CONTABILIDADE GERENCIAL AULA 01 HISTÓRICO E EVOLUÇÃO. CONCEITO, OBJETIVO, FUNÇÕES. GERENCIAL VS. FINANCEIRA.
AULA 01 - HISTÓRICO E EVOLUÇÃO. CONCEITO, OBJETIVO, FUNÇÕES. GERENCIAL VS. FINANCEIRA.
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CONTEÚDO: Histórico e evolução. Conceito, objetivo, funções. Gerencial vs. financeira. Instrumento de apoio ao processo decisório. Relevância. Atributos da informação gerencial. Sistema de Informação contábil: Conceito e objetivo. Importância. Sistemas e subsistemas. Sistemas de informação de apoio às operações. Sistemas de informação de apoio à gestão.
HISTÓRICO E EVOLUÇÃO. CONCEITO, OBJETIVO, FUNÇÕES. GERENCIAL VS. FINANCEIRA. HISTÓRICO A contabilidade como elemento de controle de uma riqueza teve origem há aproximadamente 10.000 anos. Interessante observar que na sua origem, embora de forma rudimentar, ela servia a propósitos específicos como meio de controle do patrimônio. Antes do surgimento da moeda, do valor como conhecido atualmente, da propriedade e até mesmo da escrita, o homem já se preocupava em separar e assegurar um domínio sobre elementos essenciais a ele. A evolução da contabilidade ocorre na esteira da evolução da própria sociedade. Como o nosso objetivo neste momento não é discorrermos longamente sobre aspectos históricos, podemos considerar que um sistema contábil voltado para a gestão da empresa teve sua prática efetivamente levada a efeito a partir da Revolução Industrial, na Inglaterra. Para Ricardino (2005, p. 2), é difícil precisar quem criou a expressão management accounting, embora possamos considerar que esse termo tenha sido desenvolvido posteriormente à Segunda Guerra Mundial para descrever o fornecimento, para fins gerenciais, de informações estatísticas para propósitos de planejamento, decisão e controle. Mas é no fim do século XIX, início do século XX, nos Estados Unidos, que percebemos uma preocupação das corporações com medições e controles para fins gerenciais. Kaplan e Johnson (1987, p. 4) trazem essa perspectiva quando afirmam que “a contabilidade gerencial surgiu pela primeira vez nos Estados Unidos, quando as organizações comerciais, em vez de dependerem dos mercados externos para trocas econômicas diretas, passaram a conduzir trocas econômicas internas”. Padoveze (2000, p. 28) informa que o campo da atividade organizacional abarcado pela contabilidade gerencial foi desenvolvido por meio de quatro estágios reconhecíveis. • Estágio 1 – antes de 1950, o foco era na determinação do custo e controle financeiro, com o uso das tecnologias de orçamento e contabilidade de custos; •
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Estágio 2 – por volta de 1965, o foco foi mudado para o fornecimento de informação
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para controle e planejamento gerencial, com o uso de tecnologias tais como análise de decisão e contabilidade por responsabilidade; • Estágio 3 – por volta de 1985, a atenção foi focada na redução do desperdício de recursos usados nos processos de negócios, com o uso das tecnologias de análise do processo e administração estratégica de custos; • Estágio 4 – por volta de 1995, a atenção foi mudada para a geração ou criação de valor, com o uso de tecnologias tais como: exame dos direcionadores de valor ao cliente, valor para o acionista, e inovação organizacional. Observe que a ideia da contabilidade gerencial como criadora de valor para o negócio iniciou-se a partir do momento em que a tecnologia da informação possibilitou a mensuração e o controle de variáveis que até então eram de difícil, para não se dizer impossível, mensuração e controle, tais como processos, clientes, tecnologia de produção, etc. Atualmente, já se considera a criação de valor como um imperativo para a contabilidade gerencial. O IFAC (International Federation of Accountants) assim se posicionou acerca do tema: “A contabilidade gerencial, como uma parte integral do processo de gestão, adiciona valor distintivamente pela investigação contínua sobre a efetividade da utilização dos recursos pelas organizações – na criação de valor para os acionistas, clientes e outros credores”. A evolução da contabilidade gerencial no decorrer dos tempos:
