faz dele. O solo é o alfa e o ômega, o início e o fim de tudo. Em cerca de 2% dos nascimentos as crianças nascem com sérias deficiências, com problemas de deformações ou com outras anomalias. Sempre dizem que é genético. Mas, pouco a pouco, descobrem-se as razões. Em geral, é algum desequilíbrio mineral grave na alimentação das mães. O corpo humano, como tudo o que é vivo na Terra, é feito de carbono, água, hidrogênio, oxigênio, nitrogênio etc., e que torna a ser água, oxigênio, carbono e minerais depois de morrer. O que é material no homem, ou seja, o seu corpo, é feito de minerais (em torno de 7% da massa), sendo os outros 93% de Carbono, Oxigênio e Hidrogênio, sendo 70% na forma de água que vem da terra e voltam a ser terra. Portanto, o homem é o que a terra,

SOLO SADIO, PLANTA SADIA, HOMEM SADIO. Manual do Solo Vivo Autora: Dra. Ana Maria Primavesi Editado pela Editora Expressão Popular – 2º Edição, em março de 2016. 206 pgs.

ou o solo, faz dele, isto é, o que ele recebe através de sua alimentação. Portanto, Solo sadio – Planta sadia, Homem sadio. Tanto o solo tropical como o de clima temperado é um ecossistema. A palavra sistema é utilizada para dizer que muitos fatores interligados fazem funcionar uma determinada estrutura organizada. Vale lembrar que um solo tropical, em estado nativo, produz 5,5 vezes mais biomassa que o solo temperado. Ele é muitíssimo mais


produtivo enquanto puder trabalhar dentro de suas condições, mas quando é obrigado a funcionar dentro das condições de clima temperado trabalha muito precariamente. Se pragas e doenças atacam as plantas, o solo necessita ser recuperado e sanado. O uso de todos os defensivos, inclusive feromônios e joaninhas, deve ser ocasional e nunca rotineiro, como em uma transição do convencional para o natural, e ecológico. A rotina tem de ser melhorar o solo. Os segredos do solo tropical A rápida reciclagem do material vegetal e sua inter-relação com a enorme quantidade de microvida (20 milhões de fungos e bactérias por cm³ de terra) e a atividade das raízes são os maiores responsáveis pelo desenvolvimento da mais frondosa floresta tropical do mundo, a Amazônia, sobre solos extremamente pobres do ponto de vista químico. A enorme biodiversidade nos ecossistemas naturais é o que permite o crescimento de diferentes plantas explorando o mesmo espaço de solo. Com isso, aumentam as excreções radiculares, o número e as espécies de micróbios, a mobilização de nutrientes e, consequentemente, o crescimento vegetal. O intenso e profundo enraizamento no solo permite a exploração de um volume muito grande de terra, mas proporciona também acesso à água fresca e abundante – abaixo de 50 cm a temperatura do solo ra-

ramente passa de 25ºC e este dificilmente seca. Em enormes áreas recém-desmatadas plantam-se monoculturas sem grande preocupação com a matéria orgânica aplicando nutrientes quimicamente refinados como o NPK+Zinco e Boro principalmente, após correção do pH do solo para próximo de neutro, por meio da calagem, e empregando-se ainda herbicidas e defensivos químicos. Com isso, morre a maior parte da microvida do solo e encaminha-se para o desequilíbrio nutricional. Quanto mais desequilibrados os nutrientes estiverem, tanto mais ami-

– enchentes – seca. Rios e cacimbas são assoreados. Água fica poluída, mais rara e mais cara a cada dia. Começa a faltar água doce em várias áreas do planeta. O vento entra livremente nas áreas desprotegidas, levando até 750 mm de umidade por ano. O uso racional da palhada, cobertura morta, tem o mesmo ou até melhores resultados que a adubação química convencional. Ecológico é prevenir os parasitas, de qualquer espécie. Aminoácidos são substâncias inacabadas, precursores de proteínas.

O homem é o que o solo faz dele. O solo é o alfa e o ômega, o início e o fim de tudo. noácidos livres e açúcares redutores circulam na seiva das plantas. Como decorrência, temos a produção de alimentos de baixo valor nutricional e poluídos, provocando o aumento das doenças em seres humanos. A calagem intensa praticada na agricultura convencional faz com que os agregados do solo se desagreguem, tornando o solo adensado, especialmente onde não ocorre retorno adequado dos restos vegetais. Deixando o solo limpo, exposto ao impacto das chuvas, ele se compacta ou adensa, e a insolação direta pode aquecer tanto a ponto de matar parte do sistema radicular superficial. Por outro lado, a água das chuvas caídas em solos compactados faz erosão

Nos diferentes sistemas de plantio é importante que não se use cultivos alelopáticos. Exemplo: leguminosas com cebola, alho. Batata com girassol. Como cada variedade possui um sistema de absorção diferente e excreta substâncias diferentes, ambas valem como duas espécies distintas. Fortalecer raízes pela aplicação de Boro – 8 a 30 kg/ha. Assim, os plantadores de cítricos controlam o “amarelinho”, e plantadores de goiaba combatem a maior parte das doenças. Tornar o solo protegido para aumentar o sistema radicular – deixando as raízes seguirem a água que recua no solo.

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