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CONCEITO A Contabilidade gerencial é reconhecida como um enfoque especial conferido a números e eventos econômicos já tratados pela contabilidade financeira. Essa abordagem específica no tratamento dos dados contábeis é útil para a tomada de decisões gerenciais. Ao conceituarmos contabilidade gerencial não podemos deixar de considerar que trata-se um processo de captação, processamento e distribuição de informações sob uma perspectiva diferente daquela inerente à contabilidade financeira. O próposito fundamental da contabilidade gerencial ou contabilidade administrativa é oferecer ao decisor, ou usuário, a possibilidade de se utilizar de um conjunto de informações que o habilitem à melhor decisão. Daí reside a importância da caracterização de um adequado sistema de informação gerencial que dê o devido suporte a esta contabilidade. É importante, igualmente, buscarmos vários conceitos abordados por diversos autores para que nós nos posicionemos tecnicamente sobre o tema: Kaplan (2000, p. 36), define contabilidade gerencial como “processo de identificar, mensurar, reportar e analisar informações sobre os eventos econômicos das empresas”. Anthony (1974, p.17) faz uma distinção clara entre a contabilidade financeira e gerencial, pois, segundo o autor, a contabilidade financeira tem como objetivo primário proporcionar informação financeira a terceiros – acionistas, banqueiros, outros credores e agências governamentais. As técnicas, os regulamentos e as convenções segundo os quais os dados contábeis são coletados e relatados refletem, em grau considerável, as exigências desses terceiros. Já a contabilidade gerencial, para Anthony (1974, p. 17), preocupa-se com a informação contábil útil à administração. Útil, nesse contexto, traz sempre a conotação de algum propósito para o qual os números devem ser usados. Li (1977, p.17), no clássico livro “Contabilidade Gerencial”, ressalta que a contabilidade gerencial é o resultado da interação entre Contabilidade e Administração. Li foi um dos primeiros autores a definir a contabilidade (no sentido amplo, de ciência) como sendo a “linguagem universal dos negócios”, pois, se a linguagem é um meio de expressar e comunicar ideias em geral, a contabilidade é um meio de relatar os resultados da administração. Horngren (2004, p. 4), no mesmo sentido dado à expressão por Kaplan, escreve que a contabilidade gerencial é um processo de identificar, mensurar, acumular, analisar, preparar, interpretar e comunicar informações que auxiliem os gestores a atingir objetivos organizacionais. Fess, Warren e Reeve (2001, p. 3) afirmam que as informações da contabilidade gerencial incluem dados históricos e estimados usados pela administração na condução de operações diárias, no planejamento de operações futuras e no desenvolvimento de estratégias de negócios integradas, pois as características da contabilidade gerencial são influenciadas pelas variadas necessidades da administração. Os mesmos autores citados acima propõem, graficamente, o que seria a essência da contabilidade gerencial comparativamente à contabilidade financeira:
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Jiambalvo (2002, p. 2) inicia seu trabalho discorrendo sobre a meta da contabilidade gerencial, que segundo ele seria a de fornecer as informações de que os gerentes precisam para o planejamento, o controle e a tomada de decisões. Se o seu objetivo é ser um gerente eficaz, afirma o autor, é imprescindível um entendimento profundo de contabilidade gerencial. Então, pelos conceitos obtidos de respeitáveis doutrinadores contábeis, podemos perceber que existem certos atributos específicos à contabilidade gerencial e que caracterizam-na como instrumento fundamental para uma gestão empresarial criadora de valor. Esses atributos ou qualidades específicas serão expostos como comentários na tabela a seguir, que demonstra as diferenças existentes entre a contabilidade financeira e a contabilidade gerencial. Características básicas da contabilidade financeira e gerencial Contabilidade Financeira Clientela
Externa: Acionistas, credores, governo
Propósito
Reportar desempenho passado às partes externas; contratos com proprietários e credores.
Data
Histórica, atrasada.
Contabilidade Gerencial Interna: Funcionários, administradores, executivos. Informar decisões internas tomadas pelos funcionários e gerentes; feedback e controle sobre desempenho operacional Atual, orientada para o futuro.
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Restrições
Regulamentada: dirigida por regras e princípios fundamentais da contabilidade e por autoridades governamentais.
Tipo de informação
Somente para mensuração financeira.
Natureza da informação Escopo
Objetiva, auditável, confiável, consistente, precisa. Muito agregada; reporta toda a empresa.
Desregulamentada: sistemas e informações determinados pela administração para satisfazer necessidades estratégicas e operacionais. Mensuração física e operacional dos processos, tecnologia, fornecedores e competidores. Mais subjetiva e sujeita a juízo de valor, válida, relevante, acurada. Desagregada; informa as decisões e ações locais.
Se observarmos atentamente o quadro, podemos captar a essência e a utilidade da informação gerencial, produto da contabilidade gerencial. Senão, vejamos: a) Clientela – há aqui uma nítida separação entre dois públicos interessados na informação contábil. O gestor, que necessita de informações para uso no cotidiano, precisa de um base informativa que contenha, não raro, atributos estratégicos. Os relatórios do sistema orçamentário são exemplos disso. Porém, informações estratégicas não devem ser disponibilizadas ao mercado, pois podem ser utilizadas pela concorrência. b) Propósito – As observações acerca da clientela servem para o propósito da informação. Clientes diferentes, propósitos diferentes, informações diferenciadas. Compreende? c) Mensuração – Este é um aspecto importantíssimo para a contabilidade gerencial. Já sabemos que as mensurações utilizadas pela contabilidade financeira para atribuição de valor aos elementos do patrimônio e do resultado empresarial estão restritas a normas e princípios contábeis. As razões para isso você estudará na disciplina que trate dos fundamentos da contabilidade financeira ou societária. A contabilidade gerencial poderá utilizar-se de quaisquer critérios de mensuração, desde que melhor retratem a quantidade monetária que representará aquele elemento ou evento econômico. Um exemplo: Os estoques, na contabilidade financeira (mercadorias, matérias-primas, produtos acabados, etc), são avaliados pelo seu custo de aquisição e devem permanecer por esse valor até sua baixa do ativo. Na contabilidade gerencial, quando formos construir uma informação gerencial que utilize o valor desses ativos, podemos utilizar o critério de preço de reposição desses estoques. Vamos estudar nesta disciplina, mais à frente, o conceito de margem de contribuição. Um outro aspecto da
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contabilidade gerencial e que determina sua utilidade é a possibilidade de termos uma desagregação de valores, ou seja, mensurarmos e reportarmos cada segmento ou unidade relevante da organização, por exemplo, um produto, um centro de resultados e outros.
Um aspecto fundamental da Contabilidade Gerencial é o uso da informação contábil como ferramenta para o empresário. Para a utilização eficaz dessa ferramenta, é necessário que os usuários da informação (administradores e empresários) tenham um conhecimento relativo em conceitos de contabilidade financeira, de custos e, é claro, de contabilidade gerencial. Observe que a relação Custo/Benefício na construção da informação deve ser favorável, ou seja, o custo para se obter a informação não pode ser maior do que o seu valor para a entidade.
A contabilidade gerencial e o processo de gestão empresarial. O processo de gestão.
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O processo de gestão é extremamente dinâmico e recorrente, sendo que a contabilidade gerencial deve acompanhar sistemáticamente essa dinâmica para controlar, mensurar e informar os reflexos econômicos e financeiros de cada ação empresarial executada.
O mundo em mutação da contabilidade gerencial Em 1997, o Institute of Management Accounting (IMA) conduziu entrevistas com especialistas de indústrias, consultores, especialistas em tecnologia da informação, executivos do IMA, grande corporações e outras organizações profissionais e pediu-lhes que olhassem para o ano de 2007 e previssem as principais mudanças e as habilidades necessárias para os profissionais de contabilidade gerencial. As principais descobertas foram: 1. Mais presidentes de empresas (CEOs – Chief Executive Officers) e diretores de operações (COOs - Chief Operating Officers) terão experiência como contadores gerenciais. 2. Os contadores gerenciais irão trabalhar como consultores internos que criam estratégias e recomendações para guiar as decisões gerenciais. 3. Os contadores gerenciais serão participantes-chave nas equipes multifuncionais (equipes abrangendo áreas de projeto, produção, marketing, etc). 4. Os contadores gerenciais serão ativamente envolvidos na iniciação e na implementação de novas tecnologias. 5. O contadores gerenciais precisarão se adaptar a um ritmo de mudança cada vez mais acelerado. Isso implicará aprendizagem contínua por toda a vida. (Fonte: James Jiambalvo – Contabilidade gerencial. Citado no texto).
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Discuta em grupo cada tópico relativo às diferenças relatadas entre a contabilidade gerencial e a contabilidade financeira, procurando enquadrar o sistema de informações existentes em sua empresa. Após a análise, verifique se efetivamente existe um modelo adequado de contabilidade gerencial à diposição em sua organização.
Conclusão Como visto pelo histórico e evolução dos conceitos da contabilidade gerencial, podemos concluir que o objetivo fundamental da contabilidade gerencial é fornecer, aos interessados (sempre lembrando que estes são internos à organização), relatórios gerenciais que contenham informações de natureza financeira, física e de produtividade para possibilitar a escolha da melhor alternativa em uma decisão, visando a criação de valor para o negócio.
CONTABILIDADE GERENCIAL – INSTRUMENTO DE APOIO AO PROCESSO DECISÓRIO. RELEVÂNCIA. ATRIBUTOS DA INFORMAÇÃO GERENCIAL. Como vimos no início desta aula, a contabilidade gerencial foi definida como o processo de identificação, mensuração, acumulação, análise, preparação, interpretação e comunicação de informações financeiras utilizadas pelos gestores da empresa para planejar, avaliar, controlar e assegurar o uso apropriado e responsável dos recursos.
Vejamos a que se refere cada um desses processos:
• Identificação é o reconhecimento e avaliação de transações empresariais e outros eventos econômicos; •
Mensuração diz respeito ao uso de critérios para atribuição de valores econômicos;
• Acumulação é a definição de abordagens padronizadas e consistentes para registrar e classificar transações empresariais apropriadas; • Análise compreende uma verificação sistemática dos reflexos financeiros e econômicos das transações registradas e acumuladas;
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• Comunicação é a distribuição de informações pertinentes para a administração e outros, para uso interno e externo; • Avaliação compreende o julgamento das implicações de eventos históricos e esperados e ajuda na escolha do melhor curso de ação, incluindo a tradução de dados em tendências e relações; • Controle, por fim, implica em assegurar a integridade da informação financeira relativa às atividades e aos recursos da empresa, monitorando o desempenho para eventuais ações corretivas. Muito se discorre sobre a informação gerencial. Temos que informação é uma combinação de dados ou quaisquer elementos que, isoladamente, não induzem o gestor a uma ação. A informação, portanto, tem como função essencial a motivação do gestor para agir. Quando a informação cumpre determinados requisitos, que a tornam útil para uma decisão, dizemos que é uma informação gerencial. Neste caso, ela conduz o decisor a uma ação que agrega valor à empresa. O fluxo gráfico a seguir demonstra de forma mais técnica esse pressuposto: informação para uma melhor decisão.
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Podemos entender, pelo gráfico disposto anteriormente, que o início de um pensamento gerencial em contabilidade se dá pela figura do usuário. É ele que, agindo gerencialmente, vai necessitar de informações que subsidiem suas decisões. A área de controladoria1, responsável pela implementação do sistema de contabilidade gerencial, verificará se é possível atender ao solicitado pelo usuário, observando a relação custo/ benefício da informação demandada. Não obstante as dificuldades que encontramos para avaliar tal relação, trata-se de uma análise importante e, caso seja desfavorável, devemos descartar a possibilidade de construção dessa informação. Caso o benefício da informação seja maior que seu custo de processamento e distribuição, na sequência devemos avaliar sua compreensibilidade, ou seja, a condição de ser efetivamente compreendida pelo usuário, o qual poderá, neste caso, fazer melhor uso dela. A compreensibilidade deve ser analisada também em relação ao perfil do usuário, pois seguidamente percebemos que a não compreensão ou uma compreensão limitada das informações em um relatório gerencial ocorre em virtude de falta de preparo do usuário e não, necessariamente, por características intrínsecas às informações. Neste caso, recomenda-se um treinamento prévio para as pessoas que utilizarão os relatórios. Se a informação é compreensível, é possível considerarmos que “poderá” ser útil nas tomadas de decisões. Por que “poderá” ser útil? Porque temos que verificar se contém características que a tornam segura e eficaz para motivar adequadamente uma decisão. Primeiro se analisa sua relevância, ou seja, a importância dela para sugerir ao decisor o melhor caminho entre as alternativas disponíveis. A relevância é percebida quando a informação é oportuna, requisito também chamado de tempestividade. É a informação que está disponível no momento adequado para a decisão. A oportunidade é avaliada também com relação ao valor preditivo da informação. Melhor dizendo, se toda decisão tem impacto futuro, então toda informação tem que observar os impactos dessas decisões para dado futuro almejado. Relatórios orçamentários são exemplos disso. Relatórios que informem as margens de contribuição de produtos e serviços também. A confiabilidade é outro atributo que deve ser verificado como inerente a uma informação gerencial. Uma informação é confiável quando pode ser “rastreada”, testada. Nisso reside a importância de que as informações sejam produtos de sistemas de informações estruturados, possibilitando o acesso e a reconstrução dessas informações no momento em que desejarmos. A fidelidade de representação significa que, na medida do possível, os valores monetários (por exemplo) que representam os eventos e os elementos informados devem expressar o mais fielmente a essência econômica desses elementos. Este aspecto fica facilitado na contabilidade gerencial porque ela não está sujeita a critérios padronizados de avaliação monetária, como ocorre com a contabilidade financeira. Você lembra-se disso? A neutralidade também é uma característica importante, pois recomenda-se que a informação gerencial promova a motivação para a decisão pelo seu conteúdo e forma 1 Você pode estar se perguntando: afinal de contas, qual a diferença entre a contabilidade gerencial e a controladoria? O enfoque dado à controladoria atualmente, (recomendamos a leitura atenta do material e da bibliografia indicada na disciplina “Controladoria Corporativa”), é de que esta deve ser caracterizada como uma área administrativa da empresa, ficando responsável pelo sistema de informações gerenciais existente. Portanto, podemos entender que a contabilidade gerencial é um dos produtos da controladoria. Neste caso, como vimos, a função da contabilidade gerencial é produzir relatórios gerenciais tendo como instrumento o sistema de informação gerencial citado.
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e não por eventuais distorções motivadas por interesses escusos de determinada pessoa ou área. O limite para tratamento e reconhecimento de uma informação é sua materialidade. Se o valor do elemento informado é imaterial não devemos, por uma questão de objetividade e racionalização de custo, dar um tratamento especial. Não devemos esquecer, entretanto, que materialidade é conceito que deve ser verificado caso a caso. Um determinado valor pode ser imaterial, por exemplo, para o Banco Bradesco, mas se constituir grandeza considerável para uma pequena ou média empresa.
Contabilidade gerencial em organizações de serviço e sem fins lucrativos As ideias da contabilidade gerencial foram desenvolvidas em organizações de manufatura. Essas ideias, entretanto, evoluíram de modo que se aplicam a todos os tipos de organizações, incluindo as de serviço – que, em regra, são todas as organizações além das manufatureiras, atacadistas e varejistas, isto é, que não fabricam ou vendem produtos tangíveis. Empresas de contabilidade e auditoria, bem como de advocacia, consultores gerenciais, corretores imobiliários, transportadoras, bancos, companhias de seguro e hotéis são organizações de serviços com fins lucrativos. Quase todas as organizações sem fins lucrativos, tais como hospitais, escolas, bibliotecas, museus e agências governamentais, são também organizações de serviços. Gestores e contadores nas organizações sem fins lucrativos têm muito em comum com suas contrapartes em organizações com fins lucrativos. Há dinheiro a ser ganho e gasto. Há orçamentos a serem preparados e sistemas de controle a serem projetados e implementados. Há uma obrigação de usar os recursos sabiamente. Se usada de maneira inteligente, a contabilidade contribui para a eficiência das operações e auxilia as organizações sem fins lucrativos a atingirem seus objetivos. As características de ambas as organizações de serviços, com e sem fins lucrativos, incluem o seguinte: 1. O trabalho é intensivo: a proporção mais elevada de despesas nas escolas e nas empresas de advocacia é formada pelos salários e custos relacionados com folha de pagamento, e não relacionada com o uso de máquinas, equipamentos e instalações físicas. 2. O produto é, geralmente, difícil de ser definido: o produto de uma universidade pode ser definido como o número de diplomas concedidos, mas muitos críticos sustentariam que o produto real é o que está contido no cérebro dos estudantes. Consequentemente, mensurar o produto é, com frequência, considerado impossível.
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3. Os principais insumos e produtos não podem ser estocados: um assento de avião vazio não pode ser conservado para um vôo futuro; a força de trabalho disponível em um hotel ou em salas de aula é usada ou não conforme cada dia transcorre. Simplicidade é a palavra-chave para a instalação dos sistemas em setores de serviços e em organizações sem fins lucrativos. A complexidade tende a gerar custos para obter e interpretar dados que, frequentemente, excedem os benefícios. (HORNGREN, 2004). Aqui, mais uma vez, convido para uma reflexão: pense em sua organização, suas características e especificidades. A contabilidade gerencial é utilizada da maneira correta? Os gestores recebem informações adequadas frequentemente? Pense nisso!
SISTEMA DE INFORMAÇÃO CONTÁBIL: SISTEMAS E SUBSISTEMAS. SISTEMAS DE INFORMAÇÃO DE APOIO ÀS OPERAÇÕES. SISTEMAS DE INFORMAÇÃO DE APOIO À GESTÃO. ESTRUTURAÇÃO DE UM SISTEMA DE INFORMAÇÃO CONTÁBIL Um sistema de informações é um conjunto de subsistemas inter-relacionados que funcionam em conjunto para coletar, processar, armazenar, transformar e distribuir informações para fins de planejamento, controle e tomada de decisões. Daí podemos perceber a importância de um sistema de informações para a contabilidade gerencial. Pode-se até afirmar que a contabilidade gerencial não atingirá seu propósito sem a existência e o funcionamento adequado de um sistema de informação.
O fluxo no sistema pode ser visualizado como nesta figura:
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A estruturação de um Sistema de Informação Contábil depende sobremaneira da implementação de um Sistema de Informação Gerencial (SIG) eficaz, no qual podemos verificar a relação entre três variáveis complementares: • Sistema - Unidades autônomas que se inter-relacionam em uma cadeia de processos operacionais numa entidade, por exemplo: Compra, Venda e Produção, processos mais específicos como Contas a Pagar, Tesouraria, Cobrança, etc. • Informação - Um dado ou elemento disponível e que seja útil, desejável e tempestivo, geralmente vem acompanhado de um efeito surpresa no usuário. • Gerencial - É a informação que possibilita a tomada de decisão, ou seja, favorece o gerenciamento de um empreendimento a partir de sua análise. O sistema de informação contábil-gerencial é composto, entre outros, pelos seguintes conceitos: •
Orçamento
• Custos •
Contabilidade
•
Relatórios gerenciais
Para Moscove (2002, p. 24), sistema de informações contábeis é o subsistema de informações em uma organização, o qual acumula informações de vários subsistemas da entidade e comunica-as aos interessados. Os sistemas de informações classificam-se em dois grupos: sistemas de informações de apoio às operações e sistemas de informações de apoio à gestão. Para que haja um funcionamento adequado do sistema de informação contábil, é necessária uma perfeita interação entre esses dois sistemas. O sistema de informação de apoio às operações trata do planejamento e controle das diversas áreas operacionais da empresa. É uma ferramenta de apoio às operações fundamentais da organização. Já o sistema de informação de apoio à gestão tem como função principal produzir, controlar e informar questões ligadas aos aspectos financeiros da empresa, sendo utilizado pelas áreas administrativa e financeira com objetivo de planejamento, controle e avaliação de desempenho do negócio.
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Vamos perceber graficamente?
Os dois grupos de informações são interdependentes, pois um problema no sistema de informações de apoio às operações poderá acarretar informações distorcidas, que serão contempladas nos relatórios gerados pelo sistema de informações de apoio à gestão. Falhas de controle interno na área de compras podem causar problemas de informações nos relatórios financeiros.
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Sistemas de informações contábeis em ação - Os sistemas de informações do varejo abrem-se O setor de varejo, atualmente, é ferozmente competitivo. Essa competição levou os varejistas à inovação, com o uso a informática para melhorar a gestão de seus negócios. Um modo de melhor administrar com a informática é por meio do uso de recebimento informatizado e sistemas de ponto de venda. Esses sistemas captam dados sobre compras e vendas (geralmente com código de barras) para que os administradores possam determinar as situações de estoque sem ter que fazer estimativas. Informações exatas e em tempo real sobre as quantidades em estoque pemitem que a administração saiba quais itens estão vendendo rapidamente e quais não estão. Isso também permite que a administração analise seu composto de itens para que possa promover os itens de margens mais altas e determinar rapidamente os efeitos das promoções. Outra maneira de usar a informática é integrar os sistemas de informações. Os SIGs podem ser integrados em duas categorias: internamente e externamente. O sistema de informações da Wal-Mart alcançou a integração total. Não apenas suas lojas e centros de distribuição estão ligados, como também seus fornecedores e clientes. Um armazém de dados de 7,5 terabytes combinado com ligações via satélite permite o intercâmbio de informações, tanto internamente como com os parceiros externos. Compradores e fornecedores podem consultar o armazém de dados para descobrir que produto está disponível em cada loja, que produtos estão vendendo bem, que lojas precisam de determinados itens de estoque e assim por diante. Os benefícios de tal integração são: menor número de itens que faltam no estoque e menor custo de estoque. A possibilidade de pedir produtos on-line é outro aspecto da integração. (MOSCOVE, 2002). Como você vê os sistemas de informações de sua empresa? Será que estão integrados ao negócio? Ou é dispensada muita energia tentando fazê-lo funcionar? Pense nisso! A ideia de “sistema” nasceu para auxiliar na resolução de problemas, e não na criação deles!
Leia o texto a seguir, extraído parcialmente do artigo do prof. Moisés Prates Silveira, publicado na Revista do CRCPR.
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Contabilidade Gerencial – fontes informacionais primárias para o processo de tomada de decisões O papel da contabilidade está se tornando mais importante nas complexas economias modernas. Em vista dos recursos serem escassos, deve-se escolher a melhor alternativa e, para isso, são utilizadas as informações geradas pela contabilidade. A contabilidade gerencial serve a todos os tomadores de decisões, pois trata da coleta, apresentação e interpretação de dados econômicos, refere-se à atividade dentro de uma organização. O mundo é complexo e está em transformação. Pode ser difícil descobrir abordagens contábeis simples e sólidas que sirvam a todos os objetivos. O sistema de informações gerenciais tem por finalidade colocar à disposição da administração empresarial dados técnicos, econômicos e financeiros, compreendendo os planejamentos, as análises e os controles correspondentes, dispostos de forma racional, a fim de possibilitar a obtenção imediata de qualquer indicação sobre as previsões efetuadas e os fatos reais, fornecendo as variações encontradas. É evidente que um sistema de informação gerencial compreende tanto dados em grandezas quantitativas quanto qualitativas. Em contabilidade gerencial, é recomendada maior concentração em medidas não financeiras do que nas de caráter financeiro. O desenvolvimento de um modelo de contabilidade gerencial deve ser preventivo e adequado, levando em conta, entre outros, os seguintes indicadores: •
Reduzir tempo de ciclo
•
Alta qualidade do produto
•
Conhecer, tanto em quantidade como em qualidade, as necessidades dos clientes
•
Reduzir estoques ao mínimo necessário
•
Eliminar operações que não geram valor adicionado do ponto de vista do cliente.
Segundo Iudícibus (1987, p. 15), “A contabilidade gerencial pode ser caracterizada, superficialmente, como um enfoque especial conferido a várias técnicas e procedimentos contábeis já conhecidos e tratados na contabilidade financeira, na contabilidade de custos, na análise financeira e de balanços, etc., colocados numa perspectiva diferente, num grau de detalhe mais analítico ou numa forma de apresentação e classificação diferenciada, de maneira a auxiliar os gerentes das entidades em seu processo decisório”.
A contabilidade gerencial é definida como o processo de identificação, medição, análise, preparação, interpretação e comunicação de informações financeiras, operacionais e físicas utilizadas no gerenciamento para planejar, avaliar e controlar uma empresa e
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assegurar o uso apropriado para a gestão de negócios. As informações da contabilidade gerencial produzidas por um sistema de contabilidade gerencial podem incluir, por exemplo, as despesas que incorreram num departamento operacional ou o custo calculado de um produto, serviço ou atividade. As informações da contabilidade gerencial são uma das fontes informacionais primárias para o processo de tomada de decisões. A contabilidade gerencial produz informações que ajudam trabalhadores, gerentes e executivos de organizações a tomarem melhores decisões. Tradicionalmente, informações da contabilidade gerencial têm sido financeiras, ou seja, elas têm sido denominadas em moedas tais como real, dólar ou marco alemão, mas o domínio da contabilidade gerencial tem se expandido gradualmente para englobar informações operacionais ou físicas (não-financeiras), tais como qualidade e tempo de processo. Medidas da situação econômica do empreendimento, o custo e a rentabilidade dos produtos, serviços, clientes e atividades da organização estão disponíveis por meio de sistemas de contabilidade gerencial. Além disso, mede-se também o desempenho econômico das unidades operadoras descentralizadas, tais como divisões e departamentos comerciais. Tais medidas de desempenho econômico fornecem uma ligação entre a estratégia da organização e a execução da estratégia das unidades operacionais individuais, propiciando um dos meios primários pelos quais operadores/trabalhadores, gerentes intermediários e executivos recebem o feedback sobre seu desempenho, permitindo-lhes aprender com o passado para melhorar o futuro. As organizações serão bem-sucedidas e prosperarão, projetando produtos e serviços que os consumidores consideram valiosos, produzindo-os e distribuindo-os aos clientes por meio de processos operacionais eficientes, cujos resultados beneficiarão as empresas e os clientes. Apesar de as informações da contabilidade gerencial não poderem garantir sucesso nas atividades organizacionais que estão em crise, sinais inadequados e distorcidos dos sistemas de contabilidade gerencial farão com que as companhias encontrem decisões que venham superar as dificuldades. Sistemas eficientes e eficazes de contabilidade gerencial podem criar um valor considerável no fornecimento de informação precisa e atual sobre as atividades que são desenvolvidas para alcançar o sucesso das organizações de hoje em dia. A exigência por informações de contabilidade gerencial difere, dependendo da estrutura da organização. No contexto operacional, em que matérias-primas ou peças compradas são convertidas em produtos acabados e serviços são executados para clientes, informações são necessárias primeiramente para controlar e melhorar as operações. As informações são desagregadas e frequentes; elas são mais físicas e operacionais do que financeiras e econômicas. À medida em que se deslocam para posições mais altas dentro de uma organização, nas quais o trabalho é supervisionado e as decisões são tomadas, as informações podem ser recebidas menos frequentemente e são mais agregadas e estratégicas. Elas são mais utilizadas para dar uma visão geral da organização, para fornecer uma compreensão mais ampla da entidade e para enviar um sinal de alerta se algum aspecto das operações estiver diferente das expectativas.
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As informações em níveis organizacionais mais altos resumem as transações e
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eventos que ocorrem na dimensão do operador individual ou cliente. Nesses níveis, mais informações financeiras são utilizadas, de forma que os gerenciadores possam avaliar a economia dos eventos, ocorrendo o plano operacional da organização. A contabilidade gerencial tornou-se uma disciplina entusiasmante, que está sofrendo grandes mudanças para refletir o novo ambiente desafiador que as organizações em todo o mundo enfrentam hoje. Informações precisas, oportunas e relevantes sobre a economia e o desempenho das organizações serão vitais para o sucesso organizacional.
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